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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NÚCLEO ESPECIALIZADO EM TUTELAS COLETIVAS 10ª. DEFENSORIA CÍVEL DE NATAL Avenida Senador Salgado Filho, 2868b, bairro de Lagoa Nova, Natal-RN, Cep. 59.075-000, telefone: 3232-9758. www.defensoria.rn.def.br 1 AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL, A QUEM INCUMBIR POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL, A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, instituição essencial à função jurisdicional do Estado na forma do art. 134 da CF, do artigo 185 do Código de Processo Civil e do artigo 5º, II da Lei de nº 11.448/07, com endereço para intimações no Núcleo Especializado em Tutelas Coletivas, localizado na Avenida Senador Salgado Filho, nº 2868b, bairro de Lagoa Nova, Natal-RN, Cep. 59.075-000, vem, mui respeitosamente, perante este Juízo de Direito, por intermédio da 10ª. Defensoria Cível de Natal, propor Ação Civil Pública com pedido de tutela provisória de urgência em face do MUNICÍPIO DO NATAL, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n. 08.241.747/0003-05, que, conforme o art. 12, inciso II, do Código de Processo Civil, é representada pelo Procurador Geral do Município, com endereço para citação na rua Mossoró, 350, Centro, Natal/RN, CEP: 59.020-090, o que faz com fundamento no artigos 5 o , inciso LXIX, 6 o , 196, 200, todos da Constituição Federal, nas Leis de n o 8.080/90 e n o 8.142/90, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: Num. 20575896 - Pág. 1 Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: CLAUDIA CARVALHO QUEIROZ https://pje.tjrn.jus.br:443/pje1grau/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=18021612061896100000019753671 Número do documento: 18021612061896100000019753671

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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

NÚCLEO ESPECIALIZADO EM TUTELAS COLETIVAS

10ª. DEFENSORIA CÍVEL DE NATAL

Avenida Senador Salgado Filho, 2868b, bairro de Lagoa Nova, Natal-RN, Cep. 59.075-000, telefone: 3232-9758. www.defensoria.rn.def.br

1

AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL,

A QUEM INCUMBIR POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL,

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO NORTE, instituição essencial à função jurisdicional do Estado na

forma do art. 134 da CF, do artigo 185 do Código de Processo Civil e do artigo 5º, II da

Lei de nº 11.448/07, com endereço para intimações no Núcleo Especializado em Tutelas

Coletivas, localizado na Avenida Senador Salgado Filho, nº 2868b, bairro de Lagoa Nova,

Natal-RN, Cep. 59.075-000, vem, mui respeitosamente, perante este Juízo de Direito,

por intermédio da 10ª. Defensoria Cível de Natal, propor

Ação Civil Pública com pedido de tutela provisória de urgência

em face do MUNICÍPIO DO NATAL, pessoa jurídica de direito

público, inscrita no CNPJ sob o n. 08.241.747/0003-05, que, conforme o art. 12, inciso II,

do Código de Processo Civil, é representada pelo Procurador Geral do Município, com

endereço para citação na rua Mossoró, 350, Centro, Natal/RN, CEP: 59.020-090, o que

faz com fundamento no artigos 5o, inciso LXIX, 6o, 196, 200, todos da Constituição

Federal, nas Leis de no 8.080/90 e no 8.142/90, pelos fatos e fundamentos a seguir

expostos:

Num. 20575896 - Pág. 1Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: CLAUDIA CARVALHO QUEIROZhttps://pje.tjrn.jus.br:443/pje1grau/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=18021612061896100000019753671Número do documento: 18021612061896100000019753671

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I. DOS FATOS

O Núcleo Especializado de Defesa da Saúde da Defensoria Pública do

Estado do Rio Grande do Norte (NUDESA) tem sido acionado por inúmeras pessoas

financeiramente hipossuficientes, usuárias do Sistema Único de Saúde e que

aguardavam, há mais de 06 (seis) meses e, em alguns casos, há mais de 01 (um) ano,

uma autorização da Secretaria Municipal de Saúde de Natal para realização dos

procedimentos diagnósticos de COLONOSCOPIA E ENDOSCOPIA DIGESTIVA, conforme se

infere dos documentos colacionados relativos às demandas individuais propostas.

O usuário HOMERO SILVA (idoso), por exemplo, se encontrava há 01

(um) ano e 04 (quatro) meses inscrito na lista de regulação e aguardando uma

autorização para realização de uma endoscopia digestiva, tendo o laudo médico

assinalado que os sintomas indicavam a existência de uma gastrite, embora tais

pudessem mascarar uma patologia neoplásica. Conforme consta na ficha do Sisreg, a

solicitação foi reinserida no Sistema em 08 de abril de 2016. Ainda assim, em 23 de maio

de 2017, o e-mail encaminhado ao Setor de Regulação atestava a ausência de marcação

no único prestador do Município do Natal – o Hospital Universitário Onofre Lopes.

Em igual norte, a usuária MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DE LIMA se

encontrava acometida de “polipos colônicos com displasia de alto grau” e necessitava

realizar, com urgência, a realização do exame COLONOSCOPIA, para fins de manter o

controle rigoroso da doença em face do risco de novas lesões. Todavia, teve que

judicializar a demanda (PJEC 0820514-82.2016.8.20.5001 – 3º. Juizado da Fazenda

Pública de Natal).

A usuária MARIA SOUZA DOS SANTOS, 75 anos de idade, que

apresentava fístula colo-vaginal, teve sua solicitação para realização do exame de

colonoscopia cadastrada no SISREG em 21 de junho de 2017, através da UBS Nova

Descoberta, o qual só foi realizado em 20 de novembro de 2017, em face da existência

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de decisão judicial prolatada nos autos do processo de nº PJEC 0848074-

62.2017.8.20.5001, que tramitou perante o 6º Juizado da Fazenda Pública de Natal.

A deficiente oferta desses procedimentos pelo SUS no Município de

Natal tem gerado crescente judicialização em busca de decisões judiciais que assegurem

a realização do procedimento na rede suplementar de saúde, de forma que, ante a

omissão relevante do Poder Público em habilitar outros prestadores para atendimento

da demanda da fila de regulação, o erário municipal tem despendido cerca de R$ 850,00

pelos exames de colonoscopia e R$ 450,00 pelos exames de endoscopia (orçamentos

anexos às demandas individuais), quando realizados mediante bloqueio de verbas

públicas.

Some-se a isso que os procedimentos supracitados estão

contemplados no rol dos Protocolos Clínicos e de Regulação do Ministério da Saúde, de

forma que existe repasse federal para efetivação desta política pública de saúde,

conforme se infere de consultas realizadas no Sistema de Gerenciamento da Tabela de

Procedimentos, Medicamentos e OPMS do SUS. Cite-se:

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Ainda de acordo com o Protocolo Clínico e de Regulação do Acesso no

Estado do Rio Grande do Norte, elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde Pública em

parceria com a Secretaria de Saúde de Natal, o exame de colonoscopia possui prioridade

de regulação em todos os casos de neoplasias e polipose intestinal (cópia em anexo), de

forma que nada justifica a demora de um ano ou mais para realização de exame

diagnóstico.

