da escola pÚblica paranaense 2009 · textos literÁrios como instrumento para a formaÇÃo do ......
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS
EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
MARIA DO CARMO ALAMINOS MENDES CAIRES
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
TEXTOS LITERÁRIOS COMO INSTRUMENTO PARA A FORMAÇÃO DO
LEITOR DA EJA
Produção Didático-Pedagógica constituída na forma de Caderno Pedagógico, apresentada como um dos requisitos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2009, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em parceria com a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento. Orientadora: Profa. Dra. Izabel Cristina de Souza Gimenez (UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon/PR)
ASSIS CHATEAUBRIAND
2009
SUMÁRIO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO.......................................................................................3
TÍTULO.............................................................................................................................3
INTRODUÇÃO.................................................................................................................3
UNIDADE I - DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS................3
UNIDADE II- ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS..................5
UNIDADE III - RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS........................19
UNIDADE IV- QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS......27
UNIDADE V- AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS.....................31
REFERÊNCIAS..............................................................................................................31
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Maria do Carmo Alaminos Mendes Caires
Área de conhecimento: Língua Portuguesa/Literatura
Professora Orientadora IES: Profa. Dra. Izabel Cristina Souza Gimenez
IES vinculada: UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon
Escola de Implementação: CEEBJA – Assis Chateaubriand
Público Objeto da Intervenção: Ensino Médio – EJA
Duração: 3 meses (4 aulas semanais); 2º semestre de 2010.
TÍTULO- TEXTOS LITERÁRIOS COMO INSTRUMENTO PARA A FORMAÇÃO
DO LEITOR DA EJA
INTRODUÇÃO
A proposta de trabalho aqui apresentada tem como objetivo maior a formação de
leitores que consigam ampliar seus conhecimentos, tornando-se críticos e atuantes no
contexto em que vivem. Dessa forma, a proposta de encaminhamento didático pauta-se
no Método Recepcional apresentado pelas professoras Maria da Gloria Bordini e Vera
Teixeira de Aguiar. Esse método apresenta cinco etapas: determinação do horizonte de
expectativas; atendimento do horizonte de expectativas; ruptura do horizonte de
expectativas; questionamento do horizonte de expectativas; e ampliação do horizonte de
expectativas. Essas etapas serão respeitadas e apontadas durante esta apresentação.
UNIDADE I - Determinação do Horizonte de Expectativas
Para determinar o horizonte de expectativas dos alunos, foi elaborado um
questionário que tinha como objetivo detectar qual o assunto que mais lhes chamava a
atenção, e que eles queriam discutir. A partir desse questionário foi determinada a
temática: “as relações familiares”, já que era o que desejavam pelo menos a maioria,
discutir.
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E EDULTOS-
CEEBJA- ASSIS CHATEAUBRIAND
Nome.................................................................................... Sexo F ( ) M ( ) Idade........
1- Você trabalha:
( ) sim ( ) não.
2- Em seu trabalho realiza algum tipo de leitura:
( ) sim ( ) não.
3 - O que mais gosta de fazer nas horas vagas? Enumere, de 1 a 7, de acordo com a
ordem de preferência (1 para o que mais gosta).
( ) praticar esporte ( ) ver TV ( ) ouvir música
( ) ouvir histórias ( ) navegar na internet ( ) ler.
4- Gosta de ler:
( ) sim ( )não.
3- Frequenta a biblioteca:
( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) nunca.
4- Costuma ler:
( ) somente para tarefas escolares ( ) para se distrair
( ) para aprender religião ( ) para se informar.
5- Onde costuma ler:
( ) em casa ( ) no trabalho ( ) na escola ( ) em lugar nenhum.
6- Qual material de leitura tem acesso diariamente:
( ) livro ( ) revista ( ) jornal ( ) gibis ( ) bíblia
( ) outros................................................................
7- Qual leitura você mais gosta? Numere, de 1 a 9, de acordo com a ordem de
preferência. (1 para o que mais gosta)
( ) aventura ( ) política ( ) romântica ( ) policial ( ) ficcional
( ) humor ( ) poesia ( ) religioso ( ) informativo.
8- Qual a temática que gostaria de ler e discutir:
( ) religiosa ( ) familiar ( ) política ( ) esportiva ( ) policial.
UNIDADE II- Atendimento do Horizonte de Expectativas
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Após determinado o horizonte de expectativas, a próxima etapa a ser trabalhada
é a do atendimento do horizonte de expectativas. Nesta etapa, o aluno/leitor é
introduzido na temática, porém ainda não se tem o objetivo de romper com seus
conhecimentos, mas, sim, situá-lo na temática e atender seu horizonte de expectativas.
