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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO ROQUE ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS PARA PRODUÇÃO DA ENZIMA TANASE UTILIZANDO TÉCNICA DE FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO CAMILA FERNANDA SOARES

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ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS PARA PRODUÇÃO DA ENZIMA TANASE UTILIZANDO TÉCNICA DE FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO

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Page 1: CAMILA FERNANDA SOARES

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO ROQUE

ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS PARA PRODUÇÃO DA ENZIMA TANASE UTILIZANDO TÉCNICA DE FERMENTAÇÃO EM

ESTADO SÓLIDO

CAMILA FERNANDA SOARES

SÃO ROQUE - SP2014

Page 2: CAMILA FERNANDA SOARES

CAMILA FERNANDA SOARES

Isolamento de microrganismos para produção da enzima tanase utilizando técnica de fermentação em estado sólido

São Roque2014

Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciada em Ciências Biológicas. Do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Campus São Roque, sob orientação da Professora Doutora Vania Battestin Wiendl.

Page 3: CAMILA FERNANDA SOARES

S11 Soares, Camila Fernanda

Isolamento de microrganismos para a produção da enzima tanase utilizando técnica de fermentação em estado sólido. / Camila Fernanda Soares. – 2014. 39 f.: il.; 30cm Orientador: Profª. Drª. Vânia Battestin Wiendl

TCC (Graduação) apresentada ao curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal de São Paulo – Campus São Roque, 2014.

1. Tanase 2. Fermentação sólida 3. Microrganismos I. Soares, Camila Fernanda II. Título

CDD: 574

Page 4: CAMILA FERNANDA SOARES

CAMILA FERNANDA SOARES

Isolamento de microrganismos para produção da enzima tanase utilizando técnica

de fermentação em estado sólido

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Licenciatura em

Ciências Biológicas ao Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia -

Campus São Roque, pela seguinte banca examinadora:

ORIENTADOR:

_______________________________________

Professora Doutora Vania Battestin Wiendl

Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia - Campus São José dos

Campos.

1º EXAMINADOR :

_______________________________________

Professor Doutor Sandro José Conde

Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia - Campus São Roque

2º EXAMINADOR:

_______________________________________

Professora Doutora Silvana Hadad

Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia-Campus São Roque

Page 5: CAMILA FERNANDA SOARES

SUPLENTE

________________________________________

Professor: MSC. Vanderlei Idelfonso

SUPLENTE

________________________________________Professor:

São Roque/ SP, 11 de dezembro de 2014

Page 6: CAMILA FERNANDA SOARES

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela proteção, força, por todas as suas bençãos e pelo dom da vida;

A minha Família que foram meus incentivadores em todas as etapas da

minha vida, sempre transmitindo amor e carinho. Em especial a minha mãe

que sempre me ajudou e cuidou da minha filha, quando eu não estava

presente, dando amor incomparável e insubstituível. A minha filha Beatriz que

é o que tenho de mais valioso na minha vida!

Aos meus amigos, que foram minha segunda família demonstrando carinho

e respeito, em especial a Caroline que sempre me ajudou na realização do

projeto.

Aos técnicos de laboratório que tiveram muita disposição e empenho para

a realização das atividades no laboratório.

A esta Instituição, seu corpo docente, direção e administrativo. Um

agradecimento especial a minha orientadora que esteve sempre empenhada

em realizar o trabalho da melhor forma e apoiando sempre o desenvolvimento

deste e outros trabalhos.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro.

Enfim, a Todas as pessoas que contribuíram para este na construção deste.

A banca examinadora, obrigada por todas as orientações e análise do

trabalho e participação desta etapa tão importante.

Meu MUITO OBRIGADA.

CAMILA FERNANDA SOARES.

Page 7: CAMILA FERNANDA SOARES

SOARES C. F.; Isolamento de microrganismos para produção da enzima tanase

utilizando técnica de fermentação em estado sólido. [Trabalho de Conclusão do

Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas] Instituto Federal de São Paulo. São

Roque 2014.

ResumoTanino acil hidrolase conhecida como tanase (E.C: 3.1.1.20) é uma enzima

que hidrolisa ésteres e ligações laterais de taninos hidrolisáveis produzindo glicose e

ácido gálico. A tanase é uma enzima extracelular, induzível, produzida por fungos,

bactérias e leveduras através da fermentação sólida, líquida ou submersa. O meio

de produção é simples, utiliza resíduos vegetais ou subprodutos como farelo de

trigo, arroz ou aveia, acrescidos de ácido tânico. O objetivo deste trabalho foi isolar e

selecionar microrganismos de fontes naturais da região de São Roque/SP para

produção da enzima tanase através de fermentação sólida. A primeira etapa da

seleção foi realizada utilizando como substrato farelo de trigo suplementado com 5%

(p/v) de ácido tânico. A fermentação ocorreu em frascos Erlenmeyers de 250 mL

contendo 10g de farelo de trigo e 10 mL de solução de sais. Dentre as 30 linhagens

testadas, 27% das linhagens fúngicas produziram a enzima tanase. Os resultados

desse estudo mostraram que foi possível isolar culturas de microrganismos de

diferentes fontes naturais e utilizá-las como importante veículo de produção de

compostos bioativos; nesse caso, a enzima tanase. A técnica de fermentação em

estado sólido utilizando resíduo de farelo de trigo mostrou ser uma técnica bastante

promissora, pois vários microrganismos conseguiram produzir a enzima através

desse processo de fermentação. Foi possível verificar que, através de alguns testes

de otimização da enzima, a quantidade de molécula produzida aumentou

significativamente quando comparada com os testes iniciais de atividade enzimática.

