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73 REVISTA CIENTÍFICA FAESA Vitória, ES v. 10 n. 1 p. 73-91 2014 DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE VILA VELHA – ES DIAGNOSIS OF HEALTH CONDITIONS AND SAFETY: A CASE STUDY IN A BUSINESS CONSTRUCTION IN THE CITY OF VILA VELHA - ES LUCIANO RUBIM FRANCO* ANDRÉ LUIZ COSTA DE FIGUEIREDO** LILIAN ADAME DUQUE*** ISSUE DOI: 10.5008/1809.7367.076 RESUMO O objetivo geral deste trabalho é propor ações, que possibilitem a melhoria das condi- ções de saúde e segurança do trabalho de uma empresa da construção civil da cidade de Vila Velha - ES, possibilitando também a redução dos riscos de acidentes e doen- ças ocupacionais. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, seguida de um estudo de caso no canteiro de obras dessa empresa. Foi utilizada uma lista de verifi- cação para coletar dados no canteiro de obras, onde foi possível identificar a situação em que esse canteiro se encontrava referente às exigências das Normas Regulamen- tadoras de saúde e segurança do trabalho na construção civil. Verificou-se que foram encontradas irregularidades no atendimento à NR-18 e a outras Normas Regulamen- tadoras complementares. No entanto, as causas dos desacordos são mais de nature- za gerencial e da cultura dos trabalhadores, do que do rigor das exigências contidas nas Normas. Concluiu-se, que é possível melhorar o atendimento às exigências das Normas nesta empresa contribuindo, para a promoção de ambientes mais favoráveis à saúde e ao bem estar. Palavras-chave: saúde e segurança do trabalho, riscos de acidentes, construção civil. ABSTRACT The aim of this work is to propose actions that enable the improvement of health and safety of a civil construction company in the city of Vila Velha - ES, reducing the risks of accidents and occupational diseases. Initially, we performed a literature research, followed by a case study on the construction site of this company. We used a checklist to collect data on the construction site, where it was possible to identify the situation in which this plot was in respect to the requirements of the regulations concerning health and safety in construction. It was found that irregularities were found in compliance with RN-18 and other Complementary Regulatory Standards. However, the causes of the disagreements are more managerial in nature and culture of the employees than the rigor of the requirements of the Standards. It was concluded that it is possible to im- prove compliance with the requirements of the Standards in this company, contributing to the promotion of environments conducive to health and well being. Keywords: Health and safety. Risk of accidents. Civil construction. * Engenheiro Agrimensor (UFV), professor do Curso de Engenharia de Produção (FAESA). ** Graduado em Engenharia de Produção (FAESA). ***Graduada em Engenharia de Produção (FAESA).

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REVISTA CIENTÍFICA FAESA Vitória, ES v. 10 n. 1 p. 73-91 2014

DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE

VILA VELHA – ES

DIAGNOSIS OF HEALTH CONDITIONS AND SAFETY: A CASE STUDY IN A BUSINESS CONSTRUCTION IN THE CITY OF

VILA VELHA - ES

LUCIANO RUBIM FRANCO* ANDRÉ LUIZ COSTA DE FIGUEIREDO**

LILIAN ADAME DUQUE7***

ISSUE DOI: 10.5008/1809.7367.076

RESUMO O objetivo geral deste trabalho é propor ações, que possibilitem a melhoria das condi-ções de saúde e segurança do trabalho de uma empresa da construção civil da cidade de Vila Velha - ES, possibilitando também a redução dos riscos de acidentes e doen-ças ocupacionais. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, seguida de um estudo de caso no canteiro de obras dessa empresa. Foi utilizada uma lista de verifi-cação para coletar dados no canteiro de obras, onde foi possível identificar a situação em que esse canteiro se encontrava referente às exigências das Normas Regulamen-tadoras de saúde e segurança do trabalho na construção civil. Verificou-se que foram encontradas irregularidades no atendimento à NR-18 e a outras Normas Regulamen-tadoras complementares. No entanto, as causas dos desacordos são mais de nature-za gerencial e da cultura dos trabalhadores, do que do rigor das exigências contidas nas Normas. Concluiu-se, que é possível melhorar o atendimento às exigências das Normas nesta empresa contribuindo, para a promoção de ambientes mais favoráveis à saúde e ao bem estar. Palavras-chave: saúde e segurança do trabalho, riscos de acidentes, construção civil.

ABSTRACT The aim of this work is to propose actions that enable the improvement of health and safety of a civil construction company in the city of Vila Velha - ES, reducing the risks of accidents and occupational diseases. Initially, we performed a literature research, followed by a case study on the construction site of this company. We used a checklist to collect data on the construction site, where it was possible to identify the situation in which this plot was in respect to the requirements of the regulations concerning health and safety in construction. It was found that irregularities were found in compliance with RN-18 and other Complementary Regulatory Standards. However, the causes of the disagreements are more managerial in nature and culture of the employees than the rigor of the requirements of the Standards. It was concluded that it is possible to im-prove compliance with the requirements of the Standards in this company, contributing to the promotion of environments conducive to health and well being. Keywords: Health and safety. Risk of accidents. Civil construction.

