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CURSO DE LICENCIATURA EM CINEMA E AUDIOVISUAL
DEPARTAMENTO DE CINEMA E VÍDEO
VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA
Mat. 814057053
Cinema e Educação: Projeto Cinestésico na Paraíba
Niterói – Rio de Janeiro
Segundo Semestre – 2015
CURSO DE LICENCIATURA EM CINEMA E AUDIOVISUAL
DEPARTAMENTO DE CINEMA E VÍDEO
VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA
Mat. 814057053
CINEMA E EDUCAÇÃO:
PROJETO CINESTÉSICO NA PARAÍBA
Memorial apresentado à disciplina Trabalho
Final de Curso (GCV00263) como requisito
parcial para a obtenção do grau de licenciada
em Cinema e Audiovisual na Universidade
Federal Fluminense.
ORIENTADORA: Professora Doutora Eliany Salvatierra Machado
Niterói – Rio de Janeiro
Segundo Semestre – 2015
VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA
Mat. 814057053
CINEMA E EDUCAÇÃO:
PROJETO CINESTÉSICO NA PARAÍBA
Memorial apresentado à disciplina Trabalho
Final de Curso (GCV00263) como requisito
parcial para a obtenção do grau de licenciada
em Cinema e Audiovisual na Universidade
Federal Fluminense.
_____________ em ________ de 2016.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Professora Doutora Eliany Salvatierra Machado
UFF – Universidade Federal Fluminense
(Orientadora)
____________________________________________
Professor Doutor Maurício Bragança
UFF – Universidade Federal Fluminense
(Membro Interno)
____________________________________________
Professora Doutora Alice Akemi Yamasaki
UFF – Universidade Federal Fluminense
(Membro Externo)
À minha mãe Severina, minha estrela-guia, minha bússola, meu Norte, meu
Nordeste.
Ao meu filho Luar, meu eterno desdobramento de mistérios, surpresas e
universos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos/às meus/minhas familiares e amigos/as com os/as quais convivo na
dureza e na beleza da jornada da vida cotidiana, na qual, dentre tantas outras coisas, também
vamos ao cinema nos distrair, deleitar, emocionar, estranhar, conhecer e nos reconhecer.
Agradeço a Luar Oliveira Mendes de Almeida, meu filho, a Severina Oliveira Silva,
minha mãe, a Vilma de Oliveira Silva Crespo, minha irmã, a Virgílio Antonio da Silva Filho e
a Vinício Antônio de Oliveira Silva, meus irmãos, componentes do núcleo humano mais
íntimo do qual faço parte e no qual balanço o berço do passado de minhas memórias, encontro
o conforto na alegria do presente, e vislumbro alguma possibilidade de futuro.
Agradeço a cada docente, discente e funcionário com quem me relacionei acadêmica e
fraternamente ao longo do Curso de Licenciatura em Cinema e Audiovisual da Universidade
Federal Fluminense, em especial, à minha orientadora Professora Eliany Salvatierra Machado,
por me fazer lembrar que o relaxamento físico e mental é sempre importante e necessário e
por depositar total confiança em minha escolha temática e por me estimular confiança para
realizar esse Trabalho de Conclusão de Curso; à Professora de Pesquisa e Prática Educacional
Alice Akemi Yamasaki, por me incentivar com entusiasmo a realizar a produção deste
trabalho que envolve Cinema e Educação; ao Coordenador de Curso de Licenciatura em
Cinema e Audiovisual, Professor Maurício Bragança, por me ensinar com zelo a teoria e a
prática da narrativa e por todo profissionalismo e paciência demonstrados ao longo do
andamento de meus processos acadêmicos; ao Professor Fernando Morais, com quem aprendi
a ouvir mais atentamente os sons e os silêncios do cinema; ao Professor Fabián Nuñez que
incansavelmente fez trilhar pelo branco espaço do quadro negro, se não toda, boa parte dos
caminhos e meandros da História Mundial do Cinema, além de socializar os elementos
necessários para se produzir com qualidade uma análise fílmica; ao Professor Rafael De Luna
que me fez vislumbrar com rigor a História do Cinema Brasileiro e a inquestionável
necessidade de preservação do material fílmico; à Professora Nina Tedesco, por me
possibilitar a experiência de filmar em 16 mm; aos Professor João Leocádio, Professor Isaac
Pipano e Professor Márcio Blanco por me apontarem o próprio processo da produção
cinematográfica como um campo inesgotável de experiência; ao Professor João Luís Vieira,
por me apresentar a análise plano a plano de um filme, instrumento imprescindível para a
observação qualitativa tanto da forma quanto do conteúdo cinematográficos; ao Professor
Fred Benevides, por apontar a edição e a montagem cinematográficas como exercícios do
pensamento e do desejo e como fontes estéticas inesgotáveis; ao Professor Felipe Muanis, por
revelar com maestria o potencial e outro lado da TV; ao Professor Daniel Pinna, por me
despertar o interesse para a história da animação mundial; ao Professor Tunico Amancio, por
me presentear com seus conhecimentos sobre roteiro cinematográfico; ao Professor Fábio
Stoller, por me apresentar outra língua como mais uma tradução possível da arte
cinematográfica; à Professora Tetê Matos, pelo carinho e atenção de sempre, à Professora
Denise Tavares e ao Professor Alexandre Guerreiro, pela demonstração do grande domínio
intelectual que possuem sobre a área que pesquisam; aos companheiros discentes que em
muito me ajudaram a cumprir esta jornada, Amilton Mattos, Carlos Henrique, Ricardo Saidel,
Fábio Santana, Tatiana Delgado, Bernardo Campbell, Hans Spelzon, Mariana Barbosa, Pedro
Alves, Bárbara Beznosai, Lariza Lima, Adriana Sally, Marina Pavez, Igor Maciel, João Akira,
Rosa Miranda, Nincow Luciano, Luana Farias, João Paulo Gohar, Lucas Reis, Thereza
Levenhagen, Felipe Fernandes, Lívia de Paiva, Liana Lobo, Rafael Romão, Augusto Fontes,
Paulo China, Igor Gall, Nilviane Spressola, Gustavo Delfino, Mauro Monteiro; e à
Funcionária da Coordenação do Curso de Licenciatura de Cinema e Audiovisual, Mariana
Almada, pela presteza em atender e oferecer informações na lida cotidiana do Curso.
Agradeço a todos∕as os∕as docentes e discentes que nestes últimos oito anos
participaram como membros do Projeto Cinestésico – Cinema e Educação, à Professora
Marília Campos, aos Jornalistas Janaine Aires, Emerson Cunha, Jéssica Nascimento, Simão
Mairins, Lucas Pontes e Mayra Medeiros; ao Relações Públicas Carlos Edmário Nunes, ao
Radialista Caio Gomes, ao Educador Físico Thercles Silva, à Historiadora Ana Carla Souza
Ribeiro, aos Historiadores André Dias e Laércio Theodoro, aos Pedagogos Gilmar Caramuru
e Jean Morais, às Pedagogas Valkilene Melo, Diana Dayse, Rayssa Maria, Ângela Cardoso e
Evelyanne Cavalcanti, ao Economista Caio Vital.
Agradeço a todos/as colaboradores/as em diferentes etapas do Cinestésico, aos
cineastas paraibanos Torquato Joel, José Dhiones, Kennel Rógis, Paulo Roberto, Ismael
Moura, Marcelo Quixaba, Diego Benevides e Daniel Alves; aos cineastas pernambucanos
Breno César e Carlos Mosca; aos/às cineastas cariocas Carol Pitzer, Eduardo Chaves e
Frederico Cardoso; às Professoras do PROPED-UERJ Nilda Alves, Mailsa Passos, Rita Ribes
e Conceição Soares; aos/às Professores/as da UFPB Mauricéia Ananias, Surya Pombo, Pedro
Nunes, Mira Oliveira, Victor Braga, João de Lima, Adalgisa Martins, Ana Thereza Dürmaier,
Cida Ramos, e Jaldes Meneses; aos/às Professores/as da UFRRJ Marília Campos, Lana
Cláudia, Valter Filé e Carlos Roberto Carvalho; à Professora da UFRJ Eleonora Ziller; à
Professora Adriana Hoffmann, da UNIRIO, à Professora Elisabete Teixeira da Rocha, do
CIEP João Mangabeira, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro-RJ; ao Professor. Adriano
Lima, da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, em São Cristóvão, Rio de Janeiro-RJ, à
Técnica de Assuntos Educacionais da FL/UFRJ Ione Nascimento.
Agradeço as minhas comadres Elisabete Rocha, Ione Nascimento e Maysa Coelho, aos
meus compadres Ronaldo Amaral, Aldo Medeiros, Paulo Santos e Antônio Galletti, e à
Débora Finamore pela felicidade do reencontro e acolhida fraterna durante os estudos no
Estado do Rio de Janeiro.
Agradeço, enfim, aos amigos e às amigas que vibraram com a minha reentrada na
graduação, efetivando, na maturidade, um sonho de adolescência: cursar Cinema na Uff. O
sonho foi realizado e potencializado em forma de licenciatura!
A todos e todas, os meus mais sinceros agradecimentos!
A pedagogia do cinema frequentemente esbarra no modo como se
apropria de seu objeto. Ora, importa muito mais, diante desse
objeto complexo, vivo e indócil, ter uma atitude justa do que se
agarrar a um saber tranqüilizador.
Alain Bergalla
(...) quando vou ao cinema, (...) Sempre tenho a impressão que
posso ter o encontro com uma idéia.
Deleuze
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso “Cinema e Educação: Projeto Cinestésico na
Paraíba”, à luz da contribuição de diversos/as autores/as com os/as quais dialogamos, enfoca
as experiências exitosas na área do ensino da linguagem cinematográfica no estado da
Paraíba, ou seja, nos debruçamos sobre projetos cujas ações giram em torno da união de dois
campos do conhecimento: Cinema e Educação. Primeiramente, efetuamos um breve
levantamento dos textos normativos nacionais que prevêem a presença do cinema/audiovisual
no ambiente escolar, como, por exemplo, a aprovação da Lei 13.006/2014. Em seguida,
descrevemos analiticamente algumas experiências parceiras de formação na área do cinema
no estado da Paraíba, para, por fim, determo-nos nas atividades do Projeto Cinestésico que
desde 2008 executa em diversos municípios paraibanos ações de ensino, pesquisa e extensão a
respeito da linguagem cinematográfica. Concluímos que, embora sejam irrisórios os
incentivos de políticas públicas para o audiovisual na Paraíba, tal Projeto tem atingido
importantes resultados no setor. Pretendemos com este esforço acadêmico socializar exemplos
de experiências que podem e devem ser adequadas à realidade de instituições e sujeitos que
pretenderem replicá-las em suas diferentes localidades.
Palavras-Chaves: Cinema, Educação, Cinestésico.
ABSTRACT
This work “Cinema and Education: Projeto Cinestésico in Paraíba”, in light of the
contribution of several authors with whom we dialogue, focuses on the successful experiences
in the cinematographic language's area in the state of Paraiba, ie, we research projects whose
actions revolve around the union of two fields of knowledge: Cinema and Education. First, we
made a brief survey of national legislative texts providing for the presence of the
film/audiovisual in the school environment, for example, the approval of Law 13.006/2014.
Then we describe analytically some training experiences in the field of cinema in the state of
Paraiba, and, finally, we focus on the Projeto Cinestésico's activities that since 2008 develops,
in several municipalities of the Paraíba, activities of teaching, research and extension about
cinematographic language. We conclude that, even with the derisory public policies for the
audiovisual in Paraiba, such project has achieved important results in the sector. We intend
with this academic endeavor socialize examples of experiences that can and should be
appropriate to the reality of institutions and individuals who wish to replicate them in their
different locations.
