critic a eco solidari a

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Os dois pilares para se construir a autogestão: uma crítica aos pesquisadores da Economia Solidária Henrique T. NOVAES [email protected] GAPI - UNICAMP ABPES Resumo Este artigo pretende criticar a visão de autogestão dos autores da Economia Solidária (ES), muito centrada na idéia de um parlamentarismo dentro da fábrica. Para nós, os trabalhadores poderão continuar separados dos meios de produção caso não se atentem para a imprescindível necessidade do controle unificado da produção e de novas forças produtivas. Na seção I, coloca-se em evidência o primeiro pilar para se alcançar a autogestão: a necessidade de coordenação global da produção pelos produtores associados em contraposição à proposta de socialismo de mercado vislumbrada pela ES. Nesta seção, nos apoiamos nas obras de C. Bettelheim, I. Mészáros, M. Burawoy e E. Mandel, autores que buscam refundar a proposta de planejamento, à luz dos escritos de Marx e Engels e da experiência do socialismo real. Na seção II, observamos que a autogestão não é possível sem uma radical reestruturação dos meios de produção e da organização do processo de trabalho, nosso segundo pilar. Enquanto que para a ES as forças produtivas capitalistas são consideradas um veículo para a transição socialista, procura-se demonstrar os entraves à autogestão engendrados por estas. Palavras-chave: Planejamento socialista da produção, Socialismo de Mercado, Economia Solidária, Forças produtivas, Entraves à autogestão X Encontro Nacional de Economia Política

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  • Os dois pilares para se construir a autogesto: uma crtica aos

    pesquisadores da Economia Solidria

    Henrique T. NOVAES

    [email protected]

    GAPI - UNICAMP

    ABPES

    Resumo

    Este artigo pretende criticar a viso de autogesto dos autores da Economia Solidria

    (ES), muito centrada na idia de um parlamentarismo dentro da fbrica. Para ns, os

    trabalhadores podero continuar separados dos meios de produo caso no se atentem

    para a imprescindvel necessidade do controle unificado da produo e de novas foras

    produtivas. Na seo I, coloca-se em evidncia o primeiro pilar para se alcanar a

    autogesto: a necessidade de coordenao global da produo pelos produtores

    associados em contraposio proposta de socialismo de mercado vislumbrada pela ES.

    Nesta seo, nos apoiamos nas obras de C. Bettelheim, I. Mszros, M. Burawoy e E.

    Mandel, autores que buscam refundar a proposta de planejamento, luz dos escritos de

    Marx e Engels e da experincia do socialismo real. Na seo II, observamos que a

    autogesto no possvel sem uma radical reestruturao dos meios de produo e da

    organizao do processo de trabalho, nosso segundo pilar. Enquanto que para a ES as

    foras produtivas capitalistas so consideradas um veculo para a transio socialista,

    procura-se demonstrar os entraves autogesto engendrados por estas.

    Palavras-chave: Planejamento socialista da produo, Socialismo de Mercado,

    Economia Solidria, Foras produtivas, Entraves autogesto

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • O verdadeiro alvo da transformao emancipatria a completa erradicaodo capital como modo de controle totalizante do prprio sociometabolismoreprodutivo, e no simplesmente o deslocamento dos capitalistas da condiohistoricamente especfica de personificaes do capital (Mszros, 2002)

    Introduo

    Este artigo pretende mostrar que a Economia Solidria (ES) no Brasil deu muita

    ateno ao tema das decises democrticas realizadas em cooperativas populares e

    fbricas recuperadas pelos trabalhadores, sem, no entanto, criticar os mecanismos de

    mercado e os entraves autogesto engendrados pelas foras produtivas capitalistas.

    Nossa hiptese que os autores da ES realizam uma crtica parcial, seno

    incompleta, ao sociometabolismo do capital (Novaes, 2004a). Como veremos na seo

    I, a ES no realiza uma crtica profunda aos mecanismos de mercado e anarquia da

    produo capitalista, o que nos leva a crer que so adeptos do socialismo de mercado.

    Para derrubar a tese de socialismo de mercado e debater a necessidade de

    coordenao global da produo pelos produtores associados - nosso 1 pilar para a

    construo da autogesto sistematizamos as obras de C. Bettelheim, I. Mszros, M.

    Burawoy e E. Mandel. Uma ateno especial dada s obras de Paul Singer, o

    pesquisador mais renomado da Economia Solidria brasileira.

    Na seo II, abordamos nosso segundo pilar, muitas vezes ignorado pela ES ou

    insuficientemente tratado, qual seja, a necessidade de foras produtivas socialistas.

    Como veremos, no se trata de aproveitar os avanos das foras produtivas sob novas

    relaes sociais de produo, mas de reestruturar radicalmente a cincia, a tecnologia e

    de resgatar o conhecimento dos trabalhadores para se construir a autogesto (Novaes e

    Dagnino, 2004). O artigo encerrado com algumas consideraes finais

    1 Pilar: a coordenao global da produo pelos produtores associados

    C. Bettelheim: iniciando o debate

    Para iniciar nossa argumentao, vejamos porque C. Bettelheim defende a

    necessidade de planejamento, luz dos acontecimentos histricos da URSS:

    Nas semanas seguintes Revoluo de Outubro, o partido bolchevista tentatransformar a atividade dispersa e anrquica de centenas e milhares decomits de fbrica em um controle operrio coordenado, que possaconformar-se s exigncias de uma poltica proletria.A tarefa no fcil, pois ao mesmo tempo em que cresce o nmero doscomits de fbrica, cada um deles tende a multiplicar suas prerrogativas e atratar cada fbrica como uma unidade de produo independente propriedade coletiva de seus prprios trabalhadores -, determinando por si

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • mesma o que se produz, a quem vende e a que preo, isto quando adominao social da classe operria sobre os meios de produo exigiria queos poderes atomizados e contraditrios desses comits fossem subordinados aum fim poltico comum.Uma coordenao social da produo particularmente indispensvel naindstria, onde cada unidade de produo executa apenas um nmerolimitado de processos de transformao e representa somente um elo no meiode um processo de produo de conjunto altamente socializado. Asobrevivncia da indstria sovitica e a luta contra as foras de mercado econtra a predominncia dos interesses particulares das diferentes fbricasexige, portanto, um mnimo de coordenao a priori das atividades dasdiferentes unidades de produo. Na falta de uma coordenao a priori, acoordenao se faz de qualquer modo a posteriori, atravs do mercado, oumelhor, o resultado das foras entre os diversos ramos das indstrias oudiversas fbricas (Bettelheim, 1979, p.133 grifos no original).

