Download - Fruticultura Tropical
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA NATUREZA
Rio Branco – Acre 2012
FRUTICULTURA TROPICAL
Profº. Sebastião Elviro de Araújo Neto
SUMÁRIO 1. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA BRASILEIRA .......................................................... 3
1.1 - Aspectos econômicos e sociais .......................................................................................... 3
1.2 - Exportações brasileiras de frutas .................................................................................... 4
1.3 - Em busca da auto-suficiência ........................................................................................... 5
1.4 - Desperdiço de frutas no Brasil ......................................................................................... 5
1.5 - Consumo Per Capta de frutas .......................................................................................... 6
1.6 - Principais países produtores de frutas ............................................................................ 6
1.7 Pólos frutícolas do Brasil .................................................................................................... 7
1.8 Divisão das plantas frutíferas quanto ao clima .......................................................... 7
1.9 - Aspectos sociais ................................................................................................................. 8
1.10 - Aspectos nutracêuticos ................................................................................................... 8
1.11 Função medicinal das frutas ........................................................................................... 16
1.12 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 18
2. PANORAMA ATUAL E POTENCIAL DA FRUTICULTURA ACREANA ........................ 20
2.1 Fruticultura na Amazônia ................................................................................................ 20
2.2 Aspectos Gerais do Estado do Acre ................................................................................. 20
2.3 Principais fruteiras cultivadas no Acre ........................................................................... 20
2.4 Frutas potenciais ............................................................................................................... 24
2.5 Fruticultura nos Sistemas Agroflorestais-SAFs ............................................................. 25
2.6 Tecnificação dos pomares ................................................................................................. 25
2.7 Agroindústria ..................................................................................................................... 26
2.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 26
3. SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA FRUTICULTURA ............................................................ 28
4. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS ..................................................................... 39
4.1 - Propagação por semente ................................................................................................. 39
4.2. Propagação assexuada ..................................................................................................... 45
4.3. Métodos de propagação vegetativa ................................................................................. 48
4.5 Matrizes copa e porta-enxertos ........................................................................................ 69
4.6 Referências ......................................................................................................................... 70
5. VIVEIROS ................................................................................................................................ 71
5.1 Tipos ................................................................................................................................... 71
5.2 Localização ......................................................................................................................... 72
5.3 Dimensionamento .............................................................................................................. 73
5.4 Instalações .......................................................................................................................... 73
5.5 Formação da muda ............................................................................................................ 74
5.6 Substratos e recipientes .................................................................................................... 75
5.7 Recipientes ......................................................................................................................... 79
5.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 80
6. PLANEJAMENTO E IMPLANTAÇÃO DE POMAR ............................................................ 82
6.1 –Planejamento do pomar .................................................................................................. 82
6.2 – Talhões ............................................................................................................................. 82
6.3 - Sistema de Plantio ........................................................................................................... 84
6.4 - Marcação das Covas ....................................................................................................... 85
6.5 - Preparo do solo ................................................................................................................ 86
6.6 - Abertura e preparo das covas ........................................................................................ 86
6.7 - Plantio .............................................................................................................................. 87
6.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 88
7. PODA DAS PLANTAS FRUTIFERAS ................................................................................... 90
7.1 Princípios fisiológicos que regem a poda ......................................................................... 90
3
7.2 Poda e condução de frutíferas .......................................................................................... 92
7.3 Tipos de poda ..................................................................................................................... 93
7.4 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 97
8. FLORESCIMENTO E FRUTIFICAÇÃO ................................................................................ 98
8.1 Fatores internos que afetam a frutificação ..................................................................... 98
8.2 Fatores externos que afetam a frutificação ................................................................... 102
8.3 Efeito hormonal na frutificação ..................................................................................... 105
8.4 Referências ....................................................................................................................... 105
9. COLHEITA E PÓS-COLHEITA DE FRUTOS ..................................................................... 106
9. 1 Definição de Fruto e Fruta ............................................................................................ 106
9.2 Fisiologia do desenvolvimento dos frutos ...................................................................... 106
9.3 Tipos de colheita .............................................................................................................. 111
9.4 Estádio de maturação ...................................................................................................... 113
9.5 Pré-resfriamento .............................................................................................................. 114
9.6 Higiene do campo e aspectos fitossanitários ................................................................. 115
9.7 Sistema de armazenamento ............................................................................................ 118
9.8 Padronização e classificação ........................................................................................... 121
9.9 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 122
10 CULTURA DO AÇAIZEIRO ................................................................................................ 124
10.1. Produção brasileira de açaí ......................................................................................... 124
10.2 Produtividade ................................................................................................................ 124
10.3 Origem, Dispersão e Botânica ...................................................................................... 125
10.4 Período de produção ..................................................................................................... 127
10.5 Ecofisiologia ................................................................................................................... 128
10.6 Melhoramento Genético ............................................................................................... 129
10.7 Cultivares ....................................................................................................................... 130
10.8 Propagação ..................................................................................................................... 131
10.9 Nutrição mineral ........................................................................................................... 132
10.10 Manejo agronômico ..................................................................................................... 133
10.11 Pragas ........................................................................................................................... 134
10.12 Doenças ......................................................................................................................... 134
10.13 Colheita e Pós-colheita ................................................................................................ 134
10.14 Pós-colheita .................................................................................................................. 135
10.15 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 138
10.16 Coeficiente técnico ....................................................................................................... 140
10.17 Referências ................................................................................................................... 140
11 CULTURA DO CUPUAÇUZEIRO ...................................................................................... 142
11.1 Aspectos Sócio-Econômicos .......................................................................................... 143
11.2. Origem, Dispersão, Botânica e Ecologia .................................................................... 144
11.3 Ecofisiologia ................................................................................................................... 144
11.4 Melhoramento Genético ............................................................................................... 145
11.5 Cultivares ....................................................................................................................... 151
11.6 Propagação ..................................................................................................................... 151
11.7 Nutrição mineral ........................................................................................................... 151
11.8 Manejo agronômico ....................................................................................................... 152
11.9 Pragas do cupuaçuzeiro ................................................................................................ 154
11.10 Doenças do cupuaçuzeiro ............................................................................................ 155
11.11 Colheita e beneficiamento ........................................................................................... 158
11.12 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 159
11.13 Coeficiente técnico ....................................................................................................... 159
4
11.14 Referências ................................................................................................................... 160
12. CULTURA DO MARACUJAZEIRO .................................................................................. 162
12.1 Aspectos socioeconômicos ............................................................................................. 162
12.2 - Produção Brasileira .................................................................................................... 162
12.3 Origem, Dispersão e Botânica ...................................................................................... 163
12.4 Ecofisiologia ................................................................................................................... 164
12.5 genéticA do maracujazeiro ........................................................................................... 164
12.6 Melhoramento Genético do Maracujazeiro ................................................................ 166
12.7 Cultivares ....................................................................................................................... 167
12.8 Propagação ..................................................................................................................... 169
12.9 Solos e Nutrição Mineral .............................................................................................. 172
12.10 Manejo agronômico ..................................................................................................... 173
12.11 Pragas ........................................................................................................................... 177
12.12 Doenças ......................................................................................................................... 180
12.13 Colheita e Pós-colheita ................................................................................................ 182
12.14 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 185
Custo de produção e rendimento econômico ...................................................................... 186
12.15 Coeficiente técnico para implantação de 1 hectare de maracujá (espaçamento 3,0 x
3,0m) ....................................................................................................................................... 187
12.16 Referências ................................................................................................................... 190
13 CULTURA DO ABACAXIZEIRO ....................................................................................... 195
14 CULTURA DO MAMOEIRO ............................................................................................... 210
Importância da fruticultura brasileira
3
1. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA
BRASILEIRA
O Brasil por possui uma extensa área
territorial, com 8.500.000 km2 encontra-se uma
grande variação climática e seus microclimas que
possibilitam o cultivo econômico da maioria das
fruteiras, que torna o país o terceiro produtor mundial
de frutas, atrás apenas da China e Índia, primeiro e
segundo maiores produtores, respectivamente. Aliado
ao volume de produção, a geração de renda e
emprego, o consumo interno de frutas, torna a
fruticultura um ramo econômico que promove
desenvolvimento social no país.
Além do valor da produção, a fruticultura faz
parte de rotas turísticas, como os vinhedos do sul do
pais, incorporando recursos econômicos e sociais
importante para odesenvolvimento dessas regiões,
especificamente do campo, com maior agregação de
valor, diversificação de produtos e serviços.
1.1 - Aspectos econômicos e sociais
A cadeia produtiva das frutas no campo,
abrange 2,5 milhões de hectares, gera 6 milhões de
empregos diretos ou seja, 27% do total da mão-de-
obra agrícola ocupada no campo. Este setor demanda
mão-de-obra intensiva, fixando o homem no campo.
Apesar do baixo retorno econômico nos
primeiros anos do pomar, durante a frutificação de
muitas espécies, há redução da mão de obra e do
custo de produção, podendo garantir renda na
agricultura familiar, principalamente em propriedades
com pouca mão-de-obra ou mão de obra de idosos.
Em se tratando de empresas rurais, é possível
alcançar um faturamento bruto de R$1.000 a
R$20.000 por hectare. Além disso, para cada 10.000
dólares investidos em fruticultura, geram-se 3
empregos diretos permanentes e dois empregos
indiretos. O valor bruto da produção de frutas em
2009 situou-se em 17,5 bilhões de reais.
As principais frutíferas cultivadas no Brasil
são: laranja, banana, abacaxi, melancia, coco,
mamão, uva, maçã, manga, tangerina, limão,
maracujá, melão, goiaba, pêssego, Caqui, abacate,
figo, pêra dentre outras (Quasdro 1). Outras frutas
regionais “raras” (exóticas e nativas) possuem alto
potencial de mercado, incluindo acerola, atemoya,
açaí, cupuaçú, bacuri, marolo, pinha, castanhas, cajá,
ceriguela, mangaba, sapoti, graviola, envira-cajú e
outras que necessitam ser estudadas (Alves et al.,
2008, Farias, 2009).
Dessas frutas, a laranja, representam 42,9% do
total da produção de frutas brasileria, seguida da
banana com 16,5% da produtção, por isso, seu
comportamento tem influência muito forte nos
números gerais. E elas registraram desempenho bem
diferenciado de 2004 para 2005.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de
laranja e o segundo produtor mundial de banana,
atrás apenas da Índia.
No Brasil, o estado de São Paulo se destaca na
produção de frutas, principalmente pela alta produção
de citros e exportação de suco de laranja concentrado e
congelado (SLCC), colocando o Brasil como o maior
produtor mundial de citros e maior exportador do
SLCC. Além disso, destaca-se também pela grande
variedade de espécies frutíferas cultivadas em cada um
de seus microclimas. Aliado a outros fatores, o alto
índice tecnológico nos pomares paulistas, contribui
para a boa produtividade alcançada.
Quadro 1.1 Produção, produtividade e área cultivada
das principais espécies cultivadas no Brasil em 2009.
A maioria da produção brasileira é destinada
ao consumo interno, tanto ao natural quanto
processada na forma de doces, geléias, sucos, vinhos
e outros. Pois o terceiro maior produtor de frutas não
é um dos principais exportadores, em 2009, exportou
apenas 1,8% da produção. Porém, apesar de não
aumentar o saldo na balança comercial brasileira com
as exportações, o consumo interno pode reduzir a
importação pelo consumo das frutas brasileiras e com
isso, melhorar a saúde da população que se
consientiza cada vez mais da importancial alimentar
das frutas na saúde humana.
O principal motivo da baixa exportação de
frutas pelo Brasil é a baixa qualidade das frutas,
infraestrutura deficiente e principalmente os
embargos econômicos e sanitários impostos pelos
países importadores.
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 4
1.2 - Exportações brasileiras de frutas
As frutas brasileiras, aos poucos, vão
ganhando o mercado mundial e abrindo espaço para
transformar o Brasil em um grande exportador,
criando novas oportunidades de negócio para os
agricultores brasileiros em um empreendimento com
alta rentabilidade. No total, a receita com as
exportações brasileiras de frutas cresce
constantemente e atinge seus 609 milhores de reais
em 2010 (Figura 1.1).
A colheita mundial de frutas, no entanto, é de
540 milhões de toneladas, correspondendo ao
montante de US$ 162 bilhões, em valor comercial. A
China, sozinha, é responsável por 157.716 milhões de
toneladas (Quadro 1.2). Embora o País constitua um
grande produtor, a participação do Brasil nos
negócios mundiais de frutas é pequena, representando
1,6% em divisas e 2,3% em volume. A Nação situa-
se em 20º lugar entre os exportadores.
Quadro 1.2 Produção dos principais países produtores
de frutas.
País Produção (t) 2004
China 157.716.081
Índia 54.581.900
Brasil 39.112.663
Estados Unidos 32.523.920
Itália 18.091.800
México 16.863.506
Turquia 16.305.750
Irã 15.139.110
França 11.764.270
Fone: FAO/DATAFRUTA-IBRAF.
Esse mercado movimenta US$21 bilhões por
ano. Mas as vendas brasileiras vêm crescendo, tendo
aumentado em torno de 200% nos últimos seis anos.
Em 2007, a receita com o comércio de frutas ao
exterior foi de US$ 642.743 milhões.
A valorização do real em relação ao dólar foi o
principal obstáculo para um melhor comportamento
das vendas brasileiras de frutas a outros países.
Analisando o caso da maçã: muitas empresas
exportaram porque havia contrato firmado e também
para não perder o cliente, pois o preço da espécie no
mercado externo não compensava. A queda da maçã
foi de 36,91% em valor e de 35,1% em volume em
2005, no comparativo com o ano anterior, quando ela
fora a grande estrela.
Outra fruta que teve redução acentuada – de
58,34% em valor e de 65,99% em volume – nas
exportações de 2005 foi a laranja. Além do dólar
baixo, a doença conhecida como pinta-preta
dificultou as remessas para o exterior. “Todos os
contêineres eram verificados e, se fosse constatado
qualquer indício, a firma era riscada do rol dos
exportadores por parte da Europa”, assinala o gerente
de Exportação do IBRAF. Em razão disso, muitas
empresas nem chegaram a abrir seus packing-houses.
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
700000
800000
900000
1000000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009 2010
US$
t
Figura 1.1 – Evolução das exportações brasileiras de
frutas frescas 1998-2010 (IBRAF, 2012).
Quadro 1.3 Exportação brasileira de frutas em 2009.
Frutas Valor
(US$)
Quantidade
(kg)
Uva 136.648.806 60.805.185
Melão 121.969.814 177.828.525
Manga 119.929.762 124.694.284
Maçã 55.365.805 90.839.409
Banana 45.389.163 139.553.134
Limão 50.693.603 63.060.909
Mamão 35.121.752 27.057.332
Laranja 16.276.736 37.821.810
Abacaxi 998.318 1.889.842
Melancia 12.356.105 28.261.716
Figo 7.310.886 1.446.458
Tangerina 1.850.034 1.977.479
Goiaba 326.364 147.348
Coco 121.240 407.737
Outras frutas 1.931.663 815.874
Outros citrus 4.978 4.51941.117
Total Frutas Frescas 609.612.136 759.420.595 Fonte: SECEX/IBRAF em 03/12/2012
Mesmo com esses problemas, e com todas as
exigências comerciais e sanitárias dos países
importadores, o Brasil continua com sua imagem
fortalecida como grande fornecedor mundial, pois
ocupa o terceiro lugar nas exportações de manga
(com 111 mil toneladas), depois de México (212 mil)
e Índia (156 mil), em números da safra 2004. O País
fica em quinto lugar nas exportações de melão, atrás
da Espanha, Costa Rica, Estados Unidos e Honduras.
A banana, que representa o maior volume de vendas
por parte do Brasil (188,087 mil toneladas em 2004),
torna o País o 15º exportador, sendo as primeiras
posições ocupadas por Equador, Costa Rica,
Filipinas, Colômbia e Guatemala. No coco, os
brasileiros ocupam o 20º lugar; na maçã e na laranja,
o 12º; e na uva, o 18º.
Além de ter havido crescimento nas
exportações brasileiras nos últimos anos, com a
conquista de novos mercados na Ásia e no Oriente
Médio, um ponto fundamental é que as importações
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 5
de frutas foram acentuadamente reduzidas. Elas têm
se limitado a alguns períodos do ano em que ainda
não se registra produção interna ou a alguns tipos
específicos. As mais importadas são pêra, maçã,
ameixa, kiwi, cereja e nectarina. Em 2005, segundo
dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e
do Ibraf, as importações brasileiras chegaram a
224,494 mil toneladas em volume e a US$ 125,634
milhões em valor.
Os maiores compradores são os países baixos
(Holanda), com 32% do volume exportado, seguido
pelo Reino Unido, com 18%, este, desde a década de
90 vem se constituindo como o principal mercado
para as frutas brasileiras.
Também no Mercosul está crescendo o
mercado para a fruticultura nacional, sendo a
Argentina responsável por 12% das nossas
exportações e o Uruguai por outros 6%. Além disso,
o Brasil exporta para Estados Unidos, Portugal,
Bélgica, Finlândia e Emirados Árabes Unidos.
Apenas para fazer uma comparação, o Chile
que é um dos maiores exportadores de frutas ao
natural, exporta cerca de US$1,6bilhão,
aproximadamente o mesmo valor que rende a
exportação do suco de laranja brasileiro, exportação
de fruta na forma de suco e com valor agregado nas
grandes industrias paulistas.
Além dos US$ 643 milhões, o Brasil exportou
em frutas processadas, o equivalente a US$ 2.7 bi.
1.3 - Em busca da auto-suficiência
Mesmo sendo o terceiro maior produtor
mundial de frutas, o Brasil, país de dimensões
continentais, encontra dificuldade em atender ao seu
mercado interno e precisa importar para suprir sua
demanda de consumo. Mas, nos últimos anos,
observa-se um crescente aumento nas exportações e
diminuição na importação de frutas (Figura 1.2).
Os problemas para este atendimento vão desde
aspectos culturais, precariedade de logística, falta de
planejamento e integração dos mercados regionais,
até as dificuldades econômicas da maioria da
população. Atualmente, o mercado interno segue a
tendência mundial de aumento do consumo de frutas
frescas, dentro dos princípios difundidos de melhoria
da qualidade de vida e cuidados com a saúde.
Portanto, além de exportar para o mercado
internacional, o Brasil precisará aprender a exportar
para ele mesmo, qualificando a produção, a
distribuição e a comercialização.
Contudo, a cadeia produtiva da fruticultura é a
área que mais cresce dentro do agronegócio brasileiro
e deverá alcançar um patamar de grande exportador.
Todos os estados da federação acordaram para
uma realidade: a fruticultura gera dinheiro, o País tem
potencial para produzir muito e com qualidade, há
um mercado com alta demanda e em crescimento.
Quadro 1.4. Importação brasileira de frutas em 2009.
Frutas Valor
(US$/mil)
Quantidade
(tonelada)
Pêra 161.974.250 189.840.518
Maçâ 60.046.723 76.879.090
Ameixa 32.417.159 24.278.543
Quiwi 21.867.849 20.596.664
Uva 36.074.860 24.794.695
Ameixas 32.417.159 24.278.543
Pêssegos 13.322.481 11.074.033
Nectarinas 13.221.893 10.421.857
Laranjas 4.841.635 6.002.603
Tangerinas 2.960.118 3.438.598
Total Outras Frutas 367.491.907 374.037.298 Fonte: SECEX/DECEX/MDIC;DECOM/SPC/MAPA
Os investimentos realizados nos pólos de
fruticultura irrigada no Nordeste, no sudeste do País e
no Sul estão se consolidando porque há um grande
retorno econômico e social nesta atividade. Para cada
hectare de pomar é gerada uma renda de
aproximadamente R$ 15 mil. Isso que dizer que,
dentro da agricultura, o segmento frutícola está entre
os principais geradores de renda, de empregos e de
desenvolvimento rural.
Fatores que incentivam a produção
1. Geração de empregos no campo e na cidade
2. Renda de R$ 1 mil a R$ 25 mil por hectare
3. Sustentabilidade da produção
4. Disponibilidade de recurso
5. Grande demanda no mercado interno
6. Grande demanda no mercado internacional
7. Incentivo às exportações
Exemplos de rentabilidade
Cada hectare de vinho gera: Renda/hectare/ano: R$ 20 mil de dinheiro novo
circulando na região produtora
Renda com industrialização
Mais R$ 20 mil (R$ 40 mil/ha/ano) Cada hectare de vinhedo oferece
1 emprego direto, a permanência de uma família no
campo e 2 empregos indiretos
1.4 - Desperdiço de frutas no Brasil
O Brasil acumula prejuízos de milhões de
dólares todos os anos na produção e processamento
de frutas. As perdas variam de 30% a 60% do total
produzido nos pomares brasileiros, dependendo da
espécie e do estágio em que a fruta é descartada pelo
mercado.
As perdas começam na lavoura e terminam nas
gôndolas dos supermercados. Antes disso, passa pela
embalagem inadequada, o transporte indevido,
manejo equivocado e estocagem errada. As perdas na
lavoura ocorrem por desconhecimento do produtor,
que adota manejo inadequado do pomar e usa
variedades não-adaptadas. Além disso, há os fatores
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 6
climáticos que podem influenciar, como tempestades,
ventos, geadas, excesso hídrico ou estiagens.
A utilização de embalagens inadequadas
também é fator de prejuízos à produção nacional de
frutas. No Brasil é costume utilizar caixas de madeira
estreitas, impróprias para acondicionar o produto.
Isso aperta as frutas, machuca e ainda provoca
contaminações pelo uso contínuo sem os cuidados de
higiene necessários. Por isso é necessária a
adequação das embalagens.
Outro ponto fraco do processo pós-colheita da
fruticultura brasileira é o transporte, que deveria ser
feito em caminhões refrigerados e já com as frutas
embaladas. Normalmente a operação é realizada em
caminhões comuns cobertos com lonas.
E na comercialização, pelo falta de um bom
sistema de informações para viabilizar o
planejamento da produção, medida que é rotineira na
Europa e nos Estados Unidos. Com informações de
mercado, o produtor poderia se planejar para produzir
exatamente o volume de frutas que terá demanda.
1.5 - Consumo Per Capta de frutas
O consumo per capta brasileiro é praticamente
a metade em relação à Itália, Espanha e Alemanha e
bem abaixo de outros países (Quadro1.4). Vários
fatores estão relacionados a este fato:
O brasileiro ainda não tem consciência da
importância das frutas na alimentação.
O baixo índice tecnologia empregada na
fruticultura brasileira causa preços elevados das
frutas, além da baixa renda per capta do brasileiro.
O consumo de frutas nativas, como açaí,
jabuticaba, cajá, jaca, cupuaçu, graviola e outras não
entram na estatística do consumo per capta brasileiro.
O consumo de frutas do quintal também não
entra nas estatísticas.
Quadro 1.5 Consumo Per Capta de frutas em alguns
países.
País Consumo (Kg / ano)
Alemanha 112,00
Reino Unido 68,50
França 91,40
Itália 114,80
Países Baixos 90,80
Espanha 120,10
EUA 67,40
Canadá 81,10
Japão 61,80
Brasil 57,00
De Angelis (2001) afirma que a educação
nutricional ao longo da vida é uma necessidade para
melhorar as condições nutricionais.
1.6 - Principais países produtores de frutas
A China foi o maior produtor mundial de
frutas no ano de 2002, com a quantidade de
133.077.000 toneladas e destacando-se como grande
produtora mundial de melancia, maçã, melão e pêra.
A Índia foi o segundo produtor mundial neste
mesmo ano quando registrou a quantidade de
58.970.000 de toneladas e sendo um grande produtor
de banana, manga e coco.
Quadro 1.6 Produção mundial de frutas em 2004. (mil toneladas)
Mundo China Índia Brasil USA Filipinas Indonésia Itália México Espanha Turquia
Total 503.278.149 157.716 54.582 39.113 32.524 18.092 16.864
Melancia 94.938.957 68.300.000 255.000 622.060 1.669.940 107.056 - 500.000 970.055 764.600 4.300.00
Banana 71.343.413 6.420.000 16.820.000 6.602.750 10.000 5.638.060 4.393.685 400 2.026.610 412.700 110.000
Uva 66.569.761 5.527.500 1.200.000 1.278.885 5.418.160 120 - 8.691.970 456.638 7.147.600 3.600.000
Laranja 62.814.424 1.977.575 3.100.000 18.256.500 11.729.900 28.700 871.610 2.064.099 3.969.810 2.883.400 1.280.000
Maçã 61.919.060 22.163.000 1.470.000 977.863 4.571.440 - - 2.069.243 503.000 603.000 2.300.000
Melão 27.703.132 14.338.00 645.000 180.000 1.150.440 19.000 - 608.200 590.000 1.102.400 1.700.000
Manga 26.573.579 3.582.000 10.800.000 850.000 2.800 967.535 1.006.006 - 1.503.010 - -
Tangerina 22.942.253 10.556.000 - 1.270.000 492.600 55.500 - 576.446 360.000 2.368.700 565.00
Abacaxi 15.288.018 1.420.000 1.300.000 1.435.190 270.000 1.759,290 463.063 - 720.900 - -
Limão 12.338.795 611.300 1.420.000 1.000.000 732.000 52.000 - 564.794 1.824.890 908.700 535.000
Mamão 6.708.551 161.000 700.000 1.650.000 16.240 131.869 - - 955.694 - -
Abacate 3.078.111 84.000 - 175.000 200.000 - 177.263 - 1.040.390 75.699 370
Fonte: FAO (2005).
O Brasil está classificado em terceiro lugar
com a quantidade de 39.113.000 toneladas, sendo um
grande produtor de laranja, banana, coco e mamão.
Depois em quarto lugar aparece os Estados
Unidos como grande produtor mundial de laranja,
uva, maça e pomelo, a Itália em quinto lugar
destacando-se como produtora de uva, maçã e
pêssego. O México em sexto lugar como grande
produtor de manga, citros, melão e outras frutas
tropicais.
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 7
1.7 Pólos frutícolas do Brasil
Existem hoje no Brasil 30 pólos de
fruticultura, espalhados de norte a sul e abrangendo
mais de 50 municípios.
O Pólo Assu/Mossoró, no Rio Grande do
Norte, que se tornou a maior região produtora de
melão do País, e o Pólo Petrolina/Juazeiro, que já
conta com mais de 100 mil hectares irrigados,
exportando manga, banana, coco, uva, goiaba e
pinha, e garantindo emprego a 4000 mil pessoas em
áreas do semi-árido da Bahia e Pernambuco, são
exemplos de sucesso.
Outro que vem crescendo e que é um dos mais
avançados na produção de frutas para exportação é o
Pólo Baixo Jaguaribe, no Ceará, que já conta com 52
mil hectares irrigados.
Também o Pólo de desenvolvimento Norte de
Minas/MG merece ser citado por sua importância na
produção frutícola que atingiu, em 1999, 264.050
toneladas de banana, limão, manga, uva, coco e
mamão.
Não pode ser esquecido o Pólo de São Paulo,
um dos primeiros a surgir no País e que hoje sofre a
concorrência do Nordeste nas exportações, mas que
ainda é o grande fornecedor do mercado interno de
frutas frescas, o primeiro nas exportações de citros e
suco de laranja e tem forte presença em banana,
manga, goiaba, uva de mesa e outras. São Paulo
exportou, em 2001, 194.660 toneladas de frutas, com
destaque para laranja (139.553 t), tangerina (17.250
t), limão (12.498 t), banana (9.695 t), mamão (4.808
t), abacaxi (2.560 t), manga (1.996 t), melão (1.783),
uva (1.436 t) e outras, representando um faturamento
de US$ 50,1 milhões.
Há ainda o pólo do Rio Grande do Sul,
tradicional produtor de uva para produção de vinho e
de pêssego para a industria e de mesa. Além disso, na
região de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra,
florescem os pomares de maçã, dando ao Estado o
segundo lugar nas exportações dessa fruta, depois de
Santa Catarina, onde as macieiras se estendem pelos
municípios de Fraiburgo e São Joaquim.
Figura 1.1 – Localização do pólos frutícolas do
Brasil.
1.8 Divisão das plantas frutíferas quanto ao
clima
Quanto às exigências de clima, as plantas
podem dividir-se em plantas de clima temperado,
subtropical e tropical.
Plantas de clima temperado
Essas plantas podem ser sub divididas, em
muito exigentes e pouco exigentes em frio.
Dentro de uma mesma espécie, encontramos
variedades que se acomodam a essa exigência, como
o pessegueiro, a macieira, a pereira, a ameixeira, a
pecã, o caqui. Existem variedades que produzem
satisfatoriamente em regiões de inverno brando, ao
passo que outras exigem inverno longo e rigoroso
para frutificar economicamente, que dure de dois a
três meses, com temperatura de 0ºC, podendo atingir,
no verão, de 30 a 40ºC.
As espécies de clima temperado podem
desenvolver a frutificação na área subtropical e
mesmo na tropical, desde que o repouso hibernal seja
substituído por período seco que impeça a vegetação,
porém as plantas de clima tropical e subtropical
dificilmente encontram condições para prosperar nas
zonas temperadas.
A área de distribuição favorável para as
espécies frutíferas de clima temperado concentra-se
no sul do Estado de São Paulo até o Rio Grande do
Sul. Encontram-se, entretanto, dispersas pelo país,
regiões microclimáticas, como a serra da
Mantiqueira, a serra dos Cristais e regiões do interior
e do norte do Brasil, que compensam a latitude com a
altitude, oferecendo também microclimas favoráveis.
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 8
Plantas de clima subtropical e tropical
Os vegetais tropicais e subtropicais encontram,
a partir do centro do Estado de São Paulo até o
Amazonas, condições ecológicas para o seu
desenvolvimento, com exceção das regiões
montanhosas, onde a queda de temperatura oferece
microclima favorável às culturas temperadas.
Pelos conhecimentos adquiridos sobre espécies
de clima temperado, subtropical e tropical, e
conhecendo-se as condições ecológicas de cada
região, podem-se estabelecer pomares comerciais
com grande probabilidade de êxito.
Assim, as culturas de abacaxi, anona, banana,
coco-da-bahía, mamão, manga, tâmara, citros, abacate,
goiaba, jabuticaba encontrariam condições ecológicas
das mais favoráveis a partir da parte central do Estado
de São Paulo até o norte, incluindo as regiões central e
nordeste, que se enquadram dentro de clima
subtropical e tropical. As espécies de clima temperado,
entretanto, como ameixeira, figueira, macieira,
oliveira, pecã, pessegueiro, pereira e videira,
encontrariam condições mais satisfatórias do sul do
Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul.
1.9 - Aspectos sociais
Os 6 milhões de empregos gerados nos 2,5
milhões de hectares de fruticultura é em grande parte
por causa do baixo investimento necessário para a
geração de emprego, pois, para cada 10.000 dólares
investidos em fruticultura, geram-se 3 empregos
diretos permanentes e dois empregos indiretos. Visto
por outro ângulo, 2,5 milhões hectares com frutas no
Brasil significam 6 milhões de empregos diretos (2 a
5 pessoas por hectare).
220000
145000
10000091000
66000
37000
6000 2500
Química
Metalúrgica
PecuáriaAutomobilísmo
Turismo
Agricultura
Fruticultura
Investimento médio para gerar um emprego (US$)
Figura 1.2 - Investimento médio para gerar um
emprego em algumas atividades industriais, turismo e
agropecuárias.
Um exemplo de geração de emprego é o caso
da atemóia no Estado de São Paulo. Segundo estudos
de Mello et al., (2004), a atemóia assim como outras
frutíferas, é grande absorvedora de mão-de-obra,
requer cuidados agronômicos sistemáticos cerca de
1.153 horas/ha/ano, enquanto que as culturas anuais
em sistemas de produção de alta tecnologia geram
apenas entre 2 a 40 horas/ha (Mello et al., 2000).
A alta geração de emprego ocorre por se tratar
de cultivo extensivo e intensivo, exigindo a presença
constante de mão-de-obra.
Por isso, existe atualmente grandes incentivos
à projetos de irrigação, principalmente por ser umas
das atividades agrícolas que exige pouco recursos
para gerar empregos.
1.10 - Aspectos nutracêuticos
A estimativa dos órgãos governamentais é que
70% das mortes de brasileiros ocorreram por motivo
de doenças crônicas. Aproximadamente 35% dos
casos de câncer no mundo tem como causa principal
uma alimentação desequilibrada.
Os alimentos vegetais, em geral, são alimentos
indispensáveis e mais importantes para a vida. Eles
são fontes principais de minerais, vitaminas, fibras,
açúcar, além de proteínas e gorduras, em menor
quantidade, substâncias essenciais para todo o
funcionamento do organismo. Os vegetais contém,
também, substâncias protetoras e curativas, com ação
anti-infecciosa, anti-inflamatória, anti-parasitária,
anti-reumática, anti-hipertensiva, diurética, laxativa,
desintoxicante e vitalizadora de todo organismo. São
alimentos equilibrados e determinam uma perfeita
saciedade do apetite, impedindo o comer excessivo, a
busca constante por comidas, portanto, evitam e
curam a obesidade.
1.10.1 Comportamento alimentar do homem
Uma grande parte de nossa população passa
fome, no sentido de escassez ou de impossibilidade
de adquirir os alimentos fundamentais, outra parte
gasta-se além do necessário em sistemas alimentares
de verdadeiras manias (De Angelis, 2001).
Mas, para os que comem, “comer não é
apenas uma questão de matar a fome” (Burgierman,
2002).
A decisão sobre que comida colocar no prato
tem implicações econômicas, ambientais, éticas,
culturais, fisiológicas, históricas, religiosas e etc.
Assim, os lactovegetarianos comem ovos, leite e
derivados, por não “resultarem” do sofrimento animal
ou por não conter toxinas produzidas antes da morte
animal; os vegans acreditam na liberdade total dos
animais e não se alimentam de produtos de origem
animal e deveriam fotografar apenas com máquinas
digitais, devido os filmes das máquinas analógicas
conterem uma gelatina retirada da canela da vaca; os
frugivoristas não só rejeitam carne como evitam
machucar ou matar vegetais. Por isso, comem apenas
aquilo que as plantas “querem” que seja comido:
frutas, castanhas e sementes, consideram o consumo
de folhas, caules e raízes uma violência.
Mas afinal, o homem é onívoro ou frugívoro?
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 9
Baubach, (1992) cita o Dr. Friedman, que
afirma ser o homem um frugívoro, não só pela forma
e disposição do seu sistema dentário, mas, também,
pela constituição dos órgãos digestivos, e muitos
afirmam que é erro considerarmo-nos onívoros.
Portanto, acredita-se que as frutas são
alimentos naturais do homem, mineralizantes por
excelência, e é nesta fonte pura e não nos cadáveres
que se deve apoiar-se para a reparação das forças do
organismo.
1.10.2 Valor nutritivo das frutas
É possível o homem alimentar-se apenas de frutas?
Nas frutas tem-se os princípios necessários
para atender as necessidades vitais dos humanos
(Quadro 1.7).
O tamarindo, as uvas, a banana, o açaí e
outros, fornecem os carboidratos; o coco, as
castanha-da-amazônia1 e castanha-de-caju, sementes
de baru e outras, fornecem gorduras e proteínas. As
frutas também suprem com os mais variados sais
minerais, vitaminas, fermentos, água (com o selo da
vida) e fibras. Com regime exclusivo de frutas, o
homem pode viver em bom estado de saúde, mas é
preciso individualiza-lo devidamente (Quadro 1.8).
Quadro 1.7 – Composição química em 100g de
algumas frutas.
Frutas Kcal
Vit.A
(µg)
Vit.B1
(µg)
Vit.B2
(µg)
Vit.B3
(mg)
Vit.C
(mg)
Ca P Fe
(mg)
Prot
(%)
Abacate 162 20 70 100 0,80 10,2 13 47 0,70 1,3
Açaí 247 150 360 10 0,40 5,0 118 0,5 2,00 3,5
Ameixa 54 200 120 150 0,37 6,8 11 16 0,36 0,6
Banana 89 10 92 103 0,82 17,3 15 26 0,20 1,3
Caqui 87 250 30 45 0,80 17,1 4 42 0,41 0,8
Caju 37 16 58 50 2,56 200,0 50 18 1,00 0,8
Castanha 700 7 1094 118 7,71 10,3 172 746 5,00 17,0
Coco seco 619 0 60 40 0,50 1,6 108 209 4,80 5,0
Goiaba 43 245 190 154 1,20 45,6 17 30 0,70 1,0
Laranja 43 14 40 21 0,19 40,9 45 28 0,20 0,9
Limão 28 2,5 55 60 0,31 30,2 41 15 0,70 0,8
Maracujá 90 70 150 100 1,51 15,6 13 17 1,60 1,8
Manga 64 220 51 56 0,51 43,0 21 17 0,78 0,6
Coca-cola 39 0 0 0 0 0 2 1 0 0
Fonte: Franco, 1992; Aguiar et al., 1980; Donadio et al., 2002.
Na alimentação dos frugivoristas e dos vegans,
deve haver um cuidado especial quanto ao
suprimento de vitamina B12, pois estas não contem
nos vegetais, é sintetizada por bactérias de solo,
consumidas pelos animais durante o pastejo e
encontrada nas carnes dos mesmos. Porém, pode ser
encontrada facilmente em alimentos enriquecidos,
1 Castanha-da-Amazônia é o termo que respeitosamente
emprego para a Castanha-do-Pará, que não é apenas do
Pará, ou Castanha-do-Brasil, que não é apenas do Brasil,
mas, a Bertholletia excelsa é da Amazônia Real, inclusive
da Bolívia, Peru, Colômbia, Guianas, Suriname e
Venezuela.
como alguns biscoitos. A vitamina B12 pode está
presente em alguns pró-bióticos, como o Kefir,
colônia de microrganismos lácticos.
Um outro cuidado no balanceamento da dieta
dos vegetarianos é o iodo. Um trabalho de
investigação constatou que a população vegetariana
(sem consumo de qualquer alimento de origem
animal), a ingestão média de iodo foi abaixo de 100
g/dia, enquanto as recomendações são de 150
g/dia (De Angelis, 2001).
Um outro problema sério na alimentação dos
vegetarianos é a pouca concentração de ferro nos
vegetais ao contrário das carnes e víceras. Mas, a
ingestão diárias de diversas frutas, hortaliças e outros
vegetais, garante a necessidade diária de ferro. A
goiaba é um dos frutos mais completos, em termos de
balanço nutricional, mas possui baixo teor de Fe. No
geral, não existe um fruto ideal que possa servir
como única fonte de alimento vegetal, mas que a
alimentação deve ser feita de uma “salada” de frutas,
ou seja, uma alimentação com vários tipos de frutas e
de preferência respeitando a sazonalidade regional.
As castanhas, a exemplo a castanha-da-
amazônia, pode suprir a necessidade diária de
proteínas e cálcio, este último é encontrado em maior
concentração que no leite de vaca, o leite de vaca e
seus derivados, por ter também elevado teor de
cálcio, leva os nutricionistas convencionais a
recomendarem este alimento, porém, esquecem de
que o leite, muito importante para os mamíferos
jovens, pode trazer problemas para a saúde humana,
principalmente pela contaminação por doenças dos
animais, muitas vezes mal tratados.
Em natureza, não se observa mamíferos
adultos mamando em suas genitoras, será que o
homem adulto poderia alimentar-se de leite natural?
Quadro 1.8 – Necessidade diária de um homem
adulto e elementos consumidos em 1,6 kg de frutas,
castanhas e sementes.
Necessidade
diária
Consumo 1,6 kg de frutas e
castanhas
Energia Kcal >2600 3075 50 g de cada fruta
Castanha-da-
Amazônia, Castanha-de-Caju, Amêndoa,
Burití, Pinhão,
Bacurí. 100g de cada fruta
Caju,açaí, manga,
maracujá, biribá, jenipapo, baru,
goiaba.
150 g de cada fruta laranja, abacate
200 g de banana
Proteína (g) 56 83
Fibra (g) 20 - 35 92
Cálcio (mg) 800 733
Ferro (mg) 10 41
Fósforo (mg) 800 1650
Vit. A (g) 1000 1200
Vit. B1 (g) 1400 2940
Vit.B2 (g) 1700 1620
Vit. B3 (mg) 18 22
Vit. C (mg) 60 560
Fonte: Franco, 1992; Aguiar et al., 1980, Donadio et
al., 2002.
Um concorrente direto na comercialização das
frutas é o refrigerante, um produto artificial, sem
nenhum valor nutricional, intoxica e desmineraliza o
organismo. Têm muita caloria inútil e engorda. O
"diet", com menos calorias, é artificial e tóxico. Ao
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 10
contrário das frutas, não contém vitaminas, proteínas,
sais minerais (raro poucas exceções) e contém
corantes e acidulantes, tóxicos ao organismo. Além
de não respeitar o próprio corpo ao beber um
refrigerante multinacional, que tem inclusive
incentivos fiscais (não oferecido às industrias
nacionais de refrigerante), paga-se aos estrangeiros e
desempregam-se brasileiros nos campos de produção
de frutas, café e chás.
Fibras dietéticas
Além dos carboidratos, proteínas, vitaminas e
sais minerais, as frutas têm um outro componente
muito importante na nutrição humana, as fibras.
Atualmente as fibras deixam de exercer apenas a
função digestiva muito preconizada no passado e
passa a ocupar o lugar que lhe corresponde dentro do
arsenal terapêutico atual, ganhando um novo
conceito: o de “fibra dietética”.
As características físico-químicas,
concernentes à solubilidade, viscosidade,
geleificação, capacidade de incorporar substâncias
moleculares ou minerais, determinarão as
diferenciações entre fibras.
As fibras classificam em fibras solúveis em
água (pectinas, gomas, mucilagens, hemicelulose B)
e Insolúveis em água (celulose, lignina e
hemicelulose A). E ainda tem algumas substâncias
que participam do grupo das “fibras dietéticas” por
sua similaridade (amido resistente,
frutooligossacarídeos, açúcares não-absorvidos e
inulina).
A fibra dietética passa através do intestino, no
qual desenvolve sua capacidade de hidratação e
fixação, interferindo na absorção de substâncias
orgânicas e inorgânicas como segue:
Proteínas, carboidratos e lipídios – são os
primeiros nutrientes a serem hidrolisados no intestino
delgado para serem absorvidos. Como a ação das
fibras solúveis, principalmente das gomas, pectinas e
mucilagens, estas substâncias terão sua absorção
retardada e algumas vezes sua excreção ligeiramente
aumentada. As perdas de proteínas, carboidratos e
gorduras nas fezes não são importantes do ponto de
vista nutricional, mas são, sem dúvida, relevantes
para o controle de algumas doenças como os diabetes
e as coronariopatias.
Sais biliares – a lignina, as gomas, pectinas
e mucilagens são capazes de seqüestrar os sais
biliares, permitindo sua eliminação nas fezes, o que
tem grande importância na prevenção de tumores, já
que determinadas cepas de bactérias, particularmente
a Clostridium putrificans, têm capacidade de
sintetizar cancerígenos utilizando-se dos ácidos
biliares e colesterol como substrato.
A absorção de gorduras torna-se diminuída,
pela impossibilidade de não serem emulsionadas e
nem transportadas na mucosa intestinal.
