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Da Inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado
Rodrigo Bello @bellorodrigo
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Da
Inconstitucionalidade
do Regime Disciplinar
Diferenciado
Rodrigo Bello
Professor de Processo Penal e Leis Especiais em cursos no Rio
de Janeiro, Paran, Bahia e Minas Gerais
@bellorodrigo www.belloconcursos.blogspot.com
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Sumrio
1- apresentao do tema.........................03
2- trmite legislativo da lei 10.792/03.........07
3- sistemas e prises em evoluo...............16
4- conceitos jurdicos..........................22
5- efetividade da norma.........................25
a) presos no RDD........................25
b) Pioneirismo Paulista.................39
c) leading case pela inconstitucionalidade....44
6- crticas.....................................55
7 regime de segurana mxima...................66
8- concluses...................................76
9- bibliografia.................................79
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O Inferno passa vergonha com o que acontece aqui dentro.1
Detento no Identificado
1 Frase retirada do Laudo n 274/98 1DRP/RS. WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na
Priso: Emergncia e Injuno de Controle Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina XXV.
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1 Apresentao do Tema
O que necessrio para que tenhamos um mundo menos violento?
O tema da violncia percorre as pginas de todos os jornais mundiais com uma nfase jamais vista. Ser que possvel vencer esse mal da criminalidade? Por que ela vem
crescendo absurdamente, principalmente nos grandes centros?
Ser que iremos acompanhar sem esperanas a evoluo dessa praga? Ser que devemos continuar abrindo mo de direitos existenciais mnimos, tais como a liberdade, para que
possamos nos sentir protegidos?
Hoje um governante que no encare esse problema, no mnimo, deve estar com suas faculdades mentais
prejudicadas. So eleitos inmeros polticos com base no combate criminalidade. E nesse campo vemos as mais variadas e absurdas promessas. Vejamos dois exemplos: Construir presdios de segurana mxima, na concepo de alguns, erradica a violncia; inibe o criminoso. Alm disso, leis severas, de penas altssimas, sem benefcios
faro com que os criminosos pensem duas vezes antes de
cometer seus delitos. Pura iluso.
Neste aspecto, para nossa infelicidade, o que vem
ganhando status de verdadeira soluo destes inmeros problemas a poltica institucional de lei e ordem, implantada recentemente na cidade americana de Nova York. impressionante a exportao desta ideologia que muitos
adoram em todos os cantos do planeta. Difcil encontrarmos
pessoas adeptas de um combate em longo prazo, consertando
primeiro problemas sociais de condio mnima para que a
pessoa tenha sua dignidade humana respeitada.
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Mas quem nos dias atuais, de alta
competitividade, de tecnologia a velocidade da luz, de
imediatismos exagerados, de globalizao, ir levantar a bandeira da anlise conjuntural da questo da violncia? Poltico que sustente isso em seus discursos provavelmente
ir sofrer uma derrota considervel.
O Direito Penal mnimo, de interveno mnima
est preso nos livros de Direito. Ou melhor, este Direito Penal tornou-se a nica visvel soluo dos problemas da violncia.
A humanidade quer a resposta para ontem. Os
governantes querem mostrar servio, mesmo que isso acarrete
um desrespeito completo da condio mnima que um homem
precisa ter para sobreviver como cidado.
Pergunto-me o porqu da falta de investimentos na
educao, na sade, no saneamento bsico, na pavimentao de ruas, em suma, problemas esses que geram em muitos
cidados a revolta, a indignao, verdadeiros propulsores
pela busca de uma vida mais fcil. Pela vida do crime. No existem opes, o Estado no d estrutura mnima para que muitas pessoas construam algo e tenham orgulho disso. Quem soluciona os problemas da famlia o gerente, o dono do morro. Quem no tem problemas financeiros que mora perto? So essas mesmas pessoas. o Estado que paga o remdio dos moradores enfermos? Logicamente que no, pois so essas
mesmssimas pessoas descritas anteriormente. Onde o Estado
no chega, o crime chega forte, claro e evidente. Os
valores se invertem. Os exemplos tomam novas caras. O
respeito vem com o porte de uma arma militar importada. No
existe orgulho em portar em baixo do brao um caderno
escolar. Busca-se, sem opes, aquilo que muitos nunca
tiveram: dignidade.
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Nosso presente trabalho radicaliza. Critica
severamente a postura de nossos legisladores em solucionar
o problema da violncia com a construo de presdios de
segurana mxima com um regime altamente degradante para o condenado.
Muitos reacionrios, muitos representantes da direita conservadora do Direito, como bem descreve o
professor lvaro Mayrink da Costa e como o aplaudo internamente por isso em suas aulas, devem estar afirmando
neste instante que se trata de um trabalho pr-criminalidade.
O leigo e o reacionrio juntam-se nessa crtica previsvel. Nosso trabalho no a favor ou contra o criminoso de alta periculosidade, termo este altamente
subjetivo que todos agora, de uma hora para outra, arrumaram um conceito pr-determinado. Ele perigoso e ponto final.
Nosso estudo a favor da dignidade humana.
Gostaramos de enfrentar problemas conjunturais dos mais variados, passear pela sociologia, estudar
aspectos criminolgicos, todavia nos ateremos a um tema especfico. A criao de um regime disciplinar diferenciado
(RDD) para os criminosos perigosos. Nossos representantes no legislativo entendem que essas pessoas precisam se
isolar do mundo para que suas penas sejam cumpridas do jeito que a sociedade exige. Afirmo que com requintes de crueldade para os tempos atuais. Veremos as justificativas para a criao deste regime, analisaremos em quais
circunstncias ele ser aplicado e, finalmente, sem antes critic-lo veementemente, iremos concluir com a
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apresentao de novos projetos, em trmite, no legislativo, neste sentido.
Crticas com certeza existiro, at porque o tema escolhido faz com que qualquer pessoa afirme
categoricamente sua posio a respeito. Todavia, mal sabem
nossos crticos, que a escolha deste tema foi justamente e, simplesmente um, provoc-los.
A inconstitucionalidade do Regime Disciplinar
Diferenciado, o RDD, criado pela lei federal 10.792/03, o tema que passaremos a discorrer nas prximas pginas.
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2 Trmite Legislativo
A lei 10792/03, proveniente do Poder Executivo, pelo projeto de lei n 5073 de 2001, teve um longo trajeto legislativo at se tornar lei propriamente dita. Sua apresentao se deu em 13 de agosto de 2001 e sua
publicao como lei, apenas em dezembro de 2003. Podemos
dizer que foi um trmite altamente complexo com diversas
alteraes e inmeras intervenes dos parlamentares.
Seu objetivo, desde o incio, foi alterar importantes dispositivos da lei de Execuo Penal (7210/84) e tambm alguns artigos do Diploma Processual Penal. Quanto a este, nos ateremos apenas em informar que as alteraes
primordiais foram no tocante ao procedimento do
interrogatrio. Para no fugirmos do tema proposto, ficaremos restritos aos dispositivos da LEP, principalmente
na alterao que mais nos interessa, ou seja, a criao de um regime disciplinar diferenciado (RDD).
Em resumo, e apontando algumas particularidades
quanto ao seu longo caminho entre idas e vindas da Cmara
dos Deputados e do Senado Federal, destacamos a sua
apresentao em plenrio da Cmara em 21/08/01 pelo ento Deputado Alberto Braga. Aps pareceres das Comisses envolvidas, o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh solicitou,
em 18/03/03, urgncia quanto apreciao deste projeto de lei.
Em 19/03/03 foi designado relator pela Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania, o Deputado
Federal Ibrahim Abi-Ackel. Logo em seguida, precisamente no
dia 27/03/03 o relator profere parecer pela constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa
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deste e da Emenda de Plenrio e, no mrito, pela aprovao deste, com substitutivo, e rejeio da Emenda de Plenrio.
Curiosa a falta de fundamentao para este parecer. Em seu voto, o ento relator restringe-se apenas
em informar a constitucionalidade, seno vejamos:
No se verificam bices quanto constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa do projeto, bem como da Emenda apresentada em
Plenrio.
O parecer pela aprovao do projeto quanto constitucionalidade, juridicidade e tcnica legislativa, com as modificaes introduzidas no texto.
Tambm quanto ao mrito, respeitadas as citadas
modificaes, o parecer pela aprovao. O parecer quanto a
Emenda apresentada em Plenrio pela rejeio.
Mesmo assim, o parecer foi aprovado por
unanimidade no mesmo dia.
No dia 01/04/03, este projeto foi levado Plenrio e, por se tratar de matria polmica, a discusso foi grande com diversos parlamentares externado suas
opinies. Manifestaram-se os seguintes membros do
Legislativo Federal: Dep. Arnaldo Faria de S (PTB-SP), Dep. Alberto Fraga (PMDB-DF), Dep. Fernando Gabeira (PT-RJ), Dep. Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), Dep. Inaldo
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Leito (PSDB-PB), Dep. Coronel Alves (PL-AP), Dep. Eduardo Paes (PFL-RJ), Dep. Dimas Ramalho (PPS-SP), Dep. Cabo Jlio (PSB-MG), Dep. Gilberto Nascimento (PSB-SP), Dep. Orlando Fantazzini (PT-SP), Dep. Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), Dep. Pompeo de Mattos (PDT-RS), Dep. Juza Denise Frossard (PSDB-RJ), Dep. Luiz Couto (PT-PB), Dep. Mendona Prado (PFL-SE) e Dep. Givaldo Carimbo (PSB-AL).
