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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO PROFISSIONAL GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
AVALIAÇÃO E MELHORIA DO PROCESSO DE CUIDADO DO PACIENTE COM SEPSE
EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA
DAMITO ROBSON XAVIER DE SOUZA
NATAL/RN 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO PROFISSIONAL GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE AVALIAÇÃO E MELHORIA DO PROCESSO DE CUIDADO DO PACIENTE COM SEPSE
EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA
Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde, do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Autor: Damito Robson Xavier de Souza Orientador: Profª. Drª. Vilani Medeiros de A. Nunes
NATAL/RN 2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Souza, Damito Robson Xavier de. Avaliação e melhoria do processo de cuidado do paciente com sepse em um serviço de emergência / Damito Robson Xavier de Souza. - 2018. 50f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Natal, RN, 2018. Orientadora: Profa. Dra. Vilani Medeiros de Araújo Nunes. 1. Sepse - Dissertação. 2. Melhoria de Qualidade - Dissertação. 3. Serviços Médicos de Emergência - Dissertação. I. Nunes, Vilani Medeiros de Araújo. II. Título. RN/UF/BSCCS CDU 614.255(813.2)
Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474
AVALIAÇÃO E MELHORIA DO PROCESSO DE CUIDADO DO PACIENTE COM SEPSE
NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________ Profª. Drª. Vilani Medeiros de A. Nunes (UFRN)
Presidente da banca
__________________________________________ Prof. Dr. Zenewton André da Silva Gama (UFRN)
_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Patrícia Peres de Oliveira (UFSJDR)
_________________________________________ Prof. Me. Victor Grabois (ENSP/FIOCRUZ)
NATAL/RN 2018
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha querida mãe, Maria Geny Xavier de Souza (in memorian), mulher
batalhadora que na luta por um futuro melhor para seus filhos, não poupou esforços para oferecer-lhes
a melhor educação possível, dentro de suas possibilidades. Trabalhou incansavelmente, muitas vezes
até contra suas próprias forças, mas conseguiu realizar o seu sonho. Infelizmente foi levada por Deus
e para Deus precocemente. Á você minha mãe, todo meu reconhecimento e agradecimento pelo modelo
de pessoa que foi. Seu exemplo será transmitido às próximas gerações como mulher guerreira e
altruísta.
AGRADECIMENTOS
A Deus, razão da minha existência, aquele pelo qual tudo que foi feito se fez e me deu a
oportunidade de passar por mais essa prova;
À minha esposa (Ana Ruth) e filha (Catarina) que me acompanharam nessa jornada em todo
tempo e tiveram de abrir mão de muitos momentos em família para que eu pudesse finalizar esse
trabalho;
Aos meus pais, Chagas e Geny (in memorian), por me introduzirem no caminho da educação
e me incentivarem a prosseguir;
Aos meus irmãos, Tonny e Thuanny pelo carinho e gestos de incentivo;
À minha orientadora, Vilani Medeiros, idealizadora, sonhadora, incentivadora, mãezona e
exemplo de ser humano, sem a qual esse sonho não seria possível;
À enfermeira Nayana Guedes que me auxiliou na coleta de dados e ajudou a conduzir toda a
implementação do trabalho;
Aos colegas do mestrado, que se fizeram meus amigos e entusiastas desse processo.
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais,
qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.”
(Rm, 10:31)
SUMÁRIO
Dedicatória.......................................................................................................................................... V
Agradecimentos................................................................................................................................. VI
Epígrafe.............................................................................................................................................. VII
Listas de Tabelas............................................................................................................................... VIII
Listas de Figuras................................................................................................................................ IX
Listas de Quadros.............................................................................................................................. X
Listas de Abreviaturas...................................................................................................................... XI
Resumo.............................................................................................................................................. XII
Abstract............................................................................................................................................. XIII
Resumen............................................................................................................................................. XIV
APRESENTAÇÃO......................................................................................................................... 16
1 ANEXAÇÃO DO ARTIGO.......................................................................................................... 17
1.1.Introdução.................................................................................................................................... 17
1.2. Método....................................................................................................................................... 19
1.2.1 Contexto....................................................................................................................................... 19
1.2.2 Intervenção................................................................................................................................. 19
1.2.3 Análise de Dados....................................................................................................................... 25
1.2.4 Aspectos éticos.......................................................................................................................... 25
1.3 Resultados.................................................................................................................................. 26
1.3.1 Processo de implementação da intervenção................................................................................ 26
1.3.2 Características Demográficas...................................................................................................... 26
1.3.3 Melhoria da Qualidade da Assistência ao Paciente com Sepse............................................... 28
1.3.4 Consequências não intencionais da intervenção....................................................................... 31
1.4 Discussão..................................................................................................................................... 31
1.5 Conclusões.................................................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 37
APÊNDICES.................................................................................................................................... 41
ANEXOS............................................................................................................................................. 46
Lista de Tabelas
Tabela 1 Características dos pacientes ao diagnóstico de sepse. Juazeiro do Norte, CE, 2018. 27
Tabela 2 Cumprimento dos critérios de qualidade. Juazeiro do Norte, CE, 2018. 29
Lista de Figuras
Figura 1 Diagrama de Afinidades orientando as intervenções de melhoria da qualidade. 23
Juazeiro do Norte, CE, 2017.
Figura 2 Linha do tempo das ações propostas para melhoria da qualidade. Juazeiro do Norte, 26
CE, 2018.
Figura 3 Diagrama de Pareto antes e depois. Juazeiro do Norte, CE, 2018. 29
Figura 4 Comparativo entre as porcentagens de cumprimento de todos os critérios na 1ª 31
(2017) e 2ª (2018) avaliações.
Lista de Quadros
Quadro 1 Critérios de avaliação da qualidade do processo de cuidado do paciente com sepse. 20
Juazeiro do Norte, CE, 2017.
Lista de Abreviaturas
CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CFM Conselho Federal de Medicina
CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
CSS Campanha de Sobrevivência à Sepse
HRC Hospital Regional do Cariri
IC Intervalo de Confiança
IHI Institute for Healthcare Improvement
IOM Institute of Medicine
ISGH Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar
ILAS Instituto Latino Americano de Sepse
NAC Núcleo de Atendimento ao Cliente
OSS Organização Social de Saúde
MMHG Milímetros de Mercúrio
NUGESP Núcleo de Gestão e Segurança do Paciente
PPGQualiSaúde/UFRN Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional Gestão da Qualidade
em Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SQUIRE Padrões para Melhorar a Qualidade e Obter Excelência em Relatos
SRIS Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
Resumo
Introdução: Sepse é um grave problema de saúde pública com potencial elevado de mortalidade em
todo o mundo. Iniciativas de melhoria da qualidade tem buscado mudar esse cenário, porém, essa
ferramenta ainda precisa ser melhor explorada a nível de países de baixa e média renda. Objetivos:
Avaliar o efeito de um ciclo de melhoria para o processo de cuidado do paciente com sepse no
departamento de emergência, identificar o nível de qualidade de atenção à sepse e analisar a efetividade
de uma intervenção de melhoria participativa e multifacetada. Método: Trata-se de um ciclo de
melhoria da qualidade de características multifacetada e colaborativa, com desenho quase
experimental tipo antes e depois realizado no biênio 2017/2018 no departamento de Emergência de
um hospital terciário localizado no interior do nordeste do Brasil. Para a avaliação proposta, foi
estabelecida uma lista com dez critérios de qualidade relacionados à assistência ao paciente séptico. A
análise foi realizada a partir do cálculo das estimativas pontuais da conformidade dos critérios e
melhoria absoluta e relativa. A significância estatística foi testada utilizando o teste unilateral do valor
de z. Resultados: A avaliação inicial mostrou uma frequência absoluta de 843 falhas, notadamente
relacionada aos critérios de reavaliação do paciente séptico e reclassificação da gravidade da doença.
Uma linha de base foi traçada e nova avaliação foi conduzida. Após a intervenção, as falhas reduziram
para 506, representando uma melhoria de 67%. A mortalidade relacionada à sepse caiu em 10% e todos
os indicadores avaliados tiveram aumento de conformidade na segunda avaliação, porém a melhoria
conseguida em dois deles não teve significância estatística, representadas por um p-valor maior que
0,05. Conclusão: Os ciclos de melhoria da qualidade constituíram-se importante ferramenta de gestão
para melhorar a assistência ao paciente com sepse e devem ser utilizados rotineiramente para alcançar
melhoria contínua.
Descritores: Sepse, Melhoria de Qualidade, Serviços Médicos de Emergência.
Abstract
Introduction: Sepsis is a serious public health problem with high mortality potential worldwide.
