Capítulo 11
BRINCAR OU BRINCAR: EIS A QUESTÃO – A PERSPECTIVA EVOLUCIONISTA
SOBRE A BRINCADEIRA1
ILKA DIAS BICHARA2
EULINA DA ROCHA LORDELO3
ANA MARIA ALMEIDA CARVALHO4
EMMA OTTA5
A espécie humana é curiosa e lúdica. Não importa onde, na cidade ou no campo, no palácio ou na
favela, no frio ou no calor, no pântano ou no deserto, brincar é uma característica predominante
nas crianças e não está ausente entre os adultos. Ainda que cada cultura, cada grupo, cada turma
de amigos e mesmo cada criança tenha suas brincadeiras particulares, a simples existência do
fenômeno é inquestionavelmente universal.
As enormes diferenças existentes entre as diversas sociedades e culturas refletem-se de várias
maneiras no fenômeno: nas sociedades urbanas e tecnológicas, as grandes preocupações com a
educação dos jovens e a conseqüente redução do tempo livre da criança vêm sendo
contrabalançadas pela criação de espaços, equipamentos e materiais destinados especificamente
ao brincar, com o objetivo de promover condições adequadas para essa atividade.
Sociedades tradicionais de agricultores e caçadores coletores não possuem equipamentos, objetos
ou espaços planejados especificamente para o brincar, mas o investimento social não é menor: os
1 Apoio Capes
2 Universidade Federal da Bahia
3 Universidade Federal da Bahia, bolsista CNPq
4 Universidade Católica de Salvador, Universidade de São Paulo, bolsista CNPq, apoio FAPESP
5 Universidade de São Paulo, bolsista CNPq
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próprios instrumentos do mundo adulto (flechas, vasilhas, redes de pesca, roupas etc.) são o
material empregado nas brincadeiras e as diferenças em objetos não prejudicam o envolvimento
na atividade, como se pode observar nas ricas demonstrações do uso da imaginação, tanto em
utilizar objetos encontrados como se fossem outros, por exemplo, um objeto como uma banana
ou cabaça como se fosse um bebê ou uma boneca (Eibl-Eibesfeldt, 1989), quanto na própria
confecção de brinquedos a partir de sucatas (por exemplo, carros de caixas de fósforos, camas de
caixas de sapatos, carros de lata etc.).
Não só brincamos como também pensamos sobre a brincadeira. Registros, reflexões e teorias
sobre essa atividade humana estão presentes em áreas diversas como História, Literatura,
Antropologia, Sociologia, Lingüística, Psicologia, Etologia. São as contribuições desses dois
últimos campos que serão apresentadas aqui, com o objetivo de fornecer um quadro geral dos
estudos informados pela perspectiva biológica ao fenômeno da brincadeira.
O que é brincar?
Observadores reconhecem o brincar quando o vêem, mas têm dificuldade de apresentar
definições operacionais. Devido à complexidade do fenômeno, considera-se uma definição única,
geralmente, insuficiente (Pellegrini & Smith, 1998). Assim, qualquer tentativa de elaborar uma
definição única, universalmente aplicável, que permita diferenciar tudo o que é brincadeira do
que não é, está, provavelmente, destinada ao fracasso; em vez disso, talvez seja mais produtivo
caracterizar os comportamentos próprios a esta atividade (Chalmers, 1984).
Em primeiro lugar, é sensato evitar criar a dicotomia entre o lúdico e o não-lúdico. Na
experiência cotidiana com crianças, isso raramente é possível. Atividades como estudar, aprender
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uma habilidade, trabalhar etc., muitas vezes são realizadas como se fossem brincadeiras, ou
mesmo no desenrolar das brincadeiras. Por sua vez, determinadas brincadeiras são desenvolvidas
com a maior "seriedade", como se fossem a própria atividade real, a exemplo das brincadeiras de
mãe e filho, construções etc.
Parece fácil identificar uma brincadeira, pela sua visibilidade e altos níveis de atividade, assim
como por algumas características comuns à sua ocorrência em várias espécies (Smith, Cowie &
Blades, 1998; Yamamoto & Carvalho, 2002). Uma primeira característica está relacionada com a
adoção de padrões comportamentais usados em contextos funcionais reais, mas desvinculados de
sua motivação original (Burghardt, 2005; Fagen, 1981; Hinde, 1970). A interação lúdica parece
não ter uma importância biológica que seja prontamente detectada, uma vez que a seqüência
comportamental não é completada pelo elemento que lhe daria o sentido de satisfação da
necessidade biológica relacionada aquele comportamento. Por exemplo, brincar de comer pode
ter todos os elementos da ação real de comer, exceto pelo fato de que nenhum alimento real é
ingerido. Observa-se também a alternância de "papéis", por exemplo, quem é dominante e quem
é dominado, quem é caça e quem é caçador, etc. (Eibl-Eibesfeldt, 1989; Guerra, Vieira,
Gaspareto & Takase, 1989).
Os sistemas motivacionais relacionados ao ataque e ao medo não são ativados durante o brincar,
embora alguns comportamentos possam ser semelhantes, não sendo, no entanto, observados
ferimentos ou outros efeitos de lutas verdadeiras (Meaney e cols., 1985). Outra característica é a
presença de movimentos exagerados. Como não há uma finalidade específica, os padrões
motores se repetem com freqüência e são usados exageradamente. Também se observam
reordenação e fragmentação dos elementos que compõem a seqüência comportamental, pois
diversos padrões comportamentais podem ser incorporados. O brincar pode também ser
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interrompido por outras atividades, ocorrendo maior número de combinações motoras do que em
outros tipos de interação (Burghardt, 2005; Fagen, 1981).
