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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil: revisão sistemática Beatriz Oliveira Leão Carneiro Salvador (Bahia) Outubro, 2016

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Page 1: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

I

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e

adolescentes com artrite idiopática juvenil: revisão

sistemática

Beatriz Oliveira Leão Carneiro

Salvador (Bahia)

Outubro, 2016

Page 2: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

II

FICHA CATALOGRÁFICA

(elaborada pela Bibl. SONIA ABREU, da Bibliotheca Gonçalo Moniz : Memória da Saúde

Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA)

Número de

Cutter

Carneiro, Beatriz Oliveira Leão

Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e

adolescentes com artrite idiopática juvenil: revisão sistemática/

Beatriz Oliveira Leão Carneiro (Salvador, Bahia): B.O.L.

Carneiro, 2016

VIII, 41fls

Monografia, como exigência parcial e obrigatória para conclusão do Curso de Medicina

da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Professor orientador: Regina Terse Trindade Ramos

Palavras chaves: 1. Artrite idiopática juvenil. 2. Distúrbios do sono. 3.

Qualidade de vida. I. Ramos, Regina Terse Trindade. II. Universidade

Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Distúrbios do

sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com artrite

idiopática juvenil: revisão sistemática

CDU:

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III

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de fevereiro de 1808

Monografia

Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e

adolescentes com artrite idiopática juvenil: revisão

sistemática

Beatriz Oliveira Leão Carneiro

Professor orientador: Regina Terse Trindade Ramos

Coorientador: Teresa Cristina Martins Vicente Robazzi

Monografia de Conclusão do

Componente Curricular MED-

B60/2016.1, como pré-requisito

obrigatório e parcial para conclusão

do curso médico da Faculdade de

Medicina da Bahia da Universidade

Federal da Bahia, apresentada ao

Colegiado do Curso de Graduação

em Medicina.

Salvador (Bahia)

Outubro, 2016

Page 4: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

IV

Monografia: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com

artrite idiopática juvenil: revisão sistemática, de Beatriz Oliveira Leão Carneiro.

Professor orientador: Regina Terse Trindade Ramos

Coorientador: Teresa Cristina Martins Vicente Robazzi

COMISSÃO REVISORA:

Regina Terse Trindade Ramos (Presidente, Professor orientador), Professora do

Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade

Federal da Bahia.

Ronaldo Ribeiro Jacobina, Professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Fernando Antonio Glasner da Rocha Araujo, Professor do Departamento de

Medicina Interna e Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da Bahia da

Universidade Federal da Bahia.

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO:

Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e

julgada apta à apresentação pública no XI Seminário

Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da

Bahia da Universidade Federal da Bahia, com

posterior homologação do conceito final pela

coordenação do Núcleo de Formação Científica e de

MED-B60 (Monografia IV). Salvador (Bahia), em

___ de _____________ de 2016.

Page 5: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

V

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os

homens presentes, a vida presente. (extraído do

poema “Sentimento do mundo”, de Carlos

Drummond de Andrade)

Page 6: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

VI

Aos Meus Pais, Enedite

Bastos e João Leão

Page 7: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

VII

EQUIPE

Beatriz Oliveira Leão Carneiro, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA.Correio-e: [email protected]

Professor orientador: Regina Terse Trindade Ramos. Correio-e: [email protected]

Coorientador: Teresa Cristina Martins Vicente Robazzi. Correio-e: [email protected]

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)

FONTES DE FINANCIAMENTO

Recursos próprios

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VIII

AGRADECIMENTOS

À minha Professora orientadora, Doutora Regina Terse Trindade Ramos e minha co-orientadora Doutora Teresa Cristina Martins Vicente Robazzi pela presença

constante e substantivas orientações para minha formação acadêmica e pessoal

como futura profissional médica.

Aos professores Ronaldo Ribeiro Jacobina e Fernando Antonio Glasner da

Rocha Araujo, membros da comissão avaliadora, pelas orientações e sugestões

essenciais para o aprimoramento desse trabalho.

À minha colega, Bia Moruz Bichara pela colaboração no processo de busca e na

revisão do Summary. Meus especiais agradecimentos pela disponibilidade e

carinho constantes.

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1

SUMÁRIO

ÍNDICES DE QUADROS, FLUXOGRAMAS E TABELAS 2

I. RESUMO 3

II. OBJETIVO 4

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5

IV. REVISÃO DA LITERATURA 7 IV.1. A artrite idiopática juvenil 7

IV.2. Distúrbios do sono na faixa etária pediátrica 8

IV.3. A artrite idiopática juvenil e os distúrbios do sono 9

IV.4. A artrite idiopática juvenil e a qualidade de vida de crianças e adolescentes 10

V. METODOLOGIA 12 V.1. Estratégia de busca 12

V.2. Critérios de inclusão 15

V.3. Critérios de exclusão 15

V.4. Método de análise 16

V.5. Aspectos éticos 16

VI. RESULTADOS 17

VII. DISCUSSÃO 28

VIII. CONCLUSÕES 34

IX. SUMMARY 35

X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36

XI. APÊNDICE 40 XI.1. Apêndice I: Análise dos artigos pelo Strobe checklist 41

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ÍNDICE DE QUADROS, FLUXOGRAMAS E TABELAS

QUADROS

Quadro 1. Palavras-chaves utilizadas na busca dos artigos 12

Quadro 2. Termos análogos utilizados na busca dos artigos 13

Quadro 3. Outros termos utilizados na busca dos artigos 13

FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1. Pesquisa e seleção de artigos elegíveis 17

TABELAS Tabela 1. Características dos estudos e da amostra 20

Tabela 2. Análise da relação entre distúrbios do sono e AIJ 24

Tabela 3. Qualidade de vida a partir da visão dos pacientes 26

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3

I. RESUMO

INTROUÇÃO: Distúrbios do sono são frequentes em crianças e adolescentes com artrite

idiopática juvenil (AIJ). Alguns autores relatam aumento da sonolência diurna em

crianças e adolescentes como resultado da fragmentação do sono noturno que, por sua

vez, pode estar relacionada aos sintomas de dor e atividade da doença, podendo

influenciar diretamente na qualidade de vida dessa população. OBEJTIVOS: Sumarizar

as evidências encontradas na literatura que associam os distúrbios do sono e a qualidade

de vida em crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil. MÉTODOS: Revisão

sistemática de artigos com dados originais sobre os distúrbios do sono e a qualidade de

vida em crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil nas bases de dados

eletrônicas PubMed, PsycNET, Cochrane Library, SciELO, LILACS, Periodicos

CAPES, Scopus, Embase e Web of Science, a partir das seguintes palavras-chave: artrite

idiopática juvenil, artrite reumatoide juvenil, artrite juvenil, artrite crônica juvenil, sono,

distúrbios do sono, desordens do sono, transtornos do sono e qualidade de vida. Todas as

palavras-chave citadas também tiveram seus correspondentes usados na língua inglesa e

espanhola. RESULTADOS: Seis estudos com um total de 405 crianças e adolescentes

com AIJ foram incluídos na revisão sistemática. Evidenciaram que essa população tem

maior dificuldade para iniciar o sono, mais despertares noturnos, maior quantidade de

parassonias, dentre outros distúrbios do sono que interferem negativamente na sua

qualidade de vida desses pacientes. CONCLUSÃO: Distúrbios do sono são frequentes

em crianças e adolescentes com AIJ. Há interferência negativa na qualidade de vida dos

pacientes com AIJ e dos seus cuidadores primários.

Palavras chave: 1. Artrite idiopática juvenil; 2. Distúrbios do sono; 3. Qualidade de vida.

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II. OBJETIVO

PRINCIPAL

Sumarizar as evidências encontradas na literatura que associam os distúrbios do sono e a

qualidade de vida em crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil.

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5

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O sono é um processo biológico básico, essencial para o crescimento e

desenvolvimento saudáveis desde a vida intrauterina. É definido como um estado

neurologicamente complexo, entretanto facilmente reversível, de reduzida

responsividade e interação com o meio ambiente, diferindo do coma e da anestesia geral

que são de difíceis reversão e não se qualificam como sono1.

O sono exibe uma interação bidirecional com os sistemas nervoso,

cardiovascular, respiratório, endócrino e sistema imune. Uma pobre qualidade de sono

está associada com um maior risco para distúrbios cognitivos, baixo rendimento

acadêmico, alterações comportamentais, acidentes e também condições crônicas, a

exemplo da obesidade2. O sono está ainda relacionado com o controle automático da

respiração, constituindo-se como elemento fundamental na fisiopatologia de diversos

distúrbios respiratórios, tais como apneia da prematuridade, síndrome da hipoventilação

central, síndrome da morte súbita do lactente e apneia obstrutiva do sono2,3.

