apostila direito empresarial ii

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Apostila Direito Empresarial II Material de Auxilio: - Títulos de Credito e Contratos – Victor Eduardo Rios Gonçalves - Direito Empresarial Esquematizado – André Luiz Santa Cruz - Exame de Ordem –Todas as disciplinas 1. Titulo de Credito Conceito - Os títulos de crédito, no conceito do grande jurista italiano Cesare Vivante, constituem “documentos necessários para o exercício de um direito literal e autônomo, nele mencionado”. O Código Civil definiu-os, no art. 887, como o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, e que somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. O conceito de Vivante é o ideal porque remete, por intermédio das expressões “necessário”, “literal” e “autônomo”, aos três princípios informadores do regime jurídico cambial: a) cartularidade; b) literalidade; c) autonomia. Alguns autores ainda apontam outros princípios, como a independência/substantividade e a legalidade/tipicidade. Independentes seriam os títulos autossuficientes, ou seja, que não dependem de nenhum outro documento para completa-los (por exemplo: letra de cambio, nota promissória, cheque e duplicata). Já o principio da legalidade significa que os títulos de credito são tipos legais, ou seja, só receberiam a qualificação de titulo de crédito aqueles documentos assim definidos em lei. O conjunto das normas que regem os títulos de crédito recebe o nome de direito cambiário ou cambial, ramo inserido dentro do direito comercial, para os quais foram conferidas características especiais, justamente para que os títulos pudessem ter maior segurança e certeza em sua circulação, sendo, assim, meio ágil e fácil para o giro da riqueza — o crédito passa de um sujeito a outro facilmente, não estando vinculado a determinado negócio ou a exceções pessoais que um dos polos possa ter contra o outro. Os títulos de crédito diferenciam-se dos documentos comuns justamente em razão dessas suas características, e, assim, por serem mais seguros e rápidos, são preferidos à cessão civil de crédito, instituto de transferência deste que gera enormes inseguranças por admitir que sejam invocadas contra o cessionário as defesas pessoais do cedente. A cessão se faz a título derivado e não em caráter autônomo e independente, como ocorre com os títulos de crédito.

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Direito Empresarial II - Teoria Geral dos Titulos de Credito

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Apostila Direito Empresarial II

Material de Auxilio:- Ttulos de Credito e Contratos Victor Eduardo Rios Gonalves- Direito Empresarial Esquematizado Andr Luiz Santa Cruz- Exame de Ordem Todas as disciplinas

1. Titulo de Credito

Conceito - Os ttulos de crdito, no conceito do grande jurista italiano Cesare Vivante, constituem documentos necessrios para o exerccio de um direito literal e autnomo, nele mencionado. O Cdigo Civil definiu-os, no art. 887, como o documento necessrio ao exerccio do direito literal e autnomo nele contido, e que somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.O conceito de Vivante o ideal porque remete, por intermdio das expresses necessrio, literal e autnomo, aos trs princpios informadores do regime jurdico cambial: a) cartularidade; b) literalidade; c) autonomia. Alguns autores ainda apontam outros princpios, como a independncia/substantividade e a legalidade/tipicidade. Independentes seriam os ttulos autossuficientes, ou seja, que no dependem de nenhum outro documento para completa-los (por exemplo: letra de cambio, nota promissria, cheque e duplicata). J o principio da legalidade significa que os ttulos de credito so tipos legais, ou seja, s receberiam a qualificao de titulo de crdito aqueles documentos assim definidos em lei.O conjunto das normas que regem os ttulos de crdito recebe o nome de direito cambirio ou cambial, ramo inserido dentro do direito comercial, para os quais foram conferidas caractersticas especiais, justamente para que os ttulos pudessem ter maior segurana e certeza em sua circulao, sendo, assim, meio gil e fcil para o giro da riqueza o crdito passa de um sujeito a outro facilmente, no estando vinculado a determinado negcio ou a excees pessoais que um dos polos possa ter contra o outro.Os ttulos de crdito diferenciam-se dos documentos comuns justamente em razo dessas suas caractersticas, e, assim, por serem mais seguros e rpidos, so preferidos cesso civil de crdito, instituto de transferncia deste que gera enormes inseguranas por admitir que sejam invocadas contra o cessionrio as defesas pessoais do cedente. A cesso se faz a ttulo derivado e no em carter autnomo e independente, como ocorre com os ttulos de crdito.Nos ttulos, o direito materializa-se em um documento, ou seja, no prprio ttulo, tambm chamado de crtula. Tal documento passa a representar, assim, o direito ao crdito em si, sendo autnomo da relao jurdica que a ele deu origem e, por essa razo, pode ser transferido de um credor a outro, livremente, seja por simples entrega (tradio), seja por assinatura de um possuidor em favor de outro (endosso).Verifica-se que os ttulos de crdito gozam de duas caractersticas primaciais, quais sejam, a negociabilidade e a executividade.A negociabilidade diz respeito facilidade com que o crdito pode circular, ou seja, mobilizao imediata de seu valor. Assim, o possuidor de um ttulo, enquanto no se opera o protesto, pode dele livremente dispor, transferindo-o a seus prprios credores ou dando-o em garantia de alguma relao jurdica que integre. Quando algum emite um ttulo de crdito, no est fazendo promessa de pagamento dirigida exclusivamente ao beneficirio original, mas para pessoa indeterminada, que, na data do vencimento, esteja com a posse do ttulo. Isso porque sua funo circular, no servindo apenas para valer entre as partes originrias. Quando algum emite ou cria um ttulo de crdito, est assumindo nesse documento uma dvida, est declarando nesse instrumento que deve a algum, comprometendo-se a pagar quele que o apresentar e que pode ser qualquer pessoa.No que tange executividade, os ttulos de crdito gozam de maior eficincia em sua cobrana, j que, nos termos do art. 585, I, do Cdigo de Processo Civil, so ttulos executivos extrajudiciais. Alis, dentre os ttulos enumerados em tal Codex, so os que apresentam maior liquidez e certeza.Pode-se dizer ainda que os ttulos de credito so:(i) Documentos formais, por precisarem observar os requisitos essenciais previstos na legislao cambiaria;(ii) Considerados bens moveis (nesse sentido, alias, dispem os arts. 82 a 84 do Cdigo Civil), sujeitando-se aos princpios que norteiam a circulao desses bens, coo o que prescreve que a posse de boa-f vale como propriedade;(iii) Ttulos de apresentao, por serem documentos necessrios ao exerccio dos direitos neles contidos. Outra caracterstica dos ttulos de credito que eles constituem ttulos executivos extrajudiciais (art.585 do CPC), por configurarem uma obrigao liquida e certa.

