campus nº. 367

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CAMPUS UM CAVALO MORRE POR DIA NA CAPITAL CAROS DEPUTADOS DF gasta R$ 15 milhões por distrital POLÍTICA CAMPUS Foto: Nayara Machado IMPRUDÊNCIA NA BR-060 Motos ultrapassam 300km/h ON THE ROAD Foto: Gustavo Lyra/Colaboração Foto: Larissa de Castro CIDADES Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB De 27 de setembro a 03 de outubro de 2011, ano 41, edição 367 Todo mês SLU recolhe de 26 a 34 corpos de equinos vítimas de maus tratos

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Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), ano 41, edição 367

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Page 1: Campus nº. 367

CAMPUS

UM CAVALO MORRE POR DIA NA CAPITAL

CAROS DEPUTADOSDF gasta R$ 15 milhões por distrital

POLÍTICA

CAMPUS

Foto: Nayara Machado

IMPRUDÊNCIA NA BR-060Motos ultrapassam 300km/h

ON THE ROAD

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CIDADES

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB

De 27 de setembro a 03 de outubro de 2011, ano 41, edição 367

Todo mês SLU recolhe de 26 a 34 corpos de equinos vítimas de maus tratos

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Mais uma vez, estudantes da Universidade de Brasília se veem forçados a tomar conta da rei-toria do Campus Darcy Ribeiro. A reivindicação

de agora parte dos alunos da Faculdade de Ceilândia (FCE). Desde o segundo período de 2008, quando as aulas na unidade se iniciaram, alunos e professores so-frem com falta de infraestrutura.

Promessas de conclusão das obras durante o perío-do não faltaram, mas a inauguração dos prédios defi ni-tivos nunca ocorreu. Na verdade, os problemas não se resumem ao espaço físico: há pouca oferta de discipli-nas optativas e alunos quase formandos têm difi culdade para atingir o número de créditos exigidos para conse-guir o tão sonhado diploma.

Diante da situação-limite, o Conselho Pleno da UnB/FCE aprovou recomendação da suspensão do vestibular em Ceilândia até que as obras estejam concluídas. Em carta aberta, o reitor da Universidade, José Geraldo de Sousa Júnior, afi rmou que não poderia concordar com a decisão: “O vestibular é uma conquista da comunidade

de Ceilândia e um compromisso histórico da UnB, as-sumido pelo Conselho Universitário para a ampliação do acesso ao ensino público”.

Todos concordamos, senhor reitor. Mas de que adianta admitir 130 novos alunos sem garantia de que haverá espaço para todos? É completamente injusto adiar o acesso à Universidade para tantas pessoas. Porém, mais triste seria ver mais 130 estudantes ves-tidos com camisetas pretas estampadas com a frase “Sem Campus” na próxima ocupação. Isso ainda sem contar com os ingressantes pelo Programa de Ava-liação Seriada (PAS/UnB). Não faz sentido valorizar quantidade frente a qualidade de ensino.

A carta do reitor também comunica o rompimento do contrato com a construtora Uni Engenharia pelo não-cumprimento das metas. No entanto, é ainda obs-curo o modo como o Governo do Distrito Federal as-sumirá as obras. Não seria necessária nova licitação para terceirizar funcionários? Haverá concurso públi-co para contratá-los? Nada está claro.

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editora-chefe Juliana Espanhol Secretária de Redação Ana Paula Matos Diretora de Arte e Fotografi a Mariana Pizarro

Editoras Ana Paula Matos (p. 8), Isabella de Andrade (p. 6 e 7), Juliana Espanhol (p. 1 e 2) e Mariana Fagundes (p. 3, 4 e 5)

Diagramadoras Dandara Lima e Nádia Mendes Fotógrafas Larissa de Castro e Nayara Machado Projeto Gráfi co

Bárbara Cabral, Dandara Lima, Emerson Fraga e Mariana Pizarro Repórteres Dalai Solino, João Paulo Mariano, Laura Chaer, Paula Bittar e Pedro Augusto Correia Monitores

Alexandre Bastos e Júlia Libório Jornalista José Luiz Silva

Professores Sérgio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850Brasília/DF - Campus Darcy RibeiroFaculdade de Comunicação - ICC Ala NorteCEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501E-mail [email protected]áfi ca Palavra ComunicaçãoTiragem 4 mil exemplares

CEILÂNDIA TAMBÉM É UnB

Juliana Espanhol

Dona de cinco títulos da Copa do Mundo, oito na Copa Améri-ca e três na Copa das Confederações, a seleção brasileira de futebol, mesmo com toda a tradição, está balançando nos resultados da era Mano Menezes. Nos últimos cinco jogos, foram duas vitórias, um empate e duas derrotas. Será que a seleção está preparada para a Copa de 2014? O Campus ou-viu a opinião dos torcedores na fila do estádio Jonas Duar-te, em Anápolis, no jogo Tocantinópolis contra Anapolina.

NA FILA do estádio

EDITORIAL

Não vai bem, muita garotada estre-la. Talvez se tivesse o Ronaldinho a seleção melhoraria.

A assinatura no topo da matéria engana o leitor que desconhece as rotinas de produção de um jjornal. O jornalismo é trabalho de equipe. Uma

etapa importante na produção de notícias é a revisão. O autor deve reler a matéria antes de passá-la adiante. O processo só termina com o diagramador. Quando uma etapa é sacrifi cada, o resultado fi nal não atinge o seu potencial. Repetições de palavras (que tiram a fl uidez do texto e o prazer da leitura) sobressaem em algumas matérias. Quem paga é o leitor, o patrão do jornalista.