A infância é caracterizada por consideráveis mudanças na organização, no

tempo e na arquitetura do sono. Comparativamente, as diferenças que se observam tanto

na arquitetura quanto no padrão eletroencefalográfico, nos diferentes estágios de sono

entre recém-nascidos e crianças, sugerem que se trate de um processo evolutivo1,4. A

criança gasta em média cerca de metade da sua vida dormindo e um recém-nascido

chega a dormir cerca de dezesseis horas em um dia. Durante a adolescência, fase

caracterizada por uma marcada transformação fisiológica e formação da

individualidade, a fisiologia do sono tem específicos achados. Aceita-se em geral que a

maioria dos adolescentes necessita dormir, no mínimo, nove horas de sono ao dia,

embora não exista um consenso sobre a definição de horas necessárias. Uma

significativa proporção de adolescentes tem distúrbios do sono principalmente causados

por tempo de sono insuficiente devido à necessidade de interações sociais,

agendamentos escolares inadequados, pobres condições de moradia e doenças crônicas1.

Dentre as doenças crônicas, as doenças reumáticas são uma importante causa de

incapacidade na infância. Estão aí incluídas a artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso

sistêmico, febre reumática, esclerodermia, dermatopolimiosite e doença mista do tecido

conjuntivo. Essas doenças crônicas, quando ocorrem na infância, poderão determinar o

surgimento de alterações e/ou limitações físicas, impostas pelo quadro clínico ou por

Page 14: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

6

efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e

desenvolvimento.

O sono em crianças e adolescentes com AIJ não vem sendo bem documentado

na literatura mundial, e menos ainda na literatura brasileira. Poucos estudos têm sido

realizados e os resultados produzidos são divergentes5. Alguns autores relatam aumento

da sonolência diurna em crianças e adolescentes com AIJ como resultado da

fragmentação do sono noturno que, por sua vez, pode estar relacionada aos sintomas de

dor e atividade da doença6. Apesar dos muitos efeitos adversos desse quadro clínico, os

distúrbios do sono continuam a ser negligenciados no atendimento de crianças e

adolescentes que vivem com a condição crônica da AIJ7. Esse estudo visa sumarizar o

que há na literatura sobre os distúrbios do sono e a qualidade de vida de crianças e

adolescentes com AIJ, a fim de dimensionar o impacto dessa doença em aspectos da vida

dos participantes e visa também analisar a abordagem que a literatura médica tem dado a

esse tema.

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7

IV. REVISÃO DA LITERATURA

IV.1. A artrite idiopática juvenil

A AIJ é uma doença reumática crônica que pode acometer qualquer jovem antes

dos 16 anos. Sua etiologia ainda é desconhecida, entretanto, a sua fisiopatologia está

relacionada com a inflamação crônica da membrana sinovial de uma ou mais articulações.

A classificação da doença se baseia nas manifestações clínicas durante os primeiros seis

meses da doença. A AIJ pode ter uma condição clínica grave e incapacitante, a partir da

destruição ou prejuízo da função articular, limitação do crescimento e osteoporose.

Significantes efeitos emocionais e sociais também estão relacionados com o intercurso da

doença.8

Seis formas de AIJ foram definidas pela International League of Associations for

Rheumatology (ILAR) baseadas em critérios de inclusão e exclusão, sendo elas: sistêmica;

oligoarticular persistente; oligoarticular estendida; poliarticular com fator reumatoide

negativo; poliarticular com fator reumatoide positivo; artrite relacionada a entesite e

artrite psoriásica. Cerca de 20% das crianças com quadro clínico de artrite crônica não

preenchem os critérios para os tipos supracitados e são classificadas como portadoras de

artrite indiferenciada.9

No que diz respeito à epidemiologia, não existem dados fidedignos nacionais ou

locais da AIJ, já que a doença não é de notificação compulsória e não existem registros

de dados em grande escala. Em países desenvolvidos, a prevalência é de cerca de 0,07 a

4,01/1.000 crianças, sendo caracterizada como a doença reumática mais comum na faixa

etária pediátrica.10

O diagnóstico da AIJ é essencialmente clínico e pode ser difícil no início, sendo

muitas vezes subnotificado ou confundido com outras doenças. Características da história

clínica sugestivas de artrite, como inchaço, dor, calor e rigidez, que são mais intensas no

início do dia, podem ser importantes dados para a suspeita de AIJ.11 Em alguns casos há

a presença de destruição da cartilagem articular que gera diminuição da capacidade física

em um curto período de tempo. Restrição de movimentos, crescimento excessivo de

membros afetados e contraturas nas articulações também são consequências da

progressão da doença, na maioria das vezes, sem o controle medicamentoso adequado.

Em alguns casos, as crianças não se queixam de dor nas articulações inflamadas e tendem

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8

a parar de utilizar as partes acometidas, o que requer dos cuidadores maior atenção no

que diz respeito ao comportamento da criança.10

O atraso no diagnóstico da AIJ pode ser secundário aos próprios fatores da doença,

já que muitos pacientes são assintomáticos no início e, em alguns casos de dor, é comum

a associação a traumatismos recentes. Outros fatores que colaboram para o atraso no

diagnóstico é a possibilidade de quadros clínicos atípicos e a ausência de testes

laboratoriais específicos para o diagnóstico da AIJ. O sistema de regulação para o

atendimento com especialistas na área também é um fator que corrobora para o atraso no

diagnóstico, assim como a concentração desses profissionais nos grandes centros

urbanos.10

O tratamento da AIJ evoluiu com o passar dos anos e atualmente grande parte dos

pacientes encontra-se em remissão induzida por drogas, como o metotrexato ou

etanercepte. A abordagem do tratamento atualmente é ampla e requer acompanhamento

multiprofissional para atuar nos sintomas físicos e emocionais. Os principais objetivos do

tratamento são: reduzir a dor e suprimir o processo inflamatório, assim como os seus

efeitos nas articulações. Objetiva-se também permitir o crescimento e desenvolvimento

adequados, possibilitando uma melhor qualidade de vida para a criança e sua família. A

atuação da fisioterapia e da terapia ocupacional exercem impacto significativo na

evolução do quadro clínico e da capacidade funcional do paciente. O acompanhamento

psicológico se torna essencial, tendo em vista a cronicidade da doença e a sua

interferência na dinâmica familiar.12

IV.2. Distúrbios do sono na faixa etária pediátrica

Os distúrbios do sono constituem queixas frequentes no contexto da pediatria. A

apneia do lactente, insônia, enurese noturna, parassonias e a síndrome da apneia

obstrutiva do sono são algumas das principais manifestações clínicas que podem

acometer desde recém-nascidos até adolescentes.7 Nunes et al., em seu artigo publicado

em 2005, mostra o resultado de uma pesquisa em que 10,8% de uma população de

crianças, na faixa etária escolar, tinham distúrbios do sono e que grande parte dos pais

não havia discutido esse problema com o pediatra dos seus filhos.8 Silva et al. também

evidenciam que, em todo o mundo, cerca de 10-75% dos pais relatam dificuldades dos

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9

seus filhos para dormir, variando de acometimentos transitórios a doenças mais

persistentes.9

Os distúrbios respiratórios obstrutivos do sono acometem crianças de todas as

idades, entretanto, é mais frequente em pré-escolares devido ao aumento das tonsilas

faríngeas e palatinas em comparação ao tamanho da via aérea.10 As consequências dos

distúrbios do sono interferem na vida da criança e dos seus familiares. Alterações crônicas

do sono podem gerar dificuldades na aprendizagem escolar, na consolidação da memória

e dos conteúdos aprendidos, alterações na modulação do humor, irritabilidade,

dificuldade em manter a atenção e alterações comportamentais, como: agressividade,

hiperatividade e impulsividade.3,9 Atualmente, os métodos diagnósticos para investigação

dos distúrbios do sono vão desde a avaliação subjetiva, a partir da aplicação de

questionários validados pela literatura médica, até o uso de técnicas como a actigrafia e a

polissonografia.9

A qualidade do sono é essencial para a saúde física e mental da criança e exerce

influência direta na sua Qualidade de Vida (QV).6 A Organização Mundial da Saúde

(OMS) conceitua QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto

da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,

expectativas, padrões e preocupações”, o que mostra a complexidade do construto e a sua

relação com aspectos físicos, psicológicos e relações sociais.14 A análise da QV tem sido

cada vez mais reconhecida como essencial para a prática pediátrica. A última década

mostrou um aumento dramático no desenvolvimento e utilização de medidas para avaliar

a saúde e o bem-estar dos pacientes.12,13

IV.3. A artrite idiopática juvenil e os distúrbios do sono

Distúrbios do sono são comuns em pacientes com AIJ, sendo a sonolência diurna

e os intermitentes despertares noturnos as principais queixas referidas pelos pais de

crianças com AIJ. Zamir et al.6, em seu estudo com 16 pacientes com AIJ, encontraram

um aumento na sonolência diurna em três de sete pacientes e fragmentação do sono como

o principal achado a partir do uso da polissonografia. A sonolência diurna em pacientes

com AIJ está relacionada com baixa performance escolar, mau humor, mudanças no

comportamento e dificuldade em manter a atenção.15,16

Page 18: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

10

As perturbações do sono podem ser causadas pela dor, depressão, falta de

exercício ou o uso de corticosteroides. A qualidade do sono pode também ser prejudicada

por outras comorbidades como apneia obstrutiva do sono ou síndrome das pernas

inquietas, que têm prevalências elevadas em populações com doenças reumáticas.

