anÁlise da distribuiÇÃo da precipitaÇÃo … · manutenção da biosfera, pois é na interface...
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ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NOS MUNICÍPIOS DE FRANCISCO ALVES E ALTO PIQUIRI – PR
1Márcio Greyck Guimarães Correa
2Hélio Silveira 3Sara Vieira
Resumo: Os estudos climáticos podem ser realizados sob diferentes escalas de observação espacial e temporal, além da dinâmica dos elementos e dos fatores geográficos. A análise desses fatores, segundo Nimer (1979) atua de forma simultânea e apresentam constante interação com o meio, fornecendo a compreensão dos mecanismos atmosféricos reguladores do clima. A análise e compreensão da dinâmica climática desempenham um importante papel no planejamento urbano e agrícola, uma vez que auxilia na elaboração de estratégias, ao mesmo tempo em que propicia o uso de forma racionalizada dos recursos hídricos/naturais. Dessa forma o trabalho tem como objetivo analisar a distribuição da precipitação nos municípios de Francisco Alves e Alto Piquiri – PR em diferentes escalas temporais, evidenciando sua relação com alguns fatores geográficos. O município de Francisco Alves e Alto Piquiri encontram-se na porção central da bacia do Rio Piquiri, região noroeste do Estado do Paraná. Foram utilizados os dados de precipitação dos postos de coleta da SUDERHSA, no período compreendido entre (1976-2007). Aplicaram-se ainda alguns parâmetros estatísticos para o cálculo da precipitação pluviométrica na escala anual, sazonal e mensal. Pode-se concluir que o município de Alto Piquiri apresenta uma média pluviométrica de 1618 mm e Francisco Alves 1543,2 mm. Importante observar que Alto Piquiri está numa cota média altimétrica de 427 m, enquanto Francisco Alves encontra-se a 350 m, isso explica o fato das médias históricas de precipitação serem maiores em Alto Piquiri, já que os sistemas atmosféricos atuantes em ambos os municípios são praticamente os mesmos no decorrer de todo o ano. Sazonalmente a precipitação concentra-se para ambos os municípios, na primavera. Em Alto Piquiri os meses de dezembro e janeiro são os mais chuvosos, enquanto em Francisco Alves são outubro e dezembro. Palavras - chave: precipitação pluviométrica, Paraná, planejamento urbano e agrícola
ANALYSIS OF PLUVIOMETRIC PRECIPITATION DISTRIBUTION IN THE MUNICIPAL DISTRICTS OF FRANCISCO ALVES AND ALTO PIQUIRI - PR
Abstract: Climatic studies can be carried out not only under different scales of spatial and temporal observation, but also, by observing the dynamics of elements and all geographical factors. According to Nimer (1979), the analysis of these factors act simultaneously, and presents a constant interaction with the environment, thus providing means to understand atmospheric mechanisms which work as regulators of the climate. The analysis and understanding of climatic dynamics play an important role in urban and agricultural planning, once the analysis+understanding help in the elaboration of strategies, and, at the same time, propitiate the rational use of natural and hydric resources. This paper has as main objective to analyze the distribution of rain fall in two municipal districts, Francisco Alves and Alto Piquiri – PR, in different temporal scales, highlighting its relationship with other geographical factors. The municipal district of Francisco Alves and Alto Piquiri are located on the central area of Piquiri river basin, on the Northwest of the State of Paraná. Rain precipitation data were obtained from SUDERHSA – rain collection system, in the period from 1976 to 2007. Other statistical parameters were applied for the calculation of pluviometric precipitation in an annual, seasonal and
1 Acadêmico/bolsista de Geografia/PIBIC – Universidade Estadual de Maringá/ UEM - PR. [email protected] 2 Professor/Doutor do Depto. de Geografia – Universidade Estadual de Maringá/ UEM - PR. [email protected] 3 Acadêmica de Geografia – Universidade Estadual de Maringá/UEM - PR. [email protected]
monthly scale. It can be assumed that the municipal district of Alto Piquiri has a pluviometric average of 1.618 mm; whereas Francisco Alves presents an average of 1.543,2 mm. It is relevant to observe that Alto Piquiri is located on an average height of 427 m; whereas Francisco Alves is located at a height of 350 m, which explains the higher historical rain precipitation averages in Alto Piquiri, since the active atmospheric systems, in both municipal districts, are almost the same throughout the year. Seasonally, in both municipal districts, rain precipitation occurs mostly in spring season. In Alto Piquiri, December and January are the months with higher indexes of rain; whereas in Francisco Alves the higher rain precipitation indexes occur in October and December.
