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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA AVM FACULDADE INTEGRADA ESTUDOS NEUROCIENTÍFICOS DA EMOÇÃO E DA RAZÃO NA RELAÇÃO DA APRENDIZAGEM POR: JULIANA PEREIRA BENS ORIENTADORA: PROFª. DRª. MARTA PIRES RELVAS RIO DE JANEIRO 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM NEUROCIÊNCIA

PEDAGÓGICA

AVM FACULDADE INTEGRADA

ESTUDOS NEUROCIENTÍFICOS DA EMOÇÃO E DA RAZÃO NA

RELAÇÃO DA APRENDIZAGEM

POR: JULIANA PEREIRA BENS

ORIENTADORA:

PROFª. DRª. MARTA PIRES RELVAS

RIO DE JANEIRO

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM NEUROCIÊNCIA

PEDAGÓGICA

AVM FACULDADE INTEGRADA

ESTUDOS NEUROCIENTÍFICOS DA EMOÇÃO E DA RAZÃO NA

RELAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de

especialista em Neurociência pedagógica

Por: Juliana Pereira Bens.

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AGRADECIMENTOS

...à minha família e amigos que tanto me

incentivaram e incentivam a evoluir cada vez mais.

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EPÍGRAFE

“Ensinar sem levar em conta o funcionamento do cérebro seria como

tentar desenhar uma luva sem considerar a existência da mão”.

Leslie Hart

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RESUMO

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a relevância do

estudo de como dá-se a aprendizagem a partir das influências da razão e da

emoção no sujeito. Para tal estudo é necessário que se compreenda que a

Neuropedagogia, um ramo da Neurociência que está crescendo, tem ajudado

muito os profissionais da área da educação a entender o funcionamento do

cérebro e como ajudar seus alunos a aprender de uma forma prazerosa e mais

eficaz. Ao compreender melhor o desenvolvimento emocional no cérebro, o

funcionamento da memória e da cognição o educador poderá auxiliar melhor

seu educando a alcançar a proposta de educar-se.

Palavras – chaves: Neurociência, aprendizagem, razão, emoção.

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METODOLOGIA

O estudo será desenvolvido através de referências bibliográficas

tendo como auxílio os autores renomados nas áreas da Neurociência,

Pedagogia e Psicologia com os autores Antonio R. Damásio (2012), Joseph Le

Doux (2011), Marta Pires Relvas (2012), Marcus Lira Brandão (2004), Cláudio

J. P. Saltini (2008), Lev S. Vygotsky (2005) e Daniel e Michel Chabot (2005).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Estruturas do cérebro: Fisiologia e funções 10

CAPÍTULO II

O ato de aprender: A influência da razão e da emoção na aprendizagem 21

CAPÍTULO III 30

Pedagogia emocional

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Todo educador visa estudar metodologias e práticas que possam

usar de forma que seus alunos aprendam mais rápido. O desafio da educação

é que todos os alunos aprendam aquele conteúdo dado no tempo que se é

exigido. O costume atual é acreditar que possa existir uma forma mágica que

faça essa proeza sem que nenhum aluno fique em desvantagem.

Mas como isso pode ser possível? Ou melhor, isso é possível?

Para que seja necessário o entendimento deste trabalho fazem-se

precisas as seguintes indagações: A aprendizagem do aluno está apenas

ligada à razão? Por que estudar a razão e a emoção na aprendizagem? Para

que serve a razão e a emoção no ensino? Quais são as áreas do cérebro que

são responsáveis pela aprendizagem? Como o educador pode aproveitar e

estimular essas áreas no cérebro?

Quando se fala em aprendizagem logo se pensa na razão. Se

alguém pergunta qual a função do cérebro, a resposta mais ouvida é a de

comandar as funções do corpo e pensar, racionalizar, planejar. Por séculos

aprendia-se que a razão e a emoção eram funções distintas e que não se

interagiam.

Nessa crença acreditou-se que a emoção e a mente não estavam

presentes no cérebro e que o homem inteligente era aquele que racionalizava

os pensamentos e dominava suas emoções.

Na visão dos antigos educadores a aprendizagem dá-se através da

razão e que escola não era lugar para sentir emoções e prazeres.

Mas por que estudar sobre a razão e emoção na aprendizagem?

No primeiro capítulo será mostrado as partes do cérebro que são

fundamentais para todo o processo da aprendizagem inclusive a parte do

sistema límbico responsável pelas emoções. Quais são os neurotransmissores

que auxiliam ou retardam essa aprendizagem e como se dá o processo da

aprendizagem na visão neurocientífica. Para este capítulo será consultado o

autor Brandão (2004) que detalhou o cérebro e cada uma de suas funções.

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No segundo capítulo poderá se perceber a influência da razão e da

emoção ao longo da educação dos alunos e, por conseguinte o impacto que

elas possuem, seja de forma positiva ou negativa. Para este assunto os

autores Relvas (2012) e Chabot (2005), Damásio (2012), Le Doux (2011), farão

referências ao todo processo no cérebro durante a aprendizagem e quais as

áreas que são estimuladas.

E no último capítulo o educador poderá conhecer as práticas

relacionadas à aprendizagem respeitando a Psicologia e Neuropedagogia, uma

ciência que tenta mostrar aos educadores do novo século como se utilizar da

anatomia do cérebro para introduzir novas metodologias e práticas no cotidiano

escolar e auxiliar de forma prazerosa a educação que se quer no aluno. Para

contribuir com esse tema os autores Relvas (2012), Saltini (2008), Vygotsky

(2005), Le Doux (2011) e Chabot (2005) terão bastante relevância.

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CAPÍTULO I

ESTRUTURAS DO CÉREBRO: FISIOLOGIA E FUNÇÕES

Ao olhar um aluno é preciso observar e reconhecer que este não é

uma máquina onde se deposita as informações e espera-se os resultados.

Dentro daquela criança há um cérebro que pensa, raciocina e

principalmente, que emociona. E é essa emoção positiva ou negativa que vai

guiar sua aprendizagem através de uma reação química, física e biológica que

o cérebro terá da influência externa que o provocar. A aprendizagem depende,

sobretudo, do próprio aluno.

O cérebro reage às influências externas e deixa o aluno

estimulado e interessado ou desinteressado e agressivo. E tudo isso depende

apenas de como o cérebro dele vai interpretar aos estímulos captados e que

tipo de neurotransmissores ele liberará como resposta.

A Neurociência estuda o mapeamento das áreas do cérebro e suas

funções e com isso auxilia na percepção de qual área está sendo estimulada

através dos estímulos que querem causar.

Pensando dessa forma surge então a Neuropedagogia, uma ciência

nova que visa possibilitar aos educadores o acesso a esses estudos e a

reformulação de um currículo didático que alcance o objetivo da educação que

se quer.

Assim, antes de abordar sobre a influência da razão e da emoção na

aprendizagem é necessário saber como é o cérebro e a localização das partes

mais importantes para a aquisição e consolidação da aprendizagem.

1.1- O Encéfalo

O sistema nervoso é dividido de duas formas: O Sistema Nervoso

Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP).

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O Sistema Nervoso Central é dividido pelo encéfalo e medula

espinhal. O encéfalo é dividido em cérebro (Telencéfalo e Diencéfalo), tronco

encefálico (bulbo, mesencéfalo e ponte) e cerebelo.

