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DOM DAS CURAS DO ESPÍRITO SANTO Colocamos hoje para reflexão o dom das curas do Espírito Santo. São muitos textos bíblicos que relacionamos juntamente com comentário de santos, papas, beatos, enfim pessoas que dispuseram incondicionalmente o seu amor a Cristo a seus irmãos, com ensinamentos escritos e práticos em suas vidas. Dividimos o dom das curas do Espírito Santo em três formas, tomando como base as três dimensões do homem: corpo, alma e espírito (Ts.5,23). Entendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades nestas três dimensões. Existem os males físicos, os males da alma ou males interiores e os males espirituais. Nosso propósito é que você reflita sobre o texto bíblico apresentado e apoiado pelos comentários possa entender melhor o tipo de cura que o Espírito Santo fez em determinada pessoa. Às vezes o texto apresenta mais de um tipo de cura. Cabe a nós com nossa reflexão identificá-los. Deus conhece as inúmeras necessidades de seu povo, por esta razão derrama sobre todos aqueles que querem socorrer estas necessidades o Espírito Santo, que os capacita com os carismas necessários para um trabalho eficiente em Deus. Alguns cristãos recebem o dom de cura. Para servirem com esta força do carisma, cria-se um ministério de cura a fim de organizar todo o trabalho, com a finalidade de torná-lo mais eficiente. Com a força impulsionadora do carisma de cura organizado pelo ministério, os ministros de cura lançam-se na obra de curar. Jesus por ser a fonte do Espírito Santo realizou inúmeras curas no seu ministério, muitas vezes praticando-as junto com outros dons. A leitura atenta dos textos assim nos revela. Abaixo relacionamos algumas abreviaturas que serão encontradas nos textos. Podem também aparecerem em letras minúsculas: DDCF= dom da cura física (quando somos atingidos em nosso corpo) DDCI = dom da cura interior (quando somos atingidos em qualquer área de nossa alma) DDCE= dom da cura espiritual (quando somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas doutrinas). Outras abreviaturas: DDCFEI=dom da cura física espiritual interior (pode haver também inversão nas três últimas letras, ou duas últimas, etc.). Boa leitura e boa reflexão a todos. DOM DAS CURAS DO ESPÍRITO SANTO Lv. 19,31 pg.163: (DDCE) O Livro do Levítico nos diz: 31.Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus. -A procura ou adesão a falsas doutrinas por parte do homem afastado da graça deixam-nos contaminados por espíritos malignos que, com consentimento direto ou indireto de vontade, passam a ter influência sobre ele. Para orarmos por libertação basta que conheçamos o problema da pessoa atribulada e saibamos como e porque ela se encontra naquele estado. Is. 53,1-6 (4a.5b.)-DDCF - pg.1012:[A oração para a cura física-Atingidos em nosso corpo] 1.Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor? 2.Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos.

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DOM DAS CURAS DO ESPÍRITO SANTO

Colocamos hoje para reflexão o dom das curas do Espírito Santo. São muitos textos bíblicos que

relacionamos juntamente com comentário de santos, papas, beatos, enfim pessoas que dispuseram

incondicionalmente o seu amor a Cristo a seus irmãos, com ensinamentos escritos e práticos em suas vidas.

Dividimos o dom das curas do Espírito Santo em três formas, tomando como base as três dimensões do

homem: corpo, alma e espírito (Ts.5,23). Entendemos que este mesmo homem pode ser atingido por

enfermidades nestas três dimensões.

Existem os males físicos, os males da alma ou males interiores e os males espirituais.

Nosso propósito é que você reflita sobre o texto bíblico apresentado e apoiado pelos comentários possa

entender melhor o tipo de cura que o Espírito Santo fez em determinada pessoa.

Às vezes o texto apresenta mais de um tipo de cura. Cabe a nós com nossa reflexão identificá-los.

Deus conhece as inúmeras necessidades de seu povo, por esta razão derrama sobre todos aqueles que querem

socorrer estas necessidades o Espírito Santo, que os capacita com os carismas necessários para um trabalho

eficiente em Deus.

Alguns cristãos recebem o dom de cura. Para servirem com esta força do carisma, cria-se um ministério de

cura a fim de organizar todo o trabalho, com a finalidade de torná-lo mais eficiente.

Com a força impulsionadora do carisma de cura organizado pelo ministério, os ministros de cura lançam-se

na obra de curar.

Jesus por ser a fonte do Espírito Santo realizou inúmeras curas no seu ministério, muitas vezes praticando-as

junto com outros dons. A leitura atenta dos textos assim nos revela.

Abaixo relacionamos algumas abreviaturas que serão encontradas nos textos. Podem também aparecerem em

letras minúsculas:

DDCF= dom da cura física (quando somos atingidos em nosso corpo)

DDCI = dom da cura interior (quando somos atingidos em qualquer área de nossa alma)

DDCE= dom da cura espiritual (quando somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas

doutrinas).

Outras abreviaturas: DDCFEI=dom da cura física – espiritual – interior (pode haver também inversão nas

três últimas letras, ou duas últimas, etc.).

Boa leitura e boa reflexão a todos.

DOM DAS CURAS DO ESPÍRITO SANTO

Lv. 19,31 – pg.163: (DDCE) – O Livro do Levítico nos diz: 31.Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor,

vosso Deus.

-A procura ou adesão a falsas doutrinas por parte do homem afastado da graça deixam-nos contaminados

por espíritos malignos que, com consentimento direto ou indireto de vontade, passam a ter influência sobre

ele.

Para orarmos por libertação basta que conheçamos o problema da pessoa atribulada e saibamos como e

porque ela se encontra naquele estado.

Is. 53,1-6 (4a.5b.)-DDCF - pg.1012:– [A oração para a cura física-Atingidos em nosso corpo] 1.Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor?

2.Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e

seu aspecto não podia seduzir-nos.

3.Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais

se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.

4.Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um

castigado, ferido por Deus e humilhado.

5.Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos

curados graças às suas chagas.

6.Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo

das faltas de todos nós.

-Orar por cura física supõe clamar o poder misericordioso de Deus sobre todos os tipos de enfermidades,

sede uma simples dor de cabeça, até a cura do câncer e da AIDS.

-O nosso grande respaldo para esta oração é o nome de JESUS. Tomando por base a passagem de Is.53,1-6,

encontramos a messiânica pessoa de Jesus Cristo, o Justo, que por amor a cada homem assume a condição

do homem pecador, afim de matar , com sua morte de cruz, essa triste condição do homem, e nos dar nova

vida através de sua ressurreição.

Is. 53, 4a. : “ Em verdade Ele tomou sobre si nossas enfermidades e carregou com nossos sofrimentos”.

Não poderia haver palavras tão claras na Bíblia, de que os enfermos são curados porque Jesus tomou sobre

Ele toda enfermidade.

Is. 53.5b.: Este versículo nos ensina: “Fomos curados graças às suas chagas”.

-São as chagas de Jesus que nos curam de nossas doenças. Não somos curados por nenhum ungüento ou

poder que não seja o amor de Jesus. Ao orarmos por cura física a única prerrogativa que trazemos é esta: O

Nome de Jesus, que nada mais é do que o seu caráter, a sua personalidade, Ele mesmo.

-Muitos endurecem o coração e são incrédulos com relação à cura física.Parece-lhes ser a cura física algo

fantástico, fora de nossa realidade, talvez por não saberem em que se apoiar realmente.Estamos acostumados

a confiar em nosso intelectualismo, em nossas técnicas e em até nossos méritos de santidade, mas temos

dificuldades em nos lançarmos totalmente na ação da graça de Deus, manifestada em Jesus Cristo

Crucificado, por que o Pai nos devolve a saúde.

-É preciso de uma vez por todas deixarmos de lado os melindres e enganos e orarmos pelos enfermos,

sabendo que Deus cura pelos méritos de Jesus Cristo e não porque sabemos orar , temos experiência ou

somos santos.

Tudo o que acontece e faz com que o Pai derrame a sua graça é devido a Jesus. Para orarmos por cura física

basta apenas orar crendo nesta realidade.

Devido à nossa informação intelectualizada, por não termos apreendido a confiar inocentemente “na Graça

de Deus” podemos muitas vezes nos sentir como testemunha:

Não existe nenhum método ou técnica única que sempre produza resultados com relação à cura.

Deus quer que oremos em Nome de Jesus não é uma técnica, nem méritos de poucos, mas todos têm acesso

a essa graça.

Existem algumas medidas bem simples que fazem parte desta oração para a cura física que são:

1-Conhecer a causa da enfermidade, uma vez que uma séria conversa com o enfermo e o conhecimento do

diagnóstico dos médicos é fundamental.

2-A imposição de mãos - Jesus nos orienta assim: “Imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados”.

(Mc.16,18b)

3-Abrir-se a todos os carismas ou dons como: Palavra de Ciência, Línguas, Fé, Profecia, enriquecem e

purificam o dom da cura física.

4-Oração de Autoridade – Sabendo que “somos curados graças às chagas de Jesus”, apossemo-nos deste

poderoso nome e oremos com fé.

[A cura da alma - atingidos em qualquer área da nossa alma]

Is. 61, 1-2 –DDCI - pg.1023: (dom da cura interior) 1.O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos

humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade;

2.proclamar um ano de graças da parte do Senhor, e um dia de vingança de nosso Deus; consolar todos os aflitos,

-O profeta Isaías em sua profecia de profundo caráter messiânico já falava do Jesus que cura quando diz: “O

Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção e enviou-me... a curar

corações doloridos , anunciar aos cativos a redenção... a proclamar um ano de graças da parte do Senhor”.

Esta profecia foi a passagem lida por Jesus na Sinagoga de Nazaré, acrescentando:” Hoje se cumpriu este

oráculo que vós acabais de ouvir”.(Mt.4,14-21)

Mt. 4,18-22- DDCEFI – p.1351 – dom da cura espiritual – física - interior 18. Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede

ao mar, pois eram pescadores.

19. E disse-lhes: Vinde após mim e vos farei pescadores de homens.

20. Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram.

21. Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam com seu pai Zebedeu

consertando as redes. Chamou-os,

22. e eles abandonaram a barca e seu pai e o seguiram.

23. Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as

doenças e enfermidades entre o povo.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre o evangelho de João 19, 1

O primeiro a ser chamado, o primeiro a dar testemunho

«Como é bom, como é agradável, viverem os irmãos em unidade» (Sl 132, 1). [...] Depois de ter estado com

Jesus (Jo 1, 39), e de ter aprendido muitas coisas, André não guardou esse tesouro para si: apressou-se a ir

ter com seu irmão, Simão Pedro, para partilhar com ele os bens que recebera. [...] Repara no que ele diz ao

irmão: «Encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)» (Jo 1, 41). Estás a ver o fruto daquilo que ele tinha

aprendido há tão pouco tempo? Isto é uma prova, a um tempo, da autoridade do Mestre que ensinou os Seus

discípulos e, desde o princípio, do zelo com que estes queriam conhecê-Lo.

A pressa de André, o zelo com que difunde imediatamente uma tão grande boa nova, dá a conhecer uma

alma que ardia por ver cumpridas todas as profecias respeitantes a Cristo. Partilhar assim as riquezas

espirituais é prova de uma amizade verdadeiramente fraterna, de um afeto profundo e de uma natureza cheia

de sinceridade. [...] «Encontramos o Messias», diz ele; não está a referir-se a um messias qualquer, mas ao

verdadeiro Messias, Àquele que esperavam

Mt.4,23-25 –(DDC-F/I/E): pg.1288 –(dom da cura física,interior e espiritual) 23.Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e

enfermidades entre o povo.

24.Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele

curava a todos.

25.Grandes multidões acompanharam-no da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.

-Depois de se proclamar como Messias, Jesus inicia sua vida pública, que tem um resumo bem característico

neste texto:

Sim, Jesus curava a todos porque é o Salvador do mundo e tem compaixão dos que sofrem de males e

enfermidades. As curas de todos os tipos foram no ministério de Jesus sinais de que a Salvação havia

chegado.

O Santo Evangelho narra inúmeras curas, sinais proféticos que identificam o Messias: a cura de um

endemoninhado na Sinagoga de Cafarnaum , a cura da febre da sogra de Pedro, a cura do leproso;a cura do

paralítico levado por seus 4 amigos; a curar do homem de mão-seca; a cura do possesso de Gerasa; a cura da

filha de Jairo; a cura da hemorroísa; a cura da filha da mulher Cananéia, a cura do surdo-mudo; a cura do

cego de Betsaida; a cura do jovem epilético, a cura do cego Bartimeu, e outras.

Comentário feito por:

Odes de Salomão (texto cristão hebraico do princípio do séc. II)

N° 15

«Sobre aqueles que habitavam no país das sombras e da morte, fez-se uma luz»- (v.16)

Tal como o sol é a alegria

dos que procuram a luz,

assim a minha alegria é o Senhor,

pois Ele é o meu sol.

Os seus raios reergueram-me,

a sua luz dissipou todas as trevas da minha fronte.

Graças a Ele foram-me dados estes olhos,

E pude ver a sua luz santa;

Foram-me dados ouvidos

e pude ouvir a sua verdade;

foi-me dado o pensamento da ciência

e por seu intermédio me alegrei.

Abandonei o caminho do erro,

fui junto d’Ele,

e d’Ele generosamente recebi a salvação.

Ele muito me deu, por sua benevolência,

e a sua beleza modelou-me.

Em seu nome, cobri-me de incorruptibilidade,

abandonei a corrupção por sua divina graça.

A mortalidade desapareceu defronte do meu rosto,

A morada dos mortos foi aniquilada pelas minhas palavras,

Ergueu-se uma vida imortal na terra do Senhor.

Ela foi revelada aos crentes

e sem reservas concedida

a todos os que a Ele se entregam.

Aleluia!

A ORAÇÃO PARA A CURA ESPIRITUAL

( Atingidos em nosso espírito,contaminando-nos com falsas doutrinas).

. A oração para a cura Espiritual, também chamada “Oração para a Libertação”, é um processo de orações

em nome de Jesus Cristo, que liberta as pessoas cativas em seu espírito, quando são oprimidas por espíritos

malignos.

. A Palavra de Deus e a Tradição e Magistério da Igreja nos falam claramente da existência dos demônios,

anjos decaídos que tentam o homem com a finalidade de afastá-lo de Deus, a quem odeiam.

. A influência dos demônios na vida do homem pode manifestar-se como simples tentação, como opressão,

infestação ou possessão.

Tentado (= privado) pelo inimigo, o homem só cairá em pecado se aderir à tentação com a sua vontade. No

entanto, infelizmente, o acúmulo de pecados não confessados pode levá-lo a um triste estado de dependência

dos mais variados vícios morais que abrem espaço a um estado de cegueira espiritual e engano próprio que

o fecha para ação da graça.

Este estado é comumente conhecido como “opressão” e pode manifestar-se como indiferença para com as

coisas de Deus, esfriamento na fé, afastamento dos sacramentos e da Igreja, angústia, depressão, stress

emocional, enfermidades, dissensões conjugais, familiares e sociais.

. A Igreja reserva o exorcismo formal aos bispos ou a sacerdotes por eles expressamente designados.

.O exorcismo formal é aplicado nos casos mais sérios de infestação demoníaca em indivíduos, famílias ou

ambientes.

Mt.8,5-17 –DDCI - p.1292 - dom da cura interior 5. Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez esta súplica:

6. Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito.

7. Disse-lhe Jesus: Eu irei e o curarei.

8. Respondeu o centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado.

9. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem;

e a meu servo: Faze isto, e ele o faz...

10. Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes: Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém

de Israel.

11. Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e

Jacó,

12. enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. 13. Depois, dirigindo-

se ao centurião, disse: Vai, seja-te feito conforme a tua fé. Na mesma hora o servo ficou curado.

14. Foi então Jesus à casa de Pedro, cuja sogra estava de cama, com febre. 15. Tomou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela levantou-

se e pôs-se a servi-los. 16. Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra expulsou ele os espíritos

e curou todos os enfermos. 17. Assim se cumpriu a predição do profeta Isaías: Tomou as nossas enfermidades e sobrecarregou-se

dos nossos males (Is 53,4).

Comentário ao Evangelho do dia feito por

Basílio da Selêucia (?-c. 468), bispo

Homilia nº 19 sobre o centurião, pp. 85, 235ss. (trad. Bouchet, Lecionário, p. 354 rev.)

«Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete»

Vi o Senhor fazer milagres no Evangelho e o meu discurso cauteloso é neles que toma segurança. Vi o

centurião prostrar-se aos pés do Senhor; vi as nações enviarem a Cristo as primícias dos seus frutos. A cruz

ainda não se ergueu e já os pagãos se precipitam para o Mestre. Ainda não se escutou: «Ide, pois, fazei

discípulos de todos os povos» (Mt.28,19) e já os povos acorrem. Acorrem antes de serem chamados, ardem

de desejo do Senhor. Ainda a pregação não começou e já eles se apressam ao encontro do Pregador. Pedro

ainda estava ensinado e já eles se reúnem à volta Daquele que lhe dá o ensinamento; a luz de Paulo ainda

não refulgiu sob o estandarte de Cristo e já as nações vêm adorar o rei com incenso (Mt 2, 11).

A agora eis que um centurião Lhe diz: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo

horrivelmente». Aqui está de fato um novo milagre: o servo cujos membros estão paralisados conduz o seu

amo ao Senhor; a doença do escravo devolve a saúde ao seu proprietário. Este, buscando a saúde do servo,

encontra o Senhor e, enquanto tenta conquistar a saúde do seu escravo, deixa-se conquistar por Cristo.

Mt.(8,28-34) –DDCE - pg.1293– Expulsão dos demônios.- dom da cura espiritual

28.No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos de demônios saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro.

Eram tão furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali.

29.Eis que se puseram a gritar: Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?

30.Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava.

31.Os demônios imploraram a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos.

32.Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o

lago, e morreu nas águas.

33.Os guardas fugiram e foram contar na cidade o que se tinha passado e o sucedido com os endemoninhados.

34.Então a população saiu ao encontro de Jesus. Quando o viu, suplicou-lhe que deixasse aquela região.

Comentário feito por:

Concílio Vaticano II

Constituição sobre a Igreja no mundo actual « Gaudium et spes », § 13

A liberdade humana: "as pessoas rogaram-lhe que se retirasse daquela região" – (v.34)

Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua

história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d'Ele.

Tendo conhecido a Deus, não lhe prestou a glória a Ele devida, mas o seu coração insensato obscureceu-se e

ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador (Rm.1,21-25). E isto que a revelação divina nos dá a conhecer,

concorda com os dados da experiência. Quando o homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se

inclinado também para o mal, e imerso em muitos males, que não podem provir de seu Criador, que é bom.

Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o

fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para

toda a criação.

O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer

coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Mais: o homem

descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso

com cadeias. Mas o Senhor em pessoa veio para libertar e fortalecer o homem, renovando-o interiormente e

lançando fora o príncipe deste mundo (cfr. Jo. 12,31), que o mantinha na servidão do pecado. Porque o

pecado diminui o homem, impedindo-o de atingir a sua plena realização.

A sublime vocação e a profunda miséria que os homens em si mesmos experimentam, encontram a sua

explicação última à luz desta revelação.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e posteriormente de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilia sobre a palavra «cemitério» e sobre a cruz

A libertação dos cativos

Naquele dia, Jesus Cristo entrou no abismo conquistando os infernos. Naquele dia, «Ele despedaçou as

portas de bronze, quebrou os ferrolhos de ferro», como disse Isaías (Is 45,2). Reparemos bem nestas

expressões. Não é dito que «abriu» as portas de bronze, nem que as tirou de seus gonzos, mas que «as

despedaçou», para nos fazer compreender que deixou de haver prisão, para dizer que Jesus aniquilou a

morada dos prisioneiros. Prisão onde já não haja portas nem ferrolhos deixa de poder ter cativos os seus

reclusos. Essas portas, Jesus despedaçou-as; quem poderia voltar a pô-las? E os ferrolhos que quebrou: que

homem poderia voltar a colocá-los?

Quando os príncipes da Terra soltam os prisioneiros, enviando cartas de indulto, deixam ficarem as portas e

os guardas da prisão, para demonstrar àqueles que saem que podem ter de ali voltar, eles ou outros. Cristo

não age desta maneira. Ao despedaçar as portas de bronze, dá testemunho de que não voltará a haver prisão,

nem morte.

Por que portas «de bronze»? Porque a morte era impiedosa, inflexível, dura como o diamante. Nunca antes,

durante todos os séculos que precederam a Jesus Cristo, recluso algum pudera fugir, até ao dia em que o

Soberano dos céus desceu ao abismo para daí arrancar as vítimas.

Comentário feito por:

Santo Inácio de Loyola (1491-1556), fundador dos Jesuítas

Exercícios espirituais: regras para maior discernimento dos espíritos (trad. DDB 1960, p. 174 rev.)

«Resida nos vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados» (Cl.3,15)

É próprio de Deus e dos Seus anjos, em Suas moções, darem verdadeira alegria e gozo espiritual, tirando

toda a tristeza e perturbação que o inimigo suscita. Deste é próprio lutar contra a alegria e consolação

espiritual, apresentando razões aparentes, sutilezas e contínuas falácias. Só a Deus Nosso Senhor pertence

dar consolação à alma sem causa precedente. Porque é próprio do Criador entrar, sair, produzir moções na

alma, trazendo-a toda ao amor de Sua divina majestade. Digo: sem causa, [isto é,] sem nenhum prévio

sentimento ou conhecimento de algum objeto pelo qual venha essa consolação, mediante seus atos de

entendimento e vontade.

É próprio do anjo mau, que se disfarça «em anjo de luz» (2Co.11,14), entrar com o que se acomoda à alma

devota e sair com o que lhe convém a si, isto é, propor pensamentos bons e santos acomodados a essa alma

justa, e depois, pouco a pouco, procurar trazer a alma aos seus enganos encobertos e perversas intenções.

Devemos estar muito atentos ao decurso dos nossos pensamentos. Se o princípio, meio e fim são

inteiramente bons, inclinando em tudo ao bem, é sinal do bom anjo. Mas se o decurso dos pensamentos

acaba nalguma coisa má, ou distrativa, ou pior que aquela que a alma antes se propusera fazer, ou a

enfraquece, ou inquieta, ou a perturba tirando-lhe a paz, a tranqüilidade e quietude que antes tinha, é claro

sinal de que procede do mau espírito, inimigo do nosso proveito e salvação eterna [...]. Naqueles que

progridem de bem em melhor, o anjo bom toca-lhes a alma doce, leve e suavemente, como uma gota de água

que penetra numa esponja; e o mau [anjo] toca agudamente, com ruído e agitação [...].

Comentário feito por :

Concílio Vaticano II

Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo (Gaudium et spes), §§ 9-10 - Copyright © Libreria

Editrice Vaticana

«Rogaram-Lhe que Se retirasse daquela região»

O mundo atual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo

patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou

do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o

podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo.

Na verdade, os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio

fundamental que se radica no coração do homem. Porque no íntimo do próprio homem muitos elementos se

combatem. Enquanto, por uma parte, ele se experimenta como criatura que é, multiplamente limitado, por

outra sente-se ilimitado nos seus desejos, e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações,

vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes

aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer (Rm.7, 15). Sofre assim em si mesmo a divisão, da

qual tantas e tão grandes discórdias se originam para a sociedade. [...]

Perante a evolução atual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova

acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar

do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande

preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida

terrena?

A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens, pelo

Seu Espírito, a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens

sob o céu outro nome, no qual devam ser salvos (At.4,12). Acredita também que a chave, o centro e o fim de

toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. E afirma, além disso, que, subjacentes a todas

as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem,

hoje, e para sempre (Hb.13,8).

Mt.9,1-8- DDCIF- p.1293 – Cura de um paralítico. – (dom da cura interior e física)

1.Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.

2.Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico:

"Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados." 3.Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema."

4.Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações?

5.Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?

6.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -,

toma a tua maca e volta para tua casa."

7.Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.

8.Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre o evangelho de Mateus

"Confiança, meu filho, os teus pecados estão perdoados" – (v.2).

Os judeus professavam que só Deus pode perdoar os pecados. Mas Jesus, mesmo antes de perdoar os

pecados, revelou os segredos dos corações, mostrando assim que possuía também esse outro poder reservado

a Deus. Porque está escrito: "Só tu, Senhor, conheces os segredos dos homens" (2.Cr.6,30)... Jesus revela a

sua divindade e a sua igualdade ao Pai, mostrando aos escribas o fundo dos seus corações, divulgando

pensamentos que eles não ousam declarar abertamente por medo da multidão. E fá-lo com muita doçura...

O paralítico teria podido manifestar a Cristo a sua decepção, dizendo-lhe: "Seja! Tu vieste para tratar outra

doença e curar outro mal, o pecado. Mas que prova tenho de que os meus pecados estão perdoados?" Ora ele

não diz nada disso, mas confia naquele que tem o poder de o curar...

Aos escribas, Cristo diz: "O que é mais fácil? Dizer: 'Os teus pecados estão perdoados' ou dizer 'Toma o teu

catre e vai para tua casa'?" Por outras palavras: Que é que vos parece mais fácil? Mostrar o poder sobre um

corpo inerte ou perdoar a uma alma as suas faltas? É evidentemente curar um corpo, porque o perdão dos

pecados ultrapassa essa cura, tanto quanto a alma é superior ao corpo. Mas, uma vez que uma destas obras é

visível e a outra não, vou cumprir também a obra que é visível e menor, para provar a outra que é maior e

invisível. Nesse momento, Jesus testemunha pelas suas obras que é "aquele que tira o pecado do mundo" (Jo

1,29).

Comentário feito por:

Isaac de l’Étoile (? - c. 1171), monge cisterciense

Homilia 11

“Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” – (v.3)

Há duas coisas que apenas provêem de Deus: a honra de receber a confissão e o poder de perdoar. Devemos

confessar-nos a Ele, e esperar o seu perdão. Com efeito, somente a Deus pertence perdoar os pecados; só a

Ele, pois, devem ser confessados. Mas o Onipotente, o Altíssimo, tendo tomado uma esposa fraca e

insignificante, fez desta serva uma rainha, colocando a Seu lado a que estava ajoelhada a Seus pés; pois foi

do Seu lado que ela saiu, e foi desse modo que Ele a tomou como esposa (Gen 2, 22; Jo 19, 34). E, da

mesma maneira que tudo aquilo que pertence ao Filho pertence ao Pai, e tudo aquilo que pertence ao Pai

pertence ao Filho pela unidade de natureza que há entre os dois (Jo 17, 10), assim também o Esposo deu

todos os seus bens à esposa, e se encarregou de tudo o que pertence à esposa, que uniu a Si mesmo e também

a seu Pai. É por isso que o Esposo, que é um com o Pai e um com a esposa,

retirou dela tudo quanto nela encontrou de estranho, prendendo-lhe os pecados à madeira da cruz, e

destruindo-os por meio desse lenho. O que é natural e próprio da esposa, assumiu-Lo, tomando-o para Si;

aquilo que Lhe é próprio e divino, deu-o Ele à esposa. Deste modo, partilha a fraqueza da esposa, bem como

os seus gemidos, sendo todas as coisas comuns ao Esposo e à esposa: a honra de receber a confissão e o

poder de perdoar. É essa a razão da ordem: “Vai mostrar-te ao sacerdote” (Mc 1, 44).

Comentário feito por :

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

«A multidão ficou dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens»

O paralítico, incurável, estava deitado no seu catre. Depois de ter esgotado a arte dos médicos, veio, levado

pelos seus, ter com o único médico verdadeiro, o médico que vem do céu. Mas, quando foi colocado em

frente Àquele que o podia curar, foi a fé dele que atraiu o olhar do Senhor. Para mostrar claramente que esta

fé destruía o pecado, Jesus declarou imediatamente: «Os teus pecados estão perdoados». Dir-me-ão talvez:

«Este homem queria a cura da sua doença, porque é que Cristo lhe anuncia a remissão dos seus pecados?»

Foi para aprenderes que Deus vê o coração do homem no silêncio e sem ruído, que Ele contempla os

caminhos de todos os viventes. A Escritura diz, com efeito: «O Senhor olha atentamente para os caminhos

do homem e observa os seus passos» (Pr.5,1). No entanto, quando Cristo disse: «Os teus pecados estão

perdoados», deixou o campo livre à incredulidade da assistência; o perdão dos pecados não se vê com os

olhos da carne. Então, quando o paralítico se levanta e anda, manifesta com evidência que Cristo possui o

poder de Deus. Quem possui este poder? Somente Ele ou também nós? Nós também, com Ele. Ele perdoa os

pecados porque é o homem-Deus, o Senhor da Lei. Quanto a nós, recebemos d'Ele esta graça admirável e

maravilhosa, porque Ele quis dar ao homem este poder. Com efeito, Ele disse aos Seus apóstolos: «Em

verdade vos digo: tudo o que desligardes na terra será desligado no céu» (Mt.18,18). E ainda: «Aqueles a

quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados» (Jo 20, 23). Mostrar-te ao sacerdote" (Mc.1,44).

Mt.(9,27-31) –DDCF – p.1294– Diversas curas.- (dom da cura física) 27.Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós!

28.Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam

eles.

29.Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé.

30.No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba.

31.Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a região.

Comentário feito por:

Hildebrando (séc. XIII), monge cisterciense

Opúsculo sobre a contemplação

"Tem piedade de nós, Filho de David" – (v.27)

Jesus bendito, minha esperança, meu desejo, meu amor, tenho uma coisa para te dizer, uma coisa a teu

respeito, um assunto cheio de dor e de miséria. Tu que és o Verbo, unigênito do Pai que não foi gerado,

tornado carne por mim, Palavra saída do coração do Pai, Palavra que Deus proferiu uma só vez (cf. He 9,26),

Palavra pela qual «nos últimos dias» (He 1,2) o teu Pai celeste me falou, digna-te escutar, Tu, ó Palavra de

Deus, a palavra que desejos abundantes fazem sair do meu coração. Escuta e vê: a minha alma fica triste e

toda perturbada quando me dizem cada dia: «Onde está o teu Deus?» (Sl 41,4). Não tenho nada a responder,

receio que não estejas aí, não sinto a tua presença.

O meu coração arde, desejo ver o meu Senhor. Onde estão, na verdade, a minha paciência e a minha

constância? És Tu o Senhor meu Deus e, eu, o que vou fazer? Procuro-te e não te encontro; desejo-te e não

te vejo; corro atrás de ti e não te agarro. Qual é a minha força, para que possa agüentar? Até onde posso

resistir? Há alguma coisa mais triste do que a minha alma? Algo mais miserável? Algo mais provado?

Acreditas, meu amor, que a minha tristeza se mudará em alegria quando te vir (Jo.16,20)?... «Fala, Senhor,

que o teu servo escuta» (1Sm.3,9). Que eu possa escutar o que Tu dizes em mim, Senhor meu Deus. Diz à

minha alma: «Sou a tua salvação!» (Sl 84,9; 34,3) Diz mais, Senhor, e fala de forma a que eu te ouça: «Meu

filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu» (Lc 15,31). Ah! Verbo de Deus Pai! É isso que eu

queria ouvir.

Comentário feito por:

Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge grego, santo das Igrejas Ortodoxas

Hino 53 (a partir da trad. SC 196, pp. 221ss. rev.)

A cegueira dos homens

[Diz Cristo:]

Quando criei Adão, permiti-lhe que Me visse

e por isso que ficasse colocado na dignidade dos anjos.

Ele via tudo o que Eu havia criado com os seus olhos corpóreos,

mas com os da inteligência

via o Meu rosto, o rosto do seu Criador.

Contemplava a Minha glória

e conversava Comigo o tempo todo.

Mas quando, transgredindo as Minhas ordens,

provou da árvore,

ficou cego

e caiu na obscuridade da morte.

Mas Eu tive piedade dele e vim lá do alto.

Eu, o absolutamente invisível,

partilhei a opacidade da carne.

Recebendo da carne um começo, tornado homem,

fui visto por todos.

Por que aceitei fazer isso?

Porque esta era a verdadeira razão

para ter criado Adão: para Me ver.

Quando ele ficou cego

e, na seqüência dele, todos os seus descendentes,

não suportei permanecer

na glória divina e abandonar

aqueles que criara com as Minhas mãos;

mas tornei-Me semelhante em tudo aos homens,

corporal com os corporais,

e uni-Me a eles voluntariamente.

Por aqui podes ver o Meu desejo de ser visto pelos homens. Como podes então dizer que Me escondo de ti,

que não Me deixo ver?

Na verdade, Eu brilho, mas tu não olhas para Mim.

A ORAÇÃO PARA A CURA ESPIRITUAL

( Atingidos em nosso espírito,contaminando-nos com falsas doutrinas).

. A oração para a cura Espiritual, também chamada “Oração para a Libertação”, é um processo de orações

em nome de Jesus Cristo, que liberta as pessoas cativas em seu espírito, quando são oprimidas por espíritos

malignos.

. A Palavra de Deus e a Tradição e Magistério da Igreja nos falam claramente da existência dos demônios,

anjos decaídos que tentam o homem com a finalidade de afastá-lo de Deus, a quem odeiam.

. A influência dos demônios na vida do homem pode manifestar-se como simples tentação, como opressão,

infestação ou possessão.

Tentado (= privado) pelo inimigo, o homem só cairá em pecado se aderir à tentação com a sua vontade. No

entanto, infelizmente, o acúmulo de pecados não confessados pode levá-lo a um triste estado de dependência

dos mais variados vícios morais que abrem espaço a um estado de cegueira espiritual e engano próprio que

o fecha para ação da graça.

Este estado é comumente conhecido como “opressão” e pode manifestar-se como indiferença para com as

coisas de Deus, esfriamento na fé, afastamento dos sacramentos e da Igreja, angústia, depressão, stress

emocional, enfermidades, dissensões conjugais, familiares e sociais.

. A Igreja reserva o exorcismo formal aos bispos ou a sacerdotes por eles expressamente designados.

.O exorcismo formal é aplicado nos casos mais sérios de infestação demoníaca em indivíduos, famílias ou

ambientes.

Mt.(9,32-38)-DDCE-p.1294 - Diversas curas - (dom da cura espiritual)

32.Logo que se foram, apresentaram-lhe um mudo, possuído do demônio.

33.O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel.

34.Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.

35.Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda

enfermidade.

37.Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os operários são poucos.

38.Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe.

Comentário feito por:

João Paulo II

Mensagem para o 38º Dia de oração pelas vocações, 6 maio 2001 (trad. © copyright Libreria Editrice

Vaticana)

"Pedi ao Senhor da messe que mande operários" – (v.38)

Pai santo, fonte perene da existência e do amor,

que mostras, no homem vivente, o esplendor da tua glória,

e colocas no seu coração a semente do teu chamado,

faze com que nenhum deles ignore esse dom ou o perda,

por negligência de nossa parte,

mas que todos, com total generosidade, possam caminhar

rumo à realização do teu Amor.

Senhor Jesus, que no teu peregrinar pelas estradas da Palestina,

escolheste e chamaste os apóstolos e confiaste a eles a tarefa

de pregar o Evangelho, cuidar dos fiéis, celebrar o culto divino,

faze que também hoje não faltem na tua Igreja

numerosos e santos sacerdotes, que levem a todos

os frutos da tua morte e da tua ressurreição.

Espírito Santo, que santificas a Igreja

com a constante efusão de teus dons,

insere no coração dos chamados à vida consagrada

uma íntima e forte paixão pelo Reino,

a fim de que, com um "sim" generoso e incondicional,

coloquem a própria existência a serviço do Evangelho.

Virgem Santíssima que, sem hesitar,

ofereceste a ti mesma ao Onipotente,

para a realização do seu projeto de salvação,

infunde confiança no coração dos jovens

para que haja sempre pastores zelosos

que guiem o povo cristão pelo caminho da vida,

e almas consagradas que saibam testemunhar

na castidade, na pobreza e na obediência,

a presença libertadora de teu Filho Ressuscitado.

Comentário feito por:

S. Vicente de Paulo (1581-1660), fundador de comunidades religiosas

Conversas Espirituais com os Missionários

«Pedi ao senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe»

Há muita gente que, por ter o exterior bem cuidado e o interior cheio de grandes sentimentos de Deus, se fica

por aí...; contenta-se com as doces conversas que mantém com Deus na oração... Não nos enganemos: todo o

nosso dever consiste em passar aos atos. E isso é de tal modo verdade que o apóstolo S. João nos declara que

nada, além das nossas obras, nos acompanha para a outra vida (Ap.14,13). Tenhamos atenção a isto; tanto

mais que, neste século, há muitos que parecem virtuosos e que, na verdade, o são, e que, no entanto, pendem

mais para uma voz doce e mole do que para uma devoção laboriosa e sólida.

A Igreja compara-se a uma grande ceifa que precisa de trabalhadores, mas de trabalhadores que trabalhem.

Não há nada de mais conforme com o Evangelho do que, por um lado, amassar as luzes e as forças para a

alma, na oração, na leitura e na solidão; e, depois, ir partilhar com os homens esse alimento espiritual. É

fazer como Nosso Senhor fez, e, depois dele, os apóstolos; é juntar a ação de Marta com a de Maria; é imitar

a pomba que digere até meio a comida que apanhou e, depois, mete o resto no bico das crias para alimentá-

las. É assim que devemos fazer, é assim que devemos testemunhar a Deus, pelas nossas obras, o quanto O

amamos. Todo o nosso dever consiste em passar aos atos.

Comentário feito por:

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja

Carta 135

Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a Sua messe»

Um dia em que eu meditava no que poderia fazer para salvar almas, recebi viva iluminação de uma

passagem do Evangelho. Jesus tinha dito aos Seus discípulos, apontando as searas maduras: «Erguei os olhos

e vede: os campos estão brancos para a ceifa» (Jo 4, 35); e, mais adiante: «A messe é grande, mas os

trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua

messe». Que grande mistério! Pois Jesus não é onipotente? E as criaturas não pertencem Àquele que as fez?

Nesse caso, por que diz Ele: «Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua

messe»? Por quê?

Ah! É que Jesus tem por nós um amor de tal maneira incompreensível, que pretende que participemos com

Ele na salvação das almas. Nada quer fazer sem nós. O Criador do Universo espera pela oração de uma

pobre alma, de uma alma insignificante, para salvar as outras almas, como ela resgatadas pelo preço de todo

o Seu sangue. A nossa vocação específica não é ir trabalhar na colheita dos campos de espigas maduras.

Jesus não nos diz: «Erguei os olhos, olhai os campos e ide para a ceifa». A nossa missão (enquanto

carmelitas) é ainda mais sublime. A nós, Jesus diz-nos: «Erguei os olhos e vede, vede os lugares vazios que

há no Meu céu e que vos compete preencher; vós sois os Meus Moisés que rezam no alto da montanha (Ex

17, 8ss.). Pedi-Me trabalhadores e Eu os enviarei; espero apenas uma oração, um suspiro do vosso coração.

Mt.9,35 –DDCI - p.1294 – dom da cura interior

35. Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade.

Mt.10,1.6-8 DDCI- p.1294 1. Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda

enfermidade

6. ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel. 7. Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo. 8.

Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja

1º sermão do Advento

«Curando todas as enfermidades e doenças»

Irmãos, conheceis Aquele que vem; considerai agora de onde vem e para onde vai. Ele vem do coração de

Deus Pai para o seio de uma Virgem Mãe. Ele vem das alturas do céu para as regiões inferiores da terra. E

então? Não temos de viver nesta terra? Sim, se Ele próprio aqui viver também; porque onde estaríamos nós

bem sem Ele? «Quem terei eu nos céus? Nada mais anseio sobre a terra além de Vós, o Deus do meu

coração, a minha herança» (Sl.72, 5-26). Mas era necessário que estivesse em causa um grande interesse

para que tal majestade Se dignasse a descer de tão longe para uma estadia tão indigna de Si. Sim, havia um

grande interesse em jogo, porque a misericórdia, a bondade e a caridade se manifestaram com grande

abundância. Com efeito, por que veio Jesus Cristo? As Suas palavras e as Suas obras demonstram-no-lo

claramente: Ele desceu a toda a pressa das montanhas para procurar a centésima ovelha, a que estava

perdida, para estender a Sua misericórdia aos filhos dos homens.

Ele veio por nós. Admirável condescendência do Deus que procura! Admirável dignidade do homem assim

procurado! O homem pode vangloriar-se disso sem temor: não que ele seja qualquer coisa por si mesmo,

mas porque Aquele que o fez o tem em tão grande estima! Em comparação com esta glória, as riquezas e a

glória do mundo, e tudo o que se pode aí ambicionar, nada são. O que é o homem, Senhor, para que o

engrandeças assim e a ele ligues o Teu coração?

Cabe-nos a nós irmos em direção a Jesus Cristo. Ora um duplo obstáculo nos entravava: os nossos olhos

estavam muito doentes e Deus habita na luz inacessível (1Tm.6,16). Paralíticos que jazíamos no catre,

éramos incapazes de alcançar a tão alta morada de Deus. Foi por isso que o bom Salvador e doce médico das

almas desceu de lá do alto, onde mora. Ele suavizou para os nossos olhos doentes o brilho da Sua luz.

Amém.

Comentário feito por:

São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir

A oração do Senhor, 94 (a partir da trad. do breviário francês)

«O Reino do Céu está perto»

«Venha o Teu reino» (Mt.6,10). Pedimos que o reino de Deus se realize para nós, no mesmo sentido em que

imploramos que o Seu nome seja santificado em nós. Com efeito, quando é que Deus não reina? E quando

começou o que n'Ele sempre existiu e nunca acabará? Pedimos, pois, que venha o nosso reino, aquele que

Deus nos prometeu, aquele que Cristo nos obteve pela Sua Paixão e pelo Seu sangue. Assim, depois de

termos sido escravos neste mundo, seremos reis, quando Cristo for soberano, como Ele mesmo nos promete

quando diz: «Vinde, benditos de Meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a

criação do mundo» (Mt 25, 34).