Para a linhagem LAB1VW após a etapa de otimização foi possível obter um

aumento de atividade de 11 vezes quando comparado com os testes inicias de

produção em farelo de trigo. Já para a linhagem LAB6VW o aumento de atividade

enzimática foi de 7 vezes se comparado aos testes iniciais. Ambos os resultados são

bastante promissores, pois indicam que através de técnicas simples é possível

produzir um metabólito de grande interesse industrial.

Palavras-chave: tanase, fermentação sólida, microrganismos.

Page 8: CAMILA FERNANDA SOARES

SOARES, C. F.; Isolation of Microorganisms for the production of the enzyme

tannase fermentation technique using solid [Work completion of the course of degree

in Biological Sciences] Federal Institute of São Paulo. São Roque 2014.

ABSTRACTTannin acyl hydrolase known as tannase (EC: 3.1.1.20) is an enzyme that hydrolyzes

esters and lateral links glucose hydrolysable tannins and gallic acid. The tannase is

an extracellular enzyme, the inducible, produced by fungi, bacteria and yeasts by

solid or submerged liquid fermentation. The apparatus is simple, using crop residues

or byproducts such as wheat bran, rice or oats plus tannic acid. The objective of this

study was to isolate and select microorganisms from natural sources in the region of

São Roque / SP for production of tannase enzyme by solid fermentation. The first

step of selection was performed using wheat bran as substrate supplemented with

5% (w / v) tannic acid. Fermentation took place in a 250 ml Erlenmeyer flasks

containing 10 g of wheat bran and 10 ml of salt solution. Among the 30 strains tested,

27% of fungal isolates produced the enzyme tannase. The results of this study

showed that it was possible to isolate cultures of microorganisms from different

natural sources and use them as an important vehicle for production of bioactive

compounds; In this case, the tannase enzyme. The technique of using solid state

fermentation of wheat bran residue proved to be a very promising technique since

various microorganisms able to produce the enzyme by means of the fermentation

process. It was possible to verify that, through some optimization of the enzyme

tests, the amount of molecule produced significantly increased compared with the

initial enzymatic activity tests. For LAB1VW strain after optimization step was

possible to obtain an increase in activity of 11 times as compared with the initial

production tests in wheat bran. As for the strain LAB6VW increased enzymatic

activity was 7 times compared to the initial tests. Both results are very promising,

since they indicate that using simple techniques it is possible to produce a metabolite

of great industrial interest.

Keywords: tannase, solid fermentation, microorganisms.

Page 9: CAMILA FERNANDA SOARES

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

2 OBJETIVO .......................................................................................................... 13

3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 13

3.1 Enzima tanase ................................................................................................. 13

3.1.1 Propriedades da tanase ............................................................................... 14

3.1.2 Aplicações industriais da tanase .................................................................. 14

3.1.3 Fermentação em estado sólido .................................................................... 18

3.1.4 Método analítico para determinação da tanase ........................................... 18

4 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 19

4.1 Materiais e equipamentos utilizados ............................................................... 19

4.1.1 Materiais ....................................................................................................... 19

4.1.2 Equipamentos ............................................................................................... 20

4.2 Métodos ........................................................................................................... 20

4.2.1 Microrganismos ............................................................................................ 20

4.2.2 Técnica de isolamento dos microrganismos ................................................ 20

4.2.3 Conservação da coleção de fungos ............................................................. 21

4.2.4 Preparo de soluções ..................................................................................... 21

4.2.5 Prepararo do pré inoculo .............................................................................. 22

4.2.6 Preparo do meio de fermentação sólida para seleção de fungos produtores da

tanase ................................................................................................................... 22

4.2.7 Medida da atividade enzimática da tanase .................................................. 23

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 25

5.1. Seleção das linhagens fúngicas ..................................................................... 25

5.2 Técnica de fermentação em estado sólido ...................................................... 27

Page 10: CAMILA FERNANDA SOARES

5.3 Otimização da produção da enzima ................................................................ 28

5.3.1 testes com variações das concentrações do indutor no meio de fermentação

sólida (ácido tânico) ............................................................................................... 28

5.3.2 Testes com variações do tempo de fermentação ......................................... 30

5.3.3 teste com variações da temperatura da reação enzimática com o

substrato .......................................................................................................................

........ 31

5.3.4. Testes com diferentes agentes extratores da enzima ................................. 32

6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 33

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 34

Page 11: CAMILA FERNANDA SOARES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Hidrólise do ácido tânico ........................................................................ 13

Figura 2: Desesterificação dos compostos fenólicos pela tanase ......................... 15

Figura 3: Produção de propil galato ...................................................................... 17

Figura 4. Fermentação em estado sólido para a produção da enzima ................. 23

Figura 5. Medida de atividade enzimática da tanase ............................................ 24

Figura 6: Perfil de produção da enzima pelos microrganismos testados .............. 26

Figura 7: Influência da concentração do ácido tânico na produção da

enzima ..........................................................................................................................

..... 29

Figura 8: Influência do tempo de fermentação na produção da enzima ............... 30

Figura 9: Temperatura da reação da tanase com o substrato .............................. 31

Figura 10: Efeito do agente extrator na atividade da tanase ................................. 32

Figura 11. Produção da enzima antes e após a otimização ................................. 33

Page 12: CAMILA FERNANDA SOARES

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Origem do isolamento das linhagens fúngicas testadas ....................... 25

Tabela 2: Linhagens selecionadas que produziram a enzima tanase ................... 27

Tabela 3: Linhagens selecionadas como produtoras de tanase em farelo de trigo

com 5% (p/v) de ácido tânico após 5 dias de fermentação ................................... 28

Page 13: CAMILA FERNANDA SOARES

10

1. INTRODUÇÃO

O isolamento de microrganismos da natureza é o primeiro passo para a

seleção em busca de produtos de metabolismo, enzimas, ou espécies de

microrganismos a serem estudados. Não existe, entretanto, um método simples e

universal que revele o número total e a diversidade de microrganismos presentes em

uma amostra. É possível isolar os microrganismos usando técnicas de

enriquecimento, meios de cultura variados e condições de cultivo distinto (EGUCHI e

VARIANE, 1997). Os microrganismos hoje representam uma fonte alternativa para

vários processos industriais. Em diversas áreas, suas funções são extremamente

importantes e requisitadas. Na área da enzimologia, infinitos metabólitos, incluindo

importantes enzimas, são obtidas através de processos biotecnológicos utilizando

esses microrganismos, quer sejam fungos, bactérias ou leveduras (BATTESTIN,

2007).

