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Arq. cien. vet. zoot. UN/PAR, 3(2): ago./dez., 2000
BIODIVERSIDADE DE ABELHAS INDIGENAS SEM FERRAO
(HYMENOPTERA: APIDAE: MELIPONINAE) NA BACIA DO
RIO TmAGI, ESTADO DO PARANA, . BRASIL
Edson Aparecido Proni
PRONIl, E. A . Biodiversidade de abelhas indigenas sem ferrao (Hymenoptera: Apidae: Meliponinae)
naBacia do Rio Tibagi, Estado do Parana, Brasil. Arq. den. vet . zoo l. UNIPAR, 3(2) : p . 145-150 ,2000.
RESUMO : Foram realizados levantamentos prelirninares do nivel de ocorrencia de ninhos de
abelhas indigenas sem ferrao (meliponfneos au stingless bee) na Bacia do Rio Tibagi, Estado do
Parana .. Forarn identificados 12 generos e 19 especies dessas abelhas, com uma distribuicao bern
diversificada tanto nos ecossistemas urbanos como nos agroecossistemas. Foi constatado que a
biodiversidade atual dessas especies esta seriamenre ameacada pelos processes antropogenicos,
PALAVRAS-CHAVE: stingless bee, abelhas indigenas, meliponfneos, biodiversidade
BIODIVERSITY OF INDIGENOUS STINGLESS BEES
(HYMENOPTERA: APIDAE: MELIPONINAE) IN THE TmAGI
RIVER BASIN, PARANA STATE, BRAZIL
PRONI, E. A . Biodiversity of indigenous stingless bees (Hymenoptera: Apidae: Meliponinae) in the
Tibagi River Basin, Parana State, Brazil, A rq . c ie n. v et. r oo l. UN /PAR , 3(2): p. 145-150,2000.
ABSTRACT: Preliminary surveys on the occurrence of nests of indigenous stingless bees
(meliponinea or stingless bee) in the Tibagi River Basin, State of Parana, identified 12 genera and
19 species in a very diversified distribution both in urban and agricultural ecosystems. Itwas verified
that the current biodiversity of these species is seriously endangered by anthropogenic processes.
KEYWORDS: stingless bee, indigenous bees, meliponinae, biodiversity
BIODIVERSIDAD DE ABEJAS INDiGENAS SIN AGUIJON
(HYl\ffiNOPTERA : APIDAE: MELIPONINAE) EN LA CUENCA
DEL RIO TmAGI, PROVINCIA DEL PARANA, BRASIL
PRONI, E. A Biodiversidad de abejas indfgenas sin aguij6n (Hymenoptera: Apidae: Meliponinae)en la cuenca del Rio Tibagi, Provincia del Parana, Brasil. Arq. den. vet. zool: UNTPAR, 3(2) :. p .
1 45 -1 50 , 2 00 0.
RESUMEN: El grado de ocurrencia de nidos de abejas indigenas sin aguijon (meliponinos 0 stingless
bee) fue determinado en la cuenca del Rio Tibagi, Estado de Parana, atraves de un levantamiento
preliminar, Fueron identificados 12 generos y 19 especies de abejas, con una distribucion bien
diversificada tanto en IDs agroecosisternas como en los ecosistemas urbanos. Se constat6 que la
biodiversidad actual de esas especies esta seriamente amenazada par los procesos antropogenicos,
PALABRAS-CLAVE: stingless bees, abejas indigenas, meliponinos, biodiversidad
I Bi61ogo, Mestre, Doutor, Professor de Ecologia da U niversidade Estadual de Lond rin a -UEL eUniversidade Paranaense
- UNIPAR - Praca Mascarenhas de Moraes, sIn, 87502-210, Umuarama - PR - Brasil= [email protected]
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Introducao
Atualmente, cerca de 20.000 especies de
abelhas habitam os mais diversos tipos de
eco ss is te rnas .Po ssuem uma d iver si fi ca cao mui to
rica de comportamentos, tamanhos e formas. A
maior parte destas possue habitos solitaries,contrastando com a minoria que mostra varies
niveis de organizacao social, ou seja, vive ern
colonias ,
As abelhas indfgenas sem ferrao
(meliponfneos) sao encontradas tipicamente nas
regioes tropicais e algumas importantes regioes
de c lima ternperado subtropical, ate 30 gram de
latitude norte e sul. Sao, portanto, encontradas
namaior parte da America Neotrop:ical, au seja,
na maioria do territorio Latino-Americano
(desde 0Rio Grande do SuI ate a Mexico, alem
de Australia, Indonesia, Malasia, india e Africa).
