deliberaÇÃo do conselho diretivo da entidade … · eletrónico de 20 de setembro de 2012,...
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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRETIVO DA
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)
Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo
3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;
Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;
Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;
Visto o processo registado sob o n.º ERS/046/12.
I. DO PROCESSO
I.1. Da origem do processo de inquérito
1. No dia 14 de setembro de 2012, foi trazida ao conhecimento da Entidade
Reguladora da Saúde (ERS) uma exposição subscrita pela Sr.ª D.ª A. e
respeitante ao estabelecimento prestador de cuidados de saúde Hospital dos
Lusíadas, sito na Avenida da República, n.º 35, 8º andar, Lisboa, e detido pela
entidade HPP Lusíadas, S.A., com o NIPC 505 962 403, e registada no Sistema de
Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 13 8331.
1 Cfr. cópia do registo desta entidade no SRER da ERS, junta aos autos.
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2. Considerados os elementos factuais tais como apresentados nos autos,
resultavam, desde logo, duas questões que importava à ERS analisar e que se
prendiam, por um lado, com um eventual incumprimento, na situação concreta da
utente, do contrato de convenção celebrado entre o prestador e a Portugal
Telecom - Associação de Cuidados de Saúde (PT- ACS) e, por outro lado, do
eventual comportamento adotado pelo prestador relativamente à confidencialidade
das informações relativas aos resultados dos exames dos seus utentes.
3. A predita exposição foi inicialmente tratada no âmbito do processo de avaliação
aberto sob registo n.º AV/748/12, sendo que, e após análise preliminar da mesma,
o Conselho Diretivo da ERS, por despacho de 3 de outubro de 2012, ordenou a
abertura de inquérito registado sob o n.º ERS/046/12.
I.2. Da exposição apresentada pela utente A.
4. No dia 14 de setembro de 2012, foi trazida ao conhecimento da ERS uma
exposição subscrita pela Sr.ª D.ª A. e respeitante ao prestador HPP Lusíadas,
S.A., a qual foi complementada pelos esclarecimentos adicionais prestados pela
utente em 20 de setembro de 2012.
5. Concretamente, na sua exposição inicial é referido pela utente ter rececionado
“[…] um aviso de pagamento, referente a uma análise de anatomia
patológica/patologia clínica, na sequência, de tecido que [lhe] foi recolhido durante
uma consulta de ginecologia, no dia 9 de maio de 2012, na qual [lhe foram feitos
determinados exames]. O resultado deste último exame, foi anexado a um e-mail e
circulou pelos vários departamentos administrativos do hospital!!!”.
6. Mais esclareceu a utente que quando foi à consulta de ginecologia “[…] sabendo
que iria fazer estes dois exames, [teve] o cuidado de alertar, na receção, que se
não fossem realizados no Hospital, teriam que enviar o tecido para análise para
um prestador convencionado com a PT ACS. Confirmaram-[lhe] esta informação,
[de que a análise] iria ser realizada no Laboratório Dra Isabel Belo. Ainda
pergunt[ou] se não preferiam que [fosse a utente a entregar], pessoalmente, no
laboratório, disseram-[lhe para não se] preocupar, que tudo seria realizado de
acordo com o estabelecido entre o Hospital dos Lusíadas e a Portugal Telecom –
Associação de Cuidados de Saúde.”.
7. Refere ainda a utente que “[confiou] totalmente na informação que [lhe] foi dada
pelas rececionistas do serviço de ginecologia/obstetrícia.”;
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8. Contudo, e “[…] para grande espanto [seu] no dia 11 de maio receb[eu], por carta,
na [sua] residência, um aviso de pagamento no valor de 130 euros, referente ao
exame, que a médica [lhe] tinha informado que só teria o resultado após 30 dias,
devido à metodologia utilizada.”.
9. Atendendo a que recebeu a fatura dois dias após a consulta, ainda solicitou “[…]
via e-mail que cancelassem de imediato o exame [e que] disponibilizassem o
“tecido” em análise para entregar pessoalmente a uma entidade convencionada
com o [seu] plano de saúde, ou em último caso, ser realizada uma nova colheita
pela [sua] médica, [tendo ademais reforçado o seu] e-mail com um telefonema
para a enfermagem do serviço de ginecologia [tendo sido contactada] no dia 14 de
maio, informando que estava tudo esclarecido e que não necessitava de fazer
nova recolha de tecido.”.
10. No dia 5 de junho de 2012, e na sequência de contacto prévio do prestador, a
utente foi levantar o resultado do seu exame “[…] tendo perguntado se era
necessário efetuar algum pagamento ao que [lhe] disseram que não, que seria a
PT ACS a debitar-me o valor de acordo com o [seu] plano de saúde, como é
habitual, sendo [a utente] beneficiária.”.
11. Sucede que, no dia 12 de junho de 2012, recebeu novo contacto, por correio
eletrónico, do prestador “[…] com o resultado do [seu] exame anexado, com
conhecimento das seguintes pessoas: Cc: "[M.] (HPP)" <[...]@hppsaude.pt>, "[C.]
(HPP)" <c[...]@hppsaude.pt>, "[P.] (HPP)" [...]@hppsaude.pt.”.
12. Nessa sequência, a utente contactou o prestador “[…] demonstrando o [seu]
desagrado, não só pela devassa da [sua] privacidade, em que anexam o resultado
de uma exame que já tinha em [sua] posse há mais de uma semana, que tinha
levantado no serviço de ginecologia, mas também por voltarem a mencionar um
assunto que aparentemente já estava encerrado.”.
13. Posteriormente, em 13 de setembro de 2012, a utente volta a rececionar “[…] um
aviso de pagamento de 130 euros do mesmo exame que foi realizado num
prestador convencionado com a PT ACS.”;
14. Tendo nessa sequência a utente informado o prestador que “[…] não pod[ia]
cobrar diretamente ao beneficiário da PT ACS, um exame que foi efetuado em
prestador convencionado, laboratório Dra. Isabel Belo.”.
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15. Em face de toda a situação ocorrida, a utente conclui manifestando mais uma vez
o seu desagrado com a forma como o Hospital dos Lusíadas “[…] lida com a
privacidade dos seus doentes”;
16. Tendo, neste caso concreto, e segundo o seu entendimento, “[…] agido com total
incúria, ao divulgar os resultados de um exame […], a terceiros, sem o [seu]
consentimento [podendo] mesmo afirmar, que os [seus] dados médicos, não foram
devidamente acautelados pelo Hospital dos Lusíadas, tendo sido efetuada de
forma imprópria a sua divulgação, através de e-mail com conhecimento de vários
destinatários, não médicos, divulgação esta que violou o princípio da [sua]
intimidade e da [sua] vida privada.”.
17. Na sequência da receção da exposição, a ERS solicitou à exponente, por correio
eletrónico de 20 de setembro de 2012, esclarecimentos adicionais,
designadamente,
“[…]
1. confirmação de que os cuidados de saúde foram prestados a V. Exa. pelo
Hospital dos Lusíada, S.A., concretizando a entidade de saúde integrada no
referido estabelecimento;
2. envio de todas as faturas/recibos emitidos a V. Exa. pelo prestador,
relativamente aos cuidados de saúde prestados, bem como todos os emails
que trocou com o estabelecimento relativos ao assunto da faturação;
3. informação sobre eventuais desenvolvimentos da situação após a exposição
de V. Exa.;
[…] quaisquer outros elementos ou esclarecimentos adicionais que considere
relevantes para o completo enquadramento da situação por si exposta.” – cfr.
pedido de elementos de 20 de setembro de 2012 junto aos autos.
18. Nessa sequência, e nesse mesmo dia 20 de setembro de 2012, foi anotado pela
utente que, e no que aqui importa considerar,
(i) que “[…] Desde o último e-mail enviado à ERS não se verificaram mais
desenvolvimentos”; e
(ii) ainda assim realizou “[…] um resumo por pontos da situação
anteriormente exposta.”;
(iii) tendo referido que, aquando da realização da consulta, e para além ter
questionado os serviços do Hospital sobre se iriam enviar a amostra da
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análise para um prestador convencionado da PT-ACS, solicitou que “[…
lhe] preenchessem um guia de serviços clínicos da PT-ACS onde era
discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos códigos que
assin[ou].”;
(iv) mais acrescentou que as “[…] guias são enviadas pela PT ACS às
entidades convencionadas para posteriormente enviarem à PT ACS,
como comprovativo do que faturam uma vez que o beneficiário assina e
assume que os serviços lhe foram prestados no âmbito da convenção.”;
(v) e que “Já pag[ou] à PT ACS, a consulta de ginecologia, a [c.] e a [ci.],
na sequência do envio de fatura do Hospital Lusíadas ao [s]eu plano de
saúde [ sendo que apenas a g.] não [lh]e foi apresentada para
pagamento pela PT ACS.”.
I.3. Diligências probatórias
19. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as
diligências consubstanciadas
(i) na consulta e pesquisa no SRER da ERS, da entidade prestadora de
cuidados de saúde identificada na exposição;
(ii) no pedido de elementos remetidos à utente A., de 20 de setembro de 2012
– cfr. pedido de elementos juntos aos autos;
(iii) no pedido de elementos remetido à HPP Hospital dos Lusíadas, S.A., no
âmbito da reclamação exposta pela predita utente, de 9 de outubro de
2012 – cfr. pedido de elementos junto aos autos; e ainda
(iv) na análise do contrato de prestação de serviços celebrado entre o HPP
Lusíadas, SA e a PT- ACS em 1 de maio de 2009.
II. DOS FACTOS
II.1. Dos factos relativos à exposição da utente
20. Recorde-se que da reclamação da utente A. resultava que a mesma
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(i) realizou no HPP Lusíadas, S.A. um exame de [g.] que sabia previamente
que não estava abrangido pela convenção entre o referido prestador e a
PT-ACS;
(ii) nessa sequência a exponente procurou sempre garantir que a análise seria
enviada para um prestador convencionado com a PT-ACS, tendo para o
efeito desenvolvido todos os esforços junto do prestador para que tal
ocorresse;
(iii) tendo designadamente solicitado que “[… lhe] preenchessem um guia de
serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e
[g.], com os respetivos códigos que assin[ou].”;
(iv) o prestador garantiu-lhe que “[…] iriam enviar o “tecido” para análise a um
prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde (PT ACS) [… tendo
confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar os [s]eus
exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”;
(v) sucede que, no dia 11 de maio de 2012, recebeu na sua residência “um
aviso de pagamento no valor de 130 euros” referente ao exame de
genotipagem;
(vi) para além da cobrança indevida do referido exame, a utente reclamou
ainda do comportamento do prestador “ao divulgar os resultados de um
exame […], a terceiros, sem o [seu] consentimento [podendo] mesmo
afirmar, que os [seus] dados médicos, não foram devidamente acautelados
pelo Hospital dos Lusíadas, tendo sido efetuada de forma imprópria a sua
divulgação, através de e-mail com conhecimento de vários destinatários,
não médicos, divulgação esta que violou o princípio da [sua] intimidade e
da [sua] vida privada.”.
