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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Departamento de Engenharia Agrícola e Solos – DEAS
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS SOLOS DA REGIÃO DO CAMULENGO NO MUNICÍPIO DE BARRA DA ESTIVA – BAHIA
Álvaro Nunes Ferraz Neto
2011
Álvaro Nunes Ferraz Neto
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Caracterização Química dos Solos da Região do Camulengo no Município de Barra da Estiva – Bahia
Monografia apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, como parte das exigências do programa de Pós-Graduação latu sensu Gestão da Cadeia Produtiva de Café com Ênfase em Sustentabilidade para obtenção de título de “especialista”
Orientador:
Professor M. Sc Carlos Henrique F. Amorim
Vitória da Conquista – BA
2011
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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Departamento de Engenharia Agrícola e Solos – DEAS
DECLARAÇÃO DE APROVAÇÃO
Título: “Caracterização Química dos Solos da Região do Camulengo no Município de Barra da Estiva – Bahia”
Autor: Álvaro Nunes Ferraz Neto
Aprovado como parte das exigências para obtenção do Titulo de ESPECIALISTA, pela Banca Examinadora:
___________________________________________________________ Professor Carlos Henrique F. Amorim, DEAS – UESB
Orientador
_____________________________________________________________ Professora Célia Maria de Araujo Ponte, DEAS – UESB
________________________________________________________________ Engenheiro Agrônomo Fábio Lucio Martins – EBDA
Data da realização: 25 de março de 2011
Curso de Especialização em nível Lato sensu em Gestão e Cadeia Produtiva do Café com Ênfase em Sustentabilidade
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Agradecimentos
A Deus que sempre esteve ao meu lado nas horas boas e não me abandonando nas horas
difíceis sempre me iluminando e abrindo os caminhos;
A minha esposa Daiane Ferraz e Ferraz e a filha querida Camila Nunes Ferraz e Ferraz, que
sempre me incentivaram e tiveram muita paciência;
A minha mãe Inácia Ferraz que sempre tem pensamentos positivos e muitos incentivos;
Ao Laboratório de Solos do Departamento de Engenharia Agrícola e Solos da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, pelo apoio;
A Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Camulengo e Região pelo apoio nas
visitas e coleta das amostras;
Aos amigos Engenheiros Agrônomos Rodrigo Haun e Mateus Vicente;
Ao amigo que me ajudou nas traduções de alguns textos Rodrigo Ferraz Madureira;
Ao Secretario da Agricultura de Barra da Estiva, José Henrique S. Tinoco e a equipe da
secretaria da agricultura que ajudaram de alguma forma nos encaminhamentos dos solos;
Ao amigo Antônio Silvio Maia Freire nas visitas as propriedades rurais e coletas de solo;
Ao meu orientador Professor Carlos Henrique F. Amorim, a professora Célia Maria de
Araújo Ponte ao Engenheiro Agrônomo Fábio Lúcio Martins Neto;
A coordenação do curso e aos professores;
A todos que indiretamente tiveram participação com o sucesso da conclusão deste curso.
