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1 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB Departamento de Engenharia Agrícola e Solos – DEAS CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS SOLOS DA REGIÃO DO CAMULENGO NO MUNICÍPIO DE BARRA DA ESTIVA – BAHIA Álvaro Nunes Ferraz Neto 2011 Álvaro Nunes Ferraz Neto

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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Departamento de Engenharia Agrícola e Solos – DEAS

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS SOLOS DA REGIÃO DO CAMULENGO NO MUNICÍPIO DE BARRA DA ESTIVA – BAHIA

Álvaro Nunes Ferraz Neto

2011

Álvaro Nunes Ferraz Neto

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Caracterização Química dos Solos da Região do Camulengo no Município de Barra da Estiva – Bahia

Monografia apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, como parte das exigências do programa de Pós-Graduação latu sensu Gestão da Cadeia Produtiva de Café com Ênfase em Sustentabilidade para obtenção de título de “especialista”

Orientador:

Professor M. Sc Carlos Henrique F. Amorim

Vitória da Conquista – BA

2011

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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Departamento de Engenharia Agrícola e Solos – DEAS

DECLARAÇÃO DE APROVAÇÃO

Título: “Caracterização Química dos Solos da Região do Camulengo no Município de Barra da Estiva – Bahia”

Autor: Álvaro Nunes Ferraz Neto

Aprovado como parte das exigências para obtenção do Titulo de ESPECIALISTA, pela Banca Examinadora:

___________________________________________________________ Professor Carlos Henrique F. Amorim, DEAS – UESB

Orientador

_____________________________________________________________ Professora Célia Maria de Araujo Ponte, DEAS – UESB

________________________________________________________________ Engenheiro Agrônomo Fábio Lucio Martins – EBDA

Data da realização: 25 de março de 2011

Curso de Especialização em nível Lato sensu em Gestão e Cadeia Produtiva do Café com Ênfase em Sustentabilidade

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Agradecimentos

A Deus que sempre esteve ao meu lado nas horas boas e não me abandonando nas horas

difíceis sempre me iluminando e abrindo os caminhos;

A minha esposa Daiane Ferraz e Ferraz e a filha querida Camila Nunes Ferraz e Ferraz, que

sempre me incentivaram e tiveram muita paciência;

A minha mãe Inácia Ferraz que sempre tem pensamentos positivos e muitos incentivos;

Ao Laboratório de Solos do Departamento de Engenharia Agrícola e Solos da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia, pelo apoio;

A Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Camulengo e Região pelo apoio nas

visitas e coleta das amostras;

Aos amigos Engenheiros Agrônomos Rodrigo Haun e Mateus Vicente;

Ao amigo que me ajudou nas traduções de alguns textos Rodrigo Ferraz Madureira;

Ao Secretario da Agricultura de Barra da Estiva, José Henrique S. Tinoco e a equipe da

secretaria da agricultura que ajudaram de alguma forma nos encaminhamentos dos solos;

Ao amigo Antônio Silvio Maia Freire nas visitas as propriedades rurais e coletas de solo;

Ao meu orientador Professor Carlos Henrique F. Amorim, a professora Célia Maria de

Araújo Ponte ao Engenheiro Agrônomo Fábio Lúcio Martins Neto;

A coordenação do curso e aos professores;

A todos que indiretamente tiveram participação com o sucesso da conclusão deste curso.

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Lista de Figuras

Figura 01: A localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras na

Serra do Sincorá........................................................................................................ 5

Figuras 02: As lavouras foram implantadas nestes últimos anos sem qualquer critério ou

assistência técnica........................................................................................................ 5

Figura 03: Lavouras com péssimo aspecto vegetativo e os solos descobertos como uso de

arado para controle das ervas daninhas........................................................................ 6

Figura 04: Realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para

capacitação................................................................................................................. 7

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Distribuição de frequência do pH em água de amostras de solos. Barra da Estiva-

BA, 20101 ................................................................................................................ 8

Tabela 2 – Distribuição de freqüência de teor de alumínio trocável (cmolc.dm3) segundo

classes de interpretação de Alvarez V. (1999). Barra da Estiva-BA,

20101.............................................................................................................................. 09