Os ácidos biliares são derivados do colesterol
e sintetizados no fígado. Se mais componentes de bile
são eliminados do corpo, mais estes deverão ser
sintetizados para fazer a bile normal. Este processo
acaba gastando mais colesterol (substrato), reduzindo
assim o colesterol circulante (De Angelis, 2001).
Vitaminas e minerais – está comprovado
que a lignina, as hemiceluloses ácidas, as pectinas e
algumas gomas são capazes de fixar determinados
minerais, como cálcio, fósforo, zinco, magnésio e
ferro, e algumas vitaminas podem ter alterado sua
absorção. Esses efeitos, que, à primeira vista,
poderiam ser prejudiciais, na prática não constituem
problema quando a ingestão de fibras dietética é
moderada, ou seja, dentro das recomendações
nutricionais. Pode se observar balanço negativo de
cálcio, magnésio, fósforo, ferro e zinco em grandes
consumidores de pão integral. Essas alterações
subclínicas desapareceram quando se aumenta o
consumo de pão branco. Indivíduos que ingerem
menos que 50g de fibras ao dia, não estão expostos a
nenhum desequilíbrio nutricional.
As fibras dietéticas chegam ao intestino grosso
de forma inalterada e, ao contrario do que ocorre no
intestino delgado, as bactérias do cólon, com suas
numerosas enzimas de grande atividade metabólica,
podem digerir as fibras em maior ou menor grau,
dependendo de sua composição química e estrutura.
As moléculas complexas são desdobradas a
hexoses, pentoses e álcoois, que já podem ser
absorvidos pelo intestino, servindo de substrato a
outras colônias bacterianas, que, por sua vez, as
degradam em ácido lático, água, dióxido de carbono,
hidrogênio, metano e ácidos graxos de cadeia curta
(acetato, propionato e butirato), com produção de
energia. A produção e ação metabólica desses ácidos
graxos têm sido o principal foco de investigação atual
sobre fibras, pois podem se constituir de importante
substrato energético, serem utilizados pelo fígado
para gliconeogênese, além de exercerem ação
antitumoral.
Por outro lado, é sabido que uma dieta pobre
em fibras pode ocasionar mudanças na microbiota e
converter os lactobacilos habituais do cólon em
bacterióides capazes de desdobrar os ácidos biliares
em compostos cancinogênicos.
Carboidratos -
As frutas são ótimas fontes de carboidratos e
açúcar simples. Os carboidratos são recomendados
como o principal nutriente da composição das
pirâmides alimentares, mas podem se tornarem
vilões, como nos EUA, por exemplo, causando
obesidade, hipoglicemia e diabetes.
Não basta apenas consumir carboidratos, é
preciso que esse carboidrato esteja nas frutas,
hortaliças e nos cereais integrais. Sua energia é
liberada durante um período mais longo e contínuo,
ao contrário dos curtos derrames de energia do açúcar
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 11
simples. Apesar de não serem considerados como
complexos de carboidratos, os açúcares simples
encontrados nas frutas estão misturados com
vitaminas, sais minerais e fibras. É nisso em que
diferem do açúcar branco, refinado, que é usado em
altas concentrações associados com muitos alimentos
ruins, repletos de “calorias vazias” (Blauer, 2004). As
fibras contidas nesses alimentos retardam a absorção
de glicose, permitindo que as pessoas se sintam
alimentadas por mais tempo. Isto também impede as
oscilações da insulina, que sobe violentamente com a
ingestão de açúcares de tudo que se transforma
imediatamente em açúcar no organismo, como o pão
branco e a batata.
Os minerais das frutas
Os minerais das frutas são minerais quelantes,
diferente dos minerais sintéticos, porque o organismo
reconhece e usa mais facilmente, é por isso que uma
dieta rica em minerais orgânicos, é de fácil
assimilação e ajuda a garantir que o organismo
receba todos os minerais importantes de que precisa.
Os minerais das frutas e sucos naturais ajudam
a manter alta a energia do corpo, os nervos calmos,
os dentes, os ossos e as unhas. Além disso, mantêm o
sangue limpo e seu pH equilibrado. E fazem isso
neutralizando os resíduos ácidos e alcalinos, ou seja,
resíduos da digestão e do metabolismo humano.
Em adição a essas funções gerais, cada mineral
tem uma função específica. As funções específicas de
vários dos mais importantes minerais existentes nas
frutas estão relacionados abaixo.
O potássio é o mineral responsável pelo
equilíbrio eletroquímico dos tecidos do coração e de
outros músculos. O ferro é um componente das
células vermelhas do sangue, que transporta o
oxigênio para os pulmões e ajuda os alvéolos na
respiração. O fósforo é essencial para o bom
funcionamento do cérebro e dos nervos.
O cálcio mantém o equilíbrio ácido/alcalino do
sangue e fortalece os ossos. O enxofre ajuda o
cérebro e os nervos a funcionarem; e é o depurador
do organismo. O iodo alimenta a glândula tireóide,
que controla o metabolismo. O magnésio ajuda o
relaxamento muscular, a sintetização das proteínas, a
produção de energia e é um laxante natural.
O manganês é necessário para o
funcionamento cerebral. O selênio funciona em
conjunto com a vitamina E para evitar a oxidação dos
ácidos graxos. O sódio com o potássio, o cálcio e o
magnésio, agem na neutralização de ácidos, mantém
a integridade das células e conserva a energia
eletromagnética dos tecidos.
1.10.3 Fitoquímicos ou alimentos funcionais
Apesar da conexão entre dieta e saúde ser
reconhecida há muito tempo, à medida que
caminhamos para o século XXI, descobrimos cada
vez mais sobre como a dieta pode prevenir doenças.
O tema nutrição é o ponto alto na relação entre dieta
e doenças crônicas como obesidade, doenças
cardíacas e câncer. Em outras palavras, estamos
caminhando para promoção da saúde, longevidade e
qualidade de vida.
Por ser um tema “recente” e despertar
interesses diversos, recebem também, diversas
terminologias. Os mais usuais são alimentos
funcionais, fitoquímicos ou compostos bioativos e
também nutracêutico, estudado pela “medicina
ortomolecular", que consiste no combate aos
"radicais livres" através de substâncias
"antioxidantes", representadas principalmente pelas
vitaminas e pelos minerais.
Lajolo define os nutracêuticos como:
“Alimento semelhante em aparência ao alimento
convencional, consumido como parte da dieta usual,
capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou
fisiológicos úteis na manutenção de uma saúde física e
mental, podendo auxiliar na redução do risco de
doenças crônico-degenerativas, além de manter suas
funções nutricionais” (Lajolo, 2001).
Estudos epidemiológicos, por exemplo, têm
associado a dieta rica em vegetais ao uso da soja,
com uma menor incidência de osteoporose e câncer
de mama na mulher. A dieta mediterrânea, rica em
frutas e vegetais, óleo de oliva e carboidratos, leva a
níveis de colesterol elevados, mas não correlacionado
a um maior número de mortes por enfarto.
1.10.4 - Fome oculta
“Os fitoquímicos defendem as células do
corpo, as quais estão constantemente sofrendo
ataques, seja do meio ambiente, da alimentação
inadequada ou da própria genética”. A essa
necessidade do organismo em receber proteção
contra doenças por meio dos fitoquímicos. É uma
fome que não se percebe, mas de algo de que o corpo
precisa (De Ângelis, 1999).
Estudos epidemiológicos têm confirmado essa
tendência que indica déficit do consumo de ácidos
graxos polinsaturados, proteínas de alto valor biológico,
vitaminas, cálcio, ferro, iodo, flúor, selênio e zinco. Este
estado nutricional carente tem originado elevadas
incidências de doenças crônico degenerativas, dentre
elas, doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão,
diabetes, obesidade, entre outras. A fome oculta é uma
fome universal, que agrava principalmente os habitantes
de países desenvolvidos. Segundo dados da OMS
mostram que essas doenças são responsáveis por 70% a
80% da mortalidade nos países desenvolvidos e cerca de
40% naqueles em desenvolvimento.
1.10.5 Antioxidantes
Oxidação em sistemas biológicos
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 12
A oxidação nos sistemas biológicos ocorre
devido à ação dos radicais livres no organismo. Estas
moléculas têm um elétron isolado, livre para se ligar
a qualquer outro elétron, e por isso são extremamente
reativas. Elas podem ser geradas por fontes
endógenas ou exógenas. Por fontes endógenas,
originam-se de processos biológicos que
normalmente ocorrem no organismo, tais como:
redução de flavinas e tióis; resultado da atividade de
oxidases, cicloxigenases, lipoxigenases,
desidrogenases e peroxidases; presença de metais de
transição no interior da célula e de sistemas de
transporte de elétrons.
Esta geração de radicais livres envolve várias
organelas celulares, como mitocôndrias, lisossomos,
peroxissomos, núcleo, retículo endoplasmático e
membranas. As fontes exógenas geradoras de radicais
livres incluem tabaco, poluição do ar, solventes
orgânicos, anestésicos, pesticidas e radiações.
Nos processos biológicos há formação de uma
variedade de radicais livres. São eles:
- Radicais do oxigênio ou espécies reativas do
oxigênio íon superóxido (O2 -*)
Hidroxila (OH·); Peróxido de hidrogênio (H2O2);
Alcoxila (RO*); Peroxila (ROO*); Peridroxila
(HOO*); Oxigênio sinlete (1O2);
- Complexos de Metais de Transição
Fe+3
/Fe+2
; Cu+2
/Cu+
- Radicais de Carbono
Triclorometil (CCl3*);
- Radicais de Enxofre
Tiol (RS·)
- Radicais de Nitrogênio
Fenildiazina (C6H5N = N·)
Óxido nítrico (NO*)
Estes radicais irão causar alterações nas
células, agindo diretamente sobre alguns
componentes celulares. Os ácidos graxos
polinsaturados das membranas, por exemplo, são
muito vulneráveis ao ataque de radicais livres.
Estas moléculas desencadeiam reações de
oxidação nos ácidos graxos da membrana
lipoprotéica, denominadas de peroxidação lipídica,
que afetarão a integridade estrutural e funcional da
membrana celular, alterando sua fluidez e
permeabilidade. Além disso, os produtos da oxidação
dos lipídios da membrana podem causar alterações
em certas funções celulares. Os radicais livres podem
provocar também modificações nas proteínas
celulares, resultando em sua fragmentação, cross
linking, agregação e, em certos casos, ativação ou
inativação de certas enzimas devido à reação dos
radicais livres com aminoácidos constituintes da
cadeia polipeptídica. A reação de radicais livres com
ácidos nucléicos também foi observada, gerando
mudanças em moléculas de DNA e acarretando certas
aberrações cromossômicas. Além destes efeitos
indiretos, há a ação tóxica resultante de altas
concentrações de íon superóxido e peróxido de
hidrogênio na célula.
Compostos antioxidantes
Os processos oxidativos podem ser evitados
através da modificação das condições ambientais ou
pela utilização de substâncias antioxidantes com a
propriedade de impedir ou diminuir o
desencadeamento das reações oxidativas.
Os antioxidantes são capazes de inibir a
oxidação de diversos substratos, de moléculas
simples a polímeros e biossistemas complexos, por
meio de dois mecanismos: o primeiro envolve a
inibição da formação de radicais livres que
possibilitam a etapa de iniciação; o segundo abrange
a eliminação de radicais importantes na etapa de
propagação, como alcoxila e peroxila, através da
doação de átomos de hidrogênio a estas moléculas,
interrompendo a reação em cadeia.
Sabe-se que, por um lado, as vitaminas C, E e
os carotenóides funcionam como antioxidantes em
sistemas biológicos, e por outro, o processo
carcinogênico é caracterizado por um estado
oxidativo crônico, especialmente na etapa de
promoção. Além disso, a fase de iniciação está
associada com dano irreversível no material genético
da célula, muitas vezes devido ao ataque de radicais
livres. Desse modo, os nutrientes antioxidantes
poderiam reduzir o risco de câncer inibindo danos
oxidativos no DNA, sendo, portanto considerados
como agentes potencialmente quimiopreventivos
(Silva e Naves, 2001).
Outras doenças degenerativas do
envelhecimento, incluindo câncer, doenças
cardiovasculares e cataratas são prevenidas ou
retardadas no início, por esses três antioxidantes
(vitamina C, vitamina E e carotenóides).
Para se ter uma idéia sobre a oxidação natural
no organismo, “o DNA em cada célula do corpo
recebe aproximadamente 10.000 ataques oxidativos
por dia” (Ames et al., 1993).
• Carotenóides
Os carotenóides compreendem um grande
número de compostos, muitos dos quais com
atividade biológica. Alguns, como o -caroteno, são
pró-vitaminas A (transforma-se em vitamina A no
organismo). Outros como o licopeno não são
precursores de vitamina A, mas agem no organismo
como antioxidantes, na eliminação de espécies ativas
de oxigênio, formadas ou não no nosso organismo.
Ao contrário de muitas vitaminas, a
biodisponibilidade de carotenóides é aumentada com
o aquecimento dos alimentos, como no
processamento do tomate ou da goiaba, por exemplo.
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 13
• Vitamina C
O termo vitamina C é uma denominação
genérica para todos os compostos que apresentam
atividade biológica do ácido ascórbico. Dentre eles, o
ácido ascórbico é o mais largamente encontrado nos
alimentos e possui maior poder antioxidantes
encontrado nos alimentos e possui maior poder
antioxidante. Os possíveis efeitos anticarcinogênicos
da vitamina C estão relacionados com sua habilidade
em detoxicar substâncias carcinogênicas e suas
atividades antioxidantes. Além disso, tem-se
constatado que a vitamina C pode inibir a formação
de nitrosaminas in vivo a partir de nitratos e nitritos
usados como conservantes, sendo, portanto
adicionados para prevenir a formação desses
compostos reconhecidamente carcinogênicos.
• Vitamina E
A vitamina E é uma substância lipossolúvel e
existente na natureza como tocoferóis e tocotrienóis,
em quatro formas diferentes (, , e ), sendo o -
tocoferol a forma antioxidante mais ativa e
amplamente distribuída nos tecidos e no plasma. A
vitamina E constitui o antioxidante lipossolúvel mais
efetivo encontrado na natureza, e importante fator de
proteção contra a peroxidação lipídica nas
membranas celulares e na circulação sanguínea.
• Flavonóides
Os flavonóides são ativos, em geral variáveis,
contra radicais livres, os quais, por sua vez, podem
estar associados a doenças cardiovasculares (melhor
distribuição periférica do sangue, melhora fluxo
arterial e venoso), câncer, envelhecimento e outras:
- antiinflamatória;
- estabilizadora do endotélio vascular – melhora
função da célula endotelial, diminuindo a
permeabilidade;
- antiespasmódica- ação principal na musculatura lisa;
- cardiovascular- - antialérgico;
- antiulcerogênico;
- antivirais.
Os flavonóides são constituídos
principalmente de antocianina, flavonois, flavonas,
catequinas e flavonoides.
Para se ter uma alimentação saudável,
recomenda-se comer pelo menos cinco (5) refeições
de frutas e hortaliças diariamente. As frutas e
hortaliças são as principais fontes dos três nutrientes
antioxidantes mais importantes: vitamina C,
carotenóides e vitamina E.
1.10.6 – Prevenção de câncer
Causas de indução
Até o momento, a pesquisa determinou muitos
aspectos de desenvolvimento do câncer, se conhece
que o crescimento do tumor tem dois estágios
críticos: iniciação e promoção. A “iniciação”
cancerígena ou alteração celular promove
sucessivamente o crescimento do câncer. Este
crescimento não ocorre, porém, até que um dos
vários fatores chamado “promotores” aja alterando a
célula. Em câncer de mama, a causa mais comum de
mortalidade em mulheres, estes fatores
(“promotores”) incluem danos oxidativos, a ação de
hormônios esteróides, e a ação de certos tipos de
prostaglandinas (PGS). Na Figura 1.3, estar um
esquema altamente simplificado, ilustrando como e
quais estágios certos fitoquímicos podem agir para
bloquear o processo de promoção do câncer,
combatendo o efeito de certos cancerígenos,
iniciadores e promotores (Caragay, 1992).
Figura 1.3 - Fitoquímicos podem afetar o padrão
metabólico associado com câncer dos seios.
(Adaptada de Pierson, 1992).
Consumo de carne ou não consumo de vegetais
“Cerca de 80% dos cânceres de mamas,
próstata e de cólon são atribuídos aos hábitos
alimentares, especialmente consumo de carnes
vermelhas e gorduras” (Binhham, 1999, citado por
De Angelis, 2001).
A carne parece estar associada com câncer,
apenas em povos que não tem uma dieta variada. Os
franceses e os mediterrâneos em geral, têm uma dieta
variada e rica em vegetais frescos, azeite de oliva,
vinho e carne de todos os tipos. Ao contrário dos
americanos, esses povos comem com calma, em
ambiente descontraídos, fatores também relacionados
com prevenção de doenças e qualidade de vida.
Uma coisa ninguém tem dúvidas: vegetais
fazem bem. Uma dieta rica em frutas, e hortaliças
claramente reduz as chances de ter câncer no
estômago, na boca, no intestino, no reto, no pulmão,
na próstata e na laringe, além de afastar os ataques
cardíacos. Frutas e hortaliças amarelas têm caroteno,
que previne câncer no estômago, a soja possui
isoflavona, que diminui a incidência de câncer de
mama e osteoporose; o alho tem alicina, que fortalece
o sistema imunológico e por aí vai.
Mas, a carcinogênese que não dependem da
alimentação pode ocorrer inclusive em vegetarianos,
com ocorrência de câncer de estômago, por exemplo,
pois outros fatores estão relacionados com câncer,
Iniciação
do tumor Promoção do
tumor
carotenóides, fenólicos,
flavonóides, terpenos.
fenólicos, flavonóides,
sulfetos, poliacetilenos
Prostaglandinas
Carcinogênicos
s
Danos oxidativos
s
cumarina,
flavonóides,
triterpenóides
sulfetos,
isoflavonas
fibras, terpenos,
fenólicos, sulfetos,
isoflavonas
hormônios
esteróide
s
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 14
como a predisposição genética, o tabaco, o álcool,
infecções viróticas e o ambiente (Anelli, 2004).
1.10.7 – As frutas e o tipo sanguíneo
Os doutores James D’Adamo e Peter
D’Adamo, revelaram por meio de suas pesquisas e
estudos, que a escolha do tipo de alimento não deve
ser casual, simplesmente por questões culturais ou
religiosas, mas que deve obedecer o tipo sanguíneo
de cada pessoa. Seus estudos estão publicados no
livro A dieta pelo tipo sanguíneo, publicado em 1996,
lançado no Brasil pela Editora Campus, em 1998 e
reeditado em 2005 (D’Adamo e Whitney, 2005).
O sistema imunológico encontra-se no sangue,
e possui mecanismos sofisticados para determinar se
uma substância é estranha ou não ao corpo. Um dos
métodos reside nos marcadores químicos chamados
“antígenos”, que são encontrados nas células do
corpo humano.
Quando o antígeno do tipo sanguíneo percebe
que um antígeno estranho entrou no sistema, a
primeira coisa que ele faz é criar anticopos contra
esses antígenos.
Quando ocorre uma reação química entre o
sangue e os alimentos consumidos, essa reação faz
parte da herança genética do tipo sanguíneo. É
estranho, mas verdadeiro que hoje, no século XXI,
nosso sistema digestório e imunológico ainda
mantenha uma preferência pelos alimentos que
nossos ancestrais com o mesmo tipo sanguíneo
comiam.
Sabe-se disso devido a um fator chamado
lectina. As lectinas são abundantes e variadas
proteínas encontradas nos alimentos, têm propriedade
de aglutinação, afetando o sangue.
As lectinas dos alimentos incompatíveis com o
antígeno de um determinado tipo sanguíneo, ao
serem ingeridas atingem um órgão ou sistema
corporal (rins, fígado, cérebro, estômago etc.) e
começam a aglutinar células sanguíneas nessa área.
A dieta para o tipo O
O aparelho digestível de pessoas Tipo O
conserva a memória dos tempos antigos. A dieta rica
em proteína animal de caçador-coletor e as enormes
demandas físicas do sistema dos primitivos seres
humanos de Tipo O provavelmente manteve a
maioria deles em um branco estado de cetose – uma
condição em que o metabolismo do corpo fica
alterado. A cetose é o resultado de uma dieta rica em
proteína e em gordura que inclui poucos carboidratos.
O corpo metabolisa as proteínas e gorduras em
cetoses, que são usadas em lugar dos açúcares numa
tentativa de manter os níveis de glicose estáveis.
Para digerir melhor uma dieta rica em carnes,
o sistema digestível de pessoas Tipo O é ácido. Por
isso, uma dieta ácida, acidifica cada vez mais o
estômago dessas pessoas, causando problemas de
saúde, como úlcera e gastrites.
Muitas frutas são adequadas para as pessoas de
Tipo O. Mas, algumas frutas são consideradas
nocivas. A razão por que ameixas são tão benéficas
ao Tipo O é que a maior parte das frutas de cor
vermelha escura, azul e roxa tende a provocar uma
reação alcalina em vez de ácida no aparelho
digestível. O aparelho digestivo das pessoas de Tipo
O tem alto nível de acidez e precisa equilibrar a
alcalinidade para reduzir úlceras e irritações da
mucose estomacal.
Devido a sua alcalinidade, sucos de hortaliças
são mais indicados para os de Tipo O que sucos de
frutas. Os sucos de frutas devem ser de frutas pobres
em sacarose (Tabela 1.9).
O suco de abacaxi pode ser particularmente
eficaz para evitar retenção de líquido e inchaço,
ambos fatores que contribuem para o aumento de
peso.
A dieta para o tipo A
As pessoas de sangue Tipo A se dão bem com
dietas vegetarianas – herança de seus ancestrais
agricultores, mais sedentário e menos guerreiros.
Precisam consumir alimentos em estado o mais
natural possível: frescos, puros e orgânicos. Esse
cuidado é importante para o sensível sistema
imunológico dos organismos. Pois são pessoas
biologicamente predispostas para diabetes, câncer e
doenças do coração.
O sistema digestível de pessoas Tipo A é mais
alcalino que ácido.
As laranjas devem ser evitadas, pois elas
irritam o estômago do Tipo A e interferem também
na absorção de importantes nutrientes. Embora a
acidez estomacal seja em geral baixa nos organismos
de Tipo A e possa admitir um estimulante, as laranjas
irritam a delicada mucosa estomacal. O limão mais
ácido que a laranja, é excelente para esse tipo
sanguíneo, pois apresenta tendência de alcalinidade
na digestão, auxilia na digestão e eliminação do muco
do organismo, recomendado inclusive para
tratamento de azia (acidez no estômago).
A dieta para o tipo B
As maiorias das frutas podem ser consumidas
pelas pessoas de Tipo B, pois possuem aparelhos
digestível muito equilibrados, com um saudável nível
ácido-alcalino, de modo que, se pode consumir frutas
que são muito ácidas para outros tipos de sangue.
O abacaxi pode ser particularmente benéfico
para organismos de Tipo B. que são susceptíveis a
edemas – especialmente quando não inclui laticínios
e carnes na dieta. A bromelaína, uma enzima
existente no abacaxi, ajuda-o a digerir mais
facilmente os alimentos.
A dieta para o tipo AB
O sangue Tipo AB é biologicamente
complexo. Ele não se encaixa bem em nenhuma das
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 15
outras categorias. Vários antígenos fazem com que o
AB às vezes seja semelhante ao A, outras ao B e às
vezes parece uma fusão de ambos – uma espécie de
tipo sanguíneo centauro.
As pessoas de Tipo AB compartilham a maior
parte das intolerâncias e preferências das de Tipo A
por certas frutas. Frutas alcalinas, como as uvas, as
ameixas e frutas da família das rosáceas (morango,
amora, framboesa etc), podem ajudar a neutralizar o
efeito dos cereais que provocam acidez em seus
tecidos musculares.
As pessoas de Tipo AB, não se dão bem com
certas frutas tropicais especialmente mangas e
goiabas. Mas o abacaxi é um excelente auxiliar da
digestão para os organismos de Tipo AB.
No Quadro 1.9, está a relação de amêndoas,
frutas e sementes que são benéficas, nocivas e
neutros, que não apresentam efeitos ao organismo.
1.5.8 As frutas e a energia do corpo
As causas da falta de energia no organismo são
várias, uma delas é o consumo de açúcar simples,
contido nas “gulosemas”, sucos artificiais e
refrigerantes, que estimulam o organismo. Mas, logo
a sensação de energia é substituída pelo cansaço.
Quadro 1.9 – Amêndoas, frutas e sementes recomendadas na dieta de pessoas de diferentes tipos sanguíneos.
Tipo O
Benéficos Neutros Nocivos
sementes de abóbora torradas,
sementes de linhaça
amêndoas, avelãs, gergelim, nozes em
geral, pinhão
amendoim,casctanha-de-caju e do Pará,
pistache, sementes de girassol
ameixas em geral, figos frescos e
secos, goiaba, jaca, manga
abacate, abacaxi, bananas, caqui,
carambola, limão, maçã, mamão,
melancia, melão, morango, pêra, pêssego,
uvas
açaí, acerola, amora-preta, banana-da-
terra, coco (água e leite), cupuaçu,
graviola, kiwi, laranja ácida, maracujá,
melão cantalupo, tangerina ácida.
Tipo A
Benéficos Neutros Nocivos
amendoim, sementes de linhaça e
de abóbora torrada
amêndoas, avelãs, castanha-portuguesa,
gergelim, nozes em geral, pinhão, girassol
castanha-de-caju, e castanha-da-
amazônia
abacaxi, açaí, ameixas, amoras,
cerejas, damascos, jaca, figos
frescos e secos, limão
abacate, caqui, carambola, goiaba, kiwi,
kunquat, maçã, melancia, morango, pêra,
pêssego, uvas
bananas em geral, coco (água e leite),
cupuaçu, laranja ácida, manga,
maracujá, melões em geral, mamão,
tangerina
Tipo B
Benéficos Neutros Nocivos
nozes-negra amêndoas, castanha-portuguesa, castanha-
da-amazônia, linhaça
amendoim, castanha-de-caju, pinhão,
gergelim, girassol
abacaxi, ameixas, bananas (exceto
banana-da-terra) jaca, mamão,
melancia, uvas
ameixas secas, amora, banana-da-terra,
figos, goiaba, kiwi, laranjas, limão, maçã,
manga, melão, morango, pêra, pêssego,
tangerina
abacate, caqui, coco (água e leite),
carambola, romã
Tipo AB
Benéficos Neutros Nocivos
amendoim, castanha-portuguesa,
nozes-de-natal
amêndoas, castanha-de-caju, linhaça,
castanha-da-amazônia, pinhão
avelã, abóbora-moranga, gergelim,
girassol
abacaxi, ameixas, cerejas, figos,
jaca, kiwi, limão, melancia e uvas
amora, banana-da-terra, fruta-pão,
kumquat, maçã, mamão, melão, morango,
pêra, pêssego, tangerina
abacate, caqui, bananas,, caqui,
carambola, coco (água e leite), goiaba,
laranja, manga
Fonte: Teixeira (2002); D’Adamo (2005)
Os carboidratos complexos, encontrados em
todos os cereais, frutas, hortaliças e leguminosas,
proporcionam uma energia mais permanente no
organismo, evitando a fadiga anormal.
Além dos carboidratos complexos, as frutas
são ricas em vitaminas do complexo B, que ajudam a
combater o cansaço e dobram sua energia em questão
de minutos.
No complexo B, encontra-se a colina, uma das
poucas substâncias que consegue penetrar na
chamada barreira sanguínea do cérebro, atingindo as
células do cérebro, estimulando-as a produzir a
acetilcolina, um neuro-transmissor do sistema
nervoso central que age sobre outras células
nervosas, bem como sobre os músculos e órgãos do
corpo inteiro. Existem muitos indícios associados as
células que usam a acetilcolina à formação da
memória.
Outro estimulante encontrado nas frutas são as
enzimas.
As enzimas das frutas e dos sucos naturais são
rapidamente utilizadas, para aumentar a energia e
promover a cura e regeneração. Elas melhoram o
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 16
funcionamento do sistema digestivo. Muitos
nutricionistas recomendam como primeiro alimentos
do dia, alimentos com vida, com enzimas, para
energizar um corpo adormecido pela dormida.
Os sucos naturais ajudam a decompor outros
nutrientes, transformando-os em substâncias simples
que podem ser rapidamente absorvidas na corrente
sanguínea. As enzimas dos sucos executam
rapidamente esses processos biológicos complexos
sem calor e sem se tornarem parte dessas mudanças
(Wade, 2004).
1.11 Função medicinal das frutas
Banana
A banana é uma das frutas mais consumidas
no mundo por possuir ótima qualidade nutricional e
ser saborosa (textura macia, aromática e doce). “É a
fruta das frutas”.
O Dr. Teófilo Luna Ochoa citado por Balbach
(1992) descreve o valor medicinal da banana:
“A banana madura... encerra uma substância
oleosa, que muito suaviza as membranas mucosas
irritadas em casos de colite e enfermidade do reto.
Contém igualmente um fermento digestivo não bem
conhecido, porém de alto valor, que, em determinada
enfermidade intestinal, a torna (a banana) o único
carboidrato tolerado pela vítima, que (doutra
maneira) morre de fome”.
Essa fruta é muito recomendável também
contra as enfermidades renais, nefrite, hidropisia,
gota, obesidade, afecções do fígado, cálculos biliares,
tuberculose, paralisia, enfermidades do estômago etc.
A banana, principalmente o caldo da banana
verde fervida ou ainda a farinha de banana são
excelentes contra diarréias e disenterias.
A dieta de bananas maduras dá resultados dos
mais benéficos em todos os casos de prisão de ventre
dentro de uma ou duas semanas.
Doença celíaca é uma indisposição intestinal
em crianças a partir de 16 meses de idade, rara e
fatal, a banana é um dos poucos alimentos que o
intestino não rejeita.
A banana ligeiramente assada, exalando seu
aroma, come-se quente para combater as
pneumonias.
Caju
O caju possui dois produtos comerciais, o
pedúnculo (comestível ao natural) e o fruto
verdadeiro, do qual se extrai o LCC e a amêndoa,
ambos com efeito farmacêutico. Em se falando
apenas do pedúnculo, este atua como: DIURÉTICO,
EXPECTORANTE, ANTIFEBRIL e DIABETES.
Graviola
Um dos estudos revelou que alguns
componentes da graviola eram cytotóxicos e levavam
à cura do adenocarcinoma do cólon através de
potencilalidade quimioterápica, 10.000 vezes maior
do que a adriamicina, uma droga quimioterápica
muito utilizada. A Universidade de Purdue conduziu
uma grande pesquisa sobre acetogeninas
annonaceaous incluindo aquelas encontradas na
graviola. Em uma das revisões intitulada “Recent
Advances in Annonaceous Acetogenins”, eles
confirmaram que “Annonaceous acetogenins é uma
substância amilóide consistindo uma cadeia longa de
ácido graxo de C32 ou C34 combinado com uma
unidade de 2-propanol a C-2 para formar uma
lactona. Eles são encontrados em vários gêneros da
família da planta Annonaceae. Suas diversas
bioatividades como antitumor, imunosupressivo,
pesticidal, antiprotozoário, vermífugo e agente
antimicrobiológico, tem atraído mais e mais o
interesse do mundo. As acetogeninas Annonaceous
podem inibir seletivamente o crescimento de células
cancerígenas e também inibir o crescimento de
células de tumor resistente à adriamicina.
Goiaba
A goiaba atalha a tuberculose incipiente,
promove o metabolismo das proteínas, e ajuda a
prevenir a acidez e a fermentação dos hidratos de
carbono durante a digestão. É muito adstringente,
sendo aconselhada por alguns para curar as diarréias
mais rebeldes. Esta propriedade do fruto se observa
também no seu doce ou goiabada. A goiaba é
eficiente ainda em Hemorragias, Tosse e Úlceras
gástricas e duodenais.
Mamão
O mamão é uma das melhores frutas do
mundo, tanto pelo seu valor nutritivo, como pelo seu
poder medicinal. Um dos seus mais importantes
princípios é a papaína, reconhecida como superior a
pepsina e muito usada para prestar alívio nos casos de
indigestão aguda.
O mamão maduro é digestivo, diurético,
emoliente, laxante, refrescante e oxidante,
particularmente quando se come com as sementes,
que contêm a papaína, fac-simile da pepsina.
Em casos severos de indigestão e gastrite,
onde a assimilação de alimentos causa grande
angústia, uma dieta constante exclusivamente de
mamão por vários dias, restaura a saúde do enfermo.
Uva
As uvas são importantes na nutrição e
prevenção e cura de doenças, mas o vinho é o
principal produto da uva promotor de saúde. Os
maiores responsáveis pelos efeitos benéficos do
vinho à saúde são os polifenóis, por terem:
Um potente efeito antioxidante e
Uma ação antibiótica.
O resveratrol, um dos polifenois encontrados
no vinho, tem uma ação antioxidante 10.000 vezes
maior que o tocoferol (Vitamina E).
O vinho aumenta a consistência e a
estabilidade da parede vascular, previne a
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 17
aterosclerose e inibe a agregação plaquetéria,
evitando a deposição de placas de gordura e
formação de coágulos nos vasos sanguíneos.
Principal causa de infartos do coração, gangrenas e
derrames cerebrais.
O vinho é, sem dúvidas a bebida mais
favorável à digestão. O ácido cinâmico aumenta a
secreção biliar; as oxidades e peptases (enzimas) e o
sorbitol, aumentam a secreção biliar e pancreática.
Além disso, o vinho diminui os movimentos
peristálticos do intestino delgado e do intestino
grosso. Isso diminui o trânsito intestinal e aumenta o
tempo de permanência dos alimentos no tubo
digestivo. Com isso dá maior tempo para as enzimas
processarem os alimentos, melhorando a digestão, o
que é muito saudável. As principais responsáveis por
essa ação são as catequinas. Outra função na
digestão, é aumentar a sensibilidade do organismo
(das células, mais especificamente) à ação da
insulina.
O suco de uva não é tão benéfico para a saúde
quanto o vinho. O álcool contido no vinho tem uma
afinidade muito grande com o resveratrol e outros
polifenóis, sendo o seu melhor solvente.
O suco de uva é sim uma excelente bebida
energética, muito adequada para se usar antes,
durante ou após a atividade física e/ou intelectual de
grande consumo de energia.
Por ser alcalinizante esta fruta combate a
acidez sanguínea, sendo indicada a pessoas
intoxicadas pelo consumo excessivo de carne.
Combate a dispepsia, as flatulências, a atonia
intestinal e as fermentações nos intestinos.
Limão
O suco do limão tem sido recomendado para
combater numerosos estados patológicos, pois foi
comprovado que é diurético e pode ser usado na
nefrite, com êxito, especialmente nas formas que
produzem um estado de hidropisia. Nas enfermidades
infecciosas, o suco, em forma de limonada, é
refrescante e favorece a ação dos medicamentos
antitérmicos. Nas gastrenterites diminui a inflamação
da mucosa e atenua as náuseas. Nas enfermidades do
fígado também produz bons resultados. No
reumatismo atenua as dores. O suco de limão traz
resultados notáveis de vitaminas no organismo. O
suco de limão tem igualmente propriedades
estimulantes sobre a pele, suavizando-a e fazendo
desaparecer as manchas cutâneas.
O limão, com seus ácidos, facilmente
transformados em elementos alcalinizantes, e com
suas bases, fermentos e vitaminas, contribui
poderosamente para oxidar radicais livres.
Surpreende e não poucas pessoas, o fato de
que, sendo ácido o suco de limão, determina reação
alcalina. Em outras palavras, o limão, ao terminar seu
metabolismo, se porta, não como ácido, mas, sim,
como alcalino, controlando a acidez no estômago e
no sangue.
Como as outras frutas cítricas, possui ótimo
teor de vitamina C, atuando notavelmente no
metabolismo do cálcio, particularmente nas senhoras
em estado de gravidez, nas crianças de peito e nos
adolescentes, e é um eficaz remédio contra o
escorbuto, as estomatites e a piorréia.
O limão atua sobre as inflamações, dada sua
atividade antiinflamatória.
A cura do limão tem vencido diáteses artríticas
mais e melhor do que qualquer outra fruta,
apresentando resultados onde havia falhado a uva.
Castanha-da-Amazônia
De modo geral, as castanhas, amêndoas e
nozes, devido a riqueza em fibras, gorduras
monoinsaturadas e diversos antioxidantes (vitamina
E, selênio, ácido elágico), são excelentes protetores
do coração. Atuam também, como redutores do
colesterol sanguíneo.
O alto teor de cálcio combate a osteoporose e
o raquitismo.
Além disso, a castanha-da-amazônia é um dos
alimentos mais ricos em selênio, diminui o
envelhecimento celular e reduz o risco de cânceres
como o do pulmão e o da próstata. O selênio combate
o mau humor denominado distimia (indisposição
orgânica).
Maçã
Dentre as diversas funções de proteção à saúde
que a maçã possui, uma delas é diminuir os riscos de
derrame cerebral, desde que se coma esta fruta
regularmente, segundo pesquisa realizada na
Finlândia que acompanhou a saúde e os hábitos
alimentares de mais de 9.000 pessoas durante 28
anos. A maçã é rica em querecetina, substância que
ajuda a evitar a formação dos coágulos sanguíneos
capazes de provocar derrame.
Morango
Comer morango ajuda a reduzir o risco de se
contrair câncer e doenças do coração devido à
presença do ácido fólico (composto orgânico
benéfico à saúde) principalmente na polpa e nas
folhas. O morango ainda contém vitamina C, sódio,
potássio, cálcio e ferro.
Laranja
Além de alta concentração de vitamina C, as
laranjas contém pidoxina (a vitamina B6) e ácido
fólico. Ambos são muito importantes no metabolismo
da homocisteina e importantes para prevenir a
arteriosclerose. A arteriosclerose é a formação de
placas nas artérias, dificultando a circulação
sanguínea. Estas afirmações foram confirmadas pelo
Dr. Rafael Carmena, catedrático de medicina e chefe
do serviço de endoclinologia e nutrição do Hospital
Clínico Universitário de Valência, Espanha.
Importância da fruticultura brasileira
Sebastião Elviro de Araújo Neto 18
1.12 REFERÊNCIAS
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Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 20
2. PANORAMA ATUAL E POTENCIAL DA
FRUTICULTURA ACREANA
2.1 Fruticultura na Amazônia
A Amazônia possui uma série de
características que a tornam habilitada para investir
no agronegócio da fruticultura. As frutas tropicais
são, o primeiro grupo de alimentos, associados á
Amazônia que, vêm na mente dos consumidores
ocidentais. Além disso, o mercado de suco da frutas
tropicais esta em franca expansão, com o
envelhecimento das populações, as bebidas não
alcoólicas, como os sucos, têm seu consumo
aumentado (Clay et al., 1999).
Na região há várias instituições de ensino,
pesquisa e extensão com conhecimento na área de
fruticultura (Embrapa, INPA, CEPLAC,
Universidades, Emateres, etc.). Mesmo sem dados
consolidados, sabe-se que mais de 50% das frutas
consumidas na região vêm de outros estados, sendo
que, a maioria têm condições de serem produzidas na
região. Para as grandes empresas seria uma grande
oportunidade de aliar a atividade com a marca
Amazônia, hoje com divulgação mundial.
No entanto é preciso maiores investimentos
governamentais em rodovias, ferrovias, hidrovias e
portos; dentre outras políticas específicas para
fomentar a fruticultura.
A região Amazônica é a terceira maior
produtora de banana do país, segunda em abacaxi e
quarta em coco e maracujá, onde os Estados da
região já possuem tradição na produção de frutas.
Verificando o mapeamento da fruticultura brasileira
do ano 2000, o Estado do Pará é o segundo maior
produtor brasileiro de abacaxi (9.842 ha) e o Estado
do Amazonas tem 7 municípios entre os 50 maiores
produtores desta fruta (2.620 ha). Com relação a
banana o Estado do Pará é o maior produtor (51.772
ha), o do Amazonas o quarto maior produtor (41.701
ha), o Estado do Acre tem uma área plantada de
9.276ha, Roraima 6.000 ha e Rondônia 5.729 ha.
Na produção de coco, o Pará é o maior
produtor (17.229 ha). Na produção de mamão o Pará
é o quarto maior produtor (1.258 ha) e o estado do
Amazonas possui 7 municípios (819 ha) entre os 50
maiores produtores. Em Maracujá o Pará é o sexto
maior produtor. Com relação a laranja já existem
35.817 ha plantados nos estados do Amazonas, Pará e
Roraima. No Estado de Rondônia já existe uma área
plantada de 38.500 ha com frutas tropicais.
Além destas frutas exóticas, observa-se que,
existe uma área considerável plantada com frutas
nativas. É o caso do cacau, com 4.573 ha plantados
no Estado do Amapá, 26.896 ha em Rondônia e
99.742 no Pará (Anuário estatístico, 1998). O
cupuaçu tem uma área plantada de 16.000 ha na
região Amazônica (Ribeiro, 1997). O guaraná tem
11.611 ha plantados na região. Com relação ao
extrativismo, verifica-se que a castanha-da-amazônia
contribuiu com 19.203 t e o açaí com 146.524 t, no
ano de 1998 (Anuário estatístico, 1998). É importante
salientar que, estas frutas possuíam apenas consumo
local, e hoje são consumidas em vários estados do
Brasil e no exterior.
2.2 Aspectos Gerais do Estado do Acre
O Estado do Acre ocupa uma área estimada de
152.589 km2, com uma população estimada de
557.526 habitantes, distribuídas em 66% na zona
urbana e 34% na zona rural. O relevo é formado, na
sua maior parte por uma plataforma regular, com
altitudes variando de 100 a 300 metros, sendo que a
vegetação é formada por floresta úmida de terra firme
(88,24%), várzea (11,37%) e campo (0,39%) (IBGE,
2004). O clima da região é quente e úmido com
estação seca e chuvosa bem definidas. A temperatura
média anual é de 25,8ºC, sendo a média das máximas
de 31,3ºC e a média das mínimas de 20ºC. As médias
anuais de precipitação umidade relativa do ar e
insolação são de 1.710 mm, 84% e 1.522,1 horas.
2.3 Principais fruteiras cultivadas no Acre
O cultivo de fruteiras no estado do Acre,
concentra-se nos municípios de Cruzeiro do Sul,
Plácido de Castro, Acrelândia, Porto Acre (Projeto
Humaitá) e Rio Branco (Tabela 2.1 e 2.2).
Na tabela 2.1, encontra-se a área colhida,
produção e produtividade das principais fruteiras
cultivadas no Acre.
Tabela 2.1 - Área colhida (ha), produção e
produtividade média das principais fruteiras
cultivadas no estado do Acre, ano de 2002.
Produtos
Área
colhida
(ha)
Produção
Produtividade
(fruto ou
ton/ha)
Abacaxi (Mil frutos) 262 276.320 1.054
Abacate (Mil frutos) 88 568 6.454
Açaí (tonelada) 159 10
Banana (Mil cachos) 6.712 52.087 8,0
Côco-da-baía (Mil f) 68 359 5.279
Cupuaçu
Guaraná (ton) 139 55 0,4
Laranja (Mil frutos) 560 4.879 8.713
Limão (Mil frutos) 76 542 7.131
Mamão (Mil frutos) 250 2.180 8.720
Manga (Mil frutos) 48 358 7.458
Maracujá (Mil fruto) 74 386 5.216
Palmito (ton) 763 1.951 2.555
Tangerina (Mil fruto) 190 1.673 8.805
Fonte: IBGE (2004).
