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BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURISubsdios conservao e ao manejo do Cerradorea Prioritria 316-Jauru

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SULReitor: Manoel Catarino Paes - Per Vice-Reitor: Amaury de Souza

Obra aprovada pelo Conselho Editorial da UFMS Resoluo 10/06 CONSELHO EDITORIAL Clia Maria da Silva Oliveira (Presidente), Antnio Lino Rodrigues de S, Ccero Antonio de Oliveira Tredezini, lcia Esnarriaga de Arruda, Giancarlo Lastoria, Jackeline Maria Zani Pinto da Silva Oliveira, Jferson Meneguin Ortega, Jos Francisco (Zito) Ferrari, Jos Luiz Fornasieri, Jorge Eremites de Oliveira, Jussara Peixoto Ennes, Lucia Regina Vianna Oliveira, Maria Adlia Menegazzo, Marize Terezinha Lopes Pereira Peres, Mnica Carvalho Magalhes Kassar, Silvana de Abreu, Tito Carlos Machado de Oliveira

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Porto 14 - Estdio Moreno - Campus da UFMS Fone: (67) 3345-7200 - Campo Grande - MS e-mail: [email protected]

Dados Internacionais de Catalogao na publicao (CIP) (Coordenadoria de Biblioteca Central UFMS, Campo Grande, MS, Brasil) B615 Biodiversidade do Complexo Apor-Sucuri : subsdios conservao e ao manejo do Cerrado : rea prioritria 316-Jauru / organizadores, Teresa Cristina Stocco Pagotto, Paulo Robson de Souza. Campo Grande, MS : Ed. UFMS, 2006. 308 p., : il. col. ; 30 cm.

ISBN 85-7613-095-5

1. Cerrados Mato Grosso do Sul. 2. Diversidade biolgica Conservao Mato Grosso do Sul. I. Pagotto, Teresa Cristina Stocco. II. Souza, Paulo Robson de. CDD (22) 577.48098171

BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURISubsdios conservao e ao manejo do Cerradorea Prioritria 316-Jauru

ORGANIZADORES

Teresa Cristina Stocco Pagotto Paulo Robson de Souza

Campo Grande Mato Grosso do Sul

2006

Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira (Probio/MMA)Nome do Subprojeto INVENTRIO DA DIVERSIDADE BIOLGICA DO COMPLEXO JAURU* Subsdios conservao e manejo Convnio 2517.00/02 UFMS Edital 02/2001 PROBIO Instituio Executora Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Bioma Investigado Cerrado, polgono CD-551 Equipe do subprojeto Coordenadora: Teresa Cristina Stocco Pagotto. Gestor Financeiro: Franco Leandro de Souza. Coordenadores de Atividade: FLORA: ngela Lcia Bagnatori Sartori e Edna Scremin Dias; SENSORIAMENTO REMOTO: Antonio Conceio Paranhos Filho; ARANHAS: Josu Raizer; LIBLULAS: Luiz Onofre Irineu de Souza; PEIXES: Otvio Froehlich; ANFBIOS e RPTEIS: Masao Uetanabaro; AVES: Jos Ragusa Neto e Maristela Benites da Silva; MAMFEROS: Marcelo Oscar Bordignon (voadores) e Nilton Cceres (no voadores); VISITANTES FLORAIS: Maria Rosngela Sigrist e Jos Milton Longo. DOCUMENTAO FOTOGRFICA: Paulo Robson de Souza.

Apoio Ministrio do Meio Ambiente MMA Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira PROBIO Global Environment Facility GEF Banco Mundial BIRD Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS

*Desde a elaborao da proposta submetida ao Edital 02/2001/PROBIO at a realizao das ltimas atividades de pesquisa, reunies tcnicas e redao dos captulos, a rea onde foi realizado este levantamento foi chamada de Complexo Jauru pela instituio proponente e equipes executoras, devido denominao genrica rea Prioritria 316/Jauru, encontrada no Anexo II do prprio edital. Entretanto, embora a bacia do rio Jauru seja vizinha do rio Sucuri e compartilhem parte do divisor de guas, as nascentes do Jauru ficam ao sul do Parque Estadual das Nascentes do Taquari (coordenada UTM 245.000 e 7.965.000 Bacia do Alto Paraguai) e seu curso principal segue na direo oposta (Coxim/MS). A rea at ento denominada 316/Jauru , portanto, parte da Bacia do Paran, e nela se destacam os rios Apor e Sucuri. Por essa razo foi adotado nesta obra o termo Complexo Apor-Sucuri.

O contedo de cada captulo desta obra de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.

Sei que eles deviam de sentir por outra forma o aperto dos cheiros do cerrado, ouvir desparelhos comigo o comprido ir de tantos mil grilos campais...Joo Guimares RosaGrande Serto: Veredas

A Biodiversidade a base da sustentabilidade dos ecossistemas naturais, dos servios ambientais, dos recursos florestais e pesqueiros, da agricultura e da nova indstria da biotecnologia.Paulo KageyamaDiretor do Programa de Conservao da Biodiversidade/MMA

PREMBULO

Entre 1998 e 2001, o Ministrio do Meio Ambiente apoiou, por meio do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira Probio, a avaliao dos biomas brasileiros visando identificar as reas e as aes prioritrias para a conservao e uso sustentvel da biodiversidade brasileira. A avaliao dos biomas resultou na identificao de 900 reas prioritrias com vrias recomendaes de aes diferentes tendo sido recomendado para cerca de 315 reas a realizao de inventrios biolgicos. Ainda por meio do Probio, o Ministrio lanou um edital chamando propostas de projetos que realizassem inventrios naquelas reas prioritrias para esta finalidade. Foram selecionadas 20 propostas e, entre elas, a da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul denominada Inventrio Biolgico do

Complexo Jauru.Embora a rea tenha sido denominada originalmente de Jauru o subprojeto identificou que na realidade a mesma deveria ter sido denominada de Apor-Sucuri, nome dos dois principais rios ali encontrados. Esta rea encontra-se na divisa entre os Estados do Mato Grosso do Sul, So Paulo, Minas Gerais e Gois e dista cerca de 1.200 km da capital do Estado de So Paulo, 350 km da capital do Mato Grosso do Sul e 700 km de Braslia. Embora o local encontre-se relativamente prximo de vrias instituies de pesquisa localizadas nessas capitais o conhecimento sobre a composio da fauna e da flora era muito pequeno e, aps a realizao dos inventrios biolgicos, os estudos mostraram uma riqueza biolgica relevante, com cerca de oito novas espcies de aranhas, pelo menos uma nova espcie de liblula, alm de vrios novos registros de ocorrncia de espcies e de espcies endmicas. BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI 7

Os inventrios biolgicos que envolveram mais de 30 pesquisadores e vrios estudantes da UFMS e de outras instituies mostram quanto ainda h para ser conhecido no Brasil. Alm da identificao das espcies ocorrentes na rea esta publicao apresenta recomendaes para garantir a conservao da biodiversidade da regio e contribui com os esforos do Ministrio do Meio Ambiente para a elaborao de polticas pblicas. Junto com os resultados dos outros 19 inventrios biolgicos apoiados pelo Probio tanto o conhecimento cientfico quanto o embasamento tcnico esto sendo fortalecidos para garantir que a tomada de deciso possa contar com slidas informaes. Aos integrantes do subprojeto cabe parabeniz-los pelo esforo e pelos resultados apresentados e desejar que seus esforos para aumentar o conhecimento e garantir a conservao da biodiversidade sul mato-grossense sejam reconhecidos e recompensados.

Daniela Amrica Surez de OliveiraGerente do Probio

8 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

PREFCIO

A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, criada em 1962, sempre promoveu atividades de pesquisa, sobretudo as de crater regional, pois entende ser uma de suas grandes funes, gerar conhecimento cientfico. Dadas suas caractersticas peculiares e sua insero geogrfica dentro do territrio brasileiro, em todos os seus campi atuam pesquisadores na rea das Cincias Biolgicas, estudando, entre outros, diferentes locais onde ocorrem formaes do bioma Cerrado. Assim, procura participar e incentivar, ativamente, projetos de pesquisas que visem o conhecimento dos ambientes naturais do Estado de Mato Grosso do Sul, contribuindo para a conservao de seus recursos naturais, sua correta utilizao e sua recuperao. com satisfao que a UFMS publica, atravs de sua Editora, a presente obra que apresenta levantamento da flora e da fauna, em regio do Estado onde o bioma sofre intensa fragmentao. O livro traz informaes pertinentes e recomendaes no s para pesquisadores, como tambm estudantes, outros rgos de pesquisa e interessados no bioma Cerrado. A UFMS agradece a todos que de forma direta ou indireta participaram da pesquisa e, em especial, s Instituies/pesquisadores, parceiros nesse subprojeto. Agradece tambm ao Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira (PROBIO/MMA), no s pela disponibilidade em financiar o subprojeto, mas por acreditar que essa Instituio mantm em seu quadro pesquisadores de excelente nvel, capazes de contribuir efetivamente na gerao do conhecimento cientfico do pas; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico/CNPq, ao Global Environmental Facility/GEF e ao The World Bank/BIRD. BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI 9

Para finalizar, mas no menos importante, agradecimentos aos proprietrios rurais que, to gentilmente, no s permitiram que os trabalhos de pesquisa fossem desenvolvidos em suas propriedades, como tambm receberam as equipes com carinho e colaboraram de forma efetiva para que os trabalhos de campo pudessem ter sucesso.

Amaury de Souza Vice-reitor Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

10 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

APRESENTAO

O Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira/PROBIO/MMA, junto com alguns parceiros em maro de 1998, em Braslia/DF, lanou o programa Aes Prioritrias para a Conservao da Biodiversidade do Cerrado e do Pantanal com a finalidade de avaliar a riqueza biolgica e as condies scio-econmicas de regies que considerou prioritrias para obter bases tcnicas de sua conservao. Na ocasio foram identificadas 87 reas prioritrias para a conservao da diversidade biolgica dos biomas Cerrado e Pantanal. Dentre elas, a rea de nmero 316, classificada como insuficientemente conhecida, localizada no nordeste do Estado de Mato Grosso do Sul. Assim, atravs do Edital 02/2001/PROBIO (Apoio a realizao de inventrios nas reas consideradas prioritrias para investigao cientfica), foram selecionados subprojetos que pudessem atender s especificaes e caractersticas solicitadas. Para a rea nmero 316 foi ento selecionado o subprojeto Inventrio da Diversidade Biolgica do Complexo Jauru subsdios conservao e manejo, proposto pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, cujo resultado est contido nesta publicao. O subprojeto teve como objetivo principal inventariar a diversidade biolgica da rea que recoberta, em sua totalidade, pelo bioma Cerrado. Atravs do uso de metodologia conhecida por Rapid Assessment Program RAP (Programa de Avaliao Biolgica Rpida), foram inventariados: flora de angiospermas e fauna de aranhas, liblulas, peixes, anfbios, rpteis, aves, mamferos alm de visitantes de flores. Apesar de no constar inicialmente das atividades propostas, a rea tambm foi analisada por sensoriamento remoto e os vertebrados polinizadores e dispersores de sementes foram considerados. Atravs de um pr-levantamento feito por sobrevo e visitas ao campo, foram selecionados stios de coleta e estudo na regio que pudessem representar efetivamente as fisionomias presentes na rea. O sobrevo foi utilizado para que a rea, de grande extenso cerca de dois milhes de hectares fosse amplamente visualizada e suas principais fisionomias identificadas e alocadas em stios representativos. BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI 11

O subprojeto teve incio em outubro de 2002 e trmino em julho de 2005 quando foi realizado um workshop reunindo os pesquisadores, bolsistas, estagirios e voluntrios que dele participaram, alm de pblico em geral, com a finalidade de discutir os resultados obtidos e propostas que pudessem ser sugeridas conservao e ao manejo do bioma Cerrado que recobre a rea. Os principais objetivos especficos do subprojeto foram: 1. determinar a caracterizao fitofisionmica e realizar o inventrio florstico; 2. determinar a fauna de aranhas; 3. determinar a fauna de liblulas, bem como seu padro de distribuio; 4. determinar a fauna de peixes; 5. determinar a fauna de anfbios e rpteis; 6. determinar a fauna de aves; realizar observaes etolgicas; 7. determinar a fauna de mamferos (voadores e no voadores); realizar observaes etolgicas; 8. determinar os visitantes florais e a identificao dos polinizadores; realizar observaes etolgicas; e 9. elaborar e divulgar os resultados dos levantamentos de fauna e flora da rea estudada. Teve-se ainda, como objetivos complementares, gerar colees de referncia (exceto para aves) e prover a documentao fotogrfica dos ambientes e organismos pesquisados. Para tanto, foram realizadas oito atividades distintas, cada qual tendo um pesquisador/coordenador e equipe, a saber: Atividade 1 Inventrio florstico das Angiospermas; Atividade 2 Inventrio da fauna de aranhas; Atividade 3 Inventrio da odonatofauna; Atividade 4 Inventrio da ictiofauna; Atividade 5 Inventrio da herpetofauna; Atividade 6 Inventrio da avifauna; Atividade 7 Inventrio da mastofauna; e Atividade 8 Inventrio da fauna de visitantes florais, alm das atividades complementares citadas.

