curso/disciplina: direito penal militar · 2017-07-05 · a unificação de penas no concurso de...
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Curso/Disciplina: Direito Penal Militar
Aula: Aplicação da pena no concurso de crimes. Causas de extinção da punibilidade.
Professor (a): Marcelo Uzêda
Monitor (a): Lívia Cardoso Leite
Aula 29
UNIFICAÇÃO DA PENA NO CASO DE CONCURSO DE CRIMES
Esse tema é importante e pouco explorado em prova porque é muito diferente do estudado no
Direito Penal Comum. O sistema de unificação de penas na esfera militar é muito diferente do sistema do
Código Penal Comum. Há algumas polêmicas que causam divergência nos Tribunais Superiores.
Nos concursos material e formal a regra é a soma de penas. A unificação de penas no concurso
de crimes segue a mesma regra, que é a soma de penas. Pela letra da lei, a princípio não há diferença. O
Direito Penal Militar prevê a regra do somatório de penas tanto para o concurso material quando para o
concurso formal. Isso soa estranho. O concurso formal não era para ter regra mais benéfica? No concurso
material o somatório, o cúmulo material, não é nenhuma novidade. No concurso formal somar as penas é
extremamente gravoso para o réu. O sistema militar estabelece o somatório. A regra do somatório é feita da
seguinte forma:
CPM, art. 79 - Concurso de crimes
Quando o agente, mediante uma só (concurso formal) ou mais de uma ação ou omissão (concurso
material), pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se as
penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de todas; se, de espécies diferentes, a pena única é a mais grave,
mas com aumento correspondente à metade do tempo das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58.
Há peculiaridades. Se as penas são da mesma espécie, como no caso de reclusão e reclusão,
soma tudo. Somam-se as penas. No caso de detenção e detenção também soma tudo. Essa é a pena
unificada, tanto para o concurso material quanto para o concurso formal. Se as penas são de espécies
diferentes como fazer o cálculo? Soma-se a pena mais grave com a metade da soma das menos graves.
Penas de mesma espécie – Ex: 2 homicídios. Pena de reclusão de 12 anos para cada homicídio.
A pena unificada será a soma: 12 + 12 = 24 anos de reclusão, pois são penas da mesma espécie.
Penas diferentes – Ex: 1 lesão corporal grave. Foi aplicada pena de 2 anos de reclusão. 2 lesões
corporais leves – 1 ano de detenção para cada uma. A pena unificada será 2 anos de reclusão + 1 ano de
detenção, que é a metade da soma das penas menos graves. Há 2 lesões com pena de 1 ano de detenção, o
que dá 2 anos. A metade é 1 ano. A pena unificada será de 3 anos de reclusão.
Essa regra é boa para o concurso material. No concurso material o agente fica no lucro se são
penas de espécies diferentes. Imaginemos que em um concurso material o agente pratique lesão grave,
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lesão leve, ou seja, tudo no mesmo pacote. Ele será julgado no mesmo processo por essas várias lesões.
Nesse caso ele está no lucro, pois ficará com a pena mais grave + a metade da soma das penas menos
graves. Se são da mesma espécie, nada de novo, soma-se tudo.
No concurso formal realmente fica estranho, fica mais gravoso para o réu porque se soma no
concurso formal ao invés de se aplicar uma pena com exasperação, como na regra do Direito Penal Comum.
Na esfera comum o art. 70 do CP segue o critério da exasperação.
CP, art. 70 - Concurso formal
Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso,
de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
Só aplica-se, na esfera comum, o cúmulo material, se houver concurso formal impróprio ou
cúmulo material benéfico. Na esfera comum a regra é a exasperação – 1 pena + exasperação de 1/6 até ½.
Essa é a regra do art. 70 do Código Penal Comum.
Na esfera militar não se segue a exasperação, mas o somatório. Ao invés de se fazer
exasperação, somam-se as penas de mesma espécie. Há o somatório, o cúmulo mesmo. Nas de espécies
diferentes há a soma da mais grave com a metade das menos graves.
Mitigação: há uma ressalva no art. 81 do CPM.
CPM, art. 81 - Limite da pena unificada
A pena unificada não pode ultrapassar de trinta anos, se é de reclusão, ou de quinze anos, se é de
detenção.
