da universidade à universalidade - experiências de um grupo de estudos em psicologia transpessoal
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DA UNIVERSIDADE À UNIVERSALIDADE: EXPERIÊNCIAS DE UM GRUPO
DE ESTUDOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Da Universidade à Universalidade: Experiências de um Grupo de Estudos em
Psicologia Transpessoal1
Firmiana Correia Lima Guimarães
Francisco Douglas Cabral Leite
Ícaro Emanuel Sousa Braga
Pedro Henrique de Souza Reis
Stefanie Esteves Salgueiro
Firmiana – Graduanda em Psicologia na Universidade Federal da Paraíba, estagiária na
Abordagem Centrada na Pessoa na Clínica de Psicologia da UFPB. Estudiosa do Tarô,
Astrologia e Filosofias Espirituais. Tricoteira e praticante de Yoga.
Francisco Douglas – Fisioterapeuta pela UFPB, especializado em Acupuntura pela
Associação Brasileira de Acupuntura, Integrante da Equipe Equilibre-se de terapias
naturais, Coordenador do Centro de Praticas Integrativas e Complementares em Saúde
do Valentina - SUS, JP-PB e, principalmente, Estudante da evolução ao “Ser”.
Ícaro – Graduando em Psicologia na UFPB, extensionista em Arteterapia através do
Núcleo de Arte Psicologia e Psicanálise, trabalhando no Hospital Psiquiátrico Juliano
Moreira com oficinas e escutas. Pesquisador de estudos que compreendem as áreas da
Ecologia, Cultura e Arte.
Pedro – Graduando em Psicologia na UFPB, Yoga Master pela International Yoga
Federation - Argentina, formação em Ayurveda pela Associação Brasileira de Ayurveda
e pelo Arya Vaidya Pharmacy Trainning Academy - Índia, Estudioso das Ciências
Esotéricas e Enteogênicas. Jardineiro e “amamor” da música.
Stefanie – Graduanda em Psicologia na UFPB, com estudos na área de psicologia social
comunitária e psicologia transpessoal, estagiária na área de Psicologia Educacional no
Centro Cultural Piollin. Formanda em Biodanza. Apreciadora das simplicidades da vida.
Fada.
1 Trabalho apresentado na VII Semana de Psicologia Transpessoal do Rio Grande do Norte e II Colóquio
Brasileiro de Pesquisa em Psicologia Transpessoal na UFRN, 2012.
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DE ESTUDOS EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Resumo
Este trabalho tem o intuito de apresentar o grupo de estudos de Psicologia Transpessoal
de João Pessoa–PB, que surgiu a partir do desejo de expressar a visão holística no
espaço coletivo, agregando pessoas que compartilham das inquietações com as
limitações do modelo acadêmico hegemônico de ciência fundamentado no paradigma
newtoniano-cartesiano. Num movimento de sincronicidade, estes seres passaram a se
encontrar nos espaços abertos da Universidade Federal da Paraíba, com a proposta de
firmar um ambiente que promova uma educação de autonomia e desenvolvimento
humano e espiritual, reunindo graduandos em Psicologia, mas também graduados em
outras áreas, remetendo à transdisciplinaridade da abordagem Transpessoal, a qual se
fez pilar central neste novo ambiente. A prática do grupo caminha de um modo
semelhante à perspectiva da educação popular, na qual a troca de conhecimentos
acontece horizontalmente, compreendendo que todos são canais para um saber
universal. A base teórica utilizada nas reuniões do grupo é escolhida de modo
consensual, tendo em vista os interesses de cada membro dentro da perspectiva
Transpessoal. Dentre as obras já trabalhadas, enfatizam-se os trabalhos de Jung,
Ouspensky, Richard Wilhelm e dos autores que compõem o livro “Além do Ego:
dimensões transpessoais em psicologia” (1995). Contudo, o estilo de trabalho do grupo
inclui ao diálogo com os autores a possibilidade de vivências espontâneas decorrentes
do processo dinâmico particular do momento: a aceitação do inesperado e a liberdade de
criação. Dessa maneira, dá-se vasão a espiritualidade em suas diversas manifestações,
através do corpo, da música, da poesia, dos relatos de experiências, das meditações e
outras práticas de expansão da consciência. Como resultado, é possível observar as
transformações desde o próprio espaço da universidade, através do olhar curioso das
pessoas que cercam o ambiente das reuniões, gerando afetações; às pessoas que se
sentem convidadas ao momento, interagindo e compartilhando experiências; e o
estabelecimento de um lugar singular que permite formas de relações mais integrais,
que dão expressão ao pensamento, sentimento e intuição do grupo. Por sua vez,
contribuindo para com o interesse individual de cada participante em manter e ampliar
sua práxis do autoconhecimento. Consequentemente, harmonizando um espaço
terapêutico peculiar.