Impressiona o n de Emendas apresentadas. Total
de 25. Logicamente pela matria ter alto grau de carter eleitoreiro, nossos representantes no poderiam deixar de
se manifestar e, teoricamente, mostrarem servio a seus
eleitores.
No encerramento desta movimentada sesso foi
designado relator, Dep. Antonio Carlos Biscaia, para
proferir o parecer pela Comisso de Segurana Pblica e Combate ao Crime Organizado, Violncia e Narcotrfico.
Novamente a matria retorna ao Deputado Ibrahim Abi-Ackel, que ao proferir seu novo parecer, toma muito
cuidado, altamente perceptvel em seu intrito:
(...) a fim de esclarecer ponderaes feitas desta tribuna
sem nenhuma relao direta ou
indireta com o substitutivo que
estamos apresentando, nascidas
talvez de informaes deficientes,
ou de publicaes de jornais, ou de m interpretao do texto escrito, mas que acabaram nesta sesso uma
espcie de tentativa de excepcionalidade, como se aqui
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estivssemos votando um estado de emergncia prisional.
Negaria todo conhecimento que tenho
da realidade prisional, como
Relator que fui da nica Comisso Parlamentar de Inqurito que visitou praticamente todos os
estabelecimentos de superlotao
carcerria, faltaria experincia que tenho como advogado criminal
durante toda a minha vida, se
negasse aqui as palavras proferidas
pelo Deputado Fernando Gabeira. O
que se denomina sistema prisional
brasileiro na verdade uma sucesso de depsitos de homens e mulheres, onde seres humanos so
amontoados sem nenhum tratamento
penal, padecendo os malefcios
fsicos e morais da m alimentao, da ausncia de sol, das ofensas
morais, dos castigos fsicos, o que
transformou esse sistema numa
sementeira de reincidncias, numa
escola de aperfeioamento do crime,
com o depauperamento da sade fsica, que, lentamente, conduz alienao mental.
Aps, ida ao Senado Federal e retorno Cmara dos Deputados, em 18/11/2003 foi aprovada a redao final oferecida pelo Dep. Biscaia.
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Finalmente, em 01/12/2003 nasce a lei 10.792/03 que de certa maneira moderniza o procedimento do
interrogatrio, todavia retroage catastroficamente no tocante ao regime disciplinar diferenciado do preso.
A roda da histria d marcha r.
Vejamos a sua redao final no tocante ao tema proposto neste trabalho.
"Art. 52. A prtica de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subverso
da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisrio, ou condenado, sem prejuzo da sano penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes
caractersticas:
I - durao mxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuzo de repetio da sano por nova falta grave de mesma espcie, at o limite de um sexto da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem
contar as crianas, com durao de duas horas;
IV - o preso ter direito sada da cela por 2 horas dirias para banho de sol.
1o O regime disciplinar diferenciado tambm poder abrigar presos provisrios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a
segurana do estabelecimento penal ou da sociedade.
2o Estar igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisrio ou o condenado
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sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou
participao, a qualquer ttulo, em organizaes
criminosas, quadrilha ou bando." (NR)
"Art 53.
V - incluso no regime disciplinar diferenciado."
"Art. 54. As sanes dos incisos I a IV do art.
53 sero aplicadas por ato motivado do diretor do
estabelecimento e a do inciso V, por prvio e fundamentado despacho do juiz competente.
1o A autorizao para a incluso do preso em
regime disciplinar depender de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento
ou outra autoridade administrativa.
2o A deciso judicial sobre incluso de preso em regime disciplinar ser precedida de manifestao do Ministrio Pblico e da defesa e prolatada no prazo mximo de quinze dias."
"Art. 57. Na aplicao das sanes disciplinares,
levar-se-o em conta a natureza, os motivos, as
circunstncias e as conseqncias do fato, bem como a
pessoa do faltoso e seu tempo de priso.
Pargrafo nico. Nas faltas graves, aplicam-se as sanes previstas nos incisos III a V do art. 53 desta
Lei." (NR)
"Art. 58. O isolamento, a suspenso e a restrio
de direitos no podero exceder a trinta dias, ressalvada a
hiptese do regime disciplinar diferenciado."
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"Art. 60. A autoridade administrativa poder decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de
at dez dias. A incluso do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguao
do fato, depender de despacho do juiz competente.
Pargrafo nico. O tempo de isolamento ou incluso preventiva no regime disciplinar diferenciado ser computado no perodo de cumprimento da sano disciplinar."
(NR)
"Art.70.
I - emitir parecer sobre indulto e comutao de
pena, excetuada a hiptese de pedido de indulto com base no estado de sade do preso;
"Art.72.
VI estabelecer, mediante convnios com as
unidades federativas, o cadastro nacional das vagas
existentes em estabelecimentos locais destinadas ao
cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela
justia de outra unidade federativa, em especial para presos sujeitos a regime disciplinar.
"Art.86.
1o A Unio Federal poder construir estabelecimento penal em local distante da condenao para
recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da segurana pblica ou do prprio condenado.
3o Caber ao juiz competente, a requerimento da autoridade administrativa definir o estabelecimento
prisional adequado para abrigar o preso provisrio ou
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condenado, em ateno ao regime e aos requisitos
estabelecidos."
"Art. 87.
Pargrafo nico. A Unio Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territrios podero construir Penitencirias destinadas, exclusivamente, aos presos provisrios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei."
Art. 3o Os estabelecimentos penitencirios disporo de aparelho detector de metais, aos quais devem se
submeter todos que queiram ter acesso ao referido
estabelecimento, ainda que exeram qualquer cargo ou funo
pblica.
Art. 4o Os estabelecimentos penitencirios, especialmente os destinados ao regime disciplinar
diferenciado, disporo, dentre outros equipamentos de
segurana, de bloqueadores de telecomunicao para
telefones celulares, rdio-transmissores e outros meios, definidos no art. 60, 1o, da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997.
Art. 5o Nos termos do disposto no inciso I do
art. 24 da Constituio da Repblica, observados os arts. 44 a 60 da Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984, os Estados e o Distrito Federal podero regulamentar o regime
disciplinar diferenciado, em especial para:
I - estabelecer o sistema de rodzio entre os
agentes penitencirios que entrem em contato direto com os presos provisrios e condenados;
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II - assegurar o sigilo sobre a identidade e
demais dados pessoais dos agentes penitencirios lotados nos estabelecimentos penais de segurana mxima;
III - restringir o acesso dos presos
provisrios e condenados aos meios de comunicao de informao;
IV - disciplinar o cadastramento e agendamento
prvio das entrevistas dos presos provisrios ou condenados com seus advogados, regularmente constitudos nos autos da
ao penal ou processo de execuo criminal, conforme o
caso;
V - elaborar programa de atendimento
diferenciado aos presos provisrios e condenados, visando a sua reintegrao ao regime comum e recompensando-lhes o bom
comportamento durante o perodo de sano disciplinar." (NR
Art. 6o No caso de motim, o Diretor do
Estabelecimento Prisional poder determinar a transferncia do preso, comunicando-a ao juiz competente no prazo de at vinte e quatro horas.
Art. 7o A Unio definir os padres mnimos do presdio destinado ao cumprimento de regime disciplinar.
Art. 8o A Unio priorizar, quando da construo de presdios federais, os estabelecimentos que
se destinem a abrigar presos provisrios ou condenados sujeitos a regime disciplinar diferenciado.
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3 Sistemas e Prises em Evoluo
Para explicarmos melhor nossa ltima afirmao do item anterior, entendemos ser de suma importncia a
pesquisa evolutiva dos sistemas penitencirios, principalmente no Brasil.
Nossa inteno demonstrar o retrocesso que nossa lei trouxe em criar um sistema prisional onde o preso
se isola do mundo, no tendo contato direto com outros
seres humanos, no tendo acesso a qualquer tipo de
informao e no tendo, por exemplo, direito ao banho de
sol com durabilidade razovel. Melhor seria construirmos masmorras e colocarmos esses tais presos altamente
perigosos, isolados, no alto das torres e ao invs de carcereiros, pagarmos verdadeiros carrascos para cuidar
destes insignificantes para a sociedade.
A priso um mal, todos ns sabemos disso. Sendo necessria em alguns casos, no podemos permitir o isolamento completo do ser humano para que ele tenha uma
pena degradante e sofra srias complicaes mentais. Cumpre salientarmos que o erro, que o crime cometido deve ser
punido, mas nunca na mesma moeda, ou seja, em um Estado Democrtico de Direito no podemos permitir o desrespeito evidente do princpio da dignidade humana. E essa quebra de
dogma constitucional vem em forma de tortura lenta, de
isolar o ser humano para que o cio e a rotina o retirem do mundo civilizado. Trata-se de um sofrer lento e impiedoso.
Cndido Furtado Maia Neto2, em sua obra
Penitenciarismo en El Mercosul Poltica Criminal y
2 MAIA NETO, Cndido Furtado. Penitenciarismo en El Mercosul Poltica Criminal y Penitenciaria Del
Brasil. Editora Sergio Antonio Fabris Editor. 1 Edio 1998. Pgina 20 e 24.
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Penitenciaria Del Brasil, coloca muito bem que El orgen
de la prision em nada se asemeja con los objetivos contemporneos de la pena privativa de libertad (...) Aparecen las leyes contra la vagncia (1.597), se valora la vida humana, la pena privativa de libertad en cambio de la
pena de muerte. Hay tambin aqullos que sostienen que ls crceles para los criminales surgieron como reaccin contra el carcter brbaro y los excesos de las penas anteriores; la prision constituy uma de las primeras formas de apartamiento de las sanciones criminales tradicionales.
