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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA PROPPEC CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP O CALÇADÃO DE CURITIBA: AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE José Cláudio dos Santos Revorêdo ITAJAÍ (SC) 2013

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –

PROPPEC

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS -

PMGPP

O CALÇADÃO DE CURITIBA:

AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE

José Cláudio dos Santos Revorêdo

ITAJAÍ (SC) – 2013

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRAUDAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –

PROPPEC

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS -

PMGPP

O CALÇADÃO DE CURITIBA:

AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE

José Cláudio dos Santos Revorêdo

Dissertação apresentada à Banca Examinadora no

Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a orientação

da Profª Drª Maria Glória Dittrich como exigência parcial

para obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas

Públicas.

ITAJAÍ (SC), 2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, nosso criador.

A meus pais Godofredo e Neiva Maria, ‘in memória”, pela educação e formação que me

proporcionaram.

A meu filho André, “in memória”, que me ensinou a ver a vida como um constante desafio a

ser vencido dia a dia, e nunca desistir frente aos obstáculos.

A todos os amigos e amigas que me apoiaram e incentivaram na elaboração deste

trabalho.

A minha orientadora Professora Doutora Maria Glória Dittrich, que me acolheu e norteou

todo o estudo com seu conhecimento inesgotável, dispensando toda a atenção para que

fosse possível elaborar um trabalho à altura do que pretendia explorar de conhecimento.

Ao corpo docente deste mestrado da UNIVALI, pelo apoio recebido nas horas difíceis pelas

quais passei.

À minha esposa e companheira que soube entender e apoiar a minha ausência, para que

fosse possível realizar uma proposta de vida.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico e conteúdo conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, a Banca

Examinadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, janeiro de 2013.

José Cláudio dos Santos Revorêdo

MESTRANDO

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente dissertação do Mestrado Profissional de Gestão de Ciências Políticas –

UNIVALI, elaborada pelo mestrando JOSÉ CLÁUDIO DOS SANTOS REVORÊDO, sob o

título O CALÇADÃO DE CURITIBA: AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO

PÚBLICO DA CIDADE foi submetida à banca examinadora composta pelos seguintes

professores:

PROFa. DRª. MARIA GLÓRIA DITTRICH

Orientadora e Presidente da Banca

UNIVALI

PROF. DR. FLÁVIO RAMOS

Membro Interno

UNIVALI

PROFa. DRª. MARIA DO ROSARIO KNECHTEL

Membro Externo

Itajaí, 2013

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. .....12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... .....15

2.1 O CALÇADÃO: A RUA QUINZE E A SUA HISTÓRIA .............................................. .....15

2.2 O CALÇADÃO: DA IDEIA À AÇÃO DE IMPLANTAÇÃO .......................................... .....18

2.2.1 Percepções de Urbanismo e Sociedade ............................................................... .....19

2.2.2 Mobiliário Urbano e Sociedade .............................................................................. .....20

2.2.3 Plano Diretor: Histórico .......................................................................................... .....23

2.2.4 Plano Diretor da Cidade de Curitiba ...................................................................... .....25

2.3 O CALÇADÃO: A LEGALIZAÇÃO POLÍTICA COMO ESPAÇO PÚBLICO

DE URBANIZAÇÃO .................................................................................................. .....33

2.3.1 Política pública em espaços urbanos sociais ........................................................ .....33

2.3.2 Política de mobilidade urbana social ..................................................................... .....33

2.3.3 Leis de zoneamento, uso e ocupação do solo ...................................................... .....40

2.3.4 Despoluição visual da cidade......................................................................................40

2.3.5 Feiras de artes ...........................................................................................................42

2.4 O CALÇADÃO: SEU DESENVOLVIMENTO............................................ ............... .....43

2.4.1 Desenvolvimento social e econômico.........................................................................45

3 METODOLOGIA ......................................................................................................... .....46

3.1 EMSABASAMENTO METODOLÓGICO .................................................................. .....46

3.1.1 Pesquisa Bibliográfica .......................................................................................... .....46

3.1.2 Pesquisa Documental ........................................................................................... .....47

3.2 PERFIL DA ÁREA EM ESTUDO ............................................................................. .....48

3.3 ÁREA GEOGRÁFICA: LOCALIZAÇÃO E DIMENSÃO ............................................ .....49

3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .......................................................................... .....49

4 AVANÇOS E RETROCESSOS DO CALÇADÃO DE CURITIBA: UM OLHAR

SOBRE A MÍDIA IMPRESSA DE 1972 A 2012 .......................................................... .....51

4.1 AVANÇOS ............................................................................................................... .....51

4.1.1 Década 1972 a 1982 ............................................................................................ .....51

4.1.2 Década 1982 a 1992 ........................................................................................... .....76

4.1.3 Década 1992 a 2002 ........................................................................................... .....95

4.1.4 Década 2002 a 2012 ...............................................................................................109

4.1.5 Quatro décadas de avanços: o olhar de síntese......................................................130

4.2 RETROCESSOS ........................................................................................................131

4.2.1 Década 1972 a 1982................................................................................................131

4.2.2 Década 1982 a 1992................................................................................................142

4.2.3 Década 1992 a 2002................................................................................................150

4.2.4 Década 2002 a 2012................................................................................................160

4.2.5 Quatro décadas de retrocessos: o olhar de síntese.................................................174

5 AVANÇOS E RETROCESSOS: SÍNTESE DA COMPREENÇÃO .................................175

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................180

REFERÊNCIAS .................................................................................................................186

FIGURAS

Figura 1 Situação – Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro.......................................15

Figura 2 Esquemático do Plano Agache ........................................................................ .....26

Figura 3 Esquemático do Plano Serete – Plano Diretor de Curitiba ............................... .....28

Figura 4 Fechamento da Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro ......................... .....52

Figura 5 Pavimentação da Rua XV de Novembro .......................................................... .....52

Figura 6 Vista superior da Rua das Flores ..................................................................... .....56

Figura 7 Trecho inicial da Rua das Flores ...................................................................... .....58

Figura 8 Recreação das crianças na Rua das Flores ..................................................... .....60

Figura 9 Quiosques em frente aos bares da Rua das Flores ......................................... .....63

Figura 10 Ultima quadra da Rua das Flores ................................................................... .....65

Figura 11 Vista geral da Rua das Flores ........................................................................ .....67

Figura 12 Quiosques em frente aos bares na Rua das Flores ....................................... .....69

Figura 13 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....70

Figura 14 Despoluição visual da Rua das Flores ........................................................... .....72

Figura 15 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... .....76

Figura 16 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... .....78

Figura 17 Vista da Rua das Flores ................................................................................. .....80

Figura 18 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....84

Figura 19 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....84

Figura 20 Vista da Rua das Flores ................................................................................. .....86

Figura 21 Feira de artes na Rua das Flores ................................................................... .....90

Figura 22 Vista da Rua das Flores .................................................................... ..................91

Figura 23 Desenho em perspectiva em projeto da Rua das Flores.....................................92

Figura 24 Vista da Rua das Flores com bondinho...............................................................95

Figura 25 Edifício da Galeria Ghignone na Rua das Flores ................................................97

Figura 26 Movimento de pessoas na Rua das Flores .........................................................99

Figura 27 Crianças em recreação na Rua das Flores........................................................101

Figura 28 Adultos e jovens em recreação na Rua das Flores............................................102

Figura 29 Vista da Rua XV de Novembro – Rua das Flores .......................................... ...104

Figura 30 Central de monitoramento da Polícia Militar na Rua das Flores ..................... ...107

Figura 31 Lançamento de teatro itinerante do projeto Centro Vivo ................................ ...109

Figura 32 Limpeza / Lavagem da Rua das Flores .......................................................... ...112

Figura 33 Vista da Rua das Flores ................................................................................. ...114

Figura 34 Natal do Palácio Avenida ............................................................................... ...119

Figura 35 Vista da Sala de Estar na Rua das Flores ...................................................... ...122

Figura 36 Fotografia do arquiteto Abrão Assad – Criador da Rua das Flores ................ ...126

Figura 37 Movimentação de pessoas na Rua das Flores ............................................... ...131

Figura 38 Floreira com flores danificadas na Rua das Flores ........................................ ...134

Figura 39 Poluição visual na Rua das Flores ................................................................. ...136

Figura 40 Fotografia do senhor Isaac B. Singer ............................................................. ...140

Figura 41 Ratos na Rua das Flores – Canalização do Ria Ivo ....................................... ...143

Figura 42 Movimentação de pessoas na Rua das Flores ............................................... ...147

Figura 43 Fotografia do senhor Jacques Rigler e vista da Rua das Flores .................... ...150

Figura 44 Vista da Rua das Flores ................................................................................. ...154

Figura 45 Imagem da antiga confeitaria quando encerrou as atividades ....................... ...158

Figura 46 Fotografia do senhor José Ghignone e Rua das Flores ................................. ...161

Figura 47 Imagem da grelha de escoamento de águas pluviais .................................... ...164

Figura 48 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... ...167

Figura 49 Comércio popular da Rua das Flores ............................................................. ...171

Figura 50 Comércio popular da Rua das Flores ............................................................. ...172

RESUMO

Esta pesquisa de ordem bibliográfico-documental visa analisar a história do

desenvolvimento socioeconômico do Calçadão de Curitiba como espaço público social da

cidade desde 1972 até 2012. O problema levantado foi: Quais os avanços e retrocessos

socioeconômicos do Calçadão de Curitiba registrados na mídia escrita nacional e

paranaense durante os anos 1972 a 2012?. Diante disso, os seguintes objetivos foram

propostos: Descrever a criação e a implantação do Calçadão; Apresentar referenciais

sobre o Calçadão de Curitiba como espaço público social da cidade; Apresentar os

avanços e retrocessos socioeconômicos do Calçadão de Curitiba desde registros da mídia

escrita paranaense de 1972 a 2012; Compreender sobre os avanços e retrocessos

socioeconômicos no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de registros da

mídia escrita paranaense. A metodologia pautou-se no método da indução e dedução para

a coleta e análise de dados. Os registros foram construídos desde descrições e reflexões

pertinentes a publicações em jornais desde 1972 a 2012, com reportagens de revistas,

jornais, boletins informativos e imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão. Para a

fundamentação se utilizou revistas, livros, periódicos e leis nacionais e locais, que deram a

base documental e científica para a pesquisa. A pesquisa mostra que a implantação do

Calçadão foi uma política pública que transformou a cidade de Curitiba

socioeconomicamente. No seu percurso houve avanços e retrocessos. No entanto,

constatou-se pelos dados que a área econômica resultou em uma readaptação à classe

social que passou a se utilizar do comércio existente na via, em um nível mais popular, e

na área social, com a criação das diversas formas de lazer, deu maior vida e animação à

via pública, principalmente pela incrementação de um maior número de pontos de

encontro, de lazer e cultura.

Palavras-chave: Calçadão de Curitiba, Espaço Público Social, Política Pública.

ABSTRACT

This bibliographic/documentary study analyzes the history, from 1972 to 2012, of the

socioeconomic development of the pedestrianized street known as the Calçadão of

Curitiba, as a social pubic space in the city. The problem investigated was: What

socioeconomic advances and regressions of the Calçadão of Curitiba have been recorded

in the national and Paraná press during the period 1972 to 2012? In this context, the

following objectives were proposed: To describe the creation and implementation of the

Calçadão; to present references on the Calçadão of Curitiba as a social public space of the

city; to present the socioeconomic advances and regressions of the Calçadão of Curitiba

since written records in the press began, in 1972 – through to 2012; and to understand the

socioeconomic advances and regressions in the development of the Calçadão of Curitiba,

through records in the press of the state of Paraná. The inductive method was used for the

research, and the deductive method in the collection and analysis of the data. The records

were constructed based on descriptions and reflections relating to publications in the press

from 1972 to 2012, with reports of magazines, newspapers, information bulletins, and

photographic images related to the Calçadão. For the theoretical background, magazines,

books, periodicals and national and local laws were used, which gave a documentary and

scientific basis to the research. The research showed that the implementation of the

Calçadão was a public policy that brought socioeconomic transformation to the city of

Curitiba. During its history, there have been advances and regressions. However, the data

show that in the economic field, it resulted in a readaptation to the social class that came to

use street commerce, at a more popular level, and in the social area, with the creation of

various forms of leisure, it brought life and animation to the public area, particularly due to

the increase in the number of meeting points and places for leisure and culture.

Keywords: Calçadão of Curitiba, Social Public Space, Public Policy.

12

1 INTRODUÇÃO

Os calçadões de forma geral têm como princípio básico proporcionar um espaço

público exclusivo para o trânsito de pedestres, que se servem do comércio, serviços ou do

lazer local. As políticas públicas relativas ao Calçadão têm como foco principal o bem estar,

uma vez que incentivam a implantação de equipamentos e mobiliários públicos urbanos, e

proporcionam segurança dos que por ele transitam, já que esses não têm que dividir o

espaço com veículos automotores.

Alguns países, tais como Espanha, Suíça e França, entre outros, adotam o sistema

de passeios públicos1 para pedestres no planejamento urbano de algumas de suas cidades

e o utilizam principalmente como forma de dar aos pedestres espaços públicos exclusivos e

democráticos, onde as pessoas encontram uma grande diversidade na oferta de produtos,

serviços e lazer.

No Brasil, algumas cidades, dentre elas Curitiba, adotam no seu planejamento

urbano o “Calçadão” como forma de comporem espaços públicos democráticos com

acesso livre a toda população. De acordo com Boreki (2009, p. 20), o Calçadão de Curitiba

foi o primeiro a ser implantado no Brasil, oferecendo diversos serviços nas áreas

socioeconômicas e de lazer.

Justifica-se este estudo do ponto de vista social e político, na medida em que o

Calçadão de Curitiba deu à população uma via pública sem tráfego de veículos. Em teoria,

dá uma maior segurança para a população transitar em uma rua reservada, apenas, para

pedestres, onde o acesso de veículos é bastante restrito e limitado a determinados

serviços. O calçadão fez de Curitiba referência em planejamento urbano, demonstrando

que é possível planejar e administrar cidades de modo a melhorar a qualidade de vida do

cidadão sem causar transtornos permanentes com obras infindáveis.

É mister salientar que o Calçadão de Curitiba, objeto deste estudo, existe há

quatro décadas e, neste período, observou-se, de início, uma evolução ou avanço na área

socioeconômica e, posteriormente a uma readaptação dos eixos de desenvolvimento e

apropriações feitas pela população.

No entanto, atualmente, se observa ausência de registros sobre a atuação na área

socioeconômica e de lazer em publicações a respeito da sua história. Por se tratar de uma

rua histórica, essa é citada em alguns trabalhos como parte integrante do comércio e lazer

na trajetória da cidade de Curitiba. Contudo, não há notícia de algum trabalho de pesquisa

que faça uma análise específica do Calçadão sob o aspecto socioeconômico e de lazer

1 passeio público aqui é entendido como via exclusiva para pedestres.

13

nele contido desde a sua implantação, englobando suas funções sociais, socioeconômicas,

culturais e de lazer. E é em função desta lacuna que se propõe esta dissertação, que se

intitula: “O Calçadão de Curitiba: avanços e retrocessos como espaço público social da

cidade”.

A pesquisa de ordem bibliográfico-documental, do tipo exploratória, visou

responder ao seguinte problema: Quais os avanços e retrocessos socioeconômicos do

Calçadão de Curitiba registrados na mídia escrita nacional e paranaense durante o período

1972 – 2012?. O objetivo geral implicou analisar a história do desenvolvimento do

Calçadão de Curitiba como espaço público social da cidade desde os anos 1972 até 2012.

Diante disso, se projetaram os seguintes objetivos: Descrever a criação e a implantação do

Calçadão; Apresentar referenciais sobre o Calçadão de Curitiba como espaço público

social da cidade; Apresentar os avanços e retrocessos socioeconômicos do Calçadão de

Curitiba desde registros da mídia escrita paranaense entre 1972 e 2012; Compreender

sobre os avanços e retrocessos socioeconômicos no desenvolvimento do Calçadão de

Curitiba através de registros da mídia escrita paranaense.

A metodologia pautou-se no método da indução e dedução para a coleta e análise

de dados. A coleta de dados foi em conformidade com os parâmetros estabelecidos para

Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental sem perder de vista o caso em estudo (O

Calçadão de Curitiba). Assim, dentro do embasamento teórico da metodologia adotada, se

usou o método exploratório descritivo, com procedimentos qualitativos e descritivos para se

obter os dados necessários à pesquisa num exercício metodológico dedutivo-indutivo,

visando construir reflexões pertinentes ao desvelamento do objeto de pesquisa. Os

registros foram construídos desde descrições e reflexões pertinentes a publicações em

jornais entre 1972 e 2012, com reportagens de revistas, jornais, boletins informativos e

imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão. Assim, se deixa claro que se utilizou

também, imagens fotográficas no sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos

históricos, sociais e políticos do objeto de estudo na sua implantação, sua evolução e

readaptação em função das modificações no conjunto da sociedade e das funções sociais

da cidade, como também dentro dos processos de revitalização urbanística e na área

socioeconômica como forma de demonstrar os avanços e retrocessos acontecidos, foram

comprovados com falas políticas em publicações jornalísticas no período compreendido

pela pesquisa. Para a fundamentação foram usados livros, periódicos, revistas e leis

nacionais e locais que deram base documental e científica para a pesquisa.

O texto desta dissertação organiza-se, primeiramente, apresentando a

fundamentação teórica, na qual se aborda a história do Calçadão na sua gênese, sua

14

legalização política como espaço público de urbanização até o seu desenvolvimento como

política pública.

No segundo momento, se apresenta a metodologia, na qual se mostra o conceito

de pesquisa bibliográfica documental, o perfil da área em estudo, sua localização e

dimensão, bem como se apresenta o método para a coleta e análise de dados focados na

dinâmica da indução-dedução. Os registros foram construídos a partir de descrições e

reflexões pertinentes às leituras de textos jornalísticos e outros, visando o desvelamento do

objeto de pesquisa. As fontes utilizadas foram: publicações da mídia paranaense e

nacional de 1972 a 2012, com reportagens de revistas, jornais, boletins informativos e

imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão de Curitiba. Para a fundamentação foram

utilizadas revistas, livros, periódicos e leis nacionais e locais, que deram a base documental

e científica para a pesquisa. Deixa-se claro que se utilizou também imagens fotográficas no

sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos econômicos e sociais que

implicaram na vida do cidadão curitibano.

No terceiro momento se mostra, do ponto de vista socioeconômico, os avanços e

retrocessos do Calçadão de Curitiba, durante quatro décadas (anos 1972 a 2012). Em

seguida expressa-se uma síntese analítica sobre os avanços e retrocessos do Calçadão,

mostrando contradições de sua política pública e a compreensão deste como espaço

público social da cidade.

Por último se registram as considerações finais quando se descreve a

compreensão final sobre os resultados alcançados.

15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O CALÇADÃO: A RUA QUINZE DE NOVEMBRO E A SUA HISTÓRIA

A cidade de Curitiba, conforme Menezes (1996) foi fundada em 1693, a partir de

um povoado bandeirante de nome Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Com a abertura da

estrada tropeira entre Sorocaba-SP e Viamão-RS, situava-se aproximadamente no meio do

caminho, o que a tornou importante área comercial, visto que era um ponto de parada para

os viajantes. Em 1853, tornou-se a capital da província do Paraná, tendo um ritmo de

crescimento urbano acentuado, mas sem nenhum ordenamento.

Com a chegada de imigrantes europeus no século XIX, houve uma diversificação

social, cultural e da economia de grande importância no processo do seu desenvolvimento.

Contudo, o processo de crescimento urbano desordenado se acentuou. Neste contexto de

diversidade situam-se a Avenida Luiz Xavier e a Rua Quinze de Novembro no centro da

cidade de Curitiba. (Figura 1).

Fonte: Google mapas.

Figura 1 – Localização geográfica da Avenida Luiz Xavier e a Rua Quinze de Novembro.

Conforme registro de Boschilia (1996), já existia em 1850 uma rua no centro de Curitiba

conhecida como Rua das Flores, pois os moradores e comerciantes locais tinham o

costume de enfeitar as fachadas (testadas) das casas e lojas com flores, uma vez que esta

era uma rua de chão batido e não existiam calçadas, como forma de embelezamento e

para dar um ar mais aconchegante ao local.

16

Em 1880, em homenagem ao Casal Imperial Português, que visitava a cidade,

para inaugurar a estrada de ferro entre Curitiba e Paranaguá, mudaram o nome para Rua

da Imperatriz. Esta denominação perdurou até a Proclamação da República do Brasil, em

1889, quando os moradores resolveram trocar o nome para Rua Quinze de Novembro, em

homenagem ao regime republicano que se instalava. Sendo este o nome que perdura até

hoje, apesar desta ser conhecida ainda como Rua das Flores. (BOSCHILIA, 1996).

De acordo com Urban (1992), a Rua Quinze de Novembro, alcunhada “A XV velha

de guerra”, era um eixo de grande circulação da cidade. Era na XV que automóveis

importados e nacionais da recém implantada industria automobilística, nos anos 50 e 60,

desfilavam garbosamente ao longo da Rua Quinze de Novembro. Era época da Casa

Louvre, do Café Trocadero, da Confeitaria Shaffer, e outros como do Braz Hotel que

abrigou Getúlio Vargas em campanha à Presidência da República. Era o tempo em que a

minúscula Avenida Luiz Xavier louvava João Pessoa candidato a vice na chapa de Getúlio.

(URBAN, 1992, p. 9).

O autor supracitado complementa que:

[...] era o ponto de footing, local de encontro obrigatório da

estudantada, dos aposentados, de cavalheiros e senhoras vestidos,

respectivamente, com trajes de lã inglesa, linho e seda importados.

A cidade, segundo os cronistas, acontecia ali. (URBAN, 1992, p. 9).

Com este relato fica evidente a importância da Avenida Luiz Xavier e da Rua

Quinze de Novembro, como eixo de grande circulação, mesmo que, na época, para

transpor a cidade havia caminhos alternativos, mas a grande maioria da população se

utilizava desta via, que era um caminho obrigatório para quem se utilizava de veículos

particulares, como menciona Vinicius Boreki (2009, p.10).

Na década de 1960, o ápice dos congestionamentos estava justamente na via

principal da capital. No trânsito bloqueado, os motoristas observavam dos carros as vitrines

das lojas sem descer para ir às compras. Tratava-se de uma relação platônica entre o

curitibano e a Rua XV.

Até mesmo esta via era utilizada pelo transporte coletivo urbano em varias linhas

do transporte de passageiros no sentido leste-oeste utilizando a Rua XV como via de

circulação da cidade. Assim o trânsito congestionado refletia diretamente nas vendas do

comércio. Isto teve grande influência em acelerar o fechamento desta via ao trânsito de

veículos.

17

Segundo informações de Boreki (2009), esta rua sempre foi uma das principais

vias de comércio da cidade. Fato este que se observa até os dias de hoje, mesmo após o

fechamento ao tráfego de veículos no início da década dos anos 70, quando a rua passou

a ser conhecida como o “Calçadão de Curitiba”, embora ainda conserve o epíteto de Rua

das Flores, mesmo porque não perdeu a sua característica original, pois existem grandes

floreiras distribuídas ao longo de toda a via. Ainda assim, os registros oficiais destas vias

na Prefeitura Municipal de Curitiba são Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro.

O Calçadão de Curitiba como espaço público é democrático, em todas as áreas de

sua atuação, o comércio atende com diversidade de produtos, e como lazer se comporta

de forma análoga a uma grande sala de estar, com bares, cafés, lanchonetes e uma

distribuição de equipamentos e mobiliários públicos urbanos que torna o ambiente propício

a bate-papos informais: é um ponto de encontro da população da cidade. (BLASKIEVICZ,

1999).

Na área socioeconômica a população da cidade por muitos anos se utilizou da

Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro como um importante setor de comércio da

cidade onde eram ofertados e se encontrava todos os tipos de serviços, mercadorias e

produtos, industrializados ou não. Mas, devido às condições com que esta via pública vinha

sendo utilizada, a Prefeitura Municipal de Curitiba achou que estava no momento certo em

implementar o já previsto e planejado fechamento desta via pública ao tráfego de veículos.

(COELHO, 2008).

Neste local há também um espaço denominado de “Boca Maldita”, situada no início

do calçadão no trecho da Avenida Luiz Xavier, por ser um local de grande circulação de

pedestres onde alguns deles se reúnem para conversas informais.

Segundo Boreki (2009), a Boca Maldita foi fundada em 1956, mas o espaço só foi

institucionalizado em 1966, tendo como eterno presidente Anfrísio Siqueira, já falecido, e é

neste local que se reúnem os “cavaleiros” da Boca Maldita. O lema desde grupo é: nada

vejo, nada ouço, nada falo, o que é um paradoxo, pois ocorre exatamente o contrário: tudo

se vê, tudo se ouve, e de tudo se fala.

Na Boca Maldita, espaço frequentado pelos Cavaleiros da Boca Maldita, se discute

todos os tipos de assuntos de forma aberta e livre. Eles são políticos, empresários,

personalidades e pessoas da população, não há qualquer distinção, todos podem expor

seus pensamentos livremente, sem qualquer restrição.

Enquanto um espaço público social e democrático atende ao princípio

constitucional da liberdade, do direito de ir e vir, da diversidade econômico-comercial e

também ao princípio da liberdade de expressão. É também o termômetro político da

cidade, já que neste local se reúnem também personalidades do cenário público e político,

18

onde no chamado corpo a corpo com a população surgem ideias para novas propostas de

vida da cidade e da população, diante das necessidades que lhes são expostas. (Centro

Político da Cidade, 1992).

Ainda como espaço público democrático foi palco de movimentos políticos de

expressão nacional como o movimento das “diretas já”, dos “caras pintadas” e outros, como

o plebiscito do desarmamento da população.

O Calçadão de Curitiba é assim, uma via pública sem tráfego de veículos, como

uma grande sala de estar, propícia a encontros e bate-papos descontraídos, com isto

proporciona maior segurança à população que pode transitar em uma rua reservada

apenas para pedestres, onde o acesso de veículos é bastante restrito e limitado a

determinados serviços. Enquanto via exclusiva para pedestres tornou o espaço público um

ponto de encontro, “social”, disponível à população no centro da cidade de Curitiba, como

mostra a forma de relacionamento que acontece nesta “grande sala de estar”, onde a todos

acolhe de forma livre e democrática sem qualquer tipo de segregação.

2.2 O CALÇADÃO: DA IDEIA À AÇÃO DE IMPLANTAÇÃO

Nos anos 70 (Século XX), com a política de administração pública tecnocrata e

pela concepção urbanística das cidades brasileiras, concentravam as áreas de comércio e

serviços nas zonas centrais das cidades, formando o coração do sistema socioeconômico

e comercial (LACAZE, 1993) na grande maioria das cidades brasileiras, demonstrando

assim que até a implantação do Calçadão de Curitiba, o centro comercial da cidade de

Curitiba era igual a tantos outros em todo o Brasil.

Em termos do processo de urbanização do centro da cidade o Calçadão promoveu

uma mudança significativa, indo contra os princípios do planejamento urbano da época. Na

área socioeconômica e social, inovou com uma política urbana que visava proporcionar

maior bem estar à população economicamente ativa, tanto no momento de realizar suas

compras quanto nos de lazer.

A Rua das Fores, Calçadão da Rua XV no centro de Curitiba, conseguiu unir o fato

de ser centro comercial e a tradição de ser a primeira rua da cidade a ser apenas de

calçada (passeio). Foi a criação do que mais tarde passou a ser um grande shopping à céu

aberto, que deveria impulsionar a economia local pela concentração de lojas em um

determinado espaço físico e sem trânsito de veículos automotores. (A RUA DE TODOS

NÓS, 1992).

O Calçadão de Curitiba deu à população uma via pública sem tráfego de veículos

automotores, com isto proporcionou maior segurança aos pedestres, para que pudessem

19

transitar livremente em uma rua reservada apenas para eles, onde o acesso de veículos

era bastante restrito e limitado a determinados serviços. Enquanto via exclusiva para

pedestres, tornou o espaço público um ponto de encontro “social”, disponível à população

no centro da cidade de Curitiba. (NA XV UM SHOPPING AO AR LIVRE, p. 10, 1992).

2.2.1 Percepções de Urbanismo e Sociedade

O termo urbanismo, de acordo com Gaston Bardet (GONÇALVES Jr. et al., 1991,

p.12), “parece ter surgido em 1910 no Bulletin de la Societé Geographique de Neufchatel.

Deriva-se do latim urbe (cidade), e etimologicamente falando é o estudo ou compreensão

da cidade”.

Gonçalves Jr. et al. (1991, p. 12) menciona ainda, que: “cidade e urbe não foram

sinônimas no mundo antigo: cidade era aglomeração das famílias e tribos; a urbe era o

local sagrado e de reunião, o santuário destes povos”. Sendo assim, o urbanismo seria a

relação entre o espaço da cidade e a sociedade que nela vive. Nas palavras de Gonçalves

Jr. et al. (1991, p. 18), o urbanismo é conceituado como o estudo das relações entre

determinada sociedade (cultura, tradição, poder, história,...) e o espaço que a abriga (ruas,

construções, limitações geográficas,...), bem como das formas de sua organização e

intervenção sobre elas com determinado objetivo.

Conforme os conceitos aqui mencionados e de acordo com Castells (1983), o

urbano é a cidade e suas relações, composta de diversos fluxos, como de serviços,

mercadorias e pessoas, o que a torna um complexo estrutural a ser planejado e

organizado, e compete ao urbanismo estudar soluções organizacionais e estruturais a

serem aplicadas nas cidades.

O urbanismo passa a organizar os espaços da cidade em toda a sua amplitude e

forma de vida, de maneira a elaborar um plano de organização do espaço urbano com

vistas à melhoria da qualidade de vida da cidade e de sua população (GONÇALVES Jr. et

al., 1991). O urbanista deve tratar a cidade de forma ampla, atendendo ao planejamento e

fluxos característicos de uma cidade, suas tendências e as relações regionais. As cidades

estão em constantes transformações, que não são estanques, portanto, exigem um

planejamento urbano que seja aberto à intervenções corretivas para solução dos diversos

problemas que surgem.

Assim, pode-se mencionar que o planejamento urbano procura constantemente

soluções, algumas inovadoras, para resolver os problemas dos espaços urbanos

(CASTELLS, 1983), pois os espaços estão em constantes transformações pela expansão

da área física e populacional, visto o “inchaço” causado pelo êxodo, principalmente rural,

20

como vem acontecendo nas grandes cidades, causando a desestruturação da

infraestrutura urbana.

O urbanista, enquanto técnico, deve propor planos de ordenamento territorial e se

manter permanentemente atualizado sobre sua cidade, procurando disciplinar e propor as

melhores soluções para os diversos problemas. Também deve observar as ocorrências de

expansão e transformações que acontecem independentemente do planejamento

existente, sendo capaz de propor intervenções que devem solucionar os problemas de

forma a melhorar a qualidade de vida da população. Isto fica evidente ao se observar o

discurso de posse do então prefeito de Curitiba, em 1971, Jaime Lerner:

A alma de uma cidade – a força vital que a faz respirar, progredir,

existir – reside em cada um dos seus cidadãos, em cada homem

que nela aplica e nela esgota o sentido de sua vida. E é essa a

premissa fundamental: a cidade – com todas as suas funções –

deve estar a serviço do homem e não o homem subordinar-se às

imposições urbanas como mero expectador. (MENEZES, 1996, p.

94-95).

Entende-se que o urbanismo deve propor soluções técnicas organizacionais,

pensando no modo de vida das cidades, do ponto de vista que é característico da

sociologia, ou seja, na população e seu bem estar, incluindo também as formas de lazer,

como forma promover o desenvolvimento planejado das cidades e, assim, proporcionar

meios de ordenamento e expansão desta.

2.2.2 Mobiliário Urbano e Sociedade

Mobiliário urbano aqui é entendido como instrumento de que o urbanismo se utiliza

como forma de dar identidade aos espaços urbanos, pois simplesmente o nome mobiliário

indica mobília, móveis, equipamentos acessórios, entre outros e urbano indica urbe,

cidade, ou seja, mobiliário especialmente projetado para ser instalado em vias urbanas,

parques, praças, etc., como forma de comporem os ambientes em espaços urbanos.

A definição de mobiliário urbano oficial é a adotada segundo a Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Norma Brasileira Regulamentadora (NBR) 9.283 de

1986, como: “todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da

paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder

público, em espaços públicos e privados”.

A NBR 9.283/1986 divide em categorias e subcategorias cada um dos elementos

que compõem o mobiliário urbano, como circulação e transporte, cultura e religião, esporte

21

e lazer, infraestrutura, entre outros. Essa é uma forma de aglutinar e inserir cada elemento

do mobiliário em diversos conjuntos de uma mesma tipicidade. Desta forma, facilita a

classificação dos elementos que compõem o mobiliário urbano, dentro de grupos que são

semelhantes pela utilização e destinação a que foram criados. Assim a título de

exemplificação bastante restrita, tem-se na classificação de circulação e transporte

elementos como: abrigo e ponto de ônibus, banca de jornais, acesso ao metrô, bicicletário,

calçada, passarela, pavimentação, semáforo dentre outros, ou seja, tipificando todos

dentro da mesma forma de utilização. Dispostos em grupos de assemelhados formam uma

classificação de acordo com o seu uso, para comporem os ambientes urbanos.

O acima disposto é normatizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT). Observe-se aqui, que a (ABNT) - NBR 9050 normatiza o mobiliário urbano para

pessoas portadoras de alguma deficiência física, possibilitando assim a inclusão social dos

deficientes físicos no acesso e utilização do mobiliário urbano a nível nacional.

Pode-se perceber a grande amplitude e complexidade que implica o ato de projetar

espaços urbanos. Além dos serviços que podem ser prestados, o planejamento tem grande

influência dentro da área sociopolítica, pois mostra diretamente os benefícios à população

da cidade, dando a estes comodidades e facilidades, tornando os ambientes urbanos mais

agradáveis e assim classificando-os dentro do princípio de melhorar a qualidade de vida da

população.

De acordo com Serra (1997, p. 18),

Os elementos do mobiliário e micro arquitetura urbanos se instalam

no espaço público com o propósito comum de oferecer um serviço

ao cidadão; um serviço que tem usos e funções muito diferentes, e

vão surgindo conforme aparecem novas necessidades na cidade; a

comunicação, o lazer, o descanso, a manutenção, a limpeza, a

limitação e a ordenação de espaços de pedestres e trânsito de

veículos, etc... São elementos destinados ao uso dos cidadãos que

neles se sentam, compram ou esperam. Este livro é escrito

pensando nos usuários e nos criadores de elementos e espaços

para a cidade: arquitetos, engenheiros e desenhistas, entidades

municipais e empresas produtoras e de serviços.

Serra (1997) também menciona que o mobiliário urbano é um conjunto de

elementos que formam uma visão unitária de todo o território da cidade. O autor inclui os

rebaixos das calçadas como um elemento de urbanização da superfície e que permite

22

delimitar o espaço público. Assim, divide os diversos elementos que compõem o mobiliário

urbano2 da seguinte forma:

Elementos de serviço público, como o mobiliário que tem como principio satisfazer

as necessidades derivadas dos serviços públicos, como transporte, telefonia,

estacionamento para bicicletas, jogos infantis etc.

Elementos de comunicação, como o mobiliário instalado em suportes que compõe

pontos de sinalização, informação e publicidade, colocados em colunas e que segundo o

autor são pontuais, e servem como pontos de informações, Mobiliário Urbano para

Informações, que servem para fixação de cartazes publicitários e que foram idealizados

pela sociedade francesa JCDecaux, pioneira na modalidade de mobiliário urbano

autogestionado.

Elementos de iluminação que requerem indústrias especializadas e servem de

base para o funcionamento das cidades e que priorizam os períodos noturnos, como

colunas e postes de iluminação com lâmpadas, onde fica claro que devem ser instalados

em pontos que requerem fontes de luz, ou iluminação que denotem determinadas áreas

dos centros urbanos.

Serra (1997) propõe que a elaboração de projetos deve levar em conta alguns

fatores e atender a vários critérios, tais como: regular e simplificar os elementos urbanos

quanto a sua manutenção e eficácia, a fim de atender a critérios como o desenho na

concepção dos objetos propostos para compor o mobiliário urbano como também prever a

fabricação, colocação e exploração dos mesmos.

Assim o trabalho se resume no controle da imagem e na qualidade dos espaços

urbanos de forma a não haver saturação, de modo a dar qualidade de vida às cidades e

melhorar o conforto dos cidadãos.

A partir deste princípio, a ideia de conjunto no projeto deve ser mais forte, sobre as

diferentes intervenções realizadas em uma cidade. Desta maneira, se deve elaborar um

roteiro ou esboço, tendo uma visão e conhecimento da cidade de forma a se ter em mãos a

visão dos problemas e a sua evolução, para então se fazer intervenções pontuais dentro

de um projeto que possa ser considerado de forma global como sendo o ideal para o

momento.

De acordo com Serra (1997 p. 18), a preocupação pelo espaço público é um

assunto recente e tem relação direta com o aumento da qualidade de vida e com a defesa

ou proteção do espaço para o individuo frente ao grande crescimento da circulação.

2 Salienta-se que a ABNT 9283 (1986) apresenta uma subdivisão bastante semelhante à

sugerida por Serra.

23

Conforme o exposto acima entende-se que o mobiliário urbano deve ser projetado

de forma criteriosa e bastante estudado. Ele influencia em muito a cultura e os costumes

citadinos, tanto na visão social como também na forma de vida da população, haja vista a

evolução tecnológica, cultural e também o modo de vida das cidades, o que leva a se

propor soluções que sejam adequadas e que deem um aspecto prático e um visual de

forma a alinhar-se com os valores de cada cidade e sem descaracterizá-la, propondo

sempre uma melhor qualidade de vida à população.

O mobiliário urbano compõe, juntamente com os imóveis, o visual de ruas e

avenidas e só são instalados mediante licença prévia dos órgãos competentes, o que os

transforma em motivadores da paisagem urbana da cidade e isso está ligado, direta ou

indiretamente, à visão sociopolítica de uma sociedade.

Em sua grande maioria, as cidades formulam espaços públicos com seus

mobiliários através de projetos próprios ou contratando empresas especializadas, que os

projetam de acordo com as características da cada cidade, valorizando os motivos locais

em formas e dimensões que são próprias de determinadas regiões do país. Assim,

observam-se os mesmos mobiliários urbanos com diversos formatos e aparências, cujo

principal objetivo é caracterizá-los com motivos próprios ou regionais de cada cidade, mas

que em sua essência atendem o proposto para os quais foram criados sociopoliticamente.

O propósito final deste mobiliário, dito urbano, é dar à população comodidades

específicas como a instalação de bancas de jornais e revistas em uma determinada

localização, facilitando o acesso da população que transita por estas vias, ou ainda, um

outro exemplo são as instalações de bancos “de praça” em determinados locais, o que

propicia ao espaço público um visual mais agradável e ameno. Especificamente sobre o

Calçadão de Curitiba este mobiliário proporciona a aparência de uma “sala de estar”,

tornando o visual do espaço público como sendo de lazer e informalidades e muito menos

sisudo. O mobiliário urbano do Calçadão cumpre o seu papel no sentido de formar espaços

e ambientes públicos, que dão à população formas de lazer e comodidades que ajudem na

qualidade de vida da cidade.

2.2.3 Plano Diretor: Histórico.

Toda cidade municipalizada se organiza no seu plano diretor. O Plano Diretor

Municipal tem base legal no art. 182 da Constituição da República Federativa do Brasil, de

05 de dezembro de 1988, que formaliza para o município como uma Lei Municipal com o

objetivo de ordenar o desenvolvimento das funções da cidade e garantir o bem estar de

seus cidadãos.

24

A Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, em seu art. 41, dispõe sobre as condições

de obrigatoriedade para elaboração do Plano Diretor:

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;

II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os

instrumentos previstos no § 4° do art. 182 da Constituição Federal;

IV – integrantes de área especial interesse turístico;

V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou

atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou

nacional.

§ 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades

enquadrados no inciso V do caput, os recursos técnicos e

financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos

entre as medidas de compensação adotadas.

§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes,

deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado,

compatível com o plano diretor ou nele inserido. (BRASIL, Estatuto

da Cidade, 2001).

O Plano Diretor Municipal é instituído por uma Lei Municipal aprovada pela Câmara

Municipal, e assim sendo é, portanto, um instrumento político com o objetivo de dar

ordenamento à política de desenvolvimento urbano.

Meirelles (1993, p. 393), cita que o Plano diretor,

[...] é o instrumento técnico legal definidor dos objetivos de cada

Municipalidade, e por isso mesmo com supremacia sobre os outros,

para orientar todas as atividades da Administração e dos

administrados nas realizações públicas e particulares que

interessam ou afetam a coletividade.

Logo, o Plano Diretor Municipal, (aqui pode-se dizer que não só o municipal, mas

seja em qualquer área de administração pública), deve promover e ordenar o

desenvolvimento, por ter características políticas. O plano de desenvolvimento urbano é

primordialmente técnico e, assim sendo, deve ser elaborado por pessoas com capacitação

técnica para tal, contudo, esta equipe de planejamento deve pensar de forma

multidisciplinar.

Este tipo de planejamento envolve problemas não apenas de ordem técnica, que

sejam da área urbanística, mas também das áreas de saúde, de educação, de economia,

de cultura, de habitação, de saneamento, de transporte, de lazer, entre outras; o que exige

uma equipe afinada com as funções sociais das cidades, tecnicamente falando, pois tem

influência direta em todas as áreas da vida em comunidade.

25

Segundo Monteiro (1990, p.13), o Plano Diretor de uma cidade não é apenas um

planejamento urbanístico, pois: “tem um objetivo muito mais amplo: o de interferir no

processo de desenvolvimento local a partir de uma compreensão global dos fenômenos

políticos, sociais, econômicos, e financeiros que condicionam a evolução do município e

contribuem”.

Percebe-se assim que é um método para se ordenar um espaço urbano, mas

também contêm planos e metas que indicam os rumos que o município deve seguir para

atingir seus objetivos fins, visto que nele estão contidos objetivos que visam desenvolver as

funções sociais das cidades.

Outro aspecto ainda nesta linha de pensamento, além dos técnicos, no projeto de

um Plano Diretor é necessário e obrigatório, conforme dispõe a Constituição da Republica

Federativa do Brasil no seu artigo 29 inciso X, a participação da população do município,

através de entidades e associações representativas da sociedade civil, no processo de

elaboração do planejamento municipal. Esse ponto é de grande importância e necessário

para que seja dada transparência total do Plano Diretor e a sua política para o

desenvolvimento das cidades, pois desta forma cumpre a formalidade de tornar público

este documento ou lei, como também alinhar no projeto as necessidade reais das pessoas

política e culturalmente falando.

Desta maneira, transparente, a administração municipal torna pública a política de

desenvolvimento, suas diretrizes, formas e prioridades estabelecidas de expansão e

crescimento urbano; Principalmente os objetivos focados no projeto de desenvolvimento,

nas áreas: urbanísticas, de transporte e circulação, laser, saúde, socioeconômica, etc., que

ficam abertos à população em geral para avaliações e críticas e até novas sugestões que

podem ser acatadas ou não, mas que, de todas as formas, dão transparência, o que é de

grande importância para o município, mesmo que sejam formuladas como críticas ao

planejamento urbano elaborado.

2.2.4 Plano Diretor da Cidade de Curitiba

Historicamente a preocupação de planejar a cidade remonta ao século 19, com

iniciativas de zoneamento e leis esparsas, mas sem duvida, foi com o Plano Agache de

1943 que nasceu o planejamento urbanístico formal de Curitiba. (CAMARGO, 2011).

(Figura 2).

26

Fonte: Menezes (1996, p. 199).

Figura 2 – Plano Agache

A cidade de Curitiba teve o marco inicial dos Planos Diretores, na década de 1940,

quando o arquiteto e urbanista francês Donat Alfred Agache elaborou um plano de forma

geral, que ficou conhecido como o Plano Agache. Tal plano dava ordenamento ao espaço

urbano da cidade, para resolver problemas nas áreas de saneamento,

descongestionamento do tráfego urbano, e quanto aos órgãos funcionais, com a

centralização dos edifícios para a sede do governo do estado, como também um

planejamento urbano prevendo a expansão e crescimento da cidade de forma ordenada.

Previa, também, sistemas viários em círculos concêntricos, avenidas radiais, perimetrais e

diametrais como forma de ordenar o crescimento do sistema viário da cidade. (MENEZES

1996).

Menezes (1996) cita ainda que, em meados dos anos 60 o Plano Agache

encontrava problemas de ordem jurídica, política e econômica. Ele não foi viabilizado

totalmente, principalmente pelas dificuldades nas diretrizes propostas e o pouco que foi

implementado é perceptível até hoje, ainda que com o crescimento da cidade, muitas

diretrizes tenham sido reequacionadas.

O autor supracitado menciona que:

Curitiba, no início da década de 1970, encontrava-se na

insustentável condição de uma cidade que desde os anos 50 vinha,

27

praticamente, duplicando a sua população a cada dez anos. As

intervenções feitas com base no Plano Agache há muito haviam se

tornado obsoletas. (MENEZES, 1996, p. 91).

Eram frequentes enchentes e inundações na área central, havia loteamentos

clandestinos, o sistema de transportes não atendia a demanda e estava precário, além de

praticamente inexistir algum lazer público. Menezes (1996, p. 91), cita o depoimento do

arquiteto Luiz Forte Neto quando ele diz:

Em 1971, lembro-me bem, Curitiba era a “ultima cidade” do Brasil

sem qualquer característica especial. O próprio curitibano era um

cara que não tinha a sua marca, não tinha uma expressão, isto

porque a cidade nada tinha a oferecer. (...) Então na primeira gestão

do Jaime havia muita coisa a fazer e não havia qualquer dúvida

sobre o que precisava ser feito.

Em meados dos anos 1960 foi elaborado pela empresa Sociedade Serete de

Estudos e Projetos Ltda., de São Paulo, um novo plano de urbanismo chamado

inicialmente de Plano Serete. A empresa propôs um Plano preliminar aberto, que era

passível de ser revisado e aperfeiçoado dentro das crescentes necessidades da cidade.

De acordo com Coelho (apud Menezes, 1996, p. 82), “a estratégia de elaboração

de um seminário, “Curitiba de Amanhã”, foi fundamental no processo de planejamento”,

pois teve como função principal legitimar o planejamento quando o identificou, “como de

forma muito mais formal quanto real”, e foi um mecanismo de deliberação democrática pelo

envolvimento da população nas discussões. (Figura 3).

28

Fonte: Menezes (1996, p. 199).

Figura 3 – Plano preliminar (Plano Serete): proposta de esquema viário.

Com efeito, isto provocou o lançamento de um plano preliminar, com suporte em

setores: técnico, cultural e administrativo e o comprometimento de que os futuros

governantes municipais iriam manter como base as diretrizes estabelecidas neste plano

preliminar, e que desta forma se instituiria o início efetivo do planejamento urbano para a

cidade de Curitiba.

Menezes (1996) menciona, ainda, que este plano preliminar seria gerido pelo

recém-criado Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e que o

plano preliminar acabou por dar origem ao Plano Diretor de Curitiba, depois de

transformado pela Câmara Municipal de Curitiba na Lei Ordinária n. 2.828 de 1966.

Ainda neste espaço de tempo, foram também criadas empresas públicas

municipais como forma de planejar, gerir e implementar o Plano Diretor elaborado. Neste

contexto do plano preliminar tem-se inserido o planejamento inicial do fechamento ao

tráfego de veículos de algumas ruas do centro da cidade, dentre elas a Avenida Luiz Xavier

e Rua Quinze de Novembro. Conforme Menezes (1996, p. 94-95), “a lógica era integrar as

funções sociais da cidade, valorizando a presença do homem no seu meio ambiente: a

cidade como cenário de encontro”. Assim, o plano propunha fazer com que a população

pudesse usufruir e assumir a cidade em corresponsabilidade pelo sucesso das

29

transformações urbanísticas e propondo que a cidade deveria ser das pessoas. Este fato

envolveu toda a população de Curitiba em um único tema; trabalhar por uma cidade

melhor, pois conforme Jaime Lerner,

a memória é a âncora da nossa identidade. E uma população que

não tem identidade com a sua cidade é uma população infeliz.

Identidade é um componente de qualidade de vida muito importante.

(...) Se você não tem identidade com o lugar, você não faz parte.

(...) Às vezes não é a construção ter valor histórico, é ter o valor que

teve para a cidade, para nosso ponto de referência. (MENEZES,

1996, p. 95).

Nestes termos tem-se que os calçadões exclusivos para pedestres devem visar à

população e seu bem estar de forma geral, promovendo o ser humano como o centro do

planejamento urbano e o desenvolvimento econômico-social em se pensando na cidade.