O isolamento, assim como todo o processo que irá se desenvolver

futuramente, deve ser o mais econômico possível, levando-se em consideração a

produtividade que será obtida pelo microrganismo e os gastos necessários para

isolamento de tal microrganismo. Fatores importantes na escolha de um

microrganismo são as suas características nutricionais, pois se almeja obter

microrganismos que utilizem substratos baratos, que podem ser obtidos através da

formulação adequada do meio de isolamento (STANBURY, WHITAKER e HALL,

1995).

A tanase é uma enzima extracelular, induzível, produzida na presença de

ácido tânico por fungos, bactérias e leveduras (BATTESTIN et al., 2008). A primeira

etapa para o desenvolvimento do processo de produção de enzimas microbianas é a

seleção da linhagem. Existem estudos de produção da tanase por fermentação

sólida e líquida (LEKHA e LONSANE, 1994). O ácido tânico é um típico tanino

hidrolisável, que pode ser hidrolisado por tanase em glicose e ácido gálico (HELBIG,

2000). A tanase pode ser obtida a partir de fontes vegetal, animal e microbiana

(BANERJEE, MONDAL e PATI, 2001). O meio microbiológico é a fonte mais

importante de obtenção da tanase, uma vez que as enzimas produzidas desta forma

são mais estáveis do que aquelas obtidas por outros meios. Além disso,

microrganismos podem produzir a tanase em altas quantidades e de maneira

Page 14: CAMILA FERNANDA SOARES

11

contínua, com consequente aumento de rendimento (BANERJEE, MONDAL e PATI,

2001).

Um dos processos utilizados na produção de metabólitos é a fermentação,

que pode ser fermentação sólida ou líquida. Na fermentação sólida o crescimento

microbiano acontece sobre um substrato sólido, onde não há água livre circulante no

meio. Já a fermentação em estado líquido, como o próprio nome já diz, o meio onde

o microrganismo cresce é líquido. Para esse estudo o meio de fermentação utilizado

foi o sólido.

A fermentação sólida para a produção de enzimas oferece vantagens sobre o

método de fermentação submersa líquida (LAGEMAAT e PYLE, 2001). O meio de

produção é simples, podem-se utilizar subprodutos agroindustriais como casca de

uva, resíduo do processamento de suco de laranja, resíduo de café ou farelo de

trigo, arroz e aveia, acrescidos de ácido tânico. Muitos pesquisadores já produziram

a enzima tanase utilizando diferentes substratos para o meio de fermentação. Lekha

e Lonsane (1997) produziam tanase de Aspergillus niger e Penicillium glabrum

utilizando farelo de trigo; Lagemaat e Pyle (2001) produziram tanase em espuma de

poliuretano e Battestin (2007) produziu tanase utilizando resíduos de café misturado

com farelo de trigo.

A enzima tanase pode ter vasta aplicação em diversos segmentos da

indústria, dentre esses podemos citar a sua aplicação na indústria alimentícia,

cosmética, farmacêutica e indústria química (LEKHA e LONSANE, 1997). A enzima

também é utilizada para produção de chás instantâneos, na estabilização da cor de

vinhos, no processo de tratamento de couro, na detanificação de alimentos e para

tratamento de efluentes na indústria de couros (BANERJEE, MONDAL e PATI,

2001). Atualmente a enzima é utilizada para a produção de importantes

antioxidantes como ácido gálico e epicagalocatequinas (BATTESTIN, MACEDO e

FREITAS, 2008).

Page 15: CAMILA FERNANDA SOARES

12

2. OBJETIVO

Selecionar linhagens fúngicas de fontes naturais da região de São Roque/SP

para a produção da enzima tanase utilizando técnica de fermentação em estado

sólido.

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1. Enzima tanase

Tanino acil hidrolase conhecida como tanase (E.C: 3.1.1.20) é uma enzima

que hidrolisa ésteres e ligações laterais de taninos hidrolisáveis produzindo glicose e

ácido gálico (BANERJEE, MONDAL e PATI, 2001). A Figura 1 mostra a reação de

hidrólise do ácido tânico.

Enzimas extracelulares são muito utilizadas, pois dispensam métodos de

ruptura da célula, os quais são dispendiosos (COURI et al., 1998).

Figura 1: Hidrólise do ácido tânico (AGUILAR e SANCHES, 2001).

O uso e produção de enzimas em diferentes áreas mostram perspectivas

futuras promissoras devido às várias características inerentes à ação das enzimas

Page 16: CAMILA FERNANDA SOARES

13

que são compostos naturais, biodegradáveis, capazes de desempenhar reações

específicas sem produzirem produtos secundários. Enzimas são excelentes

catalisadores biológicos, contudo sua aplicação industrial pode ser limitada devido a

diversos fatores, como: custo de produção, alta solubilidade em água, menor

estabilidade, quando comparadas com catalisadores químicos; baixa atividade a

temperaturas elevadas e não ser viável sua recuperação após a utilização

(AGUILAR e SANCHES, 2001).