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Lista de Figuras
Figura 01: A localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras na
Serra do Sincorá........................................................................................................ 5
Figuras 02: As lavouras foram implantadas nestes últimos anos sem qualquer critério ou
assistência técnica........................................................................................................ 5
Figura 03: Lavouras com péssimo aspecto vegetativo e os solos descobertos como uso de
arado para controle das ervas daninhas........................................................................ 6
Figura 04: Realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para
capacitação................................................................................................................. 7
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Lista de Tabelas
Tabela 1 – Distribuição de frequência do pH em água de amostras de solos. Barra da Estiva-
BA, 20101 ................................................................................................................ 8
Tabela 2 – Distribuição de freqüência de teor de alumínio trocável (cmolc.dm3) segundo
classes de interpretação de Alvarez V. (1999). Barra da Estiva-BA,
20101.............................................................................................................................. 09
Tabela 3 – Distribuição de freqüência de teores de fósforo (mg.dm-3) disponível em
amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101. .......................................................... 10
Tabela 4 – Distribuição de freqüência de teores de potássio (mg.dm-3) disponível em
amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101. ............................................................10
Tabela 5 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Cálcio e Magnésio
trocáveis (cmolc.dm-3). Barra da Estiva-BA, 20101..................................................................... ......11
Tabela 6 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação de fertilidade para a CTC
efetiva (t) e CTC a pH 7,0 (T) e saturação por bases (V). Barra da Estiva-BA,
20101.................................................................................................................................... 11
Tabela 7 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Saturação por alumínio (m%). Barra da Estiva-BA, 20101................................................................ 12
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Sumario
Resumo...................................................................................................................... 1
Introdução.................................................................................................................. 2
Material e Métodos.................................................................................................... 4
Resultado e Discussão................................................................................................ 8
Conclusões............................................................................................................... 13
Referencias Bibliográficas......................................................................................... 14
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Resumo
Este trabalho foi realizado na região do Camulengo e Ginete localizado no município
de Barra da Estiva – Ba, com o objetivo de avaliar a fertilidade do solo e relacionar com a
produção da lavoura cafeeira. Foram coletadas 100 amostras na profundidade de 0 – 20cm e
analisadas no Laboratório da Analise Química do Solo da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Vitória da Conquista. Foi observado que 93% das
amostras apresentam acidez elevada a muito elevada e 92% com teores altos a muito alto de
alumínio trocável, sendo que 30% destes apresentaram teores superiores a 4,0 cmolc.dm-3 e o
teor máximo encontrado de alumínio foi de 6,4 cmolc.dm-3, correspondendo a 2% do total
das amostras. Os solos analisados apresentaram baixo índice de saturação em bases tocáveis,
alto índice de saturação com alumínio e baixos teores de P e Ca. A baixa fertilidade natural
do solo e a utilização do manejo inadequado refletem nos baixos índices de produtividade
dos cafeeiros daquela região.
Palavras – chave: Coffea arabica; atributos químicos; fertilidade do solo.
ABSTRACT: This study was conducted in the region of Camulengo and Ginete, in Barra da Estiva, Bahia, Brazil, with the objective of evaluating soil fertility and its relationship with the coffee production. A hundred samples were collected at a depth of 0-20cm and analyzed at the Laboratory of Soil Chemistry Analysis at Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Vitória da Conquista-BA. It was observed that 93% of the samples showed high to very high acidity, 92% of the samples had high to very high levels of aluminum, and 30% of those had levels exceeding 4.0 cmolc.dm-3 Al+3; the maximum level of aluminum was 6.4cmolc.dm-3, corresponding 2% of total samples. The soils studied had low base saturation touchable, high levels of aluminum saturation and low levels of P and Ca. The low natural soil fertility and use of improper soil management reflected in low productivity rates of the coffee trees in that region.
Keywords: Coffea arabica, chemical attributes, soil fertility.
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Introdução
A cafeicultura tem grande destaque no cenário nacional, sendo uma atividade econômica de
grande importância, gerando emprego, renda e divisas ao país. A área cultivada com a
cultura de café no País totaliza 2.289,2 mil hectares, e a safra de café beneficiado, em
2009/10, apresentou uma produção de 48,09 milhões de sacas de 60 quilos. O resultado
obtido representa um acréscimo de 21,9% ou 8,62 milhões de sacas, quando comparado com
a produção de 39,47 milhões de sacas obtidas na safra 2009 (CONAB, 2010). O Estado da
Bahia atualmente é o quarto produtor no ranking nacional, onde encontram – se as espécies
arábica e conilon. Considerando a espécie conilon, a Bahia é o terceiro maior produtor,
ficando atrás dos Estados do Espírito Santo e de Rondônia. A produtividade média do
Estado ficou em 16,43 sacas por hectare em 2010, índice 10,6% acima da obtida na safra
anterior (14,85 sacas) (CONAB, 2010). Neste Estado a cultura do café encontra-se em
diferentes regiões fisiográficas: (1) Região do Atlântico, situada no litoral sul e extremo sul,
onde se encontra espécie Coffea canephora Pierre; (2) Região do Oeste, correspondendo ao
cerrado central brasileiro (Barreiras e outros municípios), sendo cultivado Coffea arabica L.;
(3) Região do Planalto, abrange Planalto de Vitória da Conquista, Jequié/Santa Inês e
Chapada Diamantina, onde predomina baixa tecnologia, é cultivada a espécie arábica. A
região do Planalto apresentou, em 2010, produtividade média de 12,02 sacas por hectare,
abaixo da média estadual (CONAB, 2010).