Um estudo realizado com 13 crianças de 2-5 anos, recém diagnosticadas com AIJ

e um grupo de comparação saudável mostrou, através do uso de actigrafia por dez dias,

que o grupo com AIJ tinha menor tempo total de sono, baixa eficiência de sono e cochilos

mais longos que as crianças sem a doença.17

A fisiopatologia relacionada aos distúrbios do sono e a AIJ não são bem

compreendidos e não têm sido explorados de forma abrangente pela literatura científica.

Atualmente, as proteínas de ligação ao cálcio S100A12 e MRP8/14 têm sido estudadas

pela sua correlação com inflamação e resposta clínica no tratamento da AIJ. Essas

proteínas são expressas em células mieloides e secretadas por ativação de fagócitos em

condições inflamatórias, incluindo AIJ, aterosclerose e doenças inflamatórias intestinais.

Concentrações séricas dessas proteínas já foram encontradas em crianças e adultos sem

AIJ e com alterações do sono. Os distúrbios do sono relacionados ao aumento dos

despertares noturnos e hipóxia podem ocasionar perturbações na ventilação normal e

interferir na oxigenação e nos processos inflamatórios do paciente.18

IV.4. A artrite idiopática juvenil e a qualidade de vida de crianças e adolescentes

Doenças reumáticas pediátricas causam um impacto negativo na QV de crianças

e adolescentes, tendo em vista, principalmente, a cronicidade do seu acometimento. Além

da entidade nosológica, o tratamento também tem um impacto negativo emocional, social

e na dinâmica escolar.19 Dentre as doenças reumáticas pediátricas, a Artrite Idiopática

Juvenil (AIJ) se destaca pelo fato de ser a mais comum em crianças.

A incapacidade física e as dores são importantes preditores de baixa qualidade de

vida na AIJ. Como não há cura para a doença, o tratamento visa uma melhor qualidade

de vida ao diminuir a inflamação, preservar a funcionalidade das articulações e reduzir a

dor, bem como a sua recorrência. A QV é um marcador importante para avaliar a

efetividade do tratamento e o prognóstico da doença. A terapia medicamentosa pode ter

influências positivas e negativas na QV dos pacientes com AIJ. O metotrexato, por

exemplo, pode ter impactos significativos no bem estar do paciente e pode também causar

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11

efeitos adversos como náuseas, vômitos e stress. A via de administração dessa droga pode

ter influência na QV das crianças, segundo Mulligan et al, o score de QV psicossocial de

crianças com AIJ que recebem metotrexato por via subcutânea é menor do que a amostra

que faz uso dessa medicação por via oral.20

A adaptação à vida com a AIJ se mostra variável em meio às diversas condições

do curso da doença e as crianças podem demonstrar o sofrimento através de manifestações

emocionais e comportamentais19. É essa percepção que está incluída no conceito de QV,

que não só incorpora a avaliação dos sintomas físicos e a capacidade funcional, mas

também o impacto psicossocial da doença sobre a criança e a família20. Justifica-se a

realização desse trabalho o fato de existirem muitas lacunas na literatura médica a respeito

da QV e qualidade do sono em pacientes com AIJ. Esse estudo, portanto, torna-se

importante devido ao fato de que a redução da qualidade do sono em crianças e

adolescentes com AIJ pode interferir negativamente na QV desses pacientes.

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12

V. METODOLOGIA

V.1. Estratégia de busca

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, cuja seleção dos artigos

obedeceu à disponibilidade de consultas através da internet, a partir de mecanismos de

busca avançada de um mesmo conjunto de descritores.

Os métodos de busca foram fontes acessadas por intermédio da Internet e a

realização de busca manual. A pesquisa foi realizada nas bases de dados PubMed

(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), PsycNET (psycnet.apa.org), The Cochrane Library

(www.cochranelibrary.com), SciELO (www.scielo.org), LILACS (Bireme), Periódicos

CAPES (www.periodicos.capes.gov.br), Scopus (www.scopus.com) e Web of Science

(webofknowledge.com).

As palavras-chave em português são Descritores em Ciências da Saúde (DeCS),

assim como os termos correspondentes em inglês e espanhol (Quadro I). Os análogos em

língua inglesa foram selecionados através do Medical Subject Headings MeSH (Quadro

II). Alguns termos oriundos da língua inglesa muito utilizados na literatura, mas que não

foram encontrados no MeSH ou não tiverem seus correspondentes encontrados no DeCs,

também foram utilizados para abranger os resultados da pesquisa. (Quadro III). A busca

foi realizada entre o período de Outubro/2015 e Março/2016.

Quadro I. Palavras-chaves utilizadas na busca dos artigos.

Palavras-chave Keywords Palavras Clave

Distúrbios do sono Sleep disorders, Trastornos del Sueño

Sono Sleep Sueño

Qualidade de vida Quality of life Calidad de Vida

Artrite Juvenil Juvenile Arthritis Artritis Juvenil

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13

Quadro II. Termos análogos utilizados na busca dos artigos.

Termos análogos Similar Terms

Artrite idiopática juvenil Juvenile idiopathic arthritis

Artrite reumatoide juvenil Juvenile rheumatoid arthritis

Quadro III. Outros termos utilizados na busca dos artigos

Outros termos utilizados na

língua inglesa

Juvenile Chronic Arthritis

Life Quality

Sleep Disturbances

No Medline (Pubmed) as palavras-chave, termos análogos e os termos muito

utilizados na língua inglesa foram cruzados na pesquisa avançada utilizando os

operadores booleanos “AND” e “OR” do seguinte modo: [“Sleep disorders” (All Fields)

OR Sleep (All Fields) OR “Sleep Disturbances” (All Fields)] AND [“Quality of life” (All

Fields) OR “Life Quality” (All Fields)] AND [“Juvenile Arthritis” (All Fields) OR

“Juvenile idiopathic arthritis” (All Fields) OR “Juvenile rheumatoid arthritis” (All Fields)

OR “Juvenile Chronic Arthritis” (All Fields)]. As pesquisas combinadas foram realizadas

utilizando sustenido (#) antes de cada número do conjunto na consulta.

Na base de dados PsycNET as palavras-chave, termos análogos e os termos muito

utilizados na língua inglesa foram cruzados na pesquisa avançada utilizando os

operadores booleanos “AND” e “OR” da seguinte maneira: [“Sleep disorders” (Any

Field) OR Sleep (Any Field) OR “Sleep Disturbances” (Any Field)] AND [“Quality of

life” (Any Field) OR “Life Quality” (Any Field)] AND [“Juvenile Arthritis” (Any Field)

OR “Juvenile idiopathic arthritis” (Any Field) OR “Juvenile rheumatoid arthritis” (Any

Field) OR “Juvenile Chronic Arthritis” (Any Field)]. As pesquisas combinadas foram

realizadas utilizando sustenido (#) antes de cada número do conjunto na consulta.

Page 22: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

14

Na base de dados The Cochrane Library as palavras-chave, termos análogos e os

termos muito utilizados da língua inglesa foram cruzados na pesquisa avançada utilizando

os operadores booleanos “AND” e “OR” do seguinte modo: [“Sleep disorders”

(Title/Abstract/Keywords) OR Sleep (Title/Abstract/Keywords) OR “Sleep

Disturbances” (Title/Abstract/Keywords)] AND [“Quality of life”

(Title/Abstract/Keywords) OR “Life Quality” (Title/Abstract/Keywords)] AND

[“Juvenile Arthritis” (Title/Abstract/Keywords) OR “Juvenile idiopathic arthritis”

(Title/Abstract/Keywords) OR “Juvenile rheumatoid arthritis” (Title/Abstract/Keywords)

OR “Juvenile Chronic Arthritis” (Title/Abstract/Keywords). As pesquisas combinadas

foram realizadas utilizando sustenido (#) antes de cada número do conjunto na consulta.

Na busca avançada no site da Scielo, as palavras-chave, os termos análogos e os

termos muito utilizados da língua inglesa foram cruzados na pesquisa avançada utilizando

os operadores booleanos “AND” e “OR”. Foi realizada a seguinte pesquisa: [(“Sleep

disorders”) OR (Sleep) OR (“Sleep disturbances”) AND (“Quality of life”) OR (“Life

quality”) AND (“Juvenile Arthritis”) OR (“Juvenile Idiopathic Arthritis”) OR (“Juvenile

Rheumatoid Arthritis”) OR (“Juvenile Chronic Arthritis”)]. A busca foi realizada

abrangendo todos os índices.