3.1.1. Propriedades da tanase

A tanase apresenta pH estável na faixa de 3,5-8,0, com pH ótimo entre 5,5-

6,0, temperatura de estabilidade entre 30ºC e 60ºC, ótima na faixa de 30-40ºC,

ponto isoelétrico de 4,0-4,5 e um peso molecular entre 180kDa e 300kDa. Estas

propriedades dependem fortemente das condições de cultura e também da linhagem

utilizada. A tanase é inibida por Cu2+, Zn2+, Fe2+, Mn2+ e Mg2+ e é inativada pela ação

de o-fenantrolina, EDTA, 2-mercaptoetanol, tioglicolato de sódio, sulfatos e cloretos

de magnésio e cálcio (AGUILAR e SANCHES, 2001).

3.1.2. Aplicações industriais da tanase

Embora existam muitas aplicações industriais da tanase em potencial, poucas

são efetivamente empregadas devido essencialmente ao custo de produção da

enzima, que ainda é elevado.

a) Chá instantâneo

Uma das principais aplicações industriais da tanase é o emprego no

processamento de chá instantâneo, a fim de eliminar complexos insolúveis

indesejados, conhecidos como “creme de chá”, resultados da polimerização de

polifenois (taninos) e da interação de cafeína e proteínas com tais componentes,

fenômeno que ocorre quando a bebida é mantida a baixas temperaturas. A utilização

Page 17: CAMILA FERNANDA SOARES

14

de tanase evita o emprego de substâncias químicas para a eliminação do creme,

garantindo um produto final de excelente qualidade, solúvel em água e caracterizado

pelo alto conteúdo de componentes aromáticos e coloração apropriada

(BATTESTIN, 2007). A Figura 2 mostra o processo de desesterificação dos

compostos fenólicos pela tanase para fabricação de chás instantâneos.

Figura 2: Desesterificação dos compostos fenólicos pela tanase (LEKHA e

LONSANE, 1997).

b) Fabricação de Vinhos

Na fabricação de vinhos, a aplicação da tanase nos resíduos do tratamento

de uva favorece a remoção de compostos fenólicos, estabilizando e incrementando

a qualidade dos vinhos (LEKHA e LONSANE, 1997). Cerca de 50% da coloração do

vinho se deve à presença de taninos; a oxidação destes componentes (em contato

com o ar, gerando quinonas) pode causar uma turbidez indesejável e

consequentemente perda de qualidade do produto final. Tal turbidez pode ser

evitada com o emprego da tanase, que impede a reação de oxidação (AGUILAR e

SANCHES, 2001).

c) Clarificação de sucos

Page 18: CAMILA FERNANDA SOARES

15

A tanase também é utilizada como agente clarificador em alguns sucos de

frutas e em bebidas geladas a base de café, onde seu uso se concentra na remoção

de compostos fenólicos presentes no material vegetal a fim de evitar sua

complexação e precipitação (LEKHA e LONSANE, 1994).

d) Tratamento de efluentes

Adicionalmente a tanase tem um grande potencial de aplicação no

tratamento de efluentes resultantes do processamento de couro, e ácido tânico.

Estes efluentes contêm altas quantidades de taninos, principalmente polifenóis,

perigosos poluentes. O uso da tanase, a fim de decompor os taninos presentes,

constitui em um tratamento de baixo custo e alta eficácia na remoção deste

composto (BATTESTIN, 2007).

e) Produção de ácido gálico

Segundo Banerjee, Mondal e Pati (2001), o ácido gálico tem várias

aplicações na indústria química e farmacêutica. É utilizado para síntese de propil

galato, pirogalol, trimetropim e resinas semicondutoras. O propil galato é uma

substância amplamente utilizada como aditivo na industria de alimentos e como

antioxidante em óleos e produtos ricos em lipídeos. A Figura 3 mostra o processo de

produção do propil galato na presença de n-propanol usando tanase. O pirogalol é

utilizado como conservante na indústria de alimentos (LEKHA e LONSANE, 1997), o

trimetropim é uma droga antibacteriana utilizada na industria farmacêutica

(AGUILAR e SANCHES, 2001).

Page 19: CAMILA FERNANDA SOARES

16

Figura 3: Produção de propil galato (SHARMA e MUNISHWAR,

2003).

f) Ração animal

As aplicações de enzimas em rações para dietas animais vêm crescendo

muito na última década. Os efeitos antinutricionais dos taninos são bem conhecidos:

complexam-se com proteínas indisponibilizando-as, reduzindo o valor nutricional da

dieta. O sorgo é geralmente utilizado como um complemento de rações animais. No

entanto, vários cultivares de sorgo apresentam um alto conteúdo de taninos. A

utilização desta enzima pode ser efetuada de duas diferentes formas: por contato

direto dos extratos enzimáticos com o material a ser tratado, hidrolisando-se os

polifenóis e evitando-se uma polimerização indesejada; ou pelo cultivo de linhagens

de fungos produtores da tanase em substratos ricos em taninos, os quais são

degradados a compostos simples, caracterizados pela sua semelhante forma de não

se polimerizar ou não formar complexo com as proteínas e/ou cafeína presente nos

materiais brutos (AGUILAR e SANCHEZ, 2001).

Page 20: CAMILA FERNANDA SOARES

17

3.1.3. Fermentação em estado sólido

O termo fermentação sólida ou fermentação semi-sólida aplica-se ao

processo de crescimento de microrganismos sobre substratos sólidos sem a

presença de água livre circulante. A água presente nestes sistemas encontra-se

complexada com a matriz sólida, formando uma fina camada adsorvida à superfície

das partículas (PINTO, 2003).

O primeiro relato de produção de tanase por fermentação sólida data de 1917,

onde se utilizou a linhagem de Aspergillus oryzae crescendo sobre farelo de trigo.

