anexo nº 05 - protocolo de aleitamento materno · ao aleitamento materno na atenção pré-natal e...

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27 ANEXO nº 05 - Protocolo de Aleitamento Materno Dra. Claudia Maria Monteiro Sampaio 6 I - Introdução O leite materno é o melhor alimento para o bebê tanto do ponto de vista nutricional como na prevenção de doenças, além de ser fundamental no estabelecimento do vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. A amamentação favorece a recuperação materna pós-parto e reduz os riscos de câncer de mama. É incontestável que o melhor e o único alimento que deverá ser oferecido nos primeiros seis meses de vida da criança é o leite materno, e que a partir desta idade deverão ser incluídos outros alimentos líquidos (sucos) e sólidos (frutas e papa de sal), porém, o leite materno continuará fazendo parte da alimentação do bebê até os dois anos de idade ou mais, segundo orientações da OMS, UNICEF e Ministério da Saúde . As taxas de morbi-mortalidade infantil sofrem influência direta do desmame precoce, razão pela qual é importante implementar ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno na atenção pré-natal e pós-parto nos serviços públicos de saúde. Em Campinas, no ano de 2003 durante as comemorações da Semana Mundial de Aleitamento Materno foi oficializada a criação do Comitê Municipal de Apoio e Incentivo à Amamentação, que vem desempenhando junto às Unidades Básicas de Saúde atividades visando o aumento dos índices de aleitamento materno no Município. Na manutenção da amamentação, a equipe de saúde desempenha papel fundamental: mantendo-se atualizada sobre o tema e sistematizando ações e condutas. O entusiasmo e o comprometimento destes profissionais com a amamentação sem dúvida contribuem para o aumento do número de mães que amamentam, garantindo que as dificuldades apresentadas sejam resolvidas prontamente, favorecendo a manutenção da amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do bebê. Todavia, é imprescindível que a equipe consiga proporcionar além dos conhecimentos técnicos da amamentação, o apoio psicológico individual a cada nutriz. II - Manejo Clínico da Amamentação Quando pensamos no sucesso da amamentação, devemos atentar para alguns cuidados básicos e fundamentais no atendimento. 6 Médica Pediatra, Coordenadora do Banco de Leite Humano de Campinas.

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Page 1: ANEXO nº 05 - Protocolo de Aleitamento Materno · ao aleitamento materno na atenção pré-natal e pós-parto nos serviços públicos de saúde. Em Campinas, no ano de 2003 durante

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ANEXO nº 05 - Protocolo de Aleitamento Materno

Dra. Claudia Maria Monteiro Sampaio6

I - Introdução

O leite materno é o melhor alimento para o bebê tanto do ponto de vista nutricional

como na prevenção de doenças, além de ser fundamental no estabelecimento do vínculo

afetivo entre a mãe e o bebê. A amamentação favorece a recuperação materna pós-parto

e reduz os riscos de câncer de mama.

É incontestável que o melhor e o único alimento que deverá ser oferecido nos

primeiros seis meses de vida da criança é o leite materno, e que a partir desta idade

deverão ser incluídos outros alimentos líquidos (sucos) e sólidos (frutas e papa de sal),

porém, o leite materno continuará fazendo parte da alimentação do bebê até os dois anos

de idade ou mais, segundo orientações da OMS, UNICEF e Ministério da Saúde .

As taxas de morbi-mortalidade infantil sofrem influência direta do desmame

precoce, razão pela qual é importante implementar ações de promoção, proteção e apoio

ao aleitamento materno na atenção pré-natal e pós-parto nos serviços públicos de saúde.

Em Campinas, no ano de 2003 durante as comemorações da Semana Mundial de

Aleitamento Materno foi oficializada a criação do Comitê Municipal de Apoio e Incentivo à

Amamentação, que vem desempenhando junto às Unidades Básicas de Saúde atividades

visando o aumento dos índices de aleitamento materno no Município.

