contos de fadas

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Patrícia Duarte, Júlia Richter e Samanta Loyola

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Patrícia Duarte, Júlia Richter

e Samanta Loyola

A Literatura fantasista foi a

forma privilegiada da

Literatura Infantil desde os

seus primórdios (séc. VII) até a

entrada do Romantismo;

A partir daí o maravilhoso

dos contos populares é

definitivamente incorporado ao

seu acervo;

É feito através dos trabalhos

dos Irmãos Grimm, na

Alemanha; de Hans Christian

Andersen, na Dinamarca;

Garret e Herculano em

Portugal e etc.

O Maravilhoso sempre foi e

continua sendo um dos

elementos mais importantes na

literatura destinada às crianças;

A Psicanálise afirma que os

significados simbólicos dos

contos maravilhosos estão

ligados aos eternos dilemas que o

homem enfrenta ao longo de seu

amadurecimento emocional;

E essa Literatura Infantil pode

ser decisiva para a formação da

criança em relação a si mesma e

ao mundo a sua volta.

Origens nas narrativas

mitológicas, na poesia e no

drama greco-romano;

Marco básico: Eros de Psique

de Apueleio, uma história

onde surge um protótipo da

vilã na figura de Vênus (a

sogra) e uma heroína

rebaixada, obrigada a prestar

algumas tarefas domésticas e

auxiliada por animais.

Fontes pagãs que são

apropriadas pela população

campesina, em geral iletrada.

Seus argumentos se

desenvolvem dentro da magia

feérica (reis, rainhas, bruxas,

anões, objetos mágicos);

O eixo gerador dos contos

de fada é uma problemática

existencial. É a realização

essencial do herói ou da

heroína, e que via de regra

está ligada a união Homem-

Mulher.

Paris, 12.01.1628

Paris, 16.05.1703

No final do séc. XVII sente-se

atraído pelos relatos maravilhoso

guardados pela memória do povo

e dispõe-se a redescobri-los

A preocupação dele no início da

recriação da literatura folclórica

estava longe de ser com a

infância;

Só após a sua terceira

adaptação, “A pele de Asno” é

que se manifesta sua intenção de

produzir uma literatura para

crianças;

Perrault deseja provar a

equivalência de valores entre os

Antigos greco-latinos e os Antigos

nacionais e com esse material

divertir as crianças;

Com a publicação dos oito

Contos da Mãe Gansa, nascia a

literatura infantil, que hoje

conhecemos como Clássica.

São publicados pela primeira

vez: A Bela Adormecida no

bosque, Chapezinho Vermelho, O

Barba Azul, O Gato de Botas, As

fadas, A Gata Borralheira,

Henrique do Topete e O Pequeno

Polegar.

Hanau, 24.02.1786

Berlim, 16.12.1859

Wilhelm Grimm

Hanau, 04.01.1785

Berlim, 20.09.1863

Jacob Grimm

Os Irmão Grimm recolheram

diretamente da memória popular

as antigas narrativas, lendas ou

sagas germânicas;

Tinham como objetivos básicos

o levantamento de dados

linguísticos e a fixação dos textos

do folclore literário germânico;

A primeira coletânea publicada

em 1812 com o nome de Kinder

und Hausmärchen e apresentava

51 narrativas;

A quinquagésima edição já

totalizava 181 narrativas.

Algumas são de fundo europeu,

tendo sido escritas também por

Charles Perrault no séc. XVII, o

que remete a existência de uma

fonte comum;

O Romantismo trouxe ao

mundo um sentido mais

humanitário.

Odense, 02.04.1805

Copenhague, 04.08.1875

Século XIX – início do Romantismo:

Histórias autenticamente

românticas – sensibilidade, fé cristã,

valores populares, ideais de

fraternidade, generosidade humana.

Padrões de comportamento. Vida

enquanto sofrimento para alcançar o

céu.

Nostalgia – período em que

Andersen viveu. Dinamarca sob

domínio napoleônico – grande

expansão econômica, progresso

industrial, contrastes.

Região Nórdica. Folclore.

Contos: realidade cotidiana –

injustiça social e egoísmo. Contos

tristes, fins trágicos.

Nascimento:

02/04 – Dia Internacional da

Criança (Andersen “imortal”)

18/04 – Dia da Criança

Brasileira (Monteiro Lobato)

Morte: 1875 – fortuna destinada

a crianças abandonadas ou

pobres.

