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SC implementa Plano de Assistência Farmacêutica Farmácia como estabelecimento de saúde é o foco das ações do CRF/SC Reitora da USP, Suely Vilela, fala ao Cofa sobre o setor farmacêutico Jornada de 30 horas para farmacêuticos aguarda votação no Senado Páginas 12 e 13 Página 03 Página 09 Farmácia como estabelecimento de saúde é o foco das ações do CRF/SC Reitora da USP, Suely Vilela, fala ao Cofa sobre o setor farmacêutico Jornada de 30 horas para farmacêuticos aguarda votação no Senado Páginas 12 e 13 Página 03 Página 09 Páginas 10/11 Comunicador Farmacêutico • Ano 33 • Nº 06 Março / Abril de 2006 • CRF/SC 06

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Page 1: Cofa 06 - CRFSC

SC implementa Plano de

Assistência Farmacêutica

Farmácia comoestabelecimento desaúde é o foco das açõesdo CRF/SC

Reitora da USP, SuelyVilela, fala ao Cofasobre o setorfarmacêutico

Jornada de 30 horaspara farmacêuticosaguarda votaçãono Senado

Páginas 12 e 13

Página 03

Página 09

Farmácia comoestabelecimento desaúde é o foco das açõesdo CRF/SC

Reitora da USP, SuelyVilela, fala ao Cofasobre o setorfarmacêutico

Jornada de 30 horaspara farmacêuticosaguarda votaçãono Senado

Páginas 12 e 13

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC2 • Março / Abril de 2006

EDITORIAL

O vírus que está infectando aves naÁsia, Europa e África atende porH5N1. Trata-se da hemaglutinina eda neuraminidase, proteínas que es-tão no envelope externo do vírus. Cadacepa possui uma composição diferen-te, sendo que já foram identificados16 subtipos. Conhecida como gripeaviária, o tipo H5N1 caracteriza-sepor início súbito e taxa de mortalida-de próxima a 100% entre aves. Dife-rentes espécies podem ser contami-nadas, porém, é o contato entre asaves migratórias e domésticas a prin-cipal causa da epidemia na Ásia.

O que preocupa a OrganizaçãoMundial da Saúde – que classifica omomento atual como Período deAlerta Pandêmico Classe 3 (detec-tação de infecções em humanos comtransmissão inter-humana limitada)– é a mutação do vírus e a transmis-são entre humanos. O ‘mix de códigogenético’ é uma das hipóteses paramodificação viral. Neste caso dar-se-ia a mistura, durante a multiplica-ção, do vírus da gripe aviária com oda gripe comum quando da infecçãoem humanos. O resultado poderia sera propagação entre pessoas. Outroquadro é o das ‘mutações acumula-das’. Nele as freqüentes mutaçõesque ocorrem nas proteínas da super-

fície dos vírus, permitindo erros namultiplicação viral, o tornaria trans-missível entre humanos.

Desde 2003 já foram identificados120 casos entre humanos, tendo pelomenos 12 mortes. Aves e pessoas con-taminam-se pela inalação ou ingestãodo vírus, presente nas fezes, no san-gue e nas secreções dos animais infec-tados. O H5N1 é sensível ao calor(56ºC por três horas ou 60º por 30minutos). Na água o vírus pode sobre-viver por quatro dias à temperaturade 22ºC e mais de 30 dias a 0o.

No Brasil a avicultura é quase todaindustrial, o que reduz o contato en-tre humanos e aves, diferente dos pa-íses asiáticos onde foi constatada aepidemia.

O Ministério da Saúde já tomouuma série de providências para evi-tar uma pandemia futura. Entre elaso aumento das restrições de produtosavícolas e a importação de aves exó-ticas, além da intensificação dos in-quéritos sorológicos em aves migra-tórias. O antiviral Fosfato de Oselta-mivir – que inibe a liberação do vírusda superfície celular impedindo suareplicação – foi comprado em quan-tidade suficiente para tratar nove mi-lhões de pessoas. O governo federaltambém investiu R$ 3,1 milhões no

Instituto Butantan para acelerar aconstrução de uma unidade de pro-dução da vacina contra a gripe aviá-ria. A OMS disponibilizou o lote-se-mente que servirá de matriz à produ-ção. Deste modo o Brasil será um dosprimeiros países a ter auto-suficiên-cia na produção da vacina contra agripe e para o uso numa eventual pan-demia.

Nós farmacêuticos, como profissi-onais da saúde que somos, devemosestar atentos à evolução e ao alastra-mento da gripe aviária. É preciso queestejamos atualizados para conscien-tizar e informar à população evitan-do a exposição a riscos desnecessári-os, como o uso irracional de medica-mentos a título de prevenção. Comoprofissionais que atuamos na dispen-sação, análises clínicas e indústriasde alimentos, por exemplo, caso ocor-ra uma epidemia precisaremos estarcientes das responsabilidades que noscaberão na prestação de serviços.Para isso, é primordial entender anatureza e a gravidade da gripe aviá-ria, bem como permanecer alerta assuas conseqüências.

A diretoria do CRF/SC

Gripe aviária

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COFA - Veículo de Comunicação do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina. Trav. Olindina Alves Pereira, 35 - Centro -Florianópolis-SC - Cx.Postal 472 - Cep 88020-100 - Fone (48) 3222 4702

DIRETORIA - Presidente: JoséMiguel do Nascimento Júnior.Vice-Presidente Hortência S.Müller Tierling. SecretárioGeral Tércio Egon PauloKasten. Tesoureiro PauloSérgio Teixeira de Araújo.

Jornalista Resp. Karine Mueller - MTB 23308/RJTextos e Edição Isadora AtaídeProjeto Gráfico Alexandre SallesDiagramação SALLES Estúdio de Produção &Design GráficoTiragem 6.000 exemplaresFotolitos e Impressão Gráfica Coan

CONSELHEIROS- Luiz Henrique Costa; EduardoComeli Goulart; Melissa Arend das Neves; José AmazonasGaspar; Anna Paula de Borba Batschauer; LaércioBatista Júnior; Caio Roberto Salvino; Eliane Souza dosAnjos Tomazoni; Jussara Lopes de Freitas; AraniSchroeder; Carlos Roberto Merlin. Conselheiro Federal:Paulo Roberto Boff; Vera Lucia Dal Forno.

Farmacêuticos precisam estar atentos a evoluçãoda gripe aviária para informar a população

José Miguel, Paulo, Hortência e Tércio

Page 3: Cofa 06 - CRFSC

Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março / Abril de 2006 • 3

Faculdades de farmácia devem capacitarprofissionais para exercício ético e competente

ENTREVISTA

Uma farmacêutica é reitora da USP,a maior universidade da América La-tina. A trajetória de Suely Vilela émarcada pela docência e pesquisa ci-entífica. Nessa entrevista, feita por e-mail, ela aborda o ensino de gradua-ção em farmácia, a importância daassistência farmacêutica e da parce-ria entre instituições de ensino e con-selhos de farmácia.

C - Qual o impacto, em sua opinião,da redução da carga horária mínimade duração da graduação em farmá-cia (pelo Conselho Nacional de Edu-cação, em 2002)?

SV - O estabelecimento da cargahorária mínima de 3000 horas podeser prejudicial à formação farmacêu-tica. Em linhas gerais, apesar de nãoser suficiente para que se transmitamtodos os ensinamentos necessários àatuação profissional, muitas Institui-ções podem optar pelo mínimo, com-prometendo a capacitação dos gradu-ados. Em Faculdades como as públi-cas do Estado de São Paulo, por exem-plo, essa carga horária corresponde aociclo básico da formação farmacêuti-ca. Mais que 1000 horas adicionaissão destinadas a disciplinas optativas,segundo o novo currículo de Farmá-cia.

C - A mudança do perfil do egressopara generalista está em acordo comas demandas dos profissionais farma-cêuticos no Brasil?

SV - Tendo em vista que o profissio-nal de hoje deve ter formação multi-disciplinar para atender às expectati-vas de um mundo em transformação,a formação generalista está em acor-do com as demandas. Deve-se ressal-tar, também, que, face à ênfase quevem sendo dada à assistência farma-cêutica, em particular, à atenção far-macêutica, e à participação do farma-cêutico em equipes multiprofissionais

de saúde, o novo currículo, em que essaárea merece realce, é adequado à novarealidade que surge no âmbito farma-cêutico.

C - A sua trajetória profissional estávinculada à academia e à pesquisa ci-entífica. Como a indústria nacional(pública e privada) pode ser benefici-ada com o conhecimento gerado pelasinstituições de ensino?

SV - As Instituições de ensino quedesenvolvem atividades de pesquisa deforma indissociável não só geram co-nhecimento, algumas delas, de van-guarda, como, também, preparam osprofissionais para atuar na sua gera-ção. O benefício que a indústria na-cional, seja ela pública ou privada,pode receber dessas Instituições é,pois, além da disponibilidade de re-cursos humanos, formados com a ca-pacidade de desenvolver pesquisa, atransferência do conhecimento inova-dor, que lhes permite alçar vôos rumoao desenvolvimento. Vale mencionar,no entanto, que esse relacionamentodeve ser mais cultivado, em razão deque se encontra mais estabelecidoapenas em poucas áreas do conheci-mento. Programas específicos para odesenvolvimento tecnológico de indús-trias nacionais juntamente com uni-versidades vêm sendo lançados poragências de fomento e modificaram,ainda que de forma não significativa,esse relacionamento. Em minha ges-tão, à frente da Reitoria da USP, pre-tendo estimular e estreitar essa rela-ção, em benefício de ambos os seg-mentos e, ao final, do desenvolvimen-to do País.

C - As farmácias ainda são tratadaspela legislação e pela população comoestabelecimentos comerciais comuns.Quais os desafios para que a farmáciase torne um estabelecimento de saú-de?

