cinema e literatura no ensino de biologia - investigação e análise de preferências de estudantes...

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III ENEBIO & IV EREBIO – Regional 5 V Congreso Iberoamericano de Educación en Ciências Experimentales Revista da SBEnBio – Número 03. Outubro de 2010. 552 Cinema e literatura no ensino de biologia Investigação e análise de preferências de estudantes de ensino médio em escolas públicas do DF Gabriel Rizério de Brito* ([email protected] ); UnB Hipácia Míriam Fontes Rehem** ([email protected] ); SEE-GDF Eliane Luiz De Freitas* ([email protected] ); UnB Francisco Guimarães de Azeredo Morgado ([email protected] ); UnB Guilherme Baroni Morales* ([email protected] ); UnB Marcelo Brito Moussallem de Andrade* ([email protected] ); UnB Paulo Guilherme Oliveira dos Santos Cordeiro* ([email protected] ); UnB Paulo Henrique Oliveira Canabarro* ( [email protected] ); UnB Pedro Henrique Lima Ribeiro* ([email protected] ); UnB Priscila Maia Braz Silveira* ([email protected] ); UnB Thaís Silva e Carvalho* ([email protected] ); UnB Victor Rodrigues Santos* ([email protected] ); UnB Maria Luiza Gastal*** ([email protected] ); Núcleo de Educação Científica - UnB * Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES * *Bolsista de supervisão do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES *** Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES Resumo Este trabalho analisa os dados de pesquisa realizada em 2009, que levantou preferências de 1.246 estudantes de ensino médio em três escolas da rede pública do Distrito Federal quanto a filmes, livros, músicas e personagens de quadrinhos, para sua posterior utilização no ensino de Biologia. Foram também investigados o perfil socioeconômico desses estudantes e sua percepção a respeito da ciência. Os resultados indicam que os alunos têm amplo acesso a esses recursos, com forte influência, em suas escolhas, da mídia e do programa de vestibular da Universidade de Brasília. Introdução Apesar dos esforços dos professores de ciências para melhorar a compreensão dos alunos a respeito da natureza do conhecimento científico, este é fortemente influenciado pelas informações e imagens de ciência transmitidas na literatura, cinema, quadrinhos e meios de comunicação em geral (Silva, 2000; Wingart & Pansegrau, 2003; Barnett et al., 2006; Kamel &, 2006). Freqüentemente tais imagens de ciência dificultam sua compreensão e a apresentam como uma atividade excessivamente complexa ou mesmo ameaçadora. Por outro lado, essas formas de linguagem, se apropriadamente utilizadas pelos professores, podem se constituir

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Cinema e literatura no ensino de biologia

Investigação e análise de preferências de estudantes de ensino médio em

escolas públicas do DF

Gabriel Rizério de Brito* ([email protected]); UnB Hipácia Míriam Fontes Rehem** ([email protected]); SEE-GDF

Eliane Luiz De Freitas* ([email protected]); UnB Francisco Guimarães de Azeredo Morgado ([email protected]); UnB

Guilherme Baroni Morales* ([email protected]); UnB Marcelo Brito Moussallem de Andrade* ([email protected]); UnB

Paulo Guilherme Oliveira dos Santos Cordeiro* ([email protected]); UnB Paulo Henrique Oliveira Canabarro* ([email protected]); UnB

Pedro Henrique Lima Ribeiro* ([email protected]); UnB Priscila Maia Braz Silveira* ([email protected]); UnB

Thaís Silva e Carvalho* ([email protected]); UnB Victor Rodrigues Santos* ([email protected]); UnB

Maria Luiza Gastal*** ([email protected]); Núcleo de Educação Científica - UnB

* Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES

* *Bolsista de supervisão do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES *** Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência -

PIBID/CAPES Resumo Este trabalho analisa os dados de pesquisa realizada em 2009, que levantou preferências de 1.246 estudantes de ensino médio em três escolas da rede pública do Distrito Federal quanto a filmes, livros, músicas e personagens de quadrinhos, para sua posterior utilização no ensino de Biologia. Foram também investigados o perfil socioeconômico desses estudantes e sua percepção a respeito da ciência. Os resultados indicam que os alunos têm amplo acesso a esses recursos, com forte influência, em suas escolhas, da mídia e do programa de vestibular da Universidade de Brasília.

