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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO NO CURSO
SUPERIOR DE ARTES PLÁSTICAS
Renato Gomes Shamá dos Santos
ORIENTADOR: Profª. Maria Esther de Araújo
Niterói 2016
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Docência do Ensino Superior.
Por: Renato Gomes Shamá dos Santos
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO NO CURSO
SUPERIOR DE ARTES PLÁSTICAS
Niterói 2016
3
AGRADECIMENTOS
.
Aos meus pais, irmãos e familiares que sempre me
apoiaram nos estudos e/ou na vida. À Bruna Azevêdo que
sempre esteve do meu lado. Aos amigos que reconhecem
meus esforços. À orientadora Maria Esther de Araújo. Ao
professor Nilson Guedes de Freitas, que abriu meus olhos
para tantos conhecimentos, inclusive e principalmente
para a arte do ensino. A todos os professores da
Universidade Candido Mendes, que foram únicos e
essenciais à minha formação.
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DEDICATÓRIA
Dedico à Bruna Azevêdo por todo seu interesse e
felicidade ao ver o meu progresso como ser-humano.
Dedico ao meu pai e minha mãe que sempre estarão
preocupados em minha formação, assim como não
negarão estender o braço para que esta seja cada vez
melhor. Dedico aos meus irmãos que sempre tiveram
orgulho do que sou hoje.
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RESUMO
É comum de se ver no ensino professores que não fazem ideia do
que sejam as tendências pedagógicas. Para tal situação, o presente trabalho
ressalta a necessidade do conhecimento das tendências pedagógicas, como
forma de torna-las cada vez mais próximas da sociedade docente. Situando
estas tendências, principalmente, no campo do Ensino Superior. O foco não é
enfatizar ou dar importância às tendências pedagógicas, mas desdobrá-las no
âmago das Artes Plásticas. Para tanto é necessário uma pesquisa histórico-
política, de forma curiosa, revelando o passado. Sem esquecer de que para se
falar de Artes Plásticas na atualidade deve se estudar o que de fato são as
Artes hoje em dia, na contemporaneidade. Entender o passado nos remete no
melhor entendimento do presente, tornando-nos aptos para questionamentos
mais abrangentes, no por que das coisas serem como são hoje. As tendências
pedagógicas são o fruto de movimentos sociais do ser humano. São da
natureza do homem e por isso mesmo, reflexo e consequência de seus atos.
Neste momento é que encontramos a política, mostrando raízes
profundas na sociedade brasileira, dos quais revela em sua natureza a
tendência a procurar brechas para entrar e influenciar. Impondo intenções,
projetos, vontades e influências para todos os lados, inclusive no ensino. As
consequências do movimento político são naturais. Nada mais natural é ver os
frutos se colherem mais tarde na formação de um país. É no meio de todas
estas influências que achamos as tendências pedagógicas. Estas tendências
formulam propostas em todas as áreas humanas. Seu grau de influência é alto,
criando características próprias em cada setor em que se alastra. É neste
momento que temos a articulação principal do estudo. As tendências
pedagógicas do ensino no curso superior de artes plásticas.
Palavras-chaves: tendências pedagógicas, contemporaneidade, artes
plásticas, política educacional, movimentos sociais.
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METODOLOGIA
Realizando a pesquisa sobre o tema das tendências pedagógicas do
ensino no curso superior de artes plásticas, a metodologia de pesquisa
utilizada para o presente estudo abrangeu os dois principais métodos de
estudo: método de abordagem e o método de procedimento. O
desenvolvimento da monografia ocorreu através dos sub-métodos de
abordagem; indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo e dos sub-métodos de
procedimento; histórico e monográfico.
Primeiramente, procurou-se estudar o tema principal: as tendências
pedagógicas, segundo os principais autores deste tema. Foi estudado o livro
"Democratização da escola pública" de José Carlos Libâneo e "Escola e
democracia" de Dermeval Saviani. Tendo um conhecimento mais aprofundado
sobre o tema, foi escrito o capítulo I e consequentemente foram estudados os
demais temas referentes aos capítulos; II, III e IV.
Os temas dos capítulos posteriores ao primeiro foram todos
trabalhados ao mesmo tempo. Procurou-se estudar os conceitos básicos do
que seria o ensino de artes plásticas, segundo as leis atuais do Brasil e os
conceitos básicos oriundos de dicionários; principalmente o dicionário:
"Novíssimo Aulete, dicionário contemporâneo da língua portuguesa" e o
dicionário: "Minidicionário de Língua Portuguesa".
O capítulo I e o início do capítulo II foram estudados de acordo com
um conceito mais básico de formatação monográfico. Desconstruindo e
reconstruindo o título dos capítulos segundo o significado de suas palavras
formadoras da sentença a que se refere o título. Por exemplo: "a ênfase", "o
conhecimento das tendências pedagógicas" e "o ensino", estudando parte por
parte o capítulo sobre uma determinada ordem. No capítulo III, segundo a
influência do livro: "Escola e Democracia" de Dermeval Saviani, viu-se
necessário destacar a história da formação da Escola de Belas Artes. Neste
desdobrar histórico, descobriu-se uma preponderância política através do livro:
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"Arte-educação no Brasil" de Ana Mae Barbosa. Relatei assim, a influência
política na formação da Escola de Belas Artes e na arte / educação em geral,
do Brasil até os dias de hoje.
O capítulo IV se ver continuação do capítulo III, demonstrando as
tendências pedagógicas praticadas na atualidade pelas universidades
brasileiras. Neste capítulo e no capítulo posterior, o livro: "O desenho cultivado
da criança" se mostrou de grande valia, divulgando características distintas de
tendências pedagógicas existentes para o ensino do desenho. Foi necessário
que neste capítulo também abordasse o que seria a arte praticada nos curso
superior das universidades nos dias de hoje. Logo, surge uma necessidade de
se explicar o que é a Arte Contemporânea.
O capítulo V é o foco principal da pesquisa. Onde é relatado como
cada tendência pedagógica é capaz de dar um direcionamento diferente para
um mesmo aluno, resultando na formação de um artista diferente e mais que
isso e não menos importante; em um ser humano diferente. Neste capítulo
relatam-se as características distintas que cada tendência pedagógica pode
influenciar no ensino das artes plásticas. Estas características foram
esboçadas e são amparadas pelas teorias de José Carlos Libâneo, assim
como a autora Rosa Iavelberg.
Neste mesmo capítulo, demonstram-se citações do livro: “A arte do
aconselhamento psicológico" de May Rollo. Suas afirmações mostram-se
sucintas para um melhor ensino, seja ele amparado por qualquer tendência
pedagógica. Com este livro pode ser visto como a relação empática entre um
professor e um aluno é de uma força significante na sua formação universitária,
e como segundo os aspectos da ética e da psicologia deve ser feito uma
"orientação". Enfatizar a presença da psicologia no ensino, não é de
sobremaneira a intenção de enfatizar a tendência pedagógica da Escola Nova.
Mas sim, de demonstrar como conhecimentos dos mais variados, quando
estudados e bem direcionados para o ensino, podem elevar o impacto da
qualidade pedagógica.
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Em relação aos Anexos, deu-se mais enfoque na experiência
pessoal como aluno de diferentes professores da Universidade Federal do Rio
do Janeiro, durante a graduação de Pintura, da Escola de Belas Artes. Foram
analisadas as aulas de diferentes professores, assim como de diferentes
disciplinas, didaticamente, e principalmente sob o aspecto das “Tendências
Pedagógicas”. Toda experiência relatada no anexo serviu de material de apoio
para o capítulo V; podendo assim, com o ensino de disciplinas distintas
caracterizarem as diferentes tendências pedagógicas atuantes no curso
superior das artes plásticas.
A entrevista com Claudio Naranjo, presente no anexo 4, serviu de
base para ilustrar algumas características das tendências pedagógicas
articuladas no capítulo V. Foram achadas características presentes nas
Tendências Progressistas: Libertadora e Critico Social dos Conteúdos.
Os sites em sua maioria foram utilizados como complemento do
conhecimento adquirido inicialmente a partir dos livros citados anteriormente,
assim como para todos os capítulos, principalmente os capítulos II e IV.
Outros livros também foram utilizados, porém de forma condensada
em diversos capítulos. Um destes livros foi: "Pedagogia da Autonomia" de
Paulo Freire. Este livro serviu de amparo, tecendo características da tendência
Progressista Libertadora. Este livro foi um dos primeiros a serem lidos, e
justamente representou não só uma tendência, mas conceitos dos quais, por
ter um caráter ético pedagógico, pôde ser aproveitado em diversos capítulos
(Capítulos I, II e V). O livro "Formando + que um professor", de Elizabeth
Green, possibilitou abrir os horizontes quanto à pesquisa em prol da
Pedagogia. Neste livro, a autora busca relatar o quanto diferente professores
são capazes de fazer diferença na vida dos alunos. Dentre uma série de
aspectos trabalhados no livro, um dos pontos a destacar, foi como o estudo das
aulas por parte dos próprios professores é capaz de alavancar a qualidade do
ensino. Onde em conjunto, os professores são capazes de analisar a qualidade
do próprio ensino, sempre através dos olhos de outros professores. Uma
prática extremamente rara de ser praticada no Brasil.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I
A ênfase no conhecimento das tendências pedagógicas para o ensino. 12
CAPÍTULO II
O ensino das Artes Plásticas na Educação Superior. 20
CAPÍTULO III
O desenvolvimento histórico do ensino das Artes Plásticas. 34
CAPÍTULO IV
As tendências pedagógicas do Ensino Superior. 49 CAPÍTULO V
As diferenças das tendências pedagógicas do Ensino das Artes Plásticas na Educação Superior. 56 CONCLUSÃO 71
BIBLIOGRAFIA 76 ÍNDICE 82 APÊNDICES 84 ANEXOS 98
10
INTRODUÇÃO
Na arte contemporânea os artistas se veem cada vez mais forçados
a demonstrarem ao mundo a sua arte, revelando o seu estilo e sua visão. A
sua identidade visual e poética é imprescindível para sua inserção artística aos
dias atuais. Porém, é necessário entender que antes do pensamento plástico,
deve-se dedicar importância a um sistema de dominador e dominado, pois
antes do conhecimento adquirido existe uma postura pedagógica que nunca é
neutra.
Conhecer as tendências que influenciaram o ensino e a
aprendizagem da arte se mostra essencial, pois muitas vezes a formação do
ensino básico ao ensino superior se deu sem autonomia e conhecimento do
que fizeram deles. Assim como, para os professores, tais tendências servem
para nortear as suas próprias práticas pedagógicas.
No ensino das Artes Plásticas, na Educação Superior, há diferenças
no que se refere às tendências pedagógicas colocadas em prática em sala de
aula. Pode-se dizer que cada tendência pedagógica possui suas características
que podem estar vinculadas / associadas a determinados pensamentos
artísticos.
Por isso se faz necessário estudar e analisar as diferenças das
tendências pedagógicas do ensino das Artes Plásticas no Ensino Superior,
dentro de uma visão ampla e temporal (passado, presente e futuro). Em certas
situações essas tendências quase que se impõe ao ambiente social vivido pelo
artista limitando os seus passos e o seu “ser” livre para articular com a
sociedade, não incutindo ideias novas provocadoras, mas que de certa forma
são repetições de criações de um mesmo estado da pseudo percepção da
sociedade sobre a arte.
Todos nós somos influenciados pela sistematização política,
econômica e principalmente pedagógica. Desarticular e rearticular esta
influência são necessários para se tornar um ser humano não apenas
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reprodutor do existente, mas também articulador de novas premissas,
tornando-se verdadeiramente um ser criador. Sendo assim, deixando de ser
um ser dominado e passando a ser um ser autônomo.
Considerando as tendências pedagógicas influenciadoras de nossa
formação, como professor e artista, pergunta-se: i) que caminhos devem-se
tomar o “ser” professor e o “ser” artista? ii) que direções deve-se dar aos seus
alunos nos seus caminhos para se tornarem futuros artistas?; iii) quando uma
tendência pedagógica se diz mais apropriada que outra, dependendo das
circunstâncias, no ensino das artes plásticas?
Este estudo vem destacar questões importantes que podem estar
influenciando a formação artística do aluno, desde a sua educação básica à
sua educação superior.
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CAPÍTULO I
A ÊNFASE NO CONHECIMENTO DAS TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO
Há professores que dão aula, mas que não fazem ideia do que é a
tendência pedagógica. Do mesmo modo, há aqueles que conhecem a sua
existência, seja conscientemente ou não, do qual é o caso daqueles que as
escutam por alto, mas não se interessam em fazer desta sua realidade.
Marilene de Lima Körting Schramm explicita um pouco esta situação a seguir,
em um de seus artigos:
Não é difícil encontrar professores de arte, tanto da rede oficial como da particular, totalmente alienados de seu contexto histórico e social. Consequentemente, são mais resistentes a inovações no ensino e na aprendizagem da arte, principalmente no que se refere a metodologias contemporâneas. Outros professores até conhecem, mas não se preocupam em relacionar esses conhecimentos com sua prática pedagógica, revertendo para a sala de aula um ensino-aprendizagem de qualidade discutível. (“As tendências pedagógicas e o ensino-aprendizagem da arte”, 2012, p.3).
Revelando um pouco mais sobre a realidade acerca do
desconhecimento das tendências pedagógicas por parte dos professores de
arte, Schramm afirma:
Por exemplo, há professores de arte da escola pública que se sentem orgulhosos em dizer que são "liberais" porque agem em sala de aula de forma aberta e democrática, dando total liberdade aos seus alunos. Eles desconhecem o verdadeiro sentido da palavra. Isso se dá, muitas vezes, porque as escolas contratam pessoas sem preparo nenhum para ministrar aulas de arte. (“As tendências pedagógicas e o ensino-aprendizagem da arte”, 2012, p.4).
É muito comum este perfil de professor, que admite saber sobre o que é necessário
saber. De outra forma, há aqueles que fingem saber, simplesmente não se dão ao
trabalho de correr atrás para entender do que se trata.
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1.1- A ênfase
A ausência do conhecimento das tendências pedagógicas levam os
docentes, naturalmente, ao seu papel de dominado, junto com os alunos.
Revelando desconhecerem completamente o significado de tais classificações
pedagógicas e a função de cada uma delas.
Por dominado, não se entende como uma dominação literal e
escrachada, mas sim imposta. Demerval Saviani, professor, defensor da
tendência pedagógica progressivista histórico crítica, no livro: “Escola e
democracia”, articula o ato pedagógico ao ato político. Como exemplo desta
afirmação, podemos citar um de seus apontamentos:
A denúncia da Escola Nova foi apenas uma estratégia visando demarcar mais precisamente o âmbito da pedagogia dominante, então caracterizada como a pedagogia burguesa de inspiração liberal, em contraposição ao âmbito de uma pedagogia emancipatória, então identificada com uma pedagogia socialista de inspiração marxista.(“Escola e Democracia”, 2012, p. xxiii ).
Das palavras de Demerval Saviani entendemos o que é imposição e
como uma tendência pedagógica é apenas ferramenta de interesses políticos,
para manutenção de poder. Para mais detalhes; a pedagogia nova delimitou a
distância entre as classes, quando valorizava um perfil humanístico do aluno,
valorizando o psicológico e a experimentação. Isso aumentou a diferença entre
a escola publica e particular, pois a escola particular que já dominava tais
saberes de conteúdo tornou-se mais incrementada enquanto a escola pública
que mal dominava os saberes básicos tendeu-se a se centrar apenas no aluno,
deixando os aspectos referentes ao conteúdo de lado. Considerando que, em
sua grande maioria, quem frequentava os colégios particulares era a classe
dominante burguesa em contraposição a escola pública, do povo e
proletariado.
Este exemplo histórico de perpetuação e execução da Pedagogia
Nova enaltece como as tendências pedagógicas explicam e se encontram tão
enraizados na sociedade, fazendo do ato docente um mero “peão” de todo um
jogo político complexo e arraigado na sociedade, fazendo necessário estudar o
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passado para entender o presente. Um pouco mais sobre esse assunto é
discutido por Schramm, em um trecho de seu artigo a seguir:
Devem perceber que para interferir e transformar o presente é necessário conhecer e entender o passado. A compreensão da história lhes possibilitará uma ação transformadora no processo ensino-aprendizagem da arte, e lhes dará subsídio para repensar as relações sociais existentes nas instituições, tanto de Educação Infantil e Fundamental como de Ensino Médio e Superior. Contratam pessoas sem preparo nenhum para ministrar aulas de arte. (“As tendências pedagógicas e o ensino-aprendizagem da arte”, 2012, p.11).
De certa maneira, parece essencial à formação de um professor ter
conhecimento das tendências pedagógicas, pois de nada vale sua formação
básica para ser professor sem o conhecimento destas. Seu ato se torna sem
propósito e meramente sem função. As tendências pedagógicas pretendem
direcionar o trabalho docente, ajudando a responder questões sobre as quais
deve se organizar todo o processo de ensino: i) o que ensinar? , ii) Para
quem?, iii) Para quê? e iv) Por quê?.
1.2- O conhecimento das tendências pedagógicas
As tendências são resultados de mudanças ocorridos na sociedade
ao longo dos acontecimentos. Segundo Alves:
“Tendência é o ato de optar por algo, uma escolha entre várias alternativas; ou seja, uma vontade natural irrefletida ou subconsciente, que se transforma em um comportamento com ou sem a devida consciência do indivíduo". (ALVES, 2012, p.2).
As tendências, no seu âmbito geral, tendem a mudar com o tempo,
por serem reflexo da sociedade. O mesmo acontece com as tendências
pedagógicas que sofrem influência da mudança da sociedade, sendo
formulados por diversos teóricos do campo da pedagogia através dos tempos.
As teorias de tais pensadores sofrem a preponderância da concepção de
mundo, consequência do conjunto histórico em que viveram.
O papel essencial das tendências pedagógicas é guiar a prática
profissional docente dentro de sala de aula, adquirindo o professor e aluno uma
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atitude autônoma. Para o professor, se diz necessário conhecer as tendências1
pedagógicas para que se situe teoricamente e se auto defina, melhorando a
qualidade de ensino.
O primeiro a classificar as tendências pedagógicas foi José Carlos
Libâneo, dividindo-os em dois grupos distintos: “liberais” e “progressistas”. No
grupo da tendência “liberal” incluímos a tendência “tradicional”, a “renovada
progressivista”, a “renovada não diretiva e a tecnicista”. No segundo grupo
encontramos a tendência “libertadora”, “libertária” e a “critico social dos
conteúdos”.
Sobre a tendência liberal, podemos dizer, segundo Libâneo que a
pessoa inserida nesta tendência é vista com a capacidade e necessidade de se
adaptar a valores e normas vigentes na sociedade de classe, se
desenvolvendo e absorvendo conhecimentos de forma individual. Assim como,
esta pessoa em formação deve se adaptar a papéis sociais de acordo com
suas próprias aptidões. Segundo este pressuposto individualista, as diferenças
entre as classes sociais não são consideradas, pois se defende a igualdade de
oportunidades quando na verdade é deixada de lado a igualdade de condições.
Toda tendência liberal preza pelo conteúdo humanístico e a cultura geral.
A primeira subclassificação da tendência liberal é a tendência liberal
tradicional. Nesta tendência, ao pensar sobre a transferência de
conhecimentos, parte-se do pressuposto de que o aluno tem a mesma
capacidade de assimilação que o adulto. Obriga–o a adotar uma atitude
memorizadora e mecânica ao receber o conhecimento dado, executando
exercícios repetitivos para que ocorra a absorção do conteúdo. O professor tem
bastante destaque, e o aluno é apenas um receptor passivo. Todo
conhecimento dado é considerado uma verdade absoluta.
Outra subclassificação da tendência liberal é a tendência liberal
renovada. Dividida em progressivista e não diretiva. De uma forma geral, a
tendência liberal renovada progressivista enaltece o conteúdo gerado pelo
1 Conforme a origem da própria palavra tendência, originada do latim; tendentia nos diz: tender
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próprio ser humano ao longo da história, como desenvolvimento das aptidões
individuais do aluno, diferentemente da tendência liberal tradicional, que dá
destaque ao professor. Nesta tendência o aluno recebe mais importância ao
valorizar a sua capacidade de “aprender fazendo”, sendo estimulado pelo
professor para que corra atrás do conhecimento, valorizando o aprendizado
pela experimentação, pela pesquisa, pela descoberta individual, através do
estudo do meio, destacando os interesses do mesmo. Valoriza-se a tomada de
consciência citada por Piaget. Pode-se dizer que este é o principal viés desta
tendência pedagógica.
A tendência liberal renovada não diretiva, ou também chamada de
Escola Nova, foca seu ensino na formação de atitudes pelo aluno, valorizando
os meios psicológicos em vez dos tradicionais pedagógicos ou sociais. O aluno
deve correr atrás do conhecimento, fortalecendo a sua própria atitude,
enquanto o professor é apenas um facilitador. A avaliação escolar perde o
sentido na medida em que a definição do que será aprendido é definida pelo
próprio aluno, tornando o método de avaliação uma autoavaliação.