Redução facultativa da pena
§1º A pena unificada pode ser diminuída de um sexto a um quarto, no caso de unidade de ação ou
omissão, ou de crime continuado.
Graduação no caso de pena de morte
§2° Quando cominada a pena de morte como grau máximo e a de reclusão como grau mínimo, aquela
corresponde, para o efeito de graduação, à de reclusão por trinta anos.
Cálculo da pena aplicável à tentativa
§3° Nos crimes punidos com a pena de morte, esta corresponde à de reclusão por trinta anos, para
cálculo da pena aplicável à tentativa, salvo disposição especial.
Como fica o limite da pena unificada?
Para a unificação tem de individualizar a pena de cada crime. Quando há um concurso de
crimes, primeiro fixa-se a pena de cada um dos crimes e depois faz-se a unificação. A pena individual de cada
crime tem de respeitar o art. 58 do CPM.
CPM, art. 58 - Mínimos e máximos genéricos
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O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção
é de trinta dias, e o máximo de dez anos.
A pena unificada no concurso de crimes tem outro limite, o do art. 81 do CPM. Essa é uma
norma benéfica. Se a pena unificada é de detenção, o limite é de 15 anos. Se a pena unificada é de
reclusão, o limite é de 30 anos. O Direito Penal Comum não faz nenhuma diferença.
CP, art. 75 - Limite das penas
O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
§1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30
(trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
§2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova
unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.
Nesse art. do Código Penal Comum, a pena unificada para fins de encarceramento, o limite da
pena unificada, é de 30 anos. Na esfera militar, a pena unificada para efeitos de encarceramento está
limitada, ou seja, o limite de encarceramento contínuo na esfera militar no caso da pena de detenção é de
15 anos, e no caso da pena de reclusão é de 30 anos. O Direito Penal Militar é mais benéfico quando a pena
unificada é de detenção. Na esfera comum o máximo de encarceramento é de 30 anos invariavelmente,
independente da pena.
No crime continuado segue-se qual regra?
A mesma, o somatório.
O crime continuado não foi estabelecido para beneficiar, para que a pessoa não tenha uma
pena muito exagerada se ela praticar diversas infrações de mesma espécie nas mesmas condições? Sim.
Historicamente o crime continuado veio de uma ideia do período dos glosadores. Eles inseriram essa
hipótese para a mitigação, em tempos antigos. O sujeito, ao praticar o 3º furto, era condenado à pena de
morte. Por obra dos glosadores foi inserida a ideia, para que se quebrasse um pouco o rigor da lei. Criou-se a
ficção do crime continuado.
No crime continuado do Direito Penal Militar a pena unificada é o somatório. Segue-se a regra
anterior.
CPM, art. 80 - Crime continuado
Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser considerados como continuação do primeiro.
Parágrafo único. Não há crime continuado quando se trata de fatos ofensivos de bens jurídicos
inerentes à pessoa, salvo se as ações ou omissões sucessivas são dirigidas contra a mesma vítima.
O crime continuado vem de uma cadeia, uma sequência de crimes da mesma espécie. O que
são crimes da mesma espécie?
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O Direito Penal Militar, no art. 78 do CPM, traz uma definição.
CPM, art. 78 - Criminoso habitual ou por tendência
Em se tratando de criminoso habitual ou por tendência, a pena a ser imposta será por tempo
indeterminado. O juiz fixará a pena correspondente à nova infração penal, que constituirá a duração mínima da pena
privativa da liberdade, não podendo ser, em caso algum, inferior a três anos.
Limite da pena indeterminada
1º A duração da pena indeterminada não poderá exceder a dez anos, após o cumprimento da pena
imposta.
Habitualidade presumida
2º Considera-se criminoso habitual aquele que:
a) reincide pela segunda vez na prática de crime doloso da mesma natureza, punível com pena
privativa de liberdade em período de tempo não superior a cinco anos, descontado o que se refere a cumprimento
de pena;
Habitualidade reconhecível pelo juiz
b) embora sem condenação anterior, comete sucessivamente, em período de tempo não superior a
cinco anos, quatro ou mais crimes dolosos da mesma natureza, puníveis com pena privativa de liberdade, e
demonstra, pelas suas condições de vida e pelas circunstâncias dos fatos apreciados em conjunto, acentuada
inclinação para tais crimes.