Key-words: Pluviometric precipitation; Parana; Urban and agricultural planning.
1-INTRODUÇÃO
Os estudos climáticos podem ser realizados sob diferentes escalas de observação espacial e
temporal, além da dinâmica dos elementos e dos fatores geográficos. A análise desses fatores, segundo
Nimer (1979) atuam de forma simultânea e apresentam constante interação com o meio, fornecendo a
compreensão dos mecanismos atmosféricos reguladores do clima. Para Conti (1998), a palavra clima,
tem origem grega e quer dizer “inclinação”, ou seja, o ângulo formado pelo eixo de rotação terrestre e
o plano da eclíptica. Esta inclinação é responsável pela variação da radiação solar incidente sobre as
mais diferentes regiões do planeta. Em sua essência a análise climática é complexa e dinâmica, uma
vez que não apenas os fatores como também os elementos do clima são muito variáveis, conforme
observado segundo o ponto de vista dos autores citados anteriormente.
Compreender os mecanismos atmosféricos é de extrema importância para entender a
manutenção da biosfera, pois é na interface superfície/atmosfera que ocorrem as trocas de energia
responsáveis pelo ciclo da vida no planeta, inclusive é nesta “interface” que o homem produz o espaço,
adequando e modificando o meio, conforme suas necessidades. Segundo Mendonça (2007), o conceito
de climatologia trata do comportamento da atmosfera e da interação humana com a superfície do
Planeta. Esse conceito caracteriza uma ciência que se configura como fonte fornecedora da
compreensão das diferentes paisagens terrestres, contribuindo para uma intervenção consciente na
organização do espaço.
É com base nessa dinâmica sistemática que se propõe analisar a distribuição da precipitação
pluviométrica em Francisco Alves e Alto Piquiri localizados no estado do Paraná, uma vez que,
compreendendo os elementos climáticos em conjunto com as feições geográficas regionais, pode-se
auxiliar no planejamento territorial e econômico, sendo que a agricultura é uma importante atividade
econômica para os municípios em questão.
Para Baldo et. al. (2001), a ocorrência de fenômenos meteorológicos adversos, vem
contribuindo para grandes prejuízos de ordem econômica para a agricultura no sul do país, e a análise
climatológica fornece assim subsídios para a organização das atividades econômicas, além de fornecer
um amplo conhecimento da realidade espacial regional.
2-PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os municípios de Francisco Alves e Alto Piquiri encontram-se na porção Noroeste do estado do
Paraná, na microrregião de Umuarama, segundo a classificação do IBGE (2000). Francisco Alves
localiza-se a 24º03’57” de latitude sul e 53º50’52” de longitude oeste, enquanto Alto Piquiri localiza-
se a 24º01’40” de latitude sul e 53º26’27” de longitude oeste (figura 1).
Figura 1: Mapa de localização dos municípios de Alto Piquiri e Francisco Alves - PR
Para a análise da distribuição da precipitação nos municípios estudados, optou-se por dividir
em três escalas temporais de observação, sendo elas, anual, sazonal e mensal. Os dados utilizados
foram concedidos pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental do Paraná (SUDERHSA), conforme indica a tabela 1.