Percebemos igualmente que j se falava em valorizao da vida humana. A priso surgiu, para que
fossem abolidas as penas corporais.
Para entendermos mais claramente esse afirmado
retrocesso da lei penal que sustentamos, iniciaremos neste
instante uma pesquisa sobre prises, penas cruis e por que no, sistema histrico judicirio brasileiro.
Em 1500, Portugal fez do Brasil sua colnia. Em
1536, a Inquisio instalou-se em Portugal, a pedido do Rei
Joo III. Quando o Brasil passou a integrar os mapas geogrficos, obteve de Portugal um sistema jurdico j estabelecido. Vigiam as Ordenaes Manuelinas, que
substituram, em 1521, as Ordenaes Afonsinas. Mas
aplicadas no Brasil, efetivamente, foram as Ordenaes
Filipinas, a partir de 1603.3
Interessante o resumo da autora Ana Miranda em sua obra Boca do Inferno4. Relata com preciso como era a
situao jurdica colonial brasileira. Diz a romancista: Os jurisconsultos brasileiros, ouvidores e procuradores,
3 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 11
4 MIRANDA, Ana. Boca do Inferno. Editora Companhia das Letras. 4 edio.
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bacharis, desembargadores, juzes, viviam numa conjuntura sombria e arrasada. Predominava uma mistura incoerente de
princpios romansticos, barbricos e cannicos. O direito variava entre regras de viver e a definio do pecado.
Alm disso, para ser advogado eram precisos oito anos de estudos em Coimbra. No Brasil no haviam muitos letrados.
Quanto s Ordenaes Filipinas, podemos verificar que as penas eram as mais cruis possveis. Pena de morte por enforcamento, por fogo, precedida de tormentos.
Penalizava-se ainda com aoites, confiscao de bens,
degredo (para frica e ndia), marcas infamantes, servios nas gals (remo sem pagamento em embarcaes, trabalho forado). As normas repressivas eram atrozes, afirma a j citada autora Paula Bajer5.
A Igreja esquivou-se um pouco para se intrometer no sistema judicirio do Antigo Regime. Mais uma vez consultando a excelente obra da professora paulista Paula
Bajer6, menciona ela que Michel Foucalt esclareceu, em A Verdade e as Formas Jurdicas, por que o procedimento de
inquirio de faltas e crimes, adotado pela Igreja nas visitas que os bispos faziam s dioceses, significava forma de saber e exerccio de poder ao mesmo tempo. O inqurito serviria para dar autenticidade ao que seria, a partir da
investigao, considerado verdadeiro, aparecendo, o
procedimento, como forma de saber-poder. Essa constatao de extrema importncia, na medida em que at hoje o inqurito permanece, no obstante pequenas variaes, como a forma adotada para a investigao de crime e autoria.
5 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 13
6 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 19
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Sobre a crueldade das prises, assevera com
maestreza o clssico Cesare Beccaria7 em sua ainda atual obra Dos Delitos e das Penas: A razo est em que o sistema atual da jurisprudncia criminal apresenta aos nossos espritos a idia da fora e do poder, em vez da justia; que se atiram, na mesma masmorra, sem distino alguma, o inocente suspeito e o criminoso convicto; que a priso entre ns, antes de tudo um suplcio e no um meio de deter um acusado; que, enfim, as foras que esto extremamente em defesa do trono e os direitos da nao
esto separadas daquelas que mantm as leis no interior,
quando deveriam estar intimamente ligadas (...) Nossos costumes e nossas leis retrgradas esto muito distantes das luzes dos povos. Somos ainda dominados pelos
preconceitos brbaros que recebemos de nossos antepassados...
Folheando as pginas da histria, esquecendo-nos de diversos eventos importantes, no podemos deixar de mais
uma vez enfatizar e homenagear a escritora, Procuradora da
Repblica, Paula Bajer8, que com sntese mpar nos remete aos campos evolutivos da cincia penal. Eis suas palavras:
Na Frana, em 1791, j se havia editado a Declarao universal dos direitos do homem e do cidado,
inaugurando-se regime liberal-individualista. A poca era a dos peridicos e da divulgao dos novos ideais de liberdade e igualdade. Cesare Beccaria tambm j havia publicado o famoso Dos Delitos e das Penas, discutindo e
questionando todos os mtodos judicirios do Antigo Regime. Na Itlia, alis, Beccaria, Pietro Ferri e outros intelectuais iluministas publicavam o peridico Il Caff,
7 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Editora Martin Claret. 1 Edio 2005. Pgina 27.
8 BAJER, Paula. Processo Penal e Cidadania. Editora Jorge Zahar. 1 edio 2002. Pgina 20-22
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utilizado para criticar o sistema repressivo desumano e
propagar os ideais racionalistas. No Brasil, tambm circulavam folhetos, panfletos e outras publicaes que
divulgavam as idias iluministas e, acima de tudo, sobre a liberdade. Censores no foram bem sucedidos em vetar a
propagao de pensamento liberal fundado em Monstesquieu,
Rosseau, Voltaire, Duprat, e tantos outros.
A Constituio de 1824 aboliu aoites, torturas,
marcas de ferro quente e outras penas cruis. Afirmou, tambm que as cadeias deveriam ser limpas, seguras e bem arejadas. Permaneceria a pena de morte
Nesta ltima afirmao j podemos constatar um primeiro retrocesso. Desde 1824 as prises deveriam ser
lugares aptos a receberem com dignidade os seres humanos
condenados. Entretanto, sabemos todos que a grande maioria
das prises brasileiras so verdadeiros caixotes humanos
propagadores de doenas, promiscuidades e campo frtil para a realizao de inmeros crimes.
Assevera neste sentido Dimenstein: Os distritos
policiais, cadeias e presdios brasileiros esto
invariavelmente superlotados. As condies de vida so
subumanas, e a AIDS se espalha, assim como outras pestes. O
trabalho privilgio de poucos. Mata-se, estupra-se, escraviza-se, corrompe-se, vendem-se e compram-se drogas
com a maior facilidade.
Alm disso, foi abolida a tortura. Pois bem, indago-lhes: Seria a tortura s aquele atuar positivo, ativo e evidente? A tortura seria to somente o
espancamento lento, o choque, ou at mesmo o pau-de-arara? No seria o isolamento completo um tipo severo de tortura
psicolgica?
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Concordando assim com Pinheiro9, humilhao e
aniquilao parecem ser temas recorrentes das prises
brasileiras.
Nossos governantes atuais entendem que a
construo de presdios de segurana mxima e isolar detentos seriam as melhores medidas para que a violncia-
criminalidade diminua. Vimos, em breve resumo e em cortes
histricos que a tendncia sempre foi dar uma maior importncia e respeito ao princpio da dignidade humana,
abolindo de vez as famigeradas penas cruis. Beccaria sustenta muito bem isso, em tempos remotos. Nossa
legislao caminhava neste sentido. Por que agora nossos
legisladores reacionrios tendem a retroceder e criar verdadeiras prises de segurana mxima onde o nico objetivo acabar aos poucos com o preso? Acaba com sua esperana, acaba com sua dignidade, alimenta a raiva,
alimenta a indignao. Enfim, mata o ser humano. Se, por
acaso, ventilar na cabea desses condenados uma ligeira
inteno em cumprir sua pena e voltar ao seio da sociedade
como uma pessoa civilizada, esquea! A luta agora muito pior. A luta travada contra o seu subconsciente. A nica companhia ser a sua. Seus tramas, seus medos, suas ansiedades, sua saudade o consumiro de uma forma lenta,
torturando-o, culminando numa alienao mental completa.
9 WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na Priso: Emergncia e Injuno de Controle
Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina 26.
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4 Conceitos Jurdicos
Afinal, o que seria o Regime Disciplinar
Diferenciado? Vejamos extensa e importante colaborao nesse sentido do professor Julio Fabbrini Mirabete10: O
regime disciplinar diferenciado foi concebido para atender
s necessidades de maior segurana nos estabelecimentos penais e de defesa da ordem pblica contra criminosos que, por serem lderes ou integrantes de faces criminosas, so
responsveis por constantes rebelies e fugas ou permanecem, mesmo encarcerados, comandando ou participando
de quadrilhas ou organizaes criminosas atuantes no
interior do sistema prisional e no meio social.
Preocupa-se ainda o mestre em delimitar o
contorno deste regime: no constitui um regime de
cumprimento de pena em acrscimo aos regimes fechado, semi-aberto e aberto, nem uma nova modalidade de priso
provisria, mas sim um regime de disciplina carcerria especial, caracterizado por maior grau de isolamento do
preso e de restries ao contato com o mundo exterior, a
ser aplicado como sano disciplinar ou como medida de
carter cautelar, tanto ao condenado como ao preso provisrio, nas hipteses previstas em lei.
Em sntese, o tambm professor Guilherme de Souza Nucci11, nos esclarece ainda mais acerca das condies
deste regime disciplinar: Enfim, trs so as hipteses para a incluso no RDD: a) quando o preso provisrio ou condenado praticar fato previsto como crime doloso,
conturbando a ordem e a disciplina interna do presdio onde
10 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execuo Penal. Editora Atlas. 11 Edio 2004. Pgina 149.
11 SOUZA NUCCI, Guilherme de. Manual de Processo e Execuo Penal. Editora Revista dos Tribunais.
1 Edio 2005. Pgina 931.
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se encontre; b) quando o preso provisrio ou condenado representar alto risco para a ordem e segurana do estabelecimento penal ou da sociedade; c) quando o preso provisrio ou condenado estiver envolvido com organizaes criminosa, quadrilha ou bando, bastando fundada suspeita.
