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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)
Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos
Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce
funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes
às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e
social;
Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º
dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos
no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de
agosto;
Visto o processo registado sob o n.º ERS/26/2014;
I. DO PROCESSO
I.1. Origem do processo
1. Em 11 de abril de 2014, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento
da exposição apresentada por M., relativa a alegadas irregularidades na organização e
funcionamento das “Clínicas O Meu Dentista” pertencentes à Dizin - Saúde, SA.
2. A referida exposição deu origem inicialmente ao processo de reclamação registado
com o n.º REC/2901/2014.
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3. Posteriormente considerando a necessidade de uma averiguação mais aprofundada
dos factos expostos, o Conselho de Administração ERS, por despacho de 21 de maio
de 2014, ordenou a abertura de um inquérito registado sob o n.º ERS/26/2014.
I.2 Diligências
4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as
diligências consubstanciadas em:
(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados da ERS
(SRER da ERS) relativa ao registo dos estabelecimentos prestadores de
cuidados de saúde identificados na exposição (cfr. fls. 8 a 76 e 129 a 219
dos autos);
(ii) Pedidos de elementos remetidos à Dizin - Saúde, SA, em 7 de agosto de
2015, 22 de outubro de 2015 e 6 de novembro de 2015 e respetivas
respostas (cfr. fls. 99 a 127 dos autos);
(iii) Consulta à página eletrónica do prestador1, em 25 de junho de 2014, em
17 de novembro de 2015 e em 23 de fevereiro de 2016 (cfr. fls. 80 a 87,
128 e 220 a 222 dos autos);
(iv) Consulta à página eletrónica do Ministério da Justiça relativa à “Publicação
On-Line de Acto Societário e de outras entidades”2, em 25 de junho de
2014 (cfr. fls. 77 a 79 dos autos).
II. DOS FACTOS
II.1. Dos factos relativos à exposição inicial
5. Na exposição apresentada à ERS, é referido, concretamente, que:
[…]
1 http://www.omeudentista.pt/Website/
2 http://publicacoes.mj.pt/Pesquisa.aspx
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“A referida sociedade [Dizin – Saúde, SA] tem diversas clínicas, instaladas em
diferentes pontos do país, nas quais funcionam para além de serviços de estomatologia
e medicina dentária, serviços de análises clinicas.
As referidas clínicas encontram-se instaladas em espaços Comerciais,
designadamente, no Centro Comercial Amoreiras, em Lisboa, no Fórum Sintra, no
Loures Shopping, no El Corte Inglês, em Lisboa.
As clínicas não possuem qualquer referência externa para além do nome do
estabelecimento «O meu dentista», não estando afixado em qualquer local visível do
seu interior ou exterior, designadamente nas que se situam no Centro
Comercial Amoreiras e no Fórum Sintra, placard que preste aos utentes qualquer das
informações expressas no art. 4.º da Portaria n.º 268/2010 de 12/05.
Nalgumas ocasiões as recepcionistas encontram-se do lado exterior do balcão de
atendimento a entregar folhetos publicitários aos utentes dos Centros Comerciais.
A forma como se processa o atendimento nas ditas clínicas é a que passo a descrever
e refere-se em concreto à Clínica que se situa no Fórum Sintra.
Uma vez contactada a Clínica, o que sucedeu pessoalmente, é se atendido por uma
recepcionista que se encontra num balcão exterior, que veste uma bata cinzenta e
azul, e quando solicitada a marcação de consulta com um médico dentista, fazendo-se
menção à concreta situação clínica que nos leva a procurar atendimento clínico é
marcada consulta, que é realizada por uma senhora a quem a recepcionista chama
Dra., que veste uma bata branca, diferente das que vestem as recepcionistas da
mesma clinica - de cor cinzenta e azul - a qual nos conduz a um gabinete, referindo
que é para ser feita a consulta. Nesse gabinete, a senhora (Dra.) que veste bata
branca informa-nos que não será feito qualquer tratamento sem que seja feita uma
rádiografia periférica a toda a boca. Na sequência ela mesma conduz o paciente a um
gabinete, onde o sujeita à tal radiografia periférica e, após a mesma ser realizada,
sempre a mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao
paciente quais os tratamentos dentários que deve realizar, reforçando a urgência e o
perigo que pode ocorrer para a saúde no caso de não os fazer, apresenta um
orçamento e informa desde logo da possibilidade de o mesmo ser financiado por
diferentes instituições de crédito, tratando a Clínica de todo o processo, numa ou em
várias financeiras, de acordo com o montante ou viabilidade de financiamento total por
uma delas.
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Em momento algum somos informados de que a senhora que faz esse atendimento, de
nome (…), não é dentista, tudo levando a crer, pela forma como o processo de
atendimento decorre, que terá formação médica na especialidade.
Só depois de ter sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização do ou
dos tratamentos, sendo que os indicados podem orçar os milhares de euros, é que,
nesse dia ou noutro que é designado, o paciente é sujeito a nova consulta, esta já num
gabinete equipado com os utensílios próprios para intervenções médicas dentárias,
com vista a ser realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados
adequados pela primeira referida senhora.
Por contacto telefónico contactei a Clínica que se situa no Loures Shopping, tendo sido
informada pela recepcionista que me atendeu que o modo de funcionamento de todas
as clínicas é o indicado, não havendo possibilidade de se ser atendido pela primeira
vez em qualquer das Clinicas sem a consulta para aferir quais os tratamentos que
devem ser feitos, realizada nos termos referidos.
Caso se opte por realizar os tratamentos, em momento algum se é informado de quem
é o director clínico da unidade de saúde.
Como comecei por referir, pretendo que sejam analisados, nas diferentes vertentes
legais, os procedimentos da clinica, bem como a sua organização e funcionamento à
luz do DL N.º 279/2009 de 06/10 e da Portaria 268/2010 de 12/05.
[…]”.
II.2. Dos factos apurados em sede de diligências instrutórias
6. No âmbito dos presentes autos, foi remetido à Dizin – Saúde, SA, por ofício com a
referência ERS/26/2014.1_sp, um pedido de informação da ERS, em 7 de agosto de
2015, nos termos do qual foi solicitado ao prestador:
“ […]
1. Se pronunciem sobre o teor do supra exposto à ERS;
2. Identificação completa da indicada colaboradora (…)que executou a aludida
radiografia periférica à utente, na Clínica O Meu Dentista - Fórum Sintra;
3. Indicação da categoria profissional da referida colaboradora (…) e do número de
cédula profissional, acompanhada dos comprovativos das respetivas habilitações
profissionais;
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4. Descrição detalhada dos procedimentos adotados por V. Exas. aquando da
solicitação pelos utentes da marcação de consultas com um médico dentista e dos
meios complementares de diagnóstico e terapêutica realizados previamente a essa
consulta, com indicação das habilitações profissionais dos colaboradores que realizam
esses exames, informações essas acompanhadas do respetivo suporte documental;
5. Esclarecimentos complementares julgados por V. Exas. necessários e relevantes à
análise do caso concreto”.
7. Decorrido o prazo de resposta ao citado ofício sem que tivesse sido rececionada na
ERS a resposta do prestador, em 22 de outubro de 2015, foi remetido novo ofício à
Dizin – Saúde, SA, solicitando o envio da informação solicitada.
8. Nessa sequência veio o prestador, em 2 de novembro de 2015, prestar os seguintes
esclarecimentos:
[…]
”A apresentação e o teor da denúncia que deu lugar à abertura de inquérito muito
surpreenderam os n/ serviços uma vez que apresenta uma descrição que em nada
corresponde aos procedimentos de recebimento dos novos pacientes.
De resto este é o primeiro processo de inquérito aberto relativamente a conduta dos
nossos funcionários/ serviços, importando salientar desde já que o procedimento
descrito não corresponde à verdade, não podendo ter ocorrido o descrito na denúncia.
Porquanto,
Os procedimentos de recepção dos novos pacientes encontram-se estabelecidos
internamente através de normas de procedimento específico, e são respeitados e
cumpridos, sendo todos os trabalhadores formados inicial e continuadamente por forma
a conhecerem e respeitarem os procedimentos internos recomendados os quais até
agora sempre foram respeitados pelos trabalhadores da Dizin- Saúde, SA..
Estando estabelecido todos os intervenientes nos procedimentos de recepção,
avaliação, primeira consulta e de diagnóstico dos pacientes, os quais actuam - até por
interesse dos próprios - no limite das suas competências e funções laborais.
ASSIM,
O procedimento de recepção dos novos pacientes nas nossas clínicas é efectuado
primeiramente por recepcionista, que tem como funções designadamente receber o
paciente, recolher alguns dados do paciente e conhecer da razão da visita e
necessidade, prestando os primeiros esclarecimentos sobre os serviços prestados nas
nossas clínicas.