SV - A participação plena do farma-

cêutico nas farmácias, através da aten-ção farmacêutica bem desenvolvida eprimando pela qualidade, é um pres-suposto em qualquer atividade no mun-do atual, consiste no grande desafio,que deverá mudar a feição da farmá-cia, resgatando o seu papel como es-tabelecimento de saúde. A atuaçãofarmacêutica consciente, na promoçãoe prevenção da saúde, no ambiente dafarmácia, é resultado de formação pro-fissional de qualidade, desempenha,pois, papel fundamental. Chamo aatenção, nesse particular, para a res-ponsabilidade das Faculdades de Far-mácia em formar profissionais capa-citados a exercer com ética e compe-tência o seu papel junto à sociedade.

C - Os Conselhos Profissionais fisca-lizam a ação dos farmacêuticos visan-do à proteção dos usuários dos servi-ços de saúde. Nesta perspectiva, quala demanda de aproximação entre asuniversidades e os Conselhos de Far-mácia?

SV - Universidades e Conselhos deFarmácia aproximam-se, sobretudo,na elaboração e oferecimento de edu-cação continuada. Não raro, professo-res de Universidades, públicas e pri-vadas, fazem parte do corpo de docen-tes ou da organização de cursos e trei-namentos. O aprender permanente é,hoje, uma das maiores necessidadescom vistas à qualificação tanto aca-dêmica, quanto profissional. Há, tam-bém, nos Conselhos de Farmácia, co-missões que abrangem as várias ativi-dades envolvidas na atuação profissi-onal, incluindo o ensino. Essas, nãoraro, contam com as universidades, pormeio da participação de seus docen-tes. Resulta daí, melhor capacitaçãopara o exercício da profissão, inclusi-ve na sua atividade de fiscalização,com vistas à proteção dos usuários dosserviços de saúde.

SUELY VILELA

REITORA DA USP

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC4 • Março / Abril de 2006

ATIVIDADES DO CRF-SC

CRF/SC homenageia profissionais e instituições quecontribuem no desenvolvimento do setor farmacêutico

Profissionais e instituições foramhomenageadas no dia do farmacêu-tico pelo Conselho Regional de Far-mácia de Santa Catarina. Os home-nageados são escolhidos por una-nimidade pelo plenário do Conse-lho. A solenidade de entrega do

20 de janeiro: dia doprofissional farmacêutico

prêmio aconteceu no clube 12 deAgosto, em Florianópolis, e reuniuimportantes representantes do se-tor farmacêutico – Rede Farma &Farma, Associação de Farmacêu-ticos Magistrais, Sindicato dos Far-macêuticos, entre outros. Também

esteve presente o Secretáriode Estado da Administração,Marcos Vieira, que enfatizouo farmacêutico enquanto pro-fissional da saúde e a farmá-cia enquanto estabelecimen-to de saúde.

Conheça as instituições e osprofissionais homenageados.

A Universidade Federal deSanta Catarina pela formaçãode gerações de farmacêuticos,contribuindo de modo singularno desenvolvimento do setorfarmacêutico catarinense.

O Laboratório Central de Saú-

de Pública pelos serviços de referên-cia prestados á população catarinen-se, sendo modelo da prática profissi-onal de farmacêuticos e bioquímicos.

O Laboratório Catarinense por trans-formar o binômio flora-medicamentoem desenvolvimento nacional, contri-buindo para que Santa Catarina tor-ne-se referência nos fitoterápicos.

Jane Terezinha Martins, farma-cêutica modelo por seu compromis-so com a vida. Por organizar a cate-goria e pela sua determinação e com-petência na direção do Hemosc.

Prof. Osvaldo Maciel por sua atu-ação imprescindível em defesa dasaúde pública, seja como conselhei-ro do CRF/SC, fundador da Associa-ção Nacional dos Docentes do Ensi-no Superior, vereador e secretário deeducação e até sua partida prema-tura Vice-Presidente do ConselhoEstadual de Saúde.

Cerimônia de comemoração do Dia do Farmacêutico

Baile de Confraternização

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março / Abril de 2006 • 5

Farmácias e laboratórios têm jornais específicos

Já estão disponíveis no espaço vir-tual do CRF/SC os boletos para pa-gamento das anuidades de pessoasfísica e jurídica. Basta acessar e im-primir os documentos. O histórico doConselho, notícias sobre o setor far-macêutico e as principais ações de-

Jornais murais aproximamConselho dos estabelecimentos

senvolvidas pela instituição tambémestão disponíveis no endereço. Dia-riamente são selecionadas as notíci-as do setor da saúde publicadas nosveículos impressos de comunicaçãoe atualizadas na página. Mantenha-se sintonizado, acesse!

CRF/SC disponibilizaserviços pela internet

www.crfsc.org.br

“Valorizar o farmacêutico comoprofissional da saúde, a ética, a as-sistência farmacêutica e promover aproteção dos usuários de serviços eprodutos da atividade farmacêutica”é a missão do Conselho Regional deFarmácia de Santa Catarina.

Há 5176 farmacêuticos, 3375 far-mácias e 555 laboratórios inscritosno Conselho Regional de Farmácia deSanta Catarina. Além disso, ingres-sam no mercado de trabalho cerca de600 novos farmacêuticos por ano.Números que espelham a demanda deserviços de saúde da população.

Para aproximar a instituição dosprofissionais e estabelecimentos oCRF/SC lançou em fevereiro veícu-los de comunicação específicos paraos segmentos das análises clínicas efarmácias. São jornais murais queabordam as principais notícias e de-mandas do setor. Afinal, trocar in-formações contribui na qualidade dosserviços prestados à sociedade. Dia-logar com usuários é outro desafio

dos jornais, pois conscientizá-los daimportância das farmácias, dos la-boratórios e dos farmacêuticos pro-move a saúde.

Sugira e contribua, participe. Casoo estabelecimento em que você tra-balha não receba o jornal mural en-tre em contato.

Veículos terãoperiodicidadetrimestral

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC6 • Março / Abril de 2006

A partir de março um farmacêuti-co catarinense assume uma cadeirano Conselho Nacional de Saúde(CNS). Ronald Ferreira dos Santos,que assume uma vaga na suplência,é diretor de relações internacionaisda Federação Nacional dos Farma-cêuticos, assessor do CRF/SC e mem-bro do Conselho Estadual de Saúde

em Santa Catarina.O CNS é o espaço privilegiado de

elaboração das políticas públicas desaúde. Nele foi aprovado o PlanoNacional de Assistência Farmacêu-tica e discutida a incorporação dosfarmacêuticos nos serviços do Siste-ma Único de Saúde, a exemplo doPrograma Saúde da Família. “Mui-

Farmacêutico no ConselhoNacional de Saúde

to já se avançou nas políticas de saú-de a partir da pactuação tripartitenas três esferas dos conselhos. Pre-cisamos dar continuidade ao forta-lecimento desse espaço de decisão,principalmente em âmbito munici-pal, para que a sociedade exerça oefetivo controle das ações executa-das pelo governo”, ressalta Ronald.

Para dinamizar e ampliar os tra-balhos das comissões de educação,análises clínicas e farmácia o CRF/SC decidiu realizar os encontros dascomissões nos dias e locais de suasplenárias.

Os primeiros encontros acontece-ram nas plenárias dos dias 17 de ja-neiro e 23 de fevereiro, ambas emFlorianópolis. As comissões são com-

Comissões do CRF/SCdinamizam atividades

postas por conselheiros do CRF/SC epelos diversos setores de atuação erepresentação de farmacêuticos e en-tidades da área.

Na agenda da comissão de aná-lises clínicas a implementação daRDC 302 pelos laboratórios cata-rinenses e a formulação da porta-ria que determinará o período depermanência do responsável técni-

co nos laboratórios. A comissão defarmácia, além dos temas da far-macovigilância e do fracionamen-to, discute e encaminha a campa-nha pela farmácia enquanto esta-belecimento de saúde. Já a comis-são de ensino planeja fortalecer arelação entre Conselho e institui-ções de ensino no sentido de con-tribuir na formação dos farmacêu-ticos.

Fique atento às datas das plenári-as e participe dos encontros das co-missões, sua opinião é imprescindí-vel! Acompanhe na página do CRF/SC as cidades em que serão realiza-das as plenárias e o horário das reu-niões.

Começa em março a segunda eta-pa dos cursos de capacitação de far-macêuticos para o Programa Farmá-cia Notificadora. Itajaí e Florianó-polis serão as primeiras cidades, comatividades nos dias 23 e 24 de mar-ço, respectivamente. Os cursos diri-gem-se aos farmacêuticos que dese-jam aderir ao Programa e também,a título de reciclagem, para os pro-fissionais que participaram da pri-meira etapa.

Em 2005 mais de 800 farmacêu-ticos, além de estudantes, foramqualificados para atuação no Pro-grama. Cerca de 200 farmácias jáaderiram e estão aptas a notificaras reações adversas dos usuários demedicamentos. As farmácias cadas-tradas recebem um selo de identifi-cação.

Em Santa Catarina o Programa éresultado da parceria entre a Vigi-lância Sanitária Estadual e o Con-

selho Regional de Farmácia. Os cur-sos são gratuitos, com duração deoito horas e certificados. Para a far-mácia aderir ao Programa é precisoque ela esteja regular perante aVISA/SC e o CRF/SC e que o farma-cêutico responsável técnico estejacapacitado.

Itajaí: 23 de marçoFlorianópolis: 24 de marçoBlumenau: 10 de abril

Recomeçam capacitações paraatuação na farmacovigilância

ATIVIDADES DO CRF-SC

Ronald Ferreira dos Santos

Page 7: Cofa 06 - CRFSC

Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março / Abril de 2006 • 7

CRF/SC distribuirácartazes às farmáciaspara orientar profissionaise usuários

A lei federal 9787 de 1999 estabeleceque apenas os genéricos podem substi-tuir os medicamentos de referência pres-critos pelos profissionais da saúde. San-cionada em janeiro, a lei estadual 13.680reforça o texto federal e estabelece queas farmácias devem exibir cartazes in-formando os usuários de que apenas ogenérico pode substituir o medicamentode referência.

Quando da proposição da lei pela De-putada Odete de Jesus, o Conselho Regi-onal de Farmácia de Santa Catarina su-geriu que o texto dos cartazes orientasseos usuários que o farmacêutico é profis-sional habilitado para a troca do medi-camento. Que a produção dos cartazesfosse de responsabilidade da vigilânciasanitária foi outra contribuição, tambémnão acatada, do Conselho. As farmáciasque não ostentarem os cartazes estarãosujeitas à advertência e multas entre ceme mil reais em caso de reincidência dainfração.