    Bettelheim adverte que os trabalhadores da URSS no estavam convencidos da

    necessidade de ver limitados os poderes dos comits de fbrica por sua subordinao a

    uma instncia exterior, pois aos olhos de muitos trabalhadores, o estabelecimento de um

    controle mais ou menos centralizado se apresentava como uma espcie de confisco de

    poder que eles acabaram de arrancar da burguesia e esperavam conservar no nvel de

    sua prpria fbrica. Adicionalmente, a passagem para o controle operrio e o abandono

    do tipo de gesto descentralizada e anrquica para o qual se orientavam os comits de

    fbrica, chocavam-se antes de tudo com a presena, ainda profunda nas massas, da

    ideologia burguesa e pequeno-burguesa favorvel ao cada um por si, ao egosmo de

    empresa e a uma concepo abstrata de liberdade (Bettelheim, 1979, p.134).

    Algo parecido foi observado na Polnia, durante as visitas de Bresser Pereira

    (1987) este pas. Para os poloneses :

    A proposta autogestionria significava o controle direto da produo e,portanto, o controle da economia pelos trabalhadores. No significava apenaso controle das empresas. No bastava que os trabalhadores elegessem, aonvel (sic) da empresa, os seus dirigentes. Isto representaria o risco de criar oque os poloneses chamam de propriedade de grupo. Seria transformar ostrabalhadores de uma determinada fbrica, de uma determinada organizao,em seus proprietrios, e dessa forma coloc-los defendendo seus interessesprivados contra os interesses mais gerais da sociedade (Bresser Pereira, 1987,p. 108- grifos no original)1.

    Para Bettelheim, a simples mudana da propriedade jurdica dos meios de

    produo no garante uma ruptura com o sistema capitalista. Para ele, os elementos

    capitalistas das relaes de produo estavam profundamente inseridos no conjunto dos

    processos de produo e reproduo, nas modalidades da diviso do trabalho dentro das

    empresas estatais e nas maneiras de separar estas umas das outras. Assim, se

    1 No entanto, parece que h um equvoco na proposta polonesa pois estes acreditavam que a autogestosignificava tambm descentralizar a atividade econmica e estabelecer as bases de uma economia demercado. O planejamento econmico seria mantido, mas o mercado teria um papel maior como indicadorna alocao dos recursos e na determinao das atividades empresariais (Bresser Pereira, 1987, p. 109).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • reproduzem relaes mercantis e salariais que do origem a um lucro monetrio no

    nvel das empresas (Bettelheim, 1979, p. 456).

    Muito longe de defender a aparente liberdade de controle da produo em

    cada fbrica, Bettelheim reconhece que o controle fabril, a gesto descentralizada ou a

    autogesto em algumas empresas individualmente, ignora os condicionantes da

    produo externos empresa.

    por isso que em contraposio a anarquia da produo, ao descontrole da

    produo e a aparente liberdade que se d quando os trabalhadores adquirem os meios

    de produo, Bettelheim defende a coordenao social da produo

    No entanto, a vertente de esquerda da Economia Poltica insiste em querer

    conciliar o lado bom do capitalismo a concorrncia - com o cooperativismo. John

    Stuart Mill, por exemplo, acreditava que os interesses pessoais poderiam convergir com

    os interesses da comunidade numa tica que ele chama de esprito pblico.

    Apesar de Mill reconhecer a necessidade de uma mudana social que combine

    liberdade e independncia do indivduo e que acabe com a diviso da sociedade entre

    trabalhadores e ociosos, este autor defende a permanncia da concorrncia entre as

    associaes, isso porque esta beneficiaria os consumidores e porque, onde no existe

    concorrncia, existe monoplio. A ltima justificativa dada por Mill em defesa da

    concorrncia, encontra-se na seguinte passagem: proteger algum da concorrncia

    dar proteo sua ociosidade (Mill, 1986, p. 279, vol II).

    Um outro exemplo de incoerncias na conciliao de socialismo e mercado a

    teoria de Proudhon. Segundo Mandel (2001), para Proudhon tratava-se de emancipar o

    operrio-arteso da dominao do dinheiro (do capital), sem abolir a produo mercantil

    e a concorrncia: iluso tipicamente artesanal pequeno-burguesa. Se algumas vezes

    Proudhon apresentado, no sem razo como o pai da idia de autogesto operria, o

    impasse do socialismo de mercado manifesto na Iugoslvia desde 1970 j est

    potencialmente esboado em suas idias (Mandel, 2001, p.70 grifos no original).

    De uma forma muito prxima s teorias dos senhores Mill e Proudhon e talvez

    pela crise encadeada pelos insucessos do planejamento no perodo de socialismo real,

    os pesquisadores da Economia Solidria no Brasil seguem propondo uma contradio:

    a conciliao de socialismo e mercado, cooperao e competio, eficincia da

    cooperativa e anarquia da produo (Novaes, 2004a). A melhor maneira de entender

    esta contradio em termos se d pela anlise do mais ilustre de todos expoentes da

    Economia Solidria no Brasil: o professor Paul Singer2.

    2 Em Novaes (2004a), buscamos derrubar o argumento apontado por Singer (2002, p.91) de que otrabalho deixa de ser alienado em cooperativas surgidas de empresas falidas, e tambm o argumento de

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • Para Singer, O colapso do socialismo realmente existente convenceu a maioria

    dos marxistas que o progresso econmico e os direitos individuais no podem ser

    garantidos sem liberdade econmica e algum grau de competio de mercado (Singer,

    1999, p.73).

    No longo prazo segundo Singer - a melhor maneira de viabilizar e efetivar a

    Economia Solidria enquanto modo de produo se dar atravs da formao de um

    mercado integrado e preferencial constitudo por um setor econmico formado por

    pequenas empresas e trabalhadores por conta prpria composto por ex-desempregados,

    que tenham um mercado protegido da concorrncia das grandes empresas.