Palavras-chave: transpessoal, autoconhecimento, grupo de estudo, prática
educativa, holístico.
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Introdução
O grupo de estudos sobre a Psicologia Transpessoal da Paraíba surgiu através da
vontade de estudar este tema, ampliando os assuntos abordados dentro do curso
acadêmico da Psicologia, através da pesquisa, do estudo das teorias, dos diálogos livres
e das vivências Transpessoais. A história do grupo seria mais fidedigna se pudesse
abarcar a vivência de cada membro em relação a tal assunto, mas o presente trabalho
vem trazer, pontualmente, a história a partir do momento em que o grupo passou a se
reunir com o intuito de seguir como uma unidade. A união das pessoas que o compõe se
deu por meio de uma Sincronicidade, um movimento que aproximou consciências em
suas buscas por assuntos semelhantes. A Sincronicidade, diferentemente, do
sincronismo, pressupõe a ocorrência simultânea de dois ou mais acontecimentos ligados
pela significação para a consciência observadora e não por uma causalidade (Jung,
1984). Assim, entre conversas e encontros sincronísticos, o grupo teve início com seis
estudantes de Psicologia e um Fisioterapeuta, todos com o intuito de unir à base
acadêmica a dimensão espiritual. Atualmente, cinco destes membros permanecem, aos
quais se juntaram dois novos integrantes, que estão sintonizando e trazendo suas
contribuições.
Uma inquietação que move este grupo é a insatisfação com o modelo acadêmico
hegemônico de ciência fundamentado no paradigma newtoniano-cartesiano, pois este
limita a inserção da espiritualidade, compreendida “como uma forma de contato com a
dimensão espiritual do Universo e com o que quer que o sujeito acredite ser o sagrado”
(Guimarães, 2011, p. 7). Este modelo materialista prioriza a matéria apenas, bem como
o racional como única forma de conhecer o objeto de estudo. A insistência deste modelo
dentro da academia caracteriza a universidade descrita por Cavalcante Junior (2008, p.
17):
Essa universidade (...) prioriza o tecnicismo, ao invés do
universalismo, reduzindo o humano e as suas
potencialidades plenas a um mero aluno e a um jeito de
pensar em busca de competências específicas para uma
prática profissional. Essa é a experiência de universidade
que deixou de ser humana.
Apesar do reconhecimento do valor que este paradigma teve para o
desenvolvimento da ciência há mais de trezentos anos, o grupo acredita também em
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outras formas de conhecimento mais integrados, que vêm não apenas das próprias
convicções dos membros, mas de uma tendência que surgiu no século XX dentro das
disciplinas científicas como um resgate do movimento de buscar entender o objeto de
estudo a partir de sua totalidade e não de seus fragmentos (Tavares, 1993).
O paradigma Transpessoal como um modelo que busca não excluir os outros
modelos, mas ser um quadro mais amplo, não se limita aos conhecimentos da psicologia
tradicional, mas está aberto aos novos saberes que possam surgir e que colaborem para
o entendimento do Todo (Walsh & Vaughan, 1995). Walsh (1995) acredita que quanto
mais madura uma disciplina ou ramo científico, mais ela consegue perceber a sua
interligação com outros campos de estudos e que para compreender melhor o Todo é
preciso buscar mais formas de abordá-lo, já que toda área pode ter o seu conhecimento
eclipsado por uma distorção perceptual.
