atividade antimicrobiana do extrato de anacardium occidentale
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Brasília-DF, maio de 2009.
ARTIGO
Atividade antimicrobiana do extrato de Anacardium occidentale
Antimicrobial activity of extract of Anacardium occidentale.
JESUS, A.P.; SANTIAGO, C.A.; ALBERNAZ, I.N.; MONIQUE, I.; SIMPLICIO, J.; RAFAEL, J.; SANTOS, M.O.N.; NASER, S.; ROSA, S.P.;
Trabalho tutorial sob orientação do Dr. José de Souza Soares.
RESUMO
A utilização de Plantas medicinais com propriedades terapêuticas tem despertado grande interesse em todo o mundo. A planta Anacardium occidentale Linn.(Cajueiro) é largamente usada na medicina popular, como antidiarréico, antinflamatorio para amigdalite, bronquites, artrites. No presente estudo verificou-se a ação antimicrobiana e antifúngica do extrato aquoso da entre-casca do caule do cajueiro. A atividade antimicrobiana foi determinada pelo método de difusão em meio sólido (Agar Müller Hington) para a determinação da Concentração Inibitória Mínima do extrato, pela presença ou não do halo de inibição.
ABSTRACT
The use of medicinal plants with therapeutic properties have aroused great interest worldwide. The plant Anacardium occidentale Linn. is widely used in traditional medicine as anti for tonsillitis, bronchitis, arthritis, and antiiflamatório. In the present study is antimicrobial and antifungal activity of aqueous extract of the stem-bark of the cashew. The antimicrobial activity was determined by the method of diffusion in solid medium (middle name) to determine the minimum inhibitory concentration of extract, and was observed in total? samples for the presence or absence of the halo of inhibition.
Keywords:
Anacardium occidentale, plantas medicinais, Cajueiro,
INTRODUÇÃO
A administração de plantas medicinais no tratamento de enfermidades é tão
remota quanto à civilização humana, como base terapêutica [1;2].
O Brasil possui a maior flora existente no planeta, sendo que a maioria é
desconhecida sob o ponto de vista científico, tornando-se um ponto relevante o estudo
da atividade contra doenças, tendo em vista que somente cerca de 5% têm sido
estudadas fitoquimicamente, e uma porcentagem ainda menor são avaliadas sob os
aspectos biológicos [3].
As plantas medicinais são usadas em diferentes formas farmacêuticas, tais como
in natura (partes inteiras, ou rasuras), principalmente para o preparo de chás, bem como
preparações caseiras; drogas pulverizadas, extratos, tinturas, pós, comprimidos e
cápsulas; e também poderão passar por processos de extração e purificação para
isolamento do princípio ativo de interesse [2].
Atualmente, tem-se observado a nivel mundial aumento expressivosde
conhecimentos técnicos científicos, sobre as características químico-físicas das plantas
medicinais, com o intuito da obtenção de novos compostos com propriedades
farmacológicas comprovadas [3].
Fato este justificado segundo Rates , S.M.K., que este crescimento é decorrente a
vários fatores, dentre eles: “a decepção com tratamentos convencionais; os efeitos
indesejáveis e prejuízos causados pelo uso abusivo e/ou incorreto dos
medicamentos sintéticos; o fato de amplas camadas não terem acesso aos
medicamentos e à medicina institucionalizada; a consciência ecológica, a crença
popular de que o natural é inofensivo e os seus elevados custos”
De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada n° 48/2004 da Agencia
Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA;
“Fitoterápicos são medicamentos preparados exclusivamente com plantas ou
partes de plantas medicinais (raízes, cascas, folhas, flores, frutos ou sementes), que
possuem propriedades reconhecidas de cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento
sintomático de doenças, validadas em estudos etnofarmacológicos, documentações
tecnocientíficas ou ensaios clínicos de fase 3.” [4]
A fitoterapia foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na
Conferência de Alma Ata em 1987. Hoje é utilizado como terapia no Programa Saúde
Para Todos, contribuindo como incentivo os estudos científicos com o objetivo de
aumentar os conhecimentos bem como diminuir os gastos com os programas de saúde
pública [5].
A planta Anacardium occidentale Linn., é da família Anacardiaceae, onde é
conhecida popularmente como cajueiro. É originária do Brasil, utilizada para aliviar a
dor de dente, antiinflamatório para gengiva e garganta, bronquites, artrites, cólicas
intestinais, icterícia, contra diabetes, asma e até mesmo usado como afrodisíaco [6].
Encontra-se na literatura atividades antiinflamatórias farmacológicas
comprovadas, (Olajide et al., 2004; Falcão et al., 2005), antidiabética (Oliveira; Salto,
1987/1989; Kamtchouing et al., 1998; Barbosa-Filho et al., 2005); inibidor da enzima
acetilcolinesterase (Barbosa-Filho et al., 2006) e substâncias isoladas do fruto
demonstraram ser inibidora de tirosinase (Kubo et al., 1994).
