catecismo igreja catolica 1

448
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA ÍNDICE GERAL DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA INTRODUÇÃO: FIDEI DEPOSITUM PRÓLOGO I - A VIDA DO HOMEM - CONHECER E AMAR A DEUS II - TRANSMITIR A FÉ - A CATEQUESE III - O OBJETIVO E OS DESTINATÁRIOS DESTE CATECISMO IV - A ESTRUTURA DESTE CATECISMO V - INDICAÇÕES PRÁTICAS PARA O USO DESTE CATECISMO VI - AS ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS PRIMEIRA PARTE A PROFISSÃO DA FÉ PRIMEIRA SEÇÃO - "EU CREIO" - "NÓS CREMOS" CAPÍTULO I - O HOMEM É "CAPAZ" DE DEUS I - O DESEJO DE DEUS II - AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS III - O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA IV - COMO FALAR DE DEUS? CAPÍTULO II - DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM ARTIGO 1 - A REVELAÇÃO DE DEUS I - DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE" II - AS ETAPAS DA REVELAÇÃO III - CRISTO JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAÇÃO ARTIGO 2 - A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA I - A TRADIÇÃO APOSTÓLICA II - A RELAÇÃO ENTRE A TRADIÇÃO E A SAGRADA ESCRITURA III - A INTERPRETAÇÃO DO DEPÓSITO DA FÉ ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA I - CRISTO - PALAVRA ÚNICA DA SAGRADA ESCRITURA I - INSPIRAÇÃO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA III - O ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DA ESCRITURA IV - O CÂNON DAS ESCRITURAS

Upload: ppacheco1

Post on 07-Nov-2014

1.699 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

  • 1. CATECISMO DA IGREJA CATLICA NDICE GERAL DO CATECISMO DA IGREJA CATLICA INTRODUO: FIDEI DEPOSITUM PRLOGO I - A VIDA DO HOMEM - CONHECER E AMAR A DEUS II - TRANSMITIR A F - A CATEQUESE III - O OBJETIVO E OS DESTINATRIOS DESTE CATECISMO IV - A ESTRUTURA DESTE CATECISMO V - INDICAES PRTICAS PARA O USO DESTE CATECISMO VI - AS ADAPTAES NECESSRIAS PRIMEIRA PARTE A PROFISSO DA F PRIMEIRA SEO - "EU CREIO" - "NS CREMOS" CAPTULO I - O HOMEM "CAPAZ" DE DEUS I - O DESEJO DE DEUS II - AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS III - O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA IV - COMO FALAR DE DEUS? CAPTULO II - DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM ARTIGO 1 - A REVELAO DE DEUS I - DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE" II - AS ETAPAS DA REVELAO III - CRISTO JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAO ARTIGO 2 - A TRANSMISSO DA REVELAO DIVINA I - A TRADIO APOSTLICA II - A RELAO ENTRE A TRADIO E A SAGRADA ESCRITURA III - A INTERPRETAO DO DEPSITO DA F ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA I - CRISTO - PALAVRA NICA DA SAGRADA ESCRITURA I - INSPIRAO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA III - O ESPRITO SANTO, INTRPRETE DA ESCRITURA IV - O CNON DAS ESCRITURAS
  • 2. V - A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA CAPTULO III - RESPOSTA DO HOMEM A DEUS ARTIGO 1 - EU CREIO I - A OBEDINCIA DA F II - "SEI EM QUEM PUS MINHA F" (2TM 1,12) III - AS CARACTERSTICAS DA F ARTIGO 2 - NS CREMOS I - "OLHAI, SENHOR, PARA A F DA VOSSA IGREJA" II - A LINGUAGEM DA F III - UMA NICA F SEGUNDA SEO - A PROFISSO DA F CRIST CAPTULO I - CREIO EM DEUS PAI ARTIGO 1 - "CREIO EM DEUS PAI TODO- PODEROSO, CRIADOR DO CU E DA TERRA" PARGRAFO 1 - CREIO EM DEUS I - "CREIO EM UM S DEUS" II - DEUS REVELA SEU NOME III - DEUS, "AQUELE QUE ", VERDADE E AMOR IV - O ALCANCE DA F NO DEUS NICO PARGRAFO 2 - O PAI I - "EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPRITO SANTO" II - A REVELAO DE DEUS COMO TRINDADE III - A SANTSSIMA TRINDADE NA DOUTRINA DA F IV - AS OBRAS DIVINAS E AS MISSES TRINITRIAS PARGRAFO 3 - O TODO-PODEROSO PARGRAFO 4 - O CRIADOR I - A CATEQUESE SOBRE A CRIAO II - A CRIAO - OBRA DA SANTSSIMA TRINDADE III - "O MUNDO FOI CRIADO PARA A GLRIA DE DEUS" IV - O MISTRIO DA CRIAO V - DEUS REALIZA O SEU PROJETO: A DIVINA PROVIDNCIA PARGRAFO 5 - O CU E A TERRA I - OS ANJOS II - O MUNDO VISVEL PARGRAFO 6 - O HOMEM I - "A IMAGEM DE DEUS" II - "CORPORE ET ANIMA UNUS" III - "HOMEM E MULHER OS CRIOU" IV - O HOMEM NO PARASO PARGRAFO 7 - A QUEDA I - ONDE O PECADO ABUNDOU, A GRAA SUPERABUNDOU II - A QUEDA DOS ANJOS III - O PECADO ORIGINAL IV - "NO O ABANDONASTE AO PODER DA MORTE" CAPTULO II - CREIO EM JESUS CRISTO, FILHO NICO DE DEUS
  • 3. ARTIGO 2 - "E EM JESUS CRISTO, SEU FILHO NICO, NOSSO SENHOR" I - JESUS II - CRISTO III - FILHO NICO DE DEUS IV - SENHOR ARTIGO 3 - "JESUS CRISTO FOI CONCEBIDO PELO PODER DO ESPRITO SANTO, NASCEU DA VIRGEM MARIA" PARGRAFO 1 - O FILHO DE DEUS SE FEZ HOMEM I - POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE? II - A ENCARNAO III - VERDADEIRO DEUS E VERDADEIRO HOMEM IV - DE QUE MANEIRA O FILHO DE DEUS HOMEM PARGRAFO 2 - CONCEBIDO PELO PODER DO ESPRITO SANTO, NASCIDO DA VIRGEM MARIA I - CONCEBIDO PELO PODER DO ESPRITO SANTO II - NASCIDO DA VIRGEM MARIA PARGRAFO 3 - OS MISTRIOS DA VIDA DE CRISTO I - TODA A VIDA DE CRISTO MISTRIO II - OS MISTRIOS DA INFNCIA E DA VIDA OCULTA DE JESUS III - OS MISTRIOS DA VIDA PBLICA DE JESUS ARTIGO 4 - "JESUS CRISTO PADECEU SOB PNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO" PARGRAFO 1 - JESUS E ISRAEL I - JESUS E LEI II - JESUS E TEMPLO III - JESUS E A F DE ISRAEL NO DEUS NICO E SALVADOR PARGRAFO 2 - JESUS MORREU CRUCIFICADO I - O PROCESSO DE JESUS II - A MORTE REDENTORA DE CRISTO NO DESGNIO DIVINO DE SALVAO III - CRISTO OFERECEU-SE A SEU PAI POR NOSSOS PECADOS PARGRAFO 3 - JESUS CRISTO FOI SEPULTADO ARTIGO 5 - "JESUS CRISTO DESCEU AOS INFERNOS, RESSUSCITOU NO TERCEIRO DIA" PARGRAFO 1 - CRISTO DESCEU AOS INFERNOS PARGRAFO 2 - NO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU DOS MORTOS I - O EVENTO HISTRICO E TRANSCENDENTE II - A RESSURREIO - OBRA DA SANTSSIMA TRINDADE III - SENTIDO E ALCANCE SALVFICO DA RESSURREIO ARTIGO 6 - "JESUS SUBIU AOS CUS, EST SENTADO DIREITA DE DEUS PAI TODO- PODEROSO" ARTIGO 7 - "DONDE VIR JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS I - ELE VOLTAR NA GLRIA II - PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS
  • 4. CAPTULO III - CREIO NO ESPRITO SANTO ARTIGO 8 - "CREIO NO ESPRITO SANTO" I - A MISSO CONJUNTA DO FILHO E DO ESPRITO I - O NOME, AS DENOMINAES E OS SMBOLOS DO ESPRITO SANTO II - O ESPRITO E A PALAVRA DE DEUS NO TEMPO DAS PROMESSAS IV - O ESPRITO DE CRISTO NA PLENITUDE DO TEMPO V - ESPRITO E A IGREJA NOS LTIMOS TEMPOS ARTIGO 9 - "CREIO NA SANTA IGREJA CATLICA" I - AS DENOMINAES E AS IMAGENS DA IGREJA II - ORIGEM, FUNDAO E MISSO DA IGREJA III - O MISTRIO DA IGREJA PARGRAFO 2 - A IGREJA - POVO DE DEUS, CORPO DE CRISTO, TEMPLO DO ESPRITO SANTO I - A IGREJA - POVO DE DEUS II - A IGREJA - CORPO DE CRISTO III - A IGREJA - TEMPLO DO ESPRITO SANTO PARGRAFO 3 - A IGREJA UNA, SANTA, CATLICA E APOSTLICA I - A IGREJA UNA II - A IGREJA SANTA III - A IGREJA CATLICA IV - A IGREJA APOSTLICA PARGRAFO 4 - OS FIIS DE CRISTO - HIERARQUIA, LEIGOS, VIDA CONSAGRADA I - A CONSTITUIO HIERRQUICA DA IGREJA II - OS FIIS LEIGOS III - A VIDA CONSAGRADA PARGRAFO 5 - A COMUNHO DOS SANTOS I - A COMUNHO DOS BENS ESPIRITUAIS II - A COMUNHO ENTRE A IGREJA DO CU E A DA TERRA PARGRAFO 6 - MARIA ME DE CRISTO, ME DA IGREJA I - A MATERNIDADE DE MARIA COM RELAO IGREJA II - O CULTO DA SANTSSIMA VIRGEM III - MARIA - CONE ESCATOLGICO DA IGREJA ARTIGO 10 - "CREIO NO PERDO DOS PECADOS" I - UM S BATISMO PARA O PERDO DOS PECADOS II - O PODER DAS CHAVES ARTIGO 11 - "CREIO NA RESSURREIO DA CARNE" I - A RESSURREIO DE CRISTO E A NOSSA II - MORRER EM CRISTO JESUS ARTIGO 12 - "CREIO NA VIDA ETERNA" I - O JUZO PARTICULAR II - O CU III - A PURIFICAO FINAL OU PURGATRIO IV - O INFERNO V - O JUZO FINAL
  • 5. VI - A ESPERANA DOS CUS NOVOS E DA TERRA NOVA SEGUNDA PARTE A CELEBRAO DO MISTRIO CRISTO INTRODUO PRIMEIRA SEO - A ECONOMIA SACRAMENTAL CAPTULO I - O MISTRIO PASCAL NO TEMPO DA IGREJA ARTIGO 1 - A OBRA DA SANTSSIMA TRINDADE I - O PAI, FONTE E FIM DA LITURGIA II - A OBRA DE CRISTO NA LITURGIA III - O ESPRITO SANTO E A IGREJA NA LITURGIA ARTIGO 2 - O MISTRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA I - OS SACRAMENTOS DE CRISTO II - OS SACRAMENTOS DA IGREJA III - OS SACRAMENTOS DA F IV - SACRAMENTOS DA SALVAO V - OS SACRAMENTOS DA VIDA ETERNA CAPITULO II - A CELEBRAO SACRAMENTAL DO MISTRIO PASCAL ARTIGO 1 - CELEBRAR A LITURGIA DA IGREJA I - QUEM CELEBRA? II - COMO CELEBRAR? III - QUANDO CELEBRAR? IV - ONDE CELEBRAR? ARTIGO 2 - DIVERSIDADE LITRGICA E UNIDADE DO MISTRIO SEGUNDA SEO - OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA CAPTULO I - OS SACRAMENTOS DA INICIAO CRIST ARTIGO 1 - O SACRAMENTO DO BATISMO I - COMO CHAMADO ESTE SACRAMENTO II - O BATISMO NA ECONOMIA DA SALVAO III - COMO CELEBRADO O SACRAMENTO DO BATISMO IV - QUEM PODE RECEBER O BATISMO V - QUEM PODE BATIZAR VI - A NECESSIDADE DO BATISMO VII - A GRAA DO BATISMO ARTIGO 2 - O SACRAMENTO DA CONFIRMAO I - A CONFIRMAO NA ECONOMIA DA SALVAO II - OS SINAIS E O RITO DA CONFIRMAO III - OS EFEITOS DA CONFIRMAO IV - QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO V - O MINISTRO DA CONFIRMAO ARTIGO 3 - O SACRAMENTO DA EUCARISTIA I - A EUCARISTIA - FONTE E PICE DA VIDA ECLESIAL II - COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO III - A EUCARISTIA NA ECONOMIA DA SALVAO IV - A CELEBRAO LITRGICA DA EUCARISTIA V - O SACRIFCIO SACRAMENTAL: AO DE GRAAS, MEMORIAL, PRESENA VI - O BANQUETE PASCAL