“A lei reforça no âmbito estadual queos medicamentos de referência só podemser substituídos pelos genéricos, evitan-do-se práticas comerciais que podem pre-judicar os usuários”, comenta a vice-pre-sidente do CRF/SC, Hortência Salette M.Tierling. Entretanto, a diretoria do Con-selho avalia como negativa a formula-ção do texto, que apresenta o médicocomo único profissional da saúde respon-sável pela prescrição de medicamentos.

O CRF/SC produzirá e distribuirá àsfarmácias cartazes informativos com ostextos federal e estadual, incluindo o fatodo farmacêutico ser o responsável pelasubstituição do medicamento.

Medicamentos de referência só podemser substituídos por genéricos

Dispõe sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos farma-cêuticos e drogarias afixarem cartaz para esclarecer as hipó-teses de substituição de medicamento prescrito por médico.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA,Faço saber a todos os habitantes deste Estado que a Assem-

bléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Todos os estabelecimentos de farmácias e drogarias,do Estado de Santa Catarina, deverão afixar de forma desta-cada cartaz medindo 297x420mm (Folha A3) e caracteresem negrito com no mínimo 2cm (Tamanho Fonte 72), com osseguintes dizeres:

O MEDICAMENTO PRESCRITO POR SEU MÉDICO SÓPODE SER SUBSTITUÍDO POR MEDICAMENTO GENÉRI-CO.

NA DÚVIDA CONSULTE SEU MÉDICO.

Art. 2º O descumprimento desta Lei sujeitará o infrator àsseguintes sanções:

I - advertência por escrito da autoridade competente, escla-recendo que, em caso de reincidência, estará sujeito às penali-dades previstas nos itens II e III abaixo;

II - multa de cem a quinhentos reais na segunda infração; eIII - multa de quinhentos a um mil reais a partir da terceira

infração.Parágrafo único. As multas aplicadas em razão desta Lei

serão revertidas ao Fundo Estadual para Recuperação de BensLesados.

Art. 3º A fiscalização do cumprimento desta Lei e a aplica-ção das penalidades referidas no artigo anterior serão exerci-das pelas autoridades sanitárias e de defesa do consumidor.

Art. 4º Os estabelecimentos farmacêuticos e drogarias terãoo prazo de 10 dias para adequar-se às determinações do art.1º desta Lei.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Florianópolis, 10 de janeiro de 2006

LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRAGovernador do Estado

Conheça o texto da lei estadual:

LEGISLAÇÃO

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC8 • Março / Abril de 2006

MEDICAMENTOS

Orçamento da Farmácia Popularé de 80 milhões de reais

A instalação de500 farmácias po-pulares até o fim de2006 é a meta doPrograma Farmá-cia Popular do Bra-sil, do Ministério daSaúde. Já funcio-nam 88 farmáciase 365 estão creden-ciadas, em fase deimplementação.Em Santa Catari-na apenas uma estáaberta a popula-ção, em Rio do Sul.Porém, 12 estãocredenciadas, sen-do duas em Floria-nópolis e duas emSão José e as ou-tras em Blumenau,Balneário Camboriú, Chapecó, Criciúma,Itajaí, São Bento do Sul e Tijucas.

“Atendemos em média 150 pessoaspor dia, não é apenas o paciente doSUS que nos procura, mas da rede pri-vada também. Entre o pedido de ade-são ao Programa e o efetivo funciona-mento da farmácia foram 10 meses”,comemora a Secretária Municipal deSaúde de Rio do Sul, Márcia Teresi-nha Anacleto.

“O enfoque da farmácia popular épara o baixo custo dos medicamentoscom assistência farmacêutica no mo-mento da dispensação. É um elenco queabrange 95 medicamentos que são ven-didos somente mediante a receita e comtodas as informações sobre o uso e re-ações adversas, por exemplo. Remédi-os para hipertensão, diabetes e para

reduzir o colesterol no sangue são osmais procurados”, explica o Diretor doPrograma Farmácia Popular do Bra-sil, Dr. Adilson Stolet. O elenco dos me-dicamentos disponíveis foi elaboradocom base na RENAME, sendo que80% são da clínica geral. O Ministé-rio já estuda a ampliação da lista, in-clusive em razão das realidades locais.

Em 2006 o orçamento da FarmáciaPopular é de 80 milhões de reais. Pequenofrente ao da farmácia básica (1,2 bilhões)e dos medicamentos excepcionais (de 3 bi).Os preceitos da Farmácia Popular aten-dem a algumas das demandas da saúde noBrasil: desonerar o SUS, ampliar o acessodos medicamentos e promover a saúde dapopulação.

Estados, municípios e entidades pri-vadas sem fim lucrativo podem aderir

ao Programa. OMinistério daSaúde através daFundação Oswal-do Cruz repassaos recursos parainstalação e ma-nutenção do Pro-grama. O municí-pio, por exemplo,é responsável peloespaço de instala-ção da farmácia,o Ministério re-passa 50 mil reaispara a reforma e10 mil reais men-sais para despesasde custeio. A com-pra dos medica-mentos é feitaatravés da Funda-

ção Oswaldo Cruz, que os compra delaboratórios públicos e privados e fazo controle de qualidade da medicação.Os farmacêuticos e os funcionários sãode responsabilidade da prefeitura. Acapacitação das equipes para a execu-ção das ações na farmácia também épré-requisito.

São 70 municípios que em razão dafarmácia e do farmacêutico estão ins-critos no CRF/SC. Índice baixo frenteàs demandas da rede pública. “A pre-sença do farmacêutico na FarmáciaPopular nos alerta para a importânciada ampliação do quadro de farmacêu-ticos na rede pública, nos postos de saú-de. A presença dele reduz as reaçõesadversas, promove a saúde”, ressaltaMárcia Teresinha.

Farmácia Popular ampliaacesso a medicamentosEstado e municípios podem aderir à Farmácia Popular e ampliaro acesso racional e orientado da população aos medicamentos

Usuários são atendidos em farmácia popularA

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março / Abril de 2006 • 9

A redução da jornada de trabalhoé uma reivindicação antiga das cen-trais sindicais em todo o mundo. Acriação de postos de trabalho, dis-tribuição da riqueza e aumento daqualidade de vida são alguns dosmotivos que levaram a França a im-plementar uma jornada de 35 horassemanais. No Brasil o Projeto deEmenda Constitucional 393, já apro-vado na Comissão de Constituição eJustiça da Câmara, prevê a reduçãode 44 para 40 horas.

Para os profissionais da saúde arecomendação de 30 horas semanaisé da Organização Internacional doTrabalho. Ganhos para a sociedade,como a melhoria da assistência far-macêutica, é uma das preocupaçõesdo Projeto de Lei 113, que reduz ajornada dos farmacêuticos de 40para 30 horas sem diminuição sala-rial e ingressou no Senado em no-vembro passado.

“Jornadas extenuantes - com plan-tões, horas extras e folgas sem roti-na – impedem que os farmacêuticosgarantam um mínimo de planeja-mento nas suas ações, comprometema atuação no atendimento aos paci-entes pelo cansaço e pela dificulda-de de atualização profissional”, dizem defesa do projeto a presidente daFederação Nacional dos Farmacêu-

Projeto de lei queestabelece reduçãoda jornada de trabalhodos farmacêuticoschega ao Senado

Jornada dos farmacêuticos podeser reduzida para 30 horas

ticos (FENAFAR), Maria EugêniaCury.

“A proposta é boa, desde que ve-nha acompanhada de subsídios fis-cais. A Normal teria que contratarcinco farmacêuticos, aumentando osgastos em cerca de 12 mil reais. Issoimplicaria fechar um estabelecimen-to. Prevejo o mesmo para outras far-mácias e redes”, avalia o vice-presi-dente do Sindicato do Comércio Va-rejista na Grande Florianópolis e pro-prietário das farmácias Normal,Rubens Fernando Sanches de Andra-de.

O farmacêutico só pode ter res-ponsabilidade técnica por um esta-belecimento, mas o piso salarial –de R$ 1.022,00 em Santa Catarina- exige que muitos trabalhem emdois lugares. “Com a redução dajornada há valorização do profissi-onal no aspecto econômico. O tem-po ganho pode ser revertido em qua-lificação, por exemplo, para a ge-rência dos estabelecimentos, desdeque a assistência farmacêutica nãoseja prejudicada”, sugere o tesou-reiro do CRF/SC, Paulo Sérgio Tei-xeira Araújo.

A Fenafar está com um calendárionacional de mobilização para apre-sentar o projeto à sociedade e sensi-bilizar parlamentares. Debates, im-pressos e abaixo-assinado fazem par-te das ações. “Inovações tecnológi-cas e organizacionais nos serviçospossibilitam a redução. A medidapode ter um impacto econômico ne-gativo a princípio. Mas, a reduçãoda carga horária em médio e longoprazo muda positivamente relaçõesde trabalho e de prestação de servi-ços”, complementa Maria Eugênia.

LEGISLAÇÃO

Profissionais serão valorizados e usuários terão maior qualidadenos serviços prestados com redução da jornada de trabalho

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC10 • Março / Abril de 2006

REPORTAGEM

Retomar a produção de medicamentos noLAFESC depende dos recursos federais

Estudo epidemiológicocatarinense sustentourevisão do elenco demedicamentos

Ampliar o quadro de profissionaisfarmacêuticos do estado, articular oselencos, promover o uso racional dosmedicamentos, manter políticascompensatórias para os municípiosque estejam abaixo da média esta-dual e difundir o conceito de assis-tência farmacêutica são alguns doseixos do Plano Estadual de Assistên-cia Farmacêutica de Santa Catari-na para o período 2006/2007.