Tabela 3 – Distribuição de freqüência de teores de fósforo (mg.dm-3) disponível em

amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101. .......................................................... 10

Tabela 4 – Distribuição de freqüência de teores de potássio (mg.dm-3) disponível em

amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101. ............................................................10

Tabela 5 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Cálcio e Magnésio

trocáveis (cmolc.dm-3). Barra da Estiva-BA, 20101..................................................................... ......11

Tabela 6 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação de fertilidade para a CTC

efetiva (t) e CTC a pH 7,0 (T) e saturação por bases (V). Barra da Estiva-BA,

20101.................................................................................................................................... 11

Tabela 7 – Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Saturação por alumínio (m%). Barra da Estiva-BA, 20101................................................................ 12

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Sumario

Resumo...................................................................................................................... 1

Introdução.................................................................................................................. 2

Material e Métodos.................................................................................................... 4

Resultado e Discussão................................................................................................ 8

Conclusões............................................................................................................... 13

Referencias Bibliográficas......................................................................................... 14

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Resumo

Este trabalho foi realizado na região do Camulengo e Ginete localizado no município

de Barra da Estiva – Ba, com o objetivo de avaliar a fertilidade do solo e relacionar com a

produção da lavoura cafeeira. Foram coletadas 100 amostras na profundidade de 0 – 20cm e

analisadas no Laboratório da Analise Química do Solo da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Vitória da Conquista. Foi observado que 93% das

amostras apresentam acidez elevada a muito elevada e 92% com teores altos a muito alto de

alumínio trocável, sendo que 30% destes apresentaram teores superiores a 4,0 cmolc.dm-3 e o

teor máximo encontrado de alumínio foi de 6,4 cmolc.dm-3, correspondendo a 2% do total

das amostras. Os solos analisados apresentaram baixo índice de saturação em bases tocáveis,

alto índice de saturação com alumínio e baixos teores de P e Ca. A baixa fertilidade natural

do solo e a utilização do manejo inadequado refletem nos baixos índices de produtividade

dos cafeeiros daquela região.

Palavras – chave: Coffea arabica; atributos químicos; fertilidade do solo.

ABSTRACT: This study was conducted in the region of Camulengo and Ginete, in Barra da Estiva, Bahia, Brazil, with the objective of evaluating soil fertility and its relationship with the coffee production. A hundred samples were collected at a depth of 0-20cm and analyzed at the Laboratory of Soil Chemistry Analysis at Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus Vitória da Conquista-BA. It was observed that 93% of the samples showed high to very high acidity, 92% of the samples had high to very high levels of aluminum, and 30% of those had levels exceeding 4.0 cmolc.dm-3 Al+3; the maximum level of aluminum was 6.4cmolc.dm-3, corresponding 2% of total samples. The soils studied had low base saturation touchable, high levels of aluminum saturation and low levels of P and Ca. The low natural soil fertility and use of improper soil management reflected in low productivity rates of the coffee trees in that region.

Keywords: Coffea arabica, chemical attributes, soil fertility.

 

 

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Introdução

A cafeicultura tem grande destaque no cenário nacional, sendo uma atividade econômica de

grande importância, gerando emprego, renda e divisas ao país. A área cultivada com a

cultura de café no País totaliza 2.289,2 mil hectares, e a safra de café beneficiado, em

2009/10, apresentou uma produção de 48,09 milhões de sacas de 60 quilos. O resultado

obtido representa um acréscimo de 21,9% ou 8,62 milhões de sacas, quando comparado com

a produção de 39,47 milhões de sacas obtidas na safra 2009 (CONAB, 2010). O Estado da

Bahia atualmente é o quarto produtor no ranking nacional, onde encontram – se as espécies

arábica e conilon. Considerando a espécie conilon, a Bahia é o terceiro maior produtor,

ficando atrás dos Estados do Espírito Santo e de Rondônia. A produtividade média do

Estado ficou em 16,43 sacas por hectare em 2010, índice 10,6% acima da obtida na safra

anterior (14,85 sacas) (CONAB, 2010). Neste Estado a cultura do café encontra-se em

diferentes regiões fisiográficas: (1) Região do Atlântico, situada no litoral sul e extremo sul,

onde se encontra espécie Coffea canephora Pierre; (2) Região do Oeste, correspondendo ao

cerrado central brasileiro (Barreiras e outros municípios), sendo cultivado Coffea arabica L.;

(3) Região do Planalto, abrange Planalto de Vitória da Conquista, Jequié/Santa Inês e

Chapada Diamantina, onde predomina baixa tecnologia, é cultivada a espécie arábica. A

região do Planalto apresentou, em 2010, produtividade média de 12,02 sacas por hectare,

abaixo da média estadual (CONAB, 2010).