Na manutenção da amamentação, a equipe de saúde desempenha papel

fundamental: mantendo-se atualizada sobre o tema e sistematizando ações e condutas. O

entusiasmo e o comprometimento destes profissionais com a amamentação sem dúvida

contribuem para o aumento do número de mães que amamentam, garantindo que as

dificuldades apresentadas sejam resolvidas prontamente, favorecendo a manutenção da

amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do bebê. Todavia, é imprescindível que a

equipe consiga proporcionar além dos conhecimentos técnicos da amamentação, o apoio

psicológico individual a cada nutriz.

II - Manejo Clínico da Amamentação

Quando pensamos no sucesso da amamentação, devemos atentar para alguns

cuidados básicos e fundamentais no atendimento.

6 Médica Pediatra, Coordenadora do Banco de Leite Humano de Campinas.

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Na Unidade Básica de saúde: é necessário que exista pelo menos um profissional

responsável pelo atendimento às nutrizes que procurem o serviço, com alguma

dificuldade na amamentação. Este profissional deverá seguir os passos do

aconselhamento na amamentação, que são:

• Levar a usuária para um local adequado (com privacidade) para o atendimento.

• Sentar próximo a mesma de preferência sem mesa entre o profissional e a

usuária, devendo ficar na mesma altura, para que possa olhar nos olhos.

• Ouvir atentamente a nutriz.

• Não julgar.

• Nunca dar ordens.

• Oferecer uma ou duas sugestões, intervindo somente o necessário.

• Solicitar para que ela coloque o bebê para mamar, podendo o profissional

assim observar tudo que a nutriz está fazendo de adequado ou não, intervindo

apenas naquilo que estiver dificultando o processo.

• Elogiar tudo que a nutriz estiver fazendo adequadamente.

• Garantir a ela a continuidade no atendimento, sempre que a nutriz ou o

profissional julgarem necessário.

• Orientar para que não seja oferecido ao bebê, chupetas, mamadeiras ou

qualquer outro bico, pois eles poderão interferir na sucção e dificultar o

aleitamento materno.

Com relação ao desmame precoce: Para que seja evitado o desmame desnecessário e precoce as mães antes de

retornarem ao trabalho ou quando forem orientadas sobre alimentação complementar a

partir do 6º mês precisarão receber informações de como oferecer estes alimentos de

copo e/ou colher. O profissional de saúde precisa executar o procedimento, para que a

mesma possa aprender de maneira que se sinta segura para fazer em casa.

É necessário também passar as informações sobre como coletar e armazenar o

leite materno (folder "Dicas e procedimentos para coleta e armazenamento de leite

materno". Ministério da Saúde).

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Problemas precoces e tardios enfrentados pelas mães:

Problemas Causas Prevenção e tratamento

FISSURAS:

ferimento no mamilo

• Mau posicionamento da mãe e/ou do bebê;

• Pega simétrica (inadequada); • Uso de bombas manuais ou

elétricas; • Aréola endurecida (ingurgitada)• Monilíase

• Higiene do peito antes e depois das mamadas apenas com o próprio leite materno;

• Banho de sol (5-10 min) entre 8:00h e 9:00h ou após às 16:00h - evitar na apojadura

• Manter mamilos secos e arejados (sutiã de algodão com alças largas)

• Tratar monilíase sob orientação médica

Pega correta: • Esvaziar a aréola se

necessário (massagem + ord. manual) antes de posicionar o bebê

• Observar se a pega está assimétrica(lábio inferior evertido e aréola mais visível na região superior)

Posicionamento da mãe: • Sentada com os pés e costas

apoiadas(se necessário, usar um travesseiro sobre o colo)

• O importante é que a mãe esteja relaxada e confortável

Posicionamento do bebê: • Posição tradicional - o corpo

do bebê deve ficar inteiramente virado de frente e bem próximo ao corpo da mãe

• Posição com bebê sentado • Posição invertida

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Problemas Causas Prevenção e tratamento

INGURGITAMENTO Atenção: Diferenciar mamas cheias de mamas ingurgitadas: - Cheia: quente, pesada, endurecida. - Ingurgitada: dolorosa, edemaciada, tensa, mamilo apagado e brilhante e podem se apresentar avermelhadas, leite não flui, pode ocorrer hipertermia por 24 hs.

