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III ENEBIO & IV EREBIO – Regional 5 V Congreso Iberoamericano de Educación en Ciências Experimentales
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Cinema e literatura no ensino de biologia
Investigação e análise de preferências de estudantes de ensino médio em
escolas públicas do DF
Gabriel Rizério de Brito* ([email protected]); UnB Hipácia Míriam Fontes Rehem** ([email protected]); SEE-GDF
Eliane Luiz De Freitas* ([email protected]); UnB Francisco Guimarães de Azeredo Morgado ([email protected]); UnB
Guilherme Baroni Morales* ([email protected]); UnB Marcelo Brito Moussallem de Andrade* ([email protected]); UnB
Paulo Guilherme Oliveira dos Santos Cordeiro* ([email protected]); UnB Paulo Henrique Oliveira Canabarro* ([email protected]); UnB
Pedro Henrique Lima Ribeiro* ([email protected]); UnB Priscila Maia Braz Silveira* ([email protected]); UnB
Thaís Silva e Carvalho* ([email protected]); UnB Victor Rodrigues Santos* ([email protected]); UnB
Maria Luiza Gastal*** ([email protected]); Núcleo de Educação Científica - UnB
* Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES
* *Bolsista de supervisão do Programa Institucional de Incentivo à Docência - PIBID/CAPES *** Bolsista de graduação do Programa Institucional de Incentivo à Docência -
PIBID/CAPES Resumo Este trabalho analisa os dados de pesquisa realizada em 2009, que levantou preferências de 1.246 estudantes de ensino médio em três escolas da rede pública do Distrito Federal quanto a filmes, livros, músicas e personagens de quadrinhos, para sua posterior utilização no ensino de Biologia. Foram também investigados o perfil socioeconômico desses estudantes e sua percepção a respeito da ciência. Os resultados indicam que os alunos têm amplo acesso a esses recursos, com forte influência, em suas escolhas, da mídia e do programa de vestibular da Universidade de Brasília.
Introdução
Apesar dos esforços dos professores de ciências para melhorar a compreensão dos
alunos a respeito da natureza do conhecimento científico, este é fortemente influenciado pelas
informações e imagens de ciência transmitidas na literatura, cinema, quadrinhos e meios de
comunicação em geral (Silva, 2000; Wingart & Pansegrau, 2003; Barnett et al., 2006; Kamel
&, 2006). Freqüentemente tais imagens de ciência dificultam sua compreensão e a apresentam
como uma atividade excessivamente complexa ou mesmo ameaçadora. Por outro lado, essas
formas de linguagem, se apropriadamente utilizadas pelos professores, podem se constituir
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em valioso instrumento de ensino, favorecendo a disseminação de conceitos científicos e de
uma visão mais realista da ciência (Silva, 2000; Salomão, 2008).
Além disso, o uso da literatura, como assinala Salomão (2008), “mobiliza recursos que
motivam os alunos e pode contribuir para uma aprendizagem significativa com alegria e
prazer” e “permite recuperar dimensões da subjetividade e da experiência vivida, ajudando a
atribuir sentidos aos conteúdos de ensino e a restaurar a complexidade dos fenômenos
estudados” (p. 7). O mesmo pode ser dito em relação ao cinema e às histórias em quadrinhos.
Projetos como o Cinema and Science – CISCI (2008), que descrevem e explicam conteúdos
científicos e pseudo-científicos utilizando cinema, têm sido cada vez mais implementados.
Amorim (2003) assinala que “A indústria cultural - incluindo cinema, televisão, produtoras de
audiovisuais diversos, jornais, editoras de revistas e de materiais didáticos - age sobre o
ensino de ciências expandindo-o em multiplicidades (...) e compondo nosso repertório de
possibilidades de entrar em contato com representações do ensino de Ciências e rememorá-
lo.” Para Napolitano (2009, p.15), o cinema permite “(...) leituras mais ambiciosas além do
puro lazer, fazendo a ponte entre emoção e razão de forma mais direcionada, incentivando o
aluno a se tornar um espectador mais exigente e crítico, propondo relações de
conteúdo/linguagem do filme com o conteúdo escolar”.
Este trabalho é resultado de uma investigação realizada no primeiro semestre de 2009
em três escolas de ensino médio da rede pública do Distrito Federal, buscando identificar as
preferências dos estudantes quanto a filmes, músicas, literatura e personagens de quadrinhos,
para posterior utilização desses recursos em sala de aula nas atividades do projeto “Biologia
Animada”. O projeto é realizado por alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
da UnB, estagiários do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID -
CAPES/MEC), sob coordenação do Núcleo de Educação Científica da Universidade de
Brasília e supervisão de professoras da Secretaria de Estado de Educação do DF. Ele visa
implementar atividades que utilizem literatura, música, cinema e quadrinhos no ensino de
Biologia.