Initiatives for quality improvement have sought to change this scenario, however, this tool still needs
to be better explored at the level of low- and middle-income countries. Objectives: To evaluate the
effect of an improvement cycle for the sepsis care process in the emergency department, to identify
the level of quality of care for sepsis and to analyze the effectiveness of a participatory and multifaceted
improvement intervention. Methods: It is a cycle of quality improvement of multi-faceted and
collaborative characteristics, with before-after quasi-experimental design in the biennium 2017/2018
in the Emergency department of a tertiary hospital located in the interior of northeastern Brazil. For
the proposed evaluation, a list was established with ten quality criteria related to septic patient care.
The analysis was carried out from the calculation of the one - off estimates of the conformity of the
criteria and absolute and relative improvement. Statistical significance was tested using the unilateral
z-value test. Results: The initial evaluation showed an absolute frequency of 843 failures, notably
related to the reevaluation criteria of the septic patient and reclassification of the severity of the disease.
A baseline was drawn and reassessment was conducted. After the intervention, the failures reduced to
506, representing an improvement of 67%. All the indicators evaluated had an increase in conformity
in the second evaluation, but the improvement achieved in two of them was not statistically significant,
represented by a p-value greater than 0.05. In addition, sepsis-related mortality fell by 10%.
Conclusion: Quality improvement cycles are an important management tool to improve care for
patients with sepsis, and should be used routinely to achieve continuous improvement.
Keywords: Sepsis, quality improvement, Emergency Medical Services
Resumen
Introducción: Sepsis es un grave problema de salud pública con un elevado potencial de mortalidad
en todo el mundo. Las iniciativas de mejora de la calidad han intentado cambiar este escenario, pero
esta herramienta aún necesita ser mejor explotada a nivel de países de baja y media renta. Objetivos:
Evaluar el efecto de un ciclo de mejora para el proceso de cuidado del paciente con sepsis en el
departamento de emergencia, identificar el nivel de calidad de atención a la sepsis y analizar la
efectividad de una intervención de mejora participativa y multifacética. Método: Se trata de un ciclo
de mejora de la calidad de características multifacetada y colaborativa, con diseño casi experimental
tipo antes y después realizado en el bienio 2017/2018 en el departamento de Urgencia de un hospital
terciario ubicado en el interior del nordeste de Brasil. Para la evaluación propuesta, se estableció una
lista con diez criterios de calidad relacionados con la asistencia al paciente séptico. El análisis se realizó
a partir del cálculo de las estimaciones puntuales de la conformidad de los criterios y de la mejora
absoluta y relativa. La significancia estadística se probó utilizando la prueba unilateral del valor de z.
Resultados: La evaluación inicial mostró una frecuencia absoluta de 843 fallas, especialmente
relacionada con los criterios de reevaluación del paciente séptico y reclasificación de la gravedad de
la enfermedad. Una línea de base fue trazada y se llevó a cabo una nueva evaluación. Después de la
intervención, las fallas redujeron a 506, representando una mejora del 67%. Todos los indicadores
evaluados tuvieron un aumento de conformidad en la segunda evaluación, pero la mejora lograda en
dos de ellos no tuvo significancia estadística, representada por un p-valor mayor que 0,05. Además, la
mortalidad relacionada con la sepsis cayó en un 10%. Conclusión: Los ciclos de mejora de la calidad
se constituyen una importante herramienta de gestión para mejorar la asistencia al paciente con sepsis,
y deben ser utilizados rutinariamente para lograr una mejora continua.
Palabras clave: Sepsis, Mejoramiento de la Calidad, Servicios Médicos de Urgencia
16
APRESENTAÇÃO
Este trabalho emergiu da prática profissional do autor, médico emergencista, especialista em
gestão da qualidade em serviços hospitalares, coordenador médico do departamento de Emergência do
Hospital Regional do Cariri, instituição pública de caráter terciário, localizado no interior do Nordeste
do Brasil e envolvido com questões referentes à gestão da qualidade.
Melhoria contínua da qualidade é um dos maiores desafios enfrentados pelas organizações
atualmente, e no setor saúde isso não poderia ser diferente. Muitas iniciativas já têm sido relatadas na
literatura, de forma que esses princípios precisam ser colocados em prática para melhorar cenários de
atuação a partir da mudança de processos, com vistas a elevar o desempenho da qualidade e a segurança
do paciente.
Neste sentido, este trabalho surgiu da motivação em mudar a realidade local, na busca pela
excelência, por meio de mecanismos eficientes já testados e que transformaram outros contextos.
A estrutura do presente estudo segue um modelo próprio de disposição, recomendado e
proposto pelo Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional Gestão da Qualidade em Serviços
de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPQualiSaúde/UFRN). O trabalho de
Conclusão de Mestrado encontra-se no formato de um artigo científico.
A primeira seção, Introdução apresenta brevemente o objeto da pesquisa, bem como o objetivo
desta investigação no formato de artigo científico.
A seção seguinte intitulada Metodologia tem como tarefa sistematizar os procedimentos
metodológicos percorridos para a execução do trabalho.
Na sequência, a seção Resultados apresenta os resultados relevantes encontrados através do
desenvolvimento do trabalho.
A Discussão do artigo apresenta um diálogo entre os resultados do presente trabalho encontrado
no serviço de saúde e a literatura científica. E as Conclusões encerram o artigo científico destacando
os principais resultados e apontando para novas investigações.
1 ANEXAÇÃO DO ARTIGO
1.1 INTRODUÇÃO
Sepse tem sido reconhecida como uma condição potencialmente fatal, causada por uma
resposta desregulada do organismo à infecção1,2. A despeito dos avanços na área médica, permanece
como um grave problema de saúde pública que causa inúmeras mortes ao redor do mundo e traz grande
ônus aos sistemas de saúde públicos e privados3-5.
Embora os números globais sobre a sepse sejam escassos, e por vezes, controversos, estima-se
que a cada ano possam ser diagnosticados cerca de 30 milhões de novos casos da doença, com potencial
para causar mais de 5 milhões de mortes6. A maioria dos estudos que tratam sobre a epidemiologia da
sepse cursam apenas com dados de países de alta renda e dada a carência de dados sobre os países de
baixa e média renda onde acredita-se que a prestação de cuidados à saúde não seja tão boa como a do
primeiro grupo, é possível inferir que as taxas de mortalidade mundiais tendam a ser bem mais
alarmantes6-7.
Em relação ao Brasil, Quintano Neira e cols.8 mostraram, a partir de dados do DATASUS e do
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), que a incidência de hospitalizações por
sepse aumentou mais de 50% no período de 2006 a 2015, com uma taxa de letalidade geral de 46%,
sendo maior em hospitais públicos (55%) quando comparado com hospitais privados (37%). Já o
estudo SPREAD7, que avaliou 229 Unidades de Terapia Intensiva (UTI) selecionadas aleatoriamente
em todo o país no ano de 2014, mostrou que quase 30% desse tipo de leito estava ocupado por pacientes
com sepse ou choque séptico e que a mortalidade associada foi de 55,4%.
Essa alta letalidade fica ainda mais evidente ao se comparar os dados nacionais com os de
outros países, como fez o estudo PROGRESS9 que recebeu informações de 37 nações, numa casuística
de mais de 12 mil pacientes e identificou que a mortalidade hospitalar por sepse no Brasil era de 67,4%,
superior a países como Argentina (56,6%), Índia (39,0%), Estados Unidos (42,9%) e Austrália
(32,6%), sendo a letalidade global nesse estudo de 49,6%.
A elevada mortalidade por sepse pode, em parte, ser atribuída ao desconhecimento dos
profissionais de saúde sobre os sinais de gravidade associados à doença e a falta de padronização das
condutas por parte de muitas organizações, o que leva ao diagnóstico tardio e consequente atraso no
início das medidas terapêuticas10-11. Além disso, fatores como cultura de segurança, disponibilidade
de recursos e acesso aos serviços de saúde também são primordiais nesse processo10.
O reconhecimento da sepse como uma das principais causas de morbimortalidade evitáveis do
mundo12, tem feito surgir, nas últimas duas décadas, iniciativas de melhoria da qualidade baseada em
18
protocolos gerenciados, voltadas ao diagnóstico precoce e tratamento adequado e oportuno da doença.
Uma dessas primeiras iniciativas foi o estudo de Rivers et al13 publicado em 2001, onde a partir da
implementação de um protocolo guiado por metas no setor de emergência, a mortalidade de pacientes
com sepse grave foi reduzida em 16%. O grande mérito do estudo foi alertar para a necessidade da
terapia precoce nas primeiras horas do diagnóstico dos sinais de hipoperfusão.