A última tendência liberal a ser citada é a tendência liberal tecnicista.
Implantada no Brasil, em 1971, através da Lei 5.692/71, esta tendência tem
como função articular-se diretamente com o sistema produtivo. Seu
pressuposto essencial é produzir indivíduos competentes para serem inseridos
no mercado de trabalho. O aluno recebe os conhecimentos de forma passiva
pelo professor, e sua organização de aprendizagem se dá através de
associações e memorização. A escola, o ensino e os métodos são dados
através de técnicas específicas. Os conteúdos são organizados seguindo uma
ordem lógica e psicológica.
Segundo Libâneo, de um lado um pouco mais distante das
tendências liberais, temos as tendências progressistas, das quais sustentam
uma visão crítica da realidade social, direcionando a educação segundo
parâmetros de cunho político. Outro autor que defende a tendência
progressista é Paulo Freire, cuja sua defesa é de cunho libertador logo se
para, inclinar se para, ser atraído por algo que chamou a sua atenção.
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chama: tendência progressista libertadora. Sua defesa é dar ao aluno,
liberdade e força, considerando sua classe social, a do oprimido, naturalmente
o aluno proveniente da escola pública. O aluno que possui essa prática
pedagógica em sua escola tende a ter consciência e o próprio reconhecimento
da realidade em que vive, e só tem sentido se resulta de uma aproximação
crítica dessa realidade. Logo esta realidade passa a fazer parte dos
conhecimentos previamente elaborados, dados em sala de aula.
De modo geral, o processo de aprendizado progressista libertador
segue o seguinte raciocínio: compreensão, reflexão e crítica. Os temas
abordados em sala de aula são retirados da problematização do cotidiano dos
educandos, utilizando sua própria experiência vivida como base, sendo
trabalhados em sala de aula através de grupos de discussão. Os alunos tem a
mesma importância que o professor, seguindo uma relação de aprendizado de
igual para igual. Tende-se principalmente para a prática da consciência crítica e
a organização grupal, assim como força, para buscar fazer a diferença, pois
este aluno oprimido deve libertar-se da exploração política e econômica. Nesta
tendência direciona-se para uma luta não apenas contra o sistema pedagógico,
mas também, econômico, político e social.
Para entender um pouco melhor esta tendência pedagógica,
segundo Paulo Freire, no livro Pedagogia da Autonomia, destaca-se um trecho
a seguir em que se fala sobre o ato crítico e a rigorosidade metódica:
E esta rigorosidade metódica não têm nada a ver com o discurso “bancário” meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, não se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. (FREIRE, Paulo., 2015, p.28).
Neste sentido a crítica é um dos combustíveis do aprendizado do
aluno nesta tendência. O aluno tende a se tornar real sujeito social, histórico e
cultural do desenvolvimento de seu próprio aprendizado e conhecimento,
buscando sua própria autonomia. De certa forma, o conteúdo não tem um fim,
pois seguindo a criticidade e a curiosidade epistemológica praticada pelo
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professor progressista libertador fará com que o aluno esteja em eterna busca
pelo conhecimento, tirando um peso do professor e ao mesmo tempo dividindo
este mesmo peso com o aluno, que seria o peso do aprendizado. Portanto, o
professor fornece as ferramentas, que serão apreendidas pelos alunos e
utilizadas pelos mesmos, ou seja, ensinar a pensar certo.
Há outra tendência pedagógica, muito parecida com a tendência
anterior. Chama-se de tendência progressista libertária. Nesta tendência o
vivido pelo educando e suas experiências adquiridas são totalmente levadas
em consideração na hora do aprendizado. O ato da prática e experiência
pessoal se torna essencial como base de aprendizado, que é uma das direções
que esta tendência pode levar: a autogestão. A aprendizagem se dá de forma
informal, via grupo, evitando e fugindo de qualquer tipo de impedimento. O
professor sugere as matérias, mas não as cobra, tomando uma atitude
orientadora, dando total liberdade ao aluno.
Posteriormente a Paulo Freire, Demerval Saviani defende a
tendência progressista crítico social dos conteúdos, ou tendência histórico
crítica. Nesta tendência, focam-se os conteúdos e sua relação com as
realidades sociais. Logo, podemos ver um aspecto diferente em relação às
duas tendências anteriores; se dá mais destaque aos conteúdos e a relação
desta em comparação com as realidades sociais dos alunos. Parte-se do
pressuposto de que todo aluno deve ser preparado pela escola para a vida
adulta, e todas as questões relacionadas a esta. Dão-se condições para que
cada aluno tenha uma atitude autocrítica, com conhecimento dos conteúdos
básicos universais. A autocrítica se refere à capacidade do aluno absorver os
conhecimentos universais, ter capacidade e reconhecimento de seus próprios
conhecimentos e experiências e os compará-los ao conhecimento universal2.
Assim, se opera de certa forma a socialização do aluno. O professor tende a
mediar esta busca de conhecimento pelo aluno, e executar esta comparação
de conhecimentos através de um método dialético; o conhecimento universal
em comparação ao conhecimento vivido, pessoal de cada aluno. Cada aluno
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aprende de acordo com sua própria estrutura cognitiva e se torna o ponto
central desta tendência pedagógica.
1.3- O ensino
Não é difícil de comparar a diferença de qualidade no ensino
resultante de um professor que entende sobre as tendências pedagógicas e as
aplica para um que não as compreende e mesmo que sim não as aplica dentro
de sala de aula.
O docente conhecedor de tais tendências rege uma quantidade
grande de ferramentas, possíveis de serem utilizadas para o ensino. Sua
capacidade dentro de sala de aula é promissora, podendo este passar suas
convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais. Pode-se aplicar mais de
uma tendência dentro de sala, ao mesmo tempo, ou quando necessário apenas
uma. Aumentado assim a qualidade de ensino.
Um professor ausente dos conhecimentos das tendências
pedagógicas pode se tornar um professor cego, preso, sem ferramentas para
enfrentar as mais diferentes situações e sem conhecimento da realidade em
que vive, e por isso distante desta.
De forma geral, vê-se um descompromisso das tendências liberais
com as transformações da sociedade, resultantes de uma atitude neutra
aparentemente, que na verdade se vê politicamente impositiva e dominadora.
Já as tendências progressistas, revelam uma atitude oposta à liberal, de cunho
crítico e esclarecedor no seu âmbito geral, dando mais valor ao aluno e ao seu
conhecimento pessoal.
2 Conhecimento universal: ou também chamado de conhecimento humano, se refere aos
conhecimentos que foram incorporados pela humanidade ao longo da história da sociedade.
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CAPÍTULO II
O ENSINO DAS ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR
Para entender acerca das tendências pedagógicas presentes no
curso superior de artes plásticas, deve-se dar o devido destaque ao ensino das
artes plásticas na Educação Superior. O que é este ensino? E qual é a
diferença deste para a Educação Básica. E não menos importante; Não seria
necessário saber como se desenvolveu este ensino do qual está presente nos
dias de hoje (Contemporâneo)? E o que se passou para que este ensino seja o
que ele é hoje?
2.1. O ensino das Artes Plásticas
Neste capítulo será trabalhado, de forma generalizada o que é o
ensino das artes plásticas. Fala-se, justamente de forma generalizada devido a
enorme significação que a arte tem para o ser humano. Um conceito que pode
ser considerado subjetivo variando de acordo com os aspectos culturais,
históricos e individuais.
BRASIL (1997) apud DINELLY afirma que: A arte está presente e
enraizado no desenvolvimento do ser humano desde os primórdios da
civilização. Considerado um conhecimento é passado de geração a geração,
independente de ser ensinado. Apesar do ensino das artes plásticas estarem
entrelaçado com o desenvolvimento da arte como um todo, pode-se considerar
que há um paradoxo entre ensinar artes plásticas e o desenvolvimento natural
das artes plásticas no mundo. A arte que é falada e desenvolvida pelos artistas
é diferente da arte que é ensinada nas escolas.
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Para explicar a diferença entre o artista e o aprendiz, é sensato
pensar no academicismo3. As academias surgiram para ultrapassar em níveis
de importância o sistema corporativo e artesanal das guildas medievais de
artistas. Seu princípio era ensinar a arte através de uma sistematização
incluindo teoria e prática, intelectualizando o artista. Sendo extremamente
dogmático e conservador, normalmente influenciados pelo sistema absolutista,
onde se prevalecia a prática da arte neoclássica. Só poderia ser considerado
artista aquele que reproduzisse de seus preceitos e conhecimentos.
Segundo Caldas Aulete a palavra "arte" tem uma série de significados,
destacando-se dentre eles:
1- Capacidade e aptidão do ser humano de aplicar conhecimentos e habilidades na execução de uma ideia, de um pensamento; essa aplicação e essa execução: Esse quadro revela toda a arte de da Vinci.
2- Atividade criadora do espírito humano, sem objetivo prático, que busca representar as experiências coletivas ou individuais através de uma impressão estética, sensorial, emocional, como tal apreendida por seu apreciador.
4- Conjunto de preceitos, regras, técnicas etc, indispensáveis à realização de qualquer atividade criadora, ofício etc.; esses preceitos etc. aplicados a alguma atividade, algum ofício etc.: arte de pintar; arte da ourivesaria.
8- Artifício, engenho, esmero na criação de algo, p. op. à naturalidade: Este prato foi preparado com muita arte. (CALDAS, Aulete. 2011, p. 155.)
3 O Academicismo surgiu na França na Academia Real de Pintura e Escultura, por volta de
1648, onde era imposta uma pedagogia fortemente sistemática, hierarquizada e ortodoxa. Influenciou a arte de nível superior segundo as correntes: barroca, neoclássica e romântica. Normalmente se refere à arte regulamentada no ensino das academias do século XIX. Minimizando-se a importância da criatividade como uma contribuição original e individual. Os mestres eram extremamente valorizados, e o ensino beirava uma concepção de princípios éticos, onde se procurava ensinar e valorizar a arte clássica. Estes preceitos diferenciavam o ensino da academia do artesanato, pois os afastava de uma concepção manufaturada, artesanal, e os aproximava de uma concepção mais intelectual. Estas academias foram no decorrer do tempo, extremamente vinculadas com o absolutismo, traduzindo a influencia do Estado. Mais tarde veio a ser "atacado" pelos impressionistas e modernistas, que não compactuavam de seus preceitos, pois era absoluto, conservador, não vinculado com o principio de criatividade como forma de trabalhar a individualidade e originalidade, entrando em declínio. Nos últimos tempos seu ensino retornou com algumas modificações aos meios institucionais das universidades de diversos países. Pois, ocorreu o reconhecimento, assim como, a necessidade de que um artista plástico deve ter seu lado intelectual bem desenvolvido para poder se articular no que seria praticado no mundo de hoje na Arte Contemporânea. Logo, a arte pode ser usada como meio de manobrar um povo e instituir uma influencia; politica, social e econômica, distanciando e valorizando um sistema de classes. Podendo a escola ser esquecida e abandonada dos conceitos artísticos da atualidade.
22
Há de se considerar e salientar o significado número dois, pois
explicita que a arte é uma atividade criadora "que busca representar as
experiências coletivas ou individuais através de uma impressão estética". Ou
seja, é um meio de se resguardar um pensamento e/ou experiência através de
uma impressão. Podemos entender o passado através da leitura4 de uma obra
de arte, analisando o contexto histórico e o que o artista quis expressar. Um
meio de se perpetuar a história da humanidade.
CALDAS, em seu dicionário também define a expressão "artes
plásticas", do qual possui o seguinte significado: "1- As que empregam
elementos visuais como expressão: o desenho, a pintura, a gravura, a
escultura, etc."(2011, p. 155)
Podemos elencar os seguintes elementos visuais pertencentes ao
ser humano como ferramentas de expressão: recorte e colagem, cerâmica,
escultura, fotografia, gravura, quadrinhos, desenho, pintura, tapeçaria,
instalação, cinema, vídeos, meios eletroeletrônicos, design, artes gráficas, web
art, etc.
A seguir, considerando o significado de "artes" e "artes plásticas",
prosseguimos o estudo com as devidas questões: o que é o ensino das artes
plásticas?; e qual a diferença entre ensinar artes plásticas na educação
superior e na educação básica?
O ensino da arte, também chamado de "arte educação" ou
"educação artística" é considerado uma disciplina da educação que enseja ao
individuo o ingresso à arte através da expressão humana e forma de
conhecimento. Desenvolve o pensamento artístico e a percepção estética,
distinguindo um modo próprio de direcionar e dar sentido à experiência
humana. Através da arte, desenvolve-se a sensibilidade, a percepção, e a
4 Ana Mae Barbosa, educadora brasileira, reconhecida pela sua atuação em Arte-educação no
Brasil, criou a Proposta Triangular, que se constituía de um programa educativo para o ensino de arte. Esta proposta possui três abordagens: Contextualização Histórica (saber conhecer sua contextualização histórica), Fazer Artístico (fazer arte) e Apreciação Artística (saber ler uma obra de arte). O objetivo desta proposta era modernizar o ensino da arte, no Brasil, no momento da criação dela, que já poderia classificá-lo (aquele momento) como atrasado.
23
imaginação, seja realizando uma forma artística, seja apreciando e conhecendo
formas produzidas pelo próprio e por outros, reconhecendo formas na natureza
ou de diferentes culturas.
Esta educação artística acontece pela mesma forma que a educação
geral apreendida pelo indivíduo durante a vida, que é: assistematicamente,
através dos meios de comunicação de massa e das manifestações não
institucionalizadas da cultura, como as relacionadas ao folclore (entendido
como manifestação viva e em mutação, não limitada apenas à preservação de
tradições) e sistematicamente; na escola ou em outras em instituições de
ensino.
O ensino da arte educação deve ser orientado na direção de juntar a
arte e a educação, criando uma articulação entre as duas. Quem fica a cargo
desta união é o professor de artes. Responsável por fornecer o conhecimento e
também alimentar a curiosidade dos seus aprendizes. O professor é
responsável por salientar a importância das artes visuais, utilizando da ética
como princípio norteador e regulamentador destas atividades.
A arte educação não deve ser utilizada apenas como meio de
aperfeiçoamento pessoal ou individual, mas também facilitar e desenvolver no
ser humano a capacidade expressiva, e fazê-lo compreender o que ocorre nos
meios de expressão e o significado de interagir com a arte. Um local aonde
pode se encontrar arte, seja atual ou antiga, de forma ampla e precisa é nos
museus.
A arte compreende-se como reflexo de uma forma de pensar do ser
humano referente a uma determinada época e/ou região. Tanto a arte clássica
quanto a arte de vanguarda representam a forma com que o ser humano via o
mundo nestas épocas. Como exemplo, podem-se citar as artes plásticas
desenvolvidas nos países da Europa, que se diferem tanto no seu
desenvolvimento quanto nos seus motivos das artes plásticas dos países da
América do Sul ou da América do Norte.
24
No Brasil, a educação artística é amparada por lei. Presente na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação(LDB):
O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. ( Lei nº 12.287, de 13 de Julho de 2010, Artigo 26, Parágrafo 2°.).
Outra lei em substituição a esta, foi desenvolvida posteriormente
atualizando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no que se refere ao
ensino da arte. Nesta atualização, ou substitutivo da lei anterior, datada de
2016, afirma-se que as artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
linguagens que constituirão o componente curricular do ensino de arte
obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de que trata o § 2º do art.
26 da referida Lei. (PRESIDENTE DA REPÚBLICA /2016)
2.2. As Artes plásticas na Educação Básica
Começando a pensar sobre ensino das artes plásticas na educação
básica, há de forma disseminada na sociedade a capacidade de pensarmos em
crianças em seus momentos de lazer, preparando cartazes para festas e
enfeites. Entretanto, a arte têm muitos valores e conceitos a se oferecer a
sociedade como um todo. Não se deve limitar e associar arte a lazer. Seria
muita ingenuidade alimentar um pensamento deste viés.
Para entender um pouco melhor sobre a arte que deve ser praticada
na Educação Básica, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em Arte
são um ótimo exemplo de direcionamentos pré-estabelecidos para se aplicar
pelos professores de arte-educação dentro de sala de aula.
No PCN, cita-se que o aluno terá a possibilidade de desenvolver sua
capacidade visual e estética em diferentes áreas artísticas como: as artes
visuais, a música, a dança, e o teatro. Sua produção poderá ser desenvolvida
sobre influencia de sua própria cultura, assim como contextualizar seu
conhecimento prévio com os conhecimentos de diversas culturas e épocas.
Desta forma dá-se um direcionamento mais contemporâneo a sua produção,
onde há uma interlocução maior com as diferentes linguagens
25
(interdisciplinaridade). Faz-se assim importante o seu papel na sociedade,
desenvolvendo sua autonomia crítica, de opinião, gosto, sensações, ideias, etc.
No ensino da Arte para o Ensino Básico, destacam-se três eixos
orientadores: produzir, apreciar e contextualizar. Cria-se assim, a aliança entre
teoria e prática, fazendo da Arte, não apenas uma disciplina para produção e
criação, mas também que é capaz de aliar a teoria à prática criando um
pensamento- histórico-crítico.
Pensando-se um pouco mais sobre o PCN, leva-se a crer que a
capacidade do aluno de produzir e de apreciar já é comumente aplicada nas
escolas. Entretanto, a produção e apreciação se tornam mais enriquecidas
quando exploradas conjuntamente com a contextualização. Muitas vezes o que
se vê, são professores, dos quais apenas levam os seus alunos a museus
explorando as exposições de forma teórica ou os limita a apenas executarem
exercícios práticos dentro de sala de aula.
Os PCNs5 6 são organizados sobre diversos critérios, destacados a
seguir: BRASIL (1997, p. ) apud DINELLY.
• a arte como expressão e comunicação dos indivíduos;
• elementos básicos das linguagens artísticas, modos de articulação formal, técnicas, materiais e procedimentos na criação em arte;
• produtores de arte: vidas, épocas e produtos em conexões;
• diversidade das formas de arte e concepções estéticas da cultura regional, nacional e internacional: produções e suas histórias;
• a arte na sociedade, considerando os artistas, os pensadores da arte, outros profissionais, as produções e suas formas de documentação, preservação e divulgação em diferentes culturas e momentos históricos.
5 O PCN-ARTE foi organizado seguindo os conceitos da "Proposta Triangular" criado por Ana
Mae Barbosa, em 1987, direcionado para o Ensino Fundamental e Médio brasileiros. 6 O PCN-ARTE é uma proposta bem difícil de ser realizada, devido à necessidade de que cada escola tenha recursos humanos básicos; meios para que diferentes professores com qualificação possam dar aula, formação continuada através de acompanhamento pedagógico e recursos materiais necessários à prática de cada linguagem artística. A solução para esta situação nas escolas seria que cada escola tenha sua própria proposta pedagógica bem elaborada, decidindo como utilizar de seus recursos humanos e materiais disponíveis, provendo seu aluno com um ensino de acordo com sua necessidade e possiblidade real de ser realizada.
26
2.2.1. As Artes Visuais7
Segundo os parâmetros curriculares nacionais, as artes visuais
compreendem-se em três setores básicos necessários para o seu
direcionamento; produção, apreciação e produção cultural histórica.
A produção é a área responsável pela parte da criação. Dos
elementos visuais necessários deste meio, utilizam-se: o desenho, pintura,
colagem, gravura, construção, escultura, instalação, fotografia, cinema, vídeo,
meios eletroeletrônicos, design, artes gráficas, etc. Trabalha-se a análise, os
elementos das linguagens visuais e suas articulações nas imagens produzidas.
Representa-se e comunica-se através destes elementos visuais. Exerce-se
nesta área da produção o conhecimento para a utilização dos materiais,
suportes, instrumentos, procedimentos, e técnicas, dos quais se estuda suas
qualidades expressivas e construtivas.
Na apreciação, trabalha-se a percepção e análise das formas
visuais, a articulação das imagens produzidas, de diferentes culturas e épocas.
Identifica-se, observa-se e analisam-se as diferentes técnicas e procedimentos
artísticos, assim como, faz-se do mesmo em relação às produções visuais,
sejam originais ou reproduções.
A produção cultural histórica é a compreensão do valor das artes
visuais na vida das pessoas e a relação da mesma com a ética que permeia o
trabalho da sociedade contemporânea. Além disto, busca-se o conhecimento
sobre a arte envolta e dentro da sociedade.
2.2.2. A Dança
A dança é um meio de expressão humano. Para toda dança ocorrer
necessita que aconteça um movimento. A dança não corresponde apenas a
7 Hoje, compreendem-se e encontram-se as Artes Visuais dentro do que se chama: "Arte
Contemporânea". Segundo STRICKLAND (1999) apud JUNIOR(2009) esta arte surge no século XX abrigando todos os tipos de artistas e tendências.
27
este significado, mas também todo movimento é e pode ser a conclusão de
uma expressão. Através da dança nos expressamos nos comunicamos, em um
determinado espaço. Todo movimento pode ser considerado nato e/ou inato.