Keywords: Cinema, Education, Cinestésico
SUMÁRIO
1. CINEMA E EDUCAÇÃO: PROJETO CINESTÉSICO NA
PARAÍBA _________________________________________ 11
1.1 TEMA _______________________________________ 11
1.2 DELIMITAÇÃO TEMÁTICA ____________________ 11
1.3 PROBLEMA __________________________________ 11
1.4 OBJETIVO ___________________________________ 11
1.5 JUSTIFICATIVA _____________________________ 12
1.6 METODOLOGIA ______________________________ 14
2. EXIBINDO, DEBATENDO E PRODUZINDO FILMES
PARAIBANOS EM AMBIENTES EDUCATIVOS________16
2.1 ALGUMAS AÇÕES INFORMAIS DE FORMAÇÃO
CINEMATOGRÁFICA NA PARAÍBA______________16
2.1.1 PROJETO PARAÍBA CINE SENHOR ____________17
2.1.2 PROJETO CINEMA ADENTRO ________________19
2.1.3 PROJETO VIAÇÃO PARAÍBA _________________20
2.1.4 PROJETO CINESTÉSICO ______________________22
2.1.4.1 PARCERIAS E AÇÕES DO PROJETO
CINESTÉSICO - CINEMA E EDUCAÇÃO__________ 23
2.1.5 JABRE – LABORATÓRIO DE ROTEIRO PARA
JOVENS DO INTERIOR DA PARAÍBA__________ 36
3. A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA NA PARAÍBA ______ 43
3.1 O CINESTÉSICO FAZ A CRÍTICA E SUA AUTOCRÍTICA
_____________________________________________ 46
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS __________________________ 54
REFERÊNCIAS __________________________________ 58
1. Cinema e Educação: Projeto Cinestésico na Paraíba
1.1 Tema
Cinema e Educação: Projeto Cinestésico na Paraíba
1.2 Delimitação Temática
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Cinema e
Audiovisual da Universidade Federal Fluminense situa-se no campo das Áreas de
Conhecimento de Cinema e Educação e se constitui uma monografia, à luz de textos
acadêmicos e normativos, sobre o Projeto Cinestésico – Cinema e Educação do
Departamento de Habilitações Pedagógicas do Centro de Educação da Universidade Federal
da Paraíba (DHP/CE/UFPB), que atua, de forma mais ampla, no estado da Paraíba e, de forma
mais restrita, no estado do Rio de Janeiro.
1.3 Problema
Uma vez que não existem Cursos de Licenciatura em Cinema no Estado da Paraíba,
como vêm se (in)formando os possíveis educadores do sucomponente curricular Cinema,
atualmente demandados pelo texto da Lei 13.006, de 26 de junho de 2015? Pretendemos com
o presente Trabalho de Final de Curso sobre o Projeto Cinestésico analisar como vem se
dando parte desta relevante problemática no estado paraibano, contribuindo assim para a
ampliação desse debate no campo do Cinema e da Educação.
1.4 Objetivo
Objetivamos com o presente Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em
Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense levantar textos normativos
(Decretos, Leis e Projetos de Leis) e acadêmicos (dialogando, dentre outros, com Aumont,
Bergala, Bernardet, Carrière, Duarte, Fresquet, Xavier...), conjugando os campos do Cinema e
da Educação, realizar uma monografia, analisando as ações desenvolvidas pelo Projeto
Cinestésico – Cinema e Educação1 de ampla atuação no estado da Paraíba, e, mais
timidamente, no estado do Rio de Janeiro, tecendo crítica e autocrítica, bem como propondo
1 Cf. em https://www.facebook.com/Cinestesico/ e em http://projetocinestesico.blogspot.com.br/.
possíveis encaminhamentos, para contribuir com o debate desses dois importantes campos de
conhecimento.
1.5 Justificativa
Ao explicitarem sobre a expressão-verbete "teoria do cinema", Aumont e Marie (2003,
p. 289-291) classificam-na em seis principais orientações, a saber: cinema como reprodução
ou substituto do olhar; cinema como arte, cinema como linguagem, cinema como escritura,
cinema como modo de pensamento, cinema como produção de afetos e simbolização do
desejo. Afinado com a quinta dessas orientações teóricas, Deleuze (1983; 2007) afirma que a
arte cinematográfica pode ser considerada um campo de conhecimento, atuando
conjuntamente - tanto como as artes plásticas, a literatura e a filosofia - com outros ramos do
pensamento; colocando assim a sua cinefilia ao lado de sua filosofia.
Considerando a relevância de tais apontamentos e o espaço escolar como local de
produção e socialização do conhecimento por excelência, analisamos, dentre nossas leituras e
pesquisas sobre Cinema e Educação, no presente trabalho, para além das publicações
acadêmicas, também os textos de ordem legal (Decretos, Projetos de Lei, Leis...), que tecem
propostas relativas à presença do cinema e/ou do audiovisual na escola.
A sociedade civil organizada e os legisladores brasileiros vêm, já há algum tempo,
procurando modificar o §2º do art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 19962 (LDBEN),
que diz respeito ao ensino da arte como componente curricular obrigatório nos diversos níveis
da educação básica. O Projeto de Lei (PL) 741/2007, encaminhado pelos deputados Elismar
Prado, do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais (PT-MG), e Frank Aguiar, do Partido
Trabalhista Brasileiro de São Paulo (PTB-SP), por exemplo, apresentava mudança na redação
do referido parágrafo, e estabelecia o prazo de três anos para a adequação dos sistemas de
educação, ao propor que o referido parágrafo passasse a vigorar da seguinte maneira:
Art. 26 (...)
§2º. A educação para as artes, componente curricular obrigatório em todos
os níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento
cultural dos estudantes, observará as seguintes diretrizes:
I – o conteúdo será distribuído entre as diversas séries e níveis da educação
básica pelas escolas, abrangerá obrigatoriamente as áreas de:
a) música, teatro e dança;
b) artes visuais (artes plásticas, fotografia, cinema e vídeo) e design;
c) patrimônio artístico, cultural e arquitetônico;
II – as atividades serão sempre ministradas por professores com formação
específica, nas diferentes séries. (PL 741/2007, Web) (Grifos nossos)
2 Cf. em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
Embora os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecidos em 1997
afirmem que “No ensino fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e
trabalho com as várias linguagens e visa à formação artística e estética dos alunos. A área de
Arte, assim (...), refere-se às linguagens artísticas, como as Artes Visuais, a Música, o Teatro
e a Dança.” (PCN, Web, 1997), o PL 741/2007 foi arquivado na 53ª Legislatura do Senado
Federal. Porém, o seu escopo, em todo ou em parte, voltaria em outros PLs apresentados
posteriormente, como é o caso do PL 732/2010, oriundo do Senado Federal, e do PL
2004/2011, de autoria do Deputado Weliton Prado (PT-MG).
O conteúdo obrigatório do ensino de arte nas diferentes etapas da Educação Básica é
assegurado pela Lei nº 11.769/2008, que determina a música como seu conteúdo obrigatório,
mas não exclusivo. Porém, tal lei, no que tange à formação do profissional responsável para
ministrar o conteúdo música, viu sua intencionalidade impedida naquilo que previa o
Parágrafo único de seu artigo 2º, “O ensino da música será ministrado por professores com
formação específica na área.”, que foi totalmente vetado, intensificando o debate sobre o
processo de formação dos educadores desse subcomponente curricular e, por extensão, dos
outros sucomponentes também, como, no caso específico de interesse de nosso trabalho, o do
cinema.
O Projeto de Lei nº 7032/2010, apresentado pelo Senado Federal, demarcava a
obrigatoriedade, mas não a exclusividade das subcomponentes música, artes plásticas e artes
cênicas no ensino de arte, ao propor a alteração da redação dos parágrafos 2º e 6º do art. 26 da
Lei nº 9394/1996; prevendo até um prazo para a adequação da formação profissional:
Art. 2º O prazo para que os sistemas de ensino implantem as mudanças
decorrentes da aplicação desta Lei, relativamente ao ensino de artes plásticas
e artes cênicas, incluída a formação dos respectivos professores em número
suficiente para atuar na educação básica, é de 5 (cinco) anos. (PL
7032/2010, Web)
A Lei nº 12.287, de 13 de julho de 2010, em seu Art. 1º, deu nova redação ao art. 26
da Lei nº 9394/1996, determinando que “O ensino da arte, especialmente em suas expressões
regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.
O Decreto nº 7.083, de 27/01/2010, no Parágrafo 1º de seu art. 1º, dispõe sobre o
programa Mais Educação, definindo educação em tempo integral. No Parágrafo 2º do mesmo
art. 1º, define que a ampliação da jornada escolar diária se dará por meio do
desenvolvimento de atividades de acompanhamento pedagógico,
experimentação e investigação científica, cultura e artes, esporte e lazer,
cultura digital, educação econômica, comunicação e uso de mídias, meio
ambiente, direitos humanos, práticas de prevenção aos agravos à saúde,
promoção da saúde e da alimentação saudável, entre outras atividades. (Dec.
nº 7083/ 2010, Web) (Grifos nossos)
A PL 185/2008, apresentada pelo Senador Cristóvão Buarque, à época membro do
Partido Democrático Trabalhista do Distrito Federal (PDT-DF), propunha acrescentar o
parágrafo 6º no art. 26 da Lei nº 9.394/1996, para obrigar a exibição de filmes e audiovisuais
de produção nacional nas escolas da educação básica, dispondo que o ensino da arte deveria
contemplar o estudo de “artes visuais e audiovisuais, com preferência à exibição e à análise
de filmes nacionais.” (Grifos nossos)
Esse debate se estende até os dias de hoje e os atuais textos normativos imprimem ao
ensino das artes novas realidades, associando, por exemplo, o campo da Educação ao do
Cinema. Por um lado, atualmente, há no campo da Educação as discussões sobre a Base
Curricular Comum (BCC) e sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, por outro,
nos campos do Cinema e da Educação, o debate em torno da regulamentação da Lei nº
13.006, de 26 de junho de 2014 (oriunda do já citado PL 185/2008), imprimindo a
necessidade de novas adequações, atitudes e posicionamentos desses dois campos de
conhecimento e ainda sem perspectivas de adequação do campo de formação de profissionais
para atender a demanda.
Assim, a importância de nos debruçarmos sobre a temática do nosso TCC justifica-se
na perspectiva de se somar a esse debate, qualificando a reflexão sobre os impactos desses
textos normativos no campo prático dos processos ensino e aprendizagem, seja no terreno da
educação formal ou da educação informal (dado a realidade do quadro atual), através do
levantamento de algumas ações de projetos parceiros na formação em linguagem
cinematográfica no estado da Paraíba, mas, sobretudo, e com maior detalhamento, através do
mapeamento analítico e propositivo das diferentes ações do Projeto Cinestésico – Cinema e
Educação.
1.6 Metodologia
Além de fazermos o apontamento dos textos normativos que modificam a atual LDB e
os novos marcos legais sobre o cinema no espaço escolar, pesquisamos também textos
acadêmicos sobre os campos de conhecimento do Cinema e da Educação, fazendo um
levantamento das principais atividades e parcerias do Projeto Cinestésico – Cinema e
Educação, bem como um breve inventário de suas mais relevantes ações na área
cinematográfica (oficinas, mini-cursos, workshops, cursos de extensão, laboratório e
produções fílmicas) e no campo da Educação (ensino, pesquisa, extensão, produção e
publicação de textos acadêmicos). Realizamos a crítica e também a autocrítica, tendo em vista
que somos sujeitos encarnados na coordenação do projeto analisado, e apontamos possíveis
encaminhamentos de ordem prática para minorar aquilo que entendemos ainda como um setor
carente de nossa atenção e atuação: a produção de uma fortuna crítica temática dos produtos
fílmicos paraibanos e seus possíveis engendramentos nos ambientes educativos.
Ao tecermos um percurso imersivo e memorialístico da trajetória do Projeto
Cinestésico, nos 8 anos de sua existência (de 2008 até hoje), socializamos um pouco daquilo
que nos motivou a cumprir tal tarefa, já que tudo tem seu contexto e causalidade, nada está
solto no ar, totalmente à deriva. Portanto, tecemos um breve passeio pelo caminho que nos
trouxe até aqui, ora olhando para os nossos próprios pés – as nossas ações, as nossas bases;
ora mirando para além da janela, observando um cenário um pouco mais amplo. Convidamos
nosso/as possíveis leitores/as a embarcar conosco nesse trajeto, inaugurando, quem sabe,
futuros e proveitosos diálogos.
2. Exibindo, debatendo e produzindo filmes paraibanos em ambientes educativos
Na presente parte deste trabalho, movida pela necessidade de qualificação do debate
em torno da questão da obrigatoriedade da exibição de, pelo menos, duas horas mensais de
produções nacionais cinematográficas nas escolas da educação básica do Brasil, trazida pela
Lei nº 13.0063, de 26 de junho de 2014, que, como já citado antes, modifica a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/19964), procuro situar alguns
exemplos de ações de formação cinematográfica que já vêm ocorrendo na Paraíba e que
surgem mais do voluntariado de alguns de seus sujeitos do que de políticas públicas
específicas voltadas para o setor propriamente dito. Em seguida, analiso, mais
detalhadamente, duas dessas ações, o Projeto Cinestésico e o Laboratório de Roteiro para
Jovens do Interior da Paraíba – JABRE, e a título de exemplificação prática, apresenta com
maior fôlego alguns dos frutos que essas ações vêm obtendo ao longo dos anos. Vinculados
ou não às universidades, promovendo ações contínuas e/ou pontuais, esses projetos criam
desejos de participação no círculo audiovisual em jovens de diferentes cidades, ocasionando
frutos reais e sacudindo a poeira do mapa de penetração dessa arte nas diversas regiões do
estado.
