design brasileiro 2

Disc. Scientia. Srie: Artes, Letras e Comunicao, S. Maria, v. 7, n. 1, p. 23-34, 2006. 23

DESIGN BRASILEIRO1 PARTE 2

BRAZILIAN DESIGN PART 2

Daniele Dickow Ellwanger2, Carlos Eduardo Barichello3 eEdir Lcia Bisognin3

RESUMO

Neste artigo, o objetivo apresentar um estudo sobre os principais profi ssionais que

emergiram aps os anos de 1970, nas mais variadas reas do design que prosperaram

no Brasil, justifi cando-o com a inteno de reunir o mximo de profi ssionais num

mesmo contexto, pois, como se trata de assunto recente, no se encontra bibliografi a

atualizada com tal informao. Para tanto, elaboraram-se pesquisas bibliogrfi cas

e iconogrfi cas detalhadas, principalmente com informaes disponibilizadas

pela internet, para que se possa fundamentar, fortalecer e compreender a questo

histrica do design brasileiro.

Palavras-chave: Design brasileiro, profi ssionais, reas diversas do Design.

ABSTRACT

This article has the objective to present a study about the principal professio-

nals that emerged after the seventies, in the most varied areas of design that

prospered in Brazil, justifying it with the intention of gathering a great number

of professionals in the same context, because, as it is a recent matter, it has no

update bibliography with such information. For such, some bibliographical and

ichnographical detailed researches were made mainly with information available

on the internet, in order to base, fortify and understand the historical issue of

Brazilian design.

Keywords: brazilian design, professionals, several areas of Design.

1 Trabalho de Iniciao Cientfi ca - PROBIC.2 Acadmica do Curso de Design - UNIFRA.3 Orientadores - UNIFRA.

ISSN 1676-5001

Disc. Scientia. Srie: Artes, Letras e Comunicao, S. Maria, v. 7, n. 1, p. 23-34, 2006.24

INTRODUO

Dando continuidade ao trabalho desenvolvido em 2003, sobre design

brasileiro, realizou-se, por meio de pesquisas bibliogrfi cas e iconogrfi cas,

um estudo sobre os principais profi ssionais que emergiram aps os anos

de 1970, nas mais variadas reas do design que prosperaram no Brasil.

At os anos de 1980, o design restringia-se a alguns segmentos,

especialmente o de mveis e o de luminrias, como tambm o de design grfi co.

Aps esse perodo, o design se espalhou por outras reas, como a de embalagens,

por exemplo, com a utilizao de novos materiais, como o plstico, o MDF, a

madeira certifi cada, os sintticos, entre outros. Houve, tambm, preocupao

ecolgica, uso do computador alterando o modo de produo, aproximao entre

designers e artesos e forte busca de identidade cultural e nacional.

Entre as personalidades que se destacaram nas ltimas dcadas, encontram-

se Jos Carlos Bornancini, Nelson Ivan Petzold, Paulo Jorge Pedreira, Carlos

Motta, Freddy Van Camp, Oswaldo Mellone, Maurcio Azeredo, Luiz Cruz,

Cludia Salles, Fernando Jaeger e Guto ndio da Costa.

Assim, essas pesquisas desenvolvidas tm como fi nalidade englobar o

mximo de personalidades que contribuem at hoje para o desenvolvimento do

design brasileiro, pois h uma escassez de referncias bibliogrfi cas signifi cativas,

o que difi culta o estudo de profi ssionais e estudantes na busca de entenderem um

pouco mais sobre a cultura brasileira.

REVISO BIBLIOGRFICA E ICONOGRFICA

A seguir, so apontados alguns dos principais profi ssionais que se

sobressaram, a partir dos anos de 1970, nas mais variadas reas do design

brasileiro.

Jos Carlos Bornancini (1924) e Nelson Ivan Petzold (1931)

Formados em Engenharia Civil (1946) e Arquitetura, respectivamente,

pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Dupla gacha na ativa desde os anos de 1960.

Desenvolveram mais de duzentos produtos em variados segmentos da

indstria: de computadores a tratores, de utilidades domsticas a mveis e

eletrodomsticos, passando por elevadores e brinquedos.


Petzold: O compromisso do designer industrial fazer os objetos

no apenas em grandes quantidades, mas faz-los inovadores, seguros e

confi veis, produzidos de maneira mais racional, mais baratos e com mais

qualidade e que sejam estimulantes aos sentidos e ao intelecto.