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 21
Tabela 2.2 – Principais fruteiras produzidas nos municípios acreanos.
Municípios Banana Laranja Limão Mamão Manga Abacate
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Acrelândia 8.640 2.808 1.200 250 88 25 12 4 1 90 54 6 40 8 5
Assis Brasil 140 42 20 4 3 1 3 2 1 13 2 1 4 5 1
Brasiléia 4.200 1.441 600 142 50 13 8 6 1 63 50 9 25 12 5 30 33 5
Bujari 450 129 60 72 36 6 60 21 6 120 60 8 12 2 1 64 45 8
Capixaba 148 56 26 45 9 5 8 8 1 136 136 17 7 1 1 13 13 3
Cruzeiro do Sul 3.816 496 353 668 329 80 16 12 5 55 17 18 27 4 6 68 41 8
Epitaciolândia 1.050 378 150 180 72 17 8 6 1 48 36 6 5 2 1 15 18 3
Feijó 2.576 358 322 234 199 18 108 41 9
Jordão 3.968 786 496 60 48 6 12 6 2 96 25 8 25 18 6
Mancio Lima 360 47 33 52 25 7 3 1 1 7 5 1
Manoel Urbano 120 70 12 30 12 3 24 12 2 27 14 3 15 2 2 7 7 1
Marechal Talmaturgo 819 96 75 - - 110 7 2 2 3
Plácido de Castro 5.135 1.325 738 990 297 43 60 15 10 340 170 34 18 3 3 15 9
Porto Acre 1.750 336 284 344 103 1 105 37 15 400 280 50 30 15 5 20 12 5
Porto Walter 927 108 86 8 2 14 4 2 1
Rio Branco 6.810 2.570 1.135 900 252 100 208 54 16 150 75 10 50 8 5 140 112 20
Rodrigues Alves 1.080 140 100 87 40 1 21 6 6 9 6 1
Santa Rosa do Purus 100 10 10 8 4 25 12 7 2
Sena Madureira 1.050 390 140 200 90 65 81 31 9 162 62 27 100 22 10 66 51 8
Senador Guimard 1.305 320 205 455 159 10 40 12 8 130 85 13 8 3 1 15 11 5
Tarauacá 4.792 657 599 100 70 10 114 40 12 24 21 6
Xapurí 1.016 518 127 100 50 27 19 3 25 20 5 8 3 2 26 31 4
TOTAL 52.087
Fonte: IBGE (2004).
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 22
Tabela 2.2 – Principais fruteiras produzidas nos municípios acreanos. (Continuação...)
Municípios Maracujá Tangerina Coco Guaraná Palmito
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Mil
Fruto
R$
1.000
Área
(ha)
Acrelândia 167 334 61
Assis Brasil
Brasiléia 16 16 4 52 26 4 73 146 20
Bujari 20 12 4 125 50 10
Capixaba 30 30 3 36 22 3
Cruzeiro do Sul 302 190 53 72 36 14 29 87 73
Epitaciolândia 27 32 9 65 33 5 82 14 14
Feijó 60 53 6
Jordão 46 36 5
Mancio Lima 12 5 3 6 3 2 24 72 60
Manoel Urbano 30 11 2
Marechal Talmaturgo
Plácido de Castro 27 10 10 120 60 10 30 15 5 123 246 55
Porto Acre 100 25 25 33 17 5 179 358 74
Porto Walter
Rio Branco 72 40 6 336 120 28 90 45 20 4
Rodrigues Alves 36 15 8 3 2 1
Santa Rosa do Purus 30 18 2
Sena Madureira 10 9 2 228 96 24 130 85 20 159 318 100
Senador Guimard 156 47 12 36 20 10 2 6 6 1.176 2.352 675
Tarauacá 53 44 6
Xapurí 40 24 4 10 6 2 29 58 10
TOTAL
Fonte: IBGE (2004).
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 23
Banana
A principal fruteira plantada no estado é a
banana, ocupando uma área de 6.712 ha, com
produção de 52.087 cachos anual (Tabela 2.1). As
principais cultivares plantadas são a prata, maçã e
comprida, mas com a entrada da principal doença da
bananeira (Sigatoka Negra), vários produtores
diversificaram seus plantios com variedades
resistentes, como a Caipira, Pioneira, Thap Maeo e a
Mysore, atualmente com opção de mais seis
cultivares, MARAVILHA, PRECIOSA,
GARANTIDO, CAPRICHOSO, JAPIRA e
PACOVAN KEM.
A produção de banana no estado do Acre, é
uma das atividades agrícolas de maior expressão,
pelas facilidades de cultivo, produção continuada ao
longo do ano e sua larga utilização e/ou aceitação nas
mais variadas formas de consumo (Gondim et al.,
2001a).
O Acre apresenta aptidão natural para o
cultivo de bananeira em 15% do território, devendo-
se adotar práticas de manejo adequadas (cobertura do
solo, reposição nutricional etc.) e assim, corrigir
algumas limitações de ordem química e/ou
morfológica (adubação, medidas de conservação do
solo, drenagem etc.) para os 25% das terras
classificadas como Preferencial/Restrita (Figura 2.1).
Preferencial/Restrita 9%
Restrita 23%
Restrita/
Química 14%
Inápta 13%Preferencial 15%
Preferencial/
Restrita 3%
Preferencial/
Restrita/Química
13%
Restrita/Química
Morofológica
10%
Figura 2.1 – Percentual de classes de aptidão natural
para o cultivo da bananeira no estado do Acre.
(Adaptado de Gondim et al., 2001a).
Os municípios de Acrelândia, Plácido de
Castro, Rio Branco, Brasiléia, Tarauacá e Jordão,
foram, no ano de 1999, os cinco maiores produtores
do Acre, com área correspodendo a 62,66% da área
do Estado com bananeira (IBGE, 2001).
Embora nos municípios de Capixaba, Porto
Acre, Senador Guiomar, não haja tradição para a
produção de banana (área colhidas de 90, 84 e 64 ha,
respectivamente conforme IBGE, 2001), verifica-se
que a maior parte de suas terras é adequada, ou seja
preferencial para exploração de banana.
Açaí
Pela crescente demanda do açaí, tanto no
mercado interno como externo, sua inclusão em
programas estratégicos de desenvolvimento regional
deve ser feita.
O estado do Acre apresenta aptidão para o
cultivo do açaí. O plantio do açaí pode ser feito em
aproximadamente 50% dos solos do Acre (Franke et
al., 2001).
Preferencia/
Restrita 45%
Preferencial 47%
Inápta 0%
Restrita Inápta 7%Restrita 1%
Figura 2.2 – Percentual de classes de aptidão natural
para o cultivo do açaizeiro no estado do Acre.
(Adaptado de Franke et al., 2001).
Cupuaçu
Frutos grandes de cupuaçu (1,5 - 2,0 kg)
alcançam preços de R$ 1,00 a 2,00 no mercado
varejista (feiras) de Rio Branco. A polpa é vendida de
R$ 2,00 a 3,00 o kilograma Um hectare de cupuaçu
adulto (mais de 5-6 anos) bem conduzido, em ano de
boa produção, produz, aproximadamente, 1000 kg de
polpa (em torno de 3000 frutos/ha/ano). Dos frutos
do cupuaçu pode-se explorar também as sementes (15
a 20%) para produção de produto semelhante ao
chocolate, o cupulate, manteiga de cupuaçu e outros.
O estado do Acre não apresenta restrições
climáticas para o cultivo do cupuaçuzeiro, porém,
observa-se que aproximadamente 28,4% dos solos do
Estado do Acre são considerados aptos (4,1% são de
aptidão preferencial e 24,3%, preferencial/restrita) e
71,7% são considerados restritos e/ou inaptos (Figura
2.3)
Restrita 45%
Restrita/Inápta 10%
Inápta 17%
Preferencial 4%
Preferencial/
Restrita 24%
Figura 2.3 – Percentual de classes de aptidão natural
para o cultivo do cupuaçuzeiro no estado do Acre.
(Adaptado de Gondim et al., 2001b).
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 24
O cupuaçuzeiro pode ser explorado, com
possibilidades de melhor retorno econômico, nos
municípios de Acrelândia, Plácido de Castro, Rio
Branco e Rodrigues Alves, sendo adotadas as práticas
culturais e de manejo e conservação do solo (Gondim
e tal., 2001b).
Abacaxi
A produção de abacaxi tem abastecido o
mercado local no período da safra, sendo necessário a
importação da fruta de outros estados produtores,
para suprir a demanda no período de entre-safra,
ficando claro a necessidade de estudos que viabilizem
a produção fora da época, o manejo da fusariose e
controle da broca do fruto, da cochonilhas e
percevejo, dentre outras pragas.
Mamão
O cultivo do mamão, assim, como do abacate,
manga e maracujá tem-se incrementado nos últimos
anos, porém, a produção não é suficiente para suprir a
demanda.
O mamão produzido no estado, apresenta
baixa qualidade, principlamente com relação a
quantidades de frutos provenientes de plantas fêmeas,
plantas com flores hermafrodita pendândrica e flores
hermaflodita carpelóide, e até de plantas masculinas,
plantas estas que devem ser eliminadas do pomar,
mas que o produtor não as retira e que produzem
frutos de baixo valor comercial, porém, o mercado no
Acre, ainda aceita estes tipos de frutos.
Maracujá
O maracujá é outro fruto de baixa qualidade
comercial e organoléptica, provavelmente causado
pela colheita ou coleta tardia, contribuindo com a
aceleração dos processos fisiológicos e bioquímicos e
senescência dos frutos, além das manchas no fruto
causado por pragas e doenças, em especial por
antracnose e verrugose.
Uma das reclamações mais freqüentes, é a
baixa polinização e frutificação. Sabe-se que há
vários fatores que conduzem a baixa frutificação,
como auto-incompatibilidade genética, extremos de
temperatura, precipitação excessiva, abelhas pequena
(silvestre, Apis melífera, Irapuá), baixa população de
mamangava, baixo teor de água no solo, dentre
outros.
Guaraná
A produção de guaraná é praticamente, quase
sua totalidade produzida no município de Cruzeiro do
Sul, apesar dos 55 toneladas, não é suficiente para
suprir a demanda das fábricas que produzem guaraná
em pó, refrigerante e extratos.
Gravioleira
A gravioleira, planta exótica cultivada na
região, possui ótimo potencial de mercado, em todo
Brasil, por produzir frutos de excelente flavor. Sua
demanda vem crescendo pelo aumento do consumo
de seus frutos nas regiões não produtoras do país, não
sendo suprida pela baixa produtividade, ocasionada
pelos problemas de produção, principalmente o
ataque das brocas do caule, do fruto e da semente e
os baixos índices tecnológicos empregados nos
plantios da gravioleira.
No mercado de Rio Branco, a graviola alcança
preços muito altos, sendo comercializado até por R$
7,00 o kilograma na rede de supermercado, assim, um
fruto de 3 kg pode ser comercializado por até R$
21,00, porém, no mercado livre os frutos são
comercializados por unidade, variando de R$ 3,0 a
5,00, frutos grandes (1 a 3 kg). No cultivo da graviola
no Acre, a incidência da “broca-do-fruto”, “broca-da-
semente” e a “broca-do-tronco” têm se constituído
em fatores limitantes para expansão da cultura.
Todavia, os preços altamente compensadores
viabilizam até mesmo práticas como o ensacamento
dos frutos (com telas), para evitar os danos causados
pelos insetos, e fazer o tratamento para a broca-do-
tronco, com a injeção (usando seringa) de inseticidas
vólateis (ou até mesmo querosene ou gasolina), nos
orifícios abertos pela broca no caule.
Outro fator importante para o aumento da
produtividade da graviola é a necessidade de
polinização manual, que alcança acima de 90% de
frutificação, ao contrário dos 6% de frutificação
natural, pois a planta apresenta flores de conformação
anatômica complexa, o que dificulta a polinização
natural.
2.4 Frutas potenciais
Além destas fruteiras tropicais mais populares,
outras espécies produzidas na região Amazônica,
como o araçá-boi (Eugenia stipitata), a graviola, o
camu-camu (Myrciaria dubia), o abricó (Mammea
americana) e o bacuri (Platonia insignis) dentre
outras, são apreciadíssimas no mercado regional,
tendo procura maior que a oferta, principalmente pelo
ramo de lanchonetes e sorveterias. Também frutas
tropicais exóticas como a acerola (Malphighia
glabra), o rambutam (Nephelium lappaceum), Sapoti
(Manilkara achras) e o mangostão (Garcinia
mangostana), têm mercado potencial com condições
propícias para cultivo no Estado do Acre.
O mangostão (Garcinia mangostana), espécie
da família Clusiáceas, é muito comum no extremo
Oriente (China, Indonésia, Malásia e Tailândia), de
onde é originário, sendo considerada como a “rainha
das frutas”. Esta espécie, adaptou-se tão bem na
Amazônia que produz até mais rápido (aos 6-7 anos),
do que outros lugares em que é cultivada, onde leva
até 10 anos para produzir.
O rambutam, árvore frutífera tropical
asiática, da mesma família do guaraná,
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 25
(Sapindaceas), se enxertado produz rápido (aos 04
anos) e seus frutos, que externamente apresentam
alguma semelhança com o urucum, encantam
“crianças de todas as idades” por sua polpa
mucilaginosa, translúcida, adocicada e extremamente
agradável.
O araçá-boi e o bacuri (este último muito
apreciado em Belém, PA) são frutos de aroma e sabor
muito agradáveis e bem característicos, e, se
trabalhados nos aspectos de melhoramento vegetal e
de marketing, reúnem boas condições de serem
explorados comercialmente no Acre.
O sapotizeiro (Manilkara achras) pertencente
a família Sapotacea, mesma do abiu (Pouteria
caimito) é originário da América Central. No Brasil,
a cultura tem demonstrado boa adaptação, sendo
cultivado a partir do Norte do Paraná, até o extremo
norte dos estados das regiões Norte e Nordeste do
Brasil. Porém, a produção brasileira é originada
principalmente de plantas consideradas de “fundo-de-
quintal”, concentrada na região Nordeste,
principalmente nos Estados de Pernambuco, Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte. O cultivo do sapoti é
um negócio tão doce quanto o próprio fruto. Não
exige investimento muito alto se comparado a outras
culturas. Em regiões com grandes precipitações
pluviométricas, como o Acre, onde a irrigação seria
feita apenas nos períodos de estiagem, a manutenção
do cultivo teria custo reduzido (Araújo Neto, 2000).
O camu-camu, Mirtácea muito comum nas
várzeas da Amazônia, surge como preciosíssima
fonte de vitamina C, apresentando teores superiores
até mesmo aos da acerola, considerada a fruta de
maior teor desta vitamina. Daí, a polpa do camu-
camu está sendo muito procurada para ser consumida
na forma de suco, principalmente por membros da
classe médica, que a consideram um sucedâneo da
vitamina C sintética, largamente comercializada nas
farmácias. Os Estados Unidos importam camu-camu
da América do Sul para a produção de “camu-plus”,
que são tabletes de vitaminas C natural. O camu-
camu que é um arbusto relativamente fácil de ser
cultivado, por ser bastante rústico e bem adaptável às
condições ambientais da Amazônia, embora não seja
planta de conformação morfológica tão regular como
a jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) (da mesma
família), produz frutos como esta (cauliflora), de
padrão idêntico, variando na cor (frutos mais
rosáceos e violáceos) e no sabor, sendo o camu-camu
extremamente ácido, não se prestando, portanto, para
consumo “in natura”.
Outras espécies nativas possuem grande
potencial para comercialização, como envira-cajú,
cajá-de-jaboti, cajuí, mapati, ata-do-mato, pequi
dentre outras. Estas frutas podem ser utilizadas como
estratégia de mercado: primeiro diversificando a
fruticultura; segundo: atingindo vários mercados,
como feiras livres, lanchonetes, restaurantes,
agroindústrias e supermercados.
Estes dois fatores (diferenciação de produto e
diversificação de mercado), constituem em
estratégias fortes na geração de emprego e renda,
principalmente nas pequenas propriedades
(Giovenarde, 2003).
2.5 Fruticultura nos Sistemas Agroflorestais-SAFs
Com uma filosofia “sustentável” ou
ecologicamente correta, muitas comunidades
agrícolas da Amazônia vêm investindo nos sistemas
Agroflorestias - SAFs como uma alternativa
economicamente viável. Uma das pioneiras foi a
associação de produtores do Projeto de
Reflorestamento Econômico Consorciado e
Adensado (Reca) que, a partir de 1989, vem
implantando sistemas agroflorestais do tipo
multiestratos, tendo como componentes básicos o
cupuaçu (Theobroma grandiflorum), pupunha
(Bactris gasipaes), castanha-do-brasil (Bertholletia
excelsa) e culturas anuais de subsistência.
O Projeto Reca tem se tornado uma referência
na Amazônia. São 650 ha de SAFs, distribuídos nas
propriedades dos 274 agricultores associados.
Entretanto, a implantação dos SAFs utilizando
culturas como cupuaçu, pupunha e castanha sofre
influência de fatores de risco, devido à elevada
dependência do mercado de produtos. Tornando-se
necessário, maior diferenciação de produtos e
diversificação de mercado.
Alguns agricultores ecológicos no Acre, como
no P.A. Humaitá, estão consorciando abacaxi,
mandioca, milho, bananeira, mamoerio, pupunheira,
cupuaçuzeiro, açaizeiro e esencias florestais, em uma
mesma área de forma sucessional, com resultados de
produção de biomassa (20 t ha-1
ano-1
) e de alimentos
(45 t ha-1
ano-1
) muito acima dos monocultivos.
2.6 Tecnificação dos pomares
O sistema de produção da fruticultura acreana
é caracterizado por vários fatores: baixo uso de
tecnologias, principalmente no tocante a utilização de
mudas com baixa qualidade fitossanitário, práticas de
manejo, insumos e cultivares produtivas e
tolerante/resistentes à pragas e doenças, bem como
pela alta perda da produção por ocasião da colheita,
armazenamento e transporte. Estes problemas são
agravados pela inexistência de entrepostos de
armazenamento e de malha viária adequada para o
escoamento da produção, principalmente no período
chuvoso, e pela pouca disponibilidade de
agroindústrias para o processamento das frutas (Ledo,
1996).
A qualidade das frutas que chega ao
consumidor muitas vezes não se enquadram dentro
dos padrões brasileiros para classificação de frutas,
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 26
porém são e comercializadas aceitas pelos
consumidores.
Apesar da boa aptidão climáticas para muitas
frutas tropicais (banana, mamão, maracujá, açaí) e
sub tropicais (citros), o Estado do Acre apresenta
restrição hídricas para o cultivo em larga escala.
Por um lado, o excesso de precipitação
pluviométrica durante o período chuvo pode reduzir a
polinização em maracujá, cauzar incidência de
doenças chaves como o tombamento em mamoeiro,
por outro, o déficit hídrico durante o período de
estiagem prolongada pode reduzir a frutificação em
mamoeiro, citros e maracujazeiro e até causar a morte
de plantas como banana, açaizeiro (Euterpe
oleraceae), mamoeiro e outras.
O problemas do excesso de chuvas poderia ser
resolvido em parte com plantio em camalhões e o
déficit hídrico com irrigação, o problema é que no
estado do Acre não há grandes reservatórios, rios e
igarapés perenes, que possam ser utilizados em
grandes projetos de irrigação, se limitando em irrigar
alguns pomares doméstico ou poucos hectares no
campo, constituindo em um dos primeiros problemas
de infraestrutura para expandir em larga escala a
fruticultura no Acre.
Como essas tecnologias podem ficar fora do
poder dos agricultores, uma saída seria investir em
fruticultura de sequeiro, com cultivo de espécies mais
adaptas como o açaizeiro nativo (Euterpe
precatorio), graviola, pinha, envira-cajú, biriba, cajá,
cajá-manga, ceriguela, caju, bacurizeiro dentre
outras.
Aém da questão hídrica. É importante focar
nos probelmas fitossaitários das culturas, no manejo
do solo, das plantas de cobertura e das plantas
cultivadas.
No entanto, a aplicação de tecnologia na
fruticultura acreana deve levar em consideração dois
fatores importante: a difusão de tecnologia, seja de
técnico para o agricultor, entre agricultores e de
agriultor para o técnico (Freire, 1977) e a trajetória
do agricultor, que muitas vezes pode não ser capaz de
mudanças radicais no padrão de cultivo e de vida,
sendo necessário identificar a capacidade da família
ou de grupos de agricultor em adotar determinadas
tecnologias (Andrade, 2009).
2.7 Agroindústria
A produção acreana é praticamente para
consumo interno, com exceção de venda de banana
para os mercados de Porto Velho e Manaus.
Aumentar a produção acreana de frutos é interessante
pela importância na geração de renda e emprego,
reflorestamento e saúde humana, muito embora,
investir em aumento de produtividade e redução de
perdas pode representar aumentos significativos da
renda do agricultor e redução dos preços ao
consumidor.
As agroindústrias podem representar um
elemento chave para introduzir opções de atividades
nas comunidades do interior, com efeito indireto no
emprego rural. Segundo Prof. Samuel Pohoryles, do
Settlement Study Center de Rehovot - Israel, a
agroindústria é uma poderosa força para melhorar o
uso dos recursos materiais, humanos e diversificar
fontes de renda das zonas rurais, promovendo os
objetivos do desenvolvimento e da prosperidade
material da vida rural. A interdependência da
agroindústria com a agricultura deve-se, também, ao
caráter altamente perecível dos produtos e à grande
perda de peso ou de volume no processo de
industrialização. Assim, os produtos beneficiados
apresentam vantagens em termos de custo de
transporte com o produto in natura; podem ser
transportados, a longas distâncias, mais
adequadamente na forma industrializada.
Diante deste contexto as frutas representam
uma grande opção para agregação de valores a estes
produtos, ampliando o leque de produtos a serem
comercializados, contribuindo para a viabilização
desta atividade. Elas podem ser utilizadas em doces,
compotas, geléias, frutas cristalizadas, sucos,
sorvetes, licores, entre outros.
Além da agregação de valor, redução das
perdas, diversificação de produto e facilidade de
transporte, a agroindústria pode reduzir a importação
de produtos processados e garantir uma expanção da
produção acreana, já que alcançar outros mercados de
frutas fresca exige produção em escala, alta
tecnologia, logística de pós-colheita e transporte.
É comum, nas lojas e supermercados acreanos,
não encontrar produtos processados no estado como
doce de goiaba, de banana, abacaxi em calda, licor,
sendo estes produtos importados de outros estados
brasileiros.
Fica claro, que o desenvolvimento da
fruticultura acreana dependerá da implantação de
agroindústrias, principalmente para a produção de
sucos engarrafados, doces e geléias.
2.8 REFERÊNCIAS
ANDRADE, F. G. de A. Trajetórias e Condições do
Camponês: as Relações Sociais nos Assentamentos
do Ceará. Universidade Federal do Ceará, 2009.
232p. Tese de Doutorado em Sociologia.
ARAÚO NETO, S. E. de. Sapotizeiro – um doce
negócio. O Rio Branco, 12/01/2000.
CLAY, J.W.; SAMPAIO, P.T.B.; CLEMENT, C.R.
Biodiversidade amazônica: exemplos e estratégias.
Manaus: Programa de Desenvolvimento Empresarial
e Tecnológico, 409p. 1999.
FRANKE, I. L.; BERGO, C. L.; AMARAL, E. F. do;
ARAÚJO, E. A. de. Aptidão natural para o cultivo
do açaí (Euterpe oleracea Mart. Euterpe precatória
Panorama atual e potencial da fruticultura acreana
Sebastião Elviro de Araújo Neto 27
Mart.) no Estado do Acre. Rio Branco:EMBRAPA-
CPAF/AC, 2001. 5p. (EMBRAPA-CPAF/AC,
Comunicado Técnico, nº142).
FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de
Janeiro-RJ: Paz e Terra; 1977.
GIOVENARDI, E. Os pobres do campo. Porto
Alegre: Tomo Editorial, 2003.
GONDIM, T. M. de S.; AMARAL, E. F. do;
ARAÚJO, E. A. de; SILVEIRA, M. M. da. Aptidão
natural para o cultivo da bananeira no Estado do
Acre. Rio Branco:EMBRAPA-CPAF/AC, 2001a. 6p.
(EMBRAPA-CPAF/AC, Instruções Técnicas, nº 34).
GONDIM, T. M. de S.; AMARAL, E. F. do;
ARAÚJO, E. A. de. Aptidão para o cultivo do
cupuaçuzeiro no Estado do Acre. Rio Branco:
EMBRAPA-CPAF/AC, 2001b. 4 p.
(EMBRAPA-CPAF/AC, Comunicado Técnico, nº
127).
IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática –
SIDRA. Produção agrícola municipal 1999.
http://www.sidra.ibge.gov.br/. Acesso 07/05/2001.
IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática –
SIDRA. Produção agrícola municipal 2002.
http://www.sidra.ibge.gov.br/. Acesso 27/04/2004.
LEDO, A. da S. Potencialidade da fruticultura
acreana. Rio Branco:EMBRAPA-CPAF/AC, 1996.
16p. (EMBRAPA-CPAF/AC, Documentos, 20).
RIBEIRO, G.D. Avaliação preliminar de sistemas
agroflorestais no projeto água verde, ALBRÁS,
Barcarena, Pará. Belém: Faculdade de Ciências
Agrárias do Pará, 1997. 100p. Dissertação (Mestrado
em Ciências Florestais).
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 28
3. SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA
FRUTICULTURA
A fruticultura desempenha um papel muito
importante na geração de emprego e renda, inclusive
com crescimento constante das exportações de frutas
e sucos, mas com os problemas ambientais
intensificados nos diversos setores do planeta,
inclusive na atividade agrícola, torna-se cada vez
mais necessário a produção de alimentos com o
mínimo de impacto ambiental.
Atualmente podemos considerar quatro
principais sistemas de produção na fruticultura:
a) Extrativismo natural e intencional
b) Sistema convencional
c) Sistema integrado
d) Sistema orgânico
O sistema extrativista de frutas compreende
um importante setor da fruticultura, principalmente
na produção de frutas nativas feito por comunidades
tradicionais. O termo extrativismo intencional se
refere aqui neste texto como uma fruticultura
implantada, mas com baixo uso de insumos externo e
manejo. Um exemplo disto é o cultivo de banana em
muitas localidades da Amazônia, com quase
nenhuma trato culturas, se restringindo apenas no
plantio, limpeza anual e colheita.
O sistema convencional, mas conhecido e
praticado na maioria dos pomares, consiste no uso
intensivo de recursos externos, grandes alterações na
vegetação e solo e uso intensivo de fertilizantes
químicos e agrotóxicos, com pouco controle de
aplicação.
Neste sistema há os problemas graves com
uso indiscriminado de agrotóxicos, como em uva,
maçã, morango e melão; a salinização de área com
irrigação intensiva, baixa remuneração da mão-de-
obra e outros.
O sistema integrado de fruta (PFI) consiste na
produção de frutas de alta qualidade mediante o uso
dos recursos naturais e de mecanismos reguladores
para minimizar o uso de insumos e contaminantes e
para assegurar uma produção o mais sustentável
possível. Para isso, a garantia da conformidade é feito
por certificadoras autorizadas e credenciadas para
este fim.
Na PIF, por exemplo, há algumas restrições
como o uso de qualquer agrotóxicos em pós-colheita
e em pré-colheita o uso de organoclorados e
piretróides. Além disso, há diversas outras restrições,
como o manejo do solo e das plantas espontâneas,
dentre outros.
A produção orgânica de frutas é muito
semelhante com a PIF, por incormporar o processo de
garantia da conformidade (certificação), ter
regulamentação própria e priorizar a qualidade do
alimento, qualidade de vida e a conservação
ambiental ao mesmo tempo. Porém, a produção
orgânica de frutos é mais rigorosa quanto aos
aspectos de produção, por abranger todas as
dimensões da sustentabilidade (ambienteal, social,
econômica, cultura e política).
Dentro de um quadro evolutivo, observa-se a
tendência de produção de alimentos mais seguros,
com melhor qualidade e conservação ambiental,
mediante a aplicação de sistemas sustentáveis de
produção (PRI e Orgânicos).
Produção orgânica (PO)
Produção integrada (PI)
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Produção a calendário fixo
As diferenças de manejo dos pomares nos
sistemas de produção convencional, integrada e
orgânica na Europa são apresentados no Quadro 3.1,
onde se verifica que não existe muito controle no
sistema convencional e que a diferença básica entre o
sistema integrado e o orgânico está no uso de
produtos sintéticos.
Quadro 3.1 – Diferenças fundamentais entre a
produção convencional, integrada e orgânica de
alimentos. Prática
Cultural
Convencional Integrada Orgânica
Manejo do
solo
Intenso Mínimo Mínimo
Agroquímicos Pouco
controle
Restrito Naturais
Pós-colheita Usa agrotóxico
Não usa Não usa
Fertilização Sem controle Orgânicos e
químicos
Só orgânico
Defesa da
planta
Calendário Monitoramento Monitoramento
Legislação Não dispões Instrução normativa
nº20/01.
Lei 10.831 de 23/12/2003
Instrução
normativa nº64, de
18/12/2008.
3.1 Sistema Integrado de frutas
O conceito de Produção Integrada começou
a ser analisado nos anos 70 pela Organização
Internacional para Luta Biológica e Integrada
(OILB). Em 1976, na Suíça, foram discutidas as
relações entre o manejo das culturas de frutíferas e a
proteção integrada das plantas.
A partir disso, ficou evidenciada a
necessidade da adoção de um sistema que atendesse
às peculiaridades do agroecossitema, de forma a
utilizar associações harmônicas relacionadas com as
práticas de produção. Incluem-se nesse contexto o
manejo integrado e a proteção das plantas, fatores
fundamentais para a obtenção de produtos de
qualidade e para a sustentabilidade ambiental. Mas
Produção convencional
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 29
somente em 1993 a OILB publicou os princípios e as
normas técnicas pertinentes, que são comumente
utilizadas e aceitas como base nas diretrizes gerais de
composição.
Os procedimentos do sistema de Produção
Integrada na Comunidade Européia foram Alemanha,
Suíça e Espanha. Esses países já tinham começado
anteriormente este processo, diante da necessidade de
substituir as práticas convencionais onerosas por um
sistema que diminuísse os custos de produção, que
melhorasse a qualidade e reduzisse os danos
ambientais. Na Espanha, o rei estabeleceu no ano de
2002 um Decreto Real implantando definitivamente a
PI de produtos agrícolas em todo o país. O exemplo
vem em 2002, quando ocorreu a diminuição na
aplicação de ditiocarbamato em 8.660 hectares de
maçã. O uso a menos de 600 toneladas do produto, ao
custo de R$15,00 o kilograma, resultou em economia
de R$9milhões. Na análise não foram considerados
os efeitos inegáveis relacionados com a preservação
de recursos naturais, como água, ar, solo e
biodiversidade.
A seguir, demonstrativo da área com PIF no
mundo.
3.1.1 Processos inseridos na produção integrada
(PI) de forma direta ou indireta
A comercialização das frutas da produção
integrada deve ser feita com o selo da certificação
oferecido pela certificadora, mediante normas pré-
estabelecidas pela certificadora em conjunto com os
interessados (consumidores e produtores) e
obedecendo normas oficiais quando existe.
O Brasil já possui seu Marco Legal da
Produção Integrada composto de Diretrizes Gerais e
Normas Técnicas Gerais para a Produção Integrada
de Frutas regulamentadas por intermédio da Instrução
Normativa Nº 20, de 20/09/2001, publicada no Diário
Oficial da União-DOU, no dia 15 de outubro de
2001, Regulamento de Avaliação da Conformidade-
RAC, Definições e Conceitos-PIF, Regimento
Interno da Comissão Técnica-CTPIF, Formulários de
Cadastro-CNPE e outros componentes de igual
importância, documentos estes, resultantes da
parceria entre o MAPA e o Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Inmetro) - Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC).
No processo de certificação, as normas são
exigidas e devem ser empregadas pelos produtores,
que são posteriormente e periodicamente verificadas
mediante inspeções e auditorias.
Os produtos comercializados devem ser
rotulados, indicando a origem e os atributos básicos
dos produtos presentes no interior das embalagens,
permitindo a rastreabilidade do produto.
A certificação resulta em benefícios não só
para os associados diretamente ao processo
produtivo, mas também indiretos para a sociedade. É
definida pela ABNT como “um conjunto de
atividades desenvolvidas por um organismo
independente da relação comercial, com o objetivo de
atestar publicamente, por escrito, que determinado
produto, processo ou serviço estão em conformidade
com os requisitos especificados. Estes requisitos
podem ser: nacionais, estrangeiros ou internacionais.
A atividade de certificação pode envolver: análise de
documentação, auditorias/inspeções na empresa,
coleta e ensaios de produtos, no mercado e/ou na
fábrica, com o objetivo de avaliar a conformidade e
sua manutenção”.
O processo de auditoria difere dos processos
de consultoria e de inspeção (ou avaliação) periódica
da propriedade.
Auditoria é um exame sistemático e
independente realizado para verificar se as atividades
e os resultados estão em conformidade com medidas
planejadas e se estas medidas estão sendo
implantadas com eficácia e são adequadas para que se
alcancem os objetivos.
A auditoria, diferentemente da avaliação,
requer a obtenção e a documentação de evidências
relevantes suficientes. A inspeção (avaliação)
restringe-se apenas à comparação local com
exigências acordadas para determinação de provável
conformidade subseqüente.
Para assegurar a objetividade do processo de
auditoria e de suas conclusões, os membros da equipe
de auditoria devem ser independentes das atividades
que estão sendo auditadas.
Rastreabilidade
A necessidade de comprovação da origem dos
produtos agrícolas visa atender a necessidades do
consumidor e do produtor (incluindo-se indústrias) de
manter um registro confiável, ágil e seguro de todos
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 30
os passos envolvidos nos processos da cadeia
produtiva (desde fornecedores de mudas e insumos
até transporte, armazenamento e disponibilidade do
produto ao consumidor).
A existência de um código universal para
rastreamento de produtos (industriais, agroindustriais
e agrários), com base no posicionamento global por
satélite, proporciona a identificação de informações
georreferenciadas coletadas durante o processo
produtivo, assim como o tratamento e cruzamento
delas em Sistema de Informação Geográfica (SIG).
Além disso, sua presença no rótulo das embalagens
do produto possibilita a identificação da origem do
produto enviado para o exterior, garantindo a
rastreabilidade da carga, bem como de toda a
informação de sua cadeia produtiva, em um único
código.
3.1.2 O processo de Produção Integrada (PI)
Os produtores que aderirem ao sistema de PI,
além de receberem a credencial de filiação a esse
sistema de cultivo, também assumem o compromisso
prévio de cumprir o regulamento de produção
estabelecido pelas normas e de se submeterem a
inspeções específicas e controles técnicos. Também
devem possuir uma forma única de documentar os
registros de campo referentes às operações culturais e
fitossanitárias realizadas em sua propriedade,
preestabelecidas para o produto, conhecidas como
“cadernos de campo” ou “cadernetas de campo”.
O período de vigência e revogação da
autorização de utilização da marca de PI também é
preestabelecido na admissão do produtor ao sistema
de PI, podendo ser revogada ou suspensa, caso sejam
detectadas, pelas inspeções de auditorias, in-
conformidades com as normas preestabelecidas que
retratem procedimentos não autorizados ou
reincidências sucessivas.
Assim, para o produtor ingressar, permanecer
e manter-se autorizado a praticar PI, devem-se
cumprir as seguintes condições mínimas:
a) arcar com as responsabilidades técnicas de
produção e de controle inseridas no contexto da
PI;
b) participar de cursos de formação em PI
credenciados pelo governo ou pertencer a
associações ou entidades que disponham de
pessoal técnico habilitado;
c) registrar em cadernetas de campo as operações e
práticas de cultivo e controle, apresentando-as
sempre que solicitadas pelas inspeções periódicas
e auditagem feitas por entidades credenciadas
para o controle e certificação de PI.
Uma vez dentro das especificações, o produtor
pode fazer uso do selo de PI, reconhecido facilmente
pelo consumidor por logomarca associada.
O selo também pode ser utilizado por
indústrias de alimentos, empresas empacotadoras e
distribuidoras do produto em sua forma original ou já
processada, desde que cumpridas as seguintes regras
gerais:
a) utilizar linhas de empacotamento distintas
daquelas utilizadas para produtos produzidos em
outros sistemas de produção;
b) adquirir produtos agrícolas de produtores
credenciados à PI;
e) possuir responsabilidade técnica relativa a sua
linha de atuação e credibilidade junto ao
consumidor;
d) apresentar pessoal técnico capacitado e em
constante reciclagem em PI no seu quadro
funcional;
f) seguir normas relativas a tratamentos ou manejo
pós-colheita associadas à PI;
g) possuir e disponibilizar, para inspeções e
auditorias, um livro de registro de controle de
procedência dos produtos, assim como
informações de operações e tratamentos
realizados, principalmente, nas etapas de
processamento do produto;
h) permitir livre acesso de pessoal qualificado
pertencente ao governo ou a empresas
certificadoras, credenciadas em PI pelo governo,
nas suas instalações.
As auditorias realizadas nas parcelas que
aderirem à PI são realizadas por empresas
credenciadas junto a um órgão de certificação
internacional.
O processo de auditagem difere do processo
de inspeção periódica, que pode ser realizado pelo
Comitê Gestor da PI ou por pessoal competente por
ele delegado.
3.1.3 Produção Integrada (PI) no Brasil
A Produção Integrada de Frutas no Brasil
começou pela demanda da Cadeia Produtiva da
Maçã, em 1998/99, por meio da demanda feita pela
ABPM (Associação Brasileira de Produtores de
Maçãs), ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, alegando que estava sofrendo
pressões comerciais relacionadas com as exportações
de maçã para a Comunidade Européia. Estava sendo
exigido maiores garantias sobre o processo produtivo
da fruta.
No estágio atual, o Sistema PIF já atingiu a
consolidação de 17 espécies frutíferas em 14 Estados
da Federação, estando em andamento 23 projetos de
fruticultura com o envolvimento de aproximadamente
500 instituições públicas e privadas, destacando a
participação e parcerias de instituições, tais como:
EMBRAPA, CNPq, INMETRO, Universidades,
Instituições Estaduais de Pesquisa, SEBRAE,
SENAR, CEAGESP, Associações de Produtores,
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 31
Cooperativas, Certificadoras, entre outros, obtendo-se
resultados de destaque: i) 60% da área total nacional
de produção de maçã; ii) aumento de emprego e
renda na ordem de 3,0% (PIF Maçã); iii) diminuição
dos custos de produção na maçã (40,0% em
fertilizantes); iv) diminuição da aplicação de
agrotóxicos e de resíduos químicos nas frutas; e v)
melhoria do meio ambiente, da qualidade do produto
consumido, da saúde do trabalhador rural e do
consumidor final. No pólo de fruticultura do Vale do
Rio São Francisco estão sob regime PIF 36% da área
total cultivada de videiras e 35% da área total de
produção de manga.
Dentre outros benefícios do PI Frutas, há
aumento da produtividade, melhor qualidade da fruta
produzida, diminuição do uso de fertilizantes em até
40%, economia do uso da água na irrigação, aumento
de infiltração de água no solo e conseqüente elevação
do lençol freático, diminuição dos processos erosivos,
incremento na diversidade e população de inimigos
naturais das pragas e doenças e manutenção das áreas
de reservas naturais.
Quadro 3.2 – Espécies cultivadas no sistema PI no Brasil. PIF Nº Produtores Área (ha) Produção (t)
Maçã** 283 17.319 461.860
Manga** 242 7.025 172.221
Uva** 182 3.725 133.070
Mamão** 26 1.200 120.000
Citros** 95 2.038 37.065
Banana** 119 2.678 77.729
Pêssego** 105 520 6.240
Caju** 15 1.500 1.800
Melão** 30 3.560 96.176
Goiaba** 27 75 300
Figo ** 25 120 1.093
Caqui** 23 84 3.000
Maracujá** 30 56 5.500
Coco ** 12 414 20.368
Abacaxi 05 122 3.904
TOTAL 1.219 40.446 1.140.326
(**) – projetos concluídos e Normas Técnicas Específicas publicadas.
Fonte: DEPROS/SDC/MAPA/2006
3.1.4 Desenvolvimento da produção integrada
Para que haja sustentabilidade das atividades
agrárias, refletindo na correta gestão ambiental, é
preciso seguir as normas que dispõem e assegurem
uma cuidadosa utilização dos recursos naturais,
minimizando o uso de agrotóxicos e outros insumos,
para isso, não basta apenas receber orientações dos
inspetores, mas ter um quadro técnico trinado para a
execução das seguintes atividades:
a) manejo e conservação do solo;
b) nutrição de plantas;
c) manejo integrado de pragas, doenças e plantas
daninhas;
d) formação e condução das plantas;
f) colheita, conservação e qualidade do produto
agrícola.
Manejo e conservação do solo
De modo geral, o solo é o recurso natural mais
utilizado e o menos protegido na produção
convencional de alimentos. As indicações de calagem
e adubações, tanto corretivas como de manutenção,
devem ser orientadas conforme as sugestões para a
região e condições do solo. O preparo do solo para o
plantio deve ser de acordo com o desenvolvimento de
cada cultura, visando oferecer as melhores condições
de crescimento ao sistema radicular das plantas. Na
escolha do local para a instalação de um programa de
PI de alimentos, deve-se dar preferência para solos
profundos, bem drenados e, se possível, com textura
média (Nachtigall et al., 2000).
Na fase produtiva, o manejo do solo nas
entrefilas deve ter como objetivos manter a
diversidade biológica e controlar a compactação e
erosão, minimizando o uso de herbicidas (evitando os
residuais). No caso de pomares de fruteiras de clima
temperado, não é permitido manter o solo
completamente limpo de vegetação, devendo ser
empregada a cobertura viva do solo com gramíneas e
leguminosas (consorciadas ou alternadas), ou com as
próprias espécies nativas do local. E recomendável
manter uma faixa livre de invasoras, de cada lado das
filas das plantas, por meio de capinas manuais ou
roçadas. Nas faixas de projeção das copas das
fruteiras, só é permitido o uso de herbicidas pós-
emergentes, com duas aplicações anuais, no máximo,
como complemento dos métodos culturais de controle
das plantas daninhas (Nachtigalletal.,2000).
Formação e condução das plantas
Em todas as normas para a PI de alimentos
deve estar implícito o uso de materiais sadios, de
origem conhecida e idônea. No caso de PI de frutas,
orienta-se para o uso de porta-enxertos tolerantes ou
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 32
resistentes à acidez do solo, ao excesso de umidade, à
seca, à salinidade e a determinadas doenças.
Sintetizando, devem-se eleger as cultivares mais
adaptadas às condições edafoclimáticas de cada local,
para que produzam nas condições mais naturais
possíveis frutos com qualidade (Nachtigall et al.,
1998).