Tabela 1: Postos pluviométricos da SUDERHSA
Código Posto Pluviométrico Lat. S Long. W Altitude Período
02453008 Alto Piquiri 24º 00' 53" 53º 26' 23" 427 m 1976 – 2007
02453052 Francisco Alves 24º 04' 59" 53º 57' 00" 350 m 1976 - 2007
Os dados de precipitação pluviométrica foram tratados através do programa Excel, para obter
as médias e o desvio padrão na escala anual, sazonal e mensal. Para a determinação da precipitação na
escala sazonal foi considerando o ano civil, ou seja: janeiro, fevereiro e março (verão), abril, maio e
junho (outono), julho, agosto e setembro (inverno), outubro, novembro e dezembro (primavera).
3-RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1-Análise dos dados anuais, sazonais e mensais
Na distribuição anual da precipitação para toda a série histórica nota-se aquilo que Nimer
(1979) aponta, como sendo a região sul do Brasil de modo geral uma região privilegiada pela altura e
regime anual da precipitação pluviométrica, conforme indicam as figuras 2 e 3, onde a média para
Alto Piquiri é de 1618 mm e para Francisco Alves de 1543,2 mm.
Precipitação Pluviométrica Anual - Alto Piquiri
0
500
1000
1500
2000
2500
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Anos
Prec
ipita
ção
Pluv
iom
étric
a (m
m)
Figura 2: distribuição anual da precipitação pluviométrica para Alto Piquiri da série histórica 1976-2007.
Precipitação Pluviométrica Anual - Francisco Alves
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Anos
Prec
ipita
ção
Pluv
iom
étric
a (m
m)
Figura 3: distribuição anual da precipitação pluviométrica para Francisco Alves da série histórica 1976-2007.
No entanto ao analisar as figuras 4 e 5, pode-se observar que há uma irregularidade da
pluviosidade ao longo dos anos, como foi observado no ano de 1983 onde as médias anuais tiveram
um aumento de mais de 750 mm em Alto Piquiri, neste mesmo ano observa-se 850 mm a mais que a
média histórica para Francisco Alves. Em 1982 observa-se um aumento na média de aproximadamente
455 mm para Alto Piquiri, enquanto que em Francisco Alves o desvio foi de 247 mm.
Essa irregularidade se deve às variações em escala global dos fatores dinâmicos (El Niño), o
que segundo Silva (2000), provoca na região Sul do Brasil um excesso de chuvas principalmente no
verão, pois a componente quente associada aos fatores locais estimula um aumento nas instabilidades
atmosféricas, provocando chuvas torrenciais e acarretando em grandes perdas na agricultura. Segundo
estudos realizados por Braido at. al. (2004), na bacia do Paranapanema III, localizada ao norte do
Paraná, os anos 1982, 1983, 1990, 1997 e 1998 foram registrados desvios positivos, provocados pelo
El niño.
Em contrapartida nos anos de 1984, 1985, 1987, 1988, 1991 e 1999 observa-se o processo
inverso em Alto Piquiri, apresentando os desvios negativos. Para Francisco Alves os anos de 1984,
1985, 1988, 1991, 1999, 2006 e 2007 foram os que apresentaram maior desvio negativo.
Contudo o ano de 1991 foi o que apresentou o maior desvio negativo, em Alto Piquiri (-580
mm) e em Francisco Alves foi o ano de 1985 (-760 mm), Figura 4 e 5.
Desvio padrão anual da Precipitação - Alto Piquiri
-800-600-400-200
0200400600800
1000
Anos
Des
vio
da P
reci
pita
ção
(mm
)
Figura 4: desvio padrão anual da precipitação pluviométrica para Alto Piquiri no período de 1976-2007.
Desvio padrão anual da precipitação - Francisco Alves
-1000-800-600-400-200
0200400600800
10001200
Anos
Des
vio
da p
reci
pita
ção
(mm
)
Figura 5: desvio padrão anual da precipitação pluviométrica para Francisco Alves no período de 1976-2007.