Uma metanálise recente identificou que os programas de melhoria de qualidade, apesar de na
maioria das vezes terem sido realizados em centros únicos, tem sido relacionados ao aumento da
conformidade com os pacotes de tratamento da sepse e redução da mortalidade14. Nesse interim, uma
importante iniciativa para alavancar esse processo de melhoria foi a Campanha de Sobrevivência à
Sepse (CSS), que após recorrer à expertise do Institute for Healthcare Improvement (IHI) para elaborar
um programa educacional, lançou os pacotes de tratamento da sepse, ou seja, um conjunto de medidas
baseadas em evidências que quando realizadas em conjunto produzem bons resultados. Essas diretrizes
foram lançadas em forma de protocolo, inicialmente em 2004 e vem sendo revisadas a cada quatro
anos.10,15
No Brasil, o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) vem, ao longo dos anos, se propondo
a auxiliar organizações que pretendem melhorar a qualidade assistencial aos pacientes sépticos, a partir
da implementação de programas educacionais e de geração e difusão de conhecimentos, baseado nos
protocolos da Campanha de Sobrevivência à Sepse (CSS).15,16 A metodologia proposta pelo ILAS tem
sido utilizada em várias instituições ao redor do país e, a análise publicada por Machado et al17, que
avaliou mais de 20 mil pacientes do banco de dados do Instituto ao longo de nove anos, evidenciou
que as iniciativas de melhoria de qualidade estão associadas com aumento na conformidade do
cumprimento dos indicadores de qualidade e com a redução da mortalidade.
O Hospital Regional do Cariri (HRC) é uma dessas instituições, que não satisfeita com o ônus
que a sepse tem causado, recorreu ao ILAS para implementar um programa de melhoria da qualidade
que pudesse auxiliar no combate a enfermidade, uma vez que apesar da adesão às medidas da CSS, as
taxa de mortalidade local mantinha-se elevada. Segundo levantamento interno, sepse e doenças
correlatas são as principais causas de óbito desta instituição e representaram, nos seis primeiros meses
de 2017, 32% dos óbitos ocorridos.
Nesse contexto, levando em consideração que o departamento de emergência é a principal porta
de entrada para a maioria dos pacientes, sendo responsável por 30% a 50% do total de eventos sépticos
em um hospital10; a carência de publicações sobre iniciativas de melhoria da qualidade em sepse nos
países emergentes e de baixa renda6; o desconhecimento dos profissionais de saúde sobre a importância
do diagnóstico e tratamento precoces16, bem como o elevado custo da doença, tanto do ponto de vista
econômico, como de vidas perdidas5, o presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito de um ciclo
19
de melhoria para o processo de cuidado do paciente com sepse no departamento de emergência.
Especificamente, pretendeu-se identificar o nível de qualidade de atenção à sepse e analisar a
efetividade de uma intervenção de melhoria participativa e multifacetada.
1.2 MÉTODO
Para a realização desse estudo, foram seguidas as diretrizes SQUIRE (Padrões para Melhorar
a Qualidade e Obter Excelência em Relatos) 18. Estas diretrizes fornecem um modelo para relatar novos
conhecimentos sobre como melhorar a qualidade da assistência à saúde.
1.2.1 Contexto
O presente estudo foi desenvolvido no biênio 2017/2018 no setor de Emergência do Hospital
Regional do Cariri – HRC. Esta instituição fica localizada no interior do Nordeste do Brasil, na cidade
de Juazeiro do Norte, no Ceará. O hospital tem caráter terciário, público estadual e conta com 219
leitos de internação e 90 leitos de emergência, onde são atendidos mensalmente cerca de 2500
pacientes. O HRC faz parte da rede de hospitais geridos pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar
(ISGH), instituição privada sem fins lucrativos qualificada como Organização Social de Saúde (OSS).
Inaugurado em 2011, possui certificado de acreditação nível três pela Organização Nacional de
Acreditação e trabalha, como linhas estratégicas, o atendimento à pacientes com Doença Encéfalo
Vascular tipo isquêmico agudo, politrauma e sepse. Seus colaboradores estão comprometidos com a
melhoria da assistência num ambiente que preza pela segurança do paciente e qualidade no
atendimento.
1.2.2 Intervenção
A intervenção de melhoria foi elaborada no decorrer de um projeto que seguiu o modelo de
ciclos de melhoria da qualidade proposto por Saturno19, no âmbito de um mestrado profissional em
gestão da qualidade em serviços de saúde. O projeto foi composto basicamente por seis fases:
Fase 1: Identificação e Priorização da Oportunidade de Melhoria.
Na primeira fase, na perspectiva de um clima organizacional de mudanças, foi criado um grupo
de liderança multidisciplinar com profissionais de conhecimentos relevantes, credibilidade e
20
autoridade para impulsionar melhorias de processo. Esse grupo foi formado por um médico e três
enfermeiras coordenadores do setor de emergência, uma administradora de empresas, uma assessora
da qualidade, além da gerente de risco, coordenadora geral de enfermagem e a diretora geral do
hospital.
Num primeiro encontro, foi utilizada a técnica de grupo nominal19, processo de dinâmica de
grupo que permite a participação paritária e a expressão individual de todos os membros e uma matriz
de priorização que elegeu a assistência ao paciente com sepse como alvo de melhoria a ser
implementado no departamento de Emergência do HRC.
Fase 2: Análise da Oportunidade de Melhoria.
A análise qualitativa e estruturada da oportunidade de melhoria foi realizada a partir de uma
das ferramentas da qualidade, o Diagrama de causa e efeito ou Diagrama de Ishikawa (Apêndice 1),
onde foi possível identificar as potenciais causas do problema. Posteriormente, essas causas foram
classificadas em imodificáveis e modificáveis (hipotéticas ou com evidência científica prévia), para
qualificar a tomada de decisão em relação a intervenções diretas ou à necessidade de avaliação sobre
as causas do problema.
Fase 3: Construção e Validação de Critérios da Qualidade
Nesta fase foi elaborada uma lista com 10 critérios (Quadro 1) que definiram a qualidade do
serviço avaliado. Cada critério teve detalhado sua definição, exceções e esclarecimentos a fim de que
pudessem ser interpretados da mesma forma por diferentes avaliadores.
Quadro 1: Critérios de avaliação da qualidade do processo de cuidado do paciente com sepse. Juazeiro
do Norte, CE, 2017.
Nº CRITÉRIO EXCEÇÃO ESCLARECIMENTOS
1 Diagnóstico precoce de sepse
Pacientes em cuidados de fim de vida, com registro em prontuário.
Diagnóstico precoce é aquele realizado em até uma hora a partir do horário do primeiro registro do paciente na emergência, para os pacientes que dão entrada no hospital com sinais de sepse ou em até uma hora a partir das evidências em prontuário de suspeição da doença, para os pacientes já internados no hospital. O horário será visualizado na ficha de triagem do protocolo de sepse.
2 Reavaliação do paciente em até 3 horas do diagnóstico inicial
Pacientes que receberam alta ou foram a óbito antes de 3 horas do diagnóstico inicial de sepse.
Deve ser considerado conforme quando houver em prontuário, registro do horário que a reavaliação foi realizada.
21
3 Classificação correta da gravidade da doença
Não se aplica. Avalia se o médico foi capaz de classificar corretamente o paciente como possuindo sepse, sepse grave ou choque séptico (antes da intervenção); e infecção, sepse e choque séptico (após a intervenção).
4 Reclassificação correta da gravidade da doença
Pacientes que receberam alta ou foram a óbito antes de 3 horas do diagnóstico inicial de sepse.
Após a reavaliação de 3 horas, o médico deve ser capaz de reclassificar corretamente o paciente, mantendo ou mudando o diagnóstico. O paciente pode ser reclassificado como possuindo sepse, sepse grave ou choque séptico (antes da intervenção); e infecção, sepse, sepse com lactato alterado 2 vezes o valor basal, choque séptico e afastado infecção (após a intervenção).
5 Assertividade em relação ao foco infeccioso
Pacientes que receberam alta ou foram a óbito em menos de 48 horas sem foco definido.
O foco infeccioso deve ser confirmado através de exames e/ou reavaliação clínica em até 48 horas e será considerado conforme, quando no tempo pactuado houver esse registro em prontuário.
6 Antimicrobiano correto administrado dentro da 1ª hora após o diagnóstico de sepse
Não se aplica. O antibiótico será considerado correto, quando estiver de acordo com o guia de antibimicrobiano empírico institucional e for administrado em até uma hora do diagnóstico de sepse. Pacientes já em uso de antimicrobiano e que não tiveram seu esquema alterado, por se entender que não havia indicação de mudança, serão considerados conformes.