Conforme o acima exposto, Fachini (apud MENEZES, 1996, p. 84), menciona que

com a aprovação da Lei 2.828/1966 foi instituído o Plano Diretor da Cidade de Curitiba. Em

seu bojo o plano continha a delimitação do Zoneamento do Município, (que deu origem ao

Conselho de Zoneamento) e previa também a pedestrianização de algumas ruas da

cidade, dentre estas estavam a Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro. Desta

forma a administração da cidade fugia ao modelo administrativo centralizador, que estava

instalado em todo o país, e com isto viabilizava um modelo próprio de gerenciamento e

gestão pública urbana. Assim, a partir do ano de 1965 as ações governamentais teriam um

planejamento prévio. Nas palavras de Fachini:

mais importante que o Plano Diretor foi, no entanto, o processo de

planejamento desencadeado, através do qual o poder público, ao

agir, agiria de forma planejado, constituindo cada vez mais o

planejamento como ato de governo e como uma estratégia o poder

decisório. (MENEZES, 1996, p. 84).

Este tipo de planejamento foi implantado ao final da gestão do então Prefeito Ivo

Arzua Pereira, em 1966, sendo que para gestão seguinte (1967 - 1970), foi indicado como

Prefeito o engenheiro Omar Sabag, que demonstrava certa aversão ao modelo

administrativo proposto. Sabag, como engenheiro sanitarista, direcionou sua administração

para a área do sanitarismo, com a implantação de aterros sanitários, obras de contenção

de enchentes, ampliação do sistema de coleta de lixo e outras como: pavimentação de

ruas e avenidas, tanto em bairros como na área central da cidade, e também iniciou a

implantação do anel central da cidade que estava previsto no Plano Diretor, já aprovado.

Desta forma manteve o IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba)

30

um pouco afastado das suas funções iniciais, tendo-o apenas como órgão de

assessoramento, do prefeito, em aspectos administrativos.

Mais tarde, em 1971, conforme Menezes (1996, p. 90), quando o engenheiro e

arquiteto Jaime Lerner assumiu a Prefeitura Municipal de Curitiba, gestão 1971 - 1974, por

indicação do então Governador de Estado, Haroldo Leon Perez, reuniu a antiga equipe de

trabalho do IPPUC, da qual fazia parte na gestão do então Prefeito Ivo Arzua, e começou

então a implementar o Plano Diretor de Curitiba, Lei nº 2828/1966, pois a cidade

continuava vivendo no passado.

Menezes (1996, p. 92) menciona que: “O desafio de reverter este quadro,

equipando a cidade, implicava decisões ousadas – passíveis de críticas e reações dos

setores da sociedade diretamente envolvidos”, o que provocaria uma série de conflitos e

jogos de interesses. O grande exemplo disto foi o fechamento da principal via da cidade, a

Rua Quinze de Novembro, transformando-a em rua para pedestres. Esta transformação já

estava definida no Plano Serete, que previa a pedestrianização de algumas vias da região

central da cidade, o que provocou a reação do comércio da região central, sob a alegação

de que haveria queda nas vendas.

Boreki (2009, p. 20) na reportagem do jornal Gazeta do Povo descreveu o

fechamento da Rua Quinze de Novembro da seguinte maneira:

Da noite para o dia, toneladas de pedras petit-pavé apareceram na

Rua XV de Novembro como se brotassem da terra. Nas hábeis

mãos de centenas de operários, um quebra cabeças em preto e

branco foi moldado entre a madrugada de sexta e o entardecer de

segunda feira. Havia pressa, e o motivo não eram as horas extras.

Levar a cabo a obra num fim de semana foi a estratégia da

prefeitura para contornar um inevitável embargo judicial. Assim, num

despiste às vozes contrárias nascia o primeiro calçadão do Brasil,

uma via exclusiva para pedestres no centro nervoso da cidade

predestinada a revoluções urbanísticas. Em 20 de maio de 1972,

Curitiba amanheceu com um novo sorriso, como se estivesse

passado por uma cirurgia plástica. O calçadão da XV deu início ao

processo de construção da autoestima do curitibano. Faltava até

então algo para se orgulhar. [...]. A transformação da Rua XV, ao

contrário das obras, não foi intempestiva. Estava prevista havia seis

anos. A lei municipal 2828, de 1966, previa novidades que se

tornariam as referências urbanísticas de Curitiba, como as canaletas

dos ônibus expresso, a cidade industrial de Curitiba (CIC), além do

calçadão. [...] (Boreki, 2009, p. 20).

O autor supracitado relata que “O calçadão como se vê hoje – da Praça Osório à

Presidente Faria – foi concluído apenas em 1976”. Boreki (2009, p. 20) resume as datas e

etapas em que foram realizadas as obras do calçadão, conforme segue:

31

1971 – O projeto é finalizado.

Maio de 1972 – São realizadas obras da Barão do Rio Branco até a

Marechal Floriano.

Dezembro de 1972 – Continuação da Marechal Floriano até a

Doutor Muricy.

Janeiro de 1973 – Avenida Luiz Xavier recebe as pedras de petit-

pavé.

Janeiro 1973 – Implantação do mobiliário urbano. Os moldes

serviram de base para outras construções da cidade, como a

cobertura empregada nos terminais de ônibus.

1976 – Conclusão do trecho entre a Barão do Rio Branco e

Presidente Faria. A praça Tiradentes recebe mobiliário urbano,

incorporando-se ao paisagismo do calçadão.

1991 – Primeira grande recuperação de toda a Rua das Flores: da

praça Osório à praça Santos Andrade. Adjacências, como a

Monsenhor Celso, também são recuperadas.

1999 – Nova revitalização completa: da Praça Santos Andrade à

Praça Osório.

Os comerciantes, antes do início das obras, organizaram uma forma de retaliação

com um abaixo-assinado, e contrataram um advogado para embargar a obra. Sobre este

fato o advogado Renê Ariel Dotti assim relata: Fui procurado por comerciantes para entrar

com uma medida contrária à pedestrianização (BOREKI, 2009). Nesse ínterim o Prefeito

Jaime Lerner se reuniu com os comerciantes contrários à implantação do projeto, tentando

apaziguar os ânimos, explicando os detalhes do projeto, o que aparentemente deu certo,

pois já ao início das obras, os comerciantes perceberam que as mudanças poderiam tornar

o comércio um ponto forte e melhorar as vendas. Assim, não houve ação judicial, e como

menciona Rene Ariel Dotti: “o Lerner foi o melhor advogado do seu projeto”.

Ainda a respeito do assunto, Boreki (2009, p. 20), alude que “hoje Lerner lembra

que o comerciante que coordenou o abaixo-assinado o entregou de presente com as

seguintes palavras: “Guarde de lembrança e estenda a todo o centro da cidade”. O autor

do projeto, o arquiteto Abrão Assad acrescenta: “Antes não se via o curitibano sentado em

bancos ou tomando chope. A Curitiba da Rua das Flores mudou a essa cara. Tanto é que

o público adotou a ideia de sala de estar, fazendo de sua cidade uma sala de visitas”.

(BOREKI, 2009, p. 20).

32

Apesar da exultação do autor do projeto e alguns comerciantes, houve também

insatisfação por parte de outros, conforme editorial intitulado “A Nossa Rua XV” veiculado

pelo Jornal O Estado do Paraná, no dia 18 de maio de 1972, o qual cita:

Depois de ter transformado a Rua 15 de Novembro em parque de

estacionamento, os técnicos do município estão agora projetando

transformá-lo numa rua-praça, avenida-jardim, ‘boulevard-

logradouro’, ou coisa que o valha. E esse absurdo é justificado com

argumentos pseudo-urbanísticos, falando-se muito na

‘humanização’ do centro urbano. [...] Os técnicos pretendem, em

suma, presentear Curitiba com uma rua que seja uma festa. Seria

conveniente, entretanto, que se perguntasse ao curitibano se ele

quer realmente essa rua festiva. (BOREKI, 2009, p. 10).

Entretanto, passado o susto inicial, a reação agradável da população diminuiu a reação da

imprensa, que passou a ser mais amena.

O calçadão é uma realidade. “[...] A rua como ponto de encontro natural, a

iluminação diferenciada, as mesinhas na calçada, a tranquilidade de circulação, são

respostas que geram mais movimento num novo tempo” (ASSAD, apud URBAN 1992, p.

27). De acordo com Urban (1992, p. 35), existe uma alusão ao Calçadão que emite o

pensamento não apenas dos projetistas, mas que dá toda a apropriação da população:

Se as praças – principalmente para as crianças e os de mais idade

– são “ilhas” ainda funcionando como formas de escape da

agressão urbana, configurada pela expressão dos prédios, volumes

de carros, barulho, poluição visual, [...] assim os calçadões, que

nasceram, brasileiramente, de um projeto curitibano, constituem

fenômenos novos e, felizmente, em contínua expansão.

Assim, pela apropriação da população, com relação aos calçadões, a depender de

sua manutenção e revitalizações, serão sempre a extensão da sala de visitas de suas

casas, de forma a haver uma comunhão social, em uma psicologia urbana que em muito

ataca o ser humano, mas que com um planejamento urbanístico adequado deverá ser

equacionada de forma a prever o bem estar da população e dar a essa melhores

condições de vida em uma sociedade que necessita de lazer e de descarregar as tensões

do dia a dia, e que aí os calçadões por serem espaços abertos e democráticos cumprem a

sua função social.

33

2.3 O CALÇADÃO: A LEGALIZAÇÃO POLÍTICA COMO ESPAÇO PÚBLICO DE

URBANIZAÇÃO

2.3.1 Política pública em espaços urbanos sociais

O tema política urbana, na tradição sociológica, “está intimamente imbricado com o

poder local” (CASTELLS, 1983, p. 299), ou seja, um recobre parcialmente o outro. Em

outras palavras, é o processo político dentro da comunidade urbana, como um braço do

estado agindo em nível interno, junto com a comunidade para assim promover o

desenvolvimento e mudar a realidade local.

Quanto à administração pública da cidade de Curitiba, Souza (2005, p. 297):

O que é que Curitiba tem – e que as demais não têm?

Num país formado por uma colcha de retalhos mal costurada de

problemas sociais, a cidade de Curitiba, capital do estado do

Paraná, situada ao sul do Brasil, é o maior exemplo de que quando

o poder executivo se faz presente as coisas podem dar certo,

mesmo num país pobre. Por traz de uma cidade jovem, dinâmica e

relativamente bem resolvida, existe uma administração pública

consciente, que trabalha com os recursos de que dispõe e propõe

soluções criativas para um emaranhado de problemas urbanísticos,

que já se tornaram referência até no exterior.

Portanto, a análise da política urbana aplicada ao “espaço urbano” deverá observar qual o

papel da instituição municipal no processo de proposição da produção do espaço,

considerando suas finalidades, benefícios, facilidades e as influências internas e externas,

verificando principalmente qual a sua importância no contexto local, com foco na

sociologia, para estabelecer qual a efetiva transformação da realidade local que

determinadas políticas públicas de produção de espaços podem realizar e/ou influenciar

nesta realidade.

2.3.2 Políticas de mobilidade urbana e social

Este item tem por intuito compreender as políticas públicas aplicadas à mobilidade

urbana que promovem a transformação da realidade das vias públicas, principalmente por

estas dividirem o espaço entre pedestres e os veículos que nela transitam. O estudo

principal por sobre tais políticas vai se situar quanto aos benefícios que as políticas de

mobilidade implementadas trarão ao comércio de uma forma geral. Com efeito, visto que

34

este depende diretamente do trânsito de pedestres e de veículos, integrando as diversas

zonas das cidades, incluído aqui também a zona central da cidade.

O urbano é composto por determinadas relações entre as cidades e seus fluxos

que o torna um complexo a ser planejado e estruturado. Assim, a política de mobilidade

urbana corresponde às relações do espaço que abriga (ruas, construções, limitações

geográficas etc.) e as formas de organização com determinados objetivos. (GONÇALVES

et al., 1991).

Então, as ações de mobilidade das cidades devem compatibilizar a organização do

espaço urbano e suas soluções organizacionais, como forma de integração social e

também na área econômica de forma a proporcionar qualidade de vida às cidades.

Os transportes constituem-se em infraestrutura básica para o

desenvolvimento econômico e social. Suas características

econômicas (grandes custos enterrados e natureza de monopólio

natural), sociais (elemento de solidariedade e de coesão territorial) e

ambientais (elemento chave para o desenvolvimento urbano

sustentável) tornam obrigatória a presença do Estado na sua

provisão à Sociedade. Daí por que o maior ou menor papel

desempenhado pelo transporte nas políticas públicas, guarda uma

relação direta com os níveis de presença estatal na economia e na

Sociedade. (BRASILEIRO et al., 2006, p. 1).

Nesta mesma linha de pensamento o mesmo autor afirma:

É, pois, nesse atual contexto, que o trabalho realiza uma reflexão

sobre os novos desafios postos à Sociedade com vistas à

formulação de políticas públicas para os transportes urbanos em

que se destacam: i) o papel dos transportes na inclusão social; ii) a

retomada da ação do Estado na provisão das infraestruturas; iii) a

necessidade de novas concepções de planejamento, e de

mudanças institucionais no campo regulamentar e de financiamento.

Assim, o enfrentamento desses desafios parece ser imprescindível

para que se tenha um desenvolvimento baseado em um sistema de

transporte inclusivo e sustentável. (BRASILEIRO et al., 2006, p. 2).

Em outras palavras, o transporte urbano forma a base para que haja o

desenvolvimento nas áreas econômicas e sociais. Na área econômica acarreta à

infraestrutura altos custos na sua implantação e manutenção, como também cria um

monopólio natural, ou seja, fica a cargo de alguns o poder de explorar os serviços de

transporte, o que deve ser observado e regulamentado. Na área social impulsiona o

desenvolvimento pela própria natureza, que é dar mobilidade às pessoas, haja vista que

35

estas ocupam muitas vezes, por força de status, determinados espaços ou áreas distantes

dos centros urbanos, que “seriam de menor custo”, que o autor define como coerção

territorial. Assim, é necessário que o Estado forneça este serviço à sociedade. Desta forma

o Estado deve se fazer presente com políticas públicas adequadas, de forma a

desempenhar seu papel na economia e na sociedade.

De acordo com Boareto (2009, p. 143),

O processo de urbanização verificado nos países em

desenvolvimento, principalmente na ultima metade do século

passado, resultou em grandes concentrações populacionais em um

número reduzido de cidades, tornando explicito o conflito entre

pessoas de diferentes níveis de renda pela apropriação e o uso de

espaços públicos. O aumento da motorização da população,

traduzido na ampliação da frota de automóveis e motos resulta em

uma crise que diariamente é ilustrada pelos congestionamentos e na

disputa pelo uso da rua entre os vários modos de transporte,

motorizados ou não, seja para a promoção da acessibilidade das

pessoas ou para o transporte e distribuição de mercadorias e a

prestação de serviços.

O autor supracitado complementa que, de acordo com Davis (apud Boareto, 2009,

p. 143), “o crescimento urbano sofre maior pressão da migração entre cidades do que da

mudança da área rural para a urbana”.

O autor indica ainda que, Maricato, no prefácio da obra de Davis (2006), afirma

que em vez de cidades de ferro e vidro sonhadas pelos arquitetos, o mundo está na

verdade, sendo dominado pelas favelas. E descreve também, ainda na mesma linha de

pensamento:

Verifica-se assim as pressões ambientais urbanas decorrentes, de

um lado da urbanização da pobreza e, do outro, da reprodução do

padrão de consumo de países desenvolvidos, pela parcela mais rica

dos países em desenvolvimento, que se manifesta na política de

mobilidade urbana e nas suas externalidades negativas. Assim

iniciamos o século XXI construindo verdadeiras sociedades em

risco. Estes riscos, segundo o documento do Proam (2008), seriam

resultantes dos ambientes deteriorados em decorrência dos

processos sociais, ecológicos, econômicos, culturais e políticos que

se materializam na metrópole e criam situações de exposição para a

população que, por sua vez, são mais intensos para grupos sociais

mais pobres, [...]. DAVIS (apud BOARETO, 2009, p. 149).

36

Em outras palavras, o inchaço populacional provoca concentrações populacionais

de diferentes níveis, cultural e de renda, promovidas pela apropriação e uso dos espaços

públicos urbanos. O aumento desordenado dos meios de transporte provocou transtornos

no trânsito, principalmente por congestionamentos e disputa das ruas e avenidas no

transporte de pessoas como também de mercadorias e serviços.

O inchaço populacional das cidades mudou a paisagem urbana, ocasionando o

aparecimento de favelas impulsionado pela baixa renda da população. Desta forma a

política urbana mostra uma visão distorcida da cidade, o que não implica ser falta de

planejamento, mas falta de percepção das autoridades, o que provoca uma distorção da

visão, por não perceberem os problemas decorrentes do que está acontecendo. Como

também por não terem consciência das vantagens de aplicação em tempo hábil dos

benefícios que podem trazer o transporte coletivo de massa para esta população. E mais,

por não realizarem análises sobre o processo em andamento, verificando assim o

aparecimento de uma nova sociedade, o que pode acontecer em diversos lugares, se não

houver uma percepção da situação urbana como um todo.

Seguindo nesta mesma esteira,

O processo de planejamento dos transportes urbanos diz respeito a

todas as facilidades utilizadas para a movimentação de bens e

pessoas, incluindo terminais e sistemas de controle de tráfego. O

processo é baseado na coleta, análise e interpretação dos dados

relativos às condições existentes e ao desenvolvimento histórico,

nas metas e objetivos da comunidade, na previsão do futuro

desenvolvimento urbano e na futura demanda por transportes. Inclui

não apenas a preparação do planejamento, mas também revisões

periódicas e modificações provenientes das modificações que

ocorrem. (MELLO, 1981, p. 26).

O planejamento dos transportes urbanos deve seguir uma metodologia, ter

objetivos fixados a partir de metas comunitárias, incluir usuários e não usuários dos

sistemas de transportes e ter em vista o futuro desenvolvimento urbano e a integração com

os demais sistemas urbanos como forma de dar sustentabilidade a um planejamento de

longo prazo.

Mello afirma que os objetivos do planejamento devem ser de vários tipos:

[...] devem ter natureza variada, como: descentralizar as atividades,

melhorar a distribuição da renda, contribuir para a diminuição da

poluição, reduzir os custos de produção, permitir acesso a locais

turísticos ou áreas de lazer, ou seja, os planos de transportes

poderão ser voltados para vários objetivos. (MELLO,1981, p. 26).

37

As diretrizes devem ser seguidas na metodologia como forma a desenvolver

planos de transporte para as cidades, de maneira a se conseguir elaborar planos que

tenham viabilidade produzida além dos parâmetros comuns aos estudos de transporte, e

devem levar em conta outros parâmetros próprios de área urbana, como a redução dos

tempos de viagem e dos benefícios indiretos, vindos de melhorias na qualidade de vida da

população que se serve do sistema de transporte, como redução do nível de ruídos,

acidentes etc.

Mello (1981, p. 32) acrescenta que:

A escolha do modal poderá ser fixada pelo Governo, com uma

medida de políticas de transportes urbanos, isto é, se a política

governamental para este setor é aumentar a participação do

transporte público no total de viagens, ele pode estabelecer como

meta para determinado horizonte o percentual que deverá utilizar

carros particulares e veículos públicos. Fixados estes valores,

deverão ser adotadas medidas que favoreçam a utilização do

transporte público, ao mesmo tempo que deverão ser tomadas

medidas que desestimulem o uso dos automóveis. As duas séries

de medidas deverão ser tomadas ao mesmo tempo, caso contrário o

objetivo proposto jamais será alcançado.

Percebe-se que se a mobilidade da população é um fato gerador de aceleração da

produção e que o crescimento da população é um fato também gerador de novas

ocupações de uso do solo urbano e integração entre os novos espaços e os existentes.

Deve então prevalecer uma condição de crescimento harmonioso. Dessa maneira, o

transporte coletivo de massa deverá ser capaz de dar respostas às prementes

necessidades da população. Ele deve responder de forma eficaz minorando os problemas

de atendimento a todos e, assim, equacionar de forma rápida e eficaz a redução do tempo

nas viagens, com percursos mais curtos, proporcionando uma melhor qualidade de vida à

população que vive nas áreas urbanas das cidades.

Na mesma linha ele de pensamento, Leite (1990, p. V-13) alega que:

Os fatores econômicos do meio ambiente repercutem na mobilidade

da população, os fatores ecológicos nas emissões de gás de

escapamentos, os fatores sociais na procura quantitativa e

qualitativa, os fatores políticos influem nas concorrências de

mercado e distribuição modal, os fatores tecnológicos influenciam

na propulsão dos meios de transporte e assim por diante.

Percebe-se, assim, que os transportes públicos influenciam a população das

cidades em diversos aspectos como mobilidade, política social e cultural, vida urbana e

38

economia, qualidade de vida, recursos, dentre outros, que devem ser equacionados de

forma a vencer limitações provocadas pelo espaço geográfico das cidades e promover uma

melhor qualidade na prestação dos serviços. (LEITE, 1990).

Os espaços das cidades são limitados e não permitem um tráfego mais denso, pois

há limites impostos, principalmente, pelos de transporte individual. Isto considerado deve

ser feita uma formulação de forma a dividir e adaptar os espaços urbanos de maneira mais

econômica para que sejam mantidas ambas as formas de transporte, quais sejam os

individuais (particulares) e os coletivos (públicos).

Quanto ao transporte individual, este determina seus próprios horários e

frequência, restando dentro do transporte coletivo demandas quantitativas e qualitativas,

que deverão servir como pontos de referência ao planejamento, na área do que pode ser

dito como atendimento de foco social, como pontualidade, frequência, regularidade, tempo

de viagem, segurança, dentre outros, todos de grande importância para o usuário do

sistema de transporte. Há também para o operador do sistema obrigações a serem

atendidas, como eficiência, adaptabilidade, confiabilidade, dentre outras que também

devem ser consideradas para poder oferecer os serviços pelos quais for responsável.

Assim, os transportes públicos devem priorizar a qualidade dos serviços prestados,

prevendo sempre melhorar as formas de prestação dos serviços, de modo a desestimular o

transporte individual e dar prioridade ao transporte público de passageiros, no intuito de

diminuir o volume de veículos de transporte individual, diminuindo tempos de viagem,

aumentando o volume de viagens, etc., pois estas medidas contribuiriam para a adoção de

tarifas menores e mais adequadas, proporcionando melhores condições na vida da

população.

Para que isto ocorra é importante que haja intervenções dos Governos, como

forma de chamar para si a responsabilidade em implementar políticas públicas não apenas

às áreas afetas ao transporte público, mas com políticas de caráter social, na

regulamentação dos serviços, haja vista que este tipo de transporte atende toda a

população, inclusive a de baixa renda.

Verifica-se que a mobilidade é um meio, não dissociável da política social e está

em constante mutação, a fim de atender às necessidades tecnológicas de melhorias do

sistema de transporte público. E também à constante expansão das cidades e sua

população, de maneira a evitar o acúmulo de problemas que são normais devido ao

crescimento físico e populacional que ocorre, em especial nas grandes cidades.

Leite (1990) lembra que o cliente é o objetivo final do sistema de transporte e

recomenda uma série de medidas nas áreas operacionais, organizacionais, planejamento e

construção, econômicas e gerais, a serem adotadas pelos operadores e órgãos públicos.

39

Estas devem acontecer por meio de políticas que objetivem melhorar o sistema de

transporte público e dar ao usuário do sistema condições de confiabilidade e conforto,

como também minimizar os problemas sociais e “desafogar” determinadas vias de

transporte, como se pode observar pelas medidas acima recomendadas.

Leite (1990, p.15), propõe que: “na área central das cidades, fornecer prioridade

aos transportes públicos e nos subúrbios assegurar uma rede básica de apoio com um

traçado de linhas e horários, em conformidade com a demanda”.

Cabe, ainda, ressaltar que as Leis de Zoneamento são políticas públicas também

aplicadas às vias públicas, pois promovem ordenamento, crescimento e desenvolvimento

da cidade, no que se refere à mobilidade. Esta divide a cidade em regiões, chamadas

Zonas, disciplinando tudo o que é permitido, tolerado e permissível quanto ao uso e

ocupação do solo e ao atendimento aos dispositivos legais sobre áreas econômicas,

sociais e de lazer. Com este disciplinamento à forma de desenvolvimento e expansão da

cidade, a Lei dispõe em alguns artigos sobre a política de transporte e mobilidade, citando

o sistema viário e o transporte coletivo como forma de integração entre as diversas áreas,

inclusive integrando a região ou zona central com as demais zonas, distribuídas de acordo

com o planejamento geral.

Resumidamente, as políticas públicas em vias públicas têm como preocupação

principal promover o desenvolvimento local em determinados eixos das cidades. Para isto

propõe programas e projetos diferenciados nas mais diversas áreas de atividade, que

sejam afetas e promovam a transformação da realidade, visando dar uma melhor qualidade

de vida e facilidades à população.

A implementação de políticas públicas dentro da diversidade de propostas que se

encontram para as vias públicas nos eixos de desenvolvimento socioeconômico, social,

cultural e de lazer da cidade, devem visar à ordenação e promover o desenvolvimento local

em benefício da população promovendo qualidade de vida e transformando a realidade

local, principalmente na área do desenvolvimento social.

Enfim, os transportes públicos devem ser ampliados nas cidades de maneira sutil e

ser priorizados de forma a propor políticas de maior eficiência e qualidade como forma de

manter uma convivência saudável a par do transporte privado individual, desestimulando-o,

principalmente nos centros das cidades, como forma de redução dos tempos de viagem e

assim melhorar os sistemas de mobilidade nas cidades de forma geral, dando, portanto,

maior e melhor qualidade de vida às populações, principalmente, nos grandes centros

urbanos.

40

2.3.3 Leis de zoneamento, uso e ocupação do solo.

As Leis de Zoneamento e Ocupação do Solo das cidades formam um conjunto das

principais normas que ditam o rumo das políticas públicas em espaços urbanos. Dentre

elas podem-se citar algumas, como a Lei nº 9.800 (Curitiba, 2000), Lei nº 2.193

(Florianópolis, 1985) e Lei nº 3.253 (São Luiz, 1992). Além disso, as leis citadas revogam

disposições contrárias e leis anteriores, como forma de promover avanços nos parâmetros

já estabelecidos, de forma geral, na expansão das cidades e, que como todas as leis de

zoneamento, dispõem sobre a divisão do território do Município dividindo-o em zonas e

setores, com objetivos claros no desenvolvimento direcionado das cidades e também em

alvos com focos sociológicos, denotando de forma quase imperceptível segregações nas

áreas sociais e econômicas.

As políticas públicas urbanas atendem ao Zoneamento e aos critérios de Uso e

Ocupação do Solo para definir os objetivos das políticas públicas nas áreas de urbanismo,

comércio, habitação e lazer, atendendo a uma visão sociológica, na qual as cidades não

existiriam se não fosse a população que nela habita e trabalha. Dentre estes objetivos

estão o de geração de empregos e renda, compatibilização do uso do solo com o sistema

viário e transporte coletivo, preservação de centros históricos, culturais, sociais,

paisagísticos e outros, como a integração de espaços urbanos periféricos, para viabilizar

meios que proporcionem à população um espaço urbano adequado e com planejamento

integrado às políticas públicas, para assim atingir seus objetivos.

Percebe-se, assim, que as Leis de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo tratam o

município de forma integrada, incluindo os aspectos socioeconômicos, sociais e de lazer,

como forma de promover o bem-estar da população e a integração do município. Grande

parte das políticas públicas em espaços urbanos giram no entorno das Leis de

Zoneamento e de Uso e Ocupação do Solo, pois estas ditam todo o mecanismo e

detalham como deve ser o funcionamento das cidades, em todas as áreas, inclusive na

social, já que coloca as cidades e suas funções sociais na razão direta da população que

nela vive e trabalha.

2.3.4 Despoluição visual da cidade

Outra política pública que merece destaque é a de despoluição visual da cidade.

Esta política também foi implementada no calçadão da cidade de Curitiba. Conforme citam

Macedo, Nascimento e Boschilia (1981, p. 40) existia à época, a Lei nº 1.211 de 19 de

setembro de 1953, que disciplinava a colocação de “outdoors”, placas e outras formas

41

exteriores de propagandas. Com esta regulamentação especifica o então diretor do

Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Educação e Cultura, o

arquiteto Sergio Todeschini Alves, procurou aplicar a lei em algumas regiões da cidade,

principalmente as de maior adensamento e concentração do comércio, e como exemplo

cita-se o centro da cidade de Curitiba, mais especificamente onde existiam edificações

históricas, como na Rua das Flores, onde o nível de poluição visual era bastante

desconfortável e confuso, obstruindo as fachadas destas edificações, escondendo parte da

história da cidade.

Esta questão chegou aos Tribunais de Justiça e foi parar no Supremo Tribunal

Federal, que a julgou procedente, acolheu e obrigou a antiga loja Paulistana Modas,

instalada no calçadão, e que tinha a maior descaracterização da fachada, a desmanchar

toda a grande fachada de fibra de vidro de cor de abóbora. Assim fez ressurgir um edifício

construído em 1926 e, tombado em 1972, como “uma das relíquias da velha Curitiba”.

Conforme a reportagem Despoluição visual da cidade dá mais beleza à Rua das

Flores, publicada pelo jornal Diário do Paraná em maio de 1982,

Está praticamente concluída a primeira etapa do programa de

despoluição da cidade, instituído e desencadeado pela Prefeitura

Municipal de Curitiba, através de um projeto elaborado pelo Ippucc –

Instituto de Pesquisa e Planejamento da Cidade de Curitiba. [...]

[...] A ideia é dar uma melhor organização ao aspecto visual da

cidade, considerando que o desenvolvimento desordenado da

publicidade urbana põe em risco a segurança da população e

ocasiona prejuízos à paisagem da cidade.

Este foi um primeiro passo para destacar a paisagem das ruas da cidade de

Curitiba, facilitando a visualização do comércio dentro de uma proposta de racionalização e

padronização da propaganda ao ar livre.

Em maio de 1981, o arcebispo de Curitiba Dom Pedro Fedalto, diretores da

Fundação Roberto Marinho e outras autoridades, estiveram presentes em solenidade

pública, quando o prefeito, à época, Jaime Lerner assinou o Decreto nº 172 de 1981,

baseado no Código de Posturas Municipal, previsto pela Lei 699 de julho de 1953,

considerando o risco à segurança da população e prejuízos a paisagem urbana, a

necessidade de controle da exploração e utilização da publicidade por meio de controles

específicos como: taxas de publicidade locais de afixação e localização, lei de zoneamento

etc., que deveriam dar maior controle neste tipo de publicidade e adequá-los às diversas

zonas e setores da cidade de Curitiba. (MACEDO; NASCIMENTO; BOCHILIA, 1981).

42

Assim, anos mais tarde, com o intuito de melhorar o visual da cidade e padronizar

os moldes de publicidade, por iniciativa da Câmara Municipal foi elaborada a Lei nº

8.471/1994 como forma de regulamentar e disciplinar a propaganda ao ar livre. Diante do

disposto em lei, o setor comercial da cidade está até hoje obrigado a se adequar a

padronização dos diversos moldes e normas de publicidade, que vai desde o

posicionamento e formato até as dimensões das placas ou luminosos de propaganda.

O visual das ruas da cidade ficou mais leve e harmônico dando um ar sóbrio e discreto e

sem agredir as fachadas dos imóveis, principalmente nas áreas históricas da cidade. A lei

teve como intuito, também, coibir excessos que desvirtuem o sentido da publicidade;

manter o convívio harmonioso entre o comércio, população e manter uma política de

manutenção da paisagem natural e histórica da cidade.

2.3.5 Feiras de artes

Dentro do tema políticas públicas urbanas, a Secretaria Municipal de Turismo

através do Ofício nº 342 (1989), propôs ao Prefeito uma forma de regulamentar as feiras

de artes e artesanato que aconteciam em Curitiba sem que houvesse qualquer

regulamentação, no que é atendida com Decreto nº 221/1989, que dispõe:

Art. 1º - As Feiras de Artes e Artesanato de Curitiba tem por fim:

Incentivar a produção artística e de artesanato, alem de outros

produtos que representem e valorizam a cultura local, divulgando-as

no seio da comunidade, bem como entre aqueles que visitam a

cidade;

Identificar os artistas e artesãos curitibanos, dando-lhes espaço para

expor e comercializar seus produtos.

Art. 2º - As feiras existentes na data deste Decreto são:

[...]

d) Feira de Artes Plásticas Luiz Xavier - localizada na Avenida Luiz

Xavier, e que se caracteriza pela oferta de trabalhos de artistas

plásticos, funcionando às quartas-feiras e sábados, das 9:00 às

14:00hs.

Parágrafo Único - Os horários e localizações atuais poderão ser

alterados, assim como outros locais de exposição ser criados, por

Portaria da Secretaria Municipal do Turismo.

[...]

Art. 4º - Nas Feiras de Artes e Artesanato, só poderão ser expostos

produtos reconhecidamente classificados como artísticos e

artesanais e confeccionados pelo próprio expositor, dentro dos

seguintes critérios:

[...].

43

Estes e outros artigos deste Decreto disciplinam as feiras de artes e artesanato a

céu aberto em Curitiba, demonstrando uma política nítida de incentivo a cultura local,

dando preferência, divulgação, promoção e espaço ao artista curitibano como também um

local público para comercializar as suas obras. Aqui, como forma de dar mais visual e

revitalizar um trecho do calçadão, o Decreto instituiu no Art. 2, alínea d, um ponto para esta

atividade comercial de artes na Avenida Luiz Xavier, ponto este localizado na região onde

se reúnem os cavaleiros da “Boca Maldita”, por ser um local de grande concentração

popular.

Percebe-se que a formulação de políticas públicas em espaços urbanos com o

intuito de preservar o patrimônio histórico, incentivar o comércio e explorar os espaços na

perspectiva de promover o desenvolvimento urbano; criando ainda outros espaços em

determinadas áreas, não apenas no centro da cidade, mas em outros locais, visa

principalmente o desenvolvimento na área socioeconômica, buscando atrair a população a

diversos pontos da cidade, e desta forma transformar a realidade urbana local.

2.4 O CALÇADÃO: SEU DESENVOLVIMENTO

2.4.1 Desenvolvimento social e econômico

Este item tem por intuito compreender o desenvolvimento socioeconômico de

centros urbanos, diante da relação com as políticas públicas implementadas, a teoria da

centralização urbana e teorias sociais existentes.

Segundo Gottdiener (1997), em “A centralidade na teoria da localização”, a lógica

da teoria da localização dependente de situações como as necessidades industriais, as

ofertas de fatores de produção, as considerações dos mercados e as exigências

administrativas ou organizacionais. Tais necessidades se cumprem com benefícios obtidos

pela coerção, em que determinados setores impõem a localização central para exercer a

função econômica da cidade.

Neste sentido, Berry menciona que:

O teórico da localização comumente classifica em três tipos as

atividades econômicas concentradas localmente: as que são

orientadas pela matéria-prima, as localizadas em pontos

intermediários entre a matéria-prima e o mercado e as orientadas

pelo mercado [...] Os três princípios clássicos da localização urbana

derivam desses três tipos de orientação das atividades econômicas

em termos de localização: cidades que são locais de funções

especializadas, cidades que expressam o traçado e caráter das

redes de transportes, e cidades que são lugares centrais.

44

Considerando que as cidades são lugares centrais que cumprem as

funções de comércio varejista e de serviços para a área

circunvizinha, nem toda cidade possui os dois primeiros aspectos...

A zona comercial central é um ponto focal em torno do qual se

desenvolveram usos e densidades da terra, a padronização espacial

da população urbana, a localização subsidiária do comércio varejista

e dos serviços, padrões de transporte e commuting e semelhantes.

BERRY (apud GOTTDIENER, 1997, p. 51).

Esta teoria, apesar de ser bastante difundida, encontra divergência de muitos

economistas, mas estes admitem a sua importância, principalmente por considerarem as

decisões econômicas da população das cidades e também por considerarem modelos de

equilíbrio, onde o comércio de bairro deve ser considerado de menor valor para o varejo,

visto que o custo da terra é possivelmente mais barato se comparado ao da região central

das cidades, que por sua vez, têm maiores condições de se desenvolver. A opção da

centralidade só se fundamenta se houver maiores oportunidades, tanto de empregos como

de negócios. É importante ressaltar que “essa opção só tem sentido se admitirmos que o

centro da cidade é um ponto de concentração tanto de oportunidades de emprego quanto

das de negócios. (WINGO, 1961, apud GOTTDIENER, 1997).

Gottdiener (1997, p. 52), acrescenta que:

[...] basicamente é uma concepção à demanda que eleva as

preferências do consumidor individual e dos negócios a um lugar

primordial entre aquelas forças que se articulam com o espaço, e

que descura os fatores sociais que estruturam a oferta diferencial

das localizações atraentes, como os programas de governo.

Romanos 1976:79 (apud GOTTDIENER, 1997, p. 53) afirma que a partir da

concentração de emprego no Central Bussiness Distrit (CDB), duas tendências influenciam

os modelos monocêntricos, são elas:

1) Ao explicar a estrutura urbana e a localização do lar familiar, dá-

se mais importância ao CDB do que ele realmente merece;

2) a análise do restante da área urbana torna-se inadequada porque

a homogeneidade da terra residual é destruída pela presença de

usos não residenciais.

Segundo Nazzari, Reule e Lazarotto (2003) as teorias de diversos autores que

pesquisam sobre desenvolvimento socioeconômico têm como finalidade melhorar a

qualidade de vida das pessoas, pois é em função do desenvolvimento das cidades que as

45

políticas públicas devem ser implementadas, para que realmente atinja o almejado

desenvolvimento em função de melhorias sociais.

Uma variável importante dos índices de desenvolvimento

socioeconômico atual está relacionada à melhora da qualidade das

pessoas, constata-se que, nesta direção o capital social é produtivo

para o desenvolvimento socioeconômico das cidades e para a

vitalidade das instituições democráticas. As formas e os exemplos

de capital social são: congregações baseadas na organização

comunitária relacionada à participação cívica, em questões de meio

ambiente, educação e problemas da comunidade de extensões

municipais, e cooperativas de auxílio mútuo, entre outras.

(NAZZARI, 2003).

Assim percebe-se que o processo de desenvolvimento socioeconômico é

dependente de uma implementação de políticas públicas visando um processo de

aperfeiçoamento que busque metas desejáveis para o conjunto da sociedade,

transformado-as em benefícios sociais que levem a população a ter uma melhor qualidade

de vida. Mesmo sendo a “sociedade” formada por diferentes linhas de pensamentos, mas

com o foco no desenvolvimento, no avanço social e econômico, visando o crescimento de

forma a atingir os objetivos almejados dentro de um planejamento preestabelecido.

46

3 METODOLOGIA

3.1 EMBASAMENTO METODOLÓGICO

Esta é uma pesquisa de ordem bibliográfica com foco documental e exploratória.

Fez-se um estudo sobre o Calçadão de Curitiba e sua história como espaço público social

de urbanização da cidade desde sua implantação (anos 70, século XX) até 2012, visando

compreender seus avanços e retrocessos socioeconômicos. O embasamento teórico

adotado no presente estudo constou de duas fases: pesquisa bibliográfica e pesquisa

documental, as quais são especificadas a seguir.

3.1.1 Pesquisa Bibliográfica

Este estudo tem a característica de uma pesquisa bibliográfica. Para Siqueira

(2005, p. 85), a bibliografia corresponde ao “conjunto de livros e textos científicos

produzidos e referentes a certo tema”, onde a pesquisa bibliográfica passa a ser o exame

para levantamento e análise do material já produzido sobre o assunto. Assim, o

pesquisador se utiliza o que já foi investigado por outros autores sobre o objeto da

pesquisa. Para isto deve ser realizada uma pesquisa bibliográfica prévia, como forma de se

utilizar os conteúdos já estudados, obtendo-se assim informações sobre o tema em estudo.

Contudo, deve-se verificar a procedência destas, para que sejam evitadas reedições de

informações equivocadas.

Vieira (2005, p. 34) define a pesquisa bibliográfica de forma mais sucinta: “as

produções humanas estão guardadas em livros, artigos e documentos, assim nenhum

trabalho científico dispensa a pesquisa bibliográfica”. E continua, citando que este tipo de

pesquisa abrange toda a bibliografia existente e que já foi tornada pública, abrangendo

publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, gravações

em fita magnética e audiovisuais como filmes e televisão. O objetivo é dar ao pesquisador

forma de acesso direto a todo material existente de forma escrita, dita ou filmada sobre o

assunto pesquisado, incluindo também conferências seguidas de debates que de alguma

forma tenham sido transcritos e editados.

Neste estudo, para a realização da pesquisa bibliográfica seguiu-se os passo

sugeridos por Siqueira (2005), quais sejam: Determinação dos objetivos, que foram:

Descrever a implantação do Calçadão; Apresentar referenciais sobre o Calçadão de

Curitiba como espaço público social da cidade; Apresentar os avanços e retrocessos

47

socioeconômicos do Calçadão de Curitiba desde registros da mídia escrita paranaense dos

anos 1972 a 2012, como também através de imagens fotográficas publicadas na mídia

escrita paranaense dos anos de 1972 a 2012; Compreender os avanços e retrocessos, as

relações socioeconômicas no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de

registros da mídia escrita paranaense e nacional. Em seguida houve a elaboração do

plano de trabalho; Identificação das fontes; Localização das fontes e obtenção do material;

Leitura do material e tomada dos apontamentos; Confecção de fichas e redação do

trabalho.

Por fim, foi realizado “estudo de caso”, por se entender o Calçadão de Curitiba nos

seus avanços e retrocessos socioeconômicos desde 1972 a 2012 como um fenômeno

complexo, que demandou ser compreendido dentro dos limites políticos e sociais.

3.1.2 Pesquisa Documental

Em, Vieira (2005 p. 35), tem-se uma definição esclarecedora sobre pesquisa

documental, que é elaborada com base na definição contida nas normas da Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), (NBR 6023:2000, p. 2). Tal pesquisa é “aquela

realizada a partir de documentos, contemporâneos ou retrospectivos, considerados

cientificamente autênticos (não fraudados)”. A autora diz que é muito utilizada nas ciências

sociais, na investigação histórica, como forma de comparar fatos sociais firmando sua

forma de agir.

A pesquisa documental dá maior facilidade para se verificar diante do acervo de

fontes bibliográficas, informações e dados, para clarear e/ou delinear o problema científico

da pesquisa que está em foco, na busca de informações e dados com melhor

aproveitamento dos objetivos que se deseja obter.

Assim, Siqueira (2005, p.94) elabora um quadro comparativo das diferenças entre

os dois tipos de pesquisa.

Diferenças

Pesquisa Bibliográfica: Pesquisa Documental:

1. Usa contribuição de vários autores sobre

um determinado assunto.

2. As fontes são constituídas, sobretudo por

material impresso situado na biblioteca.

3. Documentos impressos para certo público.

1. Vale-se de materiais que não receberam

tratamento analítico, ou que podem ser

reelaboradas conforme o problema da

pesquisa.

2. As fontes são diversas e dispersas.

48

As pesquisas bibliográficas e documentais se confundem, e podem ser consideradas

apenas como bibliográficas por se tratar de material escrito, e fazer parte de um “acervo”

de consulta plausível de demonstração como fonte de pesquisa. Isto desde que

devidamente catalogado em bibliografia própria de trabalhos como “fontes de pesquisas”

que são, e desta forma podem ser reconhecidas como tal.

Com base no acima citado, este trabalho é elaborado como um “estudo de caso”.

E irá retratar o Calçadão de Curitiba como área social, uma grande “Sala de Estar”, na

região central da cidade, ladeada por um comércio próprio em área reservada

exclusivamente aos pedestres. Assim dá à população um espaço público propício a

encontros e bate-papos, ladeado de por bares, restaurante, cafés e um comércio de fácil

acesso, o que torna o calçadão também uma área comercial importante. Assim sendo, o

conjunto que forma o “Calçadão de Curitiba” pode ser visto como um grande espaço

público a céu aberto que teve desde a sua implantação avanços e retrocessos. .

3.2 Perfil da área em estudo

A Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro são as ruas que compõem o

chamado “Calçadão de Curitiba”, que é fechado ao tráfego de veículos automotores. O

logradouro tem perfil característico de um espaço público de lazer, mesmo sendo ladeado

de um comércio de características diversas.

A pavimentação em toda a sua extensão e largura é em petit-pavé, que é um tipo

de pedra pequena com formato irregular nas cores preta e branca que possibilita formar

desenhos, da mesma forma que são utilizadas nas calçadas ou passeios. É conhecida

também como “Rua das Flores”, nome que traz desde os tempos do império, e que para

não perder sua identidade, diante do nome pelo qual já era conhecida, foram instaladas em

tudo a sua extensão grandes floreiras, dando ao calçadão a imagem de uma grande praça.

É um espaço público utilizado pela população da cidade como via de passagem, área de

comércio e também como área de lazer, pois neste local existem pontos já definidos pela

própria população como pontos de encontro, como a “Boca Maldita” e outros, que com a

instalação do mobiliário urbano, preparou alguns trechos desta via nos mesmos moldes do

mobiliário instalado na Boca Maldita para serem utilizados como locais de descanso ou

bate-papos informais.

49

3.3 Área geográfica: Localização e dimensão

A área geográfica estudada nesta pesquisa é o espaço público do “Calçadão de

Curitiba”, composto pela Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro conforme mostra a

Figura 1, localizada na região central da cidade de Curitiba, perfaz um total de 06 (seis)

quadras. Seu início está na confluência da Avenida Luiz Xavier com a Rua Voluntários da

Pátria, confluência esta também fechada ao tráfego de veículos, o que fez com que o

trecho do calçadão incorporasse um pequeno trecho da Rua Voluntário da Pátria e fez com

que a Avenida Luiz Xavier tivesse início na Praça General Osório.

Partindo da Praça General Osório, o Calçadão é oficialmente Avenida Luiz Xavier,

até a confluência com a Travessa Oliveira Bello, quando então se inicia a Rua XV de

Novembro, onde o Calçadão se estende por mais cinco quadras até a confluência com a

Rua Presidente Faria. Assim o Calçadão de Curitiba perfaz um total de seis quadras que

foram fechadas ao tráfego de veículos, e pelo tratamento urbanístico adotado, ele foi

transformado em espaço público exclusivo à pedestrianização, com benefícios diretos à

população da cidade de Curitiba.

3.4 Coleta e análise dos dados

A coleta de dados foi de conformidade com os parâmetros estabelecidos para

Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental sem perder de vista o objeto de estudo (O

Calçadão de Curitiba). Assim, dentro do embasamento teórico da metodologia adotada, se

usou o método exploratório, com procedimentos qualitativos para se obter os dados

necessários à pesquisa num exercício metodológico dedutivo-indutivo, visando construir

reflexões pertinentes ao desvelamento do objeto de pesquisa.

As fontes utilizadas foram as publicações desde 1972 até 2012 com reportagens

de revistas, jornais, boletins informativos e imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão.

A título de elucidação quanto às fontes de pesquisa citadas neste trabalho, deixa-

se claro que algumas reportagens e fotografias não foram possíveis de serem localizadas

na autoria, principalmente as mais antigas. Tais reportagens e fotografias foram

conseguidas em acervos pertencentes à Biblioteca Pública do Estado do Paraná (BPP), à

Fundação Cultural de Curitiba (FCC), e ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba (IPPUC), que são instituições reconhecidamente idôneas. Estas instituições

mantêm em seus arquivos um grande acervo histórico da cidade de Curitiba, incluído neste

o Calçadão da Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro, coletado ao longo dos anos.

50

3Contudo parte do material coletado em recortes de jornais e revistas, que foi utilizado

consta anotado apenas o nome do jornal ou revista que editou a matéria e a data de

publicação, deixando à parte a autoria e outras referências que são também de suma

importância, mas que não foram registradas por não se ter conseguido a informação. Por

este motivo deixa-se de apresentar algumas reportagens, por não ter qualquer

identificação, apesar de constar de acervo fidedigno, mas que não se tinha a certeza de

sua veracidade.

Para a fundamentação se utilizou revistas, livros, periódicos e leis nacionais e

locais que deram a base documental e científica para a pesquisa. Também se utilizou

imagens fotográficas no sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos

econômicos e sociais que implicaram na vida do cidadão curitibano. Tais imagens

fotográficas foram obtidas dentro dos acervos de jornais, revistas e fotografias mantidos na

Biblioteca Pública do Estado do Paraná, no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano

de Curitiba e na Fundação Cultural de Curitiba, de forma a ilustrarem imageticamente neste

trabalho as diversas fases e situações vividas no Calçadão de Curitiba.

A coleta de dados se organizou desde a publicação da mídia escrita,

especialmente paranaense e nacional, em ordem cronológica, para verificar os avanços e

retrocessos socioeconômicos acontecidos no desenvolvimento do Calçadão. Juntamente

com algumas citações, se agregou fotografias pertinentes ao conteúdo delas.

Posteriormente, num processo indutivo-dedutivo, se descreveu comentário reflexivo sobre

as citações e fotos referentes aos avanços e retrocessos do desenvolvimento do Calçadão

de Curitiba.