* Engenheiro Agrimensor (UFV), professor do Curso de Engenharia de Produção (FAESA). ** Graduado em Engenharia de Produção (FAESA). ***Graduada em Engenharia de Produção (FAESA).

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INTRODUÇÃO A construção civil está presente, desde os primórdios da humanidade, na construção de admiráveis obras de arte como, por exemplo, as Pirâmides do Egito e as muralhas da China. Nessa época havia pouca preocupação com prejuízos à saúde do trabalha-dor, uma vez que a mão de obra existia em abundância e a sua substituição ocorria com rapidez. O Brasil, na década 1970, acabou se tornando um dos maiores países do mundo em número de acidentes, por consequência de condições de trabalho precárias e de não haver uma prevenção eficiente. Então, em 1977, com a intenção de reverter esse qua-dro, o governo brasileiro criou as Normas Regulamentadoras (NR’s) dedicadas à segu-rança e à medicina do trabalho. Especificamente, na construção civil é importante des-tacar a NR-18, que se tornou a principal do setor e teve como função melhorar as con-dições e o meio ambiente de trabalho nos canteiros de obras. Atualmente, a indústria da construção civil no Brasil está em grande ascensão, devido ao aumento da demanda por moradia e do crescimento da economia. Esse setor tem uma grande facilidade de gerar empregos, visto que há baixa exigência do grau de escolaridade, baixa qualificação e elevada rotatividade de mão de obra. As atividades da construção civil são consideradas perigosas, visto que, também, há exigência de esforços físicos intensos, exposição a riscos ambientais, riscos de queda, de choques elétricos e outros de ordem ocupacionais. Além disso, o canteiro de obras é um ambi-ente, que está em constante transformação, tanto de atividades como de trabalhado-res, uma vez que a produção é dividida em etapas e à interação de fatores de risco nesse ambiente são previsíveis. Geralmente, tem se observado, que as empresas do ramo da construção civil, não tem dado a devida importância a questões relacionadas à saúde e segurança do trabalha-dor, se sentindo obrigadas apenas a cumprir às exigências da legislação trabalhista. Devido à precariedade na intensidade da fiscalização dos órgãos competentes, se preocupam mais com o aumento da produtividade e da qualidade do produto, ao invés de promover a qualidade de vida e a integridade física e psicológica de seus empre-gados. É nesse contexto, que a indústria da construção civil tem apresentado uma das piores condições de saúde e segurança do trabalho, fato refletido nos elevados índices de ocorrência de acidentes do trabalho no Brasil. As consequências desse índice são: altos gastos públicos em despesas previdenciárias e hospitalares, além do sofrimento causado entre as vítimas e seus familiares e para a empresa, a elevação dos custos globais, atraso nas entregas de produtos e/ou serviços, entre outros. Diante desse cenário sentiu-se a necessidade de propor ações, que possibilitem a melhoria das condições de saúde e segurança do canteiro de obras de uma empresa da construção civil da cidade de Vila Velha - ES, a fim de tentar reduzir os riscos de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais. Para atingir os objetivos desejados realizou-se uma coleta de dados em fontes secun-dárias e aplicou-se uma lista de verificação do atendimento às Normas Regulamenta-doras, vigentes, de saúde e segurança do trabalho na construção civil, durante visita a um de seus canteiros de obras.

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SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL Segundo Araújo (2010, p. 308) quando se trata de segurança na construção civil pode-se dizer, que está diretamente relacionada à NR-18, que descreve como devem ser as Condições de Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. O Ministério do Trabalho e Emprego definiu os objetivos da NR-18 da seguinte forma: “estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento de organização, que objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos pro-cessos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da construção.” (BRASIL, 2011, p. 2). Assim como a NR-18, existem outras Normas a serem citadas, quando se fala em se-gurança na área da construção civil tais como: a NR-4 que, é fundamentada no artigo 162 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), se denomina como Serviços Espe-cializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e tem a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Além disso, prescreve o dimensionamento da equipe de profissionais de di-versas áreas, que atuarão na implantação de medidas de prevenção de doenças ocu-pacionais e acidentes do trabalho, conforme o seu grau de risco e o número de em-pregados da empresa. De acordo com Oliveira (2011, p. 16) a Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA) encontra-se representada pela NR-5, que é definida de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego com o propósito de “prevenção de acidentes e doenças decor-rentes do local de trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador” (BRASIL, 2011, p. 1). E, ainda, é descrito como deve ser o dimensionamento, as atribuições, o funciona-mento e a organização da CIPA. Também é estabelecida a obrigatoriedade das em-presas, tanto públicas como privadas, de manterem em exercício uma comissão com base nos artigos 163 a 165 da CLT. A NR-6 trata dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em concordância com o Ministério do Trabalho e Emprego, que considera como EPI “todo dispositivo ou produ-to, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetí-veis de ameaçar a segurança e a saúde do trabalho” (BRASIL, 2011, p. 1). Segundo Araújo (2010, p. 45) a NR-6 foi constituída pelos artigos 166 e 167 da CLT, que consi-dera que as empresas devam fornecer ao empregado os EPI’s de acordo com a sua função, tipo de atividade exercida e de forma gratuita, cabendo o mesmo usar de for-ma correta, ou seja, somente, para o que o EPI foi designado a fazer. O setor de construção civil possui várias características, que dificultam o gerenciamen-to e o cumprimento das medidas para o monitoramento do trabalhador, que são: di-namismo em determinado espaço de tempo, diversidade de especialização nas etapas do processo, fragmentação do trabalho, exigência de habilidades diversas, contínuo remanejamento e alta rotatividade dos trabalhadores. Para tais fatores a NR-7, que foi determinada pelo Ministério do Trabalho e Emprego como o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) teve como base os artigos 168 e 169 da CLT. Essa Norma é essencial, para ajudar a controlar essas características e seu objetivo está descrito da seguinte forma: “estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos empregadores e instituições que admitam traba-lhadores como empregados, [...] com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto de seus trabalhadores.” (BRASIL, 2011, p. 1).