7 Coleta de sangue para hemoculturas antes da administração do antimicrobiano
Não se aplica. Será considerado conforme quando a coleta do sangue para hemoculturas for realizada antes da administração do antibiótico. Pacientes em uso de antimicrobiano só serão considerados conformes se tiverem coleta de hemoculturas dentro das 72 horas prévias ao diagnóstico da sepse ou se tiverem seu esquema antibiótico modificado com coleta anterior do exame.
8 Reposição volêmica adequada em pacientes com sepse.
Não se aplica. Reposição volêmica adequada significa fazer, para pacientes hipotensos ou com resultado de lactato maior que duas vezes o valor de referência em média, o volume correspondente a 30ml/ kg de fluidos em até uma hora após a constatação da hipotensão ou do resultado de lactato. Para pacientes com contraindicação a realizar grandes volumes, será considerado conforme quando houver registro em prontuário do motivo da não realização, ou da reposição mais lenta ou de menor quantidade. Para efeito desse critério, o registro da reposição volêmica será considerado conforme quando realizado dentro das 3 primeiras horas do diagnóstico de sepse. Para os pacientes não hipotensos ou com resultado de lactato inferior a duas vezes o valor de referência, o item será considerado conforme.
9 Acesso ao lactato em até 60 min do diagnóstico da sepse
Não se aplica. O lactato deve ser coletado e ter resultado liberado em até 60 minutos após o diagnóstico de sepse;
10 Sobrevivência Pacientes em cuidados de fim de vida.
Será considerado conforme quando o paciente sobreviver ao episódio de sepse ou quando o óbito não estiver relacionado à sepse.
Fonte: Adaptado do ILAS
Os critérios acima foram construídos, levando-se em conta as dimensões da qualidade
propostas pelo Institute of Medicine (IOM), destacando-se questões como a oportunidade, efetividade
e principalmente, segurança do paciente, já que com o atendimento aos critérios, pretendeu-se
melhorar a assistência aos pacientes com sepse aumentando a conformidade aos indicadores, num
tempo oportuno, baseado em conhecimento científico e não causando danos relacionados à
assistência20.
Em relação ao tipo de dados, os nove primeiros critérios analisados foram de processo e o
último, de resultado, sendo que todos tiveram avaliados as validades de face (relevância lógica ou
aparente), conteúdo (relacionado com alguma dimensão da qualidade, necessidades e expectativas dos
pacientes) e critério (evidência científica).
22
Após isso, a confiabilidade foi analisada por meio de um estudo piloto com 30 pacientes e dois
avaliadores. A concordância dos indicadores foi considerada forte ou perfeita em todos os casos, tendo
em vista que tiveram um índice Kappa maior ou igual a 0,8. Esse índice mede a concordância total
existente entre os avaliadores dos critérios de qualidade, excluindo aquelas devidas ao acaso21.
Fase 4: Avaliação do nível de qualidade
Para estudar o efeito da intervenção, este ciclo de melhoria contemplou um estudo quase
experimental, tipo antes-depois, sem grupo controle, onde a fase I diferenciou-se da fase II pelo ciclo
de melhoria implementado. As avaliações antes e depois da intervenção tiveram como população de
estudo todos os prontuários dos pacientes diagnosticados com sepse na emergência do HRC no período
de setembro à novembro de 2017 na primeira fase e abril à junho de 2018 na segunda.
Não se utilizou método de amostragem, pois todos os casos do universo foram avaliados
durante o período. A fonte de dados utilizada para identificar os casos ou unidades de estudo foi a
planilha de censo diária dos pacientes que tiveram o protocolo de sepse aberto, uma vez que ao se
diagnosticar um paciente séptico, essa informação era repassada ao Núcleo de Atendimento ao Cliente
(NAC) a fim de que todos os agentes envolvidos no processo pudessem ser comunicados. Além da
planilha de censo diário, foram utilizados os prontuários e as fichas de triagem do protocolo de sepse.
Para essa etapa, a classificação da gravidade da doença e as definições de sepse estavam de acordo
com o documento institucional denominado protocolo de sepse adulto22.
Para a avaliação do nível de qualidade realizou-se um corte transversal, onde os 10 critérios
propostos, definidos e validados pela equipe foram inseridos em um instrumento próprio (Apêndice
2). Os dados iniciais foram referentes ao período de Setembro à Novembro de 2017, e foram coletados
diretamente do prontuário dos pacientes, por um médico e uma enfermeira previamente treinados, que
avaliaram o nível de cumprimento dos critérios. Para esse estudo, apenas um evento de sepse foi
considerado para cada internamento do paciente. Foram excluídos os prontuários de pacientes que não
apresentavam sinais de infecção, pacientes com dados indisponíveis ou inexistentes, os que foram a
óbito em menos de 3 horas do diagnóstico de sepse e aqueles em cuidados de fim de vida.
A intervenção teve início em dezembro de 2017 e durou 12 semanas e após a intervenção, os
novos dados foram coletados depois de um período de 4 semanas.
Fase 5: Planejamento e implementação da intervenção de melhoria
23
O planejamento da intervenção seguiu duas diretrizes principais: elaboração participativa, que
foi assegurada por envolver uma equipe multidisciplinar diretamente relacionada ao problema; e
baseada em dados, porque as ações da intervenção foram direcionadas aos critérios de qualidade de
pior conformidade na primeira avaliação do nível de qualidade após análise a partir de um diagrama
de Pareto (Apêndice 3).
Além disso, a intervenção foi multifacetada, tendo em vista que após a avaliação inicial,
elaborou-se um diagrama de afinidades (Figura 1), para ordenar e sistematizar as intervenções
propostas pelo grupo em quatro linhas estratégicas: ações educativas, sistemas de informação, ações
gerenciais e reorganização do trabalho.
Figura 1: Diagrama de Afinidades orientando as intervenções de melhoria da qualidade. Juazeiro do
Norte, CE, 2017.
AÇÕES GERENCIAIS • Criar o Comitê Local de Combate a Sepse que será responsável por acompanhar resultados e elaborar planos de ação
que visem otimização de processos; • Identificar um gestor de processo, que será a pessoa responsável por acompanhar os protocolos abertos na
emergência, gerenciar dados e cobrar resultados; • Realizar auditoria de qualidade mensal sobre a adesão e condução do protocolo de sepse;
• Estabelecer calendário mensal de acompanhamento de indicadores que deverá ser apresentado à direção, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e Núcleo de Gestão e Segurança do Paciente (NUGESP), com responsabilização do Comitê da Sepse pelos resultados alcançados;
• Estabelecer metas de desempenho para a equipe assistencial.
AÇÕES EDUCATIVAS • Realizar, junto com o Centro de Ensino e Pesquisa e a comissão de controle de infecção hospitalar, capacitação da
equipe assistencial do setor de emergência quanto a atualização do protocolo de sepse, criando calendário de atividades permanentes;
• Capacitar a equipe assistencial da emergência quanto a correta aferição de sinais vitais; • Sensibilizar a equipe assistencial quanto à importância do diagnóstico precoce e correta condução do paciente com
sepse; • Realizar visitas in loco com o objetivo de fazer busca ativa de pacientes sépticos, auditoria de protocolos e discussão
de dúvidas com os colaboradores.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
• Realizar feedback de desempenho individual e coletivo para a equipe assistencial;
• Sinalizar os pacientes sépticos em meios físicos e eletrônicos; • Divulgar os novos instrumentos (protocolo, ficha de triagem e guia antimicrobiano), bem como a
importância do reconhecimento precoce e tratamento célere da sepse, na maior quantidade de meios possíveis.
24
REORGANIZAÇÃO DO TRABALHO • Atualizar o protocolo institucional de assistência ao paciente séptico, com base nas diretrizes da CSS e do
ILAS; • Atualizar a ficha de triagem do protocolo de sepse; • Atualizar o guia de antimicrobiano empírico institucional; • Pactuar com os setores de apoio sobre o tempo ideal para o desempenho de suas ações; • Reestruturar a linha de cuidado ao paciente séptico, visando diagnósticos mais precoces e celeridade no
atendimento médico e medidas terapêuticas.
Foi elaborado um plano de ação pela equipe multidisciplinar do setor para a implementação
das ações propostas, apresentado no diagrama de Gantt (Apêndice 4) onde foram especificadas ações,
responsáveis e prazo de execução.
As iniciativas de mudanças foram socializadas dentro da instituição a partir de capacitações,
discussões de casos clínicos, visitas in loco e abordagens individuais aos colaboradores e seguiram as
orientações da CSS e do ILAS.
Até a implementação das medidas de melhoria da qualidade, não havia na classificação de risco
do setor de emergência, a indicação de que o paciente poderia ser portador de sepse. Tendo em vista
ser esse o primeiro contato do cliente com um profissional de saúde, o enfermeiro da classificação de
risco passou a ser responsável por sinalizar uma possível sepse a partir da alteração de sinais vitais ou
presença de disfunção orgânica.
