apostila grafoscopia - tópicos especiais

34
  

Upload: junior-marques

Post on 06-Oct-2015

88 views

Category:

Documents


12 download

DESCRIPTION

grafoscopia

TRANSCRIPT

  • GRAFOSCOPIA

    Tpicos avanados

  • INSTRUMENTOS DE ESCRITA

    Embora muitos escritos antigos tenham sido produzidos sem o uso de canetas, esse instrumento

    tornou-se a principal ferramenta para escritas manuais, justificando-se o estudo de sua evoluo e de

    suas caractersticas principais.

    Os babilnios imprimiam suas escritas em tbuas de argila mida, usando um instrumento em

    forma de cone para produzir sulcos no suporte, que depois de secar em um forno, solidificava-se,

    transformando-se em um registro perene.

    Gregos e romanos escavavam inscries em monumentos de pedra, usando instrumentos

    metlicos, e tambm escreviam com varetas em tabletes recobertos com cera.

    Chineses e egpcios usavam pincis para escrever com tinta as suas escritas. Estes ltimos em

    papiro, e os primeiros em tecidos e em papel, do qual foram os inventores. O pergaminho, usado por

    muitos povos da antiguidade, tambm era gravado com pincis. Uma das tintas mais antigas de que se

    tem notcia era feita com negro de fumo (fuligem) e cola.

    A pena de ave (quill) comeou a ser usada alguns sculos antes da Era Crist, principalmente na

    Europa onde havia maior disponibilidade , ganhando mais importncia quando o papiro foi

    substitudo pelo pergaminho. Seu uso persistiu quase que de forma exclusiva at meados do sculo XIX,

    quando se deu a popularizao da pena metlica.

    Embora se pudessem usar penas de qualquer ave para a escrita, a pena de ganso era a mais

    utilizada na Europa, por ser esta a ave mais comum. Outro fato interessante que as penas da asa

    esquerda eram mais valorizadas, por se adaptarem melhor s pessoas destras. Naturalmente que os

    canhotos preferiam as penas da asa direita.

    Depois de retiradas da ave, as penas eram tratadas quimicamente e aparadas com uma faca

    apropriada, em formato similar ao das penas metlicas atuais, inclusive com a produo de uma

    pequena fenda longitudinal de alguns milmetros de comprimento, a partir de sua ponta. O prprio

    usurio precisava constantemente reparar a ponta de sua pena que, como instrumento de escrita,

    possua uma vida til bastante limitada.

    Este era apenas um dos problemas ou limitaes que as penas de aves apresentavam. Elas eram

    facilmente danificadas por pequenos restos de tinta seca, e por isso precisavam sempre ser muito bem

    lavadas aps cada uso e guardadas com a ponta submersa em gua.

    Os traos produzidos por esse instrumento apresentam intensidade de tinta uniforme

    transversalmente, mas com variaes entre traos ascendentes e descendentes, tanto na espessura da

    camada de tinta quanto na largura do trao (ambas maiores nos descendentes), devido flexibilidade da

    pena.

  • Desenho esquemtico da ponta de uma pena, vista por trs (face externa). O trao azul representa uma fenda longitudinal, por onde escorre a tinta. Conforme a presso aplicada no suporte, as duas metades separadas pela fenda podem se afastar um pouco, aumentando o fluxo de tinta e produzindo traos mais escuros e largos, fenmeno chamado de sombreamento.

    A pena metlica (steel pen) foi desenvolvida para superar algumas das limitaes da pena de

    ave. Ainda que a primeira patente na Amrica date de 1810, e tenha comeado a ser usada entre 1820-

    1830, a pena metlica s se tornou popular a partir da metade do sculo XIX. Alm de mais durveis, as

    penas metlicas podiam ser produzidas industrialmente, e no mais apenas artesanalmente.

    Embora seu desenho tenha imitado o corte que era usado nas penas de ave, as penas metlicas

    produziam traos com uma caracterstica diferente: formavam sulcos no papel, o que no ocorria com

    as de ave, mais macias. Na verdade, nos traos de maior presso so produzidos dois sulcos, resultantes

    do afastamento das duas partes da ponta, que so separadas pela fenda longitudinal. E, como a tinta

    escorre justamente por essa fenda, quanto mais afastadas as suas hastes, maior o fluxo de tinta.

    A pena metlica superou algumas limitaes das penas de ave, mas pelo menos um problema

    surgiu. As tintas usadas at ento eram cidas, e corroam o metal. Vrios elementos foram usados

    como proteo para a ponta metlica (rdio e ouro, p. ex.), mas foi o irdio que apresentou as melhores

    propriedades para isso. Mesmo assim, a composio das tintas precisou ser adaptada para reduzir a

    corroso.

    Mas uma das mais incmodas limitaes das penas de ave persistiu com as metlicas: a

    necessidade de mergulh-la frequentemente em um reservatrio de tinta a cada pequeno trecho

    escrito.

    Os traos produzidos pelas penas metlicas tambm se apresentam mais densamente

    entintados quando descendentes, mas diferenciam-se daqueles produzidos por penas de aves por

    apresentarem os dois sulcos produzidos pela ponta fendida, que tende a se abrir com a presso da

    caneta. Esses sulcos, prximos s bordas do trao, tendem a reter mais tinta, ficando mais escuros que

    as regies centrais. Quanto maior a presso aplicada na caneta, mais a ponta se abrir, deixando sair

    mais tinta e produzindo traos mais largos e escuros.

  • Trecho de uma carta de Santos Dumont, escrita com pena metlica.

    A ideia de criar uma caneta que contivesse seu prprio reservatrio talvez seja mais antiga que a

    prpria pena metlica, mas foi somente no incio do sculo XIX que algumas patentes foram registradas.

    Uma dessas patentes pertenceu a John Scheffer, que criou a Penographic Fountain Pen a caneta-

    tinteiro , a princpio para ser usada tanto com penas metlicas quanto com penas de ave.

    Vrias verses de canetas-tinteiro foram desenvolvidas, e por volta de 1870, as revistas j

    apresentavam vrios anncios publicitrios oferecendo esse produto.

    A principal diferena entre os traos produzidos por canetas-tinteiro daqueles feitos com pena

    metlica se deve justamente ao reservatrio de tinta das primeiras, que so capazes de produzir uma

    quantidade grande de escritos sem que haja variao na tonalidade dos traos. As penas metlicas

    precisam ser frequentemente mergulhadas no tinteiro, e seu traado vai esmaecendo gradualmente at

    o prximo mergulho, quando se torna repentinamente mais forte.

    Traos feitos com caneta-tinteiro. As regies dos sulcos (duplos) so as mais fortemente entintadas.

  • Traos feitos com canetas-tinteiro.

    No ltimo quarto do sculo XIX surgiu e logo se tornou popular a caneta estilogrfica

    (stylographic), descrita na poca como um lpis que escreve com tinta. Em vez de conter uma pena

    metlica em sua ponta, as estilogrficas consistem em um cilindro oco com a extremidade inferior

    afilada, de onde se projeta um tampo fino que impede a sada da tinta. Ao ser pressionado contra o

    papel, esse tampo recua para o interior do cilindro, liberando o fluxo de tinta. Portanto, a principal

    diferena dos traos feitos com canetas estilogrficas para aqueles feitos com canetas de pena (metlica

    ou de ave) a uniformidade de sua largura, independentemente da presso aplicada na caneta e do

    sentido do trao (ascendente ou descendente). Essa caracterstica tornou as canetas estilogrficas muito

    apropriadas para desenhistas. Vrios equipamentos que precisam registrar grficos (aparelhos de

    eletrocardiograma, p. ex.) usam ou usavam essas canetas.