Assim, o presente livro apresenta como contedo os trabalhos gerados pelas atividades, alm de introduo onde se descreve, resumidamente, as caractersticas gerais e importncia do bioma Cerrado. Tambm est contemplada a descrio da rea analisada, da metodologia geral e dos locais estudados, chamados de stios. Cabe lembrar, por ltimo, que o subprojeto alm de interdisciplinar, tambm foi interinstitucional e assim, alm de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, pde contar com a valiosa participao de instituies parceiras, que colaboraram para essa obteno de resultados to expressivos e consistentes. A equipe do subprojeto foi formada por aproximadamente 30 pesquisadores da UFMS e de outras instituies (alguns deles com experincia na utilizao da metodologia RAP) e bolsistas de diferentes categorias, estagirios e voluntrios. Os mais sinceros agradecimentos a todos que de forma direta ou indireta contriburam para a realizao do trabalho e, sobretudo, aos pesquisadores de outras Instituies, tais como Embrapa Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte Campo Grande/MS, Jardim Botnico de So Paulo So Paulo/SP, Universidade Federal de Uberlndia/MG, Instituto Butantan So Paulo/SP, Museu Nacional do Rio de Janeiro Rio de Janeiro/RJ, Universidade Estadual de Gois/UEG Morrinhos/GO, Universidade Federal de Gois/UFG Goinia/GO e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Seropdica/RJ. Finalmente, espera-se ter cumprido com as metas e os objetivos do subprojeto e que a publicao de seus resultados contribua para o entendimento e conhecimento deste importante bioma brasileiro o Cerrado, bem como oferea subsdios para seu estudo. Sabendo-se da importncia do bioma, acredita-se que os resultados obtidos possam fundamentar aes que possibilitem sua conservao e manejo.

Teresa Cristina Stocco Pagotto Coordenadora do Subprojeto

12 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

SUMRIO7 Prembulo 9 Prefcio 11 Apresentao

18 INTRODUOBIOMA CERRADO E REA ESTUDADA

31 IMAGENS DE SATLITESENSORIAMENTO REMOTO DO COMPLEXO APOR-SUCURI

45 FLORAINVENTRIO DAS ANGIOSPERMAS NO COMPLEXO APOR-SUCURI

67 ARANHASINVENTRIO DAS ARANHAS NO COMPLEXO APOR-SUCURI

79 LIBLULASINVENTRIO DA ODONATOFAUNA NO COMPLEXO APOR-SUCURI

89 PEIXESINVENTRIO DA ICTIOFAUNA NO COMPLEXO APOR-SUCURI

103 ANFBIOS E RPTEISINVENTRIO DA HERPETOFAUNA NO COMPLEXO APOR-SUCURI

113 AVESINVENTRIO DA AVIFAUNA NO COMPLEXO APOR-SUCURI

129 MAMFEROSINVENTRIO DA MASTOFAUNA NO COMPLEXO APOR-SUCURI

143 VISITANTES FLORAISINVENTRIO DOS VISITANTES FLORAIS NO COMPLEXO APOR-SUCURI

163 POLINIZADORES VERTEBRADOSE DISPERSORES DE SEMENTES NO COMPLEXO APOR-SUCURI

SiglasAEIT rea Especial de Interesse Turstico (*) ANOVA Anlise de Varincia APP rea de Preservao Permanente (*) AQUARAP (AquaRap) Programa de Avaliao Rpida de Ambientes Aquticos BAP Bacia do Alto Paraguai (*) BIRD The World Bank (Banco Mundial) (*) CBRO Comit Brasileiro de Registros Ornitolgicos (*) CEMAVE Centro de Pesquisas para Conservao das Aves Silvestres. CFBH Coleo Zoolgica Clio F. B. Haddad Unesp/Rio Claro-SP. CGMS sigla do herbrio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul campus de Campo Grande (*) CI Conservao Internacional Brasil (*) CITES Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (Conveno sobre o Comrcio Internacional de Espcies da Fauna e da Flora Ameaadas de Extino) CNPGC Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte/Embrapa CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (*) d.p.i. Sistema/diversos pequenos insetos (*) DDMS sigla do Herbrio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul campus de Dourados (*) DF sigla do Distrito Federal DSG Diretoria de Servio Geogrfico/Ibge EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria ETM Enhanced Thematic Mapper FUNASA Fundao Nacional de Sade (*) GEF Global Environment Facility (*) GO sigla do Estado de Gois GPS Global Position System (Sistema de Posio Global) (*) HMDS Escalonamento Multidimensional Hbrido (*) HMS sigla do Herbrio do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte/Embrapa/ Campo Grande-MS (*) IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (*) IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBt Instituto de Botnica de So Paulo (*) INPA Instituto Nacional de Pesquisa da Amaznia (*) IUCN World Conservation Union (Unio Internacional para a Conservao da Natureza e dos Recursos Naturais) LANDSAT Earth Resources Technology Satellite USA MG sigla do Estado de Minas Gerais MMA Ministrio do Meio Ambiente (*) MS sigla do Estado de Mato Grosso do Sul (*) NEF Nectrios Extraflorais (*) PA Pr-analise (qumica) PCA Anlise de Componentes Principais (*) PCO/PCoA Anlise de Coordenadas Principais (*) PROBIO Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira (*) RAP Rapid Assessment Program (Programa de Avaliao Rpida) (*) RJ sigla do Estado do Rio de Janeiro RL Reserva Legal (*) RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural (*) RS sigla do Estado do Rio Grande do Sul SBH Sociedade Brasileira de Herpetologia (*) SEPLAN Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso do Sul SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao (*) SP sigla do Estado de So Paulo UC Unidade de conservao (*) UEG Universidade Estadual de Gois (*) UEL Universidade Estadual de Londrina-PR UEM Universidade Estadual de Maring-PR UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (*) UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNDP United Nations Development Programme UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho USP Universidade de So Paulo UTM Projeo Universal Transversa de Mercator (*) WWF World Wild Fund ZUFG Coleo Zoolgica da Universidade Federal de Gois Goinia ZUFMS Coleo Zoolgica de Referncia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul campus de Campo Grande (*)

APNDICES 175 FLORA 217 ARANHAS 225 LIBLULAS 235 PEIXES 249 ANFBIOS E RPTEIS 255 AVES 265 VISITANTES FLORAIS

289 Consideraes finais e recomendaes para a conservao

Obs: (*) siglas que tambm constam por extenso no livro

Coval ou covo?

preciso justificar a adoo, nesta obra, do termo coval, usado pelos moradores da rea estudada para designar os campos limpos, de solo encharcado (devido ao afloramento do lenol fretico), localizados nas nascentes e em alguns trechos marginais de crregos e rios, ou formando veredas (ver Figuras 2 e 3, p. 32, e Figuras 55 e 56, p. 64). Embora localmente o vocbulo no se aplique ao seu sentido literal, conforme consta em dicionrios da lngua portuguesa nos cemitrios, a rea destinada abertura de covas , os moradores da regio descrevem esse ambiente como campo mido com covas (ver descrio, p. 52). Deduz-se que coval tem o mesmo significado de covo, termo usado em outras partes da Regio Centro-Oeste (ou covoal, em Minas Gerais) para designar as depresses midas ou encharcadas de contorno ovalado ou arredondado com ocorrncia de campos de murundus ou, simplesmente, murundus. Mesmo que coval e covo sejam sinnimos, optou-se pelo primeiro, devido ao desconhecimento da sua etimologia no contexto regional e em respeito diversidade lingstica. Inclusive porque os dois derivam do mesmo radical, covu () - do latim, concavidade, depresso.

INTRODUO

BIOMA CERRADO E REA ESTUDADATeresa Cristina Stocco Pagotto Dirce Cristiane Camilotti Jos Milton Longo Paulo Robson de Souza

O

Brasil o pas que abriga uma das maiores diversidades biolgicas do mundo com cerca de 10% de todas as espcies do planeta (MYERS et al., 2000). Admitindo-se que existam atualmente cerca de 15 milhes de espcies, 1,5 milho esto representadas na biodiversidade brasileira (AGUIAR et al., 2004), sendo o bioma Cerrado um dos mais significativos.

Considerado o segundo maior bioma brasileiro, representando 30% da diversidade do pas, o Cerrado ocupa cerca de 1,8 milho de km (23% do territrio nacional). Localiza-se na poro central do continente sul-americano e no sentido nordeste-sudeste do Brasil. O bioma Cerrado uma das ecorregies mais importantes do pas, tendo, entre outras, a caracterstica de apresentar um mosaico de vegetao que vai desde plantas lenhosas (rvores e arbustos) at herbceas (sobretudo poceas) tornando-se, assim, uma regio peculiar e muito diversificada fisionomicamente (RIBEIRO & WALTER, 1998).

Alm disso, no Cerrado que esto as nascentes e cursos dgua das principais bacias hidrogrficas da Amrica do Sul, como a dos rios Paran

e Paraguai (formando a bacia do Prata), Parnaba, Amazonas, Tocantins e So Francisco, constituindo, assim, importante regio ligada manuteno de fontes de gua do pas. Por apresentar formas fisionmicas contrastantes e, portanto, de variao significativa, est tambm diretamente ligado manuteno de sua fauna, apresentando locais que podem ser importantes corredores de biodiversidade. Nesse sentido, 82,6% das aves dependem de suas formaes florestais; 50% de seus mamferos terrestres no-voadores esto nas matas de galeria (FONSECA & REDFORD, 1984) segundo MARINHO-FILHO & GASTAL (2000) , se considerar a fauna de morcegos, formas aquticas e semiaquticas, esse valor pode chegar at 82%. Embora o Cerrado venha sofrendo nas ltimas dcadas um processo de degradao acentuada, sua diversidade biolgica ainda muito alta e continua sendo um importante bioma para o pas, devendo, por isso, ser objeto de aes que determinem sua manuteno e conservao.