Neste instante podemos perceber a inteno do
legislador em simplesmente isolar os chamados criminosos de
alta periculosidade. Percebemos que conceitos vagos e
imprecisos colocados na Lei de Execuo Penal do azo para
que os aplicadores do direito envolvidos, possam se valer
das paixes emergenciais que, em muita das vezes, so
incentivadas por uma mdia viciada e tendenciosa. Ao que
parece, o RDD retroage no tempo e faz com que as famosas
solitrias tomem novo nome e elevem-se ao degrau de solues do problema da criminalidade, principalmente no
tocante s organizaes criminosas.
E no paramos por aqui, pois o artigo 86 1 da
LEP, define que a Unio Federal precisa construir presdios
de segurana mxima em locais distantes da condenao para recolher os condenados, no interesse da segurana pblica ou do prprio sentenciado.
Assim, o condenado e submetido ao RDD pode ficar
isolado dentro da unidade prisional e tambm excludo de seu seio familiar, nas visitas semanais de duas pessoas,
sem contar as crianas, com durao de duas horas (art. 52 III LEP). Por acaso poderamos imaginar familiares deslocando-se por esse pas imenso, continental para
visitar um parente por apenas 2 horas semanais? O
legislador teria pensado na importncia da visita da
famlia, na conscientizao que essa visita pode trazer
para o condenado? Teria pensado naquela fora a mais,
naquela base de sustentao que uma famlia pode trazer na
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vida de um ser humano? Claro que no e de forma absurda.
Doravante, haveria pensado nas despesas de deslocamento de
uma famlia, na grande maioria de baixa renda, para visitar
seu parente que cumpre pena em um lugar distante e
desconhecido?
Enfim, o legislador praticamente selou o destino
do sujeito. O isolamento agora sinnimo de diminuio de violncia. Retira-o completamente do mundo civilizado para
que ele no contamine mais os chamados homens de bem.
Afinal, neste tema o que mais encontramos so conceitos
vagos, imprecisos e tendenciosos. Engraado que diversos
casos de corrupo no Parlamento no so encarados com
crueldade, como so tratados agora os chamados criminosos
de alta periculosidade, at porque este conceito nos parece se restringem aos chefes de faces criminosas, tais como
Comando Vermelho, PCC e por a vai. Os chamados gangsters
do colarinho branco possuem imunidades, prises especiais e
outras demais regalias.
Observamos, portanto, a severidade do regime
disciplinar sob exame.
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5 Efetividade da Norma
Neste captulo que ora se inicia, daremos um
cunho prtico e visual em nosso trabalho. Quem so os criminosos que esto inseridos neste Regime Disciplinar
Diferenciado? Para onde so levados e como so
fundamentadas suas decises?
A) Presos no RDD
Nomes como Marcola, Fernandinho Beira-Mar e
outros tantos so conhecidos de todos os brasileiros. So
os chamados chefes do trfico de entorpecentes. Figuras da mais alta periculosidade e que precisam ser isolados,
segundo o legislador brasileiro.
Vejamos o exemplo do chileno Maurcio Hernandes Norambuena, condenado por comandar o seqestro do
publicitrio Washington Olivetto, em dezembro de 2001, que vai permanecer preso por mais um ano no regime disciplinar
diferenciado, que impe normas mais rgidas de segurana. A
prorrogao no regime de conteno mxima foi determinada pelo juiz-corregedor da Vara das Execues Criminais e Corregedoria dos Presdios de So Paulo, Miguel Marques e
Silva. Norambuena est preso na penitenciria de Presidente Bernardes. As informaes so da revista Consultor
Jurdico.
O chileno requereu sua remoo do regime,
alegando que o prazo de sua permanncia havia terminado em
25 de novembro do ano passado e que no tinha praticado
qualquer indisciplina durante sua permanncia no Centro de
Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.
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No final de novembro, o juiz prorrogou a internao de Norambuena por mais 60 dias e requereu a
manifestao do Ministrio Pblico. A promotora de Justia Mariza Schiavo Tucunduva opinou pela permanncia no RDD,
sustentando que ele no preso de fcil conteno porque teria fugido do presdio de segurana mxima de Santiago do Chile.
Em sua deciso, o juiz Miguel Marques e Silva refere que existem mais do que fundadas razes que apontam
que Norambueno um risco comunidade e que a medida disciplinar mais rgida se impe, inclusive, para assegurar
a aplicao da lei penal chilena, assim como eventual
extradio a ser concedida pelo governo brasileiro.
Por entendermos de suma importncia,
transcrevemos a ntegra da deciso que em seguida ser analisada:
Mauricio Hernandez Norambuena, qualificado nos
autos, requer sua remoo do Regime Disciplinar
Diferenciado, alegando que a internao determinada por
este juzo, por 360 dias, teve seu trmino no dia 25 de novembro de 2004, tendo em vista no ter praticado qualquer
falta disciplinar durante sua permanncia no Centro de
Readaptao Penitenciaria de Presidente Bernardes (fls. 157/158). A fls. 160/161 o sr. Secretrio da Administrao Penitenciaria solicita deciso deste juzo a respeito da permanncia do referido sentenciado naquele regime,
lembrando que ele trata-se de preso diferenciado dos
demais, remetendo cpias de documentos (fls. 162/183).
Por despacho de 29.11.2004 este juzo prorrogou a internao do sentenciado por 60 dias, cautelarmente,
determinando em seguida vista ao Ministrio Pblico (fls.
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160). Este, a fls. 188/189, por intermdio da sua representante, Dra. Mariza Schiavo Tucunduva, opinou no
sentido de que o sentenciado permanea no regime
disciplinar diferenciado, um vez que os motivos ensejadores da sua internao ainda persistem, sustentando, ainda, que
ele no preso de fcil conteno, visto que fugiu de um
presdio de segurana mxima de Santiago do Chile.
A fls. 193/195, Embargos de Declarao oferecidos pelo sentenciado, os quais foram indeferidos
pelo despacho de fls. 196, que determinou ainda,
manifestao da Defesa acerca do pedido de prorrogao
naquele regime. A fls. 197/199 esta se manifestou, alegando que o pedido do Ministrio Pblico no tem amparo legal e que o sentenciado no cometeu falta disciplinar grave,
ostentando bom comportamento carcerrio. Alega ainda, que o risco de fuga no pode respaldar a internao do
sentenciado, pois dever do Estado custodiar os presos e mant-los encarcerados. Por isso pede o indeferimento do
pedido de prorrogao de internao do sentenciado em RDD.
o relatrio. Decido.
O sentenciado Mauricio Hernandez Norambuena
requer sua remoo do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes, onde se encontra cumprindo pena no
regime disciplinar diferenciado, alegando que no registra
qualquer falta disciplinar e o prazo de sua internao
naquele presdio j expirou. O Ministro Pblico, por sua vez, por meio da sua representante legal, Dra. Marisa
Schiavo Tucunduva, requer a permanncia do sentenciado no
referido regime, pois os motivos que deram ensejo sua internao ainda persistem.
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A razo est com o Ministrio Publico pois realmente persistem os motivos que acabaram levando o
sentenciado a ser internado no aludido regime.
Primeiramente, como j acentuamos na deciso anterior, o requerente sofreu duas condenaes em seu pas
de origem, ambas pena de priso perptua, por assassinato
de autoridades, quando chefiava organizao criminosa (fls. 05). Era conhecido nessa organizao por Comandante Ramiro (fls. 126 e 128, do apenso).
Cumpria essas penas em presdio de segurana
mxima em Santiago do Chile, quando foi resgatado de maneira espetacular por seus companheiros de crime, por
meio de um helicptero.
Posteriormente, veio ao Brasil com o intuito
nico de cometer seqestros, tendo comandado aquele do qual foi vitima o publicitrio Washington Luiz Olivetto, o que demonstra toda sua audcia. Preso e processado, acabou sofrendo condenao pena privativa de liberdade de trinta anos.
Portanto, tem o requerente situao diferente
de todos os demais presos do Brasil. No um detento qualquer, no podendo merecer o mesmo tratamento durante a
expiao da pena, como aquele que dado aos demais presos. O princpio da individualizao da pena, aplicvel na fase da execuo penal, tem que levar em considerao as
peculiaridades do requerente, para que possa receber
tratamento condizente com sua situao particular.
Como j enfatizamos, a distribuio da justia, na fase da execuo penal, pressupe tratar desigualmente
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os desiguais, impondo-se a devida retribuio ao mal
cometido.
A respeito leciona JULIO FABBRINI MIRABETE que,
norma constitucional, no Direito Brasileiro, que a lei regular a individualizao da pena (art. 5, XLVI, 1 parte, da CF). A individualizao uma das chamadas garantias repressivas, constituindo postulado bsico de justia...
Com os estudos referentes matria, chegou-se paulatinamente ao ponto de vista de que a execuo penal
no pode ser igual para todos os presos justamente porque nem todos so iguais, mas sumamente diferentes e de que
tampouco a execuo pode ser homognea durante a fase
executria da pena, se exige um ajustamento desse programa conforme a reao observada no condenado, podendo-se s assim falar em verdadeira individualizao no momento
executivo. (Execuo Penal, 9 ed., pg. 46).