Ainda que não se trate de usar esses recursos como mero entretenimento, é importante
reconhecer os interesses dos estudantes. Esse é um dos motivos para a presente investigação.
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Metodologia
Foi elaborado um questionário com nove questões abertas e catorze fechadas. A
primeira parte buscava identificar o perfil socioeconômico dos estudantes, com informações
tais como: local de residência, possibilidade de moradia com os pais, idade, se trabalham ou
fazem estágio, modalidade de ensino da qual participaram antes do ingresso na escola.
Também foram levantandos dados sobre: posse de televisão, e aparelho de DVD, acesso a TV
por assinatura ou internet em seus lares, freqüência s bibliotecas e salas de cinema, e
aquisição ou empréstimo de obras literárias, revistas em quadrinhos e filmes. Finalmente, o
questionário solicitava a indicação de vinte preferências de filmes e dez de músicas, livros e
personagens de quadrinhos. Essas listas foram solicitadas com antecedência de uma semana à
aplicação do questionário pelas professoras de cada escola, para que os alunos tivessem tempo
para se recordar de suas obras favoritas.
O questionário foi aplicado em três escolas da rede pública do DF, parceiras da UnB
no projeto: Centro de Ensino Ave Branca, Taguatinga (Cemab; n=301); Centro de Ensino
Médio Paulo Freire, Plano Piloto (n=427); e Centro Educacional 02 do Cruzeiro (Ceduc;
n=518), entre abril e maio de 2009. As professoras de Biologia de cada escola cederam parte
de seu tempo de aula regular para a aplicação do questionário, e os alunos tiveram de 30 a 50
minutos para respondê-lo.
Antes da aplicação do questionário, os estagiários se apresentaram e fizeram breve
explanação sobre o projeto, juntamente com as professoras. A receptividade dos estudantes
foi boa e não houve dificuldades de cooperação. Todos preencheram as questões
individualmente.
O instrumento visou, ainda, levantar a concepção de ciência dos estudantes, por meio
de uma pergunta em que foram listadas algumas áreas de conhecimento, sendo solicitado que
os estudantes assinalassem as que consideravam ciência. As opções eram: Física, Biologia,
Astrologia, Astronomia, Sociologia, Antropologia, Teologia, Matemática e Filosofia.
Resultados e Discussão
Um mil duzentos e quarenta e seis alunos responderam à pesquisa. Os estudantes
provinham de diferentes cidades do DF e entorno, com grande diversidade de realidades
sociais em cada instituição. A distribuição das localidades de moradia mais frequentes em
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cada escola encontra-se na Tabela 1. Exceto pelo Ceduc, a maioria dos alunos não mora nas
proximidades do local de estudo.
Tabela 1 – Frequência de moradia dos alunos de cada escola.
PAULO FREIRE CEDUC CEMAB
Residência Porcentagem Residência Porcentagem Residência Porcentagem
Plano Piloto 33% Cruzeiro 62% Taguatinga 30%
Vila Planalto 15% Estrutural 15% Samambaia 24%
Outras
Localidades 51%
Outras
Localidades 19%
Outras
Localidades 45%
A baixa presença de alunos residentes nas proximidades das escolas pode se dever ao
fato de que muitos pais de estudantes do Paulo Freire e Cemab trabalham nas cidades onde se
localizam essas escolas, residindo, entretanto, em cidades “satélite”. Outro fator importante é
o preconceito quanto à qualidade do ensino ofertado nestas cidades, com muitos pais optando
por escolas do Plano Piloto para seus filhos. A facilidade de acesso ao Cemab também pode
ser importante para explicar a forte presença de jovens de Samambaia e Ceilândia nesta
escola, próxima a pontos de ônibus que conectam várias linhas de transporte.
Já o Ceduc é uma das poucas escolas que atende a comunidade do Cruzeiro e suas
redondezas. Como o número de estudantes é limitado pela quantidade de salas de aula, a
clientela da região preenche boa parte das vagas por meio do sistema informatizado de
matrícula do GDF, que este contempla preferencialmente os estudantes que moram nas
proximidades das escolas.