FIG. 2

FOTOS: PAULO ROBSON DE SOUZA

FIG. 3

quanto de fauna esto em listas de espcies ameaadas de extino. Na Regio Centro-Oeste o bioma Cerrado um de seus principais representantes e sua integrao a outras do territrio nacional, atravs de suas reas limtrofes, formam uma totalidade de espao-social e natural onde esto includos, entre outros, os Estados de Minas Gerais e So Paulo. Apesar de suas diferenas, biologicamente, essas reas so de fundamental importncia, por sua influncia biogeogrfica, no estabelecimento dos diferentes tipos de paisagem e seus componentes de flora e fauna. Atualmente, o bioma Cerrado considerado um dos 25 locais de alta biodiversidade ( hotspots ), de acordo com Hotpots Earths Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecoregions (METTERMIER et al., 1999) e um dos mais ameaados do planeta (METTERMIER et al., 1998; MYERS et al., 2000) . Segundo METTERMIER et al. (1998) , cerca de 50% de toda biodiversidade terrestre encontra-se nesses 25 locais, que representam cerca de 2% de toda a superfcie do planeta. Alm disso, encontram-se nessas reas pelo menos 75% das espcies de animais terrestres criticamente em perigo e vulnerveis, segundo critrios definidos pela IUCN para espcies ameaadas globalmente.SHEPHERD (2000) afirma que o Cerrado possui cerca de sete mil espcies de angiospermas e, segundo MENDONA et al. (1998), 10% de suas plantas ainda no esto classificadas e o bioma, em suas diferentes regies, possui registros de flora ainda deficientes; isso tambm vale para sua fauna que, para certos grupos, como rpteis, possui endemismo bastante significativo. Vale lembrar que tanto representantes de sua flora

FIG. 4

Figura 2 Rio Apor, destacando-se mata ciliar, corredeiras e pastagens cultivadas Figura 3 Rio Apor com reas midas de buritizal e campo de coval Figura 4 Lavoura terraceada, em fases de calagem e preparo do solo, com remanescente de cerrado (centro), pastagem (ao fundo) e rea mida ( esquerda)

No Centro-Oeste, as atividades agropastoris, sobretudo a produo de gros e carne, constituem sua principal atividade. Isso, historicamente, causou o aparecimento de assentamentos de imigrantes e a ocupao significativa de espaos outrora recobertos por vegetao nativa do Cerrado (Figuras 2, 3 e 4). Essa expanso agropecuria e o extrativismo no Cerrado utilizam-se de um modelo econmico predatrio (KLINK et al.,1993) inclusive, em todo o Centro-Oeste, a modernizao da atividade agropecuria contribuiu para a abertura de eixos rodovirios, fazendo com que cada vez mais novos espaos fossem ocupados dentro do bioma, com srias conseqncias para a conservao da natureza na regio. Se por um lado houve o ganho scio-econmico indiscutvel, por outro, sem planejamento adequado e uso correto dos recursos naturais, cada vez mais reas naturais passam a ser ocupadas. Conseqentemente, tem ocorrido perda crescente da cobertura vegetal inicial. O Estado do Mato Grosso do Sul ocupa uma rea de 357.139.9 Km2, sendo 229.742 Km2 (65,5%) compostos por vegetao de Cerrado

Imagem de abertura (Figura 1 pp. 18 e 19) Vista parcial da maior rea mida da regio, o coval da nascente do Sucuri. Foto: Vali Joana Pott

20 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

PAULO ROBSON DE SOUZA

FIG. 5

FIG. 6

JOS MILTON LONGO

Figura 5 Aspectos do relevo e vegetao do Complexo Apor-Sucuri Figura 6 Vegetao de cerrado com furnas em rochas arenticas Figura 7 Lagoa tpica da regio, em um dos stios inventariados

Localizada no chamado Planalto da Bacia Sedimentar do Paran, a regio estudada est completamente inserida no bioma Cerrado (Figuras 5, 6 e 7). A rea abrange 14 municpios localizados nos Estados de Mato Grosso do Sul (gua Clara, Aparecida do Taboado, Cassilndia, Chapado do Sul, Costa Rica, Inocncia e Paranaba), Gois (Apor, Chapado do Cu, Itaj, Mineiros), So Paulo (Rubinia, Santa Clara do Oeste) e Minas Gerais (Carneirinho) coordenadas 53 06' 00''/ 18 19' 48'' e 53 13' 48'' / 19 19' 48'' (limite nordeste) e 50 57' 36'' / 19 25' 48'' e 51 00' 36'' / 20 12' 36'' (limite sudeste) (Fig. 19). Em 1985, cerca de 41,6% desta rea estava ocupada por atividades agropastoris; quatro anos depois, em 1989, havia 56% do territrio com vegetao original ou ligeiramente alterada (MATO GROSSO DO SUL, 1989). Atualmente, a rea encontra-se bem mais reduzida e em muitas propriedades no restam os 20% exigidos como reserva legal (POTT & POTT, 2003). A partir da dcada de 60, as atividades agropastoris tiveram papel fundamental no processo de ocupao do Estado, ocorrendo intenso desmatamento para a formao de grandes reas destinadas produo agropecuria para atender demanda nacional e exportao. Esse processo afeta de forma negativa a diversidade biolgica local e resulta na degradao, principalmente, de matas ciliares, prejudicando a dinmica do ecossistema. Segundo COSTA et al. (2003), no Mato Grosso do Sul o processo de contnua fragmentao demonstra o desrespeito lei relativa s Reservas Florestais Particulares. Com a drstica diminuio do patrimnio original do Cerrado, torna-se imprescindvel e fundamental toda e qualquer pesquisa cientfica com o objetivo de inventariar a flora e a fauna dentro de regies que possuam remanescentes significativos e pouco conhecidos, como o caso da regio do Complexo Apor-Sucuri (rea 316/Jauru).(COSTA et al. 2003).

FIG. 7

PAULO ROBSON DE SOUZA

Possuindo extenso significativa, tm suas superfcies internas com altitudes mdias entre 500 e 750 metros. Com relevo marcante, as chapadas da regio representam as maiores elevaes do Estado; em nvel altimtrico inferior, existe uma superfcie com aplainamento intermedirio, entalhada pela eroso. Na regio so comuns fragmentos de cerrado, veredas, campos e outras tantas fitofisionomias tpicas do bioma Cerrado, representadas por poucos remanescentes. A estrutura e a forma de distribuio de matas ciliares e de galeria provavelmente funcionam como corredores de biodiversidade. Essas fitofisionomias certamente so importantes na alimentao, abrigo e reproduo da fauna local e das adjacentes. Por serem poucos, os remanescentes presentes no Complexo Apor-Sucuri constituram pontos prioritrios para a realizao do inventrio. Veredas so das fitofisionomias mais comuns na regio, encontradas em posio intermediria de terrenos prximos s nascentes, ou em bordas de matas ciliares e de galeria. De modo geral, agregam mananciais de grande importncia para a manuteno de recursos hdricos e possuem concentraes da INTRODUO 21

PAULO ROBSON DE SOUZA

FIG. 8

FIG. 9

PAULO ROBSON DE SOUZA

associadas a corpos de gua lticos (rios ou riachos) formando cordes florestais que geralmente ligam ou conectam as demais fitofisionomias naturais e as diferentes reas de atividades agropastoris. Por sua importncia tambm foram priorizadas neste inventrio. Alm das paisagens naturais compostas por remanescentes, na maioria dos casos muito pouco preservados, a regio tomada por pastagens e lavouras de diferentes culturas, principalmente soja; aparecem tambm em alguns locais reas replantadas com monoculturas, principalmente seringueiras e eucaliptos. As atividades agropecurias so to intensas que, mesmo reas de conservao permanente, como faixas de matas ciliares e de galeria, foram substitudas para dar lugar ao gado e agricultura. Em muitos locais, tambm so encontradas carvoarias que utilizam rvores nativas das diferentes formaes florestais e savnicas.

FIG. 10

PAULO LANDGREF FILHO

Figura 8 Lagoa com buritis ao fundo um dos stios inventariados Figura 9 Lagoa com buritis ao fundo um dos stios inventariados, ao entardecer Figura 10 Buritizal no vale do baixo Apor

10),

palmeira Mauritia flexuosa (buriti Figuras 8, 9 e em meio a agrupamentos mais ou menos densos de espcies arbustivas e herbceas, ocupando linhas de drenagem mal definidas. Fitofisionomias de igual importncia, as matas ciliares e de galeria so representadas, tambm, por poucos remanescentes, estando

METODOLOGIA GERALInventrio da flora e faunaPara o inventrio da flora e da fauna, a metodologia adotada conforme exigncia do edital de seleo do subprojeto foi o Programa de Avaliao Rpida (Rapid Assessment Program RAP), criado pela organizao nogovernamental Conservation International, em 1992, agora denominada, localmente, Conservao Internacional (CI) Brasil. O mtodo RAP atende necessidade de gerar informaes rpidas, precisas e quantitativamente significativas, quando no se dispe de tempo e recursos para uma pesquisa mais longa e detalhada segundoCODDINGTON et al., (1991)

esse mtodo atende ao cumprimento de vrios objetivos, estimando a riqueza de espcies em reas que estejam eminentemente ameaadas de perda de sua diversidade. Assim, o mtodo rpido e simples, porque a varivel mais importante o tempo. Devido metodologia aplicada para que os diferentes grupos biolgicos pudessem ser inventariados e o mximo de informaes obtidas acerca do local de estudo foi estabelecida uma equipe multidisciplinar. Por essa razo tambm, os locais de estudo aqui chamados de stios foram pr-de-

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terminados e os perodos de coleta obedeceram s variaes estacionais mais marcantes.

rea circular, com raio mximo de 500 metros, eqidistantes entre si. Seguindo a metodologia RAP para a escolha dos stios, alguns critrios foram estabelecidos: grau de conservao dos locais; representatividade da fitofisionomia em relao ao entorno; presena de gradientes de vegetao; tamanho do fragmento; integridade do local ameaado por aes antrpicas (atividades agropastoris, tursticas, revegetao, minerao, instalao de hidreltricas, ferrovias e carvoarias). Devido ao relevo e s variaes de aplainamento presentes, tais como reas de furnas, tambm foi considerado o grau de facilidade de acesso ao stio. Assim, os oito stios selecionados so genericamente descritos a seguir, sendo que especificidades de interesse das atividades esto descritas em detalhe nos respectivos captulos.