II.2. Dos factos relativos à resposta do prestador de 30 de outubro de 2012
21. Revelando-se necessário proceder à recolha de informação adicional, junto do
HPP Lusíadas, SA, para averiguar com maior profundidade a situação em análise,
foi solicitado, por ofício datado de 9 de outubro de 2012, a prestação das seguintes
informações adicionais:
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“[…]
1. envio de uma cópia do acordo celebrado entre o HPP Hospital dos
Lusíadas e a PT ACS;
2. indicação dos procedimentos adotados por V. Exas. com vista à
informação prévia dos utentes sobre atos que não estão se encontram
abrangidos pelo acordo entre o HPP Hospital dos Lusíadas e a PT ACS;
3. envio de cópia da fatura/recibo emitido à utente [A.] pelos valores da
consulta e do exame in casu;
4. explicitação detalhada dos procedimentos genericamente adotados por
V. Exas. na divulgação dos resultados dos exames aos utentes, e, caso
se revelem distintos, expressa referência aos procedimentos que terão
sido adotados na situação denunciada pela utente/neste caso em
concreto, no comportamento adotado com a utente [A.];
5. envio dos demais esclarecimentos complementares julgados
necessários e relevantes à análise do caso concreto.” – cfr. ofício da
ERS junto aos autos.
22. Nessa sequência, e em resposta de 30 de outubro de 2012, o prestador veio
informar,
(i) relativamente aos procedimentos adotados com vista à informação
prévia dos utentes sobre atos que não se encontram abrangidos pelo
acordo entre o HPP Lusíadas e a PT-ACS:
- que tais procedimentos não são diferentes daqueles que são adotados
para qualquer outro utente que seja beneficiário de seguro de saúde ou
subsistema de saúde e solicite um ato não convencionado entre o
prestador e essa seguradora ou subsistema: “sempre que o cliente se
dirige à receção/balcão de atendimento para a realização de um ato
médico, previamente agendado com o Hospital dos Lusíadas e para o
qual não existe acordo com a entidade financiadora, é devidamente
informado que o acto não está previsto no acordo […] e que terá de ser
pago diretamente pelo cliente em conformidade com a tabela de preços
de particulares que estiver em vigor.”;
(ii) relativamente à explicitação detalhada dos procedimentos
genericamente adotados na divulgação dos resultados dos exames aos
utentes, e, caso se revelem distintos, expressa referência aos
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procedimentos que terão sido adotados na situação denunciada pela
utente:
- que quanto aos resultados dos exames efetuados aos utentes “não
são divulgados; os exames são apenas: i) disponibilizados, quando
sejam prescritos por médicos do hospital, nos respetivos processos
eletrónicos para consulta pelos médicos assistentes, e (ii) entregues aos
clientes.”;
- já quanto aos procedimentos para levantamento/entrega dos exames,
no caso concreto da especialidade de ginecologia/obstetrícia são os
seguintes:
“a. os exames de ginecologia são rececionados e arquivados no
gabinete de enfermagem da consulta externa de
Ginecologia/Obstetrícia;
b. Quando seja dada indicação pelo médico assistente ou seja
expressamente solicitado pela Cliente, o gabinete de enfermagem
informa telefonicamente a cliente que o exame está pronto e que poderá
ser levantado nesse gabinete;
c. os exames são entregues à própria cliente ou, mediante
declaração/pedido da mesma, podem ser entregues à pessoa
expressamente indicada pela Cliente;
[…]”.
(iii) relativamente à situação concreta ocorrida com a aquela utente veio o
prestador confirmar que:
- a utente foi informada do laboratório para o qual seria enviada a
análise, “ficando claro que se tratava de laboratório convencionado com
a PT-ACS”;
- “foi emitida à reclamante a factura FD2012/13624, no valor de €
130,00, referente à [g.]. Os demais custos incorridos na consulta
realizada no dia anterior (consulta, [c.] e [ci.) foram diretamente
facturados à PT-ACS, conforme factura FE2012/21451, de 28.05.2012”;
- foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma
colaboradora do Back Office do Hospital dos Lusíadas, através de
correio eletrónico enviado com conhecimento “da sua chefe direta, [C.],
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para o departamento de cobranças, [M.], e para o primeiro contacto com
o Hospital, a colaboradora [P.].”;
23. Após resposta aos esclarecimento solicitados pela ERS, entendeu ainda o
prestador, e relativamente à situação concreta, esclarecer que:
(i) de acordo com o contrato estabelecido com a PT-ACS, os atos que não
sejam prestados pelo Hospital dos Lusíadas “devem ser efetuados por
entidades convencionadas com a PT-ACS”, sendo que, no caso
concreto, o HPP Lusíadas “[…] cumpriu o contratado, remetendo os
exames a uma entidade convencionada com a PT-ACS, e mais deveria
ter dado indicação ao laboratório para faturar diretamente à PT-ACS”;
(ii) sucede que o “[…] hospital facturou diretamente o exame à Cliente: tal
prática não é admitida pelo contrato existente com a PT-ACS, pelo que,
conforme email enviado à Cliente, foi já a mesma anulada mediante
emissão de nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de €
130,00”;
(iii) no que se refere ao facto do relatório do exame ter sido enviado à
utente por correio eletrónico, com conhecimento de diversos
colaboradores do prestador, “pese embora se considerar como indevida
a anexação do relatório à mensagem copiada conforme aos
colaboradores devidamente identificados e com as qualidades acima
referidas, são claras as razões deste facto, bem como as razões que se
representaram à emitente para copiar a mensagem (com anexo)
enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão sujeitos a sigilo
profissional e que lidam diariamente com informação respeitante aos
dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos
Lusíadas.”.
24. Em anexo à resposta remetida à ERS, o Hospital dos Lusíadas veio ainda enviar
cópia da fatura emitida à PT-ACS relativamente aos atos abrangidos pela respetiva
convenção, cópia da fatura indevidamente remetida à utente relativamente ao
exame de anatomia patológica realizado em outro prestador, cópia da nota de
crédito relativa à anulação da fatura indevidamente emitida à utente e ainda cópia
Contrato de Prestação de Serviços Celebrado entre o HPP Lusíadas, SA e a PT-
ACS em 1 de maio de 2009 (de ora em diante Contrato), e respeitante à
assistência prestada aos beneficiários da PT-ACS.
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25. De acordo com o estabelecido no referido Contrato, o mesmo abrange as
consultas de especialidade, nomeadamente de ginecologia/obstetrícia, e todos os
MCDT disponibilizados pelo Hospital dos Lusíadas.
26. Relativamente à realização dos exames, ou MCDT, no anexo 8.3 ao Contrato
encontra-se estabelecido que “quando disponibilizados pelo Hospital, devem ser
facturados aos valores constantes da Tabela e normas de prestação da PT-ACS
em vigor.”;
27. E, pelo contrário, que “quando não disponibilizados pelo Hospital devem ser
efetuados por entidades convencionadas com a PT-ACS podendo ser por estas
facturados diretamente à PT-ACS.”.
III. DO DIREITO
III.1. Das atribuições e competências da ERS
28. De acordo com o n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, a
ERS tem por missão a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores
de cuidados de saúde.
29. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 3.º do Decreto-
Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, compreendem “[…] a supervisão da actividade e
funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que
respeita:
[…]
b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde e dos
demais direitos dos utentes;
c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos
operadores, entidades financiadoras e utentes.”.
30. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º do
Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, “[...] todos os estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde, do sector público, privado e social,
independentemente da sua natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas,
centros de saúde, laboratórios de análises clínicas, termas e consultórios”.
31. Consequentemente, o HPP Hospital dos Lusíadas, S.A. é um estabelecimento
prestador de cuidados de saúde, para efeitos do referido artigo 8.º do Decreto-Lei
n.º 127/2009, de 27 de maio.
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32. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 33.º do
Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, de assegurar o cumprimento dos critérios
de acesso aos cuidados de saúde, a alínea d) do artigo 35.º do Decreto-Lei n.º
127/2009, de 27 de maio, estabelece ser incumbência da ERS “zelar pelo respeito
da liberdade de escolha nos estabelecimentos de saúde privados”; e
33. No que concerne ao objetivo regulatório previsto na alínea d) do mesmo artigo 33.º
do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, de velar pela legalidade e
transparência das relações económicas entre todos os agentes do sistema, a
alínea a) do artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, estabelece
que incumbe ainda à ERS analisar as relações económicas nos vários segmentos
da economia da saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e
da equidade do sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses
dos utentes;
34. Por último, é ainda objetivo regulatório da ERS, nos termos do disposto na alínea
c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, garantir os direitos e
interesses legítimos dos utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes
“a ter rigorosamente respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais
revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde.
35. Podendo a ERS assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus
poderes de supervisão – consubstanciado, designadamente, “no dever de velar
pela aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis às actividades
sujeitas à sua regulação” – e ainda mediante a emissão de ordens e instruções,
bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja
necessário – cfr. alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de
maio.
36. Recorde-se que, quer na exposição inicialmente apresentada pela utente, quer nos
esclarecimentos adicionais prestados pela mesma, suscitavam-se três questões
essenciais:
(i) eventual ausência de informação prévia dos utentes sobre atos que não
se encontram abrangidos pelo contrato de prestação de serviços
celebrado entre o prestador e a PT- ACS;
(ii) alegado incumprimento, na situação concreta da utente, do contrato de
prestação de serviços celebrado entre o prestador e a PT- ACS,
designadamente no que se refere aos procedimentos à adotar
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relativamente àqueles MCDT que não sejam disponibilizados pelo
prestador;
(iii) do eventual comportamento adotado pelo prestador relativamente à
confidencialidade das informações relativas aos resultados dos exames
dos seus utentes, susceptível de, no caso concreto, consubstanciar
uma violação do direito daquela concreta utente à confidencialidade dos
seus dados em saúde.
37. Ora, dos factos supra expostos resultava a necessidade da sua análise sob o
prisma de uma eventual violação dos direitos e interesses legítimos dos utentes;
38. Designadamente por lesão do interesse fundamental da transparência nas
relações com os utentes, e do seu direito à informação sobre todos os aspetos
relacionados com a prestação de cuidados;
39. Bem como o direito, enquanto beneficiários da PT-ACS, a verem respeitado o
conteúdo do contrato de prestação de serviços celebrado entre o prestador e a PT-
ACS;
40. E ainda o direito a verem assegurada a confidencialidade dos seus dados em
saúde.
III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde – direitos e
interesses legítimos dos utentes
41. A prestação de cuidados de saúde – onde se incluem, designadamente, as
consultas médicas, os tratamentos e o recurso a MCDT – insere-se no conceito
amplo de prestação de serviços.
42. Atentos os factos carreados para o processo, importava aferir da tutela dos direitos
e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente da garantia de que sejam estes
informados da natureza dos serviços prestados e/ou a prestar, do valor devido
e/ou a cobrar pelo mesmo, bem como dos atos ou exames disponibilizados pelo
prestador em questão, nomeadamente ao abrigo de convenções celebradas com
entidades financiadoras dos utentes.