Na formação das plantas, devem ser utilizadas
as podas que proporcionem uma copa uniforme e de
fácil manejo, com objetivo de obter um equilíbrio
entre as atividades vegetativa e produtiva, para
produção de frutos de qualidade. Deve ser evitada a
formação de forquilhas em ramos na estrutura básica
da planta. Para uniformizar a brotação, não é
permitido o uso de fitorreguladores de síntese não
presentes na natureza. O excesso de crescimento deve
ser controlado pela poda de verão, pela redução nas
doses de fertilizantes, principalmente para nitrogênio,
pela redução na irrigação, objetivando estimular a
frutificação efetiva. No outono, a poda pode ser
realizada para rebaixar as plantas e paralisar o
crescimento delas. No inverno, a poda de frutificação
deve ser realizada com o objetivo de desbastar e
despontar os ramos, bem como o de retirar ramos
doentes e mal posicionados. Deve-se ter o cuidado
para não fazer uma poda drástica que favoreça o
crescimento vegetativo, reduzindo o número de
gemas floríferas. Todos os locais dos cortes devem
ser protegidos com óleo vegetal misturados com
calcário, ou pasta bordalesa, ou ainda com tinta
plástica, para evitar a penetração de fungos. Para
assegurar uma produção de frutos de qualidade (peso
adequado ao tipo de fruto), deve-se fazer um raleio
deles, pois quando houver a polinização excessiva de
flores haverá excesso de produção. A carga da planta
deve estar de acordo com o vigor e o diâmetro do
tronco. No raleio manual retiram-se frutos injuriados,
atacados por pragas, doenças ou danos mecânicos
(Nachtigall et aI., 2000).
Nutrição das plantas
Para a adequada nutrição das plantas, deve-se
fazer o levantamento das condições de fertilidade
natural do solo, no início da instalação do sistema de
PI, através das análises físicas e químicas de cada
unidade de produção. Durante o processo produtivo,
é preciso acompanhar o estado nutricional das plantas
por meio de análises de solo e foliar. Com este
procedimento, é possível a obtenção de ciclos de
nutrientes equilibrados e a identificação de pontos
críticos, bem como de suas correções. A melhoria e a
manutenção da fertilidade do solo são fundamentais
para a preservação da qualidade ambiental e da
diversidade do meio ambiente, que são fatores
essenciais ao processo de PI. Devem ser observadas
algumas orientações no manejo de certos
fertilizantes, principalmente para os que contêm
nitrogênio e potássio. No caso específico de PI de
macieiras no Brasil, já existem normas que
direcionam doses, épocas e locais de aplicação dos
fertilizantes para nitrogênio, fósforo, potássio,
magnésio, zinco e boro. Como exemplo, cita-se o
caso do nitrogênio, que deve ser parcelado em três
épocas, a saber: 30% antes do início da brotação,
30% depois do raleio dos frutos e 40% após a
colheita, e a quantidade do nutriente não deve ultra-
passar de 40 kg ha-1
em cada parcelamento
(Nachtigall et al., 2000).
Manejo integrado de pragas, doenças e plantas
daninhas
O controle de pragas e doenças é de suma
importância no processo de PI, não só pela melhor
aparência dos alimentos, como também para redução
da contaminação por agrotóxicos. A decisão sobre os
tipos de tratamentos com fungicidas e inseticidas,
bem como a ocasião de executá-los, deverá estar
embasada nas características das doenças, no
monitoramento das infestações, na própria cultura
(tolerância a determinados princípios ativos) e nas
informações das estações de aviso sobre as condições
meteorológicas (Nachtigall et al., 1998, 2000). Os
produtos a serem utilizados para o controle de pragas
e doenças devem fazer parte das relações contidas nas
normas para a PI de cada cultura.
Os principais cuidados durante o preparo e
aplicação dos produtos fitossanitários, dentro do
programa de PI, são:
a) utilizar equipamentos de proteção individual;
b) não trabalhar isoladamente quando utilizar
produtos muito tóxicos;
c) preparar o produto em local fresco e ventilado;
d) seguir as instruções e recomendações contidas nas
embalagens dos produtos;
e) evitar aplicações durante a florada (para não
eliminar os insetos polinizadores);
f) evitar aplicações nas horas quentes do dia, nos
dias chuvosos e com fortes ventos;
g) não aplicar agrotóxicos próximo de fonte de água,
riachos, lagos etc.;
h) guardar os produtos bem fechados, longe de
alimentos e do alcance de crianças;
i) evitar a inalação, respingos ou qualquer contato
direto com os agro-tóxicos.
Na PI de frutas deve-se, obrigatoriamente,
calibrar e controlar os pulverizadores periodicamente
com equipamentos e métodos reconhecidos
internacionalmente, com o objetivo de melhorar a
eficiência dos tratamentos fitossanitários, bem como
o de diminuir o desperdício de produtos e a
contaminação ambiental.
Dentro da PI deve ser adotado o
monitoramento da densidade populacional das pragas
e doenças, bem como o uso de níveis de controle.
Para pragas isso é feito pela contagem do número de
insetos capturados em armadilhas, o que facilita a
adoção de uma medida de controle. O monitoramento
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 33
serve, também, para identificar os locais de maior
infestação das pragas e doenças e, portanto, onde
devem ser concentradas as ações de controle. Em
cada tomada de decisão, deve ser registrada a
justificativa no caderno de campo. Na definição de
qual produto utilizar, devem ser consideradas
algumas características, tais como: registro do
produto para a cultura e fitotoxicidade; eficiência;
seletividade para inimigos naturais; toxicidade ao ser
humano; efeito residual; período de carência e custo.
Deve-se dar preferência aos produtos que causem o
menor dano possível ao meio ambiente. Neste
sentido, é preciso observar as normas da PI, pois
alguns produtos só são admitidos no sistema com
algumas restrições e só podem ser usados se a safra
estiver sobre risco sério de comprometimento. A
alternância de produtos acaricidas é obrigatória para
evitar o surgimento de populações resistentes.
Para a PI de maçã no Brasil já existem
algumas definições quanto ao nível de controle das
principais pragas, bem como a restrição e admissão
de certos produtos (Quadro 3.3).
Quadro 3.3 – Monitoramento e nível de controle das principais pragas da macieira no Brasil.
Praga Armadilha Atrativo Densidade de
armadilha
Nível de controle
Lagarta-enroladeira
Bonagota cranaodes
Delta Feromônio sexual sintético 1 para 7 ha 20 machos/armadilha
/semana
Grafolia
Grapholia molesta
Delta Feromônio sexual sintético 1 para 10 ha 40 machos/armadilha
/semana
Mosca-das-frutas
Anastrepha fraterculus
McPhail Suco de uva 25% 1 para 2 ha 0,5 moscas/frasco/dia
Ácaro vermelho
Panonychus ulmi
Amostragem
seqüencial
- - 70% de folhas com presença
Fonte: Kovaleski (2000).
Quadro 3.4 – Produtos proibidos e aditidos com restrição para macieria no Brasil, em PI. Categoria Proibidos Admitidos com restrições
Inseticidas Organoclorados e Piretróides Diazinin, Dimetoato, Fenitrothion, Vamidotion,
Acaricidas - Dicofol, Pyridaben, Fenpyroxemate
Fungicidas - Mancozeb, Benomil, Iprodione
Herbicidas - Simmaina, Orizalina
Quadro 3.5 – Redução de porcentual de agrotóxicos em pomares de PIF. Produtos Maçã Manga Uva Mamão Caju Melão Pêssego
Inseticidas 25 43 53 30 25 20 30
Fungicidas 15 61 43 78 30 10 20
Herbicidas 67 80 61 30 - - 50 Acaricidas 67 - - 30 - 20 -
Ainda para maçã, já existem alguns produtos
fitossanitários considerados proibidos e outros
admitidos com restrições (Quadro 3.4).
Os princípios de utilização de herbicidas para
o controle de plantas invasoras seguem as mesmas
orientações básicas de utilização dos fungicidas e
inseticidas. Além disso, é necessário orientar-se nas
indicações de uso dos herbicidas para cada cultura,
dentro do processo de PI, evitando aqueles de efeitos
residuais. Do mesmo modo que para os fungicidas e
inseticidas, já existem relações de herbicidas
permitidos para uso em PI de maçã e frutos de caroço
(Nachtigall et al., 2000).
Colheita, conservação e qualidade do produto
No momento da colheita das culturas, deve-se
dar toda a atenção para a definição da cor, firmeza e
acidez dos frutos, específicos para cada variedade,
região e destino da produção. A colheita deve ser
realizada nas horas mais frescas do dia. Os frutos
devem ser conduzidos o mais rápido possível para o
packing house, com todo o cuidado para evitar danos
mecânicos e exposição ao sol. Sempre que possível,
as frutas devem ser colhidas e colocadas diretamente
nas próprias embalagens de comercialização e
conduzidas para a câmara fria onde passarão por um
pré-resfriamento. Nesta fase é importante tomar todo
o cuidado com os frutos, principalmente com relação
a emprego de embalagens e transportes adequados;
evitar danos mecânicos; colher o fruto na época mais
adequada, observando o índice de maturação; manter
limpo o material de colheita e caixas com hipoclorito
de sódio; aplicar corretamente o frio; escolher
períodos melhores para a comercialização. Não é
permitido nenhum tratamento químico em pós-
colheita para as frutas de caroço como pêssego,
ameixa e nectarina (Marangoni, 2000 e Nachtigall et
al., 2000).
3.2 Produção orgânica de frutas
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 34
Neste sistema as restrições para a produção
de frutas são maiores que nos sistemasanteriores, pois
o uso de agrot´roxicos é proíbido em qualquer etapa
da produção, o uso de fertilizantes químicos de alta
concentração e solubilidade e outras práticas
agrícolas.
A produção orgânica de frutas é uma das
atividades na agricultura orgânica de baixo risco, pois
a maioria das espécies se adaptam a períodos com
condições desfavoráveis (seca, frio, calor), o período
de sasonalidade permite maior elasticidade no
planejamento da atividade e principalmente por não
utilizar área total dispensa grandes revolvimentos de
solo.
3.2.1 Preparo do Solo
O solo deve ser bem preparado, inclusive
descompactado, para permitir a boa penetração das
raízes, da água e do ar, nas camadas inferiores. O
preparo do solo deve ser feito com uma antecedência
de 60 a 90 dias, até atingir a profundidade de 50 a 60
cm. Solos pesados devem receber, no mínimo,
subsolagens e arações profundas, seguidas das
gradagens necessárias.
No sistema orgânico recomenda-se fazer o
plantio direto. Em áreas compactadas, com uso
anterior de pastagens ou uso excessivo de máquinas,
deve-se fazer subsolagem ou o plantio de adubos
verdes, usando plantas com raízes fortes, como
gandú, temoço e nabo forrageiro (subsolagem
biológica).
A incorporação de fósforo natural pode ser
feita com vantagens, uma vez que os nossos solos são
geralmente pobres nesse nutriente e é na instalação
do pomar a melhor época de colocar o fósforo em
maior profundidade.
Para melhor condicionamento do solo,
recomenda-se, após o preparo do solo, o plantio de
adubos verdes que serão roçados ou incorporados.
Pode ser feito o plantio de milho e, depois de
formada a espiga, é feito o plantio de adubo verde, de
alta produção de massa vegetal, como a mucuna e
outras.
Depois da colheita do milho, toda matéria
vegetal deve ser roçada e deixada sobre o solo
enriquecendo. Plantios de ervilhaca e aveia preta
poderão ser instalados para proteger e enriquecer o
solo, no período de outono e inverno.
3.2.2 Correção do pH do solo
Para que as fruteiras alcancem um bom
desenvolvimento vegetativo e produzam frutas de
qualidade em quantidade, é favorável que o pH do
solo esteja na faixa de 6,0 a 6,5. Os solos ácidos
(abaixo de 5,5) não são adequados à exploração
econômica, principalmente quando apresentam teores
de alumínio. Outras conseqüências negativas são:
excesso de manganês, a baixa absorção de nutrientes,
principalmente de cálcio e de magnésio.
A aplicação máxima de calcário em cultivos
agroecológicos é de 2,0 t/ha/ano. A elevada
quantidade de matéria orgânica, que deve estar
presente no solo, favorece a troca catiônica e a
recuperação do pH.
Como nossos solos são geralmente ácidos,
torna-se necessário, ao instalar o pomar, mandar analisá-
los com bastante antecedência, para fazer a correção
com calcário, por ocasião do preparo do terreno.
A quantidade do corretivo recomendada deve
ser incorporada, metade, por ocasião da subsolagem e
a outra metade na aração e gradagem. Apesar da
aplicação do calcário na área total do terreno,
recomenda-se ainda aplicar boa quantidade de farinha
de ossos na cova, que contém cálcio e fósforo para as
plantas novas.
Manter a relação cálcio/magnésio em torno de
3-4:1, para manter a disponibilidade destes elementos
para as plantas. Utilizar preferencialmente calcários
calcíticos e magnesianos para que esta relação possa
manter-se nos solos orgânicos.
A correção é geralmente efetuada nos
primeiros anos de instalação do pomar, depois com a
incorporação de matéria orgânica e o plantio de
adubos verdes, há uma estabilização do teor de
nutrientes no solo.
A fosfatagem é feita com o solo ácido, cerca
de 30 dias antes da calagem. Incorporar junto com o
fósforo natural elevada quantidade de matéria
orgânica, para melhorar a solubilização do fósforo.
Importante: calagem em culturas instaladas
Em culturas já instaladas deve ser feita a
análise do solo a cada 2-3 anos, aplicando-se o
calcário necessário para elevar o pH a níveis
superiores a 6 e a saturação em bases a 70%.
Em pomares instalados, é muito comum a
aplicação superficial do calcário em pequenas doses
anuais, principalmente em terrenos cobertos com
palhada. Alguns agricultores vêm utilizando a
mistura com gesso na proporção de 2:1, para dar
maior mobilidade ao calcário e fazer com que atinja
maiores profundidades.
As épocas mais usadas para a calagem são o
outono e o inverno. E fundamental que haja
disponibilidade de cálcio no solo, pois a maior
absorção desse elemento se dá pelo xilema, até a fase
de divisão celular dos frutos (30 dias após a floração).
Depois dessa fase, devem ser feitas aplicações de
calcário via foliar, de menor absorção. De modo
geral, aplicam-se 200g/m2/ano de calcítico ou
magnesiano.
3.2.3 Adubação no plantio
Para o bom desenvolvimento inicial da planta,
incorporar na cova de plantio:
• 20 L de esterco bovino curtido ou composto
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 35
orgânico ou 5 litros de esterco de galinha curtido;
• 1 a 2 kg de fósforo, sendo 50 a 70% de rocha
natural moída ou farinha de ossos. Colocar 30 a 50%
de fósforo parcialmente solúvel (termofosfato =
yoorin);
• 0,5 a 1,0 kg de Calcário calcítico ou magnesiano;
• 4 a 5 kg de bórax por hectare;
• 2 a 5 kg de cinza de madeira ou casca de café (fonte
de potássio, quando necessário).
• Boro e Zinco (analisar o solo): fritas (FTE), algas
ou em biofertilizantes.
Em cobertura, fazer 2 a 3 aplicações ou
incorporações de adubos orgânicos, como compostos
orgânicos ou húmus de minhoca ou Bokashi, a partir
da brotação das folhas novas, fevereiro/março.
As quantidades recomendadas devem variar
de acordo com a análise do solo, o estado nutricional
da planta e a fase de desenvolvimento da planta e dos
frutos.
O plantio e a incorporação de adubos verdes
melhoram a estrutura e a fertilidade do solo, sendo
muito recomendadas leguminosas, como as
crotalárias.
3.2.4 Biodiversidade
Biodiversidade é um termo muito comum na
agricultura orgânica. Ela nada mais é do que a
manifestação da vida sob diferentes formas. Ao
estudarmos a maioria dos ecossistemas naturais
brasileiros, podemos observar a grande quantidade de
espécies vegetais e animais que os integram, o que
significa uma afta biodiversidade nesses sistemas.
Um dos princípios da Ecologia nos ensina que
a estabilidade de um sistema e a sua capacidade de
recuperação, quando exposto a alguma alteração
estão diretamente ligados ao grau de biodiversidade,
pois muitos seres executam as mesmas funções e
substituem uns aos outros no funcionamento geral do
sistema. Assim, as populações das diversas espécies
controlam umas às outras, sem que nenhuma delas
possa se desenvolver fora de controle.
No momento em que introduzimos uma
monocultura em larga escala, nós oferecemos uma
grande quantidade de alimento para uma determinada
espécie, cuja população aumenta rapidamente, e ela
se transforma em praga; seus inimigos naturais
demorarão um pouco mais para aumentar sua
população e poder controlá-la, e, nesse meio tempo,
entram os agrotóxicos, causando um desequilíbrio
ainda maior e provocando o aparecimento de
indivíduos resistentes a ele.
Para reverter esse quadro, é imprescindível
montar sistemas de produção que promovam a
biodiversidade, tanto das plantas como dos animais,
tanto acima como abaixo do solo. Isso pode ser
conseguido através de programas de cultivos
consorciados, de cultivo de espécies de leguminosas,
como adubo verde, pois elas são capazes de fixar o
nitrogênio da atmosfera e prover as necessidades
desse nutriente nas quantidades adequadas.
A agricultura orgânica preconiza o cultivo de
duas a três culturas no mesmo tempo e espaço, para
efeito de diversificação. No caso de culturas perenes,
a questão da biodiverdade poderá ser manejada,
sendo as ervas nativas ou a introdução de plantios
consorciados de adubos verdes manejados para criar
condições de micro-biodiversidade.
ADUBOS VERDES: Intercalada com as fruteiras
poderão ser empregadas espécies de adubos verdes
não muito agressivas conduzidas nas entrelinhas, que
não subam na copa das plantas. Recomenda-se
alternar o plantio de adubos verdes, em cada ano. As
principais recomendações são:
• Cultura da banana: feijão-de-porco, soja perene,
crotolárias, mucuna-anã.
• Cultura do citros: crotolária spectabilis, siratro,
guandu, mucuna-anã, calopogônio, nabo forrageiro.
• Culturas da goiaba e do caqui: mucuna-anã,
crotolária spectabilis.
• Culturas da maçã e do pêssego: trevo, tremoço,
aveia preta, mucuna-anã, crotolárias.
• Cultura do maracujá: tefrósia, mucuna-anã e
aveia preta.
• Cultura da seringueira: kudzu, mucunas, siratro.
• Cultura da uva: ervilha forrageira, ervilhaca ou
chícaro, amendoim rasteiro, aveia preta.
3.2.5 Manejo das plantas espontâneas
Na agricultura orgânica, o mato não é
considerado uma erva daninha, porém um
componente do ambiente, que deve, se possível, ser
manejada e não erradicada. As ervas pioneiras ou
nativas podem proteger o solo e serem abrigo de
inimigos naturais das pragas da cultura.
Quando as ervas presentes tornam-se
invasoras e afetam as plantas, poderão ser
substituídas por outras menos agressivas. De forma
geral, nos pomares, as áreas da coroa são limpas com
enxadas, sendo que a área total é mantida com
cobertura morta ou viva ou gramada.
As ervas invasoras podem concorrer com a
planta na absorção de água e de nutrientes.
Geralmente, o período de maior concorrência e que
traz maiores prejuízos, se estende de setembro até
março. O método recomendado para o controle
consiste em manter a área sob a projeção da copa,
sempre livre de mato e, nas entrelinhas, uma
cobertura vegetal.
O manejo das ervas invasoras pode ser feito
com enxada ou roçadeira. A enxada deve ser usada
com cuidado, pois os ferimentos por ela causados
podem provocar podridões nas raízes. Ela pode ser
usada com vantagens no inverno, na eliminação de
ervas daninhas resistentes. O uso de roçadeira
permite a incorporação de matéria orgânica que
favorece as plantas, quanto à melhoria das condições
do solo e absorção de umidade.
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 36
Manter o solo com cobertura viva ou morta é
uma prática necessária em regiões tropicais e
subtropicais, pois protegem o solo da incidência
direta da insolação e da erosão das chuvas. Além
disso, mantém a vida do solo, com a presença de
microrganismos e minhocas e fornecem nutrientes
essenciais para as plantas.
A cobertura vegetal do solo com matéria
orgânica (palhas, bagaços ou capins) é feita durante
todo o ano ou parte dele. Quando são trazidos restos
de culturas ou capim para cobrir o solo do pomar,
chama-se cobertura morta. É uma prática nos cultivos
de figo e uva.
A cobertura em redor da planta, com palha ou
restos de culturas, formando um “mulch”, traz vários
benefícios, sendo recomendada a mistura com fontes
ricas de nitrogênio, como esterco de galinha ou de
curral.
A cobertura viva consiste no plantio de adubos
verdes, que são depois incorporadas na superfície do
terreno ou então procura-se manter as ervas pioneiras
(mato) sob controle de roçadeira manual ou
mecânica. Nunca deve ser passada a grade no terreno,
pois afeta e prejudica o manejo e conservação do
solo.
Nas entrelinhas, recomenda-se manter uma
cobertura vegetal, para evitar a erosão do solo. O
controle do mato nas entrelinhas é feito
periodicamente com roçadeira mecânica, quando as
ervas daninhas atingirem 20cm de altura.
Em pomares em formação com até 4 anos,
podem ser feitas culturas intercalares com
leguminosas (feijão, soja, melancia ou abóbora). A
cultura intercalar deve receber adequada adubação e
controle fitossanitário e situar-se a um metro da
planta. Ultimamente vêm sendo conduzidos
experimentos sobre plantio intercalar de leguminosas
para produção de massa verde e sua incorporação ao
solo.
O plantio de leguminosas nas ruas do pomar,
para cobertura vegetal, é recomendado, pois
fornecem grande quantidade de massa vegetal e
nutrientes, que beneficiam as plantas. As espécies
que têm apresentado bom desenvolvimento em
plantio intercalar no período de inverno são:
ervilhaca, tremoço, azevém e trevo.
As caracteríscas desejáveis são: alta produção
de massa, crescimento determinado (não cresçam
sobre as fruteiras), fácil erradicação e que não sejam
perenes. Em locais onde for constatada a ocorrência
de fungos causadores de Rosellinia (podridão de
raízes), deve ser evitado o plantio de leguminosas.
A seguir apresentamos algumas alternativas de
leguminosas de verão:
3.2.6 Manejo Fitossanitário
A agricultura orgânica não emprega os
agrotóxicos para o controle dos insetos nocivos e
patógenos que podem causar prejuízos para as
plantas. O princípio é obter uma planta resistente e a
população de inimigos naturais.
Como fatores prepoderantes para manter a
saúde da planta e baixa ocorrência de pragas e
doenças, estão a preservação do meio ambiente,
adequado manejo do solo, nutrição equilibrada e
cultivo adaptado às condições locais.
Estes preceitos estão baseados na teoria de
Francis Chaboussou, que afirma que qualquer
adubação que deixe a planta em sua condição
fisiológica ótima, oferece-lhe o máximo de
resistência ao ataque de fito-moléstias.
Para o mesmo pesquisador “insetos e fungos
não são a causa verdadeira das moléstias das planta
elas só atacam as plantas ruins ou cultivadas
incorretamente”, pó isso, quando são seguidos os
princípios orgânicos, há redução significativa de
danos causados por insetos ou microrganismos.
No entanto, se cumprindo todos os preceitos
orgânicos, ocorrerem ataques de insetos nocívos ou
patógenos, há alternativas para substituir os
agrotóxicos, por produtos de baixo custo e que não
afetam a saúde do homem e nem causam
desequilíbrio na natureza.
Neste caso, o princípio de atuação destes
produtos alternativos não é erradicar os insetos ou
microrganismos nocivos, mas aumentar a resistência
da planta.O produtor deve tirar as dúvidas, conhecer
dosagens, época de aplicação e métodos para
produzir o seu próprio defensivo natural.
Há grande vantagem em produzir alimentos
orgânicamente, sem agrotóxicos, são sadios,
saborosos e de elevada cotação comercial.
Vantagens dos defensivos alternativos
• Aumento da resistência natural das plantas: As
plantas tratadas com estas caldas defensivas
apresentam-se geralmente mais vigorosas, oferecendo
maior resistência á infecção por patógenos, insetos
nocivos e às intempéries climáticas.
• Obter produtos sadios, com preços
diferenciados: A cotação obtida pelos produtos sem
agrotóxicos ou produtos orgânicos são geralmente
mais elevados e valorizados, devido sua qualidade,
quanto ao sabor e isenção de contaminantes.
• Equilíbrio nutricional: A utilização de produtos
ricos em enxofre, cobre, micronutrientes e outras
substâncias orgânicas e naturais, complexados ou não
com a cal, representam excelentes opções aos
produtores, para o equilíbrio nutricional e
favorecimento dos mecanismos de defesa natural.
• Longevidade da vida útil da planta: Porque
fornecem nutrientes essenciais às plantas e renovam o
vigor vegetativo, favorecem uma maior longevidade
dos frutos em pós-colheita e aumento da vida
produtiva da planta.
• Baixo impacto ambiental: Sua ação benéfica, não
favorece o surgimento de patógenos resistentes, tem
Sistemas de produção na fruticultura
Sebastião Elviro de Araújo Neto 37
baixa toxicidade aos inimigos naturais e não afetam o
ambiente e o homem. Quando são aplicados
pesticidas, todos os integrantes da cadeia alimentar
são contaminados com os resíduos, afetando toda a
fauna, conforme ilustração abaixo.
3.2.7 Comercialização
Uma exploração econômica de frutas necessita
para sua comercialização, de tres fatores básicos:
quantidade, continuidade e qualidade, sendo
igualmente importantes e inseparáveis. A escolha da
espécie a ser cultivada deve levar em consideração as
características edafo-climáticas e a posição
geográfica com relação ao centro consumidor.
As regiões próximas aos grandes centros
consumidores sofrem grande especulação imobiliária,
obrigando o fruticultor a procurar áreas mais baratas.
Quando ocorrer da produção estar em grandes
distâncias do centro consumidor, fazem-se
“necessários” transportes especializados, como a
frigoconservação, o que aumenta seu custo na
comercialização, e a preocupação de observar se na
região os produtores locais possuem aptidão para a
fruticultura e daí se formar um futuro pólo de
produção.
No caso de o produtor ficar isolado dos pólos
de produção, distante dos grandes centros
consumidores, deverá ter a preocupação de
dimensionar sua área para viabilizar toda a estrutura
de base, como: mão-de-obra especializada, produtos
agro-químicos, transporte, paking house,
comercialização, etc.
A preocupação com o escalonamento da safra,
também, é de grande importância, uma vez que
facilita as operações do produtor e atende ao mercado
de maneira mais equalizada. As diversas etapas na
comercialização do produtor ao consumidor final são,
muitas vezes, longa, o que prejudica as duas
extremidades de maior relevância.
Para melhor atuação no mercado, o produtor
deve procurar um fortalecimento no mercado local,
escolhendo seus parceiros comerciais e atuando em
blocos (através de associações, cooperativas ou
mesmo grupos) e, de outro lado, o consumidor sendo
mais bem atendido, com qualidade, quantidade e
preços mais acessíveis.
A estrutura de comercialização depende muito
da área a ser implantada, pois pequenos pomares de 1
a 2 ha poderão ser destinados a abastecer a região,
enquanto áreas maiores deverão procurar centrais de
abastecimento, redes de supermercados e até a
exportação.
2.3 Referência
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agricultura sustentável. In: UZÊDA, M. C. (org.) O
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Propagação de plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 39
4. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS
As árvores frutíferas, em geral, propagam-se
tanto por via sexual, ou gâmica, ou seminípara, como
por via vegetativa, ou assexuada, ou agâmica. Para
diferenciar esses dois modos de propagação, dá-se o
nome de reprodução à propagação sexuada e o de
multiplicação aos processos de propagação
vegetativa.
A transmissão das características da planta
depende dos gens presentes nos cromossomos.
A soma total dos gens determina o genótipo da
planta. Em combinacão com o ambiente, o genótipo
produz uma planta com uma determinada aparência,
o fenótipo.
Cultivar é sinônimo de variedade. São plantas
idênticas, com as mesmas características. A palavra
cultivar é resultado da contração das palavras
inglesas cultivated variety. Os melhoristas de plantas,
seguindo essa linha de raciocínio, conceituam
cultivar como um material genético melhorado
(planta ou população de plantas) e sob cruzamento
controlado, enquanto que o termo variedade, usa-se
para definir um material genético de cruzamento
livre, e portanto com alta variabilidade genética.
4.1 - Propagação por semente
As plantas obtidas por sementes apresentam
grandes variações. Assemelham-se aos seus
progenitores, porém não são idênticas a eles, nem
entre si. Apresentam uma variabilidade em
conseqüência da constituição genética, devido à
segregação e à recombinação de gens que têm lugar
no processo de reprodução sexual.
Quando as plantas propagadas são
homozigotas e predomina a autofecundação, têm-se
linhagens praticamente puras, que apresentam
características idênticas às das plantas das quais
provieram. Essas características são difíceis de ser
mantidas, dado que, na natureza, a polinização
cruzada é mais comum.
As plantas que produzem sementes
poliembriônicas possibilitam a sua propagação por
meio de sementes e a manutenção da constituição
genética idêntica, pois são procedentes de embriões
nucelares e de origem somática.
As plantas triplóides, que normalmente
apresentam forma vegetativa maior que as diplóides,
apresentam quase sempre uma grande esterilidade,
devido à irregularidade da meiose, e seus frutos têm
pouca ou quase nenhuma semente. É, portanto, difícil
sua propagação sexuada.
Plantas propagadas por sementes apresentam o
fenômeno da juvenilidade, que é uma fase
normalmente de longa duração, na qual a planta não
responde aos estímulos indutores do florescimento.
Plantas em estado juvenil tendem a apresentar
características, tais como a presença de espinhos,
folhas lobuladas, ramos trepadores, fácil
enraizamento e menor teor de RNA (ácido
ribonucleico). Durante a juvenilidade não há
produção de frutos, o que acarreta um prolongamento
do período improdutivo do pomar.
4.1.1 Vantagens e desvantagens
As vantagens e as desvantagens do uso da
propagação sexuada em fruticultura encontram-se na
Tabela 4.1.
Tabela 4.1. Vantagens e desvantagens da propagação
sexual em plantas frutíferas.
VANTAGENS DESVANTAGENS
* Maior longevidade * Dissociação dos caracteres
(segregação genética)
* Desenvolvimento vigoroso * Frutificação mais tardia
* Obtenção de variedades * Porte elevado
* Obtenção de plantas livres
de doenças
* Presença de espinhos (em
algumas variedades)
* Perpetuação da espécie
por bancos de germoplasma
* Heterogeneidade entre
plantas (porte, arquitetura,
fenologia)
* Sistema radicular mais
vigoroso e profundo
* Irregularidade de produção
(cor, características
organolépticas, tamanho)
* Menor custo
Fonte: Adaptado de Fachinello et al., 1995.
Plantas propagadas por sementes apresentam o
fenômeno da juvenilidade, que é uma fase
normalmente de longa duração, na qual a planta não
responde aos estímulos indutores do florescimento.
Plantas em estado juvenil tendem a apresentar
características, tais como a presença de espinhos,
folhas lobuladas, ramos trepadores, fácil
enraizamento e menor teor de RNA (ácido
ribonucleico). Durante a juvenilidade não há
produção de frutos, o que acarreta um prolongamento
do período improdutivo do pomar.
O porte mais elevado pode representar uma
desvantagem nas práticas de manejo do pomar, como
na poda, raleio, colheita e tratamentos fitossanitários.
Além disso, a propagação sexuada pode induzir a
desuniformidade das plantas e da produção,
normalmente indesejadas em pomares comerciais.
4.1.2. Emprego de sementes
A semente é o processo natural de
disseminação das espécies. Em fruticultura, porém, o
uso de sementes é restrito e delimitado a
determinados casos, tais como:
• plantas que não podem ser propagadas por
outro meio;
• obtenção de porta-enxertos;
• obtenção de variedades novas;
• obtenção de clones nucelares;
• sementes poliembriônicas;
• plantas homozigotas.
Propagação de plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 40
Plantas que não podem ser propagadas por outro
meio
Certas espécies, como o coco-da-baía e o
mamão, apesar da possibilidade tecnológica da
propagação vegetativa, dificilmente poderiam ser
propagadas comercialmente se não fosse por meio de
sementes.
Nesse caso, procura-se obter plantas tão
uniformes quanto possível, para evitar o
aparecimento de tipos distintos dos desejados.
Obtenção de porta-enxertos
A fruticultura moderna assenta-se na
propagação vegetativa, isto é, na enxertia das
variedades comerciais sobre porta-enxertos, obtidos
em muitos casos a partir de sementes, como em
citros, abacate, caju, manga, graviola e outras.
Obtenção de variedades novas
Toda variedade que se pretenda conseguir
deve reunir qualidades superiores às existentes,
porém, em fruticultura, isso nem sempre é fácil de
obter, dado o alto grau de heterozigose e, portanto, a
grande variabilidade dos descendentes. A mangueira,
que vem sendo cultivada há mais de 5.000 anos,
poucos resultados apresentou com os cruzamentos e,
em citros, as tentativas, durante os últimos cinqüenta
anos, de obtenção de variedades novas, altamente
econômicas, falharam. Se, de um lado, dificilmente
se obtêm novas variedades com cruzamentos
dirigidos, de outro, tal processo tem sido favorável,
como no caso do pêssego, da maçã, da tâmara e do
caqui. Há também a possibilidade de obter plantas
triplóides ou tetraplóides que, em algumas espécies,
apresentam valor comercial.
Atualmente, com a biotecnologia, podem-se
obter plantas transgênicas, híbridas e novas
variedades.
Obtenção de clones nucelares
O clone nucelar ou variedade revigorada é
obtida a partir de sementes poliembriônicas, que
reproduzem as mesmas características das plantas
matrizes.
A poliembrionia é um fenômeno pelo qual se
forma mais de um embrião em uma semente. Isso é
freqüente em manga, citros e algumas outras plantas.
Os embriões são de origem nucelar e possuem
características genéticas semelhantes, não passando,
portanto, de uma multiplicação vegetativa que se dá
na semente, pois nada mais é do que uma propagação
somática.
A polinização parece ser, em quase todos os
casos, necessária para ativar a formação de sementes
e embriões nucelares.
Os embriões nucelares, ao se desenvolverem,
estabelecem uma concorrência entre si e, muitas
vezes, o embrião gamético é reduzido, de forma a ser
eliminado.
A concorrência entre os embriões se dá tanto
em relação ao espaço a ocupar como em relação à
nutrição.
A eliminação do embrião gamético, em alguns
casos, ao que parece, está ligada à sua posição, pois
ele se situa no ápice do saco embrionário e, portanto,
em posição desvantajosa em relação aos embriões
nucelares quanto à nutrição, através dos feixes
vasculares. O embrião sexual pode germinar, porém,
por ser de constituição genética mais fraca, ou por
atrasar o inicio da germinação, ou por ser de
crescimento inicial mais lento, sendo dominado pelos
embriões nucelares.
O número de embriões por semente varia de
acordo com a espécie, a variedade e as condições
climáticas. Em citros, encontram-se de dois a
quarenta e, em manga, têm-se registrado até dezesseis
embriões nucelares.
- Apomixia
Resulta da produção de um embrião que
ultrapassa o processo de meiose e fertilização.
O genótipo do embrião e o da planta resultante
seriam o mesmo da semente.
A produção dessa semente é assexuada e dita
apomíctica.
A apomixia pode ser obrigatória — sementes que
só produzem embriões apomícticos — ou facultativa —
quando produzem embriões apomícticos e sexuais.
- Poliembrionia
Células específicas do nucelo ou do tegumento
têm potencial embriogenético. Geralmente, esses
embriões têm o mesmo genótipo e são também
apomícticos nessas espécies. Ambos, embrião e
zigoto apomíctico, necessitam do estímulo da
polinização para serem produzidos.
Sementes poliembriônicas
Quando certas variedades apresentam
sementes poliembriônicas, é possível, porém nem
sempre desejável, a propagação delas diretamente de
sementes (Figura 4.1).
um embrião um embrião
dois embriões três embrião
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 41
Figura 4.1. Detalhes de sementes monoembriônica e
poliembriônicas de Poncirus trifoliata.
Elas deverão transmitir as mesmas
características, mas estão sujeitas a variações, por
germinação do embrião sexuado. Além do mais, o
inicio da produção é sempre retardado e as plantas
tendem a atingir dimensões maiores do que as
enxertadas.
4.1.3. Escolha das matrizes
Para a produção de mudas de alto padrão,
verifica-se que há necessidade de plantas
fornecedoras de material básico para propagação.
Além de tudo isso, para que se tenha um material
genético de qualidade e isento de pragas e doenças,
alguns tratos culturais são imprescindíveis. Esses
tratos culturais, para facilitar o entendimento e a
redação, podem ser resumidos em um conjunto de
operações básicas para manutenção e qualidade do
material de propagação.
O condicionamento pode promover ou
facilitar a propagação, porém, muitas vezes requer
que se associe o uso de substâncias químicas
reguladoras de crescimento.
Plantas matrizes são aquelas também
denominadas 'plantas elites', por possuírem qualidade
genética e fitossanitária superior e comprovada. Essas
matrizes são obtidas por seleção e utilizadas para
diferentes finalidades, como o fornecimento do
material básico para propagação vegetativa e as
sementes, particularmente para porta-enxertos.
Matriz fornecedora de sementes
Nesse caso particular, as plantas são
selecionadas, visando particularmente as seguintes
características: produtividade, sanidade, frutos com
grande número de sementes viáveis, porte baixo,
grande longevidade, resistência à pragas e doenças,
sistema radicular abundante, resistência à seca, além
de outras.
Uma das principais utilização das sementes é
para a obtenção de porta-enxertos.
Deve-se selecionar a árvore para a colheita de
sementes.
As árvores escolhidas são denominadas
matrizes e devem apresentar os seguintes requisitos:
• vigor;
• sanidade;
• regularidade de produção;
• qualidade dos frutos;
• idade.
O vigor de uma planta é característica
importante, por se encontrar relacionada à sanidade e
à produtividade. A regularidade de produção constitui
importante característica de valor econômico. Há
árvores que apresentam produção alternada e outras,
produção constante. Sendo possível, é preferível
escolher a segunda para a propagação, por
possibilitar maior estabilidade ao fruticultor.
As árvores devem também ser selecionadas
pelas qualidades dos frutos. Há variedades que,
quando multiplicadas por sementes, apresentam
frutos com diferentes sabores, uns mais doces, outros
mais ácidos. O teor vitamínico, a forma dos frutos,
bem como a coloração, variam de árvore para árvore.
A idade da planta para retirada de frutos
apresenta valor até certo ponto relativo. Sabe-se que
plantas novas, bem como as velhas ou em
decrepitude, apresentam sementes com menor poder
germinativo. Nas primeiras, as reservas são
destinadas à constituição da copa, e nas velhas, em
virtude de estarem em decadência, apresentam-se
subnutridas.
Devem-se preferir sempre árvores de idade
média, isto é, as já formadas e antes de mostrarem
sinais de decrepitude.
4.1.4. Escolha dos frutos
A escolha dos frutos para a retirada de
sementes deve ser feita levando-se em consideração
os seguintes aspectos:
• conformação;
• tipo-padrão;
• sanidade;
• maturação.
Escolhidas as plantas matrizes, passa-se à
escolha dos frutos que apresentam as características
desejadas. De preferência, eles devem ser colhidos na
periferia da copa, evitando os pouco expostos à luz.
Quanto à maturação, deve-se atentar para que o fruto
tenha atingido a sua maturação flsiológica. Muitas
vezes, ele encontra-se morfologicamente maduro,
porém essa maturação não coincide com a
flsiológica; outras vezes, a maturação flsiológica
antecede a morfológica, como ocorre com
mangueiras, citros e mirtáceas.
A observação do estágio de maturação é de
importância na conservação do poder germinativo
das sementes.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 42
4.1.5. Escolha das sementes
Sendo as sementes o material básico na
propagação, devem-se selecioná-las com critério,
levando-se em consideração: tamanho, sanidade,
poder germinativo e tamanho normal (volume e
peso), de acordo com a variedade ou espécie a que
pertencem. As sementes maiores possuem sempre
maiores quantidades de reservas e, portanto, dão
origem a árvores mais vigorosas.
Com relação à sanidade, sabe-se que todas as
sementes que apresentam aspecto distinto do normal
devem ser eliminadas.
O poder germinativo das sementes e sua
longevidade devem ser conhecidos para maior
garantia. Há espécies cujo poder germinativo dura
somente algumas semanas e outras, vários anos.
As sementes provenientes de plantas que
mostram grandes variações no seu desenvolvimento
comunicam aos enxertos alterações semelhantes,
razão pela qual se deve ter coleção de plantas
matrizes para a retirada de sementes.
4.1.6. Fatores que afetam a germinação das
sementes
A germinação abrange todo o processo que vai
desde a ativação dos processos metabólicos da
semente até a emergência da radícula e da plúmula. O
percentual de germinação depende de fatores internos
e externos. Como fatores internos, podem ser citados
o estado de dormência, a qualidade da semente e o
potencial de germinação da espécie. Os fatores
externos mais importantes são água, temperatura,
gases e luz.
- Fatores internos
Dormência
A dormência representa uma condição em que
o conteúdo de água nos tecidos é pequeno e o
metabolismo das células é praticamente nulo,
permitindo que a semente seja mantida sem germinar
durante um período relativamente longo.
Segundo HARTMANN & KESTER (1990), a
dormência pode ser classificada em:
Dormência devida aos envoltórios da semente:
Dormência física - a testa ou partes
endurecidas dos envoltórios da semente são
impermeáveis à água, mantendo-a dormente
(quiescente) devido ao seu baixo conteúdo de
umidade.
Dormência mecânica - os envoltórios
impõem urna resistência mecânica à expansão do
embrião. Em geral, a dormência mecânica está
associada com outras causas de dormência, como a
física.
Dormência química - substâncias inibidoras
da germinação, tais como fenóis, cumarinas e ácido
abscísico, estão associadas ao fruto ou aos
envoltórios da semente.
Dormência Morfológica:
Embrião rudimentar - quando o embrião é
pouco mais do que um pró-embrião envolvido por
um endosperma.
Embrião não-desenvolvido - quando, na
maturação do fruto, o embrião encontra-se
parcialmente desenvolvido. Um crescimento
posterior do embrião se dará após a maturação e
senescência do fruto.
Dormência Interna:
Dormência fisiológica - comum na maioria
das plantas herbáceas. Ocorre devido a mecanismos
internos de inibição e tende a desaparecer com o
armazenamento a seco. Existem dois casos especiais
de dormência fisiológica:
a) - dormência térmica - a germinação é
inibida em temperaturas superiores a um limite,
variável conforme a espécie;
b) fotodormência - ocorre em espécies cujas
sementes necessitam de escuro para germinarem. Na
presença de luz, não há germinação.
Dormência interna intermediária - é
característica de coníferas e é induzida pela presença
dos envoltórios ou tecidos de armazenamento da
semente.
Dormência do embrião - ocorre quando o
embrião é incapaz de germinar normalmente, mesmo
que separado da semente.
Dormência do epicótilo - ocorre quando a
exigência do epicótilo, para germinação, é
diferenciada da do embrião.
Qualidade da semente
A qualidade da semente pode ser expressa por
dois parâmetros: viabilidade e vigor. A viabilidade é
expressa pelo percentual de germinação, o qual
indica o número de plantas produzidas por um dado
número de sementes. O vigor é definido como sendo
a soma de todos os atributos da semente que
favorecem o estabelecimento rápido e uniforme de
uma população no campo.