O Plano é inédito na medida em

que articula metas e ações para aassistência farmacêutica. “Atravésdas Conferências regionais e estadualde medicamentos e Assistência Far-macêutica, em 2003, foi possívelidentificar as principais demandaspara as políticas de medicamentos apartir dos gestores, profissionais dasaúde e usuários. Somam-se as dis-cussões do processo de planejamen-to estratégico e o diagnóstico pré-existente, o resultado é o Plano Es-tadual para a Assistência Farmacêu-tica”, explica Rosana Isabel dos San-tos, da Diretoria de Assistência Far-macêutica.

O estudo identificou que para osusuários o maior problema é a faltade medicamentos e a dificuldadepara conseguí-los. Para os gestoresos gastos excessivos é o principalentrave. Já os profissionais avalia-

ram o excesso de trabalho como omaior óbice para a implementaçãodas políticas de assistência farma-cêutica. A falta de farmacêuticos narede pública é histórica, seja na redeestadual ou municipal. Esse é um dosempecilhos na implementação da as-sistência farmacêutica, pois seleção,programação, compra, aquisição, ar-mazenamento e dispensação são ta-refas para as quais os farmacêuti-cos estão capacitados. No plano es-tadual a meta da Secretaria de Saú-de é ter ao menos um farmacêuticoem cada uma das 30 secretarias re-gionais. Na Diaf, o número de far-macêuticos cresceu de três para 30nos últimos quatro anos.

Para atualizar e ampliar o acessodos medicamentos a DIAF revisou oelenco para as patologias de maiorimpacto sobre morbi-mortalidade em

Estado formula e implementa PlanoEstadual de Assistência Farmacêutica

Programação, aquisição e dispensação são atividades que exigem o farmacêutico

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Santa Catarina, cuja gestão eficien-te depende da atenção básica. “Re-alizada a seleção verificamos quaisprodutos eram contemplados pelosprogramas governamentais. A par-tir daí criamos o programa de espe-ciais, em que incluímos os medica-mentos que faltavam. Quanto aosexcepcionais, revisamos em acordocom a demanda e com a possibilida-de de compra”, diz Rosana.

A partir deste ano o estado repas-sará aos municípios os recursos enão os medicamentos. Cabe ao go-verno federal R$ 1,65, ao estado R$1,00 e ao município complementarcom no mínimo um real o elenco daatenção básica. Entretanto, 56 ci-dades catarinenses com baixo Índi-ce de Desenvolvimento Social, sãobeneficiadas com o PROCIS (Pro-grama Catarinense de Inclusão So-cial). “É uma medida compensató-ria em que os municípios recebemtrês reais por habitante/ano. Com oPlano Estadual a assistência farma-cêutica passa a se ter uma ação quecomeça na aquisição e vai até a dis-

Rede pública precisa aumentar o número de farmacêuticos

pensação dos medicamentos aosusuários do SUS”, comenta a Dire-tora Geral da Saúde, Carmem Za-notto Bonfá.

Monitorar e avaliar a implemen-tação do Plano é uma das metas se-gundo o Diretor de Assistência Far-macêutica: “é preciso identificar sea seleção e as compras são adequa-das, como os medicamentos são ar-mazenados e o processo de dispen-sação. Por isso os planos municipaissão pré-requisitos, a DIAF formulouum manual para orientar a formula-ção, 40% das cidades já enviaram oseu plano”. É nessa perspectiva quea DIAF busca junto com o Ministé-rio da Saúde atualizar o SIFAB (Sis-tema de Informação Farmacêuticana Atenção Básica).

Em que pese à falta de medicamen-tos no Brasil, são eles os responsá-veis pelo terceiro lugar no rankingdas intoxicações. Daí o Plano Esta-dual ter como um dos seus eixos aeducação para o uso racional dosmedicamentos. A DIAF quer capa-citar gestores, conselheiros e profis-

sionais da saúde, prescritores, estu-dantes e membros do Ministério Pú-blico. As parcerias com as universi-dades possibilitam que a estratégiase multiplique. “Queremos sensibili-zar sobre a necessidade do uso raci-onal de medicamentos. Desmistificaras estratégias que a indústria farma-cêutica lança mão para o convenci-mento dos profissionais”, diz Rosa-na.

Retomar a produção de medica-mentos no Laboratório Farmacêuti-co do Estado de Santa Catarina (LA-FESC) é outra prioridade do Plano.Porém, o Laboratório demanda dereforma, estruturação e certificaçãode Boas Práticas de Fabricação jun-to a Anvisa. “Estabelecemos um con-vênio com o Ministério da Saúdepara a adequação do LAFESC, quecustará cerca de 25 milhões de re-ais. A produção de medicamentospelo Estado coloca em outro pata-mar a assistência farmacêutica e oacesso da população aos medicamen-tos”, avalia José Miguel.

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tos”.Em 2005 abriram 346 e fecharam 79

farmácias em Santa Catarina. Com oprojeto a abertura de estabelecimentosfica condicionada – além da autorizaçãoda vigilância sanitária e da inscrição noCRF’s - a critérios epidemiológicos, de-mográficos, geográficos e ao interessepúblico, determinado pelos conselhos mu-nicipais de saúde.

“Pessoas morrem em razão do consu-mo inadequado e irracional de medica-mentos, pela ausência da assistência far-macêutica. O Brasil precisa igualar-se apaíses europeus, por exemplo, no que tan-ge as regras para abertura e funciona-mento das farmácias. Por isso, em 2006,nossa prioridade é a farmácia como es-tabelecimento de saúde”, diz o presiden-te do CRF/SC, José Miguel do Nascimen-to Júnior. O planejamento estratégico doConselho de Farmácia definiu como eixocentral de ação a farmácia enquanto es-tabelecimento de saúde e o farmacêuticoenquanto profissional da saúde. Colocarem pauta e aprovar o substitutivo IvanValente, o cumprimento integral da le-gislação vigente e a efetivação da assis-

CRF/SC retoma luta pela aprovação do projeto Ivan Valente, que desdede 2000 está para pronto para ser votado pelo plenário da Câmara

Farmácia: estabelecimento de saúde

CAPA

Em 2005 abriram 346 efecharam 79 farmácias em SC

A mudança na legislação é o pilar paraque as farmácias transformem-se pordireito em estabelecimentos de saúde.Desde 1994 o Congresso discute um pro-jeto para alterar a lei 5.991, de 1973,que regula a venda e a dispensação demedicamentos, seu controle sanitário e aresponsabilidade do profissional farma-cêutico. Em 1997 toma forma o hoje co-nhecido como Projeto Ivan Valente, pron-to para ser votado pelo plenário desde2000.

Com o projeto as farmácias deixam deser apenas estabelecimentos comerciaise integram-se ao Sistema Único de Saú-de. Em seu artigo terceiro diz o substitu-tivo: “Farmácia é um estabelecimento desaúde e uma unidade de prestação de ser-viços de interesse público, articulada como Sistema Único de Saúde, destinada aprestar assistência farmacêutica e orien-tação sanitária individual e coletiva, ondese processe a manipulação e/ou dispen-sação de medicamentos magistrais, ofi-cinais, farmacopêicos ou industrializa-dos, cosméticos, insumos farmacêuticos,produtos farmacêuticos, plantas medici-nais, produtos fitoterápicos e correla-

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tência farmacêutica pelas farmácias, aarticulação com a sociedade civil orga-nizada e a conscientização da populaçãosão os enfoques.

A campanha pela valorização dos far-macêuticos, durante a semana do profis-sional, foi o pontapé inicial das ativida-des em defesa da farmácia enquanto es-tabelecimento de saúde. “Na semana dodia mundial da saúde (07 de abril) tere-mos atividades nas principais cidades doestado e o lançamento oficial da campa-nha em Florianópolis. O CRF/SC está sereunindo com universidades, sindicatos eassociações, que formarão fóruns inte-rinstitucionais em defesa das farmáciascomo estabelecimentos de saúde. Quere-mos massificar a idéia, teremos materi-ais impressos e audiovisuais”, explica Ca-roline Junckes, assessora do CRF/SC.

“Estamos retomando uma reivindica-ção antiga dos farmacêuticos e outrosprofissionais da saúde. A batalha é paraque o lucro não esteja acima dos interes-ses e da saúde da sociedade. A articula-ção se dará em várias frentes, mas a vi-tória – a aprovação do projeto e sua efe-tiva implementação – depende da parti-

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II- empresas ou estabelecimentos queproduzam ou manipulem ou dispensemmedicamentos magistrais, oficinais, far-macopêicos ou industrializados, cosmé-ticos com finalidade terapêutica ou pro-dutos farmacêuticos;

III - empresas ou estabelecimentos quedistribuam, armazenem, representem,importem ou exportem drogas, medica-mentos, cosméticos com finalidades te-rapêuticas ou produtos farmacêuticos;

IV- o controle da produção ou fabri-cação, do armazenamento, do acondici-onamento, da conservação, do fraciona-mento e da distribuição de medicamen-tos e produtos farmacêuticos;

Art. 6º. Para a instalação de novasfarmácias, exige-se a autorização e o li-cenciamento da autoridade sanitáriacompetente e o registro no Conselho Re-gional de Farmácia jurisdicionante, bemcomo o atendimento de critérios demo-gráficos, epidemiológicos e geográficose aqueles de interesse público, estabele-cidos pelos Conselhos Municipais de Saú-de, além das seguintes condições:

a) Presença de farmacêutico durantetodo o horário de funcionamento;

b) Localização conveniente sob o as-pecto sanitário e acesso livre à via públi-ca;

c) Dispor de equipamentos necessári-os à conservação adequada de imunobi-ológicos;

d) Contar com equipamentos e as-sessórios que satisfaçam aos requisitostécnicos;

Art. 7º. Obriga-se a farmácia a dispor,para atendimento imediato à população,de medicamentos, vacinas e soros queatendam o perfil epidemiológico de suaregião demográfica.

Parágrafo Único. Para o caso das va-cinas e soros mencionados no caput, exi-ge-se concessão da autoridade sanitária.