    Isso no quer dizer que necessrio isolar-se da economia dominante

    capitalista para desenvolver formas socialistas de distribuio e, eventualmente, de

    produo (Singer, 1998a, p.113). Segundo Singer,

    A posio de Owen (e de Fourier, entre outros) supunha que a economiasocialista deveria ser construda como um todo fechado e relativamente auto-suficiente, para no ser contaminada pelo ambiente capitalista.(...) A sociedade dos Pioneiros de Rochdale mostrou que os trabalhadorestm capacidade de organizar atividades econmicas segundo princpiosprprios, socialistas, e que os empreendimentos cooperativos podem, emcertas condies, competir vitoriosamente com empresas capitalistas pelosmercados (Singer, 1998a, p.113 grifos no original)

    verdade que a preferncia pela formao de um conjunto de produtores e

    consumidores organizados para trocar seus produtos entre si ou como se prope

    atualmente atravs da construo de redes de comrcio pode ser uma sada de curto

    prazo para a ES. No entanto, o movimento de ES acredita que possvel blindar ou

    mesmo criar muros que impedem a chegada dos efeitos negativos da concorrncia

    sobre os empreendimentos autogestionrios. Atravs da construo de fortes que

    buscam promover a solidariedade para dentro das portas dos empreendimentos

    solidrios, a ES acredita que possvel neutralizar a agressividade no-solidria do

    mercado concorrencial capitalista seja atravs da criao de redes ou atravs da

    concorrncia direta no mercado3.

    Diante disso, pode-se chegar concluso que o mercado e a concorrncia no

    so questionados. Ao contrrio do que foi exposto acima, Fernando Haddad (2003)

    busca resgatar, sob a perspectiva de Marx, a incoerncia entre a Anarquia da Produo e

    Tiriba (1994) de que os trabalhadores de empresas reabilitadas tornaram-se senhores de seus produtos(Tiriba, 1994) e assim extinguem automaticamente a alienao do trabalhado com a passagem dapropriedade dos meios de produo de um capitalista para os trabalhadores.3 Para Francisco de Oliveira (2002), a Economia Solidria a nica forma de fazer avanar adesmercantilizao. No entanto, esta s possvel se os trabalhadores se organizarem como umaeconomia solidria, como um setor parte da competio. Ao invs de um setor de Economia solidriadeve-se seguir na busca de um setor socializado da economia. O que mais nos interessa aqui parte

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • Cooperativismo. Se interpretamos corretamente, Haddad nos leva a crer que a ES vem

    observando a necessidade primordial do controle da propriedade pelos trabalhadores

    sem questionar a anarquia da produo. talvez por isso que se d a convivncia

    pacfica sempre para a ES - entre Anarquia da Produo e Cooperativismo, entre

    Mercado e Cooperativismo, abordadas nas pginas anteriores.

    Na Argentina, um grupo de estudos parece estar observando as fbricas

    recuperadas de uma forma muito prxima a anlise aqui exposta. Para Lucita (2002):

    Cualquiera se la forma que adquieran [las cooperativas], si los trabajadoresque gestionan estas empresas vuelcan sus esfuerzos y creatividadexclusivamente hacia el interior de sus establecimientos, si abandonan todointento de coordinacin y de solidariedad con otras fbricas y experienciasestn indefectiblemente condenadas a recaer en la competencia capitalista yen la autoexplotacin.Si el movimiento de ocupacin fabril y gestion obrera es capaz de superar losestrechos lmites de cada una de las fbricas en cuestin, si se afirma en elcarter social de su producion diferenciada por lo tanto de la lgica de laganancia y avanza en las coordinacin y planificacin de sus producciones diferenciandose por lo tanto de la anarquia capitalista -, estar exponiendoante la sociedad, que da muestras de una adhesin y simpatya hacia elmovimiento pocas vezes conocida, que otra forma de producir y de planificarson posibles, y que otras relaciones de produccin son necesarias pararesolver la crisis del pas (Lucita, 2002, p. 4)4.

    Ao observar a autogesto somente enquanto uma possibilidade de tomada de

    decises democrticas dentro das fbricas, sem se atentar para a necessidade de

    coordenao harmoniosa da produo, a ES realiza uma crtica parcial, seno

    incompleta.

    Para ns, os empreendimentos autogestionrios no podem ser analisados sem se

    prestar ateno ao em torno em que esto inseridos. No pode haver uma teoria que se

    sustente olhando apenas para dentro das cooperativas, celebrando a nova forma de

    deciso democrtica, parlamentarista, na qual os trabalhadores decidem coletivamente

    os rumos de cada empresa sem se observar a necessidade de extino dos mecanismos

    de mercado.

    O que se busca enfatizar aqui a necessidade de planejamento centralizado da

    produo em oposio a qualquer vertente de socialismo de mercado. Acredita-se que

    os trabalhadores devero caminhar em busca da coordenao da produo que no caia

    onde Oliveira observa as pessoas esto tentando produzir mais barato, mas produzir para vender. O queno realmente economia solidria (Oliveira, 2002, p.102).4 Lucita (2002) esclarece os trabalhos do grupo de Economistas de Izquierda (EDI) na seguinte nota: Eneste sentido es necesario valorizar la iniciativa de um grupo de estudiantes de Ciencias Econmicasnucleados em la Agrup. Em Clave Roja que han convocado, entre otros a los miembros del EDI, paraconstruir grupos de trabajo en el seno de una Comisin de Planificacin Econmica que aporte a laresolucin de los problemas de gestin de las empresas ocupadas y avance en la planificacin de laproduccin y el consumo de productos sociales (Lucita, 2002, p.6).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • nem na burocracia sovitica nem na anarquia da produo caracterstica do capitalismo5.

    Vejamos ento a contribuio de Istvn Mszros ao tema aqui analisado.

    A interpretao de Istvn Mszros

    Os que desprezam a prpria idia de planejamento, em virtude da implososovitica, esto muito enganados, pois a sustentabilidade de uma ordemglobal de reproduo sociometablica inconcebvel sem um sistemaadequado de planejamento, administrado sobre a base de uma democraciasubstantiva pelos produtores livremente associados (Mszros, 2004, p.45)

    Istvn Mszros, o melhor herdeiro da teoria marxista, nos d algumas pistas

    para a compreenso da dialtica entre planejamento da produo e democracia nas

    decises. preciso lembrar inicialmente que toda a sua teoria segue na busca das

    exigncias qualitativamente mais elevadas de uma nova forma histrica para alm do

    capital: o socialismo onde o ser humano possa desenvolver sua rica individualidade.

    Mszros (2002, p.318) advoga a necessidade de reestruturao global do

    controle social tendo por objetivo a harmonizao das necessidades humanas com os

    recursos materiais e humanos conscientemente geridos.