Introdução

Apesar dos esforços dos professores de ciências para melhorar a compreensão dos

alunos a respeito da natureza do conhecimento científico, este é fortemente influenciado pelas

informações e imagens de ciência transmitidas na literatura, cinema, quadrinhos e meios de

comunicação em geral (Silva, 2000; Wingart & Pansegrau, 2003; Barnett et al., 2006; Kamel

&, 2006). Freqüentemente tais imagens de ciência dificultam sua compreensão e a apresentam

como uma atividade excessivamente complexa ou mesmo ameaçadora. Por outro lado, essas

formas de linguagem, se apropriadamente utilizadas pelos professores, podem se constituir

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em valioso instrumento de ensino, favorecendo a disseminação de conceitos científicos e de

uma visão mais realista da ciência (Silva, 2000; Salomão, 2008).

Além disso, o uso da literatura, como assinala Salomão (2008), “mobiliza recursos que

motivam os alunos e pode contribuir para uma aprendizagem significativa com alegria e

prazer” e “permite recuperar dimensões da subjetividade e da experiência vivida, ajudando a

atribuir sentidos aos conteúdos de ensino e a restaurar a complexidade dos fenômenos

estudados” (p. 7). O mesmo pode ser dito em relação ao cinema e às histórias em quadrinhos.

Projetos como o Cinema and Science – CISCI (2008), que descrevem e explicam conteúdos

científicos e pseudo-científicos utilizando cinema, têm sido cada vez mais implementados.

Amorim (2003) assinala que “A indústria cultural - incluindo cinema, televisão, produtoras de

audiovisuais diversos, jornais, editoras de revistas e de materiais didáticos - age sobre o

ensino de ciências expandindo-o em multiplicidades (...) e compondo nosso repertório de

possibilidades de entrar em contato com representações do ensino de Ciências e rememorá-

lo.” Para Napolitano (2009, p.15), o cinema permite “(...) leituras mais ambiciosas além do

puro lazer, fazendo a ponte entre emoção e razão de forma mais direcionada, incentivando o

aluno a se tornar um espectador mais exigente e crítico, propondo relações de

conteúdo/linguagem do filme com o conteúdo escolar”.

Este trabalho é resultado de uma investigação realizada no primeiro semestre de 2009

em três escolas de ensino médio da rede pública do Distrito Federal, buscando identificar as

preferências dos estudantes quanto a filmes, músicas, literatura e personagens de quadrinhos,

para posterior utilização desses recursos em sala de aula nas atividades do projeto “Biologia

Animada”. O projeto é realizado por alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas

da UnB, estagiários do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID -

CAPES/MEC), sob coordenação do Núcleo de Educação Científica da Universidade de

Brasília e supervisão de professoras da Secretaria de Estado de Educação do DF. Ele visa

implementar atividades que utilizem literatura, música, cinema e quadrinhos no ensino de

Biologia.

Ainda que não se trate de usar esses recursos como mero entretenimento, é importante

reconhecer os interesses dos estudantes. Esse é um dos motivos para a presente investigação.

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Metodologia

Foi elaborado um questionário com nove questões abertas e catorze fechadas. A

primeira parte buscava identificar o perfil socioeconômico dos estudantes, com informações

tais como: local de residência, possibilidade de moradia com os pais, idade, se trabalham ou

fazem estágio, modalidade de ensino da qual participaram antes do ingresso na escola.

Também foram levantandos dados sobre: posse de televisão, e aparelho de DVD, acesso a TV

por assinatura ou internet em seus lares, freqüência s bibliotecas e salas de cinema, e

aquisição ou empréstimo de obras literárias, revistas em quadrinhos e filmes. Finalmente, o

questionário solicitava a indicação de vinte preferências de filmes e dez de músicas, livros e

personagens de quadrinhos. Essas listas foram solicitadas com antecedência de uma semana à

aplicação do questionário pelas professoras de cada escola, para que os alunos tivessem tempo

para se recordar de suas obras favoritas.