3 Referências: ver esclarecimento na página 52, item 3.4

51

4 AVANÇOS E RETROCESSOS DO CALÇADÃO DE CURITIBA: UM OLHAR SOBRE A

MÍDIA IMPRESSA DE 1972 A 2012

Este capítulo tem por objetivo analisar o Calçadão de Curitiba sob os aspectos

socioeconômicos, retratando avanços e retrocessos ocorridos nele, por meio de

constatações obtidas de dados coletados da mídia impressa paranaense e nacional.

Entende-se por avanços, conforme o dicionário eletrônico Aurélio (2012), o ato ou

efeito de avançar. Neste sentido, avanço é entendido como um processo que está ligado

ao progresso e ao desenvolvimento, corresponde assim ao processo de crescimento nas

áreas: econômica, político e sociocultural.

Por outro lado, entende-se por retrocesso, segundo o dicionário eletrônico Aurélio

(2012), o ato ou processo de retroceder, retornar no tempo, voltar ao passado. Neste

estudo, retrocesso significa parar o crescimento e desenvolvimento, é inicialmente entrar

em um processo de estagnação, ou ainda, ficar parado no tempo.

As imagens fotográficas4 e reportagens, extraídas de jornais e revistas, são

apresentadas em intervalos de tempo de cada década, a partir do ano de 1972 de forma

cronológica, sendo elaborado da mesma forma os anos que compõem os interstícios de

tempo da década de acordo com os dados coletados. O foco implica em conhecer

principalmente as transformações ocorridas no Calçadão, no período supracitado, através

dos avanços e retrocessos nas áreas sociais e econômicas.

Iniciamos a exposição das imagens fotográficas e reportagens relatando inicialmente

os avanços acontecidos desde a sua implantação na década de 1972.

4.1 AVANÇOS

4.1.1 Década 1972 a 1982.

A figura 4 (abaixo) mostra o fechamento da Rua XV para o tráfego de veículos,

pois o objetivo era dar início à criação do Calçadão, ocorrida no ano de 1972. A figura 5

mostra o início da execução de pavimentação do leito da rua perfazendo o Calçadão.

4 Algumas páginas foram quebradas para melhor visualização das imagens fotográficas.

52

Figura 4: Fechamento da Rua XV aos veículos. (1972).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Figura 5: Obras de pavimentação da Rua XV em petit-pavé. (1972).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

As figuras 4 e 5 foram extraídas dos acervos indicados em cada uma delas, para

ilustrar a reportagem intitulada “Rua das Flores, da Imperatriz e XV - As constantes

mudanças desta artéria”, veiculada no Jornal Folha de Londrina, publicada em 1972.

A reportagem aborda a interdição da Rua XV de Novembro ao tráfego de veículos

automotores, de início transformando alguns trechos desta via, em estacionamento pago.

O texto diz que o calçadão seria composto por seis quadras desta via, e não seria possível

executá-los todos ao mesmo tempo, assim a opção era interditá-la aos veículos e a

execução do calçadão seria feita por etapas.

A reportagem continua ainda relatando que o fechamento desta via trouxe para a

maioria dos comerciantes ali estabelecidos incômodos de ordem econômica e social, o que

fez com que eles protestassem contra a medida. Eles acreditavam que o movimento do

comércio iria diminuir ainda mais, mesmo porque já estava enfraquecido. Mas com o

passar dos dias, foram se acostumando com a ideia, contudo os protestos continuavam.

Quando em um final de semana a Prefeitura Municipal iniciou a pavimentação da via em

53

petit-pavé, sendo que o primeiro trecho escolhido compreendia as quadras desde a

esquina da Rua Barão do Rio Branco até a Rua Marechal Floriano, de modo que o trecho

composto de duas quadras seria reservado à pedestrianização, ou seja, de uso exclusivo

aos pedestres. Com isto, os comerciantes novamente foram pegos de surpresa, voltaram a

protestar, inclusive iniciando um processo contra ao município. Neste ponto a prefeitura de

Curitiba se viu obrigada a se justificar, alegando aos comerciantes que as vendas iriam

aumentar, pois o movimento de pedestres seria maior.

Alguns comerciantes aceitaram a dita alegação, enquanto outros continuaram a

protestar. Em um primeiro momento as vendas continuaram como estavam para alguns,

enquanto para outros chegou até a diminuir. Os comerciantes mais conservadores não

queriam modificações, nem mesmo quando souberam que a via voltaria a ser chamada de

“Rua das Flores”.

Por ser uma rua central e de grande importância para a cidade, era sempre o foco

principal das conversas entre os seus frequentadores, como também da parte dos

administradores da cidade. Em conversas falavam que a Rua XV estava servindo como

uma via de testes ou experimento, e alguns comentários diziam que mais tarde poderia se

transformar até em “campo de futebol”.

Outras pessoas achavam que as obras deveriam avançar de forma mais lenta, se

adequando às situações que fossem acontecendo, ao que a prefeitura respondeu que

estavam realizando o disposto no Plano Diretor da Cidade. Este era a Lei nº 2828/66

(Curitiba), que previa ainda a pedestrianização também de outras vias centrais da cidade,

visando estabelecer a hierarquização do sistema viário básico.

Como já dito anteriormente, quando se iniciaram as obras da Rua XV, houve o que

a reportagem chamou de “Clima da Discórdia”, que aconteceu entre os comerciantes.

Alguns eram contra o fechamento da via, por acharem que o movimento iria cair, enquanto

outros preferiam esperar um pouco para ver o que realmente aconteceria com o comércio.

Com o tempo foi constatado que o movimento basicamente continuou o mesmo, sendo que

para alguns tipos de comércio, o movimento realmente diminuiu, enquanto que para outros

o movimento aumentou. Na sequência temos depoimentos de alguns comerciantes e

funcionários do comércio local, alegando que as modificações acontecidas, pouco ou nada

mudaram o comércio.

O trânsito de pedestres continuou o mesmo e o comércio não se desenvolveu por

conta da pedestrianização. Assim, basicamente o comércio continuou a atuar normalmente

sem grandes modificações e com o movimento que já lhe era característico, apenas dentro

de uma nova forma, haja vista ser uma rua exclusiva para pedestres.

54

A reportagem de origem das fotos anexadas faz citações que corroboram com o

descrito, quando diz: “A prefeitura justificou dizendo que as vendas iam aumentar

consideravelmente, pois o movimento será maior”. (JORNAL FOLHA DE LONDRINA,

1972).

Quanto ao aumento do movimento na rua, alguns comerciantes concordaram,

porém com relação ao aumento dos negócios a maioria não confirmou dizendo que não

houve maior vendagem em algumas casas, e em outras chegou até a diminuir.

Em outro trecho a reportagem informa:

A Rua XV de Novembro, que também já foi << da Imperatriz>>

desde os mais remotos tempos vem sofrendo modificações, pois

trata-se de artéria mais central da cidade, e por isso esteve sempre

na pauta dos papos dos seus frequentadores e dos administradores

da cidade. Ultimamente, a impressão que se tem é que está

servindo de campo de experiência, já que em pouco tempo foi

modificada duas vezes. Segundo alguns comerciantes que

discordam das medidas adotadas pela municipalidade “em breve

teremos até um campo de futebol. (JORNAL FOLHA DE

LONDRINA, 1972).

Mais adiante, a reportagem diz ainda:

De acordo com as explicações do Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC, o que a prefeitura

realizou na Rua XV de Novembro nada mais foi do que dar

cumprimento à Lei nº 2828/66, que instituiu o Plano Diretor. Essa lei

foi fruto de grandes discussões e estudos realizados entre a

municipalidade e entidades ligadas ao planejamento e as classes

produtoras. (JORNAL FOLHA DE LONDRINA, 1972).

Na sequência a reportagem traz alguns depoimentos que são relevantes e devem

ser mencionados como forma de corroborar que houve avanços, muito embora discretos e

sem a objetividade desejada, talvez pela ansiedade ou pela necessidade de avanços

imediatos.

De acordo com Conrado Esser, funcionário da Confeitaria e Leiteria Schaffer, até

o presente momento tendo decorrido uma semana da transformação da rua, o movimento

não sofreu nenhuma alteração. “Não aumentou nem diminuiu”. O que eu acho que não vai

dar certo é a colocação de mesas nas calçadas, pois com o clima que temos, quem é que

vai aguentar ficar à noite sentado em uma mesa na rua?

Para os funcionários do Tancredo’s Magazin, não foi notada nenhuma

modificação: “O que aumentou foi o número de pedestres que transitam, mas o movimento

55

continuou o mesmo”. Alzira Dervanço, da Livraria Ghignone, notou um sensível aumento

de movimento daquela loja, pois com a nova pavimentação ficou melhor para se fazer

compras. É bem maior o número de pessoas na Rua XV. Existe mais tranquilidade para se

escolher o artigo que se deseja sem o barulho dos carros.

De acordo com o exposto, inegavelmente, o Calçadão deu à população

economicamente ativa uma maior tranquilidade no fluxo do tráfego de pedestres e na

escolha das lojas e mercadorias no seu complexo comercial.

Assim, o impacto desta política refletiu não de imediato, mas à médio prazo, haja

vista que com a novidade inicial o movimento de pedestres aumentou, mas apenas como

meros expectadores na medida em que queriam conhecer apenas como ficou a região. A

partir de então, passando a ter mais “intimidade” e conhecimento do local, a circulação de

efetivos consumidores gradativamente aumentou e assim aconteceu, também

gradativamente, a expansão econômica de vários estabelecimentos.

O Calçadão é de trânsito exclusivo para pedestres o que trouxe e traz em parte

certa tranquilidade, para que a população possa transitar calmamente e ter mais tempo

para observar os produtos expostos nas vitrines.

Contudo o pouco tempo de espaço entre a implantação do Calçadão e a

reportagem em tela não foi suficiente para uma análise de juízo mais profunda. Assim

prejudicada a análise, quanto aos propósitos iniciais, o que foi razoável, pois deveria haver

um prazo para que houvesse ajustamentos à nova realidade. Portanto, foi necessário um

período de adaptação na área social e do comércio à nova realidade que estava se

instalando, para então se poder emitir algum juízo de valor. Foi somente com o passar do

tempo que, os técnicos, foram analisando os impactos acontecidos, mesmo porque não se

podia esquecer a celeuma que se deu para que a obra fosse levada a cabo, o que

instaurou algumas incertezas e dúvidas entre os comerciantes. Apenas depois de algum

tempo os usuários e comerciantes puderam ter suas opiniões formadas quanto às

modificações implantadas.

A figura 6 mostra o Calçadão com suas grandes floreiras, bancos de praça, bancas

de jornais e revistas, luminárias estilo globo, as primeiras projetadas para iluminação do

Calçadão, e com a pavimentação em petit-pavé. (JORNAL DA TARDE, 1973).

56

Figura: 6 – Trecho da Rua das Flores - Vista de cima. (1973).

Acervo: Jornal da Tarde – O Estado de São Paulo – Coletânea Biblioteca Pública do

Estado Paraná.

A reportagem em tela foi publicada no Jornal da Tarde do Estado de São Paulo

de 1973, é de autoria de Júlio Moreno, como enviado especial e tem como título “Uma rua

colorida, com flores, sem carros. Uma rua de lazer”. (MORENO, 1973).

Esta reportagem faz um paralelo entre o fechamento ao tráfego da Rua XV, que

em Curitiba é uma das principais vias da cidade, e que em São Paulo equivaleria ao

fechamento ao tráfego da Avenida Ipiranga, expulsando os veículos e transformando-a em

um grande jardim. O leito da rua foi coberto com pequenas pedras, até a altura dos

passeios laterais, formando uma grande calçada, e nesta via instalou-se floreiras e mudas

de arvores, em pleno leito da rua. Em outro trecho da rua, mais precisamente na região

chamada Senadinho, que é ponto de encontro nos finais de tarde de aposentados e

esportistas, como também na frente de uma confeitaria tradicional, a “Cometa”, foram

construídos quiosques de acrílico roxo com mesinhas e cadeiras, o que dava mais conforto

aos frequentadores, que aos finais de tarde costumavam se reunir para conversas

informais.

Em outros pontos de encontro, em toda a via, foram criadas situações especiais

de forma a incentivar circulação e dar vida ao Calçadão. Um destes pontos naturais foi a

“sala de estar”, na Rua XV, entre as Ruas Dr. Murici e Avenida Marechal Floriano Peixoto

onde a Prefeitura instalou um quiosque de café, uma agencia postal, telefone interurbano e

posto de informações.

57

O arquiteto responsável pelo projeto Abrão Assad, ao fechar a Rua XV, projetou o

ambiente com muitas floreiras, bancos corridos e modernas luminárias, mais baixas, que

segundo ele, “são para ficarem mais próximas do homem”. Projetou também uma torre de

informações com painéis luminosos, para informarem tudo o que está acontecendo na

cidade, desde projeções em cinemas e teatro, até jogos de futebol.

A reportagem descrita faz citações que corroboram com o discorrido, quando

afirma:

No início, alguns comerciantes temiam que o movimento diminuísse, como conta o

livreiro José Ghignone, instalado havia 40 anos na Rua XV:

[...] foi uma gritaria geral dos comerciantes da rua. Todo mundo

achava que a ideia de tirar os carros da XV de Novembro não traria

bons resultados, que os negócios das lojas diminuiriam. Fui um dos

primeiros a incentivar o calçadão e estava certo, o movimento do

comércio melhorou sensivelmente. O temor dos comerciantes se

desfez logo que os pedestre descobriram a tranquilidade do

calçadão e começaram a usá-lo cada vez mais, a caminho do

trabalho, das compras, da escola ou simplesmente a passeio.

(GHIGNONE, apud MORENO, 1973, p. 24).

Mais adiante o autor da reportagem cita:

Enquanto passeia à noite, pelas grandes calçadas da Rua XV de

Novembro, o prefeito explica suas ideias; - Ouve-se tanto falar que

as cidades estão preocupadas com sua humanização, que isso já

virou uma simples afirmação, e não uma preocupação de fato. Não

adianta abrir-se largas avenidas, porque isso não é humanizar. Toda

obra que for feita tem, isso sim, que dar prioridade ao homem; tem

que estar na escala do homem. (MORENO, 1973, p. 24).

E continua reportagem mostrando quanto às obras de lazer: A transformação da rua XV de

Novembro, segundo o prefeito, pode ser vista como uma obra de lazer para a cidade. Para

ele foram totalmente compensados pelo interesse que a rua despertou na população como

área de lazer. (MORENO, 1973).

O que se nota é que a administração municipal seguiu a filosofia de uma cidade

para o ser humano, ou para a população, tendo como princípio programar ou projetar a

cidade em função de seus habitantes, no sentido de humanizar e dar à população uma

condição de vida mais humana, visando facilidades no lazer e recreação ou quando se

utilizasse do comércio existente. Desta forma, formulando condições que promovessem o

bem estar, não só para adultos, mas criando uma cultura em que as crianças foram

58

priorizadas, pois seriam os adultos do amanhã, e teriam uma cultura mais humana de

cuidado pelas cidades, colocando o ser humano e sua condição de vida em um plano

preferencial. Essa visão mostrava que os administradores urbanos deviam trabalhar com

as cidades, procurando sempre dar a melhor qualidade de vida ao cidadão, ou seja, tornar

as cidades humanizadas em função de seus habitantes e melhorar a condição de vida de

todos.

A figura 7 mostra o primeiro trecho da Rua XV de Novembro, em 1974. A imagem

apresenta o Calçadão com suas edificações antigas e históricas, seu comércio, a

população circulando e reunida em pequenos grupos. Ela é referendada pela reportagem

do jornal Gazeta do Povo, de 1974, com o título: “Na Rua das Flores, colorido diferente e

maior movimento”. (FERNANDES, 1974).

Figura 7: Rua das Flores – Rua XV de Novembro – Trecho inicial – (1974).

Foto: Acervo Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.

A reportagem diz que com a aproximação do final do ano, e início do verão, a via

ganhava maior colorido com a presença de muitas pessoas que passam algum tempo

quando saem do escritório ou mesmo de casa, para passear pela rua em questão, com a

finalidade de se atualizar com as ultimas fofocas da cidade, principalmente no trecho onde

se reúne o pessoal da Boca Maldita.

Nessa época, a remodelação da Rua das Flores proporcionou à população de

Curitiba, e também aos turistas, um local onde se podia passear com tranquilidade,

observando as flores existentes como também as vitrines das lojas. Para os mais antigos

moradores da cidade, ela relembrava a cidade como era no início do século, com sua

59

arquitetura tradicional, em grande parte recuperada, o que provocava lembranças da

cidade provinciana naquele trecho da rua.

A reportagem também diz que a “Boca Maldita” que é um ponto de encontro ao

início do Calçadão e que é um local de grandes reuniões de pessoas ilustres da cidade,

principalmente do campo esportivo, jurídico, político, econômico e social.

A reportagem traz alguns comentários do advogado Hélio Ricardo do Marques, que

se diz frequentador assíduo da “Boca Maldita” e que, praticamente todos os dias, passa

pelo local, mesmo que seja só de passagem quando não encontra ninguém conhecido.

Contudo, diz que o local já foi melhor quando havia trânsito de veículos, pois nos

automóveis passavam muitas garotas, o que dava chance de “paquera”, pelo constante

movimento de veículos e pela segurança que elas tinham dentro dos veículos. Se fosse

necessário iriam embora sem maiores problemas, o que hoje sem o movimento de veículos

é mais complicado, elas estão a pé, o que torna mais difícil saírem se os paqueradores se

empolgarem, e muitas vezes elas nem olham para evitar maiores complicações.

A reportagem mostra que as modificações promovidas na Rua XV, fizeram com

que o movimento de pessoas aumentasse, principalmente nos dias quentes de verão, em

que os quiosques colocados em frente a alguns bares ficavam lotados, com pessoas se

refrescando com um chopp gelado para amenizar o calor.

A reportagem menciona e ratifica o acima descrito, quando diz:

A reformulação de toda a XV de Novembro contribuiu para que os

curitibanos e mesmo os turistas contassem com um local para

passear tranquilamente, apreciando as flores e as vitrines das casas

comerciais de Curitiba entre as construções daquele local, relembrar

um pouco da cidade sorriso do início do século, através de seus

prédios tradicionais e que agora recuperados, para dar um ar mais

provinciano naquele trecho da Rua XV de Novembro.

(FERNANDES, 1974).

Mais adiante o autor mostra a entrevista do advogado Hélio Ricardo do Marques,

frequentador da “Boca Maldita”: Diz o advogado - “Eu acho que não poderia passar um dia,

sem dar uma chegadinha aqui na boca, nem que fosse pelo menos para passar direto por

aqui, caso não houvesse ninguém conhecido” [...].

O autor da reportagem afirma ainda quanto ao aumento de movimento nesta via

de pedestres:

As modificações efetuadas pela Prefeitura Municipal na atual Rua

das Flores, contribuiu bastante para que houvesse um aumento no

movimento, especialmente nos dias de verão, quando os quiosques

colocados defronte a alguns bares e lanchonetes ficam

60

superlotados de gente, que tentam disfarçar o calor, saboreando um

chopp geladinho. (FERNANDES, 1974).

Conforme o descrito acima, o Calçadão foi um avanço social inegável, que deu à

população da cidade e aos turistas a tranquilidade de circular por uma via central da cidade

de forma descontraída, seja a passeio, a trabalho, etc. Como lazer e diversão, por ser um

local de descontração, se pode ter todos os tipos de informações do que acontece na

cidade, como também passear pela via observando a vitrines descompromissadamente,

apenas como lazer. E por ser uma via sem tráfego de veículos automotores, se tem total

segurança em transitar sem qualquer tipo de atropelo e com calma para observar as

vitrines, a movimentação e animação da via.

A figura 8 mostra crianças pintando na Rua XV, sobre rolos de papel estendidos no

chão da rua, dando um ar sóbrio ao visual do Calçadão.

Figura 8: Crianças pintado no Calçadão. (1975).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Pedro Serápio.

A reportagem que emoldura a figura 8 acima tem como titulo “Uma Rua de flores e

crianças”, (FERRAZ, 1975), e inicia com versos de uma antiga cantiga de roda: “Se esta

rua fosse minha / eu mandava ladrilhar / com pedrinhas de brilhantes / para o meu bem

passar”. A autora aborda o tema dos assaltos na cidade fazendo trocadilho com os

brilhantes da cantiga e os brilhantes que as pessoas usam (joias).

61

A ideia de fechar a rua, segundo a reportagem, foi do prefeito municipal, arquiteto

Jaime Lerner, que fechou a tradicional via pública no centro da cidade Curitiba ao tráfego

de veículos criando uma via exclusiva ao trânsito de pedestres. Os brilhantes citados na

canção são alusão às pedras petit-pavé que formam a pavimentação da via, não são

preciosas, mas compõem o visual da via com seu mobiliário urbano, que dão uma bela

percepção da primeira via pública do Brasil transformada em rua exclusiva para pedestres.

A via também é composta de quiosques onde se pode saborear um bom “café com nata”,

comprar revistas, postais e obter informações turísticas, como também se tem à disposição

telefones públicos que podem ser utilizados.

Na reportagem, o arquiteto Abrão Assad, criador do projeto, como já citado

anteriormente, define a antiga Rua XV como uma rua aflita e com inconvenientes entre a

convivência dos automóveis e pedestres, assim não havia qualquer possibilidade de se ter

tranquilidade nesta via para um passeio descontraído, principalmente pelos riscos

apresentados aos que por ela transitavam e, mormente para as crianças, mesmo em finais

de semana. E continua, durante os dias de semana era mais perigoso ainda, visto o

movimento que havia de veículos e de pedestres, e mesmo porque estas não tinham nem

o porquê estarem ali, pois não havia qualquer atividade que as atraíssem.

Agora com a criação de uma via pública sem tráfego de veículos, ou ainda um

espaço público exclusivo para pedestres, tudo muda, pois como o próprio título da

reportagem sugere: “Uma Rua de flores e crianças”, o ambiente se transformou. Como foi

dito no início da reportagem, após implantada a via exclusiva para pedestres, calçada e

arborizada de forma adequada e com um colorido todo especial, abriram-se novas

possibilidades de utilização desta via.

A Rua XV, de problemática passou a ser “uma festa”. Nesta mesma data (1975),

conforme a reportagem em tela foi promovido também pela Prefeitura Municipal um

concurso de trovas como homenagem especial à cidade, no qual houve a participação de

diversas pessoas, que não só homenagearam o Estado, mas também outros pontos do

país.

Este concurso teve a coordenação da senhora Vera Vargas, que disse ter sido um

sucesso o referido concurso e comentou também em forma de verso: “Contra mágoas,

dissabores/ um santo remédio há./ Receita: Rua das Flores,/ Curitiba-Paraná./”.

Na reportagem de Ferraz (1975), o arquiteto Abrão Assad diz:

A rua XV apresentava-se congestionada, diria mesmo – aflita. É

certa, pois a inconveniência do convívio veículo-pedestre. Uma rua

aflita seria sempre, é claro, “imprópria para menores”. É o que não

acontece depois que ela foi humanizada e convertida em Rua das

Flores. Assim é que nas manhãs de sábado, renova-se o milagre.

62

Funcionários municipais estendem imenso tapete de papel ao longo

da rua, dividindo seus duzentos e tantos metros em telas de um

metro. Logo, brotam crianças em toda a extensão, muito bem

armadas de pincel e tintas, defendendo as suas posições de

pequenos-grandes artistas. E mãos à obra.

A reportagem mostra ainda que este movimento acontecia aos sábados, e que

durante a semana as crianças não eram esquecidas e acrescenta:

Lá está plantado numa das quadras, um antigo bondinho da cidade,

pintado de novo, brilhando e simpático.

- Que faz ali?

- Não leitor, não está de peça de museu. É um bonde funcional,

para abrigar os garotinhos enquanto as mães fazem suas compras.

Para isso, orientadoras da Prefeitura acolhem os guris a fim de

entretê-los do melhor modo, com brinquedos, jogos e desenhos.

(FERRAZ, 1975)

Esta reportagem ao finalizar deixa a seguinte pergunta: Vale ou não vale a pena

ser criança em Curitiba?

Assim tem-se que a Rua XV de Novembro ou Rua das Flores é um local de lazer e

também para compras, visto que ao longo de toda a via existem centenas de lojas que

oferecem uma gama diversificada de produtos.

Percebe-se que a intenção da criação da Rua das Flores, não era apenas acabar

com os constantes congestionamentos de veículos, nem com a incompatibilidade do

trânsito de veículos automotores e pedestres, mas dar à via uma característica a ser

implementada na cidade de Curitiba, ou seja, transformar a cultura de imagem da cidade,

fazendo-a uma cidade humanizada, dando ao homem meios de lazer e diversão, em pleno

centro da cidade sem, contudo afetar suas funções, mas criando uma nova cultura para

criação de cidades, qual seja, a humanização destas em função de sua população dando

uma condição de vida mais humana à população.

A figura 9 mostra os bares da Rua das Flores com mesas na calçada, onde se

servem aos clientes aperitivos e bebidas, que degustam sentados ao ar livre em diversos

pontos do Calçadão.

63

Figura 9: Cobertura dos bares da Rua das Flores. (1976).

Acervo: Casa da Memória/Casa Romário Martins - Coletânea da Biblioteca Pública do

Estado do Paraná.

A reportagem do jornal Gazeta do Povo, intitulada: “Quebrada tradição na Rua das

Flores”, em 1976. Inicia contando que os bares com mesas ao ar livre na Rua XV de

Novembro, Rua das Flores, nos dias de calor em Curitiba, passaram a ter maior número de

clientes que se acomodam nas mesas colocadas na calçada, enfrente aos bares, para

degustar aperitivos e tomar um chopp gelado ou um refrigerante. Ao mesmo tempo em que

estão acomodados nas mesas, ficam a observar o grande movimento de pedestres que

circulam por esta via.

No início os frequentadores destes bares que se sentavam nas mesas expostas na

calçada, eram turistas, que passeavam pela cidade, em especial no Calçadão, e por terem

uma cultura diferente dos citadinos, não estão preocupados em estarem expostos e serem

vistos pelos que transitam pela via pública.

Passados alguns anos os curitibanos, em especial os estudantes e comerciantes

das proximidades passaram a frequentar estes bares, sentando nas mesas colocadas nas

calçadas. Assim, quebrando o estigma de que o curitibano é por cultura, muito fechado e

não gosta de aparecer, o que à época desta reportagem já vinha se modificando, conforme

defende a reportagem do jornal Gazeta do Povo (1976) do acervo da Fundação Cultural de

Curitiba. Logo que os quiosques foram instalados na frente destes bares e sob estes foram

colocadas mesas, muitos frequentadores tinham receio de sentar-se ao ar livre, por ficarem

expostos, e preferiam sentar-se dentro dos bares em lugares mais discretos e de onde não

seriam vistos pelos que passavam na via pública.

Nesse processo sociopolítico foi quebrada a ideia de que culturalmente o

curitibano era muito reservado, mesmo tendo este estigma quebrado pelos mais jovens,

que não se importavam em serem vistos nestes bares sob os quiosques, ainda os mais

64

recatados preferiam ficar em mesas internas aos bares, que por não serem vistos pelos

que transitam pela via, se sentiam mais à vontade em sua privacidade.

Na grande maioria os jovens quebraram esta cultura de recato, a tal ponto de

levarem os amigos para os bares, sentando-se em mesas sob os quiosques ao ar livre, e

de onde observam todo o movimento da rua. À época, segundo a reportagem, existiam três

pontos principais na Rua XV de Novembro, que se localizavam na Boca Maldita e nas

quadras entre a Avenida Marechal Floriano e a Rua Barão do Rio Branco.

A reportagem comenta ainda que nesta mesma época a cultura de querer manter

a privacidade em muito já havia diminuindo e estava quase esquecida para os

frequentadores dos bares e praças, que eram tachados de desocupados ou vadios.

Apenas os mais velhos, aposentados e crianças é que se utilizavam dos bancos de praça,

como os da Praça Osório, como ponto de encontro, para um bate-papo sem se importar

em serem rotulados de desocupados, e também as crianças que se utilizavam do mesmo

local como parque de lazer. Contudo, apenas os turistas, que desconheciam esta

peculiaridade, é que se utilizavam destes locais descontraidamente, e que abriu

precedentes passando a se tornar moda, assim o curitibano foi também ocupando estes

espaços sem qualquer preconceito.

A reportagem faz menção em alguns trechos, que corroboram com o acima

descrito, quando afirma:

Os bares com mesas ao ar livre na rua XV de novembro, nos últimos

dias, de grande calor, passaram a receber grande número de

pessoas que aproveitam para um chopp geladinho ou uma boa

cerveja enquanto observam o grande movimento de pedestres. Os

frequentadores daqueles bares, inicialmente turistas, já são agora a

maioria curitibanos, estudantes e comerciários [...]. (JORNAL

GAZETA DO POVO, 1976).

A reportagem diz ainda:

Mas nem sempre foi assim, houve uma época, logo após a

instalação dos quiosques com mesas ao ar livre, em que o pessoal

tinha algum receio e, até agora, frequentadores assíduos de bares

preferem sentar-se em salões discretos a ser vistos na rua. [...] O

preconceito que existiu durante muito tempo, fazendo com que uma

clientela reduzida se utilizasse daquele “equipamento urbano” como

chamam os planejadores da cidade, já foi esquecido. Antes sentar-

se numa rua ou praça na cidade significava “desocupação ou

vadiagem”, sendo isto permitido apenas aos velhos que

independente do que o povo fala, faziam dos bancos na Praça

Osório ponto de encontro. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1976).

65

A criação dos mobiliários urbanos, como os quiosques em frente a alguns bares da

Rua XV de Novembro, deu nova vida e movimento a esta via. Com esta medida, os bares

passaram a ter maior movimento e serem mais ecléticos, atraindo não apenas os antigos,

mas também novos fregueses, de outras classes sociais, passaram a frequentar estes

lugares.

Esta diversificação amenizou a cultura recatada, característica do povo curitibano,

que não gostava de aparecer, e era bastante fechado, sendo que até aquela época era

ainda preconceituoso quanto a frequentar estes locais como forma de lazer. Assim se

salienta que antes de ser fechada ao tráfego de veículos a Rua XV de Novembro se

mantinha dentro de um tipo padrão de comércio, sem dar margem a uma nova forma de

planejamento. Com o Calçadão, deu-se a abertura necessária para que houvessem

implementações, como as do mobiliário urbano, mudando assim as características e o

visual da antiga rua, dando animação e movimento a determinados pontos, como também

ao comércio local.

A figura 10 mostra o Calçadão da Rua XV ainda em obras de acabamento, com as

grades de proteção das floreiras já posicionadas, a pavimentação concluída e os postes de

iluminação decorativos já instalados.

Figura: 10 - Rua das flores. (1977).

Acervo: Jornal Diário do Paraná – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.

Autor Irony Santos.

A reportagem a que se refere à figura 10, intitulada “Novo calçadão da rua XV fica

pronto até o fim do mês” publicada no Jornal Diário do Paraná em março de 1977, alertava

que as obras complementares do Calçadão, no trecho entre as Ruas Barão do Rio Branco

e Rua Presidente Faria, último trecho da obra, estariam concluídas até o final do mês

março daquele ano. Restava a complementação do projeto elétrico, que estava em

66

execução pelo Departamento de Serviços de Utilidade Pública e terminaria nos dias

seguintes.

O atraso na finalização da obra se deu pela dificuldade que os técnicos do referido

departamento tiveram em comprar os materiais semelhantes aos já existentes nos outros

trechos da Rua XV. O departamento de Parques e Praças da Prefeitura de Curitiba estava

decorando a rua com os vasos de flores nos moldes existentes nos outros trechos. Assim,

concluída a obra a população teria à disposição o último trecho da Rua das Flores que

ainda estava pendente.

O processo de sociopolitização do Calçadão deu às pessoas o poder de

usufruírem do comércio e lazer que essa proporcionava, com vantagens de trafegar por

uma via exclusiva para pedestres, o que deu maior segurança e tranquilidade às pessoas

que por ela transitavam.

A reportagem confirma o exposto acima quando diz: “Até o final do mês estarão

concluídas as obras complementares (iluminação e paisagismo) do novo calçadão da rua

XV de novembro no trecho entre Barão do Rio Branco e Presidente Faria e [...]”. E mais

adiante afirma que: “Os trabalhos de infraestrutura, petit-pavé e instalação das floreiras já

foram concluídos pelo Departamento de Obras e agora só resta a complementação do

projeto elétrico, a cargo do Departamento dos Serviços de utilidade pública”. (SANTOS,

1977).

Com a conclusão e entrega das obras do último trecho da Rua XV de Novembro,

de acordo com a reportagem acima, o Calçadão estaria completo em toda a sua extensão,

nos moldes do já existente, e desta forma estariam concluídas todas as obras projetadas

para esta via, sendo este o último trecho da via que restava para completar a obra foi

iniciada em 1972.

A figura 11 mostra a Rua XV de Novembro, Calçadão de Curitiba, sua

configuração como via de pedestres e a movimentação por pessoas simplesmente

passeando ou se utilizando da via como centro de compras.

67

Figura: 11 - Vista da Rua das Flores – (1978).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A foto ilustra a reportagem do jornal JOTABÊ, (1978), cujo titulo era “Memória da

cidade: Rua das Flores, Imperatriz, 15 de Novembro”. A reportagem cita a Rua das Flores

atual através dos tempos. Inicia comentando que esta via foi palco de animados desfiles de

carnaval, manifestações políticas, linha de bondes de tração animal (burros) e elétricas,

ponto alto da boemia em Curitiba na confeitaria do Bube.

A Rua das Flores também era palco também dos desfiles militares, e assim vinha

se consolidando como o principal centro nervoso da cidade. Com o fechamento desta via

ao tráfego de veículos, foi a oportunidade para voltar aos bons tempos dos bares, cafés,

papos na rua, paquera, ou seja, tudo que o curitibano de outrora apreciava fazer. Assim

com a via fechada ao tráfego de veículos, foi dado todo um “toque especial”,

acrescentando flores, árvores, bares, cafés, telefones, enfim, toda uma comodidade ao

estilo bem curitibano, bem provinciano.

A reportagem cita que, hoje se tem esta via como ponto de encontro, como a Boca

Maldita que é um ponto de fofoca, política, futebol, e também espaço para as crianças: é

um local de grande movimento. Aos poucos o curitibano acostumou-se a este novo estilo

da via e também com a ideia de um novo sistema viário, o que fez com que aceitasse

também o fechamento ao tráfego de outras vias para uso exclusivo de pedestres. Assim a

Rua das Flores se tornou um lugar agradável, com facilidades para quem deseja se utilizar

do comércio para fazer compras, como também facilitou o comércio pelo incremento que

este teve pelo aumento de transeuntes o que proporcionou um maior número de possíveis

clientes.

68

Não resta duvidas que a Rua das Flores era uma das vias mais movimentadas da

cidade, contudo também era ainda bastante tranquila. A reportagem finaliza fazendo

referência à Rua das Flores como um ponto de encontro e um centro de acontecimentos,

revelando a via como um bom lugar, humanizado e tranquilo, a tal ponto que dava lugar a

um bom bate-papo, encontros de amigos nos cafés, como também abria margem para

noites de boemia.

A reportagem em foco confirma o acima descrito.

RUA DAS FLORES – O movimento é fundamental na Rua das

Flores, na atualidade e através dos tempos. Foi passagem de

animados blocos de carnaval; caminho de manifestações políticas;

linha de bondes de burro e elétrico; teve um relógio de sol da

cidade, no ponto alto da boemia curitibana, esquina da Barão do Rio

Branco (antiga Liberdade), na confeitaria do Bube; na Rua das

Flores desfilavam militares e cada vez mais a rua se tornava o

importante centro nervoso da cidade. [...] O fechamento da rua aos

carros para dar passagem aos pedestres foi uma abertura para que

voltassem os tempos de bares, papos, cafés e paqueras, muito

apreciados pelos curitibanos de outrora. Fechada a Rua estava

dado o especial toque, surgiram as flores, as árvores, os bancos, a

torre de informações, bares cafés, agências postais, telefones e um

[...]. (JOTABÊ, 1978).

E mais adiante continua:

[...] aos poucos o curitibano foi se habituando com a nova Rua das

Flores e foi criando uma mentalidade nova quanto ao sistema viário

da cidade, aceitando o fechamento das ruas principais para o uso

unicamente de pedestres. Estando grande parte do comércio

situado nas imediações centrais, principalmente na Rua das Flores,

tornou-se muito mais fácil fazer compras e dessa forma facilitou o

movimento comercial. (JOTABÊ, 1978).

A reportagem ainda se refere à Rua das Flores como “Não se pode negar que a

Rua das Flores era uma das mais percorridas e vivas da cidade, mesmo assim era

tranquila”.

A via pública Rua das Flores, transformada em espaço público exclusivo para

pedestres, além de ter aumentado o seu movimento, o que consequentemente melhorou e

diversificou o comércio, ganhou a possibilidade de mais negócios. Ao mesmo tempo deu à

cidade de Curitiba um grande espaço de lazer totalmente decorado com um mobiliário

urbano adequado, floreiras e árvores, para desfrute tanto de adultos, com também para as

69

crianças. Aos adultos com os bares, confeitarias e pontos de encontros nos finais de tarde

para conversas informais com amigos e às crianças um centro de animação aos sábados,

onde se divertiam brincando e pintando no chão em cima de folhas de papel, como

também o bondinho, que, além de ser um ponto também de diversão com orientadores de

atividades infantis, era também um local adequado e seguro para as crianças ficarem

brincando, enquanto os pais fazem compras ou qualquer outra atividade.

Percebe-se que o Calçadão transformou-se em uma política pública de sucesso,

pois deu à cidade de Curitiba um espaço público propício ao comércio e ao lazer,

proporcionando com este planejamento até então inédito, uma motivação maior de viver o

centro da cidade, não apenas como eixo comercial, mas como um espaço público também

de lazer.

A figura 12 mostra os quiosques instalados no Calçadão em frente aos bares, com

mesas e cadeiras como extensão destes, na calçada, onde a população pode sentar-se

para saborear petiscos e tomar um chopp ou refrigerante, enquanto faz um intervalo nos

passeios, compras, ou simplesmente se reúne com amigos para conversas informais. A

figura 13 apresenta a população no Calçadão conversando, passeando ou circulando pelo

comércio, ou ainda a caminho de seus afazeres. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ,

1981).

Figura: 12 – Vista de Quiosques dos bares no Calçadão o seu “boulevard”. (1981).

Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba

Autor: Haraton Maravalhas e César Brustolim – Arquivo.

70

Figura 13 – Vista de pedestres circulando pelo Calçadão. (1981).

Acervo: Jornal O Estado do Paraná. Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.

Autor: Haraton Maravalhas e César Brustolim – Arquivo.

A reportagem que é ilustrada pelas figuras 12 e 13 acima tem como título “Um

reduto na Rua das Flores” relata um fato que à época estava acontecendo em Curitiba,

como também em outras cidades do Brasil, quando grande número de turistas argentinos

visitava a cidade. (BENETTA, 1981).

Isto acontecia principalmente nas férias, o que aumentava sobremaneira o

movimento, e mesmo sendo só de passagem, outros pontos da cidade poderiam passar

despercebidos, contudo a imagem que levavam da Rua das Flores era de uma rua

movimentada e alegre, ao estilo “boulevard”.

Contudo, a reportagem descreve uma situação aparentemente como sendo

negativa à imagem do Calçadão, que é a especulação imobiliária, mas que em muito pouco

atrapalha os avanços na área social e de lazer, mas que em verdade é um avanço

inicialmente na área econômica, como também de outro ponto da vista pode ser

considerada social, visto que possibilitará a abertura de mais postos de trabalho e espaços

de convívio sociocultural. Trata-se de um prédio que estava em reformas, e que abrigaria

uma grande loja, mas para isto teve que eliminar um cinema e um dos pontos de café que

já tinha tradição naquele local.

Dentro de uma visão dinâmica da estrutura do mobiliário de uma cidade, a

paisagem das ruas, de uma forma geral, são mutantes, e de tempos em tempos se

transformam principalmente na área econômica se, modificam, ou dão lugar a outros tipos

de comércio.

71

Por outro lado, este era um assunto que preocupava os técnicos do Instituto de

Pesquisa e Planejamento Urbano da Curitiba – IPPUC, que não queriam que Curitiba

voltasse a ser o que era há anos atrás, onde após as 21:00 horas o centro de cidade

estava vazio.

A Prefeitura de Curitiba, preocupada com esta situação estimulou a implantação de

habitações coletivas, ou seja, edifícios residenciais na área central da cidade, como forma

de aumentar a circulação de pessoas nas áreas centrais.

De acordo com o arquiteto Sergio Pires, que era à época, ligado ao setor de

paisagem urbana do IPPUC, a demolição do cinema não era uma situação ruim, pois daria

lugar a um novo empreendimento, e nesta medida a Rua XV teria uma grande loja, o que

deveria aumentar as opções de compra no centro da cidade, aumentando a movimentação

de pessoas que passariam a circular pela região.

O mesmo arquiteto defendia nesta reportagem, que a Prefeitura podia contribuir

para melhorar a animação na região central da cidade, restringindo as atividades na área

central, regulando a ampliação do número de agências bancárias, por exemplo, como

forma de manter no centro o comércio e o lazer que são características da animação da

área central da cidade.

A reportagem mostra declarações do arquiteto Rapfael Dely, um dos autores da

restauração da Confeitaria Schaffer, destruída por um incêndio. O arquiteto dizia que a Rua

XV era um ponto de encontro da cidade e assim devia continuar, mesmo porque as

características dos imóveis existentes na via davam reforço à visão da rua como ponto de

encontro. Registrou ele que a Rua XV perdeu a “Cinelândia”, mas por outro lado ganhou

outros pontos como a Confeitaria Schaffer então restaurada, assim o Calçadão foi se

recompondo, e se mantendo dentro da animação constante da via.

Afirma Dely: Os milhares de argentinos que invadem Curitiba, nestas férias,

embora o façam só de passagem, levam da cidade talvez uma única imagem: a de uma

rua movimentada e alegre. O resto de Curitiba pode passar desapercebido, mas seu

“boulevard”, não. (BENETTA, 1981).

Mais adiante a reportagem declara:

O arquiteto Sergio Pires [...] “o IPPC e a prefeitura tem consciência

disso”, “Não queremos que Curitiba volte a ser o que era dez, 15

anos atrás”, “quando às nove da noite já não se via viv’alma no

centro”. O planejamento se preocupa em “devolver o centro para o

pedestre e na escala do pedestre”. É por isso, segundo ele, que a

Prefeitura estimula a implantação de habitações coletivas na área

central (prédios de apartamentos), que representam um aumento no

número de pessoas ali residindo e, consequentemente, uma maior

circulação. (BENETTA, 1981).

72

A reportagem mostra a percepção social que já havia politicamente entre as

pessoas de comando na cidade.

[...] a Rua XV é um do principal ponto de encontro da cidade. Deve-

se manter – afirmou – a características das unidades que existem

ao longo da rua e “reforçar ainda mais a ideia de ponto de

encontro”. [...]. Se a XV perde a Cinelândia, diz Dely, ganha (ou

recupera) por outro lado, outros pontos, como a própria Confeitaria

Schaffer. Quer dizer, se auto recompõe. (BENETTA, 1981).

Por fim, a reportagem diz que mesmo tendo perdido um pequeno espaço social,

este foi transformado em um grande espaço comercial que, concomitantemente, também

tinha vantagem social, visto que iria oferecer oportunidades maiores de emprego e renda.

Por ser uma grande loja, iria propiciar à Rua das Flores maior atividade comercial,

promovendo assim o desenvolvimento da região, o que implicaria em uma maior animação

da via, privilegiando o setor econômico-comercial. Contudo, na área social, a rua ganharia

também mais um ponto de encontro, que havia sido destruído em um incêndio, e que foi

reconstruído, a confeitaria Schaffer, que estando totalmente restaurada manteria o

movimento da área social, para a população nesta região.

A figura 14 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, já despoluída

visualmente, com a retirada das placas de propaganda da frente das lojas, deixando um

visual leve e agradável e fazendo aparecer as fachadas dos imóveis.

Figura 14: Na Rua das Flores, a despoluição visual. (1982).

Acervo: Jornal Diário do Paraná. Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem em que foi colocada a figura 14 se intitula “Despoluição visual da

cidade dá mais beleza à Rua das Flores”, ocorrida no ano de 1982, e que destaca a

73

despoluição visual da Rua XV de Novembro, no trecho conhecido como Rua das Flores.

(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).

A reportagem afirmava que estava quase concluída a primeira etapa de

despoluição visual da Rua das Flores, através de um programa desencadeado pela

Prefeitura Municipal de Curitiba. Por meio deste programa elaborado pelo IPPUC, Instituto

de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o trecho escolhido inicialmente foi entre

as ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco. O propósito era é dar uma melhor

organização ao visual da cidade, eliminando a publicidade irregular, instalada em

desacordo com o decreto vigente à época (Decreto nº 172/81).

Por meio deste decreto se regulamentou o tipo e estilo de propaganda e

publicidade na cidade de Curitiba. A lei que regulamentava e normativa este tipo de

publicidade era muito antiga (Lei nº 1211 de 19 de setembro de 1953 - Curitiba), e não

vinha sendo obedecida. Por este motivo a Prefeitura regulamentou a publicidade através

do decreto supracitado, principalmente pelos riscos que as placas de publicidade ofereciam

no que tangia à segurança para a população estava exposta ao transitar pela via. Motivada

por este decreto a Prefeitura passou a ter força por sobre os estabelecimentos comerciais

para impor as normas vigentes.

A ideia era melhorar o visual das vias e destacar a paisagem natural do espaço

público, melhorando a movimentação para o comércio, de forma organizada e natural.

Assim por se tratar de uma via exclusiva para pedestres, a Prefeitura aplicando o disposto

no decreto supracitado, permitiu que a publicidade fosse executada com letras aplicadas

diretamente às fachadas de forma a retirar o material anteriormente aplicado e que

provocava a poluição visual.

A nova regra permitia que as letras dos luminosos fossem aplicadas diretamente

por sobre a fachada com a denominação apenas do estabelecimento, o que minimizava o

problema da poluição. Algumas regras deviam ser seguidas, como locais, cores e formatos,

forma de não agredir paisagem da via pública e nem causar outros problemas.

Segundo a reportagem, alguns lojistas ainda levaram algum tempo para se

acostumar com esta medida, devido ao longo tempo em que passaram sem que qualquer

normativa fosse aplicada. Ainda de acordo com a reportagem, quando se referia ao que a

população achava sobre tal medida, alguns alegaram que pela pressa com que passavam

pela via nem observavam a poluição visual que existia na propaganda das lojas, outros já

estavam tão acostumados com os excessos, e estranharam as amenidades que então

passaram a ver, mas todos admitiram que nunca tinham observado que por traz de tais

publicidades existiam edificações antigas que os técnicos da Prefeitura e IPPUC queriam

fazer aparecer nesta via histórica.

74

A reportagem confirma o exposto quando diz: “A ideia é dar uma melhor

organização ao aspecto visual da cidade, considerando o que desenvolvimento

desordenado da publicidade urbana põe em risco a segurança da população e ocasiona

prejuízos à paisagem da cidade”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).

Mais adiante a reportagem afirma que: “Tudo o que está sendo feito procura

destacar a paisagem natural da rua facilitando ainda a movimentação para o comércio”.

(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).

Em outro trecho, a reportagem corrobora com o acima descrito quando diz: Outros

acostumados com o colorido constante da rua veem até com estranheza o programa

desenvolvido pela prefeitura. Mas admitem que poucas vezes repararam nas edificações

antigas, que o IPPUC pretende realçar. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).

A intenção da Prefeitura Municipal foi promover a despoluição visual do centro,

principalmente na via central da cidade de Curitiba, Rua das Flores, transformada em via

de pedestrianização. O intuito era melhorar o visual da cidade e desta via, destacando o

visual da rua de importância histórica e com edificações antigas, algumas tombadas pelo

Patrimônio Histórico do Estado e Nacional.

A medida foi para que esta via fosse vista da forma como ela realmente era,

retirando destas todo e qualquer material que pudesse encobrir a importância histórica

desta rua para a cidade de Curitiba, através de suas edificações, onde algumas datam do

século 19. A exemplo, o edifício situado na esquina da Rua XV de Novembro com a Rua

Monsenhor Celso, que teve a obra finalizada no ano de 1893, e que tem toda uma história

ao longo dos anos, até foi vendido ao Governo do Estado, e que anos mais tarde, já no

século 20, instalou ali uma agência do extinto Banco do Estado do Paraná. (TAVARES,

2007).

Concluindo, a respeito da década de 1972 a 1982, pode-se sintetizar que a

intervenção começa com a interdição ao tráfego da Rua XV de Novembro, transformando-a

inicialmente em estacionamento, para posteriormente dar inicio à obra. Esta seria

executada por etapas, visto a extensão de todo o trecho de rua que seria transformado.

De início houve um levante por parte de alguns comerciantes que se diziam

contrários à referida obra, alegando que o movimento iria diminuir no que a prefeitura em

conversas com estes comerciantes afirmava o contrário, e assim fez com que parte dos

comerciantes fosse amadurecendo a ideia, contudo, os protestos ainda continuaram.