Criminoso por tendência
3º Considera-se criminoso por tendência aquele que comete homicídio, tentativa de homicídio ou lesão
corporal grave, e, pelos motivos determinantes e meios ou modo de execução, revela extraordinária torpeza,
perversão ou malvadez.
Ressalva do art. 113
4º Fica ressalvado, em qualquer caso, o disposto no art. 113.
Crimes da mesma natureza
5º Consideram-se crimes da mesma natureza os previstos no mesmo dispositivo legal, bem como os
que, embora previstos em dispositivos diversos, apresentam, pelos fatos que os constituem ou por seus motivos
determinantes, caracteres fundamentais comuns.
Essa definição não existe no Direito Penal Comum. No art. 78 do CPM há a dica, uma
orientação. O art. 78 do CPM não vale na sua integralidade hoje. A única parte que tem aplicação hoje é a
definição de crimes da mesma espécie. No restante deve ser considerado como revogado, como
incompatível com a Constituição, pois ele cria a situação do delinquente contumaz e aplica uma pena sem
limites, ilimitada. É um absurdo. O art. 78 deve ser considerado incompatível com a Constituição apesar de
não haver nenhuma definição expressa do Supremo quanto ao tema. O professor entende que o art. não é
compatível com a Constituição porque estabelece uma pena sem limite máximo. A pena é indeterminada.
Isso é absurdo. O art. não foi recepcionado por violar o princípio da individualização da pena. A única parte
que se pode salvar do art. 78 do CPM é o conceito de crime de mesma espécie. São crimes que possuem
definição semelhante. Correspondem ao mesmo tipo penal ou basta a violação ao mesmo bem jurídico. É
necessário que eles tenham, além de atingir o mesmo bem jurídico, semelhante definição ou correspondam
ao mesmo tipo penal. Isso dá para salvar do art. 78 do CPM. Esse é o entendimento dos Tribunais Superiores
quando aos crimes de mesma espécie para fins de continuidade.
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Há de existir também o nexo de continuidade, que é a verificação das mesmas circunstâncias
de tempo, lugar, modo de execução e outras semelhantes. Os Tribunais Superiores entendem que para que
se reconheça a continuidade o intervalo não pode ser superior a 30 dias entre um crime e outro. Esse é um
critério genérico, que não está na lei, mas que a jurisprudência adota. Considera-se como lapso temporal,
intervalo máximo, 30 dias. Passados os 30 dias não há mais o nexo de continuidade entre tempo, lugar,
modo de execução e outras circunstâncias semelhantes.
O Supremo Tribunal Federal adota a Teoria Objetiva e Subjetiva, exigindo também que na
continuidade seja reconhecida a unidade subjetiva. Para que haja a continuidade, o Supremo afirma que
tem de haver uma unidade subjetiva. A cadeia delitiva tem de estar vinculada, amalgamada, com o mesmo
elemento subjetivo. Essa é a concepção do Supremo Tribunal Federal, que contraria boa parte da doutrina,
que dispensa, entendendo que o nexo de continuidade é objetivo – tempo, lugar, modo de execução e
outras circunstâncias semelhantes. O Supremo agrega o elemento subjetivo, seguindo uma Teoria Objetiva-
Subjetiva para o reconhecimento do crime continuado. Essas são considerações que já se estudam na esfera
comum.
Voltando-se ao Direito Penal Militar, há uma polêmica interessante. O STM entende que deve
ser aplicado o art. 71 do Código Penal na aplicação da pena do crime continuado.
CP, art. 71 – Crime continuado
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
O STM entende que deve ser aplicada a regra do art. 71 do Código Penal Comum para a fixação,
a unificação da pena no crime continuado. Pega-se uma pena, se idênticas, ou a mais grave se diversas, e
exaspera-se de 1/6 a 2/3, conforme o nº de infrações dessa cadeia delitiva. Essa é a posição do STM. É
interessante porque o STM normalmente preserva o Código Penal Militar, sendo mais severo. Nesse ponto
ele foi mais benéfico. Entende o STM que a regra do art. 71 é mais benéfica e, portanto, deve ser aplicada na
esfera militar.