Todas essas características são sintetizadas por Burghardt (2005) em cinco grupos de critérios
identificadores, o que ele denomina os “big five” da brincadeira, fazendo um jogo de palavras
com a atualmente bem conhecida teoria dos “big five” no estudo da personalidade: 1) Função
imediata limitada, referindo-se à ocorrência de comportamentos fora do contexto original; 2)
Componente endógeno, representando o fato de que a brincadeira consiste em comportamento
espontâneo, voluntário, prazeroso, recompensador, reforçador ou feito em benefício próprio; 3)
Diferença temporal ou estrutural, descrevendo o fato de que os comportamentos de brincar são,
em geral, incompletos, exagerados ou precoces, envolvendo padrões com forma, seqüência ou
alvo modificados; 4) Ocorrência repetida, consistindo no desempenho repetido em forma similar,
embora não estereotipada; 5) Ambiente relaxado, ou seja, as brincadeiras só ocorrem em
situações livres de tensões, ameaças, disputas e quando o indivíduo encontra-se num estado
saudável, alimentado e sem necessidades físicas prementes (Burghardt, 2005).
Cada uma dessas características, tomada isoladamente, pode não caracterizar um comportamento
como sendo brincadeira, por isso é conveniente que o pesquisador observe a ocorrência de mais
de uma em conjunto (Smith, Cowie & Blades, 1998), inclusive para evitar que ela seja
confundida com comportamentos como exploração e curiosidade e comportamentos
estereotipados (Burghardt, 2005). Além disso, pode ser útil a observação de “sinais de
brincadeira", gestos ou expressões faciais que estão frequentemente presentes; em macacos, por
exemplo, esses sinais estariam na face, com boca aberta, similar ao que acontece com crianças
em brincadeiras turbulentas onde a face de brincadeira, sorridente, serve para diferenciar o
brincar de brigas de verdade (Smith, Cowie & Blades, 1998).
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Apontadas as características mais comuns, e buscando entender o fenômeno da brincadeira de
forma mais abrangente, vamos examinar esse sistema comportamental à luz das quatro perguntas
clássicas da etologia, formuladas por Tinbergen (1981): a) Sua função, ou seja, quais são as
conseqüências deste comportamento? Por que ele foi selecionado? b) Sua filogênese, ou seja,
como esse comportamento evoluiu no tempo? O caminho percorrido é semelhante em diferentes
espécies? Quais os dados e estudos comparativos que podem dar algum indício desse processo?
c) Sua ontogênese, isto é, como o comportamento surge e se modifica durante o desenvolvimento
do indivíduo? d) sua causação imediata, ou seja, quais os fatores proximais que eliciam ou
controlam o comportamento? Complementarmente, buscaremos evidenciar as características
particulares da brincadeira humana, principalmente aquelas que envolvem faz-de-conta.
a) Para quê serve o brincar (função)
Diversas hipóteses já foram levantadas sobre a função da brincadeira, tanto em seres humanos
quanto em animais. Existem, contudo, poucas evidências empíricas sobre o seu valor adaptativo
no sentido de proporcionar melhores oportunidades de sobrevivência (Vieira & Sartorio, 2002).
Uma possibilidade consiste em pensar o brincar como uma adaptação ontogenética, ou seja, um
sistema comportamental que melhora a adaptação do indivíduo nos estágios imaturos da vida,
perdendo seu significado na idade adulta, como ocorre, por exemplo, com alguns dos reflexos dos
recém nascidos, cuja utilidade é essencial nos primeiros anos de vida e desaparece mais tarde.
Pode ser o caso do brincar, cujo exercício proporcionaria um senso de domínio, competência e
auto-eficácia, afetando as experiências da criança com novas atividades (Pellegrini & Smith,
1998). Outro exemplo que apóia a hipótese do brincar como adaptação ontogenética pode ser
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visto no uso extensivo do brincar em técnicas psicoterapêuticas com crianças, provavelmente
devido à sua importância para o conhecimento, expressão e controle das emoções.
Outra possibilidade de vantagem imediata é apontada em algumas hipóteses que associam a
brincadeira com funções de preparação para o inesperado (Spinka, Newberry, & Bekoff, 2001),
aumentando a versatilidade de movimentos usados para lidar com eventos súbitos como quedas e
perda de equilíbrio e para lidar emocionalmente com situações estressantes e inesperadas.
Ainda pensando na brincadeira pelo seu valor imediato de sobrevivência, podemos estudá-la em
conexão com outros sistemas comportamentais. Nessa linha, uma hipótese recente, em fase de
elaboração e debate, e que pode ter implicações para a compreensão das funções adaptativas do
brincar, é apresentada por Ribeiro, Bussab e Otta (2005), Gosso et al. (2005) e Soeiro e Ribeiro
(2007). Nas aldeias de caçadores-coletores, como entre os Parakanã do sudeste do estado do Pará,
vê-se que as crianças a partir dos três anos, passam o dia brincando, todas juntas, longe da
supervisão dos adultos (Gosso, 2005). Segundo esses pesquisadores, a criança teria
predisposições para a interação com outras crianças, o que levaria à formação dos grupos de
crianças sem supervisão adulta, comuns em sociedades pré-agrícolas ou incipientemente
agrícolas, e nos quais a brincadeira fornece o mote para as interações, sustentando seu fluxo. A
conseqüência adaptativa principal dessa preferência por agrupamento social com pares de idade
(em sentido lato), bem como da infância prolongada, seria aliviar o trabalho adulto de cuidado,
liberando os adultos para as tarefas produtivas. Crianças que se integrassem bem ao grupo lúdico
infantil, e mães que permitissem e encorajassem essa integração seriam ambas selecionadas. O
comportamento lúdico seria a forma de as crianças cuidarem de si mesmas. Essa hipótese não
implica necessariamente que a motivação lúdica propriamente dita tenha sido selecionada em
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função dessas conseqüências, mas que essa motivação teria integrado um complexo adaptativo
cuja vantagem principal seria o alívio do trabalho adulto.