Art. 11. É vedado à farmácia:a- realizar promoção e propaganda de

medicamentos que induzam a automedi-cação, o uso irracional e inadequado demedicamentos pondo em risco a saúde dapopulação;

b- induzir ou favorecer a venda de me-dicamentos de determinado fabricante;

c- aviar medicamentos de fórmula se-creta;

d- dispensar medicamentos pelo siste-ma de auto-serviço;

e- todas as formas de agenciamento declínicas;

f- dispensar produtos e prestar servi-ços não especificados em lei;

Art. 12. Somente a farmácia pode dis-pensar medicamentos, cosméticos de in-dicações terapêuticas, produtos farma-cêuticos, fórmulas magistrais, oficinaise farmacopêicas, plantas medicinais e

Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março de 2005 • 13

produtos fitoterápicos.Art. 17. Obriga-se o farmacêutico, no

exercício de suas atividades:a- a notificar aos profissionais de saú-

de, aos órgãos sanitários competentes,bem como os órgãos de defesa do consu-midor, as reações adversas, as intoxica-ções, voluntárias ou não, a farmaco-de-pendência observados e registrados naprática da farmacovigilância;

b- a organizar e manter cadastro atu-alizado com dados técnicos-científicosdas drogas, fármacos e medicamentosdisponíveis na farmácia;

c- a proceder ao acompanhamento far-macoterapêutico de pacientes, internadosou não, em estabelecimentos hospitala-res ou ambulatoriais, de natureza públi-ca ou privada;

d- a estabelecer protocolos de vigilân-cia farmacológicas de medicamentos,produtos farmacêuticos e correlatos; vi-sando assegurar o seu uso racionaliza-do, segurança e eficácia terapêutica;

e- a estabelecer o perfil farmacotera-pêutico no acompanhamento sistemáticodo paciente, mediante elaboração, pre-enchimento e interpretação de fichas far-macoterapêuticas;

f- a prestar orientação farmacêutica,com vistas a esclarecer ao paciente a re-lação beneficio e risco, a conservação eutilização de fármacos e medicamentosinerentes a terapia, as interações medi-camentosas e a importância do seu cor-reto manuseio.

Art. 18. Obriga-se o farmacêutico, nadispensação de medicamentos; visando agarantir a eficácia e segurança da tera-pêutica prescrita:

a- observar os aspectos técnicos e le-gais do receituário;

b- entrevistar os pacientes com o fimde obter a sua história medicamentosa;

c- informar, clara e compreensivelmen-te, sobre o modo correto de administra-ção dos medicamentos e alertar para pos-síveis reações adversas;

d- informar sobre as repercussões daalimentação e da utilização simultâneade medicamentos não prescritos;

e- monitorizar as respostas terapêuti-cas dos pacientes aos medicamentos pres-critos e, quando necessário, conferenci-ar com os médicos sobre seleção, doses erespostas terapêutica;

f- orientar os profissionais de saúdesobre a farmacocinética dos medicamen-tos e nutrição parenteral.

Art. 19. Os Conselhos Regionais deFarmácia têm competência para registrare fiscalizar os estabelecimentos farma-cêuticos, abrangidos por esta lei, no queconcerne ao desenvolvimento das ativi-dades do exercício profissional, visandoresguardar a saúde da população.

cipação dos farmacêuticos e da socieda-de, da compreensão que medicamento édroga e se utilizado de modo incorretopõe vidas em risco”, sentencia o membrodo Conselho Nacional de Saúde, RonaldFerreira dos Santos.

Em março o CRF/SC realizará umasérie de encontros em suas seccionaispara organizar o calendário de ativida-des da campanha. A participação dosprofissionais farmacêuticos, das redes efarmácias comprometidas com a saúde éprimordial. A partir de abril, no lança-mento da campanha, estarão prontos osmateriais impressos. Acompanhe as no-vidades em nossa página(www.crfsc.org.br).

Conheça os principais pontosdo substitutivo Ivan Valente

SUBSTITUTIVO AOS PROJETOS DELEI Nº 5.367/90 (Do Sr. DeputadoEduardo Jorge), Nº 2.640/92 (Do Sr.Deputado Elias Murad) e Nº 1.559/96(Do Sr. Deputado Fausto Martello)

Art. 2º. Entende-se por assistência far-macêutica, o conjunto de ações e servi-ços que visem assegurar a assistência te-rapêutica integral, a promoção, proteçãoe recuperação da saúde, nos estabeleci-mentos públicos e privados que desem-penhem atividades de projeto, pesquisa,manipulação, produção ou fabricação,obtenção, conservação, dispensação, dis-tribuição, garantia e controle de quali-dade, vigilância sanitária e epidemioló-gica de medicamentos e produtos farma-cêuticos.

Art. 3º. Farmácia é um estabelecimen-to de saúde e uma unidade de prestaçãode serviços de interesse público, articu-lada com o Sistema Único de Saúde, des-tinada a prestar assistência farmacêuti-ca e orientação sanitária individual e co-letiva, onde se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magis-trais, oficinais, farmacopêicos ou indus-trializados, cosméticos, insumos farma-cêuticos, produtos farmacêuticos, plan-tas medicínais, produtos fitoterápicos ecorrelatos.

Art. 4º. É responsabilidade do poderpúblico assegurar a assistência farmacêu-tica, segundo os princípios e diretrizes doSistema Único de Saúde, de universali-dade, equidade e integralidade.

Art. 5º. No âmbito da assistência far-macêutica as atividades que se seguemrequerem obrigatoriamente a direção, aresponsabilidade e assistência técnica defarmacêutico habilitadona forma da lei.

I - farmácias de qualquer natureza;

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ARTIGO TÉCNICO PROFA. DRA. SILVANA NAIR LEITE

Introdução

Os cuidados com a saúde na socie-dade ocidental contemporânea nãopodem ser resumidos ao modelo con-siderado hegemônico – o sistemamédico-científico. Helman (1994),citando Kleinman, descreve váriasalternativas de assistência à saúdena sociedade, resultado de variadasracionalidades subjacentes. As prá-ticas desenvolvidas diariamente nosestabelecimentos farmacêuticos bra-sileiros levam a crer que estão en-volvidas em todas as alternativas deassistência à saúde descritas porKleinman mas, além disto, tambémpodem caracterizar-se como estabe-lecimentos comerciais, em detrimen-to de seu caráter assistencial.

O dilema comércio x serviço desaúde na vocação das farmácias é,há algum tempo, motivo de discus-sões e de enfrentamentos na profis-são farmacêutica e na sociedade. Adeterminação legal para que as far-mácias do Brasil sejam, definitiva-mente, reconhecidas e tratadas comoestabelecimentos de saúde foi pro-posta em 1997, através do substitu-tivo do Deputado Ivan Valente. Noentanto, a classe farmacêutica e asociedade precisam adotar esta cau-sa com afinco para que se reflita naconquista desta lei e, mais que isto,que reflita nas mudanças práticasnecessárias.

Esta temática conflituosa apare-ceu muito fortemente na pesquisaintitulada “Buscando um porto se-guro: utilização de medicamentos eoutros recursos terapêuticos nos en-frentamentos às doenças infantis noâmbito familiar” (Leite, 2005), tesede doutoramento em Saúde Pública,financiada pela Organização Pana-mericana de Saúde. O objetivo prin-cipal da pesquisa era conhecer e com-preender os itinerários (ou trajetóri-as) terapêuticos desenvolvidos pelas

famílias para resolver problemas desaúde das crianças. Dentre os recur-sos e setores mobilizados pelas fa-mílias nestas ocasiões, as farmáciasapareceram nos itinerários de formasdiversas, refletindo os significadosque estes estabelecimentos adquiremna sociedade brasileira.

Este texto traz o recorte da buscade ajuda para tratar problemas desaúde infantil nas farmácias, por fa-mílias de uma cidade catarinense,destacando os diferentes tipos de re-lacionamento que se constroem nes-tes estabelecimentos e seus reflexosna valoração da farmácia como es-tabelecimento de saúde.

MetodologiaMetodologiaMetodologiaMetodologiaMetodologia

A população constituiu-se de cer-ca de 1000 famílias residentes emum bairro periférico da cidade deItajaí-SC. Quinze famílias que ti-nham sob seus cuidados criançasmenores de 5 anos foram seleciona-das para o estudo, que possuíam va-riadas formações e relações entreresponsáveis pela família e a crian-ça (mães de diversas idades, avós euma cuidadora sem guarda legal) eque aceitaram participar do estudo.

O desenho metodológico utilizadopara o desenvolvimento do projetocaracterizou-se como qualitativoprospectivo, utilizando os pressupos-tos da pesquisa etnográfica (Leite eVasconcellos, 2005). O trabalho decampo priorizou a construção de umarelação suficientemente próxima eefetiva com as famílias informantes,flexibilizando, na medida do possí-vel, os métodos de coleta de dados afim de acompanhar a dinâmica pró-pria de cada família sem perder aconfiança dos participantes e a con-fiabilidade dos dados coletados apartir da perspectiva dos sujeitos.Deste sentido, procurou-se atender osprincípios de Daly et al (1998) de

dispor de tempo e disponibilidade dopesquisador para construir um rela-cionamento de confiança com os in-formantes e a condição de negocia-ção na relação da família com o pes-quisador.

O trabalho de campo compreendeuuma média de 18 a 20 encontrosquinzenais com cada uma das quin-ze famílias, em aproximadamente 10meses de estudo, sempre em suasresidências. A coleta dos dados sebaseou em três elementos comple-mentares:

Calendários: A criação desse ca-lendário inspirou-se no modelo queLeGrand et al (1993), uma legendasob forma de figuras ilustrativas desintomas de enfermidades usuais emcrianças da faixa etária selecionadapara o estudo, escolhidas com basenos resultados de estudos de utiliza-ção de medicamentos por criançasno Brasil (Bricks e Leone, 1996;Weiderpass et al. 1998). A cadaquinzena, a pesquisadora recolhia ocalendário e fornecia outro calendá-rio para a quinzena seguinte.

Relatos orais: Na oportunidade datroca de calendários, as mães e ouresponsáveis eram questionadas so-bre a origem, evolução, sintomas, iti-nerários terapêuticos seguidos erecursos utilizados para cada episó-dio de doença registrado.