Na base de dados LILACS, a busca avançada das palavras-chave, dos termos

análogos e dos termos muito utilizados da língua inglesa foi realizada utilizando os

operadores booleanos “AND” e “OR” da seguinte maneira: [“Sleep disorders” (Words)

AND “Quality of life” (Words) AND “Juvenile Arthritis” (Words)]. Uma nova pesquisa

foi realizada da seguinte forma: [Sleep (Words) AND “Quality of life” (Words) AND

“Juvenile Arthritis” (Words)]. Foi realizada também a seguinte pesquisa: [Sleep (Words)

AND “Quality of life” (Words) AND “Juvenile Idiopathic Arthritis” (Words). A base de

dados não apresenta a opção de realizar pesquisas combinadas utilizando o sustenido (#).

Nos Periódicos CAPES, a busca avançada foi realizada utilizando apenas três

palavras-chave, uma vez que só existem dois campos a serem preenchidos para busca.

Desta forma, a pesquisa foi realizada do seguinte modo: [“Sleep disorders” AND

“Juvenile Arthritis” (qualquer/contém)] e [“Quality of life’ AND “Juvenile Arthritis”

(qualquer/contém)].

Na base de dados Scopus, a busca avançada das palavras-chave, dos termos

análogos e dos termos muito utilizados da língua inglesa foi realizada utilizando os

operadores booleanos “AND” e “OR” da seguinte maneira: ["Sleep disorders" (Title-Abs-

Key) OR “Sleep” (Title-Abs-Key) OR "Sleep disturbances" (Title-Abs-Key) AND

Page 23: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

15

"Quality of life" (Title-Abs-Key) OR "Life quality" (Title-Abs-Key) AND "Juvenile

Arthritis" (Title-Abs-Key) OR "Juvenile Chronic Arthritis" (Title-Abs-Key) OR

"Juvenile Idiopathic Arthritis" (Title-Abs-Key) OR "Juvenile Rheumatoid Arthritis"

(Title-Abs-Key).

Na plataforma Web of Science as palavras-chave, termos análogos e os termos

muito utilizados da língua inglesa foram cruzados na pesquisa avançada utilizando os

operadores booleanos “AND” e “OR”, e o rótulo de campo “TS”, que representa tópico,

e encontra todos os registros que contenham os termos de pesquisa nos campos do título,

resumo ou nas palavras-chave do autor. A busca foi realizada da seguinte forma: [TS=

(Sleep OR “Sleep disorders” OR “Sleep disturbances”)] AND [TS= (“Quality of life” OR

“Life quality”)] AND [TS= ("Juvenile Arthritis" OR "Juvenile Chronic Arthritis" (OR

"Juvenile Idiopathic Arthritis" OR "Juvenile Rheumatoid Arthritis")]. As pesquisas

combinadas foram realizadas utilizando sustenido (#) antes de cada número do conjunto

na consulta. O único idioma pesquisado foi o inglês, uma vez que só havia a opção da

língua inglesa e coreana.

V.2. Critérios de inclusão

Foram incluídos na revisão sistemática artigos originais, trabalhos que utilizaram

pacientes com diagnóstico de artrite idiopática juvenil com idade ≤ 18 anos. Foram

selecionados apenas artigos disponíveis na Internet, publicados sem a utilização de filtro

temporal e que apresentaram textos completos dos estudos em formato eletrônico. Foram

selecionados artigos da língua inglesa, portuguesa e espanhola, desde que contemplassem

os critérios de elegibilidade.

V.3. Critérios de exclusão

Foram excluídos desse trabalho os artigos que consistiram em relatos de caso,

teses para obtenção de títulos e outras revisões sistemáticas. Também foram excluídos os

estudos que não atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos.

Page 24: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

16

V. 4. Método de análise

Todos os resultados encontrados nas bases de dados selecionadas foram

analisados, inicialmente, através da leitura do título e resumo, com o objetivo de

selecionar os possíveis artigos que seriam incluídos no estudo. Os trabalhos duplicados

foram excluídos.

Após a seleção prévia dos estudos, com base no título e resumo, a leitura completa

deles foi realizada e, somente após isso, os estudos foram definitivamente incluídos na

revisão sistemática, caso atendessem aos critérios de inclusão previamente determinados.

A seleção e análise dos títulos e resumos foram feitas por dois revisores (pesquisador e

orientador científico). Foi realizada, posteriormente, a intersecção dos resultados de cada

um, com o intuito de oferecer maior rigor à revisão sistemática.

Após a busca por elegibilidade dos artigos, houve também a busca manual às

referências bibliográficas dos estudos selecionados, objetivando a identificação de artigos

que não foram encontrados nas buscas às bases de dados e que poderiam ser encontrados

nas referências bibliográficas.

Após o término do processo de busca, todos os artigos incluídos na revisão

sistemática foram analisados e interpretados. As suas características metodológicas, como

autor, ano de publicação, país, desenho do estudo, local de recrutamento da amostra,

tamanho da amostra, média de idade, porcentagem de mulheres, subtipo da artrite

idiopática juvenil e duração da doença estão listadas na Tabela 1. Os critérios ou

instrumentos utilizados para análise dos distúrbios do sono e qualidade de vida das

crianças e adolescentes com AIJ também encontram-se na tabela supracitada.

V.5. Aspectos Éticos

Por se tratar de uma revisão sistemática, não há necessidade de aprovação pelo Comitê

de Ética e Pesquisa, de acordo com a Resolução CNSMS nº 466 de 2012.

Page 25: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

17

VI. RESULTADOS

O processo de pesquisa realizado entre outubro de 2015 a março de 2016 nas bases

de dados PubMed, PsycNET, Cochrane Library, SciELO, LILACS, Periódicos CAPES e

Scopus identificou um total de 45 artigos potencialmente relevantes. Oito artigos estavam

duplicados, restando um total de 37 artigos que tiveram seus resumos lidos. Após a leitura

dos resumos, 6 artigos foram excluídos devido ao desenho de estudo, 11 pelo fato de não

se relacionarem com o tema, 10 por não abordarem os distúrbios do sono e 4 por não se

referirem à qualidade de vida. Restaram somente 6 artigos que, após a leitura completa,

foram incluídos na revisão sistemática (Fluxograma 1).

Fluxograma 1. Pesquisa e seleção de artigos elegíveis

45 artigos potencialmente

relevantes foram identificados na

pesquisa nas bases de dados

6 foram excluídos pelo desenho de

estudo

11 foram excluídos por não se

relacionarem com o tema

6 artigos foram incluídos na revisão

sistemática

10 foram excluídos por não se

relacionarem com distúrbios do sono

4 foram excluídos por não se

relacionarem com qualidade de vida

8 artigos estavam duplicados

37 foram selecionados para

leitura dos resumos

Page 26: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

18

As amostras dos estudos foram pequenas, sendo superior a 100 em apenas dois

dos seis estudos selecionados (Ruperto et al., 201021 e Aviel et al., 201122). Cinco estudos

tiveram clínica(s) especializada(s) como local de recrutamento da amostra, sendo o estudo

de Aviel et al.22 o único que utilizou o meio hospitalar para tal fim. O desenho de estudo

predominante foi o corte transversal, que esteve presente em quatro estudos (La Plant et

al., 200723; Aviel et al., 201122; Long et al., 200824 e Palermo et al., 200525). Um único

estudo utilizou a metodologia de caso-controle (Bloom et al., 200226) e somente o

trabalho de Ruperto et al21 se caracterizou como um estudo clínico randomizado em sua

fase III. Com relação à procedência dos estudos, somente um (Ruperto et al., 201021)

advém do continente europeu, sendo os cinco restantes procedentes da América do Norte,

prevalecendo os Estados Unidos com quatro publicações (La Plant et al., 200723; Long,

200824; Palermo, 200525 e Bloom et al., 200226).

No que diz respeito à média de idade da amostra, tem-se o estudo de Bloom et

al.26 com a menor média etária (8.7 anos) e o de Palermo25 com a maior média de idade

(14.75 anos). Em todos os estudos há maior prevalência de meninas, sendo o trabalho de

Ruperto et al.21 o que tem a maior proporção feminina (72.1%) e o de Long24 o que

apresenta a menor porcentagem (56%).

Os subtipos de AIJ foram mencionados em cinco estudos, sendo o de La Plant et

al.23 o único que não citou tais subtipos. A prevalência do subtipo poliarticular estava

presente em dois artigos (Ruperto et al.21, 2010 e Palermo, 200525), assim como o subtipo

oligoarticular que também prevaleceu em dois trabalhos (Long, 200824 e Bloom, 200226).

O estudo de Aviel22 mostrou a mesma proporção entre os subtipos oligo e poliarticular,

ambos com 40 participantes.

Sobre a duração da AIJ, dois estudos (La Plant et al., 200723 e Long, 200824) não

mencionaram a média em anos da doença. O trabalho de Palermo25 teve como média de

duração da AIJ 4.5 anos, sendo o estudo com o maior valor. Já Aviel et al.22 obtiveram a

menor média de duração da doença, sendo esse valor correspondente a 1.5 ano.

