china - a vez da inovação

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AVEZM INrc Depois de setornar a fábrica de quinquilharias do mundo, a China está empenhada em brigar de igual para igual com os países ricos - e sua "' ,principal armasãoos investimentos em pesquisa e d esenvo|vi mento r RoBERTÀ paDv^x, DE pEou*,, LABORATORIO EM WUHAN: o governo chínês críoumais de SOOparques tecnológíeos desde ocomeçada décadapassada ct{tilA, coilo ?oDog og DEt'tArg pAís=s, À exc=çÃo oos EsraDoFuxtoo$ lÃo *if uìt EüFnEENDEDoR quechegue aos pésde Steve Jobsem termosde capacidade de inovar. Também não tem uma montadora do nivel da alemã Mer- cedes-Benz, conhecida pelaaltatecnologia dosautomóveis - por sinal, muito apreciados pelos novos ricos chineses. O que diferenciaa China dos outros países que estão no seu estágio de desenvolvimento é a ambição de virar o jogo. O objetivodeclarado é deixar de ser a fábricade quinquilha- riase eletrodomósticos do mundo. E conseguir rivalizaÍcom americanos e alemães naspróximas décadas. O caminhoé o mesmo percorridopor outras nações asiáticas, comoo Japão e a Coreia do Sul, ex-fabricantes de produtos baratos quehoje sedestacam por sllas inovações. Uma boa medida do ímpetochinês é o bairro de Zhong- guancun, na zona oeste dePequim, umaespécie de embrião do que poderá ser o Valedo Silíciochinês. Esse foi o lugar escolhido pelo governo para criar, no ano 2000, o Zhong- guancun Park, ou ZPark, um centro depesquisa impecável e comtudo o que hádemais moderno. Entrea decisão decriá- lo e a inauguração foi gasto apenas um ano, o quedá bem a medida de comoascoisas andam rápidopor lá (ainda mais em comparação com a lentidão brasileira...). Osseis prédios dearquiteturafuturistaabrigam220 empresas - dechinesas como aLenovqlíder global navenda cle PCs, a multinacionais estrangeiras, comoa americana IBM e a alemã Siemens. 'A ideia era atrair uma grandequantidade cle companhias de tecnologia paracriar o ecossistema necessário à inovação", afirmaLiu Ke Deng, diretor doparque tecnológico. Próximo aocentro depesquisa há oito universi- dades, o quegârante o âcesso a mãode obraespeciaÌizada. Duasdelas, a Uni- versidade Tsinghua e aUniversidade de Pequim, são asmelhores clo país. Com umafila de espera de 100empresas, a direçãodo ZPark promete entregar uma novaala de 1000O0metrosqua- drados até 2015. Emtodoo paíg hámais de300parques tecnológicos * a maior parte cleles muitomais avançadaclo que os cerca de 90 existentes no Brasil. Aos poucos, a ideia da inovação co- meça a ganhar corpo fora dosmuros dos centros movidos adinheiroestatal. A empresa Fun Guide, fundada em 20O8, desenvoive aplicativos para celu- lares e tablets. Na sua sede em Pequim, cobeftade obras de arte,funcionários de caÌça jeans, tênis e camiseta jogam bilhar no horário do almoço - no me- lhor estilo Google. "Nuncarecebemos ajuda algrrma dogoverno", diz LuXiao, o fundador. Sua primeiraempresa, que desenvolvia jogosparacelulares, rece- beuapoftes da Siemens e,em 2004, foi vendida parainvestidores americanos. O setordaFun Guide, aáreade TI, éum dos sete definidos como estratésicos

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Depoisd e set ornara fábricad e quinquilhariasdo mundoa, Chinae stáe mpenhadeam brigard eigualp arai gualc om os paísesri cos- e sua"' ,principaal rmas ãoo s investimentoesm pesquisae d esenvo|vi mento r