Para essa etapa foram escolhidas as imagens, as crônicas e contos que serão
apresentados e analisados a seguir.
Conversando sobre o gênero -- leitura de imagem
Conversando sobre o texto
Observe atentamente a imagem da escultura e responda:
Quando se olha para uma obra de arte, vê-se um filme, lê-se um livro, observa-se
uma pintura ou escultura, cria-se na mente uma série de pensamentos que podem ser
diferentes a cada vez que se repete a mesma atividade de ver e observar a obra de
arte. O ato de observar e produzir pensamentos novos pode ser chamado de leitura
de imagem. Esta pode ser desenvolvida e incrementada, permitindo que o
observador consiga uma série de informações e significados, assim ampliando seus
conhecimentos e seus horizontes (BARON, 2009).
A imagem que segue é a da Pietá, obra de Michelangelo, que, influenciado pelos
ideais estéticos helenísticos, utilizou enormes blocos de mármore para fazer uma
escultura de grande porte e beleza.
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Imagem retirada do site <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=1>.
(Acesso em: 1º mar. 2010, 20:50).
1- Que leitura você faz da imagem dessa escultura?
2 - Que sentimentos essa imagem desperta em você?
3- Você sabe quem são as personagens representadas na escultura?
4- Onde você imagina que esteja essa escultura?
5- Observe a escultura e repare nos detalhes dela. Que detalhes chamam mais a sua
atenção? Justifique.
Agora observe a imagem seguinte:
Segundo Graça Proença,
1991, a cultura elenística
resultou da fusão da cultura
grega com a cultura oriental,
promovida pela expansão do
Império Macedônico com
Alexandre Magno. E essas
transformações históricas
interferiram profundamente
na arte grega, sobretudo o
desaparecimento da
independência da pólis grega
dando lugar à formação de
imensos reinos. Para a
autora, “[...] os historiadores
modernos deram a esses
reinos o nome de
helenísticos, termo usado
para designar a cultura -
semelhante à dos gregos -
que se desenvolveu nesses
reinos após a morte de
Alexandre até a conquista
final por Roma”
(PROENÇA, 1991, p. 33).
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Imagem retirada do site
<http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=1>.
(Acesso em: 12 mar. 2010, 20:56).
Conversando sobre o texto:
1- Que leitura você faz dessa imagem?
2- Que sentimentos essa imagem desperta em você?
3- Podemos associar a cena dessa imagem à nossa atualidade. Em que situações a
reconhecemos?
4- Compare essa fotografia à escultura de Michelangelo. Que semelhanças e diferenças
são percebidas através da leitura dessas duas imagens?
5- Observe o olhar da figura feminina tanto da escultura quanto da fotografia. Há
alguma semelhança? Se houver, como você a identifica?
A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. As batalhas ocorreram nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja. Essa guerra pode ser enquadrada no contexto histórico da Guerra Fria. O Vietnã havia sido colônia francesa e, no final da Guerra da Indochina (1946-1954), foi dividido em dois países. [...] a relação entre os dois Vietnãs, em função das divergências políticas e ideológicas, era tensa no final da década de 1950.
Em 1959, vietcongues (guerrilheiros comunistas), atacaram uma base norte-americana no Vietnã do Sul. Esse fato deu início à guerra. Entre 1959 e 1964, o conflito restringiu-se apenas ao Vietnã do Norte e do Sul [...]. Disponível em:
<http://www.diaadia.pr.
gov.br/tvpendrive/mod
ules/mylinks/viewcat.p
hp?cid=1>. (acesso em 12 mar. 2010, 20:56).
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6- Que situações vividas por mães, atualmente, poderiam ser representadas por essas
imagens?
A última crônica Fernando Sabino
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao
balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta.
Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco
ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária
algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de
ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, (...)
(Fragmento)
Conversando sobre o texto
1 - Quem narra o texto?
2 - Qual é a profissão dele? O que ele faz?
3 - Em que época do ano os fatos aconteceram? Que passagens do texto comprovam
essa informação?
4 - Em que local o narrador entrou?
5 - O que o narrador está procurando?
6- O que chamou a atenção dele?
Conforme visto nas imagens e nas discussões realizadas, uma das leituras possíveis
é a questão familiar. Em função disso, veremos, na sequência, um texto escrito. É
uma crônica, que também trata dessa temática.
O texto que vamos ler foi escrito em 1965 por Fernando Sabino, um grande cronista
brasileiro moderno, e publicado no livro A Companheira de Viagem.
Destaca-se que os textos serão
lidos, na íntegra, pelos alunos, diretamente na obra em que foram
publicados.