Dançar é um meio de expressão humana, do qual podemos
transmitir mensagens. Segundo PORTINARI (1989) apud JÚNIOR (2009),
dançar é se expressar através de movimentos coordenados, representando os
aspectos culturais humanos, tendo sua essência no estudo e na prática da
qualidade do movimento. Na dança podemos ainda incluir duas características
principais a este movimento: corpo e o espaço.
Quando se pensa em dança não necessariamente se pensa em
música. Os dois podem se articular, como podem se desenvolver
independentemente. Cada um destes dois tipos de expressão humana
possuem seus próprios fundamentos, de forma individualizada.
A dança surgiu através das religiões primitivas, sendo praticada
somente por homens e normalmente relacionada à religião. Depois de um
longo período a dança deixou de ser considerada como arte, cultura e língua e
passou a ter seu valor próprio, penetrando nos mais variados ambientes
urbanos.
Hoje em dia, segundo FARO (1998) apud JUNIOR (2009) a dança
contemporânea é: "aquilo que se faz hoje dentro da dança, não importando
estilo, procedência, objetivos ou formas e que os coreógrafos da atualidade são
altamente intelectualizados".
A música é o que estimula a movimentação e a dança, por outro
lado, também restringe o movimento. Isto acontece porque a sociedade possui
estilos de danças que se encaixam, ou que são mais apropriadas a certos
estilos de música. Por conseguinte, quando a dança não é apropriada a certo
estilo musical, pode se considerar uma forma de limitar a movimentação.
28
Os conteúdos específicos da dança podem se dividir em três
aspectos diferentes: dançar, apreciar e dançar, e as dimensões sócio-políticas
e culturais da dança.
2.2.3. A Música
Compreende-se a música uma área das Artes Plásticas provida de
sua própria história. Ao ser ensinado nos colégios, busca-se desenvolver as
capacidades, habilidades e competências do ser humano, tornando-o apto a
sentir, expressar e pensar a música.
Para saber o que é musica primeiro deve-se entender o que é som.
Som é a vibração produzida nos corpos elásticos, distinguindo-se em dois tipos
diferentes; regulares e irregulares. Os sons regulares possuem altura definida,
e possuem de fato notas musicais; como dó, ré, mi, fá, só, lá, si. Há variações
como os sustenidos e os bemóis. Os sons irregulares são os barulhos que
ouvimos no dia a dia; os sons das marretas nas obras, as buzinas dos carros,
sons dos navios e barcas, etc.
Segundo MED (1996) apud JUNIOR ( 2009) afirma-se que: "Música
é a arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem,
equilíbrio, e proporção dentro do tempo". Sendo assim, a música tende a ser
composta por harmonia, melodia e ritmo. Harmonia são os sons simultâneos,
ou melhor, aqueles que são tocados ao mesmo tempo. Melodia são os sons
sucessivos, aqueles que são tocados uns após os outros, e ritmo é o
andamento ou velocidade da música.
Seguindo os preceitos de desenvolvimento da aptidão humana
através da música, divide-se a música em três aspectos distintos: expressão e
comunicação em Música (improvisação, composição e interpretação),
apreciação significativa em Música (escuta, envolvimento e compreensão da
linguagem musical) e compreensão na Música como produto cultural e
histórico.
29
Na educação básica, não se ensina música para as crianças com o
intuito de se formarem músicos, mas sim formar bons ouvintes, com
capacidade de entender do que é formada uma música: harmonia, melodia e
ritmo, assim como suas propriedades: altura, intensidade, timbre e duração. A
criança passa a ter capacidade de identificar as propriedades do som,
identificando os elementos que a compõe. A música tende a ajudar a criança
no ritmo do corpo, andar, caminhar, correr, saltar, pular, e tantos outros
movimentos e ritmos.
2.2.4. O Teatro
O teatro é a representação de uma vivência através de
apresentações, dramatizações e construções de cenas, onde se podem
observar diferentes culturas em diferentes momentos da história. Basicamente
é considerada a capacidade humana de representar a vivencia de outra
pessoa. Na escola permite que os alunos desenvolvam melhor a percepção e a
capacidade de sentir diferentes situações do cotidiano.
O teatro pode ser dividido em três áreas distintas; teatro como
comunicação e produção coletiva, como apreciação e como produto histórico
cultural. Também pode ser dividido em diferentes formas de narrativas e
estilos; tragédia, drama, comédia, farsa, melodrama, circo e teatro épico.
Segundo BERTHOLD (2000) apud JUNIOR (2009) o teatro advém
de diversas fontes, dentre elas as danças e os costumes populares. Pode-se
identificar o teatro na história, desde a Grécia, sendo utilizado
educacionalmente para repassar o conhecimento, assim como a prática
literária. Na Roma antiga, o tema da tragédia e comédia era amplamente
divulgado. No período medieval, o teatro educava as massas. Na Renascença,
o teatro passou a ser divulgado amplamente para toda a sociedade, ganhou
destaque na educação do povo, e passou a ser trabalhado de forma particular
por cada povo que a praticava.
30
O teatro pode ser articulado com diferentes tipos de linguagens
artísticas, seja com a música em um musical ou ópera, seja com as artes
plásticas, cujo objetivo é confeccionar o cenário teatral.
Na escola o teatro pode desenvolver a concentração da criança,
ajuda-los a trabalhar em equipe, tenderem a se sentirem mais a vontade e
perderem a vergonha a frente de um público. Segundo DESGRANGES (2003)
apud JUNIOR (2009), o teatro deve revelar e denunciar a vida como ela é,
dando oportunidade para que o público se reconheça, se enxergue, dando
oportunidade para que o ser humano altere seus conceitos e hábitos na vida.
Na escola, tende a ajudar o aluno a superar as dificuldades e situações
diferentes que podem vir a ocorrer durante a vida.
Muitas vezes a criança tende a dramatizar de forma inconsciente
durante a infância. Este tipo de ato infantil tende a ser classificado como
método dramático. Quando a criança representa de forma intencional chama-
se jogo dramático; nesta classificação a criança representa conscientemente.
Este ato tende a fazer a criança diferenciar o que é ilusão do que é realidade. A
diferenciação destes dois atos tende a ajudar no desenvolvimento da criança.
2.3. O ensinar das Artes Plásticas
As Artes Plásticas ensinada na Educação Básica não devem ser
encaradas apenas e somente como atrativo visual para ornamentação de
festas, mas sim capaz de formar indivíduos constituídos de uma bagagem
social e cultural considerável; sendo estas bagagens ferramentas para a prática
artística. A Arte engrandece o ser humano e o revaloriza, destacando seu
histórico cultural, tornando-o pertencente a uma sociedade.
A arte não pode ser considerada algo mecânico, repetitivo e sem
vida. O professor é ferramenta necessária e fundamental para o ensino das
artes plásticas. É a sua didática que será capaz de influenciar os alunos, e
mostrar a eles que aula de arte não é passatempo, mas também conhecimento
e que se encontra nas "entranhas" do ser humano desde os primórdios de sua
31
existência. Deve-se dar ênfase e estímulo para o desenvolvimento do
interesse, entusiasmo8, autonomia, pesquisa e problematização do conteúdo.
Nas escolas públicas se faz presente uma enorme dificuldade de
infraestrutura para a aplicação de todas as aulas necessárias e obrigatórias na
Educação Básica.
É importante frisar que o ensino da arte está em pés de igualdade
com todas demais disciplinas lecionadas nas escolas. Assim como, sua prática
deve ser cada vez mais interdisciplinar, estando presente nas diferentes áreas
desenvolvidas pelo ser humano. Da mesma forma, deve-se fazer a
comparação entre o ensino das artes plásticas na educação superior e na
educação básica. Sendo o conteúdo artístico não apenas limitado a seminários,
academias, congressos e etc., mas que também seja realidade nas escolas.
2.4. As Artes Plásticas na Educação Superior
O artista plástico formado em uma instituição no ensino superior é
criador de obras; desenho, pintura, gravura, escultura, colagem, utilizando de
elementos visuais e táteis para representar, seja o real, seja o imaginário.
Podendo trabalhar com inúmeros materiais, seja tinta, gesso, argila, madeira,
metais, programas de computador, além de muitas outras ferramentas
tecnológicas.
O artista pode expor seus trabalhos em galerias, museus, e lugares
públicos. Pode trabalhar com ilustração de livros e periódicos, assim como,
com ferramentas de animação, educação eletrônica e digital, produzir vinhetas
para TV e slides. Além destas funções, o artista pode gerenciar acervos e
mostras em centros culturais e fundações.
8 Segundo Paulo Freire, no livro "Pedagogia da Autonomia", 2015, página 33, cita-se a
curiosidade epistemológica. Esta curiosidade é responsável por criar uma "inquietação indagadora". É considerada uma busca por conhecimento, sendo um fenômeno natural da existência humana, ou até mesmo necessário para que se ocorra esta existência. Sem criatividade não há curiosidade, capaz de nos fazer impacientes frente ao mundo, nos tornando aptos a acrescentar algo à sociedade, ao planeta Terra.
32
O mercado de trabalho para o artista é totalmente aberto,
considerando que o mesmo seja aberto a novas formas de expressão, e que
não fique focado apenas em produzir a arte. O mesmo pode trabalhar em
museus, institutos e centros culturais, atuando como monitor, educador,
organizador de eventos, curadoria e coordenador. Outro local, comum de se
ver artistas com vinculo de trabalho é nas instituições sem fins lucrativos
(ONGs).
2.5. As Artes plásticas na Educação Básica x As Artes
Plásticas na Educação Superior.
As artes plásticas instruídas para o ensino da educação básica é
diferente das artes que é ensinada na educação superior. No ensino das artes
da educação básica os professores são formados em "Licenciatura em
Educação Artística" ou "Licenciatura em Artes Visuais". Enquanto o artista
plástico oriundo do ensino superior recebe ensinamentos de professores que
possuem mestrado e até mesmo doutorado, sendo na maioria das vezes
artistas graduados em "Artes Visuais" ou especializados em determinada área
das artes plásticas: "Pintura", "Desenho", "Gravura" e "Escultura". Podendo o
mesmo atuar em diferentes áreas.
O licenciado em artes visuais tende a ser formado e direcionado
principalmente para o ensino da educação básica; ensino infantil, fundamental
e médio. Atua tanto em escolas públicas quanto em escolas particulares. Seu
ensino prevê o fazer artístico, a apreciação das obras de arte e a
contextualização histórica cultural e social das mesmas. Além disto, tende a ser
direcionado para a produção, pesquisa e crítica das artes visuais. O mesmo
desenvolve a percepção, reflexão e o potencial criativo.
Sua formação de licenciado normalmente contempla o conhecimento
dos conteúdos específicos das artes visuais: desenho, pintura, escultura,
gravura e artes tecnológicas e digitais. Assim como, possui uma formação
teórica; história das artes, crítica das artes, cultura brasileira e estética
filosófica. Inclusive aprende conteúdos da área pedagógica: metodologia do
33
ensino das artes visuais, psicologia educacional, didática e organização da
educação brasileira. Tendo um conhecimento bem diversificado o professor
que possui licenciatura requer estar constantemente atualizado e integrado às
outras áreas artísticas: artes visuais, cinema, dança e literatura.
Pode atuar nas mesmas áreas de atuação do artista plástico, com a
diferença que possui a formação voltada para ensinar na educação básica.
Diferentemente do artista plástico, tende a ter um conhecimento de tudo que o
artista plástico sabe, mas bem menos especializado e aprofundado.
As artes plásticas ensinada no ensino básico foca na criança e no
jovem, com o intuito de formar um ser humano, enquanto as artes plásticas
ensinada no ensino superior foca-se na formação de um artista plástico com
conhecimentos específicos aprofundados.
34
CAPÍTULO III
O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO ENSINO DAS
ARTES PLÁSTICAS
Compreender como é o ensino das artes plásticas dos dias de hoje
necessita-se perceber o desenvolvimento da história da pintura e das artes
plásticas, de forma generalizada no Brasil, segundo o aspecto das tendências
pedagógicas. Do passado até o presente, dentro das universidades.
3.1. O aspecto histórico; o preconceito.
O tema deste capítulo gira em torno de um preconceito que foi
formalizado desde os primórdios da formação do Brasil. Este preconceito foca-
se no desenvolvimento das artes no Brasil a partir de 1800, pouco antes da
vinda definitiva dos portugueses para o Brasil.
Por volta de 1800, a tradição artística brasileira era barroco-rococó.
Esta arte barroca tinha muita originalidade do próprio Brasil, de origem popular,
executada por mestiços em sua maioria. Muito pouco do Neoclassicismo havia
sido desenvolvido até então. Nesta mesma época chega a Missão Francesa no
Brasil, deixando toda tradição anterior de lado; uma tradição que poderia ser
chamada verdadeiramente de "brasileira". Esta missão trouxe para o Brasil a
arte que vigorava da Europa; a arte Neoclássica.
Este processo de substituição da arte barroca pela arte neoclássica
iniciou o afastamento da arte brasileira e popular. Afastando-se uma arte do
seu povo, de sua massa e concentrando-o na mão da aristocracia. Pois a
necessidade era que a elite governasse o país, exercendo sua influência. Este
processo iniciou certo preconceito do povo em relação à arte. Pois a arte ficou
a serviço dos nobres, e acabou ganhando um caráter supérfluo, acessório, de
requinte.
35
Neste momento a arte perde seu valor enquanto arte, iniciando-se o
destaque dado à literatura. Podendo um artista não ter a mesma importância e
papel de destaque na sociedade que um poeta. A ordem jesuítica teve papel de
destaque neste processo, elevando o status dado à literatura, demonstrando
acentuado preconceito em relação às atividades manuais; as Artes Plásticas.
As atividades manuais costumavam ficar a cargo dos escravos, enquanto o
ensino jesuítico dava destaque ao curso de letras humanas.
O desenho começou a ser aplicado ao ensino em 1800, sendo
ensinado pelo artista Manoel Dias de Oliveira. Ao mesmo tempo introduziu o
estudo do modelo vivo, prática muito comum da Missão Francesa aqui no
Brasil. Sabe-se que a Missão Francesa era artisticamente direcionada para
uma linguagem Neoclássica, consequência da influência exercida na França
por Napoleão Bonaparte. Esta mesma direção era utilizada como via de
representar o Reinado e o Império. Outro artista; Alexander Van Humboldt,
alemão, foi escolhido pela corte portuguesa para organizar uma Escola de
Belas Artes formada inicialmente por artistas e artificies franceses.
Sabe-se que em 1811, ainda sobre influência de D. João VI, as artes
eram adotadas como símbolo de distinção e refinamento, sendo praticadas
pelos príncipes. Professores eram contratados com o dever de dar aulas à
corte portuguesa. Entretanto, para estes mesmos da corte achava-se que o
trabalho manual era destinado às pessoas de baixo escalão; os escravos, que
eram explorados em seus trabalhos manuais. De fato, para aquele que
praticasse qualquer tipo de atividade manual seria considerado um preconceito.
Para D.João, o ensino literário e retórico era mais apropriado para desenvolver
a inteligência brasileira.
O início do ensino superior artístico, na Educação Brasileira,
antecedeu bastante o desenvolvimento do ensino primário e secundário. O
ensino artístico de grau superior era usado pela elite como forma de
manutenção de seu status e poder. O argumento usado pela elite para esse
descomprometimento com os outros ensinos, era que este ensino de grau
superior servia como fonte de formação e renovação do sistema de ensino em
36
geral como um todo. Na verdade a elite queria defender a colônia dos
invasores e movimentar culturalmente a Corte, assim como fortalecer-se sendo
de sua responsabilidade governar o país.
No início para o que veria a ser a implementação da pedagogia
liberal no Brasil, por volta de 1855, a academia de belas artes foi dividida em
dois polos: as Artes Mecânicas; constituída em sua maioria pelo povo e as
Belas Artes; do qual faziam parte as elites9. A intenção desta divisão criada por
Araújo Porto Alegre, diretor da academia, era estabelecer uma ligação entre a
cultura de elite e a cultura de massa. Segundo um cunho mais artístico, quem
pertencia às Artes Mecânicas poderia ser classificado de artesão.
Diferentemente, quem pertencia às Belas-Artes era classificado de artista; uma
área mais nobre, para aqueles que tinham a capacidade realmente criativa. As
duas classes respectivamente, deviam atuar e estudar conjuntamente sobre o
mesmo teto com o intuito de que diminuíssem as diferenças de classe. O que
na realidade não deu muito certo, aumentando-as.
A intenção foi boa, porém o resultado não tanto. Justamente porque
apesar de as duas classes artísticas estudarem as mesmas disciplinas básicas,
mais tarde a formação de cada uma delas era preenchida com matérias
distintas. O Artesão ou artífice se aperfeiçoava com a aplicação prática e
mecânica10, enquanto aquele que se autoproclamava artista, expandia seus
conhecimentos de uma forma mais teórica.
Esta divisão de classes na área artística apenas se acentuou mais
com o passar do tempo, aumentando a segmentação social, que já acontecia
também nas escolas.
9 Esta elite tinha a tendência de defender os interesses do império, servindo de interesse dos
mesmos para defender um estilo neoclássico e ao mesmo tempo apoiar a conservação do poder. Em torno de 1889, data-se este acontecimento. 10
Segundo o livro "ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL", de Ana Mae Barbosa, 2009, página 22, o ensino das artes no Brasil, desde a colonização sofria enorme influência da atuação da ordem dos jesuítas. Dava-se enorme destaque para os estudos literários e retóricos destinado aos "homens livres", separando-os dos ofícios manuais e mecânicos (denominação utilizada após a revolução industrial onde o trabalho mecânico substituiu o trabalho escravo).
37
3.2. "Pedagogia Liberal"; Rui Barbosa, primeiro ministro do Brasil.
A pedagogia liberal viu o esplendor no período em que Rui Barbosa
exerce o cargo de primeiro ministro do Brasil, deixando enormes influências no
ensino brasileiro. Por volta de 1882, foi o momento em que a tendência liberal
tradicional ganhou força na educação. Diversificou o ensino de desenho por
todo o país, como forma de instrucionalizar e preparar o país para a
industrialização. Desta forma inicia-se o processo de modernização do país.
Baseado na experiência americana e nas afirmações de Walter Smith, do qual
chega a afirmar a importância do desenho em mesmo nível de igualdade ou até
superior que a escrita. Dá-se o valor de linguagem ao desenho, e não como
diversão ou passatempo, reconhecendo a capacidade de qualquer um para a
aprendizagem do desenho.
Ocorreu a inserção da arte no nível primário e secundário, utilizando
e considerando esta mesma, como uma forma de escrita do que uma arte
plástica. Esta comparação foi uma forma de vencer o preconceito exercido
pelos portugueses através do ensino dos jesuítas. Iniciou-se então o ensino do
Desenho em todas as escolas. Outro argumento para justificar a inserção do
ensino do desenho de forma amplificada foi que este era "natural aos homens
ou, pelo menos, acessível a todos e não um dom ou vocação excepcional",
(BARBOSA, 2009, p.36). Para alguns, a arte não era vista apenas como uma
técnica, mas também como possuidora de qualidades artísticas capazes "de
elevar a alma a etéreas regiões do Belo". Outra opinião que valorizava o ensino
do Desenho foi o seu valor dentro da Arte Neoclássica. Para os
neoclassicistas, o desenho era a base dos fundamentos artísticos para
alcançar a genialidade. Sendo controlado pela razão, pela teoria e pelas
convenções da composição.
Como consequência da presença do ensino do desenho nas
escolas, podemos ver uma série de benefícios, como o citado por Abílio César
Pereira Borges:
38
Por meio de um ensino geral da arte do Desenho abrem-se
duas estradas: uma que favorece o desenvolvimento do gosto e da
habilidade artísticas, a outra que torna o povo capaz de apreciar o belo em
suas formas diversas (BARBOSA, 2009, p.39).
Entre 1890 e 1920, amplificou-se a cópia de quadros e a execução
de desenhos geométricos no ensino secundário brasileiro. Mais tarde o ensino
primário também adere a esta influência. A intenção era propagar o desenho
ao alcance do povo, "educando" a população brasileira. Defendia uma teoria
política liberal, dando força ao desenvolvimento industrial e a educação técnica
e artesanal do povo, pois estas premissas eram essenciais para o
desenvolvimento do país. Seguindo os ideais de Walter Smith, sua metodologia
de ensino prevê o treino das linhas, dos sólidos geométricos (esfera, cilindro e
cubo), além de elementos arquitetônicos (portadas, arcos e colunas), ainda
influenciados pela arte neoclássica presente na Escola de Belas Artes.
Segundo Ana Mae Barbosa no livro em "ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL",
desenvolve-se este mesmo argumento para preparar a população para uma
economia liberal;
A educação popular para o trabalho era a finalidade precípua, e as recomendações metodológicas se dirigiam a necessidade de desenvolver conhecimentos técnicos de desenho acessíveis a todos os indivíduos, para que estes, libertados de sua ignorância, fossem capazes de invenção própria (BARBOSA, 2009, p. 60).