O cérebro é a parte mais volumosa do Sistema Nervoso central. Ele

possui áreas específicas chamadas de hemisférios cerebrais e unidas pelo

corpo caloso que tem como principal função auxiliar a troca de informações

entre os hemisférios. Dentro dos hemisférios há os lobos (temporal, occipital,

frontal e parietal) que processam cada informação vinda dos sentidos. Dentro

dele há o diencéfalo e Telencéfalo. O primeiro é constituído pelo tálamo,

subtálamo e hipotálamo enquanto que o segundo se subdivide em córtex

cerebral e as estruturas corticais cujos principais são o corpo caloso, o fórnix, o

septo, o hipocampo, a amígdala cerebral e os núcleos de base. Tanto

diencéfalo quando o telencéfalo serão vistos mais detalhado adiante.

Dentro do tronco encefálico há o bulbo que envia informações

sensoriais para o cérebro e traz os comandos motores para a medula espinhal;

a ponte que é uma ligação dos hemisférios cerebrais para o cerebelo e o

mesencéfalo que é a parte mais cranial do troco encefálico e tem como funções

os movimentos oculares, as vias auditivas, alerta, atenção. Pelas vias

descendentes há as funções da integração de comportamentos defensivos, e

do controle da dor. As vias ascendentes dessa estrutura estão ligadas à

regulação do sono, comportamento emocional e alimentar.

O cerebelo tem como principal função a regulação dos movimentos

finos e complexos, a determinação temporal e espacial de ativação dos

músculos. Está ligado diretamente ao córtex cerebral, sistema límbico, tronco

encefálico e medula espinhal.

A medula espinhal recebe informações dos músculos, vísceras,

articulações e pele e tem como principal função o envio de comando motores.

O Sistema Nervoso Periférico é constituído por gânglios e nervos. O

gânglio é uma massa de células nervosas autonômicas e sensitivas. Os nervos

são estruturas que ligam o SNC aos órgãos periféricos. No encéfalo ele é

chamado de nervo craniano e na medula espinhal é chamado de nervo

espinhal. Na subdivisão do SNP encontra-se o Sistema Nervoso Autônomo,

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que subdivide-se em Sistema Nervoso Autônomo Simpático (SNAS) e Sistema

Nervoso Autônomo Parassimpático (SNAP). O SNAS é responsável por

acelerar as funções fisiológicas de cérebro e do coração como medida de

resposta do organismo ao estresse recebido. Com isso, ele aumenta a

pressão, os batimentos cardíacos e a respiração, enquanto que o SNAP serve

para equilibrar as atividades dos órgãos, diminuindo assim a atividade do

Sistema nervoso autônomo simpático.

Nenhuma função do cérebro é isolada da outra, quando uma área é

lesada outra assume suas funções.

Segundo Brandão (2004, p.31)

o sistema nervoso funciona como um dispositivo capaz de

perceber variações energéticas do meio externo ou interno no

organismo, analisar essas variações quanto à sua qualidade,

intensidade e localização para, finalmente organizar

comportamentos que constituam uma resposta adequada ao

estímulo que foi apresentado ao indivíduo. (...) Os receptores

sensitivos funcionam como transdutores de energia, isto é,

transformam os vários estímulos por eles captados em uma

descarga de codificada de impulsos nervosos. Cada um destes

impulsos constitui um “potencial de ação”. (...) Pode-se afirmar

que a intensidade do estímulo é codificada como freqüência de

descargas de potenciais de ação no nervo. Desta forma os

sinais são captados pelos órgãos receptores são transmitidos

pelos nervos aos centros superiores do cérebro, principalmente

o córtex, onde são analisados, resultando deste processo as

experiências conscientes da visão, temperatura e tato com a

conseqüente resposta ao estimulo.

Para esta monografia será focado apenas as áreas do cérebro e do

tronco cefálico cujas funções estão ligadas à razão e a emoção, atenção e

memória.

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1.2- A área da razão

A área do encéfalo referente à razão é representado pelo córtex

cerebral e firmado pelos núcleos de base. O córtex cerebral é composto por

camadas múltiplas de substância cinzenta de neurônios interconectados de

forma complexa. É a camada mais externa do cérebro. O neocórtex é a parte

do cérebro mais nova na evolução, e a que diferencia o ser humano dos outros

animais e sua função está ligado ao pensamento, julgamento, percepção,

linguagem, memória, atenção, consciência e movimento voluntário. Ele recebe

as informações dos canais sensoriais e a redistribui para as áreas específicas.

O córtex é subdividido em lobos chamados de frontal, parietal, occipital e

temporal através dos sulcos e fissuras.

O lobo frontal está localizado na parte da frente do cérebro e sua

função é a de planejamento de ações e movimento, assim como o pensamento

abstrato e o comportamento. Subdivide-se em córtex motor e o córtex pré-

frontal. O córtex motor controla e coordena os movimentos motores e o córtex

pré-frontal está ligada à decisão e avaliação de seus atos, problemas e de

movimentos motores. Também é responsável pelo pensamento abstrato,

afetivo e criativo, a linguagem, associações, julgamento social, vontade e

atenção seletiva.

O lobo parietal está localizado na região superior do cérebro e

subdivide-se em anterior ou primária (somatossensorial) e a posterior ou

secundária. A primeira tem a função de percepção dos sentidos. A zona

posterior processa e integra as informações recebidas pela anterior, que é a

zona primária, permitindo ao indivíduo a noção espacial.

O lobo occipital está localizado na parte inferior de cérebro e é

responsável por processar e interpretar os estímulos visuais.

E por fim, o lobo temporal, cuja localização encontra-se acima da

orelhas e sua função é a de processar os estímulos auditivos. Além de estar

ligada a memória de longo prazo.

Alguns autores como o Brandão (2004) inclui um quinto lobo

chamado de lobo límbico e que será visto na área das emoções.

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Os núcleos de base são a ligação de entre córtex motor e outras

regiões do córtex cerebral.

Segundo Brandão (2004, p.23)

os núcleos de base associados às zonas associativas do córtex

cerebral, ao tálamo e ao cerebelo participam do planejamento e

programação dos movimentos intencionais, de forma que à

medida que a aprendizagem se consolida, os pormenores da

execução dos movimentos tornam-se automáticos, não

exigindo mais o esforço consciente das fases iniciais de sua

execução.

1.3-A área da emoção

No encéfalo as áreas referentes à emoção são o hipotálamo, tálamo,

hipocampo, giro cingulado, corpos mamilares e a amígdala cerebral. Essas seis

estruturas formam o Sistema límbico ou lobo límbico.

O sistema límbico tem como principal função a de providenciar as

emoções e sentimentos ao ser humano, produzindo sensações, equilíbrio e

desequilíbrio emocional. Está diretamente ligada a aprendizagem e a memória.

Será abordada então cada estrutura desse sistema e suas funções.

O hipotálamo localiza-se na base do crânio e controla as funções de

sobrevivência. Apesar de constituir menos que 1% do espaço no cérebro sua

função é de extrema importância, pois controla todas as funções vitais. Ele

também possui controle sobre os meios externos e internos do corpo humano

através do sistema endócrino (controle da hipófise), o sistema nervoso

autônomo e do sistema límbico.