Outro modo de procurar a resposta, e que pode ser entendido como complementar à perspectiva
presente nas hipóteses anteriores, é pensar no indivíduo jovem como um ser imaturo ou
incompetente, orientado para o objetivo final, que é tomar-se um adulto competente. Essa tem
sido a principal abordagem ao brincar, na qual as experiências nos estágios iniciais da vida são
vistas como uma preparação para a maturidade.
Esse tipo de hipótese baseia-se na constatação de que os animais que brincam são, em geral,
aqueles que devem adquirir muitas habilidades diferentes através da aprendizagem (Eibl-
Eibesfeldt, 1989). Um pioneiro nesse tipo de hipótese foi Groos (1976/1896), argumentando que,
se os animais brincam, é porque a brincadeira é útil para a sobrevivência. Como não é possível
para o indivíduo nascer com um repertório completo do que vai fazer futuramente, o
comportamento lúdico seria uma forma de aprender habilidades que poderão ser úteis mais tarde
(Bjorklund, 1997; Vieira & Sartório, 2002).
Assim, o brincar ocorre mais freqüentemente e em modalidades mais complexas em carnívoros
muito especializados, grandes predadores e primatas. Comum a todas essas espécies, e que pode
ser relacionado com o fato de terem evoluído como espécies que brincam, está o fato de que, na
vida adulta, precisam exibir habilidades e capacidades especializadas altamente complexas e
flexíveis - seja para a caça, para a locomoção na vida arbórea, ou para a vida social. São também
animais que têm uma infância prolongada e protegida pelos adultos, e uma expectativa de vida
relativamente longa, o que, no reino animal, se correlaciona com um processo de
desenvolvimento individual muito apoiado em experiência e aprendizagem. Essa suposição é
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fortalecida quando se observa o tipo de brincadeira que ocorre em cada uma dessas espécies e se
relaciona essa observação com o tipo de habilidade exercida pelo adulto (Carvalho, 1986).
Para a espécie humana, a brincadeira serve, entre outras funções, como veículo para a aquisição
da linguagem. No esconde-esconde e na brincadeira de tomar-e-dar, por exemplo, a criança
pequena aprende a sinalizar e a reconhecer sinais e expectativas. A estrutura inicial da linguagem,
com suas regras, pode ser vista como uma extensão da estrutura presente na interação lúdica, com
suas regularidades e padrões (Bruner, 1976). Também foi constatado que nas brincadeiras de faz-
de-conta as crianças apresentam uma linguagem mais complexa que a apresentada em outras
situações. O uso de recursos lingüísticos, tanto os relativos ao emprego dos tempos verbais para
indicar que a situação é de faz-de-conta, como os envolvidos nas negociações de papéis e
narração de enredos são exemplares do papel das brincadeiras no desenvolvimento da linguagem
(Garvey & Kramer, 1989).
A brincadeira pode ser uma excelente oportunidade para tentar combinações, o que pode
estabelecer padrões motores complexos, como o observado quando chimpanzés, por exemplo,
aprendem, por observação de adultos, a usar galhos e arbustos para pescar formigas ou cupins no
interior de seus ninhos. Um aspecto crucial deste fenômeno, em chimpanzés e em crianças, é a
tentativa de aplicar variações da nova habilidade em outros contextos. Quando o chimpanzé
Sultão aprendeu a usar uma vara para pegar comida, tentou usá-la para cutucar outro animal, para
cavar, etc., esquecendo-se muitas vezes da fruta (Köhler, 1925). O aspecto lúdico no uso de
instrumentos é sugerido pela perda do interesse no objetivo do ato e pelo interesse nos meios, o
que também caracteriza a atividade da criança humana (Bruner, 1976).
Aprender habilidades é especialmente importante quando a prática direta é pouco provável ou
perigosa. A brincadeira permitiria a aprendizagem de vários comportamentos numa situação de
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baixo risco, muito antes de serem usados para seu fim específico. Elas ocorrem numa atmosfera
de familiaridade, segurança emocional e falta de tensão ou perigo. Assim, numa brincadeira
social sinalizada, o animal jovem pode testar limites com relativa impunidade (Bruner, 1976).
Isso se aplica especialmente ao comportamento agressivo e predatório (Smith, 1982). Um
exemplo dessa função pode ser visto nos padrões lúdicos de várias espécies de mamíferos
quadrúpedes herbívoros. A brincadeira locomotora, que seria uma simulação de fuga, aparece de
forma similar em todas as espécies estudadas (a corrida é a forma universal de fuga). A
brincadeira de luta, no entanto, apresenta diferenças. Bater cabeça com cabeça, por exemplo, só
aparece nos animais em que os machos adultos utilizam essa forma de luta, e a mordida simulada
só aparece nas espécies em que a mordida é uma forma importante de combate entre adultos
(Byers, 1984).
Também na maioria dos mamíferos os machos brincam mais que as fêmeas. É provável que isso
tenha relação com o sistema de acasalamento adotado (os machos têm acesso a mais de uma
fêmea) e, portanto, há competição entre os machos que devem, então, desenvolver força física e
resistência em habilidades de combate durante o período juvenil.
Além da aquisição de habilidades físicas, um outro aspecto deve ser focalizado e especialmente
destacado para a espécie humana: o brincar como oportunidade para interação social, para o
estabelecimento de relações sociais, como caminho para o desenvolvimento de habilidades
sociais, como expressão da vida social e da percepção da criança de seu mundo social (Bjorklund,
1997). Se a biologia do homem é a de um ser social, a aquisição de competência para a vida
social não pode ser menos importante do que qualquer outro nível de competência (Carvalho,
1986).