Analisando a distribuição sazonal da precipitação pluviométrica, observa-se que a primavera é
a estação mais chuvosa e o inverno a estação mais seca para ambos os municípios como observado na
figura 6. É importante ressaltar que ocorre uma pequena variação nos totais pluviométricos do verão e
outono. O verão é mais chuvoso em Alto Piquiri do que em Francisco Alves, já o outono é mais seco
em Alto Piquiri do que em Francisco Alves.
Precipitação sazonal - Alto Piquiri
0
100
200
300
400
500
600
VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA
Estações
Prec
ipita
ção
(mm
)
Precipitação sazonal - Francisco Alves
0100200300
400500600
VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA
Estações
Pre
cipi
taçã
o (m
m)
Figura 6: distribuição sazonal da precipitação pluviométrica para Francisco Alves e Alto Piquiri no período de 1976-2007
Como especificado por Nimer (1979) a atuação das massas de ar dirigidas de W e NW
provocam um aumento na intensidade das chuvas no verão e meados da primavera, observa-se que no
caso da região em questão, a concentração da precipitação ocorre ainda na primavera, e o inverno, é a
estação mais seca, pois as correntes de ar provenientes do extremo sul do hemisfério atuam com maior
freqüência, responsável pela diminuição das temperaturas e manutenção do tempo estável.
Ao Analisar a figura 7(A) que apresenta o desvio da precipitação sazonal em Alto Piquiri, nota-
se que a maior concentração de chuvas na primavera, ocorreu nos anos de 1982 e 2005 enquanto que
em Francisco Alves foram as primaveras de 1981 e 1982 as mais chuvosas Figura 7(B). Observa-se
ainda que houve um período que vai desde os anos de 1983 a 1994, onde todas as primaveras
apresentaram desvios negativos em ambos os municípios, com exceção do ano de 1993 em Francisco
Alves, onde apresentou um desvio positivo, porém pouco expressivo Figuras 7(A, B). Ainda observa-
se que os anos de 1985 e 1999 o desvio negativo teve significativa representação.
Figura 7: desvio padrão da precipitação pluviométrica para a primavera em Alto Piquiri (A) e Francisco Alves (B).
O verão apresenta-se como a segunda estação mais chuvosa para Alto Piquiri, tendo um pico
significativo em 1983 e outro em 2001, enquanto nos anos de 1978, 1988, 1992 e 2004 ocorreu o verão
mais seco de toda a série histórica para o município Figura 7(C). Em Francisco Alves o verão não está
entre as estações mais chuvosas, sendo que o maior desvio positivo ocorreram nos ano de 1997, 2000,
e 2001, e o maior desvio negativo no ano de 1978 Figura 7(D).
Figura 8: desvio padrão da precipitação pluviométrica para o verão em Alto Piquiri ( C ) e Francisco Alves (D)
O outono é a segunda estação mais chuvosa para Francisco Alves, destacando o ano de 1983,
Figura 9(B), que apresenta uma grande amplitude em relação aos demais anos, concentrando um
desvio superior aos 800 mm, e o inverno mostra-se como a estação mais seca, destacando o ano de
1988, representativo por ser o mais seco de toda a série analisada Figura 9(D). Diferentemente, em
Alto Piquiri o outono e o inverno são as estações mais secas, sendo que no outono as disparidades dos
valores da precipitação são mais intensas que no inverno, este configurando-se mais homogêneo e seco
Figura 9(A, C).
Figura 9: desvio padrão da precipitação pluviométrica para o outono (A, B) e inverno (C, D), em Alto Piquiri e Francisco Alves .
Para a distribuição mensal da precipitação observa-se que em Alto Piquiri há uma concentração
de chuva nos meses de outubro (172,5mm), novembro (157,5 mm), dezembro (186,6 mm) e janeiro
(179,3 mm), e uma diminuição gradativa nos meses de junho (100,4 mm), julho (76,5 mm) e agosto
(77,9 mm). Dezembro e janeiro mostraram-se como os meses mais chuvosos, enquanto os meses de
julho e agosto são os mais secos, com médias inferiores a 80 mm, como pode-se observar na figura 10
(A).