Assim, levando em considerao que o requerente
encontra-se condenado em nosso pas a cumpri pena de 30 anos de priso, em decorrncia do crime de extorso
mediante seqestro, seu resgate espetacular de um presdio
de segurana mxima em Santiago, Chile,e, principalmente,
suas duas condenaes nesse pas pena de priso perpetua
pela pratica de terrveis, delitos, que inclusive deram
ensejo solicitao de sua extradio pelo governo daquele pas, a melhor soluo, por ora, ainda mant-lo no atual
regime disciplinar, com apoio nos 1 e 2, do art. 52 da
Lei de Execuo Penal, pois no h duvidas de tratar-se aludido sentenciado de preso estrangeiro que representa
alto risco para a ordem e a segurana, tanto de
estabelecimento penal, como para a sociedade, envolvido com
organizaes criminosas. Existe, portanto, mais do que
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fundadas razoes no sentido de apontar o requerente como
sendo um risco comunidade.
H que ser ressaltado, ainda, que tal medida se impe, inclusive, para assegurar a aplicao da lei penal
chilena, assim como eventual extradio a ser concedida
pelo governo brasileiro.
A Defesa, conforme se v nas suas
manifestaes, tem insistido no argumento de que o
sentenciado no praticou qualquer falta disciplinar grave
no presdio onde se encontra, todavia isso muito pouco para autorizar a sada do regime disciplinar diferenciado.
Na verdade, encontrando-se o sentenciado nesse regime, praticamente impossvel a prtica de falta disciplinar de natureza grave, em face das circunstncias e da estrutura
do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.
No que tange alegao de que o atual embaixador do Chile no Brasil favorvel desinternao do sentenciado, como j frisamos na deciso anterior, " curioso que, pouco tempo depois da primeira manifestao,
outro embaixador daquele pas venha dizer que era interesse
do governo do Chile que o sentenciado no fosse mais
mantido no regime disciplinar diferenciado. H notcias, contudo, que bem podem justificar tal mudana de atitude, que, aps aquela primeira manifestao do governo chileno, seguiram-se naquele pas vrios atentados perpetrados por companheiros do sentenciado, componentes de uma organizao
criminosa da qual ele faz parte, em represlia por haver sido solicitada sua permanncia no RDD pelo referido
governo".
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Uma ltima observao ainda se impe: o requerente reclama que alguns de seus direitos, de acordo
com a Constituio brasileira, no estariam sendo
observados, todavia, parece olvidar que sai do pas
exclusivamente para aqui praticar delitos de natureza
hedionda, uma vez que, tanto no processo de conhecimento,
como no da execuo penal, consta como sendo sua residncia
o endereo certificado a fls. 57 deste feito, ou seja, Rua Santiago, 218, Centro, Santiago, Chile. Seus
familiares, como ele prprio diz, residem todos no Chile (fls. 55).
A despeito da inequvoca incidncia dos
dispositivos da nossa Constituio em favor do estrangeiro,
tambm no se pode esquecer, por outro lado, que a mesma Carta, em seu artigo 5, caput estabelece que "Todos so
iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros se aos estrangeiros
residentes no Pas..." (g.n.).
Na verdade, os direitos e garantias de
condenado estrangeiro que aqui veio nica e exclusivamente para praticar crime hediondo e que sequer reside no Pas,
deveriam se restringir ao cumprimento da pena aplicada e,
em sendo de altssima periculosidade, em estabelecimento
adequado.
Indivduos assim, com alto grau de
periculosidade, com duas condenaes em conseqncia da
prtica de delitos hediondos no seu pas, que, aps espetacular fuga de um presdio de segurana mxima, ainda volta a delinqir, e, mais que isso, em outro pas, s pode receber do Estado resposta altura da sua audcia.
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Alis, apenas o fato de ter contra si aquelas duas condenaes, a cumprir pena de priso perptua, j o bastante para autorizar seja o sentenciado mantido no presdio onde se encontra.
Tal se d porque, se o nosso ordenamento no prev esse tipo de pena, evidentemente que no pode tambm o estrangeiro que se encontra condenado a esse tipo de
punio receber tratamento igual ao sentenciado residente
no pas, que punido, no mximo, com pena privativa de liberdade.
Em suma, principalmente em razo da existncia
dessas duas condenaes priso perptua no Chile, entendo que o sentenciado Maurcio Hernandez Norambuena deve
continuar, por mais um ano, no regime disciplinar
diferenciado do Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes.
Em face do exposto, determino a prorrogao da
internao de Maurcio Hernandez Norambuena, pelo perodo
de 360 dias, com efeito retroativo a 1 de dezembro de
2.004, com fulcro nos pargrafos 1 2 do art. 52, da Lei de Execuo Penal, expedindo-se ofcio Secretria da Administrao Penitenciria para as providncias.
P.R.I.C
So Paulo, 18 de Janeiro de 2.005.
MIGUEL MARQUES E SILVA, juiz de Direito.
Poderamos substituir toda essa deciso por uma
palavra que traduz todo o sentimento que a sociedade pode
estar sentindo em relao ao chamados perigosos criminosos:
medo. Podemos perceber pelo inteiro teor da deciso que o
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mais importante manter o isolamento deste indivduo. Qual seria o motivo? Periculosidade provada atravs de seu histrico criminoso. No sei se estamos sendo crticos em demasia, mas nos parece que pela simples leitura da
deciso, o fato dele ser estrangeiro traz uma carga ainda
maior de periculosidade. O exagero pauta a deciso do
ilustre magistrado paulista.
Reabilitaes, ressocializaes e a vontade de
mudana so imperceptveis ao ser humano submetido ao RDD.
O sujeito no produz nada, no tem um pingo de melhora na sua perspectiva de continusmo vital. O tempo passa, passa
e seus fantasmas comeam a atorment-lo, levando-o, provavelmente, num futuro bem prximo complicaes cerebrais e nervosas.
Em recente trabalho interdisciplinar, Rodrigo
Moretto12 nos mostra a diferena na percepo do tempo.
Seno vejamos: Hoje sabemos que o tempo pode se mostrar de duas formas, sendo uma objetiva e outra subjetiva. O tempo objetivo aquele que podemos medir, tal como o utilizado pela fsica e que precede a matria bem como obedece lei da entropia, e o subjetivo, o qual no medimos, o que sentimos.
A marcao do tempo uma construo humana e a priso uma construo que consegue captar essas duas formas de tempo, sendo que a parte objetiva a medio da pena, a durao do cumprimento, enquanto que a subjetiva a forma como o indivduo encarcerado percebe o passar desse
tempo.
12 MORETTO, Rodrigo. Crtica Interdisciplinar da Pena de Priso Controle do Espao na Sociedade do
Tempo. Editora Lumen Juris. 1 Edio 2005. Pgina XXIV.
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Temos um tempo social para os que esto do lado
de fora das muralhas, o qual se mostra progressivo,
criador, cheio, enquanto que temos um tempo do encarcerado,
que tem caractersticas diametralmente opostas, pois se
mostra um tempo regressivo, improdutivo, vazio.
Esta passagem retrata um dos inimigos de todo
detento, o tempo. E no RDD o tempo torna-se um inimigo
poderoso, invencvel que, com a ajuda da angstia, debilitar para sempre o condenado.
Na verdade, a priso que foi criada para a
reeducao e recuperao de delinqentes, termina por
empreender a reproduo e a eliminao dos mesmos.13
Vejamos outro exemplo dos criminosos que se encontram submetidos ao RDD. A notcia agora vinculada pela Agncia Estado de Notcias:
A Justia Estadual determinou que lderes do
Primeiro Comando da Capital (PCC) permaneam no regime disciplinar diferenciado (RDD) pelo perodo cautelar de 60 dias. Eles so acusados de comandar as 74 rebelies
sincronizadas ocorridas entre os dias 12 e 15 de maio e
ordenar os atentados s foras de segurana do Estado. As aes provocaram a morte de mais de 200 pessoas. Os presos
punidos com o regime de isolamento so: Orlando Mota
Jnior, o Macarro, Anderson Jesus Parro, o Moringa, Edilson Borges Nogueira, o Birosca, Cludio Rolim de Carvalho, o Polaco, Roberto Soriano, o Tiria, e Jlio Csar Guedes, o Julinho Carambola.
13 WOLFF, Maria Palma. Antologia de Vidas e Histrias na Priso: Emergncia e Injuno de Controle
Social. Ed. Lumen Juris.1 Edio 2005. Pgina 95.
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Eles j haviam sido removidos no dia 14 de julho para o Centro de Readaptao Penitenciria (CRP) de Presidente Bernardes, por deciso preventiva da Secretaria
da Administrao Penitenciria (SAP). O Departamento de Inteligncia da SAP, o Disap, e a Polcia Civil tm
informaes de que Macarro, Biroska e Julinho Carambola
tiveram participao efetiva no comando dos atentados e das
rebelies.
As investigaes da Polcia Civil, em conjunto com o Grupo de Atuao Especial de Represso e Combate ao
Crime Organizado (Gaeco), apuraram que Macarro deu ordem advogada Valria Dammous para "virar" as cadeias do Oeste paulista. A ordem foi repassada a Moringa, que deflagrou
rebelies em 17 presdios da regio. Em 26 de junho, Moringa tambm determinou advogada Valria que mandasse matar cinco agentes.
Macarro tambm usou a advogada Libnia Fernandes Costa para repassar ordem a Polaco para "quebrar" as
penitencirias de Araraquara e Itirapina. A ordem foi cumprida no dia 16 do ms passado.