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Após recolha dos dados de identificação do potencial paciente para preenchimento
de ficha de paciente, este é apresentado e acompanhado pelo Assessor/Director da
Clínica.
Ao Director da Clínica, cujas funções constam no documento em anexo, cumpre
designadamente completar a recolha dos dados do paciente e preencher a ficha de
paciente, aprofundando sobre o motivo da vinda do mesmo e apresentando o conceito
e serviços da nossa Clínica em termos globais.
Nesta fase, o director da clínica questiona o paciente relativamente à existência ou
não de acompanhamento regular do paciente por outras clínicas dentárias, dos hábitos
pessoais e de saúde - nomeadamente se o paciente é ou não fumador, sobre o
agregado familiar, consumo de café - e condições financeiras, informações que
passam a constar na ficha de paciente e que deverão ser tomadas em consideração
pelo médico que prestará a consulta de seguida, realiza um raio X. ,
Concluída esta fase, o paciente é então encaminhado pelo director da clínica para o
gabinete do médico para consulta sendo pelo Director da Clínica comunicado ao
médico o perfil do paciente, os motivos da visita, e expectativas demonstradas pelo
paciente, e entrega o Rx efectuado.
Só então, o médico analisa e interpreta o raio X, avalia a situação, conversando
com o paciente e analisando os dados disponíveis e apresenta ao paciente as soluções
adequadas à sua situação Clínica.
As observações do médico são então anotadas pelo director da clínica/assessor,
que está presente na consulta para o efeito de tomar os apontamentos necessários
tramitação burocrática eventualmente subsequente, e em seguida pode ou não iniciar-
se o tratamento de imediato, em caso de intervenção urgente e de acordo com o
interesse demonstrado pelo paciente e decisão médica.
O paciente dialoga com o médico e ambos tomam as decisões adequadas à
situação clínica do paciente de acordo com a sua esclarecida vontade.
No caso de não ser iniciado de imediato o tratamento, respeitando o interesse do
paciente é elaborado em seguida um plano de saúde integrado (denominado "P.S.I.")
com indicação dos tratamentos médicos recomendados pelo médico que fez o
diagnóstico.
Só depois regressam a sala separada para ser concluído e impresso o orçamento
que é entregue ao paciente após nova verificação e confirmação pelo médico.
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De tal modo que o orçamento é sempre assinado pelo Director da Clínica/Assessor,
pelo paciente e pelo médico que realizou a consulta.
Posteriormente o director da clínica pode ou não questionar, de acordo com
critérios estabelecidos, em matéria de pagamento dos tratamentos orçamentados e
designadamente das condições financeiras se necessitará ou não de financiamento.
Embora com as devidas variações e adaptações de acordo com o caso em
concreto, este é o procedimento que é regular e genericamente realizado nas clínicas.
Como tal, não se aceita e se impugna com veemência a descrição altamente
maldosa e tendenciosa que um particular " anónimo " com intenções sobejamente
conhecidas - dada a proliferação de " visitas especiais intencionadas “ que temos
recebido nos últimos meses e de que ora tomámos conhecimento
Ou seja
É absolutamente falso e ofensivo o que consta da participação efectuada aos v/
Serviços de Tutela, designadamente descabida, maldosa e falsa nomeadamente a
afirmação de que seja a " mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que
observa diz ao paciente quais os tratamentos dentários deve realizar .... “ Afirmação
gravíssima que deverá ser apurada até às últimas consequências, e o seu autor
identificado dado o carácter injurioso e difamatório que na mesma se contém, e que
não pode ficar impune, a coberto do anonimato dada a consequência, incómodos,
encargos e despesas que tal gera para além da imagem e da violação ao bom nome e
profissionalismo e cumprimento das normas por parte desta Clínica.
De igual modo
Se impugna por absolutamente falso designadamente que alguma vez tivessem
existido duas consultas ou que na segunda consulta seria realizado o tratamento "
antes considerados adequados pela primeira referida senhora ".
Existe aqui uma manifesta transmissão de informações aos v/ Serviços que são
absolutamente falsas.
Também nunca em caso algum alguma vez se poderia ter dado a entender ou não
haver sido informado qual o papel ou função ou categoria profissional da Directora da
Clínica identificada pessoalmente, e ainda com cartão, com crachat e cujo nome está à
vista de todos exposto na Clínica, como exposto se encontra o organograma e o mais
por Lei exigido, designadamente o nome do Director Clínico, seu substituto e dos
demais médicos ao serviço, bem como de todo o pessoal, logo na recepção em local
bem visível.
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Nunca de boa - fé se pudesse considerar que a mesma fosse dentista ou que teria
formação médica na especialidade, inexistindo motivo para se confundir a intervenção
e acompanhamento da Directora da Clínica e do médico (ou médica) que atendeu o
paciente.
E só existe uma consulta e não duas, diferentemente do que o participante alega,
desdobrando em dois momentos o que na verdade é feito de uma só vez, de seguida
sem intervalos ou lapsos de tempo, sendo a consulta sempre realizada por médico
habilitado e com a sequência descrita. O que se demonstrará com toda a facilidade
sendo falso o procedimento descrito pelo anónimo participante.
De igual modo
Se impugna por absolutamente falso designadamente que a Clínica de Loures ou
qualquer outra através de recepcionista sua tivesse informado que o modo de
atendimento seja o "indicado" nos autos, apenas se podendo afirmar que o modo de
procedimento é igual em todas as clínicas o que está documentado e suportado nos
procedimentos internos definidos pela administração e pela Direcção Clínica
constituída esta por Clínicos habilitados.
O que é muito diferente de alegar gratuitamente que o modo de atendimento fosse
o "indicado" nos autos que é uma alegação e uma construção do participante anónimo.
No mais e em cumprimento do notificado que antecede se informa que a Directora
da Clínica esteve ao serviço entre 2/4/2012 e 21/7/2014 e exerceu actividade de
Directora da Clínica sita no fórum Sintra.
São os seguintes os seus elementos de identificação:
Nome: (…)
Bilhete de Identidade n°
Contribuinte fiscal n°
Habilitações Profissionais: em anexo
No mais:
Considerando a experiência e o desempenho dos colaboradores desta Clínica e
dos factos alegados, sempre se dirá que terão actuado de acordo com os
procedimentos internos e o acima descrito.
De resto, e sempre salvo o devido respeito, o procedimento descrito na denúncia
que antecede não tem qualquer sustentação nos procedimentos internos e condutas
dos nossos trabalhadores, desde logo, não só os Directores da Clínica não têm nem
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fazem interpretação técnica, médica de uma radiografia, inexistindo qualquer infracção
demonstrada nos autos.
Reitera-se, ainda, que apenas os médicos dentistas que prestam serviços nas
nossas clínicas podem indicar os tratamentos médicos e terapêuticas a adoptar no
caso em concreto, os quais são sugeridos directamente ao paciente ou através do
plano de saúde individual apresentado.
Acresce que, contrariamente ao descrito na denúncia parcialmente transcrita, todos
os funcionários têm uma chapa identificativa com o nome e actividade profissional
desempenhada na clínica.
Podendo, ainda, o paciente tomar conhecimento do nome e funções de todos os
trabalhadores através do organograma afixado em local legível em todas as clínicas.
Esperando ter respondido às informações solicitadas, sempre se dirá que os
esclarecimentos prestados são os possíveis atendendo à natureza anónima da
denúncia, sendo que no caso a falta de identificação do denunciante afecta a
identificação do procedimento adoptado, trabalhadores intervenientes e apuramento da
factualidade.
Salientamos, por fim, a nossa disponibilidade e interesse em cooperar com os V.
serviços no apuramento da factualidade em análise, ficando ao V. dispor para prestar
os esclarecimentos adicionais que julguem necessários.
ANEXO: documento n° 1 diagrama de procedimentos internos detalhados de
recepção e acompanhamento do paciente em primeira consulta;
Documento n° 2: Descrição das funções de Directora de Clínica, no caso D (…)
Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do médico dentista
que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não pode ser junto dado
que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que atendeu o
reclamante anónimo.
Todos os médicos que estão ao serviço desta clínica se encontram legalmente
habilitados e com inscrição em vigor podendo fornecer os elementos documentais que
comprovam as habilitações profissionais do que atendeu o referido paciente após V/
indicação do nome do médico”.
9. Em 6 de novembro de 2015, foi remetido um novo pedido de elementos ao prestador,
pois, verificou-se que:
“[…]
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embora tenha sido rececionada nesta Entidade Reguladora em 2 de novembro de 2015
a resposta de V. Exas., não foram, contudo, remetidas todas as informações solicitadas
através dos aludidos ofícios.