Neste trabalho observou-se que a produção da tanase era maior à medida que se

aumentava a concentração de tanino no meio. A partir de 20% de tanino, o

crescimento do fungo foi inibido (LEKHA e LONSANE, 1997).

Lekha e Lonsane (1997), estudaram o processo de produção da tanase por

fermentação sólida utilizando farelo de trigo com 6% de ácido tânico. A adição de

nitrogênio e sais minerais não apresentou efeito na produção de tanase

provavelmente porque o farelo de trigo já fornecia carbono, nitrogênio e outros

fatores de crescimento necessários.

O interesse da fermentação sólida para a produção de compostos de

importância comercial é consequência da demanda por produtos com menor custo

de produção. A exploração adequada da fermentação sólida pode significar a

redução do custo de produção da tanase (FROST, 1986; BATTESTIN, 2007).

3.1.4. Método analítico para determinação da tanase

Existem vários métodos descritos na literatura para medir a atividade

enzimática da tanase. O método que foi utilizado nesse estudo utiliza ácido tânico

como substrato. Dessa forma, a enzima em condições de temperatura controlada

quebra a molécula de ácido tânico e produz ácido gálico e glicose. A base científica

do método encontra-se descrita abaixo.

Page 21: CAMILA FERNANDA SOARES

18

Mondal et al. (2001); Banerjee, Mondal e Pati (2001); Hagerman e Butler

(1978) propõem a utilização de um método colorimétrico usando ácido tânico como

substrato. Consiste em um método simples, reproduzível, e como a atividade da

tanase pode ser medida de acordo a quebra do substrato (ácido tânico). Esse

método mede a quantidade de ácido tânico residual após reação enzimática, a

absorbância é lida a 530nm. A metodologia de Hagerman e Butler pode ser

adaptada para medir o ácido tânico residual.

Nos experimentos da seleção das linhagens fúngicas, utilizou-se para

determinar a atividade da enzima o método de Hagerman e Butler (1978) adaptado e

descrito por Mondal et al (2001), que mede a quantidade de ácido tânico residual

após reação enzimática. O SDS (Dodecil sulfato de sódio) caracteriza-se como um

potente detergente alcalino capaz de romper o complexo tanino-proteína formado na

reação com o BSA (albumina de soro bovino) (MONDAL et al, 2001). O uso do SDS

se faz necessário para manter níveis altos de pH durante a dissolução do complexo

tanino-proteína. O ácido tânico forma cor marrom em meio alcalino com FeCl3 e

mostra absorbância ótima em 530nm, o FeCl3 reage com compostos fenólicos na

reação. Durante a hidrólise enzimática ocorre a diminuição do substrato com o

respectivo tempo, isto é refletido por um decréscimo no valor da absorbância

medida, dessa maneira o método descrito por Mondal et al (2001), é fácil, rápido,

reproduzível e não requer a utilização de aparelhos sofisticados.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais e equipamentos utilizados

4.1.1. Materiais

Reagentes químicos: ácido tânico, SDS-trietanolamina, sais minerais e

tampões. Meios de cultura: PDA (Ágar de Batata Dextrosado), farelo de trigo Kodilar

Natural Life, Proteína: BSA (albumina de soro bovino).

Page 22: CAMILA FERNANDA SOARES

19

4.1.2. Equipamentos

Espectrofotômetro (Fento, Cirrus 80); Banhos termostáticos (Solab, SL 154);

Centrífuga (Sislab/twister); Estufa de Cultura (Solab, SL 101); Incubador Shaker

(SK-330-Pro).

4.2. Métodos

4.2.1. Microrganismos

Todas as linhagens foram isolados de fontes naturais da Região de São

Roque como: solo de diferentes fontes, cascas de madeira, formigueiro. Devido à

preferência que os microrganismos tem por substratos que também forneçam

suporte para o seu crescimento, eles são frequentemente encontrados em matéria

em decomposição, plantas, rochas e solo. Em uma planta, por exemplo,

dependendo do tecido que for coletado, pode-se encontrar diferentes tipos de

fungos. Foram isoladas e testadas 30 linhagens fúngicas, pertencentes ao

laboratório de Bioquímica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de

São Paulo – Campus São Roque. As linhagens fúngicas foram conservadas em

tubos de ensaio com meio de Agar de batata dextrosado (PDA), inclinados a 4ºC.

4.2.2. Técnica de isolamento dos microrganismos

Todos os materiais coletados (solo, cascas, folhas) foram pesados 1000mg e

colocados em béqueres contendo 5mL de água destilada. Os mesmos foram

agitados e deixados em repouso por 24 h a temperatura ambiente para a liberação

dos esporos. Após 24 h, com uma alça de platina, uma pequena alíquota da solução

de esporos foi transferida para tubos de ensaio contendo Ágar de batata dextrosado

(PDA). Esse meio é especifico para o isolamento de fungos filamentosos. Os tubos

Page 23: CAMILA FERNANDA SOARES

20

de ensaio foram incubados em estufa, na temperatura controlada de 32 ºC durante 3

dias. Após esse período as linhagens que haviam crescido nesse meio PDA foram

repicadas novamente para outro tubo de ensaio na tentativa de isolar os

microrganismos como culturas puras. A seleção das culturas foi realizada de acordo

aos aspectos morfológicos de cada cultura (por exemplo: cor e aspecto da colônia)

que deviam estar dispersos de forma homogênea por todo o meio de cultura. Para o

andamento futuro desse trabalho, será desejável que os microrganismos sejam

identificados por taxonomia. Somente através de sua identificação será possível

afirmar com certeza se as linhagens isoladas são culturas puras.