Neste meio tempo, em um final de semana começou-se a executar a primeira etapa da

obra, destinando de início um trecho composto de duas quadras à pedestrianização, o que

fez com que os comerciantes, pegos de surpresa, protestassem, contudo não havia muito

75

a fazer e assim a principal via da cidade passou a ser destinada apenas aos pedestres,

sendo definitivamente concluída em meados do ano de 1977.

Para o comércio, de início quase nada mudou, pois a maioria das pessoas que

pela via transitavam, o faziam mais pela curiosidade em conhecer a primeira via pública do

país transformada em Calçadão de uso exclusivo dos pedestres. Com o passar do tempo o

comércio foi gradativamente se adaptando ao novo sistema, visto que o movimento de

pedestres havia aumentado. Assim na área econômica, o Calçadão, conforme as

reportagens dos jornais referentes a esta década melhorou bastante sua estrutura

comercial, bem como ampliou-a em alguns estabelecimentos.

Quanto à área social, o Calçadão avançou bastante, mesmo porque esta via antes

de ser fechada ao tráfego de veículos já tinha a tradição de ponto de encontro no centro da

cidade, principalmente na região da Boca Maldita, contudo este foi bastante ampliado,

surgindo novos espaços destinados bate-papo ao longo de toda a via. E não foram só

locais destinados a bate-papos e encontros, foram também criados espaços cobertos

enfrente aos bares com mesas e cadeiras onde as pessoas ficavam sentadas tomando

alguma bebida e apreciando o movimento.

Ainda têm-se as reportagens que citam que as crianças também tiveram seu

espaço reservado nesta via, quando aos sábados pela manhã a Prefeitura promove

eventos para divertimento destas que vão ao Calçadão para brincadeiras ou para pintar no

chão sobre rolos de papel estendidos onde com a imaginação de crianças fazem desenhos

os mais diversos. Há também um bondinho totalmente reformado, pintado e adaptado para

outra finalidade, que foi colocado no trecho inicial do Calçadão, equipado com orientadores

infantis para abrigar e divertir crianças, enquanto seus pais faziam compras ou qualquer

outro compromisso.

A década acima descrita foi de avanços tanto na área econômica quanto na área

social, apesar das contestações iniciais, as quais faziam parte de uma política urbanística

prevista no Plano Diretor da cidade de Curitiba. Esta previa a pedestrianização de algumas

ruas da região central da cidade, e de sua principal via a Rua XV de novembro, que assim

retomou também o nome de como era antigamente conhecida, Rua das Flores.

A política de urbanização do Calçadão tinha em seu bojo promover a humanização

da cidade, principalmente na área central que enfrentava sérios problemas de

congestionamento no trânsito de veículos e também com a circulação de pedestres. Assim,

com a implementação desta política, seriam solucionados ambos os problemas e

efetivamente promoveu mudanças até então inéditas, com a criação de um espaço público

de circulação exclusiva para pedestres, o qual foi primeiro no Brasil. Esta medida foi bem

76

aceita pela população e promoveu também mudanças nos hábitos culturais, de lazer e

comerciais, como também colocou a cidade de Curitiba no roteiro turístico nacional.

4.1.2 Década 1982 a 1992

A figura 15 mostra uma loja comercial ao longo da Rua XV, com cartaz informando

participação desta loja num evento chamado “Shopping Center Rua das Flores”.

Figura 15 – Comércio na Rua das Flores – Rua XV de Novembro – (1983).

Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A figura 15 ilustra a reportagem do JORNAL DO ESTADO, (1983), “Novo espaço

na Rua das Flores”.

A reportagem comenta sobre o lançamento da campanha de revitalização

comercial da Rua das Flores de forma a colocá-la como um “Shopping Center Natural”,

criando um programa comercial em que participaram mais de sessenta lojas situadas na

Rua das Flores. A extensão deste shopping atingia todo o Calçadão. Para reconhecer as

lojas, bastava procurar o cartaz que estas expunham em frente ao estabelecimento, bem à

vista dos pedestres, nas vitrines.

O programa era patrocinado pelo Clube dos Diretores Lojistas e propunha

melhorias nas vendas, distribuindo aos fregueses, em compras de qualquer valor, cupons

para concorrer a um automóvel Voyage no final do ano, em 31 de dezembro 1983. Muitas

lojas que constituíam o anel central não aderiram à campanha por não terem condições

financeiras para tal. Por serem lojas pequenas e de condições financeiras baixas não

tinham como arcar com tal despesa, mas achavam que mesmo assim seriam beneficiadas

por estarem nas proximidades, de modo que eventualmente possíveis compradores

deveriam passar em frente a suas lojas, o que poderia beneficiá-las.

77

Em lojas maiores o problema das vendas não as afetou, mas achavam que a

promoção poderia render bons lucros. Alguns lojistas afirmaram que isto tinha sido o

embrião para posteriormente ser criada a Sociedade Amigos da Rua das Flores, que seria

a organização de comerciantes que estariam atentos às oscilações do mercado de forma a

propor alternativas mais viáveis. Ainda de acordo com a reportagem, a população aceitou a

iniciativa, principalmente por ser uma situação inusitada. Alguns entrevistados eram

unânimes em dizer que “Curitiba está mesmo carente de coisas diferentes”, enquanto

outros diziam não haver necessidade de sofisticação e envolver grades valores para se

obter um bom resultado.

O Clube dos Diretores Lojistas, organizador do evento, afirmava que a campanha

teve o apoio da Prefeitura na área de segurança das ruas o que dava suporte ao sucesso

da promoção. A reportagem terminava dizendo esperar aumentar o fluxo de pedestres no

anel central, o que proporcionaria ao consumidor maiores opções de compras e ainda com

o aumento de fluxo de pessoas aumentariam também as opções de negócios para os

lojistas.

A reportagem em tela referenda o acima descrito, quando cita:

Com o lançamento feito domingo, Curitiba ganhou um Shopping

Center Natural com mais de um quilômetro de extensão. É o novo

espaço comercial da Rua das Flores que abrange mais de sessenta

lojas dentro de um programa de revitalização do comércio central,

uma vez que as pessoas estavam perdendo o hábito de fazer suas

compras no centro da cidade. Essas lojas se estendem da Rua

Presidente faria até a Praça Osório e para reconhecê-las basta

procurar o cartaz com a chamada especial que deverá estar bem à

vista, na vitrine ou na entrada das mesmas. (JORNAL DO ESTADO,

1983, s/p.).

Mais adiante a reportagem acrescenta:

[...] e o pequeno comerciante não pode arcar com as despesas de

publicidade. “De qualquer forma – alegam – o fluxo de pessoas

passará por nossas lojas, fatalmente. Não entramos por questões

financeiras, mas acabaremos sendo beneficiados”. Com as lojas

maiores o problema não aconteceu, muito pelo contrário. [...] Alguns

afirmam mesmo que esta iniciativa será o embrião daquilo que virá a

ser a Sociedade Amigos da Rua das Flores: uma grande

organização de comerciantes sempre atentos às oscilações do

comércio e unidos para novas e constantes alternativas. (JORNAL

DO ESTADO, 1983 s/p.).

78

Quanto à aceitação desta medida, a reportagem relata:

O público curitibano encarou a iniciativa com grande aceitação,

sobretudo pelo caráter inusitado do empreendimento. Conforme

opinião de vários entrevistados “Curitiba está mesmo carente de

coisas diferentes. E essa é a oportunidade de mostrar o poder de

criatividade nessa hora de crise generalizada”. Outros ainda,

concordam que não há necessidade de muita sofisticação e grande

capital para se ter um bom resultado. (JORNAL DO ESTADO, 1983

s/p.).

Mais adiante a reportagem mostra o pensamento do Clube dos diretores Lojistas

quando diz: “Com a criação de determinadas atrações para o consumidor, esperamos fazer

voltar o antigo fluxo de pessoas para o anel central, que ainda é ótima opção de compras”.

(JORNAL DO ESTADO, 1983, s/p.).

Resumidamente, a reportagem mostrava que o comércio da região central, afim de

não entrar em crise, e para que fosse possível continuar atuando e progredindo, uniu-se

em associação de forma a promover situações socioeconômicas e fazer com que este se

tornasse atraente aos consumidores. Assim, por meio da associação as lojas teriam maior

força e poderiam desta maneira chamar a atenção do público para o local, e desta forma

promover avanços no espaço público.

A figura 16 abaixo mostra um trecho da Rua XV de Novembro, com o comércio na

Rua das Flores, Calçadão de Curitiba e a circulação da população.

Figura 16 – Comércio na Rua das Flores – Rua XV de Novembro – (1984).

Acervo: Jornal Diário da Tarde – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A figura 16 é parte da reportagem do jornal Diário da Tarde (1984), com o título “Na

Rua das Flores, um shopping que é sucesso”.

79

A referida reportagem mostra o sucesso nas vendas realizadas no comércio

instalado no Calçadão, dizendo que isto tinha sido possível graças a promoções deste

comércio efetuadas por ocasião das festas do final de ano. Nesta promoção, mais de 500

pessoas já haviam sido premiadas até a data da publicação da reportagem (15 de

dezembro de 1984) e que há promoção citada tinha a iniciativa do Clube de Diretores

Lojistas de Curitiba. Este tipo de promoção tinha a aprovação dos lojistas, visto o custo

publicitário total que foi acessível, e também da população que frequentava o centro da

cidade, que achava necessários programas de revitalização do centro comercial tradicional

da cidade.

Alguns profissionais da área de urbanismo diziam que a Rua das Flores na

verdade era um shopping natural, pelas suas peculiaridades. Para os lojistas participantes

da promoção o movimento do Shopping Center Rua das Flores e arredores, cresceu

significativamente, e de acordo com entrevistados, isto se devia não só à participação em

sorteios, mas à identificação da população com o referido shopping, por fazer parte da vida

e cultura do curitibano, que tinha uma relação muito estreita com o Calçadão, pelas opções

que este oferecia em termos de consumo.

A reportagem em foco ratificava o acima citado quanto ao sucesso da promoção:

“Mais de 500 pessoas já foram premiadas pela promoção de final de ano do Shopping

Center Rua das Flores, uma realização do Clube de Diretores Lojistas com o apoio [...]”.

(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).

Na sequência a reportagem diz:

A ideia vem sendo aprovada não só pelos lojistas que encontraram

nessa iniciativa uma boa oportunidade para reforçar a comunicação

publicitária de final de ano, a baixo custo, como também pelos

frequentadores do centro da cidade, principalmente aqueles que

têm se preocupado com a revitalização da área. (JORNAL DIÁRIO

DA TARDE, 1984, s/p.).

Ainda a reportagem informa, quanto às características da Rua das Flores:

Recentemente, em conversas de fim de tarde na tradicional Boca

Maldita, um grupo de profissionais ligados à área do urbanismo,

lembrou que o Shopping Rua das Flores implanta, na prática, uma

antiga ideia que leva em conta as características peculiares da Rua

das Flores e que a definem efetivamente como um shopping natural

que, além de comércio e serviços, oferece atrações culturais, lazer e

constitui um ponto de encontro. (JORNAL DIÁRIO DA TARDE,

1984, s/p.).

80

A reportagem quanto ao movimento da Rua das Flores cita:

Segundo a grande maioria dos lojistas que aderiram ao projeto, o

movimento na área compreendida pelo Shopping Rua das Flores –

Rua das Flores, suas perpendiculares, Marechal Deodoro e Praças

Tiradentes e Generoso Marques - teve um crescimento significativo.

(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).

A reportagem continua ainda no mesmo tema, com o depoimento do gerente da Ótica

Boa Vista que diz: “Há uma certa identificação do público com relação ao Shopping Rua

das Flores por se tratar de um espaço que já faz parte da vida do curitibano”. (JORNAL

DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).

Verifica-se que, nessa época, o comércio existente na Rua das Flores e arredores,

que compunha o Shopping Center Rua das Flores, unido pelo Clube dos Diretores Lojistas

em promoções por este realizada, promovia maior movimento no comércio existente na

Rua das Flores, e consequentemente o aumento das vendas, o que resultava em avanços

como a acessibilidade ao comércio por efeito direto da promoção realizada, como também

na área social, visto ser a Rua das Flores, Calçadão de Curitiba, um ponto de encontro e

lazer, que também teve seu movimento aumentado por conta da promoção realizada pelo

comércio, o que acabava por dar mais vida àquela região da cidade.

A figura 17 mostra a Rua XV de Novembro, Calçadão de Curitiba, trecho não

identificado pela foto.

Figura 17 – Calçadão de Curitiba – Rua XV de Novembro.

Acervo: Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná – Revista Veja 1987.

Autor: Nani Gois.

A reportagem que referenda a figura acima, foi publicação da Revista Veja (1987)

com o título “Mania Nacional – O calçadão de Curitiba é imitado em todo o país”.

81

A reportagem inicia citando que o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, ordenou

o fechamento de três quadras da Rua XV de Novembro no ano 1971, para neste local

construir uma ampla calçada com 700 metros de extensão, em pleno centro da cidade,

tendo o projeto sido feito às escondidas, tamanho eram os adversários e opositores. Eram

tantos adversários e opositores, conforme diz Jaime Lerner, que a prefeitura se viu

obrigada a executar todo o serviço em um final de semana, para dessa forma impedir que

uma ação judicial embargasse a obra. E assim foi criado o primeiro Calçadão, no Brasil, de

circulação exclusiva para pedestres.

Diz a reportagem à época que após dezesseis anos o calçadão, que foi o primeiro

a ser implantado no Brasil, era imitado em todo o país, e que virou mania nacional. Muitas

cidades haviam copiado a ideia, desde cidades grandes como São Paulo e Florianópolis,

até cidades pequenas como São Gabriel, no Rio Grande do Sul, e que, à época da

reportagem, poucas são ainda as cidades que não o haviam copiado.

Os oposicionistas eram, na época, os comerciantes que viam no Calçadão um

grande inimigo ao lucro do comércio, pois achavam que sem o tráfego de veículos as

pessoas que circulavam pela rua iriam se afastar e assim seus lucros diminuiriam. Isto fez

com que um dos comerciantes liderasse um abaixo-assinado que pedia a reabertura da

rua, onde um comerciante reivindicava à Prefeitura que fizesse o mesmo em outras ruas do

centro da cidade e que incluísse nesta ampliação a rua onde ele mantinha uma loja, sob a

alegação de que o faturamento de sua loja aumentou muito depois da inauguração do

Calçadão.

O presidente do Clube dos Diretores Lojistas, à época, dizia ter sido muito difícil

convencer os antigos lojistas de que em uma rua sem tráfego de veículos e exclusiva para

pedestres seria muito melhor para o comércio, localizado naquela área da cidade, pois pela

concentração de bancos e restaurantes o movimento seria muito maior. Isto porque o

calçadão iria converter aquela via em centro nervoso da cidade, pois por ali circulavam

muitas pessoas diariamente. Continua citando que isto deveria render mais do que

qualquer shopping Center, assim o que se pensava que só iria atrapalhar tinha então

dezesseis anos desde sua implantação, “o valor de uma mina de ouro”.

Desta forma uma pequena loja para se instalar no Calçadão teria que pagar luvas,

que equivale nos dias de hoje, século 21, à compra de um ponto comercial, o que na época

pouco anterior à reportagem, em 1987, nem era cogitado, e mais, teria que pagar pelo

aluguel de um imóvel que estava bastante valorizado em moeda corrente do país à época.

O comércio estava tão em alta na região que muitos comerciantes se diziam privilegiados

por ter um comércio com esta localização, por ser o melhor ponto comercial da cidade.

82

A reportagem corrobora com o acima discorrido, na medida em que faz citações

como:

Quando o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, mandou fechar

três quarteirões da rua XV de Novembro em 1971 para ali construir

uma larga calçada de 700 metros de comprimento em pleno coração

da cidade, teve de tocar o projeto quase que às escondidas. “Os

adversários eram tantos que fizemos todo o serviço num único final

de semana”, lembra Lerner. “Foi o único jeito de impedir que uma

ação judicial embargasse a obra”. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).

Na sequência a referida reportagem diz que outras cidades copiaram o projeto até

então inédito no Brasil:

Dezesseis anos depois, depois o primeiro calçadão do Brasil já foi

imitado em todo o país e se tornou uma mania nacional. Das

grandes cidades, como São Paulo e Florianópolis, à pequena São

Gabriel, no interior do Rio Grande do Sul, hoje são poucas as

cidades que não seguem o exemplo de Curitiba. (REVISTA VEJA,

1987, p. 25).

A reportagem mostra também a citação, no que tange aos comerciantes:

A oposição ao projeto de Lerner partia principalmente dos

comerciantes, que enxergavam no calçadão um inimigo dos seus

lucros. Temeroso de que, ao afastar os carros, o calçadão acabasse

também por afastar as pessoas, o imigrante alemão Tancredo

Weinhardt, dono de um magazine de calçados que leva o seu

nome, chegou a liderar um abaixo-assinado dos lojistas locais

exigindo a reabertura da rua. Na mesma semana, o mesmo

Weinhardt liderava outro movimento – desta vez para reivindicar à

prefeitura a ampliação do calçadão a outras ruas do centro da

cidade, incluindo aquela onde ele mantém uma loja. “Hoje eu sei

que o calçadão é a salvação do comércio”, prega Weinhardt, cujo

faturamento triplicou quatro meses depois da inauguração.

“Descobri que sem os carros as pessoas caminham mais à vontade,

vêm vitrines com mais calma e acabam comprando mais”. (REVISTA

VEJA, 1987, p. 25).

A reportagem cita ainda sobre o movimento do Calçadão:

Localizado no pedaço da cidade onde se situa a maior concentração

de bancos e restaurantes, além da Universidade Federal do Paraná,

o calçadão acabou por se converter no centro nervoso de Curitiba e

por ele trafegam atualmente milhares de pessoas por dia. “Com

esse movimento, o que está na vitrine vende mais do que qualquer

shopping center” diz o comerciante de roupas Rubens Teig, dono da

83

loja Universal. Hoje, o que se pensava ser um trambolho tem valor

de mina de ouro. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).

Mais adiante a reportagem informa quanto aos custos para se manter um ponto de

venda no Calçadão,

Quem quiser instalar-se numa lojinha de quatro metros de fachada

localizada no calçadão, por exemplo, terá de pagar 3 milhões de

cruzados só de luvas – uma palavra que antes nem fazia parte do

vocabulário dos negociantes da região. Além disso, o aluguel não

sairá por menos de 50.000 cruzados por mês. “Não saio daqui por

nada”, avisa Teig. “É um privilégio poder estar no melhor ponto de

comércio da cidade”. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).

Considera-se que, mesmo havendo uma grande resistência por parte dos

comerciantes, de início quanto à implantação do Calçadão, por ser uma situação até então

inusitada para o comércio da região, mesmo tendo os seus criadores afirmado que o

projetado para aquela via, tinha toda uma concepção estudada e que era a decisão das

mais acertadas, mesmo assim o medo inicial dos comerciantes era plausível, porque não

conseguiam prever qual seria a reação da população com relação ao comércio local.

Passado o impacto inicial, da implantação, o comércio percebeu que a reação da

população foi bastante positiva e que além de melhorar o movimento de pedestres, pela

segurança em transitar em uma via exclusiva, melhorou também o lado comercial. Com ele

as vendas aumentaram, mas também aumentou o movimento na área de lazer o que

representou um ponto de avanço à região.

Assim, se comparado a um shopping, o Calçadão por ser uma via central, como

citado na reportagem, “o centro nervoso da cidade”, teve uma movimentação muito maior

de pessoas, o que consequentemente melhorava as condições de lazer e gerava maiores

chances na área comercial. Contudo, isto provocava um aumento de custos de

manutenção comercial: como o valor do ponto comercial, aluguel e outros custos indiretos,

como a valorização imobiliária local bastante significativa, como mostrado na reportagem.

Por outro lado, este método de urbanismo proporcionou aos idealizadores deste

espaço público um grande orgulho por ver sua obra servir de incentivo a outras cidades do

Brasil. Estes copiaram a ideia e implantaram projetos semelhantes, fechando vias ao

tráfego de veículos, promovendo a humanização das cidades ao transformarem vias em

calçadões de uso exclusivo aos pedestres. Assim, observa-se diante do descrito nesta

reportagem, os avanços e benefícios que este tipo de planejamento promoveu não apenas

como forma de lazer, mas também como incentivo comercial.

84

As figuras 18 e 19 fazem parte da mesma reportagem, sendo que a primeira figura

mostra um desfile de um grupo que se autodenomina grupo do Fiu-Fiuuu Sport Club, na

Rua XV de Novembro, para anunciar a chegada da primavera. A segunda figura mostra

uma passeata do MAE, Movimento de Ação Ecológica, expressando tristeza pela natureza

violentada.

Figura 18 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1988).

Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Figura 19 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1988).

Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem que referenda as figuras 18 e 19 acima tem como título “Rua das

Flores em clima de primavera”. Esta reportagem mostra a Rua das Flores em uma manhã

de sábado, no seu estilo de espaço público democrático e de lazer. Onde grande número

de populares curitibanos, passeia pelo Calçadão onde estão acontecendo eventos

animados por palhaços, teatro de fantoches e uma banda formada por integrantes do

Colégio Estadual do Paraná. Além do acima descrito descrevendo as figuras, acontece

85

também concomitantemente o “2º Pinte o Sete de Verdade”, para as crianças pintarem no

chão, encima de rolos de papel divididos de metro em metro, o que quiserem. Este evento

é relativo ao encerramento da programação da Semana da Árvore.

Acontece ainda que o Movimento de Ação Ecológica - MAE, aproveitando a

oportunidade realizou uma passeata de manifestação, representando o “velório da

natureza”, portando cartazes com dizeres de alerta à população quanto à situação em que

se encontrava o meio ambiente. Esta passeata se iniciou na Praça Santos Andrade, quase

no início do Calçadão e terminou na Praça Osório, onde estes mostravam a devastação

das florestas do país. Esta manifestação mostrou através de painéis com fotos a

devastação por meio de queimadas de florestas nativas do Paraná e também da Amazônia

e que nada adiantava este tipo de manifestação se ninguém se preocupasse com a

preservação das matas nativas. Sendo o Calçadão um espaço eclético e democrático

aceitava todo tipo de manifestação, das mais variadas para atrair seguidores ou

demonstrar qualquer situação, por mais adversa que possa parecer.

Esta reportagem corrobora com o acima descrito quando cita:

Animados por palhaços, teatro de fantoches e a banda do Colégio

Estadual do Paraná, um grande número de curitibanos foram

atraídos na manhã deste sábado, na Rua das Flores para o “2º

Pinte o Sete de Verdade”, onde as crianças puderam expressar a

natureza através das tintas – no encerramento da Semana da

Árvore. (JORNAL DO ESTADO, 1988, s/p.).

Na sequência, a reportagem mostra quanto a passeata do MAE:

O Movimento de Ação Ecológica (MAE) aproveitou a ocasião, no

entanto, para realizar uma passeata silenciosa, cadenciada apenas

pela seca batida de um atabaque, numa espécie de “velório da

natureza”. Os manifestantes portavam faixas e cartazes com frases

de alerta e conscientização para a população. [...] só nos últimos

trinta dias, o Paraná perdeu com as queimadas, mais de 40 mil

hectares de florestas nativas e a Amazônia quase 20 milhões de

hectares. Lembra que não adianta ficar distribuindo mudas de

árvores para reflorestamento se ninguém se preocupa em preservar

as ainda existentes. [...] “Se nós não nos conscientizarmos, num

futuro próximo não estaremos mais comemorando o dia 21, o Dia da

Árvore, quando a data servirá apenas para lembrar o que foram as

devastações [...]”. (JORNAL DO ESTADO, 1988, s/p.).

86

Com o acima descrito a Rua XV de Novembro, e de acordo com todas as outras

reportagens, enfatiza-se o caráter de um espaço público e democrático no centro da cidade

de Curitiba. Nesta via acontecem desde a promoção de eventos, como o citado acima em

comemoração à Semana da Árvore, assim como também manifestações públicas como a

passeata contra as queimadas que estão causando devastações nas matas e florestas, ou

seja, é um espaço de livre expressão.

A figura 20 mostra um trecho da Rua XV de Novembro, Calçadão de

Curitiba, ilustrado por bancos, floreiras e o movimento de populares circulando pela via,

com autoria do texto de Raul Pilatti.

Figura 20 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. (1989).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

A figura 20 referenda a reportagem do jornal O ESTADO DO PARANÁ, (1989),

escrita por Pilatti, com o título “A Geografia Humana de uma rua – Rua das Flores, para

principiantes”.

Pilatti (1989) inicia com uma pergunta: “Qual o melhor lugar da cidade para um

bom bate-papo?” O autor responde também com outra pergunta: “Você quer ouvir histórias

antigas e recentes?”.

Estas perguntas já tinham em si uma intencionalidade jornalística de cunho social,

pois na memória social a resposta pertinente era - a Rua das Flores – a parte da Rua XV

de Novembro exclusiva para pedestres era um lugar para se ouvir histórias e viver outros

eventos de ordem cultural e sociopolítico. E assim seguia entre perguntas e repostas,

sobre política, economia, esportes e até sobre fofocas de forma generalizada, sobre todos

os assuntos e também quanto ao governo, respondendo sempre que era na Rua das

Flores que se encontrava tudo em termos de assuntos para um bom bate-papo. Era ali na

Rua das Flores que se podia ficar sabendo um pouco de tudo o que acontece na cidade.

Contudo, devia-se ter o cuidado de se saber onde se está, pois em cada lugar ou quadra

87

teríamos impressões diferentes sobre os mesmos assuntos, e por consequência, focos

também diferentes, o que poderia gerar distorções.

Aqui, para melhor entendimento, convém situar a Boca Maldita, que é um espaço

democrático, criado em 1956, mas só institucionalizado em 1966, situado no Calçadão, na

Avenida Luiz Xavier. Este espaço é frequentado por políticos, empresários, personalidades

e pessoas da população, não há qualquer distinção dentre eles, ali se discute todos os

assuntos sem qualquer censura, onde todos podem expor seus pensamentos livremente e

sem qualquer restrição.

A “Boca Maldita” tem a uma frequência bastante diversificada, e varia muito a

classe e nível das pessoas. Se observarmos atentamente podemos encontrar grupos

diversos como de aposentados principalmente do Poder Judiciário, com desembargadores,

juízes e ex-servidores. O tema principal das conversas é quase sempre ligado às notícias

do Judiciário.

O autor da reportagem cita que o jornalista Luis Geraldo Mazza, assíduo

frequentador da Boca Maldita, onde afirma que a Rua XV mudou “os grupos que hoje se

reúnem ali são multidisciplinares”, o que fez com que os grupos mudassem bastante.

Houve época em que entre os diversos grupos chegavam a ter rixas entre eles, e não se

misturavam, ficavam em rodas separadas, conversando normalmente como se nada

tivesse acontecido, mas continuam frequentando as rodas de conversas no Calçadão.

A exemplo disto tem um grupo de militares da reserva e também da ativa, que se

reúnem próximos à Boca Maldita, que se tornaram, como cita a reportagem, muito críticos à

situação atual do país.

Os anos de repressão não são o assunto favorito, mas os feito durante os

governos militares faz vibrar os corações, e talvez por causa disto forma um grupo à parte,

mesmo sem representar qualquer ameaça, muitos não se atrevem a chegar perto.

Mais adiante a reportagem cita o amargor que existe em certas rodas de

aposentados, que por se sentirem fora do contexto, acham que por serem aposentados

estão descartados pela população que ali se reúne. Assim, por serem em grande número,

continuam circulando pelo espaço público, como se sentissem estar voltando às origens,

de quando eram mais moços, mas são tão apegados ao passado que ficam a circular pelas

rodas de conversas.

Os frequentadores assíduos são os de finais de semana, diferentes dos

frequentadores do decorrer da semana, que desaparecem após alguns instantes de

conversa, pois têm que voltar ao trabalho.

Uma curiosidade são inimigos declarados que se reúnem em uma mesma roda e

conversam sem que haja nenhuma rixa, em um convívio pacífico, mas que ao saírem

88

“podem” ser criticados, mas isto faz parte do convívio em grupos heterogêneos, o que não

atrapalha o convívio entre eles.

Passando os limites da Boca Maldita encontra-se uma roda de mudos conversando

em LIBRAS, linguagem que só eles entendem, mas marcando seu espaço, contando

historias e trocando ideias dentre eles sem nenhuma interferência.

Uma situação mais agradável acontece nos finais de tarde, quando em alguns

bares, se reúnem pessoas a fim de soltar a voz em uma animada roda de samba, são eles

músicos que bebendo um chopp soltam a voz e alegram a rua.

Aqui resumidamente descreveu-se o que acontecia na Boca Maldita, durante a

semana, e nos finais de semana, onde as pessoas se reuniam em conversas informais,

para saber as fofocas do dia, e também como forma de lazer, já os de mais idade

preferiam reviver a nostalgia dos antigos tempos dos passeios pela Rua XV de Novembro e

Avenida Luiz Xavier, encontrando os antigos amigos para conversas informais, revivendo

os áureos tempos com todo o charme que esta via proporcionou em décadas anteriores.

Continuando, a reportagem descreve que é um passeio para mostrar a Rua XV de

Novembro às pessoas, assim tem-se que ao transpor a Travessa Oliveira Belo, os

frequentadores deste novo trecho são de outro nível cultural. Ali se encontra um grupo com

deficiência da fala, mudos, que se reúnem próximo ao bonde, e conversam por meio de

linguagem da mímica, se comunicam entre eles em conversas que só eles se entendem.

Mais adiante se encontram as mesas em frente aos bares colocadas sob

quiosques de proteção, onde pessoas se reúnem em roda de samba ao final da tarde, e

que em sua maioria são músicos, que ao final do dia se encontram para tomar um chopp e

que acabam por alegrar o movimento da rua.

Nas quadras seguintes onde existem algumas escolas de segundo grau, seus

alunos promovem uma grande movimentação e dão vida à rua, que misturando vários

estilos fazem com que a rua tenha por algumas horas um movimento incomum e maior

vivacidade. Seguindo em frente aparece um ponto de encontro um tanto diferente dos

demais, é entre a Galeria Schaffer e a livraria Ghighone, antigo ponto de intelectuais da

cidade, onde se discutiam os diversos lançamentos dos livros da época, inclusive

conceituando os autores, contudo, naquele tempo, no entanto, já não se consegue reunir

mais escritores.

Segundo a reportagem, o mesmo local mudou, nele passaram a se encontrar

jovens, que circulam pelas confeitarias e bares da região. Mais adiante encontramos dois

pontos de cafés onde profissionais liberais e aposentados se reúnem para conversar, e ali

perto encontramos até “buckmakers” e outros profissionais, onde podemos ouvir conselhos

sobre o próximo páreo e até fazer uma aposta. O Calçadão chega ao final, e assim tem-se

89

de forma um tanto genérica o que se pode encontrar em termos de lazer e distração,

contudo a reportagem se encerra com uma sugestão ou conselho: “Ah, um ultimo

conselho: para começar, é sempre melhor ouvir que falar. Você aprenderá muito mais”.

(PILATTI, 1989, s/p.).

Esta reportagem de Pilatti corrobora com o acima descrito quando cita:

Na XV é possível ouvir de tudo um pouco. E se você tiver crédito,

até contar suas histórias. Mas, cuidado. Veja bem onde encostar-se.

Pois a rua é uma só, mas em cada quadra você vai encontrar um

grupo diferente. Todo mundo pensa, da forma mais tradicionalista,

que na XV só tem aposentado. Bola fora. É claro que eles são a

maioria. Mas observando bem, você vai encontrar outros grupos

interessantes. (PILATTI, 1989).

Pilatti (1989) escreve ainda que o lugar mais tradicional da XV é o seu começo: a famosa

Boca Maldita. Como a décadas se sucede, grupinhos se formam entorno dos cafés. Um

dos mais antigos e tradicionais é dos aposentados do Judiciário. Desembargadores, juízes,

ex-servidores e um ou outro advogado. Os assuntos preferidos, como não podia deixar de

ser são os caminhos “tortuosos” do Judiciário.

Mantendo ainda as diferenças territoriais e profissionais, segundo o autor acima

vai-se encontrar perto da esquina da XV com a Travessa Oliveira Belo um dos grupos com

maior “espírito de corpo”. São os militares aposentados – ou da reserva, como se chamam.

“Todos tornaram-se assíduos críticos da situação atual do país”, comenta o mesmo

anônimo parceiro de muitas conversas. Os anos de repressão não são o assunto favorito.

Mas os feitos durante os governos militares ainda faz vibrar os corações verde-olivas.

Para Pilatti (1989) o próximo ponto interessante de encontro é entre a Galeria

Schaffer e a Livraria Ghighone. José Ghighone lembra ainda quando em frente a sua loja

se reunia parte da elite intelectual da cidade. Essa elite parava para trocar ideias sobre os

últimos lançamentos, e conceituar os autores. Ultimamente, no entanto as prateleiras

recheadas de livros não tem conseguido reunir mais escritores. São hábitos que vão

mudando.

A reportagem acima descrita confirma que as transformações acontecidas na Rua

XV de Novembro, levaram esta via pública a se tornar um grande espaço público social, e

que em termos de avanço sociopolítico foca a área do Calçadão como um grande ponto de

encontro da cidade. Sim um ponto de encontros, que reúne a população de Curitiba em

seus diversos trechos como em uma grande sala de estar, promovendo o encontro de

amigos para bate-papos e reuniões após o expediente normal de trabalho de forma a

promover a descontração.

90

Pode-se afirmar que o Calçadão transformou uma rua agitada e aflita, em um local

agradável e descontraído que dá à população que trabalha na região uma forma de

relaxamento e lazer após um dia de trabalho.

A figura 21 mostra transeuntes circulando pela feira de artes, no Calçadão, onde

artistas plásticos e pintores expõem suas obras.

Figura 21 – Rua das Flores – Trecho da Boca Maldita – Feira de Artes – (1989).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A figura 21 referenda a reportagem com o título “Ao ar livre, uma galeria de arte”,

(JORNAL GAZETA DO POVO, 1989, s/p.). A reportagem informa resumidamente que nas

manhãs de sábados artistas plásticos curitibanos transformavam a Rua das Flores em uma

galeria de artes ao ar livre. Localizados em um ponto no início da Avenida Luiz Xavier, em

pleno coração da “Boca Maldita”, faziam naquela via em um ponto de exposição de artes,

para pintores e artesãos que pudessem expor e vender suas obras.

Este espaço público a eles reservado, era exclusivo para artistas curitibanos, e

representava uma grande conquista para eles; e que por estarem em contato direto com os

clientes, principalmente turistas, tinham a possibilidade de mostrar suas artes diretamente

ao público, o que tornava tudo mais fácil. Era uma galeria de artes ao ar livre, onde cerca

de 20 artistas expunham suas obras e conseguiam viver com o resultado das vendas que

era bastante atraente pelo movimento que a rua proporciona, propiciando também aos

artistas trabalhos sob encomenda.

91

De acordo com a reportagem, havia possibilidade de mostrar a arte e a cultura

paranaense a um grande número de pessoas, em sua maioria, turistas que circulavam pela

Rua das Flores. “Todos os sábados pela manhã, um grupo de artistas plásticos curitibanos

transforma a Rua das Flores numa galeria de arte ao ar livre. Privilegiados pelo excelente

ponto, na Boca Maldita, conseguem vender seus quadros, além de manter contato direto

com o cliente”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1989, s/p.).

Um destaque era o artista David Donha, que dizia que: “Nossos clientes em

potencial são turistas que ficam encantados com a beleza da natureza e da cultura

paranaense, eternizadas nos nossos quadros”. Assim, esta reportagem mostrava a

implementação de uma política sociocultural, dando espaço ao artista curitibano divulgar

sua arte e socializar-se cultural e economicamente.

Esta “galeria de arte” funcionava ao ar livre, no trecho inicial Calçadão, na mesma

região onde se reúnem os frequentadores da Boca Maldita, ela dá mais vida e movimento

ao espaço público nas manhãs de sábado. Assim, esta “galeria de arte” além de dar um

local e “espaço” ao artista, promove também maior oportunidade de negócios para eles,

visto o grande movimento que acontece na região.

A figura 22 mostra o Calçadão de Curitiba em 1992, 20 anos após o início de sua

implantação. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1992).

A figura 23 demonstra o novo projeto do Calçadão, como ficaria após obras de

revitalização. (1992).

Figura: 22 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1992).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

92

Figura: 23 – Rua da Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1992).

Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do

Paraná.

A reportagem que referenda a figura 22, tem como título “Rua das Flores terá

obras de recuperação”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1992, s/p.).

O projeto de recuperação da Rua das Flores tinha como principal objetivo restaurar

a via de forma que esta voltasse a ter os traços arquitetônicos como era na época em que

foi construída.

A recuperação abrangeria toda a sua extensão, que compreende, desde o seu

início na Praça Osório até próximo à Praça Santos Andrade, na confluência desta via com

a Rua Presidente Faria.

O projeto de recuperação previa a recuperação das luminárias, árvores, floreiras e

também a fachada dos prédios, de forma a resgatar a antiga imagem e características

quando da sua implantação no início dos anos 70.

Este projeto tinha sido elaborado em razão da Rua XV ter sido tão modificada, ao

longo dos anos, perdendo as características originalmente projetadas, o que alterou

sobremaneira a paisagem urbana inicial da rua.

A reportagem que referenda a figura 23 tem como título “Prefeitura inicia reforma

na Rua XV”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992 s/p.).

Esta reportagem segue o mesmo tema, contudo cita alguns pontos de forma mais

detalhada. O projeto de revitalização da Rua das Flores é de autoria do arquiteto Abrão

Assad, o mesmo arquiteto que elaborou o projeto inicial do Calçadão vinte anos antes. A

reportagem menciona que funcionários de uma empresa de instalações elétricas já

93

estavam executando as bases de sustentação em concreto para os postes, no trecho entre

a Rua Presidente Faria e a Rua Barão do Rio Branco. Estas bases dariam suporte para um

novo sistema de posteamento em ferro fundido, que seria instalado de forma a melhorar a

iluminação. Os postes teriam menor altura, dois globos com lâmpadas mais potentes, o que

daria maior luminosidade à rua.

Os postes antigos seriam substituídos, devido ao facho de luminosidade ser

direcionado mais para o piso, e devido ao fato de as árvores existentes no local provocar

grandes áreas de sombras, o que ocasionava deficiências na iluminação da área, enquanto

que os novos postes de iluminação projetados no estilo colonial com globos no topo,

menos altos, com lâmpadas mais potentes e instalados mais próximos uns dos outros,

melhorariam bastante a iluminação da rua. Ao todo seriam instalados 97 postes, o que

além de melhorar a iluminação local, daria mais segurança às pessoas que transitassem

pela via.

O calçamento da rua de pedras no padrão petit-pavé, estava também bastante

disforme em alguns trechos, apesar das diversas recomposições realizadas e seria

recomposto em toda a sua extensão. O mesmo deveria ser feito com as floreiras e bancos

que estavam danificados, e que deveriam ser substituídos.

A revitalização desta via se devia à descaracterização ao longo do tempo do

projeto inicial, a exemplo do que acontece com as bancas de jornais e revistas, que tinha

as paredes em vidro transparente, onde foram colados cartazes que acabaram por

bloquear toda a visão, o mesmo aconteceu com as bancas de sucos, e outras. Desta

forma, descaracterizam o projeto inicial, e contribuíram também para a poluição visual,

distorcendo toda a aparência agradável do local, que se tornou referência turística e foi

copiado por muitas outras cidades.

Ambas as reportagens corroboram com os relatos acima quando citam: O projeto

de recuperação da Rua das Flores tem como objetivo restaurar os traços arquitetônicos do

local como eram na época de sua construção, em 1972. A recuperação vai ser feita desde

a Praça Osório até a Praça Santos Andrade.

As reportagens indicam também:

[...] Entre os itens constantes está a substituição dos postes

existentes por modelos similares aos colocados na via na época da

sua instalação. Ao todo, são 97 postes de ferro fundido com

luminárias em forma de globo, em altura menor que as atuais –

terão, como no projeto inicial 3,5 metros – eles favorecerão uma

melhor iluminação à área. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992

s/p.).

94

Quanto ao calçamento, a reportagem que referenda a figura 23 registra que o tipo

de calçamento, agora desuniformizado em vários trecho, voltará a ser igual em toda a sua

extensão: pedras em padrão petit-pavé. As floreiras e bancos danificados pelo tempo

também serão substituídos. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992 s/p.).

A opinião do arquiteto Abrão Assad era:

[...] tornar a rua semelhante ao que era há vinte anos, quando o

calçadão foi criado. “Tudo o que está lá não é original. As coisas

foram mudadas para pior. O calçadão não é um mercado persa”, diz

o arquiteto, numa referência ao grande número de bancas de

revistas e pontos comerciais que surgiram no local”. (JORNAL O

ESTADO DO PARANÁ, 1992, s/p.).

Nesse momento da análise, entende-se que no “Calçadão de Curitiba”, nesta

segunda década de existência, aconteceram muitas modificações que acabaram por alterar

sua concepção original, ocasionando uma desconfiguração que de sobremaneira o

descaracterizou-o.

Talvez, em tese, esta desconfiguração se deveu ao fato de as administrações

municipais não terem dado a devida atenção que o Calçadão exigia, por ser principalmente

um ponto turístico da cidade. Partindo deste princípio, as modificações que aconteceram

no Calçadão tinham uma visão política, a do bairrismo, qual seja incentivar o

desenvolvimento do Calçadão sob o ponto de vista dos individualismos de grupos sociais,

incluindo nos avanços reais da cidade e de suas políticas públicas de desenvolvimento. O

que se percebeu nas diversas reportagens é que o Calçadão vinha ainda satisfazendo

alguns interesses de classes, quando nem sempre se dava a devida atenção a um projeto

que colocou a cidade de Curitiba no roteiro turístico do Brasil.

Resumindo, desta forma o Calçadão passou por mais alguns avanços, mas devia

receber maior atenção na sua complexidade política e social, haja vista o movimento que

ele atraía, tanto durante as semanas, como nos finais destas, não só na área econômica,

mas também na área social, como na “Boca Maldita”, por ser um ponto central da cidade

de grande atração. Como indicava a reportagem inclusa na referência com o título Centro

Político da Cidade, do Jornal Gazeta do Povo, (1992).

Assim, a década em análise mostra um bom desenvolvimento sociopolítico e

econômico do “Calçadão de Curitiba”, pois ele se configurou como ancora de atração na

expansão comercial e social da cidade.

95

4.1.3 Década 1992 a 2002.

A figura 24 mostra o Calçadão de Curitiba em 1993, no trecho inicial da Rua XV de

Novembro – Rua das Flores.

Figura: 24 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1993).

Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do

Paraná.

A reportagem que referenda a figura 24 tem como título “Rua das Flores vai virar

um shopping horizontal”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1993, p. 9).

Esta reportagem fala em transformar a Rua das Flores em um shopping horizontal

moderno, como proposto pelo prefeito Rafael Greca aos lojistas da Rua das Flores, em

reunião na Associação Comercial do Paraná.

Nesta reunião, o prefeito criticou a atitude que a grande maioria dos comerciantes

vinha adotando em suas lojas, eliminando de suas fachadas as portas e vitrines, “no estilo

dos mercados árabes”. Sugeriu aos mesmos que recolocassem as vitrines como forma de

dar maior vivacidade à rua, e também que estas fossem iluminadas para melhorar a

luminosidade das fachadas e da rua à noite, como uma maneira de revitalizar a rua.

O Prefeito pediu ainda aos comerciantes que providenciassem a retirada das

placas de propaganda das fachadas dos prédios e lojas, como forma de promover a

despoluição visual. Sendo esta uma rua com edificações históricas, as fachadas dos

edifícios deveriam ser mantidas, o que seria além de um bom atrativo ao comércio, uma

maneira de preservar o visual original, principalmente por ser uma rua símbolo da cidade.

96

Por outro lado, o prefeito prometera melhorar a segurança na Rua das Flores,

colocando a Guarda municipal no patrulhamento desta, desde a Rua Barão do Rio Branco

até a Praça Osório, criando um corredor de segurança. Assim este patrulhamento daria

segurança tanto aos transeuntes que circulavam por esta via, como também aos lojistas. A

intenção era criar um “Corredor de Segurança”, com homens da Guarda Municipal em todo

o Calçadão, que seria transformado em um grande shopping a céu aberto.

A reportagem corroborava com o acima descrito, quando dizia “Transformar a Rua

das Flores num grande shopping horizontal e moderno. Esta foi a proposta do prefeito

Rafael Greca aos lojistas da Rua das Flores, no encontro que reuniu mais de 50

comerciantes [...]”.

A reportagem registrava ainda com relação à reunião que:

O prefeito sugeriu aos lojistas o retorno das vitrines que serviriam

como instrumento de animação das ruas. “Além de garantir maior

segurança, as vitrines podem ficar iluminadas à noite, animando a

rua e revitalizando ainda mais o centro da cidade”, propôs.

Paralelamente, o prefeito pediu aos comerciantes que seja feita uma

despoluição visual da rua, com a retirada de placas e outros

equipamentos que acabam escondendo os atrativos dos prédios.

(JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1993 p. 9).

Mais adiante a reportagem informava que o

Corredor de segurança – Em contrapartida, o prefeito Rafael Greca

garantiu aos comerciantes da Rua das Flores – da Barão do Rio

Branco até a Praça Osório. Este trecho seria patrulhado pela

Guarda Municipal, no estilo do que já ocorre na Rua 24 Horas. Ele

propôs ainda que os comerciantes se associassem para criar os

zeladores de quadra. “Seriam pessoas encarregadas de cuidar das

lojas, apagar as luzes, baixar as grades de proteção em horários

previamente determinados”, disse. (JORNAL O ESTADO DO

PARANÁ, 1993, p. 9).

Concluindo, o então prefeito Rafael Greca e as autoridades que participaram da

reunião, juntamente com integrantes da Associação Comercial do Paraná, procuravam

formas junto aos lojistas de melhorar o visual da Rua das Flores, com medidas no sentido

de minorar a poluição visual da rua, de modo a devolver à via seu aspecto visual natural,

ressaltando as suas edificações antigas e ao mesmo tempo promovendo maior animação

do espaço público.

Com estas medidas, sendo a Rua das Flores o símbolo da cidade, devia-se

promover que esta via continuasse ainda a ser o centro nervoso da cidade. Então, propôs-

97

se a criação de um corredor de segurança como forma de dar maior tranquilidade e

segurança aos que por esta via transitavam.

Com a política de segurança do local, a pretensão era que, desta maneira, haveria

maior movimento e consequentemente melhorariam as atividades comerciais e sociais

locais.

A figura 25 mostra a fachada do edifício onde foi instalada a Ghignone Center em

1995.

Figura: 25 – Rua das Flores – Edifício da Galeria Ghignone. - (1995).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

A figura 25 acima referenda a reportagem intitulada “Ghignone investe na Rua das Flores”.

(JORNAL GAZETA DO POVO, 1995, s/p.).

A reportagem conta que as Livrarias Ghignone estavam instaladas na Rua XV de

Novembro, Rua das Flores, desde a década dos anos 40, e era um ponto de encontro de

intelectuais da cidade.

Em 1995, Ghignone estava aproveitando o imóvel de sua propriedade para dar sua

contribuição à cidade, na revitalização da Rua das Flores. Havia criado uma galeria com

um mix de lojas, em um segmento de comércio mais refinado que atenderia a livraria e

ofereceria aos clientes outras opções de compras, de forma a manter uma clientela mais

diferenciada.

Inaugurada havia algumas semanas, tinha intenção de oferecer aos clientes outras

opções de compras, devido aos tipos de comércio que oferecia que iam desde tabacaria,

esporte, dentre outras até um simples café.

98

A galeria devia atender o público que se utilizava da livraria, mas ofereceria outros

produtos, de forma a ser um lugar agradável e atender também pessoas que se utilizassem

do Calçadão para passear ou comprar. Assim devia ser incluído de forma a incentivar

promoções conjuntas entre os lojistas e a Associação Comercial do Paraná, de forma a

incentivar entre os lojistas a formação de um grande shopping a céu aberto.

Por fim, a reportagem referendava a revitalização do Calçadão de forma a dar a

cidade um grande shopping a céu aberto como maneira de incentivar o comércio na região

central da cidade, e dar condições às pessoas de encontrar no centro da cidade, lojas que

ofereçam qualidade e um mix de produtos diversos a oportunidade de encontrar os

produtos que procuram sem que sejam obrigados a se deslocar a outros centros. Por

exemplo:

As livrarias Ghignone, instaladas desde a década de 40 na Rua das

Flores, estão dando a sua contribuição ao projeto de revitalização

do centro da cidade. Aproveitando uma área de cerca de 300

metros quadrados no edifício da loja matriz, a empresa abriu um

strip-center – uma espécie de galeria – e aposta em um segmento

de comércio mais nobre, com lojas de produtos esportivos,

perfumes e charutos. [...] a intenção é oferecer novas opções de

compra ao público da livraria, que completa 75 anos de fundação

em 1996. “A loja é um ponto de atração cultural” avalia Ghignone.