43. Quando os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde do sector privado
ou social sejam detentores de convenções, como in casu com a PT-ACS, devem
ter um especial cuidado na transmissão da informação sobre as condições de
acesso dos utentes aos cuidados de saúde por si prestados.
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44. Efetivamente, a informação sobre as convenções detidas por um prestador
constitui um elemento relevante para o exercício da livre escolha pelo utente do
prestador de cuidados de saúde a que pretende recorrer.
45. Deve, assim, ser acautelado que em momento anterior ao da prestação de
cuidados de saúde os utentes sejam integralmente informados sobre a existência
de convenções, suas aplicações a cada acto ou exame de que necessitam e
eventuais exclusões aplicáveis.
46. E isto porque a informação errónea do utente, a falta de informação ou a omissão
de um dever de informar são suficientes quer para distorcer a liberdade de escolha
dos utentes, quer para facilitarem – ou mesmo criarem – situações de lesão de
direitos e interesses financeiros dos utentes.
47. Não sendo admissível que um prestador possa propor-se iniciar a prestação de
cuidados de saúde sem previamente informar o utente da extensão da convenção
por si celebrada;
48. Também não é admissível que a informação publicamente prestada pelo mesmo
relativamente às convenções por si detidas não apresente qualquer referência a
eventuais limitações ou restrições que possam ser aplicáveis, nem qualquer
referência, por exemplo, à possibilidade de determinados atos ou MCDT poderem
não estar abrangidos por determinada convenção.
49. Ora, a informação quanto à existência de convenções e ao seu conteúdo –
divulgada tanto pelos subsistemas como pelos prestadores convencionados – não
pode, por isso, deixar de ser completa, verdadeira e inteligível;
50. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto dos textos
das convenções celebradas entre os prestadores e as entidades financiadoras,
importa assim garantir que esta informação prestada ao utente é suficiente e
atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que
respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o
utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador.
51. Desta forma, não basta que o utente venha a ser informado da limitação do objeto
da convenção posteriormente a ter já orientado a sua escolha para um
determinado prestador.
52. É necessário, pelo contrário, que a informação que lhe é disponibilizada seja,
como já referido, suficiente e atempada para dotar o utente medianamente
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esclarecido dos instrumentos necessários ao exercício da liberdade de escolha
nas unidades de saúde privadas;
53. Recordando-se que também resulta do dever de respeito dos direitos e interesses
legítimos dos utentes o concomitante dever de prestação de informação completa,
verdadeira e inteligível em qualquer informação que preste aos seus utentes,
atuais ou potenciais, designadamente quando utilize elementos publicitários para
dar a conhecer os seus serviços.
54. Relembre-se que no caso sub judice, veio a utente denunciante relatar – facto
aliás, confirmado pelo próprio prestador – que realizou no HPP Lusíadas, S.A. uma
“análise” que sabia previamente que não estava abrangida pela convenção
celebrada entre o referido prestador e a PT-ACS;
55. Tendo ademais a mesma procurado garantir que a “análise” seria enviada para um
prestador convencionado com a PT- ACS, tendo para o efeito desenvolvido todos
os esforços junto do prestador para que tal ocorresse; designadamente
56. Solicitando ao prestador que “[… lhe] preenchessem uma guia de serviços clínicos
da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos
códigos que assin[ou].”.
57. Nessa sequência, o prestador garantiu-lhe que “[…] iriam enviar o “tecido” para
análise a um prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde (PT ACS) […
tendo confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar os [s]eus
exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”.
58. Do exposto, decorre então que,
(i) não obstante a utente em questão ter demonstrado estar devidamente
informada, mesmo antes de recorrer ao prestador, de que o ato por si
realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo mesmo
com a PT-ACS, da qual é beneficiária;
(ii) o que não pode deixar de ser salientado, na medida em que um utente
médio não disporá, ou poderá não dispor, em regra, do mesmo nível de
informação apresentado por esta;
(iii) e, não obstante ainda, a informação prestada pelo Hospital de que
relativamente aos procedimentos adotados com vista à informação
prévia dos utentes sobre atos que não se encontram abrangidos pelo
acordo entre o HPP Lusíadas, SA e a PT-ACS, não são diferentes
daqueles que são adotados para qualquer outro utente que seja
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beneficiário de seguro de saúde ou de subsistema de saúde e solicite
um ato não convencionado entre o prestador e essa seguradora ou
subsistema;
59. Importará sempre à ERS assegurar, conforme entendimento que tem vindo a ser
sucessivamente reiterado por esta Entidade Reguladora no atinente à obrigação
de informação dos utentes,
(i) quer na sua Recomendação publicada no sítio eletrónico da ERS e
remetida a todos os prestadores privados de saúde;
(ii) quer em diversas instruções dirigidas a prestadores de cuidados de
saúde, incluindo a instrução dirigida ao Hospital dos Lusíadas, em 13
de Janeiro de 2011, no âmbito do processo de inquérito n.º
ERS/070/10, bem como na ordem emitida em 1 de fevereiro de 2012,
no âmbito do processo de monitorização PMT/028/09;
60. O respeito dos direitos e interesses legítimos dos utentes, e em especial o seu
direito a uma informação completa, verdadeira, inteligível e em momento prévio à
prestação de cuidados de saúde, sobre todos os aspetos relativos a essa
prestação, onde não pode deixar de se incluir a existência e âmbito de aplicação
de convenções detidas pelos prestadores de cuidados de saúde.
61. Efetivamente, não se pode olvidar que aos utentes deve ser reconhecido o direito
ao consentimento informado e esclarecido, nos termos da alínea e) do n.º 1 da
Base XIV da Lei de Bases da Saúde e, consequentemente, de escolher livremente
o agente prestador de cuidados de saúde, nos termos da alínea a) do n.º 1.º da
Base XIV da mesma Lei de Bases da Saúde;
62. Porquanto, esta livre escolha está na dependência direta da informação referente à
prestação de cuidados de saúde presentes e futuros.
63. Compete assim acautelar a garantia de que, e em momento anterior ao da
prestação de cuidados de saúde, os utentes sejam informados, designadamente
da natureza e âmbito dos serviços a prestar, bem como, ainda, dos valores a
suportar a título de preço e da existência ou não de acordos/convenções com
subsistemas financiadores de cuidados de saúde (e eventuais restrições aos
mesmos aplicáveis), e qual o âmbito de aplicação destes últimos.
64. Ora, a relação dos prestadores com os seus utentes deve pautar-se por princípios
de verdade, completude e transparência, devendo ainda, e em todo o momento,
conformar-se pelo direito dos utentes à informação, enquanto concretização do
16
dever de respeito, pelos prestadores de cuidados de saúde, dos direitos e
interesses legítimos dos utentes.
65. Com efeito, tais características devem revelar-se em todos os momentos da
relação entre utente e prestador, e incluindo nos momentos que antecedem a
própria prestação de cuidados de saúde.
66. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge
aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e
estruturante da própria relação.
67. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e)
do n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, para efeitos de
consentimento informado e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e
evolução do estado clínico;
68. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações
atuais e potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde, públicos e
privados.
69. A informação não pode, por isso, deixar de ser verdadeira, completa e inteligível;
70. Só assim se logrando obter a referida transparência na relação entre prestadores
de cuidados de saúde e utentes.
71. Logo, e em contraposição com o vindo de referir, a transmissão de informação
errónea ao utente, a falta de informação ou a omissão de um dever de informar
são suficientes para distorcer o exercício da própria liberdade de escolha dos
utentes;
72. Para além de facilitarem – ou mesmo criarem – situações de lesões de direitos e
interesses financeiros dos utentes.
73. Ora, na situação aqui em apreço e, embora não se tenha verificado em concreto,
pelas razões já supra expostas, uma violação dos direitos e interesses legítimos
daquela concreta utente, uma vez que recorreu àquele concreto prestador
possuindo informação completa, verdadeira e inteligível sobre todos os aspetos
relacionados com a prestação de cuidados de saúde ao abrigo do contrato de
prestação de serviços celebrado entre o HPP Lusíadas e a PT-ACS;
74. Não se pode deixar de colocar a possibilidade de nem todos os utentes estarem a
ser devidamente informados, designadamente sobre a eventual não aplicação, da
convenção celebrada pelo prestador com a PT-ACS, a determinados atos ou
MCDT;
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75. Não podendo o prestador propor-se iniciar a prestação de cuidados de saúde sem
previamente informar o utente da extensão da convenção por si celebrada.
76. Embora se reitere o referido pelo prestador de que “sempre que o cliente se dirige
à receção/balcão de atendimento para a realização de um ato médico,
previamente agendado com o Hospital dos Lusíadas e para o qual não existe
acordo com a entidade financiadora, é devidamente informado que o acto não está
previsto no acordo […] e que terá de ser pago diretamente pelo cliente em
conformidade com a tabela de preços de particulares que estiver em vigor.”;
77. Certo é que, por um lado, na situação concreta em análise, e de acordo com os
elementos disponíveis, a utente demonstrou-se sempre ciente de todas as
condições de acesso aos cuidados de saúde naquele prestador ao abrigo daquele
contrato de prestação de serviços com a PT-ACS, mesmo antes de qualquer
contacto com o prestador;
78. Tendo sido, ademais, a utente que solicitou “[… lhe] preenchessem um guia de
serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a consulta, [c.], [ci.] e [g.], com
os respetivos códigos que assin[ou].”;
79. Não tendo sido possível demostrar ter sido o prestador a cumprir com os deveres
que sobre si impendem em matéria de informação;
80. E, por outro lado, deve-se salientar, ainda, que da informação pública
disponibilizada pelo HPP Lusíadas, SA no seu sítio eletrónico na Internet, em
www.hpplusiadas.pt não resulta qualquer informação sobre a existência de
quaisquer restrições à aplicação da convenção detida com a PT-ACS, aliás como
se passa com qualquer outro acordo ou convenção detido pelo prestador, com
exceção da convenção detida com a ADSE.
81. Ora, não pode a ERS deixar de reiterar o por si já explanado na deliberação
emitida ao prestador em 1 de fevereiro de 2012, no âmbito do processo de
monitorização PMT/028/09, relativamente à convenção da ADSE, e que, realce-se,
foi seguida pelo HPP Lusíadas, mas apenas em relação a essa convenção;
82. De que sempre que um prestador de cuidados de saúde anuncia uma convenção
que não celebrou com a extensão ou capacidade que publicita – estabelece desde
logo com o utente uma relação que antecede a prestação de cuidados de saúde e
que se acha pautada pela ausência de verdade e de transparência;
83. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto do texto das
convenções celebradas pelo HPP Lusíadas, SA, e em que a informação a que tem
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acesso lhe é disponibilizada pelo próprio subsistema ou entidade seguradora – por
via do seu site na internet/designadamente, o sítio eletrónico na internet –, bem
como é por ele obtida junto dos prestadores de cuidados de saúde.