    A histria da caneta esferogrfica (ballpoint) bastante interessante. Embora algumas patentes

    tenham sido registradas j no sculo XIX, e haja registros de produo dessas canetas em Praga (na

    ento Tchecoslovquia) em 1935, considera-se como o Pai da esferogrfica o hngaro Ladislao Biro, que

    desenvolveu, em 1938, uma caneta com a ponta rotatria. Fugindo da Segunda Guerra, Biro mudou-se

    para a Argentina, onde comeou a produzir suas canetas, ainda na dcada de 40. Logo, a Fora Area

    Americana mostrou interesse em obter essas canetas, que no vazavam mesmo de cabea para baixo,

    para us-las em seus avies (os soviticos foram mais eficientes, usaram lpis).

    Ainda na dcada de 40 a caneta esferogrfica foi lanada comercialmente nos EUA, sendo um

    verdadeiro fracasso, por falhar frequentemente e por vezes vazar tinta. Mas em meados dos anos 1950,

  • a Parker lanou um modelo que logo se popularizou no mercado americano, tanto pela eficincia

    quanto por seu baixo custo.

    Os traos das canetas esferogrficas caracterizam-se por apresentar pouca variao em sua

    largura e na espessura da tinta em funo da presso aplicada. A tinta pastosa tende a se concentrar

    principalmente na superfcie das fibras mais externas do papel, restando muitos buracos no-

    entintados. Alm disso, so frequentes as esqurolas e as estrias.

    Escritas produzidas por canetas esferogrficas. Em cima, traado rico em estrias. Embaixo, as setas apontam para algumas esqurolas.

    As primeiras esferogrficas usavam tintas base de gorduras animais, mal-cheirosas, e

    produziam muitas falhas, caractersticas que retardaram sua ampla aceitao no mercado. Alm disso,

    havia certo preconceito quanto facilidade de se falsificar uma assinatura feita com caneta

    esferogrfica. Em meados dos anos 1950, as tintas passaram a ter base gliclica (feitas com glicol, um

    polilcool de alta viscosidade), e suas caractersticas melhoraram consideravelmente, inclusive o odor. O

    glicol usado ainda hoje.

  • Portanto, as tintas de esferogrficas consistem em uma pasta de secagem rpida, formada de

    trs componentes principais: os corantes ou pigmentos (por vezes uma mistura de ambos), o solvente

    (que o veculo e tambm o responsvel pela fluidez da tinta, altamente voltil), e as resinas

    (substncias orgnicas de alto peso molecular, responsveis pela aderncia da tinta no suporte, e que

    no evaporam).

    esquerda, traos feitos com caneta esferogrfica do final dos anos 1960. direita, detalhe da distribuio superficial de uma tinta de caneta esferogrfica moderna.

    Preenchimentos feitos com caneta esferogrfica (data) e caneta-tinteiro (assinatura).

    As canetas de ponta porosa (porous-tip pens), desenvolvidas nos anos 1940 grandes, pesadas

    e difceis de manusear , foram usadas a partir dos anos 1950 como marcadores de madeira e outros

    materiais de uso industrial. Gradualmente a ponta foi sendo afilada e, em 1964 foi lanada no Japo e

    EUA uma verso com a ponta mais resistente (nylon-acrlico), e fina, prpria para escrita. Existem

    verses com tinta lavvel (de base aquosa) e permanente ( base de benzeno ou outros solventes

    orgnicos).

    Seus traos apresentam largura homognea, com pequenas sangrias transversais (migrao da

    tinta lquida ao longo de algumas fibras do papel), distribuio homognea da tinta mesmo entre as

    fibras do papel e ausncia de sulcos.

    Pouco tempo depois do lanamento da caneta esferogrfica, que usa tinta pastosa, j se

    comeou a pensar em adapt-la para ser usada com uma tinta mais fluida. Porm, somente no final dos

    anos 1960 obteve-se sucesso, com o desenvolvimento da roller ball pen, ou esferogrfica de tinta

    lquida, com base no mais oleosa, mas aquosa. Essa caneta pode ser considerada um misto de canetas-

  • tinteiro e canetas esferogrficas comuns, pois possui uma esfera em sua ponta como estas e usa tinta

    lquida como aquelas.

    Seus traos so, porm, bastante caractersticos, lembrando um pouco o das canetas de ponta

    porosa, mas apresentando um sulco formado pela presso da esfera no papel, que no ocorre com estas

    ltimas. Diferente das esferogrficas comuns, a tinta satura completamente a superfcie do papel

    cobrindo inclusive as falhas existentes entre as fibras e produzem um leve sangramento de tinta nas

    bordas. Alm disso, no produzem esqurolas nem estrias. Outra caracterstica a presena eventual de

    um fenmeno chamado flow-back, que um ligeiro refluxo de tinta no final de um trao, causado por

    uma pequena demora em levantar a caneta, que permanece parada, mas soltando tinta no papel. O

    excesso de tinta retorna pelo trao por uma pequena distncia, deixando essa poro mais escura. Essa

    caracterstica tambm pode ocorrer com canetas-tinteiro, cujos traos se diferenciam dos produzidos

    por esferogrficas de tinta lquida por apresentarem grande variao de largura e pelo duplo sulco,

    formado pela abertura da fenda em sua ponta.

    Traos feitos com caneta esferogrfica de tinta lquida.

    Traos feitos com caneta esferogrfica de tinta lquida, vistos com luz rasante, evidenciando-se os sulcos no papel.

  • As canetas esferogrficas base de gel (gel pens) foram lanadas em 1984, no Japo,

    inicialmente com o propsito de serem menos agressivas ao meio-ambiente, por no conterem

    produtos orgnicos volteis. Tambm usam uma esfera na ponta, mas sua tinta mais viscosa que a das

    roller ball, sem ser pastosa (oleosa) como a das esferogrficas. A tinta consiste em um gel contendo

    pigmentos ou corantes dispersos, havendo um vasto leque de tonalidades disponveis, inclusive cores

    especiais, como metlicas, dourados, etc. Por essa razo, fazem muito sucesso entre adolescentes e

    artistas.

    Uma caracterstica marcante de seus traos a tendncia de haver maior concentrao de tinta

    prximo s bordas do que no centro, de onde ela costuma ser empurrada pela presso da esfera

    sobre o papel. Esse efeito, no entanto, no ocorre em todos os traos.

    A histria do lpis comea com uma tempestade em 1564, na Inglaterra, quando um imenso

    carvalho foi arrancado, deixando uma cratera no solo, na qual se descobriu uma enorme jazida de

    grafite de alta pureza. Data de apenas um ano mais tarde o primeiro registro de um instrumento de

    escrita que consistia em um pedao de grafite inserido em uma estrutura de madeira.

    A tinta dos lpis comuns constituda basicamente de grafite, misturada com caulim (uma

    espcie de argila), com a finalidade de aumentar sua dureza. Quanto maior a percentagem de grafite em

    sua constituio, menor sua dureza. Lpis coloridos so produzidos com ceras, misturadas com

    pigmentos diversos.

    Os traos produzidos a lpis se formam pela frico produzida na superfcie do papel, que

    arrancar finas camadas de grafite, a qual se depositar na superfcie do suporte, sem penetrar em sua

    trama interna. Portanto, a abraso provocada por uma borracha pode remover quase totalmente a

    grafite depositada no papel.

    Por ser constituda basicamente de carbono, a grafite opaca ao infravermelho, permanecendo

    escura quando observada sob radiao dessa faixa espectral. Assim, mesmo depois de removido com

    borracha, um trao feito a lpis pode permanecer ainda ntido quando observado com luz

    infravermelha, graas s pequenas quantidades de grafite remanescentes.

  • Comparao entre as caractersticas dos traos produzidos por penas de aves (quill), penas metlicas (steel pen), canetas-tinteiro (fountain), estilogrficas e esferogrficas (ballpoint). Stub pens so espcies de penas metlicas com a ponta no-fendida, que produzem traos mais largos e homogneos. Eram raras na segunda metade do sculo XIX, mas ganharam boa fatia do mercado no incio do sculo XX. Imagem: NICKELL, J. - Pen, ink and evidence New Castle: Oak Knoll Press, 2003.