Mas é bem possível, irmãos bem-amados, que Cristo em pessoa seja este reino de Deus que todos os dias

desejamos que venha, cuja manifestação aspiramos que aconteça rapidamente perante nós. Porque, assim

como Ele é a Ressurreição (cf. Jo 11, 25), uma vez que é por Ele que ressuscitamos, da mesma forma

podemos compreender que Ele é o reino de Deus, visto que será através d'Ele que reinaremos.

Mt.10,1-7 - DDCFE – p.1295 – dom da cura física - espiritual 1. Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda

enfermidade.

2. Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e

João, seu irmão.

3. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.

4. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

5. Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem

entrareis em Samaria;

6. ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel.

7. Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.

8. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!

Comentário feito por :

Isaac de l'Étoile (?-c. 1171), monge cistercense

Sermão 35 (a partir da trad. SC 202, p.259)

Enviado às ovelhas perdidas

Cristo veio buscar a única ovelha que se tinha perdido (Mt.18,12). Foi por ela que o Bom Pastor foi enviado

no tempo, Ele que estava prometido desde sempre; foi por ela que nasceu e foi dado. Ela é única, escolhida

entre os judeus e as nações [...], escolhida entre todas as nações, única no mistério, múltipla nas pessoas,

múltipla pelo corpo segundo a natureza, única pelo espírito segundo a graça, em suma, uma única ovelha e

uma multidão sem conta. Foi por isso que Aquele que veio buscar a única ovelha foi enviado «às ovelhas

perdidas da casa de Israel» (Mt.15,24). [...] Ora, aquilo que o Pastor reconhece como seu «ninguém Lhe

pode arrancar das mãos» (Jo 10, 28). Porque não se pode forçar o poder, enganar a sabedoria, destruir a

caridade.

É por isso que Ele fala com segurança, quando diz: «Daqueles que Me deste, Pai, não perdi nenhum» (Jo 17,

12). E Ele foi enviado como verdade para os que andavam enganados, como caminho para os que andavam

perdidos, como vida para os que estavam mortos, como sabedoria para os que eram loucos, como remédio

para os doentes, como resgate para os cativos e como alimento para aqueles que morriam de fome. Pode

dizer-se portanto, que na pessoa de todos estes, Ele foi enviado «às ovelhas perdidas da casa de Israel», para

que elas não se perdessem para sempre.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja

1º sermão do Advento

«Curando todas as enfermidades e doenças»

Irmãos, conheceis Aquele que vem; considerai agora de onde vem e para onde vai. Ele vem do coração de

Deus Pai para o seio de uma Virgem Mãe. Ele vem das alturas do céu para as regiões inferiores da terra. E

então? Não temos de viver nesta terra? Sim, se Ele próprio aqui viver também; porque onde estaríamos nós

bem sem Ele? «Quem terei eu nos céus? Nada mais anseio sobre a terra além de Vós, o Deus do meu

coração, a minha herança» (Sl 72, 25-26).

Mas era necessário que estivesse em causa um grande interesse para que tal majestade Se dignasse a descer

de tão longe para uma estadia tão indigna de Si. Sim, havia um grande interesse em jogo, porque a

misericórdia, a bondade e a caridade se manifestaram com grande abundância. Com efeito, por que veio

Jesus Cristo? .As Suas palavras e as Suas obras demonstram-no claramente: Ele desceu a toda a pressa das

montanhas para procurar a centésima ovelha, a que estava perdida, para estender a Sua misericórdia aos

filhos dos homens.

Ele veio por nós. Admirável condescendência do Deus que procura! Admirável dignidade do homem assim

procurado! O homem pode vangloriar-se disso sem receio: não que ele seja qualquer coisa por si mesmo,

mas porque Aquele que o fez o tem em tão grande estima! Em comparação com esta glória, as riquezas e a

glória do mundo, e tudo o que se pode aí ambicionar, nada são. O que é o homem, Senhor, para que o

engrandeças assim e a ele ligues o Teu coração?

Cabe-nos a nós irmos em direção a Jesus Cristo. Ora um duplo obstáculo nos entravava: os nossos olhos

estavam muito doentes e Deus habita na luz inacessível (1Tm.6,16). Paralíticos que jazíamos no catre,

éramos incapazes de alcançar a tão alta morada de Deus. Foi por isso que o bom Salvador e doce médico das

almas desceu de lá do alto, onde mora. Ele suavizou para os nossos olhos doentes o brilho da Sua luz.

Comentário feito por:

Jean Paul II

Oração pelas vocações, 35º dia mundial das vocações, 3 maio 1998

"A esses doze, Jesus enviou-os em missão" - (v.5)

Espírito de Amor eterno,

que procedes do Pai e do Filho,

nós te agradecemos por todas as vocações

de apóstolos e de santos que fecundaram a Igreja.

Nós te suplicamos: continua ainda essa tua obra!

Recorda-te de quando, no dia de Pentecostes,

desceste sobre os Apóstolos reunidos em oração

com Maria, a mãe de Jesus,

e olha para a tua Igreja que hoje

tem uma necessidade especial de sacerdotes santos,

de testemunhas fiéis e legítimas da tua graça;

ela precisa de consagrados e consagradas

que revelem a alegria de quem vive só para o Pai,

de quem faz sua a missão e a oferta de Cristo,

de quem, com a caridade, constrói o mundo novo.

Espírito Santo, Fonte perene de alegria e de paz,

és Tu que abres ao divino chamado o coração e a mente;

és Tu que tornas eficaz todo impulso

para o bem, a verdade, a caridade.

Do coração da Igreja que sofre e luta pelo Evangelho,

sobem ao Pai os teus 'gemidos inexprimíveis'.

Abre os corações e as mentes dos jovens e das jovens,

para que uma nova florescência de santas vocações

revele a fidelidade do teu amor,

e todos possam conhecer Cristo,

luz verdadeira vinda a este mundo

para oferecer a cada ser humano

a firme esperança da vida eterna. Amém.

- Acontece, porém, que encontramos pessoas cuja vida familiar, pessoal, ou social está profundamente

atormentada, atribulada. Muitas vezes contentamo-nos simplesmente em enviá-las a um analista, o que é

válido – sem tomarmos por ela nenhuma atitude de oração.

Mt.(10,7-16)– DDCFE-p.1295 7.Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.

8.Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!

9.Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos,

10.nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento.

11.Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida.

12.Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa.

13.Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós.

14.Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó

de vossos pés.

15.Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.

16.Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.

Comentário feito por:

João Paulo II

Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2002, §9-10

"Que a vossa paz venha sobre essa casa" - (v.12)

As famílias, os grupos, os Estados, a própria Comunidade internacional, necessitam de abrir-se ao perdão

para restaurar os laços interrompidos, superar situações estéreis de mútua condenação, vencer a tentação de

excluir os outros, negando-lhes a possibilidade de apelo. A capacidade de perdão está na base de cada

projeto de uma sociedade futura mais justa e solidária.

Pelo contrário, a falta de perdão, especialmente quando alimenta o prolongamento de conflitos, supõe custos

enormes para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são destinados para manter a corrida aos

armamentos, as despesas de guerra, as conseqüências das represálias econômicas. Acabam assim por faltar

os recursos financeiros necessários para gerar desenvolvimento, paz e justiça. Quantos sofrimentos padecem

a humanidade por não saber reconciliar-se, e quantos atrasos por não saber perdoar! A paz é a condição do

desenvolvimento, mas uma verdadeira paz torna-se possível somente com o perdão.

A proposta do perdão não é de imediata compreensão nem de fácil aceitação; é uma mensagem de certo

modo paradoxal. De fato, o perdão implica sempre uma aparente perda a curto prazo, mas garante, a longo

prazo, um lucro real. Com a violência é exatamente o contrário: opta-se por um lucro de vencimento

imediato, mas prepara para depois uma perda real e permanente. À primeira vista, o perdão poderia parecer

uma fraqueza, mas não: tanto para ser concedido quanto para ser aceite supõe uma força espiritual e uma

coragem moral a toda a prova. Em vez de humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e

mais rico, capaz de refletir em si um raio do esplendor do Criador.

Comentário feito por:

Concílio Vaticano II

Constituição Dogmática sobre a Igreja, « Lumen Gentium », 21

"Recebestes de graça, dai de graça" (8)

Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo,

pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao corpo dos seus pontífices,

mas, antes de mais, por meio do seu exímio ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus, administra

continuamente aos crentes os sacramento da fé, incorpora por celeste regeneração e graças à sua ação

paternal (cfr. 1 Cor. 4,15) novos membros ao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e

orienta o Povo do Novo Testamento na peregrinação para a eterna felicidade...

Para desempenhar tão elevadas funções, os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com uma efusão

especial do Espírito Santo que sobre eles desceu (cfr. At.1,8; 2,4; Jo. 20 22-23), e eles mesmos transmitiram

este dom do Espírito aos seus colaboradores pela imposição das mãos (cfr.1tm. 4,14; 2 Tem.1,6-7), o qual

foi transmitido até aos nossos dias através da consagração episcopal. Ensina, porém, o sagrado Concílio que,

pela consagração episcopal, se confere a plenitude do sacramento da Ordem, aquela que é chamada sumo

sacerdócio e suma do sagrado ministério na tradição litúrgica e nos santos Padres. A consagração episcopal,

juntamente com o poder de santificar, confere também os poderes de ensinar e governar, os quais, no

entanto, por sua própria natureza, só podem ser exercidos em comunhão hierárquica com a cabeça e os

membros do colégio episcopal. De fato, consta pela tradição... Que a graça do Espírito Santo é conferida

pela imposição das mãos e pelas palavras da consagração, e o caráter sagrado é impresso de tal modo que os

Bispos representam de forma eminente e conspícua o próprio Cristo, mestre, pastor e pontífice, e atuam em

vez d'Ele. Pertence aos Bispos assumir novos eleitos no corpo episcopal por meio do sacramento da Ordem.

Comentário feito por :

São Cromácio de Aquileia (?-407), bispo

Sermão 39; CCL 9A, 169-170

«É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo» (Jo 1, 17)

É bom que a nova lei seja proclamada numa montanha, uma vez que a lei de Moisés nos foi dada numa

montanha. Uma é composta de dez mandamentos, destinados a formar os homens, tendo em vista a sua

conduta na vida presente; a outra consiste de oito bem-aventuranças, porque conduz aqueles que a seguem

até à vida eterna e à pátria celeste.

«Felizes os mansos, porque possuirão a terra». Portanto, é necessário ser manso, pacífico na alma e sincero

de coração. O Senhor mostra claramente que o mérito dos que o são não é pequeno, quando diz: «Possuirão

a terra». Trata-se, sem dúvida nenhuma, desta terra da qual está escrito: «Creio, firmemente, vir a

contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos» [Sl 27 (26), 13]. A herança dessa terra é a imortalidade

do corpo e a glória da ressurreição eterna. Porque a mansidão ignora o orgulho, não conhece a jactância,

desconhece a ambição. Além disso, não é sem razão que, noutra ocasião, o Senhor exorta os Seus discípulos

dizendo: «Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e

encontrareis descanso para o vosso espírito» (Mt 11, 29).

«Felizes os que choram, porque serão consolados.» Não os que choram a perda do que lhes é querido, mas

os que choram os seus pecados, se lavam das suas faltas com lágrimas e, certamente, aqueles que choram a

iniqüidade deste mundo, ou deploram as faltas dos outros.

Comentário feito por:

S. Jerônimo (347-420), padre, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Comentário sobre o Evangelho de Marcos, Pl2, 137-138

«Eis um ensinamento novo, proclamado com autoridade» - (v.27)

Jesus dirigiu-se então à sinagoga de Cafarnaum e pôs-se a ensinar. As pessoas ficaram espantadas com o seu

ensinamento, pois Jesus falava «não como os escribas, mas como um homem que tem autoridade.» Ele não

dizia, por exemplo, «Palavra do Senhor!» ou « Assim se exprime Aquele que me enviou». Não. Jesus falava

em seu próprio nome; era Ele que tinha falado outrora pela voz dos profetas. Já é bom poder dizer, apoiando-

se num texto, «Está escrito...»; ainda melhor é proclamar, em nome do próprio Senhor, «Palavra do

Senhor!»; mas é completamente diferente poder afirmar, como Jesus em pessoa, «Em verdade, eu vo-lo

declaro!...». Como ousas dizer «Em verdade, eu vo-lo declaro!» se não és aquele que outrora deu a Lei e

falou aos profetas?...

«As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento.» O que ensinava então Ele de tão novo? O que

dizia de tão novo? Não fazia senão repetir o que havia declarado pela voz dos profetas. Mas as pessoas

estavam admiradas, porque Ele não ensinava pelo método dos escribas. Ele ensinava como tendo ele próprio

autoridade; não como rabi, mas como Senhor. Não falava referindo-se a um maior do que Ele. Não. A

palavra que proferia era a sua; e, se ele mantinha, no fim de contas, essa linguagem de autoridade, era porque

afirmava presente Aquele de quem falara através dos profetas: «Eu que vos falava, aqui estou!» (Is 52,6)... É

por isso que Jesus ameaça o demônio que se exprime pelo possesso, na sinagoga: «Silêncio! Disse Ele, sai

desse homem.» Quer dizer: «Sai da minha casa; que fazes tu naquilo que é a minha morada? Eu quero lá

entrar. Cala-te! Sai desse homem! Deixa essa morada que me foi preparada... Deus a quer. Deixa o homem;

ele pertence-me. Não quero que ele seja teu. Eu habito no homem; é o meu Corpo. Vai-te!» .

Mt.10,8 – DDCE - p.1295:– dom da cura espiritual

Nos casos que não se constituem em aprisionamento das áreas da vontade e inteligência , constituem a

liberdade humana, os irmãos podem e devem orar uns pelos outros. É o que nos ensina Jesus no Pai-Nosso,

quando diz: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal (maligno)”, ou quando envia seus

discípulos com o poder de expulsar os demônios: “Curai os doentes, purificai os leprosos, expulsai os

demônios. Recebestes de graça, de graça daí!”.

- Acontece, porém, que encontramos pessoas cuja vida familiar, pessoal, ou social está profundamente

atormentada, atribulada. Muitas vezes contentamo-nos simplesmente em enviá-las a um analista, o que é

válido – sem tomarmos por ela nenhuma atitude de oração.

Mt.12,28 –DDCE - p.1298: “ Mas, se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então, chegou para

vós o reino de Deus”.

(Mt.15,21-28) –DDCE – p.1303- Fé manifestada por uma pagã. 21.Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia.

22.E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está

cruelmente atormentada por um demônio.

23.Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos

persegue com seus gritos.

24.Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.

25.Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me!

26.Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _

27.Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...

28.Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.

- Jesus vendo a grandeza da fé desta mulher cananéia, uma fé carismática, realiza uma cura espiritual,

libertando sua filha do mal.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre S. Mateus

O poder de uma oração perseverante – (v.22)

Quando seria de esperar que se afastasse desanimada, a Cananéia aproxima-se mais e, prostrando-se aos pés

de Jesus, diz-lhe: “Senhor, socorre-me!” Mas então, mulher, não O ouviste dizer: “Fui enviado às ovelhas

perdidas da casa de Israel?” Ouvi, replica ela; mas Ele é o Senhor…

Foi por ter previsto esta resposta que Cristo adiou a concessão do pedido. Recusou a solicitação para lhe

sublinhar a piedade. Se não quisesse conceder-lhe o que lhe pedia, não teria acabado por fazê-lo. As Suas

respostas não visavam magoá-la, mas atraí-la e revelar este tesouro escondido.

Considera porém, peço-te não apenas a fé, mas a profunda humildade desta mulher. Jesus deu aos judeus o

nome de filhos; a Cananéia ainda lhes aumenta o título, chamando-lhes senhores, tão longe se encontra de

sofrer com o elogio de outrem: “Mas os cãezinhos comem as migalhas que caem da boca dos seus senhores.

E é por isso que é admitida no número dos filhos. Cristo diz então: “Mulher, grande é a tua fé”. Demorou-Se

a pronunciar estas palavras e a recompensar esta mulher: “Faça-se como desejas!” Veja como a Cananéia

desempenha um papel importante na cura de sua filha. Com efeito, Cristo não diz: Que a tua filha fique

curada, mas antes: “Grande é a tua fé. Faça-se como desejas!” E observa ainda o seguinte: ela conseguiu

aquilo que os apóstolos não tinham conseguido, nada tendo realizado. Tal é poder de uma oração

perseverante.

Mt.(17,14-20) –DDCE - p.1305 – O menino epléptico 14.E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles e prostrou-se diante de Jesus,

15.dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água...

16.Já o apresentei a teus discípulos, mas eles não o puderam curar.

17.Respondeu Jesus: Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo.

18.Jesus ameaçou o demônio e este saiu do menino, que ficou curado na mesma hora.

19.Então os discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsar este demônio?

20.Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda,

direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de

demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum.

-Jesus realiza uma cura espiritual de libertação e também responde sobre a falta de fé dos discípulos e pelo

dom de discernimento dos espíritos (que refletiremos oportunamente), identifica a espécie de demônio que

atacava o menino epilético e como expulsá-lo.

Comentário feito por:

S. Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo

Conversa com Motovilov

"Tendes muito pouca fé" – (v.20)

"O Senhor está perto dos que o invocam. Não faz acepção de pessoas. O Pai ama o Filho e entregou tudo nas

suas mãos" (Sl.145,18; Rm.2,11; Jo 3,35). Desde que amemos verdadeiramente o nosso Pai celeste como

filhos, o Senhor escuta de igual modo um monge e um homem do mundo, um simples cristão. Desde que

ambos tenham a verdadeira fé, amem a Deus do fundo do coração e possuam uma fé "grande como um grão

de mostarda", "ambos deslocarão montanhas". O próprio Senhor diz: "Tudo é possível àquele que crê"

(Mt.9,23). E o santo apóstolo Paulo exclama: "Posso tudo em Cristo que me dá forças" (Fl.4,13). Mais

maravilhosas ainda são as palavras do Senhor a propósito dos que crêem nele: "Aquele que acredita em mim

fará também as obras que eu faço e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em

meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome,

eu a farei" (Jo 14,12-14).

E é mesmo assim, ó amigo de Deus. Tudo o que pedirdes a Deus, obtê-lo-eis, desde que o vosso pedido seja

para glória de Deus ou para o bem do vosso próximo. Porque Deus não separa o bem do próximo da sua

glória: "Tudo o que fizerdes ao menor de entre vós, a mim o fareis" (cf. Mt.25,45).

(Mc.1,21-28)– DDCE.- p.1322.3 - Pregações e Milagres em Cafarnaum 21.Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar.

22.Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

23.Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo, que gritou:

24."Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!

25.Mas Jesus intimou-o, dizendo: "Cala-te, sai deste homem!"

26.O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.

27.Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: "Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com

autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!"

28.A sua fama divulgou-se logo por todos os arredores da Galiléia.

Comentário feito por:

S. Jerônimo (347-420), padre, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Comentário sobre o Evangelho de Marcos, Pl2, 137-138

«Eis um ensinamento novo, proclamado com autoridade» - (v.27)

Jesus dirigiu-se então à sinagoga de Cafarnaum e pôs-se a ensinar. As pessoas ficaram espantadas com o seu

ensinamento, pois Jesus falava «não como os escribas, mas como um homem que tem autoridade.» Ele não

dizia, por exemplo, «Palavra do Senhor!» ou « Assim se exprime Aquele que me enviou». Não. Jesus falava

em seu próprio nome; era Ele que tinha falado outrora pela voz dos profetas. Já é bom poder dizer, apoiando-

se num texto, «Está escrito...»; ainda melhor é proclamar, em nome do próprio Senhor, «Palavra do

Senhor!»; mas é completamente diferente poder afirmar, como Jesus em pessoa, «Em verdade, eu vo-lo

declaro!...». Como ousas dizer «Em verdade, eu vo-lo declaro!» se não és aquele que outrora deu a Lei e

falou aos profetas?...

«As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento.» O que ensinava então Ele de tão novo? O que

dizia de tão novo? Não fazia senão repetir o que havia declarado pela voz dos profetas. Mas as pessoas

estavam admiradas, porque Ele não ensinava pelo método dos escribas. Ele ensinava como tendo ele próprio

autoridade; não como rabi, mas como Senhor. Não falava referindo-se a um maior do que Ele. Não. A

palavra que proferia era a sua; e, se ele mantinha, no fim de contas, essa linguagem de autoridade, era porque

afirmava presente Aquele de quem falara através dos profetas: «Eu que vos falava, aqui estou!» (Is 52,6)... É

por isso que Jesus ameaça o demônio que se exprime pelo possesso, na sinagoga: «Silêncio! Disse Ele, sai

desse homem.». Quer dizer: «Sai da minha casa; que fazes tu naquilo que é a minha morada? Eu quero lá

entrar. Cala-te! Sai desse homem! Deixa essa morada que me foi preparada... Deus a quer. Deixa o homem;

ele pertence-me. Não quero que ele seja teu. Eu habito no homem; é o meu Corpo. Vai-te!» .

Comentário feito por:

São Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja

Comentário sobre o evangelho de São Marcos, 2; PLS 2, 125s (trad. DDB 1986, p. 49)

«Eis um novo ensinamento»

«Então, o espírito maligno, depois de sacudi-lo com força, saiu dele dando um grande grito.» É esta a sua

maneira de exprimir a sua dor: sacudindo-o com violência. Uma vez que não podia alterar a alma do homem,

o demônio exerceu a sua violência no corpo dele. Estas manifestações físicas eram, aliás, o único meio que

tinha à sua disposição para demonstrar que estava a sair. Tendo o espírito puro manifestado a sua presença, o

espírito impuro bate em retirada. «Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é

isto?»» Olhemos para os Atos dos Apóstolos, e para os sinais que os primeiros profetas nos deram. Que

dizem os magos do Faraó perante os prodígios de Moisés? «Está aí o dedo de Deus» (Ex 8,15). É Moisés

que os realiza, mas eles reconhecem o poder de outrem. Posteriormente, os apóstolos fizeram outros

prodígios: «Em nome de Jesus, levanta-te e anda!» (At .3,6); «E Paulo disse ao espírito: «Ordeno-te, em

nome de Jesus Cristo, que saias desta mulher»» (At.16,18). O nome de Jesus é sempre citado. Mas aqui, que

diz Ele? «Sai desse homem», sem mais pormenores. É em Seu próprio nome que Ele ordena ao espírito que

saia. «Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento».»

A expulsão do demônio não tinha em si nada de novo: os exorcistas dos hebreus faziam-no freqüentemente.

Mas que diz Jesus? Qual é este ensinamento novo? Onde está então a novidade? É que Ele impõe-Se com a

Sua própria autoridade aos espíritos impuros. Ele não cita ninguém: é Ele próprio que dá as ordens; Ele não

fala em nome de ninguém, mas sim com a Sua própria autoridade.

Comentário feito por:

São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja

Sermão «Christus unus omnium magister» (a partir da trad. coll. Maîtres spirituels, Seuil 1963, p. 72)

«Eis um novo ensinamento, e feito com autoridade!» - v.22

Não se pode chegar à certeza da fé revelada senão pelo advento de Cristo no espírito. Cristo vem

seguidamente na carne, como palavra que confirma toda a palavra profética. Foi por isso que foi dito aos

Hebreus: «Muitas vezes e de muitos modos falou Deus a nossos pais, noutros tempos, pelos profetas; nestes

tempos, que são os últimos, Deus falou-nos por meio de Seu Filho» (1, 1-2). Com efeito, Cristo é a Palavra

do Pai, cheio de poder, e quem pode dizer-Lhe: «Por que fazes isto?». Cristo é também uma palavra cheia de

verdade, mais ainda, é a própria verdade, segundo aquilo que diz São João: «Santifica-os na verdade, a Tua

palavra é a verdade» (17, 17). Assim, e dado que a autoridade pertence à palavra poderosa e verídica, e que

Cristo é o Verbo do Pai, sendo por isso Poder e Sabedoria, assim está Nele fundada e consumida toda a

firmeza da autoridade. É por isso que toda a doutrina autêntica e os pregadores desta doutrina se relacionam

com Cristo, que veio na carne como fundamento de toda a fé cristã: «Segundo a graça que me foi dada, eu,

como sábio arquiteto, coloquei o alicerce [...]. Mas ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi

posto, isto é, Jesus Cristo» (1Cor 3, 10-11). Com efeito, só Ele é o fundamento de toda a doutrina autêntica,

quer apostólica, quer profética, de acordo com uma e outra Lei, a nova e a antiga. Foi por isso que foi dito

aos Efésios: «Fostes edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, com Cristo por pedra angular»

(2, 20). É claro que Cristo é o Senhor do conhecimento segundo a fé; Ele é o Caminho, de acordo com a Sua

dupla vinda, em espírito e na carne.

Comentário feito por:

São Jerônimo (347-420-), presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja

Comentário sobre o Evangelho de São Marcos, 2; PLS 2, 125ss. (trad. DDB 1986, p. 48)

«Cala-te e sai desse homem»

«Jesus ameaçou o demônio dizendo: «Cala-te e sai desse homem.»». A Verdade não necessita do

testemunho do Mentiroso. [...] «Não necessito do reconhecimento daquele que condeno. Cala-te! Que a

Minha glória resplandeça no teu silêncio. Não quero que seja a tua voz a fazer o Meu elogio, mas o teu

tormento; pois a tua condenação é o Meu triunfo. [...] Cala-te e sai desse homem!» Ele parece dizer: «Sai de

Mim; que fazes sob o meu teto? Eu desejo entrar: por isso, cala-te e sai desse homem, do homem, este ser

dotado de razão. Abandona este lugar preparado para Mim. O Senhor deseja entrar em Sua casa, sai desse

homem». [...]

Vede até que ponto a alma do homem é preciosa. Isto contraria os que pensam que nós, os homens, e os

animais somos dotados de uma alma idêntica e animados por um mesmo espírito. Noutro momento, o

demônio é expulso de um só homem e enviado para dois mil porcos (Mt 8, 32); o espírito precioso opõe-se

ao espírito vil, um é salvo, o outro perde-se. «Sai desse homem, vai para os porcos, vai para onde quiseres,

atira-te ao abismo. Abandona o homem, ou seja, aquilo que Me pertence por direito; não permitirei que

possuas o homem, porque seria uma injúria para Mim se te estabelecesses nele em Meu lugar. Assumi um

corpo humano, habito no homem: esta carne que tu possuis faz parte da Minha carne. Sai do homem.»

Mc.(1,29-39) – DDC.FEI p.1323 - Pregação e milagres em Cafarnaum – 29.Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André.

30.A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela.

31.Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los.

32.À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio.

33.Toda a cidade estava reunida diante da porta.

34.Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o

conheciam.

35.De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração.

36.Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo.

37.Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram."

38.E ele respondeu-lhes: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois, para isso é que vim."

39.Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galiléia, e expulsando os demônios.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja

Discurso sobre o Salmo 85

“Retirou-Se para um lugar deserto para orar”- (v.35)

Deus não podia ter dado aos homens dom maior do que o Seu Verbo, a Sua Palavra, por meio do qual criou

todas as coisas. Fez Dele chefe dos homens, quer dizer, sua cabeça, e dos homens Seus membros (Ef 5, 23;

30), para que Ele fosse, ao mesmo tempo, Filho de Deus e Filho do homem: um só Deus com o Pai, um só

homem com os homens. Presenteou-nos com esse dom a fim de que, ao falarmos com Deus na oração, não

separássemos Dele o Filho, e para que, ao rezar, o corpo do Filho se não separasse do seu chefe – para que

Ele fosse o único Salvador do Seu corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que simultaneamente

reza por nós, reza em nós e é rezado por nós.

Reza por nós como nosso sacerdote, reza em nós como nosso chefe, como cabeça do corpo, é rezado por nós

como nosso Deus. Reconheçamos, pois, as nossas palavras Nele e as Suas palavras em nós. Ele não hesitou

em Se unir a nós. Toda a criação Lhe está sujeita, porque toda a criação foi feita por Ele: “No princípio era o

Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo começou a existir por meio Dele, e sem Ele

nada foi criado.” (Jo 1, 1 ss.). Mas se, a seguir, ouvimos nas Escrituras a voz do mesmo Cristo gemendo,

rezando, confessando, não hesitemos em Lhe atribuir estas palavras. Contemplemos Aquele que “era de

condição divina” tomar “a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens”, humilhando-se “a Si

mesmo, feito obediente até à morte” (Fl.2,6 ss.). Ouçamo-Lo, suspenso da cruz, tornar sua a oração de um

salmo. Nós rezamos a Cristo, pois, na Sua condição de Deus, e Ele reza na Sua condição de servo; de um

lado, está o Criador, do outro, um homem unido à criação, formando um só homem conosco – a cabeça e o

corpo. Rezamos-Lhe, pois, e rezamos por Ele e Nele

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Carta a Proba sobre a prece, 8-9; CSEL 44, 56 ss. (a partir da trad. breviário)

«Jesus saiu; foi para um lugar solitário e ali Se pôs em oração»

Para que serve dispersarmo-nos em todas as direções e procurarmos o que devemos pedir na oração?

Digamos antes com o salmo: «Uma só coisa peço ao Senhor, aquilo que procuro é habitar a casa do Senhor

todos os dias da minha vida, para saborear a doçura do Senhor e freqüentar o Seu templo» (Sl 26, 4). De

fato, aí «todos os dias» não passam nascendo e desaparecendo, e um não começa quando o outro acaba; eles

existem todos juntos, não têm fim, pois a própria vida, da qual são os dias, não tem fim.

Para obtermos esta vida feliz, Aquele que é em pessoa a verdadeira Vida ensinou-nos a rezar. Não com uma

série de palavras, como se devêssemos ficar satisfeitos com a nossa conversa; de fato, como o próprio

Senhor diz, nós rezamos Àquele que sabe do que necessitamos mesmo antes de Lho pedirmos (Mt 6, 8). Ele

sabe do que necessitamos mesmo antes do Lho pedirmos? Então porque nos exorta continuamente à oração?

(Lc 18, 1) Podemos admirar-nos com isso, mas devemos compreender que Deus nosso Senhor não quer ser

informado dos nossos desejos, que não pode ignorar. Mas Ele quer que os nossos desejos sejam excitados

pela oração, para que sejamos capazes de acolher aquilo que Ele se dispõe a dar-nos. Pois isso é muito

grande, enquanto nós somos pequenos e de capacidade pobre! É por isso que nos dizem: «Abri

completamente os vossos corações» (2Co.6,13). É algo de muito grande: e seremos tanto mais capazes de

recebê-lo, com quanto mais fé crermos, com quanto mais segurança esperarmos, com quanto mais ardor

desejarmos. É na fé, na esperança e no amor, pela continuação do desejo, que rezamos continuamente.

Comentário feito por:

Santo Isaac o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul

Discursos ascéticos (trad. Deseille, La Fournaise de Babylone, Eds. Présence 1974, p. 88)

«De madrugada, ainda escuro, levantou-Se e saiu; foi para um lugar solitário e ali Se pôs em oração.»

Nada torna a alma pura e feliz, nem a ilumina e afasta dela os maus pensamentos, como as vigílias. Por isso,

todos os nossos pais perseveraram neste trabalho das vigílias e adotaram por regra permanecer acordados de

noite durante todo o curso da sua vida ascética. Fizeram-no especialmente porque tinham entendido o nosso

Salvador convidar-nos a isso insistentemente, em diversos lugares, pela Sua Palavra viva: «Velai, pois,

orando continuamente» (Lc 21,36); «Vigiai e orai, para não cairdes em tentação» (Mt.26,41); e ainda: «Orai

sem cessar» (1 Tes5,17).

E não Se contentou com advertir-nos apenas por palavras. Deu-nos também o exemplo na Sua pessoa,

honrando a prática da oração acima de qualquer outra coisa. Por isso Ele se isolava constantemente para

rezar, e isso não era feito de um modo qualquer, mas escolhendo por tempo a noite e por lugar o deserto, a

fim de que também nós, evitando as multidões e o tumulto, nos tornemos capazes de orar na solidão.

Por isso os nossos pais receberam este alto ensinamento a respeito da oração como se ele viesse do próprio

Cristo. E escolheram vigiar na oração segundo a ordem do apóstolo Paulo, sobretudo a fim de poderem

permanecer sem nenhuma interrupção na proximidade de Deus pela oração contínua. [...] Nada que venha do

exterior os atinge e nada altera a pureza do seu intelecto, o que perturbaria estas vigílias que os enchem de

alegria e que são a luz da alma.

(Mc.1,40-45) -DDCF- p.1323 – Cura de um leproso.

40.Aproximou-se dele um leproso, suplicando-lhe de joelhos: "Se queres, podes limpar-me."

41.Jesus compadeceu-se dele, estendeu a mão, tocou-o e lhe disse: "Eu quero, sê curado."

42.E imediatamente desapareceu dele a lepra e foi purificado.

43.Jesus o despediu imediatamente com esta severa admoestação:

44."Vê que não o digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta, pela tua purificação, a oferenda prescrita por

Moisés para lhe servir de testemunho."

45.Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar

publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele.

Comentário feito por:

São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja

Vida de S. Francisco, Legenda Major 1, 5-6

“Jesus estendeu a mão e tocou-lhe” – (v.41)

Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente

com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que

tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo, se queria ser “soldado de Cristo” (2Tm 2, 3),

saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com

o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para

o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu

não se deter neste ato de generosidade. Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e

aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de

horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre

humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado que, nas palavras do profeta, “foi

desprezado como um leproso” (Is 53, 3). Ia visitá-los com freqüência, dava-lhes esmolas e, emocionado de

compaixão, beijava-lhes afetuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o

que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as

suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para distribuí-las.

Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os

mendigos que fervilhavam no chão da basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza,

escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se

cobria, e passou todo o dia na companhia dos pobres, a alma cheia de uma alegria que nunca, até então,

conhecera.

Comentário feito por

João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005

Homilia aos jovens

“Jesus estendeu a mão e tocou-lhe” – (v.41)

O gesto afetuoso de Jesus, que Se aproxima dos leprosos, reconfortando-os e curando-os, tem a sua

expressão mais plena e misteriosa na Paixão. Supliciado e desfigurado pelo suor de sangue, pela flagelação,

pela coroação de espinhos, pela crucifixão, abandonado pela população, que esquecera os benefícios Dele

recebidos, na Sua Paixão Jesus identifica-Se com os leprosos, tornando-Se imagem e símbolo deles, como

havia intuído o profeta Isaías, ao contemplar o mistério do Servo do Senhor: “Vimo-lo sem aspecto atraente,

desprezado e evitado pelos homens, como homem […] diante do qual se tapa o rosto. […] Nós o

repudiávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado” (Is 53, 2-4). Mas é precisamente das chagas

do corpo supliciado de Deus e do poder da Sua ressurreição que brotam a vida e a esperança para todos os

homens atingidos pelo mal e pela enfermidade.

A Igreja sempre foi fiel à missão de anunciar a palavra de Cristo, unida ao gesto concreto de misericórdia

solidária pelos mais humildes, pelos últimos. No decurso dos séculos, houve um crescendo de dedicação,

comovente e extraordinária, por quantos eram atingidos pelas doenças humanamente mais repugnantes. A

história põe claramente em evidência que os cristãos foram os primeiros a preocupar-se com o problema dos

leprosos. O exemplo de Cristo tinha feito escola, e foi fecundo em gestos de solidariedade

Comentário feito por:

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo

Sermão 10

“Imediatamente o homem começou a ver, e seguia Jesus pelo caminho”- (v.42)

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12). Ele é a luz que dá brilho a todas as luzes da terra: às luzes materiais

como o sol, a lua, as estrelas e os sentidos físicos do homem; e também à luz espiritual, à inteligência do

homem, graças à qual todas as criaturas devem refluir para a sua origem. Sem este refluxo, estas luzes

criadas são, em si mesmas, verdadeiras trevas, comparadas com a luz autêntica por essência, que é luz para o

mundo inteiro.

Nosso Senhor disse-nos: “Renuncia à tua luz, que é trevas em comparação com a minha luz, e que me é

contrária, porque Eu sou a verdadeira luz e quero dar-te, em troca das tuas trevas, a minha luz eterna, a fim

de que ela te pertença como a Mim mesmo, e de que tu tenhas, como Eu mesmo, o Meu ser, a Minha vida, a

Minha felicidade e a Minha alegria.”

Qual é, então, o caminho mais curto, que conduz a verdadeira luz? Eis tal caminho: renunciar

verdadeiramente a si mesmo, amar e não ter em vista senão só Deus […], não querer em coisa alguma o

próprio interesse, mas desejar e procurar somente a honra e a glória de Deus, esperar tudo imediatamente de

Deus e, sem desvio nem intermediário, a Ele remeter todas as coisas, venham de onde vierem, a fim de que

haja entre Deus e nós um fluxo e um refluxo imediato. Eis o verdadeiro caminho, o caminho reto.

Comentário feito por :

São João da Cruz (1542 – 1591), carmelita, Doutor da Igreja

A Chama viva do amor. Estrofe 2

«Jesus estendeu a mão e tocou-o»

Mas Tu, oh vida divina, nunca matas senão para dar vida, e nunca chagas senão para sarar! Quando castigas,

tocas levemente, e isso basta para destruir o mundo; mas também quando acaricias, amoldas-Te

perfeitamente e, assim, o prazer da Tua doçura é incontável. Chagaste-me para me curar, oh divina mão, e

mataste em mim o que me trazia morto sem a vida de Deus que agora me vejo viver. Tudo isto fizeste com a

liberalidade da Tua graça generosa que tiveste para comigo quando me tocaste com o toque «do resplendor

da Tua glória e imagem fiel da Tua substância» (Hb. 1,3), que é o Teu Filho Unigênito, no qual, sendo Ele a

Tua sabedoria, «tocas com vigor de uma extremidade à outra» (Sb.8,1). Este Teu filho Unigênito, oh mão

misericordiosa do Pai, é o toque delicado com que me tocaste e me chagaste na força do Teu cautério.

Oh, Tu toque delicado verbo, Filho de Deus, que, com a suavidade do Teu ser divino, penetras sutilmente na

substância da minha alma e, tocando-a delicadamente, toda a absorves em Ti em modos divinos de

suavidade e doçura, «das quais nunca se ouviu falar em Canaã nem foram vistas em Temã» (Ba.3, 22). Oh,

pois, forte e de certa maneira excessivo toque dedicado do Verbo, tanto mais delicado foste para mim quanto

fendeste as montanhas e quebrastes os rochedos no monte Horeb com a sombra do Teu poder e força que ia

à Tua frente, e tão doce e vivamente Te manifestastes ao profeta no sopro de uma brisa suave (1Rs.19,11-

12). Oh brisa suave, sendo tão suave e delicada, diz Verbo, Filho de Deus, como tocas suave e

delicadamente, sendo tão terrível e poderoso? «Ao abrigo da Tua face, que é o Verbo, os defendes das

maquinações dos homens.» (Sl 30, 21).

Comentário feito por:

São Pascásio Radberto ( ? – c.849), monge beneditino

Comentário sobre o Evangelho de S. Mateus, 5, 8; CCM 56 A, 475-476 (a partir da trad. Delhougne, Les

Pères commentent, p. 243)

«Quero, fica purificado.»

O Senhor cura, a cada dia, a alma de todo o homem que Lho implora, que piamente O adora e que com fé

proclama estas palavras: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me», ainda que sejam muitas as faltas que

cometeu. «É que acreditar de coração leva a obter a justiça, e confessar com a boca leva a obter a salvação»

(Rm.10,10). Devemos pedir a Deus com toda a confiança, sem nunca duvidar do seu poder. É essa a razão

por que prontamente o Senhor assim responde ao leproso que Lhe suplica: «Quero, fica purificado». Porque,

no justo momento em que o pecador começar a rezar com verdadeira fé, logo a mão do Senhor trata de sarar

a lepra da sua alma.

Conselho excelente nos dá aquele leproso sobre a maneira de orar. Não põe em dúvida a vontade do Senhor,

como se se recusasse a acreditar na Sua bondade. Mas, consciente da gravidade das suas faltas, não quer

pressupor essa vontade. Ao dizer que o Senhor, se o quiser, pode purificá-lo, afirma que esse poder pertence

ao Senhor, ao mesmo tempo em que afirma a sua fé. Se a fé for fraca, deve em primeiro lugar ser fortificada.

Só então poderá revelar-se em toda a sua força para obter a cura da alma e do corpo.

É sem dúvida desta fé que nos fala o apóstolo Pedro, quando diz: «Não fez qualquer distinção entre eles e

nós, visto ter purificado os seus corações pela fé» (At.15,9). A fé pura, vivida no amor, mantida pela

perseverança, paciente na espera, humilde na sua afirmação, firme na confiança, cheia de respeito na oração

e de sabedoria quanto ao que nela é pedido, está segura de que ouvirá, em todas as circunstâncias, aquelas

palavras do Senhor: «Quero, fica purificado».

(Mc.2,1-12) –pg.1323 – DDCIF –e DDF – O paralítico 1.Alguns dias depois, Jesus entrou novamente em Cafarnaum e souberam que ele estava em casa.

2.Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta. E ele os instruía.

3.Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens.

4.Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e, por

uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico.

5.Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: "Filho, perdoados te são os pecados."

6.Ora, estavam ali sentados alguns escribas, que diziam uns aos outros:

7."Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão Deus?"

8.Mas Jesus, penetrando logo com seu espírito tios seus íntimos pensamentos, disse-lhes: "Por que pensais isto nos vossos

corações?

9.Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?

10.Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho dó homem sobre a terra (disse ao paralítico),

11.eu te ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para casa."

12.No mesmo instante, ele se levantou e, tomando o. leito, foi-se embora à vista de todos. A, multidão inteira encheu-se de

profunda admiração e puseram-se a louvar a Deus, dizendo: "Nunca vimos coisa semelhante."