Segundo a doutrina médica, para diagnóstico de doenças, o exame da

colonoscopia é muito indicado para observar as condições do cólon e do íleo delgado, se

há ou não presença de alguma lesão, tumor, ou câncer. De acordo com a Portaria do

Ministério da Saúde de nº. 601/2012, “O diagnóstico de câncer de cólon é estabelecido

pelo exame histopatológico de espécime tumoral obtido através da colonoscopia ou do

exame de peça cirúrgica. A colonoscopia é o método preferencial de diagnóstico por

permitir o exame de todo o intestino grosso e a remoção ou biópsia de pólipos que

possam estar localizados fora da área de ressecção da lesão principal, oferecendo

vantagem sobre a colonografia por tomografia[4]. O diagnóstico da doença por exame

radiológico contrastado do cólon (enema opaco) deve ser reservado para quando não

houver acesso à colonoscopia ou quando existir contraindicação médica para esse

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exame. A investigação de possíveis metástases intra-abdominais e pélvicas deve ser feita

alternativamente por meio de exame ultrassonográfico, tomografia computadorizada ou

ressonância magnética, a critério médico.”

Nesse contexto, como forma de averiguar os motivos que ensejam a

demora na marcação dos exames de colonoscopia e endoscopia digestiva na rede

pública de Natal, foram enviados ofícios requisitórios à Secretaria Municipal de Saúde.

Em 14 de outubro de 2016, através do ofício de nº 6136/2016-GS/SMS Natal, a

Secretária Adjunta de Atenção Integral à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde

Pública, informou que:

“*...+ atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) Municipal dispõe de um prestador para realização do procedimento médico em epígrafe, que é Hospital Universitário Onofre Lopes. Assim, a atual demanda reprimida do exame de Colonoscopia é de 2.554 pacientes. Em tempo, salientamos que tramita nesta Secretaria de Saúde o Processo Administrativo nº 023825/2016-80, que trata da Chamada Pública para procedimentos ambulatoriais, que visa novas contratualizações e maior oferta de exames, na qual esta contemplado o exame Colonoscopia. Atualmente o processo se encontra sob análise da Assessoria Jurídica da pasta.”

Malgrado a informação de que a Secretaria Municipal de Saúde estava

providenciando novas contratualizações com a rede suplementar de saúde para

aumento da oferta de exames, tal não se deu quanto aos exames de colonoscopia e de

endoscopia digestiva, uma vez que o problema persistiu durante o ano de 2017, tendo a

demanda aumentado consideravelmente.

Importante salientar, conforme consta no Ofício nº 3785/2017 –

GS/SMS, de 07 de julho de 2017, a fila de espera da central de regulação de

procedimentos para colonoscopia era de 3300 pacientes, e para endoscopia de 4300

pacientes.

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Já no ofício de nº 4241/2017 – GS/SMS, de 03 de agosto de 2017, foi

informado, quanto ao exame de endoscopia digestiva, que que “atualmente existe uma

demanda reprimida de 4.813 pacientes em fila de espera, cadastrados no Sistema de

Regulação e aguardando autorização”, o que demonstra um aumento de 513 pacientes

em menos de 30 dias.

Em 16 de agosto de 2017, a Secretaria Municipal de Natal, através do

ofício de nº 4663/2017 – GS/SMS, informou que:

“Preocupados com o volume de demandas encaminhadas, a Secretaria Municipal de Saúde, através do seu Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistemas – DRAC, vem prestando o papel de orientador da funcionalidade do sistema, sempre pautado em critérios de priorização da atenção a assistenciais por meio de protocolos de classificação de riscos, história clínica, idade e complexidade das patologias com risco de vida. [...] Ainda é imperioso ressaltar que esta Secretaria Municipal de Saúde de Natal, enquanto gestora dos contratos referente à prestação de serviços aos usuários do sistema municipal de saúde, vem empreendendo todos os esforços e adotando as medidas cabíveis junto aos prestadores, no sentido de equilibrar o fornecimento e acesso da população a este amplo conjunto de procedimentos. Por fim, informamos que a oferta mensal é: Endoscopia – 99 adultos e 04 infantil, Colonoscopia – 75. O prestador: (desde que não haja impedimento nas escalas) HUOL > Colonoscopia e Endoscopia. [...] A demanda de Colonoscopia – 3.523 Endoscopia adulto – 5.165 e 21 infantil.” (Grifos Nossos)

Na demanda individual da usuária Maria de Fátima Silva, a Central de

Regulação da SMS Natal informou em 06 de fevereiro de 2018 que a fila de espera é de

6.501 usuários (e-mail anexo) e que “estão sendo autorizados os que foram inseridos no

sistema em março de 2016 *...+”.

Já em 09 de fevereiro de 2018, a Central de Regulação asseverou que

“A Endoscopia, temos uma fila de espera de 6.620 pessoas, estão sendo autorizados os

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que foram inseridos no sistema em março de 2016, a EDA do citado paciente acima foi

inserido no sistema em 29/01/18” (e-mail em anexo). Ou seja, em 03 dias, foram

cadastrados 119 novos usuários do SUS, o que denota que a demanda é alta e cresce

progressivamente, o que demonstra que um só prestador para atendimento de todos os

usuários posterga por tempo desarrazoado a realização de exame diagnóstico essencial.

Nesse contexto, com uma demanda de 6.620 solicitações de

endoscopia digestiva adulto e com uma oferta mensal de 99 exames, verifica-se que a

demanda do último usuário cadastrado só seria atendida em sua integralidade após o

transcurso de quase 67 meses, de forma que o paciente de número 6.620, se não

entrasse em situação de prioridade absoluta, passaria aproximadamente 5 anos e 6

meses para ser atendido. Em igual norte, o último da lista de colonoscopia – 3.523 –

passaria 3 anos e 11 meses para ter sua solicitação autorizada, o que demonstra

claramente que o número de exames ofertados mensalmente se afigura notoriamente

insuficiente para atendimento da demanda de exames diagnósticos e de retirada de

pólipos no aparelho digestivo.

Sucede que, como se não bastasse a demora no andamento da lista de

regulação dos procedimentos de colonoscopia e endoscopia digestiva, o Município do

Natal, em 22 de novembro de 2017, publicou no Diário Oficial do Município uma Nota

Técnica prevendo a exclusão de todos os usuários cadastrados na lista de colonoscopia,

para que passassem por novo processo de cadastro e regulação, sob a justificativa de

que seria necessária uma reanálise da situação clínica do paciente através do programa

Telessaúde, o que, data máxima vênia, poderia ser realizado sem necessidade de

imputar ao usuário o ônus de ter que comparecer ao Posto ou Unidade de Saúde e

passar por nova via crucis para conseguir ter o procedimento indicado por médicos

especialistas e reinserido na lista de regulação, sobretudo porque o número de

profissionais que atende na rede municipal de saúde é pequeno e existe fila de

regulação até para marcação de consultas médicas ambulatoriais. A referida nota

técnica dispôs que:

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“SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE NOTA TÉCNICA A Secretária Municipal de Saúde do Natal, resolve tornar público a: NOTA TÉCNICA Nº 03/2017 Considerando que a endoscopia digestiva baixa ou colonoscopia é um procedimento diagnóstico e de tratamento evasivo, de alto custo e com fornecedores restritos em Natal; Considerando que as solicitações em fila de espera por esse procedimento no SISREG do município, não apresentam dados clínicos suficientes para a sua regulação de forma criteriosa e hoje somam cerca de 4.000 solicitações; Considerando a necessidade de estruturar as ações de regulação, controle e avaliação no âmbito do SUS, visando ao aprimoramento e à integração dos processos de trabalho, assim como definido na Portaria nº 1.559/GM, de 1º de agosto de 2008; Considerando o Programa Telessaúde Brasil Redes estratégia para a qualificação do acesso e da assistência prestada pela atenção básica no SUS e o Telessaúde-RN como núcleo estruturante desse programa no estado do Rio Grande do Norte; Considerando que foi ofertada, a todos os profissionais médicos que atuam na Atenção Primária e administrativos da regulação das Unidades Básicas, oficinas de capacitação quanto ao uso da Plataforma Telessaúde; O Departamento de Atenção Básica - DAB e o Departamento de Regulação e Auditoria - DRAC, definiu que: Todas as solicitações de colonoscopias do município de Natal sejam reguladas apenas mediante comprovação da realização de teleconsultoria e autorização do Telessaúde-RN sobre o caso a ser avaliado; Todos os profissionais médicos da rede de atenção básica de Natal devem estar devidamente cadastrados na plataforma do Telessaúde-RN (http:// telessaude.ufrn.br/); O profissional médico das unidades de saúde da rede de Atenção Primária a Saúde que avaliar a necessidade desse procedimento para o(a) paciente ou receber solicitações de outros serviços (públicos ou privados) deve acionar a plataforma do Telessaúde-RN, como mecanismo de coordenação do cuidado, e enviar o relato do caso clínico a ser avaliado com os seguintes dados, além dos dados pessoais do paciente: sinais/sintomas e história de evolução, medicações em uso, comorbidades, tratamentos já instituídos para o caso. Também deve ser garantido retorno agendado para o(a) paciente para consulta médica na unidade de saúde para discutir o desfecho da teleconsultoria com o mesmo, e proceder às medidas necessárias para o caso conforme orientações do Telessaúde-RN; A equipe do Telessaúde-RN responderá ao profissional em até 72 horas, confirmando a aprovação da solicitação da colonoscopia ou negando a solicitação da mesma no momento, com orientações pertinentes ao processo de educação permanente do profissional para condução do caso; A Central de Regulação também terá acesso a plataforma do Telessaúde-RN, visualizando todas as solicitações autorizadas, e realizará o agendamento desses procedimentos, gerando guias de autorização que poderão ser visualizadas pelo administrativo das

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unidades de saúde; O profissional médico, diante da autorização para solicitação do procedimento pelo Telessaúde-RN, deve providenciar a guia de referência do paciente, com os dados sobre o quadro clínico e número de identificação da teleconsultoria (ID), e entregá-la ao serviço de regulação da sua unidade de saúde, para que seja anexado à guia de autorização do procedimento, impressa pelo profissional administrativo tão logo a autorização seja visualizada no SISREG; É recomendado ao profissional administrativo responsável pela regulação nas unidades de saúde que monitore as autorizações de colonoscopias todos os dias via SISREG, evitando assim falhas de comunicação e absenteísmo em relação a esse procedimento. A partir da data de publicação dessa nota, todas as solicitações de colonoscopias com mais de 6 (seis) meses de espera no SISREG serão negadas, sob a justificativa de que é necessária a devida reavaliação do quadro clínico desses pacientes nas suas unidades de saúde de referência da rede de Atenção Primária a Saúde do município de Natal/RN, e reinserção das solicitações via plataforma do Telessaúde, conforme o fluxo orientado acima e a constatação de permanência da necessidade sobre o procedimento para a condução do caso. (grifo para destaque).”

Trata-se, em verdade, de uma forma de postergar a resolução do

problema, que é exatamente a ausência de prestadores contratados em número

suficiente para atender a demanda do SUS no Município do Natal e Municípios com

pactuação. Com a referida conduta, foram negadas, por exemplo, 3.300 solicitações

(que estavam cadastradas há mais de seis meses), reduzindo a lista de regulação dos

procedimentos de colonoscopia em mais de 1/3 e reiniciando o cadastro dos usuários,

que terão que comparecer às Unidades de Saúde, solicitar nova consulta médica para

que o médico da unidade solicite a avaliação do programa tele saúde e somente após

essa avaliação, o paciente solicitará nova consulta de retorno com o médico da unidade

para que este preencha a guia de autorização do procedimento que será entregue no

setor administrativo da unidade de saúde para que esta, quando conseguir vaga no

SISREG, faça a inclusão do usuário na lista de regulação, de forma que a própria nota

denota que o cadastro nunca se dá no mesmo dia da consulta de retorno, vez que

assinala que o profissional da unidade de saúde deverá ficar atento à disponibilização de

vagas no SISREG.

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Objetivando esclarecer a situação e coibir a conduta da Secretária

Municipal de Saúde, foi encaminhado o ofício de nº 354/2017, o qual só foi respondido,

através do ofício de nº 66/2018-GS/SMS, em 08 de janeiro de 2018. No referido

documento, a Secretária Adjunta de Atenção Integral à Saúde respondeu que:

01) Quantos usuários se encontram cadastrados na lista de regulação para endoscopia digestiva? E para colonoscopia? Endoscopia digestiva alta? (Central de regulação pode responder de forma mais adequada). Antes de se instituído o novo fluxo de regulação das colonoscopias, havia aproximadamente 4000 solicitações de colonoscopia inseridas no SISREG. Em virtude da necessidade de reavaliação dessas solicitações e implantação de no novo. Atualmente, temos 1094 solicitações pendentes. As solicitações de endoscopia digestiva alta não foram afetadas pelo novo fluxo de solicitações pelo Telessaúde, correspondendo a cerca de 6000 solicitações pendentes até o momento. 02) Todas as unidades de saúde possuem acesso ao sistema de teleconsultoria do Telessaúde-RN? Todas as unidades possuem computador e internet instalados, logo todas podem ter acesso a plataforma do Telessaúde-RN desde que solicitem acesso a mesma, assim como acontece em todo território nacional. [...] 03) A internet das unidades de saúde funciona de maneira regular e ininterrupta? Todas as unidades de saúde tem acesso a internet pelo contrato da prefeitura com a operadora OI, com exceção da USF Aparecida. Mais detalhes quanto a tecnologia ser apropriada ou não, velocidade, e estabilidade de rede a USINFO pode dar um parecer técnico mais completo. 04) Qual o prazo estabelecido entre a primeira consulta e o retorno para discussão do desfecho da tele-consultoria? É estabelecido um intervalo de no mínimo 1 semana entre a primeira consulta com o médico generalista da equipe do paciente e o seu retorno para a resposta da tele-consultoria, já sendo preferencialmente agendada ao final da primeira consulta pela própria equipe. 05) O cadastro, para fins de inclusão no SISREG, é realizado no mesmo dia da consulta de retorno do paciente? A inclusão da solicitação de colonoscopia no SISREG, pelo novo fluxo, se dá através dos próprios profissionais reguladores da Central de Regulação, tão logo eles visualizem a autorização da telerregulação na plataforma do Telessaúde, a qual eles também tem acesso. Não há limite diário de inclusão de novas solicitações no SISREG. 06) A negativa das solicitações de colonoscopia com mais de 6 meses de inclusão no SISREG não implicam em quebra da ordem da fila de regulação?

