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Biotecnologia, DIREITO E ÉTICA Rafael Tallarico Gleison José Pereira Martins

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Page 1: BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA Gleison José Pereira Martins · 14. O Genoma Humano e a Nova Ciência 191 15. Pesquisas com Células-Tronco 199 16. Manipulação Genética Humana

A contextualização do suprimento das necessidade humanas é item indispensável nas Constituições

Ocidentais. Desde a Revolução Francesa de 1789, desenvolve-se o entendimento segundo o qual as políticas de Estado devem ser precedidas pelo debate da causa humanitária. Todos são livres, mas primeiro devem ser iguais formalmente.

Platão anuncia o “imperativo” da edu-cação como condição mínima de con-vivência social e condução política. No Estado de Direito Contemporâneo esta é uma assertiva � xa e nunca pode ser afastada de qualquer legislatura. É um princípio cientí� co.

Epistemologicamente a biotecnologia acaba por re� etir a condição humana nos tempos atuais, que visa o incre-mento do saber e principalmente o be-nefício humano.

A regulamentação da biotecnologia, em nível internacional, deve se pautar pelos paradigmas universais dos direi-tos do homem, previstos na Carta da ONU de 1945 e na Declaração de Direi-tos do Homem e do Cidadão de 1948.

Assegurar a dignidade humana é aten-der ao comando evolutivo do direcio-namento cientí� co, que vêm desde a Grécia Antiga, com a igualdade formal, passando por Roma, com os Direitos da Personalidade e a partir da Ilustração com a centralização no homem das atenções cientí� cas e políticas. É um caminhar axiológico do interesse pelo conhecimento, que não está apenas na natureza, mas no próprio homem.

O Estado racional é o Estado do conhe-cimento, para a difusão dos benefícios para a vida humana.

A ciência é o instrumento de me-lhoramento da condição humana ao longo de toda a História. Nos

tempos antigos, o acesso à medicina, por exemplo, era apenas para uma elite detentora de riquezas e poder. Nos dias atuais, é condição fun-damental de vida.

Kant fala no imperativo categórico, que implica na conciliação dos arbítrios individuas e coleti-vos para o respeito da máxima universal, que é, na verdade, o conceito de liberdade, no seu as-pecto evolutivo, permeado pela Justiça, maior de todas as virtudes, como assevera Platão.

À ciência é outorgado o papel de favorecimento da condição humana. A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no artigo 1º, inciso III, indica a prevalência da dignidade humana sob qualquer outro instituto social, econômico, político e cultural. É a evolução do conceito de liberdade, com expres-são em nível constitucional.

Os limites éticos não podem ser ultrapassados. Durante toda a História, o desrespeito ao justo esvazia o discurso e enfra-quece as relações humanas. A ciência existe para o proveito do homem, não o homem para o proveito da ciência.

O avanço do conhecimento deve ser contínuo, como é da essência da natureza humana. O benefício deve ser global, para a preservação da espécie humana e para o progresso da qualidade de vida, sempre com o reconhecimento do outro.

Esta é uma obra que busca resgatar � loso� camente o desen-volvimento biotecnológico através de uma análise crítico- cons-trutiva. O Estado de Direito Contemporâneo é o máximo ético, no qual se encontram resguardadas as garantias fundamentais da pessoa humana, principalmente a vida e a própria melhoria das condições de vida, para o bem comum. Este é o destino da existência racional e a vontade de Deus.

RAFAEL TALLARICOGraduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais. Advogado militante na área empresarial e criminal. É professor de Direito Internacional Público, Direito Econômico, Filoso� a do Direito, Hermenêutica e Sociologia Jurídica das Facul-dades Asa de Brumadinho/MG e de Sabará/MG. Orienta monogra� as e trabalhos cientí� cos jurí-dicos e possui artigos publicados na Revista Asa - Palavra. É autor dos livros “Estado e Soberania: Perspectivas no Direito Internacional Contempo-râneo”, “A Liberdade de Expressão da Opinião Pú-blica”, “Educação e Cidadania: Evolução Histórica e Paradigmas Contemporâneos” e coordenador e autor da obra “História da Filoso� a Ocidental: da Pólis Grega ao Estado de Direito Contemporâ-neo”, todos pela Editora D`Plácido.

GLEISON JOSÉ PEREIRA MARTINSGraduando do 10º período do curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG.