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre S. Mateus, 29, 1-3

"Quem pode perdoar os pecados senão Deus?" – (v.7)

Trouxeram-lhe um paralítico". Os evangelistas contam que, depois de terem furado o teto, desceram o

doente e depuseram-no diante de Cristo, sem nada pedir, deixando Jesus fazer o que quisesse. No início do

seu ministério, em toda a Judéia, era ele quem dava os primeiros passos e não exigia uma fé tão grande; aqui

são os outros que vêm a ele e foi-lhes necessária uma fé corajosa e viva: "Jesus, vendo a sua fé", diz o

Evangelho, quer dizer, a fé dos que tinham transportado o paralítico... O doente também teria uma grande fé

porque não se teria deixado transportar se não tivesse confiança em Jesus.

Perante tanta fé, Jesus mostra o seu poder e, com uma autoridade divina, perdoa os pecados ao doente, dando

assim prova da sua igualdade com o Pai. Tinha já mostrado essa igualdade quando curou o leproso dizendo:

"Quero, sê curado", quando acalmou o mar desencadeado e quando expulsou os demônios que nele

reconheceram o seu soberano e o seu juiz... Aqui mostra-a primeiro sem espavento: não se tinha apressado a

curar exteriormente os que lhe apresentavam. Começou por um milagre invisível; primeiro curou a alma do

homem, perdoando-lhe os pecados. É certo que esta cura era infinitamente mais vantajosa para aquele

homem, mas isso trazia pouca glória a Cristo. Então alguns, levados pela malvadez, quiseram prejudicá-lo;

mas foram eles que, contra vontade, tornaram o milagre mais deslumbrante.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, seguidamente Bispo de Constantinopla, Doutor

da Igreja

Homilias soltas, Sobre o paralítico

«Vendo Jesus a fé daqueles homens»

Este paralítico tinha fé em Jesus Cristo. Prova disso é a maneira como foi apresentado a Cristo. Desceram-no

pelo teto da casa. Sabeis que os doentes estão num abatimento tão grande e de tão mau humor, que

freqüentemente os bons cuidados que lhes são prestados os entristecem. [...] Mas este paralítico está contente

por ser retirado do seu quarto e por ser visto publicamente, atravessando com a sua miséria as praças e as

ruas. [...]

Este paralítico não sofre de amor-próprio. A multidão cerca a casa onde está o Salvador, todas as passagens

estão fechadas, a entrada pejada. Pouco importa! Será introduzido pelo teto, está contente: o amor é tão

hábil, a caridade tão engenhosa! «Quem procura, encontra; e ao que bate, abrir-se-á» (Mt.7, 8) Este paciente

não perguntará aos amigos que o transportam: «O que vão fazer? Por que tanta perturbação? Porque este

ardor? Esperem que a casa fique vazia e que partam todos. Então poderemos apresentar-nos a Jesus quando

estiver quase só...» Não, o paralítico não pensa nada de semelhante; é uma glória para ele haver um grande

número de testemunhas da sua cura.

Mc.(3,1-6) – DDCE- p.1324 – O homem de mão seca.Pregação na barca. 1.Noutra vez, entrou ele na sinagoga e achava-se ali um homem que tinha a mão seca. 2.Ora, estavam-no observando se o curaria no dia de sábado, para o acusarem.

3.Ele diz ao homem da mão seca: "Vem para o meio."

4.Então lhes pergunta: "É permitido fazer o bem ou o mal no sábado? Salvar uma vida ou matar?" Mas eles se calavam.

5.Então, relanceando um olhar indignado sobre eles, e contristado com a dureza de seus corações, diz ao homem: "Estende tua

mão!" Ele estendeu-a e a mão foi curada.

6.Saindo os fariseus dali, deliberaram logo com os herodianos como o haviam de perder.

Comentário feito por:

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Homilia sobre o mistério da encarnação

Cristo cura-nos a paralisia dos membros e do coração

A encarnação de Cristo não é normal, é milagrosa; não é conforme à razão, mas ao poder divino; provém do

Criador, e não da natureza; não é corrente, é singular; é divina, e não humana. Não se deu por necessidade,

mas por poder. Foi mistério de fé, renovação de salvação para o homem. Aquele que, sem ter nascido,

formou o homem com barro intacto (Gn.2, 7), ao nascer, fez um homem a partir de um corpo intacto; a mão

que Se dignou tomar a argila para nos criar dignou-Se também tomar a nossa carne para nos recriar. Homem,

por que te desprezas assim, tu que és tão precioso aos olhos de Deus? Por que te desonras a tal ponto,

quando Deus te honra desta maneira? Por que procuras saber como foste feito, e não queres saber em vista

de que foste feito? Não compreendes que todo este mundo que conheces foi feito para ti? Cristo encarna para

devolver à natureza corrompida a sua integridade; assume a condição de criança, aceita ser alimentado,

percorre todas as idades, a fim de restaurar a idade única, perfeita e duradoura que Ele próprio tinha criado.

Ele carrega o homem, para que o homem não possa voltar a cair. Torna celestial aquele que tinha criado

terreno; dá um espírito divino àquele que tinha criado humano. E, deste modo, eleva-o por inteiro a Deus, a

fim de nada deixar nele que pertença ao pecado, à morte, ao labor, à dor, à terra. Eis o que nos trouxe Nosso

Senhor Jesus Cristo que, sendo Deus, vive e reina com o Pai, na unidade do Espírito Santo, agora e para

sempre, e pelos séculos dos séculos.

Comentário feito por:

Santo Hilário (c. 315-367), bispo de Poitiers e doutor da Igreja

Tratado sobre o salmo 91,3,4-5,7

«É permitido, no dia de sábado, fazer o bem?... salvar uma vida?» - (v.4)

O Senhor trabalha no dia de sábado? Com certeza, de outra forma o céu desaparecia, a luz do sol apagava-se,

a terra perdia consistência, todos os frutos perderiam a seiva e a vida dos homens pereceria, se, por causa do

sábado, a força construtiva do universo deixasse de agir. Mas, de fato, não há qualquer interrupção; durante

o sábado, tal como nos seis outros dias, os elementos do universo continuam a cumprir a sua função. Através

deles, o Pai trabalha, pois, todo o tempo, mas atua através do Filho que nasceu dEle e por quem tudo isto é a

sua obra... Pelo Filho, a ação do Pai prossegue no dia de sábado. Por conseqüência não há repouso em Deus,

pois que nenhum dia vê cessar a obra de Deus.

É assim a ação de Deus. Mas, então, em que consiste o Seu repouso? A obra de Deus é a obra de Cristo. E o

repouso de Deus é Deus, é Cristo, pois tudo o que pertence a Deus está verdadeiramente em Cristo a tal

ponto que o Pai pode descansar nEle.

Mc.(3.7-12– DDCFIE- p.1324.5 – O homem de mão seca.Pregação na barca. 7.Jesus retirou-se com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão, vinda da Galiléia. 8.E da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, do além-Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidônia veio a ele uma grande

multidão, ao ouvir o que ele fazia.

9.Ele ordenou a seus discípulos que lhe aprontassem uma barca, para que a multidão não o comprimisse.

10.Curou a muitos, de modo que todos os que padeciam de algum mal se arrojavam a ele para o tocar.

11.Quando os espíritos imundos o viam, prostravam-se diante dele e gritavam: Tu és o Filho de Deus!

12.Ele os proibia severamente que o dessem a conhecer.

Comentário feito por:

João Cassiano (c. 360-435), fundador de convento em Marselha

Conferência 13

“Da Galileia, da Judeia, da Idumeia, de Tiro e de Sídônia..., vinde a mim, todos"- (v.8)

Deus não criou o homem para ele se perder, mas para viver eternamente; e este desígnio permanece

imutável. Ele “deseja que todos os homens se salvem e conheçam a verdade” (1Tm.2,4). É vontade do vosso

Pai que está nos céus, diz Jesus, “que não se perca um só destes pequeninos” (Mt.18, 14). E também está

escrito: “Deus não quer que pereça uma só alma” (2 Sam 4,14); Ele difere a execução dos Seus decretos, a

fim de que aquele que foi rejeitado não se perca para sempre. Deus é verdadeiro e não mente, quando

garante por meio de juramento: “Por Minha vida , não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua

conversão, de maneira que ele tenha a vida” (Ez.33, 11).

Poderá alguém então pensar, sem incorrer em enorme sacrilégio, que Ele não quer a salvação de todos em

geral, mas apenas de alguns? Quem se perde, perde-se contra a vontade de Deus, que clama sem cessar:

“Convertei-vos! Afastai-vos desse mau caminho que seguis; por que persistis em querer morrer, casa de

Israel?” (Ez.33, 11). E de novo insiste: “Por que persiste este povo de Jerusalém na sua obstinada rebeldia?”

(Jr.8, )“O seu semblante é mais duro do que pedra; recusam-se a converter-se” (Jr.5,3). A graça de Cristo

está, pois, sempre à nossa disposição. Visto que quer que todos os homens se salvem, Ele chama-os a todos,

sem exceção: “Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei” (Mt.11, 28).

Comentário feito por:

Santo Atanásio (295-373), bispo de Alexandria, doutor da Igreja

Sobre a Encarnação do Verbo

“Todos quantos sofriam de alguma coisa procuravam tocar-Lhe” – (v.10)

O Verbo de Deus, incorpóreo, incorruptível e imaterial, chegou à região que habitamos, da qual nunca

estivera, contudo, afastado. Com efeito, não havia deixado nenhuma parte da criação privada da sua

presença, dado que tudo preenchia, Ele que mora junto a seu Pai. Mas tornou-se presente, abaixando-se por

causa do seu amor por nós, e manifestou-se a nós. Teve piedade da nossa raça, teve compaixão da nossa

fraqueza, condescendeu com a nossa condição corruptível.

Não aceitou que a morte tivesse domínio sobre nós; não quis ver perecer aquilo que tinha começado, nem

fracassar o que seu Pai tinha realizado ao criar os homens. Assumiu, pois, um corpo, e um corpo que não é

diferente do nosso. No seio da Virgem construiu para si mesmo o templo do seu corpo; fez dele um

instrumento adaptado, para se dar a conhecer, e para nele morar. Depois de ter assumido, entre os nossos

corpos, um corpo da mesma espécie, e dado que estamos todos submetidos à corrupção da morte, entregou-o

à morte por todos nós, oferecendo-o a seu Pai. E o fez por amor aos homens.

Mc.(5,1-20)– DDCE- p.1327 - O possesso e os porcos – (dom da cura espiritual)

1.Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos.

2.Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério

3.onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros,

4.pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar.

5.Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.

6.Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz:

7.Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes.

8.É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem!

9.Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

10.E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região.

11.Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte.

12.E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.

13.Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se

no mar, afogando-se.

14.Fugiram os pastores e narraram o fato na cidade e pelos arredores. Então saíram a ver o que tinha acontecido.

15.Aproximaram-se de Jesus e viram o possesso assentado, coberto com seu manto e calmo, ele que tinha sido possuído pela

Legião. E o pânico apoderou-se deles.

16.As testemunhas do fato contaram-lhes como havia acontecido isso ao endemoninhado, e o caso dos porcos.

17.Começaram então a rogar-lhe que se retirasse da sua região.

18.Quando ele subia para a barca, veio o que tinha sido possesso e pediu-lhe permissão de acompanhá-lo.

19.Jesus não o admitiu, mas disse-lhe: Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor fez por ti, e como se

compadeceu de ti.

20.Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo o que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam.

Comentário feito por:

Beato Carlos de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara

Meditação 194 sobre os Evangelhos (trad. de Œuvres Spirituelles, Seuil 1958, pp. 212-215)

«Vai para casa, para junto dos teus; conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti»- (v.19)

Ao desejarmos seguir a Jesus, não nos espantemos se Ele não no-lo permitir logo, ou se até nunca no-lo

chegar a permitir. Com efeito a sua visão alcança muito mais do que a nossa; Ele quer não só o nosso bem,

como o de todos. Decididamente, partilhar a vida com e como os apóstolos, é um bem e uma graça, e

devemos ter por tarefa contínua aproximarmo-nos desta imitação da sua vida. Mas a verdadeira, a única

perfeição, não é levar este ou aquele tipo de vida, é fazer a vontade de Deus; é levar o gênero de vida que

Deus quiser, no local onde ele quiser, e levar esse tipo de vida como Ele próprio o teria feito. Quando Ele

nos deixar escolher por nós próprios, então sim, procuremos segui-Lo passo a passo o mais exatamente

possível, partilhar a sua vida tal como ela era como fizeram os apóstolos durante a sua vida e mesmo após a

sua morte; o amor incita-nos a tal imitação. Quando a sua vontade nos quiser noutro local, vamos aonde Ele

nos quiser, façamos por levar o tipo de vida designado pela sua vontade, mas, onde quer que estejamos,

aproximemo-nos sempre d’Ele com todas as nossas forças e ajamos, em qualquer circunstância ou estado,

como Ele próprio nesse local teria estado e agido, pois a vontade de seu Pai ali o pôs, tal como aqui nos põe,

a nós.

Comentário feito por:

São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo

Escritos

“Viram o possesso sentado junto de Jesus, vestido e curado, ele que tinha sido possuído por uma legião

demônios” – (v.15)

O objetivo de toda a nossa luta é tornarmo-nos humildes. Os nossos inimigos, os demônios, caíram pelo

orgulho e atraem-nos para a sua queda. Nós, porém, irmãos, sejamos humildes e veremos a glória do Senhor,

já nesta terra (Mt 16, 28), porque o Senhor dá-Se a conhecer aos humildes por meio do Espírito Santo. A

alma que provou a doçura do amor divino está totalmente regenerada e torna-se completamente diferente;

ama o seu Senhor e tende para Ele, dia e noite, com todas as suas forças.

Até determinado momento, permanece tranqüila em Deus depois, começa a sofrer pelo mundo. O Senhor

misericordioso concede à alma, ora o repouso em Deus, ora um coração que sofre pelo mundo inteiro, a fim

de que todos os homens se arrependam e cheguem ao paraíso.

A alma que conheceu a doçura do Espírito Santo deseja que todos acedam ao mesmo conhecimento, porque

a doçura do Senhor não permite à alma ser egoísta, antes lhe concede um amor que irradia do coração.

Mc.(5,21-43) –DDCF- p.1328- A filha de Jairo e a mulher doente.(v.29) 21.Tendo Jesus navegado outra vez para a margem oposta, de novo afluiu a ele uma grande multidão. Ele se achava à beira do

mar, quando

22.um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, se apresentou e, à sua vista, lançou-se-lhe aos pés,

23.rogando-lhe com insistência: Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe-lhe as mãos para que se salve e viva.

24.Jesus foi com ele e grande multidão o seguia, comprimindo-o.

25.Ora, havia ali uma mulher que já por doze anos padecia de um fluxo de sangue.

26.Sofrera muito nas mãos de vários médicos, gastando tudo o que possuía, sem achar nenhum alívio; pelo contrário, piorava cada

vez mais.

27.Tendo ela ouvido falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe no manto.

28.Dizia ela consigo: Se tocar, ainda que seja na orla do seu manto, estarei curada.

29.Ora, no mesmo instante se lhe estancou a fonte de sangue, e ela teve a sensação de estar curada.

30.Jesus percebeu imediatamente que saíra dele uma força e, voltando-se para o povo, perguntou: Quem tocou minhas

vestes?

31.Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te comprime e perguntas: Quem me tocou?

32.E ele olhava em derredor para ver quem o fizera.

33.Ora, a mulher, atemorizada e trêmula, sabendo o que nela se tinha passado, veio lançar-se-lhe aos pés e contou-lhe toda

a verdade.

34.Mas ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.

35.Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: Tua filha morreu. Para que ainda incomodas

o Mestre?

36.Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-se ao chefe da sinagoga: Não temas; crê somente.

37.E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.

38.Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações.

39.Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo.

40.Mas riam-se dele. Contudo, tendo mandado sair todos, tomou o pai e a mãe da menina e os que levava consigo, e entrou onde a

menina estava deitada.

41.Segurou a mão da menina e disse-lhe: Talita cumi, que quer dizer: Menina, ordeno-te, levanta-te!

42.E imediatamente a menina se levantou e se pôs a caminhar (pois contava doze anos). Eles ficaram assombrados.

43.Ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse, e mandou que lhe dessem de comer.Jesus de Nazaré

-Neste texto podemos identificar os dons manifestados por Jesus de:fé carismática,palavra de ciência e cura

física. Os versículos destacados ajudam-nos na reflexão.

São Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de Marcos, 2

“Sou Eu que te digo: levanta-te!” – (v.41)

“Não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.” Podemos

perguntar por que motivo leva Jesus sempre estes discípulos, e por que motivo deixa os outros. Já quando Se

transfigurou no monte estes três o acompanhavam. Os escolhidos são Pedro, sobre quem foi construída a

Igreja, bem como Tiago, o primeiro apóstolo a receber a palma do martírio, e João, o primeiro a enaltecer a

virgindade. “Entrou onde a criança jazia e, tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, ‘Menina, sou

Eu que te digo: levanta-te!’ E logo a menina se ergueu e começou a andar.” Desejemos que Jesus nos toque,

também a nós, e começaremos imediatamente a andar. Quer por sermos paralíticos, quer por termos

cometido más ações, deixamos de andar; talvez estejamos deitados na cama dos nossos pecados como em

verdadeiro leito. Mas, assim que Jesus nos tocar, ficaremos curados. A sogra de Pedro estava com febre;

Jesus tomou-lhe a mão, ela levantou-se e começou imediatamente a servi-los (Mc.1,31).“E mandou dar de

comer à menina.” Pela graça, Senhor, toca-nos na mão, a nós que estamos deitados, levanta-nos do leito dos

nossos pecados, faz-nos andar. Quando tivermos começado a andar, manda que nos dêem de comer.

Deitados, não podemos andar e, se não estivermos de pé, não poderemos receber o corpo de Cristo, a Quem

pertence a glória, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos.

Mc.6,53-56 –DDCF - pg.1330 - Novos milagres 53.Navegaram para o outro lado e chegaram à região de Genesaré, onde aportaram.

54.Assim que saíram da barca, o povo o reconheceu.

55.Percorrendo toda aquela região, começaram a levar, em leitos, os que padeciam de algum mal, para o lugar onde ouviam dizer

que ele se encontrava.

56.Onde quer que ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-

lhe que os deixassem tocar ao menos na orla de suas vestes. E todos os que tocavam em Jesus ficavam sãos.

Comentário feito por:

Santa Faustina Kowalska (1905-1938), religiosa

Pequeno Diário, § 948-949

“Todos quantos Lhe tocavam na orla do manto eram salvos”- (v.56)

Misericórdia divina, que nos acompanhas durante toda a vida, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos envolves em particular na hora da morte, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos dás a vida eterna, confio em ti.

Misericórdia divina, presente em todos os momentos da vida, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos proteges do fogo do inferno, confio em ti.

Misericórdia divina, que convertes pecadores inveterados, confio em ti.

Misericórdia divina, maravilha para os anjos, inconcebível para os santos, confio em ti.

Misericórdia divina, insondável em todos os mistérios divinos, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos perdoas todas as misérias, confio em ti.

Misericórdia divina, fonte da nossa felicidade e da nossa alegria, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos chamas do nada à existência, confio em ti.

Misericórdia divina, que sustentas em tuas mãos tudo quanto existe, confio em ti.

Misericórdia divina, coroa de tudo quanto existe e existirá, confio em ti.

Misericórdia divina, na qual estamos mergulhados, confio em ti.

Misericórdia divina, doce apaziguamento dos corações atormentados, confio em ti.

Misericórdia divina, única esperança das almas desesperadas, confio em ti.

Misericórdia divina, repouso dos corações, paz no meio dos temores, confio em ti.

Misericórdia divina, delícia e maravilha das almas santas, confio em ti.

Misericórdia divina, que nos dás esperança contra toda a esperança, confio em ti.

Ó Deus eterno, cuja misericórdia é insondável e cujos tesouros de compaixão são inesgotáveis, olha-nos com

bondade e cumula-nos da tua misericórdia, para que não desesperemos nos momentos difíceis, nem

percamos a coragem, mas nos submetamos, com grande confiança, à tua santa vontade, que é o amor e a

própria misericórdia.

Mc.7, 24-30 –DDCE - pg.1331 - A Cananéia 24.Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o

soubesse. Mas não pôde ficar oculto,

25.pois uma mulher, cuja filha possuía um espírito imundo, logo que soube que ele estava ali, entrou e caiu a seus pés.

26.(Essa mulher era pagã, de origem siro-fenícia.) Ora, ela suplicava-lhe que expelisse de sua filha o demônio.

27.Disse-lhe Jesus: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não fica bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães.

28.Mas ela respondeu: É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos.

29.Jesus respondeu-lhe: Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o demônio de tua filha.

30.Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama. O demônio havia saído.

Comentário feito por:

S. Beda Venerável (cerca de 673 - 735), monge, doutor da Igreja

Homilias sobre os Evangelhos I, 22

A fé da Cananéia – (v.29)

"Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito como desejas" (Mt.15,28). Sim, a Cananéia tem uma fé muito

grande. Sem conhecer os antigos profetas nem os recentes milagres do Senhor, nem os seus mandamentos

nem as suas promessas, e para mais repelida por ele, persevera no seu pedido e não se cansa de insistir junto

daquele que apenas a fama lhe tinha indicado ser o Salvador. Por isso, a sua oração foi atendida de forma tão

espantosa...

Quando um de entre nós tem a consciência manchada pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vanglória, pelo

desdém, pela cólera, pelo ciúme ou por qualquer outro vício, tem verdadeiramente, tal como esta mulher de

Canaã, "uma filha cruelmente atormentada por um demônio". Que ele corra a pedir ao Senhor que o cure...

Que o faça com humilde submissão; que não se julgue digno de partilhar a sorte das ovelhas de Israel, isto é,

das almas puras e que se considere indigno das recompensas do céu. Que o desespero, contudo, não o leve a

abrandar a insistência da sua oração mas que o seu coração tenha uma confiança inquebrantável na imensa

bondade do Senhor. Porque aquele que pôde fazer do ladrão um proclamador da fé (Lc.24,39s), do

perseguidor um apóstolo (At. 9) e de simples pedras filhos de Abraão (Mt.3,9), esse mesmo é também capaz

de transformar um cachorrinho em ovelha de Israel.

.Mc.9,14-29- DDCE (vv.25-27) - p.1333 – A cura do jovem epiléptico 14.Depois, aproximando-se dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e os escribas a discutir com eles.

15.Todo aquele povo, vendo de surpresa Jesus, acorreu a ele para saudá-lo.

16.Ele lhes perguntou: Que estais discutindo com eles?

17.Respondeu um homem dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo.

18.Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o

expelissem, mas não o puderam.

19.Respondeu-lhes Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá!

20.Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando.

21.Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isto? Desde a infância, respondeu-lhe.

22.E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de

nós!

23.Disse-lhe Jesus: Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê.

24.Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!

25.Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste

menino e não tornes a entrar nele.

26.E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: Morreu...

27.Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se.

28.Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: Por que não pudemos nós expeli-lo?

29.Ele disse-lhes: Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração.

Comentário feito por:

Filoxeno de Mabboug (?-cerca 523), bispo na síria

Homilia 3,52-56

“Eu creio! Ajuda a minha pouca fé”- (v.24)

Inclina o teu ouvido e escuta, abre os teus olhos e vê os prodígios que são mostrados pela fé. Vem formar

olhos novos, criar orelhas escondidas. Foste convidado a escutar coisas escondidas…; foste chamado a ver

realidades espirituais… Vem ver o que ainda não és, e renova-te entrando na nova criação.

A sabedoria estava com o teu Criador desde as suas primeiras obras (Pr.8,22). Mas na segunda criação a fé

estava com ele; neste segundo parto tomou a fé por auxiliar. A fé acompanha Deus em todas as coisas, e

hoje, ele não faz nada de novo sem ela. Ter-lhe-ia sido fácil fazer-te nascer da água e do Espírito (Jo 3,5)

sem ela, e contudo, não te fez nascer neste segundo nascimento antes que tivesses recebido o símbolo da fé,

o credo. Ele podia renovar-te, e de velho, te fazer novo, e contudo ele não te muda e não te renova antes de

ter recebido de ti a fé em caução. É exigida a fé a quem é batizado, e é então que, da água, ele recebe

tesouros. Sem a fé, o batismo é a água; sem a fé, os mistérios vivificantes são pão e água; sem o olho da fé, o

homem antigo aparece unicamente aquilo que é; sem o olho da fé, os mistérios são vulgares e os prodígios

do Espírito são vis.

A fé olha, contempla e considera secretamente a força que está escondida nas coisas… Porque aqui está: tu

trazes sobre a mão a parte do mistério que, pela sua natureza, é pão vulgar; a fé olha-o como o corpo do

Único… O corpo vê o pão, o vinho, o óleo, a água, mas a fé obriga o seu olhar a ver espiritualmente o que

não vê corporalmente, quer dizer, a comer o Corpo no lugar do pão, a beber o Sangue no lugar do vinho, a

ver o batismo do Espírito no lugar da água e a força de Cristo no lugar do óleo.

Comentário feito por:

Hermas (séc. II)

O Pastor

«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» - (v.24)

Expulsa a dúvida da tua alma, nunca hesites em dirigir a Deus a tua oração, dizendo: «Como posso eu rezar,

como posso ser escutado, depois de ter ofendido a Deus tantas vezes?» Não raciocines dessa maneira; volta-

te de todo o coração para o Senhor, e reza-Lhe com total confiança. Conhecerás então a extensão da Sua

misericórdia; verás que, longe de te abandonar, Ele cumulará os desejos do teu coração. Porque Deus não é

como os homens, que nunca se esquecem do mal; Nele não há ressentimentos, mas uma terna compaixão

para com as Suas criaturas. Assim, pois, purifica o teu coração de todas as vaidades do mundo, do mal e do

pecado [...], e reza ao Senhor. Tudo obterás [...], se rezares com total confiança.

Se, porém, a dúvida tomar o teu coração, as tuas súplicas não serão ouvidas. Aqueles que duvidam de Deus

são almas dúplices; nada obtêm daquilo que pedem. [...] Quem duvida, a menos que se converta,

dificilmente será ouvido e salvo. Assim, pois, purifica a tua alma da dúvida, reveste-te da fé, porque a fé é

poderosa, e crê firmemente que Deus escutará todas as tuas súplicas. E, se Ele tardar um pouco a ouvir a tua

oração, não te deixes arrastar pela dúvida por não teres obtido imediatamente aquilo que pedes; esse atraso

destina-se a fazer-te crescer na fé. Não cesses, pois, de pedir aquilo que desejas. [...] Não te permitas

duvidar, pois a dúvida é perniciosa e insensata, roubando a fé a muitos, incluindo os mais firmes. A fé é forte

e poderosa; tudo promete e tudo obtém; a dúvida, que é falta de confiança, tudo mina.

Mc.(10,13-16) – DDCFE - p.1334/5 – Jesus abençoa as crianças 13.Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.

14.Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é

daqueles que se lhes assemelham.

15.Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará."

16.Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos.

Comentário feito por:

Hermas (sec. II)

O Pastor, parábola 9, 24.29

«Deixai vir a Mim as criancinhas... a elas pertence o reino de Deus»- (v.14)

O Pastor mostrou-me uma montanha onde as ervas estavam verdes e viçosas; tudo estava florescente, e os

rebanhos e os pássaros encontravam aí o seu alimento. Ele disse-me: «Os crentes de aqui sempre foram

simples, inocentes, felizes, sem nenhum ressentimento uns contra os outros, mas pelo contrário sempre

alegres servidores de Deus. Revestidos do santo espírito das virgens, cheios de compaixão por todos os

homens, proveram, com o suor do seu rosto, às necessidades de todos os seus semelhantes, sem murmúrio

nem hesitação. Vendo a sua simplicidade e toda a sua candura infantil, o Senhor fez prosperar todo o

trabalho das suas mãos e abençoou todas as suas empresas... Todos que agirem assim, permaneçam desse

modo e a vossa prosperidade não desaparecerá jamais»...

Depois ele mostrou-me uma bela montanha toda branca: «Aqui os crentes assemelham-se às criancinhas que

não têm a mínima idéia do mal; como eles, nunca souberam o que é a maldade, mas guardaram sempre a

inocência das suas infâncias. Esses homens irão seguramente habitar no reino de Deus, porque eles não

violaram os mandamentos de Deus, mas perseveraram todos os dias das suas vidas na candura e nos

sentimentos das suas infâncias. Todos vós que perseverais nesta via sereis «como criancinhas», sem malícia,

sereis glorificados mais que todos os outros, porque as criancinhas são gloriosas diante de Deus e os

primeiros a seus olhos. Bem aventurados os que afastarem a malícia para se revestirem de inocência;

primeiro que todos os outros, vós vivereis para Deus.

Mc.10,26-52 –DDCI - p.1336 26. Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"

27. Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.

28. Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."

29. Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou

filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho

30. que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século

vindouro a vida eterna.

31. Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."

32. Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente

a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer:

33. "Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à

morte e entregá-lo-ão aos gentios.

34. Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá.

35. Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te

pedirmos."

36. "Que quereis que vos faça?"

37. "Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda."

38. "Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu

vou ser batizado?"

39. "Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em

que eu devo ser batizado.

40. Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem

está destinado."

41. Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.

42. Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus

intendentes exercem poder sobre elas.

43. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo;

44. e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.

45. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos."

46. Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando,

Bartimeu, que era cego, filho de Timeu.

47. Sabendo que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, em compaixão de mim!"

48. Muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!"

49. Jesus parou e disse: "Chamai-o" Chamaram o cego, dizendo-lhe: "Coragem! Levanta-te, ele te chama." 50. Lançando fora a

capa, o cego ergueu-se dum salto e foi ter com ele.

51. Jesus, tomando a palavra, perguntou-lhe: "Que queres que te faça? Rabôni, respondeu-lhe o cego, que eu veja!

52. Jesus disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou." No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

Comentário feito por:

São Gregório Magno (c. 540-604), Papa e Doutor da Igreja

Homilias sobre os Evangelhos, n°2 (a partir da trad. Tissot, Les Pères nous parlent, 1954, p. 190)

«Filho de David, tem misericórdia de mim»

Com razão a Escritura nos apresenta este cego sentado à beira do caminho e pedindo esmola, porque a

Verdade diz acerca de Si mesma: «Eu sou o caminho» (Jo 14, 6). Assim, todo aquele que ignora a claridade

da luz eterna é cego.

Se já cremos no Redentor, estamos sentados à beira do caminho. Se já cremos, mas descuramos pedir que

nos seja dada a luz eterna e descuramos a oração, podemos estar sentados à beira do caminho, mas não

pedimos esmola. Mas se cremos, se conhecemos a cegueira do nosso coração e oramos a fim de recebermos

a luz da verdade, então somos efetivamente este cego sentado à beira do caminho e que pede esmola.

Assim, aquele que reconhece as trevas da sua cegueira e sente a privação da luz eterna, grite do fundo do seu

coração, grite com toda a sua alma: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!»

Mc.10,46-52 – DDCF- p. 1336 – Cura de Bartimeu. 46.Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira do caminho,

mendigando, Bartimeu, que era cego, filho de Timeu.

47.Sabendo que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, em compaixão de mim!" 48.Muitos o repreendiam,

para que se calasse, mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!"

49.Jesus parou e disse: "Chamai-o" Chamaram o cego, dizendo-lhe: "Coragem! Levanta-te, ele te chama." 50.Lançando fora a

capa, o cego ergueu-se dum salto e foi ter com ele.

51.Jesus, tomando a palavra, perguntou-lhe: "Que queres que te faça? Rabôni, respondeu-lhe o cego, que eu veja!

52.Jesus disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou." No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

Comentário feito por:

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo

Sermão 10

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12).

Ele é a luz que dá brilho a todas as luzes da terra: às luzes materiais como o sol, a lua, as estrelas e os

sentidos físicos do homem; e também à luz espiritual, à inteligência do homem, graças à qual todas as

criaturas devem refluir para a sua origem. Sem este refluxo, estas luzes criadas são, em si mesmas,

verdadeiras trevas, comparadas com a luz autêntica por essência, que é luz para o mundo inteiro.

Nosso Senhor disse-nos: “Renuncia à tua luz, que é trevas em comparação com a minha luz, e que me é

contrária, porque Eu sou a verdadeira luz e quero dar-te, em troca das tuas trevas, a minha luz eterna, a fim

de que ela te pertença como a Mim mesmo, e de que tu tenhas, como Eu mesmo, o Meu ser, a Minha vida, a

Minha felicidade e a Minha alegria.”

Qual é, então, o caminho mais curto, que conduz a verdadeira luz? Eis tal caminho: renunciar

verdadeiramente a si mesmo, amar e não ter em vista senão só Deus […], não querer em coisa alguma o

próprio interesse, mas desejar e procurar somente a honra e a glória de Deus, esperar tudo imediatamente de

Deus e, sem desvio nem intermediário, a Ele remeter todas as coisas, venham de onde vierem, a fim de que

haja entre Deus e nós um fluxo e um refluxo imediatos. Eis o verdadeiro caminho, o caminho reto.

Comentário feito por:

Guilherme de S. Thierry (c.1085-1148), monge beneditino e posteriormente cisterciense A

A Contemplação de Deus, 1-2

«Que queres que te faça?»

«Vinde! Subamos à montanha do Senhor, subamos à casa do Deus de Jacó, e ele nos ensinará os seus

caminhos» (Is 2,3). Vós, intenções, desejos intensos, vontade e pensamentos, afetos e energias do coração,

vinde, escalemos a montanha, ganhemos o lugar onde o Senhor vê e se dá a ver. Mas vós, preocupações e

inquietações, trabalhos e servidões, esperai-nos aqui [...], até que, apressando-nos para este lugar, estejamos

de regresso para junto de vós após termos adorado (cf. Gn 22,5). Porque teremos de regressar, e muito

depressa, mesmo.

Senhor, Deus da minha força, faz que nos voltemos para Ti, «mostra-nos o teu rosto e seremos salvos» (Sl

79,20). Mas, Senhor, como é prematuro, audaz, presunçoso, contrário à regra dada pela palavra da tua

verdade e sabedoria, pretender ver a Deus de coração impuro! Ó bondade soberana, bem supremo, vida dos

corações, luz dos nossos olhos interiores, na tua bondade, Senhor, tem piedade.

Ei-la, a minha purificação, a minha confiança e justiça: a contemplação da tua bondade, meu bom Senhor!

Tu, meu Deus, dizes à minha alma, como só Tu sabes fazer: «Eu sou a tua salvação» (Sl 34,3). Raboni,

mestre soberano e professor, Tu, que és o único doutor capaz de me fazer ver o que eu desejo ver, diz a este

teu mendigo cego: «Que queres que te faça?» E sabes bem, Tu, que me dás essa graça [...], com quanta força

o meu coração Te grita: «Procurei-Te, Senhor; os meus olhos te procuram; é a tua face que eu procuro» (Sl

26,8).

Comentário feito por:

São Gregório Magno (c. 540-604), Papa e Doutor da Igreja

Homilias sobre os Evangelhos, n°2 (a partir da trad. Tissot, Les Pères nous parlent, 1954, p. 190)

«Filho de David, tem misericórdia de mim»

Com razão a Escritura nos apresenta este cego sentado à beira do caminho e pedindo esmola, porque a

Verdade diz acerca de Si mesma: «Eu sou o caminho» (Jo 14, 6). Assim, todo aquele que ignora a claridade

da luz eterna é cego.

Se já cremos no Redentor, estamos sentados à beira do caminho. Se já cremos, mas descuramos pedir que

nos seja dada a luz eterna e descuramos a oração, podemos estar sentados à beira do caminho, mas não

pedimos esmola. Mas se cremos, se conhecemos a cegueira do nosso coração e oramos a fim de recebermos

a luz da verdade, então somos efetivamente este cego sentado à beira do caminho e que pede esmola.

Assim, aquele que reconhece as trevas da sua cegueira e sente a privação da luz eterna, grite do fundo do seu

coração, grite com toda a sua alma: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!»

Mc.(16,9-15) –DDCE - p.1344– Aparição aos discípulos.Missão que receberam 9.Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha

expulsado sete demônios.

10.Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos.

11.Quando souberam que Jesus vivia e que ela o tinha visto, não quiseram acreditar.

12.Mais tarde, ele apareceu sob outra forma a dois entre eles que iam para o campo.

13.Eles foram anunciá-lo aos demais. Mas estes tampouco acreditaram.

14.Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não

acreditarem nos que o tinham visto ressuscitado.

15.E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura

Comentário feito por:

S. Leão Magno (? – cerca 461), papa e doutor da Igreja

Sermão 58, o vigésimo sobre a Paixão

«Os que tinham sido seus companheiros estavam no luto e em lágrimas… Ele disse-lhes: ‘Ide por todo o

mundo anunciar a Boa Nova’» - (v.15)

Não estejamos presos às coisas deste mundo; que os bens da terra não desviem o nosso olhar do céu.

Tomemos por passado o que já não é praticamente nada; que o nosso espírito, agarrado ao que deve viver,

fixe o seu desejo nas promessas de eternidade. Embora sejamos ainda “salvos na esperança” (Rm. 8,24),

embora possuamos ainda uma carne sujeita á corrupção e à morte, podemos com certeza afirmar que

podemos no entanto viver fora da carne, se escaparmos à influência das suas paixões. Não, nós não

merecemos mais o nome desta carne da qual nós fizemos por calar os apelos…

Que o povo de Deus tome consciência que ele é «uma criatura nova em Cristo» (2Co.5,17). Que compreenda

bem quem o escolheu, e quem ele próprio escolheu. Que o novo ser não retorne á inconstância do seu estado

velho. Que «aquele que pôs a mão no arado» (Lc 9,62) não cesse de trabalhar, que vele pelo grão que

semeou, que não retorne ao passado que abandonou. Que ninguém volte a cair na degradação da qual se

separou. E se, porque a carne é fraca, alguém sofre ainda de uma das suas doenças, que tome a firme

resolução de se curar e de se engrandecer. Esta é a via da salvação; esta é a forma de imitar a ressurreição

começada em Cristo… Que os nossos passos deixem as areias movediças para caminhar sobre a terra firme,

porque está escrito: «O Senhor firma os passos do homem e compraz-se nos seus caminhos. Mesmo que

caia, não ficará por terra, porque o Senhor lhe estenderá a mão» (Sl.36,23s).

Irmãos bem amados, guardai bem estas reflexões no vosso espírito, não apenas para celebrar as festas da

Páscoa, mas para santificar toda a vossa vida.

Comentário feito por :

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo

PS 1, 22 «Witnesses of the Ressurrection»

Testemunhas da ressurreição

Seria de esperar que Nosso Senhor, uma vez ressuscitado, aparecesse ao maior número de pessoas possível,

sobretudo aos que O tinham crucificado. Pelo contrário, vemos pela história que Ele Se manifesta apenas a

algumas testemunhas escolhidas, e especialmente os Seus discípulos mais próximos. Como diz São Pedro:

«Deus ressuscitou-O, ao terceiro dia, e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas

anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da Sua ressurreição dos

mortos» (At.10, 40-41).

À primeira vista, isto parece-nos estranho. Com efeito, temos uma idéia muito diferente da Ressurreição,

representamo-la como uma manifestação deslumbrante e visível da glória Cristo. [...] Representando-a como

um triunfo público, somos levados a imaginar a confusão e o terror que se teriam apoderado dos Seus

carrascos se Jesus Se tivesse apresentado vivo diante deles. Reconheçamos que tal raciocínio nos levaria a

conceber o Reino de Cristo como um reino deste mundo, o que não é correto. Seria supor que Cristo veio

julgar o mundo nesse momento, quando tal só acontecerá no último dia.

Por que Se terá Ele mostrado apenas «a algumas testemunhas escolhidas anteriormente»? Porque era este o

meio mais eficaz de propagar a fé pelo mundo inteiro. Qual teria sido o fruto de uma manifestação pública

que se impusesse a todos? Esse novo milagre teria deixado a multidão como a tinha encontrado, sem

mudança eficaz. Os Seus milagres anteriores já não tinham convencido a todos [...]; que teriam dito e sentido

a mais do que anteriormente, mesmo que «alguém ressuscitasse dentre os mortos»? (Lc 16, 31) . Cristo

mostra-Se para suscitar testemunhos da Sua ressurreição, ministros da Sua palavra, fundadores da Sua Igreja.

Como poderia a multidão, com a sua natureza inconstante, adivinhá-lo?

(Mc.16,13-19) – DDCE – p.1344 – Missão dos Apóstolos 13.Eles foram anunciá-lo aos demais. Mas estes tampouco acreditaram.

14.Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não

acreditarem nos que o tinham visto ressuscitado.

15.E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.

16.Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.

17.Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, 18.manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão

curados.

19.Depois que o Senhor Jesus lhes falou, foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona ( Norte de África) e doutor da Igreja

Sermão 190

«Chamar-te-ás Pedro» (Jo 1,42)

«Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja». Este nome de Pedro foi-lhe dado porque foi

ele o primeiro a assentar entre as nações os fundamentos da fé e porque ele é o rochedo indestrutível sobre o

qual repousam os alicerces e o conjunto do edifício de Jesus Cristo. Foi pela sua fidelidade que ele se

chamou Pedro, enquanto que o Senhor recebe esse mesmo nome pelo poder, segundo a palavra de S. Paulo:

«Eles bebiam água da pedra espiritual que os seguia, e essa pedra é Jesus Cristo» (1Co.10,4). Sim, ele

merecia partilhar um mesmo nome com Cristo, o apóstolo escolhido para ser o cooperador da Sua obra.

Construíram o mesmo edifício. É Pedro que planta, é o Senhor que faz crescer, é o Senhor que também envia

aqueles que deverão regar (cf 1Co. 3,6s).