O tálamo processa as informações sensoriais que vão para o córtex

cerebral vindas do tronco encefálico e de outros hemisférios cerebrais. Seus

núcleos anteriores regulam as emoções e transportam as informações para o

giro do cíngulo e outras áreas referentes ao sistema límbico como a amígdala.

Está relacionado ás alterações de comportamento emocional, integração

sensorial e motora.

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O hipocampo é responsável pelas informações espaciais,

consolidação da memória e comportamento emocional. Ele armazena todas as

informações e as redistribui às estruturas específicas do cérebro. Ele está

localizado no córtex temporal.

O giro cingulado ou giro do cíngulo é uma estrutura que recebe

informações do núcleo anterior do tálamo e do neocórtex, assim como as áreas

somatossensoriais do córtex cerebral. Sua função é coordenar odores e visões

relacionadas às emoções, reação emocional à dor e regulação do

comportamento agressivo.

Os corpos mamilares funcionam como estações intermediárias para

os neurônios olfatórios e seus reflexos. Assim quando sentimos o cheiro de

algo ou alguém que já sentimos aciona uma lembrança.

A amígdala cerebral é uma formação cinzenta, em forma de esfera e

localizada no lobo temporal. Ela se conecta ao hipotálamo e o tronco

encefálico, tálamo e parte do córtex cerebral. Sua função está ligada à

aprendizagem e memória emocional, além de estar associada aos movimentos

tônicos, circulares e rítmicos. Também está relacionada à reprodução sexual

(ereção, ejaculação, ovulação e movimentos copulatórios.), ao olfato e a

ingestão. Quando se está em situação de perigo ela é acionada e libera

neurotransmissores que permitem ficar em alerta, pois recebe as informações

do tálamo antes do córtex. Assim como o hipocampo ela mantém um “banco de

dados” que ajuda no armazenamento das memórias afetivas.

O sistema límbico junto com o córtex frontal são as principais

estruturas do cérebro ligadas à aprendizagem e a memória. No segundo

capítulo veremos como eles funcionam no dia-a-dia de uma criança e como se

dá essa aprendizagem e como favorecê-la de uma forma mais tranqüila e

prazerosa a partir de uma prática voltada para o comportamento emocional da

criança.

1.4- Memória

Para ser aprender algo é necessário ser apresentando ao conteúdo,

entendê-lo e memorizá-lo. Aprende-se com mais facilidade quando se associa

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um conteúdo á algo que já se conhece ou pratica. Neste tópico será abordado

o conceito de memória e seus tipos.

A memória é uma função do cérebro resultante de conexões

sinápticas entre os neurônios. Ela retém informações que relembrem

conhecimentos, experiências, sensações e pensamentos experimentados. A

memória é adquirida através dos órgãos sensoriais e interpretada pelas

estruturas específicas do cérebro as quais eles pertencem.

Essa função do cérebro está relacionada diretamente a repetição,

associação e emoção e na quantidade de conexões sinápticas que aconteceu

entre os neurônios para que seja consolidada.

A memória pode ser dividida em curto e longo prazo.

A memória de curto prazo está associada às informações captadas

pelos órgãos sensoriais e permanecem no córtex pré-frontal e no lobo pariental

por alguns segundos e será esquecida ou armazenada. Essa memória pode

ser subdividida em memória de área de trabalho (ou operacional) e memória

imediata.

A memória de trabalho ou operacional é aquela onde as informações

estão no lobo temporal e que poderão ou não ser consolidadas dependendo da

sua utilidade e necessidade.

A memória imediata é aquele evento que acabou de acontecer ou

uma informação que precisa ser gravada e usada imediatamente. Dependendo

da informação ela pode ser consolidada ou não, isso se dará pela importância,

o interesse, a necessidade e a emoção que a pessoa terá com esta

informação.

Quando a informação é consolidada chama-se de Memória de longo

prazo que armazena todas as informações daquilo que foi aprendido,

compreendido e que teve um significado. A informação sai do córtex pré-frontal

e armazena-se no hipocampo e amígdalas cerebrais no sistema límbico. O

acesso dessas informações é feita pelo tálamo. Esta memória pode ser

subdividida em: Declarativa (ou explicita) e não - declarativa (implícita ou

procedural). Essa fixação é dada pelo neurotransmissor glutamato.

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A memória declarativa é aquela que armazena o saber (fatos,

nomes, conteúdos, datas, etc.) no lobo temporal medial e diencéfalo,

principalmente nas áreas do hipocampo e amígdalas cerebrais. Essa memória

também tem a sua divisão em episódica e semântica. A episódica remete a

fatos, acontecimentos e a biografia daquele individuo. A memória semântica

remete a conteúdos gerais aprendidos ao longo da vida. O acesso da memória

declarativa pode ser feito de forma verbal ou mental.

A memória não-declarativa armazena conteúdos de procedimentos

motores. Ocorre de forma gradual, através do comportamento e utilizando

processos repetitivos. Essa memória constrói as habilidades e hábitos do

sujeito.

As áreas responsáveis por essa memória são os gânglios basais,

neocórtex, amígdalas cerebrais, cerebelo e os músculos.

As memórias possuem uma carga afetiva, cognitiva, motora ou

sensorial.

A memória afetiva são lembranças de algum evento na vida daquela

pessoa que lhe proporcionaram emoções e por fim, sentimentos. Podem ser

lembranças agradáveis ou não.

A memória cognitiva consiste no conhecimento de tudo o que foi

aprendido durante a vida. Tal conhecimento só foi consolidado com a ajuda do

interesse por aquele conteúdo.

A memória motora é a aquisição do desenvolvimento e habilidades

motoras através da repetição.

A memória sensorial armazena as informações que passam por

algum sentido. Podem ser estímulos visuais, auditivos, tácteis, olfativos e

gustativos. Uma vez processadas, as informações são transferidas para a

memória de curto prazo e, se preciso adicionadas à memória de longo prazo.

As informações passarão pelo circuito sináptico toda vez que o

indivíduo ouvir, ler, ver, sentir, até que um pensamento seja o suficiente para

ativá-la. As funções de fixar o que se aprende fazem com que, quando

necessário, o sujeito invoque essa informação. Mas o primordial é a habilidade

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de esquecer aquilo que não é mais útil ou triste, pois possibilita a entrada de

novas informações essenciais para aquele momento da vida.

Com isso formarão novas conexões sinápticas envolvendo

diferentes redes neuronais, interligando uma estrutura a outra. Afinal, Não há

aprendizagem sem memória e não há memória sem a aquisição de novas

informações e consolidação delas.

Sabe-se que uma memória foi consolidada quando é evocada sem

dificuldades.

Para melhor guardar uma informação, ela tem que estar associada a

algo e se unida a uma emoção sentida naquele momento, essa memória será

mais facilmente consolidada pelo hipocampo e pela amígdala cerebral.

Ao sentir alegria por entender uma explicação à criança cria

rapidamente várias imagens (pensamento) desta e as associa a algo já

conhecido e pode ser aplicado e esta explicação.