Com efeito, quanto às habilitações profissionais da colaboradora (…)V. Exas. referem
“em anexo” (cfr. página 5 da resposta), sendo que dos dois anexos remetidos não
constam as referidas habilitações profissionais (Anexo 1: Diagrama de procedimentos
internos; Anexo 2: Descrição das funções de Diretor de Clínica).
Assim, ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 31.º dos Estatutos da ERS, reitera-se a
V. Exas. o envio da informação então solicitada, nomeadamente:
a) Indicação das habilitações profissionais da colaboradora (…)e do número de cédula
profissional, acompanhada dos respetivos documentos comprovativos”.
10. Em 13 de novembro de 2015, foi rececionada na ERS a resposta da Dizin – Saúde,
SA, a este último pedido de elementos, esclarecendo o prestador visado que:
“[…]
No seguimento do Vosso pedido, e fazendo referência à carta resposta enviada dia 30
de Outubro de 2015, tal como explicado a Directora da Clínica não é médico, e "...
Nunca de boa-fé se pudesse considerar que a mesma fosse dentista ou que teria
formação médica na especialidade, inexistindo motivo para se confundir a intervenção
e acompanhamento da Directora da Clínica e do médico (ou médica) que atendeu o
paciente.
Mais, Reforçamos.
É absolutamente falso e ofensivo o que consta da participação efectuada aos v/
Serviços de Tutela, designadamente descabida, maldosa e falsa nomeadamente a
afirmação de que seja a " mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que
observa diz ao paciente quais os tratamentos dentários deve realizar .... " Afirmação
gravíssima que deverá ser apurada até às últimas consequências, e o seu autor
identificado dado o carácter injurioso e difamatório que na mesma se contém, e que
não pode ficar impune, a coberto do anonimato dada a consequência, incómodos,
encargos e despesas que tal gera para além da imagem e da violação ao bom nome e
profissionalismo e cumprimento das normas por parte desta Clínica.
Existe aqui uma manifesta transmissão de informações aos v/ Serviços que são
absolutamente falsas.
Também nunca em caso algum alguma vez se poderia ter dado a entender ou não
haver sido informado qual o papel ou função ou categoria profissional da Directora da
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Clínica identificada pessoalmente, e ainda com cartão, com crachat e cujo nome está à
vista de todos exposto na Clinica, como exposto se encontra o organograma e o mais
por Lei exigido, designadamente o nome do Director Clínico, seu substituto e dos
demais médicos ao serviço, bem como de todo o pessoal, logo na recepção em local
bem visível.
…
Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do médico dentista
que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não pode ser junto dado
que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que atendeu o
reclamante anónimo.
Todos os médicos que estão ao serviço desta clínica se encontram legalmente
habilitados e com inscrição em vigor podendo fornecer os elementos documentais que
comprovam as habilitações profissionais do que atendeu o referido paciente após V/
indicação do nome do médico.
ANEXO - carta enviada à ERS a 30 de Outubro de 2015”.
11. Do SRER da ERS resultam, entre outros elementos relativos ao estabelecimento
prestador de cuidados de saúde com a denominação “Clínicas O Meu Dentista –
Fórum Sintra”, registado no SRER da ERS sob o n.º 115169, os seguintes:
a) Encontram-se registados 47 Médicos Dentistas;
b) Encontram-se registados 3 Técnicos de Saúde (Diagnóstico e Terapêutica) –
Higienistas Orais;
c) Não se encontra registada qualquer médica, médica dentista ou técnica de
saúde de nome (…).
12. Do SRER da ERS, resulta igualmente que o estabelecimento prestador de cuidados de
saúde “Clínicas O Meu Dentista – Fórum Sintra”, explorado pela entidade Dizin –
Saúde, SA, é titular da licença de funcionamento n.º 718/2011 para a tipologia
unidades de clínicas ou consultórios dentários;
13. O pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado
“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido
sido submetido e validado em 15 de setembro de 2015;
14. Do SRER da ERS, resulta, ainda, que o estabelecimento prestador de cuidados de
saúde “Clínicas O Meu Dentista – Amoreiras Shopping”, explorado pela entidade Dizin
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– Saúde, SA, encontra-se registado com o n.º 118706 e é titular da licença de
funcionamento n.º 5100/2012 para a tipologia unidades de clínicas ou consultórios
dentários;
15. O pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado
“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido
sido submetido e validado em 15 de setembro de 2015.
III. DO DIREITO
III.1. Das atribuições e competências da ERS
16. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS
aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a
regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às
atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e
social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde.
17. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos
mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do
sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza
jurídica;
18. Consequentemente, a Dizin - Saúde, SA, é uma entidade prestadora de cuidados de
saúde, registada no SRER da ERS sob o n.º 19114, atualmente detentora de 14
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, entre eles, as “Clínicas O Meu
Dentista – Fórum Sintra”, registado no SRER sob o n.º 115169, e “Clínicas O Meu
Dentista – Amoreiras Shopping”, registado no SRER sob o n.º 118706.
19. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo
5.º dos Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento
dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita ao
cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento, incluindo o
licenciamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, e também à
garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de
cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.
20. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas a), b), c) e
d) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos requisitos do
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exercício da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,
incluindo os respeitantes ao licenciamento, assegurar o cumprimento dos critérios de
acesso aos cuidados de saúde, nos termos da Constituição e da lei, garantir os direitos
e interesses legítimos dos utentes e zelar pela prestação de cuidados de saúde de
qualidade.
21. Competindo-lhe, na execução dos referidos objetivos, e conforme resulta dos artigos
11.º, 12.º, 13.º e 14.º dos Estatutos, assegurar o cumprimento dos requisitos legais e
regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde e sancionar o seu incumprimento, zelar pelo respeito da liberdade de escolha
nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à
informação, apreciar as queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento
dado pelos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas, e bem
assim garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade.
22. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus
poderes de supervisão, no caso, zelando pela aplicação das leis e regulamentos e
demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas
atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como recomendações ou
advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias
relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de
medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos
e interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da
ERS.
III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde
III.2.1. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – do direito à informação dos
utentes
23. A relação que se estabelece entre os estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde e os seus utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência em
todos os aspetos da mesma;
24. Sendo que tais características devem revelar-se em todos os momentos da relação,
incluindo nos momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde.
25. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge
aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e estruturante
da própria relação criada entre utente e prestador.
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26. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e) do
n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, nem tão pouco ao delimitado pelo
artigo 7.º da Lei n.º 15/2014 de 21 de março, para efeitos de consentimento informado
e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e evolução do estado clínico; e
27. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações atuais e
potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde e, para tanto, a
informação deve ser verdadeira, completa, transparente e, naturalmente inteligível pelo
seu destinatário;
28. Só assim se logrará obter a referida transparência na relação entre prestadores de
cuidados de saúde e utentes.
29. A contrario, a veiculação de uma qualquer informação errónea, a falta de informação
ou a omissão de um dever de informar por parte do prestador são por si suficientes
para contraírem o direito de acesso dos utentes aos cuidados de saúde, na medida em
que comprometem a exigida transparência da relação entre este e o seu utente e,
nesse sentido, tendem a distorcer o exercício da própria liberdade de escolha dos
utentes.
30. Para além de facilitarem – ou mesmo causarem - lesões de direitos e interesses
financeiros dos utentes porque não permitirão elucidar adequadamente os utentes
sobre aspetos, como seja a qualificação profissional, o preço ou outras
condições/limites eventualmente celebrados com entidades terceiras.
31. Com efeito, só com base na absoluta correção e completude de informação é que
poderá ser salvaguardado o direito de um qualquer utente de escolher livremente o
agente prestador de cuidados de saúde (alínea a), do n.º 1, da Base XIV da Lei de
Bases da Saúde).
32. É óbvio que esta livre escolha só será conseguida se ocorrer no momento anterior à
efetiva prestação de cuidados de saúde pelo que, se ao utente forem dados a conhecer
os serviços e os preços correspondentes em momento anterior à sua realização e se o
mesmo souber que (poderá) será obrigado ao seu pagamento num ato único, o
exercício da sua liberdade de escolha toma contornos de efetiva realidade e não de
mera orientação sem conteúdo.
33. E só assim se entende que a informação a disponibilizar ao público deva ser suficiente
para o dotar dos instrumentos necessários ao real conhecimento da sua posição face
ao prestador e mesmo face a terceiras entidades, como sejam as entidades
financiadoras dos atos médicos.
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34. Simultaneamente, só com base na absoluta correção e completude de informação é
que poderá ser salvaguardado o princípio da transparência a observar nas relações
entre as partes.