TRANSCRIPT

  • AVEZMINrcDepois de se tornar a fbrica de quinquilharias

    do mundo, a China est empenhada em brigar deigual para igual com os pases ricos - e sua

    "' ,principal arma so os investimentos em pesquisae d esenvo|vi mento r RoBERT paDv^x, DE pEou*,,

    LABORATORIOEM WUHAN:

    o governo chnscroumais deSOOparques

    tecnolgeos desdeocomeada

    dcadapassada

    ct{tilA, coilo ?oDog og DEt'tArg pAs=s, exc=o oosEsraDoF uxtoo$ lo *if ut EFnEENDEDoR que chegueaos ps de Steve Jobs em termos de capacidade de inovar.Tambm no tem uma montadora do nivel da alem Mer-cedes-Benz, conhecida pela alta tecnologia dos automveis- por sinal, muito apreciados pelos novos ricos chineses. Oque diferencia a China dos outros pases que esto no seuestgio de desenvolvimento a ambio de virar o jogo. Oobjetivo declarado deixar de ser a fbrica de quinquilha-rias e eletrodomsticos do mundo. E conseguir rivaliza comamericanos e alemes nas prximas dcadas. O caminho o mesmo percorrido por outras naes asiticas, como oJapo e a Coreia do Sul, ex-fabricantes de produtos baratosque hoje se destacam por sllas inovaes.

    Uma boa medida do mpeto chins o bairro de Zhong-guancun, na zona oeste de Pequim, uma espcie de embriodo que poder ser o Vale do Silcio chins. Esse foi o lugarescolhido pelo governo para criar, no ano 2000, o Zhong-guancun Park, ou ZPark, um centro de pesquisa impecvel ecom tudo o que h de mais moderno. Entre a deciso de cri-lo e a inaugurao foi gasto apenas um ano, o que d bem amedida de como as coisas andam rpido por l (ainda maisem comparao com a lentido brasileira...). Os seis prdiosde arquiteturafuturistaabrigam220 empresas - de chinesascomo a Lenovq lder global navenda cle PCs, a multinacionaisestrangeiras, como a americana IBM e a alem Siemens. 'Aideia era atrair uma grande quantidade cle companhias detecnologia para criar o ecossistema necessrio inovao",afirmaLiu Ke Deng, diretor do parque tecnolgico. Prximo

    ao centro de pesquisa h oito universi-dades, o que grante o cesso a mo deobra especiaizada. Duas delas, a Uni-versidade Tsinghua e a Universidade dePequim, so as melhores clo pas. Comuma fila de espera de 100 empresas, adireo do ZPark promete entregaruma nova ala de 100 0O0 metros qua-drados at 2015. Emtodo o pag h maisde 300 parques tecnolgicos * a maiorparte cleles muito mais avanadaclo queos cerca de 90 existentes no Brasil.

    Aos poucos, a ideia da inovao co-mea a ganhar corpo fora dos murosdos centros movidos adinheiro estatal.A empresa Fun Guide, fundada em20O8, desenvoive aplicativos para celu-lares e tablets. Na sua sede em Pequim,cobefta de obras de arte, funcionriosde caa jeans, tnis e camiseta jogambilhar no horrio do almoo - no me-lhor estilo Google. "Nunca recebemosajuda algrrma dogoverno", diz LuXiao,o fundador. Sua primeira empresa, quedesenvolvia jogos para celulares, rece-beu apoftes da Siemens e, em 2004, foivendida para investidores americanos.O setordaFun Guide, areade TI, umdos sete definidos como estratsicos

  • 0s principais polos de pesquisafinanciados pelo governo chinsO Faturamento anual das

    empesas do polo(em dlares)