Seleo dos pontos de coletaOito stios de coleta (inicialmente sugeridos pela equipe do inventrio de flora e depois discutidos com as demais equipes Fig. 19 ) foram previamente selecionados a partir da anlise de imagens de satlite, observaes em sobrevo com durao de quatro horas na rea de estudo e visitas ao campo para confirmao de dados, contemplando os diferentes tipos vegetacionais das variaes fitofisionmicas presentes na rea. Em cada stio foram selecionados trs pontos (georreferenciados) obedecendo a uma

Stio 1 Nascente do rio Apor (18 39' 55'' S 52 53' 34'' W) Localizado na fazenda Pouso Frio no municpio de Chapado do Sul/MS, o stio caracteriza-se por vegetao de veredas circundada por fragmentos de mata ciliar e por reas de brejos, denominadas regionalmente de coval. A rea da nascente do rio Apor (Fig. 11) j sofreu forte interferncia humana com a retirada de parte da vegetao nativa e o represamento de gua da nascente (trs barragens artificiais) e, ao redor, uma grande rea destinada agricultura. Cerca de 2 km nascente abaixo, parte da vegetao de mata ciliar foi suprimida e substituda por vegetao monoespecfica de eucalipto. O relevo plano, apresentando cotas altimtricas entre 600 e 850 metros.JOS MILTON LONGO

Figura 11 Aspecto geral da nascente do rio Apor

Stio 2 Nascente do rio Sucuri (18 21' 23'' S 52 47' 38'' W) Localizado nas fazendas Sucuri e Pontal, tendo parte de sua rea no municpio de Costa Rica/MS. Apresenta vegetao do tipo cerrado sentido restrito, vrzea, veredas e grande formao de poceas recobrindo solo mido (coval). Com cotas altimtricas que variam de 250 a 300 metros, caracteriza-se por ter um perodo de seca prolongado, mas sem dficit hdrico (Fig. 12.) INTRODUO 23

Na borda do coval existe formao extica de eucaliptos entremeados por buritis. Possui tambm culturas agrcolas (soja e girassol) e duas formaes: uma de cerrado sentido restrito e outra de cerrado, pouco antropizadas; no interior da mancha de cerrado encontra-se uma pequena rea brejosa. No stio ainda existe uma vereda pouco alterada e margeada, de um lado, por cerrado sentido restrito e, do outro, por poceas.JOS MILTON LONGO

Figura 12 Aspecto geral da formao coval

Stio 3 Alto rio Sucuri (19 01' 28'' S 53 11' 34'' W) Localizado na fazenda Potreiro do Sucuri, municpio de Costa Rica/MS, apresenta uma rea de cerrado (Fig. 13), mata ciliar e reas de nascentes. Nesse local, a atividade predominante a pecuria, entretanto, as reas de cerrado esto bem preservadas e distribudas de forma contnua por extenses territoriais significativas. As reas de matas ciliares e nascentes tambm se encontram em bom estado de conservao. As cotas altimtricas esto no intervalo de 550 a 800 metros. A parte do rio Sucuri que corta a fazenda apresenta trechos com cachoeiras de margem rochosa e mata ciliar em bom estado de conservao. Localizada logo atrs da sede da fazenda existe uma rea de brejo na base de um morro de rocha sedimentar, cortada pelo crrego Buriti.PAULO ROBSON DE SOUZA

Figura 13 Aspecto geral de uma fisionomia do tipo cerrado sentido restrito

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Stio 4 Mdio rio Sucuri (19 02' 58'' S 52 52' 27'' W) Localizado na fazenda Mimoso, em Paraso (distrito do municpio de Costa Rica/MS), onde a atividade predominante a pecuria. Apresenta uma rea contnua de cerrado sentido restrito adjacente mata de galeria que acompanha o crrego Mimoso com leito de substrato rochoso , tributrio do rio Sucuri. Essas duas formaes esto relativamente bem preservadas, bem como as matas midas de encosta, em reas de furnas (Fig. 14). No stio existe uma pequena lagoa margeada por poceas. As cotas altimtricas esto no intervalo de 550 a 650 metros.JOS MILTON LONGO

Figura 14 Aspecto geral de uma rea de pastagem mostrando, ao fundo, mata de encosta

Stio 5 Mdio rio Sucuri (19 11' 18'' S 52 46' 59'' W) Localizado na fazenda Pedra Branca, no municpio de Chapado do Sul/MS, na regio dos planaltos rampeados. Nesse local, a atividade predominante a pecuria, e existem reas contnuas de mata ciliar em bom estado de conservao (Fig. 15). A vegetao predominante apresenta fisionomias que vo desde campo limpo a cerrado sentido restrito. As cotas altimtricas esto entre 550 e 650 metros. No stio existe um crrego e uma lagoa no interior de um fragmento de mata ciliar formada pela unio de vrios riachos.FABRCIO ODA

Figura 15 Aspecto geral de um trecho do mdio rio Sucuri

INTRODUO 25

Stio 6 Mdio rio Quitria (19 17' 03'' S 51 03' 06'' W) Localizado na fazenda Lagoinha, municpio de Inocncia/MS, uma rea de furnas e nascentes. O local apresenta um remanescente considervel de vegetao, sendo as veredas (Fig. 16), matas ciliares, cerrado e mata de encosta as fitofisionomias predominantes. A principal atividade econmica a pecuria. Existem vrias lagoas com plantas aquticas, riachos e aude em uma das reas de pastagem. As cotas altimtricas esto entre 400 e 600 metros.FABRCIO ODA

Figura 16 Aspecto geral de uma vereda

Stio 7 Baixo rio Apor (19 49' 31'' S 51 32' 24'' W) Localizado na fazenda Lindos Campos, prximo divisa de Mato Grosso do Sul e Gois, no baixo Apor, no municpio de Itaj/GO (Fig. 17). Nesse stio so encontradas reas de contato entre cerrado sentido restrito e remanescentes de floresta estacional, alm de uma rea contnua de vereda e cerrado de extenso considervel. As cotas altimtricas esto entre 300 e 450 metros. Uma grande rea alagada e mata ciliar do rio Apor, no Estado de Gois, esto em estado de degradao avanada devido, principalmente, atividade de pecuria. Apresenta tambm vereda com pequenas nascentes em torno da mesma. possvel ver, na rea, lagoas temporrias formadas pelas guas das chuvas durante o perodo de maior ndice pluviomtrico.JOS MILTON LONGO

Figura 17 Aspecto de um trecho do rio Apor

26 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Stio 8 Baixo rio Quitria (19 34' 13'' S 51 53' 46'' W) Localizado na fazenda Ponte Nova, na regio da serra do Apor, no municpio de Paranaba/MS Apresenta reas de pastagem entremeadas com fragmentos de cerrado em regenerao. As cotas altimtricas esto entre 400 e 600 metros. A superfcie do terreno caracterizada por freqentes desnveis, muitas vezes acentuados. Predominam formaes florestais como mata de galeria, cerrado e cerrado sentido restrito, e as veredas aparecem com freqncia.JOS MILTON LONGO

(Fig. 18).

Figura 18 Aspecto de um trecho do baixo rio Quitria

Figura 19 Mapa mostrando a rea 316/Jauru (Complexo AporSucuri); os limites dos Estados; a localizao dos municpios e dos stios de coleta

Cidades (referncias s sedes administrativas dos municpios) MS: A) gua Clara; B) Aparecida do Taboado; C) Cassilndia; D) Chapado do Sul; E) Costa Rica; F) Inocncia; G) Paranaba GO: H) Apor; I) Chapado do Cu; J) Itaj; K) Mineiros MG: L) Carneirinhos SP: M) Rubinia; N) Santa Clara do Oeste. Stio 1: nascente do rio Apor; Stio 2: nascente do rio Sucuri; Stio 3: alto rio Sucuri; Stio 4: mdio rio Sucuri; Stio 5: mdio rio Sucuri; Stio 6: mdio rio Quitria; Stio 7: baixo rio Apor; Stio 8: baixo rio Quitria.

INTRODUO 27

Coleta de dadosComo cada atividade do subprojeto estava relacionada a diversos grupos taxonmicos, os procedimentos de coleta especfica esto descritos em cada captulo. No entanto, para todos os grupos inventariados, principalmente flora, a classificao das diferentes fitofisionomias foi feita segundo RIBEIRO & WALTER (1998). Para o desenvolvimento dos trabalhos de campo foram realizadas duas viagens durante 30 dias, com todas as equipes, sendo que em cada stio o tempo de permanncia foi de trs dias para contemplar um dia em cada ponto. Uma vez que o bioma Cerrado apresenta um clima caracterizado por duas estaes distintas: seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro e maro), as viagens foram ento programadas para que esses perodos fossem contemplados j que o Cerrado no apresenta variaes significativas de temperaturas mdias. Os oito stios foram amostrados no ano de 2004. As coletas na estao chuvosa ocorreram entre 27 de maro a 25 de abril, e na estao seca, entre 23 de outubro e 21 de novembro (uma vez que em 2004 ocorreu pequeno atraso no incio das estaes). Em cada stio, conforme j mencionado, foram determinados trs pontos eqidistantes de coleta, numa rea circular de no mximo 500

metros de raio. Assim, as equipes de cada Atividade permaneceram em cada stio durante trs dias, um dia em cada ponto, perfazendo 24 dias de campo em cada expedio (alm dos dias de viagens e troca de equipes). importante ressaltar que, devido s caractersticas diferentes, em termos de ambiente ideal para cada atividade, nem sempre os trs pontos de cada stio foram exatamente os mesmos. No entanto, todos os pontos referenciados seguiram a mesma metodologia e estavam, necessariamente, dentro da rea das fazendas utilizadas como stio. Alguns pontos extras, quando se achou interessante e necessrio, foram referenciados e estudados, alm dos gerais, sobretudo pelas atividades de ictiofauna, herpetofauna e mastofauna (mamferos voadores morcegos). As equipes, interdisciplinares, foram compostas por pesquisadores, bolsistas, estagirios e voluntrios, com um nmero de pessoas suficiente para executar adequadamente o levantamento. Desta maneira, nos dois perodos de coleta, o total de pessoas no campo foi de cerca de 40 em cada perodo, incluindo tambm um pesquisador bilogo/fotgrafo e equipe, que realizaram a documentao fotogrfica do subprojeto, gerando colees de diapositivos para cada atividade.

CONSIDERAES FINAISApesar do bioma Cerrado ocupar uma grande rea territorial brasileira, sobretudo no Centro-Oeste e no Estado de Mato Grosso do Sul, seu grau de conservao bastante precrio. Somente a partir do Seminrio Aes e reas prioritrias para a conservao da biodiversidade do Pantanal e Cerrado realizado pelo PROBIO/MMA em 1998 que medidas mais efetivas e uma srie de aes foram tomadas, no sentido do estudo de sua biodiversidade, seu potencial como rea natural e, portanto, melhor conhecimento para que polticas de conservao do bioma pudessem ser adotadas. Depois da Mata Atlntica, o Cerrado o bioma brasileiro que mais sofreu e sofre alteraes devido ocupao humana. Alm da grande expanso da agricultura e pecuria, nos ltimos anos, um impacto ambiental bastante significativo e grave o causado pelos garimpos e carvoarias presentes em larga escala por todo o Estado de Mato Grosso do Sul que provocam a contaminao dos rios e seu assoreamento, alm do desaparecimento de grande quantidade de cobertura vegetal natural. As transformaes de uso da terra no bioma Cerrado tm levado a modificaes profundas na sua estrutura e no seu funcionamento (DAVIDSON et al. 1995; KLINK et al. 1995). As atividades humanas tm afetado as funes hidrolgicas e biogeoqumicas do Cerrado. Modelos ecolgicos de previso de alteraes climticas mostram que a substituio da vegetao nativa por monoculturas e de pastagens plantadas pode levar ao declnio da precipitao e aumento da freqncia de veranicos no Brasil Central (HOFFMANN & JACKSON, 2000).