35. A informação em saúde deve ser prestada com verdade, com antecedência (para não
colocar o doente numa situação de pressão quanto à decisão a tomar), de forma clara,
adaptada à sua capacidade de compreensão, contendo toda a informação necessária à
decisão do utente, de modo a garantir que a liberdade de escolha não venha a resultar
prejudicada3.
36. E o direito dos utentes à informação está, ademais, ínsito à própria relação de
confiança que os mesmos estabelecem com os prestadores de cuidados de saúde, que
se deve pautar, ela própria, globalmente, por princípios da verdade e transparência;
37. Só que esta relação contratual de confiança não pode dissociar-se de um problema
fundamental em saúde o qual se traduz na assimetria de informação que existe em
todas as relações prestador-utente.
38. Com efeito, o utente dos serviços de saúde encontra-se tipicamente prejudicado por
uma assimetria de informação face ao prestador dos mesmos.
39. Por tal facto e no momento do consumo de um bem ou serviço de saúde, e por não
possuir informação ou toda a informação relevante, regra geral delega a sua decisão
sobre o que consumir e quando fazê-lo numa outra entidade que possua essa
informação: o agente da oferta (o prestador dos cuidados de saúde).
40. E é também por força desta assimetria de informação que o dever do prestador de
informação, transparência e respeito pelos direitos e interesses dos (potenciais) utentes
é elevado a um superior patamar de exigência.
41. Acresce que, como se disse atrás, o direito à informação dos utentes extravasa
substancialmente o direito do doente a ser informado sobre o seu estado de saúde,
tratamentos propostos, eventuais riscos e benefícios, alternativas possíveis, efeitos de
não tratamento, prognóstico, diagnóstico e evolução do tratamento.
3 E note-se ademais, que tanto não exime os prestadores de cuidados de cuidados de saúde de
assegurarem o cumprimento de outras obrigações atinentes à relação estabelecida com os utentes,
tal como melhor explicitado pela ERS em entendimentos por si já divulgados, designadamente, na
Recomendação dirigida aos prestadores privados de cuidados de saúde em matéria de elaboração
de orçamentos, faturação extemporânea e ausência de informação aos utentes, disponível em
www.ers.pt.
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42. Com efeito, este direito engloba, nomeadamente:
a) o direito do doente a ser informado sobre os serviços de saúde existentes e sua
utilização;
b) o direito a que a informação lhe seja transmitida para que a possa compreender;
c) o direito do doente a não ser informado, a seu pedido, sobre o seu estado de saúde;
d) o direito do doente a escolher uma terceira pessoa que receba a informação em seu
nome;
e) o direito a obter uma segunda opinião sobre o seu estado de saúde;
f) o direito a ser informado sobre a identidade e estatuto do profissional de saúde
que o vai tratar; (sublinhado nosso)
e g) o direito do doente, ao abandonar um estabelecimento de saúde, a solicitar e
receber um resumo escrito sobre o diagnóstico e tratamento e os cuidados que
necessitou.
43. Importando analisar, no caso concreto, se o comportamento do prestador foi adequado
a garantir o cabal exercício da liberdade de escolha da exponente, incluindo o seu
direito à informação.
III.2.2. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – Da defesa dos utentes
enquanto consumidores dos cuidados de saúde
44. O utente assume a qualidade de consumidor na relação originada com o prestador de
cuidados de saúde por a Lei n.º 24/96, de 31 de julho4 que aprovou o regime legal
aplicável à defesa do consumidor (Lei do Consumidor), definir como consumidor:
“aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos
quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com
carácter profissional uma atividade económica que vise a obtenção de benefícios.”
– cfr. n.º 1 do artigo 2.º do referido diploma legal.
45. E nesse seguimento, deve ter-se presente que:
“O consumidor tem direito:
[…]
d) À informação para o consumo;
4Com as alterações introduzidas pela Lei n.º 85/98, de 16 de dezembro, pelo Decreto - Lei n.º
67/2003, de 8 de abril, pela Lei n.º 10/2013, de 28 de janeiro, e pela Lei n.º 47/2014, de 28 de julho, que a republicou.
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e) À proteção dos interesses económicos;
f) À prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que
resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, coletivos ou
difusos […]” – cfr. artigo 3.º da Lei do Consumidor.
46. Ora, concretiza a Lei do Consumidor, no que respeita ao “Direito à informação em
particular”, que “O fornecedor de bens ou prestador de serviços deve, tanto nas
negociações como na celebração de um contrato, informar de forma clara, objetiva e
adequada o consumidor, nomeadamente, sobre as características, a identidade do
fornecedor de bens ou prestador de serviços, nomeadamente o seu nome, e o preço
do bem ou serviço […]” – cfr. n.º 1 do artigo 8.º da referida Lei do Consumidor;
47. Note-se que os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela informação
imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à saúde e à doença.
48. Com efeito se, por um lado, é natural que um utente, ou os seus representantes,
percebam a existência de um sintoma, embora tipicamente não determinem a origem e
gravidade do mesmo, será normalmente um profissional de saúde que determinará a
gravidade do problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado;
49. Bem como será este último que possuirá a informação sobre quais os atos ou meios
complementares de diagnóstico que respeitam especificamente aos cuidados de saúde
que se revelam como adequados à situação específica do utente em questão.
50. É aqui que se verifica a referida assimetria de informação que, concretamente, resulta
do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento exato dos
cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.
51. Efetivamente, o utente comum não será conhecedor dos tratamentos de que necessita,
nem dos exames a realizar, e ainda dos custos que lhe estão diretamente associados,
sendo essa a razão que o leva a recorrer a um prestador de cuidados de saúde para o
aconselhar.
52. E é precisamente isso que justifica que um utente, ou os seus representantes, antes de
decidir(em) (ou não), a realização de um determinado exame ou tratamento, devam ser
informados de forma completa, clara e verdadeira, atento ser o prestador de cuidados
de saúde conhecedor dos tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar
para e na resolução dos problemas diagnosticados.
53. A tudo isto acresce que, além do prestador – seja ele pessoa individual ou, como nos
autos, coletiva – dever informar dos aspetos clínicos que são por si controlados por
força do seu conhecimento científico, sob si impende igualmente, o dever de dar
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conhecimento aos utentes, de forma clara e explicada, do valor/preço de cada um dos
atos e serviços clínicos em causa, bem como dos eventuais acordos e protocolos que
tenham sido celebrados e dos respetivos termos.
54. Por isso, e considerada a ótica do utente como um consumidor de um serviço, a
iniciativa de informar deve sempre partir do prestador que não poderá escudar-se na
desculpa de que o interessado não perguntou ou que deveria já saber ou que tinha já
sido informado em momento distinto; ou
55. Que a entidade/o prestador atuou com erro nos pressupostos que lhe foram
comunicados (erradamente) por outras entidades terceiras, como sejam, as entidades
financiadoras dos cuidados de saúde.
56. Assim, deve pois o prestador agir com especial cuidado na execução do seu dever de
informar os utentes de todos os aspetos que podem influenciar a sua decisão final de
escolha, sempre com o intuito de garantir os princípios de transparência das relações
que entre si são criadas.
57. Sendo certo que “O fornecedor de bens ou o prestador de serviços que viole o dever
de informar responde pelos danos que causar ao consumidor […]” – cfr. n.º 5 do artigo
8.º da Lei do Consumidor.
III.2.3. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – do direito à prestação de
cuidados de saúde de qualidade
58. Por outro lado, é reconhecido aos utentes o direito a que os cuidados de saúde sejam
prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de
qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito
aos recursos técnicos e humanos utilizados.
59. Pelo que gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o
cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,
bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos
científicos e técnicos aplicáveis.
60. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde
encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda mais
premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios
adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito;
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61. Bem como que sejam prestados por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as
condições necessárias, em termos de habilitações mínimas, ao regular exercício
profissional.
62. Sendo certo que, nos termos do n.º 1 do artigo 98.º do Estatuto da Ordem dos
Médicos, “A atribuição do título profissional, o seu uso e o exercício da profissão de
médico dependem da inscrição na Ordem”5,
63. Podendo inscrever-se na Ordem dos Médicos os titulares dos graus académicos a que
aludem as alíneas a) a d) do n.º 2 do citado artigo 98.º.
64. Acresce que, de acordo com o n.º 1 do artigo 10.º do Estatuto dos Médicos Dentistas6
“Para o exercício da atividade profissional de medicina dentária, sem prejuízo do
disposto no artigo 12.º, é obrigatória a inscrição na OMD”,
65. Adquirindo o direito a inscrever-se com caráter efetivo na OMD para efeitos de
exercício da medicina dentária em Portugal, os titulares dos graus académicos
descritos nas alíneas a) a d) do n.º 2 do mesmo artigo.