  • 6. VII - A EUCARISTIA - "PENHOR DA GLRIA FUTURA" CAPTULO II - OS SACRAMENTOS DE CURA ARTIGO 4 - O SACRAMENTO DA PENITNCIA E DA RECONCILIAO I - COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO? II - POR QUE UM SACRAMENTO DA RECONCILIAO APS O BATISMO III - A CONVERSO DOS BATIZADOS IV - A PENITNCIA INTERIOR V - AS MLTIPLAS FORMAS DA PENITNCIA NA VIDA CRIST VI - O SACRAMENTO DA PENITNCIA E DA RECONCILIAO VII - OS ATOS DO PENITENTE VIII - O MINISTRO DESTE SACRAMENTO IX - OS EFEITOS DESTE SACRAMENTO X - AS INDULGNCIAS XI - A CELEBRAO DO SACRAMENTO DA PENITNCIA ARTIGO 5 - A UNO DOS ENFERMOS I - SEUS FUNDAMENTOS NA ECONOMIA DA SALVAO II - QUEM RECEBE E QUEM ADMINISTRA ESTE SACRAMENTO III - COMO CELEBRADO ESTE SACRAMENTO? IV - OS EFEITOS DA CELEBRAO DESTE SACRAMENTO V - O VITICO, LTIMO SACRAMENTO DO CRISTO CAPTULO III - OS SACRAMENTOS DO SERVIO DA COMUNHO ARTIGO 6 - O SACRAMENTO DA ORDEM I - POR QUE O NOME SACRAMENTO DA ORDEM? II - O SACRAMENTO DA ORDEM NA ECONOMIA DA SALVAO III - OS TRS GRAUS DO SACRAMENTO DA ORDEM IV - A CELEBRAO DESTE SACRAMENTO V - QUEM PODE CONFERIR ESTE SACRAMENTO? VI - QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO? VII - OS EFEITOS DO SACRAMENTO DA ORDEM ARTIGO 7 - O SACRAMENTO DO MATRIMNIO I - MATRIMNIO NO DESGNIO DE DEUS II - A CELEBRAO DO MATRIMNIO III - O CONSENTIMENTO MATRIMONIAL IV - OS EFEITOS DO SACRAMENTO DO MATRIMNIO V - OS BENS E AS EXIGNCIAS DO AMOR CONJUGAL VI - A IGREJA DOMSTICA CAPTULO IV - AS OUTRAS CELEBRAES LITRGICAS ARTIGO 1 - OS SACRAMENTAIS ARTIGO 2 - OS FUNERAIS CRISTOS I - A LTIMA PSCOA DO CRISTO II - A CELEBRAO DOS FUNERAIS TERCEIRA PARTE A VIDA EM CRISTO INTRODUO (1691 PRIMEIRA SEO - A VOCAO DO HOMEM: A VIDA NO ESPRITO CAPTULO I - A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
  • 7. ARTIGO 1 - O HOMEM IMAGEM DE DEUS ARTIGO 2 - NOSSA VOCAO BEM- AVENTURANA I - AS BEM-AVENTURANAS II - O DESEJO DE FELICIDADE III - A BEM-AVENTURANA CRIST ARTIGO 3 - A LIBERDADE DO HOMEM I - LIBERDADE E RESPONSABILIDADE II - A LIBERDADE HUMANA NA ECONOMIA DA SALVAO ARTIGO 4 - A MORALIDADE DOS ATOS HUMANOS I - AS FONTES DA MORALIDADE II - ATOS BONS E ATOS MAUS ARTIGO 5 - A MORALIDADE DAS PAIXES I - AS PAIXES II - PAIXES E VIDA MORAL ARTIGO 6 - A CONSCINCIA MORAL I - O JUZO DA CONSCINCIA II - A FORMAO DA CONSCINCIA III - ESCOLHER SEGUNDO A CONSCINCIA IV - O JUZO ERRNEO ARTIGO 7 - AS VIRTUDES I - AS VIRTUDES HUMANAS II - AS VIRTUDES TEOLOGAIS III - OS DONS E OS FRUTOS DO ESPRITO SANTO ARTIGO 8 - O PECADO I - A MISERICRDIA E O PECADO II - A DEFINIO DO PECADO III - A DIVERSIDADE DOS PECADOS IV - A GRAVIDADE DO PECADO: PECADO MORTAL E VENIAL V - A PROLIFERAO DO PECADO CAPTULO II - A COMUNIDADE HUMANA ARTIGO 1 - A PESSOA E A SOCIEDADE I - O CARTER COMUNITRIO DA VOCAO HUMANA II - A CONVERSO E A SOCIEDADE ARTIGO 2 - A PARTICIPAO NA VIDA SOCIAL I - A AUTORIDADE II - O BEM COMUM III - RESPONSABILIDADE E PARTICIPAO ARTIGO 3 - A JUSTIA SOCIAL I - O RESPEITO PESSOA HUMANA II - IGUALDADE E DIFERENAS ENTRE OS HOMENS III - A SOLIDARIEDADE HUMANA CAPTULO III - A SALVAO DE DEUS: A LEI E A GRAA ARTIGO 1 - A LEI MORAL I - A LEI MORAL NATURAL II - A LEI ANTIGA III - A NOVA LEI OU LEI EVANGLICA
  • 8. ARTIGO 2 - GRAA E JUSTIFICAO I - A JUSTIFICAO II - A GRAA III - O MRITO IV - A SANTIDADE CRIST ARTIGO 3 - A IGREJA ME E EDUCADORA I - VIDA MORAL E MAGISTRIO DA IGREJA II - OS MANDAMENTOS DA IGREJA III - VIDA MORAL E TESTEMUNHO MISSIONRIO SEGUNDA SEO - OS DEZ MANDAMENTOS "MESTRE, QUE DEVO FAZER" O DECLOGO NA SAGRADA ESCRITURA A UNIDADE DO DECLOGO O DECLOGO E A LEI NATURAL OBRIGATORIEDADE DO DECLOGO "SEM MIM, NADA PODES" CAPTULO I - "AMARS O SENHOR, TEU DEUS, DE TODO O CORAO, DE TODA A ALMA E DE TODO O ENTENDIMENTO". ARTIGO 1 - O PRIMEIRO MANDAMENTO I - "ADORARS O SENHOR, TEU DEUS, E O SERVIRAS" II - "S A ELE PRESTARS CULTO" III - "NO TERS OUTROS DEUSES DIANTE DE MIM IV - "NO FARS PARA TI IMAGEM ESCULPIDA DE NADA. ARTIGO 2 - O SEGUNDO MANDAMENTO I - O NOME DO SENHOR SANTO II - O NOME DO SENHOR PRONUNCIADO EM VO III - O NOME CRISTO ARTIGO 3 - O TERCEIRO MANDAMENTO I - O DIA DO SBADO II - O DIA DO SENHOR CAPITULO II - "AMARS O PRXIMO COMO A TI MESMO" ARTIGO 4 - O QUARTO MANDAMENTO I - A FAMLIA NO PLANO DE DEUS II - A FAMLIA E A SOCIEDADE III - DEVERES DOS MEMBROS DA FAMLIA IV - A FAMLIA E O REINO V - AS AUTORIDADES NA SOCIEDADE CIVIL ARTIGO 5 - O QUINTO MANDAMENTO I - O RESPEITO VIDA HUMANA II - O RESPEITO DIGNIDADE DAS PESSOAS III - A SALVAGUARDA DA PAZ ARTIGO 6 - O SEXTO MANDAMENTO I - "HOMEM E MULHER OS CRIOU..." II - A VOCAO CASTIDADE III - O AMOR ENTRE OS ESPOSOS IV - AS OFENSAS DIGNIDADE DO MATRIMNIO ARTIGO 7 - O STIMO MANDAMENTO I - A DESTINAO UNIVERSAL E A PROPRIEDADE PRIVADA DOS BENS II - O RESPEITO S PESSOAS E AOS SEUS BENS III - A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
  • 9. IV - A ATIVIDADE ECONMICA E A JUSTIA SOCIAL V - JUSTIA E SOLIDARIEDADE ENTRE AS NAES VI - O AMOR AOS POBRES ARTIGO 8 - O OITAVO MANDAMENTO I - VIVER NA VERDADE II - "DAR TESTEMUNHO DA VERDADE" III - AS OFENSAS VERDADE IV - O RESPEITO VERDADE ARTIGO 9 - O NONO MANDAMENTO I - A PURIFICAO DO CORAO II - A LUTA PELA PUREZA ARTIGO 10 - O DCIMO MANDAMENTO I - A DESORDEM DAS CONCUPISCNCIAS II - OS DESEJOS DO ESPRITO III - A POBREZA DE CORAO IV - "QUERO VER A DEUS" QUARTA PARTE A ORAO CRIST PRIMEIRA SEO - A ORAO NA VIDA CRIST CAPTULO I - A REVELAO DA ORAO. VOCAO UNIVERSAL A ORAO ARTIGO 1 - NO ANTIGO TESTAMENTO ARTIGO 2 - NA PLENITUDE DO TEMPO ARTIGO 3 - NO TEMPO DA IGREJA I - A BNO E A ADORAO II - A ORAO DE SPLICA III - A ORAO DE INTERCESSO IV - A ORAO DE AO DE GRAAS V - A ORAO DE LOUVOR CAPITULO II - A TRADIO DA ORAO ARTIGO 1 - NAS FONTES DA ORAO ARTIGO 2 - O CAMINHO DA ORAO ARTIGO 3 - GUIAS PARA A ORAO CAPTULO III - A VIDA DE ORAO ARTIGO 1 - AS EXPRESSES DA ORAO IA - ORAO VOCAL II - A MEDITAO III - A ORAO MENTAL ARTIGO 2 - O COMBATE DA ORAO I - AS OBJEES ORAO II - A HUMILDE VIGILNCIA DO CORAO III - A CONFIANA FILIAL IV - PERSEVERAR NO AMOR V - A ORAO DA HORA DE JESUS SEGUNDA SEO - A ORAO DO SENHOR: "PAI NOSSO!" ARTIGO 1 - "O RESUMO DE TODO O EVANGELHO" I - NO CENTRO DAS ESCRITURAS II - "A ORAO DO SENHOR"
  • 10. III - A ORAO DA IGREJA ARTIGO 2 - "PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CU" I - "OUSAR APROXIMAR-NOS COM TODA A CONFIANA" II - "PAI!" III - PAI "NOSSO" IV - "QUE ESTAIS NO CU" ARTIGO 3 - OS SETE PEDIDOS (2803 I - SANTIFICADO SEJA VOSSO NOME II - VENHA A NS O VOSSO REINO III - SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CU IV - O PO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE V - PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS, ASSIM COMO NS PERDOAMOS AOS QUE NOS TM OFENDIDO VI - NO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAO VII - MAS LIVRAI-NOS DO MAL A DOXOLOGIA FINAL INTRODUO AO CATECISMO DA IGREJA CATLICA Fidei Depositum Para a publicao do Catecismo da Igreja Catlica redigido depois do Concilio Vaticano II - JOO PAULO II, BISPO SERVO DOS SERVOS DE DEUS PARA PERPTUA MEMRIA INTRODUO GUARDAR O DEPSITO DA F a misso que o Senhor confiou sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos. O Conclio Ecumnico Vaticano II, aberto h trinta anos por meu predecessor Joo XXIII, de feliz memria, tinha como inteno e como finalidade por em evidncia a misso apostlica e pastoral da Igreja e, fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os homens a procurar e acolher o amor de Cristo, que excede toda a cincia (cf. Ef 3,19). Ao Conclio, o Papa Joo XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e apresentar melhor o precioso depsito da doutrina crist, para o tomar mais acessvel aos fiis de Cristo e a todos os homens de boa vontade. Portanto, o Conclio no devia, em primeiro lugar, condenar os erros da poca, mas sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a fora e a beleza da doutrina da f. "Iluminada pela luz deste Conclio dizia o Papa a Igreja... crescer em riquezas espirituais...e, recebendo a fora de novas energias, olhar intrpida para o futuro... E nosso dever... dedicar-nos, com vontade pronta e sem temor, quele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre h vinte sculos". Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um conjunto considervel de exposies doutrinais e de diretrizes pastorais oferecidas a toda a Igreja. Pastores e fiis encontram ali orientaes para aquela "renovao de pensamentos, de atividades, de costumes e de fora moral, de alegria e de esperana, que foi o objetivo do Conclio" Depois de sua concluso, o Conclio no deixou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude afirmar: "Para mim que tive a graa especial de nele participar e colaborar ativamente em seu desenvolvimento o Vaticano II foi sempre, e de modo particular nestes anos de meu Pontificado, o constante ponto de referncia