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Assim, pode-se falar em algumas funções socializadoras do brinquedo, como, por exemplo, o
estabelecimento de hierarquias de dominância (a habilidade de se colocar em situação de
dominação ou subordinação, mediada pela avaliação da posição dos parceiros), a promoção da
integração social, determinação de espaço “experimental” para aprendizagem da comunicação da
espécie, etc. Em primatas não humanos, elementos chave da vida social, como limpeza social e
componentes do comportamento sexual e agressivo são exemplos de comportamentos aprendidos
e exercitados na brincadeira grupal. Durante a brincadeira, os jovens competem por muitos "itens
de valor", como alimento, lugar para dormir e trilhas. Na brincadeira, seja no erro ou acerto, seja
na repetição, os jovens aprendem os limites de suas próprias capacidades e se familiarizam tanto
com a posição de dominante quanto com a de subordinado (Dolhinow & Bishop, 1970).
O brinquedo pode também ser um meio de troca de reiterados estímulos sociais, onde cada
animal pode manter familiaridade com os outros elementos do grupo, aprendendo seu lugar no
grupo social e desenvolvendo laços apropriados dentro do grupo, o que facilita a sua integração.
Durante o brinquedo, os jovens aprendem padrões de cooperação social sem exceder certos
limites de agressão (Bjorklund, 1997; Diamond, 1970).
Essas idéias, indicando que a interação na brincadeira grupal pode ser até mais importante para o
desenvolvimento dos comportamentos sociais normais que a interação com a mãe, são apoiadas
pelos estudos clássicos dos Harlows e outros pesquisadores. Nesses estudos, a criação de filhotes
resos apenas com outros de igual idade produziu resultados mais satisfatórios, em termos de
padrões de interação social e comportamento reprodutivo, do que a criação do filhote apenas com
sua mãe (Harlow, Harlow & Suomi,1971; Tisza, 1970). A brincadeira também pode ser um
importante veículo para o jovem aprender os elementos de comunicação social da espécie (Poirier
& Smith, 1974; Smith, 1973; Symons,1973).
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Mas até que ponto as funções supostas da brincadeira de mamíferos e primatas superiores podem
ser extrapoladas para a brincadeira humana, levando-se em conta a considerável divergência dos
hominidas em relação aos seus ancestrais pongídeos (Smith, 1982)? Particularmente em relação à
espécie humana, deve-se notar que uma de suas características básicas é o período longo de
infância e imaturidade, o que a caracteriza como uma espécie neotênica (Gould, 1977, 1980). A
neotenia, que significa retenção de características juvenis nos estágios adultos da vida e
desaceleração do desenvolvimento, aumentando a duração da infância, é um fenômeno existente
nos primatas e que se acentua no homem (Bjorklund, 1997; Bussab & Otta, 1992).
A razão mais provável para o desenvolvimento humano sofrer esta desaceleração, em relação aos
outros primatas, tem sido associada ao modo de vida flexível da espécie, que requer um longo
período de aprendizagem. Não sendo um animal especializado, nem possuindo características
físicas particularmente vantajosas como defesa, como presas, garras etc., tiramos vantagem do
cérebro, com sua notável capacidade para aprender através da experiência. Provavelmente por
isso, a infância é alongada, atrasando a maturidade sexual e o desejo adolescente de liberdade e
independência (Bjorklund, 1997; Gould, 1977).
Um dos aspectos mais significativos que caracterizam a desaceleração do desenvolvimento
humano, comparado a outros primatas, é relativo ao tamanho do cérebro apresentado no
nascimento, e o tempo necessário para o seu total desenvolvimento. Enquanto o cérebro do
chimpanzé recém-nascido apresenta cerca de 46% do peso do cérebro adulto, o do recém-nascido
humano apresenta apenas 25% (Passingham, 1982).
Também é interessante notar o que acontece com esses cérebros após o nascimento. De certo
modo, os bebês humanos nascem como embriões, comparados com outras espécies. Isso está
relacionado com o tempo de gestação que, ao contrário do desenvolvimento geral, não foi
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desacelerado (Gould, 1977). Calcula-se que seriam necessários aproximadamente mais doze
meses para que os bebês humanos nascessem com um grau de desenvolvimento compatível com
o de outros primatas. O andar bípede, porém, impôs uma conformação óssea que tornou
impossível o nascimento de uma criança de maior tamanho. Portanto, a gestação precisou ser
encurtada em relação ao desenvolvimento geral, com o nascimento ocorrendo quando o cérebro
atinge um quarto de seu tamanho final (Passingham, 1975).
Assim, os modos como a imaturidade é usada trazem informações sobre as estratégias de
adaptação ao habitat. Uma vez que a espécie humana evoluiu explorando recursos de um
ambiente variável e empregando tecnologias criadas para a solução de problemas, é claro que um
período longo de imaturidade deve ter sido vantajoso, para permitir a sua completa transmissão e
recriação, através de processos de aprendizagem realizados durante a vida do indivíduo. Ao
contrário, em espécies com um modo de vida mais especializado e restrito, há pouca necessidade
de aprendizagem, razão pela qual os indivíduos podem “saltar” para a idade madura mais
rapidamente (Bjorklund, 1997).
Enfim, tornar os indivíduos flexíveis, versáteis, criativos e capazes de lidar produtivamente com
o novo e o inesperado são as principais funções reconhecidas da brincadeira. Através dela seriam
desenvolvidas habilidades genéricas de aprendizagem, permitindo a adaptação do indivíduo a
novas situações e a novos ambientes. O indivíduo com experiência lúdica pode explorar novas
oportunidades mais rapidamente que outros sem essa experiência. Um animal com experiência
lúdica é um "especialista na não-especialização" (Fagen, 1981).
b) Como pode ter evoluído a brincadeira no homem (filogênese)
Como apontado por Smith e Boulton (1993), não existem estudos diretos sobre a filogênese da
brincadeira na espécie humana. A abordagem ao problema costuma ser feita pela busca de
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indícios, rastreando-se padrões de comportamentos que podem ser vistos como precursores da
brincadeira, em espécies relacionadas. Esses dados são complementados por estudos
comparativos realizados em sociedades de caçadores-coletores sobreviventes no século XX.