1.1. Princpios dos ttulos de credito

1.1.1. Cartularidade ou incorporao

Quando se afirma que o titulo de credito o documento necessrio ao exerccio do direito nele mencionado, h uma referncia clara ao principio da cartularidade, segundo o qual se entende que o exerccio de qualquer direito representado no titulo pressupe a sua posse legitima. O titular do crdito representado no titulo deve estar na posse deste (ou seja, da crtula), que se torna, pois, imprescindvel para a comprovao da prpria existncia do crdito e da sua consequente exigibilidade.Em sntese, o principio da cartularidade nos permite afirmar que o direito de credito mencionado na crtula no existe sem ela, no pode ser transmitido sem a sua tradio e no pode ser exigido sem a sua apresentao. em funo da obedincia ao principio da cartularidade que alguns autores inserem os ttulos de crdito na categoria de documentos dispositivos, que consistem, justamente, naqueles documentos que so imprescindveis para o exerccio dos direitos que eles representam.Tambm se costuma utilizar, com o mesmo sentido de cartularidade, a expresso principio da incorporao, segundo o qual o direito de credito materializa-se no prprio documento, no existindo o direito sem o respectivo titulo. A incorporao, pois, representa a relao direta que se opera entre o documento e o direito de crdito, no existindo este sem aquele.Em obedincia ao principio da cartularidade, (i) a posse do titulo pelo devedor presume o pagamento do titulo, (ii) s possvel protestar o titulo apresentando-o, (iii) s possvel executar o titulo apresentando-o, no suprimindo a sua ausncia nem mesmo a apresentao de copia autenticada. preciso destacar, todavia, que o principio da cartularidade ou incorporao, hodiernamente, vem sendo posto em xeque, em virtude do crescente desenvolvimento tecnolgico e da consequente criao de ttulos de credito magnticos, ou seja, que no se materializam numa crtula.O prprio Cdigo Civil estabeleceu expressamente em seu art. 889, 3, que o titulo poder ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio tcnico equivalente e que constem da escriturao do emitente, observados os requisitos mnimos previstos neste artigo.A doutrina tem se referido a esse processo como a desmaterializao dos ttulos de credito, que acaba por contestar, de certa forma, o principio da cartularidade, dada a proliferao dos ttulos em meio magntico, sem que eles sejam, enfim, materializados num documento em meio fsico.A desmaterializao dos ttulos de credito, enfim, por permitir a criao de ttulos no cartularizados, ou seja, no documentados em papel, cria situaes em que, por exemplo, o credor pode executar um determinado titulo de credito sem a necessidade de apresenta-lo em juzo (ex.: duplicatas virtuais).Enfim, o processo de desmaterializao dos ttulos de credito uma consequncia natural do desenvolvimento do comercio eletrnico, que exige que se repense o conceito de documento, o qual no pode mais ser visto apenas como algo materializado em papel. O documento eletrnico uma realidade j consolidada nos dias atuais, e o mercado, obviamente, foi quem mais rpido se adaptou a ela, criando a assinatura digital, por meio do sistema de criptografia, cuja regulamentao legal a Medida Provisria 2200/2, de 2001, a qual instituiu a Infraestrutura das Chaves Brasileira (ICP-Brasil).

1.1.2. Literalidade

Quando se diz que o titulo de credito o documento necessrio ao exerccio do direito literal nele representado, faz-se referencia expressa ao principio da literalidade, segundo o qual o titulo de credito vale pelo que nele esta escrito. Nem mais, nem menos. Em outros termos, nas relaes cambiais somente os atos que so devidamente lanados no prprio titulo produzem efeitos jurdicos perante o seu legitimo portador.A literalidade, em sntese, o principio que assegura as partes da relao cambial a exata correspondncia entre o teor do titulo e o direito que ele representa. Por um lado, o credor pode exigir tudo o que est expresso na crtula, no devendo se contentar com menos. Por outro, o devedor tambm tem o direito de s pagar o que est expresso no titulo, no admitindo que lhe seja exigido nada mais. Dai porque Tullio Ascarelli mencionava que o princpio da literalidade age em duas direes, uma positiva e outra negativa.Perceba-se a importncia do principio da literalidade para que os ttulos de crdito cumpram de forma segura a sua funo precpua de circulao do crdito: como a pessoa que recebe o titulo tem a certeza de que a partir de sua simples leitura ficar ciente de toda a extenso do crdito que est recebendo, sente-se segura a realizar a operao.Assim, uma quitao parcial, por exemplo, deve ser feita no prprio titulo, porque, caso contrrio, poder ser contestada. O mesmo ocorre, tambm, com o aval e com o endosso. Um aval tem que ser feito no prprio titulo, sob pena de no produzir efeito de aval. O endosso, da mesma forma, tem de ser feito no prprio titulo, sob pena de no valer como endosso.Se o aval feito, eventualmente, num instrumento separado do titulo, no ser valido como aval, porque no respeita o principio da literalidade. Poder valer, no mximo, como uma fiana, que um instituto do direito civil assemelhado ao aval, porm com efeitos jurdicos diversos.