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Esse procedimento é um recurso importante para que esses pacientes possam ser reavaliados pelas próprias equipes de atenção básica nesse momento, uma vez que a maioria das solicitações não tem informações suficientes para que o profissional regulador exerça o agendamento daquelas solicitações necessárias e mais urgentes. Infelizmente, hoje temos filas desqualificadas para o efetivo trabalho dos profissionais reguladores, e a ordem da fila não é melhor critério para avaliar a real necessidade da realização da colonoscopia. As unidades de saúde estão cientes das listas de pacientes que tiveram suas solicitações negadas, e também do seu papel de reavaliar a situação de cada paciente. 07) Quantos usuários existem com solicitação de colonoscopia e endoscopia no SISREG? Existiam cerca de 3000 usuários com colonoscopias solicitadas no SISREG há mais de 6 meses. As solicitações de endoscopia digestiva alta não sofreram alterações com o novo fluxo de telerregulação até o momento, sendo cerca de 3800 solicitações com mais de 6 meses. Grifo para destaque. 08) Quantos idosos com mais de 80 anos de idade possuem solicitação para colonoscopia e endoscopia no SISREG? Atualmente temos 198 solicitações pendentes de endoscopia digestiva e 40 de colonoscopias no SISREG correspondentes a usuários com mais de 80 anos. Essas solicitações são idealmente agendada conforme critério clínico, podendo a idade ser um dos fatores para a regulação, mas não sendo mandatário que os pacientes com mais de 80 anos tenham algum tipo de prioridade especial somente pela idade. 09) O município de Natal possui procedimento licitatório em curso para contratação de outro prestador para realização de tais exames, considerando que o HUOL não consegue atender toda a demanda da lista de regulação com a celeridade necessária? O problema da fila para solicitação desses exames pode não ser apenas demanda reprimida. O Telessaúde tem como propósito qualificar as solicitações desses exames para os casos realmente necessários. Dessa forma será possível dimensionar se há de fato demanda reprimida (complementação da resposta ver com DRAC). 10) A telerregulação de colonoscopias nesse momento contempla apenas os procedimentos solicitados pela rede de atenção primária e secundária a saúde de Natal, portanto os procedimentos solicitados em serviços de urgência e emergência não fazem parte desse fluxo.”

Conforme se infere das declarações prestadas pela Secretaria

Municipal de Saúde, quando a lista de solicitações de colonoscopias inseridas no SISREG

foram zeradas pela Nota Técnica de nº 003/2017, existiam 4.000 (quatro mil)

solicitações, das quais 3.000 (três) mil estavam cadastradas há mais de 06 (seis) meses,

o que demonstra que a cada seis meses cerca de 1.000 novos usuários são cadastrados.

Tanto o é que da data da adoção do novo procedimento – 22 de novembro de 2017 - até

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a data da resposta do ofício – 04 de janeiro de 2018 – transcorreram pouco mais de 02

(dois) meses, mas já foram recadastrados 1.094 (um mil e noventa e quatro) usuários,

sendo uma demanda. Além disso, os ofícios de nº 3785/2017 e de nº 4663/2017 –

GS/SMS demonstram que no curto período entre 07 de julho e 16 de agosto de 2017, o

número de solicitações aumentou de 3.300 para 3.523, o que denota que a demanda foi

acrescida de 223 novas solicitações em um intervalo de apenas 40 (quarenta) dias,

existindo, efetivamente, uma demanda crescente e bastante reprimida.

Além disso, o novo cadastro fez com que usuários cadastrados há

menos de 06 meses passassem na frente daqueles que aguardam a autorização do

procedimento há mais de 01 ano, uma vez que, conforme a nota técnica publicada pela

SMS-Natal apenas os procedimentos cadastrados há mais de 06 (seis) meses foram

negados para fins de reavaliação. Nesse contexto, não se pode inferir que os critérios

técnicos da lista de regulação estão sendo regularmente observados.

Zerar ou reduzir consideravelmente a lista de regulação de

determinado procedimento médico sob a justificativa de necessidade de reavaliação dos

critérios de solicitação médica apenas irá postergar ainda mais um problema que já

remonta há mais de um ano, qual seja, a insuficiência do número de prestadores

contratados pela Secretaria Municipal de Saúde para realização dos procedimentos

diagnósticos que se afiguram essenciais para detecção de doenças graves, inclusive o

câncer colorretal, bem como para retirada de nódulos ou tumores em todo o sistema

digestivo.

Além disso, denota-se claramente que a fila de regulação cresce em

proporção bem maior do que a demanda atendida. Conforme resposta, por e-mail, do

Setor de Regulação da SMS/Natal, em 22 de janeiro de 2018, já existiam 1.141 pacientes

cadastrados na lista para o exame de colonoscopia, remontando o cadastro inicial a 02

de maio de 2017, e, consoante informação prestada em 09 de fevereiro de 2018, a fila

para endoscopia digestiva era de 6.620 pessoas, com cadastro remontando a 29 de

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março de 2016. Ou seja, para o exame de endoscopia existem pessoas aguardando há

01 ano e 11 meses. E para o de colonoscopia existem pacientes aguardando há, no

mínimo, 08 meses, vez que a lista de regulação foi reiniciada em novembro de 2017, sob

a justificativa de necessidade de reavaliação dos usuários que estavam cadastrados há

mais de 06 meses.

É degradante verificar que pessoas financeiramente hipossuficiente e

vulneráveis, que precisam de atendimento pelos serviços da saúde dispensados pelo

SUS, têm que experimentar tamanho calvário na vida para diagnóstico ou até mesmo

prevenção e cura de doenças do trato digestivo e intestinal, passando por situação de

total abandono.

Assim sendo, considerando a necessidade de aumentar a oferta de

procedimentos para atendimento da lista de regulação dos exames diagnósticos de

endoscopia e colonoscopia, bem como coibir o ato ilegal de exclusão de usuários da lista

(ocorrido em novembro de 2017) sob a justificativa de necessidade de reavaliação,

imperiosa a intervenção judicial para garantia do direito fundamental à saúde de

cidadãos hipossuficientes e para efetivação das políticas públicas de saúde,

resguardando-se a integralidade do atendimento no Sistema Único de Saúde.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

3.1. DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO PARA PROPOSITURA DE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DOS USUÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.

A Defensoria Pública é uma instituição essencial à função jurisdicional

do Estado, incumbindo-lhe prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e

gratuita, aos necessitados na forma da lei, com o objetivo precípuo de construir uma

sociedade livre, justa e solidária, e, especialmente, o de erradicar a pobreza e a

marginalidade, reduzindo as desigualdades sociais e regionais (artigo 3º, incisos I e III, da

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Constituição Federal), nos termos do que preconizam os artigos 134 da Constituição

Federal e o artigo 1º da Lei Complementar de nº 80/94.

Estabelece o artigo 134 da Constituição Federal, com redação

conferida pela Emenda Constitucional de nº 80/2014, que:

“Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.”

Outrossim, consigne-se que a Lei nº 11.448, de 15/01/2007, alterou o

artigo 5º da Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública, conferindo,

expressamente, à Defensoria Pública legitimidade concorrente e disjuntiva para a

propositura das ações coletivas, in verbis:

“Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). (...) II - a Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007) (...).”

Com essa alteração legislativa, a Defensoria Pública se afirmou como

instituição dotada de legitimidade ativa autônoma para a condução do processo

coletivo, sobretudo no que diz respeito à defesa dos hipossuficientes de recursos

financeiros ou dos grupos sociais vulneráveis, a exemplo dos usuários do Sistema Único

de Saúde.

Em igual norte, o artigo 185 do Código de Processo Civil dispõe sobre a

legitimidade coletiva da Defensoria Pública para defesa dos direitos dos hipossuficientes

e grupos sociais vulneráveis.

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Inegável, pois, que a instituição representa adequadamente os

interesses dos grupos sociais vulneráveis no âmbito do processo coletivo, haja vista suas

próprias funções institucionais.