84. Importa, assim, garantir que esta informação prestada ao utente é suficiente e
atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que
respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o
utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador;
85. Sendo que tal obrigação que impende sobre o prestador resulta já da atividade
regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao Hospital dos
Lusíadas, emitida em 13 de janeiro de 2011, e no âmbito do processo de inquérito
aberto sob o registo ERS/070/10, no sentido de
“[…] o HPP Lusíadas, S.A., no contacto com os utentes, garant[ir] em
permanência o respeito pleno e não condicionado pelo direito à
informação clara e transparente sobre os cuidados de saúde prestados
e a prestar, bem como sobre a sua necessidade clínica e o(s)
correspondente(s) preço(s)”;
86. Mas também do teor da recomendação publicada no sítio eletrónico da ERS e
remetida a todos os prestadores privados de saúde pela qual foi determinado o
dever de “[…] respeitar integralmente o dever de informação com rigor e
transparência, devendo, para isso, comunicar aos utentes os actos, exames,
consumíveis e fármacos, bem como os respectivos valores, que venham a ser
previsivelmente prestados ou administrados e cujo pagamento lhes seja exigível”;
87. Devendo-se recordar que tal exigência de informação aos utentes que impende
sobre o prestador inclui a informação sobre todos os aspetos relativos a essa
prestação, e designadamente sobre a existência e âmbito de aplicação de
convenções detidas pelos prestadores de cuidados de saúde.
88. Em face de todo o exposto, não pode a ERS deixar de advertir o prestador para a
necessidade de ser garantida de forma permanente a prestação de informação
verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos
relacionados com tal prestação, designadamente no que se refere às convenções
por si detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam
actos ou exames não abrangidos pelas mesmas.
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III.3. Da prestação de cuidados de saúde ao abrigo do acordo celebrado entre o
HPP Lusíadas, S.A. e a PT-ACS
89. A PT-ACS é uma associação que tem por objeto “[…] a promoção e proteção da
saúde, nomeadamente através da prestação, direta ou indireta, de cuidados de
medicina preventiva, curativa e de reabilitação.”; e
90. Para tanto, assume a gestão de planos de saúde previamente determinados e
subscritos pelos seus associados, além de prestar cuidados de saúde no trabalho.
91. Assim, assegura a prestação de cuidados de saúde através, designadamente, de
um corpo clínico em Centros Clínicos por si detidos, de estabelecimentos consigo
convencionados em distintas áreas clínicas, do apoio de natureza psicossocial em
situações de carência económica e dependência física, e ainda através de
mecanismos de comunicação com os beneficiários aos quais se pretende dar a
compreender as potencialidades do serviço, formas de acesso à prestação de
cuidados, analisar e responder às exposições e fornecer regularmente informação
sobre os serviços utilizados e respetivos encargos.
92. Para tanto, deve o beneficiário cumprir e fazer cumprir as disposições do plano de
saúde por si subscrito, utilizar de forma correta e racional os serviços disponíveis,
bem como manter a PT - ACS informada de todas as atualizações da situação
pessoal e familiar, e ainda colaborar no sentido de responder aos pedidos de
informação que lhe forem dirigidos, ao mesmo tempo que deve informar de todas
as anomalias constadas no acesso aos serviços.
93. Nesta perspetiva, a PT-ACS assume-se como subsistema de saúde que atua em
complementaridade com o SNS e, por isso, garante ao seu beneficiário o recurso a
outros estabelecimentos de saúde do setor privado com quem celebrou, ou não,
acordo para a prestação de cuidados.
94. É neste âmbito que surge o Contrato de Prestação de Serviços Celebrado entre o
HPP Lusíadas, SA e a PT- ACS, em 1 de maio de 2009 (de ora em diante
Contrato), e respeitante à assistência prestada aos beneficiários da PT-ACS.
95. De acordo com o estabelecido no referido Contrato, o mesmo abrange as
consultas de especialidade, nomeadamente de ginecologia/obstetrícia, e todos os
MCDT disponibilizados pelo HPP Lusíadas, SA.
96. Relativamente à realização dos exames, ou MCDT, no anexo 8.3 ao Contrato
encontra-se estabelecido “quando disponibilizados pelo Hospital, devem ser
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facturados aos valores constantes da Tabela e normas de prestação da PT-ACS
em vigor.”;
97. Pelo contrário, “quando não disponibilizados pelo Hospital devem ser efetuados
por entidades convencionadas com a PT-ACS podendo ser por estas facturados
diretamente à PT-ACS.”.
98. Relembre-se que no caso sub judice era referido pela utente ter realizado no HPP
Lusíadas, S.A. um exame de g. que sabia previamente que não estava abrangido
pela convenção entre o referido prestador e a PT-ACS;
99. Tendo procurado sempre garantir que a análise seria enviada para um prestador
convencionado com a PT-ACS, tendo para o efeito desenvolvido todos os esforços
junto do prestador para que tal ocorresse, designadamente solicitando que
“preenchessem um guia de serviços clínicos da PT-ACS onde era discriminado, a
consulta, [c.], [ci.] e [g.], com os respetivos códigos que assin[ou].”.
100. Sucede que, não obstante terem garantido à utente que “[…] iriam enviar o
“tecido” para análise a um prestador convencionado com o [s]eu plano de saúde
(PT ACS) [… tendo confirmado] ser o Laboratório Dra. Isabel Belo que iria realizar
os [s]eus exames, com convenção com o [s]eu plano de saúde.”;
101. Certo é que, no dia 11 de maio de 2012, a utente recebeu na sua residência
“um aviso de pagamento no valor de 130 euros” referente ao exame de g.
realizado no HPP Lusíadas.
102. Ora, atentos os factos tais como expostos pela utente, resultava clara a
existência de uma situação de incumprimento do contrato celebrado pelo HPP
Lusíadas com PT-ACS com prejuízo direto e imediato na esfera jurídica da utente;
103. Em função da lesão dos seus interesses financeiros;
104. Na medida em que lhe estava a ser solicitado o pagamento de uma quantia,
que em função das condições estabelecidas no referido contrato, não lhe era
exigível e consubstanciava ademais o incumprimento do contrato, já que do
mesmo resultava para o prestador a obrigação de os MCDT “quando não
disponibilizados pelo Hospital devem ser efetuados por entidades convencionadas
com a PT-ACS podendo ser por estas facturados diretamente à PT-ACS.”;
105. Não podendo, como é óbvio, em situação alguma, ser solicitado aos utentes o
pagamento de tais MCDT não disponibilizados pelo Hospital, pelo valor
estabelecido nas tabelas de preços de particulares em vigor.
21
106. Acontece que, no decurso da instrução do processo, o prestador veio confirmar
que, de acordo com o contrato estabelecido com a PT-ACS, os atos que não
sejam prestados pelo HPP Lusíadas, SA “devem ser efetuados por entidades
convencionadas com a PT-ACS”, sendo que no caso concreto o HPP Lusíadas
“[…] cumpriu o contratado, remetendo os exames a uma entidade convencionada
com a PT-ACS, e mais deveria ter dado indicação ao laboratório para faturar
diretamente à PT-ACS”.
107. O que ocorreu, segundo o prestador, foi que “[…] facturou diretamente o exame
à Cliente [sendo que] tal prática não é admitida pelo contrato existente com a PT-
ACS, pelo que, conforme email enviado à Cliente, foi já a mesma anulada
mediante emissão de nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de €
130,00”;
108. Ou seja, o prestador não só assumiu o seu comportamento como indevido, e
violador do disposto no contrato de prestação de serviços por si celebrado com a
PT-ACS;
109. Como adotou os comportamentos necessários para fazerem cessar os efeitos
da violação dos direitos e interesses legítimos da utente, e em concreto os seus
interesses financeiros;
110. Na medida em que diligenciou no sentido de proceder à anulação da factura
FD2012/13624, no valor de € 130,00, referente à [g.], e procedeu à emissão de
nota de crédito CP2012/4368, de 26.10.2012, no valor de € 130,00.
III.4. Do direito dos utentes à confidencialidade dos seus dados em saúde
111. Recorde-se que é objetivo regulatório da ERS, nos termos do disposto na
alínea c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio, garantir os
direitos e interesses legítimos dos utentes, onde se integra entre outros o direito
dos utentes “a ter rigorosamente respeitada a confidencialidade sobre os dados
pessoais revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da
Saúde.
112. Efetivamente, o direito dos utentes à confidencialidade de toda a informação
clínica e elementos identificativos que lhe respeitam, contidos no seu processo
clínico, decorre desde logo do direito fundamental à proteção dos dados pessoais
informatizados, consagrado no artigo 35º da CRP, mas também do n.º 2 do artigo
268º da CRP, e do n.º 2 do artigo 26º da CRP, segundo o qual a lei estabelecerá “
22
[…] garantias efectivas contra a utilização abusiva, ou contrária à dignidade
humana, de informações relativas às pessoas e famílias”.
113. Neste sentido, o direito à proteção dos dados pessoais informatizados,
funciona como uma garantia do direito à reserva da intimidade da vida privada, em
especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de estranhos a
informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue
as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.
114. Nos termos do n.º 2 do artigo 35º da CRP, é remetida para a lei a
regulamentação dos aspetos relacionados com o direito à proteção dos dados
pessoais, nomeadamente, o conceito de dados pessoais, as condições do seu
tratamento automatizado, da sua conexão, transmissão e utilização, bem como a
sua proteção e, criação, para esse fim, de uma autoridade administrativa
independente.
115. Nesse sentido foi aprovada a Lei de Proteção de Dados Pessoais (LPDP), Lei
n.º 67/98, de 26 de outubro (que veio revogar as anteriores Leis n.ºs 10/91, de 29
de Abril e 28/94, de 24 de agosto), a qual transpõe para a ordem jurídica
portuguesa a Directiva n.º 95/46/CE, do Parlamento e do Conselho, de 24 de
outubro de 1995, relativa à proteção das pessoas singulares, no que diz respeito
ao tratamento dos dados pessoais e à livre circulação desses dados.
116. No âmbito específico da proteção de dados relativos à saúde, existem diversas
disposições normativas que lhe fazem referência, entre as quais a Lei de Bases de
Saúde (Lei n.º 48/90, de 24 de agosto) e a Lei sobre a informação genética
pessoal e informação de saúde (Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro).
117. Decorre, então, de tal quadro legal, que incumbe aos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde integrados no SNS – aliás, como qualquer
estabelecimento de saúde, independentemente da sua natureza (singular ou
coletiva e pública ou privada) – o dever de criar, manter, atualizar e conservar em
arquivo ficheiros adequados, relativos aos processos clínicos dos seus doentes.
118. Este dever que incide sobre os estabelecimentos de saúde, e que consiste na
documentação e registo de toda a atividade médica relativa a determinado utente
que aí recorreu para a prestação de cuidados de saúde decorre, desde logo, de
um dever de cuidado do médico, ou seja, de uma obrigação inserta na legis artis.