Esse chefe merece informação correta e contextua-lizada. No caso da reportagem sobre obesidade, fi camos sabendo que as mortes por causa da doença aumenta-ram 1.267% entre 2000 e 2009 em Brasília. O dado pre-ocupa, mas o que ele signifi ca? Já no lide vem a infor-mação: 15% da população brasileira sofre do mal. Sem contexto, não sabemos se a situação é pior ou melhor do que há 10 anos. Afi nal, a prevenção, objetivo de todo programa de saúde pública, está funcionando?

Outro exemplo é a matéria sobre as UPAs. O problema

enfrentado pela única unidade operacional no DF é bem relatado, mas não é citado no texto que o proje-to era uma das peças chaves da campanha de Agnelo. Em suas promessas, o petista dizia que entregaria as quatro já construídas (citadas na matéria) nos pri-meiros meses de mandato e outras 10 até o fi m de 2011. Porém, o governador não é sequer citado. O subsecretário de Saúde, com quem o Campus con-versou, pareceu não ser questionado sobre o assunto. O lesado, de novo, é o leitor.

Algumas soluções foram bem criativas. Esse é o caso da coluna Na Fila que, ao ser passada para a segunda página, resolveu o problema da defunta Não Sou Obrigado. De um modo geral, as pautas são re-levantes, principalmente a da capa, que surpreende por trazer algo novo e preocupante.

ERROS E ACERTOS DA PRIMEIRA VEZLucas Marchesini

OMBUDSMAN

EXPEDIENTE

ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE

Larissa de Castro

Hanis Ricardo, 42, fluminense

Está mais ou menos. Está faltando ritmo e entrosamento. Mas tudo

bem, com o tempo tenho esperanças de que vai dar certo.

Mateus Leal, 15 anos, são-paulino

2 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011

Uma das piores seleções que vi jogar e olha que sou antigo. Sinto falta até do Dunga. Quando lembro da última cobrança de pênaltis dá vontade de chorar.

Pedro da Costa, 59, vascaíno

Uma bosta. Primeiro, o Mano não serve pra nada. O Felipão tem que

voltar pra gente ter esperanças para a próxima Copa.

Reggis Barbosa, 22, anapolino

Termo sueco que significa “provedor de justiça”,o ombudsman discute a produção dos jornalistas a partir

da perspectiva do leitor.

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CIDADES

À esquerda, Garrincha, abandonado por não conseguir mais puxar carroça. Suas pernas fi caram deforma-das devido ao peso. À direita, cavalo que perdeu o olho por causa de chicotadas.

Maus tratos levam cavalos à morte

Laura Chaer

Para dominar o cavalo, carroceiros torcem a orelha do animal, que fi ca com as sequelas da agressão

A cada dia, morre em média um cavalo vítima de maus tratos no Distrito Federal, segundo esta-

tística do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Animais de carroça sofrem morte prematura por serem submetidos a con-dições precárias pelos donos, pessoas que, muitas vezes, também vivem sem dignidade. De acordo com a pesquisado-ra Cristina Torres, da Universidade Ca-tólica de Brasília, a expectativa de vida desses animais é reduzida à metade.

Os órgãos de fi scalização não conse-guem atender a todos os casos de maus tratos por não terem estrutura. Isso re-sulta em situações como a do último dia 7, em que um cavalo à beira da morte foi abandonado na quadra 7 de Sobradi-nho 1, por não ter mais serventia para o carroceiro. O animal caiu em uma vala e quebrou a pata. A população local tentou acionar os órgãos públicos, mas nenhum chegou a tempo. Não conseguindo levan-tar, o cavalo agonizou até morrer.

Aldo Fernandes, diretor de fi scalização do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), alega que os carroceiros muitas vezes não têm estrutura psicológica para cuidar dos animais. “Um ser humano maltratado não sabe lidar com um cavalo, senão com violência.” O instituto, em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), é res-

ponsável pela fi scalização de maus tratos a equídeos no DF.

A veterinária do Ibram Ana Junqueira explica que muitos animais chegam até eles cegos, sem ferradura, muito magros, com lesões ortopédicas e feridos devido ao uso de equipamento inadequado. “Al-guns cavalos trabalham o dia todo e, à noite, são alugados para outras famílias e continuam trabalhando”, conta Ana.

Marco Scarpelini, gerente de Apreen-são de Animais da Seapa, relata que são recolhidos, em média, 80 equídeos por mês. Se forem constatados maus tratos, o proprietário deve recorrer em até sete dias para reaver o animal, pagando multa de R$ 200 para o Ibram e diária de R$ 15 para a secretaria, valor referente à utili-zação do curral.

Em caso de reincidência ou de lesão que impeça o cavalo de trabalhar, ele é confi scado e doado. Se o animal for diag-nosticado com Anemia Infecciosa Equina (AIE), ele é sacrifi cado. “Muitos donos dizem que não maltratam, mas não têm como negar. O animal de carroça fi ca com marcas do equipamento e patas enverga-das”, esclarece Scarpelini.

Ailton Ferreira teve a égua, Neguinha, apreendida. O proprietário afi rma que o animal não puxava carroça, mas fugiu da chácara passando por uma cerca de ara-me, o que lhe causou ferimentos. “Estão dizendo que foram maus tratos, mas isso nunca aconteceu.” Ana Junqueira reba-te: “A égua estava em situação péssima, claramente prenha e muito magra para o estado da gestação”.

