andréa sandoval padovani andréa sandoval padovani
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Andréa Sandoval PadovaniAndréa Sandoval PadovaniAndréa Sandoval PadovaniAndréa Sandoval Padovani
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Andréa Sandoval Padovani
Adolescência: diferenças entre iguais -
Resiliência: fatores de risco e proteção
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia
da Faculdade Ruy Barbosa como requisito parcial à obtenção do grau de psicólogo.
Salvador 2006
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Diferenças entre iguais :
Um estudo sobre características de resiliência entre adolescentes
comunitários e privados de liberdade
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo verificar características que denotassem potencial de resiliência em adolescentes de dois grupos: o primeiro, de adolescentes privados de liberdade de uma instituição de atendimento a medidas sócio-educativas, a CASE, e o segundo formado por adolescentes que participavam do Programa VivaNordeste, um programa comunitário voltado a atender os moradores do Nordeste de Amaralina. Foram pesquisados 28 adolescentes, sendo 14 de cada grupo, sendo utilizados dois instrumentos: uma entrevista semi-estruturada e uma técnica projetiva – Wartegg. Os resultados indicaram que os adolescentes de ambos os grupos apresentaram alguns indicadores de resiliência, contudo estes são mais presentes entre os adolescentes do VivaNordeste, devido a diferenças sociais, como modelo familiar, quantidade de irmãos, escolaridade, participação em atividades sociais e educativas, não uso de drogas, mas, e principalmente, aos recursos internos, como percepção positiva de si, manejo na solução de problemas, objetivos e energia para atingi-los, que modificam a maneira com estes lidam com sua realidade sócio-econômica-cultural. O que pôde ser concluído é a necessidade de redes de apoio visando incentivar os jovens a pensar seu futuro, a buscar alternativas diante das dificuldades e adversidades de sua vida, desenvolver resiliência; alternativas estas que lhes possibilitem mudar o rumo de suas histórias. PALAVRAS-CHAVE: Adolescência, ECA, Resiliência.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAM – Casa de Assistência ao Menor CASE – Comunidade de Atendimento Sócio-Educativa ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente FEBEM – Fundação Estadual de Bem Estar do Menor FUNABEM – Fundação Nacional de Bem Estar do Menor FUNDAC – Fundação Estadual da Criança e do Adolescente ILANUD - Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente PNBEM – Política Nacional de Bem Estar do Menor SPSS - Statistical Package for Social Sciences
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LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Agrupamento, por idade, dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador,
no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no
período de agosto a setembro de 2006, de acordo com informações dadas pelos sujeitos durante a
entrevista ............................................................................................................................................... 57
GRÁFICO 2 - Agrupamento, por idade e escolaridade, dos adolescentes privados de liberdade na
CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, de acordo com os dados levantados durante
a entrevista ............................................................................................................................................ 58
GRÁFICO 3 – Participação em atividades sócio-culturais, esportivas e profissionais dos adolescentes
privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes
participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, de acordo com
informações obtidas durante a entrevista .............................................................................................. 59
GRÁFICO 4 – Religiosidade dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período
de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, informada pelos sujeitos durante a entrevista ......................................... 59
GRÁFICO 5 – Resposta dada à questão sobre a utilização de substâncias psicoativas dos
adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos
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adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, em
entrevista ............................................................................................................................................... 61
GRÁFICO 6 - Resposta à questão sobre a ocorrência de violência contra os adolescentes privados de
liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes
do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, conforme informado pelos
sujeitos durante a entrevista .................................................................................................................. 62
GRÁFICO 7 – Modelo familiar dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período
de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, conforme dados coletados através da entrevista ..................................... 63
GRÁFICO 8 – Quantidade de irmãos informada pelos dos adolescentes privados de liberdade na CASE
– Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, durante a entrevista ................................... 63
GRÁFICO 9 – Resposta à questão sobre a pessoa responsável pelo sustento familiar, durante
entrevista, dada pelos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a
agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a
setembro de 2006 .................................................................................................................................. 64
GRÁFICO 10 – Resposta à questão sobre conflito familiar, dada pelos adolescentes privados de
liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes
do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, durante entrevista ................ 65
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GRÁFICO 11 - Familiares dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de
julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, que utilizam algum tipo de substância psicoativa, segunda informações
obtidas na entrevista ............................................................................................................................. 66
GRÁFICO 12 – Dados sobre familiares dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador,
no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no
período de agosto a setembro de 2006, que tiveram algum envolvimento com atos infracionais,
segunda informações obtidas na entrevista ........................................................................................... 67
GRÁFICO 13 – Dados referentes às respostas sobre como o adolescente se descreve, denotando a
percepção de si mesmo dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de
julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006.................................................................................................................... 68
GRÁFICO 14 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de
julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, à questão da entrevista sobre como se sentem e como agem diante de
problemas .............................................................................................................................................. 69
GRÁFICO 15 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de
julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, à questão da entrevista sobre como se relacionam com amigos e
familiares ................................................................................................................................................ 70
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GRÁFICO 16 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de
julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de
agosto a setembro de 2006, quando questionados sobre o que desejavam para o seu futuro ............ 71
GRÁFICO 17 – Dados sobre a formação do ego em adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo um do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 72
GRÁFICO 18 – Dados sobre a presença choque ao realizar o teste, demonstrando dificuldades em
fortalecer o ego e lidar com si mesmo em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no
período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período
de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo um do teste projetivo Wartegg ..72
GRÁFICO 19 – Dados sobre a consciência dos valores que orientam a conduta em adolescentes
privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes
participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da
análise do teste projetivo Wartegg ......................................................................................................... 73
GRÁFICO 20 – Dados sobre a autoconfiança em adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do teste projetivo
Wartegg .................................................................................................................................................. 74
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GRÁFICO 21 – Dados sobre o manejo da afetividade em adolescentes privados de liberdade na CASE
– Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo dois do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 75
GRÁFICO 22 – Dados sobre como a afetividade flui nos relacionamentos de adolescentes privados de
liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do
Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 76
GRÁFICO 23 – Dados sobre a presença choque ao realizar o teste, demonstrando dificuldades em
fortalecer o ego e lidar com si mesmo em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no
período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período
de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo dois do teste projetivo Wartegg
................................................................................................................................................................ 76
GRÁFICO 24 – Dados sobre o manejo de recursos internos ao traçar metas de adolescentes privados
de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes
do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do
campo três do teste projetivo Wartegg .................................................................................................. 77
GRÁFICO 25 – Dados sobre a mobilização de energia para superar obstáculos em adolescentes
privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes
participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da
análise da pressão e tipo de traçado apresentadas nos campos do teste projetivo Wartegg ............... 78
10
GRÁFICO 26 – Dados sobre a ação frente a barreiras, obstáculos e situações de impasse em
adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e
adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006,
obtidos através da análise do campo cinco teste projetivo Wartegg .................................................... 79
GRÁFICO 27 – Dados sobre traços que demonstram ambição em adolescentes privados de liberdade
na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo três do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 79
GRÁFICO 28 – Dados sobre o manejo da sexualidade e da sensualidade de adolescentes privados de
liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do
Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do
campo sete do teste projetivo Wartegg .................................................................................................. 80
GRÁFICO 29 – Dados sobre a repressão da sexualidade e da sensualidade em adolescentes privados
de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes
do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do
campo sete do teste projetivo Wartegg .................................................................................................. 81
GRÁFICO 30 – Dados sobre a integração à personalidade da sexualidade e da sensualidade em
adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e
adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006,
obtidos através da análise do campo sete do teste projetivo Wartegg .................................................. 82
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GRÁFICO 31 – Dados sobre a relação com o grupo de adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo oito do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 83
GRÁFICO 32 – Dados sobre a interatividade em adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo oito do
teste projetivo Wartegg .......................................................................................................................... 83
GRÁFICO 33 – Dados sobre o relacionamento interpessoal de adolescentes privados de liberdade na
CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos
encontrados no teste projetivo Wartegg ................................................................................................ 84
GRÁFICO 34 – Dados sobre a afinidade com seres vivos de adolescentes privados de liberdade na
CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos
encontrados no teste projetivo Wartegg ................................................................................................ 85
GRÁFICO 35 – Dados sobre a conduta social e o comprometimento com valores de adolescentes
privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes
participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da
análise do campo oito do teste projetivo Wartegg ................................................................................. 85
12
GRÁFICO 36 – Dados sobre a comunicação de adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos
encontrados no teste projetivo Wartegg ................................................................................................ 86
GRÁFICO 37 – Dados sobre a execução de tarefas de adolescentes privados de liberdade na CASE –
Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa
VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise da seqüência de
escolha dos campos do teste projetivo Wartegg ................................................................................... 87
13
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Medida sócio-educativa aplicada e tempo de internação dos adolescentes, participantes
da pesquisa, privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de Julho a Agosto de 2006, que
cometeram ato infracional, conforme informado pelos sujeitos em entrevista........................................ 68
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SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................................ 02
PARECER DA PROFESSORA ORIENTADORA................................................................................... 03 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................................. 04 LISTA DE GRÁFICOS............................................................................................................................ 05
LISTA DE TABELAS............................................................................................................................... 13
1. INTRODUÇÃO e JUSTIFICATIVA................................................................................................... 17
1.1. Adolescência: metamorfose do crescimento............................................................................. 17
1.2. O adolescente: resultado de uma sociedade............................................................................ 22
1.3. Adolescente em conflito com a lei: uma realidade.................................................................... 24
1.4. Adolescência e lei: um novo olhar... E um novo fazer?............................................................. 27
1.5. Risco X Proteção: Vamos falar de resiliência?.......................................................................... 33
2. PROBLEMA E OBJETIVO(S)............................................................................................................. 39
2.1 Pesquisar para melhor conhecer............................................................................................... 39
3. METODOLOGIA (PROCEDIMENTO)................................................................................................. 42
3.1 Sujeitos...................................................................................................................................... 42
3.1.1 CASE: a realidade depois do ato infracional..................................................................... 42
3.1.2 Projeto VivaNordeste: uma tentativa de promover resiliência........................................... 44
1.6. Procedimentos para coleta de dados........................................................................................ 45
2.2.1 Aplicação de Teste Projetivo – Wartegg........................................................................... 46
2.2.1.1 Wartegg: um teste projetivo.............................................................................. 48
2.2.2 Entrevista Semi-Estruturada............................................................................................. 49
1.7. Procedimentos para análise de dados...................................................................................... 49
15
2. RESULTADOS................................................................................................................................. 50
2.1. Quem são os adolescentes da pesquisa?................................................................................. 50
2.2. A família na qual se inserem estes adolescentes..................................................................... 55
2.3. O adolescente e o ato infracional.............................................................................................. 60
2.4. O adolescente por ele mesmo................................................................................................... 61
2.5. O Adolescente por uma técnica projetiva.................................................................................. 64
3.5.1 A Formação do Eu............................................................................................................ 64
3.5.2 O Adolescente e seus conteúdos internos........................................................................ 67
3.5.3 O adolescente diante de suas metas e aspirações e frente a obstáculos........................ 70
3.5.4 A sexualidade e a sensualidade no adolescente.............................................................. 73
3.5.5 Habilidades sociais do adolescente.................................................................................. 75
3.5.6 As idéias e as ações......................................................................................................... 79
3. DISCUSSÃO .................................................................................................................................... 81
3.1. Descobrindo os adolescentes da pesquisa............................................................................... 81
4.2 A família por trás do adolescente............................................................................................... 86
4.3 O ato infracional que encobre o adolescer................................................................................. 90
4.4 Com a palavra: o Adolescente!................................................................................................... 92
4.5 O adolescente sob o olhar de uma técnica projetiva................................................................. 95
4.5.1 A formação da identidade................................................................................................. 96
4.5.2 Lidando com conteúdos internos...................................................................................... 98
4.5.3 Encarando metas e obstáculos........................................................................................ 99
4.5.4 O ato de relacionar-se..................................................................................................... 101
4.5.5 O adolescente e o ato de escolher.................................................................................. 105
4. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 106
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................... 113
16
ANEXOS............................................................................................................................................... 117
Anexo A.................................................................................................................................... 118
Anexo B.................................................................................................................................... 119
Anexo C.................................................................................................................................... 120
17
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
1.1 Adolescência: metamorfose do crescimento
O único significado da vida é crescer. Nenhum preço é alto demais para o crescimento.
Apenas compreendendo isto, você pode ajudar alguém a crescer. CARKHUFF1
Segundo o Dicionário Houaiss, “adolescência significa a fase do desenvolvimento humano
caracterizada pela passagem à juventude e que começa após a puberdade”. Adolescência vem do
latim adolescentia, que significa “mocidade; idade de mancebo”, é sinônimo de juventude, que vem do
latim juventus, útis, “época ou condição de estar na mocidade, de ser jovem”. A definição jurídica, no
entanto, é expressa através do artigo 2º do ECA (BRASIL, 1990), lei que dispõe sobre a proteção a
crianças e adolescentes:
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
A adolescência, durante um grande período de tempo, foi descrita por estudiosos do desenvolvimento
como a fase entre a infância e a idade adulta ligada a estereótipos e pré-conceitos relacionados ao
senso comum que a caracterizavam como sendo a fase da rebeldia, conturbações e agressividade.
Esta fase “tem sido vista desde a Antiguidade pelo prisma da impulsividade e excitabilidade. Aristóteles
(300 a.C.) os considerava apaixonados, irascíveis e inclinados a se deixarem levar por seus impulsos”
(NEWCOMBE2 apud ASSIS, 2003, p.670).
Atualmente esta etapa tem sido alvo de muitas pesquisas e se constituem novas abordagens sobre o
tema, tendo sido Erikson3 (apud OZELLA, 2002, p.16) o “grande responsável pela institucionalização
da adolescência como uma fase especial no processo de desenvolvimento (...) identificando essa fase
1 CARKHUFF, Robert R. O Relacionamento de Ajuda para Pais, Professores, Psicólogos. Belo Horizonte: CEDEPE, 1ª. edição, 1979. 2 NEWCOMBE, N. Desenvolvimento Infantil: Abordagem de Mussen. São Paulo: Artmed, 1999. 3 ERIKSON, E. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
18
com confusão de papéis e dificuldades de estabelecer uma identidade própria”, como um período que
denota um modo de vida e não apenas um momento de transição.
A adolescência pode ser definida por passagem da infância para a fase adulta e constitui-se de
mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais, “um período que começa na biologia e termina na
sociedade” (FERRARIS, 2005). É uma fase de transição que afeta aspectos físicos, sexuais, cognitivos
e emocionais. Porém, as transformações nem sempre ocorrem de maneira linear. Mudanças no corpo,
“na aquisição da identidade de gênero, na escolha profissional”, dos objetos sexuais, trazem consigo
algumas dificuldades, já que “novos relacionamentos, novas identificações devem ser construídas e, a
partir deles, surgem novos valores, nova visão de mundo” (NASCIMENTO, 1999, p.15).
Muitos autores vêem a adolescência como uma fase “marcada por uma modificação significativa da
representação de si (...) um conjunto de crenças, sentimentos e projetos de uma pessoa sofre
transformações” (NASCIMENTO, 1999, p.43). Reconhecer-se a si mesmo, lidar com as exigências do
grupo social, construir novas identificações são desafios característicos desta fase, que os tornam
vulneráveis às influências externas. Nesta etapa da vida, “o desejo de ser original compete com o
desejo de não ser diferente” (NASCIMENTO, 1999, p.44).
O adolescente, graças à sua personalidade em formação, coloca-se em igualdade com seus mais velhos, mas sentindo-se outro, diferente deles, pela vida nova que o agita. E, então, quer ultrapassá-los e espantá-los, transformando o mundo... (PIAGET, 1998, p.62).
Segundo Aberastury e Knobel (1981, p.9), a adolescência é um momento confuso, doloroso e repleto
de contradições, podendo ser considerado o período mais difícil do desenvolvimento humano. Os
autores partem do pressuposto de que “o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades
extremas”, porém estes fatores levam à crença da preexistência de uma crise no adolescente,
afirmação incômoda aos autores, que acreditam que o tema deveria ser alvo de debates mais
profundos, já que esta visão traz consigo estigmas que caracterizam a “síndrome normal da
adolescência”, cujas marcas são a rebeldia, instabilidade de afetos, tendência grupal, as crises
religiosas e de identidade, necessidade de fantasiar, as flutuações de humor, contradições excessivas,
interesse sexual exacerbado, entre outras.
19
Vários são os autores que buscam definir esta etapa do desenvolvimento; de acordo com Aberastury e
Knobel (1981, p.15), a adolescência é uma “fase de reorganização emocional, de turbulência e
instabilidade, caracterizada pelo processo biopsíquico a que os adolescentes estão destinados”.
Segundo Chaves Júnior4 (apud ASSIS, 2003, p.679), “a juventude se distingue das outras gerações
não pela faixa etária, mas pelo conteúdo que simboliza, sendo responsável por determinar, de forma
mais veemente, o ritmo da história”. Enquanto que para Stone5 (apud RAPPAPORT, 1981, p.11), “a
adolescência é uma invenção cultural”.
De acordo com Piaget (1998), os planos de vida dos adolescentes ultrapassam o real, seus sistemas
hipotético-dedutivos assumem a forma de uma hierarquia de valores afetivos, mais do que um sistema
teórico; seus planos de vida são cheios de sentimentos generosos, projetos altruístas, de fervor
místico, porém também se caracterizam por uma inquietante megalomania e egocentrismo consciente.
O adolescente parece, muitas vezes, anti-social, mas isto é falso, já que ele se preocupa
constantemente com a sociedade, com o intuito de reformá-la, o que pretende demonstrar é o desprezo
pela sociedade real, condenando-a.
A duração da adolescência pode ser estabelecida em termos biológicos, porém não pode ser reduzida
a fatores sociológicos, pois estes se alteram de acordo com modelos sociais e culturais. Pesquisas
indicam que adolescentes de classes sociais desprivilegiadas não se enquadram na adolescência
típica, pois “... papéis aprendidos na sua infância (...) se mantém na idade adulta” (NASCIMENTO,
1999, p.18). Responsabilidade, realização de atividades remuneradas necessárias ao próprio sustento,
independência total ou parcial da família, falta de tempo para a diversão, para o estudo, demonstram
que, a idade cronológica e a biológica diferem do papel desempenhado por adolescentes socialmente
desprivilegiados, “os adolescentes são bastante diferentes uns dos outros, por características
individuais e condições de vida” (FERRARIS, 2005, p.51).
4 CHAVES JÚNIOR, E.O. Políticas de juventude: evolução histórica e definição, p. 41-48. Cadernos Juventude, Saúde e Desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, 1999. 5 STONE, L.J. e CHURCH, J. Infância e adolescência, 2ª. Ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1972.
20
Segundo Ayres (2006), a adolescência, modernamente, passou a ter uma conotação psicossocial;
sociologicamente é um período de transição em que o indivíduo passa de um estado de dependência
para uma condição de autonomia; do ponto de vista psicológico, é um período crítico de definição de
identidade, que inclui mudanças nas estruturas da personalidade e nas funções que o indivíduo exerce
na sociedade.
Segundo Rappaport (1981), o adolescente passará por crises ao efetuar escolhas dentro do mundo,
crises que farão parte do seu processo de configuração da identidade, crises que trarão à tona os prós
e contras característicos que qualquer opção, e ainda, atualização da energia, vitalidade e coragem
necessárias ao enfrentamento destas escolhas. Ao refletir sobre estas crises e dificuldades do
processo de desenvolvimento, o adolescente organiza suas aquisições.
A construção da identidade no adolescente ocorre a partir de seus atributos pessoais e de sua capacidade de conhecer a si próprio, em constante embate, confronto e diálogo com o outro. Ao se diferenciar dos outros, o adolescente reafirma o que é e percebe mais claramente o que não é6 (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Acreditar na adolescência com características universais, propondo uma igualdade entre os jovens sem
considerar sua inserção na história, no contexto social, conforme a Psicologia do Desenvolvimento tem
trabalhado até o momento, é como ocultar desigualdades presentes na sociedade, situando a
responsabilidade do agir sobre o próprio adolescente, desconsiderando a realidade que o cerca e o
fenômeno biopsicossocial que é pano de fundo para o desenvolvimento humano (OZELLA, 2002).
Segundo Mira Y Lopez (1980), o processo de criação e integração do indivíduo se dá através dos anos,
impresso por diversas circunstâncias externas e internas, e são divididos em algumas etapas, sendo a
juventude uma delas. Para o autor, esta fase se caracteriza pelo surgimento do pensamento abstrato,
pela aquisição da responsabilidade social, de ações frente à sociedade e pelo desenvolvimento da
sexualidade; sob aspectos psicológicos, é o momento de organizar, evoluir e ponderar os
conhecimentos concretos adquiridos até esta fase e durante a mesma. Junto a isto, surge a
exacerbação da agressividade e do desejo de independência, que se contrapõem ao medo ainda
infantil frente a tantas descobertas.
21
O sujeito classifica e sintetiza sua bagagem de experiências infantis e estabelece seus conceitos e crenças gerais. Ao mesmo tempo descobre novos problemas (...) que embargam o ânimo. (...) Momentos em que o coração lhe dita que siga como uma criança, e a razão lhe impulsionam a pensar como homem7 (MIRA Y LOPES, 1980, P.41).
Segundo Nascimento (1999), é possível identificar alguns traços comuns nos comportamentos da
adolescência, pois são passíveis de generalização, já que se repetem independente da época ou do
tipo de sociedade, bem como da classe social. São sentimentos e comportamentos que propiciam
elementos que possibilitam identificar esta fase. A autora cita que pesquisas realizadas por Salles, com
jovens de diferentes culturas, puderam verificar que “as idéias, vontade de lutar e de trilhar novos
caminhos, construir uma sociedade melhor, eram comuns a todos eles (...) a estrutura de sentimentos é
a mesma” (NASCIMENTO, 1999, p.19). Porém se verificam particularidades, singularidades quanto ao
pensamento, atitudes, valores e crenças, delineadas por diferenças culturais, sociais e econômicas.
O conceito de adolescência não pode ser considerado universalmente, uma vez que não é identificado
em todas as culturas. O nascimento da adolescência coincide com o surgimento da família moderna, os
jovens surgem como um grupo com especificidades e a preocupação para com eles culmina com a
necessidade de melhor compreendê-los. “Problemas tais como fracasso escolar (...) delinqüência, uso
de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, homicídios e suicídios desafiaram psicólogos e
educadores” (NASCIMENTO, 1999, p.29).
Algumas questões típicas da adolescência se manifestam durante toda a vida, “ebulição,
efervescência, paixão e devir não são passageiros como um período de desenvolvimento (...) Neste
sentido, a adolescência pode ser considerada um ”estado de espírito” cujo fim não é determinado”
(NASCIMENTO, 1999, p.17) pela idade ou papéis sociais.
Atualmente se busca uma visão menos patologizante e estereotipada da adolescência, considerando-a
uma fase de mudanças, mas não de marcas, um fato social e psicológico, constituído de acordo com a
cultura, com significados que surgem nas relações sociais, cujas únicas características universais são
as mudanças corporais e cognitivas. A totalidade social constitui a adolescência; condições sociais não
6 Grifo do autor. 7 Original em espanhol.
22
apenas facilitam, contribuem ou dificultam o desenvolvimento de certas características adolescentes,
mas constroem uma determinada adolescência (OZELLA, 2002).
Segundo Rocha (2002, p.25), contextualizar a adolescência é de fundamental importância no processo
de formação dos jovens dos dias atuais que se encontram diante da
instantaneidade temporal provocada pela velocidade tecnológica, que acarreta uma certa superficialidade na aquisição de conhecimento, a cultura do consumo, geradora de múltiplas necessidades rapidamente descartáveis, o quadro recessivo, que amplia a exclusão social, associado à pulverização das relações coletivas, levando à individualização e ao desinteresse na esfera pública e política.
Este contexto, no qual se insere o adolescente atualmente, têm levado à perda de referenciais que
configuram a vulnerabilidade frente aos riscos impostos pela realidade cultural, social e econômica, que
permeia a vida destes jovens.
Para Alves8 (apud OZELLA, 2002), alguns profissionais que atuam junto a adolescentes dizem que,
apesar de se considerarem distantes do mundo adulto, estes jovens reproduzem os papéis sociais
desempenhados neste, quanto a questões políticas, sociais, questões relacionadas ao estudo, trabalho
e relacionamentos.
A adolescência é um período vulnerável para muitos, pois é uma fase do desenvolvimento em que ocorrem mudanças físicas e psicológicas; é quando o indivíduo começa a tornar-se independente dos pais e dar mais valor aos pares; é também quando o indivíduo quer explorar uma variedade de situações com as quais ele ainda não sabe bem como lidar (SAPIENZA e PEDROMÔNICO, 2005, p.210).