Rafael Tallarico Gleison José Pereira M

artins

Biotecnologia, DIREITO E ÉTICA

Rafael TallaricoGleison José Pereira Martins

ISBN 978-85-67020-90-7

BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA

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Biotecnologia,

Direito e ÉticaRafael Tallarico

Gleison José Pereira Martins

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Copyright © 2014, D’ Plácido EditoraCopyright © 2014, Os autores.

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa e DiagramaçãoTales Leon de Marco

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora.

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

Tallarico, Rafael; Martins, Gleison José Pereira.Biotecnologia, Direito e Ética -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2014.

BibliografiaISBN: 978-85-67020-90-6

1. Biotecnologia 2. Direito 3. Ética I. Título II. Biotecnologia III. Regulamen-tação IV. Rafael Tallarico V. Gleison José Pereira Martins.

CDU34+60 CDD 340

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843 , SavassiBelo Horizonte - MGTel.: 3261 2801CEP 30140-002

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Duas coisas me enchem o espírito de admiração e de reverência sempre nova e crescente, quanto mais frequente e longamente o pensamento nelas se detém:

o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim. (Kant)

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Dedicamos esta obra primeiramente a Deus e aos queridos pais.

Dedico também esta obra à D. Emirena Ribeiro Tallarico (in memória) pelo exemplo de vida e carinho. (R)

Dedico esta obra à doce amiga Francyely Monteiro pelo companheirismo.(G)

Faço uma homenagem ao Dr. José Nascentes Coelho (in memória), pela ele-gância do saber (R).

Homenageio o Dr. Arthur José de Almeida Diniz, professor da Pós- Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, pelo companheirismo

incondicional (R).

Homenageio a Dra. Maria Helena Damasceno e Silva Megale, professora da Pós- Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais

pelo dom da compreensão.(R)

Homenageio a Dra. Wilba Lúcia Maia Bernardes e o Dr. Hermes Vilchez Guerrero pela atenção e paciência de ouvir.(R)

Homenageio o Ilustre Professor Gustavo Hermont Corrêa, que com sua prudência e saber engrandece o conhecimento acadêmico. (G)

Agradecemos à CBMM, em especial ao amigo JDVITAL, pela contribuição para a concretização da idéia que gerou este livro.

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Sumário

1. Introdução 132. Breve Histórico da Humanidade 193. Dados importantes da formação da razão (Conhecimento)

do Homem – O conhecimento humano segundo Kant 233.1. A formação do conhecimento 25

3.1.2 O itinerário espiritual de Kant nos escritos pré-críticos 263.1.3 A “grande luz” de 1769 e a Dissertação de 1770 283.1.4 A Crítica da Razão Pura 283.1.5 A analítica dos princípios: o esquematismo transcendental e o sistema de todos os princípios do intelecto puro ou a fundamentação transcendental da física newtoniana 423.1.6 A distinção entre fenômeno e número, a “coisa em si” 423.1.7 A dialética transcendental 43

4. A crítica da razão prática e a ética de Kant 514.1 O conceito de “razão prática” e os objetivos da nova Crítica 554.2 A colocação da lei moral como imperativo categórico 574.3 A essência do imperativo categórico 584.4 As fórmulas do imperativo categórico 584.5 A liberdade como condição e fundamento da lei moral 594.6 O princípio da “autonomia moral” e seu significado 594.7 O “bem moral” e a “tipicidade do juízo” 59

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4.8 O “rigorismo” e o hino kantiano ao “dever” 594.9 Os postulados da razão prática e o primado da razão prática em relação à razão pura 60

5. A crítica do juízo 615.1 A posição da terceira crítica em relação às outras 615.2 Juízo determinante e juízo reflexivo 615.3 Juízo estético 625.4 A concepção do sublime 625.5 O juízo teleológico e as conclusões da Crítica do juízo 62

6. A justiça proposta por Kant 637. Momentos históricos importantes no desenvolvimento

social mundial de acordo com Hegel 697.1 A razão segundo Hegel 747.2 Hegel e o significado da história 89