1.5- Neurotransmissores, sinapses, potencial de

ação e plasticidade cerebral

Neste tópico será explicado melhor o que são os neurotransmissores

e quais estão ligados à aprendizagem e as emoções. Será explicado também o

que são sinapses, potencial de ação e plasticidade cerebral e como eles

possibilitam o processo da aprendizagem.

Os neurotransmissores são sustâncias químicas liberadas pelos

neurônios, cuja função é repassar as informações entre eles. Os principais

neurotransmissores relacionados à aprendizagem e emoção são: acetilcolina,

dopamina, noradrenalina, adrenalina, glutamato, cortisol e serotonina.

O neurotransmissor acetilcolina está relacionada ao hipocampo,

hipotálamo e a amígdala cerebral. Quando acionada pelo hipocampo ela se

refere aos processos de memória e aprendizagem e quando acionada pela

amígdala está envolvida a modulação dos processos afetivos, incluindo a

atenção. Ela é liberada pelo sistema nervoso autônomo parassimpático.

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A dopamina tem como funções o controle dos movimentos motores,

memória, sensação de prazer e de motivação, comportamento e cognição,

atenção, sono e humor. Ela é produzida pelo hipotálamo.

A noradrenalina é substância química que induz a excitação física

e mental, humor, atenção e alerta, sono, memória, aprendizagem, ansiedade,

dor e no metabolismo cerebral. É produzida na ponte e é o principal

neurotransmissor do sistema nervoso autônomo simpático e se espalha para

várias regiões do cérebro como o córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, cerebelo,

cérebro médio e medula espinhal.

A adrenalina é produzida na medula supra-renal e tem como função

excitatória, ou seja, em momentos de estresse ela prepara o corpo para um

esforço físico.

O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sistema

nervoso. Ele está ligado diretamente à aprendizagem e memória. E é produzido

na mitocôndria da célula nervosa (neurônio).

O cortisol é produzido pelas glândulas supra-renais e é liberado

sempre que o corpo sofre algum tipo de estresse. Sua principal função é

garantir a glicose para a célula. Em situações de perigo, age como a

adrenalina, nos deixando em condições de agir com a rapidez necessária. Ele

age no sistema de recompensa, onde quando se está nervoso, agitado,

estressado, há uma liberação excessiva dele ocasionando uma diminuição do

gasto calórico e aumentando o apetite.

A serotonina tem como função no humor, memória, aprendizado e

na regulação do equilíbrio do corpo. Ela é produzida no tronco encefálico.

Os neurônios recebem as informações sensoriais que foram

transformadas em reações químicas e as repassam através dos

neurotransmissores.

Os neurotransmissores passam de um neurônio ao outro, através

das sinapses que são zonas ativas de contato entre uma terminação nervosa e

outra célula nervosa, muscular ou glandular.

As sinapses podem ser excitatórias (quando provoca uma descarga

no neurônio) ou inibitória (quando inibe esta descarga).

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Assim que há essa descarga elétrica cria-se o potencial de ação

através da membrana celular que reduz seu desequilíbrio elétrico e produz uma

comunicação mais rápida e eficaz entre as células nervosas.

Quanto mais a célula nervosa for estimulada, mas sinapses e

potenciais de ação ela produzirá e mais consolidada estará à informação no

cérebro e, por conseguinte aumenta a possibilidade de evocação desta

memória.

Quando uma região do cérebro é lesada ou quando o cérebro

precisa readaptar as novas informações externas que ocorre há uma

reformulação das funções entre os neurônios mais próximos á aquela região e

assim surge a plasticidade cerebral.

O cérebro produz alterações nas sinapses e pode aumentar ou

diminuir a transmissões dos impulsos.

Assim Brandão (2004, p.109) explica que “a plasticidade cerebral é

uma resposta adaptativa do cérebro frente às necessidades impostas pela vida

de relação”.

Formam-se novas sinapses, novos contatos e novos neurônios.

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CAPÍTULO II

O ATO DE APRENDER: A INFLUÊNCIA DA RAZÃO E

DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM

Neste capítulo será abordado neurocientificamente o conceito de

aprendizagem e como ela pode ser influenciada pela razão e pela emoção.

Aprender é adquirir conhecimento sobre algo.

Para se aprender é necessário possuir uma consciência do que se

quer aprender e como obter tal conhecimento.

A razão é a percepção deste conhecimento e com isso o poder de

planejar ações futuras. Com a razão a criança aprende a resolver problemas

em seu cotidiano.

Além da razão outros fatores são necessários para a aprendizagem

de uma criança como o interesse, a atenção e a motivação.

A emoção é uma reação química que provoca alterações no corpo.

O hipotálamo controla essas manifestações fisiológicas que acompanha as

emoções através do sistema endócrino e do sistema nervoso autônomo. A

emoção é uma reação inconsciente.

Não se pode confundir emoção com afetividade (sentimento). A

afetividade são as emoções que foram filtradas pelos centros cognitivos do

cérebro e do giro cingular. A emoção não é racionalizada enquanto que o afeto

é consciente, racionalizado, reflexivo e duradouro.

As emoções básicas são: medo, tristeza, raiva, alegria, surpresa e

aversão. Essas emoções são inatas ao ser humano pois fazem parte dos

instintos mais primitivos do nosso cérebro. Já os sentimentos são a construção

dessas emoções pela sociedade e controlados pelo córtex pré-frontal.

E por que aprender pelas emoções?

Na teoria do Circuito de Papez há dois caminhos a serem

percorridos pelo SNC. Um curto e outro longo. Quando as informações chegam

ao tálamo elas são redirecionadas para hipotálamo e para o córtex pré-frontal.

O primeiro caminho é curto e é chamado de fluxo de sentimentos. Já o

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segundo caminho é longo e chamado de fluxo de pensamentos. Esse caminho

dá-se através de um circuito hipocampo-tálamo- giro cingulado – hipocampo.

Assim as informações chegam mais rápido nas estruturas ligadas às

emoções do que nas estruturas racionais.

Mas para que esse circuito esteja sedo processado é necessário

estar atento ao que vai aprender.

Só se aprende quando se foca em algo. Assim, a criança necessita

desenvolver sua atenção para ignorar estímulos internos (fome, sede, sono) e

externo (barulho, mosca voando, conversas paralelas) para focar naquilo em

que está sendo ensinado no momento.

Segundo Damásio (2012, p.181-182)

Sem a atenção e a memória de trabalho básicas não é possível

uma atividade mental coerente e, com toda certeza, os

marcadores-somáticos não podem funcionar porque não existe

um campo de ação estável para eles desenvolverem sua ação.

Se desenvolver só a estrutura racional o ser humano não teria

relações com outros seres humanos. Tudo seria impessoal e visando apenas o

eu. A emoção é a prova de para evoluir é necessário criar, sentir o que está

bom e o que precisa melhorar. É a partir das frustrações e raivas que surgem o

desejo, a criatividade e a persistência em melhorar, não só a sim mesmo como

as relações interpessoais e a sociedade.

O desenvolvimento saudável entre as duas estruturas só tende a

beneficiar o ser. Não será uma pessoa “fria” e “distante” como também não

agirá só com os instintos e impulsividade.

Na aprendizagem é necessário conciliar o cérebro racional com o

cérebro emocional. E para que uma criança se interesse em aprender ela

precisa também acionar o seu sistema de recompensa. O cognitivo está então

relacionado ao pensar, agir e sentir.