O município de Barra da Estiva localiza-se na Chapada Diamantina, apresentando clima

úmido-subúmido (AZEVEDO e SILVA, 2000). O Complexo conhecido como Serra do

Sincorá atravessa a região da Chapada Diamantina no sentido SSE-NNW, com altitudes de

até 1.600m. Nesta Serra encontram-se comunidades quilombolas – Camulengo e Ginete –

que se dedicam à agricultura tradicional, seguindo práticas de seus ancestrais, sem, no

entanto, realizarem práticas conservacionistas de solo e água ou manejo cultural. Nestas

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localidades a cafeicultura é praticada sem o uso de insumos agrícolas, consequentemente

observa-se plantas sem vigor vegetativo e solos empobrecidos/erodidos devido à ausência da

utilização de técnicas agrícolas na implantação e condução dos cafeeiros.

Através da assistência técnica prestada pela Secretaria de Agricultura daquele município

realizou-se um levantamento da fertilidade de solos nas comunidades quilombolas com a

finalidade de avaliar quimicamente os mesmos e a causa da baixa produtividade dos

cafezais, bem como orientar os produtores em relação a técnicas conservacionistas de solo e

água, uso de calagem e adubação, objetivando uma melhoria na produtividade da cultura do

café.

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Material e Método

O município de Barra da Estiva está inserido na Chapada Diamantina, Mesorregião Centro-

Oeste do Estado da Bahia, localiza-se a 13º04’S e 41º02’W, apresentando altitude média de

1.040 m, temperatura média de 19,1ºC e precipitação pluviométrica de 1.007,5mm anuais

(AZEVEDO e SILVA, 2000).

Foram analisadas 100 (cem) amostras oriundas das comunidades de Ginete e Camulengo,

município de Barra da Estiva-BA. Coletou-se uma amostra composta de solo, na

profundidade de 0 a 20 cm, em cada propriedade rural previamente selecionada. Durante a

coleta das amostras observou-se todas as recomendações técnicas, retirando-se as amostras

na projeção da copa da planta de café.

As amostras foram encaminhadas ao Laboratório de solos da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista-Ba, onde determinou-se, segundo a

metodologia da Embrapa Solos (EMBRAPA, 1997), os seguintes parâmetros: pH em água

(1:2,5, TFSA: água deionizada), cálcio, magnésio e alumínio trocáveis (KCl 1N), fósforo e

potássio disponíveis (Mehlich1), H++Al+3 (método SMP).

Os resultados obtidos foram analisados determinando-se a frequência (%) dos atributos

químicos avaliados, classificando-os segundo os critérios de interpretação de análise de

solos propostos pela Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (MG)

(RIBEIRO et al., 1999).

A figura 02 mostra a localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras

na Serra do Sincorá do município de Barra da Estiva. O relevo da região é bastante

acidentado com inclinações superiores a 45º graus onde as lavouras foram implantadas

nestes últimos anos sem qualquer critério ou assistência técnica como mostra a figura 01.

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Figura 01: A localização via satélite da região onde se encontra as lavouras cafeeiras na Serra do Sincorá.

Figuras 02: as lavouras foram implantadas nestes últimos anos sem qualquer critério ou assistência técnica.