Em primeiro lugar, devemos considerar que outras espécies exibem comportamentos de brincar e
verificar quão próximas, em termos evolucionários, elas se situam em relação à nossa própria
espécie. Burghardt (2005) realizou um exaustivo levantamento da brincadeira e comportamentos
assemelhados nos diversos grupos vertebrados e constatou sua presença em sete dos 14 grupos
mais importantes (Chondrichthyes e Actinopterygii, como tubarões e arraias; Chelonia, como
tartarugas marinhas e terrestres; Aves; Lepidosauria, como lagartos, cobras e aparentados,
Marsupialia, como cangurus e aparentados e Eutheria - mamíferos placentários). Mesmo entre
grupos de invertebrados, vários comportamentos descritos atendem a alguns dos critérios
empregados para definir brincadeira, embora haja maior ambigüidade quanto à sua inclusão na
categoria geral.
Entretanto, a distribuição, as categorias existentes (motora, social, com objetos etc.), e a
complexidade e importância da brincadeira nas diferentes espécies são bastante variáveis.
Enquanto entre os mamíferos placentários muitas ordens apresentam todos os tipos de
brincadeiras, entre as aves isto ocorre em apenas quatro das 23 ordens (os Piciformes como o
pica-pau e o tucano; os Psittaciformes, como os papagaios, periquitos e araras; os Ciconiiformes,
como as narcejas, gaivotas, pelicanos e pingüins; e os Passeriformes, como carriças, corvos,
pegas e pardais).
Analisando a distribuição entre as diversas espécies, torna-se claro que a brincadeira assume
maior importância entre os mamíferos placentários e, entre estes, na ordem dos Primatas.
Segundo Burghardt (2005), a brincadeira tem sido descrita em todas as espécies das 12 famílias
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de primatas não humanos. Qual o sentido dessas diferentes distribuições? Como a presença da
brincadeira pode estar relacionada à filogênese da espécie? Por que esse comportamento foi
selecionado e quais as adaptações específicas que ele proporcionou?
É possível supor uma distinção entre os animais especializados e os não-especializados
("oportunistas") estrutural e comportamentalmente, sendo que os não especializados mostram
uma grande tendência para brincar e explorar (Morris, 1964). Segundo esse raciocínio, essas
espécies “oportunistas” devem evitar a inatividade, que seria um perigo para animais não-
especializados, já que, tendo um repertório comportamental mais flexível, não podem perder
qualquer chance de serem recompensados de alguma forma. Os primatas são provavelmente os
animais que mais brincam e, dentre os não-humanos, o chimpanzé é provavelmente o campeão.
No caso da evolução humana, durante aproximadamente dois milhões de anos, os nossos
antepassados hominidas adotaram uma economia baseada na caça e na coleta de alimentos, que
passou a incorporar o uso e a fabricação de instrumentos, o transporte desses instrumentos e de
alimentos para uma base de moradia e uma divisão de trabalho, partilha de alimentos, elaboração
de parentescos e normas sociais e elementos cada vez mais complexos de cultura (Tooby &
Cosmides, 2005; Campbell, 1974; Isaac, 1973). Se supusermos que para estes hominídeos a
brincadeira funcionava como para os atuais pongídeos (gorilas, orangotangos e chimpanzés),
particularmente os chimpanzés, ficaria mais evidente o possível impacto desse tipo de
comportamento na evolução da espécie. Nesses pongídeos, as funções adaptativas prováveis da
brincadeira são treino físico, prática em habilidades competitivas diádicas e prática para o uso de
instrumentos. Outros benefícios acidentais para o desenvolvimento de habilidades sociais
complexas também podem ter se tornado importantes (Smith, 1982).
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O valor adaptativo da brincadeira de luta e perseguição para habilidades adultas de predação
também deve ter se mantido durante a evolução da espécie humana, mas aqui também com
variações de forma. A predação hominida provavelmente baseou-se na perseguição de presas,
com uso crescente de instrumentos que serviam de arma. Nesse caso, jogos de lançar a alvos
poderiam ser adaptativos para o desenvolvimento de habilidades de caça (Parker & Gibson,
1979).
O desenvolvimento da inteligência representacional nos hominídeos também deve estar
estreitamente associado à emergência de maior complexidade da brincadeira social, brincadeira
com regras, manipulação de objetos e brincadeiras de faz-de-conta, devido às vantagens em
criatividade e capacidade expandida de aprendizagem. Características especiais da cognição
humana, como uma teoria da mente e habilidades de metacognição são, provavelmente,
favorecidas pela longa infância, que proporciona oportunidade de praticar papéis diferenciados e
sua alternância (Bjorklund, 1997).
Uma outra questão fundamental e que tem peso na filogênese da brincadeira é relativa ao uso de
instrumentos. Da mesma forma que ocorre com os grandes símios, a brincadeira manipulativa,
com um certo grau de ensaio e erro, deve ter sido selecionada de forma intensificada na espécie
humana, fornecendo prática flexível ótima para o uso e fabricação de instrumentos. Uma
tendência forte para manipular objetos na infância, de forma exploratória e lúdica, deve ter
fornecido prática adicional útil, além do que poderia ser aprendido através da observação,
imitação e prática dirigida a alvos (Smith, 1982).
Da mesma forma, jogos de construção e partilha de objetos seriam especificamente adaptativos
para atividades humanas adultas, como construção de abrigos e partilha de alimentos (Parker &
Gibson, 1979).
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O valor adaptativo da brincadeira de exercício para o treino físico deve pelo menos ter se mantido
durante a evolução hominida. A brincadeira de luta seria um exemplo adequado, embora com
variações de forma, que teriam acompanhado as mudanças físicas dos nossos antepassados, como
o bipedalismo e a redução dos caninos (Smith, 1982). Embora o significado geral da luta na
competição intraespecífica e no sucesso reprodutivo seja discutível, é provável que a prática em
habilidades de luta tenha tido suficiente valor adaptativo para contrabalançar custos energéticos e
outros custos dessa brincadeira na infância. Brincadeiras de luta em crianças envolvem tentar
ficar por cima do outro, enquanto morder é raro, sendo mais comuns chutar, bater e engalfinhar-
se (Aldis, 1975). Observações em sociedades contemporâneas mostram que é mais comum em
meninos que em meninas (Boulton e Smith, 1993; Smith & Conolly, 1982).