    Deve-se lembrar que os instrumentos de ao scio-polticos verdadeiramente

    adequados a emancipao humana s podem ser elaborados pela prpria prtica social

    crtica e autocrtica no curso de seu efetivo desenvolvimento (Mszros, 2002).

    O programa de superao prtica da alienao capitalista poderia ser

    concretizado como a substituio dos instrumentos incontrolveis, reificados do

    capitalismo por instrumentos controlveis de intercmbio humano. Mas essa uma

    tarefa scio-histrica que requer um longo prazo de maturao onde se deve considerar

    a possibilidade de reverses (Mszros, 1982).

    Para este autor, o carter fetichista da mercadoria, da troca e do dinheiro, o

    trabalho assalariado, a competio antagnica, as contradies internas mediadas pelo

    Estado burgus, o mercado, e a reificao da cultura so resultado da ausncia de

    controle humano, o que nos leva a crer que devem ser superados radicalmente e

    5 verdade que o capitalismo no to anrquico quanto parece ser. Dowbor (1998, p.85) afirma estimaque entre 500 ou 600 empresas transnacionais controlam de 20 a 25% do comrcio mundial de bens eservios, ao invs do suposto mercado metafsico que aparece nos noticirios. Mesmo sabendo que omercado no est totalmente desgovernado, acreditamos que a forma de controle que essas empresasassumem est longe de representar qualquer avano na coordenao da produo pelos trabalhadores.Para Dowbor (1998, p.429) o Mercado um mecanismo indispensvel, mas nunca suficiente, aofuncionamento da sociedade. Mszros (2002, p.885 Nota 22) tambm reconhece que a Economia deMercado capitalista um tipo de economia dirigida, mesmo que sua estrutura seja mais complicada eimpessoal que a do sistema ps-capitalista.

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • substitudos por instrumentos e meios de intercmbio humanos conscientemente

    controlados (Mszros, 1982, p.225).

    A transcendncia da alienao da produo poderia ser esboada pela concepo

    de um processo longo e complexo de modificao, caracterizado pela descontinuidade

    na continuidade onde os produtores associados regulariam racionalmente o seu

    intercmbio com a natureza.

    A necessidade de um controle social global consciente das condies de auto-

    realizao humana imprescindvel para que os seres humanos rompam a tirania da

    base material (Mszros, 1993, p.201). Sabendo que o capitalismo uma sociedade

    regida pelas foras desumanas da competio antagnica e do ganho implacvel, aliados

    a concentrao de riquezas e poder em um nmero menor de mos, onde o trabalhador

    existe para satisfazer as necessidades de auto-expanso dos valores existentes, ao invs

    da riqueza material existir para satisfazer as necessidades de desenvolvimento do

    trabalhador, h a necessidade de criao de mediaes que permitam a interveno

    humana consciente nos processos materiais.

    nesse sentido que Mszros confere aos Conselhos de Trabalhadores e outras

    formas de mediao o papel na busca de um planejamento autntico. Lembremos que os

    Conselhos tm um potencial mediador e emancipador ao solucionar de forma racional

    os problemas existenciais vitais dos trabalhadores, das preocupaes cotidianas com

    moradias e trabalho, as grandes questes da vida social de acordo com suas

    necessidades elementares de classe. Entretanto, este autor faz algumas advertncias:

    (...) os Conselhos de Trabalhadores no deveriam ser considerados apanacia para todos os problemas da revoluo, contudo sem alguma formade auto-administrao genuna, as dificuldades e contradies que associedades ps-revolucionrias tm que enfrentar se transformaro emcrnicas, e podem ate mesmo trazer o perigo de uma reincidncia nas prticasprodutivas da velha ordem, mesmo que sob um tipo diferente de controlepessoal. Quando da sua constituio espontnea, em meio as importantescrises estruturais dos pases envolvidos, os Conselhos de Trabalhadorestentaram se atribuir em mais de uma ocasio na histria, precisamente o papelde auto-administrador possvel, a par da responsabilidade auto-imposta - queesta implcita no papel assumindo e praticamente inseparvel dele deexecutar a gigantesca tarefa de reedificar, em longo prazo, a estruturaprodutiva social herdada (Mszros, 2002, p.457 grifos no original).

    Os Conselhos de Trabalhadores ou qualquer outro nome devem cumprir o

    papel de mediadores materiais efetivos entre a ordem antiga e a ordem socialista

    almejada. Isso porque o sistema do capital um modo de controle global-universalista

    que no pode ser historicamente superado exceto, por uma alternativa scio-metablica

    igualmente abrangente (Mszros, 2002, p.599).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • Enquanto as funes controladoras vitais do sociometabolismo no forem

    efetivamente ocupadas e exercidas autonomamente pelos produtores associados, mas

    deixadas autoridade de um pessoal de controle separado (ou seja, um novo tipo de

    personificao do capital), o prprio trabalho continuar a reproduzir o poder do capital

    contra si mesmo, mantendo materialmente e dessa forma estendendo a dominao da

    riqueza alienada sobre a sociedade (Mszros, 2002, p.601). Todas as funes de

    controle do sociometabolismo devem ser progressivamente apropriadas e positivamente

    exercidas pelos produtores associados pois, na falta disso, o comando das determinaes

    produtivas e distributivas da reproduo social continuar sob a gide do capital.

    preciso lembrar, por ltimo, que Mszros reconhece que h planejamento no

    capitalismo, ou mais precisamente, que a gigantesca corporao monopolista

    transnacional regula e controla a produo mundial de mercadorias. No entanto, este

    planejamento praticado pela grande empresa no deixa de ser parcial e est longe de

    representar o controle sociometablico da produo e distribuio pelos trabalhadores

    A contribuio de Michael Burawoy

    Um outro autor que se debruou sobre o tema do planejamento socialista da

    produo Michael Burawoy. Para ele, a construo da autogesto necessita de uma

    coordenao a partir de baixo das empresas ou, em outras palavras, a apropriao do

    controle da produo pelos trabalhadores. com esse objetivo que ele se faz a

    pergunta: de que adianta o controle fabril (dentro da empresa), quando os trabalhadores

    no tm meios de influenciar o poder central ? (Burawoy, 1990a, p. 201).