Objetivou-se, com este trabalho, verificar as principais causas da baixa produtividade da

lavoura cafeeira na região com produtividade muito abaixo da média nacional, através das

visitas realizadas nas propriedades observou – se muitas lavouras depauperadas, solos

descobertos, manejo de plantas e solo inexistente onde se buscou as causas, com o

encaminhamento dos solos para o laboratório, onde foi encontrada a primeira causa da baixa

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produção cafeeira da região, com os resultados das analises do solo observou-se o

desequilíbrio existente entre do pH muito baixo na maioria dos resultados e o alto índice de

alumínio no solo desequilibrado os demais elementos essências para as plantas, para este

trabalho através das analise foi visto a relação da porcentagem de analises com o alto índice

de Alumínio e o pH baixo para com isto iniciar os trabalhos de melhoria da estrutura do

solo, visando diagnosticar a situação adversa em que se encontram as lavouras com péssimo

aspecto vegetativo sem manejo de planta e solo, sendo visto um perfil de solo totalmente

descobertos com uso de arados para controle de cervas daninhas (figura 04). Tendo um

parque cafeeiro implantado na região a mais de 30 anos quando se fez as ultimas analises de

solo. 

     

     

Figuras 03: Lavouras com péssimo aspecto vegetativo e os solos descobertos como uso de arado para controle das ervas daninhas.

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Os produtores da cafeicultura familiar têm grandes dificuldades em assimilar as orientações

por este motivo foram realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para

capacitação e buscando subsídios que possibilitem a recomendação e manejo correto do solo

e planta mais adequado como mostra a figura 04.

     Figuras 04: Realizados vários dias de campo e reuniões nas comunidades para capacitação.

Nessas condições, em que os fatores climáticos atuam intensamente e os solos são bastante

intemperizados, a matéria orgânica é a principal responsável pela capacidade de troca

catiônica (CTC), retenção de água e estruturação do solo (CANELLAS; SANTOS, 2005).

Meda et al. (2002) afirmam que para estender os efeitos da calagem em profundidade ou

promover a movimentação de cátions, basicamente, três praticas podem ser utilizadas: a

incorporação motomecanizada, a mobilização químico – inorgânica (uso do gesso agrícola)

e a mobilização químico – orgânico. O uso de materiais vegetais associados à calagem é

capaz de potencializar o efeito da calagem mobilizando a chamada frente alcalina. Autores

de experimentos feitos em colunas de solos montadas em laboratório atribuem a percoloção

de Ca2+ e Mg2+ para a subsuperfície, à liberação de compostos orgânicos hidrossolúveis de

baixa massa molar, pelos materiais vegetais presentes na superfície do solo, antes do inicio

da decomposição microbiana (MIYAZAWA et al., 1996; ZIGLIO et al., 1999; FRANCHINI

et al., 1999 a,b).

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Resultados e Discussão

 Observa-se na Tabela 1 que a grande maioria (93%) dos solos avaliados apresentou acidez

muito elevada (42%) a elevada (51%). O pH dos solos reflete a presença de íons H+ e Al3+

presentes no complexo de troca (KIEHL, 1979), representando a acidez ativa do solo.

Tabela 1. Distribuição de frequência do pH em água de amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.

Acidez muito elevada

Acidez elevada

Acidez média

Acidez fraca Neutro Alcalinidade fraca

Alcalinidade elevada

< 4,5 4,5-5,0 5,1-6,0 6,1-6,9 7,0 7,1-7,8 >7,8

42% 51% 7% - - - -

1Fonte: ALVAREZ, 1999.

A acidez é comum em solos de regiões onde a precipitação é suficientemente elevada para

lixiviar quantidades apreciáveis de bases permutáveis (como o cálcio e o magnésio) na água

de drenagem drenagem. As bases são substituídas por íons acidificantes como o

hidrogênio, o manganês e o alumínio. Assim sendo, os solos formados sob condições de alta

pluviosidade, que apresentem boa drenagem, são mais ácidos do que aqueles formados sob

condições áridas (LOPES,1989). Os resultados obtidos refletem as características dos

Latossolos regionais, depauperados devido ao manejo inadequado, e a ausência de calagem e

adubação adequadas para a cultura do café.