Intencionamos com essa ação destacar tanto a existência de projetos que já trilham em
solo paraibano o caminho da qualificação da produção cinematográfica local quanto o
reconhecimento da própria existência e da qualidade dessa produção que pode muito bem vir
a ser referência em nossas escolas paraibanas no processo de cumprimento da obrigatoriedade
apontada pela Lei nº 13.006/2014.
2.1 - Algumas ações informais de formação cinematográfica na Paraíba
Como já dissemos, ao explicitarem sobre a expressão-verbete "teoria do cinema",
Aumont e Marie (2003, pp. 289-291) classificam-na em seis principais orientações, a saber:
cinema como reprodução ou substituto do olhar; cinema como arte, cinema como linguagem,
cinema como escritura, cinema como modo de pensamento, cinema como produção de afetos
e simbolização do desejo. Afinado com a quinta dessas orientações teóricas, Deleuze (1983;
2007) afirma que a arte cinematográfica pode ser considerada um campo de conhecimento,
atuando conjuntamente - tanto como as artes plásticas, a literatura e a filosofia - com outros
3 Cf. em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13006.htm.
4 Cf. em http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/ldb.pdf.
ramos do pensamento; colocando assim a sua cinefilia ao lado de sua filosofia. Duarte (2002)
recompõe de modo breve a concepção do termo cinefilia, apontando os cinéfilos como:
“espectadores privilegiados” de cinema, frequentemente mais críticos, mais
informados e mais politizados do que os demais, formam-se uns aos outros
permanentemente, de geração em geração. (...) Para eles, o cinema atua
como elemento aglutinador e como fonte inequívoca de conhecimento, de
formação e de informação, configurando-se, assim, como uma prática
“eminentemente pedagógica”. (Duarte, 2002, pp.80-81)
Enquanto Bergala ressalta que:
(...) a arte não pode depender unicamente do ensino, no sentido tradicional
de disciplina inscrita no programa e na grade curricular dos alunos, sob a
responsabilidade de um professor especializado recrutado por concurso, sem
ser amputada de uma dimensão essencial. (Bergala, 2002, p.29)
Considerando a relevância de tais apontamentos e o espaço escolar como local de
produção e socialização do conhecimento, por excelência, pinçamos, dentre nossas leituras e
pesquisas, para analisarmos no presente trabalho, propostas que aproximem Cinema e
Educação no estado da Paraíba.
Historicamente, podemos datar no tempo - sem medo de cometer grandes equívocos -
que o processo de capilarização da formação, produção e exibição cinematográficas no estado
da Paraíba toma força e vigor a partir do ano de 2007, como podemos vislumbrar através das
ações de projetos variados, tais como: Paraíba Cine Senhor5(2007); Paraíba Cinema
Adentro6 (2007); Projeto Cinestésico
7 (2008); VIAção Paraíba
8 (2008); e Laboratório para
Jovens Roteiristas do Interior da Paraíba – JABRE9 (2011).
2.1.1 Paraíba Cine Senhor
O Paraíba Cine Senhor, que com patrocínio do Banco do Nordeste há alguns anos vem
exercendo ações formativas muito mais pontuais do que continuadas em diferentes cidades do
interior paraibano, com algum resultado de produção cinematográfica local, mas sem grandes
penetrações além das fronteiras municipais, foi iniciado em 2007, em Sousa, alto sertão
paraibano, promovendo oficinas e realizando 4 curtas-metragens, com uma equipe formada, à
época, dentre outros, pelo jornalista Orlando Júnior, um dos seus idealizadores; Valdir Santos,
5Cf. em http://paraibacinesenhor.blogspot.com.br/
6 Cf. em https://www.youtube.com/watch?v=1QwCT7DfGWI
7 Cf. em http://projetocinestesico.blogspot.com.br/
8 Cf. em http://projetoviacaoparaiba.blogspot.com.br/
9 Cf. em http://projetojabre.blogspot.com.br/
Coordenador Geral; Shilon Gama, Coordenadora Pedagógica; Míria Ferreira, Secretária de
Produção; e Cristina Pereira, Coordenadora de Eventos.
Figura 1 - Logo do Paraíba Cine Senhor - Reprodução10
Em 2008, sua equipe atuou nas cidades de Areia, Bananeiras, Cabaceiras, Monteiro e
Taperoá, realizando, ao final de suas ações, 19 produções audiovisuais11
. No ano de 2009,
atuou no cariri paraibano, no município de Serra Branca, promovendo a realização de mais 4
curtas-metragens. Em 2010, suas ações se concentraram na oferta de 20 oficinas e na
produção de 8 vídeos de curtas-metragens e de 2 em mini mídias digitais, no brejo paraibano,
na cidade de Alagoa Grande, e no sertão, no município de São José de Espinharas. As
temáticas de suas oficinas e os objetivos deste Projeto podem ser encontrados em seu site
oficial:
As oficinas ofertadas pelo projeto são: Noções de Cinema Brasileiro, A Ética
no Audiovisual, Como Elaborar Projetos Audiovisuais, Fotografia para
Cinema e Vídeo, Noções de Câmera, Maquiagem, Cinema e Problemática
Social, Direito Autoral, Som, Introdução ao Audiovisual, Produção, Mini
Mídias Digitais, Direção de Atores, Como Divulgar Meu Projeto na Mídia,
Trilha Sonora, Continuidade, Direção de Arte e Figurino, Roteiro, Direção e
Edição. Contando também com mostras de cinema brasileiro para escolas e
uma mostra de cinema paraibano aberta ao público em geral.
Apesar de ser um projeto audiovisual, o Paraíba Cine Senhor também se
preocupa com o social e a valorização da realidade local, por isso, todos os
vídeos realizados pelos alunos das oficinas abordam um personagem ou fato
da cidade, buscando enaltecer os valores locais e o respeito pela história
regional. Além disso, vinculado oficialmente em seu inicio a Universidade
Federal da Paraíba, e atualmente de forma extra-oficial, o Cine Senhor ganha
ares de extensão universitária e popular, levando alunos do curso de
Comunicação Social tanto como monitores, oficineiros e participantes das
10
Fonte: http://www.escritalivre.com.br/paraibacinesenhor/index.php. 11
Cf. em http://paraibacinesenhor.blogspot.com.br/p/vi.html.
oficinas junto com alunos locais. Em uma proposta de formação audiovisual,
tanto técnica quanto crítica. (http://paraibacinesenhor.blogspot.com.br.
Acesso em 12 de janeiro de 2016.) (Grifos nossos.)
Destacamos a passagem na citação imediatamente anterior por nos fazer lembrar os
escritos de Guigue:
[...] o cinema do qual falamos não implica nem identificação, nem tampouco
imersão na imagem, mas sobretudo uma abertura para o universal que revela
a particularidade de cada um. O meu próprio mundo é percebido como um
outro mundo, e um outro mundo também é percebido como sendo o meu.
Nos dois casos o cinema me revela que pertenço a um mundo comum, à
comunidade humana, portanto. É nesse sentido que se pode falar de
experiência humana. (2004, p. 328)
2.1.2 Cinema Adentro
Figura 2 - Cartaz de ações do Projeto Cinema Adentro
O projeto Cinema Adentro: interiorização audiovisual na Paraíba foi organizado pela
Associação Brasileira de Documentaristas – Seção Paraíba (ABD-PB), com patrocínio do
Banco do Nordeste, BNDES e Governo Federal, que distribuiu no ano de 2007 em três
cidades do interior um box inicial com 3 DVDs contendo 15 filmes paraibanos de curta e
média-metragens, realizados em película cinematográfica entre 1960 e 2005, já em 2009
promoveu pelo interior a circulação do novíssimo cinema paraibano, sobretudo da produção a
partir de 2005, em exibições seguidas de debates, tendo distribuído 500 caixas com os filmes
em DVD para instituições sem fins lucrativos das cidades que receberam efetivamente ou não
as ações de tal projeto.
Segundo o seu folder de divulgação na web12
, o projeto Cinema Adentro objetiva:
“estimular a formação do olhar e o pensamento crítico das populações das cidades visitadas a
partir do universo regional apresentando nos filmes, fomentando assim o conhecimento do
patrimônio cultural imaterial paraibano.”
2.1.3 Projeto ViAção Paraíba
Figura 3 - Logo do Projeto ViAção Paraíba - Reprodução13
Outra ação de longevidade inegavelmente observável no estado é o Projeto ViAção
Paraíba, aqui já citado antes como um dos parceiros do Projeto Cinestésico. Surgido em
2008, coordenado pelo servidor técnico administrativo da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) e premiado cineasta, Torquato Joel, o ViAção Paraíba vem desenvolvendo suas ações
sem interrupções desde então. O Projeto já percorreu vários municípios paraibanos
(dentre eles, Alagoa Grande, Bananeiras, Boqueirão, Capim, Conceição, Congo, Coremas,
Dona Inês, Itaporanga, Monteiro, Nazarezinho, Picuí, Pocinhos, Princesa Isabel, Rio Tinto,
São João do Rio do Peixe, Sapé, Serra Branca e Umbuzeiro), levando o minicurso
“Aprendendo a Ler Imagens em Movimento”, ministrado pelo seu próprio
12
Cf. em http://www.politicasenegocios.com.br/plugins/p2_news/printarticle.php?p2_articleid=4401. 13
Fonte: http://projetoviacaoparaiba.blogspot.com.br/.
coordenador, e uma mostra de filmes de curtas-metragens nordestinos, dando ênfase
à produção paraibana.
Observando que havia um crescimento do interesse nas atividades do Projeto ViAção
Paraíba por parte de estudantes universitários que se tornam a posteriori excelentes
multiplicadores em diversas cidades pequenas, em 2010, por exemplo, o coordenador
Torquato Joel o desenvolveu em cidades maiores e com campus universitário: Patos, São
Bento e Cuité, respectivamente, em abril, maio e julho, patrocinado pelo Programa BNB de
Cultura, com parceria do BNDES e o apoio das Prefeituras Municipais contempladas. Nesse
referido ano, além da oficina e da mostra de curtas-metragens produzidos na Região Nordeste,
o ViAção Paraíba promoveu debates sobre o movimento de imigração para os grandes
centros, as dificuldades de adaptação e o preconceito contra os nordestinos, intencionando
estimular no interior do estado uma reflexão sobre essa realidade através de filmes que
abordassem o tema. Na referida edição, a programação da mostra de curtas contou com os
filmes Passadouro (PB) e Coxixola existe, é aqui!, (PB), ambos dirigidos por Torquato Joel;
Vida Maria (CE), direção de Márcio Ramos; A Canga (PB), de Marcus Vilar; Tempo de Ira
(PB), Marcélia Cartaxo e Gisela Melo; e A História da Eternidade (PE), de Camilo
Cavalcante.
Segundo o seu coordenador, O ViAção Paraíba busca “estimular o surgimento de
associações culturais, cineclubes e de realizadores de audiovisual nas pequenas cidades, com
a produção de obras sobre a realidade, fatos históricos e o imaginário local.” (JOEL, 2010,
Web14
) (Grifos nossos). Mais uma vez, aqui lembramo-nos dos apontamentos trazidos por
Guigue:
O cinema pode ser apreendido [...] como experiência de vida. O que
significa que ele pode ser outra coisa ou mais do que um objeto estético
suscetível de ser julgado belo ou agradável. Ele pode marcar profundamente
nossa existência da mesma forma que a literatura ou a música. Uma
experiência de vida põe em jogo muito mais coisas do que o nosso simples
gosto, ela põe em jogo nossa própria existência e aquilo que somos. (2004, p.
324)
De fato, há interessantes desdobramentos das atividades nos municípios pelos quais o
ViAção já percorreu com suas ações, despertando ainda mais o interesse pela produção
audiovisual, seja pelo processo de realização de curtas (como veremos mais adiante nesse
texto), seja pela organização de mostras e festivais de cinema nessas próprias cidades, como é
14
Cf. em http://www.agencia.ufpb.br/ver.php?pk_noticia=11582 .
o caso, dentre outros, dos festivais Curta Coremas, indo já para a sua 6ª edição em 2016, e
CineCongo, caminhando esse ano para a sua 8ª edição.
No que toca às políticas federais de fomento à descentralização da produção audiovisual
no Brasil, em 2009, por exemplo, 7 participantes do ViAção foram contemplados pelo
programa Microprojetos Mais Cultura, lançado em edital pelo Governo Federal, cujo
resultado foi divulgado no início de 2010: Paulo Roberto de Souza Junior, da cidade de
Nazarezinho, para produzir o curta-metragem Olhar Particular; Luciano de Azevedo Silva,
de Monteiro, para realizar o Festival do Minuto do Cariri Paraibano; Kennel Rógis Paulino
Batista Nunes, para dirigir o documentário Travessia, e Francisco Andrade Pires Neto, para
gravar A caixa d’água do sertão, ambos de Coremas; Ighor do Egito, de Serra Branca, para
fazer o filme No meu pé de parede; Eduardo Gomes dos Santos, do município de Dona Inês,
para produzir a ficção cinematográfica Metafísica, e Arnaldo Farias de Freitas, do Congo,
para produzir o curta Meu presente precioso.