Foram professores da Faculdade de Arquitetura e da Escola de

Engenharia da UFRGS.

Criaram o escritrio Bornancini, Petzold & Muller, em Porto Alegre.

Possuem vrios prmios, tm trabalhos publicados e inmeras

participaes em exposies no Brasil e no exterior.

Figuras 1, 2, 3 e 4 - Nelson Ivan Petzold e Jos Carlos Bornancini, tesouras para destros

e canhotos (PLANETA TERRA, 2002), Camping Set Hrcules, 1973, garrafa trmica

R-Evolution Termolar, 1999 (RATHSAM, 2002), respectivamente.

Paulo Jorge Pedreira (1945 - 1995)

Nasceu em Salvador, em 21 de outubro de 1945.

Formou-se na ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial), da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1969.

Recm-formado, criou, com colegas, seu primeiro escritrio de projetos,

a Desenhvolv.

Desenvolveu projetos com os mais variados materiais e tecnologias

para mltiplos segmentos de mercado, desde utilidades domsticas at

embarcaes, de mobilirio a computadores.

Trabalhou para a Forsa, Facton Design, Deca, Rima Impressoras,

Semco, Odebrecht, entre outras.

Foi professor da FAAP (Fundao Armando lvares Penteado) de

1972 a 1982.

Faleceu em 1995.


Figuras 5, 6, 7 e 8 - Paulo Jorge Pedreira, balana para balco Semco, luminria, vlvula

Deca (LEAL, 2002), respectivamente.

Carlos Motta

Formou-se em Arquitetura; complementou sua formao nos Estados

Unidos e, de volta ao Brasil, comeou um trabalho sistemtico de marcenaria.

Sintetizou e adaptou formas do repertrio de moblia nacional para casas

de fazenda as velhas cristaleiras, bufs, penteadeiras, etc..

Em geral, ele encaixa certos elementos ldicos e geomtricos

produzindo estrelas, meias-luas, crculos, tringulos que criam

interessante e personalizado efeito de marchetaria.

A partir de 1978, quando instalou sua ofi cina de marcenaria,

Motta desenvolveu uma linha variada de produtos, destacando-se,

particularmente, em uma srie de cadeiras, produto de cuidadosa pesquisa

de propores, resistncia, solidez, que lhe trouxe o reconhecimento

incondicional do mercado.

De suas cadeiras, a mais famosa, que lhe valeu uma srie de prmios,

a So Paulo, de 1982, conquistou o mercado nacional e j tem uma verso

desmontvel para exportao.

Para Carlos Motta, a modulao, o desenho desvinculado de modis-

mos e a durabilidade so princpios ligados ao design com responsabi-

lidade ambiental.

Usa, principalmente, madeiras macias.

A qualidade do seu desenho est na mistura de infl uncias brasileiras,

escandinavas e norte-americanas, todas voltadas para a simplicidade.

Mveis de produo inteiramente artesanal.


Destacam-se, tambm, os trabalhos feitos com madeira de demolio

e peas feitas sob encomenda para museus, centros esportivos, culturais

e igrejas.

Figuras 9, 10, 11 e 12 - Carlos Motta, bancos feitos para a Baslica de Nossa Senhora

Aparecida (SAMPAIO, 2004), cadeira So Paulo, 1982 (GRUNOW, 2001), poltrona feita

com madeira de demolio (CASA CLUDIA, 2004), respectivamente.

Freddy Van Camp (1946)

Nasceu na Blgica, em 1946; chegou no Brasil em 1947.

Graduou-se designer pela ESDI, em 1968.

Foi colaborador de Karl Heinz Bergmiller em muitos projetos.

Realizou trabalhos conjuntos com Arno Votteler, na Alemanha.

Na dcada de 70, realizou cursos de especializao nos Estados Unidos

e na Alemanha, na rea de desenho industrial.

Desde 1980, possui escritrio prprio de prestao de servios e

consultoria em desenho industrial.

Foi colaborador da Escriba.

Entre 1976 e 1980, trabalhou nas indstrias Reunidas Oca S.A., onde

implantou um programa de reformulao da empresa e desenvolveu, em

fi ns dos anos 70, dois sistemas: Xavante e Xavante 2, para realizao de

layout de escritrios.

No mbito do mobilirio, desenvolveu, tambm, projetos para hotis,

residncias, moblia para informtica e projetos especiais para exposio

de produtos.

