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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ÁLAMO ALEXANDRE DA SILVA BATISTA ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO UM MODELO DE REGRESSÃO LOGÍSTICA DISSERTAÇÃO PONTA GROSSA 2010

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Page 1: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ÁLAMO ALEXANDRE DA SILVA BATISTA

ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO UM MODELO DE REGRESSÃO LOGÍSTICA

DISSERTAÇÃO

PONTA GROSSA 2010

Page 2: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

ÁLAMO ALEXANDRE DA SILVA BATISTA

ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO UM MODELO DE REGRESSÃO LOGÍSTICA

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Área de Concentração: Gestão Industrial. Orientador: Prof. Dr. Guataçara dos Santos Junior.

PONTA GROSSA 2010

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Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa n.90 /10

B333 Batista, Álamo Alexandre da Silva

Análise da qualidade de vida no trabalho utilizando um modelo de regressão logística / Álamo Alexandre da Silva Batista. -- Ponta Grossa: [s.n.], 2010.

89 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Guataçara dos Santos Junior Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2010.

1. Regressão logística. 2. Qualidade de vida no trabalho. 3. Turnos de trabalho. I. Santos Junior, Guataçara dos. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. III. Título.

CDD 658.5

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Page 5: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

Dedico este trabalho à minha esposa

Fabiana, ao meu filho Henrique e aos

meus queridos pais.

Page 6: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

AGRADECIMENTOS

A Deus por esta oportunidade impar dentro da minha existência.

Ao meu filho Henrique, por ser minha inesgotável fonte de motivação.

A minha querida esposa, pelo apoio incondicional e paciência nos momentos

de ausência.

Ao meu orientador professor Guataçara dos Santos Junior, por nortear este

trabalho e sempre estar disposto a sanar as dúvidas que surgiram durante a

confecção deste.

A minha amiga Rose Maria Hass, que além de fazer parte da família, me

incentivou durante a realização deste trabalho.

A Luciana Timossi, por sanar as diversas dúvidas que surgiram na

interpretação da pesquisa que a mesma realizou.

A UTFPR campus Ponta Grossa, pela estrutura disponível.

Aos companheiros de mestrado, Carlos, Gilberto, Antão e Cidmar.

A todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram na realização

deste trabalho.

Page 7: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

“Dizem que tenho sorte... mas percebo

que quanto mais eu me esforço, mais

sorte eu tenho”

(Jack Nicklaus)

Page 8: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

RESUMO

BATISTA, Álamo A. S. ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO UM MODELO DE REGRESSÃO LOGÍSTICA. 2010. 89 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2010. O objetivo deste estudo foi identificar quais variáveis sociodemográficas e turnos de trabalho que possuem influência significativa na qualidade de vida no trabalho dos funcionários da indústria de laticínios. A abordagem metodológica foi aplicada, descritiva e quali-quantitativa, realizada através de uma revisão documental. Para análise e interpretação dos dados foi utilizado o modelo adaptado de Walton, através de uma escala Likert, para avaliar a qualidade de vida no trabalho da população do estudo, sendo esta formada por 548 colaboradores. Para análise dos resultados utilizou-se o teste qui-quadrado e a análise de regressão logística. Já para validação do modelo estimado, através da análise de regressão logística, foram utilizados os testes Deviance, Pearson e Hosmer-Lemeshow. Os resultados encontrados mostraram que as variáveis escolaridade, número de filhos, tabagismo, atividade física, tempo de trabalho e consumo de álcool não possuem influência significativa em relação à QVT desta população, pois apresentaram valores acima do nível de significância adotado (P>0,05). Já as variáveis gênero (P=0,015), faixa etária (P=0,045), estado civil (P=0,017) e turno de trabalho (P=0,012) apresentaram uma influência significativa na QVT da população analisada. Considerando estas variáveis foi estimado um modelo matemático, utilizando a análise de regressão logística, sendo que a razão de chances (RC) encontrada foi: fator gênero (RC=1,84), para a idade (RC=0,95), para estado civil (RC=0,64), para o turno 2 (RC=3,16) e turno 4 (RC=2,50). Concluiu-se que os gestores deste segmento, no intuito de implantar/melhorar os programas de QVT para a população do estudo, podem direcionar seus investimentos nos colaboradores do sexo masculino, jovens, solteiros e que atuam nos turnos 2 ou 4. Palavras-chave: Regressão logística. Qualidade de vida no trabalho. Turnos de trabalho.

Page 9: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

ABSTRACT

BATISTA, Alamo A. S. ANALISYS OF QUALITY OF WORKING LIFE USING A LOGISTIC REGRESSION MODEL. 2010. 89 p. Dissertation (Master in Production Engineering) – Post Graduation Program in Production Engineering, Federal Technological University of Paraná. Ponta Grossa, 2010. The objective of this study was to identify witch sociodemographic variables and shift working have significant influence on quality of working life of employees on the dairy industry. The methodological approach was applied, descriptive and qualitative-quantitative, held through a documents review. For the analyze and interpretation of the data it was used the model adapted from Walton, by a Likert scale, to rate the quality of working life of the studied population, being formed for 548 employees. For data analysis it was used the chi-square and logistic regression analysis. For validating the model estimated by logistic regression analysis, it was used the Deviance, Pearson and Hosmer-Lemeshow tests. The results showed that the variables education, number of children, smoking, physical activity, working time and alcohol consumption did not have significant influence over the QVT of this population, because it presented values above the significant level adopted (P>0,05). The variables gender (P=0,015), age (P=0,045), marital status (P=0,017) and shift working (P=0,012) had a significant influence on QVT. Considering these variables it was estimated a mathematical model using the logistic regression analysis, and the odds ratio (OR) was found: the gender factor (OR = 1.84) for age (OR = 0.95), for marital status (OR = 0.64), for shift 2 (OR = 3.16) and shift 4 (OR = 2.50). It was concluded that the managers of this segment in intention to establish/ improve QWL programs for the studied population, can direct their investments in employees male, young, single and working on shifts 2 or 4. Keywords: Logistic regression. Quality of working life. Shift working.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Escala de respostas de QVT ................................................................... 46

Figura 2 - Relação logística entre a variável dependente e independente ............... 58

Figura 3 - Organograma da metodologia aplicada .................................................. 62

Figura 4 - Razão de chances de influência na QVT ................................................. 80

Page 11: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Benefícios e obstáculos da QV nas empresas. ...................................... 23

Quadro 2 - Dimensões de Walton para QVT ............................................................ 31

Quadro 3 - Sistemas de Turnos ............................................................................... 36

Quadro 4 - Variáveis relacionadas no estudo........................................................... 45

Quadro 5 - Componentes de um Teste de Hipóteses .............................................. 47

Quadro 6 - Erros Tipo I e Tipo II ............................................................................... 47

Quadro 7 - Tipos de variáveis resposta .................................................................... 57

Quadro 8 - Modelos probabilísticos .......................................................................... 58

Page 12: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Entrevistados de acordo com porte da empresa...................................... 43 Tabela 2 - Interpretação do Valor P........................................................................... 49 Tabela 3 - Valor de P para as variáveis independentes............................................ 64 Tabela 4 - Influência do gênero na insatisfação da QVT........................................... 66 Tabela 5 - Influência da idade na insatisfação da QVT ............................................ 68 Tabela 6 - Influência do estado civil na insatisfação da QVT.................................... 69 Tabela 7 - Influência do turno de trabalho na insatisfação da QVT .......................... 70 Tabela 8 - Razão de chances de uma QVT insatisfatória nos turnos de trabalho... 72 Tabela 9 - Influência das variáveis independentes sobre a variável dependente... 73 Tabela 10 - Teste de qualidade de ajuste dos dados................................................ 76 Tabela 11 - Exemplo de uso do modelo logístico...................................................... 77 Tabela 12 - Prioridade de investimentos nos turnos de trabalho............................... 80

Page 13: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

1.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA ................................................. 15

1.2 PROBLEMA DA PESQUISA ............................................................................... 15

1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 16

1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 16

1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 16

1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ......................................................................... 17

1.5 ESTRUTURA DE DISSERTAÇÃO...................................................................... 18

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 19

2.1 QUALIDADE DE VIDA (QV) ............................................................................... 19

2.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) ................................................... 25

2.3 MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QVT................................................................. 30

2.4 SISTEMA DE TRABALHO .................................................................................. 32

2.4.1 Sistema de Trabalho em Turnos ....................................................................... 32

2.4.2 Ritmo Circadiano Humano ................................................................................ 39

3 METODOLOGIA ................................................................................................... 43

3.1 TESTE DE HIPÓTESES NA ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................... 46

3.1.1 Teste de Independência entre Variáveis ........................................................... 49

3.2 ANÁLISE MULTIVARIADA ................................................................................. 51

3.2.1 Regressão Múltipla ........................................................................................... 54

3.2.1.1 Regressão Logística ................................................................................... 55

3.2.1.2 Representação Matemática da Regressão Logística .................................. 59

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................. 64

4.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QVT E GÊNERO .................................................... 66

4.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS FAIXA ETÁRIA E QVT ............................................ 67

4.3 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESTADO CIVIL E QVT ........................................... 69

4.4 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TURNO DE TRABALHO E QVT ............................. 70

4.5 MODELO GERADO COM AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES EM RELAÇÃO À QVT ........................................................................................................................... 73

4.5.1 Validação do Modelo Logístico ......................................................................... 75

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 82

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................. 83

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85

Page 14: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

12

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios dos tempos a evolução do ser humano vem sendo

destacada através da sua capacidade de adaptar o meio em que está inserido,

modificando este ambiente, estruturando-o da maneira que lhe convém e muitas

vezes melhorando o local ao qual está interagindo.

Na medida em que foi evoluindo, independente da época e população, a

necessidade de convivência em sociedade e as condições econômicas, fizeram que

o homem desenvolvesse máquinas e processos para auxiliar a produção de seus

bens tanto para consumo quanto para comercialização.

Neste aspecto, com a revolução industrial, foram desenvolvidas inovações

tecnológicas e organizacionais, condizentes com o conhecimento técnico da época,

modificando a maneira das empresas fabricarem seus produtos e a forma de gestão

das mesmas. Com isso, tanto empresas quanto trabalhadores tiveram que adaptar-

se a estas mudanças, buscando o conhecimento técnico necessário e adaptando-se

à nova realidade empresarial.

Neste momento da evolução, onde a produção artesanal começou a ser

deixada de lado para a inserção de máquinas industriais, criou-se uma necessidade

por trabalhadores qualificados tecnicamente e dispostos a trabalhar com

equipamentos de grande porte para suprir as necessidades do mercado.

Sob a influência das pesquisas realizadas por Taylor, Fayol e Ford a

produtividade passou a ser buscada de maneira exaustiva por todas as empresas. A

produção em massa concomitante a custos reduzidos passou a ser a principal

diretriz das organizações e com esta perspectiva, esta nova diretriz de trabalho

passou a fazer parte do cotidiano dos trabalhadores que ficaram incumbidos de

atingir este novo patamar organizacional.

O ritmo de trabalho, com o início da sociedade industrial passou, segundo

Carmo (1998), a ser ditado pelo relógio e para aumentar seus índices de

competitividade e produtividade muitas empresas passaram a trabalhar 24 horas por

dia, durante toda a semana, impondo aos funcionários envolvidos no processo

Page 15: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

13

produtivo, um sistema de horários diferenciado para conseguir suprir esta

necessidade fabril.

Para Moreno, Fischer e Rotenberg (2003), prestadores de serviços como

bancos, provedores de internet e redes de supermercados, por exemplo, são alguns

dos setores que também sentiram a necessidade da implantação de um sistema de

horários diferenciados ou conhecido popularmente por sistemas de turnos.

Para atender a demanda de uma sociedade cada vez mais consumidora e

para conseguir manter seu nível de produtividade e competitividade, as

organizações não poderiam simplesmente atuar no horário diurno e diante deste

cenário, tiveram que criar um sistema que fosse capaz de englobar o trabalho

contínuo nos três turnos do dia, ou seja, manhã, tarde e noite.

Com este novo sistema de trabalho, os interesses empresariais conseguem

ser atendidos, porém é necessário ressaltar que a mão de obra que atua neste

sistema é afetada, pois precisa se sujeitar ao seu novo turno de trabalho

constantemente, quando atua em turnos rotativos, precisando sacrificar seus

interesses em pró do seu horário de trabalho.

Para que este sistema de trabalho contínuo funcione é preciso que os

gestores proporcionem condições necessárias aos funcionários atuantes nos

trabalhos em turno, buscando amenizar o impacto deste sistema no intuito de manter

sua produtividade funcional, mas principalmente a qualidade de vida dos mesmos.

Gonçalves, Gutierrez e Vilarta (2005), mostram que o trabalhador interage

no seu ambiente de trabalho atingindo várias dimensões sendo estas psíquicas,

físicas e sociais. Com esta abordagem é possível conferir que para entender o

comportamento do indivíduo em um sistema organizacional, não se pode apenas

analisar uma variável específica. Existem diversos fatores que afetam direta ou

indiretamente o comportamento do ser humano e tal comportamento pode interferir

no desempenho funcional na organização.

Percebe-se que além do ambiente de trabalho no qual o trabalhador está

inserido, existem variáveis sociodemográficas a qual ele está sujeito, de maneira que

o conjunto destas pode interferir diretamente com seu bem estar. Isto acaba

influenciando sua qualidade de vida e consequentemente sua qualidade de vida no

trabalho sendo então de fundamental importância um equilíbrio entre ambas.

Page 16: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

14

Por passar boa parte do seu tempo em seu posto de trabalho, torna-se

necessário inserir nas organizações, programas que relacionem estas variáveis

sociodemográficas de modo a amenizar a imagem negativa relacionada ao trabalho

em turnos. Vale ressaltar também, que segundo Conte (2003), a maioria dos

colaboradores atua em seu ambiente de trabalho no mínimo 8 horas por dia, durante

pelo menos 35 anos de suas vidas. Consequentemente, segundo o autor, o

funcionário acaba levando para casa todas as tensões do seu dia de trabalho,

receios e até mesmo angústias.

A partir desta informação nota-se que o trabalhador passa boa parte da sua

vida inserido ou ligado a alguma organização e para que o mesmo não adquira uma

insatisfação funcional precoce, é preciso analisar as alternativas viáveis e eficientes

para amenizar esta situação.

Assim, Limongi-França (2005) mostra que os programas de qualidade de

vida no trabalho (QVT) ganham a devida notoriedade pela comunidade acadêmica e

empresarial, de modo a nortear os investimentos para inserção, adaptação e

utilização no cotidiano dos trabalhadores. Analisando a influência do ambiente de

trabalho na produtividade individual, buscando sincronizar e alinhar os objetivos e

aspirações tanto organizacionais quanto individuais, a QVT destaca-se como uma

importante ferramenta organizacional.

A partir do momento que uma organização insere esta filosofia de trabalho

em sua cultura organizacional, o reflexo do investimento em QVT aparece na

qualidade dos seus produtos ou serviços. De acordo com Chiavenato (2004), para

as empresas satisfazerem seus clientes externos é preciso antes de tudo, satisfazer

os funcionários responsáveis pelo produto ou serviço oferecido, ou seja, precisa

também satisfazer seus clientes internos.

Portanto as condições de trabalho e ambiente organizacional, oferecidos

pelos empregadores, possuem uma relação direta com os colaboradores interferindo

assim na qualidade de vida dos mesmos, tanto dentro quanto fora da empresa,

refletindo também no desempenho estratégico da organização.

Page 17: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

15

1.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA

A qualidade de vida no trabalho tornou-se uma preocupação tanto

acadêmica quanto empresarial e seus benefícios, atingem as empresas em diversos

indicadores empresariais, melhorando principalmente seu clima organizacional e

interferindo diretamente no cotidiano dos colaboradores.

Entretanto a necessidade de aumentar sua competitividade e principalmente

atender a demanda dos mercados obrigou as empresas a criarem turnos de trabalho

em que máquinas, nas indústrias de transformação e as empresas prestadoras de

serviços, a trabalharem durante as 24 horas do dia.

A delimitação da pesquisa será norteada pelos seguintes aspectos:

• Segmento: a área de atuação das quatro empresas pesquisadas é

relacionada diretamente com a indústria alimentícia, especificamente no ramo

de atuação de laticínios, em empresas classificadas em micro, pequena,

médio e grande porte.

• Posição Geográfica: indústrias do ramo de laticínios do estado do Paraná.

• Estrutura organizacional: não serão delimitados níveis hierárquicos, salários e

benefícios oferecidos, esperando atingir um maior número de funcionários de

diferentes cargos exercidos nas empresas.

As informações e dados relacionados à população e empresas entrevistadas

foram obtidos no banco de dados disponíveis em (TIMOSSI, 2009).

1.2 PROBLEMA DA PESQUISA

A proposta deste estudo apresenta a seguinte questão de pesquisa:

Quais são as variáveis sociodemográficas e turnos de trabalho que

influenciam a qualidade de vida no trabalho (QVT) dos trabalhadores da

indústria de laticínios?

