aula 2
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DIREITO CIVIL II
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
REQUISITOS SUBJETIVOS DO PAGAMENTO
Artigos 304 a 312, do Código Civil.
Quem paga – o solvens
Art. 304 a 307, do CC
O devedor
Quem DEVE pagar é sempre a pessoa do devedor, contudo, nos artigos 304 a 307 observa-se a possibilidade de terceiros interessados ou não interessados de quitarem o débito. O pagamento efetuado por terceiros não é um dever, é uma faculdade.
Aquele que realiza o pagamento (devedor ou terceiro) é chamado pela doutrina de solvens.
O pagamento é feito pelo devedor ou por quem o represente (mandatário/herdeiros) e, ao realizar o pagamento, cumprindo seu dever, nasce-lhe o direito de ver-se liberado da obrigação.
Vale lembrar que nas obrigações personalíssimas não será possível a realização do pagamento por terceiros ou representantes, pois o que de fato interessa são os atributos pessoais do devedor.
O terceiro interessado
Quem é o terceiro interessado?
É a pessoa indiretamente ligada ao cumprimento do débito e por isso integrante da relação obrigacional. O terceiro interessado poderá liberar-se até mesmo porque não está obrigado a ver sua própria situação agravada.
Exemplos muito claros de terceiros interessados são os fiadores, avalistas, codevedor solidário em obrigação indivisível. São pessoas que se vinculam ao credor e ao devedor, chamados de coobrigados.
Sendo o terceiro interessado pessoa legítima ao pagamento, está vedado ao credor se opor, razão pela qual o próprio Código Civil em seu artigo 304 bem leciona:
“Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor”.
Portanto:
Para o credor, haverá vantagem, na medida em que poderá ver satisfeito seu direito creditório o quanto antes;
O devedor não verá sua dívida agravada; O terceiro tem interesse em cumprir porque se viu
vinculado a dívida ou porque a garantiu ou porque terá vantagens com seu cumprimento se sub-rogando nos direitos do credor.
Ao realizar o pagamento, o terceiro interessado se sub-rogará na condição do credor, isto é, a obrigação perante o credor original é cumprida, mas não se extinguirá, pois agora o devedor está vinculado ao terceiro interessado que realizou o pagamento.Exemplo: quando o fiador paga a dívida do locatário, se sub-roga na condição do credor, podendo exigir o valor do devedor propriamente dito.
Art. 346, III, CC:“A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: [...]III – do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.”
Assim, serão transferidos ao terceiro interessado todos os privilégios e garantias do credor primitivo em relação à dívida (art. 349, CC).
*** Importante: se a obrigação era personalíssima, o devedor poderá impedir que o terceiro interessado a realize, pois nestes casos o terceiro não será titular de um direito subjetivo ao pagamento ou à liberação, pois nas obrigações intuitu personae a satisfação do interesse do credor é insuscetível de delegação por afrontar a própria finalidade da obrigação.
O terceiro não interessado
O terceiro não interessado é um sujeito completamente fora da relação obrigacional, isto é, não se comprometeu com o pagamento ainda que indiretamente.
Existem duas hipóteses de pagamento por parte do terceiro não interessados. A primeira consta do artigo 304, parágrafo único e o segundo do artigo 305, ambos do Código Civil.
Art. 304 - Parágrafo único: Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
Art. 305. O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
No caso da primeira hipótese (pagamento em nome do devedor), o terceiro não interessado paga o débito em verdadeiro ato de doação incondicional, isto é, o faz por liberalidade, como de um filho que ajuda um pai, ou vice e versa. Há apenas um interesse moral em torno do cumprimento da obrigação.
Exemplo: um amigo, que vendo o outro em condições financeiras difíceis, ajuda-o pagando algumas de suas dívidas, sem exigir qualquer retribuição.
Neste caso, o devedor poderá recusar a liberalidade do terceiro, por razões pessoais, quaisquer que sejam. Por exemplo, não dever favores, ou evitar que um desafeto quite o débito com o único intuito de humilhar o devedor. Todavia, esta recusa tem pouco efeito, na medida em que nada impede o credor de aceitar o cumprimento mesmo assim.
Na segunda hipótese (pagamento de terceiro em nome próprio), surgirá o direito de reembolso do terceiro não interessado. Isto é, aquele que por sua vontade paga o débito, porém em nome próprio, não em nome do devedor, vê surgir o direito de recobrar o valor desembolsado do devedor.
Não se confundo com a sub-rogação, pois no caso do reembolso, a obrigação principal se extinguiu completamente,
surgindo uma nova relação, agora entre terceiro e devedor na qual a pretensão do terceiro se exaure no exato valor que desembolsou, na da mais. Não poderá pleitear garantias do vínculo originário, por exemplo.
Neste caso, o terceiro interessado proporá uma ação in rem verso, com o fundamento no enriquecimento sem causa do devedor (artigo 884, do Código Civil).
Importante destacar o que diz o artigo 305, parágrafo único: “se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.”
Ora, se a dívida ainda não se encontrava vencida quando o terceiro a pagou em nome próprio, não poderá onerar mais ainda a situação do devedor, cobrando-lhe o reembolso antes mesmo do vencimento.
E se o credor, nesta segunda hipótese, se recusar a receber o valor do terceiro não interessado?Neste caso não há nada que o terceiro possa fazer, como, por exemplo, consignar o valor me juízo, isso porque não há interesse jurídico no depósito da prestação se ele não é indiretamente relacionado ao débito, tampouco pretende pagar em nome do devedor.