Sua atuao como designer abrange as seguintes reas: design de

produtos, design de interiores e exposies, design de embalagens e

sistemas de sinalizao aplicados arquitetura.


A partir de 1985, passou a ser colaborador da ML Magalhes

Indstria e Comrcio de Mveis S.A., tradicional fabricante de mveis

institucionais no Rio de Janeiro, onde projetou linhas completas de mveis

para escritrio.

Figura 13 Cadeiras de mltiplo uso ML Magalhes, 1990 (SANTOS, 1995).

Oswaldo Mellone

Formou-se em Desenho Industrial pela FAAP, em 1969.

um designer muito atuante na rea industrial, tendo colaborado em

diversos setores.

No mbito do mobilirio, dedicou-se preponderantemente ao mvel

institucional.

Nos anos 70, na empresa LAtelier, participou do projeto de um sistema

para escritrios.

Desenhou vrios assentos para trabalho.

Em 1991, projetou a poltrona para auditrio Clip, produzida pela

Probjeto, em ao tubular, com assento e encosto em lona.

Atua sistematicamente, preocupa-se com novas tcnicas construtivas e

emprega materiais diversifi cados.

Figuras 14 e 15 Banqueta giratria BT-3 O Compasso, linha de assentos para auditrio

Dinamika LAtelier Mveis (SANTOS, 1995), respectivamente.


Maurcio Azeredo

Nasceu em Maca, Rio de Janeiro.

Formou-se arquiteto pela Mackenzie, em 1973.

Em So Paulo, atuou em projetos e obras arquitetnicas at 1977.

Foi professor e, ento, passou a desenvolver pesquisas sobre madei-

ras brasileiras, tecnologias e sistemas construtivos adequados ao seu

aproveitamento.

O crescente interesse pelo tema, desde o incio dos anos 70, aliado

a uma forte ligao com a matria-prima e grande inquietao pela

diversidade das madeiras nacionais, levaram-no produo de uma

obra slida, principalmente no campo do design do mobilirio e outros

acessrios domsticos.

Sua produo tem tiragem limitada, mas seus mveis so grande xito

de mercado.

Figuras 16, 17 e 18 - Mesas em vrias espcies de madeira, 1988, 1987 e 1990 (SANTOS,

1995), respectivamente.

Luiz Cruz

Formou-se em arquitetura pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de So Paulo) em 1974. Em 1982, foi bolsista

na Itlia, em um curso de especializao em desenho industrial; em 1988,

tornou-se mestre pela FAU-USP.

Tambm era formado em jornalismo pela Fundao Csper Lbero.

Para ele, o design industrial seria um conjunto de conhecimentos e no

uma simples tcnica de criao de objetos.

No Departamento de Tecnologia da Fiesp (Detec), onde trabalhou quase

toda a dcada de 1980, teve decisiva participao em seu primeiro guia

de design.

Em 1988, Luiz Cruz reabriu seu ateli, em que trabalhava s, e, em


meados de 1990, constituiu um novo escritrio, o Bureau de Computao

e Design (BCD), em companhia de Fernanda Martins e Mrcia Yokoyama,

no qual associava os servios de comunicao e design aos recursos de

computao e editorao eletrnica. Uma novidade na poca.

Entre suas ltimas criaes, esto o catlogo da agncia de Turismo

Premium, manuais para produtos da Philips e da Deca, a proposta para a

imagem corporativa do Grupo Estado, entre outras.

Entre suas criaes mais famosas, est a marca-logotipo do papel

Report, em colaborao com Ellen Igersheimer e o projeto de identidade

visual da Vasp.

Luiz Cruz morreu em fi ns de 1990, aos 40 anos, sem concretizar o sonho

de constituir uma editora, a qual gostaria que fosse um paradigma em

termos de qualidade grfi ca no Brasil.

Figuras 19, 20 e 21 - Luiz Cruz, logotipo do papel Report, logotipo da Comgral, empresa

distribuidora de combustveis (LEAL, 2002), respectivamente.

Cludia Salles

Nasceu no Rio de Janeiro.

Formou-se pela ESDI, no Rio de Janeiro, em 1978.

Seus trabalhos so sinnimos de simplicidade e perfeio.

Comeou na profi sso numa indstria de mveis de escritrio.

Demonstra apreo pela funcionalidade e pela economia de linhas.

Agora, procura fazer peas leves, de estrutura ntida.

Trabalha quase sempre com madeira.