(JORNAL GAZETA DO POVO, 1995, s/p.).

Mais adiante a reportagem cita que A Associação Comercial do Paraná, por

exemplo, começou a coletar propostas para recuperar a rua, incluindo medidas para

incentivar promoções conjuntas entre os lojistas, como em um grande shopping a céu

aberto.

Finalizando, esta reportagem mostra que as políticas públicas, mesmo que

proponham a revitalização de um espaço público, não necessariamente devem partir de

órgãos públicos, mas podem a partir de associações privadas, como no presente caso, a

Associação Comercial do Paraná, que neste pleito, junto com lojistas, procura através

políticas comerciais, formas de revitalizar o espaço público, “Calçadão de Curitiba”, por

meio de promoções colocando-o como um grande shopping a céu aberto. Nesta linha, o

Ghignone Center deu um primeiro arranque, diversificando suas atividades como forma de

dar mais motivação à empresa e movimentação à rua.

99

A figura 26 mostra o “Calçadão de Curitiba”, Rua das Flores no ano de 1997, com

seu movimento constante, como um congestionamento de pedestres.

Figura: 26 – Trecho da Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1997).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

Autor: Valterci Santos.

A reportagem que referenda a figura 26 acima, tem como título “XV bate os

shoppings em movimento – Pesquisa mostra que das 8 às 20 horas, 100mil pessoas

circulam pela Rua das Flores”.

A reportagem em tela afirma que o movimento de pessoas na Rua das Flores é

maior do que qualquer shopping na cidade de Curitiba.

A pesquisa elaborada pelo IPPUC, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba, visava coletar de dados referentes à Rua das Flores para servir de suporte às

intervenções que seriam necessárias na elaboração do projeto “Revivendo Curitiba”,

quando se queria coletar dados com base em entrevistas com comerciantes, pedestres,

moradores, e conjuntamente a isto, fazendo a contagem da movimentação de pessoas que

diariamente circulavam pelo Calçadão.

O primeiro dado divulgado dava conta de que no período das 08:00 h às 20:00 h,

cerca de 100 mil pessoas, em média, transitavam diariamente por esta via.

Assim, fazendo um comparativo com o mais antigo Shopping Center da cidade, o

movimento deste seria equivalente a um terço do movimento do Calçadão durante todo o

mês de dezembro.

100

Mesmo estando os demais dados coletados ainda em fase de compilação, a

divulgação do movimento de pessoas na Rua das Flores era bastante animador e revelava

em parte o que devia ser levado em conta na elaboração do projeto acima mencionado.

O local de maior movimento revelado pela pesquisa era o trecho entre as ruas

Doutor Muricy e Avenida Marechal Floriano, a parte mais central da via, o que provava,

segundo a coordenadora do projeto, Ariadne Mattei, que o centro da cidade estava mais

vivo do que nunca. Com isto, os lojistas da região central deviam rever as técnicas de

comércio, pois este movimento devia levá-los a adotar estratégias de forma a atrair maior

clientela.

Devido às características da via e ao movimento constatado, a coordenadora do

projeto quer em contato com os comerciantes, analisar formas de melhorar o movimento do

setor comercial, aproveitando os dados coletados pela pesquisa relativos ao movimento da

via, que para ela são bastante positivos, e que podem render em grandes incentivos ao

comércio local.

A reportagem confirma o acima citado quando diz:

O movimento de pedestres na Rua XV de Novembro é de causar

inveja aos shoppings da cidade. Pesquisa do IPPUC mostra que, no

período das 8 às 20 horas, cem mil pessoas, em média, circulam

diariamente pela Rua das Flores. [...] Os números divulgados fazem

parte da pesquisa feita na Rua XV de Novembro, que servirá de

base para as intervenções previstas dentro do projeto Revivendo

Curitiba. (JONAL GAZETA DO POVO, 1997, s/p.).

Mais adiante reforça a visão socioeconômica em termos quantitativos dizendo:

Os números nos surpreenderam positivamente. “Eles provam que o

centro está mais vivo do que nunca”, diz Ariadne Mattei,

coordenadora do projeto Revivendo Curitiba. Para ela, os lojistas

devem ter este movimento como um incentivo a mais para reavaliar

estratégias de comércio e atrair maior clientela. [...] Segundo a

coordenadora, a prefeitura quer trabalhar ao lado dos comerciantes

para ver que tipo de contribuição pode ser dada para potencializar o

movimento do comércio. (JONAL GAZETA DO POVO, 1997, s/p.).

A reportagem acima focava uma política socioeconômica de expansão. Era a

elaboração do programa de revitalização do Calçadão, denominado “Projeto Revivendo

Curitiba”, ainda em fase inicial de elaboração, mas que pretendia recompor a via pública.

Como ponto de partida foi promovido um levantamento ao longo de toda a via, para a

obtenção de dados, que depois de compilados, formassem a base do processo das

101

intervenções que seriam necessárias. Esta coleta de dados foi feita por meio de pesquisas

e entrevistas, nos diversos setores e áreas de atividades existentes no Calçadão.

A pesquisa apontou um grande movimento de pedestres, o que demonstrou que o

centro da cidade era mais movimentado do que outras regiões. Isto representava um

grande incentivo para que as funções desta rua fossem revistas, não apenas do ponto de

vista urbanístico, por ser uma rua histórica, mas também para se utilizar este potencial nas

áreas sociais e econômicas de forma a tornar a rua mais atrativa.

As figuras 27 e 28 mostram atividades recreativas para jovens, adultos e crianças

em plena Rua das Flores.

Figura: 27 – Mostra as crianças em atividades recreativas na Rua das Flores. (1998).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

Autora: Aniele Nascimento.

102

Figura: 28 – Mostra jovens e adultos em atividades recreativas na Rua das Flores. (1998).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

Autora: Aniele Nascimento.

A reportagem que é ilustrada pelas figuras 27 e 28 tem como título “Rua das Flores

agora tem novas atrações – Diversas atividades animam o sábado no tradicional Calçadão

do Centro da Cidade”.

A reportagem diz que a Prefeitura Municipal de Curitiba, por meio da Secretaria de

Esporte e Lazer estava promovendo o projeto “Brincando na Rua XV”, e tinha como alvo a

recreação e lazer de crianças e adultos.

Este projeto buscava levar atividades recreacionais à rua nos sábados, como

forma de dar maior animação à Rua das Flores. Outra intenção era aproveitar o aditivo da

animação e movimentação de pessoas no horário comercial, aos sábados, de forma a

atrair maior movimentação também ao comércio no centro da cidade.

Este projeto era parte integrante do plano de revitalização da Rua das Flores, e

acontecia no trecho entre a Rua Doutor Muricy e a Avenida Marechal Floriano, justamente

o trecho citado na reportagem anterior, que o apontava como o de maior movimento.

A coordenação do evento dizia que este era uma forma de estimular o comércio

local, de modo a promover maior movimentação, e assim atrair as pessoas para o centro

da cidade, em vez de procurarem os shopping centers.

Como era de praxe este tipo de atividade na Rua das Flores, em toda a sua

extensão, no dia das crianças, como também no aniversário da cidade, então se ofereceria

lazer também aos adultos durante o dia inteiro. Um entrevistado dizia ser uma boa

experiência, já que teria a oportunidade de aliviar o estresse do dia a dia.

103

A reportagem demonstra o acima citado quando diz:

Jogos como dama, sinuca, pingue-pongue e futebol de botão, além

de varias atividades educativas e que ajudam a estimular o

desenvolvimento motor das crianças agora fazem parte do cenário

da Rua XV aos sábados pela manhã. A Prefeitura de Curitiba,

através da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL), lançou

ontem o projeto “Brincando na Rua XV”, que tem a intenção de

promover recreação e lazer para crianças e adultos. (JORNAL

GAZETA DO POVO, 1998, s/p).

Mais adiante a reportagem afirma:

Segundo a diretora do departamento de lazer da SMEL, Lenita

Sicupira, essa é uma maneira de oferecer entretenimento para a

população e ao mesmo tempo estimular o comércio de toda a

região. Hoje as pessoas acabam optando pelos shopping centers

para passear e fazer compras. Em função disso, queremos tornar o

Centro da cidade mais atrativo. (JORNAL GAZETA DO POVO,

1998, s/p).

O olhar do Jornal supracitado colocava o Calçadão como área de lazer para

crianças e adultos, como forma de dar animação à via pública nos sábados pela manhã.

Também apresenta uma política de melhorar a movimentação da via, atraindo a população

ao centro da cidade, oferecendo lazer, além de promover também maior tendência a que

as pessoas circulem também pelo comércio. Assim, podemos observar uma política de

incentivo, não apenas social, mas também comercial, onde pessoas economicamente

ativas podem se servir do comércio. Assim, temos claramente que a Prefeitura Municipal

até então vinha olhando o Calçadão como uma via que podia promover maior aglomeração

no centro da cidade.

A figura 29 mostra a Rua XV de Novembro, trecho da Rua das Flores, e referenda

a reportagem com o título “Cassio entrega novo calçadão da XV no aniversário da cidade”.

(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).

104

Figura: 29 – Rua XV de Novembro – Calçadão de Curitiba – (2000).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

A reportagem informa que o então prefeito Cassio Taniguchi, em comemoração ao

aniversario de 307 anos da cidade de Curitiba, entregou o “Calçadão de Curitiba”

totalmente reformado e revitalizado. Isto se deve por ser o Calçadão um marco da cidade,

quando em 1972 a Rua XV de Novembro foi fechada ao tráfego de veículos, e se tornou a

primeira via exclusiva para pedestres no Brasil. Ao completar 30 anos, houve uma reforma

completa em sua infraestrutura, que estava bastante deteriorada. Esta seria a primeira

grande reforma desde a implantação do calçadão.

O prefeito, ao iniciar as comemorações em frente à Associação Comercial do

Paraná, disse ser a Rua XV a sala de visitas e o ponto mais tradicional da cidade e

continuou, “é o palco mais democrático de Curitiba e também uma área importante de

passeio para as famílias”. Esta reforma deu uma nova estrutura de lazer ao calçadão,

principalmente por ter sido executada toda uma reforma estrutural das instalações que

existem embaixo do pavimento, que foram modernizadas pelas obras de saneamento e

instalações em cabos de fibra óticas.

Estas instalações modernizadas facilitariam sobremaneira o trabalho do comércio e

melhorariam em muito a rede de comunicação. Estas obras faziam parte também de todo

um programa de revitalização da região central da cidade, que incluía também restauro de

edificações históricas, que deveriam ser transformadas em espaços culturais.

105

O então governador Jaime Lerner, também presente na solenidade, destacou a

coragem do Prefeito em realizar tal obra e disse: “Para isto é preciso ter visão estratégica e

amor à cidade”. Ele completou, a respeito de uma pesquisa realizada anteriormente sobre

o que achavam e quais as necessidades do Calçadão, “Não é a toa que mais de 90% da

população gosta da cidade”. Ainda durante a inauguração o Prefeito e o Governador foram

convidados a percorrerem toda a extensão do Calçadão e na altura das confeitarias

Schaffer e das Famílias enquanto eram cumprimentados pelas pessoas, quando um

cadeirante se aproximou e cumprimentou o prefeito por ter se preocupado em facilitar a

movimentação de deficientes físicos com a instalação de guias rebaixadas.

A recuperação do Calçadão o manteve com o mesmo formato existente,

introduzindo alguns elementos, como forma de melhorar a animação do eixo que tinha

grande circulação. As obras de infraestrutura além de melhorar a pavimentação, incluíram

nesta uma pista tátil para deficientes visuais, ligada ao mobiliário existente, de forma a

beneficiar os que sofriam com esta deficiência uma forma de circular pelo Calçadão sem

grandes problemas.

Outro ponto que deveria ser implementado, ainda dando continuidade à

revitalização da via, era o da segurança do local. Segundo a reportagem, seria

implementado um sistema de monitoramento, através de câmeras que captariam a rua em

tempo real. A via seria vigiada, dando segurança à população que por esta transitasse e

também ao comércio.

A reportagem corrobora com o acima descrito quando cita:

O prefeito Cassio Taniguchi entregou no dia em que se comemorou

os 307 anos de Curitiba, o novo calçadão da rua XV de Novembro.

Criado em 1972 e considerado um dos marcos do processo de

renovação urbana ocorrido em Curitiba nos últimos 30 anos. A XV

foi a primeira via exclusiva para pedestres criada no país e passou

por uma completa reforma – a primeira desde a sua implantação.

(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).

A reportagem informava também parte do discurso do Prefeito Cassio Taniguchi na

comemoração quando afirmou que,

a revitalização proporcionou essa nova estrutura da lazer em cima

do calçadão, mas também provocou uma transformação embaixo,

com uma estrutura moderna de saneamento e fibras óticas que

ninguém vê. Toda essa transformação, disse: vai facilitar o trabalho

do comércio e proporcionar uma rede de comunicação igual a

106

existente em Londres, na Inglaterra. (JORNAL GAZETA CRISTÃ,

2000, s/p).

Mais adiante a reportagem registrava quanto ao projeto de recuperação do

Calçadão dizendo:

O projeto de recuperação do Calçadão manteve basicamente os

mesmos elementos que estão presentes na via desde a sua criação,

como o calçamento em petit-pavé e as floreiras, e introduziu novos

elementos que reforçam o seu caráter de eixo de animação da

cidade. [...] Além da renovação do piso e da substituição de todos

os equipamentos e mobiliário urbano, a reforma da rua XV ainda

incluiu a recuperação completa de toda a infra estrutura local.

(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).

A reportagem mostrava também quanto à segurança da via:

No projeto de revitalização do calçadão foi dado ênfase à questão

de segurança, que era uma das principais reivindicações dos

comerciantes locais. A iluminação está sendo reforçada com a

colocação de novos postes republicanos que se somam aos já

existentes. [...] Mas a principal inovação no item segurança foi a

inclusão de um sistema de monitoramento com câmeras de vídeo

em toda a extensão da via. Catorze câmeras serão colocadas em

pontos estratégicos da rua e vão funcionar 24 horas por dia. As

imagens serão captadas em uma central que será construída na

Praça Osório e será operada por funcionários da Prefeitura, com

apoio da Polícia Militar. (JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).

A reportagem falava uma política de revitalização do espaço público como forma

de recuperar a via tanto na área comercial como na de lazer. Esta revitalização visaria

atrair a população ao centro da cidade, oferecendo uma melhor estrutura, principalmente

comercial, transformando a via pública em um grande shopping.

Desta forma aumentando a movimentação e animação da via deverá atrair

melhores condições de negócios ao comércio local, como também incentivar a utilização da

estrutura de lazer existente.

A figura 30 mostra a central de monitoramento da Rua XV de Novembro, Rua das

Flores, onde a Polícia Militar faz toda a vigilância do Calçadão, desde a Praça Osório até a

confluência da Rua Presidente Faria.

107

Figura: 30 – Central de monitoramento do Centro de Operações da Rua XV de Novembro.

(2000).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Orlando Kissner.

A reportagem que referenda esta foto tem como título “Câmeras reduzem a ação

de marginais na Rua XV – Equipamentos flagraram 25 ocorrências, a maioria relacionada a

tráfego de drogas e brigas”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2000, p.3).

Esta reportagem abordava a instalação do sistema de monitoramento por câmeras

instalado na Rua XV de Novembro, que vigiava todo o Calçadão da Rua das Flores, e

afirmava que o sistema estaria dando segurança à área. Este monitoramento ia desde a

Praça Santos Andrade até a Praça Osório, promovendo a segurança de todos que

transitassem pela rua e também ao comércio e às ruas vizinhas ao Calçadão.

Segundo o registro jornalístico, a conclusão da Polícia Militar é de que o sistema

implantado estaria funcionando a contento, mesmo estando ainda no início. Alguns

marginais ainda continuavam agindo na área, contudo o sistema vinha inibindo cada vez

mais a ação deles. A Polícia Militar afirmava que isto se comprovava pelo número de

ocorrências registradas entre os meses de outubro e novembro, que diminuiu em 14%, ou

seja, tinha baixado de 421 ocorrências no mês de outubro para 362 ocorrências no mês de

novembro daquele ano.

A polícia Militar descreve que em sua grande maioria as ocorrências são por

brigas, porte de tóxicos e armas, além de embriaguez que provocam transtornos ao

comércio e à população que transita pela via. Ainda enfatiza na contundência do conteúdo

do texto jornalístico que, de acordo com o Cel. Donizete Ribeiro, de janeiro a outubro

daquele ano foram ao todo 37 roubos, o que em média significa 3,7 ocorrências por roubo

ao mês, e no mês de novembro foi apenas 01 caso registrado. Diz ainda que nas

ocorrências de furtos simples, de janeiro a outubro foram registrados 22 casos, uma média

108

de 2,2 casos por mês, e nas de furto qualificado foi mantida a média de uma ocorrência ao

mês, chegando a registrar a diminuição das ocorrências, até mesmo as tentativas de

invasão de lojas, onde os marginais flagrados pelas câmeras acabam sendo pegos. Com

isso o sistema de monitoramento por câmeras surtiu efeito e inibiu a ação dos marginais

em toda a extensão do calçadão.

A reportagem referenda o acima citado quando diz:

Um mês depois do início efetivo do funcionamento do sistema de

câmeras instalado na Rua XV de Novembro – na extensão do

calçadão da Rua das Flores, entre as Praças Santos Andrade e

Osório – a conclusão da Polícia Militar é de que os equipamentos

estão inibindo a ação dos marginais nesta área central. [...] De

acordo com o Cel. Donizete Carlos Ribeiro, comandante do 12º

Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região,

foram atendidas 25 ocorrências no mês passado, com o auxílio dos

14 equipamentos instalados na via, sendo que a maioria refere-se a

crimes que causam transtorno à população, como brigas, porte de

tóxico e armas, além de embriaguez. (JORNAL GAZETA DO POVO,

2000, p. 3).

Mais adiante a reportagem afirma:

Diminuiu bastante o registro de crimes que causam impacto na

população”, confirma Ribeiro. Mesmo os delitos que ocorrem dentro

de lojas na Rua das Flores, [...] estão acontecendo menos. Alguns

marginais foram pegos quando tentavam invadir os

estabelecimentos, depois de serem flagrados pelas câmeras,

salienta. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2000, p. 3).

O acima descrito mostra a implementação da política de segurança prevista no

plano de revitalização do espaço público “Calçadão de Curitiba”, como forma de promover

o desenvolvimento local. A reportagem indica que o projeto de segurança implementado

tinha parceria entre o Poder Público Municipal e Estadual de modo a promover a

continuidade ao planejamento inicial em melhorar a movimentação e animação da região

central da cidade. Assim, com maior segurança, a população poderia circular pela região

com mais tranquilidade para efetuar suas compras ou participar dos momentos de lazer

que a via oferecia, como também os comerciantes teriam maior tranquilidade para

trabalhar, sabendo que a via estava policiada e segura.

A reportagem ainda defende que o retorno da movimentação deveria acontecer,

talvez não de imediato, mas de forma gradativa, na medida em que a população

economicamente ativa pudesse circular pela via com segurança.

109

Esta década, 1992 a 2002, foi de avanços na área socioeconômica, com a

implementação de diversas políticas públicas, de forma a revitalizar a via, e dar maior

movimentação e animação e prover segurança às pessoas que por esta transitavam.

Com a aplicação destas políticas urbanísticas e sociais ficou demonstrada a

preocupação das autoridades em incentivar atividades, de uma forma geral, que

promovesse o centro da cidade e a qualidade de vida do cidadão. Como exemplo, as

atividades sociorrecreativas promovidas atraíram a população à rua, incentivando uma

maior movimentação na via e por consequência também o comércio da região, de acordo

com a reportagem citada na referência neste trabalho intitulada “Na XV um shopping ao ar

livre, do Jornal Gazeta do Povo”, (1992).

Com o acima exposto, havia necessidade de maior preocupação com as

revitalizações das regiões centrais, que devia ser uma constante, de forma a manter em

ascensão as atividades econômicas e sociais, para promover maior movimentação e

agitação do Calçadão. Isso proporcionaria mais vivacidade e animação à via, e

consequentemente incentivaria o desenvolvimento de forma ordenada.

4.1.4 Década 2002 a 2012

A figura 31 mostra apresentações culturais de teatro na Rua das Flores, dentro do

programa de revitalização da região central da cidade “Projeto Centro Vivo”.

Figura 31 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores (2004).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem que referenda a figura 31, da autoria de Girardi se intitula “Vida

longo ao calçadão – Projeto Centro Vivo promove apresentações culturais gratuitas na

região central” e foi publicado no jornal Gazeta do Povo, em 2004. Ela descreve um projeto

de revitalização da região central da cidade, de iniciativa da Associação Comercial do

110

Paraná, denominado “Projeto Centro Vivo” em parceria com empresas privadas. Dentro

deste projeto, existia um programa de atividades culturais gratuitas em parceria com a

Universidade Federal do Paraná, que faria apresentações de teatro. Outras atividades

culturais previstas no projeto, como dança e música, estavam previstas em convênios com

a Faculdade de Artes Plásticas do Paraná (FAP) e a Faculdade de Belas Artes do Paraná

(Embap).

A primeira fase cultural do projeto seria desenvolvida por alunos e professores do

curso de Artes Cênicas – Formação de Ator da Escola Técnica da UFPR, com espetáculos

realizados ao ar livre ao longo do trecho da Rua das Flores e outros pontos da região

central da cidade.

Para a UFPR, do ponto de vista acadêmico era uma boa experiência, pois os

alunos viveriam a prática profissional e os professores poderiam avaliá-los no

desenvolvimento das apresentações. Segundo o coordenador do projeto Centro Vivo, o

convênio com a UFPR previa a realização de espetáculos durante um ano, com temas

comemorativos referentes a cada mês.

Ainda pelo lado da Associação Comercial do Paraná, de acordo com manchetes

contidas na reportagem, este projeto tinha como foco principal, incentivar as pessoas a se

encontrarem no centro da cidade, pelas opções de lazer que este ofereceria. Outro ponto

era que sendo o centro um lugar de características próprias, de grande circulação e

democrático, a intenção do projeto seria colocar realmente o teatro na rua e ao alcance de

todos. De outro lado, esta iniciativa devia promover a desconcentração dos shoppings da

cidade e com isto melhorar o movimento da região central, principalmente para o comércio

e os pontos de lazer, que se beneficiariam da maior movimentação e assim teriam

oportunidades de negócios.

A reportagem em foco corrobora com o descrito acima quando dizia:

HÁ DUAS SEMANAS A CORRERIA QUE domina os ladrilhos da

Rua XV e as praças da região central foi desacelerada. A pausa

para respiro deu-se graças à apresentação da peça Comédias da

Vida Privada, uma adaptação do texto leve e bem humorado do

gaúcho Luis Fernando Veríssimo. A iniciativa integra a o viés cultural

do projeto Centro Vivo, promovido pela Associação Comercial do

Paraná (ACP), em parceria com empresas privadas e que visa a

revitalização da região central da cidade. Até o final do ano, os

frequentadores do centro de Curitiba poderão conferir

apresentações gratuitas de teatro, dança e música, realizadas em

parceria com a UFPR (GIRARDI, 2004, s/p.).

111

Mais adiante afirmava:

Do ponto de vista acadêmico dois aspectos da parceria são muito

favoráveis: a prática profissional de alunos do segundo semestre do

curso e a atividade dos professores, que podem avalia-los durante o

desenvolvimento das apresentações, analisa Juarez Alves de Lima,

coordenador do curso Técnico em Artes Cênicas – Formação de

Ator. De acordo com o coordenador do projeto Centro Vivo, o

convênio firmado com a UFPR prevê a realização de espetáculos

por um período de um ano, sempre associando as temáticas a datas

comemorativas de cada mês. (GIRARDI, 2004, s/p.).

A reportagem apresentava em “manchetes” algumas afirmações, dentre elas a de

Jorge Bancamano, coordenador do projeto Centro Vivo, que mencionava:

A grande preocupação do projeto não é realizar ações culturais

pontuais e sim pôr em prática um processo contínuo durante o ano

todo. A ideia principal é fazer do centro um local onde as pessoas

gostem de se encontrar. (GIRARDI, 2004, s/p.).

De acordo com Juarez Alves de Lima, coordenador do curso Técnico AM Artes

Cênicas – Formação de Ator da Escola Técnica da UFPR, para que haja a

descentralização dos shopping centers e a atração dos consumidores ao centro da cidade

é importante que além de bons preços e qualidade dos produtos, se ofereça opções de

lazer. (GIRARDI, 2004, s/p.).

Na opinião de Leandro Bergonha, professor das disciplinas de interpretação e

improvisação no curso Técnico em Artes Cênicas – Formação de Ator, da Escola Técnica

da UFPR e diretor do espetáculo Comédia da Vida Privada. [...] “O Centro é o lugar mais

característico da cidade. O projeto de revitalização sai do discurso corrente de

democratização da cultura e coloca o teatro na rua de forma efetiva”. (GIRARDI,2004, s/p.).

A reportagem apresentava uma política para revitalização do centro da cidade de

Curitiba, em caráter público-privada, de forma a incentivar a população a transitar pela

região central da cidade. Dentro de uma política global de revitalização da região central,

inseriram um programa ou política de fomento cultural, como forma de integrar uma um

programa com finalidade maior, a de dar maior animação à via pública central “Calçadão de

Curitiba”.

Este programa tinha por finalidade maior incentivar o convívio da população em

uma região central, sujeita a adversidades, principalmente por ser a céu aberto, uma

movimentação, por ser mais popular, diversificada, onde transitam pessoas de todas as

112

classes sociais. Assim, esta política não era exclusiva à promoção da cultura, mas servia

como incentivo a aumentar a movimentação da via e por consequência ativar o comércio

de uma forma geral, dando um incremento à movimentação da rua que naturalmente se

serviria do comércio existente, o que refletiria na razão direta de que quanto maior

movimento maior deveriam ser as oportunidades do comércio na realização de negócios.

A figura 32 mostra o mutirão para limpeza do Calçadão, como preparação deste

para as festas de final de ano em Curitiba.

Figura 32 – Rua XV – Rua das Flores. (2005).

Acervo: Jornal HORA H 2005 – Coletânea Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Orlando Kissner.

A reportagem que referenda a figura acima, publicada no Jornal do Estado, em

2005, tem como título: “A Rua XV vai passar por limpeza”. Esta reportagem regista que no

dia 28 de novembro de 2005 seriam lançadas pela prefeitura as festividades de final de

ano em Curitiba, entre elas o “Natal Encantado”, promoção esta que consistia em fazer a

iluminação de diversos locais da cidade, dentre eles o Calçadão. Para isto, uma das

primeiras medidas tomadas foi a limpeza total do Calçadão. A “Ação Brilho nas Calçadas”

era um projeto participativo público/privativo onde participaram a Fundação de Asseio e

Conservação do Estado do Paraná (FACOP), o Conselho Gestor do Centro Vivo da

Associação Comercial do Paraná e a Prefeitura Municipal de Curitiba. A FACOP atuaria

com algumas empresas parceiras, cada uma em um dos espaços da Rua XV, completando

o circuito do início ao fim do calçadão. A Rua XV seria divida em lotes, onde cada

participante atuaria no espaço a ele determinado, com funcionários uniformizados para

fazer a limpeza conforme acordado. Assim, deveriam realizar a limpeza de acordo com o

113

determinado pela prefeitura, tendo suporte por esta previsto, com caminhões-pipa e

ligações elétricas para executarem os trabalhos de acordo com o previsto.

O projeto “Brilho nas Calçadas” deveria preparar o ambiente de forma a receber as

festas de final de ano. A reportagem afirma que a faxina teria suporte ainda da Prefeitura

Municipal em arrumar as floreiras e pintar os postes de iluminação e limpar os lustres dos

mesmos. Assim, proporcionaria melhores condições para receber a população com o

mínimo de conforto necessário para assistir o coral de crianças que se apresentaria no

“Palácio Avenida”.

A reportagem referenda o citado quando diz:

O coordenador de projetos da Facop, Pedro Paulo Guerreiro

Carneiro, explica que algumas empresas parceiras, cada qual com

sua equipe de trabalho atuará em toda a extensão da Rua 15,. “A

rua será dividida em 9 lotes e cada empresa participante, com sua

equipe de funcionários devidamente uniformizados, ficará

responsável pela limpeza de cada um desses lotes”. [...] O “Brilho

das Calçadas” quer preparar o ambiente para as festas de fim de

ano deixando o centro de Curitiba limpo e vistoso. Paralelamente à

“grande faxina” a Prefeitura Municipal irá arrumar as floreiras e

pintar os postes republicanos e executar a limpeza dos lustres.

(JORNAL DO ESTADO, 2005, p. b1).

Mais adiante a reportagem afirma que:

O Natal Encantado começa no dia 28 de novembro, quando o

prefeito Beto Richa, a presidente da Fundação de Ação Social

(FAZ), Fernanda Richa, e um grupo de crianças de famílias de baixa

renda vão acender as luzes do Natal de Curitiba, especialmente

decorado para as festas de fim de ano. (JORNAL DO ESTADO,

2005, p. b1).

A reportagem mostrava uma política participativa, público-privada, em prol de uma

ação cooperada, colaborando para criar no Calçadão uma situação de bem-estar à

população que usufrui deste não apenas no aspecto socioeconômico, mas também como

local de manifestação sociocultural. A ação promovida deveria dar mais vista ao local,

melhorando a movimentação da via e incentivando também as atividades econômicas e

sociais.

Finalizando, esta ação mostrava os esforços para manter o Calçadão em continuo

avanço, mesmo porque este paulatinamente vinha readaptando seu perfil às condições

socioeconômicas e mercadológicas, de forma a dar vida e animação à região central da

cidade.

114

A Figura 33 mostra o Calçadão de Curitiba, onde deviam ser implantadas algumas

modificações sugeridas por lojistas de forma a revitalizá-lo.

Figura 33 – Mostra a Rua XV – Rua das Flores. (2006).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Daniel Castellano.

A reportagem que referenda a foto acima tem como título “Calçadão no Divã –

Lojistas da Rua XV sugerem seis mudanças para levar mais clientes ao tradicional centro

de compras” (GAZETA DO POVO, 2006). Esta reportagem citava seis sugestões

elaboradas pelos lojistas da Rua XV com o intuito de aumentar o movimento do comércio e

aquecer as vendas. As propostas procuravam a revitalização do espaço público e do setor

comercial da via, de forma a incentivar a população a se utilizar do comércio da região

central da cidade, mais especificamente do Calçadão. Através destas sugestões

elaboradas pelos lojistas junto a Associação Comercial do Paraná, eles acreditavam que o

comércio existente na via teria suas atividades incrementadas.

A primeira sugestão, cujo título era “Grande Shopping”, formulava a criação de um

sistema administrativo equivalente a um grande shopping, ou seja, a criação de um

condomínio comercial de lojistas e instituir um comando administrativo central. Este formato

administrativo se assemelhava ao sistema administrativo de um shopping center, dando a

uma administração central o poder de fazer com que o comércio da rua inteira seguisse

dentro dos mesmos fundamentos administrativos. Com isto, o condomínio poderia

concentrar na administração central a organização de eventos, promoções e outras

atividades ou intervenções de forma a explorar todo o potencial de comércio da via, como

também teria força para cobrar do Poder Público as intervenções que eram de sua

competência.

115

A segunda sugestão tinha como título “Luzes e Câmeras” e solicitava melhoria e

ampliação dos sistemas de segurança ora instalados no Calçadão. O sistema de

segurança por câmeras instalado no espaço público observava os frequentadores vinte e

quatro horas por dia, contando com a ajuda de policiais militares circulando na via, mas

precisava ser reforçado, pois estava se mostrando insuficiente pelo pequeno efetivo de

homens na extensão da rua. Ainda existia outro pedido: as imediações do Calçadão

também deviam ser patrulhadas, pois na maioria das vezes, as pessoas eram assaltadas

nestas vias logo após sair do calçadão, já que as vias estavam fora da área vigiada. Assim

a reivindicação, é que o número de câmeras seja aumentado como também o efetivo de

policiais no patrulhamento, e mais, que este sistema de segurança seja estendido a todas

as vias e logradouros próximos, de forma a estender e melhorar o sistema de segurança na

região central da cidade, nas proximidades do Calçadão.

A terceira sugestão tinha como título “Horário Estendido” e a solicitação era a

extensão do horário de funcionamento das lojas que funcionavam neste espaço, o que

daria mais incentivo ao comércio. Da forma como estava, após as 19:00 h, com o

fechamento das lojas, a rua fica praticamente vazia. Para cobrir esta lacuna, alguns

comerciantes passaram a abrir filiais de suas lojas também em shopping centers. A

alegação destes estava justamente no horário estendido, visto que as pessoas

trabalhavam o dia inteiro e à noite se dirigiam aos shoppings para fazer suas compras. A

Associação dos Lojistas sugeria a aprovação de um acordo coletivo que ampliasse o

horário o horário de funcionamento das lojas, de modo que o comércio tivesse maiores

oportunidades de negócios.

A quarta sugestão tinha como título “Mais Flores” e propunha uma mudança radical

no visual da rua, visto que ao longo dos anos o visual desta via quase não a identifica mais

com o nome pelo qual era conhecida, Rua das Flores. Para tanto, propunha-se que o

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba desenvolvesse projetos de

paisagismo para o Calçadão, elaborando projetos diferentes para cada quadra que compõe

o espaço público, de forma a fazer uma identificação diferenciada do espaço para os

pedestres. Sugeria-se também que os andares superiores dos edifícios que tivessem até

três andares recebessem também ornamentação com flores, o que formaria um paisagismo

diferenciado em alguns trechos da via.

A quinta sugestão tinha como título “Feiras no Calçadão” e propunha um comércio

de ponta de estoque, das próprias lojas instaladas no Calçadão, que teriam assim

oportunidade de vender todo o estoque que via de regra leva bastante tempo para ser

vendido. Desta forma, as pessoas poderiam adquirir as mercadorias a preços mais baixos

e o comerciante teria a vantagem de girar o estoque com mais facilidade. Na continuidade,

116

a sugestão indicava que também poderiam ser implementadas feiras temáticas nos finais

de semana, o que daria mais motivação para o comércio, que abriria as lojas, visto a maior

movimentação de pessoas e consequentemente maiores oportunidades de vendas.

A sexta sugestão tinha como título “Lugar para Estacionar” e propunha que as

diversas lojas localizadas na Rua das Flores, firmassem convênios com estacionamentos

próximos de forma a dar maior comodidade a seus clientes. A falta de locais para

estacionar veículos no centro era um dos maiores empecilhos encontrados pelos

comerciantes da região central da cidade. Isso forçava o comércio a oferecer um mix de

mercadorias mais populares, porque a clientela que se utilizava do comércio central era em

grande maioria de menor renda. Assim, as lojas de produtos mais finos, que formavam o

comércio mais para a população de classe A, estavam migrando para os shoppings centers

ou regiões onde existia facilidade de acesso e estacionamento.

A reportagem confirma o acima descrito desde a primeira sugestão e em ordem

cronológica as demais, quando registra:

A criação de um condomínio comercial é apontada pelo comerciante

Camilo Turmina, diretor executivo da Associação Comercial do

Paraná e dono de uma joalheria na Rua XV de Novembro, como

uma das salvações para o calçadão. “O lojista individualmente não

faz nada. É preciso a força de uma administração central”. [...] O

condomínio também centralizaria a organização de eventos e a

divulgação de promoções, e seria capaz de estabelecer metas e

cobrar resultados dos comerciantes. A administração central teria

maiores condições de tornar realidade as outras intervenções

sugeridas para aproveitar o potencial comercial da Rua das Flores.

Alem disso teria força para cobrar do poder público investimentos

em segurança, limpeza, urbanização e outros que não são de

responsabilidade exclusiva dos lojistas. (JORNAL GAZETA DO

POVO, 2006, p. 2).

Mais adiante a reportagem afirma quanto a segunda proposta:

A Rua das Flores tem câmeras de segurança que observam os

frequentadores 24 horas por dia, além de policiais que por ali

circulam. Mas isto é pouco, diz a proprietária da Confeitaria das

Famílias, há 61 anos no calçadão, Dair da Costa Terzado. [...] A

iluminação também é considerada insuficiente em alguns pontos. “A

rua é uma vitrine de Curitiba, e assim deve ter a ousadia de se

mostrar”, [...] O investimento em segurança, com o aumento no

efetivo de policiais e a instalação de mais câmeras de vigilância, é

apontado como uma das saídas para levar mais pessoas a

frequentarem o calçadão. “Mas não adianta nada tirar os assaltos

da XV e eles acontecerem nas transversais ou na Marechal

Deodoro”, analisa o presidente da Associação dos Lojistas da Rua

117

das Flores, Jacques Rigler. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p.

2).

A reportagem afirma ainda no que tange à terceira proposta:

Aumentar o horário de funcionamento das lojas seria uma maneira

de não deixar que o comércio da XV “morresse” após as 19 horas

todos os dias. [...] O presidente da Associação dos Lojistas, Jacques

Rigler, luta para conseguir firmar um acordo coletivo de trabalho

entre comerciante e funcionários. “A gente tem que fechar às 19

horas, mas o shopping fica aberto até às 22 horas. Queremos um

acordo coletivo, porque para se fazer um acordo individual é muito

mais difícil.” [...] “O grande volume de vendas está no segundo

turno, entre as 16 e 22 horas. É depois da atividade profissional que

o consumidor vai às compras” [...]. Os shoppings também estão

lotados nos finais de semana, enquanto a XV está deserta.

(JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).

Quanto à quarta proposta a reportagem afirma:

Ela é a Rua das Flores, só que as flores lá pouco existem, ironiza

Jacques Rigler, da Associação dos Lojistas, para quem a XV precisa

de uma mudança radical no visual. Ele sugere que o segundo andar

das lojas, usado como estoque pela maioria dos comerciantes,

receba um “make-up”. Eles (os lojistas) poderiam colocar flores nas

varandas, o que tornaria a rua um local aprazível. Rigler também

defende que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba (IPPUC) desenvolva projetos paisagísticos para o calçadão.

Na opinião dele, cada quadra poderia ter uma “cara” diferente, que

seria reconhecida facilmente pelos pedestres. [...] A marca já foi

construída, as pessoas reconhecem a rua como o centro, [...].

(JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).

Para a quinta proposta a reportagem afirma:

O calçadão da Rua das Flores poderia dar lugar a uma feira de

ponta de estoque, sugere o proprietário da Camilo Joalheiros,

Camilo Turmina. “Cada Cidade pequena da Itália escolhe a sua rua

principal e as lojas montam barracas para vender o que está

estocado. As pessoas teriam oportunidade de comprar barato e o

comerciante de girar seu estoque”, propõe o empresário. Ele diz que

a colocação da ideia em prática já é estudada pela Associação

comercial do Paraná (ACP). “Seria aos domingos, junto com a feira

da Ordem”, afirma, [...]. Jacques Rigler, da Associação dos Lojistas,

também considera que a Rua XV de Novembro pode ser palco de

feiras temáticas, nos fins de semana. Seria um motivador para a

118

abertura das lojas, já que haveria movimento no calçadão. (JORNAL

GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).

A sexta proposta da reportagem afirma:

Os shoppings não são exatamente a principal concorrência ao

comércio da rua, mas sim a facilidade de se chegar até eles. A Rua

XV tem alguns estacionamentos em volta como o shopping, onde

você deixa o carro por três hora e paga apenas R$ 3?, questiona o

superintendente do Estação, Marco Aurélio Jardim Filho. A resposta

vem do comerciante Camilo Turmina: “Se ela ficar com o carro

estacionado nas proximidades da XV, vai gastar R$ 10”. Mas Jardim

Filho, especialista na revitalização de centros comerciais, pondera

que a falta de lugar para estacionar não é exatamente o problema.

“Poderia haver um mix de lojas para o público que vem de ônibus.

Um erro é colocar lojas classe A, para quem vem de carro, quando

não há estacionamento ao redor”, explica. Para resolver este tipo de

problema, Turmina, proprietário da Camilo Joalheiros, sugere que as

lojas firmem convênios com os estacionamentos próximos ao

calçadão para oferecer descontos aos clientes, assim como ele

próprio faz para sua loja. “Senão, a pessoa vai preferir comprar

sempre no shopping. É mais seguro mais confortável e mais barato

para deixar o carro”, admite. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p.

2).

Finalizando, a reportagem acima mostrava mais uma ação de união dos lojistas de

maneira cooperada como forma de promover o Calçadão em suas áreas de atividade.

Assim de forma cooperada, com um sistema administrativo centralizado tiram a ação

individualizada dos lojistas, que não produzem efeitos, diante de uma necessidade coletiva.

Desta forma, todos os lojistas unidos por meio da associação, ganham maior força nas

reivindicações legitimas em prol de que haja o desenvolvimento socioeconômico da via.

Observa-se que as propostas visavam promover o sistema cooperado para o

comércio ali instalado, em sua grande maioria há alguns anos. Contudo, até hoje este vem

se mantendo de forma individual. Assim desta forma, individualizada, não conseguem

incentivar a via como um todo, de forma pontual, cada lojista consegue poucos resultados

ou resultados de baixo rendimento. Com a união em associação e com uma proposta

comum a todos seria mais fácil obter melhores resultados. A ideia de um comando central

daria às medidas e propostas comerciais maior força econômica, ainda que se tratasse de

um espaço público, onde a manutenção física não competia aos que nele trabalham. Esta

é uma competência do Poder Público, que via de regra não age de forma individualizada,

mas, sim abrangendo toda a comunidade. Neste caso, estando o comércio unido sob a

forma de um condomínio, o Poder Público atenderia a toda uma região ou comunidade.

119

Enfim, a transformação sócio-comercial da estrutura do Calçadão com uma política

participativa privada e um comando central, daria maior visibilidade ao Calçadão e por

conseguinte melhoraria as atividades socioeconômicas.

A figura 34 mostra o Palácio Avenida, na Rua das Flores, totalmente decorado

para a 18ª edição de apresentações natalinas do coral de crianças do Banco HSBC em

Curitiba.

Figura 34 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – Natal do Palácio Avenida. (2008).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo.

Autor: Pedro Serapio.

A reportagem do Jornal Gazeta do Povo que faz referência à figura 34 tem como

título “Coral emociona o público no Natal do Palácio Avenida – Milhares de pessoas

assistem, encantadas, à apresentação de 160 crianças cantoras no Centro de Curitiba”

(GARCIA, 2008).

A reportagem afirma que se as pessoas pudessem ver, nos bastidores, as 160

crianças, todas silenciosas, prestando atenção, antes da apresentação às orientações de

como deveriam se apresentar, não conseguiria imaginar a empolgação destas quando

começa o espetáculo. As apresentações encantam um público de milhares de pessoas que

assistem ao espetáculo natalino, desde curitibanos a turistas de várias cidades do estado e

do país. Em 2008 estava sendo esperado um público de cerca de 200 mil espectadores.

Com máquinas fotográficas, o público que lotava o calçadão da Rua XV de novembro,

fotografava as janelas do Palácio Avenida onde o coral de crianças fazia a apresentação.

Como acontecia todos os anos, juntamente com o coral, uma atriz ou ator fazia

uma apresentação teatral em uma das janelas, com temas ligados ao espírito das festas

natalinas. Naquele ano tinha sido convidado o ator Fúlvio Stefanini para a exibição. Com

uma peça teatral já predeterminada, o ator faria o papel de um executivo durão que tentava

120

voltar a ser criança e para tal teria que passar por algumas provas criadas pelas crianças, o

que, como explicou o produtor do evento, daria um clima mais divertido ao evento. De

acordo ainda com o produtor do evento, muitas crianças do próprio coral não tinham

assistido nem aos ensaios da peça teatral, o que seria surpresa também para elas.

Nos bastidores, algumas crianças antes do início da apresentação, se mostravam

tranquilas e seguras, enquanto outras se apresentavam um pouco nervosas, diante do

espetáculo que iriam apresentar. Assim, junto a cada uma das crianças, atrás de uma das

janelas, estavam pessoas, denominadas anjos, que auxiliavam no trabalho de troca dos

adereços, que acontecia após a apresentação de cada canção. Um deles dizia que o

importante para um anjo era estar motivado e alegre, para que desta forma pudesse

animar e ajudar as crianças antes e durante as apresentações.

Dentre as pessoas que assistiam a apresentação do coral, curitibanos e turistas, a

opinião quanto ao espetáculo era unânime, diziam ser maravilhoso e de encanto e beleza.

A reportagem em questão confirma o acima descrito quando declarava:

Quem visse as 160 crianças do coral do HSBC todas silenciosas

recebendo as últimas orientações antes do espetáculo não poderia

esperar por uma apresentação com tanto ânimo e empolgação.

Diante de um público de milhares de pessoas, o principal evento

natalino de Curitiba encantou moradores da capital e,

principalmente, turistas de várias cidades do país. (GARCIA, 2008,

s/p.).

Mais adiante a reportagem narrava:

[...] Lá no alto, o ator Fúlvio Stefanini vivia um executivo austero e

durão que tentava voltar a ser criança. E, para reviver o espírito

infantil, ele teve de passar por algumas provas criadas pelas

crianças. “Essa é a diferença do espetáculo deste ano: um clima

mais divertido e brincalhão”, explicou o produtor do evento,

Leonardo Kehdi. (GARCIA, 2008, s/p.).

Quanto à apresentação das crianças a reportagem afirmava:

A pequena Giovana de Araújo, de 10 anos, era uma delas. Inquieta

antes de as cortinas da janela a sua frente se abrirem para o

público, ela não escondia o nervosismo. “Dá um friozinho na

barriga”, disse. Quanto à música preferida, Giovana tinha o nome

na ponta da língua: Aquarela. Já Pedro Dias, de 13 anos, que

também fazia a sua estreia, esbanjava confiança. “Estou tranqüilo.

As músicas e a coreografia são fáceis”, brincou. [...] Atrás de cada

janela, os chamados anjos ajudavam as crianças com as dezenas

121

de adereços que eram trocados a cada canção. Segundo Sílvia

Malinauskas, o mais importante para um anjo é estar ainda mais

motivado e alegre que as próprias crianças. “Embora ninguém veja

a gente, também precisamos cantar para animar os meninos”,

revelou, pouco antes do início da apresentação. (GARCIA, 2008,

s/p.).

Quanto ao público que assistia ao espetáculo, a reportagem registrava:

Encantada com o que via, Antonieta Campista, que veio de

Teresópolis, pôde conferir de perto o coral de que tanto tinha

ouvido falar. “É mesmo um espetáculo maravilhoso”, disse, sem

tirar os olhos das janelas. A curitibana Lilian Nadalin, por outro

lado, acompanha o coral do HSBC todo ano e acredita que o

evento não perde o encanto e a beleza. “A cada ano, temos uma

surpresa nova. Além do mais, criança é tudo de bom”, afirmou

(GARCIA, 2008, s/p.).

A reportagem acima mostra uma política sociocultural e de assistência social, haja

vista ser o coral formado por crianças carentes, mantidas por uma instituição privada e

assistida pelo, HSBC, sendo, portanto de grande incentivo sociocultural. As apresentações

do “Coral do Palácio Avenida”, além de artísticas e culturais, davam ao Calçadão uma

movimentação maior ao comércio ali instalado, o que proporcionava a este mais

oportunidades de vendas. Assim, mesmo que por poucos dias, elas faziam girar a

economia pela atração turística que se tornou ao longo dos anos.

Enfim, com mais esta atividade cultural, o Calçadão de Curitiba mostrava o avanço,

a diversidade e a dinâmica que existe nesta via, promovendo a cidade de Curitiba em

diversas áreas. Mesmo estando esta via constantemente procurando incentivar todas as

suas áreas de atuação, e enfrentado os limites de incentivo do Poder Público, continua

atuante pela união no entorno da Associação dos Lojistas. Assim, sempre procurando

avançar, mesmo a despeito das varias readaptações a que acabam sendo obrigados, haja

vista a situação econômica do país, sempre instável, os comerciantes continuavam sempre

se readaptando e se atualizando.

A figura 35 mostra a “Sala de Estar” do Calçadão de Curitiba, apresentando suas

floreiras e o chafariz, no trecho entre a Rua Doutor Muricy e a Avenida Marechal Floriano.

122

Figura 35 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro – Sala de Estar. (2011).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

A reportagem que faz referência à figura 35 tem como título “OPINIÃO DO DIA - O

verdadeiro centro cívico da Curitiba” (DUDEQUE et al., 2011)

A reportagem do Jornal Gazeta do Povo colocava o “Calçadão de Curitiba”, Rua

das Flores como um espaço público, “cívico”, no sentido amplo da palavra, haja vista ser

um local de encontro e onde de tudo se discutia. Afirma que em verdade o centro cívico de

Curitiba era o Calçadão da Rua das Flores, onde as pessoas se reuniam para conversar,

era o palco da democracia.