Uma semente em senescência se caracteriza
por apresentar urna diminuição gradual do vigor e
subseqüente perda da viabilidade.
Potencial de germinação da espécie
As sementes da maioria das plantas perenes
apresentam dificuldade de germinação, requerendo a
utilização de métodos de superação da dormência. Na
maioria das vezes, a diferença de potencial de
germinação entre espécies e cultivares é devida à
interação entre os diversos fatores que podem afetar a
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 43
viabilidade da semente. Não somente a germinação é
influenciada pelo fator genético, como também o
vigor e a longevidade.
- Fatores externos
Água
A água é necessária para ativação do
metabolismo da semente no momento da germinação.
O teor de água mínimo para germinação depende da
espécie, variando entre 40 e 60% de água, com base
no peso da semente.
Temperatura
É o fator mais importante para a germinação,
pois exerce influência nas reações metabólicas,
afetando também o crescimento das plântulas.
Conforme a espécie, as temperaturas mínimas, ótimas
e máximas são bastante variáveis, sendo que a
temperatura ótima, para a maioria das sementes que
não se encontram em repouso, varia de 25 a 30ºC.
Temperaturas alternadas são geralmente mais
favoráveis do que temperaturas constantes.
Gases
O oxigênio, em geral, favorece a germinação,
por ativar o processo da respiração. Já o CO2, em
concentrações elevadas, pode impedir ou dificultar o
desencadeamento deste processo.
Luz
O efeito da luz sobre a germinação das
sementes é variável de espécie para espécie, ainda
que a luz sempre favoreça o crescimento das
plântulas. A germinação das sementes da grande
maioria das plantas cultivadas não é afetada pela luz,
porém sementes de muitas plantas daninhas
apresentam exigências de luz variáveis, sendo
algumas favorecidas e outras inibidas pela luz. A
presença ou ausência de luz só é efetiva após a
embebição da semente e atua na remoção de um
bloqueio no metabolismo do embrião.
4.1.7. Escolha dos frutos
Da mesma forma que para a escolha das
plantas matrizes, a escolha dos frutos deve obedecer a
alguns critérios, como sanidade e maturação. Como
regra geral, os frutos atacados por doenças, pragas,
ou caídos no chão, devem ser descartados, como
forma de evitar uma possível contaminação das
sementes. Os frutos também devem ter atingido a
maturação fisiológica, de maneira que as sementes
encontrem-se completamente desenvolvidas.
4.1.8. Extração das sementes
As sementes, no momento da colheita, estão
envolvidas pelos frutos, os quais, de acordo com suas
características, são divididos em dois grandes grupos:
secos e carnosos. Os frutos secos liberam as sementes
por deiscência ou por decomposição das paredes.
Este tipo de fruto não tem grande expressão na
fruticultura, pois a maioria dos frutos de importância
econômica são carnosos. Quando um fruto carnoso é
formado por um ou mais carpelos, contendo uma ou
mais sementes, como é o caso da uva, maçã, pêra,
citros, caqui, entre outros, é genericamente chamado
de baga. Quando o fruto é formado por um único
carpelo que contém no seu interior uma só semente,
como pêssego e ameixa, é chamado de drupa.
Para extração das sementes de frutos carnosos,
estes devem estar maduros, a fim de facilitar a
separação da polpa e da semente. Deve-se tomar o
cuidado para não deixar restos de polpa aderidos à
semente, os quais, pela sua decomposição e
fermentação, podem provocar sérios danos ao poder
germinativo. Caroços com polpa aderida e mantidos
amontoados podem ter sua temperatura aumentada,
em virtude da fermentação, a ponto de prejudicar a
viabilidade do embrião, reduzindo o poder
germinativo e vigor da plântula.
4.1.9. Conservação das sementes
A finalidade da conservação das sementes é
manter a sua viabilidade pelo maior tempo possível,
de modo a permitir a semeadura na época mais
adequada, bem como garantir a manutenção do
germoplasma na forma de semente.
A viabilidade após o armazenamento é
resultante dos seguintes fatores:
a) viabilidade inicial na colheita, determinada
por fatores de produção e métodos de manejo. No
caso de sementes que não requerem quebra de
dormência, o armazenamento pode, no máximo,
manter a qualidade das mesmas;
b) taxa de deterioração das sementes, também
denominada de taxa de trocas flsiológicas ou
envelhecimento. Esta é determinada pelo potencial
genético de conservação da espécie e pelas condições
de armazenamento, principalmente temperatura e
umidade.
A durabilidade da semente é bastante variável
com a espécie. Podem ser encontradas desde espécies
cujas sementes perdem rapidamente o seu poder
germinativo em condições naturais, como outras que
mantêm o poder germinativo por longos períodos. As
sementes de citros armazenadas em condições
normais perdem rapidamente o seu poder
germinativo devido à dessecação dos tecidos.
Sementes com embriões dormentes, como macieira,
pereira e videira, possuem maior capacidade de
conservação, mesmo em ambiente normal. É
conveniente lembrar que, quanto maior for o período
de armazenamento da semente, maior será o consumo
das substâncias de reserva, resultando assim numa
redução do vigor do embrião.
As características das sementes podem
determinar seu potencial de conservação. Sementes
amiláceas apresentam, em geral, maior longevidade
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 44
do que sementes oleaginosas. Além disso, sementes
com embriões dormentes e envoltório impermeável
apresentam maior tempo de conservação.
No que se refere a condições ambientais, a
relação umidade/temperatura é muito importante na
redução da taxa de respiração. Para a maioria das
espécies, ambientes com baixo teor de umidade,
acompanhados de baixas temperaturas, oferecem
condições adequadas para prolongar a conservação
das sementes. Além disso, a modificação da
atmosfera de armazenamento, especialmente na
redução do teor de oxigênio, mostra-se favorável à
manutenção do poder germinativo da semente.
No que se refere à umidade da semente, acima
de 8 a 9% de umidade, insetos podem entrar em
atividade; acima de 12 a 14%, fungos podem tornar-
se ativos; acima de 18 a 20%, pode ocorrer
aquecimento devido à fermentação; e acima de 40 a
60%, ocorre germinação. Caso a semente seja
tolerante à dessecação, é importante que ela seja
mantida com baixo teor de umidade.
As baixas temperaturas prolongam a vida das
sementes, sendo que, em temperaturas de 0 a 450C,
cada diminuição de 50C duplica a vida de
armazenamento destas.
- Meios de conservação
Há inúmeros processos para manter a
viabilidade do poder germinativo. Dentre eles,
destacam-se os seguintes:
conservação em sacos de polietileno;
estratificação;
câmaras frigoríficas; cloreto de cálcio;
vácuo.
4.1.10. Superação da dormência
O tratamento para superação da dormência
varia com o tipo de dormência que a semente
apresenta.
Aumento da permeabilidade dos envoltórios
É utilizado quando a causa da dormência é a
impermeabilidade do tegumento da semente. A
escarificação é o método que objetiva tornar os
envoltórios da semente mais permeáveis à entrada de
água e a trocas gasosas, bem como facilitar a
emergência da radícula e/ou da plúmula, podendo ser
realizada por métodos físicos, químicos ou
mecânicos.
Método físico - consiste na imersão da
semente em água quente, entre 65 e 850C, durante 5 a
10 minutos. A temperatura elevada diminui a
resistência dos envoltórios e facilita a germinação.
Método químico - consiste no tratamento das
sementes com hidróxido de sódio ou de potássio,
formol e ácido clorídrico ou sulfúrico, em geral por
um tempo entre 10 minutos até 6 horas, conforme a
espécie. Dessa forma, os tegumentos são desgastados
e a germinação é facilitada. E importante que sejam
eliminados todos os resíduos de ácido que, aderidos à
semente, podem prejudicar a germinação, o que pode
ser feito através de lavagem em água corrente.
Método mecânico - pode ser realizado com
uso de uma superfície abrasiva, agitação em areia ou
pedra ou por quebra dos envoltórios. Deve-se ter
cuidado para que o embrião não seja danificado. As
sementes escarificadas tornam-se mais sensíveis ao
ataque de patógenos.
Maturação do embrião
Destina-se à superar a dormência da semente
através do amadurecimento do embrião ou do
estabelecimento de um balanço hormonal favorável à
germinação. Isso é obtido pelo armazenamento das
sementes em ambiente úmido e frio por um
determinado período (estratificação).
De um modo geral, o meio adequado para a
estratificação é aquele que retém um adequado teor
de umidade e não contém substâncias tóxicas. Como
exemplos, podem-se citar o solo, areia lavada,
musgo, vermiculita e serragem ou a mistura destes.
Camadas de sementes são intercaladas com camadas
de substrato à temperatura ambiente ou em câmaras
refrigeradas, com temperaturas entre O e 100C.
O período de armazenamento varia conforme a
espécie, sendo que, para a maioria, está
compreendido entre 1 e 4 meses. Durante a
estratificação, deve-se ter cuidado com o teor de
umidade do substrato e com a eventual germinação
das sementes antes que o período previsto para a
estratificação das sementes esteja terminado.
Em variedades precoces, nas quais em geral o
embrião não esta completamente desenvolvido
quando da maturação do fruto, muitas vezes é
necessário cultivar o embrião em meio de cultura
adequado, permitindo que seja completado o seu
desenvolvimento. Este processo é utilizado em
cultivares precoces de pessegueiro que se destinam
ao melhoramento genético.
4.1.11. Manejo das sementeiras
Antes da semeadura em viveiro, é importante
que se adote um tratamento das sementes com
fungicida ou hipoclorito de sódio. Dessa forma, é
possível minimizar a ocorrência de doenças que
possam vir a prejudicar as plântulas.
A sementeira deve estar localizada fora da área
de produção e, de preferência, em terreno bem
drenado, com pequena declividade, plena exposição à
luz e boa disponibilidade de água para irrigação. A
má drenagem favorece a ocorrência de uma doença
denominada “damping-off’. E recomendável o uso de
áreas submetidas a uma prévia rotação de culturas,
como forma de reduzir o potencial de inóculo de
doenças. Não é aconselhável o uso de uma mesma
área como sementeira por mais de 2 anos.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 45
O tratamento do solo é útil para reduzir a
incidência de patógenos nas futuras plantas,
especialmente considerando a sensibilidade das
mesmas no estágio de plântula. Este pode ser
realizado com uso de fumigantes, fungicidas,
solarização ou calor (1050C por 30 minutos). Apesar
de suas vantagens, a esterilização completa interfere
na biologia do solo e na disponibilidade de nutrientes.
A semeadura pode ser realizada a lanço ou em
linha. A semeadura a lanço exige menor mão-de-obra
inicial, mas cria dificuldades para realização dos
tratos culturais, tais como controle de plantas
invasoras. Por essa razão, a semeadura em linha é a
mais utilizada. A quantidade de sementes a ser
utilizada deve ser de 3 a 4 vezes o número desejado
de plantas, de modo a permitir uma seleção rigorosa;
porém, deve-se evitar uma densidade muito elevada
de plântulas, para que não ocorra redução do tamanho
e do vigor, conduzindo à obtenção de plantas com
sistema radicular pouco desenvolvido.
A cobertura das sementes pode ser realizada
com solo ou areia e a cobertura do canteiro pode ser
realizada com uma fina camada de palha. O objetivo
da cobertura com palha é impedir o crescimento de
plantas invasoras, bem como conservar a umidade do
solo. A palha deverá ser removida pouco tempo antes
da emergência das plântulas.
Cuidados especiais devem ser dispensados no
que se refere à irrigação, considerando a exigência de
água para o processo da germinação e a sensibilidade
das plântulas à falta de umidade do solo. A irrigação
deve ser feita por aspersão, com uso de regadores ou
de um sistema de irrigação, no caso de sementeiras
de maior porte. O controle da umidade pode ser feito
por avaliação visual ou com uso de tensiômetros.
O controle de plantas invasoras pode ser
realizado através de métodos químicos ou mecânicos.
A distância entre as linhas deve possibilitar a
utilização de implementos agrícolas e o uso de
herbicidas pode ser realizado em pré ou pós-
emergência. A definição da forma de controle das
plantas invasoras deve considerar a viabilidade
econômica de cada método, bem como a
sensibilidade das plantas aos herbicidas.
De acordo com a espécie e o tempo de
permanência na sementeira, pode ser aconselhável a
realização de adubação, tanto de correção, quanto de
cobertura. É importante que o pH seja corrigido,
conforme a exigência da espécie, com uso de
calcário. A adubação nitrogenada, se necessária, deve
ser realizada com cautela, pois aplicações em excesso
podem criar um desequilíbrio nutricional, que resulta
em excesso de crescimento e elevada suscetibilidade
a pragas e doenças. Por outro lado, elevadas
concentrações de sais produzidos por um excesso de
fertilizantes inibem a germinação.
Dada a sensibilidade das plântulas e a elevada
densidade na sementeira, é necessário que se adotem
medidas eficientes de monitoramento e controle de
pragas e doenças. Os principais fungos causadores de
doenças de sementeiras são pertencentes aos gêneros
Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora, agentes
causadores do “dampingoff’, que afeta a germinação
e a sobrevivência das plantas jovens.
A partir da sementeira, assim que as mudas
atinjam um crescimento satisfatório, estas são
submetidas a uma seleção por tamanho, visando
obter-se um padrão adequado das plantas destinadas
ao viveiro, quando estarão colocadas em maiores
espaçamentos. As plantas no viveiro poderão ser
utilizadas como porta-enxertos ou como mudas
destinadas à formação de pomares. No caso de
mudas, é necessário realizar uma seleção de plantas
próximas a um padrão característico da planta-mãe.
4.2. Propagação assexuada
4.2.1 Conceito
A propagação assexuada, vegetativa ou
agâmica é o processo de multiplicação que ocorre
através de mecanismos de divisão e diferenciação
celular, por meio da regeneração de partes da planta-
mãe.
Baseia-se nos seguintes princípios:
Totipotência: é a informação genética que
cada célula possui para reconstrução de uma planta e
de suas funções, assim, as células da planta contêm
toda a informação genética necessária para a
perpetuação da espécie.
Diferenciação: é a capacidade de células
maduras retornarem a condições meristemáticas e
desenvolverem um novo ponto de crescimento,
portanto, são células somáticas e, por conseqüência,
os tecidos, apresentam a capacidade de regeneração
de órgãos adventícios,
A propagação vegetativa consiste no uso de
órgãos da planta, sejam eles estacas da parte aérea ou
da raiz, gemas ou outras estruturas especializadas, ou
ainda meristemas, ápices caulinares, calos e
embriões. Desse modo, um vegetal é regenerado a
partir de células somáticas sem alterar o genótipo,
devido à multiplicação mitótica.
O uso deste modo de propagação permite a
formação de um clone, grupo de plantas provenientes
de uma matriz em comum, ou seja, com carga
genética uniforme e com idênticas necessidades
climáticas, edáficas, nutricionais e de manejo.
4.2.2. Importância e utilização
Enquanto em fruticultura a propagação
sexuada tem importância restrita, a propagação
assexuada é largamente utilizada na produção de
mudas. Isso se deve à necessidade de se garantir a
manutenção das características varietais, as quais
determinam o valor agronômico do material a ser
propagado, em espécies de elevada heterozigose,
como as frutíferas.
A utilização da propagação assexuada diz
respeito à multiplicação tanto de porta-enxertos
quanto da cultivar-copa. A importância e a
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 46
viabilidade da utilização da propagação assexuada
são uma função da espécie ou da cultivar, da
capacidade de regeneração de tecidos (raízes ou parte
aérea), do número de plantas produzidas, do custo de
cada processo e da qualidade da muda formada.
De modo geral, o uso da propagação
assexuada justifica-se nos seguintes casos:
a) propagação de espécies e cultivares que não
produzem sementes viáveis, como, por exemplo,
limão Tahiti, laranja de umbigo e figueira;
b) perpetuação de clones, pois as frutíferas são
altamente heterozigotas e perderiam suas
características com a propagação sexuada.
A escolha do método a ser utilizado depende
da espécie e do objetivo do propagador. Basicamente,
um bom método de propagação deve ser de baixo
custo, fácil execução e deve proporcionar um elevado
percentual de mudas obtidas.
4.2.3. Vantagens e desvantagens
Dada a sua larga utilização na multiplicação
de plantas frutíferas, a propagação assexuada
apresenta diversas vantagens, que a toma, muitas
vezes, mais viável que a propagação sexuada.
São vantagens da propagação assexuada:
a) permite a manutenção do valor agronômico
de uma cultivar ou clone, pela perpetuação de seus
caracteres;
b) possibilita que se reduza a fase juvenil, uma
vez que a propagação vegetativa mantém a
capacidade de floração pré-existente na planta-mãe.
Desse modo, há redução do período improdutivo;
e) permite a obtenção de áreas de produção
uniformes devido à ausência de segregação genética.
Assim, plantas obtidas por propagação assexuada
apresentam uma maior uniformidade fenológica, bem
como uma resposta idêntica aos fatores ambientais, o
que permite uma definição mais fácil das práticas de
manejo a serem executadas no futuro pomar;
d) permite a combinação de clones,
especialmente quando utilizada a enxertia.
Como desvantagens da propagação assexuada,
podem ser apontadas:
a) possibilita a transmissão de doenças,
especialmente as cansadas por vírus e bactérias. O
material utilizado na propagação vegetativa (estacas,
ramos, gemas), constitui-se de tecido somático, o
qual pode ser infectado por estes patógenos através
de vetores ou pelo uso de ferramentas. O uso
prolongado das mesmas plantas matrizes aumenta o
risco de propagação de doenças. Os patógenos
associados à propagação vegetativa incluem fungos
(Phytophthora spp., Pythium spp., Rhizoctonia spp.),
bactérias (Erwinia spp., Pseudomonas spp. e
Agrobacterium tumefasciens), vírus, rnicoplasmas e
organismos tipo Ricketsia;
b) ainda que a manutenção dos caracteres seja
citada como uma vantagem, pode ocorrer, ao longo
do tempo, uma mutação das gemas, podendo ser
gerado um clone diferenciado e de menor qualidade
que a planta matriz. Entre plantas de um clone podem
ocorrer mudanças que resultam em degenerescência e
variabilidade dos mesmos. A exposição a um
ambiente continuamente desfavorável pode conduzir
à deterioração progressiva do clone, manifestada em
perda gradual do vigor e da produtividade, ainda que
o genótipo básico não se altere. A degenerescência do
clone é causada principalmente por doenças de
natureza virótica. O uso inadvertido das mesmas
matrizes, sem que uma prévia indexagem tenha sido
realizada, aumenta o risco de propagação de doenças
e de degenerescência do clone. Além disso, a
replicação do DNA (ácido desoxirribonucleico)
durante a divisão celular no meristema pode resultar
em alterações no genótipo e originar mutações. O
efeito da mutação na variabilidade de um clone
depende da taxa de mutação e da extensão que as
células oriundas da célula mutante original ocupam
dentro do meristema. Entretanto, como as células do
meristema são relativamente estáveis e menos
sujeitas a mutações, a significância das mutações em
boas condições fitossanitárias é reduzida;
e) a ausência de variabilidade gerada no clone
pode levar a problemas na futura área de produção,
aumentando o risco de danos em todas as plantas por
problemas climáticos ou fitossanitários, uma vez que
foram fixadas todas as características varietais e todas
as plantas têm a mesma combinação genética.
As principais vantagens e desvantagens da
propagação assexuada são resumidas na Tabela 4.2.
Tabela 4.2. Principais vantagens e desvantagens da
propagação assexuada em plantas frutíferas.
VANTAGENS DESVANTAGENS
* perpetuação de caracteres
agronômicos
* transmissão de doenças
* redução da fase juvenil * risco de mutação das
gemas
* obtenção de plantas
uniformes
* risco de danos
generalizados na área de
produção
* combinação de clones na
enxertia
Fonte: Adaptado de Fachinello et al., 1995.
4.2.4 Matriz fornecedora de material para
propagação vegetativa
Essas plantas devem ser preferencialmente
produtivas, características da espécie ou variedade,
frutos de ótimas qualidades organolépticas,
resistentes a pragas e doenças, isentas de viroses
precoces, com grande capacidade de regeneração e
produtoras de grandes quantidades de brotos
vigorosos, entre outras características.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 47
4.2.5 Ação da copa sobre o porta-enxerto
O enxerto age sobre o cavalo de vários modos,
porém as alterações sofridas pelo cavalo nem sempre
podem ser bem apreciadas, pelo fato de ele se situar
abaixo do solo. A influência se estende ao sistema
radicular, alterando o desenvolvimento, a penetração
e a distribuição no terreno.
4.2.6 Ação do porta-enxerto sobre a copa
Na fruticultura moderna, com algumas raras
exceções, quase todas as árvores frutíferas cultivadas
são formadas por uma associação de duas espécies ou
variedades diferentes, uma chamada porta-enxerto e a
outra, enxerto ou copa.
Ambas as partes devem apresentar perfeita
harmonia e, portanto, evitar, tanto quanto possível,
alterações no comportamento biológico, fisiológico e
nas adaptações às condições ecológicas.
Entretanto, como o enxerto atua sobre o
cavalo, alterando o seu comportamento, o inverso
também se dá, isto é, o porta-enxerto age sobre o
enxerto, e as alterações são mais visíveis, pelo fato de
a copa se encontrar ao alcance do observador.
Conhecida, portanto, a influência do cavalo
sobre o enxerto, devese, ao se associar dois
indivíduos, procurar escolher aqueles que melhor se
interligam em cada situação. A localidade, por várias
razões, pode alterar o comportamento das plantas,
obrigando a um estudo do assunto.
O cavalo atua sobre o enxerto, alterando o
comportamento em relação ao seu desenvolvimento,
produtividade, época de maturação, qualidade,
resistência a baixas temperaturas, a doenças fúngicas
e viróticas e à nutrição.
Desenvolvimento
Em geral, a copa da árvore enxertada tende a
atingir um tamanho igual àquele que o cavalo teria se
não fosse enxertado. Há, porém, exceções, como
ocorre em citros. A laranja-azeda normalmente
comunica a toda a copa grande desenvolvimento,
porém, quando enxertada com a variedade Satsuma,
esta tem o seu porte diminuído.
A ação do porta-enxerto sobre o enxerto pode
ser apreciada em diferentes espécies. Assim, em
citricultura, a laranja-doce adquire maior
desenvolvimento quando enxertada sobre laranja-
azeda do que sobre laranja caipira ou limão-cravo e
torna-se ainda mais reduzida quando o cavalo é de
Poncirus trifoliata.
O desenvolvimento da copa alterado,
influência obrigatoriamente o fruticultor a tomar
medidas em cada caso, principalmente no que se
refere ao espaçamento. Assim, a distância entre
plantas num pomar está condicionada, além de à
fertilidade do solo, ao porta-enxerto e à variedade
empregada.
Produtividade
O porta-enxerto interfere na produção,
aumentando-a ou reduzindo-a. A produtividade de
uma árvore está intimamente relacionada à presença
de carboidratos, que são responsáveis pela formação
das gemas floríferas.
Porta-enxerto vigoroso às vezes predispõe a
planta a um desenvolvimento excessivamente
vegetativo, em detrimento da frutificação. Um de
menor porte tende a reduzir o volume da copa, porém
propicia condições para o suprimento adequado de
carboidratos e, portanto, predispõe a planta ao
florescimento.
Em citros, a produtividade está em grande
parte relacionada ao porta-enxerto. Assim, laranja-
azeda leva a planta a maior produtividade que laranja
caipira, e esta, por sua vez, supera o limão-cravo, que
suplanta o poncirus.
Com relação à precocidade da produção, isto
é, o tempo necessário para a planta entrar em
produção, observa-se um efeito pronunciado do
porta-enxerto. Em citros, o porta-enxerto que induz maior
precocidade é o do limão-cravo, seguido do de
caipira e laranja-azeda. E o que mais retarda a
produção é a tangerina cleópatra.
Maturação
A época de maturação dos frutos, e a sua
permanência na árvore, parece estar, em grande parte,
condicionada ao porta-enxerto.
Os porta-enxertos que comunicam à copa
maior vigor vegetativo tendem a atrasar a maturação
dos frutos. Em citros, o porta-enxerto de poncirus
antecipa a maturação dos frutos em relação aos
cavalos de caipira e azeda.
A permanência dos frutos na árvore está em
grande parte relacionada ao porta-enxerto. A laranja-
azeda induz a copa a manter os seus frutos maduros
por mais tempo do que outros porta-enxertos. Já o
limão rugoso retém apenas por pouco tempo os frutos
que já atingiram a maturação.
Comportamento com relação às doenças
A vegetação, a composição dos tecidos e a
maturação do lenho estão mais associadas ao hábito
de vegetação do porta-enxerto e à afinidade existente
entre eles.
O cavalo pode predispor as copas a maior
incidência de doenças causadas tanto por fungos
como por vírus, bem como pode comunicar maior
resistência à copa.
Não se conhece, até o momento, maior
resistência da copa a doenças causadas por fungos,
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 48
por ação direta do porta-enxerto. Se alguma
influência existe, ela é de ação indireta, ligada à
melhor distribuição dos ramos.
As doenças causada por vírus podem estar
relacionadas à maior ou menor suscetibilidade do
porta-enxerto ou enxerto. Elas podem ser
transmitidas pelas borbulhas ou se devem à maior
sensibilidade da variedade.
A doença chamada tristeza ocorre quando se
enxerta laranja-doce sobre laranja-azeda. A
xiloporose ocorre na combinação laranja-barão sobre
lima-da-pércia.
Alterando-se a combinação enxerto e porta-
enxerto, a doença deixa de prejudicar o
desenvolvimento, por serem ambos tolerantes à
exocortis, que surge quando se enxerta laranja-doce
sobre cravo ou poncirus e desaparece quando se
substitui pelo porta-enxerto de laranja caipira.
Atualmente, a morte súbta dos citros ocorreu
em laranja doce enxertadas em determinados porta-
enxerto, assim, as variedades Valência, Pêra, Hamlin,
Natal, Westin e Pineapple apresentam se altamente
susceptíveis à MSC quando enxertadas sobre o limão
Cravo, e a variedade natal mantém susceptível sobre
o porta enxerto limão Volkamericano.
Indução de deficiência nutricional
Muitas deficiências que surgem nas copas das
plantas enxertadas têm como causa a barreira
levantada na região do enxerto. Essa barreira impede
ou dificulta a translocação ou movimento de
elementos nutritivos.
Quando a planta é enxertada, há em alguns
casos um estrangulamento na região da enxertia. Esta
funciona algumas vezes como crivo, podendo
facilitar ou dificultar a translocação de certos
elementos e exercer uma ação seletiva, levando a
planta a exibir sintomas de deficiência.
Analisando situação da combinação limão
sobre laranja-azeda ou pomelo, verificaram que os
cavalos apresentavam teor mais baixo de magnésio,
quando comparado com esses porta-enxertos não-
enxertados. Quando se enxertaram laranja-doce e
pomelo em cavalo de laranja caipira, encontrou-se
maior teor de magnésio solúvel no cavalo.
Assim, a deficiência de uma planta não está
ligada somente à maior ou menor disponibilidade dos
elementos no solo, mas também à afinidade que
determinados porta-enxertos possuem em absorver e
translocar esses elementos.
4.3. Métodos de propagação vegetativa
Dentre os processos de propagação agâmica,
os principais são: estaquia, mergulhia e enxertia.
4.3.1. Estaquia
Estaquia é o termo utilizado para o processo de
propagação no qual ocorre a indução do
enraizamento adventício em segmentos destacados da
planta-mãe, que, uma vez submetidos a condições
favoráveis, origina uma muda. A estaquia baseia-se
no princípio de que é possível regenerar uma planta a
partir de uma porção de raízes (regeneração de
ramos). Desse modo, a partir de um segmento, é
possível formar-se uma nova planta.
Entende-se por estaca qualquer segmento da
planta-mãe, com pelo menos uma gema vegetativa,
capaz de originar uma nova planta podendo haver
estacas de ramos, de raízes e de folhas.
Utilização
A estaquia é, sem dúvida, um dos principais
métodos utilizados na multiplicação de plantas
frutíferas. Inúmeras espécies de interesse comercial
podem ser propagadas por este método, destacando-
se a produção direta de mudas de figueira e a
propagação de porta-enxertos de videira.
Em espécies que são comumente propagadas
por outros métodos (sementes, mergulhia, enxertia), a
estaquia pode ser uma alternativa viável para a
produção de mudas. A viabilidade do uso da estaquia
na propagação comercial é função da facilidade de
enraizamento de cada espécie e/ou cultivar, da
qualidade do sistema radicular formado e do
desenvolvimento posterior da planta na área de
produção. Muitas espécies de folhas caducas, como é
o caso do pessegueiro e da ameixeira, não são
propagadas comercialmente através de estacas.
Porém, se utilizadas técnicas como a nebulização
intermitente, a aplicação de reguladores de
crescimento, o anelamento, o estiolamento, a dobra
dos ramos, entre outras, os resultados poderão ser
satisfatórios e viáveis na maioria das espécies
frutíferas.
De modo geral, as aplicações da estaquia são:
a) multiplicação de variedades ou espécies que
possuem aptidão para emitir raízes adventícias;
b) produção de porta-enxertos clonais;
c) perpetuação de novas variedades oriundas
de processos de melhoramento genético.
Vantagens e desvantagens
Como vantagens da estaquia podem ser
apontadas:
a) permite que se obtenha muitas plantas a partir de
uma única planta matriz em curto espaço de tempo;
b) é uma técnica de baixo custo e de fácil execução;
c) não apresenta problemas de incompatibilidade
entre enxerto e o porta-enxerto;
d) plantas produzidas com porta-enxertos originados
de estacas apresentam maior uniformidade do que
plantas enxertadas sobre mudas oriundas de
sementes.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 49
Tipos de estacas
A estaca pode ser obtida de órgãos aéreos ou
subterrâneos.
Aéreas
herbáceas
folha
ramos ponteiros
lenhosas
simples
talão
Estacas cruzeta
tanchão
gema
enxerto
Subterrâneas raiz
Pode-se afirmar que a propagação por estacas
praticamente não apresenta inconvenientes.
Entretanto, nem sempre é viável se reproduzirem
plantas por estacas, especialmente quando a espécie
ou cultivar apresenta um baixo potencial genético de
enraizamento, resultando em pequena percentagem
de mudas obtidas. Por outro lado, mesmo que haja
formação de raízes, o seu desenvolvimento pode ser
insuficiente e o percentual de mudas que sobrevivem
após o plantio no viveiro pode ser muito baixo.
Nestes casos, ainda que seja possível se produzirem
estacas enraizadas, deve-se dar preferência a outros
métodos de propagação assexuada.
Herbáceas
As estacas herbáceas são obtidas de ramos
apicais. Sua retirada deve ser feita pela manhã,
quando ainda estão túrgidas e com níveis mais
elevados de ácido abscísico e de etileno, que são
elementos favoráveis ao enraizamento (Fig. 4.2).
Figura 4.2. Estaca herbácea. Parte terminal de um
ramo em desenvolvimento.
Lenhosas
São obtidas de ramos lenhosos ou lignificados,
com idade entre 8 e 15 meses. As estacas lenhosas
encontram maior campo de aplicação do que as
herbáceas e, quase sem exceção, constituem-se no
material básico de propagação de árvores frutíferas.
• Estaca simples
A estaca simples é obtida subdividindo-se o
ramo em pedaços de 20 a 30 cm de comprimento. O
diâmetro dessa estaca normalmente varia de 0,5 a 1,5
cm e cada uma deve possuir de quatro a seis gemas
(Fig. 4.3A).
Figura 4.3. Diferentes tipos de estacas: A) simples;
B) talão; C) cruzeta; D) gema; E) raiz. Esse tipo de material constitui-se num dos
mais efetivos, tanto pelo rendimento que oferece
como na prática da estaquia.
• Estaca-talão
Difere da anterior por trazer consigo parte do
lenho velho, que se denomina talão. É obtida
destacando-se um ramo no ponto de inserção com
outro de dois anos. E utilizada quando a espécie ou
variedade apresenta dificuldade de enraizamento.
O número de estacas, nesse tipo, é inferior ao
das simples, pois só podem ser obtidas quando os
ramos apresentam bifurcação (Fig. 4.3B).
• Estaca-cruzeta
Assemelha-se ao tipo anterior, porém, em vez
de ser retirada com um pedaço de lenho velho na
forma de pata de cavalo, é obtida secionando-se o
ramo de dois anos, de modo a permitir maior porção
de lenho. Apresenta o formato de uma cruz (Fig.
4.3C).
• Estaca-tanchão
É um tipo de estaca pouco comum, que
apresenta comprimento que varia entre 60 e 80 cm ou
mais e diâmetro de 4 a 20 cm. É utilizada na
multiplicação de jabuticabeira, no Brasil, e de
oliveira, nos países europeus. A presença de lenho
velho na lingüeta favorece o enraizamento, por
possuir raízes pré-formadas. O mesmo ocorre com as
estacas de talão.
• Estaca-gema
O material de propagação é representado por
uma única gema e é utilizado em casos muito
especiais. Seu uso se restringe à multiplicação de
A B C D E
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 50
material muito valioso ou quando não se dispõe de
material em quantidade suficiente (Fig. 4.3D).
• Estaca-enxerto
As estacas de difícil propagação podem ter o
seu enraizamento facilitado utilizando-as como garfo
e a estaca de mais fácil enraizamento, como cavalo.
Subterrâneas
• Estaca-raiz
É um tipo de estaca pouco utilizado. Tem
algumas aplicações em pessegueiro, goiabeira e
caquizeiro (Fig. 4.3E). A melhor estaca é retirada de
plantas com dois a três anos de idade. A época mais
favorável é o fim do inverno e o início da primavera,
quando as raízes estão bem providas de reservas. Ao
plantá-la, deve-se manter a polaridade correta.
A estaca-raiz produz primeiro uma haste
adventícia, sobre a qual ocorre o enraizamento.
A polaridade é inerente aos ramos e raízes. A
estaca forma o broto na posição distal e as raízes, na
proximal.
A estaca-garfo deve ter comprimento maior
que o da estaca-cavalo e a enxertia é feita em
laboratório (enxerto de mesa).
Na estaquia, enterra-se também parte do garfo.
O seu enraizamento pode ser facilitado pelo uso de
um estimulante de raiz na região de união de ambas
as estacas. O AIB é recomendado.
Após o enraizamento das duas estacas,
reduzem-se as raízes do cavalo para estimular as do
garfo.
Em citros, C. medica enraíza facilmente, ao
passo que o C. aurantium apresenta dificuldade, e
esse processo facilita a sua propagação vegetativa.
Princípios anatômicos do enraizamento
No momento em que uma estaca é preparada,
esta consiste de uma ou mais gemas (sistema aéreo
em potencial) e de uma porção de tecido
diferenciado, aéreo ou subterrâneo, sem sistema
radicular formado. As raízes formadas na estaca
serão, portanto, uma resposta ao traumatismo
produzido pelo corte.
Com o preparo da estaca, há uma lesão dos
tecidos, tanto de células do xilema quanto do floema.
Este traumatismo é seguido de cicatrização, que
consiste da formação de uma capa de suberina, que
reduz a desidratação na área danificada. Nesta região,
em geral, há a formação de uma massa de células
parenquimatosas que constituem um tecido pouco
diferenciado, desorganizado e em diferentes etapas de
lignificação, denominado calo. O calo é um tecido
cicatricial que pode surgir a partir do câmbio
vascular, do córtex ou da medula, cuja formação
representa o início do processo de regeneração. As
células que se tornam meristemáticas dividem-se e
originam primórdios radiculares. Após, células
adjacentes ao câmbio e ao floema iniciam a formação
de raízes adventícias. Pode-se dividir a formação de
raízes adventícias em duas fases. Uma primeira fase,
de iniciação, caracterizada pela divisão celular e
após, uma fase de diferenciação das células em um
primórdio radicular, que resulta no crescimento da
raiz adventícia. Estes processos, em geral, ocorrem
em seqüência.
Figura 4.4. Estruturas morfológicas do caule e
formação de primórdios radiculares (adaptado de
JANICK, 1966).
Durante a iniciação das raízes, quatro etapas
de modificações morfológicas podem ser citadas:
a) desdiferenciação de algumas células adultas;
b) formação de iniciais de raízes próximas aos
feixes vasculares;
c) formação de primórdios radiculares;
d) desenvolvimento dos primórdios e
emergência, através do córtex e epiderme da estaca,
das raízes adventícias, acompanhado da sua conexão
com o sistema vascular da estaca.
O local de emissão dos primórdios radiculares
é bastante variável conforme a espécie e o tipo de
estaca. Em estacas herbáceas, que não possuem um
cambio desenvolvido, os primórdios podem surgir
entre os feixes vasculares e para fora destes e as
raízes podem emergir em filas, acompanhando os
feixes vasculares. As raízes adventícias também
podem ser formadas a partir da epiderme e do
periciclo. Já em estacas lenhosas, os primórdios se
formam a partir do xilema secundário jovem, em
geral, em um ponto correspondente à entrada do raio
vascular. Também podem ser formados primórdios a
partir do câmbio, do floema, das lenticelas ou da
medula. À medida que o ramo se toma mais
lignificado, o local de formação das raízes parece se
deslocar em direção centrípeta, ou seja, em estacas
semilenhosas, originadas do floema, e em estacas
lenhosas, do câmbio. De modo geral, as raízes
adventícias se originam próximas ao cilindro
vascular.
Em algumas espécies, como Citrus medica,
Populus sp. e Ribes sp., há primórdios radiculares
pré-formados latentes no momento da coleta das
estacas, de modo que, uma vez colocadas em
condições favoráveis, formam raízes.
Muitas vezes é observada, na base da estaca,
como resultado de um traumatismo, a formação de
calo. Ainda que sejam fenômenos independentes, a
formação do calo e o aparecimento das raízes
adventícias são influenciados, na maioria dos casos,
pelos mesmos fatores e podem ocorrer
simultaneamente. Tem sido observado que, ao menos
para algumas espécies de difícil enraizamento, a
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 51
formação de raízes se dá sobre o calo, ainda que a
formação de calo não seja um prenúncio seguro da
formação de raízes adventícias. Não há uma relação
direta entre formação de calo e enraizamento. O calo
pode ser ainda uma barreira protetora ao ataque de
microrganismos. É possível que estacas com calo
respondam mais facilmente ao uso de promotores
exógenos de enraizamento do que estacas sem
formação de calo.
A localização das raízes adventícias é variável
e algumas espécies somente formam raízes na base
da estaca, outras em nós ao longo do caule, e outras
nos nós e entrenós.
A casca pode constituir-se em uma barreira à
emergência das raízes. Um anel de esclerênquima
contínuo altamente lignificado entre o berna e o
córtex pode ser uma das causas da dificuldade de enraizamento em determinadas espécies. Caso este
esclerênquima não seja rompido mecanicamente, as
raízes podem emergir na base da estaca.
Princípios fisiológicos do enraizamento
A capacidade de uma estaca emitir raízes é
função de fatores endógenos e das condições
ambientais proporcionadas ao enraizamento. O
manejo da estaquia, para proporcionar o desejado
sucesso na produção de mudas, requer o
conhecimento e a aplicação destes princípios. Além
disso, o estudo destes aspectos pode auxiliar a
caracterização de uma espécie como sendo de fácil
ou difícil enraizamento. Tem sido observado que a
formação de raízes adventícias deve-se à interação de
fatores existentes nos tecidos e à translocação de
substâncias localizadas nas folhas e gemas. Entre
estes fatores, os reguladores de crescimento são de
importância fundamental. Outros compostos, alguns
deles parcialmente conhecidos, também têm
influência indireta sobre o enraizamento.
Auxinas
As auxinas compõem o grupo de reguladores
de crescimento que apresenta o maior efeito na
formação de raízes em estacas. Possuem ação na
formação de raízes adventícias, na ativação das
células do câmbio e na promoção do crescimento das
plantas, além de influenciarem a inibição das gemas
laterais e a abscisão de folhas e frutos.
O AIA (ácido indol-3-acético) foi identificado
em 1934 e se constitui na auxina de ocorrência mais
comum nas plantas. Uma das primeiras utilizações
práticas da auxina foi a de promover o enraizamento
em segmentos de plantas. Posteriormente, outras
substâncias de origem exógena, como o AIB (ácido
indolbutírico) e o ANA (ácido naftalenacético)
mostraram-se até mesmo mais eficientes do que o
AIA na promoção do enraizamento de estacas,
mesmo que fossem de origem exógena.
A auxina é sintetizada nas gemas apicais e
folhas novas, de onde é translocada para a base da
planta por um mecanismo de transporte polar. Os
ápices radiculares também produzem auxinas, porém
não há acumulação nas raízes devido ao elevado teor
de substâncias inativadoras de auxinas nesta parte da
planta.
O aumento da concentração de auxina exógena
aplicada em estacas provoca efeito estimulador de
raízes até um valor máximo, a partir do qual qualquer
acréscimo de auxinas tem efeito inibitório. O teor
adequado de auxina exógena para estímulo do
enraizamento depende da espécie e da concentração
de auxina existente no tecido.
No momento em que a auxina é aplicada, há
um aumento da concentração na base da estaca e,
caso os demais requerimentos fisiológicos sejam
satisfeitos, há formação do calo, resultante da
ativação das células do câmbio e das raízes
adventícias.
Giberelinas
Dentre as giberelinas encontradas na natureza,
o AG3 (ácido giberélico) é o mais importante. Uma
vez que a principal ação das giberelinas é o estímulo
ao crescimento do caule, em concentrações a partir de
10-3
molar as giberelinas inibem o enraizamento,
possivelmente devido à interferência na regulação da
síntese de ácidos nucléicos. Por outro lado, inibidores
da síntese de giberelinas, como SADH (ácido
succínico 2,2-dimetilhidrazida) ácido abscísico e
paclobutrazol, mostram efeito benéfico no
enraizamento.
Citocininas
As citocininas tem efeito estimulador da
divisão celular na presença de auxinas. Dessa forma,
há um estímulo à formação de calos e à iniciação de
gemas. Entretanto, espécies com elevados teores de
citocininas em geral são mais difíceis de enraizar do
que aquelas com conteúdos menores, sugerindo que a
aplicação de citocininas inibe a formação de raízes
em estacas. Por outro lado, em estacas de raiz, as
citocininas podem estimular a iniciação de gemas.
Uma relação auxina/citocinina baixa estimula
a formação de gemas ou primórdios foliares, ao passo
que uma relação elevada estimula a formação de
raízes. No cultivo “in vitro”, uma relação equilibrada
promove a formação de calo e permite uma boa
regeneração de plantas a partir de meristemas.
Ácido abscísico
A princípio, os dados sobre ácido abscísico,
um inibidor do crescimento na formação de raízes
adventícias, são contraditórios, dependendo da
concentração e do estado nutricional da planta-mãe.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 52
Etileno
Em baixas concentrações (próximas a 10
ppm), o etileno estimula a formação e o
desenvolvimento de raízes. Possivelmente, o etileno
sintetizado quando da aplicação de auxina explica o
efeito desta no enraizamento de estacas. Entretanto, o
efeito do etileno é mais dependente de interações
complexas do que da simples concentração deste
regulador.
