dia internacional do livro infantil - 2 de abril

4

Click here to load reader

Upload: becre-andre-resende

Post on 20-Jul-2015

1.044 views

Category:

Education


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Dia Internacional do Livro Infantil  - 2 de Abril

DIA INTERNACIONAL

DO LIVRO INFANTIL

2 de Abril2009

AÁRVORE

DEANDERSEN

EMSETÚBAL

ERA UMA VEZ…

Av. 22 de Dezembro, 23-A/B [email protected]

SETÚBAL

Page 2: Dia Internacional do Livro Infantil  - 2 de Abril

A ÁRVORE

DE ANDERSEN

EM SETÚBAL

Era uma vez uma história, uma história verdadeira, que se passou em Setúbal em

1866. É tão bela e cativante que todos os meninos e meninas setubalenses poderão sentir-se

orgulhosos da sua cidade se a ouvirem ou lerem.

A história intitula-se “Um mês em Setúbal”. Quem a escreveu foi Hans Christian

Andersen e constitui o capítulo IV do seu livro Uma Visita em Portugal em 1866.

Quem não conhece algumas das histórias que Andersen inventou? Em todo o mundo

são conhecidas. Até se confundem com aquelas histórias que em toda a parte se contam e

são tão antigas e tão tradicionais que ninguém sabe quando e onde foram inventadas e muito

menos quem as inventou.

Quantas mais vezes se lêem as histórias que Andersen inventou, melhor se apreciam

e mais se gosta de as voltar a ler. E o mesmo me acontece com a história verdadeira que nos

deixou daquele mês que passou em Setúbal, de 8 de Junho a 9 de Julho de 1866. Estou a lê-la

mais uma vez e mais uma vez me comove. A comoção de Andersen é comunicativa. Estamos

de acordo? Quem quiser pode experimentar. É ler ou reler, como estou fazendo, esta sua

despedida de Setúbal. Quando conta aquele momento de silêncio na véspera de partir, já

noite, no jardim do Convento de Brancanes!... De manhã cedo abalou com um tal sentimento

que só mesmo quem for insensível é que não se comoverá ao ler estas palavras: “Do muro do

jardim via o horizonte, para o sul, no contorno das sombras, Palmela, a serra de S. Luís e

toda a extensão da serra da Arrábida, como se terra natal fossem agora para mim, conhecida

e querida.”

“Terra natal para mim”! Francamente, quem diz isto da nossa cidade merece ser

aceite e adoptado como filho dela. E não é favor nenhum. Porque Andersen para ser honrado

não precisa de Setúbal. A honra de Setúbal é que treme se não souber honrar-

-se com a memória de Andersen. Convenhamos: é simplesmente um dos mais respeitados,

conhecidos e estimados escritores de sempre e em todo o mundo. Quanto não se

orgulhariam outras das muitas terras que visitou, se delas deixasse Andersen escrito o que de

Setúbal deixou?! Alguns anos antes de visitar Portugal, Andersen viajou por Espanha e da

cidade de Málaga disse: “Em nenhuma outra cidade espanhola me senti tão feliz e tão em

casa”. Quem vai a Málaga sente quanto a cidade se orgulha da simpatia de Andersen. E

quem vem a Setúbal? Felizmente ainda se conserva intacta a Quinta dos Bonecos onde

esteve hospedado. A rua que tem o seu nome é muito secundária e periférica. O mais, é o

Page 3: Dia Internacional do Livro Infantil  - 2 de Abril

abeto oferecido à cidade pela Dinamarca. É assim tão difícil de compreender que também

uma árvore pode ser implantada como monumento? Do mesmo modo que uma estátua em

mármore ou em bronze.

Na bela história “Um Mês em Setúbal”, já nas páginas finais também, quando relata

as tristes notícias da guerra em vários países da Europa e pensa nas dificuldades da viagem

de regresso à sua Dinamarca, Andersen escreve: “Num dos primeiros dias da minha estada

na Quinta dos Bonecos plantei diante da casa, quase junto à palmeira grande, um pequeno

abeto nórdico. Quando crescer, o vento norte, ao abalá-lo com o seu sopro, aí deixará uma

saudação da Escandinávia distante”. A Árvore de Andersen em Setúbal, pois, como símbolo

da fraternidade entre as nações. Quanto Andersen desejava e apreciava a paz, é bem visível

na sua obra e muito especialmente neste capítulo IV, “Um Mês em Setúbal”, de Uma Visita

em Portugal em 1866.

Podia ficar esquecida a memória setubalense de Andersen? E a árvore carregada de

simbolismo que plantou em terra nossa? O seu livro nunca o permitiria e ao lê-lo não o

podíamos permitir. Foi o que se pensou.

Pensou-se durante uns tempos e um dia fez-se. A Comissão Nacional da Unesco

levou à sua congénere dinamarquesa o desejo que lhe foi apresentado, de se plantar um novo

abeto em homenagem a Andersen, e o Governo da Dinamarca enviou-o de oferta à Câmara

Municipal de Setúbal. Depois, no dia 29 de Outubro de 1998, o Embaixador da Dinamarca

em Portugal veio a Setúbal plantá-lo, juntamente com muitos meninos setubalenses e com os

representantes da Câmara, ali na Avenida Luísa Todi, perto do antigo coreto.