4.2.3. Conservação da coleção de fungos

As 30 linhagens fúngicas isoladas foram conservadas em tubos com meio de

agar de batata dextrosado (PDA), inclinados a 4ºC a temperatura de 10 ºC.

4.2.4. Preparo de soluções

a) Solução de substratoFoi preparada pela adição de 0,5 % (p/v) de ácido tânico em tampão acetato

pH 5,5 - 0,2 M.

b) Solução Albumina de soro bovino (BSA)Foi preparada na concentração de 1 mg/mL (essa solução foi preparada em

tampão acetato pH 5,0-0,2 M, contendo 0,17 M de cloreto de sódio).

c) Solução SDS-trietanolaminaFoi preparada pela adição de SDS 1% (p/v) adicionado de 5% (v/v) de

trietanolamina em água destilada.

d) Solução de FeCl3

Foi preparada pela adição de 0,01M de FeCl3 em 0,01M de ácido clorídrico.

Page 24: CAMILA FERNANDA SOARES

21

4.2.5. Preparo do pré inóculo

As linhagens fúngicas foram repicadas em meio inclinado PDA com

suplemento de 0,2% (p/v) de ácido tânico (pH final do meio = 5,2), e incubadas em

estufa à 32ºC por 60 horas, para pré-indução da tanase. O pré inoculo é a etapa que

antecede a fermentação sólida. É o tempo onde às culturas crescem para serem

repassadas aos frascos de fermentação.

4.2.6. Preparo do meio de fermentação sólida para seleção de fungos produtores da tanase

Em frascos Erlenmeyers de 250 mL foram adicionados 10g de farelo de trigo

e 10 mL de solução de sais na concentração (g/L): NH4Cl 0,1.; (NH4)2SO4 0,1;

CaCl2.2H2O 0,01; K2SO4 0,01; MnSO4.H2O 0,002; FeSO4.7H2O 0,002. O indutor ácido

tânico foi adicionado ao meio de fermentação na concentração final de 5%. O meio

de cultivo foi esterilizado a 120ºC por 20 minutos, com umidade relativa 60% (BU) e

pH 5,8. Após a esterilização os frascos foram inoculados com 2,5 mL de solução de

esporos e incubados a 32ºC em estufa, por 5 dias. Após fermentação, foram

adicionados 70 mL de solução tampão acetato pH 5,0 - 20mM e agitados a 150 rpm

por 1 hora e 30 minutos. A solução foi filtrada em algodão e o filtrado centrifugado a

3000 rpm por 15 minutos. No sobrenadante foi medida a atividade enzimática da

tanase (LEKHA e LONSANE, 1994). A Figura abaixo mostra os procedimentos

adotados na etapa de fermentação em estado sólido para a produção da enzima.

Page 25: CAMILA FERNANDA SOARES

22

Figura 4. Fermentação em estado sólido para a produção da

enzima

4.2.7. Medida da atividade enzimática da tanase

A solução de substrato foi preparada pela adição de 0,12 % (p/v) de ácido

tânico em tampão Acetato pH 5,5 - 0,2 M. A reação foi realizada adicionando 0,3 mL

da solução de substrato com 0,5 mL de extrato enzimático bruto e incubado a 60oC

por 10 minutos. Após a incubação, a reação foi paralisada pela adição de 3 mL de

solução de BSA preparada na concentração de 1 mg/mL de albumina de soro bovino

(BSA) e 0,17 M de cloreto de sódio em tampão acetato pH 5,0 , 0,2 M. Em seguida a

solução foi centrifugada a 3000 rpm por 10 minutos. O precipitado foi ressuspenso

em 3 mL de solução SDS-trietanolamina acrescido de 1 mL de solução de FeCl3. A

absorbância foi medida após 15 minutos em 530 nm (MONDAL et al., 2001). A curva

Page 26: CAMILA FERNANDA SOARES

23

padrão foi elaborada utilizando quantidades de ácido tânico comercial variando entre

0,01% e 0,15%. A atividade enzimática foi calculada pela diferença da leitura de

absorbância medida a 530 nm entre amostra e tubo controle. A Figura 5 mostra as

etapas da reação. Uma unidade de atividade de tanase foi definida como a

quantidade de ácido tânico hidrolisado por mL de enzima empregada por minuto de

reação: .

Onde:

Abs530nm = Absorbância medida

Absteste = substrato + enzima ativa

Abscontrole = substrato + enzima desnaturada

Figura 5. Medida de atividade enzimática da tanase.

Page 27: CAMILA FERNANDA SOARES

24

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Seleção das linhagens fúngicas

A seleção de linhagens fúngicas produtoras da tanase foi realizada em meio de fermentação

sólida utilizando como substrato farelo de trigo suplementado com 5% de ácido tânico. A Tabela 1

mostra dados da origem do isolamento das linhagens. A Figura 6 mostra os dados da produção da

enzima com os microrganismos isolados.

Tabela 1: Origem do isolamento das linhagens fúngicas testadas

Linhagem Origem do isolamento

LAB1VW Solo de Ingá I

LAB2VW Solo de Ingá II

LAB3VW Solo de Ingá III

LAB4VW Campus São Roque I

LAB5VW Cupinzeiro

LAB6VW Formigueiro I

LAB7VW Formigueiro II

LAB8VW Flor da Couve flor

LAB9VW Palha do Milho seca I

LAB10VW Solo do Abacateiro

LAB11VW Palha do Milho seca II

LAB12VW Campus São Roque II

LAB13VW Campus São Roque III

LAB14VW Campus São Roque IV

LAB15VW Casca de árvore

Linhagem Origem do isolamento

LAB17VW Liken bioindicador I

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25

LAB18VW Liken bioindicador II

LAB19VW Liken bioindicador III

LAB20VW Liken bioindicador IV

LAB21VW Solo do Campus São Roque V

LAB22VW Solo do Campus São Roque VI

LAB23VW Solo do Campus São Roque VII

LAB24VW Solo Ibiúna – SP

LAB25VW Palha do milho seca III

LAB26VW Madeira em decomposição

LAB27VW Solo do Campus São Roque VIII

LAB28VW Solo do Campus São Roque IX

LAB29VW Solo do Campus São Roque X

LAB30VW Solo do Campus São Roque XI

Figura 6: Perfil de produção da enzima pelos microrganismos testados.