O município de Barra da Estiva localiza-se na Chapada Diamantina, apresentando clima
úmido-subúmido (AZEVEDO e SILVA, 2000). O Complexo conhecido como Serra do
Sincorá atravessa a região da Chapada Diamantina no sentido SSE-NNW, com altitudes de
até 1.600m. Nesta Serra encontram-se comunidades quilombolas – Camulengo e Ginete –
que se dedicam à agricultura tradicional, seguindo práticas de seus ancestrais, sem, no
entanto, realizarem práticas conservacionistas de solo e água ou manejo cultural. Nestas
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localidades a cafeicultura é praticada sem o uso de insumos agrícolas, consequentemente
observa-se plantas sem vigor vegetativo e solos empobrecidos/erodidos devido à ausência da
utilização de técnicas agrícolas na implantação e condução dos cafeeiros.
Através da assistência técnica prestada pela Secretaria de Agricultura daquele município
realizou-se um levantamento da fertilidade de solos nas comunidades quilombolas com a
finalidade de avaliar quimicamente os mesmos e a causa da baixa produtividade dos
cafezais, bem como orientar os produtores em relação a técnicas conservacionistas de solo e
água, uso de calagem e adubação, objetivando uma melhoria na produtividade da cultura do
café.
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Material e Método
O município de Barra da Estiva está inserido na Chapada Diamantina, Mesorregião Centro-
Oeste do Estado da Bahia, localiza-se a 13º04’S e 41º02’W, apresentando altitude média de
1.040 m, temperatura média de 19,1ºC e precipitação pluviométrica de 1.007,5mm anuais
(AZEVEDO e SILVA, 2000).
Foram analisadas 100 (cem) amostras oriundas das comunidades de Ginete e Camulengo,
município de Barra da Estiva-BA. Coletou-se uma amostra composta de solo, na
profundidade de 0 a 20 cm, em cada propriedade rural previamente selecionada. Durante a
coleta das amostras observou-se todas as recomendações técnicas, retirando-se as amostras
na projeção da copa da planta de café.
As amostras foram encaminhadas ao Laboratório de solos da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista-Ba, onde determinou-se, segundo a
metodologia da Embrapa Solos (EMBRAPA, 1997), os seguintes parâmetros: pH em água
(1:2,5, TFSA: água deionizada), cálcio, magnésio e alumínio trocáveis (KCl 1N), fósforo e
potássio disponíveis (Mehlich1), H++Al+3 (método SMP).
Os resultados obtidos foram analisados determinando-se a frequência (%) dos atributos
químicos avaliados, classificando-os segundo os critérios de interpretação de análise de
solos propostos pela Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (MG)
(RIBEIRO et al., 1999).
A figura 02 mostra a localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras
na Serra do Sincorá do município de Barra da Estiva. O relevo da região é bastante
acidentado com inclinações superiores a 45º graus onde as lavouras foram implantadas
nestes últimos anos sem qualquer critério ou assistência técnica como mostra a figura 01.
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Figura 01: A localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras na Serra do Sincorá.
Figuras 02: as lavouras foram implantadas nestes últimos anos sem qualquer critério ou assistência técnica.
Objetivou-se, com este trabalho, verificar as principais causas da baixa produtividade da
lavoura cafeeira na região com produtividade muito abaixo da média nacional, através das
visitas realizadas nas propriedades observou – se muitas lavouras depauperadas, solos
descobertos, manejo de plantas e solo inexistente onde se buscou as causas, com o
encaminhamento dos solos para o laboratório, onde foi encontrada a primeira causa da baixa
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produção cafeeira da região, com os resultados das analises do solo observou-se o
desequilíbrio existente entre do pH muito baixo na maioria dos resultados e o alto índice de
alumínio no solo desequilibrado os demais elementos essências para as plantas, para este
trabalho através das analise foi visto a relação da porcentagem de analises com o alto índice
de Alumínio e o pH baixo para com isto iniciar os trabalhos de melhoria da estrutura do
solo, visando diagnosticar a situação adversa em que se encontram as lavouras com péssimo
aspecto vegetativo sem manejo de planta e solo, sendo visto um perfil de solo totalmente
descobertos com uso de arados para controle de cervas daninhas (figura 04). Tendo um
parque cafeeiro implantado na região a mais de 30 anos quando se fez as ultimas analises de
solo.