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Para a autora Relvas (2012, p.34) “a consciência humana é

considerada como um processo de cognição de conhecimento da própria

atividade psíquica.”.

A razão, o raciocínio, a percepção, atenção, linguagem e

pensamento são processados pelo neocórtex. Enquanto o comportamento e as

emoções pelo sistema límbico.

Os autores Chabot (2005) dividem a aprendizagem em quatro

competências: cognitivas, técnicas, relacionais e emocionais.

As competências cognitivas estão associadas ao saber e

conhecimento. As estruturas do cérebro ligadas à cognição são o hipocampo e

o córtex pré-frontal consolidadas pela memória declarativa.

As competências técnicas são as práticas a serem usadas. Tal

competência precisa da memória de procedimento.

As competências relacionais permitem interagir com as outras

pessoas. Trata-se da comunicação, linguagem e interpretação não verbal.

As competências emocionais permitem sentir as emoções e reagir a

elas. Está relacionada ao córtex pré-frontal e amígdala. É nessa competência

que se usa o aprendizado associativo.

A verdadeira aprendizagem deve passar pelas essas quatro

competências. A criança precisa ser apresentada ao conteúdo, perceber a

utilidade dele, senti-lo e interagir. Ao sentir a criança se coloca em movimento,

seguindo seus interesses e necessidades.

A neurociência explica que todo aprendizado dá-se no encéfalo

captado pelos órgãos sensoriais e processado neuroquimicamente. O

neocórtex processa essas informações e repassa para o tálamo, esse as

encaminha para suas estruturas específicas, entre elas o hipocampo onde as

informações serão armazenadas e acessadas sempre que preciso. As

sensações positivas ou não, são memorizadas por alguns instantes (memória

de curto prazo) ou por um longo tempo (memória de longo prazo) dependendo

do seu interesse ou importância.

Por receber todos os sinais das estruturas internas e do ambiente

externo, o neocórtex é assim o responsável pelas tomadas de decisão,

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criatividade, percepção, reflexão, linguagem verbal e raciocínio sendo a parte

que denomina-se de cérebro racional.

Damásio (2012) reforça esse conceito ao afirmar que o cérebro

racional tem como principal representante o córtex pré-frontal (ou neocórtex),

pois recebe os sinais de todas as regiões sensoriais onde formarão as imagens

que constituem o pensamento; recebe também sinais de vários setores

biorregulares ao cérebro humano, recebendo assim neurotransmissores vindos

do tronco encefálico, prosencéfalo basal, amígdala, giro do cíngulo anterior e

hipotálamo. Ao raciocinar o córtex pré-frontal ativa as áreas do cérebro

referentes às informações que precisa ter das zonas de convergências

(experiências). Ele também está ligado às vias motoras e químicas.

Le Doux (2011) afirma que as emoções dominam o cérebro racional

por causa das conexões neurais deste para a amígdala. Essas conexões são

menores que das amígdalas para as outras estruturas do cérebro. Assim é

mais fácil a amígdala interferir todas as estruturas do cérebro do que o inverso.

Esse caminho faz com que a amígdala traga emoções negativas

para as zonas pré-frontais esquerdo. O córtex pré-frontal esquerdo por outro

lado, ao ser provocado pela amígdala, projeta nela emoções positivas,

controlando-a no que se denomina a inteligência emocional.

Quando o professor percebe que um aluno ou uma turma está

desinteressada por qualquer motivo que seja, este deve tentar estimulá-los e

um dos gestos simples é fazê-los sorrir. Um sorriso pode acionar o córtex pré-

frontal esquerdo a liberar neurotransmissores para inibir essa tristeza

provocada pela amígdala.

Cada estímulo (externo) provoca uma reação interna e

posteriormente externa no indivíduo. O estímulo dispara uma emoção que

reage com um comportamento.

Segundo Le Doux (2011, p.57) “o sentido emocional de um estímulo

pode começar a ser avaliado pelo cérebro antes que os sistemas de percepção

tenham processados inteiramente o estímulo.”.

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A autora Relvas (2012, p.55) afirma que “quando o estímulo já é

conhecido do sistema nervoso central desencadeia uma lembrança; quando o

estímulo é novo, desencadeia uma mudança”.

Para que uma criança aprenda é necessário que o educador

estimule, positivamente, seu sistema nervoso principalmente a área do sistema

límbico, pois é através desse sistema que a aprendizagem será consolidada.

Ao estimular positivamente o sistema límbico, ele poderá liberar os

neurotransmissores da serotonina e dopamina, fazendo com que o corpo sinta

sensações de prazer e satisfação e relacionando assim, o aprendizado com

esta sensação; ele libera também a catecolamina e noradrenalina que reforça

as memórias no cérebro; mas se o estímulo for desagradável, os

neurotransmissores liberados serão os do cortisol e a adrenalina, provocando

bloqueios na aprendizagem. Isso se dá quando um educador constrange um

aluno chamando-lhe sua atenção ou desprezando a sua falta de entendimento

em um conteúdo. A alta taxa de cortisol intervém no funcionamento da

memória de trabalho e por consequência na memória de longo prazo. A criança

“trava” e não consegue assimilar o conteúdo. Isso acontece toda vez que há

um caso de uma agressão verbal do professor para o aluno ou um desprezo de

sua parte. Acontece um disparado para o “gatilho” e uma reação interna e um

comportamento externo.

A reação interna será através da liberação de neurotransmissores

que agirão no corpo. No caso da adrenalina, ele causará um aumento no

batimento cardíaco, na pressão arterial, maior oxigenação das células e uma

dilatação da pupila causando um comportamento de ataque. O aluno poderá

devolver o xingamento, chutar uma cadeira ou querer avançar no seu educador

e a partir daí não aceitar mais a educação vinda deste. A reação interna

também pode ter como resultado um comportamento passivo, onde a criança

se torna apática, amedrontada, acuada, pois a principal liberação foi o do

cortisol, cuja função acaba criando um bloqueio na aprendizagem, deixando o

aluno com sentimentos de frustrado, culpado, raivoso ou envergonhado.

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O estresse e a ansiedade causados por esses neurotransmissores

afetam diretamente a atenção, percepção e a memória de trabalho e limita o

raciocínio e a capacidade de pensar no aluno.

O estresse é uma reação do organismo a uma perturbação do

equilíbrio do organismo realizado por algum estímulo externo. Ele pode

provocar uma mudança de comportamento e quando prolongada acarreta em

doenças, aumento ou diminuição de peso.

De uma forma ou de outra, se o aluno não for um indivíduo confiante

ou se não tiver ajuda neste momento, poderá levar isso adiante e toda vez que

encontrar com o professor ele disparará a reação advinda dessa memória

afetiva negativa.

Citando os autores Chabot (2005, p.68-69)

(...) Os acontecimentos mais carregados de emotividade

inscrevem-se com mais força em nossa memória declarativa.

Mas nem sempre as emoções reforçam nossa memória. Em

caso de stress a reação emocional que o acompanha pode

reduzir ou comprometer o desempenho da memória. As

emoções, portanto, são capazes de produzir um impacto tanto

reforçador quanto redutor sobre a memória e o aprendizado.