A carroceira Janaína Borges teve sua égua recolhida em Águas Claras por es-tar sem ferradura. “A gente quer rever a questão da ferradura, para trabalhar com o máximo de bom senso”, explica Ana. “Mas algumas pessoas estão usando ver-galhões de obra como ferraduras, e isso nós não aceitamos.”

LEGISLAÇÃOO decreto 27.122/06 regulamenta o

trânsito de carroças no DF. O tráfego des-ses veículos é proibido em todo o Plano Pi-loto e em algumas vias das Regiões Admi-nistrativas, e só pode existir das 6h às 18h.

“A legislação é inefi ciente”, conta Cris-tina Torres, autora de dissertação de mes-trado sobre Veículos de Tração Animal (VTAs). “As regiões administrativas são

muito urbanas, é impossível dar boas condições a animais de tração.” Cristina afi rma ainda que a solução seria erradi-car as carroças, e completa: “Falta von-tade política, já que a comunidade carro-ceira gera votos”.

Diante da falta de políticas públicas, ONGs e iniciativas voluntárias se volta-ram para o assunto. O Projeto Carroceiro é um programa de extensão da Universi-dade de Brasília (UnB) que consiste em dar assistência veterinária a cavalos leva-dos por carroceiros ou pela Seapa para o Hospital Veterinário. “Mais de 6 mil ani-mais já foram benefi ciados, nos 10 anos de projeto”, conta Roberta Godoy, coorde nadora do programa.

A Associação Protetora dos Animais do DF (ProAnima), por sua vez, desen-volveu o Projeto Pangaré, que trabalha no redirecionamento dos cavalos con-fi scados pela secretaria para institui-ções de equoterapia e equoturismo, se estiverem em condições de trabalho. Se não, a associação procura proprie-tários particulares que possam provi-denciar aposentadoria para o cavalo.

POR TRÁS DA REPORTAGEM

Os entrevistados, dispostos a denunciar, facilitaram a apuração da reportagem. Difícil foi o assunto. Encontrar Garrincha, cavalo desfigu-rado que mal consegue se levantar sozinho, me fez achar que não teria forças para seguir com a matéria. O que comove é ver que os cava-los maltratados não são agressivos com as pessoas. Sempre havia um focinho pedindo carinho.

O trabalho foi uma missão jorna-lística. Publicar a matéria é um modo de contribuir para o fim da injusti-ça que o homem impõe ao animal.

Fotos: Nayara Machado

Animais de carroças transitam em locais e horários proibidos. O uso de equipamentos inadequados pode ferir, cegar ou deformar os cavalos, chegando a resultar em mortes prematuras

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011 3

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Os deputados distritais poderão come-morar neste ano o título de parlamen-tar mais caro do Brasil, dentre as 27

unidades da Federação. No Distrito Federal, cada deputado custa R$ 15 milhões por ano, se-gundo a ONG Transparência Brasil. O valor é 50% maior que o da segunda colocada, a Assem-bleia Legislativa de Minas Gerais, onde cada parlamentar custa R$ 10 milhões.

Em 2011, o orçamento destinado à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) foi de R$ 365 milhões – o quarto maior do país – apesar de o Distrito Federal ter o parlamento com menor número de deputados, apenas 24.

As assembleias que possuem orçamento maior que a CLDF – Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro – contam com pelo menos três ve-zes mais cadeiras legislativas. Para o deputado Patrício (PT), presidente da Câmara, o dinheiro gasto é justifi cado. “Existe preço para a demo-cracia? O importante é que o orçamento está sendo executado de forma transparente.”

Para Claudio Weber Abramo, diretor execu-tivo da Transparência Brasil, o argumento de Patrício está equivocado. “Isso é mera conversa fi ada, é um argumento falacioso. O que o depu-tado está fazendo é confundir o exercício da de-mocracia com interesses particulares”, analisa.

O deputado Raad Massouh (DEM) é autor de um projeto que pode ajudar a diminuir o custo do legislativo local. A proposta prevê o fi m do

pagamento dos 14º e 15º salários aos distritais. Dentre os 24 deputados, 20 já declararam pu-blicamente apoio ao fi m dos salários extras, de acordo com o projeto Adote um Distrital. Eliana Pedrosa (DEM), Benício Tavares (PMDB), Rôney Nemer (PMDB) e Chico Vigilante (PT) ainda não opinaram sobre o assunto.

Apesar de o número de deputados ser sufi -ciente para que a proposta seja aprovada, esse apoio é apenas aparente. No início do ano, so-mente seis deputados abriram mão de receber o benefício – Raad Massouh, Patrício, Cláudio Abrantes (PPS), Israel Batista (PDT), Joe Vale (PSB) e Alírio Neto (PPS), que hoje é secretário distrital de Justiça.

Difi cilmente a proposta terá sucesso, já que o presidente da Casa, deputado Patrício, não acredi-ta em sua validade. “Este debate é demagogo e hi-pócrita. Não se traz moralidade tirando a prerro-gativa legal do deputado de receber os salários.”

Em 2007, o então deputado distrital Reguff e (PDT) apresentou a mesma proposta, na tentativa de reduzir os gastos da CLDF. Além de dois outros projetos: diminuir a verba indeni-zatória de R$ 11 mil para R$ 2 mil e cortar em 20% a verba de gabinete, que na época era de R$ 88 mil. A votação foi um fracasso e todas as propostas foram rejeitadas pelo mesmo placar. Apenas Reguff e, hoje deputado federal, votou a favor de seus projetos, 20 deputados votaram contra e outros três faltaram à sessão.