O questionário foi aplicado em três escolas da rede pública do DF, parceiras da UnB

no projeto: Centro de Ensino Ave Branca, Taguatinga (Cemab; n=301); Centro de Ensino

Médio Paulo Freire, Plano Piloto (n=427); e Centro Educacional 02 do Cruzeiro (Ceduc;

n=518), entre abril e maio de 2009. As professoras de Biologia de cada escola cederam parte

de seu tempo de aula regular para a aplicação do questionário, e os alunos tiveram de 30 a 50

minutos para respondê-lo.

Antes da aplicação do questionário, os estagiários se apresentaram e fizeram breve

explanação sobre o projeto, juntamente com as professoras. A receptividade dos estudantes

foi boa e não houve dificuldades de cooperação. Todos preencheram as questões

individualmente.

O instrumento visou, ainda, levantar a concepção de ciência dos estudantes, por meio

de uma pergunta em que foram listadas algumas áreas de conhecimento, sendo solicitado que

os estudantes assinalassem as que consideravam ciência. As opções eram: Física, Biologia,

Astrologia, Astronomia, Sociologia, Antropologia, Teologia, Matemática e Filosofia.

Resultados e Discussão

Um mil duzentos e quarenta e seis alunos responderam à pesquisa. Os estudantes

provinham de diferentes cidades do DF e entorno, com grande diversidade de realidades

sociais em cada instituição. A distribuição das localidades de moradia mais frequentes em

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cada escola encontra-se na Tabela 1. Exceto pelo Ceduc, a maioria dos alunos não mora nas

proximidades do local de estudo.

Tabela 1 – Frequência de moradia dos alunos de cada escola.

PAULO FREIRE CEDUC CEMAB

Residência Porcentagem Residência Porcentagem Residência Porcentagem

Plano Piloto 33% Cruzeiro 62% Taguatinga 30%

Vila Planalto 15% Estrutural 15% Samambaia 24%

Outras

Localidades 51%

Outras

Localidades 19%

Outras

Localidades 45%

A baixa presença de alunos residentes nas proximidades das escolas pode se dever ao

fato de que muitos pais de estudantes do Paulo Freire e Cemab trabalham nas cidades onde se

localizam essas escolas, residindo, entretanto, em cidades “satélite”. Outro fator importante é

o preconceito quanto à qualidade do ensino ofertado nestas cidades, com muitos pais optando

por escolas do Plano Piloto para seus filhos. A facilidade de acesso ao Cemab também pode

ser importante para explicar a forte presença de jovens de Samambaia e Ceilândia nesta

escola, próxima a pontos de ônibus que conectam várias linhas de transporte.

Já o Ceduc é uma das poucas escolas que atende a comunidade do Cruzeiro e suas

redondezas. Como o número de estudantes é limitado pela quantidade de salas de aula, a

clientela da região preenche boa parte das vagas por meio do sistema informatizado de

matrícula do GDF, que este contempla preferencialmente os estudantes que moram nas

proximidades das escolas.

A maioria dos estudantes mora com os pais (81%), não trabalha (81%), tem entre 15 e

17 anos (86%) e não participou de modalidade especial de ensino (83%). Destes, 84% fizeram

aceleração. Durante a aplicação dos questionários muitos alunos tiveram dúvidas a respeito da

questão “Você participa de alguma modalidade especial de ensino?” e é possível que muitos

dos alunos especiais não tenham marcado esse campo.

Quanto aos recursos materiais, 97% dos alunos possuem TV, 93%, aparelho de DVD e

apenas 36% possuem TV por assinatura. Além disso, 62% costumam alugar filmes, 74%

costumam ir ao cinema e 63% dos alunos costumam ler livros, com 41% destes frequentando

a biblioteca. Cerca de 40% baixam filmes da internet, 39% compram livros e 22% compram

revistas em quadrinhos. A forte presença de TV e DVD nas residências dos estudantes indica

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sua facilidade de acesso aos recursos audiovisuais, o que gera uma maior familiarização com

filmes, de forma geral, e músicas amplamente divulgadas pela mídia. A alto frequência de TV

por assinatura (36%) surpreendeu, uma vez que os alunos da rede pública costumam ser de

classes mais baixas da população (C, D e E). Segundo a ABTA (2010), a freqüência de acesso

a esse tipo de serviço é de 71% na classe socioeconômica A, 30% na classe B, 9% na C e

apenas 2% nas classes D e E. Talvez o número corresponda parcialmente ao acesso

proporcionado pelos empregadores de seus pais, que permitiriam este acesso aos filhos de

seus empregados domésticos. Foi também surpreendente, pelos mesmos motivos, a frequência

de ida ao cinema. A prática de baixar filmes pela internet também é bastante disseminada. Sua

freqüência é semelhante à de estudantes que costumam comprar obras literárias e à dos

frequentadores de bibliotecas. Percebemos menores freqüências quanto às questões ligadas a

recursos literários, de forma geral. Como sabemos, não há um grande incentivo para a

popularização dessa atividade, por parte da sociedade.