2.1.4 Projeto Cinestésico - Cinema e Educação
A terceira ação dentre as existentes na Paraíba em torno da formação cinematográfica
que destacamos com maior aprofundamento em nosso trabalho (dado o nosso próprio
envolvimento pessoal e profissional) é o Projeto Cinestésico – Cinema e Educação, criado em
2008, por mim, professora Virgínia de Oliveira Silva, dentro da Linha de Pesquisa
Linguagens Audiovisuais, Formação Cidadã e Redes de Conhecimento do Grupo de Pesquisa
Políticas Públicas, Gestão Educacional e Participação Cidadã, que coordeno no Centro de
Educação da Universidade Federal da Paraíba.
Em suas ações, o Projeto Cinestésico procura articular o tripé universitário - a
pesquisa, o ensino e a extensão, para atingir os quatro grandes objetivos de seu escopo, a
saber: pesquisar, exibir, debater e produzir audiovisual na Paraíba. O Cinestésico vem se
dedicando em todos seus oito anos de existência às tarefas de levantamento de títulos, de
curadoria, de realização de oficinas sobre a linguagem cinematográfica, de laboratórios de
roteiros e de produções de curtas-metragens, além de difusão da cinematografia paraibana em
atividades cineclubistas e mostras de filmes, tanto dentro dos limites do próprio estado em
que se situa quanto nos do estado do Rio de Janeiro.
Figura 4 - Logo do Projeto Cinestésico - Reprodução15
2.1.4.1 Parcerias e ações do Projeto Cinestésico - Cinema e Educação
Na capital da Paraíba, um grande parceiro das ações do Projeto Cinestésico por todo o
estado, sem dúvidas, é o Projeto ViAção Paraíba16
, coordenado pelo experiente cineasta,
educador e servidor técnico da UFPB, Torquato Joel, com quem há cinco anos vimos
desenvolvendo variadas ações (algumas descritas ao longo deste texto), dentre elas, o exitoso
Laboratório de Roteiros para Jovens do Interior da Paraíba – JABRE17
, no Cariri e no
Sertão, e que tem rendido excelentes frutos, através da produção de roteiros que têm gerado
filmes premiadíssimos em festivais no Brasil e no exterior.
Figura 5 - Banner do Projeto ViAção Paraíba - Reprodução
Ainda em João Pessoa, é significativa a parceria existente desde a primeira hora entre o
Cinestésico e o Coletivo ComJunto18
, com o qual já articulamos variadas ações, desde a
produção de curtas-metragens19
como, por exemplo, Puta Luta20
(Virgínia Gualberto, doc.,
15
Fonte: http://projetocinestesico.blogspot.com.br/. 16
Cf. em https://www.facebook.com/viacaoparaiba/. 17
Cf. em http://projetojabre.blogspot.com.br/p/ministrantes.html e em
https://laboratoriojabre.wordpress.com/coordenadores/. 18
Cf. em https://www.facebook.com/comjunto.coletivo/?fref=ts e em
http://www.comjuntocoletivo.blogspot.com.br/. 19
Cf. em http://projetocinestesico.blogspot.com.br/p/audiovisuais-produzidos.html. 20
Cf. em https://vimeo.com/125344803.
37’, 2009), Mulheres em Campus (Virgínia Gualberto, doc., 28’, 2008), Essas Mulheres
(Jéssica Nascimento et alli., doc., 05’, 2008); mini-cursos e oficinas sobre Linguagem
Cinematográfica, a organização de uma edição do Encontro Nacional de Estudantes de
Comunicação Social, e diversas edições da Semana para a Democratização da Comunicação
- DEMOCOM21
, passando pela Mostra do Cinema Africano, pela Mostra Vídeo Índio Brasil,
pelo Dia Internacional da Animação, pelo For Rainbow - Festival de Cinema e Cultura da
Diversidade Sexual, pela criação do Cineclube Jomard Muniz de Britto, a publicação de e-
books pela Editora Xeroca!22
, até a realização dos Cursos de Extensão Cinema e Educação
Crítica, no Instituto de Educação Paraibano – IEP e Cinema, Educação e Infância para
docentes da Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Tamandaré e estudantes das
Licenciaturas da UFPB; incluindo ainda a formação de Grupo de Estudos e Pesquisas para a
produção de artigos sobre Cinema e Educação e sua conseqüente apresentação em diversas
edições do Encontro de Extensão – ENEX23
; do Encontro de Iniciação Científica – ENIC, do
Encontro de Iniciação à Docência24
, e no Programa Institucional de Voluntários de Iniciação
Científica - PIVIC da UFPB, bem como para a preparação de nossos graduandos bolsistas e
voluntários para realizarem concurso em diversos Programas de Mestrado em Comunicação
ou em Educação de diferentes estados do Brasil. É salutar dizer que todos lograram êxito em
importantes programas de Instituições Federais de Ensino Superior da Paraíba (UFPB), Ceará
(UFC) e Rio de Janeiro (UFRJ e UFRRJ).
No Sertão Paraibano, nossa parceria se dá, junto com as ações do ViAção Paraíba,
com a produtora cultural, do município de Nazarezinho, Íris Medeiros que organiza há três
anos o Cine Sítio, promovendo o cinema sertanejo da Paraíba em sua Zona Rural; com a atriz
e produtora cultural, Vilma Cazé, com quem realizamos em 2015 o I Réstia – Mostra de
Cinema de Nova Olinda; e também com a Produtora Gravura, gerenciada na cidade de
Coremas pelo administrador e cineasta Kennel Rógis, que nos convidou para promover
oficinas sobre Cinema e Educação em duas das cinco edições do festival Curta Coremas25
que organiza, e com quem trabalhamos na equipe de sete filmes, sendo três ficcionais:
Sophia26
(Kennel Rógis, fic., 15’, 2013), Dito27
(José Dhiones Nunes, fic., 4’, 2014) e Casa
21
Cf. em http://www.semanademocom.com.br/p/equipe_20.html. 22
Cf. em http://www.editoraxeroca.blogspot.com.br/. 23
Cf. em http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/extensaocidada/article/download/3067/2578 e em
http://www.prac.ufpb.br/anais/XIIENEX_XIIIENID/ENID/Prolicen/Completos/4/4CEDHPPL03.doc. 24
Cf. em http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/prolicen/ANAIS/Area4/4CEDHPPLIC08.pdf e
em http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/monitoriapet/ANAIS/Area4/4CEDHPMT02.pdf. 25
Cf. em http://www.curtacoremas.com.br/ 26
O roteiro deste curta foi desenvolvido no II JABRE, premiado pelo Edital Linduarte Noronha do Fundo de
Incentivo à Cultura do Governo do Estado da Paraíba em 2012, e depois de finalizado recebeu mais de 30
(Sanduí Diniz, doc., em pós-produção); três documentários: Adíos, Jampa Vieja!28
(Virgínia
de Oliveira Silva, doc., 15’, 2013); Diabolin29
(Mailsa Passos e Virgínia de Oliveira Silva,
doc., 15’, 2014) e Costureiras (Mailsa Passos e Virgínia de Oliveira Silva, doc., em pós-
produção); e uma vídeo-aula, na qual o Prof. Dr. Thiago Lima do Curso de Relações
Internacionais da UFPB expõe a sua tese premiada pela CAPES em 2015. Diabolin, inclusive,
foi selecionado para compor a programação da Mostra Curta ANPEd – Mostra de Filmes de
Pesquisa30
, organizada a partir de 2015, durante a 37ª edição da ANPEd em Florianópolis,
objetivando “dar visibilidade a filmes que propiciam a reflexão sobre o uso das ferramentas e
linguagens audiovisuais no processo de produção de pesquisas e conhecimentos”. Após a
exibição, houve debate entre os presentes que puderam dialogar com os(as) representantes dos
curtas e
aprofundar a discussão sobre os diferentes aspectos envolvidos na produção
de filmes de pesquisa, sejam eles os teórico-metodológicos, os de natureza
ética ou mesmo de infra-estrutura e de registro e avaliação da produção
acadêmica ancorada no audiovisual. (Site da 37ª ANPEd31
, 2015)
prêmios nacionais e internacionais, inclusive na França onde foi exibido na Cinemateca Francesa. Além disso,
foi analisado por mim e por mais 4 estudantes do Curso de Licenciatura em Cinema e Audiovisual da Uff. O
artigo resultante deste trabalho coletivo comporá, ao lado de outros artigos sobre vários filmes paraibanos
igualmente analisados por outros pesquisadores convidados, o volume Cinema Paraibano e Imaginário da
Coleção Cinema Paraibano e suas Interfaces que estamos coorganizando. Cf. “Sophia” em
https://www.youtube.com/watch?v=NSEyMQTzSR4, o seu Making Of oficial em
https://www.youtube.com/watch?v=68Kw0Tdwyec e o seu Diário de Bordo em
https://www.youtube.com/watch?v=jPwPWA6PyV4. . 27
Cf. em https://www.youtube.com/watch?v=uyux87D5BK4 28
Cujo roteiro foi premiado pelo Edital Linduarte Noronha do Fundo de Incentivo à Cultura do Governo do
Estado da Paraíba em 2012. Cf. o seu teaser em https://www.youtube.com/watch?v=CY1qrVzLDkA 29
Premiado em 2º Lugar no Curta Criativo da FIRJAN em 2014 - Cf. em
https://www.youtube.com/watch?v=q77cVGXfUvQ e em http://mostradofilmelivre.com/15/info.php?c=9535. 30
Cf. em http://www.anped.org.br/news/conheca-os-filmes-selecionados-para-curta-anped. 31
Cf. em http://37reuniao.anped.org.br/espaco-cinema/.
Figura 6- Equipes técnica e artística da produção de "Ilha" de Ismael Moura em Cuité-PB – Foto de Adom Vieira
Figura 7 - Registro do I Cine Sítio - 2014 – Exibição à céu aberto - Nazarezinho-PB - Reprodução
Figura 8 - Cartaz do I Cine Sítio - Sítio Águas Belas - 2014 - Nazarezinho-RJ - Reprodução
Figura 9 - Cartaz da I Réstia Mostra de Cinema de Nova Olinda - 2015 – Nova Olinda-PB - Reprodução
Figura 10 – Registro da Oficina Linguagem Cinematográfica que ministrei para professores de Coremas, durante o I Curta Coremas - 2011 - Coremas-PB - Reprodução
Figura 11 - Cartaz do Workshop Cinema e Educação: audiovisual em sala de aula que ministrei para professores, durante o 5º Curta Coremas - 2015 - Coremas-PB - Reprodução
No Cariri Paraibano, nossas atividades encontram total apoio na parceria com a
Associação Cultural do Congo – ACCON, presidida pelo professor, produtor cultural e
cineasta local José Dhiones Nunes, com quem produzimos o Laboratório JABRE, junto com o
ViAção Paraíba, a Pousada Paraíso da Serra e a Prefeitura Municipal do Congo. E, em
diversas edições do Festival CineCongo32
que a ACCON organiza, também realizamos, para
professores e estudantes da educação básica, oficinas sobre Linguagem Cinematográfica, e
juntos produzimos dois audiovisuais ficcionais: o já citado Dito e Ultravioleta (José Dhiones
Nunes, fic., em pós-produção).
Figura 12 - Banner do Workshop Cinema e Educação que ministrei para educadores durante o 7º CineCongo - Congo-PB - Reprodução
Figura 13 - Capa do DVD do curta “Dito” de José Dhiones Nunes - Congo-PB – Foto de Breno César
32
Cf. em http://www.cinecongo.com/p/blog-page_7386.html
No Curimataú Paraibano, renovamos a força de nossas atividades na parceria brindada
pela alegria e pelo esforço inspirador do cineasta e diretor teatral Ismael Moura, membro da
Companhia Cuiteense de Teatro e do Ponto de Cultura "Portadores de Eficiência"33
, da
cidade de Cuité, com quem já produzimos um curta ficcional Ilha34
(Ismael Moura, fic., 15’,
2014), que recebeu até o momento mais de cinqüenta prêmios, no Brasil e no exterior, e um
vídeo-clipe espontâneo para a canção Já era35
da banda paraibana Seu Pereira e Coletivo 401.
No Agreste da Paraíba, nossos parceiros são os jovens do Coletivo Cultural Nos’Sarte
- Preto e Branco, da cidade de Duas Estradas, aqui relembrados na figura do estudante
universitário Fábio Rocha, com o qual já realizamos em seu município, junto com o ViAção
Paraíba e a ACCON, o I Cine Estação em Movimento, exibindo e debatendo títulos da
cinematografia paraibana e ministrando oficinas sobre Cinema e Educação para professores e
estudantes das redes municipais de ensino de Duas Estradas, Serra da Raiz, Lagoa de Dentro e
Sertãozinho.