Vós sabeis, irmãos muito amados, foi a partir dos próprios erros, no momento em que sofria o Salvador, que

o bem-aventurado Pedro foi elevado. Foi depois de ter negado o Senhor, que se tornou o primeiro junto dEle.

Mais fiel chorando sobre a fé que traíra, recebeu uma graça ainda maior do que aquela que tinha perdido.

Cristo confiou-lhe o Seu rebanho para que o conduzisse como o bom pastor e, ele que tinha sido tão fraco,

tornava-se agora o sustentáculo de tudo. Ele, que interrogado acerca da sua fé sucumbira, tinha de

estabelecer os outros sobre os fundamentos inabaláveis da fé. Por isso é chamado a pedra fundamental da

devoção das igrejas.

Comentário feito por:

Papa Bento XVI

Audiência geral de 08/11/06 (trad. DC 2369, p. 1056 © Libreria Editrice Vaticana)

A conversão de S. Paulo: "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Ga.2,20)

O encontro com Cristo no caminho de Damasco revolucionou literalmente a vida de Paulo... É importante

que nos apercebamos de quanto Jesus Cristo possa incidir na vida de um homem e também na nossa própria

vida: Como acontece o encontro de um ser humano com Cristo? E em que consiste a relação que dele

deriva?... Paulo ajuda-nos a compreender o valor absolutamente fundamental e insubstituível da fé. Eis

quanto escreve na Carta aos Romanos: "Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é

justificado, independentemente das obras da lei" (3, 28). E também na Carta aos Gálatas: "O homem não é

justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditamos

em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da

Lei nenhuma criatura será justificada" (2, 16). "Ser justificados" significa ser tornados justos, isto é, ser

acolhidos pela justiça misericordiosa de Deus, e entrar em comunhão com Ele, e por conseguinte poder

estabelecer uma relação muito mais autêntica com todos os nossos irmãos: e isto com base num perdão total

dos nossos pecados. Pois bem, Paulo diz com muita clareza que esta condição de vida não depende das

nossas eventuais boas obras, mas de uma mera graça de Deus: "Sem o merecerem, são justificados pela sua

graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus" (Rm.3, 24).

Com estas palavras São Paulo expressa o conteúdo fundamental da sua conversão, o novo rumo da sua vida

que resultou do seu encontro com Cristo ressuscitado. Paulo, antes da conversão, não tinha sido um homem

afastado de Deus e da sua Lei. Ao contrário, era um observante, com uma observância fiel até ao fanatismo.

Mas à luz do encontro com Cristo compreendeu que com isso tinha procurado edificar-se a si mesmo, à sua

própria justiça, e que com toda essa justiça tinha vivido para si mesmo. Compreendeu que era absolutamente

necessária uma nova orientação da sua vida. E encontramos expressa nas suas palavras esta nova orientação:

"E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou

por mim" (Gl.2,20). Por conseguinte, Paulo já não vive para si, para a sua própria justiça. Vive de Cristo e

com Cristo.

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (cerca 345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja

7ª Homilia sobre a conversão

“A mim, que primeiro fui blasfemador e perseguidor…, foi-me dada misericórdia” (1Tm 1,13): a conversão

de S. Paulo

É preciso que tenhamos sempre presente no nosso espírito o quanto todos os homens são rodeados por tantas

manifestações do mesmo amor de Deus. Se a justiça tivesse precedido a penitência, o universo teria sido

aniquilado. Se Deus estivesse pronto para o castigo, a Igreja não teria conhecido o apóstolo Paulo; não teria

recebido um homem assim no seu seio. É a misericórdia de Deus que transforma o perseguidor em apóstolo;

é ela que muda o lobo em cordeiro, e que fez de um publicano um evangelista (Mt.9,9). É a misericórdia de

Deus que, comovida com o nosso destino, nos transforma a todos; é ela que nos converte.

Ao ver o glutão de ontem pôr-se hoje a jejuar, o blasfemador de outrora falar de Deus com respeito, o infame

de antigamente não abrir a boca a não ser para louvar a Deus, pode-se admirar esta misericórdia do Senhor.

Sim irmãos, se Deus é bom para com todos os homens, é-o particularmente para com os pecadores.

Quereis mesmo ouvir algo de estranho do ponto de vista dos nossos hábitos, mas verdadeiro do ponto de

vista da piedade? Escutai: ao passo que Deus se mostra exigente para com os justos, para com os pecadores

não tem senão clemência e doçura. Que rigor para com os justos! Que indulgência para com o pecador! É

esta a novidade, a inversão, que nos oferece a conduta de Deus… E eis porquê: assustar o pecador, sobretudo

o pecador inveterado, seria privá-lo de toda a confiança, mergulhá-lo no desespero; lisonjear o justo, seria

embotar o vigor da sua virtude, fá-lo-ia afrouxar no seu zelo. Deus é infinitamente bom! O seu temor é a

salvaguarda do justo, e a sua clemência faz mudar o pecador.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja

Sermão 279

O perseguidor transformado em pregador

Do alto do céu a voz de Cristo fez com que Saulo caísse por terra: recebeu a ordem de não continuar com as

suas perseguições, e caiu por terra. Era preciso que tombasse e em seguida se erguesse; primeiro caído e

depois curado. Porque Cristo não teria nunca vivido nele se Saulo não tivesse abandonado a sua antiga vida

de pecado. Caído por terra, que ouve ele? «Saulo, Saulo, por que Me persegues? É duro para ti recalcitrar

contra o aguilhão» (At.26, 14). Ao que ele respondeu: «Quem és tu, Senhor?» E a voz do alto continuou:

«Sou Jesus de Nazaré, que tu persegues». Os membros ainda estão na terra, é a cabeça que grita do alto do

céu; e não diz: «Por que persegues os Meus servos?» mas «Por que Me persegues?»

E Paulo, que empregava todo o seu ardor nas perseguições, dispõe-se desde logo a obedecer: «Que queres

que eu faça?» Já o perseguidor se transformou em pregador, o lobo em ovelha, o inimigo em defensor. Paulo

aprende o que deve fazer: se ficou cego, se a luz do mundo lhe foi subtraída durante um certo tempo, foi para

que no seu coração brilhasse a luz interior. A luz é retirada ao perseguidor para ser dada ao pregador; no

próprio momento em que não via nada deste mundo, viu Jesus. É um símbolo para os crentes: aqueles que

crêem em Deus devem fixar n'Ele o olhar da sua alma sem ter em consideração coisas exteriores. Saulo é

conduzido a Ananias; o lobo destruidor é levado à ovelha. Mas o Pastor que tudo conduz do alto dos céus,

tranqüiliza-o.«Não te preocupes. Eu lhe revelarei tudo o que ele tem de sofrer pelo Meu nome.» (At. 9,16).

Que maravilha! O lobo é trazido à ovelha. O Cordeiro, que foi morto pelas ovelhas, ensina-as a não

temerem.

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias, I, 10, 1-2

São Marcos transmite a todo o mundo a fé dos apóstolos

A Igreja disseminada por todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos

a fé num só Deus, Pai todo-poderoso, que “fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém” (Ex.20, 11; Act 4,

24); num só Cristo Jesus, Filho de Deus, que encarnou pela nossa salvação; e no Espírito Santo que, através

dos profetas, anunciou os desígnios de Deus e a vinda do bem-amado Jesus Cristo nosso Senhor, o seu

nascimento da Virgem, a sua Paixão, a sua ressurreição de entre os mortos, a sua ascensão em corpo e alma

aos céus, na glória do Pai, para “sujeitar todas as coisas “ (Ef.1, 22) e ressuscitar a carne de todo o gênero

humano – a fim de que, diante de Cristo Nosso Senhor, nosso Deus, nosso Salvador e nosso Rei, segundo os

desígnios do Pai invisível, “todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos, e toda a língua O

confesse” (Fl.2,10-11) e de que Ele julgue com justiça todas as criaturas. Esta pregação que a Igreja recebeu,

esta fé, é guardada com cuidado, como se a Igreja habitasse uma só casa; embora disseminada por todo o

mundo, acredita em tudo isto de forma idêntica em toda a parte, como se tivesse “um só coração e uma só

alma” (At.4, 32); prega, ensina e transmite esta mensagem com voz humana, como se tivesse uma só boca.

As línguas que se falam no mundo são diversas, mas a força da tradição é uma e a mesma. As Igrejas

estabelecidas na Germânia não crêem nem ensinam coisas diferentes das dos Iberos ou dos Celtas, ou das do

Oriente, do Egito ou da Líbia, nem das que foram fundadas no centro do mundo [a Terra Santa]. Assim

como o sol, criatura de Deus, é único e o mesmo em todo o mundo, assim a pregação da verdade brilha em

toda a parte, iluminando todos os homens que querem “conhecer a verdade” (1Tm.2, 4).

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lyon (c.130-c.208), Bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias, III, 1 (a partir da trad. Cerf 1984, p. 276 rev.)

«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» - v.15

O Senhor de todas as coisas deu aos seus apóstolos o poder de proclamar o Evangelho. E é através deles que

conhecemos a verdade, isto é, os ensinamentos do Filho de Deus. Foi a eles que o Senhor

disse: «Quem vos ouve é a Mim que ouve, e quem vos rejeita é a Mim que rejeita; mas quem Me rejeita,

rejeita Aquele que Me enviou.» (Lc 10, 16). Porque nós só conhecemos o plano da nossa salvação através

daqueles que nos fizeram chegar o Evangelho, não por outros.

Este Evangelho foi, primeiro, pregado pelos apóstolos. Depois, por vontade de Deus, transmitiram-no na

Escritura para que se tornasse «coluna e sustentáculo» da nossa fé (1Tm.3,15). Não devemos dizer que o

pregaram antes de terem obtido o conhecimento perfeito, como alguns se atrevem a pretender, esses que se

gabam de ser os corretores dos apóstolos. Com efeito, depois de Nosso Senhor ter ressuscitado de entre os

mortos e de os apóstolos terem sido «revestidos com a força do Alto» (Lc 24, 49) pela vinda do Espírito

Santo, ficaram cheios de certeza acerca de tudo e possuíram pois o conhecimento perfeito. Então, foram «até

aos confins do mundo» (Sl 18, 5; Rm.10,18) proclamando a Boa Nova dos bens que nos vêm de Deus e

anunciando aos homens a paz do Céu. Todos eles possuíam, de maneira igual e cada um particularmente, o

Evangelho de Deus.

Comentário feito por ;

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo

PPS, vol. 6, n° 15 «Rising with Christ»

«Eles não são deste mundo como Eu não sou deste mundo»

Começai desde já, neste tempo santo de Páscoa, a vossa ressurreição com Cristo. Vede como Ele vos estende

a mão! Ele ressuscita; ressuscitai com Ele! Saí do túmulo do velho Adão, abandonai as vossas preocupações,

as invejas, as inquietações, as ambições mundanas, a escravatura do hábito, o tumulto das paixões, os

fascínios da carne, o espírito frio, terra a terra e calculista, a ligeireza, o egoísmo, a preguiça, a vaidade e as

manias de grandeza. Esforçai-vos doravante por fazer o que vos parece difícil mas que não deveria, e não

deve, ser negligenciado: velai, rezai e meditai.

Mostrai que o vosso coração, as vossas aspirações e toda a vossa vida estão com o vosso Deus. Reservai em

cada dia algum tempo para ir ao Seu encontro. [...] Não vos peço que abandoneis o mundo nem que

abandoneis os vossos deveres nesta terra, mas sim que retomeis a posse do vosso tempo. Que não consagreis

horas inteiras ao lazer ou à vida em sociedade enquanto apenas consagrais alguns instantes a Cristo. Que não

rezeis unicamente quando estais cansados e à beira de adormecer; que não vos esqueçais por completo de

louvá-lo ou de interceder pelo mundo e pela Igreja. Comportai-vos segundo as palavras da Sagrada

Escritura: «Procurai as realidades lá de cima». Mostrai a vossa pertença a Cristo, pois o vosso coração

«ressuscitou com Ele» e «a vossa vida está oculta n'Ele» (Cl.3,1-3).

Mc.16,17 – (DDCE) – p.1344 – (dom da cura espiritual e dom de línguas)

17.Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas

-Ao lermos estas e outras passagens semelhantes, achamos que se referem a algo típico daquela época,

reportam-se a enfermidades emocionais então desconhecidas ou a sinais de salvação restritos aos três anos

da vida pública de Jesus. Ao fazermos isso, estaríamos correndo o risco de dizer que outras passagens do

Evangelho se referiam somente à época (que dizer de dar a César o que é de César) e reduzir sua mensagem,

novidade de perene frescor.

. Além disso, por todas as evidências que presenciamos na Igreja Primitiva, na tradição, na vida dos Santos e

hoje para e pelo próprio Magistério da Igreja, não podemos negar a existência dos espíritos negativos e sua

influência nefasta em nossa vida pessoal e comunitária.

.Além de influenciar o homem afastado da Graça de Deus pelo pecado, os espíritos malignos podem passar a

ser forte influência sobre ele através da freqüência dos cultos e sessões de falsas doutrinas ou adesão

intelectual às suas filosofias.

-No Brasil, em especial, não temos que ficar indiferentes aos temíveis malefícios espirituais do sincretismo

religioso, que tem encontrado porta aberta entre nosso povo carente de formação madura na fé e influenciado

por uma espiritualidade infantil.

-Não podemos ignorar, tampouco, a terrível influência que a crescente secularização e crise moral tem tido

em nosso povo, que sedento do transcendente, vai buscar na Nova Era ou falsas doutrinas , água

contaminada para saciar sua sede.

Mc.16,17-18 – pg.1344: (DDC-F.I.E.) – (dom da cura física – interior - espiritual)

– Por fim Jesus confere à Igreja, continuadora de sua missão salvífica poder e autoridade para pregar o

Evangelho e batizar os que cressem. A todos os batizados que cressem, fossem ou não apóstolos, prometeu a

salvação e a confirmação da fé através dos sinais.

“Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios, em meu nome, falarão novas

línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos

enfermos e eles ficarão curados”.

. Se Jesus disse aos seus discípulos que os sinais de sua salvação seriam esses, não há porque duvidar, não há

porque abraçá-los e tê-los sempre presentes em nossa pregação e evangelização.

. É muito interessante acompanharmos a seqüência desta despedida de Jesus aos apóstolos. Em primeiro

lugar, censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração por não acreditarem nos que anunciavam estar ele

vivo.Logo em seguida, entretanto deu-lhes um mandato que exigia absoluta fé: “Ide por todo o mundo,

pregai o Evangelho”. Em outras palavras, após censurar-lhes a incredulidade, dizia-lhes: “creiam e ousem,

eu confirmarei sua pregação com sinais de milagres, libertações e curas”.

Lc.4,14-21 – DDCI - p.1351 - dom da cura interior 14.Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região.

15.Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.

16.Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.

17.Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.):

18.O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os

contritos de coração,

19.para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da

graça do Senhor.

20.E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.

21.Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.

Comentário feito por:

Beato Guerric d'Igny (cerca de 1080 - 1157), abade cisterciense

4º sermão para a Epifania

"Reconhecer Cristo na sua humildade e descer como ele"

"Em mim se perturba minha alma", ó Deus, quando penso nos meus pecados; "então, lembro-me de ti, no

país do Jordão" (Sl 41,7) - quer dizer, recordando-me da forma como purificaste Naamã, o leproso, na sua

humilde descida até ao rio... "Ele desceu e lavou-se sete vezes no Jordão, como lhe tinha prescrito o homem

de Deus e ficou purificado (2Re.5,14). Desce também tu, ó minha alma, desce do carro do orgulho até às

águas salutares do Jordão que, desde a fonte da casa de David, corre agora pelo mundo inteiro "para lavar

todo o pecado e toda a mancha" (Za.13,1). Certamente que essa nascente é a humildade da penitência, que

corre ao mesmo tempo graças a um dom de Cristo e graças ao seu exemplo e que, pregada doravante por

toda a terra, lava os pecados do mundo inteiro... O nosso Jordão é um rio puro; será, pois, impossível aos

soberbos acusarem-te, se mergulhares totalmente nele, se te sepultares, por assim dizer, na humildade de

Cristo...

Claro que o nosso batismo é único, mas uma tal humildade é como um novo batismo. Com efeito, ela não

reitera a morte de Cristo mas leva à plenitude a mortificação e a sepultura do pecado: o que foi celebrado

sacramentalmente no batismo encontra a sua plena realização sob esta nova forma. Sim, uma tal humildade

abre os céus e dá o espírito de adoção; o Pai reconhece o seu filho, recriado na inocência e na pureza de uma

criança de novo gerada. É por isso que a Escritura menciona, e com razão, que a carne de Naamã foi

reconstruída à semelhança de um recém-nascido... Nós que perdemos a graça do nosso primeiro batismo...,

eis que descobrimos o verdadeiro Jordão, isto é, a descida da humildade... Basta-nos não recear descer cada

dia mais profundamente... com Cristo.

Comentário feito por:

Hugo de São-Victor (?-1141), cónego regular, teólogo

Tratado dos Sacramentos da fé cristã, II, 1-2; PL 176, 415 (a partir da trad. de Orval)

«Com o poder do Espírito»

A Santa Igreja é o corpo de Cristo: um só Espírito a vivifica, a unifica na fé e a santifica. Este corpo tem por

membros os crentes, de cujo conjunto se forma um só corpo, graças a um só Espírito e a uma só fé. [...]

Assim, portanto, aquilo que cada um tem como próprio não é apenas para si; porque Aquele que nos concede

tão generosamente os Seus bens e os reparte com tanta sabedoria quer que cada coisa seja de todos e todas

de cada um. Se alguém tem a felicidade de receber um dom por graça de Deus, deve então saber que ele não

lhe pertence apenas a si, mesmo que seja o único a possuí-lo.

É por analogia com o corpo humano que a Santa Igreja, quer dizer, o conjunto dos crentes, é chamada corpo

de Cristo, uma vez que recebeu o Espírito de Cristo, cuja presença num homem é indicada pelo nome

«cristão» que Cristo lhe dá. Com efeito, este nome designa os membros de Cristo, os que participam do

Espírito de Cristo, aqueles que recebem a unção d'Aquele que é ungido; porque é de Cristo que vem o nome

de Cristão, e «Cristo» quer dizer «ungido»; ungido com este óleo da alegria que, preferido entre todos os

companheiros (Sl 44, 8), recebeu em plenitude para partilhar com todos os seus amigos, como a cabeça o faz

com os membros do corpo. «É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba, a

escorrer até à orla das suas vestes» (Sl 132, 2) para se espalhar por todo o lado e tudo vivificar. Portanto,

quanto te tornas cristão, tornas-te membro de Cristo, membro do corpo de Cristo, participante do Espírito de

Cristo.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica, § 695

«O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu»

A unção. O simbolismo da unção com óleo é também significativo do Espírito Santo, a ponto de se tomar o

seu sinônimo (1Jo.2,20.27; 2Cor 1,21). Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, que

justamente nas Igrejas Orientais se chama «Crismação». Mas, para lhe apreender toda a força, temos de

voltar à primeira unção realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus. Cristo («Messias» em hebraico) significa

«ungido» pelo Espírito de Deus. Houve «ungidos» do Senhor na antiga Aliança (Ex 30, 22-32), sobretudo o

rei David (1Sm.16,13). Mas Jesus é o ungido de Deus de maneira única: a humanidade que o Filho assume é

totalmente «ungida pelo Espírito Santo». Jesus é constituído «Cristo» pelo Espírito Santo (Lc.4, 18-19;

Is.61,1). A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O anuncia como Cristo quando do

Seu nascimento (Lc 2, 11) e leva Simeão a ir ao templo ver o Cristo do Senhor (Lc.2,26-27). É Ele que

enche Cristo (Lc 4, 1) e cujo poder emana de Cristo, nos Seus atos de cura e salvamento (Lc 6, 19; 8, 46).

Finalmente, é Ele que ressuscita Jesus de entre os mortos (Rm.1,4 ; 8, 1). Então, plenamente constituído

«Cristo» na Sua humanidade vencedora da morte (At.2,36), Jesus difunde em profusão o Espírito Santo, até

que «os santos» constituam, na sua união à humanidade do Filho de Deus, o «homem adulto à medida

completa da plenitude de Cristo» (Ef 4, 13), «o Cristo total», para empregar a expressão de Santo Agostinho

(Sermão 341, 1, 1).

-“O Senhor está sobre mim, porque me ungiu(...) para sarar os contritos de coração...(Lc.4,18b). Sarar os

corações doloridos é uma das principais características de Jesus, que sempre se move de compaixão por

todos aqueles que lhe apresentam seus sofrimentos.

. A oração de cura interior é eficaz para que todo o nosso ser usufrua esta dimensão salvífica de Jesus.

. Na cura interior atinge-se o coração dolorido do ser humano, tão marcado pelo pecado, pelo medo, pelas

feridas da vida.

. Muitos têm sido os esforços da medicina e psiquiatria em querer nos mostrar que um grande número de

doenças físicas tem componentes emocionais.

. Orar pela cura interior é tirar do caminho esses componentes emocionais que são prejudiciais, afim de que

o homem seja livre pela ação do Espírito Santo para melhor servir a Deus.

. Muitos escritores e estudiosos em psicologia e psicanálise tem comparado a mente humana a um“iceberg”.

O iceberg se caracteriza por ser uma grande montanha de gelo que se localiza nos mares das regiões frias da

terra. Embora a parte externa desta montanha flutuante na pareça grande, a sua maior parte (algumas vezes

até 90% da massa total) está submersa na água.Em termos comparativos, a parte externa é a nossa mente e a

nossa mente inconsciente é a parte submersa.

. Em nossa mente inconsciente estão guardadas as lembranças humanas mais profundas. Aí são armazenados

nossos entraves emocionais medos, lembranças dolorosas, sentimentos reprimidos, etc.

. Jesus veio para curar os corações doloridos, deseja também curar lembranças de maneira particular.

- O dom de cura interior pode ser manifestado em qualquer pessoa batizada que deseje ser instrumento da

luz e da graça de Deus para aqueles que desejam expor suas feridas a Ele.

- A cura interior pode acontecer através de pedidos e súplicas por parte daqueles que oram tendo por base

que eles conheçam os problemas e feridas do irmão que será curado. E pode acontecer também através do

DDPC, para casos onde quem vai orar conheça as causas das feridas que fazem sofrer seu irmão.

Este dom de cura interior pode ser ministrados em pessoas individualmente e também em reuniões de grupo

e ainda de forma totalmente inesperada, em uma conversa fraterna, ou oração pessoal, ou ainda em uma

contingência corriqueira da vida, pois o “ Espírito Santo” sopra onde quer”.

- O fato é de que todos precisamos ser curados, e Deus pode e quer nos curar.

Em Is.53,4 encontramos o profeta nos dizendo que o Messias sofreria nossas dores e carregaria por nós os

nossos sofrimentos. Ele carregaria não apenas o pecado que cometemos individualmente, mas também as

feridas que as fraquezas e falhas de outros causam em nós. Isso é o que Jesus tomou sobre si!

Tudo isso é realizado em nós e para nós, porque Deus deseja que nós sejamos livres, para amá-lo e para

servi-lo.

Sim este é o grande objetivo da cura interior, deixar-nos livre das dores, marcas e pesos do passado e

servirmos a Deus nesta liberdade

Lc.4,(16-30)– DDCIFE – pg.1351 - dom da cura interior- física- espiritual. 16.Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.

17.Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.):

18.O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar

os contritos de coração,

19.para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar

o ano da graça do Senhor.

20.E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.

21.Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.

22.Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de

José?

23.Então lhes disse: Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em

Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria.

24.E acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.

25.Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e

houve grande fome por toda a terra;

26.mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia.

27.Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.

28.A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga.

29.Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade,

e queriam precipitá-lo dali abaixo.

30.Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.

Comentário feito por:

Faustino de Roma (2ª metade do século IV), presbítero

Tratado sobre a Trindade

"Deus consagrou a Jesus de Nazaré pelo Espírito Santo e pelo seu poder" (At.10,38)

O nosso Salvador tornou-se Cristo ou Messias pela sua encarnação e permanece verdadeiro rei e verdadeiro

sacerdote... Entre os Israelitas, os sacerdotes e os reis recebiam uma unção de óleo...; chamavam-lhes

"crismados" ou "cristos" - ao passo que o Salvador, que é verdadeiramente o Cristo, foi consagrado pela

unção do Espírito Santo...

Sabemos que isto é verdade pelo próprio Salvador. Quando recebeu o livro de Isaías, abriu-o e nele leu: "O

Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou pela unção"; depois, declarou que a profecia

acabava de se realizar para aqueles que o estavam a ouvir. Por outro lado, Pedro, o príncipe dos apóstolos,

ensinou-nos que aquele óleo santo, aquele crisma pelo qual o Senhor se manifesta como Cristo, é o Espírito

Santo, por outras palavras, o poder de Deus. Nos Atos dos Apóstolos, quando falava a esse homem cheio de

fé e de misericórdia que era o centurião, ele disse: "Isso começou na Galiléia, depois do batismo proclamado

por João. A Jesus de Nazaré, Deus consagrou-o pelo Espírito Santo e pelo seu poder. Por onde quer que

passasse, realizava milagres e maravilhas e libertava todos os que tinham caído no poder do demônio" (10,37

ss).

Vedes, pois, que Pedro também o disse: esse Jesus, na sua encarnação, recebeu a unção que o "consagrou

pelo Espírito Santo e pelo seu poder". É por isso que o mesmo Jesus, na sua encarnação, foi feito Cristo, Ele

que a unção do Espírito Santo fizera rei e sacerdote para sempre.

Comentário feito por:

Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense

A Contemplação de Deus, 12

“Havia muitas viúvas em Israel”- (v.25)

Infeliz da minha alma, que se encontra nua a desaquecida, Senhor; e que deseja ser aquecida ao calor do Teu

amor. Na imensidão do deserto do meu coração, não apanho uns raminhos, como a viúva de Sarepta, junto

apenas estas vergônteas, a fim de preparar qualquer coisa para comer, com um punhado de farinha e uma

gota de azeite, e em seguida, entrando na tenda onde habito, morrer (1Rs 17, 10ss.). Mas não morrerei tão

depressa; não, Senhor, antes viverei para propalar as Tuas obras. (Sl.117,17).

Aqui me encontro, pois, na minha solidão e abro a boca para Ti, Senhor, procurando o sopro da vida. Por

vezes, Senhor tu metes-me qualquer coisa na boca do coração; mas não me permites saber do que se trata.

Provo um sabor tão doce, tão suave, tão reconfortante, que outro não busco; quando o recebo, porém, não me

permites discernir de que se trata. Quando o recebo, tenho vontade de retê-lo e o ruminar, de saboreá-lo, mas

ele passa bem depressa. Aprendo pela experiência o que dizes do Espírito no Evangelho: “Ninguém sabe de

onde vem nem para onde vai” (Jo 3, 8). Com efeito, tudo quanto tive o cuidado de confiar à minha memória,

a fim de poder revê-lo quando quisesse, submetendo-o assim à minha vontade, tudo isso encontro morto e

insípido. Ouço as Tuas palavras: “O Espírito sopra onde quer”, e descubro em mim que Ele não sopra

quando eu quero, mas quando Ele quer. Para Ti, pois, Senhor, para Ti se voltam os meus olhos (Sl 122, 1).

Quanto tempo tardarás? Quanto tempo se demorará a minha alma junto a Ti, infeliz, ansiosa, em cuidados?

(Sl 12, 2). Esconde-me, peço-Te, no segredo do Teu rosto, longe das intrigas dos homens; protege-me na

tenda, longe da guerra das línguas (Sl 31, 21

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

Os Mistérios, 16-21

Pela fé, receber a cura e entrar na verdadeira vida

Naamã era sírio, tinha lepra e ninguém conseguia purificá-lo da doença. Foi a Israel e Eliseu ordenou-lhe

que se banhasse sete vezes no Jordão. Então Naamã pensou que os rios da sua pátria tinham águas melhores,

nas quais ele se tinha banhado muitas vezes sem ter sido purificado da lepra. [...] Mas acabou por se banhar

e, imediatamente purificado, compreendeu que a purificação não vem das águas, mas da graça. Foi por isso

que [no dia do teu batismo] te disseram: não creias apenas naquilo que vês, porque poderias dizer, também

tu, como Naamã. É esse o grande mistério que «nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou

pelo pensamento do homem» (1Co.2,9)? Vejo água, como sempre vi! Terá esta água o poder de me

purificar, quando tantas vezes me banhei nela sem ser purificado? Aprende que a água não purifica sem o

Espírito.

E foi por isso que leste que, no batismo, «três são os que testificam: o Espírito, a água e o sangue» (1Jo.5,7-

8). É que, se retirares um que seja o sacramento do batismo desaparece. Com efeito, o que é a água sem a

cruz de Cristo? É um vulgar elemento, sem qualquer alcance sacramental. E, da mesma maneira, sem água

não há mistério do novo nascimento, porque «quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no

Reino de Deus» (Jo 3, 5). O catecúmeno acredita na cruz do Senhor Jesus, cujo sinal recebeu; mas, se não

tiver sido batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não pode receber o perdão dos seus

pecados, nem acolher o dom da graça espiritual.

O sírio Naamã mergulhou sete vezes, segundo a Lei; tu, porém, foste batizado em nome da Trindade. Tu

confessaste a tua fé no Pai, confessaste a tua fé no Filho, confessaste a tua fé no Espírito Santo. Recorda a

sucessão destes fato. Nesta fé, morreste para o mundo, ressuscitaste para Deus.

Comentário feito por:

São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja

Meditações sobre a vida de Cristo; Opera omnia, t. 12, pp. 530ss. (a partir da trad. Bouchet, Lectionnaire, p.

67 rev.)

«Não é este o filho de José?» (v.22)

Parecem ter alcançado o grau mais alto esses que, com todo o coração e sem fingimento, são de tal maneira

senhores de si, que nada mais procuram do que ser desprezados, não ser tidos em conta e viver na

humildade. Enquanto não chegardes aí, pensai que nada fizestes. Com efeito, como somos todos «servos

inúteis», nas palavras do Senhor (Lc 17, 10), mesmo que façamos tudo bem, enquanto não alcançarmos este

grau de humildade não estaremos na verdade, mas estaremos e caminharemos na vaidade. Sabes também que

o Senhor Jesus começou por fazer antes de ensinar. Mais tarde, haveria de dizer: «Aprendei de Mim que sou

manso e humilde de coração» (Mt.11,29). E quis praticá-lo realmente, sem fingimento. Fê-lo de todo o

coração, como era manso e humilde de todo o coração e em verdade. Nele não havia dissimulação (cf.

2Co.1,19). Estava de tal maneira mergulhado na humildade, no desprezo e na abjeção, aniquilara-Se de tal

maneira aos olhos de todos, que quando começou a pregar e a anunciar as maravilhas de Deus, e a fazer

milagres e coisas admiráveis, ninguém Lhe dava valor, antes O desprezavam e troçavam Dele dizendo: «Não

é este o filho do carpinteiro?», e outras coisas parecidas. Assim se cumpre a palavra de São Paulo:

«Aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo» (Fl.2,7), e não apenas de servo comum, pela

encarnação, mas de um servo inútil, através da Sua vida humilde e desprezada.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja

Dos Sacramentos, 1 (trad. Brésard 2000 ans C, p. 244 rev.)

A Quaresma conduz ao batismo

Aproximaste-te, viste a pia batismal e viste também o bispo perto da pia. E sem dúvida surgiu na tua alma o

mesmo pensamento que se insinuou na de Naamã, o sírio. Pois, embora tenha sido purificado, inicialmente

ele duvidara. [...] Temo que alguém tenha dito: «É apenas isto?» Sim, realmente é apenas isto: ali encontra-

se toda a inocência, toda a piedade, toda a graça, toda a santidade. Viste o que conseguiste ver com os olhos

do corpo; aquilo que não se vê é muito maior, porque aquilo que não se vê é eterno. Que haverá de mais

surpreendente do que a travessia do Mar Vermelho pelos israelitas, para não falarmos agora apenas do

batismo? E, no entanto, todos os que o atravessaram morreram no deserto. Pelo contrário, aquele que

atravessa a pia batismal, isto é, aquele que passa dos bens terrestres para os do céu [...], não morre, mas

ressuscita.

Naamã era leproso. [...] Ao vê-lo chegar, o profeta disse-lhe: «Vai, entra no Jordão, banha-te e ficarás

curado.» Ele pôs-se a refletir em si mesmo e disse para consigo: «É apenas isto? Vim da Síria à Judéia e

disseram-me: vai até ao Jordão, banha-te e ficarás curado. Como se não houvesse rios melhores no meu

país!» Os servos diziam-lhe: «Senhor, por que não fazes o que diz o profeta? Fá-lo, experimenta.» Então ele

foi até ao Jordão, banhou-se e ficou curado.

Que significa isto? Viste a água, mas nem toda a água cura; mas a água que contém em si a graça de Cristo

cura. Há uma diferença entre o elemento e a santificação, entre o ato e a eficácia. O ato realiza-se com água,

mas a eficácia vem do Espírito Santo. A água não cura se o Espírito Santo não tiver descido e consagrado

aquela água. Leste que quando nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o rito do batismo, veio ter com João e este

disse-Lhe: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti. E Tu vens até mim?» (Mt.3,14). Cristo

desceu; João, que batizava, estava a Seu lado; e eis que, como uma pomba, o Espírito Santo desceu. [...] Por

que desceu Cristo primeiro e em seguida o Espírito Santo? Por que razão? Para que o Senhor não parecesse

ter necessidade do sacramento da santificação: é Ele que santifica; e é também o Espírito que santifica.

Comentário feito por:

Beato Guerric d'Igny (cerca de 1080 - 1157), abade cisterciense

4º sermão para a Epifania

"Reconhecer Cristo na sua humildade e descer como ele"

"Em mim se perturba minha alma", ó Deus, quando penso nos meus pecados; "então, lembro-me de ti, no

país do Jordão" (Sl 41,7) - quer dizer, recordando-me da forma como purificaste Naamã, o leproso, na sua

humilde descida até ao rio... "Ele desceu e lavou-se sete vezes no Jordão, como lhe tinha prescrito o homem

de Deus e ficou purificado (2Re.5,14). Desce também tu, ó minha alma, desce do carro do orgulho até às

águas salutares do Jordão que, desde a fonte da casa de David, corre agora pelo mundo inteiro "para lavar

todo o pecado e toda a mancha" (Za.13,1). Certamente que essa nascente é a humildade da penitência, que

corre ao mesmo tempo graças a um dom de Cristo e graças ao seu exemplo e que, pregada doravante por

toda a terra, lava os pecados do mundo inteiro... O nosso Jordão é um rio puro; será, pois, impossível aos

soberbos acusarem-te, se mergulhares totalmente nele, se te sepultares, por assim dizer, na humildade de

Cristo...

Claro que o nosso batismo é único, mas uma tal humildade é como um novo batismo. Com efeito, ela não

reitera a morte de Cristo mas leva à plenitude a mortificação e a sepultura do pecado: o que foi celebrado

sacramentalmente no batismo encontra a sua plena realização sob esta nova forma. Sim, uma tal humildade

abre os céus e dá o espírito de adoção; o Pai reconhece o seu filho, recriado na inocência e na pureza de uma

criança de novo gerada. É por isso que a Escritura menciona, e com razão, que a carne de Naamã foi

reconstruída à semelhança de um recém-nascido... Nós que perdemos a graça do nosso primeiro batismo...,

eis que descobrimos o verdadeiro Jordão, isto é, a descida da humildade... Basta-nos não recear descer cada

dia mais profundamente... com Cristo.

Lc.4,31-37)- DDCE- p.1351 – Cura de um possesso 31.Desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ali ensinava-os aos sábados.

32.Maravilharam-se da sua doutrina, porque ele ensinava com autoridade.

33.Estava na sinagoga um homem que tinha um demônio imundo, e exclamou em alta voz:

34.Deixa-nos! Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: o Santo de Deus!

35.Mas Jesus replicou severamente: Cala-te e sai deste homem. O demônio lançou-o por terra no meio de todos e saiu dele, sem

lhe fazer mal algum.

36.Todos ficaram cheios de pavor e falavam uns com os outros: Que significa isso? Manda com poder e autoridade aos espíritos

imundos, e eles saem?

37.E corria a sua fama por todos os lugares da circunvizinhança

Comentário feito por:

Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho

Carta 3, 626 e 570

"Sai desse homem!"- (v.35)

As tentações não devem atemorizar-te; através delas, Deus quer experimentar e fortalecer a tua alma e dá-te,

ao mesmo tempo, a força para as venceres. Até agora, a tua vida tem sido a de uma criança; doravante, o

Senhor quer tratar-te como adulto. Ora as provas de um adulto são bem superiores às da criança e isso

explica porque ficas tão perturbado no início. Mas a vida da tua alma depressa encontrará a sua calma: isso

não tardará. Tem ainda um pouco de paciência e tudo correrá bem.

Abandona, pois, essas vãs apreensões. Lembra-te de que não é a sugestão do Maligno que faz a falta, mas

antes o consentimento que deres a essas sugestões. Só uma vontade livre é capaz do bem e do mal. Mas,

quando a vontade geme sob o peso da prova que o Tentador inflige e não quer o que ele lhe propõe, isso não

só não é uma falta como é uma virtude.

Livra-te de cair na agitação, lutando contra as tentações, porque isso apenas lhes dará força. É preciso tratá-

las com desprezo e não te ocupares com elas. Volta o teu pensamento para Jesus crucificado, para o seu

corpo deposto nos teus braços e diz: "Eis a minha esperança, a fonte da minha alegria! Agarro-me a ti com

todo o meu ser e não te largarei antes que me tenhas posto em lugar seguro".

Lc.(4,31-37) 1 – pg.1351 – DDCE – Cura de um possesso (1).

“Que queres Tu de nós, Jesus de Nazaré?” – (v.34)

Não vos apresento um conjunto de bizarrias inauditas, mas aquilo mesmo que foi antecipadamente escrito no

Antigo Testamento pelos profetas. Não ouvistes o grito de Moisés: “Suscitar-lhes-ei um profeta como tu,

entre os seus irmãos” (Dt 18, 18)? Não ouvistes Isaías anunciar: “A virgem está grávida e dará à luz um

filho” (7, 14)? .Não ouvistes David proclamar: “Baixará como a chuva sobre a relva” (Sl 71, 6)? Acreditai,

pois, nos profetas, compreendei a realidade que eles anunciam, e encontrareis Jesus, o nazareno (Mt 2, 23).

Eis que vos mostrei o caminho: quem quiser, siga-o. Eis que acendi a chama; saí das trevas.

Jesus, o nazareno: identifico-O pelo nome e pela pátria. Não falo do Jesus que formou a abóbada dos céus,

que acendeu os raios do sol, que concebeu as constelações no céu, que acende a lâmpada da lua, que fixou o

tempo aos dias, que atribuiu o curso às noites, que estabeleceu a terra firme sobre as águas, que pôs travão ao

mar pela Sua palavra. Jesus, o nazareno: Aquele acerca de Quem Natanael proclamou as suas dúvidas: “De

Nazaré pode vir alguma coisa boa?” (Jo 1, 46). Aquele diante de Quem a tropa de demônios tremia dizendo:

“Que queres Tu, Jesus de Nazaré?” “Jesus de Nazaré”, diz o apóstolo Pedro, “homem acreditado por Deus

junto de vós, com milagres, prodígios e sinais, que Deus realizou no meio de vós, por Seu intermédio” (At.2,

22).

Comentário feito por:

Cardeal José Ratzinger (Papa Bento XVI)

Sermões de Quaresma, 1981

"Que palavra é esta?"

O instante a que a Bíblia chama "o princípio" mostra-nos Aquele que tinha o poder de criar o ser e de dizer:

"Faça-se!" e isso ser feito (Gn 1,1-3)... Essa palavra "Faça-se!" não gerou um magma caótico. Quanto mais

conhecemos o universo, mais encontramos nele uma racionalidade cujos caminhos, ao serem percorridos

pelo pensamento, nos deixam maravilhados. Através deles, descobrimos esse Espírito criador a quem

devemos igualmente a razão. Albert Einstein escreveu que, nas leis da natureza, "se manifesta uma razão tão

superior que toda a racionalidade do pensamento e da vontade humana parece ser, por comparação, um

reflexo absolutamente insignificante".

Constatamos que o infinitamente grande, o universo das estrelas, é regido pelo poder de uma Razão

[Logos]. Mas aprendemos igualmente cada vez mais acerca do infinitamente pequeno, a célula, os elementos

fundamentais do ser vivo. Também aí descobrimos uma racionalidade que nos espanta, de tal forma que

temos de dizer, com S. Boaventura: "Quem não vê isso, é cego. Quem não o ouve, é surdo. E quem não

começa a rezar e a louvar o Espírito criador, é mudo"...

Através da racionalidade da criação, o próprio Deus nos olha. A física e a biologia, todas as ciências em

geral, nos ofereceram uma nova e inaudita narrativa da criação. Essas imagens grandes e novas fazem-nos

conhecer o rosto do Criador. Recordam-nos que, no princípio, e no mais profundo de cada ser, está o

Espírito criador. O mundo não saiu das trevas e do absurdo. Brotou da inteligência, da liberdade, da beleza

que é amor. Ver tudo isto dá-nos a coragem que nos permite viver e nos torna capazes de, com confiança,

tomar sobre os nossos ombros a aventura da vida.

Comentário feito por:

São [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho

Ep 3, 626 e 570; CE 34 (a partir da trad. Une pensée, Mediaspaul 1991, p. 40)

«Sai desse homem!»