Figuras 03: Lavouras com péssimo aspecto vegetativo e os solos descobertos como uso de arado para controle das ervas daninhas.
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Os produtores da cafeicultura familiar têm grandes dificuldades em assimilar as orientações
por este motivo foram realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para
capacitação e buscando subsídios que possibilitem a recomendação e manejo correto do solo
e planta mais adequado como mostra a figura 04.
Figuras 04: Realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para capacitação.
Nessas condições, em que os fatores climáticos atuam intensamente e os solos são bastante
intemperizados, a matéria orgânica é a principal responsável pela capacidade de troca
catiônica (CTC), retenção de água e estruturação do solo (CANELLAS; SANTOS, 2005).
Meda et al. (2002) afirmam que para estender os efeitos da calagem em profundidade ou
promover a movimentação de cátions, basicamente, três praticas podem ser utilizadas: a
incorporação motomecanizada, a mobilização químico – inorgânica (uso do gesso agrícola)
e a mobilização químico – orgânico. O uso de materiais vegetais associados à calagem é
capaz de potencializar o efeito da calagem mobilizando a chamada frente alcalina. Autores
de experimentos feitos em colunas de solos montadas em laboratório atribuem a percoloção
de Ca2+ e Mg2+ para a subsuperfície, à liberação de compostos orgânicos hidrossolúveis de
baixa massa molar, pelos materiais vegetais presentes na superfície do solo, antes do inicio
da decomposição microbiana (MIYAZAWA et al., 1996; ZIGLIO et al., 1999; FRANCHINI
et al., 1999 a,b).
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Resultados e Discussão
Observa-se na Tabela 1 que a grande maioria (93%) dos solos avaliados apresentou acidez
muito elevada (42%) a elevada (51%). O pH dos solos reflete a presença de íons H+ e Al3+
presentes no complexo de troca (KIEHL, 1979), representando a acidez ativa do solo.
Tabela 1. Distribuição de frequência do pH em água de amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.
Acidez muito elevada
Acidez elevada
Acidez média
Acidez fraca Neutro Alcalinidade fraca
Alcalinidade elevada
< 4,5 4,5-5,0 5,1-6,0 6,1-6,9 7,0 7,1-7,8 >7,8
42% 51% 7% - - - -
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
A acidez é comum em solos de regiões onde a precipitação é suficientemente elevada para
lixiviar quantidades apreciáveis de bases permutáveis (como o cálcio e o magnésio) na água
de drenagem drenagem. As bases são substituídas por íons acidificantes como o
hidrogênio, o manganês e o alumínio. Assim sendo, os solos formados sob condições de alta
pluviosidade, que apresentem boa drenagem, são mais ácidos do que aqueles formados sob
condições áridas (LOPES,1989). Os resultados obtidos refletem as características dos
Latossolos regionais, depauperados devido ao manejo inadequado, e a ausência de calagem e
adubação adequadas para a cultura do café.
A Tabela 2 relaciona-se com os resultados de pH (Tabela 1), uma vez que os índices de
alumínio trocável foram muito elevados em 85% dos solos estudados. RAIJ (1991), afirma
que o alumínio disponível é uma das causas da acidez excessiva de solos, sendo um dos
responsáveis pelos efeitos desfavoráveis desta sobre os vegetais, por ser um elemento
fitotóxico. Em condições elevadas de acidez dos solos, podem ocorrer também teores
solúveis de outros metais, como manganês e até ferro, também tóxicos para as plantas, se
absorvidos em quantidades excessivas.
