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Conselho Econômico e Social (ECOSOC) Tópico: Erradicação da pobreza e da fome: desafios no contexto da crise mundial de alimentos

Autores: Karina Félix Cardoso Isabela Ferreira Duarte

Kaio Felipe M. de Oliveira Santos Wanessa Marques Silva

Introdução

A pobreza extrema é uma realidade para mais de 100 bilhões de pessoas que sobrevivem com menos de um dólar por dia. 1Essa situação não é diferente no que diz respeito à má nutrição e fome: mais de 80 milhões de pessoas não obtém os nutrientes necessários para se manterem saudáveis e nutridas2. Além disso, a falta de nutrientes impossibilita o desenvolvimento ideal de crianças que vivem nessa situação de pobreza e fome, gerando inclusive conseqüências no seu próprio desenvolvimento mental. Neste sentido, em 2000, oito metas de desenvolvimento do milênio foram aprovadas por 191 países com o intuito de promover o desenvolvimento de todos os países do mundo, principalmente daqueles que vivem em situação de extrema pobreza. A primeira meta do milênio - Erradicação da Pobreza Extrema e da Fome - considera a extrema necessidade de diminuir pela metade – entre 1990 e 2015 - a percentagem de pessoas e crianças que vivem com menos de um dólar por dia e a proporção da população que sofre de fome3.

Nesse sentido, com a Crise Mundial de Alimentos, em que se observou uma alta exagerado dos preços dos alimentos, a erradicação da pobreza extrema e da fome se mostrou um desafio a parte. Isto se faz evidente quando são analisadas as conseqüências diretas especialmente para aquelas pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Com a inflação, um mesmo montante de dinheiro não pode comprar a mesma quantidade de bens que anteriormente, dificultando a obtenção de alimentos. Dessa forma, uma Crise Mundial de Alimentos tem impactos desastrosos para uma população que vive em um nível extremo de pobreza.

Sendo assim, conclui-se que a mobilização de recursos domésticos e externos se mostra de extrema importância, principalmente no que diz respeito ao investimento público na agricultura. Em um contexto de altos níveis de preço de alimentos, um investimento na agricultura e nos recursos naturais do país viabiliza uma alternativa à Crise Mundial de Alimentos, pois significa uma maior eficiência na produção de alimentos, favorecendo, inclusive, os pequenos fazendeiros e a população mais pobre, que terá maior facilidade na obtenção destes alimentos.

1 Vide site: http://www.pnud.org.br/odm/

2 Idem

3 Ibidem

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Em 1947 o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) foi criado de acordo com o disposto no Capítulo X da Carta das Nações Unidas para assistir a Assembléia Geral nos assuntos de cooperação internacional nos níveis econômico e social. O ECOSOC é composto por 54 membros eleitos pela Assembléia Geral e se reúne alternativamente em Nova Iorque ou Genebra para um encontro de quatro semanas que ocorre em julho4. No âmbito da Primeira Meta do Milênio, o Conselho Econômico e Social – Segmento de Alto Nível se reunirá para discutir o tema: Erradicação da Pobreza Extrema e da Fome – Desafios no contexto da Crise Mundial de Alimentos.

Histórico e Mandato do Comitê Após a II Guerra Mundial, com o objetivo de evitar novos conflitos e de assegurar a paz e segurança no meio internacional, representantes de 50 países se reuniram nos Estados Unidos da América na Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional(UNCIO) para redigir um documento em que se expressasse e garantisse a segurança e progresso social e econômico no meio internacional. Nesse contexto foi formulada a Carta das Nações Unidas, que ditava os preâmbulos de uma nova organização internacional: a Organização das Nações Unidas (ONU).

Durante a formulação desse documento ficou evidente a necessidade da criação de um organismo que fosse responsável por coordenar atividades econômicas e sociais relativas a essa nova organização. Assim nasceu o Conselho Econômico e Social (ECOSOC), um dos seis órgãos permanentes das Nações Unidas5, estabelecido junto à Carta das Nações Unidas (assinada e ratificada em 1945) o Conselho teve sua primeira sessão na cidade de Londres (Inglaterra) em 23 de Janeiro de 1946. Desde então, o ECOSOC atua como fórum central de discussão sobre assuntos econômicos e sociais, assim como formulador de políticas dirigidas aos Estados Membros e ao sistema das Nações Unidas. Nesse sentido, o organismo é responsável por promover padrões de vida mais elevados, como o pleno emprego, progresso social e econômico; por encontrar soluções para problemas sociais, econômicos e aqueles ligados à saúde; por facilitar a cooperação cultural e educacional internacional; e por encorajar o respeito universal aos direitos humanos e as liberdades fundamentais entre outros temas ligados à questões econômicas e sociais. O ECOSOC tem o poder de criar e iniciar estudos e relatórios relacionados a essas áreas, como também de ajudar na preparação e organização das maiores conferências econômicas e sociais internacionais, com o propósito de facilitar o acompanhamento destas.

Além do mais, o ECOSOC supervisiona o trabalho das cinco comissões regionais6, das 14 agências especializadas7 e das comissões funcionais8 da ONU. Nesse

4 Vide site: http://www.un.org/ecosoc/

5 Assembléia Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Corte Internacional de Justiça,

Conselho de Tutela e Secretariado. 6 A Comissão Econômica para África, a Comissão Econômica para a América Latina e as Caraíbas, a

Comissão Econômica para a Europa, a Comissão Econômica e Social para o Sudoeste Asiático e a Comissão Econômica para a Ásia e o Pacífico.

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sentido, para o cumprimento do seu mandato o Conselho se consulta com acadêmicos, representantes do setor empresarial e com mais de 2.100 organizações não-governamentais (ONG’s)9. Com esse amplo campo de funções, o ECOSOC compreende 70% dos recursos humanos e financeiros de todo o sistema das Nações Unidas10.

O ECOSOC conta com 54 Estados-membros11 que são eleitos a cada três anos pela Assembléia Geral da ONU. O mesmo realiza todo ano diversas pequenas sessões e reuniões preparatórias, mesas redondas e painéis de discussão com a sociedade civil e uma sessão principal com todos os países membros durante quatro semanas em julho. As reuniões da sessão central se alternam entre Nova York e Genebra e estão organizadas em quatro segmentos, o de Alto Nível, Coordenação, Atividades Operacionais, Assuntos Humanitários e também nos Segmentos Gerais.

No Segmento de Alto Nível ministros nacionais, chefes de agências internacionais e outros altos oficiais discutem primordialmente políticas econômicas, sociais e ambientais, sendo que no final de cada sessão, normalmente, uma declaração ministerial é adotada. Tal declaração tem como objetivo fornecer orientações políticas e recomendações a serem postas em prática pelos países membros12.

Em 2005 na Cimeira Mundial13, reafirmou-se a necessidade de melhorar a eficácia e eficiência do ECOSOC como membro central das Nações Unidas. Sendo assim, ministros e governantes responderam a essa necessidade nos parágrafos 155 e 156 do Documento Final da Cimeira Mundial14, em que se deu mais força às funções já existentes do Conselho, como também novas importantes funções foram

7 Organizações autônomas vinculadas às Nações Unidas mediante acordos de cooperação, que têm

responsabilidades de nível internacional: Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Fundo Monetário Internacional (FMI), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Organização Meteorológica Mundial (OMM), Organização da Aviação Civil internacional (ICAO), União Postal Universal (UPU), União Internacional de Telecomunicações (ITU), Organização Marítima Internacional (IMO), Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e a Organização Mundial do Turismo (OMT). 8 Comissão sobre a Situação da Mulher, Comissão de Prevenção ao Crime e a Justiça Criminal, Comissão

sobre Desenvolvimento Sustentável, Comissão para o Desenvolvimento Social, Comissão de Estatística, Comissão sobre População e Desenvolvimento, Comissão de Direitos Humanos, Comissão sobre Drogas Narcóticas, Comissão de Ciência e tecnologia para o Desenvolvimento e o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas. 9 ONG´s são organismos criados pela sociedade civil com objetivo de auxiliar o Estado no cumprimento

dos seus deveres para com os cidadãos: educação, saúde, saneamento básico entre outros. 10

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/about/ 11

Os Estados-membros são escolhidos com base na representação geográfica, são 14 Estados africanos, 11 asiáticos, 6 da Europa Oriental, 13 da Europa Ocidental, 10 da América Latina e Caribe entre outros Estados. Cada ano, um representante de uma região diferente é indicado para encabeçar o conselho como seu presidente. 12

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/about/faqs.shtml

13 Cimeiras Mundiais são conferências em que chefes de Estado, líderes de governos, representantes

oficiais ou líderes de organizações se reúnem para debater temas importantes e de profunda relevância ao meio internacional, como a pobreza, os direitos humanos e a degradação ambiental. É uma maneira da comunidade internacional se juntar e se comprometer a promover o desenvolvimento mundial. 14

Vide site: http://www.un-ngls.org/un-summit-FINAL-DOC.pdf

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estabelecidas15. Essas novas funções consistem principalmente na convocação pelo ECOSOC da Revisão Ministerial Anual (AMR) e do Fórum de Cooperação para o Desenvolvimento (DCF).

A AMR serve como um fórum global de alto nível em que Estados-membros, organizações do Sistema das Nações Unidas, organizações não-governamentais, acadêmicos e representantes do setor privado avaliam os progressos realizados na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)16 e dos outros objetivos e metas acordados nas principais conferências e cimeiras da ONU. Além de contribuir para acelerar a realização das ações da agenda de desenvolvimento internacional17. O DCF tem como objetivo reforçar a implementação das metas internacionais que visão o desenvolvimento, reunindo atores, como países desenvolvidos, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional entre outros organismos, para estabelecer diálogos e fazer recomendações sobre temas políticos essenciais que afetam a qualidade e o impacto da cooperação para o desenvolvimento mundial18.

Algumas das principais questões abordadas nas declarações do ECOSOC foram sobre a erradicação da pobreza e da fome e o aumento da produção de alimentos. Uma das primeiras sessões realizadas com relação ao tema da produção de alimentos, como fator relevante no combate a fome aconteceu em 1949. As várias resoluções propostas pelo ECOSOC sobre a erradicação da pobreza, além de todas suas repercussões, anteciparam a formulação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio adotados em 2000.

Uma das reuniões do ECOSOC que precedeu os ODM aconteceu em 1999 com o tema “O papel do emprego e do trabalho na erradicação da pobreza: o aumento da influência e da promoção da mulher”. As avaliações e resoluções dessa sessão visavam proporcionar o crescimento do nível de emprego mundial como uma solução relevante no combate a pobreza. Nesse sentido, tais documentos foram de grande influência para que os países investissem mais em criação de vagas no mercado de trabalho e iniciassem programas públicos com a finalidade de erradicar a pobreza presente entre suas populações.

Mesmo após a declaração do milênio houveram muitas reuniões, principalmente do Segmento de Alto Nível, no ECOSOC referentes ao combate a pobreza e a fome. O Segmento de Alto Nível de 2003, por exemplo, teve como tópico “A promoção de uma abordagem integrada para o desenvolvimento rural nos países em desenvolvimento para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável”19. Esse tema renovou a atenção para a necessidade do desenvolvimento rural nos países menos desenvolvidos, já que suas economias são fortemente dependentes da agricultura.