A maioria dos estudantes mora com os pais (81%), não trabalha (81%), tem entre 15 e
17 anos (86%) e não participou de modalidade especial de ensino (83%). Destes, 84% fizeram
aceleração. Durante a aplicação dos questionários muitos alunos tiveram dúvidas a respeito da
questão “Você participa de alguma modalidade especial de ensino?” e é possível que muitos
dos alunos especiais não tenham marcado esse campo.
Quanto aos recursos materiais, 97% dos alunos possuem TV, 93%, aparelho de DVD e
apenas 36% possuem TV por assinatura. Além disso, 62% costumam alugar filmes, 74%
costumam ir ao cinema e 63% dos alunos costumam ler livros, com 41% destes frequentando
a biblioteca. Cerca de 40% baixam filmes da internet, 39% compram livros e 22% compram
revistas em quadrinhos. A forte presença de TV e DVD nas residências dos estudantes indica
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sua facilidade de acesso aos recursos audiovisuais, o que gera uma maior familiarização com
filmes, de forma geral, e músicas amplamente divulgadas pela mídia. A alto frequência de TV
por assinatura (36%) surpreendeu, uma vez que os alunos da rede pública costumam ser de
classes mais baixas da população (C, D e E). Segundo a ABTA (2010), a freqüência de acesso
a esse tipo de serviço é de 71% na classe socioeconômica A, 30% na classe B, 9% na C e
apenas 2% nas classes D e E. Talvez o número corresponda parcialmente ao acesso
proporcionado pelos empregadores de seus pais, que permitiriam este acesso aos filhos de
seus empregados domésticos. Foi também surpreendente, pelos mesmos motivos, a frequência
de ida ao cinema. A prática de baixar filmes pela internet também é bastante disseminada. Sua
freqüência é semelhante à de estudantes que costumam comprar obras literárias e à dos
frequentadores de bibliotecas. Percebemos menores freqüências quanto às questões ligadas a
recursos literários, de forma geral. Como sabemos, não há um grande incentivo para a
popularização dessa atividade, por parte da sociedade.
Em relação às áreas de conhecimento consideradas ciência, 93% assinalaram a
Biologia, possivelmente porque o projeto é relativo a essa matéria. A Matemática foi bastante
citada em algumas turmas, porém ficou na lista das menos citadas em outras, ocupando a
sexta posição no resultado geral (35%) (Quadro 1). Enquanto respondiam ao questionário,
algumas vezes os estudantes solicitavam esclarecimentos sobre determinados itens. Muitos
não sabiam o que era Antropologia. Acreditamos também que boa parte deles não tem uma
noção clara das diferenças entre Astronomia e Astrologia, o que explicaria a inesperada alta
presença da última.
Quadro 1: Frequência de alunos que marcaram cada disciplina considerada ciência.
Disciplinas Porcentagem de
marcações
Biologia 93%
Física 62%
Astronomia 62%
Astrologia 54%
Antropologia 40%
Matemática 35%
Filosofia 34%
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Sociologia 32%
Teologia 30%
As preferências dos alunos com relação às músicas foram mais heterogêneas do que
entre as de filmes, livros e personagens de quadrinhos, com forte influência dos meios de
comunicação. Prevalecem as indicações de sucessos à época em que o questionário foi
aplicado. Ao todo foram listadas 2440 obras musicais, tendo a mais votada aparecido apenas
50 vezes (4% do total de estudantes) (Quadro 2).
Quadro 2 – Lista das dez obras mais citadas pelos alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries, dentre
os 2.440 títulos listados.
MÚSICA AUTOR/
INTÉRPRETE
FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Chora me liga João Bosco e Vinícius 50 4%
Vida loka Racionais MC´s 49 4%
Abandonado Exaltassamba 47 4%
Borboletas Victor e Léo 46 4%
Versos Simples Chimarutes 46 4%
Faroeste Caboclo Legião Urbana 43 3%
Amanhã Sorriso Maroto 34 3%
Coisas Exotéricas Maria Cecília e Rodolfo 34 3%
Pais e Filhos Legião Urbana 33 3%
Um minuto D´Black e Negra Lee 32 3%
A lista de personagens em quadrinhos foi a menos heterogênea das quatro, com forte
preferência por personagens da “Turma da Mônica”, de Maurício de Souza. Foram 511
personagens de HQ listadas, ao todo. A mais votada recebeu 628 citações, o que representa
50% do total de investigados (Quadro 3).
O perfil de leitores desse tipo de mídia não mudou muito desde 2002. O Núcleo de
Pesquisas de Histórias em Quadrinhos (Vergueiro e Bari, 2002) encontrou resultados
semelhantes na faixa etária de 14 a 20 anos, destacando sua preferência por personagens de
Maurício de Souza e super heróis em geral.