Em Francisco Alves a precipitação média mensal, mostra que os meses de maio (165,6mm),
outubro (168,7 mm), novembro (165,6 mm) e dezembro (172,2 mm) são os mais chuvosos, e os meses
de julho (70,2 mm) e agosto (66,6 mm) são os meses mais secos, e os valores são inferiores se
comparados a Alto Piquiri, Figura 10(B).
Figura 10: distribuição mensal da precipitação pluviométrica para Alto Piquiri (A) e Francisco Alves (B) , no período de 1976-2007.
Para o mês de janeiro observa-se que o maior desvio positivo em Alto Piquiri foi de 186 mm
em 2005, e o negativo foi de -173 mm em 1992. Em Francisco Alves o maior desvio positivo ocorreu
em 1995 (210 mm), e o maior desvio negativo em 1985 e 1992 com -144 mm respectivamente (Figura
11 A, B).
Figura 11: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de janeiro em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves(B).
A figura 12(A, B), indica o desvio da chuvas para o mês de fevereiro. Nota-se que o maior
desvio positivo em Alto Piquiri foi de 106 mm em 1980, enquanto o oposto ocorreu em 2005, com -
118 mm. Segundo análises feitas pela Climanálise (2005) neste mês observou-se uma anomalia para a
região sul do país, onde um bloqueio no sul do continente sul-americano, impediu a entrada das massas
de ar provenientes do atlântico sul, prejudicando assim a formação de chuvas. Para Francisco Alves,
nota-se um desvio superior a 186 mm no ano de 1997, enquanto que para 1978 observa-se um desvio
de -131 mm.
Figura 12: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de fevereiro em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves(B).
Analisando a figura 13(A, B), onde observa-se o desvio padrão para o mês de março. Em Alto
Piquiri tem-se um grande desvio positivo para o ano de 1983 com valor acima de 135 mm, e o maior
desvio negativo de -100 mm em 1988. Em Fancisco Alves nota-se o maior desvio positivo em 1996,
com 159 mm, e o negativo em 2005, de aproximadamente -95 mm.
Figura 13: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de março em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves (B).
Em abril, observa-se um acúmulo de desvio positivo em 1998 para Alto Piquiri, e Francisco
Alves em 1983, enquanto os desvios negativos se destacam nos anos de 1978, 1982, 1997 e 2002 para
ambos os municípios, Figura 14(A,B).
Figura 14: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de abril em Alto Piquiri (A) e Francisco Alves (B).
Para maio, verificam-se expressivos desvios positivos para ambos os municípios, destacando os
anos de 1992, 2002 e 2004, além do ano de 1983 para o caso de Francisco Alves como indica a figura
15 (A, B). Em 2002 foi observado pela Climanálise (2002) que a formação de uma ciclogênese
(sistema de baixa pressão) sobre o Paraguai e Rio Grande do Sul, provocou um acúmulo de chuvas
principalmente sobre o Paraná. Para o ano de 2004, o mês de maio também foi muito anômalo para o
estado, especificamente sobre o oeste, onde segundo o INPE (2004) ocorreram a formação de duas
frontogêneses, nos dias 13 e 24, provocando chuvas em excesso na região.
Figura 15: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de maio em Alto Piquiri (A) e Francisco Alves (B).
Analisando a figura 16 (A, B), com os desvios para o mês de junho, verificam-se os maiores
desvios positivos nos anos de 1982, 1983 e 1997 para ambos os municípios, sendo o mais expressivo o
de 1982, onde atingiu 228 mm em Alto Piquiri, e 215 mm em Francisco Alves. Importante observar
que, os desvios negativos foram expressivos nos anos de 1979, 1986, 2002 e 2007 no município de
Alto Piquiri, figura 16 (A), e nos anos de 1979, 1985, 2002, 2007 em Francisco Alves, figura 16 (B).