Esses estudos apoiam a hipótese de que houve pressões de seleção para o desenvolvimento de
brincadeiras de luta e de perseguição na espécie humana, associadas a diferentes funções,
especialmente caça, fuga de predadores e luta (Boulton & Smith, 1993).
Quanto ao comportamento de luta, seria esperado que ele fosse mais freqüente entre meninos do
que entre meninas, uma hipótese que tem o apoio de estudos com crianças humanas e outros
primatas. Já a brincadeira de perseguir, que poderia ser associada também à caça, deve ter sido
desenvolvida sob pressões de seleção para fuga de predadores, o que é confirmado pela ausência
de diferenças entre meninos e meninas, uma vez que essa habilidade seria igualmente necessária,
independentemente do sexo (Boulton & Smith, 1993).
No entanto, também deve ter havido pressões de seleção para a cooperação e a afiliação. A
brincadeira de luta, por exemplo, pode ser entendida como um sistema comportamental
complexo, desenvolvido como resultado de pressões de seleção contraditórias. A brincadeira de
luta tem características que podem beneficiar ambos os parceiros, independentemente das
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funções de melhorar as habilidades de caça, luta e fuga de predadores. Se essa hipótese é correta,
então os indivíduos se comportarão de forma a brincar mais com aqueles parceiros que
contribuam mais fortemente para a sua aptidão. Como os interesses na brincadeira raramente
coincidem, qualquer interação social de brincadeira envolve necessariamente negociação entre os
parceiros. A inversão de papéis e a auto contenção (atenuar deliberadamente a força do ataque
para dar ao parceiro a oportunidade de “ganhar” a luta) seriam possíveis estratégias que
resolveriam a contento as funções de desenvolvimento das habilidades de caça e de fuga de
predadores, ao mesmo tempo que fortalecem os laços de cooperação e afiliação, o que tem sido
confirmado por estudos empíricos (Boulton & Smith, 1993).
Assim, as pressões de seleção parecem ter tido um papel essencial em moldar os sistemas
motivacionais relacionados à brincadeira, conforme os resultados dos estudos realizados nos
últimos 40 anos têm mostrado, inclusive no que diz respeito à dimensão ontogenética. A
brincadeira de luta, por exemplo, é menos freqüente entre meninos mais jovens, quando as
funções de cooperação e afiliação são mais importantes, e cresce em freqüência entre crianças
mais velhas e adolescentes, quando a função da competição entre os membros da mesma espécie
torna-se mais necessária.
Em síntese, a filogenia da brincadeira na espécie humana pode estar associada a uma trajetória de
aumento de complexidade, à proporção que os modos de vida tornam-se mais complexos.
Expandindo-se tanto quanto a infância foi se alongando, atingindo a maior intensidade e
importância quanto mais a espécie dependia, para viver, de aprendizagens específicas que deviam
ocorrer durante a sua ontogenia.
c) Como a brincadeira se desenvolve durante a vida humana (ontogênese)
18
Quase se pode dizer que a criança humana já nasce brincando. Eibl-Eibesfeldt (1989) considera
que a “cara de brincadeira” e outros sinais afetuosos são gestos sociais que a criança já dispõe,
porém a maioria dos outros comportamentos, que se somam a estes, desenvolvem-se durante a
vida, em fina harmonia com o comportamento social.
É possível afirmar que a criança nasce com um certo repertório que lhe permite, além de
sobreviver (reflexo de sucção, por exemplo), começar a interagir com o mundo que a cerca,
percebendo-o e procurando aproximação e formação de vínculos com outras pessoas.
Acreditamos que é neste contexto que surge e se desenvolve a brincadeira, ou seja, facilitando a
aproximação com pessoas, a formação de vínculos sociais e a percepção do mundo no qual a
criança está inserida.
Pode-se dizer que a interação lúdica entre a mãe e o bebê ocorre praticamente desde o
nascimento, se reconhecermos o componente lúdico presente nas seqüências de comunicação
não-verbal freqüentes entre mãe e filho (Seild de Moura & cols., 2004; Carvalho, 1986). Desde
muito cedo, mãe e bebê envolvem-se em seqüências comunicativas complexas e idiossincráticas,
que envolvem olhar mútuo, vocalização, estímulo físico de vários tipos, como cócegas e contatos
com os lábios e com o nariz, sorrisos, caretas e risadas, desvios e reencontros, e esconde-esconde.
Aos dez meses, uma criança brinca incansavelmente, mas isto é resultado de um processo. Em
seus estudos interculturais, Eibl-Eibesfeldt (1989) verificou que, nos primeiros seis meses, as
crianças divertem-se observando outras pessoas manusearem objetos, ou elas próprias se ocupam
por muito tempo brincando com objetos.
É possível que existam padrões pré-programados que subordinariam a aprendizagem à
observação e à atividade individual, como se vê no exemplo clássico relatado por Freedman
19
(1976) de uma criança cega que, aos três meses, mantinha os olhos fixos em direção à sua mãe,
brincando tão intensamente com ela como se pudesse vê-la.
Quando a criança se confronta com um objeto novo de brinquedo, primeiro inspeciona e investiga
e só brinca quando ele se toma familiar. Essas duas categorias de comportamento têm sido mais
formalmente caracterizadas como "exploração específica" e "exploração diversiva"
respectivamente, e se refletiriam na criança como se ela dissesse: "o que pode ser este objeto?" e
depois, "o que eu posso fazer com este objeto?" (Hutt & Bhavnani, 1976).