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Quadro 3 – Lista dos dez personagens de histórias quadrinhos mais citados entre os
alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries.
PERSONAGENS DE
QUADRINHOS FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA
Mônica 628 50%
Cebolinha 604 48%
Cascão 552 44%
Magali 478 38%
Chico Bento 288 23%
Homem Aranha 264 21%
Batman 181 15%
Super Homem 123 10%
Wolverine (X-men) 120 10%
Naruto 88 7%
Entre os livros mais citados, verificamos forte influência do PAS (Programa de
Avaliação Seriada – UnB) (www.cespe.unb.br/PAS). Esta avaliação equivale ao vestibular
tradicional, mas feita em três etapas, uma ao final de cada série do Ensino Médio. Cada etapa
recomenda a leitura de obras literárias e o estudo de obras musicais e visuais, que serão
realizadas ao longo do ano. A influência do PAS é especialmente visível nas segunda e
terceira séries, como veremos adiante. Como a pesquisa foi feita no início de 2009, muitos
alunos ainda não haviam feito a leitura de obras do ano referente à sua etapa do PAS, porém
já haviam lido muitas das obras das etapas anteriores.
Entre os alunos da primeira série essa influência foi menos visível porque, além de
estarem no início do ano, não tiveram etapas anteriores do PAS – exceto os que haviam
reprovado no ano anterior. As obras literárias mais encontradas foram as trabalhadas pelos
professores na oitava série do Ensino Fundamental e as lidas por iniciativa própria dos
estudantes. Encontramos apenas uma obra recomendada pelo PAS, entre as dez mais citadas
pelos alunos da primeira série, tendo sido exigida no subprograma do ano anterior (Quadro 4).
É possível que esse número indique os alunos repetentes que leram as obras no ano anterior,
ou que os professores da 8ª série as tenham trabalhado durante suas atividades em sala de
aula.
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Quadro 4 – Lista de preferências literárias dos alunos de primeira série. (Em itálico,
livros adotados pelo PAS, subprograma 2008).
LIVRO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA
Diário de Anne Frank, O 72 14%
Harry Potter 70 14%
Crepúsculo 64 13%
Código da Vinci, O 40 8%
Caçador de pipas, O 38 8%
Lua nova 34 7%
Meu Tio Matou um Cara 33 7%
Eclipse 25 5%
Marley e Eu 25 5%
Fantasma da Ópera, O 19 4%
No segundo ano aparecem mais obras recomendadas pelo PAS (2007 e 2008). Entre as
dez mais citadas, há um livro do ano corrente e três do ano anterior. Os demais são
semelhantes aos mencionados pelos estudantes da primeira série (Quadro 5).
O terceiro ano foi o mais representativo quanto aos livros indicados pelo PAS. Cinco
das dez obras mais lembradas faziam parte da lista do Programa. Novamente encontramos,
entre os demais livros, as mesmas obras listadas nas duas primeiras séries (Quadro 6).
A forte presença de títulos “obrigatórios” (do PAS) pode significar duas coisas: que os
alunos realmente apreciam a literatura recomendada pelo Programa; ou, a mais provável, que
boa parte deles não tenha o hábito da leitura independente. Há também uma terceira hipótese:
a de que os alunos apenas listaram os livros cuja existência conheciam, o que indicaria um
grave problema entre os estudantes das escolas analisadas.
Quadro 5 – Lista de preferências literárias dos alunos de segunda série. Em itálico,
livros adotados pelo PAS relativos ao ano corrente; em negrito, livros adotados pelo PAS no
ano anterior.
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LIVRO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA
RELATIVA
Feliz Ano Velho 67 16%
Crepúsculo 50 12%
Harry Poter 42 10%
Meu Tio Matou Um Cara 34 8%
Pagador de Promessas, O 29 7%
Cabana, A 26 6%
Dom Casmurro 22 5%
Lua Nova 22 5%
Caçador de Pipas, O 21 5%
Anjos e Demônios 20 5%
Observando-se as não recomendadas pelo PAS, nota-se a forte presença de best-
sellers. Entre os dez primeiros títulos – somando-se os resultados das três séries – seis faziam
parte desse grupo. São eles: Crepúsculo (14%), Harry Potter (14%), Lua Nova (7%), O
Caçador de Pipas (7%), O Código da Vinci (7%) e Eclipse (5%). Mais uma vez, é sentida a
forte influência da mídia.