Nessas abelhas urn fato que chama rnuito a
atencao, e a caracterfstica de apresentarem urn
ferrao atrofiado, 0qua l n ao pode ser usado como
meio de defesa. Por iS50, sao denominadas
popularmente de abelhas sem ferrao ou "stingless
bees". Pertencem it superfamilia Apoidea, que e
subdividida em oito famflias: Colletidae,
Andrenidae, Oxaeidae, Halictidae, Melittidae,
Megachilidae, Anthophoridae e Apidae. Os
Apidae, por sua vez, se subdividem em quatro
subfamilias: Euglossinae, Bombinae, Apinae e
Meliponinae.
OsApidae sao a base das cadeias troficas,
mantendo urn fluxo de energia para as demais
especies animais, incluindo 0 homem, Assim,
os ecossistemas dependem da rnanutencao dos
recursos gcneticos das plantas nativas ou
cultivadas, tornando-se a base parasobrevivencia
das especies, principalmente em relacao aoaumento populacional humane, cujo incremento
na producao de alimentos e uma necessidade
prirnaria que nao deixa diivida.
Segundo HOYT (1992), a variabilidade
genetic a das populacoes vegetais ex6ticas e de
seus parentes silvestres e urn recurso para a
manutencao do vigor hfbrido das cultivates
domesticadas, usadas na alimentacao humana e
economia agricola. Sendo assirn, a
heterogeneidade ambiental exige das plantasdomesticadas grande flexibilidade em seu
genoma. Portanto, uma cultura torna-se mais
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sensfvel a s variacoes ambientais (epidernias,
pragas, clima, etc.) com 0 desenvolvimento da
uniformidade genetica, ocasionado pelos
cruzamentos consangtiineos .
De acordo com ROUBIK (1989), a
manutencao da variabilidade genetica e realizada
pelo cruzamento entre plantas dioicas, Dessamaneira, a s abelhas nativas sem ferrao sao parte
integrante deste mecanisme de reproducao
vegetal, aumentando a produtividade das plantas
cultivadas e a fertilidade d05 vegetais que
dependem da polinizacao cruzada (CAMILLO,
]996; HOFFMANN & PEREIRA, 1996;
GIMENES & MARQUES, 1996; MATEUS,
MECHl & BEGO, 1996).
Essa eficiencia na polinizacao e no ciclo
reprodutivo dos vegetais tropicais e devido agrande variacao no tamanho dos indivfduos entre
essas especies de abelhas (ROUBIK, 1989).
Segundo KERR (1997), 0 processo de
polinizacao realizado pelos meliponideos, em
plantas nativas fanerogamas, fica em torno de
30% das especies de caatinga e pantanal e ate
90% em remanescentes de Mata Atlantica (Serra
do Mar no Espirito Santo) e algumas partes da
Amazonia.
Estudos referentes a associacao lnseto-
planta, especificamente entre meliponfneos e
vegetais natives na Regiao de Manaus ~AM,
verificaram que a extincao de especies nativas
de abelhas implica na extincao de especies
vegetais, desequilibrando os ecossisternas
(ABSY & KERR , 1977; ABSY, BEZERRA &
KERR, 1980~ ABSY et al, 1984; KERR,
CUNHA & PISANI, 1978; ROUBIK, 1989).
Dessa maneira, as abelhas sem ferrao sao
consideradas, por muitos autores, como de
importancia vital para 0 ecossistema, devido it
sua eficiencia como polinizadoras. A criacao da
maioria das especies de abelhas esta ligada,
principalmente, ao seu emprego como auxiliar
na agricultura e ern projetos de florestamento,
onde numerosas especies vegetais dependem de
process os de polinizacao cruzada. De acordo
corn NOGUEIRA NETO (1953), e muito maioro valor dessas abelhas como agente s
polinizadores do que como produtoras de mel.
Nasregibes tropicais, varios outtos estudos
tambem demonstraram que a polinizacao realizada
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pelas abelhas indigenas diminue 0 isolamento
reprodutivo, resultando em urn aumento na
biodiversidade (PRICE, 1975; BAWA& OPLER,
1975; JANSEN, 1975; MICHENER, 1974;
ROUBlK 1979; ABSY et at 1984).