Page 18: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

16

A hipótese proposta para este estudo é que existe uma relação significativa

entre os turnos de trabalho e variáveis sociodemográficas com a qualidade de vida

no trabalho dos colaboradores. Assim, do ponto de vista estatístico, será possível

estimar a probabilidade de influência destas variáveis sobre a qualidade de vida no

trabalho dos colaboradores da indústria de laticínios.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é:

“Identificar quais variáveis sociodemográficas e turnos de trabalho que

possuem influência significativa na qualidade de vida no trabalho dos

funcionários da indústria de laticínios”.

1.3.2 Objetivos Específicos

Para atingir o objetivo geral é necessário atender os seguintes objetivos

específicos:

• Avaliar a independência entre QVT e as variáveis sociodemográficas gênero,

faixa etária, escolaridade, estado civil, tabagismo, consumo de álcool e tempo

de trabalho;

• Avaliar a independência dos diferentes turnos de trabalhos na QVT dos

trabalhadores;

• Analisar qual é a razão de chances das variáveis sociodemográficas e turnos

de trabalho influenciar a QVT da população analisada;

• Criar um modelo de regressão logística capaz quantificar a insatisfação dos

colaboradores em relação a sua QVT;

Page 19: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

17

• Apontar prioridades em investimento para melhoria da QVT de funcionários

na indústria de laticínios com base nas variáveis sociodemográficas e turno

de trabalho

1.4 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

A hipótese proposta para este estudo parte do princípio de que as empresas

que precisam trabalhar durante as 24 horas do dia durante toda a semana precisam

organizar os horários de trabalho para atuarem nos três turnos. Além do turno de

trabalho, existem também variáveis sociodemográficas que precisam ser

consideradas para quantificar e determinar quais pontos precisam ser avaliados para

mensurar a QVT da organização.

Entre as ferramentas existentes para mensurar a QVT dos trabalhadores

poucas conseguem fornecer resultados de ordem prática e fácil compreensão, onde

muitas vezes os gestores precisam obter um resultado rápido para tomada de

decisões, principalmente no concerne a programas de QVT.

Além disso, o aumento na demanda por produtos e serviços obriga as

empresas a criarem sistemas alternativos de trabalho, para poderem atuar durante

as 24 horas do dia e conseguir suprir o seu mercado consumidor. Moreno, Fischer e

Rotenberg (2003) mostram que o mercado consumidor exige das empresas uma

resposta imediata no intuito de suprir as demandas existentes e isto só é possível,

com a implantação de trabalhos ininterruptos. Com isso é necessário analisar de que

maneira estes sistemas de trabalho afetam o trabalhador e a qualidade de vida no

trabalho do mesmo.

Devido a grande quantidade de profissionais que trabalham diretamente

neste sistema surge então a necessidade da realização de um estudo sobre os

turnos de trabalho e as variáveis sociodemográficas que apresentam associação

significativa com a QVT, de maneira a interferir diretamente no desenvolvimento e

desempenho do trabalhador.

Page 20: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

18

Verificando a avaliação feita junto aos colaboradores com relação a sua

QVT, analisando os sistemas de trabalhos em turnos e as variáveis

sociodemográficas existentes, é possível nortear prioridades para minimizar os

impactos destas variáveis sobre a QVT.

Percebe-se também que o assunto QVT e turnos de trabalho, analisados em

conjunto, ainda são escassos, de modo justificar a realização desta pesquisa. Além

disso, pretende-se com este trabalho identificar estratégias para análise da influência

das variáveis sociodemográficas e turno de trabalho com a QVT dos funcionários da

indústria de laticínios, visando minimizar os efeitos colaterais da relação empresa x

funcionário, de maneira a proporcionar um ambiente de trabalho mais produtivo

atendendo as expectativas tanto empresariais quanto pessoais dos seus

funcionários.

1.5 ESTRUTURA DE DISSERTAÇÃO

Este trabalho apresenta a seguinte estruturação:

No capítulo 1 está a introdução, onde é demonstrado o tema, a justificativa e

também os objetivos geral e específico.

No capítulo 2 está o referencial teórico sobre a qualidade de vida, qualidade

de vida no trabalho e respectivas formas de avaliação existentes e o sistema de

trabalho em turnos utilizado na atualidade. Está apresentado também o referencial

estatístico para o adequado tratamento dos dados obtidos junto à população do

referido estudo.

O capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada no trabalho, características

da população e quais ferramentas estatísticas foram utilizadas.

No capítulo 4 são apresentados os resultados obtidos e também o modelo

logístico criado.

E no capítulo 5 são apresentadas as conclusões e considerações finais

sendo finalizado pelas referencias utilizadas.

Page 21: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Em um ambiente empresarial tão competitivo e com uma concorrência tão

acirrada as organizações buscam alternativas viáveis para criar um diferencial dentro

do seu mercado consumidor. Reavaliando seus processos internos de trabalho, que

vão desde sua linha de produção até uma análise criteriosa dos seus procedimentos

administrativos e fabris, busca-se uma estratégia capaz de fornecer a base para

criação deste diferencial competitivo.

Avaliando sua cadeia produtiva e respectivos setores as empresas procuram

criar, internamente, uma vantagem competitiva em relação ao seu concorrente e

assim conseguir se destacar no mercado que estão inseridas.

Para tanto uma condição vital para a concretização deste objetivo é que os

trabalhadores estejam alinhados com os objetivos globais da empresa e satisfeitos

com as operações que executam. Satisfação esta que engloba desde aspectos

organizacionais quanto pessoais.

Buscando tornar esta satisfação uma realidade sem perder sua

lucratividade, os gestores das empresas enfrentam o desafio de fornecer condições

necessárias para que seus colaboradores consigam ter uma melhor qualidade de

vida e consequentemente uma melhor qualidade no trabalho.

Com isso ganham em produtividade além de motivar seus funcionários com

condições de trabalho satisfatórias. Portanto é necessário entender os conceitos de

qualidade de vida, qualidade de vida no trabalho, o impacto das condições de

trabalho e os modelos teóricos existentes para mensuração e análise da qualidade

de vida no trabalho.

2.1 QUALIDADE DE VIDA (QV)

Com a revolução industrial e a mecanização dos equipamentos criou-se uma

demanda por trabalhadores qualificados, capazes de atuar dentro das fábricas e

Page 22: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

20

com habilidades técnicas específicas para operar as máquinas e equipamentos

disponíveis. Entretanto a maioria da mão de obra disponível, segundo Carmo (1998),

tinha sua origem no campo, com habilidades artesanais, e com isso as vagas

disponíveis não eram preenchidas. Para conseguir um emprego os trabalhadores da

época se sujeitavam a realizar qualquer tipo de tarefa sacrificando sua saúde na

execução de trabalhos pesados e totalmente manuais.

Além disso, a carga horária de trabalho era desumana, pois os funcionários

eram obrigados a trabalhar de 15 a 20 horas por dia (CARMO, 1998). Com isso os

trabalhadores ficavam exaustos, não tinham nenhuma qualidade de vida e acima de

tudo, não eram reconhecidos pelos seus esforços. À medida que a sociedade foi se

desenvolvendo novos mercados e necessidades foram sendo criados e com isso, as

organizações também tiveram que evoluir.

Para acompanhar esta evolução as empresas se deparam com o desafio de

valorizar seus funcionários sem sacrificar seus percentuais de lucro, no intuito de

que os mesmos consigam trabalhar em ambientes agradáveis e tenham satisfações

dentro das suas respectivas funções organizacionais.

Objetivando essa sintonia, Chiavenato (2004) mostra que as organizações

precisam estabelecer um patamar onde os trabalhadores podem satisfazer suas

aspirações pessoais e profissionais dentro do seu posto de trabalho. Analisando o

aspecto pessoal, é preciso entender quais são os fatores relacionados ao tema,

conceituando assim a qualidade de vida.

Este mesmo autor conceitua QV em “criar, manter e melhorar o ambiente de

trabalho, seja em condições físicas – higiene e segurança, seja em condições

psicológicas e sociais” (CHIAVENATO, 2004 p. 348). Portanto a interação saudável

entre indivíduo e empresa precisa estar presente em qualquer ambiente

organizacional.

Para complementar esta afirmativa, Oliveira (2005) e Minayo, Hartz e Buss

(2000), mostram que existem dois enfoques a serem analisados para avaliar um

indivíduo: enfoque objetivo e subjetivo. Do ponto de vista objetivo os autores

elencam fatores como satisfação de necessidades básicas, econômicas ou sociais e

fatores subjetivos o bem estar, a felicidade e realização pessoal.

Page 23: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

21

Ambos os casos focando a pessoa com a sua individualidade, sua influência

na coletividade, o ambiente que a mesma está inserida e de que forma ela interage

com o mesmo. Já para Martins (2005, p. 7) a QV “diz respeito justamente à maneira

pela qual o indivíduo interage com o mundo externo, o que se dá através da sua

individualidade e da sua subjetividade”.

E segundo Schmidt (2004), QV é uma preocupação exclusivamente humana

envolvendo significados reais de conhecimentos, experiências, valores individuais e

da coletividade. Schmidt (2004) mostra que esta preocupação independe do

momento histórico, classe social e cultural que o indivíduo pertença, pois o ser

humano sempre busca melhores formas para sua sobrevivência como também de

seus familiares.

Os autores acima citados, possuem uma visão mais humanista em relação a

QV e é importante que os gestores das empresas estejam engajados com esta

visão, mas mantendo o foco nos patamares mínimos para garantir a lucratividade e

responsabilidade financeira garantindo a sobrevivência das empresas.

Assim, nota-se que nas pesquisas relacionadas à qualidade de vida, a base

necessária para atender tantos os interesses organizacionais quanto dos respectivos

trabalhadores, é a disseminação e efetivação de programas de qualidade de vida.

Um conceito internacionalmente reconhecido sobre qualidade de vida,

desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde, mostra que qualidade de vida é

“a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema

de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões

e preocupações” WHOQOL GROUP (FAMED, 1998).

Moreira e Araújo (2006) também mostram que qualidade de vida é um

conjunto de fatores ligados diretamente ao equilíbrio psíquico, físico, bom

relacionamento interpessoal e satisfação na vida. E para Almeida (2005) a qualidade

de vida pode ser definida como momentos de lazer e descanso aliados à prática de

exercícios laborais dentro das organizações.

O consenso entre os autores é de que o centro da qualidade de vida,

independente da espécie de estudo a ser realizado, é o indivíduo. Como cada

indivíduo é único para poder mensurar se uma pessoa tem ou não qualidade de

Page 24: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

22

vida, é preciso saber antes qual é a concepção de satisfação que a pessoa aspira

para si mesma e do momento que ela está passando em sua vida.

Para Moreira e Araújo (2006) a qualidade de vida interessa diretamente as

empresas, pois os fatores fundamentais para a produtividade e rendimento dos

colaboradores dentro das organizações é a prevenção da saúde e bem estar dos

mesmos.

Moreira e Araújo (2006), Dolan (2006) e Almeida (2005) inserem na

subjetividade da concepção de um modelo ideal de qualidade de vida, a participação

das empresas.

Esta participação engloba a criação de métodos e programas preventivos da

saúde dos colaboradores evitando também possíveis afastamentos por lesões

repetitivas ou doenças organizacionais.

Para Limongi-França (2004) existe uma ligação direta entre a melhoria da

qualidade de vida das pessoas e seu estilo de vida dentro e fora da organização. As

consequências desta harmonia são refletidas diretamente na produtividade dos

colaboradores em seu trabalho.

Já para Walton (1973) apud Rodrigues (2007) a expressão qualidade de vida

tem sido usada para enfatizar valores organizacionais e humanistas que há muito

tempo foram esquecidos pelas indústrias no favorecimento do crescimento

econômico, tecnológico e por consequência a produtividade.

Nesta busca por maiores patamares de produtividade os gestores precisam

buscar um diferencial capaz de suprir sua necessidade competitiva sem prejudicar

seu capital humano. Com isso a QV torna-se decisiva, pois busca justamente

analisar e melhorar o comportamento humano de maneira que os interesses

envolvidos nesta relação sejam atingidos.

A partir do momento que a cultura da QV entra na organização de maneira

prática, fazendo parte do cotidiano dos gestores e colaboradores, os resultados e

competitividade esperados irão aparecer.

Para Limongi-França e Rodrigues (2005) a QV, a partir da ótica das

respectivas chefias, traz alguns benefícios e obstáculos. São eles:

Page 25: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

23

Benefícios Obstáculos

Qualidade e motivação no trabalho Cultura e burocracia da empresa

Redução do número de doenças e afastamentos Preparo e conhecimento específico de quem vai gerenciar o projeto

Oportunidade de crescimento pessoal-profissional

Recursos financeiros, humanos e tecnológicos disponíveis.

Otimização dos recursos da empresa Resistência das pessoas pessimistas e acomodadas

Exemplos de modelos de vida sadia, para comunidade e familiares.

Ausência de apoio das pessoas influentes na empresa que acreditem na proposta

Quadro 1 - Benefícios e obstáculos da QV nas empresas.

Fonte: Adaptado de Limongi-França e Rodrigues (2005)

Analisando o quadro 1 é possível perceber que os benefícios gerados pela

QV, são baseados praticamente nos colaboradores e respectivos resultados que os

mesmos podem atingir. Além disso, conseguindo atingir estes patamares, a empresa

conseguirá traçar metas e objetivos, pois sua equipe estará apta a buscar por estes

resultados. Em contrapartida, entre os obstáculos citados, os principais entraves

para os mesmos são os gestores da empresa ou colaboradores que possuem cargo

de chefia não acreditando na eficiência dos programas.

Conclui-se que para os benefícios serem gerados é preciso que os mesmos

(funcionários e gestores) estejam engajados e motivados com a QV, não sendo

responsáveis pelo atraso da implantação da mesma, mas sim os impulsionadores

deste programa. Portanto partindo dos gestores, incorporando à cultura da empresa

e disponibilizando recursos para a QV, os benefícios citados serão incorporados na

organização.

Soria (2008) insere um novo conceito dentro da ótica da QV analisando e

conceituando as empresas como “organizações saudáveis”. Segundo a autora o

foco principal das organizações saudáveis é o “estudo da saúde dos empregados, o

bom funcionamento das empresas e os benefícios sociais e econômicos da inserção

destes conceitos” (SORIA, 2008 p.3).

Para Soria (2008) durante muito tempo o foco principal das pesquisas

sempre foi o que as empresas não devem fazer e o que elas não devem ser. Uma

organização saudável analisa os estudos do stress organizacional para aperfeiçoar e

Page 26: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

24

valorizar o capital humano sendo este o principal responsável em maximizar o valor

da empresa.

A autora norteando sua pesquisa para o lado humano finaliza seu estudo

mostrando que devido às novas exigências econômicas e nível de competitividade

existente as empresas estão buscando por colaboradores cada vez mais

capacitados, auto gerenciáveis e com capacidade de trabalhar com uma visão de

curto, médio e longo prazo.

Isto mostra que este novo perfil de colaborador, moldado pelas novas

exigências da sociedade empresarial, precisa se adaptar a realidade que o mercado

oferece, mas nem por isso ele precisa sacrificar sua qualidade de vida em prol da

organização que está inserido. O colaborador precisa sim, interagir com interesse e

afinco, mas ponderando as atividades profissionais e pessoais.

Um conceito diferente da visão organizacional e também humanista é o de

Silva (2006), onde este autor entende que a QV envolve principalmente as

necessidades humanas englobando aspectos políticos, sociais e econômicos.

Percebe-se que para o autor os órgãos específicos, como autoridades públicas,

sindicatos, movimentos religiosos, enfim, qualquer órgão ou entidade, público ou

privado, que tenha sob a sua tutela a responsabilidade de guiar qualquer indivíduo,

independente do número de pessoas, também é responsável em garantir condições

mínimas de qualidade de vida.

Nesta perspectiva este autor insere um conceito de qualidade de vida global

para as pessoas relacionando diversas variáveis:

Uma qualidade de vida global não só inclui fatores relacionados à saúde, como bem estar físico, funcional e mental, mas também elementos não relacionados à saúde como trabalhos, família, amigos e outras circunstâncias da vida. (SILVA, 2006 p. 67)

Portanto ao inserir conceitos não mais relacionados apenas com a saúde

das pessoas, mas também variáveis como trabalho, família e amigos torna-se

necessário conceituar a qualidade de vida no trabalho.

Page 27: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

25

2.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT)

A partir do momento que o ser humano está inserido dentro de uma

sociedade surge a necessidade de consumo para suprir questões básicas como

alimentação, vestuário, educação e também para atenuar uma sensação de

consumo imposta pelas diversas mídias existentes.

Para conseguir satisfazer todas essas necessidades, algumas básicas a

sobrevivência e outras oriundas de modismos, as pessoas buscam uma inserção

nas organizações justamente para suprir suas necessidades. Para tanto, buscando

satisfazer sua QV, o indivíduo precisa atender também sua QVT. Para isso Timossi

(2009), mostra claramente que tanto a QV quanto a QVT estão correlacionadas.