  • 11. de toda a minha ao pastoral, no consciente empenho de traduzir suas diretrizes em aplicao concreta e fiel, no mbito de cada Igreja e da Igreja inteira. E preciso incessantemente recomear daquela fonte" Neste esprito, em 25 de janeiro de 1985, convoquei uma Assemblia Extraordinria do Snodo dos Bispos, por ocasio do vigsimo aniversrio do encerramento do Conclio. A finalidade dessa Assemblia era celebrar as graas e os frutos espirituais do Conclio Vaticano II, aprofundar seu ensinamento para aderir melhor a ele e promover seu conhecimento e sua aplicao. Nessa ocasio, os Padres sinodais manifestaram o desejo "de que seja composto um Catecismo ou compndio de toda a doutrina catlica, tanto em matria de f como de moral, para que seja como um texto de referncia para os catecismos ou compndios que venham a ser preparados nas diversas regies. A apresentao da doutrina deve ser bblica e litrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina s e adaptada vida atual dos cristos". Depois do encerramento do Snodo, fiz meu este desejo, considerando que ele "corresponde verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares". Como no havemos de agradecer de todo o corao ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a Igreja, com o ttulo de Catecismo da Igreja Catlica, este "texto de referncia" para uma catequese renovada nas fontes vivas da f? Depois da renovao da Liturgia e da nova codificao do Direito Cannico da Igreja Latina e dos cnones das Igrejas Orientais Catlicas, este Catecismo trar um contributo muito importante quela obra de renovao da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Conclio Vaticano II. ITINERRIO E ESPRITO DA REDAO DO TEXTO O Catecismo da Igreja Catlica fruto de uma vastssima colaborao: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num esprito de atenta abertura e com apaixonado ardor. Em 1986, confiei a uma Comisso de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do Snodo. Uma Comisso de redao, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e em catequese, coadjuvou a Comisso em seu trabalho. A Comisso, encarregada de dar as diretrizes e de vigiar o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu atentamente todas as etapas da redao das nove sucessivas composies. A Comisso de redao, por seu lado, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e inserir nele as modificaes pedidas pela Comisso e de examinar as observaes de numerosos telogos, exegetas e catequistas, e sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A Comisso foi sede de intercmbios frutuosos e enriquecedores para assegurar a unidade e a homogeneidade do texto. O projeto tornou-se objeto de vasta consulta de todos os Bispos catlicos, de suas Conferncias Episcopais ou de seus Snodos, dos Institutos de teologia e de catequtica. Em seu conjunto, ele teve um acolhimento amplamente favorvel da parte do Episcopado. E justo afirmar que este Catecismo fruto de uma colaborao de todo o Episcopado da Igreja Catlica, o qual acolheu
  • 12. com generosidade meu convite a assumir a prpria parte de responsabilidade numa iniciativa que diz respeito, intimamente, vida eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo sentimento de alegria, porque o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a "sinfonia" da f. A realizao deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza colegial do Episcopado: estemunha a catolicidade da Igreja. DISTRIBUIO DA MATRIA Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgnico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da Tradio viva na Igreja e do Magistrio autntico, bem como a herana espiritual dos Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistrio cristo e reavivar a f do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitaes da doutrina que, no decurso dos tempos, o Esprito Santo sugeriu Igreja. E tambm necessrio que ajude a iluminar, com a luz da f, as novas situaes e os problemas que ainda no tinham surgido no passado. O Catecismo incluir, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a f sempre a mesma e simultaneamente fonte de luzes sempre novas. Para responder a esta dupla exigncia, o Catecismo da Igreja Catlica por um lado retoma a "antiga" ordem, a tradicional, j seguida pelo Catecismo de So Pio V, articulando o contedo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristo, exposto a partir dos mandamentos; e, por fim, a orao crist. Mas, ao mesmo tempo, o contedo com freqncia expresso de modo "novo", para responder s interrogaes de nossa poca. As quatro partes esto ligadas entre si: o mistrio cristo o objeto da f (primeira parte); celebrado e comunicado nos atos litrgicos (segunda parte); est presente para iluminar e amparar os filhos de Deus em seu agir (terceira parte); fundamenta nossa orao, cuja expresso privilegiada o "Pai-Nosso", e constitui o objeto de nossa splica, de nosso louvor e de nossa intercesso (quarta parte). A Liturgia ela prpria orao; a confisso da f encontra seu justo lugar na celebrao do culto. A graa, fruto dos sacramentos, a condio insubstituvel do agir cristo, tal como a participao na liturgia da Igreja requer a f. Se a f no se desenvolve nas obras, est morta (cf. Tg 2,14-16) e no pode dar frutos de vida eterna. Lendo o Catecismo da Igreja Catlica, pode- se captar a maravilhosa unidade do mistrio de Deus, de seu desgnio de salvao, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unignito de Deus, enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santssima Virgem Maria por obra do Esprito Santo, para ser nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele est sempre presente em sua Igreja, particularmente nos sacramentos; ele a fonte da f, o modelo do agir cristo e o Mestre de nossa orao. VALOR DOUTRINAL DO TEXTO
  • 13. O Catecismo da Igreja Catlica, que aprovei no passado dia 25 de o junho e cuja publicao hoje ordeno em virtude da autoridade apostlica, uma exposio da f da Igreja e da doutrina catlica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradio apostlica e pelo Magistrio da Igreja. Vejo-o como um instrumento vlido e legtimo a servio da comunho eclesial e como uma norma segura para o ensino da f. Sirva ele para a renovao, qual o Esprito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo luz sem sombras do Reino! A aprovao e a publicao do Catecismo da Igreja Catlica constituem um servio que o Sucessor de Pedro quer prestar Santa Igreja Catlica, a todas as Igrejas particulares em paz e em comunho com a S a Apostlica de Roma: o servio de sustentar e confirmar a f de todos os, discpulos do Senhor Jesus (cf. Lc 22,32), como tambm de reforar os laos da unidade na mesma f apostlica. Peo, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiis que acolham este Catecismo em esprito de comunho e que o usem assiduamente ao cumprir sua misso de anunciar a f e de convocar para a vida evanglica. Este Catecismo lhes dado a fim de que sirva de texto de referncia, seguro e autntico, para o ensino da doutrina catlica e, de modo muito particular, para a elaborao dos catecismos locais. E tambm e oferecido a todos os fiis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexaurveis da salvao (cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforos ecumnicos animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristos, mostrando com exatido o contedo e a harmoniosa coerncia da f catlica. O Catecismo da Igreja Catlica, por fim, oferecido a todo o homem que nos pergunte a razo de nossa esperana (cf. lPd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Catlica cr. Este Catecismo no se destina a substituir os Catecismos locais devidamente aprovados pelas autoridades eclesisticas, os Bispos diocesanos e as Conferncias Episcopais, sobretudo se receberam a aprovao da S Apostlica. Destina-se a encorajar e ajudar a redao de novos catecismos locais, que tenham em conta as diversas situaes e culturas, as que conservem cuidadosamente a unidade da f e a fidelidade doutrina catlica. CONCLUSO No final deste documento que apresenta o Catecismo da Igreja Catlica, peo Santssima Virgem Maria, Me do Verbo Encarnado e Me da Igreja, que ampare com sua poderosa intercesso o empenho catequtico da Igreja inteira em todos os nveis, nestes tempos em que ela chamada a um novo esforo de evangelizao. Possa a luz da verdadeira f libertar a humanidade da ignorncia e da escravido do pecado, para conduzi-la nica liberdade digna deste nome (cf. JO 8,32): a da vida em Jesus Cristo sob a guia do Esprito Santo, na terra e no Reino dos Cus, na plenitude da bem-aventurana da viso de Deus face a face (cf. 1 Cor 13,12; 2Cor 5,6-8). Dado no dia 11 de outubro de 1992, trigsimo aniversrio da abertura do Conclio Ecumnico Vaticano II, dcimo quarto ano de meu pontificado. - Joannes Paulus II PRIMEIRA PARTE - PRLOGO
  • 14. "PAI, ... a vida eterna esta: que eles te conheam a ti, o Deus nico verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17,3). "Deus, nosso Salvador ... quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2,3-4). "No h, debaixo do cu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12), afora o nome de JESUS. INCIO DO CATECISMO I - A VIDA DO HOMEM CONHECER E AMAR A DEUS 1 - Deus, infinitamente Perfeito e Bem- aventurado em si mesmo, em um desgnio de pura bondade, criou livremente o homem para faz-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, est perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procur- lo, a conhec-lo e a am-lo com todas as suas foras. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade de sua famlia, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os empos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Esprito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros de sua vida bem-aventurada. 2 - A fim de que este chamado ressoe pela terra inteira, Cristo enviou os apstolos que escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: "Ide, fazei que todas as naes se tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias at a consumao dos sculos" (Mt 28,19-20). Fortalecidos com esta misso, os apstolos saram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). 3 - Os que com a ajuda de Deus acolheram o chamado de Cristo e lhe responderam livremente foram por sua vez impulsionados pelo amor de Cristo a anunciar por todas as partes do mundo a Boa Notcia. Este tesouro recebido dos apstolos foi guardado fielmente por seus sucessores. Todos os fiis de Cristo so chamados a transmiti-lo de gerao em gerao, anunciando a f, vivendo-a na partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na orao. II - TRANSMITIR A F - A CATEQUESE 4 - Bem cedo passou-se a chamar de catequese o conjunto de esforos empreendidos na Igreja para fazer discpulos, para ajudar os homens a crerem que Jesus o Filho de Deus, a fim de que, por meio da f, tenham a vida em nome dele, para educ-los e instru-los nesta vida, e assim construir o Corpo de Cristo. 5 - "A catequese uma educao da f das crianas, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especialmente um ensino da doutrina crist, dado em geral de maneira orgnica e sistemtica, com o fim de os iniciar na plenitude da vida crist". 6 - Sem confundir-se com eles, a catequese se articula em torno de determinado nmero de elementos da misso pastoral da Igreja que tm