1.2 O adolescente: resultado de uma sociedade
O homo sapiens é sempre e na mesma medida, homo socius. BERGER e LUCKMANN9
A sociedade moderna expressa pelo adulto, caracteriza-se pelo individualismo, pelas transformações
culturais e econômicas, que geram, entre outras condições, conflitos, banalização da violência,
desigualdade social, econômica e cultural, condutas ilícitas e cultura de consumo (ANTONI e KOLLER,
2002); fatores encontrados na vida do adolescente, que vítima, testemunha ou agente neste contexto,
8 ALVES, C.P. Eu nunca vou parar de buscar nada: emancipação frente à colonização e políticas de identidade na adolescência. Tese de Doutorado não publicada. Curso de Pós-Graduação em Psicologia Social. PUC-SP. São Paulo, 1997. 9 BERGER, Peter L. e LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1999.
23
fica exposto à violência física e psicológica e a reproduz em suas relações, podendo, inclusive, incorrer
em atos infracionais (RANÑA, 2005).
Observamos que as crianças e os adolescentes do Brasil representam a parcela mais exposta às violações de direitos pela família, pelo Estado e pela sociedade – exatamente ao contrário do que define a nossa Constituição Federal e as leis complementares. Os maus-tratos; o abuso e a exploração sexual; a exploração do trabalho infantil... a forme ; o extermínio, a tortura e as prisões arbitrárias infelizmente ainda compõem o cenário por onde desfilam nossas crianças e adolescentes (VOLPI, 2002).
Para Trombeta e Guzzo (2002), crianças e adolescentes crescem e se desenvolvem em meio à miséria
material, afetiva e educacional, convivendo diariamente com o desrespeito à cidadania e desigualdade
social. O momento atual desafia os adolescentes
a produzir a sua própria identidade de maneira individualizada. Assim, o jovem é desafiado a ser produtor das suas próprias referências e significações, tornando-se o protagonista das suas práticas e representações, orientando-se pelos acontecimentos circunstanciais, pelas influências e pelas necessidades imediatas (PAULILO e BELLO, 2003, p. 1).
Ayres10 (apud SANTOS, 2000, p.18) sustenta a “indissociabilidade das dimensões sociais, culturais e
psicológicas para uma adequada compreensão do que seja adolescência e a saúde na adolescência”.
O adolescente se apresenta como questionador do sistema e da autoridade, através de suas
provocações, apontando para as incongruências da sociedade em que se insere. Nos jovens autores de ato infracional, essa capacidade parece estar potencializada, e tanto sua ações como suas falas colocam constantemente em análise o modo como estamos organizados socialmente (BOCCO e LAZZAROTTO, 2004, p.45).
Segundo Mira y Lopez (1980), alguns aspectos desta fase como agressividade excessiva, o desejo de
independência e o medo de enfrentar o mundo são importantes para uma melhor compreensão da
“delinqüência juvenil”. Algumas pesquisas realizadas pelo autor indicam que existe enorme influência
de fatores afetivos sobre o juízo moral. Ele acredita que a diferenciação entre bem e mal está atrelada
à socialização da mente e ao desenvolvimento da inteligência abstrata, característica da adolescência,
que permite relacionar, de forma lógica, a ação e suas conseqüências. Porém, acrescenta que
... não basta saber diferenciar o bem do mal, precisa-se sentir a responsabilidade moral, senão o sujeito, ainda conhecendo qual é seu dever, fará o que dita seu desejo (...) a capacidade de juízo moral é uma condição necessária, mas não suficiente, para assegurar uma conduta moral11 (MIRA Y LOPEZ, 1980, p.65).
Condição encontrada entre jovens “delinqüentes”, pois estes carecem do desenvolvimento do que se
convencionou chamar “sentimentos morais”. Experiências indicam que a maioria dos “delinqüentes”
10 AYRES, J.R.C. Vulnerabilidade e avaliação de ações preventivas: HIV, DST e abuso de drogas entre adolescentes. São Paulo: Casa da Edição, p.4-20, 1996.
24
apresenta perturbações afetivas, e que todos nascem com tendências delituosas que visam “satisfazer
suas necessidades vitais sem levar em conta para nada o prejuízo que pode ocasionar no meio que o
rodeia...” 12 (MIRA Y LOPEZ, 1980, p.94). Porém o que é aprendido com o meio, através da interação,
irá ou não desencadear estas tendências. O autor defende que a luta contra esta tendência deve ser a
mesma travada contra as enfermidades: através da prevenção e menos através da correção.
Segundo Espinheira13 (apud SANTOS, 2000), existem crianças que são preparadas para a sociedade
através de escolas, cursos de língua, artes, prática de esportes e atividades de lazer, outras, no
entanto, em bem maior número, têm, desde cedo, que se dedicar ao trabalho, comprometidos inclusive
com o orçamento doméstico. As crianças pertencentes ao segundo grupo estão bem mais expostas à
diversidades de condições sociais, pautadas na desigualdade, que marcam como esta fase é vivida.
O adolescente, ao entrar com contato com novos contextos e interações sociais, precisa desenvolver e
aprimorar suas habilidades, que levam às mudanças na autopercepção e na percepção do outro,
criando oportunidade para novas interações. Ao experimentar uma menor liberdade de escolha, estes
adolescentes ficam mais sujeitos a riscos (SANTOS, 2000); entre eles, o envolvimento em atos
infracionais.
1.3 Adolescente em conflito com a lei: uma realidade
Eu sou o que consegui fazer com o que fizeram de mim. SARTRE14
Utilizam-se atualmente as expressões adolescentes em conflito com a lei, adolescente privado de
liberdade ou adolescente autor de ato infracional, pois expressam um momento de sua vida e não uma
categoria valorativa. “A expressão adolescente infrator é comumente reduzida a infrator, tornando o
adjetivo mais importante que o substantivo, imprimindo um estigma irremovível” (VOLPI, 2001, p.21).
11 Original em espanhol. 12 Original em espanhol. 13 ESPINHEIRA, G. De olho na rua. Cadernos do CEAS, n.154, p.1-5, Salvador, 1993. 14 SARTRE, J.P. Sartre. (Coleção Os Pensadores). São Paulo: Nova Cultural, 1987.
25
A alteração do termo, para adolescente em conflito com a lei, buscou diferenciar estes dos menores
carentes ou em situação de risco, buscando acabar com a associação mecânica entre pobreza e
marginalidade, pelo menos no discurso oficial (VALLE, 2003).
Ao evidenciar o conceito de adolescente, não se acolhe à idéia de vítima nem de agressor, mas de um
sujeito de direitos, de uma pessoa em desenvolvimento.
Infração vem do latim infractione, que significa ação de quebrar. Inovar, reinventar a si mesmo,
“...quebrar com o estabelecido (...) numa autoria que procura construir territórios que de outra forma
são impedidos. Infração passou a ser (infr) ação, com especial ênfase no movimento que o termo
implica” (BOCCO e LAZZAROTTO, 2004, p.45).
Algumas teorias estudam o tema “delinqüência juvenil” com base em três níveis do qual o ato pode ser
subproduto: estrutural, que concebe os fatores sociais como responsáveis pelo engajamento em
atividades ilegais; a segunda relaciona o problema à vinculação do jovem às instituições como família,
escola e religião; e a terceira privilegia os mecanismos internos do indivíduo como determinantes,
sejam eles aspectos biológicos herdados ou características da personalidade (ASSIS, 1999). O modelo
que permeia a realização deste trabalho engloba os três níveis de forma integrada, onde todos
interagem entre si, pois somente este olhar mais profundo irá proporcionar um maior conhecimento
sobre o tema e sobre estes adolescentes.
O ato infracional cometido por adolescentes é produto de fatores complexos e de várias ordens,
podendo estar relacionado com o período de vida ou com as condições familiares e sociais nas quais
estão inseridos. “Alcoolismo, maus-tratos, abandonos, graves faltas materiais, fragilidade ou
inexistência da figura de autoridade ou de uma substituta” (CASTRO, 2002, p.122) podem ser alguns
fatores que influem sobre o cometimento do ato.
Na origem das condições que encaminham numerosos adolescentes para a socialização e a delinqüência, encontramos um sentimento de abandono, de (des)vinculação, de (des)encontro, de solidão, de isolamento, de (in)comunicabilidade. Cada adolescente em dificuldade, à sua maneira, tenta dissimular, compensar, protestar (COSTA, 1997).
26
Para Carmo15 (apud PAULILO e BELLO, 2003, p.3) o contraste entre a riqueza ostentada e a pobreza,
no Brasil, suscita ressentimento. “O menor infrator que rouba uma carteira para comprar um tênis ou
comida pode sentir também a sensação de revanche ou de vingança...”. Segundo Paulilo e Bello (2003,
p.4), o jovem encontra no poder da arma de fogo, dos crimes cometidos contra a sociedade, uma
“forma de conseguir prestígio, aceitação social e dinheiro, tão importantes numa sociedade embasada
em modismos e valores consumistas”.
Conforme argumenta Volpi (2001), a sociedade é responsável por impor valores, padrões e normas
necessárias ao desempenho de um papel ligado a um determinado status e entre as camadas mais
pobres, as metas ligadas ao êxito e à ascensão social são buscadas por diferentes alternativas, estas
nem sempre se inserem no universo das normas sociais vigentes.
existe uma tensão permanente entre as expectativas da sociedade e as expectativas de cada indivíduo em relação ao desempenho de papéis que lhe são impostos, e que muitas vezes o comportamento desviante é adotado exatamente para se atingir os objetivos sociais desejáveis (VOLPI, 2001, p.41).
Segundo Rassial16 (apud BOCCO e LAZZAROTTO, 2004, p.45), o adolescente infrator sai do lugar que
a sociedade lhe atribui em busca de seu espaço. “O ato delinqüente seria uma tentativa, dentre outras,
de inventar outras regras (...) poderia ser concebido como (...) um apelo à sociedade”. Este
adolescente, segundo o autor, não é diferente de outro, estando, apenas, mais suscetível aos impasses
da relação social que o acolhe.
O ato infracional, seria então, uma resposta do sujeito, um modo de se apresentar evidenciando
comportamentos produzidos pelo contexto social no qual está inserido, ele espelha a ruptura social, se
mostra como o produto de uma sociedade capitalista, cujo desenvolvimento é centrado na
produtividade e acumulação. Segundo Carneiro17 (apud BARROS, 2003), “o infrator espelha esse outro
ruim, o lado negro da condição e das sociedades humanas que muitas vezes preferimos não enxergar,
que gostaríamos de... isolar, segregar, tirar de circulação”.
15 CARMO, Sergio Paulo. Juventude no Singular e no Plural. Cadernos Adenauer II, n. 6, São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001. 16 RASSIAL, J. O Adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999. 17 CARNEIRO, Carla B.L. Prefácio In Infratores: uma questão de menores? Conjuntura Política, n.13, Minas Gerais: FAFICH-UFMG, nov.1999.
27
Segundo Minayo18 (apud ASSIS, 1999, p.11),
...é preciso compreender a escolha e, depois, saber que nenhuma escolha humana pode ser explicada apenas por determinações sociais, embora todas sejam realizadas frente a condições dadas... é necessário também entender que nenhuma escolha pode ser explicada apenas por determinismo biológico e de “índole”, porque todas as condições dadas são necessariamente reinterpretadas e reconstruídas pelo sujeito dentro de seu espaço de liberdade...
Alguns estudos buscam identificar a diversidade de fatores envolvidos na manifestação do ato
infracional e no seu curso de desenvolvimento. Entre eles, dois grandes focos predominam desde as
décadas de 1950 e 1960: o primeiro preocupa-se em expor os fatores envolvidos nas causas, origem e
genealogia do ato infracional, o segundo procura compreender mais que a origem, mas os processos
envolvidos no desenvolvimento deste comportamento infracional, constâncias e variações que surgem
ao longo da vida destes infratores (SILVA e ROSSETTI-FERREIRA, 2002, p.574).
Vivemos numa sociedade permeada por contradições socioeconômico-políticas que delineiam (...) um movimento crítico e tenso, de grave pontencialização de conflitos (...) deparamo-nos com um mundo globalizado e hegemônico, capaz de desenvolver processos socializadores distintos e determinados, que propiciam, ao mesmo tempo, a satisfação de alguns (...) e a frustração de muitos, excluídos até mesmo do acesso a seus direitos vitais (CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, p.23).
Segundo Assis (1999), estudos recentes sobre o tema apresentam um novo enfoque ao ato infracional,
verificando que adolescentes sob o mesmo ambiente, desenvolvem comportamentos diferentes.
Baseando-se no termo “vulnerabilidade”, pôde-se perceber que alguns jovens se mostraram mais
resistentes, apresentando comportamento social funcional e adaptado. Para estudar a infração juvenil,
um bom caminho a seguir é identificar os fatores de risco e de proteção que agem sobre estes jovens
no momento de suas escolhas.
1.4 Adolescência e lei: um novo olhar... E um novo fazer?
Talvez desejemos viver um mundo ainda a ser concebido, em que o reconhecimento hoje consagrado das leis dos direitos
da criança e dos adolescentes seja efetivamente posto em prática. ASSIS, PESCE e AVANCI (2006)
A discussão sobre a realidade dos adolescentes em conflito com a lei é antiga e trouxe consigo a
preocupação do modo como instituições atendem as reais necessidades destes adolescentes. A
18 MINAYO. Prefácio In ASSIS, Simone Gonçalves. Traçando Caminhos em uma Sociedade Violenta: a vida de jovens infratores e seus irmãos não-infratores. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1999, 236p.
28
criação do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, foi um grande avanço, pois passou a
considerar crianças e adolescentes indivíduos em desenvolvimento e sujeitos com direitos e deveres. O
ECA
Rompeu com a doutrina da “situação irregular” e reafirmou a noção de “proteção integral”, pela qual todas as crianças e adolescentes, sem distinção, são prioridade absoluta e dever da família, da sociedade e do Estado a sua proteção (CASTRO, 2002, p.124).
Segundo Volpi (2002), os adolescentes em conflito com a lei, embora também façam parte do mesmo
quadro social, não encontram eco para defender seus direitos; por terem cometido um ato infracional,
muitas vezes são desqualificados enquanto adolescentes.
O ECA surge diante de discussões com vistas a estas diferenças e com o objetivo de reconhecer
crianças e adolescentes como detentores de direitos. Antes da criação do ECA, muitas outras leis e
políticas foram elaboradas visando atender crianças e adolescentes em suas necessidades básicas,
bem como buscando formas de lidar com o jovem que infringiu a lei. Em 1964 surge a Política Nacional
de Bem Estar do Menor - PNBEM, (Lei n 4.513/64), e é sob a ótica dessa nova política assistencialista
que surge a Fundação Nacional de Bem Estar do Menor - FUNABEM, que se subdividia estadualmente
nas Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor - FEBEM. Apesar de terem como objetivo acabar
com o caráter correcional-repressivo, a FUNABEM e a FEBEM herdam de antigos sistemas a estrutura
física, os equipamentos e também o corpo de funcionários. Sendo assim, houve uma modificação
apenas no nome do programa, mas não foram apresentadas mudanças na forma de pensar o
atendimento ao adolescente em conflito com a lei, que continuou com a carga repressiva (CASTRO,
2002).
Em 1979, é criado o Código de Menores cujo marco é a doutrina do “menor em situação irregular” e o
Direito do Menor. Segundo Emílio Garcia Mendes19 (apud COSTA, 1997) é aplicado um conjunto de
medidas, entre elas, advertência, liberdade assistida, semiliberdade e internação, de forma indistinta
aos menores carentes, abandonados, inadaptados e infratores, não havendo qualquer distinção entre
19 MENDES, Emílio Garcia. Prefácio In COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Pedagogia da presença: da solidão ao encontro. Belo Horizonte: Modus Faciendi, 1997, 140p.
29
os casos sociais e os que se envolviam em conflitos jurídicos. Nas Delegacias de Menores
encontravam-se meninos e meninas que cometeram atos infracionais diversificados ou que estavam
simplesmente em situação irregular, ou ainda os que apresentassem comportamentos desviantes
(como a “vadiagem” e “atitude suspeita”), junto de adolescentes que cometeram atos infracionais
graves.
Na visão dualista predominante, só podiam haver duas possibilidades: ou os jovens eram criminosos, sem chances de mudanças, ou eram coitados que deviam ser tutelados e guiados a um lugar seguro para todos (BOCCO e LAZZAROTO, 2004, p.37).
Neste período, pouco foi desenvolvido quanto à proteção e reinserção social; as medidas se prestavam
mais a desenvolver e aperfeiçoar condutas anti-sociais e ainda atuavam como discriminativas
escondendo da sociedade os “irregulares”, aqueles que não aceita como seus, “... preferindo debitar a
responsabilidade da conduta anti-social na personalidade de cada indivíduo, como se ele pudesse ser
e existir sozinho no mundo” (XAUD, 2000, p.89).
Com a mudança da legislação e com as mudanças que se fizeram necessárias após a implantação do
ECA, ocorreu uma transformação no modo de ver, pensar e agir em relação a estes adolescentes,
trazendo à instituição o papel de acolher e proteger o adolescente em conflito com a lei,
proporcionando medidas visando a educação, socialização e integração, não apenas durante o período
de sua privação, mas vinda a fazer parte de sua conduta também, e principalmente, fora da instituição.
Transformação esta geradora de grande discussão entre operadores de direito e a sociedade civil
organizada com vistas a mudar o olhar para com crianças e adolescentes de todo o país, mas
talvez a grande mudança proposta pelo ECA seja a idéia de que, sem uma rede articulada e solidária entre todos os envolvidos (judiciário, governos, conselhos de direito, sociedade etc.), tornam-se improváveis intervenções bem sucedidas com os adolescentes que cometeram atos infracionais (CASTRO, 2002, p.127),
bem como com adolescentes de um modo geral, que precisam ver garantidos seus direitos à
educação, saúde, alimentação, habitação, transporte, lazer e cultura, como exposto em seu artigo 4º.:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990, p.10).
30
A elaboração do ECA rompe a divisão entre infância e menoridade, ao conceituar criança e
adolescente como sujeitos de direitos, merecedores de prioridade no atendimento a estes, garantido
por um conjunto articulado de políticas públicas elaboradas, debatidas e deliberadas, responsabilizando
a família, o Estado e a sociedade por seu cumprimento, estabelece a criança e o adolescente como
pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, estabelecendo um processo socioeducativo onde
sejam respeitadas a dignidade e subjetividade, estimulando o desenvolvimento de sua criatividade e
capacidades (VOLPI, 2001).
Ao adotar a doutrina de proteção integral da Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da Criança, o ECA consolida e reconhece a existência de um novo sujeito político e social que (...) deve ter para si a atenção prioritária de todos, constituindo-se num cidadão, independente de sua raça, situação social ou econômica, religião ou qualquer diferença cultural (VOLPI, 2001, p.34).
Em sua segunda parte (Parte Especial), o ECA dispõe sobre as diretrizes da política de atendimento
aos adolescentes que cometeram ato infracional. No que tange a prática do ato, informa considerar ato
infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal, porém declara que são penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos, adotando-se a data do ato, pois estes estarão sujeito às
medidas sócio-educativas previstas pelo ECA, ressalta-se que adolescentes entre dezoito e vinte um
anos também são compreendidos dentro deste limite. Estas medidas, contudo, são questionadas por
aqueles que para ela lançam um olhar mais aguçado e preocupado.
As medidas sócio-educativas são definidas pelo Juiz da Infância e da Juventude, decisão que deve ser
livre do enfoque penalista, considerando as circunstâncias e a gravidade do delito, bem como as
condições pessoais do adolescente, introduzindo um caráter social e educativo à sentença
(NOGUEIRA, 2003).
Segundo Cruz Neto, Moreira e Sucena (2001, p.15), “o sistema de medidas sócio-educativas não dá
reposta, não supre os direitos até então recusados. Ao contrário, acentua as desigualdades e a
exclusão em que vivem esses adolescentes, na medida em que funda sua pedagogia no
aprisionamento, na disciplina e na impessoalidade”. Podemos aqui citar Foucault (1987, p.208), para
descrever o sistema de internação destes adolescentes:
31
A prisão, local de execução da pena, é ao mesmo tempo local de observação dos indivíduos punidos. Em dois sentidos. Vigilância, é claro. Mas também conhecimento de cada detento, de seu comportamento, de suas disposições profundas, de sua progressiva melhora...
Neste contexto de vigilância se insere a Psicologia Jurídica, que enquanto especialidade da Psicologia
é implantada por volta da década de 60 e tem como principal colaborador Mira Y Lopez e tem como
principal atribuição a realização de exames que possibilitavam a elaboração de psicodiagnósticos, a fim
de esclarecer aos profissionais do Direito sob que circunstância psicológica se encontrava o indivíduo
praticante de ato delitivo e se estas interferiram ou não em sua conduta (FRANÇA, 2004).
Conforme cita Brito (2005, p.13), “... segundo o desembargador Amaral e Silva, é oportuno questionar o
verdadeiro papel do psicólogo enquanto participante do sistema de Justiça. Partilhamos do sistema
com o objetivo de integrar; e não de excluir... o desenvolvimento do jovem não pode ser visto como
isolado do contexto social no qual está inserido”, opinião que tem por base a compreensão dos direitos
da criança e adolescentes, dispostos no ECA, cuja doutrina é a proteção integral, partindo do
pressuposto de que a prática de delitos não está vinculada à disfunções patológicas, mas inserida em
uma realidade social e cultural que permeia o agir do adolescente.
Existe uma multiplicidade de fatores que determinam o comportamento dos indivíduos. Segundo
Popolo20 (apud FRANÇA, 2004, p.75) devemos analisar a conduta considerando vários fatores, desde
o ato em si, como o contexto grupal, da família à comunidade, bem como os aspectos individuais que
estão envolvidos na prática do ato infracional. Ressaltando que este conhecimento “não representa a
compreensão do indivíduo como um todo (...) refere-se a um recorte parcial da realidade”. Para França
(2004, p.76) “devem ser seu objeto de estudo as conseqüências das ações jurídicas sobre o indivíduo”,
já que estas práticas, como as judiciárias, interferem nas relações humanas e são importantes na
determinação da subjetividade.
O olhar sobre o adolescente que cometeu ato infracional deve se distanciar de concepções
extremistas, onde o adolescente, por um lado, é visto como vítima de um sistema ou produto do meio,
20 POPOLO, Juan H. Del. Psicologia judicial. Mendonza: Ediciones Jurídicas Cuyo, 1996, 475 p.
32
sendo “a prática do delito encarada como uma estratégia de sobrevivência ou uma resposta mecânica
do adolescente a uma sociedade violenta e infratora para com os seus direitos mais elementares”
(VOLPI, 2001, p.19), mesmo verificando-se uma grande quantidade de adolescentes privados de
liberdade pertencerem a classes com defasagens sociais, econômicas, culturais, não se pode atribuir à
situação social a prática do ato infracional, sem qualquer responsabilidade por parte do autor; por outro
lado, o adolescente não pode ser considerado responsável exclusivo e definitivo pelo ato, excluindo-se
qualquer responsabilidade do meio, formulação perversa indicativa de que
a índole, isto é, a tendência, a motivação interna, o caráter e a personalidade do indivíduo apresentam a propensão à prática do (...) delito. Originada da constituição de perfis e modelos comportamentais que produziriam o infrator... (Volpi, 2001, p.20).
Segundo Mira y Lopez (1980), para o jurista, delito é todo ato voluntário que se afasta das normas
legalmente estabelecidas através de leis, o material estudado é o próprio ato delituoso. Para o filósofo,
é um ato em desajuste aos princípios éticos; para o psicólogo, porém, não existe a preocupação com a
definição, mas com a compreensão da motivação dos delitos, dos determinantes que culminam no ato,
sejam internos ou externos. O autor afirma que “... não é possível julgar um delito sem compreendê-lo,
mas para isto é necessário não só conhecer os antecedentes da situação, mas o valor de todos os
fatores determinantes da reação pessoal” 21 (MIRA Y LOPEZ, 1980, p.87). Delitos aparentemente
iguais e sob as mesmas circunstâncias podem apresentar significados distintos e que representem uma
conseqüência fatal determinada por forças e fatores que devem ser considerados.
A situação atual do número de atos infracionais, “têm raízes no processo de exclusão e de
desigualdades estruturais que está, cada vez mais e com maior nitidez, apontando os que não têm
direito ao banquete da globalização das riquezas e da cultura” (CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA,
2001, p.17).
Mas por que, então, podemos supor que adolescentes diante da mesma realidade familiar, cultural,
social e econômica, não agem em direção ao ato infracional? Por que, diante de fatores considerados
de risco, o adolescente busca alternativas e segue um caminho tão diferente, até mesmo, oposto,
33
criando ele mesmo condições de mudanças? Podemos afirmar que alguns indivíduos são mais
vulneráveis aos eventos, quando comparados a outros na mesma situação de risco, por diferenças
físicas ou psicológicas? Porque algumas pessoas superam-se e constroem caminhos positivos diante
de situações adversas, enquanto outros sucumbem diante dos obstáculos?