A Tabela 2 relaciona-se com os resultados de pH (Tabela 1), uma vez que os índices de

alumínio trocável foram muito elevados em 85% dos solos estudados. RAIJ (1991), afirma

que o alumínio disponível é uma das causas da acidez excessiva de solos, sendo um dos

responsáveis pelos efeitos desfavoráveis desta sobre os vegetais, por ser um elemento

fitotóxico. Em condições elevadas de acidez dos solos, podem ocorrer também teores

solúveis de outros metais, como manganês e até ferro, também tóxicos para as plantas, se

absorvidos em quantidades excessivas.

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Tabela 2. Distribuição de freqüência de teor de alumínio trocável (cmolc.dm3) segundo classes de interpretação de Alvarez V. (1999). Barra da Estiva-BA, 20101.

Muito baixo Baixo Médio Alta Muito alta

≤ 0,20 0,21-0,50 0,51-1,00 1,01-2,00 > 2,00

1% 2% 5% 7% 85%

1Fonte: ALVAREZ, 1999.

Outras causas da acidez, segundo COELHO (1973), são o cultivo intensivo, pois as plantas

retiram do solo os nutrientes essenciais de que necessitam para seu desenvolvimento e

produção, e como as adubações são geralmente deficientes em cálcio e magnésio, o solo vai-

se empobrecendo nessas bases trocáveis, ficando em seu lugar íons de hidrogênio. A erosão

também pode ser uma das causas, pois ocorre a remoção da camada superficial do solo, que

possui maiores teores de bases e favorece a acidificação do solo, expondo as camadas mais

ácidas do subsolo. Nas áreas avaliadas foram observados processos erosivos devido ao

manejo incorreto do solo, uma vez que os produtores utilizavam arados para capinas, no

sentido “morro abaixo”. Esta prática agrícola pode ter contribuído para expor camadas mais

ácidas dos solos.

Com relação aos teores de P foram considerados baixo e muito baixo (Tabela 3), o que

indica a ausência de utilização de fontes do nutriente. O fósforo é o nutriente que mais limita

a produção das culturas em solos pouco ou nunca adubados (RAIJ et al., 1996). As

limitações na disponibilidade de fósforo no início do ciclo vegetativo podem resultar em

restrições no desenvolvimento, das quais a planta não se recupera posteriormente, mesmo

aumentando o suprimento de P a níveis adequados (Grant et al., 2001).

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Tabela 3. Distribuição de freqüência de teores de fósforo (mg.dm-3) disponível em amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.

Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom

0,0-4,0 4,1-8,0 8,1-12,0 12,1-18,0 > 18,0

87% 12% 1% - -

1Fonte: ALVAREZ, 1999.

Os teores de potássio dos resultados das análises de solo apresentou 63% das amostras como

médio a muito bom (Tabela 4). O potássio é o segundo nutriente mais requerido pelas

plantas de café, cuja exigência aumenta com a idade das plantas. O potássio também

desempenha um papel importante na fisiologia do cafeeiro, especialmente durante o

crescimento e maturação dos frutos.

Tabela 4. Distribuição de freqüência de teores de potássio (mg.dm-3) disponível em amostras de solos. Barra da Estiva-BA, 20101.

Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom

≤ 15 16-40 41-70 71-120 > 120

3% 34% 36% 20% 7%

  1Fonte: ALVAREZ, 1999.

Para o cálcio verifica-se que os teores foram considerados baixo e muito baixos (Tabela 5),

conforme classificação descrita por Alvarez (1999), indicando deficiência desse nutriente

para o desenvolvimento vegetal. Já, os teores de magnésio (Tabela 5), somente 27% foram

considerados baixos a muito baixo.

No Estado da Bahia predominam solo de baixa fertilidade, cujo aproveitamento racional,

com médios a altos rendimentos, só é conseguido com o emprego de fertilizantes e

corretivos, em quantidades adequadas e variáveis conforme as exigências específicas de

cada cultura e tipo de solo (CORRÊA e MORAES FILHO, 2001).

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Tabela 5. Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Cálcio e Magnésio trocáveis (cmolc.dm-

3). Barra da Estiva-BA, 20101.

Ca+2 (cmolc.dm-3)

Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom

≤ 0,40 0,41-1,20 1,21-2,40 2,41-4,00 > 4,00

30% 49% 13% 8% -

Mg +2 (cmolc.dm-3)

Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom

< 0,15 0,16-0,45 0,46-0,90 0,91-1,50 >1,50

1% 26% 52% 14% 7%

 1Fonte: ALVAREZ, 1999.