Tão logo dois sinais de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica ou uma disfunção clínica
fossem observados, o paciente deveria passar por atendimento médico imediato e caso confirmado a
suspeita levantada pelo enfermeiro, o protocolo de sepse era aberto. A partir desse momento, todas as
medidas de conformidade ao protocolo passavam a ser computadas e o enfermeiro do setor que recebia
o paciente comunicava-se com o NAC, que era responsável por acionar todos os envolvidos no
processo. Exames pré-fixados no prontuário eletrônico eram solicitados, antibiótico voltado para o
foco infeccioso suspeito ou confirmado era prescrito de acordo com o guia de antimicrobianos
empíricos institucional e reposição volêmica iniciada, caso fosse necessário.
A partir desse instante, o nome do paciente no prontuário eletrônico passava a ser sinalizado
com a cor vermelha, indicando prioridade e o paciente seguia com uma placa indicativa que o mesmo
era possuidor de sepse, contendo os horários limites de reavaliação do doente. A farmácia entrava em
ação para liberar o antimicrobiano o mais rápido possível e o laboratório agilizava a coleta de sangue
e liberação de resultado dos exames.
25
Os dados do desempenho eram avaliados mensalmente pelo comitê de sepse que utilizava-se
dos critérios de qualidade construídos para avaliar a conformidade, e a partir desses dados eram
gerados indicadores. Os resultados eram apresentados mensalmente nas reuniões com as equipes e
individualmente a cada colaborador médico e de enfermagem.
Fase 6: Reavaliação do nível de qualidade para testar o efeito da intervenção
Esta fase teve uma metodologia semelhante à da avaliação inicial, tendo sido utilizados os
mesmos critérios de avaliação e teve por objetivo analisar o efeito da intervenção da melhoria da
qualidade, mediante a comparação dos dados da 1ª avaliação, antes da intervenção, com os da 2ª
avaliação, depois da intervenção. Os dados coletados foram referentes aos meses de abril à junho de
2018.
Para esta etapa, as definições e classificação de gravidade da sepse seguiram as recomendações
do livro: Sepse, um problema de saúde pública produzido pelo ILAS em parceria com o Conselho
Federal de Medicina (CFM)10.
1.2.3 Análise dos dados
Para avaliar a qualidade, antes e depois da intervenção, realizou-se o cálculo da estimativa
pontual e do intervalo de confiança (IC: 95%) do nível de cumprimento dos 10 critérios de qualidade
adotados.
No sentido de avaliar o efeito da intervenção, foi estimada a melhoria absoluta e relativa de
cada critério. Para comprovar a significância estatística da melhoria detectada, realizou-se um teste de
hipótese unilateral por meio do cálculo do valor de z, considerando como hipótese nula a ausência de
melhoria, que se rejeitava quando o p-valor era inferior a 0,05.
Adicionalmente, elaborou-se uma representação gráfica dos principais problemas de qualidade
identificados nas avaliações. Inicialmente, elaborou-se uma tabela de frequências absolutas e relativas
de não cumprimentos, e em seguida, construiu-se um Gráfico de Pareto tipo antes e depois, onde foi
possível avaliar a melhoria absoluta conseguida e comparar o nível de qualidade entre as avaliações.
Para facilitar a visualização do Gráfico, os dados da segunda avaliação foram padronizados para uma
amostragem compatível com a primeira.
1.2.4 Aspectos éticos
26
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos do Hospital
Universitário Onofre Lopes – HUOL sob o número CAAE: 78780617.0.0000.5292 e parecer
consubstanciado de nº 2.366.556, de 06/11/2017.
1.3 RESULTADOS
1.3.1 Processo de implementação da intervenção
O processo de intervenção durou aproximadamente dez meses, desde a sua concepção até a
segunda coleta dos dados. Obviamente algumas medidas são contínuas e permanece sendo realizadas
na instituição. Todavia, as ações propostas para sua realização podem ser visualizadas na figura 2.
Figura 2: Linha do tempo das ações propostas para melhoria da qualidade. Juazeiro do Norte, CE,
2018.
Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun 2017 2018
Fonte: Autoria Própria
1.3.2 Características dos Participantes
No grupo pré-intervenção, 255 pacientes foram diagnosticados com sepse no setor de
emergência do HRC num período de três meses, porém seis foram excluídos do estudo: quatro por
falta de dados, um por não haver evidências de infecção e um por motivo de óbito com menos de três
horas após aberto o protocolo de sepse. No grupo pós-intervenção houveram 330 registros da doença,
porém três prontuários foram excluídos por falta de dados, dez por falta de evidências que sustentassem
a hipótese de infecção, dois por óbito com menos de três horas do diagnóstico da sepse e um por evasão
- Criação do Comitê da Sepse;
- Identificação de um gestor de processo
Atualização do protocolo
de sepse
Reestruturação da linha de
cuidado da sepse
- Divulgação dos novos instrumentos;
- Capacitação dos colaboradores
Atualização da ficha de triagem e do guia de antimicrobianos
- Estabelecimento de metas de desempenho e do calendário de
acompanhamento de indicadores; - Pactuação com os setores de apoio.
Sensibilização da
equipe
- Visitas in loco; - Auditoria;
Sinalização de pacientes em meios físicos e eletrônicos
27
do hospital com menos de três horas de sua admissão, restando dessa forma, 249 prontuários na
primeira avaliação e 315 na segunda.
De modo geral, a coorte foi constituída por 53,4% de homens, com concentração da doença na
população mais idosa: mais de 65% dos casos foi diagnosticado em pacientes acima de 60 anos, com
uma grande parcela destes possuindo 80 anos ou mais. Quanto à fonte de infecção, o foco pulmonar
foi a principal etiologia, sendo a disfunção respiratória a mais encontrada quando do diagnóstico da
doença e a ceftriaxona o antibiótico mais utilizado.
Dos pacientes que desenvolveram sepse, 34,7% eram portadores de hipertensão arterial
sistêmica, 26,6% de diabetes mellitus e 18,6% tinham história de acidente vascular cerebral, sendo
essas as principais co-mordidades encontradas nessa população. Dados complementares podem ser
observados na Tabela 1.
Tabela 1 :Características dos pacientes quando do diagnóstico de sepse. Juazeiro do Norte, CE, 2018
Variáveis Pré intervenção
(n = 249) Pós intervenção
(n = 315) Total
(n = 564)
Sexo masculino n(%) 131 (52,6) 170 (54) 301 (53,4)
Idade média em anos (DP) 64,9 (20,7) 63,2 (22,2) 64 (21,5)
Idade - faixa etária n(%)
12 – 19 5 (2,0) 10 (3,2) 15 (2,6)
20 – 59 78 (31,3) 102 (32,4) 180 (31,9)
60 – 79 92 (37,0) 117 (37,1) 209 (37,1)
> 80 74 (29,7) 86 (27,3) 160 (28,4)
Fonte da infecção n(%)
Pulmonar 141 (56,6) 160 (50,8) 301 (53,4)
Abdominal 42 (16,9) 50 (15,9) 92 (16,3)
Urinário 31 (12,4) 53 (16,8) 84 (14,9)
Pele e partes moles 21 (8,4) 23 (7,3) 44 (7,8)
Outros 14 (5,6) 29 (9,2) 43 (7,6)
Co-morbidades n(%)
HAS 85 (34,1) 111 (35,2) 196 (34,7)
DM 75 (30,1) 75 (23,8) 150 (26,6)
Sequela de DVE 53 (21,3) 52 (16,5) 105 (18,6)
Cardiopatias 34 (13,7) 35 (11,1) 69 (12,2)
Pneumopatias 26 (10,4) 30 (9,5) 56 (9,9)
Doenças renais 19 (7,6) 29 (9,2) 48 (8,5)
Neoplasias 21 (8,4) 21 (6,7) 42 (7,4)
Principais disfunções n(%)
28
Respiratória 86 (34,5) 167 (53) 253 (44,9)
Neurológica 61 (24,5) 109 (34,6) 170 (30,1)
Renal 74 (29,7) 84 (26,7) 158 (28,0)
Hematológica 63 (25,3) 62 (19,7) 125 (22,2)
Antibióticos mais utilizados n(%)
Ceftriaxona 157 (63,1) 174 (55,2) 331 (58,7)
Clindamicina 62 (24,9) 51 (16,2) 113 (20,0)
Ciprofloxacino 19 (7,6) 32 (10,2) 51 (9,0)
Metronidazol 25 (10,0) 20 (6,3) 45 (8,0)
Levofloxacino 26 (10,4) 18 (5,7) 44 (7,8)
Cefepime 20 (8,0) 23 (7,3) 43 (7,6) n: número absoluto; DP: desvio padrão
Fonte: Autoria Própria
A melhoria da assistência do paciente séptico trouxe ainda dois grandes benefícios ao estudo.