1.5 Risco X Proteção: Vamos falar de resiliência?
Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez. SAINT-EXUPERY22
Entre os adolescentes, que cometeram ou não ato infracional, surge aqueles que mesmo frente a
severas adversidades econômicas, sociais, desenvolvem uma capacidade de enfrentá-las, “... sujeitos
que, apesar de nascer e viver em condições de alto risco, se desenvolvem psicologicamente sãos e
com êxito social” 23 (GROTBERG et al., 1998, p.8).
Podemos aqui tecer a hipótese de que alguns adolescentes desenvolvem o que estudiosos chamam de
resiliência, cuja definição se diferencia entre os estudiosos do tema, segundo o Dicionário Houaiss, o
termo significa “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”,
do latim resiliens, significa saltar para trás, voltar, ser impelido, recuar, encolher-se, romper. Pela origem inglesa resilient remete a idéia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação (...) no dicionário da língua inglesa se encontram dois raciocínios para o termo: o primeiro se refere à habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc. (PINHEIRO, 2004, p.68).
O termo resiliência surgiu na década de 60 e no início dos anos 70 na literatura psicológica, segundo
Flach (199824 apud TROMBETA e GUZZO, 2002, p.16), o termo foi retirado de outras ciências e
“empregado na Psicologia para designar a capacidade de resistir, a força necessária para a saúde
mental durante a vida”.
Segundo Grunspun et al (2002, p.164), resiliência é a capacidade humana de se recuperar frente a
adversidades, não se tornando vítima dos acontecimentos traumáticos, estressores, tratam-se de
21 Original em espanhol. Grifo do autor. 22 SAINT-EXUPERY, Antoine de. O pequeno príncipe. 48ª. Edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. 23 Original em espanhol. 24 FLACH, F. Resiliência: a arte de ser flexível. São Paulo: Saraiva, 1988.
34
sujeitos que submetidos a fatores de risco conhecidos, possuem imunidade e proteção psicológicas e
não apresentam danos no decorrer de sua vida, ao contrário, muitas vezes, fazendo destas
adversidades degraus para mudanças.
Porém, “a resiliência deve ser sempre relativizada e entendida dentro de um conjunto amplo de fatores
intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo” (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006). A noção de resiliência vem
tomando uma complexidade e sendo abordada como um processo dinâmico envolvendo interação
entre os processos sociais e intrapsíquicos de risco e proteção; seu desenvolvimento baseia-se na
interação entre eventos adversos de vida e fatores de proteção internos e externos de cada indivíduo.
Com o estudo deste tema, busca-se conhecer mais e melhor a natureza tipicamente humana e suas
diferenças individuais que fazem com que pessoas reajam de maneira diferente diante de situações
semelhantes. Conhecimento este que pode levar às soluções e intervenções mais adequadas no
sentido de promover a saúde, respeitando os recursos próprios, os talentos, habilidades, sucessos e
histórias de vida de cada indivíduo, tudo o que o torna único e humano (TROMBETA e GUZZO, 2002).
Algumas características, levantadas por diversos estudos nas áreas de Psicologia, Biologia, Sociologia,
consideram como indicadores internos de resiliência, a competência social, a competência para
resolver problemas, autonomia, propósitos e confiança no futuro, auto-estima, controle de impulsos,
capacidade de atenção e concentração. “Certos atributos da pessoa têm uma associação positiva com
a possibilidade de enfrentar os fatores de risco, de aproveitar os fatores protetores, portanto de ser
resiliente” (GRUNSPUN et al, 2003, p.167).
Mas este indivíduo encontra-se inserido em um contexto, dos quais fazem parte as pessoas que com
ele interagem, as conexões entre outras pessoas do ambiente, os vínculos e influências diretas e
indiretas que este adolescente recebe a partir das mudanças do ambiente e nas pessoas que dele
fazem parte. E este ambiente precisa ser valorizado de acordo como é percebido pelo indivíduo, e não
conforme ele existe na realidade objetiva (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
35
A resiliência surge então não como uma característica que nasce com o sujeito nem como uma
aquisição de fora para dentro, mas como um processo construído à partir da interação da pessoa com
o meio,
esse processo de combinação entre os atributos da criança ou do adolescente e de seu ambiente familiar, social e cultural resulta da interação entre aspectos individuais, do contexto social, da potencialidade dos acontecimento no decorrer da vida e dos chamados fatores de proteção (LINDSTRÖM, 200125 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.20).
Para este trabalho estaremos utilizando a definição proposta por Grotberg et al (1998) no “Manual de
Identificação e promoção da resiliência em crianças e adolescentes” 26, isto é, a “... capacidade do ser
humano frente às adversidades da vida, superando-as e, inclusive, transformando-se por elas” 27.
As adversidades não costumam ser isoladas ou independentes, pois fazem parte de um contexto
social, que envolve fatores genéticos, familiares, ambientais, culturais, socioeconômicos e políticos, a
combinação destas adversidades produz conseqüências em diferentes áreas da vida. Segundo
Grunspun et al (2003, p.163), “ser resiliente sempre é conseqüência dos fatores de risco, de sua
intensidade e duração, e dos fatores de proteção que o indivíduo possui”.
Riscos psicossociais tendem a tornar o indivíduo vulnerável com vistas ao desenvolvimento de
problemas comportamentais, emocionais e na aquisição de comportamentos inadequados, muitas
vezes relacionados a atos delituosos.
Riscos ou adversidades são variáveis ambientais ou contextuais que aumentam a probabilidade da ocorrência de algum efeito indesejável no desenvolvimento mental. Individualmente, muitas variáveis podem ser consideradas risco na infância e na adolescência (EISENSTEIN e SOUZA28 apud SAPIENZA e PEDROMÔNICO, 2005, p.210).
Porém, alguns fatores descritos como sendo de proteção, são recursos pessoais ou sociais que
diminuem ou inibem o impacto dos fatores de risco. O resiliente apresenta os fatores de proteção de
forma mais acentuada dos que os não resilientes. Os fatores protetores podem atuar como “um escudo
para favorecer desenvolvimento humano, quando pareciam sem esperança de superação por sua
intensa e prolongada exposição a fatores de risco” (GRUNSPUN et al, 2003, p.167).
25 LINDSTRÖM, Bengt, O significado de resiliência. Adolescência Latino Americana, v.2, n.3, p.133-139, 2001. 26 Nome original em espanhol: Manual de identificación y promoción de la resiliencia en niños y adolescentes. 27 Original em espanhol. 28 EISENSTEIN, E. e SOUZA, R.P. Situações de risco à saúde de crianças e adolescentes. Petrópolis: Vozes, 1993.
36
Segundo argumenta Rutter29 (apud TROMBETA e GUZZO, 2002), resiliência é um atributo que envolve
vulnerabilidade e mecanismos de proteção, portanto não é fixo, sofre variações ao longo do tempo,
esta combinação irá modificar as respostas individuais frente a situações de risco e operar durante toda
a vida do indivíduo.
... diversas variáveis e processos precisam ser estudados sempre que o tema da resiliência estiver em destaque (...) a capacidade de amar, trabalhar, ter expectativas e projeto de vida – conseqüentemente, dar um sentido a nossa existência – denota ser a base onde as habilidades humanas se apóiam para sem utilizadas diante das adversidades da vida (PINHEIRO, 2004, p.75).
A noção de vulnerabilidade é composta por elementos que agravam a situação de risco ou impedem
respostas satisfatórias diante de situações adversas e deve ser compreendida em três planos básicos:
o individual, que está relacionado aos comportamentos, porém não reduzidos a uma ação voluntária,
mas associados às condições objetivas do meio natural e social e ao grau de consciência sobre tais
comportamentos; o segundo plano é o social, ligado ao acesso à informação, aos serviços de saúde,
condições de bem estar social; e o terceiro está ligado ao institucional, ao desenvolvimento de ações
por instituições específicas visando diminuir, ou eliminar os riscos que tornam os indivíduos mais
vulneráveis (SANTOS, 2000).
A vulnerabilidade não é regida por relações de causa-efeito, mas vincula-se a “mediações,
ponderações e interpolações éticas, culturais, filosóficas, políticas e materiais”, constituindo-se em um
indicador de privações que a sociedade impõe a determinados cidadãos (CRUZ NETO, MOREIRA e
SUCENA, 2001, p.48).
Adolescentes são considerados, por alguns estudiosos, como um segmento da população de elevada
vulnerabilidade, devido à estrutura social encontrada em países como o Brasil, e alguns aspectos
associados a essa vulnerabilidade são as dificuldades de informações adequadas; a necessidade de
explorar, buscar o novo, experimentar riscos e transgredir; a dificuldade de escolhas e a indefinição de
identidades, com conflito entre a razão e o sentimento; a susceptibilidade a pressões grupais com a
29 RUTTER, M. Stress, coping and development: some issues and some questions. In GARMEZYE, N. e RUTTER, M. Stress, Coping and Development in Children. New York: McGraw Hill, p.1-41, 1983.
37
necessidade de afirmação grupal; a desagregação familiar; o acesso a drogas e a elaboração
fantasiosa quanto à sexualidade (AYRES, 2006).
A nova abordagem sobre o tema resiliência sugere uma reorientação da abordagem de risco para a
abordagem de fatores e mecanismos que potencializem as capacidades de cada adolescente para
superar suas dificuldades e as adversidades de sua vida. Mecanismos compreendidos como
mediadores entre sofrer adversidades e vivenciar suas conseqüências, formados por recursos
familiares e sociais disponíveis para atender a criança e o adolescente, bem como suas características
internas (SANTOS, 2000; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Para Costa (1997), a presença do outro se faz necessária ao desenvolvimento da personalidade e da
inserção social de todo ser humano. A vida de cada um se traduz no desejo constante da presença de
outrem. Quando estes vínculos não existem, ou são frágeis, todo o dinamismo se esvai e a conduta se
deteriora e se degrada diante da vida.
Segundo Rutter30 (apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006), estes processos de proteção não eliminam
os riscos, mas encorajam o indivíduo a lidar com as situações. Suas principais funções são a de reduzir
o impacto dos riscos, modificando a exposição às situações adversas; reduzir as reações negativas em
cadeia causadas pela exposição aos fatores de risco; estabelecer e manter a auto-estima e auto-
eficácia, através de relações seguras e o cumprimento das tarefas com sucesso e criar oportunidades
de reverter os efeitos causados pelo estresse.
Para Rutter31 (apud TROMBETA e GUZZO, 2002), as experiências estressantes deixam marcas nas
pessoas que passam por elas, contudo estas pessoas podem ser mais vulneráveis a certos
estressores, mostrando sinais de insegurança ou criando barreiras defensivas de vários tipos.
Mais do que conhecer os eventos de vida e como eles se engendram no comportamento humano,
importa saber as diferenças individuais na percepção das situações adversas. São elas que
30 RUTTER, M. Psychosocial Resilience and Protective Mechanisms. American Orthopsychiatric Association, v.57, n.3, p.316-331, 1987. 31 RUTTER, M. Protective factors in children´s responses to stress and disadvantage. In M.W. Kent & J. Rolf, Primary Prevention of Psychopathology. III University Press of New England, Hanover.
38
distinguirão o modo como os problemas são enfrentados. Dessa forma, um mesmo “golpe do destino”
pode ser experenciado como adversidade por uma pessoa ou como desafio por outra (YUNES e
SZYMANSKI32 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Segundo ASSIS, PESCE e AVANCI (2006), é praticamente impossível inferir que um indivíduo é
resiliente, portanto devemos adotar a noção de potencial de resiliência, que pode ser desenvolvido ao
longo da vida, de diferente forma e grau, e deve ser incentivado, nutrido e potencializador ao longo da
vida.
32 YUNES, M.A.M. e SZYMANSKI, H. Resiliência: noção, conceitos afins e considerações críticas. In TAVARES, J. (org.). Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, p.13-42, 2001.
39
2 PROBLEMA E OBJETIVO(S)
2.1 Pesquisar para melhor conhecer
Façam silêncio! Tem alguém dizendo algo Que nem ele próprio está sendo capaz de ouvir.
É quase um ruído prestes a explodir Na cara de quem não se dispõe a escutar.
VALLE33
O levantamento dos traços psicológicos e aspectos familiares, sociais e econômicos, que permeiam o
desenvolvimento dos adolescentes, além dos fatores de risco e de proteção relacionados à resiliência,
pode ser um caminho para aumentar o conhecimento de sua realidade; e para que possam ser vistos
além do estigma que permeia esta fase, mas como indivíduos, cuja subjetividade está repleta de
interferência, tanto em virtude desta fase do desenvolvimento, como do contexto no qual este
adolescente está inserido. Mecca et al34 (apud ASSIS, 2003, p.671) “enfatizam que a saúde da
sociedade depende em grande parte do estado psicológico com que as pessoas se colocam frente a
um desafio”.
A pesquisa com os adolescentes visa, através da aplicação de um teste projetivo e sua análise, e de
uma entrevista semi-estruturada, verificar a existência de características que possam indicar resiliência.
A técnica a ser utilizada será o Wartegg, técnica desenvolvida tendo como fundamentos teóricos a
Teoria dos Arquétipos de Jung e os fundamentos básicos da Gestalt (FREITAS, 1993). Segundo a
psicologia da Gestalt, o homem é uma totalidade e “o todo é mais do que a soma de suas partes”; “as
propriedades das partes dependem da sua relação com o todo; suas qualidades dependem do lugar,
papel e função que têm do todo” (FREITAS 1993, p 11). Assim, a personalidade é mais que o individuo,
à medida que demonstra sua relação com o contexto onde está inserido.
A psicologia aceita a hipótese de que qualquer pessoa que produza algo a partir de sua imaginação
está se projetando neste produto. Portanto, segundo Hammer (1991, p.1), “podemos afirmar (...) que
33 VALLE, Fernanda do. Op. cit. 34 MECCA, A. SMELSER, N.J. e VASCONCELOS, J. The social importance of self-esteem. University of Califórnia Press, Berkeley, 1989.
40
cada ato, expressão ou resposta de um indivíduo (...) de alguma maneira apresenta a marca de sua
personalidade”. Esta é a base que norteia os testes projetivos, ao desenhar, “a percepção consciente e
inconsciente do sujeito em relação a si mesmo e às pessoas significativas do seu ambiente determina o
conteúdo do seu desenho” (HAMMER, 1981, p.1). Através do desenho, o sujeito irá esboçar seu
mundo interno, forças e fraquezas de sua personalidade, traços e atitudes e como este sujeito mobiliza
seus recursos internos para lidar com conflitos interpessoais e intrapsíquicos.
O teste projetivo, uma das técnicas utilizadas pelo psicólogo, é aplicado de maneira provocadora,
incitando o sujeito a revelar-se, buscando fazer com que o sujeito evidencie sua relação com o mundo
e com si mesmo, “A psicologia projetiva (...) Interessa-se pelas relações do homem com os outros, ao
mesmo tempo em que pelas relações do homem com o seu mundo vivenciado” (ANZIEU, 1981, p.16).
Através dos testes projetivos o sujeito produz respostas que correspondem à estrutura da sua
personalidade, “(...) a resposta do sujeito é sempre projetiva, isto é, reveladora da sua maneira peculiar
de ver a situação, de senti-la e interpretá-la” (VAN KOLCK, 1981, p.255).
Segundo Anzieu (1981), os métodos projetivos buscam investigar a personalidade enquanto estrutura
em evolução, cujos elementos que a constituem estão em constante interação.
Um teste projetivo é como um raio X. Atravessando o interior da personalidade, fixa a imagem do seu núcleo secreto em um revelador (aplicação do teste), permitindo depois sua leitura fácil, por meio da ampliação ou projeção ampliadora de uma tela (interpretação do protocolo). O que está escondido fica, assim, iluminado; o latente se torna manifesto; o interior é trazido à superfície; o que há em nós de estável e também de emaranhado se desvendam (ANZIEU, 1981, p.19).
Este trabalho teve por principal objetivo comparar fatores sociais, econômicos e familiares, bem como a
existência de traços de personalidade característicos do sujeito resiliente, entre adolescentes de um
projeto comunitário de Salvador e adolescentes que cometeram ato infracional e estão privados de
liberdade. Para que este objetivo seja alcançado, a pesquisa levanta aspectos familiares, sociais e
econômicos comuns nos dois grupos, identificando fatores de risco e proteção; verifica, através de um
teste projetivo, traços de personalidade comuns nos dois grupos, que denotem a presença de
condições ligadas a resiliência no desenvolvimento destes adolescentes.
41
Baseando-se na literatura consultada, podemos supor que existem, entre os sujeitos dos dois grupos,
traços de personalidade relativos a esta fase do desenvolvimento; bem como aspectos familiares,
sociais e econômicos comuns. Porém, no que tange aos aspectos ligados à resiliência, acreditamos
que estes sejam mais presentes nos adolescentes participantes do projeto VivaNordeste do que nos
adolescentes privados de liberdade.
Esta pesquisa busca, através de um maior conhecimento das características psicológicas e sociais que
abarcam a adolescência, reconhecer de que forma a sociedade pode contribuir com mudanças que
visem atender as reais necessidades destes sujeitos em sua subjetividade, em sua individualidade, em
seu desenvolvimento enquanto seres humanos cujos direitos e deveres devem ser preservados,
através de condições que se não possam modificar sua realidade, mas que possam ao menos
possibilitar a eclosão da resiliência enquanto característica necessária para lidar com situações
adversas.
Spinoza, “dizia que, se quisermos compreender as coisas, se quisermos efetivamente compreendê-las
em sua natureza, em sua essência e, portanto em sua verdade, é necessário que nos abstenhamos de
rir delas, de deplorá-las ou detestá-las” (FOUCAULT, 2002, p.20). A suspensão do juízo de valor
possibilita um olhar diferenciado, do qual tanto carecem os adolescentes.
42
2 METODOLOGIA (PROCEDIMENTOS)
2.1 Sujeitos
A amostra foi formada por 28 sujeitos, adolescentes de 12 a 21 anos (parâmetro de idade definido pelo
ECA), divididos em 14 adolescentes que cometerem ato infracional, que se encontravam privados de
liberdade, cumprindo medida sócio-educativa no período de julho a agosto de 2006 na CASE –
Comunidade de Atendimento Sócio-Educativa, e 14 adolescentes moradores do Nordeste de Amaralina
que fossem participantes de alguma atividade do Projeto VivaNordeste, no período de agosto a
setembro de 2006, que concordaram em participar da pesquisa, sendo 4 do sexo feminino e 9 do sexo
masculino em cada amostra. Tratou-se, portanto, de uma amostra não probabilística, típica e
voluntária.
2.1.1 CASE: a realidade depois do ato infracional
A primeira instituição acessada foi a CASE, nome recentemente implantado à antiga CAM – Casa de
Atendimento ao Menor. Trata-se de uma unidade de privação de liberdade, que segundo Volpi (2001,
p.66),
são instituições de atendimento em regime de internação, isto é, são entidades onde os adolescentes que cometem atos infracionais ficam internos em tempo integral... é definida por ocupar um determinado espaço físico e ter uma equipe específica.
A CASE é uma instituição localizada em Salvador/BA, no bairro de Tancredo Neves, foi inicialmente
criada em espaço físico das dependências do subsolo do Centro de Recepção e Triagem, que
recebiam adolescentes egressos da antiga Escola de Maragojipe, respaldada pela então lei vigente, o
Código de Menores. Este centro foi desativado por ter suas instalações um caráter carcerário, o que ia
43
de encontro com a nova política de atendimento aos adolescentes decorrente da criação do ECA, em
julho de 1990, surge então a CAM - Casa de Acolhimento ao Menor.
A unidade tem capacidade para atender 120 adolescentes, sendo 70 em regime de internação
provisória e 50 em medida sócio-educativa de internação, estando atualmente com sua capacidade
ultrapassada, em Agosto de 200635, o número de adolescentes atendidos era de 212, dos quais 21 do
sexo feminino. Por mês chegam a CASE cerca de 40 adolescentes.
Nas dependências da unidade funcionam os serviços de saúde integral, educação formal, arte-
educação e qualificação profissional, serviços administrativos, envolvendo a secretaria do adolescente,
arquivo, almoxarifado e serviços gerais, além do trabalho de atendimento realizado por psicólogos,
assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e músico-terapeuta.
A teoria que embasa o trabalho dos profissionais dentro da CASE é o da Pedagogia da Presença,
teoria que tem como fundamento o enfoque de que
está socializado o jovem que dá importância a cada membro da sua comunidade e a todos os homens, respeitando-os na sua pessoa, nos seus direitos, nos seus bens. Ele agirá assim não por uma lei promulgada ou por meio de sansões, mas por uma ética pessoal que determina o outro como valor em relação a si próprio (COSTA, 1997).
A política estadual de atendimento aos adolescentes em situação de conflito com a lei, realizada
através da CASE, é executada sob a responsabilidade da Fundação da Criança e do Adolescente –
FUNDAC, desde o atendimento inicial até o cumprimento da medida sócio-educativa aplicada pela
Justiça da Infância e da Juventude. Em 2005, a FUNDAC realizou 2.199 atendimentos.
O acesso aos jovens ocorreu com o auxílio da equipe de educadores que tiveram acesso aos objetivos
da pesquisa e informaram aos adolescentes sobre o trabalho, aqueles que tiveram interesse em
participar deram seu nome e a lista foi utilizada para que os monitores chamassem os adolescentes
para participar da pesquisa. No primeiro contato, foram passadas todas as informações sobre o
trabalho e sobre as condições de participação, entre os adolescentes que se manifestaram
interessados em participar, três desistiram no momento do contato com a pesquisadora.
35 Dados divulgados no Caderno Dez do Jornal “A Tarde” em 01/08/2006.
44
2.1.2 Projeto VivaNordeste: uma tentativa de promover resiliência
O Projeto VivaNordeste, a segunda entidade contatada para nossa pesquisa, trata-se de um programa
do Governo Estadual da Bahia desenvolvido nos bairros de Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho,
Nordeste de Amaralina e Vale das Pedrinhas, área reconhecida pelos problemas de violência que
enfrenta, envolvendo uma população de 83 mil habitantes.
Oferece formação profissional a 530 jovens, assegurando bolsas aos jovens da Escola de Talento,
ampliando e dinamizando a oferta artístico-educacional, com ações nas áreas de comunicação,
tecnologia digital, música, dança e esportes.
Implantado pelo Governo do Estado em 2004, o Programa tem por objetivo promover a melhoria da
qualidade de vida da população local, através da implementação de políticas básicas de inclusão
social, buscando mudanças nas condições de educação, saúde, habitabilidade, relações sociais
comunitárias, padrões econômico-financeiros e sociais das famílias e das pessoas, especialmente
aquelas em situação de maior risco social. Desenvolvido e coordenado pela SETRAS com o apoio da
SECOMP, o Programa envolve 12 secretarias estaduais e parcerias com a Prefeitura Municipal de
Salvador e diversas organizações sociais.
Para sediar o Programa, implantou-se a Casa de Serviços Viva Nordeste, espaço onde se encontram
Viva Nordeste – Abertura do Projeto Viva Jovem Tadeu Paz, o Balcão de Justiça e Cidadania, o Núcleo
de Atendimento Psicossocial e Educacional – Napse, a Escola Kabum! de Arte, Comunicação e
Tecnologia, a Sala de Arte e Cultura, o Núcleo de Dança Afro e Capoeira, o Núcleo de Balé para
crianças de 8 a 14 anos, o Infocentro Digital e Musical, a Sala de Meditação e Desenvolvimento de
Valores, a Agência do CrediBahia e a Biblioteca Comunitária "Ler é Preciso".
O programa VivaNordeste é responsável pela formação de 2610 jovens entre 16 e 24 anos, para
inserção no setor produtivo, além do fortalecimento dos dons vocacionais de dois mil jovens, através da
45
arte. Realiza 44 cursos profissionalizantes em diversas áreas, capacitando cerca de 1600 pessoas,
além de apoiar micro-empreendimentos dos seus moradores.
Segundo dados do relatório do Programa VivaNordeste, as escolas atendem apenas 5% das crianças
em idade pré-escolar, 34% da 1ª. a 4ª. série, 31% dos jovens de 5ª. a 8ª. e apenas 25% dos
adolescentes com idade para freqüentar o ensino médio, o relatório também destacou a violência e o
tráfico de drogas como um dos principais problemas da região (MENDONÇA, 2005).
Objetivando a redução dos homicídios entre jovens integrantes de gangues responsáveis pelas "rixas"
de rua, o VivaNordeste promove atividades culturais, esportivas e educativas a exemplo da atividade
de boxe para os adolescentes de ruas de alta criminalidade, como a do Boqueirão e da Serra Verde.
São desenvolvidas ainda campanhas permanentes para a inclusão de crianças e jovens na escola,
como o projeto "Toda Criança na Escola" e outra para manter os estudantes na escola "Nenhum a
Menos".