Levantamento feito pela ONG Transparência Brasil mostra que a Câmara Legislativa do Distrito Federal é cara e improdutiva. Projetos que diminuem gastos enfrentam resistência entre os deputados

Os deputados distritais não diminuíram as des-pesas do parlamento desde então. Em 2008, ainda aumentaram a verba de gabinete para mais de R$ 96 mil e, em 2010, os próprios salários para R$ 20 mil, o que representou um aumento de 61,8%.

Raad Massouh conta que, se os deputados abris-sem mão da verba indenizatória nos meses em que não exercem atividade parlamentar, a economia poderia ser ainda maior. Ele abriu mão do benefício durante os recessos de janeiro e julho deste ano e nos três meses de campanha, em 2010.

“Nesse período ninguém estava em atividade legislativa, é injusto que a Câmara tenha que ar-car com essas despesas”, explica o deputado. Se todos os parlamentares abrissem mão dos 14º e 15º salários e da verba indenizatória durante os meses de recesso e campanha, poderia ser feita uma economia de até R$ 2,3 milhões por ano. O valor ainda está muito distante dos R$ 365 milhões que a Casa gasta anualmente.

O deputado Chico Leite (PT) acredita que, além de gastar menos, é preciso moralizar a forma como o dinheiro é aplicado. Para isso, o petista apresentou proposta que obriga a publi-cação de notas fi scais da verba indenizatória de todos os deputados no site da Câmara. “Quem fi nancia o mandato parlamentar é o contribuin-te. É preciso que ele saiba o que está sendo feito com o dinheiro dele”, explica.

Atualmente, a legislação obriga somente a di-vulgação de um quadro geral de gastos. Apenas seis deputados – Chico Leite, Joe Valle, Patrício, Raad Massouh, Rôney Nemer e Rejane Pitanga (PT) – publicaram as notas fi scais em 2011. Para o presidente da Casa, a Câmara Legislativa já é transparente nesse quesito. “As notas fi scais são um documento público. Se você quiser, pode vir aqui e olhar.”

POLÍTICA

Pedro Augusto Correia

DF tem deputado mais caro do país

“Quem financia o mandato

parlamentar é o contribuinte”

Deputado Chico Leite (PT), sobre a necessidade de transparência nos gastos da CLDF

DEPUTADO MAIS CARO

DO BRASIL

Distrito Federal: R$ 15 milhõesMinas Gerais: R$ 10 milhões

Santa Catarina: R$ 7,1 milhões

Deputado Chico Leite (PT) em sessão ordinária na Câmara Legislativa do Distrito Federal. A CLDF custa, para cada habi-tante, R$ 143 por ano. Segundo levantamento da ONG Transparência Brasil, essa é a terceira maior média do país

Foto: Larissa de Castro

R$ 11 milpor mês

Verba indenizatória

15 x R$ 20 mil por ano

Salário

4 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011

Page 5: Campus nº. 367

R$ 646 por mês

Auxílio-alimentação

A relação custo x benefício dos deputados distritais fi ca ainda pior quando é analisada a qualidade da produção

legislativa. De acordo com levantamento feito pela ONG Transparência Brasil, 45% das proposições apresentadas pelos atuais deputados distritais podem ser consideradas sem relevância. A ONG enquadra nesse quesito propostas como criação de datas comemorativas, requerimentos de sessões solenes e homenagens em geral. O campeão de improdutividade é o deputado Rôney Nemer, que teve 64,2% de suas proposições considerantes irrelevantes.

Um hábito comum na CLDF é a concessão de títulos de cidadão honorário e benemérito de Brasília. Até mesmo Durval Lelys, vocalista da banda baiana Asa de Águia, recebeu a honraria. Para tentar diminuir essa prática, uma resolução, de autoria do deputado Chico Leite, entrou em vigor no mês passado. A partir de agora, cada deputado distrital poderá conceder apenas quatro títulos por ano.

Além disso, o projeto prevê que a indicação do nome do homenageado deve ser assinada por pelo menos três deputados e receber o voto de 13 parlamentares. Detentores de mandato eletivo e ocupantes de cargo comissionado fi cam

proibidos de receber o título, que também não poderá ser concedido no período de eleições.

“Quando eu cheguei na Câmara, em 2003, comecei a verifi car que isso era utilizado como instrumento eleitoreiro. O legislativo tinha que estar preocupado com a vida das pessoas, e não em dar honrarias. É ridículo que essa seja a prioridade dos deputados”, diz Chico Leite.

Uma fonte da Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) que não pôde se identifi car conta que a expressiva maioria dos projetos de lei propostos na Câmara Legislativa é inconstitucional. O principal erro dos deputados é o chamado vício de iniciativa. Ou seja, os parlamentares criam projetos dos quais jamais poderiam ser autores. Isso acontece porque existem alguns assuntos sobre os quais apenas o chefe do executivo está autorizado a legislar. “A Consultoria Jurídica da Câmara avisa, mas, ainda assim, eles fazem. É um trabalho simbólico, só para aparecer”, explica a fonte.

Para o cientista político Lucio Rennó, essa improdutividade não é exclusiva da CLDF. “Os legislativos estaduais têm uma capacidade limitada de interferir na produção legal. O orçamento dessas casas deveria refl etir isso. A quantidade de recursos que recebem é desproporcional”, resume.