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Compreendendo melhor o texto
1- O narrador nos relata uma situação diferente das que ele estava acostumado a viver.
Que fato chamou a atenção dele e por quê?
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2- Como ele caracterizou as pessoas que entraram no botequim?
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3- Que acontecimento importante a família estava comemorando?
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4- O que a família pediu ao garçom?
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5- De que forma o homem do balcão atendeu o pedido (como ele agiu)?
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6- Qual o significado do bolo para o atendente, para os pais e para a criança?
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7- Quais as ações praticadas pelo casal? Comente a importância delas.
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8- Quais os valores morais e sociais mostrados no texto em relação:
ao autor, no primeiro momento?
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à família?
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ao atendente?
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9 - O texto termina com a seguinte afirmação: “Assim eu quereria minha última crônica:
que fosse pura como esse sorriso”. O que é possível compreender da parte destacada?
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10 - Por que esse acontecimento se transformou na “última crônica”?
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11- Em quais aspectos a condição dessa família se aproxima da realidade de algumas
famílias brasileiras?
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12- Em sua opinião, o que de essencial da vida humana se percebe com esse texto?
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13- O texto discute questões sociais? Quais?
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14 – Observe as imagens (escultura e fotografia) novamente. Qual a relação que
podemos estabelecer entre as duas imagens e o texto “A última crônica”?
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15 - Apesar de os três textos analisados (textos não verbais – as imagens- texto verbal –
a crônica) serem produzidos em contextos históricos diferentes, podemos dizer que a
temática perpassa a barreira do tempo. Comente a respeito.
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Conversando sobre o gênero crônica
Intertextualidade
A crônica é um gênero literário, um gênero narrativo. A origem da palavra está em Krónos,
deus grego do tempo. A relação com o tempo vinculou a crônica ao relato de fatos e
acontecimentos em ordem cronológica, sendo, portanto, um breve registro de eventos
ordenados em sequência cronológica. A crônica no Brasil é considerada um gênero que
possui tanto a objetividade, característica do jornalismo, quanto a subjetividade, que é
próprio da literatura. Sua temática está sempre relacionada a acontecimentos do dia a dia,
pois ela se dá a partir de um flash, um breve momento do cotidiano, um fato corriqueiro,
que, através do cronista, com seu toque de humor, sensibilidade, ironia, crítica e poesia,
possibilita ver além do fato, numa visão mais abrangente, algo que diariamente se deixa
escapar. A crônica é, portanto, uma prosa curta, amena e coloquial, com toques de malícia e
de humor, sobre fatos da atualidade ou hábitos e costumes dos diversos segmentos sociais.
Toda vez que uma obra faz alusão à outra ocorre a intertextualidade. De acordo com Maia,
2000, “A intertextualidade é o conjunto de alusões que um texto faz a outros textos já
escritos, às idéias já existentes ou aos motivos culturais já desenvolvidos ou pela cultura
popular. Pela intertextualidade se observa que a cultura é um acúmulo, que as idéias podem
ser reelaboradas com pontos de vista diferentes, que a criatividade e o saber são frutos da
soma de leituras e experiências diversas” (MAIA, 2000, p. 5). A intertextualidade também
pode ocorrer com outras produções, como música, pintura, filme, novela e outros. Nesta
crônica, ela acontece quando o autor remete a uma informação retirada de outro poema. Ele
afirma que “o verso do poeta se repete na lembrança: „assim eu quereria o meu último
poema’”.
Após a leitura e discussão dessa crônica, vamos conversar um pouco sobre esse
gênero.
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O último poema
Manuel Bandeira
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfumes
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
No restaurante
Carlos Drummond de Andrade
- Quero lasanha.
Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no máximo, desabrochando na
ultraminissaia - entrou decidida no restaurante. Não precisava de menu, não precisava
de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha. (...)
(Fragmento)
Na sequência está uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, grande poeta modernista,
publicada em 1978, em Para Gostar de Ler, vol. 1, que relata um episódio ocorrido em um
restaurante, ambiente e fatos bem diferentes dos apresentados na crônica de Fernando Sabino.
Faça a leitura.
O poeta a quem Fernando Sabino se refere é Manuel Bandeira e o poema, publicado em
1930, na obra intitulada Libertinagem, é este:
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Conversando sobre o texto
1- Quem narra o texto?
2- Quem são as personagens desta crônica?
3- Em que espaço físico elas se encontram e como é esse espaço?
4- A partir do diálogo entre o pai, a filha e o garçom, percebem-se algumas referências
que indicam a condição social à qual o pai e a filha pertencem. Quais são essas
referências?
5- A filha, desde a entrada no restaurante, se mostra decidida a satisfazer sua vontade de
comer lasanha. De que forma ela expressa essa decisão?