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A NR-24 apresenta as Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho. Segundo Araújo (2010, p. 52) se constitui no inciso VII do artigo 200 da CLT e define como devem ser as condições de higiene e de conforto no ambiente de trabalho com foco nas instalações sanitárias, vestiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e forne-cimento de água potável. Essa NR contribui diretamente, para a saúde do trabalhador da construção, pois pelo fato de haver alta rotatividade dos trabalhadores há uma boa probabilidade das condições sanitárias serem precárias. Designada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a NR-26 foi nomeada como Sinali-zação de Segurança, que tem o seguinte objetivo: “[...] fixar as cores que devem ser usadas nos locais de trabalho para prevenção de acidentes, identificando os equipa-mentos de segurança, delimitando áreas, identificando as canalizações empregadas nas indústrias para a condução de líquidos e gases e advertindo contra riscos.” (BRA-SIL, 2011, p. 1). E, por fim, uma Norma mais recente é a NR-35, que foi denominada Trabalho em Altu-ra pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que: “estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organi-zação e a execução, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta atividade.” (BRASIL, 2012, p. 1). Segundo Barbosa et al. (2013, p. 32) vale ressaltar, que o assunto de trabalho em altu-ra é muito importante para o setor da construção civil em edificações, visto que “as quedas de altura são a 2a causa de mortes fatais na IC e, portanto, especial atenção deve se dar para preveni-las.” Em se tratando de acidente do trabalho, é importante citar a Lei no 8.213 de 24 de ju-lho de 1991, que dispõe sobre os benefícios da Previdência Social e o define, no artigo 19, como aquele que: “ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados [...], provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” (BRASIL, 1991). Para Michel (2008, p. 48) na legislação brasileira o acidente do trabalho é caracteriza-do pelo prejuízo físico sofrido pelo trabalhador, uma vez que a finalidade é a proteção do acidentado via compensação financeira, enquanto há impossibilidade de trabalhar ou de indenização se o trabalhador sofrer lesão incapacitante permanente. No entanto, pela ótica prevencionista, o acidente é definido em função de suas consequências sobre o homem, ou seja, é qualquer ocorrência não programada, que interfere no an-damento normal do trabalho causando perda de tempo, já que outros fatores produti-vos podem estar envolvidos como equipamentos, ferramentas, máquinas. De acordo com Barbosa et al. (2013, p. 11) a indústria da construção “é reconhecida em todo o mundo como uma das mais perigosas, especialmente para acidentes de trabalho fatais.” A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que nesse setor da economia ocorrem aproximadamente 60.000 acidentes fatais por ano em todo o mundo, com um óbito a cada 10 minutos. Em 2007, por exemplo, a construção civil representou o 4o lugar no ranking do coeficiente de mortalidade por acidente de traba-lho, ficando atrás de setores como a agricultura, mineração e transporte e armazena-gem, respectivamente. Segundo Michel (2008, p. 52) “sob o ponto de vista prevencionista, causa de acidente é qualquer fator que, se removido a tempo, teria evitado o acidente.” Portanto, os aci-