    TINTAS

    A origem das tintas obscura. J no terceiro milnio antes de Cristo, os egpcios escreviam em

    papiro com pincis feitos de junco, usando uma tinta preta, constituda de fuligem e resinas vegetais,

    semelhante s tintas usadas pelos chineses. Por serem constitudas basicamente de carbono (carvo),

    essas tintas so extremamente estveis, no sofrendo alteraes por exposio luz ou a produtos

    qumicos, e permanecem escuras por sculos. Mesmo em anlises espectrais feitas na regio do

    infravermelho, essas tintas permanecem opacas (escuras). O toner preto, usado em impressoras laser, e

  • vrias tintas grficas, como a tinta da ndia e algumas tintas para carimbo, so constitudos

    essencialmente de carbono, e apresentam as mesmas propriedades. Isso tambm vale para os traos

    feitos a lpis, formados de grafite.

    No entanto, as tintas primitivas apresentavam um problema. No eram absorvidas pelo suporte

    (papiro, pergaminho, papel) e permaneciam na superfcie, sendo facilmente removidas por abraso ou

    lavagem.

    O desenvolvimento das tintas ferro-glicas resolveu esse problema. Essas tintas, encontradas

    em pergaminhos gregos do segundo sculo, mas que s passaram a ser bem conhecidas a partir do

    sculo XI, consistem em uma mistura aquosa de sais de ferro e tanino este ltimo extrado de vegetais

    ou de alguns insetos.

    Essa frmula antiga produz tintas com tonalidade prpura bastante tnue, que vai

    gradualmente escurecendo devido oxidao do ferro um processo que leva vrios meses , at se

    tornar preta. Depois de algum tempo (dcadas ou sculos), essa tonalidade esmaece at se transformar

    em um marrom desbotado, como se observa em alguns documentos antigos. Tal caracterstica foi muito

    usada no passado para se determinar a idade da tinta, ou seja, descobrir a quanto tempo a tinta havia

    sido colocada no papel.

    Como alguns de seus constituintes so cidos (cido tnico e cido glico), as tintas ferro-glicas

    corroem o papel e as penas metlicas, sendo mais apropriadas para penas de aves. Muitos manuscritos

    antigos apresentam buracos no papel, exatamente onde havia traos a tinta, resultantes de uma lenta

    corroso.

    Em meados do sculo XIX, com o desenvolvimento de pigmentos sintticos, o ndigo ou a anilina

    passaram a ser adicionados nas frmulas das tintas. Assim, conseguia-se uma tonalidade mais forte

    (azulada) j no momento da aplicao da tinta que, com o tempo, tornava-se ainda mais escura pela

    oxidao do ferro. Antes dessa alterao, muitas tintas eram praticamente incolores no momento da

    aplicao.

    At o incio do sculo XX, poucas modificaes foram feitas nas frmulas usadas para produzir

    tintas, que eram invariavelmente de base aquosa. Com a inveno da caneta esferogrfica, a tinta

    passou a ter uma base oleosa, e muitas variaes foram produzidas para os novos tipos de canetas que

    foram sendo desenvolvidos.

    Atualmente, a maioria das tintas empregadas em canetas e em impressos grficos formada

    por uma complexa mistura de substncias diversas, e contm pigmentos ou corantes sintticos, que

    quase no sofrem oxidaes por agentes naturais (oxignio e oznio, p. ex.), mantendo suas tonalidades

    praticamente inalteradas por muito tempo.

  • Exame de tintas

    Em algumas situaes, pode ser necessrio verificar se determinada tinta foi empregada na

    produo de um documento, ou ento se foram usadas mais de uma tinta. Em certos casos, a presena

    de duas tintas pode ser indicao segura de um acrscimo de informaes (alterao do valor de um

    cheque, p. ex.).

    A principal caracterstica de uma tinta sua cor. Naturalmente que outras propriedades, como

    resistncia ao da luz, aderncia ao suporte e a capacidade de secar rapidamente quando aplicada,

    sem que se solidifique na caneta, tambm so qualidades desejadas, sendo obtidas com adio de

    certas substncias qumicas que no necessariamente influenciaro na cor da tinta.

    A funo de produzir cor exercida por compostos qumicos designados de colorantes. Estes se

    dividem em pigmentos e corantes (no confundir corante e colorante), cuja principal diferena reside no

    tamanho de sua partcula ou unidade mais elementar. Os corantes dissolvem-se completamente no

    solvente e, portanto, sua unidade a prpria molcula. Os pigmentos, ao contrrio, so grandes

    aglomerados de molculas que no se dissolvem no solvente, e precisam ser mantidos em suspenso,

    com auxlio de substncias emulsificantes.

    Apesar de haver importantes diferenas entre corantes e pigmentos (estes mais resistentes

    ao de fatores ambientais e a remoes fsicas ou qumicas, e aqueles capazes de produzir cores mais

    intensas, p. ex.), ambos exercem basicamente a mesma funo: produzir cor. A cor de um colorante se

    deve a determinadas regies de suas molculas, chamadas de cromforos, que geralmente so grupos

    funcionais com ligaes duplas ou triplas (nuvens eletrnicas), capazes de absorver radiaes

    eletromagnticas que contenham um valor energtico (comprimento de onda ou frequncia

    vibracional) na faixa da luz visvel. Os raios luminosos no absorvidos que constituiro a tonalidade da

    tinta, ao atingirem os olhos do observador ou o sensor de algum equipamento colorimtrico.

    As outras regies das molculas de colorantes (alm de vrios outros compostos brancos ou

    incolores, como solventes e resinas, p. ex.) podem absorver radiaes com um nvel energtico mais

    baixo (ou seja, com comprimento de onda mais alto), especialmente na regio espectral do

    infravermelho, mas no contribuem para a formao da cor.

    Naturalmente que uma substncia que no absorve luz visvel apresentar cor branca (ex.: sal

    de cozinha, amido, bicarbonato de sdio), ou ser transparente (se permitir a passagem da luz, como o

    vidro e a gua). Outras que absorvem em toda a regio espectral visvel, tero cor preta (ex.: carvo,

    grafite). Um colorante amarelo absorve todas as faixas de luz visvel com exceo do amarelo, e assim

    por diante.

    Assim, quando uma luz branca incide sobre um papel branco, a maior parte de seus raios, de

    todos os comprimentos de onda, sero refletidos (ele branco justamente por isso), embora uma

    pequena parcela atravesse sua massa (nenhum papel completamente opaco; todos apresentam certa

  • translucidez). Se nesse papel houver um trao feito com tinta azul, uma parte dos raios ser absorvida

    pelos colorantes dessa tinta (com exceo dos raios azuis). O restante da luz atingir o papel, onde

    praticamente todos os raios sero refletidos (ou atravessaro sua massa) e, no caminho de volta, a luz

    sofrer nova filtragem pela tinta, de maneira que somente os raios no absorvidos pelo colorante

    atingiro os olhos do observador.

    Se a tinta tiver colorao preta, a nica diferena que todos os raios luminosos tendero a ser

    absorvidos, inclusive os azuis.

    Na prtica, uma tinta preta absorve um pouco menos que cem por cento da luz visvel, uma

    tinta azul reflete um pouco menos que cem por cento dos raios azuis (e no retm totalmente os raios

    das outras faixas espectrais), assim como o papel no reflete todos os raios incidentes. Ou seja, no

    existem papis cem por cento brancos nem colorantes com eficincia total.

    O olho humano uma excelente ferramenta de anlise, capaz de detectar pequenas diferenas

    de tonalidade entre duas tintas, desde que se disponha de boas condies de iluminao e de bons

    dispositivos de ampliao (lupas, microscpios, etc).

    A luz natural (luz solar indireta) um dos melhores sistemas de iluminao para se identificar

    tonalidades, por se tratar de uma luz branca, isto , constituda de praticamente todos os comprimentos

    de onda capazes de sensibilizar o olho humano. Mas isso no exclui a utilizao de outras fontes de luz,

    at mesmo de lmpadas incandescentes que produzem uma luz amarelada, bastante pobre quanto ao

    espectro eletromagntico que a constitui e das lmpadas fluorescentes, que produzem uma luz

    (quase) branca. Existem ainda sistemas especiais capazes de produzir efetivamente luz branca, usados

    em grficas profissionais para checagem de cores em impressos de alta qualidade.