Assim sendo, nada obsta que a Defensoria Pública, órgão público

essencial ao exercício da função jurisdicional, proponha ações coletivas para defesa de

interesses transindividuais, sobretudo por se tratar de instituição imbuída da função

estatal de prestar assistência jurídica integral e gratuita a todos àqueles, individual ou

coletivamente considerados, disponham de parcos recursos financeiros.

O dispositivo legal que conferiu legitimidade à Defensoria Pública para

tutela coletiva foi objeto de ação direta de inconstitucionalidade, cujo pedido foi julgado

improcedente, conforme acórdão prolatado nos autos da ADI 3943, cuja ementa

assinala que:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC. II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007). TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DEFENSORIA PÚBLICA: INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA. NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS GARANTIDORES DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS. XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE NORMA DE EXCLUSIVIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.” (STF. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.943 DISTRITO FEDERAL, julgada em 07.05.2015).

A expressão "necessitados" (art. 134, caput, da Constituição), que

qualifica, orienta e enobrece a atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no

campo da Ação Civil Pública, em sentido amplo, de modo a incluir, ao lado dos

estritamente carentes de recursos financeiros – os miseráveis e pobres –, os

hipervulneráveis (isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os

idosos, as gerações futuras), enfim todos aqueles que, como indivíduo ou classe, por

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conta de sua real debilidade perante abusos ou arbítrio dos detentores de poder

econômico ou político, "necessitem" da mão benevolente e solidarista do Estado para

sua proteção, mesmo que contra o próprio Estado. Vê-se, então, que a partir da ideia

tradicional da instituição forma-se, no Welfare State, um novo e mais abrangente círculo

de sujeitos salvaguardados processualmente, isto é, adota-se uma compreensão de

minus habentes impregnada de significado social, organizacional e de dignificação da

pessoa humana.

Negar a legitimidade da Defensoria Pública nas ações coletivas implica

em violação aos preceitos da Constituição Federal, com um ataque pluriofensivo ao

princípio do acesso à justiça, seja por não conferir a efetiva e integral a assistência

judiciária aos necessitados, seja pela impossibilidade dos necessitados utilizarem-se, por

meio da Defensoria Pública, do instrumento tão importante da tutela coletiva para a

defesa de seus direitos.

Destarte, irrefragável o reconhecimento de legitimação ativa

autônoma para a condução do processo coletivo, concorrente e disjuntiva, à Defensoria

Pública, especialmente como forma de cumprimento do comando constitucional de

garantir aos hipossuficientes o pleno acesso à Justiça.

3.2 DO DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE. PRINCÍPIO DA ATENÇÃO INTEGRAL DO

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. DEMORA INJUSTIFICADA NO PROCESSAMENTO DA LISTA

DE REGULAÇÃO DE EXAMES DIAGNÓSTICOS, CURATIVOS E PREVENTIVOS DE

DOENÇAS GRAVES. INEFETIVIDADE DA POLÍTICA PÚBLICA. NECESSIDADE DE

INTERVENÇÃO JUDICIAL:

Os direitos fundamentais, como prerrogativas e garantias inerentes a

todo e qualquer ser humano, têm por finalidade básica o respeito à dignidade do

homem, mediante a proteção contra o arbítrio do poder estatal, bem como com o

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estabelecimento de condições mínimas de vida e bem-estar social.

Esses direitos, em seu aspecto individual ou coletivo, devem ser

reconhecidos e respeitados por toda e qualquer autoridade, seja ela pública ou privada.

Aliás, tão grande é a importância dos mesmos que foram erigidos à categoria de direitos

constitucionais de eficácia plena e imediata (art. 5º, CF/88).

A saúde, concebida como o “estado completo de bem-estar físico,

mental e social e não simplesmente como a ausência de doença ou enfermidade”

(Organização Mundial de Saúde) é, pois, direito humano fundamental, oponível ao

Estado, nos termos do artigo 196 da Constituição Federal, que viabiliza a garantia da

própria vida, pressuposto da dignidade da pessoa humana e, como tal, deve ser sempre

protegido e respeitado, sendo inadmissível qualquer conduta comissiva ou omissiva,

especialmente da Administração Pública, tendente a ameaçá-lo ou frustrá-lo.

É o que estabelece expressamente o artigo 196 da Constituição

Federal:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Igualmente, o artigo 2º da Lei nº 8.080/90, a qual regula as ações e

serviços de saúde, prescreve que:

“Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.”

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Nessa ordem de ideias, a Constituição Federal consagra ser o direito

social à saúde (art. 6º.) como um direito fundamental de todos e um dever do Estado,

devendo o mesmo ser garantido por intermédio de políticas públicas que visem tanto a

redução do risco de doenças e outros agravos quanto o acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Daí incumbir ao Poder

Público dispor, nos termos da lei, sobre a regulamentação, fiscalização e controle dos

serviços públicos de saúde, devendo, sua execução, ser feita diretamente ou por

intermédio de terceiros.

Na realidade, a Constituição Federal prevê ações programáticas para

assegurar à coletividade o direito fundamental à saúde, uma vez que a vida saudável é

um direito público subjetivo indisponível de todo e qualquer ser humano, cujo

fundamento primeiro repousa no próprio direito natural.

Com efeito, o direito à vida exige prestações positivas, e, portanto,

não se submete à reserva do financeiramente possível, ou seja, independe das

disponibilidades orçamentárias do órgão público responsável pela sua prestação, de

forma que tal preceito não justifica a negativa de oferta de procedimentos

diagnósticos a pessoas hipossuficientes e usuárias do sistema único de saúde.

No magistério de OTÁVIO HENRIQUE MARTINS PORT1 “a cláusula da ‘reserva

do possível’, comumente alegada pelos entes públicos para negar prestações atinentes

ao direito à saúde – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível –

não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se, dolosamente, do

cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta

governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de

direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade.”

1 PORT MARTINS, Otávio Henrique. Os Direitos Sociais e Econômicos e a Discricionariedade da

Administração Pública, p. 105/110, item n. 6, e p. 209/211, itens ns. 17-21.

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Não se pode negar que, embora resida, primariamente, nos Poderes

Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-

se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, determinar, ainda que em bases

excepcionais, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria

Constituição, sejam estas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja

omissão - por importar em descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre

eles incidem em caráter mandatório - mostra-se apta a comprometer a eficácia e a

integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional.

In casu, como ressaltado alhures, os exames ENDOSCOPIA E

COLONOSCOPIA integram políticas públicas regularmente estabelecidas pelo

Ministério da Saúde, mas que carecem de efetividade por insuficiência de prestação

pelo Município de Natal, de forma que a intervenção jurisdicional se afigura

imprescindível para sanar tal omissão do Poder Público, uma vez que, em sendo o

direito à saúde um direito social fundamental, tem a característica positiva de impor

ao Estado o dever de agir, de prestar o serviço adequadamente e com eficiência.

Tudo o que estiver aquém do mínimo será considerado injustificável e

consequentemente passível de controle judicial, como é o caso dos autos em que os

usuários do Sistema Único de Saúde têm sido obrigados a aguardar período superior a

01 (um) ano para realização de exames diagnósticos de suma importância para detecção

de doenças graves e/ou crônicas.

Outro não foi o entendimento adotado pelo SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL na Suspensão de Tutela Antecipada de nº 244, conforme se extrai do seguinte

trecho:

“O primeiro dado a ser considerado é a existência, ou não, de política estatal que abranja a prestação de saúde pleiteada pela parte. Ao deferir uma prestação de saúde incluída entre as políticas sociais e econômicas formuladas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Judiciário não está criando política pública, mas apenas

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determinando o seu cumprimento. Nesses casos, a existência de um direito público subjetivo a determinada política pública de saúde parece ser evidente.” (STF. STA 244, relator Ministro Gilmar Mendes, Dje: 24/09/2009.”