MATERIAL E MÉTODOS
a- Amostras vegetais
Amostra vegetal da Anacardium occidentale foi identificada botanicamente no
Herbário do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília, sob o número da
eciclata 73232.
Amostras vegetal (folhas, talos e entre-cascas) frescas foram coletadas no mês
de março de 2009 e encaminhadas ao laboratório de Farmacognosia das Faculdades
Integradas do Planalto Central (FACIPLAC).
a.1- Anarcadium occidentallis:
Cerca de 148g da entrecasca foram hachuradas e incubadas a estufa à 37°C para
secagem, após 48h obteve-se 39,6g de peso seco.
A matéria seca (39,6g) foi incubada, em 120ml de álcool etílico P.A. por 10 dias
para a extração. Após este período, realizou-se a filtragem e incubou-se à estufa a 37°C
por quatro dias, até a obtenção do extrato seco(11,2g).
Este foi ressuspendido em água destilada autoclavada quantidade suficiente para
12mL, obtendo o o extrato aquoso a 10%.
O extrato foi acondicionado em frasco âmbar, limpo e sanitizado, o qual
foiarmazenado a temperatura de 4 a 8°C. Até a sensibilização dos discos.
b- Amostras bacterianas:
As amostras bacterianas foram isoladas em caldo BHI, onde foram semeadas e
deixadas em estufa por 48 horas. Uma vez identificadas foram replicadas e cultivadas
em Agar Müller-Hilnton.
As espécies de Candidas a serem utilizadas juntamente com a cepa de
Cryptococcus neoformans foram isoladas em Ágar micosel e microbiótico, incubadas a
temperatura ambiente por 7 dias. Posteriormente foram identificadas pela técnica de
tubo germinativo e por automação no sistema COBAS.
As espécies devidamente identificadas foram replicadas e cultivadas em tubo
contendo ágar dextrosado Sabouraud e mantidas a temperatura ambiente até momento
do experimento.
Foram utilizados microorganismos de cepas padrão American Type Colection
Culture (ATCC) de Cryptococcus neoformans (ATCC 90112), Microsporum canis
(ATCC 11621), Escherichia coli (ATCC 8739), Pseudomonas aeruginosa (ATCC
9027), Staphylococcus aureus (ATCC 28923), Klebsiella pneumoniae (ATCC), S.
aureus; E. coli;Klebsiella; Pseudomonas aeruginosa; T. rubrum; M. canis.
Todo o processo foi realizado em ambiente asséptico e os instrumentos
utilizados quando possível foram submetidos à autoclave.
b.1- Preparação do inoculo
Os microorganismos foram incubados a temperatura de 35°C, por 24 horas
(bactérias) e de uma semana (fungos). Os inócuos foram preparados utilizando-se de 3 a
4 colônias, das cepas de bactérias isoladas em ágar Müller-Hinton, que foram diluídas
em solução salina estéril a 0,85%. A turbidez da suspensão foi ajustada e comparada ao
tubo 0,5 da escala Mc Farland.
Foram isoladas também de 3 a 4 colônias das cepas fúngicas que foram
antecipadamente cultivadas em Agar Dextrosado Sabouraud, e posteriormente foram
diluídas em solução salina 0,85% ajustando-se a turbidez à escala Mc Farland.
c- Método de disco difusão em ágar (Kirby-Bauer).
A metodologia empregada é a Kirby-Bauer que foi adotada pelo National
Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS), 1999: documento M100-S9,
Vol.19, como sendo metodologia referência. O método de disco difusão em ágar foi
baseado na técnica descrita por Bauer et al. (1996) e visa monitorar a presença de
substâncias antimicrobianas que possam estar presentes em extratos vegetais.
Cada uma das suspensões de microorganismos previamente preparadas foi semeada
em triplicata, após agitação, com o auxílio de um swab descartável sobre toda a
superfície do meio de cultura. Posteriormente os discos de papel usados como
reservatório para o extrato nas concentrações de 100, 300 e 500 mg/mL, foram
depositados sobre o meio com o auxílio de uma pinça mantendo-se uma distância
mínima de 24 mm de um disco para o outro. Foram depositados também os discos
contendo o controle positivo e o controle negativo para que se pudesse comparar os
efeitos do extrato. Sobre todos os discos foi feito leve pressão com o auxílio da pinça
para melhorar a aderência.
Após a incubação das placas a 35 °C por 24 horas é realizada a leitura dos halos de
inibição formados ao redor dos discos contendo o extrato e os controles, incluindo o
diâmetro do disco. A leitura é feita com o auxílio de projetor ótico, régua milimetrada
ou paquímetro para os discos que apresentaram halo de inibição e, para os discos que
não apresentaram halo de inibição as colônias foram consideradas como sendo
resistentes ao extrato testado.
d- Análise Estatística
Os experimentos foram realizados em triplicata e para calcular a porcentagem de
efetividade foi aplicada média aritmética para cada triplicata.