O Supremo Tribunal Federal discorda. O STF diz que existe regra expressa. Bem ou mal o Código
Penal Militar cuidou do tema, existindo um critério para a aplicação da pena. Então não se pode aplicar a lei
penal comum se o Código Penal Militar que é especial tem regramento próprio. O Supremo Tribunal Federal
que normalmente quebra o rigor da lei militar, nesse caso reforça o seu rigor. O Supremo discorda do STM.
STF – HC 86854/SP – 1ª Turma – Min. Carlos Britto – Julgamento em 14.03.2006.
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR DE CONCUSSÃO (ARTS. 305 E 53 DO CPM). EXIGÊNCIA DE
DINHEIRO PARA NÃO-LAVRATURA DE AUTOS DE INFRAÇÃO AMBIENTAL. PENA-BASE. MAJORAÇÃO. PRETENDIDA
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APLICAÇÃO AOS CRIMES MILITARES DA REGRA DA CONTINUIDADE DELITIVA, PREVISTA NO ART. 71 DO CÓDIGO
PENAL COMUM. IMPOSSIBILIDADE. Revela-se devidamente fundamentada a sentença que, para majorar em dois
meses a pena-base do acusado, se louva na especial gravidade do crime e no seu modo de execução, tudo conforme
o art. 69 do Código Penal Militar. Não se aplica aos crimes militares a regra de continuidade delitiva a que se reporta
o art. 71 do Código Penal Comum. Isso porque, nos termos do art. 12 do CP, a inexistência de regramento específico
em sentido contrário é premissa da aplicação subsidiária do Código Penal às legislações especiais. No caso, tal
premissa não se faz presente. Bem ou mal, o Código Penal Militar cuidou de disciplinar os crimes continuados de
forma distinta e mais severa do que o Código Penal Comum. Não se pode mesclar o regime penal comum e o
castrense, de modo a selecionar o que cada um tem de mais favorável ao acusado. Tal proceder geraria um
"hibridismo" incompatível com o princípio da especialidade das leis. Sem contar que a disciplina mais rigorosa do
Código Penal Castrense funda-se em razões de política legislativa que se voltam para o combate com maior rigor
daquelas infrações definidas como militares. Precedentes. Ordem denegada.
Esse caso é uma referência de que a Corte discorda da posição do STM, mandando aplicar o art.
80 do Código Penal Militar.
Para que se quebre um pouco esse rigor, há a redução de pena no concurso de crimes – art. 81,
§1º, do CPM. Para que se alivie um pouco essa tensão gerada pela soma das penas, pelo critério gravoso
adotado pelo Direito Penal Militar, o art. 81 do CPM prevê uma redução de pena, uma mitigação desse
sistema.
Se há concurso formal, unidade de ação ou omissão, ou crime continuado, a pena unificada
pode ser reduzida de 1/6 a ¼, pela previsão do art. 81 do CPM. O concurso material não tem redução.
Prevalece o somatório, a regra do art. 79 do CPM. Se as penas forem da mesma espécie, soma-se tudo. Se as
penas forem de espécies diferentes, a mais grave soma-se com a metade das menos graves. No caso do
crime continuado e do concurso formal há uma saída, uma mitigação do rigor do sistema com uma
redução de pena de 1/6 a ¼.
Para o professor, parece estar o Supremo certo. O Supremo Tribunal Federal faz prevalecer a
especialidade do Direito Penal Militar, decidindo corretamente, pois aplica-se o art. 81 do CPM no concurso
formal e no crime continuado. Imaginemos que haja 1 lesão corporal grave – pena de 2 anos; e 2 lesões
culposas em concurso formal. Pega-se a pena mais grave + a metade da soma das menos graves.