1.1.3. Autonomia

O terceiro e mais importante principio relacionado aos ttulos de credito, considerado a pedra fundamental de todo o regime jurdico cambial, o principio da autonomia. Por esse principio, entende-se que o titulo de credito configura documento constitutivo de direito novo, autnomo, originrio e completamente desvinculado da relao que lhe deu origem. Assim, as relaes jurdicas representadas num determinado titulo de credito so autnomas e independentes entre si, razo pela qual o vicio que atinge uma delas, por exemplo, no contamina a(s) outra (s). Em outras palavras, o legitimo portador do titulo pode exercer seu direito de crdito sem depender das demais relaes que o antecederam, estando completamente imune aos vcios ou defeitos que eventualmente as acometeram.Pode-se entender, porque o principio da autonomia o mais importante principio do regime jurdico cambial. No fosse ele, no haveria segurana nas relaes cambiais, e os ttulos perderiam suas principais caractersticas: negociabilidade e a circularidade. Afinal, ningum se sentiria seguro ao receber um titulo de credito como pagamento, via endosso, haja vista a possibilidade de ser surpreso pela alegao de um vicio anterior, do qual sequer tinha conhecimento. Em decorrncia do principio da autonomia, portanto, a pessoa que recebe um titulo de credito numa negociao no precisa se preocupar em investigar a sua origem nem as relaes que eventualmente o antecederam, uma vez que ainda tais relaes existam e estejam viciadas, elas no contaminam as relaes futuras decorrentes da circulao desse mesmo titulo.Esse principio de desdobra nos seguintes subprincpios: Abstrao O titulo de credito um documento abstrato, ou seja, sem qualquer ligao com a relao jurdica subjacente que lhe deu origem. A abstrao tem por pressuposto a circulao do titulo de credito porque, enquanto no circula, o titulo de credito permanece vinculado causa que originou a sua emisso. Inoponibilidade das excees pessoais a terceiro de boa-f - No pode o devedor do titulo de credito deixar de cumprir sua obrigao de pagar valor nele mencionado ao credor de boa-f, alegando como motivo excees (defesas) oponveis a credor anterior. Assim, so inoponveis a terceiros excees no fundadas no ttulo.

1.2. Caractersticas

So caractersticas dos ttulos de credito:a) Negociabilidade Facilidade com que o crdito circula, com a negociao do direito nele expresso. Se o titulo for ao portador, circula pela simples tradio e, se for nominal, circula atravs de endosso ou cesso civil;b) Ttulo executivo extrajudicial;c) Bem mvel;d) Formal Somente produz efeito quando preencher os requisitos da lei;e) Representa obrigao quesvel O credor deve procurar o devedor para receber o valor constante do ttulo.

1.3. Classificao

A doutrina costuma classificar os ttulos de credito em:

Quanto ao modelo:Livre: A legislao cambiria no estabelece uma forma especfica para os ttulos de credito, devendo, no entanto, observarem os requisitos legais para a sua constituio (ex.: letra de cmbio e nota promissria).

Vinculado: A legislao cambiria estabelece uma forma especifica para que os ttulos de credito sejam considerados validos (cheque e duplicata mercantil).

Quanto estruturaOrdem de pagamento: O saque (emisso do titulo) gera trs situaes jurdicas distintas, quais sejam:1. A do sacador ou emitente: Quem ordena o pagamento;2. A do sacado: Quem recebe a ordem de pagamento e deve cumpri-la se atendidas as condies para tanto;3. A do tomador: Que o beneficirio da ordem (ex.: letras de cmbio, cheque e duplicata)

Promessa de pagamento: O saque gera duas situaes jurdicas distintas:1. A do promitente/sacador: Que promete pagar;2. A do beneficiado: Que quem receber o valor prometido (ex.: nota promissria).

Quanto s hipteses de emissoCausal: Somente pode ser emitido nas hipteses que a lei autoriza sua emisso (ex.: duplicata mercantil ou de servios).

No causal ou abstrato: No h causa preestabelecida para sua emisso, podendo ser criado por qualquer motivo (ex.: cheque, letra de cmbio, nota promissria).

Quanto circulaoAo portador: So transmissveis por mera tradio, uma vez que neles no h identificao expressa do credor.

Nominais: H identificao do credor e depende da pratica de um ato formal para que se d a transferncia da titularidade do crdito. Nos ttulos nominais com clausula ordem, o ato formal o endosso. Nos ttulos nominais com clausula no ordem, o ato formal a cesso civil.

Nominativos: So aqueles emitidos em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. Circulam atravs de documento de transferncia ou registro em livro do emitente (art. 921, CC).