6- O pai, mesmo sendo “bombardeado” com a insistência do pedido da filha, se mantém
calmo, porém firme. Que trecho do diálogo demonstra esse comportamento?
7- Qual é a atitude da filha quando o pedido do pai ao garçom é de um prato diferente
do que ela queria?
8- A que se deve a postura de aceitação, sem revolta da filha, do prato de camarões
pedido pelo pai?
9- E a que se deve a aceitação, por parte do pai, do pedido de lasanha, se ele já estava
satisfeito com o prato de camarão?
10- Apesar da acalorada insistência do pai e da filha, tentando defender sua escolha, no
final cada um respeita e aceita a vontade do outro. Em sua opinião, essa pode ter sido
uma prova de amor filial e paternal? Por quê?
Verificando a relação temática entre os textos
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1- Existe alguma relação entre o primeiro texto “A última crônica” e o segundo “No
restaurante”? Em caso afirmativo, qual?
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2 – As famílias nos dois textos pertencem à mesma classe social? Justifique.
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3 – Quais são as características da família do primeiro texto, observada pelo narrador?
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4 – Quais são as características da família do segundo texto, observada pelo narrador?
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5 - Como é o tratamento dos pais para com a filha e desta para com os pais no primeiro
texto?
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6 – Como é o tratamento do pai para com a filha e desta para com o pai no segundo
texto?
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7 - Nos dois textos pode-se perceber a existência de amor filial e paternal? Em quais
momentos?
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Atividade de pesquisa
Agora que você já sabe um pouco mais sobre a crônica, faça uma pesquisa de
outros textos desse gênero, pode ser na biblioteca da escola ou pela internet. Após a
realização da pesquisa, você fará a socialização da crônica que leu para os colegas da
turma (sala).
Seguem algumas sugestões de cronistas: Luís Fernando Veríssimo, Paulo
Mendes Campos, Rubem Braga, Martha Medeiros, Pedro Beal, Arnaldo Jabor, Rubem
Alves e outros.
Conversando sobre o gênero – conto
A origem do conto, de um modo geral, vem de épocas remotas, de forma oral, quando os
habitantes de tribos primitivas transmitiam oralmente suas histórias, de geração a geração.
Alguns estudiosos afirmam ser o conto a expressão literária mais antiga, sendo criada entre
povos que nem mesmo dominavam a língua escrita. O conto possui, como uma das suas
características, a brevidade, devendo ser curto para ser lido de uma só vez e, quanto mais
objetivo, mais forte será o efeito. Conforme afirma Poe, um dos teóricos do conto, “[...] é
imprescindível a leitura de uma só assentada, para se conseguir esta unidade de efeito”
(POE apud GOTLIB, 1988, p. 32). Segundo o autor, em linhas gerais, além de ser breve, a
narrativa terá que apresentar coerência e unidade do princípio ao fim, produzindo uma
tensão crescente que se resolve no desfecho.
Faremos agora a leitura do miniconto de Dalton Trevisan - grande contista, paranaense,
contemporâneo - publicado em 1979, no livro Abismo de Rosas: contos.
Agora estudaremos outro gênero da esfera literária, conto.
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Ricardo seu nome
Dalton Trevisan
Beijou o rosto pálido da mulher, ainda anestesiada e fechou a porta.
No corredor o médico pediu-lhe que o acompanhasse.
- Para o atestado de óbito.
- Perguntou alguns dados a que ele respondeu com voz dura. Segunda vez (...)
(Fragmento)
TREVISAN, Dalton. Abismo de rosas: contos. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p. 47-48.
Compreendendo melhor o texto
Trecho 1:
“Segunda vez que o outro falou do feto, ele rangeu os dentes:
_ Seu nome era Ricardo”.
A partir da leitura do fragmento, podemos perceber:
( ) a presença fria, objetiva e distante do discurso científico.
( ) que havia uma comunhão entre ambos no sentido de compartilhar a dor.
Trecho 2:
“O irmão improvisara um caixão minúsculo, onde ele arrumou o corpinho. O sogro
abriu o porta-malas; ele entrou no carro, sentou-se com o volume no joelho. O sogro e
o irmão comentavam o preço do terreno no cemitério.”
“(...) o sogro acendeu o cigarro.”
As ações exercidas pelo irmão e pelo sogro são indicadoras de:
( ) dor e sofrimento, pois elas nos indicam uma relação de nível sentimental.
( ) dever cumprido, fizeram o que tinha que ser feito.
Trecho 3:
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- Seu nome era Ricardo.
Feto, segundo o médico, não tinha nome.