Além de relacionadas é possível deduzir que a QVT é o amadurecimento de

um conceito já existente de QV, pois avalia não apenas a figura do trabalhador, mas

a sincronia entre as aspirações do mesmo e da organização. Portanto a base de

todos os estudos relacionados com qualidade de vida são as pessoas, já a QVT

analisa não apenas as pessoas, mas também o ambiente de trabalho que as

mesmas estão inseridas.

Para Limongi-França e Rodrigues (2005), a origem de QVT surgiu no próprio

significado do trabalho, pois está ligado diretamente às condições humanas e éticas

dentro do ambiente organizacional. Variáveis como riscos ocupacionais, estilos de

liderança e reconhecimento do trabalho exercido por parte das chefias fazem parte

deste conceito.

Limongi-França e Rodrigues (2005) mostram que QVT é uma

ambientalização do local de trabalho com o indivíduo focando diretamente as

condições de trabalho existentes além de analisar aspectos como bem-estar, saúde,

segurança física e mental, para assim ter um espaço maior para sua criatividade e

ser mais criativo, desenvolvendo todo seu potencial produtivo.

Embora seja possível prever os resultados esperados dos investimentos em

QVT, muitos gestores enxergam a QVT como um modismo ou ferramenta de pouca

praticidade. Limongi-França e Rodrigues (2005) mostram que no Brasil a QVT tem

se revelado de forma incompleta e imparcial onde na maioria das vezes, as

Page 28: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

26

gerencias atuam em cima do tema de forma assistencialista ou até mesmo de

maneira benemérita, neutralizando qualquer forma de interação dos indivíduos

dentro das premissas da QVT, na formulação das políticas e na concepção dos

processos internos que as empresas possuem.

É preciso entender que antes de ser um programa para melhoria de um

ambiente organizacional, a QVT envolve questões de comunicação interna e uma

maior participação dos funcionários dentro das decisões a serem tomadas,

pertinentes a funções que os mesmos executam e ao ambiente de trabalho. Tanto

que “Qualidade de vida no trabalho é um conceito e filosofia de trabalho que visa

melhorar a vida dos trabalhadores dentro das instituições” (DOLAN, 2006 p. 3).

O resultado da aplicação desta filosofia, para Dolan, 2006, é a diminuição do

stress, da exaustão e um maior envolvimento e satisfação no trabalho por parte dos

colaboradores envolvendo diretamente a alta direção da empresa. O autor vai além

mostrando que a QVT não representa apenas um estilo de administração, mas

também gera nos colaboradores, uma sensação de responsabilidade e autocontrole,

pois os mesmos participam diretamente das decisões tomadas no seu ambiente de

trabalho.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias e a constante cobrança dos

consumidores com relação à qualidade dos produtos ou serviços oferecidos nota-se

a importância em criar políticas conservadoras e preocupadas com as condições de

trabalho oferecidas aos colaboradores. Tanto que Almeida (2005) mostra que o

consumidor não está mais preocupado apenas com o produto oferecido, mas

também com a forma que ele é produzido e principalmente se a empresa se

preocupa com a saúde dos seus colaboradores.

Para poder entender melhor do que trata a QVT é importante destacar que

este conceito varia muito de acordo com a percepção de cada indivíduo. Para

determinados grupos o status social é sinônimo de qualidade de vida no trabalho

enquanto que para outros ela é mensurada de acordo com seu relacionamento

familiar, por exemplo.

Para Pilatti e Berjarano (2005) os conceitos de qualidade de vida e qualidade

de vida no trabalho são multidisciplinares englobando a subjetividade relacionada a

estes conceitos. Mostram também que temas como satisfação e condições de

Page 29: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

27

trabalho, motivação, condições econômicas e saúde, por exemplo, são alguns dos

temas que fazem parte deste contexto.

Já Limongi-França (2004) mostra que a QVT engloba percepções de ética,

tanto empresarial quanto do colaborador, política e principalmente as expectativas

pessoais do indivíduo. Ressalta também que pela contribuição que o tema oferece

nos ganhos de produtividade e satisfação do empregado o assunto tem despertado

grande interesse na sociedade empresarial brasileira.

Partindo deste ponto de vista é possível entender que ao investir em QVT a

organização consegue atingir resultados satisfatórios e até mesmo criar uma

vantagem competitiva, onde seu capital humano está sendo valorizado, conseguindo

assim criar um clima organizacional capaz de atingir os objetivos propostos pela

gestão da empresa.

A QVT além de envolver a produtividade e competitividade precisa alienar,

junto a estas diretrizes organizacionais, o bem estar dos colaboradores. Não deve

cuidar apenas de saúde ocupacional ou acidentes de trabalho mas sim do ambiente

funcional que o trabalhador está disposto e o reflexo deste ambiente na vida pessoal

do mesmo. “O bem estar considera, no referente a qualidade de vida no trabalho, as

dimensões biológica, psicológica, social e organizacional de cada pessoa...”

(LIMONGI-FRANÇA, 2004 p. 45).

Tanto que este aspecto mais amplo também é citado por Fernandes e

Gutierrez (1998), onde a qualidade de vida no trabalho é afetada por questões

relacionadas ao comportamento dos indivíduos dentro do seu ambiente de trabalho,

além de outras variáveis como identificação do indivíduo com a realização das

tarefas, informação e retroinformação, relacionadas com sua rotina de trabalho e

variação na maneira que o trabalho é realizado.

Percebe-se então que Limongi-França (2004) e Fernandez e Gutierrez

(1998), são incisivos ao identificar que na realização de qualquer tipo de trabalho

dentro de uma empresa, o indivíduo precisa ter noção de que faz parte de um

contexto social maior, ou seja, faz parte e é responsável pelas atividades

organizacionais que lhe convém e também em atingir os resultados globais da

empresa que o mesmo está inserido.

Page 30: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

28

Esta percepção é importante, pois o trabalho ocasiona além de um impacto

social na vida e bem estar das pessoas, um desgaste físico e mental em maior ou

menor grau nos colaboradores, variando de acordo com suas individualidades. E

para amenizar este desgaste e conseguir cativar seus colaboradores as empresas

precisam aderir e implantar os conceitos de QVT.

Daher (2007) mostra que as transformações ocorridas no desenvolvimento

industrial estão ligadas diretamente a modernização dos equipamentos e utilização

de mão de obra mais qualificada. Isto acabou exigindo dos trabalhadores condições

físicas e mentais que precisam suportar um desgaste maior devido a estas novas

exigências funcionais, além de conseguir cumprir seus objetivos organizacionais.

Partindo deste princípio Höpner (2008) identifica a QVT como uma interação

entre organização do trabalho e principalmente a satisfação do indivíduo dentro da

empresa. Para complementar esta percepção sobre QVT é possível utilizar o

conceito de Daher (2007, p. 22), onde “seu objetivo é melhorar o bem estar do

trabalhador, aliado à melhoria do desempenho organizacional”.

O consenso entre Höpner (2008), Daher (2007) e Limongi-França (2004) é

que a base da QVT é o entrosamento, a sincronia entre funcionário e empresa e que

quando conseguem trabalhar dentro desta harmonia, tanto empresas quanto

funcionários ganham por optar em inserir conceitos de QVT no seu cotidiano.

A manutenção deste equilíbrio é de responsabilidade não apenas das

organizações, mas também dos colaboradores no sentido de que sua participação

na efetivação dos conceitos de QV e QVT são decisivos para o sucesso destas

filosofias de trabalho e de interação social.

Um fator decisivo que o setor de recursos humanos das empresas precisa

estar atento é justamente citado por Medeiros (2007), onde a maioria dos conflitos

na relação homem/trabalho são demonstrados através das constantes reclamações

que surgem dos trabalhadores, relacionando cada vez mais temas ligados a stress,

condições inadequadas de trabalho, subutilização da mão de obra, sobrecarga de

trabalho, entre outras.

Portanto Medeiros (2007) considera que as pesquisas existentes na área de

QVT são baseadas nas experiências de humanização do trabalho ganhando assim

destaque na literatura especializada, com valores até então esquecidos pelas

Page 31: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

29

empresas e finaliza dizendo que a função da QVT, além de garantir uma maior

produtividade e eficiência, atende principalmente as necessidades básicas dos

trabalhadores.

Segundo Chiavenato (2004) a QVT é a satisfação das necessidades

individuais dos indivíduos dentro das organizações afetando diretamente as atitudes

e comportamentos dos mesmos em que, busca-se com a QVT, uma maior

motivação, inovação e um ambiente de trabalho capaz de fornecer subsídios

necessários para estas atitudes.

Chiavenato (2004) mostra de maneira clara que a inovação e a criatividade,

tão esperadas pelas organizações, partem diretamente da interação e satisfação das

necessidades que o colaborador tenha em termos profissionais. Suas relações

pessoais também interferem nestes aspectos, mas inserido no seu posto de

trabalho, não tendo preocupações externas, os colaboradores conseguem atingir

suas metas individuais com criatividade e melhorando tarefas já existentes.

Percebe-se que de um lado existe uma organização que precisa criar

maneiras inovadoras e criativas para conseguir se manter no seu segmento com

preços de venda cada vez mais atraentes, tanto para seus consumidores como

também para garantir a lucratividade da empresa. Para conseguir um preço de

venda atraente as empresas precisam manter seus custos reduzidos e sustentar

níveis de qualidade satisfatórios.

Por outro lado existe um enorme leque de possibilidades no que diz respeito

aos colaboradores que vão interagir com as empresas envolvendo contratações,

treinamentos, retenção de talentos, inserção de novas críticas, opiniões em

procedimentos e processos de trabalho interagindo assim diretamente com a

subjetividade humana.

Ambos os lados possuem objetivos distintos, porém é possível concluir que

estes não conseguem sobreviver sem a participação e interação de ambas as

partes. E os conceitos de QV e a inserção das filosofias de QVT têm papel

fundamental para atingir este equilíbrio, de maneira que ambos os lados possam

estar satisfeitos.

Para isso, como ferramenta que possa auxiliar as empresas em mensurar a

percepção da QVT e encontrar maneiras de identificar possíveis pontos de melhoria

Page 32: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

30

na inserção e disseminação destes conceitos, foram criados métodos para avaliar e

transcrever, de maneira prática e eficiente, a qualidade de vida no trabalho.

2.3 MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QVT

A avaliação da QVT torna-se necessária para que as empresas possam

assimilar e mensurar como os trabalhadores estão se sentindo com relação ao seu

ambiente de trabalho. Esta análise é importante também para verificar não apenas a

percepção dos trabalhadores, mas para analisar e comprovar a verdadeira eficiência

da aplicação de programas de QVT.

A literatura mostra diversos modelos e pesquisas realizadas para análise e

mensuração da QVT. Rodrigues (2007) elencou de maneira clara quais são os

modelos e métodos tradicionais para esta análise. São eles:

• Modelo de Richard Walton;

• Modelo de William Westley;

• Modelo de K. Davis & W. Werther;

• Modelo de E. Huse & T. Cummings;

• Modelo de D. Nadler & E.Lawler;

Com isso, Rodrigues (2007), Pilatti e Berjarano (2005) e Limongi-França

(2004) chegam ao consenso de que o modelo de Walton (1973) apud Rodrigues

(2007), que lançou oito categorias conceituais para mensuração da QVT, é um dos

modelos mais pontuais e práticos envolvendo questões centrais e incisivas

relacionadas ao trabalhador, sendo um dos mais utilizados na mensuração de

parâmetros para análise da QVT.

Neste aspecto, Rodrigues (2007) mostra que estas categorias fornecem uma

estrutura “notável” para análise da QVT. No quadro 2 é possível ter uma visão sobre

estas categorias conceituais.

Page 33: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

31

Categorias Variáveis

Compensação justa e adequada Remuneração adequada

Equidade externa Equidade interna

Condições de trabalho Ambiente físico Jornada de trabalho

Uso e desenvolvimento de capacidades pessoais

Autonomia Significado das tarefas Identidade das tarefas

Variedade de habilidade Feedback do trabalho

Oportunidade de crescimento e segurança Crescimento pessoal

Possibilidade de carreira Estabilidade no emprego

Integração social na organização Igualdade de oportunidades

Habilidade social Valores comunitários

Constitucionalismo

Direitos trabalhistas Privacidade

Liberdade de expressão Normas e rotinas

Trabalho e espaço total de vida Papel balanceado do trabalho

Relevância social do trabalho

Imagem da empresa Responsabilidade social da empresa

Responsabilidade social pelos serviços Responsabilidade social pelos empregados

Quadro 2 - Dimensões de Walton para QVT

Fonte: Rodrigues (2007, p. 31)

As categorias apresentadas por Walton (1973) apud Rodrigues (2007)

elencam as principais preocupações trabalhistas esperados pelos colaboradores.

Norteando as diretrizes organizacionais estas categorias suprem de uma forma clara

as necessidades dos trabalhadores mostrando os resultados e parâmetros a serem

analisados para uma eficiente efetivação de um programa de QVT.

É possível verificar que a QVT possui diversas percepções e óticas

diferentes a serem analisadas. Nota-se claramente uma evolução dos conceitos

originais da QVT onde primeiramente estudava-se o ser humano passando para

uma análise do ambiente organizacional e por fim tornando-se uma ferramenta de

decisões gerenciais, fazendo parte inclusive das estratégias competitivas a serem

adotadas pelas organizações, no incremento da produtividade e eficiência das

empresas.

A disseminação dos conceitos de QV, QVT e até mesmo o utilizado por

Soria (2008) de “organizações saudáveis”, atendem justamente uma necessidade

empresarial com um potencial de estratégia da organização para a tomada das suas

Page 34: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

32

decisões. Hoje as organizações precisam, devido a diversificação do mercado

consumidor e concorrência cada vez mais acirrada, analisar a perspectiva do ponto

de vista empresarial como também do ponto de vista do funcionário.

Partindo destes princípios qualquer organização estará criando um ambiente

favorável para atrair e reter os profissionais capazes de inovar e fazer a diferença no

seu posto de trabalho e consequentemente na organização como um todo.

2.4 SISTEMA DE TRABALHO

Para satisfazer suas necessidades o ser humano contribuiu com a evolução

das organizações através do seu trabalho, tornando-se responsável por esta

evolução. Não apenas pela evolução, mas também pelo crescimento das economias

baseando-se no desenvolvimento tecnológico e intelectual.

Assim, as empresas e respectivos colaboradores sempre trabalharam em

horários compatíveis para atender sua demanda, de modo que sua área produtiva

sempre acompanhava os horários considerados comuns, ou seja, o horário padrão

de trabalho sempre foi das 08:00 até as 18:00 tendo uma pequena variação nestes

horários de entrada e saída (BURCH et al. 2009).

Com o aumento na demanda surge também um aumento na carga de

trabalho e consequentemente, se torna necessário a realização de horas extras ou

novos turnos de trabalho para atender os novos patamares de produção. Assim,

atendidas as expectativas empresariais, é preciso analisar o impacto que estas

mudanças acarretam na vida dos colaboradores, que passam a trabalhar em

sistemas de turnos, de modo que estes se tornaram uma realidade para diversas

organizações, afetando de maneira direta a QV e QVT dos seus colaboradores.

2.4.1 Sistema de Trabalho em Turnos

O trabalho desempenha papel fundamental da vida do ser humano de

maneira que este permite uma maior interação das pessoas com diferentes

personalidades encontradas dentro das empresas e também, uma troca de

experiências no intuito de aprimorar seu conhecimento técnico e social.

Page 35: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

33

Para Limongi-França (2004) os ciclos de trabalho estão ligados diretamente

com a QVT. Para a autora muitos dos riscos que o trabalhador está exposto nem

sempre são citados em lei e que prejudicam diretamente sua QVT e também, fatores

como restrições impostas pelo horário de trabalho na participação das atividades

sociofamiliares, baixa utilização dos conhecimentos dos trabalhadores, pausas

insuficientes para descanso, horários de trabalho irregulares e turnos de trabalho

são alguns dos fatores que afetam e comprometem a condição de vida do

trabalhador.

Já para Burch et al. (2009) o trabalho em turnos é aquela escala de trabalho

onde as pessoas atuam em horários irregulares ou noturno. E para Silva (2008) o

sistema de trabalho em turnos não é uma criação da revolução industrial. Para o

autor este sistema vem atuando em áreas, como saúde e segurança, por exemplo,

mais precisamente a partir do momento que o homem começou viver em sociedades

e estabeleceu suas fronteiras dentro de estados e cidades.

Percebe-se que o trabalho em turnos é justamente um sistema que busca

aumentar a produtividade da empresa atendendo a uma demanda estabelecida pelo

mercado consumidor. Entretanto a principal característica é a disponibilização dos

recursos e equipamentos da empresa em conjunto com os devidos colaboradores

em quantidade igual ou suficiente para que as operações possam ocorrem no

mesmo ritmo do horário de trabalho diurno.

Moreno, Fischer e Rotenberg (2003) mostram como é crescente o número

de setores que utilizam o sistema de trabalho em turnos, citando exemplos como

serviços de telecomunicações, correspondência, hotéis e outras empresas. Os

autores mostram então que não é mais exclusividade dos serviços essenciais a

utilização do sistema de turnos, mas também das indústrias de produção de bens e

serviços tendo que funcionar ininterruptamente.