Em relação às áreas de conhecimento consideradas ciência, 93% assinalaram a

Biologia, possivelmente porque o projeto é relativo a essa matéria. A Matemática foi bastante

citada em algumas turmas, porém ficou na lista das menos citadas em outras, ocupando a

sexta posição no resultado geral (35%) (Quadro 1). Enquanto respondiam ao questionário,

algumas vezes os estudantes solicitavam esclarecimentos sobre determinados itens. Muitos

não sabiam o que era Antropologia. Acreditamos também que boa parte deles não tem uma

noção clara das diferenças entre Astronomia e Astrologia, o que explicaria a inesperada alta

presença da última.

Quadro 1: Frequência de alunos que marcaram cada disciplina considerada ciência.

Disciplinas Porcentagem de

marcações

Biologia 93%

Física 62%

Astronomia 62%

Astrologia 54%

Antropologia 40%

Matemática 35%

Filosofia 34%

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Sociologia 32%

Teologia 30%

As preferências dos alunos com relação às músicas foram mais heterogêneas do que

entre as de filmes, livros e personagens de quadrinhos, com forte influência dos meios de

comunicação. Prevalecem as indicações de sucessos à época em que o questionário foi

aplicado. Ao todo foram listadas 2440 obras musicais, tendo a mais votada aparecido apenas

50 vezes (4% do total de estudantes) (Quadro 2).

Quadro 2 – Lista das dez obras mais citadas pelos alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries, dentre

os 2.440 títulos listados.

MÚSICA AUTOR/

INTÉRPRETE

FREQUÊNCIA

ABSOLUTA

FREQUÊNCIA

RELATIVA

Chora me liga João Bosco e Vinícius 50 4%

Vida loka Racionais MC´s 49 4%

Abandonado Exaltassamba 47 4%

Borboletas Victor e Léo 46 4%

Versos Simples Chimarutes 46 4%

Faroeste Caboclo Legião Urbana 43 3%

Amanhã Sorriso Maroto 34 3%

Coisas Exotéricas Maria Cecília e Rodolfo 34 3%

Pais e Filhos Legião Urbana 33 3%

Um minuto D´Black e Negra Lee 32 3%

A lista de personagens em quadrinhos foi a menos heterogênea das quatro, com forte

preferência por personagens da “Turma da Mônica”, de Maurício de Souza. Foram 511

personagens de HQ listadas, ao todo. A mais votada recebeu 628 citações, o que representa

50% do total de investigados (Quadro 3).

O perfil de leitores desse tipo de mídia não mudou muito desde 2002. O Núcleo de

Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (Vergueiro e Bari, 2002) encontrou resultados

semelhantes na faixa etária de 14 a 20 anos, destacando sua preferência por personagens de

Maurício de Souza e super heróis em geral.

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Quadro 3 – Lista dos dez personagens de histórias quadrinhos mais citados entre os

alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries.

PERSONAGENS DE

QUADRINHOS FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA

Mônica 628 50%

Cebolinha 604 48%

Cascão 552 44%

Magali 478 38%

Chico Bento 288 23%

Homem Aranha 264 21%

Batman 181 15%

Super Homem 123 10%

Wolverine (X-men) 120 10%

Naruto 88 7%

Entre os livros mais citados, verificamos forte influência do PAS (Programa de

Avaliação Seriada – UnB) (www.cespe.unb.br/PAS). Esta avaliação equivale ao vestibular

tradicional, mas feita em três etapas, uma ao final de cada série do Ensino Médio. Cada etapa

recomenda a leitura de obras literárias e o estudo de obras musicais e visuais, que serão

realizadas ao longo do ano. A influência do PAS é especialmente visível nas segunda e

terceira séries, como veremos adiante. Como a pesquisa foi feita no início de 2009, muitos

alunos ainda não haviam feito a leitura de obras do ano referente à sua etapa do PAS, porém

já haviam lido muitas das obras das etapas anteriores.