Na sala a enfermeira com o menino azulzinho no rico enxoval. Apertou no peito a
criança bem quieta e calada. Não era feto, era o filho querido.
Que sentimentos do pai em relação ao filho ficam evidentes nesta parte do texto?
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Trecho 4:
“...antes que ele pudesse virar o rosto, de relance à janela um menino correndo ao
sol.”
“Dois ou três minutos ao pé do túmulo da família. Tudo acabado: ele o resto da vida
para se lembrar.”
Que sentimentos paternos podemos verificar nestes dois recortes do texto?
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O Peru de Natal
Mario de Andrade
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco
meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre
fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente
honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas,
devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer
lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara
aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom,
Faremos agora a leitura de outro conto que também trata da temática que estamos
estudando, mas agora sob outro olhar. Façam a leitura e percebam o que há de diferente
entre este e os demais textos estudados.
O conto, de Mário de Andrade, foi extraído do livro Os cem melhores contos brasileiros do
século, organizado por Ítalo Moricone, 2000, p. 125.
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uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom
errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades (...)
(Fragmento)
Conversando sobre o texto
1- Quem narra o texto?
2- Quais são os personagens do texto?
3- Como o narrador vê: o pai; a mãe e os demais familiares?
4- Como os demais familiares veem a figura do pai?
5- A morte do pai faz com que a família, durante o período do Natal, nada tenha a
comemorar, mas sim a lamentar. O filho propõe combater essas lembranças. O que ele
decide fazer?
6- Como a família recebe a decisão do filho?
7- Como o filho é visto pela família?
Compreendendo melhor o texto
1- No texto, o filho faz duras críticas ao pai e trata sua morte com indiferença. Que parte
do texto deixa isso evidente?
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2- Por que o filho ganhara o apelido de “louco”?
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3- Ele reage de forma positiva ou negativa a esse apelido? E o que esse apelido significa
para ele?
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4- O que o pai representava para o filho?
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5- O texto discute questões sociais? Quais?
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6 - Existe alguma relação entre a situação vivida pela família do conto e as famílias da
atualidade brasileira? Comente.
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Verificando a relação temática do texto “Ricardo seu nome”, de Dalton Trevisan, e “O
Peru de Natal”, de Mario de Andrade.
Analise os trechos dos textos abaixo:
Texto 1.
“...antes que ele pudesse virar o rosto, de relance à janela um menino correndo ao
sol.”
“Dois ou três minutos ao pé do túmulo da família. Tudo acabado: ele o resto da vida
para se lembrar.”
Texto 2.
“A tamanha falta de egoísmo me transportara o nosso infinito amor... Depois vieram
umas uvas leves e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de "bem-casados".
Mas nem mesmo este nome perigoso se associou à lembrança de meu pai, que o peru já
convertera em dignidade, em coisa certa, em culto puro de contemplação.”
1- Que tipo de sentimento se identifica em cada um dos fragmentos.
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2- Qual é a relação que os dois fatos trazem em comum?
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UNIDADE III - Ruptura do Horizonte de Expectativas
Nesta etapa é apresentada uma leitura mais aprofundada da temática, uma leitura
mais complexa, que exige maior atenção por parte do leitor. Para esta etapa foram
escolhidos os textos: “Monte Castelo”, de Renato Russo, “Amor é fogo que arde sem se
ver”, de Luis Vaz de Camões, e uma passagem bíblica - Coríntios 13.
Conversando sobre o gênero canção
Segundo Martins Ferreira, 2002, a canção tem acompanhado o homem desde a pré-história,
tornando-se um elemento característico do ser humano. É raríssimo encontrar alguma
pessoa que não goste de música, seja produzida pelo ser humano ou originária da natureza,
como o canto de um pássaro, por exemplo. Composições musicais podem refletir as
diversas vozes de uma determinada comunidade. Por meio das letras de músicas podem-se
identificar tradições e aspirações de um povo em determinado tempo e espaço. As canções
retratam, em suas letras e em seus gêneros, o estado de satisfação ou de insatisfação de uma
sociedade. Para o autor, “[...] a música é, além da arte de combinar os sons, uma maneira de
exprimir-se e interagir com o outro, e assim devemos compreendê-la” (FERREIRA, 2002,
p. 17).
Agora vamos falar sobre outro gênero textual, que também podemos incluir na esfera
literária: Canção.
Agora vocês ouvirão Monte Castelo e, depois, farão a leitura da letra dessa canção que foi
lançada em 1987, no Álbum Quatro Estações, da banda Legião Urbana, com composição de
Renato Russo, grande poeta, cantor e pensador, considerado como um dos principais
compositores brasileiros do século XX.