O estudo isolado do efeito de um regulador,
em geral, não permite explicar satisfatoriamente a sua
influência no enraizamento, de forma que o equilíbrio
entre estes diferentes compostos pode realmente
explicar os mecanismos fisiológicos envolvidos. O
equilíbrio hormonal numa planta varia com a época
do ano e com a fase fisiológica.
Além dos reguladores do crescimento, outras
substâncias de ocorrência natural, denominadas
“cofatores do enraizamento’, que atuam
sinergicamente com as auxinas, são necessárias para
que se dê o enraizamento. Estes cofatores são
sintetizados em gemas e folhas jovens e, em maior
quantidade, em estacas provenientes de plantas
jovens. São transportados pelo floema a partir dos
locais de síntese. Dessa forma, é caracterizada a
importância, para muitas espécies, de serem mantidas
as folhas e gemas em atividade vegetativa. Estes
órgãos atuam como um laboratório de produção de
reguladores de crescimento e nutrientes. As folhas
contribuem para a formação das raízes, devido à
síntese de cofatores ou carboidratos.
O termo “rizocalina” foi adotado inicialmente
por Bouillenne e Went (1933) e engloba o conjunto
de substâncias, além dos reguladores de crescimento,
que estimulam o enraizamento, muitas delas ainda
não conhecidas totalmente. Em 1955, foi proposto
que a rizocalina seria um complexo formado por 3
componentes:
a) um orto-dihidroxifenol, fator especifico
transportado a partir das folhas;
b) a auxina, fator não-especifico;
e) uma enzima especifica, do tipo
polifenoloxidase, encontrada em alguns tecidos
(periciclo, floema e câmbio). A reação entre estes três
componentes origina a rizocalina.
As relações hipotéticas entre os vários
componentes que conduzem à iniciação de raízes
adventícias, segundo HARTMANN & KESTER
(1990), são mostradas no esquema a seguir:
Os cofatores do enraizamento não estão todos
quimicamente determinados. Sabe-se que o cofator 3
é o ácido isoclorogênico e o cofator 4 consiste de
terpenóides oxigenados. Além disso, o composto
fenólico catecol, que atua protegendo a auxina da
ação da AIA oxidase, o ácido abscísico, de ação
antagônica à síntese de giberelinas e o floroglucinol,
que atua sinergicamente com o AIB, são substâncias
com atividade no enraizamento, mas há necessidade
de comprovação.
Os inibidores do enraizamento, ainda que na
sua maioria não estejam determinados quimicamente,
são freqüentemente associados com a facilidade de
enraizamento em algumas espécies. Em determinadas
situações, a lavagem dos inibidores e sua lixiviação
estimulam o enraizamento.
Em nível bioquímico, o enraizamento e o
desenvolvimento de raízes são acompanhados da
síntese de proteínas e de RNA (ácido ríbonucleico).
Além disso, há modificações nos padrões e
concentrações de DNA (ácido desoxirribonucléico) e
aumento da atividade enzimática à medida que as
raízes se desenvolvem. Em estacas de ameixeira,
observouse que o calo e as raízes em formação atuam
como um dreno dos carboidratos da estaca.
Fatores que afetam a formação de raízes
O conhecimento dos fatores que afetam a
formação de raízes é importante para que se possa
explicar por que uma espécie tem facilidade ou
dificuldade de enraizar. Além disso, o adequado
manejo destes fatores permitirá que haja mais chance
de sucesso na produção de mudas por estaquia.
Podem-se classificar os fatores que afetam o
enraizamento em:
Fatores internos
- Condição fisiológica da matriz
- Idade da planta
- Tipo de estaca
- Época do ano
- Potencial genético de enraizamento
- Sanidade
- Balanço hormonal
- Oxidação de compostos fenólicos.
Fatores externos
- Temperatura
- Luz
- Umidade
- Substrato
Ácido giberélico (AG)
(bloqueia a divisão celular)
Ácido abscísico
(antagônico ao AG)
Iniciação
de raízes
COFATOR 1
COFATOR 2
COFATOR 3
(Ácido iso-
clorogênico)
COFATOR 4
(terpenóides
oxigenados)
Auxina
(AIA)
Complexo
cofator/AIA RNA
Polifenol
oxidase Glicose
Compostos
nitrogenados
Cálcio
Outros nutrientes
+
Oxidase de ácido
indolacético
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 53
- Condicionamento
De modo geral, a interação entre fatores, e não
o estudo isolado destes, é que permite se explicarem
melhor as causas do enraizamento. Quanto mais
difícil for o enraizamento de uma espécie e/ou
cultivar, tanto maior a importância dos fatores que o
afetam.
Fatores internos
Condição fisiológica da planta matriz
Por condição flsiológica da planta matriz
entende-se o conjunto das características internas da
mesma, tais como o conteúdo de água, teor de
reservas e de nutrientes, por ocasião da coleta das
estacas.
Estacas retiradas de uma planta matriz em
déficit hídrico tenderão a enraizar menos do que
aquelas obtidas sob adequado suprimento de água.
A condição nutricional da planta matriz afeta
fortemente o enraizamento. No que se refere ao teor
de carboidratos, tem-se observado que reservas mais
abundantes correlacionam-se com maiores
percentagens de enraizamento e sobrevivência de
estacas. A importância dos carboidratos refere-se ao
fato de que a auxina requer uma fonte de carbono
para a biossíntese dos ácidos nucléicos e proteínas, e
leva à necessidade de energia e carbono para a
formação das raízes. Além do teor de carboidratos, a
relação C/N (Carbono/Nitrogênio) é importante.
Relações C/N elevadas induzem a um maior
enraizamento, mas com produção de uma pequena
parte aérea, ao passo que estacas com baixa relação
C/N, devido a um elevado teor de nitrogênio, são
pobres em compostos necessários ao enraizamento e
mostram pouca formação de raízes. Relações C/N
adequadas permitem que se obtenha um bom
equilíbrio entre as raízes e a parte aérea formada,
além de maior enraizamento. O teor de carboidratos
varia conforme a época do ano, sendo que em ramos
de crescimento ativo (primavera/verão) o teor é mais
baixo. Ramos maduros e mais lignificados
(outono/inverno) tendem a apresentar mais
carboidratos. Em geral, estacas com um maior
diâmetro apresentam maior quantidade de substâncias
de reserva e tendem a enraizar mais, ainda que, por
vezes, um maior diâmetro esteja relacionado com
mais brotações e poucas raízes.
No que se refere à composição nutricional, um
conteúdo equilibrado de alguns nutrientes, como o P,
K, Ca e Mg, favorece o enraizamento. Ainda que o N
seja necessário para a síntese de proteínas e ácidos
nucleicos, essenciais ao enraizamento, seu teor em
excesso pode ser prejudicial. O excesso de Mn
também pode prejudicar o enraizamento. O zinco é
ativador do triptofano, precursor da auxina, e deve
estar presente para que se dê a formação de raízes.
Cuidados devem ser tomados especialmente com o
conteúdo excessivo de N e Mn na planta-mãe,
demonstrando a importância de um adequado manejo
de adubação das plantas matrizes para obtenção das
estacas.
Idade da planta
De modo geral, estacas provenientes de
plantas jovens enraizam com mais facilidade e isso
especialmente se manifesta em espécies de difícil
enraizamento. Possivelmente este fato esteja
relacionado com o aumento no conteúdo de
inibidores e com a diminuição no conteúdo de
cofatores (compostos fenólicos) à medida que
aumenta a idade da planta. É recomendável a
obtenção de brotações jovens em plantas adultas, as
quais, mesmo não caracterizando uma verdadeira
condição de juvenilidade, têm mais facilidade de
enraizamento.
Tipo de estaca
Em espécies de fácil enraizamento, a
importância do tipo de estaca na formação de raízes é
pequena. Entretanto, quanto maior a dificuldade de
formação de raízes adventícias, tanto maior a
necessidade da correta escolha do tipo de estaca. O
tipo ideal de estaca varia com a espécie ou, até
mesmo, com a cultivar.
Como a composição química do tecido varia
ao longo do ramo, estacas provenientes de diferentes
porções do mesmo tendem a diferir quanto ao
enraizamento. Assim, em estacas lenhosas, o uso da
porção basal geralmente proporciona os melhores
resultados. Isso pode ser devido à acumulação de
substâncias de reserva, a um menor teor de N
(resultando uma relação C/N mais favorável) e à
presença de iniciais de raízes pré-formadas nesta
região. Fato inverso se observa com estacas
semilenhosas, para as quais os maiores percentuais de
enraizamento são obtidos com a porção mais apical.
Neste caso, isto pode ser atribuído a uma maior
concentração de promotores do enraizamento, pela
proximidade dos sítios de síntese de auxinas, e à
menor diferenciação dos tecidos, resultando em
maior facilidade de as células voltarem a ser
meristemáticas.
Estacas com gemas floríferas, ou coletadas
durante a floração, tendem a enraizar menos que
aquelas provenientes de ramos vegetativos em fase de
crescimento ativo, o que mostra um antagonismo
entre a floração e o enraizamento.
A presença de um talão (segmento de ramo
velho na base da estaca) pode, em certos casos, como
no marmeleiro, favorecer a formação de raízes,
provavelmente em função da existência de iniciais de
raízes pré-formadas em tecidos de mais idade.
Estacas mais lignificadas geralmente
apresentam maior dificuldade de enraizamento do
que estacas de consistência mais herbácea.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 54
Época do ano
A época do ano está estreitamente relacionada
com a consistência da estaca, sendo que estacas
coletadas em um período de crescimento vegetativo
intenso (primavera/verão) apresentam-se mais
herbáceas e, de modo geral, em espécies de difícil
enraizamento, mostram maior capacidade de
enraizamento. Já estacas coletadas no inverno
possuem um maior grau de lignificação e tendem a
enraizar menos. Entretanto, estacas menos
lignificadas (herbáceas e semilenhosas) são mais
propícias à desidratação e à morte, requerendo um
manejo adequado de irrigação, ao passo que estacas
lenhosas podem até mesmo serem enraizadas no
campo. Em muitos casos, especialmente em espécies
caducifólias, as estacas lenhosas dormentes são
preferidas em função da sua facilidade de transporte e
manuseio.
No que se refere à época mais adequada para
obtenção das estacas, há diferença entre espécies,
sendo que algumas enraízam melhor no início da
primavera e outras, de folhas grandes e persistentes,
desde a primavera até fins do outono.
A influência da época de coleta das estacas no
enraizamento pode ser também atribuída a condições
climáticas, especialmente no que se refere à
temperatura e à disponibilidade de água.
Potencial genético de enraizamento
A potencialidade de uma estaca formar raízes
é variável com a espécie e também com a cultivar.
Nesse sentido, pode ser feita uma classificação como
espécie ou cultivar de fácil, mediano ou difícil
enraizamento, ainda que a facilidade de enraizamento
seja resultante da interação de diversos fatores e não
apenas do potencial genético.
Sanidade
Em estacas de macieira e de Ribes spp.,
observou-se que clones livres de vírus têm uma maior
facilidade de enraizamento do que o material
envirosado, havendo também efeito das viroses sobre
a qualidade das raízes formadas e sobre a
variabilidade de resultados entre diversas estaquias
realizadas sob as mesmas condições. Da mesma
forma que com as viroses, o ataque de fungos e
bactérias pode ocasionar a morte das estacas, antes ou
após a formação de raízes, podendo afetar a
sobrevivência das estacas ou a qualidade do sistema
radicular da muda.
A sanidade durante a estaquia é influenciada
pelo grau de contaminação do material propagativo,
pelo substrato, pela qualidade da água de irrigação e
pelos tratamentos fitossanitários que venham a ser
realizados neste período.
Balanço hormonal
O equilíbrio entre os diversos reguladores do
crescimento tem forte influência no enraizamento de
estacas. Assim, é necessário que haja um balanço
adequado, especialmente entre auxinas, giberelinas e
citocininas. Uma das formas mais comuns de
favorecer o balanço hormonal para o enraizamento é
a aplicação exógena de reguladores de crescimento
sintéticos, tais como o AIB (ácido indolbutírico), o
ANA (ácido naftalenacético) e o AIA (ácido
indolacético), os quais elevam o teor de auxinas no
tecido. O paclobutrazol, por outro lado, é um inibidor
da síntese de giberelinas, que são inibidoras do
enraizamento, e seu uso favorece o equilíbrio
hormonal para o enraizamento.
Tipos de auxinas sintéticas
As principais auxinas sintéticas e algumas
de suas características constam na Tabela 4.3.
Tabela 4.3. Principais auxinas sintéticas no
enraizamento de estacas.
Nome Sigla Vantagens Desvantagens
Ácido indo-
lacético
AIA
IAA
alta atividade de
enraizamento
Fotossensível, sujeito à
decomposição
enzimática (oxidase do
AIA) e bacteriana
Ácido
indolbutírico
AIB
IBA
fotoestável, de ação
localizada, persistente e
não tóxica em ampla
gama de concentrações,
não é atacado por ação
biológica
Ácido nafta-
lenoacético
ANA
NAA
mais ativo que o AIB e
AIA
mais fitotóxico que o
AIB e AIA
Ácido 2,4-di-
clorodwnoxi-
acético
Ácido 2,4,5-
triclorofeno-
xiacético
2,4-D
2,4,5-T
alta atividade enraizante,
viável de ser utilizado
em misturas
Altamente fitotóxicos, a
concentração ótima fica
muito próxima do limite
de toxidez; em altas
concentrações são
produzidas raízes
grossas e atrofiadas
Oxidação de compostos fenólicos
Em algumas espécies, especialmente as
pertencentes à família Myrtaceae, o forte
escurecimento na região do corte da estaca,
ocasionado pela oxidação de compostos fenólicos,
pode dificultar a formação de raízes. Os diferentes
tipos de fenóis nos tecidos, ao entrarem em contato
com o oxigênio, iniciam reações de oxidação, cujos
produtos resultantes são tóxicos ao tecido. A
oxidação destes compostos pode ser minimizada com
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 55
o uso de substâncias antioxidantes, tais como o ácido
ascórbico, o PVP (polivinilpirrolidona), o ácido
cítrico e o DLECA (dietilditiocarbamato), além de
outros. Têm sido obtidos resultados preliminares que
demonstram a importância do controle da oxidação
no cultivo “in vitro’. Entretanto, a significância e a
eficiência do controle da oxidação na propagação por
estacas ainda carecem de maiores informações, visto
que os resultados obtidos até o momento são
incipientes.
Fatores externos
Temperatura
O aumento da temperatura favorece a divisão
celular para a formação de raízes; porém,
especialmente em estacas herbáceas e semilenhosas,
estimula uma elevada taxa de transpiração, induzindo
o murchamento da estaca. Além disso, pode
favorecer o desenvolvimento de brotações antes que
o enraizamento tenha ocorrido, o que é indesejável.
Com o objetivo de estimular o enraizamento de
estacas lenhosas, recomenda-se manter o substrato
aquecido de modo a reduzir a respiração e a
transpiração na parte exposta ao ar, e a favorecer a
divisão celular na região de formação de raízes. E
citado que temperaturas diurnas de 21 a 260C e
noturnas de 15 a 21 0C são consideradas adequadas
ao enraizamento.
Luz
A importância da luz no enraizamento diz
respeito à fotossíntese e à degradação de compostos
fotolábeis como as auxinas. De modo geral, baixa
intensidade luminosa sobre a planta-mãe previamente
à coleta das estacas, tende a favorecer a formação de
raízes, provavelmente devido à preservação das
auxinas e de outras substâncias endógenas.
O estiolamento dos ramos dos quais serão
retiradas as estacas facilita o enraizamento e é uma
prática recomendada, especialmente no caso de
espécies de difícil enraizamento. Na região basal da
estaca, onde serão formadas as raízes, é necessário
que se mantenha um ambiente completamente escuro.
Umidade
Para que haja divisão celular, é necessário que
as células se mantenham túrgidas. O potencial de
perda de água em uma estaca é muito grande, seja
através das folhas ou das brotações em
desenvolvimento, especialmente considerando o
período em que não há raízes formadas. A perda de
água é uma das principais causas da morte de estacas.
Portanto, a prevenção do murchamento é
especialmente importante em espécies que exigem
um longo tempo para formar raízes e nos casos em
que são utilizadas estacas com folhas e/ou de
consistência mais herbácea. O uso da nebulização
intermitente permite a redução da perda de umidade
pela formação de uma película de água sobre as
folhas, além da diminuição da temperatura, com
manutenção da atividade fotossintética em estacas
com folhas. Por outro lado, a alta umidade favorece o
desenvolvimento de patógenos, para os quais devem
ser dispensados cuidados especiais.
Substrato
O substrato destina-se a sustentar as estacas
durante o período do enraizamento, mantendo sua
base em um ambiente úmido, escuro e
suficientemente aerado. Os efeitos do substrato, tanto
sobre o percentual de enraizamento como sobre a
qualidade das raízes formadas, relacionam-se
especialmente com a porosidade, a qual afeta o teor
de água retida e o seu equilíbrio com a aeração.
Diferentes materiais são utilizados como meios para
enraizamento, como, por exemplo, a areia, a
vermiculita, a cinza de casca de arroz, a casca de
arroz carbonizada, o solo e outros.
O substrato mais adequado varia para cada
espécie. De um modo geral, pode-se afirmar que um
bom substrato é aquele que:
a) proporciona a retenção de um teor de água
suficiente para manter as células túrgidas e prevenir o
murchamento das estacas;
b) permite uma aeração na base da estaca, de
modo a permitir a iniciação e o desenvolvimento das
raízes;
c) apresenta uma boa aderência à estaca;
d) não favorece a contaminação e o
desenvolvimento de organismos patógenos e
saprófitos;
e) permite que as estacas enraizadas sejam
removidas com um mínimo de dano às raízes;
f) é de baixo custo de aquisição e de fácil
obtenção;
g) não contém ou libera qualquer tipo de
substância que exerça efeito fitotóxico à estaca.
O pH do substrato afeta o enraizamento, sendo
que para algumas espécies a diminuição do pH
favorece o enraizamento e dificulta o
desenvolvimento de microorganismos. Não é
necessário que o substrato forneça nutrientes, uma
vez que o enraizamento se dá às expensas da própria
estaca.
Condicionamento
Em espécies de difícil enraizamento, alguns
tratamentos que venham a ser realizados previamente
à estaquia podem permitir a obtenção de bons
resultados. Em diversos casos, o condicionamento é
fundamental para que se possa obter um percentual
de enraizamento satisfatório. Como exemplos, podem
ser citados o tratamento com reguladores de
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 56
crescimento, o anelamento, o estiolamento, a dobra
de ramos, entre outros.
Preparo e manejo das estacas
Uma vez selecionados os ramos, é necessário
que estes sejam levados a um galpão ou estrutura
semelhante, onde as estacas serão preparadas. O
preparo das estacas pode ser feito com tesoura de
poda ou para estacas lenhosas em grandes
quantidades, com uso de senas elétricas. Uma vez
preparadas, as estacas devem ser mantidas em água
até o momento de serem colocadas no substrato.
O comprimento e o diâmetro das estacas varia
conforme a espécie e o tipo de estaca. Estacas
lenhosas podem ter um comprimento variável de 20 a
30 cm e um diâmetro que geralmente se situa entre
0,6 e 2,5 cm. Estacas semilenhosas apresentam um
comprimento, em geral, de 7,5 a 15 cm, e estacas
herbáceas podem ser ainda menores.
Após o preparo, é conveniente a separação das
estacas em grupos conforme o seu tamanho. Isso
permite a obtenção de lotes homogêneos de plantas, o
que facilitará a realização de operações posteriores. É
ainda recomendável a identificação dos lotes de
estacas por cultivar, visando evitar a mistura
posterior no viveiro.
Em estacas semilenhosas e/ou de consistência
mais herbácea, a presença de folhas favorece o
enraizamento, devido, provavelmente, à produção de
cofatores do enraizamento nas folhas. Da mesma
forma, em estacas lenhosas, a presença de gemas nas
estacas aumenta o percentual de enraizamento em
diversas espécies. A presença de folhas nas estacas,
por outro lado, representa uma superfície
transpiratória cuja taxa de perda de água é aumentada
em condições de elevada temperatura, normalmente
observada nas épocas de coleta de estacas menos
lignificadas. Por esta razão, é necessário o uso de
nebulização nas estacas folhosas. Em geral, são
mantidas apenas 2 ou 3 folhas na parte superior da
estaca, podendo estas ser cortadas ao meio, como
forma de facilitar o manejo e reduzir a perda de água.
O corte superior da estaca deve ser feito logo
acima de uma gema e o inferior, logo abaixo. Esta
recomendação é mais viável de ser seguida quando é
feito o preparo individual das estacas. Quando se
trabalha com estacas lenhosas, com corte em feixes
de 50 ou 100 estacas, o posicionamento do corte pode
não ser o mais adequado.
É possível o armazenamento das estacas
lenhosas durante o inverno e este procedimento
permite, em alguns casos, a formação de calo ou de
iniciais de raízes. Para tanto, podem ser utilizados
leitos aquecidos ou o simples armazenamento em
substrato umedecido. Deve-se evitar a desidratação
das estacas armazenadas, bem como acompanhar a
brotação das mesmas, pois, caso contrário, ocorrerá
uma perda de água, com prejuízos ao enraizamento.
O tratamento com reguladores de crescimento pode
ser realizado ainda no armazenamento.
O uso de estacas de folha com gema é citado
na propagação de limoeiro, framboesa negra, camélia
e azaléia, além de outras; porém, é pouco usado em
fruticultura. Utiliza-se um nó com uma folha e uma
gema por estaca, preferencialmente de material que
tenha gemas bem desenvolvidas e folhas sadias em
crescimento ativo.
Para algumas espécies, cortes laterais na base
da estaca favorecem o enraizamento, especialmente
naquelas em que o esclerênquima se constitui numa
barreira física à emissão de raízes. A exposição do
câmbio, propiciada por estes cortes, também pode
facilitar a absorção de substâncias promotoras do
enraizamento.
Estaqueamento
O plantio das estacas pode ser realizado em
recipientes (sacos plásticos, vasos, baldes, caixas,
entre outros) em estruturas de propagação ou
diretamente no viveiro. O primeiro caso é aplicado
para estacas folhosas (semilenhosas ou herbáceas), as
quais necessitam de umidade constante sobre a folha.
Já o plantio direto no viveiro pode ser adequado para
estacas lenhosas, especialmente de espécies
caducifólias, quando a manutenção da umidade
propiciada pela chuva e/ou por irrigações esporádicas
é suficiente. Esta prática, denominada
‘enviveiramento’, destina-se principalmente à
propagação de plantas em larga escala e à
multiplicação de espécies ou cultivares de fácil
enraizamento. Neste caso, devem ser utilizadas áreas
de solos profundos, ~m drenados e com viabilidade
de uso da irrigação.
A profundidade de plantio é variável conforme
o tipo de estaca, sendo que, para estacas de ramos, é
aconselhável que dois terços sejam enterrados no
substrato. No que se refere a estacas de raiz, é
importante a manutenção destas em profundidade de
2,5 a 5,0 cm, na posição horizontal, de modo a
manter sua correta polaridade.
Como prevenção ao aparecimento de doenças,
é recomendável a imersão das estacas em solução
fungicida (Benomyl ou Captan). Para aumentar a
sobrevivência das estacas, pode-se misturar o
fungicida com o AIB (ácido indolbutírico), caso se
trabalhe com o regulador na forma de pó.
No momento do plantio, é importante garantir
uma boa aderência do substrato à estaca, uma vez que
grandes espaços porosos podem aumentar a
desidratação da estaca.
Técnicas de condicionamento
Estratificação
É uma prática que consiste na disposição de
camadas alternadas de areia grossa ou solo, em
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 57
condição úmida, e que objetiva proporcionar a
formação prévia do calo, além de permitir a
conservação da estaca. O aumento da temperatura e
da umidade, até certos limites aumenta a intensidade
de formação de calo. Devem ser tomados cuidados
para evitar o desenvolvimento de fungos ou bactérias,
a acumulação de água e o dessecamento, que são
prejudiciais à formação de raízes. E necessário que as
estacas sejam retiradas da estratificação, logo que
tenham formado o calo e/ou tenha ocorrido a
brotação das gemas.
Lesões na base da estaca
Especialmente em estacas que apresentam
madeira velha na sua base, os cortes nesta região
favorecem a formação de calo e de raízes nas bordas
da lesão (Figura 4.5).
Nesta região, a divisão celular é estimulada
por um aumento na taxa respiratória e nos teores de
auxina, carboidratos e etileno na área lesionada. A
lesão faz com que haja mais absorção de água e de
reguladores de crescimento, aumentando a sua
eficiência. Por outro lado, as lesões permitem que
haja rompimento da barreira física formada por anéis
de esclerênquima, a qual pode até mesmo impedir a
emergência das raízes. Para tanto, efetuam-se um ou
dois cortes superficiais de 2,5 a 5,0 cm na base da
estaca.
Estiolamento
Entende-se por estiolamento o
desenvolvimento de uma planta ou parte dela na
ausência de luz, resultando em brotações alongadas,
com folhas pequenas e não expandidas e com baixo
teor de clorofila. Além disso, são encontrados em
tecidos estiolados teores baixos de lignina e altos de
auxinas endógenas e de outros cofatores do
enraizamento, uma vez que estes últimos compostos
são sensíveis à luz (fotolábeis). Dessa forma, o
enraizamento é favorecido.
Pode-se efetuar o estiolamento de toda a
planta, de todo um ramo ou de parte do mesmo. Para
tanto, faz-se uma cobertura dos ramos em
desenvolvimento com plástico preto ou outro
material similar (papel alumínio, fita isolante e
outros), de modo que estes cresçam na ausência de
luz. O estiolamento parcial é realizado com a
cobertura apenas da base do ramo. O tempo de
estiolamento é variável conforme a espécie.
Anelamento
Consiste na obstrução da casca de um ramo na
planta matriz, de modo a bloquear a translocação
descendente de carboidratos, hormônios e cofatores
do enraizamento, permitindo a acumulação destes
compostos acima do local da obstrução, região que
será a base da futura estaca. O acúmulo destes
compostos favorece a formação e o crescimento das
raízes. Além disso, há um aumento da quantidade de
células parenquimatosas e de tecidos menos
diferenciados. O anelamento pode ser realizado com
um anel de arame ou com um corte na região basal ou
mediana do ramo de onde será retirada a estaca. O
anelamento deve ser realizado assim que o
comprimento do ramo permita, durante a fase ativa
de crescimento vegetativo, de forma a assegurar uma
acumulação significativa de compostos.
Entende-se por anelamento a obstrução
realizada através de um corte na região do córtex. O
estrangulamento, que apresenta a mesma finalidade, é
feito com a torção de um arame em volta do ramo
(Figura 4.6).
Figura 4.6. Processos de anelaniento (A) e
estrangulamento (B) em ramos da planta matriz.
Rejuvenescimento de ramos
Estacas oriundas de ramos com juvenilidade
tendem a apresentar um percentual maior de
enraizamento. Assim, qualquer técnica que permita
que o ramo retome à fase juvenil permitirá que se
evite a diminuição do potencial de enraizamento à
medida que a planta matriz envelhece. Uma poda
drástica da planta matriz induz à emissão de
Figura 4.5. Lesão na base de uma estaca com folhas.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 58
brotações juvenis, de maior capacidade de
enraizamento. Muitas vezes estas brotações são
resultantes dos esferoblastos, formações verrugosas
com tecido meristemático. Em algumas espécies,
como a macieira, é possível forçar a obtenção de
brotos adventícios juvenis a partir de estacas de raiz.
Dobra de ramos
Estes ramos ficam presos à planta por uma
porção de lenho e casca até a época de utilização das
estacas lenhosas (inverno). Este tipo de injúria
provoca um aumento da relação C/N e a formação de
um tecido pouco diferenciado, resultante da
cicatrização, na região da dobra, com aumento da
capacidade de emissão de raízes. Resultados
promissores foram obtidos com esta técnica no
enraizamento de estacas lenhosas de pessegueiro
(FACHINELLO et al., 1982). Ainda que a dobra dos
ramos não dispense o uso de fitorreguladores, há um
favorecimento do potencial de formação de raízes.
Tratamento com reguladores de crescimento
O uso de reguladores de crescimento tem por
finalidade aumentar a percentagem de estacas que
formam raízes, acelerar sua iniciação, aumentar o
número e a qualidade das raízes formadas e aumentar
a uniformidade no enraizamento. Alguns reguladores,
como as auxinas sintéticas, podem inibir o
desenvolvimento das gemas e, conseqüentemente,
dos ramos.
Esta prática destina-se a estabelecer um
balanço hormonal favorável ao enraizamento. Em
geral, são utilizadas auxinas sintéticas (AIB, ANA,
AIA, 2,4-D), que visam elevar o conteúdo hormonal
nos tecidos da estaca. Além disso, podem também ser
utilizados inibidores da síntese de giberelinas, as
quais são antagônicas ao processo de iniciação
radicular. Como exemplo, pode ser citado o
paclobutrazol. O tratamento com citocininas
(cinetina, benziladenina, benzilaminopurina) estimula
o desenvolvimento das brotações adventícias, o que é
importante, caso se trabalhe com estacas de folhas ou
de raízes.
A melhor substância promotora do
enraizamento, bem como as concentrações e métodos
de utilização mais adequados para uma determinada
situação, variam com a espécie e com o tipo de
estaca. Para verificar a sua eficiência, são necessários
testes empíricos.
Tratamento com fungicidas
Uma vez que a estaca, especialmente antes e
logo após o enraizamento, é bastante vulnerável ao
ataque de microorganismos e se encontra num
ambiente favorável à proliferação de doenças, a
proteção com o uso de fungicidas constitui-se numa
prática importante para a sobrevivínmcia das estacas
neste período. Em alguns casos, o enraizamento foi
aumentado com uso do fungicida Captan. Entretanto,
não está claro se este aumento se deve ao controle de
doenças ou a um aumento da ação do regulador de
crescimento, até mesmo como ativador da síntese de
auxina no tecido da estaca.
Uso de nutrientes minerais
Objetiva favorecer a condição nutricional da
estaca para o enraizamento. A adição de compostos
nitrogenados estimula o enraizamento em diversas
classes de plantas, possivelmente pelo fato de estes
compostos intervirem em interações hormonais. O
uso do boro em combinação com o AIB aumentou a
percentagem e a rapidez de formação de raízes em
Ilex sp.. A adubação de estacas de videira com zinco
resultou em maior enraizamento e desenvolvimento
de raízes, devido possivelmente a um incremento no
teor de triptofano, precursor da auxina, do qual o Zn
é ativador. A adubação de plantas matrizes de
ameixeira com zinco e boro aumentou os teores de
triptofano nas estacas.
Uso da nebulização
A nebulização é a aplicação de água na forma
de névoa (gotas de tamanho reduzido) sobre as
estacas, criando uma atmosfera destinada a reduzir a
perda de água pelas folhas. A redução das taxas de
transpiração e de respiração pelas folhas, bem como a
redução da temperatura das mesmas, são obtidas pela
formação de uma película de água sobre as folhas,
proporcionada pela nebulização intermitente. Isto
assegura a destinação de fotossintatos e nutrientes
para a formação das raízes.
É importante que a água seja aplicada em
intervalos regulares, durante todo o período diurno.
Para evitar o excesso de aplicação de água, pode ser
dispensado o funcionamento da nebulização durante
a noite. Nas horas mais quentes do dia, os intervalos
entre as nebulizações devem ser menores.
A nebulização pode ser instalada em telados,
estufas plásticas, ou mesmo no ambiente externo. O
ambiente protegido é o mais adequado para esta
técnica, uma vez que permite uma aplicação
controlada da água, além de evitar o efeito do vento
sobre a irrigação.
O controle dos intervalos de acionamento do
sistema de nebulização pode ser efetuado através de
alguns mecanismos, tais como:
- folha úmida, na qual há uma superfície de
tela, que simula a superfície de uma folha. Quando
esta superfície perde água a um nível pré-
estabelecido, é acionado o mecanismo da
nebulização;
- temporizador, que consiste em um aparelho
que aciona o sistema a intervalos regulares de tempo;
- controlador eletrônico de umidade,
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 59
constituído de um sistema computadorizado de
acionamento da irrigação, com base na temperatura
na umidade relativa do ar.
O uso de nutrientes na água de irrigação pode
melhorar a qualidade das raízes formadas e o
crescimento subseqüente das estacas enraizadas.
4.3.2. Mergulhia
É o método de propagação assexuada no qual
o enraizamento de uma porção da planta,
normalmente um ramo, é obtido com esta porção
ainda unida com a planta-mãe. Após a formação de
raízes, a porção enraizada é destacada da planta-mãe.
Os princípios que regem a formação de raízes, neste
caso, bem como os fatores que afetam o
enraizamento, são semelhantes aos mencionados na
estaquia. Porém, enquanto na estaquia o
enraizamento se dá às custas da própria estaca, na
mergulhia, a planta-mãe continua a fornecer
fotoassimilados e fitorregulares, substâncias
favoráveis ao enraizamento. O enraizamento é
favorecido porque são dadas condições de ausência
de luz, provocando o estiolamento e umidade, além
do curvamento dos ramos, que provoca a acumulação
das substâncias envolvidas no enraizamento.
A mergulhia é utilizada comercialmente na
propagação de porta-enxertos de macieira (mergulhia
de cepa), de mudas de lichieira e sapotizeiro
(alporquia), entre outras espécies. A mergulhia é
especialmente interessante para propagar espécies
com grande dificuldade de formação de raízes. É um
método pouco utilizado comercialmente, por ser de
baixo rendimento.
Os fatores que favorecem a regeneração de
plantas através da mergulhia são a ausência de luz
(que provoca estiolamento do ramo e, por
conseqüência, acúmulo de auxinas e redução dos
teores de lignina e de compostos fenólicos), cobertura
com solo úmido e poroso, nutrição adequada e
elevada atividade fisiológica da planta-mãe, pouca
idade dos ramos, aplicação de fitorreguladores e
prática de anelamento.
Existem basicamente dois tipos de mergulhia -
a mergulhia no solo e a mergulhia aérea ou alporquia.
A mergulhia no solo pode ser classificada em
algumas formas principais:
- No solo
A mergulhia é feita no solo, em plena terra ou
em vaso, quando os ramos das espécies são flexíveis
e de fácil manejo.
O ramo ou mergulho, em qualquer um dos
processos de mergulhia, deve ser anelano, com anel
de 2cm, e pode ser tratado com auxina.
- Mergulhia simples normal
Consiste em enterrar a porção mediana do
ramo no solo. A parte terminal do ramo é mantida
fora do solo e em posição vertical. A parte que
permanece sob o solo emite raízes e forma uma
planta (Figura 4.7).
- Mergulhia simples invertida
É semelhante à anterior, mas, em vez de o
ramo-mergulho apresentar a parte apical fora do solo,
esta é dirigida diretamente para o terreno.
O enraizamento se dará na parte apical, que
ficará enterrada, como uma estaca investida.
Como o ramo permanece em posição
invertida, as folhas, ao serem emitidas, apresentam
pequenas curvaturas, dando aspecto diferente às
plantas. Esse processo é mais ornamental do que
econômico e tende a dar origem a plantas de menor
porte (Figura 4.8).
Figura 4.7. Mergulhia simples, normal.
Figura 4.8. Mergulhia simples, invertida.
normal
invertida
chinesa
serpenteada
invertida
simples
contínua
cepa
alporquia
no solo
no alto
Mergulhia
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 60
- Mergulhia contínua
A mergulhia contínua difere das outras por
possibilitar a obtenção de maior número de novas
plantas. Na mergulhia simples, uma única planta é
formada; na contínua, dependendo do interesse e do
comprimento do ramo-mergulho, pode-se obter maior
número de plantas.
- Mergulhia contínua chinesa
A mergulhia contínua chinesa é executada
mergulhando-se o ramo no terreno, de modo a manter
enterrada a maior extensão possível dele,
permanecendo apenas a parte apical fora do solo.
Para que o ramo fique em contato com o solo,
faz-se um sulco com profundidade aproximadamente
de 30 cm (Figura 4.9).
Figura 4.9. Mergulhia no solo, contínua, chinesa.
- Mergulhia contínua serpentada
Neste tipo, o ramo-mergulho apresenta aspecto
semelhante ao simples normal, pois o ramo, após ter
uma de suas partes enterrada, eleva-se, novamente é
mergulhado, e assim sucessivamente, dando a
impressão de uma serpentina (Figura 4.10).
Figura 4.10. Mergulhia, contínua, serpenteada.
- Mergulhia de cepa
Na mergulhia de cepa, a planta matriz sofre,
inicialmente, uma poda drástica a cerca de 5 cm do
solo. Isto estimula a emissão de brotações jovens, as
quais serão posteriormente cobertas com solo. Após o
enraizamento, as brotações enraizadas são destacadas
da planta-mãe, a qual pode ser novamente utilizada
para um novo ciclo de produção de mudas. De todas
as formas de mergulhia, a mergulhia de cepa é a mais
utilizada em nível comercial, pois além dos bons
resultados que proporciona, pode ser uma prática
parcialmente mecanizada, o que favorece o
rendimento da operação (Figura 4.11).
Figura 4.11. Mergulhia de cepa.
No alto
A mergulhia no alto é denominada alporquia.
É uma prática que consiste em se envolver um ramo
com substrato de enraizamento (musgo, solo ou outro
material que proporcione boa aderência),
acondicionado em plástico ou papel alumínio (Figura
4.12). A adoção da alporquia justifica-se em espécies
de difícil enraizamento, quando há dificuldade de
levar o ramo até o solo. É uma prática trabalhosa e,
portanto, de baixo rendimento. O anelamento e a
aplicação de fitorreguladores pode aumentar o
percentual de alporques enraizados.
Figura 4.12. Alporquia ou mergulhia no alto.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 61
Preparo de ramos e forçamento
- Antes da mergulhia
Os ramos devem ser preparados antes de entrar
em contato com o solo. As operações consistem na
desfolha e em anelamento, incisões ou torções da
parte que ficará enterrada.
Após ser enterrado, o ramo é mantido preso ao
solo por um tutor ou forquilha.
- Após a mergulhia
Os ramos-mergulhos, após determinado
tempo, enraízam e devem ser separados da planta
matriz. A separação pode ser feita de uma só vez ou
gradualmente. A essa operação dá-se o nome de
desmame. O desmame gradual tem por finalidade a
redução lenta da alimentação da nova planta, de
modo a forçá-la a nutrir-se de suas próprias raízes.
Uma separação brusca pode secar a planta,
principalmente quando ela não se encontra ainda
suficientemente enraizada.
4.3.3. Enxertia
A enxertia é o método de propagação
assexuada que consiste em se unir duas ou mais
porções de tecido de modo que a união destas partes
venha a constituir-se em uma nova planta. É um dos
principais métodos de propagação e é largamente
utilizada em um grande número de espécies, tais
como os citros, pessegueiro, ameixeira, goiabeira,
macieira, pereira, abacateiro, entre outros. A grande
importância da enxertia deve-se ao fato de que são
conjugados os aspectos favoráveis (vigor, tolerância a
fatores bióticos e abióticos adversos, produtividade,
entre outros) de duas ou mais plantas, as quais podem
ser de uma mesma variedade ou de variedade e
espécies diferentes ou até mesmo, gêneros diferentes.
O cavalo ou porta-enxerto passa a ser
responsável pela nutrição e fornecimento de água
através de suas raízes e ainda servirá de suporte. A
cepa ou enxerto, por seu lado, encarrega-se da
nutrição do porta-enxerto, fornecendo-lhe as
substâncias elaboradas, e compete-lhe ainda o
florescimento e frutificação.
O porta-enxerto é denominado hipobioto e o
enxerto, epibioto. Muitas vezes, devido à diferença
no vigor entre porta-enxerto e enxerto, há
necessidade de intercalar outra planta, que funciona
como filtro ou região de equilíbrio. Essa porção
intermediária recebe o nome de mesobioto. Ao
conjunto formado pelas duas partes denomina-se
dibiose e, quando a planta é constituída de três partes
distintas, polibiose.
O porta-enxerto pode ser proveniente de
sementes ou de propagação vegetativa. Porta-
enxertos oriundos de sementes em geral, são mais
vigorosos e com sistema radicar pivotante e mais
profundo. Porta-enxertos oriundos de propagação
vegetativa, como a estaquia ou mergulhia podem ser
menos vigorosos, porém são geneticamente mais
uniformes que os originados de sementes.
O enxerto pode consistir de um segmento de
ramo com uma ou duas gemas (garfo) ou de uma com
uma pequena porção de casca (borbulha). O enxerto
deverá ser retirado de uma planta com todas as
características da cultivar, bem como que tenha
ultrapassado o período da juvenilidade. Assim, tão
logo haja área foliar suficiente para percepção dos
estímulos indutores do florescimento e para
sustentação dos frutos, a planta irá produzir,
reproduzindo fielmente as características da planta-
mãe.
Normalmente, a propagação por enxertia
consiste nestas duas partes. Porém, em certas
situações, há problemas de compatibilidade entre o
enxerto e o porta-enxerto ou há a necessidade de
controlar o vigor da copa, requerendo o uso de um
terceiro componente, o interenxerto.
Interenxerto, enxerto intermediário ou
filtro, normalmente pertencente a uma cultivar
diferente do enxerto e do porta-enxerto, que seja
compatível com ambos, bem como possa conferir as
características desejadas à copa.
Finalidades do uso da enxertia
- Aproveitamento de características favoráveis
do porta-enxerto: o porta-enxerto pode definir
diversas características importantes da copa, tais
como o vigor, a produtividade, a qualidade dos
frutos, a resistência a fatores adversos, etc. Além
disso, os porta-enxertos diferem na sua adaptação a
diferentes condições de solo e de clima e à ocorrência
de pragas e doenças. Desta forma, é possível
trabalhar-se com uma mesma cultivar-copa em
diferentes condições ambientais;
- Propagação de plantas com difícil
multiplicação por outros métodos: se a propagação de
uma planta por sementes ou por estacas, ou ainda por
outro método, for pouco viável, a enxertia permite
que se possa propagar esta planta;
- Alteração da cultivar-copa em plantas
adultas: em pomares estabelecidos, devido a questões
de mercado, hábito de crescimento inadequado,
frutos de baixa qualidade, suscetibilidade a pragas e
doenças, entre outros, pode ser requerida a troca da
cultivar-copa. Isto é possível sem a erradicação do
pomar, através da enxertia, utilizando as plantas
como porta-enxerto, lançando-se mão, para tanto, da
sobreenxertia;
- Correção de deficiências de polinização: em
espécies que necessitem da presença de cultivares
polinizadoras dentro do pomar, a sobreenxertia pode
corrigir a falta de polinizadoras. Para tanto, pode ser
feita tanto a troca da cultivar-copa (como no caso
anterior), como também a sobreenxertia em alguns
dos ramos da planta;
- Recuperação de partes danificadas da planta:
danos por pragas, doenças ou outros agentes podem
causar danos significativos às raízes ou à parte aérea
da planta. Técnicas de enxertia permitem a
recuperação total ou parcial destes danos;
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 62
- Estudo de viroses: a enxertia é extremamente
útil em testes de indexação, quando se deseja
verificar se a planta matriz está isenta de
enfermidades viróticas. Para tanto, utilizam-se
plantas denominadas indicadoras as quais
manifestam, em pouco tempo após a enxertia, os
sintomas da virose em estudo.