66. Ainda de acordo com o disposto na alínea b) do artigo 358.º do Código Penal, incorre
no crime de usurpação de funções “Quem (…) Exercer profissão ou praticar acto
próprio de uma profissão para a qual a lei exige título ou preenchimento de certas
condições, arrogando-se, expressa ou tacitamente, possuí-lo ou preenchê-las, quando
o não possui ou não as preenche”, sendo este crime punido com pena de prisão até 2
anos ou pena de multa até 240 dias.
67. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da
prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento disponível e
das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma
forma mais acentuada do que em qualquer outra área.
68. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os
serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os direitos
dos utentes.
69. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se verifica
entre prestadores e utentes, reduz a capacidade destes últimos de perceberem e
avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e adequação dos serviços
que lhe são prestados.
5 Aprovado pela Lei n.º 117/2015, de 31 de agosto.
6 Aprovado pela Lei n.º 124/2015, de 2 de setembro.
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70. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma
gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições
adequadas.
71. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde
devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não
clínico.
72. No que concerne ao risco não clínico, refira-se que os requisitos de qualidade e
segurança no âmbito dos meios complementares de diagnóstico encontram-se
igualmente definidos, assegurando uma apropriada organização, técnica e
procedimental.
73. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam
prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de
qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito
aos recursos técnicos e humanos utilizados.
74. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o
cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,
bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos
científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática médica, ou seja, pelas
leges artis.
75. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que
aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21
de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,
humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr. alínea
c) da Base XIV da LBS.
76. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios
adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos
prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais
corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.
77. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes
devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente
do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e
tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio
estruturante da República Portuguesa.
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78. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado cuidado de respeitar as
pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência”.
79. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de
execução da prestação, mas abrange também na qualificação dos profissionais
envolvidos.
III.3. Das competências da ERS em matéria de licenciamento
80. O Decreto-lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, procedeu à adaptação e publicação dos
Estatutos da ERS, revisto ao abrigo do regime estabelecido na Lei-Quadro das
Entidades Reguladoras, aprovado em anexo à Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto.
81. De acordo com o disposto no já citado artigo 5.º n.º 2 alínea a) dos Estatutos da ERS,
"as [suas] atribuições compreendem a supervisão da atividade e de funcionamento dos
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita (…) ao
cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento, incluindo o
licenciamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, nos termos da
lei".
82. Neste contexto foi publicado o Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, o qual
revogou o Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, e concretizou as competências
atribuídas à ERS em matéria de licenciamento dos estabelecimentos prestadores de
cuidados de saúde, passando esta Entidade Reguladora a concentrar todo o processo,
passando a assumir “para além do papel de fiscalizadora, o papel de licenciadora,
introduzindo uma coerência maior ao sistema de licenciamento e fiscalização”.
83. De acordo com o disposto no Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, a abertura e
funcionamento de um estabelecimento prestador de cuidados de saúde dependem da
verificação dos requisitos técnicos de funcionamento aplicáveis a cada uma das
tipologias, definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área da
saúde.
84. Assim, a verificação dos requisitos técnicos de funcionamento dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde é titulada por licença, exceto se o estabelecimento
em causa for detido por pessoa coletiva pública ou for abrangido pelo artigo 13.º do
Decreto-lei n.º 138/2013, de 9 de outubro, caso em que a verificação dos respetivos
requisitos é titulada por declaração de conformidade.
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85. A declaração de conformidade é obtida mediante procedimento próprio, a definir por
portaria do membro do Governo responsável pela área da saúde, a qual fixará também
os requisitos técnicos de funcionamento para os estabelecimentos prestadores em
causa.
86. Por sua vez, a licença de funcionamento é atribuída mediante instrução de
procedimento simplificado, por mera comunicação prévia, ou de procedimento
ordinário.
87. O procedimento de licenciamento simplificado por mera comunicação prévia inicia-se
com o preenchimento eletrónico de declaração disponível com recurso ao Portal de
Licenciamento existente no portal de internet da ERS, no qual o declarante se
responsabiliza pelo cumprimento integral dos requisitos de funcionamento exigíveis
para a atividade que se propõem exercer ou que exercem, sendo que
88. Os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde da tipologia de radiologia ou
quaisquer outros que utilizem equipamentos sujeitos à obrigação de obtenção de
licença de proteção e segurança radiológica em instalações que usem radiações
ionizantes emitida pela Direção-Geral da Saúde devem, ainda, entregar em anexo à
declaração a que se refere o número anterior, cópia daquela licença, conforme
prescrito nos n.ºs 1 e 2 do artigo 4.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.
89. De acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 4.º do mesmo diploma, estão sujeitas ao
procedimento de licenciamento simplificado por mera comunicação prévia, as
seguintes tipologias: a) Clínicas e consultórios dentários (como é o caso dos autos); b)
Clínicas e consultórios médicos; c) Centros de enfermagem; d) Unidades de medicina
física e reabilitação; e) Unidades de radiologia;
90. O procedimento de licenciamento ordinário é aplicável a todos os estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde cuja tipologia não seja abrangida pelo n.º 4 do artigo
4.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.
91. Neste caso, a licença de funcionamento é requerida pelo interessado através da
submissão eletrónica de formulário disponível no Portal do Licenciamento, no qual
aquele se responsabiliza pelo cumprimento integral dos requisitos de funcionamento
exigíveis para a atividade a que se propõe, podendo haver lugar a uma vistoria prévia,
a realizar pela ERS, nos 30 dias subsequentes à data de apresentação do pedido de
licença.
92. Para além da verificação dos requisitos técnicos de funcionamento aplicáveis a cada
uma das tipologias, definidos pelas portarias a que se refere o artigo 2.º do citado
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diploma, o funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde
deve ainda cumprir requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,
de acordo com o n.º 1 do artigo 10.º
93. De acordo com o previsto no artigo 18.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto,
os processos de licenciamento que se encontrem pendentes devem ser remetidos à
ERS pelas Administrações Regionais de Saúde, no prazo de 30 dias, a contar da data
da entrada em vigor do referido Decreto-lei, disso dando conhecimento aos respetivos
interessados.
94. A ERS continua a tramitação dos referidos processos, aproveitando todos os atos já
praticados e decidindo ao abrigo do regime vigente antes da entrada em vigor do
mesmo Decreto-lei.
95. Prescreve o n.º 1 do artigo 19.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, que se
mantêm “válidas as licenças de estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde
emitidas ao abrigo de legislação vigente antes da entrada em vigor do presente
Decreto-lei, desde que não ocorram modificações nos termos do artigo 12.º,
salvaguardando o disposto no n.º 4 do presente artigo”, de acordo com o qual, “Em
qualquer caso, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde
detentores de licenças emitidas ao abrigo de legislação vigente antes da entrada em
vigor do presente Decreto-lei devem conformar-se com o regime neste estabelecido, no
prazo de cinco anos, a contar da data da sua entrada em vigor”.
96. Já quanto aos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde não licenciados ao
abrigo da legislação vigente antes da entrada em vigor do citado Decreto-lei, estes
“devem adequar-se ao regime por este aprovado, no prazo estabelecido na portaria
que aprova os requisitos técnicos para a respetiva tipologia”, sendo que, “Na falta de
disposição de um prazo na portaria a que se refere o número anterior, devem os
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde em funcionamento adequar-se ao
regime aprovado pelo presente Decreto-lei, no prazo de um ano, a contar da data da
sua entrada em vigor” (cfr. artigo 20.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto).
97. Até à presente data, encontram-se regulamentadas as seguintes tipologias:
(i) Clínicas e Consultórios Dentários (Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio,
alterada pela Portaria n.º 167 – A/2014, de 21 de agosto);
(ii) Unidades de Obstetrícia e Neonatologia (Portaria n.º 615/2010, de 03 de
agosto, alterada pela Portaria n.º 8/2014, de 14 de janeiro, esta com as
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alterações decorrentes da Declaração de Retificação n.º 16/2014, de 07 de
março);
(iii) Centros de Enfermagem (Portaria n.º 801/2010, de 23 de agosto, alterada pela
Portaria n.º 1056-A/2010, de 14 de outubro);
(iv) Unidades Privadas de Medicina Física e Reabilitação (Portaria 1212/2010, de
30 de novembro);
(v) Clínicas e Consultórios Médicos (Portaria n.º 287/2012, de 20 de setembro,
alterada pela Portaria n.º 136 – B/2014, de 3 de julho);
(vi) Unidades com Internamento (Portaria n.º 290/2012, de 24 de setembro);
(vii) Unidades de Cirurgia de Ambulatório (Portaria n.º 291/2012, de 24 de setembro,
com as alterações decorrentes da Declaração de Retificação n.º 68/2012, de 23
de novembro, e alterada pela Portaria n.º 111/2014, de 23 de maio);
(viii) Unidades de Diálise (Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro);
(ix) Medicina Nuclear (Portaria n.º 33/2014, de 12 de fevereiro);
(x) Radioterapia/Radioncologia (Portaria n.º 34/2014, de 12 de fevereiro);
(xi) Radiologia (Portaria n.º 35/2014, de 12 de fevereiro);
(xii) Laboratórios de Anatomia Patológica (Portaria n.º 165/2014, de 21 de agosto);
(xiii) Laboratórios de Patologia Clínica/Análises Clínicas (Portaria n.º 166/2014, de
21 de agosto);
(xiv) Laboratórios de Genética Médica (Portaria n.º 167/2014, de 21 de agosto).