Figura 14 - Cartaz do I Cine Estação em Movimento onde ministrei a oficina Cinema e Educação para professores de Duas Estradas, Serra da Raiz, Sertãozinho, Lagoa de Dentro, Caiçara e Araçagi - Duas Estradas-PB – 2015 - Reprodução
33
Cf. em http://pontoculturacuite.blogspot.com.br/. 34
Cf. em https://www.facebook.com/ILHA-585934611466793/ e no diário de bordo de “Ilha” em
https://www.youtube.com/watch?v=1ILhOO3JFM8. 35
Cf. em https://vimeo.com/132358053.
Na capital fluminense, firmamos parcerias com dois importantes Grupos de Pesquisas
pertencentes à Linha Cotidiano, Redes Educativas e Processos Culturais do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - ProPEd-UERJ:
o GP Currículos, Redes Educativas e Imagens, coordenado pela Prof.ª PhD Nilda Alves, e o
GP Culturas e Identidades no Cotidiano, coordenado pela Prof.ª PhD Mailsa Passos. Destas
parcerias surgiram muitos frutos, tais como duas oficinas ministradas por membros do
Cinestésico, da Produtora Gravura e da Fauno Filmes (com quem temos parceria no estado
de Pernambuco). Sendo uma oficina sobre Linguagem Cinematográfica e outra sobre Cinema,
Educação e Movimentos Sociais, durante os VII e VIII Seminários Internacionais – REDES,
em 2013 e 2015, respectivamente. Além dessas ações, realizamos dois documentários em
coautoria com Mailsa Passos, aqui já citados.
Figura 15 - Programa da VIII Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - Tempo Glauber - Rio de Janeiro-RJ - 2015 - Reprodução
Outra ação relevante que se dá tanto no estado da Paraíba quanto no estado do Rio de
Janeiro é a Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - PB/RJ. Em 2015, a VIII Mostra
Interestadual do Cinema Paraibano – PB/RJ abarcou a temática “Diversidades e
Permanências”, exibindo e debatendo sete curtas-metragens produzidos no sertão e no litoral
paraibanos. Ao longo de suas edições a Mostra já promoveu a circulação e o debate de filmes
produzidos em diferentes cidades das diversas macrorregiões paraibanas pelas seguintes
cidades do estado da Paraíba: Bananeiras, Cabaceiras, Cajazeiras, Congo, Coremas, Duas
Estradas, Mari, Queimadas, Solânea, Sousa e João Pessoa. No estado do Rio de Janeiro, as
edições das Mostras circularam em três municípios, a saber: na cidade do Rio de Janeiro -
capital fluminense -, em Seropédica e em Nova Iguaçu, como veremos a seguir.
Figura 16 - Membros do Cinestésico e cineastas paraibanos na I Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - 2008
Muitas de nossas ações no estado do Rio de Janeiro foram possibilitadas pela parceria
firmada com diferentes profissionais de várias instituições de ensino superior (a já citada com
as Prof.ªs
Nilda Alves e Mailsa Passos da UERJ, no Campus Maracanã; com a Prof.ª Dr.ª
Marília Campos, da Educação do Campo, e o Prof. Dr. Valter Filé, do Instituto
Multidisciplinar, ambos da UFRRJ, nos Campi das cidades de Nova Iguaçu e de Seropédica;
com a Prof.ª Dr.ª Eleonora Ziller, diretora da Faculdade de Letras da UFRJ, no Campus do
Fundão; e com a Prof.ª Dr.ª Adriana Hoffmann, da UNIRIO, no Campus da Praia Vermelha);
de ensino básico (com a Prof.ª Elisabete Teixeira da Rocha, do CIEP João Mangabeira, na
Ilha do Governador, e com o Prof. Adriano Lima, da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch,
em São Cristóvão); e organizações culturais (como a parceria firmada com o presidente do
Conselho Nacional de Cinema, Frederico Cardoso, no Tempo Glauber, em Botafogo),
ocasionando a circulação e o debate de cento e quarenta e três títulos do cinema paraibano,
dentre ficções, documentários e experimentais, durante o período das oito edições da Mostra
Interestadual, compreendido nos anos que vão de 2008 a 2015, sem contar a que estamos
preparando para 2016.
Figura 17 - Flyer da V Mostra Interestadual do Cinema Paraibano, só com produção de cineastas mulheres – PB-RJ - 2012
Figura 18 - Folder da V Mostra Interestadual do Cinema Paraibano, só com produção de cineastas mulheres -PB-RJ - 2012
Figura 19 - Flyer da VI Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - UNIRIO - 2014 – Rio de Janeiro-RJ - Reprodução
Figura 20 - Profª Adriana Hoffman e Profª Virgínia Silva debatendo com estudantes durante a VI Mostra Interestadual do Cinema Paraibano na UNIRIO - 2014 - Reprodução
Figura 21 – Verso de Folder da II Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - 2009
Figura 22 – Frente do Folder da II Mostra Interestadual do Cinema Paraibano - 2009
2.1.5 JABRE – Laboratório de Roteiro para Jovens do Interior da Paraíba
Figura 239 - Torquato Joel, Virgínia de Oliveira Silva e participantes do III JABRE – Congo/PB - 2013 – Reprodução36
Se até bem pouco tempo, só jovens das duas maiores cidades do estado, e Campina
Grande e de João Pessoa, conseguiam, mesmo que com dificuldades, produzir seus filmes na
Paraíba, hoje em dia, isso vem se modificando intensamente, ou seja, apesar da ainda
lastimável falta de investimento digno no Setor Audiovisual da Paraíba, a atual geração de
cineastas está representada por todo o estado e produz filmes que vêm sendo valorizados nos
espaços e janelas em que se inserem. Isso revela uma penetração geográfica e uma
multiplicação quantitativa e qualitativa da produção cinematográfica paraibana como não se
testemunham em nenhum outro estado brasileiro, seja em um estado vizinho como
Pernambuco com seus R$ 23 milhões de investimentos no Setor, seja nos distantes estados do
Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo, com a concentração de riqueza dedicada à área.
Nesses três estados citados, o que percebemos é a forte concentração orçamentária nos limites
geográficos das capitais, ou melhor, em algumas ruas de alguns bairros destas capitais!
Parte considerável da novíssima geração de cineastas paraibanos, sobretudo a situada no
interior da Paraíba, obteve sua formação audiovisual a partir do contato, em seu local de
moradia ou em cidades vizinhas, com projetos de ONGs ou de extensão universitária que
partiram do local de sua sede física ao encontro deles, a exemplo dos já citados e daquele que
36
Fonte: http://projetojabre.blogspot.com.br/p/fotos.html.
passaremos a falar mais detidamente agora, o fruto da parceria existente entre o ViAção
Paraíba e o Projeto Cinestésico: o Laboratório de Roteiro para Jovens do Interior da
Paraíba - JABRE37
.
O JABRE, com o apoio da Associação Cultural do Congo - ACCON; da Prefeitura do
Congo; e das pousadas Paraíso da Serra e Nas Alturas, visa descentralizar, dentre jovens do
interior paraibano, tanto o acesso às informações quanto o processo de formação e produção
cinematográficas, desmitificando-os, aproximando sonhos e realizações. O período de
candidaturas é anunciado nas redes sociais e as inscrições são por e-mail. Dez argumentos
dentre são selecionados por ano (em 2015, ampliou-se para 15, possibilitando a participação
de jovens do eixo Campina Grande-João Pessoa) e em caso de inviabilidade de participação
de alguém, a vagam é ocupada por suplente.
A metodologia do JABRE, além de relaxamento às noites em torno da fogueira e sob o
céu estrelado do Cariri ou do Sertão, proporciona exibição e debate de filmes de diversas
nacionalidades; a socialização de cada argumento para todos os participantes; a formação de
três subgrupos de trabalho (ficção, documentário e doc-fic), pelos quais os coordenadores e
monitores (participantes de edições anteriores) circulam; a discussão coletiva dos projetos de
roteiro a partir dos argumentos modificados nos subgrupos; a retomada do trabalho
individual; nova reunião de subgrupos; reunião geral para a apresentação dos roteiros
finalizados; eleição dos roteiros a ser premiados; exibição de filmes indicados pelos
participantes; e confraternização final.
Figura 24 - Kennel Rógis, de Coremas-PB no I JABRE - Congo/PB - 2011 - Foto Virgínia Silva
37
Cf. em http://projetojabre.blogspot.com.br/p/fotos.html e em
https://www.youtube.com/watch?v=TUILEUJ0ipg.
A projeção audiovisual, muito mais que simples fruição (MARTIN, 1990) possibilita o
ensino e o desvelamento da linguagem cinematográfica. Prioriza a produção paraibana, mas
não exclui outras, cumprindo o princípio cineclubista de promover debates após a exibição,
estimulando diálogos sobre questões de interesse local e global, socializando com os sujeitos
as características cinematográficas, qualificando-os em sua formação na leitura reflexiva das
mídias e nas criações experimentais.
Figura 25 – Coordenadores, Monitores e Participantes do III JABRE - Congo/PB – 2013 - Reprodução38
O processo de discussão dos temas dos roteiros parte sempre de uma perspectiva
descentralizada, na qual todos opinam e sugerem. O caráter formativo das atividades possui
três dimensões: 1) o processo de exibição e a vivência proporcionada pelos debates; 2) a
discussão das atividades e de seus resultados; e 3) os esclarecimentos sobre linguagem
cinematográfica para a criação de roteiros.
Do argumento construído individualmente à elaboração coletiva dos roteiros,
estimulam-se a reflexão e a produção de filmes com temáticas significativas para os
participantes. A produção audiovisual de doze dos roteiros desenvolvidos nas cinco edições
do JABRE em muito incentiva o crescimento da autoestima desses jovens que vivem em
locais sem acesso algum ao cinema.
38
Fonte: http://projetojabre.blogspot.com.br/p/fotos.html.
No fim, os participantes avaliam o JABRE. A maioria relata que não conhecia a
linguagem cinematográfica e afirma que o Laboratório enriqueceu sua percepção fílmica e
também a sua vida pessoal. Informam que não conheciam a cidade do Congo e tão pouco
tanta gente de tantas diferentes cidades como as ali reunidas em torno do mesmo propósito:
aprender a linguagem cinematográfica para escrever roteiros.
É exemplar a experiência de Ramon Batista oriundo da Zona Rural da cidade de
Nazarezinho, do alto sertão da Paraíba, que nunca fora ao cinema antes de participar do I
JABRE - 2011, no Congo/PB, no qual foi escolhido pela maioria dos participantes para
receber o prêmio de produção audiovisual de seu roteiro, através da cessão de diárias da
equipe e do aluguel de equipamentos da produtora Pigmento Cinematográfico.
Os jovens entram com um argumento, saem com um roteiro próprio desenvolvido em
processos individuais e coletivos de criação no JABRE, mas apenas um ou dois participantes
sae(m) com a certeza de concretizá-lo em audiovisual. Os/As demais se organizam para
concorrer a editais de incentivo ao audiovisual no estado da Paraíba para realizar seus
projetos, caso não consigam ser agraciados/as, perseguem seus objetivos através daquilo que
denominam como “cinema de guerrilha” e “cinema de brodagem”, ou seja, a reunião de
parceiros/as amigos/as que levam à cidade sede do projeto seus equipamentos e doam seus
dias de trabalho, embarcando no sonho da realização do filme de um/a amigo/a.
Figura 26 - Ramon Batista, de Nazarezinho-PB no I JABRE - Congo/PB - 2011 - Foto Virgínia Silva.
Fogo-Pagou (2012), de Ramon Batista, registra um cemitério abandonado, cercado de
lendas e histórias contadas pelo menino Henrique Rodrigues e pelo avô do diretor, Manoel
Neves, moradores da Zona Rural de Nazarezinho. Entre as luzes do dia e das velas de sua bela
fotografia, o filme se faz. O canto triste de um pássaro homônimo ao filme pontua a trilha
sonora. Em sua estreia, Batista dividiu com a paulista Iris Junges, diretora de Serra do Mar, o
Prêmio Itamaraty para o Curta-Metragem Brasileiro, no Festival Internacional de Curtas de
São Paulo. Fogo-Pagou participou de diversos festivais e mostras e coleciona uma série de
prêmios.