    JINANPrincipal rea depesquisa: farmacutica

    Principais reas de pesquisa:engenharia cvil, maquinrio industriale transporte

    (1) o clculo oi feito com base em paridade de podr d compra

    PEOUI,1Principais reasde pesquisa:tecnologia digitale telecomuncaes

    tANJtlPrincipais reasde pesquisa:qumica orgnicae polmeros

    HARBTNI PrincipaisreaI de pesquisa:I biotecnoiogiaI e ntica

    Il9 bilhes-

    engenhia civil,maquinrio industriale metalurgia

    XANGAIPrincipal reade pesquisa:semicondutores

    SHEI{ZHENPdncipais reasde pesquisa:tecnologia digitale telecomunicaoes

    pelo governo chins. Os outros que voconcentrar os investimentos em cinciae tecnologia nos prximos anos so osde energia, biocincias, novos materiaiqproteo ambiental, caros eltricos emaquinrio para a indstria. A primei-ra vista, a China j est bem na foto emtermos de inovao. O pas testou suabomba atrnica nos nos 0 e lanouseu primeiro satelite na dcada de 70,dois feitos tecnolgicos na poca. Dototal das exportaes industriais, 3O%so classificadas como e alta tecnolo-gia. Um exame mais detalhado, porm,

    mostr outra realidade. Apesar cos pro-gressos, a China no um pas inovador.Nos produtos de alta tecnologia envia-dos ao exterior, os chineses agegammenos de 2O% do vaor. Da surge aquesto: quanto das exportaes chine-sas realmente made n China?

    A resposta depende do setor. O casodo iPhone, o telefone daApple, reve-lador. O valor agregado pelo pas nochega a 4% do preo final, pfticipaoinferior da Coreia do Sul, embora oproduto sejarnontado na China" O gros-so do ganho, quase metade, fica com a

    cApA I china

    O MAPA DA INOVAAONas ltimas trs dcadas, 0 govefno chins criou polosde pesquisa ns reas mais ricas do pas. Com forte ap0i0 estatai,a China ultrapassou 0 Jap0 em pesquisa e desenvolvimento- mas seu desempenho n0 registro de patentes ainda e irrtsrio

    29 bilhes

    bilhes

    45 bilhes

    IOSHAil 29 bilhesPrincipais reas depesquisa: bens de consumoe maouinrio industrial bilhes

    (2) patentes egistrdas nos Estados Unidos Fontes: Battele, Kalr6 Future. homson Reuters e USPTO

    Apple, responsvel pela marca e pelodesign. No segmento de computadores,equipamentos de comunicao e m-quinas de preciso, a situao um pou-co melhor, mas ainda sofrvel - cercade 50% das peas so locais. E esse qua-clro que os novos lderes chineses estociispostos a mudar. Para eles, os ganlrosde produtividade resultantes da comprade tecnologias dos pases ricos j nobastam. O motivo e algo que os econo-mistas chamam de lei dos rendimentosdecrescentes - em poucas palavras,sem avano tecnolgico, o retorno dos

    SHENYA{GPdncipais reasde pesquisa:

    reas de pesquisa: qumicainorgnica e instrumentos piicos

  • A Chna elevou sua participao nos gastoscom pesquisa e desenvolvimentoe uftrapassou o Japo (% do totaltnundia{t)* ESTADOS UNIDOS

    cientflco estava baseado na observa_o, o pas, por j ser o mais populoso,tinha uma vantagem em rei"o

    "osdemais. Quando a cincia passu a de-pender de experincias em laboratrio.faltou gente com conhecimento enrmatemtica e experimentos.

    APOSIAETI CREBNOSComo mostra o exemplo do Zpark, ogoverno esl disposto arecolocar a Chi_na na vanguarda tecnolgica e, paraatingir seu objetivo, abriu o,

    "oh"r.Descle a dcada passada, o montanteaplicado em pesquisa e desenvolmen_to d saltos ano aps ano. Graas a isso,a China conseguiu, em 2009, Llt

    "prr-sar o Japo e chegar ao segundo lugarno ranking dos pases que mais inves_tem nessa area - o Brasil o nono. Onmero de cientistas e engenheiroq queerade7l2 para cada grupo de I milliaode habitantes em 2004, passou paraI 200 em apenas quatro anos. Na dcaclapassada, a China se tornou o pas quemais envia jovens pra as universidadesde ponta nos Estados lJnidos e na Eu-ropa. Atualmente, cerca de 1,3 milhodeles esto estudando no exterior. Nopor coincidncia, a produo de artigos

    3lY,32yo33Yo

    l2% llw llyol l .