Observação: Nos repetitivos encon-tros nos locais de residência das fa-mílias, suas características inter-nas de relacionamentos, padrão deconsumo, atividades rotineiras, cren-ças religiosas e culturais e práticasde saúde propriamente ditas pude-ram ser observadas diretamente emdiversas ocasiões, proporcionandocoleta de dados além daqueles ver-balizados pelos informantes na rela-ção com a pesquisadora.

A análise dos dados obedeceu aoentendimento das famílias quanto àordem de escolha e o âmbito de aten-

Um setor à parte dentre os serviços de saúde: oque é a farmácia pelo ponto de vista de clientes

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ção ao qual cada recurso pertence: aperspectiva do usuário é que compõeos dados aqui apresentados.

Resultados

Foram acompanhados 181 episó-dios de doenças ou sintomas nos 10meses de estudo. Os recursos mobili-zados somaram um total de 312: 180(57,6%) medicamentos industriali-zados, 58 (18,5%) plantas medici-nais nas formas de chá ou xarope e74 (23,7%) de outros recursos (prin-cipalmente dieta alimentar e inala-ção de vapores, massagens, benzi-mentos, entre outros).

A maioria dos recursos foi utiliza-da no âmbito doméstico, 72,4%(n=226). Somente 23,1% (n=49)dos recursos utilizados eram deriva-dos de plantas medicinais, principal-mente na forma de chás de 17 dife-rentes espécies, com freqüência ad-ministrados concomitantemente comoutros medicamentos. Entre os me-dicamentos comerciais encontrou-se118 relatos de uso doméstico. Anti-microbianos, antiparasitários e an-tinflamatórios foram utilizados semacompanhamento profissional, alémde diversos medicamentos de vendalivre. Grande parte destes medica-mentos foram prescritos em ocasiõesanteriores para a mesma criança ououtro membro da família. Os medi-camentos adquiridos em farmácias,mas que sua escolha não foi indica-da no estabelecimento – as pessoasjá sabiam o que queriam adquirir –foram consideradas como do âmbitodoméstico, pois elas compreendiam

que era uma decisão sua e não dafarmácia.

De outra forma, quando o medica-mento utilizado havia sido indicadoem uma farmácia ou prescrito em umserviço de saúde, foi considerado doâmbito dos serviços, pois as pessoasassim se referiam.

No Quadro 1 encontram-se resu-midos os itinerários terapêuticos e osrecursos utilizados .

Quando as farmácias foram pro-curadas pelas famílias como serviçode saúde – para diagnóstico e indi-cação de tratamentos - estas referi-am duas formas bastante distintas derelacionamento com os estabeleci-mentos: de confiança nos profissio-nais farmacêuticos como agentes efe-tivos de saúde e de suspeita, de re-ceio de ser lesado por condutas que,acreditam, não serem adequadas oude boa fé, como descrito a seguir:

A farmácia como referênciade cuidados de saúde

Já no primeiro encontro com DonaArtemísia1 , percebemos que ela cos-tumava adquirir medicamentos indi-cados pela farmácia. Perguntamosse utilizava muitos chás, associando-a a imagem de pessoa que, por seridosa, sabe tudo sobre remédios ca-seiros. Para nossa surpresa, ela dis-se que não usa chás, que procura afarmácia para tudo, que confia mui-to nos farmacêuticos da farmácia deperto de sua casa. Sobre a pia dacasa vimos um xarope composto deplantas medicinais e um alcoolato àbase de camomila, medicamentos fi-

toterápicos comerciais, comumenteindicados por farmácias.

A farmácia central do bairro, depropriedade de um profissional far-macêutico, é gerenciada por uma jo-vem farmacêutica. Há, portanto,sempre, um farmacêutico no atendi-mento. Em nossos encontros, as in-formantes deste estudo se referiama estes profissionais, diferenciando-os de outros funcionários da farmá-cia, embora nunca tenham feito re-ferência ao fato de terem formaçãouniversitária específica. Dona Arte-mísia e também Dona Arnica, mãede 4 filhos, demonstravam sempreextrema confiança nas orientaçõesdesses profissionais. Em um caso dediarréia, a neta de Dona Artemísiafoi levada ao Pronto Atendimento etratada com antiinflamatório e soro(comercial). Mesmo assim, o farma-cêutico também foi consultado e in-dicou chá de broto de goiabeira, oque a avó achou muito interessante:“nem me lembrava mais de usar cháde goiabeira, antigamente a genteusava muito pra desarranjo, e funci-onava mesmo!”.

Dona Arnica estava sempre muitoenvolvida com seus problemas fami-liares (o marido era alcoólatra, arenda familiar muito baixa), sofriade arritmia, era usuária crônica debenzodiazepínicos e dava entrada noPronto Socorro por problemas car-díacos ou crises nervosas. Mantinhauma conta nesta mesma farmácia elá buscava orientação com muita fre-qüência. Em algumas ocasiões a far-macêutica mandava aguardar a evo-lução dos sintomas e em outras re-

Quadro 1: Itinerários e recursos terapêuticos mobilizados porfamílias para o tratamento de problemas de saúde em crianças.

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comendava que procurasse o serviçopúblico de saúde, nem sempre indi-cava medicamentos, sinalizando queconhecia esta mãe e sua tendênciade medicamentar os problemas davida cotidiana, que a transformavaem grande consumidora de medica-mentos. Seus problemas financeirostambém eram considerados nestafarmácia: vendia-se medicamentos aprazo para ela, indicava-se os medi-camentos que poderiam ser adquiri-dos na rede pública e recursos tera-pêuticos não dispendiosos.

Citronela e Alteia levavam as cri-anças com alguma freqüência à far-mácia para ajudá-las na diferencia-ção de sintomas: medir a febre, olhara garganta ou o ouvido, analisar umferimento. Geralmente acatavam asrecomendações prestadas, quer fos-sem para levar ao serviço de saúde,ou para comprar os medicamentosindicados.

Para estas mães, as farmácias seconstituem referências para os cui-dados de saúde, mas com um impor-tante diferencial: nas farmácias, asmães não perdem o domínio sobre asituação. Nos serviços de saúde pú-blicos e privados há, comumente, ahierarquia entre as profissões da saú-de e, especialmente, entre os profis-sionais – que pretendem ser os de-tentores exclusivos do saber sobrecuidados de saúde – e os usuários,ou pacientes – que devem manter suaatitude passiva e submissa em rela-ção aos saberes, supostamente in-questionáveis, dos profissionais. Es-tes sentimentos, expostos por nossasmães informantes, podem ser com-parados com os resultados do estudode Caprara e Rodrigues (2004) emconsultas médicas: em 39% das con-sultas os médicos não explicam deforma clara e compreensiva o pro-blema e em 58% não verificam se opaciente compreendeu o diagnósticoe a prescrição realizada, as angústi-as e expectativas dos pacientes nãosão levadas em consideração e a opi-nião do paciente sobre seu problemanão é discutida na consulta.

Nas farmácias, especialmente emuma farmácia de bairro em que osprofissionais têm longa experiênciacom a comunidade, as mães estuda-das se sentem aptas a interagir, ques-

tionar, levar as suas angústias semconstrangimentos e discutir suas pró-prias expectativas e opiniões sobreos problemas de saúde. Desta forma,Dona Arnica perguntava para os far-macêuticos se poderia usar o medi-camento que tinha em casa e discu-tia com eles as receitas para diver-sas doenças que costumava ler noslivros de medicina popular. DonaArtemísia, a exemplo de diversasoutras pessoas no bairro, costumavapassar na farmácia após consultasmédicas, mesmo quando não preci-savam comprar os medicamentos,para que os farmacêuticos “avalizas-sem” as prescrições: pela credibili-dade dos farmacêuticos, ela se sen-tia mais confiante e segura quantoao tratamento empreendido.

Mesmo para as mães acima cita-das, no entanto, há a consciência deque não consistem em serviços inte-grados aos serviços médicos, am-bulatoriais ou hospitalares – são umsetor à parte, onde racionalidades eformas de trabalho têm uma formaprópria.

A farmácia como geradorade desconfiança

Os farmacêuticos, ou as farmáci-as de forma geral, não contam como consenso da legitimidade enquan-to referências de saúde. Mães entre-vistadas expressaram esta dicotomiaentre os serviços de saúde e as far-mácias de forma bem clara e defini-da, como na situação descrita abai-xo:

A jovem mãe Camomila relatavacom muita suspeita as experiênciasque tinha com diversas farmácias.Contou que um dia foi a uma delas eexplicitou os sintomas do que seubebê apresentava. O farmacêuticoindicou diclofenaco. Ela achou queaquele era um medicamento muitoforte para um bebê e disse a ele queo médico havia indicado amoxicili-na em outra ocasião, com o que ofarmacêutico concordou. Na verda-de, ela “testou“ o farmacêutico.Achou inadequada sua orientaçãopara remédios tão fortes. Para ela,“eles (os farmacêuticos) trocam re-médio, dão uma coisa e no caso éoutra, já no médico não. Eu tenho

medo de ficar dando medicamentopra ele por automedicação”. Interes-sante notar que para ela, repetir re-ceitas médicas anteriores, o que elafazia com freqüência, não era auto-medicação, mas indicação farmacêu-tica sim.

A atuação esperada do farmacêu-tico, para algumas pessoas, encon-tra-se dentro de um limite: não podeindicar remédios fortes, sua legitimi-dade está delimitada a um conjuntode sintomas de menor gravidade,para os quais medicamentos maisfracos podem ser indicados, coinci-dindo com a conduta ética esperadado farmacêutico de prestar todas asorientações necessárias na dispensa-ção de medicamentos prescritos pormédicos ou odontólogos ou daquelesmedicamentos liberados para comer-cialização sem prescrição médica –os medicamentos de venda livre, deforma geral indicados para sintomascomuns e menos importantes, de usoesporádico, cujo uso é consideradode menor risco à saúde da popula-ção.

Seguindo este princípio, Sálviaprocurou a farmácia quando sua fi-lha teve uma infecção de pele que,ela acreditava, teria adquirido deuma prima que, por sua vez, teriaadquirido isso na praia. Foi-lhe indi-cado um antibiótico de uso oral. Elaexpressou indignação com esta indi-cação: “se fosse um médico que ti-vesse indicado um antibiótico, tudobem, mas um farmacêutico!” Nãocomprou o medicamento, ligou paraa prima e pediu o nome da pomadaque ela utilizava.