    Nesse sentido, este pensador acredita que a autogesto perde seu significado se

    as decises essenciais so feitas fora da fbrica (Burawoy, 1990a, p. 201). Para ilustrar

    sua idia, ele cita o exemplo da Arglia durante os anos 1961 e 64, pas onde a

    autogesto afetou somente aqueles setores marginais da economia que eram

    administrados pelos colonos. O controle operrio no tocou nas indstrias

    nacionalizadas, nos campos de petrleo, muito menos nas empresas estatais.

    O destino da autogesto foi lacrado (sealed) devido falha dos trabalhadores e

    campesinos em ampliar seu controle para alm dos pequenos negcios e fazendas

    herdadas dos colonos. Em alguns setores, os comits de gesto controlaram

    prosperamente as relaes na produo, mas isso perdeu significado devido falta de

    habilidade para controlar as relaes de produo entre as empresas e entre as empresas

    e os consumidores bem como a distribuio da mais valia entre as empresas e o Estado

    (Burawoy, 1990a).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • Para Burawoy, na URSS prevaleceu o interesse da centralizao como uma

    espcie de socialismo estatal onde a fora provm de cima - em oposio ao sistema de

    autogesto coletiva onde a fora provm de baixo.

    Sendo assim, o sucesso do controle operrio para Burawoy depende da proteo

    e da orientao do Estado: A conquista dos aparatos de produo somente torna-se

    significativa em conjuno com a conquista dos aparatos do Estado. Mas quando so

    feitas mudanas nesta direo, como aconteceu no Chile, o 3 Mundo sempre tem o

    apoio das sanes polticas e econmicas internacionais do capitalismo, esperada ou

    inesperadamente (Burawoy, 1990a, p.202).

    Um primeiro passo para uma possvel mudana de acordo com Burawoy -

    seria o controle pelos trabalhadores da mais-valia produzida por eles. J que uma

    coordenao central tambm necessria, ela tomaria a forma de um planejamento de

    baixo.

    Interpretando Burawoy, se os trabalhadores administrarem as fbricas atravs de

    deciso democrtica, tal como enfatiza a ES, apesar de haver a possibilidade de auto-

    administrao dos assuntos cotidianos, o Estado ou algum rgo administrativo alheio

    aos trabalhadores ainda continuar estipulando as condies nas quais as fbricas se

    tornam autoreguladas: o que ser produzido, com quais materiais, de qual fonte. No

    entanto, se o Estado, os rgos administrativos ou a agncia de planejamento central

    estiverem sujeitos influncia de baixo, atravs dos mecanismos de participao dos

    conselhos fabris (Burawoy, 1990a, p.13), bem provvel que os trabalhadores

    conseguiro atingir graus crescentes de controle social, combinando de certo modo

    democracia com centralizao, evitando a burocracia por um lado, e anarquia da

    produo, por outro.

    A viso de Ernest Mandel

    Hoje em dia, a totalidade do pensamento socialista (que mais velho do queMarx, mas que dele recebeu expresso sistemtica e cientfica), querepresenta per se uma crtica da produo de mercadorias e do mercado, bemcomo uma profunda desmistificao histrica do conjunto de suposiestericas que se originam de Hobbes, Locke e Smith, corre o perigo de seratirada ao mar. Pois ao lado de polticos e acadmicos conservadores,tambm um nmero crescente de socialistas, e acima de tudo, muitos social-democratas de esquerda e eurocomunistas, esto agora redescobrindo ereincorporando a seus esquemas de pensamento social certos axiomasburgueses que no tem qualquer fundamento cientfico ou base emprica: sosimplesmente artigos de f cega ou de superstio (Mandel, 1991, p.23).

    Para E. Mandel, um dos axiomas burgueses a proposta de conciliao de

    socialismo com mercado. Talvez seja por isso que o grupo coordenado por Chasin deu

    ao artigo In Defense of Socialist Planning, o ttulo de Socialismo x Mercado, por

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • verificar esta incoerncia. Neste artigo, Mandel derruba as idias contrrias ao

    planejamento democraticamente centralizado (Mandel, 1991, p.83), principalmente

    criticando o socialista de mercado Alec Nove6.

    Segundo Mandel, os argumentos de Nove - em A Economia do Socialismo

    Vivel rejeitam a proposta marxista de construo do socialismo sem produo de

    mercadorias. A combinao de mercado e socialismo leva Nove inevitavelmente a

    contradies desconcertantes (Mandel, 1991, p.91).

    Para Mandel, planejamento no sinnimo de perfeita alocao dos recursos,

    nem da alocao cientfica, nem mesmo de uma alocao mais humana. Para ele, o

    termo designa uma alocao direta, ex-ante (Mandel, 1991, p.17). Por isso, ele o

    oposto da alocao via mercado, que ex-post.

    Poderamos ento perguntar: quais so as formas de se adaptar a produo ao

    consumo ?

    Para Mandel, existem duas opes. Numa delas, tais necessidades so entendidas

    como dadas desde o incio, aferidas ex-ante pelo corpo social dominante, e a produo

    ento organizada para as satisfazer. Ou, de modo diverso, supe-se que elas sejam

    desconhecidas ou de qualquer modo incertas, cabendo ao mercado as revelar ex-post

    atravs dos dispndios da demanda efetiva.

    De acordo com Mandel, a prpria idia de mercado e competio pura deve ser

    revisitada. Poderamos lembrar, por exemplo, que o grosso de bens intermedirios no

    alocado atravs do mercado. Eles so feitos sob encomenda. O mesmo argumento vale

    para as licitaes pblicas, pois estas no conduzem fabricao de diversos produtos

    que poderiam ser obtidos numa prateleira. Sendo assim, Mandel (1991) acredita que a

    maior parte da produo no capitalismo atual atende a padres estabelecidos de

    consumo e a tcnicas pr-determinadas de produo, que so em grande medida, seno

    completamente independentes do mercado.

    Apesar de reconhecer que os mecanismos de mercado no se encontram na

    totalidade da economia capitalista, Mandel acredita que o mercado deve ser totalmente

    substitudo pela autogesto articulada dos produtores (Mandel, 1991, p.71)7. O

    problema poderia ser colocado com o seguinte questionamento: como aumentar a

    satisfao das necessidades bsicas de consumo e reduzir a carga e a alienao do

    trabalho dos produtores diretos ? (Mandel, 1991, p.72).