Figura 27 - Coordenadores e Participantes do I JABRE - Congo/PB – 2011 - Reprodução39
Além deste, outros casos exemplares de roteiros desenvolvidos no JABRE e cujos
produtos cinematográficos têm sido igualmente muito premiados são os de Sophia de Kennel
Rógis da cidade de Coremas do alto sertão paraibano, com 36 prêmios, um deles na França40
;
o de Ilha (2014) de Ismael Moura do Curimataú paraibano, com 60 prêmios; o de Candeeiro
(2014) de Adriano Roberto de São José dos Ramos no Agreste paraibano, com 15 prêmios; e
o de Praça de Guerra (2015) de Edmilson Júnior de Catolé do Rocha, outro município do alto
sertão paraibano, com 6 prêmios.
39
Fonte: http://projetojabre.blogspot.com.br/p/fotos.html. 40
Cf. em https://www.youtube.com/watch?v=UHcD7hWzTBE e em
https://www.facebook.com/SophiaOfilme/videos/954477747905952/.
Figura 28 - Banner da Página no Facebook de Sophia O Filme - Reprodução
Figura 29 - Cartaz de Ilha de Ismael Moura de Cuité-PB – Reprodução
Figura 30 - Cartaz de Fogo Pagou de Ramon Batista de Nazarezinho-PB - Reprodução
Figura 3110 - Cartaz de Candeeiro de Adriano Roberto de São José dos Ramos-PB - Reprodução
3. A Crítica Cinematográfica na Paraíba
Figura 32 – Alguns participantes do Cinestésico na II Mostra em Bananeiras-PB - 2009
A pesquisa, a exibição, o debate e a produção são objetivos que, como descrito
anteriormente, nós do Cinestésico atingimos de diferentes formas, mas nos parecia que ainda
faltava alguma coisa. É inegável que, com honrosas exceções, já há um bom tempo, a
trajetória e o conteúdo da produção cinematográfica paraibana necessitavam de ser objetos de
análises mais rigorosas e profundas, se não em todas, pelo menos em boa parte de suas
diferentes nuances e proposições possíveis.
Talvez uma das primeiras “críticas” cinematográficas impressas na Paraíba tenha sido
o artigo “A arte foto-cinematográfica da Paraíba está de parabéns”, escrito por Alpheu
Domingues e publicado, em 10 de maio de 1929, no jornal A União, versando sobre o
documentário Sob o Céu Nordestino, de Walfredo Rodriguez, produzido entre 1924 e 192841
.
Mas, o amadurecimento da crítica cinematográfica na Paraíba se daria especialmente na
década de 1950, através das contribuições de cinéfilos e cineclubistas aos jornais impressos O
Norte e A União, e, posteriormente, ao Correio da Paraíba, únicos veículos que possuíam uma
coluna dedicada ao cinema.
Linduarte Noronha, Wills Leal, Geraldo Carvalho, Wilton Veloso, José Rafael de
Menezes, José Ramos e Gonzaga Rodrigues estão entre os membros criadores da Associação
de Críticos de Cinema da Paraíba – ACCP42
, em João Pessoa, na metade da década de
41
Cf. em SANTOS, Alex (Int/Org.) Walfredo Rodriguez e a cultura paraibana. João Pessoa: E.G.N., 1989. 42
Ligada atualmente à Academia Paraibana de Cinema. Cf. em
http://www.academiaparaibanadecinema.com.br/site/regulamento.html.
195043
, que, junto a Machado Bittencourt, Romero Azevedo e José Umbelino, criariam em
1964 uma secção da ACCP também em Campina Grande44
. Ainda em 1959, na capital
paraibana, o itabaianense Vladimir Carvalho realizaria o programa de rádio Luzes do Cinema,
colaborando ainda como crítico de cinema iniciante na imprensa local45
, já na década de 1960,
quando despontaria também a veia crítica de Antônio Barreto Neto, Waldemar Duarte e
Virgínius da Gama Melo, dentre outros. Mesmo sem possuir muito acesso às produções
bibliográficas sistematizadas sobre as teorias do cinema, tais críticos de ocasião escreviam
suas considerações sobre a linguagem fílmica de cada produção a que tinham acesso nos
cinemas de rua e cineclubes de então. Juntavam-se a Vladimir Carvalho no movimento
cineclubista, dentre outros, Martinho Moreira Franco, Antônio Barreto Neto, Jurandir Moura
e Paulo Melo46
.
A partir da segunda metade da década de 1960, esse cenário foi se desfazendo e as
críticas cinematográficas foram se extinguindo, conforme avançavam, no campo das ciências,
as novas tecnologias televisivas, e no campo da política, o surgimento e o acirramento da
Ditadura Militar no Brasil, impedindo a liberdade de expressão e dificultando os sonhos de se
exibir, debater e refletir cinema, sobretudo o de países considerados como verdadeiras
ameaças comunistas. Mesmo assim, nas décadas de 1980 e 1990, despontariam novos nomes
na crítica cinematográfica paraibana como, por exemplo, os de Rômulo Azevedo e Romero
Azevedo, nos jornais Diário da Borborema e Jornal da Paraíba.
No atual cenário da crítica cinematográfica paraibana, dentre os quatro nomes
constantes como membros representantes do estado da Paraíba junto à Associação Brasileira
de Crítico de Cinema – ABRACCINE47
, identificamos o nome do Prof. Dr. João Batista de
Brito, aposentado da UFPB, que comprovando a continuidade admirável de sua verve
intelectual, vem escrevendo seus livros e artigos desde a década de 1960 até hoje (antes,
somente na imprensa escrita, e agora, continua publicando em impressos, como a sua coluna
Janela Indiscreta do jornal Contraponto, mas também em seu blog Imagens Amadas,
especializado em cinema). Também destacamos o nome do jornalista Renato Félix que
escreve sobre cinema no periódico Correio da Paraíba e no veículo virtual Boulevard do
Crepúsculo, dentre os membros do Conselho Fiscal da ABRACCINE. Os outros dois nomes
43
Cf. em LEAL, Wills. A União. João Pessoa, 15/11/2014, 2º Caderno, p.8. Disponível em
http://issuu.com/auniao/docs/jornal_em_pdf_15-11-14. Acesso em maio de 2015. 44
Cf. em BASTOS, A. C. Paisagem Cinematográfica: o NUDOC e a produção cultural nas décadas de
1980-1990. Dissertação de Mestrado - CCHLA/UFPB. João Pessoa: Mimeo., 2009. 45
Idem. 46
Cf. a nota 41. 47
Cf. em https://abraccine.org/.
do estado da Paraíba na ABRACCINE referem-se ao Prof. Dr. Lúcio Vilar que, além de sua
produção acadêmica em torno do cinema48
, também possui críticas impressas no Correio da
Paraíba, é fundador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Produção Audiovisual (Neppau),
docente do Curso de Mídias Digitais da UFPB e cineasta responsável pela produção executiva
do Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro que em 2015 caminha para a sua 10ª edição; e
à Prof.ª Dr.ª Regina Behar do Curso de História e coordenadora da Linha de Pesquisa
Culturas Midiáticas Audiovisuais, junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação –
PPGCOM da UFPB, e que possui diversos artigos sobre a produção cinematográfica
brasileira e mundial49
.
Fora da lista de membros da ABRACCINE existem outros profissionais que escrevem
sobre cinema em veículos materiais ou virtuais da mídia paraibana. Para efeito de meros
registro e exemplificação, citaremos aqui alguns deles, salientando, no entanto, que muitos
ficarão de fora apenas por falta de espaço neste texto de apresentação, pelo quê, desde já
humildemente nos desculpamos.
Em Campina Grande, em 2007, foi criado o jornal A Margem, dedicado
exclusivamente ao cinema, como projeto de extensão do Departamento de Comunicação da
UEPB, que contou com a colaboração textual do Professor Romero Azevedo, de João Matias
Oliveira Neto e de Bruno Gaudêncio, dentre outros articulistas.
Na academia paraibana, há outros docentes, além dos já citados ao longo deste texto,
que se dedicam à produção da crítica cinematográfica em suas pesquisas e práticas de ensino,
dos quais citaremos alguns nomes, meramente à título de ilustração, pois não poderíamos
pretender esgotar lista tão extensa: Luiz Antônio Mousinho50
, Sandra Luna51
, Pedro Nunes52
,
João de Lima53
, Bertrand Lira54
, Matheus de Andrade55
, Carlos Dowling56
e Arthur Lins57
.
48
Cf., dentre outros, em VILAR, Lúcio Sérgio de O. O primeiro cineasta: cinema silencioso na Paraíba - marco
zero de uma cinematografia fundada no real - no contexto do cinema brasileiro dos anos 1920. Tese de
Doutorado – Escola de Comunicação e Artes - ECA/USP. São Paulo: Mimeo., 2015. 49
Cf., dentre outros, em BEHAR, Regina Maria Rodrigues. Caçadores de Imagens: cinema e memória em
Pernambuco. Tese de Doutorado – USP. São Paulo: Mimeo., 2002. 50
Cf., dentre outros, em MOUSINHO, Luiz Antonio. A sombra que me move: ensaios sobre ficção e produção
de sentido (cinema, literatura, TV). João Pessoa: Ideia/ Editora Universitária, 2012. 51
Cf., dentre outros, LUNA, Sandra. Dramaturgia e Cinema: ação e adaptação nos trilhos de Um Bonde
Chamado Desejo. João Pessoa: Ideia, 2009. 52
Cf., dentre outros, em NUNES, Pedro. Terceiro ciclo de cinema na Paraíba: tradição e rupturas. In: AMORIM,
Lara e FALCONE, Fernando Trevas (Orgs.). Cinema e memória: o super-8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980.
João Pessoa: Editora da UFPB, 2013. 53
Cf., dentre outros, em GOMES, João de L. Cinema paraibano. João Pessoa: Editora da UFPB, 2009. 54
Cf., dentre outros, em LIRA, Bertrand. Tecnologia e estética: o Super-8 funda a estilística do direto no cinema
paraibano nos anos 1980. In: AMORIM, Lara e FALCONE, Fernando Trevas (Orgs.). Op. Cit. 55
Cf., dentre outros, em ANDRADE, Matheus de. O sertão é coisa de cinema. João Pessoa: Marca de Fantasia,
2008.
Na capital, além do material publicado pela Academia Paraibana de Cinema58
,
fundada em 2008, geralmente, sobre suas próprias ações e acerca da produção de seus sócios,
também houve a produção de matérias mais abrangentes sobre as produções nacionais e
locais, como por exemplo, as redigidas pelo jornalista Ricardo Oliveira em seu blog
Diversitá59
, ao cobrir alguns festivais de cinema da capital, e pela cineasta Ana Bárbara
Ramos, dentre outr@s, no extinto blog Birilo60
, ligado, sobretudo, à programação do
Cineclube Tintin, à Associação Brasileira de Documentarista – Seção Paraíba - ABD-PB
(hoje desarticulada) e aos cineastas que orbitavam essa ambiência. Em 2011, surgiria ainda o
blog Cartaz de Cinema61
, dedicado ao cinema mundial, organizado pelo jornalista
salgueirense radicado em João Pessoa, Simão Mairins, mas de breve duração.
É preciso se destacar ainda que a redação do Jornal da Paraíba publica matérias sobre
cinema, tarefa atualmente a cargo do jornalista Audaci Júnior, que também escreve para o
blog Vida & Arte, ligado ao caderno de cultura deste periódico. O Correio da Paraíba, além
da participação de Renato Félix, conta com a cobertura da área de cinema realizada pelo
jornalista André Luiz Maia que, por vezes, também colabora com o jornal A União. No site
Paraíba Já, encontramos todas as sextas as impressões cinematográficas de Sandro Alves de
França, estudante de Jornalismo na UFPB, que também lançou o site sobre cinema Janela 762
.
3. 1 O Cinestésico faz a Crítica e sua Autocrítica
Após analisarmos todo esse levantamento de ações, nós do Projeto Cinestésico
percebemos que, de uma forma geral (mais uma vez é bom salientar que com raríssimas
exceções), o foco principal da maior parte dessas produções textuais fica muito a reboque dos
catálogos de exibição das salas de cinema comerciais dos shoppings das cidades de João
Pessoa e Campina Grande, ou mesmo de outros estados, que em geral oferecem um leque de
blockbusters aos seus espectadores.
Então, diante deste quadro, realizamos a crítica sobre as ações de outros sujeitos
perante o cinema paraibano, mas também efetuamos a autocrítica sobre nossas próprias ações,
56
Cf. em DOWLING, Carlos F. B. Imago_Rumori: transmutações intersemióticas audiovisuais nos estudos
aplicados aos processos de criação artística em transmediação de Lelê e Baptista Virou Máquina. João Pessoa:
Edições do Autor, 2012. 57
Cf. em LINS, Arthur F. A. Cão sem dono: focalização e construção da personagem na adaptação fílmica do
romance Até o dia em que o cão morreu. Dissertação de Mestrado em Letras - Universidade Federal da Paraíba.