15

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/about/

16 Em 2000 líderes mundiais se reuniram na sede na ONU em Nona York para adotar a Declaração do

Milênio das Nações Unidas, comprometendo suas nações a uma nova parceria para reduzir a extrema pobreza e alcançar oito objetivos até o ano de 2015, essas metas ficaram conhecidas como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 17

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/newfunct/amr.shtml 18

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/newfunct/develop.shtml 19

Vide site: http://www.un.org/docs/ecosoc/meetings/hl2003/

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Em 2004 o Segmento de Alto Nível abordou o tema “Mobilização de recursos e ambiente favorável para a erradicação da pobreza no contexto da implementação do Programa de Ação para Países Menos Desenvolvidos para a década de 2001-2010”. Esta sessão ajudou a evidenciar os problemas enfrentados pelos países menos desenvolvidos e previu uma parceria entre as nações para acelerar o crescimento sustentável nesses países, no sentido de reduzir pela metade a proporção das pessoas que vivem em condição de pobreza extrema e enfrentam a fome20.

A primeira AMR incidiu sobre o Segmento de Alto Nível de 2007, que tinha por tema “Intensificar os esforços para erradicar a pobreza e a fome, inclusive através da parceria global para o desenvolvimento”. As discussões desse segmento se centraram no estabelecimento de estratégias e abordagens para reduzir efetivamente a pobreza e na troca de experiências sobre a superação das dificuldades enfrentadas pelas diversas nações na implementação de programas de desenvolvimento21.

Deste modo, este tema está sempre presente nas sessões do ECOSOC. O objetivo maior dessas reuniões é viabilizar a cooperação entre os países e organismos internacionais com a finalidade de erradicar a pobreza e a fome, tendo em vista que esses problemas já deveriam ter sido superados no século XX.

Histórico da Questão Após a Revolução Industrial no século XVIII e com o avanço científico e tecnológico houve uma grande mudança nas relações de trabalho e de produção no mundo ocidental, como também na estrutura social dos países que estavam passando por esse episódio. Muitos produtos que eram feitos manualmente passaram a ser feitos por máquinas, a produção cresceu fortemente e a população urbana atingiu índices nunca vistos.

Essas transformações foram principalmente percebidas durante o século XIX. Nesse século, graças às novas invenções da ciência, houve um elevado aumento do poder de produção e da eficiência do trabalho. Nesse sentido, era natural que as pessoas esperassem melhoras nas condições de trabalhado, como também que a ampliação da capacidade produtiva da riqueza fizesse da miséria uma coisa do passado22. Porém, décadas depois percebeu-se que esse não seria o fim da pobreza e da fome como esperado: a situação de pobreza no mundo era uma questão muito mais complicada do que se pensava.

Tendo em vista os aperfeiçoamentos tecnológicos nesse período, a produção nos países industrializados cresceu enormemente e os mercados internos já não conseguiam absorver a oferta de produtos. Então, os países europeus, praticamente os únicos que passavam por esse momento surpreendente da economia, decidiram que era necessário encontrar novos mercados consumidores para o excedente das suas produções, como também mais matérias-primas para suas indústrias. Nesse sentido, eles dividiram o continente africano e parte do asiático em áreas de influência de

20

Vide site: http://www.un.org/docs/ecosoc/meetings/hl2004/ 21

Vide site: http://www.un.org/ecosoc/julyhls/index07.shtml 22

Henry, George. Progresso e Pobreza, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935. p. 09.

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diferentes nações européias, um fato que ficou conhecido como Imperialismo ou Novo Colonialismo.

As nações repartidas no período imperialista, que já se encontravam numa situação bastante desfavorecida graças ao colonialismo da era mercantilista, se depararam com circunstâncias ainda mais agravantes. Os países submetidos aos ditames do Novo Colonialismo ficaram impedidos de se desenvolverem sozinhos, pois suas terras passaram ao poderio estrangeiro, não sendo-lhes permitido construir indústrias, tinham que comprar produtos industrializados europeus aos preços que lhes eram estipulados, além de suas populações terem sido oprimidas e dizimadas23. Apesar das grandes inovações no processo produtivo da época, poucos eram os países que podiam desfrutar dessas melhoras, pois as mesmas só eram percebidas nas nações que possuíam o capital necessário para se industrializar.

Pode-se dizer que o imperialismo durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, após o termino do conflito a maioria dos países que foram recolonizados no fim do século XIX conquistaram sua liberdade, porém isso não gerou o crescimento e o desenvolvimento econômico e social que seus povos esperavam ser possível. Na segunda metade do século XX os países da África e Ásia que se viam enfim livres do imperialismo não tinham meios materiais de se desenvolverem, bem como as nações da América Latina, visto que, apesar de não terem passado pelo novo colonialismo, dependiam fortemente dos Estados desenvolvidos.

Desta forma, as nações africanas, asiáticas e latino-americanas não possuíam meios e capital suficiente para melhorar suas técnicas agrícolas, nem viabilizar a criação de indústrias que pudessem promover o desenvolvimento de suas populações. Ainda assim, tais países sofreram um grande aumento demográfico durante esse período, graças aos novos recursos da biomedicina. Esse fato dificultou ainda mais a situação da pobreza nessas nações, pois, apesar do crescimento demográfico não ser uma causa direta da fome, é com certeza um agravante da mesma24.

Nas décadas após a Segunda Guerra Mundial o nível de pobreza da população mundial aumentou significativamente. Nesse sentido, intelectuais, representantes políticos e a sociedade civil perceberam que não podiam ficar indiferentes a essa questão e que algo deveria ser feito para que os índices de pobreza e fome no mundo diminuíssem. A própria Carta das Nações Unidas revela a necessidade e importância de se solucionar essa questão25, muitos dos órgãos estabelecidos por ela dão ênfase no combate a pobreza, como se percebe nos preâmbulos do ECOSOC inseridos na Carta26. Contudo, esta ajuda não ocorreu de forma efetiva, na verdade pouco foi feito em auxílio às nações carentes nos anos pós-guerra.

Nesse contexto, ao longo de décadas da segunda metade do século passado à situação permaneceu crítica para a população dos países menos desenvolvidos e novas dificuldades foram surgindo, como a utilização, feita por muitas nações, de terras

23

Vide site: http://br.geocities.com/fcpedro/imper01.html 24

De Castro, Josué. Fome, um tema proibido: Editora Vozes Ltda, 1983. p. 34 e 35. 25

Carta das Nações Unidas/ cap 1, art 1.3. Disponível em: http://www.un.org/aboutun/charter/index.html 26

Carta das Nações Unidas/ cap 9, art 55. Disponível em: http://www.un.org/aboutun/charter/index.html

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férteis para produção de commodities27 e de gêneros alimentícios para exportação. Como não têm meios para se industrializarem os países pobres dependem dos seus recursos naturais e capacidade agrícola para estimularem suas economias. Deste modo, eles ficam sujeitos às condições ambientais e aos preços oscilantes do mercado internacional28, isto gera uma economia fragilizada e dependente, o que contribui para o aumento e permanência da pobreza nesses países.

Outro agravante da pobreza nas décadas da segunda metade no século XX foi o aumento do desemprego em escala mundial. Os progressos tecnológicos diminuíram drasticamente a necessidade de força humana produtiva, tanto no campo quanto na indústria, justamente numa época que o crescimento demográfico foi latente. O excesso de mão-de-obra, principalmente nos países menos desenvolvidos, fez os salários declinarem e conseqüentemente fez o consumo também cair. Nesse contexto, as populações das nações pobres ou estavam desempregadas ou tinham salários irrisórios, e assim a miséria e a fome atingiram ainda mais povos.

Um último fator, que contribuiu para o aumento do nível de pobreza no mundo, foi a constante concentração de renda nas mãos de uma pequena parcela da população. O crescimento e monopólio dos grandes conglomerados industriais, intensificados com a globalização, juntamente com a questão da maioria da população receber valores extremante baixos por sua força produtiva aumentaram de maneira surpreendente a centralização da renda em poder de poucos, principalmente entre os países menos desenvolvidos29.

O século XX prometia ser o mais próspero da história, contudo o imperialismo, as guerras, a explosão demográfica, a crise na produção de alimentos, entre outros acontecimentos fizeram com que a situação de miséria das populações carentes se agravasse. Nesse sentido, o ECOSOC e outros organismos da ONU se empenham fortemente na busca de soluções que levem à diminuição e mesmo ao fim da pobreza e da fome que afetam bilhões de pessoas no mundo.

Apresentação da Questão

Erradicação da Pobreza Extrema e da Fome como objetivo de Desenvolvimento do Milênio Número 1: perspectivas e resultados

Em 2000, quando a comunidade internacional estabeleceu os Objetivos do Milênio,

visava-se ao “esforço comum para libertar homens, mulheres e crianças de todo o planeta das abjetas e desumanas condições de extrema pobreza.”30 Para tal realização,

27

Termo usado em referência a produtos de base (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização que tem valor estabelecido nos mercados mundias e são negociados em bolsas de valores. Ex: café, algodão, soja, trigo, ouro, petróleo, etc. 28

Vide site: http://www.un.org/esa/coordination/Alliance/madagascar.htm 29

Vide site: http://www.apropucsp.org.br/revista/r13_r11.htm 30

The Millennium Development Goals Report, United Nations, 2008.

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foram estabelecidos oito objetivos, assim como um prazo para atingi-los: o ano de 2015. Era a consolidação da idéia de um direito humano ao desenvolvimento. 31

O primeiro dos oito objetivos é a erradicação da extrema pobreza e da fome. Tomando como base o período entre 1990 e 2015, ambiciona-se reduzir pela metade tanto a proporção de pessoas cuja renda é inferior a um dólar por dia quanto o número de indivíduos que sofrem com a fome. Outro alvo é a obtenção de pleno e produtivo emprego, assim como trabalho decente para todos, inclusive mulheres e jovens.

Os resultados até o momento, no entanto, ainda estão abaixo do esperado. O aumento dos preços de alimentos nos últimos anos teve efeitos diretos e dos mais adversos nos setores mais pobres. Diminuiu-se, com isso, o poder aquisitivo não só relacionado à alimentação, como também a outros bens e serviços importantes, como educação e saúde. 32

Um dos fatores que mais contribuem para o empobrecimento e a falta de moradia são os conflitos armados. Estima-se em 16 milhões o número de refugiados no mundo inteiro, quase a metade do total de desabrigados por conflitos e perseguições. 33 A maioria provém de regiões como o Oriente Médio, o Sudeste Asiático e a África Subsaariana.

Quanto às condições de emprego e trabalho, os avanços ainda não foram suficientes. Embora o Sudeste da Ásia tenha apresentado forte queda no número de trabalhadores que recebem menos de um dólar diário, o índice desta e de outras áreas continua elevado: 20% da população economicamente ativa dos países subdesenvolvidos, chegando a 51% no Centro-Sul Africano. 34 Além disso, a Oceania, a Ásia e a África têm mais da metade da força de trabalho atuando em empregos inseguros e instáveis. Sendo assim, os índices de desemprego continuam altos, especialmente entre as mulheres.