Nas florestas brasileiras, segundo KERR,
CARVALHO & NASCIMENTO (1996), asabelhas indtgenas constituem-se nas principais
polinizadoras de 40 a 9 0% d as arv ores, enquanto
que outros animais como morcegos aves,
borboLetas e alguns mamiferos desempenham 0
papel polinizador restante. A dirninuicao ou
elirninacao dessas abelhas seguramente, a medic
prazo, rnodificara a estrutura floristica de tais
florestas, criando urn desequilibrio nos
ecossistemas com consequencias imprevisfveis
para a perenizacao da atual fauna.No Brasil, muitas especies de abelhas
indfgenas sem terrae estao seriarnente
ameacadas de extincao, em consequencia das
a1teracoes de seus habitats, causados pelas
atividades antropicas como desmatarnento,
queimadas uso indiscriminado de agrotoxicos,
processes de urbanizacao e acao predatoria de
meleiros, Tambem diversas especies de abelhas
indfgenas sem ferrao sao ccmbatidas pelos
apicultores par serem consideradas competidoras
de Apis meilifera. Entretanto, a magnitude dessa
comp eticao n ao e perfeitamente conhecida e, em
muitos casos, e absolutamente destituida de
impor tancia. Assim, segundo KERR, CARVALHO
& NASCIMENTO (1996), a favor desta
constatacao esta 0 fate de que das mais de 400
especies de meliponmeos catalogadas, 100 estao
em perigo de extincao .
Os mel iponideos formam um g ru po , sendo
que os individuos dependem quase que
diretamente deparametres ligados a certos fatoresamb ie ntais lim ita nte s e d a c ar ac te rfs tica flo ristic a
de cada regiao. Assim, todas as possibilidades de
se desenvolver estudos destinados a conhecer a
biodiversidade dessas abelhas, poderao trazer
solucocs na conservacao e manejo dos
ecossistem as atuais, bem com o do eq uilfb rio d o
fluxo de energia nas cadeias troficas.
Material e Metodos
Foram realizados levantarnentes
preliminares da ocorrencia de ninhos de abelhas
indfgenas, principal mente nas rcgioes de
Londrina e municipios adjacentes da Bacia do
Rio Tibagi, nurna area que corresponde a 13%
doEstado do Parana, ou seja, aproximadamente
2.471 ..000 hectares, onde estao localizados 42
munictpios.
As especies de abel has coletadas noperiodo entre janeiro de 1996 e dezembro de
1999, estavam nidificadas em troncos de arvoresl
mour5es de cerca, paredes, debaixo de pedras
etc, tanto em areas urbanas como rurais, O s
ninhos foram retirados desses lccais e
transferidos para caixas racionais de madeira,
exceto no periodo de inverno que poderia ser
letal aos mesmos. Apes 0 segundo dia, perfodo
de reestruturacao natural das abelhas no interior
das caixas, as colmeias foram transferidas paraurn me liponario, onde as especies foram
identificadas,
Resultados
Na area estudada, foram encontrados 12
generos e 19 especies de abelhas indigenas sem
ferrao, cujos levantamentos prelirninares, de
acordo com a Tabela 1 . , in dic am uma d is tr ib uic ao
bern diversificada tanto nos ecossistemas
urbanos como nos agroecossistemas,
Os resultados, em relacao a diversidade
dessas abelhas, mostraram que 12 especies
(Melipona quadrifasciata, M. marginata, M.
nigra, Cephalotrigona capitata, Plebeia remota,
P julianii, Friesella schrottkyi, Leurotrigona
muelleri, Lestrimeliita limao, Partamona cupira,
Oxytrigona tataira e Seaura latitarsisy
praticamente nao nidificam nos ecossistemas
urbanos.
Por outro lado, poucas especies, comojataf iTet ragon isca angustulay, irapua (Trigona
spinipes) e mandaguari tNannotrigona
(Scaptotrigona) posticai rem urn nivel de
ocorrencia alto nomeio urbane, onde se tornaram
especies cosmopolitas, enquanto no meio rural
essas populacoes estao em decrescimo,
Com relacao aos agroecossisternas, os
resultados mostraram que 12 especies estao em
nivel de ocorrencia baixo (Melipona
quadrifasciata, M. marginata, M. nigra,Cephalotrigona capitata, Trigona clavipes,
Plebeia remota, P. droryana, Leurotrigona
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muelleri, Lestrimelitta limao, Partamona
cupira, Oxytrigona tataira e Scaura latitarsisy.