98. O procedimento de licenciamento desta tipologia de estabelecimentos prestadores de
cuidados de saúde segue o regime de tramitação simplificado por mera comunicação
prévia, conforme resulta do disposto no já citado artigo 4.º, n.º 4, alínea a) do aludido
Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.
99. Nos termos do ponto i) da alínea a) do n.º 1 do artigo 17.º deste diploma legal, constitui
contraordenação, punível com coima de 2 000 EUR a 3 740,98 EUR, no caso de se
tratar de pessoa singular, e de 4 000 EUR a 44 891,81 EUR, no caso de se tratar de
pessoa coletiva, “o funcionamento de estabelecimento prestador de cuidados de saúde
sem licença de funcionamento, relativa a uma ou várias das tipologias por si exercidas,
em infração ao disposto no artigo 2.º”.
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100. A atrás referida Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, alterada pela Portaria n.º 167-
A/2014, de 21 de agosto, estabelece os requisitos mínimos relativos à organização e
funcionamento, recursos humanos e instalações técnicas para o exercício da atividade
das clínicas e dos consultórios dentários.
101. Importa considerar que, por via da alteração legislativa decorrente da Portaria n.º
167-A/2014, de 21 de agosto, o legislador veio determinar e estabelecer um prazo de
adaptação para que os estabelecimentos (clínicas ou consultórios) dentários se
adequem e deem cumprimento às exigências e aos requisitos legais de funcionamento
tal como estabelecidos no regime de licenciamento para a valência de medicina
dentária (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, diploma que
revoga o Decreto-Lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, regulamentado pela Portaria n.º
268/2010, de 12 de maio, com as alterações introduzidas pela nova Portaria n.º 167-
A/2014, de 21 de agosto).
102. Assim, o n.º 1 do artigo 4.º da mencionada Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de
agosto, veio estabelecer que o prazo para as clínicas e consultórios dentários em
funcionamento à data da publicação da Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, que não
se encontrem licenciadas ao abrigo da legislação anterior ao Decreto-Lei n.º 279/2009,
de 6 de outubro, se adequarem aos requisitos nela previstos, com as alterações
introduzidas por esta Portaria, é prorrogado por um ano, a contar da data da sua
publicação (ou seja, até 21 de agosto de 2015).
103. O n.º 2 do artigo 4.º da mesma Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de agosto, veio
estabelecer que as clínicas e consultórios dentários licenciadas, bem como aquelas
cujo pedido de licenciamento se encontre pendente, ao abrigo do Decreto-Lei n.º
279/2009, de 6 de outubro, dispõem de um ano, a contar da data da entrada em vigor
desta Portaria (ou seja, até 21 de agosto de 2015), para se adequarem aos requisitos
previstos na Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, com as alterações introduzidas pela
referida Portaria n.º 167-A/2014.
III.4. Análise da situação concreta
104. Importa agora, considerando os factos supra expostos, aferir da conduta do
prestador, do ponto de vista da garantia dos direitos e interesses legítimos dos utentes,
em especial, o seu direito à informação e o seu direito a que os cuidados de saúde
sejam prestados com qualidade e por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as
condições necessárias, em termos de habilitações mínimas, ao regular exercício
profissional.
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105. Ora, na resposta remetida à ERS o prestador visado, veio alegar que não existe
motivo para se confundir a intervenção da colaboradora (…), diretora da clínica visada
nos autos, com a intervenção do médico ou médica que atendeu a utente, descrevendo
os procedimentos implementados naquele estabelecimento de atendimento do utente.
106. Assim, de acordo com a Dizin – Saúde, SA:
(i) Os procedimentos de receção dos novos pacientes encontram-se
estabelecidos internamente através de normas de procedimento específico, e são
respeitados e cumpridos, sendo todos os trabalhadores formados inicial e
continuadamente, estando também estabelecidos todos os intervenientes nos
procedimentos de receção, avaliação, primeira consulta e de diagnóstico dos
pacientes, os quais atuam no limite das suas competências e funções laborais;
(ii) O procedimento de receção dos novos pacientes é efetuado primeiramente
por uma rececionista, que tem como funções designadamente receber o paciente,
recolher alguns dados do paciente e conhecer da razão da visita e necessidade,
prestando os primeiros esclarecimentos sobre os serviços prestados, sendo que, após
recolha dos dados de identificação do potencial paciente para preenchimento de ficha
de paciente, este é apresentado e acompanhado pelo Assessor/Diretor da Clínica;
(iii) Ao Diretor da Clínica cumpre designadamente completar a recolha dos
dados do paciente e preencher a ficha de paciente, aprofundando sobre o motivo da
vinda do mesmo e apresentando o conceito e serviços em termos globais, competindo,
nesta fase, ao diretor da clínica questionar “o paciente relativamente à existência ou
não de acompanhamento regular do paciente por outras clínicas dentárias, dos hábitos
pessoais e de saúde - nomeadamente se o paciente é ou não fumador, sobre o
agregado familiar, consumo de café - e condições financeiras, informações que
passam a constar na ficha de paciente e que deverão ser tomadas em consideração
pelo médico que prestará a consulta de seguida, realiza um raio X”7;
(iv) Concluída esta fase, o paciente é então encaminhado pelo Diretor da Clínica
para o gabinete do médico para consulta, sendo pelo Diretor da Clínica comunicado ao
médico o perfil do paciente, os motivos da visita, e expectativas demonstradas pelo
paciente, e entrega o Rx efectuado, sendo que, só então, o médico analisa e interpreta
o raio X, avalia a situação, conversando com o paciente e analisando os dados
disponíveis e apresenta ao paciente as soluções adequadas à sua situação clínica;
7 Embora a redação seja equívoca, do teor desta resposta do prestador conjugado com o
documento junto com a resposta como anexo 1 (diagrama) conclui-se que é o diretor da clínica que
realiza o raio x, exame este que o médico posteriormente analisa.
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(v) As observações do médico são então anotadas pelo Diretor da
Clínica/Assessor, que está presente na consulta para o efeito de tomar os
apontamentos necessários à tramitação burocrática eventualmente subsequente, e em
seguida pode ou não iniciar-se o tratamento de imediato, em caso de intervenção
urgente e de acordo com o interesse demonstrado pelo paciente e decisão médica;
(vi) Esclarece ainda que o paciente dialoga com o médico e ambos tomam as
decisões adequadas à situação clínica do paciente de acordo com a sua esclarecida
vontade, podendo ainda, no caso de não ser iniciado de imediato o tratamento, e
respeitando o interesse do paciente, ser elaborado em seguida um plano de saúde
integrado (denominado "P.S.I.") com indicação dos tratamentos médicos
recomendados pelo médico que fez o diagnóstico.
(vii) Só depois regressam a sala separada para ser concluído e impresso o
orçamento que é entregue ao paciente após nova verificação e confirmação pelo
médico, de tal modo que o orçamento é sempre assinado pelo Diretor da
Clinica/Assessor, pelo paciente e pelo médico que realizou a consulta, podendo
posteriormente o diretor da clínica questionar ou não, de acordo com critérios
estabelecidos, em matéria de pagamento dos tratamentos orçamentados e
designadamente das condições financeiras se necessitará ou não de financiamento.