O contato com os adolescentes participantes do programa se deu através da divulgação do trabalho
que foi realizada em um encontro com cerca de 10 adolescentes, com a participação do responsável
pelo Infocentro. Os adolescentes interessados em participar da pesquisa foram instruídos a procurar a
pesquisadora em dias e horários antecipadamente determinados. Não houve desistência por parte de
nenhum adolescente após serem passadas as informações sobre a pesquisa.
2.2 Procedimentos para coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no período de Julho a Setembro de 2006 e a pesquisa utilizou a
abordagem combinada. Foi realizado um levantamento do perfil psicológico, através da análise dos
resultados obtidos em um teste projetivo não quantificável. Foi efetuada a análise dos dados familiares,
sociais e econômicos, através da categorização dos dados obtidos em entrevista semi-estruturada.
46
A escolha desta abordagem se deveu ao objetivo geral e específico que a pesquisa buscou verificar.
Como tratamos de aspectos psicológicos através de um teste projetivo, a abordagem qualitativa trouxe
um melhor resultado no levantamento destes dados. Quanto aos aspectos sócio-demográficos, a
categorização possibilitou caracterizar o grupo pesquisado.
A coleta de dados ocorreu baseada em aspectos éticos, considerando-se para tanto a vulnerabilidade
dos sujeitos da pesquisa, aspectos relacionados às informações sobre objetivos da pesquisa, riscos e
benefícios para os participantes, garantia de sigilo, bem como sobre a liberdade do sujeito de não
participar ou interromper a participação a qualquer tempo.
O consentimento para a realização da pesquisa foi obtido junto aos responsáveis pelos sujeitos, no
caso dos adolescentes privados de liberdade na CASE, a autorização foi obtida através de documento
expedido pelo Juiz de Direito da 2ª. Vara da Infância e da Juventude (anexo A), quanto aos
adolescentes participantes do Projeto Viva Nordeste, esta autorização foi dada pela pessoa
responsável pelo Programa e pela inserção destes adolescentes no mesmo. Foi entregue a cada
participante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo B) onde constavam todas as
informações sobre a pesquisa, solicitando aos interessados em participar a assinatura no termo,
informações estas que foram devidamente esclarecidas pela pesquisadora anteriormente.
A coleta de dados incluiu as seguintes técnicas:
2.2.1 Aplicação de Teste Projetivo – Wartegg
A técnica projetiva foi aplicada a todos os sujeitos, de forma individual, após o estabelecimento de
rapport e antes da entrevista semi-estruturada.
Não houve limite de tempo para a execução, o que foi informado previamente aos participantes.
47
O sujeito recebeu a folha de resposta, dois lápis pretos n. 02, devidamente apontados. O examinador
disponibilizou uma borracha que poderia ser utilizada pelo sujeito, quando este solicitasse.
Não foi permitido utilização de réguas, compasso ou qualquer outro objeto que pudesse servir de apoio
para a execução dos desenhos.
Segundo o Guia de Aplicação e Avaliação do Teste Wartegg (FREITAS, 1993), a folha foi entregue
Iniciaram-se as instruções: o participante foi informado que a folha de resposta possui oito quadrinhos
com desenhos começados e que deveriam ser terminados pelo sujeito. Informou-se que não seria
preciso saber desenhar e que os desenhos poderiam ser realizados na ordem que o participante
desejasse, porém estes deveriam anotar na folha de resposta, em local disponível para isto, a
seqüência com que efetuaram os desenhos, bem como o nome dado a cada um destes desenhos em
espaço próprio, utilizando-se a seqüência de números impressa na folha. Após o término, o examinador
confirmou as informações relativas à seqüência de execução e aos nomes dados a cada quadro.
Foram feitas as anotações sobre informações que se acreditou serem relevantes para a análise dos
dados.
As instruções foram adaptadas para o nível cultural dos sujeitos a fim de que as mesmas pudessem ser
facilmente entendidas pelos mesmos.
O teste foi aplicado buscando as condições ideais, como ambiente tranqüilo, com boa iluminação, um
bom rapport e a garantia de não interrupções, ruídos ou decorações no ambiente de aplicação.
Contudo, em algumas aplicações houveram interrupções, devido ao local de aplicação e/ou em virtude
da diminuição dos riscos para a pesquisadora. O ambiente tinha boa iluminação, contudo não era
isento de ruídos ou decorações, sendo utilizadas as salas disponíveis nas instituições. As superfícies,
onde o teste foi realizado, não apresentavam ondulações ou texturas que pudessem interferir sobre o
desenho do testando.
48
O examinador observou o sujeito durante a execução buscando dados que poderiam ser utilizados na
análise e que pudessem revelar hipóteses sobre os participantes. Contudo não houve qualquer fato
merecedor de destaque sobre os participantes que pudessem influenciar no resultado da pesquisa.
2.2.1.1 Wartegg: um teste projetivo
O teste Wartegg, utilizado na coleta de dados, se apresenta em uma folha com oito quadrados de
quatro centímetros de lado, onde constam esboços de desenho que devem servir de estímulo para os
sujeitos realizarem seus próprios desenhos. Cada esboço mobiliza algo particular da personalidade
deste sujeito (ANZIEU, 1981). Este tipo de teste projetivo “[...] é uma prova gráfica projetiva de
personalidade que, mediante uma série de traços ou estímulos iniciais, leva o individuo a produzir
desenhos” (FREITAS, 1993, p. 9).
A técnica projetiva do desenho apresenta algumas vantagens, entre elas, podemos citar a diminuição
da influência do examinador sobre o produto dos sujeitos. No que se refere ainda à pesquisa, outra
vantagem “reside no fato de que o desenho não é uma técnica comprometida com aspectos culturais”
(HAMMER, 1991, p. 459), portanto não sofre limitações como a linguagem. Além da facilidade de
administração e manipulação, está o fato de que “os desenhos freqüentemente ultrapassam as defesas
de sujeitos evasivos e retraídos, prisioneiros de instituições correcionais etc.” (HAMMER, 1991, p.461).
Segundo Van Kolck (1981, p.351), o teste Wartegg pode ser classificado como uma técnica gráfica,
pois oferece liberdade de resposta, em uma situação projetiva, através do “complemento de desenhos,
linhas ou pontos (...) O sujeito é solicitado a traçar a lápis um desenho partindo de cada elemento
gráfico”.
49
2.2.2 Entrevista Semi-Estruturada
A entrevista foi realizada utilizando-se um questionário (anexo C) com perguntas abertas e fechadas
que foi aplicada após o teste Wartegg e foi efetuada também de forma individual. As entrevistas foram
transcritas manualmente, visando criar um clima de maior confiança junto aos sujeitos pesquisados,
evitando-se qualquer tipo de constrangimento a sua participação.
O instrumento utilizado na entrevista baseou-se no Questionário – Ações Sócio-Educativas Públicas
(LIMA, 2004), e foi formado por questões divididas nas seguintes categorias: dados do adolescente,
dados sobre a família, dados sobre o ato infracional, e questões relacionadas a aspectos de resiliência,
como relacionamento com amigos e familiares, percepção de si mesmo, modo de lidar com
dificuldades e solucionar problemas e perspectiva de futuro. Foram anotadas todas as falas dos
sujeitos, de forma textual.
2.3 Procedimento para análise de dados
O Wartegg foi analisado utilizando-se a Abordagem Projetiva para a interpretação dos dados
apresentados em cada campo, conforme indicado no Guia de Aplicação e Avaliação do Teste de
Wartegg e no Livro Wartegg: da Teoria à Prática, de Nicolau José Kfouri. Estes dados foram descritos
textualmente em tabelas, utilizando-se o Word 97, versão 2003, em seguida as categorias encontradas
foram agrupados por freqüência e inseridas no Excel, versão 2003, onde foram elaborados os gráficos.
Os dados obtidos através da parte qualitativa da entrevista foram tratados da mesma forma.
Os dados quantitativos obtidos na entrevista foram lançados no programa Statistical Package for Social
Sciences (SPSS) versão 8.0 e foram analisados com base na freqüência, comparando-se entre os dois
grupos, os dados levantados, os resultados foram transportados para o Excel, versão 2003, para a
elaboração dos gráficos.
50
3 RESULTADOS
3.1 Quem são os adolescentes da pesquisa?
A pesquisa de campo resultou no levantamento de dados referentes a 48 adolescentes, sendo 14
adolescentes privados de liberdade cumprindo medida sócio-educativa na CASE e 14 adolescentes
participantes do Programa VivaNordeste. O sexo dos adolescentes foi pareado em nove do sexo
masculino e cinco do sexo feminino, em cada um dos grupos. Conforme GRAF. 1, dos 14 sujeitos da
CASE, cinco tinham entre 12 a 15 anos, oito entre 16 a 18 anos e um na encontrava-se faixa etária
acima de 18 anos. Entre os 14 sujeitos do VivaNordeste, 12 encontravam-se na faixa etária de 12 a 15
anos, dois tinham entre 16 a 18 anos e nenhum sujeito tinha mais que 18 anos.
5
12
8
2
1
0
de 12 a 15 anos de 16 a 18 anos acima de 18 anos
Idade dos adolescentes
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 1 – Agrupamento, por idade, dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006. No que se refere aos dados sobre a idade e escolaridade atual, apresentados no GRAF. 2, pôde-se
verificar que todos os adolescentes do VivaNordeste estavam cursando o Ensino Fundamental, 12
sujeitos tinham entre 12 e 15 anos, dois sujeitos tinham idade entre 16 a 18 anos. Na CASE, embora
51
dois sujeitos referirem escolaridade correspondente ao Ensino Fundamental Incompleto, estando um
dos sujeitos com idade entre 12 a 15 anos e um na faixa etária de 16 a 18 anos, 12 sujeitos possuíam
escolaridade correspondente ao Ensino Médio Incompleto, dos quais quatro possuíam entre 12 e 15
anos, sete estavam na faixa etária de 16 a 18 anos e um tinha acima de 18 anos.
GRÁFICO 2 - Agrupamento, por idade e escolaridade, dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006.
Conforme demonstrado no GRAF. 3, quanto à participação dos sujeitos em atividades sociais,
verificou-se que os adolescentes da CASE participavam de uma atividade cada um, sendo que nove
participavam do projeto de profissionalização, dois faziam parte do projeto artístico-cultural e um do
projeto de pré-vestibular. Alguns adolescentes do VivaNordeste participavam de mais de uma
atividade, sendo que sete participavam de projeto de profissionalização, oito adolescentes participavam
de grupo desportivo, dois participavam do projeto artístico-cultural e apenas um adolescente não
participava de nenhuma atividade.
52
1 1 1
8 9
7
2 2
1
0
Não Grupo Desportivo Projeto deProfissionalização
Projeto artístico-cultural
Projeto de pré-vestibular
Participação dos sujeitos em Atividades Sociais
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 3 – Participação em atividades sócio-culturais, esportivas e profissionais dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006.
Dos adolescentes participantes da pesquisa, conforme apresentado no GRAF. 4, oito adolescentes da
CASE e três do VivaNordeste informaram não adotar nenhuma religião, sendo que 11 do VivaNordeste
e seis da CASE disseram abraçar alguma religião, entre as quais Católica (3), Adventista (1), Batista
(6) e Evangélica (7).
8
3
6
11
Não religiosos Religiosos
Religiosidade dos Sujeitos
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 4 – Religiosidade dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, informada pelos sujeitos durante a entrevista
53
De acordo com os dados obtidos na entrevista, pôde-se verificar que na CASE, a maioria dos
adolescentes (12) eram residentes de municípios do interior do Estado, sendo que um morava em
Salvador e um no estado do Rio de Janeiro. Os adolescentes do VivaNordeste eram moradores do
Nordeste de Amaralina, bairro de Salvador.
Quanto aos dados referentes à participação dos adolescentes na renda familiar, de acordo com as
respostas dos sujeitos, o resultado demonstrou inversão entre os dois grupos: enquanto 10
adolescentes da CASE contribuíam para a renda da família, 10 não o faziam no grupo do
VivaNordeste.
Quanto ao tipo de atividade exercida pelos adolescentes que contribuíam para a renda familiar, todos
os adolescentes do VivaNordeste e nove da CASE realizavam atividades não qualificadas. Um
adolescente da CASE citou o ato infracional como forma de ajudar na renda familiar, contudo sem o
consentimento dos familiares, que acreditavam que o dinheiro era ganho através de mendicância ou
“bicos” realizados pelo adolescente.
Conforme demonstrado no GRAF. 5, entre os adolescentes do VivaNordeste, 12 nunca utilizaram
qualquer substância psicoativa e dois utilizaram substâncias lícitas como o cigarro e a bebida alcoólica.
Deste modo, nenhum adolescente informou utilizar substâncias ilícitas. Entre os adolescentes da
CASE, quatro referiram nunca haver utilizado substâncias psicoativas, dois referiram utilizar
substâncias lícitas, três indicaram o uso de substâncias ilícitas, como a maconha, a cocaína e o crack,
e cinco informaram consumir tanto substâncias lícitas como ilícitas.
54
4
12
2 23
0
5
0
Nenhuma Substâncias lícitas Substânciasilícitas
Substâncias licitase ilícitas
Tipo de substância psicoativa utilizada pelo adolescente
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 5 – Tipo de substância psicoativa consumida por adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e dos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006.
Pôde-se verificar, através dos dados obtidos na entrevista, que nenhum adolescente do VivaNordeste
fugiu de casa, embora alguns tenham citado já ter pensado em fazê-lo, voltando atrás ao refletir sobre
o assunto e perceber que seria pior do que enfrentar o problema.
Quanto aos adolescentes da CASE, cinco informaram já ter fugido de casa, sendo que os motivos
citados foram brigas com os pais devido ao uso de drogas, à escolha de um namorado não aprovado
pela família, a agressões físicas por parte dos pais e ao próprio envolvimento com atos infracionais.
Conforme demonstrado no GRAF. 6, entre os adolescentes do VivaNordeste, 11 disseram não ter
sofrido qualquer tipo de violência, contaram que apanharam quando pequenos, porém sem qualquer
abuso e com necessidade. Três informaram terem sofrido violência física por parte dos pais, que se
excederam ao infringir punição. Entre os adolescentes da CASE, 10 disseram nunca ter sofrido
nenhum tipo de violência, dois informaram ter sofrido violência física por parte dos pais e do
companheiro, um informou ter sofrido tentativa de homicídio por parte de um vizinho e um contou ter
sofrido violência sexual por parte de um desconhecido adulto.
55
10
11
1
0
2
3
1
0
Nenhuma Tentativa deHomicídio.
Violência física(apanhar).
Violência sexual.
Tipo de violência sofrida pelos adolescentes
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 6 - Resposta à questão sobre a ocorrência de violência contra os adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, conforme informado pelos sujeitos durante a entrevista
3.2 A família na qual se inserem estes adolescentes
O GRAF. 7 apresenta dados sobre o modelo familiar dos adolescentes Verificou-se que nove
adolescentes do VivaNordeste e cinco da CASE faziam parte de uma família nuclear, formada por pais
e irmãos, três do VivaNordeste e quatro da CASE participavam de famílias monoparentais cuja mãe era
a provedora e apenas um adolescente do VivaNordeste fazia parte de família monoparental cujo pai
era o provedor. Quanto à participação em família extensa, formada por parentes como tios, avós e
irmãos, sem a presença dos pais, um adolescente do VivaNordeste e cinco eram participantes deste
modelo familiar. Entre os adolescentes da CASE, quatro tinham apenas a mãe viva, um não soube
informar, pois desconhecia o paradeiro do pai e nove tinham ambos os pais vivos. No VivaNordeste
todos os adolescentes (14) tinham pai e mãe vivos.
56
5
9
4
3
0
1
5
1
Família Nuclear FamíliaMonoparental
Materna
FamíliaMonoparental
Paterna
Família Extensa
Modelo Familiar
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 7 – Modelo familiar dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006.
Conforme apresentado no GRAF. 8, sete, ou seja, 50% dos adolescentes do VivaNordeste tinham
apenas um irmão, sendo que um não tinha irmãos e um tinha mais de cinco; três informaram ter até
três irmãos e dois de três a cinco irmãos. Na CASE este resultado foi praticamente inverso, 13 sujeitos,
o equivalente a 93% dos adolescentes, informaram ter mais que um irmão, sendo que um adolescente
disse ser filho único, três informaram ter de três a cinco irmãos, cinco disseram ter até três irmãos e
cinco referiram ter mais de cinco irmãos.
1 1
0
7
5
3 3
2
5
1
Nenhum Um irmão até 3 irmãos de 3 a 5 irmãos Mais de 5 irmãos
Quantidade de irmãos
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 8 – Quantidade de irmãos informada pelos dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, durante a entrevista
57
De acordo com os dados apresentados no GRAF. 9, sobre a pessoa responsável pelo sustento familiar,
verificou-se que no VivaNordeste, seis sujeitos informaram serem os pais (pai e mãe) os responsáveis
pelo sustento do lar, sendo que na CASE, esta resposta foi dada por apenas um sujeito. A mãe foi
citada por sete adolescentes da CASE e três do VivaNordeste. Na CASE, três sujeitos informam ser o
pai/padrasto, um disse ser o irmão a pessoa responsável pelo sustento familiar e dois informaram que
são os amigos da família (que residiam na mesma casa) os responsáveis por sustentar a residência.
No VivaNordeste, quatro disseram ser o pai/padrasto e um citou o tio e o avó como as pessoas
responsáveis pelo sustento familiar. A totalidade dos sujeitos pesquisados no VivaNordeste e 11
sujeitos da CASE, informaram que as pessoas responsáveis pelo sustento familiar exerciam atividades
não-qualificadas. Um sujeito do VivaNordeste citou uma atividade qualificada, sendo a de cozinheiro
profissional e um citou a aposentadoria como fonte de renda, sendo que a atividade exercida
anteriormente era não-qualificada.
1
67
3
3
4
1
0 0
1
2
0
Pais (ambos) Mãe Pai/Padrasto Irmãos Tios/Avós Amigos
Pessoa responsável pelo sustento familiar
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 9 – Resposta à questão sobre a pessoa responsável pelo sustento familiar, durante entrevista, dada pelos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006
O GRAF. 10 apresenta o resultado sobre a questão referente à existência de conflito do adolescente
junto a algum familiar. Verificou-se que 13 sujeitos do VivaNordeste informaram não ter qualquer
conflito com alguém da família, apenas um citou ter conflito com a avó paterna, descrevendo-o como
58
discussões com a avó acarretadas pelo ciúme desta para com seu pai, fator trazido pelo adolescente
como responsável pela separação de seus pais. Na CASE, cinco sujeitos informaram não ter nenhum
conflito familiar, sendo 3 do sexo feminino, sete informaram ter conflitos com os pais e/ou irmãos e dois
disseram que estes conflitos se deram com tios e/ou primos. Os conflitos citados por estes
adolescentes, em sua maioria (5), são discussões constantes que acabaram em brigas com certo grau
de violência. Um cita agressões físicas e agressões psicológicas como motivo do conflito, um não
explicou o motivo e um diz ser o ato infracional cometido o motivo do conflito com sua família.
5
13
7
0 0
1
2
0
Nenhum Pais e/ou Irmãos Avós Tios e/ou Primos
Familiar com o qual o adolescente tem algum conflito
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 10 – Resposta à questão sobre conflito familiar, dada pelos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, durante entrevista
Conforme o GRAF. 11, seis adolescentes da CASE informaram não possuir nenhum familiar que utiliza
substâncias psicoativas, sete disseram que seus pais e/ou irmãos utilizavam, mesmo número
encontrado entre os adolescentes do VivaNordeste, um informou que o tio fazia uso de alguma
substância. No VivaNordeste, seis informaram ter tios e/ou primos que se utilizavam de algum
substância e um citou o padrasto.
Quanto ao tipo de substância utilizada, 12 adolescentes do VivaNordeste citaram substâncias lícitas,
como o cigarro e a bebida alcoólica e dois citaram substâncias ilícitas como a maconha, a cocaína e o
59
crack. Na CASE, a totalidade de adolescentes (8) que citaram algum familiar, informaram que as
substâncias utilizadas são lícitas.
6
0
7 7
1
6
0
1
Nenhum Pais e/ou Irmãos Tios e/ou Primos Padrasto
Familiares que utilizam alguma substância psicoativa
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 11 - Familiares dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, que utilizam algum tipo de substância psicoativa
Quanto às respostas obtidas sobre o envolvimento de familiares em atos infracionais, pôde-se verificar
no GRAF. 12 que entre os adolescentes da CASE, 11 não tinham nenhum familiar envolvido em ato
infracional, dois informaram ter o pai ou irmão e um informou ter um primo envolvido em atos
infracionais. Entre os sujeitos participantes do VivaNordeste, oito informaram não ter qualquer familiar
envolvido, dois disseram ter o pai ou irmão, e quatro informaram ter tios e/ou primos envolvidos em
atos infracionais.
Quanto ao tipo de ato cometido, entre os familiares dos adolescentes da CASE, um foi contra o
patrimônio e dois contra a vida. No VivaNordeste, os dados são de dois atos contra o patrimônio, três
contra a vida, uma contravenção e um ato infracional de envolvimento com tráfico de entorpecentes.
60
11
8
2 2
1
4
Não Pais e/ou Irmãos Tios e/ou Primos
Familiares envolvidos em atos infracionais
CASE VivaNordeste GRÁFICO 12 – Dados sobre familiares dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, que tiveram algum envolvimento com atos infracionais
3.3 O adolescente e o ato infracional
Entre os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, nenhum informou ter tido qualquer
envolvimento com atos infracionais; entre os adolescentes da CASE, todos confirmaram a participação
no ato pelo qual estão cumprindo medida sócio-educativa. Verificou-se que o ato infracional mais citado
foi o contra a vida, cometido por nove adolescentes, seguido pelo ato contra o patrimônio, cometido por
três, um adolescente informou ter cometido ato contra os costumes e um contra a vida e Narcotráfico.
Entre os atos contra a vida, encontravam-se as tentativas e o homicídio; entre os contra o patrimônio,
estavam o roubo, furto e arrombamento de veículos ou casas; o ato contra os costumes foi relativo ao
atentado violento ao pudor e o ato citado contra a vida e narcotráfico, foi uma tentativa de homicídio
envolvendo venda de drogas.
Com relação à idade dos adolescentes privados de liberdade na CASE, na data do ato infracional, os
resultados demonstraram que 50%, portanto 7 adolescentes encontravam-se na idade entre 14 e 16
anos na data do ato, dois tinham até 13 anos e cinco tinha acima de 17 anos.
Quanto à medida sócio-educativa a qual estavam submetidos os adolescentes da CASE e o prazo de
internação, conforme dados da TAB. 1, nove estavam cumprindo internação, entre eles, dois estavam
61
em cumprimento de medida no período de até seis meses, três entre seis meses a um ano e quatro
estavam em cumprimento da medida de um a dois anos. Cinco adolescentes cumpriam internação
provisória, quatro estavam privados de liberdade no prazo de até seis meses e para um adolescente
este período era de seis meses a um ano.
TABELA 1 – Medida sócio-educativa aplicada e tempo de internação dos adolescentes, participantes da pesquisa, privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de Julho a Agosto de 2006, que cometeram ato infracional
3.4 O adolescente por ele mesmo
Ao solicitar aos adolescentes pesquisados que se descrevessem, as respostas foram diversificadas, e,
portanto agrupadas em percepções positivas e negativas sobre si mesmo. Entre as positivas
agrupamos descrições como: inteligente, bonito, amigo, paciente, tranqüilo, calmo, atencioso;
respostas emitidas pela totalidade de adolescentes do VivaNordeste e por 11 da CASE. Entre as
percepções negativas, apresentadas por três adolescentes da CASE, destacou-se a impaciência, o
nervosismo frente à situação de privação de liberdade (GRAF. 13).
11
14
3
0
Percepção positiva Perepção negativa
Percepção de si mesmo
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 13 – Dados referentes às respostas sobre como o adolescente se descreve, denotando a percepção de si mesmo dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006
2 3 4 9 4 1 5 6 4 4 14
Internação
Internação Provisória
Até seis meses
de seis meses
a um ano
de um ano a dois anos
Tempo de Internação
Total
62
Conforme demonstrado no GRAF. 14, ao serem questionados sobre como se sentem e agem diante de
problemas, entre os adolescentes da CASE, 53% (8) respondeu que busca o auxílio de pessoas, busca
o diálogo com outras pessoas ou as envolvidas no problema, 33% (5) disseram utilizar recursos
próprios como manter-se controlado diante da situação para resolvê-la sozinha, 7% (1) buscavam
auxiliam na religião, pedindo ajuda a Deus e 7% (1) disseram manter a tranqüilidade, mas não
conseguem, normalmente acarretando discussões e brigas. Entre os adolescentes do VivaNordeste,
63% (10) buscavam o auxílio de pessoas e o diálogo, 19% (3) utilizam-se de seus próprios recursos,
como manter a calma, 13% (2) buscavam ajuda na religião que freqüentavam e 6% (1) disseram não
se controlar e perder a tranqüilidade frente a problemas.