E finalizam dizendo que devido a esta necessidade por mão de obra a

consequência é o crescente número de trabalhadores que atuam em turnos, no

horário noturno ou em horários irregulares.

Para Harrington (2001) os motivos pelos quais as empresas optam por

trabalhar em turnos são:

Page 36: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

34

• Necessidade de mão de obra especializada na manutenção e operação de

equipamentos das indústrias que trabalham 24 horas por dia;

• Necessidades econômicas para atender sua demanda;

• Demanda da sociedade e serviços de emergência essenciais;

Dentro destas necessidades, Ritson e Charlton (2005) mostram que devido

ao desenvolvimento das sociedades e para manter a competitividade das empresas,

muitas delas já colocam o trabalho em turnos como uma necessidade dentro dos

mercados. Uma definição mais abrangente sobre o sistema de trabalhos em turnos é

utilizada por Silva (2008), em que:

O trabalho em turnos pode ser definido como vários tipos de trabalho onde existe a continuidade da produção ou prestação de serviços sendo realizadas em horários diurnos ou não, com ou sem interrupção diária, durante os dias úteis ou nos sete dias da semana (SILVA, 2008 p. 17).

Esta definição consegue englobar diversas características dos trabalhos em

turno onde as pessoas envolvidas, precisam atuar em diferentes horários incluindo

finais de semana, onde o trabalhador não consegue criar uma rotina básica de vida,

diminuindo o convívio familiar e participação na comunidade que o mesmo está

inserido, sacrificando assim sua QV.

Neste aspecto, por influenciar diretamente a vida dos colaboradores

atuantes em turnos de trabalho, é necessário citar também a Constituição da

Republica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, no seu artigo1

7°, inciso XIV, que determinou “a redução da jornada de trabalho em turnos

ininterruptos de revezamento, com redução diária da jornada de trabalho para 6

horas, salvo negociação coletiva” (BRASIL, 1988).

Isso mostra que a característica do trabalho em turnos é uma preocupação

tanto empresarial quanto federal buscando amenizar o desgaste físico e as

alterações orgânicas que podem ocorrer devido a ausência de uma rotina de

trabalho constante.

_____________

1 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (BRASIL, 1988)

Page 37: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

35

Nota-se que a principal característica do sistema de turnos é a produção ou

prestação ininterrupta de bens e serviços variando o seu horário de acordo com a

empresa. “Os turnos podem ser fixos ou rotativos (sentido horário ou anti-horário),

em regime de turno (6 horas) ou plantão (12 ou 24 horas), noturno ou diurno”

(SOUZA, 2004).

Moreno, Fischer e Rotenberg (2003) mostram que o ambiente de trabalho

que o colaborador está inserido contribui diretamente na tolerância física e mental

dos trabalhadores, quando atuam em sistema de turnos.

Segundo Hormazábal, Theuene e Escobar (2004) muitos dos trabalhadores

que atuam em um sistema de turnos fora do horário considerado normal, aspiram

chegar a trabalhar em turnos diurnos fixos recebendo os mesmos benefícios e

salários de quando trabalhavam em turnos rotativos.

Portanto entende-se que existe um incentivo financeiro de modo a buscar

compensar as intempéries ocasionadas pelos turnos, mas o trabalhador quer mesmo

é atuar em um horário considerado normal pela sociedade, no caso o diurno, em que

cada um destes pode, de acordo com seus interesses, realizar suas atividades

funcionais durante o dia e durante a noite realizar suas atividades particulares.

Tanto que Hormazábal, Theuene e Escobar (2004) mostram também que

aqueles que trabalham em turnos possuem uma demanda de trabalho elevada,

acima daqueles que trabalham em turnos diurnos, e ainda dentro dos turnos

diferenciados, as tarefas a serem executadas exigem um alto nível de concentração

além de ficarem mais tempo dentro das respectivas empresas longe das suas

famílias.

Ao determinar tarefas complexas para os trabalhadores a organização

precisa também oferecer um ambiente capaz de oferecer as condições mínimas

para concentração e realização das tarefas e objetivos.

Agora com uma carga de trabalho elevada e, além disso, com um nível de

complexidade elevado em horários irregulares, as organizações terão um

decréscimo em sua eficiência, justamente por esta condição anormal que o

trabalhador está atuando.

Page 38: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

36

Portanto para não perder sua eficiência muitos dos trabalhos considerados

complexos no mínimo deveriam ser realizados durante o dia, justamente para não

ocorrem possíveis falhas na execução dos mesmos.

Neste aspecto dos turnos de trabalho, Perrucci et al. (2007) mostram as

escalas de trabalho usualmente utilizadas pelas empresas que atuam em sistemas

de turnos:

Tempo de duração do turno Horário de trabalho

8 horas

Manhã (07:00 até 15:00)

(08:00 até 16:00)

Tarde (15:00 ate 23:00)

(16:00 até 00:00)

Noite (23:00 até 07:00)

(00:00 até 08:00)

12 horas 07:00 até 19:00

19:00 até 07:00

Rotativo Sentido horário ou anti-horário

Quadro 3 - Sistemas de Turnos

Fonte: Adaptado de Perrucci et al. 2007

Nota-se então que os turnos podem ser tanto fixos quanto rotativos em que,

nos turnos fixos os empregados atuam somente no turno da manhã, ou no turno da

tarde ou apenas no turno da noite. Já as empresas que atuam no sistema de turnos

rotativos trabalham em sistema de horários que os colaboradores atuam de maneira

alternante entre os horários, ou seja, em determinada semana eles trabalham no

turno da tarde, na outra no turno da manhã e na outra no turno da noite.

Para Harrington (2001), alguns trabalhadores atuam apenas durante o turno

da noite, outros trabalham apenas no turno da tarde ou apenas no turno da manhã e

ainda, existem também os trabalhadores que trabalham em turnos rotativos

destacando que nesta última escala de trabalho os colaboradores precisam seguir o

ritmo da empresa, ou seja, trabalhar e seguir os horários já existentes seguindo a

rotatividade e periodicidade do horário, onde a utilização de qualquer um destes

horários vai depender diretamente do empregador.

Page 39: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

37

Levando em consideração estes turnos diferenciados, é possível classifica-

los em dois grupos, sendo estes fixo e rotativo ou ininterrupto. No turno fixo existe

uma adaptabilidade maior dos colaboradores justamente por conseguirem adaptar

sua agenda com a família e interação social, além de normalmente conseguirem

uma qualidade melhor de sono noturno mantendo assim seu ritmo cronobiológico e

circadiano (PERRUCCI et al., 2007).

Já o turno rotativo ou ininterrupto para Perrucci et al. (2007), proporciona um

aumento nos problemas de saúde, pela difícil adaptação aos turnos e além disso, as

chances de interação social com a família são reduzidas justamente pelos diferentes

horários de trabalho. Problemas de sono são observados em colaboradores que

atuam em turnos de revezamento além de um comprometimento cardiovascular,

depressão, obesidade, diminuição de reflexos e obesidade (BERGER e HOBBS,

2006).

Perrucci et al. (2007) mostram ainda que uma das principais características

dos sistemas de turnos, fixos ou rotativos, é que as empresas acabam compensando

financeiramente seus funcionários com adicionais e incentivos como um sistema de

folgas diferenciado dos demais trabalhadores da empresa, justamente para tentar

amenizar o efeito dos turnos.

Souza, (2004), Perrucci, (2007) destacam os malefícios dos sistemas de

trabalhos em turnos que não seja o diurno acarretando em problemas de saúde

física e mental, baixa qualidade do sono, fadiga, absenteísmo, acidentes de

trabalho, interação com a família e comunidade que atua além da uma baixa

motivação pessoal.

Além disso, as empresas sempre se preocupam, ao fazer um sistema de

trabalho em turnos, em adaptar o horário de acordo com seu nível de produtividade

e demanda alocando seus colaboradores nestes horários não dando alternativas ou

chances de escolha para os mesmos.

Normalmente os funcionários não possuem a opção de escolha pelo horário

de trabalho a ser designado onde o mais viável para os interessados, empresa –

funcionário seria realizar uma pré-seleção de pessoas ou até mesmo fazer testes

com pessoas que possuam uma tendência de adaptação maior ao trabalho em

Page 40: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

38

turnos. Esta medida visa diminuir diretamente a insatisfação e o descontentamento

com este tipo de sistema de trabalho.

Nos turnos fixos, segundo Ritson e Charlton (2005) a adaptação dos

trabalhadores ocorre de maneira mais fácil, pois o mesmo consegue adaptar tanto

sua vida social quanto familiar dentro da sua escala de trabalho. Já os trabalhadores

que atuam em um sistema de turnos rotativos a adaptabilidade é muito mais difícil de

acontecer, pois segundo estes mesmos autores, o corpo humano possui um relógio

biológico que procura se adaptar as condições ou situações que o corpo humano é

submetido.

Para Rodrigues, 1998, as principais consequências negativas dos trabalhos

em turnos são:

• Acidentes pessoais e industriais;

• Queda no desempenho funcional e produtividade;

• Aumento nos custos das empresas devido ao absenteísmo;

• Distúrbios psicossomáticos;

• Obesidade;

• Problemas de sono;

• Menor convívio familiar;

• Menores relacionamentos sociais e lazer.

Já os aspectos positivos do trabalho em turnos e noturno, também são

apresentados por Rodrigues, 1998, sendo estes:

• Adicional salarial;

• Menor supervisão das chefias;

• Ambiente de trabalho mais informal;

• Possibilidade de frequentar ambientes como estabelecimentos esportivos,

comerciais, academias, em horários de menor movimento;

Page 41: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

39

• Alguns trabalhadores optam por este tipo de horário de trabalho pela maior

liberdade em estilo de trabalho sendo, em alguns casos, mais criativos e

produtivos durante a noite.

A partir do momento que o trabalhador começa a efetuar o rodízio de

horários, ou seja, trabalhar um período de tempo pela manhã, depois um período de

trabalho a tarde e depois a noite, o relógio biológico, ou ritmo circadiano, não

consegue ter tempo para se adaptar e preparar o corpo para realizar suas atividades

cotidianas gerando assim problemas de saúde. Mas esta situação varia de acordo

com a capacidade de adaptação e facilidade de trabalho dos colaboradores, que só

é percebido a partir do momento que atuam nos turnos de trabalho.

2.4.2 Ritmo Circadiano Humano

O ritmo circadiano, ou popularmente chamado de relógio biológico, é

responsável por todas as funções internas do corpo humano. E como os turnos de

trabalhos alteram de maneira direta os hábitos das pessoas, consequentemente o

ritmo circadiano também é afetado.

Segundo Harrington (2001) o ritmo circadiano é responsável pelo controle da

temperatura do corpo, produção hormonal, divisão celular, entre outras funções do

corpo, e é afetado por variáveis como o ciclo dia-noite, clima e escalas de trabalho.

Para o autor o ser humano é uma criatura diurna, ou seja, todo o corpo humano é

designado para realizar todas as suas atividades durante o dia enquanto recupera

suas energias durante a noite.

Com esta percepção da diferença entre luz solar durante o dia e ausência da

mesma durante a noite, o organismo consegue regular o período para recuperação

de energia durante a noite e uso desta, nas tarefas diárias durante o dia. Nota-se

então que qualquer atividade realizada em horário que não seja diurno, por períodos

prolongados, é considerada anormal pelo organismo e o mesmo tenta adaptar suas

funções internas a nova situação que o indivíduo está exposto. E neste aspecto,

Berger e Hobbs, 2006, mostram que os colaboradores que atuam em turnos

Page 42: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

40

apresentam uma quebra na relação harmônica entre o ritmo circadiano e o meio

ambiente.

Se o funcionário atuar em turnos fixos o ritmo circadiano do trabalhador

busca se adaptar a nova realidade de trabalho, mas os trabalhadores em turno

rotativo não conseguem manter a periodicidade no turno de trabalho. Conforme

destacado por Harrington (2001), é necessária uma atenção redobrada aqueles

trabalhadores que atuam em turno rotativo, onde sua eficiência funcional estará

comprometida e seu metabolismo estará sofrendo consequências da disfunção do

ritmo circadiano no longo prazo e causando sensações de desconforto e alterações

no humor no curto prazo.

Estas alterações e privações do sono, são citadas por Silveira et al. (2010)

tendo por consequências uma redução funcional precoce, favorece acidentes e

incidentes no trabalho além de alterações no humor e sistema imunológico.

Burch et al. (2009) complementam estas consequências mostrando que

devido a estas interrupções de ritmo ou não adaptação do relógio biológico, os

trabalhadores que atuam em turno rotativo gastam um tempo maior na execução das

suas tarefas tanto organizacionais quanto biológicas, pois durante o rodízio de

horários, o relógio biológico precisa de um tempo para organizar todas as funções do

corpo humano, mas se o corpo não tem esse tempo para adaptação, os efeitos são

verificados na queda de produtividade, sensação de desconforto tanto psíquico

quanto físico além da constante sensação de cansaço sentida pelo trabalhador.·.

Analisando os impactos das alterações do ritmo circadiano nota-se que o

indivíduo é afetado em diversos sentidos fisiológicos prejudicando sua capacidade

funcional e também a convivência em família devido às alterações de humor. Aliado

a isto é preciso verificar o impacto causado por esta constante exposição ao turno

rotativo no longo prazo onde, a limitação da sua capacidade funcional torna-se

explicita prejudicando a autoestima do colaborador e também sua eficiência

funcional.

Sendo fundamental para a harmonia do ritmo circadiano, a relação vigília-

sono permite a recuperação das energias e equilíbrios metabólicos, auxiliando no

equilíbrio físico e mental enquanto que um desequilíbrio nesta relação, causada

Page 43: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

41

pelos trabalhos em turnos, causa irritabilidade, falta de concentração e a uma fadiga

física e mental precoce (CIPOLLA NETO et al., 1996).

Para Burch et al. (2009) a ligação direta do turno de trabalho com a saúde

do trabalhador é explicita na ocorrência das disfunções metabólicas e hormonais,

além dos riscos à segurança no trabalho. Para os autores a tolerância ao horário de

trabalho é fundamental para a adaptação dos funcionários gerando assim uma

necessidade estratégica para que as organizações centralizem seus esforços e

recursos de maneira a criar uma escala de trabalho compatível e flexível a todos os

colaboradores envolvidos neste sistema de trabalho.

Isto se explica devido a algumas características citadas por Rodrigues, 1998,

onde o ritmo circadiano é endógeno, resiste a mudanças bruscas e pode se adaptar

lentamente. E como os turnos são aplicados de maneira instantânea, as próprias

características fisiológicas dos indivíduos não permitem uma adaptação rápida nos

turnos de trabalho.

Interpretam-se os prejuízos causados pelo trabalho em turnos como decorrentes de uma desordem temporal no organismo. Assim pode-se dizer que as formas de organização temporal dos trabalhos que não levam em conta a variabilidade rítmica circadiana nos indivíduos, nos vários momentos do dia, das tarefas e trabalhadores, terão grandes problemas (MARTINO, 2009 p. 196).

Percebe-se portanto que embora sejam uma necessidade organizacional os

trabalhos em turnos, é necessário que exista também uma preocupação com os

envolvidos neste sistema de trabalhos, justamente pelas questões fisiológicas dos

indivíduos e seu respectivo desempenho funcional.

Nesta adaptação as empresas precisam analisar na configuração das suas

escalas de trabalho o tempo e duração do sono dos seus trabalhadores, inserir

programas de incentivo a pratica de exercícios físicos além de oferecer um ambiente

de trabalho que ofereça um contentamento e melhoria na qualidade de vida dos

funcionários. Medidas que visam amenizar o impacto dos turnos de trabalho na

saúde física e psíquica dos colaboradores contribuindo também para uma melhora

no clima organizacional da empresa.

Page 44: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

42

Neste aspecto para que uma organização consiga trabalhar de maneira

efetiva e consiga investir seus recursos nos principais pontos do seu sistema

organizacional, é possível fazer uso de ferramentas estatísticas adequadas para que

estas sirvam como ferramenta para as tomadas de decisões pertinentes a melhoria

da QVT.

Page 45: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

43

3 METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentadas as características da pesquisa a ser

realizada determinando os instrumentos a serem utilizados, local e suas

delimitações.

Esta pesquisa tem por característica ser aplicada, pois visa a criação de um

instrumento de uso prático e é também descritivo e quali-quantitativo, por tratar de

valores pertinentes ao resultado de um levantamento de dados oriundo de opiniões

e valores individuais dos pesquisados além da realização de pesquisa bibliográfica e

revisão documental, junto ao banco de dados relacionados neste trabalho (YIN,

2005).

Para este estudo utilizou-se do banco de dados da pesquisa realizada por

Timossi (2009), junto a empresas do ramo de laticínios do estado do Paraná, em que

foi analisada a relação entre QV e QVT.

Conforme explicitado nos objetivos, geral e específicos, será analisada a

QVT desta população através da regressão logística. Todo o delineamento da

estratégia para planejamento e coleta de dados da pesquisa da referida autora, está

disponível em (TIMOSSI, 2009).