A Tabela 6 indica a quantidade de bases trocáveis na CTC a pH 7,0 e a saturação de

alumínio na CTC efetiva do solo; para a CTC a pH 7,0, verifica-se que 99% dos solos estão

classificados como bom e muito bom. A CTC a pH 7,0 do solo é expressa em termos de

quantidade de carga e representa a capacidade máxima que tem o solo de reter cátions

enquanto a CTC efetiva indica onde ocorrem as trocas catiônicas. A maioria dos solos

encontra-se com índice por saturação de bases (Tabela 6) baixo e muito baixo (96%),

considerados inapropriados para o cultivo do café sem as devidas correções.

Tabela 6. Distribuição de freqüência de classes de interpretação de fertilidade para a CTC efetiva (t) e CTC a pH 7,0 (T) e saturação por bases (V). Barra da Estiva-BA, 20101.

Característica Unidade Classificação

Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom

CTC efetiva (t) cmolc.dm3 ≤ 0,8 0,8-2,3 2,31-4,6 4,61-8,0 >8,0

- - 36% 64% -

CTCpH 7,0 (T) cmolc.dm3 ≤ 1,6 1,61-4,3 4,31-8,6 8,61-15,0 >15,0

- - 1% 44% 55%

Saturação por bases (V)

% ≤ 20,0 20,1-40,0 40,1-60,0 60,1-80,0 >80

85% 11% 3% 1%

 1Fonte: ALVAREZ, 1999.

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O valor m (%) ou índice de saturação por alumínio expressa a porcentagem que o alumínio

trocável está ocupando na CTC efetiva do solo. Verifica-se que 81% dos resultados

(encontrados são classificados com valores de saturação por alumínio alto a muito alto

Tabela7), ou seja, a maioria dos solos explorados pelos quilombolas do Planalto de Barra da

Estiva apresenta a CTC efetiva ocupada predominantemente pelo alumínio trocável.

Segundo Quaggio (2000), quando uma saturação por alumínio for superior a 30%, ocorrerá

limitação no crescimento das raízes da maioria das plantas cultivadas, o que foi observado

nos solos estudados.

Tabela 7. Distribuição de freqüência de classes de interpretação para Saturação por alumínio (m%). Barra da Estiva-BA, 20101.

Muito baixo Baixo Médio Alta Muito alta

< 15,0 15,1-30,0 30,1-50,0 50,1-75,0 >75,0

5% 6% 8% 40% 41%

 1Fonte: ALVAREZ, 1999.

Segundo Rheinheimer et al., (2000), a movimentação dos produtos da dissolução do calcário

depende dos fatores tempo e doses de calcário, e enquanto existirem cátions ácidos (H+,

Al3+, Fe e Mn2+), a relação de neutralizantes da acidez ficará limitada à camada superficial,

retardando o efeito em subsuperfície. Os íons OH- e HCO3- provenientes da dissolução do

calcário, são rapidamente constituídos pelos cátions ácidos e somente migram para porções

inferiores em pH maior que 5,0. Em sistemas de cultivo convencional com a incorporação

do calcário aplicado Quaggio et al. (1985) observaram movimentação significativa de Cálcio

e Magnésio além alem da camada incorporada num Cambissolo álico, após 24 meses de

calagem.

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Conclusões

1. Através das análises químicas dos solos da região de Barra da Estiva, onde se encontra

implantado a cafeicultura, observou-se elevado índice de acidez e baixos teores de

nutrientes.

2. Dentre os solos da região fisiográfica do Planalto, abrangendo Planalto de Vitória da

Conquista, Jequié/Santa Inês e Chapada Diamantina, a localidade estudada apresentou o

mais alto teor de alumínio trocável.

3. Os resultados obtidos indicam a ausência da utilização de corretivos e adubos na

implantação e condução dos cafeeiros na região do Ginete e Camulengo, Barra da

Estiva-BA.

4. A baixa fertilidade natural do solo e a presença do alumínio potencializam os efeitos

nocivos no aspecto vegetativo e produtivo da lavoura cafeeira desta região.

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