Fatores que afetam o pegamento do enxerto
- Compatibilidade: A habilidade de uma planta
enxertada de formar uma combinação bem-sucedida
está relacionada, em grande parte, com a sua
constituição e o seu modo de desenvolvimento.
As falhas que ocorrem entre plantas enxertadas
podem ser devidas a uma incompatibilidade, que
pode estar ligada a questões estruturais e fisiológicas.
Assim, ao se estudar a enxertia, deve-se
considerar a afinidade existente entre os indivíduos
que irão compor uma planta.
A maior ou menor compatibilidade está
intimamente relacionada aos seguintes fatores:
• fisiológicos;
• biológicos;
• consistência dos tecidos;
• anatômicos;
• porte e vigor; • sensibilidade a doenças viróticas
A afinidade fisiológica relaciona-se às
exigências das partes em nutrientes. Há plantas que,
por sua fisiologia, selecionam determinados
elementos, podendo essa ação seletiva impedir que
certos elementos exigidos pela copa cheguem até ela,
causando perturbações.
O comportamento biológico está ligado ao
modo de vida de cada um dos componentes. As
espécies de folhas caducas, que perdem suas folhas
no inverno, normalmente não podem ser enxertadas
sobre espécies de folhas persistentes.
O ciclo vegetativo de ambos é distinto, o que
acarretaria uma incompatibilidade. Podem-se,
entretanto, em alguns casos, utilizar porta-enxerto
decíduo e copa de plantas persistentes (citros x
poncirus), porém o inverso nunca é bem-sucedido.
A consistência de tecidos é importante no
sucesso da enxertia. Plantas com tecidos lenhosos são
incompatíveis com as de tecidos herbáceos, pois
entre elas há diferenças de ordem biológica e
fisiológica, além das de ordem estrutural.
A afinidade anatômica é necessária para o
perfeito desenvolvimento da planta. A base da
enxertia consiste na intima associação dos tecidos
cambiais, de modo a formarem uma conexão
contínua. O tecido meristemático entre o xilema
(lenho) e o floema (casca) está, segundo a espécie,
em continua atividade, dividindo-se e formando
células, e como na enxertia não há intertroca de
células, cada tecido continua a fabricar as suas.
Quando há células de tamanho, forma e consistência
distintos, ocorre a incompatibilidade (Fig. 4.13).
O porte e o vigor das plantas enxertadas devem
ser, tanto quanto possível, semelhantes,
principalmente no que se refere ao vigor.
Porta-enxerto excessivamente vigoroso obriga
a copa a um maior desenvolvimento vegetativo, e
isso atrasa o início e a época de frutificação. De outro
lado, copa vigorosa não se desenvolve bem sobre
porta-enxerto fraco.
Figura 4.13. Corte transversal do tecido da planta.
A diferença de vigor pode causar má ligação
do enxerto e, em certos casos, engrossamento
exagerado do cavalo ou do enxerto. A
incompatibilidade pode se manifestar imediatamente,
bem como ser retardada por vários anos.
A incompatibilidade pode ser contornada em
parte pela interposição de uma terceira espécie ou
variedade compatível com ambas (filtro).
Quanto à sensibilidade a doenças viróticas, em
alguns casos de enxertia, a falta de afinidade ou
compatibilidade está associada à presença de vírus.
Se a parte suscetível ao vírus é o cavalo, a planta toda
vem a morrer; quando a suscetibilidade é da copa, a
planta apresenta desenvolvimento, porém declina
lentamente. As plantas cítricas apresentam exemplos bem
característicos dessa incompatibilidade.
Epiderme
Córtex
Meristema
Xilema
Câmbio
Floema
Periciclo
Periciclo
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 63
Classificação da enxertia
Os vário tipos de enxertia que se conhecem,
podem ser divididos em três grupos ou sistemas
distintos de enxertia, que são:
1º - Borbulhia
2º - Garfagem
3º - Encostia
O primeiro sistema recebe o nome de
borbulhia, porque em todos os tipos de enxertos que a
ele pertencem, o cavaleiro é representado por uma
borbulha ou gema da planta que se pretende
multiplicar: borbulha ou gema essa que se extrai
juntamente com um fragmento de casca em forma de
escudo, do ramo em que ela se acha inserida, donde o
nome de escudagem que também se dá ao sistema
(Figura 4.14.
Figura 4.14– Borbulhia em T norma (A), T invertido
(B).
No segundo sistema o cavaleiro é representado
por um ramo destacado da planta padrão; ramo este
que recebe o nome de garfo; daí a denominação de
garfagem dada a esse sistema (Figura 4.15.
Figura 4.15 - Enxertia tipo garfagem à inglesa
complicado. Enxerto (A) e porta-enxerto (B).
Finalmente, no terceiro sistema, conquanto o
cavaleiro seja, também, representado por um ramo da
planta padrão, difere do sistema anterior pelo
seguinte:
1º) Na encostia o ramo cavaleiro continua
ligado à planta que se pretende multiplicar até que se
solda ao cavalo ou porta-enxerto (Figura 4.19).
2º) Para se executar a encostia, ao invés de se
levarem os cavaleiros aos cavalos, criam-se estes em
recipientes (vasos, jacazinhos, caixas, sacolas
plásticas) para leva-los aos cavaleiros.
Borbulhia
Existem diversas técnicas de enxertia de
borbulhia, dentre as quais podem ser citadas:
Borbulhia em “T” normal, que consiste na
incisão do porta-enxerto (com diâmetro em tomo de 6
a 8 mm) na forma de um corte vertical de cerca de 3
cm de comprimento, em cujo ápice é feito um corte
horizontal (figura 4.14A). Com estes cortes, abre-se
um espaço para introdução da gema. Estes cortes
normalmente são feitos a uma altura de 20 a 25 cm a
partir do colo. A gema é obtida da porção mediana de
ramos da última estação de crescimento. Com um
canivete bem afiado, retira-se a gema, sem lenho e
introduz-se a mesma na incisão feita no porta-
enxerto. Deve-se ter o cuidado de fazer a operação o
mais rápido possível, para evitar que ocorra a
desidratação e a oxidação da gema e do porta-
enxerto. Após, faz-se o amarrio, utilizando-se uma
fita de polietileno, a qual deverá ser retirada tão logo
o enxerto tenha brotado.
- Borbulhia em T invertido, feita de modo
semelhante ao anterior, porém diferindo quanto à
forma da incisão — o corte horizontal é realizado na
base do corte vertical (Figura 4.14B).
- Borbulhia de gema com lenho, cuja
utilização é justificada quando a casca não se
desprende facilmente, dificultando a enxertia em T.
assim, retira-se a gema com uma porção de lenho, a
qual é introduzida no porta-enxerto em uma incisão
de mesmo tamanho da borbulhia.
- Borbulhia em janela aberta, que consiste
em se abrir uma placa quadrada ou retangular no
porta-enxerto, bem como em retirar-se uma placa
com as mesmas dimensões do ramo com as gemas.
Para tanto, usa-se um canivete de lâmina dupla .
- Borbulhia em janela fechada, o porta-
enxerto recebe duas incisões transversais e uma
vertical no centro. A borbulha é obtida de maneira
semelhante ao tipo anterior. Para assenta-la, levanta-
se a casca do cavalo. O enxerto é completado
fixando-se com o amarrilho (Figura 4.15 A).
A
B
A
B
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 64
Figura 4.15 – (A) Enxerto de borbulhia janela
fechada e (B) de anel.
- Borbulhia em anel, na qual é retirado, tanto
no porta-enxerto quanto no ramo com as gemas, um
anel de casca, ambos de iguais dimensões, para que o
anel contendo a gema seja introduzido no porta-
enxerto (Figura 4.15B).
Garfagem
Entre as técnicas de garfagem mais
conhecidas, podem ser citadas:
- Garfagem em fenda cheia, que consiste na
introdução de um garfo em forma de cunha, cuja base
é afilada com um canivete, em um corte longitudinal
feito em todo o diâmetro do porta-enxerto,
amarrando-se logo após com fita plástica. Podem ser
colocados dois garfos por porta-enxerto quando este
apresenta grande diâmetro (figura 4.16).
Figura 4.16 – Garfagem à inglesa em fenda cheia.
- Garfagem em fenda simples, também
chamada de inglês simples, consiste em se fazer
cortes em bisei tanto no enxerto quanto no porta-
enxerto, justapondo-se as duas partes e amarrando-se
com fita plástica logo após (figura 4.17).
Figura 4.17 – Garfagem à inglesa simples.
- Garfagem em fenda dupla, também
chamada de inglês complicado, é semelhante à
técnica anterior, diferindo pelo fato de serem feitas
uma incisão transversal na base do garfo e outra, no
ápice do porta-enxerto. isso aumenta muito a
aderência e o pegamento entre as partes justapostas,
embora implique em maior dificuldade na realização
(figura 4.15).
Encostia
Tem pouco uso em nível comercial. Há
diversas técnicas de encostia, podendo ser citadas as
seguintes:
- Encostia à inglesa simples no topo do
porta-enxerto, o porta-enxerto é cortado em bisei no
seu ápice (Figura 4.18).
Figura 4.18 – Encostia no topo, simples.
- Encostia em placagem, simples – neste
sistema, é feito um corte na superfície da casca do
enxerto e do porta-enxerto, unindo-se, após, as
superfícies com fita de polietileno, ráfia, barbante ou
outro material (figura 4.19).
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 65
Figura 4.19 – Encostia lateral simples.
- Encostia à inglesa complicado - é
semelhante ao processo de garfagem à inglesa
complicado, porém na forma de encostia (Figura
4.20).
Figura 4.20 – Encostia à inglesa complicado.
- Encostia à cavalo no topo do porta-enxerto – este é de fato, um magnífico processo de enxertia
para todas as plantas de lenho mais ou menos mole, e
mais ou menos rebelde aos outros sistemas de
enxertia, como o sapotizeiro, por exemplo (Figura
4.21).
Figura 4.21 – Encostia no topo, inglesa.
Aspectos técnicos da enxertia
A enxertia, para ser bem-sucedida,
considerando que haja afinidade entre as partes a
serem unidas, deve ser praticada com todo o cuidado,
O êxito da operação assenta-se, em grande parte, na
capacidade operacional e nas condições ambientes.
Para realizar com êxito a união de duas
plantas da mesma variedade ou de espécies distintas,
deve-se considerar o seguinte:
• união perfeita das camadas cambiais (Fig.
4.22);
• as partes que ficarão em junção devem ser
lisas e livres de substâncias estranhas;
• a época de enxertia deve ser aquela
apropriada a cada espécie e tipo de enxerto;
• as condições climáticas devem ser objeto de
observação, pois tanto as altas como as baixas
temperaturas, o teor de umidade e a luminosidade
podem causar dessecação rápida do enxerto;
• as condições edáficas devem ser
examinadas. Em solos pobres e secos, normalmente,
a percentagem de pegamento é menor que em solos
férteis e frescos;
Figura 4.22. Modo correto e errado de colocação do
garfo no porta-enxerto. • o vigor da planta e o estágio de
desenvolvimento do enxerto devem merecer atenção
particular. A enxertia é mais bem sucedida em
plantas vigorosas do que em plantas fracas. Os
garfos, na enxertia por garfagem, devem apresentar
gemas dormentes. As borbulhas, na borbulhia, devem
apresentar as gemas próximas ao estágio de
abrolhamento;
• o uso correto do canivete, da tesoura, dos
amarrilhos, dos mastiques, para que se possam
realizar as operações com rapidez e correção, e a
fixação perfeita entre ambas as partes; • tratos culturais convenientes durante o
correto errado errado
correto errado errado
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 66
período em que se dá a soldadura e após o
pegamento.
A enxertia é um método que exige,
fundamentalmente, habilidade e cuidados na sua
realização. Para tanto, um bom treinamento do
enxertador é o primeiro passo para o sucesso da
enxertia.
Para a realização da enxertia, são necessárias
algumas farramentas básicas: tesoura de poda,
canivete de enxertia (com lâmina e espátula, podendo
ser de lâmina simples ou dupla), pedra de afiar,
etiquetas e produtos para desinfestação
(normalmente, é utilizado o hipoclorito de sódio).
Além disso, os materiais para amarrio e proteção são
indispensáveis. Para tanto, são utilizados os
mástiques (misturas de resina, cera de abelha, sebo e
solventes), fio de ráfia ou barbante e fitas de
polietileno. Os mástiques apenas reduzem a perda de
água e a entrada de microorganismos e o fio de ráfia
ou barbante apenas dão sustentação ao conjunto
porta-enxerto. Assim, devem ser utilizados em
conjunto. As fitas de polietileno, além de manter a
união da enxertia, reduzem a desidratação do enxerto,
as trocas gasosas e a entrada de microorganismos.
Sacos plásticos, colocados sobre o conjunto porta-
enxerto/enxerto são úteis como câmaras úmidas, no
caso de ser realizada a enxertia de garfagem no
período de primavera-verão. As máquinas de enxertia
são ferramentas úteis na enxertia em escala
comercial, quando se trabalha com grandes volumes
de mudas ou não se dispõe de pessoal com grande
habilidade.
O local de realização da enxertia pode variar
conforme a época. A enxertia de inverno pode ser
realizada no viveiro (enxertia de campo) ou em
galpões (enxertia de mesa), ao passo que a enxertia
de primavera/verão e a do verão/outono é realizada
no viveiro ou em telado (no caso de se trabalhar com
mudas em recipientes).
Sobreenxertia, na qual o porta-enxerto é uma
planta adulta, já previamente formada. A
sobreenxertia é útil em casos em que a copa foi
seriamente danificada por pragas ou doenças, em
caso de necessidade de troca da cultivar-copa e
quando da falta de plantas polinizadoras em um
pomar. Normalmente é feita por garfagem (fenda
cheia ou fenda dupla), substituindo total ou
parcialmente a copa. Desta forma, é possível
produzir-se, em uma mesma planta, diferentes
cultivares.
Interenxertia, caso em que é interposto um
enxerto intermediário entre o porta-enxerto e o
enxerto, normalmente, através de garfagem. É útil,
principalmente, em duas situações: quando o enxerto
e o porta-enxerto são incompatíveis entre si,
devendo-se utilizar um interenxerto compatível com
ambos, e quando há necessidade de controlar o vigor
da copa devido ao porta-enxerto induzir elevado
vigor.
Subenxertia, realizada quando houver um
dano significativo no sistema radicular da planta ou
esta tornar-se inviável por outros motivos, como
tolerante a doênças. Consiste em se enxertar, na copa,
um novo porta-enxerto, que será total ou
parcialmente responsável pela absorção de água e
nutrientes. A garfagem, especialmente de fenda
dupla, é o sistema mais adotado neste caso (Figura
4.23).
O caso mais recente que está adotando a
subenxertia é a substituição do porta-enxerto limoeiro
Cravo por outros porta-enxertos na citricultura
paulista. A morte súbita dos citros (MSC) tem
causados grandes prejuízos nos laranjais de São
Paulo, principalmente quando o porta-enxerto é o
limoeiro Cravo.
Enxertia de ponte, realizada quando a planta
apresenta um dano significativo na casca, a ponto de
interromper o fluxo de água, nutrientes e assimilados.
Neste caso, a enxertia, normalmente de garfagem,
permite que sejam colocados ramos sobre a região
danificada, de modo a restabelecer o fluxo normal de
substâncias.
Figura 4.23 – Subenxertia.
4.4 Biotecnologia
A biotecnologia de plantas é uma aplicação da
engenharia celular, a qual manipula os genomas das
células vegetais, regenerando plantas com a
finalidade de aumentar a produtividade e auxiliar em
soluções fundamentais, tais como:
produção de plantas sadias;
obtenção de novas cultivares;
transmissão de caracteres genéticos entre
espécies incompatíveis;
obtenção de plantas transgênicas após a
inserção do DNA em células e protoplastos.
As plantas transgênicas podem ser definidas
como aquelas que apresentam genes que
originalmente não fazem parte do seu genoma.
A hibridação de espécies é utilizada para
oferecer resistência a doenças e, em certos casos, dar
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 67
origem a uma nova espécie.
Podem-se utilizar cruzamentos entre plantas
fltogeneticamente distantes ou a fusão de
protoplastos. Quando não há possibilidade de
cruzamento intra-específico, por incompatibilidade
entre o embrião híbrido e o endosperma da célula-
mãe, in vivo ou in vitro, pode-se usar a fusão dos
protoplastos.
Nessa técnica, as células das duas plantas são
cultivadas isolada-mente in vitro e em seguida suas
paredes são submetidas a digestão enzimática.
Pode então ocorrer, através da corrente
elétrica, a fusão do protoplasto e a hibridação do
citoplasma e do genoma cromossômico, dando
origem a um calo e, posteriormente, a uma planta
inteira.
4.4.1 Cultura de tecidos
A habilidade de regeneração e crescimento
dos tecidos da planta (calos, célula, protoplastos),
órgãos isolados (haste, flores, raízes) e embriões em
cultura asséptica tem sido base para a propagação.
As células que se separam do tecido
constituem material para cultivo de células
individuais. Estas podem ser separadas utilizando-se
um microscópio.
Cultura de tecido é a expressão usada para
indicar cultura asséptica in vitro de uma porção de
parte extraída da planta, sempre que sejam células
capazes de se dividir.
Em geral, os tecidos próximos à zona vascular
das raízes e da haste proliferam mais facilmente. O
cultivo de parte do fruto, endosperma e embrião,
tanto maduro como imaturo, também pode ser
efetuado.
A cultura de tecido, ou micropropagação,
inicia-se pela retirada de um tecido da planta, livre de
microrganismos e transferido para um meio de
cultura (Figura 4.24).
Figura 4.24 – Diagrama da produção de mudas
advindas da micropropagação de gemas terminais e
axilares.
A tecnologia utilizada para iniciar a
propagação é explant, que corresponde a um processo
de propagação como estaquia, enxertia ou sementes.
Quanto menor o explant, maior a proporção de
plantas sadias.
O explant é essencialmente uma estaca
miniaturizada.
O princípio da cultura de tecido baseia-se na
separação dos componentes biológicos do sistema e
do alto grau de controle em cada aspecto da
regeneração e do desenvolvlinento. A cultura de
tecido é baseada no princípio de totipotência, isto é, o
conceito de que cada célula tem o potencial genético
de se reproduzir identicamente.
4.4.2 Cultura meristemática
Trata-se da extração do meristema apical ou
dos primórdios foliares. Esse sistema de propagação
consiste basicamente em obter uma planta livre de
vírus (Figura 4.25).
Quanto menor o explant, maior a segurança
em obter uma planta livre de patógeno.
O meristema apical com 0,10 a 0,15 mm é
mais efetivo na eliminação do patógeno que o de 1
mm. Porém, quanto menor o ex-plant, maior a
dificuldade para a sua sobrevivência.
O uso de explantes maiores que 0,25 a 1 mm
facilita a propagação, mas a ausência de vírus deve
ser conferida pela indexação. O meristema apical é
incapaz de sobreviver e produzir raízes isoladamente.
Para a sua sobrevivência, deve levar consigo
primórdios foliares.
Figura 4.25 - Diagrama da cultura de meristema: a
limpeza clonal poderá ser obtida no final deste
processo.
Outra opção seria a utilização da
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 68
microenxertia como meio de produzir uma planta
livre de vírus. A microenxertia consiste em enxertar
ápices caulinares com aproximadamente 0,15 mm em
plântulas provindas de sementes, sob condições de
cultivo in vitro (citros) Figura 4.26.
Figura 4.26 – Representação das etapas do processo
de microenxertia. A) o porta-enxerto é retirado do
tubo de cultura; B) os ápices caulinares e radicular
são cortados, deixando 1,5 a 2 cm do epicótilo e 4 a 6
cm do hipocótilo; C) a incisão em T invertido é feita;
D) o ápice caulinar (meristema apical com 2
primórdios foliares) é excisado, colocado em contato
com a casca, para que o ápice fique voltado para
cima; E) o microenxerto é colocado em meio de
cultura sobre porta-enxerto preexistnte com diâmetro
igual a um lápis, desenvolvido em casa de vegetação.
4.4.3 Microgarfagem
Em citros, utilizam-se suas sementes como
cavalo. Elas são esterilizadas e semeadas em meio
inorgânico, com solução de ágar. O embrião germina
no escuro, em duas semanas. O seedling é removido,
decapitado a 1 ou 1,5 cm de comprimento; os
cotilédones e as gemas laterais são removidos com
uma lâmina. Um meristema apical com
0,14 a 0,18 mm, com três folhas primordiais, é
utilizado como enxerto. Pode-se também enxertar por
borbulhia, em T invertido, com 1 mm de
comprimento.
A planta enxertada é colocada em um meio
líquido, utilizando-se papel de ffltro como suporte da
haste. A cultura é mantida em condições de
iluminação por três a cinco semanas, até que haja o
pegamento do enxerto.
Quando duas folhas expandidas aparecem no
enxerto, a planta pode ser transplantada para outro
meio. Processo semelhante é utilizado para maçã e
ameixa e outras espécies de Prunus.
4.4.4 Cultura de embrião
É obtido separando-se o embrião da semente
na fase de desenvolvimento e colocando para
germinar em um meio especial. Uma das vantagens
desse processo é a obtenção de plantas de
cruzamentos interespecíficos.
A desinfecção do material pode ser feita
utilizando-se ácido carbônico a 5% por cinco
minutos, ou álcool, ou hipoclorito Ca ou Na.
4.4.5 Meio e materiais da propagação
O método asséptico de micropropagação
consta de:
• assepsia — as plantas apresentam
contaminação por bactérias,
fungos ou ambos, daí a necessidade de um
meio de propagação asséptico;
• ambiente — deve ser isolado, livre de pó e
de correntes de ar. Devem-se utilizar lâmpadas
germicidas;
• instrumentos escapelo, fórceps, agulha,
placa de Petri, tubo de ensaio, frasco de Erlemnmayer
etc.;
• meios ágar, meio sólido de propagação.
Juntar 0,5% à solução;
• complexo orgânico — água ou leite de coco
na proporção de 10 a 15% por volume;
• elementos inorgânicos — N, P, K, Ca, Mg,
Bo, Mn, Zn, Mo, Cu, Co, Fe;
• açúcar — 2 a 4%, como fonte de energia;
• vitaminas (tiaminas, inositol, ácido
nicotínico, pirodoxina) —reguladores de
crescimento, auxina, citocinina ou AIA;
• AIA de 1 a 50 mg/litro, 2,4-D
diclorofenilacético 0,05 a 0,5 mg/ litro, ANA 0,1 a 10
mg/litro;
• tubo com meio de cultura deve ser
esterilizado a 1200C por 15 minutos, em autoclave.
As substâncias químicas devem ser preparadas
antecipadamente, com uma concentração dez a cem
vezes superior à requerida. Essas soluções devem ser
armazenadas em câmaras frias e conservam-se por
muito tempo. O pH da solução deve ser de 5 a 6.
4.4.5 Indexação
Vem a ser o método para detectar a presença
ou a ausência de vírus conhecidos em plantas
suspeitas.
A técnica para identificação biológica é
conhecida como dupla enxertia, isto é, introduzem-se
duas a três gemas da planta a ser testada em um
porta-enxerto e acima a gema indicadora.
A indexação permite detectar todos os
patógenos envolvidos e importante nos trabalhos de
limpeza clonal em relação às viroses.
É importante que materiais livres de vírus
sejam indexados após algum tempo de obtenção. Os
métodos biológicos de diagnose, basea dos na
utilização de plantas indicadoras, ainda são eficientes
ser trabalho de limpeza clonal.
O processo consiste em enxertar um material
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 69
suspeito sobre um cavalo sadio, mas suscetível,
chamado planta indicadora, que é um planta que
reage a determinado patógeno específico e que
posterior mente mostrará sintomas.
Se o tecido estiver infectado, o vírus será
transmitido por meio de enxertia, e a planta sadia
reproduzirá os sintomas. O teste de sorologia
identifica uma proteína associada com partículas do
patógeno.
O uso do teste imunológico do Elisa e do Isem
tem a vantagem de maior rapidez e capacidade para
um grande número de amostras Por esse motivo, esse
teste é adequado para acompanhar programas de
certificação de material testado, livre de vírus. A
leitura é baseada na mudança de cor do substrato.
É interessante assinalar que características
agronômicas vantajosas podem resultar da infecção
por vírus ou outro patógeno. A vantagem se refere,
em alguns casos, ao menor porte; em outros, à
precocidade de produção.
O limão Taiti quebra-galho, assim
denominado pela constante quebra de galhos,
apresenta porte baixo, devido à presença de exocortes
dos citros. Quando enxertado por uma borbulha
simples, tem crescimento vigoroso, quando livre do
viróide. Recomenda-se uma borbulha para formar a
planta e outras para garantir a infecção, reduzindo o
porte e a precocidade de frutificação.
4.5 Matrizes copa e porta-enxertos
Para a produção de mudas de alto padrão,
verifica-se que há necessidade de plantas
fornecedoras de material básico para propagação.
Além de tudo isso, para que se tenha um material
genético de qualidade e isento de pragas e doenças,
alguns tratos culturais são imprescindíveis. Esses
tratos culturais, para facilitar o entendimento e a
redação, podem ser resumidos em um conjunto de
operações básicas para manutenção e qualidade do
material de propagação.
O condicionamento pode promover ou
facilitar a propagação, porém, muitas vezes requer
que se associe o uso de substâncias químicas
reguladoras de crescimento.
4.5.1 Ação da copa sobre o porta-enxerto
O enxerto age sobre o cavalo de vários modos,
porém as alterações sofridas pelo cavalo nem sempre
podem ser bem apreciadas, pelo fato de ele se situar
abaixo do solo. A influência se estende ao sistema
radicular, alterando o desenvolvimento, a penetração
e a distribuição no terreno.
4.5.2 Ação do porta-enxerto sobre a copa
Na fruticultura moderna, com algumas raras
exceções, quase todas as árvores frutíferas cultivadas
são formadas por uma associação de duas espécies ou
variedades diferentes, uma chamada porta-enxerto e a
outra, enxerto ou copa.
Ambas as partes devem apresentar perfeita
harmonia e, portanto, evitar, tanto quanto possível,
alterações no comportamento biológico, fisiológico e
nas adaptações às condições ecológicas.
Entretanto, como o enxerto atua sobre o
cavalo, alterando o seu comportamento, o inverso
também se dá, isto é, o porta-enxerto age sobre o
enxerto, e as alterações são mais visíveis, pelo fato de
a copa se encontrar ao alcance do observador.
Conhecida, portanto, a influência do cavalo
sobre o enxerto, devese, ao se associar dois
indivíduos, procurar escolher aqueles que melhor se
interligam em cada situação. A localidade, por várias
razões, pode alterar o comportamento das plantas,
obrigando a um estudo do assunto.
O cavalo atua sobre o enxerto, alterando o
comportamento em relação ao seu desenvolvimento,
produtividade, época de maturação, qualidade,
resistência a baixas temperaturas, a doenças fúngicas
e viróticas e à nutrição.
Desenvolvimento
Em geral, a copa da árvore enxertada tende a
atingir um tamanho igual àquele que o cavalo teria se
não fosse enxertado. Há, porém, exceções, como
ocorre em citros. A laranja-azeda normalmente
comunica a toda a copa grande desenvolvimento,
porém, quando enxertada com a variedade Satsuma,
esta tem o seu porte diminuído.
A ação do porta-enxerto sobre o enxerto pode
ser apreciada em diferentes espécies. Assim, em
citricultura, a laranja-doce adquire maior
desenvolvimento quando enxertada sobre laranja-
azeda do que sobre laranja caipira ou limão-cravo e
torna-se ainda mais reduzida quando o cavalo é de Poncirus trifoliata.
O desenvolvimento da copa alterado,
influência obrigatoriamente o fruticultor a tomar
medidas em cada caso, principalmente no que se
refere ao espaçamento. Assim, a distância entre
plantas num pomar está condicionada, além de à
fertilidade do solo, ao porta-enxerto e à variedade
empregada.
Produtividade
O porta-enxerto interfere na produção,
aumentando-a ou reduzindo-a. A produtividade de
uma árvore está intimamente relacionada à presença
de carboidratos, que são responsáveis pela formação
das gemas floríferas.
Porta-enxerto vigoroso às vezes predispõe a
planta a um desenvolvimento excessivamente
vegetativo, em detrimento da frutificação. Um de
menor porte tende a reduzir o volume da copa, porém
propicia condições para o suprimento adequado de
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 70
carboidratos e, portanto, predispõe a planta ao
florescimento.
Em citros, a produtividade está em grande
parte relacionada ao porta-enxerto. Assim, laranja-
azeda leva a planta a maior produtividade que laranja
caipira, e esta, por sua vez, supera o limão-cravo, que
suplanta o poncirus.
Com relação à precocidade da produção, isto
é, o tempo necessário para a planta entrar em
produção, observa-se um efeito pronunciado do
porta-enxerto. Em citros, o porta-enxerto que induz maior
precocidade é o do limão-cravo, seguido do de
caipira e laranja-azeda.
Maturação
A época de maturação dos frutos, e a sua
permanência na árvore, parece estar, em grande parte,
condicionada ao porta-enxerto.
Os porta-enxertos que comunicam à copa
maior vigor vegetativo tendem a atrasar a maturação
dos frutos. Em citros, o porta-enxerto de poncirus
antecipa a maturação dos frutos em relação aos
cavalos de caipira e azeda.
A permanência dos frutos na árvore está em
grande parte relacionada ao porta-enxerto. A laranja-
azeda induz a copa a manter os seus frutos maduros
por mais tempo do que outros porta-enxertos. Já o
limão rugoso retém apenas por pouco tempo os frutos
que já atingiram a maturação.
Comportamento com relação às doenças
A vegetação, a composição dos tecidos e a
maturação do lenho estão mais associadas ao hábito
de vegetação do porta-enxerto e à afinidade existente
entre eles.
O cavalo pode predispor as copas a maior
incidência de doenças causadas tanto por fungos
como por vírus, bem como pode comunicar maior
resistência à copa.
Não se conhece, até o momento, maior
resistência da copa a doenças causadas por fungos,
por ação direta do porta-enxerto. Se alguma
influência existe, ela é de ação indireta, ligada à
melhor distribuição dos ramos.
As doenças causada por vírus podem estar
relacionadas à maior ou menor suscetibilidade do
porta-enxerto ou enxerto. Elas podem ser
transmitidas pelas borbulhas ou se devem à maior
sensibilidade da variedade.
A doença chamada tristeza ocorre quando se
enxerta laranja-doce sobre laranja-azeda. A
xiloporose ocorre na combinação laranja-barão sobre
lima-da-pércia.
Alterando-se a combinação enxerto e porta-
enxerto, a doença deixa de prejudicar o
desenvolvimento, por serem ambos tolerantes à
exocortis, que surge quando se enxerta laranja-doce
sobre cravo ou poncirus e desaparece quando se
substitui pelo porta-enxerto de laranja caipira.
Indução de deficiência nutricional
Muitas deficiências que surgem nas copas das
plantas enxertadas têm como causa a barreira
levantada na região do enxerto. Essa barreira impede
ou dificulta a translocação ou movimento de
elementos nutritivos.
Quando a planta é enxertada, há em alguns
casos um estrangulamento na região da enxertia. Esta
funciona algumas vezes como crivo, podendo
facilitar ou dificultar a translocação de certos
elementos e exercer uma ação seletiva, levando a
planta a exibir sintomas de deficiência.
Analisando situação da combinação limão
sobre laranja-azeda ou pomelo, verificaram que os
cavalos apresentavam teor mais baixo de magnésio,
quando comparado com esses porta-enxertos não-
enxertados. Quando se enxertaram laranja-doce e
pomelo em cavalo de laranja caipira, encontrou-se
maior teor de magnésio solúvel no cavalo.
Assim, a deficiência de uma planta não está
ligada somente à maior ou menor disponibilidade dos
elementos no solo, mas também à afinidade que
determinados porta-enxertos possuem em absorver e
translocar esses elementos.
4.6 Referências
CÉSAR, H. P. Manual prático do enxertador: e
criador de mudas de árvores frutíferas e dos arbustos
ornamentais. 14 ed. São Paulo: Nobel, 1986.
FACHINELLO, J.C.; HOFFMANN, A.;
NACHTIGAL, J. C.;. KERSTEN, E.; FORTES, G.R.
de L. Propagação de plantas frutíferas de clima
temperado. 2ª ed. Pelotas: UFPEL, 1995. 178 p.: il.
RAMOS, J. D. Fruticultura: Tecnologia de
produção, gerenciamento e comercialização. 1 ed.
Lavras: UFLA, 1998. CD´rom.
SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba:
FEALQ, 1998. 760p.: il.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 71
5. VIVEIROS
A muda é o insumo mais importante na
implantação de um pomar – mudas produzidas com
qualidade, desde que adequadamente manejadas,
originam pomares produtivos e rentáveis. No
processo de produção de mudas de boa qualidade,
diversos cuidados devem ser tomados, desde a
escolha da planta matriz até a comercialização da
muda.
Assim, um dos aspectos de grande
importância é a infra-estrutura do viveiro. Uma infra-
estrutura adequada, racional e tecnificada é o
primeiro passo para que o viveirista tenha uma
atividade tecnicamente viável.
A escolha da infra-estrutura do viveiro de
produção de mudas frutíferas é dependente de
diversos fatores, tais como: quantidade de mudas
produzidas, regularidade desejada da oferta de
mudas, número de espécies a serem propagadas,
método de propagação, custo das instalações e grau
de tecnificação do viveirista. Em relação a este
último fator, vale ressaltar que a propagação de
plantas é uma atividade muito dinâmica e
freqüentemente tem tido avanços que possibilitam a
produção com qualidade e eficiência – daí, a
importância do viveirista estar em contínuo contato
com os órgãos de pesquisa, universidade e serviços
de extensão, para o seu constante aperfeiçoamento.
5.1 Tipos
Entende-se por viveiro a área onde são
concentradas todas as atividades de produção de
mudas.
Os viveiros podem ser classificados, quanto à
sua duração, em permanentes e temporários. Os
viveiros permanentes são aqueles que têm caráter
fixo e, neles, a produção de mudas prolonga-se por
vários anos. Por isso, requerem um bom
planejamento para a instalação, incluem uma infra-
estrutura permanente e apresentam, em geral, maiores
dimensões. É importante frisar que, por mais que o
viveiro seja permanente, quando o plantio é feito no
solo, uma mesma área pode ser utilizada com a
mesma espéc ie por, no máximo, dois anos e por no
m áximo três anos se rotacinada, devido à alta
sensibilidade das mudas a pragas, doenças e
invasoras, sendo necessária a adoção de rotação de
culturas.
Os viveiros temporários destinam-se à
produção de mudas apenas durante certo período e,
uma vez cumpridas as suas finalidades, são
desativados. Viveiros temporários, embora menos
comuns que os viveiros permanentes na produção de
mudas frutíferas, podem representar menor custo,
quando não é necessária uma infra-estrutura
definitiva.
Quanto à proteção do sistema radicular, os
viveiros podem ser classificados em viveiros com
mudas de raiz nua e viveiros com mudas em
recipientes. Os viveiros para produção de mudas em
raiz nua são aqueles feitos no solo, em área de solo
profundo (pelo menos 1 metro) e bem manejado,
objetivando que as mudas, para comercialização,
sejam retiradas com raiz nua (mesmo que, em alguns
casos, um torrão possa acompanhar a muda). Neste
tipo de viveiro, são feitos canteiros, delimitados por
carreadores, por onde transitam os veículos. Os
viveiros para produção de mudas em recipientes
implicam, em geral, em menor necessidade de área,
sendo mais versáteis e permitindo que uma mesma
área seja utilizada por muito mais tempo que o tipo
anterior, desde que o substrato seja tratado e torne-se
isento de pragas, doenças e propágulos de invasoras.
Figura 5.1 – Tipos de viveiro quanto a sanidade da
muda.
Viveiro à céu aberto
Viveiro sob telado
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 72
Quanto ao controle sanitário das mudas, há
dois tipos básicos de viveiros: à céu aberto e sob
telado (proteção com telas anti-afídica).
5.2 Localização
A escolha do local é o primeiro passo para a
instalação do viveiro e apresenta grande importância,
desde que atendidos os seguintes aspectos:
a) Facilidade de acesso: é conveniente que o
viveiro tenha fácil acesso aos compradores das
mudas, pois é um fator que favorece a
comercialização e a escolha do viveirista. Neste
sentido, deve-se dar especial atenção às estradas que
conduzem ao viveiro, possibilitando o fácil trânsito
dos veículos que transportam as mudas. Por outro
lado, o viveiro deve estar afastado de estradas
públicas de grande movimento, para reduzir o risco
de infestação das mudas.
b) Suprimento de água: a água é o principal
insumo em um viveiro. O cálculo da necessidade de
água, para a irrigação e tratamentos fitossanitários,
depende do número de tratamentos fitossanitários, do
consumo de água por irrigação, das necessidades
hídricas das mudas e da precipitações médias.
c) Distância da área de plantio: embora seja
aconselhável que o viveiro esteja localizado na
mesma região onde se concentram os pomares,
reduzindo o tempo de transporte das mudas e as
perdas devido à movimentação, deve-se ter grandes
cuidados para que uma distância mínima de pomares
seja observada. De modo geral, se recomenda que o
viveiro esteja localizado a, no mínimo, 50 metros de
um pomar de mesma espécie, porém, quanto maior a
distância, menor o risco de infestação das mudas. Os
maiores cuidados quanto ao isolamento do viveiro
dizem respeito a vetores aéreos de viroses (afídeos) e
vetores do solo (nematóides).
d) Ocorrência de invasoras: o viveiro deve
estar localizado em área livre de invasoras. Viveiros
com determinadas invasoras não podem ser utilizados
e a comercialização de mudas produzidas dos
mesmos é proibida por lei. As principais invasoras
incluídas nesta classe são a tiririca (Cyperus
rotundus) e grama-seda (Cynodon dactylon). Além
disso, como o controle de invasoras é mais difícil em
viveiros, deve-se fazer uma contínua vigilância e
erradicação das invasoras. O uso de substratos
solarizados resolve o problemas de plantas dainhas,
de pragas e doenças.
e) Facilidade de obtenção de mão-de-obra:
viveiros demandam grande quantidade de mão-de-
obra, tanto para a produção de mudas em si, como
também para o monitoramento e controle de
invasoras, pragas e doenças. A disponibilidade de
mão-de-obra próxima ao viveiro contribui para a
redução do custo de produção de mudas.
f) Declividade da área: é recomendável que a
área tenha pouca declividade e esteja localizada em
área de relevo levemente ondulado, porém não esteja
localizado em áreas muitos planas que venham a
acumular a água das chuvas ou das irrigações.
Independente do grau de declividade da área, os
canteiros devem estar localizados no sentido
perpendicular à movimentação da água, para reduzir
os ricos de erosão. Quanto maior a declividade,
maiores devem ser os cuidados quanto à práticas
conservacionistas.
g) Aspectos físicos do solo: é conveniente a
instalação de viveiros em área com solos profundos, e
medianamente arenosos. Porém, como nem sempre
isto é possível, deve-se escolher as áreas cujo solo
apresenta as melhores condições físicas possíveis.
Solos muito argilosos dificultam a mecanização e o
desenvolvimento radicular. Solos com elevada
porosidade são desejáveis – esta característica pode
ser parcialmente melhorada com incorporação de
matéria orgânica e adubação verde. Especialmente
em áreas onde há intensas chuvas, o solo deve ter boa
capacidade de drenagem, devendo serem evitadas
áreas encharcadas ou sujeitas à inundação, pois isso
aumenta o risco de podridões de raízes e de toxidez
de manganês. Para a adoção de sistemas de
drenagem, deve-se estudar as características físicas
do solo, tais como a profundidade do horizonte
impermeável, condutividade hidráulica e textura.
h) Aspectos químicos do solo: embora as
condições químicas dos solos podem ser modificadas,
a localização do viveiro em área cujo solo não seja
muito ácido, tenha boa fertilidade natural e bom teor
de matéria orgânica reduz os custos de implantação.
i) Aspectos biológicos do solo: solos em
riscos de matéria orgânica tem vida micro e
macrobiana mais ativa, o que pode favorecer o
desenvolvimento das mudas. Porém, deve-se utilizar
áreas isentas de nematóides, insetos de solo, fungos
patogênicos e bactérias fitopatogênicos. Por isso, é
necessário o monitoramento através de análises
microbiológicas do solo a ser utilizado como viveiro.
Essas características de solo são dispensáveis
para casos em que o viveiro é do tipo mudas em
recipentes, neste o máixmo decuidado com a
qualidade do substrato.
j) Cultivos anteriores: o viveiro deve estar
localizado em área onde não existiram pomares há,
pelo menos 5 anos, e onde não existiram viveiros há,
pelo menos 3 anos. Quando se utilizam áreas onde,
anteriormente havia mata ou outras plantas perenes,
deve ser feita a destoca no mínimo 2 anos antes da
implantação do viveiro, plantando-se gramíneas
anuais até que o viveiro seja implantado. Estas
gramíneas podem ser incorporadas ao solo para
elevação do teor de matéria orgânica. Algumas
plantas frutíferas liberam no solo algumas fitotoxinas,
as quais comprometem os cultivos posteriores,
implicando na necessidade de ser feita a rotação de
culturas.
k) Aspectos climáticos: o melhor clima do
local onde o viveiro será implantado depende da(s)
espécie(s) a ser(em) propagada(s). Entre os fatores
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 73
climáticos mais limitantes estão a temperatura, a luz e
a ocorrência de ventos. No que se refere à
temperatura, é importante que o viveiro esteja
localizado em área o mais livre possível de geadas.
Além disso, temperaturas médias mais elevadas
facilitam a produção de mudas em menor tempo.
Como exemplo, pode ser citado o fato de que,
enquanto mudas cítricas requerem cerca de 24 meses
para serem produzidas em SP, no RS requerem cerca
de 36 meses. A exposição à luz é fundamental,
especialmente na fase final de propagação, sendo
preferencial a exposição Norte. Ventos muito fortes
aumentam a quebra no local da enxertia, podendo
requerer a implantação de quebra-ventos.
5.3 Dimensionamento
A extensão da área do viveiro depende de
diversos fatores, sendo os principais:
a) Quantidade de mudas para plantio e
replantio, determinada pela capacidade operacional
do viveiro e da demanda por mudas pelos produtores.
b) Densidade de mudas, o que depende da
espécie e do tempo de permanência, de modo a
proporcionar as melhores condições para o seu
desenvolvimento.
c) Período de rotação, que se refere ao tempo
que a muda permanece desde o início da sua
produção até o seu replantio ou comercialização.
Também é dependente da espécie, além de depender
do método de propagação e do manejo da muda.
d) Dimensões dos canteiros e carreadores, que
dependem da espécie a ser propagada e do grau de
mecanização adotado. Viveiros com maior grau de
mecanização requerem canteiros mais longos,
maiores distâncias entre linhas e carreadores mais
largos.
e) Dimensões das instalações, que são
determinadas principalmente, pela quantidade de
mudas que são produzidas, pelo método de
propagação adotado e pelo grau de tecnologia
empregado.
f) Áreas para rotação, fundamentais para a
produção de mudas sadias, especialmente se a
produção de mudas for feita diretamente no solo. O
dimensionamento do viveiro deverá considerar a
disponibilidade de áreas para rotação, de modo que
uma mesma área não seja utilizada para produção de
mudas por mais de 2 anos.