Este é o ensino baseado e direcionado para uma produção
industrial11.
Nesta mesma época, influenciado pela vontade de Rui Barbosa, na
Escola de Belas Artes inicia-se um ensino intuitivo baseado nos sentidos,
percepção e transcrição dos objetos. Ao mesmo tempo, a arte romântica é
introduzida no Brasil pelo artista George Grimm, pintor alemão, do qual
lecionou na Escola de Belas Artes. Trabalhava-se do natural, ao ar livre,
11
Há de se destacar, que em um sentido mais amplo pode-se considerar o intuito de destinar o mesmo ensino sobrepondo-o sobre qualquer vontade das pessoas, justificando este ato como uma possibilidade de compensação democrática extremamente falha. A libertação da ignorância vem da liberdade de escolha, a individuação, o respeito às diferenças. Nota-se um enorme destaque para que as pessoas exerçam suas atividades tendo sempre em vista maior
39
desenhando frente à natureza. Desta forma, educava-se o sentimento do
artista, revelando uma harmonia entre o bom e o belo.
Rui Barbosa evitou que as escolas seguissem os princípios artísticos
da Academia de Belas Artes criando as Escolas Normais de Arte Aplicada.
Desta forma, cria-se um distanciamento entre Arte e Técnica; Educação
Superior e Educação Básica.
As consequências desta política liberal sobre o ensino, seja dos
colégios ou faculdades, tende a adoção de uma atitude liberal tradicional no
ensino das artes plásticas. Os alunos continuam um círculo vicioso; aprendem
uma concepção do que é arte, e simplesmente as reproduzem, repassando
estas mais tarde. Pois, não adquirem uma atitude questionadora e crítica
suficientemente para alterar aquele tipo de pensamento artístico que já se
encontrava na sociedade.
Pode-se dizer que o ensino da arte continuou limitando-se a cópia e
a repetição do que o professor dava em sala de aula ou fazia. A cópia12 era
realizada tentando-se chegar o mais próximo possível do que se via. O objetivo
era desenvolver a coordenação motora e a percepção visual do aluno.
3.3. Pedagogia Positivista; Reforma Benjamin Constant.
Por volta de 1890, ocorre a Reforma Benjamin Constant, que atingiu
todas as instituições de ensino. A Academia Imperial de Belas Artes passa a se
chamar Escola Nacional de Belas Artes. A Academia sofreu o retorno aos
antigos processos de aprendizagem neoclássicos, onde praticava a constante
"imitação" e "reprodução" do que se via, ou dos artistas aos quais se
espelhava. Praticava-se da mesma forma o estudo disciplinado e rígido,
totalmente ordenado, fazendo da imaginação subordinada à observação.
a economia e o mercado. O mercado "necessitou" de pessoas aptas a desenhar, mas não o contrário. A ignorância depende do ponto de vista. 12 Sabe-se que em 1800, a concepção artística no Brasil seguia outros moldes, mais idealizador. Id. Ibid., p. 23: "A figura tornava-se apenas um ponto de apoio para a observação, e a imagem desenhada obedecia não aos padrões vistos, mas aos padrões de beleza estabelecidos pelo código neoclassicista, com o qual Manoel Dias de Oliveira entrou em contato durante seus cursos na Itália".
40
A arte via-se em conflito com a indústria. Os artistas da Escola
Nacional de Belas Artes queriam exercer a influência de sua arte sobre a
indústria, não deixando que a sobreposição de uma situação oposta ocorresse.
Esta situação figura-se na arquitetura brasileira do período, com a presença
constante de florões, grinaldas de baixo relevo, faixas de alto-relevo e
elementos sobrepostos.
No ensino secundário, praticou-se o desenho de ornatos a partir da
observação de modelos de gesso, o inicio da concepção estética realista,
assim como o ensino da geometria. A Escola Nacional de Belas Artes mais
tarde veio a aderir a prática da arte realista com certos pressupostos
românticos.
Este tipo de pensamento que vigorava na Escola Nacional de Belas
Artes nos mostra como o pensamento positivista manteve-se distante do futuro
e do pensamento científico. Logo, limitava-se a uma ciência oitocentista,
retrógrada.
3.4. Código Epitáceo Pessoa, Liberalismo e Positivismo.
Segundo o Código Epitáceo Pessoa, que entrou em prática como
uma reforma educacional no Brasil, dedicou-se a reestruturar o ensino
secundário brasileiro, de 1901 a 1910. Abarcou princípios positivistas e
liberalistas. O objetivo principal deste código foi desenvolver as ideias e o
raciocínio; concepção determinada principalmente pelos positivistas.
Neste ensino, abraçaram-se duas influencias ao mesmo tempo.
Primeiramente determinou-se uma metodologia, da qual era baseada na
reprodução dos ornatos. Seria a prática do desenho de observação do natural
de modelos reais, a mão livre; como uma cópia expressiva. A outra influência
foi a prática dos desenhos de memória, livres.
De forma geral, valorizou-se um desenho realista no ensino
secundário brasileiro, seguindo conceitos românticos. A representação
necessitava ser o mais próxima do real. Não era de fato o romantismo
41
empregado no ensino. Este não foi tão presente neste momento devido ao fato
de se representar muitos objetos e não a natureza, a paisagem; característica
marcante do romantismo. Desenhavam-se objetos, formas tridimensionais, de
forma realista, evitando qualquer ato copista. Esta foi a influencia liberalista
neste ensino.
Para os positivistas, ao ensinar desenho nas escolas, primeiramente
devia-se dedicar o aluno ao estudo da geometria, para mais tarde estudar as
formas naturais, o desenho realista de observação. Utilizando como ferramenta
também o ensino da perspectiva. No primeiro ano do segundo grau, estudava-
se o desenho a mão livre e os ornatos geométricos. No segundo ano,
estudavam-se os sólidos geométricos e sombra, e no quarto ano, realizava-se
a representação realista do que se via, dos corpos, objetos, etc.13. Próximo do
que se iria encontrar na Escola de Belas Artes.
Os positivistas viam o ensino do desenho como estudo de uma
linguagem cientifica, buscando racionalizar a emoção, satisfazer seus valores
estéticos. Para os liberalistas o ensino do desenho era visto como uma
linguagem técnica, como forma de "libertar a inventividade dos entraves da
ignorância das normas básicas de construção" (BARBOSA, 2009, p. 81). Este
conhecimento deveria servir apenas ao progresso da nação, através do
desenvolvimento industrial.
O ensino no Brasil14, deste período, funcionou segundo um sistema
duplo harmônico; a escola primaria e secundaria, e as escolas de ensino
superior, as faculdades. No ensino superior, treinava-se a mente e transmitia-
se a cultura, e no ensino primário e secundário; trabalhos manuais e oficiosos.
Na Escola de Belas Artes, começaram a aparecer influencias do art
nouveau. Uma arte decorativa, ligada à indústria. Seu desenvolvimento
apareceu nos ornatos; "peças acessórias ou conjunto delas que decoravam
uma obra arquitetônica ou escultórica", (BARBOSA, 2009, p. 85).
13
Este sistema de ensino dual esteve em conflito durante bastante tempo, com cada um destes sistemas buscando se sobrepuser ao outro.
42
Mais tarde, por volta do ano de 1925, iniciou-se uma quebra de tais
modelos presentes na escola primaria e secundária. Os métodos "verbalistas"
e "inibidores da inteligência"; decoradores em sua essência perderam o vigor
que antes possuíam. Começaram a aparecer lentamente as ideias da
Pedagogia Nova. A educação começou a se aliar à Psicologia, como forma de
se ensinar artes.
3.5. O início da "Pedagogia Nova" no ensino e a
estética modernista.
Dão-se os primeiros sinais da pedagogia nova no Brasil no ano de
1891, quando a república transfere para os Estados a "responsabilidade" pela
educação primária.
O estado de São Paulo vem a orquestrar a liderança no processo
brasileiro educacional neste período, devido à sua economia sólida e próspera.
A educação do Estado de São Paulo, neste período, tende a receber
influências estrangeiras; principalmente americana. Influência não só no âmbito
econômico, mas também educacional, com a presença natural da cientifização
da educação.
Seguir uma tendência cientifica na educação, tendeu a aliar a
educação com a psicologia, assim como métodos de experimentação e
indagação. Isto permitiu entender o aluno e o seu desenvolvimento natural
como ser humano, compreender e entender a natureza da criança, que passou
a ter características próprias. Neste momento descobre-se que a criança não
deve ser tratada como um adulto, correspondente ao tratamento dado pela
tendência liberal tradicional. A criança é sim um ser com características
próprias. Deste modo, o ponto central da tendência da pedagogia nova torna-
se a criança; o aluno.
No ensino da arte, o professor torna-se expectador da obra de arte
do aluno, preservando a autenticidade e originalidade da expressão infantil.
14 Neste período surge no Brasil o Liceu de Artes e Ofícios, ensinando o desenho como
43
Nas artes, o desenho torna-se um complemento da linguagem oral e escrita,
ajudando a detalhar o que seria a criança com características próprias.
Tornando o desenho infantil natural em si mesmo, referente ao seu
desenvolvimento como ser humano.
Dos estudos acerca das crianças, descobre-se que estas são
diferenciadas em dois tipos; os "esteto criadores", que se inspiram da natureza
e tem facilidade para as artes, e os "copistas"; que trabalham as imagens
apenas as reproduzindo (BARBOSA, 2009.).
Passa-se a se aceitar os "erros" cometidos pelas crianças ao
desenhar. Considerando estes "erros" passíveis de correção durante o tempo,
assim como o desenho passa a ser um complemento da linguagem oral e
escrita, podendo revelar uma cultura. Os desenhos que poderiam ser
considerados "aberrações" passam a ser encaradas como características
próprias das crianças nesta fase da vida (BARBOSA, 2009.). É um produto da
organização mental da criança. Estes conceitos que passaram a se validar
para entender o desenho infantil se deram com a presença da introdução da
arte expressionista, futurista e dadaísta a nível nacional, através da "Semana
da Arte Moderna", de 192215.
Através de Anita Malfatti16 e Mário de Andrade, valoriza-se mais a
arte infantil, os novos métodos de ensino e o expressionismo e o
espontaneísmo. Deixava-se o aluno à vontade para fazer o que quisesse.
O aluno passa a desenhar exprimindo sua própria vontade e
influencias que sofreu e ainda sofre durante a vida. Os modelos são
abandonados, desenhando-se imagens que conhecessem mentalmente
preparação para o trabalho industrial, difundiu-se o art nouveau e os princípios liberais. 15
Por volta de 1914 a 1918, inicia-se a Primeira Guerra Mundial, acelerando o processo de industrialização. Isto fez o governo investir em escolas profissionais que visavam a indústria, devido a interrupção das importações, investindo-se nas indústrias locais. Logo o desenho geométrico e mais técnico, volta a ganhar foco. 16
Sabe-se que neste período Anita Malfatti, acrescenta ao ensino da arte através de seu ensino particular em seu atelier, ao tornar o professor em expectador da obra de arte da criança, preservando a autêntica e ingênua expressão da criança.
44
diretamente sobre o papel. Desta forma, o modelo a ser seguido deixou de ser
externo e passou a ser interno.
Podemos dizer que no caso do ensinar da pedagogia nova tende a
infringir as "cópias dos modelos", assumindo uma atitude mais criativa, com
certa liberdade de sua própria expressão individual. Neste ato, sua inspiração e
sensibilidade inclinam-se para uma concepção artística mais moderna. O
expressionismo e o espontaneísmo começa a ter destaque na pratica artística,
abondando-se os modelos e concepções externas passando a se dar destaque
aos modelos e concepções internas. (SCHRAMM, 2012)
Neste momento em que a Pedagogia Nova influenciou o ensino das
artes plásticas no ensino superior, pode-se dizer que houve um rompimento
dos padrões estéticos e dos métodos tradicionais. Como a própria natureza da
tendência pedagógica nos diz, criou-se uma atitude não diretiva, onde tudo era
permitido, vigorando-se a livre-expressão, a espontaneidade e a
experimentação. Passou-se a trabalhar o "desenho livre” dando forma e ênfase
às ideias no lugar da observação externa.
Data-se de 1889, o período em que se começa timidamente a iniciar-
se a exploração das ideias modernistas, que tiveram seu maior destaque em
192217. Este início se deu devido a uma série de fatores, dentre os quais, foi a
chegada de Lasar Segall, em 1913, um artigo de Oswald de Andrade; "Em prol
de uma Arte Nacional" e a exposição da artista Anita Malfatti, em 1917. Há de
se destacar que até tal data o ensino superior continuou em "moldes" arcaicos
disfarçados em reformas, as quais eram simples mudança de rótulo,
(BARBOSA, 2009.).
De 1900 a 1920, encontra-se o florescimento das ideias
modernistas. Inicialmente estas ideias se deram de forma bem superficial, pois
a Escola de Belas Artes continuou com as mesmas influências neoclássicas,
17
De 1914 a 1918, acontece a Primeira Guerra Mundial. Desenvolveu-se de forma intensa a indústria, devido ao fim da importação de produtos vindos da Europa. Os produtos que antes vinham de fora foram necessários se produzir no próprio país. Logo, o governo da ênfase no desenvolvimento do desenho técnico, elemento essencial para a preparação do povo a indústria.
45
mesmo com o advento dos modernistas no cenário nacional. Estas mesmas
influências modernistas foram negadas da mesma forma pelo ensino primário e
secundário, que viam a Escola de Belas Artes como exemplo a ser seguido;
metodologia da Escola de Belas Artes influenciou grandemente o ensino de Arte a nível primário e, principalmente secundário, durante os vinte e dois primeiros anos de nosso século; mas outras influências dominaram durante este período: os processos resultantes do impacto do encontro efetivo entre artes e a indústria e o processo de cientifização da Arte. Ambos tiveram suas raízes no século XIX, comprovando a afirmação anterior de que as primeiras décadas do século XX correspondem à realização dos ideais do século precedente (BARBOSA, 2009, p.32).
Em 1922, com o início da arte moderna no Brasil, sabe-se que todos
os conceitos modernistas que eram aplicados nas artes não exerceram
influência sobre a Escola Nacional Belas Artes. A escola continuou sobre os
moldes antigos, dos quais no máximo se executavam reformas oficiais, mas
que não exerciam de fato qualquer mudança. Sabe-se que o ensino de artes a
nível superior influenciou enormemente o ensino da arte de nível primário e
secundário até a presente data de 1922. Outras influências começaram a surtir
efeito sobre as artes, como o advento da indústria e do cientificismo da arte.
Neste período, com a "Semana de Arte Moderna", a arte começou a
se amplificar para o povo. Influenciados por Mario de Andrade e Anita Malfatti,
do qual defendia que a arte tinha a finalidade principal de permitir que a criança
expressasse seus sentimentos. A arte não deveria ser ensinada, mas
expressada. Logo, resulta-se a influência da Pedagogia Experimental ou
Pedagogia Nova nos colégios, aliados a presença da Arte Moderna atuante no
cenário nacional.
3.6. A pedagogia Tradicional ou Tendência Liberal Tradicional;
A tendência Liberal Tecnicista e as Tendências Progressistas.
Em 1950, desenvolve-se a pedagogia tradicional, quando foram
incluídas no currículo escolar: Música, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais.
O ensino focou-se em simplesmente cobrar dos alunos a reprodução do que
era dado, não se preocupando com as diferenças sociais e individuais.
46
Sabe-se que foi introduzida no Brasil a tendência liberal tecnicista
por volta de 1960 e 1970; período do regime militar. O Estado adquire uma
presença autoritária sobre a sociedade, banindo o espírito crítico e reflexivo.
Nesta tendência vê-se a ausência de fundamentos teóricos e sim de
procedimentos técnicos. Em substituição a estes, se passou a pensar no "saber
construir" e "no saber exprimir-se", uma concepção mais voltada e influenciada
pelo processo industrial. A concepção industrial privilegiava o princípio da
"otimização": racionalidade, eficiência e produtividade. Diante de tal situação,
os artistas nesta época focavam sua produção na utilização de materiais
alternativos; sucata e lixos, desenvolvendo-se por parte deles um pensamento
contrário à reflexão e à crítica.
Na década de setenta estava em voga o ideal da tendência
progressista libertadora, influenciados pelo educador Paulo Freire. A arte
passou a ser tratada como experiência de sensibilização e como conhecimento
genérico, entretanto, deixando de ser considerada como conhecimento humano
e histórico, importante na educação escolar. Trabalhou-se principalmente a
consciência crítica dos educandos. Focar-se-á antes de tudo, na expressão e
na comunicação, estimulando a sensibilidade que vem a ser instrumento para a
apreciação, desenvolvendo a imaginação, o sentir, e o ver. Uma formação que
dificilmente era vinculada a criação de um possível "artista", mas sim de
apreciadores de arte, que normalmente é associada ao lazer. O conhecimento
não era de responsabilidade exclusiva do professor, que cabia apenas uma
interlocução, assim como, esta mesma não era de responsabilidade da escola.
A arte passou a dialogar com as demais disciplinas ou conhecimentos
humanos.
Os professores desta época tinham um papel quase que irrelevante
e passivo. O professor deveria facilitar o aprendizado. Isto transformou o
ensino da arte em um enorme conjunto de ideias vagas e duvidosas,
descaracterizando a educação artística no Brasil como um todo.
Os professores de arte começaram a incluir como conhecimento
uma série de conhecimentos que fogem, ou segundo outra concepção;
47
agregam ao seu conhecimento específico de sua formação. Cada professor
passava a conhecer um pouco de tudo: artes plásticas, desenho, música, artes
industriais, artes cênicas, etc. Isto ocasionou, por um lado um conhecimento
mais aberto e abrangente, mas por outro, pouco especializado, com uma
diminuição qualitativa.
Sabe-se que por volta de 1970, alguns educadores mostram-se
descontentes com a situação em que se encontrava a educação,
principalmente no que se refere à escola pública. As ideias giravam em torno
da conscientização do povo, e da democratização da escola pública a nível
nacional. Neste período, começaram a promover a cultura popular, a educação
popular, a alfabetização e o desenvolvimento da lucidez do povo. Todas estas
ideias que figuravam na cabeça dos educadores da época configuravam-se
como o aparecimento da pedagogia progressista no Brasil. Em 1971, com a
nova LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Lei nº 5692/71, o
ensino da arte passa a ser incluído no currículo escolar, como atividade
educativa.
Um dos movimentos que surgem nesta época, influenciado por este
descontentamento foi o movimento "Arte Educação", com o propósito de
organizar os professores de artes. Neste movimento discutia-se a valorização
do professor de artes, sua formação, e organização. Estes professores
mostravam-se descontentes devido a não obrigatoriedade das artes ser
considerada disciplina nos colégios. Como não era disciplina, o professor não
tinha o poder de reprovar o aluno. Isto fez com que os alunos não tivessem
interesse pelas Artes, considerada por estes uma aula de entretenimento e
diversão.
Por volta de 1980, discutem-se novas técnicas de ensino. Ana Mae
Barbosa elabora a Metodologia Triangular. Uma metodologia composta pela
História da Arte; onde os alunos além de fazerem arte, devem saber sobre
aquilo que estão fazendo. O que levou os artistas a fazerem as suas obras; os
motivos e influências. Com isso pode-se fazer a leitura da obra, entendendo o
que o artista quis passar, transmitir, ou expressar através de sua obra. Faz-se
48
assim possível aos alunos ter a capacidade de além de realizar uma obra de
arte, saber transmitir uma mensagem. A técnica dos trabalhos também merece
o seu devido destaque, mas que sozinha não é capaz de fundamentar uma
obra.
Logo, surge a LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) Lei nº 9394/96, tornando o ensino da arte componente curricular
obrigatório nas escolas, compreendendo a Educação Básica. Entretanto, o que
se encontra hoje, nas escolas do ensino básico, é um ensino distante da
verdadeira meta proposta. Considera-se o ensino da arte sem importância nas
escolas, sendo desnecessário para o currículo escolar. BARBOSA (1978) apud
DINELLY explicita esta situação com o seguinte argumento: "O ensino artístico
no Brasil só agora, e muito lentamente, se vem libertando do acirrado
preconceito com a qual a cultura brasileira o cercou durante quase 150 anos
que sucederam à sua implantação.".
Hoje em dia, o ensino das Artes Plásticas compreende-se como o
ensino de diferentes linguagens, dentre elas: Música, Dança, Teatro (Artes
Cênicas) e Artes Plásticas.
Podemos dizer que todas essas tendências pedagógicas que fazem
parte do desenvolvimento do ensino das artes plásticas no Brasil, ainda se
encontram presentes na arte contemporânea, dos dias de hoje, em todos os
níveis da educação.
Considerando o processo histórico de desenvolvimento das artes
plásticas no Brasil, sendo observado sob o aspecto das tendências
pedagógicas, o que se pode ver no ensino das artes nos dias de hoje: desta
forma, o que vemos no ensino de hoje é uma mescla de tudo que veio antes?