Para análise da qualidade de vida, dois estudos (Ruperto et al., 201021 e Long,

200824) utilizaram o CHQ-PF50 (Child Health Questionnaire Parent Form) que é um

questionário respondido pelos pais das crianças e adolescentes. Somente um estudo

(Palermo, 200525) utilizou o CHQ-CF87 (Child Health Questionnaire-Child Self-Report

Version) que trata-se de um instrumento respondido pelas próprias crianças e

adolescentes. Dois trabalhos (La Plant et al., 200723 e Aviel et al., 201122) utilizaram o

Page 27: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

19

questionário PedsQL (Pediatric Quality of Life Inventory) e somente um estudo (Bloom,

200226) não utilizou nenhum instrumento validado para análise da qualidade de vida.

No que diz respeito à análise dos distúrbios do sono, quatro estudos (Ruperto et

al., 201021; Aviel et al., 201122; Long, 200824 e Bloom, 200226) utilizaram o CSHQ

(Children’s Sleep Habits Questionnaire). O questionário Sleep Self-Report (SSR) foi

utilizado pelos trabalhos de Aviel et al.22 e Bloom26. La Plant23 et al. optaram por fazer

uso do Pediatric Sleep Questionnaire (PSQ), assim como Palermo25 que utilizou a Sleep-

Wake Behavior Problems Scale.

O estudo de Bloom et al26., que teve como amostra 25 crianças com AIJ e 45

controles, encontrou, a partir da aplicação do CSHQ, que as crianças com AIJ tinham

maior dificuldade para iniciar o sono (p=0.45), maior resistência para dormir (p=0.308),

maior duração do sono (p=0.275), maior ansiedade relacionada ao sono (p=0.045), mais

despertares noturnos (p<0.0001), maior quantidade de parassonias (p<0.0001), mais

distúrbios respiratórios relacionados ao sono (p=0.036) e maior sonolência diurna

(p=0.007). As características dos estudos e das amostras utilizadas estão listadas na

Tabela 1.

Page 28: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

20

Tabela 1. Características dos estudos e da amostra

Autor

(ano)

País Desenho do

estudo

Local de

recrutamento

da amostra

Tamanho da

amostra

Média

de

idade

(anos)

% de

mulheres

Subtipos

da AIJ

Duração

da AIJ

(média em

anos)

Critérios ou

questionário

sobre QV

Critérios ou

questionário

sobre

distúrbios

do sono

Ruperto

et al.

(2010)

Itália Estudo

clínico

randomizado

Clínicas

especializadas

AIJ = 190 12.4 72.1 Poliarticular

n=190

4.4 CHQ-PF50 CSHQ

Bloom et

al.

(2002)

Estados

Unidos

Caso

controle

Clínica

especializada

AIJ = 25

Controles=45

8.7 80 Oligoarticular

n=11

Poliarticular

n=9

Sistêmica

n=5

3.1 - SSR e

CSHQ

La Plant

et al.

(2007)

Estados

Unidos

Corte

transversal

Clínica

especializada

AIJ = 74 10 ±

3.9

64 - - PedsQL PSQ

Aviel et

al.

(2011)

Canadá Corte

transversal

Hospital AIJ = 115

JDM = 40

12.7 64.8 Oligoarticular

n=40,

Poliarticular

n=40

Sistêmica

n=35

1.5 PedsQL CSHQ e

SSR

Page 29: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

21

Long

(2008)

Estados

Unidos

Corte

transversal

Clínicas

especializadas

AI J = 30

HAs = 44

SCD = 26

10.22 56 Oligoarticular

n=21

Poliarticular

n=6

Sistêmica

n=3

- CHQ-PF50 CSHQ

Palermo

(2005)

Estados

Unidos

Corte

transversal

Clínicas

especializadas

AIJ = 20

Cefaleia = 45

SCD = 21

14.75 67.44 Oligoarticular

n=5

Poliarticular

n=7

Sistêmica

n=2

Relacionada

a entesite

n=2

Outras

n=4

4.49 CHQ-CF87 Sleep-Wake

Behavior

Problems

Scale

Abreviações: AIJ, artrite idiopática juvenil; QV, qualidade de vida; CHQ, Child Health Questionnaire; CSHQ, Children’s Sleep Habits Questionnaire; SSR, Sleep Self-Report;

PedsQL, Pediatric Quality of Life Inventory; PSQ, Pediatric Sleep Questionnaire; JDM, Juvenile Dermatomyositis; SSR, Sleep Self-Report; HAs, Headaches; SCD, Sickle Cell

Disease; CHQ-PF50, Child Health Questionnaire Parent Form; CHQ-CF87, Child Health Questionnaire-Child Self-Report Version.

Page 30: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

22

Palermo25 em seu estudo comparou os distúrbios do sono em crianças com AIJ

(n=20), cefaleia (n=45) e doença falciforme (n=21) a partir da Sleep-Wake Behavior

Problems Scale e encontrou nos seus resultados que os pacientes com doença falciforme

têm maiores problemas para dormir e acordar, sendo os pacientes com AIJ a amostra com

menores problemas para realizar essas ações. Essa ordem se repete também no que diz

respeito à dificuldade para iniciar o sono. Em relação à sonolência diurna, as crianças

com cefaleia tiveram o maior score, seguidas das crianças com AIJ. No que concerne à

qualidade de vida, o estudo de Palermo25 mostrou, a partir do CHQ-CF87, que crianças

com AIJ tiveram o melhor score no que se refere às percepções gerais de saúde e a amostra

com doença falciforme obteve o menor score nesse quesito. Essa ordem se repete no que

diz respeito às funções social-emocional e social-comportamental, bem como no que se

refere às atividades familiares. No quesito saúde mental, a amostra com AIJ obteve o

maior score e as crianças com cefaleia tiveram a menor pontuação.

O estudo de Long24 fez uma análise de distúrbios do sono e qualidade de vida em

uma amostra com as mesmas doenças crônicas incluídas pelo estudo de Palermo25: AIJ,

cefaleia e doença falciforme. Long24 em sua pesquisa obteve 30 crianças com AIJ, 44

com cefaleia e 26 com doença falciforme. Foram utilizados o CHQ-PF50 e o CSHQ. No

que se refere aos distúrbios do sono, esse autor encontrou que a amostra com doença

falciforme tem a maior duração de sono (9.7 horas), seguida da amostra com AIJ (9.3

horas) e por fim as crianças com cefaleia, que têm duração de sono de 9.2 horas. As

crianças com cefaleia apresentaram maior resistência para dormir e as com AIJ tiveram a

menor resistência. No que diz respeito às parassonias, as crianças com AIJ apresentaram

o maior score e as com doença falciforme o menor. Os distúrbios respiratórios do sono

estiveram mais presentes nas crianças com doença falciforme e posteriormente nas

crianças com AIJ. Houve uma pequena diferença no score referente aos despertares

noturnos, entretanto a amostra com doença falciforme apresentou o maior número de

despertares e a amostra com AIJ o menor número. A sonolência diurna esteve mais

presente nas crianças com AIJ e menos presente na amostra com cefaleia. A dificuldade

para iniciar o sono mostrou-se maior em crianças com cefaleia e menor nas com a doença

falciforme. O score total de distúrbios do sono foi maior respectivamente nas crianças

com doença falciforme, AIJ e cefaleia.

No que diz respeito à qualidade de vida, Long24 mostrou que o score físico de

qualidade de vida foi mais elevado na amostra com cefaleia e obteve o mesmo valor nas

Page 31: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

23

amostras com AIJ e doença falciforme. Referente ao domínio de qualidade de vida

psicossocial, esse estudo constatou que as crianças com doença falciforme tiveram a

maior pontuação, seguidas respectivamente pelas crianças com AIJ e cefaleia.

O estudo de Aviel et al22 fez uma análise da qualidade de vida e distúrbios do sono

em pacientes com AIJ e com dermatomisite juvenil, a partir das respostas advindas do

próprio paciente e dos seus respectivos pais. A partir da visão dos pacientes, a média da

escala multidimensional de fadiga do PedsQL foi maior no subtipo oligoarticular da AIJ,

seguida respectivamente pela amostra com dermatomiosite juvenil, AIJ do subtipo

sistêmico e do subtipo poliarticular. A partir da visão dos pais, essa ordem se altera e

passa a ser: AIJ do subtipo articular, AIJ do subtipo sistêmico, dermatomiosite juvenil e

AIJ do subtipo poliarticular. No que diz respeito aos distúrbios do sono, a média do SSR

respondido pelas crianças foi maior na amostra com dermatomiosite juvenil, seguida

respectivamente pelas amostras com AIJ oligoarticular, poliarticular e sistêmica. A partir

das respostas dos pais, a média do SSR foi maior, nessa ordem: no subtipo poliarticular,

na dermatomiosite juvenil, na AIJ sistêmica e por fim na AIJ oligoarticular.