Figura 16: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de junho em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves(B).
No mês de julho, ocorreram desvios positivos significativos nos anos de 1978 e 1982, com 169
mm e 164 mm respectivamente para cada município no ano de 1982, figura 17(A,B). Enquanto em
1988 ocorreu o inverso, registrando os maiores desvios negativos da série em ambos os municípios.
Figura 17: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de julho em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves (B).
Para agosto, é nítida a variação dos desvios, conforme mostra a figura 18. Os desvios positivos
se destacam nos anos de 1986 e 1989 para ambos os municípios, enquanto que em 1998 em Francisco
Alves os valores ultrapassaram 165 mm. Os desvios negativos foram bem mais suavizados para este
mês, isso devido o fato de que, habitualmente o mês de agosto é muito seco, o que acaba realçando os
desvios positivos.
Figura 18: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de agosto em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves (B).
A figura 19 mostra o desvio padrão para o mês de setembro, nota-se que em 1983 ocorreu o
maior desvio positivo em Alto Piquiri e Francisco Alves com 211mm e 182 mm respectivamente.
Quanto aos desvios negativos mais expressivos, os anos de 1988 e 2007 foram os que apresentaram
maior variação em toda a série analisada.
Figura 19: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de setembro em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves(B). Para o mês de outubro, os desvios positivos nos anos de 2004 e 2005 foram os mais
expressivos. Segundo dados da Climánalise (2004) a atuação de sistemas frontais e dos CCMs
(Complexos convectivos de mesoescala), provocaram uma abundancia de chuvas no Paraná, tanto que
em Alto Piquiri o desvio foi de 193 mm e em Francisco Alves de 164 mm no ano de 2004. No ano de
2005, a causa dos elevados valores de precipitação foi a associação da atuação das frentes junto a
ciclogênese (formação de sistemas de baixa pressão), INPE (2005). Os desvios negativos destacam-se
no anos de 1978, 1984, 1985, 1991, 1999 e 2006, para o município de Alto Piquiri, conforme indica a
figura 20 (A). No caso de Francisco Alves, figura 20 (B), os anos de 1977, 1985, 1999, 2001, 2006 e
2007 foram os que apresentaram maio desvio negativo.
Figura 20: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de outubro em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves(B).
No mês de novembro observa-se na figura 21 (A) que os desvios positivos mais expressivos
foram registrados nos anos de 1982, em Alto Piquiri que excedeu os 202 mm, e no ano de 1977 em
Francisco Alves, que alcançou os 162 mm figura 20 (B). O ano de 1988 apresentou significativo
desvio negativo, atingindo -145 mm para Alto Piquiri e -124 mm para Francisco Alves.
Figura 21: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de novembro em Alto Piquiri (A) e Francisco Alves(B).
No mês de dezembro, verifica-se que o ano de 1981 foi o que apresentou o maior desvio
positivo, em Alto Piquiri (281 mm) e em Francisco Alves (397 mm). O maior desvio negativo foi no
ano de 1985 no primeiro, e 1989 no segundo município, conforme indica a figura 21(A, B).
Figura 22: desvio padrão da precipitação pluviométrica do mês de dezembro em Alto Piquiri(A) e Francisco Alves (B). 3.2-Análise integrada dos fatores dinâmicos e estáticos e a distribuição das chuvas
A distribuição da precipitação está intimamente ligada aos fatores dinâmicos e estáticos.
Partindo desse pressuposto pode-se analisar inicialmente a influência dos fatores estáticos
(geográficos) na área de estudo, uma vez que será levado em consideração à localização geográfica dos
municípios em questão.
Para Mendonça (2007) o relevo possui três atributos de fundamental importância na definição
dos climas, como por exemplo, a posição, a orientação das vertentes e a declividade.