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dentes de trabalho podem ser prevenidos através da eliminação, a tempo, de suas causas. Ainda de acordo com Michel (2008, p. 51) as causas principais de acidentes a princí-pio são: as condições abaixo do padrão referentes às instalações do local de trabalho como máquinas e equipamentos; os desvios que são entendidos como atitudes inde-vidas do ser humano, ou seja, os fatores pessoais e os eventos da natureza como inundações, tempestades, entre outros. As condições abaixo do padrão conforme es-tudos técnicos podem ser eliminadas. Entretanto, os mesmos estudos não são sufici-entes, para eliminar os desvios. Conforme dados extraídos do Ministério da Saúde, entre 2007 e 2009, no Brasil, as causas mais comuns de óbito foram: “acidente de transporte, envolvendo veículos terrestres automotores (33%), seguido pelas quedas (16%), e eletrocussões (8%), enquanto que agressões interpessoais foram responsáveis por 5,6% dos casos.” (BARBOSA et al., 2013, p. 14). A prevenção é algo indispensável, para auxiliar na redução de acidentes. Definido por Milaneli (2011, p. 89) prevenção consiste em verificar a área antes de começar a tra-balhar em um determinado local, pensar nos fatores e ações que possam levar à con-dição de risco. Mas, para promover uma prevenção é necessário analisar os riscos, assim sendo é preciso saber o significado e classificar esses riscos do ambiente de trabalho, denominados riscos ambientais. Os riscos ambientais segundo Oliveira (2011, p. 87) são os que se encontram relacio-nados ao trabalho, em outras palavras são riscos, que dependem do procedimento, organização, equipamentos ou máquinas, processos, ambiente e até das relações de trabalho com a possibilidade de prejudicar a segurança e a saúde do trabalhador. Es-ses riscos estão regulamentados pela NR-9, que define o objetivo e do que se trata o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Porém, a NR-9 classifica ape-nas os riscos ambientais em: físicos, químicos e biológicos. Sendo que na prática ao elaborar o mapa de riscos, os riscos ambientais são classificados em: físicos, quími-cos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Além disso, de acordo com o SESI (2008, p. 149) a NR-9 é encarregada de avaliar os riscos ambientais no local de trabalho, ou seja, o PPRA se antecipa para reconhecer e avaliar os riscos existentes e, assim, são criados e realizados planos visando melhorar as situações encontradas no local de trabalho e preservar a saúde e a integridade dos trabalhadores e também levando em consideração a preservação do meio ambiente. Entretanto, as medidas de controle efetuadas nos processos e nas condições de tra-balho dos canteiros de obra da construção civil são feitos, obrigatoriamente, através da NR-18 no tópico 18.3.1 o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) desde que tenha no mínimo vinte trabalhadores nos estabelecimentos. E, ainda, o PCMAT deve atender às exigências prescritas pela NR-9. De acordo com o Barbosa et al. (2013, p. 31), quando se fala em prevenção no ambi-ente de trabalho da construção civil, as principais responsabilidades jurídicas do em-pregador em relação à saúde e à segurança do trabalhador são: o cumprimento da legislação vigente, a definição de procedimentos e responsabilidades dos trabalhado-res, a identificação dos principais riscos e a eliminação ou redução dos mesmos, o fornecimento de informações, procedimentos de emergência, de equipamentos de proteção individual e coletiva e de treinamentos, além de inspeção regular do local de

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trabalho: “Por sua vez, os empregados têm a responsabilidade de cuidar, tanto quanto possível, da sua própria segurança e da saúde dos seus colegas, em conformidade com o treinamento e as instruções”. MATERIAL E MÉTODOS Para atingir os objetivos desejados, o trabalho foi classificado como exploratório e descritivo; exploratório, visto que proporciona maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explícito; descritivo uma vez que descreve características do canteiro de obras da empresa objeto do estudo. O presente trabalho foi conduzido, quanto aos meios na forma de pesquisas bibliográ-ficas e estudo de caso. É uma pesquisa bibliográfica, uma vez que na fundamentação teórica do trabalho foram utilizados livros, legislações, pesquisas e dados do Ministério do Trabalho e da Previdência, anuários, reportagens em revistas, controle estatístico de acidentes da empresa objeto de estudo e internet. Considera-se como estudo de caso, porque coletou informações em um canteiro de obras da construção civil. Os instrumentos de coleta dos dados que foram aplicados, no estudo de caso, estão separados em duas etapas: 1a etapa – Coleta de dados em fontes secundárias: destinada a levantar dados do Brasil e do Espírito Santo sobre a atual economia da construção civil e das caracterís-ticas dos acidentes de trabalho, histórico da segurança do trabalho na construção civil e sua legislação vigente e as características da empresa objeto de estudo e informa-ções sobre acidentes do trabalho da mesma; 2a etapa – Aplicação da lista de verificação: destinado a levantar dados a respeito das condições de saúde e segurança do trabalho e avaliar o atendimento das obrigações das atuais NR’s da construção civil do canteiro de obras objeto de estudo. Os instru-mentos de coleta de dados foram aplicados durante visita ao canteiro de obras estu-dado no período de 19 a 20 de agosto de 2013. A lista de verificação foi utilizada como ferramenta, para identificar os requisitos relati-vos à saúde e segurança do trabalho e das situações de risco. Em sua elaboração foi levado em conta à fase da obra e a quantidade de trabalhadores. Desse modo, ape-nas 15 itens da NR-18 e de outras Normas Regulamentadoras, que complementam a mesma puderam ser aplicáveis na obra. Segue a classificação utilizada na lista de verificação, quanto ao atendimento dos itens das NR’s: a) conforme = todos os aspectos do item devem estar conforme a NR-18 e outras Normas relacionadas; b) desacordo = a situação encontrada no canteiro está em desacordo; c) grave e iminente risco = situação que representa risco iminente de acidente, que pode resultar em lesão grave ao trabalhador ou em sua morte. Esta lista de verificação serve como elemento base, para elaboração do relatório de resultados demonstrando o desempenho do canteiro, quanto às condições de saúde e de segurança do trabalho. Para melhor aferição das condições das instalações e da realização das atividades, por parte dos empregados no canteiro de obras, utilizou-se registros fotográficos.