Partindo desse pensamento, o grupo entende que a Psicologia Transpessoal,
como um campo de pesquisa e prática que busca a saúde e o bem-estar ótimos e que,
para entender o ser humano, transcende o ego e a personalidade e considera os
diferentes estados de consciência (Walsh & Vaughan, 1995), não é uma área que se
restringe aos profissionais da Psicologia formados academicamente, mas se estende a
outras áreas que podem colaborar com a aplicação da pesquisa e da prática no campo
Transpessoal. Dessa forma, o grupo, apesar de se propor a uma Psicologia Transpessoal,
busca introduzir conhecimentos de diversas áreas, bem como acolher pessoas que
trazem diferentes tipos de saberes, sendo esta, também, uma tendência da Psicologia
Transpessoal desde os seus primórdios, considerando fontes de conhecimentos fora da
literatura da psicologia dominante, como por exemplo, nas tradições orientais (Fadiman,
1995), na física quântica e nas tradições ocultistas.
Dos autores trabalhados
Para dar início a um grupo de estudos em Psicologia Transpessoal, nada como
começar com uma leitura essencial, que nos dá um panorama geral da área, como o faz
o livro “Além do Ego: Dimensões Transpessoais em Psicologia” (Walsh & Vaughan,
1995). Este trabalho é tão relevante à iniciação ao assunto que se fez leitura
recomendada para qualquer novo interessado em participar das atividades do grupo. Nos
primeiros encontros, mesmo que cada um conhecesse algo sobre a abordagem
Transpessoal, os textos iniciais do livro serviram para coletivizar o conhecimento da
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“emergência da perspectiva” (Walsh & Vaughan, 1995), a visão do paradigma quanto à
“psicologia, realidade e o estudo da consciência” (Goleman, 1995), e o conceito de
pessoa (Walsh & Vaughan, 1995).
Não menos importante é o extenso trabalho de Ouspensky, em sua filosofia da
“Psicologia da Evolução Possível ao Homem” (2009), cujas 79 páginas em formato
pequeno renderam meses de diálogos – sua dimensão física tornou-se deveras grandiosa
em seus ensinamentos, e nos ‘aprendimentos’ do grupo. A importância em reconhecer
que a psicologia é uma das ciências mais antigas e, de certo modo, esquecida de sua
essência; que a dita científica estuda o homem tal como se encontra, em comparação a
uma forma de psicologia que observa e atua no que o homem pode vir a ser, sua
evolução possível. Para isto, é ressaltada a imprescindibilidade do autoconhecimento
como caminho para o estado de harmonia e apoderamento de si e de suas faculdades e
potencialidades (Ouspensky, 2009). Mais que uma ciência paliativa dos transtornos
mentais, ou descritiva dos fenômenos da mente mais comum, é o resgate ao que a
Psicologia pode trazer de evolução à consciência da espécie.
Na proposta de conhecimento do transcendente a partir de uma perspectiva
psicológica pelas palavras de um acadêmico desta área, o grupo deu início ao estudo dos
conceitos junguianos, a partir dos artigos da revista “Coleção Memória da Psicanálise:
Jung: Vol. 2” (Pinto, 2009), permitindo a compreensão das idéias de self, arquétipo,
inconsciente coletivo, sincronicidade, individuação e, como se fez necessário, noções
básicas de mitologia e símbolos. Paralelo a este estudo, deu-se a prática de
experimentos com o I-Ching, observando o princípio de sincronicidade percebido por
Jung.
Seguindo o movimento espiralar do grupo, quiçá reflexo do movimento
universal, foi retomada a leitura do “Além do Ego”, introduzindo a abordagem
Transpessoal aos dois mais recentes membros do grupo e trazendo a releitura dos textos
para os veteranos após mais de um ano e meio de trabalho direcionado ao
transcendental, tornando evidente a evolução do pensamento de cada membro
individualmente como do grupo total.