Em igual norte, o Superior Tribunal de Justiça já assinalou que a

intervenção do Judiciário para concretização de políticas públicas não representa

intervenção indevida na Administração Pública. Cite-se:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS – POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS – DIREITO À SAÚDE – FORNECIMENTO DE EQUIPAMENTOS A HOSPITAL UNIVERSITÁRIO – MANIFESTA NECESSIDADE – OBRIGAÇÃO DO ESTADO – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES – NÃO-OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL AO MÍNIMO EXISTENCIAL.1. Não comporta conhecimento a discussão a respeito da legitimidade do Ministério Público para figurar no pólo ativo da presente ação civil pública, em vista de que o Tribunal de origem decidiu a questão unicamente sob o prisma constitucional. 2. Não há como conhecer de recurso especial fundado em dissídio jurisprudencial ante a não-realização do devido cotejo analítico. 3. A partir da consolidação constitucional dos direitos sociais, a função estatal foi profundamente modificada, deixando de ser eminentemente legisladora em pró das liberdades públicas, para se tornar mais ativa com a missão de transformar a realidade social. Em decorrência, não só a administração pública recebeu a incumbência de criar e implementar políticas públicas necessárias à satisfação dos fins constitucionalmente delineados, como também, o Poder Judiciário teve sua margem de atuação ampliada, como forma de fiscalizar e velar pelo fiel cumprimento dos objetivos constitucionais. 4. Seria uma distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente fundamentais. Com efeito, a correta interpretação do referido princípio, em matéria de políticas públicas, deve ser a de utilizá-lo apenas para limitar a atuação do judiciário quando a administração pública atua dentro dos limites concedidos pela lei. Em casos excepcionais, quando a administração extrapola os limites da competência que lhe fora atribuída e age sem razão,

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ou fugindo da finalidade a qual estava vinculada, autorizado se encontra o Poder Judiciário a corrigir tal distorção restaurando a ordem jurídica violada.5. O indivíduo não pode exigir do estado prestações supérfluas, pois isto escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a sociedade arque com esse ônus. Eis a correta compreensão do princípio da reserva do possível, tal como foi formulado pela jurisprudência germânica. Por outro lado, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente não pode ser encarado como sem motivos, pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos principais do Estado Democrático de Direito. Por este motivo, o princípio da reserva do possível não pode ser oposto ao princípio do mínimo existencial. 6. Assegurar um mínimo de dignidade humana por meio de serviços públicos essenciais, dentre os quais a educação e a saúde, é escopo da República Federativa do Brasil que não pode ser condicionado à conveniência política do administrador público. A omissão injustificada da administração em efetivar as políticas públicas constitucionalmente definidas e essenciais para a promoção da dignidade humana não deve ser assistida passivamente pelo Poder Judiciário.Recurso especial parcialmente conhecido e improvido. (STJ. RECURSO ESPECIAL Nº 1.041.197 - MS (2008/0059830-7), Ministro Relator Humberto Martins, julgado em 25/08/2009).

Em face disto, pode-se dessumir que o direito à saúde dos cidadãos

não pode esperar por diligências burocráticas, tampouco ser negado por motivos

desarrazoados ou que impliquem em inefetividade de política pública regularmente

instituída e com cofinanciamento do Ministério da Saúde, posto que a vida não tem

preço e as providências médicas, para serem eficazes e curativas, devem ser imediatas,

sob pena de se tornarem inúteis frente o próprio bem de vida que se pretende

resguardar. É hora de se atentar para o objetivo maior do próprio Estado, ou seja,

proporcionar vida gregária, segura e com o mínimo de conforto de forma a atender ao

valor atinente à preservação da dignidade humana.

Portanto, no caso sub examine, inconteste a necessidade de se impor

ao Município de Natal a regularização da lista de usuários cadastrados para exames de

colonoscopia, assim como o aumento da oferta mensal de procedimentos para

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endoscopia e colonoscopia, a fim de assegurar aos pacientes do Sistema Único de Saúde

a atenção integral e com o mínimo de dignidade, uma vez que para eficácia dos

tratamentos médicos, sobretudo no caso de neoplasias, imperioso que o diagnóstico

seja firmado com a maior brevidade possível.

3.2 DEVER DO MUNICÍPIO DE NATAL DE CONTRATAR PRESTADORES EM NÚMERO

SUFICIENTE PARA ATENDIMENTO DA DEMANDA DOS USUÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO

DE SAÚDE. EXISTÊNCIA DE UM ÚNICO PRESTADOR QUE NÃO SE JUSTIFICA EM FACE DO

ELEVADO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES DE EXAMES DIAGNÓSTICOS E PREVENTIVOS DE

COLONOSCOPIA E ENDOSCOPIA DIGESTIVA. PRINCÍPIO DA ATENÇÃO INTEGRAL DO

SUS NÃO EFETIVADO. NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO JUDICIAL:

O artigo 198 da Constituição Federal estabelece como preceito

fundamental do Sistema Único de Saúde a integralidade no atendimento aos usuários.

Cite-se:

“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

[...] II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; [...+”

Em igual norte, preconizam os artigos 6º. e 7º. da Lei de nº 8.080/90

que:

“Art. 6°. Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I – a execução de ações: (.....) d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. (.....) Art. 7º. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde - SUS, são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II

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- integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.”

A integralidade diz respeito a ações e serviços voltadas para a

promoção da saúde, a prevenção de riscos e agravos e, ainda, para a assistência aos

doentes, implicando a sistematização do conjunto de práticas que vem sendo

desenvolvidas para o enfrentamento dos problemas e o atendimento das necessidades

de saúde pública. Um modelo “integral”, portanto, é aquele que dispõe de

estabelecimentos, isto é, unidades de prestação de serviços, pessoal capacitado e

recursos necessários à produção de ações de saúde.

Na lição de ALVARO LUIS DE A. S. CIARLINI, “o atendimento integral

propugnado no Texto Constitucional como diretriz do sistema abarca, prioritariamente,

a adoção de atividades preventivas de proteção da saúde, sem, no entanto, descurar-se

da necessária intervenção curativa, sempre que esta se mostre necessária. Desse modo,

objetiva a realização dos escopos de ‘redução do risco de doenças e outros agravos’ e do

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‘acesso universal igualitário às ações e serviços’, com a devida promoção, proteção e

recuperação da saúde. Nesse sentido, o atendimento integral propugnado nos

respectivos textos normativos refere-se a ´todos os procedimentos terapêuticos

reconhecidos pela ciência e autorizados pelas autoridades sanitárias competente’, que

por certo devem ser ‘disponibilizado para a proteção da saúde da população’,

independentemente do nível de complexidade envolvido, pois abarca dos

procedimentos ambulatoriais mais singelos até ‘os transplantes mais complexos’”.

(CIARLINI, Alvara Luis de A. S. Direito à saúde: paradigmas procedimentais e

substanciais da Constituição. Saraiva: São Paulo, 2013, p. 30/31).