Precursor da literatura infantil

mundial.

Valores ideológicos:

Defesa dos direitos;

Valorização do indivíduo por

suas qualidades próprias;

Expansão do Eu;

Consciência da precariedade da

vida;

Crença na superioridade das

coisas naturais;

Incentivo à caridade e à

fraternidade cristãs;

Sátira às mentiras usadas pelos

homens;

Condenação de sentimentos

inferiores;

Valorização de comportamentos

como virtudes básicas da mulher.

Conto sem autores ou forma

final e definitiva.

A primeira fonte é uma

história “real”, no sentido em

que seu registro não pretendia

ser uma fábula, mas sim

histórico. O historiador grego

cita a personagem Rópope:

“Contam uma história

fabulosa, quando ela estava se

banhando, uma águia roubou

uma de suas sandálias da guarda

de sua dama de

companhia e levou-a até Memfis;

e quando o rei administrava

justiça em uma área aberta, a

águia, quando vôo por sobre sua

cabeça, lançou a sandália no seu

colo; e o rei, impressionado pela

beleza da sandália e o inusitado

do acontecido, mandou seus

homens por todos os cantos da

nação para encontrar a mulher a

quem a sandália pertencia; e

quando ela foi localizada na

cidade de Naucratis, foi levada

até Memfís, tornando-se esposa

do rei, e quando morreu foi

homenageada com a tumba

acima mencionada.”

O próximo registro já incluiu

elementos fantásticos, que é

uma história chinesa,

registrada no século IX: Yeh-

Shen;

Diversos elementos são

adicionados, como a madrasta

má, uma outra irmã e o baile;

O auxílio exterior mágico é

apresentado pelo espírito de

um peixe, a quem Yeh-Shen

alimentara quando vivo;

Na Europa, o primeiro registro

foi feito pelo italiano

Giambattista Basile no

Pentamerone.

Nesta versão a heroína ganha

o nome Cinerentola, ao ser

obrigada tomar conta de uma

lareira. Ela é uma princesa

injustiçada que conta com o

auxílio de uma fada que vive na

Sardenha. Também freqüenta

um festival e nele perde sua

sandália.

É importante notar que é

destas versões, o único que não

apresenta certa mobilidade

social, pois Cinerentola é nobre.

As duas narrativas mais

conhecidas são as versões de

Charles Perrault e dos Irmãos

Grimm;

Perrault introduz a fada-

madrinha, o auxilio de animais

encantados e a proibição da

Meia-noite. O sapatinho torna-se

de cristal. São dois os bailes;

É um conto adocicado cuja

heroína é o modelo da boa moça

resignada, ingênua, cheia de

pudor que nunca impõe sua

vontade;

Estudos mostram que muitos

elementos foram negligenciados

na versão elaborada por

Perrault, que se despojou de

passagens que considerava

vulgar e refinou o restante para

que o conto pudesse ser exposto

na Corte de Versales, para a

qual prestava serviços.

Sendo ele um autor de bom

gosto e grande habilidade,

inventou novos detalhes e

modificou outros tantos para

que ficassem de acordo com as

concepções estéticas esperadas

pela realeza.

Os Grimms eram famosos

por criarem versões dos

contos que recolhiam,

utilizando-se de fontes

anteriores e não somente o

registro oral.

Nesse conto, Cinderela é

auxiliada pela mãe, não por

uma fada madrinha e faz seus

pedidos no túmulo materno.

Nos Grimms os papéis

femininos são radicais: ou

representam uma autoridade

benevolente, como as mães,

ou o descontrole maligno

como as bruxas e madrastas.

No caso do Grimm, o

conflito de classes, como a

ascensão social de Cinderela

ao disputar o príncipe com as

irmãs, é realçado.

“Enquanto não tinha ninguém

em casa, Cinderella foi ao

túmulo de sua mãe, sentou-se

sob a árvore e disse

"Balance e se agite, árvore

adorada,

Me cubra toda de ouro e

prata."

O passarinho entregou-lhe um

vestido de ouro e prata e

sapatos de seda com bordados

de prata. Ela vestiu-se com

pressa e foi ao baile.”

“Sua madrinha, que a viu em

prantos, perguntou-lhe por que

chorava.

[...]