Metodologia de estudo e compreensão da educação
Os encontros do grupo acontecem uma vez por semana com aproximadamente
três horas de duração, podendo ultrapassar este tempo de acordo com a demanda e o
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fluxo energético individual e coletivo. Estas reuniões ocorrem num espaço aberto, mais
especificamente sobre grama de um dos jardins da Universidade Federal da Paraíba,
local em que é possível sentir e perceber o movimento dos que passam e olham e dos
que passam e ficam para conhecer um pouco mais. A base teórica das reuniões é
escolhida de modo consensual – todos podem sugerir dentro da temática abrangente que
é a psicologia transpessoal.
O grupo é constituído, atualmente, por sete pessoas. As reuniões acontecem em
roda, no qual possibilita a troca de olhares e a compreensão e acolhimento da expressão
do outro. Existe um movimento natural de reconhecimento do espaço do outro e de
respeito de opiniões, expressões de vida, ideias, enfim, maneiras de pensar, agir, sentir e
existir.
Deste modo, a compreensão adotada pelo grupo em relação ao conceito de
educação é perpassada por dois autores que construíram novas possibilidades de educar
e que romperam com os modelos tradicionais, são eles Paulo Freire e Pierre Weil. Vale
salientar que ao longo do desenvolvimento das atividades, a metodologia surgiu
espontaneamente, a qual foi percebida no decorrer da elaboração deste trabalho a
semelhança com as teorias dos autores supracitados. Além desses dois pensadores, o
próprio grupo imprimiu, agregou e contribuiu com suas percepções sobre o conceito
teórico e prático do que seria educação.
Dentro dessa perspectiva, a prática do grupo compartilha de alguns princípios da
educação popular proposta por Paulo Freire. A troca de conhecimento acontece
horizontalmente, compreendendo que todos são canais de saber. Assim, compreende-se
que o respeito é a base para movimentação e construção do conhecimento coletivo. O
respeito à autonomia e à dignidade de cada ser é pautado numa postura ética (Freire,
2011).
O grupo de estudos nos possibilita vivenciar o papel de educando e educador, no
qual se tem como elementos fundamentais a curiosidade e a inquietude. As experiências
e o conhecimento de cada participante e o aporte teórico contribuem para que haja um
diálogo, no qual se aprende e cresce na diferença e no respeito a ela (Freire, 2011). “A
natureza própria da educação é, pois, dialógica, mediatizada pelo conhecimento. As
condições do diálogo, para Freire, são o amor ao mundo e as pessoas, a humildade, a fé
nas pessoas, a esperança” (Bertolini, 2001, p. 136).
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Durante as reuniões é possível perceber que o conhecimento produzido é
constantemente perpassado por uma visão holística de educação, afinal “tende a
despertar e desenvolver tanto a razão quanto a intuição, a sensação e o sentimento”
(Weil, 1990, p. 32). A proposta holística de educação afirma que toda experiência é
espaço para aprendizagem e crescimento, compreendendo que o processo de
aprendizagem não é somente algo exterior, mas sim, um voltar-se para dentro, um
conhecimento interno de si (Weil, 1990).
A educação holística acredita no potencial humano de transformação, partindo
de princípios como cooperação, valores humanos e simplicidade voluntária. “A visão
holística é, pois, uma consciência cósmica de natureza transpessoal, transocial e
transplanetária, integrando esses três aspectos numa perspectiva mais ampla” (Weil,
1990, p. 31).
Utilizando o conceito holístico de educação, Pierre Weil propôs uma educação
holística para a paz, a qual se desenvolve em três planos: o homem (paz interior,
equilíbrio interno), a sociedade (ecologia social) e a natureza (ecologia planetária). No
entanto, a visão holística vai além destes três planos, ampliando para um estado
transpessoal cósmico (Weil, 1990).