    6 Para saber mais sobre a concepo de planejamento da produo e o papel de mercado para Mandel,Nove e Nelson, ver Marques (1998).7 Podemos concluir que Bettelheim, Mszros, Burawoy e Mandel do um significado distinto para apalavra autogesto se comparado com a ES. Se para a ES autogesto significa propriedade coletiva dos

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • A autogesto articulada dos produtores poderia trazer para a realidade tais metas,

    desde que os trabalhadores sejam participantes ativos (e no meramente consultados) no

    processo de tomada de decises e da administrao direta da economia e da sociedade.

    Segundo Mandel, a administrao no seria monoplio do nvel central, nem

    tampouco a autogesto seria confinada ao nvel (sic) do local de trabalho. Ambas seriam

    mescladas tanto a nvel (sic) central quanto descentralizadamente (Mandel, 1991,

    p.79).

    A autogesto democrtica no quer dizer que todos decidam sobre tudo. Certas

    decises podem ser tomadas no nvel do posto de trabalho, da fbrica, do bairro,

    regionalmente, nacionalmente e mundialmente (Mandel, 1991).

    Sendo assim, encerramos os argumentos de Mandel e nossa defesa sobre a

    necessidade do planejamento socialista da produo para se construir a autogesto com

    a seguinte passagem:

    O problema da alocao dos recursos necessrios produo ex ante, cujasdemandas j so em grande medida conhecidas de antemo, no poderia sersolucionado por uma associao de produtores, com a ajuda dos modernoscomputadores que podem certamente dar conta das milhes de equaesque Nove acha to assustadoras ? (Mandel, 1991, p.29)8

    2 Pilar: em busca de foras produtivas socialistas

    As demandas de participao e controle pelos trabalhadores escapam demuito viso marxista. O conceito de uma democracia na oficina baseadasimplesmente na imposio de uma estrutura formal de parlamentarismo eleio de diretores, votao sobre decises referentes produo de acordocom a organizao existente decepcionante. Sem o retorno do requisito deconhecimento tcnico pela massa dos trabalhadores e reformulao daorganizao do trabalho sem, em uma palavra um novo everdadeiramente coletivo modo de produo a votao nas fbricas eescritrios no altera o fato de que trabalhadores continuem dependendotanto quanto antes dos peritos e s podem escolher entre eles ou votar nasalternativas apresentadas por eles (Braverman 1987).

    Braverman (1987), longe de acreditar que um parlamentarismo interno d

    origem a um novo modo de produo, advoga que no existe autogesto sem o retorno

    do conhecimento tcnico pelos trabalhadores e sem a reformulao da organizao do

    trabalho.

    De acordo com Varsavsky, na mesma linha de Braverman, ao longo do

    surgimento do capitalismo, o trabalhador perdeu o controle (alienou-se) dos meios de

    produo e a propriedade do domnio tcnico sobre a mquina que usa, e isso no se

    meios de produo e deciso democrtica na fbrica, para os primeiros significa no somente isso mastambm o controle unificado da produo pelos produtores associados.8 Monika Reinfelder (1980) tem razo ao enquadrar Mandel num grupo de tecnicistas. Nesse sentido,poderamos dizer que Mandel se equivoca ao crer que a tecnologia serve para o bem e para o mal. justamente por isso que sua contribuio a este artigo fica pela metade, no podendo ser aproveitada nonosso 2 pilar.

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • repara com decretos. Mesmo quando a fbrica de propriedade cooperativa direta dos

    trabalhadores, a alienao dos mesmos no se elimina se seguem dependendo dos

    especialistas na mesma medida que hoje (Varsavsky, 1974, p.74)9.

    Se para a ES a autogesto se resume a proposta de tomada de decises coletivas

    no seio da fbrica, Braverman e Varsavsky procuram salientar que h um entrave que o

    capital engendrou criao de processos de trabalho autogestionrios numa eventual

    transio socialista.

    No entanto, a questo no se resume a isso. Se olharmos mais amplamente sobre

    a forma como o marxismo interpretou as possibilidades (ou no) de apropriao das

    foras produtivas capitalistas, nosso segundo pilar para se construir a autogesto fica

    mais fcil de ser compreendido.

    Segundo Chesnais e Serfati (2003, p.46), h um atraso da anlise marxista no

    campo de estudos das foras produtivas e ele decorre da leitura unilateralmente

    produtivista dos escritos de Marx e Engels10.

    Nesta concepo produtivista, o envelope institucional e organizacional no

    qual se efetua o desenvolvimento produtivo, incluindo o da cincia, reconhecido como

    sendo capitalista em todos os sentidos, mas sem que isso afete seno de forma

    superficial, a orientao e os resultados desse desenvolvimento.

    A cincia, a tecnologia e as formas de cultivar e de fabricar, ou dito de outra

    forma, as formas de relaes com a natureza seriam para o socialismo ao mesmo tempo

    uma herana e um trampolim. Elas se constituiriam primeiro uma herana que o

    socialismo poderia aceitar aps inventrio, mas um inventrio bastante sumrio. Em

    seguida, seria um trampolim a partir do qual a humanidade poderia avanar sem ter que

    realizar mais que inflexes de rota e sem ter de gerenciar imensos estragos ao tentar

    reverter, pelo menos parcialmente, suas conseqncias (Chesnais e Serfati, 2003, p.46).

    Segundo estes autores, a tecnologia e a cincia so moldadas e selecionadas

    tendo em vista a dominao social e o lucro (Chesnais e Serfati, 2003, p.59). Por detrs

    da autonomia de pesquisa que o capital financeiro no tolera nem mais como um

    9 Apesar de Braverman e Varsavsky sinalizarem que o capital expropriou o conhecimento do trabalhador,h uma bibliografia que procura mostrar que os trabalhadores resistem a esta mudana e que o capitalnunca consegue expropriar totalmente o conhecimento das mos dos trabalhadores. Ver, por exemplo,Burawoy (1989 e 1990b), Hirschorn (1984) e Zimbalist (1989). Sobre este debate em FbricasRecuperadas pelos trabalhadores, ver Novaes (2004c).10 Chesnais e Serfati sinalizam que Marx e Engels j advertiam em a Ideologia Alem que chega-se a umestgio em que, no quadro das relaes existentes, nascem foras produtivas e meios de circulao que spodem tornar-se nefastos. Elas no so mais foras produtivas, mas foras destrutivas. Interpretaesmuito prximas sobre as foras destrutivas podem ser vistas em Silva (2001) e Mszaros (2002) assimcomo em Hobsbawm (1996, p.562), que afirma: O futuro no pode ser uma continuao do passado, e hsinais de que chegamos a um ponto de crise histrica. As foras geradas pela economia tecno-cientficaso agora suficientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundaes materiais da vidahumana.