Houve redução da taxa de permanência hospitalar dos pacientes internados com sepse, que caiu de
uma média 16 dias na pré intervenção para 13,7 na pós intervenção. Além disso, o percentual de mortes
associado à sepse na pré intervenção foi de 36% quando considerados os pacientes que tiveram
protocolo de sepse aberto no período de Setembro a Novembro de 2017 e após a intervenção de
melhoria, houve significativa redução desse número, ficando a taxa de mortalidade em 26%
considerando os dados coletados entre abril e junho de 2018.
1.3.3 Melhoria da Qualidade da Assistência ao Paciente com Sepse
A partir das frequências absolutas e relativas das não conformidades nas duas avaliações foi
possível montar um gráfico de Pareto tipo antes e depois, como pode ser visualizado na Figura 3.
Considerando que o número de pacientes diagnosticados com sepse durante a primeira avaliação foi
diferente da segunda, se fez necessário padronizar o tamanho das amostras para torná-las comparáveis
em 249 (número de pacientes com sepse diagnosticados na primeira avaliação).
29
Figura 3: Diagrama de Pareto tipo antes e depois. Juazeiro do Norte, CE, 2018.
O tamanho da segunda amostra foi padronizado em 249 para ser comparável à primeira. Fonte: Autoria Própria
A partir desse gráfico, foi possível observar que os seis primeiros critérios da 1ª avaliação,
representaram quase 80% das não conformidades da coorte, sendo considerados como pouco vitais e
muito triviais de acordo com o Princípio de Pareto19. Apesar de tal princípio ter sido aplicado nesse
estudo, nenhum critério foi priorizado especificamente, de modo que todos foram trabalhados de forma
conjunta buscando uma abordagem integrada e multifacetada.
A avaliação inicial mostrou uma frequência absoluta de 843 não conformidades que foram
reduzidos substancialmente para 506, após a implementação das medidas propostas. Foi possível
observar no gráfico da segunda avaliação que a melhoria conseguida foi de 67% e que houve redução
no número de não conformidades de todos os critérios, o que ilustra a efetividade do projeto.
A Tabela 2 apresenta o nível de cumprimento dos critérios das primeira e segunda avaliações,
num intervalo de confiança de 95%, bem como a melhoria conseguida em cada um deles.
Tabela 2 - Cumprimento dos critérios de qualidade. Juazeiro do Norte, CE, 2018.
Nº Critério
1ª Avaliação n = 249
2ª Avaliação n = 315
Melhoria Absoluta
Melhoria Relativa
Significação Estatística
p1 (IC 95%) p2 (IC 95%) p2 – p1 p2-p1/1-p1 p
1 Diagnóstico precoce 68 (62 – 74) 79 (75 – 83) 11 36 < 0,001
2 Reavaliação em até 3 horas 23 (18 – 27) 64 (59 – 69) 41 53 < 0,001
3 Classificação correta 74 (67 – 77) 87 (83 – 91) 13 49 < 0,001
4 Reclassificação correta 48 (42 – 54) 67 (62 – 72) 19 36 < 0,001
5 Acertividade em relação ao foco infeccioso 89 (85 – 93) 93 (90 – 96) 4 36 0,049
6 Antimicrobiano correto administrado em 1 hora 65 (59 – 71) 71 (66 – 76) 6 17 NS
7 Coleta de hemoculturas antes do antimicrobiano 66 (60 – 72) 87(83 – 91) 21 63 < 0,001
Critérios
Critérios
30
8 Reposição volêmica adequada 83 (78 – 88) 91 (88 – 94) 8 47 0,002
9 Lactato em até 60 min 80 (75 – 85) 82 (78 – 86) 2 10 NS
10 Sobrevivência 64 (58 – 70) 74 (69 – 79) 10 27 0,005 NS: Não significativo, ou seja, p>0,05
Fonte: Autoria própria
Na pré-intervenção sete critérios possuíam valores de conformidade inferiores a 75%, com
especial destaque para C2 e C4, que apresentavam percentual de cumprimento de 23% e 48%,
respectivamente. O Critério dois dizia respeito ao seguimento do paciente, ou seja, se a equipe
assistencial, uma vez identificado o paciente com sepse, tinha a preocupação de reavaliá-lo em até três
horas do diagnóstico inicial, nesse momento, com o laudo dos exames em mãos. Infelizmente, os
resultados não demostraram a existência de tal preocupação. Era como se a reavaliação não
acontecesse ou pelo menos, se acontecia, não havia registro da informação em prontuário. Já o Critério
quatro dizia respeito a capacidade da equipe médica em reclassificar o paciente séptico após resultado
dos exames laboratoriais, indicando se a doença estava estável, havia evoluído, ou mesmo se os dados
iniciais eram insuficientes para tal classificação (vale ressaltar que a conduta clínica depende da
classificação do doente). O resultado demonstrou falta de habilidade da equipe ou mesmo
desconhecimento para realizar esta ação.
Após intervenção, houve melhora no cumprimento de todos os critérios avaliados conforme
observado na Figura 4, e apenas dois deles permaneceram com nível de conformidade inferior a 75%,
porém superiores a 60%. Nesse momento vale destacar os critérios sete e dois, que obtiveram melhoria
relativa acima de 50%, alcançando os maiores índices observados.
O cumprimento total dos critérios variou de 0 para 17,5%.
31
Figura 4: Comparativo entre as porcentagens de cumprimento de todos os critérios na 1ª (2017) e 2ª
(2018) avaliações.
Fonte: Autoria própria
1.3.4 Consequências não intencionais da intervenção
Embora uma melhoria constante na medida do desempenho da assistência ao paciente séptico
tenha sido observada, houve grande resistência por parte dos médicos cirurgiões e ortopedistas em
aderir às medidas propostas, apesar de toda a sensibilização realizada. Outra dificuldade enfrentada foi
o fato de o departamento de emergência sofrer um alto grau de rotatividade dos profissionais no
período estudado, não permitindo muitas vezes que o protocolo implantado fosse entendido por todos
os colaboradores.
Além disso, os resultados alcançados pelos critérios C6 e C8 não obtiveram significância
estatística, representados por um p-valor acima de 0,05. Chama atenção o fato de os médicos apesar
de acertar o foco infeccioso (C5), não o tratavam corretamente (C6).
1.4 DISCUSSÃO
Este estudo contribuiu para a melhoria da qualidade na assistência ao paciente com sepse na
medida em que aumentou, com sucesso, a conformidade geral no cumprimento dos indicadores de
qualidade propostos e diminuiu a taxa de mortalidade no grupo de pacientes estudados. Esses achados
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10
1ª Avaliação 2ª Avaliação
32
foram alcançados na medida em que enfatizou-se a importância das medidas propostas para o manejo
dos pacientes com sepse e que claramente estão relacionadas com a segurança do paciente.
Em relação as características dos participantes chamou atenção o fato de a maior parte dos
casos diagnosticados com a doença se concentrar na faixa etária acima de 60 anos e notadamente, na
superior a 80 anos. Essa população é particularmente vulnerável à doença por grande parte dela já ser
portadora de doenças crônicas ou outras comorbidades, pela debilidade e pelo comprometimento
funcional. Além disso, nos pacientes idosos há uma redução natural da imunidade inata e adquirida, o
que aumenta a suscetibilidade dessas pessoas à infecção23,24.
Uma das particularidades deste estudo foi descrever a utilização de ciclos de melhoria
participativos e multifacetados como ferramenta de gestão para mudar contextos. Os ciclos de melhoria
são procedimentos sistemáticos e com rigor científico para abordar objetivos de qualidade. Isso é
promovido na área da governança clínica, na temática da ciência da melhoria da qualidade do cuidado
de saúde e pode utilizar diferentes modelos também desenvolvidos e utilizados na indústria, como por
exemplo os modelos de ciclo de melhoria propostos por Deming e Juran e que foram adaptados por
Saturno para os serviços de saúde numa sistemática robusta que necessita de abordagem interna de
auto compromisso e busca resolver problemas19. Já o enfoque participativo e multifacetado vem sendo
descrito na metodologia de vários estudos17, 25-28 e demonstrado excelentes resultados.