Nesse sentido, além de estudos teóricos o grupo proporciona uma educação para
o despertar da consciência, uma compreensão através do auto-conhecimento. Antes de
se chegar a esta compreensão mais ampliada de si, Ouspensky (2009) afirma que o
homem é uma máquina que, no entanto, se ele conseguir perceber isso, poderá encontrar
meios para deixar de sê-la. O próximo passo seria ampliar o conceito de consciência,
compreendendo-a como a “tomada de conhecimento interior”. Nessa perspectiva,
Ouspensky (2009) trabalha dois conceitos de psicologia: a psicologia como estudo das
possibilidades de evolução do homem e a psicologia como o estudo de si, das quais o
grupo de estudos em psicologia transpessoal compartilha e busca praticar.
Esta prática do estudo de si é permeada pelas observações. Observar implica em
reconhecer o que é prejudicial e o que é aproveitável, discernir o que pode tornar
consciente e o que não pode e deve ser eliminado, diferenciar o Eu do ego (Ouspensky,
2009).
O grupo preza por uma educação que contribua para o desenvolvimento humano
e espiritual, no qual se possa caminhar rumo ao iluminar da consciência e tornar-se um
ser cósmico. Carl Gustav Jung trás o conceito de individuação, que muito pode
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contribuir para essa compreensão holística e integrativa de educação. O processo de
individuação é a harmonização do consciente com o nosso centro interior ou o self que,
em geral, se inicia afetando, mexendo na personalidade, que é um conceito duro e
estruturante de si, o que consequentemente gera sofrimento e posteriormente um
despertar (Franz, 2008). Ou seja, a individuação é o processo de torna-se um ser
integrado, pelo qual a personalidade se desenvolve rumo à realização do potencial de
busca da totalidade, resultando no despertar do sentido de auto-realização (Ramos &
Machado Jr., 2009).
A metodologia de trabalho e a compreensão de educação adotada pelo grupo dá
expressão ao amor, à paz, ao equilíbrio e à intuição. Transpõe o foco teórico da
psicologia transpessoal para além do intelectual, busca-se a expressão da vida, do
conhecimento sagrado e da integração cósmica.
Vivências
Em todas as reuniões está presente a incerteza do que pode ocorrer, de tal modo
que não se criam expectativas acerca de como estas chegarão ao fim. Torna-se evidente
a presença da possibilidade de criação a cada instante. Trata-se de um encontro no qual
todos se olham, se sentem, compartilham da mesma atmosfera. Uma vez reconhecendo
este clima, se encontram prontos para iniciar a ação necessária que o momento
demanda, na tentativa de buscar outros níveis possíveis de comunicabilidade e
conhecimento, por vias dos diferentes veículos de linguagem, compreendendo o
movimento de introspecção e extroversão.
A exemplo disto, as práticas de concentração no início de cada reunião, sejam
através de instrumentos, de mantras ou do simples fechar dos olhos e observar-se,
constituíram-se numa ritualística de acolhimento ao momento.
Por muitas vezes a música se faz presente através de instrumentos musicais
diversos para proporcionar um espaço de consciência meditativa. Entre estes
instrumentos destacamos os Orins, dos quais em diversos formatos e tonalidades,
possibilitam ainda maior intensidade e imersão nestas frequências que ajudam na
concentração e expansão da consciência. É comum o espaço da música improvisada,
com repetições de mantras pré-estabelecidos ou não, que ganham novas formas, tons e
intensidade através do livre fluxo da consciência.
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É frequente que novas ideias emanem do próprio movimento grupal. Estas ideias
passam a ganhar um caráter simbólico de profunda significação. Pode surgir uma frase,
um pensamento que se apresenta com o significado de uma palavra-chave ou uma pista
para se alcançar a consciência mais integrada.
Como se trata de um lugar aberto, favorece a liberdade corporal, o que não é
comum nas instituições educacionais que usualmente passam pelo um processo de
disciplinarização dos corpos, moldando-os a formas “mais adequadas” para o
aprendizado.