8. Algumas ponderações acerca da liberdade na filosofia 939. A Revolução 103

9.1. A Revolução Francesa: sua importância na liberdade e a formação do Estado racional 114

10. Pessoa Humana 13111. Da Bioética ao Biodireito 137

11.1 A Bioética 14211.1.1 Princípio do respeito à autonomia 14411.1.2 Princípio da não maleficência 14611.1.3 Princípio da beneficência 14611.1.4 Princípio da justiça 147

11.2 Autonomia e os imperativos categóricos: o cerne da biotecnologia 14911.3 Breve histórico do Biodireito no mundo 15211.4 Princípios gerais e específicos do Biodireito 15311.5 O fundamento jurídico do Biodireito 155

12. Breves apontamentos acerca das teorias do surgimento do homem 157

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13. Dados Genéticos 16713.1 DNA (Ácido Desoxirribonucleico) RNA (Ácido Ribonucleico) 174

13.1.1 DNA (Ácido desoxirribonucleico) 17413.1.2 Danos ao DNA 18013.1.3 Transcrição e tradução 18113.1.4 Elucidação da composição química (história) 18213.1.5 Engenharia Genética 18313.1.6 Medicina Forense 18513.1.7 Bioinformática 18613.1.8 Nanotecnologia de DNA 187

13.2 Ácido Ribonucleico (RNA) 18814. O Genoma Humano e a Nova Ciência 19115. Pesquisas com Células-Tronco 19916. Manipulação Genética Humana 20117. Direitos da Personalidade 20318. A Bioética e o Conceito de Pessoa 219

18.1 A ética médica e de enfermagem, a ética filosófica e a ética religiosa 22318.2 A pessoa e a Bioética 22418.3 Limites éticos da manipulação genética humana 22518.4 A ética e a bioética 22718.5 O Biodireito: um novo paradigma sobre as práticas biotecnológicas 232

Considerações Finais 241Referências 245

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1Introdução

A presente obra foi desenvolvida em torno das ciências do Biodireito e da Bioética. Os temas aqui abordados decorrem das práticas de Biotecnologia desencadeadas pela Revolução Biotecnológica que se acentuou no final do século XIX e início do século XX.

Esta obra chama atenção do leitor para aspectos peculiares que envol-vem a biotecnologia, a pessoa (seja agente ativo do ato, isto é, aquele que desenvolve e aplica a prática biotecnológica, seja o agente passivo, é dizer, que é submetido ou recebe, mesmo que indiretamente, evento decorrente da biotecnologia), a Ética, a Bioética e o Biodireito.

A evolução da biotecnologia suplanta em muito a evolução legislativa, motivo pelo qual se observa, neste trabalho, a preponderância da filosofia e da hermenêutica, que constituem ciências primordiais na aplicação do Biodireito para tutelar as relações entre os seres vivos e a biotecnologia.

Durante a evolução da pessoa nos diferentes séculos, serão pontuados traços importantes da evolução histórica do homem, utilizando, para tanto, conhecimentos da Filosofia da História e da Filosofia do Direito.

O Conceito a ser construído no decorrer do livro é de extrema impor-tância para poder trabalhar de forma consistente a outra parte do estudo, qual seja: os Dados Genéticos Humanos (Ácido Desoxirribonucleico – DNA e Ácido Ribonucleico – RNA).

É no decorrer da construção do conceito de pessoa que se tentará demonstrar a influência, não só da cultura, mas também da Revolução Biotecnológica na formação da personalidade humana.

A formação de um homem livre se deu apenas por influência cultural ou por instinto humano, delimitado e coordenando pela carga genética? A proteção jurídica do DNA e RNA, atualmente regulamentada pela Lei de Biossegurança, é suficiente para proteger o futuro da humanidade segundo a concepção natural do ser, da engenharia genética avançada, que poderá

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transmutar a formação de um ser escolhido pela seleção natural ao inserir no contexto histórico um organismo totalmente recriado e reconstruído em laboratório?

Tais questionamentos são de extrema importância no atual contexto da humanidade, haja vista o avançar da engenharia genética na busca pela criação de um ser “perfeito” e de uma forma adequada de vida.

Não obstante, as atuais práticas da biotecnologia estarem voltadas para o bem, trazendo mais qualidade de vida para a pessoa humana, a busca pela nova acepção de pessoa poderá levar à segregação intelectual, causando, assim, um preconceito genético que poderá levar ao fracasso da sociedade até aqui construída.