Para no ficarmos presos apenas uma deciso que foi colocada acima, entendemos confrontarmos com outra
para que possamos perceber a onda que invade o judicirio brasileiro. A poltica de lei e ordem toma ares de rainha
das decises. A deciso abaixo tambm tem como objeto a ida ou no de criminosos, agora de uma organizao criminosa
(PCC), para o Regime Disciplinar Diferenciado.
Processo C- 128/06 DECRIM VII.
Representao por RDD referente a:
MARCELO MOREIRA PRADO.
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Trata-se de representao formulada pelo senhor
Secretrio de Estado da Administrao Penitenciria, Doutor Nagashi Furukawa, objetivando a internao em Regime Disciplinar Diferenciado de MARCELO MOREIRA PRADO.
Segundo consta da inicial, o condenado, de vulgo
EXU, ao ser removido de penitenciria no interior do Estado, e depois ao DEIC, para ser ouvido por delegados de
polcia, teria proferido diversas ameaas, praticando atos
que se enquadrariam nas condutas do artigo 52 da Lei
7.210/84. Segundo consta, EXU seria um dos lderes de faco criminosa, sendo um dos principais seguidores de
Marco Willians Herbas Camacho, o MARCOLA.
Requereu a apreciao de pedido de incluso
cautelar, pelo prazo necessrio deciso de mrito.
a sntese do Necessrio.
Fundamento e decido.
A Lei de Execues Penais Lei 7.210/84 permite que sejam internados em regime disciplinar diferenciado aqueles que tenham praticado fato previsto
como crime doloso e quando a conduta ocasione subverso da
ordem ou disciplina internas (artigo 52, caput), quando apresentem alto risco para a ordem e a segurana do
estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, 1) ou quando recaiam sobre eles fundadas suspeitas de
envolvimento ou participao em organizaes criminosas
(art. 52, 2).
A incluso no RDD pode ser feita de forma
acautelatria, se presentes os requisitos das cautelares em geral, permitindo a regular realizao da sindicncia
administrativa apuratria e de eventual inqurito policial.
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Conforme se observa da documentao juntada, mormente o documento de folhas 09, h prova de que Marcola, no dia 12 ltimo, na presena de vrias pessoas, teria afirmado que havia passado ordem para que houvesse
represlias por causa de sua transferncia. Tais represlias atingiriam tanto unidades prisionais quanto a sociedade civil e o Estado.
Os demais documentos juntados demonstram a realizao de inmeros atos da mais vil covardia e vandalismo, materializando as ameaas formuladas.
Relatrio do Departamento de Inteligncia e Segurana Penitenciria, juntado a folhas 61/62, aponta que Marcelo, quando retirado da penitenciria de Luclia, procedeu a ameaas a autoridades, sendo lavrado Boletim de
Ocorrncia.
O Boletim de Ocorrncia est presente a folhas 70/71, sendo Marcelo um dos averiguados, constando ter feito inmeras ameaas, ao agente penitencirio que estava cumprindo a ordem para remoo, ao governador do estado e
ao secretrio de administrao penitenciria, findando por dizer que, removidos dali, o estabelecimento seria tomado
pelos demais presos.
Sem sua incluso cautelar, poderia encontrar
meios para dar continuidade aos atos mencionados e
atrapalhar a apurao do j ocorrido e de sua participao.
Esto presentes os requisitos legais para ser
concedida a medida acautelatria.
POSTO ISSO, defiro o pedido acautelatrio formulado pela administrao penitenciria, e DETERMINO A INTERNAO CAUTELAR de Marcelo Moreira Prado, o EXU, em
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Regime Disciplinar Diferenciado, pelo perodo de 90
(noventa) dias.
Expea-se a autorizao de internao,
comunicando-se.
Intime-se pessoalmente o reeducando.
Requisitem-se cpias de inqurito policial e sindicncia que tenham sido instaurados. Vinda em at 60 dias.
Abra-se vista ao Ministrio Pblico, para sua manifestao sobre o mrito do pedido, e em seguida defesa.
So Paulo, 18 de maio de 2006.
CARLOS FONSECA MONNERAT
Juiz de Direito.
Retratando a importncia do tema, que ganha as
primeiras pginas dos jornais brasileiros, finalizaremos a questo com reportagem da Folha de So Paulo On-Line:
STF decide manter Beira-Mar no Regime Disciplinar Diferenciado
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, negou pedido de habeas corpus ao traficante Fernandinho Beira-Mar, que est preso na penitenciria de Presidente Bernardes (589 km de SP).
Beira-Mar contestou deciso do STJ (Superior Tribunal de Justia) que o manteve submetido ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), que impe regras mais rgidas aos presos. Em dezembro do ano passado, a 2 Turma do STF j havia negado pedido semelhante.
Beira-Mar est preso em Presidente Bernardes desde maio de
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40
2003. Ele tem duas condenaes definitivas na Justia. Uma delas, de 11 anos, em Belo Horizonte (MG), por trfico de drogas, e outra de 21 anos, em Cabo Frio (RJ), por trfico e formao de quadrilha.
Ele acusado ainda de lavagem de dinheiro, contrabando e associao para o trfico internacional de drogas.
Priso
Beira-Mar foi preso em abril de 2001 na Colmbia. O traficante foi transferido para a Superintendncia da Polcia Federal em Braslia, onde ficou at abril de 2002.
Depois, ele foi levado para Bangu 1, no Rio, onde teria comandado em setembro de 2002, a rebelio que deixou quatro rivais mortos. Em fevereiro de 2003, o traficante foi transferido para a penitenciria de Presidente Bernardes, em So Paulo, onde ficou por um ms at ser levado para a Superintendncia da PF em Macei. Depois retornou para o presdio paulista.
RDD
Banho de sol limitado a duas horas por dia, sem direito a contato com outros presos ou visita ntima e sem acesso rdio ou televiso. assim que ficam os detentos da penitenciria de Presidente Bernardes. Na unidade, os presos ficam em celas individuais.
No presdio, inaugurado em abril de 2002, os "jumbos" --gneros alimentcios e de primeira necessidade destinados aos presos-- so reduzidos a itens determinados pela Secretaria da Administrao Penitenciria.
Em Presidente Bernardes, o piso tem um metro de concreto, com tapetes de chapas de ao --para evitar fugas. Alm das muralhas com oito metros de altura, agentes penitencirios ficam espalhados pelo ptio, alguns com ces treinados.
Os advogados dos criminosos tambm precisam passar por detectores de metal para entrar no local. As conversas com seus clientes ocorrem por meio de vidros. Desde que foi inaugurada, a unidade no registrou fuga ou tentativa.
B) Pioneirismo Paulista
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Primeiro Estado brasileiro a instituir este
isolamento carcerrio foi So Paulo. Vejamos o relato comprobatrio trazido pelo ilustre e clssico professor Mirabete14: Inicialmente regulamentado em nvel estadual,
era disciplinado no Estado de So Paulo pela Resoluo da
Secretaria de Administrao Penitenciria n 26, de 4-5-2001. A medida provisria n 28, de 4-2-2002, que previa, no art. 2, a sua aplicao exclusivamente como sano
disciplinar na hiptese de prtica, pelo preso ou condenado, de fato previsto como crime doloso, foi
rejeitada pelo Congresso Nacional.
Vejamos pronunciamento oficial do Estado de So Paulo no ano de 2000. A justificativa da criao deste Regime Disciplinar Diferenciado foi encabeada pelo ento
membro do Poder Executivo Paulista, o Sr. Nagashi Furukawa
que fez um breve histrico da situao penitenciria da poca para embasar ainda mais a suposta legalidade deste isolamento degradante. Eis o relato:
A Secretaria da Administrao Penitenciria em dezembro de 2000 abrigava uma populao carcerria de 59.867 presos em 71 unidades com capacidade para 49.059. Em
18 de dezembro desse ano uma rebelio ocorrida na Casa de
Custdia de Taubat unidade de segurana mxima que desde a inaugurao at hoje no registrou nenhuma fuga e abrigava presos de altssima periculosidade e lderes de
grupos organizados terminou com um saldo de 9 (nove) presos mortos (quatro deles decapitados) e a destruio total do espao fsico, conhecido pela populao como
Piranho. A destruio do Piranho vinha sendo
anunciada na comunidade carcerria e era prevista, inclusive, no estatuto da faco criminosa Primeiro Comando
14 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execuo Penal. Editora Atlas. 11 Edio 2004. Pgina 149.