1.4. Teorias que justificam a emisso/circulao dos ttulos de credito.

Teorias: Emisso Circulao/Criao Mista

Existem, basicamente, duas teorias que expressam o momento em que se constitui a obrigao cambial.Para os adeptos da teoria da criao (kreantionstheorie), desenvolvida por Becker, Siegel e Kuntze, o direito decorre to somente da criao do ttulo. Com tal criao, o devedor, por ato unilateral de vontade, passa a dispor da parcela do seu patrimnio exposto ao titulo, em proveito daquele que o portar (credor eventual e indeterminado), ou seja, vincula-se, para o futuro, ao cumprimento dessa obrigao, estando tal compromisso retratado por sua assinatura aposta na crtula. Assim, como consequncia, o titulo exigvel ainda que tenha entrado em circulao contra a vontade de seu emissor, e a obrigao de paga-lo nascer com o aparecimento do futuro portador. Esse teoria, contudo, perigosa, uma vez que, criado o titulo pelo devedor, caso ele se extravie ou seja subtrado antes da emisso (ato de entrega pelo subscritor ao beneficirio), o criador j se encontrar vinculado ao seu pagamento. O titulo j criou a dvida e a nica condio para que esta se torne eficaz a posse pelo primeiro portador, ainda que indeterminado.Em contraposio teoria da criao existe a teoria da emisso, formulada por Stobbe e Windscheid, que entendem que somente com a efetiva entrega do titulo pelo seu subscritor, de forma voluntria, ao beneficirio ou tomador que nasce a obrigao cambial. Assim, a simples criao, sem a efetiva entrega ao beneficirio, no suficiente para vincular o criador divida. Como consequncia da teoria da emisso verifica-se que um titulo, posto fraudulentamente em circulao, no hbil para gerar obrigao ao emitente.Analisando o Cdigo Civil, verifica-se que no foi adotada pela legislao ptria nenhuma das duas teorias de forma pura. Pelo contrario, o cdigo utiliza-se de ambas.Veja-se, por exemplo, que o pargrafo nico do art. 905 dispe que: A prestao devida ainda que o ttulo tenha entrado em circulao contra a vontade do emitente. Percebe-se, portanto, diante de tal dispositivo, que houve adoo, neste ponto, da teoria da criao, uma vez que a obrigao j estar constituda com a subscrio do ttulo, independentemente de ter entrado em circulao contra a vontade do emitente e, sendo a ele apresentado, ter de ser pago. Bastou para a criao da obrigao a assinatura do emissor do ttulo.Por outro lado, permite-se que o criador recupere o ttulo das mos de quem o furtou o que seria indicativo da teoria da emisso vedando, todavia, que o ttulo seja reivindicado do portador de boa-f (art. 896, CC).Ao que tudo indica, foi adotada a teoria da criao, abrandada em parte pela teoria da emisso, constituindo-se, portanto, uma teoria mista adotada pelo Cdigo Civil, conforme supratranscrito.

1.5. Atos Cambirios (noes)

A seguir esto elencadas as noes bsicas sobre os principais atos cambirios que envolvem os ttulos de crdito. So eles: Saque, Aceite, Endosso, Aval e Protesto.

Saque Quer dizer a emisso do ttulo de credito. Os ttulos de credito podem ser sacados (emitidos) incompletos e circularem incompletos. Os requisitos devem ser preenchidos antes da cobrana ou do protesto do ttulo.Segundo entendimento predominante, a lei no probe a emisso de cambial indexada ou clausula de correo monetria desde que o ndice ou a atualizao seja de amplo conhecimento do comrcio.

Aceite - o ato cambial prprio dos ttulos de crdito estruturados como ordem de pagamento por meio do qual o sacado concorda em pagar ao beneficirio o valor constante do ttulo. O sacado pode aceitar total ou parcialmente a ordem de pagamento dada pelo sacador.Questo: Quais so as espcies de aceite parcial? E as suas consequncias?Resposta: O aceite parcial pode ser: 1) Limitativo: aquele que o sacado aceita apenas parte do valor do ttulo ou 2)Modificativo: aquele em que o sacado altera as condies de pagamento do titulo. O aceite parcial, assim como a recusa total do aceite, implica vencimento antecipado do ttulo e a responsabilizao do sacador na forma do saque. O possuidor deve protestar o titulo por falta de aceite para poder cobra-lo dos coobrigados, a saber: sacador e avalista, endossantes e avalistas.Questo: Em que consiste a clusula no aceitvel?Resposta: a clausula estabelecida no ttulo que veda o tomador a apresentar o ttulo ao sacado para aceite. Ele somente poder apresentar o titulo ao sacado no seu vencimento e, portanto, para pagamento, evitando, assim, o vencimento antecipado do ttulo em razo de recusa do aceite, parcial ou total.

Endosso - ato cambial por meio do qual se opera a transferncia do crdito representado por um titulo ordem. Por fora do principio da cartularidade, a transferncia do crdito fica condicionada tradio do ttulo.A clausula ordem, que permite a circulao da letra da cmbio, da nota promissria, do cheque e da duplicata por meio do endosso, implcita. Por sua vez a clausula no ordem deve estar expressa no ttulo e, neste caso, a transferncia do ttulo se d por cesso civil.Endosso no se confunde com cesso civil. As diferenas entre elas foram objeto de questionamento no Exame Unificado 2014.3. So elas:

EndossoCesso Civil

ato unilateral, abstrato e formal; contrato bilateral, podendo revestir-se de qualquer forma;

No pode ser parcial, sob pena de ser considerado nulo;Pode ser parcial;

Endossatrio adquire direito prprio e autnomo;Cessionrio adquire o prprio direito do cedente;

O endossante, em regra, responde tanto pela existncia do crdito quanto pela solvncia do devedor;O cedente, em regra, responde apenas pela existncia do crdito e no pela solvncia do devedor;

O devedor no pode alegar como motivo excees (defesas) oponveis ao endossante;O devedor pode alegar como motivo excees (defesas) oponveis ao cedente;

Submete-se ao regime jurdico-cambial.Submete-se ao regime jurdico civil.

Observao: Fabio Ulha Coelho enumera duas hipteses de endossos com efeitos de cesso civil de crdito (o endossante no responde, em regra, pela solvncia do devedor e o endossatrio no adquire obrigao autnoma), a saber:1. Endosso praticado aps o protesto por falta de pagamento ou do transcurso do prazo legal para a extrao desse protesto (art. 20, Lei Uniforme de Genebra LUG);2. Endosso de letra de cmbio com clusula no ordem (art. 11, Lei Uniforme de Genebra LUG).

importante destacar que, enquanto o endosso parcial nulo, o endosso condicional (subordinado a qualquer condio) tido como no escrito, ineficaz.So efeitos do endosso: Transferir a titularidade do crdito representado no titulo do endossante (quem emite o endosso) para o endossatrio (para quem se transfere o titulo); Vincular o endossante ao pagamento do ttulo na qualidade de coobrigado.Questo: Em que consiste a clusula sem garantia?Resposta: a clusula prevista no ttulo que permite ao endossante transferir a titularidade da letra sem se obrigar ao seu pagamento.