Pode-se falar em um repertório próprio do brinquedo que se modifica nos primeiros sete anos de
vida. Na primeira infância, esse repertório caracteriza-se pelo brinquedo manipulativo, sendo que
entre 12 e 18 meses aparecem formas simples de brinquedo simbólico. Nessa forma inicial de
brinquedo simbólico, as crianças apenas reordenam esquemas familiares fora do contexto. Por
exemplo, bebem de um copo vazio ou tentam pentear o pelo de um ursinho. Gradualmente, o
brinquedo simulado ganha em imaginação, de tal forma que, por volta dos três anos, muitas
crianças podem transformar simbolicamente objetos simples em outros, ou inventar
completamente itens e eventos imaginários. Por volta do segundo ano de vida, as crianças
começam a incluir elementos simbólicos nas suas interações com parceiros. Inicialmente,
assumem papéis recíprocos e complementares com um companheiro. Só mais tarde engajam-se
em interações com discernimento e conhecimento mútuo dos temas, participando de brincadeiras
sociais com simulação. No final do terceiro ano e continuando pelo período pré-escolar, as
interações com companheiros nas brincadeiras incluem transformações simuladas complexas e
elaboradas (Howes, Unger & Seigner, 1989). Finalmente, entre cinco e sete anos, esse tipo de
brincadeira começa a diminuir e começa a brotar o interesse por brincadeiras com regras. Nessa
20
oportunidade, desenvolve-se com maior vigor a habilidade de coordenação de ações entre várias
crianças (Wolf, 1984).
Essas seqüências de aquisição de brincadeiras são razoavelmente estáveis em diversas populações
(Pellegrini & Smith, 1998). Por exemplo, a transição do brinquedo manipulativo para o simbólico
e para o jogo com regras ocorre aproximadamente na mesma idade, mesmo em culturas
diferentes. É o que mostra um estudo de Gosso et al. (2005) comparando crianças indígenas
Parakanã, do sudeste do Pará, com crianças caiçaras de Ubatuba, São Paulo, e crianças urbanas
de São Paulo capital, de diferentes estratos sócio-econômicos. Além disso, embora possa ocorrer
em idades cronológicas diferentes, a transição para o jogo simbólico ocorre na mesma seqüência
para crianças prematuras, abandonadas, mentalmente retardadas e com Síndrome de Down
(Wolf, 1984).
d) Quais os fatores imediatos que afetam a brincadeira (causação imediata)
Como já dissemos no início deste capítulo, apesar do fenômeno da brincadeira ser
inquestionavelmente universal, ela varia conforme a cultura, o grupo de participantes, o local
onde acontece e as crianças envolvidas. Por isso, a determinação dos fatores proximais
(imediatos) em questão merece investigação. Assim como é difícil definir o que é brincadeira,
também é difícil determinar com segurança os fatores que afetam o seu surgimento, assim como
sua interrupção, principalmente quando estamos tratando da espécie humana. Além de fatores
culturais, educacionais e relacionados aos contextos específicos onde as crianças brincam,
parecem estar envolvidas também motivações pessoais e sociais.
21
Para compreender melhor esta questão devemos nos reportar às características desse tipo de
comportamento e que tipo de motivação que o controla. A esse respeito, muitos autores têm
sugerido que brincadeira e curiosidade são comportamentos similares, isto porque são
intrinsecamente motivados, ou seja, não governados por objetivos externos (Johnson, Christie &
Yawkey, 1999). No entanto, eles não são exatamente iguais; conquanto sua separação em
crianças menores, no estágio sensório motor, seja muito difícil, pois para estas crianças a maioria
dos objeto é novidade, enquanto em crianças maiores a distinção é clara (Smith, Cowie & Blades,
1998).
Quando a criança brinca com outros parceiros, entretanto, deve-se considerar que eles são agentes
igualmente ativos e os comportamentos resultantes são produtos das interações de múltiplas
motivações, podendo estar em ação, para cada brincadeira, necessidades e desejos diferentes,
assim como variáveis sócio-culturais diversas (Carvalho & Pontes, 2003). No geral, fatores
desenvolvimentais (história passada) interagem com determinantes situacionais (influências
ocorrendo no presente), para afetar a ocorrência e os padrões comportamentais que emergem na
brincadeira (Johnson, Christie & Yawkey, 1999).
A “zona lúdica”, o espaço em que ocorre o brincar, é constituído pelos seguintes elementos: o
espaço físico, propriamente dito, com suas dimensões e conteúdos, o espaço temporal, com o
tempo dedicado à brincadeira (Friedmann, 1992), o indivíduo com suas experiências, seus
recursos, suas motivações e as pressões e condições sociais que o cercam. Nessas zonas lúdicas,
podemos incluir todas as variáveis que influem no brincar das crianças: acesso à televisão (e tipos
de programa que assistem); disponibilidade de diferentes tipos de brinquedos; atitudes dos pais e
de outros familiares com relação ao brincar (liberdade/restrição para brincar); presença/ausência
de irmãos (mais novos/mais velhos) e amigos com quem brincar; representações sociais coletivas
22
que dizem respeito não só à brincadeira e às formas de brincar, mas à visão e à expectativa que se
tem da criança, do adolescente e do adulto numa determinada sociedade” (Moraes & Otta, 2003).
Os efeitos do espaço (tamanho, densidade, arranjos e delimitações) têm sido estudados de
diferentes maneiras. Primeiramente esses estudos indicam que crianças se engajam
diferentemente em brincadeiras se estão em ambientes internos ou externos (Johnson, Christie &
Yawkey, 1999). Brincadeiras que implicam em atividade motora ampla – pular, correr, saltar –
são mais freqüentes em ambientes externos e brincadeiras que envolvem atividade motora fina -
construção e faz-de-conta - ocorrem mais em ambientes internos (Smith & Connolly, 1980).