Foram identificadas 4 empresas do ramo de laticínios e classificadas, de

acordo com Sebrae (2007) em micro, pequena, média e grande empresa, em que o

número de funcionários corresponde, respectivamente, até 19 colaboradores, de 20

a 99 colaboradores, 100 a 499 colaboradores e acima de 500 colaboradores. Na

tabela 1, se tem um resumo da população entrevistada por Timossi, 2009.

Tabela 1 - Entrevistados de acordo com porte da empresa

Porte da empresa Número de Indivíduos Questionários descartados

Micro empresa 6 0

Pequena 20 1

Média 222 5

Grande 300 1

Fonte: Adaptado de Timossi, 2009.

Page 46: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

44

A partir deste banco de dados o foco do trabalho foi analisar a influência dos

turnos de trabalho e variáveis sociodemográficas na QVT dos colaboradores. As

variáveis sociodemográficas utilizadas por Timossi, 2009, inseridas no estudo foram

levantadas através de formulário específico chamado de ficha de informação do

correspondente integrado ao WHOQOL-100, disponível em (UFRGS, 2010). Este

instrumento é utilizado para analisar a QV delineando o perfil dos entrevistados.

As variáveis do estudo foram classificadas como: dependente (QVT) e

independentes as variáveis sociodemográficas (gênero, faixa etária, estado civil,

nível educacional, número de filhos, atividades físicas, tabagismo, consumo de

álcool, tempo de trabalho) e turno de trabalho onde estas foram classificadas,

conforme quadro 4.

Variável Tipo Codificação

Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) Dependente 1 – Satisfatória

2 – Insatisfatória

Gênero Independente 1 – Masculino

2 – Feminino

Faixa Etária Independente

1 - ≤ 20

2 - 21 |- 34

3 - ≥ 35

Estado Civil* Independente 1 – solteiro/viúvo

2 – casado

Nível Educacional** Independente

1 - 1° Grau

2 - 2° Grau

3 - 3° Grau ou superior

Número de Filhos*** Independente

1 – nenhum

2 – 1 filho

3 – 2 filhos

4 – 3 filhos ou mais

Atividades Físicas Independente

1 – nenhuma

2 – 1 a 2 dias

3 – 3 a 4 dias

4 – 5 a 7 dias

Page 47: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

45

Tabagismo **** Independente 1 – não

2 – sim

Consumo de bebidas alcoólicas ***** Independente 1 – nenhuma

2 – 1 ou mais vezes

Tempo de Trabalho Independente

1 – 1 mês a 11 meses

2 – 1 ano a 3 anos

3 – 4 a 9 anos

4 – 10 anos ou mais

Turno de trabalho Independente

1 – 07:00 até 17:00

2 – 05:00 até 13:20

3 – 00:00 até 07:40

4 – 13:00 até 21:00

5 – 15:00 até 00:00

6 – 21:00 até 05:00

Quadro 4 - Variáveis relacionadas no estudo

Fonte: Adaptado de Timossi, 2009.

* 14 colaboradores não informaram seu estado civil

** 9 colaboradores não informaram nível educacional

*** 10 colaboradores não informaram a quantidade de filhos

**** 15 colaboradores não informaram se eram fumantes ou não

***** 12 colaboradores não informaram o consumo de bebidas alcoólicas

Para identificar a QVT desta população, Timossi et al., 2008 elaboraram um

questionário, baseado no modelo para mensuração da QVT, de Walton (1973) apud

Rodrigues (2007), pois além de analisar 8 dimensões que influenciam diretamente a

relação entre empresa e empregado, é um dos instrumentos de pesquisa mais

utilizados e relevantes na área.

Visto que o modelo de Walton (1973) apud Rodrigues (2007), não é um

questionário, mas sim um conjunto de dimensões analisadas, foi adaptado no

sentido de que suas respostas possam ser convertidas em uma escala centesimal (0

a 100), nos mesmos moldes do questionário WHOQOL-100 utilizado para análise da

QV. Esta escala pode ser vista conforme figura 1:

Page 48: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

46

Figura 1 - Escala de respostas de QVT

Fonte: Timossi et al., 2008.

Nesta adaptação foi utilizada uma escala Likert, com 5 pontos distintos, onde

os valores elencados eram de 0%, 25%, 50%, 75% e 100%, onde estes níveis

acabam configurando a satisfação ou insatisfação da QVT, Timossi et al. (2008). A

interpretação desta escala compreende que os valores de 0 – 50%, insatisfação na

QVT e de 50 a 100% como satisfação na QVT.

O ponto central desta escala, quando atingido, representa o ponto neutro da

escala, onde os indivíduos que no resultado final do questionário atingissem esta

pontuação seriam considerados neutros com relação a QVT.

3.1 TESTE DE HIPÓTESES NA ANÁLISE ESTATÍSTICA

Dentro da estatística, hipótese é uma afirmação sobre determinada situação

que ocorre em determinada população. Portanto a partir dos resultados obtidos em

determinada pesquisa, vai existir uma hipótese a ser analisada buscando extrair

informações pertinentes à população ou amostra analisada. Para tanto, o

pesquisador parte do principio que a ocorrência de determinado evento seja

verdadeira utilizando um nível de confiança previamente estabelecido.

Esta afirmação, dentro da estatística, é chamada de hipótese nula (H0), e

segundo Triola (2008), é justamente uma afirmativa de que o resultado obtido em

determinada pesquisa é igual ao resultado especificado. Em contrapartida existe a

hipótese alternativa (H1), que é justamente o resultado diferente de H0, onde Motta

(2006), identifica como determinado parâmetro que, de alguma forma, seja diferente

Page 49: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

47

da hipótese nula, ou seja, qual é a solução alternativa em relação a existente ou

quais são os possíveis resultados contrários a realidade já observada.

Neste aspecto, as possibilidades de análise e situações esperadas, na

determinação das hipóteses, são expostas no quadro abaixo:

Hipótese Nula – H0 Hipótese Alternativa – H1

= igualdade de valores ≠ diferente em relação a H0

≥ maior ou igual a algum valor > algum valor

≤ menor ou igual a algum valor < algum valor

Quadro 5 - Componentes de um Teste de Hipóteses Fonte: Adaptado de Triola, 2008.

Sendo conhecedor de qual é o H0 da análise a ser feita, é necessário

realizar o teste sobre a hipótese nula e hipótese alternativa de maneira que a

conclusão resultante irá rejeitar ou não a hipótese nula.

Para optar pela rejeição ou não da de H0, Motta, 2006, Gujarati, 2006 e

Triola, 2008 alertam para dois principais tipos de erros que podem ocorrer nesta

tomada de decisão. Estes autores mostram que são dois os possíveis erros que

podem ser cometidos no processo de análise de H0, sendo estes erro do tipo I e erro

do tipo II.

Verdadeiro estado da natureza

A hipótese nula é verdadeira A hipótese nula é falsa

Decisão

Decide rejeitar a hipótese nula

Erro tipo I – rejeição de uma hipótese nula

verdadeira Decisão Correta

Não rejeita a hipótese nula Decisão Correta

Erro tipo II – não rejeição de uma

hipótese nula falsa

Quadro 6 - Erros Tipo I e Tipo II

Fonte: TRIOLA, 2008 p. 174

Page 50: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

48

Portanto ao estar diante de um resultado o pesquisador pode optar em uma

tomada de decisões que não seja condizente com a população analisada. Ao rejeitar

ou não uma hipótese nula o resultado final da pesquisa pode ser equivocada,

justamente por uma interpretação errada por parte de quem trabalhou com os dados.

Esta situação é citada, por Gujarati, 2006, como o ponto fraco dos testes de

hipóteses e para amenizar este tipo de situação, o autor recomenda se utilize de

amostras grandes, consequentemente haverá uma diluição da possibilidade de

cometer um erro do tipo I ou II. Portanto quanto maior a amostra maior será a

confiança em rejeitar ou não a hipótese nula.

Definido qual será o escopo da hipótese nula e alternativa, é preciso utilizar

um nível de significância que irá direcionar a tomada de decisão relacionada as

hipóteses levantadas. Neste aspecto, segundo Triola (2008), um nível de

significância, representado por α, é a probabilidade de o resultado obtido cair na

região crítica, rejeitando a hipótese nula. Já esta região crítica, “é o conjunto de

todos os valores da estatística de teste que nos fazem rejeitar a hipótese nula”

(TRIOLA, 2008 p. 289).

É necessário determinar qual será o nível de significância do objeto em

estudo e mensurar qual o valor de α a ser utilizado. Os principais níveis de

significância utilizados, segundo Motta (2006) são de 0,01, 0,05, e 0,10% sendo

mais comum a utilização de um nível de significância de 0,05. Definido qual será o

nível de significância é possível determinar qual será o intervalo de confiança para o

estudo que pode ser representado, segundo Triola (2008), como a probabilidade de

1 – α.

Definidos qual o nível de significância a ser utilizado e o respectivo intervalo

de confiança, é preciso utilizar um critério de decisão para rejeição ou não da

hipótese nula. Para tanto, segundo Triola (2008) e Pagano e Gauvreau (2008),

existem determinados critérios a serem utilizados. São eles o método tradicional e o

método do valor P.

No método tradicional rejeita-se H0 se a estatística de teste estiver situada

dentro da região crítica e não se rejeita H0 quando o valor encontrado estiver fora da

região crítica.

Page 51: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

49

Já no método do valor P, rejeita-se H0 quando o valor encontrado da

estatística de teste for menor que o nível de significância, ou seja, P ≤ α e deixa-se

de rejeitar o H0 quando P > α.

Para este cálculo é preciso uma hipótese nula e um conjunto de dados, onde

o valor P é a probabilidade de não rejeição da hipótese nula, ou seja, a hipótese nula

ser verdadeira. Devidos aos recursos computacionais disponíveis e facilidades

oriundas destas tecnologias, Triola (2008) mostra que o uso do método tradicional

tem caído nos últimos anos, enfatizando que o método do valor P tem sido o mais

utilizado atualmente.

A interpretação do valor de P pode ser listada conforme tabela 2:

Tabela 2 - Interpretação do Valor P

Valor P Interpretação

Inferior a 0,01 Elevada significância estatística

0,01 a 0,05 Estatisticamente significante

Superior a 0,05 Evidências insuficientes para se rejeitar a

hipótese nula

Fonte: Adaptado de Triola, 2008.

Os softwares estatísticos atuais fornecem o valor de P, baseado nos dados

inseridos no programa, calculando e identificando a estatística de teste e também a

referida região critica, de modo a facilitar a leitura e interpretação do pesquisador.

3.1.1 TESTE DE INDEPENDÊNCIA ENTRE VARIÁVEIS

Este teste tem por finalidade analisar a dependência entre as variáveis do

estudo de modo a se diferenciar dos demais testes de proporções comuns. Para

tanto, segundo Motta (2006) os testes mais utilizados são: Teste qui-quadrado de

McNemar, Teste exato de Fischer e o Teste qui-quadrado de Independência.

Page 52: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

50

O teste qui-quadrado de Mcnemar analisa o resultado obtido em um evento

antes e depois de determinado tratamento, ou seja, faz uma análise em eventos com

ambientes e variáveis controladas.

Já o teste exato de Fischer calcula a associação entre as variáveis

analisando a independência entre as mesmas. A principal característica é ser

utilizado em pequenas amostras N<20.

E o teste qui-quadrado de independência busca medir a associação entre

duas variáveis, normalmente distribuídas em uma tabela 2x2, analisando assim a

influência ou dependência entre as variáveis do estudo. A principal característica

deste teste é justamente poder trabalhar com variáveis qualitativas e principalmente

analisar a dependência entre estas variáveis, atuando como ferramenta para

aplicação dos testes de hipóteses.

Para Motta (2006), o teste qui-quadrado é capaz de analisar a existência de

associação entre duas variáveis sendo limitado a análise de frequências e não das

médias. E para Pagano e Gauvreau (2008) este teste é o mais eficiente de maneira

a trabalhar com dados nominais agrupados. Para Motta (2006) este teste não

analisa sinais de igualdade, maior ou menor igual, mas sim relaciona variáveis

categóricas de maneira a mostrar sua dependência, de acordo com as frequências

observadas e esperadas, com o nível de significância esperado. Para tanto, os

principais requisitos a serem cumpridos, segundo Motta (2006), são:

• Comparação entre duas ou mais amostras.

• Dados ao nível nominal de mensuração.

• Amostragem aleatória.

• N > 40

• Independência entre os grupos;

Segundo Motta (2006), comparando as frequências observadas com as

esperadas, é possível tomar a decisão de rejeitar ou não H0. Baseado então no nível

de significância estipulado para a pesquisa faz-se uma comparação com o valor de

P encontrado para então tomar a decisão de rejeitar ou não H0.

Page 53: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

51

Portanto, o teste qui-quadrado é representado pela seguinte expressão

matemática:

em que

2χ = Qui Quadrado

o= frequência observada por cada classe

e= frequência esperada para cada classe

Maiores detalhes sobre o desenvolvimento deste teste podem ser

consultados em Triola, 2008.

3.2 ANÁLISE MULTIVARIADA

Nas diversas áreas do conhecimento o objeto da pesquisa a ser realizada,

cada uma dentro das suas particularidades, é buscar um resultado capaz de

responder a um determinado questionamento, buscando analisar e entender as

possíveis variáveis que interferem direta ou indiretamente ao resultado obtido pelo

pesquisador. Depois de realizada a pesquisa é preciso agrupar e analisar os dados

coletados de modo que estes precisam ser tratados, com as ferramentas

adequadas, buscando fornecer resultados confiáveis e condizentes com a realidade

do objeto em estudo.

Durante a análise destes dados, cria-se uma necessidade de buscar e

relacionar quais variáveis possuem uma influência direta nos resultados obtidos

determinando assim quais variáveis precisam ser analisadas e a partir destas, qual o

melhor tratamento estatístico será utilizado, credenciando os resultados e

conclusões obtidas pela pesquisa.

∑−

=e

eo2

2 )(χ (1)

Page 54: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

52

Pagano e Gauvreau (2008), consideram a análise multivariada como o uso

de métodos estatísticos, que realizam uma análise conjunta, de diversas variáveis

que influenciam uma determinada situação ou objeto em estudo. E para Hair et al.

(2005) é o agrupamento de diversas variáveis em um único agrupamento ou

relacionamentos que atingem determinado resultado. Analisando não apenas uma

variável isolada, mas o conjunto destas variáveis é preciso recorrer a métodos

estatísticos capazes de trabalhar com este conjunto.

Com o desenvolvimento de softwares capazes de agrupar e trabalhar de

maneira eficaz todas as variáveis do estudo é preciso fazer uso desta tecnologia de

maneira que o pesquisador possa, de maneira objetiva, analisar e entender as

variáveis e qual a influência destas no estudo. A partir da existência desta

ferramenta de pesquisa, a velocidade de análise de uma grande quantidade de

dados, em pró de um resultado, o uso da análise multivariada torna-se cada vez

mais comum tanto nos meios empresariais quanto acadêmicos.

Dentro desta análise, Gujarati (2006) confirma a aceitação de novas

tecnologias, mostrando que é devido a expansão dos softwares específicos na área

estatística, que o uso da análise multivariada tem se tornado cada vez mais comum

nos diversos campos do conhecimento e de atuação empresarial.

Já para Motta (2006) e Pagano e Gauvreau (2008) a análise multivariada

mostra o inter-relacionamento entre as variáveis do estudo em questão, onde estas

precisam ser caracterizadas e analisadas, de maneira a demonstrar qual é a

influência direta que determinada variável possui no objeto em estudo. Esta

percepção demonstra que esta ferramenta permite uma visualização numérica do

relacionamento e o grau de associação existente entre uma variável dependente e

uma variável independente, no estudo a ser feito.

A partir desta visualização é preciso interpretar o resultado obtido, dos

relacionamentos existentes entre as variáveis e quais realmente interferem no objeto

em estudo. Com isso Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), interpretam os resultados

que a análise multivariada oferece como uma predição do grau de relacionamento

entre as variáveis de um estudo, seu grau de importância e principalmente a

capacidade que esta variável tem de influenciar a ocorrência de determinado evento.

Page 55: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

53

Pela característica multivariada, deixando de estudar uma variável de modo

isolado, a análise multivariada possui diversas ferramentas disponíveis que são

utilizadas, de acordo com a natureza dos dados obtidos, conseguindo assim atender

as diversas áreas do conhecimento e suas respectivas pesquisas. Neste aspecto

Reis (2001) afirma que a análise multivariada consiste na simplificação dos dados

obtidos em uma pesquisa, onde a informação obtida torna-se de fácil acesso e

compreensível aos interessados no assunto.

Para determinar a simplificação da análise de um conjunto de dados, Hair, et

al. (2005) elencaram as principais técnicas estatísticas multivariadas, sendo elas:

• Análise de componentes principais e análise dos fatores comuns;

• Regressão e correlação múltipla;

• Análise discriminante múltipla,

• Análise multivariada de variância e covariância;

• Análise conjunto;

• Correlação canônica;

• Análise de agrupamento;

• Escalonamento multidimensional.

