aquilo
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Quando aquilo apareceu na cidade, teve gente que levou um
susto. Teve gente que caiu na risada.
Teve gente que tremeu de medo.
E gente que achou uma
delícia.
E gente arrancando os
cabelos.
E gente soltando fogos
E gente mordendo a língua, perdendo o
sono, gritando viva roendo as unhas,
batendo palma, fugindo apavorada e
ainda gente
ficando muito, muito, muito feliz.
Uns tinham certeza de que
aquilo não podia ser feito de
jeito nenhum.
Outros também tinham
certeza. Disseram:
Viva! Que bom. Até que enfim!
Muitos ficaram preocupados. Exigiram que aquilo fosse proibido.
Garantiram que aquilo era impossível. Que aquilo era errado.
Que aquilo podia ser muito perigoso.
Outros, tranqüilos, festejaram, deram risadas, comemoraram e, abraçados, saíram pelas ruas,
cantando e dançando felizes da vida.
Alguns, inconformados, resolveram perseguir aquilo. Disseram que aquilo não valia
nada. Disseram que era preciso acabar logo com aquilo ou, pelo menos, pegar e mandar aquilo
para bem longe
Muitos defenderam e elogiaram
aquilo. Juraram que aquilo era
bom. Que aquilo ia ser melhor
para todos. Que esperavam
aquilo faz tempo. Que aquilo era
importante, bonito e precioso.
Alguém decidiu acabar com aquilo
de qualquer jeito.
Mas outro alguém disse que não! E foi correndo esconder
aquilo devagarinho no fundo do
coração.
Caro leitor: aquilo pode ser muitas
coisas.
Se sentir vontade
pegue um lápis e uma folha de papel
e escreva sobre aquilo: diga
em sua opinião e em seu sentimento,
o que é aquilo, como é aquilo
o que aquilo faz, de onde veio aquilo,
para onde aquilo vai e que
sentido, afinal, aquilo tem. Se quiser,
desenhe aquilo também.
Azevedo, Ricardo. Se eu
fosse aquilo... In Revista
Nova Escola, n169, janeiro/
fevereiro de 2004.