RESULTADOS
Tabela referente aos resultados da ação do extrato aquoso da Anacardium Occidentalis em
fungos.
Nome do
Fungo
Água 10µ
9,3 mg/ml
30µ
27,9
mg/ml
50µ
46,5
mg/ml
Fluconazol
(150mg)
Cryptococos
neoformans
- - - - 8 mm
- - - - 2 cm
- - - - 8 mm
T. rubrum - - - - 2,5 cm
- - - - Não houve
crescimento
- - - - Não houve
crescimento
M.canis - - - - 2,3 cm
- - - - 2,5 cm
- - - - 2,3 cm
Tabela referente aos resultados da ação do extrato aquoso da Anacardium
Occidentalis em bactérias.
Nome da bactéria água 10µ
9,3 mg/ml
30µ
27,9
mg/ml
50µ
46,5
mg/ml
Gentamicina
(10mg)
E. coli - - - - 2,4 cm
- - - - 2,1 cm
- - - - 2,3 cm
S. aureus - 0,6 mm 0,9 mm 0,8 mm 2,8 cm
- 0,7 mm 0,9 mm 1,0 mm 2,6 cm
- 0,6 mm 0,9 mm 0,9 mm 2,7 cm
Klebsiella - - - - 2,5 cm
- - - - 2,3 cm
- - - - 2,4 cm
Pseudômonas - - - - Não houve
crescimento
- - - - Não houve
crescimento
- - - - Não houve
crescimento
DISCUSSÃO
De acordo com ensaios realizados, as amostras com Staphylococcus aureus foram sensíveis ao extrato de A. occidentale. A Figura 4, expressa a ação antimicrobiana in vitro do extrato aquoso de A. occidentale frente a uma amostra de S. aureus multiressistente.
Ainda que as concentrações utilizadas tenham sido pequenas, o extrato aquoso da A. occidentale se mostrou eficaz contra as sepas de Staphylococcus aureus, porém não teve ação nenhuma contra os outros microorganismos testados.
Fungos:
Bactérias:
C+
9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-C+ 9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-
C+9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-
Fig. 1 Fig. 2
Fig. 3
CONCLUSÃO
Todas as amostras ensaiadas com Staphylococcus aureus mostraram-se sensíveis
à ação do extrato do cajueiro, com diâmetros dos halos de inibição variando de 0,6 a 1,0
mm, demonstrando que a bactéria é sensível ao extrato do cajueiro.
Devido o Staphylococcus aureus ser resistentes à penicilina e estar presente nas
linhagens multiresistentes (MRSA), o cajueiro torna-se um importante fitofármaco para
a inibição da ação desta bactéria. Sendo que S. aureus meticilina resistente, é o maior
patógeno nosocomial em infecções hospitalares e é responsável por inativar a ação de
vários antibióticos, tornando a multiresistência, um grande problema de saúde pública
(Stratton, 2000).
Assim, o uso desta planta na nossa região pode inferir uma alternativa
terapêutica eficiente e de baixo custo, contra infecções bacterianas causadas por
Staphylococcus aureus.
C+9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-
C+9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-
C+
9,3mg/ml
27,9mg/ml46,5mg/ml
C-
C+
9,3mg/ml
27,9mg/ml
46,5mg/ml
C-
Fig. 4
Fig. 5 Fig. 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Rates, S.M.K. Promoção do uso racional de fitoterápicos: Uma abordagem de ensino de farmacognosia. Disponível em: <http://www.sbfgnosia.org.br/admin/pages/revista/artigo/arquivos/9-2001_57_70.pdf> Acesso em: 05/04/2009.
2. Rates, S.M.K.- Revista Brasileira de Farmacognosia V.11, n.2, p 57-69, 2001.
3. Filho,V.C.; Yunes, R. A. Estratégias para a Obtenção de Compostos Farmacologicamente Ativos a partir de Plantas Medicinais. Conceitos sobre Modificação Estrutural para Otimização da Atividade; Quím. Nova vol.21 no.1 São Paulo Jan./Feb. 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010040421998000100015&script=sci_ar ttext&tlng=pt> Acesso em: 05/04/2009.
4. Arnous, A.H, Santos A.S, Beinner, R.P.C- Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.6, n.2, p.1-6, jun.2005. Disponível em: <http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v6n2/plantamedicinal.pdf> Acesso em: 06/05/2009.
5. A.R. Tôrres1, R.A.G. Oliveira1*, M.F.F.M Diniz2, E.C. Araújo3. Estudos sobre o uso de plantas medicinais em crianças hospitalizadas da cidade de João Pessoa: Riscos e benefícios . Disponível em:
<http://www.sbfgnosia.org.br/admin/pages/revista/artigo/arquivos/120-2005_373_380.pdf> Acesso em: 06/05/2009.
6. Mota, 2004; Olumayokun et al., 2004; Morais et al., 2005; Agra et al., 2007.