Outro indicador preocupante é o de subnutrição entre crianças menores de cinco anos, que atinge ¼ delas nas regiões subdesenvolvidas.35

A proporção continua a ser mais alta - cinco vezes, atualmente - em áreas rurais que em urbanas.36 Verifica-se, portanto, que a situação global continua preocupante e que os progressos já feitos não são o bastante. Sendo assim, as perspectivas são menos otimistas do que antes, se levarmos em conta a recente tendência de elevação dos preços de produtos alimentícios.

O Programa de Ação de Bruxelas para os países menos desenvolvidos para a década 2001-2010

31

Ainda em The Milleninium Development Goals Report, define-se o direito ao desenvolvimento como “não apenas objetivos de desenvolvimento, mas também valores e direitos humanos universalmente aceitos, como ser livre da fome (“freedom from hunger”), educação básica, saúde e a responsabilidade pelas gerações futuras.” 32

Idem. 33

Ibidem. 34

Ibidem. 35

Ibidem. 36

Ibidem.

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O programa, criado em uma conferência em Bruxelas ocorrida em Maio de 2001,

representa “um compromisso global quanto ao combate à pobreza e a mobilização de maiores recursos, tanto domésticos quanto internacionais” 37, para a promoção do desenvolvimento em áreas mais carentes. Busca-se lidar efetivamente com os problemas estruturais que limitam a participação destas áreas na economia global. 38 A cooperação envolve não só Estados e organizações internacionais, como também a sociedade civil e o setor privado.

O receituário consiste em medidas tais como: crescimento econômico a taxas médias de 7% (o que seria o dobro do que atualmente vêm crescendo 22 dos 45 países mais pobres); investimento em capital físico e humano; financiamento doméstico e estrangeiro, por meio do mercado, intermediação ou microcréditos; reforma tributária; maior ênfase no comércio internacional, entre outros.

O Programa de Ação de Bruxelas reconhece que criar um “ambiente apto” 39, com resolução pacífica de conflitos e respeito aos direitos humanos (inclusive o direito ao desenvolvimento), é imprescindível para que esta mobilização interna e externa de recursos seja efetivada. Para isso, políticas macroeconômicas que facilitem o crescimento e combatam a inflação e a instabilidade, assim como políticas públicas que gerem maior coesão social e fortalecimento das instituições e do regime constitucional, são recomendadas.

Também foi discutida uma ação que se pautasse em três frentes 40: I – no ambiente doméstico: ênfase no desenvolvimento pautado por fomentação

de infra-estrutura, capacidade produtiva e atenção especial aos pequenos e médios empreendimentos do setor rural, no qual a maioria da população dos países em desenvolvimento vive.

II – no ambiente internacional: sendo reconhecida a urgência de coerência e consistência no sistema financeiro, comercial e monetário internacional, a meta é estimular o diálogo econômico global, e não só entre os países desenvolvidos. Isso inclui facilitar a transferência de “know-how” e tecnologia para as regiões mais carentes que as demandam.

III – no caso dos países em desenvolvimento recém-saídos de conflitos: levando-se em conta que até 80% dos países mais pobres do planeta passaram por guerras civis nos últimos 15 anos 41, o foco deve ser na reconstrução de governos e na estabilidade política. O ECOSOC concentraria, enquanto comunidade internacional, seus esforços em defender uma maior integração entre medidas que promovam simultaneamente paz e desenvolvimento.

Verifica-se, então, que o programa traça um plano sobre as medidas mais adequadas para gerar o desenvolvimento político e econômico nos países emergentes, a fim de resolver problemas de imensa urgência como a fome e a miséria. Há, portanto, continuidade em relação ao que se propôs na primeira reunião do Conselho 37

“Resources mobilization and enabling environment for poverty eradication in the context of the implementation of the Programme of Action for the Least Developed Countries for the Decade 2001-2010”, Economic and Social Council, UN, 2004. 38

Idem. 39

Ibidem. 40

Ibidem. 41

Ibidem.

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Econômico e Social, realizada em 2004, ocasião em que se aprofundaram várias das discussões relacionadas com o Programa de Ação de Bruxelas. 42

Mobilização de Recursos dos países em desenvolvimento na erradicação da pobreza extrema e da fome

A extrema desigualdade social e econômica, que configuram a assimetria entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, é marcada pela urgente necessidade de mobilização de recursos estratégicos para desenvolver políticas que promovam a erradicação da pobreza extrema e da fome. Neste sentido, a alocação de recursos que é mais eficiente e mais eficaz na promoção de desenvolvimento social e econômico é de interesse dos países menos favorecidos no sistema internacional. Com intuito de melhor estruturar as diretrizes dessas políticas econômicas, se faz necessária a divisão entre quais seriam os recursos domésticos e os recursos externos, estrategicamente mobilizados, para o combate à pobreza extrema e à fome.

Neste sentido, o Programa de Bruxelas reconheceu que a mobilização dos recursos domésticos é a parte principal no financiamento ao desenvolvimento econômico e social dos países em desenvolvimento, inclusive, no que se refere à erradicação da pobreza.43 Dessa forma, se considerou que uma deficiência na alocação dos recursos domésticos significaria uma baixa capacidade de sustentabilidade dos gastos públicos no financiamento do desenvolvimento, podendo ter como conseqüência, inclusive, uma significativa redução nas taxas de crescimento econômico. 44 Portanto, é imprescindível uma eficácia na alocação dos recursos nos setores estratégicos para que se viabilize uma taxa de crescimento sustentável no longo prazo, a qual significará uma redução nos níveis de pobreza no país.

Os recursos domésticos que se mostraram mais estratégicos consistem no desenvolvimento eficiente do aproveitamento dos recursos naturais do país e no incentivo ao investimento público na agricultura. 45 Esses dois pontos principais, na questão da mobilização dos recursos domésticos, são fundamentais em um contexto internacional de Crise Mundial de Alimentos que impulsionou novas diretrizes às políticas econômicas dos países em desenvolvimento.

Sendo assim, o primeiro aspecto a ser abordado na mobilização dos recursos domésticos diz respeito à crescente demanda por um aproveitamento mais eficiente dos recursos naturais do país. Uma maior eficiência na alocação de recursos naturais se relaciona a um crescente investimento naqueles recursos que o país é naturalmente mais eficiente, como por exemplo, o gás natural e o petróleo na Rússia. Dessa forma, crescentes investimentos em determinados recursos naturais significaria uma maior eficiência em um determinado setor que poderia ser a solução para o problema da Crise Mundial dos Alimentos, tendo em vista que, ao momento em que o mundo

42

Ibidem. 43

President Report on ECOSOC – High Segment, 2004. 44

Idem 45

BRYANT, Elizabeth. Building Local Skills and Knowledge for Food Security. In IFPRI Forum. Ed.International Food Policy Research Institute and its 2020 Vision Initiative. Washington – DC, 2005.

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enfrenta um debate envolvendo o uso de alimentos para a produção de energia, o investimento nesse setor poderia significar uma alternativa lógica ao problema.46 Sendo assim, o uso de alimentos para a geração de energia poderia ser substituído por uma nova tecnologia que envolvesse estes recursos naturais. Além disso, como o preço dos produtos primários, especialmente petróleo e minerais, tem crescido no início do século XXI, as taxas de câmbio se apreciaram em alguns países. Dentro dessas condições, a gerência das taxas de câmbio se mostrou essencial, principalmente no intuito de promover a competitividade internacional desses bens e de possíveis bens não primários.47

Contudo, para que ocorra uma maior eficiência no aproveitamento desses recursos naturais e para que seja viável uma considerável segurança no provimento de alimentos, é necessária a cooperação dos grupos de interesses e organizações dentro do país. Isso se relaciona com o desenvolvimento da capacidade e criatividade como forma de motivação aos indivíduos, assim como com o estabelecimento de instituições eficientes na promoção da necessidade de cooperação de todos na luta contra a pobreza extrema e a fome. 48

O segundo aspecto a ser abordado com relação à mobilização dos recursos domésticos diz respeito ao investimento público na agricultura. A agricultura mundial entrou em um período de recessão insustentável, tendo em vista que os recursos naturais básicos à atividade agrícola não estão obtendo os investimentos necessários ao seu crescimento em conseqüência da crescente utilização da chamada bioenergia49. Inclusive, existe um debate sobre as conseqüências da utilização de alimentos na geração de biocombustíveis50, o que pressionou os países a tomarem políticas estratégicas para segurança de alimentos. 51 Neste sentido, nos países em desenvolvimento, a agricultura poderia servir de base para o crescimento e para a redução da pobreza, porém um maior número de países poderia beneficiar-se, também, se os governos e os doadores conseguissem reverter anos de negligência das políticas econômicas e remediar os erros de investimento na agricultura.52 Ademais, a agricultura contribui para o desenvolvimento como atividade econômica, de subsistência e como fornecedora de serviços ambientais, tornando o setor uma estratégia singular para o desenvolvimento.53 Sendo assim, os instrumentos a serem mobilizados na agricultura para o promover o desenvolvimento consistem em aumentar os ativos dos domicílios de baixa renda, tornar os pequenos agricultores e a agricultura em geral mais produtiva e criar

46

Idem 47

McKinley, Terry & Weeks, John. The Macroeconomic Implications of MDG – Bases Strategies in Sub-Saharan Africa. International Poverty Centre: Brasilia, 2007. 48

BRYANT, Elizabeth. Op. cit. pp.09 49

Energia proveniente de produtos de origem animal e vegetal, como cana-de-açúcar, carvão vegetal, gordura vegetal e grãos. 50

É qualquer combustível de origem biológica, ou seja, derivados de produtos agrícolas, porém não fosseis. É uma fonte de energia renovável. 51

Idem 52

Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Agricultura para o Desenvolvimento – Visão Geral. Banco Mundial: Washington, DC, 2007. 53

Idem

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oportunidades na economia rural não necessariamente agrícola a serem aproveitadas pelas pessoas pobres da zona rural. 54

Portanto, uma iniciativa global para a promoção de uma aceleração na produtividade agrícola é fundamental no contexto da Crise Mundial de Alimentos. É necessário que a iniciativa tenha uma base institucional forte como coordenadora e líder das ações que deverão ser tomadas55, assim como políticas e processos decisórios que melhor se adaptem às condições econômicas e sociais de cada país, mobilizando o apoio político e melhorando a governança da agricultura. 56