Espcies de Endosso: Em preto: aquele que identifica o endossatrio; Em branco: aquele em que no se identifica o endossatrio, tornando o ttulo ao portador (sem identificao expressa do credor); Imprprio: No se transfere a titularidade do crdito representado no documento, mas legitima posse sobre o ttulo pelo seu detentor. H 02 modalidades: 1. Endosso-cauo, endosso-pignoratcio ou endosso-garantia: Transfere-se somente a posse do ttulo para garantia de um negcio jurdico, incumbindo ao endossatrio o dever de no negligenciar o direito daquele que lhe entregou o ttulo em penhor;2. Endosso-mandato: Transfere-se to somente a posse do ttulo cambial, incumbindo ao endossatrio cobrana e recebimento do valor do ttulo. Pstumo ou tardio: aquele posterior ao protesto por falta de pagamento ou ao decurso do seu prazo e gera os efeitos de uma cesso civil de crdito.

Aval o ato cambial por meio do qual uma determinada pessoa, o avalista (denominao dada ao garantidor), garante o pagamento do valor mencionado no ttulo, seja em favor do devedor principal ou de um coobrigado. O avalista assume as mesmas responsabilidades do avalizado (denominao dada ao devedor principal), sem benefcio de ordem. A responsabilidade solidria.Segundo questo extrada do Exame Unificado 2012.2, a obrigao do avalista se mantm, mesmo no caso de obrigao que ele garantiu ser nula, exceto se essa nulidade for decorrente de vcio de forma, nos termos do que dispe a segunda alnea do art. 32 da Lei Uniforme de Genebra (decreto 57663/66).

Espcies de Aval:

A) Em preto: aquele que identifica o avalizado.

B) Em branco: aquele em que no se identifica o avalizado. A lei presume que ele foi dado em favor do sacador. A proposito, no Exame Unificado de fevereiro de 2011, foi formulada a seguinte questo sobre o aval em branco: Em relao aos ttulos de crdito, correto afirmar que, quando (...) firmado em branco, o aval na nota promissria, entendida como dado em favor do sacador.

C) Antecipado: aquele prestado antes da data do aceite do ttulo. Ainda que o avalizado recuse o aceite, por fora do principio da autonomia das obrigaes cambiais, o avalista responde na medida em que se obrigou pelo valor do ttulo.

D) Simultneo: Mais de um avalista garante a obrigao de pagar do avalizado e respondem solidariamente.

E) Sucessivo: Uma pessoa avaliza a obrigao de pagar de outra e tem sua prpria obrigao de pagar avalizada.

Embora aval e fiana correspondam garantia pessoal, ambos no se confundem. Eis as diferenas enumeradas por Victor Eduardo Rios Gonalves (Gonalves, 2010, p.22).Em resumo:AvalFiana

A) Garantia cambial;A) Garantia civil;

B) A obrigao do avalista autnoma em relao do avalizado, de modo que o avalista no tem beneficio de ordem;B) A obrigao do fiador acessria em relao do afianado, de modo que o fiador tem o beneficio de ordem, s podendo ser cobrado em segundo lugar;

C) Aval deve ser lanado no ttulo;C) A fiana pode ser aposta no prprio contrato ou em instrumento apartado;

D) Em razo do principio da autonomia, o aval no admite a alegao de excees pessoais do avalizado.D) Admite alegao de excees pessoais do afianado.

Ressalte-se que o art. 1647, III, do CC/02 estabelece que um cnjuge no pode prestar aval ou fiana sem autorizao do outro, exceto se forem casados no regime de separao absoluta de bens.

Protesto o ato notarial que tem por objetivo documentar a ocorrncia de algum fato que tenha relevncia para as relaes cambiais.So modalidades de protesto: Protesto por falta de aceite Quando ocorrer a recusa do aceite pelo sacado. Neste caso, o protestado o sacador e no o sacado que recusou o ttulo; Protesto por falta da data de aceite Se da em relao aos ttulos de credito a certo termo de vista nos quais no conste a data em que ocorreu o aceite. O protesto para determinar o termo inicial. Neste caso o protestado o aceitante; Protesto por falta de pagamento Incumbe ao tomador (beneficirio) levar o ttulo a protesto por falta de pagamento para ver assegurado os seus direitos. Neste caso o protestado o aceitante.O protesto necessrio para o exerccio do direito de credito em face dos coobrigados e endossantes e facultativo para o exerccio do direito de credito em face de devedor principal e seu avalista. H uma exceo: quando for estabelecida no titulo a clusula sem despesas, o protesto dispensado para o exerccio do direito de credito contra qualquer devedor do titulo. Transforma o protesto obrigatrio em facultativo.nus do cancelamento do protesto: (...) conforme entendimento consolidado no STJ, no tocante ao cancelamento do protesto regularmente efetuado, no obstante o art. 26 da Lei de Protestos faa a referncia a qualquer interessado, a melhor interpretao a de que este o devedor, de modo a pesar, ordinariamente, sobre sua pessoa o nus do cancelamento. (...) no est a se dizer que no possam as partes pactuar que o cancelamento do protesto incumbir ao credor (que passar a ter essa obrigao, no por decorrncia da lei de regncia, mas contratual). (REsp 1.339.436-SP, DJ 10/09/2014 Informativo 549).O protesto interrompe a prescrio da ao cambiria (CC, art. 202, III).