Com myel de ocorrencia medic, encontramos
sete especies: (Trigona spinipes, Nanotrigona
A rq. cien . vet. zoo l. U NIPA R, 3(2): ago.ldez., 2000
(Scaptotrigonai bipunctata, N. (Scaptotrigona)
p ostica, N .. testaceicornis, Tetragonisca
angustula, Plebeia julianii e Friesela
schrottkyii .
Tabela 1- Levantamento preliminar do myel de ocorrencia de especies de meliponfneos na Bacia
do Rio Tibagi - PR, no perfodo de janeiro de 1996 a dezernbro de 1999.
Especie Agroeco sistema
Melipona Quadrifasciata (rnandacaia)
Melipona marginaia (manduri)
Melipona nigra (guarupti)
Cephalotrigona capitata (mombucao)
T rig on a c la vi pe s (bora)
T ri go n a s pi ni pe s (irapua)
Nannotrigona (Scaptotrigona) bipunctata (tubuna)
Nannotrigona (Scaptotrlgona) postica (rnandaguari)
Nannotrigona testaceicornis (iraf)
Tretagonisca angustula (jataf)Plebeia remota (mirim- guacu)
Plebeia droryana (mirim-mo quito)
Plebeiajuiianii (mirim)
Fr le s el la s c hr o tt ky i (mirirn-preguica)
Leurotrigona muelleri (mirim)
Lestrimelitta limao (iraxirn)
Partamona cupira (cupira)
Oxytiigona tataira (tataira)
Scaura latuarsis
Ecossistema urbano
oooo2
3
1
3
1
3o
1
I1
1
1
2
2 ·
2
2
21
1
2
2
2
ooooooo
1
INfveis de ocorrencia (0 - 1- 2 - 3) de especies em ecossistema urbane e agroecossisterna:
0- nlvel de ocorrencia nulo
1 - nfvel de ocorrencia baixo
2 - nivel de ocorrencia media3 - nf vel de ocorrencia al to
Discussao e Conclusoes
A diversidade bio16gica deve ser
considerada como urn recurso global, para ser
catalogada e explorada, mas sempre dentro do
ponto-de-vista de desenvolvimento sustentavel,
ou seja, deve ser preservada a todo custo.
Segundo WILSON (1997), tres circunstanciasconspiram para dar a essa materia uma urgencia
sem precedentes. Primeiro, 0 crescimento
explosivo das populacoes hurnanas esta
desgastando 0 meio ambiente de uma forma
muito acelerada, especialmenre nos paises
tropicais. Segundo, a ciencia esta descobrindo
novas formas de utilizacao para a diversidade
biologica, que podem aliviar tanto 0 sofrimento
humane quanto a destruicao ambiental, Terceiro,
grande parte da diversidade esta se perdendo
irreversivelrnente atraves da extincao causada
pela destruicao de habitats naturais, tambem de
148
forma mais acentuada nos tropicos.
Segundo LUGO apud WILSON (1997),
a natureza da relacao entre a taxa de
desmatamento e a perda de especies nao econhecida, Contudo qualquer calculo de reducao
de biodiversidade tern que incluir essa relacao.
As areas urbanas sao efetivamente
sinonimos de perturbacao de ecossistemas e dereducao da biodiversidade. Habitats naturais sao
e foram substituidos diretamente pela construcao
civil,ruas, estradas e pelas instalacoes que as
sustentarn (MURPHY apud WILSON, 1997).
As abelhas indigenas sem ferrao ocorrem
praticamente em todos os tipos de habitats,
possuindo muitas especies com habitos de
nidificacao variados e consequentemente com
grande variabiIidade na sua biologia.
Comparativamente, podemos ressaltar que essas
abelhas possuem uma biodiversidade bem mais
rica e mais especializada que as do genera Apis,
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pois no primeiro caso possuem 52 generos com
urn total de mais de 400 especies distribuidas
em todo rnundo e, no segundo caso, apenas 8
especies.
Segundo KERR, CARVALHO &
NASCIMENTO (1 99 4) eKERR, NASCTh1ENTO
&CARVALHO (1994), as especies de abelhas
nao classificadas e aquelas razoavelmente
conhecidas estao sendo extintas com a destnricao
de seus habitats. Por exemplo, a Melipona
capixaba (uru cu-preto) recern-c las sificada
(MOURE & CAMARGO, 1994), esta sendo
extinta na sua regiao de ocorrencia no Estado de
Espfrito Santo (AIDAR, i995 e 1996).