A Árvore de Andersen adaptou-se à sua nova terra e todos os anos, na Primavera, é

vê-la a enfeitar-se de novas folhas, resistindo a algumas faltas de respeito e cuidado e

oferecendo-se ao atencioso olhar das pessoas sensíveis ao que ele representa.

Esta é uma bela história: “A ÁRVORE DE ANDERSEN EM SETÚBAL”. Agora, se

devidamente acompanhados pelos seus pais ou professores, os meninos de Setúbal e de

Portugal inteiro bem que podem contá-la uns aos outros ali na Avenida Luísa Todi. E

também ali podem ler juntos algumas das muitas histórias inventadas por Hans Christian

Andersen. Quem for a passar talvez pare e fique a ver, a ouvir e a compreender.

O dia melhor para assim contar e ler estas histórias junto da Árvore de Andersen em

Setúbal é o dia 2 de Abril. É o Dia Internacional do Livro Infantil. E porquê? Porque a 2 de

Abril de 1805, na cidade dinamarquesa de Odessa, nasceu Hans Christian Andersen.

R. V.

(Versão revista e resumida de um texto distribuído e lido em tempos nalgumas escolas de Setúbal)

NA AVENIDA LUÍSA TODI

Page 4: Dia Internacional do Livro Infantil  - 2 de Abril

UM MONUMENTO À IGNORÂNCIA?

Está a chegar mais um 2 de Abril. Se a muitas outras pessoas não admito o direito de o ignorar, muito menos a mim. Dia

de Andersen. Dia Internacional do Livro Infantil. A Árvore de Andersen em Setúbal. O seu actualíssimo simbolismo. Não posso

ficar indiferente. É o mínimo. O resto é fazer o melhor que ainda puder pela memória setubalense de Andersen e pela divulgação

dos melhores livros para as nossas crianças.

Antes de começar a escrever estas linhas fui mais uma vez até à Avenida Luísa Todi, em amena tarde de domingo. Em

obras ainda o coreto, um monumento. Património. Ao lado, o abeto que homenageia Hans Christian Andersen,.igualmente ou

ainda mais, um monumento. Património. Entre o abeto e a rua, um pequeno edifício, com muito bom design. Um novo

monumento? E porque não? Só porque a finalidade não é ser utilizado por bandas de música, razão de haver coreto, por pouco

utilizado que seja actualmente? É que acho muito bem o design do pequeno edifício. Parabéns ao projectista. O que não consigo

compreender é como foi possível fazer do abeto dedicado a Andersen como que um anexo do que parece que será um quiosque-

bar. Alguém pode acreditar que um projectista que revela tão bom gosto, implantaria ali e assim o pequeno edifício se tivesse

olhado para aquele abeto com olhos de ver e se inteirasse do seu simbolismo? Por mim, não consigo acreditar.

Quando me vieram dizer que estava ali implantado aquele pequeno edifício, não quis acreditar. Devia ser algo de

provisório relacionado com o andamento das obras. Tive que ir ver. Senti revolta. Maior, porém, foi o sentimento de vergonha. A

revolta pode dar grito. Quem sente vergonha, por regra esconde-se ou pelo menos fica calado. Fiquei. Até que fui interpelado e

como se fosse sobretudo a mim que competia gritar o “não pode ser”. O meu maior receio era que o abeto chegasse a

desaparecer, ele que já passou por vários acidentes Deixaram marcas que não sei se e como podem ser reparadas. Felizmente lá

está à espera do nosso respeito.

Julgo que sou a pessoa menos indicada para abrir a boca. Até parece que… Um pouco de bom senso dá para

compreender. O abeto foi oferecido pelas Autoridades Dinamarquesas a Setúbal e sua Câmara Municipal, não a mim, por mais

que tudo tenha partido duma iniciativa minha e não seja preciso esconder que não foi fácil levá-la por diante para que tudo

acabasse por acontecer em 28 de Outubro de 1998, com o respeito, brilho e significado que se recorda. Se estou quebrando o

silêncio é para evitar confusões. A vergonha é do que vejo, não do que penso.

Insisto em que só vejo a ignorância como desculpa para o que a mim me parece (bem sei que também a outras

pessoas) uma manifesta falta de respeito pela memória setubalense de Andersen. Não posso considerar como desprezo ou acinte

(é perguntar: a quem?) a implantação daquele pequeno edifício no local em que está. A ignorância terá de ser a justificação, como

o é para muito do que tem acontecido. Tanto poder que a ignorância tem e tem tido! No dia em que se comemoraram no Salão

Nobre os 150 anos do nascimento de João Vaz ouvi o Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira comparar o que

aconteceu em Setúbal com o Teatro D. Amélia com o que acontece em Évora com o teatro da mesma época. Ainda hoje lá está, é

património da cidade e continua a ser utilizado. Podia ter-se construído o Cine-Teatro Luiza Todi noutro espaço, comentou com a

sua autoridade Baptista Pereira.

Se a ignorância tem tanto poder, por que não dedicar-lhe um monumento? Ao poder da ignorância! Faz ou não sentido

perguntar se se justifica que o pequeno edifício da Avenida Luísa Todi, implantado ali à sombra de A Árvore de Andersen em

Setúbal, seja considerado um bonito monumento à ignorância? Posso perguntar publicamente, sem me admitir entrar em guerras

inúteis e sem querer ofender ninguém?

Manuel Medeiros

Setúbal . 22 de Março . 2009