    Se dois traos quaisquer foram produzidos com a mesma tinta, no mesmo papel e na mesma

    ocasio, obrigatoriamente apresentaro tonalidades semelhantes, podendo haver variaes apenas

    devido espessura da camada de tinta aplicada. Essa semelhana ser mantida sob qualquer sistema de

    iluminao (luz natural, lmpada incandescente, luz de flash, luz infravermelha, etc). J duas tintas

    diferentes (de composies qumicas distintas) at podem apresentar tonalidades semelhantes em

    vrios desses sistemas mas eventualmente apresentarem alguma diferena quando observadas sob um

    deles. Embora na prtica essa situao no seja to comum, ela oferece uma oportunidade de anlise de

    tintas de forma simples e no destrutiva ou seja, sem que se danifique o documento para sua

    realizao, o que possibilita que a anlise seja repetida tantas vezes quantas forem necessrias.

    A explicao desse fenmeno reside num fato que pode ser chamado de metamerismo das

    tintas. Por exemplo, uma determinada tinta constituda de um nico pigmento A produz, sob luz

    branca, uma tonalidade X. Outra tinta, constituda de dois pigmentos quimicamente diferentes de A,

    que chamaremos de B e C, produz, sob luz branca, essa mesma tonalidade X, devido ao somatrio

  • dos efeitos individuais de cada um de seus pigmentos (metmeros), os quais isoladamente produziriam

    tonalidades completamente diferentes.

    Se a primeira tinta for observada sob um sistema de iluminao diferente (lmpada

    incandescente, p. ex.), seu pigmento produzir uma tonalidade ligeiramente diferente, que chamaremos

    Y. Esse fenmeno facilmente demonstrvel pelas diferenas que as cores de roupas apresentam

    noite, em relao ao que elas so de dia. Sob lmpadas incandescentes, os dois pigmentos da segunda

    tinta, tambm produziro efeitos diferentes, mas seu somatrio no necessariamente produzir a

    tonalidade Y.

    Alm de diferenas de tonalidades, com anlises visuais pode-se tambm determinar o tipo de

    instrumento (caneta) que produziu o trao (p. ex., esferogrfica, ponta porosa, pena metlica).

    Mas infelizmente existem limitaes nesse tipo de exame, que so inerentes ao sistema visual

    humano. Em primeiro lugar, os limites de deteco de radiaes (luz) do olho situam-se em uma estreita

    faixa espectral, que vai de 400 a 700 nm. Segundo, apenas significativas variaes de tonalidades so

    percebidas. Terceiro, a viso humana sofre interferncias de condies externas, que no podem ser

    compensadas, como por exemplo, a tonalidade do papel utilizado no documento. Alm disso, o ser

    humano est sujeito a interferncias intrnsecas, como aquelas de ordem psicolgica, p. ex.

    Por essa razo, tais anlises normalmente so feitas com auxlio de equipamentos apropriados,

    os espectrofotmetros, que quantificam numericamente as tonalidades apresentadas pelas tintas. Esses

    equipamentos consistem em um sistema de iluminao normalmente formado por pelo menos duas

    ou trs lmpadas, de maneira a produzir luz visvel, ultravioleta e infravermelha , um sistema de

    deteco da luz refletida pelo documento (geralmente um dispositivo CCD1) e, entre esses dois sistemas,

    um conjunto de lentes e filtros pticos, que controla tanto a luz que incide sobre o documento quanto

    aquela por ele refletida ou emitida.

    Algumas lmpadas incandescentes especiais so capazes de emitir luz branca (entre 400 e 700

    nm), bem como luz na faixa do infravermelho prximo2. O calor que se sente ao se expor a pele a sua luz

    provm justamente da radiao infravermelha. Para se obter luz ultravioleta, de contedo energtico

    bem mais alto, so necessrias lmpadas exclusivas, que emitem radiao entre 250 e 380 nm, e um

    pouco acima, na regio visvel do violeta.

    1 CCD: charge coupled device, um dispositivo composto de milhes de sensores

    microscpicos que transformam raios luminosos em impulsos eltricos, permitindo literalmente digitalizar imagens. A intensidade do impulso eltrico diretamente proporcional da luz que atinge cada um dos sensores. Esse tipo de tecnologia tambm usado nas cmeras fotogrficas digitais e nos escneres.

    2 Por ser muito extensa, a regio espectral do infravermelho arbitrariamente dividida em

    infravermelho prximo (entre 700 e 3000 nm), mdio (de 3 a 6 m), distante (de 6 a 15 m) e extremo (15 a 1000 m, ou 1 mm). Acima desta ltima faixa, comea a regio das microondas. A regio do infravermelho prximo a mais importante para a Documentoscopia. Os limites apresentados para cada faixa no so unnimes.

  • Os filtros so estruturas semitransparentes cuja constituio qumica promove a reteno de

    raios luminosos de determinados comprimentos de onda, permitindo a passagem dos demais. Por

    exemplo, um filtro vermelho absorve todos os comprimentos de onda que no estejam na faixa

    espectral do vermelho, e permite a passagem da luz vermelha apenas.

    Existem basicamente trs tipos de filtros, os de passo alto (ou passo largo), os de passo baixo e

    os de passo estreito (ou de banda). Os filtros de passo alto somente permitem a passagem de luz com

    comprimento de onda acima de determinado limite, retendo todos os raios luminosos menores. Por

    exemplo, um filtro de passo alto de 700 nm retm todos os raios abaixo dessa faixa, permitindo a

    passagem apenas da luz infravermelha, barrando os raios de luz visvel. Os filtros de passo baixo

    permitem a passagem de raios com comprimento de onda abaixo de determinado limite. Os filtros de

    passagem de banda, realizam simultaneamente as duas funes, permitindo a passagem de raios cujos

    comprimentos de onda estejam em uma estreita faixa espectral (banda), retendo todos os demais.

    Normalmente, os equipamentos especializados utilizam sequencialmente dois ou mais desses

    filtros, conforme programado pelo operador, e conforme a atividade que ser realizada.

    O dispositivo de captura de imagem, CCD, sensvel a raios luminosos na faixa entre 400 e 1000

    nm3.

    Espectrofotmetros com estrutura semelhante aqui descrita so capazes no apenas de

    comparar o comportamento das tintas em diversas regies espectrais, como tambm de realizar uma

    varredura em toda a faixa compreendida entre 400 e 1000 nm (e eventualmente em algumas regies

    abaixo dessa faixa), registrando a intensidade da luz refletida, transmitida ou emitida pelas tintas que

    existem em um documento.

    Assim, duas tintas que apresentem tonalidades idnticas, isto , que quando iluminadas com luz

    branca (400 a 700 nm) produzam a mesma sensao no sistema visual humano, no necessariamente

    filtram a luz da mesma forma. Uma delas pode refletir determinados comprimentos de onda na regio

    espectral do azul, tratando-se, portanto, de um azul puro, enquanto que a outra pode refletir esses

    mesmos comprimentos de onda, e ainda alguns outros um pouco menores (na regio do violeta) e um

    pouco maiores (na regio do verde), de maneira que a tonalidade final seja idntica da primeira tinta.

    Se observadas com luz branca e sem auxlio de filtros, essas tintas parecero idnticas. Mas se

    forem observadas com auxlio de um filtro de passo de banda, que permita a passagem apenas de raios

    localizados na regio espectral do verde, a primeira tinta aparecer mais escura (pois deixou passar

    apenas raios azuis, que foram barrados pelo filtro), enquanto que a segunda aparecer mais clara (pois

    deixou passar uma pequena quantidade de raios verdes, que no foram barrados pelo filtro).