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • mito, sempre houve possantes mecanismos objetivos: o financiamento, os modos de

    recompensa do sucesso, e subjetivos: a interiorizao dos valores da sociedade burguesa

    que a orientava segundo os impulsos da acumulao e da hierarquia dos objetivos do

    capitalismo (Chesnais e Serfati, 2003, p. 60-1). Nesse sentido, poderamos dizer que a

    tecnologia acaba por dissimular as relaes sociais nela contidas fazendo com que

    prevalea a idia de autonomia de pesquisa e que toda e qualquer tecnologia sirva aos

    interesses autogestionrios dos trabalhadores numa eventual transio socialista.

    Se esta interpretao estiver correta, deveremos oferecer uma crtica interpretao

    tradicional da C&T pelo marxismo e seus herdeiros no Brasil: os tericos da ES. Para

    estes, o alcance da sociedade socialista demandaria pouco mais do que a expropriao

    dos expropriadores e um melhor aproveitamento das foras produtivas engendradas no

    capitalismo para se construir a autogesto. Ou ainda, a interpretao tradicional, da qual

    a ES tributria, nos leva a crer que as foras produtivas capitalistas seriam um veculo

    para a autogesto pelos produtores associados ao passo que o argumento aqui defendido

    sinaliza estas como um obstculo construo da autogesto.

    Outra contribuio fundamental ao tema aqui tratado a do filsofo marxista da

    tecnologia Andrew Feenberg. Segundo este autor, os marxistas do mundo comunista

    deram muita nfase teoria da propriedade e ignoraram completamente a crtica ao

    processo de trabalho e tecnologia. Em contraposio a esta nfase, Feenberg (2002,

    p.51) acredita que a herana tcnica peculiarmente adaptada ao controle hierrquico e

    que os aspectos antidemocrticos da tecnologia capitalista e do desenvolvimento

    tecnolgico devem ser transformados. Nesse sentido, observa que as mquinas

    desenvolvidas no sistema capitalista podem ser empregadas para produzir uma nova

    gerao de mquinas adaptadas para os propsitos socialistas (Feenberg, 2002, p.53).

    Mas esta mudana tecno-organizacional no decorreria de forma idealista, mas sim da

    luta de classes. Em ltima instncia, da capacidade da classe trabalhadora de imprimir

    novos valores sobre a tecnologia.

    A necessidade de uma radical transformao dos meios e tcnicas de produo

    considerada por Mszros (2002) como sendo um problema paradigmtico da

    transio. Isso porque as condies materiais de produo, assim como sua

    organizao hierrquica, permanecem no dia seguinte da revoluo exatamente as

    mesmas que antes (Mszros, 2002, p. 575) .

    Mszros discorda de Lukcs a respeito da livre intercambialidade das fbricas

    construdas para propsitos capitalistas e socialistas, cuja produo funcione sem

    problemas numa base materialmente neutra e afirma que este pensador hngaro trata

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • de forma fetichista os conceitos de tecnologia e instrumentalidade pura (Mszros,

    2002, p.864). Lembremos que para Lukcs, uma fbrica construda para propsitos

    capitalistas tranqilamente pode produzir sem mudanas significativas sob o socialismo,

    e vice-versa (Lukcs, 1991, p.86)11 .

    Mszros continua sua crtica de forma irnica nesta passagem:

    Este postulado da neutralidade material/instrumental to sensato quanto aidia de que o hardware de um computador pode funcionar sem o software. Eat mesmo quando se chega a ter a iluso de que isto poderia ser feito, j queo sistema operacional etc no precisa ser carregado separadamente de umdisquete ou disco rgido, o software relevante j estava gravado no hardware.Por isso, nenhum software pode ser considerado neutro (ou indiferente) aospropsitos para os quais foi inventado.O mesmo vale para as fbricas construdas para propsitos capitalistas, quetrazem as marcas indelveis do sistema operacional a diviso socialhierrquica do trabalho - com o qual foram constitudas. Para ficar com aanalogia do computador, um sistema estruturado em torno de uma CPU bastante inadequado para um sistema operacional divisado paraProcessadores Paralelos descentralizados, e vice-versa. Portanto, umsistema produtivo que se proponha a ativar a participao plena dosprodutores associados requer uma multiplicidade adequadamente coordenadade Processadores Paralelos, alm de um sistema operacionalcorrespondente que seja radicalmente diferente da alternativa centralmenteoperada, que seja a capitalista ou as famosas variedades ps-capitalistas deeconomias dirigidas, apresentadas enganosamente como de planejamento(Mszros, 2002, p.865 grifos no original).

    No captulo intitulado Via desejada do livro Forces of Production, Noble (1984)

    aborda outro assunto que nos interessa mais de perto, qual seja, as possibilidades e os

    limites seleo e desenvolvimento de tecnologias mais adaptadas aos propsitos da

    autogesto.

    Ele mostra que os criadores de desenhos (designs) de maquinrio alternativo

    Mquina Ferramenta de Controle Numrico compartiam uma apreciao muito mais

    respeitosa do talento, do conhecimento e uma compreenso do seu papel vital para uma

    produo eficiente e de qualidade. Noble cita vrios pesquisadores que se esforaram na

    criao de mquinas para pessoas e no para idiotas. Dentre seus objetivos, destacam-

    se a extrao vantagens dos conhecimentos existentes e no a reduo atravs da

    desqualificao. O desejo de aumentar o alcance e os feitos dos trabalhadores ao invs

    de disciplin-los ao transferir todas as decises direo das fbricas e oficinas. E por

    ltimo, visavam ampliao dos empregos (Noble, 1984).

    No entanto, como sabido, trata-se de uma luta desigual entre os prprios

    criadores. Enquanto faltavam fundos e outras formas de dissuaso aos criadores da Via

    Desejada, os promotores do Controle Numrico contavam com amplo apoio dos

    11 Mszros acredita que, ao argumentar desta forma, Lukcs abandonou a idia de superao da divisodo trabalho.

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • partidrios da indstria militar e, posteriormente, das outras indstrias. Os compradores

    de equipamentos tendiam a rechaar os desenhos alternativos porque no eram

    compatveis com o objetivo prioritrio do controle patronal. Os engenheiros de desenho,

    em geral, abandonaram esta aproximao alternativa porque lhes parece complicada,

    menos previsvel e mais aberta a erros humanos.