Dentre as 30 linhagens testadas, 27% das linhagens fúngicas produziram a

enzima tanase, 56% dos fungos não sintetizaram a enzima e 17% dos fungos foram

inibidos na etapa de pré inoculação quando utilizou-se o meio PDA com 0,2% (p/v)

de ácido tânico, comprovando o efeito de inibição que os taninos podem exercer

Page 29: CAMILA FERNANDA SOARES

26

sobre o crescimento de microrganismos. Em relação às propriedades

antimicrobianas dos taninos, muitos fungos, bactérias e leveduras são resistentes

aos taninos e podem crescer e se desenvolver na presença destes, como:

Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Bacillus cereus, Corynebacterium sp, Candida sp

e Pichia sp (BHAT,SINGH e SHARMA, 1998). Os resultados da seleção indicaram

que 27% das linhagens testadas são capazes de sintetizar Tanino acil hidrolase nas

condições do teste de atividade da tanase. A Tabela 2 mostra as linhagens

selecionadas que sintetizaram a enzima tanase, o local de seleção e sua atividade

enzimática.

Tabela 2: Linhagens selecionadas que sintetizaram a enzima tanase.

Linhagem Local De Seleção U (µmol/mim.ml enzima)

LAB1VW Solo de Ingá I 0,0080

LAB6VW Formigueiro I 0,0120

LAB7VW Formigueiro II 0,0230

LAB9VW Palha do Milho seca I 0,0110

LAB11VW Palha do Milho seca II 0,0160

LAB25VW Palha do milho seca III 0,0120

LAB28VW Solo do Campus São Roque IX 0,0150

LAB29VW Solo do Campus São Roque X 0,0170

5.2. Técnica de fermentação em estado sólido

O farelo de trigo tem sido até hoje o substrato mais estudado para produção

da tanase por fermentação sólida. Todas as linhagens testadas neste resíduo foram

capazes de produzir a enzima. As condições de cultivo muito provavelmente

contribuíram para a síntese da tanase. A adição de ácido tânico (indutor da

produção da enzima) é um fator muito importante, pois este, através do metabolismo

do fungo, é utilizado como uma fonte rica de carbono. Somado a isso, a solução de

sais que foi utilizada nesse experimento também favoreceu de maneira significativa

para a produção da enzima, uma vez que pequenas quantidades de nutrientes são

importantes e necessárias para o metabolismo dos fungos.

Page 30: CAMILA FERNANDA SOARES

27

De acordo ao proposto nesse estudo, todos os objetivos foram atingidos. Foi

possível fazer o isolamento de culturas fúngicas e através da técnica de fermentação

em estado sólido foi possível produzir a enzima tanase. Diante dos dados obtidos

alguns testes de otimização da produção foram conduzidos para implementar esse

trabalho, de acordo aos procedimentos descritos a seguir.

5.3. Otimização da produção da enzima

Para o presente trabalho e para efeito comparativo, foram selecionadas as

linhagens LAB1VW e LAB6VW (Tabela 3) para serem utilizadas nos testes de

otimização da enzima. A escolha dessas linhagens ocorreu por essas apresentarem

as menores atividades enzimáticas e por serem as linhagens que mantiveram

estabilidade nos testes da seleção e produção da enzima.

Tabela 3: Linhagens selecionadas como produtoras de tanase em farelo de trigo com 5% (p/v)

de ácido tânico após 5 dias de fermentação.

Linhagem Atividade enzimática

U (µmol/mim.ml enzima)

LAB1VW 0,0080

LAB6VW 0,0120

5.3.1. Testes com variações das concentrações do indutor no meio de fermentação sólida (ácido tânico)

As linhagens selecionadas foram testadas em meio de fermentação, conforme

descrito no item 4.2.6. Foram adicionadas ao meio de fermentação 5, 10 e 15% de

ácido tânico. A Figura 7 mostra os resultados obtidos.

Page 31: CAMILA FERNANDA SOARES

28

Figura 7: Influência da concentração do ácido tânico na produção da enzima

De acordo a Figura acima, observa-se um aumento gradativo da atividade

enzimática à medida que a concentração de ácido tânico aumenta no meio de

fermentação. A linhagem LAB1VW apresentou atividade de 0,056 U quando se

adicionou 15% de ácido tânico ao meio de fermentação, resultando em aumento de

7 vezes se comparado com a atividade do teste inicial que apresentou atividade de

0,008 U. A linhagem LAB6VW apresentou atividade de 0,052 U quando se adicionou

15% de ácido tânico ao meio de fermentação, resultando em aumento de 4,3 vezes

se comparado com a atividade do teste inicial que apresentou atividade de 0,012 U.

As linhagens testadas tiveram melhor atividade com 15% de acido tânico.

A produção da enzima mostrou estar diretamente relacionada com a

concentração de ácido tânico que é adicionada ao meio de fermentação, esta fonte

de carbono favorece a produção rápida da tanase que, por sua vez, cliva os taninos

fornecendo suprimento contínuo de fonte de carbono.