    3 Na realidade, as cmeras fotogrficas digitais seriam sensibilizadas por radiao infravermelha, para a qual o olho humano cego. Mas, para que uma fotografia digital seja capturada com tonalidades o mais prximo possvel das que seriam percebidas pelo olho humano, todos os raios acima de 700 nm precisam ser filtrados e retidos.

  • Esse mesmo raciocnio vale para anlises na regio espectral do infravermelho.

    A imagem a seguir mostra o grfico de varredura espectrofotomtrica de duas tintas azuis, de

    tonalidades ligeiramente diferentes.

    Representao de uma varredura de refletncia de duas tintas azuis. O grfico apresenta a intensidade da luz refletida (eixo vertical) em cada ponto da regio espectral (eixo horizontal) entre 400 e 1000 nm. Na regio entre 400 e 500 nm (seta a), a tinta 1 reflete um pouco mais a luz e, por essa razo deve apresentar uma tonalidade um pouco mais clara que a tinta 2. De 500 a 670 nm, elas se comportam da mesma maneira (seta b). Mas ainda que elas apresentassem comportamentos idnticos na regio do visvel, elas seriam facilmente diferenciadas na regio do infravermelho, onde a tinta 2 consideravelmente mais opaca, ou seja, reflete menos intensamente que a tinta 1 (setas c e d). Como somente os raios de 400 a 700 nm so percebidos pelo olho humano, as diferenas acima de 700 nm no interferem na cor das tintas, que devero apresentar tonalidades muito parecidas.

    A prxima imagem mostra o grfico de varredura espectrofotomtrica de tintas de vrias cores,

    inclusive de um lpis preto.

    a b

    c

    d

    Tinta 1

    Tinta 2

  • Comportamento de vrias tintas em uma varredura de refletncia. Conforme indicado na legenda ao lado, foram testadas tintas de tonalidades azul-clara, azul escura, vermelha e preta, alm de um trao a lpis (grafite). Como era de se esperar, as tintas azuis so as que mais refletem na regio espectral do azul (400-450 nm), a vermelha reflete mais entre 600 e 700 nm, e a preta reflete pouco em toda a faixa do visvel (400-700 nm). A grafite reflete

    pouco em todas as faixas testadas, inclusive no infravermelho.

    O fenmeno at aqui descrito chama-se refletncia, isto , a capacidade de as tintas refletirem

    raios luminosos de determinados comprimentos de onda, e absorverem outros. A absorbncia consiste

    basicamente no inverso, ou seja, quanto maior a refletncia de uma tinta em determinado comprimento

    de onda, menor sua absorbncia, e vice-versa.

    Um fenmeno bastante diferente da refletncia e da absorbncia a fluorescncia. Enquanto

    que nos dois primeiros casos a luz interage com as molculas do colorante e, se no for absorvida,

    refletida ou transmitida exatamente com a mesma quantidade de energia (e com o mesmo

    comprimento de onda), a fluorescncia caracteriza-se por uma absoro parcial de energia pela

    molcula do colorante. Portanto, a luz refletida ser menos energtica que a incidida, apresentar maior

    comprimento de onda e, naturalmente, outra cor. Normalmente a variao grande o suficiente para

    que luz ultravioleta incidente seja refletida como luz visvel (geralmente azulada ou esverdeada) ou a luz

    visvel incidente seja refletida como luz infravermelha. Esta ltima faixa a mais til para a anlise de

    tintas.

    Para isso, necessria uma fonte de luz visvel extremamente potente, j que o fenmeno da

    fluorescncia fraco. Como as lmpadas que emitem luz visvel tambm produzem alguma quantidade

    de luz infravermelha, necessrio usar um filtro entre a lmpada e o documento, a fim de barrar todos

    azul clara

    azul escura

    vermelha

    preta

    lpis

  • os raios acima de 700 nm, de maneira que a tinta receba apenas luz visvel. (Afinal, o que ser analisado

    a luz infravermelha emitida pela tinta e no a refletida).

    Se a tinta for fluorescente, ela absorver parte da luz visvel e a devolver sob a forma de luz

    infravermelha. No entanto, a luz visvel no absorvida (geralmente sua maior parte) ser refletida, e ir

    interferir no resultado. Assim, necessrio ainda outro filtro, localizado entre o documento e o

    detector, que reter apenas a luz visvel, deixando passar integralmente os raios infravermelhos.

    Tintas no fluorescentes sero percebidas como pretas, independentemente de sua cor (pois

    estamos trabalhando na regio do infravermelho), enquanto que as fluorescentes aparecero brancas.

    importante ressaltar que, como o olho humano cego luz infravermelha, essas anlises precisam ser

    realizadas em equipamentos que sejam sensveis ao infravermelho, transformem esses raios em

    impulsos eltricos, e apresentem o resultado final em um monitor, j traduzido para o sistema visual

    humano, ou seja, em cores localizadas dentro da faixa do visvel.

    Esquema de um sistema para anlise de fluorescncia infravermelha. A: fonte luminosa. B: raios de luz visvel incidentes. C: raios infravermelhos incidentes. D: filtro que retm apenas a luz infravermelha. E: documento com a tinta a ser analisada. F: luz visvel refletida pela tinta. G: luz infravermelha emitida pela tinta (fluorescncia infravermelha). H: filtro que retm apenas a luz visvel. I: detector e quantificador de luz, com sensibilidade entre 400 e 1000 nm.

  • Exemplo de manuscritos observados com iluminao normal, sem uso de filtros (A), com iluminao normal e filtro infravermelho, que barra a luz visvel (B), e com luz visvel intensa, tambm com filtro infravermelho (C). Em B, as palavras acrescentadas desaparecem, por terem sido feitas com tinta transparente ao infravermelho. Em C, a tinta original fluoresceu fracamente, enquanto que a tinta usada no acrscimo no apresentou fluorescncia.

    A

    B

    C

  • Detalhe de manuscritos feitos com caneta esferogrfica de tinta preta, sobre manuscritos a lpis, que posteriormente foram apagados com borracha. Na imagem de cima, produzida com luz rasante, percebem-se apenas os sulcos dos escritos apagados, praticamente sem vestgios de grafite. Na imagem de baixo, em anlise de fluorescncia infravermelha, a tinta da caneta fluoresceu, tornando-se branca, enquanto que os vestgios de grafite absorveram fortemente toda a luz incidida, tornando-se muito mais escuros que o papel.

    A imagem esquerda mostra trs tintas azuis de canetas esferogrficas, pouco distinguveis por suas tonalidades sob luz visvel em condies normais. direita, as mesmas tintas so analisadas em condies que permitem observar a emisso de fluorescncia infravermelha. Duas tintas fluorescem com intensidades diferentes, e uma delas no apresenta fluorescncia.

    Datao de tintas

    Anlises de datao de tintas visam descobrir a quanto tempo determinada tinta foi aposta em

    um suporte (papel, p. ex.). Seus resultados podem subsidiar dataes de documentos, bem como a

    constatao de documentos assinados em branco (uma tinta de assinatura mais antiga que a data do

    documento pode ser indcio de que ele tenha sido assinado em branco).

    Existem duas abordagens bsicas nessa rea, as dataes absolutas e as relativas. No primeiro

    caso, tenta-se determinar a poca em a tinta foi aplicada no documento (p. ex., se a tinta foi aplicada no

    ano X, ou antes do ano Y, ou depois do ano Z). No segundo caso, comparam-se duas tintas em um

  • mesmo documento para se verificar se foram apostas na mesma poca ou no, sem necessariamente

    determinar sua idade absoluta.

    No incio dos anos 1970, um programa gerenciado pelo Bureau of Alcohol, Tobacco and

    Firearms, do governo americano, em comum acordo com diversos fabricantes, controlou a adio de

    certos elementos qumicos (terras-raras) na frmula das tintas de canetas, os quais funcionavam como

    marcadores. A cada ano adicionava-se um elemento diferente, de maneira a identificar a poca de

    produo da tinta, bem como o seu fabricante. A identificao do elemento pode ser feita por

    cromatografia em camada delgada (um mtodo destrutivo), combinada com ensaios instrumentais. No

    entanto, em meados dos anos 1990, esse programa foi descontinuado.