O município de Francisco Alves e Alto Piquiri encontram-se na porção central da bacia do Rio
Piquiri, numa área rebaixada e levemente orientada para o oeste/noroeste do estado. O município de
Francisco Alves está muito próximo à foz do rio Piquiri onde o relevo está mais rebaixado.
Ambos os municípios estão numa área configurada por relevos que se inclinam suavemente em
direção a calha do rio Paraná na direção oeste/noroeste, resultado dos processos erosivos provocados
pelos rios Paranapanema, Ivaí, Piquiri e Iguaçu e que segundo Maack (1981) essa configuração do
relevo é responsável pela existência de zonas naturais de paisagem no estado do Paraná, formado por
escarpas de estratos e planaltos, sendo que os municípios em questão localizam-se no terceiro planalto,
na porção média do planalto de trapp entre os rios Ivaí e Piquiri.
Na figura 23 é possível observar que Alto Piquiri está numa cota média altimétrica de 427 m,
enquanto Francisco Alves encontra-se a 350 m.
Figura 23: representação tridimensional do relevo dos municípios de Alto Piquiri e Francisco Alves.
Quanto aos fatores dinâmicos, deve-se levar em consideração a estrutura da circulação
atmosférica atuante sobre o sul do Brasil, especificamente sobre o Paraná, para melhor compreender a
circulação na escala local. Para essa compreensão, Nimer (1979) propõe o estudo da dinâmica dos
sistemas de circulação atmosférica perturbada, onde as zonas de alta e baixa pressão formadas sobre o
oceano Atlântico atuam no continente provocando ora tempo ensolarado, ora chuvoso.
No sul do Brasil, duas correntes perturbadas atuam com certa periodicidade, a corrente
perturbada de Sul, que tem formação nas zonas geladas da Antártida, e atuam provocando ventos de
W, SW, S e SE, onde pode-se observar a entrada dos sistemas de circulação de W e S, de forma
simplificada, conforme indica a figura 24.
A atuação desse sistema tem maior intensidade no inverno, quando as massas de ar se deslocam
da Antártida com maior energia, atingindo o continente sul-americano, uma das características das
massas de ar provenientes destes sistemas é a de provocar volumes reduzidos de chuva, uma vez que
estão associadas à baixas umidade e temperatura, como foi observado durante o inverno de ambos os
municípios, onde a entrada freqüente da Mpa (Massa Polar Atlântica) provoca fortes quedas na
temperatura, e pouca precipitação acumulada.
Figura 24: esquema de atuação dos sistemas perturbados, proposto por Nimer (1979).
A corrente perturbada de Oeste provoca de modo geral em todo o interior brasileiro, ondas de
ventos de W a NW e freqüentes chuvas com forte intensidade. Sua atuação fica confinada entre
meados da primavera até meados do outono, com maior eficácia no verão, este sistema é o responsável
pelo aumento dos valores de precipitação no verão e na primavera principalmente.
Importante observar que, a atuação conjunta dos fatores dinâmicos e estáticos, caracteriza de
forma sistemática o clima da região estudada, segundo Maack (1981), “as grandes escarpas, que
delimitam o primeiro, o segundo e o terceiro planaltos, têm muita influência na distribuição das
precipitações. Atuam simultaneamente como obstáculos orográficos...”
As massas de ar que se pronunciam de W e SW, entram pela calha do rio Piquiri, orientada em
direção E-NE, e vão precipitando à medida que avançam. Encontrando uma “barreira” natural,
configurada pela elevação do próprio relevo, exigindo maior desprendimento de energia devido à
diminuição da densidade do ar pelo aumento da altitude.
Segundo Tubelis et. al. (1986) o deslocamento vertical das massas de ar é causado pelo
processo de convecção térmica, por uma superfície frontal e pelo relevo, e na medida em que uma
massa de ar se eleva, ela se expande devido à diminuição da pressão atmosférica com a altura. Essa
expansão adiabática e conseqüente resfriamento provocam a diminuição de retenção de vapor d’água,
e no momento em que o vapor d’água se iguala a tensão de saturação na sua temperatura, ocorre a
saturação, e inicia-se o processo de condensação, conforme mostra de forma ilustrativa a figura 25.