Qual a herança ou influências que o passado nos deixou?
49
CAPÍTULO IV
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO
SUPERIOR
Sabe-se que as tendências pedagógicas se fazem presentes em
nosso dia a dia desde os primórdios de nossas vidas, vinculados
intrinsicamente com o desenvolvimento político do país.
Devemos destacar também um enfoque para a influência cultural; a
influência que a cultura exerce sobre cada pessoa desde o seu nascimento. Os
hábitos tendem a ser repetidos por herança familiar e social. Rosa Iavelberg
destaca esta questão no seguinte trecho:
Uma criança de 1 ano e 8 meses que desenha na superfície dos chinelos da mãe, ou em uma parede não autorizada para tal, será repreendida e progressivamente saberá onde pode e onde não pode desenhar. Ora, tais regularidades são advindas de uma cultura social, urbana e ocidental. Crianças que moram na zona rural, por exemplo, costumam desenhar na terra, oportunidade que falta às crianças dos grandes centros. Os hábitos, portanto, diversificam as ideias da criança sobre o desenho (MAY , 2013 p. 35).
Esta mesma cultura pode variar de lugar para lugar, pois cada lugar
possui sua própria cultura com características próprias.
Desde há muito tempo a educação brasileira se viu marcada pelas
tendências liberais e suas subclassificações. Mesmo que sem o conhecimento
dos professores ou de grande parcela da sociedade.
A tendência liberal surgiu como resultado do predomínio do sistema
capitalista pelo mundo. De uma forma geral, a sociedade se organizou através
dos interesses individuais, da propriedade privada dos meios de produção,
sendo denominada como uma sociedade de classes.
De uma forma distinta a Arte Contemporânea se viu presente na
atualidade, com suas próprias características. Para o presente capítulo será
50
trabalhado tudo o que se refere à atualidade; seja para as artes, seja para a
tendência pedagógica presente no ensino universitário.
4.1. As tendências pedagógicas da atualidade.
Sabe-se, que na atualidade, vigoram-se nas universidades
brasileiras a tendência liberal tradicional; a liberal renovada ou escolanovista e
a liberal tecnicista. Estas tendências também se encontram presentes na
atuação dos professores de arte de ensino infantil, fundamental e médio
(SCHRAMM, 2012.). Essas tendências consideradas atuais nas universidades
são explicadas pela experiência que os professores passaram ao viver e terem
suas formações profissionais fundamentadas na época de apogeu de tais
tendências na sociedade. Resultando assim, em sua predominância pelo país,
a tendência de se praticar uma pedagogia influenciada pelo pensamento
capitalista vigente. (principalmente tecnicista e escolanovista)18.
Outra possibilidade é considerar que os docentes atuais das
universidades não tiveram sua formação no apogeu da tendência liberal no
sistema educacional brasileiro, mas sim seus professores, ou os professores
de seus professores, refletindo um sistema em cascata de repetição e
replicação.
Sobre a tendência liberal tradicional, pode-se dizer que tende a
acentuar o ensino humanístico, da cultura geral. O ser humano é criado através
do ensino das escolas, segundo a concepção de que irá desempenhar um
papel na sociedade, de acordo com suas aptidões individuais. O conteúdo
passado pelo professor, os procedimentos didáticos e a relação professor-
aluno não tem haver com a realidade social do aluno. O conteúdo de ensino é
tudo que o professor agregou como verdade e repassado da mesma forma
pelo professor (LIBÂNEO, 2014). O professor é a figura central e detentor do
conhecimento. Sua busca na vida ocorre através de seu esforço individual,
para se realizar como pessoa.
18
Sabe-se que a escola pública não chegou a aplicar de fato os princípios da tendência liberal tecnicista, seguindo seus ideais. Suas atitudes e posturas figuraram mais segundo a tendência liberal tradicional.
51
Segundo a tendência liberal renovada, continua-se a dar ênfase ao
desenvolvimento das aptidões individuais do ser humano. Porém, passa-se a
considerar os interesses e necessidades dos alunos, assim como sua própria
experiência. O aluno passa a ser mais atuante e sujeito de seu conhecimento.
A tendência liberal renovada divide-se em duas tendências: progressivista e
não diretiva. A tendência liberal renovada não diretiva foca-se na
autorealização (LIBÂNEO, 2014).
É muito comum de se ver nas universidades brasileiras a tendência
em se exigir uma atitude repetitiva dos alunos quanto ao conhecimento
adquirido. Prevalece a propensão em cobrar dos alunos que repliquem os
modelos disponibilizados pelo professor. Tornando o aluno uma simples cópia
do que o professor é.
A tendência liberal tecnicista direciona o ser humano em um
desenvolvimento cuja finalidade é suprir as indústrias com mão de obra. A
sociedade industrial estipula as metas econômicas, sociais e politicas a serem
realizadas. A escola simplesmente supre estas necessidades. Foca-se
principalmente nas técnicas, como forma de aquisição de conhecimentos e
concordância com a utilização da tecnologia.
A tendência liberal tradicional, a tendência liberal tecnicista e a
tendência liberal renovada não diretiva (Escola Nova) são todas tendências
criadas e formuladas em prol do desenvolvimento industrial. A necessidade
criativa muitas vezes surgiu na indústria e influenciou a sociedade a sua
maneira, para conseguir suprir-se. A mudança da história do desenho ensinado
nas escolas pode ser considerada uma parcela de influencia vinda da indústria:
O ensino antigo pedia imitação; o trabalho requer, e nossos dias, o esforço
criador (“O desenho cultivado da criança”, 2013, p.18).
Apesar do padrão tendencioso pedagógico presente nas faculdades
brasileiras na atualidade, as faculdades de arte em sua maioria são formadas
por um corpo docente, que pratica e privilegia uma série de tendências
pedagógicas diferentes, que na maioria das vezes não são atuais.
52
Normalmente devido ao fato da faculdade ter uma rotatividade de professores
muito pequena, e os próprios professores não possuírem uma atitude de
mudança, faz com que as opções se encontrem constantemente limitadas para
os alunos. O que torna difícil para o aluno se direcionar em sua formação
artística, do qual, na maioria das vezes, deseja uma direção mais inovadora e
criativa, que normalmente corresponde a uma atitude progressista, contrária a
atitude liberal tradicional tomada pelos professores.
4.2. O pensamento artístico predominante nas universidades.
Ao pensar nas tendências pedagógicas exercidas na atualidade,
pensa-se também no tipo de artes que se aplica, se ensina e se fala na
educação superior: a Arte Contemporânea.
4.2.1. A Arte Contemporânea.
A palavra Contemporânea tem origem da palavra: contemporaneus,
que significa aquilo que pertence ou que é relativo à época em que se vive. "É
a arte que é produzida na atualidade", dependendo da pessoa que fala esta
sentença. Por exemplo; o artista Van Gogh foi contemporâneo de Manet. Assim
como, Manet foi contemporâneo de Ingres.
É um pouco difícil definir o período de surgimento da Arte
Contemporânea ou até mesmo o seu significado. Considerando todos os seus
aspectos e características, é possível dizer que este período se iniciou por volta
da década de cinquenta em diante, a partir de uma ruptura da Arte Moderna.
Sabe-se que após a Segunda Guerra Mundial os artistas passaram
a se interessar pelo inconsciente e pela reconstrução da sociedade, revelando
a motivação pela interiorização do ser humano. Neste período pós-guerra,
iniciou-se o desenvolvimento maciço das indústrias e consequentemente da
produção em massa. A arte mostrou-se extremamente experimental no que se
refere às técnicas, assim como, bastante influenciadas pelo advento cada vez
mais presente das indústrias no dia a dia moderno. Foi neste momento que a
53
Arte Contemporânea também ganhou outro nome chamado Arte do Pós
Guerra.
A plenitude da arte contemporânea veio na década de sessenta,
quando os meios culturais em ebulição começaram a questionar a sociedade
do pós-guerra. Revoltando-se contra o estilo de vida divulgado pelo cinema, na
moda, na televisão e na literatura.
As linguagens artísticas desenvolvidas neste período foram: Pop Art,
Op Art, Minimalismo, Arte Conceitual, Body Art, Hiper-realismo, Videoarte,
Happening, Arte Povera, Transvanguarda, Internet Art, Arte Digital, Arte
Urbana, Grafitti, Arte Cinética, Performance, etc. É natural na Arte
Contemporânea a utilização de uma gama de variações entre os estilos
desenvolvidos até o seu advento. Todos os estilos passam a ser utilizados
pelos artistas das formas mais variadas.
O desenvolvimento tecnológico mundial mostrou-se extremamente
útil para a arte que abraçou esta tendência facilmente, possibilitando a abertura
de uma gama de áreas de estudo, dentre elas: o Design. Não é possível
discutir sobre arte contemporânea sem abordar a televisão, a internet, e
qualquer outro meio tecnológico e audiovisual. Pois, são tecnologias capazes
de fazer alterações no dia a dia de forma momentâneas, em tempo real. (DIAS,
2009) Outro tema de interesse deste período e considerado tema de estudos
da atualidade é a percepção do tempo, impulsionado pela tecnologia. Esta
percepção é considerada por alguns críticos o momento do surgimento da
relação do homem com o espaço quadridimensional19.
Consequência do desenvolvimento da percepção quadridimensional,
cujo pensamento básico envolve o espaço-tempo é o surgimento e
desenvolvimento; da realidade aumentada, da visão panorâmica, dos planos
19
Perspectiva Quadridimensional: Processo gráfico contemporâneo desenvolvido em 1997, pelo artista plástico Denis Mandarino, através do quadríptico "Observação no Tempo". As principais características desta perspectiva são: representação de cenas panorâmicas, que sintetizam em um quadro o que pode ser visto por um observador em movimento. Utiliza-se como suporte superfícies planas ou curvilíneas (arcos, cilindros, esferas, calotas côncavas ou convexas, etc.). Esta perspectiva foi desenvolvida a partir da Teoria da Percepção Quadridimensional.
54
curvilíneos e da interatividade. Diversos ramos do conhecimento estão
englobando o conhecimento da realidade aumentada, dentre eles: o design, a
arquitetura, a geografia, o cinema, etc.
Há muitos outros temas trabalhados de forma generalizada por
muitos artistas contemporâneos, como: a consciência ecológica, o
reaproveitamento de materiais, etc. Tudo isto ocorre ao mesmo tempo em que
ocorre o desenvolvimento maciço da revolução digital, da globalização e da
internet.
De uma forma geral, a Arte Contemporânea não abrange algo
necessariamente novo e original. Os artistas se veem totalmente
independentes, autônomos em suas próprias buscas, comparados ao artista de
tempos anteriores. Vê-se a tendência dos artistas questionarem sua própria
linguagem artística e a imagem por si própria, devido à divulgação maciça da
mesma. Desta forma o artista corre atrás dos significados impostos por suas
próprias obras, criticando-as seja em seus significados ou em seus materiais
utilizados.
Os artistas em suas atitudes questionadoras representam um
período de pensamentos profundos, deixando de lado o objeto concreto para
desenvolver conceitos e atitudes. Para o artista contemporâneo é muito mais
importante refletir sobre a obra de arte do que criar a própria obra de arte em
si. A obra de arte passa a se tornar um instrumento na busca do artista de
meditar sobre as questões que assolam a sociedade atual, que é cada vez
mais rápido e momentâneo. A obra se torna uma forma de realizar um dialogo
com o público.
Um reflexo da busca do artista em não ir mais em direção ao objeto,
dando menos ênfase na imagem, é o destaque dado pelo artista às ideias. Não
só às ideias, mas também aos conceitos e às atitudes. Sobre conceitos pode-
se dizer, o termo Arte Contemporânea é usado para destacar um artista que é
mais reflexivo e que tenta se basear através de conceitos. O maior problema
reside na verdadeira falta de conceitos que levam a qualquer um a designar
55
qualquer coisa produzida atualmente como arte. Logo, a sociedade atual tem o
hábito de definir o que é arte, mas não tem domínio conceitual para classificar
ou falar sobre arte. (TIBURI, 2009)
Outro significado do que seria a Arte Contemporânea é a
capacidade humana de se contradizer, de buscar um contraponto ao que já foi
feito, ao que já foi produzido. É dizer que o ser humano deve estar sempre
correndo atrás para quebrar os paradigmas existentes. Para BOAVENTURA
(2009, p. 4), esta seria uma possível classificação para os atuais artistas, que
buscam sempre quebrar barreiras fugindo das "fórmulas prontas de resultados
previstos e testados". Já BRAZIL (2009, p. 5) defende outro ponto; o conceito
dicionarizado do que é arte ainda resiste: "é tudo aquilo feito pelo homem com
intenção de provocar uma emoção de ordem estética".
Logo, vê-se uma arte que tem como principais características: a
sociedade de informação, tecnologia e novas mídias, subjetividade e liberdade
artística, efemeridade da arte, abandono dos suportes tradicionais, mescla de
estilos artísticos, utilização de diferentes materiais, fusão entre arte e vida,
aproximação com a cultura popular, questionamentos em relação à definição
de arte e a interação do espectador com a obra de arte. Através de todas estas
características o artista contemporâneo tem a capacidade inata de contradizer,
de quebrar paradigmas, de inovar, baseado em conceitos e atitudes. O artista é
um filósofo, um pensador, uma pessoa sempre atenta às mais diversas
questões, sensível ao que acontece e que está acontecendo, questionador do
passado para que possa criar o futuro.
56
CAPÍTULO V
AS DIFERENÇAS DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
DO ENSINO DAS ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR
As tendências pedagógicas são classificadas sob uma variada gama
de possibilidades e direções. Todas possuindo características próprias. Mas
para além da teoria devemos pensar no aspecto prático destas tendências. De
que forma elas atuam no ensino? O que agregam e desagregam? No ensino
artístico as tendências pedagógicas possuem aspectos próprios, diferente de
outras áreas humanas?
Apesar do padrão tendencioso presente na educação brasileira, será
possível que tendências pedagógicas não praticadas em um aspecto geral na
atualidade do país possam vir a ter maior sucesso no ensino artístico do Brasil,
considerando uma possibilidade real de mudança?
A seguir serão trabalhadas todas estas questões.
5.1. O ensino das Artes Plásticas na Educação Superior; a
favor da psicologia.
É interessante saber que o ensino, independente de qual seja,
sempre terá a relação entre o professor e o aluno como uma característica, um
dado referente à didática. Assim como, de forma mais útil, esta relação ajuda a
classificar a tendência pedagógica elaborada pelo professor dentro de sala de
aula. Nas Artes Plásticas da Educação Superior não deixa de ter esta mesma
característica.
Elaborando um pouco mais a cerca desta questão, é passível de se
considerar o aspecto psicológico como um importante aliado. Seja o ensino
focado em uma Tendência Liberal Renovada Não Diretiva (Escola Nova) ou em
qualquer outra tendência pedagógica. Até mesmo porque certos aspectos do
ensino podem ser avaliados didaticamente através da consideração dos
57
valores psicológicos. Entendendo determinados fatores da educação que
poderiam estar encobertos pela falta de conhecimento da psicologia.
De acordo com Rollo May, no livro: "A arte do aconselhamento
psicológico", no capítulo VI (Confissão e Interpretação) elabora-se um estudo
acerca da arte do aconselhamento, relacionado ao momento da confissão do
aconselhando e a interpretação desta confissão pelo aconselhador. Segundo o
seguinte trecho retirado do livro, é possível pensar acerca do aconselhamento
estudantil com outros olhos:
Entrando agora no estágio da interpretação, encontramos várias orientações importantes para aconselhadores. Em primeiro lugar, a interpretação é função do trabalho conjunto do aconselhador e do aconselhando. Não é de forma alguma um caso em que o aconselhador decifra a estrutura e o apresenta na bandeja ao aconselhando. (MAY, 1990, p.125).
Pensa-se que a relação entre o professor e o aluno aumenta
substancialmente a partir do momento que o professor tem o conhecimento da
psicologia. O professor fará de certa forma, uma leitura mais precisa do aluno.
E mais, mesmo que a partir deste conhecimento inicial o orientador terá
maiores condições de ensinar, uma parcela do esforço para que isto aconteça
também irá depender de um esforço do aluno. A relação entre o professor e o
aluno segundo os preceitos da psicologia não garante respostas prontas e
rápidas por parte do professor. Assim como em qualquer relação psicólogo e
paciente, o tempo e a interação entre os dois deverão ser trabalhados.
E mesmo que o professor não domine qualquer conhecimento
psicológico, é inevitável a presença da relação empática entre os dois. Onde
pensamentos do orientando se confundem com os pensamentos do orientador.
Sempre ocorrendo mais influência do professor sobre o aluno do que o inverso.
Definindo-se a seguir esta relação nas palavras de Rollo May:
O terceiro meio de transformar o caráter ficou implícito num capítulo anterior: a influência que resulta do relacionamento empático. Estando as duas personalidades até certo ponto fundidas, a influência deve, inevitavelmente, fluir do aconselhador para o aconselhando. Isso significa que o aconselhador pode realizar certas transformações no caráter do outro, simplesmente dirigindo sua própria disposição e vontade durante o relacionamento empático. ( MAY, 1990, p. 133).
58
5.2. As diferenças das tendências pedagógicas.
5.2.1.Tendência Liberal Renovada Não Diretiva ou Escola Nova.
A tendência pedagógica da Escola Nova ou tendência liberal
renovada não diretiva têm como um dos seus preceitos trabalhar no aluno a
capacidade de formar atitudes, preocupando-se a instituição de ensino mais
com o psicológico do que com o pedagógico ou social. Foca-se no
autodesenvolvimento do aluno e na realização pessoal, fazendo-o estar de
bem consigo mesmo (LIBÂNEO, 2014).
De uma forma mais precisa acerca da relação entre o aluno e o
professor, destaca-se o seguinte trecho:
... as limitações da técnica do aconselhador. Ele não pode esperar que trará à luz a estrutura total da personalidade do indivíduo e, na verdade, não é esta função. Sua função é, sim, primeiro em ouvir objetivamente, ajudando assim o aconselhando a confessar e <<ventilar>> todos os aspectos do problema. Em segundo lugar, auxiliar o aconselhando a compreender as fontes mais profundas existentes em sua personalidade, de onde surge o problema. E, em terceiro lugar, salientar relações que proporcionarão ao aconselhando uma nova compreensão de si mesmo e que irá capacitá-lo a resolver o problema por si mesmo. Quanto menos experiente for o aconselhador, tanto mais deve ser restringida sua atividade ao estágio de confissão, sendo a interpretação sugerida cautelosamente. Mas, à medida que ele se tornar mais experiente, cada vez mais capaz será de oferecer interpretações com bons resultados, que contribuirão para revelar as relações mais profundas da estrutura da personalidade. (MAY, 1990, p.125,126).
Segundo o trecho de Rolllo May, vê-se como o foco desta tendência
volta-se muito mais para o aluno do que para o professor, mesmo que do
professor lhe é reservado uma responsabilidade alta no seu papel de
orientador, aconselhador. O orientador deve ter uma capacidade e
conhecimento psicológico considerável, capaz de ouvir o aluno, identificar no
aluno o problema, e por último repassar o problema para o aluno, de forma tal
que o mesmo entenda sua própria situação. Considerado uma técnica de
sensibilização, pois é quando ouvimos e alimentamos o "ser" do outro que
respeitamos o "ser" do próximo. Um detalhe acerca desta responsabilidade do
professor nesta tendência é sua responsabilidade em também saber se
59
ausentar no momento certo do ensino. Somente desta forma o aluno terá
"espaço" para trabalhar, pensar, estudar, sem inibições ou ameaças.
Nesta tendência o aluno aprende e absorve somente o
conhecimento que agrega valor a ele. O seu "eu" é que diz o que é relevante e
o que não é. Logo, é comum neste tipo de ensino que o próprio aluno se avalie,
através da autoavaliação.
Na história do ensino da arte do Brasil, esta tendência teve a
característica de romper com as "cópias dos modelos", sugerindo a criatividade
e livre expressão, deste modo, deixando os conteúdos em segundo plano a
mercê da vontade e da necessidade dos alunos. Estes conteúdos, muitas
vezes, tendem a mostrar de pouca importância no processo de formação do
aluno. Na arte esta tendência se vê mais integrada com a Arte Moderna,
segundo o seguinte trecho de SCHRAMM: "A estética moderna privilegia a
inspiração e sensibilidade, acentuando o respeito à individualidade do aluno."
("As tendências pedagógicas e o ensino aprendizagem da arte", 2012, pág. 7).