A discussão no campo filosófico será a mais adequada, porquanto a formação humana se dá nesse contexto. É a filosofia a vereda destinada a estudar a formação do conhecimento humano, bem como as relações entre esses seres, sendo, pois, os filósofos os grandes pensadores responsáveis por instruir o ser humano a buscar um mundo social livre, não de forma absoluta, uma vez que existem normas coercitivas que foram criadas justamente para poder garantir a liberdade humana.

A libertação física e moral do ser humano da submissão da igreja e do reinado dos antigos impérios teve papel fundamental na formação do inte-lecto humano.

Durante vários séculos, o homem se viu preso em si mesmo. Contudo, a partir do século das luzes e, mais precisamente, com a Revolução Francesa, a liberdade humana transcende o indivíduo, porém não tal qual é concebida hoje; aquele, contudo, foi o início do verdadeiro reinado do homem sobre si mesmo.

Tal liberdade hoje encontra seu maior limite na lei moral, todavia esta não é suficiente para poder limitar toda a vontade, menos ainda coibir todos os seres, fazendo-os deixar de possuir condutas que podem causar danos a outras pessoas.

Esse limite moral talvez não seja suficiente para que o ser humano, ou melhor, alguns seres, com tecnologia e conhecimentos de sobra, deixem a genética selecionar por si só a evolução biológica humana.

Um ordenamento jurídico preciso e claro, no atual contexto da biotec-nologia, preconizado pela Bioética e pelo Biodireito, se mostra fundamental para tutelar a vontade humana no avançar da ciência, uma vez que apenas a lei moral não é suficientemente eficaz na condução de tal ato.

A coerção legislativa limitando a vontade e liberdade natural é a base para que uma sociedade possa viver em perfeita harmonia dentro de um contexto de paz social que é almejada desde os primórdios da sociedade humana.

A manipulação genética e as incansáveis pesquisas referentes aos dados de DNA e RNA humano consistem em um passo gigante dado pela hu-

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manidade – e continua sendo, principalmente ao tratar de doenças graves e degenerativas que acometem o ser humano. Porém, tais avanços deverão respeitar princípios humanos indisponíveis, como o princípio da dignidade humana. Não se pode, portanto, valer-se de técnicas de engenharia genética no intuito de fazer uma seleção laboratorial do ser.

Dentro de todo esse contexto é que será desenvolvida a pesquisa com o objetivo de orientar futuros pesquisadores do Direito na elaboração de normas voltadas para a proteção de toda a formação humana até aos dias atuais. O conceito de pessoa, criada e desenvolvida por meio de uma seleção natural, poderá sofrer sérios impactos, caso esses mesmos seres passem a ser concebidos por meio de uma seleção genética perfeita por meio da engenharia genética.

As pesquisas de possíveis danos nesse sentido ainda não são conhecidas, assim, objetivar-se-á demonstrar a evolução conceitual da pessoa humana como ser livre, justo e solidário, tutelado por uma sociedade de direito. Li-berdade esta que culminou com o ser racional que passou a se desenvolver intelectualmente, vertendo forças para o campo das pesquisas biológicas, que hoje, diante do aparato biotecnológico, criado pelo homem, graças à sua evolução, principalmente no campo da liberdade, poderá intervir de forma precisa no corpo humano, prolongando situações de bem-estar físico, psíquico e – por que não dizer – social. A evolução biotecnológica chegou à micro e à nanotecnologia. Todo esse conhecimento humano há de ser pautado em princípios que possam garantir a existência humana.

Para tanto, mister será a análise do contexto histórico da formação da cultura humana e, consequentemente, da sociedade, ressaltando o contex-to desencadeado pela Revolução Francesa como início da condução pelo homem de sua liberdade pura, ora estabelecida durante o séculos das luzes.

Durante o desenvolvimento da presente obra, os aspectos da organização política e constitucional da sociedade internacional será demonstrado pau-latinamente, principalmente ao tratar de conceitos como Liberdade, Estado, Soberania e Família.

O marco responsável traçado pelo conhecimento humano, pautado na liberdade, na medicina e em suas práticas evolucionistas direcionadas à biotecnologia, conhecidos como manipulação genética humana, constituem preceitos basilares da formação da atual sociedade, por isso a importância de os operadores do Direito se debruçarem sobre esse incansável tema, buscando a garantia da dignidade da pessoa humana.