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Monte Castelo
Renato Russo
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor, é isso o (...)
(Fragmento)
Legião Urbana. Quatro Estações. São Paulo: 1989.
Conversando sobre o texto
1- Qual é temática da canção?
2- O que a canção revela sobre esse tema?
3- Você pode perceber alusão a outros textos
presentes nesta canção? Quais seriam esses
outros textos?
Compreendendo melhor o texto
1- O que você compreende por “Amor é o fogo que arde sem se ver”?
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2- Para você, o que significa a palavra amor?
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3– Nos versos 12 e 13, o autor cita dois tipos de línguas: “língua dos homens” e ”língua
dos anjos”. O que se pode subtender quando o autor faz essa distinção entre as línguas?
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Segundo Léa Mara, 2006, “a década de 80 é
evidenciada pelo movimento das “Diretas Já”.
Foi nessa época que o neo-liberalismo passou
a ser adotado em detrimento ao comunismo.
Época, também, da popularização do rock
brasileiro e o início da valorização suprema da
imagem. Foi uma época que, para a história,
ficou conhecida como a “década perdida”. E
nesse cenário conturbado para a formação de
uma juventude, o grupo Legião Urbana,
idolatrado pelo público jovem, lança a
mensagem de Monte Castelo” (MARA, 2006).
O título “Monte Castelo” faz alusão a uma
batalha da Segunda Guerra Mundial. Segundo
Roberto Navarro, “[...] soldados brasileiros,
mesmo mal treinados, com equipamento
inadequado e enfrentando um frio de até 15
ºC negativos, conseguiram derrotar as forças
alemãs que estavam entrincheiradas no
Monte Castelo na Cordilheira Apenina, no
norte da Itália” (NAVARRO apud MARA,
2006).
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4 – No verso 15, o autor expressa um desejo. Qual é?
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5- Qual o efeito de sentido que causa a repetição da expressão “todos dormem”?
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Conversando sobre o gênero – poema
O amor é fogo que arde...
Luis de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
O poema abaixo é denominado soneto. Essa forma poética possui uma composição fixa,
com 14 versos (cada linha do poema é um verso), dispostos em 4 estrofes (agrupamento de
versos), sendo dois quartetos (estrofes com 4 versos) e dois tercetos (estrofes com 3 versos).
O soneto é considerado como um modelo literário que resistiu às evoluções literárias. Os
sonetos de Luis Vaz de Camões, poeta português do século XVI, são a parte mais conhecida
de sua lírica. O primeiro poeta brasileiro que fez uso dessa forma poética foi Gregório de
Matos, em seus poemas líricos e satíricos, no período Barroco (AGUIAR e SILVA, 1991).
Faremos, agora, a leitura de um poema de Luis Vaz de Camões, um dos maiores
representantes da literatura portuguesa, publicado/escrito em 1595, intitulado “Amor é fogo
que arde...”.
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É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Conversando sobre o texto
1- Qual é o assunto de que trata o poema?
2- O que o “eu lírico” revela sobre o assunto?
Compreendendo melhor o texto
1- No primeiro verso da terceira estrofe, o autor diz “É querer estar preso por vontade.”
Como você interpreta esse verso?
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2- Se o amor é tão contraditório, como é que ele pode causar benefícios aos corações?
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3- Todas as formas de amor têm uma “finalidade”, até mesmo o amor contraditório a
que o autor se refere. Qual seria a essência dessa forma de amor?
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4 – No último terceto, o verso é “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”. Por que a
palavra amor está escrita com letra maiúscula? Justifique sua resposta.
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Conversando sobre o gênero – narrativas bíblicas
Passagem Bíblica - 1 Coríntios 13
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor,
seria como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom
de profetizar, e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha
fé ao ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu
distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo
As narrativas bíblicas narram passagens e feitos heróicos de um povo vividos numa dada
época. Nessas narrativas, encontram-se histórias de anjos e de santos que mantêm contato
com um determinado povo numa determinada época específica. Por essa razão são
consideradas narrativas de ficção. Segundo Robert Alter, os textos bíblicos corroboram para
uma separação entre as esferas do cotidiano e o extracotidiano, ou seja, nos textos bíblicos
se registra uma transcendência que define o ser humano a partir de uma força maior. Essa
dimensão atinge o espaço de fé e esperança do ser humano, uma vez que relata histórias
redencionais e outras cuja vivência se assemelha com a realidade de algumas pessoas
(ALTER, 2007).
Agora faremos a leitura da carta do apóstolo Paulo à igreja de Corinto, escrita no século I d.