Entre os alunos da primeira série essa influência foi menos visível porque, além de

estarem no início do ano, não tiveram etapas anteriores do PAS – exceto os que haviam

reprovado no ano anterior. As obras literárias mais encontradas foram as trabalhadas pelos

professores na oitava série do Ensino Fundamental e as lidas por iniciativa própria dos

estudantes. Encontramos apenas uma obra recomendada pelo PAS, entre as dez mais citadas

pelos alunos da primeira série, tendo sido exigida no subprograma do ano anterior (Quadro 4).

É possível que esse número indique os alunos repetentes que leram as obras no ano anterior,

ou que os professores da 8ª série as tenham trabalhado durante suas atividades em sala de

aula.

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Quadro 4 – Lista de preferências literárias dos alunos de primeira série. (Em itálico,

livros adotados pelo PAS, subprograma 2008).

LIVRO FREQUÊNCIA

ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA

Diário de Anne Frank, O 72 14%

Harry Potter 70 14%

Crepúsculo 64 13%

Código da Vinci, O 40 8%

Caçador de pipas, O 38 8%

Lua nova 34 7%

Meu Tio Matou um Cara 33 7%

Eclipse 25 5%

Marley e Eu 25 5%

Fantasma da Ópera, O 19 4%

No segundo ano aparecem mais obras recomendadas pelo PAS (2007 e 2008). Entre as

dez mais citadas, há um livro do ano corrente e três do ano anterior. Os demais são

semelhantes aos mencionados pelos estudantes da primeira série (Quadro 5).

O terceiro ano foi o mais representativo quanto aos livros indicados pelo PAS. Cinco

das dez obras mais lembradas faziam parte da lista do Programa. Novamente encontramos,

entre os demais livros, as mesmas obras listadas nas duas primeiras séries (Quadro 6).

A forte presença de títulos “obrigatórios” (do PAS) pode significar duas coisas: que os

alunos realmente apreciam a literatura recomendada pelo Programa; ou, a mais provável, que

boa parte deles não tenha o hábito da leitura independente. Há também uma terceira hipótese:

a de que os alunos apenas listaram os livros cuja existência conheciam, o que indicaria um

grave problema entre os estudantes das escolas analisadas.

Quadro 5 – Lista de preferências literárias dos alunos de segunda série. Em itálico,

livros adotados pelo PAS relativos ao ano corrente; em negrito, livros adotados pelo PAS no

ano anterior.

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LIVRO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA

RELATIVA

Feliz Ano Velho 67 16%

Crepúsculo 50 12%

Harry Poter 42 10%

Meu Tio Matou Um Cara 34 8%

Pagador de Promessas, O 29 7%

Cabana, A 26 6%

Dom Casmurro 22 5%

Lua Nova 22 5%

Caçador de Pipas, O 21 5%

Anjos e Demônios 20 5%

Observando-se as não recomendadas pelo PAS, nota-se a forte presença de best-

sellers. Entre os dez primeiros títulos – somando-se os resultados das três séries – seis faziam

parte desse grupo. São eles: Crepúsculo (14%), Harry Potter (14%), Lua Nova (7%), O

Caçador de Pipas (7%), O Código da Vinci (7%) e Eclipse (5%). Mais uma vez, é sentida a

forte influência da mídia.

Quadro 6 – Lista de preferências literárias dos alunos de terceira série. Em itálico,

livros relativos ao ano anterior do PAS; em itálico, obras relativas ao ano em que estavam na

primeira série.

LIVRO FREQUÊNCIA

ABSOLUTA

FREQUÊNCIA

RELATIVA

Meu Tio Matou um Cara 72 23%

Crepúsculo 64 20%

Feliz Ano Velho 59 19%

Harry Potter 59 19%

Dom Casmurro 45 14%

Lua Nova 35 11%

Caçador de Pipas, O 30 9%

Germinal 29 9%

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Máquina, A 28 9%

Código da Vinci, O 26 8%

A presença de obras sequenciais, como Harry Potter, Crepúsculo e Lua Nova, indica

que a expectativa de continuidade das histórias parece agradar a essa clientela, em geral

pouco adepta à literatura.