53%
63%
33%
19%
7%
13%
7% 6%
Busca depessoas ao
redor/ Diálogo
Auto-controle Religiosidade Descontrole
Manejo de Problemas
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 14 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, à questão da entrevista sobre como se sentem e como agem diante de problemas
O GRAF. 15 apresenta os resultados relativos à questão sobre como é o relacionamento do
adolescente junto aos seus pais e amigos. Verificou-se que entre os adolescentes da CASE, 12
informaram ter um bom relacionamento e dois disseram que este é ruim. Entre os adolescentes do
VivaNordeste, apenas um informou ser ruim, 10 disseram ser bom e três informaram ter um ótimo
relacionamento.
63
12
10
0
3
2
1
Bom Ótimo Ruim/Pouco
Relacionamento Interpessoal na percepção do adolescente
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 15 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, à questão da entrevista sobre como se relacionam com amigos e familiares
Quando perguntados sobre o que desejavam para o futuro, os adolescentes apresentaram as
respostas demonstradas no GRAF. 16. Entre os adolescentes da CASE, 35% (12) disseram querer
trabalhar, 21% (7) informaram o desejo de estudar, 15% (5) de mudar de vida, 18% (6) informaram o
desejo de construir uma família e ter sua casa e 12% (4) desejam ajudar sua família. No VivaNordeste,
31% (13) dos adolescentes citaram o desejo de trabalhar, 29% (12) informaram a vontade de estudar,
12% (5) disseram querer mudar de vida ou de local de moradia, 7% (3) informaram querer ter uma
família e uma casa, 14% (6) citaram o desejo de ajudar seus familiares e 7% (3) disseram querer viajar
para conhecer outros lugares.
64
35%
31%
21%
29%
15%
12%
18%
7%
12%14%
0%
7%
Trabalhar Estudar Mudar devida/ local de
moradia
Ter umacasa/
Construiruma família
Ajudarfamiliares
Viajar
Objetivos para o futuro
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 16 – Resposta dos adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e os adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, quando questionados sobre o que desejavam para o seu futuro
3.5 O Adolescente por uma técnica projetiva
3.5.1 A Formação do Eu
O GRAF. 17 apresenta os dados levantados através do campo um do teste projetivo Wartegg,
relacionado à como o indivíduo formou seu eu, indicando o modo deste lidar com fatos e seus
sentimentos para estruturar sua consciência. Pôde-se verificar que sete sujeitos, de ambos os grupos,
o equivalente a 50% da amostra, tiveram a formação do ego baseada na experiência dos fatos. Cinco
sujeitos, de cada grupo, formaram sua identidade através da conceituação dos fatos e sentimentos.
Dois sujeitos de ambos os grupos se basearam em dois pontos de referência para formar sua
individualidade.
65
7 7
5 5
2 2
Ego formado pelaexperiência de
sentimentos e fatos
Ego formado pelaconceituação de
sentimentos e fatos
Ego formado pelareflexão de dois
pontos de referência
Formação do Ego
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 17 – Dados sobre a formação do ego em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo 1 do teste projetivo Wartegg
Conforme dados apresentados no GRAF. 18, dez adolescentes da CASE não apresentaram traços de
dificuldade em fortalecer o ego e lidar consigo e quatro apresentaram tais traços. Entre os adolescentes
do VivaNordeste, 13 não apresentaram enquanto um apresentou tais traços.
10
13
4
1
Não Sim
Dificuldade em fortalecer o ego e lidar com si mesmo
CASE VivaNordeste GRÁFICO 18 – Dados sobre a presença choque ao realizar o teste, demonstrando dificuldades em fortalecer o ego e lidar com si mesmo em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo um do teste projetivo Wartegg
Conforme demonstrado no GRAF. 19, entre os adolescentes da CASE, nove apresentaram maior
consciência sobre os valores que os orientam, quatro tem pouca consciência destes valores e um
66
demonstrou incoerência quanto a valores que o orientam. No VivaNordeste, oito denotaram maior
consciência e seis apresentaram pouca consciência destes valores.
9 8
4
6
1
0
Maior consciênciados valores
Pouca consciênciados valores
Incoerência dosvalores
Consciência dos valores que orientam a conduta
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 19 – Dados sobre a consciência dos valores que orientam a conduta em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do teste projetivo Wartegg
Conforme pode ser verificado no GRAF. 20, ao analisar os conteúdos relativos à autoconfiança,
verificou-se que entre os adolescentes da CASE, 60% (26) dos conteúdos demonstraram traços
indicativos de falta de confiança e insegurança ao relacionar-se, 16% (7) indicaram necessidade de
reconhecimento e auto-realização, 12% (5) apresentaram excesso de autoconfiança com resultados
negativos e 12% (5) apresentou traços de confiança em si mesmo. No VivaNordeste 40% (21) destes
conteúdos apresentaram falta de confiança e insegurança, 28% (15) demonstraram necessidade de
reconhecimento e auto-realização, 8% (4) apresentaram traços indicativos de excesso de
autoconfiança com resultados negativos e 25% (13) demonstraram confiança em si mesmo.
67
60%
40%
16%
28%
12%8% 12%
25%
Falta deconfiança/Insegurança
ao relacionar-se
Necessidade dereconhecimento eauto-realização
Excesso de auto-confiança, com
resultados negativos
Confiança em simesmo
Auto-Confiança
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 20 – Dados sobre a autoconfiança em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do teste projetivo Wartegg
3.5.2 O Adolescente e seus conteúdos internos
Conforme apresentado no GRAF. 21, com relação à forma de agir frente à afetividade, cinco
adolescentes da CASE e três do VivaNordeste tendem a racionalizar a afetividade, respondendo de
forma racional às situações afetivas. Nove adolescentes da CASE e 11 do VivaNordeste, reagem
afetivamente às situações afetivas. Com relação à consciência sobre o papel da afetividade em sua
vida, 11 adolescentes da CASE e oito do VivaNordeste demonstraram pouca consciência, seis
adolescentes do VivaNordeste apresentaram certo grau de consciência e três da CASE demonstraram
maior grau de consciência deste papel.
68
5
3
9
11
Racionalização da afetividade. Reage afetivamente às situações.
Manejo da afetividade
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 21 – Dados sobre o manejo da afetividade em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo 2 do teste projetivo Wartegg
De acordo com os dados apresentados no GRAF. 22, quanto à fluência da afetividade nos
relacionamentos, 32% (11) dos conteúdos desenhados pelos adolescentes da CASE demonstraram a
dificuldade em lidar com aspectos afetivos, 29% (10) apresentou ligação com os aspectos afetivos da
vida, 21% (7) demonstraram que a afetividade é sentida de forma negativa e 18% (6) apresentaram
traços de que a afetividade flui melhor com a natureza que com seres vivos. Entre os adolescentes do
VivaNordeste, 46% (13) dos conteúdos apresentaram dificuldade em lidar com aspectos afetivos, 29%
(8) demonstraram ligação com estes aspectos, 14% (4) apresentaram traços de que a afetividade é
sentida de forma negativa e 11% (3) de que a afetividade flui melhor com a natureza.
69
32%
46%
29%
29%
21%
14%18%
11%
Dificuldade em lidarcom aspectos afetivos
Ligação com aspectosafetivos da vida
Afetividade sentida deforma negativa.
Afetividade flui melhorcom a Natureza quecom seres vivos.
Fluência da afetividade ao relacionar-se
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 22 – Dados sobre como a afetividade flui nos relacionamentos de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do teste projetivo Wartegg
Conforme apresentado no GRAF. 23, entre os adolescentes da CASE, nove não apresentaram choque
ao realizar o desenho no campo dois, o que sugere a ausência de dificuldade em lidar com a
afetividade. No VivaNordeste, o número de adolescentes cuja produção no teste teve esta
característica foi de 13. Entre os adolescentes que apresentaram choque e, portanto, traços de
dificuldade em lidar com a afetividade, seis são da CASE e um do VivaNordeste.
9
13
5
1
Não Sim
Dificuldade em lidar com a afetividade
CASE VivaNordeste GRÁFICO 23 – Dados sobre a presença choque ao realizar o teste, demonstrando dificuldades em fortalecer o ego e lidar com si mesmo em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo dois do teste projetivo Wartegg
70
3.5.3 O adolescente diante de suas metas e aspirações e frente a obstáculos
Entre os adolescentes que apresentaram traços relacionados ao manejo de recursos internos ao traçar
metas, de acordo com o campo três do teste e conforme apresentado no GRAF. 24, verificou-se que
entre os adolescentes da CASE, 60% (6) demonstraram falta de objetividade e empenho, 20% (2)
direcionamento ao traçar suas metas e 20% (2) apresentaram tendência a possuir expectativa
pessimista ou sentimento de impotência frente às metas. Entre os adolescentes do VivaNordeste, 50%
(7) demonstraram falta de objetividade ou empenho, 36% (5) apresentam expectativas pessimistas ou
sentimento de impotência e 14% (2) demonstram comportamentos defensivos com preocupação de
não perder o que possuem.
60%
50%
20%
0%
20%
36%
0%
14%
Falta de objetividade eempenho
Direcionamento parametas/objetivos.
Expectativapessimista/
Sentimento deimpotência
Compto defensivo,preocupação em nãoperder o que possui
Manejo de recursos internos ao traçar metas
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 24 – Dados sobre o manejo de recursos internos ao traçar metas de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo três do teste projetivo Wartegg
Conforme apresentado no GRAF. 25, entre os adolescentes da CASE, 50% (7) demonstraram
mobilização de energia, porém inadequadamente canalizada, 29% (4) apresentaram facilidade para
canalizar energia e 21% (3) demonstraram pouca vitalidade. Entre os do VivaNordeste, 79% (11)
71
demonstraram mobilização de energia porém mal canalizada, 7% (1) apresentaram facilidade para
canalizar energia e 14% (2) demonstraram pouca vitalidade.
50%
79%
29%
7%
21%
14%
Mobilização deenergia,
inadequadamentecanalizada.
Facilidade paracanalizar energia.
Pouca vitalidade.
Mobilização de energia para superar obstáculos
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 25 – Dados sobre a mobilização de energia para superar obstáculos em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise da pressão e tipo de traçado apresentadas nos campos do teste projetivo Wartegg
De acordo com os dados apresentados no GRAF. 26, entre os adolescentes da CASE, 44% (8) agiam
sem modificar as situações que geram impasses, 22% (4) procuravam entender os motivos que
geraram tais situações, 17% (3) evitavam situações de impasse, 6% (1) iam além das dificuldades
buscando superá-las, 11% (2) adiavam soluções diante das barreiras e dificuldades e nenhum
adolescentes demonstrou utilizar a reflexão para enfrentar situações de impasse. Entre os
adolescentes do VivaNordeste, 21% (6) agiam sem modificar situações que geram impasses, 4% (1)
procuravam entender os motivos que geraram tais situações, 36% (10) evitavam as situações de
impasse, 7% (2) utilizavam a reflexão frente a tais situações, 18% (5) iam além das dificuldades,
buscando superá-las e 14% (4) adiavam soluções diante das barreiras e dificuldades.
72
44%
21%22%
4%
17%
36%
0%
7%6%
18%
11%
14%
Age semmodificar
situações quegeram
impasses.
Procuraentender osmotivos quegeraram
situações deimpasse
Evitasituações deimpasse.
Utiliza areflexãofrente a
situações deimpasse.
Vai além dasdificuldades,buscandosuperá-las.
Adia soluçõesdiante dasbarreiras edificuldades.
Ação frente a barreiras, obstáculos e situações de impasse
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 26 – Dados sobre a ação frente a barreiras, obstáculos e situações de impasse em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do teste projetivo Wartegg
Conforme apresentado no GRAF. 27, os 14 adolescentes da CASE apresentavam pouca ou nenhuma
ambição ao traçar metas. Entre os adolescentes do VivaNordeste, 12 apresentavam pouca ou
nenhuma ambição e dois demonstravam traços de muita ambição ao traçar metas.
14
12
0
2
Taços denotam pouca ounenhuma ambição
Traços denotam muita ambição
Traços característicos de ambição
CASE VivaNordeste GRÁFICO 27 – Dados sobre traços que demonstram ambição em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo três do teste projetivo Wartegg
73
3.5.4 A sexualidade e a sensualidade do adolescente
Conforme demonstrado no GRAF. 28, entre os adolescentes, seis da CASE e sete do VivaNordeste
apresentavaam afetividade ligada à sensualidade; dois da CASE e dois do VivaNordeste
demonstravam afetividade ligada à sexualidade, que permite um envolvimento emocional nos
momentos mais. Quatro adolescentes da CASE e cinco do VivaNordeste demonstravam racionalização
da afetividade ligada à sensualidade; dois da CASE e nenhum do VivaNordeste apresentaram
racionalização da afetividade ligada à sexualidade, racionalização fruto de dificuldades passadas e não
compreendidas a respeito destes sentimentos, o comportamento sexual/sensual era dirigido pela razão
e não espontâneo, o que impedia a entrega. Entre os adolescentes, oito da CASE e 13 do
VivaNordeste apresentaram choque ao realizar o desenho neste campo, denotando dificuldade em lidar
com sua sexualidade ou sensualidade.
67
2 2
4
5
2
0
Afetividade ligada àsensualidade.
Afetividade ligada àsexualidade.
Racionalização daafetividade, ligadaà sensualidade.
Racionalização daafetividade, ligadaà sexualidade.
Manejo da Sexualidade e Sensualidade
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 28 – Dados sobre o manejo da sexualidade e da sensualidade de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo sete do teste projetivo Wartegg
74
Conforme dados do GRAF. 29, cinco adolescentes da CASE e 12 do VivaNordeste não demonstraram
repressão da sexualidade ou sensualidade, enquanto nove da CASE e dois do VivaNordeste
demonstraram reprimir a ternura própria da sensualidade devido às dificuldades trazidas por esta
sensibilidade ou pouca compreensão deste sentimento.
5
12
9
2
Sexualidade/Sensualidade nãoreprimidas.
Repressão da ternura própria dasensualidade
Repressão da Sexualidade/Sensualidade
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 29 – Dados sobre a repressão da sexualidade e da sensualidade em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo sete do teste projetivo Wartegg
De acordo com as informações apresentadas no GRAF. 30, entre os adolescentes pesquisados na
CASE, cinco apresentavam a sexualidade e a sensualidade integradas à personalidade e nove
adolescentes apresentavam traços sugestivos de dificuldades de integração destas características. Nos
adolescentes do VivaNordeste, 13 apresentavam integração da sexualidade e da sensualidade à
personalidade e um apresentava dificuldades desta integração.
75
5
13
9
1
Sexualidade/Sensualidade integradasà personalidade.
Dificuldade de integração dasexualidade/sensualidade.
Integração da sexualidade/sensualidade à personalidade
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 30 – Dados sobre a integração à personalidade da sexualidade e da sensualidade em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo sete do teste projetivo Wartegg 3.5.5 Habilidades sociais do adolescente
Conforme se verifica no GRAF. 31, entre os adolescentes da CASE, 39% (9) apresentavam
necessidade de receber apoio e proteção do grupo, 22% (5) racionalizavam a afetividade, interagindo
com o grupo a partir de conceitos racionais, 30% (7) apresentavam traços sugestivos de interação
através dos sentimentos e 9% apresentavam o sentimento de estarem sendo julgados pelos que o
cercam. Entre os adolescentes do VivaNordeste, 44% (11) demonstravam necessidade de receber
apoio e proteção do grupo, 16% (4) utilizavam a razão na interação, utilizando-se de conceitos, 32% (8)
interagiam através dos sentimentos e 8% (2) apresentavam características associadas ao sentimento
de estar sendo julgado pelo grupo.
76
39%
44%
22%
16%
30% 32%
9% 8%
Necessidade dereceber apoio eproteção do grupo
Racionalização daAfetividade. Troca àpartir de conceitos
Interação ocorreatravés dossentimentos.
Sentimento de estarsendo julgado pelos
que o cercam.
Relacionamento com o grupo
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 31 – Dados sobre a relação com o grupo de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo oito do teste projetivo Wartegg
De acordo com os resultados apresentados no GRAF. 32, dos adolescentes da CASE, quatro
interagiam de forma moderada com o grupo, seis demonstravam grande interação, com busca de troca
de maneira ampla e afetiva e quatro apresentavam dificuldade de interagir e sentir-se protegido. Entre
os adolescentes do VivaNordeste, oito interagiam de forma moderada, cinco apresentavam grande
interação com o grupo, com troca ampla e afetiva e um demonstrava dificuldade de interação.
4
8
6
5
4
1
Interação moderada como grupo.
Grande interação com ogrupo com busca de troca
ampla e afetiva
Dificuldade deinteração/de sentir-se
protegido
Interação com o grupo
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 32 – Dados sobre a interatividade em adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo oito do teste projetivo Wartegg
77
Ao analisarmos a presença de conteúdos referentes ao relacionamento interpessoal, conforme
resultados demonstrados no GRAF. 33, entre os adolescentes da CASE, 75% (6) apresentavam
dificuldade de relacionamento e 25% (2) demonstravam facilidade de relacionar-se com aceitação do
outro. Entre os adolescentes do VivaNordeste, este resultado foi inverso, sendo que 25% (2) dos
adolescentes apresentavam dificuldades de relacionar-se e 75% (6) demonstravam facilidade em
aceitar o outro e relacionar-se com ele.
75%
25%25%
75%
Dificuldade de relacionar-se Facilidade de relacionar-se comaceitação do outro
Relacionamento Interpessoal
CASE VivaNordeste
GRÁFICO 33 – Dados sobre o relacionamento interpessoal de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos encontrados no teste projetivo Wartegg Com relação à afinidade destes adolescentes com os seres vivos, conforme apresentado no GRAF. 34,
93% (11) dos adolescentes da CASE demonstravam pouca ou nenhuma afinidade e 7% (1)
apresentavam afinidade com o relacionamento humano. Entre os adolescentes do VivaNordeste, 43%
(6) demonstravam pouca ou nenhuma afinidade e 57% (8) apresentavam afinidade com os seres vivos.
78
93%
43%
7%
57%
Pouca ou nenhuma afinidadecom seres vivos
Afinidade com orelacionamento humano
Afinidade com seres vivos
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 34 – Dados sobre a afinidade com seres vivos de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos encontrados no teste projetivo Wartegg
Conforme demonstrado no GRAF. 35, entre os adolescentes da CASE 43% (6) apresentavam traços
de dependência de conduta social e comprometimento com valores, 36% (5) respeitavam as normas e
valores de forma crítica e 21% (3) apresentavam menos receptividade social, comprometendo o
respeito às normas e valores externos. Dos adolescentes do VivaNordeste, 71% (10) apresentavam
dependência da conduta social e comprometimento com valores, 29% (4) respeitavam as normas de
forma crítica e nenhum demonstra menor receptividade social.
43%
71%
36%
29%
21%
0%
Dependência da condutasocial e comprometimento
com valores.
Respeito a normas evalores de forma crítica.
Menos receptividadesocial
Conduta social e comprometimento com valores
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 35 – Dados sobre a conduta social e o comprometimento com valores de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise do campo oito do teste projetivo Wartegg
79
Conforme GRAF. 36, entre os adolescentes da CASE, 10 apresentavam interesse em ser
compreendido ao comunicar-se e quatro voltavam-se para si mesmo, sem demonstrar preocupação
com o outro. Entre os adolescentes do VivaNordeste, existiu um equilíbrio, já que sete demonstravam
interesse em ser compreendido ao comunicar-se e sete se voltavam para si, sem se preocupar com o
outro.
10
7
4
7
Interesse em ser compreendido aocomunicar-se.
Voltado para si mesmo, sempreocupar-se com o outro.
Comunicação
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 36 – Dados sobre a comunicação de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise dos conteúdos encontrados no teste projetivo Wartegg
3.5.6 As idéias e as ações
Entre os adolescentes da CASE, seis demonstraram flexibilidade na execução de tarefas, agindo em
função de escolhas próprias e da afinidade com as situações, um demonstrou imaturidade e
descontrole ao realizar tarefas, seis seguiam esquemas e métodos externos e um agia de forma
oposicionista ao meio ao realizar tarefas. Dos adolescentes do VivaNordeste, 11 demonstraram
flexibilidade na execução de tarefas, três agiam de forma oposicionista ao meio e nenhum demonstrou
imaturidade ou agia de acordo com esquemas externos (GRAF. 37).
80
6
11
1
0
6
0
1
3
Flexibilidade.Afinidade com assituações. Escolhas
próprias
Imaturidade edescontrole aorealizar tarefas.
Segue esquemas emétodos externosao realizar tarefas.
Age de formaoposicionista ao
meio.
Características ligadas à execução de tarefas
CASE
VivaNordeste
GRÁFICO 37 – Dados sobre a execução de tarefas de adolescentes privados de liberdade na CASE – Salvador, no período de julho a agosto de 2006 e adolescentes participantes do Programa VivaNordeste, no período de agosto a setembro de 2006, obtidos através da análise da seqüência de escolha dos campos do teste projetivo Wartegg
81
4 DISCUSSÃO
4.1 Descobrindo os adolescentes da pesquisa
A amostra inicial da pesquisa foi dos adolescentes privados de liberdade na CASE, e a quantidade
maior de sujeitos do sexo masculino está relacionada ao maior índice envolvimento de adolescentes do
sexo masculino em atos infracionais e cumprimento medida sócio-educativa, conforme verificaram
diversos trabalhos anteriores (ASSIS, 1999; CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, VALLE, 2003;
VOLPI, 2001 e 2002). No período da pesquisa o número total de adolescentes internos na CASE era
de 212, dos quais 21 eram do sexo feminino, correspondendo a 10% da população institucionalizada,
percentual acima do valor nacional. No Brasil, em 1995, o percentual de adolescentes do sexo feminino
envolvidas em atos infracionais era de 4% e, de acordo com dados do ano de 2002 do Ministério da
Justiça36, de um total de 10.366 adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa no Brasil,
9.860 eram do sexo masculino e 506 do sexo feminino (95,12% e de 4,88%, respectivamente). Entre os
adolescentes que cumpriam medida sócio-educativa de internação, este número era de 94,73% do
sexo masculino e 5,27% do sexo feminino. Porém notou-se um aumento significativo na participação
feminina em atos infracionais - em fevereiro de 2004, a FEBEM paulista registrou um aumento de
106,4% de adolescentes do sexo feminino em cumprimento da medida de internação em relação ao
mesmo mês do ano de 2001. Apesar de ainda serem a maioria, os jovens do sexo masculino
registraram um aumento de apenas 49,3% nesse mesmo período.
As adolescentes do sexo feminino se envolvem em atos infracionais, em sua maioria, por influência de
companheiros, namorados, adultos, sendo os principais o tráfico de drogas e o roubo (CRUZ NETO,
MOREIRA e SUCENA, 2001), segundo dados da ILANUD37, as adolescentes que roubavam, por sua
36 Dados disponíveis em http://www.risolidaria.org.br/estatis/view_grafico.jsp?id=200503080025#tab2 37 Dados disponíveis em http://www.risolidaria.org.br/estatis/view_grafico.jsp?id=200503080025#tab2
82
vez, revelaram que o grupo de amigos foi importante influência para enveredarem no mundo do delito.
Algumas jovens afirmaram que teriam sido cooptadas pelos colegas do sexo masculino, que
necessitavam de uma figura feminina menos visada para viabilizar o roubo.
A partir destes números foram pesquisados nove adolescentes do sexo masculino e cinco do sexo
feminino, quantidade que foi pareada no segundo grupo pesquisado, os adolescentes participantes do
Programa VivaNordeste.
Quanto à idade dos adolescentes, verificou-se que no VivaNordeste, 12 dos entrevistados possuíam
idade entre 12 a 15 anos, enquanto apenas dois entre 16 a 18 anos, fator que pode ocasionar
diferenças nos demais resultados, já que os adolescentes da CASE estão mais distribuídos entre as
faixas etárias, e o maior número, 9 adolescentes, se encontravam com idade superior a 16 anos.
Contudo a idade dos adolescentes privados de liberdade não caracterizou um perfil - o que se verificou
em outras pesquisas (VOLPI, 2002) foi a predominância de adolescentes privados de liberdade com
idade entre 15 e 17 anos.