C. e registrada na Bíblia Sagrada.
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para ser queimado, e não tiver amor, nada disso me aproveitará. O amor é paciente, é
benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se envaidece, não se conduz
inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do
mal, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; [...] Agora vemos as coisas como num
espelho, de maneira confusa, então veremos face a face; agora conheço em parte, então
conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o
amor, estes três: porém o maior destes é o amor.
Primeira epístola de Paulo aos Coríntios, cap. 13.
In: A Bíblia Sagrada. Edição revista e atualizada.
Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. p. 208
Vocabulário:
címbalo: instrumento de percussão formado por dois pratos
retine: ecoa; ressoa
ufana: orgulho; vaidade
envaidecer: tornar-se vaidoso; vangloriar
exaspera: irrita; enfurece
ressentir: magoar-se; aborrecer-se.
Conversando sobre o texto
1- Qual é o assunto do texto?
2- O que ele fala sobre o assunto?
Compreendendo melhor o texto
1- Leia o fragmento
“...tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba;”
a) Você concorda com essa afirmação?
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b) Será que é possível existir um amor desse tamanho?
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c) Por quem se sentiria um amor assim?
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Intertextualidade
A linguagem do poeta
Metáfora
Como já dito anteriormente sobre as ocorrências de intertextualidade, ela também está
presente nesses textos. Como podemos perceber, o texto “Coríntios” foi escrito primeiro,
depois Camões construiu o poema “O amor é fogo que arde...” e esses dois textos serviram
de inspiração para Renato Russo compor a canção “Monte Castelo”.
A linguagem do poeta não é uma linguagem comum. O poeta não usa as palavras em seu
sentido literal, em seu sentido real, próprio, do modo como estão no dicionário (sentido
denotativo), e sim no sentido figurado, subjetivo, poético, produzido pelo contexto,
possibilitando várias interpretações (conotação). Segundo Domício Proença Filho, “A
linguagem literária é eminentemente conotativa. O texto literário resulta de uma criação,
feita de palavras. É do arranjo especial das palavras nessa modalidade de discurso que
emerge o sentido múltiplo que a caracteriza” (PROENÇA FILHO,1986, p.25). Esse efeito
conotativo, o autor o busca no uso de figuras de linguagem. Tais figuras são recursos que
permitem criar efeitos de sentido para emocionar/envolver o leitor. Há vários tipos de
figuras de linguagem. Na sequência podemos observar dois exemplos das figuras de
linguagem mais comumente usadas nos textos literários.
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Antítese
Intertextualidade nos textos
1- Anteriormente verificamos a intertextualidade entre a crônica “Última Crônica” e o
texto de Manuel Bandeira. Agora você buscará, nestes três últimos textos (“Monte
Castelo”, do Legião Urbana; “Amor é fogo que arde...”, de Luis Vaz de Camões; e a
Carta de São Paulo aos Coríntios), a intertextualidade entre eles.
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A metáfora é uma figura de linguagem muito usada nos textos literários. Segundo Maia
(2000), em linhas gerais, ela ocorre quando o poeta estabelece relação entre dois elementos,
sem usar o termo de comparação “como”, tornando-se, assim, uma comparação abreviada.
Ela ocorre, também, quando um termo é substituído por outro em função de algum ponto de
contato, de alguma semelhança entre eles. Exemplo: Se o primeiro verso do poema de
Camões fosse: o calor do amor arde como o calor do fogo, ele estaria fazendo uma
comparação. Camões preferiu escrever uma metáfora: “Amor é um fogo que arde sem se
ver”.
A antítese ocorre quando há uma aproximação de palavras ou de expressões de sentidos
oposto, contrário. Segundo Maia, “usa-se a antítese quando se quer opor dois termos na
mesma frase ou no mesmo parágrafo, acentuando seu contraste” (MAIA, 2000, p. 39). Esse
recurso também foi utilizado por Camões. Exemplo: “contentamento descontente”, “ganhar
em se perder”. O contraste que se estabelece aqui serve, essencialmente, para dar ênfase aos
conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos conceitos.
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2- Como Luis Vaz de Camões se utiliza do discurso bíblico? Os efeitos de sentido são
os mesmos?
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3-Como Renato Russo se utiliza do discurso de Luis Vaz de Camões e,
consequentemente, do discurso bíblico? Os efeitos de sentido são os mesmos?
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4- A que conclusão você chega ao constatar os efeitos de sentido que cada texto
alcança?