107. Sucede que, de acordo com a exposição que deu origem à abertura do presente
processo de inquérito:
(i) “Uma vez contactada a Clinica, o que sucedeu pessoalmente, é se atendido por
uma recepcionista que se encontra num balcão exterior, que veste uma bata
cinzenta e azul, e quando solicitada a marcação de consulta com um médico
dentista, fazendo-se menção à concreta situação clinica que nos leva a
procurar atendimento clinico é marcada consulta, que é realizada por uma senhora
a quem a recepcionista chama Dra., que veste uma bata branca, diferente das que
vestem as recepcionistas da mesma clinica - de cor cinzenta e azul - a qual nos
conduz a um gabinete, referindo que é para ser feita a consulta. Nesse gabinete, a
senhora (Dra.) que veste bata branca informa-nos que não será feito
qualquer tratamento sem que seja feita uma rádiografia periférica a toda a boca. Na
sequencia ela mesma conduz o paciente a um gabinete, onde o sujeita à tal
rádiografia periférica e, após a mesma ser realizada, sempre a mesma senhora,
analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao paciente quais os tratamentos
dentários que deve realizar, reforçando a urgencia e o perigo que pode ocorrer para
a saúde no caso de não os fazer, apresenta um orçamento e informa desde logo da
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possibilidade de o mesmo ser financiado por diferentes instituições de crédito,
tratando a Clinica de todo o processo, numa ou em várias financeiras, de acordo
com o montante ou viabilidade de financiamento total por uma delas”;
(ii) “Em momento algum somos informados de que a senhora que faz esse
atendimento, de nome (…), não é dentista, tudo levando a crer, pelo forma como o
processo de atendimento decorre, que terá formação médica na especialidade”;
(iii) “Só depois de ter sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização
do ou dos tratamentos, sendo que os indicados podem orçar os milhares de
euros, é que, nesse dia ou noutro que é designado, o paciente é sujeito a nova
consulta, esta já num gabinete equipado com os utensilios próprios para
intervenções médicas dentárias, com vista a ser realizado o ou os tratamentos que
já foram antes considerados adequados pela primeira referida senhora”;
(iv) “Por contacto telefónico contactei a Clinica que se situa no Loures Shopping, tendo
sido informada pela recepcionista que me atendeu que o modo de funcionamento
de todas as clinicas é o indicado, não havendo possibilidade de se ser atendido
pela primeira vez em qualquer das Clinicas sem a consulta para aferir quais os
tratamentos que devem ser feitos, realizada nos termos referidos;
108. Assim, apesar de o prestador ter negado a existência de duas consultas, uma com
a referida colaboradora (…), e outra com o/a médico/a dentista que atendeu a utente e
apesar da descrição de procedimentos junta, na ótica da concreta utente dos autos, de
todo o procedimento de atendimento não resulta de forma clara8 que aquela
colaboradora não é médica dentista, antes, pelo contrário, tudo levando a crer que tem
formação e está legalmente habilitada para as funções exercidas.
109. Mais, ainda de acordo com a utente, apenas depois de o utente aceder na
realização dos tratamentos é que o utente é sujeito a nova consulta, esta já num
gabinete equipado com os utensílios próprios para intervenções médicas dentárias,
com vista a ser realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados
adequados pela primeira referida colaboradora.
110. Daqui resulta que, subsistem dúvidas quer sobre se a informação que foi prestada
àquela concreta utente quer sobre se a informação que por regra será prestada aos
8 Salientando até a utente na exposição a cor da bata desta profissional (branca, diferente da bata
cinzenta e azul que usa a rececionista) e o tratamento usado pela rececionista para se referir à
profissional visada (“Dra.”).
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utentes terá sido prestada de forma cabal sobre todos os aspetos da prestação de
cuidados de saúde;
111. Nos quais se incluem, a informação sobre a identidade e estatuto do profissional de
saúde que o vai atender;
112. Uma vez que o procedimento descrito pela utente é, pelo menos, apto a confundir
os utentes, no que concerne aos profissionais (e respetivas funções) envolvidos no
atendimento ao utente realizado naquele estabelecimento.
113. Ora, como se disse supra, só com a prestação de informação completa sobre todos
os aspetos da prestação de cuidados de saúde é que a relação com o utente se
estabelecerá com transparência, verdade e completude, e só assim pode o utente
prestar o seu assentimento completo ao tratamento proposto e orçamento incurso.
114. Com efeito, a liberdade de escolha do utente, bem como o consentimento ao
tratamento proposto pelo prestador só podem ser efetivamente garantidos se for
transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante para a
sua decisão.
115. Sobretudo, no momento antes da escolha do prestador, a prestação dessa
informação assume um papel primordial na relação utente – prestador, porquanto,
116. É nesse momento que se verifica uma maior assimetria de informação que,
concretamente, resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do
conhecimento exato dos cuidados mais adequados às concretas e diagnosticadas
necessidades dos utentes.
117. Ora, é com base no aconselhamento que é prestado por aquele profissional que o
utente decide, não só pelo prestador de cuidados de saúde, mas também pelos
cuidados a prestar – presumindo, que o profissional que o está aconselhar não só tem
os conhecimentos técnicos como também as correspetivas habilitações profissionais.
118. Naturalmente, que é diferente a situação do utente que decide com base no
aconselhamento prestado pela denominada Diretora da Clínica (com funções de
relações públicas e comerciais) da situação do utente que decide com base no
aconselhamento e diagnóstico feito por um médico ou médico dentista.
119. No caso dos autos não resulta inequívoco que a utente foi informada pelo prestador
de forma clara que a profissional que realizou a dita avaliação - com base na qual os
utentes “acedem” na realização de tratamentos - não era efetivamente médica dentista,
mas antes uma colaboradora com funções de relações públicas e comerciais,
denominada pelo prestador de “Diretora de Clínica”.
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120. Acresce que, de acordo com a exposição inicial:
“Nesse gabinete, a senhora (Dra.) que veste bata branca informa-nos que não será
feito qualquer tratamento sem que seja feita uma radiografia periférica a toda a boca.
Na sequencia ela mesma conduz o paciente a um gabinete, onde o sujeita à tal
rádiografia periférica e, após a mesma ser realizada, sempre a mesma senhora,
analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao paciente quais os tratamentos
dentários que deve realizar, reforçando a urgência e o perigo que pode ocorrer para a
saúde no caso de não os fazer, apresenta um orçamento e informa desde logo da
possibilidade de o mesmo ser financiado por diferentes instituições de crédito, tratando
a Clinica de todo o processo, numa ou em várias financeiras, de acordo com o
montante ou viabilidade de financiamento total por uma delas. (…) Só depois de ter
sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização do ou dos tratamentos,
sendo que os indicados podem orçar os milhares de euros, é que, nesse dia ou noutro
que é designado, o paciente é sujeito a nova consulta, esta já num gabinete equipado
com os utensilios próprios para intervenções médicas dentárias, com vista a ser
realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados adequados pela
primeira referida senhora”.
121. Notificado o prestador para juntar aos autos as habilitações profissionais da citada
colaboradora (…), na resposta rececionada na ERS em 2 de novembro de 2015, não
foram, contudo, remetidas estas informações.
122. Com efeito, quanto às solicitadas habilitações profissionais dessa colaboradora é
referido na página 5 da resposta “em anexo”, sendo que dos dois anexos remetidos
não constam as referidas habilitações profissionais (Anexo 1: Diagrama de
procedimentos internos; Anexo 2: Descrição das funções de Diretor de Clínica).
123. Notificada novamente a Dizin – Saúde, SA, para enviar a informação solicitada,
nomeadamente, “Indicação das habilitações profissionais da colaboradora (…) e do
número de cédula profissional, acompanhada dos respetivos documentos
comprovativos”, na resposta rececionada na ERS em 13 de novembro de 2015, a Dizin
– Saúde, SA, não indicou as referidas habilitações nem juntou os respetivos
comprovativos.
124. Antes referiu que “Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do
médico dentista que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não
pode ser junto dado que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que
atendeu o reclamante anónimo”, quando as notificações remetidas não deixam
margem para dúvidas de que as informações solicitadas eram especificamente
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relativas à referida colaboradora (…), e não do/a médico/a dentista que atendeu a
utente.
125. Da consulta ao SRER da ERS, resulta que relativamente a este ou outro prestador
não se encontra registada qualquer médica, médica dentista ou técnica de saúde de
nome (…).
126. Donde se conclui que aquela colaboradora não tem nem pode exercer a atividade
profissional de medicina ou medicina dentária.
127. Mais resulta da exposição inicial a alegada prática de atos que extravasam
manifestamente as funções da denominada “Diretora da Clínica”, para os quais a
referida colaboradora não está legalmente habilitada;
128. Daqui resultando também prejudicados os direitos e interesses legítimos dos
utentes.
129. Com efeito, dos autos resulta que a dita colaboradora, não só realizou a referida
“consulta” à utente, como também “prescreveu”, efetuou e “analisou” a radiografia à
utente;
130. Tudo atos de uma profissional que o prestador não logrou comprovar nos autos e
para cuja prática o legislador impõe qualificações legais que aquela não cumpre.