  • 15. um aspecto catequtico e que preparam a catequese ou dela derivam: primeiro anncio do Evangelho ou pregao missionria para suscitar a f; busca das razes de crer; experincia de vida crist; celebrao dos sacramentos; integrao na comunidade eclesial; testemunho apostlico e missionrio. 7 - "A catequese anda intimamente ligada com toda a vida da Igreja. No somente a extenso geogrfica e o aumento numrico, mas tambm e mais ainda o crescimento interior da Igreja, sua correspondncia ao desgnio de Deus que dependem da catequese mesma". 8 - Os perodos de renovao da Igreja so tambm tempos fortes da catequese. Eis por que, na grande poca dos Padres da Igreja, vemos Santos Bispos dedicarem uma parte importante de seu ministrio catequese. a poca de So Cirilo de Jerusalm e de So Joo Crisstomo, de Santo Ambrsio e de Santo Agostinho, e de muitos outros Padres cujas obras catequticas permanecem como modelos . 9 - O ministrio da catequese haure energias sempre novas nos Conclios. O Conclio de Trento constitui neste ponto um exemplo a ser sublinhado: deu catequese prioridade em suas constituies e em seus decretos; est ele na origem do Catecismo Romano, que tambm leva seu nome e constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina crist. Este conclio suscitou na Igreja uma organizao notvel da catequese. Graas a santos bispos e telogos, tais como So Pedro Cansio, So Carlos Borromeu, So Turbio de Mogrovejo, So Roberto Belarmino, levou publicao de numerosos catecismos. 10 - Diante disto, no estranha que, no dinamismo que seguiu o Conclio Vaticano II (que o papa Paulo VI considerava como grande catecismo dos tempos modernos), a catequese da Igreja tenha novamente despertado a ateno. Do testemunho deste fato o Diretrio geral da Catequese, de 1971, as sesses do Snodo dos Bispos dedicadas evangelizao (1974) e catequese (1977), as exortaes apostlicas correspondentes, Evangelii nuntiandi (1975) e Catechesi tradendae (1979). A sesso extraordinria do Snodo dos Bispos de 1985 pediu: "Seja redigido um catecismo ou compndio de toda a doutrina catlica seja sobre a f seja sobre a moral". O Santo Padre Joo Paulo II endossou este desideratum expresso pelo Snodo dos Bispos, reconhecendo que "este desejo responde plenamente a uma verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares". Ele envidou todos os esforos em prol da realizao deste desideratum dos Padres do Snodo. III - O OBJETIVO E OS DESTINATRIOS DESTE CATECISMO 11 - O presente Catecismo tem por objetivo apresentar uma exposio orgnica e sinttica dos contedos essenciais e fundamentais da doutrina catlica tanto sobre a f como sobre a moral, luz do Conclio Vaticano II e do conjunto da Tradio da Igreja. Suas fontes principais so a Sagrada Escritura, os Santos Padres, a Liturgia e o Magistrio da Igreja. Destina-se ele a servir "como um ponto de referncia para os catecismos ou compndios que so elaborados nos diversos pases". 12 - O presente Catecismo destinado principalmente aos responsveis pela catequese:
  • 16. em primeiro lugar aos Bispos, como doutores da f e pastores da Igreja. oferecido a eles como instrumento no cumprimento de seu ofcio de ensinar o Povo de Deus. Por meio dos Bispos, ele se destina aos redatores de catecismos, aos presbteros e aos catequistas. Ser tambm til para a leitura de todos os demais fiis cristos. IV - A ESTRUTURA DESTE CATECISMO 13 - O projeto deste Catecismo inspira-se na grande tradio dos catecismos que articulam a catequese em tomo de quatro "pilares": a profisso da f batismal (o Smbolo), os sacramentos da f, a vida de f (os Mandamentos), a orao do crente (o "Pai- Nosso"). PARTE 1: - A PROFISSO DA F 14 - Os que pela f e pelo Batismo pertencem a Cristo devem confessar sua f batismal diante dos homens. Por isso, o Catecismo comea por expor em que consiste a Revelao, pela qual Deus se dirige e se doa ao homem, bem como a f, pela qual o homem responde a Deus (Seo 1). O Smbolo da f resume os dons que Deus outorga ao homem como Autor de todo bem, como Redentor, como Santificador, e os articula em tomo dos "trs captulos" de nosso Batismo a f em um s Deus: o Pai Todo-Poderoso, o Criador, Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor e Salvador, e o Esprito Santo, na Santa Igreja (Seo II). PARTE II: - OS SACRAMENTOS DE F 15 - A segunda parte do Catecismo expe como a salvao de Deus, realizada uma vez por todas por Cristo Jesus e pelo Esprito Santo, se toma presente nas aes sagradas da liturgia da Igreja (Seo 1), particularmente nos sete sacramentos (Seo II). PARTE III: - A VIDA DA F 16 - A terceira parte do Catecismo apresenta o fim ltimo do homem, criado imagem de Deus: a bem-aventurana e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com a ajuda da f e da graa de Deus (Seo I), por meio de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos dez Mandamentos de Deus (Seo II). PARTE IV: - A ORAO NA VIDA DA F 17 - A ltima parte do Catecismo trata do sentido e da importncia da orao na vida dos crentes (Seo 1). Ela termina com um breve comentrio sobre os setes pedidos da orao (Seo II), Com efeito, nesses sete pedidos encontramos o conjunto dos bens que devemos esperar e que nosso Pai celeste quer conceder-nos. V - INDICAES PRTICAS PARA O USO DESTE CATECISMO 18 - Este Catecismo foi pensado como uma exposio orgnica de toda a f catlica. Por isso preciso l-lo como uma unidade. Numerosas referncias dentro do prprio texto, bem como o ndice analtico no fim do volume
  • 17. permitem ver a ligao de cada tema com o conjunto da f. 19 - Muitas vezes os textos da Sagrada Escritura no so citados literalmente, mas so feitas apenas referncias (mediante a indicao "cf."). Para uma compreenso mais aprofundada de tais passagens, preciso consultar os prprios textos. Essas referncias bblicas constituem um instrumento de trabalho para a catequese. 20 - Quando em certas passagens se usa corpo menor, graficamente isto indica que se trata de observaes de tipo histrico, apologtico, ou de exposies doutrinais complementares. 21 - As citaes, em corpo menor, de fontes patrsticas, litrgicas, magisteriais ou hagiogrficas so destinadas a enriquecer a exposio doutrinal. Com freqncia esses textos foram escolhidos para uso diretamente catequtico. 22 - No final de cada unidade temtica, uma srie de textos su cintos resumem em frmulas condensadas o essencial do ensinam do ensinamento. Esses "resumindo" tm por objetivo oferecer sugestes a catequese local para frmulas sintticas e memorizveis. VI - AS ADAPTAES NECESSRIAS 23 - Neste Catecismo a nfase posta na exposio doutrinal. Quer ele ajudar a aprofundar o conhecimento da f. Por isso mesmo est orientado para o amadurecimento desta f, para seu enraizamento na vida e sua irradiao no testemunho. 24 - Por sua prpria finalidade, este Catecismo no se prope realizar as adaptaes da exposio e dos mtodos catequticos exigidas pelas diferenas de culturas, de idades, de maturidade espiritual, de situaes sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese dirigida. Tais adaptaes indispensveis cabem aos catecismos apropriados e mais ainda aos que ministram instruo aos fiis: Aquele que ensina deve "fazer-se tudo para todos" (1 Cor 9,22), a fim de conquistar todos para Jesus Cristo... Particularmente, no imagine ele que lhe confiado um nico tipo de almas, e que consequentemente lhe permitido ensinar e formar de modo igual todos os fiis verdadeira piedade, com um s e mesmo mtodo, sempre igual! Saiba ele bem que uns so em Jesus Cristo como que criancinhas recm-nascidas, outros, como que adolescentes, e finalmente alguns esto como que na posse de todas as suas foras... Os que so chamados ao ministrio da pregao devem, na transmisso dos mistrios da f e das regras dos costumes, adaptar suas palavras ao esprito e inteligncia de seus ouvintes. ACIMA DE TUDO A CARIDADE 25 - Para concluir este Prlogo, oportuno lembrar este princpio pastoral enunciado pelo Catecismo Romano: Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que no acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que preciso crer, esperar ou fazer; mas sobretudo preciso fazer sempre com que aparea o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude
  • 18. perfeitamente cristo no tem outra origem seno o Amor, e outro fim seno o Amor. PRIMEIRA SEO - "EU CREIO" - "NS CREMOS" 26 - Quando professamos nossa f, comeamos dizendo: "Eu creio" ou "Ns cremos". Por isso, antes de expor a f da Igreja tal como confessada no Credo, celebrada na Liturgia, vivida na prtica dos Mandamentos e na orao, perguntamo-nos o que significa "crer". A f a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido ltimo de sua vida. Por isso vamos considerar primeiro esta busca do homem (capitulo 1), em seguida a Revelao divina, pela qual Deus se apresenta ao homem (captulo II), e finalmente a resposta da f (captulo III). CAPTULO I - O HOMEM "CAPAZ DE DEUS I - O DESEJO DE DEUS 27 - O desejo de Deus est inscrito no corao do homem, j que o homem criado por Deus e para Deus; e Deus no cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem h de encontrar a verdade e a felicidade que no cessa de procurar: O aspecto mais sublime da dignidade humana est nesta vocao do homem comunho com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, comea com a existncia humana. Pois se o homem existe, porque Deus o criou por amor e, por amor, no cessa de dar-lhe o ser, e o homem s vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador. 28 - Em sua histria, e at os dias de hoje, os homens tm expressado de mltiplas maneiras sua busca de Deus por meio de suas crenas e de seus comportamentos religiosos (oraes, sacrifcios, cultos, meditaes etc.). Apesar das ambigidades que podem comportar, estas formas de expresso so to universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso: De um s (homem), Deus fez toda a raa humana para habitar sobre toda a face da terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites de seu hbitat. Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se s apalpadelas, se esforassem por encontr-la, embora Ele no esteja longe de cada um de ns. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,23-28). 29 - Mas esta "unio ntima e vital com Deus" pode ser esquecida, ignorada e at rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorncia ou a indiferena religiosas, as preocupaes com as coisas do mundo e com as riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis religio, e finalmente essa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu chamado. 30 - "Alegre-se o corao dos que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, no cessa
  • 19. de chamar todo homem a procur-lo, para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforo de sua inteligncia, a retido de sua vontade, "um corao reto", e tambm o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus. Vs sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande o vosso poder, e a vossa sabedoria no tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criao, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condio mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criao, quer louvar-vos. Vs mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delcias no vosso louvor, porque nos fizestes para vs e o nosso corao no descansa enquanto no repousar em vs. II - AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS 31 - Criado imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las tambm de "provas da existncia de Deus", no no sentido das provas que as cincias naturais buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas. Estas "vias" para chegar a Deus tm como ponto de partida a criao: o mundo material e a pessoa humana. 32 - O mundo: a partir do movimento e do devir, da contingncia, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo. So Paulo afirma a respeito dos pagos: "O que se pode conhecer de Deus manifesto entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisvel - seu eterno poder e sua divindade - tornou-se inteligvel desde a criao do mundo atravs das criaturas" (Rm 1,19- 20). E Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do cu... interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza um hino de louvor (confessio). Essas belezas sujeitas mudana, quem as fez seno o Belo (Pulcher, pronuncie "plquer"), no sujeito mudana?" 33 - O homem: Com sua abertura verdade e beleza, com seu senso do bem moral, com sua liberdade e a voz de sua conscincia, com sua aspirao ao infinito e felicidade, o homem se interroga sobre a existncia de Deus. Mediante tudo isso percebe sinais de sua alma espiritual. Como "semente de eternidade que leva dentro de si, irredutvel s matria". sua alma no pode ter origem seno em Deus . 34 - O mundo e o homem atestam que no tm em si mesmo nem seu princpio primeiro nem seu fim ltimo, mas que participam do Ser em si, que sem origem e sem fim. Assim por estas diversas "vias", o homem pode aceder ao conhecimento da existncia de uma realidade que a causa primeira e o fim ltimo de tudo, "e que todos chamam Deus".
  • 20. 35 - As faculdades do homem o tomam capaz de conhecer a existncia de um Deus pessoal. Mas, para que o homem possa entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a graa de poder acolher esta revelao na f. Contudo, as provas da existncia de Deus podem dispor f e ajudar a ver que a f no se ope razo humana. III - O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA 36 - "A santa Igreja, nossa me, sustenta e ensina que Deus, princpio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razo humana a partir das coisas criadas". Sem esta capacidade, o homem no poderia acolher a revelao de Deus. O homem tem esta capacidade por ser criado " imagem de Deus". 37 - Todavia, nas condies histricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas dificuldades para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razo: "Pois, embora a razo humana, absolutamente falando, possa chegar com suas foras e lume naturais ao conhecimento verdadeiro e certo de um Deus pessoal, que governa e protege o mundo com sua Providncia, bem como chegar ao conhecimento da lei natural impressa pelo Criador em nossas almas, de fato, muitos so os obstculos que impedem a mesma razo de usar eficazmente e com resultado desta sua capacidade natural. As verdades que se referem a Deus e s relaes entre os homens e Deus so verdades que transcendem completamente a ordem das coisas sensveis e quando estas verdades atingem a vida prtica e a regem, requerem sacrifcio e abnegao. A inteligncia humana, na aquisio destas verdades, encontra dificuldades tanto por parte dos sentidos e da imaginao como por parte das ms inclinaes, provenientes do pecado original. Donde vemos que os homens em tais questes, facilmente procuram persuadir-se de que seja falso ou ao menos duvidoso aquilo que no desejam que seja verdadeiro". 38 - Por isso, O homem tem necessidade de ser iluminado pela revelao de Deus, no somente sobre o que ultrapassa seu entendimento, mas tambm sobre "as verdades religiosas e morais que, de per si, no so inacessveis razo, a fim de que estas no estado atual do gnero humano possam ser conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura de erro". IV - COMO FALAR DE DEUS? 39 - Ao defender a capacidade da razo humana de conhecer a Deus, a Igreja exprime sua confiana na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta convico esta na base de seu dilogo com as outras religies, com a filosofia e com as cincias, como tambm com Os no- crentes e os ateus. 40 - Uma vez que nosso conhecimento de Deus limitado, tambm limitada nossa linguagem sobre Deus. S podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar. 41 - As criaturas, todas elas, trazem em si certa semelhana com Deus, muito particularmente o homem criado imagem e a semelhana de
  • 21. Deus. Por isso as mltiplas perfeies das criaturas (sua verdade, bondade e beleza) refletem a perfeio infinita de Deus. Em razo disso podemos falar de Deus a partir das perfeies de suas criaturas, "pois a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" (Sb 13,5). 42 - Deus transcende a toda criatura. Por isso, preciso incessantemente purificar nossa linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente de pura imaginao, de imperfeito, para no confundirmos o Deus "inefvel, incompreensvel, invisvel, inatingvel" com as nossas representaes humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aqum do Mistrio de Deus. 43 - Assim falando de Deus, nossa linguagem se exprime, sem dvida, de maneira humana, mas ela atinge realmente O prprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo em sua infinita simplicidade. Com efeito, preciso lembrar que "entre o Criador e a criatura no se pode notar uma semelhana, sem que se deva notar entre eles uma ainda maior de ssemelhana", e que "no podemos apreender de Deus o que ele , mas apenas O que ele no e de que maneira os outros seres se situam em relao a ele". RESUMINDO 44 - O homem , por natureza e por vocao, um ser religioso. Porque provm de Deus e para Ele caminha, o homem s vive uma vida plenamente humana se viver livremente sua relao com Deus. 45 - O homem feito para viver em comunho com Deus, no qual encontra sua felicidade: "Quando eu estiver inteiramente em Vs, nunca mais haver dor e provao; repleta de Vs por inteiro, minha vida ser verdadeira". 46 - Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua conscincia, o homem pode atingir a certeza da existncia de Deus, causa e fim de tudo. 47 - A Igreja ensina que o Deus nico e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido com certeza por meio de suas obras graas luz natural da razo humana. 48 - Podemos realmente falar de Deus partindo das mltiplas perfeies das criaturas, semelhanas do Deus infinitamente perfeito, ainda que nossa linguagem limitada no esgote seu mistrio. 49 - "Sem o Criador, a criatura se esvai". Eis por que os crentes sabem que so impelidos pelo amor de Cristo a levar a luz do Deus vivo queles que o desconhecem ou o recusam. CAPTULO II - DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM 50 - Mediante a razo natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas obras. as existe outra ordem de conhecimento que O homem de modo algum pode atingir por suas prprias foras, a da Revelao divina. Por uma deciso totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. F-lo revelando seu mistrio, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Esprito Santo.