João Pessoa: Mimeo., 2011. 58
Cf. em http://www.academiaparaibanadecinema.com.br/site/regulamento.html. 59
Cf. em http://www.diversita.com.br/sobre-ricardo-oliveira/. 60
O O Blogger ficou no ar até o dia 30/06/2015. Cf. em www.birilo.blogger.com.br. 61
Cujo domínio era www.cartazdecinema.com.br. 62
Cf. em http://janela7.com/.
e decidimos nos dedicar, intencional e academicamente, a voltar o foco do objeto de nossa
escrita, que já fazíamos em nossas pesquisas sobre o cinema nacional e mundial, sobretudo,
para as produções pertencentes ao universo da cinematografia paraibana, com a propositura de
depois socializarmos essas reflexões com um público qualificado, como forma de dar
visibilidade e promover resistência política ao cinema da Paraíba, inscrevendo e obtendo os
aceites de nossos artigos em publicações e eventos especializados como, por exemplo, no
Brasil, no Dossiê Cinema e Educação (que organizei ao lado de Adriana Hoffmann da
UNIRIO) ou em edição normal da Revista Teias63
do ProPEd-UERJ, em livro64
organizado
pelas professoras Mailsa Passos e Rita Ribes do ProPEd-UERJ, e em publicação65
organizada
pelo Prof. Erenildo Carlos e pela Profª Dfaiana Vicente do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFPB, em edições do Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação66
, na 37ª Reunião da ANPEd67
, nos Encontros da
Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual – SOCINE68
, nas edições do
Colóquio de Cinema e Arte na América Latina - COCAAL69
, no V Seminário de Pesquisas
em Mídia e Cotidiano70
do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da
63
Cf. o Dossiê Cinema e Educação da Revista Teias do PROPED-UERJ que organizei com a ProfªAdriana
Hoffmann em http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php/revistateias/issue/view/85; o meu artigo
Passado, presente e futuro: memória, educação e cinema na Paraíba em
http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php/revistateias/article/view/2033/1465; a entrevista As relações
entre o cinema e a educação no Festival de Cinema de Ouro Preto (CINEOP) – realizada pelas
ProfªAdriana Hoffmann e Profª Virgínia Silva com Valeska Fortes de Oliveira em
http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php/revistateias/article/view/2030; e o meu release sobre o
documentário de Pedro Nunes Escola se Preconceitos em
http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php/revistateias/article/view/1480/1098. 64
Em que publiquei o meu artigo O delicado no cinema de Ettore Scola. Cf. em Mailsa Carla Pinto Passos;
Rita Marisa Ribes Pereira. (Org.). Educação experiência estética. 1ª ed., Rio de Janeiro: NAU, 2011, p. 105-
122. 65
Cf. o meu artigo Representação do paraibano em "O homem que virou suco" em CARLOS, Erenildo J;
VICENTE, Dafiana do S. S.,. (Org.). A importância do ato de ver. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011, p. 57-
73. 66
Cf. o meu artigo, em coautoria com Maria José da Silva, Educação crítica e audiovisual na formação de
professores em http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/R5-2556-1.pdf e a indicação do meu
artigo A linguagem em "O Pagador de Promessas" em
http://www.intercom.org.br/congresso/2010/trabalhos/IJ-DT4.pdf. 67
Cf. o meu artigo Educação (in)formal em cinema na Paraíba em http://37reuniao.anped.org.br/wp-
content/uploads/2015/02/Trabalho-GT16-4134.pdf. 68
Cf. os meus artigos Redes de Formação em Dois Períodos do Cinema Paraibano em
http://www.socine.org.br/adm/ver_sem2.asp?cod=89, Hibridização de gêneros em Amanda e Monick de
André da Costa Pinto em http://www.socine.org.br/detalhe12.asp, e A imagem do paraibano no cinema em
http://www.socine.org.br/detalhe13.asp e em http://www.socine.org.br/anais/2013/interna.asp?cod=397. 69
Cf. nas programações os meus artigos Amanda e Monick: documentário e ficção em
http://cocaal2014.wix.com/cocaal2014#!quarta-feira/c192n e Laboratório para Jovens Roteiristas do Interior
da Paraíba - JABRE em http://www.cocaal.uff.br/wp-content/uploads/2015/04/GT-1-Cinema-Audiovisual-e-
Educa%C3%A7%C3%A3o-Trabalhos-Selecionados.pdf e em http://www.cocaal.uff.br/wp-
content/uploads/2015/04/Livro-do-Programa-III-Cocaal.pdf. 70
Cf. o meu artigo O som em “Sophia” de Kennel Rógis, nos anais do evento, em
http://www.ppgmidiaecotidiano.uff.br/.
Universidade Federal Fluminense – Uff, nos 6º SBECE e 3º SIECE – Educação,
Transgressões, Narcisismos71
, nos Seminários Internacionais Matizes da Sexualidade no
Cinema – olhares transversais72
e Audiovisualidades, Desejo e Sexualidades73
, e, no exterior,
no VII Congresso Iberoamericano de Docência Universitária74
, em Porto, Portugal, em The
Latin American Studies Association International Congress, em Nova Iorque, nos Estados
Unidos, na Revista de Corpus Latente, v. 5, n. 1 (2015)75
, de Portugal, e no V Congresso
Internacional em Estudos Culturais – Género, Direitos Humanos e Ativismos da
Universidade de Aveiro, em Portugal.
Assim, a origem da idéia de se organizar a Coletânea do Cinema Paraibano e suas
Interfaces foi tomando corpo, revelando-se como um desdobramento de nossas ações, a partir
do entendimento que tivemos, ao considerarmos que, para o amadurecimento e para a
consagração da produção cinematográfica de um dado local, é preciso haver também a
realização constante de uma fortuna crítica que reflita, questione e instigue tal cinematografia,
divulgando-a e qualificando-a em suas possibilidades de construção.
Temos certeza de que na concretização desta atividade não esgotaremos a totalidade
das questões e temáticas que a, cada vez mais variada e esteticamente rica, produção do
cinema paraibano vem configurando, desde a sua origem na década de 1920 com Walfredo
Rodrigues, até as suas realizações imagéticas e sonoras mais recentes, que vêm
paulatinamente alargando a restrita zona produtiva, polarizada até pouco tempo entre
Campina Grande e João Pessoa, surgindo de Leste a Oeste e de Norte a Sul do estado. E
esgotar tal diversidade e complexidade nem poderia realmente ser a nossa intenção.
Se, por um lado, o que nós do Projeto Cinestésico propusemo-nos a fazer, ao
produzirmos a Coleção, possui reconhecidas limitações desde a sua origem, por outro, revela
também alguns avanços na tentativa de diminuir um pouco o enorme débito que existe para
com a memória e o registro escrito sobre o cinema do nosso estado. Tal débito é refletido
71
Cf. meu artigo Educação e cinema: a "partilha do sensível" no cinema paraibano contemporâneo e
interiorano em
http://www.sbece.com.br/resources/anais/3/1430021749_ARQUIVO_VIRGINIA_SILVA_ARTIGO_RS_Canoa
s_06.2015.pdf. 72
Cf. meus artigos Quando a noite cai: o velado e o visível; Segredos íntimos: matizes da sexualidade
judaica (em coautoria com Janaine Aires), e Em nome do Padre (em coautoria com Marília Lopes de Campos)
em https://forumacademicodoaudiovisual.files.wordpress.com/2013/01/ebook_matizes_sexualidade_cinema.pdf. 73
Cf. meu artigo Tecendo fios da trama de "Amanda e Monick" em
https://www.academia.edu/9841717/Audiovisualidades_Desejo_e_Sexualidades_org._2012. 74
Cf. o resumo de meu artigo, em coautoria com Marília Lopes de Campos, Audiovisuais na formação de
professores em instituições de ensino superior em
http://www.fpce.up.pt/ciie/cidu/Comunicacoes/Organizacao_Resumos_Comunicacoes_Tema6.pdf. 75
Cf. o meu artigo Pesquisando educação e cinema na Paraíba em
http://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2015/article/view/319 e em
http://revistas.ua.pt/index.php/ilcj/article/view/3623/3342.
nitidamente na longa ausência de uma reflexão que se debruçasse com atenção sobre a
produção da filmografia da Paraíba, com um fôlego maior do que o revelado em seus releases
promocionais, distribuídos por produtoras e realizadores(as), e diuturnamente replicados pelas
mídias.
A inexistência de uma produção mais constante neste sentido pode ser causada pelo
desinteresse que campeia o meio cultural em relação à filmografia especificamente paraibana
ou pela impotência dos críticos, incluindo-se aqui os próprios críticos locais, diante da
volumosa e insaciável invasão de filmografia estrangeira (leia-se, estadunidense) no mercado
exibidor interno.
A delimitação temática de meu TCC ganha força então a partir do acúmulo de ideias
originadas, paralelamente ao desenvolvimento do projeto Cinema, Educação e Gênero
realizado em meu estágio de pós-doutoramento em Educação no Laboratório Educação e
Imagem do ProPEd-UERJ, sob a supervisão da Prof.ª PhD Nilda Alves, e sobretudo depois,
durante as disciplinas de Prática de Pesquisa e Ensino III e Prática de Pesquisa e Ensino IV
ministradas pelas Professoras Eliany Salvatierra e Alice Yamasaki, no Curso de Licenciatura
em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, à luz do intenso debate que
se realizava, tanto em uma quanto em outra das instituições aqui citadas, sobre a Lei nº
13.006, de 26 de junho de 2014, que acrescenta o parágrafo 8o ao artigo 26 da Lei n
o 9.394, de
20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, constituindo a
exibição obrigatória por, no mínimo, duas horas mensais de filmes de produção nacional nas
escolas de educação básica, como componente curricular complementar integrado à sua
proposta pedagógica. Assim, prosseguimos mais firmemente ainda com o nosso intuito de
fomentar a produção da crítica acerca do cinema produzido na Paraíba, mas agora com a
cereja do bolo: buscando propor sugestões (que não queremos que sejam entendidas como as
únicas, nem como as melhores, mas simplesmente que sejam recebidas como aquilo que são
de fato, ou seja, meramente sugestões aos/às nossos/as possíveis educadores/as leitores/as,
que poderão, por sua vez, melhorá-las, modificá-las ou mesmo recusá-las) de abordagem dos
filmes paraibanos analisados, bem como de sua temática, nos ambientes educativos.
Realizamos, então, uma intensa curadoria para selecionar alguns filmes paraibanos, dentro do
leque vastíssimo desta cinematografia, agrupando-os, em quatro temáticas que julgamos
pertinentes, tanto ao conjunto de filmes quanto para o enriquecimento do debate no ambiente
educacional, a saber: Gênero, Sociedade, Cotidiano e Imaginário.
Após esse processo, convidamos coordenadores de diversos Grupos de Pesquisa de
diferentes instituições de ensino superior de alguns estados do Brasil, identificados em seus
estudos tanto com alguma das quatro temáticas acima elencadas quanto com questões
pertinentes ao campo teórico-prático do cinema estrito senso, para que, nas reuniões regulares
de seus membros participantes, assistissem e debatessem os filmes paraibanos pertencentes à
interface que lhes era mais pertinente. Na sequência, aqueles que desejassem poderiam,
individual ou coletivamente, produzir artigos, analisando forma e conteúdo fílmicos,
aproximando as reflexões de sua pesquisa acadêmica de modo transversal à temática
escolhida para os volumes que compõem a Coleção Cinema Paraibano e suas Interfaces e
apontando possíveis maneiras de se abordar o(s) filme(s) analisado(s) no espaço escolar.
Os filmes reunidos em cada uma das quatro temáticas foram analisados em artigos que
juntos compõem uma publicação específica. Assim, para a produção exitosa da publicação
Cinema Paraibano e Gênero76
, que se constitui no primeiro volume da Coleção Cinema
Paraibano e suas Interfaces, tivemos a honra de contar com a preciosa e eclética colaboração
textual, em torno de sua temática, elaborada por dezoito profissionais ligados a diferentes
instituições de ensino superior dos estados do Rio de Janeiro, do Ceará, de Pernambuco e da
Paraíba, conforme descrevemos a seguir.
Figura 33 - Capa do Volume I da Coleção Cinema Paraibano e suas Interfaces: “Cinema Paraibano e Gênero”
76
Cf. em http://editoraxeroca.blogspot.com.br/ e em
http://issuu.com/editoraxeroca/docs/cinemaparaibanoeg__nero?e=13737214/34531142.
O pesquisador-doutorando na Linha de Pesquisa “Cultura e Memória”, do Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Laércio
Teodoro da Silva oferece uma interessante análise sobre a representação de gêneros em três
filmes de Jomard Muniz de Britto (a quem dedicamos carinhosamente o volume Cinema
Paraibano e Gênero, dado o relevante pioneirismo ao abordar tal temática na cinematografia
pernambucana e paraibana, ainda na era do Super-8), em seu artigo vinculado à dissertação
que defendeu junto ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade
Federal do Ceará – UFC, e intitulado “De como a história e o amor podem ser contados de
modos diferentes: a trilogia parahybana de Jomard Muniz de Britto”.