De acordo com os dados sobre a idade e escolaridade atual, pôde-se verificar que 12 adolescentes do
VivaNordeste estavam cursando o Ensino Fundamental em idade correspondente a este grau de
escolaridade, sendo que apenas dois sujeitos tinham idade entre 16 a 18 anos, idade superior para
esta escolaridade. Na CASE, embora dois sujeitos apresentassem escolaridade de Ensino
Fundamental Incompleto, sendo um com 15 anos e outro com 18 anos; entre os adolescentes que
possuíam Ensino Médio Incompleto, oito apresentaram idade superior a 16 anos, estando em
defasagem com a idade média de 12 anos para a conclusão do Ensino Médio, parâmetro estabelecido
pelo Ministério da Educação e Cultura. “A relação Idade-Série constitui-se, assim, um dos indicadores
mais simples e sensíveis do campo da Educação... diante de um quadro tão acentuado de defasagem
educacional” (CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, p.106).
Tanto os adolescentes da CASE como do VivaNordeste participavam de atividades sociais, os
primeiros como parte da medida sócio-educativa, os segundos como opção para o tempo livre fora do
83
horário escolar. No entanto, notou-se uma diferença entre as atividades exercidas em cada grupo -
verificou-se que os adolescentes da CASE participavam de uma atividade cada um, sendo nove do
projeto de profissionalização, onde se incluía Oficina de Artesanato, Serigrafia, Artefato de Cimento,
Acessórios e Padaria. Dois faziam parte do projeto artístico-cultural, que envolve dança e expressão
corporal e um do grupo desportivo, jogando futebol, e um do projeto de pré-vestibular, que visa à
preparação do jovem para ingresso em universidades. Apenas um adolescente não participava de
nenhuma atividade, segundo ele por estar aguardando uma vaga, já que a instituição não tinha como
atender a todos os adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa. Isto vai de encontro à
proposta do ECA, que em seus artigos 123 e 124, expressa a obrigatoriedade das atividades
pedagógicas durante o período de internação, mesmo que provisória, e o direito do adolescente
privado de liberdade de receber escolarização e profissionalização, bem como participar de atividades
culturais, esportivas e de lazer. Segundo Volpi (2001), algumas instituições utilizam como critério para a
inclusão dos adolescentes em atividades o bom comportamento e não as habilidades pessoais ou
tendências vocacionais.
No entanto, alguns adolescentes do VivaNordeste participavam de mais de uma atividade, sendo que
sete participavam de projeto de profissionalização, que envolve a aprendizagem de outra língua,
informática e fotografia, capacitações exigidas pelo atual mercado de trabalho. Oito adolescentes
participavam do grupo desportivo, que envolve lutas marciais, como judô, karatê, jiu-jitsu, futebol e
aulas de xadrez, todos com a presença de um profissional da área que lhes ensina a técnica de cada
modalidade. Nota-se que apenas um adolescente da CASE participa do Grupo Desportivo, sendo este
limitado a jogos de futebol em um campo improvisado no pátio da instituição.
Com base neste resultado, verificou-se que enquanto os jovens do VivaNordeste estão envolvidos com
a prática de esportes, juntamente com projetos de profissionalização, os adolescentes da CASE
voltam-se, exclusivamente, para os projetos de profissionalização, mas em aptidões reconhecidas no
84
mercado de trabalho informal, sem ter acesso, como os adolescentes do VivaNordeste, à habilidades
requisitadas no mercado de trabalho qualificado.
Segundo ASSIS, PESCE e AVANCI (2006, p.77), entre os jovens mais resilientes “houve maior ênfase
na responsabilização dos adolescentes com tarefas” realizadas no ambiente doméstico, escolar, ou
através de programas extra-escolares. A importância desta participação em atividades além dos muros
da escola se concretiza na fala dos adolescentes do VivaNordeste que contam que não gostava de
estudar na escola anterior pois não tinha nada para fazer de interessante, agora passaram a gostar de
estudar, pois fora a escola, participam de outras atividades.
A religiosidade faz parte das atividades de alguns adolescentes. Contudo, segundo Aberastury e
Knobel (1981), na adolescência são comuns crises religiosas, indo do ateísmo intransigente ao
misticismo fervoroso. “A religião traz um modo de conhecer e explicar o mundo, de construir um
cotidiano de existência, ou simplesmente de superar (ou suportar) o cotidiano associando-o à
esperança” (ASSIS, 1999, p.101) – deste modo, conhecer a religião escolhida pelo adolescente
possibilita uma maior compreensão da sua visão de mundo e suas práticas. As religiões mais citadas
são as que estimulam os fiéis a se afastarem das coisas do mundo, “das tentações”, fazendo-os adotar
uma vida baseada na sobriedade e na moral. Entre os adolescentes do VivaNordeste, quase todos (11)
adotavam alguma religião, sendo em sua maioria levados pela família. Muitos citaram a religião como
uma forma de lidar com as adversidades da sua condição sócio-econômica e de se manterem distantes
das drogas. Na CASE, esta participação envolve apenas seis adolescentes.
Segundo Assis, Pesce e Avanci (2006), vários estudos indicam a religião e o apoio da igreja como
fatores importantes de proteção e de promoção da resiliência na vida dos jovens, oferecendo-lhes uma
comunidade de apoio e estabilidade e estimulando a expressão de sua identidade. Seu aspecto
protetor reduz comportamentos anti-sociais e uso de substâncias psicoativas.
Com relação à participação dos adolescentes na renda familiar, percebemos que os resultados são
invertidos, enquanto 10 adolescentes da CASE exerciam atividades profissionais antes da privação de
85
liberdade, 10 adolescentes do VivaNordeste nunca exerceram qualquer atividade com a finalidade de
auxiliar na renda da família. O relato das atividades exercidas,
revelam uma posição social que vem sendo caracterizada pelo desempenho de tarefas de pouca qualificação e baixa remuneração, fatores que determinam o pertencimento dos jovens a uma classe social de baixo capital cultural, econômico e social (VOLPI, 2001, p.84).
Estas atividades eram, em sua maioria, ajudante de pedreiro, de caminhão, as lavagens ou guarda de
carros, trabalho em lanchonetes, em barracas de praia, em casas de família. Estes adolescentes
são destratados como mão-de-obra abundante, desqualificada, barata e descartável, cabendo-lhes, quando conseguem vaga, funções subalternas, malremuneradas e praticamente desprovidas de possibilidade de ascensão (CRUZ NETO, MOREIRA E SUCENA, 2001, p.109).
Segundo ASSIS (1999), a inserção no mercado de trabalho ocorre pela necessidade familiar ou de
independência financeira visando atender ao apelo da mídia para o consumismo, fato observado pela
finalidade dada ao dinheiro recebido pelos adolescentes da amostra.
O fato de um adolescente citar o ato infracional como forma de auxiliar na renda familiar, nos remete à
participação de jovens no crime organizado e no tráfico de drogas como uma alternativa econômica de
sobrevivência, com rentabilidade a qual jamais teriam acesso em outra atividade (ASSIS, 1999).
No que se refere ao uso de substâncias psicoativas, pôde-se verificar que entre os adolescentes do
VivaNordeste, a maioria (12) nunca utilizou qualquer substância e os dois usuários se utilizam de
substância lícitas, sendo citada a bebida alcoólica em doses excessivas em algumas ocasiões, como
fins de semana e festas. Quanto aos adolescentes da CASE, o número de usuários é bem superior,
totalizando 10 adolescentes, sendo que oito deles utilizavam substâncias ilícitas como maconha,
cocaína e crack. “É preocupante o número de adolescentes privados de liberdade usuários de drogas”
(VOLPI, 2002, p.58), dados encontrados em pesquisas anteriores indicam que o uso de substâncias
psicoativas faz parte da realidade da maioria de adolescentes envolvidos em atos infracionais (ASSIS,
1999; CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, VOLPI, 2002). Entre os fatores de risco para
adolescentes, encontra-se o consumo de substâncias psicoativas, conforme Grotberg (1998). Segundo
Assis (1999), adolescentes que se utilizam mais de estratégias internas e de fuga dos problemas,
86
tendem a consumir substâncias psicoativas como um mecanismo que alivia o enfrentamento das
dificuldades.
A violência sofrida por adolescentes também é um fator de risco que os torna vulnerável e pode
diminuir a possibilidade de desenvolvimento de resiliência. Entre os adolescentes pesquisados, três de
cada grupo informaram já ter sofrido algum tipo de violência, sendo que no VivaNordeste esta foi
desencadeada pelos pais no ato de bater com violência, enquanto na CASE um adolescente sofreu
violência física mais grave, tentativa de homicídio e um sofreu violência sexual. Os adolescentes
avaliaram que eram merecedores de tal punição. Esta tendência também foi verificada na pesquisa
realizada por Assis (1999), na qual os sujeitos achavam normal que suas mães lhes batessem, não
avaliando este ato a uma forma de agressão física.
Conforme destacam Assis, Pesce e Avanci (2006, p.48), “a violência faz mal à saúde de crianças e
adolescentes”, podendo ser mais devastadora quando cometida por pessoas das quais se espera afeto
e proteção, como no caso dos pais. A violência tende a ser extremamente prejudicial, durante o
processo de desenvolvimento, acarretando maior vulnerabilidade aos demais fatores de risco.
Conhecer as práticas disciplinares utilizadas pela família para socializar a criança é uma maneira precoce de reconhecer a violência física em etapas ainda iniciais... A utilização de práticas estritas e punitivas é compreendida como indicador de risco no contexto familiar, já que está associada ao abuso físico e emocional. (KOLLER38 apud ASSIS, PESCE e AVANCI 2006, p.50).
4.2 A família por trás do adolescente
Segundo Assis, Pesce e Avanci (2006, p.68), “a importância da família no desenvolvimento saudável
de seus membros é uma questão de fundamental importância no estudo do desenvolvimento”, porém
ainda hoje existe o mito de que a família saudável é aquela formada por pai, mãe e filhos morando
juntos. Essa configuração não garante, por si só, um clima construtivo para adolescentes - a interação
familiar é aspecto de maior relevância com vistas a um crescimento saudável. Entretanto, não pudemos
38 KOLLER, S.H. Violência doméstica: uma visão ecológica. In AMENCAR (org.). Violência Doméstica. Brasília: UNICEF, p.32-42, 1999.
87
deixar de notar a diferença no modelo familiar entre os grupos pesquisados: nove adolescentes do
VivaNordeste informaram fazer parte de uma família nuclear, formada por pai, mãe e irmãos, sendo
que na CASE esta participação se dá com seis adolescentes. Entre os adolescentes, três do
VivaNordeste e quatro da CASE informaram não ter o progenitor masculino como membro da família.
Um adolescente do VivaNordeste informou morar com o pai, avós e irmãos, sem a presença da mãe
que mora em outra cidade, e um informou morar com tios e avós, sem a presença dos pais. Este
modelo familiar foi encontrado em seis adolescentes da CASE, dados similares aos encontrados por
Assis (1999), que constatou a fragilidade da maioria das famílias dos adolescentes envolvidos com atos
infracionais. Segundo Cruz Neto, Moreira e Sucena (2001, p.114), “a exacerbação dos problemas
familiares concorrem fortemente para o aprofundamento da vulnerabilidade pessoal e social dos
jovens”.
A quantidade de irmãos entre os adolescentes chama a atenção, sendo que oito participantes no
VivaNordeste possuíam até um irmão e cinco têm de um a seis irmãos. Na CASE este resultado
mostrou-se quase inverso, tendo seis adolescentes com mais de seis irmãos e apenas um participante
declarou ter apenas um irmão, enquanto cinco possuíam de dois a seis irmãos. A chegada dos filhos
transforma a organização familiar e envolve muitos rearranjos, “uma criança sem irmãos aprende
desde cedo as regras e noções do mundo, sendo excessivamente estimulada e protegida” (ASSIS,
PESCE e AVANCI 2006, p.47). Com a vinda dos filhos ocorre mudança do espaço físico doméstico,
bem como, surgem disputas consideráveis, que vão de objetos ao amor dos pais. Aumenta a tensão e
as dúvidas dos pais em relação a como lidar com as diferenças de cada filho. Ocorrem, inclusive,
mudanças quanto aos recursos econômicos, materiais e emocionais que passam a ser divididos, em
famílias onde há escassez destes recursos, a vinda de novos filhos pode tornar-se um problema.
Segundo pesquisa anterior, realizada em âmbito nacional, junto a adolescentes em privação de
liberdade (VOLPI, 2001), as famílias eram compostas majoritariamente pela mãe e irmãos, com média
de quatro filhos com uma estrutura habitacional e de renda precária.
88
A responsabilidade pelo sustento familiar apresentou-se com resultados diversos entre os dois grupos.
Enquanto seis adolescentes do VivaNordeste informaram ter os pais como provedores da família,
apenas um da CASE emitiu esta resposta, em contrapartida, sete indicaram a mãe como responsável
pelo sustento familiar, sendo que no VivaNordeste este número foi de três. As famílias, que têm o pai
ou padrasto como provedor, ficaram equilibradas entre os dois grupos, quatro no VivaNordeste e três
na CASE. “O adolescente infrator geralmente é oriundo de família onde a mãe é a cabeça, a
responsável pelos filhos” (VALLE, 2003, p.55). Dados obtidos em pesquisa realizada com adolescentes
envolvidos em tráfico de drogas (CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA 2001, p.114), trazem este
mesmo resultado, “evidenciando elevado índice de separações, com a responsabilidade de cuidas dos
filhos destinada ao componente feminino”. Ressalta-se que as atividades exercidas por estes familiares
são, em sua maioria, atividades não-qualificadas, como empregadas domésticas, babás, padeiros,
pedreiros, ajudantes, seguranças de rua, empacotadores, e, muitas vezes, mal remuneradas.
Para Assis, Pesce e Avanci (2006, p.70/73), “a interação familiar é um dos aspectos mais relevantes
para a construção do sentimento de afeto por si próprio” e “há evidente associação entre vivenciar bom
relacionamento com irmãos e ter mais elevado potencial de resiliência”. O perfil de proteção que
agrega a capacidade de se relacionar bem com os irmãos se configuram em oportunidade constante de
aprender a negociar, ouvir e fazer críticas, elaborando falhas e pedindo desculpas, melhorando com
isso as futuras relações que estes adolescentes terão com pessoas fora do ambiente familiar (ASSIS,
PESCE e AVANCI, 2006). Entre os adolescentes do VivaNordeste, 13 nunca tiveram qualquer conflito
familiar e um citou conflito com a avó paterna, descrevendo-o como discussões com acarretadas pelo
ciúme desta para com seu pai, fator trazido pelo adolescente como responsável pela separação de
seus pais. Este adolescente referiu empregar uma estratégia de esquiva (sair de casa sempre que a
avó “começa a falar”) para evitar conflitos com a mesma.
Na CASE o número de adolescentes que tiveram algum conflito é de nove, sendo que destes, sete o
tiveram com pais e/ou irmãos, dois entre tios e/ou primos, demonstrando certa dificuldade de interação
89
e relacionamento familiar, fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento destes adolescentes.
Segundo Cruz Neto, Moreira e Sucena (2001), o resgate do relacionamento familiar, buscando
compreender de forma a evitar os pseudomoralismos, trata-se de um fator importante para evitar que o
jovem ingresse em atitudes anti-sociais ou em atos infracionais.
A família nunca deixa de ser importante e é responsável por muitas de nossas viagens. Nós escapamos, emigramos, trocamos o sul pelo norte e o leste pelo oeste devido à necessidade de nos libertarmos; e depois viajamos periodicamente de volta para casa para renovar o contato com a família. WINNICOTT39 (apud ASSIS, PESCE e AVANCI 2006, p. 68).
O resultado quanto à questão do uso de substâncias psicoativas por parte dos familiares, trouxe um
dado interessante, divergindo de pesquisas anteriores, que afirmam que “o uso intenso de bebidas
alcoólicas pelos pais ou cuidadores é apontada como um potencializador de riscos ao desenvolvimento
infanto-juvenil e à interação” (KOLLER40 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006). Os dados levantados
não demonstraram tal correlação, já que 12 adolescentes do VivaNordeste informaram não utilizarem
nenhum tipo de substância e a totalidade de sujeitos (14) relataram que familiares faziam uso de
alguma substância, sendo que dois deles utilizavam substâncias ilícitas, como maconha, cocaína e
crack, enquanto entre os adolescentes da CASE, 10 disseram fazer uso de substâncias, lícitas e/ou
ilícitas, e seis informaram não ter ninguém na família que fazia uso de qualquer substância, sendo que
os oito que relataram ter familiares usuários, todos citaram substâncias lícitas, como o cigarro e a
bebida alcoólica. O que aqui devemos ressaltar é que o uso abusivo de bebida alcoólica, embora sendo
lícito, traz prejuízos não só à saúde física, mas, e principalmente, à saúde psíquica dos seus usuários
(RUTTER41 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Quanto à participação de familiares em atos infracionais, dos 14 adolescentes entrevistados na CASE,
11 informaram não ter nenhum familiar envolvido em atos infracionais, contudo no VivaNordeste, onde
nenhum adolescente praticou qualquer ato, seis deles relataram ter parentes envolvidos em atos
infracionais, como atos contra a vida e tráfico de drogas, sendo dois deles pais e/ou irmãos. Este
39 WINNICOTT, D.W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 40 KOLLER, S.H. Violência doméstica: uma visão ecológica. In AMENCAR (org.). Violência Doméstica. Brasília: UNICEF, p.32-42, 1999.
90
resultado diverge da pesquisa de Assis (1999, p.62), na qual apenas 14% dos adolescentes privados
de liberdade não relataram envolvimento de familiares com ato infracional:
alguns adolescentes vêm de família cuja maior parte (nuclear e estendida) é também infratora... Apesar disto, um jovem não-infrator relatou que todos os irmãos são infratores, inclusive outros membros da família. Ele é o único que não seguiu este caminho.
Entre os adolescentes do VivaNordeste, um deles citou o pai como o familiar envolvido em ato
infracional, porém diz não ter mais contato com o mesmo, já que o envolvimento no crime foi o motivo
da separação entre seus pais. O adolescente que citou o irmão diz que muitas vezes não acredita no
que lhe contam sobre o irmão, mas sabe que é verdade.. Conta ainda que a mãe lhe cede dinheiro
para comprar drogas em uma atitude desesperada tentando evitar que ele se envolva em novos atos,
pois já foi preso e passou cerca de seis meses em cumprimento de medida na CASE. Tios e primos
citados são familiares distantes, com os quais os adolescentes não mantêm contato. Os adolescentes
da CASE cujos familiares tem envolvimento com o crime não informaram detalhes sobre o fato.
4.3 O ato infracional que encobre o adolescer
Os atos infracionais cometidos pelos adolescentes da CASE são, em sua maioria, contra a vida,
embora pesquisa anterior chegasse à conclusão, considerando os dados nacionais, de que “os atos
infracionais mais graves, como o latrocínio, o estupro e o homicídio representam um percentual
pequeno em relação aos atos infracionais praticados contra o patrimônio” (VOLPI, 2002, p.62).
Contudo, de acordo com a pesquisa, os dados referentes ao Estado da Bahia indicaram um alto índice
de adolescentes envolvidos em atos infracionais contra a vida - dos 85 pesquisados, 51 praticaram
latrocínio ou homicídio. O resultado encontrado na CASE pode ser um indício de que o ECA esteja
sendo aplicado com maior rigor, já que este indica “que somente sejam privados de liberdade aqueles
41 RUTTER, M. Stress, coping and development: some issues and some questions. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v.22, n.4, p.323-356, 1981.
91
adolescentes que cometeram grave atentado à vida humana” (VOLPI, 2001, p.80), porém comprovar
tal afirmação não foi objetivo desta pesquisa.
A idade na data infracional expõe a evidência encontrada em pesquisas anteriores (CRUZ NETO,
MOREIRA e SUCENA, 2001; VALLE, 2003; VOLPI, 2001 e 2002) de que a prática de delitos tem sua
maior incidência nas idades entre 15 e 17 anos.
No Brasil, segundo dados da ILANUD42, em 2004 existiam 39578 jovens e adolescentes de 12 a 18
anos de idade, cumprindo algum tipo de Medida Sócio-Educativa. Isso representava um total de 0,2%
de toda a população, da época, entre 12 e 18 anos de idade no Brasil. Quanto ao cumprimento de
medida sócio-educativa, verificamos que entre os adolescentes, nove cumpriam medida sócio-
educativa de internação, isto é, tiveram sua sentença proferida pelo juiz e a cumprirão por período não
superior a três anos.
Segundo Volpi (2002), a internação deve ser destinada somente a adolescentes que cometem atos
infracionais graves. Embora o ECA enfatize os aspectos pedagógicos, tal medida ainda tem
conotações coercitivas e punitivas - a internação é um programa de privação de liberdade que implica
na contenção do adolescente autor de ato infracional a um sistema de segurança. A contenção em si
não é a medida, mas é a condição para que a mesma seja aplicada.
Dos adolescentes que cumpriam medida de internação, cinco estavam internados a menos de um ano,
fato demonstrado em pesquisas anteriores (VOLPI, 2001 e 2002). Entre os cinco adolescentes que
cumpriam internação provisória, um estava privado de liberdade a mais de seis meses, descumprindo o
que é estabelecido na lei. A internação provisória é aplicada ao adolescente que é apreendido pela
autoridade policial e encaminhado ao Ministério Público e tem, na forma da lei, decretada sua
internação provisória enquanto aguarda a sentença pronunciada pelo juiz da Infância e da Juventude
(VOLPI, 2002), o período máximo estabelecido pelo ECA, para esta internação, é de 45 dias.
42 Dados disponíveis em http://www.risolidaria.org.br/estatis/view_grafico.jsp?id=200503080025#tab2
92
A reincidência em atos infracionais não faz parte do repertório da maioria dos adolescentes. Apenas
cinco informaram serem reincidentes, contudo estes atos são desconhecidos perante a justiça, dados
encontrados em pesquisas anteriores (VOLPI, 2001 e 2002).
4.4 Com a palavra: o Adolescente!
Às vezes eu acho que o mundo está parando e que eu estou em um sonho, mas você nunca sabe se o destino está brincando com você, às vezes você se apaixona, outras se zanga, mas a verdade é que você deve estar pronto para tudo na vida, seja o que for, seja a paixão ou a decepção, seja a vida ou a morte, seja a alegria ou a tristeza, mas o conselho que eu te dou é que viva bem a vida e aproveite bem ela, porque você nunca sabe se amanhã você morre ou continua vivendo (R.C.A. – 13 anos, Adolescente participante do Programa VivaNordeste). Quando pensava no futuro, de primeira eu queria ser policial ou professora. Quando comecei a me envolver nessas coisas (atos infracionais) eu achava que não ia conseguir, mas eu sei que tenho oportunidade, basta eu querer... eu vou conseguir (E. – 15 anos, Adolescente cumprindo medida sócio-educativa na CASE).
A percepção que o adolescente tem si é construída a partir das relações estabelecidas entre ele e o
meio no qual está inserido. Estas sofrem influência da família, amigos, pares, escola, comunidade e da
mídia. “Ao narrar as situações que vivencia, cada pessoa vai constituindo-se através das histórias que
ouviu e das que conta, frutos de seus engajamentos, suas relações e suas conexões com o mundo”
(CROSSLEY43 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.24).
Todos os adolescentes do VivaNordeste apresentaram percepção positiva de si mesmo. Entre os
adolescentes da CASE, 11 se descreveram através de elogios e características positivas e três
demonstraram percepção negativa de si mesmo, com críticas severas sobre si mesmo. Assis (1999)
destaca que, de modo geral, os adolescentes infratores apontam uma visão positiva sobre si mesmo,
diferindo do que é encontrado na literatura sobre a delinqüência. Para a autora, estes dados “nos
fazem perceber que a visão da sociedade sobre o adolescente que comete infração é muito distante da
que ele tem de si mesmo”.
Segundo Arpini (2003), o adolescente que vive em uma instituição carrega um forte estigma social, pois
as pessoas o julgam com detentor de algum problema.
93
Segundo Assis et al (2003), atributos de sociabilidade também são importantes na adolescência, entre
as palavras que os exprimem estão: brincalhão, divertido, engraçado; palavras bastante utilizadas na
descrição de si mesmos pelos adolescentes do VivaNordeste.
Segundo pesquisadores sobre resiliência (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO,
2002), a resiliência é um atributo baseado na capacidade de possuir uma estima positiva, dispondo de
sentimentos e atitudes de aprovação de si mesmo, como uma pessoa capaz e de valor. De acordo com
COSTA (1997, p.101),
uma das características mais comuns dos adolescentes em dificuldades... é a enorme dificuldade que têm estes jovens na formação de um bom auto-conceito, base da auto-estima e da autoconfiança, sem as quais a tarefa de construir um projeto de vida torna-se muito difícil.
Quando questionados sobre como procuravam solucionar os problemas que surgiam em seu dia-a-dia,
os adolescentes citaram formas variadas de manejo, mas o destaque foi para a busca de pessoas ao
redor e o diálogo, com citação por 63% (10) dos adolescentes do VivaNordeste e 53% (8) da CASE.
Em sua maioria esta busca direcionou-se para a família, na figura da mãe, conforme verificado em
pesquisa anterior (ASSIS, 1999). Uma das características que apontam existência de potencial de
resiliência é quanto à competência para resolver problemas, a capacidade de buscar alternativas e
apoio quando uma saída não é encontrada (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; GROTBER, 1998;
GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002).