Imaginemos que isso resulte em 3 anos de reclusão. Agora faz-se a aplicação do redutor de 1/6 a ¼. Ao
contrário do Direito Penal Comum, que usa 1 pena exasperada, o Direito Penal Militar usa as penas
somadas, há um critério de somatório, e depois há a diminuição, à luz do art. 81 do CPM, tanto para o
concurso formal quanto para o crime continuado. A dinâmica é inversa daquela da esfera comum. Esse tema
é pouco explorado em prova de concurso, sobretudo em 1ª fase. Em uma sentença, em prova de
Magistratura Militar, pode ser discutido esse critério de aplicação de pena. Em uma fase discursiva isso pode
ser discutido, mas é um tema pouco explorado na fase objetiva. Essa é a regra, a letra da lei. O tema não
está morto porque o Supremo e o STM têm divergido quando ao critério de aplicação de pena.
Em provas para a Justiça Militar da União há vinculação ao STM, podendo-se seguir a regra do
art. 71 do CP. De acordo com a jurisprudência do STM, aplica-se a regra do art. 71 do CP no crime
continuado. Se for seguido o sistema legal, corroborado pelo Supremo Tribunal Federal, mantém-se a regra
do art. 79 do CPM para o concurso material, formal e crime continuado (o art. 80 do CPM remete ao art. 79
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do mesmo Código), e aplica-se o redutor do art. 81 do CPM, mitigando-se o rigor, segundo o critério adotado
pelo Supremo Tribunal Federal.
CPM, art. 81, §2º - Quando há pena de morte cominada no grau máximo. Ex: crime de traição.
CPM, art. 355 – Traição
Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de
nação em guerra contra o Brasil:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo.
É crime do tempo de guerra. Para o tempo de guerra o legislador cominou para alguns crimes a
pena de morte como grau máximo. O legislador colocou a morte como grau máximo e a reclusão como grau
mínimo. No caso do art. 355 do CPM a reclusão é de 20 anos e a morte é o grau máximo. Pode não ser
aplicada a pena de morte, já que não há obrigação de aplicá-la a todo o crime a que ela é cominada. Pena de
morte deve ser aplicada em último caso, somente nos casos mais graves, mesmo em tempo de guerra. A
pena de morte corresponde a uma reclusão de 30 anos.
No crime de traição, a pena de morte é o grau máximo. O grau mínimo é 20 anos de reclusão.
Se a pena de morte não for aplicada, há 20 anos de reclusão para o mínimo e 30 anos de reclusão para o
máximo. Isso é o que o art. 81, §2º, do CPM quer informar. Se o juiz optar pela pena privativa de liberdade,
ou seja, não aplicar a pena de morte, o máximo dela será de 30 anos. Essa é a previsão de uma baliza
máxima para o efeito de aplicação de pena. Se a pena de morte é cominada mas não aplicada no caso
concreto, a reclusão é no máximo de 30 anos, e no mínimo a que for cominada ao tipo penal.
- Dosimetria das penas não privativas de liberdade:
CPM, art. 83 - Penas não privativas de liberdade
As penas não privativas de liberdade são aplicadas distinta e integralmente, ainda que previstas para
um só dos crimes concorrentes.
A aplicação das penas principais restritivas de direitos não segue o critério trifásico. As penas
acessórias, que também não são privativas de liberdade, não seguem o critério trifásico. As penas acessórias
acompanham as penas principais.
Ex: suspensão e reforma. São penas principais não privativas de liberdade. Como fazer a
aplicação dessas penas? Aplicam-se todas as penas, se forem vários crimes em concurso, separadas e
distintamente para os diversos delitos. Não há sistema trifásico. Elas são aplicadas integralmente,
distintamente. Se cumuladas serão somadas as penas por crimes diferentes.
O mesmo se dá no tocante às penas acessórias, que não são privativas de liberdade. São
aplicadas integralmente e distintamente, sem atendimento a sistema trifásico, que é adotado para as penas
privativas de liberdade.
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EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
Causas de extinção da punibilidade:
CPM, art. 123 - Causas extintivas
Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; - Abolitio criminis.
IV - pela prescrição;
V - pela reabilitação;
VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo (art. 303, § 4º).
Parágrafo único. A extinção da punibilidade de crime, que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro, não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles
não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão.
Esse rol é diferente do encontrado no art. 107 do Código Penal Comum.
CP, art. 107 - Extinção da punibilidade
Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
No rol do Código Penal Militar não há renúncia, perdão do ofendido, perempção e decadência.