Na edição número 326, de maio de 2008, o Campus aborda a nomeação de cidadãos honorários em Brasília. A crônica “Em ritmo de Oba Oba”, escrita por Camila Louise e Camila Gonzalez, questiona o merecimento de personali-dades como Sílvio Santos, Bell do Chi-clete com Banana e do ex-reitor da UnB Timothy Mulholland de receber a hon-raria. O problema, segundo elas, não é a nomeação em si, mas a falta de critérios sobre o que deve ser considerado um feito relevante para a cidade e para os cidadãos que nela moram.

DF tem deputado mais caro do país

Projeto de Lei 1.318/2009, do deputado Rôney Nemer (PMDB) Inclui o dia do meteorologista, a ser comemora-do no dia 14 de dezembro, no calendário oficial de eventos do Distrito Federal.

Requerimento 280/2007, do deputado Rôney Ne-mer (PMDB) Requer a realização de sessão solene no dia 3 de dezembro de 2007, às 15 horas, em comemora-ção ao dia do trailhista, quiosqueiro e similar, instituido pela Lei Nº 3.635, de 28 de julho de 2005. Requerimento 460/2011 , da deputada Luzia de Paula (PPS)Requer a realização de sessão solene no dia 6 de dezembro de 2011, às 19 horas, no auditório da CLDF, em homenagem ao Dia Nacional do Forró.

R$ 494 por mêsAuxílio-creche

R$ 96 mil por mês

Verba de gabinete

Alto índice de improdutividade

Deputado Agaciel Maia (PTC) usa celular durante sessão ordinária na Câmara Legislativa do Distrito Federal

Foto: Larissa de Castro

NOBRES PROJETOS

MEM

ÓRIA

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011 5

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Dalai Solino

Nayara Machado

TENDÊNCIA

Internet traz nova maneira de mobilizar

Amnésia infantil: todo mundo tem

CURIOSIDADES

?

O Brasil todo acompanhou, no dia da Independência, 7 de setembro, a Marcha contra a Corrupção, que

levou para a Esplanada dos Ministérios cerca de 25 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar. Em nove anos, desde o movimento dos Caras Pintadas, não acontecia uma manifestação de tal rele-vância. Não só em Brasília, mas também em outras cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pessoas fo-ram às ruas para protestar contra a atu-al situação política brasileira. A grande diferença, além dos distintos momentos históricos, é o uso das redes sociais para divulgação e organização das marchas.

Lucianna Kalil, trabalhadora autô-noma e idealizadora da marcha, teve a ideia e lançou o evento no Facebook.

Brasília. A velocidade de mobilização, de articulação, a variedade de pessoas, o caráter apartidário e uma suposta maior liberdade na internet são fatores que tor-nam essa nova espécie de movimento so-cial mais legítimo, ainda segundo Masullo.

O cientista político Antônio Celso Al-ves Pereira concorda com o professor Masullo e acrescenta: “Embora a maio-ria participante seja de classe média, os movimentos podem ser considerados de-mocráticos, afi nal o poder de compra da população tem aumentado. E na internet pode acontecer de tudo. Acho que o se-gredo e a novidade nessas manifestações é a espontaneidade, a forma como se pro-pagam, com o potencial de qualquer um poder participar. Por isso governos com regimes mais fechados, como o da China, se preocupam e não liberam o uso dessas ferramentas”, diz o cientista político.

Dias depois, apareceram algumas pessoas para ajudar na organização. “Por meio da página na internet começamos a conver-sar e afi nar nossos planos. Antes, seria no dia 28 de agosto, mas adiamos para 7 de setembro devido à visibilidade que o desfi le proporciona”, conta Lucianna.

As modernas manifestações nascem de uma indignação e seguem caminhos pare-cidos, da internet para o real: Marcha das Vadias (contra o machismo), Na Mesma Moeda (por preço mais justo da gasoli-na), Força, Ricardo Gomes (torcida para a melhora do técnico do Vasco) e outros diversos movimentos, organizados prin-cipalmente por estudantes que utilizam as redes sociais como uma das principais formas de se comunicar. O objetivo é jun-tar as pessoas e lutar por alguns direitos,

Marina Barbosa, 25 anos,, estudante de Medicina “Fiquei sabendo pelo Facebook e alguns dias antes vi panfl etos. Chamei meus amigos para ir comigo pela internet que é praticamente inerente no nosso dia a dia e que contribuiu bastante para a marcha. Foi a primeira vez que fui em uma manifes-tação, resolvi exercer um pouco do meu papel de cidadã, não fi car apenas parada. Foi emocionante segurar a bandeira e cantar o hino.”

João Borges, 21 anos, estudante de Direito, “Minha família quase toda possui Facebook, confi r-mamos presença no evento por lá e depois, em casa, combinamos como seria. Sempre tive vontade de poder fazer algo por nosso país, pelo nosso futuro e a oportunidade apareceu no meu mural de notícias. Todos aceitamos. Meu pai, primos, namoradas e tios, fomos juntos protestar. Espero que tudo se torne bem real e faça alguma diferença.”

eu fui

ou apenas mostrar a opinião de um grupo. “No futuro estaremos 24 horas conec-

tados uns aos outros, e esse tipo de ex-pressão da sociedade vai crescer”, afi rma o estudioso de mídias sociais e especialis-ta em políticas públicas Emerson Masullo. Segundo ele, desde a segunda metade da década de 1990, com a popularização da internet, já é possível perceber indícios desse tipo de manifestações. Mas ape-nas por volta de 2005 houve uma concre-tização das lutas populares nas mídias pela web, com a utilização, por exemplo, do Twitter, do Facebook e do YouTube.