    Muitas tentativas de produzir bibliotecas e colees de tintas tm sido feitas, tanto por rgos

    do governo americano quanto por pesquisadores particulares. O objetivo registrar o ano em que

    determinada frmula de tinta foi lanada no mercado, o que permite definir, por exemplo, que um

    documento no poderia ter sido produzido antes de determinado ano devido tinta usada em sua

    produo. A grande quantidade de fabricantes de tintas e de frmulas j lanadas no mercado

    praticamente inviabiliza a possibilidade de se ter uma coleo completa.

    Alguns mtodos desenvolvidos nos anos 1980 e 1990 consistem em quantificar a facilidade

    com que a tinta removida do papel (mtodo destrutivo), a qual inversamente proporcional ao tempo

    em que ela foi aplicada. No entanto, como as condies de armazenagem do documento, o tipo de

    papel e a frmula da tinta certamente interferem no resultado, esse mtodo s aplicvel para se

    afirmar se dois lanamentos feitos com a mesma tinta e no mesmo documento foram produzidos na

    mesma poca ou no, tratando-se, portanto, de um mtodo mais apropriado para dataes relativas.

    Alguns progressos tm sido obtidos em anlises que enfocam alguns componentes volteis das

    tintas (solventes, p. ex.) em vez de corantes e pigmentos. Tais mtodos tambm so destrutivos e

    exigem equipamentos sofisticados, como cromatgrafos, e se baseiam na concentrao de substncias

    que tendem a evaporar com o tempo. As variaes decorrentes das condies de armazenagem do

    documento so uma das limitaes a que essas anlises esto sujeitas. Outro fator limitante o perodo

    de tempo em que eles podem ser aplicados. Por exemplo, uma anlise realizada em 2010 sobre um

    documento datado de 2007, mas na realidade produzido em 2009 pode apresentar resultados teis. No

    entanto, se essa mesma anlise envolvesse um documento datado de 1997, mas produzido em 1999,

    certamente no seria possvel chegar a uma concluso segura.

    Em resumo, datao de tintas um assunto ainda polmico, que deve ser tratado com extrema

    cautela. Essas anlises devem se basear em mtodos cuja reprodutibilidade tenha sido meticulosamente

    testada por meio de ensaios cegos, e sejam amplamente aceitos pela comunidade cientfica. Nesse tipo

    de anlise prefervel no apresentar uma concluso a emitir uma concluso equivocada.

  • Quando uma tinta aplicada no papel, seu principal solvente evapora rapidamente, para que a

    secagem da tinta no seja retardada, e provoque manchas por contato com a mo que est

    escrevendo. Mas alguns de seus componentes, por no serem volteis, apresentam uma velocidade de

    secagem mais lenta, como ocorre com as resinas, que demoram cerca de cinco anos para se tornarem

    completamente slidas4 em canetas esferogrficas e trs anos em outros tipos de canetas.

    Como as resinas so responsveis, entre outras funes, pela aderncia da tinta ao suporte,

    pode-se inferir que quanto mais antiga for a tinta, mais firmemente ela estar aderida, e mais

    dificilmente poder ser removida do papel.

    Assim, um teste proposto por Brunelle e Cantu (BRUNELLE, et al., 2003) para datao da idade

    da tinta considera o grau de sua fixao ao papel, determinando-se a facilidade com que a tinta

    removida pela ao de um solvente fraco (1-butanol, p. ex.). Trata-se de um mtodo destrutivo, que

    implica a remoo de 12 pequenas amostras do documento, causando algum dano a sua integridade.

    Essas amostras so pores quase microscpicas retiradas com auxlio de instrumento

    apropriado, e devero conter uma pequena poro da tinta a ser examinada5.

    O procedimento sugerido pelos autores o que se segue:

    1) Cada amostra removida do documento, contendo uma poro da tinta questionada, ser

    colocada individualmente em um pequeno recipiente. Esses recipientes devero ser numerados

    de 1 a 12.

    2) A seguir, adicionam-se 20 l (microlitros) do solvente fraco a um dos recipientes, e dispara-se

    um cronmetro.

    3) Agitar 5 vezes o recipiente assim que o solvente for adicionado, e mais 5 vezes

    imediatamente antes de remover a alquota para a medio de sua densidade ptica.

    4) Remover uma alquota de 4 l exatamente aps 30 segundos da adio do solvente e aplicar

    em uma placa de cromatografia em camada delgada de alta performance (HPTLC).

    5) Repetir outras trs vezes os passos de 2 a 4 (com outros frascos), porm usando tempos de

    extrao de 1, 3 e 10 minutos, respectivamente. Nesse momento, haver quatro amostras

    aplicadas na placa cromatogrfica.

    6) Repetir os passos de 2 a 5 mais duas vezes (com os 8 frascos ainda no usados), de modo que

    haja doze amostras aplicadas na placa, ou seja, o teste realizado em triplicata para cada tempo

    de extrao, a fim de reduzir a margem de erro. O espaamento entre cada amostra aplicada na

    placa deve ser suficiente para permitir a aplicao de outra amostra ao seu lado, que ser feito

    nas etapas seguintes. O nmero final de pontos na placa ser 24.

    4 As resinas solidificam-se por oxidao e polimerizao, e no por evaporao.

    5 Essas pores no precisam ter o mesmo tamanho, nem conter quantidades iguais de

    tinta.

  • 7) Evaporar o solvente remanescente nos doze frascos em uma estufa a 80 C, por 15 minutos.

    8) Retirar os frascos da estufa e deixar em repouso a temperatura ambiente por uma hora.

    9) Adicionar 10 l de um solvente forte a cada frasco (lcool benzlico ou, alternativamente,

    piridina). Agitar cada frasco individualmente.

    10) Aplicar uma alquota de 4 l de cada um dos frascos na mesma placa cromatogrfica, que

    conter agora vinte e quatro amostras. Cada uma dessas alquotas deve ser aplicada ao lado de

    sua correspondente da etapa anterior, conforme o nmero do frasco.

    11) Secar a placa em estufa a 80 C por 15 minutos.

    12) Deixar a placa resfriar at a temperatura ambiente.

    13) Medir a densidade ptica de cada amostra em um densitmetro para CCD6 (cromatografia

    em camada delgada).

    14) Pela densidade ptica medida, calcular a taxa de extrao da tinta pelo solvente fraco em

    cada um dos frascos, atribuindo queles referentes a 10 minutos de extrao uma taxa igual a 1.

    Para isso, considera-se a percentagem da densidade ptica de cada amostra obtida com o

    solvente fraco em relao quela obtida, a partir do mesmo frasco, com o solvente forte (ver

    adiante). Esse procedimento compensa as inevitveis diferenas de quantidade de tinta

    removidas com cada poro de papel usada no passo 1, que nunca tero o mesmo tamanho.

    15) Plotar em um grfico as taxas calculadas, conforme mostrado adiante.

    A densidade ptica (d) definida como o logaritmo decimal da razo entre a luz que incide em

    uma amostra e a luz que emerge dela, ou d = log(I0/I1), em que I0 a intensidade de luz

    incidente, e I1 a intensidade de luz emergente. No presente caso, essa relao se d entre a

    intensidade de luz que incide em cada ponto de amostra aplicada na placa e a intensidade de luz que

    refletida e capturada pelo densitmetro. O equipamento mede todos esses valores e ainda realiza os

    clculos, apresentando o valor final em um display.