No Brasil, esta tendência pedagógica sofreu enorme influência de
educadores americanos, como: Dewey, Read e Lowelfeld. Dentre estes três
educadores, Lowefeld o educador que mais influenciou os professores
brasileiros. Segundo Lowefeld, a criatividade artística deve ser regida sob oito
critérios: sensibilidade a problemas, fluência, flexibilidade, originalidade,
habilidade para refletir e rearranjar, análise, síntese e coerência na
organização. Lowenfeld defende o processo e não o produto. O que se quer é
defender o processo de produção artística e não o resultado final, respeitando
o desenvolvimento do sujeito em suas produções individuais. Busca-se sim a
autoexpressão20, resultado das intenções do sujeito. Destacando que para o
20
Por autoexpressão costumamos associar ao termo: originalidade. Na verdade, são coisas distintas. Segundo LOWENFELD (1961) apud IAVELBERG (2013) afirma que: "A "autoexpressão" tem sido frequentemente tão mal entendida que creio ser necessário esclarecer seu significado. Seria um erro pensar que a autoexpressão significa a expressão dos pensamentos e das ideias em termos gerais de conteúdo. Nisto reside o grande erro que se comete em seu uso. Os pensamentos e as ideias também podem expressar-se por imitação. Se alguém se encontra real e originalmente ocupado com qualquer coisa, as consequências desta tarefa, sua forma de expressão, têm importância decisiva. O que importa aqui, portanto, é a forma de expressão e não o conteúdo: o "que" e não o "como".”
60
desenvolvimento do sujeito em suas produções individuais. Busca-se sim a
autoexpressão, resultado das intenções do sujeito. Destacando para cada
pessoa, sua autoexpressão como resultado de influencias distintas, que agem
sobre si próprios. Sua concepção é o que há de mais próximo com a Arte
Moderna. Para Lowenfeld, a autoexpressão é o oposto da imitação. A imitação
seria a submissão a modelos externos reféns da assimilação pelo sujeito.
A Escola Nova permitiu que acontecesse o rompimento dos padrões
estéticos tradicionais, dando total liberdade de criação ao artista. Isto
possibilitou que houvesse pouquíssimas "leis", dos quais viriam a reger o que
seria possível ser produzido e o que não seria possível ser produzido. Os
desenvolvimentos técnicos e realistas perdem vigor. Não se preocupa com a
correção dos erros dos alunos. O mesmo faz parte da produção artística.
O foco a que os professores direcionam suas aulas não é o
resultado, mas sim a experiência, a criatividade e os próprios alunos,
respeitando seus interesses e necessidades. O professor procura estimular a
imaginação, a criatividade e o autodesenvolvimento do aluno, pois assim
resultará na formação da personalidade do aluno. Assim como, ajuda o aluno a
desenvolver sua autonomia, respeitando seus sentimentos e opiniões frente ao
outro. Desta forma cria-se passagem para que o aluno comece a evocar suas
próprias experiências, fazendo com que o "espontaneísmo" ganhe destaque e
importância, desenvolvendo-se no campo expressivo, sem medo ou ameaças
do que poderiam pensar sobre os seus trabalhos.
5.2.2. Tendência Liberal Tradicional.
Sobre a influência da tendência liberal tradicional, o ensino dos
conteúdos artísticos é realizado de forma receptiva e mecânica, através da
memorização e da repetição. Visava à representação tal qual se via, de forma
realista. Valoriza o desenvolvimento das habilidades manuais, coordenação
motora e precisão de movimentos para a criação de um produto final. O ensino
foca-se na repetição de atividades, cópia de modelos e memorização.
Normalmente dava-se enfoque para o desenho natural, decorativo e
61
geométrico e/ou técnico (buscava-se a representação gráfica das formas
matematicamente exata de figuras e objetos). De uma forma geral instruía-se a
pessoa, a saber, observar exatamente o que se via a sua volta. A
aprendizagem ocorre pela fixação ou introjeção de modelos sem interpretações
ou modificações efetuados pelo sujeito.
Os conteúdos são descontextualizados, sem qualquer consideração
com a realidade do aluno, sem espaço para contestação ou até mesmo não se
considerava a idade deste, pois se pensava o aluno como um adulto em
miniatura. O professor é quem detém todo o conhecimento e, portanto é o
centro da atenção. A avaliação se dá através da cobrança da reprodução dos
conteúdos demonstrados previamente pelo professor. O conteúdo segue uma
ordem, com passos de dificuldades progressivos, sempre, previamente
estipulados por adultos.
Considerando um aspecto mais histórico, a tendência liberal
tradicional seguia e segue um pressuposto mais industrial. O desenho, a
metodologia de ensino, a temática, dentre uma serie de outros pressupostos
foram adicionados como necessidade de preparar a nação para uma economia
liberal. Generalizando um pouco, significa tornar o ser humano apto a conceber
um produto, como principal meta a ser buscada nesta tendência. Da mesma
forma o tipo de arte que se articulou com esta tendência, possuía semelhanças
na sua concepção geral: a arte realista.
Segundo o ANEXO 2 do presente trabalho, pode-se ver na prática
do ensino e do aprendizado, como a arte realista está de certa forma,
emaranhada na tendência liberal tradicional. Segundo a experiência discente
com o professor Ricardo Newton, a arte realista é uma arte que segue o que se
deve e o que não se deve fazer; é considerada uma arte regida por regras do
que é certo e do que é errado. Seu aprendizado é naturalmente receptivo e
mecânico. O professor na maioria das vezes impõe sua voz, pois sua atitude
pedagógica esta aliada ao seu pensamento artístico.
62
A liberdade do aluno encontra-se no fazer do ato artístico. Embora,
previamente, a sua preparação e treino é todo regido e regulado por regras
para se alcançar a devida meta artística. A avaliação se dá toda segundo a
reprodução do que é cobrado pelo professor. Normalmente o professor utiliza
de seu próprio conhecimento técnico e prático na arte da pintura como o nível
mais elevado a ser alcançado pelo aluno. Avaliando-o segundo seus próprios
conceitos.
5.2.3. Tendência Liberal Tecnicista.
Na tendência pedagógica liberal tecnicista, no ensino da arte,
costuma-se cobrar o "saber construir" e o "saber exprimir-se". Utilizam-se
enormemente materiais alternativos como sucata e lixo limpo. Os professores
praticam de uma arte extremamente teórica e fundamentada. O ensino artístico
era regido pelo behaviorismo, na utilização do esforço, do condicionamento e
do estímulo/resposta. Tendo como base a Lei LDB 5692/71, que centrava o
ensino da arte em técnicas e habilidades.
Sob esta tendência a arte via-se totalmente vinculada ao
capitalismo, ao trabalho. Focava-se em uma neutralidade científica, no trabalho
manual, na utilização da tecnologia. Tendo o professor um papel neutro,
técnico e imparcial. O ensino funciona a base de técnicas específicas capazes
de modelarem o aluno. (LIBÂNEO, 2014)
De forma geral, nesta tendência procura-se produzir indivíduos para
o mercado de trabalho, do qual absorverá conhecimentos de forma precisa,
eficiente e rápida. Todo conteúdo trabalhado pelo professor e aluno será
baseado em leis, estabelecidos segundo uma sequência lógica e psicológica.
Assim como, os conteúdos são definidos cientificamente, dificilmente sendo
considerado o aspecto subjetivo. O método de ensino é todo preestabelecido a
partir de etapas, considerando a utilização da tecnologia a favor do ensino.
(LIBÂNEO, 2014)
O professor e o aluno possuem nesta tendência seus papeis bem
definidos. O professor da aula segundo um sistema pré-estabelecido. O aluno
63
recebe, aprende e fixa o conteúdo transmitido. Seja o professor ou o aluno, os
dois estão a mercê do conhecimento cientifico e elaborado previamente. As
relações afetivas e a troca de informações através de grupos de discussão
pouco importam. A aprendizagem só é melhorada através da melhora das
condições estimuladoras. Ou melhor, através da prática da motivação, da
retenção e da transferência. É o estudo do estimulo e da resposta sobre o ser
humano que fará diferença na melhora do ensino desta tendência.
Considerando o ANEXO 3 deste trabalho, é possível ver uma das
características desta tendência na avaliação da professora Lourdes. Nas aulas
de aquarela o ensino era baseado em uma lista de tarefas, previamente
estabelecida pela professora. Esta lista devia ser seguida sob a ordem
prescrita e a avaliação seria cobrada em cima de todos trabalhados
executados. Quanto maior o número de trabalhos e a qualidade destes, maior
seria a nota do aluno.
5.2.4. Tendência Liberal Renovada Progressivista.
Segundo a tendência liberal renovada progressivista pode-se
constatar um ensino em que a escola se adequa as necessidades individuais
do ser humano. O ensino desta tendência prevê adequar às necessidades dos
alunos e da sociedade. Os conteúdos são estabelecidos a partir das
experiências vividas pelos alunos quando confrontados com uma situação
problema. O professor tende a incentivar o aluno a experimentar, pesquisar, e
correr atrás de soluções de problemas, assim como, o mesmo se torna
auxiliador do aluno. A aprendizagem do aluno vem da motivação e estimulação
que o professor incide sobre o aluno, para que o mesmo aprenda fazendo. O
mais importante nesta tendência é o "aprender a aprender" do que apenas o
aprender do saber propriamente dito.
Um grande defensor desta tendência na arte é Fernando
Hernandez21. Baseado inicialmente no educador John Dewey, Hernandez
21
Arte educador de origem espanhola. Doutor em Psicologia e professor de História da Educação Artística e Psicologia da Arte na Universidade de Barcelona Conhecido por defender o ensino através de projetos, em vez dos tradicionais currículos.
64
defende um ensino com direcionamento crítico. Para ele o ensino da arte não
pode se restringir à obras de arte, mas também incluir toda produção visual;
objetos de arte, imagens midiáticas(videoclipe, internet) e os objetos do
cotidiano presentes na cultura visual do individuo. Para Hernandez, o ensino
não deve se basear em um sistema memorizador, mas sim saber aplicar os
próprios conhecimentos buscando a resolução de problemas. Seu ensino
busca desenvolver estratégias para entender a cultura visual e ter
compreensão crítica das obras, que em conexões promove a aproximação com
as imagens de todas as culturas, criando-se uma interlocução. (IOAVELBERG,
2013)
O ensino de Hernandez é dividido em três eixos: favorecer o
conhecimento para a compreensão do mundo; favorecer o desenvolvimento
físico; e favorecer o desenvolvimento criativo. Seu ensino prevê a:
...utilização de tecnologias de comunicação e informação, a consideração pela diversidade dos estudantes, a aprendizagem colaborativa, o portfolio eletrônico, as experiências de socialização, a aprendizagem com sentido que estabelece relações entre temas, questões disciplinares e áreas de interesse pessoal são conceitos estruturantes da abordagem inovadora para o ensino da arte...("Rosa Ioavelberg", 2013, página 31.)
Destaca-se de Hernandez, nesta tendência pedagógica o foco e a
importância que dá para os "projetos de trabalhos". Em outras palavras seria
ensinar por meio da pesquisa, onde o aluno passa a ganhar mais destaque.
Importante ressaltar que a "pedagogia de projetos" é diferente de "projetos de
trabalho". O "projeto de trabalho" seria a busca do aluno sob a supervisão
escolar para buscar algo emergente, que fosse motivado inicialmente ao aluno
buscar este conhecimento pela curiosidade, a partir de uma dúvida inicial. A
"pedagogia de projetos" funciona sob um modelo fordista, onde o aluno é
preparado segundo uma concepção de fábrica, sem adicionar os aspectos da
realidade cotidiana.
De acordo com o ANEXO 3 deste trabalho, vê-se muito do método
de ensino desta tendência no ensino da professora Lourdes. Seu ensino é
focado muito na experimentação, assim como, a autoaprendizagem, utilizando
65
como material a aquarela. Apesar da tendência natural da aquarela ser de
difícil manuseio, e muitas vezes não ser possível replicar certas configurações
visuais dos quais se gostaria de conseguir, seu ensino é focado na
aprendizagem pela experimentação. O que o aluno aprende passar a ser de
valia para si próprio durante o aprendizado. O que se destina a se seguir é
muito variado. A professora costumava orientar cada aluno de acordo com um
possível estilo que o mesmo estivesse desenvolvendo, sempre indicando
artistas referências para os alunos dos mais variados. Pois, eram exemplos
que poderiam agregar de acordo com o estilo de cada aluno.
5.2.5. Tendência Progressista Libertadora.
Na tendência progressista libertadora, começam a considerar a
realidade interior do aluno, suas próprias experiências (sociais) de vida,
articulados com a educação. Nesta tendência a interdisciplinaridade começa a
ganhar foco. Costuma-se a valorizar a arte popular e regional. Um dos pontos
fortes desta tendência é o papel do professor e o papel que o mesmo exige dos
alunos. Com forte tendência a formação de um ser crítico e não formal,
questionando o papel do homem frente à realidade em que está inserido:
natureza, sociedade, etc.
PAULO FREIRE (2015, p. 24) explica bem uma das características
do ensino desta tendência: "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção", isto é, valoriza-se e
incentiva-se a formação autônoma dos alunos.
Considerando o ANEXO 1 deste trabalho, é possível perceber certas
características do professor Licius e da professora Martha, que vão de acordo
com esta tendência pedagógica. Veem-se frequentemente os alunos trocando
informações com os professores, e também trocando informações entre si:
valorização do diálogo. Esta relação ocorre de igual para igual, através de
grupos de discussão, das quais os professores tendem a ter uma postura
mediadora, na mesma altura dos educandos. A igualdade a que se fala é o
professor que não se faz presente por uma simples autoridade, mas sim a
66
autoridade do conhecimento. Muitas vezes o professor é aquela pessoa em
que o aluno virá atrás, seguro de que achará os caminhos para suas respostas,
mesmo que não ache as respostas de fato.
A relação dos professores Martha e Licius ocorre de forma afetuosa
e amistosa. Alimenta-se a criticidade, portanto, tornando os alunos
epistemologicamente curiosos. Valoriza-se o conhecimento do aluno e também
o conhecimento que o mesmo passa a adquirir de forma individualizada e
autônoma, de acordo com suas próprias experiências. Este conhecimento é
adquirido através da compreensão, reflexão e crítica. Da mesma forma,
valoriza-se o seu desenvolvimento pessoal, tirando o peso de um possível
conhecimento absoluto. O conhecimento adquirido pelo aluno caminha de
acordo com o nível de aprendizado grupal. Entretanto, este conhecimento
absoluto não é abandonado por completo, já que boa parte do que é discutido
e trabalhado vem de livros e filósofos que abordam assuntos dos mais variados
sobre arte. (LIBÂNEO, 2014)
Esta tendência é difundida por Claudio Naranjo, que segundo o
ANEXO 4 (3ª pergunta), identifica-se a necessidade dos professores, de uma
forma geral no mundo, se tornar afetivos e amorosos, direcionando as crianças
para o autoconhecimento, respeitando sua individualidade. É comprovado por
meio de pesquisas que este é o caminho para formar pessoas mais benévolas,
solidárias e compassivas. E mais, neste mesmo ANEXO 4(4ªpergunta) deste
trabalho, comprova-se esta necessidade dos professores através da seguinte
sentença: "Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais
facilmente qualquer conteúdo".
Segundo o ANEXO 4(4ªpergunta) deste trabalho, é possível
identificar mais questões acerca da tendência progressista libertadora:
"Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo."
Enfatiza-se assim, o que foi destacado no anexo 1, comprovando os
efeitos positivos pedagogicamente da aproximação e do afeto, assim como do
67
individual no ensino das artes. Os alunos se sentem a vontade de uma forma
geral, pelo tratamento que recebem dos professores, e mais que isso, pela
relação professor-aluno que é construída durante o ensino.
5.2.6. Tendência Progressista Libertária.
A aplicação da tendência progressista libertária incita o aluno a
autogestão, autonomia e não-diretividade, considerando com bastante ênfase a
experiência vivida pelo aluno. É uma educação considerada antiautoritária, do
qual se abrange uma gama de influências; psicanalítica, anarquista e
sociológica.
As instituições de ensino têm o papel de transformar a personalidade
do aluno, tornando-o livre e capaz de se autogerir. Através da autogestão,
trabalha-se o conteúdo e o método. Normalmente é um meio de ensino, do
qual não necessita da presença do Estado para existir. Se aplicado na escola,
os conteúdos podem ser colocados à disposição pelos professores, mas não
são cobrados. Na maioria das vezes o conteúdo vem dos próprios alunos,
através de suas próprias experiências de vida e de suas necessidades
pessoais.
O estudo a partir de grupos é o que forma as novas instituições de
ensino nesta tendência. A forma e a vontade de estudar e correr atrás do
conteúdo depende exclusivamente da motivação e da necessidade dos alunos
enquanto grupo. Qualquer tipo de decisão necessita passar previamente pelo
conhecimento do grupo.
A relação professor aluno se dá de forma não diretiva. O professor
atua como orientador, sem preocupação de impor qualquer tipo de ideia ou
pensamento sobre o aluno. Normalmente, o professor atua como uma válvula
que sempre se abre para incitar a reflexão. A liberdade não se encontra
presente apenas para o aluno, mas também para o professor que caso
necessário irá se calar diante de qualquer duvida, não dando qualquer tipo de
resposta. Este tipo de estratégia por parte do professor visa a motivar aos
alunos para que corram atrás de suas próprias respostas. (LIBÂNEO, 2014)
68
No ensino da arte pode ser considerado uma “faca de dois gumes”
no que se refere à individualização autogestionária, apesar da prática da
tendência progressista libertária tender a considerar a importância da
instituição grupal. Primeiro porque é da natureza do artista o favorecimento a
produção individual. A maioria dos artistas trabalha individualmente não porque
querem, mas porque é da natureza da vida artística assim trabalhar. Segundo
porque, a busca incessantemente individualizada leva a falta de critérios no
estudo artístico. O artista necessita de apoios visuais, ele precisa estar
atualizado, pois isto deve ser alimentado criativamente; é o que o impulsiona a
querer fazer mais e melhor. É a lei da concorrência que também se faz
presente, mostrando a sua importância e como é capaz de impulsionar o ser
humano a se superar cada vez mais. Destaca-se que o artista que utiliza de
outros artistas, como referência para produzir, tende a alimentar mais a
capacidade de inovação pictórica. Este mesmo artista deve ter a capacidade de
autogestão muito bem trabalhada e definida, para que não caia no ostracismo.
5.2.7. Tendência Progressista Crítico Social dos Conteúdos ou
Histórico Crítica.
A tendência progressista crítico social dos conteúdos difere das
tendências progressistas anteriores pela difusão do conteúdo. Não são mais
considerados os conteúdos abstratos, mas sim os concretos. Os conteúdos
concretos se referem ao que cada aluno presencia em sua vida. A instituição
de ensino busca considerar todos os conteúdos, oriundos das mais diversas
culturas, principalmente os conteúdos que têm repercussão na vida dos alunos.
O professor tem uma função importante atuando de forma
mediadora, fazendo do aluno ativo e atuante. O aluno é livre e tem direito a sua
autonomia, passando a absorver cada vez mais conteúdos, começando de seu
próprio conhecimento que com a ajuda do professor, também entende os
conhecimentos básicos dos quais não conhece. Os conteúdos provenientes
dos alunos se misturam com os conteúdos universais, através da mediação do
professor. É neste momento que ocorre a "ruptura" e "continuidade".
(LIBÂNEO, 2014).
69
A relação professor-aluno ocorre de forma que favoreça a troca
entre os dois. O aluno pode e deve contestar o conhecimento que o professor
ensina. Não é uma questão de favorecer o aluno, de acordo com suas
necessidades, mas incutir no aluno a capacidade de propor o que deve ser
falado e estudado. Isto deve se ser trabalhado integralmente pelo professor. É
a partir do conhecimento sistematizado que a relação professor aluno chega ao
momento de "síntese", (LIBÂNEO, 2014).
Normalmente a arte nesta tendência é vinculada a vida social do
aluno. A experiência do aluno é totalmente considerada, havendo uma síntese
com a experiência e conhecimento do professor. De acordo com o ANEXO 4
(3ª pergunta) deste trabalho, enfatiza-se esta tendência, pois se defende o
respeito pela individualidade do aluno. Respeitando conteúdos que podem e
devem ser valorizados, sendo oriundos dos próprios alunos.
A arte atua de forma diversificada, incluindo as diferentes disciplinas:
dança, artes visuais, musica e teatro. Considerando o ANEXO 1 deste trabalho,
veem-se como as atuações dos professores de arte nesta tendência podem
atuar. No grupo de pesquisa, presente neste anexo, vê-se como os conteúdos
advindos dos alunos continuam a se fazerem presentes. O tema e o
direcionamento pedagógico iniciam-se pelo aluno, através das escolhas dos
mesmos. Posteriormente passa pelo professor, que atuando de forma
mediadora direciona este mesmo ao aluno. Devolve ao mesmo, o que ele não
consegue enxergar. Tornando a orientação adaptável a cada aluno e ao
mesmo tempo crítica.
5.2.8. Tendência Construtivista ou Sócio interacionista.
Segundo a tendência construtivista, sócio interacionista, ou
contemporânea o aluno tende a resolver seus próprios problemas, utilizando de
seus próprios conhecimentos para resolvê-los. A escola trabalha em conjunto
com órgãos, família e comunidade. O professor observa e avalia seu aluno em
todas as etapas de seu aprendizado, buscando sempre metodologias
diferenciadas quando o aluno apresenta dificuldades.