• Hiperprodução de leite humano

• Início tardio da amamentação• Pega incorreta • Sucção ineficaz • Remoção do leite pouco

freqüente • Restrição da freqüência e

duração das mamadas. • Avaliar uso de sutiã com

haste inferior de metal, conchas

Prevenção: • Iniciar a amamentação logo

após o parto • Assegurar pega assimétrica • Encorajar, estimular e auxiliar

a amamentação por livre demanda.

• Ordenha manual para alívio. Tratamento: • Massagear as mamas

começando sempre pela aréola até que a mesma fique sem pontos de ingurgitamento, então inicia-se a ordenha manual, que deve ser realizada com a palma da mão e/ou pontas dos dedos com movimentos circulares partindo sempre da aréola.

• Posicionar o bebê para mamar, preferencialmente na posição sentada.

Caso o bebê não realize sucção efetiva nas mamas: ordenhar manualmente com freqüência e oferecer no copinho.

MASTITE: Sinais e Sintomas: Hiperemia, edema e rea-ção dolorosa na mama, hipertermia, cefaléia e calafrios.

• Mamilos fissurados • Ducto lactífero bloqueado

não tratado ou estase de leite• Baixa resistência à infecções

devido à fadiga • Pressão de roupas apertadas

(principalmente sutiã) • Ejeção de leite ineficaz em

mamas grandes

• Não interromper o aleitamento sob livre demanda, exceto caso haja a liberação de secreção purulenta através do mamilo.

• Corrigir pega e posição do bebê (variar o posicionamento conforme necessidade e localização da área afetada).

• Massagem nas mamas, especialmente no local da lesão, realizando ordenha manual de alívio após as mamadas.

Se abcesso: • Encaminhar ao Ginecologista

para tratamento clínico e drenagem cirúrgica quando necessária.

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Ganho Ponderal Insuficiente

Considera-se que bebês têm ganho de peso insuficiente em aleitamento materno

exclusivo após alta hospitalar, quando próximo à duas semanas de idade o bebê

apresenta peso abaixo do nascimento ou ganha menos que 25grs/dia.

Situações que podem ser avaliadas/ observadas com base em queixas maternas:

"Dorme muito no peito" (ordenhar o leite da própria mãe e oferecer no

copinho).

"Não fica satisfeito após a mamada" (normalmente quando só retira leite

anterior, e apresenta com maior freqüência cólicas).

"Chora muito" (observar mamada e lembrar de outras causas como calor, frio,

fralda suja, refluxo gastro-esofágico, causas maternas, etc).

"Quer mamar com muita freqüência" / "Leite fraco" (não mantém sucção

efetiva capaz de retirar o leite posterior, então ordenhar o leite posterior da

própria mãe e oferecer no copinho. Orientar alternar as mamas de acordo com

a produção e mamadas do bebê).

"Bebê permanece muito tempo no peito" (acordar o bebê antes de iniciar a

mamada, e orientar à mãe que o retire da mama quando não estiver

efetivamente mamando).

"Recusa-se a mamar / Não gosta do leite da mãe” (realizar uma breve

anamnese sobre: a gestação atual, especialmente aspectos psicosociais,

antecedentes familiares em relação à amamentação e se houve experiência em

gestações anteriores, condições maternas de saúde e confirmar o desejo da

mulher de amamentar o seu filho). "Diurese reduzida" na maioria dos casos não é produção insuficiente, e sim

mamadas ineficientes.

III - Legislação e Aleitamento Materno

Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL) A NBCAL foi elaborada com base no Código Internacional para Comercialização de

Substitutos para o Leite Materno e aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde em 1988.

A Lei nº 11.265(03/01/2006), regulamentou a comercialização de alimentos para lactentes

e crianças de primeira infância e também a de produtos de puericultura correlatos.

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1990 - Aprovação do Código de Defesa do Consumidor, que reforçou vários artigos

da Norma de Comercialização de Alimentos para Lactentes.

1992 - Aprovação, pelo Conselho Nacional de Saúde, do novo texto da Norma

Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes (Resolução nº 31), que inclui

item específico sobre o uso de bicos e mamadeiras.

1992 - Acordo mundial entre o UNICEF e OMS com a Associação Internacional de

Fabricantes de Alimentos, para cessar o fornecimento gratuito ou a baixo custo de leites

artificiais às maternidades e hospitais.