As ações cognitivas e afetivas se transformam a cada

aprendizagem. São funções distintas, mas complementares. Assim, a

inteligência é formada a partir dessa união.

Quando há significado no conteúdo a ser aprendido ele não será

esquecido.

Relvas (2012, p.55) também reforça que é

fundamental desenvolver a inteligência emocional no intuito de

otimizar todas as emoções que derivam da alegria, gerar

comportamentos orientados para a aproximação e a motivação

e obter, assim, uma série de benefícios em nossas escolas e

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salas de aula.(...) As emoções podem até mesmo alterar a

aprendizagem.

Relvas (2012, p.75) acrescenta que “a capacidade de aprender e de

ser inteligente está ligada ao prazer que a conquista do conhecimento pode

proporcionar.”

Além de empregar a emoção no momento em que se aprende é

necessário também empregá-lo no final de cada aprendizado. É aí que o

sistema de recompensa vem para finalizar esse aprendizado.

O sistema de recompensa é ativado pela área tegmentar ventral na

região do mesencéfalo que se localiza atrás da substância negra. Ele está

ligado à motivação que liga a emoção à ação.

A satisfação na conquista faz com que as crianças se interessem em

aprender. E essa conquista pode ser material, um elogio ou uma demonstração

de carinho.

Quanto mais os pais e os educadores valorizarem o esforço da

criança em aprender e incentivar o seu interesse, mais prazer ela terá em

estudar.

Contudo, alguns pais e educadores são contrários a esse sistema,

pois consideram que o aprendizado é um dever e que as notas boas são mais

que uma obrigação que a criança tem que ter ao longo sua escolaridade.

Mas Damásio (2012, p. 150) afirma que “diferentes graus de

recompensa e castigo provocam reações na mente e no corpo”.

Assim como o educador pode provocar uma emoção negativa no

seu aluno, ele também pode provocar uma emoção positiva e toda emoção

positiva acaba gerando uma memória afetiva e, por conseguinte uma memória

de longo prazo afetiva.

Tanto o castigo como a recompensa são resultados de uma

aprendizagem ou de um comportamento.

O castigo servirá para que o aluno não repita o ato ou a nota

negativa. E para isso é preciso investigar o que desencadeou esse resulto no

comportamento ou na nota e explicar a ele o motivo pelo qual recebeu esse

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castigo e assim entenda. Já a recompensa, é um gesto de valorização pelo

bom desempenho ou comportamento desta criança. Despertando seu prazer

nessa conquista, o aluno tenderá a repeti-lo outras vezes.

O sistema de recompensa valoriza a aprendizagem. Toda criança é

carente de atenção, seja essa carência de menor ou maior grau. Para que elas

possam ganhar confiança e acreditar em si, elas precisam perceber essa

confiança e crença das pessoas mais próximas por ela.

Para Damásio (2012) as decisões são moldadas através dos

estados somáticos (reações) relacionados com o castigo e recompensa.

A partir destes estados somáticos as crianças começarão a perceber

o que é bom e o que é ruim para elas. Mesmo que ela não goste de estudar ela

entenderá que essa ação é algo necessário e bom para ela, e assim tentará se

esforçar mais.

Os marcadores somáticos ou estados somáticos nada mais são do

que aquele impacto a emoção teve em nosso corpo e cérebro devido a um

estímulo. Como Damásio (2012) ressalta, estes marcadores foram criados pelo

cérebro através da interferência da educação escolar ou familiar e da

sociedade. Assim através das experiências e escolhas, castigo e recompensa,

esses marcadores somáticos são criados.

Apesar de haver aprendizagem durante toda a vida, é na infância e

adolescência que esses marcadores terão maior impacto na formação do ser

humano através do córtex pré-frontal e com o auxílio dos sentimentos, pois os

marcadores influenciam na atenção e na memória de trabalho.

Além da razão, emoção e do sistema de recompensa, a

aprendizagem se dá também e principalmente através das relações. Sem uma

interação não há aprendizagem plena, é na troca que as informações surgem,

os estímulos são apresentados e reforçados. E para que haja essa interação é

preciso antes de tudo, uma empatia entre as pessoas. E essa empatia ligada

diretamente ao sistema límbico independente do que o córtex pré-frontal

processe.

Sem empatia o aluno não interage com seu professor e por

conseguinte acaba se desinteressando pela matéria que ele está a ensinar e

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não querendo ir ás aulas para não encontrar com ele. E nos atuais modelos

pedagógicos apenas se estimula à competição, o desejo de ser o primeiro e

não a cooperação e a ajuda ao próximo.

O processo de aprendizagem é uma reunião de vários fatores

(razão, emoção, sistema de recompensa, relações interpessoais e empatia)

que precisam estar em sintonia para que o ensino tenha sido satisfatório.

Desses cinco fatores, quatro estão ligados ao sistema límbico e só um á

estrutura racional do cérebro. Sendo assim a afirmação de que as emoções

são presentes e de intensa importância à aprendizagem não podendo ser

deixada de lado na escola.

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CAPÍTULO III

PEDAGOGIA EMOCIONAL

Antes de se ensinar a uma criança é preciso que se compreenda

que ela é um ser humano e portanto um sujeito cerebral (Relvas, 2012), ou

seja, cada ser humano possui um cérebro igual em suas estruturas, porém

diferentes em suas conexões cerebrais.

Assim é o aluno, um ser humano que possui sentimentos, que

pensa, que vive, que obtém experiências, que se relaciona e que muda a cada

minuto através das relações externas.

E é assim que o educador precisa começar a olhar o aluno, percebê-

lo como um ser e não como uma máquina que chegará à sala de aula e

depositará em sua mente toda a informação dada como se fosse um banco,

como foi descrita a definição da educação bancária.

A posição de um educador perante sua turma não deve ser a de um

detentor de um saber a ser passado para os alunos para que esse possa

aceitar e decorar sem questionamentos. Este era o pensamento de séculos

passados de uma pedagogia tradicional.

A pedagogia que os educadores devem se basear é aquela que

entende o educando como um ser humano que chega à escola com saberes

trazidos de casa e da sociedade que vive. É aquele ser que está lá para

aprender, questionar, entender, perceber e colocar em prática essa

aprendizagem nova que traz da escola.

Cada metodologia visa uma prática educativa diferente, dependendo

do seu objetivo educacional. E cada uma interfere no cérebro de uma criança

de maneiras diferentes, provocando reações emocionais positivas ou

negativas, podendo as crianças se adaptar ou não a elas.

Para visar essa metodologia, inicialmente precisa-se compreender o

que seria educar. Segundo Saltini (2008, p.12)

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(...) educar seria, então, conduzir ou criar condições para que,

na interação, na adaptação da criança de zero até seis anos,

fosse possível desenvolver as estruturas da inteligência

necessárias ao estabelecimento de uma relação lógica-afetiva

com o mundo.