70
Esta tendência se vê articulada com os quatro pilares da educação
de Jacques Delors22: saber saber, saber fazer, saber ser e saber ser no
convívio com o outro. Segundo esta tendência estes quatro pilares são os
quatro princípios fundamentais para a formação de um ser humano.
Esta tendência é muito parecida com a tendência progressista
libertária em uma série de aspectos e um dos seus principais admiradores é
Jean Piaget. Piaget acreditava no ensino interdisciplinar. Muito pouco praticada
devido as suas próprias características. O aluno aprende e tira suas próprias
conclusões sozinho. O aluno é estimulado a experimentar e ser naturalmente
curioso, seja em grupo ou sozinho. Os trabalhados em grupo são estimulados.
O método de avaliação por provas não é regra, podendo ser realizada de
diversas formas ou até mesmo não ser realizada.
Por conseguinte, as características perante o direcionamento do
ensino das artes na Tendência Construtivista são similares as da Tendência
Progressista Libertária, em uma série de fatores (item 5.2.6 acima).
22
Em 1999, a UNESCO realiza um relatório sobre a educação. É realizada a Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, coordenada por Jacques Delors. Este relatório virou um livro: “Educação: Um tesouro a Descobrir", defendendo os quatro pilares da educação.
71
CONCLUSÃO
Considerando toda a escrita como um grande pensamento, fecha-se
toda esta articulação, cujo movimento direcionou-se a uma meta, uma direção:
As Tendências Pedagógicas do Ensino no Curso Superior de Artes Plásticas.
Admite-se que o pensamento se desarticulou em muitas outras direções,
devido à necessidade de se complementar o pensamento principal, lhe dando
uma conscientização mais precisa.
O pensar e repensar revela-se como uma conscientização mais
madura, fugindo de interpretação meia bocas, falhas e/ou simplesmente
inconscientes. Isto é o papel da monografia: fazer o ser humano alcançar a
razão, construindo os caminhos da vida, sendo mais fáceis de escolher e
alcançar. Assim como, os acertos e erros, que durante a aprendizagem se
fazem necessários e naturais.
Seguindo o ritmo natural do pensamento, acusa-se a presença do
mesmo de forma fluída. Dialoga-se como consequência do pensar. Natureza
de quem é filosofo. Mas, também como se comprova, de quem é um artista, ou
melhor, um artificie.
Filosofar é sair do senso comum para alcançar o senso crítico. É a
critica natural, que cria a predisposição capaz de reconstruir os significados da
vida. Ou seja, criar predisposição para quebrar paradigmas.
Fugindo um pouco da questão filosófica é necessário entender
critérios hermeticamente associados à arte. Sobre a arte pode-se dizer que a
mesma é refém de um sistema muito mais influenciador do que se pensa.
Pode-se considerar que a Arte Moderna brasileira foi influenciada pelo
"sistema" que foi implantado pelo governo, que se espalhou por toda
sociedade. Diferente da Arte Moderna europeia que foi deflagrada pela
liberdade intelectual e artística dos próprios artistas que influenciaram a
sociedade, baseados nos acontecimentos e mudanças da época. Parece um
72
paradoxo, mas não é. A arte é construída a partir de um sistema de íntimas
influencias muitas das quais não vemos e acabamos por nos deixar levar. A
arte deve ser criação, e refletir o homem de uma época, mas mais que isso,
deve refletir uma vontade e uma expressão. Pois, deve-se valorizar a
expressão humana distante de qualquer influencia maçante ou supressão
exercida pela sociedade sobre esta mesma.
O ensino está intimamente ligado à política. Sempre esteve e
sempre estará. O conhecimento político da educação é imprescindível para o
entendimento das tendências pedagógicas no ensino superior de artes
plásticas. Logo, chega-se a conclusão de que para estudar política educacional
deve-se estudar a história. Pois, com a história entendemos a política e suas
influências sobre a educação. Entendendo-se a realidade que temos e vivemos
hoje.
O artista deve ser uno. Único. Individual. Cem por cento não
tendenciosos. Talvez haja uma idealização muito grande em pensar desta
forma, mas que não deixa de ser uma meta ou direção a ser seguida. Todo ato
artístico possui em sua base uma tendência que o direcionou. Para este
problema sugere-se que o mesmo seja crítico, racional e conhecedor da
sociedade e sua história. Desta situação nascem as verdadeiras ideias. Os
verdadeiros sonhos. As verdadeiras conquistas humanas. As verdadeiras obras
de arte.
Considerando o devido tema das "tendências pedagógicas", como
professor e falando para professores, nós somos determinados e um dia este
mesmo professor será determinante do que o possível aluno poderá vir a ser
amanhã. Do ato pedagógico vemos sempre um ato político entranhado
conscientemente ou não pelo professor. Não existe educação sem política.
Logo, o simples "falar sobre educação" é indissociável de um direcionamento
político e da mesma forma o ato artístico também é um ato que sofre influência
política e econômica, e possui, portanto uma visão política. Como exemplo cita-
se a atuação de Rui Barbosa, primeiro ministro da fazenda da história do Brasil.
73
Há de se destacar, que em um sentido mais amplo pensar em
considerar o intuito de destinar o mesmo ensino sobrepondo-o sobre qualquer
vontade das pessoas, justificando este ato como uma possibilidade de
compensação democrática é um ato extremamente falho. A libertação da
ignorância vem da liberdade de escolha, da individuação, do respeito às
diferenças. Nota-se um enorme destaque na sociedade, para que as pessoas
exerçam suas atividades tendo sempre em vista maior a economia e o
mercado. O mercado "necessitou" de pessoas aptas a desenhar, mas não o
contrário. A ignorância depende do ponto de vista.
Outro exemplo da presença da política na educação pode-se citar a
década de sessenta, quando ocorre a ditadura militar no Brasil. Neste momento
está em voga a tendência liberal tecnicista por todo o país. O motivo para o
desenvolvimento diferenciado artístico foi politico por parte dos artistas, mas
não necessariamente inovador ou motivado por questões meramente
individuais, que valorizassem a própria autonomia do artista enquanto tal.
Sabe-se que na década de setenta ocorreu a influência da tendência
progressista libertadora sobre o ensino como um todo, inclusive o ensino da
arte. Este ensino veio tornar a arte um conjunto enorme de conceitos, e
possibilidades, com ideias vagas e passivas. Esta tendência apesar de aceitar
o conhecimento do aluno no ensino, a sua autonomia produtiva, e o respeito ao
"ser" passou a perder o foco do que poderia ser executado e o que não poderia
se executado em relação à arte. O papel do professor passou a ser de
observador, mas pouco autoritário dando margem a produção ilimitada na arte,
aceitando a produção de qualquer coisa. Este é um exemplo de como esta
tendência apesar de toda boa vontade e uma das tendências mais
respeitadoras artisticamente falando pode alcançar um direcionamento não tão
ideal na arte. Talvez, este fato tenha acontecido pela falta de conhecimento do
professor sobre as tendências pedagógicas, ou pode-se considerar um
exemplo vivo de que o professor deve conhecer e saber aplicar todas as
tendências seja qual for a situação dentro de sala, no momento necessário e
quando necessário para que não aplique apenas uma.
74
A Arte está presente na vida de todas as pessoas. Sua definição é
difícil de encontrar, mesmo no campo dos filósofos, historiadores de arte,
críticos de arte e até mesmo dos próprios artistas. Como citado no capítulo 2,
as artes plásticas são reconhecidas por lei e englobam diversas artes no Brasil;
as Artes Visuais, a Dança, a Música e o Teatro. Da mesma forma é difícil de
definir o significado do que seria a Arte Contemporânea. O que se sabe é que
este termo foi designado para classificar o que se produz e se fala de arte nos
tempos atuais. Os artistas refletem e pensam muito mais do que fazem ou
produzem. O artista atual se assemelha a um filósofo, um pensador e
questionador das questões presentes na sociedade atual. Porém, com bastante
liberdade para realizar suas próprias ideias. O foco do artista atual são suas
próprias ideias, enaltecendo a inovação e a constante capacidade de quebrar
paradigmas. Muitas vezes, o artista, assim como muitos outros profissionais de
outras áreas seja das humanas ou das exatas se veem confrontados com a
necessidade de ser transdisciplinar.
Há de se destacar a importância para o cuidado do excesso de
intelectualização da arte. Pois, o artista neoclássico era influenciado pelo
sistema absolutista europeu, da mesma forma a arte praticada neste período
também o era. Regras eram impostas em relação ao que era certo e o que era
errado na arte. O excesso de regras pode limitar a criatividade artística e as
novas possibilidades de criação da mesma forma que a arte neoclássica, de
certo modo o fez.
A transdisciplinaridade torna-se presente nas artes plásticas na
medida em que o mesmo valoriza a ideia. Quando a ideia é mais valorizada o
artista se torna um artificie. Neste momento, ele passa a necessitar de
diversos conhecimentos das mais diversas áreas. Muitas vezes, tende-se a
procurar especialistas das áreas em que são necessárias para conceber suas
ideias, ou obras.
Como ouvinte de um grupo de pesquisa do curso de Pintura, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi possível apreciar um
direcionamento artístico diferente. Junto com os conhecimentos adquiridos no
75
presente curso de Docência do Ensino Superior; Pós Graduação Latto Sensu,
pela Universidade Cândido Mendes e conjuntamente com os estudos
constantes, tivemos a capacidade de analisar um ensino distinto, mesmo que
apenas como ouvinte e estudante. Pudemos entender a didática,
principalmente a que é praticada no ensino artístico. Como artista, pudemos
identificar tendências, que após a interpretação e o uso do olhar, puderam ser
racionalizadas e replicadas sobre nós mesmo. Concluindo, que para certos
direcionamentos artísticos se requer aplicar tendências pedagógicas diferentes.
Pois, naturalmente, pensamentos artísticos distintos necessitam de condições
didáticas distintas, ocasionando na potencialização artística do individuo.
Não se deve desvalorizar a replicação de conceitos. Se tal
pensamento tornou-se verdadeiro no decorrer desta monografia, torna-se falso
neste instante. A inovação não nasce do pó, ou do nada. Muitas vezes a
originalidade nasce posteriormente a uma replicação. A oposição e a inovação
são reflexos de um processo natural necessário para que se ocorra mudanças
e grandes transformações. Não existe tendência pedagógica melhor ou pior do
que a outra, seja nas artes plásticas, seja em qualquer outra área. A
conscientização docente e o domínio prático das tendências pedagógicas é
que se faz necessária para o bem discente; pois é para este e depende deste
qual direção se deve dar, resultado de todo o processo educacional.
76
BIBLIOGRAFIA
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81
FILME - “Sociedade dos Poetas Mortos”.
82
ÍNDICE
FOLHAS DE ROSTO. 01
AGRADECIMENTOS. 03 DEDICATÓRIA. 04 RESUMO. 05 METODOLOGIA. 06 SUMÁRIO. 09 INTRODUÇÃO. 10
CAPÍTULO I
A ênfase no conhecimento das tendências pedagógicas para o ensino. 12
1.1. A ênfase. 13
1.2. O conhecimento das tendências pedagógicas. 14
1.3. O ensino. 19
CAPÍTULO II
O ensino das Artes Plásticas na Educação Superior. 20
2.1. O ensino nas Artes Plásticas. 20 2.2. As Artes Plásticas na Educação Básica. 24 2.2.1. As artes visuais 26 2.2.2. A dança. 26 2.2.3. A música. 28 2.2.4. O teatro. 29 2.3. O ensinar das Artes Plásticas. 30 2.4. As Artes Plásticas na Educação Superior. 31 2.5. As Artes Plásticas na Educação Básica x As Artes Plásticas na Educação Superior. 32
CAPÍTULO III
O desenvolvimento histórico do ensino das Artes Plásticas. 34 3.1. O aspecto histórico; o preconceito. 34 3.2."Pedagogia Liberal"; Rui Barbosa, primeiro ministro do Brasil. 37 3.3. Pedagogia Positivista; Reforma Benjamin Constant. 39 3.4. Código Epitáceo Pessoa, Liberalismo e Positivismo. 40 3.5. O início da "Pedagogia Nova" no ensino e a estética modernista. 42 3.6. A pedagogia Tradicional ou Tendência Liberal Tradicional;
A tendência Liberal Tecnicista e as Tendências Progressistas. 45
83
CAPÍTULO IV
As tendências pedagógicas do Ensino Superior. 49
4.1. As tendências pedagógicas da atualidade. 50 4.2. O pensamento artístico predominante nas universidades. 52 4.2.1. A Arte Contemporânea. 52 CAPÍTULO V
As diferenças das tendências pedagógicas do Ensino das Artes Plásticas na Educação Superior. 56 5.1. O ensino das Artes Plásticas na Educação Superior; a favor da psicologia. 56 5.2. As diferenças das tendências pedagógicas. 58 5.2.1.Tendência Liberal Renovada Não Diretiva ou Escola Nova. 58 5.2.2. Tendência Liberal Tradicional. 60 5.2.3. Tendência Liberal Tecnicista. 62 5.2.4. Tendência Liberal Renovada Progressivista. 63 5.2.5. Tendência Progressista Libertadora. 65 5.2.6. Tendência Progressista Libertária. 67 5.2.7. Tendência Progressista Crítico Social dos Conteúdos ou Histórico Crítica. 68
5.2.8. Tendência Construtivista ou Sócio interacionista. 69
CONCLUSÃO 71
BIBLIOGRAFIA 76 INDICE 82 APÊNDICES 84 ANEXOS 98
84
APÊNDICES
Índice de apêndice
APÊNDICE 1 >> Uma análise pessoal da didática dos professores
Licius Bossolan e Martha Werneck, no grupo de pesquisa: "O Corpo como
poética na pintura contemporânea", presente na Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá dos Santos.
APÊNDICE 2 >> Uma análise pessoal da didática do professor
Ricardo Cardoso Newton, como orientador de Projeto Final de Renato Gomes
Shamá dos Santos, no curso de Pintura, da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá
dos Santos.
APÊNDICE 3 >> Uma análise pessoal da didática da professora
Maria de Lourdes Barreto Santos Filha, como professora da disciplina de
Aquarela do curso de Pintura, da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá dos Santos.
85
APÊNDICE 1
Uma análise pessoal da didática dos professores: Licius Bossolan e Martha Werneck, no grupo de pesquisa: "O Corpo como poética na pintura contemporânea" presente na Escola da Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá dos Santos. Período de experiência e realização: 2016/1.
RESUMO
Este presente estudo tem o objetivo de relatar o ensino dos
professores; Martha e Licius, da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, buscando destacar as características da didática de
professores distintos no ensino das artes plásticas, da educação superior.
Utilizam-se como referência as tendências pedagógicas para classificar e
delinear este ensino.
ANÁLISE
Pude constatar uma série de características em relação ao grupo de
pesquisa do professor Licius e da professora convidada Martha. Participei
como aluno ouvinte deste grupo. O plano da disciplina decorre inicialmente
com uma primeira etapa, onde apenas se trabalha os textos dos alunos; todo
seu desenvolvimento teórico no campo artístico e depois se inicia uma segunda
etapa, onde se trabalha a parte prática da pintura. Nesta etapa, une-se o
desenvolvimento teórico com o plástico.
Licius e Martha tendem a realizar reuniões com o grupo de pesquisa
uma vez por semana para colocar em dia as informações e conteúdo do grupo,
assim como orientá-los. No momento em que iniciei minha participação como
ouvinte, o grupo encontrava-se na parte final da etapa teórica, corrigindo os
textos referentes à produção dos alunos. Todo o grupo se reúne, em reuniões
marcadas em um mesmo horário de comum acordo com os alunos. Os
mesmos se ajustam juntos sentados em volta de uma mesa. Normalmente as
86
reuniões acontecem em uma sala fechada, onde não ocorrem influências da
parte externa. Os professores neste ambiente possuem lugar cativo atrás de
uma mesa, centralizada, e os alunos sentam-se nas laterais da sala ou em
volta da mesa principal. Por mais que os professores possuam uma posição
pré-estabelecida neste ambiente, as relações são bastante amigáveis e os
professores não fazem questão de exercer influência sobre os alunos devido
ao seu posicionamento físico na sala.
Os textos serão publicados, pois é um procedimento tradicional da
bolsa de pesquisa oferecida pelos alunos. As reuniões teóricas visam
aprofundar o conhecimento dos alunos e dar ferramentas para que estes
produzam seus textos, dos quais serão publicados no final do período. Logo,
estes textos necessitam ter caráter e nível científico.
__ Quando as reuniões são realizadas no ateliê, constata-se que o
professor não possui lugar cativo no ambiente. Senta-se em uma mesa sem
lugar pré-definido, na mesma "altura" dos alunos.
__ Os professores tratam os alunos de igual para igual,
horizontalmente, em nível de importância. Cria-se um vínculo de amizade com
o grupo. (Tendência Progressista Libertadora)
__ Os professores tendem a não se ver acima dos demais(alunos).
__ Cada pessoa traz algo. Algumas vezes Licius não estabelece que
trouxessem algo para se conversar sobre.
__ Quem quiser falar pode falar. Liberdade individual, assim como
do grupo como um todo, formando-se um grupo de discussão. (Tendência
progressista libertadora e/ou libertária)
__ Licius e Martha acrescentam à conversa e tomam a voz quando
necessário. (Dependendo da situação, a atuação do professor em alguns
casos/ ou momentos pode-se estar na tendência progressista indo ao extremo
oposto que é a tendência liberal e suas variações)
87
__ Cada pessoa tem um tipo de pensamento e um tipo de trabalho.
A orientação é bem adaptável a cada pessoa. (Tendência Progressista Crítico
Social dos Conetúdos)
__ Neste projeto estabeleceu-se como regra que cinquenta por
cento do desenvolvimento/produção seria através do texto referente à pesquisa
e os outros cinquenta por cento referentes à parte prática da pintura.
__ Notou-se uma ligeira dificuldade nos alunos em realizar abstratos.
__ Licius não tende a dizer se algo é errado, mas aceita o que é
diferente. Ou seja, em relação ao conteúdo trabalhado não existe de fato
verdades absolutas. ( Tendência progressista)
__ Cada aluno têm sua voz e vez.
__ O processo de produção é investigativo. O trabalho muitas vezes
fala por si próprio. O pensamento vai se desenvolvendo através de
experiências. Prática de experimentações assim como a prática da intuição.
(Tendência liberal renovada progressivista)
__ O grupo vai se comunicando via whatsup e facebook.
__ As ideias são reféns de uma produção massiva.
__ Cada aluno acrescenta à produção do outro, oferecendo sua
opinião e visão do que o outro realizou. Formação de um grupo de discussão.
(Tendência Progressista Libertadora)
__ Cada aluno tem a sua autonomia na sua própria produção. (
Tendência Progressista Libertadora)
__ Durante a reunião, Licius e Martha tendem a tentar entender o
pensamento do aluno e passar isto a eles, pois, na maioria das vezes é algo
que eles não veem. Inicialmente o pensamento é desenvolvido pelo aluno e
repassado ao professor. De forma racional desmembram o pensamento do
aluno, e devolvem a eles a interpretação do que eles estão fazendo e como
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estão pensando. Ou melhor, possibilitam a elaboração pessoal por parte do
aluno(Tendência Progressista Crítico Social dos Conteúdos)
__ Os conteúdos estabelecidos são nivelados por baixo,
contemplando tanto aqueles alunos que sabem mais quanto aqueles que
sabem menos.
__ Muito do que é produzido é baseado em textos e teorias dando
consciência ao inconsciente. Não é muito recomendável a falta de explicação
de algo; tudo é explicável com embasamento teórico. Assim como, é
comumente efetuado o ato por parte do professor de emprestar seus livros aos
alunos. O embasamento do texto se faz a partir de textos de filosofias, teorias,
comparações, mitologias, etc.
__ Nossa opinião/ideias é e pode ser baseada por moldes que
exercem influência sobre nós e isto é debatido e jogado para o aluno para
refletir.
__ Os professores são afetuosos e realizam intervalos com os
alunos oferecendo café e comida a seus alunos.
__ Os professores são extremamente incentivadores.
__ Os professores possuem ótima dicção.
__ Os métodos de execução dos trabalhos não possuem uma regra
exata, e cada aluno possui por assim dizer um método próprio, em que o
professor orienta de acordo com uma direção previamente estabelecida pelo
próprio aluno. Apesar de sempre se utilizar a técnica tradicional de pintura à
óleo sobre tela apenas como base, as diversificações são sempre bem vindas.
__ Dá-se bastante destaque para que os alunos estudem artistas
contemporâneos como referência. Ou melhor, dá-se uma direção mais
atualizada para o aluno, já que os artistas antigos normalmente manejam ideias
e técnicas que já são amplamente conhecidas pela sociedade.