Em que pese a normatização jurídica do Biodireito estar dando os pri-meiros passos neste novo campo de atuação do Direito, a sociedade jurídica deverá analisar a ética como marco primordial da biotecnologia genética, fazendo uma construção hermenêutica capaz de satisfazer a lacuna legislativa aberta nesse novo contexto.

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Com o desenvolvimento cultural humano, as práticas evolucionistas do pensamento filosófico, a vontade natural da liberdade, dentre outras, desenca-dearam movimentos revolucionários mundo afora em busca de um ser livre.

Com a liberdade, vieram deveres, responsabilidades que devem ser res-peitadas para que a sociedade se garanta e desenvolva, sem mais restringir direitos naturais como outrora.

O homem, como ser livre que é, passa, então, a encontrar limites na moral, na ética, no seu eu interior, sendo que, somente assim, poderia criar uma sociedade ideal, preconizada pelos grandes pensadores do mundo que instigaram a luta pela liberdade humana.

Diante de um contexto de ser livre, o homem pode fazer o que quiser, porém o sucesso de sua liberdade consiste em abrir mão de parte de sua liberdade (autonomia da vontade), para que a sociedade humana possa so-breviver e desenvolver-se.

O homem livre, por encontrar diversas barreiras biológicas, enveredou--se na busca de conhecimentos que pudessem garantir a sua sobrevivência no planeta. Então, livre para agir, engaja na interpretação do corpo humano.

Pensamentos que outrora eram inconcebíveis passam a fazer parte do contexto humano, e a descoberta dos dados genéticos humanos, DNA e RNA, constitui o marco de uma nova sociedade e de um novo conceito de pessoa.

Para que esta nova sociedade possa perpetuar com segurança e liberdade, os limites impostos à mesma devem ser redobrados, mas no plano moral, ético e jurídico, sob pena de retrocesso.

Os grandes avanços Biotecnológicos das últimas décadas propiciaram o surgimento de muitas dúvidas, principalmente no que tange àquelas práticas de engenharia genética que buscam otimizar a carga somática humana, ou seja, que manipulam diretamente o DNA humano, seja para buscar curas para algumas doenças, seja para construir um ser geneticamente perfeito, tal como foi preconizado no filme Gattaga. Ademais, esse filme relata os danos que podem decorrer da modificação exacerbada do ser humano.

É por certo que a ficção científica está muito à frente da atual realidade, porém praticas biotecnológicas já modificam organismos vegetais, os conheci-dos Organismos Geneticamente Modificado – OGM, que são popularmente conhecidos como transgênicos.

A preocupação do legislador em coibir práticas maliciosas de mani-pulação genética encontra previsão na Lei de Biossegurança, entretanto tal diploma legislativo não consegue por si só acompanhar o desenvolvimento da engenharia genética, nem mesmo o próprio legislador é capaz de tratar precisamente de cada tema novo.

O Direito Natural, a lei moral, as normas do Conselho Federal de Medicina, esses são os principais aliados no controle do desenvolvimento da

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engenharia genética. Sendo assim, é de suma importância que tal assunto seja objeto de discussões junto à Filosofia, que buscará trazer conceitos e limites outrora criados, que possam tolher a autonomia da vontade em respeito ao bem social, à perpetuação da própria sociedade, da vida.

A engenharia genética é meio capaz de tornar a vida humana mais digna, mas há de ser desenvolvida obedecendo parâmetros deônticos, filosóficos, sociológicos, legais, enfim, um vasto campo de regras, sejam naturais ou não. No entanto, as normas coercitivas não têm se mostrado eficazes diante desse novo ramo do Direito, qual seja, o Biodireito.

Certamente, a ineficácia legislativa se dá porque o legislador não conse-gue acompanhar o desenvolvimento da engenharia genética; logo, caberá ao intérprete do Direito, diante das normas, coibir abusos que podem implicar desvios de condutas socialmente validados por uma cultura.

Entendida a importância da história, do exegeta e de normas deontoló-gicas para este novo ramo, a tutela do bem da vida poderá encontrar guarida, garantindo, assim, um desenvolvimento de estudos e projetos genéticos que não venha a ferir normas constitucionais e de Direito Natural.