Além da mobilização dos recursos domésticos para a erradicação da pobreza e da fome, não se pode desconsiderar a importância da mobilização dos recursos externos. Neste sentido, no âmbito externo, se faz possível exaltar três aspectos fundamentais que consistem na assistência e cooperação internacional para o desenvolvimento; na promoção de soluções para uma dívida externa muito elevada e no comércio internacional. O primeiro aspecto a ser abordado na mobilização dos recursos externos diz respeito à assistência e a cooperação internacional para o desenvolvimento. A grande maioria dos países em desenvolvimento interligou os seus projetos de desenvolvimento com grupos de Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD)57 em busca de financiamento por meio da cooperação internacional. Desde 2000, a “comunidade financiadora” tem focalizado seus investimentos e assistência no desenvolvimento econômico dos países em desenvolvimento, preferencialmente no que concerne à promoção de infra-estrutura e serviços públicos. Neste sentido, em 2002, cerca de 26% da renda total da AOD foi destinada a esses setores dos países em desenvolvimento com o intuito de financiar o desenvolvimento e a conseqüente erradicação da pobreza e da fome. Contudo, a maioria dos países membros do Comitê de Ajuda Oficial para o Desenvolvimento58 estão abaixo da linha de assistência estipulada no Programa de Ação de Bruxelas. Ademais, a qualidade da assistência é tão importante quanto a sua quantidade, ou seja, é importante que a cooperação internacional se dê de forma homogênea e organizada entre os setores estratégicos para o desenvolvimento. Nesse sentido, foi proposta pelo Programa de Ação de Bruxelas a divisão da AOD em sete diferentes áreas de ação, o que exigiria uma cooperação entre as Nações Unidas, o UNCTAD e a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD).59 Destarte, a condução da assistência financeira pelo próprio orçamento doméstico do país, além do comprometimento da AOD com o controle dos fluxos de capitais, possibilitaria uma melhora na eficiência da assistência, por meio da redução das incertezas e imprevisibilidades dos fluxos de capitais, com o intuito de cobrir as debilidades da

54

Ibidem 55

VON BRAUN, Joachim. Agriculture for Sustainable Economic Development: A Global R&D Initiative to Avoid a Deep and Complex Crisis. Ed. Capitol Hill Forum, Washington D.C.,2008. 56

Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Agricultura para o Desenvolvimento – Visão Geral. Op. cit. p. 03 57

President Report on ECOSOC – High Segment, 2004. 58

Idem 59

Ibidem

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poupança doméstica dos países em desenvolvimento por meio de programas de investimento público. 60 Sendo assim, a cooperação internacional se mostra uma estratégia fundamental no combate a pobreza e fome, pois possibilita a troca de informações técnicas úteis para o desenvolvimento de infra-estrutura e serviços dos países envolvidos, além de possibilitar uma maior credibilidade do país no meio internacional, tendo em vista as facilidades de negociação internacional que uma cooperação pode favorecer. Ademais, a cooperação internacional funciona como uma base estável em possíveis momentos de crises econômicas, sendo as negociações bilaterais e multilaterais essenciais. O segundo aspecto a ser abordado a respeito da mobilização de recursos externos se refere à promoção de soluções para uma dívida externa muito elevada. Altos níveis de endividamento externo continuam a ser uma barreira para o desenvolvimento econômico em vários países não desenvolvidos. Um histórico de políticas econômicas desenvolvimentistas nestes países em que se priorizava o desenvolvimento industrial por meio de enormes montantes de empréstimos externos conduziu a um grave problema de endividamento externo nos países que utilizaram dessa estratégia. Sendo assim, a política econômica terminou por se voltar contra ao desenvolvimento principalmente em momentos de grandes crises internacionais, quando os países em desenvolvimento se sentiam mais debilitados a movimentações financeiras como, por exemplo, uma espontânea fuga de capitais. Dessa forma, é imprescindível o foco em soluções que possam reduzir os impactos desses endividamentos externos na economia. Primeiramente, seria necessário promover políticas econômicas que visassem ao abrandamento dessas dividas por meio da própria dinâmica econômica dos países em desenvolvimento. Neste sentido, novamente se mostra interessante a busca de apoio nos fóruns multilaterais de comércio no intuito de expressar as necessidades desses países principalmente no que concerne a liberalização para produtos agrícolas. É consenso que a maioria dos países que mantêm altos níveis de pobreza e de fome possui uma economia baseada na agricultura, ou seja, o controle dos preços dos produtos agrícolas, assim como uma maior liberalização destes, possibilitaria um superávit no balanço de pagamentos61 (que seria um recurso para colocar fim ao endividamento externo) e diminuiria os impactos, nestes países, de possíveis crises internacionais como, por exemplo, a Crise Mundial de Alimentos. 62 O terceiro aspecto a ser abordado a respeito da mobilização de recursos externos se refere ao comércio internacional. Baixas capacidades de suprimentos e altos custos de transação, combinados com barreiras comerciais e altos níveis de subsídios aos bens competitivos, significaram um limite ao crescimento das taxas de exportação.63 Sendo assim, iniciativas de acesso a mercados e mecanismos bilaterais de preferências comerciais têm apresentado contribuições positivas para o fluxo de 60

Ibidem 61

Balanço de Pagamentos registra o total de dinheiro que entra e sai de um país, na forma de importações e exportações de bens, serviços e capital financeiro, bem como transferências comerciais. Um superavit no Balanço de Pagamentos significa que o país exportou mais que importou no período analisado. 62

Ibidem 63

Ibidem

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investimentos. 64Entretanto, a maioria dos países em desenvolvimento não tem capacidade de fortalecer o setor de exportação por meio da diversificação na produção, tendo em vista a dependência desses países da produção de bens primários ou de commodities.65Nesse sentido, o comércio internacional seria a ferramenta para o desenvolvimento e para a redução da pobreza, mesmo em um cenário em que se faz recorrente políticas econômicas que negligenciam o papel fundamental do comércio para a promoção do desenvolvimento. Dessa forma, as teorias clássicas do comércio internacional trazem importantes contribuições sobre as trocas internacionais. Assim, inicia-se uma argumentação em torno dos ganhos decorrentes da especialização e das trocas internacionais, defendida por Adam Smith e David Ricardo. Como se sabe, a valorização do campo econômico sobre o político se baseia na idéia de que as ações dos indivíduos guiadas pelos seus interesses pessoais gerariam, dentro do sistema por eles imaginado, resultados mais equilibrados e socialmente vantajosos para a sociedade. Nesse sentido, os benefícios decorrentes do livre comércio iriam não só para os indivíduos, que utilizariam de maneira mais eficiente os recursos escassos da economia, como também para a coletividade, uma vez que a divisão de trabalho aumenta a produtividade geral. 66 Isso se aplicaria no plano internacional de forma ainda mais aprofundada justamente por ser possível uma divisão mais refinada e complexa do trabalho. Neste sentido, o comércio internacional tem a capacidade de promover uma maior eficiência na alocação dos recursos de um país por meio da divisão internacional do trabalho e da especialização da produção, que configurariam esse comércio internacional e levariam a essa aumento na eficiência. 67 Entretanto, o economista Douglas Irwin em seu artigo, Free Trade Under Fire, considera que o comércio não traz ganhos apenas pela alocação mais eficiente dos recursos de um país, mas também por fazer com que esses recursos se tornem mais produtivos. 68Sendo assim, o autor considera que o comércio traz ganhos de produtividade por dois canais:

i. Comércio possibilita transferências de tecnologia: compras de bens de capital e investimentos em inovações;

ii. Comércio favorece a competição que incentiva as empresas a se tornarem mais eficientes.

Dessa forma o autor cria uma lógica na qual o comércio, ao fazer com que a escala da produção cresça em um país e ao promover a competição internacional, faz com que as indústrias de tal país (apenas as já eficientes, pois as menos produtivas fecham) sejam forçadas a melhorem seu processo produtivo por meio de inovações, importação de bens de capital e maior divisão do trabalho, aumentando o nível de produtividade das firmas, que crescem a ponto de se tornarem exportadoras, e da economia como um todo.69 Segundo o autor, o aumento do nível de produtividade faz

64

Ibidem 65

O termo commoditie, que significa mercadoria em inglês, é utilizado em relações comerciais internacionais para designar produtos que são comercializados em seu estado bruto ou com pequeno grau de industrialização e que possuem elevada importância comercial. 66

IRWIN, Douglas. Free Trade Under Fire. Princeton University Press: New Jersey, 2002. pp. 25-60 67

Idem 68

Ibidem 69

President Report on ECOSOC – High Segment, 2004.

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com que o país tenha um melhor padrão de vida, assim como políticas comercias mais liberais se associam a maiores rendas per capita, o que levaria a um aumento da taxa de crescimento da economia, dos níveis de investimento no mercado do país e nos níveis de exportação e importação.70 Tais aumentos, apesar de não comprovados em todos os casos, segundo o autor são predominantes no pós-liberalização da maioria dos países em desenvolvimento.71 Diretrizes da Crise Mundial de Alimentos: causas e conseqüências Atingir a primeira meta do milênio - a erradicação da pobreza extrema e a fome - é uma tarefa que apresenta inúmeras complexidades. Dificuldades essas, que vem sendo agravadas, nos últimos meses, pela chamada crise dos alimentos. Desde 2006, os preços dos principais gêneros alimentícios vêm apresentando acentuada alta, invertendo uma tendência de queda que se manifestava desde a década de 70. Merece destaque, porém, o significativo aumento de preços no mercado de grãos. Só entre 2003 e 2008, por exemplo, os preços mundiais do milho e da soja mais que dobraram e o preço do arroz atingiu níveis históricos72.

Esse súbito aumento nos preços é resultado de um misto de forças políticas, ambientais e econômicas que convergiram redefinindo a situação do mercado agrícola mundial73. A atuação dessas forças levou a um desequilíbrio da relação entre a oferta e a demanda por produtos agrícolas, resultando nas bruscas alterações de preços observadas. Para se compreender adequadamente as causas desse aumento é necessário que sejam considerados, primeiramente, os fatores que levaram a uma alteração na demanda por commodities agrícolas ao redor do globo. O aumento populacional acentuado, que ainda é característica de algumas regiões do planeta, é um desses fatores. Porém, mais profundo é o impacto resultante do aumento no poder de compra de uma parcela da população em países que apresentaram rápido crescimento econômico nos últimos anos, especialmente, China e Índia. Essa parcela da população mundial que teve uma melhora em sua renda, além de aumentar o seu consumo com alimentação, alterou sua dieta básica, passando a demandar mantimentos de maior valor agregado, como laticínios e carnes. Essa mudança na dieta resultou, então, em um aumento da necessidade de utilização de grãos como ração para gado, elevando, ainda mais, a demanda mundial por esse tipo de alimento74.

Outro fator determinante no aumento da demanda mundial por produtos agrícolas se relaciona ao elevado preço do petróleo e de outras matrizes energéticas. Com os altos preços do petróleo, a produção mundial de biocombustíveis passou a ser economicamente viável. Esse fato, aliado ao desejo de muitos países de se tornarem 70

Ibidem 71

Ibidem 72

BRAUN, Joachim Von. High Food Prices: The What, Who, and How of Proposed Policy Actions. IPC, 2008. p. 02. 73

BRAUN, Joachim Von. The world food situation: New driving forces and required actions. IPC, 2007. p. 09. 74

BRAUN, Joachim Von. Rising Food Prices: What Should be Done? IPC, 2008. p. 01.