1.6. Principais ttulos de credito

Os ttulos de credito tpicos ou nominados que existem no Brasil so: 1) letra de cambio; 2) nota promissria; 3) cheque e 4) duplicata.

Letra de Cmbio (decreto 57663/66 e decreto-lei 2044/1908): Ordem de pagamento dada ao sacador ou emitente ao sacado para que efetue o pagamento de valor constante no titulo ao tomador ou beneficirio, vista ou a prazo.Sobre a letra de cmbio importa saber que: transfervel mediante endosso, completada pelo aceite e garantida pelo aval; O aceite torna o sacado devedor direito do ttulo; Embora o aceitante seja o devedor principal, o sacador garante tanto da aceitao como do pagamento da letra, sendo, portanto, um coobrigado desde a emisso do titulo. Lembre-se, no entanto, que o sacador o devedor principal na falta do aceite. Eventuais endossantes tambm so devedores solidrios pelo aceite e pagamento do valor constante no titulo; O aceite facultativo, mas irretratvel; Admite os seguintes protestos: I) por falta de aceite; II) por falta de data de aceite; III) por falta de pagamento. O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentao do aceite e o protesto por falta de pagamento deve ser feito nos 02 dias teis seguintes data do vencimento; O protesto obrigatrio perante o sacador, endossantes e avalistas. facultativo perante o aceitante e o respectivo avalista; A letra pode ser sacada: I) vista: cujo vencimento se d com a apresentao do ttulo ao sacado, que poder ser feita dentro do prazo de 01 ano, a contar da emisso; II) a dia certo: cujo vencimento se d em dia predeterminado pelo calendrio; III) a um certo termo de data: cujo vencimento se d aps decorrido o perodo de tempo em que a contagem se inicia na data do saque e IV) a um certo termo de vista: cujo vencimento se da aps decorrido perodo de tempo em que a contagem se inicia na data do aceite.O ajuizamento da ao cambial deve observar os seguintes prazos prescricionais:

3 anosA contar do vencimento, se em face do aceitante e seu avalista

1 anoA contar da data do protesto, se em face dos coobrigados, a saber: sacador, endossantes e avalista.

6 mesesA contar do pagamento, para o exerccio do direito de regresso por qualquer dos coobrigados.

Nota promissria (decreto 57663/66 e decreto-lei 2044/1908): uma promessa de pagamento do valor representado no titulo feita pelo emitente ou sacador ao tomador, que o beneficirio do titulo.Sobre a nota promissria importa saber que: Aplicam-se s notas promissrias todas as regras referentes s letras de cmbio, exceto naquilo que for incompatvel com sua natureza de promessa de pagamento; Estendem-se s notas promissrias as consideraes feitas para a letra de cambio no que diz respeito a endosso, aval, vencimento, pagamento e protesto. No se cogita de aceite nem de sacado; Admite apenas o protesto por falta de pagamento, que deve ser feito nos 02 dias teis seguintes data do vencimento; O protesto obrigatrio perante os endossantes e respectivos avalistas. facultativo perante o emitente (devedor principal) e respectivo avalista; Pode conter os seguintes vencimentos: I) vista; II) a dia certo e III) a tempo certo da data e IV) a tempo certo da vista, caso que o titulo deve ser levado ao visto do subscritor no prazo de um ano a contar do saque da nota, sendo a data deste visto o termo a quo do lapso temporal de vencimento (art. 78 Lei Uniforme de Genebra, LUG)O ajuizamento da ao cambial deve observar os seguintes prazos prescricionais:3 anosA contar do vencimento, do portador em face do emitente e seu avalista.

1 anoA contar da data do protesto ou da data do vencimento (clausula sem despesa), se em face dos coobrigados dos endossantes e avalistas.

6 mesesA contar do pagamento, para o exerccio do direito de regresso por qualquer dos coobrigados.

Observao: Smula 504 do STJ: O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente de nota promissria sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do ttulo.