O artigo 306 ainda menciona que o devedor poderá se recusar ao direito de reembolso quando o pagamento é feito por terceiro se tinha razões para negá-lo, como, por exemplo, nos casos de nulidade do negócio, prescrição do débito, exceção de contrato não cumprido.
Por exemplo: Paulo tinha um dívida de 3 mil reais com Joaquim, porém a dívida encontrava-se prescrita. Marco Antônio, sem saber da prescrição, procura Joaquim e paga o valor integral, acionando Paulo para reembolsá-lo. Paulo poderá alegar que a dívida encontrava-se prescrita, razão pela qual não tem dever algum de
reembolsar Marco Antônio, ademais sequer foi avisado da intenção do terceiro de saldar a dívida.
Esta regra do 306, segundo melhor interpretação, aplica-se tanto ao pagamento por terceiro interessado quanto por terceiro não interessado.
Em síntese, o artigo 306 diz que se o solvens não recolher a prévia aquiescência do devedor para realizar o pagamento ou paga contra a sua vontade, não haverá direito de regresso contra este nos casos em que o devedor possa provar as mesmas exceções que tinha contra o credor.
Ainda, o artigo 307 menciona que o pagamento que importar em transmissão de propriedade só poderá ser efetuado por quem tenha legitimidade para tanto, ou seja, o proprietário com poderes de disposição.Exemplo: a massa falida não pode dispor de seus bem; ou ainda, uma pessoa casada não poderá dispor de seus bens sem autorização do cônjuge.
O pagamento feito por quem não tem poderes não produz efeitos, porque afasta a sua força liberatória.
Quem recebe – o accipiens
Art. 308 a 312, do CC.
O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena da obrigação não ser extinta. É o que diz o artigo 308:
“O pagamento deve ser feito ao credor, ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.”
Ou seja, o pagamento poderá ser feito ao credor, ou a seu representante, como um herdeiro, o legatário, cessionário ou até um sub-rogado.
O dispositivo, contudo afirma que se o pagamento for feito a terceiro e for, posteriormente ratificado pelo credor ou revertido em seu proveito, será plenamente eficaz.
São três os tipos de representantes do credor: o legal, o judicial e o convencional.
a) Legal: decorre da lei, como os pais, tutores e curadoresb) Judicial: nomeado pelo juiz, como o inventariante, o síndico da
falência, o administrador da empresa penhorada, etc.c) Convencional: aquele que possui poderes decorrentes do
mandato especialmente para receber e dar quitação.
O artigo 311 entende que há mandato tácito daquele que se apresente perante o devedor com quitação assinada pelo credor. Ou seja, há uma presunção de que a pessoa portadora da quitação represente o credor, esta presunção, contudo, é relativa, e admite prova em contrário.
Ainda há a hipótese do credor putativo, ou seja, aquele que tem aparência de credor perante a sociedade, mas que na verdade não é. A hipótese é aplicação clara da teoria da aparência e consta do artigo 309.
Consiste na situação em que alguém se apresenta socialmente com título aparentemente válido, propiciando ao solvens de boa-fé a incidência de erro escusável, induzido à falsa percepção de que está autorizado a receber. É o caso de um herdeiro que recebe débitos do de cujus e que mais tarde venha a ser considerado indigno, ou do sucesso que obteve pagamentos, mas cujo testamento que o beneficiara seja posteriormente nulificado.
Exemplo:
Joao faleceu deixando um único herdeiro, seu irmão Paulo. O devedor Pedro, com base no panorama jurídico descrito no inventário, lhe efetua o pagamento de um débito contraído com o falecido Joao. Se, tempos depois e, de forma exitosa, Junior tem reconhecida a condição de filho e herdeiro único em ação de investigação de paternidade e petição de herança, Pedro não terá que lhe pagar novamente, pois com base na aparência, ele pagou de forma eficaz à Paulo. Restará á Junior o regresso contra Paulo.
***Importante lembrar da regra de ouro: quem paga mal, paga duas vezes. O devedor desatento e negligente terá de pagar novamente, se não observou minimamente a condição de credor daquele que receberá o pagamento.
Ou seja, se o devedor não comprovar que pagou a quem não era capaz de quitar e este pagamento reverteu-se ao verdadeiro credor, será obrigada a realizar novo pagamento em benefício do credor real. Neste caso, observa-se a diligência mínima do devedor e não confunde-se com a questão do devedor putativo.
No caso do artigo 310, fala-se em pagamento efetuado ao credor absoluta ou relativamente incapaz no momento do adimplemento. Se o solvens souber da incapacidade do credor, o pagamento será qualificado pela ineficácia. Mas se aquele que paga não tiver conhecimento da incapacidade de quem recebe, o ato terá efeito liberatório.
Portanto, há duas hipóteses de pagamento a terceiro que não seja ao credor capazes de exonerar o devedor:
a) Se o credor real ratificar o ato. Ocorre na gestão de negócios, quando posteriormente o credor, analisando os atos do gestor, ratifica a quitação.
b) Se o benefício se reverter em favor do credor: por exemplo, quando uma parte paga ao cônjuge do credor e este valor é corretamente transferido à conta do credor, isto é, se rever em seu favor.