    2010 20il zor2

    ESADOSUNIDOS *_ -r08000

    *- 46000

    lt. - 1220A

    12000

    JAPO

    CORIADO SUL

    ALEMANHA

    CHINA +- sroo

    investimentos cai ao longo do tempo.At o sculo 17, a tecnologia chinesa

    era a mais avanada do mundo. paraFrancis Bacon, o grande filsofo brit-nico, as trs invenes responsveispela transio europeia da ldade dasTrevas pr a modernidade foram aplvor4 a bssola e a imprensa - todasoriginaclas na China. por que, entq oschineses perderam o bonde da revolu-o cientfica e industrial que veio emseguicla? Na viso do econmista chi-ns Justin Yifu Lin, ex-vice-presidentedo Banco Mundial, quando 0 avano

    cientficos tambm aumentou nos lti_mos anos. Entrc2006 e 2011, somou 2.2milhes. atrs sorneute da americana,segundo o SCIn ago Jounnl, pr,rblicaoque compila esses dados.

    0 carto de visita dos chineses ouan_do o assunto inovao cha*u-r" H,ru-wei, a maior fabricante de equipamen_tos de telecomunicaes do mundo. Seufundador, Ren Zhengfei, abriu a empre-sa no fim dos anos 80, em Shengzhen,primeira zona especial econmicacria_dapelogoverno. No inciq aHuawei eras uma revendedora de produtos de te-

    t l

    @@

    0 registro de novas patentes er iOtt esinal de que a China tem um longo caminhoa peKofre Gm nmera de patentes@)

    O CARA-O DE VISIA DA CHINA..qryNqvAo CHAMA-SE Hwrr, nMAIOR FABRICANE DE EQUIPAMENiOSDE TELFCOMUNICATS DO MUNDO

    lecomunicaes. Hoje, um colossopresente em 140 pases, com faturamen_to de 32 bilhes de dlares. Sua rea deP&D fica num prdio em Xangai, ondeh uma sala em que as paredes so co-bertas do cho ao teto com os compro-vantes clas patentes registradas.

    O problema da China que, por en-quanto, no h muitas Huaweis. Das1000 empresas mais inovadoras domundq apenas 47 so chinesas, segun-do a consultoria Booz & Co*putry: *brasileiras somam sete. Mesmo comt9d9 o investimento j feitq o pas noe pareo para americanos ejaponeses noregistro de patentes feito nos EstadosUnidos.'A China investe em educaoe tem custos competitivos, mas no su_peou os Estados Unidos em nerumarea da inovao,,, diz Gary Shapiro,presidente da Consumer ElectronicsAssociation, entidade que rene maisd 2 000 indstrias eleroeletrnicasamericanas. Em certamedid4 o esforochins demonstra como difcil fazeiaponte entre a produo de conhecirnen_to e a criao de produtos e serviosinovadores. Quem acompanha esse pio-cesso de perto diz que cedo parajulgaro esforo da China. ,,Eles aind" esio

    incio", diz o americano John Orcutt.autor do liwo ShapngChna,s lnnova-tort Future ("Moldando o futuro dainovao na China,,, numa traduo li-we). Dado o histrico recente, bomconsiderar a hiptese de que os chine-ses vo conseguir dar o salto qtre falta.Oliver Gassmann, diretor do Instituteof Technology Managemen! da Univer-sidade St. Gllen, na Sua, resume aimpresso geral: ,,Este sei utn sculoasiticg e o domnio chins em inova_o faz parte do cenrio mais provvel,,.E melhor se preparr. r