Cada instituição de ensino tem a liberdade de usar a metodologia

que melhor convém aos seus objetivos e o mesmo conceito deveria ser

aplicado às crianças. Para isso, os pais deveriam observar se seus filhos estão

se adaptando a escola e seus métodos educativos. Se a criança está

aprendendo de uma forma satisfatória e sem traumas. Pois o currículo de uma

instituição de ensino não se preocupa com o tempo de desenvolvimento e

aprendizagem de cada aluno. Ela tira uma média nesse desenvolvimento e

estabelece que em tal idade a criança deva estar em tal ano e ter aprendido

determinados conteúdos. Esquece-se de que cada indivíduo tem um ritmo

diferente do outro, pois possui conexões neurais individuais e únicas.

Para Relvas (2012, p.57-58) “os objetivos educacionais e as

práticas pedagógicas precisam ser repensadas, a fim de valorizar a

aprendizagem biológica ou sinápticas, mas também a subjetiva, a afetiva, a

emocional, a social e a cultural.(...)”

Para Saltini (2008, p.17) “a educação é composta por três

elementos: O pensar, o perceber e o comunicar-se.”

Assim sendo, a aprendizagem só pode ser adquirida se a criança

tiver interesse em aprender aquele conteúdo e cabe ao educador perceber e

despertar esse interesse. É preciso mostrar ao aluno a importância daquele

conteúdo para a vida dele.

Quando a criança vai para a escola, ela não vai só para aprender

conteúdos didáticos, ela também aprenderá através das relações humanas e

com os prazeres ou dificuldades que delas advir.

O ser humano aprende interagindo com os outros e isso também

acontecerá com o seu educador. A criança precisa ter no seu professor a

segurança, a confiança e uma boa relação caso contrário surgirão atritos que

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prejudicarão o aprendizado. Assim entende-se que o verdadeiro

desenvolvimento cognitivo só se dá através de uma relação afetiva.

Para que essa relação seja desenvolvida, o educador precisa

conhecer seus alunos, interagir com eles e ouvi-los. Ambos aprenderão com

essa troca.

Quando se desenvolve uma relação saudável em sala de aula, a

criança tende a levar esse comportamento adiante e demonstra isso quando se

preocupa com algum amigo e o auxilia nas tarefas tirando suas dúvidas,

ajudando o professor a arrumar o material para a aula ou quando se preocupa

quando um amigo se machuca.

Segundo Saltini (2008, p.80)

O professor (educador) obviamente precisa conhecer e ouvir a

criança. Deve conhecê-la não apenas na sua estrutura

biofisiológica e psicossocial, mas também na sua interioridade

afetiva, na sua necessidade de criatura que chora, ri, dorme,

sofre e busca constantemente compreender o mundo que o

cerca, bem como o que ela faz ali na escola.

A forma como o educador fala, age e se comporta perante o aluno

influencia e muito no que ele vai sentir e pensar sobre este professor.

Ao se sentir segura nesta relação à criança se sente confiante para

aprender.

Quando o aluno procura seu professor, ele busca ajuda e está

suscetível a qualquer reação que o educador dará a ele. É nesse ponto que o

educador deve acolhê-lo e escutá-lo.

Uma das sugestões dadas por Saltini para construir essa segurança

é a construção de hábitos e rituais, ouvi-las quando está quieta ou agitada

demais; criar um ambiente escolar agradável para uma melhor relação entre o

ensino e a aprendizagem, planejar as aulas e replanejá-las quando o retorno

dos alunos for negativo.

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Relvas (2012, p.54) também defende essa linha quando afirma que

“o papel do educador é provocar desafios, promover ações reflexivas e permitir

o diálogo entre emoções e afetos em um corpo orgânico e mental (...)”.

É necessário criar desafios, explicando primeiro e deixando que as

crianças resolvam depois, intervindo apenas quando necessário.

Quanto mais estímulos forem oferecidos à criança, em seu cérebro

haverá um disparo de caráter estimulador ou inibidor das sinapses, resultando

numa modificação funcional. Ou seja, quanto mais o cérebro da criança for

estimulado maior será a quantidade de sinapses realizadas e, por conseguinte

maiores será os potenciais de ações e novos neurônios serão criados e

reorganizados, aumentando a plasticidade cerebral da criança. Essa

modificação é necessária para as aquisições do conhecimento.

Afinal ”se existem várias maneiras de aprender pelos circuitos

neurais, têm-se diferentes maneiras de se ensinar.” (Relvas, 2005, p. 55)

E de todas as correntes educacionais que visa a aprendizagem do

aluno, o sócioconstrutivismo é a que mais se adequa a essa prática e a

aceitação de que o ser humano é um ser cerebral, pois esta corrente tem como

base a construção do conhecimento através da interação, da participação e

percepção do aluno em todo o processo.

Para Vygostsky (2005, p.31)

a tarefa do docente consiste em desenvolver não uma única

capacidade de pensar, mas muitas capacidades particulares de

pensar em campos diferentes, não em reforçar a nossa

capacidade geral de prestar atenção, mas em desenvolver

diferentes faculdades de concentrar a atenção sobre diferentes

matérias.

Assim essa prática percebe a importância de se estimular todas as

áreas do cérebro para que a aprendizagem seja a mais plena possível.

O objetivo de cada educador é que seu aluno aprenda na interação

(zona de desenvolvimento proximal) e consiga realizar as tarefas sozinho (zona

de desenvolvimento real), segundo a definição de Vygostsky em sua teoria. A

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partir do momento em que a criança se sente segura e confiante ao vencer os

desafios propostos ela se sente mais estimulada e interessada em se

desenvolver cada vez mais, aumentando as sensações de prazer e

estimulando seu sistema límbico e de recompensa (zona de desenvolvimento

potencial). Só assim pode-se estimular o sistema nervoso dos alunos.

Vygostsky (2005, p.39) afirma que a

(...) característica essencial da aprendizagem é que engendra a

área de desenvolvimento potencial, ou seja, que faz nascer,

estimula e ativa na criança um grupo de processos internos de

desenvolvimento dentro do âmbito das inter-relações com

outros, que na continuação são absorvidos pelo curso interior

de desenvolvimento e se convertem em aquisições internas da

criança.

E para estimular essa zona de desenvolvimento potencial é preciso

realizar algumas práticas de ensino e aprendizagem deveriam ser revistas.

Uma delas é perceber quem precisa mais da interferência do professor.

O aluno que possui mais dificuldade na aprendizagem deve ter ajuda

nos exercícios propostos para a turma toda e como dever de casa, levar um

exercício mais fácil, para que sozinho consiga realizá-lo e se sentir seguro e

confiante.

Deve-se também intercalar exercícios fáceis que aumentem a

segurança com os desafios que estimulam o córtex pré-frontal.

Um hábito presente em sala de aula é a prática de separar os alunos

considerados “bons” dos “ruins”; os que não são comportados dos

comportados. Às vezes esse hábito vem com uma boa intenção desde que não

haja uma discriminação do professor valorizando mais um grupo em detrimento

do outro. Mas quando há essa divisão perceptiva pelos alunos, os

considerados “bons” alunos vão ficar mais confiantes e os que são “ruins” vão

se menosprezar cada vez mais, incorporando para si o conceito daquele que

não aprende, que não é inteligente ou que é bagunceiro e acabam levando

este estereótipo para a vida podendo até se evadir da escola.