28 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

FOTOS: PAULO ROBSON DE SOUZA

Figura 20 Ao alto, voorocas em pastagem cultivada na rea do Apor-Sucuri (as rvores servem como escala) Figura 21 direita, vista geral de trecho mdio do rio Sucuri com cerrado e florestas riprias

Alm disso, o Cerrado , potencialmente, um grande assimilador e acumulador de carbono (KLINK,1999; MIRANDA & MIRANDA, 2000) e, tanto suas entradas via razes quanto seus reservatrios no solo, podem ser substancialmente alterados devido a grande abrangncia geogrfica das modificaes que se processam nesse bioma. Considerando que as espcies de plantas tm uma distribuio restrita (FELFILI et al., RATTER & DARGIE, RATTER et al. apud FELFILI & FELFILI, 2001), a magnitude da devastao da flora do Cerrado pode ser muito grande. As pesquisas sobre o modo como est organizada e distribuda a biodiversidade nas comunidades desse bioma so ainda reduzidas. Essas informaes so necessrias para avaliar os impactos decorrentes de atividades antrpicas, planejar a criao de unidades de conservao e para a adoo de tcnicas de manejo (FELFILI & FELFILI, 2001). Apesar de toda essa riqueza bitica e abitica, o Cerrado possui menos de 1,5% de sua extenso territorial em reas legalmente protegidas e nenhuma Unidade de Conservao de Proteo Integral no Estado de Mato Grosso do Sul. Considerando a grande destruio que vem se processando, torna-se urgente a adoo de medidas que garantam a conservao in situ de parcelas maiores desse bioma. Essas medidas devem prever no s a criao de mais reas protegidas, tanto pblicas quanto particulares, mas tambm a destinao de recursos financeiros adicionais, pois as reas j criadas esto ameaadas por presses externas. Ademais, os poucos recursos governamentais existentes para a conservao in situ contemplam apenas atividades ligadas a reas protegidas de domnio pblico, como os Parques Nacionais. Apesar da devastao (Fig. 20), existem reas remanescentes que ainda conservam a vege-

tao original que devem ser urgentemente estudadas (Fig. 21) para gerar informaes que subsidiem a definio de reas prioritrias para conservao, como foi o caso do Complexo Apor-Sucuri. A despeito da sua degradao, a rea pode ser considerada um importante corredor de biodiversidade ligando a plancie do Pantanal ao Planalto Central. Para o Mato Grosso do Sul, isso importante, uma vez que o Estado no tem um sistema de unidades de conservao consolidado. Dessa forma, o Estado e suas reas limtrofes carecem de uma anlise mais ampla, atravs de pesquisas multidisciplinares, que possam levar compreenso do local em sua totalidade, visando principalmente a criao de UCs que contemplem o bioma Cerrado. Mesmo que atualmente vrios esforos tm sido empreendidos no sentido de manter os poucos remanescentes das formaes originais, dados primrios sobre a diversidade biolgica local so praticamente inexistentes. Espera-se que os resultados deste inventrio representem um avano no conhecimento da diversidade biolgica do bioma Cerrado regional e fornea subsdios para estudos mais aprofundados, programas de preservao, recuperao de reas degradadas e manejo dos recursos naturais; alm de incentivo para que proprietrios rurais possam criar UCs em suas propriedades, principalmente naquelas que tenham fragmentos representativos do bioma. INTRODUO 29

EQUIPE EXECUTORARECONHECIMENTO INICIAL DAS FITOFISIONOMIAS: ngela Lcia Bagnatori Sartori (Departamento de Biologia/UFMS) e Sonia Aragaki (bolsista DTI-7F), Marco Antonio Carstens Mendona (piloto/voluntrio), Samuel Jorge Leite (engenheiro florestal/georeferenciamento e confeco do mapa da rea), Marco Antonio de Rezende Lopes (cinegrafista da TVU/UFMS), Paulo Robson de Souza (Departamento de Biologia/UFMS, registro fotogrfico). EXPEDIES DE RECONHECIMENTO PRVIO DOS STIOS primeira expedio: Edvaldo Pereira, Masao Uetanabaro (Departamento de Biologia/UFMS), Jos Milton Longo (Doutorando em Ecologia e Conservao da UFMS, bolsista DTI-7G), Ricardo Cruz Machado (guia de turismo/voluntrio), Luiza Paula Conceio Lopes (bolsista AT-NS). Segunda expedio: Teresa Cristina Stocco Pagotto e Otavio Froehlich (Departamento de Biologia/UFMS), Dirce Cristiane Camilotti (Bolsista AT-NS), Jos Milton Longo. LOGSTICA/ADMINISTRAO: Teresa Cristina Stocco Pagotto (Departamento de Biologia/UFMS, coordenao geral), Jos Milton Longo (bolsista DTI-7G, coordenao da primeira expedio), Josu Raizer (Departamento de Biologia/UFMS, coordenao da segunda expedio), Dirce Cristiane Camilotti, Airton Jos Vinholi Jnior e Luis Henrique Mantovani de Farias (Bolsistas AT-NS), Elizabete Marques de Jesus Costa (bolsista DTI7G, organizao de dados), Fabrcio Hiroiuki Oda (bolsista ITI-1A e AT-NS, classificao do acervo fotogrfico).

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30 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Fig. 2 Nascente do Sucuri coval em tomada area

Fig. 3 Nascente do Sucuri coval, onde predominam poceas e ciperceas

Fig. 4 Fragmentos de cerrado ao centro, rea mida

Fig. 5 Foz do rio Quitria com fragmentos de cerrado (esquerda) e rea mida (direita)

Fig. 6 Mdio Sucuri com mata ciliar

Fig. 7 Cerrado tpico fazenda Potreiro do Sucuri

Fig. 8 Vereda na nascente do Apor

Fig. 9 Campo limpo, mata ciliar e rio Sucuri fazenda Potreiro do Sucuri

32 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Sensoriamento Remoto do Complexo Apor-SucuriAntonio Conceio Paranhos Filho Roberto Macedo Gamarra Teresa Cristina Stocco Pagotto Thiago da Silva Ferreira Thais Gisele Torres Humberto Jos Sepa de Matos Filho

RESUMOCom o objetivo de levantar os tipos de cobertura do solo da rea do Complexo AporSucuri, no nordeste do MS, para a produo de cartas de cobertura do solo, foram utilizadas imagens Landsat, cartas topogrficas do DSG/IBGE e viagens a campo. No total foram analisadas 28 cartas topogrficas. Concluiu-se que essa rea vem sofrendo intensa modificao antrpica, apresentando mudanas significativas desde os anos 60 (data das fotos que foram utilizadas na criao das cartas topogrficas do DSG/ IBGE) at 2001, data da imagem Landsat utilizada no trabalho. Grande parte da vegetao natural foi desmatada ou substituda por pastagem, cultivo agrcola e reas de monoculturas florestais exticas (como eucalipto). Tambm foi observado que uma parte relevante dessa rea no apresentou nem 20% de seu total preservado, o que exigido por lei. Quanto caracterizao da rea, foi observado que para o bioma Cerrado as fitofisionomias mais representativas foram, quantitativamente, campos e cerrado sentido restrito. Observou-se ainda, na rea, que apesar dos indcios de alto grau de degradao ambiental, sobretudo devido s atividades agropastoris, ainda existem na regio fragmentos de vegetao nativa, de dimenso significativa, quando comparados com outros fragmentos em outros locais do bioma Cerrado. PALAVRAS-CHAVE Cobertura do solo, Imagens Landsat, sensoriamento remoto, bioma Cerrado.Abertura (Fig. 1) Imagem do satlite LANDSAT ETM+ (rbita-ponto 224/073) composio RGB 453, rio Sucuri a partir de Costa Rica (ao Norte). Fotos: Paulo Robson de Souza (Figuras 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 9); Antonio Conceio Paranhos Filho (Fig. 7).

INTRODUOO Complexo Apor-Sucuri (Fig. 10) localiza-se dentro do chamado Planalto da Bacia Sedimentar do Paran, sendo bastante extenso e tendo suas superfcies internas em altitudes mdias entre 500 e 750 m. Este drenado por duas bacias hidrogrficas muito importantes: uma margem esquerda do rio Paraguai, que drena o Pantanal, e a outra margem direita do rio Paran, ambas formando a grande bacia do Prata.

Figura 10 Localizao do Complexo Apor-Sucuri

IMAGENS DE SATLITE 33

A rea de estudo, em torno de dois milhes de hectares, recoberta basicamente por vegetao caracterstica do bioma Cerrado que se apresenta sob diferentes fisionomias, tais como: formaes florestais, savnicas e campestres. Na rea, as fisionomias mais representativas em termos quantitativos, de acordo com a classificao de RIBEIRO & WALTER (1998) so: formaes florestais: mata ciliar (Fig. 6), mata de galeria e cerrado (Fig. 7); formaes savnicas: cerrado sentido restrito e vereda (Fig. 8); formaes campestres: campo sujo e campo limpo (Fig. 9). Vrios fragmentos fitofisionmicos como, por exemplo, matas ciliares e de galerias, so importantes na alimentao, abrigo e reproduo da fauna local. Esses podem e devem funcionar como corredores de biodiversidade da fauna e na disperso de sementes e propgulos vegetais. Apesar do alto ndice de degradao ambiental por atividades agropastoris na regio, a rea de estudo ainda apresenta vrios fragmentos de vegetao nativa, de dimenso significativa (acima de cinco hectares), quando comparados com outros fragmentos do bioma Cerrado em outros locais. O bioma estudado, Cerrado, est localizado em sua maior parte no Planalto Central do Brasil, sendo um complexo vegetacional que possui relaes ecolgicas e fisionmicas com as savanas da Amrica tropical e de continentes como a frica e Austrlia (RIBEIRO & WALTER, 1998). Nos cerrados predominam os latossolos, tanto em reas sedimentares quanto em terrenos cristalinos, ocorrendo ainda solos concrecionrios em grandes extenses (ABSABER, 1983; LOPES, 1984). No trabalho, as fitofisionomias do bioma Cerrado foram classificadas, de acordo com RIBEIRO & WALTER (1998), em nove tipos diferenciados, a saber: formaes florestais mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerrado; formaes savnicas cerrado sentido restrito, palmeiral e vereda; formaes campestres campo sujo e campo limpo. Vale lembrar que a vegetao do Estado do Mato Grosso do Sul, cuja maior cobertura parte do bioma Cerrado, incorpora tambm elementos das provncias fitogeogrficas adjacentes,

tendo como limite leste o Cerrado do Brasil Central, na poro noroeste as florestas semidecduas relacionadas com a Floresta Amaznica e no sudoeste a Floresta Chaquenha Seca originria da Bolvia e Paraguai (ADMOLI, 1982). Na verdade, essa vegetao reflete o contato e a interpretao de trs provncias florsticas: Amaznica, Chaquenha e da Bacia do Paran, resultando em paisagens fitogeogrficas muito diversificadas. Suas formaes naturais vo desde campos limpos, completamente destitudos de rvores, a cerrado denso e at florestas exuberantes (SILVA et al, 2000). Assim, para melhor interpretar a rea do Complexo Apor-Sucuri, foi utilizado o sensoriamento remoto apoiado por pesquisa de campo. Por sensoriamento remoto se entende a arte de obter informao sobre um objeto, rea, ou fenmeno por meio da anlise dos dados adquiridos por um dispositivo que no esteja em contato com o objeto, rea, ou fenmeno sob investigao (LILLESAND et al, 2004). Ao se considerar as caractersticas de refletncia espectral da vegetao, solo e gua, deve-se reconhecer que esses tipos amplos de feio so normalmente separveis espectralmente. No entanto, o grau de separao entre eles uma funo da parte do espectro analisada. Por exemplo: gua e vegetao devem refletir quase igualmente em comprimentos de onda visveis. Contudo, essas feies podem normalmente ser separadas no comprimento de onda do infravermelho prximo, porque respostas espectrais medidas por sensores remotos, considerando-se as vrias feies, freqentemente permitem uma avaliao do tipo e/ou da condio das feies. Essas respostas tm sido muitas vezes apresentadas como assinaturas espectrais (LILLESAND et al, 2004). A relao entre a intensidade da radiao eletromagntica com o comprimento de onda chamada de curva de resposta espectral. Uma nica feio ou um grupo de feies (padro ou textura) caracterstico dessa curva chamado assinatura espectral, que permite a individualizao do objeto (GUPTA, 1991). Dessa forma, a anlise teve como objetivo principal levantar os tipos de cobertura do solo da rea do Complexo Apor-Sucuri e produzir uma carta de cobertura do solo por meio de imagens Landsat, com apoio das cartas topogrficas do DSG/IBGE e de viagens a campo.