Estas ferramentas estatísticas possuem sua efetividade de acordo com a

natureza de cada estudo desenvolvido e características da amostra ou população

analisada. Neste aspecto, para tomada de decisão na escolha da ferramenta

estatística adequada, Gujarati (2006), Hair et al. (2005) e Mingoti (2005), mostram

que para escolha da melhor ferramenta é preciso analisar:

• Identificação das variáveis dependentes e independentes;

• Natureza das variáveis (binária ou dicotômica);

• Significância estatística como também de ordem prática;

Page 56: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

54

• Familiarização com os métodos estatísticos adequados ao estudo;

Portanto, conforme o exposto acima, para atingir os objetivos propostos

nesta obra, será utilizada a ferramenta estatística de regressão logística, derivada da

regressão múltipla, devido as características desta ferramenta na análise dos dados

obtidos e também capacidade preditora de relacionamento entre as variáveis que

esta ferramenta consegue demonstrar.

3.2.1 Regressão Múltipla

Desde a coleta dos dados para a pesquisa até o devido tratamento

estatístico, os resultados obtidos pela pesquisa serão credenciados de acordo com a

ferramenta utilizada, sendo que esta irá delinear o aspecto de confiabilidade da

pesquisa realizada.

Neste aspecto, pela característica de uma análise multivariada, é preciso

identificar a natureza dos dados coletados para que a ferramenta estatística utilizada

tenha a eficácia esperada pelo pesquisador. Para gerar resultados satisfatórios, Hair

et al. (2005) identificam a regressão múltipla como uma das ferramentas estatísticas

mais usadas nas esferas de pesquisa e que está popularidade, se deve justamente

pela sua capacidade de explicar e prever determinados eventos, baseada em

variáveis métricas e não métricas.

Dentro da regressão múltipla, a primeira etapa para escolha da ferramenta

estatística adequada é identificar quais são as variáveis dependentes e quais são as

variáveis independentes da pesquisa identificando a natureza das mesmas. Corrar,

Paulo e Dias Filho (2007), por sua vez mostram que a regressão múltipla é capaz de

explorar o relacionamento e associação entre as variáveis dependente (resposta) e

independentes (explicativas ou preditoras) de modo que a natureza destas irá

determinar qual será a técnica analítica capaz de fornecer resultados confiáveis e

capaz de trabalhar com os tipos de dados coletados.

A regressão múltipla busca expressar de maneira numérica o

relacionamento existente entre as variáveis dependente e independente buscando

Page 57: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

55

predizer ou até mesmo explicar o resultado da variável resposta baseado na

influência que as variáveis explicativas exercem no estudo. Para exemplificar o uso

desta ferramenta, esta pode ser utilizada para demonstrar se existe relação entre um

incremento nas vendas com uma nova política de descontos, novas propagandas e

formas de pagamento diferenciadas. Existindo uma relação significativa entre estas

variáveis, identificada pela regressão múltipla, é possível criar um modelo estatístico

capaz de predizer a influência de outras variáveis no resultado obtido podendo

assumir qualquer valor, inclusive negativo.

Este uso prático também é citado por Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), Reis

(2001) e Gujarati (2006) mostrando que a regressão múltipla é capaz de analisar e

mostrar numericamente a relação entre as variáveis preditoras e a variável resposta

obtida em um estudo. Portanto a regressão múltipla trabalha justamente com o

relacionamento entre variáveis métricas onde o resultado obtido pode assumir

qualquer valor.

Entretanto a regressão múltipla acaba se tornando restrita, dependo do

estudo feito, justamente pelo fato de trabalhar com valores quantitativos deixando de

lado valores qualitativos. Para esse caso existe uma derivação da regressão múltipla

que é a regressão logística, capaz de atender e resolver esta limitação.

3.2.1.1 Regressão Logística

Esta ferramenta analítica, baseada nos princípios da regressão múltipla,

busca predizer a relação entre uma ou mais variáveis conhecidas buscando explicar

determinada situação e sua dependência entre as variáveis. Ao contrário da

regressão múltipla, a regressão logística trabalha tanto com variáveis métricas

quanto com variáveis não métricas ou categóricas, onde a variável dependente pode

ser qualitativa assumindo apenas um entre dois resultados possíveis. Para Corrar,

Paulo e Dias Filho (2007), a regressão logística busca explicar ou valorizar uma

variável, em função de outras variáveis conhecidas ou observadas de natureza

qualitativa diferenciando-se da regressão múltipla.

Page 58: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

56

Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), mostram que o campo de atuação desta

ferramenta vai desde a área econômica até mesmo a área médica, onde o principal

objetivo da mesma é explicar determinado evento de acordo com o conjunto de

variáveis categóricas existentes no estudo, de modo que estas podem ser totalmente

significativas influenciando diretamente o evento como também podem não ter

influência nenhuma.

Com esta diversidade de atuações, o seguinte conceito para a regressão

logística precisa ser evidenciado:

A Regressão Logística se caracteriza como uma técnica estatística que nos permite estimar a probabilidade de ocorrência de determinado evento em face de um conjunto de variáveis explanatórias, além de auxiliar na classificação de objetos ou casos. É particularmente recomendada para as situações em que a variável dependente é de natureza dicotômica ou binária. Quanto as independentes, podem ser categóricas como métricas. (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2007, p. 284).

Analisando a interação existente entre as variáveis categóricas com a

resposta obtida a regressão logística permite não apenas classificar em categorias

os resultados obtidos, mas de maneira prática, expressar numericamente

probabilidades de ocorrência de um determinado evento.

Porém, conforme observado por Berry, Demeritt e Esarey (2010), é

necessário que exista uma interação consistente entre as variáveis categóricas para

que a confiança na probabilidade de ocorrência do evento seja maior diminuindo a

incidência de resíduos que por ventura possam prejudicar o resultado. E estes

resíduos podem interferir no resultado justamente por não possuírem uma

significância estatística ou simplesmente por não afetarem diretamente o evento.

Portanto ao verificar a interação entre as variáveis e por fornecer esta

praticidade de análise a regressão logística fornece resultados práticos e eficazes,

tornando-se inclusive uma ferramenta de decisão no meio gerencial.

Para tanto existem três procedimentos dentro da regressão logística, de

acordo com o tipo de variável resposta, para manipulação dos dados, de modo a se

ajustarem de acordo com as necessidades do pesquisador. São eles:

Page 59: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

57

Tipo de variável N° de Categorias Características

Binária 2 2 níveis

Ordinal 3 ou mais Ordenação natural de níveis

Nominal 3 ou mais Não ordenação natural de níveis

Quadro 7 - Tipos de variáveis resposta

Fonte: Penha, 2002

A variável binária é justamente aquela que aceita apenas duas

possibilidades de resposta em um determinado evento, como um sim ou não,

masculino ou feminino, casado ou solteiro, por exemplo. Já a variável ordinal é

aquela resposta que segue uma ordem natural previamente conhecida, como

pequeno, médio ou grande, classificações em níveis como fácil, médio, difícil, por

exemplo. E a nominal, por sua vez não possui nenhum tipo de ordenação prévia, por

exemplo, concordo, discordo, neutro ou sabores como azedo, doce ou amargo, entre

outros.

Devido a natureza dos dados da pesquisa concomitante aos objetivos

propostos, baseado na visão de Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), faz-se a opção

em trabalhar com a regressão logística binária.

Justamente por trabalhar com apenas uma possibilidade entre dois

resultados possíveis, a regressão logística binária funciona de maneira que os

resultados obtidos estejam entre zero e um. Hair et. al. (2005), Gujarati (2006) e

Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), concordam que os valores obtidos neste intervalo

de zero e um são o diferencial da regressão logística diferenciando-se de outras

ferramentas de regressão, como a linear ou a múltipla, por exemplo.

Já com relação ao modelo logístico de escolha qualitativa, Gujarati (2006)

identifica quatro abordagens diferentes para a regressão binária, sendo estas:

Modelo Probabilístico Características

Modelo Linear

• Utilização da técnica dos mínimos quadrados;

• Probabilidade da ocorrência de um evento aumente linearmente em relação ao seu regressor;

Page 60: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

58

Modelo Logit

• Pressupõe um logaritmo de razão de chances;

• Probabilidades não lineares; • Função logística acumulada; • Considera independência entre as

alternativas do processo de decisão;

Modelo Probit ou Normit

• Utilização de uma distribuição normal como distribuição de probabilidade adequada;

• Menor flexibilidade em relação ao modelo logit;

• Considera a existência de uma correlação entre as variáveis em análise, onde esta precisa ser explicitada;

Modelo Tobit ou Regressão Censurada • Necessidade de pré-requisitos para cálculo da variável resposta

Quadro 8 - Modelos probabilísticos

Fonte: Adaptado de Gujarati, 2006.

Estes quatro modelos probabilísticos inferem que o pesquisador precisa

conhecer a natureza dos dados estudados como também uma familiarização com a

ferramenta a ser utilizada no tratamento estatístico. Justamente por existirem

divergências nos resultados oferecidas pelos modelos probabilísticos é necessário

buscar um conhecimento mais aprofundado sobre estes modelos e suas

particularidades, a fim de conseguir entender melhor a base de cada uma deles e

para não utilizar a ferramenta estatística inadequada.

Figura 2 – Relação logística entre a variável dependente e independente

Fonte: Hair et. al., 2005, p. 232.

Page 61: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

59

A curva que lembra uma forma de S é a característica da regressão logística

por acomodar os diferentes valores esperados para as variáveis independentes.

Analisando a figura 2, percebe-se que quanto mais próximo de zero o valor

encontrado na variável independente, menor será sua influência na resposta do

estudo e consequentemente menores serão as probabilidades de ocorrência de um

determinado evento, em função da variável independente. Agora quanto mais

próximo de 1, maiores serão as probabilidades de ocorrência do evento como

também a influência das variáveis independentes.

É importante salientar também que Hair et. al, (2005) e Corrar, Paulo e Dias

Filho (2007), mostram que quanto mais próximos dos extremos estiverem os valores,

menor será a influência na variável dependente. Ao se aproximar cada vez mais de 0

ou 1, é necessária uma mudança mais drástica na relação logística entre as

variáveis para obter um efeito satisfatório. Isso significa que as probabilidades não

se alteram muito, em relação as variáveis independentes, quando estão próximas

dos extremos do que quando estão mais ao centro do gráfico, onde qualquer

alteração nas variáveis independentes podem alterar o valor da resposta obtida.

3.2.1.2 Representação Matemática da Regressão Logística

A partir do momento que a regressão logística binária permite uma escolha

entre duas possibilidades, esta fornece uma interpretação rápida dos resultados

obtidos pela probabilidade de ocorrência de um determinado evento.

Neste aspecto a regressão logística oferece um resultado chamado odds

ratio ou razão de chances, que é justamente a análise do evento como um todo,

baseado nas variáveis independentes, que representa as probabilidades de sucesso

comparando as mesmas com as de fracasso.

Portanto, segundo Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), a razão de chances

pode ser expressa da seguinte forma:

Page 62: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

60

Razão de chance = _P (sucesso)__ 1 – P (sucesso)

Buscando facilitar a compreensão dos resultados, os próximos passos,

segundo Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), são expressos abaixo. A seguir se

encontra o logaritmo natural da razão de chances:

A partir deste logaritmo é possível observar as variáveis categóricas como

também os coeficientes, que irão expressar mudanças no log da razão de chances.

A partir deste ponto eleva-se a constante matemática e ao expoente dos

coeficientes estimados assumindo a seguinte fórmula:

Neste ponto basta isolar a probabilidade do evento associada aos

respectivos coeficientes, conforme segue:

)...(

)...(

)(110

110

1 kiki

kiki

XbXbb

XbXbb

evento

e

eP

+++

+++

+=

Isolada a probabilidade de ocorrência de um evento, simplifica-se esta

equação a equação logística, com o seguinte formato:

)...()(1101

1kiki

XbXbbevento

eP

+++−+

=

kik2i21i10 xb ... xb xb b )(1

)(1 +++=

− sucessoP

sucessoPn

kik2i21i10 xb ... xb xb b

)(1

)(+++

=

−e

sucessoP

sucessoP

(2)

(3)

Page 63: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

61

em que

P= probabilidade de ocorrência do evento

0b = coeficiente da constante

kb = coeficiente preditor

Xki = variável do modelo

Para Gujarati (2006), a regressão logística difere dos outros modelos de

regressão justamente por usar o método da máxima verossimilhança, que busca

uma identificação dos coeficientes a serem analisados de acordo com a máxima

probabilidade de ocorrência sobre o evento.

“Com a máxima verossimilhança buscam-se coeficientes que nos permitam

estimar a maior probabilidade possível de um evento acontecer ou de certa

característica se fazer presente” (CORRAR, PAULO E DIAS FILHO, 2007, p. 294).

Porém tanto Gujarati (2006) quanto Corrar, Paulo e Dias Filho (2007)

mostram que devido aos recursos computacionais existentes, apenas em casos

específicos torna-se necessário sua utilização e demonstração teórica. Devido ao

uso aplicado deste trabalho, não serão demonstradas as deduções da máxima

verossimilhança, que podem ser encontradas em (GUJARATI, 2006).

Para analisar os resultados foi utilizado um software estatístico, de maneira

a utilizar as ferramentas estatísticas já mencionadas. Foi utilizada a regressão

logística, pois conforme Gujarati (2006), Corrar, Paulo e Dias Filho (2007), Berry et

al. (2010) e Figueira (2006), tanto a regressão logit quanto a probit fornecem

resultados semelhantes, porém a regressão logística fornece resultados com

facilidade de interpretação, por trabalhar com a razão de chances além da sua

facilidade matemática para configuração e operacionalização da ferramenta

estatística.

E dentro das opções de resultado oferecidas pela regressão logística foi

utilizada a regressão binária pelas características das respostas obtidas para a

variável dependente no estudo identificando apenas uma entre duas opções de

Page 64: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

62

Início

Análise, formatação e codificação dos dados

Aplicação Teste Qui-Quadrado

Descarte das variáveis independentes com α > 0,05

Aplicação da Regressão Logística com as variáveis independentes com α ≤ 0,05

Criação do Modelo Matemático

Análise e interpretação da razão de chance de influência das variáveis independentes sobre a dependente

Identificação das prioridades de investimentos em QVT

resposta, no caso satisfação ou insatisfação em relação a QVT da população

analisada.

A interpretação dos resultados e conclusões foram baseadas nos seguintes

testes estatísticos:

• Teste qui-quadrado de independência;

• Regressão Logística

• Razão de Chances

E para validação do modelo estimado foram utilizados os seguintes testes:

• Teste de Pearson;

• Teste Deviance;

• Teste de Hosmer-Lemeshow.

Para analisar e acompanhar a realização de todas as etapas realizadas na

metodologia foi criado um organograma, de modo a possibilitar uma melhor

compreensão dos passos seguidos durante análise dos dados.