“Ano passado começou a explodir e a ser aprimorado o uso dessas ferramen-tas. Um exemplo é a chamada Primave-ra Árabe, série de protestos organizados nas redes sociais no Egito, Líbia, Tunísia e alguns outros países”, explica Masullo, professor da Universidade Católica de

A amnésia infantil acontece porque o hipocampo, parte do lobo temporal mediano do cérebro, ain-da está em formação nos primeiros anos de vida. O neurocientista Carlos Tomaz, da Universidade de Brasília, explica que essa área precisa estar totalmente formada para armazenar as memórias declarativas – aquelas que conseguimos evocar conscientemente. O hipocampo recebe esse nome porque tem a forma de um cavalo-marinho, do latim hipocampus. Seu processo de desenvolvimento e maturação se estende até os três anos e meio de idade, aproximadamente. Só então as memórias declarativas são gravadas. Mas isso não signifi ca que os acontecimentos dos primeiros meses de vida não sejam memorizados. As chamadas memórias não-declarativas, ou implícitas, fi cam armazenadas em outras partes do cérebro. São lembranças de conteúdo emocional, como o contato afetivo da mãe com o fi lho, e podem ser evocadas de forma inconsciente e acompanhar o indivíduo ao longo da vida.

Você sabe por que não se lembra de quando era bebê? Por causa do cavalo-marinho

Foto: Nayara M

achado

Ilustração: Vítor Faria/Colaboração

Manifestações tomam forma nas redes sociais e evidenciam a volta de um bom momento para lutar pelos direitos políticos e sociais de forma apartidária e mais democrática

6 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011

Foto: Gustavo Lyra / Colaboração

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COMPORTAMENTO

Paula Bittar

Do céu ao inferno na rodovia BR-060Em alta velocidade, motoqueiros fazem “rachas”, esquecem a segurança e arriscam a própria vida, além da de outros condutores que trafegam pela pista que liga as cidades de Brasília e Goiânia

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011 7

Ficou no passado o velocímetro que não passava de 299km/h. As mo-tos esportivas de hoje, dependendo

do modelo, facilmente ultrapassam os 300km/h. Podem chegar a 100km/h em apenas três segundos. Os dados assustam quem desconhece o mundo do motociclis-mo. Aliados às praticas imprudentes dos pilotos, na conta fi nal, resultam em outros números fatais.

A BR-060, estrada que liga Brasília a Goiânia, é roteiro de motociclistas aos fi -nais de semana. Quem trafega por esse trecho aos sábados ou domingos com cer-teza já cruzou com algum grupo de mo-tos. A estrada é boa e duplicada em toda sua extensão. Atrativo para quem quer aproveitar o passeio de maneira segura, mas também para quem quer atingir a velocidade máxima do mostrador. “Ace-lerar é fácil. Frear é delicado”, afi rma Antônio Augusto, gerente de uma loja de motos importadas e que pratica motoci-clismo há 37 anos.

Até setembro deste ano, a Polícia Ro-doviária Federal (PRF) registrou, ao longo do trecho, 35 acidentes envolvendo moto-cicletas e motonetas (tipo de moto em que o condutor fi ca sentado e não montado). Foram 24 feridos leves, 11 gravemente e uma morte. Embora registros mostrem apenas uma vítima fatal, os depoimentos de motociclistas dizem o contrário. A PRF explica que somente mortes notifi cadas no local do acidente entram no sistema. De-pois que os feridos são encaminhados ao hospital o registro fi ca defasado. Há ape-nas dois meses de Vicente Gonzalez, mais conhecido por Speedy, piloto há 40 anos, perdeu um amigo em um acidente de moto na estrada. A relevância do número de aci-dentes vê-se no lamento: “Pelo menos uma vez por ano vou ao enterro de um colega. Sempre é jaspeiro,” diz Speedy.

O piloto pode estar acostumado a andar por determinada es-trada, mas as condi-ções da pista não são as mesmas sempre.

DIFERENÇASMotociclistas não são motoqueiros.

O respeito pelas leis de trânsito distin-gue essas duas categorias. Motoqueiro é aquele que não obedece às leis, inde-pendentemente do modelo de moto que conduz. Motociclista, além de seguir a legislação, pratica direção defensiva. Essa classificação é feita pelos pró-prios motociclistas e também pela polí-

cia. “Já cansamos de ver imprudên-cias. As estatísticas não mostram o que de fato acontece”, afirma o sargento Valtency Alves, do Posto Policial Militar Rodoviário.

É muito comum motoclubes ou até mesmo grupo de amigos organizarem viagens curtas até Goiânia, Pirenópo-lis, Jaraguá ou apenas ao Jerivá – res-

taurante próximo à Abadiânia. Seguem em comboio para garantir maior segu-rança. O objetivo é desfrutar ao máximo do passeio de moto e aproveitar a com-panhia dos amigos, sem imprudências e alta velocidade.

Devido ao baixo efetivo de policiais, são feitas somente inspeções nos do-cumentos da moto e do condutor. Ou-tro problema que impede flagrantes é o Twitter. O motociclista que passa primeiro pela blitz avisa aos outros. Com o controlador de velocidade, eles não se preocupam tanto, pois os que operam na via são móveis e só fotogra-fam pela frente. Motos não têm placa na dianteira. Alguns levantam a placa traseira, assim burlam também outros tipos de pardais.