O apoio social é, segundo Assis, Pesce e Avanci (2006), essencial para a estruturação do adolescente.
Este pode existir na forma afetiva, emocional e de aconselhamento. O apoio emocional se expressa na
existência de pessoas que estão dispostas a ouvir; o aconselhamento é a ajuda sugere formas de
como lidar com os problemas. De acordo com as autoras, os adolescentes mais resilientes buscam
ajuda e apoio de pessoas, enquanto os menos resilientes, embora reconheçam o apoio social,
preferem guardar seus problemas para si ao invés de dividi-los.
43 CROSSLEY, M.L. Introducing narrative psychology: self, trauma and the construction of meaning. Buckingham: Open University Press, 2000.
94
Em nossa amostra isto pode ser caracterizado nas respostas de descontrole, emitidas por 7% (1) os
adolescentes da CASE e 6% (1) do VivaNordeste. O autocontrole citado por 33% (5) dos adolescentes
da CASE e por 19% (3) do VivaNordeste, envolve a busca de recursos internos no manejo de
problemas e pode caracterizar esta dificuldade em buscar apoio, demonstrando que os adolescentes
privados de liberdade utilizam mais esta estratégia que os participantes do programa social. Isto deve
ser considerado, já que as instituições voltadas às medidas sócio-educativas têm por uma das
finalidades proporcionar apoio social, emocional e psicológico a estes adolescentes.
Fazer-se presente na vida do educando é o dado fundamental da ação educativa dirigida ao adolescente em situação de dificuldade pessoal e social. A presença é o conceito central, o instrumento-chave e o objetivo maior (COSTA, 1997, p.23).
A religiosidade é citada por 7% (1) dos adolescentes da CASE e 6% (1) do VivaNordeste como busca
de apoio para a solução de problemas. Macedo44 (apud ASSIS, 1997, p101), reconhece a importância
da religiosidade em situações de crise, ao afirmar: “Nos momentos em que a vida mais parece
ameaçada, o apelo religioso se torna mais forte”.
O relacionamento com seus familiares e com amigos, embora não seja, isoladamente, fator associado
à resiliência, é um mecanismo importante de proteção na vida do adolescente, “a qualidade da
representação que os adolescentes fazem da relação com os pais distingue-se segundo o potencial de
resiliência de cada um” (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, P.71). Segundo as autoras, as relações de
amizade “contribuem para sua competência social... favorecem a capacidade de enfrentar
positivamente as transformações do ambiente” (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.81).
Com relação aos objetivos para o futuro, os resultados se aproximam aos encontrados em pesquisas
anteriores (ASSIS, 1999; SANTOS; 2000). Os adolescentes citaram, em sua maioria, mais de um
objetivo, sendo que trabalhar foi o mais citado (35% (12) da CASE e 31% (13) do VivaNordeste). Este
objetivo, contudo, estava atrelado a outros como mudar de vida ou local de moradia (15% (5) da CASE
e 12% (5) do VivaNordeste), ajudar os familiares (citado por 12% (4) dos adolescentes da CASE e 14%
(6) do VivaNordeste) e ter uma casa e construir uma família. O estudo, citado por 21% (7) dos
95
adolescentes da CASE e 29% (12) do VivaNordeste, surge como uma necessidade para se conseguir
outros objetivos, como o próprio trabalho e as mudanças por ele proporcionadas (OZELLA, 2002).
Dois objetivos citados chamaram a atenção quanto à diferença entre os dois grupos. O primeiro é
relativo a ter uma casa e constituir família, citado por 7% (3) dos adolescentes do VivaNordeste e por
18% (6) dos da CASE. Pudemos inferir que na fala dos adolescentes privados de liberdade este
objetivo fosse compatível com o socialmente desejado para um adulto, ou ainda que entre os
adolescentes do VivaNordeste os objetivos pessoais e individuais se sobressaíssem em relação aos
objetivos coletivos, dado encontrado no objetivo de viajar, com objetivo de estudar ou conhecer novos
lugares, citado por 7% (3) destes adolescentes. Estas aspirações, estes planos para o futuro são,
muitas vezes, superiores ao que as condições reais lhes oferecem. São ricos e abrangentes, mas
alicerçados na fantasia característica da adolescência (ASSIS, 1999; SANTOS, 2000). Estas
aspirações são saudáveis do ponto de vista da resiliência, já que o propósito de futuro e o otimismo em
relação às oportunidades e ao sucesso, são características que denotam resiliência (GROTBER, 1998;
GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002).
4.5 O adolescente sob o olhar de uma técnica projetiva
Segundo diversos autores (ABERATURY e KNOVEL, 1981; AYRES, 2006; NASCIMENTO, 1999;
OZELLA, 2002), a adolescência é uma fase de transição repleta de mudanças físicas, sexuais,
cognitivas e afetivas, que trazem consigo algumas desequilíbrios e instabilidades, geradores de
confusão e dor; é uma fase marcada pela aquisição de novos valores, novas representações de si
mesmo e do outro, necessários para a formação da identidade. Este processo é marcado por rebeldia,
instabilidade de afetos, tendência grupal, crises religiosas, emocionais e sexuais, pela necessidade de
fantasiar, flutuações de humor e crises de identidade. Segundo Assis, Pesce e Avanci (2006), a visão
44 MACEDO, C. Imagem do Eterno: religiões no Brasil. São Paulo: Moderna, 1989.
96
de si mesmo é construída através da interação deste adolescente com seus conteúdos internos e com
as influências externas, impostas pelo contexto no qual ele está inserido.
Buscou-se, através da análise de um teste projetivo, com base nos campos utilizados, no conteúdo dos
desenhos, linhas e traços, conhecer a personalidade em formação dos adolescentes pesquisados, bem
como a existência de traços indicadores de potencial de resiliência nesta personalidade.
4.5.1 A formação da identidade
Quanto à formação do ego, o modo do adolescente lidar com seus sentimentos e fatos para estruturar
sua identidade, não se notou diferença nos resultados entre os adolescentes dos dois grupos. Sete de
cada grupo tinham o ego formado através da experiência de sentimentos e fatos, isto é, o indivíduo
experenciou os acontecimentos, sentindo-os, formando seus valores a partir da reflexão estimulada por
estes sentimentos. Cinco adolescentes formaram seu ego baseados na conceituação dos fatos e
sentimento, utilizaram-se mais do pensamento e da razão do que da afetividade para se orientar e
compreender o mundo. Dois deles, de cada grupo, tiveram o ego formado pela reflexão de dois pontos
de vistas de referência. Vale ressaltar que o ego em adolescentes ainda encontra-se em formação, não
podendo afirmar que este resultado tem teor de estabilidade, a construção de identidade está em
constante embate entre o si mesmo e o outro (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; AYRES, 2006).
A dificuldade em fortalecer o ego e lidar com si mesmo é uma das características da adolescência, já
que o indivíduo se descobre entre a situação de ser criança e ser adulto (MIRA Y LOPES, 1980;
PIAGET, 1998). Esta dificuldade não é encontrada, de forma contundente, nos adolescentes
participantes da pesquisa. Dos quais, 13 do VivaNordeste e 10 da CASE não apresentaram tal
dificuldade, o que poderia estar associado à necessidade de desenvolver-se mais rapidamente em
virtude do contexto no qual estes adolescentes estavam inseridos, contexto repleto de desigualdades e
97
dificuldades, que altera os comportamentos típicos do adolescente em formação (AYRES, 2006;
NASCIMENTO, 1999; OZELLA, 2002).
A construção da consciência dos valores que irão orientar a conduta do adolescente faz parte do seu
processo de desenvolvimento e esta consciência é adquirida através do relacionamento com o meio
(RAPPAPORT, 1981). Entre os adolescentes pesquisados verificou-se que mais que 50%, nove na
CASE e oito no VivaNordeste apresentavam maior consciência destes valores, contudo seis
adolescentes do VivaNordeste e quatro da CASE, denotavam pouca consciência e um da CASE
demonstrava incoerência destes valores. Baseando-se na literatura pesquisada, esta consciência está
em formação durante a adolescência e o fato da maioria dos adolescentes já a possuírem também
pode estar relacionado ao contexto ao qual pertencem. Com relação à diferença entre o resultados dos
adolescentes da CASE e do VivaNordeste, embora não significativa, pode estar relacionada à idade
dos adolescentes do VivaNordeste que é, em média, inferior ao da CASE.
A autoconfiança é a capacidade de depender mais de si mesmo do que de outra pessoa, sentindo que
pode lidar com situações difíceis, de forma apta (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006). E se origina das
relações externas estáveis (RAPPAPORT, 1981). Entre os adolescentes pesquisados, os conteúdos
relativos à falta de confiança em si mesmo e insegurança ao relacionar-se, tiveram um percentual de
60% (26) na CASE e 40% (21) do VivaNordeste. O sentimento de confiança em si mesmo é um
indicador de potencial de resiliência, denotando confiança em sua própria ação para a construção da
vida. A autoconfiança tem sido vista como um importante fator de superação de obstáculos. Seu
desenvolvimento relaciona-se ao encorajamento recebido pelo indivíduo de sua família e apoio social
(ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Os resultados da análise de conteúdo relativo à autoconfiança, demonstraram que adolescentes da
CASE tinham maior índice de conteúdos que indicavam falta de confiança e insegurança ao relacionar-
se, que somados ao excesso de autoconfiança com teor negativo, totalizaram 72% (31) contra apenas
12% (5) de conteúdos indicando confiança em si mesmo. Entre os adolescentes do VivaNordeste a
98
confiança em si mesmo é percebida em 25% (13) dos conteúdos desenhados pelos jovens. Quando à
necessidade de reconhecimento e auto-realização, esta faz parte desta fase de desenvolvimento, onde
o adolescente quer ser reconhecido pelo que faz e quer realizar-se através de suas próprias ações
(ASSIS et al, 2003; NASCIMENTO, 1999; PIAGET, 1998). Nota-se maior incidência desta característica
entre os adolescentes do VivaNordeste, sendo que apresentaram 28% (15) destes conteúdos, em
relação aos da CASE, que foi de 16% (7). As diferenças encontradas entre os adolescentes da CASE e
do VivaNordeste, puderam indicar o sentimento de exclusão ao qual os adolescentes da CASE foram
expostos quando isolados no interior deste sistema, o que os distanciou da necessidade de sentir-se
reconhecidos e, portanto, diminuiu sua busca por auto-realização (VOLPI, 2001), em contradição ao
encorajamento recebido pelos adolescentes do VivaNordeste pela sua rede de apoio social.
4.5.2 Lidando com conteúdos internos
Segundo Piaget (1998), o adolescente ultrapassa o real, e seu pensamento assume a forma de uma
hierarquia de valores afetivos, em detrimento dos sistemas teóricos e práticos. Isto parece refletido nos
resultados relativos ao manejo da afetividade, já que a maioria dos adolescentes, tanto da CASE (9)
como do VivaNordeste (11) reagem afetivamente às situações, embora também demonstrem pouca
consciência do papel da afetividade em sua vida, consciência esta ligada ao seu processo de
desenvolvimento.
A vida afetiva na adolescência se firma através da conquista da personalidade e da inserção na
sociedade adulta (PIAGET, 1998). A qualidade afetiva é indicador de adolescentes com potencial de
resilência (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006). Contudo, a dificuldade em lidar com a afetividade,
encontrada com base nos conteúdos desenhados, é o retrato da instabilidade dos afetos, característica
da adolescência (ABERASTURY e KNOBEL, 1981; AYRES, 2006), e esta dificuldade se apresentou
em 71% (24) dos conteúdos desenhados pelos adolescentes da CASE e do VivaNordeste. Os
99
conteúdos indicadores de afetividade sentida de forma negativa e a fluência da afetividade maior com a
natureza que com seres vivos, entre os adolescentes da CASE totalizou 39% (13), resultado que pode
estar relacionado ao pouco contato afetivo estabelecidos por estes, com as pessoas que os cercam, e
aos sentimentos de desvinculação, solidão, isolamento que permeiam seus relacionamentos (COSTA,
1997).
4.5.3 Encarando metas e obstáculos
A forma de lidar com metas e com os obstáculos à sua concretização, bem como as expectativas
saudáveis, demonstram o potencial de resiliência. Adolescentes menos resilientes demonstram
sentimentos de menor força para superar obstáculos (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e
GUZZO, 2002).
Diante dos resultados, verificou-se que todos os adolescentes do VivaNordeste apresentaram
dificuldades ao traçar suas metas. Entre estes, 50% (7) demonstraram falta de objetividade, 36% (5)
expectativa pessimista e sentimento de impotência frente à realização da metas e 14% (2),
preocupação em não perder o que já possui na busca por outras aspirações. Na CASE esta dificuldade
se apresentou em 80% (8) dos adolescentes, sendo que 60% (6) demonstraram falta de empenho e
objetividade e 20% (2) apresentaram expectativa pessimista. Contudo, 20% (2) destes adolescentes
demonstraram direcionamento de seus recursos para atingir metas e objetivos, característica dos
resilientes (GROTBER, 1998; GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002).
A mobilização de energia, a vitalidade, empregadas na superação de obstáculos é um indicador de
resiliência; estratégias ativas de enfrentamento dos problemas são relatadas com maior freqüência por
adolescentes resilientes (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, TROMBETA e GUZZO, 2002).
Notou-se, entre os adolescentes pesquisados, pouca vitalidade entre 29% (4) dos adolescentes da
CASE e 14% (2) do VivaNordeste. Quanto à mobilização de energia com canalização inadequada, o
100
índice é maior entre os adolescentes do VivaNordeste 79% (11) contra 50% (7) da CASE. Já a
facilidade de canalização desta energia foi maior entre os adolescentes da CASE, 29% (4) em relação
aos do VivaNordeste 7% (1). Diferenças que podem estar relacionadas à idade que era, em média,
inferior entre os sujeitos do VivaNordeste, já que a inadequação da canalização desta energia
relaciona-se às incertezas próprias da idade - o adolescente ainda não tem certeza de onde quer
chegar e quais obstáculos pretende transpor, ou não, para atingir seus objetivos (AYRES, 2006;
NASCIMENTO, 1999, PIAGET, 1998). Esta fase é um período de grandes sonhos e aspirações, mas
nem sempre realistas, sendo a possibilidade mais importante que a realidade (AYRES, 2006; PIAGET,
1998).
Segundo algumas autoras (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002), o modo
como pessoas encaram seus obstáculos varia de pessoa para pessoa e em diferentes situações,
porém compreender como as pessoas agem diante a barreiras e situações de impasse é tema
relevante para indicar potencial de resiliência. Este modo de lidar com as adversidades são chamados
de estratégias de coping, que são o enfrentamento direto e ativo das dificuldades, as estratégias
internas de reflexão sobre os problemas e a formas de evitação envolvidas neste confronto.
Entre os adolescentes da CASE, 72% (13) utilizaram-se de estratégias de evitação e passividade,
sendo que 44% (8) agiam sem modificar as situações que geraram impasses, denotando uma atitude
passiva diante das barreiras, 17% (3) evitavam tais situações e 11% (2) adiavam as soluções quando
frente a barreiras e dificuldades. Contudo, 28% (5) dos adolescentes agiam de forma positiva frente aos
obstáculos, sendo que 22% (4) buscavam entender os motivos geradores destas situações e 6% (1)
utilizavam-se da reflexão frente a situações de impasse, modelos utilizados pelas pessoas com alto
potencial de resiliência, significando que estas tomaram atitudes concretas cujo objetivo é procurar a
fonte do problema e tentar solucioná-lo (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Entre os adolescentes do VivaNordeste, 29% (8) apresentam modelo positivo de ação, sendo que 4%
(1) buscavam entender os motivos geradores de tais situações, 7% (2) utilizavam-se da reflexão e 18%
101
(5) iam além das dificuldades buscando superá-las, característica mais relevante ao tratar-se de
resiliência. Entretanto, 71% (20) dos adolescentes demonstraram modelos de evitação e passividade,
sendo que 21% (6) agiam sem modificar situações de impasse, 36% (10) evitavam tais situações e
14% (4) adiavam soluções quando diante de dificuldades ou barreiras. Em sua maioria - cerca de 70%
(20) de ambos os grupos - os adolescentes não demonstraram estratégias que denotassem potencial
de resiliência.
As condições sociais, as dificuldades econômicas e suas conseqüências sobre a inserção social e
profissional de grande parcela da população, são importantes barreiras à ambição de jovens e
adolescentes, pois são nesta fase que se intensificam os projetos de vida e o desenvolvimento de
estratégias e ações par que sonhos se transformem em realidade (ROCHA, 2002).
Os adolescentes pesquisados, nos dois grupos, denotaram pouca ou nenhuma ambição, e os dois
sujeitos que apresentaram traços de muita ambição são adolescentes do VivaNordeste,
Os projetos de vida dos adolescentes entrevistados refletem a forma como interpretam o futuro, a partir dos acontecimentos do presente... os jovens de baixa renda... evidenciaram aspirações restritas... e limitadas pela posição social que são obrigados a assumir desde o nascimento (ASSIS, 1999, P.89).
Segundo Assis, Pesce, Avanci (2006) e Trombeta e Guzzo (2002), adolescentes com potencial de
resiliência tendem a enfrentar as situações de forma mais realista, buscando alternativas diante das
dificuldades para concretizar suas idéias; o desânimo, a emotividade exacerbada, são características
marcantes em jovens menos resilientes.
4.5.4 O ato de relacionar-se
A adolescência é marcada pela descoberta da sexualidade e por todas as inquietações que este tema
carrega, o adolescente passa a questionar o modelo dado pela estrutura familiar e se abre para novas
experiências (ABERASTURY e KNOBEL, 1981; RAPPAPORT, 1981). Entre os adolescentes
pesquisados, houve um equilíbrio quanto à forma de lidar com a sexualidade e a sensualidade.
Entretanto, 22 dos 28 adolescentes pesquisados nos dois grupos têm sua afetividade ou racionalização
102
ligada à sensualidade, esta envolve o comportamento sutil, leve e terno entre duas pessoas. Em seis
adolescentes da CASE e sete do VivaNordeste a sensualidade é manejada pela afetividade, enquanto
quatro adolescentes da CASE e cinco do VivaNordeste racionalizavam esta afetividade ligada à
sensualidade. No entanto, apenas seis adolescentes estão mais voltados à sexualidade, que está
ligada ao envolvimento que necessita de estimulações mais evidentes, como a visual, auditiva e tátil,
para que ocorra a atração. Dois adolescentes da CASE e dois do VivaNordeste manejavam a
sexualidade através da afetividade e dois da CASE racionalizavam esta afetividade. Esta é uma
característica da adolescência - a busca de descobrir a sexualidade, muitas vezes através da
sensualidade, mantendo contatos afetivos antes dos contatos sexuais.
Ao analisar os resultados sobre a repressão da sexualidade/sensualidade e a integração da
sexualidade/sensualidade à personalidade, verificou-se que entre os adolescentes, nove da CASE
reprimiram e apresentaram dificuldade de integração da sexualidade/sensualidade, enquanto que
apenas dois do VivaNordeste apresentaram repressão e um dificuldade de integração. Esta repressão
dos adolescentes privados de liberdade pode estar associada à sua condição de interno, tendo sido
afastados do convívio social e limitados na expressão de sua sexualidade. Em pesquisa anterior,
apenas 13% dos adolescentes informaram relacionar-se sexualmente (VOLPI, 2001).
Tendo por base que a adolescência é o auge da sexualidade e o como lidar com esta fase moldará a
sexualidade adulta, a repressão sexual pode ser um indicador de dificuldades futuras. A sexualidade
por si só não é fator considerado quando se trata de resiliência, mas envolver aspectos afetivos e
emocionais ligados aos seus pares, que são fundamentais para o desenvolvimento da mesma (ASSIS,
PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002).
Os adolescentes têm necessidade de pertencer a um grupo e de sentirem-se protegidos, e esta
depende das possibilidades que são oferecidas pelo ambiente que os cercam que será de fundamental
importância para a pontecialização de resiliência (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; VILLARREAL45
45 VILARREAL, I. Prólogo. In CARVAJAL, G. Tornar-se adolescente: a aventura de uma metamorfose – uma visão psicanalítica da adolescência. São Paulo: Cortez, 1998.
103
apud ASSIS, 1999; AYRES, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002). Entre os adolescentes pesquisados,
44% (11) do VivaNordeste e 39% (9) da CASE demonstraram necessidade de receber apoio e
proteção do grupo; 30% (7) da CASE e 32% (8) do VivaNordeste apresentaram interação através dos
sentimentos. No VivaNordeste 16% (4) denotaram racionalizar a afetividade, exercendo a troca através
de conceitos enquanto na CASE este número foi de 22% (5); 8% (2) dos adolescentes do
VivaNordeste e 9% (2) da CASE apresentaram o sentimento de estar sendo julgados.
A interação grupal é característica de jovens resilientes. O relacionamento interpessoal, a troca afetiva,
fazem parte de atributos de sociabilidade necessários ao desenvolvimento da resiliência (ASSIS et al,
2003; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002). Esta interação com o grupo,
entre os adolescentes da CASE, ocorre de forma moderada para quatro, com grande interação e busca
de troca ampla e afetiva para seis e quatro apresentam dificuldade de interação. No VivaNordeste,
apenas um adolescente apresentou tal dificuldade, sendo que cinco interagem de forma ampla e
afetiva e oito interagem com moderação. A dificuldade de interação grupo pode denotar baixo potencial
de resiliência. Este dado é corroborado pelos resultados encontrados em conteúdos desenhados por
alguns adolescentes (8 de cada grupo), que indicaram que 75% (6) dos adolescentes da CASE e
apenas 25% (2) no VivaNordeste, apresentaram dificuldade em relacionar-se.
Segundo Volpi (2001), os indivíduos privados de liberdade se inserem em um conjunto de normas e
valores que se desconfiguram com a realidade social, ele se torna alienado dos acontecimentos
sociais. Contudo, no período da adolescência a identificação com um grupo e o fato de relacionar-se é
extremamente importante para a formação e o desenvolvimento do processo de socialização e do
potencial de resiliência (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002; VOLPI, 2001).
Ao verificar-se a afinidade com o relacionamento humano e, portanto, com seres vivos, nos sujeitos
pesquisados na CASE, notou-se que 93% (13) dos adolescentes apresentaram pouca ou nenhuma
afinidade. No VivaNordeste, este resultado foi mais equilibrado, sendo que 57% (8) apresentaram
afinidade com o relacionamento humano.
104
A facilidade de relacionar-se com as pessoas e de se preocupar com o outro parece ser uma marca de
jovens resilientes (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002). Os jovens
envolvidos em atos infracionais e privados de liberdade demonstram falta de confiança no outro,
primeiro junto aos parceiros e depois junto às pessoas envolvidas na sua institucionalização, o que
conduz a certo distanciamento de relacionamentos (ASSIS, 1999; VOLPI, 2001).
A dependência da conduta social e comprometimento com valores apareceram em 71% (10) dos
adolescentes do VivaNordeste e 43% (6) da CASE, enquanto o respeito a normas, porém de forma
crítica foi demonstrado por 36% (5) adolescentes da CASE e por 29% (4) do VivaNordeste.
Os atributos de valores e condutas socialmente aceitas é um indicador de potencial de socialização e
resiliência (ASSIS et al, 2003; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO, 2002). Alguns
autores defendem o ato infracional como uma forma de resiliência diante das adversidades impostas a
estes jovens. Embora não seja tarefa fácil pensar a relação entre resiliência e cometimento de ato
infracional, temos que refletir sobre em que medida “o fato de sucumbir ao mundo da criminalidade foi
em si um gesto de resiliência” (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.110), uma vez que uma das
características de indivíduos resilientes pode ser, justamente, a menor receptividade social. Esta foi
apresentada por 21% (3) dos adolescentes da CASE, que perceberam as normas sociais muito
distantes de sua realidade, conforme encontrado em pesquisa realizada anteriormente (VOLPI, 2001).
Entre os adolescentes do VivaNordeste, sete apresentaram interesse em ser compreendido ao
comunicar-se e sete se mostraram mais voltados para si mesmo, sem preocupar-se com o outro. Esta
é uma dicotomia típica da adolescência, quando o indivíduo está entre o egocentrismo e os
sentimentos de generosidade para com o outro (PIAGET, 1998). Entre os adolescentes da CASE, 10
demonstraram interesse em ser compreendido ao comunicar-se e apenas quatro se voltavam para si.
Este resultado pôde indicar que os adolescentes privados de liberdade apresentaram a necessidade de
falar e ser ouvido (VOLPI, 2001), e que o cometimento do ato infracional pode ter sido uma forma
encontrada de gritar sua necessidade de apoio, proteção, sentimentos de medo, inadequação, tão
105
característicos da adolescência e que só são supridos por uma rede de apoio social bem elaborada e
bem percebida por estes adolescentes (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; TROMBETA e GUZZO,
2002).