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__ Muitas vezes, quando um aluno descobre uma artista através de
pesquisas realizadas individualmente, compartilha-se este para o grupo, e
incentiva-se que esta troca sempre ocorra. Algumas vezes o professor não os
conhece e passa a conhecê-los após seus alunos os apresentarem.
__ As paletas de pintura utilizadas pelos alunos seguem as mais
diversas influências. O professor não cobra uma atitude reprodutora do aluno,
mas sim incentiva que este descubra a própria forma de trabalhar a paleta de
pintura com o intuito principal que favoreça ao seu próprio trabalho. Algumas
vezes, para cada trabalho que o aluno desenvolve surge uma paleta própria,
derivando esta de um ou mais artistas que estejam influenciando o aluno
naquele trabalho em específico.
__ Em determinado momento, Licius estabeleceu que fosse
desenvolvido cadernos de estudos pelos alunos, para que estes praticassem
uma execução mais rápida e momentânea. Nestes cadernos, a intenção era
que cada aluno desenvolvesse um estudo finalizado por dia a guache. Estes
estudos, de uma forma geral, direcionavam os alunos para pensar o
desenvolvimento plástico da pintura. Pensar a pintura em si. Alguns alunos
reconheciam nestes estudos a possibilidade de sair de uma padronagem
própria.
__ Muitas vezes o professor acaba conhecendo os artistas
referências dos alunos através dos mesmos. Cada aluno possui sua
autonomia de produção.
__ Como um grupo de pesquisa, são produzidos textos sobre o
conhecimento científico trabalhado. Cada aluno tem um texto referente à sua
própria produção, que inicialmente é produzido pelo mesmo. Mais tarde, o texto
de cada aluno é divulgado e trabalhado durante as reuniões com a ampla
participação de cada aluno com suas próprias opiniões. O intuito destas
reuniões é troca de experiências, assim como intensificar a melhora dos textos
indo além do conhecimento do próprio professor. O professor mantém a
postura de auxiliador, orientador, e quando necessário de autoridade.
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(Tendência Progressista Libertadora, Tendência Progressista Crítico Social dos
Conteúdos, Tendência Liberal Tradicional).
__ Muitas vezes a dedicação do aluno vai além do tempo
estabelecido previamente pela bolsa de pesquisa. Não como exploração, mas
pela necessidade de se efetuar uma produção de qualidade O aluno acaba
fazendo tempo extra, cobrindo se necessário até mesmo em casa.
__ Em longo prazo foi possibilitado e divulgado a intenção de que
fosse organizado uma exposição representando esta bolsa de pesquisa.
__ De vez em quando são trabalhados em grupo textos
estabelecidos previamente pelos professores. Os professores distribuem Xerox
para os alunos de textos importantes para o desenvolvimento do grupo. Estes
textos são estudados individualmente e conjuntamente pelo grupo. Os
professores são extremamente importantes para ajudar os alunos na
compreensão destes textos, tomando a palavra quando necessário.
__ O professor se prontifica em enviar aos alunos conselhos e ideias
que surgem em sua própria produção via whatsup. E algumas vezes, até
mesmo vídeos sobre o procedimento de pintura, produzindo suas próprias
obras, com ideias que podem servir ao desenvolvimento dos alunos.
__ Cada professor acrescenta os seus pontos fortes ao grupo de
pesquisa. O professor Licius é mais apegado à parte prática do processo da
pintura, enquanto a professora Martha se concentra com a parte mais teórica.
Desta forma, os dois se complementam.
__ O grupo de pesquisa se mantem unido pelo tempo que se
encontram juntos. Ausências ocorreram devido ao término do curso de pintura
na faculdade, mas as modificações ocorrem de forma lenta. Sempre mantendo-
se a união e um nível elevado de conhecimento ao grupo, fazendo com que
novos alunos participantes do mesmo, tenham o incentivo de uma produção de
qualidade mais elevada.
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__ As organizações dos textos individuais da produção de cada
aluno seguem de acordo com o estilo próprio deles. Alguns começam seu texto
pelas obras e depois falam da teoria que se embasaram, outros fazem o
inverso, ou até mesmo as duas coisas ao mesmo tempo(explicam a produção
plástica ao mesmo tempo em que escrevem as teorias em que se basearam).
Logo, pode-se dizer de uma forma geral que o ensino do professor
Licius Bossolan e Martha Werneck predomina-se, segundo aspectos distintos
nas tendências: Tendência Liberal Renovada Progressivista, Tendência Liberal
Renovada Não Diretiva, Tendência Progressivista Libertadora, Tendência
Progressivista Libertária e Tendência Progressivista "Crítico-social dos
Conteúdos ou Histórico-Crítico".
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APÊNDICE 2
Uma análise pessoal da didática do professor Ricardo Cardoso Newton, como orientador de Projeto Final de Renato Gomes Shamá dos Santos. Considerando-se a experiência discente nas disciplinas de "Tópico Especial de Técnicas de Pintura", "Tópico Especial de Harmonia Cromática", "Tópico Especial Sobre o Croqui à Óleo". Curso de Pintura, da Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá dos Santos. Período de experiência: 2011/2 à 2014/1.
RESUMO
Este presente estudo tem o objetivo de relatar o ensino do professor
Ricardo Newton, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, buscando destacar as características da didática de professores
distintos no ensino das artes plásticas, da educação superior. Utilizam-se com
referência as tendências pedagógicas para classificar e delinear este ensino.
ANÁLISE
Nesta análise, comentarei com as minhas palavras a didática
utilizada pelo professor Ricardo Newton, durante minha orientação de projeto
final, assim como experiências pessoais em outras disciplinas ministradas pelo
mesmo professor. A orientação iniciou com o convite por mensagem via
internet para que eu comparecesse a sua sala, para que conversássemos.
Como tradição da ementa do curso, realizávamos um pré-projeto final que
deveria ser entregue ao nosso professor de Pintura V; última disciplina
obrigatória antes de iniciar o período onde se trabalharia o Projeto Final.
Na primeira conversa formal, na universidade foi acordado entre nós
o tema da monografia (Conversation Piece) e o trabalho de conclusão de
curso(Realização de uma tela de grande dimensão envolvendo minha própria
família). Realizaria a primeira etapa para realização do trabalho, do qual
consistiria em tirar diversas fotos de ambientes de minha própria casa,
procurando os melhores ângulos para trabalhar o devido trabalho.
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Depois de realizadas as devidas fotos, foram escolhidas uma com o
melhor ângulo. Inicialmente, realizei estudos de composição para a tela, do
qual posteriormente foi trabalhada conjuntamente com o professor a melhor
opção para a realização da tela.
__ Inicialmente o trabalho se deu com muita influência do professor,
assim que se entrava em sua sala para realizar os devidos ajustes. As ideias
apenas se desenvolviam com naturalidade, na independência do próprio aluno
ao estudar o tema principal de seu trabalho. Em cada reunião chegava-se ao
devido acordo do trabalho.
__ As reuniões muitas vezes se davam no mesmo horário de aula do
professor orientador, no mesmo local em que ocorresse a aula. Este professor
dava duas disciplinas no curso de Pintura, e as reuniões ocorriam
normalmente, em um dos dias em que o mesmo dava aula. O professor dividia
a atenção da orientação de projeto final com seus orientandos e com os seus
alunos de primeiro período, do qual tinha a ajuda de um monitor. Assim como,
em um dia da semana, dava aula para alunos dos demais períodos.
__ O professor possui lugar cativo e raras vezes as orientações
ocorriam fora deste lugar pré-estabelecido. O professor sentava-se em uma
cadeira atrás de uma mesa tipo escrivaninha. A maioria das conversas ocorria
desta forma.
__ Muitas vezes quando o professor tinha ideias acerca de nosso
trabalho, o mesmo fazia uma enorme influência para que fizéssemos
modificações em nosso trabalho levando em consideração suas palavras. O
professor esperava uma atitude receptiva do aluno.
__ O professor analisava a monografia apenas com o intuito de
corrigir a parte da escrita e pouquíssimas vezes orientava direcionando o aluno
para alguma direção artística.
__ Os conteúdos trabalhados giravam em torno de algum assunto
história da arte, sempre com alguma atitude reprodutora. As inovações
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ocorriam menos pela influência do professor sobre o aluno, mas sim por deias
do próprio professor que esperava uma atitude reprodutora do aluno.
__ O professor tinha pleno domínio do conteúdo trabalhado.
__ Os métodos de execução giravam em torno apenas das técnicas
artísticas que o mesmo professor utilizava ou conhecia, raríssimas vezes havia
algum tipo de influência para que inovássemos.
__ A aprendizagem quando ocorria se desenvolvia de forma
receptiva e mecânica.
__ O conteúdo não era muito flexível. A maioria dos artistas
ofertados pelo professor como possíveis referências a serem utilizadas e
estudadas eram antigos, conhecidos e devidamente documentados pela
história da arte. Ocorria pouca atualização neste sentido.
__ Se dá pouco incentivo para que o aluno inove. A maior parte da
produção do aluno gira em torno de conhecimentos que o professor domina e
não se desenvolve para além diste domínio.
__ Em alguns momentos o professor abria exceções permitindo que
o aluno utiliza-se de suas próprias referências para pintar. Desde que fosse
dentro da temática pré-estabelecida pelo professor.
__ Durante suas aulas o conhecimento girava em torno do que o
professor conhecia, sendo destacado desde o inicio que o período da pintura
em que sua aula mais se assimilava seria o período do Realismo, com as
devidas influências adotadas pelo professor.
__ Durante a execução do trabalho de conclusão de curso, o
trabalho deve seguir os procedimentos pré-estabelecidos pelo professor. Por
mais autônomo que a produção siga por parte do aluno em relação à parte
escrita e a pesquisa como um todo, o professor dá mais destaque à execução
das pinturas.
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__ A paleta de pintura utilizada é sempre cobrada pelo professor que
utilizemos a que ele estabelece previamente. Não a qualquer estimulo para
inovações neste aspecto.
__ A avaliação é baseada de acordo com o desenvolvimento
realizado pelo aluno. Não importava se o aluno estivesse pintando bem ou mal,
ele poderia tirar a mesma nota que aquele aluno que estivesse pintando bem,
desde que o seu desenvolvimento comprova-se uma melhora constante
durante o passar das aulas.
Logo, pode-se dizer de uma forma geral, que o ensino do professor
Ricardo Newton predomina-se na Tendência Liberal Tradicional e na
Tendência Liberal Tecnicista. Algumas poucas vezes seu ensino passeava pela
Tendência Progressista Crítico Social dos Conteúdos.
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APÊNDICE 3
Uma análise pessoal da didática da professora Maria de Lourdes Barreto Santos Filha, como professora da disciplina "Aquarela" do curso de Pintura, da Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizada por Renato Gomes Shamá dos Santos. Período de experiência: 2013/1.
RESUMO
Este presente estudo tem o objetivo de relatar o ensino do professor
Maria de Lourdes Barreto Santos Filha, da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, buscando destacar as características
da didática de professores distintos no ensino das artes plásticas, da educação
superior. Utilizam-se como referência as tendências pedagógicas para
classificar e delinear este ensino.
__ A professora não possui lugar cativo na sala de aula. Muitas
vezes passeia pela turma para olhar o trabalho dos alunos, orientá-los
também.( Tendência Progressistas Libertadora)
__ A professora passava uma lista de trabalhos a serem executados.
Organizados segundo uma ordem pré-estabelecida. (Tendência Liberal
Tecnicista)
__ Buscava-se incentivar a aprendizagem pela experimentação, pois
segundo a professora a técnica de aquarela sobre papel tem uma
predisposição para execução de trabalhos distintos dificultando a repetição.
Mesmo que a intenção seja reproduzir o mesmo trabalho, na maioria das vezes
e dependendo da forma que fosse executado é difícil que o resultado final seja
igual devido à natureza da aquarela. (Tendência Liberal Renovada
Progressivista)
__ Algumas vezes a professora incentivava a incorporação de
referências de artistas conhecidos. Emprestando livros durante as aulas para
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que víssemos soluções distintas e possíveis de serem executadas com a
aquarela. ( Tendência Liberal Renovada Progressivista)
__ Apesar do incentivo para a experimentação, muitas vezes
também era ensinado o trabalho mais realista e tradicional. (Tendência Liberal
Tradicional)
__ Dava-se liberdade para os alunos para utilizarem as próprias
referências. ( Tendência Progressista Libertadora)
__ Havia uma gama de experimentações referentes à cor, que a
professora pré-estabelecia. Não era dada qualquer preferência em relação ao
estudo das cores. Por exemplo: a professora nos fazia experimentar na prática
a teoria das cores, todas as relações existentes, mas não havia preferências
neste quesito. O aluno poderia nos trabalhos livres realizar a relação cromática
que quisesse da forma que gostaria de direcionar o seu próprio trabalho.
__ A maioria dos trabalhos o aluno poderia explorar a temática que
quisesse dentro da lista pré-estabelecida pela professora. Onde se focava nas
possibilidades cromáticas. ( Tendência Liberal Renovada Progressivista,
Tendência Progressista Libertadora)
__ A avaliação do aluno é baseada no total de trabalhos realizados,
dentro do que foi cobrado, assim como a qualidade dos mesmos. (Tendência
Liberal Tecnicista).
Logo, pode-se dizer de uma forma geral que o ensino da professora
Lourdes predomina-se na Tendência Liberal Renovada Progressivista,
Tendência Liberal Tecnicista, Tendência Liberal Tradicional, Tendência
Progressista Libertadora.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Entrevista. Revista ÉPOCA. Seção Ideias. "Claudio
Naranjo: A educação atual produz zumbis". Realizada por Flávia Yuri Oshina.
31/05/2015.
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ANEXO 1
ENTREVISTA
Revista ÉPOCA - http://epoca.globo.com/ideias/noticia /2015/05/claudio-naranjo-educacao-atual-produz-zumbis.html FLÁVIA YURI OSHIMA 31/05/2015 - 10h00 - Atualizado 31/05/2015 10h00 Ideias
Claudio Naranjo: “A educação atual produz zumbis” O psiquiatra chileno diz que investir numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e formar seres autônomos e saudáveis. O psiquiatra chileno Claudio Naranjo tem um currículo invejável. Formou-se em medicina na Universidade do Chile, especializou-se em psiquiatria em Harvard e virou pesquisador e professor da Universidade de Berkeley, ambas nos EUA. Desenvolveu teorias importantes sobre tipos de personalidade e comportamentos sociais. Trabalhou ao lado de renomados pesquisadores, como os americanos David McClelland e Frank Barron. Publicou 19 títulos. Sua trajetória pode ser classificada como irrepreensível pelo mais ortodoxo dos avaliadores. Ele é, inclusive, um dos indicados ao Nobel da Paz deste ano. É comum, no entanto, que Naranjo seja chamado, em tom pejorativo, de esotérico e bicho grilo. Há mais de três décadas, ele e a fundação que leva seu nome pregam que os educadores devem ser mais amorosos, afetivos e acolhedores. Ele defende que essa é a forma mais eficaz de ajudar todos os alunos – não só os melhores – a efetivamente aprender “e assim mudar o mundo”, como ele diz. Claudio Naranjo esteve no Brasil para participar do evento sobre educação básica Encontro de Educadores.
ÉPOCA – O senhor é psiquiatra e desenvolveu teorias importantes em estudos de personalidade. Hoje trabalha exclusivamente com educação. Por que resolveu se dedicar a esse tema?
Claudio Naranjo – Meu interesse se voltou para a educação porque me interesso pelo estado do mundo. Se queremos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso pela educação. É mais fácil mudar a consciência dos mais jovens.
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ÉPOCA – Quais os problemas do modelo educacional atual na opinião do senhor? Naranjo – Temos um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra educação para designar o que é apenas a transmissão de informações. É um programa que rouba a infância e a juventude das pessoas, ocupando-as com um conteúdo pesado, transmitido de maneira catedrática e inadequada. O aluno passa horas ouvindo, inerte, como funciona o intestino de um animal, como é a flora num local distante e os nomes dos afluentes de um grande rio. É uma aberração ocupar todo o tempo da criança com informações tão distantes dela, enquanto há tanto conteúdo dentro dela que pode ser usado para que ela se desenvolva. Como esse monte de informações pode ser mais importante que o autoconhecimento de cada um? O nome educação é usado para designar algo que se aproxima de uma lavagem cerebral. É um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos, para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas.
ÉPOCA – Como é possível mudar esse modelo? Naranjo – Podemos conceber uma educação para a consciência, para o desenvolvimento da mente. Na fundação, criamos um método para a formação de educadores baseado em mais de 40 anos de pesquisas. O objetivo é preparar os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Comprovamos por meio de pesquisas que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a educação é despótica e repressiva. É como se educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. O treinamento que criamos está entre os programas reconhecidos pelo Fórum Mundial da Educação, do qual faço parte. Já estive com ministros da Educação de dezenas de países para divulgar a importância dessa abordagem.(Tendência Progressista Libertadora e Tendência Progressista Critico Social dos Conteúdos) ÉPOCA – E qual foi a recepção?
Naranjo – A palavra amor não tem muita aceitação no mundo da educação. Na poesia, talvez. Na religião, talvez. Mas não na educação. O tema inteligência emocional é um pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio. Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Os ministros da Educação me recebem muito bem. Eles concordam com meu ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema. O ministro é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Estou mais esperançoso com o novo ministro da Educação de
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vocês (Renato Janine Ribeiro). Ele me convidou para jantar, para falarmos sobre minhas ideias. É a primeira vez que a iniciativa parte do lado do governo. Ele é um filósofo, pode fazer alguma diferença.
"Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo"(Tendência Progressista Libertadora)
ÉPOCA – Para quem decidiu ser professor, não seria natural sentir amor, compaixão e vontade de cuidar do aluno?
Naranjo – Uma vez dei uma aula a um grupo de estudantes de pedagogia na Universidade de Brasília. Fiquei muito decepcionado com a falta de interesse. Vendo minha expressão, o coordenador me disse: “Compreenda que eles não escolheram ser educadores. Alguns prefeririam ser motorista de táxi, mas decidiram educar porque ganham um pouco mais e têm um pouco mais de segurança. Estão aqui porque não tiveram condições de se preparar para ser advogados ou engenheiros ou outra profissão que almejassem”. Isso acontece muito em locais em que a educação não é realmente valorizada. Quem chega à escola de educação são os que têm menos talento e menos competência. Não se pode esperar que tenham a vocação pedagógica, de transmitir valores, cuidar e acolher. ÉPOCA – O senhor diz que o sistema de educação atual desperdiça talentos, rotulando-os com transtornos e distúrbios. Pode explicar melhor esse ponto? Naranjo – Humberto Maturana, cientista chileno, me contou que a membrana celular não deixa entrar aquilo que ela não precisa. A célula tem um modelo em seus genes e sabe o que necessita para construir-se. Um eletrólito que não lhe servirá não será absorvido. Podemos usar essa metáfora para a educação. As perturbações da educação são uma resposta sã a uma educação insana. As crianças são tachadas como doentes com distúrbios de atenção e de aprendizado, mas em muitos casos trata-se de uma negação sã da mente da criança de não querer aprender o irrelevante. Nossos estudantes não querem que lhe metam coisas na cabeça. O papel do educador é levá-lo a descobrir, refletir, debater e constatar. Para isso, é essencial estimular o autoconhecimento, respeitando as características de cada um. Tudo é mais efetivo quando a criança entende o que faz mais sentido para ela.
ÉPOCA – Por que a educação caminhou para esse modelo? Naranjo – Isso surgiu no começo da era industrial, como parte da necessidade de formar uma força de trabalho obediente. Foi uma traição ao ideal do pai do capitalismo, Adam Smith, que escreveu A riqueza das nações. Ele era professor de filosofia moral e se interessava muito pelo ser humano. Previu que o sistema criaria uma classe de pessoas dedicadas todos os dias a fazer só um movimento de trabalho, a classe de trabalhadores. Previu que essa repetição produziria a deterioração de suas mentes e advertiu que seria vital dar a eles uma educação que lhes permitisse se desenvolver, como uma forma de evitar a maquinização completa dessas pessoas. Sua mensagem foi ignorada. Desde então, a educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial.
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É usada para que o estudante passe em exames, consiga boas notas, títulos e bons empregos. É uma distorção do papel essencial que a educação deveria ter.
ÉPOCA – Há algo que os pais possam fazer?
Naranjo – Muitos pais só querem que seus filhos sigam bem na escola e ganhem dinheiro. Acho que os pais podem começar a refletir sobre o fato de que a educação não pode se ocupar só do intelecto, mas deve formar pessoas mais solidárias, sensíveis ao outro, com o lado materno da natureza menos eclipsado pelo aspecto paterno violento e exigente. A Unesco define educar como ensinar a criança a ser. As Constituições dos países, em geral, asseguram a liberdade de expressão aos adultos, mas não falam das crianças. São elas que mais necessitam dessa liberdade para se desenvolver como pessoas sãs, capazes de saber o que sentem e de se expressar. Se os pais se derem conta disso, teremos uma grande ajuda. Eles têm muito poder de mudança.