Dentro das reuniões do grupo, a postura pode variar entre, simplesmente ficar
sentado, tentando manter a espinha ereta, como diversas outras posições sentadas,
deitadas, em pé que se compõe entre exercícios de relaxamento e reconhecimento
corporal, com bases em técnicas da Yoga, da Bioenergética, e principalmente
movimentos espontâneos. Toda esta atividade corporal serve para manter a
concentração na temática que está sendo evidenciada, ajudando, assim, a tornar cada
momento um aprendizado, integrando o espiritual, mental, emocional e físico.
Com paciência e honestidade no desenvolvimento de cada ação planejada a
partir dos novos conhecimentos que surgem, ocorrem diversas reuniões exteriores ao
ambiente da Universidade, no qual se abre o acesso a diferentes veículos, possibilitando
o estudo para o auto-conhecimento através de práticas enteógenas e endógenas. Sempre
de uma forma facultativa para todo e qualquer membro que se sinta convidado a
sacralizar, esses instrumentos são usados no intuito de alcançar estágios elevados de
consciência. Tais vivências destacam a manifestação de energia capaz de possibilitar
melhor observação das mais variadas questões conflitantes que precisam ser ajustadas
em nosso estado. Mais que isso, quando as condições internas são e estão favoráveis, a
experiência manifesta é um verdadeiro contato com a Consciência que está além de todo
e qualquer conflito, e que é pura beleza, harmonia e plenitude.
Estes trabalhos e vivencias tiveram e têm o reconhecimento de professores,
amigos, e companheiros espirituais, demonstrando a cada reencontro a força da
engenharia cósmica a qual permite que a beleza e a plenitude estejam presentes, tanto
para os integrantes do grupo como para os que passam ao lado. Preza-se pela qualidade
em cada movimento, sentimento, intuição dos integrantes, formando através da união
um caminho para o despertar do sagrado, que É.
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Vontades e Resultados Inesperados
Na fluência do movimento sincronístico, seres que buscam as respostas das suas
inquietações fora das rígidas ideias cientificas, sentam-se em círculo na grama sob o céu
estrelado, transmutando suas dúvidas numa troca horizontal de conhecimento junto com
o fluxo energético em prol de uma evolução espiralar do ser. Nesta busca do EU vamos
conhecendo diversas linhas de pensamento que auxiliam neste processo de se descobrir.
O auto-conhecimento como guia dessa jornada permite aos participantes observarem
importantes transformações em suas vidas.
Essa dinâmica transforma o espaço físico do gramado num local de estudo-
meditação, afetando a rotina dos que passam, gerando a inquietação, curiosidade,
tocando alguns transeuntes que se sentem convidados a conhecer o grupo,
proporcionando experiências singulares e resultados inesperados. Essas ‘visitas’
mostram a dimensão transpessoal existente em cada um dos que ‘aparecem’. As
abordagens que ocorrem sempre servem de mote para trabalhar nossa dinâmica de
grupo: quer seja numa pessoa que polariza os diálogos com muitos questionamentos ou
aqueles que se sentem tocados pelas vibrações dos OM’s e vem perguntar do que se
trata. Esse trabalho referencia um espaço de harmonia e tranquilidade em meio à
universidade quadrada.
A harmonia que segue dos estudos permite à tranquilidade de não se prender
unicamente ao papel – conteúdo teórico –, possibilitando dar vazão às demandas que
surgem durante o diálogo, proporcionando, assim, uma fluência única de pensamentos,
sensações, experiências, práticas e a produção de uma sonoridade transcendente. Esse
movimento singular torna este momento especial, marcando esses seres de uma forma
tal que passam a dar um significado terapêutico a esses encontros. A possibilidade de ter
um espaço durante a semana para cultivar a luz, ajudar no clarear da sombra.
Ampliando a consciência de si, transmutam-se juntos os velhos conceitos e cria-se uma
atmosfera permissiva ao surgimento de um novo-ser.
A terapia do despertar. Em um mesmo lugar pode-se sonhar, viajar, brincar de
entender o universo. Buscando dentro si e encontrando-se nos outros. Em círculo, na
grama, sob o céu estrelado.
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Referências
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