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menos dependentes das importações de petróleo e à crença de que maiores investimentos em biocombustíveis poderiam levar a um maior desenvolvimento das áreas rurais, incentivou o governo de vários países desenvolvidos a desenvolverem políticas de apoio e fomento à indústria de biocombustíveis75. Esses incentivos tornaram a produção de biocombustíveis economicamente vantajosa pra os agricultores, mesmo nos casos em que a tecnologia empregada ainda é pouco desenvolvida e o produto resultante é ineficiente, levando, dessa forma, a um aumento da demanda pelos insumos necessários a essa produção, na maioria dos casos, produtos agrícolas.

Em relação à resposta da oferta a esses aumentos nos preços das commodities agrícolas sabe-se que ela é tradicionalmente lenta em alguns países por diversos fatores. Dentre estes fatores, atuam de forma decisiva restrições no suprimento de água, limitada disponibilidade de terras para agricultura, infra-estrutura ineficiente, dificuldades no crédito agrícola, e, por fim, baixos níveis de investimento em pesquisa e tecnologia. No caso em estudo, porém, outros fatores atuaram, dificultando, consideravelmente, um possível aumento da produção76.

A oferta de grãos no mercado mundial depende, principalmente, de dois fatores: a quantidade de sua produção e a sua disponibilidade em estoque77. Sendo assim, ela foi alterada de forma considerável pelas adversidades climáticas que atingiram alguns dos maiores exportadores de grãos, como, por exemplo, as secas que destruíram parte da colheita na Austrália e no Canadá. Esses choques na produção levaram a uma diminuição na quantidade produzida que é destinada ao armazenamento em estoque. Esse fato agravou, ainda mais, a situação dos níveis de estoques mundiais, que já vinham diminuindo gradualmente desde a década de 90.

Aliado a esses fatores está também o aumento no preço de alguns dos principais insumos envolvidos na produção agrícola, como combustíveis, produtos químicos e fertilizantes. Grande parte desse aumento se deve aos elevados preços das matrizes energéticas utilizadas em sua produção. Os elevados preços da energia também são responsáveis pelo aumento nos custos das operações de transporte e armazenamento envolvidas na produção agrícola, refletindo em seus preços finais78.

Alguns analistas, como, por exemplo, Greg Warner, analista da firma AgResource, apontam, ainda, para o papel dos investimentos de origem especulativa no mercado financeiro como uma das principais causas da crise. Em economia, especulação é entendida como uma negociação realizada em qualquer mercado, na qual o investidor se aproveita de uma situação temporária desse mercado buscando auferir lucros em um curto espaço de tempo79. Os contratos futuros80 das principais commodities agrícolas são negociados na Bolsa de Chicago. Este mercado de contratos futuros deveria funcionar como um mecanismo de proteção para agricultores contra

75

HLC/08/INF/1 76

BRAUN, Joachim Von. Op. cit. p. 02. 77

Ibidem 78

STOECKEL, Andy. High Food Prices: Causes, implications and solutions. Rural Industries Research and Development Corporation. Australia,2008.p.04. 79

Vide site: http://www.bovesba.com.br/gf.asp 80

Segundo o dicionário de finanças da Bovesba um contrato futuro é um “Acordo entre duas partes, que obriga uma a vender e outra, a comprar a quantidade e o tipo estipulados de determinada commoditie, pelo preço acordado, com liquidação do compromisso em data futura.”

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adversidades climáticas ou grandes flutuações nos preços, porém, segundo esses analistas, um grande fluxo de capital de origem especulativa tomou conta desse mercado. O impacto desses investimentos sobre os preços não pode ser mensurado precisamente, porém é certo que ele afeta as expectativas no mercado empurrando para cima os preços dos alimentos e funcionando, portanto, como um fator decisivo no agravamento da crise81.

Esse rápido aumento de preços tem inúmeras implicações. Ele atinge, contudo, diferentes países e diferentes estratos da população de maneiras distintas. Países exportadores de commodities agrícolas podem se beneficiar dessa conjuntura, tendo em vista que esses países sofrerão uma melhora em seus termos de troca no comércio internacional. Já os países que dependem da importação de alimentos para abastecer sua demanda interna, terão de pagar mais caro por eles e, provavelmente, enfrentarão diversas dificuldades resultantes da crise82.

Em relação às conseqüências da crise para os diferentes estratos populacionais, sabe-se que a pequena parcela da população que pode obter ganhos reais dessa situação é a composta pelos produtores e fornecedores de alimentos. Entretanto, para a grande maioria da população, esse aumento de preços poderá resultar em severos impactos. Os mais pobres serão os mais atingidos por formarem a parcela da população que é obrigada a gastar a maior parte de sua renda com alimentação. Dessa forma, com o aumento de preços, eles deverão gastar mais para consumir a mesma quantidade de alimentos que consumiam anteriormente. A crise, então, põe em risco a segurança alimentar e nutricional dos mais pobres, podendo levá-los a diminuir seu consumo de alimentos, afetando, possivelmente, sua saúde. A crise pode levar, ainda, a uma deterioração da situação dos mais necessitados ao forçá-los a diminuírem seus gastos com outras necessidades básicas, como saúde e educação83.

Contudo, não apenas os mais pobres serão atingidos. Os altos preços dos alimentos acabam por afetar os preços da economia como um todo, gerando inflação. Esse aumento generalizado nos preços diminui a qualidade de vida dos diversos estratos da população e pode levar, inclusive, a um aumento da parcela da população considerada pobre84. Os efeitos dessa piora no padrão de vida podem ser desastrosos. Sabe-se que a estabilidade política de um país está, muitas vezes, intimamente ligada às condições de vida de sua população. Portanto, diminuições drásticas na qualidade de vida de uma população podem levar a situações de instabilidade política e revoltas sociais 85.

Por fim, sabe-se que a inflação resultante dessa situação de alta nos preços dos alimentos pode ameaçar a estabilidade macroeconômica 86de um país dificultando seu

81

BALZLI, Beat & HORNING, Frank. Deadly Greed: The Role of Speculators in the Global Food Crisis .Disponível em: http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,549187,00.html 82

BRAUN, Joachim Von. Rising Food Prices: What Should be Done?, p.01. 83

BRAUN, Joachim Von. High Food Prices: The What, Who, and How of Proposed Policy Actions, p. 07. 84

FOOD PRICE CRISIS: A Wake Up Call for Food Sovereignty, p. 02. Disponível em: www.oaklandinstitute.org 85

HLC/08/INF/1 86

Uma situação de estabilidade macroeconômica é definida como uma situação na qual um determinado país possui inflação controlada, aliada a um orçamento equilibrado e a déficits comerciais, acompanhados por uma baixa taxa de expansão da oferta de moeda.

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crescimento econômico. Os países mais vulneráveis a esses efeitos são, especialmente, os países importadores de produtos agrícolas87. Dificuldades na mobilização de recursos no contexto da Crise Mundial de Alimentos. A crise dos alimentos se apresenta como um grande desafio ao combate à má-nutrição e à fome. Em primeiro lugar, alimentos e combustíveis mais caros funcionam como um empecilho significativo à realização de ações humanitárias: o acentuado aumento nos preços dos alimentos ameaça o trabalho de entidades que trabalham na distribuição de comida, dinheiro ou vales-alimentação como forma de melhorar a situação nutricional dos mais necessitados ao redor do globo. Estimativas do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (WFP88), maior agência dessa natureza em atuação, mostram que será necessário um incremento de US$ 755 milhões ao orçamento original de US$ 3,1 bilhões para 2008, a fim de que ela seja capaz de atender a demanda resultante das operações já em andamento. Soma-se a essa situação um agravante: os elevados preços dos alimentos resultam em um aumento da população mundial que necessita desse tipo de ajuda, aumentando a demanda pela atuação dessas agências. Os responsáveis por esses programas enfrentam então um grave problema: como arrecadar os recursos necessários para atender essa crescente demanda? No que concerne à WFP, doações de diversos países desenvolvidos ajudaram a amenizar os impactos da crise, porém, ainda assim, a diminuição da quantidade de alimentos que se pode adquirir por dólar levou os níveis de ajuda humanitária na área ao seu menor patamar em três décadas, patamar este atingido justamente em uma época em que a ameaça de fome generalizada se apresenta de forma mais latente89.

O combate à fome é dificultado ainda, no contexto da crise, pelas políticas implementadas por diversos governos nacionais como forma de impedir ou amenizar um possível aumento dos preços dos alimentos a nível nacional. Vários países importadores tomaram diversas medidas como, por exemplo, a compra de produção para estoque ou a eliminação de grande parcela das tarifas de importação. Países exportadores também agiram, criando mecanismos para dificultar as exportações90. Estas medidas foram tomadas com o intuito de proteger populações nacionais, porém elas têm impactos danosos ao comércio internacional como um todo já que levam a uma diminuição na oferta global de alimentos, tornando o mercado de alimentos um mercado mais “apertado”, isto, é um mercado extremamente competitivo91. Essa situação pode levar a um aumento na volatilidade dos preços praticados no mercado. O termo volatilidade está relacionado ao movimento dos preços no mercado. Pode-se afirmar, então, que um mercado mais volátil é um mercado que apresenta maiores flutuações de preços e que, portanto é um mercado com maiores incertezas e cujos

87

HLC/08/INF/1 88

Vide site: www.wfp.org 89

POWELL, John M. Global Food Situation: Challenges for Humanitarian Assistance. pp. 01-02. 90

Dentre esses mecanismos são alguns exemplos os aumentos tributários sobre as importações e o controle ou até mesmo a proibição das exportações de alguns produtos. 91

HLC/08/INF/1

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preços, muitas vezes, não refletem os reais valores de equilíbrio entre a oferta e a demanda, sendo, portanto, tal volatilidade extremamente indesejada à já preocupante situação do mercado mundial de alimentos. Medidas como essas apresentam, ainda, outras dificuldades ao mercado, tendo em vista que só são capazes de atingir seus objetivos no curto-prazo. Ao considerar intervalos maiores de tempo, percebe-se que elas podem levar a consideráveis distorções no mercado dificultando, inclusive, a entrada de novos produtores no mesmo92. Para impedir a adoção de medidas dessa natureza, seria necessária a existência de uma política de comércio mundial de produtos agrícolas mais livre e integrada. Porém, as negociações sobre o assunto, na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), não atingiram resultados satisfatórios, não sendo possível, portanto, chegar a um acordo sobre o tema93.

Outro fator que pode levar a um agravamento da situação dos preços agrícolas em um futuro próximo está relacionado à atuação de alguns investidores no mercado financeiro de commodities agrícolas. Negociações no mercado financeiro são apontadas como umas das possíveis causas da crise e as movimentações neste mercado ainda apresentam possibilidades de lucro, devido aos elevados e instáveis preços apresentados pelas commodities agrícolas. Essa circunstância pode levar a um crescimento ainda maior dos investimentos de natureza especulativa no mercado financeiro de alimentos e, conseqüentemente, a maiores elevações de preços.

Alguns analistas apontam, ainda, para os possíveis impactos de mudanças climáticas na produção futura. Cientistas acreditam que, como resultado de mudanças climáticas, haverá, nas próximas décadas, um aumento no número de enchentes no hemisfério norte e na incidência de secas no hemisfério sul e em regiões áridas. Segundo eles, essas mudanças podem ter impactos catastróficos sobre a produção de alimentos levando a novas crises no futuro94.