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Diante da natureza do problema investigado o tratamento e a análise dos dados foram realizados de forma qualitativa e quantitativa. A primeira sustentou a análise e discus-são dos resultados esperados da lista de verificação, possibilitando a interpretação global e individual dos dados coletados, caracterizando o posicionamento da empresa e o atendimento às obrigações das Normas Regulamentadoras no que tange às ques-tões de saúde e segurança do trabalho. A segunda foi determinada ao realizar a quan-tificação das situações de conformidade, desacordo e grave e iminente risco encontra-das no canteiro de obras da empresa, objeto do estudo. Para realização deste estudo foi identificada uma empresa de edificações verticais da construção civil de médio porte na cidade de Vila Velha - ES. Para classificação, des-ta, foi utilizado o mesmo critério, que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (SEBRAE) adota para fins de estudo e pesquisa, em conformidade com o critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em relação ao núme-ro de empregados, devendo conter de 100 a 499 empregados. O universo do estudo de caso foi um canteiro de obras dessa empresa, escolhido con-forme critério de inclusão na fase intermediária da obra, visto que nesse estágio há um elevado risco de acidentes devido à maior movimentação de trabalhadores e de mate-riais e também maior diversidade de atividades relacionadas à construção civil. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste tópico foram apresentados os resultados, os comentários e, quando necessário, as recomendações acerca dos dados coletados no estudo de caso, de modo a atender aos objetivos propostos por este trabalho. Para melhor sistematização dos resultados os dados coletados foram agrupados em duas categorias: a) caracterização da em-presa e do canteiro de obras, objeto do estudo; b) relatório dos resultados obtidos na lista de verificação. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E DO CANTEIRO DE OBRAS A empresa nasceu no Espírito Santo e está há mais de 30 anos no mercado da cons-trução civil em todo o estado atuando, principalmente, na cidade de Vila Velha – ES. Atualmente, o número de empregados na administração são 26 e no canteiro de obras são 460, totalizando 486. Em seu portfólio de empreendimentos há no momento 739 unidades entregues e 19 unidades residenciais e comerciais em construção, superan-do 100 mil metros quadrados de área construída e 200 mil metros quadrados em cons-trução. O empreendimento escolhido é um prédio residencial e se localiza na Praia da Costa, cidade de Vila Velha - ES. No momento da visita a obra estava com 100% de funda-ção, 57% de estrutura e 29% de alvenaria concluídos, sendo que o 7O pavimento esta-va em construção. Nesse canteiro de obras havia 44 trabalhadores no total, sendo que desses 22 eram de empresas terceirizadas e 22 empregados próprios.

No período de janeiro a agosto de 2013 foram registrados na empresa 5 acidentes, sendo que 2 destes ocorreram no canteiro de obras e os outros 3 acidentes ocorreram nos demais canteiros da empresa. Em 2012, foram registrados 20 acidentes na em-presa, sendo que um acidente ocasionou a morte de 1 empregado.

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RELATÓRIO DE RESULTADOS DA LISTA DE VERIFICAÇÃO A seguir serão apresentados os resultados e as observações das situações encontra-das no canteiro de obras, de acordo com cada item da lista de verificação realizando as suas devidas recomendações baseadas nas NR’s vigentes. Verificou-se que de 29 itens da lista de verificação, 58,6% (17) estavam em conformi-dade com a NR-18 e outras Normas Regulamentadoras complementares e 41,4% (12) em desacordo. Dos itens em desacordo com as NR’s avaliadas, 58,3% (7) estavam em situação de grave e iminente risco. ÁREAS DE VIVÊNCIA

a) Instalações sanitárias Situação: Desacordo. Observações: as instalações não estavam em perfeito estado de conservação e higi-ene, conforme exigência da NR-24 e apresentado na Figura 1. As paredes estavam sujas, o piso estava molhado e o local estava com mau cheiro.

Figura 1 – Situação das instalações sanitárias

Recomendações: o sanitário deve estar em perfeito estado de conservação e higiene, para isso o banheiro deve ser lavado e o chão secado periodicamente evitando o mau cheiro, as possíveis quedas de mesmo nível e o mal estar dos trabalhadores. b) Vestiário Situação: Conforme. Observações: adequado por todos os itens da NR-18. Porém, foi visto que havia al-guns pertences dos empregados fora dos respectivos armários, caracterizando-se um desvio conforme a NR-24. No entanto, esse desvio é pontual, para que a situação se torne em desacordo com as NR’s. Recomendações: em relação ao vestiário, para evitar que os trabalhadores pendurem suas toalhas molhadas após o banho na porta dos armários, deve ser instalado um varal em local adequado para secá-las. c) Refeitório Situação: Conforme.

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Observações: O refeitório estava em boas condições de conservação e higiene. O dimensionamento das instalações do refeitório estava de acordo com o número de trabalhadores. Carpintaria a) Serra circular Situação: Desacordo. Observações: a mesa da serra circular, conforme a Figura 2, estava sem o coletor de serragem.

Figura 2 – Situação das instalações da serra circular

Recomendações: a mesa deve ser dotada de coletor de serragem, pois assim reduz o risco de incêndio e risco de quedas. Armações de Aço a) Vergalhões de aço Situação: Desacordo - grave e iminente risco. Observações: os vergalhões encontrados no canteiro de obras não possuíam prote-ção nas pontas, como é destacado na figura 3.