1994 - Publicado parecer nº 62/ 94 da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde,

que redefine as penalidades para as infrações à Norma.

Constituição Nacional 1988 - Promulgação da Constituição, que assegura licença-paternidade de cinco

dias, proteção ao trabalho da mulher e do direito às presidiárias de permanecer com os

filhos durante o período de amamentação.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 1990 - Aprovação do ECA, Lei nº 8069, que assegura à gestante, pelo Sistema

Único de Saúde, o atendimento antes e após o parto. Também trata da obrigatoriedade

do alojamento conjunto.

Hospital Amigo da Criança 1994 - Portaria nº 1.113, do Ministério da Saúde, que assegura pagamento de 10%

a mais sobre a assistência do parto a Hospitais Amigo da Criança, vinculados ao

Sistema Único de Saúde.

1994 - Portaria nº 155, da Secretaria de Assistência à Saúde (MS), que estabelece

os critérios para o credenciamento dos hospitais como Amigos da Criança.

Amamentação: Direitos da Mulher no Trabalho

A Constituição Brasileira e a Consolidação das Leis Trabalhistas garantem uma

série de direitos às mães que trabalham fora:

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Legislação Documentação (Comprovante)

Duração do Benefício

Licença Maternidade Art 395 - Constituição Federal de 1988. Obs: Em caso de parto prematuro a mulher tem direito às 12 semanas previstas no artigo. Está tramitando no Congresso Nacional, o Projeto de Lei que estende a Licença Maternidade para 180 dias, porém, a adesão não será de caráter obrigatório ficando a cargo do empregador, sendo que o mesmo será beneficiado com redução de impostos.

• Tempo de gestação;

• Certidão de nascimento;

• Certificado de adoção;

• Atestado de óbito

(quando acontecer aborto

involuntário).

• 120 dias a partir do 8° mês de gestação ou após o parto.

Licença paternidade Art. 7°, XIX da Constituição Federal de 1988 das Disposições Transitórias. A duração do benefício é de cinco dias.

• Certidão de nascimento do bebê.

• Cinco dias

Direito a amamentar durante a jornada de trabalho. Seção V Artigo 396 CLT Obs: Caso não tenha creche no local de trabalho, pode-se negociar que a mulher chegue uma hora depois ou saia uma hora antes.

• Certidão de nascimento do bebê.

• Atestado médico para prorrogação.

• Quatro meses que podem ser estendidos para seis meses, mediante a comprovação da necessidade do leite materno pelo bebê.

Garantia de emprego à gestante Art. 391 à 400 CLT

• Comprovante do tempo de gravidez.

• Desde a confirmação da gravidez até o 5° mês após o parto.

Garantia de creche para o bebê Art. 389, 397 e 400 CLT Obs: Toda empresa, com mais de 30 mulheres acima de 16 anos, tem que oferecer creche ou ajuda de custo.

• Certidão de nascimento do bebê.

• Até os seis anos de vida.

IV - Centro de Lactação - Banco de Leite Humano (CL-BLH) de Campinas

O CL-BLH de Campinas é o Centro de Referência do Município responsável pela

promoção e incentivo ao aleitamento materno e pela execução das atividades de coleta,

processamento, armazenamento e distribuição de leite humano. Foi criado em 1993,

através de um convênio da Prefeitura Municipal de Campinas - Secretaria de Saúde com

o Hospital e Maternidade de Campinas.

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A principal conseqüência desse trabalho é a contribuição para a redução da morbi-

mortalidade infantil e melhora na qualidade de vida das crianças.

Deverão ser encaminhadas para o Banco de Leite ou entrar em contato por

telefone:

Nutrizes que desejem doar a produção excedente do seu leite;

Necessitem de orientações sobre amamentação;

Estejam com problemas nas mamas no período de amamentação.

Endereço:

Maternidade de Campinas (5º andar)

Av. Orosimbo Maia, 165 - Vila Itapura - CEP: 13023-910

Tel: (19) 3731- 6039

Horário de Atendimento ao Público: 2ª à 6ª feira das 8:00 às 17:00 h

Sábados, Domingos e Feriados das 08:00 às 11:00 h

E-mail: [email protected]

[email protected]