Em estudo realizado por Mondal et al., (2001) quando se utilizou Bacillus

cereus KBR9 para a produção da tanase adicionando 10 g/l de ácido tânico ao meio

de fermentação, obteve-se valores para a atividade enzimática de 0,22 U/mL. De

acordo com Lekha e Lonsane (1997), Bajpai e Patil (1997) e Pinto (2003), o ácido

tânico desempenha o papel de fonte de carbono para o microrganismo, bem como

de indutor da síntese. Dessa maneira, a presença de ácido tânico é imprescindível

para a síntese da tanase. Em trabalho realizado por Pinto (2003) em experimento

Page 32: CAMILA FERNANDA SOARES

29

preliminar onde não se adicionou ácido tânico ao meio de fermentação, não foi

observada atividade da tanase em nenhum tempo de fermentação.

5.3.2. Testes com variações do tempo de fermentação

Foram realizados testes para avaliar a influência do tempo de fermentação na

produção da enzima. A atividade da tanase foi medida após 3, 5 e 7 dias de

fermentação. Os resultados obtidos estão expressos na Figura 8.

Figura 8: Influência do tempo de fermentação na produção da enzima.

Observa-se que para ambas as culturas o melhor tempo de fermentação foi

de 5 dias. Com 7 dias de fermentação a atividade da enzimática teve redução

significativa. O decréscimo na atividade da enzima com o aumento do tempo de

fermentação pode ser devido à produção de co-produtos resultante do metabolismo

microbiano, além do esgotamento de nutrientes, inibindo o crescimento do fungo e a

formação da enzima (WHITAKER, 1994; BIAZUS et al., 2006; AKPAN et al., 2005;

ALVA et al., 2007).

Estudos com fermentação em estado sólido reportam que a produção máxima

de enzima, geralmente, são obtidos em curtos tempos de fermentação como 72

horas (BANERJEE et al., 2007; KAR E BANERJEE, 2000), 96 horas (KUMAR et al.,

2007; RANA e BHAT, 2005) e 120 horas (BATTESTIN e MACEDO, 2007). Isso

Page 33: CAMILA FERNANDA SOARES

30

pode ocorrer devido à produção da tanase na fase primária do crescimento

microbiano (SUSEELA e NANDY, 1985).

5.3.3. Teste com variações da temperatura da reação enzimática com o substrato

Nos testes iniciais da reação enzimática com o substrato, a temperatura

utilizada foi de 60 ̊C. O intuito desse experimento foi avaliar qual a temperatura ótima

para a enzima (Figura 9).

Figura 9: Temperatura da reação da tanase com o substrato.

De acordo a Figura acima, observa-se que a melhor temperatura de atividade

enzimática foi de 50 ̊C. A partir dessa temperatura observa-se uma queda brusca de

atividade a 80 ̊C. Muito provavelmente a enzima está sendo desnaturada pela ação

do calor. Cientificamente já é comprovando o efeito do calor sobre a atividade

dessas moléculas. A temperatura na qual a atividade catalítica é máxima chama-se

temperatura ótima. Acima desta temperatura, o aumento da velocidade da reação

tende a cair devido à perda da atividade catalítica que ocorre pela desnaturação

térmica. Dessa forma, a atividade enzimática decresce rapidamente podendo até

anular-se.

5.3.4. Testes com diferentes agentes extratores da enzima

Page 34: CAMILA FERNANDA SOARES

31

Nos testes iniciais de produção da enzima tanase, para a etapa de extração

da enzima do meio sólido (item 4.2.6) utilizou-se tampão acetato como agente

extrator da molécula. Diferentes meios podem ser utilizados para a extração das

enzimas, como por exemplo: diferentes tampões, NaCl e até água. A maneira como

a enzima migra do meio sólido para o líquido está relacionado, dentre vários fatores,

com a polaridade da solução e força iônica. A Figura abaixo mostra os dados

obtidos utilizando-se tampão acetato pH 5,0 – 0,2M e NaCl 1,5%.

Figura 10: Efeito do agente extrator na atividade da tanase.

Observa-se que para a linhagem LAB6VW ambos agentes extratores, tampão

acetato e NaCl, se mostraram eficientes, obtendo-se valores de atividade de

0,0746 U e 0,0723 U respectivamente. Já para a linhagem LAB1VW o melhor

agente extrator foi o tampão acetato apresentando atividade enzimática de

0,0874 U.

Após a otimização da produção da enzima foi possível observar o aumento da

atividade enzimática (Figura 11).

Page 35: CAMILA FERNANDA SOARES

32

Figura 11. Produção da enzima antes e após a otimização.

Observa-se que, para as linhagens LAB1VW e LAB6VW o aumento da

atividade da enzima após a otimização foi de 11 e 7 vezes respectivamente.

6. CONCLUSÃO

Os resultados desse estudo mostraram que foi possível isolar culturas de

microrganismos de diferentes fontes naturais e utilizá-las como importante veículo

de produção de compostos bioativos; nesse caso, a enzima tanase. A técnica de

fermentação em estado sólido utilizando resíduo de farelo de trigo mostrou ser uma

técnica bastante promissora, pois vários microrganismos conseguiram produzir a

enzima através desse processo de fermentação. Foi possível verificar que, através

de alguns testes de otimização da enzima, a quantidade de molécula produzida

aumentou significativamente quando comparada com os testes iniciais de atividade

enzimática.

Para a linhagem LAB1VW após a etapa de otimização foi possível obter um

aumento de atividade de 11 vezes quando comparado com os testes inicias de

produção em farelo de trigo. Já para a linhagem LAB6VW o aumento de atividade

enzimática foi de 7 vezes quando comparado aos testes iniciais. Ambos os

Page 36: CAMILA FERNANDA SOARES

33

resultados são bastante promissores, pois indicam que através de técnicas simples

é possível produzir um metabólito de grande interesse industrial.

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