A crise, porém, pode funcionar como um incentivo ao crescimento da produção agrícola mundial. Preços altos levam a maiores oportunidades de lucro podendo, portanto, estimular a entrada de capital privado no setor, resultando, consequentemente, em um aumento dos investimentos em produção e pesquisa agrícola em vários países95. Com preços em patamares elevados, agricultores igualmente são estimulados a aumentarem sua produção e novos produtores podem entrar no mercado. Porém, para que isso possa ocorrer, é necessário que algumas medidas, especialmente em países subdesenvolvidos, sejam tomadas. O processo de produção agrícola e a distribuição desses produtos no mercado exigem a disponibilidade de certos insumos e demandam uma infra-estrutura adequada, tornando necessárias medidas que possibilitem essa produção. Dentre essas medidas, pode-se citar um aumento do crédito disponível para agricultura, de forma que os produtores possam incrementar ou até mesmo iniciar seu processo de produção. Outra possível medida é a realização de melhorias na rede de transporte que efetua a conexão entre as áreas rurais e os mercados consumidores. É, também, de extrema importância que essas medidas atinjam, principalmente, os pequenos fazendeiros,

92

STOECKEL, Andy. High Food Prices: Causes, implications and solutions,pp.08-09. 93

BRAUN, Joachim Von. The world food situation: New driving forces and required actions, p. 12. 94

Ver: http://www.iht.com/articles/ap/2008/04/10/europe/EU-GEN-Hungary-Climate-Change.php 95

HLC/08/INF/1

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detentores de grande parcela da produção mundial e extremamente vulneráveis a adversidades.

Os preços de algumas commodities agrícolas se estabilizaram a partir da metade de 2008. Porém, não há razões para tranqüilidade. Os preços ainda estão muito altos se comparados a seus patamares históricos e ainda há a possibilidade de que a situação piore como resultado da crise financeira que assola o planeta. Alguns analistas, dentre eles o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) Jacques Diouf, acreditam que a ajuda aos mais pobres pode diminuir como resultado da crise, uma vez que os países desenvolvidos se vêem obrigados a gastar uma quantidade considerável de seus orçamentos em planos que têm como objetivos estabilizar o mercado financeiro e retardar possíveis impactos da crise sobre a economia real. Existe o perigo, também, de que alguns governos, ao enfrentarem as dificuldades resultantes da crise, decidam diminuir seus investimentos no setor agrícola, investimentos estes que são essenciais para o aumento da produção, especialmente no atual contexto de crédito escasso96.

Soluções Propostas

Em Maio de 2008, Joachim von Braun, diretor-geral do Internation Food Policy Research Institute (IFRPI), enviou uma linha de ação ao encontro do ECOSOC que estava a ocorrer naquele mês97. Ele propôs oito políticas para combater o aumento dos preços de alimentos:

I - Expansão da assistência humanitária e das reações a emergências; II - Fim dos boicotes e restrições às exportações de produtos agrícolas; III – Programas de rápido impacto na produção alimentícia em setores estratégicos; IV – Mudanças nas políticas energéticas de biocombustíveis, para reajustar a oferta

e demanda de alimentos; V – Acalmar os mercados através de regulações e ajustes, orientados pelo

mercado, das especulações e financiamentos; VI - Investimento em proteção social, como em programas redistributivos; VII – Aumentar a escala de investimentos geradores de crescimento sustentável da

agricultura; VIII - Avançar nas negociações comerciais da Rodada de Doha da OMC.98 Hyun H. Son e Nanak Kakwani 99, ligados ao Internation Poverty Centre (IPC), por

sua vez, acreditam que há certos mitos sobre o crescimento “pro-poor” 100 e demonstram que aspectos como o peso da agricultura na composição do PIB e a

96

Ver: http://southasia.oneworld.net/todaysheadlines/financial-crisis-to-hit-food-security-warns-fao 97

Braun, Joachin von. High Food Prices: The Proposed Policy Actions. IFPRI, 2008. 98

Braun, Joachin von. High Food Prices: The What, Who, and How of Proposed Policy Actions. IFPRI, 2008. 99

Kakwani, Nanak & Son, Hyun H. Global Estimates of Pro-Poor Growth. IPC, 2006. 100

É o tipo de crescimento que, proporcionalmente, beneficia mais os pobres do que o “non-poor” – tanto em distribuição de renda quanto em poder de consumo.

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abertura comercial têm pouca relevância para um crescimento de maior eqüidade. Em compensação, baixas taxas de inflação, embora não necessariamente garantam crescimento positivo acelerado, muito contribuem para uma melhor distribuição de renda.

John Weeks e Terry McKinley, também do IPC, em um artigo sobre as implicações macroeconômicas do combate à fome e à extrema pobreza na África Subsaariana101, sugeriram políticas fiscais expansionistas e maior cautela com políticas monetárias focadas excessivamente em metas de inflação, visto que, ao enfatizarem demasiadamente cortes orçamentários e austeridade, elas poderiam frear a tendência de crescimento e desenvolvimento das economias locais.

O já mencionado Programa de Ação de Bruxelas contém várias resoluções, principalmente as relacionadas à captação de recursos, políticas públicas e macroeconômicas adequadas aos objetivos, diretrizes para um comércio internacional mais livre, a ênfase em parcerias público-privadas e no investimento em infra-estrutura, entre outras propostas.

Portanto, o ECOSOC, mesmo sendo um conselho recente, já conseguiu bons resultados no que diz respeito à mobilização dos países a respeito de problemas como a crise mundial de alimentos. Ainda há, por outro lado, muitas controvérsias e questões pontuais para serem resolvidas, como as dificuldades inerentes à adaptação da economia global às ações planejadas e combinadas nos programas e acordos; por exemplo, no sentido de conciliar crescimento econômico com combate à pobreza e à fome e na solução para controvérsias sobre fontes energéticas como os biocombustíveis.

Jan Vandemoortele, em seu artigo 102, afirma que o modelo econômico contemporâneo, além de dar pouca atenção às ineqüidades (utilizando, para isso, o caso chinês), ainda apresenta distinções e problemas a serem resolvidos em áreas como criação de empregos, tributação, investimento público, reformas no comércio e liberalização do setor financeiro103. Para ele, o caminho para efetivar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio passa por uma maior transigência dos países desenvolvidos em perceber a limitação de suas teorias, percepções e convicções diante de uma situação mais complexa do que se poderia imaginar.

Pensando em 2015, muitos analistas falam sobre a necessidade de políticas que englobem as interações existentes entre agricultura, saúde e estilos de vida, assim como as questões de gênero 104. Há também a necessidade de investimento em segurança, programas de bem-estar social e inovações em info e biotecnologia que atendam aos setores mais pobres e marginalizados do planeta. Enfim, soluções pontuais que permitam resolver o mais rápido possível problemas tão sérios como a da fome e da nutrição.

Conclusão

101

McKinley, Terry & Weeks, John. The Macroeconomic Implications of MDG-Based Strategies in Sub-Saharan Africa. IPC, 2007. 102

Jan Vandemoortele. Ending world poverty: is the debate settled? UNDP: Brasilia, 2005. 103

Idem. 104

Braun, Joachim von. The World Food Situation: An Overview. IFPRI, 2005.

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A extrema situação da pobreza e fome que atinge a maioria dos países em desenvolvimento consiste no principal empecilho ao desenvolvimento na maioria desses países. Neste sentido, no âmbito da Primeira Meta de Desenvolvimento do Milênio, a erradicação da pobreza e da fome entra como objetivo central na mobilização de recursos para o desenvolvimento social e econômico desses países. Sendo assim, tanto recursos domésticos quanto recursos externos deverão ser mobilizados para o sucesso desse objetivo, porém, a atual Crise Mundial de Alimentos se apresentou como uma barreira à mobilização desses recursos. Neste sentido, é possível concluir que, mesmo com uma crise mundial eminente, não se pode negligenciar o papel importante da agricultura, dos recursos naturais, da cooperação internacional, do comércio internacional e de soluções para um endividamento externo elevado, como recursos essências ao desenvolvimento. Dessa forma, em um momento de aumento exagerado dos preços dos alimentos, o investimento público na agricultura pode promover a subsistência para as pessoas que vivem na área rural, assim como um aumento da competitividade desses produtos agrícolas no cenário internacional. Ademais, a cooperação internacional, juntamente com a participação em fóruns multilaterais viabilizaria um aumento no poder de barganha dos países em desenvolvimento no que concerne às exigências de abertura comercial aos produtos agrícolas, o que seria um grande avanço na promoção do desenvolvimento nesses países, no contexto de Crise Mundial de Alimentos.

Posicionamento de Blocos América Latina

O continente latino-americano apresentou nas últimas décadas grandes avanços no combate à pobreza extrema e à fome. Porém, esses avanços foram insuficientes e não ocorreram de maneira homogênea entre os diversos países da região105, fazendo com que a situação no continente ainda seja delicada. Estima-se que, atualmente, 9,5% da população do continente latino-americano receba menos de um dólar por dia, isto é, viva em situação de extrema pobreza. Calcula-se, também, que a porcentagem da população que não tem acesso a uma alimentação adequada chegue a 10% 106. Logo, a questão da pobreza e da fome afeta o continente como um todo de maneira direta. Contudo, a situação é mais crítica em países da América Central.

A questão da desigualdade sócio-econômica está entre os principais problemas que precisam ser combatidos na região. Isto porque a América Latina é a região que apresenta maiores índices de desigualdade no planeta 107. Por esse motivo, programas de redistribuição de renda se apresentam como uma alternativa viável no combate à fome no continente. Os países da região foram os primeiros a implantar programas dessa natureza, tendo hoje, portanto, as iniciativas mais duradouras e estáveis.

105

Vide site: http://devserver.paho.org/hq/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=214 106

Vide site: http://www.fao.org/faostat/foodsecurity/MDG/MDG-Goal1_en.pdf 107

UNDP International Poverty Centre. In Focus January 2004, pp. 10-11.

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Programas de micro-financiamento representam outro tipo de iniciativa que vêm apresentando resultados satisfatórios na região. Esses programas trabalham na concessão de empréstimos às parcelas necessitadas da população, de forma que elas tenham acesso ao capital necessário para a criação de micro-empreendimentos e possam, por meio deles, melhorarem sua renda108.

As iniciativas de alguns países da região nesse sentido merecem destaque. No caso brasileiro, algumas das melhorias no sentido do combate à pobreza são frutos do próprio crescimento econômico apresentado pelo país nos últimos anos. Porém, melhorias ainda são necessárias e dois programas implementados pelo governo vêm atingindo resultados eficientes no combate a pobreza e à fome: o “Fome Zero” e o “Bolsa-Família”. O Fome Zero trabalha no sentido de garantir a segurança nutricional dos brasileiros109, já o bolsa-família é um programa de redistribuição de renda condicionada, isto é, que exige dos beneficiados uma contrapartida, no caso, uma freqüência escolar mínima para os membros em idade escolar de cada família. Esse programa busca beneficiar famílias que se encontram em situação de pobreza e extrema pobreza 110.