La Plant et al.23 em seu trabalho obteve uma amostra de 74 pacientes com doenças

reumáticas, dentre elas a AIJ, miosite, artralgia, fibromialgia, síndrome da

hipermobilidade e dores de crescimento. Aplicando os questionários Pediatric Sleep

Questionnaire (PSQ) e o Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL), esse estudo

constatou que 47% da amostra total tinham dificuldade para iniciar o sono, 23% dos

participantes relataram acordar mais de duas vezes por noite, 39% referiram dificuldade

em reiniciar o sono e 59% das crianças informaram não se sentir descansadas pela manhã.

No que diz respeito à qualidade de vida, o estudo fez uma análise do impacto da insônia

na qualidade de vida dos participantes e mostrou que a amostra que apresentava insônia

teve menor score a partir do questionário PedsQL, com um valor de p igual a 0.0003.

A fase III do estudo clínico randomizado de Ruperto et al.21 objetivou analisar a

influência do medicamento Abatacept na qualidade de vida, dor, qualidade do sono e

participação nas atividades diárias de crianças com AIJ. Nos seus resultados, esse estudo

clínico mostrou melhora em todos os conceitos do CHQ, após quatro meses de tratamento

com a droga supracitada. Após seis meses de uso do medicamento, as crianças com AIJ

obtiverem maior score em todos os conceitos do CHQ, exceto comportamento global. No

que diz respeito aos distúrbios do sono, a partir do questionário CSHQ, em seis meses de

tratamento com o Abatacept, as crianças obtiveram melhoras relacionadas à resistência

Page 32: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

24

para dormir, parassonias, ansiedade relacionada ao sono e sonolência diurna. A Tabela 2

sumariza os aspectos do sono que foram analisados em todos os trabalhos, os

questionários utilizados para análise da presença de distúrbios do sono na amostra, os

aspectos clínicos que foram analisados, assim como as suas formas de avaliação.

Tabela 2. Análise da relação entre distúrbios do sono e AIJ

Autor

(Ano)

Aspectos do

sono

examinados

Questionário

utilizado

Aspectos

clínicos

examinados

Avaliação dos

aspectos

clínicos

examinados

Resultados

Bloom et

al.

(2002)

Dificuldade para iniciar o

sono,

duração do sono,

ansiedade relacionada

ao sono,

despertares, parassonias, distúrbios

respiratórios relacionados

ao sono e

sonolência diurna

CSHQ e SSR Dor, edema nas

articulações,

limitação de movimento

das articulações, capacidade

funcional, VHS e

avaliação da

atividade da doença pelos

pais e

médicos

VAS, exame físico

reumatológico,

JAFAR score, exame

laboratorial e avaliação da atividade da

doença pelos pais e médicos

Não houve correlação direta entre

CSHQ total e suas subescalas

com atividade da AIJ ou dor. A amostra com

AIJ tem mais distúrbios do sono que o

grupo controle, principalmente

despertares

noturnos e parassonias.

LaPlant

et al.

(2007)

Dificuldade em

adormecer à noite,

acordar mais de duas vezes à

noite, dificuldade em voltar a

dormir e não se sentir

descansado pela manhã

PSQ Duração e intensidade

das dores

Wong-Baker FACES Pain

Rating Scale

A média da duração da dor

foi de 16.1 ± 22.4 meses e a

mediana do nível da dor foi

de 4 em uma

escala de 1 a 10.

54% da

amostra com AIJ tem

insônia.

Aviel et

al.

(2001)

Dificuldade para iniciar o

sono, duração do

sono,

ansiedade relacionada

ao sono,

despertares, parassonias, distúrbios

CSHQ e SSR Dor e edema nas

articulações

VAS e representação

pictórica do corpo humano

A amostra com AIJ

poliarticular apresenta mais episódios de

dor. Não houve diferenças

relacionadas aos distúrbios

do sono entre a

Page 33: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

25

respiratórios relacionados

ao sono e

sonolência diurna

amostra com AIJ e com

JDM.

Long

(2008)

Dificuldade para iniciar o

sono, duração do

sono, ansiedade

relacionada

ao sono, despertares, parassonias,

distúrbios respiratórios

relacionados ao sono e sonolência

diurna

CSHQ Dor e capacidade

funcional

Wong-Baker FACES Pain

Rating Scale e FDI

As amostras com cefaleia e

com doença falciforme

apresentaram maior

intensidade de

dor do que as crianças com

AIJ.

Crianças com doença

falciforme têm mais distúrbios do sono do que

as com AIJ e cefaleia.

Palermo

(2005)

Sonolência diurna,

latência prolongada do sono e

dificuldades para acordar pela manhã

Sleep-Wake Behavior

Problems Scale

Dor e capacidade

funcional

Wong-Baker FACES Pain

Rating Scale e FDI,

A amostra com cefaleia sente

mais dores do que as com AIJ

e doença

falciforme. Participantes com AIJ têm

distúrbios do sono e pior

funcionalidade física.

Ruperto

et al.

(2010)

Dificuldade para iniciar o

sono, duração do

sono,

ansiedade relacionada

ao sono,

despertares, parassonias,

distúrbios respiratórios relacionados

ao sono e sonolência

diurna

CSHQ Dor e capacidade

funcional

VAS, C-HAQ e relato dos

pais sobre a doença

Amostra submetida ao

uso do medicamento obteve melhor

capacidade funcional que a

amostra

placebo, incluindo

melhora na arquitetura do

sono. A

amostra placebo teve pior score no

CSHQ. Abreviações: AIJ, Artrite idiopática juvenil; C-HAQ, Childhood Health Assessment Questionnaire; CSHQ, Children's Sleep Habits

Questionnaire; FDI, Functional Disability Inventory; JAFAR, Juvenile Arthritis Functional Assessment Report; JDM, Juvenile

Dermatomyositis; PSQ, Pediatric Sleep Questionnaire; SSR, Sleep Self-Report; VAS; Visual Analog Scale; VHS, Velocidade de

Hemossedimentação.

Page 34: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

26

A visão dos pacientes sobre qualidade de vida pode ser vista a partir da tabela 3,

que sumariza os resultados encontrados a partir da aplicação de questionários validados

na literatura. O estudo de Bloom et al26 não foi incluído na Tabela 3 devido ao fato de não

utilizar instrumentos validados para análise da qualidade de vida dos participantes do

estudo.

Tabela 3. Qualidade de vida a partir da visão dos pacientes

Autor (Ano) Questionário utilizado Visão dos pacientes sobre

Qualidade de Vida (QV)

LaPlant et al.

(2007)

PedsQL Pacientes com AIJ portadores de

insônia relataram pior QV quando

comparados com pacientes com AIJ

sem insônia.

Aviel et al.

(2001)

PedsQL Pacientes com AIJ do subtipo

oligoarticular relataram melhor QV

quando comparados com os outros

subtipos da doença e com

dermatomiosite juvenil.

Long

(2008)

CHQ-PF50 Com relação à QV psicológica, os

pacientes com doença falciforme

obtiveram a maior pontuação quando

comparados com pacientes com AIJ e

cefaleia. Sobre QV física, pacientes

com cefaleia obtiveram maior

pontuação.

Palermo

(2005)

CHQ-CF87 Pacientes com AIJ relataram

melhores percepções de qualidade de

vida, exceto na funcionalidade física,

quando comparados com pacientes

com cefaleia e doença falciforme

Ruperto et al.

(2010)

CHQ-PF50 Pacientes com AIJ que utilizaram o

Abatacept obtiveram melhor

pontuação no que diz respeito a QV,

quando comparados com o grupo

placebo.

A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi analisada a partir do

questionário validado Strengthening the Reporting of Observational Studies in

Epidemiology (STROBE)27 mundialmente utilizado para avaliação de estudos de

natureza observacional. Os itens presentes no questionário envolvem características que

devem estar presentes, como título, resumo, introdução, metodologia, resultados e

discussão de artigos observacionais. O Apêndice I mostra a análise dos artigos incluídos

nesse estudo a partir do STROBE checklist validado e traduzido para a língua

Page 35: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

27

portuguesa.27 Essa análise mostra a presença ou não de qualidade metodológica dos

estudos. Os resultados encontrados nessa análise metodológica mostram que os trabalhos

selecionados para essa revisão têm a maior parte dos itens adequados no que diz respeito

à qualidade metodológica. Algumas inadequações estiveram presentes em quase todos os

artigos analisados como, por exemplo, a não indicação do desenho de estudo no título ou

resumo e a não apresentação das razões das desistências dos participantes na parte

referente aos resultados. Treze dos dezessete itens do instrumento foram plenamente

adequados por todos os artigos incluídos nessa revisão. O trabalho de Ruperto et al21 não

foi avaliado pelo STROBE27 pelo fato de não ser um estudo observacional mas sim um

ensaio clínico randomizado, o que impossibilita a sua análise a partir da metodologia do

STROBE.27 A interpretação do Apêndice I mostra a alta qualidade metodológica dos

estudos incluídos nesse trabalho.