Figura 3 - Organograma da metodologia aplicada

Fonte: Autoria própria, 2010

Page 65: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

63

Foi feita uma análise de independência das variáveis independentes em

relação a variável dependente (QVT) considerando os resultados obtidos da

aplicação do questionário adaptado do modelo de Walton (1973) apud Rodrigues

(2007), tendo por escopo a escala Likert e a classificação da QVT em

satisfatório/insatisfatório. Com a aplicação da equação 1 foram consideradas as

variáveis significativamente influentes na QVT da população analisada, que

apresentaram um valor de P ≤ 0,05

Page 66: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

64

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

. A amostra analisada apresentou os seguintes resultados, apresentados na

tabela abaixo:

Tabela 3 - Valor de P para as variáveis independentes (continua)

Nível de QVT *

Gênero Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Masculino 76 (13,9%) 310 (56,7%) 386 2χ = 5,909 P= 0,015 Feminino 17 (3,1%) 138 (26,3%) 155

Faixa Etária Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

≤ 20 14 (2,6%) 51 (9,3%) 65 2χ = 6,204 P= 0,045 21 | 34 61 (11,1%) 258 (47,1%) 319

≥ 35 17 (3,1%) 140 (25,5%) 157

Estado Civil ** Insatisfatório Satisfatória Total Resultados

Solteiro 47 (8,6%) 164 (29,9%) 211 2χ = 5,668 P= 0,017 Casado 45 (8,2%) 271 (49,5%) 316

Nível Educacional ***

Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

1° Grau 13 (2,4%) 81 (14,8%) 94 2χ = 0,956 P= 0,620 2° Grau 69 (12,6%) 314 (57,3%) 383

3° Grau ou superior 9 (1,6%) 46 (8,4%) 55 Número de Filhos

**** Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Nenhum 51 (9,3%) 184 (33,6%) 235 2

χ = 6,761 P= 0,080

1 20 (3,6%) 110 (20,1%) 130

2 14 (2,6%) 51 (9,3%) 115

3 ou mais filhos 6 (1,1%) 45 (8,2%) 101

Atividades Físicas Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Nenhuma 28 (5,1%) 113 (20,6%) 141 2

χ = 2,074 P= 0,557

1 a 2 vezes 32 (5,8%) 191 (34,9%) 223

3 a 4 vezes 14 (2,6%) 64 (11,7%) 78

5 a 7 vezes 18 (3,3%) 81 (14,8%) 99

Tabagismo ***** Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Sim 11 (2%) 37 (6,8%) 48 2χ = 1,451

Não 77 (14,1%) 401 (73,2%) 478 P= 0,228 Consumo bebidas

alcoólicas ****** Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Nenhuma 51 (9,3%) 255 (46,5%) 306 2χ = 0,265 P= 0,606 1 ou mais vezes 41 (7,5%) 182 (33,2%) 223

Tempo de Trabalho Insatisfatório Satisfatório Total Resultados

Page 67: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

65

1 mês a 11 meses 12 (2,2%) 68 (12,4%) 80 2

χ = 7,242 P= 0,065

1 ano a 3 anos 38 (6,9%) 159 (29%) 197

4 a 9 anos 32 (5,8%) 118 (21,5%) 150

10 anos ou mais 11 (2%) 103 (18,8%) 114

Turno de Trabalho Insatisfatório Satisfatório Total Resultados 07:00 até 17:00 16 (2,9%) 144 (26,3%) 160

2χ =

14,653 P= 0,012

05:00 até 13:20

00:00 até 07:40

21 (3,8%)

12 (2,2%)

55 (10%)

43 (7,8%) 76

13:00 até 21:00 28 (5,1%) 95 (17,3%) 123

15:00 até 00:00 9 (1,6%) 54 (9,9%) 63

21:00 até 05:00 12 (2,2%) 59 (10,8%) 71

Fonte: Autoria própria, 2010

* 7 questionários foram descartados por preenchimento incorreto/ rasurados

** 14 colaboradores não informaram seu estado civil

*** 9 colaboradores não informaram nível educacional

**** 10 colaboradores não informaram a quantidade de filhos

***** 15 colaboradores não informaram se eram fumantes ou não

****** 12 colaboradores não informaram o consumo de bebidas alcoólicas

A tabela 3 mostra os resultados obtidos no teste de independência qui-

quadrado. Foi possível verificar, a um nível de significância α ≤ 0,05, quais variáveis

independentes possuem influência significativa do ponto de vista da estatística, em

relação a variável dependente.

Nahas, (2006), demonstra que a pratica de atividades físicas para o bem

estar e saúde dos indivíduos, surge de uma interação e relação entre os aspectos

sociais, ambientais e psicológicos dos indivíduos. Entretanto nota-se, que para esta

população, o conjunto de variáveis sociodemográficas nível educacional, número de

filhos, prática de atividades físicas, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas e

tempo de trabalho apresentaram um valor P acima do nível de significância

estipulado (α > 0,05), sendo então descartadas, contrariando o exposto por Nahas,

2006, ao analisar a população pesquisada.

Isto significa que, para estas variáveis, não se tem evidências suficientes

para afirmar que as mesmas influenciam de forma significativa a variável

dependente (QVT) sendo que, nesta primeira análise, foram descartados os dados

destas variáveis para implementação do modelo matemático.

Tabela 3 - Valor de P para as variáveis independentes (conclusão)

Page 68: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

66

A partir do momento em que foram identificadas as variáveis independentes

que possuem influência significativa na variável dependente, os dados foram

reorganizados para se dar continuidade na análise dos resultados.

Para construção do modelo logístico binário foi utilizada a função de ligação

logit pelos motivos já explicitados. Neste aspecto os dados foram trabalhados

objetivando estimar a razão de chances de influência das variáveis independentes

sobre a variável dependente. Com esta estimativa buscou-se quantificar a influência

das variáveis independentes, conforme tabela 3, que passaram pelo teste qui-

quadrado na QVT desta população, conforme resultados a serem apresentados a

seguir.

4.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QVT E GÊNERO

A tabela 4 identifica os parâmetros para análise da variável gênero (1

feminino; 2 masculino) no levantamento da insatisfação em relação a QVT da

população analisada. São relacionados os coeficientes, os preditores, as constantes,

valor-p, a razão de chances e o intervalo com 95% de confiança.

Tabela 4 - Influência do gênero na insatisfação da QVT

Preditor Coeficiente P Razão de Chances

Intervalo de Confiança – 95%

Inferior Superior

Constante -2,00747 0,000 - - -

Gênero 1 0,608270 0,031 1,84 1,06 3,19

Fonte: Autoria própria, 2010

Interpretando os resultados oriundos dos cálculos realizados verificou-se que

na tabela 4, comparando um indivíduo do sexo masculino com o feminino o

coeficiente positivo (0,608270) indica que, para a população analisada neste estudo,

o indivíduo masculino é mais propenso a estar insatisfeito em relação a sua QVT em

relação ao gênero feminino.

Page 69: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

67

Comparando os gêneros masculino e feminino, quando as outras variáveis

são mantidas constantes, o valor de 1,84 vezes da razão de chances, indica que o

indivíduo masculino tem aproximadamente 2 vezes mais chances de desenvolver

insatisfação QVT do que um indivíduo do gênero feminino, desde que eles tenham

as mesmas características (idade, estado civil e turno de trabalho).

O intervalo de confiança gerado ficou com um limite inferior de 1,06 e

superior de 3,19. Por se tratar apenas de uma amostra populacional, foi gerado o

valor de 1,84, porém se fosse entrevistada 100% da população, a razão de chances

populacional poderia assumir qualquer valor dentro deste intervalo de confiança.

O valor-p de 0,031, mostra que existe uma associação significativa entre a

variável examinada e a QVT, ou seja, há evidênciass suficientes para afirmar que a

variável gênero influência significativamente na QVT dos trabalhadores da

população analisada podendo ser afirmado com aproximadamente 97% de

confiança.

Já o valor-p da constante (0,000) e o valor-p do gênero (0,031) indicam que

há indícios suficientes de que os coeficientes estimados são significativamente

diferentes de zero. A partir da constante gerada e preditor (gênero) é possível criar

o modelo logístico para predição da insatisfação ou não da QVT envolvendo apenas

a variável gênero.

Entretanto, por estar analisando apenas uma variável independente em

relação a dependente, não se consegue creditar o modelo gerado, pois não é

possível gerar os testes de validação do modelo. Assim, com apenas uma variável, o

modelo a ser criado é considerado pobre, sem a capacidade preditora para gerar

confiança no modelo. Para solucionar esta questão é necessária a inserção de mais

variáveis para construção do modelo logístico para poder gerar os testes de

validação do modelo.

4.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS FAIXA ETÁRIA E QVT

Na tabela 5 estão identificados os parâmetros a serem analisados para

análise da variável faixa etária no levantamento da insatisfação em relação a QVT

Page 70: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

68

da população analisada. São relacionados os coeficientes, os preditores, valor-p, a

razão de chances e o intervalo com 95% de confiança.

Tabela 5 - Influência da idade na insatisfação da QVT

Preditor Coeficiente p Razão de Chances

Intervalo de Confiança – 95%

Inferior Superior

Constante -0,212215 0,000 - - -

Idade -0,0468748 0,002 0,95 0,93 0,98

Fonte: Autoria própria, 2010

A primeira característica da variável faixa etária é que na realização teste

qui-quadrado foi necessário codificar em faixas de idade (1, 2, 3). Na criação do

modelo não foi necessário realizar esta etapa sendo possível inserir as idades dos

indivíduos sem qualquer codificação, ou seja, os valores fidedignos em relação a

cada indivíduo.

Assim comparando todas as idades dos indivíduos da população analisada,

o coeficiente negativo (-0,0468748) indica que quanto menor a idade do indivíduo

mais propenso estará a estar insatisfeito em relação a sua QVT.

Já a razão de chances é muito próxima de 1 (0,95) sugerindo a cada

decréscimo de idade, devido ao coeficiente negativo, se aumenta em 0,95 as

chances de estar insatisfeito em relação a sua QVT, desde que eles tenham as

mesmas características. Como não é possível que nenhum indivíduo tenha um

decréscimo na idade, se interpreta este resultado como quanto mais jovem for o

indivíduo mais propenso estará a insatisfação no trabalho e a medida que vai

envelhecendo esta situação tende a se modificar.

O intervalo de confiança, para a razão de chances estimada, ficou entre 0,93

e 0,98 com razão de chances de 0,95 para a população do estudo. Agora se fossem

obtidos dados de 100% da população, a razão de chances poderia ser qualquer

valor dentro deste intervalo. Verificou-se também que o valor-p apresentou um valor

de 0,002, mostrando assim que existe uma associação significativa entre as

Page 71: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

69

variáveis idade e QVT. Portanto há evidênciass suficientes para afirmar que a

variável faixa etária influência na QVT dos trabalhadores da população analisada

neste estudo com aproximadamente 98% de confiança.

A constante gerada seria utilizada na criação do modelo logístico, porém

conforme explicitado anteriormente, o modelo criado com apenas uma variável não

possui credibilidade, sendo considerado pobre pela não geração dos testes de

validação e assim, não gera resultados satisfatórios, sendo necessário a inserção de

mais variáveis para construção do modelo logístico.

4.3 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESTADO CIVIL E QVT

Seguindo o mesmo modelo de análise segue na tabela 6 os resultados

obtidos em relação as variáveis estado civil e QVT.

Tabela 6 - Influência do estado civil na insatisfação da QVT

Preditor Coeficiente p Razão de Chances

Intervalo de Confiança – 95%

Inferior Superior

Constante -1,28785 0,000 - - -

Estado Civil 1 -0,440332 0,049 0,64 0,41 1,01

Fonte: Autoria própria, 2010

Comparando um indivíduo casado (2) em relação a um indivíduo solteiro (1),

foi encontrado um coeficiente negativo (-0,440332) indicando que o indivíduo casado

é menos propenso a estar insatisfeito em relação a sua QVT em relação a um

indivíduo que seja solteiro.

O valor da razão de chances sugere que o indivíduo solteiro em relação ao

casado, apresenta 0,64 de chances de insatisfação no trabalho, desde que estes

mantenham as mesmas características (idade, turno de trabalho, gênero).

O valor-p apresentou um valor de 0,049 mostrando que há evidênciass

suficientes para afirmar que a variável estado civil tem influência na QVT dos

Page 72: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

70

trabalhadores da população analisada. Isto pode ser afirmado com no mínimo 95%

de confiança. Já o intervalo de confiança ficou entre 0,41 e 1,01 sendo que, quando

coletado dados de 100% da população, a razão de chances poderia ficar dentro

deste intervalo.

4.4 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TURNO DE TRABALHO E QVT

A tabela 7 mostra os seguintes resultados da análise das variáveis turno de

trabalho e QVT.

Tabela 7 - Influência do turno de trabalho na insatisfação da QVT

Preditor Coeficiente p Razão de Chances

Intervalo de Confiança – 95%

Inferior Superior

Constante -2,15039 0,000 - - -

Turno 2 (05:00-13:20) 1,15186 0,001 3,16 1,56 6,43

Turno 3 (00:00 – 07:40) 0,278591 0,583 1,32 0,49 3,58

Turno 4 (13:00 – 21:00) 0,918250 0,006 2,50 1,30 4,82

Turno 5 (15:00 – 00:00) 0,522937 0,211 1,69 0,74 3,82

Turno 6 (21:00 – 05:00) 0,557762 0,171 1,75 0,79 3,88

Fonte: Autoria própria, 2010

A variável turno de trabalho no contexto desta análise precisou ser

codificada tanto na análise qui-quadrado quanto na logística, de modo a facilitar a

visualização dos dados como também seu devido tratamento estatístico. Com isso

foram divididas em 6 categorias os turnos de trabalho sendo os turnos 1, 2, 3, 4, 5,

6.

Page 73: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

71

Uma das características do software estatístico é que este, ao trabalhar com

a regressão logística, precisa de uma referencia para fazer as comparações quando

estas estão divididas em categorias.

Neste aspecto foram realizadas diversas análises onde em todas elas foi

trocada a base de referencia para verificar se haveria alguma discrepância entre os

resultados obtidos. Em todos os casos os turnos que apresentaram relativa

significância em relação a sua referencia foram os mesmos.

Portanto baseado nos autores Burch et al., (2009), Regis Filho e Sell, (2000),

que mostram as consequências do trabalho em turnos e também que o ser humano

foi “projetado” para trabalhar durante o dia, a referencia para as análises do turno de

trabalho é o turno administrativo (07:00 – 17:00). Neste caso foram comparados

todos os outros turnos de trabalho em relação ao turno administrativo (turno 1).

Portanto verificou-se que os turnos 2 (05:00 – 13:20) e turno 4 (13:00 –

21:00) em relação ao turno administrativo, apresentam um valor-p de 0,001 e 0,006

respectivamente indicando que existem evidênciass suficientes de que estes dois

turnos apresentam uma influência na QVT da população analisada.

Os turnos 3, 5 e 6 estiveram fora no nível de significância ( α > 0,05) embora

apresentaram uma razão de chances. Isto significa que mesmo com uma

confiabilidade menor é possível realizar uma análise ou tomar uma decisão em

relação ao resultado obtido.

Gujarati, (2006) indica claramente que erroneamente muitos pesquisadores

simplesmente descartam os resultados quando estes apresentam um valor acima do

nível de significância estipulado.

Seguindo este autor é possível então determinar que para a tomada de

decisões os turnos 2 e 4 apresentaram resultados com no mínimo 95% de

confiabilidade enquanto que os turnos 3, 5 e 6 também podem ser analisados, mas

ciente que possuem uma confiabilidade menor. Assim é preciso respeitar os critérios

adotados pelo pesquisador para inserção ou não de variáveis com uma

confiabilidade menor.

Page 74: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

72

Com este resultado é possível criar um ranking em relação a razão de

chances sobre os turnos que apresentaram insatisfação em relação a sua QVT. Isto

pode ser verificado na tabela 8.

Tabela 8 - Razão de chances de uma QVT insatisfatória nos turnos de trabalho

Turnos Razão de Chances

Turno 2 (05:00 – 13:20) 3,16

Turno 4 (13:00 – 21:00) 2,50

Turno 6 (21:00 – 05:00) 1,75

Turno 5 (15:00 – 00:00) 1,69

Turno 3 (00:00 – 07:40) 1,32

Fonte: Autoria própria, 2010

Assim verificou-se que os indivíduos da população em estudo, que atuam no

turno 2 apresentam 3,16 vezes mais chance de apresentar uma QVT insatisfatória

em relação a quem atua no turno administrativo. O coeficiente positivo (1,15186)

contribui nesta afirmação sendo que o intervalo de confiança gerado ficou entre 1,56

e 6,43. Já o turno 4 apresentou uma razão de chances de 2,50, ou seja, os

indivíduos desta população que atuam no turno 4 possuem 2,5 vezes mais chances

de apresentar uma QVT insatisfatória em relação a quem atua no turno

administrativo.

Nota-se que o coeficiente positivo (0,918250) também contribui nesta análise

onde o intervalo de confiança ficou entre 0,49 e 3,58. Portanto, pode-se afirmar com

aproximadamente 99% de confiança que há evidênciass suficientes para afirmar que

os turnos 2 e 4 apresentam influência significativa para gerar uma QVT insatisfatória

na população deste estudo em relação aos trabalhadores que atuam no turno

administrativo.

Embora apresentem uma confiabilidade menor, conforme os valores da

tabela 9 é possível durante uma tomada de decisão também levar em consideração

os demais turnos visto que apresentaram valores na razão de chances e todos os

coeficientes gerados também são positivos, contribuindo para uma veracidade maior

no relacionamento destes com a QVT dos indivíduos.

Page 75: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

73

4.5 MODELO GERADO COM AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES EM RELAÇÃO À

QVT

Depois de analisadas todas as razões de chances verificou-se que estas

variáveis possuem uma influência significativa em relação a QVT da população

analisada. E que com apenas uma variável, não são gerados testes de validação

para o modelo, não sendo possível creditar o mesmo. Neste aspecto é necessário

juntar todas as variáveis que apresentaram influência significativa sobre QVT para

criar um modelo único, capaz de predizer e quantificar a probabilidade de um

indivíduo da população analisada neste estudo apresentar satisfação ou insatisfação

em relação a sua QVT.

Para a estimação do modelo matemático foi analisada a variável dependente

(QVT) e também as variáveis independentes (gênero, faixa etária, estado civil e

turno de trabalho). Os resultados gerados estão apresentados na tabela abaixo.