É patente, pois, o dever do Município de disponibilizar os recursos

necessários para que o direito subjetivo dos indivíduos à saúde, tratado extensivamente

pela Constituição Federal, seja concretizado. A prestação do serviço público de saúde

deve se dar sempre da maneira mais eficiente possível, não se justificando escusas como

a ventilada no presente caso, em que exames diagnósticos, preventivos e curativos

essenciais como a colonoscopia e a endoscopia digestiva, embora cofinanciados pelo

Ministério da Saúde, deixem de ser realizados em tempo hábil e razoável por omissão

do Poder Público em habilitar mais de um prestador para atendimento integral da fila de

regulação.

Como dito alhures a própria Secretaria Municipal de Saúde declarou

que a demanda reprimida de pacientes é de 3.523 (três mil quinhentos e vinte e três)

para o exame de Colonoscopia e 6.620 (seis mil, seiscentos e vinte) para o exame de

Endoscopia adulto, tendo como único prestador para realização dos procedimentos

médicos em epígrafe o Hospital Universitário Onofre Lopes, o qual tem por finalidade

muito mais o estudo de casos para formação de profissionais da área médica do que o

atendimento integral da população.

Negligenciar a prestação desses serviços que tem por finalidade a

prevenção e a recuperação de patologias graves, por meio de procedimentos do tipo

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exames de caráter interventivo, além de acometer a saúde dos pacientes dependentes

do sistema supracitado, caracteriza indubitavelmente omissão e certa indiferença para

com a Constituição Cidadã, ofendendo frontalmente a dignidade da pessoa humana, um

dos princípios constitucionais mais importantes.

Resta, pois, evidente a necessidade de aumento da oferta do número

de procedimentos mensais para atendimento satisfatório da população, suprindo a

demanda reprimida, de forma que se cumpra o direito de acesso universal e igualitário

às ações e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde,

constitucionalmente assegurado.

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no RE 248304/RS, de relatoria do Ministro

Celso de Mello, já enfatizou as normas que definem o direito constitucional a saúde tem

aplicação imediata, não se tratando de regras programáticas:

“A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE. O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a Federação brasileira - não pode converter-se em promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao

que determina a própria Lei Fundamental do Estado.” (Grifos acrescidos)

Não pode, pois, o Poder Judiciário ser omisso na prestação da tutela

efetiva ao direito à saúde, razão pela qual imperiosa a sua intervenção para

concretização das políticas públicas regularmente estabelecidas pelo Ministério da

Saúde.

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Reportando-se a situações similares a dos autos, a jurisprudência

pátria assinala que:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DETERMINAÇÃO EM SEDE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - HABILITAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇO PARA EXECUÇÃO DE EXAMES COBERTOS PELO SUS OU CONTRATAÇÃO DE EMERGÊNCIA DE CLÍNICAS PARTICULARES PARA A REALIZALÇÃO DE EXAMES. CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA - DECISÃO AGRAVADA QUE IMPÕE LIMINARMENTE AO AGRAVANTE A ASSISTÊNCIA AO CIDADÃO PARA DIMINUIÇÃO DO TEMPO DE ESPERA NA REALIZAÇÃO DOS EXAMES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES - INOCORRÊNCIA - NÃO PODE SER OPOSTO À EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA DESCABIDA. PRAZO DE CONCLUSÃO QUE DEVE SER FIXO, MAS ELASTECIDO PARA VIABILIZAR O CUMPRIMENTO. MULTA RAZOÁVEL E QUE DEVE SER MANTIDA TAMBÉM CONTRA OS GESTORES, NA FORMA DO ART. 14, V, DO CPC. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE.” (Agravo de Instrumento nº 201100217617 nº único0008466-30.2011.8.25.0000 - 1ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Suzana Maria Carvalho Oliveira - Julgado em 25/09/2012)

Há que se observar ainda que o artigo 37 da Constituição Federal

estabelece os princípios cogentes para a prestação do serviço pelos órgãos públicos

executores, inclusive o princípio da eficiência. E a obrigação de fazer pretendida na

presente ação inclui-se no rol dos serviços públicos típicos e essenciais impostos pela

Carta Magna ao poder público, de forma que deve ser prestado com eficiência.

O princípio da eficiência exige da Administração Pública e de seus

agentes a persecução do bem comum, primando pela adoção dos critérios legais e

morais necessários para a melhor utilização dos recursos públicos, evitando o

desperdício e assegurando proveito social.

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Com efeito, ao determinar a observância dos princípios instituídos no

artigo 37, caput da Constituição na prestação de todo o serviço público, a Carta Magna

fez nascer para todo o cidadão o direito de exigir da Administração Pública o fiel

cumprimento dos referidos postulados, no exercício dessas atividades que lhe são

inerentes.

Portanto, o direito de exigir eficiência dos serviços públicos voltados

para a concretização dos direitos fundamentais sociais configura, por certo, modalidade

de direito coletivo. Não há, pois, razão para negar a realização e o acesso da população

aos exames ENDOSCOPIA E COLONOSCOPIA, vez que necessitam de tais procedimentos

médicos, e a invocação de insuficiência de prestador, ou mesmo elevado número de

demanda, não é motivo bastante para obstaculizar um direito humano fundamental

protegido constitucionalmente, posto que a vida não tem preço e as providências

médicas, para serem eficazes e curativas, devem ser imediatas, sob pena de se tornarem

inúteis frente o próprio bem de vida que se pretende resguardar.

3.3. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

A Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85) prevê, em seu artigo 19, a

aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, de modo que autorizada está a

concessão da tutela provisória prevista no artigo 300 do Estatuto Processual Civil,

seguindo tal tutela de urgência os mesmos pressupostos e fundamentos aplicáveis ao

processo individual, de modo que pode o Magistrado, verificando elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do

processo, antecipar os efeitos da tutela jurisdicional em processo coletivo, como forma

de minorar os efeitos danosos advindos do trâmite processual.

In casu, a verossimilhança das alegações autorais e o risco de dano

irreparável ou de difícil reparação encontram-se consubstanciados nos documentos

colacionados aos autos, vez que resta sobejamente comprovada a necessidade da

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realização dos exames ENDOSCOPIA E COLONOSCOPIA pelos pacientes que aguardam o

procedimento médico, assim como a oferta do serviço na rede pública em número bem

inferior à demanda, de forma que, caso não seja deferida a tutela antecipatória, existe a

possibilidade da medida resultar ineficaz se concedida somente ao final da prestação

jurisdicional, notadamente porque muitos usuários apresentam sintomas de moléstias

graves, cuja ausência de diagnóstico e correto tratamento podem acarretar em doenças

incuráveis, a exemplo do câncer de estômago ou intestino.

Nesse diapasão, insta trazer à colação a lição de TERESA ARRUDA ALVIM

PINTO: "O perigo de que, não sendo provavelmente concedida a medida pleiteada,

ocorram graves danos ao Autor, de molde a que a sentença a final, ainda que lhe

conceda o pedido, terá sua eficácia concreta prejudicada pelo lapso de tempo decorrido

entre a propositura de ação e o seu desfecho. A medida desta "irreparabilidade" é a

perspectiva futura de sentença ter poder e força de satisfazer a pretensão do requerente

"in natura". Não trata aqui, meramente, da invalidação do ato violador de direito, pois

esta, no campo estritamente jurídico, sempre poderá ser realizada. Trata-se, isto sim, da

possível inocuidade da sentença na esfera dos fatos, no mundo, por assim dizer,

material".2 (In. Mandado de Segurança contra Ato Judicial, RT, pág. 20).