Page 36: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

28

VI. DISCUSSÃO

Dos seis estudos analisados, todos mostraram a influência negativa da AIJ na

qualidade do sono e na qualidade de vida de crianças com AIJ, sendo o aspecto dor um

fator importante para esse resultado. A dor pode ser reconhecida como um processo

multidimensional dentro de um contexto biopsicossocial que incorpora mecanismos

biológicos, ambientais e comportamentais para o desenvolvimento e manutenção do

processo álgico. A experiência da dor na faixa etária pediátrica, segundo Anthony28, está

relacionada com as relações familiares, principalmente com os pais, com a convivência

escolar, stress, humor, fatores psicológicos, atividade da dor, processos de dor anormais,

medicações em uso e predisposição genética. Já Stinson et al.29 relaciona a dor na faixa

etária pediátrica com padrões de sono, rotina da criança, status socioeconômico, aspectos

culturais, funções metabólicas e hormonais, além dos efeitos aos tratamentos

medicamentosos.

O padrão de dor nas crianças e adolescentes com AIJ pode ter diferentes espectros,

a partir dos subtipos da doença. A maior parte dos pacientes, independente do subtipo

apresentado, tem maior acometimento doloroso nas articulações dos joelhos. O subtipo

poliarticular tem um comprometimento progressivo e simétrico de grandes e pequenas

articulações, além da coluna cervical. Já o subtipo oliarticular não costuma apresentar

quadros de dores muito intensas, sendo os edemas articulares as queixas mais frequentes.

As articulações mais acometidas são as dos joelhos e tornozelos, geralmente de forma

assimétrica. Alguns pacientes, além das dores articulares, podem apresentar dores

relacionadas à uveíte. O seu início é insidioso e assintomático na maior parte dos casos,

entretanto, algumas crianças apresentam dor ocular, hiperemia, lacrimejamento

excessivo, fotofobia, cefaleia e diminuição da acuidade visual.

Alguns pacientes, todavia, não apresentam história de dor ou o componente

doloroso da artrite é pouco intenso. Além disso, crianças menores têm dificuldades para

expressar e identificar o local da dor, sendo o problema articular somente identificado

após a diminuição das atividades de vida diárias, alterações da marcha, dificuldade ou

choro à movimentação de segmentos e rigidez matinal.30

Crianças com AIJ, assim como com outras doenças crônicas, são muitas vezes

menos ativas fisicamente por conta dos sintomas da doença. Atividades e programas para

a melhora do condicionamento físico e higiene do sono vêm sendo aprimoradas. Estudos

Page 37: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

29

também vêm sendo desenvolvidos para garantir o suporte adequado e os benefícios de

programas de condicionamento físico com foco nas articulações acometidas pela rigidez

e dor, além do condicionamento cardiovascular e eficiência da marcha.28 Fisher et al31,

em seu estudo com crianças com AIJ e um grupo de comparação saudável, avaliaram os

efeitos de uma reabilitação física na performance cardiovascular e funcional, além da

resposta aos níveis de dor. Como resultado, esse estudo encontrou melhoras significativas

na força e resistência dos quadríceps e isquiotibiais, além do aumento da velocidade de

contração dessas articulações. O desempenho funcional global teve alterações positivas e

a dor, a incapacidade funcional e o número de medicações utilizadas sofreram uma

diminuição significativa.

A melhora da higiene do sono é, muitas vezes, esquecida no que diz respeito ao

tratamento da dor crônica. Terapias farmacológicas podem ser usadas para melhorar o

padrão de sono da criança com AIJ, entretanto, medidas não farmacológicas também

podem ser úteis. Técnicas fisioterapêuticas de posições de sono podem aumentar o nível

de conforto ao dormir, a partir das articulações acometidas pela criança. Técnicas de

relaxamento muscular ou a partir da imaginação guiada também podem ser úteis para a

melhora da higiene do sono. Medidas simples como o uso de colchões d’água e uso de

roupas e cobertores aquecidos também proporcionam maior conforto para a criança e

podem contribuir para a melhora do seu sono.28

Os distúrbios do sono presentes nas crianças e adolescentes podem ser qualitativos

ou quantitativos. Os principais encontrados nos trabalhos analisados foram: dificuldade

em iniciar o sono, despertares noturnos, parassonias, sonolência diurna, sensação de não

se sentir descansado pela manhã, dificuldade para acordar, distúrbios respiratórios e

ansiedade relacionada ao sono. Os desfechos negativos da má qualidade do sono pode

gerar fadiga, baixa funcionalidade social, física e acadêmica, além de problemas

emocionais e comportamentais, aumento das dores e maior susceptibilidade para outras

doenças.

Um dos seis estudos analisados comparou qualidade de vida e distúrbios do sono

entre crianças com AIJ e com dermatomiosite juvenil, que é a miopatia inflamatória

idiopática mais comum na faixa etária pediátrica.22 Trata-se de uma doença caracterizada

por inflamação musculoesquelética e cutânea que resulta em fraqueza, fadiga, rash

cutâneo em face e extremidades e, com menos frequência, pelo envolvimento dos

pulmões, coração e intestinos. Aviel et al.22, em seu estudo com 40 pacientes com

Page 38: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

30

dermatomiosite juvenil e 115 com AIJ mostrou, a partir do questionário PedsQL, que

crianças com AIJ do subtipo oligoarticular apresentaram melhor qualidade de vida que a

amostra com dermatomiosite juvenil e AIJ dos outros subtipos (oligoarticular,

poliarticular e sistêmica). Já no que diz respeito aos distúrbios do sono, esse estudo

mostrou que não houve diferenças relacionadas ao sono entre a amostra com

dermatomiosite juvenil e a com AIJ. Já Apaz et al.32, em sua coorte multicêntrica com

272 crianças com dermatomiosite juvenil e 2.288 crianças saudáveis de 37 países

demonstraram que a amostra com a doença apresentou menor score total de qualidade de

vida autorrelatada, principalmente no que diz respeito ao domínio físico. Resultado

semelhante foi encontrado por Pinto et al.33 que, em seu estudo com 19 pacientes com

dermatomiosite juvenil e 19 controles pareados pelo sexo, idade, índice de massa

corpórea e níveis de atividade física, mostrou que a capacidade física e a qualidade de

vida autorrelatada foram reduzidas no grupo com a doença. Esse estudo sugeriu que a

doença e/ou os medicamentos utilizados podem afetar negativamente na saúde global da

amostra com dermatomiosite juvenil.

Dois dos seis estudos incluídos nessa revisão analisaram a qualidade do sono e a

qualidade de vida entre crianças com AIJ, cefaleia crônica diagnosticada e doença

falciforme.24,25 Como resultado, Long24 encontrou que as crianças com doença falciforme

tiveram mais distúrbios do sono que as outras amostras. No que diz respeito à qualidade

de vida, os pacientes com doença falciforme obtiveram maior score no quesito

psicológico e a amostra com cefaleia teve a maior pontuação no score de qualidade de

vida física. Já Palermo25 encontrou em seu estudo que a amostra com AIJ relatou as

melhores percepções de qualidade de vida, exceto nos quesitos de funcionalidade física,

quando comparados com pacientes com cefaleia e doença falciforme. Os achados

encontrados nesses artigos vão ao encontro do que se tem na literatura. Daniel et al.34 em

seu estudo com crianças com doença falciforme e um grupo de comparação encontrou a

presença de distúrbios do sono relacionados a parassonias, despertares noturnos e

enurese. Bruni et al.35 também mostraram a presença de distúrbios do sono em crianças

com cefaleia - principalmente com a cefaleia migranosa e a de tensão – a partir de

distúrbios respiratórios do sono, sonolência diurna, parassonias e sono agitado.

Um dos estudos selecionados para essa revisão sistemática mostrou correlação

entre sintomas depressivos e distúrbios do sono em adolescentes com AIJ, cefaleia

crônica e doença falciforme.25 Os distúrbios do sono associados à depressão foram:

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31

sonolência diurna, problemas para iniciar o sono e dificuldades para acordar. Segundo

Palermo25 os sintomas depressivos foram um preditor significante da severidade dos

distúrbios do sono, após o controle de outras variáveis confundidoras. Já o estudo de

Long et at.24 não encontrou correlação entre depressão e distúrbios do sono nos grupos

com AIJ, cefaleia crônica e doença falciforme. O estudo de Tarakci et al.36, com 52

pacientes com AIJ, vai ao encontro do trabalho de Palermo ao evidenciar relação entre

depressão, ansiedade, capacidade funcional e qualidade de vida. A relação com distúrbios

do sono, entretanto, não foi feita pelo estudo de Tarakci et al.36

Os distúrbios do sono e a interferência negativa na qualidade de vida não é restrita

à criança com AIJ, mas abrange outros familiares, principalmente os cuidadores

primários. O estudo de Haverman et al.37 comparou a qualidade de vida de pais de

crianças com AIJ com a de pais de crianças saudáveis e encontrou diferenças

significativas nos resultados. Os pais de crianças com AIJ em atividade apresentaram pior

qualidade de vida relacionada às atividades diárias, à função cognitiva e no que diz

respeito aos aspectos emocionais.