Os levantamentos da apifauna brasileira
sao muito escassos, devido, principalmente.va
dimensao e a diversidade de ecossisternasestudados. Ha uma necessidade urgente de
complementar estes resultados com coletas rnais
cuidadosas, unificar os dados ja obtidos e pOl'
firn organiza-los em urn banco de dados.
Na Bacia do Rio Tibagi, constatamos que
a biodiversidade atual dessas abelhas esta
seriamente arneacada e, de uma forma geral,
varies fatores contribuiram para tal situacao,
sendo 0 principal, a diminuicao de areas
florestadas. No inicio do seculo,0
Estado doParana contava com 83,4% de sua area total
eoberta por florestas nativas e atualmente esta
areae inferior a 10% e a maier parte pertence a
Serra do Mar. 0 estado de preservacao dos
remanescentes de florestas e precario nas areasde planalto e as florestas ciliares praticamente
inexistern. Esse quadro sernpre esteve
relacionado com a exploracao das riquezas da
terra e sua consequente colonizacao. Na decada
de 30, com 0 processo de colonizacao no
charnado terceiro planalto (Norte do Parana),
onde as ten-as roxas foram descobertas, teve
inicio urn prooesso intensive de desmatamento
para dar lugar as monoculturas extensivas,
atividades pecuarias e processos deurbanizacao.
Outro impacto ambiental negati vo da
alteracao do habitat natural dos melipornneos ea transforrnacao de florestas em pequenas
capoeiras e a estratificacao e descontinuidade das
reservas, impedindo 0 cruzamento de colonias
de diferentes regioes, devido a distancia que assepara ser normalmente maior que 6 km
(AI DAR, 1996). Assim, a r iqueza de especies e
muito variada nesses ecossistemas e pode estar
relacionada a reducao da disponibilidade de
sftios de riidificacao e a dirninuicao da
diversidade de plantas melfferas ao longo do
gradiente,
Outra constatacao negativa observada
par KERR (1997), em Marniraua (Regiao
Amazonica), e que os macacos uacaris estao
diminuindo em mimero em razao da elirninacao,
causada pOl' rneleiros, de tres especies de
abelhas grandes e boas produtoras de mel
(Melipona seminigra, M. rufiventris e M.
crinitai polinizadoras de centenas de arvores
frutiferas. Dessa maneira, a importancia das
abelhas cresce ao rnesmo tempo em que no
ecossistema aumenta a proporcao de especies
de plantas bissexuais au di6icas e aquelas quesao obrigatoriamente panmfticas.
Em suma, as abelhas indigenas brasileiras
perdem cada vez mais a sua identidade na nossa
cultura, em parte pela popularizacao do modo
de vida das abelhas europeias ou africanizadas
(conhecidas por abelhas de mel) e em parte pela
extincao gradativa de seus habitats naturais. Esta
perda leva consigo muito do conhecimento
popular sobre as mesrnas, diminue a
oportunidade deexpansao
do conhecimentocientffico ja acumulado durante anos de
pesquisas em nossas universidades e centros de
pesquisa, dificultando a difusao cultural desse
conhecimento aos meios nao academicos.
Comportamentos ritualizados de
dorninancia-subordinacao entre rainha e
operarias, ou a marcacao de trilhas de cheiro,
pelas campeiras, orientando a acesso a fontes
de alimento, sao processes da vida da colonia
bastante conhecidos nos meios cientificos, mas
que infelizmente nao estao acessfveis a grandemaioria da populacao, Talvez, par esta razao, esta
grande maioria nero sequer imagina a
possibilidade da existencia dessas abel has e
menos ainda que esta se perdendo
gradativamente urn legado historicamente
importante para a formacao de nossos
ecossistemas. Isto constitui certamente uma
distorcao do conhecimento para aqueles que 56
conheeem as "abel has de mel", deixando no
limbo as centenas de especies de abelbas nativassem ferrao,
Portanto, a que cabe aos pesquisadores,
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ap icultores e mel iponicultores , e aresponsabilidadede proporcionar aesta imensa biodiversidade
potencial (nativa ou nao) condicoes para q ue possa
florescer sem a risco de amea¥a que se tern
vislumbrade nos ultirnos anos com a rapida
degradacao ambiental por todo 0 pais,
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Recebido para publicacao em 19f1l/99.
Received for publication On 19November 1999.
Recebido para publicacion ell 19/11/99.
Aceito para publicacao em 0 31 08 /0 0 .
Acepred for publication Oil 03 August 2000.
Acepro para publicacion en 03 /08 /QQ,