O método deste trabalho propôs a reestruturação do protocolo clínico de atendimento ao
paciente séptico de tal forma que a ferramenta de triagem passou a ser orientada por enfermeiros. Essa
estratégia já vem sendo descrita por alguns autores28, 29 e tem sido orientada pelo ILAS10. O grande
ganho desse processo foi sem dúvidas o engajamento da equipe de enfermagem. Esse pessoal tem
estado na linha de frente do cuidado e são o primeiro e mais contínuo contato do paciente com os
serviços de saúde. Dessa forma, a triagem inicial feita por um enfermeiro, aumentou não só o número
de pacientes diagnosticados com sepse (315 versus 249), como a conformidade do critério 1 que tratava
sobre o diagnóstico precoce da doença. Esses achados têm sido condizentes com demais publicações28,
30,31. Vale ressaltar, como sugere Machado et al26, que a melhora no reconhecimento precoce da sepse,
é um fator independente para reduzir mortalidade.
De forma geral, os resultados aqui apresentados se comparam favoravelmente com outros
estudos que documentaram redução da mortalidade por sepse após implementação de iniciativas de
melhoria de qualidade que visavam aumentar a aderência aos pacotes de tratamento propostos pela
CSS. Em nível internacional é possível citar pelo menos dois grandes estudos multicêntricos. O
primeiro, realizado em três continentes, avaliou quase 30 mil pacientes e tinha por objetivo, melhorar
a adesão às boas práticas para o manejo da sepse, onde foi possível demonstrar que para cada 10% no
aumento da conformidade com as medidas propostas para um determinado local, houve redução na
33
taxa de mortalidade na ordem de 3 a 5%32. Já o segundo, realizado em 82 UTI da Holanda evidenciou
redução absoluta de 5,8% na taxa de mortalidade em 3,5 anos nos centros onde os pacotes da CSS
foram implementados33.
Em nível nacional, este estudo também é comparável com a publicação de Machado et al17 que
avaliou 63 instituições em todo o país, sendo 38 privadas e 25 públicas, a partir do banco de dados do
ILAS e reportou que as estratégias implementadas (criação de um time de sepse, treinamentos,
estratégias de auditoria/feedback, dentre outros) estiveram associadas com maior conformidade com
os pacotes de tratamento da sepse e com redução do número de mortes. Essa associação foi sustentada
pelo menos no primeiro ano de intervenção para as instituições públicas e privadas e se manteve ao
longo de quatro anos para as instituições privadas.
Por outro lado, três grandes publicações, multicêntricas e randomizadas, realizadas nos Estados
Unidos (PROCESS)34, Austrália (ARISE)35 e Reino Unido (PROMISSE)36 não demonstraram
superioridade do tratamento baseado em protocolos no setor de emergência em relação aos cuidados
denominados de habituais pelos autores. Apesar dos resultados apresentados apontarem não haver
diferença significativa de mortalidade a depender da terapia utilizada e pôr em cheque o uso de
protocolos no tratamento da sepse, é preciso esclarecer que o tratamento considerado como habitual,
realizado à beira leito nada mais é o que reconhecimento precoce da doença e o uso oportuno de fluidos
rápidos e de antimicrobianos que são reconhecidamente os pilares do tratamento da sepse.
Algumas considerações aqui precisam ser feitas. Primeiro, a população elegível para esses
ensaios era formada de pacientes já com choque séptico ou com sinais de hipoperfusão, diferente do
estudo atual que selecionou um grupo diferente de pacientes, onde a maioria não preenchia critérios
para choque séptico nem exigia admissão em UTI, tendo em vista que o alvo do trabalho estava no
cumprimento dos critérios de qualidade. E segundo, os ensaios foram realizados em centros de
excelência, onde o tratamento usual à beira leito é tão bom ou melhor que a abordagem protocolizada
e isso ainda não é uma realidade no Brasil e em especial, nos hospitais públicos.
Uma meta-análise e revisão sistemática recente, que avaliou 50 trabalhos observacionais
buscados a partir de bancos de dados da saúde no período de 2004 a 2014, identificou que iniciativas
de melhoria da qualidade estiveram associados com a redução na mortalidade de pacientes sépticos e
que essas estratégias obtiveram melhores resultados quando a intervenção incluiu além de programas
educacionais, mudanças no processo, o que foi o caso do trabalho em análise14.
Quanto ao cumprimento dos critérios de qualidade propostos, dois deles, ainda que
apresentaram melhora absoluta de seus índices, não tiveram significância estatística, representados por
um p-valor maior que 0,05. Um diz respeito à administração de antibiótico correto na primeira hora
após abertura do protocolo de sepse. Apesar desse indicador ter alcançado mais de 70% de
34
conformidade na pós intervenção e dos profissionais serem capazes de diagnosticar corretamente o
foco infecioso causador da infecção em mais de 90% dos casos, como diz a segunda avaliação do
critério cinco, nem sempre esse foco foi tratado de forma adequada, seja porque o tempo para a
administração do medicamento superou os 60 minutos previstos, seja porque o guia de antimicrobiano
institucional não foi obedecido, sendo este o principal fator de não conformidade.
Kumar et al37 em estudo publicado ainda em 2006 mostrou que a administração de antibiótico
eficaz em até uma hora de hipotensão no grupo de pacientes com choque séptico esteve associado a
sobrevida de quase 80%, porém para cada hora adicional que o medicamento era postergado, a
sobrevida caia em 7,6%. Além disso, mais que administrar a medicação no tempo correto, era preciso
administrar no tempo ideal o antibiótico apropriado, ou seja, genericamente aquele para o qual os
patógenos causadores da infecção foram sensíveis in vitro, como mostra Gaieski et al38. Uma vez que
a terapia antimicrobiana tem fortes recomendações pela CSS15 e que sepse é uma condição tempo-
dependente, essa é uma oportunidade de melhoria que deve ser tratada futuramente pela instituição.
Outro critério em que a melhoria não foi significativa diz respeito ao resultado do lactato
liberado em até 60 minutos após o diagnóstico de sepse. Lactato elevado é considerado o melhor
marcador de hipoperfusão disponível à beira-leito e seu resultado influencia diretamente nas medidas
terapêuticas10. A conformidade com esse critério já era alta na primeira avaliação, no entanto ainda
havia espaço para melhora e esse assunto também deve ser tratado nos próximos ciclos de melhoria.
O presente estudo teve alguns pontos fortes que foram essenciais para o desfecho. Primeiro, o
engajamento da alta gestão. Como cita a OMS39, liderança é o domínio central das iniciativas de
melhoria da qualidade, que sustenta o desenvolvimento de todas as demais ações e seria improvável
que qualquer intervenção estratégica tivesse sucesso sem o apoio de uma liderança forte e consistente.
Este foi o modelo de gestão encontrado no HRC que esteve envolvido em todas as fases do projeto,
inclusive no apoio às ações de intervenção e na cobrança de resultados.
Em segundo lugar, o cenário de intervenção foi num local onde a equipe assistencial já estava
acostumada a trabalhar com abordagem protocolizada e a capacidade organizacional estava
direcionada para o desenvolvimento de ações que facilitam a melhora contínua da qualidade. Dentro
desse contexto, os colaboradores receberam educação continuada, objetivando trazer as mais recentes
evidências sobre a condução de pacientes sépticos e aquisição de habilidade para lidar com esses
pacientes. É sabido que em países em desenvolvimento há uma grande lacuna entre a prestação de
cuidados em saúde baseada em evidências e o tratamento realizado à beira leito40. No que concerne a
sepse, essa baixa conscientização leva a um reconhecimento tardio da doença e consequente atraso nas
medidas terapêuticas. Dessa forma, a formação de pessoal está entre as principais estratégias
associadas com a melhoria da condução desses pacientes11,26,41. Vale ressaltar que as intervenções não
35
se limitaram a projetos educacionais, mas houve mudanças no protocolo de cuidado, que como
mencionado anteriormente, fortificam a melhoria do trabalho.
Terceiro, a utilização de auditoria contínua e feedback aos profissionais como instrumentos
para a melhora da adesão aos indicadores. Estabelecer padrões e monitorar sua adesão, identificando
e solucionando problemas à medida que iam surgindo foi uma das melhores estratégias para aumentar
a conformidade com os indicadores. Esse tipo de iniciativa já tem sido relatado por alguns autores42-44
e, é recomendada pelo ILAS10.
E por último, a estratégia implementada foi baseada numa metodologia robusta bem planejada,
baseada em indicadores de qualidade e que poderia ser utilizada para qualquer problema de qualidade.
Cabe ainda ressaltar que também houveram limitações, como o fato de o estudo ter sido
realizado em centro único e sem grupo controle, como ocorre com a maioria dos trabalhos de melhoria
da qualidade, de tal forma os resultados devem ser interpretados com cautela se forem extrapolados
para outros centros. No entanto, como descrito na discussão, os achados são consistentes com aqueles
relatados por outros pesquisadores, sugerindo que podem sim ser estendidos para outras populações.