Figura 25: ilustração do mecanismo de atuação dos sistemas atmosféricos em conjunto com o relevo.
4-CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, observou-se que para Alto Piquiri, dezembro e janeiro mostraram-se como os
meses mais chuvosos, enquanto os meses de julho e agosto são os mais secos, com médias inferiores a
80 mm, para Francisco Alves os meses de outubro e dezembro são os mais chuvosos, sendo que julho
e agosto também são os meses mais secos. Diagnosticou-se também que a primavera é a estação mais
chuvosa e o inverno a estação mais seca para ambos os municípios, o que difere é a distribuição da
precipitação no verão e no outono, em Alto Piquiri o verão é mais chuvoso que o outono, já em
Francisco Alves ocorre o inverso.
A umidade se distribui de certa forma homogênea durante todo o ano para ambos os
municípios, porém observou-se que em Alto Piquiri ocorre cerca de 74,8 mm de precipitação a mais
que em Francisco Alves na média histórica, fato explicado pelo fenômeno da orografia, e ainda pode-
se concluir que de forma genérica a precipitação é bem distribuída, mas quando realizado a análise em
diferentes escalas de observação observa-se a complexidade e variação dos fenômenos, principalmente
em anos em que é diagnosticado o fenômeno como El niño.
Baseado em análises dinâmicas das situações atmosféricas, os estudos climáticos podem
oferecer subsídios para um planejamento territorial mais racional na esfera econômica e social, uma
vez que o setor agrícola, muito expressivo nos municípios de Alto Piquiri e Francisco Alves, está
intimamente ligado às condições climáticas.
Para um bom desenvolvimento da atividade e conseqüente estabilidade econômica dos
municípios, o planejamento pode repercutir cada vez mais nas diferentes esferas sociais, à medida que
promove a possibilidade de gestão financeira dos municípios, proporcionando um maior apreço às
obrigações sociais dos órgãos públicos.
5-REFERÊNCIAS
BALDO, Maria Cleide. MARTINS, Maria de Lourdes O. F. NERY, Jonas Teixeira. Análise da estrutura da precipitação pluviométrica na região sul do Brasil. Boletim de Geografia – Departamento de Geografia, UEM, Maringá, n. 1. 2001. BRAIDO, Leandro Marcos H ; ZANDONADI, Leandro ; SILVEIRA, H. . Caracterização da Precipitação Pluviométrica na Bacia do Paranapanema III - PR. VI Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, v. 1. Aracaju, 2004. CONTI, José Bueno. Clima e meio ambiente. São Paulo: Atual, 1998. INPE – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Climanálise: boletim de monitoramento e analise climática. Cachoeira Paulista: INPE/CPTEC, v. 17, n. 5, mai. 2002. _______. Climanálise: boletim de monitoramento e analise climática. Cachoeira Paulista: INPE/CPTEC, v. 19, n. 5, mai. 2004. _______. Climanálise: boletim de monitoramento e analise climática. Cachoeira Paulista: INPE/CPTEC, v. 19, n. 10, out. 2004. _______. Climanálise: boletim de monitoramento e analise climática. Cachoeira Paulista: INPE/CPTEC, v. 20, n. 2, fev. 2005. _______. Climanálise: boletim de monitoramento e analise climática. Cachoeira Paulista: INPE/CPTEC, v. 20, n. 10, out. 2005.
MAACK. Reinhard. Geografia física do estado do Paraná. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1981. MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. NIMER, Edmon. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. SILVA, J.F. 2000. El Niño, O fenômeno climático do século. The Sauros, 2000. TUBELIS, Antonio. NASCIMENTO, Fernando José Lino do. Meteorologia descritiva: Fundamentos e aplicações brasileiras. São Paulo: Nobel, 1986.