Figura 3 – Situação dos vergalhões de aço

Recomendações: devem possuir proteções nos vergalhões de aço ou seu devido isolamento, para evitar acidentes.

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Escadas/Rampas a) Escadas de mão Situação: Desacordo – grave e iminente risco. Observações: foi observado que o material, para construir as escadas era de má qua-lidade. E também há utilização de escadas com montante único, conforme Figura 4, o que não é permitido pela NR-18.

Figura 4 – Situação do uso de escadas de mão

Recomendações: no caso de necessidade do uso de escadas de mão, as mesmas não podem ser de montante único, visto que é proibido de acordo com a NR-18. Dian-te dessa situação deve-se utilizar escadas duplas também conhecidas como de abrir ou cavalete. b) Rampas Situação: Conforme. Observações: as rampas estavam em boas condições de uso e segurança. Proteção contra quedas Este item da lista de verificação é de fundamental importância, uma vez que a maioria dos acidentes de trabalho na construção civil são decorrentes de queda de altura. a) Contra queda de pessoas e de materiais Situação: Desacordo – grave e iminente risco. Observações: a situação encontrada mostra, que existem instalações de acordo com a NR-18. Porém, existe sobrecarga de materiais no para cisco como mostra na Figura 5.

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Figura 5 – Situação do para cisco

Na Figura 6, é possível observar, que os operários estão usando o cinto de segurança, porém o talabarte está preso a uma corda em uma situação precária.

Figura 6 – Situação da linha de vida onde estava preso o talabarte

Já na Figura 7 é possível observar, que não há uma proteção contra queda de pesso-as (guarda corpo), que possam estar transitando próximo ao local (rampa). Identifica-ram-se, também, outras situações em que havia a ausência ou a má colocação dos guarda corpos em alguns locais ao redor dos limites de alguns andares da obra.

Figura 7 – Situação dos EPC’s

Recomendações: Sempre, que possível, retirar os materiais, que estão na proteção removendo, assim, a sobrecarga de material. E deve ser feito em todos os andares o isolamento nos para ciscos, essas instalações devem ser feitas de modo que não haja buracos, para que se tornem mais eficientes. A corda, na Figura 6, deve ser substituída por um cabo de aço conforme estabelecido na NR-35.

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Deve-se instalar ou ajustar imediatamente os guarda corpos, nos locais em que há risco de quedas. Deve haver, também, maior atuação no controle e observação tanto por parte dos operários, como do técnico de segurança responsável pela obra. Tam-bém é recomendável promover mais treinamentos, para melhor instruir os trabalhado-res na execução destas atividades e conscientizá-los dos riscos de acidentes decor-rentes dessas situações. Movimentação e transporte de pessoas e de cargas a) Elevadores de pessoas e cargas Situação: Conforme. Observações: existe proteção e sinalização nas torres, para proibir a circulação de trabalhadores. Nesta obra foi observado também, que o elevador é de uso simultâneo, ou seja, tanto era utilizado para carga e como para trabalhadores. b) Rampas de acesso à torre do elevador Situação: Desconforme – grave e iminente risco Observações: No último andar da obra, conforme a Figura 8, a rampa estava sem proteção em sua abertura, podendo ocasionar um acidente.

Figura 8 - Situação da rampa de acesso ao elevador

Recomendação: Ao construir rampas de acesso à torre do elevador, as mesmas de-vem ser dotadas de dispositivo, que impeçam as quedas de pessoas. c) Cabine do elevador Situação: Conforme. Observações: A sinalização com a capacidade do número de passageiros não estava nítida. Recomendações: Deve haver a substituição dessa sinalização por uma nova. Instalações elétricas a) Aterramento Situação: Conforme.

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Observações: Todos os equipamentos elétricos estavam aterrados. b) Plugue e tomada Situação: Conforme. Observações: Todos os equipamentos possuem plugue e tomada. Equipamentos de Proteção Individual (EPI) a) Utilização do EPI Situação: Desconforme – grave e iminente risco. Observações: Era notável, que poucos utilizavam o cinto de segurança, luvas, óculos ou outros EPI’s de forma inadequada. Na figura 9, os trabalhadores estavam em altura superior a 2 metros sem o cinto de segurança, enquanto que um dos operários estava sem capacete. Ocorreram também, situações em que o trabalhador estava utilizando o cinto de segurança, porém não prendia o talabarte à linha de vida, tornando inoperante o EPI. A ausência do cinto de segurança ou o não travamento do talabarte na linha de vida merecem muita atenção, uma vez que a maioria de acidentes com morte na cons-trução civil ocorrerem por queda de altura.

Figura 9 – Utilização de EPI’s

Na carpintaria foi visto, conforme Figura 10, que havia compartilhamento de alguns EPI’s entre os trabalhadores, como exemplo o protetor facial, o que não é permitido pela NR-06.