  • 22. ARTIGO 1 - A REVELAO DE DEUS I - DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE" 51 - "Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tomar conhecido o mistrio de sua vontade, pelo qual os homens, por intermdio de Cristo, Verbo feito carne, no Esprito Santo, tm acesso ao Pai e se tomam participantes da natureza divina". 52 - Deus, que "habita uma luz inacessvel" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua prpria vida divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho nico, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhec-lo e de am-lo bem alm do que seriam capazes por si mesmos. 53 - O projeto divino da Revelao realiza-se ao mesmo tempo "por aes e por palavras, intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a Revelao sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na misso do Verbo encarnado, Jesus Cristo. So Irineu de Lio fala repetidas vezes desta pedagogia divina sob a imagem da familiaridade mtua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o beneplcito do Pai". II - AS ETAPAS DA REVELAO DESDE A ORIGEM, DEUS SE D A CONHECER 54 - "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de si e, alm disso, no intuito de abrir o caminho de uma salvao superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primrdios, a nossos primeiros pais". Convidou-os a uma comunho ntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graa e de uma justia resplandecentes. 55 - Esta Revelao no foi interrompida pelo pecado de nossos primeiros pais. Deus, com efeito, "aps a queda destes, com a prometida redeno, alentou-os a esperar uma salvao e velou permanentemente pelo gnero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverana na prtica do bem, procuram a salvao". E quando pela desobedincia perderam vossa amizade, no os abandonastes ao poder da morte. (...) Oferecestes muitas vezes aliana aos homens e s mulheres. A ALIANA COM NO 56 - Desfeita a unidade do gnero humano pelo pecado, Deus procura antes de tudo salvar a humanidade passando por cada uma de suas partes. A Aliana com No depois do dilvio exprime o princpio da Economia divina para com as "naes", isto , para com os homens agrupados "segundo seus
  • 23. pases, cada um segundo sua lngua, e segundo seus cls" (Gn 10.5) 57 - Esta ordem ao mesmo tempo csmica, social e religiosa da pluralidade das naes destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decada que unnime em sua perversidade, gostaria de construir por si mesma sua unidade maneira de Babel. Contudo, devido ao pecado, o politesmo, assim como a idolatria da nao e de seu chefe, constitui uma contnua ameaa de perverso pag para essa Economia provisria. 58 - A Aliana com No permanece em vigor durante todo o tempo das naes, at a proclamao universal do Evangelho. A Bblia venera algumas grandes figuras das "naes", tais como "Abel, o justo", o rei-sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos "No, Daniel e J". Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade podem atingir os que vivem segundo a Aliana de No, na expectativa de que Cristo "congregue na unidade todos os filhos de Deus dispersos" (Jo 11,52). DEUS ELEGE ABRAO 59 - Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abro, chamando-o "para fora de seu pas, de sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abrao", isto , "o pai de uma multido de naes" (Gn 17,5): "Em ti sero abenoadas todas as naes da terra" (Gn 12). 60 - O povo originado de Abrao ser o depositrio da promessa feita aos patriarcas, o povo da eleio, chamado a preparar o congraamento, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da Igreja; ser a raiz sobre a qual sero enxertados os pagos tornados crentes. 61 - Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e sero sempre venerados como santos em todas as tradies litrgicas da Igreja. DEUS FORMA SEU POVO ISRAEL 62 - Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravido do Egito. Fez com ele a Aliana do Sinal e deu- lhe, por intermdio de Moiss, a sua Lei, para que o reconhecesse e o servisse como o nico Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e juiz justo, e para que esperasse o Salvador prometido. 63 - Israel o Povo sacerdotal de Deus, aquele que "traz o Nome do Senhor" (Dt 28,10). o povo daqueles "aos quais Deus falou em primeiro lugar", o povo dos "irmos mais velhos" da f de Abrao. 64 - Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperana da salvao, na expectativa de uma Aliana nova e eterna destinada a todos os homens, e que ser impressa nos coraes. Os profetas anunciam uma redeno radical do Povo de Deus, a purificao de todas as suas infidelidades, uma salvao que incluir todas as naes. Sero sobretudo os pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperana. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Mriam, Dbora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperana da salvao de Israel. Delas todas, a figura mais pura a de Maria.
  • 24. III - CRISTO JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAO" DEUS TUDO DISSE NO SEU VERBO 65 - "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que so os ltimos, falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1-2). Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra nica, perfeita e insupervel do Pai. Nele o Pai disse tudo, e no h outra palavra seno esta. So Joo da Cruz, depois de tantos outros, exprime isto de maneira luminosa, comentando Hb 1,1-2: Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que sua Palavra nica (e outra no h), tudo nos falou de uma s vez nessa nica Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que seu Filho. Se atualmente, portanto, algum quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma viso ou revelao, no s cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus por no dirigir os olhares unicamente para Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma. NO HAVER OUTRA REVELAO 66 - "A Economia crist, portanto, como aliana nova e definitiva, jamais passar, e j no h que esperar nenhuma nova revelao pblica antes da gloriosa manifestao de Nosso Senhor Jesus Cristo". Todavia, embora a Revelao esteja terminada, no est explicitada por completo; caber f crist captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos sculos. 67 - No decurso dos sculos houve revelaes denominadas "privadas", e algumas delas tm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas no pertencem, contudo, ao depsito da f. A funo delas no "melhorar" ou "completar" a Revelao definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em determinada poca da histria. Guiado pelo Magistrio da Igreja, o senso dos fiis sabe discernir e acolher o que nessas revelaes constitui um apelo autntico de Cristo ou de seus santos Igreja. A f crist no pode aceitar "revelaes" que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelao da qual Cristo a perfeio. Este o caso de certas religies no-crists e tambm de certas seitas recentes que se fundamentam em tais "revelaes. RESUMINDO 68 - Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem. Traz assim uma resposta definitiva e superabundante s questes que o homem se faz acerca do sentido e do objetivo de sua vida. 69 - Deus revelou-se ao homem, comunicando- lhe gradualmente seu prprio Mistrio por meio de aes e de palavras. 70 - Para alm do testemunho que Deus d de si mesmo nas coisas criadas, ele manifestou-se pessoalmente aos nossos primeiros pais. Falou- lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a salvao e ofereceu-lhes sua aliana.
  • 25. 71 - Deus fez com No uma aliana eterna entre Ele e todos os seres vivos. Esta h de durar enquanto durar o mundo. 72 - Deus escolheu Abrao e fez uma aliana com ele e sua descendncia. Da formou seu povo, ao qual revelou sua lei por intermdio de Moiss. Pelos profetas preparou este povo a acolher a salvao destinada humanidade inteira. 73 - Deus revelou-se plenamente enviando seu prprio Filho, no qual estabeleceu sua Aliana para sempre. O Filho a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele no haver outra Revelao. ARTIGO 2 - A TRANSMISSO DA REVELAO DIVINA 74 - Deus "quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,4), isto , de Jesus Cristo. preciso, pois, que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos os homens, e que desta forma a Revelao chegue at as extremidades do mundo: Deus disps com suma benignidade que aquelas coisas que revelara para a salvao de todos os povos permanecessem sempre ntegras e fossem transmitidas a todas as geraes. 1 - A TRADIO APOSTLICA 75 - "Cristo Senhor, em quem se consuma a revelao do Sumo Deus, ordenou aos Apstolos que o Evangelho, prometido antes pelos profetas, completado por ele e por sua prpria boca promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda a verdade salvfica e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes os dons divinos". A PREGAO APOSTLICA... 76 - A transmisso do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras: * ORALMENTE - "pelos apstolos, que na pregao oral, por exemplos e instituies, transmitiram aquelas coisas que ou receberam das palavras, da convivncia e das obras de Cristo ou aprenderam das sugestes do Esprito Santo"; * POR ESCRITO - "como tambm por aqueles apstolos e vares apostlicos que, sob inspirao do mesmo Esprito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvao". ...CONTINUADA NA SUCESSO APOSTLICA 77 - "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles "transmitindo seu prprio encargo de Magistrio". Com efeito, "a pregao apostlica, que expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar- se por uma sucesso contnua at a consumao dos tempos". 78 - Esta transmisso viva, realizada no Esprito Santo, chamada de Tradio enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradio, "a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as geraes tudo o que ela , tudo o que cr". "O
  • 26. ensinamento dos Santos Padres testemunha a presena vivificante desta Tradio, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante". 79 - Assim, a comunicao que o Pai fez de si mesmo por seu Verbo no Esprito Santo permanece presente e atuante na Igreja: "O Deus que outrora falou mantm um permanente dilogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Esprito Santo, pelo qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e atravs dela no mundo, leva os crentes verdade toda e faz habitar neles abundantemente a palavra de Cristo". II - A RELAO ENTRE A TRADIO E A SAGRADA ESCRITURA UMA FONTE COMUM... 80 - "Elas esto entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois, promanando ambas da mesma fonte divina, formam de certo modo um s todo e tendem para o mesmo fim." Tanto uma como outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistrio de Cristo, que prometeu permanecer com os seus "todos os dias, at a consumao dos sculos" (Mt 28,20). DUAS MODALIDADES DISTINTAS DE TRANSMISSO 81 - "A Sagrada Escritura a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moo do Esprito Santo". Quanto Sagrada Tradio, ela "transmite integralmente aos sucessores dos apstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Esprito Santo aos apstolos para que, sob a luz do Esprito de verdade, eles, por sua pregao, fielmente a conservem, exponham e difundam". 82 - Dai resulta que a Igreja, qual esto confiadas a transmisso e a interpretao da Revelao, "no deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverncia". TRADIO APOSTLICA E TRADIES ECLESIAIS 83 - A Tradio da qual aqui falamos a que vem dos apstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Esprito Santo Com efeito, a primeira gerao de cristos ainda no dispunha de um Novo Testamento escrito, e o prprio Novo Testamento atesta o processo da Tradio viva. Dela preciso distinguir as "tradies" teolgicas, disciplinares, litrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande Tradio recebe expresses adaptadas aos diversos lugares e s diversas pocas. luz da grande Tradio que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistrio da Igreja. III - A INTERPRETAO DO DEPSITO DA F
  • 27. O DEPSITO DA F CONFIADO TOTALIDADE DA IGREJA 84 - "O patrimnio sagrado" da f ("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradio e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos apstolos totalidade da Igreja. "Apegando-se firmemente ao mesmo, o povo santo todo, unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos apstolos e na comunho, na frao do po e nas oraes, de sorte que na conservao, no exerccio e na profisso da f transmitida se crie uma singular unidade de esprito entre os bispos e os fiis." O MAGISTRIO DA IGREJA 85 - "O ofcio de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistrio vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo", isto , foi confiado aos bispos em comunho com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. 86 - "Todavia, tal Magistrio no est acima da Palavra de Deus, mas a servio dela, no ensinando seno o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistncia do Esprito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expe, e deste nico depsito de f tira o que nos prope para ser crido como divinamente revelado". 87 - Os fiis, lembrando-se da palavra de Cristo a seus apstolos: "Quem vos ouve a mim ouve" (Lc 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes do sob diferentes formas. OS DOGMAS DA F 88 - O Magistrio da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto , quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristo a uma adeso irrevogvel de f, prope verdades contidas na Revelao divina ou verdades que com estas tm uma conexo necessria. 89 - H uma conexo orgnica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas so luzes no caminho de nossa f que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se nossa vida for reta, nossa inteligncia e nosso corao estaro abertos para acolher a luz dos dogmas da f. 90 - Os laos mtuos e a coerncia dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da Revelao do Mistrio de Cristo. "Existe uma ordem ou "hierarquia" das verdades da doutrina catlica, j que o nexo delas com o fundamento da f crist diferente". SENSO SOBRENATURAL DA F 91 - Todos os fiis participam da compreenso e da transmisso da verdade revelada. Receberam a uno do Esprito Santo, que os instrui e os conduz verdade em sua totalidade. 92 - "O conjunto dos fiis... no pode enganar- se no ato de f. E manifesta esta sua peculiar piedade mediante o senso sobrenatural da f de todo o povo, quando, "desde