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da Capital (PCC). Vrias providncias administrativas foram tomadas. Todos os imputveis que estavam na Casa de Custdia de Taubat foram transferidos. A maior parte para um Centro de Deteno Provisria de Belm, na Capital e um grupo de 30 (trinta), os que lideraram a rebelio, foram levados para a extinta Casa de Deteno e Penitenciria do Estado. Nesse perodo, os problemas se intensificaram na
Deteno e na PE. Os presos comearam a fazer justia com as prprias mos e corpos apareciam nos lates de lixo. Em fevereiro de 2001, a Casa de Custdia estava reformada e os presos retornaram para a unidade. Dez lderes, no entanto,
foram isolados em outras unidades prisionais. Em resposta
ao endurecimento do regime, em 18 de fevereiro de 2001
aconteceu a maior rebelio que se tem notcia. A
megarrebelio envolveu 25 (vinte e cinco) unidades prisionais da Secretaria da Administrao Penitenciria e 4 (quatro) cadeias pblicas, sob a responsabilidade da Secretaria da Segurana Pblica do Estado. Depois dessa data, outras tantas medidas administrativas foram tomadas,
provocadas pelas atitudes da populao carcerria. Vrias resolues foram editadas para assegurar a disciplina e a
ordem do sistema prisional, entre elas a Resoluo SAP 26,
de 4/5/2001, que instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado. Em um primeiro momento o regime foi adotado
em cinco unidades prisionais: Casa de Custdia de Taubat, Penitencirias I e II de Presidente Venceslau, Penitenciria de Iaras e Penitenciria I de Avar. Ao longo do ano as Penitencirias I e II de Presidente Venceslau e a Penitenciria de Iaras deixaram de aplicar o regime e um novo estabelecimento, o Centro de Readaptao Penitenciria de Presidente Bernardes, foi inaugurado (2/4/02) exclusivamente para tal finalidade. Hoje (6/8/03) trs unidades recebem os internos em regime disciplinar
diferenciado: o Centro de Readaptao Penitenciria de
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Presidente Bernardes, com capacidade para 160 presos,
abriga 54; a Penitenciria I de Avar, com 450 vagas, abriga 392 e o Centro de Reabilitao Penitenciria de Taubat, com 160 vagas, abriga 69 mulheres presas. Resumindo de uma populao carcerria de 94.561 presos, 515 internos esto em regime RDD. Em agosto de 2002, a
Resoluo SAP-59, institui o Regime Disciplinar Especial no
Complexo Penitencirio de Campinas Hortolndia. A iniciativa visou melhorar a disciplinar e a segurana de
uma regio que abriga 7 (sete) unidades prisionais. Uma delas foi destinada exclusivamente para os presos em regime
disciplinar especial.
Todavia, em 12 de maio de 2003, uma comisso
paulista pronunciou-se contrria aplicao deste Regime Disciplinar Diferenciado. Finalizamos, para nossa
felicidade, o presente item com este lcido relatrio:
RELATRIO SOBRE O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO
Por deciso adotada na 285 Reunio Ordinria, o Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria decidiu constituir uma Comisso para estudo do chamado
Regime Disciplinar Diferenciado, da qual fazem parte os
Conselheiros Maurcio Kuehne, Laertes de Macedo Torrens e
Carlos Weis, que assim passam a relatar:
O chamado Regime Disciplinar Diferenciado foi
institudo administrativamente por iniciativa da Secretaria
de Administrao Penitenciria do Estado de So Paulo e tido pelo titular daquela Pasta como fundamental para seja debelada a crise pela qual passa o sistema penitencirio paulista. O Governo Federal, premido pela necessidade de
custodiar o preso Lus Fernando da Costa, vem dando ateno
necessidade de construir unidades prisionais federais e
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mesmo de auxiliar os Estados a manter penitencirias de segurana mxima. O assassinato do Juiz Alexandre Martins de Castro Filho, supostamente levado a cabo por ex-policial
militar que se evadira de unidade prisional no Esprito
Santo, parece ter impulsionado a iniciativa da criao do
RDD em mbito nacional, mediante modificao da Lei de
Execuo Penal. Foi ento apresentado um Substitutivo ao
Projeto de Lei n. 5.073/2001, de comum acordo com o Relator da matria na Cmara dos Deputados, Deputado Abi-Ackel que, no tocante ao RDD, foi aprovado por aquela Casa.
Relatado o tema, a Comisso reuniu-se e entendeu,
na esteira da manifestao contida no MEMO/MJ/CNPCP/N 021/2003, que a instituio do chamado Regime Disciplinar Diferenciado, ou mesmo do Regime Disciplinar de Segurana
Mxima, desnecessria para a garantia da segurana dos estabelecimentos penitencirios nacionais e dos que ali trabalham, circulam e esto custodiados, a teor do que j prev a Lei n. 7.210/84. De fato, ao estipular que o preso que cometer infrao disciplinar de natureza grave poder ser mantido em isolamento por at 30 dias, parece plenamente assegurada a possibilidade da direo do
presdio de punir o preso faltoso e, ao mesmo tempo
assegurar o retorno da paz no interior do estabelecimento,
valendo lembrar que a aplicao de tal sano pode ser
repetida quantas vezes o preso infringir, gravemente, a
disciplina prisional. Alm disso, sempre que a falta caracterizar crime, o sentenciado poder ser novamente condenado, o que aumentar seu tempo de priso. Entendem os membros desta Comisso que no se deve confundir sano
disciplinar com regime de cumprimento de pena e, muito
menos, buscar, no isolamento em solitria a soluo para o funcionamento, em segurana, das unidades prisionais
brasileiras.
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Assim, adotando os termos do documento
encaminhado ao Sr. Ministro da Justia pelo memorando acima
referido, esta Comisso se posiciona pela rejeio a qualquer projeto de lei que institua regime disciplinar ou correlato.
C) Leading Case
Neste momento fica claro a importncia do tema e
o alto teor de abstrao envolvida na questo. O tema da
violncia, da alta periculosidade dos criminosos, do
desrespeito de princpios constitucionais, fazem com que
todos ns tenhamos uma opinio a respeito. Todos possuem uma soluo para o problema da criminalidade. Desde os mais
reacionrios que acham que a pena de morte a soluo de todos os males, desde aqueles, pelos quais nos filiamos,
que acreditam numa mudana em longo prazo, conjuntural e com melhoras nas condies mnimas para que o ser humano
tenha sua dignidade respeitada.
Isolar um chefe de faco criminosa parece neste
instante como soluo primeira. Sem comando, teoricamente a
bandidagem ir perder fora. No seria o desrespeito aos direitos e no privilgios como querem nos fazer achar que so, que fazem com que os criminosos se revoltem? A LEP
traz uma srie de direitos que os presos devem possuir. Seria absurdo, por exemplo, o Estado assessorar
juridicamente seus detentos? So Paulo sai neste aspecto atrs de alguns Estados brasileiros, pois ainda no possui uma Defensoria Pblica estruturada e organizada como manda a Constituio de 1988. Seria muito os condenados
solicitarem um local digno para que possam dormir em paz,
cumprindo sua pena normalmente?
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O que podemos perceber nos relatos pesquisados que a maioria dos presos possuem a conscincia de que
fizeram um mal e que devem ser castigados. Inclusive a
religio dentro da priso mostra essa noo de uma forma
esclarecedora para o detento. O que gera rebelies,
revoltas, indignaes, raiva o desrespeito aos direitos e garantias que todo ser humano possui, at mesmo um preso. A bandeira tem nome: Dignidade Humana. Por que a mdia tendenciosa a colocar estes tais direitos como se fossem
privilgios? Evidente, a reao imediata neste sentido.
Entretanto, nos parece que essa concepo de
degradao lenta do ser humano atravs de seu isolamento carcerrio quase que completo vem ganhando fora, principalmente no meio jurdico, sensvel aos princpios constitucionais envolvidos.
Submetido ao crivo do Judicirio Paulista, o Regime Disciplinar Diferenciado teve o tratamento que
merece. O leading case que inseriremos neste momento, nos
incentivar nas pginas seguintes a criticar de forma contundente este regime que, num primeiro momento, fere
princpios constitucionais da dignidade da pessoa humana e
traz ainda crueldade no cumprimento das penas. E todos ns almejamos, at historicamente falando, a abolio total de penas cruis. Um Estado Democrtico de Direito no pode permitir tamanha reao estatal que nos remete aos tempos
idos dos brbaros.
Recebam com satisfao a deciso que julgou pela inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado:
HABEAS CORPUS" - Processo n 978.305.3/0-00
Impetrante : MARIA CRISTINA DE SOUZA RACHADO
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Paciente : MARCOS WILLIANS HERBAS CAMACHO
Voto n 5714 : A Advogada MARIA CRISTINA DE SOUZA RACHADO
impetra o presente "habeas corpus", com pedido liminar em
benefcio de MARCOS WILLIANS HERBAS CAMACHO, apontando como
autoridade coatora o Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito
Corregedor da Vara das Execues Criminais da Capital, nos
autos do pedido de desinternao em regime disciplinar
diferenciado (processo n C-127/2006), ao determinar a internao cautelar do paciente pelo prazo de noventa dias,
em regime disciplinar diferenciado - RDD e contra ato do
MM. Juiz de Direito da Vara das Execues Criminais da
Capital. 1. Ao contrrio do que argumenta o lcido parecer do D. representante da Procuradoria Geral de Justia, a
ordem deve ser conhecida.
Argumenta a d. impetrante, em sntese, que o paciente est sofrendo constrangimento ilegal consistente no acolhimento
de representao formulada pela autoridade administrativa e
pelo MM. Juiz de Direito Corregedor da Vara das Execues
Criminais de So Paulo, que determinou a internao
cautelar do paciente pelo prazo de 90 dias. Ressalta que,
enquanto o MM. Juzo de Direito Corregedor da VEC
determinava a internao cautelar pelo prazo de 90 dias, o
rgo do Ministrio Pblico tambm peticionava no mesmo sentido para o Juzo da VEC, que tambm determinou a internao cautelar sobre as mesmas alegaes, entendendo
que o ora paciente foi apenado com duas internaes
cautelares pelo mesmo fato, o que reputa ilegal. Alega que
as decises judiciais que determinaram a internao cautelar do paciente em RDD nos autos de nmeros C-08/06 e n C-127/06, no demonstram o necessrio fumus boni juris ou a
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verossimilhana das alegaes dos rgos Representantes, levando a concluso de que resta configurada como
verdadeiro ato coator, vcio este sanvel pelo presente writ. Entende que o ato judicial impugnado peca por ilegalidade e abuso, vez que a deciso foi proferida sem
qualquer manifestao do MP ou da Defesa. Insurge-se contra
as notcias juntadas aos autos, dizendo que as mesmas no possuem qualquer valor probante. Alega que a imposio de
qualquer restrio de direitos ao paciente, mesmo que
cautelar, por imputar-se a ele a autoria intelectual de
tais atos criminosos, constitui verdadeiro arrepio aos
princpios do devido processo legal e da ampla defesa,
representando inafastvel abuso de autoridade. Aduz sofrer o paciente constrangimento ilegal traduzido em sua incluso
no RDD sem a comprovao de prtica de delito ou falta grave, nos termos da lei, sendo necessria a concesso do writ, a fim de que se garanta ao paciente sua permanncia
em estabelecimento penal destitudo de regime mais gravoso.