    Ainda que teoricamente se possam obter infinitos valores de densidade ptica, na prtica a faixa

    de resultados se estende desde um pouco acima de zero at 2,0. Por exemplo, se 99% da luz incidente

    na amostra for refletida (ou seja, quase nada foi absorvido), a densidade ptica ser igual ao logaritmo

    de 100/99, ou log de 1,01, que aproximadamente 0,0043. Numa situao inversa, em que somente 1%

    da luz refletida, a densidade ptica ser igual ao log de 100/1, que igual a 2. Para resultados acima

    6 Apesar da utilizao de materiais prprios para CCD (placa e densitmetro), na verdade

    no se faz uma corrida cromatogrfica. A placa funciona apenas como um suporte que permite difuso homognea do eluente aplicado em sua superfcie. O uso de um densitmetro a forma mais prtica e precisa de se quantificar a tinta diluda na microgota de eluente aplicada na placa.

  • de 2 ou muito prximos de zero, a proporo entre a luz incidente e a emergente excessivamente alta

    ou baixa, podendo causar erros significativos.

    Considerando-se que em todas as amostras a intensidade da luz incidente a mesma, e que a

    capacidade de absorver luz (coeficiente de extino) tambm igual (j que em todos os pontos a tinta

    a mesma), a densidade ptica depende exclusivamente da concentrao da tinta em cada ponto,

    havendo uma relao direta de proporcionalidade entre elas.

    A tabela a seguir apresenta valores fictcios, que correspondem curva representada em

    vermelho no grfico mostrado mais adiante.

    Observaes: 1: Cada uma das doze amostras retiradas do documento, as quais certamente no apresentaro a mesma massa nem a mesma quantidade de tinta, da a necessidade de se medir a densidade ptica tambm com um solvente forte, a fim de se estabelecer a quantidade total de tinta em cada uma delas. 2: O tempo de extrao estabelecido na tcnica apresentada. Sua medio deve ser rigorosa. 3: Equivale quantidade de tinta extrada do pedao de papel (amostra) pelo solvente fraco, durante o respectivo tempo de extrao. 4: Equivale quantidade de tinta no extrada da amostra pelo solvente fraco, mas que foi totalmente extrada pelo solvente forte. 5: a soma de 3 com 4. Logo, corresponde quantidade total de tinta que havia em cada amostra. 6: a razo entre 3 e 5. Portanto, corresponde razo entre a quantidade de tinta extrada pelo solvente fraco e a quantidade total de tinta que havia em cada amostra. 7: A fim de padronizar e simplificar as comparaes, taxa de extrao no tempo 10 minutos atribudo o valor 1. Assim, as taxas dos outros tempos devem ser alteradas na mesma proporo. * Os campos marcados com asterisco tm o mesmo significado dos demais, e correspondem s outras oito amostras (todos esses procedimentos so realizados em triplicata, usando-se no final os valores mdios para cada tempo de extrao).

  • Neste grfico esto plotados valores fictcios de cinco tintas que possuem a mesma frmula e as idades apresentadas na legenda. A tinta examinada, cuja idade est sendo estabelecida, produzir uma curva semelhante a uma das aqui apresentadas, revelando sua idade. Mas, para isso, dever possuir composio qumica idntica das tintas padres. Como o formato das curvas depende da composio qumica da tinta, devem ser produzidos grficos de calibrao para cada frmula de tinta testada.

    Embora os autores afirmem que esse mtodo no sofre interferncias significativas do tipo de

    papel utilizado, nem das condies em que o documento foi armazenado, tal fato ainda no foi

    suficientemente demonstrado. Afirmam eles que, testando-se uma determinada tinta junto com outras

    tintas sabidamente aplicadas em um papel a 1, 2, 3, 4 e 5 anos, pode-se conseguir uma datao

    absoluta, desde que todas elas tenham exatamente a mesma frmula (confirmao que nem sempre

    muito simples de se obter).

    Apesar de serem questionveis as afirmaes anteriores (no que se referem a dataes

    absolutas), esse mtodo parece ser confivel para dataes relativas. Em outras palavras, dois

  • lanamentos realizados no mesmo documento e que, em tese, deveriam obrigatoriamente ter sido

    feitos na mesma data e com a mesma caneta, se testados com a metodologia aqui descrita, devero

    produzir grficos com exatamente as mesmas caractersticas. Caso contrrio, pelas posies relativas

    das curvas, pode-se estabelecer qual delas a mais antiga.

    Uma ltima observao importante sobre o limite de tempo em que essa tcnica pode ser

    aplicada: cinco anos.

    CRUZAMENTOS DE TRAOS

    A anlise de traos que se cruzam pode apresentar extrema importncia em determinadas

    situaes. Se em um litgio, uma das partes reconhece a assinatura de um documento como sua, mas

    afirma que determinada sentena no estava presente quando o assinou, a determinao de qual delas

    foi aposta primeiro (a assinatura ou a sentena) certamente resolver a questo. Para isso, no entanto,

    deve haver sobreposio de traos entre essa sentena e a assinatura.

    Mas tal determinao geralmente muito difcil de se estabelecer. Quando um trao a caneta

    produzido sobre uma folha de papel, a tinta tende a ser parcialmente absorvida pelo suporte. Se outro

    trao cruzar por cima do primeiro, no haver a formao de duas camadas de tinta independentes,

    mas a segunda tinta tender a se infiltrar nos espaos vazios deixados pela primeira, e a se misturar

    parcialmente com ela, dependendo de quanto esta j tenha secado. A nica certeza que se tem que a

    tinta mais escura sempre aparentar estar por cima da mais clara, independentemente da ordem em

    que elas foram aplicadas, produzindo uma iluso de ptica.

    Outra dificuldade neste tipo de anlise provm da grande variedade de tintas que podem

    constituir os traos que se cruzam: canetas de tintas lquidas ou pastosas, tintas para datilografia,

    carimbos e impressoras, tintas grficas, toner, etc.

    Embora existam equipamentos extremamente caros e sofisticados que podem facilitar anlises

    dessa natureza como o microscpio eletrnico de varredura, MEV , muitos esforos feitos por

    estudiosos da rea concentram-se em tcnicas que envolvam aparatos mais simples, disponveis para a

    maioria dos analistas. Vrios mtodos tm sido apresentados nas ltimas dcadas, sem que se tenha

    notcia de algum que possa ser considerado a soluo final, ou seja, eficiente e confivel para qualquer

    situao.

    importante ter a noo de que em uma anlise de cruzamento de traos, um resultado

    errneo infinitamente mais prejudicial do que um inconclusivo, especialmente quando no se dispe

    de outros dados para subsidiar as concluses (e descobrir o erro). Portanto, toda cautela nunca pode ser

    considerada excessiva.

    As abordagens dependero dos tipos de tinta e de instrumentos de escrita ou impresso

    envolvidos, mas as mais confiveis at o momento tm sido aquelas que consideram as perturbaes

  • que o trao mais antigo causa no mais recente, ainda que na maioria dos casos no seja possvel

    observar sinais que permitam chegar a uma concluso.

    Os fundamentos dessas abordagens so bastante simples. Quando um trao produzido sobre

    uma folha de papel, o instrumento de escrita (ou de impresso) interage com uma superfcie regular e

    limpa. No momento em que o segundo trao produzido, o instrumento precisa cruzar uma linha

    geralmente constituda por um sulco (exceto nas impresses com toner, a carimbo e a jato de tinta, p.

    ex.), e recoberta por uma tinta que altera as condies da superfcie, deixando-a por vezes mais lisa

    (tintas pastosas e oleosas) e s vezes mais spera. Essas condies podem provocar falhas no segundo

    trao.

    Em outras situaes, especialmente quando os traos so produzidos quase que

    simultaneamente, a ponta da caneta pode carrear, por uma frao de milmetro, algumas pores da

    tinta do primeiro trao, produzindo algumas manchas microscpicas logo depois do cruzamento.

    Outra abordagem consiste em analisar os sulcos produzidos por duas canetas que se cruzaram.

    Quando o primeiro trao produzido, ocorre um afundamento da superfcie do papel, geralmente

    deixando um sulco ntido, com as duas bordas mais altas que sua regio central. Quando o segundo

    trao produzido, essas bordas so desfeitas na regio do cruzamento e, se a superfcie for

    suficientemente macia, pode-se observar a continuidade das bordas do segundo trao inclusive na

    regio do cruzamento, embora essa continuidade seja bastante discreta.