119. Refira-se, ademais, que embora o processo clínico seja propriedade do doente,
são os estabelecimentos de saúde os depositários da informação, e portanto
23
aqueles que têm os processos clínicos dos utentes à sua guarda – a cfr. n.º 1 do
artigo 3.º da Lei n.º 12/2005.
120. Assim, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, o
processo clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém
informação sobre o próprio que, ademais, se integra no conceito de intimidade da
vida privada;
121. Cabendo, no entanto, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a
outro profissional (por exemplo, um enfermeiro) sob a supervisão daquele, o dever
de proceder à referida documentação ou registo da informação médica (e que
pode incluir dados sobre consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os
utentes foram sujeitos);
122. Não podendo a informação contida no processo clínico de um utente ser
utilizada para outro fim que não seja a prestação de cuidados de saúde à pessoa
ou para investigação quando admissível.
123. Neste sentido, importa realçar que o processo clínico deve ser “guardado” pelo
estabelecimento de saúde em causa em segredo, devendo os profissionais de
saúde ao seu serviço guardar sigilo sobre a informação nele contida.
124. Importa, assim, determinar o que se deve entender por dados de saúde,
informação de saúde e processo clínico.
125. O conceito de dados de saúde deve-se integrar naquele conceito mais amplo
relativo aos dados pessoais que são definidos pela Lei n.º 67/98 (LPDP) como “[…]
qualquer informação, de qualquer natureza e independentemente do respectivo
suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma pessoa singular identificada ou
identificável («titular dos dados»)”, sendo pessoa identificável aquela “[…] que
possa ser identificada directa ou indirectamente, designadamente por referência a
um número de identificação ou a um ou mais elementos específicos da sua
identidade física, fisiológica, psíquica, económica, cultural ou social” (art. 3º al. a)
da LPDP).
126. De acordo com esta definição, podem ser considerados dados pessoais, entre
muitos outros, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de
contribuinte, o número do bilhete de identidade, a sua história clínica, entre outros.
127. Por seu lado, a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, optou por utilizar o conceito
de informação de saúde “[…] como todo o tipo de informação directa e
24
indirectamente ligada à saúde, presente ou futura, de uma pessoa, quer se
encontre com vida ou tenha falecido, e a sua história clínica e familiar.” (artigo 2.º).
128. De acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do referido diploma legal, a
informação de saúde inclui “[…] os dados clínicos registados, resultados de
análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos.”.
129. Já o artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, para além de referir que a
informação médica “[…] é a informação de saúde destinada a ser utilizada em
prestações de cuidados ou tratamentos de saúde”, estabelece o conceito de
processo clínico como “qualquer registo, informatizado ou não, que contenha
informação de saúde sobre doentes ou seus familiares” e que deve conter toda a
informação médica disponível que diga respeito à pessoa.
130. No que se refere concretamente à necessidade de ser acautelado o direito dos
utentes à confidencialidade da informação contida no seu processo clínico,
prescreve o artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, que os
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quando tenham processos
clínicos à sua guarda
(i) “[…] devem tomar as providências adequadas à proteção da sua
confidencialidade, garantindo a segurança das instalações e
equipamentos, o controlo no acesso à informação, bem como o reforço
do dever de sigilo e da educação deontológica de todos os
profissionais.”;
(ii) “[…] devem impedir o acesso indevido de terceiros aos processos
clínicos e aos sistemas informáticos que contenham informação de
saúde, incluindo as respectivas cópias de segurança, assegurando os
níveis de segurança apropriados e cumprindo as exigências
estabelecidas pela legislação que regula a proteção de dados pessoais,
nomeadamente para evitar a sua destruição, acidental ou ilícita, a
alteração, difusão ou acesso não autorizado ou qualquer outra forma de
tratamento ilícito da informação.”;
(iii) “[…] deve[m] garantir a separação entre a informação de saúde e
genética e a restante informação pessoal, designadamente através da
definição de diversos níveis de acesso.”.
131. Dos dispositivos vindos de apresentar, resulta uma clara imposição legal,
incidente sobre os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, de
25
assegurar a confidencialidade de todas as informações contidas nos processos
clínicos dos utentes, nomeadamente mediante a adoção de mecanismos que
garantam a segurança das instalações ou dos meios informáticos, consoante as
mesmas se encontrem contidas sem suporte de papel ou suporte informático;
132. Mas também a necessidade de serem implementados pelos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde procedimentos adequados ao controlo do
acesso por terceiros à informação, bem como os necessários a assegurar o dever
de sigilo e a existência de uma adequada educação deontológica dos seus
profissionais.
133. No âmbito do controlo do acesso à informação importa, designadamente,
impedir o acesso indevido de terceiros aos processos clínicos e aos sistemas
informáticos que contenham informação de saúde;
134. Nesse sentido, e como forma de acautelar o acesso de terceiros a informações
abrangidas pelo dever de confidencialidade, de acordo com o disposto no artigo 4.º
da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, podem os estabelecimentos prestadores de
cuidados de saúde separar a informação contida no seu processo clínico, entre
informação de saúde e a restante informação pessoal, podendo estabelecer
mecanismos de controlo de acesso mais apertados, no caso da informação em
saúde, e menos restritivos, no caso da restante informação pessoal;
135. O que poderá permitir, por exemplo, que os funcionários dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde que não sejam profissionais de saúde não
devam ter acesso à informação em saúde contida em processo clínico (dados
clínicos registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários,
intervenções e diagnósticos), mas possam ter acesso à restante informação
pessoal (por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança social, o número
de contribuinte, o número do bilhete de identidade, o número de beneficiário de
subsistema de saúde ou de seguro de saúde, bem como a identificação dos atos
ou exames praticados ao utente).
136. Ainda no âmbito da garantia do direito à confidencialidade da informação
contida em processo clínico, estabelece o n.º 4 do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de
26 de janeiro, que “a informação médica é inscrita no processo clínico pelo médico
que tenha assistido a pessoa ou, sob a supervisão daquele, informatizada por
outro profissional igualmente sujeito ao dever de sigilo, no âmbito das
competências específicas de cada profissão e dentro do respeito pelas respectivas
normas deontológicas.”;
26
137. E o n.º 5 desse mesmo preceito estabelece que “o processo clínico só pode ser
consultado por médico incumbido da realização de prestações de saúde a favor da
pessoa a que respeita ou, sob a supervisão daquele, por outro profissional de
saúde obrigado a sigilo e na medida do estritamente necessário à realização das
mesmas, […]”.
138. Do disposto nos n.ºs 4 e 5 do artigo 5.º da da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,
resulta de forma clara que apenas os profissionais de saúde podem aceder ao
processo clínico dos utentes, designadamente às informações em saúde contidas
no mesmo;
139. Pelo que os demais profissionais ao serviço de um determinado
estabelecimento prestador de cuidados de saúde, não podem aceder a tais
informações;
140. E mesmo no que se refere aos profissionais de saúde, não obstante os
mesmos estejam sujeitos ao dever de sigilo, a lei determina que o acesso à
informação contida no processo clínico, ocorra apenas na medida do estritamente
necessário à realização de prestações de saúde a favor da pessoa a que o mesmo
diga respeito;
141. Ou seja, o legislador optou claramente por estabelecer um quadro legal que
restringe fortemente o acesso por terceiros à informação contida em processo
clínico, o que implica que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde
observem um especial cuidado no estabelecimento de procedimentos internos que
assegurem a confidencialidade dos dados contidos nos processos clínicos;
142. Podendo, no entanto, serem estabelecidos diferentes níveis de acesso à
informação, de forma a que embora o acesso à informação em saúde seja
restringida apenas aos profissionais de saúde (sejam eles médicos, enfermeiros,
ou técnicos) incumbidos da realização de prestações de saúde a favor da pessoa a
que a essa informação respeita;
143. Possam os demais profissionais ao serviço do estabelecimento (como
assistentes administrativos ou responsáveis por áreas de gestão não médicas)
aceder à restante informação pessoal, que permita por exemplo a correta
faturação de todos os actos prestados a um determinado utente.
144. Ora, importa recordar que na situação sub judice a utente vinha igualmente
reclamar do comportamento do prestador “ao divulgar os resultados de um exame
[…], a terceiros, sem o [seu] consentimento [podendo] mesmo afirmar, que os
27
[seus] dados médicos, não foram devidamente acautelados pelo Hospital dos
Lusíadas, tendo sido efetuada de forma imprópria a sua divulgação, através de e-
mail com conhecimento de vários destinatários, não médicos, divulgação esta que
violou o princípio da [sua] intimidade e da [sua] vida privada.”.
145. Sendo que o prestador, no âmbito da instrução do processo, veio aos autos
confirmar que foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma
colaboradora do Back Office do HPP Lusíadas, SA, através de correio eletrónico
enviado com conhecimento “da sua chefe direta, [C.], para o departamento de
cobranças, [M.], e para o primeiro contacto com o Hospital, a colaboradora [P.].”;
146. Tendo justificado que, “pese embora se considerar como indevida a anexação
do relatório à mensagem copiada conforme aos colaboradores devidamente
identificados e com as qualidades acima referidas, são claras as razões deste
facto, bem como as razões que se representaram à emitente para copiar a
mensagem (com anexo) enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão
sujeitos a sigilo profissional e que lidam diariamente com informação respeitante
aos dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos
Lusíadas.”.
147. Ora, do exposto resulta claramente que o prestador não acautelou
devidamente o direito daquela utente à confidencialidade da informação em saúde
contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao resultado
daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo prestador de cuidados de
saúde;
148. Uma vez que permitiu o acesso de outros seus profissionais, que não
profissionais de saúde, a resultados de exames;
149. O que para além de estar vedado por lei, conforme estabelecido no n.º 5 do
artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, ao estabelecer que que “o processo
clínico só pode ser consultado por médico incumbido da realização de prestações
de saúde a favor da pessoa a que respeita ou, sob a supervisão daquele, por outro
profissional de saúde obrigado a sigilo e na medida do estritamente necessário à
realização das mesmas, […]”;
150. Não se consegue vislumbrar uma qualquer justificação para que tal facto tenha
ocorrido, uma vez que para uma correta faturação daquele concreto exame, basta
que os funcionários do Back office e do departamento de faturação tenham
conhecimento apenas da sua realização, não necessitando de conhecer o
resultado do exame.
28
151. Tanto assim é, que o próprio legislador teve o cuidado de prever a necessidade
de determinadas informações deverem ser do conhecimento de funcionários, que
não sejam profissionais de saúde;
152. Quando estabeleceu no n.º 4 do artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,
que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde “[…] deve[m] garantir
a separação entre a informação de saúde e genética e a restante informação
pessoal, designadamente através da definição de diversos níveis de acesso.”.
153. Em face do exposto, resulta que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o
comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a
terceiros, sem o [seu] consentimento, violou os direitos e interesses legítimos dos
utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente
respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d)
do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde;
154. Designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em
especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a
informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue
as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.