Bastou que a madrinha a

tocasse com a varinha de

condão e no mesmo instante

seus vestidos se

transformaram em outros de

ouro e prata, semeados de

pedrarias. A seguir, a fada deu-

lhe um par de sapatinhos de

vidro, os bonitos do mundo.”

“Na cerimônia do casamento do

príncipe, as duas irmãs falsas

foram e queriam ficar de bem

com Cinderela e dividir com ela

a boa fortuna que teve.

Quando os noivos chegaram à

igreja, a mais velha estava à

direita e a mais nova à esquerda,

e as pombinhas arrancaram um

olho de cada uma das irmãs.

Depois quando voltavam, a mais

velha estava à esquerda e a mais

nova à direita, e as pombinhas

arrancaram o outro olho de cada

uma delas. E então, por sua

maldade e falsidade, elas foram

punidas com a cegueira até o fim

de suas vidas.”

“Foi então que as duas irmãs a

reconheceram no baile. Lançaram-

se a seus pés para pedir-lhe

perdão por todo os maus tratos

que lhe aviam proporcionado, mas

a Borralheira as ergueu, dizendo-

lhe entre beijos que as perdoava

de todo o coração e pedindo-lhes

que a estimassem. [..] A

Borralheira, que era de tão bom

coração, quanto era bela, levou as

duas irmãs ao palácio, dando-as

em casamento a dois grandes

fidalgos da corte.”

A versão atual começa com

uma rainha estéril que anseia

por uma criança;

Ao picar o dedo com uma

agulha e ver o sangue pingar na

neve, a Rainha deseja ter uma

filha: “Alva como a Neve, Rubra

como o Sangue e Negra como

Ébano”;

Seu desejo foi atendido, mas

após o nascimento de sua filha

a Rainha morre;

A morte da Rainha mãe foi uma

reviravolta na história

introduzida dos Grimm;

Em suas primeiras versões é a

mãe biológica que motivada por

ciúme tenta matar a menina;

Ela foi transformada em

madrasta malvada a partir de

1819;

Os irmãos Grimm trabalharam

muito no livro “Kinder-und

Hausmärchen” após sua primeira

edição em 1812;

Especialmente Wilhelm que

infundia as novas edições com

seu fervor cristão fortalecendo os

traços morais da trama;

Distribuía as penas para os

maus e recompensas para os

justo, em conformidade com os

valores sociais e cristãos

dominantes.

Outro ponto é que inicialmente

os contos de fadas não foram

publicados com as crianças em

mente e sim para os estudiosos

Mais tarde os contos se

popularizaram entre as famílias,

as crianças e os mais leigos;

Então os irmãos tomaram

cuidado para eliminar o material

que consideravam impróprio

chegando as vezes a reescrever

contos inteiros;

Existem várias versões desse

conto ao redor do mundo e as

interpretações são as mais

diversas;

Em alguns lugares a princesa é

envenenada com flores, bolo,

vinho, sapatos e até com tinta

de carta;

Os anões podem ser ladrões,

mineiros e até monges. O corpo

da princesa em algumas

histórias é lançado ao mar,

enviado para as fadas ou

roubados por ciganos;

A versão mais conhecida desse

conto ocorreu após o filme da

Disney em 1937

Foram feitas várias alterações

significativas como dar nome e

personalidade aos anões

A princesa já não é mais uma

criança e o papel do príncipe é

expandido, pois o seu amor é

demonstrado no início do filme

Foi um grande sucesso e amado

por gerações de crianças, mas é

um mundo a parte criado pela

Disney.

Na versão da Disney a Rainha

pede ao caçador que traga o

coração e não o fígado e os

pulmões;

O coração tem uma conotação de

pureza, está relacionado à

bondade;

No original ocorrem 3 tentativas

de envenenamento: Uma com uma

fita, outra com um pente e a

última e fatal com a maçã;

A princesa desperta após os

servos do príncipe tropeçarem e o

pedaço de maçã envenenada soltar

de sua garganta. Já no filme ela é

despertada pelo beijo mágico;

Na versão dos Grimm a Rainha

é convidada para o casamento da

nova princesa sem saber que ela

era Branca de Neve;

A Rainha foi obrigada a calçar

um par de sapatos de ferro

quentes em brasa e dançar até

cair morta;

Na versão cinematográfica a

Rainha é morta após uma

perseguição com os anões ao cair

de um penhasco;

“ ... Bem que eu poderia ter uma

criança tão alva como a neve,

tão corada como sangue e de

cabelos cor de ébano”

“ A coitadinha ficou só na

floresta, sem viva alma por

perto, e se sentiu tão

amedrontada que não soube o

que fazer”

“Branca de Neve estava muito

faminta e sedenta, por isso

comeu um pouco de pão e salada

de cada prato...”