34 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

METODOLOGIAPara o levantamento por meio de sensoriamento remoto, as seguintes etapas foram desenvolvidas: levantamento de cartas topogrficas, DSG/ IBGE, em escala 1:100.000, 1:250.000 e levantamento das Imagens Landsat TM e ETM+ que recobrem a rea do Complexo AporSucuri; escanerizao, correo geomtrica e georreferenciamento de cartas topogrficas empregando o software Erdas Imagine (ERDAS, 1997); correo geomtrica, georreferenciamento e classificao de imagens de satlites atravs do software Erdas Imagine para gerao da carta de cobertura do solo produzida atravs de uma classificao automtica supervisionada (com algoritmo mxima verossimilhana); controle de campo; criao de mapas de controle de campo atravs das imagens Landsat que foram cortadas com os limites coincidentes das cartas topogrficas no software Erdas Imagine e criao de pranchas da cobertura do solo.

RESULTADOS1. Bas 2. Parque Nacional das Emas 3. Costa Rica 4. Cabeceiras do Apor 5. Indai do Sul 6. Apor 7. Paraso 8. Auto Sucuri 9. Indai Grande 10. Cassilndia 11. Cachoeira 12. So Domingos 13. Rio So Domingos 14. Ribeiro Boa Vista 15. Rio Morangas 16. Inocncia 17. paranaba 18. Cachoeira da Mutuca

Foram levantadas 18 cartas topogrficas, DSG/IBGE, em escala 1:100.000 que recobrem a rea do Complexo Apor-Sucuri: Alto Sucuri, Apor, Bas, Cabeceiras do Apor, Cachoeira da Mutuca, Cachoeira, Cassilndia, Costa Rica, Indai do Sul, Indai Grande, Inocncia, Paraso, Paranaba, Parque Nacional das Emas, Ribeiro Boa Vista, Rio So Domingos, Rio Morangas e So Domingos (Fig. 11). Tambm foram levantadas dez cartas topogrficas, DSG/IBGE, em escala 1:250.000 que recobrem a rea do Complexo AporSucuri: Andradina, Coxim, Camapu, Ribas do Rio Pardo, Iturama, Mineiros, Parque Nacional das Emas, Paraso, Cau e Paranaba (Fig. 12). Todas as cartas utilizadas (1:100.000 e 1:250.000) foram georreferenciadas por meio do software Erdas Imagine (ERDAS, 1997), para utilizao em campo. Foram levantadas as imagens Landsat que recobrem a rea de estudo: 223/073 e 223/074 de 3 de agosto de 2001 e 224/073 e 224/074 de 10 de agosto de 2001 (LANDSAT, 2001, a, b, c, d). As cenas Landsat 7 (sensor ETM+, 2001) foram georreferenciadas utilizando-se o software Erdas Imagine para utilizao em campo. A carta de cobertura do solo (Fig. 13) foi produzida atravs de uma classificao automtica supervisionada (com algoritmo mxima verossimilhana) das cenas 224/073, 223/073, 223/074 e 224/074 utilizando-se o mesmo software. A partir das cartas de cobertura do solo foram determinadas as reas ocupadas pelas diferentes classes (Tabela 1). IMAGENS DE SATLITE 35

Figura 11 Articulao das cartas topogrficas, DSG/IBGE, em escala 1:100.000 que recobrem a rea do Complexo Apor-Sucuri

1. 2. 3. 4.

Coxim Camapu Mineiros Parque Nacional das Emas 5. Paraso 6. Ribas do Rio Pardo 7. Cau 8. Paranaba 9. Andradina 10. Iturama

Figura 12 Articulao das cartas topogrficas, DSG/IBGE, em escala 1:250.000 que recobrem a rea do Complexo Apor-Sucuri

Figura 13 Carta de cobertura do solo produzida por meio de classificao automtica supervisionada (max ver) da cena Landsat 224/ 073 (Coordenadas UTM, crrego Alegre)

CLASSES ESPECTRAIS DE COBERTURA DO SOLO 1. Lat 1 2. Lat 2 3. For 1 4. For 2 5. C v 6. Rif

REA (Ha) 50.220,60 107.845,00 39.396,60 78.350,10 653.296,00 0,00 672.794,00 189.166,00

CLASSES ESPECTRAIS DE COBERTURA DO SOLO 9. Sujo 10. Br 11. Cel 12. P v 13. Org 14. Lag 15. Fiu 16. Umi

REA (Ha) 956.418,00 4.760,10 182.762,00 342.355,00 0,00 1.651,95 7.631,65 43.448,00 3.330.094,90

Tabela 1 reas ocupadas por cada classe de cobertura do solo, em hectares, da imagem Landsat 224/073 (Fig. 13)

7. Ver 1 8. Ver 2 TOTAL

Assim, de acordo com os valores das classes de cobertura do solo distinguveis pelas assinaturas espectrais em cada carta topogrfica 1:100.000 que recobre a rea de estudo, foram obtidas, para cada carta topogrfica usada, as classes espectrais de cobertura do solo (Tabela 2). Foram realizadas trs viagens ao campo, em diferentes perodos, obedecendo a estao seca e de chuva, com o intuito de verificar a cobertura dos solos na rea analisada. Durante as viagens foram obtidos 146 pontos utilizando-se GPS (Global Position System). Tambm foram

levantadas as coordenadas geogrficas e UTM (Projeo Universal Transversa de Mercator) desses pontos. As cartas topogrficas e as imagens de satlite foram levantadas e, posteriormente, confrontadas com os tipos de cobertura do solo encontrados em campo. A classificao adotada no trabalho, quanto s classes de cobertura do solo, baseia-se nas assinaturas espectrais propostas por PARANHOS FILHO (2000), a saber: For 1 matas 1; For 2 matas 2; Lat 1 latossolo 1; Lat 2 latossolo 2; Cv cerrado; Ver 1 verde 1; Ver 2 verde 2; Cel azul celeste; Pv pradaria verde; Sujo cam-

36 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Tabela 2 - reas ocupadas pelas diferentes classes espectrais de cobertura do solo para cada carta, em hectares, para a rea estudada (Fig. 11) Obs.: No esto includas as cartas Cachoeira da Mutuca e So Domingos.Classes espectrais de cobertura do solo 1. Lat 1 2. Lat 2 3. Umi 4. Ver 1 5. Ver 2 6. Cel 7. Sujo 8. Pv 9. For 2 10. Cv 11. Lag 12. For 1 13 . Br 14. Rif 15. Fiu 16. Org rea total das classes de cobertura Classes espectrais de cobertura do solo 1. Lat 1 2. Lat 2 3. Umi 4. Ver 1 5. Ver 2 6. Cel 7. Sujo 8. Pv 9. For 2 10. Cv 11. Lag 12. For 1 13. Br 14. Rif 15. Fiu 16. Org rea total das classes de cobertura Cabeceiras do Apor 21.233,50 38.901,30 3.639,51 77.505,60 13.562,60 23.193,30 75.587,90 17.123,80 4.464,27 32.937,10 198,81 2.578,23 863,82 449,37 312.239,11 Paranaba 922,50 9.042,39 5.993,82 103.728,00 30.894,80 902,79 74.050,20 678,78 4.305,42 19.145,30 424,80 12,78 654,03 1.675,62 252.431,23

Alto Sucuri 1.373,58 2.798,37 2.656,26 107.268,00 11.558,00 14.679,70 84.861,70 20.676,10 7.908,03 50.733,00 87,12 3.383,01 458,82 1.022,49 309.464,18 Indai Grande 105,48 1.035,90 14.942,00 8.955,72 24.089,20 168,93 193.469,00 6.291,45 6.614,91 43.405,20 938,07 9.151,38 70,83 2,34 1.622,52 310.862,93

Apor 513,99 2.006,28 10.140,50 7.047,63 41.356,70 51,21 164.865,00 6.078,15 13.247,30 52.110,30 1.276,56 9.110,07 5,58 35,82 709,02 308.554,11 Inocncia 291,60 2.624,22 7.606,08 103.523,00 18.770,60 1.866,60 125.091,00 1.996,11 6.708,42 36.586,00 33,39 9,00 1.667,88 0,18 306.774,08

Bas 12.741,50 28.685,50 5.401,08 33.599,30 14.800,20 22.502,50 69.689,60 28.381,80 16.707,00 56.197,90 359,28 13.072,00 596,16 642,51 303.376,33 Paraso 1.150,74 3.145,50 2.149,29 77.601,00 7.758,54 30.434,40 100.497,00 21.687,10 2.533,32 53.678,20 55,80 1.247,40 134,55 316,26 302.389,10

Cachoeira 606,87 1.233,36 11.475,10 4.228,92 76.299,70 15,30 160.291,00 5.469,30 4.074,66 37.203,20 1.655,55 2.127,33 8,01 675,63 168,39 305.532,32

Cassilndia 292,50 1.107,00 13.767,10 4.020,12 44.851,00 35,46 133.095,00 24.232,20 9.831,15 61.793,80 1.761,84 10.053,60 2,61 6,39 2.033,19 306.882,96 Ribeiro Boa Vista 37,80 141,03 3.616,11 8.665,74 12.884,20 170,19 131.165,00 8.435,97 25.863,70 46.807,60 355,23 169,38 13,95 125,01 3,15 11,693,40 250.147,46

Costa Rica 251,19 3.412,62 4.174,38 59.619,10 7.151,94 17.441,20

Indai do Sul 113,85 8.364,78 11.178,40 7.400,07 42.538,20 813,42 184.717,00 5.233,14 5.644,98 36.471,10 1.446,03 5.261,22 14,31 21,69 1.645,11 310.863,30 Rio So Domingos 316,08 219,15 4.199,94 12.859,60 6.703,20 319,95 165.629,00 6.386,58 24.111,40 65.460,90 741,69 607,95 95,49 46,80 9,72 27.411,80 315.119,25

117.061,00 32.261,70 9.581,58 57.329,20 69,57 4.985,55 579,60 313.918,63 Rio Morangas 143,01 910,17 17.519,70 138.954,00 14.124,10 2.987,28 91.583,30 706,23 3.478,41 34.969,60 579,87 3,15 3.154,59 225,54 309.338,95

Parque Nacional das Emas 10.147,00 20.678,40 11.558,50 52.100,10 45.299,90 13.823,00 33.707,80 13.545,50 1.942,11 82.814,80 285,30 3.007,08 2.234,79 497,25 291.641,53

po sujo; Lag lagos e corpos aquosos (exceto rios); Fiu rios; Umi rea mida; Rif reflectantes; Br queimada e Org solos orgnicos (Figuras 14 a 42). As figuras 14 a 42 demonstram exemplos tanto das classes espectrais, quanto dos tipos de fitofisionomias determinados na anlise da cobertura do solo, na rea do Complexo AporSucuri. A diferenciao e classificao dos diferentes tipos de fitofisionomias para o bioma Cerrado da rea foram determinadas segundo conceitos estabelecidos por RIBEIRO & WALTER (1998), que resumidamente podem ser expressas: formaes florestais mata seca, mata ciliar e de galeria, cerrado; formaes savnicas cerrado sentido restrito, vereda; formaes campestres onde foram englobados os diferentes tipos de campos presentes na rea. Segundo os autores, estes podem ser, principalmente, campo sujo,

rupestre e limpo. No entanto, nem sempre essa diferenciao facilmente distinguvel nesses subtipos atravs de anlise espectral: em reas onde as atividades agropecurias so bastantes extensivas como o caso , mesmo tendo sido feitas visitas ao campo, no h como afirmar, categoricamente, que parte da cobertura do solo, classificada por estes tipos de fisionomias, no se referem a reas de pastagem ou cultivos. Cabe ainda ressaltar que, como na anlise foi adotada tanto a terminologia para classe espectral de PARANHOS FILHO (2000) quanto a conceituao de RIBEIRO & WALTER (1998) para os diferentes tipos de fisionomias presentes, um dos subtipos de campo aparece designado espectralmente como pradaria verde (Fig. 32); alm do termo reas verdes (Fig. 38) para aquelas do tipo brejo (campo mido, principalmente estacional). IMAGENS DE SATLITE 37

CLASSE ESPECTRAL For 1For 1 - Matas 1 Engloba a mata seca, a mata ciliar e a mata de galeria, podendo tambm, em alguns casos englobar o cerrado.FOTOS: ANTONIO CONCEIO PARANHOS FILHO

Figura 14 Mata seca Landsat 7, sensor ETM+, composio falsa cor R4 G5 B3

Figura 15 Fitofisionomia de mata seca

CLASSE ESPECTRAL For 2For 2 - Matas 2 Na rea de estudo corresponde, na sua maioria, ao cerrado.