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A contextualização do suprimento das necessidade humanas é item indispensável nas Constituições

Ocidentais. Desde a Revolução Francesa de 1789, desenvolve-se o entendimento segundo o qual as políticas de Estado devem ser precedidas pelo debate da causa humanitária. Todos são livres, mas primeiro devem ser iguais formalmente.

Platão anuncia o “imperativo” da edu-cação como condição mínima de con-vivência social e condução política. No Estado de Direito Contemporâneo esta é uma assertiva � xa e nunca pode ser afastada de qualquer legislatura. É um princípio cientí� co.

Epistemologicamente a biotecnologia acaba por re� etir a condição humana nos tempos atuais, que visa o incre-mento do saber e principalmente o be-nefício humano.

A regulamentação da biotecnologia, em nível internacional, deve se pautar pelos paradigmas universais dos direi-tos do homem, previstos na Carta da ONU de 1945 e na Declaração de Direi-tos do Homem e do Cidadão de 1948.

Assegurar a dignidade humana é aten-der ao comando evolutivo do direcio-namento cientí� co, que vêm desde a Grécia Antiga, com a igualdade formal, passando por Roma, com os Direitos da Personalidade e a partir da Ilustração com a centralização no homem das atenções cientí� cas e políticas. É um caminhar axiológico do interesse pelo conhecimento, que não está apenas na natureza, mas no próprio homem.

O Estado racional é o Estado do conhe-cimento, para a difusão dos benefícios para a vida humana.

A ciência é o instrumento de me-lhoramento da condição humana ao longo de toda a História. Nos

tempos antigos, o acesso à medicina, por exemplo, era apenas para uma elite detentora de riquezas e poder. Nos dias atuais, é condição fun-damental de vida.

Kant fala no imperativo categórico, que implica na conciliação dos arbítrios individuas e coleti-vos para o respeito da máxima universal, que é, na verdade, o conceito de liberdade, no seu as-pecto evolutivo, permeado pela Justiça, maior de todas as virtudes, como assevera Platão.

À ciência é outorgado o papel de favorecimento da condição humana. A própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no artigo 1º, inciso III, indica a prevalência da dignidade humana sob qualquer outro instituto social, econômico, político e cultural. É a evolução do conceito de liberdade, com expres-são em nível constitucional.

Os limites éticos não podem ser ultrapassados. Durante toda a História, o desrespeito ao justo esvazia o discurso e enfra-quece as relações humanas. A ciência existe para o proveito do homem, não o homem para o proveito da ciência.

O avanço do conhecimento deve ser contínuo, como é da essência da natureza humana. O benefício deve ser global, para a preservação da espécie humana e para o progresso da qualidade de vida, sempre com o reconhecimento do outro.

Esta é uma obra que busca resgatar � loso� camente o desen-volvimento biotecnológico através de uma análise crítico- cons-trutiva. O Estado de Direito Contemporâneo é o máximo ético, no qual se encontram resguardadas as garantias fundamentais da pessoa humana, principalmente a vida e a própria melhoria das condições de vida, para o bem comum. Este é o destino da existência racional e a vontade de Deus.

RAFAEL TALLARICOGraduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. É mestre em Direito e Justiça pela Universidade Federal de Minas Gerais. Advogado militante na área empresarial e criminal. É professor de Direito Internacional Público, Direito Econômico, Filoso� a do Direito, Hermenêutica e Sociologia Jurídica das Facul-dades Asa de Brumadinho/MG e de Sabará/MG. Orienta monogra� as e trabalhos cientí� cos jurí-dicos e possui artigos publicados na Revista Asa - Palavra. É autor dos livros “Estado e Soberania: Perspectivas no Direito Internacional Contempo-râneo”, “A Liberdade de Expressão da Opinião Pú-blica”, “Educação e Cidadania: Evolução Histórica e Paradigmas Contemporâneos” e coordenador e autor da obra “História da Filoso� a Ocidental: da Pólis Grega ao Estado de Direito Contemporâ-neo”, todos pela Editora D`Plácido.

GLEISON JOSÉ PEREIRA MARTINSGraduando do 10º período do curso de Direito da Faculdade Asa de Brumadinho/MG.

Rafael Tallarico Gleison José Pereira M

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Biotecnologia, DIREITO E ÉTICA

Rafael TallaricoGleison José Pereira Martins

ISBN 978-85-67020-90-7

BIOTECNOLOGIA, DIREITO E ÉTICA

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