  • 28. os bispos at o ltimo dos fiis leigos", apresenta um consenso universal sobre questes de f e costumes". 93 - "Por este senso da f, excitado e sustentado pelo Esprito da verdade, o Povo de Deus, sob a direo do sagrado Magistrio, (...) adere indefectivelmente f "uma vez para sempre transmitida aos santos"; e, com reto juzo, penetra-a mais profundamente e na sua vida a coloca mais perfeitamente em obra". O CRESCIMENTO NA COMPREENSO DA F 94 - Graas assistncia do Esprito Santo, a compreenso tanto das realidades como das palavras do depsito da f pode crescer na vida da Igreja: * "Pela contemplao e estudo dos que crem, os quais as meditam em seu corao", em especial "a pesquisa teolgica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada". * "Pela ntima compreenso que os fiis desfrutam das coisas espirituais"; "Divina eloquia cum legente crescunt - as palavras divinas crescem com o leitor". * "Pela pregao daqueles que, com a sucesso episcopal, receberam o carisma seguro da verdade." 95 - "Fica, portanto, claro que segundo o sapientssimo plano divino, a Sagrada Tradio, a Sagrada Escritura e o Magistrio da Igreja esto de tal modo entrelaados e unidos que um no tem consistncia sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ao do mesmo Esprito Santo, contribuem eficazmente para a salvao das almas". RESUMINDO 96 - O que Cristo confiou aos apstolos, estes o transmitiram por sua pregao e por escrito, sob a inspirao do Esprito Santo, a todas as geraes, at a volta gloriosa de Cristo. 97 - "A Sagrada Tradio e a Sagrada Escritura constituem um s sagrado depsito da Palavra de Deus", no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas. 98 - "Em sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as geraes tudo o que ela , tudo o que cr. 99 - Graas a seu senso sobrenatural da f, o Povo de Deus inteiro no cessa de acolher o dom da Revelao divina, de penetr-lo mais profundamente e viver dele com mais plenitude. 100 - O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado exclusivamente ao Magistrio da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunho com ele. ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA I - CRISTO - PALAVRA NICA DA SAGRADA ESCRITURA 101 - Na condescendncia de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras humanas: Com efeito, as palavras de Deus, expressas por lnguas humanas, fizeram- se semelhantes linguagem
  • 29. humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens". 102 - Por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma s Palavra, seu Verbo nico, no qual se expressa por inteiro. "Lembrai-vos que uma mesma a Palavra de Deus que est presente em todas as Escrituras, que um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que, sendo no incio Deus junto de Deus, no tem necessidade de slabas, por no estar submetido ao tempo. 103 - Por este motivo, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como venera tambm o Corpo do Senhor. Ela no cessa de apresentar aos fiis o Po da vida tomado da Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo. 104 - Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua fora, pois nela no acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela realmente: a Palavra de Deus "Com efeito, nos Livros Sagrados o Pai que est nos cus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala". II - INSPIRAO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA 105 - Deus o autor da Sagrada Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspirao do Esprito Santo". "A santa Me Igreja, segundo a f apostlica, tem como sagrados e cannicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspirao do Esprito Santo, eles tm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados prpria Igreja". 106 - Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.. "Na redao dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas prprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele prprio neles e por meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e s aquilo que ele prprio queria." 107 - Os livros inspirados ensinam a verdade. "Portanto, j que tudo o que os autores inspirados (ou hagigrafos) afirmam deve ser tido como afirmado pelo Esprito Santo, deve- se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista de nossa salvao quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras". 108 - Todavia, a f crist no uma "religio do Livro". O Cristianismo a religio da "Palavra" de Deus, "no de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo". Para que as Escrituras no permaneam letra morta, preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo, pelo Esprito Santo nos "abra o esprito compreenso das Escrituras". III - O ESPRITO SANTO, INTRPRETE DA ESCRITURA 109 - Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem maneira dos homens. Para bem interpretar a Escritura preciso, portanto,
  • 30. estar atento quilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e quilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles. 110 - Para descobrir a inteno dos autores sagrados, h que levar em conta as condies da poca e da cultura deles, os "gneros literrios" em uso naquele tempo, os modos, ento correntes, de sentir, falar e narrar. Pois a verdade apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que so de vrios modos histricos ou profticos ou poticos, ou nos demais gneros de expresso". 111 - Mas, j que a Sagrada Escritura inspirada, h outro princpio da interpretao correta, no menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria letra morta: "A Sagrada Escritura deve tambm ser lida e interpretada com a ajuda daquele mesmo Esprito em que foi escrita". O Conclio Vaticano II indica trs critrios para uma interpretao da Escritura conforme o Esprito que a inspirou: 112 - 1 - Prestar muita ateno "ao contedo e unidade da Escritura inteira". Pois, por mais diferentes que sejam os livros que a compem, a Escritura una em razo da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus o centro e o corao, aberto depois de sua Pscoa. O corao de Cristo designa a Sagrada Escritura, que d a conhecer o corao de Cristo. O corao estava fechado antes da Paixo, pois a Escritura era obscura. Mas a Escritura foi aberta aps a Paixo, pois os que a partir da tm a compreenso dela consideram e discernem de que maneira as profecias devem ser interpretadas. 113 - 2 - Ler a Escritura dentro "da Tradio viva da Igreja inteira". Consoante um adgio dos Padres, "Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta a sagrada Escritura est escrita mais no corao da Igreja do que nos instrumentos materiais". Com efeito, a Igreja leva em sua Tradio a memria viva da Palavra de Deus, e o Esprito Santo que lhe d a interpretao espiritual da Escritura ("...segundo o sentido espiritual que o Esprito d Igreja".) 114 - 3 - Estar atento "a anagogia da f". Por "anagogia da f" entendemos a coeso das verdades da f entre si e no projeto total da Revelao. Os SENTIDOS DA ESCRITURA 115 - Segundo uma antiga tradio, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este ltimo subdividido em sentido alegrico, moral e analgico. A concordncia profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza leitura viva da Escritura na Igreja. 116 - O sentido literal. o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese que segue as regras da correta interpretao. "Omnes sensus fundantur super litteralem - Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) devem estar fundados no literal". 117 - O sentido espiritual. Graas unidade do projeto de Deus, no somente o texto da Escritura, mas tambm as realidades e os acontecimentos de que ele fala, podem ser sinais.
  • 31. 1 - O SENTIDO ALEGRICO - Podemos adquirir uma compreenso mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a significao deles em Cristo; assim, a travessia do Mar Vermelho um sinal da vitria de Cristo, e tambm do Batismo. 2 - O SENTIDO MORAL - Os acontecimentos relatados na Escritura devem conduzir-nos a um justo agir. Eles foram escritos "para nossa instruo" (1Cor 10, 11) 3 - O SENTIDO ANAGGICO - Podemos ver realidades e acontecimentos em sua significao eterna, conduzindo-nos (em grego: "anagog"; pronuncie "anagogu") nossa Ptria. Assim, a Igreja na terra sinal da Jerusalm celeste. 118 - Um dstico medieval resume a significao dos quatro sentidos: Littera gesta docei, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia. - A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que deves crer; a moral, o que deves fazer; a anagogia, para onde deves caminhar . 119 - " dever dos exegetas esforar-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que preparatrio, amadurea o julgamento da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem maneira de interpretar a Escritura esto sujeitas, em ltima instncia, ao juzo da Igreja, que exerce o divino ministrio e mandato do guardar e interpretar a Palavra de Deus". Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas. - Eu no creria no Evangelho, se a isto no me levasse a autoridade da Igreja catlica". IV - O CNON DAS ESCRITURAS 120 - Foi a Tradio apostlica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados lista dos Livros Sagrados". Esta lista completa denominada "Cnon" das Escrituras. Ela comporta 46 (45, se contarmos Jr e Lm juntos) escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento. Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros, Deuteronmio, Josu, Juizes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crnicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, J, os Salmos, os Provrbios, o Eclesiastes (ou Colet), o Cntico dos Cnticos, a Sabedoria, o Eclesistico (ou Sircida), Isaas, Jeremias, as Lamentaes, Baruc, Ezequiel, Daniel, Osias, Joel, Ams, Abdias, Jonas, Miquias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, para o Antigo Testamento; os Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de Joo, os Atos dos Apstolos, as Epstolas de So Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda aos Corintios, aos Glatas, aos Efsios, aos Filipenses, aos Colossenses, a primeira e a segunda aos Tessalonicenses, a primeira e a segunda a Timteo, a Tito, a Filmon, a Epstola aos Hebreus, a Epstola de Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as trs Epstolas de Joo, a Epstola de Judas e o Apocalipse, para o Novo Testamento. O ANTIGO TESTAMENTO 121 - Antigo Testamento uma parte indispensvel da Sagrada Escritura. Seus livros so divinamente inspirados e conservam um
  • 32. valor permanente, pois a Antiga Aliana nunca foi revogada. 122 - Com efeito, "a Economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor de todos". "Embora contenham tambm coisas imperfeitas e transitrias", os livros do Antigo Testamento do testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvfico de Deus: "Neles encontram-se sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma salutar sabedoria concernente vida do homem, bem como admirveis tesouros de preces; nestes livros, enfim est latente o mistrio de nossa salvao". 123 - Os cristos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaou vigorosamente a idia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar (marcionismo). O NOVO TESTAMENTO 124 - "A Palavra de Deus, que fora de Deus para a salvao de todo crente, apresentada e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento". Estes escritos fornecem-nos a verdade definitiva da Revelao divina. Seu objeto central Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, seus atos, ensinamentos, paixo e glorificao, assim como os incios de sua Igreja sob a ao do Esprito Santo. 125 - Os Evangelhos so o corao de todas as Escrituras, "uma vez que constituem o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador". 126 - Na formao dos Evangelhos podemos distinguir trs etapas: 1 - A VIDA E O ENSINAMENTO DE JESUS - A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, "cuja historicidade afirma sem hesitao, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvao deles, at o dia em que foi elevado". 2 - A TRADIO ORAL - "O que o Senhor dissera e fizera, os apstolos, aps a ascenso do Senhor, transmitiram aos ouvintes, com aquela compreenso mais plena de que gozavam, instrudos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Esprito de verdade." 3 - OS EVANGELHOS ESCRITOS - "Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou j por escrito, fazendo sntese de outras ou explanando-as com vistas situao das igrejas, conservando, enfim, a forma de pregao, sempre de maneira a transmitir-nos, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e sincera". 127 - O Evangelho quadriforme ocupa a Igreja um lugar nico, como atestam a venerao que lhe tributa a liturgia e o atrativo incomparvel que desde sempre tem exercido sobre os santos: No existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais esplndida que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre, Cristo, ensinou com suas palavras e realizou com seus atos. acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas oraes; nele encontro tudo o que necessrio para minha pobre alma. Descubro nele sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos.