Não te assustes com as tentações; através delas, Deus quer provar e fortificar a tua alma, dando-lhe ao

mesmo tempo a força de vencê-las. Até agora, a tua vida foi a de uma criança; doravante, o Senhor quer

tratar-te como adulto. Ora as provas do adulto são bem superiores às da criança, e é isso que explica por que

razão fica inicialmente perturbada. Mas a vida da tua alma reencontrará rapidamente a calma, ela não

tardará. Tem paciência, e tudo melhorará.

Portanto, abandona estas vãs apreensões. Lembra-te de que não é a sugestão do maligno que faz a falta, mas

antes o consentimento dado a essas sugestões. Só uma vontade livre é capaz do bem e do mal. Mas, quando a

vontade geme sob a prova infligida pelo Tentador, e quando não quer o que lhe é proposto, nem falta é mas

sim virtude.

Guarda-te de cair na agitação, lutando contra as tentações, porque isso apenas as fortificará. É necessário

tratá-las com desprezo, sem te preocupares com elas. Volta o teu pensamento para Jesus crucificado, para o

Seu corpo depositado nos teus braços e diz: «Eis a minha esperança, a fonte da minha alegria! Uno-me a Ti

com todo o meu ser, e não Te soltarei antes de me pores em segurança».

Comentário feito por:

Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo

Cem Capítulos Sobre o Conhecimento, 78-80, da Filocalia (tradução a partir da de Bellefontaine 1987, t. 8,

p. 159 rev.)

«Cala-te e sai desse homem!» (v.35)

O Batismo, banho de santidade, lava as manchas do pecado, mas não altera a dualidade da nossa vontade e

não impede que os espíritos do mal nos combatam ou nos enredem nas suas ilusões. [...] Mas a graça de

Deus tem a sua morada na profundidade da alma, ou seja, no entendimento. Com efeito, diz-se que a filha do

rei e as donzelas suas amigas «avançam com alegria e júbilo e entram com alegria no palácio real» (Sl 44,

16): entram para o interior, não se mostram aos demônios. Por isso, quando nos recordamos de Deus com

fervor, sentimos brotar o desejo do divino do fundo do nosso coração. Mas, nessa altura, os espíritos

malignos atacam os sentidos corporais e aí se ocultam, aproveitando o relaxamento da carne. Desta forma, o

nosso interior, como diz o divino apóstolo Paulo, rejubila continuamente na lei do Espírito (Rm.7,22), mas

os sentidos desejam deixar-se levar pela propensão para os prazeres].

«A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam» (Jo 1, 5) [...]: o Verbo de Deus, verdadeira Luz,

no Seu incomensurável amor pelo Homem, considerou oportuno manifestar-Se à Criação em carne e osso,

acendendo em nós a luz do Seu conhecimento divino. O espírito do mundo não acolheu o desígnio de Deus,

isto é, não O reconheceu. [...] No entanto, como maravilhoso teólogo, o evangelista João acrescenta: «O

Verbo era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo e por Ele o

mundo veio à existência, mas o mundo não O reconheceu. Veio para o que era Seu e os Seus não O

receberam. Mas, a quantos O receberam, aos que Nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de

Deus» (vv. 9-12). [...] Quando diz que o mundo não recebeu a verdadeira Luz, o evangelista não se refere a

Satanás, que lhe é estranho, visto que A rejeitou desde o início. Com esta afirmação, São João acusa

justamente os homens que compreendem os poderes e as maravilhas de Deus mas, devido aos corações

obscurecidos

Lc.(4,38-44) –DDCFE- p.1352 - Cura da sogra de Pedro e outros milagres.

38.Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta; e pediram-lhe por ela.

39.Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a. Ela levantou-se imediatamente e pôs-se a servi-los.

40.Depois do pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias lhos traziam. Impondo-lhes a mão, os sarava.

41.De muitos saíam os demônios, aos gritos, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Mas ele repreendia-os severamente, não lhes

permitindo falar, porque sabiam que ele era o Cristo.

42.Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado. As multidões o procuravam e foram até onde ele estava e queriam

detê-lo, para que não as deixasse.

43.Mas ele disse-lhes: É necessário que eu anuncie a boa nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha

missão.

44.E andava pregando nas sinagogas da Galiléia.

Comentário feito por:

São Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Homilias sobre o Evangelho de Marcos, nº 2

Cristo médico

“A sogra de Pedro estava de cama, com febre”. Que Cristo venha a nossa casa, entre e cure com uma simples

palavra a febre dos nossos pecados. Todos nós temos febre. Sempre que nos irritamos, ficamos com febre;

todos os nossos defeitos são outros tantos ataques de febre. Peçamos aos apóstolos que peçam a Jesus que Se

aproxime de nós e nos dê a mão; porque, quando Ele nos tocar na mão, a febre desaparecerá.

O médico dos médicos é um médico eminente e sério. Moisés é médico, Isaías e todos os santos são

médicos; mas Jesus é o médico dos médicos. Ele sabe muito bem tomar o pulso e sondar os segredos das

doenças. Ele não toca na testa, nem na orelha, nem em nenhuma outra parte do corpo, mas toma a mão.

Quando a nossa mão revela sintomas de más ações, não podemos levantar-nos, não conseguimos andar,

porque estamos realmente doentes. Mas este médico misericordioso aproxima-Se do nosso leito; Aquele que

pôs aos ombros a ovelha doente avança agora para junto do nosso leito.

“A sogra de Pedro estava de cama, com febre”. Que Cristo venha a nossa casa, entre e cure com uma simples

palavra a febre dos nossos pecados. Todos nós temos febre. Sempre que nos irritamos, ficamos com febre;

todos os nossos defeitos são outros tantos ataques de febre. Peçamos aos apóstolos que peçam a Jesus que Se

aproxime de nós e nos dê a mão; porque, quando Ele nos tocar na mão, a febre desaparecerá.

O médico dos médicos é um médico eminente e sério. Moisés é médico, Isaías e todos os santos são

médicos; mas Jesus é o médico dos médicos. Ele sabe muito bem tomar o pulso e sondar os segredos das

doenças. Ele não toca na testa, nem na orelha, nem em nenhuma outra parte do corpo, mas toma a mão.

Quando a nossa mão revela sintomas de más ações, não podemos levantar-nos, não conseguimos andar,

porque estamos realmente doentes. Mas este médico misericordioso aproxima-Se do nosso leito; Aquele que

pôs aos ombros a ovelha doente avança agora para junto do nosso leito.

Comentário feito por:

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja

O Caminho da Perfeição, cap. 26/28

"Saiu e retirou-se para um local deserto"

Como não recordar um Mestre como este, que nos ensinou a oração, que a ensinou com tanto amor e com

um tão vivo desejo de que ela nos seja proveitosa?... Sabeis que Ele nos ensina a rezarmos no isolamento. É

assim que Nosso Senhor fazia sempre, quando rezava, não que isso lhe fosse necessário, mas porque queria

dar-nos o exemplo. Já dissemos que não seríamos capazes de falar ao mesmo tempo a Deus e ao mundo. Ora

não fazem outra coisa os que recitam as suas orações e, ao mesmo tempo, escutam o que se diz à volta deles,

ou se demoram nos pensamentos que lhes ocorrem sem se preocuparem em afastá-los.

Não falo daquelas indisposições que aparecem por vezes e, ainda menos, da melancolia ou da fraqueza de

espírito que afligem certas pessoas e as impedem de se recolher, apesar dos seus esforços. O mesmo

acontece com aquelas tempestades interiores que às vezes podem perturbar os fiéis servos de Deus, mas que

Este permite para seu maior bem. Na sua aflição, procuram em vão a calma. Façam o que fizerem, não

conseguem estar atentos às orações que pronunciam. O seu espírito, longe de se fixar em nada, parte de tal

maneira à aventura que eles parecem ter sido atingidos por uma espécie de frenesi. Pelo sofrimento que isso

lhes provoca, verão bem que a culpa não é deles; não se atormentem, pois, por isso... Uma vez que a sua

alma está doente, que se apliquem a conceder-lhe algum repouso e se ocupem em qualquer outra obra de

virtude. É isso que devem fazer as pessoas que se vigiam a si mesmas e que compreendem que não se

poderia falar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo.

O que depende de nós é que tentemos estar no isolamento para rezar. Queira Deus que isso baste, repito,

para compreendermos em presença de quem estamos e que resposta dá o Senhor aos nossos pedidos! Pensais

que Ele se cala, de tal forma que não o ouçamos? Certamente que não. Ele fala-nos ao coração quando é o

coração que lhe reza.

Comentário feito por:

Santo Eucher (? - c. 450), Bispo de Lião

O Elogio do Deserto (a partir da trad. da Irmã Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 2, p. 109)

«Saiu e retirou-Se para um lugar solitário»

Não poderemos nós com razão adiantar que o deserto é o templo sem limites do nosso Deus? Aquele que

mora no silêncio deve certamente gostar de locais retirados. Foi aí que muitas vezes Se manifestou aos Seus

santos; foi graças à solidão que Ele Se dignou vir ter com os homens.

Foi no deserto que Moisés, com a face banhada de luz, viu a Deus. Lá lhe foi permitido conversar

familiarmente com o Senhor. Palavra puxa palavra, dialogou com o Senhor do universo como um homem

costuma falar com o seu semelhante. Foi lá que recebeu a vara de prodigiosos poderes. Entrou no deserto

como pastor de ovelhas; saiu dele como pastor de povos (Ex.3; 33, 11; 34).

Também o povo de Deus, quando foi resgatado do Egito e libertado dos trabalhos forçados, foi conduzido a

locais retirados, refugiando-se no isolamento. Sim, foi no deserto que se aproximou deste Deus que o

arrancou à servidão. E o Senhor fez-Se chefe do Seu povo, ao guiar os seus passos através do deserto. Pelo

caminho, dia e noite, manifestava-Se numa coluna, numa chama ardente, numa nuvem relampejante, em

sinais vindos do céu. Os filhos de Israel puderam assim ver o trono de Deus e ouvir a Sua voz durante o

tempo em que viveram na solidão do deserto. Será necessário acrescentar que só chegaram à terra dos seus

sonhos após a permanência no deserto? Para que o povo entrasse um dia na posse da terra onde corria leite e

mel, foi necessário primeiro passar por locais áridos e não cultivados. É sempre através dos acampamentos

no deserto que nos encaminhamos para a verdadeira pátria. Quem quer «vir a contemplar a bondade do

Senhor, na terra dos vivos» [Sl 27 (26), 13] vá habitar uma região inabitável.

Lc.(5,12-16) –DDCF - pg.1352 – Cura de um leproso. 12Estando ele numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Vendo Jesus, lançou-se com o rosto por terra e lhe suplicou:

Senhor, se queres, podes limpar-me.

13.Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero; sê purificado! No mesmo instante desapareceu dele a lepra.

14.Ordenou-lhe Jesus que o não contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: Vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua

purificação o que Moisés prescreveu, para lhes servir de testemunho.

15.Entretanto, espalhava-se mais e mais a sua fama e concorriam grandes multidões para o ouvir e ser curadas das suas

enfermidades.

16. Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar.

Comentário feito por

Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja

Hinos sobre o Paraíso, IV, 3-5

“Quero, fica limpo”- (v.13)

No povo hebraico, Deus deu-nos a imagem:

Quem fosse atingido pela lepra, estando no acampamento,

Seria expulso e banido para fora dele.

Mas se, curado da lepra, tivesse encontrado a graça,

Então, com o hissope, purificado pelo sacerdote com o sangue e a água,

Voltava para sua casa, recuperando a sua herança.

Adão era totalmente puro no Jardim esplêndido,

Mas foi-lhe transmitida a terrível doença pelo hálito da serpente.

O Jardim puro o rejeitou, o expulsou de seu seio,

Mas o Sumo Sacerdote (Hb.9,11), vendo lá do alto

Que ele fora expulso, dignou-Se descer até junto dele,

Purificou-o com o Seu hissope (cf. Jo 19,29)

e reabriu-lhe as portas do Paraíso.

Nu, Adão era belo; mas sua diligente esposa

Esforçou-se por lhe tecer um manto de máculas.

Ao avistá-lo, o Jardim achou-o hediondo e expulsou-o.

Para ele, porém, fez Maria uma nova túnica.

Envergando essa veste, e segundo a promessa, o Ladrão resplandeceu;

E o Jardim, revendo Adão na sua imagem, foi abraçá-lo.

Comentário feito por:

Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano do século XIII, Doutor da Igreja

Sermões para o domingo e as festas dos santos (trad. Bayart, Ed. franciscanas 1944, p. 71)

«Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado»». – (v.13)

Oh, como admiro esta mão! Esta mão do meu amado, de ouro engastado de rubis (Ct.5,14). Esta mão cujo

contacto solta a língua do mudo, ressuscita a filha de Jairo (Mc.7,33; 5,41) e purifica o leproso. Esta mão da

qual o profeta Isaías nos diz: «Todas estas coisas fez a Minha mão» (66, 2).

Estender a mão é dar um presente. Oh Senhor, estende a Tua mão – essa mão que o carrasco estenderá sobre

a cruz. Toca o leproso e concede-lhe essa graça. Tudo aquilo em que a Tua mão tocar será purificado e

curado. «E tocando na orelha do servo», diz São Lucas, «curou-o» (22, 51). Estende a mão para conceder ao

leproso o dom da saúde. Ele diz: «Quero, fica purificado» e imediatamente a lepra se cura; «faz tudo o que

Lhe apraz» (Sl.113b, 3). Nele nada separa o querer do realizar.

Ora, esta cura instantânea opera-a Deus cada dia na alma do pecador pelo ministério do sacerdote. Este tem

um triplo ofício: estender a mão, quer dizer, rezar pelo pecador e ter piedade dele; tocar-lhe, consolá-lo,

prometer-lhe o perdão; querer esse perdão e dar-lho através da absolvição. Tal é o triplo ministério pastoral

que o Senhor confiou a Pedro, quando lhe disse por três vezes: «Apascenta as Minhas ovelhas» (Jo 21, 15-

17).

Lc.(5,17-26) –DDCIF- p.1352.3– Cura de um paralítico 17.Um dia estava ele ensinando. Ao seu derredor estavam sentados fariseus e doutores da lei, vindos de todas as localidades da

Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor fazia-o realizar várias curas.

18.Apareceram algumas pessoas trazendo num leito um homem paralítico; e procuravam introduzi-lo na casa e pô-lo diante dele.

19.Mas não achando por onde o introduzir, por causa da multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o arriaram com o leito

ao meio da assembléia, diante de Jesus.

20.Vendo a fé que tinham, disse Jesus: Meu amigo, os teus pecados te são perdoados.

21.Então os escribas e os fariseus começaram a pensar e a dizer consigo mesmos: Quem é este homem que profere blasfêmias?

Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?

22. Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, replicou-lhes: Que pensais nos vossos corações?

23.Que é mais fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer: Levanta-te e anda?

24.Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados (disse ele ao paralítico), eu te

ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.

25.No mesmo instante, levantou-se ele à vista deles, tomou o leito e partiu para casa, glorificando a Deus.

26.Todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificavam a Deus; e tomados de temor, diziam: Hoje vimos coisas

maravilhosas.

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lião (c.130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias III, 2, 2

«Hoje vimos coisas extraordinárias» - (v.26)

O Verbo de Deus veio habitar no homem; fez-se «Filho do Homem» para habituar o homem a receber Deus

e para habituar Deus a habitar no homem, como foi vontade do Pai. Eis por que o sinal da nossa salvação,

Emanuel nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is 7,14). É de fato o próprio Senhor que salva os

homens, pois estes não podem salvar-se a si próprios. Disse o profeta Isaías: «Revigorai, ó mãos abatidas, ó

vacilantes joelhos! Dai ânimo à vossa coragem, corações pusilânimes! Tomai ânimo, não temais! Eis o nosso

Deus, que vem para nos vingar; Ele vem em pessoa, e vem para nos salvar» (35,3-4). Porque é pela

intervenção de Deus, e não pela do homem, que recebemos a salvação.

Eis outro texto onde Isaías prediz que Quem nos salvará não é homem nem ser incorpóreo: «Não será um

mensageiro, não será um anjo, será o próprio Senhor a salvar o seu povo. Porque o ama, perdoar-lhe-á; Ele

próprio o libertará» (63,9). Mas tal Salvador é homem também, verdadeiramente, e portanto visível: «Eis,

Cidade de Sião, que os teus olhos verão o nosso Salvador» (33,20).Disse um outro profeta: «Ele próprio virá,

far-nos-á misericórdia, e lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mi 7,19). De Belém, aldeia da Judéia

(Mi 5,1), é que deverá sair o filho de Deus, que é Deus também, para difundir o seu louvor por toda a terra

[…]. Portanto Deus fez-se homem; e o próprio Senhor nos salvou, ao dar-nos o sinal da Virgem.

Comentário feito por:

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Sermão 50; PL 52, 339 (a partir da trad. Matthieu commenté, DDB 1985, p. 72)

«Que estais a pensar em vossos corações?» -(v.22)

Graças à fé de outrem, a alma do paralítico foi curada antes do seu corpo. «Vendo a fé daqueles homens» diz

o Evangelho. Observai irmãos que Deus não Se incomoda com o que querem os homens insensatos, que não

espera encontrar fé nos ignorantes, nos ímpios. Em contrapartida, não Se recusa a vir em auxílio da fé de

outrem. Esta fé é uma graça concedida e acontece por vontade de Deus. [...] Na Sua divina bondade, este

médico que é Cristo tenta chamar à salvação aqueles que, contra a sua própria vontade, sofrem as doenças da

alma, aqueles a quem o peso dos pecados e das faltas esmaga até ao delírio. Mas que não desejam ser salvos.

Ó meus irmãos, se quiséssemos, se todos quiséssemos ver até ao fundo a paralisia da nossa alma!

Observaríamos que, privada das suas forças, ela jaz numa cama de pecados. A ação de Cristo em nós seria

fonte de luz. Compreenderíamos que Ele observa em cada dia a nossa falta de fé tão prejudicial, nos arrasta

para uma cura benigna e esmaga de imediato a nossa vontade rebelde. «Meu filho, diz Ele, os teus pecados

estão perdoados.»

Comentário feito por:

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Sermão 50; PL 52, 339 (a partir da trad. Matthieu commenté, DDB 1985, p. 72)

«Que pensais em vossos corações?» -(v.22)

Graças à fé de outrem, a alma do paralítico foi curada antes do seu corpo. «Vendo a fé daqueles homens» diz

o Evangelho. Observai irmãos, que Deus não Se incomoda com o que querem os homens insensatos, que não

espera encontrar fé nos ignorantes [...], nos ímpios. Em contrapartida, não Se recusa a vir em auxílio da fé de

outrem. Esta fé é uma graça concedida e acontece por vontade de Deus. [...] Na Sua divina bondade, este

médico que é Cristo tenta chamar à salvação aqueles que, contra a sua própria vontade, sofrem as doenças da

alma, aqueles a quem o peso dos pecados e das faltas esmaga até ao delírio. Mas que não desejam ser salvos.

Ó meus irmãos, se quiséssemos, se todos quiséssemos ver até ao fundo a paralisia da nossa alma!

Observaríamos que, privada das suas forças, ela jaz numa cama de pecados. A ação de Cristo em nós seria

fonte de luz. Compreenderíamos que Ele observa em cada dia a nossa falta de fé tão prejudicial, nos arrasta

para uma cura benigna e esmaga de imediato a nossa vontade rebelde. «Meu filho, diz Ele, os teus pecados

estão perdoados.»

(Lc.6,6-11)- DDCF- p.1353.4 - Cura de um homem de mão seca. 6.Em outro dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e ensinava. Achava-se ali um homem que tinha a mão direita seca. 7.Ora, os escribas e os fariseus observavam Jesus para ver se ele curaria no dia de sábado. Eles teriam então pretexto para

acusá-lo.

8. Mas Jesus conhecia os pensamentos deles e disse ao homem que tinha a mão seca: Levanta-te e põe-te em pé, aqui no meio. Ele

se levantou e ficou em pé.

9.Disse-lhes Jesus: Pergunto-vos se no sábado é permitido fazer o bem ou o mal; salvar a vida, ou deixá-la perecer. 10.E relanceando os olhos sobre todos, disse ao homem: Estende tua mão. Ele a estendeu, e foi-lhe restabelecida a mão.

11.Mas eles encheram-se de furor e indagavam uns aos outros o que fariam a Jesus.

Comentário feito por:

São César de Arles (470-543), monge e bispo

Sermões ao povo nº 57, 4

«Os escribas e os fariseus espiavam-no, a fim de encontrarem motivo para O acusar»- (v.7)

O Senhor dirá àqueles que desprezaram a Sua misericórdia: “Homem, fui Eu que, com as Minhas mãos, te

formei do pó da terra, fui Eu que insuflei o espírito no teu corpo de terra, fui Eu que Me dignei atribuir-te a

Nossa imagem e a Nossa semelhança, fui Eu que te coloquei no meio das delícias do paraíso. Mas tu,

desprezando os mandamentos da vida, preferiste seguir o sedutor a seguir o Senhor.

“Conseqüentemente, quando foste expulso do paraíso e ficaste preso nas cadeias da morte pelo pecado,

enternecido de misericórdia, Eu entrei num seio virginal para vir ao mundo, sem prejuízo para essa

virgindade. Fui estendido numa manjedoura, envolvido em panos; suportei os dissabores da infância e os

sofrimentos humanos, pelos quais Me fiz semelhante a ti, com o único objetivo de te tornar semelhante a

Mim. Suportei as bofetadas e os escarros daqueles que se riam de Mim, bebi vinagre com fel. Flagelado com

varas, coroado de espinhos, pregado à cruz, trespassado pela lança, entreguei a alma aos tormentos para te

arrancar à morte. Vê a marca dos cravos com que fui pregado; vê o Meu lado trespassado de feridas.

Suportei estes sofrimentos para te dar a Minha glória; suportei a tua morte para tu vivesses para toda a

eternidade. Repousei, encerrado no sepulcro, para que tu reinasses no céu.

“Por que perdeste aquilo que sofri por ti? Por que renunciaste às graças da tua redenção? Dá-Me a tua vida,

pela qual dei a Minha; dá-Me a tua vida, que destróis sem cessar pelos ferimentos dos teus pecados.”

Comentário feito por:

Aelred de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense

O Espelho da Caridade, III, 3-6

Entrar na verdadeira paz do sábado – (v.9)

Quando, afastando-se do ruído exterior, o homem se recolhe no segredo do seu coração e fecha a porta à

multidão barulhenta das vaidades, quando nada mais tem em si que seja agitado e desordenado, nada que o

importune, nada que o atormente, dá-se a feliz celebração de um primeiro sábado. Mas também pode

abandonar este refúgio intimo, este albergue do coração, para entrar no alegre e aprazível repouso da doçura

do amor fraterno. Dá-se então um segundo sábado, o sábado da caridade fraterna.

Uma vez purificada nestas duas formas de amor (de si mesmo e do próximo), a alma aspira com tanto mais

ardor às alegrias do amplexo divino quanto mais segura se sente. Ardendo com um desejo extremo, passa

para o outro lado do véu da carne e, entrando no santuário (Hb.10, 20), onde Cristo Jesus é espírito diante da

sua face, é totalmente absorvida por uma luz indizível e por uma invulgar doçura. Tendo feito silêncio

relativamente a tudo quanto é corpóreo, sensível, mutável, fixa com um olhar penetrante Aquele que é,

Aquele que é sempre o que é, idêntico a Si mesmo, Aquele que é uno. Livre e capaz de ver que o próprio

Senhor é Deus (Sl.45, 11), celebra sem qualquer hesitação o sábado dos sábados, no doce amplexo da

própria Caridade.

Quando, afastando-se do ruído exterior, o homem se recolhe no segredo do seu coração e fecha a porta à

multidão barulhenta das vaidades, quando nada mais tem em si que seja agitado e desordenado, nada que o

importune, nada que o atormente, dá-se a feliz celebração de um primeiro sábado. Mas também pode

abandonar este refúgio intimo, este albergue do coração, para entrar no alegre e aprazível repouso da doçura

do amor fraterno. Dá-se então um segundo sábado, o sábado da caridade fraterna.

Uma vez purificada nestas duas formas de amor (de si mesmo e do próximo), a alma aspira com tanto mais

ardor às alegrias do amplexo divino quanto mais segura se sente. Ardendo com um desejo extremo, passa

para o outro lado do véu da carne e, entrando no santuário (Hb.10, 20), onde Cristo Jesus é espírito diante da

sua face, é totalmente absorvida por uma luz indizível e por uma invulgar doçura. Tendo feito silêncio

relativamente a tudo quanto é corpóreo, sensível, mutável, fixa com um olhar penetrante Aquele que é,

Aquele que é sempre o que é, idêntico a Si mesmo, Aquele que é uno. Livre e capaz de ver que o próprio

Senhor é Deus (Sal 45, 11), celebra sem qualquer hesitação o sábado dos sábados, no doce amplexo da

própria Caridade.

Comentário feito por :

Catecismo da Igreja Católica, §§ 2174-2175

O Dia do Senhor: O dia da ressurreição, da nova criação

Jesus ressuscitou de entre os mortos «no primeiro dia da semana» (Mc 16, 2). Enquanto «primeiro dia», o

dia da ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto «oitavo dia», a seguir ao sábado, significa

a nova criação, inaugurada com a ressurreição de Cristo. Este dia tornou-se para os cristãos o primeiro de

todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor (dies dominica), o «Domingo». O domingo

distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente em cada semana, e cuja prescrição

ritual substitui para os cristãos. O domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do

sábado judaico e anuncia o descanso eterno do homem, em Deus.

(Lc.6,12-19) -DDCE- p.1354 – Escolha dos doze Apóstolos. Curas numerosas. 12.Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.

13.Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:

14.Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,

15.Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;

16.Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor.

17.Descendo com eles, parou numa planície.Aí e achava uma grande multidão de pessoas vindas da Judéia, de Jerusalém, da

região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades.

18.E os que eram atormentados dos espíritos imundos ficavam livres.

19.Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja

Carta a Proba sobre a oração, 9-10

“Passou a noite em oração a Deus” – (v.12)

Diz o apóstolo Paulo: “Apresentai os vossos pedidos diante de Deus” (Fl.4,6); o que não significa que os

damos a conhecer a Deus, que os conhecia ainda antes de eles existirem; mas que é pela paciência e pela

perseverança diante de Deus, e não pela conversa diante dos homens, que saberemos se as nossas orações

são válidas. Não é, pois, nem proibido, nem inútil rezar durante muito tempo, quanto tal é possível, isto é,

quando tal não impede a realização de outras ocupações, boas e necessárias; aliás, ao realizar estas

ocupações, devemos continuar a rezar por desejo, como já expliquei.

Porque não é por rezarmos durante muito tempo que estamos a fazer, como pensam alguns, uma oração de

repetição (Mt.6,7). Uma coisa é falar abundantemente, outra coisa é amar longamente. Porque está escrito

que o próprio Senhor “passou a noite em oração” e que “pôs-Se a orar mais instantemente” (Lc 22, 44). Não

terá querido dar-nos o exemplo, ao rezar por nós no tempo, Ele que, na eternidade, acolhe favoravelmente as

nossas orações juntamente com o Pai?

Dizem que os monges do Egito fazem orações freqüentes, mas muito curtas, lançadas como setas, para evitar

que, prolongando-se excessivamente, a atenção vigilante necessária a quem reza se disperse e se dissipe. A

oração não deve comportar muitas palavras, mas muita súplica; desse modo, poderá prolongar-se numa

atenção fervorosa. Rezar muito é bater durante muito tempo e com todo o coração à porta daquele a quem

rezamos (Lc 11, 5ss.). Com efeito, a oração consiste mais em gemidos e lágrimas do que em discursos e

palavras.

Comentário feito por:

Papa Bento XVI

Audiência geral de 3/5/2006 (trad. DC 2359, p. 514 © copyright Libreria Editrice Vaticana)

"Convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos" –v.13

A Tradição Apostólica não é uma coleção de objetos, de palavras como uma caixa que contém coisas

mortas; a Tradição é o rio da vida nova que vem das origens, de Cristo até nós, e envolve-nos na história de

Deus com a humanidade. Este tema da Tradição é de grande importância para a vida da Igreja.

O Concílio Vaticano II realçou, a este propósito, que a Tradição é apostólica antes de tudo nas suas origens:

"Dispôs Deus, em toda a sua benignidade, que tudo quanto revelara para a salvação de todos os povos

permanecesse íntegro para sempre e fosse transmitido a todas as gerações. Por isso, Cristo Senhor, em quem

se consuma toda a revelação de Deus Sumo (cf. 2 Co.1,30; 3, 16; 4, 6), mandou aos Apóstolos que

pregassem a todos os homens o Evangelho... como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de

costumes, comunicando-lhes os dons divinos" (Const. dogma Dei Verbum, 7).

O Concílio prossegue, anotando como tal empenho foi fielmente seguido "pelos Apóstolos que, pela sua

pregação oral, exemplos e instituições, comunicaram aquilo que tinham recebido pela palavra, convivência e

obras de Cristo, ou aprendido por inspiração do Espírito Santo" (ibid.). Com os Apóstolos, acrescenta o

Concílio, colaboraram também "varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo,

escreveram a Mensagem da salvação" (ibid.).

Como chefes do Israel escatológico, também eles doze como doze eram as tribos do povo eleito, os

Apóstolos continuam a "recolha" iniciada pelo Senhor, e fazem-no antes de tudo transmitindo fielmente o

dom recebido, a boa nova do Reino que veio até aos homens em Jesus Cristo. O seu número expressa não só

a continuidade com a santa raiz, o Israel das doze tribos, mas também o destino universal do seu ministério,

que leva a salvação até aos extremos confins da terra. Pode-se captar isto do valor simbólico que têm os

números no mundo semítico: doze resulta da multiplicação de três, número perfeito, e quatro, número que

remete para os quatro pontos cardeais, e portanto para todo o mundo.

Comentário feito por:

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Something Beautiful for God

«Passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles»

Creio que as nossas irmãs receberam aquela comunicação da alegria que se percebe em muitos religiosos

que sem reservas se deram a Deus. A nossa obra é apenas a expressão do amor que temos a Deus. Este amor

precisa de alguém que o receba, e é assim que as pessoas que encontramos nos dão o meio de o

exprimirmos.

Precisamos encontrar Deus, e não é na agitação nem no barulho que poderemos encontrá-Lo. Deus é o

amigo do silêncio. Em que tamanho silêncio não crescem as árvores, as flores e a erva! Em que tamanho

silêncio não se movem as estrelas, a lua e o sol! Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos casebres? Não

um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebermos na oração silenciosa, mais podemos

dar na nossa vida ativa. Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar as almas. O essencial não é o

que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs

se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.

Os nossos progressos na santidade dependem de Deus e de nós próprios, da graças de Deus e da própria

vontade que temos de ser santos. Temos de assumir o compromisso vital de atingir a santidade. «Quero ser

santo» significa: quero desligar-me de tudo o que não é Deus, quero despojar o coração de todas as coisas

criadas, quero viver na pobreza e no despojamento, quero renunciar à minha vontade, às minhas inclinações,

caprichos e gostos, e tornar-me o dócil servo da vontade de Deus

Comentário feito por:

Concílio Vaticano II

Constituição Dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», §§ 24-25

«Uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, que acorrera

para ouvi-lo» (v.17)

Os Bispos, como sucessores dos Apóstolos, recebem do Senhor, a Quem foi dado todo o poder no céu e na

terra, a missão de ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda a criatura, para que todos os

homens se salvem pela fé, pelo batismo e pelo cumprimento dos mandamentos (cf. Mc.28, 18; Mc.16, 15-

16; At.26, 17ss.). Para realizar esta missão, Cristo Nosso Senhor prometeu o Espírito Santo aos apóstolos, e

enviou-O do céu no dia de Pentecostes, para, com o Seu poder, serem testemunhas perante as nações, os

povos e os reis, até aos confins da terra (cf. At.1,8; 2, 1ss.; 9, 15). Este encargo que o Senhor confiou aos

pastores do Seu povo é um verdadeiro serviço, significativamente chamado «diaconato», ou ministério (cf.

At.1,17 e 25; 21, 19; Rm.11,13; 1Tim 1, 12).

Entre os principais encargos dos Bispos, ocupa lugar preeminente a pregação do Evangelho. Os Bispos são

os arautos da fé, que para Deus conduzem novos discípulos. Dotados da autoridade de Cristo, são doutores

autênticos, que pregam ao povo a eles confiado a fé que se deve crer e aplicar na vida prática; ilustrando-a

sob a luz do Espírito Santo e tirando do tesouro da Revelação coisas novas e antigas (cf. Mt 13, 52), fazem-

no frutificar e solicitamente afastam os erros que ameaçam o seu rebanho (1Tm.4, 1-4). Ensinando em

comunhão com o Romano Pontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e

católica. E os fiéis devem conformar-se ao parecer que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria

de fé ou costumes, aderindo a ele com religioso acatamento.

Comentário feito por:

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Não há maior amor (a partir da trad. Il n'y a pas de plus grand amour, Lattès 1997, p. 24)

«Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus»

Os contemplativos e os ascetas de todos os tempos e de todas as religiões sempre procuraram a Deus no

silêncio, na solidão dos desertos, das florestas, das montanhas. O próprio Jesus viveu quarenta dias em

absoluta solidão, passando longas horas num coração a coração com o Pai, no silêncio da noite.

Nós próprios somos chamados a retirar-nos a espaços para um silêncio mais profundo, para um isolamento

com Deus; a estarmos a sós com Ele, não com os nossos livros, os nossos pensamentos, as nossas

recordações, mas num despojamento perfeito; a permanecer na Sua presença – silenciosos, vazios, imóveis,

expectantes.

Não podemos encontrar a Deus no barulho, na agitação. Veja-se na natureza: as árvores, as flores e a erva

dos campos crescem em silêncio; as estrelas, a lua, o sol movem-se em silêncio. O essencial não é o que

possamos dizer mas o que Deus nos diz e o que Ele diz a outros através de nós. Ele escuta-nos no silêncio;

no silêncio fala às nossas almas. No silêncio é-nos dado o privilégio de escutar a Sua voz:

Silêncio dos nossos olhos.

Silêncio dos nossos ouvidos.

Silêncio das nossas bocas.

Silêncio dos nossos espíritos.

No silêncio do coração,

Deus falará.

Comentário feito por :

Papa Bento XVI

Audiência geral de 11/10/2006 (trad. DC 2368, p. 1003 © copyright Libreria Editrice Vaticana)

A unidade dos Doze, unidade da Igreja

Hoje tomamos em consideração dois dos doze Apóstolos: Simão o Cananeu e Judas Tadeu (que não se deve

confundir com Judas Iscariotes). Consideramo-los juntos, não só porque nas listas dos Doze são sempre

mencionados um ao lado do outro (cf. Mt.10, 4; Mc.3, 18; Lc.6, 15; At.1, 13), mas também porque as

notícias que a eles se referem não são muitas, excepto o facto de o cânone neotestamentário conservar uma

carta atribuída a Judas Tadeu.

Simão recebe um epíteto que varia nas quatro listas: Mateus qualifica-o como «cananeu», Lucas define-o

como «zelote». Na realidade, as duas qualificações equivalem-se, porque significam a mesma coisa; de fato,

na língua hebraica, o verbo qanà' significa «ser zeloso», «ser dedicado». Portanto, é possível que este Simão,

se não pertencia exatamente ao movimento nacionalista dos Zelotes, tivesse pelo menos como característica

um fervoroso zelo pela identidade judaica, por conseguinte, por Deus, pelo seu povo e pela Lei divina.

Sendo assim, Simão coloca-se nos antípodas de Mateus que, ao contrário, sendo publicano, provinha de uma

atividade considerada totalmente impura.

Sinal evidente de que Jesus chama os Seus discípulos e colaboradores das camadas sociais e religiosas mais

diversas, sem exclusão alguma. Ele interessa-Se pelas pessoas, não pelas categorias ou pelas atividades

sociais! E o mais belo é que no grupo dos Seus seguidores, todos, mesmo que diversos, coexistiam,

superando as imagináveis dificuldades; de fato, o motivo de coesão era o próprio Jesus, no qual todos se

reencontravam unidos. Isto constitui claramente uma lição para nós, com freqüência propensos a realçar as

diferenças e talvez as contraposições, esquecendo que em Jesus Cristo nos é dada a força para superarmos os

nossos conflitos. Tenhamos também presente que o grupo dos Doze é a prefiguração da Igreja, na qual

devem ter espaço todos os carismas, povos e raças, todas as qualidades humanas, que encontram a sua

composição e a sua unidade na comunhão com Jesus.

(Lc.7,1-10)- DDCF- p.1353 - O servo do centurião. 1.Tendo Jesus concluído todos os seus discursos ao povo que o escutava, entrou em Cafarnaum.

2.Havia lá um centurião que tinha um servo a quem muito estimava e que estava à morte.

3.Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, rogando-lhe que o viesse curar.

4.Aproximando-se eles de Jesus, rogavam-lhe encarecidamente: Ele bem merece que lhe faças este favor,

5.pois é amigo da nossa nação e foi ele mesmo quem nos edificou uma sinagoga.

6.Jesus então foi com eles. E já não estava longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por amigos seus: Senhor, não te

incomodes tanto assim, porque não sou digno de que entres em minha casa;

7.por isso nem me achei digno de chegar-me a ti, mas dize somente uma palavra e o meu servo será curado.

8.Pois também eu, simples subalterno, tenho soldados às minhas ordens; e digo a um: Vai ali! E ele vai; e a outro: Vem cá! E ele

vem; e ao meu servo: Faze isto! E ele o faz.

9.Ouvindo estas palavras, Jesus ficou admirado. E, voltando-se para o povo que o ia seguindo, disse: Em verdade vos digo:

nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.

10.Voltando para a casa do centurião os que haviam sido enviados, encontraram o servo curado.

Comentário feito por:

Basílio de Selêucia (? - cerca de 468), bispo

Homilia sobre o centurião

"Diz somente uma palavra" – (v.7)

"Senhor, o meu servo está de cama, paralisado, e sofre muito. Embora seja escravo, não é por isso menos

homem o que foi atingido por este mal. Não olhes para a pequenez do escravo mas antes para a grandeza do

mal". Assim falava o centurião. E que lhe diz a Bondade suprema? "Eu vou contigo e curá-lo-ei. Eu que, por

atenção aos homens, me fiz homem, eu que vim para todos, não desprezarei ninguém. Curá-lo-ei". Com a

rapidez da sua promessa, Cristo aguça a fé: "Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa". Estás

vendo como o Senhor, como se fosse um caçador, fez sair a fé escondida no segredo do coração? "Diz

somente uma palavra e o meu servo ficará curado do seu mal, liberto da servidão da sua doença. Porque eu,

que estou sujeito a superiores, também tenho soldados à minha ordem e digo a um 'Vai' e ele vai, e a outro

'Vem' e ele vem. Foi deste modo que conheci a força do teu poder: a partir do que tenho, reconheci aquele

que me ultrapassa. Vejo os exércitos das curas, vejo os milagres como uma tropa à espera das tuas ordens.

Envia-os contra a doença, envia-os tal como eu envio um soldado".

Jesus encheu-se de admiração e disse: "Nunca encontrei tão grande fé em Israel. Este aqui, que era

estrangeiro à vocação, que não fazia parte do povo da aliança, que não tinha participado nos milagres de

Moisés, que não tinha sido iniciado nas suas leis, que não tinha conhecido as palavras proféticas, este

ultrapassou os outros pela sua fé".

Comentário feito por:

Concílio Vaticano II

Constituição sobre a Igreja « Lumen gentium », 16

Jesus encontra a fé num centurião romano – (v.9)

Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados para o

Povo de Deus. Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo

segundo a carne (cf. Rm.9,4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que

os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cf. Rm.11, 28-29). Mas o desígnio da salvação estende-

se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que

professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há de julgar os

homens no último dia.

E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda

desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais (cf. At.17, 25-28) e, como

Salvador, quer que todos os homens se salvem (cf.1Tm. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa

o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o

influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem

alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que,

sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da

graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como

preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam

finalmente a vida.

Mas, muitas vezes, os homens, enganados pelo demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a

verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (cf. Rm.1,21 e 25), ou então,

vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação final. Por isso, para promover a

glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor: «pregai o Evangelho a

toda a criatura» (Mc 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermão 62 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans C, p.80 rev.)

«Senhor, eu não sou digno»

Na leitura do Evangelho, ouvimos Jesus louvar a nossa fé, associada à humildade. Quando prometeu ir a

casa do centurião curar-lhe o servo, este respondeu: «Não sou digno de que entres debaixo do meu teto, mas

diz uma só palavra e o meu servo será curado». Ao considerar-se indigno, revela-se digno – digno não só de

que Cristo entre em sua casa, mas também no seu coração. Pois não teria sido para ele grande alegria se o

Senhor Jesus tivesse entrado em sua casa sem estar no seu coração. Com efeito Cristo, Mestre em humildade

pelo Seu exemplo e pelas Suas palavras, sentou-Se à mesa em casa de um fariseu orgulhoso chamado Simão

(Lc.7, 36ss.). Embora Se sentasse à sua mesa, não entrou no seu coração: aí, «o Filho do Homem não tinha

onde reclinar a cabeça» (Lc 9, 58). Pelo contrário, aqui não entra em casa do centurião, mas entra no seu

coração. Por conseguinte, é a fé unida à humildade que o Senhor elogia neste centurião. Quando este diz:

«Não sou digno de que entres debaixo do meu teto», o Senhor responde: «Em verdade vos digo, nem em

Israel encontrei tão grande fé». O Senhor veio ao povo de Israel segundo a carne, para procurar

primeiramente neste povo a Sua ovelha perdida (cf Lc 15, 4).Nós, como homens, não podemos medir a fé

dos homens. Foi Aquele que vê o fundo dos corações, Aquele a Quem ninguém engana, que testemunhou

como era o coração deste homem; ao ouvir as suas palavras repletas de humildade, responde-lhe com uma

palavra que cura.