131. Assim, analisados todos os elementos carreados para os autos e atento o quadro
normativo supra descrito, impõe-se, pois, uma intervenção regulatória da ERS, nos
termos melhor infra descritos, no sentido de o prestador visado nos autos garantir o
respeito pelos direitos e interesses legítimos dos utentes, em especial, o direito à
informação, e o direito a que os cuidados de saúde sejam prestados com qualidade e
ainda por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as condições necessárias, em
termos de habilitações mínimas, ao regular exercício profissional.
132. Já no que se refere à questão suscitada pela exponente relativa aos requisitos
relativos à organização e funcionamento das unidades privadas de serviços de saúde
importa referir o seguinte.
133. À data dos factos era aplicável o Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, que
estabeleceu o regime jurídico a que ficavam sujeitos a abertura, a modificação e o
funcionamento das unidades privadas de serviços de saúde, bem como a Portaria n.º
268/2010, de 12 de maio, que estabeleceu os requisitos mínimos relativos à
organização e funcionamento, recursos humanos e instalações técnicas para o
exercício da atividade das clínicas ou consultórios dentários.
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134. Sucede que posteriormente, como se disse supra, o Decreto-lei n.º 127/2014, de 22
de agosto (concretizando as competências atribuídas à ERS em matéria de
licenciamento pelo Decreto-lei n.º 126/2014, de 22 de agosto) revogou o referido
Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro e estabeleceu o novo regime jurídico a que
ficam sujeitos a abertura, a modificação e o funcionamento dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde.
135. Considerando o prazo de adaptação de um ano para que os estabelecimentos
(clínicas ou consultórios) dentários se adequem e deem cumprimento às exigências e
aos requisitos legais para o exercício da atividade das clínicas ou consultórios
dentários, previsto no citado artigo 4.º da Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de agosto, que
alterou a Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio;
136. Considerando também que da consulta o SRER da ERS resulta que o
estabelecimento prestador de cuidados de saúde “Clínicas O Meu Dentista – Forum
Sintra”, explorado pela entidade Dizin – Saúde, SA, registado sob o n.º 115169, é titular
da licença de funcionamento n.º 718/2011 para a tipologia unidades de clínicas ou
consultórios dentários;
137. Considerando ainda que o pedido de licenciamento deste estabelecimento
encontra-se no estado “deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios
dentários, tendo o pedido sido validado em 15 de setembro de 2015;
138. Considerando que do SRER da ERS, resulta, ainda, que o estabelecimento
prestador de cuidados de saúde “Clínicas O Meu Dentista – Amoreiras Shopping”,
explorado pela entidade Dizin – Saúde, SA, registado com o n.º 118706, é titular da
licença de funcionamento n.º 5100/2012 para a tipologia unidades de clínicas ou
consultórios dentários;
139. E que o pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado
“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido
sido validado em 15 de setembro de 2015;
140. Assumindo os agentes a responsabilidade pelo cumprimento dos requisitos
técnicos exigidos, tudo isto sem prejuízo das avaliações periódicas e fiscalizações que
a ERS efetua, ao abrigo dos poderes de autoridades e de fiscalização previstos no
artigo 21.º dos seus Estatutos;
141. Em face do exposto, procede-se ao arquivamento dos presentes autos, no que
concerne à suscitada questão relativa ao cumprimento dos requisitos de funcionamento
legalmente exigidos ao prestador visado, à data da realização da reclamação.
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IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS
142. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos
termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do
Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo
para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de deliberação
da ERS, a exponente M. e o prestador de cuidados de saúde visado, a Dizin – Saúde,
SA.
143. Até ao presente momento, apenas foi rececionada na ERS a pronúncia deste
prestador, em 14 de março de 2016.
144. Em sede de audiência de interessados, a Dizin – Saúde, SA, veio assim pronunciar-
se, referindo que:
“[…]
No seguimento de mais uma notificação sobre o processo em cima referido, informo
que a Nossa resposta tenderá a ser a mesma. Mais afirmamos que nunca um paciente
é observado por alguém nas nossas clínicas que não seja médico dentista,
devidamente inscrito na OMD. A Sra D. (…)não é médica dentista, e como
demonstrado por processo e procedimento interno, nunca poderia observar qualquer
paciente. Isso parece-nos claro. Nem a acusação o refere. Mais, estamos totalmente
disponíveis para dar todos os esclarecimentos necessários. No entanto, torna-se
complicado responder e defender-nos de uma denúncia anónima e infundada, sobre o
qual não temos informação do paciente, revelando princípios de difamação.
Ficamos ao dispor para qualquer esclarecimento adicional.
[…]“.
145. Analisada esta informação conclui-se que a mesma não é de molde a infirmar os
factos e a apreciação tal como constantes do projeto de deliberação da ERS, a qual se
mantém na íntegra.
146. Com efeito, na pronúncia apresentada o prestador visado limitou-se a manter a
posição já defendida nos autos, concluindo que nas clínicas da Dizin - Saúde, SA,
nunca um paciente é observado por alguém que não seja médico dentista,
devidamente inscrito na Ordem dos Médicos Dentistas e ainda que a referida
colaboradora (…)não é médica dentista, pelo que nunca poderia observar qualquer
paciente.
147. Sucede que, como melhor se explanou supra, tal não é o que resulta dos autos.
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148. Com efeito, e apesar do prestador alegar que nunca um paciente é observado por
alguém que não seja médico dentista, devidamente inscrito na Ordem dos Médicos
Dentistas, das diligências probatórias dos autos concluiu-se que não resulta inequívoco
que a utente foi informada pelo prestador de forma clara que a profissional que realizou
a mencionada avaliação - com base na qual os utentes “acedem” na realização de
tratamentos - não era efetivamente médica dentista, mas antes uma colaboradora com
funções de relações públicas e comerciais, denominada pelo prestador de “Diretora de
Clínica”,
149. Sendo o procedimento descrito nos autos pela exponente, pelo menos, apto a
confundir os utentes, no que concerne aos profissionais (e respetivas funções)
envolvidos no atendimento ao utente realizado naquele estabelecimento.
150. Acresce que, muito embora o prestador refira na pronúncia que a colaboradora
(…)não é médica dentista e nunca poderia observar qualquer paciente, das diligências
realizadas resultou outrossim que aquela colaboradora, apesar de não ter e nem poder
exercer a atividade profissional de medicina ou medicina dentária, não só realizou a
referida “consulta” à exponente, como também “prescreveu”, efetuou e “analisou” a
radiografia daquela,
151. Atos estes cujas habilitações profissionais o prestador não logrou comprovar nos
autos (alegando não poder proceder à junção das habilitações profissionais do médico
dentista que em concreto atendeu o participante que desconhece) e para cuja prática o
legislador impõe qualificações legais que a referida colaboradora não cumpre.
152. Em face do exposto, conclui-se que, na pronúncia apresentada pela Dizin – Saúde,
SA, não foi trazido ao conhecimento da ERS qualquer elemento ou facto capaz de
infirmar ou alterar o sentido do projeto de deliberação da ERS tal como regularmente
notificado aos interessados, justificando-se, assim, a intervenção regulatória da ERS
nos precisos termos da decisão projetada.
V. DECISÃO
153. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos
e para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e na alínea a) do
artigo 24.º dos Estatutos da ERS, emitir uma instrução à Dizin – Saúde, SA, nos
seguintes termos:
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i. A Dizin – Saúde, SA, não pode permitir, em qualquer estabelecimento prestador
de cuidados de saúde por si detido, a prestação de cuidados de saúde por
profissionais não habilitados para o efeito;
ii. A Dizin- Saúde, SA, deve garantir de forma permanente a prestação de
informação verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os
aspetos relacionados com a prestação de cuidados de saúde, designadamente,
não induzindo em erro (potenciais) utentes no que se refere às habilitações
legais e categoria profissional dos colaboradores ao seu serviço;
iii. A Dizin – Saúde, SA, deve adotar todos os procedimentos internos tendentes a
assegurar que, em qualquer contacto que encete junto dos seus (potenciais)
utentes, seja ele informático, presencial e/ou telefónico, resulta de forma clara
para os (potenciais) utentes as concretas funções dos seus profissionais de
saúde e a respetiva categoria profissional, sendo esta especificamente
identificada;
iv. A Dizin – Saúde, SA, deve dar cumprimento imediato à presente instrução, bem
como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias após a notificação
da presente deliberação, dos procedimentos adotados para o efeito.
154. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do
artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de
agosto, configura como contraordenação punível, in casu, com coima de 1000,00 EUR
a 44 891,81 EUR, “(….) o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no
exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios,
determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º,
20.º, 22.º e 23.º”.
155. O Conselho de Administração da ERS delibera igualmente dar conhecimento da
presente deliberação à Ordem dos Médicos Dentistas.
156. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial
da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.
O Conselho de Administração.
Porto, 5 de abril de 2016.