Cheque (lei 7357/85): Ordem de pagamento vista dada pelo sacador ou emitente contra o sacado, que sempre um banco, com base em suficiente proviso de fundos, em favor prprio ou de terceiros.Sobre o cheque importa saber: No admite o aceite, mas admite o aval total ou parcial. Pode ser emitido ao portador (valor no superior a R$ 100,00 e circula por simples tradio), com clusula ordem (circula por endosso) ou clusula no a ordem (circula por cesso civil); O banco no o garante do pagamento do cheque, de modo que s paga o ttulo se o sacador tiver fundos junto a ele. Tambm no endossa e nem avaliza o ttulo. A proposito, foi formulada a seguinte questo do Exame Unificado da OAB de 2010: Acerca da disciplina normativa do cheque, assinale a opo correta. (...) A lei veda ao banco sacado a prestao de aval para garantir o pagamento do cheque. Prazo para apresentao do cheque ao banco para liquidao e pagamento: Se coincidente o municpio do local do saque e o da agencia pagadora, o cheque denominado da mesma praa e deve ser apresentado ao sacado para pagamento nos 30 dias seguintes ao da emisso. Se no houver tal coincidncia, o cheque denominado de praas diferentes, alargando o prazo para apresentao, que ser de 60 dias; A inobservncia do prazo de apresentao do cheque implica em: I) perda do direito de crdito em face dos coobrigados (endossantes e avalistas) e II) perda do direito de crdito em face do sacador e seus avalistas se, durante o prazo de apresentao havia fundos e, aps esse prazo, deixaram de existir por fato que independa da vontade do emitente. Admite apenas o protesto por falta de pagamento, que deve ser feito durante o prazo de apresentao do cheque.A proposito, o Exame Unificado 2013.2 apresentou uma questo propensa a induzir a erro o candidato. Diz o enunciado: Um cheque no valor de R$ 3.000,00 (trs mil reais) foi sacado em 15 de agosto de 2012, na praa de Santana, Estado do Amap, para pagamento no mesmo local de emisso. Dez dias aps o saque, o beneficirio endossou o ttulo para Ferreira Gomes. Este, no mesmo dia, apresentou o cheque ao sacado para pagamento, mas houve devoluo ao apresentante por insuficincia de fundos, mediante declarao do sacado no verso do cheque. Com base nas informaes contidas no enunciado e nas disposies da lei 7357/85(lei do cheque), assinale a afirmativa incorreta: A) o apresentante, diante da devoluo do cheque, dever levar o titulo a protesto por falta de pagamento, requisito essencial propositura da ao executiva em face do endossante. Esta a assertiva incorreta a ser assinalada.Explicao: Para que se vincule o endossante responsabilidade solidaria decorrente da cadeia de endosso indispensvel o protesto do titulo. Isso vale para a letra de cmbio, nota promissria e duplicata. Com o cheque diferente em razo do que dispe o art.4, II, da Lei do Cheque, que, alm do protesto por falta de pagamento, excepcionalmente, admite o ajuizamento da ao cambial pelo portador em face dos endossantes e avalista independentemente de protesto se o cheque, apresentado em tempo hbil, tem seu pagamento recusado por declarao do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicao do dia de apresentao, ou, ainda, por declarao escrita e datada ou cmara de compensao. Esse foi o ponto objeto da questo. Cheque ps-datado: Embora a ps-datao no produza efeitos perante o banco sacado, j que o cheque ordem de pagamento vista e o acordo de prazo mnimo para apresentao do cheque liquidao se d entre o emitente e o credor, este, se descumprir tal obrigao contratual, poder ser responsabilizado ao pagamento de indenizao por danos materiais e morais (smula 370 do STJ).A ps-datao de cheque no modifica prazo de apresentao nem o prazo de prescrio do ttulo. Isso porque conferir eficcia referida pactuao extracartular em relao aos prazos de apresentao e de prescrio descaracterizaria o cheque como ordem de pagamento vista. Alm disso, configuraria infringncia ao disposto no art. 192 do CC/02, de acordo com o qual os prazos de prescrio no podem ser alterados por acordo das partes (...). (REsp 1.124.709-T), DJ 18/6/2013 Informativo 528).Modalidades do cheque:

Cheque visado aquele que, a pedido do emitente ou do portador legitimado, o banco sacado atesta a existncia de fundos suficientes para a liquidao. O sacado deve reservar, da conta corrente do sacador, quantia equivalente ao valor do cheque, durante o prazo da apresentao. Essa modalidade admitida somente em cheque nominal ainda no endossado.

Cheque administrativo aquele emitido pelo banco contra si mesmo, de modo que sacador e sacado se identificam. Somente pode ser emitido sob a forma nominal ( ordem/no ordem).

Cheque cruzado aquele que possibilita a identificao da pessoa em favor de quem o cheque foi liquidado. Possui dois traos paralelos e transversais no anverso (frente) do ttulo. Se entre as linhas paralelas houver indicao de determinado banco, fala-se em cruzamento em preto ou especial. Em no havendo qualquer indicao, fala-se em cruzamento em branco ou geral.

Cheque para se levar em conta aquele que no pode ser pago em dinheiro, devendo seu valor ser creditado na conta do beneficirio. Deve constar no anverso (frente) do ttulo, na transversal, a clusula para ser creditado em conta.

So duas as modalidades de sustao do cheque: Revogao ou contraordem: objetiva desconstituir a ordem contida no cheque, razo pela qual se trata de ato exclusivo do emitente, praticado por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razes motivadoras do ato. Somente produz efeitos depois de expirado o prazo de apresentao, desde que antes do prazo prescricional; Oposio: objetiva evitar que a ordem seja cumprida em favor de quem no seu legitimo beneficirio. Pode ser de iniciativa do emitente e do portador legitimado, mediante aviso escrito, desde que fundado em razo relevante (furto, roubo, extravio, falncia do credor). Produz efeitos mesmo durante o prazo de apresentao e desde que anterior liquidao do ttulo.A proposito foi apresentada a seguinte situao no Exame Unificado 2013.1: Laurentino recebeu um cheque nominal sacado na praa de Z, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e pagvel na praa de A. Vinte dias aps a emisso e antes da apresentao ao sacado foram furtados vrios documentos da residncia do tomador, dentre eles o referido cheque. Com base nestas informaes, assinale a afirmativa correta, qual seja: A medida extrajudicial cabvel para impedir o pagamento do cheque pelo sacado a sustao ou oposio, que esta fundada em relevante razo de direito.O ajuizamento da ao cambial deve observar os seguintes prazos prescricionais:

6 mesesA contar do prazo de apresentao, do portador contra o sacador, endossantes e avalistas;

6 mesesA contar do dia em que pagou o cheque ou do dia em que foi demandado, de um obrigado ao pagamento do cheque em face do outro;

Observao: Smula 503 do STJ: O prazo para ajuizamento de ao monitria em face do emitente do cheque sem fora executiva quinquenal, a contar do dia seguinte emisso estampada na crtula.