Quanto aos filmes preferidos, a lista, apesar de heterogênea, contém pistas importantes

quanto às preferências dos jovens que participaram da pesquisa. Ao todo, foram citadas 1.457

obras cinematográficas. As vinte mais citadas estão listadas no Quadro 7.

Quadro 7 – Lista dos vinte filmes mais citados entre os alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries.

FILME FREQUÊNCIA

ABSOLUTA

FREQUÊNCIA

RELATIVA

Amor para recordar, Um 426 34%

Velozes e Furiosos 422 34%

Se eu fosse você 351 28%

Branquelas, As 313 25%

Harry Potter 311 25%

X-Men 277 22%

Jogos Mortais 262 21%

American Pie 257 21%

Crepúsculo 247 20%

Homem Aranha 245 20%

Madagascar 206 17%

Tropa de elite 195 16%

300 190 15%

Titanic 189 15%

Era do gelo 176 14%

P.S.: Eu te amo 175 14%

Todo mundo em pânico 169 14%

Senhor dos anéis, O 165 13%

Cidade de Deus 162 13%

Procurando Nemo 159 13%

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É visível a preferência por filmes de ação/aventura e comédia. Mesmo nas categorias

de terror, romance e drama, relativamente pouco numerosas, observam-se roteiros repletos de

ação. Fortes (2006) revela que a demonstração de competência tem papel motivador na

escolha por filmes dessa natureza, que fazem menção a conteúdos narrativos como heróis e

vilões, lutas e tiroteios, evidenciando confrontos motivados por metas de realização.

Percebe-se também a preferência por filmes estrangeiros, a maioria com efeitos

especiais. Há somente três obras brasileiras na lista do Quadro 7 e apenas onze filmes

nacionais foram encontrados entre os cem mais lembrados.

Embora não tenhamos realizado uma diferenciação por sexo nas indicações, é possível

que as duas obras mais votadas representem escolhas dos públicos feminino e masculino,

respectivamente, já que a primeira é um romance e a segunda, um filme de ação envolvendo

carros esportivos. Segundo Fortes (2006), mulheres preferem drama e homens, aventura.

O filme “O Óleo de Lorenzo”, apesar de não figurar entre os mais citados, foi listado

nas preferências dos alunos de 3ª série. Talvez o conhecimento biológico sistematizado desta

série, bem como os pré-requisitos adquiridos nas anteriores, tenham permitido melhor

compreensão do filme e sua conseqüente apreciação.

Referências Bibliográficas

Amorim, A.C.R. Em aula de ciências ensinam-se ciências? <http://www.comciencia.br/

reportagens/cultura/cultura12.shtml>, SBPC. Acesso em 3/8/2008.

Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), 2010. Dados disponíveis no site:

<http://www.midiafatos.com.br/index.aspx>. Acesso em 17/05/10.

Barnett, M., Wagner, H., Gatling, A., Anderson, J., Houle, M. & Kafka, A. The impact of

science fiction film on student understanding of science. Journal of Science Education and

Technology 15(2): 179-191, 2006. 21/09/08.

Cinema and Science. <http://www.cisci.net/start.php?lang=1> acesso em 17/05/2010

Fernandes, H. L.; Amâncio-Pereira, F. Imagens, ensino de ciências e tecnologias de

informação e comunicação. Anais do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em

Ciências. Florianópolis, 2009.

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Fortes, K. Relações entre Valores Pessoais e Preferências por Categorias de Filmes

Dissertação de mestrado em Psicologia (Universidade de Brasília). Orientador: Prof. Dr

Álvaro Tamayo. UnB, 2006.

Kamel, C.R.L. Ciências e Quadrinhos: Explorando As Potencialidades Das Histórias Como

Materiais Instrucionais. Diss. Mestrado Instituto Oswaldo Cruz. Ensino de Biociências e

Saúde, 2006.

Martins, I.; Gouveia, G. and Piccini, C. Aprendendo com imagens. Cienc. Cult. [online].

2005, v. 57, n. 4, pp. 38-40. ISSN 0009-6725.

Napolitano, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.

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