155. Pelo que importa garantir que a informação em saúde relativa a determinado
utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos registados, resultados de
análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos) não deva ser,
por qualquer meio, designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não
profissionais de saúde ao serviço daquele concreto prestador;
156. Devendo ademais ser adotados pelo referido prestador, e para futuro, os
procedimentos adequados a garantir a confidencialidade da informação em saúde
contida nos processos clínicos dos seus utentes;
157. De forma a que apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham
tido, ou venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de
prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à informação em
saúde contida no seu processo clínico;
158. Não obstante poder adotar procedimentos que visem a separação entre a
informação de saúde e a restante informação pessoal, designadamente através da
definição de diversos níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e
demais responsáveis pela faturação dos cuidados prestados no HPP Lusíadas,
SA, possam ter acesso à informação necessária a tal facturação, a qual se deve
29
restringir, unicamente, ao conceito de restante informação pessoal, onde se inclui,
por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de
contribuinte, o número do bilhete de identidade, o número de beneficiário de
subsistema de saúde ou de seguro de saúde e a identificação dos atos ou exames
praticados ao utente.
III.5. Conclusão
159. Em face de todo o exposto, e no que se refere à confidencialidade de informação
contida em processo clínico dos utentes, conclui-se pela necessidade de uma
intervenção regulatória da ERS, ao abrigo do disposto na alínea c) do artigo 33.º
do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de maio;
160. Com intuito de garantir que sejam adotados pelo HPP Lusíadas, SA os
procedimentos necessários ao cumprimento das obrigações legais relativas à
confidencialidade da informação de saúde, em respeito último do dever de garantia
do direito à reserva da intimidade da vida privada, em especial, quando
considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a informações sobre a
vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue as informações que
tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.
161. Por outro lado, e no que se refere ao dever que incumbe sobre os
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, de transmissão de
informação verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos
relacionados com a prestação de cuidados de saúde, e em especial no que se
refere à existência restrições no âmbito de acordos e convenções detidas pelos
mesmos;
162. E atendendo a que,
(i) no caso concreto em análise, não foi possível concluir pela existência
de um qualquer comportamento do HPP Lusíadas, SA
consubstanciador de uma violação dos direitos e interesse legítimos
daquela concreta utente, por não cumprimento dos deveres de
transmissão de informação verdadeira, completa, inteligível e
transparente;
(ii) ainda assim, a ERS não pode deixar de garantir que a informação
prestada aos utente pelo HPP Lusíadas, SA seja suficiente e atempada
para uma tomada de consciência do conteúdo das convenções que
30
sejam detidas pelo mesmo, no que respeita às repercussões –
designadamente financeiras – que resultam para o utente da relação
contratual estabelecida entre a entidade financiadora do utente e o
prestador;
(iii) sendo que tal obrigação que impende para o prestador, resulta já da
atividade regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao
HPP Lusíadas, SA, emitida em 13 de Janeiro de 2011, e no âmbito do
processo de inquérito aberto sob o registo ERS/070/10, no sentido de
“[…] no contacto com os utentes, garant[ir] em permanência o respeito
pleno e não condicionado pelo direito à informação clara e transparente
sobre os cuidados de saúde prestados e a prestar, bem como sobre a
sua necessidade clínica e o(s) correspondente(s) preço(s)”;
(iv) mas também do teor da recomendação publicada no sítio eletrónico da
ERS e remetida a todos os prestadores privados de saúde pela qual foi
determinado o dever de “[…] respeitar integralmente o dever de
informação com rigor e transparência, devendo, para isso, comunicar
aos utentes os actos, exames, consumíveis e fármacos, bem como os
respectivos valores, que venham a ser previsivelmente prestados ou
administrados e cujo pagamento lhes seja exigível”;
(v) devendo-se recordar que tal exigência de informação aos utentes que
impende sobre o prestador inclui a informação sobre todos os aspetos
relativos a essa prestação, e designadamente sobre a existência e
âmbito de aplicação de convenções detidas pelos prestadores de
cuidados de saúde;
163. Importa advertir o prestador para a necessidade de ser garantida de forma
permanente a prestação de informação verdadeira, completa, inteligível e
transparente sobre todos os aspetos relacionados com tal prestação,
designadamente no que se refere às convenções por si detidas, e em especial à
existência de eventuais restrições, como sejam actos ou exames não abrangidos
pelas mesmas.
IV. AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS
164. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita de interessados, nos
termos e para os efeitos do disposto no artigo 101.º n.º 1 do Código do
Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo n.º 41.º do Decreto-Lei n.º
31
127/2009, de 27 de Maio, tendo o HPP Lusíadas, SA e a utente D.ª A. sido
chamados a pronunciarem-se relativamente ao conteúdo do projeto de deliberação
da ERS;
165. Sendo que, após o decurso do prazo, apenas foi rececionada a pronúncia do
HPP Lusíadas, SA.
IV. 1. Da pronúncia do HPP Lusíadas, SA
166. O HPP Lusíadas, SA exerceu o seu direito de pronúncia nos presentes autos, por
ofício que deu entrada na ERS no dia 14 de fevereiro de 2013.
167. Na pronúncia do HPP Lusíadas, SA, que se dá aqui por integralmente
reproduzida para todos os efeitos legais, é alegado o que de seguida se apresenta
(i) a título de considerações preliminares veio o prestador esclarecer que,
“[…] tem cumprido com as regras éticas e jurídicas respeitantes
ao direito à informação dos Doentes, seja no que respeita à
informação sobre o respetivo estado de saúde ou situação
clínica, os tratamentos possíveis ou recomendados, seja quanto
aos custos previsíveis dos mesmos, sempre que o Doente o
solicite, bem como tem assegurado e respeitado as obrigações
relativas à confidencialidade dos dados pessoais e de saúde.”;
pelo que “[…] apesar de concordar na generalidade com as
considerações jurídicas tecidas a propósito dos direitos dos
doentes, como tal e como consumidores, deve pronunciar-se
sobre alguns aspetos do presente projeto de Deliberação que
não merecem a sua concordância, nem aceitação”;
(ii) no que se refere aos direitos e interesses legítimos dos utentes,
designadamente a informação prestada à utente, o prestador veio
argumentar que,
é seu entendimento que a utente em questão “[…] em momento
algum reclamou de qualquer deficiente informação por parte do
Hospital dos Lusíadas ou dos seus profissionais.”;
32
até porque como é referido no § 58 (i) do projeto de deliberação
notificado “[…] demonstrou “estar devidamente informada,
mesmo antes de recorrer ao prestador, de que o ato por si
realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo
mesmo com a PT-ACS, da qual é beneficiária”;
considerando como tal infundada a ilação “[…] retirada do § 58
(ii), pois faltará demonstrar que a Reclamante não era “um
utente médio”, nem que a estes não seja prestada ou
apresentada pelo Hospital dos Lusíadas a informação
necessária e adequada aos cuidados a prestar”;
não havendo no seu entendimento nada a apontar ao HPP
Lusíadas, SA ou aos seus profissionais em matéria de respeito
pelos direitos e interesses legítimos dos utentes, e em especial o
seu direito a uma informação completa, verdadeira, inteligível e
em momento prévio à prestação de cuidados de saúde;
concluindo quanto a esta questão que “[…] todo o elaborado nos
§ 74 e seguintes, deve ser eliminado da presente deliberação,
por falta de fundamentos de facto (cfr. § 79, por exemplo “… não
tendo sido possível demonstrar…”), por não corresponderem à
realidade e apenas denotarem uma eventual procura de factos
que pudessem, “incriminar” o próprio prestador de serviços no
processo em causa ou “arranjar factos” que justificassem a
advertência q eu a ERS pretende exprimir, como decorre do §
88.”;
(iii) no que concretamente respeita à prestação de cuidados de saúde ao
abrigo de acordo com a PT-ACS, veio o HPP Lusíadas, SA alegar que,
a utente estava informada que o exame em causa não estava
abrangido por tal acordo “não revelando, para estes efeitos
determinar como e quando tal informação foi obtida”;
a utente sabia que o exame ia ser realizado por entidade externa
convencionada com a PT_ACS;
33
e que apenas “por lapso dos serviços do Hospital dos Lusíadas,
lapso reconhecido e oportunamente corrigido, foi apresentada à
Reclamante o aviso de pagamento da fatura correspondente ao
exame efetuado pelo laboratório.”;
A qual foi anulada face à reclamação apresentada;
(iv) relativamente ao direito dos utentes à confidencialidade dos seus dados
de saúde é alegado pelo prestador que,
é seu entendimento que “[…] a dita divulgação dos resultados de
um exame, se circunscreveu ao envio de um e-mail à
Reclamante com conhecimento de 3 colaboradores dos quadros
do Hospital dos Lusíadas que continha em anexo o relatório do
exame efetuado.”;
pelo que considerar tal facto “[…] como divulgação do exame a
terceiros, parece exagerado, e ainda concluir (como faz a ERS
no § 146) que a HPP “…não acautelou devidamente o direito
daquela utente à confidencialidade da informação em saúde
contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao
resultado daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo
prestador de cuidados de saúde (ver se é o § [147]);
mais acrescentando que “[…] o presente projeto apenas (e tão
só) se poderia referir à situação ou caso concreto – nenhuma
ilação deveria ter tomado do facto consumado e reclamado.”;
e que tal facto não consubstancia uma divulgação do exame,
uma vez que “[…] o relatório foi enviado em anexo ao e-mail
emitido à Reclamante, e-mail esse que continha a indicação de
ter sido copiado a 3 colaboradoras do Hospital e apenas a
essas.”;
não entende, desse modo, “[…] a invocação do disposto no n.º 5
do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro (cfr. § 149),
como também não se compreende, por se desconhecer os
fundamentos das afirmações contantes do projeto de
34
deliberação no sentido do hospital não respeitar a
confidencialidade dos dados de saúde dos seus doentes.”;
pelo que “[…] rejeita em absoluto que um envio de um relatório a
uma Cliente por parte de um profissional do Hospital,
eventualmente com o conhecimento (devidamente justificado
pelo emitente) de outros colaboradores do Hospital
(devidamente identificados), constitua uma qualquer violação
dos deveres de confidencialidade, ou uma divulgação dos dados
de saúde dos doentes.”;
não considerando que se tenha verificado “[…] qualquer acesso
ao processo clínico da Reclamante, mas tão só […] a resposta a
um pedido formulado pela Reclamante”, uma vez que de acordo
com a Lei “[…] o acesso ao processo clínico está limitado: ao
próprio titular da informação nele contida, aos médicos do
Hospital para prestação de cuidados de saúde assistenciais e,
sob supervisão destes, a outros profissionais de saúde
obrigados a sigilo e na medida do estritamente necessário à
realização e gestão das prestações de saúde.”;
uma vez que é seu entendimento que “[…] o HPP cumpre
integral e escrupulosamente as suas obrigações legais relativas
à confidencialidade da informação em saúde, como resulta
também dos documentos em anexo, (i) POLÍTICA DE GESTÃO
E ACESSO À INFORMAÇÃO CLÍNICA E (ii) PROCEDIMENTO
DE ACESSO À INFORMAÇÃO CLÍNICA (EM SUPORTE
ELTRÓNICO E EM PAPEL), que ora se remetem pois no âmbito
do processo de inquérito não foram solicitadas informações,
nem esclarecimentos, relativos à confidencialidade dos dados de
saúde”;
(v) por fim, o prestador alega ainda que “[…] não têm cabimento as
remissões para as instruções emitidas no âmbito do processo de
inquérito ERS/070/10, já cumpridas, porque nada têm a ver com a
matéria deste processo de inquérito que, nomeadamente, determinou
que as obrigações de informação foram cumpridas no caso concreto.”;
35
(vi) e que “[…] os procedimentos internos adotados pela HPP garantem a
confidencialidade da informação em saúde contida nos processos
clínicos, como resulta dos documentos em anexo”.