Por que essas situações não são previstas no Direito Penal Militar?
Primeiramente, porque não existe no Direito Penal Militar a ação privada originária. A ação é
pública e, via de regra, incondicionada. Não existe ação penal privada originária no Direito Penal Militar.
Logo, não há perempção, decadência, renúncia e perdão do ofendido. Não há porquê fazer previsão já que
não existe a ação privada originária. São causas de extinção da punibilidade vinculadas à ação penal privada.
A decadência não seria aplicável à ação pública condicionada à representação? Sim, mas no
Direito Penal Militar não existe ação pública condicionada à representação. A única ação condicionada
existente é a da requisição do Ministro da Defesa ou do Ministro da Justiça. Não há ação condicionada à
representação do ofendido. Há ação condicionada à requisição do Ministro da Defesa nos crimes contra a
segurança externa do país, ou do Ministro da Justiça quando o crime contra a segurança é praticado por
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civil. São situações excepcionais em que a ação é condicionada à requisição do Ministro. Não há ação
condicionada à representação do ofendido na esfera militar. Por isso não existe decadência como causa
extintiva de punibilidade.
Assim, as 4 situações mencionadas não são previstas na esfera militar porque não há ação
privada exclusiva, originária, e nem ação pública condicionada à representação.
No art. 123 do CPM também não é encontrado o perdão judicial. Há perdão judicial na parte
especial do CPM. Cuidado! O perdão judicial não foi previsto como causa extintiva de punibilidade na parte
geral do Código Penal Militar. Não existe previsão de perdão judicial no homicídio culposo do Código Penal
Militar. O homicídio culposo não tem previsão de perdão judicial. O legislador não fez tal previsão. Pode-se
fazer analogia? Isso é sustentado, mas os Tribunais Superiores não têm acolhido. Nem o Supremo Tribunal
Federal tem admitido analogia no caso do homicídio culposo praticado por militar, aplicando uma benesse.
Não há a previsão. A jurisprudência é muito rigorosa quanto a isso.
Há perdão judicial na receptação culposa.
CPM, art. 255 - Receptação culposa
Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela manifesta desproporção entre o valor e o
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, até um ano.
Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa não é superior a um décimo do salário
mínimo, o juiz pode deixar de aplicar a pena.
Há extinção da punibilidade por perdão judicial na receptação culposa. Como o legislador não
fez previsão na parte geral e só fez a menção no delito do art. 255 do CPM, não se pode criar, inventar. Essa
é a visão tradicional. Em uma visão mais aberta, flexível, em uma abordagem de funcionalismo penal, poder-
se-ia permitir, pensar. Porém, o Direito Penal Militar não é funcionalista. Ele não segue a visão de Jakobs ou
de Roxin, do funcionalismo. Ele ainda é muito atrelado ao tradicional. O Código Penal Militar é próximo da
Teoria Psicológico-Normativa, a Teoria Neoclássica. É um sistema que não permite tantas aberturas, por
conta desse anacronismo do Código Penal Militar. Poder-se-ia sugerir mais flexibilização, mas pela visão
tradicional o Código é bem restrito, bem atrelado ao previsto em lei.
O rol acima é de causas de extinção da punibilidade. Há a extinção de punibilidade pela morte,
anistia e indulto (o Código Penal Militar não fala de graça) etc.
Há questões objetivas bem literais em que a banca examinadora coloca que é causa de extinção
da punibilidade prevista no Código Penal Militar a graça. Pela letra da lei não está previsto. Porém, graça é
indulto individual.
Esse tipo de questão cai muito na 1ª prova, prova objetiva, para as Forças Armadas.
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A Lei de Execução Penal trata graça e indulto como sinônimos. Graça é o indulto individual e
indulto é a graça coletiva. A LEP trata dessa forma. O Supremo Tribunal Federal entende que graça é
gênero e indulto é espécie. O Supremo diz que o indulto é uma espécie de graça coletiva. Não há diferença
em termos de essência dos institutos. Pela letra da lei realmente o Código Penal Militar não fala de graça.
Abolitio criminis – nada de novo.
Reabilitação – O Código Penal Militar a prevê como causa extintiva de punibilidade. Não há
essa previsão no Código Penal Comum.