Lc.7,19-23 –DDCFE - p.1356

19.E João chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar por outro?

20.Chegando estes homens a ele, disseram: João Batista enviou-nos a ti, perguntando: És tu o que há de vir ou devemos esperar

por outro?

21.Ora, naquele momento Jesus havia curado muitas pessoas de enfermidades, de doenças e de espíritos malignos, e dado a vista a

muitos cegos.

22.Respondeu-lhes ele: Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam

limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho;

23.e bem-aventurado é aquele para quem eu não for ocasião de queda!

Comentário feito por:

Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de São Mateus, 11, 3 (a partir da trad. SC 254, p. 255 rev.)

«Feliz de quem não tiver em Mim ocasião de queda»

Ao ver os discípulos dirigirem-se a Jesus, João ficou preocupado com a ignorância deles, não com a sua,

pois ele tinha proclamado que Alguém viria para a remissão dos pecados. Mas para lhes dar a conhecer que

não tinha proclamado outro senão Aquele, enviou os discípulos a observar as Suas obras, para que estas

dessem autoridade ao seu anúncio e que nenhum outro Cristo fosse esperado para além d'Aquele a Quem as

suas obras tinham testemunhado.

E, como o Senhor Se tinha revelado completamente pelas Suas ações miraculosas, dando a vista aos cegos, a

marcha aos coxos, a cura aos leprosos, a audição aos surdos, a palavra aos mudos, a vida aos mortos, a

instrução aos pobres, Ele disse: «Feliz de quem não tiver em Mim ocasião de queda». Será que, da parte de

Cristo, terá jamais havido algum ato que possa ter escandalizado João? Seguramente que não. Ele

permanecia realmente na sua própria linha de ensinamento e ação. Mas é preciso estudar o conteúdo e o

caráter específico do que o Senhor diz: que a Boa Nova é recebida pelos pobres. Trata-se daqueles que

perderam a vida, que tomaram a sua cruz para O seguirem (Lc 14, 27), que se tornaram humildes de coração

e para os quais o Reino dos Céus já está preparado (Mt.11, 29; 25, 34). Porque o conjunto destes sofrimentos

convergia para o Senhor e a Sua cruz ia ser um escândalo para um grande número, Ele declarou bem-

aventurados aqueles cuja fé não sofresse nenhuma tentação causada pela Sua cruz, pela Sua morte e pela Sua

sepultura.

Lc.7,21-22 - (DDC-F.E) – p.1356 - dom da cura física - espiritual 21.Ora, naquele momento Jesus havia curado muitas pessoas de enfermidades, de doenças e de espíritos malignos, e dado a vista a

muitos cegos.

22.Respondeu-lhes ele: Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam

limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho;

– O próprio Jesus declara aos discípulos de João Batista que os sinais, as suas obras é que o identificam:

. “Os enfermos são curados, os endemoninhados são libertos, os leprosos são limpos, paralíticos se levantam

e os mortos ressuscitam”.

. Está bem claro que Jesus mostrou através da cura dos enfermos um sinal visível de que Ele é o Salvador do

mudo. Mais que isso, desejou que fossem sinais de salvação e de reconhecimento da autoridade espiritual

dos seus discípulos.

Lc.(7,36-8,3)-DDCFE - p.1356/7 36.Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa.

37.Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de

perfume;

38.e estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os

enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.

39.Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e

qual é a mulher que o toca, pois é pecadora.

40. Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele.

41.Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta.

42.Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?

43.Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem.

44.E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas

esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus 45. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou,

não cessou de beijar-me os pés.

46.Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés.

47.Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se

perdoa, pouco ama.

48.E disse a ela: Perdoados te são os pecados.

49.Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados?

50.Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz.

8

1.Depois disso, Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus.

2.Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de

enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios;

3.Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

A Penitência, II, 8

“A tua fé te salvou. Vai em paz” – (v.50)

“Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt.9,12). Mostra portanto ao

médico a tua ferida, para poderes ser curado. Mesmo se tu não a mostrares, ele conhece-a, mas ele exige de ti

que tu o faças ouvir a tua voz. Limpa as tuas feridas com as tuas lágrimas. Foi assim que esta mulher da qual

fala o evangelho se desembaraçou do seu pecado e da má reputação do seu desvio; foi assim que ela se

purificou da sua falta, lavando os pés de Jesus com as suas lágrimas.

Possas tu reservar também para mim, Jesus, o desvelo de lavar os teus pés, que tu sujaste enquanto

caminhavas em mim!... Mas onde encontrarei eu a água viva com a qual poderei lavar os teus pés? Se não

tenho água, tenho as minhas lágrimas. Fazei que lavando os teus pés com elas, eu possa purificar-me a mim

próprio! Como fazer de modo que digas de mim: “Os seus numerosos pecados são-lhe perdoados, porque ela

amou muito”? Confesso que a minha dívida é considerável e que “já fui resgatado”, eu que fui arrancado do

barulho das querelas da praça pública e das responsabilidades do governo para ser chamado ao sacerdócio.

Por conseqüência, eu temo ser considerado um ingrato se amo menos, dado que ele já me resgatou.

Não me posso comparar à importância dessa mulher que foi justamente preferida ao fariseu Simão que

recebia o Senhor em sua casa. Entretanto, a todos os que quiserem merecer o perdão, ela dá uma instrução,

beijando os pés de Cristo, lavando-os com as suas lágrimas, enxugando-os com os seus cabelos, ungindo-os

com perfume… se não a podemos igualar, o Senhor Jesus sabe vir em socorro dos fracos. Onde não há

ninguém que saiba preparar uma refeição, levar o perfume, trazer consigo uma fonte de água viva (Jo 4,10),

vem ele próprio.

Lc.8,1-3 DDCEF – p.1537 1.Depois disso, Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. 2.Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de

enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; 3.Joana, mulher de Cuza, procurador de

Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses.

Comentário feito por:

João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005

Mulieris dignitatem, § 27

«Acompanhavam-No os Doze e algumas mulheres»

Na história da Igreja, desde os primeiros tempos, existiam — ao lado dos homens — numerosas mulheres,

para as quais a resposta da Esposa ao amor redentor do Esposo adquiria plena força expressiva. Como

primeiras, vemos aquelas mulheres que pessoalmente tinham encontrado Cristo, tinham-No seguido e,

depois da Sua partida, juntamente com os apóstolos, «eram assíduas na oração» no cenáculo de Jerusalém

até ao dia do Pentecostes. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de «filhos e filhas» do Povo de Deus

(cf. At.2, 17). Aquelas mulheres, e a seguir outras mais, tiveram parte ativa e importante na vida da Igreja

primitiva, na edificação desde os fundamentos da primeira comunidade cristã — e das comunidades que se

seguiram —, mediante os próprios carismas e o seu multiforme serviço.O apóstolo fala de suas «fadigas»

por Cristo, e estas indicam os vários campos de serviço apostólico da Igreja, a começar pela «Igreja

doméstica». Nesta, de fato, a «fé sincera» passa da mãe para os filhos e os netos, como realmente se

verificou na casa de Timóteo (cf.2Tm.1,5).

O mesmo se repete no decorrer dos séculos, de geração em geração, como demonstra a história da Igreja. A

Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por

aquelas que — fiéis ao Evangelho — em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de

Deus. Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da

sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da

Igreja. Mesmo diante de graves discriminações sociais, as mulheres santas agiram de «modo livre»,

fortalecidas pela sua união com Cristo. Também em nossos dias a Igreja não cessa de enriquecer-se com o

testemunho das numerosas mulheres que realizam a sua vocação à santidade. As mulheres santas são uma

personificação do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo de

«seqüela Christi», um exemplo de como a Esposa deve responder com amor ao amor do Esposo.

Comentário feito por:

Papa João Paulo II

Mulieris Dignitatem, § 16 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)

«Acompanhavam-No os Doze e algumas mulheres»

Desde o início da missão de Cristo, a mulher demonstra para com Ele e para com o Seu ministério uma

sensibilidade especial, que corresponde a uma característica da sua feminilidade. Convém referir igualmente

que tal é particularmente confirmado face ao mistério pascal, não só no momento da cruz, mas também na

manhã da ressurreição. As mulheres são as primeiras junto à sepultura. São as primeiras a encontrá-la vazia.

São as primeiras a ouvir: «Não está aqui, ressuscitou como tinha dito» (Mt.28,6). São as primeiras a abraçar-

Lhe os pés (Mt.28, 9). São também as primeiras a ser chamadas a anunciar esta verdade aos apóstolos

(Mt.28, 1-10; Lc 24, 8-11).

O evangelho de João (cf. também Mc 16, 9) coloca em destaque a função particular de Maria Madalena, que

é a primeira a encontrar Cristo ressuscitado. [...] Por isso, é conhecida também como a «apóstola dos

apóstolos». Maria Madalena foi testemunha ocular do Cristo ressuscitado antes dos apóstolos e, por essa

razão, foi também a primeira a dar testemunho diante dos apóstolos.

Este acontecimento coroa, em certo sentido, tudo quanto foi precedentemente dito sobre o fato de Cristo

confiar as verdades divinas às mulheres, em pé de igualdade com os homens. Pode-se dizer que assim se

cumpriram as palavras do profeta: «Derramarei o Meu Espírito sobre todo o homem e tornar-se-ão profetas

os vossos filhos e as vossas filhas» (Jl.3, 1). Cinqüenta dias depois da ressurreição de Cristo, estas palavras

são novamente confirmadas no cenáculo de Jerusalém, durante a vinda do Espírito Santo Paráclito (Até 2,

17). Tudo o que se disse até aqui sobre o comportamento de Cristo em relação às mulheres confirma e

esclarece, no Espírito Santo, a verdade sobre a igualdade dos dois, homem e mulher.

Lc.9,1-2- (DDC.F.I.E) – p.1359 – dom da cura física- interior - espiritual

1.Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades.

2.Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos.

– No Evangelho de São Mateus encontramos o relato onde Jesus reúne seus discípulos e lhes confere o poder

de curar as enfermidades: “ Jesus reuniu seus doze discípulos.Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos

e curar todo o mal e toda enfermidade”.

. Em S.Lucas encontramos passagem semelhante que diz:“Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu lhes o

poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar as enfermidades. Envio-os a pregar o reino de Deus

e a curar os enfermos”

(Lc.9,1-6) DDC- FIE-p.1359 - dom da cura nas três áreas – física-interior-espiritual 1.Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades.

2.Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos.

3.Disse-lhes: Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas

túnicas.

4.Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade.

5.Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés.

6.Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte.

Comentário feito por:

São Francisco Xavier (1506-1552), missionário jesuíta

Cartas 4 e 5 a Santo Inácio de Loyola

“Proclamar o Reino de Deus” –(v.2)

Desde que aqui cheguei que não paro: percorri ativamente as aldeias, batizei todas as crianças que ainda não

tinham sido batizadas. […] As crianças não me deixavam recitar o ofício divino, nem comer, nem descansar,

enquanto não lhes tivesse ensinado uma oração. Comecei então a compreender que o Reino dos Céus

pertence de fato àqueles que com elas se assemelham (Mc 1, 14). E como não podia, sem ser ímpio, rejeitar

pedido tão piedoso, começando pela profissão de fé no Pai, no Filho e do Espírito Santo, ensinava-lhes o

Credo dos Apóstolos, o Pai Nosso e a Ave Maria. E observei que eram muito dotados; havendo alguém que

os formasse na fé cristã, estou certo de que se tornariam muito bons cristãos.

Há neste país muitos que não são cristãos pelo simples fato de não haver ninguém que faça deles cristãos.

Tive muitas vezes a idéia de percorrer todas as universidades da Europa, a começar pela de Paris, clamando

por toda a parte como um louco e chamando a atenção daqueles que têm mais doutrina do que caridade,

dizendo-lhes: “Ouçam, há muitas e muitas almas que são excluídas do céu por vossa causa e se afundam no

inferno!”

Prouvera a Deus que, assim como se consagram às letras, pudessem também consagrar-se a este apostolado,

a fim de poderem corresponder à doutrina e aos talentos que lhes foram confiados! Estou certo de que

muitos deles, abalados por esta idéia e ajudados pela meditação das coisas divinas, atentariam ao que o

Senhor lhes diz e, rejeitando as suas ambições e os seus negócios humanos, se submeteriam por completo e

em definitivo à vontade e aos decretos de Deus. Sim, exclamariam do fundo do coração: “‘Que hei de fazer,

Senhor?’ (At.22, 10). Envia-me para onde quiseres, mesmo que seja para a Índia.”

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja

4ª homilia sobre a 1ª epístola aos Coríntios

«A tua majestade suprema é proclamada pela boca das crianças, dos pequeninos» (Sl 8,3)

A cruz conquistou os espíritos no meio de pregadores ignorantes, e isso no mundo inteiro. Não se tratava de

questões banais, mas de Deus e da verdadeira fé, da vida segundo o Evangelho, e do julgamento futuro. A

cruz transformou, pois, em filósofos, pessoas simples e iletradas. Eis como: «a loucura de Deus é mais sábia

que o homem, e a sua fraqueza, mais forte» (1Co.1,25).

Como é que é mais forte? Porque se propaga pelo mundo inteiro, porque submeteu os homens ao seu poder e

resiste aos inumeráveis adversários que gostariam de ver desaparecer o nome do Crucificado. Pelo contrário,

esse nome desabrochou e propagou-se; os seus inimigos pereceram, desapareceram; os vivos que combatiam

um morto foram reduzidos à impotência... Com efeito, o que publicanos e pecadores conseguiram vencer

pela graça de Deus, os filósofos, os oradores, os reis, em breve, a terra inteira, em toda a sua extensão, não

foi sequer capaz de o imaginar... Era pensando nisso que o apóstolo Paulo dizia: «A fraqueza de Deus é mais

forte que todos os homens». De outro modo, como teriam podido esses doze pecadores pobres e ignorantes

imaginar uma tal empresa?

Comentário feito por:

Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja

Comentário ao salmo 65, §§ 19-29

«Iam de aldeia em aldeia, anunciando a Boa Nova»

Qual é «a palavra de louvor» (Sl 65, 8) que é preciso proclamar? Seguramente aquela: «Ele deu a vida à

alma» dos crentes (v. 9); porque Deus atribuiu a constância e a perseverança na profissão da fé à pregação

dos apóstolos e à confissão dos mártires, e o anúncio do Reino dos céus percorreu a terra em todos os

sentidos como que por passos. Com efeito, «a sua mensagem espalhou-se por toda a terra» (Sl 18, 5). E o

Espírito Santo proclama a glória desta corrida espiritual: «Como são belos os pés dos que anunciam a boa

nova, dos que anunciam a paz» (Is 52, 7). É pois esta palavra de louvor a Deus que é necessário proclamar,

segundo o testemunho do salmista: «Deu a vida à minha alma e não deixou que os meus passos vacilassem».

Com efeito, os apóstolos não se deixaram desviar do curso espiritual da sua pregação pelo terror das

ameaças humanas, e a firmeza dos seus passos solidamente colocados não os deixou afastarem-se do

caminho da fé. Contudo, depois de ter dito: «Ele não deixou que meus passos vacilassem», o salmista

acrescenta: «Ó Deus, tu provaste-nos, purificaste-nos pelo fogo como se purifica a prata» (v. 10). Esta

palavra, começada no singular, refere-se portanto a muitos. Pois único é o Espírito e uma a fé dos crentes,

segundo o que está dito nos Atos. Dos Apóstolos: «Os crentes tinham uma só alma e um só coração»

(At.4,32). Mas o que significa esta comparação: «Foram purificados pelo fogo, como se purifica a prata»?

Para mim, purifica-se a prata, apenas para dela separar o lixo que adere à matéria ainda em bruto. É por isso

que, quando Deus põe à prova os que crêem Nele, não é porque ignore a sua fé, mas porque «a perseverança

produz a virtude» como diz o apóstolo Paulo (Rm.5,4). Deus submete-os à prova, não para conhecê-los, mas

para levá-los à consumação da virtude. Assim, purificados pelo fogo e separados de qualquer ligação aos

vícios da carne,

Comentário feito por:

João Paulo II

Redemptoris Missio

Enviou-os a proclamar o Reino de Deus

O nosso tempo, com uma humanidade em movimento e insatisfeita, exige um renovado impulso na atividade

missionária da Igreja. Os horizontes e as possibilidades da missão alargam-se, e é-nos pedida, a nós cristãos,

a coragem apostólica, apoiada sobre a confiança no Espírito. Ele é o protagonista da missão!

Na história da humanidade, houve numerosas viragens que estimularam o dinamismo missionário, e a Igreja,

guiada pelo Espírito, sempre respondeu com generosidade e clarividência. Também não faltaram os frutos!

Há pouco tempo, celebrou-se o milênio da evangelização da Rússia e dos povos eslavos, estando para se

celebrar o quinto centenário da evangelização das Américas; foram entretanto comemorados, de forma

solene, os centenários das primeiras missões em vários Países da Ásia, da África e da Oceania. A Igreja deve

hoje enfrentar outros desafios, lançando-se para novas fronteiras, quer na primeira missão ad gentes, quer na

nova evangelização dos povos que já receberam o anúncio de Cristo. A todos os cristãos, às Igrejas

particulares e à Igreja universal, pede-se a mesma coragem que moveu os missionários do passado, a mesma

disponibilidade para escutar a voz do Espírito.

Lc.11,1-13 –DDCI - p1362 1. Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a

rezar, como também João ensinou a seus discípulos.

2. Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino;

3. dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento;

4. perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação.

5. Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me

três pães,

6. pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer;

7. e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso

levantar-me para te dar os pães;

8. eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se

levantará e lhe dará quantos pães necessitar.

9. E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.

10. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.

11. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente?

12. Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?

13. Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos

que lho pedirem.

Comentário feito por:

João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005

Encíclica «Dives in Misericórdia», cap. 8, § 15 (trad. copyright © Libreria Editrice Vaticana)

«Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu!»

Quanto mais a consciência humana, vítima da secularização, esquecer o próprio significado da palavra

«misericórdia», e quanto mais, afastando-se de Deus, se afastar do mistério da misericórdia, tanto mais a

Igreja tem o direito e o dever de apelar «com grande clamor» (Mt.15,23) para o Deus da misericórdia. Este

«grande clamor», elevado até Deus para implorar a Sua misericórdia caracterizar-se-á a Igreja do nosso

tempo. O homem contemporâneo interroga-se com profunda ansiedade quanto à solução das terríveis

tensões que se acumulam sobre o mundo e se entrecruzam nos caminhos da humanidade. Se algumas vezes o

homem não tem a coragem de pronunciar a palavra «misericórdia», ou não lhe encontra equivalente na sua

consciência despojada de todo o sentido religioso, ainda se torna mais necessário que a Igreja pronuncie esta

palavra, não só em nome próprio, mas também em nome de todos os homens contemporâneos.

É, pois, necessário que tudo o que acabamos de dizer no presente documento sobre a misericórdia se

transforme continuamente em fervorosa oração, num clamor a suplicar a misericórdia, segundo as

necessidades do homem no mundo contemporâneo. E que este clamor esteja impregnado de toda a verdade

sobre a misericórdia que tem expressão tão rica na Sagrada Escritura e na Tradição, e também na autêntica

vida de fé de tantas gerações do Povo de Deus. Com este clamor apelamos, como fizeram os Autores

sagrados, para o Deus que não pode desprezar nada daquilo que criou (Sab 11, 24), para o Deus que é fiel a

Si próprio, à Sua paternidade e ao Seu amor.

(Lc.11,5-13) –DDCFIE - pg.1363 – A oração. 5. Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me

três pães,

6. pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; 7.e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso

levantar-me para te dar os pães;

8. eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se

levantará e lhe dará quantos pães necessitar.

9. E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.

10. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.

11. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente?

12. Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?

13. Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos

que lho pedirem.

Comentário feito por:

S. Macário, (c. 405), monge no Egito

Homilia nº 16

«Quanta graça do Espírito Santo não há de o Pai celeste conceder àqueles que a pedem!» -(v.13).

Para conseguir o pão do corpo, o mendigo não se constrange em bater de porta em porta a pedi-lo; se não lho

dão, avança até mais um pouco e pede, ainda mais sem cerimônia, pão, roupas ou sandálias para consolo do

seu corpo. Se nada lhe derem, insiste e dali não sai, ainda que o expulsem. Nós, que procuramos receber o

pão celeste e verdadeiro para nos fortificar a alma, que desejamos vestir as celestes roupas de luz e que

aspiramos a calçar as imateriais sandálias do Espírito para refrigério da alma imortal, muito mais devemos,

incansável e resolutamente, com fé e amor, ter sempre paciência, bater à porta espiritual de Deus e pedir com

perfeita constância para nos julgar sermos dignos da vida eterna.

Por isso dizia o Senhor «uma parábola sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer»(Lc.18,1), a que

acrescentava estas palavras: Quanta «justiça para com os que Lhe imploram noite e dia» (v. 6) terá então

nosso Pai Celeste. E disse ainda, sobre o amigo: «Ainda que não lhe dê na qualidade de amigo, levantar-se-á

devido à sua impertinência e dar-lhe-á tudo aquilo de que precisar». Acrescenta então: «Pedi, e ser-vos-á

dado; procurai, e encontrareis; batei, e abrir-vos-ão. Porque àquele que pede ser-lhe-á dado, aquele que

procura encontra, e àquele que bate abrir-lhe-ão». E prossegue: «Portanto se vós, que sois imperfeitos, sabeis

dar coisas boas aos vossos filhos, vede então quanta graça do Espírito Santo o Pai celeste concederá àqueles

que a pedem!» É por isso que o Senhor nos exorta a pedir sempre, incansável e tenazmente, a procurar e a

bater à porta, continuamente: porque Ele prometeu dar aos que pedem, procuram e batem, não aos que não

pedem. É por Lhe rezarmos, Lhe suplicarmos e por O amarmos que Ele quer dar-nos a vida eterna.

Comentário feito por:

Rábano Mauro (c.784-856), abade beneditino e bispo

Três livros para Bonoso, livro 3,4; PL 112, 1306

«Dar-lhe-á tudo quanto precisar»

Não permitas que te falte a confiança em Deus, nem te deixes desesperar da sua misericórdia. Canta ao

Senhor estas palavras do profeta: «Como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu amo, e como os da

serva, nas mãos da sua ama, assim os nossos olhos estão postos no Senhor, nosso Deus, até que tenha

piedade de nós. Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo»

(Sl.122, 2-3). Se estamos saturados de desprezo por causa dos nossos muitos pecados, devemos voltar-nos

para o Senhor nosso Deus até que Ele de nós se apiede, e dirigir-Lhe continuamente as nossas súplicas até

que nos conceda o perdão pelos nossos erros. De fato, é próprio da alma constante e tenaz perseverar na

oração sem vacilar por desespero de querer ser atendida, e persistir tenazmente na oração até que Deus lhe

faça misericórdia.

Para que não venhas a pensar que ofendes ao Senhor por persistires na oração quando não mereces ser

escutado, lembra-te da parábola de Evangelho. Nela descobrirás que os que oram a Deus com importuna

perseverança não Lhe são desagradáveis, porque é dito: «Embora não se levante para [...] dar por ser seu

amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar». Compreende

que é o diabo que nos sugere que entremos em desespero por querer ser atendidos, e faz com que nos seja

retirada essa esperança na bondade de Deus, que é a âncora da nossa salvação, o fundamento da nossa vida,

o guia no caminho que leva aos céus. O apóstolo Paulo diz: «Foi na esperança que fomos salvos» (Rm.8,24).

Comentário feito por:

Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers e Doutor da Igreja

A Trindade, I, 37-38

«Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis»

Sei-o bem, ó Deus, Pai todo-poderoso: o principal dever da minha vida é oferecer-me a Ti para que tudo em

mim [...] fale de Ti. Concedeste-me o dom da palavra e, para mim, nada pode ser mais compensatório do que

a honra de Te servir e de mostrar ao mundo que o desconhece, ao herético que o nega, que Tu és o Pai do

Filho único de Deus. Sim, esse é na verdade o meu único desejo! Mas tenho uma grande necessidade de

implorar o auxílio da Tua misericórdia de forma que, com o sopro do Teu Espírito, enchas as velas da minha

fé, estendidas para Ti, e me conduzas a pregar o Teu santo nome por toda a parte. Pois não foi em vão que

fizeste esta promessa: «Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á».

Sendo pobres, pedimos o que nos falta. Aplicar-nos-emos com zelo ao estudo dos Teus profetas e dos Teus

apóstolos; bateremos a todas as portas que a nossa inteligência encontrar fechadas. Mas só Tu podes atender

a nossa prece ; só Tu podes abrir a porta à qual batermos. Encorajar-nos-ás nas dificuldades iniciais;

consolidarás os nossos progressos; e chamar-nos-ás a participar do Espírito que guiou os Teus profetas e os

Teus apóstolos. Assim, não daremos às suas palavras sentidos diferentes daqueles que eles tinham em mente.

Dá-nos então o verdadeiro significado das palavras, a luz da inteligência, a beleza de expressão, a fé na

verdade. Concede-nos professar aquilo em que acreditamos [...]: que há um só Deus, o Pai, e um só Senhor,

Jesus Cristo.

Lc.(11,5-26) – DDCEF - p.1363 – 5.Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me

três pães, 6.pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer;

7.e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso

levantar-me para te dar os pães;

8.eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se

levantará e lhe dará quantos pães necessitar.

9.E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.

10.Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.

11.Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente?

12.Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?

13.Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que

lho pedirem.

14.Jesus expelia um demônio que era mudo. Tendo o demônio saído, o mudo pôs-se a falar e a multidão ficou admirada.

15.Mas alguns deles disseram: Ele expele os demônios por Beelzebul, príncipe dos demônios.

16.E para pô-lo à prova, outros lhe pediam um sinal do céu.

17.Penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes Jesus: Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios

cairão uns sobre os outros.

18.Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que expulso os demônios por

Beelzebul.

19.Ora, se é por Beelzebul que expulso os demônios, por quem o expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos

juízes!

20.Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus.

21.Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens que possui.

22.Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava, e repartirá os seus

despojos.

23.Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha.

24.Quando um espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso; não o achando, diz: Voltarei à minha

casa, donde saí.

25.Chegando, acha-a varrida e adornada.

26.Vai então e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele e entram e estabelecem-se ali. E a última condição desse

homem vem a ser pior do que a primeira.

Comentário feito por:

São Macário (?-405), monge no Egipto

Homilia 33

«A Sua própria casa somos nós» (Hb.3, 6)

O Senhor instala-Se numa alma fervorosa, faz dela o Seu trono de glória, toma assento nela e nela permanece. [...] Esta

casa onde habita o seu mestre é toda graça, ordem e beleza, assim como a alma com quem o Senhor permanece é toda

ordem e beleza. Ela possui o Senhor e todos os Seus tesouros espirituais. Ele habita nela, e nela domina.

Que terrível, porém, é a casa de onde o Senhor está ausente, longe da qual o Senhor se encontra! Esta casa deteriora-

se, arruína-se, enche-se de manchas e de desordem, tornando-se, na palavra do profeta, lugar de reunião de serpentes e

de sátiros(*), casa abandonada que se enche de gatos selvagens, de hienas e de cardos (Is 35, 11-15). Infeliz da alma

que não consegue levantar-se de queda tão funesta, que se deixa prender e acaba por odiar o esposo e por desviar os

seus pensamentos de Jesus Cristo!

Mas quando o Senhor a vê recolher-se e procurar, noite e dia, o seu Senhor, chamá-lo como Ela a convida a fazer:

«Orai sem desfalecer», então «Deus far-lhe-á justiça» (Lc 18, 1-7), como prometeu, e purifica-la-á de todo o mal,

fazendo dela uma esposa «sem mancha nem ruga» (Ef 5, 27). Acredita na Sua promessa, que é a verdade. Verifica se a

tua alma encontrou a luz que lhe iluminará os passos, bem como o alimento e a bebida verdadeiros, que são o Senhor.

Ainda os não tens? Procura noite e dia, e encontrá-los-ás.

(*)-Designavam-se assim os demônios peludos,tidos como freqüentadores de ruínas e de desertos, e dançarinos.

- E quando o Senhor nos plenifica com o Espírito Santo, habita em nós também todos os seus dons, inclusive

o dom de curar as doenças.

- Este dom foi tão abundante em Jesus Cristo, que na sua vida, na sua missão e na revelação de sua

identidade divina, é dom do Espírito Santo que recebemos no Batismo e deseja ser manifesto em nossa vida

e missão, confirmando com sinais nosso testemunho e pregação.

- Todo e qualquer dom do Espírito Santo se manifesta para o bem comum.Para que o dom das curas se

manifeste basta que haja um enfermo e um irmão cheio de compaixão que ore para que ele seja

curado.Todos possuem o dom da cura, o problema é que nem todos o fortalecem, pelo pedido constante ao

Espírito Santo e pelo exercício de orar pelos enfermos.

- O fato é que, quanto mais nos colocamos ao serviço, mais os carismas se manifestam.

Lc.11,13 - ( DDC-F.I.E) – p.1363 -

13.Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que

lho pedirem.

– É desejo do Senhor derramar o seu Espírito Santo sobre nós, pois é Ele que nos capacita para os

desafiadores apelos divinos.Diz o Senhor:” Se os vossos pais terrenos dão coisas boas aos que lhes pedirem,

quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”.

-E quando o Senhor nos plenifica com o Espírito Santo, habita em nós também todos os seus dons, inclusive

o dom de curar as doenças.

-Este dom foi tão abundante em Jesus Cristo, que na sua vida, na sua missão e na revelação de sua

identidade divina, é dom do Espírito Santo que recebemos no Batismo e deseja ser manifesto em nossa vida

e missão, confirmando com sinais nosso testemunho e pregação.

-Todo e qualquer dom do Espírito Santo se manifesta para o bem comum.Para que o dom das curas se

manifeste basta que haja um enfermo e um irmão cheio de compaixão que ore para que ele seja

curado.Todos possuem o dom da cura, o problema é que nem todos o fortalecem, pelo pedido constante ao

Espírito Santo e pelo exercício de orar pelos enfermos.

-O fato é que, quanto mais nos colocamos ao serviço, mais os carismas se manifestam.

Lc.11,14-26 – DDCF - pg.1363 14.Jesus expelia um demônio que era mudo. Tendo o demônio saído, o mudo pôs-se a falar e a multidão ficou admirada.

15.Mas alguns deles disseram: Ele expele os demônios por Beelzebul, príncipe dos demônios.

16.E para pô-lo à prova, outros lhe pediam um sinal do céu.

17.Penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes Jesus: Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios

cairão uns sobre os outros.

18.Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que expulso os demônios por

Beelzebul.

19.Ora, se é por Beelzebul que expulso os demônios, por quem o expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos

juízes!

20.Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus.

21.Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens que possui.

22.Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava, e repartirá os seus

despojos.

23.Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha.

24.Quando um espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso; não o achando, diz: Voltarei à

minha casa, donde saí.

25.Chegando, acha-a varrida e adornada.

26.Vai então e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele e entram e estabelecem-se ali. E a última condição desse

homem vem a ser pior do que a primeira.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica, §§ 547-550

«O Reino de Deus já chegou até vós»

Jesus acompanha as suas palavras com numerosos «milagres, prodígios e sinais» (Act 2, 22), os quais

manifestam que o Reino está presente n'Ele. Comprovam que Ele é o Messias anunciado. Os sinais

realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou. Convidam a crer n'Ele. Aos que se Lhe dirigem com

fé, concede-lhes o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé n'Aquele que faz as obras do Seu Pai:

testemunham que Ele é o Filho de Deus. Mas também podem ser «ocasião de queda» (Mt.11,6). Eles não

pretendem satisfazer a curiosidade nem desejos mágicos. Apesar de os seus milagres serem tão evidentes,

Jesus é rejeitado por alguns; chega mesmo a ser acusado de agir pelo poder dos demônios.

Ao libertar certos homens dos seus males terrenos – da fome, da injustiça, da doença e da morte –, Jesus

realizou sinais messiânicos; no entanto, Ele não veio para abolir todos os males deste mundo, mas para

libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os impede de realizar a sua vocação de

filhos de Deus e é causa de todas as servidões humanas.

A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: «Se é pelo Espírito de Deus que Eu expulso os

demônios, então é porque o Reino de Deus chegou até vós» (Mt.12, 28). Os exorcismos de Jesus libertam os

homens do poder dos demônios. E antecipam a grande vitória de Jesus sobre «o príncipe deste mundo» (Jo

12, 31). É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: «Regnavit a ligno

Deus – Deus reinou desde o madeiro».

Comentário por:

Santo Ireneu de Lião (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias IV, Pr. 4; 39, 2 (a partir da trad. SC 100 rev.)

O dedo de Deus

O homem é uma combinação de alma e de carne, uma carne formada por semelhança com Deus, modelada

pelas duas Mãos de Deus, ou seja, pelo Filho e o Espírito, aos Quais Ele disse: «Façamos o homem» (Gn 1,

26).

Mas como podes ser divinizado, se ainda não és homem? Como podes ser perfeito, se ainda mal foste

criado? Como serás imortal tu que, na natureza mortal, não obedeceste ao teu Criador? Visto que és obra de

Deus, espera pacientemente pela Mão do teu Artista, que faz todas as coisas em tempo oportuno. Apresenta-

Lhe um coração manso e dócil, e mantém a forma que este Artista te concedeu, conservando em ti a água

que Dele provém e sem a qual te tornarás rígido, acabando por rejeitar a marca dos Seus dedos.

Se te deixares formar por Ele, ascenderás à perfeição, pois por esta arte de Deus será ocultada a argila que

existe em ti; foi a Sua Mão que criou a tua substância. [...] Se, porém, te tornares rígido, recusando a Sua arte

e mostrando-te desagradado com o que Ele fez em ti, terás rejeitado, pela tua ingratidão para com Deus, não

apenas a Sua arte, mas a própria vida; porque formar é próprio da bondade de Deus e ser formado é próprio

da natureza do homem. Se, pois, te entregares a Ele, dando-Lhe a tua fé e a tua submissão, receberás os

benefícios da Sua arte e serás uma obra perfeita de Deus. Se, pelo contrário, resistires e fugires às Suas

Mãos, a causa da tua imperfeição residirá, não Nele, mas em ti, que não obedeceste.

Comentário feito por :

Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho

CE 33 (a partir da trad. Une pensée, Médiaspaul 1991, p. 56)

O local do combate espiritual

O local do combate entre Deus e Satanás é a alma humana em cada instante da vida. É por conseguinte

necessário que a alma dê livre acesso ao Senhor, para que Ele a fortaleça de todas as maneiras e através de

todo o tipo de armas. Deste modo a Sua luz pode vir iluminá-la para melhor combater as trevas do erro.

Revestida de Cristo (Gl.3, 27), da Sua verdade e da Sua justiça, protegida pelo escudo da fé e pela palavra de

Deus, ela vencerá os seus inimigos por muito poderosos que eles sejam (Ef.6, 13ss.). Mas, para se ficar

revestido de Cristo, é necessário morrer para si mesmo.

(Lc.13,10-17)- DDCE- p.1367 – Cura de uma mulher encurvada. – dom da cura espiritual

10.Estava Jesus ensinando na sinagoga em um sábado.

11.Havia ali uma mulher que, havia dezoito anos, era possessa de um espírito que a detinha doente: andava curvada e não podia

absolutamente erguer-se.

12.Ao vê-la, Jesus a chamou e disse-lhe: Estás livre da tua doença.

13.Impôs-lhe as mãos e no mesmo instante ela se endireitou, glorificando a Deus.

14.Mas o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse ao povo: São seis os dias em que se deve

trabalhar; vinde, pois, nestes dias para vos curar, mas não em dia de sábado.

15.Hipócritas!, disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou o seu jumento da manjedoura, para os

levar a beber?

16.Esta filha de Abraão, que Satanás paralisava há dezoito anos, não devia ser livre desta prisão, em dia de sábado?

17.Ao proferir estas palavras, todos os seus adversários se encheram de confusão, ao passo que todo o povo, à vista de todos os

milagres que ele realizava, se entusiasmava.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica

§1730; 1739-1742

"Esta mulher, uma filha de Abraão que Satanás havia amarrado..., era preciso libertá-la"

Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio dos

seus próprios atos. «Deus quis "deixar o homem entregue à sua própria decisão" (Sir 15, 14), de tal modo

que procure por si mesmo o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica perfeição»:

«O homem é racional e, por isso, semelhante a Deus, criado livre e senhor dos seus atos» (Santo Irineu)...

A liberdade do homem é finita e falível. E, de fato, o homem falhou. Livremente, pecou. Rejeitando o

projeto divino de amor, enganou-se a si mesmo; tornou-se escravo do pecado. Esta primeira alienação gerou

uma multidão de outras. A história da humanidade, desde as suas origens, dá testemunho de desgraças e

opressões nascidas do coração do homem, como conseqüência de um mau uso da liberdade... Afastando-se

da lei moral, o homem atenta contra a sua própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os laços de

fraternidade com os seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina.

Pela sua cruz gloriosa, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado, que os retinha

numa situação de escravatura. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gl.5, 1). N'Ele, nós

comungamos na verdade que nos liberta (Jo 8,32). Foi-nos dado o Espírito Santo e, como ensina o Apóstolo,

«onde está o Espírito, aí está a liberdade» (2 Cor 3, 17). Já desde agora nos gloriamos da «liberdade dos

filhos de Deus» (Rm.8,21).

A graça de Cristo não faz concorrência de modo nenhum, à nossa liberdade, quando esta corresponde ao

sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem. Pelo contrário, e como o certifica a

experiência cristã sobretudo na oração, quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, tanto mais

crescem a nossa liberdade interior e a nossa segurança nas provações, como também perante as pressões e

constrangimentos do mundo exterior. Pela ação da graça, o Espírito Santo educa-nos para a liberdade

espiritual, para fazer de nós colaboradores livres da sua obra na Igreja e no mundo.

Comentário feito por:

João Paulo II

Dies Domini

Uma cura num sábado, sinal do dia da nova criação – (v.14)

O dia da nova criação: a comparação entre o domingo cristão e o sábado próprio do Antigo Testamento

suscitou aprofundamentos teológicos de grande interesse. Fizeram luz, nomeadamente, na relação particular

que existe entre a ressurreição e a criação. Com efeito, a reflexão cristã associou espontaneamente a

ressurreição que sobreveio “o primeiro dia depois de sábado” ao primeiro dia da semana cósmica no livro do

Génesis (1,15)... Essa ligação convidava a compreender a ressurreição como o começo de uma nova criação,

da qual o Cristo glorioso constitui as primícias, sendo ele próprio “Primogênito de toda a criatura” e também

“Primogénito de entre os mortos” (Col 1, 15.18).

Com efeito o domingo é o dia em que, mais do que qualquer outro, o cristão é chamado a recordar-se da

salvação que lhe foi oferecida no batismo e que fez dele um homem novo em Cristo. “Sepultados com Ele

no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou” (Cl.2, 12;

Rom 6, 4-6). A liturgia sublinha esta dimensão batismal do domingo convidando a celebrar também os

batismos, mais do que na Vigília pascal, nesse dia da semana “ em que a Igreja comemora a ressurreição do

Senhor”, e também ao sugerir, como rito penitencial apropriado ao início da Missa, a aspersão com água

benta, que relembra precisamente o acontecimento batismal do qual nasce toda a existência cristã.

Comentário feito por:

Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge e poeta armênio

Livro de Orações, n.°18 (a partir da trad. SC 78, p. 123 rev.)

«No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus»

Houve um tempo em que eu não estava presente, e Tu criaste-me.

Eu não tinha orado, e Tu, Tu fizeste-me.

Eu não tinha ainda vindo à luz, e no entanto viste-me.

Eu não tinha aparecido, e no entanto tiveste piedade de mim.

Eu não Te tinha invocado, e no entanto tomaste-me ao Teu cuidado.

Eu não Te tinha feito qualquer sinal, e no entanto olhaste para mim.

Eu não Te tinha dirigido qualquer súplica, e no entanto tiveste misericórdia para comigo.

Eu não tinha articulado o mínimo som, e no entanto ouviste-me.

Eu não tinha sequer suspirado, e no entanto a tudo estiveste atento.

Sabedor do que ia acontecer-me neste tempo presente

Não me votaste ao desprezo.

Considerando, com Teus previdentes olhos,

Os erros deste pecador que eu sou,

Vieste contudo a modelar-me.

Sou agora este ser que Tu criaste,

Que salvaste,

Que foi alvo de tanta solicitude!

Que a ferida do pecado, suscitada pelo Acusador,

Não me perca para sempre!

Presa, paralisada,

Curvada como a mulher que sofria,

A minha alma infeliz, impotente, não consegue reerguer-se.

Sob o peso do pecado, ela fixa-se à terra,

Com as pesadas cadeias de Satã [...]

Inclina-Te, ó Misericordioso único, sobre mim,

Esta pobre árvore que pensa que caiu.

A mim, que estou seco, faz-me reflorir

Em beleza e esplendor,

Segundo as palavras divinas do santo profeta (Ez.17, 22-24) Tu, Protetor único,

Digna-Te lançar sobre mim um olhar

Vindo da solicitude do Teu indizível amor

Lc.15,1-3.11-32 –DDCI - p.1369.0 1. Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo.

2. Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida!

3. Então lhes propôs a seguinte parábola:

11. Disse também: Um homem tinha dois filhos.

12. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres.

13. Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a

sua fortuna, vivendo dissolutamente.

14. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.

15. Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.

16. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.

17. Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância... e eu, aqui, estou a

morrer de fome!

18. Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;

19. já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.

20. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao

encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 21. O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou

digno de ser chamado teu filho.

22. Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés.

23. Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa.

24. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa.

25. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

26. Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia.

27. Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo.

28. Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele.

29. Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um

cabrito para festejar com os meus amigos. 30. E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo

lhe mandaste matar um novilho gordo!

31. Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.

32. Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado.

Comentário feito por :

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja

Homilia sobre o perdão, 2, 3 (a partir da trad. breviário)

«Irei ter com meu pai»

Se a conduta deste jovem nos desagrada, aquilo que nos causa horror é a sua partida: no nosso caso, não nos

afastemos nunca de um pai destes! A simples visão do pai faz fugir os pecados, expulsa o erro, exclui

qualquer má conduta e qualquer tentação. Mas, no caso de termos partido, de termos esbanjado toda a

herança do pai numa vida desregrada, de nos ter acontecido cometer qualquer erro ou má ação, de termos

caído no abismo da blasfêmia, levantemo-nos e regressemos para junto de um pai tão bom, convidados por

exemplo tão belo.

«O pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos.»

Pergunto-vos: haverá lugar para o desespero? Haverá pretexto para desculpas? Falsas razões para receios? A

menos que se receie o encontro com o pai, que se receiem os seus beijos e os seus abraços; a menos que se

julgue que o pai quer tomar para recuperar, em lugar de receber para perdoar, quando pega no filho pela

mão, o toma nos abraços e o aperta contra o coração. Mas este pensamento, que esmaga a vida, que se opõe

à nossa salvação, é amplamente vencido, amplamente aniquilado pelo seguinte: «O pai disse aos seus servos:

«Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o

vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e

reviveu, estava perdido e foi encontrado.»» Após termos ouvido isto, poderemos ainda demorar-nos? Que

esperamos para regressar para junto do pai?

Comentário feito por:

Tiago de Saroug (c. 449-521), monge e bispo sírio

Poema (a partir da trad. P. Grelot, 1960 ; cf Orval)

«Levantar-me-ei, irei ter com meu pai»

Regressarei à casa de meu Pai como o filho pródigo, e serei acolhido. Tal como ele o fez, também eu o farei:

Ele atender-me-á? Eis-me a bater, Pai misericordioso, à Tua porta; abre, para que eu entre, não me perca não

me afaste nem pereça! Fizeste-me Teu herdeiro, mas eu abandonei a herança e dissipei os meus bens; que

doravante eu seja como um jornaleiro e um servo.

Assim como pelo publicano a tiveste, tem piedade de mim, e eu viverei pela Tua graça! Assim como à

pecadora, a quem remiste, redime também os pecados que cometi, ó Filho de Deus. Assim como a Pedro,

que salvaste, salva-me do meio das ondas. Assim como pelo ladrão a tiveste, tem piedade da minha baixeza

e lembra-Te de mim! Assim como fizeste com a ovelha perdida, procura-me, Senhor, e encontrar-me-ás; e a

Teus ombros, Senhor, leva-me à casa de Teu Pai.

Abre-me os olhos, como os abriste ao cego, para que eu veja a Tua luz! E tal como o fizeste ao surdo, abre-

me os ouvidos, para que eu ouça a Tua voz. Cura esta minha enfermidade, como a curaste ao paralítico, para

que eu louve o Teu nome. Purifica-me as chagas com o Teu hissope (cf. Sl 50,9), como ao leproso

purificaste. Faz-me viver, Senhor, como fizeste à menina, a filha de Jairo. Cura-me, como à sogra de Pedro

curaste, porque estou doente. Faz que me levante como o fizeste ao rapaz, filho da viúva. Como a Lázaro,

que chamaste, chama-me com a Tua própria voz e desprende-me destas faixas. Porque eu estou morto pelo

pecado, como de uma doença; reergue-me desta ruína, e louvarei o Teu nome! Peço-te, Senhor da Terra e do

Céu, vem em meu auxílio e indica-me o Teu caminho, para que eu vá até Ti. Leva-me até Ti, Filho do Bom

Deus, e eleva ao máximo a Tua misericórdia. Irei até Ti e, junto a Ti, saciar-me-ei

Lc.(17,11-19) –DDCF- p.1371.2 – O leproso agradecido. 11.Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galiléia.

12.Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando:

13.Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!

14.Jesus viu-os e disse-lhes: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E quando eles iam andando, ficaram curados.

15.Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz.

16.Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano.

17.Jesus lhe disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove?

18.Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!

19.E acrescentou: Levanta-te e vai, tua fé te salvou.

Comentário feito por:

Vida de S. Francisco de Assis dita «Compilation de Pérouse» (c. 1311)

§43

«Dar glória a Deus» - (v.15)

Dois anos antes da sua morte, o bem-aventurado Francisco estava já muito doente, sofrendo especialmente

dos olhos... Esteve mais de cinqüenta dias sem poder suportar durante o dia a luz do sol, nem durante a noite

a claridade do lume. Ficava sempre na obscuridade do interior da casa, na sua cela... Uma noite, como

refletisse acerca das tribulações que sofria, teve pena de si mesmo e disse: « Senhor, socorre-me nas minhas

enfermidades, para que eu tenha a força de suportá-las pacientemente!». E, de repente, ouviu em espírito

uma voz: «Diz-me, irmão: se, como compensação dos teus sofrimentos e tribulações, te dessem um imenso e

precioso tesouro... não te alegrarias?... Compraz-te e vive na alegria no meio das tuas enfermidades e

tribulações: a partir de agora vive em paz como se participasses já do meu Reino».

No dia seguinte disse aos seus companheiros...: «Deus deu-me uma tal graça e bênção que, na sua

misericórdia, se dignou assegurar-me, a mim, seu indigno servo vivendo ainda aqui em baixo, que

participasse do seu Reino. Assim, para sua glória, para minha consolação e edificação do próximo, quero

compor um novo «louvor ao Senhor» pelas suas criaturas. Todos os dias estas atendem às nossas

necessidades, sem elas não poderíamos viver, e por elas o gênero humano ofende muito o Criador. Todos os

dias também ignoramos um tão grande bem, não louvando como deveríamos o Criador e Dispensador de

todos este dons»...

A esses «Louvores do Senhor», que começam por: «Altíssimo, todo poderoso e bom Senhor», chamou-lhes

«Cântico do irmão Sol». Com efeito, essa é a mais bela das criaturas, a que podemos mais que qualquer

outra, comparar a Deus. E ele dizia: «Ao nascer do Sol todo o homem deveria louvar a Deus por ter criado

esse astro que durante o dia dá aos olhos a sua luz; à tardinha, quando cai a noite, todo o homem deveria

louvar a Deus por esta outra criatura, o nosso irmão fogo que, nas trevas, permite que os nossos olhos vejam

claro. Somos todos como cegos, e é por estas duas criaturas que Deus nos dá a luz. Por isso, por estas

criaturas e pelas outras que nos servem diariamente, devemos louvar muito particularmente o seu glorioso

Criador.»

Ele próprio o fazia de todo o coração, estivesse doente ou saudável, e de boa vontade incitava os outros a

cantar a glória do Senhor. Quando foi derrubado pela doença, entoava muitas vezes este cântico e fazia-o

continuar pelos seus companheiros; esquecia deste modo considerando a glória do Senhor, a violência das

suas dores e dos seus males. Procedeu assim até ao dia da sua morte.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja

Sermões diversos, n° 27

«Senão este estrangeiro!»

Ele é feliz, aquele leproso samaritano que reconhecia que «não tinha nada que não tivesse recebido» (1Co. 4,

7). Ele «salvaguardou o que lhe tinha sido confiado» (2Tm.1,12) e voltou para o Senhor, dando-Lhe graças.

Feliz daquele que a cada graça recebida volta Àquele em que se encontra a plenitude de todas as graças,

porque se nos mostrarmos reconhecidos por tudo o que recebemos, preparamos em nós lugar para a graça

[...] em maior abundância. Com efeito, apenas a nossa ingratidão entrava os nossos progressos após a nossa

conversão.

Feliz aquele que se olha como um estrangeiro e que dá grandes ações de graças mesmo pelas menores

dádivas, segundo o pensamento de que tudo o que se dá a um estrangeiro e a um desconhecido é uma dádiva

puramente gratuita. Pelo contrário, ficamos infelizes e miseráveis quando, após nos termos mostrado

inicialmente timoratos, humildes e devotos, esquecemos em seguida como era gratuito o que recebemos.

Peço-vos então, meus irmãos, ponhamo-nos cada vez mais humildemente sob a mão poderosa de Deus (1P

5, 6). Ponhamo-nos com grande devoção em ação de graças e Ele conceder-nos-á a única graça que pode

salvar as nossas almas. Demonstremos o nosso reconhecimento não apenas por palavras e levianamente, mas

através das obras e na verdade.

Comentário feito por:

São Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos Frades Menores

Primeira regra, 23 (a partir da trad. Desbonnets et Vorreux, Documents, p. 78)

«Voltar para glorificar a Deus»

Todo-poderoso, santíssimo, altíssimo e soberano Deus,

Pai santo e justo, Senhor, Rei do céu e da terra,

Por Ti a Ti damos graças,

Pois que, por Tua santa vontade,

E por Teu Filho unigênito, com o Espírito Santo,

Criaste todas as coisas espirituais e corporais.

À Tua imagem e semelhança nos fizeste,

O paraíso por morada nos deste,

Donde, por nossa culpa, caímos.

A Ti damos graças que,

Como por Teu Filho nos criaste,

Assim também, pelo santo amor com que nos amaste,

Fizeste que Teu Filho, verdadeiro Deus e verdadeiro homem,

Nascesse da gloriosa Virgem Santa Maria,

E, pela Sua cruz, Seu sangue e Sua morte,

Quiseste resgatar-nos a nós, os cativos.

E a Ti damos graças porque esse mesmo Teu Filho

De novo virá na glória da Sua majestade

Para lançar ao fogo eterno os malditos

Que recusaram converter-se e conhecer-Te

E para dizer a todos quantos Te conheceram,

Te adoraram e Te serviram em penitência:

«Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do

mundo» (Mt 25, 34).

E porque somos nós todos, indigentes e pecadores,

Dignos não somos de pronunciar o Teu nome;

Aceita, Te suplicamos,

Que Nosso Senhor Jesus Cristo,

Teu Filho muito amado, em Quem puseste todo o Teu agrado,

Com o Santo Espírito Paráclito

Te dê graças por tudo,

Como a Ti e a Ele agradar,

Ele, que é Quem sempre em tudo Te basta,

Ele, por Quem tanto fizeste por nós. Aleluia!

Comentário feito por:

São Bruno de Segni (c. 1045-1123), bispo

Comentário sobre o Evangelho de Lucas, 2, 40; PL 165, 426-428 (a partir da trad. de Delhougne, Les Pères

commentent, p. 449)

A fé que purifica

Que representam os dez leprosos, senão o conjunto dos pecadores? [...] Quando Cristo Nosso Senhor veio,

todos os homens sofriam de lepra da alma, mesmo se nem todos estivessem fisicamente atacados. [...] Ora, a

lepra da alma é bem pior que a do corpo.

Mas vejamos a continuação: «Mantendo-se à distância, gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia

de nós!»» Esses homens mantinham-se à distância porque não ousavam, tendo em conta o seu estado,

avançar para mais perto d'Ele. O mesmo se passa conosco: enquanto permanecemos nos nossos pecados,

mantemo-nos afastados. Portanto, para recuperarmos a saúde e nos curarmos da lepra dos nossos pecados,

supliquemos com voz forte e digamos: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» Esta súplica, no entanto,

não deve vir da nossa boca, mas do nosso coração, porque o coração fala mais alto. A oração do coração

penetra os céus e eleva-se muito alto, até ao trono de Deus.

Lc.18,35-43) DDCF- p.1373 – Cura de um cego em Jericó. 35.Ao aproximar-se Jesus de Jericó, estava um cego sentado à beira do caminho, pedindo esmolas.

36.Ouvindo o ruído da multidão que passava, perguntou o que havia.

37.Responderam-lhe: É Jesus de Nazaré, que passa.

38.Ele então exclamou: Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!

39.Os que vinham na frente repreendiam-no rudemente para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais forte: Filho de Davi, tem

piedade de mim!

40.Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Chegando ele perto, perguntou-lhe:

41. Que queres que te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu veja.

42. Jesus lhe disse: Vê! Tua fé te salvou.

43E imediatamente ficou vendo e seguia a Jesus, glorificando a Deus. Presenciando isto, todo o povo deu glória a Deus.

Comentário feito por:

S. Simão o Novo Teólogo (cerca 949-1022), monge ortodoxo

Hino 18

A luz que me conduz pela mão

Nós conhecemos o amor que tu nos deste, sem limite, indizível, que nada pode encerrar; ele é luz, luz

inacessível, luz que age em tudo...Com efeito, o que é que esta luz não faz, e o que é que ela não é? Ela é

encanto e alegria, doçura e paz, misericórdia sem medida, abismo de compaixão. Quando a possuo, não a

observo mais; vejo-a apenas quando ela se vai. Precipito-me para prendê-la, e ela foge totalmente. Não sei o

que fazer e consumo-me. Aprendo a pedir e a procurar com lágrimas e em grande humildade, a não

considerar como possível o que ultrapassa a natureza, nem como efeito do meu poder ou do esforço humano,

aquilo que vem da compaixão de Deus e da sua misericórdia infinita...

Esta luz conduz-nos pela mão, fortifica-nos, ensina-nos, mostrando-se, mas fugindo assim que temos

necessidade dela. Não é quando a queremos – o que pertence aos perfeitos – mas é assim que ficamos

embaraçados e completamente esgotados que ela vem em nosso socorro. Ela aparece de longe e faz-me

senti-la no meu coração. Grito até me sufocar de tanto que a quero prender, mas tudo é noite, e vazias estão

as minhas pobres mãos. Esqueço tudo, sento-me e choro, desesperando de vê-la ainda uma outra vez.

Quando chorei muito e consenti em me deter, então, vindo misteriosamente, ela toma-me a cabeça, e eu

derreto-me em lágrimas sem saber quem está a iluminar o meu espírito de uma luz muito doce.

Comentário feito por:

São Gregório Magno (c. 540-604), papa e Doutor da Igreja

Homilia 2 sobre o Evangelho (a partir da trad. Luc commenté, DDB 1987, p. 140 rev.)

«Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim»

Observemos que é quando Jesus se aproxima de Jericó que o cego recupera a vista. Jericó significa «lua» e

na Sagrada Escritura a lua é o símbolo da carne votada ao desaparecimento; em determinado momento do

mês ela diminui, simbolizando o declínio da nossa condição humana votada à morte. É, pois, ao aproximar-

se de Jericó que o nosso Criador faz com que o cego recupere a vista. É ao tornar-Se próximo de nós pela

carne, de que Se revestiu, com a sua mortalidade, que Ele torna a dar ao gênero humano a luz que tínhamos

perdido. É porque Deus endossa a nossa natureza que o homem acede à condição divina.

E é precisamente a humanidade que está representada por este cego sentado na beira do caminho e a

mendigar, pois a Verdade diz de Si mesma: «Eu sou o caminho» (Jo 14, 6). Aquele que não conhece o brilho

da luz eterna é de fato cego, mas se começa a crer no Redentor então fica «sentado à beira do caminho». Se,

embora crendo Nele, não Lhe implora o dom da luz eterna, se se recusa a pedir-Lho, será sempre um cego à

beira do caminho; um cego que não pede. Que todo o homem que reconhece as trevas que o tornam cego,

que todo o homem que compreende que lhe falta a luz eterna grite do fundo do seu coração, grite com toda a

sua alma: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim.»

Lc.(18,35-43) - DDCF - p.1373.4 – Cura de um cego em Jericó

Odes de Salomão (texto cristão hebraico do princípio do séc. II)

§ 21

«Seguia a Jesus dando glória a Deus» - (v.43)

Ergui os braços aos céus

para a graça do Senhor.

Ele libertou-me das correntes,

atirando-as para longe de mim;

o meu protector criou-me

na graça e na salvação.

Despi-me das trevas

e vesti-me de luz.

Apercebi-me de que o meu corpo não sentia

dificuldade, dor ou angústia.

O pensamento do Senhor socorreu-me muito,

tanto quanto a sua comunhão incorruptível.

A sua luz exaltou-me,

caminhei na sua presença,

e aproximar-me-ei d’Ele,

louvando-O e glorificando-O.

O meu coração transbordou,

invadiu a minha boca

e jorrou-me nos lábios.

A exultação do Senhor e o seu louvor

alegram o meu rosto.

Aleluia!

Comentário feito por:

S. Gregório o Grande (c. 540-640), Papa, Doutor da Igreja

Sermões sobre o Evangelho, nº 2; PL 76, 1081 ( Trad. Lc. comentada, DDB 1987, p139 rev.)

«O homem começou a ver e seguia Jesus dando glória a Deus»- (v.43)

O Nosso Redentor, prevendo que os discípulos ficassem perturbados com a sua Paixão, anuncia-lhes com

muita antecedência os sofrimentos da sua Paixão e a glória da sua Ressurreição (Lc. 18, 31-33). Assim,

vendo-o morrer como lhes anunciara, não duvidariam da sua Ressurreição. Mas, presos ainda à nossa

condição carnal, os discípulos não podiam compreender estas palavras anunciando o mistério (v. 34). É

então que intervém um milagre: debaixo dos seus olhos, um cego recupera a visão, para que aqueles que

eram incapazes de assimilar as palavras do mistério sobrenatural fossem sustentados na sua fé à vista de um

ato sobrenatural.

É que devemos ter um duplo olhar sobre os milagres do nosso Salvador e Mestre: são fatos que devemos

aceitar como tais e são signos que remetem para outra coisa... Assim, no plano da história, não sabemos nada

acerca de quem era este cego. Mas que ele é designado de forma obscura, sabemo-lo. Este cego é o gênero

humano expulso, na pessoa do seu primeiro pai, da alegria do Paraíso, que não tem qualquer conhecimento

da luz divina e está condenado a viver nas trevas. Contudo, a presença do seu Redentor ilumina-o: ele

começa a ver as alegrias da luz interior, e, desejando-as, pode pôr os pés na caminhada de vida das boas

obras.

Comentário feito por :

São Gregório Magno (c. 540-604), papa e Doutor da Igreja

Homilia 2 sobre o Evangelho (a partir da trad. Luc commenté, DDB 1987, p. 140 rev.)

«Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim»

Observemos que é quando Jesus se aproxima de Jericó que o cego recupera a vista. Jericó significa «lua» e

na Sagrada Escritura a lua é o símbolo da carne votada ao desaparecimento; em determinado momento do

mês ela diminui, simbolizando o declínio da nossa condição humana votada à morte. É, pois, ao aproximar-

se de Jericó que o nosso Criador faz com que o cego recupere a vista. É ao tornar-Se próximo de nós pela

carne, de que Se revestiu, com a sua mortalidade, que Ele torna a dar ao gênero humano a luz que tínhamos

perdido. É porque Deus endossa a nossa natureza que o homem acede à condição divina.

E é precisamente a humanidade que está representada por este cego sentado na beira do caminho e a

mendigar, pois a Verdade diz de Si mesma: «Eu sou o caminho» (Jo 14, 6). Aquele que não conhece o brilho

da luz eterna é de fato cego, mas se começa a crer no Redentor então fica «sentado à beira do caminho». Se,

embora crendo Nele, não Lhe implora o dom da luz eterna, se se recusa a pedir-Lho, será sempre um cego à

beira do caminho; um cego que não pede. [...] Que todo o homem que reconhece as trevas que o tornam

cego, que todo o homem que compreende que lhe falta a luz eterna grite do fundo do seu coração, grite com

toda a sua alma: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim.»

Lc.19,1-10 - DDCE – p.1374 – Zaqueu recebe Jesus 1.Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade.

2.Havia aí um homem muito rico chamado Zaqueu, chefe dos recebedores de impostos.

3.Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura.

4.Ele correu adiande, subiu a um sicômoro para o ver, quando ele passasse por ali.

5.Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu

fique hoje em tua casa.

6.Ele desceu a toda a pressa e recebeu-o alegremente.

7.Vendo isto, todos murmuravam e diziam: Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...

8.Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-lhe: Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado

alguém, restituirei o quádruplo.

9.Disse-lhe Jesus: Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão.

10.Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.

Comentário feito por:

Bem-aventurada Isabel da Trindade (1880-1906), carmelita

Último retiro, 42-44

“Hoje, é preciso que eu fique em tua casa” –(v.5)

“Só em Deus repousa a minha alma; d’Ele vem a minha salvação. Só Ele é o meu rochedo e a minha

salvação, a minha fortaleza; jamais vacilarei” (Sl 61, 2-3). Eis o mistério que canta

hoje a minha lira! Como a Zaqueu, o meu Mestre disse-me: “Desce depressa, porque é preciso que eu fique

hoje em tua casa”. Desce depressa, mas para onde? Ao mais profundo de mim própria: depois de me ter

deixado a mim própria, separado de mim própria, despojado de mim própria, numa palavra, sem mim

própria.

“É preciso que fique em tua casa”. É o meu Mestre que me exprime esse desejo! Meu Mestre quer habitar

em mim, com o Pai e o seu Espírito de amor, porque, segundo a expressão do discípulo amado, eu tenho

“sociedade” com eles, eu estou em comunhão com eles (1Jo.1,3). “Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas

sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus”, diz S. Paulo (Ef 2,19). Eis como eu entendo ser

“ concidadãos dos santos e membros da família de Deus”: é vivendo no seio da tranqüila Trindade, no meu

abismo interior, nessa “fortaleza inexpugnável do santo recolhimento” de que fala S. João da Cruz...

Oh! Que bela que é esta criatura assim despojada, salva de si própria... Ela sobe, eleva-se acima dos

sentidos, da natureza; ultrapassa-se a si própria; ultrapassa também toda a alegria, assim como toda a dor, e

passa através das nuvens, para só descansar quando tiver penetrado “no interior” daquele que ela ama e que

lhe dará, ele próprio, o repouso... O Mestre disse-lhe: “Desce depressa”. É ainda sem de lá sair que ela

viverá, à imagem da Trindade imutável, num eterno presente..., tornando-se, por um olhar sempre mais

simples, mais unido “ o esplendor da sua glória” (Hb.1,3), dito de outro modo, “louvor e glória” da suas

adoráveis perfeições.

Comentário feito por:

Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja

Carta 137, à sua irmã Celina (in OC, Cerf DDB 1992, p. 452)

«Zaqueu, desce depressa»

Jesus juntou-nos, se bem que por caminhos diferentes; juntas nos elevou acima de todas as coisas frágeis

deste mundo, de todas as coisas que passam; por assim dizer, colocou todas as coisas debaixo dos nossos

pés. Como Zaqueu, nós subimos a uma árvore para ver Jesus. Então poderíamos dizer como São João da

Cruz: «Tudo é meu, tudo é para mim, a Terra é minha, o Céu é meu, Deus é meu e a Mãe do meu Deus é

minha». [...]

Celina, que mistério é a nossa grandeza em Jesus! Eis tudo o que Jesus nos mostrou ao fazer-nos subir à

árvore simbólica de que eu falava há pouco. E agora, que ciência irá Ele ensinar-nos? Não nos ensinou já

tudo? Ouçamos o que Ele nos diz: «Apressem-se a descer, hoje tenho de ficar em vossa casa». Pois é! Jesus

diz-nos para descermos. Mas para onde devemos descer? Celina, sabe melhor do que eu, mas deixa-me

dizer-te para onde devemos agora seguir Jesus. Outrora, os judeus perguntaram ao nosso divino Salvador:

«Mestre, onde moras?» e Ele respondeu-lhes: «As raposas têm as suas tocas, as aves do céu os seus ninhos e

Eu não tenho onde reclinar a cabeça» (Mt.8,20). Eis para onde devemos descer para podermos servir de

morada a Jesus: sermos tão pobres que não tenhamos onde reclinar a cabeça.

Comentário feito por:

João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005

Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-Feira Santa de 2002, §§ 4-6

«Hoje veio a salvação a esta casa»

Tenho a impressão de que o sucedido entre Jesus e o «chefe dos publicanos» de Jericó se parece em vários

aspectos com uma celebração do sacramento da misericórdia. Cada um dos nossos encontros com um fiel

que nos pede para se confessar [...] pode ser sempre, pela graça surpreendente de Deus, aquele «local» junto

do sicômoro onde Jesus levantou os olhos para Zaqueu. A nós, é-nos impossível medir quanto tenham

penetrado os olhos de Cristo no íntimo do publicano de Jericó. Sabemos, porém, que aqueles são os mesmos

olhos que fixam cada um dos nossos penitentes. No sacramento da reconciliação, somos instrumentos dum

encontro sobrenatural com leis próprias, que devemos apenas respeitar e favorecer.

Deverá ter sido, para Zaqueu, uma experiência impressionante ouvir chamar pelo seu nome. Na boca de

muitos conterrâneos, aquele nome era pronunciado com grande desprezo. Agora ouve proferi-lo com uma

ternura tal, que exprime não só confiança, mas familiaridade e de algum modo urgência duma amizade. Sim,

Jesus fala a Zaqueu como a um velho amigo, que talvez O esquecera, mas nem por isso Ele renunciara à sua

fidelidade e, por conseguinte, entra com a doce pressão do afeto na vida e na casa do amigo reencontrado:

«Desce depressa, pois tenho de ficar em tua casa» (Lc 19, 5). No relato de Lucas, impressiona o tom da

linguagem: tudo é tão personalizado, delicado, afetuoso! Não se trata apenas de comoventes traços de

humanidade. Há, neste texto, uma urgência intrínseca, expressa por Jesus enquanto expressão reveladora da

misericórdia de Deus.

(Jô.1,29-34) – pg.1385 – (DDCE) – dom da cura espiritual

29.No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

30.É este de quem eu disse: Depois de mim virá um homem, que me é superior, porque existe antes de mim.

31.Eu não o conhecia, mas, se vim batizar em água, é para que ele se torne conhecido em Israel.

32.(João havia declarado: Vi o Espírito descer do céu em forma de uma pomba e repousar sobre ele.)

33.Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água disse-me: Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é

quem batiza no Espírito Santo.

34.Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.

–As conseqüências do pecado original e de todos os pecados pessoais dos homens conferem ao mundo em

seu conjunto uma condição pecadora, que pode ser designada com a expressão de São João: “o pecado do

mundo”.. Com esta expressão quer se exprimir também a influência negativa que se exercem sobre as

pessoas, as situações comunitárias e as estruturas sociais que são os frutos dos pecados dos homens.

Comentário feito por:

J. B. Bossuet (1627-1704), bispo de Meaux

Elevações sobre os mistérios, 24ª semana, 2ª elevação

<<Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» -(v.29)

João, vendo Jesus vir até ele, mostrou-o a todo o povo dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira

o pecado do mundo". Todos os dias, de manhã e à tarde, imolava-se no Templo um cordeiro e aquilo era o

que se chamava o "sacrifício contínuo” ou perpétuo (Ex 29,38). Foi isso que deu a João a oportunidade de

pronunciar as palavras que acabamos de ouvir; talvez mesmo Jesus se tenha aproximado dele à hora em que

todo o povo sabia que se estava a oferecer esse sacrifício. Fosse como fosse, neste testemunho que presta ao

Salvador, ele que o tinha feito conhecer como "Filho único no seio do Pai" (Jo.1,18), cujas profundezas

vinha revelar, faz ser conhecido hoje como a vítima do mundo. Não penseis que aquele cordeiro que se

oferecia tarde e manhã em sacrifício perpétuo fosse o verdadeiro cordeiro, a verdadeira vítima de Deus; é

antes aquele que se colocou “ao entrar no mundo no lugar de todas as vítimas” (cf. He 10, 5.7). É também

aquele que é a vítima pública do gênero humano e que, só ele, pode expiar e tirar esse grande pecado que é a

raiz de todos os outros e que, por isso, pode ser chamado "o pecado do mundo", quer dizer, o pecado de

Adão, o pecado de todo o universo…

Comentário feito por:

Santa Teresa-Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da Europa

As Bodas do Cordeiro, 14/9/1940

"O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"- (v.29)

No Apocalipse, o apóstolo João escreve: «Eis o que vi: diante do trono... havia um Cordeiro, de pé e como

que imolado» (Ap.5,6). Enquanto contemplava esta visão, uma recordação permanecia nele ainda bem viva:

a do dia inesquecível em que, na margem do Jordão, João Baptista tinha designado Jesus como «o Cordeiro

de Deus que tira o pecado do mundo»...

Mas porque é que o próprio Senhor tinha escolhido o cordeiro para ser o seu símbolo por excelência? Porque

é que se mostrava mais uma vez sob esta aparência no trono eterno da glória? Porque era inocente como um

cordeiro e humilde como um cordeiro, e porque tinha vindo para «deixar-se conduzir ao matadouro como

um cordeiro» (Is 53,7). Também isso tinha contemplado o apóstolo João, quando o Senhor tinha deixado que

lhe atassem as mãos no Jardim das Oliveiras e se tinha deixado pregar na cruz no Gólgota. Ali, no Gólgota, o

verdadeiro sacrifício da reconciliação tinha sido consumado. Os antigos sacrifícios tinham perdido a sua

força e, tal com o antigo sacerdócio, cessaram em breve quando o templo foi destruído. Tudo isto João tinha-

o vivido. Por isso, não se admirou ao ver o Cordeiro no trono...

Tal como o Cordeiro tinha de ser morto para ser elevado ao trono da glória, assim também, para todos os que

foram escolhidos para «a boda das núpcias do Cordeiro» (Ap.19,9), o caminho para a glória passa pelo

sofrimento e pela cruz. Aqueles que querem unir-se ao Cordeiro devem deixar-se pregar com ele na cruz.

Todos os que estão marcados com o sangue do Cordeiro (cf. Ex 12,7) a isso são chamados - e são todos os

batizados. Mas nem todos compreendem o apelo e nem todos o seguem.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e posteriormente de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilia sobre o batismo de Jesus Cristo e sobre a Epifania

«Eu vi, e dou testemunho : é Ele o Filho de Deus» - (v.34)

Cristo manifestou-Se a todos os homens não no momento do seu nascimento mas no momento do seu

batismo. Até esse dia, poucos o conheciam; quase ninguém sabia da sua existência e quase todos ignoravam

quem era. João Baptista dizia: «No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26). O próprio João

partilhava desta ignorância acerca de Cristo até ao dia do seu batismo : «Eu não O conhecia, mas aquele que

me enviou para batizar na água disse-me: ‘Aquele sobre quem vires descer o Espírito Santo, n’Ele pousando,

é o que batiza com o Espírito Santo’» . Com efeito, que razão dá João para o batismo do Senhor? Era, diz

ele, para que todos o conhecessem. São Paulo dizia também: «João Baptista ministrou apenas um batismo de

penitência e dizia ao povo que cresse n’Aquele que iria chegar depois dele» (At.19,4). Eis porque Jesus

recebe o batismo de João. Ir de casa em casa apresentar Cristo dizendo que era o Filho de Deus, tal seria,

para João, dar dificílimo testemunho; conduzi-Lo até à sinagoga e designá-Lo como Salvador teria sido um

testemunho pouco credível. É no meio de grande multidão reunida na margem do Jordão que Jesus recebe

dos altos céus o testemunho claramente expresso: o Espírito Santo descendo sobre Si na forma de uma

pomba. Eis o que confirma o testemunho de João, sem quaisquer dúvidas.

«Eu próprio não o conhecia», dizia João. Quem te fez conhecê-Lo? «Aquele que me enviou para O batizar».

E o que é que te disse? «Aquele sobre quem vires descer o Espírito Santo, n’Ele pousando, é o que batiza

com o Espírito Santo». É portanto o Espírito Santo quem a todos revela Aquele de quem João pregou

maravilhas, descendo dos céus para, com suas asas de pomba, O designar.

Comentário feito por :

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Sobre Isaías, IV, 2 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, lire la Bible, t. 6, p. 116)

«Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo»

«Cantai, ó céus, a obra do Senhor! Exultai de alegria, ó profundezas da terra! Saltai de júbilo, vós,

montanhas, e tu, bosque, com todas as tuas árvores, porque o Senhor resgatou Jacó, manifestou a Sua glória

em Israel» (Is 44, 23). Pode-se facilmente concluir desta passagem de Isaías que a remissão dos pecados, a

conversão e redenção dos homens, anunciada pelos profetas, se cumpre em Cristo nos últimos dias. Com

efeito, quando Deus, o Senhor, nos apareceu, quando Se fez homem, vivendo com os habitantes da terra,

Ele, o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo, Ele, a vítima totalmente pura, que grande motivo de

júbilo para as forças do alto e os espíritos celestiais, para todas as ordens dos santos anjos! Eles cantavam,

eles cantavam o Seu nascimento segundo a carne: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do

Seu agrado» (Lc 2, 14).

Se é verdade, conforme a palavra do Senhor – e é absolutamente verdade –, que «haverá mais alegria no Céu

por um só pecador que se converte» (Lc.15, 7), como duvidar de que haja alegria e júbilo nos espíritos do

alto, quando Cristo traz à terra inteira o conhecimento da verdade, chama à conversão, justifica pela fé, torna

brilhante de luz pela santificação? «Os céus rejubilam porque Deus teve misericórdia», não apenas para com

Israel segundo a carne, mas para com Israel compreendido segundo o espírito. «Os fundamentos da terra»,

ou seja, os ministros sagrados da pregação do Evangelho, «tocaram a trombeta». A sua voz retumbante

chegou a toda a parte; como as trombetas sagradas, ela ressoou em todas as partes. Eles anunciaram a glória

do Salvador por todos os lugares, chamaram ao conhecimento de Cristo tanto os judeus como os pagãos.

Jo.5,1-16- DDCF - p1389 – Cura de um paralítico 1.Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

2.Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.

3.Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.

4.[Pois de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento. E o primeiro que entrasse no

tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.]

5.Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.

6.Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: Queres ficar curado?

7.O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro

desceu antes de mim.

8.Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.

9.No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando. Ora, aquele dia era sábado.

10.E os judeus diziam ao homem curado: E sábado, não te é permitido carregar o teu leito.

11.Respondeu-lhes ele: Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda.

12.Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda?

13.O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.

14.Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: Eis que ficaste são; já não peques, para não te acontecer coisa pior.

15.Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.

16.Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses milagres no dia de sábado.

Comentário feito por:

São Romano, o Melodista (c. 560), compositor de hinos

Cântico «Os novos baptizados», str. 1-5,19 (a partir da trad. SC 283, pp. 343ss.)

A Quaresma, última preparação daqueles que serão batizados na Páscoa

Nós, os novos batizados, os filhos do batistério que acabamos de receber a luz, damos-Te graças, Cristo

Deus. Tu iluminaste-nos com a luz do Teu rosto, Tu revestiste-nos com a veste que convém às Tuas núpcias

(Sl 4, 7; Mt.22, 11). Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.

Quem dirá, quem mostrará ao primeiro homem criado, Adão, a beleza, o brilho, a dignidade dos seus filhos?

Quem contará também à infeliz Eva que os seus descendentes se tornaram reis, revestidos de uma veste de

glória, e que com grande glória glorificam Aquele que os glorificou, brilhantes de corpo, de espírito e de

veste? [...] E quem os exaltou? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi

do Teu agrado.

Tu és brilhante e radioso, Adão. Ao ver-te, o teu adversário definha e exclama: Quem é este que vejo? Não

sei. O pó foi renovado (Gn 2, 7), as cinzas foram divinizadas. O pobre doente foi convidado, foi refrescado,

entrou e sentou-se à mesa, foi conduzido ao banquete e tem a audácia de comer e o desplante de beber

Aquele que o criou. E quem Lho deu? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti,

porque tal foi do Teu agrado.

Esqueceu as suas culpas antigas, não ostenta a menor cicatriz dos primeiros ferimentos. Abandonou os seus

longos anos de paralisia na piscina, como tinha feito o paralítico, e deixou de trazer o leito aos ombros, mas

traz às costas a cruz Daquele que teve piedade dele. Outrora, o Amigo dos homens lavou muitos homens nas

águas, mas eles não brilharam assim; àqueles, porém, a Ressurreição tornou-os luminosos. Glória a Ti, glória

a Ti, porque tal foi do Teu agrado. Eis te recriado, novo batizado, eis te renovado; não curves as costas ao

peso dos pecados. Possuis a cruz como cajado, apóia te nela. Leva-a à tua oração, leva-a para a mesa, leva-a

para o leito, leva-a para todo o lado como título de glória. Grita aos demônios: Com a cruz na mão, ergo-me,

louvando a Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.

Comentário feito por:

Santo Efrem (c.306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja

Quinto hino para a Epifania

A pia batismal dá-nos a cura

Descei, irmãos, e revesti-vos do Espírito Santo nas águas batismais;

Uni-vos aos seres espirituais que servem o nosso Deus.

Bendito Aquele que instituiu o Batismo para o perdão dos filhos de Adão!

Esta água é o fogo secreto que ferra a marca em seu rebanho,

com os três nomes espirituais que espantam o Mal (cf. Ap.3, 12)...

João atestou do nosso Salvador: «Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo» (Mt.3,11).

Eis, irmãos, o fogo e o Espírito, no verdadeiro Batismo.

Mais poder tem na verdade o Batismo, do que o Jordão, esse riachozinho:

com suas vagas de água e de óleo santo, ele lava o pecado de todos os humanos.

Eliseu, mergulhando nele sete vezes, limpara Naamã da lepra (2R 5,10);

mas o Batismo purifica-nos dos pecados que estão escondidos na alma.

Moisés batizara o povo no mar (1Cor 10, 2),

sem lhe poder, contudo, lavar por dentro o coração,

manchado como estava do pecado.

Agora, eis que um padre, semelhante a Moisés, lava da alma as suas manchas,

e, com o óleo, marca os cordeiros novos para o Reino...

Pela água nascente do rochedo foi a sede do povo saciada (Ex 17,1s);

Por Cristo e pela sua fonte, eis saciada a sede das nações...

Do lado de Cristo, eis que corre uma fonte que dá a vida (Jo 19, 34);

bebendo dela, os povos sequiosos esqueceram suas queixas.

Verte, Senhor, sobre a minha fraqueza, o teu orvalho;

pelo teu sangue, perdoa os meus pecados.

Que eu seja incluído no número dos teus santos, à tua direita.

Comentário feito por :

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo

Sermão 8 (a partir da trad. de Cerf 1991, p. 63)

«Levanta-te, toma a tua enxerga e anda»

Nosso Senhor foi à piscina de Betesda; encontrou um homem doente há trinta e oito anos, e disse-lhe:

«Queres ser curado?» [...] Meus filhos, reparai bem que este doente permaneceu ali longos anos. Este doente

estava destinado a servir a glória de Deus, e não a morte (Jo 11, 4). Oh, se quiséssemos esforçar-nos por

compreender, em espírito de verdadeira paciência, o ensinamento profundo contido no fato de o doente ter

esperado trinta e oito anos que Deus o curasse e ordenasse que se fosse embora!

Isto se destina às pessoas que, mal começando uma vida ligeiramente diferente e não vendo produzirem-se

de imediato as grandes coisas esperadas, crêem estar tudo perdido e se queixam de Deus como se Ele as

tratasse injustamente. São poucos os homens que possuem esta nobre virtude de se abandonarem e se

resignarem, que se aceitam como são e suportam a própria enfermidade, os próprios obstáculos e as próprias

tentações, até que o próprio Senhor os cure. Que poder e que autoridade são dados a este homem! Na

verdade, é a ele que é dito: «Levanta-te, não podes continuar deitado, deves sair triunfante do cativeiro, ser

salvo e andar em total liberdade; levarás a tua cama, ou seja, aquilo que antes te levava a ti, e deves erguê-la

e levá-la agora com autoridade e força.» Aquele que o próprio Senhor libertar será bem libertado, andará

cheio de alegria e, após esta longa espera, obterá uma liberdade maravilhosa, de que são privados todos os

que julgam que se libertam a si mesmos quebrando os seus laços antes do tempo.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja

Sobre os mistérios, 24s (trad. breviário rev.)

«Queres ficar são?»

O paralítico da piscina de Betsada esperava um homem [para ajudá-lo a descer à piscina]. Quem era esse

homem, a não ser o Senhor Jesus, nascido da Virgem? Com a Sua vinda, Ele não prefigurou apenas a cura de

algumas pessoas; Ele era a própria verdade que cura todos os homens. Por conseguinte, era Ele que se

esperava que descesse, Ele de Quem Deus Pai disse a João Baptista: «Aquele sobre Quem vires o Espírito

descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo» (Jo 1, 33). [...] Então, por que desceu o Espírito como

uma pomba, se não para que tu a visses e reconhecesses que a pomba enviada da arca por Noé, o justo, era

uma imagem desta outra pomba, de modo a que nela reconhecesses a prefiguração do sacramento do

Batismo? Podes estar ainda na dúvida, quando o Pai proclama para ti de maneira indubitável no Evangelho:

«Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o Meu agrado» (Mt.3, 17); quando o Filho o proclama,

Ele sobre Quem o Espírito Santo se manifestou sob forma de pomba; quando o Espírito Santo também o

proclama, Ele que desceu sob forma de pomba; quando David o proclama: «A voz do Senhor ressoa sobre as

águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a vastidão das águas» (Sl 28, 3)? A

Escritura atesta também que, às preces de Gedeão, o fogo desceu do céu; e que, à prece de Elias, o fogo foi

enviado para consagrar o sacrifício (Jz.6, 21; 1R 18, 38).

Não consideres o mérito pessoal dos sacerdotes, mas a sua função [...]. Por conseguinte, acredita que o

Senhor Jesus está lá, invocado pela oração dos sacerdotes, Ele que disse: «Pois, onde estiverem dois ou três

reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20). Por maioria de razão, onde está a Igreja, onde

estão os mistérios, é lá que Ele se digna conceder-nos a Sua presença. Desceste ao batistério. Recorda o que

disseste: que crês no Pai, que crês no Filho, que crês no Espírito Santo. [...] Pelo mesmo compromisso da tua

palavra, quiseste crer no Filho da mesma maneira que crês no Pai, acreditar no Espírito Santo da mesma

maneira que crês no filho, apenas com a diferença que professas que é necessário crer na cruz do único

Senhor Jesus.