Variáveis como idade, gênero e classe social também tem sido investigadas em associação com o
tipo de ambiente: internos ou externos. Meninos e crianças mais velhas parecem ter preferência
por ambientes externos, enquanto meninas e crianças menores preferem brincar em ambientes
internos (Sanders & Harper, 1976). Silva, Pontes, Magalhães, Baia da Silva e Bichara (2006)
encontraram presença semelhante de meninos e meninas pequenos brincando nas ruas de Belém,
mas à medida que ia aumentando a idade, o número de meninas ia decrescendo.
Em ambientes internos, a disponibilidade de espaços e equipamentos por criança em classes de
pré-escola parece afetar os padrões de brincadeira: espaços maiores têm sido associados a mais
brincadeira motora ampla enquanto os espaços menores aumentariam a quantidade de contato
físico entre as crianças e entre estas e a professora (Smith & Connolly, 1982), bem como
aumento das interações verbais, cooperação, brincadeiras de faz-de-conta e atividades com
materiais educativos; áreas abertas têm sido associadas a rodar, pular etc. (Johnson, Christie &
Yawkey, 1999).
Em praças e parques de Salvador, Bichara (2004) encontrou que a presença de equipamentos
afetava o tipo de brincadeira e organização social dos brincantes. Nos ambientes equipados com
23
escorregadores, balanços etc., as crianças praticamente só brincavam neles ou em seu entorno,
sozinhas ou em díades. Onde não havia equipamentos, encontrou-se grande variabilidade de
brincadeiras, inclusive brincadeiras tradicionais, e a presença média de seis crianças por grupo.
Meneghini e Campos-de-Carvalho (2003) investigaram o efeito do tipo de arranjo espacial em
creches da cidade de Ribeirão Preto (SP) e confirmaram a hipótese de que arranjos semi-abertos
com zonas circunscritas favorecem as interações e atividades sem a intervenção de adultos, como
as brincadeiras. As zonas circunscritas com superfície de apoio oferecem um cenário para
múltiplas brincadeiras ao favorecer o compartilhamento e ações sociais mais longas.
Outros trabalhos encontraram uma estreita ligação entre o modo de vida e as temáticas usadas
pelas crianças nas brincadeiras: em crianças indígenas da aldeia Parakanã no Pará (Gosso & Otta,
2003; Gosso, Morais & Otta, no prelo), em crianças moradoras de rua em Porto Alegre
(Cerqueira-Santos & Koller, 2003), nas ruas da periferia de Belém (Pontes & Magalhães, 2003);
em remanescentes indígenas e descendentes de quilombos em Sergipe (Bichara, 2003); entre
outros.
O tipo do brinquedo também parece ser um aspecto importante. Brinquedos industrializados do
tipo miniatura (carros, bonecas, armas etc.), parecem dirigir a brincadeira, já determinando a
priori quais serão as ações, enquanto brinquedos como blocos, legos, entre outros, considerados
desestruturados, favorecem a diversidade, pois necessitam que a criança decida antes do que quer
brincar e, então, construa seu brinquedo. Nas pesquisas realizadas no Brasil tem-se constatado o
amplo uso de sucatas e materiais da natureza, principalmente por crianças mais pobres, na
construção de seus brinquedos: índios Parakanã constróem vários objetos em cerâmica e arcos e
flechas com galhos e barbante (Gosso & Otta, 2003); crianças da periferia de Belém utilizam
sacos plásticos para empinar (Pontes, Magalhães, Silva & Galvão, 2003); crianças da aldeia Xocó
24
utilizam areia, plantas, restos de material de construção etc. (Bichara, 2002). O uso de sucata e
restos de material para construção de casas, encontrados em terrenos baldios, também foi
observado em áreas urbanas na Índia por Oke, Pant e Sawasaki (1999).
Um outro aspecto que também parece relacionado com algumas brincadeiras é o clima. Algumas
brincadeiras são consideradas sazonais, pois ocorrem em determinadas épocas do ano, como pipa
e gude. Um tempo bom para se empinar pipas deve ser sem chuvas e com ventos, já o jogo de
gude ocorre após as chuvas quando os terrenos encontram-se úmidos. Outras brincadeiras que
ocorrem em alta freqüência concentrada em determinados períodos, não estão claramente
associadas com fatores climáticos: pião, elástico, bambolê, iô-iô (Carvalho & Pontes, 2003)
CONCLUSÕES
Brincar é uma das características mais significativas da infância humana. Da perspectiva
evolucionista, a brincadeira surge como uma parte indistinguível da evolução de nossa espécie,
cujo modo de vida baseado na cooperação e na tecnologia requer forte flexibilidade
comportamental, acarretando uma infância longa e protegida, com amplas possibilidades de
exploração e prática em situações não realísticas.
Motivação e formas de brincar alteram-se durante o ciclo vital, acompanhando as mudanças
gerais em habilidades motora, cognitiva e social. Produto da dinâmica do desenvolvimento do
organismo, a brincadeira também é profundamente afetada pelo ambiente, seja nas circunstâncias
físicas circundantes, seja nos parceiros sociais disponíveis, nos relacionamentos construídos no
tempo, seja nos elementos culturais que contribuem para a construção dos indivíduos.
25
O entendimento do significado da brincadeira no desenvolvimento humano conduz a um
profundo respeito pelo assunto, seja na maneira de ver o direito da criança à realização de sua
“vocação”, sinalizando a necessidade de um comprometimento social com a criação de ambientes
favoráveis à brincadeira, seja na geração e difusão de conhecimentos sobre o tema. Estudantes e
profissionais de psicologia, educação e antropologia, entre outras áreas relacionadas, têm a
responsabilidade de aumentar nossa compreensão sobre a brincadeira, em benefício do bem estar
da infância, em primeiro lugar, mas também da ampliação da nossa visão de mundo, do
enriquecimento de nossas experiências, abrindo uma janela para esse universo.
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