A Bolívia é o país mais pobre e isolado da América do Sul e o problema da pobreza, apesar de atingir o país com um todo, é mais grave em relação às populações de origem indígena. Nos últimos anos, após a eleição de Evo Morales para presidente, o país enfrentou, ainda, grandes instabilidades políticas e sociais111. O presidente Evo, primeiro governante de origem indígena eleito no país, assumiu o poder com uma plataforma que colocava o combate a pobreza e à fome como prioridade. Ele lançou, então, o programa “Má-nutrição Zero” que visa erradicar a má-nutrição, principalmente, entre as crianças bolivianas, por meio de incentivos aos pequenos agricultores e por meio da realização gradual de uma reforma agrária no país. 112

O Paraguai, após o seu processo de democratização em 1989 vem apresentando taxas de crescimento decrescentes com o passar dos anos e níveis ascendentes de pobreza. Entre 1995 e 2004, por exemplo, os níveis de pobreza no país subiram de 30% para 39%. A situação no país é, portanto, extremamente preocupante113. Em 2008, o ex-bispo Fernando Lugo foi eleito presidente com um discurso anti-pobreza. O presidente, então, assumiu seu governo com um compromisso de diminuir a pobreza em seu país, nos próximos anos, por meio de políticas de criação de emprego114.

O país em situação mais preocupante no continente é, sem dúvida, o Haiti. O país caribenho é o mais pobre do hemisfério ocidental e está entre os três países com pior média calórica diária por habitante no planeta. À situação de extrema miséria da população somam-se os recorrentes desastres ambientais e o elevado grau de

108

Vide site: http://un.org/millenniumgoals/2008highlevel/pdf/newsroom/Goal%201%20FINAL.pdf 109

Vide site: http://www.fomezero.gov.br/o-que-e 110

Vide site: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/o_programa_bolsa_familia/o-que-e 111

Vide site: http://www.ohchr.org/EN/Countries/LACRegion/Pages/BOSummary0809.aspx 112

A/HRC/4/30/Add.2 113

MOLINAS, José R. & CABELLO, César. The role of agriculture in the reduction of poverty in Paraguay, p. 02. 114

Vide site: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2008/08/12/lugo_diz_que_lutara_contra_pobreza_que_atinge_35_dos_paraguaios_1554962.html

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instabilidade política, social e econômica no país. Em 2004, a combinação desses fatores resultou em revoltas populares que levaram à derrubada do presidente em atividade. Em 2005, o Programa Mundial de Alimentação (WFP) lançou uma operação humanitária estimada em US$ 40 milhões na região115. A situação, porém, ainda é extremamente delicada e há a possibilidade de novos conflitos.

A crise dos alimentos, representada por um brusco aumento nos preços mundiais de alguns produtos agrícolas representa um novo obstáculo no combate a pobreza e a fome na região. Por esse motivo, alguns governos da região tomaram medidas para amenizar as conseqüências desse aumento de preços em seus países, como por exemplo, as reduções das tarifas de importação de alguns gêneros alimentícios praticadas por diversos países como El Salvador, Honduras, Brasil e Bolívia.

Ásia e Pacífico A crise global dos preços de alimentos criou novos desafios para as políticas

governamentais, em razão da redução generalizada da capacidade de compra e as agitações sociais decorrentes. 116 Uma das regiões do planeta mais afetadas por ela é justamente o maior e mais populoso dos continentes: a Ásia. Há estimativas que apontam até 1 bilhão de asiáticos afetadas por essa disparada dos preços, sendo que 600 milhões delas vivem com menos de um dólar por dia 117.

Tal continente possui nações com posições oficiais heterogêneas com relação à geração de crescimento sustentável e a como erradicar a pobreza, devendo-se isso a grandes diferenças entre as situações socioeconômicas de seus países. Alguns deles, notavelmente no Sudeste Asiático, já alcançaram maior grau de industrialização e desenvolvimento econômico, mas outros ainda possuem a economia calcada na produção agrícola, o que os torna relativamente mais sensíveis às mudanças climáticas. Mesmo assim, todos sentiram os efeitos da crise de alimentos, o que estimula a cooperação e a integração para soluções em comum.

Em 2002, por exemplo, foi elaborado um programa regional (Ásia e Pacífico) de Políticas Macroeconômicas para a Redução da Pobreza 118. Vários países elaboraram relatórios que permitiam a visualização das políticas de ajustes mais adequadas, assim como o cenário para um crescimento “pro-poor” 119.

A China vive um dilema: focar-se em políticas macroeconômicas de crescimento ou estratégias de redução da pobreza, assim como a progressiva exclusão da população deste processo. A despeito de uma economia que cresce 10% anualmente há décadas, em 2000, o programa anti-pobreza chinês não atendia a 45,7% da

115

Vide site: http://www.wfp.org/country_brief/indexcountry.asp?country=332 116

“Países do Sudeste Asiático combatem crise de alimentos”. Disponível em <http://portuguese.cri.cn/135/2008/05/05/[email protected]>. 117

“Ásia: 1 bilhão são afetados pelos preços dos alimentos”. Disponível em <http://noticias.terra.com.br/interna/0,,OI2858657-EI8177,00.html>. 118

Vide site: http://www.undp.org/poverty/macro.htm 119

Tipo de crescimento que beneficia proporcionalmente mais os pobres do que o “non-poor”, tanto em distribuição de renda quanto em poder aquisitivo.

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população rural pobre, quase o dobro do registrado no início do mesmo, em 1986 (25%). 120

O governo chinês, no entanto, vem lançando programas que minimizem tais discrepâncias. Para isso, houve a adoção de subsídios para diminuir a pobreza nas áreas rurais, a mobilização de trabalhadores subempregados para atuarem na construção de infra-estrutura (construção de estradas e projetos de conservação de água, por exemplo), a capacitação técnico-científica dos profissionais e o incentivo à participação da sociedade civil neste processo.

A Índia, em razão de uma combinação de fatores, como políticas distributivistas ineficientes na agricultura, o desvio para o setor de biocombustíveis do cultivo de alimentos e a elevada demanda por grãos (afinal, é um país com uma classe média da ordem de 350 milhões de pessoas), é bastante afetada pela crise dos alimentos.

Medidas drásticas foram tomadas para a resolução deste problema, indo desde a proibição à Bolsa de Valores de Bombaim de realizar pregões de empresas que comercializem produtos agrícolas, até gastos em segurança alimentar e a proscrição da exportação de arroz, exceto para o tipo de luxo basmati. 121 Há também uma forte preocupação em revitalizar a agricultura local, tornando-a mais sustentável, eficiente e de maior produtividade, o que teria efeitos até globais quanto à queda da escassez de alimentos e menores pressões sobre os preços dos mesmos. Sobre este papel importante da Índia, há quem diga que a introdução de novos métodos no setor agrícola indiano pode levar a uma nova revolução verde. 122

A Indonésia, por sua vez, enfrenta sérios problemas relacionados a dívidas, tanto a externa quanto a pública. Caso ela consiga resolver este problema, além de desenvolver mais recursos domésticos, ela será capaz de efetivar um programa de combate à pobreza. Especialistas 123 acreditam que é essencial para os indonésios conciliar uma macroeconomia orientada para o crescimento e complementá-la com políticas voltadas para setores estratégicos e medidas redistributivas que permitam uma maior eqüidade.

Quanto ao desenvolvimento agrícola, o impacto da crise financeira da década de 1990 foi sentido nos preços dos alimentos, o que elevou a inflação e diminuiu o poder de consumo da maior parte da população da Indonésia. Isso direcionou uma mudança estratégica na política governamental, que passou a enfatizar o fortalecimento do mercado interno, assim como a redução dos déficits fiscais. Para isso, relatórios 124 fazem várias sugestões, tais como: a manutenção da produção de arroz para proteger a segurança alimentar; o encorajamento de fazendeiros a diversificarem suas produções de commodities com um alto valor agregado, para expandir os ganhos;

120

“The Macroeconomics of Poverty Reduction: The Case of China”, United Nations Development Programme, 2008. Disponível em <http://www.undp-povertycentre.org/publications/reports/China.pdf>. 121

“Feed the world? We are fighting a losing battle, UN admits”. Disponível em <http://www.guardian.co.uk/environment/2008/feb/26/food.unitednations>. 122

“South Asia Faces Food Crisis Despite India’s High Productivity”. Disponível em <http://www.america.gov/st/econ-english/2008/June/20080630174053mlenuhret0.4272882.html>. 123

“The Macroeconomics of Poverty Reduction in Indonesia”. Disponível em <http://www.undp-povertycentre.org/publications/reports/Indonesia.pdf>. 124

Idem.

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estímulo, na área rural, a empregos fora da agricultura, para absorver o excedente do trabalho agrícola, diminuindo assim o desemprego.

A Coréia do Sul, além de ser um dos países mais afetados pela instabilidade econômica contemporânea, também enfrenta históricos problemas diplomáticos com a sua vizinha do Norte, que atravessa uma profunda crise alimentícia. Há indícios até de que esta poderia derivar em crise de fome. Nessa direção, o governo sul-coreano enviava alimentos para a Coréia do Norte, mas o fornecimento foi interrompido desde a posse do atual presidente, Lee Myung-bak, em fevereiro de 2008. Sete meses depois, no entanto, foi retomada a assistência, em forma de provisões diretas de alimentos ou por intermédio do Programa Mundial de Alimentos (PMA). 125

Já o Japão anunciou ajuda aos países em desenvolvimento que mais sofrem com a crise de alimentos, através de dinheiro (150 milhões de dólares) e arroz (300 mil toneladas de arroz importado, que o governo local tem em estoque). 126 Em uma conferência sobre segurança alimentar, o primeiro-ministro japonês à época (junho de 2008), Yasuo Fukuda, enfatizou o papel de seu país enquanto membro da comunidade internacional, no que diz respeito à responsabilidade em encontrar soluções para a crise alimentar. Leve-se em conta que a situação japonesa, enquanto maior importador líquido de alimentos do mundo, não é nada favorável. De quebra, é um dos países que mais fala na importância de “biocombustível de segunda geração”, que não utilizam colheita de alimentos em sua produção. 127 Europa Apesar de apresentar os melhores índices de desenvolvimento do globo, as comunidades européias não estão livres da pobreza e da fome. Cerca de 16% da população dos países europeus vivem abaixo da linha de pobreza128, sendo que este percentual se reflete principalmente entre imigrantes e descendentes africanos, asiáticos e latino-americanos. Nesse sentido, a crise mundial de alimentos foi um agravante a essa realidade, pois elevou o preço de produtos essenciais à alimentação dos povos europeus.