Os dados desse estudo foram coletados de maneira retrospectiva por meio da análise de
prontuários, o que pode estar associado a viés de interpretação. Para minimizar essa falha, os
prontuários foram analisados por dois profissionais de saúde e os pontos de discórdia foram resolvidos
em discussão. Em relação ao local onde foi realizado o estudo, este tem o compromisso com a gestão
da qualidade, e seria impossível excluir a influência da implementação de outras iniciativas de
melhoria da qualidade sobre os resultados alcançados. Por último, para os pacientes que já estavam
internados no setor de emergência, o diagnóstico precoce não foi uma realidade, diferente daqueles
que já adentravam ao hospital com a doença e apesar de ter havido aumento do número de diagnósticos
de pacientes sépticos, muitos casos ainda passaram despercebidos.
Vale ainda salientar que existem poucos estudos nos países de baixa e média renda que avaliem
a questão da melhoria da qualidade relacionada à sepse. No Brasil, essas publicações praticamente se
restringem às realizadas pelo ILAS, notadamente na região sudeste do país, de tal forma que este
estudo, além de fazer parte de um seleto e restrito grupo de publicações nacionais, provavelmente é
inédito na região nordeste.
É possível a partir de avaliações do nível da qualidade baseado em critérios, planejar ações
voltadas para o enfrentamento de problemas e conseguir bons resultados, melhorando as dimensões da
efetividade e da qualidade técnica científica. Para isso, não é necessário grandes recursos. O empenho,
o compromisso e a vontade de melhorar são as grandes chaves para esse processo. Além disso, a
metodologia que foi utilizada nesse trabalho o torna factível e possivelmente sustentável a longo prazo.
36
1.5 CONCLUSÕES
Ciclos de melhoria representam uma ferramenta valiosa para promover melhoria da qualidade
de atendimento para pacientes sépticos e dependem do engajamento de uma equipe dedicada e
motivada na execução de várias tarefas. A manutenção de projetos nessa área é um desafio constante
e nesse sentido, ajustes contínuos são necessários para manter os ganhos alcançados.
Essa experiência mostrou que a metodologia proposta foi adequada e robusta para implementar
um ciclo de melhoria da qualidade em um país emergente, que foi capaz de aumentar a conformidade
de adesão aos critérios de qualidade e diminuir a taxa de mortalidade. Esse modelo de gerenciamento
deve ser considerado por pesquisadores, profissionais de saúde e gestores como uma iniciativa para
mudar realidades e poderia ter sido utilizado com qualquer outro problema.
A partir dos dados coletados, foi possível identificar que o nível de qualidade de atenção ao
paciente séptico estava abaixo do esperado e mudanças precisavam ser realizadas para melhorar todo
o processo assistencial com foco na redução de mortalidade.
O engajamento da liderança, o envolvimento da equipe, sobretudo do pessoal de enfermagem,
uma campanha educacional eficaz, auditoria e feedback, triagem precoce e familiaridade da equipe da
linha de frente com protocolos estão entre os pontos fortes que trouxeram sucesso a esse trabalho,
levando a um reconhecimento prematuro dos pacientes sépticos e consequente condução eficaz,
evidenciando que uma metodologia participativa e multifacetada é sobremodo efetiva na resolução de
problemas de qualidade.
37
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41
2 APÊNDICES
2.1 Apendice 1 – Diagrama de Ishikawa
i
Colaboradores que não entendem a importância do processo
Falha de comunicação
Análise e discussão dos indicadores não é multidisciplinar
Não há cultura ou proatividade Cultura Institucional Ausente
Treinamento insuficiente
Rotina de sinais vitais não estabelecida
Insensibilidade Profissional
Conduta Estrutura
Diagnóstico
Pouca divulgação dos resultados
Educação continuada multidisciplinar escassa
Falha no preenchimento dos instrumentos do protocolo de sepse
Ausência do Comitê de Sepse
Ausência de um gestor da sepse e da definição de suas funções
Não há feedback individual de desempenho
Ausência de proatividade
Falha de comunicação
Falha no diagnóstico precoce dos sinais de SRIS
Treinamento insuficiente
Falha na mensuração dos sinais vitais
Instrumentos para detecção dos sinais de sepse confuso
Rotina de sinais vitais não estabelecida
Ausência de proatividade
Ignorância
Treinamento insuficiente
Ignorância
Má assistência ao paciente séptico
Protocolo de sepse sem seguimento
Ausência de cultura, proatividade ou cobrança
Pacientes não são reavaliados em tempo hábil
Guia de antibioticoterapia empírica desatualizado e subutilizado
Desconhecimento
Negligência
Discordância
Excesso de autoconfiança
Reposição volêmica inadequada
Falha de comunicação
Inexistência de critérios explícitos para definir melhora clínica
Falha na prescrição e administração do antibiótico na 1ª hora após
identificação da sepse
Equipamentos para aferição de sinais vitais insuficientes
Receita insuficiente
Manutenções preventivas e corretivas atrasadas
Superlotação da unidade
Rede de saúde frágil
Gestão
2.2 Apêndice 2 Planilha de coleta de dados ( C= Cumpre, NC= Não Cumpre, E= Exceção, N/A= Não se aplica.)
Prontuário
Nome
Critério 1
Critério 2
Critério 3
Critério 4
Critério 5
Critério 6
Critério 7
Critério 8
Critério 9
Critério 10
Observação:
44
2.3 Apêndice 3 – Gráfico de Pareto de Não Cumprimentos dos Critérios de Qualidade na Avaliação
Inicial da Qualidade. Juazeiro do Norte, CE, 2017
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
C2 C4 C10 C6 C7 C1 C3 C9 C8 C5
Frequência Absoluta de Não Conformidades Frequência Acumulada de Não Conformidades
45
2.4 Apêndice 4 – Diagrama de Gantt
Meses
Tarefa Responsáveis
Set 2
017
Out
201
7
Nov
201
7
Dez
201
7
Jan
2018
Fev
2018
Mar
201
8
Abr
201
8
Mai
201
8
Jun
2018
Criar o Comitê Local de Combate a Sepse que será responsável por acompanhar resultados e elaborar planos de ação que visem otimização de processos;
Alta gestão
Identificar um gestor de processo, que será a pessoa responsável por acompanhar os protocolos abertos na emergência, gerenciar dados e cobrar resultados;
Alta gestão
Atualizar o protocolo institucional de assistência ao paciente séptico, com base nas diretrizes da CSS e do ILAS;
Coordenação médica do setor de Emergência
e CCIH
Atualizar a ficha de triagem do protocolo de sepse; Coordenação médica do setor de Emergência
e CCIH
Atualizar o guia de antimicrobiano empírico institucional CCIH Reestruturar a linha de cuidado do paciente séptico, visando diagnósticos mais precoces e celeridade no atendimento médico e medidas terapêuticas.
Comitê da sepse
Divulgar os novos instrumentos (protocolo e ficha de triagem), bem como a importância do reconhecimento precoce e tratamento célere da sepse na maior quantidade de meios possíveis.
CEP, NUGESP, Comitê da Sepse e NTI
Realizar, junto Centro de Ensino e Pesquisa e a comissão de controle de infecção hospitalar, capacitação da equipe assistencial do setor de emergência quanto a atualização do protocolo de sepse, criando calendário de atividades permanentes;
CEP, CCIH
Capacitar a equipe assistencial da emergência quanto a correta aferição de sinais vitais; CEP Sensibilizar a equipe assistencial quanto à importância do diagnóstico precoce e correta condução do paciente com sepse;
Coordenação do setor de Emergência
Pactuar com os setores de apoio sobre tempo ideal para o desempenho de suas ações;
Alta Gestão e Coordenação do setor
de Emergência
Estabelecer metas de desempenho para a equipe assistencial. Coordenação médica do setor de Emergência
e CCIH
Estabelecer calendário mensal de acompanhamento de indicadores que deverá ser apresentado à direção, CCIH e NUGESP, com responsabilização do Comitê da Sepse pelos resultados alcançados;
Alta gestão
Sinalizar os pacientes sépticos em meios físicos e eletrônicos;
Coordenação de Enfermagem do setor
de Emergência e NUGESP
Realizar feedback de desempenho individual e coletivo para a equipe assistencial;
Coordenação do setor de Emergência
Realizar visitas in loco com o objetivo de fazer busca ativa de pacientes sépticos, auditoria de protocolos e discussão de dúvidas com os colaboradores.
Coordenação do setor de Emergência
Realizar auditoria de qualidade mensal sobre a adesão e condução do protocolo de sepse;
Coordenação do setor de Emergência
46
3 ANEXOS
47
3.1 Anexo 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa
48
49
50