Culmina por pleitear liminarmente, a transferncia do
paciente para outro presdio da sede estatal, destitudo do
gravoso RDD.
A liminar foi indeferida (fls. 33/35), e a d. autoridade apontada como coatora prestou informaes s fls. 38/40.
A douta Procuradoria Geral de Justia opinou s fls. 54/60, opinou pelo no conhecimento da ordem ou, se conhecida, por
sua denegao.
RELATADOS.
Com efeito, toda afronta aos Direitos Individuais dos
cidados brasileiros, independentemente de raa, credo,
condio financeira etc, desde que cause constrangimento
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ilegal, , e sempre dever ser passvel de "habeas corpus".
de se observar, inclusive, que a impetrante questiona no s a ilegalidade RDD, como tambm pleiteia a transferncia do detento para outro presdio da rede Estatal.
No que pertine ao mrito do pedido, razo assiste impetrante.
de se observar inicialmente no se poder deixar de considerar o grave momento vivido pelas instituies
pblicas, fruto de dezenas de anos de descaso para com as causas sociais, originando o nascimento de verdadeiro
Estado Paralelo, que a medida ora questionada visa
enfrentar.
Segundo consta dos autos, em 17 de maio de 2006, o
Secretrio da Administrao Penitenciria de So Paulo representou pela internao cautelar do paciente em regime
disciplinar diferenciado diante da necessidade e urgncia
da medida.
De acordo com a representao do Secretrio, o paciente teria proferido ameaas contra ele e contra o Governador de
So Paulo, desafiou as Autoridades Policiais e, juntamente com outros integrantes da faco criminosa, comandou os
ataques e rebelies ocorridas nos dias 13, 14 e 15 de maio
na cidade de So Paulo constando, ainda, que o paciente se
mantm lder da faco ameaando e reprimindo a populao prisional.
Segundo a d. autoridade apontada como coatora, o Secretrio tambm representou pela posterior internao definitiva pelo prazo mximo previsto em lei e foi instaurada
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sindicncia pela Secretaria para apurar os fatos, a qual
ser remetida ao Juzo quando concluda, sendo certo que tambm se aguardam as informaes das Autoridades Policiais acerca dos fatos imputados ao ora paciente.
Ainda de acordo com as informaes prestadas pela d.
autoridade inquinada de coatora, em 18 de maio de 2006 foi
deferida pelo Juzo, pelo prazo de noventa dias, a
internao cautelar do ora paciente, nos termos do artigo
60 da lei de Execues Penais.
Trata-se, no entanto, de medida inconstitucional, como se
sustenta a seguir:
O chamado RDD (Regime disciplinar diferenciado), uma aberrao jurdica que demonstra saciedade como o legislador ordinrio, no af de tentar equacionar o problema do crime organizado, deixou de contemplar os mais
simples princpios constitucionais em vigor.
J no seu nascimento, a medida ofende mortalmente a Constituio Federal, desde que a resoluo SAP n 026/01, que cria o regime disciplinar diferenciado, ato de secretrio de Estado, membro do Poder Executivo, a quem no cabe legislar sobre matria penal, nem tampouco penitenciria, segundo a Constituio Federal (arts. 22, I e 24, I). Assim, a inexistncia de procedimento legislativo e da necessria edio de lei federal, que deveria bastar para demonstrar a inviabilidade de sua efetivao,
configurando evidente constrangimento ilegal.
Destarte, no cabe a ningum, nem mesmo ao juiz da execuo, determinar ou legitimar regresso (ou transferncia) a regime penitencirio inexistente em lei.
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Como muito bem disserta Carmem Silva de Moraes Barros,
Procuradora do Estado em So Paulo, "in"
http://www.processocriminalpslf.com.br/rdd.htm, "ao criar o regime disciplinar diferenciado, a resoluo d vida a uma pena desumana e atentatria aos direitos e liberdades fundamentais: isolamento por 180 dias, na primeira incluso
e 360, nas demais; banho de sol por, 'no mnimo', uma hora
por dia; visita semanal de duas horas, sem algemas...
(arts. 4 e 5, II, IV e V da resoluo). Observe-se que essas so regras previstas "para assegurar os direitos do
preso" durante a permanncia no RDD, conforme o caput do
art. 5 da resoluo. Assim que sob o pretexto de combater o crime organizado instituiu-se mtodo de aniquilamento de personalidades. Mas no s. A resoluo SAP n. 026/01 autoriza a transferncia para o RDD a critrio exclusivo da autoridade administrativa. Alijada a autoridade judicial, a autoridade administrativa se v, em razo dos prprios termos da resoluo, desobrigada de respeitar a Lei de Execuo Penal (que no consta tenha sido revogada pela resoluo). A resoluo no exige prtica de falta grave para transferncia para o RDD e exatamente porque estabelece que esse regime de cumprimento
de pena aplicvel "aos lderes e integrantes de faces criminosas e aos presos cujo comportamento exija tratamento especfico" (art. 1), abre espao para qualquer tipo de arbtrio por parte da autoridade responsvel pela custdia do preso. Lembra, assim, os velhos pores, para os quais possvel transferir presos, se o critrio exclusivamente administrativo indicar tratar-se de pessoa cujo comportamento "exija tratamento especfico". Um tanto quanto vago, mas muito apropriado para os fins a que se
prope. Diz a resoluo: "os objetivos de reintegrao do preso ao sistema comum devem ser alcanados pelo equilbrio
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entre a disciplina severa e as oportunidades de
aperfeioamento da conduta carcerria". Muito embora e isso ao que parece ainda no se contesta o processo de
execuo seja jurisdicionalizado, a concesso que a resoluo faz ao juzo da execuo a comunicao da incluso e da excluso no RDD, em 48 horas (art. 8). No trata da bvia necessidade de que a autoridade administrativa comunique ao juzo qual o fato imputado ao preso que est fundamentando a transferncia para o RDD".
Mas a citada jurista no pra a: "Ignora-se, sem qualquer cerimnia, a LEP que, no que
tange, tanto regresso de regime de cumprimento da pena quanto s sanes, absolutamente clara e estabelece no art. 58 que o isolamento, a suspenso e a restrio de
direitos no podero exceder 30 dias; no art. 60 que no
caso de falta disciplinar a autoridade administrativa
poder decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo mximo de dez dias e no pargrafo nico do art. 58, determina o dever que tem a autoridade administrativa de
comunicar o isolamento ao juiz da execuo. E assim porque dez dias so o quanto basta para realizar-se o procedimento administrativo e comunicar-se ao
juiz da execuo para que, sendo o caso, determine a oitiva do preso ou obste a aplicao da sano, quando
configurados estiverem ilegalidades ou abuso de poder.
Continua a Lei de Execuo Penal, atenta posio de garantidor que tem o juiz da execuo, dispondo no art. 47 que o poder disciplinar, na execuo da pena privativa de
liberdade, caber autoridade administrativa e no pargrafo nico do art. 48 determinando a obrigatoriedade de representao, ao juiz da execuo, pela autoridade administrativa, nos casos de
prtica de falta grave. A aplicao de penalidade
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disciplinar ao executado, pelo cometimento de falta grave,
obriga, portanto, a autoridade administrativa a comunicar,
representando, ao juiz da execuo (art. 48, pargrafo nico c/c art. 66, III, letras b e c da LEP). Assim , porque ao poder judicirio cabe fazer o controle externo dos atos da administrao, faz parte de seu dever de zelar
pelos direitos individuais do sentenciado e pelo correto
cumprimento da pena. Portanto, ainda que se admita a
possibilidade de incluso no RDD pela
prtica de fato que no seja tipificado pela LEP como falta grave, deve a autoridade administrativa descrev-lo em
alguma forma de "procedimento administrativo" e, por bvio que parea, esse "procedimento" deve ser enviado a juzo, pois o ato administrativo (includa a motivao) que determina a transferncia para o RDD, tambm est sujeito a controle de legalidade e da tipicidade pela autoridade
judicial, at porque - no demais repetir - o processo de execuo penal, ainda , jurisdicionalizado. A resoluo, no entanto, permite a transferncia para o RDD sem qualquer participao da
autoridade judicial e limita-se a estabelecer que a remoo do preso ao RDD pode ser solicitada pelo diretor tcnico de qualquer unidade, em petio fundamentada, ao coordenador
regional das unidades prisionais que, se estiver de acordo,
encaminhar o pedido ao secretrio adjunto, para deciso final (art. 2). Ah! No nos esqueamos, a resoluo concede ao preso, no intuito de assegurar seus direitos, o
conhecimento dos motivos da incluso no RDD (art. 5, I). No entanto, se faz necessrio lembrar, que por outro ato, proibiu-se o contato do preso com seu advogado pelos dez
dias posteriores incluso no regime fechadssimo. inominvel!
E