Conforme afirmava a reportagem, segundo o romano Marcus Tullio Cicero, “a

definição de que a reunião de pessoas forma a cidade (civis), enquanto que o conjunto de

edifícios forma a urbe”. Esta definição no século 13 repercutiu de tal forma que provocou

sermões do teólogo dominicano Alberto, O Grande, dizendo que “uma cidade não é feita

de pedras, mas de homens”. Já Jean-Jacques Rousseau, no século 18, numa nota de “O

Contrato Social”, afirmou que o verdadeiro sentido da palavra cidade relacionava-se aos

cidadãos, ou seja, “os edifícios, as ruas, as calçadas, os bueiros e todas as outras coisas

tangíveis formam a urbe”. Já “a cidade – civis - é o conjunto das relações estabelecidas

entre pessoas”.

Saindo do âmbito das definições, a reportagem citava que a Rua das Flores era

“cívica”, era um local de encontro da cidade, onde de tudo se discutia falando mais

especificamente da “Boca Maldita” em que, no exercício da democracia, se discutem

diversos assuntos e opiniões, e que muitas delas acabam estampadas nos jornais do dia

seguinte.

123

A reportagem citava comparativamente que, ao contrário da movimentação que

acontecia na Rua das Flores, dito como “cívico”, o real Centro Cívico do Paraná, na

Avenida Cândido de Abreu, era um complexo de edifícios onde se centralizavam diversas

repartições públicas. Durante os dias úteis se observava alguma movimentação,

principalmente de veículos, mas não se via aglomerações de pessoas e as poucas que por

ali circulavam pareciam estar perdidas entre os edifícios existentes.

O calçadão da Rua das Flores se assemelhava muito a uma praça do tipo linear,

tanto que na sua implantação em 1972, a Prefeitura não tinha uma classificação, ou

denominação para o empreendimento, chegando a pensá-lo como uma “rua-praça”. À

época, auge do governo militar, os mandatários não estavam interessados em proporcionar

lazer à população, principalmente com uma praça, assim de forma tecnocrata

denominaram de ruas destinadas à pedestrianização. Contudo, esta denominação não

esclarece a mistura que acontece no Calçadão, como a exposição de artistas, pintores,

malabaristas, além das reuniões de aposentados, juízes de direito, repórteres, profissionais

liberais e outros, formando uma diversidade cultural bastante interessante e de convivência

harmoniosa. Assim, dentro dessa diversidade existiam as passeatas que atravessavam

todo o Calçadão com reivindicações ou protestos, chegando na “Boca Maldita” para realizar

comícios de forma a achar que toda a cidade se inteirava dos interesses da manifestação.

Outro ponto de destaque da reportagem, era que ao desenvolver algum projeto no

nesta região, deveria ser levado em conta o potencial democrático desta, a exemplo do

projeto levado a cabo no trecho entre a rua Dr. Muricy e a Avenida Marechal Deodoro, um

espaço forma uma “sala de estar”, com banco, floreiras e chafariz, ambiente propício a se

sentar e ler um jornal, namorar ou apenas apreciar o movimento. Mesmo porque o fluxo

deste trecho da via foi desviado para as para as laterais, deixando a faixa central para o

convívio entre os que por ela transitam. Assim, este espaço poderia ser considerado o

centro cívico da cidade, haja vista ser este totalmente democrático e de encontro da

cidade.

A reportagem defendia o descrito acima quando dizia:

O calçadão da Rua das Flores é “cívico”, no sentido mais amplo da

palavra: o local de encontro e discussão da cidade. Todos os dias,

na Boca Maldita, pessoas reúnem-se para conversar, a atividade

arquetípica da civis e da democracia. (DUDEQUE et al., 2011,

s/p.).

Mais adiante a reportagem citava quanto às definições de civis e urbe:

124

O verdadeiro centro cívico de Curitiba é o calçadão da Rua das

Flores. As distinções entre duas palavras latinas ajudam a

esclarecer tal afirmação: civis e urbe. No século 18, Jean-Jacques

Rousseau, numa nota de O Contrato Social, afirmou o verdadeiro

sentido da palavra cidade relacionava-se aos cidadãos. Ou seja: os

edifícios, as ruas, as calçadas, os bueiros e todas as outras coisas

tangíveis formam a urbe. Já a cidade – civis – é o conjunto de

relações estabelecidas entre pessoas. O adjetivo “cívico” deriva de

civis. (DUDEQUE et al., 2011, s/p.).

Na sequencia ela afirmava:

O calçadão da Rua das Flores é “cívico”, no sentido mais amplo da

palavra: o local de encontro e discussão da cidade. Todos os dias,

na Boca Maldita, centenas de pessoas reúnem-se para conversar,

a atividade arquetípica da civis e da democracia. Conversando,

antecipam muitos dos assuntos e opiniões que os jornais divulgam

na manhã seguinte. Ao contrário dessa pulsação, o chamado

Centro Cívico do Paraná (no início da avenida Cândido de Abreu)

apenas centraliza repartições públicas. Nas horas de expediente,

quem passa pela região vê muitos automóveis e poucas pessoas.

Nos fins de semana e nos feriados, resta a desolação. Os poucos

caminhantes que se arriscam a vagar entre os edifícios não se

sentem como parte da civis sugerida pelo adjetivo cívico. Sentem-

se como a decoração de uma maquete, perdidos entre belos

volumes arquitetônicos. (DUDEQUE et al., 2011, s/p.).

A reportagem corroborava, ainda, com o exposto quando dizia:

A prefeitura de Curitiba chegou a falar em “rua-praça”. Mas o país

vivia o auge de uma ditadura, que não estava interessada nos

lazeres proporcionados por uma praça. Isso reduziu as

possibilidades interpretativas das ruas calçadas, por meio de um

pedantismo tecnocrático: pedestrianização. A obsessão com o

mero fluxo combinava com o ambiente político. Mas o termo

pedestrianização jamais esclareceu a mistura diária de artistas,

profissionais liberais, repórteres, sanfoneiros cegos, aposentados,

pintores, hare-krishnas, malabaristas, travestis, juízes de direito e

de futebol, evangélicos, deputados, mendigos e toda a diversidade

urbana. O termo pedestrianização jamais esclareceu por que, a

partir da redemocratização do país, um dos objetivos de quase

todos os movimentos de protesto ou reivindicação em Curitiba seria

atravessar a Rua das Flores em passeata, chegar à Boca Maldita e

ali realizar um comício. Dessa maneira, parecia que toda a cidade

de Curitiba inteirava-se do conteúdo da manifestação. (DUDEQUE

et al., 2011, s/p.).

125

A reportagem reafirmava ainda que:

Qualquer projeto para o Centro deve resolver aspectos técnicos e,

ao mesmo tempo, destacar o potencial democrático da região. Um

bom exemplo é o trecho da Rua das Flores entre a Dr. Muricy e a

Marechal Floriano. Há, ali, canteiros, bancos de praça e uma fonte.

Com tais elementos, os divulgadores da pedestrianização

rebelaram-se contra a própria criação, melhorando-a. Alguém

preocupado exclusivamente com rendimento e eficiência

argumentará que tais equipamentos atrapalham os fluxos de

pedestres. Mas uma cidade (tal como a vida) não é feita só de

eficiência. Namorar num banco, ler um jornal ou assistir as

performances de malabaristas mambembes são atividades

citadinas tão dignas e necessárias quanto fluir. (DUDEQUE et al.,

2011, s/p.).

A reportagem reafirmava o Calçadão como um espaço democrático, dando a este

uma conotação de espaço cívico, visto que ali todos podiam discutir quaisquer assuntos

sem restrições, o que demonstrava a liberdade de expressão. Isto, para um projeto criado

dentro de uma liberdade restringida pela ditadura mostrava o avanço, muito embora

houvesse civismo. A comparação feita, a meu ver, é um tanto esdrúxula, pois o local

citado era cívico, mas não determinante à administração citadina.

Esta, a administração citadina, tinha o seu local próprio determinado como centro

administrativo, o Centro Cívico, com a visão do ponto de vista da administração pública,

enquanto que o que acontecia no calçadão era uma exposição de ideias e ideologias a

favor e contra aos atos tomados pelo Poder Público.

Assim os atos ou atitudes acontecidos no Calçadão deviam ter seu valor aferidos,

e podiam ou não serem levados em conta, servindo apenas como medida ou termômetro,

o que não queria dizer que estavam corretos ou refletiam a expressão do real

pensamento dos administradores ou da população. Mesmo assim deviam ser levados em

conta como reflexo do que pensava parte da população e, se viáveis, deviam ter a devida

atenção das autoridades como amostragem das atitudes tomadas ou a serem tomadas.

A figura 36 mostra o arquiteto responsável pelas transformações acontecidas no

Calçadão ao longo dos 40 anos de existência.

126

Figura 36 – Mostra o arquiteto Abrão Assad, responsável pelas transformação da Rua XV

de Novembro em Calçadão. (2012).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo.

Autor: Ivonaldo Alexandre.

A reportagem que referenda a figura acima tem como título “Urbanismo: a vitória

do pedestre 40 anos depois” (JUSTINO, 2012, s/ p.). A reportagem se reportava aos anos

70, quando a Rua XV de Novembro foi fechada ao tráfego de veículos, e instituída como

via exclusiva para pedestres. Esta reportagem inicia citando a Rua XV de Novembro em

1972, rememorando os seus quarenta anos de existência, ou seja, desde quando

começou a ser implantado o Calçadão de Curitiba. Este acabou virando símbolo da

cidade, por ser a primeira rua sem tráfego de veículos e de uso exclusivo para pedestres.

Assim, proporcionou à população da cidade uma rua humanizada, com comércio e lazer,

sem tráfego de veículos. Esta medida já estava contemplada no Plano Diretor de Curitiba

aprovado em 1966, o que era a formulação da tese de que a cidade deveria ser do

homem e não dos veículos automotores. A reportagem citou a cronologia programada

para implantação inicial da obra, as suas fases, e os motivos pelos quais esta era

necessária, sendo o principal destes os intermináveis congestionamentos de veículos na

via. Esta medida tinha a intenção de revitalizar a via que à época era palco de

congestionamento de veículos e pedestres, que eram obrigados a dividir o mesmo espaço

de circulação, mesmo porque esta sempre foi a principal via da cidade.

127

Na sequência, a reportagem apresentava a entrevista com o ex-prefeito de Curitiba,

Jaime Lerner, que em poucas respostas resumiu a importância da intervenção, mesmo na

contramão do que acontecia em outras cidades do Brasil. Citou resumidamente que estava

investindo em um sistema de planejamento onde o homem deveria ser o privilegiado,

principalmente nas áreas centrais da cidade, dando a este a condição de circular pelo

centro em vias exclusivas, sem o tráfego de veículos. E descreveu na entrevista que mais

importante do que estar no contra fluxo do desenvolvimento que muitas outras cidades

previam, era estar incentivando as atividades de forma a promover a reunião de pessoas, o

que era mais importante para a revitalização da cidade, e não apenas a execução física de

uma obra.

O arquiteto Abrão Assad falou que lembrava quando fez o mesmo trajeto,

comparando com um veículo na Rua XV, da Praça Osório à Praça Santos Andrade em

menor tempo que o veículo, o que demonstrava que a velocidade na via era muito lenta e

que a pé era mais rápido. Assim ficou demonstrado que a via deveria ser revitalizada e que

a forma adotada à época foi a mais recomendável. Assad, lembrou ainda, que um dos

donos de uma loja, “Capital das Modas” o chamou quando estava demarcando os locais

onde deveriam ser plantadas as árvores, em pleno asfalto, e que este lhe pediu que nada

fosse feito em frente a sua loja. Mais tarde, passado algum tempo, o mesmo comerciante

lhe perguntou o porquê nada tinha sido feito em frente à sua loja e que tinha gostado das

mudanças que haviam acontecido.

Finalizando, Assad citou que a via deveria ser de circulação e também de

permanência das pessoas, como um lugar aprazível e que desenvolveu todo um mobiliário

urbano para compor o visual da via. Na época da entrevista, apesar de ter sido readaptada

às novas situações, principalmente na área econômica, a rua continuava atualizada e

dando a sua contribuição às funções da cidade, principalmente por atender ao principio da

humanização. Assim, continuava sendo um dos principais símbolos da cidade, mesmo

tendo que se readaptar às atuais condições socioeconômicas, continua tendo em seu bojo

os princípios iniciais pelos quais foi concebida.

A reportagem acima descrita, em seu texto do jornal, corrobora, quando citava:

Em um fim de semana de maio de 1972, a Rua XV de Novembro

começou a ganhar um imenso calçadão e se tornou símbolo de

resistência ao automóvel. [...] À época, o trânsito era complicado

nas vias que formavam o anel central. Afinal, na capital

paranaense havia um automóvel para cada dez habitantes – cerca

de 60 mil veículos – e muitos deles tinham o Centro como destino.

Era ali que se concentravam os bancos, as lojas e os cinemas: não

128

havia shoppings, o Pinhais Expotrade seria inaugurado somente

em 1979 e o Mueller, que popularizaria o conceito de compras in-

door na cidade, seria aberto apenas em 1983. (JUSTINO, 2012,

s/p.).

Mais adiante, seguiam palavras do arquiteto e ex-prefeito Jaime Lerner:

Quebrar o paradigma foi tão importante quanto à revitalização.

Prefeito em 1972, Jaime Lerner encabeçou a revitalização da Rua

XV de Novembro, uma medida que, a priori, não agradava a maioria

dos comerciantes da região:

Qual a importância da intervenção na Rua XV?

Ela ocorreu no momento em que outras cidades investiam em obras

para o automóvel. Nós trabalhamos no contrafluxo disso. Porém o

mais importante não foi a obra física do calçadão, mas a

revitalização urbana, estimulando atividades que reuniam gente.

Qual era a situação da rua na década de 70?

Não havia condição de todo o trânsito da cidade continuar passando

pelo Centro, como estava ocorrendo. Decidimos fechar e tínhamos

de fazer rapidamente para evitar demandas judiciais que

inviabilizariam a continuidade das obras – e para ter um trecho para

efeito de demonstração. Se a obra fosse parada, nunca mais seria

retomada. Quando ficou pronto, aqueles comerciantes que haviam

assinado uma petição para parar a obra entregaram uma cópia

desse documento para mim, como souvenir. Eles tinham aprovado

as obras.

Qual foi a dinâmica das obras?

A obra começou na sexta-feira e na segunda-feira de noite um

trecho estava concluído, passadas 72 horas. Anteriormente, quando

perguntei ao secretário de obras quanto tempo a obra levaria, ele

me disse cinco meses. Eu pedi em 48 horas. Ele falou: “Você está

louco!” Após muita negociação, ele disse que poderíamos fazer algo

em três dias. Fizemos, quebramos um paradigma e foi aberta uma

legitimidade para as outras mudanças que vieram depois.

(JUSTINO, 2012, s/p.).

E continuava a reportagem afirmando:

À época, o trânsito era complicado nas vias que formavam o anel

central. Afinal, na capital paranaense havia um automóvel para

cada dez habitantes – cerca de 60 mil veículos – e muitos deles

tinham o Centro como destino. Era ali que se concentravam os

bancos, as lojas e os cinemas: não havia shoppings, o Pinhais

Expotrade seria inaugurado somente em 1979 e o Mueller, que

popularizaria o conceito de compras indoor na cidade, seria aberto

apenas em 1983. Era pelas ruas que as pessoas circulavam, mas

129

a artéria principal da capital estava congestionada. “Fiz um teste.

Andei da Praça Osório até a Praça Santos Andrade na direção do

fluxo e cheguei antes de um automóvel que fazia o mesmo trajeto”,

diz o arquiteto Abrão Anis Assad, que foi chamado pela prefeitura,

por meio do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba (Ippuc), para realizar o projeto de revitalização da rua. “Era

uma necessidade de afirmação: precisávamos assinalar que o

homem era mais importante do que o carro”, recorda o presidente

do Ippuc à época, Lubomir Ficinski. (JUSTINO, 2012, s/p.)

Outro ponto ressaltado na reportagem é que:

A rua não tinha que ser um local apenas de circulação, mas

também de permanência”, conta Assad, que desenvolveu o

mobiliário urbano que marcou para sempre a feição da cidade, com

floreiras, quiosques, os clássicos domos roxos, as luminárias de

globos transparentes e a torre de informações culturais. Um ano e

meio depois, a Rua XV ganhou a sua imagem símbolo: o bondinho.

(JUSTINO, 2012, s/p.).

Finalizando, a reportagem mostrava que, após 40 anos de implantação, o

“Calçadão de Curitiba”, mesmo tendo que se readaptar durante toda a sua existência às

varias condições socioeconômicas, ainda estava em voga. Assim demonstrava que o

urbanismo, de vanguarda à época, promoveu muitos avanços que perduraram até os dias

de hoje, após suas quatro décadas de existência. Isto demonstrava que a política

implantada, à época, prevista ao final da década dos anos 60, no Plano Diretor de Curitiba,

era visionária. Era um planejamento consistente a tal ponto de ter uma visão global de

desenvolvimento, em todas as áreas do urbanismo, de forma a dar um planejamento

citadino que perdurasse por muito tempo, promovendo avanços e desenvolvimento à

cidade.

Ao final desta década, 2002 a 2012, observou-se que o Calçadão se manteve em

desenvolvimento na área social, conforme citado por, Gonçalves Jr. et al. (1991, p. 18),

quando conceitua urbanismo. Contudo, na área econômica, para se manter, ressalte-se os

conceitos citados por Castells (1983), foi obrigado a adaptar o comércio à realidade

financeira da classe social que se utiliza da via para fazer compras. Assim, como citado

nas reportagens acima expostas, o Calçadão foi aos poucos transformando o comércio

local em lojas mais populares de forma a poder continuar se desenvolvendo e avançando.

130

4.1.5 Quatro décadas de avanços: o olhar de síntese.

Os avanços acontecidos desde o início de implantação do Calçadão de Curitiba,

no ano de 1972, devem ser considerados realmente como avanços, excetuado o caos

instalado quando na referida via onde circulavam veículos automotores e pedestres. Antes

os veículos causavam problemas que iam desde congestionamentos intermináveis até

riscos às pessoas, pedestres, que por ela transitavam sem qualquer segurança, fazendo

com que via “agonizasse” tanto na área social como na econômica. De acordo com

Castells (1983), as cidades são compostas de diversos fluxos e compete ao urbanismo

propor soluções que organizem os espaços. Era esta a pretensão do projeto para a área

central da cidade como forma de solução diante do problema instalado. E mais, tudo

estava apoiado no Plano Diretor da Cidade de Curitiba, Lei nº 2828 de 1966, já previa o

fechamento ao tráfego de veículos, de algumas vias e dentre elas a Avenida Luiz Xavier e

a Rua XV de Novembro.

Com isto, a implantação do calçadão promoveu a humanização da via, dando

novas formas de lazer à população como também revitalizando o comércio da região. O

calçadão, dentro da proposta a que foi concebido, cumpriu e continua cumprindo seu

objetivo ao longo destes anos de sua existência, considerando uma as funções da cidade,

que é a de promover ações de forma a dar à população qualidade de vida. Desta forma,

independentemente das necessidades de se revitalizar a via, de maneira a dar condições

de continuidade ao processo instalado, é necessário que as autoridades locais, procurem

promover constantemente programas e projetos para a via. Com estas políticas deverá

promover progressos e os avanços, na área socioeconômica, dando condições à via em se

manter dentro dos propósitos a que foi implantada. Castells (1983), diz resumidamente que

os espaços estão sempre em transformações, tanto na área física como na populacional, e

sempre são necessárias constantes revisões das políticas implementadas. Isto posto, os

comerciantes e as associações que os representam, não têm condições de manter o

desenvolvimento sem que hajam políticas adequadas. Assim, resta ao Poder Público

implementar políticas socioeconômicas e constantemente atualizá-las de forma a promover

as condições necessárias para permitir que o Calçadão se mantenha em constante

ascensão.

De acordo com Gottdiener (1997, p. 52), a demanda eleva a preferência do

consumidor por um determinado local, quando forças se articulam para determinado

espaço. Mesmo que estas negligenciem fatores sociais que levem a outros locais, mas

tudo isto está ligado aos programas de governo que direcionem estes fatores.

131

Ao longo das várias reportagens ficou claro que era necessário que o Poder

Público investisse não às cegas, mas dentro de políticas propondo investimentos em

setores que tivessem a probabilidade de alavancar avanços e progresso, de forma a dar

suporte e promover a qualidade dos serviços prestados. Assim deve o Poder Público olhar

com bons olhos, de forma a manter o Calçadão como uma via importante da cidade, que é

um cartão postal, promovendo Curitiba como um polo da atração turística. Mesmo a

despeito de todos os shoppings centers que, nas décadas dos anos 80 e 90, se instalaram

e fixaram posições de forma a dar endereços “in doors”, que concentram locais de compras

com grande diversidade na oferta de produtos. Mas como citado em reportagens

anteriores, em dimensão e número de lojas, o Calçadão de Curitiba é maior e circulam

diariamente nele uma grande quantidade de pessoas.

4.2 RETROCESSOS

Agora se iniciará a exposição das imagens fotográficas e reportagens relatando os

retrocessos acontecidos desde a sua implantação no ano de 1972.

4.2.1 Década 1972 a 1982

A figura 37 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, ainda recém fechada

ao tráfego (1975), mas já com problemas que prejudicam o seu visual como via exclusiva

para pedestres.

Figura 37 Rua XV de Novembro – Rua das Flores. (1975).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

132

A reportagem que referenda a figura 37 tem como título “Alguns problemas

prejudicam a imagem da Rua das Flores”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).

A referida reportagem inicia com críticas à principal via da cidade de Curitiba que,

após ser transformada em via destinada a pedestres, pela falta de fiscalização do órgão

responsável, ainda recebia constantemente o tráfego de veículos. A reportagem afirma que

isto não poderia acontecer e somente seria explicável para casos de emergências, como

carros de bombeiros ou outro tipo de emergência. Mas veículos de estabelecimentos

bancários constantemente circulavam pela via durante o dia e alguns veículos que faziam

reparos e manutenção de instalações, principalmente na área de comunicações,

trafegavam pelas calçadas durante o dia e também à noite. Estes veículos causavam

transtornos na via e medo aos pedestres, que podiam ser atropelados. Tal movimento foi

provocando danos ao mobiliário urbano, como os canteiros de flores, vasos das floreiras e

também à proteção destes vasos (feita de madeira), que ficavam quebrados por muito

tempo sem que houvesse conserto ou substituição dos mesmos.

Outro problema citado pela reportagem era quanto à presença neste local de

vendedores ambulantes e camelôs, que denegriam a imagem da via que era ponto turístico

da cidade. A reportagem dizia que no trecho próximo à Rua Monsenhor Celso, alguns

vendedores de doces e pipocas, além de atrapalharem o trânsito de pedestres ainda

sujavam todo o local.

A reportagem confirmava o descrito, quando citava:

A Rua das Flores, principal artéria da capital paranaense, ponto

comercial dos mais movimentados e motivo de atração turística,

apresenta alguns problemas que faz com que sua verdadeira

imagem seja empanada. Tais problemas dizem respeito ao tráfego

de veículos, à presença de alguns vendedores ambulantes e à falta

de cuidado para com os canteiros de flores. [...] O que ocorre é que

a Rua das Flores, segundo se entende é destinada ao tráfego de

pedestres, exclusivamente, exceto em casos de emergências,

quando se faça necessário a presença de veículos dos bombeiros

ou algo semelhante. [...] veículos de empresas que prestam serviços

a estabelecimentos bancários ou realizam reparos dos meios de

comunicação, transitam pela via tanto durante o dia quanto à noite.

Ressalta-se que alguns desses veículos são de médio porte, tais

como camionetas e pequenos caminhões. Esses veículos, além de

causar temor nos pedestres, que receiam se atropelados, ainda

causam, vez ou outra, danos aos canteiros de flores, quebrando as

proteções de madeira e os vasos ali existentes. (JORNAL GAZETA

DO POVO, 1975, s/p.).

133

A reportagem registrava ainda quanto ao tráfego de veículos:

[...] o tráfego de veículos sobre a calçada é fato comum. Isto, tanto

de automóveis e caminhões de carga quanto de motocicletas,

colocando em perigo a vida dos pedestres. O fato acorre

principalmente no período noturno. [...] os motoristas de caminhões,

que fazem o abastecimento de bebidas aos estabelecimentos

comerciais da área, alem dos ônibus que conduzem turistas aos

hotéis locais. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).

Quanto aos vendedores ambulantes, a reportagem mostrava o seguinte:

Por outro lado, já começa a constatar-se a presença de vendedores

ambulantes e camelôs na citada via, pois, a fiscalização das

atividades dos mesmos, quanto à área em que devem atuar, não

está sendo feita como deveria. Em cruzamentos como o da Rua das

Flores com Monsenhor Celso, os camelôs se instalam e passam a

efetuar seu comércio tranquilamente. Há ainda vendedores de

pipocas e doces que, com seus pequenos veículos, além de

prejudicar o livre tráfego de pedestres ainda sujam o calçamento.

(JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).

Com o relatado acima, via-se o desrespeito à legislação pondo em risco a

população que transitava pela via e os danos causados acabavam sendo assumidos pelo

Poder Público. Isto porque pela falta de fiscalização do próprio Poder Público este mesmo

não tinha como imputar penalidades ou ressarcimento dos danos causados, visto que não

havendo fiscalização não havia como apontar culpados. Assim, era obrigação do Poder

Público rever os princípios pelos quais e para os quais o Calçadão de Curitiba ou Rua das

Flores tinha sido criado. Dentro destes princípios foi necessário elaborar um plano de

ações que regulamentava a utilização e promova a via, como também estancasse o

processo de desolação e desrespeito, pois isto provocaria o esvaziamento da via.

A figura 38 mostra danos causados por vândalos na Rua das Flores,

demonstrando a falta de educação e consciência da parte de algumas pessoas em

preservar o bem público.

134

Figura 38 Floreiras da Rua XV de Novembro – Rua das Flores. (1976).

Acervo: Jornal Diário da tarde – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem em foco tinha como título “População e Vandalismo – A população

ainda não está preparada para as inovações que estão sendo realizadas”. (JORNAL

DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).

A reportagem em questão citava que o mobiliário urbano instalado na Rua das

Flores estava alvo de vandalismo. No caso as floreiras, após o replantio de flores pelo

órgão municipal responsável pela manutenção, alguns vândalos destruíam quase tudo.

Havia certa apreensão por parte dos responsáveis quanto a uma possível depredação e

não se passaram três dias da inauguração para que as floreiras fossem destruídas.

Muitas floreiras foram quebradas e tiveram as flores arrancadas e jogadas ao

chão, por puro ato de vandalismo e sem qualquer motivo. De acordo com a reportagem

alguns pedestres classificaram esta atitude com “um ato revoltante e completamente sem

explicação”.

Diante do acontecido, o Governo do Estado promoveu uma campanha publicitária,

com filmes nas televisões e cartazes distribuídos na cidade, em que pedia a população

para conservar os bens públicos, pois estes pertenciam a todos e não eram exclusivos do

Poder Público. Contudo, as depredações continuavam e a Prefeitura Municipal de Curitiba

continuava insistindo, pois não queria chegar ao ponto de não mais replantar as flores

destruídas para não empobrecer o visual da via. Mesmo assim, a Prefeitura propunha

aumentar a fiscalização de forma ostensiva para conter o vandalismo, por não admitir que

uma cidade do porte de Curitiba, em seu estágio de desenvolvimento, se rendesse a esta

forma de intimidação.

Era necessário conscientizar a população em manter a coisa pública, pois era um

bem de todos e por este motivo devia ser respeitado, e desta forma o Poder Público devia

valer-se de instrumentos coibitivos de forma a não tolerar quaisquer abusos.

135

A reportagem confirmava o acima descrito quando descreve:

[...] Desta vez foram 113 floreiras de amor perfeito, colocadas no

ultimo sábado na Rua das Flores. Várias equipes da Diretoria de

Parques e Praças, órgão ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba,

passaram toda a madrugada de sábado afixando floreiras em toda a

extensão da rua e já pela manhã aquela via da cidade apresentava

um novo aspecto. Mas havia apreensão por parte da Prefeitura

Municipal quanto a possíveis estragos. Não passaram três dias e as

floreiras estão em grande parte destruídas. As flores foram

arrancadas e jogadas ao chão. Algumas floreiras foram quebradas e

acredita-se que mais de quarenta delas não estejam em condições

de uso. [...] Fontes ligadas à Prefeitura Municipal de Curitiba

acreditam que os responsáveis pelos atos de vandalismo agem

principalmente à noite e chegam a afirmar que foram avistados

vários casais de namorados, ontem por volta das 11 horas, se

utilizando das floreiras como sofá. No trecho da Avenida Luiz Xavier

alguns menores iam arrancando todas as flores uma a uma,

segundo alguns pedestres “um ato revoltante e completamente sem

explicação”. (JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).

Mais adiante a reportagem afirmava:

Recentemente campanha publicitária empreendida pelo Governo do

Estado incentivava a população a população a conservar os bens e

as coisas públicas. A campanha se intitulava “Campanha de

Conservação dos Bens de Todos” era composta de três filmes e um

cartaz com os dizeres: “Os bens do Estado são bens de todos. São

seus Conserve-os. Não danifique aquilo que você ajudou a

construir”. Estes cartazes foram espalhados por toda a cidade e os

filmes veiculados intensamente em várias emissoras de TV. No

entanto as coisas públicas continuaram a ser destruídas. [...] Já se

fala que a melhor solução é não mais plantar flores na Rua das

Flores e deixá-la somente uma via para pedestres, sem adornos de

qualquer espécie. Certamente ficará com um péssimo aspecto, mas

o povo terá que se conformar, pois toda a verba destinada a

embelezar a cidade já está se tornando onerosa, uma vez que todas

as tentativas de aplicação não encontram a receptividade esperada.

(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).

A reportagem registrava ainda uma solução alternativa:

Embora muita gente acredite que o melhor é não mais plantar flores

na Rua das Flores, ainda existe uma alternativa para a Prefeitura

Municipal de Curitiba: colocar ima intensa fiscalização naquela via,

aplicando sanções pesadas aos vândalos, porque não é admissível

em qualquer hipótese que uma cidade com o porte de Curitiba e

com tal estágio de desenvolvimento não possa abrigar execuções

dessa espécie. É preciso ensinar o povo, talvez de forma mais

eficaz e direta, que as coisas públicas devem ser respeitadas pelo

136

simples fato de serem públicas. É necessário valer-se de todos os

instrumentos legais para coibir os abusos. (JORNAL DIÁRIO DA

TARDE, 1976, s/p.).

Por fim, como finalizado na reportagem anterior, estes atos de vandalismo eram

efeitos da falta de educação da população, que destruía o mobiliário urbano, que era um

bem público, e pertencia a toda a população. O resultado destes atos de vandalismo não

se refletia apenas na má aparência da via, que nesta época já era ponto turístico da

cidade, mas também acabava por onerar os cofres públicos. Isto posto, a falha estava na

falta de segurança da via, o que devia ser revisto. Assim, se não houvesse repreensão a

simples atos de vandalismo, toda a segurança da via estaria fragilizada, o que afetava a

população, que deixaria de circular pela rua como também denegria a imagem da via como

ponto turístico. Não era o caso de deixar de fazer o replantio das floreiras, mas sim de

rever todos os conceitos da política de segurança pública até então aplicados, pois estes

deviam abranger não apenas o patrimônio público, mas também a segurança da população

e da via.

A figura 39 apresenta a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, com o seu visual

poluído pelas placas de propaganda afixadas nas fachadas das edificações.

Figura 39 Rua XV de Novembro – Rua das Flores – Poluição Visual. (1977).

Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.

Autor: Luiz Gevaerd.

A reportagem que referenda a figura 39 tem como título “A cidade que acabou

poluída pelos painéis”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977). A reportagem cita a

polêmica criada desde o ano de 1974, quando o Departamento do Patrimônio Histórico e

137

Artístico do Paraná tinha feito o tombamento Calçadão da Rua XV de Novembro. A

intenção era acabar com a poluição visual da via e que até o ano desta reportagem, 1977,

não havia conseguido chegar a nenhuma solução.

De acordo com a reportagem, já havia se passado três anos e a situação

continuava a mesma, sem solução, apenas poucas lojas por conta própria haviam retirado

as placas de propaganda.

A reportagem citava Jorge Menezes, programador visual, que dizia: “O que está

acontecendo naquele trecho, acredita, é um total desrespeito com a preocupação de

localizar fisicamente os cartazes”. Continuava dizendo que as placas escondiam as

construções históricas e ainda avançam por sobre a via, isto tudo feito a critério apenas

dos proprietários das lojas. Tudo o que estava acontecendo estava fora do controle e que o

órgão responsável devia tomar alguma atitude urgente a fim de controlar a situação.

A reportagem citava também o arquiteto Sergio Todeschini Alves, diretor do

Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico, que dizia ser preciso ter bom senso. As

placas de propaganda além de poluir visualmente, da forma como estavam afixadas,

perpendiculares às fachadas, ainda invadiam, mesmo que pelo alto, o espaço do Calçadão

que era público. Falava ainda que toda a via tinha sido tombada pelo patrimônio histórico e

isto obrigava os comerciantes a seguirem os tipos e formas de propaganda conforme

disposto em lei específica para imóveis tombados. Segundo a reportagem, o Departamento

de Patrimônio, em consulta à Procuradoria Geral do Estado, soubera que este problema

devia ser resolvido na esfera municipal. Na sequência, a reportagem afirmava que nem a

Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC) e nem o Instituto de Pesquisa e Planejamento

Urbano de Curitiba (IPPUC), tomaram qualquer posição a respeito, deixando a questão

sem solução. Consultada, a Associação Comercial do Paraná (ACP) também não se

posicionou sobre o assunto, se limitando a dizer que a Prefeitura Municipal era quem

fiscaliza e que ela era quem podia dizer se os comerciantes estavam ou não cumprindo as

determinações legais. Contudo, dizia que algumas lojas estavam realmente feias, mas que

sobre o assunto a prefeitura é quem deveria se manifestar.

A reportagem voltava a citar Jorge Menezes, já qualificado anteriormente, que

resumidamente dizia haver uma regulamentação específica para a publicidade em vias

públicas, mas que não era seguida e nem fiscalizada, e não sabia a que ponto as

autoridades municipais eram condescendentes com o que estava acontecendo. Ele definia

ainda o que entendia por poluição visual, e propunha que as fachadas dos prédios antigos

fossem conservadas ou reconstituídas, dizendo que na maioria das vezes as propagandas

apenas eram um revestimento que envolvia as edificações com outros materiais, e que

estes podiam ser facilmente retirados.

138

Para o arquiteto Sergio Todeschini, era importante a preservação dos edifícios

como fator histórico e que deviam ser mantidas as fachadas por fazerem o contraste do

antigo com o novo, de forma a existirem pontos referenciais.

A reportagem confirmava o acima citado quando afirmava:

Uma polêmica até hoje sem solução, foi criada em 1974, quando o

Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná

resolveu tombar o calçadão da chamada rua XV. Um dos objetivos

era dar um paradeiro à poluição visual ali reinante. Trazer à vista

dos pedestres as fachadas dos prédios que lembram o início do

século. [...] O vale tudo não é válido, na opinião do programador

Jorge Menezes. O que está acontecendo naquele trecho, acredita, é

um total desrespeito com a preocupação de localizar fisicamente os

cartazes. Estes não apenas escondem obras arquitetônicas que

retratam uma época, como também avançam para o meio da rua,

um metro, dois metros, enfim quanto o proprietário de um

estabelecimento comercial julgar necessário. (JORNAL DIÁRIO DO

PARANÁ, 1977, s/p.).

Mais adiante a reportagem citava a afirmação de Sergio Todeschini Alves:

Sergio Todeschini Alves, diretor do Departamento do Patrimônio

Histórico e Artístico, diz que é preciso lembrar do bom senso.

Quando uma placa ou um anúncio ultrapassa a fachada do prédio

que ocupa, “estão invadindo um bem público”. Isto se torna mais

real em caso de tombamento. [...] A lei que dispõe sobre o

Patrimônio Histórico e Artístico em seu parágrafo 15º, diz o seguinte,

referindo-se a obras tombadas: “Sem prévia autorização da Divisão

do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, não se

poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe

impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou

cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o

objeto, impondo-se neste caso, a multa de 50 por cento do valor do

mesmo objeto. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).

A reportagem afirmava ainda quanto às atitudes da Prefeitura Municipal, do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e da Associação Comercial do

Paraná que:

[...] por enquanto ainda são desconhecidas as medidas que a

Prefeitura Municipal possa tomar. O Departamento de Urbanismo

esclarece que nada tem a ver com o fato, depois que o IPPUC

(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) concede

a mesma resposta. O engenheiro José Maria Valduga, do

Departamento de Urbanismo, explicou que a Prefeitura só tem uma

coisa a ver com o fato. “Na hora que um estabelecimento comercial

139

pede autorização para veicular sua publicidade nas ruas, o

Departamento autoriza ou não. Isso, sempre com base em normas

do IPPUC”. Mas quanto aos cartazes que já estão lá, poluindo há

bastante tempo? Ele explica que isso cabe ao IPPUC. A assessoria

de imprensa do IPPUC diz que informações sobre a matéria só com

a prefeitura mesmo. Ainda em 1974, Sergio Todeschini enviou um

comunicado à Associação Comercial do Paraná, pedindo

providencias. Pedindo que a Associação intervisse no caso,

principalmente nos casos mais graves, em termos de destruição do

conjunto urbano. Na época a Associação explicou que, de forma

alguma, daria apoio às casas comerciais que utilizassem os

anúncios de mais gritantes de mau gosto. E hoje qual é a posição

da entidade? Seu presidente Carlos Alberto Pereira, prefere não

dizer. “Vai parecer até que a associação quer mexer no problema.

Não vejo razão prá colocar minha posição. A prefeitura e o IPPUC

não levantaram o problema e eu prefiro ficar quieto.” Ele diz que o

importante é saber se a Prefeitura está fiscalizando o setor, se os

comerciantes estão ou não obedecendo. Se as posturas estão

sendo cumpridas. “É a Prefeitura que tem as leis nas mãos”. [...]

Mas, lembra que é inútil iniciar pela parte estética, sem a certeza

que as leis estão sendo ou não cumpridas: “Se falo antes de uma

manifestação da Prefeitura, acabo fazendo papel de bobo”.

(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).

Mais adiante Jorge Menezes afirmava:

[...] Regulamento há, mas não há fiscalização, ninguém está

seguindo as normas. Poluição visual é tudo aquilo que agrida

esteticamente: confusão, ruído visual, desorganização [...] E qual a

proposta de Menezes? Uma delas, a de que os prédios sejam

conservados em suas fachadas. Talvez através de uma

reconstituição fiel e bastante adequada. [...] Em Curitiba, no entanto,

confessa Jorge, as casas comerciais “embalam” a fachada antiga,

com uma coisa que nada tem a ver. Mudam desde a parte externa

até a interna. É o varejão com o seu mau-gosto. (JORNAL DIÁRIO

DO PARANÁ, 1977, s/p.).

Resumidamente, a reportagem demonstrava a falta da observância às leis e

normas, não apenas por parte, no caso, dos comerciantes, mas dos órgãos públicos

responsáveis pela aplicação e fiscalização das leis e normas. Ora estava visível a falta de

interesse do setor público, como também do setor privado em aplicar medidas que

tivessem impacto negativo à imagem política dos administradores responsáveis. Isto seria

desnecessário se as leis estivessem sendo aplicadas de forma correta e houvesse uma

fiscalização efetiva e atuante, que coibisse os excessos como previstos em lei.

Assim, os administradores públicos e privados preferiam se omitir e deixar que

houvesse um processo de degradação da via pública pela poluição visual. Isto estava

140

explícito no próprio texto da reportagem, quando o programador visual Jorge Menezes

definia poluição visual: “Poluição visual é tudo aquilo que agrida esteticamente: “confusão,

ruído visual, desorganização”. A paisagem se tornava ruidosa e as coisas iam se

acostumando assim, até que a característica própria de um determinado local ia sendo

destruída”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).

Ora, como descrito na reportagem acima, o tombamento dos imóveis históricos

tinha também como alvo a retirada das placas de publicidades neles aplicadas, o que não

aconteceu. Isto mostrava o descaso para as autoridades quanto à imagem do Calçadão,

que podia continuar sendo gradativamente destruída e retroceder à época antes da

implantação do Calçadão, sem que nenhuma medida fosse tomada.

A figura 40 mostra o senhor Isaac B. Singer, curitibano e colecionador de prêmios

literários.

Figura 40 – Mostra a fotografia do senhor Isaac B Singer. (1982).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem leva como ilustração a figura 40 tem como título “LAMENTAÇÃO”.

(SINGER, 1982, s/p.).

Esta reportagem iniciava com uma pergunta do autor da “crônica”, o senhor Isaac

B. Singer: “O que estão fazendo com você, minha querida Curitiba?”. Ao que ele mesmo

respondia: “Sua Rua das Flores, conhecida no Brasil inteiro, a sua “Sala de Visitas”, que

era nosso orgulho, está transformada em pátio de igrejinha de vila em dia de festa do

padroeiro...”.

A reportagem no estilo “crônica” descrevia que a via tinha virado um mercado a

céu aberto com a complacência das autoridades, que nenhuma atitude tomavam. A Rua

das Flores, quase em sua totalidade, tinha sido tomada por vendedores ambulantes. Era

141

pura lamentação ver a rua idealizada para ser o centro comercial da cidade sendo

transformada em uma espécie de feira livre. A principal via central e histórica da cidade

tinha mudado a tal ponto que por ela transitavam veículos de coleta de lixo, das

concessionárias de energia elétrica e telefonia, correios e outros, tudo isso em uma via que

deveria ser de uso exclusivo para pedestres. Os vendedores ali localizados, ofereciam

frutas, guloseimas e outros alimentos sem qualquer higiene, e pior, tanto os vendedores e

consumidores sujavam todo o calçamento em petit-pavé, pois jogam no chão as cascas e

restos de alimentos. Todos os artigos ficam expostos também no calçamento, o que além

de sujar, dificultava a passagem dos pedestres.

Paralelamente a tudo isto, ainda havia vendedores que interpelavam os pedestres

querendo vender produtos como loterias, antenas de TVs, etc., e também os hippies se

faziam presentes na via, oferecendo pulseiras, colares, sandálias, e outros produtos, o que

dava à via um ar de total desolação.

A “reportagem-crônica” seguia mostrando a degradação da via, concebida para ser

um centro comercial pelo seu status de ser o centro nervoso da cidade. Contudo, a

degradação desta tinha acontecido a tal ponto que, aos olhos do autor da crônica, só dava

para se lamentar as condições em que esta se encontrava. Até os comerciantes

estabelecidos no local cooperavam para aumentar o desgaste da via, quando colocavam

em frente às suas lojas caixas de papelão, que eram coletadas ao longo do dia pelos

catadores de papel para serem transportadas à noite.

Finalizando, o autor citava desolado o que via, dizendo que “Sua Rua das Flores

conhecida no Brasil inteiro, está transformada em pátio de igrejinha em dia de festa do

padroeiro...”.

A reportagem referendava o acima descrito quando citava:

A princípio foram os carrinhos de pipoca que começaram a chegar,

sempre às 5 horas da tarde, nas esquinas de Barão e Monsenhor

Celso. A excelência dos pontos e a complacência das autoridades

animaram outros pipoqueiros e os carrinhos se multiplicaram em

horário cada vez maior... Vendedores diversos se animaram e

vieram para a Rua das Flores. Os hippies com suas pulseiras de

cobre, colares, bijuterias diversas, cintas, carteiras, sandálias e até

sapatos. Recentemente, mapas geográficos e gravuras variadas.

Tudo exposto no chão, dificultando a passagem dos pedestres. [...]

Até as frutas vieram a fazer parte do “estoque”: laranja, maçã,

tangerina, uva, jabuticaba, mamão, às vezes melancia e abacaxi em

fatias. Todas servidas sem nenhuma higiene e contribuindo para

sujar o “petit-pavé”, pois não só os fregueses como os vendedores

jogam as cascas na calçada. [...] Até os comerciantes contribuem

para a bagunça geral, colocando à frente das lojas, desde cedo,

caixas de papelão que vão sendo reunidas aos montes pelos

142

catadores de papel, para serem transportadas à noite. Além de tudo

isso, carrinhos de lixo da Terpa-Limpater, estafetas pedalando suas

bicicletas ou triciclos, carrinhos de catadores de papel na sua faina

diária, carros de transportadoras de valores, veículos dos correios e

telégrafos, da Copel, da Telepar, da Sanepar, todos andando de um

lado para outro no meio do povo, em pleno calçadão, criado para

uso exclusivo do pedestre. E a coisa está ficando cada dia pior.

(SINGER, 1982, s/p).

O texto acima mostra o descaso por parte das autoridades, pela falta de

fiscalização efetiva e implementações de políticas, o que causava a degradação não

apenas da área física, mas também da imagem do ponto turístico que, como citado na

reportagem, estava sendo transformado em um mercado popular, o que afetava também o

comércio local, por promover certa distância dos compradores em potencial e promover,

em vez disso, a popularização. Assim, era inevitável que seriam obrigados a se adequar a

uma nova realidade socioeconômica pela falta de fiscalização e apoio dos órgãos

competentes.

Finalizando, a década em foco, 1972 a 1982, mostra que a falta de políticas

adequadas, principalmente pela falta de segurança e fiscalização dos órgãos competentes,

o Calçadão padece.

O descaso para com a Rua das Flores ficou demonstrado pelas reportagens acima

mostradas, nas quais se viu que a omissão das autoridades responsáveis provoca atos de

vandalismo e desrespeito às leis pela falta de fiscalização. Tudo isto poderia e ia se refletir

mais tarde nas áreas sociais e econômicas. Dentro deste princípio, a popularização

desestimularia toda e qualquer atividade, haja vista a inconsistência apresentada na via,

pela falta de visualização como um ponto de referência da cidade, não apenas na área

social, mas principalmente na área econômica. Assim faria com que esta via entrasse em

um processo, talvez irreversível, se não for vista com bons olhos pelas autoridades, e dar a

atenção necessária a fim de minimizar a degradação. E desta forma promove-la de

maneira que esta voltaria a ser o ponto de referência, pois a continuar no ritmo de

degradação e retrocesso pelo que passa, fatalmente os seus dias estariam contados.

4.2.2 Década de 1982 a 1992

A figura 41 mostra a Rua das Flores e seus problemas, onde no fundo de alguns

imóveis, atrás de alguns restaurantes ali instalados, corria o antigo leito do Rio Ivo a céu

aberto. Mesmo tendo sido este desviado e canalizado, restava o trecho atrás destes

imóveis que ainda se encontrava aberto, apesar de estar desativado. Neste local era

143

jogada grande quantidade de lixo e restos de comida dos restaurantes ali instalados, o que

provoca grande desconforto pelo mau cheiro que exalava.

Figura 41 – Rua das Flores – Fundo de alguns bares e restaurantes. (1984).

Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem que dá suporte à figura 41 foi escrita por Altamiro de Souza e Edson

Jansen e se intitula “Rua das Flores, paraíso”. Foi publicada em 28 de fevereiro de 1984.

O referido texto afirmava que alguns restaurantes localizados na Rua das Flores,

que eram muito frequentados, além de servirem refeições e bebidas, ajudavam a criar

grande parte dos milhares de ratos existentes na capital do Estado. Isto porque as saídas

de esgoto dos estabelecimentos não estavam ligadas à rede pública de coleta e por mais

de vinte anos os estabelecimentos pagaram multa à Saúde Pública. Todo o descarte de

dejetos era jogado no antigo leito do Rio Ivo que passa nos fundos dos estabelecimentos.

Segundo a reportagem, os ratos eram tão grandes que “mais parecem leitõezinhos recém-

nascidos”.

Alguns fregueses haviam questionado quanto à qualidade das refeições servidas

por estes estabelecimentos, sabendo da existência dos ratos, mas nada era feito para

acabar com esta irregularidade. Pessoas que trabalhavam em edifícios próximos não

aguenta o mau cheiro que emana dos fundos destes estabelecimentos comerciais, e eram

obrigados a trabalhar com as janelas fechadas.

O Departamento de Obras da Prefeitura Municipal tinha um projeto pronto para

canalizar este trecho do antigo leito do rio que ficou aberto. Mas para isto necessitaria abrir

um acesso ao local. Era uma obra paliativa, mas que teria resultados. Contudo, o acesso

144

ao locar teria que ser por um dos restaurantes ali instalados, de modo que o

estabelecimento teria que ser fechado por alguns dias, aproximadamente 40, para a

execução do projeto.

O problema maior era convencer um dos proprietários a aceitar ficar fechado por

este período, relativamente pequeno se comparado à extensão da obra. Os proprietários,

sob a alegação de prejuízos, não admitiam ficar com os estabelecimentos fechados e arcar

com os prejuízos. Contudo, o grande absurdo desta polêmica recai por sobre os

frequentadores destes restaurantes e bares, que sentem cheiro de comida estragada, e

ainda eram obrigados a conviver com o mau cheiro que saia das instalações sanitárias

destes estabelecimentos. Tudo isto acontecia pelo aterro sanitário improvisado, pelos

comerciantes, no antigo leito do Rio Ivo que corta parte do centro da cidade, passando por

baixo da Rua das Flores, e atrás dos citados restaurantes estava a céu aberto.