No ProPEd-UERJ, dentro da Linha de Pesquisa “Cotidianos, Redes Educativas e
Processos Culturais”, a nossa parceria tomou um enorme fôlego junto aos membros do
Grupo de Pesquisa Currículo, Narrativas Audiovisuais e Diferença - CUNADI, coordenado
pela Prof.ª Drª Conceição Soares. São frutos desse belo e esforçado caminhar produtivo os
seguintes trabalhos: “Masculinidades, corpo e pertencimento: leituras imagéticas a partir do
documentário Perequeté”, escrito conjuntamente por Luciana Santos, Rafaela Rodrigues da
Conceição e Rosane Tesch, sobre o documentário Perequeté, de Bertrand Lira; “Dando
Closes na produção de discursos sobre gênero e sexualidade: pistas para pensar modos de
existência nos/dos/com os cotidianos das escolas”, do trio Igor Helal, Bruno Rossato e
Vinicius Leite Reis, enfocando o filme Closes, de Pedro Nunes; “Sobre a dor e a delícia de ser
o que é: tramas entre o documentário Homens, questões de gênero e sexualidade e as
pesquisas nos/com os cotidianos em educação”, de autoria da própria coordenadora
Conceição Soares, junto com João Barreto e Leonardo Nolasco-Silva, no qual dialogam com
os muitos depoentes/personagens do documentário Homens, de Bertrand Lira e Lúcia Caus;
“Entre putas e lutas - ou breves considerações sobre o filme Puta Luta”, construído por Maria
Clara Boing, Nelson Santiago e Simone Gomes da Costa, a partir da reflexão tanto sobre os
depoimentos d@s entrevistad@s (prostitutas sindicalizadas ou não, clientes, políticos,
artistas...) quanto dos registros de suas ações no já citado documentário Puta Luta, de Virgínia
Silva; e ainda “Se fosse doença, eu teria procurado a cura, se fosse aprendido, eu já teria
desaprendido, se fosse opção, eu jamais teria optado!” – Produzindo pensamentos com o
documentário O Diário de Márcia, apresentando as diversas reflexões realizadas por
Cristiano Sant’Anna, Ana Letícia Vieira e Suellen Vasconcelos, sobre o documentário O
Diário de Márcia, de Bertrand Lira.
Em “Era uma vez uma praia”, Emerson da Cunha de Sousa, jornalista e Mestre em
Comunicação, Professor de Jornalismo na Faculdade Maurício de Nassau, membro do
Laboratório de Investigações em Corpo, Comunicação e Artes da Universidade Federal do
Ceará – LICCA/UFC, desenvolve a sua análise sobre dois filmes paraibanos, Closes, de Pedro
Nunes e Era Vermelho o seu Batom, de Henrique Magalhães, carregando propositalmente em
marcas discursivas e confissões que revelam afetos e afetações, nas quais o sujeito analítico
demonstra-se também como sujeito passível de análise.
Há ainda dois textos que escrevi, como fundadora do Projeto Cinestésico,
organizadora do volume Cinema Paraibano e Gênero, coorganizadora da Coleção Cinema
Paraibano e suas Interfaces, docente do Centro de Educação da UFPB, coordenadora do
Grupo de Pesquisa “Políticas Públicas, Gestão Educacional e Participação Cidadã”, e
membro dos Grupos de Pesquisas “Currículos, Redes Educativas e Imagens” e “Culturas e
Identidades no Cotidiano” do ProPEd-UERJ. O primeiro deles é “Amanda e Monick:
documentário e ficção”, focando os limites existentes entre os gêneros cinematográficos -
documentário e ficção – no curta Amanda e Monick, do jovem cineasta André da Costa Pinto,
da cidade de Barra de São Miguel-PB. Este trabalho foi reelaborado a partir de comunicações
realizadas no 16º Encontro da SOCINE, em São Paulo, em 2012, e no II COCAAL, também
em São Paulo, em 2014. O segundo artigo é “Sacudindo A Poeira dos Pequenos Segredos”,
no qual reflito tanto sobre a questão de gênero que seu conteúdo aborda quanto sobre o
processo de composição cinematográfica (ritmo, enquadramento, angulação, mise-en-scéne...)
de A Poeira dos Pequenos Segredos, primeiro filme de ficção do documentarista cajazeirense
Bertrand Lira que, como se pode facilmente notar, possui outros três filmes analisados, dado a
sua inclinação produtiva aproximada com a temática que elegemos para esta edição: Gênero.
Por último, mas não menos importante, destacamos a enorme contribuição realizada
pela jornalista Janaíne Aires, doutoranda em Comunicação pela UFRJ, membro do
Cinestésico desde 2008, participante ativa do Coletivo ComJunto77
e do Observatório da
Mídia Paraibana78
, que brilhou em todo o processo de desenvolvimento do projeto de
designer gráfico para o projeto da referida publicação, seja na configuração de uma identidade
visual própria para a Coleção Cinema Paraibano e suas Interfaces que coorganiza comigo, e
para cada um de seus volumes, seja no processo de diagramação e registro dos livros junto ao
escritório de direitos autorais da Biblioteca Nacional.
Entendemos que essa Coleção complementa de forma qualificada as ações difusoras
do Projeto Cinestésico, uma vez que, além de ajudar a socializar ainda mais o conhecimento e
77
Cf. em http://comjuntocoletivo.blogspot.com.br/. 78
Cf. em http://observatoriodamidiaparaibana.blogspot.com.br/.
o acesso ao cinema paraibano, estimula a criatividade na entrada dessa cinematografia no
ambiente escolar, através das sugestões apresentadas pelos/as autores/as em seus artigos.
Figura 34 – Fac-Símile do site do Correio da Paraíba, anunciando o lançamento do e-book Cinema Paraibano e Gênero - Reprodução
79
79
Cf. em http://correiodaparaiba.com.br/cultura/literatura/e-book-cinema-paraibano-e-genero-reune-textos-sobre-curtas-locais-e-o-tema/.
4. Considerações Finais
Enquanto não se regulamenta a Lei nº 13.006/2014 que reza que a exibição de filmes
nacionais constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica
da escola, tornando obrigatória a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de
ensino básico por, no mínimo, duas horas mensais, e não se criam novos cursos de
licenciatura em Cinema pelo Brasil afora, ao passo que já se encontra em pleno cumprimento
em diversos lugares do Brasil o Decreto nº 7.083/2010 que institui o Mais Educação, com a
possibilidade do “desenvolvimento de atividades de acompanhamento pedagógico,
experimentação e investigação científica, cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital,
educação econômica, comunicação e uso de mídias...” (Art. 1º, § 2º) no contra-turno escolar
para garantir a efetivação do tempo integral educacional - para o quê o próprio documento do
MEC que apresenta as 20 Metas do Plano Nacional de Educação aponta o audiovisual80
como
um dos caminhos possíveis para se atingir a Meta 6, justamente a da integralidade do tempo
escolar -, julgamos ser importante neste Trabalho de Conclusão de Curso reunir e analisar as
diversas ações informais de formação na linguagem cinematográfica que ocorrem no Estado
da Paraíba, especificamente e em detalhes as do Projeto Cinestésico – Cinema e Educação,
que envolve tanto educadores quanto jovens de diferentes macrorregiões paraibanas e que têm
gerado impactos interessantes nos cenários locais de alguns municípios envolvidos em suas
atividades.
Provas disso são os desdobramentos de ações de projetos que geram novos projetos;
de argumentos que se tornam roteiros que, por sua vez, viram filmes que circulam para além
dos limites territoriais da Paraíba e do Brasil; são os jovens que sem nunca antes terem ido ao
cinema assumem a sua parcela de protagonismo, tornando-se realizadores audiovisuais e/ou
produtores de festivais de cinema em sua cidade (CineCongo, Curta Coremas, Curta Cuité,
Cine Sítio, Curta Picuí, Cine Estação em Movimento, Cine Paraíso...), promovendo exibições
e debates cinematográficos, oficinas de cinema e educação para os educadores locais e mini-
cursos para os jovens estudantes aprenderem a ler imagens em movimento, reunindo, ainda,
diversas manifestações artísticas (música, teatro, dança, fotografia...) ao lado da
cinematográfica, colocando sua cidade no mapa turístico da região, aquecendo a economia
local, fomentando embriões de uma identidade cultural própria e criando cinefilia e práticas
cineclubistas nas escolas da localidade.
80
Cf. em http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf.
Aos/às possíveis leitores/as desejamos que as análises aqui socializadas tanto
contribuam para o conhecimento mais aprofundado do cenário informal da formação
cinematográfica paraibana quanto para a inspiração qualificada do uso do cinema no ambiente
escolar, como normatiza a tão debatida Lei 13.006/2014. Se isto de fato ocorrer, terá valido o
nosso esforço, sobretudo quando ainda nos defrontamos em nosso estágio de Prática de
Pesquisa e Ensino com realidades descritas assim pelos professores de uma escola estadual:
Figura 35 - Fac-Símile de detalhe da Dimensão 2 – Prática Pedagógica dos Indicadores de Qualidade da Educação preenchidos por professores da escola na qual realizamos estágio de PPE IV (onde Verde = Consolidada, Amarelo =
Ocorre mas não está consolidada e Vermelho = Inexistente)- Reprodução
Figura 36 - Fac-Símile de detalhe da Dimensão 6 – Ambiente físico escolar dos Indicadores de Qualidade da Educação preenchidos por professores da escola na qual realizamos estágio de PPE IV (onde Verde = Consolidada, Amarelo =
Ocorre mas não está consolidada e Vermelho
Como vimos até aqui, embora o Projeto Cinestésico tenha inegável êxito em boa parte
de suas ações, a formação que ele oferece aos jovens e educadores reside no terreno da
informalidade, ou seja, ainda há muito o que se fazer no campo do ensino formal de Cinema e
Audiovisual nas escolas de educação básica brasileiras!
Figura 37 - Oficina Cinema e Educação - III Curta Coremas - Coremas-PB - 2013 - Reprodução81
Figura 38 - Exibição, debate e oficinas promovidos pelo Cinestésico no Instituto de Educação da Paraíba - IEP – 2009 - Reprodução
81
Fonte: http://www.curtacoremas.com.br/p/oficinas.html.
Figura 39 – Docentes do IEP com parte da equipe do Cinestésico em 2009 – Foto Virgínia Silva
Figura 4011 - Parte da equipe discente e docente da EEEMEMI Presidente João Goulart, onde estagiei em 2015.2 – Foto Carlos Edmário
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BREVE CURRÍCULO
VIRGÍNIA DE OLIVEIRA SILVA
Pós-Doutora em Educação pelo ProPEd-UERJ; Doutora em Educação pela Uff; Mestre em
Educação pela UFRJ; Especialista em Teoria Literária pela UFRJ, Bacharel e Licenciada em
Letras - Português/Literaturas pela UFRJ; Bacharel em Comunicação Social - Rádio e TV
pela UFPB. Professora Associada da Universidade Federal da Paraíba. Coordenadora do
Projeto Cinestésico – Cinema e Educação, do Projeto Educação Legal, do Laboratório JABRE
e do Projeto Cine Jango. Poeta, autora dos livros “Temporal” e “Espelhos de Palavras”.
Responsável pela pesquisa de linguagem do romance “Cidade de Deus” de Paulo Lins,
publicado pela Cia das Letras. Co-roteirista de “Redemunho” (Fic., 22’, Triunfo-PB, 2016);
Co-roteirista e Co-diretora de “Diabolin” (Doc, 15’, Olinda e Recife-PE e Rio de Janeiro-RJ,
2014) e de "Traça Palavras" (Exp, 20', João Pessoa-PB, 2010); Assistente de Direção de
“Ultravioleta” (Fic, 15’, Congo-PB, 2016); “Ilha” (Fic., 15’, Cuité-PB, 2014), de “Sophia”
(Fic., 15’, Coremas-PB, 2013); e de “Dito” (Fic., 4’, Congo-PB, 2014); Roteirista e Diretora
de “Adiós, Jampa Vieja!” (Doc, 15’, João Pessoa-PB, 2013); “Putas Lutas” (Doc, 37’, João
Pessoa-PB, 2009); “Mulheres em Campus” (Doc, 28’, João Pessoa-PB, 2008); “Ditados
Populares” (Fic., 1’ e 3’, João Pessoa-PB, 2008); "Aceita uma balinha?" (Fic., 1’ e 2’, João
Pessoa-PB, 2007); "Bebê nota 10" (Exp., 3’, João Pessoa-PB, 2007); "Forma e Conteúdo"
(Exp., 7’, João Pessoa-PB, 2007).
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