Motociclismo é muito mais que um hobby. Com ou sem estereótipos, é uma atividade perigosa para alguns e cons-ciente para outros. Os 40 anos de pilotagem bem definem: “Motociclismo é irmandade, liberdade, paixão. Nas viagens

a gente aproveita a paisagem”, diz Speedy.

“Motoqueiro é entregador de pizza”, completa. Parece brincadeira, entretanto as diferenças acentuam a rivalidade. Ninguém admite que acelera mais do que é permitido na via. Nestor Evangelista, 43 anos, pilota um modelo esportivo e diz que a velocidade alta não é constante. “A ignorância com a vida não é tanta, mas se tiver pista a gente acele-ra,” completa.

“A velocidade não é o principal atrativo. O ar no rosto, a mobilidade rápida, as freadas precisas e o aguçamento de todos os sentidos é o que buscamos”, diz o médico-motociclista Kim-Ir-Sem Teixeira.

Pedrinhas deixadas por caminhões, óleo na pista ou o descuido de outros motoris-tas combinados à velocidade alta, pouca experiência e direção imprudente do mo-tociclista podem infl uenciar no acidente. Lara Fernanda Silveira, 21 anos, estudan-te de Administração, mesmo com a veloci-dade reduzida, quase não conseguiu frear em tempo de evitar uma colisão, quando um caminhão a fechou em uma curva. A moto que vinha logo atrás não conseguiu parar e bateu na traseira do carro. “Foi questão de segundos”, disse Fernanda.

O trecho Brasília-Goiânia tem 202 qui-lômetros de extensão. A velocidade máxi-ma permitida é de 110km/h. Uma viagem habitual dura em média duas horas. O menor tempo entre as capitais é de 46 mi-nutos, dizem alguns motociclistas que não querem ser identifi cados.

“Local de corrida é só em autódromo. Nenhuma via no país comporta velocida-des acima de 200km/h”, diz o major Sér-gio Roballo, subcomandante do Batalhão da Polícia Militar de Trânsito, especialista em trânsito e condutor de motocicleta há 20 anos. Em Brasília, uma vez por mês, a pista do Autódromo Nelson Piquet é libe-rada para os motociclistas. É o Track Day. Além disso, há cursos de direção defensi-va e pilotagem para aqueles que querem adquirir mais experiência. Roberto Sávio, 45 anos de idade e piloto há 30, presidente

da Federação de Motoclubes de Brasília, diz que quem pratica dentro do autó-dromo não corre em rodovias.

de motociclistas dizem o contrário. A PRF explica que somente mortes notifi cadas no local do acidente entram no sistema. De-pois que os feridos são encaminhados ao hospital o registro fi ca defasado. Há ape-nas dois meses de Vicente Gonzalez, mais conhecido por Speedy, piloto há 40 anos, perdeu um amigo em um acidente de moto na estrada. A relevância do número de aci-dentes vê-se no lamento: “Pelo menos uma vez por ano vou ao enterro de um colega. Sempre é jaspeiro,” diz Speedy.

O piloto pode estar acostumado a andar por determinada es-trada, mas as condi-ções da pista não são as mesmas sempre.

Motociclistas não são motoqueiros. O respeito pelas leis de trânsito distin-gue essas duas categorias. Motoqueiro é aquele que não obedece às leis, inde-pendentemente do modelo de moto que conduz. Motociclista, além de seguir a legislação, pratica direção defensiva. Essa classificação é feita pelos pró-prios motociclistas e também pela polí-

cia. “Já cansamos de ver imprudên-cias. As estatísticas não mostram o que de fato acontece”, afirma o sargento Valtency Alves, do Posto Policial Militar Rodoviário.

É muito comum motoclubes ou até mesmo grupo de amigos organizarem viagens curtas até Goiânia, Pirenópo-lis, Jaraguá ou apenas ao Jerivá – res-

em comboio para garantir maior segu-rança. O objetivo é desfrutar ao máximo do passeio de moto e aproveitar a com-panhia dos amigos, sem imprudências e alta velocidade.

Devido ao baixo efetivo de policiais, são feitas somente inspeções nos do-cumentos da moto e do condutor. Ou-tro problema que impede flagrantes é o Twitter. O motociclista que passa primeiro pela blitz avisa aos outros. Com o controlador de velocidade, eles não se preocupam tanto, pois os que operam na via são móveis e só fotogra-fam pela frente. Motos não têm placa na dianteira. Alguns levantam a placa traseira, assim burlam também outros tipos de pardais.

45 anos de idade e piloto há 30, presidente da Federação de Motoclubes de Brasília, diz que quem pratica dentro do autó-dromo não corre em rodovias.

Motociclista passeando pela BR-060. Roupa especial evita que a queda agrave os ferimentos. O preço do macacão pode chegar a R$ 4 mil

Foto: Gustavo Lyra / Colaboração

Ilustração: Felipe Manga / Colaboração

Motociclismo é muito mais que um hobby. Com ou sem estereótipos, é uma atividade perigosa para alguns e cons-ciente para outros. Os 40 anos de pilotagem bem definem: “Motociclismo é irmandade, liberdade, paixão. Nas viagens

a gente aproveita a paisagem”, diz Speedy.