O rio foi canalizado no início da década de 1970, com projeto elaborado ainda no

governo do Prefeito Ivo Arzua e encerrado no governo do Prefeito Omar Sabag. O desvio

feito no leito do rio deixou o trecho desativado, mas esta parte ficou esperando para ser

finalizada posteriormente, o que não aconteceu. O pior era a incompreensão dos

proprietários dos restaurantes e bares, que afirmavam preferir pagar as multas a ter de

fechar por algum tempo para ligar o esgoto de seus estabelecimentos à rede pública de

coleta de esgoto.

A reportagem citava que a prefeitura tinham algumas alternativas, mas os

comerciantes deveriam ceder para dar acesso ao local e que a opção mais barata era o

manilhamento e aterro deste canal, mas os proprietários relutaram em ceder, não havendo

consenso. A prefeitura tentou negociar, mas os proprietários não cederam, principalmente

por terem que arcar ainda com os custos da reconstrução interna dos imóveis acrescido ao

fato de não terem qualquer indenização pelo tempo em que ficariam fechados. Mesmo

assim, a prefeitura se propunha em executar as reconstruções internas, mesmo não sendo

sua obrigação, mas os proprietários não cediam.

Assim, diante do impasse, a vizinhança que trabalhava nos edifícios vizinhos,

como também a população que frequentava os bares e restaurantes, foi obrigada a

conviver com o mau cheiro sem ter qualquer solução.

A reportagem afirmava que:

Alguns restaurantes e bares da Rua das Flores, como o La

Gôndola, Savoy, Cachorro Quente e Triângulo, os mais

frequentados de Curitiba, além de servirem refeições e bebidas

normalmente ajudam a criar com certeza, boa parte dos ratos

existentes na Capital hoje em dia. Há mais de 20 anos eles pagam

145

multas à Saúde Pública, mas nunca ligaram seus esgotos ao

sistema de saneamento da Sanepar. Jogam lixo, restos de comida e

dejetos no antigo leito do Rio Ivo. E os ratos procriam. Aliás,

grandes ratazanas, mais parecidas com leitãozinhos recém-

nascidos, de tão grandes. [...] As pessoas que trabalham nos outros

edifícios próximos – o Santa Maria, na Praça Zacarias é um exemplo

típico – não aguentam mais o horrível cheiro que exala do

verdadeiro monturo que se criou atrás desses estabelecimentos

comerciais. O Departamento de Obras da Prefeitura Municipal já

tem um projeto para canalizar as águas pluviais nesse antigo leito

do Rio Ivo, através da instalação de duas tubulações de 1,5 metro

cada e posterior aterramento do local. Mas apesar de ser uma obra

apenas paliativa, não consegue nem mesmo acesso num dos

restaurantes para concluí-la. Os proprietários argumentam que

levarão prejuízos se paralisarem suas atividades durante parte dos

40 dias que demorará a execução da obra. (SOUZA; JANSEN,

1984, s/p.).

Mais adiante a reportagem classificava o que acontecia como um absurdo, dizendo:

Quem frequenta os restaurante e bares existentes desde o início da

Rua das Flores, em frente ao bondinho, até a Rua Dr. Murici, sente

estranhos cheiros de comidas estragadas e até de excrementos

humanos que saem dos sanitários. Todos esses dejetos são

simplesmente jogados nessa espécie de aterro que se transformou

o antigo leito do Rio Ivo, [...]. O Rio Ivo foi desviado no início da

década de 70, num projeto criado pelo ex-prefeito Ivo Arzua e

concluído por Omar Sabag. [...] Mas apesar do projeto de desvio, o

problema higiênico desses bares e restaurantes jamais foi resolvido.

Dizem que os proprietários preferem pagar pesadas multas a ligar

os seus esgotos no sistema normal da Sanepar. O problema é

tipicamente de Saúde Pública, já que a colocação de tubulação

dupla pela Prefeitura não resolverá o problema. Se os funcionários

dos restaurantes e bares continuarem a jogar os dejetos em cima do

aterro que será construído atrás de seus estabelecimentos, tudo

continuará como está, numa verdadeira afronta ao olfato e à saúde

da população curitibana. (SOUZA; JANSEN, 1984, s/p.).

Continuando, a reportagem mostrava que:

Com a instalação da tubulação fica tudo mais fácil e rápido”. O

serviço demora 40 dias. Mas dependemos da autorização dos

proprietários dos restaurantes para conseguirmos um acesso para

executar o projeto. [...] “O fechamento de um dos restaurantes é

fundamental, como entrar com dezenas de carrinhos de Mão cheios

de terra com gente tomando sorvete?” [...] No dia 4 de novembro de

83, tentou negociar com os proprietários outros acessos, mas não

conseguiu. A intenção da prefeitura, argumenta Ito, é fechar esse

146

acesso de um dos locais por apenas 5 dias no início da obra e no

final. “Pretendemos descarregar o material e fazer um tanque

provisório nos fundos do Savoy ou do La Gôndola”. Ele garante que

essa obra beneficiará os próprios donos dos restaurantes, “os mais

interessados em acabar com aquele cheiro horrível”. [...] “Temos

que arrebentar portas e paredes e esse custo é variável” – diz o

engenheiro civil Roberto Colin, da Divisão de Construção e

Conservação da Prefeitura Municipal. Tanto a Prefeitura quanto a

Saúde Pública informam que, não cabe indenizar aos restaurantes

em função do eventual fechamento deles por alguns dias. “Caberá

aos proprietários executar os serviços. Mas como o problema se

tornou mais abrangente, a Prefeitura fará parte do serviço” –

ressalta Ito. [...] Enquanto isso, os vizinhos reclamam. [...] todo dia

as cozinheiras jogam panelas de feijão, arroz e cascas de batatas

para os ratinhos de estimação dos proprietários dos bares e

restaurantes. Sempre foi assim, há mais de 20 anos. Na Rua das

Flores, os enormes ratos correm na rua de madrugada – e até de

dia. (SOUZA; JANSEN, 1984, s/p.).

Resumidamente, a reportagem mostrava os pontos falhos da Rua das Flores, que

evidentemente provocavam o afastamento da população, haja vista os fatos relatados.

Contudo, à época citada, ano de 1984, pela falta de rigidez na conduta de fiscalização dos

órgãos responsáveis, a situação se arrastou sem solução. Como citado na reportagem isto

acontecia há mais de vinte anos, o que no início do Calçadão não era tão acentuado, haja

visto a densidade populacional da cidade e, por conseguinte a movimentação da via,

mesmo sendo a principal da cidade, e com os veículos que por ela trafegavam não se

acentuava tanto o problema. A partir do momento em que a rua foi transformada em rua

exclusiva para pedestres foram criados vários pontos de reuniões e encontros,

principalmente na frente dos bares e restaurantes, ressaltando ainda mais o problema, de

forma que, pela falta de solução, o problema atingia ainda mais a imagem da via. Assim o

acontecido denegria bastante a imagem da via, pela falta de vontade política em fazer valer

a ordem legal. Deixando chegar ao extremo dos comerciantes citados na reportagem

impedirem a solução do obstáculo, classificado como de saúde pública, que poderia causar

problemas ainda maiores de contaminação, e não apenas se limitarem a aplicar multas

sem, contudo obterem soluções efetivas.

As reportagens demonstram as diversas fases de abandono de um espaço público

tão tradicional, que deveria ter mais atenção das autoridades para não chegar a uma

situação de retrocesso como a apresentada. É mister ressaltar que no dia 08 de junho de

1984 (quatro meses após a publicação da reportagem analisada), o jornal Correio de

Notícias, sobre “Ratos da Rua das Flores”, faz a seguinte alusão:

147

[...] quem mora no miolo da quadra entre a Rua XV e a Praça

Zacarias vai deixar de conviver com ratos, baratas, detritos e mau

cheiro. [...] a prefeitura está agora finalizando a canalização daquele

trecho que agora não está mais a céu aberto, sendo que a galeria

retangular que comportará o rio, já está totalmente concretada.

(JORNAL CORREIO DE NOTÍCIAS, 1984, s/p.).

Este adendo à reportagem anterior se fez necessário, para demonstrar que a

Prefeitura realizou a canalização do ultimo trecho do Rio Ivo que restava, solucionando um

problema que afetava o comércio da região como também da população que trabalhava

nas proximidades ou transitava pela via.

A figura 42 mostra o movimento da Rua XV de Novembro, Rua das Flores e um de

seus lados oculto.

Figura 42 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro. (1986).

Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.

A reportagem que foca a figura 42 acima tem como título “Rua das Flores cores

ecléticas de um cartão postal”. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.). A reportagem em tela

acima inicia com a pergunta: “Quantos lados tem a Rua das Flores, esta via arterial onde

registra-se a pulsação da cidade?”. Esta reportagem girava toda no entorno desta

pergunta, com várias respostas, descrevendo as várias faces da via. As faces normais da

via, sendo que por todos que por ela circulavam eram bastante conhecidas. Contudo, o

autor revelava as faces ocultas, que só as pessoas que viviam o dia a dia da via podiam

mostrar.

148

Assim, o autor iniciava mostrado o lado chique da Rua das Flores, com pessoas

bem arrumadas, o lado político, onde se expressavam as varias opiniões, o lado social,

onde mostrava os pontos de encontros (destacando principalmente a Boca Maldita), mas

sempre dando um tom crítico às descrições. O autor destaca personagens folclóricos que

circulam pela rua, misturados à população que dela se utiliza diariamente, alegrando o seu

movimento.

Por outro lado, também em tom crítico, a reportagem destacava o lado marginal

que na rua existia, onde policiais, trombadinhas, prostitutas, pedintes e outros, circulavam

juntamente com turistas e vendedores ambulantes, todos no mesmo espaço, dando à via

um ar de “mercado persa”.

Com esta mistura, a Rua das Flores, conforme citava a reportagem, mais se

parecia com uma pessoa tendo um ataque epilético. Com isto, comparava toda esta

movimentação da rua, quando os transeuntes sofriam a abordagem de parte dos diversos

vendedores que circulavam pela via, como um “espetáculo de democracia socialista”.

Embora o citado acima mostre uma imagem à Rua das Flores bastante retrograda,

o autor da reportagem citava ainda uma imagem, que intitula de “apocalíptica”, e que falava

sobre as velhas construções históricas existentes na via. Para ele, as edificações, em sua

grande maioria construída internamente em madeira (que é altamente combustível) e com

fiação elétrica antiga, podiam causar grande risco em caso de incêndio, podendo este ser

de grandes proporções. Se um acidente destes acontecesse, provavelmente haveria

grande destruição, pelos diversos empecilhos físicos que se encontravam na rua, como

bancos, floreiras e outros que certamente iriam dificultar a aproximação ao local e o

consequente combate ao fogo por parte dos bombeiros.

A reportagem continuava mostrando a imagem de degradação do espaço público,

citando ainda como exemplo o bondinho que originalmente seria usado pelas crianças,

mas que passou a ser usado por algumas pessoas como local para fazer suas

necessidades fisiológicas.

Esta reportagem termina dizendo que durante o dia a Rua das Flores era usada

pela população que por ela circulava, mas à noite era tomada por prostitutas, gays e

outros, provocando ainda mais a degradação de um espaço público que era referência da

cidade.

A reportagem confirmava o acima citado quando dizia:

Quantos lados tem a Rua das Flores, esta via arterial onde registra-

se a pulsação da cidade?. Tem o lado da rua chique passarela por

onde desfilam os mais diversos modelitos. E o lado político, onde

brotam as mais variadas opiniões, os mais demagógicos discursos,

149

as plataformas exóticas, as revelações de talento, a pousarem no

grande palco dos “showmícios”. Destaca-se também nesta rua, o

lado social, na presença de uma confraria de filósofos do pós-tudo,

ou seja, aposentados e discípulos, que tem uma [...]. Tem não

devemos esquecer o lado marginal, onde se acotovelam policiais

civis, “Cosme-e-damião”, trombadinha, trombadões, prostitutas,

pedintes e menores abandonados em geral. A rua dos turistas

igualmente divide espaço naquele logradouro que também leva jeito

de mercado persa com a ensaiada invasão dos vendedores

ambulantes. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.).

Mais adiante a reportagem afirmava quanto a mistura na Rua das Flores:

Esta mistura louca deixa a Rua das Flores com um tique nervoso de

epilético em crise. Não bastassem as abordagens dos vendedores

de bilhete de loteria, de artesanato, de agulheiro, de naftalina, dos

mendigos, os transeuntes apressados correm o risco de choque

com os trombadões e trombadinhas. [...] O apocalíptico é uma sina

que ronda o dia-a-dia desta ilha crivada de velhos edifícios

recheados com madeiras secas, com antigos fios condutores de

eletricidade, formando um verdadeiro barril de pólvora no centro da

cidade. Em caso de incêndio que seria de grande proporção, o

pânico, atropelos e tragédia seriam fatos inevitáveis. Os quiosques,

as floreiras, bancos, bancas, são incômodos obstáculos para uma

ação de emergência do Corpo de Bombeiro. (JORNAL DO

ESTADO, 1986, s/p.).

E continuava a reportagem mostrando a imagem da Rua das Flores, dizendo que

só quem vivia nesta via percebia o lado marginal:

[...] O bondinho projetado para zelar das crianças se tornou uma

espécie de mijadouro improvisado, de marmanjões desocupados.

Na Xavier, onde à tarde desfilam as mais engraçadinhas “gatinhas”,

os mais afoitos “gatinhos”, as pancosas madames, à noite ganha

outro contorno de outra fauna: travestis, prostitutas e “gays” das

mais diversas classes sociais, para delírio das línguas envenenadas

daqueles nem tão ingênuos velhinhos aposentados [...]. Passeia o

pobre, o rico, o sábio, o pseudo-intelectual, a dona de casa, a

mulher da vida, a madame, a executiva, a pedinte, o vagabundo, o

padre, o ladrão, o político, o eleitor, o leitor, e os letreiros das placas

– “compro ouro”, “vote em mim”, como se ali fosse a própria sala de

suas casas. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.).

A reportagem acima descrevia a Rua das Flores “por dentro”, observando o quanto

estava degradada com o passar dos anos, pela falta de um policiamento eficaz. Tudo o

que estava apresentado demonstrava a falta de cuidado pelo que um dia fora o cartão

150

postal da cidade e que, pela falta de investimentos, fiscalização e segurança, estava tendo

a sua imagem denegrida. O texto enfatizava que o descaso por parte das autoridades na

fiscalização e segurança do espaço público, acabaria retrocedendo as melhorias ao ponto

da rua se tornar desinteressante até mesmo para o comércio. Dizia que, mesmo se

popularizando, a rua talvez não conseguisse atrativos para sobreviver e se tornaria

decadente, menos a “área social”, que pelo pilar da “Boca Maldita”, com todas estas

décadas de existência, continuaria a movimentar a via.

Finalizando esta década, 1982 a 1992, da forma como exposto nas reportagens

vê-se que a decadência estava se instalando na via. Por um lado o Poder Público não

exercia força em solucionar um problema que se arrastava há muitos anos, mesmo sendo

um problema de saúde pública. Isto porque os comerciantes impediam os reparos no

antigo leito do Rio Ivo, que se transformou em deposito de lixo, e que sob a alegação de

prejuízos financeiros, não permitiam que os reparos fossem feitos. Só meses depois houve

notícias de a prefeitura ter conseguido executar as obras necessárias e assim solucionar o

problema, sem, contudo citar quais tinham sido as negociações. Outro ponto decadente da

via era em relação ao nível de pessoas que transitam por ela, misturadas aos

frequentadores da rua. Dentre os transeuntes encontravam-se vendedores ambulantes,

pedintes, trombadinhas e outros que visivelmente agrediam a paisagem da rua, colocando

em risco a tranquilidade em transitar pela via. Assim, se não houvesse uma política de

segurança com patrulhamento ostensivo, a marginalidade acabaria por se instalar na via o

que levaria ao esvaziamento da via e por consequência a sua decadência.

4.2.3 Década 1992 a 2002

A figura 43 foca a Rua das Flores e seu movimento diário. A via estava bastante

deteriorada e insegura.

Figura 43 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro. (1997).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Arquivo e Denis F. Neto.

151

A reportagem que foca a figura 43 tem como título “Rua XV implora por

revitalização – Comerciantes reclamam que a Rua das Flores sequer consegue manter a

atração dos turistas”. (GONÇALVES, 1997, s/p.).

De acordo com a reportagem, a Associação dos Lojistas da Rua das Flores e a

Associação Comercial do Paraná (ACP), estavam reivindicando melhorias para a Rua XV

de Novembro e arredores, pois da forma como se encontrava afastaria a população, e esta

seria “carregada” para outros centros comerciais. O Presidente da Associação dos Lojistas

da Rua das Flores apontava diversos problemas, dentre eles a falta de policiamento na

região, a baixa intensidade da iluminação local, a falta de eficácia na fiscalização e aos

poucos atrativos existentes. Isto vinha provocando o esvaziamento de turistas e da própria

população, que sem incentivos não se faziam presente na via, o que vinha enfraquecendo

suas atividades. Se não houvesse uma ação imediata por parte das autoridades, isto

provocaria o abandono do centro da cidade, e consequentemente a decadência que

fatalmente provocaria a “falência” deste.

De acordo com o presidente da Associação dos lojistas da Rua das Flores,

Jacques Rigler, “Os turistas chegam curiosos para conhecer a Rua das Flores e o que

encontram?, Uma rua comum sem qualquer diferencial”. (GONÇALVES, 1997, s/p.).

Diante disto ele sugeria que fossem implantadas mais floreiras para recompor o

aspecto da via, como também uma central de informações turísticas que podia ser no

Bondinho da Rua das Flores, e mais, que a linha de ônibus turístico passasse próximo da

via, de forma a facilitar o acesso dos turistas.

Com isto os lojistas queriam ter condições de possibilitar condições de

enfrentamentos aos shoppings centers, visto que estes ofereciam muitas facilidades, que

não eram encontradas na Rua das Flores.

No entender do presidente da Associação dos lojistas, a Rua XV de Novembro era

pouco atrativa, principalmente à noite, pelo seu horário de funcionamento, que não

passava das 19:00 horas.

Outro fator que contribuía para não atrair as pessoas era a falta das vitrines

iluminadas à noite. Os lojistas alegaram que era necessário o fechamento das vitrines, pela

falta de segurança na via, provocada ainda pela iluminação deficiente em alguns locais.

Cita como exemplo a Praça Osório, que pelo grande número de árvores existentes impedia

o espraiamento da iluminação, tornando o local bastante escuro e perigo.

O presidente da Associação dos lojistas reclamava ainda quanto à ineficiência da

fiscalização, instituída por parte das autoridades, onde os problemas existentes na via

levavam muito tempo, de semanas ou meses para ter alguma solução. A exemplo disto ele

152

citava que os buracos na via ficavam muito tempo aguardando por reparos, que só

aconteciam, em alguns casos, meses depois de comunicados.

Outro fato que afastava muitas pessoas era a falta de segurança no espaço

público, ou via, pela ausência de um policiamento efetivo, haja vista que diariamente

ocorrem diversos casos de furtos o outros tipos de ocorrências. A exemplo deste fato ele

citava que aconteceu um incêndio criminoso na “Boca do Brilho” – conjunto de cadeiras de

engraxates, localizadas na “Boca Maldita”, ao lado de um módulo ou posto policial, sem

que ninguém visse nada, o que era bastante preocupante.

A reportagem referendava o acima exposto, quando citava:

A associação dos Lojistas da Rua das Flores e a Associação

Comercial do Paraná (ACP) estão reivindicando à Prefeitura de

Curitiba melhorias para a Rua XV de Novembro e suas imediações.

As condições ambientais do centro da cidade, aliadas à dispersão

do público, frente às novas opções de comércio e lazer, estão

fazendo com que diminua a frequência à Rua das Flores e áreas

próximas.

São diversos os problemas apontados pelo Presidente da

Associação dos Lojistas da Rua das Flores. Jacques Rigler. Entre

eles a falta de policiamento e de iluminação, ausência de

fiscalização mais eficaz e inexistência de atrativos que levem os

turistas e a própria população a viver o centro da cidade. “Se não

houver uma intervenção imediata, o centro de Curitiba ficará

abandonado como o de outras metrópoles”, adverte. Segundo ele a

Rua das Flores não faz jus ao nome. “Os turistas chegam curiosos

para conhecer a Rua das Flores e o que encontram? Uma rua

comum, sem qualquer diferencial”, diz. Para que seja caracterizada

novamente, ele sugere que sejam instaladas mais floreiras e que

estejam sempre cuidadas pelos jardineiros da prefeitura. “Até

mesmo os lojistas poderiam participar de um programa para

colocação de folhagens em suas fachadas, compondo um cenário

bonito e agradável”, diz.

A intenção dos lojistas da Rua das Flores é transformar a XV num

shopping center linear, com atrativos e condições que possibilitem a

concorrência com os shoppings centers convencionais. [...] ...torna

a Rua XV menos atrativa aos consumidores, é o horário de

funcionamento das lojas, com fechamento às 19h. Ele considera

negativa a falta de exposição das vitrines durante à noite. Os lojistas

não sentem segurança para deixar as vitrines iluminadas, mas por

causa disso perdem a oportunidade de atrair a atenção das

pessoas. “As vitrines abertas e iluminadas levariam um público

diferente à XV provocando maior circulação noturna”, explica.

(GONÇALVES, 1997, s/p.).

153

Mais adiante, Rigler registrava quanto aos problemas da Rua XV:

[...] existem pontos isolados que ainda necessitam a instalação de

mais postes de luz. É o caso da Praça Osório, por exemplo, que fica

muito escura devido à grande quantidade de árvores. Rigler queixa-

se da falta de uma fiscalização mais eficiente por parte da

prefeitura. “Os fiscais estão nas ruas, mas não resolvem os

problemas existentes”, reclama. Como exemplo ele cita a existência

de buracos nas calçadas – que passam semanas ou meses sem

conserto – ou [...].(GONÇALVES, 1997, s/p.).

Outro ponto da reportagem que confirmava a queixa de Rigler era:

A falta de policiamento efetivo é outra causa do afastamento de

grande parte das pessoas que frequentavam a Rua das Flores.

Além dos furtos que ocorrem diariamente no calçadão,

recentemente a Boca do Brilho – conjunto de cadeiras de

engraxates localizada na Boca Maldita – foi incendiada

criminosamente. Rigle salienta que isto ocorreu ao lado de um

módulo policial, sem que houvesse qualquer repressão.

(GONÇALVES, 1997, s/p.).

Resumidamente, Jacques Rigler cobrava maior atenção por parte das autoridades

municipais no sentido de promover o espaço público, dando a este melhor infraestrutura e

segurança, sem o que ele estaria fadado à deterioração.

A falta de atenção que acontecia vinha afastando os turistas e até mesmo a

própria população, que diante dos atrativos oferecidos por outros centros comerciais,

deixavam de frequentar o centro da cidade. O próprio senhor Rigler dizia que: “Se não

houver uma intervenção imediata, o centro de Curitiba ficará abandonado como o de outras

metrópoles”. Assim temos como conclusão, a instabilidade da Rua das Flores, criada para

ser ponto de referência, mas que pelo abandono e falta de incentivos acabaria em um nível

de degradação, que iria confirmar a previsão citada acima pelo próprio senhor Rigler,

quando diz que o centro de Curitiba ficaria abandonado.

A figura 44 mostra a Rua das flores, seu comércio se readaptando à nova realidade

da via.

154

Figura 44 – Mostra a Rua das Flores e o seu comércio. (1998).

Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC).

A reportagem foca a Rua das Flores tem como título “A Rua das Flores não é mais

a mesma – Ela perdeu até a abundância de flores, que deram o nome de um dos mais

conhecidos cartões postais da Cidade”. A reportagem iniciava citando que o projeto de

revitalização anunciado não seria levado a cabo antes do mês de janeiro de 1999. A

demora causava angustia à população e comerciantes locais, citando ainda que o local

onde as pessoas se encontravam já não era mais o mesmo. Este tinha virado ponto fixo de

marginais e tinha perdido grande parte do movimento para os shoppings, como também as

flores que existiam no local estavam desaparecendo.

O empresário Jacques Rigler previa um quadro bastante pessimista para a Rua

das Flores, e citava: “Se nada for feito a Rua das Flores vai virar o centro velho de São

Paulo, abandonado à marginalidade”. Dizia ainda que “a falta de segurança, iluminação e

liberdade de horário para o comércio funcionar até mais tarde, concorrendo em igualdade

de condições com os shoppings centers”, (KLENK, 1998 s/p.), o que complicava ainda

mais a situação do comércio da via. Ele afirmava que o abandono da via estava provocado

o fechamento de muitas lojas e que os comerciantes estavam desanimados.

A Rua das Flores perdeu varias lojas, que fecharam, e com isto foi-se também a

sua identidade de ponto de encontro. Nem tudo deveria ser atribuído ao comércio existente

na via, mas sim à conjuntura econômica do país, que atravessa dificuldades diversas.

Mesmo com o aumento do fluxo de pessoas, o volume de vendas do comércio caiu

bastante, o que foi atribuído à crise econômica, inviabilizando diversas lojas. Esta queixa

partia de diversos comerciantes locais, que afirmavam que as vendas caíram no entorno de

70%, e para eles estava se tornando difícil manter seus negócios com um rendimento tão

155

baixo. Alguns comerciantes afirmavam ainda que estavam pagando para trabalhar e que

tinha saudades da época em que o movimento nas lojas era alto, quando tinham que

passar os pacotes por sobre as cabeças dos clientes para atender a todos os

consumidores.

Para alguns lojistas, um dos vilões deste problema eram os shoppings centers, que

ofereciam segurança e estacionamento, o que a Rua das Flores não conseguia oferecer. A

falta de segurança era tamanha que algumas operadoras de turismo, alertavam seus

clientes quanto à falta de segurança existente no local, principalmente à noite quando não

havia policiamento da via.

De acordo com as estatísticas da Policia Militar, no mês de maio daquele ano,

1998, aconteceram 22 delitos na Rua XV de Novembro, e 29 na região da Praça Osório.

Mesmo assim os frequentadores e comerciantes da via, afirmavam que o número de

assaltos era muito maior, dezenas aconteciam diariamente. Os frequentadores da Boca

Maldita eram em geral aposentados e idosos, sendo estes os mais visados e os principais

alvos dos marginais devido a sua idade avançada.

A reportagem registrava a fala do jornalista Luiz Geraldo Mazza, frequentador da

Boca Maldita, que afirmava que isto se dava por causa da mudança da função dos edifícios

na região central. Muitos antes eram residenciais e, com a saída dos moradores, se

transformaram em comerciais, provocando grandes mudanças na via, deteriorando-a de

forma a não cumprir o papel cultural para que tinha sido concebida. Com isto, as citadas

moradias transformadas em imóveis comerciais, deram outro tipo de movimentação à via,

dando margem ao crescimento da marginalidade.

Nesta mesma linha, a reportagem citava também a fala do arquiteto Rafael Dely,

que nesta época, ano de 1998, ocupava o cargo de Secretário Estadual da Habitação. Ele

dizia que o centro da cidade não era composto só de valores objetivos, quando criticava o

fechamento de um tradicional ponto de encontro da população, o Café Alvorada. Mas

também de valores subjetivos que deviam ser observados, pois estes formavam um

conjunto de valores importantes que promoviam uma forma de fixar as pessoas na cidade.

E mais, dizia que era necessário, no caso da Rua das Flores, evitar que o centro da cidade

fosse transformado em um local frequentado apenas por pessoas de certa classe social,

mas que fosse aberto para todas as classes. Para isto era preciso que fossem criadas

atrações locais de maneira a atrair todas as pessoas.

Continuava, afirmando que em Curitiba, com a instalação de shoppings centers,

onde estes oferecem muitas comodidades, que com certeza haveria certa seletividade de

frequentadores do centro da cidade, o que atrapalharia em muito a Rua das Flores. Isto

imporia à via uma “popularização”, inclusive porque havia proximidade dos terminais de

156

ônibus. Isso provocaria um nivelamento social, principalmente com frequentadores de

classes de baixa renda. E ia mais adiante, dizendo que o problema se tornaria mais sério

pela falta de locais de estacionamento no centro da cidade, imposto com a política adotada

pelo poder público como forma de restringir o acesso de veículos ao centro, no que ele era

contra. Ele afirmava que a restrição a carros certamente concentraria no centro da cidade

um nível de pessoas de baixa renda, cujo acesso principal era o transporte público coletivo

e isto provocaria a decadência da Rua das Flores.

A reportagem em foco reafirmava o acima citado quando dizia:

O projeto de revitalização da Rua das Flores, anunciado pela

Prefeitura para setembro do ano passado e depois adiado para

junho deste ano, não vai sair do papel antes de janeiro de 1999. A

demora é mais um motivo de angústia para comerciantes e

frequentadores da rua que já foi o principal cartão postal de Curitiba.

Embora ainda seja um dos pontos comerciais mais importantes da

cidade e local de encontro para muita gente, ela já não e a mesma

que nos anos 70, ganhou notoriedade como o primeiro calçadão do

País. Virou ponto fixo de marginais, perdeu boa parte do movimento

comercial para os shoppings e sequer tem mais a abundância de

flores que lhe deram o nome. Dono de uma loja McDonald’s na Rua

das Flores e líder da campanha pela revitalização do local, o

empresário Jacques Rigler desenha um quadro feio e pessimista.

“Se nada for feito, a Rua das Flores vai virar um centro velho de São

Paulo, abandonada à marginalidade, Vai Morrer”, diz. Rigler diz que

a falta de segurança, iluminação e liberdade de horário para o

comércio funcionar até mais tarde, concorrendo em igualdade de

condições com shoppings centers. Segundo ele o “abandono” da

Rua das Flores tem provocado o fechamento de várias lojas e o

desânimo nos comerciantes que permanecem. (KLENK, 1998, s/p.).

Mais adiante a reportagem citava:

[...] Mas é claro que nem tudo pode ser atribuído a peculiaridades da

rua, sujeita às intempéries da conjuntura econômica como qualquer

outra área comercial. Ontem, por exemplo, um shopping aberto em

novembro de 1996 (o XV Street) encerrou as atividades. “O

movimento de pessoas até aumentou nos últimos meses, mas o

volume de vendas caiu muito, inviabilizando o negócio”, disse [...]. A

mesma queixa pode ser ouvida da maioria dos comerciantes. “O

movimento caiu 70% desde o início do Plano Real e reduzimos o

número de vendedores de 18 para seis” diz Jamil Tacla,

imigrante...[...]. “Estou pagando para trabalhar”, ecoa Elvira Ribas

Dittrich, dona de uma minúscula loja de acessórios com 12 metros

quadrados. Há 22 anos no mesmo local – o térreo da

tradicionalíssima Foto Brasil -, ela diz ter saudades dos velhos

Natais em que “precisava passar pacotes por cima das cabeças dos

clientes, de tão lotada que a loja ficava”. [...] Para ao lojistas da Rua

157

das Flores, entre os vilões responsáveis pela redução no movimento

comercial estão os shoppings, que oferecem estacionamento

gratuito ou mais barato e, acima de tudo, um item em falta no

centro: a segurança. “A Rua das Flores ainda é ponto obrigatório

para turistas, mas sempre alertamos que à noite não há

policiamento e ela se torna perigosa”, diz Camila Furillo Fernandes,

gerente de operações de uma empresa de turismo receptivo. As

estatísticas da Polícia Militar apontam a ocorrência, em maio, 22

delitos na Rua XV e 29 na Praça Osório. Mas comerciantes e

frequentadores assíduos da rua dizem que o número de furtos e

outros delitos pode ser contados às dezenas diariamente. “A fauna

que compõe a Boca Maldita, especialmente, é formada basicamente

de aposentados, que representam um potencial muito grande de

atração da marginalidade”, diz o jornalista Luiz Geraldo Mazza,

frequentador quase diário da Boca há mais de 40 anos. Para

Mazza, a Rua das Flores “segue a tendência de decadência dos

centros urbanos, que só pode ser revertida com um trabalho

educativo, de prevenção”. Ele lembra que até mesmo a

característica dos moradores do centro mudou, com a saída das

famílias e a mudança de função dos edifícios. “O próprio calçadão,

que foi concebido para consolidar um tipo de vida cultural, mostrou-

se incapaz de cumprir esse papel”, diz. (KLENK, 1998, s/p.).

Aprofundando a informação sobre as falas do arquiteto Rafael Dely, dizia:

O arquiteto Rafael Dely, hoje secretário estadual da Habitação,

também enfatiza a importância dos “valores subjetivos” da

sociedade. Dely critica o fim de cafés tradicionais como o Alvorada,

e acha que o poder público poderia ter interferido no sentido de

contribuir para mantê-lo aberto. “O centro não é so um conjunto de

valores objetivos, como transporte. Há valores subjetivos que

precisam ser mantidos, porque são importantes como ancoragem

das pessoas na cidade”, defende. Para ele, é preciso evitar que o

centro da cidade se transforme numa área para uma só faixa de

renda e isso passa pela criação de novas atrações. Mas a

comodidade oferecida pelos shoppings parece ter deflagrado esse

processo em Curitiba. O comércio da rua das Flores, por exemplo,

volta-se cada vez mais para uma faixa de renda inferior, cujo fluxo é

impulsionado pela localização dos terminais de ônibus. Por isso,

Dely diz ser totalmente contrário à ideia frequentemente aventada,

de restringir o acesso de veículos ao centro. “A manutenção dos

estacionamentos é uma forma de não destinar o centro a uma só

faixa de renda, o que seria condenar áreas como a Rua das Flores

à deterioração”, afirma. (KLENK, 1998, s/p.).

Todo o acima exposto mostrava o descaso das autoridades, deixando a Rua das

Flores abandonada, mesmo sendo uma artéria de importância comercial e de lazer. Não

havia preocupação em mantê-la, deixando a crise se instalar na via a ponto dos

comerciantes e frequentadores em uma grita geral, clamarem por soluções mais rápidas.

158

Mesmo assim, os responsáveis mantinham a passos curtos todo um processo que poderia

reativá-la.

Assim ao contrário das expectativas, permitiam a degradação da via e a instalação

da falta de segurança, pelo desnorteamento de prioridades em reativa-la. Com isto abriam

as fronteiras para a queda do comércio e a consequente decadência da via, que já foi o

cartão postal da cidade, pelo descaso como era tratada. Desta forma, fatalmente a

degradação se instalaria e a recuperação teria custos muito mais elevados. Ao passo que

se fosse dada a devida atenção, por ser uma via comercial, histórica e turística, e a

recuperação acontecesse de forma constante, os custos seriam mais baixos e a via se

manteria dentro de padrões para os quais foi criada.

A figura 45 mostra a Rua XV de Novembro, onde algumas lojas tradicionais, como

a antiga Confeitaria Schaffer, estavam encerrando suas atividades.

Figura 45 – Rua XV de Novembro, antiga loja da Confeitaria Schaffer. (2002).

Acervo: Jornal Paraná On Line – Coletânea Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

A reportagem em foco que referenda a figura 45 tem como título “Taxas altas

causam abre e fecha de boas lojas”. (VEGAS, 2002, s/p.).

A reportagem contava que, devido às altas taxas do Imposto Predial e Territorial

Urbano (IPTU) dos imóveis da Rua das Flores, era inevitável o fechamento de algumas

lojas tradicionais da cidade. E mais, de acordo com a reportagem, o alto valor do IPTU

aliado aos constantes atos de violência vinham dificultando a permanência de alguns

comerciante na via, fazendo com que muitos deles chegassem a pensar em se mudar para

outras locais.

159

O responsável pela loja “Omar Calçados”, o senhor Valdecir Batista Veloso, dizia

que se o imóvel não fosse tombado pelo Patrimônio Histórico, era difícil conseguir pagar os

impostos. Por ser sua empresa de médio porte, ele ainda conseguia se manter, contudo,

pequenos empresários tinham grandes dificuldades. Nesta linha, a reportagem citava o

senhor Roberto Bresser Cueto, dono da lanchonete Mister XV, que, com uma pequena loja,

dizia ter dificuldades para se manter e que as receitas não eram compatíveis com as

despesas geradas pelo comércio. Dizia ainda que já tinha pensado em alugar o ponto

comercial e ir embora, pois estava difícil sobreviver e que os clientes estavam se afastando

cada vez mais da Rua das Flores.

A reportagem citava ainda que os empresários alegavam também que o imposto

pago não era revertido em benefícios para a via, haja vista a carência em que esta se

encontrava. Apontavam ainda que dentre tudo o que faltava na via, a principal delas era a

falta de policiamento, onde o próprio dono da lanchonete Mister XV dizia que já tivera a sua

loja arrombada e saqueada. E mais, o dono da Mister XV dizia à reportagem também que

já houvera arrastão na via, pelo que ficou perplexo, dizendo ainda que pagavam pelo IPTU

um valor muito alto e não tinham sequer o mínimo de segurança.

Segundo a reportagem, a alegação da Prefeitura, era de que o valor do IPTU pago

seguia uma tabela já prevista e que era aplicada para toda a cidade e que apenas os

imóveis tombados se prevaleciam de descontos.

A reportagem em tela reafirmava o acima citado quando dizia:

A falta de lojas tradicionais e o frequente abre e fecha de

estabelecimentos na Rua XV, apontados pelos comerciantes mais

antigos, são justificados pelos lojistas mais novos. Além da

violência, eles revelam que os altos valores cobrados pelo IPTU

dificultam a permanência dos comerciantes e fazem com que muitos

comecem a pensar em se mudar. Os proprietários de pontos que

não foram tombados pelo Patrimônio Histórico são os que mais

sofrem e pagam caro. “Tenho uma propriedade de quase 300

metros quadrados e tenho pago cerca de R$ 12 mil de IPTU. Acho

um absurdo!”, comenta o responsável pela Omar Calçados, Valdecir

Batista Veloso. “A sorte é que a minha empresa é de médio porte e

ainda consigo pagar o imposto. Porem, pequenos empresários

sobrevivem com muitas dificuldades.” O dono da lanchonete Mister

XV, José Roberto Bresser Cueto, confirma a informação. Ele tem

um estabelecimento pequeno, de 35 metros quadrados, e revela ter

dificuldades para se manter. “Minha receita não é compatível com as

minhas despesas”, declara. “Já pensei em alugar o ponto, pois noto

que os clientes estão se afastando cada vez mais da XV. [...]

Segundo os empresários os benefícios gerados pelo pagamento do

IPTU também não são percebidos. “Falta uma série de coisas na

rua. A principal delas é o policiamento. Já arrebentaram as portas

de meu estabelecimento e roubaram mercadorias diversas vezes.

160

Há alguns dias, tive notícias de que houve um arrastão na XV e

fiquei perplexo. Pagamos uma nota de IPTU e não temos sequer o

mínimo, que é segurança para trabalhar”, conta José. (VEGAS,

2002, s/p.).

Na sequência a reportagem afirmava o citado acima quanto ao valor do IPTU: A

Prefeitura de Curitiba, através de sua assessoria de imprensa, diz que o valor do IPTU na

Rua das Flores segue a tabela de cálculos válida em toda a cidade. Apenas os prédios

históricos, já tombados têm descontos. (VEGAS, 2002, s/p.).

O citado acima mostra as dificuldades pelas quais passava o comércio da Rua XV

de Novembro, muitos comerciantes, principalmente os mais antigos e tradicionais da

cidade, vinham enfrentando crise diante do baixo faturamento de suas lojas. Os motivos

eram variados, mas como citado na reportagem, o movimento de pedestres na via vinha

caindo, devido ao descaso das autoridades principalmente quanto à segurança, que era

bastante fragilizada pela falta de um policiamento mais eficaz, que promovesse realmente

a segurança da via. Isto aliado às altas taxas de impostos cobrados, mais especificamente

no caso do IPTU, acabava por inviabilizar o comércio provocando o fechamento de

algumas lojas, que diante do baixo fluxo de pessoas, tinham o seu faturamento

prejudicado.

Finalizando esta década, 1992 a 2002, diante dos fatos acima relatados, por se

tratar de uma via exclusiva para pedestres, como também ponto de atração turística, a Rua

das Flores deveria ter maior atenção por parte das autoridades. Pois a continuar neste

ritmo, sem uma política definida que desse suporte à sua manutenção, a via tenderia a

uma mudança de perfil, principalmente comercial que se tornaria inconsistente. Isto

provocaria degradação da via que outrora foi cartão postal da cidade.

4.2.4 Década 2002 a 2012

A figura 46 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, ressaltando a imagem

do senhor José Ghignone, em primeiro plano e mais no alto, administrador da Livraria

Ghignone.

161

Figura 46 – Rua das Flores, em primeiro plano o senhor José Ghignone. (2003).

Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do estado do Paraná.

Autor: Luiz Augusto Costa.

A reportagem que motivo da figura 46 tem como título “Nova Ordem no Calçadão

– Para frequentadores e comerciantes tradicionais da Rua XV, o centro de Curitiba mudou

para pior”. (PELLANDA, 2003, s/p.).

A reportagem que refenda a figura acima citava que o empresário José Ghignone,

viu em 1930 o então Presidente da República Getúlio Vargas passar em cortejo na Rua

XV, indo até o Palácio Garcez, localizado na esquina das ruas XV de Novembro e

Voluntários da Pátria, onde foi colocada a “bandeira vermelha da Revolução”. Dizia o

empresário que esta era a primeira lembrança que lhe vinha à cabeça quando relembra a

Rua XV de muitos anos atrás, e onde se atém para justificar o radicalismo das opiniões em

relação à degradação da via.

Para Ghignone não existia a Rua das Flores, prefere dizer que é a “Rua do Lixo”,

demonstrando a tristeza de que a via não tinha mais a importância política, comercial e

social de épocas anteriores. E citava que a via apresentou nos últimos anos, até 2003, ano

da reportagem em tela, uma grande desvalorização imobiliária à ponto de que para se

precaver já tinha vendido da propriedade. Com isto, transferiu o Café que mantinha na via

para outro local da cidade, e que pelo descaso da Prefeitura, estava considerando fechar

até a loja matriz da livraria que levava o seu sobrenome. Citava que os problemas

existentes na via eram sempre os mesmos e que já foram listados por antigos

comerciantes, como a falta de segurança, a invasão dos vendedores ambulantes e dos

artistas populares. Havia ainda o surgimento dos bailões, o fechamento dos cinemas, como

também os shoppings nos bairros, além do comércio de lojas conhecidas como “de 1,99”,

162

tudo isto ligado a grande urbanização da cidade nas duas ultimas décadas, aliado ao

crescimento demográfico trouxe para a cidade o caos.

Isto modificou em muito o visual do centro da cidade, tirando as famílias que

vinham passear no centro, mesmo durante a noite, onde as vitrines das lojas ficavam

abertas e iluminadas. Quando da entrevista, só havia portas de ferro nas lojas e vitrines

fechadas.

A reportagem citava ainda o senhor Airton David, proprietário da loja Companhia

da Calça, que estava estabelecido na Rua XV desde 1975. Ele dizia que até 1983 nenhum

vidro das lojas da Rua XV havia sido quebrado por vândalos, mesmo durante a noite. Nos

últimos anos este tipo de vandalismo tinha virado rotina nas madrugadas. A criminalidade

havia se instalado na via. Dizia ainda que algumas providências deviam tomadas para que

as lojas tradicionais da cidade não fechassem suas portas.

Para Ghignone o caso da Confeitaria das Famílias era uma situação à parte,

quando se referia à falta de movimento desta loja em particular, pois conforme citava, os

principais consumidores de doces eram as mulheres. Estas não frequentavam mais o local

por medo de assaltos do assédio de artistas de rua mais salientes e por causa da sujeira

espalhada por todo o calçamento da via. O senhor Ghignone questionava os artistas de

rua, dizendo não saber se é arte imitar um gato apanhando, ou ainda ter debaixo da suas

janela uma dupla caipira cantando mal. Neste ponto o senhor José Ghignone afirmava, no

que era acompanhado pelo senhor Airton David, que se juntasse todos os artistas de rua

que se apresenta na Boca Maldita, como palhaços, músicos, estátuas vivas e outros, não

chegariam a valer a “Gilda”, um travesti folclórico que andava pela Rua das Flores

alegrando as pessoas com suas brincadeiras e dando vida à via. Na continuidade da

reportagem, Ghignone citava ainda diversas situações que mostravam a Rua das Flores

em franca decadência. Indignado, dizia que a entrada da Galeria Minerva tinha virado

ponto de encontro e mictório dos catadores de papel. E mais, insatisfeito com o que via na

Rua das Flores, dizia radical e ironicamente, que seria melhor retirar as agências bancárias

da via e reabri-la ao tráfego de veículos, pois assim acabaria a balburdia que se

generalizou em toda a via.

A reportagem em foco confirmava o acima descrito, quando citava:

Em 1930, O EMPRESÁRIO PARANAENSE JOSÉ GHIGNONE viu

Getúlio Vargas passar, pela Rua XV de Novembro, em cortejo

popular até o Palácio Garcez. Naquele edifício, ele conta, foi

pendurada a “bandeira vermelha da revolução”. É a primeira

lembrança que lhe vem à cabeça quando busca justificar o

radicalismo de suas opiniões em relação à “deterioração” da

principal via do centro de Curitiba. Para Ghignone, não há mais Rua

163

das Flores: prefere chamá-la de Rua do Lixo. Como evidência de

que a região já não apresenta sequer resquícios da importância

política, comercial e social de outras épocas, ele cita a

desvalorização do imóvel onde funciona a tradicional livraria que

leva o seu sobrenome. [...] O café que funcionava no local foi

transferido para a filial da Rua Comendador Araujo, no Batel, e

Ghignone, decepcionado com o que considera um descaso da

prefeitura para com o patrimônio histórico, não descarta a

possibilidade de fechar definitivamente a matriz. A relação de

problemas por que passam a Rua XV e o centro da cidade é

praticamente a mesma quando listada pelos comerciantes mais

antigos do lugar. A falta de segurança, o acumulo de sujeira, a

invasão dos vendedores ambulantes e dos artistas populares, a

instalação das estações-tubo ao lado do Correio, o surgimento de

bailões, o fechamento das velhas salas de cinema e o aumento do

número de shoppings nos bairros e de complexos comerciais de R$

1,99 no Calçadão. [...] A cara do Centro, portanto, é outra. As

famílias que costumavam passear pela rua, mesmo à noite, quando

as vitrines ainda ficavam abertas e iluminadas, sumiram. A onda de

instalações de portas de ferro nas lojas teria acontecido somente a

partir da metade dos anos 80. Quem conta a história é Airton David,

proprietário da Companhia da Calça.David, que trabalha na XV

desde 1975, afirma que, até 83, nunca um vidro fora estilhaçado

durante a madrugada. Nos anos seguintes, porem, a quebradeira

tornou-se rotina. A criminalidade, afinal, seria um sinal dos

tempos...[...]. (PELLANDA, 2003, s/p.).

Mais adiante a reportagem citava a fala do senhor José Ghignone, quanto ao

movimento nas confeitarias da região, que dizia:

Em todo caso, a Confeitaria das Famílias resiste há quase seis

décadas. A Schaffer não teve a mesma sorte. Ghignone expõe uma

teoria muito pessoal a respeito da diminuição violenta da clientela

das casas de doces no Centro. “As mulheres não vão mais para a

Rua XV”, afirma. E elas seriam as principais consumidoras de

açúcar. Entre os vários motivos da evasão feminina, segundo ele,

estaria o medo dos punguistas, o assédio dos artistas mais

“salientes” e a sujeira amontoada pelas esquinas ou espalhada pelo

calçamento. “As mulheres andam abraçadas com as bolsas e são

perseguidas pelos artistas”, reclama. Aliás, não se vê, pela rua,

talento artístico algum. “É arte imitar um gato apanhando?

Experimente trabalhar o dia inteiro com uma dupla de caipiras

cantando mal debaixo da sua janela”. Nesse ponto, a indisposição

de Ghignone é corroborada pela de David. Ele garante que todos os

artistas da Boca Maldita juntos – palhaços, músicos e estátuas vivas

– não valem uma Gilda, antigo e folclórico travesti que reinava na

Rua das Flores. “Aquela, sim, alegrava o pessoal”, lembra Airton.

[...] Além dos filipeteiros, ele se queixa dos catadores de papel.

“Ficam 12 horas estacionados em frente à Casa China. Fizeram da

entrada da Galeria Minerva o seu ponto de encontro e o se

mictório”, acusa. (PELLANDA, 2003, s/p.).

164

A reportagem acima mostra a insatisfação de alguns curitibanos à paisagem que

se instalou na Rua das Flores. O comércio se adaptou à realidade financeira do nível de

renda da população que transita pela via, onde se instalaram lojas populares, até lojas

denominadas de R$ 1,99, de forma a atender os transeuntes. Grandes lojas e confeitarias

fecharam as portas, encerrando suas atividades por falta de clientes sob alegações

diversas sendo a principal delas a falta de segurança, que afastou grande parte dos

consumidores, provocando queda nas vendas. A falta de segurança e a sujeira afastavam

as pessoas da via, e estas pessoas com poder aquisitivo melhor, procuram o conforto e a

segurança dos shoppings para realizar suas compras.