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Tabela 2. Distribuição de freqüência de teor de alumínio trocável (cmolc.dm3) segundo classes de interpretação de Alvarez V. (1999). Barra da Estiva-BA, 20101.
Muito baixo Baixo Médio Alta Muito alta
≤ 0,20 0,21-0,50 0,51-1,00 1,01-2,00 > 2,00
1% 2% 5% 7% 85%
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
Outras causas da acidez, segundo COELHO (1973), são o cultivo intensivo, pois as plantas
retiram do solo os nutrientes essenciais de que necessitam para seu desenvolvimento e
produção, e como as adubações são geralmente deficientes em cálcio e magnésio, o solo vai-
se empobrecendo nessas bases trocáveis, ficando em seu lugar íons de hidrogênio. A erosão
também pode ser uma das causas, pois ocorre a remoção da camada superficial do solo, que
possui maiores teores de bases e favorece a acidificação do solo, expondo as camadas mais
ácidas do subsolo. Nas áreas avaliadas foram observados processos erosivos devido ao
manejo incorreto do solo, uma vez que os produtores utilizavam arados para capinas, no
sentido “morro abaixo”. Esta prática agrícola pode ter contribuído para expor camadas mais
ácidas dos solos.
Com relação aos teores de P foram considerados baixo e muito baixo (Tabela 3), o que
indica a ausência de utilização de fontes do nutriente. O fósforo é o nutriente que mais limita
a produção das culturas em solos pouco ou nunca adubados (RAIJ et al., 1996). As
limitações na disponibilidade de fósforo no início do ciclo vegetativo podem resultar em
restrições no desenvolvimento, das quais a planta não se recupera posteriormente, mesmo
aumentando o suprimento de P a níveis adequados (Grant et al., 2001).
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Tabela 3. Distribuição de freqüência de teores de fósforo (mg.dm-3) disponível em amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
0,0-4,0 4,1-8,0 8,1-12,0 12,1-18,0 > 18,0
87% 12% 1% - -
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
Os teores de potássio dos resultados das análises de solo apresentou 63% das amostras como
médio a muito bom (Tabela 4). O potássio é o segundo nutriente mais requerido pelas
plantas de café, cuja exigência aumenta com a idade das plantas. O potássio também
desempenha um papel importante na fisiologia do cafeeiro, especialmente durante o
crescimento e maturação dos frutos.
Tabela 4. Distribuição de freqüência de teores de potássio (mg.dm-3) disponível em amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
≤ 15 16-40 41-70 71-120 > 120
3% 34% 36% 20% 7%
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
Para o cálcio verifica-se que os teores foram considerados baixo e muito baixos (Tabela 5),
conforme classificação descrita por Alvarez (1999), indicando deficiência desse nutriente
para o desenvolvimento vegetal. Já, os teores de magnésio (Tabela 5), somente 27% foram
considerados baixos a muito baixo.
No Estado da Bahia predominam solo de baixa fertilidade, cujo aproveitamento racional,
com médios a altos rendimentos, só é conseguido com o emprego de fertilizantes e
corretivos, em quantidades adequadas e variáveis conforme as exigências específicas de
cada cultura e tipo de solo (CORRÊA e MORAES FILHO, 2001).
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Tabela 5. Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Cálcio e Magnésio trocáveis (cmolc.dm-
3). Barra da Estiva-BA, 20101.
Ca+2 (cmolc.dm-3)
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
≤ 0,40 0,41-1,20 1,21-2,40 2,41-4,00 > 4,00
30% 49% 13% 8% -
Mg +2 (cmolc.dm-3)
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
< 0,15 0,16-0,45 0,46-0,90 0,91-1,50 >1,50
1% 26% 52% 14% 7%
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
A Tabela 6 indica a quantidade de bases trocáveis na CTC a pH 7,0 e a saturação de
alumínio na CTC efetiva do solo; para a CTC a pH 7,0, verifica-se que 99% dos solos estão
classificados como bom e muito bom. A CTC a pH 7,0 do solo é expressa em termos de
quantidade de carga e representa a capacidade máxima que tem o solo de reter cátions
enquanto a CTC efetiva indica onde ocorrem as trocas catiônicas. A maioria dos solos
encontra-se com índice por saturação de bases (Tabela 6) baixo e muito baixo (96%),
considerados inapropriados para o cultivo do café sem as devidas correções.