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UNIDADE IV- Questionamento do Horizonte de Expectativas
Nesta etapa o professor faz um questionamento (oral) para que os alunos
reflitam sobre as formas de leitura desenvolvidas. O objetivo desta etapa é fazer com
que o aluno chegue à conclusão de que as leituras, que fizeram parte da ruptura do
Horizonte de Expectativas, foram mais complexas, contudo trouxeram-lhe uma maior
compreensão da temática e ampliaram suas expectativas a respeito do assunto, isto é,
tiraram o aluno do senso comum. O professor age como um mediador. O importante é
o aluno chegar à conclusão por si só e não que o professor aponte para ele (o professor
deve respeitar o amadurecimento individual do aluno, cada um tem um tempo de
leitura).
É importante fazer com que os alunos percebam que cada texto tem seu efeito de
sentido garantido no contexto em que é produzido. Fora desse contexto, os efeitos
são outros.
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Discutindo a temática:
1 - O tema “amor” foi trabalhado em toda unidade didática. Retire, dos textos
trabalhados, um recorte que identifique:
-o amor universal ou fraternal;
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-o amor paternal;
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-o amor filial;
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-o amor carnal;
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2) Observe os recortes de trechos de cada um dos textos e analise-os, de acordo com o
contexto sugerido:
Texto 1:
“O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.”
Texto 2:
“Ainda que eu tenha o dom de profetizar, e conheça todos os mistérios e toda a ciência;
ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montanhas, se não tiver amor,
nada serei.”
a) Identifique, nos dois trechos, o valor incomum do amor que os autores lhe atribuem.
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b) Em nossa sociedade existem indivíduos que vivenciam na prática esse tipo de amor
descrito no primeiro trecho. Como você identifica essas pessoas? (atitudes,
comportamentos, etc.)
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3) Observe os trechos a seguir e responda:
Texto 2
“...O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se
envaidece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera...”
Texto 3
“Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.”
a) A intenção de amar sugerida em cada um dos trechos é a mesma? Comente.
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3 – O amor universal ou fraternal, o amor paternal, o amor filial, o amor carnal. Todos
esses sentimentos se caracterizam de maneira diferente um do outro. Após discutirmos
intensamente sobre essas formas de amor, sugerimos a leitura do romance “A
Viuvinha”, de José de Alencar, publicado em 1857, que trata de um amor, entre um
casal, que supera as barreiras do tempo.
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UNIDADE V- Ampliação do Horizonte de Expectativas
Ampliação do horizonte de expectativas: se, na etapa anterior, os alunos
conseguiram perceber que os textos apresentados na etapa de ruptura do horizonte de
expectativas lhes trouxeram mais dificuldades de compreensão, mas também lhes
proporcionaram maior conhecimento da temática, a ampliação do horizonte aconteceu.
Caso contrário, o aluno ainda não atingiu esta etapa. Por isso, na etapa anterior o
professor deve agir apenas como mediador e deve também estar preparado para os
diferentes resultados que alcançará na turma.
Referências
AGUIAR E SILVA, Manuel Vítor. Teoria da literatura. 8. ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 1991.
ALTER, Robert. A arte da narrativa bíblica. Tradução: Vera Pereira. São Paulo: Cia.
das Letras, 2007.
ANDRADE, C. D de et alii. Coleção para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1981.
ANDRADE, Mário de. O peru de natal. In: Os cem melhores contos brasileiros do
século. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, RJ. 2000. p.125.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem: o último poema. In: Antologia poética. 19. Ed.
Rio de Janeiro: José Olympo. 1989. p 83.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura e formação do
leitor. 2. ed. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 1993.
CIDADE, Hernani. O amor é fogo que arde... In: Poesia Lírica. Luis de Camões.
Biblioteca Básica Verbo, 32. Portugal: Editora Verbo. 1971. p. 88 (Livros RPT).
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo, SP: Contexto,
2002.
FILHO, Domício Proença. A linguagem literária. São Paulo: Ática, 1986. p. 25.
GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. 4. ed. São Paulo: Ática, 1988.
MAIA, João Domingues. Português: volume único. São Paulo: Ática, 2000.
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PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação.
Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa para Educação Básica,
Curitiba, 2008.
PRIMEIRA epístola de Paulo aos Coríntios, cap. 13. In: A Bíblia Sagrada. Edição
revista e atualizada. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. p. 208.
PROENÇA, Graça. História da arte. São Paulo: Ática, 1991.
RUSSO, Renato. Monte Castelo. In: Álbum Quatro Estações. 1987.
SABINO, Fernando. A companheira de viagem - crônicas. Rio de Janeiro: Editora do
Autor, 1965.
TREVISAN, Dalton. Abismo de Rosa: contos. Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira,1979. p. 47-48.
Site: <http://portfolioleamara.blogspot.com/.../intertextualidade-na-msica-monte
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2010, 17:28. Cláudia Rieg Baron.
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Acesso em: 1º mar. 2010, 20:50