Figura 16 rea de cerrado em combinao R4 G5 B3 (Landsat ETM+)

Figura 17 Fitofisionomia de cerrado

CLASSE ESPECTRAL CvCv - Cerrado Corresponde aos cerrados, sentido restrito, existentes na rea.

Figura 18 Cerrado Landsat 7, sensor ETM+, composio falsa cor R4 G5 B3

Figura 19 Fitofisionomia de cerrado sentido restrito

38 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

CLASSE ESPECTRAL SujoSujo O campo sujo um tipo fisionmico exclusivamente herbceo-arbustivo.FOTOS: ANTONIO CONCEIO PARANHOS FILHO

Figura 20 Campo sujo Landsat 7, sensor ETM+, composio falsa cor R4 G5 B3

Figura 21 Fitofisionomia de campo sujo

CLASSE ESPECTRAL Ver 1Ver 1 O campo limpo uma fitofisionomia predominantemente herbcea, com raros arbustos e ausncia completa de rvores.

Figura 22 Campo limpo Landsat 7, sensor ETM+, composio falsa cor R4 G5 B3

Figura 23 Fitofisionomia de campo limpo

CLASSE ESPECTRAL Lat 1Latossolo 1 Essa classe representa o primeiro tipo de solo latosslico exposto. So geralmente terrenos arados, zonas agrcolas ou de reforma de pastagem.

Figura 24 Assinatura espectral da classe Lat 1 na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em azul escuro na composio R4 G5 B3

Figura 25 Exemplo de latossolo arado

IMAGENS DE SATLITE 39

CLASSE ESPECTRAL Lat 2Latossolo 2 Segundo tipo de solo latosslico arado. o mesmo tipo de solo da classe Lat 1, porm com uma resposta espectral diferente (azul mais claro nas composies 453 e 457). Tambm corresponde a zonas agrcolas.FOTOS: ANTONIO CONCEIO PARANHOS FILHO

Figura 26 Assinatura espectral da classe Lat 2 na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em azul claro na composio R4 G5 B3

Figura 27 Nos dois lados da rodovia esto exemplos das classes de latossolo 1 e 2. Observar as diferentes coloraes destas reas aradas, que refletem em diferentes tons de azul em composio falsa cor R4 G5 B3

CLASSE ESPECTRAL Ver 2Verde 2 Segundo tipo de campo limpo com resposta em verde escuro (para os composites RGB 453 e 457). So campos secos mais altos (mais de 40 cm de altura) que os da classe Ver 1, podendo ocorrer a presena de arbustos.

Figura 28 Assinatura espectral da classe Ver 2 na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em verde escuro na composio R4 G5 B3

Figura 29 Fitofisionomia de campo seco de aproximadamente 40-60 cm de altura

CLASSE ESPECTRAL CelAzul Celeste Corresponde rea de campo limpo baixo e normalmente seco. Nas imagens desta classe (nas composies 457 ou 453, Landsat TM), quanto mais a cor tender ao branco mais baixa ser a vegetao e mais visvel ser o substrato. um terceiro tipo de campo limpo; porm, mais baixo e seco (geralmente pisoteado e degradado).

Figura 30 Assinatura espectral da classe Cel na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em azul celeste na composio R4 G5 B3

Figura 31 Fitofisionomia de campo limpo

40 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

CLASSE ESPECTRAL PvPradaria Verde Por representar um campo limpo verde, mesmo durante a estao seca e, portanto, diferente dos demais campos representados nas outras assinaturas espectrais, responde em alaranjado na composio R4 G5 B3.FOTOS: ANTONIO CONCEIO PARANHOS FILHO

Figura 32 Assinatura espectral da classe Pv na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em laranja na composio R4 G5 B3

Figura 33 Fitofisionomia de campo limpo, verde mesmo durante a estao seca, por sua proximidade a uma rea mida

CLASSE ESPECTRAL LagLagoas e corpos aquosos que no sejam rios.

Figura 34 Assinatura espectral de um lago na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em preto, na composio R4 G5 B3

Figura 35 Aude

CLASSE ESPECTRAL FiuRios.

Figura 36 Assinatura espectral de um rio (Sucuri) na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, em azul escuro tendendo ao preto, na composio R4 G5 B3

Figura 37 Rio Sucuri com vegetao ciliar (classe espectral For 1)

IMAGENS DE SATLITE 41

CLASSE ESPECTRAL Umirea mida (a exemplo de brejos). Na regio ocorre ainda um tipo peculiar de rea mida, denominado localmente de coval (Figuras 2 e 3), que possui esse mesmo tipo de assinatura espectral (ver tambm Captulo Flora, p. 52).THAIS GISELE TORRES

Figura 38 Assinatura espectral de uma rea mida na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 073, na composio R4 G5 B3

Figura 39 rea mida

CLASSE ESPECTRAL RifRefletantes Essa classe representa reas com alta refletncia em todas as bandas, por isso brancas. Em geral so zonas de campo baixo ou mesmo afloramentos de rocha e solos arenosos.

CLASSE ESPECTRAL BrQueimada Essa classe representa reas de queimada, natural ou no.

Figura 40 Assinatura espectral da classe Rif na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 074, em branco na composio R4 G5 B3

Figura 41 Assinatura espectral da classe Br na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 074, em preto na composio R4 G5 B3

CLASSE ESPECTRAL OrgSolos orgnicos Essa classe representa a exposio de solos escuros, geralmente orgnicos, correspondendo a zonas agrcolas.

Figura 42 Assinatura espectral da classe Org na cena Landsat 7 (sensor ETM+) rbita 224 ponto 074, em verde brilhante na composio R4 G5 B3

42 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

DISCUSSONa caracterizao da rea por meio de sensoriamento remoto, a relevncia desta anlise corroborar o observado em campo com a anlise de imagens de pocas diferentes, obtendo como resultado uma avaliao geral das mudanas significativas da cobertura vegetal da rea estudada.Tabela 3 reas ocupadas por classe espectral de cobertura do solo, em hectares, para a rea estudada (Fig. 11, Tab. 2)CLASSES ESPECTRAIS DE COBERTURA DO SOLO 1. Lat 1 2. Lat 2 3. Umi 4. Ver 1 5. Ver 2 6. Cel 7. Sujo 8. Pv 9. For 2 10. Cv 11. Lag 12. For 1 13. Br 14. Rif 15. Fiu 16. Org TOTAL

Como j mencionado, a rea vem sofrendo intensa modificao e grande parte da vegetao natural vem sendo substituda, sobretudo por aes antrpicas, conforme pode-se verificar na imagem Landsat 453 (alto rio Sucuri Fig. 1).

A partir das cartas de cobertura do solo pode-se relatar para a rea do Complexo Apor-Sucuri 16 tipos de classes espectrais de cobertura de solo num total de 4.809.535,10 hectares, sendo as de maior cobertura a Classe Espectral Sujo (campo sujo, 1.905.360,50), Ver 1 (campo limpo, 807.075,90) e Cv (cerrado, 767.643,20) como observado na Tabela 3. Vale lembrar, novamente, que classes de codificao para os diferentes tipos de fitofisionomia campo, embora no levantamento de sensoriamento sejam includas e classificadas como vegetao natural, muito provavelmente grande porcentagem do total de cobertura no seja mais natural e sim referente a modificao para pastagens, principalmente. Apesar disso, o sensoriamento remoto, ao fornecer dados muito importantes e ainda no existentes para a rea, poder subsidiar futuros estudos e tomadas de deciso quanto conservao e manejo do Complexo AporSucuri.

REA (Ha) 50.241,19 124.305,97 130.017,77 807.075,90 412.642,88 129.405,23 1.905.360,50 199.183,91 147.016,66 767.643,20 10.268,91 64.779,13 4.498,92 5.648,31 6.163,56 45.283,43 4.809.535,10

CONSIDERAES FINAISAs imagens Landsat (TM e ETM+) tm sido um meio til e preciso na identificao dos diferentes tipos de cobertura vegetal de Mato Grosso do Sul(PARANHOS FILHO, 2000; CARRIJO et al., 2002a; CARRIJO et al., 2002b; POLIZER, 2002).

de vegetao natural de forma bastante intensa. Isso faz com que a diversidade biolgica do local flora, fauna, ambientes, processos esteja sujeita a alteraes significativas. No entanto, verificou-se que, embora no esteja havendo conservao significativa dos diferentes tipos de cobertura de solo, ainda existem na rea fragmentos relativamente representativos (Figuras 4 e 5) que devem ser, urgente e prioritariamente, manejados e conservados. Alm disso, devem ser protegidos legalmente, para que os representantes da diversidade do bioma Cerrado sejam resguardados, assim como os importantes mananciais para o bioma e reas limtrofes.

O uso

de sensoriamento remoto representa economia de tempo e recursos. Sendo assim, optouse por incluir esse tipo de estudo dentro do subprojeto relativo anlise da biodiversidade da cobertura vegetal da rea, feita atravs de diferentes fisionomias do bioma Cerrado. A regio do Complexo Apor-Sucuri, conhecida regionalmente em Mato Grosso do Sul como Bolso, formada por municpios cuja atividade principal se concentra na agropecuria que vem tendo suas fronteiras cada vez mais expandidas, ocupando reas

IMAGENS DE SATLITE 43

EQUIPE EXECUTORAAntonio Conceio Paranhos Filho (Gelogo Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Roberto Macedo Gamarra (Bilogo), Teresa Cristina Stocco Pagotto (Biloga Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Thiago da Silva Ferreira (Bilogo), Thais Gisele Torres (Engenheira Ambiental), Humberto Jos Sepa de Matos Filho (Engenheiro Ambiental).