Nestes casos, a farmácia e seusprofissionais são claramente identi-ficados como não legítimos paraexercer cuidados de saúde, não sãoconfiáveis, sendo necessário manter“o pé atrás”, fazer “testes” parasaber se acredita-se ou não nas suasrecomendações.

Discussão e Conclusões

Tanto nas situações relatadas emque os clientes demonstraram altaconfiança nos farmacêuticos e esta-belecimentos quanto naquelas emque demonstraram suspeita, precisa-mos destacar duas questões: o “re-

1 Para pre-servar aidentidadedos infor-m a n t e s ,seus nomesf o r a msubstituí-dos por no-mes deplantas.

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lacionamento de confiança” entrefarmacêuticos e clientes e o “fazersentido” das orientações ou indica-ções na concepção dos clientes.

A escolha de um determinado se-tor de assistência à saúde pelas pes-soas, como indica Helman (1994),indica sua escolha entre os tipos dediagnósticos e recomendações quesão “inteligíveis” para elas, ou seja,que “fazem sentido”, podem ser in-terpretadas e compreendidas, mes-mo que de uma forma diferente da-quela compreendida pelo agente decura. O que fornece os elementospara esta compreensão é a culturavigente na sociedade (Geertz, apudHelman, 1994).

As teorias etiológico-terapêuticasde relação causa-tratamento podem,também, participar desta mesma in-terpretação: se o indivíduo reconhe-ce as causas de sua doença e conse-gue relacioná-las com o tipo de tra-tamento indicado para o caso, pode-se imaginar que este tratamento façasentido para ele. Se, de outra forma,se sua concepção sobre ela não con-diz com a de determinado tratamen-to, ou ainda, se o tratamento propos-to não lhe é conceitualmente com-preensível ou não condiz com suaconcepção de cura, o resultado podeser de não adesão ao tratamento enão concordância com o profissionalque o indicoou: chá de goiabeira paradiarréia fazia sentido para DonaArtemísia, ela compreendia esta in-dicação e concordava, fato que a fa-zia confiar mais ainda no farmacêu-tico; ao contrário, para Sálvia, anti-biótico de via oral era forte demais enão era a via de administração ade-quada para um problema localizadona pele.

O fato de concordar ou não com asindicações farmacêuticas tambémdepende, no entanto, do grau de con-fiabilidade que o cliente têm adqui-rido no relacionamento com os pro-fissionais. Com certeza, esta confia-bilidade não pode ser adquirida semque o cliente se predisponha a isto: éo que acontecia com Camomila, porexemplo. Ela mantinha uma postu-ra bastante cética em relação às far-mácias de forma geral. Esta postu-ra, provavelmente, nasceu de expe-riências mal sucedidas em ocasiões

Referências bibliográficas

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Helman, C. Cultura, Saúde e Do-ença. Porto Alegre: Artes Médicas,1994.

LeGrand A, Sri-ngernyuang L,Streeefland PH. Enhancing appro-priate drug use: the contribution ofherbal medicine promotion. Soc SciMed 1993; 36(8): 1023-1035

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anteriores, em que estes estabeleci-mentos não atenderam as suas ex-pectativas. A confiança e a inteligi-bilidade das ações do farmacêutico,portanto, são inter dependentes eresultam no tipo de relacionamentoque os farmacêuticos constroem comseus clientes.

Estes pressupostos, com certeza,precisam ser considerados no desen-volvimento da prática da AtençãoFarmacêutica. Tal prática, no nossoponto de vista, não conseguirá se es-tabelecer como atenção efetiva àsaúde e real mudança no status daprofissão farmacêutica se continuarsendo considerada uma “técnica” detrabalho apenas. Sem atender àsexpectativas sociais de um serviçoculturalmente apropriado à cliente-la, diferenciado, enquanto um esta-belecimento de saúde, mas tambémespaço em que as pessoas possam seapoiar, colocar suas angústias, suascrenças, discutir as formas de enfren-tar seus problemas (nem sempre sóde saúde), onde possam confiar, en-fim, em um profissional que elas re-conheçam como de saúde, as “técni-cas” de Atenção Farmacêutica nãodarão conta do desafio colocado paranossa profissão.

Com os resultados desta pesquisapodemos concluir que as mães refle-tem o dilema que a profissão farma-cêutica vive: a farmácia é um servi-ço de saúde ou um mero estabeleci-mento comercial? Qual é a função dofarmacêutico no sistema de saúde?Muito mais que uma questão de éti-ca legalmente definida, esta é umaética que se constrói no cotidiano dasrelações com os usuários de medica-mentos e que se conforma não ape-nas pelas pressões comerciais doramo e por regulamentações legaispara a profissão, mas também pelaexperiência e pela habilidade dosfarmacêuticos de desenvolveremuma prática de saúde solidária àsnecessidades da sociedade.

Farmacêutica, Doutora em SaúdePública pela USP, Professora do Cur-so de Farmácia e do Mestrado Pro-fissionalizante em Saúde e Gestão doTrabalho – UNIVALI.

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC18 • Março / Abril de 2006

CURTAS DO CRF-SC

18 • Março de 2005 Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC

Profissionais eestabelecimentos têmfacilidade para quitardívidas com o CRF/SC

O departamento jurídico do CRF/SC estará promovendo a partir demarço mutirões nos escritórios regi-onais da autarquia para regulariza-ção de débitos da dívida ativa. Alémda inscrição junto ao órgão o paga-mento em dia de anuidades e taxas épré-requisito.

“Estamos negociando as dívidas,

nosso objetivo é que os farmacêuti-cos e as empresas sanem seus débi-tos e fiquem regulares para o exer-cício profissional e funcionamento”,alerta a advogada do CRF/SC, Fer-nanda Rocha Santos. O departamen-to jurídico se deslocará para as sec-cionais para negociação direta, do-cumentação e boletos serão impres-sos no próprio dia (veja a programa-ção).

Débitos oriundos de anuidades,multas por infrações legais ou disci-plinares, praticadas por pessoas ju-rídicas ou físicas, são passíveis denegociação. Porém, no caso dos es-tabelecimentos, é preciso que essesestejam regularizados quanto à con-

tratação do responsável técnico. Noscasos de cobrança judicial, após anegociação, a execução fiscal serásuspensa até a quitação da dívida.

Os recursos oriundos das anuida-des são revertidos na fiscalização doexercício profissional, em investi-mentos estruturais - como a abertu-ra dos escritórios regionais - e emações que fortaleçam o setor farma-cêutico e valorizem o profissional.

Fique atento ao mutirão na suacidade! Todos serão nas seccionaisdo CRF/SC.

30 de março – Blumenau28 de abril – Florianópolis19 de maio - Chapecó

Mutirão para regularização de débitos da dívida ativa

Estruturação da programação da V Jornada Catarinense de PlantasMedicinais e I Jornada Internacional de Plantas Medicinais08 a 12 de maio de 2006 - Hotel Bourbon - Joinville

TEMA: DIVERSIDADE NA UNIDADE

PROGRAMAÇÃO

MESAS-REDONDAS (MR)

MR-1 TÍTULO: Plantas Medicinais e fitoterápicos: Aspectos da PublicidadeMR-2 TÍTULO : Segurança e Eficácia de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: Evidência Científica e TradicionalMR-3 ASSUNTO: Abordagens Ecológicas para a Produção Agronômica de Plantas Medicinais.

TÍTULO: Abordagens ecológicas para a produção agronômica de plantas medicinaisMR-4 TÍTULO: Aspectos Culturais na Utilização de Plantas Medicinais.MR-5 TÍTULO: Fitoterapia na Saúde Pública.MR-6 TÍTULO: Plantas Medicinais na Homeopatia, Terapia Floral e Medicina Antroposófica à Luz da Física QuânticaMR-7 TÍTULO: Legislação de Plantas medicinais e Fitoterápicos: do cultivo ao Uso.MR-8 TÍTULO: Plantas Medicinais e Organizações da Sociedade Civil

CONFERÊNCIAS

CF-1 TÍTULO: Visão Sistêmica Ecologia Profunda e Plantas Medicinais= Programação culturalTítulo da conferência – integração em Plantas medicinais: Diversidade na Unidade

CF-2 TÍTULO: Plantas Medicinais na América Latina: Potencialidades de Insumos para a produção de Medicamentos.

CF-3 TÍTULO: Plantas Medicinais e AromaterapiaCF-4 TÍTULO: Propriedades Medicinais de Plantas InvasorasCF-5 TÍTULO: Plantas Medicinais Ibero americanasCF-6 TÍTULO: Desenvolvimento de Fitoterápico Genuinamente Brasileiro

MINI-CURSOS

C-1 TÍTULO: Cuidados no Uso Popular de Plantas Medicinais: Segurança e Qualidade.C-2 TÍTULO: Modelos Experimentais para o Estudo Científico de Plantas MedicinaisC-3 TÍTULO: Controle de Qualidade de Plantas Medicinais e FitoterápicosC-4 TÍTULO: Fitoterapia na Assistência a Gestantes, Crianças e IdososC-5 TÍTULO: Cultivo Agroecológico de Plantas MedicinaisC-6 TÍTULO: Cuidados na Indicação e prescrição de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC Março / Abril de 2006 • 19

AGENDA DA FARMÁCIACONHEÇA AQUI OS EVENTOS DA ÁREA FARMACÊUTICA QUE ESTARÃO ACONTECENDO EM 2005.

Formação permanente no SUS édebatida por trabalhadores da saúdeSociedade é beneficiada com o crescimento dos espaçosde construção coletiva de políticas para área da saúde

A construção de um plano de car-gos e salários único para as esferasmunicipal, estadual e federal do Sis-tema Único de Saúde e o fortaleci-mento dos Pólos Regionais de Edu-cação são as principais contribuiçõescatarinenses a 1ª Conferência Naci-onal de Gestão no Trabalho e da Edu-cação na Saúde, prevista para mar-ço de 2006.