Tabela 9 - Influência das variáveis independentes sobre a variável dependente, via regressão logística

Preditor Coeficiente P Razão de Chances

Intervalo de Confiança – 95%

Inferior Superior

Constante -1,04422 0,000 - - -

Gênero 0,538550 0,077 1,71 0,94 3,12

Idade -0,0479316 0,004 0,95 0,92 0,98

Estado Civil -0,153001 0,547 0,86 0,52 1,41

Turno 2 (05:00-13:20)

1,08546 0,004 2,96 1,41 6,21

Turno 3 (00:00 – 07:40) 0,241214 0,643 1,27 0,46 3,53

Turno 4 (13:00 – 21:00) 0,841914 0,016 2,32 1,17 4,60

Turno 5 (15:00 – 00:00) 0,557871 0,196 1,75 0,75 4,07

Turno 6 (21:00 – 05:00) 0,350552 0,408 1,42 0,62 3,26

Fonte: Autoria própria, 2010

Page 76: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

74

Analisando os resultados encontrados na construção do modelo logístico

com todas as variáveis previamente selecionadas, verificou-se que o modelo criado

acabou excluindo algumas variáveis devido ao critério utilizado para o nível de

significância , ou seja, α > 0,05. Nos mesmos moldes das análises anteriores se

entende que as variáveis gênero, estado civil, turno 3, turno 5 e turno 6

apresentaram valores acima do nível de significância estabelecido e portanto não

poderão fazer parte do modelo logístico.

Analisadas individualmente estas variáveis apresentaram relevância

estatística, porem quando inseridas na análise global para criação do modelo

logístico, não apresentaram evidências suficientes para influenciar neste modelo.

Salienta-se que existe diferença entre resultados obtidos de análises univariadas e

multivariadas. Acredita-se que os resultados obtidos de uma análise multivariada são

mais consistentes, pois todas as variáveis são analisadas em conjunto e

simultaneamente, o que não acontece na análise univariada.

Já as variáveis idade, turno 2 e turno 4 apresentaram evidênciass suficientes

para afirmar de forma significativa que influenciam na QVT da população em estudo

e portanto foram utilizadas para a construção do modelo logístico.

Nota-se que a variável idade apresentou uma razão de chances de 0,95

sendo o respectivo intervalo de confiança estando 0,92 e 0,98. O coeficiente

negativo de (-0,0479316) indica que quanto mais jovem o trabalhador maiores são

as chances de ter insatisfação no trabalho.

E os turnos 2 e 4 apresentaram uma razão de chances de 2,96 e 2,32 e

intervalos de confiança de (1,41 – 6,21) e (1,17 – 4,60) respectivamente, reforçando

a análise isolada dos turnos em relação à insatisfação do trabalho em relação à QVT

desta população.

Assim, substituindo os coeficientes da equação 3 pelos coeficientes

estimados e apresentados na tabela 10, tem-se:

Page 77: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

75

))4.841914,0()2.08546,1().0479316,0(04422,1()(1

1XturnoXturnoXidadeevento

eP

++−+−−+

=

Onde

X idade equivale a idade do colaborador

Xturno 2 vale 1 caso o colaborador esteja/irá atuar neste turno de trabalho, caso

contrário vale zero.

Xturno 4 vale 1 caso o colaborador esteja/irá atuar neste turno de trabalho, caso

contrário vale zero.

4.5.1 VALIDAÇÃO DO MODELO LOGÍSTICO

Para verificar se o modelo de regressão logística estimado é realmente

eficaz foram realizados testes capazes de aferir o ajuste das variáveis dentro do

modelo e se este realmente possui uma capacidade preditora. Foram realizados os

seguintes testes que verificaram a qualidade de ajuste dos dados. São eles:

• Teste de Pearson;

• Teste Deviance;

• Teste Hosmer-Lemeshow.

Os testes de Pearson e Deviance verificam se o modelo realmente

conseguiu ajustar os dados para se obter estimativas ou realizar predições com

segurança. Neste caso entende-se que quanto maior o valor de P melhor é o ajuste

dos dados no modelo de regressão logística estimado. Já o teste de Hosmer-

Lemeshow faz uma comparação das frequências observadas e as esperadas

(BUSSAB e MORETTIN, 2010).

Page 78: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

76

Estes testes partem do principio de verificar se H0 = ajuste satisfatório dos

dados (hipótese nula) contra H1 = ajuste insatisfatório dos dados neste modelo

(hipótese alternativa). O modelo gerado apresentou os seguintes resultados:

Tabela 10 - Teste de qualidade de ajuste dos dados

Método Qui-quadrado P

Pearson 311,485 0,284

Deviance 283,209 0,722

Hosmer-Lemeshow 12,409 0,134

Fonte: Autoria própria, 2010

Partindo do principio que para rejeitar H0 é preciso que o valor de P ≤ 0,05,

que é o nível de significância adotado, verificou-se através dos três testes

estatísticos realizados que os dados apresentaram um ajuste satisfatório em relação

ao modelo de regressão logística estimado. Credita-se assim a resposta produzida

pelo modelo estimado. Portanto, existem evidênciass suficientes para afirmar de

forma significativa que o modelo é bom, em virtude da aplicação dos testes

apresentarem um P > 0,05, não rejeitando a hipótese nula.

Após a verificação de ajuste dos dados no modelo estimado é possível

demonstrar sua capacidade de predição. Supondo que seja contratado 1 novo

colaborador com idade de 30 anos que irá atuar no turno 2 é possível verificar a

probabilidade que este novo funcionário terá de desenvolver uma QVT insatisfatória.

Para tanto é preciso comparar o perfil deste novo colaborador com outro funcionário

que possua as mesmas características, porém que atue no turno administrativo.

Neste caso utiliza-se a equação 3 substituindo pelo dados dos indivíduos

analisados.

))0.841914,0()1.08546,1()30.0479316,0(04422,1()(1

1++−+−−

+=

eP

evento

Page 79: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

77

P= 0,198339 => 19,83%

Agora substitui os valores no modelo estimado com os dados de quem atua

no turno administrativo.

))0.841914,0()0.08546,1()30.0479316,0(04422,1()(1

1++−+−−

+=

eP

evento

P= 0,077118 => 7,7%

Finalizando a análise substitui os valores encontrados na equação 2 da

razão de chances para encontrar os resultados para tomada de decisão. Na tabela

11 seguem os resultados.

Tabela 11 - Exemplo de uso do modelo logístico

Idade P (turnos) P (administrativo) Razão de chances

30 anos 0,198339 0,077118 2,57

Fonte: Autoria própria, 2010

É possível verificar neste exemplo que um indivíduo que atua neste

segmento, que irá trabalhar no turno 2 e que tenha 30 anos, terá quase 20% de

probabilidade em desenvolver uma QVT insatisfatória em relação a outro indivíduo,

com as mesmas características (gênero, estado civil e idade), porém que atue no

turno administrativo. Este por sua vez terá apenas 7,7% de probabilidade em

desenvolver uma QVT insatisfatória.

Com estes dados foi possível gerar a razão de chances de um indivíduo que

trabalhe no turno 2 desenvolver uma QVT insatisfatória. Neste caso este indivíduo

terá 2,57 mais chances de desenvolver uma QVT insatisfatória em relação a outro

colaborador que atue no turno administrativo, desde que mantidas as mesmas

características dos perfis analisados.

Page 80: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

78

Agora, seguindo Gujarati, (2006), que mostra que os pesquisadores

erroneamente descartam algumas variáveis por estarem abaixo do nível de

significância estabelecido para a pesquisa, pode-se usar outro exemplo, porem

utilizando no modelo logístico as variáveis gênero, estado civil e os todos os turnos

elencados, estando ciente que o resultado gerado possui uma confiabilidade menor

do modelo estimado anteriormente.

Considerando o exemplo anterior, o mesmo indivíduo, utilizando a equação

3, apresentará os seguintes resultados:

))0.350552,0()0.557871,0()0.841914,0()0.241214,0()1.08546,1()1.0153001,0()30.0479316,0()1.538550,0(04422,1()(

1

1

+++

++−+−++−−

+

=

e

Pevento

P= 0,266753 => 26,68%

Verifica-se que ao inserir as variáveis estado civil e gênero na análise, o

resultado subiu de 19,83% para 26,68% de um indivíduo casado, 30 anos, sexo

masculino e que irá trabalhar no turno 2, de apresentar uma QVT insatisfatória.

Comparando agora em relação a outro indivíduo, com as mesmas

características, porem atuando no turno administrativo, têm-se os seguintes

resultados:

))0.350552,0()0.557871,0()0.841914,0()0.241214,0()0.08546,1()1.0153001,0()30.0479316,0()1.538550,0(04422,1()(

1

1

+++

++−+−++−−

+

=

e

Pevento

P= 0,109425 => 10,94%

Page 81: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

79

O indivíduo com as mesmas características sociodemográficas adicionadas,

porem que trabalhe no turno administrativo do segmento analisado nesta população,

vai apresentar 10,94% de chances de apresentar uma QVT insatisfatória.

A razão de chances apresentada ao utilizar estas variáveis é de 3,63, ou

seja, com a inserção das variáveis gênero e estado civil a razão de chances passou

a ser de quase 4 vezes para um indivíduo, sexo masculino, 30 anos e que irá atuar

no turno 2 desenvolver uma QVT insatisfatória em relação a outro indivíduo, com as

mesmas características citadas, porem que atue no turno administrativo.

É importante enfatizar que os resultados apresentados no segundo exemplo

apresentam uma confiabilidade menor e portanto, cabe ao gestor tomar a decisão de

qual modelo utilizar. Para fins deste trabalho, considera-se apenas o primeiro

exemplo, por estar dentro do nível de significância adotado.

Assim é possível enfatizar o aspecto citado por Regis Filho e Sell, (2006)

que enfatizam claramente esta questão, confirmando os resultados atingidos, de que

os trabalhadores que atuam em turnos diferentes ao horário administrativo geram

uma insatisfação em relação a QVT dos mesmos.

Regis Filho e Sell, (2006) e Burch et. al., (2009), demonstram em seus

trabalhos de que as atividade realizadas no horário administrativo são benéficas e

satisfatórias para os trabalhadores sem afetar seu respectivo ritmo circadiano além,

de propiciar um convívio maior com a família e sociedade que o trabalhador atua.

Em relação aos turnos da população analisada, se verificou que os turnos 2

e 4 apresentaram as maiores tendências em oferecer uma QVT insatisfatória aos

colaboradores que neles atuarem. Regis Filho e Sell, (2006) apontam também que

muitos trabalhadores atuam em horários noturnos pelo acréscimo salarial e ausência

de uma chefia constante.

Estes motivos podem explicar o porquê os turnos 3, 5 e 6, (00:00 até 07:40,

13:00 até 21:00 e 21:00 até 05:00 respectivamente) não apresentaram uma

influência significativa em relação a insatisfação a QVT da população analisada na

análise global de todas as variáveis na construção do modelo.

No aspecto turno de trabalho, é possível identificar as prioridades de

investimentos para o gestor da empresa, conforme ranking da tabela abaixo.

Page 82: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

80

Tabela 12 - Prioridade de investimentos nos turnos de trabalho

Turnos Razão de Chances Prioridade

Turno 2 (05:00 – 13:20) 3,16 1°

Turno 4 (13:00 – 21:00) 2,50 2°

Turno 6 (21:00 – 05:00) 1,75 3°

Turno 5 (15:00 – 00:00) 1,69 4°

Turno 3 (00:00 – 07:40) 1,32 5°

Fonte: Autoria própria, 2010

Onde se interpreta estes valores como a razão de chances, de um indivíduo

apresentar uma insatisfação em relação a sua QVT, em relação a outro indivíduo,

que atue no turno administrativo, desde que estes tenham as mesmas

características sociodemográficas (gênero, idade e estado civil). Assim, a empresa

pode investir seus recursos, objetivando mudar a QVT insatisfatória relacionada aos

turnos, primeiramente nos turnos 2 e 4, que apresentaram as maiores razões de

chances. Posteriormente, na disponibilidade de recursos, os outros turnos também

podem ser alvo de investimentos.

Na figura 4 é apresentado um resumo das razões de chances tanto das

variáveis sociodemográficas quanto os turnos de trabalho.

Turno 6

Turno 5

Turno 4

Turno 3

Turno 2

Estado

Civil

Idade

Gênero

QVT

1,84

0,95

0,64

3,16

1,32

2,50

1,69

1,75

Figura 4 - Razão de chances de influência na QVT

Fonte: Autoria própria, 2010

Page 83: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

81

Para as variáveis sociodemográficas, se interpreta a variável gênero como

um indivíduo, do sexo masculino, apresenta quase 2 vezes mais chances de

apresentar uma QVT insatisfatória em relação a outro indivíduo do sexo feminino. A

variável idade apresentou uma razão de chances de 0,95 e um coeficiente negativo,

sugerindo assim que quanto mais jovem o trabalhador, maior será a tendência de

apresentar uma QVT insatisfatória. E a variável estado civil, apresentou uma razão

de chances de 0,64 e também um coeficiente negativo, mostrando que quando o

indivíduo é casado, menores serão as chances de apresentar uma insatisfação em

relação a sua QVT.

Verificou-se, portanto que um trabalhador desta população analisada, do

sexo masculino, solteiro, jovem e que não atue no turno administrativo, pode

apresentar uma disposição maior para uma QVT insatisfatória.

Page 84: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

82

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que o estudo da QVT precisa ser voltado de modo a garantir e

sugerir melhorias de ordem prática e contínuas para os trabalhadores e que gerem

resultados satisfatórios tanto para a organização quanto para os colaboradores.

Para as organizações investirem em programas contínuos de QVT é preciso que os

resultados a serem gerados por estes programas sejam evidenciados, de modo que

o gestor da empresa fique convencido dos resultados e possa tomar as decisões

necessárias para implantação ou incremento destes programas.

Nesta população da indústria de laticínios foram analisados os perfis

sociodemográficos e também o turno de trabalho destes colaboradores através da

regressão logística. Em uma análise prévia os dados foram analisados através do

teste qui-quadrado para verificar quais variáveis possuíam relativa significância

estatística com a variável dependente e em seguida, descartados os que não

apresentaram evidências suficientes para influenciar a variável dependente, QVT.

Foram analisadas as seguintes variáveis independentes: gênero, faixa

etária, escolaridade, estado civil, número de filhos, tabagismo, atividades físicas,

tempo de trabalho, consumo de álcool e turno de trabalho sendo possível concluir

que para a população analisada, as variáveis escolaridade, número de filhos,

tabagismo, atividade física, tempo de trabalho e consumo de álcool não influenciam

de forma significativa a QVT. Por outro lado, conclui-se que as variáveis gênero,

faixa etária, estado civil e turno de trabalho influenciam de forma significativa a QVT

dos trabalhados da indústria de laticínios.

Para a construção do modelo de regressão logística capaz de estimar a

probabilidade de insatisfação da QVT, foram inseridas as variáveis independentes,

previamente selecionadas, onde novamente foram excluídas gênero, estado civil,

turno 3, 5 e 6, por apresentarem um valor acima do nível de significância

estabelecido. Foram inseridas no modelo de regressão as variáveis idade, turno 2 e

4 que, no modelo de regressão logística, que apresentaram uma influência

significativa na QVT da população analisada.

Page 85: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

83

O modelo gerado conseguiu demonstrar a probabilidade de um indivíduo

desenvolver uma QVT insatisfatória e também a respectiva razão de chances em

desenvolver esta situação.

A regressão logística mostrou ser uma ferramenta eficiente por conseguir

gerar uma razão de chances para ocorrência de determinado evento contribuindo

assim na criação de resultados de ordem prática para a tomada de decisões.

Portanto se verificou na população analisada que os colaboradores que

atuam no turno administrativo possuem maiores chances de ter uma QVT

satisfatória em relação àqueles que atuam em outros turnos.

É necessário destacar que em primeira instância as variáveis idade, turno 2

e 4 fazem parte do modelo global, ou seja, são as primeiras variáveis a serem

reavaliadas para esta população, no intuito de amenizar a insatisfação da QVT

porém, as outras variáveis gênero, estado civil, turnos 3, 5 e 6, também podem fazer

parte do escopo das tomadas de decisões, por apresentarem evidências suficientes

de influência na QVT da população analisada.

Por fim, após a triagem nas variáveis existentes nesta população para

levantamento da QVT, conclui-se que o gestor pode utilizar o modelo matemático

estimado para balizar sua decisão na implementação de programas de QVT,

especificando de maneira pontual os trabalhadores mais jovens que atuem nos

turnos 2 e 4. Já com uma confiabilidade menor pode ser usado o modelo estimado

acrescentando as variáveis gênero, estado civil e os outros turnos de trabalho. Neste

caso verificando os colaboradores do sexo masculino e solteiros que atuem nos

turnos de trabalho que não seja o administrativo.

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Este estudo mostrou todo o potencial da ferramenta estatística regressão

logística e que pode ser aplicado em qualquer área do conhecimento, desde que

seja delineada e customizada de acordo com as necessidades da pesquisa.

Relacionada diretamente com o objeto deste estudo, a QVT está presente em todas

Page 86: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

84

as organizações e cabe, aos gestores, escolherem a ferramenta que possa

proporcionar uma tomada de decisões rápida e eficiente.

Portanto, para trabalhos futuros se sugere:

• Para esta mesma população, realizar as mesmas análises relacionadas ao

turno de trabalho, porem utilizando como variável dependente apenas a QV

dos colaboradores;

• Aplicar a regressão logística, no levantamento da QV e QVT, em diferentes

segmentos organizacionais;

• Analisar a influência do turno rotativo de trabalho na QV e QVT dos

trabalhadores.

Page 87: ANÁLISE DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO

85

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