Tabela 6. Distribuição de freqüência de classes de interpretação de fertilidade para a CTC efetiva (t) e CTC a pH 7,0 (T) e saturação por bases (V). Barra da Estiva-BA, 20101.
Característica Unidade Classificação
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
CTC efetiva (t) cmolc.dm3 ≤ 0,8 0,8-2,3 2,31-4,6 4,61-8,0 >8,0
- - 36% 64% -
CTCpH 7,0 (T) cmolc.dm3 ≤ 1,6 1,61-4,3 4,31-8,6 8,61-15,0 >15,0
- - 1% 44% 55%
Saturação por bases (V)
% ≤ 20,0 20,1-40,0 40,1-60,0 60,1-80,0 >80
85% 11% 3% 1%
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
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O valor m (%) ou índice de saturação por alumínio expressa a porcentagem que o alumínio
trocável está ocupando na CTC efetiva do solo. Verifica-se que 81% dos resultados
(encontrados são classificados com valores de saturação por alumínio alto a muito alto
Tabela7), ou seja, a maioria dos solos explorados pelos quilombolas do Planalto de Barra da
Estiva apresenta a CTC efetiva ocupada predominantemente pelo alumínio trocável.
Segundo Quaggio (2000), quando uma saturação por alumínio for superior a 30%, ocorrerá
limitação no crescimento das raízes da maioria das plantas cultivadas, o que foi observado
nos solos estudados.
Tabela 7. Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Saturação por alumínio (m%). Barra da Estiva-BA, 20101.
Muito baixo Baixo Médio Alta Muito alta
< 15,0 15,1-30,0 30,1-50,0 50,1-75,0 >75,0
5% 6% 8% 40% 41%
1Fonte: ALVAREZ, 1999.
Segundo Rheinheimer et al., (2000), a movimentação dos produtos da dissolução do calcário
depende dos fatores tempo e doses de calcário, e enquanto existirem cátions ácidos (H+,
Al3+, Fe e Mn2+), a relação de neutralizantes da acidez ficará limitada à camada superficial,
retardando o efeito em subsuperfície. Os íons OH- e HCO3- provenientes da dissolução do
calcário, são rapidamente constituídos pelos cátions ácidos e somente migram para porções
inferiores em pH maior que 5,0. Em sistemas de cultivo convencional com a incorporação
do calcário aplicado Quaggio et al. (1985) observaram movimentação significativa de Cálcio
e Magnésio além alem da camada incorporada num Cambissolo álico, após 24 meses de
calagem.
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Conclusões
1. Através das análises químicas dos solos da região de Barra da Estiva, onde se encontra
implantado a cafeicultura, observou-se elevado índice de acidez e baixos teores de
nutrientes.
2. Dentre os solos da região fisiográfica do Planalto, abrangendo Planalto de Vitória da
Conquista, Jequié/Santa Inês e Chapada Diamantina, a localidade estudada apresentou o
mais alto teor de alumínio trocável.
3. Os resultados obtidos indicam a ausência da utilização de corretivos e adubos na
implantação e condução dos cafeeiros na região do Ginete e Camulengo, Barra da
Estiva-BA.
4. A baixa fertilidade natural do solo e a presença do alumínio potencializam os efeitos
nocivos no aspecto vegetativo e produtivo da lavoura cafeeira desta região.
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Referências Bibliográficas:
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CANELLAS, L. P.; SANTOS, G. A. Humosfera: Tratado preliminar sobre a química
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22
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GRANT, C.A.; FLATEN, D.N.; TOMASIEWICZ, D.J.; SHEPPARD, S.C. A Importância
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KIEHL, E.J. Manual de edafologia: relações solo – planta. São Paulo: Agronômica Ceres,
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LOPES, A.S. Manual de fertilidade do solo. São Paulo: ANDA/POTAFOS, 1989.153 p.
RAIJ, B. van. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo; Piracicaba: Ceres, POTAFOS,
1991.343 p.
RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ V., V. H. (Ed.). Recomendação
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