Ainda sobre o tema, LUIZ GUILHERME MARIONI assinala que: “l. A

problemática da tutela antecipatória requer seja posto em evidência o seu eixo central:

o tempo é a dimensão fundamental na vida humana, no processo ele desempenha

idêntico papel, pois processo também é vida. O tempo do processo angustia os

litigantes; todos conhecem os males que a pendência da lide pode produzir. Por outro

lado, a demora processual é tanto mais insuportável quanto menos resistente

economicamente é a parte, o que vem a agravar a quase que insuperável desigualdade

substancial no procedimento. O tempo, como se pode sentir, é um dos grandes

adversários do ideal de efetividade do processo. 2. Mas o tempo não pode servir de

2 In. Mandado de Segurança contra Ato Judicial, RT, pág. 20

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empeço à realização do direito. Ora, se o Estado proibiu a autotutela, adquiriu o poder

e o dever de tutelar de forma efetiva todas as situações conflitivas concretas. O cidadão

comum, assim, tem direito à tutela hábil à realização do seu direito. E não somente um

direito abstrato de ação. Em outras palavras, tem o direito à adequada tutela

jurisdicional. 3. O princípio da inafastabilidade não garante apenas uma resposta

jurisdicional, mas a tutela que seja capaz de realizar, efetivamente,o direito afirmado

pelo autor, pois o processo, por constituir a contrapartida que o Estado oferece ao

cidadão diante da proibição da autotutela deve chegar a resultados equivalente aos que

seriam obtidos se espontaneamente observados os preceitos legais. Dessa forma, o

direito à adequada tutela jurisdicional garantido pelo princípio da inafastabilidade é o

direito à tutela adequada à realidade de direito material e à realidade social.”

Noutro passo, cumpre observar que, malgrado o art. 9º do CPC,

consagre o princípio do contraditório prévio à prolação de decisões judiciais, o referido

dispositivo excepciona, claramente, a possibilidade de dispensa da oitiva da parte

contrária na hipótese de tutela provisória de urgência. Cite-se:

“Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art. 701.”

Ressalve-se também que, caso a medida não seja deferida, estará

sendo usurpado o direito constitucional à saúde e à vida dos pacientes que aguardam a

realização desses exames. Ademais, a busca pela entrega da prestação jurisdicional deve

ser prestigiada pelo magistrado, de modo que o cidadão tenha cada vez mais facilitada,

com a contribuição do Poder Judiciário, a sua atuação em sociedade e a garantia de

exercício pleno de seus direitos individuais. Daí preciosa a lição de Chiovenda, segundo o

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Avenida Senador Salgado Filho, 2868b, bairro de Lagoa Nova, Natal-RN, Cep. 59.075-000, telefone: 3232-9758. www.defensoria.rn.def.br

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qual “UM PROCESSO NÃO PODE REPRESENTAR UM MALEFÍCIO PARA QUEM DELE SE

SERVE” (Citação de Arruda Alvin, Revista de Processo nº. 39, Ano 10, pag. 38).

IV - DO PEDIDO:

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:

a) A dispensa do pagamento das custas, emolumentos e outros

encargos, tendo em vista o disposto no artigo 18, da Lei n.° 7.347/85;

b) o deferimento da tutela provisória de urgência, determinando-se ao

Município de Natal que:

b.1 restabeleça integralmente e apresente em juízo, no prazo

máximo de 15 dias, a lista de regulação dos procedimentos de colonoscopia

cadastrados até 22 de novembro de 2017, suspendendo, ante a sua notória

ilegalidade, a aplicabilidade da nota técnica de nº 003/2017 da Secretaria Municipal

de Saúde no que pertine à negativa de autorização, a partir de 22 de novembro de

2017, de todas as solicitações de colonoscopias com mais de 06 (seis) meses de espera

no SISREG, uma vez que a eventual necessidade de reavaliação do quadro clínico dos

pacientes pelo sistema de telessaúde poderá ser realizada com regular observância da

lista de regulação que existia mediante convocação dos usuários pelos dados

cadastrados no sistema;

b.2. apresente em juízo, no prazo máximo de 15 dias, a lista integral

de regulação dos procedimentos de endocospia digestiva e colonoscopia, com

indicação do nome do paciente, número do cartão SUS, data da solicitação médica,

ordem na lista de regulação do usuário e data da inclusão no sistema de regulação;

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b.3 proceda, no prazo máximo de 60 dias, a contratação de outros

prestadores ou a habilitação de mais de um serviço público para realização dos

procedimentos de colonoscopia e endoscopia digestiva pela rede pública de saúde,

sob pena de pagamento de multa diária (em valor a ser arbitrado por este Juízo de

Direito) ou de expedição de ordem de bloqueio de verbas públicas para atendimento

integral da demanda represada na lista de regulação dos referidos procedimentos

(artigo 497 do CPC);

b.4 apresente, no prazo máximo de 60 dias, cronograma para

execução dos procedimentos médicos de colonoscopia e endoscopia digestiva

represados, buscando evitar o agravamento do estado de saúde dos usuários que já

esperam pela realização dos procedimentos há 06 meses ou mais.

c) a citação do ente público, na pessoa do Procurador Geral do

Município, para, querendo, apresentar defesa no prazo legal;

d) determine a publicação de Edital no órgão oficial, sem prejuízo de

publicações na imprensa falada, escrita e em outros órgãos, a fim de que os interessados

possam, em querendo, se habilitar no processo, a teor do que dispõe o artigo 94 do Código

de Defesa do Consumidor;

e) a intimação do representante do Ministério Público Estadual, para,

querendo, atuar como fiscal da ordem jurídica, a teor do que determina o artigo 178 do

Código de Processo Civil;

f) o deferimento do pedido, condenando-se o Município de Natal:

f.1 garantir, de maneira regular e ininterrupta, aos usuários do SUS os

exames ENDOSCOPIA E COLONOSCOPIA, no prazo máximo de 30 (trinta) dias ou outro

a ser determinado por este Juízo de Direito, a contar da requisição médica, e,

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imediatamente, nos casos de urgência/emergência, através da estruturação dos

hospitais da rede pública ou da contratualização de prestadores na rede suplementar

de saúde, tendo em vista os princípios da eficiência do serviço público, da

integralidade do sistema único de saúde e da necessidade de concretização do direito

fundamental à saúde;

f.2 revogar a nota técnica de nº 003/2017, publicada no DOM de

22/11/2017, no que pertine à negativa de autorização de todos os usuários que se

encontravam na lista de regulação para o exame de colonoscopia há mais de 06 meses

a contar da publicação do ato, ante sua flagrante ilegalidade e quebra do princípio da

isonomia e da ordem de cadastro na lista regulatória;

f.3 restabelecer a lista de regulação dos procedimentos de

colonoscopia formalizada até 22 de novembro de 2017 e acrescer todos os novos

usuários cadastrados após referida data;

f.4 A confirmação da tutela provisória de urgência, na forma

requestada no item b;

g) a habilitação, no sistema Pje, da 10ª. Defensoria Cível de Natal para

fins de intimação, contando-se-lhe em dobro todos os prazos processuais (art. 128, I, da

Lei Complementar Federal 80/94 com as alterações da LC 132/2009).

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito

admitidos, máxime pelos documentos colacionados à exordial, sem prejuízo de

quaisquer outros que se fizerem necessários no curso da instrução processual.

Dá-se à causa o valor de R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), que

corresponde ao custo dos procedimentos na rede suplementar, considerando a

demanda represada da lista de regulação.

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Nesses termos. P. Deferimento.

Natal (RN), 06 de fevereiro de 2018.

Cláudia Carvalho Queiroz

Defensora Pública do Estado 10ª. Defensoria Cível de Natal

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