“ ... Ah! Se eu pudesse ter um

filhinho, um filhinho branco

como a neve, corado feito o

sangue e com o cabelo preto

feito o ébano dessa janela!”

“ Na enorme floresta, a pobre

garota esta terrivelmente

sozinha e com tanto medo que se

fosse possível ia fazer questão de

ver o que havia atrás de cada

folha.”

“ Branca de Neve estava com

uma fome tão tremenda, uma

sede tão terrível, que não

aguentou e comeu um pouquinho

de comida de cada pratinho...”

“- Quem sentou na minha

cadeira?

- Quem comeu no meu prato?...”

“Ora aconteceu que eles

tropeçaram em um galho de

árvore seco, e o impacto deslocou

o pedaço de mação pela boca de

Branca de Neve”

“Então a malvada soltou uma

praga e ficou tão horrivelmente

assustada que não soube o que

fazer. Contudo não descansou:

sentiu-se obrigada a ir ver a

jovem rainha.”

“ – Quem sentou na minha

cadeirinha?

- Quem comeu no pratinho?...”

“ Mas aconteceu que os

empregados do príncipe

tropeçaram na raiz de uma árvore

e com o solavanco o pedaço de

mação que estava preso na

garganta de Branca de Neve pulou

fora de sua boca.”

“... A rainha soltou um palavrão e

se encheu de pavor. No começo

achou que não ia naquele

casamento de jeito nenhum, mas

depois não aguentou e resolveu ir,

comida de inveja, só para ver a

cara da jovem rainha.”

Publicado em 11 de Novembro de 1843.

Carta de 21 de Julho de 1869 a Georg Brandes: “O Patinho Feio é um reflexo de minha própria vida”. Tom autobiográfico.

“[...] Mas o que viu na água

transparente? Viu sob si a sua

própria imagem, porém já não

era um torpe pássaro cinzento,

escuro, feio e repugnante: era

um cisne.

Que importância ter nascido

com patos, quando se saiu de

um ovo de cisne!

Sentia-se compensado de sobra

por todas as dores e

contratempos que sofrera; só

pensava na sua felicidade, em

toda a beleza que o aguardava.

E os grandes cisnes nadavam à

sua volta e o acariciavam com o

bico.

No jardim, entraram algumas

crianças [...]

Foram correndo buscar os pais,

e lançaram pão e bolachas na

água, e todos disseram:

-O novo é o mais bonito! Tão

jovem e tão belo! – e os cisnes

mais velhos se inclinaram ante

ele.

Porém, ele sentiu muita

vergonha e pôs a cabeça

debaixo das asas, sem saber por

quê; estava demasiado feliz,

mas não sentia orgulho algum,

porque um bom coração nunca

se torna orgulhoso[...]

-Nunca sonhei com semelhante

felicidade quando era um

patinho feio.”

“[...] quando viu sua imagem

refletida na água.

Que surpresa! Ele já não era

mais um patinho feio, e sim

um belo cisne! [...] E

enquanto os patinhos velhos

aproximavam-se para saudá-

lo, o patinho feio levantou a

cabeça com orgulho e

elegância e começou a nadar,

muito feliz por saber que era

um formoso cisne.”

Perrault e Andersen – influências do folclore, base popular.

Perrault – registrador, enquanto Andersen viveu os

problemas que estão registrados. Por isso, ele acaba sendo

mais psicológico, sentido e interpretado que Perrault, que

transmite as tradições, mas não as vive. Foi um curioso

intelectual das tradições, dos contos clássicos, cheios de

fantasia e de riqueza folclórica e humana. Realismo.

Andersen – mostra mais as reações do que os fatos em si.

Abandona, em parte, as narrações, para penetrar nas

relações humanas, seus dramas e beleza interior. Sua

experiência é vivida e sentida. Romantismo.

Grimm – pesquisadores do folclore, embora com outras

implicações. Eram motivados pelo nacionalismo exaltado pelo

romantismo. Buscavam as tradições populares no culto de

seu povo e sua terra.

Os três tinham o mesmo objetivo: atingir a infância.