Duplicata (lei 5474/68): Ordem de pagamento emitida pelo credor com o objetivo de documentar o crdito oriundo de prestao de servio ou compra e venda mercantil. Nas lies de Victor Eduardo Rios Gonalves, o sacador (vendedor ou prestador de servio) d uma ordem de pagamento baseado na fatura (relao de mercadorias ou servios) para que o sacado pague a quantia ao beneficirio (Gonalves, 2010, p.93).Sobre a duplicata importa saber: Causalidade da duplicata: I) Compra e venda mercantil e II) Prestao de servios; A emisso de duplicata sem causa configura crime previsto no art. 172 do CP (duplicata simulada); A emisso de duplicata facultativa. Mas, se emitida, deve ser escriturada no Livro de Registro de Duplicatas (obrigatrio); necessariamente emitida a partir de uma fatura; transmissvel por endosso e garantida por aval; Pode conter os seguintes vencimentos: I) vista e II) a dia certo. A remessa de duplicata poder ser feita diretamente pelo vendedor ou por seus representantes, por intermdio de instituies financeiras, procuradores ou correspondentes que se incumbam de apresenta-la ao comprador na praa ou no lugar de seu estabelecimento. A propsito, no Exame Unificado 2012.4, considerou-se correta a seguinte alternativa: A duplicata pode ser apresentada para aceite do sacado pelo prprio sacador ou por instituio financeira. O prazo para remessa da duplicata ser de 30 dias, contados da data de sua emisso. A duplicata, quando no for vista, dever ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 dias, contados da data de sua apresentao, devidamente assinada ou acompanhada de declarao, por escrito, contendo as razes da falta do aceite. Aceite: obrigatrio, no podendo ser recusado por simples vontade do sacado, mas to somente diante de hipteses legalmente previstas, a saber: I) avaria ou no recebimento de mercadorias, quando no expedidas ou no entregues por sua conta e risco; II) vcios, defeitos e diferenas na qualidade ou quantidade das mercadorias, devidamente comprovados e III) divergncia nos prazos ou nos preos ajustados. Modalidades de Aceite: I) ordinrio: resulta da assinatura do devedor na prpria duplicata; II) por comunicao: se d a reteno do ttulo pelo devedor e o envio de comunicao escrita ao credor transmitindo o seu aceite e III) por presuno: resulta do recebimento da mercadoria, sem que tenha havido recusa formal, com ou sem devoluo do ttulo.

Observao:

A formao do ttulo executivo a partir de uma duplicata depende da modalidade de aceite:I) aceite ordinrio: o ttulo executivo se consubstancia na prpria duplicata;II) aceite por comunicao: o ttulo executivo se consubstancia na prpria comunicao do aceite; eIII) aceite por presuno: o ttulo executivo depende de dois fatores para sua formao: protesto e comprovante da entrega das mercadorias.

Protesto: a duplicata pode ser protestada por I) falta de aceite, II) de devoluo do ttulo ou III) falta de pagamento. O prazo para protesto 30 dias seguintes ao vencimento da duplicata. O protesto obrigatrio perante o sacado e seus avalistas. facultativo perante os endossantes e respectivos avalistas.Questo: Quando se d o protesto por indicaes (exame unificado 2014.2)?Resposta: Quando h reteno da duplicata pelo comprador, isto , quando o sacado retiver a duplicata enviada para o aceite e no proceder devoluo dentro do prazo legal. Neste caso, para efetivao do protesto, o credor, valendo-se das informaes do Livro de Registro de Duplicatas, informa o cartrio os elementos que identificam o ttulo.Ressalta-se que a doutrina tem destacado que a pratica comercial tem preferido, nessas hipteses, a emisso de triplicata, a despeito do art. 23 da Lei de Duplicatas autorizar o saque da triplicata apenas para as hipteses de perda ou extravio da duplicata.Uma vez protestado o ttulo, o portador pode acionar o sacado mesmo sem aceite. Deve juntar para tanto o comprovante da entrega da mercadoria ou efetiva prestao do servio.Prescreve a pretenso execuo da duplicata em:

3 anosA contar do vencimento, em face do sacado e seu avalista;

1 anoA contar do protesto, em face dos endossantes e seus avalistas;

1 anoA partir do pagamento, o exerccio do direito de regresso em face de qualquer coobrigado.

1.7. Ttulos de credito e o CC/02

O CC/02 reservou o ttulo VIII do Livro I da parte especial, arts. 887 a 926, para tratar dos ttulos de credito, com aplicao nos seguintes casos: I) ttulos de credito tpicos, no regulados completamente por leis especiais (warrant agropecurio, o conhecimento de depsito agropecurio e a letra de arrendamento mercantil); II) ttulos de credito inominados ou atpicos: oriundos da pratica empresarial e sem lei especifica que os regule; III) supletivamente (art. 903 do CC): quando no houver disposio em sentido contrrio na lei especial.As regras do Cdigo Civil, em principio, no se aplicam aos ttulos de credito tpicos (letra de cmbio, nota promissria, duplicata e cheque) disciplinados exaustivamente por legislao especial.Dentre das disposies legais constantes no CC acerca dos ttulos de crditos, importa destacar algumas que regem a matria diferentemente das leis especiais cambirias:

Art. 890Considera no escrita no ttulo a clusula de juros. A lei uniforme admite a clusula de juros na letra de cmbio pagvel vista ou um certo termo de vista desde que indicada no ttulo.

Art. 897, pargrafo nicoVeda o aval parcial. A letra de cmbio, a nota promissria e o cheque admitem o aval parcial, conforme lei especial que os regulam. A proposito, foi formulada questo sobre aval parcial na nota promissria no Exame Unificado de julho de 2011: Em relao ao direito cambirio, correto afirmar que (...) o aval dado em uma nota promissria pode ser parcial, ainda que sucessivo.

Art. 914O endossante no responde pelo cumprimento da prestao constante no ttulo, salvo clusula expressa sem sentido contrrio. Na legislao cambiria, o endossante, em regra, responde tanto pela existncia do crdito quanto pela solvncia do devedor.

Observaes: Lei uniforme de Genebra (lei uniforme decreto 57663/66), a parte anexa referente aos ttulos de credito; Lei 5474/68 Duplicatas; Lei 7357/85 Cheque; Cdigo Civil Art. 887 a 903