Quadro 6 – Lista de preferências literárias dos alunos de terceira série. Em itálico,
livros relativos ao ano anterior do PAS; em itálico, obras relativas ao ano em que estavam na
primeira série.
LIVRO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Meu Tio Matou um Cara 72 23%
Crepúsculo 64 20%
Feliz Ano Velho 59 19%
Harry Potter 59 19%
Dom Casmurro 45 14%
Lua Nova 35 11%
Caçador de Pipas, O 30 9%
Germinal 29 9%
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Máquina, A 28 9%
Código da Vinci, O 26 8%
A presença de obras sequenciais, como Harry Potter, Crepúsculo e Lua Nova, indica
que a expectativa de continuidade das histórias parece agradar a essa clientela, em geral
pouco adepta à literatura.
Quanto aos filmes preferidos, a lista, apesar de heterogênea, contém pistas importantes
quanto às preferências dos jovens que participaram da pesquisa. Ao todo, foram citadas 1.457
obras cinematográficas. As vinte mais citadas estão listadas no Quadro 7.
Quadro 7 – Lista dos vinte filmes mais citados entre os alunos de 1ª, 2ª e 3ª séries.
FILME FREQUÊNCIA
ABSOLUTA
FREQUÊNCIA
RELATIVA
Amor para recordar, Um 426 34%
Velozes e Furiosos 422 34%
Se eu fosse você 351 28%
Branquelas, As 313 25%
Harry Potter 311 25%
X-Men 277 22%
Jogos Mortais 262 21%
American Pie 257 21%
Crepúsculo 247 20%
Homem Aranha 245 20%
Madagascar 206 17%
Tropa de elite 195 16%
300 190 15%
Titanic 189 15%
Era do gelo 176 14%
P.S.: Eu te amo 175 14%
Todo mundo em pânico 169 14%
Senhor dos anéis, O 165 13%
Cidade de Deus 162 13%
Procurando Nemo 159 13%
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É visível a preferência por filmes de ação/aventura e comédia. Mesmo nas categorias
de terror, romance e drama, relativamente pouco numerosas, observam-se roteiros repletos de
ação. Fortes (2006) revela que a demonstração de competência tem papel motivador na
escolha por filmes dessa natureza, que fazem menção a conteúdos narrativos como heróis e
vilões, lutas e tiroteios, evidenciando confrontos motivados por metas de realização.
Percebe-se também a preferência por filmes estrangeiros, a maioria com efeitos
especiais. Há somente três obras brasileiras na lista do Quadro 7 e apenas onze filmes
nacionais foram encontrados entre os cem mais lembrados.
Embora não tenhamos realizado uma diferenciação por sexo nas indicações, é possível
que as duas obras mais votadas representem escolhas dos públicos feminino e masculino,
respectivamente, já que a primeira é um romance e a segunda, um filme de ação envolvendo
carros esportivos. Segundo Fortes (2006), mulheres preferem drama e homens, aventura.
O filme “O Óleo de Lorenzo”, apesar de não figurar entre os mais citados, foi listado
nas preferências dos alunos de 3ª série. Talvez o conhecimento biológico sistematizado desta
série, bem como os pré-requisitos adquiridos nas anteriores, tenham permitido melhor
compreensão do filme e sua conseqüente apreciação.
Referências Bibliográficas
Amorim, A.C.R. Em aula de ciências ensinam-se ciências? <http://www.comciencia.br/
reportagens/cultura/cultura12.shtml>, SBPC. Acesso em 3/8/2008.
Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), 2010. Dados disponíveis no site:
<http://www.midiafatos.com.br/index.aspx>. Acesso em 17/05/10.
Barnett, M., Wagner, H., Gatling, A., Anderson, J., Houle, M. & Kafka, A. The impact of
science fiction film on student understanding of science. Journal of Science Education and
Technology 15(2): 179-191, 2006. 21/09/08.
Cinema and Science. <http://www.cisci.net/start.php?lang=1> acesso em 17/05/2010
Fernandes, H. L.; Amâncio-Pereira, F. Imagens, ensino de ciências e tecnologias de
informação e comunicação. Anais do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em
Ciências. Florianópolis, 2009.
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Fortes, K. Relações entre Valores Pessoais e Preferências por Categorias de Filmes
Dissertação de mestrado em Psicologia (Universidade de Brasília). Orientador: Prof. Dr
Álvaro Tamayo. UnB, 2006.
Kamel, C.R.L. Ciências e Quadrinhos: Explorando As Potencialidades Das Histórias Como
Materiais Instrucionais. Diss. Mestrado Instituto Oswaldo Cruz. Ensino de Biociências e
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