Page 8: Campus nº. 367

Entre tintas e ácidos, a vitalidade de uma grande gravurista

João Paulo Mariano

Ao passar pela QL 8 do Lago Sul, por favor, pare na casa de Lêda Watson e contemple um lugar com uma portinha que parece ter saído de uma dessas histórias fantasiosas, dando acesso a um jardim com um caminho de pedaços de pedras e grama. O verde toma conta de tudo. A dona da residência adora plantas e fazia questão de plantar todas. Fazia questão, não faz mais. Hoje, com 78 anos, a renomada gravurista de Brasília não conserva no corpo a jovialidade de anos atrás. Mas a mente, sempre em movimento, traz vergonha à juventude cronológica de qualquer um.

Sincera e falante, duas qualidades de Lêda Watson Saldanha da Gama. “Eu fui boba.” Ela ri de si mesma. “Tirei o [sobrenome] Campo-fiorito por bobagem para colocar Watson [do ex-marido]. Eu não sabia que ia me separar depois.” A risada da senhora de pele bem cla-ra, olhos azuis e um cabelo loiro entremeado de fios brancos é forte e alta. O ex-aluno e gravurista Luiz Galina afirma que Leda é uma mulher de ações intensas, traço da origem ítalo-espanhola. “Eu nunca tinha feito calco-gravura [gravura em metal]. Ela me ensinou. Adoro ouvi-la falar.” A artista não sabe o tanto de alunos que teve. Fez inúmeros cursos e ex-posições no Brasil e exterior.

O olhar de professora é impecável. Uma das alunas estava com uma placa de metal aparentemente sem defeito, mas para Lêda, que estudou Belas Artes durante três anos no Rio de Janeiro, três em Paris e dois e meio em Brasília, além dos 44 anos de dedicação à gravura, a placa estava um pouco empenada. “Você vai ter que bater nela um pouco!”. Con-selho dado. Conselho acatado. Após alguns

minutos, a aluna Helena Vieira volta com a placa desempenada. Helena admira a felicida-de que Lêda demonstra quando alguém sente prazer em fazer gravura. “Ela tem disposição, energia e disciplina incríveis”, afirma a aluna. Lêda é rígida com os materiais. Apesar das tin-tas, vernizes, ácidos, tudo estava limpo e no seu lugar. Seus trabalhos de gravura não fogem a essa regra. “Você pode até falar que o meu trabalho é feio, mas não pode dizer que ele não é sério”, enfatiza.

“A gravura permite explodir meus senti-mentos. O ácido ajuda. E, ao mesmo tempo, ela é extremamente racional, pois tem métodos difíceis.” Lêda expressa emoções por meio de sua arte. Brinca que um amigo diz que não precisa ir ao analista, pois dá para perceber todos os sentimentos nas obras. Isso é perceptível na série Emoções, produzida depois da separação, após 24 anos de casada. “Refleti sobre a vida, pois tinha que recomeçar”, diz a artista. Ela teve que deixar tudo quando se casou no Rio, por causa das viagens do marido. Nessa época, ela era professora de artes.

Por onde passa, Lêda deixa amor pela gravu-ra. Ela fundou o primeiro Núcleo de Gravadores de Brasília (1981) e é responsável pela criação do Clube da Gravura (1989). “Tinha estatuto. Porém, as pessoas não ajudavam financeira-mente”, diz Lêda. Para Andréa Capí, gravurista participante do clube, o grupo não deu muito certo, mesmo a ideia sendo boa.

As lembranças da adolescência são cheias

de saudosismo e carinho: “Meu pai era apo-sentado por doença. Era muito amoroso e pre-sente. Isso foi bom porque a minha mãe era uma professora que trabalhava bastante.” Os olhos lacrimejam. A voz embarga. O pai morreu quando ela tinha 23 anos. A mãe mora em Ni-terói e tem 102 anos.

Mãe de três filhos, cinco netos e três bisne-tos, a gravurista gostaria de uma família maior. “Já tive a casa muito cheia, agora estou cui-dando de mim”, afirma. “Hoje, os familiares são mais distantes. Eles não precisam mais tanto da avó.” Aqui ela não mais lacrimeja,

sorri cheia de aceita-ção. Ela mora com um filho que tem “proble-mas emocionais” e fica aos cuidados de Luiz, que trabalha com Lêda há 15 anos. Nome fácil nos lábios da artista: “Oh, Luiiiizz!”

Luiz trabalha desde os 17 anos com Lêda Watson. Afirma ser

uma patroa boa e correta. “Às vezes, a gente se desentende, mas dá tudo certo.” Luiz lembra que ela jogou vôlei na juventude, faz gravuras, exposições, viagens a vários lugares do mundo, caminhadas, visita a creches, lançou um livro sobre os 40 anos de sua obra em 2008 e tan-tas coisas mais. “Ela já passou por dificuldades físicas grandes, como um problema no joelho, mas não desiste”, diz Luiz. É perceptível o seu andar vagaroso e com certo movimento manco, mas firme, como se tivesse sempre um objeti-vo claro bem à frente. E talvez exista este ob-jetivo mesmo: “Ter momentos de felicidade”.

Fotos: Larissa de CastroDa esquerda para a direita: 1 – Lêda usa

sua prensa para gravuras metálicas; 2 – Atualmente a gravurista trabalha e

recebe seus alunos em seu ateliê no Lago Sul; 3 – Lêda em seu antigo ateliê em

Brasília, na 504 sul; 4 – Experiência de 44 anos com gravura em metal;

5 – Gravura “Poluição”, de 1977

PERFIL: Lêda Watson

“Você pode até falar que o meu trabalho

é feio, mas não pode dizer que ele não

é sério”

8 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 27 de setembro a 03 de outubro de 2011

E m o ç õ E s q u E m a r c a m o m E t a l