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Outra prática que precisa ser revista é a de tirar a aula de

educação física, artes ou música do aluno como forma de castigo. Essas aulas

são prazerosas e liberam a serotonina e endorfina aumentando a capacidade

de pensar e da atenção, diminuindo assim o estresse, a ansiedade e a

depressão e contribuindo assim para um melhor rendimento na aula dessas

disciplinas e posteriormente do educador regente da turma.

Obrigar a criança a estudar de forma agressiva ou sob ameaças só

vai transformar esse estímulo em algo desagradável e desprazeroso. Quando

se incentiva uma criança a ler, primeiro pergunta-se de que assunto ela gosta e

lê para ela. Se a criança gosta de bichos, leia-se histórias sobre bichos e

estimula a sua leitura através de outros gêneros textuais como revista, gibis,

livros etc. com o tempo e aos poucos se oferece outros assuntos e incentiva a

própria criança a ler.

O novo assusta! E poucas crianças se entregam as novidades no

âmbito da escola. Esse novo pode ser uma escola nova, uma turma nova ou

uma professora nova. Quase todas as crianças criam um receio, uma

desconfiança como mecanismos de defesa. Seus níveis de estresse e

ansiedade, causados pela adrenalina e cortisol, se elevam causando

retraimento ou agressividade. Por isso qualquer mudança deve ser conversada

antes para que ela possa ter uma visão agradável e prazerosa desse novo.

Que desperte o interesse em conhecer esse novo. Isso fará com que a criança

se sinta confortável com aquela situação e desarme seus mecanismos de

defesa.

As crianças ainda estão na fase da maturação e reconhecimento de

todos os sentimentos e emoções. Ou seja, ela possui dificuldades de expressar

verbalmente as emoções que sente e principalmente dizer-lhes a causa deles.

Isso se dá, pois a criança ainda está se conhecendo individualmente e como

parte de uma família, integrante de uma escola e da sociedade. Esse processo

é esperado para que esse ser possa afirmar sobre o que gosta e do que não

gosta e como foi dito anteriormente, o educador pode ajudar muito nessa

maturação. Com o autoconhecimento sua aprendizagem evoluirá.

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Com foi dito anteriormente, é difícil criar uma metodologia focada na

particularidade de cada criança. É difícil com as turmas superlotadas,

professores trabalhando em jornadas duplas e até triplas, com prazos

estipulados e metas a serem atingidas, mas qualquer compaixão, atenção e

sensibilidade já são capazes de fazer a diferença na vida desses pequenos

seres.

É claro que não haverá uma metodologia para cada um, mas pode

haver várias metodologias que possam alcançar o maior número de alunos e

que perpassam por todos os sentidos sensoriais.

Se o educador parar para prestar atenção aos seus alunos enquanto

dá uma explicação ou durante a realização de uma tarefa, na correção das

avaliações percebendo assim qual a matéria que eles precisam de mais

reforço, qual aquela que pode desenvolver um desafio, esse educador poderá

compreender que está precisando de mais ajuda e qual aluno está bom e usa-

lo para ajudar os outros alunos, criando assim uma rede de aprendizagem,

estimulando os outros alunos a entrarem nela e aprenderem cada vez mais.

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CONCLUSÃO

Na realidade brasileira de ensino, onde cada professor tem que

educar mais de 30 alunos por turma fica difícil cuidar de cada aluno

individualmente, e nem se deve exigir que o professor fizesse o papel de

psicólogo, porém sua natureza humana e uma pequena sensibilidade que

possa ter com seus alunos, o parar para escutar, fazem desses pequenos

gestos o suficiente para auxiliar seu aluno.

Os educadores não podem ser profissionais frios, pois lidam com

outros seres humanos e não com máquinas. É dever desse profissional o

mínimo de empatia e compaixão com sua turma para que possa ser realizado

um bom trabalho nas quatros competências que foram citadas, afinal não serão

todos que precisarão dessa atenção mais voltada.

É função do educador compreender que cada criança possui

conexões neurais, um ritmo diferente do outro e que sente. E para isso, o

educador precisa ter o mínimo de estudos possíveis sobre a neurociência para

poder planejar melhor suas aulas visando uma melhor educação para seus

alunos.

É preciso perceber quando o aluno precisa de ajuda, auxiliá-lo a

encontrar a solução para os seus problemas (fora ou dentro da sala) e dar

meios para que essa criança se motive. Quanto mais rápida for essa

percepção, mais rápido o professor pode intervir e ajudá-lo.

As escolas que cada vez mais cedo estão se voltando para o

vestibular e estão esquecendo da importância em desenvolver o lado humano

e psicossocial de seus alunos acabam desprezando os outros

desenvolvimentos como o psicossocial e comportamental.

Para se obter o êxito na aprendizagem o aluno precisa ter

persistência através da repetição, afetividade, motivação e de uma mediação

afetiva. E é aí que entra a influência das emoções.

Tanto a estrutura racional quanto a estrutura emocional requerem

a intervenção da família, da escola e da sociedade para serem moldadas

visando uma boa relação e sobrevivência.

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Tanto a razão quanto a emoção influenciam a aprendizagem sendo

representadas pelas estruturas do neocórtex e do sistema límbico. Cada uma

destas estruturas auxilia na assimilação do conteúdo a ser aprendido. A razão

processa as informações enquanto as emoções ajudam na memorização delas.

As emoções agem no sistema límbico provocando reações internas

e um comportamento externo. Por isso é preciso ter cuidado com o resultado

dessas, pois um estímulo negativo só tem a prejudicar a aprendizagem do

aluno e seu desenvolvimento psicossocial.

Se a escola é considerada como a segunda casa de uma criança e

às vezes é o local onde elas passam mais tempo no caso das escolas em

tempo integral, é preciso que a criança se sinta bem, que sinta prazer em estar

lá e isso só será possível com uma nova metodologia de educação, cujo

objetivo vise à conquista da aprendizagem pelo prazer.

Além de uma escola agradável, os funcionários e professores dela

também devem ser, auxiliando as crianças e educando-as, corrigindo suas

falhas e enaltecendo seus sucessos.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRANDÃO, Marcus Lira. As bases biológicas do comportamento:

Introdução à neurociência. São Paulo: EPU, 2004.

CHABOT, Daniel e Michel Chabot. Pedagogia emocional – Sentir

para aprender. São Paulo: Sá editora. 2005.

DAMÁSIO, Antonio R. O erro de Descartes – Emoção, razão e o

cérebro humano.São Paulo: Editora Schwarcz Ltda. 2012

LE DOUX, Joseph. O cérebro emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.

2011

LEONTIEV, Aléxis; Lev S. Vygotsky; Alexandre R. Luria e

outros.: Psicologia e Pedagogia. São Paulo: Centauro Editora. 2005.

RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica. Rio de

Janeiro: WAK Ed. 2012.

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade e Inteligência. Rio de Janeiro:

WAK Ed. 2008.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

EPÍGRAFE 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Estruturas do cérebro: Fisiologia e funções 10

1.1 - O Encéfalo 10

1.2 – A área da razão 13

1.3- A área da emoção 14

1.4- Memória 15

1.5- Neurotransmissores, sinapses, potencial de ação e plasticidade cerebral18

CAPÍTULO II

O ato de aprender: A influência da razão e da emoção na aprendizagem 21

CAPÍTULO III

Pedagogia emocional 30

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 40