Bruns et al., em um estudo com 70 cuidadores primários de crianças com AIJ

também encontraram interferências negativas na qualidade de vida dessa população. As

desordens psicoemocionais foram encontradas em 34.3% dos cuidadores e os quesitos de

dor e saúde mental foram os itens mais afetados do questionário Self-Reporting

Questionnaire (SRQ-20).38 Iwamoto et al., em seu estudo com 40 cuidadores diretos de

crianças e adolescentes com AIJ, mostraram que o nível de stress é maior em cuidadores

de pacientes com o subtipo poliarticular e as principais causas do alto nível de stress são

as barreiras impostas pelo meio ambiente.39 Os distúrbios do sono mais frequentes nos

cuidadores primários de crianças com AIJ são: redução do tempo total de sono, maior

número de despertares noturnos, insônia e privação de sono. Além do impacto negativo

na qualidade de vida dessas pessoas, há o maior risco de efeitos cardiovasculares e

autoimunes.40

O reconhecimento dos distúrbios do sono e a percepção da qualidade de vida pode

variar entre as crianças e adolescentes com AIJ e os seus respectivos cuidadores. Dois

estudos incluídos nessa revisão mostraram essa discrepância de percepções a partir de

questionários validados na literatura. O trabalho de Long et al.24 mostrou uma diferença

no relato sobre capacidade funcional. Nesse estudo as crianças referiram maiores níveis

de incapacidade funcional, ao contrário dos seus pais. Houve diferença semelhante na

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32

percepção da dor e sua relação com a funcionalidade da criança. No que diz respeito aos

relatos sobre distúrbios do sono, Long et al.24 sugerem que as discrepâncias entre as

percepções de pais e filhos podem ser justificadas pela menor monitorização dos hábitos

do sono pelos pais à medida que os filhos crescem.

Bloom et al.26 também encontraram diferenças nos relatos entre os pais e as

crianças com AIJ. O item com maior diferença de percepção foi o relacionado à dor. Uma

possível justificativa que o estudo aponta é que os processos álgicos podem passar

despercebidos pelos pais, principalmente durante o período de sono, e podem acabar

sendo subnotificados. Outra possível justificativa seria a ausência do relato por parte da

criança aos pais, o que torna a percepção da criança mais fidedigna em alguns casos.

Alguns estudos na literatura mostram a presença dessa discrepância entre o relato dos pais

e dos seus cuidadores no que diz respeito, principalmente, à qualidade de vida. Janse et

al., em seu estudo com 60 pacientes com diagnóstico de doenças crônicas e seus

respectivos cuidadores, mostraram que as percepções de sáude e bem-estar eram

diferentes principalmente no que diz respeito à dor e às emoções.41

No que diz respeito à vulnerabilidade, o trabalho de Haverman et al.37, analisa a

percepção dos pais com relação à doença dos seus filhos e mostra que eles os consideram

mais vulneráveis, quando comparados com pais de crianças saudáveis. Essa percepção de

vulnerabilidade, segundo o estudo, pode influenciar negativamente o desenvolvimento da

criança, além de muitas vezes dificultar a sua socialização. A vulnerabilidade pode

culminar com o sentimento de superproteção, que também é descrito como gerador de

problemas psicológicos e de maiores níveis de stress nos pacientes. Esse estudo também

salienta o fato de que pais que acreditam que seus filhos são mais vulneráveis por conta

da AIJ tendem a deixá-los mais em casa do que no ambiente escolar.

Quatro dos seis estudos inseridos nessa revisão sistemática apresentam a média

de duração em anos da doença.21,22,25,26 Três desses estudos têm a média de duração maior

que três anos, o que mostra que o diagnóstico da doença não foi realizado

tardiamente.21,25,26 A época do diagnóstico, segundo April et al.42, tem relação com a

qualidade de vida da criança. Em seu estudo, pais de pacientes diagnosticados antes de

cinco anos de idade relataram melhor qualidade de vida da criança em termos

psicossociais, quando comparadas com crianças que demoraram mais tempo para saber

da doença. O diagnóstico precoce também, segundo o estudo supracitado, gera menos

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33

limitações em atividades escolares e interações com outras crianças, além de resultar em

menos problemas emocionais e comportamentais.42

Essa revisão sistemática apresenta limitações que devem ser consideradas para a

interpretação dos resultados. A primeira delas é o fato dos estudos selecionados utilizarem

métodos subjetivos para avaliação dos distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças

e adolescentes com AIJ. Apesar de todos os questionários utilizados no estudo serem

validados na literatura, há o viés do instrumento e do entrevistado, principalmente quando

os cuidadores primários respondem os questionários. Os trabalhos idealmente deveriam

utilizar métodos objetivos, como polissonografia e actigrafia, para análise dos distúrbios

do sono, entretanto, o custo e a acessibilidade desses instrumentos inviabilizam muitas

vezes o seu uso. A utilização de questionários variados nos estudos também é uma

limitação, já que há maior dificuldade para comparar uniformemente os achados

encontrados.

O fato da maior parte dos trabalhos ter o corte transversal como desenho de estudo

é um fator limitante para a inferência de causalidade, o que pode tornar superficial a

interpretação desses estudos. Outra limitação dessa revisão sistemática é que o local de

recrutamento da amostra foi, em sua maioria, em clínicas especializadas, o que limita a

generalização dos resultados para outras populações, incluindo crianças com AIJ ou

outras doenças crônicas que não tiveram acesso a serviços especializados de saúde. O fato

de todos os trabalhos serem de países desenvolvidos também mostra-se como uma

limitação no que diz respeito à generalização dos resultados para países com realidades

socioeconômicas diferentes. Esse fato também evidencia a lacuna científica existente nos

países não desenvolvidos no que se refere à temática abordada nessa revisão.

As medicações utilizadas pelas amostras dos estudos não foram bem detalhadas,

o que mostra-se também como uma limitação, já que pode haver influência

medicamentosa na arquitetura do sono e na qualidade de vida dos pacientes. Deve-se

ressaltar também a possibilidade de problemas psicológicos e/ou psiquiátricos não

relatados ou não diagnosticados terem sido um fator confundidor para a correlação entre

os distúrbios do sono e a qualidade de vida da criança.

Page 42: Distúrbios do sono e qualidade de vida em crianças e adolescentes com ... · efeitos colaterais da terapêutica utilizada e também alterações na esfera do crescimento e desenvolvimento

34

VIII. CONCLUSÕES

1. Distúrbios do sono, como dificuldade para iniciar o sono, ansiedade relacionada

ao sono, despertares noturnos, parassonias, distúrbios respiratórios relacionados ao sono

e sonolência diurna são frequentes em crianças e adolescentes com AIJ.

2. A AIJ interfere negativamente na qualidade de vida dos pacientes.

3. Há discrepâncias nos relatos entre os pacientes e seus cuidadores primários no

que diz respeito aos distúrbios do sono e qualidade de vida de crianças e adolescentes

com AIJ.

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35

IX. SUMMARY

INTRODUCTION: Sleep disorders are common in children and adolescents with juvenile

idiopathic arthritis (JIA). Some authors have reported increased daytime sleepiness in

children and adolescents as a result of nocturnal sleep fragmentation that might also be

related to pain and signs of disease activity, and can directly influence the quality of life

of this population. OBJECTIVES: To summarize the evidence in the literature that

associates sleep disorders and quality of life in children and adolescents with juvenile

idiopathic arthritis. METHODS: A systematic review of articles with original data on

sleep disorders and quality of life in children and adolescents with juvenile idiopathic

arthritis in electronic databases PubMed, PsycNET, Cochrane Library, SciELO, LILACS,

Periodicos CAPES, Scopus, Embase and web of Science, from the following keywords:

juvenile idiopathic arthritis, juvenile rheumatoid arthritis, juvenile arthritis, juvenile

chronic arthritis, sleep, sleep disorders, sleep disorders, sleep disorders and quality of life.

All keywords mentioned also had their corresponding terms used in Portuguese and

Spanish. RESULTS: Six studies with a total of 405 children and adolescents with JIA

were included in the systematic review. They showed that this population has more

trouble falling asleep, more night awakenings, and an increased amount of parasomnias,

among other sleep disorders that can adversely affect the quality of life of these patients.

CONCLUSION: Sleep disorders are common in children and adolescents with JIA. There

is a negative interference in the quality of life of patients with JIA and their primary

caregivers.

Keywords: 1. Juvenile idiopathic arthritis; 2. Sleep disorders; 3. Quality of life.

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36

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XI. APÊNDICE

XI.1. Apêndice I: Análise dos artigos pelo Strobe Checklist

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41

S- Sim para qualidade metodológica; N- Não para qualidade metodológica