Figura 10 – Compartilhamento de EPI’s

Recomendações: Sempre que estiver presente na área de trabalho, utilizar os EPI’s fornecidos adequadamente. Deve-se reforçar nos treinamentos sobre a importância e

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os benefícios do uso do EPI e, se necessário, agir com maior rigidez na cobrança de sua utilização, aplicando punições ou até desligando o trabalhador, que persistir em não usar o mesmo. Além disso, o EPI é exclusivamente individual, não podendo ser emprestado. A empresa deve fornecer a cada um dos de seus operários os EPI’s ade-quados para essa função. a) Conservação dos EPI’s Situação: Conforme. Observações: Os EPI’s apresentavam bom estado de conservação e higiene. b) Fornecimento de EPI’s Situação: Conforme. Observações: A empresa fornece gratuitamente os EPI’s a seus empregados. Os EPI’s fornecidos são: botina, capacete, luvas, óculos, protetor auricular, máscara facial e boné legionário. c) Fiscalização do uso de EPI’s Situação: Desacordo. Observações: Não há uma fiscalização específica quanto ao uso de EPI’s, por parte do empregador. Recomendações: Deve haver uma maior participação dos encarregados na fiscaliza-ção e na cobrança, quanto ao uso do EPI. A empresa deve estabelecer critérios objeti-vos, para determinar a necessidade de uso dos equipamentos e aplicar as sanções necessárias em caso de recusa injustificada do uso. Armazenagem e estocagem de materiais a) Almoxarifado Situação: Desacordo – grave e iminente risco. Observações: Os materiais estavam armazenados de forma inadequada, algumas toras de madeira estavam localizadas no corredor obstruindo a passagem de pessoas e o armazenamento de outros materiais nas prateleiras. Recomendações: Os materiais devem ser armazenados em locais adequados, não podendo obstruir a passagem de pessoas, uma vez que pode ocorrer queda de mes-mo nível. Proteção contra incêndio Situação: Conforme. Observações: Há extintores em todas as áreas e com designação correta para o tipo de risco de incêndio. Além disso, todos os extintores estão dentro do prazo de valida-de. Sinalização de segurança

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a) Comunicação através de avisos Situação: Conforme Observações: Existem cartazes de avisos diversos espalhados por todo o canteiro de obras. b) Quanto aos riscos e uso do EPI Situação: Desacordo. Observações: Há sinalização precária com relação aos riscos e ao uso de EPI, por todo o canteiro de obras. Há também, sinalização ausente em muitos extintores de incêndio, além da ausência de isolamento da área em que está localizado o mesmo e a presença de ferramentas em lugar inadequado, conforme Figura 12.

Figura 12 – Sinalização e isolamento do extintor de incêndio

Recomendações: Sinalizar a localização e tipo dos extintores de incêndio. Não é permitido pendurar ferramentas de trabalho próximo ao extintor de incêndio, que impe-çam o seu acesso. As ferramentas devem estar armazenadas na ferramentaria. Além disso, é necessário realizar um levantamento de necessidades, para adequar a sinali-zação de segurança por todo o canteiro de obras. Ordem e limpeza a) Organização e limpeza da obra Situação: Desacordo – Grave e iminente risco. Observações: Há muitos materiais espalhados em todo o canteiro de obras, conforme Figura 13. Em alguns casos impedindo as vias de circulação e até a execução de ati-vidades.

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Figura 13 – Área de trabalho desorganizada e suja

Recomendações: Nas rotinas de trabalho deve haver a prática de recolhimento e destinação adequada dos resíduos, para eliminar ou armazenar os materiais de forma ordenada, de modo que estes não ofereçam riscos de acidentes e não impeçam ou dificultem a passagem de pessoas no local. Deste modo, deve-se manter o local de trabalho limpo e organizado, para evitar acidentes. Tapumes a) Tela de proteção e tapumes Situação: Conforme. Observações: Há uma tela proteção contra queda de materiais e tapumes, para im-pedir o acesso de pessoas estranhas aos serviços em toda a extensão da obra. Treinamento a) Admissional e periódico Situação: Conforme. Observações: A empresa realiza treinamento teórico admissional dos trabalhadores em uma clínica médica terceirizada e o treinamento prático é feito na própria empresa. Os assuntos abordados nos treinamentos são: informações sobre as condições e meio ambiente de trabalho; riscos inerentes à função; uso adequado de EPI’s e informações sobre os EPC’s existentes na obra; além de treinamentos com noções de combate a incêndio e doenças sexualmente transmissíveis. Em relação aos treinamentos periódi-cos e palestras de conscientização sobre saúde e segurança do trabalho a empresa realiza uma reunião semanal denominada de Diálogo Semanal de Segurança, em que são discutidos assuntos relacionados à segurança como: o uso de EPI, EPC, riscos de acidentes e condições do ambiente do trabalho, higiene pessoal, alcoolismo, doenças sexualmente transmissíveis e outras doenças. Há também informações sobre o anda-mento da obra e produtividade dos trabalhadores e ainda há abertura para reclama-ções e sugestões.