Trabalha h mais de 12 anos em parceria com Etel Carmona: revalorizam o

patrimnio artesanal da madeira, de certa forma trazem o passado de volta e

rejuvenescem com novos materiais e tcnicas do design.


Figuras 22, 23, 24 e 25 Cludia Salles (GRUNOW, 2003), mesa Ideograma, 1998,

marquesa Dueto, 1991 (GES, 1998), secretria Etel Marcenaria (SANTOS, 1995),

respectivamente.

Fernando Jaeger (1956)

Formou-se em Desenho Industrial pela UFRJ, em 1980.

Sempre buscou aliar qualidade com boa relao custo/benefcio, desenvolveu

vrios projetos para a indstria moveleira e para uma grande rede de lojas, o que

o tornou referncia quando o assunto produo seriada.

Hoje, dedica-se a trs lojas prprias.

a indstria que entende o design agrega ao que produz um valor diferenciado.

Embora ainda no esteja adequado escala industrial, o design brasileiro

encontra-se num progresso acentuado.

Figuras 26, 27, 28 e 29 - Fernando Jaeger (VIVER BEM, 2002a), luminria de fuxico

(ARCO WEB, 2002), cadeiras Spaguetti (OBJETO BRASIL, 2004), luminria Bienal

(RATHSAM, 2002), respectivamente.

Guto ndio da Costa (1969)

Formou-se em Desenho Industrial pela Art Center College of Design,

na Sua.


Ganhou vrios prmios, inclusive na Feira de Design de Hannover,

Alemanha, com o ventilador de teto Spirit.

Na cidade do Rio de Janeiro, foi selecionado e contratado para o projeto

de design do mobilirio urbano do bairro da Tijuca.

em 1997, ganhou diploma na categoria de utenslios domsticos pelo

projeto da Garrafa Aladdin Futura.

Figuras 30, 31, 32 e 33 - Guto ndio da Costa (VIVER BEM, 2002b), ventilador

de teto Spirit (RATHSAM, 2002), garrafa Aladdin Futura (BASTIAN, 2004),

quiosque para o Rio de Janeiro (LEON, 2004), respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSO

Com a unio das mais variadas reas que envolvem o design brasileiro,

alcanaram-se resultados sucintos, mas signifi cativos que serviro como base

para a gerao de novos estudos a serem desenvolvidos nesse contexto.

Deve-se destacar que ainda existem profi ssionais autodidatas,

estrangeiros ou formados em outras reas que se destacaram no mbito do

design brasileiro, mas observou-se que, ultimamente, essas pessoas, incluindo

brasileiros, tm buscado formao acadmica ou, at mesmo, tcnica, para

fundamentar seus trabalhos, contribuindo, ento, para o fortalecimento da

identidade cultural brasileira por intermdio de seus projetos.

Observa-se que, na pesquisa completa, tambm esto includos os

profi ssionais Maria Henriqueta Gomes, Adriana Adam, Flvio Nanni Jr., Mrcio

Colaferro, Marcelo Carvalho Ferraz, Marcelo Suzuki, Francisco de Paiva

Fanucci, Paulo Alves, Fbio Falanghe, Giorgio Giorgi Jr., Jacqueline Terpins,

Guto Lacaz, Arthur de Mattos Casas, irmos Campana, Luciano Devi, Sig

Bergamin, Etel Carmona, Jlio Pechman, Francisco de Almeida e Reno

Bonzon.


CONCLUSO

Dessa forma, a partir dos anos de 1970 at a atualidade, surgiram

grandes profi ssionais com a inteno de buscar novas ideias focadas nas

vastas possibilidades de criao proporcionadas pelo design brasileiro, ideias

que fortalecero o trabalho de geraes posteriores e de novos designers que

esto por se sobressair.

REFERNCIAS

ARCO WEB. A alma da arquitetura contempornea est indo embora,

perdendo o sentido. 2002. Disponvel em: . Acesso em: jul. 2004.

BASTIAN, Winnie. em eusca do essencial. Disponvel em: . Acesso em: out. 2004.

CASA CLUDIA. 2004. O que quer dizer ecodesign? Disponvel em:

.

Acesso em: jul. 2004.

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GRUNOW, Evelise. 2003. Plugado na novidade. Disponvel em: . Acesso em: mai. 2004.

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VIVER BEM. Fernando Jaeger. 2002. Disponvel em: . Acesso em: jul. 2004.

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