4.5.5 O adolescente e o ato de escolher
O agir de acordo com suas próprias escolhas é característico da adolescência, contudo pode ser um
indicador de confiança em si próprio. Ao fazer suas escolhas, o adolescente busca experimentar novos
desafios, conhecer o mundo que o cerca, descobrir novos problemas e soluções (ABERASTURY e
KNOBEL, 1981; MIRA Y LOPES, 1980). Entre os adolescentes do VivaNordeste, 11 apresentaram
flexibilidade e escolhas próprias e três demonstraram agir de forma oposicionista ao meio,
característica também desta fase de desenvolvimento. Contudo, na CASE, apenas seis adolescentes
demonstraram comportamento de escolhas próprias e um de ação oposicionista, sendo que seis
demonstraram seguir regras e métodos externos. Este resultado pode indicar a dificuldade em colocar
seus próprios desejos e imposição de esquemas externos dados pela instituição, que muitas vezes, ao
contrário de auxiliar no desenvolvimento destes adolescentes, os tornaram socializados de acordo com
normas e valores que de pouco interesse a estes (COSTA, 1997; VOLPI, 2001 e 2002).
106
5 CONCLUSÃO
Com base nos dados levantados, verificou-se a existência de características relativas ao potencial de
resiliência nos adolescentes de ambos os grupos, contudo estas foram predominantes, em certos
aspectos, nos adolescentes participantes do Programa VivaNordeste. Outra hipótese confirmada foi a
existência de traços relativos à fase do desenvolvimento do qual fazem parte os sujeitos da pesquisa: a
adolescência.
No entanto, com relação aos dados sócio-demográficos apresentados pelos dois grupos, concluiu-se
que estes eram diferentes e que alguns aspectos funcionavam como fatores de proteção aos
adolescentes do VivaNordeste. A escolaridade foi o primeiro item que apresentou diferença, entre os
adolescentes do VivaNordeste, o grau escolar estava de acordo com a idade dos sujeitos, enquanto na
CASE verificou-se uma defasagem escolar, anterior à privação de liberdade e que é por esta reforçada,
já que a instituição não apresentava a estrutura ideal para atender a todos os graus de escolarização.
A participação dos jovens em atividades sócio-educativas foi outro ponto de divergência entre os
grupos, embora ambos participassem, os adolescentes do VivaNordeste apresentaram uma
diversidade de atividades, incluindo projetos profissionalizantes (voltados ao mercado atual de
trabalho), desportivos (com várias práticas esportivas) e culturais. Atividades estas que funcionavam
como mecanismos protetores, pois auxiliavam a interação destes jovens com o grupo social,
aumentando a autoconfiança, a auto-estima, trazendo, a estes adolescentes, um sentido de futuro, com
a esperança de mudar o rumo de suas vidas (ASSIS et al, 2003).
A defasagem escolar e a pouca participação em atividades sociais e desportivas, encontradas entre os
adolescentes da CASE, somadas a outros fatores delineados como de risco (ASSIS, 1999; ASSIS et al,
2006; CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001; GROTBERG, 1998), como o pouco envolvimento
religioso; a necessidade de trabalhar para auxiliar na renda familiar, explicitada pela maioria dos jovens
107
da CASE, fator que contribui para a defasagem escolar; a violência a que foram expostos; o
envolvimento com substâncias psicoativas durante a infância e a adolescência, os conflitos familiares;
estes fatores expõem estes sujeitos a certo grau de vulnerabilidade que pode dificultar a
potencialização da resiliência.
Outros fatores que apresentaram diferenças de resultado entre os grupos se referem ao modelo
familiar, incluindo a responsabilidade pelo sustento, e à quantidade de irmãos, fatores que, não
isoladamente, são considerados de proteção ou risco. Entre os adolescentes do VivaNordeste o
modelo familiar predominante foi da família nuclear (pai, mãe e irmãos), com menor quantidade de
irmãos e o sustento sendo responsabilidade de ambos os pais, fatores que embora não possam ser
considerados ideais, tendem a diminuir a fragilidade familiar e a vulnerabilidade pessoal e social dos
jovens (ASSIS, 1999; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001).
Segundo Assis (1999), a estrutura bem como as relações familiares é apontada como de grande
influência sobre as escolhas juvenis, mas tal estrutura também sofre influência da comunidade, das
relações de trabalho, da realidade econômica e da sociedade na qual está inserida.
Nos resultados levantados não foi possível confirmar os dados apresentados por pesquisas anteriores
(RUTTER46 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; ASSIS, 1999), sobre a influência do uso de
substâncias psicoativas ou participação de familiares em atos infracionais como sendo fatores de risco
para os adolescentes, já que não houve, nesta pesquisa, relação entre estes fatores e as condutas
anti-sociais dos sujeitos pesquisados. Resultado este que pode estar atrelado ao tamanho da amostra,
que foi inferior às pesquisas anteriores.
Alguns pontos foram ainda divergentes entre os grupos, estes se referiam ao discurso apresentado
pelos sujeitos, quanto à percepção de si mesmos, ao modo de lidar e enfrentar dificuldades e às
expectativas com relação ao futuro. Contudo estes fatores estão diretamente relacionados, ao apoio
social recebido e, principalmente, percebido por estes adolescentes. Entre os participantes do
46 RUTTER, M. Stress, coping and development: some issues and some questions. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v.22, n.4, p.323-356, 1981.
108
VivaNordeste verificou-se uma visão positiva de si mesmo na totalidade dos jovens; o manejo de
problemas apresentou-se neste grupo, em sua maioria, através da busca de apoio e diálogo, o que
confirma a percepção do grupo do apoio externo, fator de proteção e potencializador de resiliência.
Percepção esta que os auxiliam na construção de sua perspectiva de futuro, que entre os adolescentes
do VivaNordeste ultrapassam a sua própria realidade (ASSIS, 1999; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006;
GROTBER, 1998; GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002).
O que se produzir – casa habitável ou ruína estéril – será a soma do que pensaram e pensamos de nós, do quanto nos amaram e nos amamos, do que nos fizeram pensar que valemos e do que fizemos para confirmar ou mudar isso... (LUFT47 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.62).
Vale ressaltar que a privação de liberdade tem por objetivo auxiliar adolescentes na construção de sua
realidade, através de apoio social e educacional (COSTA, 1997; VOLPI, 2001 e 2002), contudo, através
desta pesquisa pôde-se verificar a dificuldade em se atingir este objetivo, por parte da instituição, dado
que merece novas investigações visando criar mecanismos que realmente protejam estes
adolescentes, cumprindo as medidas implantadas pelo ECA.
Quando os fatores analisados passam a se referir aos recursos internos dos adolescentes
pesquisados, os resultados não se mostraram tão divergentes entre os dois grupos, o que levou à
conclusão de que com relação a estes recursos, os jovens da CASE e do VivaNordeste apresentaram
fatores de risco e proteção comuns, bem como quando o tema estava relacionado aos traços de
personalidade comuns à adolescência.
A formação da identidade, a consciência dos valores orientadores da conduta, as estratégias diante de
situações de impasse, a necessidade de sentir-se protegido, foram características que se
apresentaram de forma semelhante entre os adolescentes dos dois grupos. Estas fazem parte da
estruturação da personalidade típica desta fase do desenvolvimento, onde os sujeitos buscam construir
sua própria identidade, se fortalecer diante do mundo, utilizando-se dos valores apreendidos, e
revistos. Momento em que o impasse é parte necessária ao crescimento e, a busca da independência,
se equilibra com a necessidade de proteção do meio ao qual o jovem se insere, fator importante na sua
109
preparação para encarar novos desafios (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; AYRES, 2006; MIRA Y
LOPES, 1980; PIAGET, 1998).
Quanto à dificuldade em fortalecer o ego e lidar com si mesmo, também característica desta fase de
desenvolvimento, não se mostrou presente entre os sujeitos pesquisados. Fator que pode estar
associado ao conjunto de dificuldades e desigualdades da realidade destes jovens e que alteram os
comportamentos característicos desta fase, já que seus membros precisam se desenvolver de forma a
lidar melhor com o contexto que os cercam (AYRES, 2006; NASCIMENTO, 1999; OZELLA, 2002).
As principais diferenças encontradas entre os dois grupos de adolescentes envolvem autoconfiança,
mobilização de recursos ao traçar metas e enfrentar obstáculos, afetividade e relacionamento
interpessoal, conduta social e comprometimento com valores, comunicação e ação diante de suas
escolhas. Todos os fatores estão relacionados ao potencial de resiliência, e são desenvolvidos através
do apoio externo que envolve estes adolescentes (ASSIS, 1999; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006;
GROTBER, 1998; GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002), quanto mais a
realidade oferece fronteiras tranqüilizadoras, significativas e objetivas, mais seguros sentem-se os
jovens para explorar de forma autônoma o espaço que os cerca (FERRARIS, 2005).
Entre os adolescentes do VivaNordeste constatou-se maior índice de autoconfiança e flexibilidade e
escolhas próprias; enquanto adolescentes da CASE demonstraram maior índice de falta de confiança
em si mesmos e insegurança, menor necessidade de reconhecimento e realização e maior acolhimento
à regras e métodos externos, em detrimento de suas próprias escolhas. No entanto confiança, busca
de reconhecimento e escolhas próprias são características da adolescência e estão associadas às
relações externas estabelecidas de forma positiva (ASSIS et al, 2003; NASCIMENTO, 1999; PIAGET,
1998); portanto, as dificuldades apresentadas podem estar associadas ao sentimento de exclusão e de
distanciamento da realidade ao qual estão expostos os adolescentes da CASE, devido, não apenas à
privação de liberdade, mas principalmente, ao estigma social imposto, que transforma o ato infracional
cometido em história de vida deste sujeito (COSTA, 1997; VOLPI, 2001).
47 LUFT, Lia. Perdas e ganhos. Rio de Janeiro: Record, 2004.
110
Contudo, nestes adolescentes, a mobilização de recursos e energia para atingir objetivos e superar
obstáculos; recursos internos que os tornam menos vulneráveis, aumentando seu potencial de
superação frente às adversidades, se mostraram maior. Este resultado pode ter sofrido influência da
diferença de idade entre os sujeitos dos dois grupos, já que a média de idade dos adolescentes do
VivaNordeste foi inferior aos da CASE e esta inadequação é parte da incerteza desta fase de
desenvolvimento (AYRES, 2006; NASCIMENTO, 1999; PIAGET, 1998). Porém, vale destacar, que
diante da realidade infracional, os adolescentes muitas vezes precisam lidar com adversidades
constantes e precisam desenvolver estratégias internas de enfrentamento, visando superá-las.
O relacionamento humano, que envolve afetividade, sexualidade, preocupação com o comunicar-se, o
interesse pelo ser humano, e a conduta social, apresentou resultados diferentes entre os dois grupos,
sendo que estes traços tiveram índices mais positivos nos adolescentes do VivaNordeste. A dificuldade
de relacionar-se e de interagir com o grupo, a repressão da sexualidade/sensualidade e sua não
integração à personalidade, bem como a pouca afinidade com o relacionamento humano, bem como o
pouco comprometimento com valores e conduta social, foram encontradas entre os adolescentes da
CASE. Fatores considerados de risco, já que o envolvimento afetivo, bem como a facilidade de
relacionamento e valores e condutas aceitas socialmente, são características ligadas à socialização e,
portanto, ao potencial de resiliência (ASSIS et al, 2003; ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006; GROTBER,
1998; GRUNSPUN, 2006; PINHEIRO, 2004; TROMBETA e GUZZO, 2002).
No entanto, o interesse em ser compreendido ao comunicar-se se apresentou em maior grau entre os
adolescentes privados de liberdade, chamando a atenção para a possibilidade de se olhar o ato
infracional como um pedido de socorro, como a única forma que este adolescente encontrou de pedir
apoio, proteção e reconhecimento, necessidades típicas do adolescer (ASSIS, PESCE e AVANCI,
2006; VOLPI, 2001).
O grupo está determinado a se fazer ouvir, mesmo que com violência, atitude que assume valor de linguagem e de advertência... Os adolescentes são excelentes reveladores das disfunções dos adultos: exacerbam seus defeitos, incertezas e insucessos (FERRARIS, 2005).
111
Segundo Pinheiro (2004), diversos fatores e processos precisam ser estudados quando se trata o tema
resiliência, contudo, a capacidade de se relacionar, de ter expectativas e projetos de vida, denota
habilidades necessárias diante das adversidades. Esta pesquisa buscou levantar estas características
em adolescentes de grupos diferentes, mas cujo contexto de dificuldades e desigualdades faz parte de
suas histórias; este objetivo, embora com limitações, foi alcançado.
Contudo se fazem necessárias novas pesquisas que possam aprofundar os resultados obtidos, visando
criar ambientes que potencializem os recursos internos destes adolescentes, com vistas ao
desenvolvimento de resiliência. Os estudos sobre resiliência devem enfatizar a promoção de processos
educativos e de convivência que auxiliem as pessoas no enfrentamento das dificuldades comuns na
vida de todo ser humano (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Conforme Castro48 (apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006), deve ser enfatizada a possibilidade de se
criar nas organizações educacionais, ações que promovam a resiliência e que respondam de forma
eficaz aos desafios da sociedade, proposta esta trazida também por Grotberg (1998), em seu manual
de promoção de resiliência para crianças e adolescentes.
Ressaltando-se aqui a necessidade destas ações por parte das instituições responsáveis pela
aplicação de medidas sócio-educativas, que conforme demonstrado pelos resultados desta pesquisa,
estão distantes deste caminho de promoção.
Ao dar voz aos jovens que viveram, na sua adolescência, a experiência da privação de liberdade, observamos que o contexto da aplicação das medidas sócio-educativas apresenta contradições e ambigüidades mais complexas do que um olhar superficial pode captar (VOLPI, 2001).
Segundo Assis, Pesce e Avanci (2006), o entorno a que um adolescente está exposto, nunca é perfeito
ou invulnerável, mas seu saldo protetor deve ser intenso e constante, diminuindo os efeitos danosos
das adversidades.
É a existência de um entorno afetivo e material o aspecto determinante para se proteger uma criança que enfrenta adversidades... Esse entorno precisa ser estável para dar à criança o sentimento de continuidade e de futuro; amoroso para permitir que aprenda dar e receber afeto; confiável para prover segurança e o sentimento de que
48 CASTRO, M.A.C.D. Revelando o sentido e o significado da resiliência na preparação de professores para atuar e conviver num mundo em transformação. In: Resiliência e Educação (org. José Tavares). São Paulo: Cortez, 2001.
112
pode contar com os outros para superar problemas... respeitoso para que as pessoas aprendam os direitos e os deveres da vida em comunidade (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.61).
Assis, Pesce e Avanci (2006) ressaltam ainda que o pleno desenvolvimento humano seja menos
influenciado pelas adversidades e mais pelos recursos protetores de que dispõem os sujeitos ao longo
da vida; e, portanto, enfatizar estes recursos na adolescência, e em outras fases da vida, é crucial para
o desenvolvimento do potencial de resiliência. “Jamais conseguimos liquidar nossos problemas,
sempre resta deles algum vestígio, mas podemos dar-lhes uma outra vida, mais suportável e, às vezes,
até bonita e com sentido” (CYRULNIK49 apud ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006, p.57).
É impossível formar um juízo preciso e uniforme sobre um período da vida caracterizado por transições, mudanças e auto-afirmação como a adolescência, vivido num sistema tão marcado por valores contraditórios e jogos de poder e força, numa sociedade caracterizada por fortes desigualdades e injustiças (VOLPI, 2001).
Esta pesquisa não teve a pretensão de trazer respostas, mas, ao contrário, suscitar questionamentos
diante da realidade de adolescentes privados de liberdade, de igualdade, de oportunidades, mas que
encontram, em sua realidade, forças para superar todas estas privações. Questionamentos estes que
merecem novas pesquisas, novas dúvidas, novas ações, que busquem como resultado não apenas
conhecer, mas, especialmente, proporcionar um futuro melhor para a geração do futuro.
49 CYRULNIK, B. Os patinhos feios. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
113
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ANEXOS
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ANEXO A
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DA CAPITAL. Somos estudantes do Curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa e estamos realizando uma pesquisa para a Disciplina de Seminários de Pesquisa e Extensão I, sob a supervisão da Professora Stella Sarmento. O objetivo geral desta pesquisa é comparar fatores sociais, econômicos e familiares, bem como traços de personalidade associados a resiliência entre adolescentes de um projeto comunitário de Salvador, e adolescentes infratores em privação de liberdade. Os objetivos específicos são: identificar aspectos familiares, sociais e econômicos comuns nos dois grupos; identificar, através de um teste projetivo, traços de personalidade comuns nos dois grupos; levantar traços de personalidade que se diferenciam entre os dois grupos de adolescentes pesquisados; verificar a presença de condições ligadas a resiliência no desenvolvimento dos adolescentes de ambos os grupos.
Para a realização deste trabalho, solicitamos sua autorização para nosso acesso à CAM – Casa de Acolhimento ao Menor, unidade da FUNDAC – Fundação da Criança e do Adolescente que abrigam adolescentes que praticaram atos infracionais.
Durante a pesquisa serão utilizados dois instrumentos, sendo: - Questionário – elaborado pela pesquisadora contendo: dados do adolescente, dados sobre a
família, sobre o ato infracional,dados sobre sua vida pessoal; - Teste Wartegg, uma técnica gráfica que se apresenta em uma folha com oito quadrados de quatro
cm de lado, onde constam esboços de desenho que devem servir de estímulo para os sujeitos realizarem seus próprios desenhos.
O método a ser utilizado não cria qualquer risco para os sujeitos enquanto participantes da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa com risco mínimo. Esta pesquisa estará contribuindo para aumentar nossa compreensão e nosso conhecimento acerca dos adolescentes infratores. Desde já agradeço sua colaboração, Andréa Sandoval
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ANEXO B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TÍTULO: Adolescência: diferenças entre iguais – Resiliência e outros aspectos. INVESTIGADORES: Andréa Sandoval Padovani OBJETIVO Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa sobre o resiliência em adolescentes. PROCEDIMENTOS Você participará de uma atividade de desenho, que consta de uma folha onde existem alguns traços de desenho aos quais você deverá dar continuidade, isto é, deverá realizar um desenho a partir destes traços iniciais. Esta tarefa não terá tempo determinado e para realizá-la você poderá utilizar apenas um lápis no.2 que lhe será entregue junto à folha do teste. Após a realização deste teste você irá responder um questionário com algumas informações a seu respeito. RISCOS E BENEFÍCIOS O método não cria qualquer risco para você enquanto participante. Trata-se de uma pesquisa com risco mínimo. Ao participar da pesquisa você estará contribuindo para aumentar nossa compreensão e nosso conhecimento acerca dos adolescentes infratores. CONFIDENCIALIDADE As informações prestadas por você serão utilizadas em um trabalho de pesquisa para o Curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa. Outros trabalhos científicos podem utilizar os dados desta pesquisa, porém, em qualquer circunstância, sua identidade será mantida em absoluto sigilo. DIREITO DE RECUSAR OU DESISTIR DA PARTICIPAÇÃO Sua participação nesta pesquisa é voluntária, ou seja, você pode recusar-se a participar e se mudar de idéia durante a pesquisa, poderá desistir de participar. Negar-se a participar ou interromper sua participação não trará nenhuma conseqüência negativa para você. QUESTÕES Se você tiver qualquer pergunta a fazer, por favor, sinta-se à vontade para realizá-la. Se, no futuro, você tiver mais perguntas a fazer, entre em contato com a Faculdade Ruy Barbosa através do número ( 32051700) – Coordenação de Psicologia e solicite um retorno de umas das pesquisadoras. __________________ ______________________________________________________ Data Assinatura do participante RG ou CPF: ____________________________ __________________ ______________________________________________________ Data Assinatura do pesquisador
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ANEXO C
Questionário – Adolescentes
Data da Coleta: _____________________ Nome do aplicador: ____________________________ Dados do Adolescente
1) Sexo. 1. Masculino, 2. Feminino 2) Idade: ___________ 3) Frequenta a escola atualmente. 0.Não, 1.Sim.
4) Escolaridade atual. 0.Analfabeto, 1.Ensino Fundamental Incompleto, 2.Ensino Fundamental
Completo, 3.Ensino Médio Incompleto, 4.Ensino Médio Completo, 5.Superior Incompleto.
5) Referência de atividade labora atual ou passada (atividade profissional). 0.Não, 1.Sim.
6) Participa de alguma atividade social? 0.Não, 1.Grupo desportivo, 2.Grupo Religioso, 3.Projeto de Profissionalização, 4.Projeto artístico-cultural, 5. Outros.Quais?
______________________________________________________________________
7) Você participa de alguma religião? 0.Não, 1.Sim. Qual?
8) Bairro onde mora. __________________________
Dados sobre a família
9) Com quem mora. 0.Sozinho, 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó, 5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 8.Outros. Quem? ____________________________ (caso more com mais de uma pessoa, anotar todos)
10) Tem irmãos? 0.Não, 1.Sim, Quantos? _____ Qual(is) a(s) idade(s)?
__________________________
11) Quem trabalha na família? 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó, 5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 99.Não se aplica. (caso mais de um trabalhe, registrar todos).
12) Qual a profissão das pessoas que trabalham?
13) Você contribui para a renda da família? 0.Não, 1.Sim. De que forma?
14) Seus pais são vivos? 0.Nenhum deles, 1.Pai, 2.Mãe.
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Dados sobre sua vida
15) Descreva-me você?
16) Como é seu relacionamento com sua família/amigos ?
17) Como você se sente/reage diante de problemas?
18) O que sua família acha de você?
19) Você fugiu de casa alguma vez? 0.Não, 1.Sim. Quantas? ______ Por que motivos você
resolveu fugir? 20) Foi expulso de casa alguma vez? 0.Não, 1.Sim. Por quê? 21) Você tem (ou teve) conflito com algum familiar? 0.Não, 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó,
5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 99.Não se aplica. (caso mais de um trabalhe, registrar todos). Por que isto ocorre?
22) Utilizou alguma substância psicoativa? 0.Não, 1.Bebida alcoólica, 2.Cigarro, 3.Maconha, 4.Cocaína, 5.Crack, 6.Cola de sapateiro, 7.Anabolizantes, 8.Medicamentos, 9.Outras. Quais? __________________ ____________________________________________________
(caso haja associação entre uma ou mais substâncias, registrar todas).
23) Utiliza alguma substância psicoativa? 0.Não, 1.Bebida alcoólica, 2.Cigarro, 3.Maconha, 4.Cocaína, 5.Crack, 6.Cola de sapateiro, 7.Anabolizantes, 8.Medicamentos, 9.Outras. Quais? ____________________________________________________ 88. Nunca utilizou.
(caso haja associação entre uma ou mais substâncias, registrar todas)
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24) Ocorre uso de substâncias psicoativas por parte de algum familiar? 0.Não, 1.Sim.
25) Qual? 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó, 5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 99.Não se aplica. (caso mais de um trabalhe, registrar todos).
26) Que substância é utilizada? 0.Não, 1.Bebida alcoólica, 2.Cigarro, 3.Maconha, 4.Cocaína,
5.Crack, 6.Cola de sapateiro, 7.Anabolizantes, 8.Medicamentos, 9.Outras. Quais? _________________________ (caso haja associação entre uma ou mais substâncias, registrar todas).
27) Existe antecedentes criminais na família? 0.Não, 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó,
5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 99.Não se aplica. (caso mais de um trabalhe, registrar todos).
28) Que tipo de crime foi cometido? 1.Contra o patrimônio, 2.Contra a vida, 3.Contra os costumes,
4.Contravenção, 5.Narcotráfico/usuário, 99.Outros. Quais? _____________________________________
29) Adolescente já praticou atos infracionais? 0.Não, 1.Sim. Quais?
30) Já participou de alguma medida sócio-educativa? Qual? 1.Advertência, 2.Obrigação de reparar dano, 3.Prestação de Serviços à comunidade, 4.Liberdade Assistida, 5.Semi-liberdade, 6.Internação, 7.Remissão, 8.Outro, 99.Não se aplica.
31) Idade na data do ato infracional. ___ ___ 32) Tempo de Internação: _____________
33) Você lembra de ter sofrido algum tipo de violência na infância ou adolescência? 0.Não,
1.Sim.Qual tipo?
34) Por parte de quem? 1.Pai, 2.Mãe, 3.Tio/tia, 4.Avô/Avó, 5.Madrasta, 6.Padrasto, 7.Irmãos, 9.Vizinho, 10.Desconhecido, 11.Outros.Quem? ____________________ 99.Não se aplica. (caso mais de um trabalhe, registrar todos).
35) Como você se sente no dia de visita?
36) O que você prevê para o seu futuro?
37) Quais as queixas que seus familiares tem de você?