  • 33. A UNIDADE ENTRE O ANTIGO E O NOVO TESTAMENTO 128 - A Igreja, j nos tempos apostlicos, e depois constantemente em sua Tradio, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graas tipologia. Esta discerne, nas obras de Deus contidas na Antiga Aliana, prefiguraes daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado. 129 - Por isso os cristos lem o Antigo Testamento luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipolgica manifesta o contedo inesgotvel do Antigo Testamento. Ela no deve levar a esquecer que este conserva seu valor prprio de Revelao, que o prprio Nosso Senhor reafirmou. De resto tambm o Novo Testamento exige ser lido luz do Antigo. A catequese crist primitiva recorre constantemente a ele. Segundo um adgio antigo, o Novo Testamento est escondido no Antigo, ao passo que o Antigo desvendado no Novo "Novum in Vetere latet et in Novo Vetus patet". 130 - A tipologia exprime o dinamismo em direo ao cumprimento do plano divino, quando "Deus ser tudo em todos" (1 Cor 15,28), Tambm a vocao dos patriarcas e o xodo do Egito, por exemplo, no perdem seu valor prprio no plano de Deus, pelo fato de serem ao mesmo tempo etapas intermedirias deste plano. V - A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA 131 - " to grande o poder e a eficcia encerrados na Palavra de Deus, que ela constitui sustentculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da f, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual". " preciso que o acesso Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiis". 132 - "Que o estudo das Sagradas Pginas seja, portanto, como que a alma da Sagrada Teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura tambm se nutre salutarmente e santamente floresce o ministrio da palavra, a saber, a pregao pastoral, a catequese e toda a instruo crist, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia litrgica". 133 - A Igreja "exorta com veemncia e de modo peculiar todos os fiis cristos... a que, pela freqente leitura das divinas Escrituras, aprendam "a eminente cincia de Jesus Cristo(Fl 3,8). "Com efeito, ignorar as Escrituras ignorar Cristo". RESUMINDO 134 - Omnis Scriptura divina unus liber est, et hic unus liber est Christus, "quia omnis Scriptura divina de Christo loquitur, et omn is Scriptura divina in Christo impletur". - Toda a Escritura divina um nico livro, e este livro nico Cristo, j que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo. 135 - "As Sagradas Escrituras contm a Palavra de Deus e, por serem inspiradas, so verdadeiramente Palavra de Deus". 136 - Deus e o autor da Sagrada Escritura inspirar seus autores humanos; age neles e por
  • 34. meio dele. Fornece assim a garantia de que seus escritos ensinem sem erro a verdade salvfica. 137 - A interpretao das Escrituras inspiradas deve antes de tudo estar atenta quilo que Deus quer revelar por intermdio dos autores sagrados para nossa salvao. O que vem do Esprito s plenamente entendido pela ao do Esprito. 138 - A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo e os 27 livros do Novo Testamento. 139 - Os quatro Evangelhos ocupam um lugar central, j que Cristo Jesus o centro deles. 140 - A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua Revelao. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que este ltimo cumpre o Antigo; os dois se iluminam reciprocamente; os dois so verdadeira Palavra de Deus. 141 - "A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o prprio Corpo do Senhor": ambos alimentam e dirigem toda a vida crist. "Tua Palavra a lmpada para meus ps, e luz para meu caminho" (Sl 119, 105".) CAPTULO III - A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS 142 - Por sua Revelao, "o Deus invisvel, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com eles se entretm para os convidar comunho consigo e nela os receber". A resposta adequada a este convite a f. 143 - Pela f, o homem submete completamente sua inteligncia e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem d seu assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura denomina "obedincia da f" esta resposta do homem ao Deus que revela. ARTIGO 1 - EU CREIO 144 - I. A OBEDINCIA DA F Obedecer ("ob-audire") na f significa submeter-se livremente palavra ouvida, visto que sua verdade garantida por Deus, a prpria Verdade. Desta obedincia, Abrao o modelo que a Sagrada Escritura nos prope, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realizao. ABRAO "O PAI DE TODOS OS CRENTES" 145 - A Epstola aos Hebreus, no grande elogio f dos antepassados, insiste particularmente na f de Abrao: "Foi pela f que Abrao, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma terra que devia receber como herana, e partiu sem saber para onde ia" (Hb 11, 8). Pela f, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida. Pela f, Sara recebeu a graa de conceber o filho da promessa. Pela f, finalmente, Abrao ofereceu seu filho nico em sacrifcio. 146 - Abrao realiza, assim, a definio da f dada pela Epstola aos Hebreus: "A f uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que no se vem" (Hb 11,1). "Abrao creu em Deus, e isto lhe foi levado em conta de justia" (Rm 4, 3). Graas a esta "f poderosa"
  • 35. (Rm 4,20), Abrao tornou-se "o pai de todos os que haveriam de crer" (Rm 4,1 1. 18 13). 147 - O Antigo Testamento rico em testemunhos desta f. A Epstola aos Hebreus proclama o elogio da f exemplar dos antigos, "que deram o seu testemunho" (Hb 11,2.39). No entanto, "Deus previa para ns algo melhor": a graa de crer em seu Filho Jesus, "o autor e realizador da f, que a leva perfeio" (Hb11,40; 12, 2.) MARIA "BEM-AVENTURADA A QUE ACREDITOU" 148 - A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obedincia da f. Na f, Maria acolheu o anncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada impossvel a Deus" (Lc 1, 37.) e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor; faa-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Isabel a saudou: "Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor ser cumprido". (Lc 1,45). em virtude desta f que todas as geraes a proclamaro bem-aventurada. 149 - Durante toda a sua vida e at sua ltima provao, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua f no vacilou. Maria no deixou de crer "no cumprimento" da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realizao mais pura da f. II - "SEI EM QUEM PUS MINHA F" (2TM 1,12) CRER SOMENTE EM DEUS 150 - A f primeiramente uma adeso pessoal do homem a Deus; , ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou. Como adeso pessoal a Deus e assentimento verdade que ele revelou, a f crist diferente da f em uma pessoa humana. E justo e bom entregar-se totalmente a Deus e crer absolutamente no que ele diz. Seria vo e falso pr tal f em uma criatura. CRER EM JESUS CRISTO, O FILHO DE DEUS 151 - Para o cristo, crer em Deus , inseparavelmente, crer naquele que Ele enviou, "seu Filho bem-amado", no qual Ele ps toda sua complacncia; Deus mandou que O escutssemos. O prprio Senhor disse a seus discpulos: "Crede em Deus, crede tambm em mim" (Jo 14,1). Podemos crer em Jesus Cristo por que ele mesmo Deus, o Verbo feito carne: "Ningum jamais viu a Deus: o Filho unignito, que est voltado para o seio do Pai; este o deu a conhecer" (Jo 1,18). Por ter ele "visto o Pai" (Jo 6,46), ele o nico que o conhece e pode revel-lo. CRER NO ESPRITO SANTO 152 - No se pode crer em Jesus Cristo sem participar de seu Esprito. E o Esprito Santo que revela aos homens quem Jesus. Pois "ningum pode dizer "Jesus Senhor" a no ser no Esprito Santo" (1 Cor 12,3). "O Esprito sonda todas as coisas, at mesmo as profundidades de Deus... O que est em Deus,
  • 36. ningum o conhece a no ser o Esprito de Deus" (1 Cor 2,10-11). S Deus conhece a Deus por inteiro. Cremos no Esprito Santo porque Ele Deus. A Igreja no cessa de confessar sua f em um s Deus, Pai, Filho e Esprito Santo. III - AS CARACTERSTICAS DA F A F UMA GRAA 153 - Quando So Pedro confessa que Jesus o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe declara que esta revelao no lhe veio "da carne e do sangue, mas de meu Pai que est nos cus". f um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. "Para que se preste esta f, exigem-se a graa prvia e adjuvante de Deus e os auxlios internos do Esprito Santo, que move o corao e o converte a Deus, abre os olhos da mente e d a todos suavidade no consentir e crer na verdade". A F UM ATO HUMANO 154 - Crer s possvel pela graa e pelos auxlios interiores do Esprito Santo Mas no menos verdade que crer um ato autenticamente humano. No contraria nem a liberdade nem a inteligncia do homem confiar em Deus e aderir s verdades por Ele reveladas. J no campo das relaes humanas, no contrrio nossa prpria dignidade crer no que outras pessoas nos dizem sobre si mesmas e sobre suas intenes e confiar nas promessas delas (como, por exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para entrar assim em comunho recproca. Por isso, ainda menos contrrio nossa dignidade "prestar, pela f, revelao de Deus plena adeso do intelecto e da vontade" e entrar, assim, em comunho ntima com ele. 155 - Na f, a inteligncia e a vontade humanas cooperam com a graa divina: "Credere est actus intellectus assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis a Deo motae per gratiam - Crer um ato da inteligncia que assente verdade divina a mando da vontade movida por Deus atravs da graa". A F E A INTELIGNCIA 156 - O motivo de crer no o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligveis luz de nossa razo natural. Cremos "por causa da autoridade de Deus que revela e que no pode nem enganar-se nem enganar-nos". "Todavia, para que o obsquio de nossa f fosse conforme razo, Deus quis que os auxlios interiores do Esprito Santo fossem acompanhados das provas exteriores de sua Revelao. Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagao e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade "constituem sinais certssimos da Revelao, adaptados inteligncia de todos", "motivos de credibilidade" que mostram que o assentimento da f no "de modo algum um movimento cego do esprito". 157 - A f certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na prpria Palavra de Deus, que no pode mentir.
  • 37. Sem dvida, as verdades reveladas podem parecer obscuras razo e experincia humanas, mas "a certeza dada pela luz divina maior que a que