Jo.(9,1-41) – DDCF - p.1397/98 – O cego de nascença 1.Caminhando, viu Jesus um cego de nascença.

2.Os seus discípulos indagaram dele: Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?

3.Jesus respondeu: Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus.

4.Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar.

5.Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.

6.Dito isso, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego.

7.Depois lhe disse: Vai, lava-te na piscina de Siloé (esta palavra significa emissário). O cego foi, lavou-se e voltou vendo.

8.Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto mendigar perguntavam: Não é este aquele que, sentado, mendigava?

9.Respondiam alguns: É ele. Outros contestavam: De nenhum modo, é um parecido com ele. Ele, porém, dizia: Sou eu mesmo.

10.Perguntaram-lhe, então: Como te foram abertos os olhos?

11.Respondeu ele: Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: Vai à piscina de Siloé e lava-te.

Fui, lavei-me e vejo.

12.Interrogaram-no: Onde está esse homem? Respondeu: Não o sei.

13.Levaram então o que fora cego aos fariseus.

14.Ora, era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.

15.Os fariseus indagaram dele novamente de que modo ficara vendo. Respondeu-lhes: Pôs-me lodo nos olhos, lavei-me e vejo.

16.Diziam alguns dos fariseus: Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda sábado. Outros replicavam: Como pode um

pecador fazer tais prodígios? E havia desacordo entre eles.

17Perguntaram ainda ao cego: Que dizes tu daquele que te abriu os olhos? É um profeta, respondeu ele.

18.Mas os judeus não quiseram admitir que aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a vista, até que chamaram

seus pais.

19.E os interrogaram: É este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu cego? Pois como é que agora vê?

20.Seus pais responderam: Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego.

21.Mas não sabemos como agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade. Que ele mesmo

explique.

22.Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que

reconhecesse Jesus como o Cristo.

23.Por isso é que seus pais responderam: Ele tem idade, perguntai-lho.

24.Tornaram a chamar o homem que fora cego, dizendo-lhe: Dá glória a Deus! Nós sabemos que este homem é pecador.

25.Disse-lhes ele: Se esse homem é pecador, não o sei... Sei apenas isto: sendo eu antes cego, agora vejo.

26.Perguntaram-lhe ainda uma vez: Que foi que ele te fez? Como te abriu os olhos?

27.Respondeu-lhes: Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos. Por que quereis tornar a ouvir? Quereis vós, porventura, tornar-vos

também seus discípulos?...

28.Então eles o cobriram de injúrias e lhe disseram: Tu que és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés.

29.Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste não sabemos de onde ele é.

30.Respondeu aquele homem: O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos.

31.Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade.

32.Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33.Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada. 34.Responderam-lhe eles: Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?... E expulsaram-no. 35.Jesus soube que o tinham expulsado e, havendo-o encontrado, perguntou-lhe: Crês no Filho do Homem? 36.Respondeu ele: Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele? 37.Disse-lhe Jesus: Tu o vês, é o mesmo que fala contigo! 38.Creio, Senhor, disse ele. E, prostrando-se, o adorou. 39.Jesus então disse: Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. 40.Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?... 41.Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste.

Comentário feito por:

Gregório de Narek (c. 944 – c. 1010), monge e poeta armênio

Livro de orações, n.° 40

«Ele foi, lavou-se e regressou a ver»- (v.7)

Deus todo-poderoso, nosso Benfeitor, Criador do Universo,

Escuta os meus gemidos, que estou em perigo.

Liberta-me do medo e da angústia;

Liberta-me com a tua força poderosa, Tu que tudo podes…

Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma

da vida.

Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona, a mim, cativo, para me fazer perecer;

Conduz para o repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.

Cura a febre que me sufoca o coração.

Perante ti sou culpado, liberta-me da inquietação, fruto da invenção diabólica,

Faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada […].

Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso.

Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto

E na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).

Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflete a tua (Gn 1,26).

Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador.

Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste,

Para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário.

Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai

Para louvor do teu Espírito Santo

Pelos séculos dos séculos.

Jo.(20,19-23) –DDCIE - pg.1411/12 – Aparições aos discípulos 19.Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por

medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!

20.Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.

21.Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.

22.Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.

23.Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.

Comentário feito por:

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]

Retiro Vaticano 1983

"Todos os ouvimos proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus" (At. 2,11)

O dia de Pentecostes revela a catolicidade da Igreja, a sua universalidade. O Espírito Santo manifesta a sua

presença pelo dom das línguas. Renova assim, mas invertendo-o, o acontecimento de Babel (Gn 11), aquela

expressão do orgulho dos homens que querem tornar-se como Deus e construir com as suas próprias forças,

isto é, sem Deus, uma ponte até ao céu, a torre de Babel. Esse orgulho provoca divisões no mundo e ergue os

muros da separação. Por causa do orgulho, o homem reconhece apenas a sua própria inteligência, a sua

própria vontade, o seu próprio coração; desse modo, ele já não é capaz, nem de compreender a linguagem

dos outros, nem de ouvir a voz de Deus.

O Espírito Santo, o amor divino, compreende e faz compreender as línguas; ele cria a unidade na

diversidade. Assim, desde o primeiro dia, a Igreja fala em todas as línguas. Por isso, ela é católica, universal.

A ponte entre o céu e a terra existe mesmo: essa ponte é a cruz e foi o amor do Senhor que a construiu. A

construção desta ponte ultrapassa as possibilidades da técnica. A ambição de Babel devia e deve fracassar;

só o amor encarnado de Deus podia responder a tal ambição...

A Igreja é católica desde o primeiro instante da sua existência; ela abraça todas as línguas. O sinal das

línguas exprime um aspecto muito importante da eclesiologia fiel à Escritura: a Igreja universal precede as

Igrejas particulares, a unidade vem antes das partes. A Igreja universal não é uma fusão secundária das

Igrejas locais; é a Igreja universal, católica, que gera as Igrejas particulares e estas não podem permanecer

Igrejas senão em comunhão com a catolicidade. Por outro lado, a catolicidade exige a multiplicidade das

línguas, a partilha e a harmonização das riquezas da humanidade no amor do Crucificado.

Comentário feito por :

Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja

Sermões para o domingo e as festas dos santos (a partir da trad. Bayart, eds. Franciscanas 1944, p. 170)

«Também vós dareis testemunho»

Pentecostes é a palavra grega que quer dizer «qüinquagésimo». Este qüinquagésimo dia, que o povo judaico

festejava, contava-se a partir do dia em que tinham imolado o cordeiro pascal; e isto porque, cinqüenta dias

depois da saída do Egito, a Lei foi dada no cume incendiado do monte Sinai. Assim também, no Novo

Testamento, cinqüenta dias depois da Páscoa de Cristo, o Espírito Santo descia sobre os apóstolos e

aparecia-lhes sob a forma de fogo. A Lei foi dada sobre o monte Sinai, o Espírito sobre o monte Sião; a Lei

foi dada no cume da montanha, o Espírito no Cenáculo.

«Todos os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar. Subitamente fez-se ouvir um grande barulho». [...]

Como diz o salmo, «o ímpeto do rio alegra a cidade de Deus» (45, 5). Um grande barulho acompanha a

chegada Daquele que vem ensinar os fiéis. Notai como isso está de acordo com o que lemos no Êxodo: «Era

já chegado o terceiro dia, e já tinha amanhecido, eis senão quando começaram a ouvir-se trovões, e o fuzilar

de relâmpagos; e uma nuvem muito espessa cobriu o monte e um som de buzina muito forte atroava e todo o

povo se atemorizou» (19, 16). O primeiro dia foi a Encarnação de Cristo; o segundo dia foi a Sua Paixão; o

terceiro dia é a missão do Espírito Santo. Chegou este dia: ouve-se o trovão, faz-se um grande barulho;

brilham os relâmpagos, os milagres dos apóstolos; uma espessa nuvem – a compunção do coração e a

penitência – cobre a montanha, o povo de Jerusalém (At. 2, 37-38). «Apareceu-lhes então como línguas de

fogo». As línguas, as da serpente, de Eva e de Adão, tinham aberto à morte o acesso a este mundo.É por isso

que o Espírito aparece sob a forma de línguas, opondo línguas às línguas, curando pelo fogo o veneno

mortal. «Eles começaram a falar.» Eis o sinal da plenitude; o vaso repleto transborda; o fogo não pode

conter-se. Estas línguas diversas são as diferentes lições que Cristo nos deixou, como a humildade, a

pobreza, a paciência, a obediência. Falamos essas línguas diversas quando damos ao próximo o exemplo

dessas virtudes. Viva está a palavra, quando falam as obras. Façamos falar as nossas obras!

Comentário feito por:

São Bruno de Segni (c. 1045-1123), bispo

Comentário ao Êxodo, cap. 15 (trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, vol. 2, p. 78)

Do Pentecostes judaico ao Pentecostes cristão

O Monte Sinai é o símbolo do Monte Sião. [...] Reparai até que ponto as duas alianças se ecoam uma à outra,

com que harmonia a festa de Pentecostes é celebrada em cada uma delas. [...] O Senhor desceu ao Monte

Sião no mesmo dia e de maneira muito semelhante a como tinha descido ao Monte Sinai. Escreve Lucas:

«Subitamente ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa

onde se encontravam. Viram então aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e pousou

uma sobre cada um deles» (At.2, 2-3). [...] Sim, tanto num como noutro monte se ouve um ruído violento e

se vê um fogo. No Sinai, foi uma nuvem espessa, no Sião o esplendor de uma luz muito forte. No primeiro

caso, tratava-se de «imagem e sombra» (Hb. 8,5), no segundo caso da realidade verdadeira. No passado,

ouviu-se o trovão, hoje se discernem as vozes dos apóstolos. De um lado, o brilho dos relâmpagos; do outro,

prodígios por todo o lado. «Moisés mandou sair o povo do acampamento, para ir ao encontro de Deus, e

pararam junto do monte» (Ex.19,17). E, nos Atos dos Apóstolos, lemos que «ao ouvir aquele som poderoso,

a multidão reuniu-se e ficou estupefata» (v. 6). [...] O povo de toda a Jerusalém reuniu-se aos pés da

montanha de Sião, ou seja, no lugar onde Sião, a imagem da Santa Igreja, começou a ser edificado, a colocar

os seus fundamentos. «Todo o Monte Sinai fumegava, porque o Senhor havia descido sobre ele no meio de

chamas», diz o Êxodo (v. 18). [...] Como poderiam deixar de arder aqueles que tinham sido abrasados pelo

fogo do Espírito Santo? Assim como o fumo assinala a presença do fogo, assim também, pela segurança dos

seus discursos e pela diversidade das línguas que falavam, o fogo do Espírito Santo manifestou a Sua

presença no coração dos apóstolos. Felizes os corações que estão cheios deste fogo! Felizes os homens que

ardem com este calor! «Todo o monte estremecia violentamente. Os sons da trombeta repercutiam-se cada

vez mais» (vv. 18-19). [...] Assim também a voz dos apóstolos e a sua pregação se tornaram cada vez mais

fortes, fazendo-se ouvir cada vez mais longe, até que «por toda a terra caminha o seu eco, até aos confins do

universo a sua palavra» (Sl 18, 5).

Jo.20,19-31 ddcei - p.1412 19.Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por

medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!

20.Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.

21.Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.

22.Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.

23.Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.

24.Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.

25.Os outros discípulos disseram-lhe: Vimos o Senhor. Mas ele replicou-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não

puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!

26.Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio

Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco!

27.Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas

homem de fé.

28.Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus!

29.Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!

30.Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro.

31.Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu

nome.

Comentário feito por:

Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge e poeta arménio

Livro das orações, nº 33 (a partir da trad. SC 78, p. 206)

«Recebei o Espírito Santo»

Onipotente, Benfeitor, Amigo dos homens, Deus de todos,

Criador dos seres visíveis e invisíveis,

Tu que salvas e fortaleces,

Tu que curas e pacificas,

Espírito poderoso do Pai,

Tu participas no mesmo trono e na mesma glória,

e na ação criadora do Pai.

Por meio de Ti nos foi revelada

a trindade das Pessoas, na unidade da natureza da Divindade;

e Tu és uma destas Pessoas,

Tu, o Incompreensível.

Moisés Te proclamou Espírito de Deus (Gn.1,2):

a Ti, que planavas sobre as águas,

com proteção envolvente, temível e cheia de solicitude;

Tu abriste as asas como sinal de auxílio compadecido aos recém-nascidos,

revelando-nos assim o mistério da fonte batismal. Tu criaste, ó Onipotente, enquanto Senhor,

todas as naturezas de tudo quanto existe,

todos os seres a partir do nada.

Por Ti se renovam pela ressurreição

todos os seres por Ti criados,

nesse momento que é o último dia da vida nesta terra

e o primeiro dia da vida na Terra dos Vivos.

Aquele que tem a mesma natureza que Tu,

Aquele que é consubstancial ao Pai, o Filho Unigênito,

obedeceu-Te, na nossa natureza, como a Seu Pai,

unindo a Sua vontade à Tua.

Ele Te anunciou como Deus verdadeiro,

igual e consubstancial a Seu Pai onipotente e calou aqueles que a Ti resistiam,

esses que combatiam Deus (cf Mt 12, 28),

perdoando embora àqueles que se Lhe opunham.

Ele é o Justo e o Imaculado, o Salvador de todos,

que foi entregue por causa dos nossos pecados,

e que ressuscitou para nossa justificação (Rom 4, 25).

A Ele a glória por Ti,

e a Ti o louvor pelo Pai onipotente,

pelos séculos dos séculos,

Ámen.

Comentário feito por :

São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja

Primeiro Sermão para o Pentecostes (rev.)

«Soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo»»

Senhor Jesus Cristo, faz com que voltemos a ter «um só coração e uma só alma» (At.4, 32), porque, nesse momento,

far-se-á «uma grande calma» (Mc 4, 39). Minha querida audiência, exorto-vos à amizade e à benevolência entre vós e

à paz entre todos; porque, se tivéssemos caridade entre nós, teríamos a paz e o Espírito Santo. É necessário tornarmo-

nos piedosos e rezar a Deus [...], porque os Apóstolos eram perseverantes na oração. Se começarmos a rezar

fervorosamente, o Espírito Santo virá sobre nós e dirá: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» (cf. Mc 6,50) [...] Que

devemos nós pedir a Deus, meus irmãos? Tudo o que for para Sua honra e para a salvação das nossas almas e, numa

palavra, a ajuda do Espírito Santo; «Se lhes envias o Teu Espírito renovas a face da terra» (Sl 104 (103), 30) – a paz e

a tranqüilidade...

É preciso que peçamos essa paz, para que o Espírito da paz venha sobre nós. Temos, também, de dar graças a Deus por

todos os Seus benefícios, se quisermos que Ele nos conceda as vitórias que são o início da paz; e, para obter o Espírito

Santo, temos de agradecer a Deus Pai que O enviou, primeiramente, ao nosso mestre, Jesus Cristo, Nosso Senhor, Seu

Filho– porque «todos nós participamos da Sua plenitude» (cf. Jo.1,16) – e porque O enviou aos Seus Apóstolos para

que nos comunicassem, impondo sobre nós as mãos. Temos de agradecer ao Filho: tal como Deus, Ele envia-nos o

Espírito: sendo Deus, envia Espírito aos que se dispõem a recebê-Lo. Mas, sobretudo, temos de agradecer porque,

sendo Homem, nos mereceu a graça de receber o Divino Espírito [...].

E como é que Jesus nos mereceu a vinda do Espírito Santo? «Inclinando a cabeça, entregou o espírito» (Jo 19,30);

porque, entregando o Seu último suspiro, e o Seu espírito ao Pai, mereceu-nos que o Pai enviasse o Espírito ao Seu

corpo místico.

Jo.(21,15-19) - DDCI - p.1412.3

15.Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim,

Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros.

16.Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:

Apascenta os meus cordeiros.

17.Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez:

Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.

18.Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho,

estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.

19.Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado,

acrescentou: Segue-me!

-As três vezes que Jesus pergunta a Pedro é justamente para curá-lo interiormente, após tê-lo negado três

vezes na sua Paixão, libertando-o assim do complexo de culpa.

Comentário feito por:

Beato João Paulo II

Homilia em Paris 30/05/80 (trad. © Libreria Editrice Vaticana)

«Simão, filho de João, tu amas-Me?»

Na hora da prova, Pedro renegou o Mestre três vezes. E a voz tremia-lhe quando respondeu: «Sim, Senhor,

Tu sabes que Te amo» (Jo 21,15). Contudo, não respondeu «Todavia, Senhor, eu enganei-Te», mas: «Sim,

Senhor, Tu sabes que Te amo». Dizendo isto, já sabia que Cristo é a pedra angular sobre a qual, apesar de

toda a fraqueza humana, pôde crescer nele, Pedro, esta construção que terá a forma do amor. Através de

todas as situações e todas as provas. Até ao fim. Por isso ele escreverá um dia: «Vós mesmos, como pedras

vivas, entrais na construção de um edifício espiritual, por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer

sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus tão só por Jesus Cristo» (1 Pd. 2,5).

Tudo isto significa tão só responder sempre e constantemente, com tenacidade e de maneira conseqüente, a

esta única pergunta: Amas-Me? Tu amas-Me? Tu amas-Me mais? É com efeito esta resposta, quer dizer, este

amor, que faz com que sejamos «raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido» (1Pd. 2,9). Ela é

que faz que proclamemos as obras maravilhosas d'Aquele que nos «chamou das trevas para a Sua luz

admirável» (1Pd.2,9). Tudo isto soube Pedro na absoluta certeza da sua fé. E sabe tudo isto e continua a

confessá-lo também nos seus sucessores.

Comentário feito por:

João Paulo II

Homilia em Paris 30/05/80

“Tu amas-me?”

“Tu amas?... Tu amas-me? …” Para sempre, até ao fim da sua vida, Pedro devia caminhar acompanhado

desta tripla questão: “Tu amas-me?” E ele conformaria todas as suas atividades à resposta que então tinha

dado. Quando foi convocado perante o Sinédrio. Quando foi preso em Jerusalém, prisão da qual não devia

sair, e da qual contudo saiu. E … em Antioquia, depois ainda mais longe, de Antioquia a Roma. E quando

em Roma ele perseverou até ao fim dos seus dias, conheceu a força das palavras segundo as quais um Outro

o conduzia para onde ele não queria. E ele sabia que, graças à força dessas palavras, a Igreja “era assídua ao

ensino dos apóstolos e à união fraterna, à fração do pão e às orações” e que “o Senhor acrescentava todos os

dias à comunidade os que seriam salvos” (At.2,24.48).

Pedro não pode nunca desligar-se desta pergunta: “Tu amas-me?” Ele leva-a consigo para onde quer que vá.

Leva-a através dos séculos, através das gerações. No meio de novos povos e de novas nações. No meio de

línguas e de raças sempre novas. Leva-a sozinho, e contudo não está mais sozinho. Outros a levam com

ele… Há muitos e muitos homens e mulheres que souberam e que sabem ainda hoje que toda a sua vida tem

valor e sentido apenas e exclusivamente na medida em que é resposta a esta mesma questão: “Tu amas? Tu

amas-me?” Deram e dão a sua resposta de forma total e perfeita – uma resposta heróica – ou então de uma

forma comum, vulgar. Mas em todos os casos sabem que a sua vida, que a vida humana em geral, tem valor

e sentido na medida em que é resposta a esta questão: “Tu amas?” É apenas graças a esta questão que a vida

vale a pena ser vivida.

Comentário feito por: -

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Sermões sobre S. João, 122, 2-4 ; 123, 5

"Apascenta as minhas ovelhas" – (v.17)

O Senhor pergunta a Pedro se ele o ama, coisa que já sabia; e pergunta-o, não uma vez mas duas e mesmo

três. E, de cada vez, Pedro responde que o ama; e, de cada vez, Jesus lhe confia o cuidado de apascentar as

suas ovelhas. À sua tripla renúncia responde aqui uma tripla afirmação de amor. É preciso que a sua língua

sirva o seu amor, tal como serviu o seu medo; é preciso que a sua palavra dê testemunho de uma forma tão

clara diante da vida como a que fez diante da morte. É preciso que ele dê uma prova de amor ocupando-se do

rebanho do Senhor, tal como deu prova de temor renegando o Pastor.

Torna-se evidente que aqueles que se ocupam das ovelhas de Cristo, com a intenção de fazer delas ovelhas

suas mais do que de Cristo, têm para com elas um afeto maior do que o que experimentam para com Cristo.

É o desejo da glória, do poder e do proveito que os conduz e não o amoroso desejo de obedecer, de socorrer

e de agradar a Deus. Esta palavra três vezes repetida por Cristo condena aqueles que fazem gemer o apóstolo

Paulo quando os vê buscar os seus interesses mais que os de Jesus Cristo (Fl.2,21). Com efeito, que

significam estas palavras: "Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas"? É como se dissesse: Se me amas, não

te ocupes de ti mesmo mas das minhas ovelhas; olha-as não como tuas mas como minhas; nelas, procura a

minha glória e não a tua, o meu poder e não o teu, os meus interesses e não os teus... Não nos preocupemos,

pois, conosco mesmos; amemos o Senhor e, ocupando-nos das suas ovelhas, procuremos o interesse do

Senhor sem nos inquietarmos com o nosso.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hippone (África do Norte) e doutor da Igreja

Sermão Guelferbytanus 16, 1

Eis que o Senhor, depois da sua ressurreição, aparece de novo aos seus discípulos. Interroga o apóstolo

Pedro, obriga-o a confessar o seu amor, ele que por medo, o havia negado três vezes. Cristo ressuscitou

segundo a carne, e Pedro segundo o espírito. Como Cristo morreu sofrendo, Pedro morre negando. O Senhor

Cristo ressuscitou de entre os mortos, e ressuscitou Pedro graças ao amor que este lhe tinha. Interrogou o

amor daquele que se declarava agora abertamente, e confiou-lhe o seu rebanho.

Por conseguinte, que é que Pedro trazia a Cristo pelo fato de amá-lo? Se Cristo te ama, o benefício é para ti,

não para Cristo. Se tu amas Cristo, o benefício é ainda para ti, não para ele. Entretanto, o Senhor Cristo,

querendo mostrar-nos como os homens devem provar que O amam, revela-nos isso claramente: amando as

suas ovelhas.

«Simão, filho de João, tu amas-me? – Amo-te – Apascenta as minhas ovelhas». E isso uma vez, duas vezes,

três vezes. Pedro não diz mais nada a não ser o seu amor. Amemo-nos pois uns aos outros e amaremos

Cristo.

Comentário feito por :

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja

Poema «Vuestra soy, para vos nací» (a partir da trad. de OC, Seuil 1995, p. 1225)

«Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!»Sou Tua, para Ti nasci,

Que queres Tu de mim?

Majestade soberana,

Sabedoria eterna

Bondade tão boa para a minha alma,

Deus Altíssimo, Ser único, Bondade,

Repara na minha extrema pequenês,

Em mim que Te canto hoje o meu amor.

Que queres Tu de mim?

Sou Tua, pois me criaste

Tua, pois me resgataste,

Tua, pois me sustentas,

Tua, pois me chamaste,

Tua, pois me esperaste,

Tua, pois não me perdi,

Que queres Tu de mim?

Que queres Tu, pois, Senhor tão bom,

Que faça uma tão vil serva?

Que missão deste Tu

A esta escrava pecadora?

Eis-me aqui, meu doce amor,

Doce amor, eis-me aqui.

Que queres Tu de mim?

Eis o meu coração,

Deponho-o na Tua mão,

Juntamente com o meu corpo, a minha vida, a minha alma,

As minhas entranhas e todo o meu amor.

Doce Esposo, meu Redentor,

Ofereci-me para ser Tua,

Que queres Tu de mim?

Dá-me a morte, dá-me a vida,

A saúde ou a doença

Dá-me honrarias ou humilhações,

A guerra ou a mais profunda paz,

A debilidade ou a força absoluta,

A tudo Te digo sim:

Que queres Tu de mim?

Sou Tua, para Ti nasci,

Que queres Tu de mim?

At.4,13-21- DDCE - p 1417 13. Vendo eles a coragem de Pedro e de João, e considerando que eram homens sem estudo e sem instrução, admiravam-se.

Reconheciam-nos como companheiros de Jesus.

14. Mas vendo com eles o homem que tinha sido curado, não puderam replicar.

15. Mandaram que se retirassem da sala do conselho, e conferenciaram entre si:

16. Que faremos destes homens? Porquanto o milagre por eles feito se tornou conhecido de todos os habitantes de Jerusalém, e

não o podemos negar.

17. Todavia, para que esta notícia não se divulgue mais entre o povo, proibamos com ameaças, que no futuro falem a alguém nesse

nome.

18. Chamaram-nos e ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em nome de Jesus.

19. Responderam-lhes Pedro e João: Julgai-o vós mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus.

20. Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.

21. Eles então, ameaçando-os de novo, soltaram-nos, não achando pretexto para os castigar por causa do povo, porque todos

glorificavam a Deus pelo que tinha acontecido.

Comentário feito por:

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo

PS 1, 22 «Witnesses of the Ressurrection»

Testemunhas da ressurreição

Seria de esperar que Nosso Senhor, uma vez ressuscitado, aparecesse ao maior número de pessoas possível,

sobretudo aos que O tinham crucificado. Pelo contrário, vemos pela história que Ele Se manifesta apenas a

algumas testemunhas escolhidas, e especialmente os Seus discípulos mais próximos. Como diz São Pedro:

«Deus ressuscitou-O, ao terceiro dia, e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas

anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da Sua ressurreição dos

mortos» (At.10, 40-41).

À primeira vista, isto parece-nos estranho. Com efeito, temos uma idéia muito diferente da Ressurreição,

representamo-la como uma manifestação deslumbrante e visível da glória Cristo. [...] Representando-a como

um triunfo público, somos levados a imaginar a confusão e o terror que se teriam apoderado dos Seus

carrascos se Jesus Se tivesse apresentado vivo diante deles. Reconheçamos que tal raciocínio nos levaria a

conceber o Reino de Cristo como um reino deste mundo, o que não é correto. Seria supor que Cristo veio

julgar o mundo nesse momento, quando tal só acontecerá no último dia. Por que Se terá Ele mostrado apenas

«a algumas testemunhas escolhidas anteriormente»? Porque era este o meio mais eficaz de propagar a fé

pelo mundo inteiro. [...] Qual teria sido o fruto de uma manifestação pública que se impusesse a todos? Esse

novo milagre teria deixado a multidão como a tinha encontrado, sem mudança eficaz. Os Seus milagres

anteriores já não tinham convencido a todos [...]; que teriam dito e sentido a mais do que anteriormente,

mesmo que «alguém ressuscitasse dentre os mortos»? (Lc 16, 31) [...] Cristo mostra-Se para suscitar

testemunhos da Sua ressurreição, ministros da Sua palavra, fundadores da Sua Igreja. Como poderia a

multidão, com a sua natureza inconstante, adivinhá-lo?

At.5,12-16 ddcfei - p.1418.9 12.Enquanto isso, realizavam-se entre o povo pelas mãos dos apóstolos muitos milagres e prodígios. Reuniam-se eles todos

unânimes no pórtico de Salomão.

13.Dos outros ninguém ousava juntar-se a eles, mas o povo lhes tributava grandes louvores.

14.Cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor.

15.De maneira que traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao

menos a sua sombra cobrisse alguns deles.

16.Também das cidades vizinhas de Jerusalém afluía muita gente, trazendo os enfermos e os atormentados por espíritos imundos,

e todos eles eram curados.

Comentário feito por:

Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge e poeta arménio

Livro das orações, nº 33 (a partir da trad. SC 78, p. 206)

«Recebei o Espírito Santo»

Onipotente, Benfeitor, Amigo dos homens, Deus de todos,

Criador dos seres visíveis e invisíveis,

Tu que salvas e fortaleces,

Tu que curas e pacificas,

Espírito poderoso do Pai [...],

Tu participas no mesmo trono e na mesma glória,

e na ação criadora do Pai [...].

Por meio de Ti nos foi revelada

a trindade das Pessoas, na unidade da natureza da Divindade;

e Tu és uma destas Pessoas,

Tu, o Incompreensível.

Moisés Te proclamou Espírito de Deus (Gn.1, 2):

a Ti, que planavas sobre as águas,

com proteção envolvente, temível e cheia de solicitude;

Tu abriste as asas como sinal de auxílio compadecido aos recém-nascidos,

revelando-nos assim o mistério da fonte batismal.

Tu criaste, ó Onipotente, enquanto Senhor,

todas as naturezas de tudo quanto existe,

todos os seres a partir do nada.

Por Ti se renovam pela ressurreição

todos os seres por Ti criados,

nesse momento que é o último dia da vida nesta terra

e o primeiro dia da vida na Terra dos Vivos.

Aquele que tem a mesma natureza que Tu,

Aquele que é consubstancial ao Pai, o Filho Unigênito,

obedeceu-Te, na nossa natureza, como a Seu Pai,

unindo a Sua vontade à Tua.

Ele Te anunciou como Deus verdadeiro,

igual e consubstancial a Seu Pai onipotente

e calou aqueles que a Ti resistiam,

esses que combatiam Deus (cf Mt 12, 28),

perdoando embora àqueles que se Lhe opunham.

Ele é o Justo e o Imaculado, o Salvador de todos,

que foi entregue por causa dos nossos pecados,

e que ressuscitou para nossa justificação (Rom 4, 25).

A Ele a glória por Ti,

e a Ti o louvor pelo Pai onipotente,

pelos séculos dos séculos,

Amém.

Rm.8,31- DDCE - p.1457 31. Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

- Precisamos, diante desta batalha espiritual, suplicar o auxílio de Deus, através da oração de libertação no

quotidiano de nossas vidas, isto é, pedir ao Pai que nos livre do Maligno, que nos liberte de todos os males,

presentes, passados e futuros, dos quais ele é o autor ou instigador...

- Com a libertação dos males que oprimem a nós e a toda a humanidade, imploramos o dom precioso da paz

e a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo.

1Co.12, 1 - (DDC-F.I.E) – p.1476 1. respeito dos dons espirituais, irmãos não quero que vivais na ignorância

– São Paulo escreveu aos Coríntios e, por conseqüência, a todos nós, que não devemos estar na ignorância

dos dons espirituais,

- Devemos, pois estar bem conscientes do papel dos dons espirituais, da sua força e do seu poder em nossas

vidas e em nossa missão.

1Co.12,9b– (DDC-F.I.E) – p.1476 – dom da cura nas 3 áreas

9b.A outro, a graça de curar doenças no mesmo Espírito.

1Co.12,11 –DDC-F.I.E - p.1476 – ( DDC-F.I.E) – 11.Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons a cada um como lhe apraz.

- O dom das curas, ou a graça de curar as doenças, é colocado neste texto de forma simples e bem clara.

Depois de toda esta clareza não há por que ter dúvidas a respeito do desejo do Espírito Santo de derramar o

dom da cura sobre quem o desejar.

Fl.2,10 – DDCE - pg.1505 9.Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes,p.

10.para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos.

11.E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.

– Também se faz necessário conhecer que ao “Nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos

infernos e que toda a língua confesse para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor”.

- E que não existe nome no Céu, na Terra e nos Infernos que não se vergue diante deste no nome.

- De posse destas prerrogativas que nos foram comunicadas em nosso Batismo, pelo qual participamos do

sacerdócio régio de Cristo, resta-nos então orar pelos nossos irmãos e ordenar que toda força maligna retire-

se da vida desta pessoa em obediência ao Nome de Jesus Cristo, para que ela fique livre para o seu serviço e

seu louvor.

- O dom das curas é o dom do Espírito Santo que deve ser usado para todos os que desejam servir a Jesus em

obediência e para que os nossos irmãos livres de todo o mal e de toda a enfermidade, possam louvar e servir

a Deus, testemunhando o seu nome e engrandecendo o seu reino na terra.

Ef.2,19-22 –DDCE - p.1499 19.Conseqüentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus,

20.edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus.

21.É nele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor.

22.É nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus.

Comentário feito por:

Concílio Vaticano II

Constituição Dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», §§ 24-25

«Uma grande multidão de toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídonia, que acorrera

para ouvi-lo»

Os Bispos, como sucessores dos Apóstolos, recebem do Senhor, a Quem foi dado todo o poder no céu e na

terra, a missão de ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda à criatura, para que todos os

homens se salvem pela fé, pelo batismo e pelo cumprimento dos mandamentos (cf. Mc 28, 18; Mc 16, 15-

16; At.26,17ss.). Para realizar esta missão, Cristo Nosso Senhor prometeu o Espírito Santo aos apóstolos, e

enviou-O do céu no dia de Pentecostes, para, com o Seu poder, serem testemunhas perante as nações, os

povos e os reis, até aos confins da terra (cf. At.1, 8; 2, 1ss.; 9, 15). Este encargo que o Senhor confiou aos

pastores do Seu povo é um verdadeiro serviço, significativamente chamado «diaconato», ou ministério (cf.

At.1, 17 e 25; 21, 19; Rom 11, 13; 1Tim 1, 12).

Entre os principais encargos dos Bispos, ocupa lugar preeminente a pregação do Evangelho. Os Bispos são

os arautos da fé, que para Deus conduzem novos discípulos. Dotados da autoridade de Cristo, são doutores

autênticos, que pregam ao povo a eles confiado a fé que se deve crer e aplicar na vida prática; ilustrando-a

sob a luz do Espírito Santo e tirando do tesouro da Revelação coisas novas e antigas (cf.Mt 13,52), fazem-no

frutificar e solicitamente afastam os erros que ameaçam o seu rebanho (1Tim.4,1-4). Ensinando em

comunhão com o Romano Pontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e

católica. E os fiéis devem conformar-se ao parecer que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria

de fé ou costumes, aderindo a ele com religioso acatamento.

1Ts.5,23 - (DDC-F.I.E) – p.1514

- O Dom das Curas se manifesta de 3 formas.Tomando-se por base as 3 dimensões do homem: corpo – alma

– espírito, compreendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades em suas três

dimensões.

- Existem os males físicos, os males da alma ou males interiores e existem os males espirituais.

- Se somos atingidos em nosso corpo por qualquer enfermidade, necessitamos de uma cura física. Se somos

atingidos em qualquer área de nossa alma, necessitamos de uma prece para cura interior. Se somos atingidos

em nosso espírito, contaminamo-nos com as falsas doutrinas e apartando-nos da sã doutrina da salvação,

precisamos de uma oração para cura espiritual ou oração de,libertação.

Comentário feito por :

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja

Poema «Vuestra soy, para vos nací» (a partir da trad. de OC, Seuil 1995, p. 1225)

«Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!»Sou Tua, para Ti nasci,

Que queres Tu de mim?

Majestade soberana,

Sabedoria eterna

Bondade tão boa para a minha alma,

Deus Altíssimo, Ser único, Bondade,

Repara na minha extrema pequenês,

Em mim que Te canto hoje o meu amor.

Que queres Tu de mim?

Sou Tua, pois me criaste

Tua, pois me resgataste,

Tua, pois me sustentas,

Tua, pois me chamaste,

Tua, pois me esperaste,

Tua, pois não me perdi,

Que queres Tu de mim?

Que queres Tu, pois, Senhor tão bom,

Que faça uma tão vil serva?

Que missão deste Tu

A esta escrava pecadora?

Eis-me aqui, meu doce amor,

Doce amor, eis-me aqui.

Que queres Tu de mim?

Eis o meu coração,

Deponho-o na Tua mão,

Juntamente com o meu corpo, a minha vida, a minha alma,

As minhas entranhas e todo o meu amor.

Doce Esposo, meu Redentor,

Ofereci-me para ser Tua,

Que queres Tu de mim?

Dá-me a morte, dá-me a vida,

A saúde ou a doença

Dá-me honrarias ou humilhações,

A guerra ou a mais profunda paz,

A debilidade ou a força absoluta,

A tudo Te digo sim:

Que queres Tu de mim?

Sou Tua, para Ti nasci,

Que queres Tu de mim?

Hb.13,8 –DDCI - p. 1538 8.Jesus Cristo é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade.

- Para Ele toda a nossa vida, mesmo o passado, é presente. Jesus que passar por nossa vida e nos tocar

curando o nosso coração dolorido.

- O dom da cura interior pode ser manifestado em qualquer pessoa batizada que deseje ser instrumento da

luz e da graça de Deus para aqueles que desejam expor suas feridas a Ele.

- A cura interior pode acontecer através de pedido e súplicas por parte daqueles que oram tendo por base que

eles conhecem os problemas e feridas do irmão que será curado. E pode acontecer também através do

DDPC, para casos onde quem vai orar não conheça as causas das feridas que fazem sofrer seu irmão.

- Este dom de cura interior pode ser ministrado em pessoas individualmente e também em reuniões de grupo

e ainda de forma totalmente inesperada, em uma conversa fraterna ou oração pessoal, ou ainda em uma

contingência corriqueira da vida, pois o “Espírito sopra onde quer”.O fato é que todos precisamos de cura, e

Deus pode e quer nos curar.

- Em Is.53,4, encontramos o profeta nos dizendo que o Messias sofreria nossas dores e carregaria por nós

nossos sofrimentos.

- Ele carregaria não apenas o pecado que cometemos individualmente, mas também as feridas que as

fraquezas e falhas de outros causam em nós! Isso é o que Jesus tomou sobre si! Tudo isso é realizado em nós

e para nós, porque Deus deseja que nós sejamos livres, para amá-lo e para servi-lo.

. Sim, este é o grande objetivo da cura interior, deixar-nos livres das dores, marcas e pesos do passado e

servirmos a Deus nesta liberdade.

1Jo.5,19 –DDCE - p.1553 19.Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Malígno.

– Esta situação dramática do mundo que “o mundo inteiro está sob o poder do Maligno”., faz da vida do

homem um combate: Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história universal da

humanidade.Iniciada desde a origem do mundo,vai durar até o último dia, segundo as palavras do Senhor.

. Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade

interior, senão com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus. Conscientes da existência destes espíritos

do mal que nos rodeiam como um “leão que ruge”, precisamos estar atentos à sua ação, que não raramente

se manifesta através de sentimentos de indiferença às coisas de Deus, dificuldades na oração pessoal e

comunitária, inquietações, ira, impaciência, preguiça, cansaços, enfermidades falsas, desencontros,

obstáculos e dificuldades de toda natureza e outras manifestações, na própria vida, família, negócios,

ministérios, trabalhos.

. O Senhor que perdoou o nosso pecado e perdoou nossas faltas está disposto a nos proteger e nos guardar

contra os ardis do diabo que os combate, afim de que o inimigo que se costuma engendrar a falta, não nos

surpreenda.

. Quem se entrega a Deus, não teme o demônio.

Ap.1,8 –DDCE - p.1556 8.Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele que é que era e que vem, o Dominador.

- “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados pela vossa misericórdia, sejamos

sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto vivendo a esperança, aguardamos a

vinda do Cristo Salvador”.

Ap.1,9-13.17-19- ddce - p.1557

9.Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos

por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.

10.Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta,

11.que dizia: O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a

Filadélfia e a Laodicéia.

12.Voltei-me para saber que voz falava comigo. Tendo-me voltado, vi sete candelabros de ouro

13.e, no meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, cingido o peito por um

cinto de ouro.

17.Ao vê-lo, caí como morto aos seus pés. Ele, porém, pôs sobre mim sua mão direita e disse: Não temas! Eu sou o Primeiro e o

Último, e o que vive.

18.Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos.

19.Escreve, pois, o que viste, tanto as coisas atuais como as futuras.

20.Eis o simbolismo das sete estrelas que viste na minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos

das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas. Ap.1,18 –DDCE - p.1557 18.Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos. – Rezando desta forma, a oração antecipa na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que

“detém as chaves da morte e do Hades”, “o Todo-Poderoso,Aquele que é, Aquele que era e Aquele que

vem”

Comentário feito por:

Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge e poeta armênio

Livro das orações, nº 33 (a partir da trad. SC 78, p. 206)

«Recebei o Espírito Santo»

Onipotente, Benfeitor, Amigo dos homens, Deus de todos,

Criador dos seres visíveis e invisíveis,

Tu que salvas e fortaleces,

Tu que curas e pacificas,

Espírito poderoso do Pai,

Tu participas no mesmo trono e na mesma glória,

e na ação criadora do Pai [...].

Por meio de Ti nos foi revelada

a trindade das Pessoas, na unidade da natureza da Divindade;

e Tu és uma destas Pessoas,

Tu, o Incompreensível. Moisés Te proclamou Espírito de Deus (Gn.1,2):

a Ti, que planavas sobre as águas,

com proteção envolvente, temível e cheia de solicitude;

Tu abriste as asas como sinal de auxílio compadecido aos recém-nascidos,

revelando-nos assim o mistério da fonte batismal.

Tu criaste, ó Onipotente, enquanto Senhor,

todas as naturezas de tudo quanto existe,

todos os seres a partir do nada.

Por Ti se renovam pela ressurreição

todos os seres por Ti criados,

nesse momento que é o último dia da vida nesta terra

e o primeiro dia da vida na Terra dos Vivos.

Aquele que tem a mesma natureza que Tu,

Aquele que é consubstancial ao Pai, o Filho Unigênito,

obedeceu-Te, na nossa natureza, como a Seu Pai,

unindo a Sua vontade à Tua.

Ele Te anunciou como Deus verdadeiro,

igual e consubstancial a Seu Pai onipotente

e calou aqueles que a Ti resistiam,

esses que combatiam Deus (cf Mt 12, 28),

perdoando embora àqueles que se Lhe opunham.

Ele é o Justo e o Imaculado, o Salvador de todos,

que foi entregue por causa dos nossos pecados,

e que ressuscitou para nossa justificação (Rom 4, 25).

A Ele a glória por Ti,

e a Ti o louvor pelo Pai onipotente,

pelos séculos dos séculos,

Amém.