O processo de massificação transformou a rua de tal maneira que mais se parece

com um mercado popular, onde as pessoas que transitavam pela via, a todo o momento

era, interpeladas por vendedores ambulantes e panfleteiros, aliado ainda à falta de

segurança e fiscalização acabando com a tranquilidade do local. Diante deste processo de

massificação, o propósito inicial da rua acabou sendo distorcido a ponto de promover a

degradação e o consequente retrocesso, de uma rua histórica e ponto turístico da cidade.

A figura 47 mostra as grelhas de escoamento de águas pluviais por onde exala o

mau cheiro existente na rede de galerias subterrânea. As grelhas estão cobertas por

plásticos na tentativa de diminuir o desconforto das pessoas que transitam pela Rua das

Flores.

Figura 47 – Mostra as grelhas de escoamento das águas pluviais na Rua das Flores.

(2005).

Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do

Paraná.

Autor: Valquir Aureliano.

165

A reportagem que foca a figura 47 traz como título “Comerciantes reclamam do

mau cheiro na Rua XV”. (RECH, 2005, p. 11)

De acordo com a reportagem, comerciantes da Rua das Flores, no trecho entre as

ruas Barão do Rio Branco e Presidente Faria, há aproximadamente oito meses vinham

sentindo o mau cheiro na via, exalado pelas grelhas de escoamento das águas pluviais.

O senhor Elias Massabki, dono do Café Haiti, situado no trecho citado da via, dizia

ser um odor desagradável de dejetos que era insuportável. O mau cheiro que saía da

galeria era insuportável e afastava os clientes diz o comerciante, e que um turista o

indagou pensando vir do seu estabelecimento, ao que ele explicara que era da rua,

lamentando o acontecido.

Já o gerente de uma lanchonete situada próxima, o senhor Luciano Mendes, falava

o mesmo que havia sido dito pelo senhor Elias, e mais, que isto vinha afastando os clientes

da sua lanchonete, e que os mesmos procuravam outros lugares em busca de

alimentação.

Outra declaração era a do senhor Adélio Vieira, morador no 17º andar do Edifício

Lustosa, que dizia sentir o mau cheiro lá em cima e que quando chovia o mau cheiro ficava

insuportável de modo que era preciso fechar as janelas.

Em uma tentativa de minorar o problema, os comerciantes colocaram sacos

plásticos sobre as grelhas, mas isso de pouco ou quase nada adiantava. Isto vinha

provocando que comerciantes e moradores dos edifícios vizinhos formalizem queixas à

Prefeitura e à concessionária responsável pela rede de coleta de esgoto público, contudo o

problema não era solucionado.

As respostas obtidas junto aos órgãos de saneamento eram de que existiam

imóveis na via que estavam escoando o esgoto domiciliar na rede de coleta de águas

pluviais, mas que já tinham sido notificados e que até então ainda não tinham regularizado

tais ligações. Assim os comerciantes e moradores da região eram obrigados a conviver

com o mau cheiro enquanto aguardavam a solução do problema. Em alguns casos, a

Prefeitura, responsável pelo escoamento das águas pluviais, se utilizava de medidas legais

para que os responsáveis pelas ligações clandestinas de esgoto providenciassem os

devidos reparos.

Em muitos casos, a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná),

identificava os responsáveis usando corantes colocados na rede de esgoto dos imóveis.

Assim, identificavam os imóveis onde havia ligações clandestinas, notificavam os

proprietários a regularizassem as tais ligações, mas isto demandava algum tempo. No caso

a concessionária que gerenciava a rede de coleta de esgoto, se comprometera a

regularizar as tais ligações, e por outro lado iria verificar também se haveria algum

166

rompimento na rede pública de coleta do esgoto, mas que se comprometia a regularizar o

problema com a maior brevidade possível.

A reportagem ratificava o acima relatado quando citando:

A Rua XV, um dos cartões postais de Curitiba, é conhecida como

Rua das Flores. Entretanto, o mau cheiro das galerias de água no

trecho entre as ruas Barão do Rio Branco e Presidente Faria, está

bem longe do agradável perfume floral. Comerciantes do trecho

começaram a sentir o odor desagradável de dejetos orgânicos há

aproximadamente oito meses. “Tenho comércio aqui há 35 anos e

nunca tivemos esse problema. Agora, o cheiro fica insuportável pela

manhã e no final da tarde, especialmente nos dias de chuva”, diz o

comerciante Elias Massabki, proprietário do Café Haiti. O fedor tem

afastado a freguesia, que reclama muito. [...] E não são apenas os

comerciantes que reclamam do mau cheiro. No Edifício Lustosa,

Adélio Vieira, afirma que o mau cheiro chega até o 17º andar. “Se

chove fica insuportável. A gente até fecha as janelas”. Para

amenizar o problema, os comerciantes providenciaram sacos

plásticos que são colocados sob a grelha de ferro, tentando impedir

o mau cheiro. Mesmo assim o problema persiste. [...] Segundo

Marisa Cariglioni da Sanepar, há naquela região 27 imóveis com

redes de esgoto irregulares, já notificados. “O problema é que

muitos proprietários demoram para regularizar a situação e muitas

vezes, precisamos encaminhar o caso à Prefeitura para que sejam

tomadas medidas legais”, explica. Geralmente, as pessoas fazem as

redes clandestinas para fugir das cobranças das taxas cobradas

pela companhia de saneamento do Paraná. São desmascaradas

com testes da Sanepar, “colocamos corantes nos vasos sanitários e

se esse corante não aparece na rede regular, é constatada a

irregularidade”. Prontamente o imóvel é notificado. De antemão, a

Sanepar se compromete a verificar e sanar o problema se o mesmo

for relacionado às redes clandestinas. “Como o comerciante diz que

o problema se intensificou nos últimos meses, pode ter ocorrido

quebra em alguma rede nossa. Vamos investigar...[...]. (RECH,

2005, p. 11).

A reportagem acima relata um problema pontual, mas que acontece bastante,

principalmente nos grandes centros urbanos, pelo falta de um programa de fiscalização

constante. Estes programas nos últimos anos vêm se intensificando em varias cidades,

inclusive Curitiba, contudo pode-se afirmar que é uma situação, não apenas de burlar a

legislação, mas falta de educação e cultura da população. Isto causa não apenas, como a

situação reclamada na reportagem, o mau cheiro que exala das caixas ou bueiros de

águas pluviais, mas também onera em muito o tratamento da água coletada dos rios para

se tornarem potáveis. Assim, esta situação relatada na reportagem, deve ser combatida

imediatamente com meios legais, para não se tornarem práticas comuns. No caso

167

específico da Rua das Flores, além dos incômodos causados aos transeuntes, pelo mau

cheiro que exalam dos bueiros de coleta das águas pluviais, havia ainda os prejuízos

causados também ao comércio, que perdiam clientes, e procuravam locais onde o

ambiente lhes fosse mais agradável.

A figura 48 mostra a Rua das Flores, Rua XV de Novembro, transformada em

comércio popular.

Figura 48 – Calçadão da Rua das Flores e seu comércio popular. (2009).

Acervo Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.

Autor: Rodolfo Bührer.

A reportagem que foca a figura 48 tem como título “Novo perfil atrai todas as

classes – Com a opção da alta sociedade pelos shoppings, o calçadão foi sendo tomado

aos poucos por um comércio mais popular, à medida em que Curitiba crescia.” (BOREKI,

2009, p. 10).

A reportagem em foco se inicia com relatos do arquiteto Abrão Assad, autor do

projeto da Rua das Flores. Ela relata que o Calçadão implantado em 1972, e ao longo do

tempo vem se transformando e se readaptando de forma a dar acesso à pessoas de outros

níveis sociais, mesmo os de menor poder aquisitivo.

Com o aparecimento dos shoppings centers, algumas lojas que existiam no

Calçadão fecharam; principalmente as que trabalhavam com um comércio mais fino,

enquanto outras migraram para os shoppings, pelas facilidades contidas nestes. Isto tornou

visíveis as transformações que aconteceram na Rua das Flores, que teve seu comércio

adaptado a um nível mais popular, visto que as pessoas que circulam na via tinham um

perfil econômico menor.

Assim a via se abriu a todas as classes sociais, sem preconceitos e dando espaço

a todo tipo de comércio. Contudo, continuou com as mesmas características que lhe eram

168

peculiares e não houve nenhum demérito à via pela transformação de perfil acontecida. A

reportagem, para demonstrar a transformação, traça um paralelo do que vem acontecendo

na Rua das Flores em Curitiba, com a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.

A reportagem cita que a Rua do Ouvidor durante anos foi uma das principais vias

de comércio no Rio de Janeiro, e que nas ultimas décadas, pela falta de atenção das

autoridades para com a via, esta acabou por ser abandonada pela população. Por ser uma

via de características históricas e com edificações antigas, foi novamente revitalizada, mas

com outras características, onde foi implantado um perfil cultural e assim voltando a ser

novamente um ponto turístico na cidade do Rio de Janeiro.

Este paralelo traçado pelo arquiteto Abrão Assad, autor do projeto da Rua das

Flores, continua quando diz que a Rua do Ouvidor e a Rua das Flores, são regiões onde

há grande tendência de deterioração com o passar do tempo. Elas necessitam de atenção

constante por parte das autoridades da administração pública para continuarem existindo,

e para que não haja degradação. E mais, que por parte das autoridades sejam promovidos

incentivos de modo a se atualizarem como forma de competir com os novos padrões e

tipos de comércio.

Neste paralelo, o autor cita ainda que a “Rua XV é a alma do centro da cidade e

têm atrativos que nenhum shopping Center consegue ter, um charme todo especial”, mas

para manter isso era necessário incentivos à área central da cidade de forma a ativar e

melhorar o movimento no centro da cidade. Tudo isto cabe à citação feita de início nesta

reportagem, que contém fala do arquiteto Abrão Assad, autor do projeto do “Calçadão de

Curitiba”.

Na sequência o autor da reportagem cita a falta de segurança, motivo de muitas

reclamações de comerciantes da região. A via, Rua das Flores no início da década dos

anos 2000, era detentora dos maiores índices de criminalidade acontecidos no centro da

cidade. Isto foi minorado quando da instalação da vigilância eletrônica, que passou a fazer

parte do dia a dia da via, pelas câmeras de vigilância monitoradas pela Polícia Militar do

estado do Paraná. O monitoramento tornou a via menos perigosa. Contudo, os furtos

continuaram a existir, como cita o gerente do Bar Mignon, que presencia constantemente

estes delitos na via. Ele continua, dizendo que muitos fregueses evitam parar na via e

muito menos sentar-se nas mesas existentes na frente dos bares, para não serem

abordados por pedintes e vendedores em geral. Completa que a violência e a miséria

atrapalham em muito o comércio da Rua das Flores.

Outra pessoa citada na reportagem é o gerente da Confeitaria das Famílias,

conhecido como seu Manolo, que mora em cima da loja e diz ser o local muito perigoso. A

falta de segurança na via é o principal problema. Seu Manolo fala que a Confeitaria

169

funciona até as 23:00 h, enquanto o comércio fecha por volta das 20:00 h. Mesmo assim,

ele fica de olho na via e considera perigoso circular e trabalhar à noite, pela falta de

segurança existente.

O arquiteto Luiz Salvador Gnoato, em 2006 propunha que a via fosse aberta ao

tráfego de veículos, contudo não 100% aberta aos veículos, como também não 100% aos

pedestres, propunha mesclar a movimentação da via, pois segundo ele o projeto do

Calçadão não havia vingado. E cita que a mudança promovia a decadência do centro da

cidade de Curitiba. Para o arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Curitiba (IPPUC), Mauro Magnabosco, coordenador do projeto “Novo Centro”, dizia que “se

o comércio muda, o público também”, diante disto era necessário encontrar um meio termo.

Assim com impasse, como exposto acima pelos arquitetos, não havia uma proposta que

desse algum alento e modificasse a situação instalada na região central da cidade.

Conforme cita a reportagem, o ex-prefeito Jaime Lerner e o arquiteto Abrão Assad

têm opinião formada para recuperar o Centro da Cidade. De acordo com eles, é necessário

investimentos no centro da cidade, de forma a fixar moradores. É preciso também investir

em escolas ou faculdades que promovam a movimentação de pessoas, dando vida à

região de maneira independente do horário, fazendo com que as vitrines das lojas fiquem

abertas, de maneira a injetar vida à via, pois esta renova a qualidade a rua. Abrão Assad

finaliza a reportagem afirmando que a Rua das Flores precisa ser bem vista, cuidada e

incentivada, pois sem que haja vida a via sofre as consequências.

A reportagem referenda o acima citado quando diz:

Uma aura especial acompanhou o calçadão curitibano desde a

inauguração em 1972. Sinergia como essa não desaparece, mas

pode ser moldada pelo tempo. A transformação que se viu nesse

espaço promoveu o encontro da Rua XV com estratos sociais antes

alheios a ela. Surgiram os shoppings e a alta sociedade trocou o

local de compras sem nem sequer olhar para trás. Curitiba cresceu

rápido e suas mazelas não puderam mais ser empurradas para

debaixo do tapete. Elas estavam visíveis, no centro. Grandes e

famosas lojas desapareceram ou procuraram o conforto dos

shoppings e, aos poucos um comércio mais popular se impôs no

calçadão. Uma nova configuração, mais versátil, abriu alas, sem

preconceitos para todas as classes sociais. [...] Mas um novo

componente passou a integrar o ambiente: a miséria que invadiu a

região central. Soma-se a isto a pouca estima da administração

pública em determinadas épocas, sobretudo na manutenção e na

segurança pública. Não há demérito para o calçadão na

transformação do seu perfil. [...] mais de 150 anos antes do

calçadão de Curitiba, a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, era

considerada a coqueluche nacional, em especial depois da chegada

da família real portuguesa, em1808. Era o ponto de comerciantes

estrangeiros. [...] nas ultimas décadas, a estreita rua carioca não

170

acompanhou as transformações e o ritmo de crescimento da capital

fluminense e foi aos poucos sendo abandonada pelo povo. [...] a via

se aproveitou de características históricas e dos edifícios seculares

e está implantando lojas de perfil cultural, tornando-se, novamente

ponto turístico do Rio. Ouvidor e Rua XV são as principais ruas da

área central dessas cidades, regiões que tendem a se deteriorar

com o tempo. [...] também precisam competir com o novo padrão de

conforto na hora das compras. “O calçadão tem um charme que

nenhum shopping jamais terá. A alma de Curitiba está no Centro, na

Rua XV. Com a administração pensada para isso, é possível

incentivar o movimento para o centro”, diz o arquiteto e autor do

projeto do calçadão, Abrão Assad. (BOREKI, 2009, p. 10).

Mais adiante a reportagem fala quanto à segurança, e diz:

Mais do que a mudança de perfil, os comerciantes reclamam da

falta de segurança da Rua XV por muitos anos. Durante parte da

década de 1990, e especialmente no ano 2000, ela apresentava os

piores índices de criminalidade do Centro da Cidade. O problema foi

amenizado com a instalação das 14 câmeras de vigilância. Apesar

das melhorias, nem todos se sentem seguros ao caminhar pela via

[...]. Profundo observador do calçadão, seu Manolo conta que, nas

noites, ainda é perigoso caminhar ali. Todo mundo fecha às 20

horas e, na nossa quadra, somos a única loja a funcionar até às 23

horas.[...]. (BOREKI, 2009, p. 10).

Mais adiante a reportagem cita a fala do arquiteto Gnoato quanto à segurança da

via:

Se a falta de segurança dificulta o acesso de transeuntes, qual a

vantagem de uma via exclusiva para pedestres? Foi essa questão

que o arquiteto Luis Salvador Gnoato recorreu em 2006 para propor

o inverso do que ocorreu em 1972: o fim do calçadão e a abertura

para veículos. “Minha intenção é ter uma rua que não seja 100%

para carros, nem 100% para os pedestres”, disse à impressa na

época. O projeto não vingou, nem encontrou apelo por parte da

população. Para muitos, a mudança de perfil configurou

decadência, para outros se tratou de uma esperada transformação.

“Se o comércio muda, o público também”, afirma magnabosco,

arquiteto do IPPUC e coordenador do projeto Novo Centro, que

propõe a recuperação de outras vias importantes da cidade.

(BOREKI, 2009, p. 10).

O acima citado pela reportagem mostra a readaptação do comércio, diante da

realidade em que se apresenta a via. O comércio mais fino migrou para os shoppings, pela

segurança e conforto que estes oferecem. Assim, o comércio que se instalou no Calçadão

tem uma configuração popular, de forma a atender o nível das pessoas que por ele

171

circulam. A readaptação da configuração comercial da via foi provocada pelo nível social

da população que por ela passou a circular e pela dificuldade de estacionamento na região

central da cidade, visto que quem circula pelo calçadão acessa este por meio do transporte

público coletivo.

Assim observava-se que o Calçadão não tinha mais o mesmo apelo chamativo de

outras épocas, possivelmente pela popularização do comércio, aliado a migração das

pessoas de maior poder aquisitivo para os shoppings centers, que ofereciam segurança e

conforto. E onde as pessoas não são incomodadas por pedintes, nem por vendedores

ambulantes.

A mudança de perfil da via, aliada a falta de fiscalização e segurança, provoca

uma angústia generalizada em todas as pessoas que por ela transitam ou nela trabalham o

que pode levá-la à “marginalização”, pelo descaso das autoridades em manter uma rua que

é de grande importância histórica para a cidade. Com isto, se a Rua das Flores não for

vista com bons olhos pelas autoridades competentes, esta irá se degradar, pois como

mostrado na reportagem, esta em parte já se instalou.

As figuras 49 e 50 mostram no ano de 2012 as lojas atualmente instaladas na Rua

das Flores e transeuntes sendo abordados por vendedores ambulantes.

Figura 49 – Rua das Flores. (2012).

Acervo: Autor.

Autor: José Cláudio dos S. Revorêdo.

172

Figura 50 – Rua das Flores. (2012).

Acervo: Autor.

Autor: José Cláudio dos S. Revorêdo.

As figuras 49 e 50 demonstram a decadência do comércio e do espaço público da

Rua das Flores, no ano de 2012.

Reportando a Urban, (1992, p. 9):

[...]. Era a época da Casa Louvre, do Café Trocadeiro, do

Restaurante Paraná, da Confeitaria Schaffer, da tradicional Livraria

Ghignone, do Braz Hotel ... [...]. A Rua XV velha de guerra era o

ponto de footing, local de encontro obrigatório da estudantada, dos

aposentados, de cavalheiros e senhoras vestidos respectivamente,

com trajes de lã inglesa, linho e seda importados. Nesse eixo, no

trecho entre a Travessa Oliveira Belo e a Rua Barão do Rio Branco,

que [...].

Após alguns anos os endereços finos e famosos foram desaparecendo aos

poucos, fechando suas portas e encerrando suas atividades, outros depois da instalação

de shopping centers, foram gradativamente se transferindo para estes por oferecerem

algumas facilidades que não são tidas na Rua das Flores. Com isto, cederam seus

endereços, no centro da cidade, a outro tipo de comércio mais popular, pois estava

começando uma nova era, onde para eles não haveria espaço. Isto, não só pelo status

ostentado, mas pelo nível de comércio que estava se instalando na via. De acordo com as

figuras acima, a tendência da via é a de um comércio popular, de forma a atender uma

classe social emergente, que antes não tinha acesso.

A popularização da rua deu lugar a um comércio que oferece mercadorias a

preços muito baixos diante da realidade econômica que se instalava, aliada à falta de

estacionamento nas proximidades do Calçadão e onde o acesso é através do transporte

173

público coletivo. Assim lojas famosas na cidade, que dispunham de mercadorias mais

oneradas não davam acesso à classe social que agora estava se servindo da Rua das

Flores. Por este motivo, muitas fecharam ou se transferiram para outros endereços fora do

centro da cidade, deixando seus pontos à mercê de um comércio mais popular. Ao

observar as figuras acima, percebe-se que muitos destes locais, a exemplo o da antiga

Confeitaria Shaffer, foram transformados em shoppings populares, onde se comercializam

produtos a preços muito baixos se comparados com as antigas lojas instaladas na via.

Por fim, os antigos comerciantes, foram obrigados a fechar seus comércios ou se

transferirem de endereço, visto o nivelamento “por baixo” a que a via ficou exposta. Desta

forma a “popularização da via” deu um ar de degradação ao comércio, pela transformação

imposta, não em nome apenas dos novos tempos, mas pela situação econômica do país,

que em parte contribuiu para esta transformação, visto a transferência de renda entre as

classes sociais.

O principal ponto é que com toda esta transformação o Calçadão se auto impôs

uma popularização comercial, e com isto o rebaixamento de nível ou “status”, não

acompanhado pelas autoridades, que foram condescendentes e não implementaram

políticas públicas que mantivessem o seu status anterior. Desta forma, o comércio do

Calçadão foi rebaixado a nível popular, dando margem pela falta de segurança, à

instalação da marginalidade no amplo sentido da palavra. Com isto pelo abandono, já

citado em reportagens anteriores, acabaram por descaracterizá-lo da sua concepção

original, e que, além disto, pela popularização, e pela falta de fiscalização, fizeram deste

um de mercado popular. Onde não só pela falta de fiscalização, mas também de

policiamento ostensivo, virou como se diz na gíria um “oba-oba” sem qualquer comando

por parte das autoridades competentes, que se limitam a efetuar rondas em determinados

horários, mas que não surtem o efeito desejado. E mais o comércio ambulante continua a

existir, figura 50, sem que haja nenhuma fiscalização e repressão.

Se providências não forem urgentemente tomadas, esta via estará a poucos

passos da degradação e abandono, pois ao que parece, as autoridades municipais estão

apenas preocupadas na arrecadação dos impostos, sem, contudo cuidar da imagem da

cidade e principalmente da via, que já foi cartão postal da cidade. No ritmo acelerado que

acontece a degradação e popularização, dificilmente será possível recuperá-la a ponto de

ser novamente o cartão postal da cidade de Curitiba.

O autor deste trabalho, quando estava fazendo as fotografias apresentadas acima,

e onde permaneceu por aproximadamente duas horas foi abordado por diversos

vendedores ambulantes, panfleteiros e pedintes. Além do que presenciou a colocação de

anúncios em cabines telefônicas, com chamativos sexuais, aos quais fotografou, e

174

percebeu que não havia fiscalização nem policiamento ostensivo, apenas uma viatura

policial passava pelo local, em ronda, o que evidentemente não promove uma segurança

contínua.

Por fim, com esta ultima década de retrocesso, 2002 a 2012, mostra-se claramente

o abandono da via, que um dia foi cartão postal, e que popularizada não apresenta mais as

características pela quais foi projetada e que, pela falta de interesse das autoridades, está

entregue ao movimento de forças que a levem até onde for possível sobreviver. Se

nenhuma providência for tomada urgentemente, a degradação e desolação se instalarão

na via e isto a levará ao caos, tendo por consequência o desaparecimento ou a

marginalização do logradouro.

4.2.5 Quatro décadas de retrocessos: o olhar de síntese.

Os retrocessos acontecidos desde a implantação do “Calçadão de Curitiba”, no

ano de 1972, são pontuais. Grande parte dos retrocessos apontados nas reportagens da

mídia escrita perduram por algum tempo até que sejam solucionados, em geral a partir de

decisão do Poder Público, salvo as soluções já previstas dentro dos programas de

manutenção da via. Os problemas apresentados pelas reportagens têm origem principal na

falta de educação da população no trato com a “coisa pública”, como os atos de

vandalismo, danos ao mobiliário urbano e outros, que se repetem constantemente até os

dias atuais.

Tem-se ainda como ponto negativo o comércio ambulante informal, pedintes e

marginais que circulam livremente pela via sem serem incomodados, o que denigre em

muito a imagem desta via, que é cartão postal da cidade.

Aliado a estes problemas, existem situações realmente graves como a falta de uma

política de fiscalização constante e de segurança ostensiva que são da alçada do Poder

Público, e que não se fazem presentes na via, contribuindo para a decadência desta, tanto

do ponto de vista social como também econômico. Estes são pontos que provocam o

retrocesso da via, visto o ar de abandono desta, que promove o afastamento das pessoas

que se utilizam do que ela oferece em comércio e em lazer.

Por fim, com o acima disposto, os pontos que realmente provocam o retrocesso da

via ficam resumidos a serviços que são obrigação do Poder Público, quais sejam:

fiscalização e segurança permanente e ostensiva de forma a dar aos frequentadores e

transeuntes a tranquilidade mínima necessária. Isto pela falta de implementação de

políticas que efetivamente produzam resultados positivos e permanentes.

175

5 AVANÇOS E RETROCESSOS: SÍNTESE DA COMPREENSÃO

Inicialmente vamos estabelecer a política implementada que resultou na criação do

“Calçadão de Curitiba” e na sequência passar à análise dos avanços acontecidos. O

fechamento da Avenida Luiz Xavier e da Rua XV de Novembro estava previsto no Plano

Diretor da Cidade de Curitiba, Lei nº 2828 de 1966, dentro de uma política urbanística de

humanização da cidade, posta em prática em 1972 e transformando-a em via exclusiva

para pedestres. Isto porque a via se encontrava com sérios problemas de

congestionamentos e o comércio, por conta disto, estava em franco declínio, com o

movimento de vendas cada vez menor.

A implantação do Calçadão, de início, encontrou diversas barreiras, principalmente

pela resistência de alguns comerciantes que achavam que a implementação desta medida

iria prejudicá-los ainda mais. Contudo, após a implantação, e com o passar do tempo, os

efeitos positivos foram aparecendo, de modo que o comércio passou a ter maior

movimentação, e as vendas melhoraram.

Outro ponto a ressaltar é na área social. Ainda dentro da política de humanização

da cidade, foram criados diversos locais nos quais a população poderia se encontrar. Para

isto, em toda a via foram implementados, através de um planejamento urbanístico

adequado, equipamentos de mobiliário urbano, fazendo com que estes locais se

transformassem em verdadeiros pontos de encontro. Assim se promoveu a via a uma

melhor forma e é depois disso que os avanços se iniciam, tanto na área econômica como

na área social, uma vez que as políticas implementadas incentivaram uma maior

movimentação e animação à rua.

Esta do ponto de vista do urbanismo, à época quando foi criada em 1972,

promoveu a Rua das Flores ou “Calçadão de Curitiba”, por ser a primeira rua no país

exclusiva para pedestres e ainda sendo a principal via central da cidade, e ter um

planejamento até então inédito, que passou a ser referência nacional. Principalmente por

ser uma proposta visando um urbanismo de vanguarda, onde propunha a concepção de

que o “homem”, ou seja, a população tinha a preferência, o que em outras palavras, era

uma visão de urbanismo onde promovia a humanização da cidade, e que à época a grande

maioria das cidades não se preocupava com este tipo de planejamento urbano.

Assim a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro resgataram a antiga

denominação, “Rua das Flores”, que perdura até os dias de até hoje. Desde a época em

que foi implantada, e por vários anos, avançou bastante na área socioeconômica, como

demonstram as reportagens apresentadas. Contudo, com o advento dos diversos

shoppings centers, a partir do final dos anos 80 e início dos anos 90, a Rua das Flores, foi

176

obrigada a gradativamente se readaptar e se reprogramar. Isto aconteceu porque mudou a

classe social que passou a frequentar a via, e que antes não tinha acesso, tornando-a

popular mesmo mantendo ainda a frequência de outras classes sociais. Isto fica

evidenciado com a reportagem de Gonçalves (1997), onde cita resumidamente que a via

popularizou seu comércio, devido ao nível de renda das pessoas que se utilizavam desta

para efetuar suas compras. Dizia também que pessoas de classe média ainda procuravam,

mesmo que com menor frequência, a Rua das Flores para realizar compras, isto porque em

um raio de menos de quatro quilômetros de distância da via existiam sete shoppings

centers.

Esta situação fez com que a Rua das Flores se reprogramasse e adotasse uma

política na área econômica de forma a enfrentar as adversidades e continuasse

avançando, mesmo porque o fluxo de pessoas que circulam pela via se mantinha bastante

atrativo. O fluxo é referendado pela reportagem do Jornal Gazeta do Povo (1997), que diz

que o movimento da Rua das Flores é bastante alto e nela transitam 100 mil pessoas

diariamente. O repórter continua, dizendo ser este movimento muito maior que o existente

em qualquer shopping Center e por este motivo o comércio deve rever suas estratégias de

vendas, de forma a atrair maior número de clientes.

Outro ponto que permitiu que a Rua das Flores continuasse seu processo de

avanços está contido na reportagem do Jornal Gazeta do Povo, (2006), com o título

Calçadão no Divã, que implementa uma política de centralização administrativa. A

reportagem cita a criação de um condomínio comercial, por se tratar de um espaço público,

onde o sistema de administração seria semelhante ao de um shopping Center. Assim, a

administração seria centralizada, de forma que todos os “condôminos” representados por

esta associação condominial teriam maior força em cobrar do Poder Público, as

intervenções necessárias. Desta forma com a criação do citado condomínio, a Rua das

Flores ganharia força e continuaria se desenvolvendo e avançando, contudo tendo ainda

dificuldades em fazer com que o Poder Público investisse permanentemente na via.

Através de uma política comercial prevendo programas, projetos e promoções, a

Associação criada no “Clube de Diretores Lojistas”, ligada à Associação Comercial do

Paraná, passou a dar mais visibilidade à Rua das Flores. Mesmo se popularizando, a via

continuou avançando e promovendo o espaço público de forma a mantê-lo em ascensão.

Resumindo, para que a Rua das Flores continue avançando mesmo que em ritmo

mais lento, e mantendo seu “status” de ponto turístico, se transformou e se readaptou à

realidade socioeconômica, mesclando o comércio entre lojas que oferecem produtos

dirigidos à classe média e lojas mais populares, dirigidas às classes de menor renda.

Também o seu espaço de lazer, os cafés, restaurantes e lanchonetes foram se

177

popularizando, de forma a atender as classes sociais que frequentam a via. Em termos de

política socioeconômica, deveriam as autoridades público/privadas formular políticas de

forma a incentivar a população a frequentar o Calçadão em todas as suas áreas de

atuação. Mais precisamente, pelo o clamor popular, em que pedem maior segurança e

fiscalização de forma a poder transitar pela via com segurança e sem ser interpelado por

vendedores inescrupulosos, nem trombadinhas, visto que em todas as reportagens

analisadas estas são sempre as reivindicações solicitadas.

Quanto aos retrocessos, estes foram causados de início pela falta de consciência

da própria população que, com atos de vandalismo, destruíam parte do mobiliário urbano

projetado, isto era causado pela falta de uma política de segurança. Com o passar dos

anos, a deterioração da via, o que era previsível acontecer pela falta de atenção das

autoridades responsáveis, começou a dar sinais de retrocesso, agravado ainda pela falta

de uma política de fiscalização constante e de uma política que programasse um

policiamento ostensivo que realmente cumprisse a sua função, não se esquecendo de

observar a crescente marginalidade que se instalava. Era visível também a presença da

informalidade comercial que se instalou no Calçadão.

Visivelmente relegada a um segundo plano, o Poder Público só toma alguma

atitude para com a rua diante da grita geral por parte dos comerciantes e das associações

que os representam, que só aí abrem conversações de forma a prover as necessidades da

via, que nem sempre são atendidas em sua totalidade. Esta colocação é referendada por

Gonçalves (1997), quando cita que as reivindicações são quase sempre as mesmas, como

a falta de uma política de policiamento ostensivo e de fiscalização eficiente, o que provoca

o afastamento da população da via central da cidade.

Os retrocessos que acontecem na via são em parte devido à falta de atenção

constante por parte das autoridades responsáveis, que permitem a deterioração da via

chegar a níveis quase insustentáveis.

Conforme relatado acima, entende-se que as autoridades devem se manter

atualizadas como forma a assegurar o Calçadão em condições aceitáveis, sem permitir

chegar a níveis de degradação onde os investimentos do Poder Público se tornarão, como

já citado anteriormente, de custo elevado. Quando nestes níveis, as autoridades recorrem

a políticas em parcerias, o que se houvesse uma atenção maior do que acontece na via e

esta fosse constantemente monitorada, este tipo de situação não se faria necessária.

Os retrocessos apresentados ao longo deste trabalho são pontuais e em, sua

grande maioria, se dão pela omissão do poder público, como exemplo cita-se a segurança,

onde não há um policiamento ostensivo que dê efetivamente segurança à via. Observa-se

aqui que em quase todas as reivindicações feitas pelos comerciantes e suas entidades

178

representativas o item segurança é sempre colocado, o que sinaliza que não está sendo

atendido em sua plenitude. Se fosse dada a devida atenção por parte das autoridades e

estas implementassem uma política de manutenção constante, observando sempre as

necessidades requeridas nas varias áreas de atuação da via, esta se manteria em

melhores condições. Com isto possivelmente o que aconteceria seria a via ficar

desatualizada, mesmo porque a evolução dos tempos provocaria esta situação, e aí sim

seria a hora de ser repensada e revitalizada.

A exemplo disso tem-se o paralelo citado na reportagem de Boreki (2009), que faz

um comparativo traçado com a Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, que pela falta de atenção

das autoridades competentes, esta entrou em sofrimento, e como consequência a

degradação total. Se não for dada a devida atenção, a Rua das Flores, que um dia já foi

referência nacional, entrará em um ritmo de deterioração semelhante, levando-a à

degradação, e destruindo o que já foi referência nacional pelo descaso como esta é

tratada.

Ao perceber os avanços e os retrocessos acontecidos na Rua das Flores, se verá

que há mais avanços do que retrocessos, mesmo porque os retrocessos são pontuais.

Contudo, muitos dos retrocessos apresentados na mídia escrita, pontuais, foram

solucionados mesmo tendo como aspecto negativo o longo tempo para serem reparados.

Os pontos negativos dos retrocessos ficam por conta da política de segurança e de

fiscalização, que apesar das “tentativas”, não tem sido bem desenvolvida. Além disso, é

preciso manter um nível de pessoas que passam pela rua, afastando dela os vendedores

informais, pedintes e comerciantes de objetos piratas. E em tempo, como relatado pelo

autor deste trabalho, quando circulou pela via foi abordado por diversas vezes por

vendedores ambulantes, e não havia fiscalização nem segurança ostensiva. Assim coloca

estes pontos como negativos e que devem ter suas políticas revistas, pois são elementos

cruciais para dar a via e a quem circula por esta, a tranquilidade necessária.

As readaptações e reprogramações acontecidas no âmbito comercial do Calçadão

não podem ser consideradas como retrocessos, porque a conjuntura econômica do país

fez com que classes sociais que antes não tinham grande poder aquisitivo passassem a tê-

lo por meio de reformas econômicas e sociais. Os consumidores tidos como de baixa renda

passaram a ter certo nível econômico, que para o comércio de forma geral deve ser

considerado e não pode ser desprezado.

Com isto a popularização do comércio do Calçadão, mesmo que mesclado de

forma a atender outras classes sociais, faz com que este se mantenha e passe a ter seu

horário estendido até à noite, mesmo perdendo muitos consumidores de maior renda que

passaram a frequentar os shoppings pelas facilidades por estes oferecidas. Principalmente

179

pela flexibilidade de horário de funcionamento, onde após o horário normal obedecido pela

maioria das lojas de rua, estes continuam em funcionamento, facilitando a vida dos

trabalhadores.

Por fim a política de reprogramação acontecida no Calçadão deve ser encarada

como avanço, mesmo tendo um nível de frequentadores de menor renda, mas que se

mantém ativo, mesmo sem o chame que lhe foi atribuído quando do início de suas

atividades. Contudo, o lado negativo fica por conta de não ter mais atrativos comercias

para os turistas de maior poder aquisitivo, que também passaram a frequentar os

shoppings, ficando a Rua das Flores apenas como referência turística, mas não

primordialmente de consumo.

180

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de passar a demonstrar que os objetivos específicos foram atingidos, se

registra que o tema escolhido foi muito relevante para a formação profissional do

pesquisador, como engenheiro civil e também como cidadão que vive e trabalha na cidade

de Curitiba.

O tema escolhido, “O Calçadão de Curitiba: avanços e retrocessos como espaço

público social da cidade” foi em tese bastante complexo e esclarecedor, haja vista que

mesmo morando na cidade há mais de 40 anos, e frequentando esporadicamente o lado

social da Rua das Flores, mais especificamente a “Boca Maldita”, aprendeu muito. Quase

sempre se dirigia a este local, pouco transitava na referida via, desconhecia o que

acontecia nos demais trechos da rua, tendo conhecimento de algumas situações apenas

relatadas por outros frequentadores, mas sem nenhuma profundidade e, em vários

momentos, sem dar a devida atenção.

Com o tema escolhido para a dissertação, passou a ser estudado mais

atentamente pelo pesquisador desde o que acontecia na via. Isto demandou leituras

demoradas dentro das referências jornalísticas coletadas, que nem sempre foram fáceis de

localizar, tanto do ponto de vista textual como também imagético, que fossem relevantes.

Contudo se expôs alguns fatos, que mesmo frequentando este espaço público não tinha

conhecimento.

Em fim, mesmo sendo trabalhoso foi muito elucidativo, considerando assim que o

exposto atingiu as finalidades propostas.

Dentro da pesquisa proposta, os objetivos foram integralmente cumpridos e

oportunizaram estruturar toda a dissertação.

Neste momento, torna-se necessário retomar os objetivos que nortearam este

estudo. O primeiro teve por intuito descrever a implantação do calçadão, já prevista no

Plano Diretor da Cidade, Lei nº 2828/66 (Curitiba), visando à política de desenvolvimento

urbano. A lei previa o fechamento de algumas ruas centrais da cidade ao tráfego de

veículos, dentre elas a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro, perfazendo as seis

quadras que hoje compõem o Calçadão. A implementação desta política transformou o

principal eixo da cidade em uma via exclusiva para pedestres, conjugando ainda a partir da

implantação outras políticas de cunho socioeconômico. Na área econômica, isso promoveu

incentivo ao comércio pela maior movimentação de pessoas, aumentando assim o

potencial de vendas, e na área social, com a instalação do mobiliário urbano adequado,

promoveu facilidades à população que se utiliza do Calçadão em seus momentos de lazer.

181

O segundo objetivo da pesquisa foi o de apresentar referenciais sobre o Calçadão

de Curitiba como espaço público social da cidade. Ficou claro que o Calçadão tornou-se

um espaço público exclusivo para pedestres. Ele é a imagem de uma política pública social

implementada, pois deu maior movimentação e animação à rua, como também promoveu a

mudança cultural de população.

O Calçadão, principalmente pelo diferencial do mobiliário urbano implantado, criou

na via vários locais que a população adotou como ponto de encontro, onde se reuniam em

bate-papos informais, como exemplo, o espaço onde se reúnem os frequentadores da

“Boca Maldita”, entre outros grupos ao longo da via, que se servem das comodidades e

facilidades do mobiliário nestes instalados. Enfim, o espaço público do “Calçadão de

Curitiba” remonta dentre outras, uma política de humanização da cidade, de forma a

promover melhor qualidade de vida à população.

Seguindo o curso das reflexões, o terceiro objetivo do estudo era analisar os

avanços e retrocessos econômicos do Calçadão de Curitiba veiculado por meio de textos e

imagens fotográficas na mídia paranaense e nacional nos anos 1972 a 2012.

Inicio neste momento relatando de forma mais resumida a análise dos avanços

acontecidos no “Calçadão de Curitiba”.

Após a implantação, em um primeiro momento o comércio não noticia quaisquer

progressos relevantes, apesar do movimento de pedestres ter tido um incremento bastante

significativo, isto não se refletiu no comércio da via. Os avanços eram apenas na área

social, isto devido ao projeto implantado, que criou vários pontos onde a população podia

se encontrar informalmente.

Com o passar do tempo, os primeiros resultados começaram a aparecer. Devido a

grande concentração de lojas, aliada a um espaço exclusivo para o trânsito de pedestres, o

comércio passou a ter reflexos do movimento com a melhoria nas vendas. Isto se manteve

até o final dos anos 90, quando se instalou, conforme citado nas reportagens, uma crise no

setor empresarial brasileiro, quando grandes redes nacionais de lojas varejistas fecharam

suas portas alegando diversos motivos, dentre eles a falência destas redes.

A partir deste momento os comerciantes locais passaram a sentir os efeitos da

crise econômica que se instalava, agravado ainda nesta mesma época pelo aparecimento

dos shoppings centers, que se instalaram próximos à região central da cidade. Como forma

de impulsionar o comércio, devido à grande concorrência e à mudança de perfil dos

consumidores, este se reformulou em forma de condomínio, junto ao Clube de Diretores

Lojistas, que este ditava as normas e políticas a serem seguidas, principalmente as

políticas de promoções que deveriam ser postas em prática nas datas festivas. Desta

182

forma o comércio continuou ativo e avançando, de forma a vencer os obstáculos, o que o

levou a completar os 40 anos de existência em 2012.

Agora passo a descrever os principais pontos de retrocessos relatados pela mídia

paranaense e nacional.

Inicialmente têm-se os atos de vandalismos, onde pessoas destroem a coisa

pública pela falta de consciência em manter o que é do povo, aliados à falta de um

policiamento ostensivo na área.

Os retrocessos acontecidos são pontuais e não retratam uma realidade permanente

na via, podendo ser considerados como consequência da evolução dos tempos. Além

disso, inevitavelmente o mobiliário urbano sofreria pela ação do tempo, o que geraria

despesas para o Poder Público de qualquer maneira. Assim os objetos, instalações, e o

mobiliário urbano requerem manutenção constante, sem o que a deterioração fatalmente

acontece, principalmente por estarem instalados ao ar livre, sujeito às intempéries o que

acelera ainda mais a deterioração.

O que no presente trabalho posso considerar retrocessos são a falta de segurança

e fiscalização do espaço público, que são atribuições das autoridades competentes, que

pela falta de implementações políticas que produzam resultados positivos, colocam a via

em risco e relegada a segundo plano. Com isto vendedores ambulantes, comércio informal,

marginais e pedintes circulam tranquilamente pela via, tomando conta desta, visto que não

são incomodados, pois a falta de atenção por parte das autoridades dá a via uma

aparência de total abandono.

Quanto às políticas implementadas na Rua das Flores, em suas diversas áreas de

atuação, algumas podem ser consideradas tentativas em atender situações requeridas

pelos comerciantes e frequentadores, mas, por não surtirem efeito, acabam por provocar

retrocessos em vez de avanços. Haja vista a implementação das políticas de segurança e

fiscalização que em um primeiro instante surtem efeitos, mas que por falta de estarem

sempre sendo repensadas e reimplementadas, acabam se tornando ineficientes. Isto fica

patente ao observarmos as constantes reivindicações dos comerciantes e frequentadores,

ao longo dos anos de existência do Calçadão, onde estas sempre são requeridas. A

própria política urbanística adotada, pela falta de atenção constante e de uma manutenção

adequada, por ser uma via exclusiva para pedestres, provocou a deterioração do espaço

com o passar do tempo. Assim temos que, como citado acima, a falta de renovação e

ampliação das políticas, principalmente de segurança e fiscalização adotadas, foram

também foi fator crucial para a deterioração. As políticas de segurança e fiscalização nunca

foram completamente adequadas, mesmo com ações em todas as décadas abrangidas

pelo estudo, não conseguiram resolver o problema da segurança no calçadão.

183

Isto posto, de início percebo que pela falta de segurança no local, há ação de

vândalos, conforme citado pelo Jornal da Tarde do Estado de São Paulo (1976), com o

título “População e vandalismo”, mostra desde a época da implantação do Calçadão, havia

falta de segurança do local, e onde vândalos destruíam as floreiras instaladas na via, o que

continua a acontecer até os dias de hoje.

Reimplementada a política de segurança no ano 2000, com câmeras de

monitorizarão, de início surtiu algum efeito reduzindo as ocorrências policiais, contudo

conforme a reportagem de Pellanda, (2003), onde cita que a política de segurança na rua

não está mais produzindo efeito e que isto tem afastado os consumidores, fazendo com

que a marginalidade tomasse conta da via.

Outro ponto negativo das políticas adotadas é a falta de fiscalização efetiva por

parte dos órgãos competentes. O comércio informal na via demonstra o retrocesso, como

citado na reportagem de Pellanda, (2003), já que isso prejudica grandemente o comércio

formalmente estabelecido na via.

Enfim, as políticas adotadas na área de segurança e fiscalização da Rua das

Flores estão sempre dentro da lista das reivindicações dos comerciantes e frequentadores

do espaço público. Estas são implementações que até hoje não tiveram resultados

efetivamente positivos, isto comprova a tese de que as políticas públicas implementadas

correm o risco de, em vez de promoverem avanços, acabam por caracterizar retrocessos.

Finalizando quanto aos retrocessos, mesmo tendo um vasto material coletado em

reportagens de jornais e revistas, apesar de minuciosamente estudado foi bastante difícil

encontrar algo que fosse significativo que mostrasse o lado negativo das políticas

implementadas na via.

As situações negativas apresentadas pelas reportagens, em suma, são sempre

pontuais e não se configuram como duradouras, sendo quase sempre solucionadas em

prazos relativamente curtos. Os únicos pontos detectados onde as políticas implementadas

não promovem resultados positivos e se caracterizam como retrocesso, são nas áreas de

segurança e fiscalização, que são da alçada do Poder Público. Apesar das políticas

implementadas, não houve efeitos positivos que fossem duradouros, ou seja, de início

surtem efeitos positivos, contudo com o passar do tempo retrocedem.

Por fim, esta situação gera grande insegurança, o que afeta diretamente as áreas

social e econômica do Calçadão, que acabam por acumular prejuízos, pois os

frequentadores e consumidores se afastam da via, e procuram locais mais seguros para

efetuar compras ou simplesmente passear.

184

Finalmente, o último objetivo do estudo foi compreender as relações econômicas

sobre os avanços e retrocessos no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de

registros da mídia escrita paranaense e nacional.

Dentro do registrado pela mídia escrita, compreendi que a política de urbanização

adotada neste espaço público previa a humanização da cidade. Esta política continha no

seu cerne outras políticas de cunho social e econômico. As de cunho social colocavam a

via como um ponto de encontro social da cidade, de forma a atrair a população para a via.

A exemplo temos a “Boca Maldita” e outros pontos espalhados por toda a via, haja vista o

mobiliário urbano espalhado estrategicamente ao longo do Calçadão.

As políticas de segurança e fiscalização, de início, surtiam resultados, contudo,

mas com o passar do tempo, tornavam-se inconsistentes e não mais atendiam aos

propósitos para que foram pensadas, talvez pela diminuição do efetivo, de modo que

quando as ocorrências policiais diminuíam, diminuía-se o efetivo programado, por se tornar

ocioso.

As políticas de cunho econômico só se consolidaram pela mudança do sistema de

administração comercial da via, que passou a ser de forma condominial, já que por se

tratar de uma via pública os comerciantes não podiam interferir na área física. Assim, o

sistema administrativo adotado passou a ser centralizado no Clube dos Diretores Lojistas,

de onde partiam as decisões e as formas de como promover a via, maneira semelhante ao

modelo administrativo adotado pelos shoppings centers. Onde o principio era o de atrair a

população e aumentar a movimentação no comércio, principalmente em datas festivas, que

por conta de promoções e premiações aos clientes das lojas associadas, se propiciava o

intento.

No final dos anos 90, quando diversos shoppings se instalaram próximo à região

central da cidade e com o agravamento da crise que se instalou no setor empresarial

brasileiro, obrigando grandes redes de lojas comerciais de varejo a paralisarem suas

atividades, o comércio do Calçadão, como forma de enfrentamento a estas interferências

comerciais, popularizou as atividades da via, mesclando lojas mais acessíveis à classe

média e lojas populares. Assim conseguiu manter o movimento comercial, ao custo de

redução do nível do comércio, mas mantendo vivo o comércio e a animação da via. Mesmo

porque nas proximidades da via, a prefeitura instalou alguns terminais de ônibus o que

facilitava o acesso ao comércio de uma classe social que antes não tinha condições

financeiras para se utilizar desta rua nas suas compras. Isto tudo aliado às políticas

públicas implementadas pelos administradores públicos, que promoviam com alguma

frequência a revitalização da rua, instalando novos elementos do mobiliário urbano e

185

realizando obras de melhorias de forma a dar mais animação à via, atraindo assim maior

movimentação ao comércio local.

Quanto aos retrocessos, conforme já registrados no item anterior, em grande parte

eram pontuais e causavam transtornos momentâneos, facilmente solucionáveis e sem

grandes incomodações. Entretanto, há retrocessos que, por falta de uma política

consistente, continuam a ser reclamados, como a falta de uma política de segurança e de

fiscalização da via que efetivamente obtenha resultados positivos e seja constantemente

revista, de maneira a dar à via a segurança e a fiscalização necessárias e de forma

permanente.

Com isto fica demonstrado que as políticas públicas implementadas no espaço

público “Calçadão de Curitiba”, em seus avanços e retrocessos, dentro do registrado na

mídia escrita paranaense e nacional deram a ele uma história sociopolítica de espaço

publico social da cidade de Curitiba, caracterizando-se como parte de uma cidade

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186

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