IV. 2. Análise dos argumentos aduzidos na pronúncia do HPP Lusíadas, SA
168. Refira-se, ab initio, que os argumentos apresentados na pronúncia do HPP
Lusíadas, SA foram considerados e ponderados pela ERS;
169. Embora se adiante, desde já, que os mesmos não são de molde a alterar os
quadros factual e jurídico do projeto de deliberação notificado;
170. E, consequentemente, a alterar o sentido da decisão projetada.
171. Contudo, e analisando os argumentos aduzidos de forma mais detalhada,
refira-se que relativamente às considerações preliminares produzidas pelo
prestador, e designadamente quando o prestador refere cumprir todas as
obrigações relativas ao direito à informação dos utentes “sempre que o Doente o
solicite”;
172. Importa reiterar que o direito fundamental dos utentes de cuidados de saúde à
informação, bem como os princípios da verdade e transparência relevarão,
fundamentalmente, quer em momento anterior à escolha do prestador pelo utente,
quer durante a prestação do concreto cuidado de saúde, quer ainda depois de
cessada a relação contratual com o prestador;
173. Mas tal obrigação que impende sobre os prestadores de cuidados de saúde de
garantir o direito do utente à informação, a qual deve ademais ser prestada com
verdade, com antecedência, de forma clara, adaptada à sua capacidade de
compreensão e contendo toda a informação necessária à tomada de decisão do
utente;
174. Não deve ser pelos mesmos garantida apenas “sempre que o Doente o
solicite”, mas pelo contrário deve ser sempre assegurada independentemente de
solicitação dos utentes.
175. Importa realçar a este respeito que se coloca aqui, de forma clara, a questão
que constitui um dos problemas fundamentais em saúde e que se prende com a
“assimetria de informação” que existe em todas as relações prestador – utente;
36
176. Ou seja, os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela
informação imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à
saúde e à doença.
177. Com efeito, se por um lado é natural que um utente perceba a existência de um
sintoma, embora tipicamente não determine a origem e gravidade do mesmo, será,
normalmente, um profissional de saúde que determinará a gravidade do problema
e conduzirá o utente ao tratamento adequado;
178. Ora, é aqui que se verifica uma assimetria de informação que, concretamente,
resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento
exacto dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.
179. O que justifica que um utente, antes de decidir ou não submeter-se à prestação
de um determinado cuidado de saúde, e no caso do recurso a uma unidade
privada de prestação de cuidados de saúde, possa por exemplo ser informado de
todos os atos e exames que serão realizados, do respetivo preço, e da sua
eventual não cobertura pelo subsistema de saúde ou seguro de saúde de que é
beneficiário;
180. Resultando daqui que a liberdade de escolha, bem como o consentimento ao
tratamento proposto pelo prestador só podem ser efetivamente garantidos se for
transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante
para a sua decisão;
181. E isto independentemente do utente solicitar tal informação.
182. Relativamente à alegação do prestador, no que aos direitos e interesses
legítimos dos utentes, designadamente a informação prestada à utente, de que
não se verificou no caso concreto uma qualquer violação dos direitos e interesses
legítimos daquela utente, e em especial o seu direito a uma informação completa,
verdadeira, inteligível e em momento prévio à prestação de cuidados de saúde,
uma vez que a mesma demonstrou sempre estar devidamente informada “de que
o ato por si realizado não estava abrangido pela convenção detida pelo mesmo
com a PT-ACS, da qual é beneficiária”;
183. Importa clarificar o referido no projeto de deliberação, e supra melhor
explanado, de que não obstante não se ter efetivamente verificado uma violação
do direito à informação e da liberdade de escolha daquela concreta utente;
184. Certo é que nem todos os procedimentos que, no decurso da instrução do
processo, foram constatados, são aptos a garantir de forma permanente os direitos
37
e interesses legítimos dos utentes que recorram ao HPP Lusíadas, SA, o que
justificará a manutenção da advertência ao prestador para a necessidade de dar
cumprimento às obrigações que sobre si impendem quanto a essa matéria;
185. Devendo-se rememorar que da informação pública disponibilizada pelo HPP
Lusíadas, SA no seu sítio eletrónico na Internet, em www.hpplusiadas.pt não
resulta qualquer informação sobre a existência de quaisquer restrições à aplicação
da convenção detida com a PT-ACS, aliás como se passa com qualquer outro
acordo ou convenção detido pelo prestador, com exceção da convenção detida
com a ADSE.
186. Pelo que não pode a ERS deixar de reiterar o por si já explanado na
deliberação emitida ao prestador em 1 de fevereiro de 2012, no âmbito do
processo de monitorização PMT/028/09, relativamente à convenção da ADSE, e
que, realce-se, foi seguida pelo HPP Lusíadas, mas apenas em relação a essa
convenção;
187. De que sempre que um prestador de cuidados de saúde anuncia uma
convenção que não celebrou com a extensão ou capacidade que publicita –
estabelece desde logo com o utente uma relação que antecede a prestação de
cuidados de saúde e que se acha pautada pela ausência de verdade e de
transparência;
188. Na medida em que o utente não tem, regra geral, conhecimento direto do texto
das convenções celebradas pelo HPP Lusíadas, SA, e em que a informação a que
tem acesso lhe é disponibilizada pelo próprio subsistema ou entidade seguradora –
por via do seu site na internet/designadamente, o sítio eletrónico na internet –, bem
como é por ele obtida junto dos prestadores de cuidados de saúde, havendo
necessidade de garantir que essa informação prestada ao utente é suficiente e
atempada para uma tomada de consciência do conteúdo da convenção, no que
respeita às repercussões – designadamente financeiras – que resultam para o
utente da relação contratual estabelecida entre o subsistema e o prestador;
189. Sendo que tal obrigação que impende sobre o prestador resulta já da atividade
regulatória da ERS e, concretamente, da instrução dirigida ao Hospital dos
Lusíadas, emitida em 13 de janeiro de 2011, e no âmbito do processo de inquérito
aberto sob o registo ERS/070/10, bem como do teor da recomendação publicada
no sítio eletrónico da ERS e remetida a todos os prestadores privados de saúde
pela qual foi determinado o dever de “[…] respeitar integralmente o dever de
informação com rigor e transparência, devendo, para isso, comunicar aos utentes
38
os actos, exames, consumíveis e fármacos, bem como os respectivos valores, que
venham a ser previsivelmente prestados ou administrados e cujo pagamento lhes
seja exigível”;
190. Não podendo como tal a ERS deixar de advertir o prestador para a
necessidade de ser garantida de forma permanente a prestação de informação
verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os aspetos
relacionados com tal prestação, designadamente no que se refere às convenções
por si detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam
actos ou exames não abrangidos pelas mesmas.
191. Razão pela qual não se podem aceitar igualmente as alegações do prestador
de que “[…] não têm cabimento as remissões para as instruções emitidas no
âmbito do processo de inquérito ERS/070/10, já cumpridas, porque nada têm a ver
com a matéria deste processo de inquérito que, nomeadamente, determinou que
as obrigações de informação foram cumpridas no caso concreto.”;
192. Com efeito, importa recordar ao HPP Lusíadas, SA que o (i) do § 177. da
deliberação proferida no referido processo de inquérito visou efetivamente
assegurar que, em situações futuras, o prestador, no contacto com os utentes,
garantisse em permanência o respeito pleno e não condicionado pelo direito à
informação clara e transparente sobre os cuidados de saúde prestados e a prestar,
bem como sobre a sua necessidade clínica e o(s) correspondente(s) preço(s).
193. Quanto à alegação do prestador, no que respeita à prestação de cuidados de
saúde ao abrigo de acordo com a PT-ACS, de que o mesmo havia reconhecido a
existência de um lapso o qual foi “oportunamente corrigido, foi apresentada à
Reclamante o aviso de pagamento da fatura correspondente ao exame efetuado
pelo laboratório.”, e procedeu à sua anulação;
194. Recorde-se que tal foi igualmente reconhecido pela ERS, no seu projeto de
deliberação, tal como se encontra supra devidamente explanado, sem que se
tenha retirado qualquer consequência, ou tenha motivado, ao contrário do alegado
pelo HPP Lusíadas, SA, qualquer reparo, ou fundamentado qualquer
recomendação ao prestador.
195. Tendo aliás sido destacado que o prestador não só assumiu o seu
comportamento como indevido, e violador do disposto no contrato de prestação de
serviços por si celebrado com a PT-ACS, como adotou os comportamentos
necessários para fazerem cessar os efeitos da violação dos direitos e interesses
legítimos da utente, e em concreto os seus interesses financeiros.
39
196. Relativamente à diferente interpretação que o HPP Lusíadas, SA efetua da
matéria de facto no que respeita ao direito dos utentes à confidencialidade dos
seus dados de saúde, refira-se que a mesma não é consentânea com o quadro
jurídico supra enunciado e regente dos direitos dos utentes;
Senão vejamos,
197. O HPP Lusíadas, SA, na sua Pronúncia, confirmou mais uma vez que “[…] o
relatório foi enviado em anexo ao e-mail emitido à Reclamante, e-mail esse que
continha a indicação de ter sido copiado a 3 colaboradoras do Hospital e apenas a
essas.”;
198. Pretendendo, porém, reconduzir tal situação a um mero envio de uma “[…]
cópia de uma mensagem de correio eletrónico dirigida à própria titular dos dados
de saúde em causa, que tinha em anexo um relatório respeitante a um
determinado exame médico”, rejeitando “[…] em absoluto que um envio de um
relatório a uma Cliente por parte de um profissional do Hospital, eventualmente
com o conhecimento (devidamente justificado pelo emitente) de outros
colaboradores do Hospital (devidamente identificados), constitua uma qualquer
violação dos deveres de confidencialidade, ou uma divulgação dos dados de
saúde dos doentes.”;
199. Não considerando que se tenha verificado “[…] qualquer acesso ao processo
clínico da Reclamante, mas tão só […] a resposta a um pedido formulado pela
Reclamante”, uma vez que de acordo com a Lei “[…] o acesso ao processo clínico
está limitado: ao próprio titular da informação nele contida, aos médicos do
Hospital para prestação de cuidados de saúde assistenciais e, sob supervisão
destes, a outros profissionais de saúde obrigados a sigilo e na medida do
estritamente necessário à realização e gestão das prestações de saúde.”;
200. Porém, tais argumentos do Hospital dos Lusíadas devem ser liminarmente
afastados;
201. Desde logo pela simples – mas fundamental – razão de que do decurso da
instrução do processo resultou claro que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o
comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a
terceiros, sem o [seu] consentimento, violou os direitos e interesses legítimos dos
utentes, onde se integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente
respeitada a confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d)
do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde;
40
202. Designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em
especial, quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a
informações sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue
as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.