    Desta forma, o Controle Numrico se converteu na tecnologia dominante e

    finalmente na nica tecnologia para a metalurgia automatizada. Aparentemente, se

    adotssemos a viso darwinista da seleo tecnolgica, chegaramos concluso de que

    esta foi a melhor tecnologia que poderia ser oferecida (Noble, 1984).

    Interpretando as obras de Noble, poderamos especular que o senso comum, e

    talvez a maior parte dos tericos da ES, no percebe a natureza scio-poltica da

    construo da tecnologia. Ao no observarem que algumas tecnologias, ficam

    cristalizadas ao longo do caminho de seleo, estes tericos passam a crer que s h

    uma tecnologia disponvel para uso no cho de fbrica e que esta a melhor tanto para

    cooperativas autogestionrias quanto para as empresas convencionais.

    Noble, ao contrrio, busca combater e reforar a idia anti-darwinista de seleo

    tecnolgica. Para ele, o caso do Controle Numrico ilustra muito bem uma seleo nada

    natural, que nos levaria a crer que as escolhas se do em funo de razes estritamente

    tcnicas. Trata-se de uma seleo poltica realizada por alguns poucos poderosos que

    buscam reter e ampliar seu controle social, em convenincia com os tcnicos que

    perseguiam a perfeio num mundo de idiotas (Noble, 2001, p.33)12.

    As possibilidades de reconfigurao tecnolgica

    Pautando-nos nas observaes de Chesnais e Serfati, Mszros, Feenberg e

    Noble, poderamos ento fazer a pergunta: de que forma a tecnologia moderna poderia

    ser reprojetada para a construo da autogesto?

    De acordo com Feenberg (2002), a articulao de novos interesses e a entrada

    em cena dos trabalhadores e dos novos movimentos sociais supe a retirada progressiva

    da concentrao do poder industrial da mo de peritos e especialistas. Isso

    possibilitaria uma reconfigurao do sistema tcnico levando em conta uma extenso

    maior de necessidades e capacidades humanas at ento excludas. Nada mais que um

    desenvolvimento pleno das individualidades humanas, tal como sugere Marx (Feenberg,

    2002).

    12 Para saber mais sobre a viso de Marx sobre as foras produtivas, ver Dagnino (2002), Novaes (2004b),Feenberg (2002) e Mackenzie (1996). Sobre o marxismo, uma verso resumida pode ser vista em Novaese Dagnino (2004).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • A melhor maneira de propiciar um uso contra-hegemnico do conhecimento e

    da tecnologia conceber a sociedade e o campo da deciso tecnolgica atravs das

    metforas do jogo (Feenberg, 2002), do campo de batalha (Noble, 2000) ou do

    parlamento de coisas (Latour, 1992). Atravs destas abordagens, os grupos

    dominados podero jogar tendo em vista a redefinio e modificao das formas e dos

    propsitos dos artefatos tecnolgicos (Feenberg, 2002). Esta autonomia de reao

    chamada por Feenberg pelo nome de margem de manobra.

    Por ser a tecnologia uma construo social, um campo de batalha historicamente

    determinado, sendo resultado de um processo onde intervm mltiplos atores com

    distintos interesses, a trajetria de inovao cientfica e tecnolgica poderia ser

    redirecionada, dependendo da capacidade dos atores interessados na mudana social em

    interferir tanto na diviso do trabalho no cho de fbrica quanto no processo decisrio

    da Poltica Cientfica e Tecnolgica (Dagnino e Novaes, 2004)13.

    Consideraes Finais

    Procurei elucidar neste artigo, a partir de algumas impresses sobre a ES, a

    imprescindvel necessidade de se criticar o socialismo de mercado e os entraves

    originados pelas foras produtivas capitalistas construo da autogesto.

    Muito mais que uma falha na argumentao sobre o tema Mercado x

    Planejamento, a abordagem terica da ES fruto de uma crise ideolgica, uma crise que

    no v mais as virtudes do planejamento socialista, o que nos leva a crer que estes

    autores so adeptos da concorrncia cooperativista ou de alguma variante do socialismo

    de mercado.

    Ao invs de centrarmos nossa anlise no fim da alienao do produto do trabalho

    quando se d a expropriao dos expropriadores, nossa observao trilhou o caminho da

    perda do controle do produto numa sociedade regida pela produo de mercadorias.

    Para ns, devido a uma crise ideolgica profunda, a ES abandonou a idia de controle

    global da produo pelos produtores associados.

    Segundo Lima Filho (1999) e Mszros (2002), se os produtores associados no

    controlam a produo e o consumo, o capital poder permanecer no controle pleno do

    processo de reproduo social.

    Por outro lado, enquanto que a ES cr que as foras produtivas podem ser

    usadas na construo de um sistema alternativo atravs da apropriao dos meios de

    13 Sobre as possibilidades de interveno no cho de fbrica em fbricas recuperadas, ver Novaes, Assis eDagnino (2004) e Novaes (2004c).

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

  • produo e das foras produtivas, ns procuramos levantar o debate sobre os entraves

    que as foras produtivas engendram a construo da autogesto.

    Abstract

    The two pillars to build self-management

    This article intends to criticize the vision of latin-american authors' of the "Solidary

    Economy" (SE), very centered in the idea of a parliamentarism inside the factory. For

    us, the workers can continue separated from the means of production if they dont

    observe the indispensable need of the unified control of the production and of new

    productive forces. In the section I, we put in evidence the first pillar to reach the self-

    management: the need of global coordination of the production for the associated

    producers in opposition to the proposal of market socialism craved by SE. In this

    section, we exhibit C. Bettelheim, I. Mszros, M. Burawoy and E. Mandels works,

    authors that "refound" the planning proposal. In the section II, we observed that the

    self-management is not possible without a radical restructuring of the means of

    production and of the organization of the labour process, our second pillar. While for SE

    the capitalist forces of productiion are considered a vehicle for the socialist transition,

    we will try to demonstrate the obstacles to the self-management engendered by these.

    Key-words: Socialist planning of the production, Market Socialism, "Solidary

    Economy", forces of production, Obstacles to self-management

    X Encontro Nacional de Economia Poltica

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