    As imagens a seguir ilustram algumas situaes que permitiram definir a sequncia de traos,

    mas deve-se ressaltar que o sucesso no costuma ser a regra.

    Cruzamento de traos de caneta esferogrfica de tinta lquida sobre um trao feito com impressora matricial. Esta ltima tinta tem base oleosa, o que dificultou a penetrao da tinta lquida (de base aquosa) no papel, causando falhas em seu traado.

  • Mesma situao mostrada na imagem anterior.

    Cruzamento de traos produzidos por duas canetas esferogrficas de tinta pastosa de cores diferentes. Neste caso, a largura do segundo trao (azul) foi reduzida na regio do cruzamento, devido presena do sulco formado pelo primeiro trao, e possivelmente por interferncia de sua tinta de base pastosa, que tornou o papel mais escorregadio. Observar que a largura do trao vermelho no se altera na regio do cruzamento.

  • O trao a caneta removeu parte da tinta da impressodesta. Os caracteres foram produzidos por mquina datilogrfica eltrica, cuja slida, e aplicada com uma fita de polietileno. Essa tinta adere permanentemente ao papel somente depois de 1 a 2 dias.

    Mesma situao mostrada na imagem anterior. Aqui a anterioridade da datilografia constatada pela falha existente no trao a caneta (seta vermelha), gerada no momento em que ela atingiu a borda do sulco produzido pelo datilotipo. A ponta da caneta perdeu contato com o papel momentaneamente (o trao a caneta foi feito da direitacaneta comeou a ser novamente depositada.

    eu parte da tinta da impresso datilogrfica e, portanto, foi produzido depois caracteres foram produzidos por mquina datilogrfica eltrica, cuja

    uma fita de polietileno. Essa tinta adere permanentemente ao papel somente

    Mesma situao mostrada na imagem anterior. Aqui a anterioridade da datilografia constatada pela no trao a caneta (seta vermelha), gerada no momento em que ela atingiu a borda do

    datilotipo. A ponta da caneta perdeu contato com o papel momentaneamente (o trao a caneta foi feito da direita para a esquerda). A seta verde aponta para o local onde a tinta da caneta comeou a ser novamente depositada.

    datilogrfica e, portanto, foi produzido depois

    caracteres foram produzidos por mquina datilogrfica eltrica, cuja tinta carbnica e uma fita de polietileno. Essa tinta adere permanentemente ao papel somente

    Mesma situao mostrada na imagem anterior. Aqui a anterioridade da datilografia constatada pela

    no trao a caneta (seta vermelha), gerada no momento em que ela atingiu a borda do datilotipo. A ponta da caneta perdeu contato com o papel momentaneamente (o

    onta para o local onde a tinta da

  • Os cruzamentos analisados no necessariamente precisam envolver duas tintas. Neste caso, trata-se de cruzamento entre tintas lquidas de canetas diversas com uma dobra preexistente no papel. A anterioridade da dobra pode ser estabelecida pela excessiva sangria que a tinta sofreu nas regies deformadas do papel.

    Mesma situao da imagem anterior, com tintas pastosas de canetas esferogrficas.

  • A tinta mais clara est por cima da escura. Ambas as imagens foram produzidas com luz rasante incidindo da esquerda para a direita. Na imagem do alto, a sombra formada pela borda do sulco da tinta clara no se interrompe na regio do cruzamento, o que indica que esse trao foi produzido por ltimo. A imagem de baixo foi produzida aps girar o documento em 90o, para que a luz rasante agora incida perpendicularmente ao trao escuro. A falta de continuidade da sombra indica que o sulco da tinta escura foi interrompido na regio do cruzamento.

  • Mesmo cruzamento mostrado na imagem anterior, com luz rasante incidindo a partir da esquerda. O sulco da tinta mais escura interrompido pelo da mais clara, aplicada por ltimo.

    Outro cruzamento, mostrado nas mesmas condies da imagem anterior. O sulco da tinta lils, aplicada por ltimo, no interrompido na regio do cruzamento.

  • DATAO DE ASSINATURAS

    Em algumas situaes, em vez de se contestar a autenticidade de uma firma, pode-se

    eventualmente questionar em que poca ela foi produzida. Tal informao til para subsidiar anlises

    que visam datao de um documento. Por exemplo, constituiria uma inconsistncia um documento

    datado de 20 anos atrs apresentar uma assinatura que o escritor comeou a usar somente h 10 anos.

    Embora inconsistncias to grosseiras no sejam muito comuns numa situao como a

    anteriormente descrita, a pessoa que estiver assinando em um documento antedatado pode no ter

    conscincia de alteraes sutis que ocorreram em sua prpria firma com o passar do tempo,

    especialmente quando elas ocorreram gradativamente.

    No existe uma regra para se estipular que caractersticas devem ser consideradas nessas

    ocasies, mas quanto mais sutis elas forem, mais importantes se tornam. Algum que tenha alterado

    significativamente a forma de sua assinatura p. ex., que assinava o seu nome em escrita cursiva

    normal e passou a produzir uma firma estilizada certamente ter conscincia disso e, ao assinar um

    documento antedatado ir faz-lo com o formato antigo. Mas as caractersticas de sua escrita normal

    podero ter sofrido alguma alterao no perodo de tempo decorrido entre a data fictcia do documento

    e a data real. Convm ainda ressaltar que algumas pessoas podem no apresentar nenhuma alterao

    nas caractersticas de sua firma durante toda a sua vida.

    Para anlises dessa natureza, fundamental que se disponha de um grande nmero de

    assinaturas da pessoa em questo, cujas datas devem abranger um longo perodo de tempo, desde

    alguns anos antes da data atribuda ao documento questionado, at a poca atual. Esse conjunto de

    assinaturas (padres grficos naturais) deve no apenas conter exemplares de pocas variadas dentro

    desse perodo (o ideal seria ter exemplares de todos os anos, se possvel, de vrios meses diferentes

    dentro de cada ano), mas tambm um bom nmero de exemplares de cada poca. Esta uma situao

    que exige um nmero absurdamente alto de exemplares padres.

    Se uma caracterstica est presente em todas as assinaturas feitas aps determinada poca, e

    ausente naquelas produzidas antes, necessrio que o nmero de exemplares que no apresentam

    essa caracterstica seja suficientemente grande para que se tenha certeza de que tal caracterstica

    realmente no era produzida antes daquela poca. Assim, ela pode ser considerada um marcador de

    tempo, ou seja, se a firma questionada apresentar essa caracterstica, conclui-se que foi produzida aps

    a data limite, caso contrrio, que foi produzida antes.

    Mas aqui tambm necessrio que se tenha muita cautela. Dificilmente alguma caracterstica

    ocorre em cem por cento das execues da assinatura de uma pessoa, e muitas vezes se trabalha com

    detalhes que, apesar de apresentarem alta frequncia, no so constantes e podem eventualmente

    estar ausentes. Por essa razo, imperativo que se considerem vrias caractersticas ao mesmo tempo,

    nunca se firmando uma concluso baseada em apenas uma ou poucas.

  • Deve-se sempre levar em conta ainda a possibilidade de o escritor alterar deliberadamente

    algumas caractersticas de sua firma, at mesmo para dar um aspecto mais realstico a um documento

    antedatado.

    Bibliografia

    BRUNELLE R. L. e CRAWFORD K. R. Advances in the forensic analysis and dating of writing ink -

    Springfield : Charles C. Thomas, 2003.

    ELLEN D. Scientific examination of documents: methods and techniques - Boca Raton : CRC Press, 2006.

    KELLY J. S. e LINDBLOM B. S. Scientific Examination Of Questioned Documents - Boca Raton : CRC Press,

    2006. - p. 441.

    NICKELL J. Detecting forgery: forensic investigation of documents - [s.l.]: University Press of Kentucky,

    2005.

    NICKELL J. Pen, ink and evidence - New Castle : Oak Knoll Press, 2003.