203. Sendo que o prestador, no âmbito da instrução do processo, veio aos autos
confirmar que foram remetidos à utente os resultados do seu exame, por uma
colaboradora do Back Office do HPP Lusíadas, SA, através de correio eletrónico
enviado com conhecimento “da sua chefe direta, Cláudia Martins, para o
departamento de cobranças, Maria Ferreira, e para o primeiro contacto com o
Hospital, a colaboradora Patrícia Freitas.”;
204. Tendo justificado que, “pese embora se considerar como indevida a anexação
do relatório à mensagem copiada conforme aos colaboradores devidamente
identificados e com as qualidades acima referidas, são claras as razões deste
facto, bem como as razões que se representaram à emitente para copiar a
mensagem (com anexo) enviada à cliente a esses colaboradores, todos estão
sujeitos a sigilo profissional e que lidam diariamente com informação respeitante
aos dados pessoais e de saúde de centenas de clientes do Hospital dos
Lusíadas.”.
205. Resulta claro de tal comportamento que o prestador não acautelou
devidamente o direito daquela utente à confidencialidade da informação em saúde
contida no seu processo clínico, em especial no que se refere ao resultado
daquele concreto exame que lhe foi realizado pelo prestador de cuidados de
saúde.
206. Isto porque permitiu o acesso de outros seus profissionais, que não
profissionais de saúde, a resultados de exames;
207. Tal comportamento está efetivamente vedado por lei, conforme estabelecido no
n.º 5 do artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de Janeiro, ao estabelecer que que “o
processo clínico só pode ser consultado por médico incumbido da realização de
prestações de saúde a favor da pessoa a que respeita ou, sob a supervisão
daquele, por outro profissional de saúde obrigado a sigilo e na medida do
estritamente necessário à realização das mesmas, […]”;
208. Não se podendo aceitar a argumentação de que no caso concreto não se
verificou “(em sentido próprio) transmissão a terceiros de dados de saúde”, mas
apenas um mero envio de uma “[…] cópia de uma mensagem de correio eletrónico
41
dirigida à própria titular dos dados de saúde em causa, que tinha em anexo um
relatório respeitante a um determinado exame médico”;
209. Até porque, como é reconhecido pelo prestador, de acordo com a Lei “[…] o
acesso ao processo clínico está limitado: ao próprio titular da informação nele
contida, aos médicos do Hospital para prestação de cuidados de saúde
assistenciais e, sob supervisão destes, a outros profissionais de saúde obrigados a
sigilo e na medida do estritamente necessário à realização e gestão das
prestações de saúde.”.
210. Por outro lado, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,
o processo clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém
informação sobre o próprio que, ademais, se integra no conceito de intimidade da
vida privada;
211. Cabendo, no entanto, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a
outro profissional (por exemplo, um enfermeiro) sob a supervisão daquele, o dever
de proceder à referida documentação ou registo da informação médica (e que
pode incluir dados sobre consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os
utentes foram sujeitos);
212. Não podendo a informação contida no processo clínico de um utente ser
utilizada para outro fim que não seja a prestação de cuidados de saúde à pessoa
ou para investigação quando admissível.
213. Neste sentido, importa realçar que o processo clínico deve ser “guardado” pelo
estabelecimento de saúde em causa em segredo, devendo os profissionais de
saúde ao seu serviço guardar sigilo sobre a informação nele contida;
214. Sendo que a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, considera informação de saúde
“[…] como todo o tipo de informação directa e indirectamente ligada à saúde,
presente ou futura, de uma pessoa, quer se encontre com vida ou tenha falecido, e
a sua história clínica e familiar.” (artigo 2.º), a qual inclui “[…] os dados clínicos
registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários, intervenções e
diagnósticos.” (sublinhado nosso);
215. Sendo o processo clínico definido, em tal diploma, como “qualquer registo,
informatizado ou não, que contenha informação de saúde sobre doentes ou seus
familiares” e que deve conter toda a informação médica disponível que diga
respeito à pessoa.
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216. Assim sendo, reitera-se não ser possível vislumbrar uma qualquer justificação
para que o relatório do referido exame tenha sido remetido por correio eletrónico
com conhecimento de outros funcionários do Hospital que não eram profissionais
de saúde, uma vez que para uma correta faturação daquele concreto exame, basta
que os funcionários do Back office e do departamento de faturação tenham
conhecimento apenas da sua realização, não necessitando de conhecer o
resultado do exame.
217. Tanto assim é, que o próprio legislador teve o cuidado de prever a necessidade
de determinadas informações deverem ser do conhecimento de funcionários, que
não sejam profissionais de saúde;
218. Quando estabeleceu no n.º 4 do artigo 4.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro,
que os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde “[…] deve[m] garantir
a separação entre a informação de saúde e genética e a restante informação
pessoal, designadamente através da definição de diversos níveis de acesso.”.
219. Importa realçar que quer dos factos resultantes da instrução do processo, quer
da pronúncia do HPP Lusíadas, SA ora em análise, quer ainda dos documentos
juntos a tal pronúncia, resulta clara a não adoção pelo prestador de procedimentos
específicos que garantam uma tal separação entre a informação de saúde e a
restante informação pessoal, designadamente através da definição de diversos
níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e demais responsáveis
pela faturação dos cuidados prestados, possam ter acesso à informação
necessária a tal faturação.
220. No entanto, tal informação deve restringir-se, unicamente, ao conceito de
restante informação pessoal, onde se inclui, por exemplo, o nome, a morada, o
número da segurança social, o número de contribuinte, o número do bilhete de
identidade, o número de beneficiário de subsistema de saúde ou de seguro de
saúde e a identificação dos atos ou exames praticados ao utente.
221. Mas já não deve abranger a informação de saúde, a qual como visto supra é
definida na Lei “[…] como todo o tipo de informação directa e indirectamente ligada
à saúde, presente ou futura, de uma pessoa, quer se encontre com vida ou tenha
falecido, e a sua história clínica e familiar.”, a qual inclui “[…] os dados clínicos
registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários, intervenções e
diagnósticos.” (sublinhado nosso);
222. Em face do exposto, resulta que o HPP Lusíadas, SA, ao adotar o
comportamento descrito pela utente, de divulgar os resultados de um exame […], a
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terceiros, sem o [seu] consentimento, ainda que apenas mediante o envio em
anexo a mensagem eletrónica de cópia de relatório de um exame, violou
efetivamente os direitos e interesses legítimos daquela concreta utente, onde se
integra entre outros o direito dos utentes “a ter rigorosamente respeitada a
confidencialidade sobre os dados pessoais revelados” – cfr. alínea d) do n.º 1 da
Base XIV da Lei de Bases da Saúde;
223. Sendo que a manutenção de um tal procedimento, que não foi assumido pelo
prestador como errado ou desadequado, tendo aliás considerado normal e não
consubstanciador de transmissão a terceiros de dados de saúde, é suscetível de
provocar uma violação dos direitos e interesses legítimos dos utentes,
designadamente, o direito à reserva da intimidade da vida privada, em especial,
quando considerado como direito a impedir o acesso de terceiros a informações
sobre a vida privada e familiar e como direito a que ninguém divulgue as
informações que tenha sobre a vida privada e familiar de outrem.
224. Pelo que importa garantir que a informação em saúde relativa a determinado
utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos registados, resultados de
análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos) não deva ser,
por qualquer meio, designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não
profissionais de saúde ao serviço daquele concreto prestador;
225. Devendo ademais ser adotados pelo referido prestador, e para futuro, os
procedimentos adequados a garantir a confidencialidade da informação em saúde
contida nos processos clínicos dos seus utentes;
226. De forma a que apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham
tido, ou venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de
prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à informação em
saúde contida no seu processo clínico.
227. Em face de todo o exposto, a ERS mantém in totum o seu entendimento já
constante do Projeto de Deliberação notificado.
V. DECISÃO
228. O Conselho Diretivo da ERS delibera, assim, nos termos e para os efeitos do
preceituado no n.º 1 do artigo 41.º e alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º
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127/2009, de 27 de maio, emitir uma instrução ao HPP Lusíadas, SA, nos
seguintes termos:
(i) O HPP Lusíadas, SA deve garantir que a informação em saúde relativa
a determinado utente (onde se inclui, por exemplo, dados clínicos
registados, resultados de análises, e outros exames subsidiários,
intervenções e diagnósticos) não deva ser por qualquer meio,
designadamente eletrónico, transmitida a terceiros, que não
profissionais de saúde ao seu serviço;
(ii) O HPP Lusíadas, SA deve adotar os procedimentos necessários, e que
se mostrem adequados a garantir a confidencialidade da informação em
saúde contida nos processos clínicos dos seus utentes, de forma a que
apenas os profissionais de saúde ao seu serviço, e que tenham tido, ou
venham a ter no futuro, uma intervenção direta na realização de
prestações de saúde a um determinado utente, possam aceder à
informação em saúde contida no seu processo clínico;
(iii) O HPP Lusíadas, SA deve adotar os procedimentos adequados a
garantir a separação entre a informação de saúde e a restante
informação pessoal, designadamente através da definição de diversos
níveis de acesso, de forma a garantir que os funcionários e demais
responsáveis pela faturação dos cuidados prestados, possam ter
acesso à informação necessária a tal faturação, a qual se deve
restringir, unicamente, ao conceito de restante informação pessoal,
onde se inclui, por exemplo, o nome, a morada, o número da segurança
social, o número de contribuinte, o número do bilhete de identidade, o
número de beneficiário de subsistema de saúde ou de seguro de saúde
e a identificação dos atos ou exames praticados ao utente;
(iv) O HPP Lusíadas, SA deve dar cumprimento imediato à presente
instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30
dias após a notificação da presente deliberação, dos procedimentos
adotados para o efeito.
229. Mais delibera o Conselho Diretivo da ERS, nos termos e para os efeitos do
preceituado no n.º 1 do artigo 41.º e alínea b) do artigo 42.º do Decreto-Lei n.º
127/2009, de 27 de maio, advertir o HPP Lusíadas, SA da necessidade de ser
garantida de forma permanente a prestação de informação verdadeira, completa,
inteligível e transparente sobre todos os aspetos relacionados com a prestação de
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cuidados de saúde, designadamente no que se refere às convenções por si
detidas, e em especial à existência de eventuais restrições, como sejam actos ou
exames não abrangidos pelas mesmas.
230. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial
da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.
Porto, 3 de abril de 2013.
O Conselho Diretivo.