Cerca de cinco mil pessoas estive-ram envolvidas nos debates locais eregionais que precederam à Confe-rência Estadual, que em Lages reu-niu cerca de 400 participantes entreprofissionais e gestores da saúde eusuários. Seis eixos temáticos - 1)gestão do trabalho; 2) educação nasaúde; 3) participação do trabalha-dor na gestão; 4) financiamento daeducação em saúde; 5) controle so-cial e 6) incorporação de saberes –compõe o documento final, pilar (so-mado as resoluções dos outros esta-dos) para os debates da ConferênciaNacional.

Os pólos regionais são compostospelo setor do ensino, controle social,profissionais e gestores da saúde. Éneste âmbito que são discutidas aspolíticas de educação permanentedos trabalhadores do SUS em acor-do com as necessidades de cada re-gião. Para a Diretora de Desenvolvi-mento Humano da Secretaria deSaúde, Helen Bunn Schimitt, “osrecursos para a capacitação devempassar pelos Pólos, porque neles asdecisões são coletivas e respeitam aspeculiaridades locais”.

São 16 os delegados catarinensesà etapa nacional. Destes quatro re-presentam os profissionais, quatro osgestores e oito a sociedade. Eles sãoos responsáveis por apresentar osconsensos construídos em Santa Ca-

tarina, a exemplo do plano de car-gos e salários. Jorge Cobra, presiden-te da Conferência Estadual, explicaa importância da política: “é umareivindicação histórica, que resultana desprecarização das relações detrabalho. Valorizar os trabalhadoresdo SUS tem como conseqüência amelhoria dos serviços prestados apopulação”.

Reorganizar os trâmites burocrá-ticos e humanizar o SUS são deci-sões que denotam a preocupação comos usuários. “Trabalhadores e socie-dade estão articulados, sabem dasprioridades do Sistema para que seefetive a universalização da promo-ção da saúde. Mas, é preciso forta-lecer os conselhos municipais de saú-

de tanto na formulação e execuçãodas políticas quanto no controle dasações do Estado”, avalia Helen.

Na década de 90 cresceram os es-paços para a construção de diretri-zes para a saúde, a exemplo das con-ferências nacionais de saúde e assis-tência farmacêutica. É nessa pers-pectiva que acontece a ConferênciaNacional de Gestão no Trabalho e daEducação na Saúde. Entretanto, naótica de Jorge Cobra, a articulaçãoda sociedade não é o suficiente. “Porexemplo, a aprovação do projeto queregulamenta a Emenda Constitucio-nal 29 - que determina os recursosda saúde - está há anos parada noCongresso, falta vontade política”,sentencia.

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Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC20 • Março / Abril de 2006

Breve História da Farmácia Parte IV

VADEMECUM

Conselho Regional de Farmácia - CRF-SC20 • Março de 2005

trante não possui sequer o escrito de aferi-ção, como exigia a lei, foi-lhe aplicada à multade quatro mil réis (quantia altíssima para aépoca), e alguns dias de cadeia para arrefe-cer-lhe os ânimos, expedindo-se a imediataordem de prisão.(...)

Mas, só a botica piratininga, no séculoXVIII, teve essas aventuras e teria sido tãomalsinada? Não. Perlustrando as “cartas deVilhena”, escritas ao findar o século, mas re-ferentes a fatos passados na Bahia em anosanteriores, ficamos sabendo que: “concorretão bem muito a falta da precisa exação nascorreções das boticas que bom era fossem maisfreqüentes e exatas sem que ficasse por exa-minar tudo o que pudesse admitir corrupção,como serão muitos dos líquidos que é impra-ticável o fazerem-se aqui, pela falta, tantodos simplices, como dos laboratórios e aindados laboratoriantes, nos quais deveria haveruma exatíssima reforma, visto que na mãode milhares de idiotas que mal sabem ler asFarmacopéias Portuguesas, estão a privaremimpunemente da vida aqueles que caem de-baixo do golpe da sua ignorância e cego inte-resse”. (...)

Antes, porém, de que tais fatos desagradá-veis fossem constatados pelo ilustre professorde grego, principalmente a corrupção, a Bahiateve boticas notáveis. A dos Jesuítas, porexemplo, atingiu alto grau de importância,tendo sido uma espécie de centro distribuidorde medicamentos paras as demais boticas dosvários Colégios do Norte e do Sul do país.Para isso, e como a Bahia mantivesse maio-res contatos com a Metrópole, os padres con-servaram, a botica bem sortida e aparelhadapara o preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das ma-térias primas indígenas.

Os jesuítas possuíam um receituário parti-cular, onde se encontravam não só as fórmu-las dos medicamentos como seus processos depreparação. Outrossim, havia também méto-dos de obtenção de certos produtos químicos,como a pedra infernal (nitrato de prata), porexemplo.

Mas, o medicamento extraordinário, a pe-nicilina da época, era a Tríaga Brasílica, quese manipulava mediante fórmula secreta. EssaTríaga, que se usava contra mordedura de ani-mais peçonhentos, em várias doenças febris,e principalmente como antídoto e contrave-neno (“exceto os corrosivos) gozava de gran-de fama e era considerada tão boa quanto ade Veneza, pois agia pronta e rapidamente,

com a vantagem de, em sua composição, en-trarem várias drogas nacionais de comprova-da eficiência. (...)

No Rio de janeiro, a práticas das artes mé-dicas e farmacêuticas, como não podia dei-xar de ser, foi exercida pelos jesuítas em en-fermaria e botica instaladas junto ao Colégiono morro do Castelo. A botica era abundan-temente sortida de bons medicamentos e nelase abasteciam as congêneres da Cidade. (...)

Na cidade de São Paulo de Piratininga, pes-quisa de Nuto Santana localizaram as boti-cas de Francisco Coelho Aires, estabelecidona rua Direira, em 1765; de José Antonio deLacerda, nas proximidades da Praça da Sé,em 1767 e a Botica Real, anexa ao HospitalMilitar, num velho casarão de esquina, no Açu(Anhangabaú), em 1795, e onde hoje seacham os Correios e Telégrafos e bem em fren-te ao qual existia o “Mercadinho de S. João”.A botica real atendia também ao público, eera dirigida pelo boticário José Manuel Men-donça. Não era mais recomendável que o res-tante do Hospital Militar, que por esses tem-pos, como esclarecera ao poder competente ofísico-mor que o dirigia, estava desaparelha-do de tudo, inclusive de utensílios operatóri-os, tendo ele que fazer as amputações comuma serra de carpitnteiro...” (...)

Após a Independência, cuja proclamaçãose fez em seu solo, São Paulo passou a Pro-víncia do Império Brasileiro, tendo D. PedroI conferido a sua capital o título de “Imperi-al Cidae de São Paulo”. (...)

Já em 1865 era seis as farmácias: Boticaao Veado D’Ouro, de Gustavo Schaumann, narua de São bento; a de Antonio José de Oli-veira, na rua Direita; a de Joaquim Pires deAlbuquerque; a de Manuel Rodrigues Fonse-ca Rosa, na rua do Ouvidor; a de Julio Leh-mann, no Pátio do Colégio e a de Luiz Mariada Paixão.

Pouco mais de duas décadas após, quaseao findar o século, havia desaparecido a mai-oria dos boticários citados. Também as boti-cas tinham se transformado em farmácias,estabelecimentos bem montados e atraentes,iluminados a gás, algumas delas ostentandotabuletas vistosas, com apelativos simpáticos:“Ao Veado D’Ouro”; “Santa Cruz”; “Castor”;“Paulistana”; “Rosário”; “Ypiranda”; “Po-pular”; “Normal” etc. pelos quais se torna-riam conhecidas ao longo dos tempos.

Publicamos nesta edição o último trechoda “Breve História da Farmácia no Brasil –Da botica à farmácia”, de autoria de RaulVotta. O texto foi atualizado ortográfica e gra-maticalmente, as reticências indicam cortes.

O senado da Câmara entendia que o comér-cio das drogas e medicamentos devia ser livre,pois em 1726 impugnava a pretensão de An-tonio da Motta, que requerera exclusividadede venda, por ser o “único boticário aprovadoexistente na cidade”. O peticionário tinha ra-zão e estribava-se no privilégio que as “Orde-nações”, em seu livro 5º, Título 89, estabele-ciam, limitando rigorosamente o comércio dedrogas e medicamentos aos boticários, mas oSenado não atendeu à reclamação.(...)

Acontece que o próprio D. João V, que em1738 se mostrara tão paternal para com seusfiéis vassalos, defendendo-lhes, em longo ar-razoado, a bolsa e a saúde, exatamente qua-tro anos após, em 1742, ordenava ao seu Fí-sico-mor, Dr. Cypriano de Pinna pestana, aelaboração de um Regimento em que se esta-belecessem normas precisas e rígidas sobre olicenciamento e exercício das profissões demédico e boticário, o comércio e preços dasdrogas, exame periódico das boticas, estabe-lecendo que o negócio dos medicamentos eraapanágio dos boticários, pelo que se aprende-riam todas as drogas encontradas em lugaresque não as boticas, impondo-se pesadas mul-tas a seus detentores. O Regimento, baixadoem “16 de maio de 1744” dignificava seuautor e é um modelo de legislação médico-farmacêutica que, mutatis mutandi, até hojepoderia ser observado.

Além de Antonio da Motta, outros dois bo-ticários, estabeleceram-se seguidamente emSão Paulo: Francisco Antonio Coelho e JoséAntonio Lacerda. Parece que o boticário Co-elho era altamente desleixado, atrabiliário ecaturra. Entendeu de enfrentar o Senado daCâmara, que o advertira por não possuir osapetrechos necessários à pesagem dos medi-camentos. Era o cúmulo! Intimado a compa-recer à vereança em 9 de agosto de 1747, afim de apresentar “seu marco e balança poronde vendia seus medicamentos na forma dareal ordem de S. majestade”..., ou ao menosprovar ter pesos aferidos pelo aferidor ofici-al, Coelho refugou a intimação, de modo pe-remptório: não se sujeitava aquelas exigênci-as, pois tinha situação privilegiada... Imuni-dades de boticário... Enganava-se. Novamenteintimado, chasqueara da autoridade; masconstando ao Senado que o boticário recalci-