REFERNCIASABSABER, A. N. O domnio dos cerrados: introduo ao conhecimento. Fundao Centro de Formao do Servidor Pblico, v.3, n.4, p.41-45, 1983. ADMOLI, J. O Pantanal e suas relaes fitogeogrficas com os Cerrados: discusso sobre o conceito de Complexo do Pantanal. In: Congresso Nacional de Botnica , 32. 1981. Teresina, PI. Teresina: Sociedade Botnica do Brasil. 1982. Anais... p.109-119. CARRIJO, M. G. G.; PARANHOS FILHO, A. C.; IDE, C. N.; VAL, L. A. A.; LASTORIA, G.; OLIVEIRA, J. M. Z. P. S.; MONTEIRO, C. S. Levantamento de aspectos fsicos do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari (MS - Brasil). In: II Simpsio de Recursos Hdricos do Centro-Oeste. Campo Grande: UFMS (a), 2002. Anais... CARRIJO, M. G. G.; PARANHOS FILHO, A. C.; IDE, C. N.; VAL, L. A. A.; LASTORIA, G.; SEIXAS, G. H. F.; TORRECILHA, S.; MONTEIRO, C. S. Utilizao da legenda CORINE na caracterizao do tipo de uso e cobertura do solo (Land Cover) do Parque Estadual das Nascentes do Taquari - MS. In: III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao. Fortaleza, 2002. Anais... p. 195.(b). v. 1 ERDAS Inc. Erdas Imagine version 8.3.1. Erdas Inc. Atlanta Georgia, 1997. 1 CD ROM. GUPTA, R. P. Remote Sensing Geology. Springer-Verlag. Berlin Heidelberg. 1.ed. 1991. 356 p. LANDSAT 7 ETM+. Canais 1, 2, 3, 4, 5, 7 e pan. Curitiba: Engesat. Imagem de Satlite. rbita 223 ponto 073. CD ROM. De 03 de agosto de 2001 (a). LANDSAT 7 ETM+. Canais 1, 2, 3, 4, 5, 7 e pan. Curitiba: Engesat. Imagem de Satlite. rbita 223 ponto 074. CD ROM. De 03 de agosto de 2001 (b). LANDSAT 7 ETM+. Canais 1, 2, 3, 4, 5, 7 e pan. Curitiba: Engesat. Imagem de Satlite. rbita 224 ponto 073. CD ROM. De 10 de agosto de 2001 (c). LANDSAT 7 ETM+. Canais 1, 2, 3, 4, 5, 7 e pan. Curitiba: Engesat. Imagem de Satlite. rbita 224 ponto 074. CD ROM. De 10 de agosto de 2001 (d). LILLESAND, T. M.; KIEFER, R. W.; CHIPMAN, J. W. Remote Sensing and Image Interpretation. 5.ed. New York: John Wiley & Sons, Inc. 2004. 763 p. LOPES, A. S. Solos sob cerrado: caractersticas, propriedades, manejo. 2.ed. Piracicaba: Potafos, 1984. 162 p. PARANHOS FILHO, A. C. Anlise Geo-Ambiental Multitemporal: o estudo de Caso da Regio de Coxim e Bacia do Taquarizinho. 2000. 213 p. Tese de doutoramento - Curso de Ps-Graduao em Geologia, UFPR. POLIZER, M. Avaliao Ambiental Multitemporal da Cobertura do Solo na Bacia do Ribeiro Salobra MS. Campo Grande, 2002. 61 p. Dissertao de Mestrado - Curso de Ps-graduao em Tecnologias Ambientais, UFMS. RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina, DF: EMBRAPA-CPAC, 1998. xii + 556 p. SILVA, M. P.; MAURO, R.; MOURO, G.; COUTINHO, M. Distribuio e quantificao de classes de vegetao do Pantanal atravs de levantamento areo. Revista Brasileira de Botnica, So Paulo, V.23, n.2, p.143-152, jun, 2000.

44 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Fig. 2 Utricularia amethystina (Lentibulariaceae)

Fig. 3 Fruto de Eugenia pyriformis (Myrtaceae)

Fig. 4 Prockia crucis (Flacourtiaceae)

Fig. 5 Esterhazya splendida (Scrophulariaceae)

Fig. 6 Inflorescncias de Langsdorffia hypogaea, parasita de razes

Fig. 7 Frutos da cactcea Epiphyllum phyllanthus

Fig. 8 Mitostemma brevifilis (Passifloraceae)

Fig. 9 Drosera communis (Droseraceae) entre eriocaulceas

46 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

Inventrio das Angiospermas no Complexo Apor-SucuriArnildo Pott Vali Joana Pott Alan Sciamarelli ngela Lcia Bagnatori Sartori Ubirazilda Maria Resende Edna Scremin-Dias Eliane de Lima Jacques Sonia Aragaki Jimi Naoki Nakajima

RESUMOOs inventrios florsticos so prioritrios e fundamentais para fornecer subsdios conservao da biodiversidade. O Complexo Apor-Sucuri rea indicada como prioritria para inventrio da biodiversidade possui cerca de dois milhes de hectares e apresenta alguns dos subtipos que integram o bioma Cerrado, e abriga as nascentes dos rios Sucuri, Apor e Quitria. Nesta Avaliao Ecolgica Rpida, inicialmente foi elaborada a descrio das fitofisionomias e o registro fotogrfico. Para a anlise da composio florstica utilizaram-se observaes diretas e coleta de material botnico em trs pontos amostrais (um dia de coleta por ponto), em cada um dos oito stios selecionados. Foram amostrados fragmentos de cerrado, cerrado, veredas, campos, mata de galeria, ciliar, florestas estacionais e vastas reas midas um tipo particular de vereda denominado regionalmente coval. Foram registrados 2.193 espcimes de angiospermas, distribudas em 130 famlias botnicas, sendo registrados 616 gneros e 1.579 espcies. Destas, as plantas aquticas ou palustres anfbias e emergentes so representadas por 57 famlias, 163 gneros e 338 espcies. As famlias com o maior nmero de espcies so Fabaceae (191 espcies), Poaceae (121 spp), Asteraceae (93 spp), Cyperaceae (75 spp) e Rubiaceae (64 spp); 30 famlias tm apenas um representante coletado. Dentre as espcies registradas, 15 encontramse sob algum nvel de ameaa em outros Estados brasileiros, mas para a flora sul-mato-grossense no h, at o momento, informaes suficientes. Foi encontrada uma espcie endmica e vrias novas ocorrncias. Quanto riqueza de espcies, o Stio 8 apresenta o maior valor, totalizando 286 espcies, seguido pelo Stio 7 com 234 e o Stio 3 com 214. A riqueza no Stio 8 devida a um ponto de amostragem adicional e provavelmente est relacionada ocorrncia de diversas fitosionomias. Este trabalho representa valiosa contribuio para a caracterizao das formaes vegetacionais dos ambientes sul-mato-grossenses, gerando conhecimento novo principalmente quanto florstica alm de fortalecer os acervos dos herbrios sulmato-grossenses. Indicam-se aes emergenciais quanto preservao dos remanescentes de vegetao, principalmente a criao de uma Unidade de Conservao na rea denominada coval.

Rosana Romero Ana Cristina de Meira Cristaldo Geraldo Alves Damasceno-Junior

INTRODUOAs angiospermas constituem o grupo de plantas mais representado em colees botnicas, tendo sido mais intensamente coletadas devido a sua importncia econmica, abundncia e dominncia ecolgica (SHEPHERD, 1998). Entretanto, ainda existem muitas lacunas no conhecimento desse grupo de plantas, onde muitas famlias (e.g. Asteraceae, Poaceae e Cyperaceae) continuam pouco conhecidas enquanto outras apresentam grandes dificuldades taxonmicas e necessitam de coletas e estudos mais intensos (e.g. Myrtaceae, Rubiaceae, Cyperaceae e Bromeliaceae). As plantas com flores diferem das demais notavelmente em abundncia e estima-se que cerca de 250.000 espcies j se encontram formalmente descritas no mundo. Destas, 55.000 ocorrem em territrio nacional (SHEPHERD, 1998), o que confere ao Brasil extraordinria diversidade. A flora brasileira, com cerca de 14% da diversidade de plantas do mundo, teve a sua primeira publicao abrangente na Flora Brasiliensis sculo XIX e, atualmente, esforos se intensificam para a catalogao de floras regionais. Dessa forma, tornam-se prioritrios os estudos de inventrios florsticos como base fundamental para fornecer subsdios conservao da biodiversidade brasileira. No Brasil, at o momento, foram realizadas monografias sobre a flora de Bahia, Gois (e Tocantins), Rio Grande do Sul, Santa Catarina e So Paulo. No Centro-Oeste, os estudos de Cerrado basicamente centraramse em levantamentos florsticos e fitossociolgicos, destacando-se ASKEWet al. (1970, 1971), EITEN (1975), RATTER et al. (1973), PINTO & OLIVEIRA FILHO (1999), RATTER (1987), RATTER et al. (1988), PRANCE & SCHALLER (1982), OLIVEIRA FILHO &

PALAVRAS-CHAVE Florstica, Mato Grosso do Sul, nascentes, veredas, Cerrado, biodiversidade brasileira.Imagem de abertura (Fig. 1): Stachytarpheta gesnerioides (Verbenaceae) Fotos: Paulo Robson de Souza (Figuras 1 a 7 e 9); Eduardo Camargo (Fig. 8).

entre outros. Porm, considerando a extensa rea dessa regio, tais estudos esto FLORA 47

MARTINS (1986, 1991), FURLEY et al. (1988), FELFILI & SILVA JR. (1993),

aqum do necessrio para se elaborar com segurana uma listagem geral das suas plantas. Mais recentemente esto surgindo publicaes de pesquisas sobre impactos antrpicos na vegetao, por exemplo de reas midas do Cerrado (MEIRELLES et al., 2004), de especial interesse para este inventrio. Embora o Mato Grosso do Sul seja considerado um bolso de vegetao , possui vastas extenses de Cerrado que ocupam mais da metade do seu territrio, alm do Pantanal, das florestas e das diferentes reas de ectonos ainda pouco explorado pela cincia: o Estado brasileiro com menor ndice de coletas por quilmetro quadrado da Regio Centro-Oeste (PEIXOTO, 2003), o que dificulta o conhecimento dos provveis endemismos (alm de Casimirella lanata, encontrado neste levantamento ver p. 61) e da composio florstica das diferentes unidades de vegetao. O bioma Cerrado em Mato Grosso do Sul tem sido modificado pela intensa ao antrpica, resultando em grandes perdas de sua diversidade biolgica e na fragmentao de sua paisagem natural (ver imagens de satlite, pp. 31 a 42). Alm disso, o reduzido nmero de reas

protegidas do Cerrado no suficiente para garantir a conservao adequada desse importante bioma brasileiro, que recobre cerca de 23% de todo territrio nacional (RIBEIRO & WALTER, 1998) e 65% do Mato Grosso do Sul (MATO GROSSO DO SUL, 1989). No entanto, em reas indicadas pelo PROBIO como sendo prioritrias para estudos de inventrios, ainda podem ser observados os subtipos que integram o bioma Cerrado. o caso da regio do Complexo AporSucuri, onde podem ser encontrados fragmentos de cerrado, cerrado, veredas, campos, mata de galeria, ciliar, florestas estacionais e reas midas (Fig. 10), totalizando cerca de dois milhes de hectares. O presente levantamento contribui na caracterizao dessas formaes vegetacionais e apresenta listagens florsticas por fisionomia, evidenciando a grande diversidade de espcies da regio, sobretudo nos ambientes sul-mato-grossenses. O grande nmero de coletas botnicas possibilitou a ampliao e o fortalecimento dos acervos dos herbrios desse Estado e das instituies participantes, bem como a gerao de conhecimento para o resgate da histria evolutiva dos grupos de plantas.

Figura 10 Distribuio de fitofisionomias por stio amostrado

48 BIODIVERSIDADE DO COMPLEXO APOR-SUCURI

METODOLOGIAPara descrio da fisionomia das formaes vegetacionais do Complexo Apor-Sucuri utilizou-se o mtodo de observao direta e registros fotogrficos. As informaes bsicas sobre a estrutura da vegetao foram anotadas em fichas descritivas elaboradas especificamente para esse fim, utilizando a terminologia adotada por RIBEIRO & WALTER (1998). A anlise da composio florstica foi realizada por meio de observaes e coletas de material botnic