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Outros requisitos a) Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) Situação: Desacordo. Observações: Não foi identificada a instalação e manutenção da CIPA. Recomendações: A empresa deve constituir uma CIPA centralizada, visto que em cada canteiro de obra da cidade há menos do que 50 empregados. Para que a empresa constitua uma CIPA, deverá atender ao disposto na NR-05, se-gundo o dimensionamento adequado de acordo com o Grupo de Risco e número de empregados da empresa apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Dimensionamento da CIPA

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2011 É importante que a empresa siga essa recomendação, pelo fato de a CIPA ser desig-nada para observar e relatar as condições de risco no ambiente de trabalho e solicitar medidas para reduzir, neutralizar ou até eliminar os riscos existentes no mesmo. Seu objetivo é preservar a vida e promover a saúde do trabalhador, prevenindo acidentes e doenças decorrentes de sua atividade e ambiente de trabalho. Seu papel fundamental é estabelecer o diálogo e a conscientização entre gerentes e empregados de forma criativa e participativa, a fim de melhorar as condições de trabalho. Das diversas atribuições da CIPA é importante destacar o mapa de riscos. Ele é elabo-rado após a identificação e classificação de todos os riscos existentes no canteiro de obras, podendo sofrer alterações em diferentes etapas da obra. O mapa de risco é recomendado, pois é utilizado como ferramenta, para levantar os pontos de riscos am-bientais em diferentes locais do canteiro de obras, que podem acarretar prejuízos à saúde do trabalho como acidentes e doenças do trabalho. a) Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT) Situação: Conforme. Observações: De acordo com a NR-18 é obrigatório elaboração e cumprimento do PCMAT, onde houver 20 trabalhadores ou mais no canteiro. E foi visto, que a empresa possui o PCMAT e o mesmo encontra-se atualizado. b) Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)

Grupo0 a 19

20 a 29

30 a 50

51 a 80

81 a

100

101 a

120

121 a

140

141 a

300

301 a

500

501 a

1000

1001 a

2500

2501 a

5000

5001 a

10000

Acima de 10000 para cada grupo

de 2500 acrescentar

1 1 2 2 2 2 3 4 5 6 11 1 2 2 2 2 3 3 4 5 1

Nº de empregados no estabelecimento Nº de membros

da CIPAEfetivos

C-35Suplentes

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Situação: Conforme. Observações: Foi visto que o empregador possui o PCMSO, que foi elaborado por uma empresa terceirizada. Todos os empregados realizaram o exame médico antes de serem efetivados e periodicamente realizam o exame. Estes exames são determi-nados pelo médico coordenador do PCMSO. c) Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Tra-balho (SESMT) Situação: Conforme. Observações: Possui SESMT com o dimensionamento adequado. Possui um técnico de segurança, conforme estabelecido na NR-4. CONCLUSÃO Verificou-se que de 29 itens da lista de verificação, 58,6% (17) estavam em conformi-dade com a NR-18 e outras Normas Regulamentadoras complementares e 41,4% (12) em desacordo. Dos itens em desacordo com as NR’s avaliadas, 58,3% (7) estavam em situação de grave e iminente risco. Foram identificadas irregularidades em relação às instalações sanitárias, à serra circular, aos vergalhões de aço, à utilização de esca-das de mão, à proteção contra quedas, às rampas de acesso à torre do elevador, à utilização de EPI’s, à fiscalização, ao armazenamento de materiais no almoxarifado, à sinalização de segurança, à organização e à limpeza da obra, além do não atendimen-to às normas da CIPA. Foi possível constatar, que a empresa apresentou irregularidades significativas em relação às questões de saúde e segurança do trabalho na construção civil. Essas irre-gularidades, em sua maioria, comprometem, principalmente, à integridade física de seus empregados podendo causar acidentes de trabalho. As causas das irregularidades apresentadas são principalmente de natureza gerencial e fortemente influenciadas pela cultura dos trabalhadores. Desse modo, com a aplica-ção das recomendações propostas no trabalho, para a redução dessas causas, aliada a uma intervenção mais próxima da alta administração, poderá ser possível melhorar o atendimento às exigências das NR’s nesta empresa, contribuindo para a promoção de ambientes mais favoráveis à saúde, ao bem estar e a preservação da vida. REFERÊNCIAS ARAÚJO, W. T. Manual de segurança do trabalho. São Paulo: DCL, 2010. 453 p. BARBOSA, A. M. G. et al. Segurança e saúde na indústria da construção no Bra-sil: diagnóstico e recomendações para a prevenção dos acidentes de trabalho. Org. Santana, Vilma Souza. Brasília: SESI/DN, 2012. 60 p. On-line. Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/dominios/ ESTATISTICA/anexos/construcao.pdf>. Acesso em: 13 mai. 2013. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas regulamentadoras. Brasília. On-line. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm>. Acesso em: 10 mai. 2013.

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______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 24 jul. 1991. On-line. Disponí-vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 12 mai. 2013. MICHEL, O. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. 3. ed. São Paulo: LTR, 2008. 424 p. MILANELI, E. Prevenção e controle de acidentes e doenças. In: SCALDELAI et al. Manual prático de saúde e segurança do trabalho. São Caetano do Sul: Yendis, 2011. p. 89-110. OLIVEIRA, C. A. D. Segurança e medicina do trabalho: guia de prevenção de riscos. São Caetano do Sul: Yendis, 2011. 162 p. SESI. SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. Manual de segurança e saúde no traba-lho: indústria da construção civil – edificações. São Paulo: SESI, 2008. 212 p. Série manuais. On-line. Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/dominios/proesic/anexos/ downloadmanualsstconstru-caocivil.pdf>. Acesso em: 13 mai. 2013.