Nesse sentido, a União Européia (UE)129 se empenha fortemente no combate à pobreza e a fome, não só na Europa, mas em todo o mundo. Com iniciativas que dão ênfase ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, principalmente no combate a pobreza, a UE promove maior desenvolvimento dentro e fora da Europa. Com relação à crise de alimentos a Comissão Européia adotou, em maio de 2008, uma resolução que, entre outras propostas, propõe iniciativas para aumentar a produção agrícola e garantir a segurança alimentar, como também iniciativas no

125

“Coréia do Sul retomará envio de alimentos à Coréia do Norte”. Disponível em <http://www.estadao.com.br/internacional/not_int237508,0.htm>. 126

“Japão promete ajuda com dinheiro e arroz para enfrentar a crise dos alimentos”. Disponível em <http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/japanbrief/politica/jb836.htm>. 127

Idem. 128

Vide site: http://ddpext.worldbank.org/ext/GMIS/gdmis.do?siteId=2&goalId=5&targetId=15&menuId=LNAV01GOAL1SUB1 129

A UE é um bloco econômico, social e político composto por 27 paises europeus. Vide site: http://europa.eu/index_pt.htm

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sentido de combater as repercussões dos aumentos dos preços junto das populações mais pobres130. A França está entre os dez países mais ricos e influentes do mundo, contudo não deixa de apresentar níveis de pobreza: aproximadamente 6% de sua população vive com menos de um dólar por dia131. Os franceses lutam contra o desemprego e baixos salários, pois são fatores que agravam a situação, principalmente, das populações que vivem na periferia das grandes cidades francesas. Nesse contexto, o governo francês investe milhões nas áreas mais pobres das capitais francesas, no intuito de proporcionar o aumento do progresso social entre cidadãos carentes de seu país. Além de combater a pobreza em seu território, as autoridades francesas com o 4º lugar no ranking dos doadores de ajuda financeira mundial132, também se esforçam na tentativa de erradicar a pobreza que desola os países menos desenvolvidos. O aumento de preços causados pela crise mundial de alimentos repercutiu de maneira negativa na França, pois, além de reduzir o crescimento econômico do país, fez a situação da população pobre e desempregada se tornar ainda mais complexa. No sentido de combater os efeitos da crise o governo francês procurou estratégias para diminuir o preço de alimentos básicos e também fez enormes doações financeiras para ajudar os países pobres enfrentar a crise. A Grã-Bretanha é um dos países da Europa Ocidental que apresentam maior índice de pobreza: cerca de 14% da sua população vive a baixo da linha de pobreza133, sendo as minorias étnicas as mais afetadas pela pobreza. Na tentativa de transformar essa realidade, nos últimos anos, o governo britânico aumentou os auxílios sociais, como também o investimento na criação de empregos, sendo que essas mudanças dinamizaram a renda dos seus cidadãos, diminuindo, assim, as taxas de pobreza do país134. Como na maioria dos países do globo, a crise financeira representou perdas a economia britânica e agravou problemas sociais. Deste modo,a Grã-Bretanha lançou ajudas financeiras de milhões de libras para conter a curto e longo prazo os efeitos da crise, tanto para seu próprio território como para os países pobres mais afetados. América do Norte A América do Norte está entre as regiões mais prósperas do globo, seus países apresentam altos índices de crescimento econômico e social, contudo a pobreza e a fome estão presentes nesse continente. As principais causas da pobreza nesse continente são o desemprego, a estagnação na renda familiar, a concentração de renda e salários baixos. Nesse contexto os governos investem muito do seu orçamento na aceleração da economia e em programas sociais com o objetivo de diminuir o nível de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia.

130

Vide site: http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/08/763&format=HTML&aged=0&language=PT&guiLanguage=en 131

Vide site: http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?c=fr&v=69&l=pt 132

Vide site: http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?t=100&v=99&l=pt 133

Vide site: http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?c=fr&v=69&l=pt 134

Vide site: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2005/05/01/ult2678u14.jhtm

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A crise mundial de alimentos não afetou de maneira desastrosa o continente norte americano, todavia os governos dos seus países componentes ficaram receosos com as possíveis futuras conseqüências da mesma e lançaram planos de ajuda aos países que mais sofreram com o aumento do preço dos alimentos. Os Estados Unidos da América possuem 12% de sua população vivendo abaixo do limiar de pobreza135. Com o intuito de erradicar a pobreza em seu território o país investe milhões na economia, para os governantes americanos a melhor forma de diminuir os índices de pobreza é dinamizando o crescimento econômico. Os Estados Unidos não investem somente em território nacional, eles são os maiores doadores de ajuda financeira do mundo, além de coordenarem dezenas de programas de ajuda humanitária. Nesse contexto, o aumento dos preços de alimentos foi visto com grande receio pelo governo norte americano. Como medida para tentar controlar a crise, os Estados Unidos liberaram para exportação alimentos, como trigo, que estavam estocados, e também forneceram milhões de dólares em contribuição aos vários países atingidos pela crise. O Canadá é um país rico que também sofre com índices de pobreza na sua população, aproximadamente 10,8% do povo canadense vive com menos de um dólar por dia. A situação de pobreza no Canadá é sentida principalmente pelos povos indígenas e seus descendentes, nesse sentido, o governo canadense destina bilhões ao combate a pobreza que aflige esses povos136. Assim como vários outros países desenvolvidos o Canadá também fornece ajuda humanitária para vários países do globo. A crise mundial de alimentos não afetou de maneira significativa o Canadá, foi um dos poucos países pouco afetados, pois os preços dos alimentos no país estão entre os mais baixos do mundo,contudo as autoridades canadenses sabem que essa situação pode mudar. Nesse sentido, o governo canadense destinou milhões de dólares para programas da ONU de segurança alimentar e também para países menos desenvolvidos. África A África é o continente que mais sofre o impacto das crises internais em termos de desenvolvimento. O Índice do Desenvolvimento Humano do continente mostra que vinte países sofrem regressões desde 1990, sendo que treze desses países situam-se na África Subsariana. Em oito destes (Angola, República Centro-Africana, Lesoto, Moçambique, Serra Leoa, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe) a esperança de vida caiu para quarenta anos ou menos, devido, em grande medida, à pandemia do HIV/SIDA.137 Além disso, somam-se a problemática da seca, por exemplo, na África Austral, e as questões de financiamento ao desenvolvimento por parte dos países desenvolvidos, que não tem apresentado sinais de eficácia no que concerne a erradicação da pobreza e da fome.138

135

Vide site: http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?c=fr&v=69&l=pt 136

Vide site: http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/story/2005/11/051126_canadarc.shtml 137

Vide site: http://www.ipad.mne.gov.pt/index.php 138

Idem

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30

Neste sentido, atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na África é um desafio à parte, pois exige um aumento expressivo da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD) na região; porém, os governos têm sofrido restrições aos gastos da maior parte da verba recebida nos últimos anos. Um relatório do Escritório Independente de Avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), intitulado “O FMI e o Subsídio à África Subsaariana”, fornece parte da resposta a essa situação. 139Os governos de países em desenvolvimento vinculados ao Programa de Financiamento para Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF) gastaram, em média, apenas 28% de seus recursos da AOD entre os anos de 1999 e 2005. Quando sua inflação foi maior que 5% no período, os países gastaram, em média apenas 15% desse dinheiro, o que significa que resguardar a estabilidade macroeconômica – definida de modo estrito – tem sido mais importante do que priorizar o gasto dos recursos da AOD.140 Nesse sentido, o FMI tem argumentado que os gastos do governo em bens e serviços domésticos, que não são comercializáveis internacionalmente, financiados pela AOD, poderiam exceder a oferta doméstica. Esta situação pressionaria o nível geral de preços e apreciaria a taxa de câmbio do país, prejudicando suas exportações e seu crescimento econômico. 141 No entanto, pesquisas do próprio FMI sugerem que taxas de inflação entre 5% e 10% não comprometeriam o crescimento econômico na África. Inclusive, a instituição reconheceu que choques adversos de oferta, como picos nos preços de alimentos, podem elevar a inflação, temporariamente, para mais de 10%. Entretanto, a prática adotada pelo FMI não tem acompanhado a sua própria teoria. Alinhado com a lógica da contabilidade macroeconômica, o FMI recentemente estabeleceu que o cenário ideal ante um aumento de AOD é de que esses recursos sejam totalmente gastos e absorvidos pelos países em desenvolvimento. 142Em outras palavras, esses governos não somente deveriam gastar em moeda nacional todo o montante equivalente à AOD, como os bancos centrais desses países deveriam vender moeda estrangeira, quando parecer favorável, no total correspondente ao montante recebido de ajuda para facilitar um aumento das importações ou, caso contrário, a AOD poderia acabar não financiando a transferência de recursos reais adicionais para a economia. 143 Ademais, para que a AOD tenha impacto completo no aumento dos gastos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, as políticas fiscais e monetárias precisam ser mais bem coordenadas. Deste modo, as políticas fiscais precisam garantir que a AOD seja totalmente utilizada, enquanto as políticas monetárias devem assegurar a total absorção da AOD.144 Entretanto, sob os atuais regimes econômicos dominados pelos bancos centrais, o papel das políticas fiscais não ultrapassa a contenção de déficits. Sendo assim, as estratégias destinadas a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio claramente dependem de políticas fiscais mais expansivas, que seriam financiadas pela AOD. Contudo, de modo inverso, 139

McKinley, Terry. O que impede a África de gastar seu AOD? Centre for Development Policy and Research, SOAS. Brasilia, 2008. 140

Idem 141

Ibidem 142

Ibidem 143

Ibidem 144

Ibidem

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políticas monetárias mais restritivas, voltadas à inflação estão, atualmente, impedindo a expansão fiscal necessária para o sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na África. 145

Questões que uma Resolução deve responder:

1) Como atingir a Primeira Meta do Milênio que diz respeito a erradicação da pobreza e da fome no mundo?

2) O que fazer para que ocorra uma ação global mais efetiva no combate a pobreza e a fome?

3) Como Programa de Ação de Bruxelas para os países menos desenvolvidos para a década de 2001-2010 pode ser um exemplo a ser seguido para a solução da pobreza e da fome?

4) No âmbito interno, quais são os recursos que deverão ser alocados para a meta de erradicação da pobreza e da fome?

5) Quais instrumentos de política externa deverão ser utilizados pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento para uma cooperação internacional que viabilize uma redução nos níveis globais de pobreza e fome?

6) Até que ponto um investimento massivo na agricultura pode ser uma solução para os países em desenvolvimento no combate aos altos níveis de pobreza e de fome recorrentes em seus países?

7) Como investimentos nos recursos naturais dos países em desenvolvimento podem servir de uma solução para tais questões?

8) Como melhor alocar os instrumentos econômicos dos países em desenvolvimento no âmbito da Crise Mundial de Alimentos?

9) Em um contexto de altos níveis de preço de alimentos, como um investimento na agricultura e nos recursos naturais do país viabilizaria uma alternativa à Crise Mundial de Alimentos?

10) No âmbito externo, até que ponto o Comércio Internacional pode ser uma alternativa ao aumento dos preços de alimentos nos paises em desenvolvimento?

11) Como utilizar a Assistência e Cooperação Internacional como instrumento no combate global contra a pobreza e a fome?

12) Como resolver o problema de dividas externas elevadas nos países em desenvolvimento?

13) Como utilizar os Investimentos Externos Diretos (IEDs) como instrumento econômico para a erradicação da pobreza e da fome?

14) Em um contexto de altos níveis de preço de alimentos, como investimentos no Comercio Internacional, na Cooperação Internacional e nos IEDs viabilizariam alternativas à Crise Mundial de Alimentos?

Bibliografia

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Ibidem

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