Um dos aspectos fundamentais a serem
considerados no planejamento e dimensionamento
dos viveiros é a seleção das espécies a serem
propagadas. Há viveiristas especializados em
propagar apenas uma espécie, bem como viveiristas
extremamente ecléticos, os quais propagam inúmeras
espécies.
5.4 Instalações
A necessidade de instalações depende de
diversos fatores e deve considerar a máxima
eficiência no uso das mesmas, economicidade para
construção e facilidade no manejo para produção das
mudas. O grau de sofisticação das instalações
depende da interação entre fatores como a espécie a
ser propagada, quantidade de mudas a serem
produzidas, o poder aquisitivo do viveirista e
cumprimento da legislação vigente. As principais
instalações necessárias no viveiro são:
a) Escritório, onde são armazenadas todas as
informações referentes à produção de mudas, bem
como a centralização das operações de
comercialização, contratação de mão-de-obra e
comunicação com clientes e outros viveiristas.
b) Depósito para equipamentos e
ferramentas, onde são guardados ferramentas e
equipamentos.
c) Depósito para produtos químicos.
d) Telado, que é estrutura, de madeira ou
metal, coberta com tela de sombreamento, conhecida
popularmente como Sombrite. O telado é útil nas
seguintes situações: manutenção de plantas matrizes
isentas de viroses, aclimatação de mudas e produção
de mudas que exigem sobreamento inicial. As telas
podem apresentar diferentes graus de sombreamento,
sendo importante considerar que, quando maior o
grau de sombreamento, maior ocorrência de
estiolamento das mudas que permanecerem por longo
tempo no telado e, por conseqüência, maior a
facilidade das mudas morrerem quando da sua
transferência para o pomar. O tipo de tela mais
utilizado é o que permite um sombreamento de 50%.
O telado pode ter diferentes dimensões, podendo ser
permanente ou temporário. O telado pode ser ou não
dotado de sistema de irrigação por nebulização.
Em casos de telado para matrizes protegidas
de virose, a malha deve ter abertura de no máximo
0,8 mm2.
e) Estufa, também conhecida como casa de
vegetação, é uma estrutura parcial ou completamente
fechada, com estrutura de madeira ou metal
(alumínio, aço ou ferro galvanizado), coberta, em
geral com plástico especial para esta finalidade. A
estufa pode ainda ser coberta de vidro ou fibra de
vidro, porém isto acarreta maior custo. A grande
vantagem do uso de estufas em viveiros é a
possibilidade de controle ambiental de modo a
maximizar a produção de mudas, reduzindo o tempo
necessário para a propagação e permitindo que as
mudas possam ser produzidas em mais épocas do
ano. Normalmente, as estufas possuem sistemas de
nebulização intermitente, o que mantém elevada a
umidade relativa do ar, permitindo a propagação
através de estacas com folhas (técnica que, em certas
espécies, viabiliza a propagação através de estaquia).
A elevada umidade do ar e a elevada temperatura
aumentam a velocidade de crescimento das plantas.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 74
As estufas podem ser construídas pelo próprio
viveirista ou adquiridas de empresas especializadas
na construção das mesmas. Além do sistema de
nebulização, as estufas podem ser dotadas de
sistemas automatizados para aquecimento do
substrato, diminuição da temperatura, controle do
fotoperíodo, entre outros. Entre os problemas
relacionados com o uso de estufas, podem ser citados
os seguintes: aumento da dependência da planta em
relação ao homem, elevado custo de implantação,
aumento da sensibilidade e ocorrência de doenças e
dificuldades na aclimatação.
O enraizamento de estacas de muitas espécies,
especialmente através de estacas semilenhosas e
herbáceas é muito difícil se não for adotado um
controle ambiental, principalmente em relação a três
pontos: a) manter alta umidade relativa do ar com
uma baixa demanda evaporativa, de modo que a
transpiração das estacas seja minimizada e haja um
mínimo de perda de água; b) manutenção de
temperatura adequada para estimular o metabolismo
na base das mesmas e suficientemente amena na
parte aérea para reduzir a transpiração e c) manter a
irradiação dentro de um limite suficiente para
ocasionar elevada atividade fotossintética, sem no
entanto, causar aumento excessivo de temperatura
nas folhas. As estufas têm esta finalidade de controle
ambiental. Quanto mais controladas as condições de
propagação, maiores as chances de sucesso,
especialmente naquelas espécies de difícil
propagação. Um dos problemas a serem enfrentados
em estufas nas condições brasileiras é o aumento
excessivo de temperatura, o que implica no uso de
mecanismos de resfriamento do ar. Na literatura, há
citações de que, temperaturas ao redor de 35-40ºC
limitam o crescimento das raízes da maioria das
espécies lenhosas. Por isso, é fundamental, além de
uma boa ventilação, um bom sistema de resfriamento
e sombreamento. Mesmo que a luz seja favorável à
atividade fotossintética das mudas, alta luminosidade
não parece ser a condição mais favorável. Filmes de
polietileno mais modernos estão disponíveis no
mercado com alguns aditivos, tais como acetato de
vinil, alumínio e silicatos de magnésio, os quais
aumentam a opacidade do plástico às ondas longas
(infravermelho), favorecendo o enraizamento.
f) Estufins, que são, na verdade, pequenas
estufas, com maior versatilidade, menor custo e
menor tamanho. Os estufins são construídos,
normalmente, em madeira e com cobertura de
polietileno e podem ser utilizados tanto para a
produção de mudas através de sementes quanto
através de estacas semilenhosas.
g) Ripados, os quais também têm a finalidade
de proporcionar sombreamento, podendo substituir os
telados. São construções simples, relativamente
duráveis, baratas e fáceis de construir, apresentando
como inconveniente o fato de que o sombreamento
não é completamente uniforme.
5.5 Formação da muda
Uma vez planificados os trabalhos a serem
executados, a obtenção de mudas não apresenta
grandes dificuldades, pois as operações desde a
semeadura até a retirada das plantas obedecem a uma
seqüência lógica e natural.
As mudas podem ser formadas a partir de
sementes ou estacas. O uso inicial de uma ou de outra
depende da maior facilidade de multiplicação da
espécie.
5.5.1 Sementes
O uso de sementes e a época de semeadura
decorrem da época de maturação dos frutos e do
poder germinativo das sementes.
Há frutos, segundo a espécie ou variedade,
que são colhidos de janeiro a dezembro, podendo,
assim, fazer-se a semeadura praticamente durante os
doze meses do ano.
Há espécies que têm poder germinativo de
curta duração e outras que o mantêm por vários
meses. As sementes das primeiras devem ser
semeadas tão cedo quanto possível e as das ultimas,
nos períodos mais favoráveis. Há ainda sementes que
necessitam de um período de repouso para germinar.
Elas devem ser tratadas para eliminar a dormência, o
que é feito em câmaras frigoríficas ou por meio de
estratificação.
Semeadura
A semeadura é feita normalmente em alfobre,
em caixas, bandejas e sacos plásticos, e o modo de
distribuição das sementes, a quantidade e a
profundidade dependem da espécie.
A semeadura em caixa só é utilizada quando se
dispõe de pequena quantidade de sementes.
O uso de tubetes ou bandejas de isopor feitas
de poliestireno expandido, com uma série de
cavidades chamadas células, ambos de formato
afunilado e de fundo aberto, para drenagem, facilita a
formação das mudas e impede o enovelamento das
raízes.
Repicagem
Uma vez semeadas, germinadas e formadas as
mudinhas, elas serão desplantadas e a seguir
plantadas no viveiro.
A repicagem vem a ser a retirada das
mudinhas (seedlings) do alfobre e o seu plantio no
viveiro.
A época em que se faz a repicagem está ligada
à espécie. Para espécies como mamoeiro,
maracujazeiro, ingazeira, cupuaçuzeiro e outras é
feita logo após a germinação e, para espécies como
açaizeiro, buritizeiro em 45 dias, mas para espécies
mais lentas em 120 dias ou mais.
A repicagem constitui uma das operações
mais importantes, por possibilitar uma seleção
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 75
rigorosa das plantas. Essa é uma das oportunidades
para eliminar todas as plantas defeituosas e doentes.
E no viveiro que se plasma a longevidade da futura
árvore, e o desbaste, em algumas ocasiões, chega a
ser tão rigoroso que apenas um quarto das mudas é
aproveitado.
A repicagem pode compreender apenas uma
operação, mas pode resultar em várias etapas de
mudanças do ambiente das mudas, desde a
sementeira passando por várias etapas até o viveiro.
Um dos problemas levantados na revisão de
Baldassari et al. (2003), em que sugere como
hipótese de que a poda excessiva por várias
repicagem de mudas de citrus em tubetes possa
predispor a futura planta ao declíneo dos citrus.
Transplante
Após a desplantação e seleção, as plantinhas
são submetidas a tratamento da copa e do sitema
radicular.
Da copa, elimina-se parte dos ramos e das
folhas, para reduzir a transpiração, e, do sistema
radicular, parte das raízes, para manter o equilíbrio
hídrico e evitar o enovelamento, sempre prejudicial.
As plantas assim preparadas serão plantadas
no viveiro, à distância de 0,30 a 0,50 m em linha de 1
a 1,20 m de rua. Após o plantio, os cuidados culturais
devem ser contínuos, de modo a favorecer o
desenvolvimento o mais rápido possível.
5.5.2 Enxertia
A idade da planta a ser enxertada varia com a
espécie, podendo-se proceder à enxertia do oitavo
mês até os dois anos e meio. Excepcionalmente,
como no caso do abacateiro, a enxertia pode ser feita
de quinze a quarenta dias após a germinação.
A época de enxertia depende da biologia da
planta. As espécies caducifólias podem ser
enxertadas durante o período de repouso vegetativo e
as de folhas persistentes, durante a primavera e o
verão e mesmo durante o outono. Isso de um modo
generalizado, pois a época de enxertia, além de estar
ligada à biologia da planta, também depende do tipo
de enxerto utilizado.
5.5.3 Condução da muda
As mudas (plantas enxertadas) são conduzidas
em haste única, apoiadas por tutores laterais, de
bambu ou madeira. Os tutores têm por finalidade
guiar as mudas no sentido vertical, de modo a dar
uma forma correta a copa.
As correções durante o desenvolvimento são
feitas por meio de podas. Estas são chamadas
educação e têm por finalidade manter as mudas com
um fuste perfeito.
Quando as mudas em formação atingem
desenvolvimento conveniente, são podadas para que
a haste forme as pernadas iniciais.
5.5.4 Transplantação
É a operação de retirada das mudas do viveiro
e seu plantio no campo ou seu envasamento para
posterior plantio.
A época está ligada à biologia da planta. As
plantas hibernantes devem ser transplantadas quando
se encontram em estado de repouso vegetativo. O
período mais favorável é de junho a agosto, que
coincide com a queda das folhas (junho) antes que
novas brotações tenham origem (agosto).
As plantas de folhas persistentes seguem
direção inversa, isto é, devem ser transplantadas
quando se encontram em atividade vegetativa,
período esse que coincide com a elevação da
temperatura e o início das chuvas e se prolonga até o
término do período das águas e queda de temperatura.
A retirada da muda do local onde ela se
encontra para posterior aproveitamento chama-se
desplantação, operação delicada e exerce influência
no pegamento.
As mudas podem ser desplantadas de raízes
nuas ou com o torrão, dependendo da espécie, do
interesse do viveirista e do comprador.
5.6 Substratos e recipientes
Entende-se por substrato qualquer material
que é usado com a finalidade de servir de base para o
desenvolvimento de uma planta até a sua
transferência para o viveiro ou para a área de
produção, podendo ser compreendido não apenas
como suporte físico, mas também como fornecedor
de nutrientes para a muda em formação. Em geral, o
termo 'substrato' refere-se a materiais dispostos em
recipientes, mas pode incluir também o solo da
sementeira ou do viveiro, onde muitas vezes se dá o
desenvolvimento inicial da muda. As características
mais adequadas para uso como substrato são
semelhantes para materiais em recipientes ou para o
solo em sementeira ou viveiro.
O substrato é um dos principais fatores que
condicionam o sucesso na propagação de plantas. Na
opção por um determinado material como substrato,
objetiva-se otimizar as condições ambientais para o
desenvolvimento da planta em uma ou mais etapas da
propagação.
Inúmeros materiais podem ser usados como
substratos na produção de mudas frutíferas. A
escolha do substrato, ou mistura de substratos, mais
adequada para uma determinada situação é função da
técnica de propagação, da espécie (e, em alguns
casos, da cultivar), das características do substrato,
do custo e da facilidade de obtenção de cada material.
Podem estar incluídos desde materiais que
permitam a germinação das sementes e o posterior
desenvolvimento dos 'seedlings', até outros que
possibilitem o enraizamento de estacas e o
desenvolvimento das raízes adventícias, bem como
materiais que proporcionem condições adequadas
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 76
para a aclimatização de plantas propagadas através de
técnicas de micropropagação.
Segundo Kämpf (2000), um substrato deve
possuir boas condições físico-hídricas e químicas:
Em geral, os valores do espaço de aeração deve
variar entre 2 a 30% do volume, pois há plantas
adaptadas para as diferentes faixas de macroporos no
substrato. A condutividade elétrica pode variar entre
2,0 a 4,0 dS m-1 é alta para substrato, de 1,0 a 2,0 dS
m-1
é normal e < 1,0 dS m-1
é baixa. Em relação à
água disponível (AD), De Boodt e Verdonck (1972),
citado por Ferraz et al. (2005) afirmam que os valores
ideais variam de 0,20 m3 m
-3 a 0,40 m
3 m
-3.
Segundo Plank (1989), os substratos para
plantas deve ter como teores ótimos de nutrientes, os
seguintes valores: 110 a 179 mg L-1
de K, 140 a 219
mg L-1
de Ca, 8 a 13 mg L-1
de P, 60 a 99 mg L-1
de
Mg e 80 a 139 mg L-1
de N.
A casca de arroz não teve ser quimada, apenas
carbonizada. Uma das formas de carbonizar a casca
de arroz é utilizar uma espécie de tacho imborcado,
com alças para permitir entrada de oxigênio por
baixo e uma chaminer, que pode ser substituído por
uma lata de tinta furada com uma chaminer, de
acordo com Figura 5.2. Outra forma é o uso de forno
com chapa de ferro, tipo forno de farinha, que utiliza
lenha como fonte de calor. Este forno pode ser
utilizado também para esterilizar o substrato de
doenças e plantas espontâneas.
5.6.1 Substratos para sementes
Considerando que, tanto a germinação quanto
o desenvolvimento das mudas requer água, oxigênio
e suporte físico, a germinação das sementes pode
acontecer em qualquer material que proporcione
reserva de água suficiente para a germinação, como
por exemplo papel-toalha, areia, serragem e outros,
desde que atendidas as seguintes condições:
a) ter boa capacidade de drenagem da água,
mas retendo suficiente teor de umidade que garante
água suficiente para a embebição da semente;
b) proporcionar ambiente escuro, em virtude
de muitas espécies serem fotoblásticas negativas e
das raízes serem fototrópicas negativas;
c) estar isento de inóculo de patógenos ou
saprófitos, os quais podem prejudicar a germinação e
o desenvolvimento das mudas. A presença de
patógenos pode provocar a ocorrência de "damping-
off", que ocasiona desde um baixo índice de
sobrevivência das plantas na repicagem até a morte
das plântulas logo após sua emergência;
d) estar isento de propágulos (sementes ou
estruturas vegetativas) de invasoras, especialmente
no caso de a muda oriunda deste processo ser
comercializada ou levada ao campo com torrão.
Cuidados especiais devem ser dispensados
quando do uso de serragem, pois, em estado fresco,
pode liberar toxinas prejudiciais à sementes e à
plântula. No caso de se utilizar materiais inertes, é
convenientes fazer a transferência para um meio com
nutrientes tão logo ocorra a emergência.
Inúmeros materiais são citados na literatura
como adequados para a germinação e/ou
desenvolvimento de plantas propagadas por
sementes. No Quadro 5.1, são apresentadas algumas
características de materiais que podem ser utilizados
como substratos na propagação por sementes.
A associação de materiais permite melhor as
condições para desenvolvimento das mudas. Assim, a
grande maioria dos trabalhos com substratos na fase
de desenvolvimento de mudas inclui misturas de
solo, materiais orgânicos e condicionantes físisico
(fino de carvão, vermiculita e casca-de-arroz
carbonizada). A mistura com materiais orgânicos
além do fornece nutrientes, favorecendo o
desenvolvimento das raízes e da planta pela melhoria
das condições físicas do substrato (Ferraz et al.,
2007; Galvão et al., 2007; Mendonça et al., 2008;
Araújo Neto et al., 2009).
5.6.2 Substratos para enraizamento de estacas
O substrato é um dos fatores de maior
influência no enraizamento, especialmente naquelas
espécies com maior dificuldade de formação de
raízes. O substrato não apenas afeta o percentual de
estacas enraizadas como também a qualidade do
sistema radicular da muda. Destina-se a sustentar as
estacas durante o período de enraizamento, mantendo
sua base em um ambiente úmido, escuro e
suficientemente aerado. Em um sentido mais restrito,
o substrato deve garantir as condições adequadas
apenas para o enraizamento das estacas. Numa
abordagem mais ampla, porém, é conveniente que
algumas condições sejam oferecidas para que haja o
desenvolvimento inicial das raízes adventícias, tais
como o fornecimento de nutrientes e o uso de
materiais orgânicos, os quais podem favorecer o
desenvolvimento radicular e, por conseqüência, o
pegamento e desenvolvimento no viveiro ou no
campo.
Para proporcionar um bom enraizamento e
desenvolvimento da muda, um bom substrato é
aquele que possui as seguintes características:
a) Retém água suficiente para manter as
células túrgidas, evitando o murchamento da estaca;
b) Garante aeração suficiente, através de um
adequado espaço poroso, para a formação das raízes e
para o metabolismo radicular;
c) Adere-se bem à estaca e às raízes formadas;
d) Não favorece a contaminação e o
desenvolvimento de patógenos e saprófitos, tanto por
ser fonte de inóculo quando por criar condições
favoráveis ao desenvolvimento de microorganismos;
e) Permite que as estacas enraizadas sejam
removidas com um mínimo de dano às raízes;
f) Tem baixo custo e é fácil aquisição;
g) Não contém ou libera quaisquer substâncias
fitotóxicas à estaca.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 77
Quadro 5.2 Vantagens e desvantagens de alguns
substratos para enraizamento.
Substrato Vantagens Desvantagens
Solo Adequado para estacas
lenhosas
Pouca drenagem em
nebulização; fácil
disseminação de doenças (exige desinfestação)
Areia Baixo custo; fácil
disponibilidade; boa drenagem sob
nebulização; adequada
para estacas herbáceas e semilenhosas
Sob nebulização, a areia
muito fina pode ser compactada e as raízes
podem ser menos
ramificadas; inadequada para ambiente externo,
devido à pouca retenção
de água; peso elevado, resultando em danos às
raízes na repicagem
Turfa Reação ácida,
adequada para
algumas espécies
Difícil obtenção em
algumas regiões
Casca-de-
coco
Possui estrutura física
vantajosa proporcionando alta
porosidade e alto
potencial de retenção de umidade, além de
ser um resíduo
biodegradável contribuindo com a
diminuição do lixo
industrial.
apresenta salinidade de
média a alta, relação C/N alta, condutividade
elétrica alta.
Fino-de-
carvão (pó
de carvão vegetal)
Aumenta a porosidade,
a capacidade de
retenção de água e facilita a proliferação
de microorganismos
benéficos.
Vermiculita Não dissemina
doenças; adequado
para estacas herbáceas
e semilenhosas; baixo peso; elevada
porosidade; boa
retenção de umidade
Custo elevado. Exige
fertilização para o
desenvolvimento das
mudas.
Composto
orgânico
Fornece nutrientes
para a futura muda;
boa retenção de umidade; baixo custo;
boa retenção de água;
alto poder tampão
Pode ser fonte de inoculo
de organismos saprófitos;
exige desinfestação
Coprólitos
de minhoca
Alta atividade
microbiana; Contém
substâncias húmicas; retém nutrientes,
impedindo sua
lixiviação; alta CTC; alta capacidade de
retenção e
disponibilidade de umidade;
Em alta concentração
pode causar compactação
e asfixia; Falsa fertilidade, pois a concentração de
nutrientes depende da
qualidade do material consumido pelas
minhocas.
Casca de
arroz
carbonizada
Fácil obtenção; baixo
custo; usada pura no
enraizamento de estacas; boa aeração;
drenagem rápida e
eficiente
Baixa retenção de água,
porém superior a da areia.
Ver esquema de carbonização Fig. 5.1.
Serragem Baixo custo; fácil
obtenção
Risco de fitotoxicidade,
pouco aderência à estaca,
se mal decomposto, pode fermentar.
Fonte: Fachinello et al. (1995); Kampf (1999); Fernades e Corá,
2000; Zanetti et al. (2003); Freitas et al., (2002).
Atenção diferenciada deve ser dada conforme
o tipo de ambiente para propagação. No caso de uso
de nebulização intermitente, a drenagem é um dos
fatores mais importantes, de forma a se evitar a
asfixia na base da estaca. Em se trabalhando com
estacas lenhosas, em solo ou em recipientes com
algum outro material, mas sem nebulização, a
retenção de água assume maior importância.
A escolha do substrato é feita levando-se em
consideração a espécie, o tipo de estaca, as
características do substrato, a facilidade de obtenção
e o custo de aquisição. A determinação do substrato
mais adequado para cada espécie deve ser feita
através de experimentos. No Quadro 5.2 são
apresentadas algumas vantagens e desvantagens de
alguns substratos que podem ser utilizados em
estaquia.
O meio de enraizamento não afeta apenas o
enraizamento em si. Tem sido obtida grande
influência do substrato sobre a qualidade do sistema
radicular adventício, no que tange a diversos
parâmetros. É conveniente atentar-se para a qualidade
do sistema radicular formado, pois esta irá influenciar
diretamente o pegamento no viveiro e o
desenvolvimento posterior da muda. Em geral, raízes
desenvolvidas em areia são mais grossas, menos
ramificadas e mais quebradiças, ainda que as
características do sistema radicular também sejam
função da espécie. A mistura da areia com turfa ou
outros materiais orgânicos freqüentemente permitem
que se forme um melhor sistema radicular. A
permanência das folhas também podem ser afetadas
pelo substrato. Substratos com menor contato com a
estaca tendem a ocasionar maior queda de folhas e
consequentemente morte das estacas.
A asfixia na porção da estaca enterrada no
substrato pode desfavorecer o enraizamento,
ocasionando até mesmo a morte das estacas. A baixa
capacidade de drenagem do substrato na base da
estaca pode ocasionar a ocorrência de um problema
denominado 'necrose na base'. Além disso, o pouco
espaço poroso pode favorecer a ocorrência de
doenças. O teor de oxigênio requerido na formação
de raízes é variável conforme a espécie, mas é
sempre indispensável. É citado que, para Salix spp., 1
ppm de oxigênio é suficiente para o enraizamento,
podendo o mesmo enraizar em água, ao passo que
para Hedera helix, um mínimo de 10 ppm é
necessário.
Em algumas espécies, o aumento do teor de
oxigênio incrementou o enraizamento de estacas.
Assim, é importante analisar as características físicas
do substrato a ser utilizado nesta condição. Espaço
poroso (macro e microporosidade), oxigênio
disponível, aeração, drenagem e excesso de água no
substrato são aspectos interligados entre si e é
necessário observá-los.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 78
Figura 5.2 – Esquema da carbonização da casca de
arroz. Fonte: Kämpf, 1999.
5.6.3 Substratos em micropropagação
Objetiva-se aqui dar algumas informações a
respeito do uso dos substratos na fase de
aclimatização das plantas propagadas 'in vitro' e do
enraizamento 'ex vitro' de brotações, ainda que possa-
se considerar como substratos também os diversos
meios de cultura utilizados no estabelecimento e
cultivo de plantas em laboratório. Dentro deste
enfoque, o objetivo do substrato nesta fase é propiciar
condições que minimizem o 'stress' da planta quando
da sua transferência de um ambiente mais favoráveis
para outro com condições mais adversas, bem como
na passagem de um mecanismo heterotrófico para
outro, autotrófico. O substrato de transplantio na
aclimatização é um ponto crítico. Além dos fatores
endógenos que controlam a rizogênese, fatores
externos relativos ao substrato, como o pH e a
aeração do meio são importantes. Devido à
fragilidade do sistema radicular desenvolvido em
ágar, a transferência na aclimatização é uma fase
muito delicada. Além disso, devido ao pequeno
número de raízes e a sua não-funcionalidade, há
necessidade de readaptação de um meio saturado para
outro, mais seco.
Algumas características desejáveis de um
substrato para uso em aclimatização são:
a) Com relação à planta – estéril; não tóxico;
que não provoque dano às raízes; que ofereça
facilidade de penetração pelas raízes, mesmo que
sejam finas; pH adequado ao desenvolvimento das
plantas; com poder tampão do pH; com reservas de
nutrientes ou com CTC; com relação ar/água próxima
a 50% sob irrigação; capaz de absorver exsudados
tóxicos produzidos durante a rizogênese; capaz de
permitir a estocagem das mudas; capaz de permitir a
inoculação com microrrizas;
b) Com relação ao uso – fácil armazenamento;
fácil manejo e possível de ser usado com
mecanização; capaz de permitir um fácil transplante
de plantas herbáceas; alta densidade por unidade de
área; fácil regulação da umidade; capaz de permitir a
esterilização por autoclavagem; com uma competitiva
relação qualidade/preço.
Inúmeros materiais podem se utilizados nesta
fase da micropropagação. Podem ser usados materiais
como vermiculita, perlita, areia, turfa, casca de
eucalipto ou Pinus curtida, casca de arroz
carbonizada e pó de carvão. O substrato ou mistura
de substratos mais adequados é variável conforme a
espécie. Outros materiais têm sido utilizados, como
fibras de polipropileno, fibras de viscose, 'rockwool'
e lã de vidro. Devido à sua esterilidade, o 'Plantmax'
ou outros substratos comerciais similares são
comumente utilizados.
Uma técnica que pode se utilizada é a do
enraizamento 'ex vitro'. O enraizamento diretamente
no substrato induz à produção de um sistema
radicular mais completo e funcional, com maior
número de raízes secundárias do que aquele
- Acenda o carvão, através dos orifícios da
lata, até obter brasas;
- Coloque a casca de arroz sobre a lata, formando um cone até a metade das altura
da chaminé;
- Revolva o material até ficar com a cor
bem escura;
- Resfrie o material com rega abundante;
- Armazene o material em local isento de
fontes de contaminação;
OBSERVAÇÃO
- Cuide para que a casca não entre em
combustão, revolvendo com freqüência. Para cada m3 5 horas de trabalho e o
volume do material se reduz em
aproximadamente 50% após carbonização.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 79
desenvolvido em meio de cultura com ágar. Esta
prática é mais viável em espécies herbáceas ou em
espécies lenhosas com facilidade de enraizamento em
estaquia, as quais, ao serem retiradas de um estado de
alta disponibilidade de nutrientes, são capazes de
emitir raízes rapidamente para absorver os nutrientes
necessários. Além disso, é possível reduzir-se o stress
que ocorre quando é feito o transplante com mudas
de raiz nua para outro substrato. O enraizamento de
brotações obtidas "in vitro" pode ser efetuado em
areia não-esterilizada. Esta areia é enriquecida com
fitorreguladores e tem o pH ajustado, como num
meio normal de cultivo. Brotações de 3 a 5 cm são
utilizadas e transferidas para areia sob alta umidade
relativa do ar. É neste meio que o enraizamento é
induzido e esta técnica pode reduzir os custos da
micropropagação. Tem sido sugerido o uso de 'plugs',
blocos de substrato (em geral compostos de materiais
fibrosos), nos quais é impregnada a solução nutritiva,
de maneira que a planta é aclimatada e transplantada
no lugar definitivo sem qualquer injúria no sistema
radicular.
5.7 Recipientes
Entende-se por recipiente todo e qualquer
material destinado a acondicionar o substrato durante
a produção de mudas. O uso de recipientes tem
acompanhado a evolução tecnológica dos sistemas de
propagação, pois são ferramentas indispensáveis na
produção intensiva de mudas. Na medida em que se
avança na pesquisa de substrato para a propagação,
os recipientes assumem cada vez mais importância.
Embora, em diversos casos a produção de mudas
diretamente no viveiro, dispensando o uso de
recipientes, possa ser mais econômica, cada vez mais
a produção de mudas embaladas vem sendo adotada.
Mesmo nesses casos, os recipientes podem tomar
parte em alguma das etapas da propagação. É o caso
de mudas cítricas – o porta-enxerto pode ser
inicialmente desenvolvido em tubetes ou bandejas e
posteriormente transferidas para o viveiro ou
recipiente maiores, onde são mantidas até a
comercialização. Em outras situações, toda a
produção da muda pode ser feita em um ou mais
recipientes.
A adoção de recipientes na produção de
mudas frutíferas apresenta, como principais
vantagens:
a) Quando associado ao uso de telados ou
estufas, permite o cultivo sob quaisquer condições
climáticas, o que permite cumprir-se rigorosamente
um cronograma de produção;
b) Redução da utilização de tratores e carretas
na área de viveiro;
c) Redução do tempo necessário para a
produção das mudas (em mudas cítricas, no sistema
de sementeira, são necessários 18 a 24 meses para
produção das mudas, enquanto que, com uso de
bandejas ou tubetes, são necessários 12 a 15 meses);
d) Redução da competição entre as mudas;
e) Redução da área necessária de viveiro;
f) Proteção do sistema radicular contra danos
mecânicos e desidratação;
g) Proteção da muda contra doenças e pragas
de solo, além de facilitar, quando necessário, a
prática da esterilização do substrato;
h) Aumento da facilidade no transporte das
mudas;
i) Redução do estresse no momento do
transplante.
Três aspectos são essenciais quando da
produção de mudas em recipientes:
a) Manutenção da umidade, especialmente em
recipientes com pequena capacidade de volume de
substrato;
b) Adubação, pois o substrato pode facilmente
ser esgotado quanto à disponibilidade de nutrientes;
c) Limitação ao desenvolvimento radicular,
aspecto que deve ser constantemente observado, de
modo que o recipiente não venha a ser uma barreira
para as raízes, a ponto de prejudicar o crescimento da
muda.
É conveniente que um bom recipiente
apresente as seguintes características:
Ter boa resistência para suportar a pressão
devida ao peso do substrato e da planta.
Possuir bom sistema de drenagem.
Possibilitar boa retenção da umidade.
Permitir boa retenção do substrato.
Ter durabilidade a ponto de resistir durante todo
o processo de produção da muda.
Ser de fácil manejo quando da transferência
(leveza e resistência).
Ter baixo custo de aquisição.
Ser reutilizável ou construído com material
facilmente reciclável.
Ter estrias que evitem o enovelamento das
raízes.
Mesmo que um recipiente possa não reunir
todas estas qualidades, deve-se selecionar aquele que
reúne o maior número de vantagens, pois isto está
estreitamente relacionado com a eficiência do sistema
de propagação e da viabilidade de uso de recipientes.
Tipos de Recipientes
Vários são os recipientes utilizados na
produção de mudas frutíferas, como os sacos
plásticos, tubetes, citropotes, bandejas plásticas ou de
isopor, caixas de madeira ou metal, vasos plásticos,
entre outros.
Os sacos plásticos: são recipientes que podem
apresentar as mais diferentes dimensões, tais como 8
cm (diâmetro) x 12 cm (altura) e 12 x 20 cm.
Normalmente, apresentam coloração preta ou escura
para impedir o desenvolvimento de algas e invasoras
dentro do recipiente e proporcionar melhores
condições de desenvolvimento para as raízes. São
perfurados na sua base para a drenagem da água.
Viveiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 80
Apresentam a vantagem de serem muito versáteis,
adaptando-se a uma grande variedade de situações,
além de terem baixo custo de aquisição, serem
reutilizáveis e serem de fácil manejo. Porém, se o
plástico for de pouca espessura, facilmente se rompe
devido ao peso do substrato ou ao crescimento das
raízes e não permitem a sua reutilização por várias
vezes. Além disso, as perfurações devem estar
localizadas próximo à base da embalagem, caso
contrário, não permitem um bom escoamento da água
em excesso, prejudicando o crescimento da muda. É
importante atentar-se para a qualidade do plástico,
além do número e posição das perfurações no
momento da aquisição.
Tubetes: são recipientes de formato cônico,
construídos em plástico rígido e de cor escura.
Internamente, apresentam estrias que impedem o
enovelamento das raízes. Podem acondicionar
diferentes volumes de substrato. Para o uso dos
tubetes, é necessário um sistema de suporte, que pode
ser uma bandeja de isopor, de plástico ou metal, bem
como uma bancada com fios de arame distanciados
de forma a possibilitar a colocação dos tubetes.
Assim, os tubetes ficam suspensos, de modo que a
sua base fique exposta ao ar, proporcionando a
denominada "poda pelo vento" das raízes.
Como vantagens são reutilizáveis por muitas
vezes, além de permitir a produção de um grande
número de mudas por unidade de área. Por serem
unidades independentes, os tubetes permitem a
seleção das mudas com a embalagem. Por reterem
um pequeno volume de substrato, requerem que se
retire a muda tão logo as raízes ocupem todo o
substrato – por isso, são úteis para a primeira etapa da
propagação, além de necessitarem de irrigações
periódicas, visto que o substrato facilmente se
resseca.
Bandejas: podem ser confeccionadas em
plástico, normalmente apresentando um espaço único
e contínuo para acondicionamento do substrato, bem
como podem ser feitas de poliestireno expandido
(isopor), constituídas de um número variável de
células, nas quais é feita a produção da muda. As
células apresentam forma piramidal invertida, com
capacidade de até 120 cm3 de substrato por célula. Na
base, a célula apresenta um orifício para escoamento
da água. As bandejas podem ser reutilizadas por
diversas vezes. Assim como o tubete, as bandejas são
úteis na primeira etapa da propagação, pois
acondicionam pequeno volume de substrato.
Preferencialmente, as bandejas devem ficar
suspensas, permitindo a "poda pelo vento". A
durabilidade da bandeja está em função do ambiente
onde é feita a propagação e do cuidado no manuseio
das mesmas. Para uma dada espécie, em sistemas
tradicionais de propagação (viveiros), podem ser
produzidas cerca de 25 a 30.000 mudas/ha, enquanto
com uso de bandejas, podem ser produzidas cerca de
200.000 mudas/ha.
Citropotes: também conhecidos como
"containers", apresentam esta denominação, por
terem sido desenvolvidos e difundidos para a
produção de mudas cítricas. São confeccionados em
plástico preto rígido e acondicionam grande volume
de substrato, de modo a permitir que a muda seja
mantida neste recipiente desde a repicagem da muda
(produzida em tubetes ou bandejas) até a
comercialização e apresentam diversas vantagens,
dentre as quais a facilidade de manuseio da muda, a
possibilidade de produção de mudas numa mesma
área durante vários anos (desde que o substrato seja
oriundo de local isento de patógenos), bem como
permitindo o plantio da muda no pomar sem danos ao
sistema radicular. Uma das principais limitações ao
uso do citropote é seu levado custo de aquisição.
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Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 82
6. PLANEJAMENTO E IMPLANTAÇÃO DE
POMAR
6.1 –Planejamento do pomar
A fruticultura é um dos ramos da horticultura
que exige-se um cauteloso planejamento, pois os
custos de implantação são altos, o retorno econômico
lento e em muitos casos um erro pode ser
irremediável, por isso, o sucesso da fruticultura está
no planejamento da atividade, analisando desde
condições edafoclimáticas da cultura, preferência do
consumidor, logística de mercado, disponibilidade de
mudas, insumos e equipamentos e outros fatores,
dentre os quais:
a) O clima favorável, deve-se avaliar os vários
aspectos de altas e baixas temperaturas, ventos
fortes, quentes, secos ou frios, umidade relativa
do ar baixa ou alta, a quantidade de chuvas e a sua
distribuição;
b) O solo, analisando os aspectos químicos, físicos,
biológicos, topografia, compactação e
uniformidade;
c) A localização do pomar, deve ser próximo ao
mercado consumidor e de vias de acesso, em
regiões com poucos problemas fitossanitários,
com água abundante e de qualidade e com mão-
de-obra suficiente e especializada;
d) Para a seleção de cultivares, copas e porta-
enxertos, deve-se considerar o destino da
produção, época de maturação, produtividade,
tamanho das plantas, tamanho dos frutos,
resistência à pragas e doenças, uniformidade de
produção, adaptabilidade aos diferentes tipos de
solos, rendimento industrial e preferência do
consumidor;
e) Os fatores técnicos, tais como: aquisição ou
formação de mudas, distribuição dos talhões de
acordo com o relevo, sistema de plantio,
espaçamento, tratos culturais, irrigação,
maquinários, equipamentos e principalmente
infra-estruturas;
f) Fatores comerciais, como: comercialização das
safras, capital investido (necessário), número
conveniente de plantas, problema de super oferta,
plano de desembolso, rendimento, custo de
produção e de comercialização.
Um exemplo disso é o plantio de coco em
solos razos e com baixa capacidade de
armazenamento de água, como nos solos argissolos e
plintossolos mal drenados no Acre, limitando o
crescimentos das plantas e a produção de coco
quando há períodos longos de esiagem, ao contrários
das áreas marginais aos rios na Amazônia, com solos
profundos bem drenados e úmidos a maior parte do
ano, condições ideais para palmeiras como o coco,
muito exigente em água.
6.2 – Talhões
Os talhões desempenham função importante
na vida de um pomar, pois separam espécies,
variedades e idade das plantas, facilitando o manejo
do pomar, a colheita, a transmissão de doença dentre
otras vantagens. Outro fator importante, que está
associado aos talhões são os carreadores que os
divide e que permitem o transporte dos insumos para
o pomar e das frutas para a casa de embalagem.
O tamanho dos talhões não devem ser muito
grandes, nem muito pequenos , para facilitar o
manejo.
Em alguns casos, o uso dos talhões é
indispensável, como no cultivo de banana, pois essa
cultura exige renovação anual de 20% do plantio, que
devem ser feitos em talhões de aproximadamente 1
ha cada.
Em citros, os talhões têm cerca de 2 mil
plantas, os talhões não podem ser muito pequeno,
pois é necessário avaliar as perdas com carreadores,
que, geralmente, consomem de 6 a 8% da área
destinada aos pomares.
A recomendação para citros é de que o talhão
quadrado tenha de 285 a 380 metros de lado ou
número múltiplo de espaçamento adotado, resultando
numa área útil de 8 a 15 hectares. Os retangulares
devem ter de 250 a 300 m no sentido das ruas por
400 a 500 m de largura, no sentido perpendicular das
ruas, com área útil de 10 a 15 ha (FUNDECITROS,
2010.
De acordo com De Negri et at. (2005), os
talhões podem ser quadrados ou retangulares com
carreadores contínuos (Figura 6.1) em caso de pouca
declividade (5% a 6%) ou com carreadores
desencontrados quando há desnível acentuado em um
sentido (Figura 6.2).
Há também os carreadores irregulares quando
o terreno for irregular e apresentar mais de uma
declividade e mais sujeitos à erosão (Figura 6.3).
Figura 6.1 – Talhões quadrados com carreadores
contínuos (Adaptado de De Negri et al., 2005).
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 83
Figura 6.2 – Talhões quadrados com carreadores
desencontrados (Adaptado de De Negri et al., 2005).
Figura 6.3 – Talhões irregulares com carreadores
desencontrados (Adaptado de De Negri et al., 2005).
45°
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 84
6.3 - Sistema de Plantio
O sistema de plantio a ser utilizado dependerá
do tipo de pomar a ser implantado e da declividade
do terreno. De maneira geral, pode-se optar pelos
seguintes sistemas de plantio: quadrado, retangular,
hexagonal, quincôncio e triangular. Caso a área de
plantio seja plana pode-se optar por linhas retas, não
utilizando curvas de nível, facilitando os tratos
culturais.
Neste caso, a orientação do terreno ficaria
relacionado com a disponibilidade de luz, assim,
plantio de espécies exigentes em luz como o
maracujazeiro, bananeira, gravioleira, coqueiro,
mangueira, citros, cajueiro e outras, as linhas de
plantio devem ser orientadas no sentido leste-oeste,
para que se possa captar o máximo de luz.
Mas para espécies de origem sub-bosque como
o cupuaçuzeiro, as linhas de plantio devem ser
direcionadas no sentido norte-sul, principalmente
quando não se usa consórcio, ou leste-oeste quando o
plantio for feito em faixas sob espécies funcionais (de
sombreamento). Ou ainda obedecendo o equinócio
para espécies com maior ou menor exigência em luz.
Em terreno com declive maior que 15%, deve-
se utilizar curvas de nível, com espaçamento
retangular.
O sistema em quadrado é o mais simples,
porém, não proporciona bom aproveitamento da área
e da radiação solar.
O sistema retangular permite um maior
número de plantas por área quadrangular, facilitando
também os tratos culturais.
No sistema triangular usa-se o triângulo
isósceles ou o eqüilátero.
O sistema de triângulo eqüilátero permite o
cultivo em três sentidos, melhor aproveitamento do
terreno e muito mais fácil traça-lo do que parece a
primeira vista. Para isto primeiro traça-se no terreno
uma linha básica. Sobre ela marcam-se as primeiras
covas, com a distância entre plantas determinada.
Digamos que sejam 7 metros. Enfia-se um piquete em
cada ponto marcado. Toma-se um cordel com 14 m de
comprimento, terminado em laços e com o meio marca-
se uma nova cova. Continua-se assim até marcar todas
as covas do pomar. Este sistema permite plantio de 15%
mais plantas que o sistema em quadrado (Figura 6.4).
O sistema hexagonal, que é baseado no
triângulo equilátero, sem plantar no ponto central do
hexágono, é pouco funcional, por reduzir o número
de plantas em 33% comparado com o sistema em
triângulo eqüilátero. Seu uso é mais freqüente em
culturas de alta densidade como abacaxizeiro e para
culturas com espaçamento triplo como bananeira,
nestes casos chega a ser necessário já que a planta
central do triângulo eqüilátero poderá impedir o
trabalho rua para o manejo das das plantas nas linhas
triplas seja manual, com tração animal ou
mecanizada.
Figura 6.4 – Esquema de marcação de covas em
sistema de triângulo eqüilátero. (Adaptado de De
Negri, Stuchi e Blasco, 2005).
O sistema de quincôncio, que propicia um
maior número de plantas inicialmente, é um sistema
que necessita desbaste no futuro para espécies de
porte alto, e pode ser adotado para pomar doméstico,
com plantio de espécies de menor porte no meio,
evitando o desbaste no futuro. A figura 6.5. contém a
ilustração dos diferentes sistemas de plantio
utilizados, citados.
Quadrado Retângulo
Triângulo Equilátero Triângulo Isósceles
Quincôncio Hexágono
Quadrado Retângulo
Triângulo Equilátero Triângulo Isósceles
Quincôncio Hexágono
Figura 6.5 – Sistemas de plantio. (Adaptado de
Ramos, 1998)
Para cada sistema de plantio há uma fórmula
para o cálculo do número de plantas na área do
plantio (Quadros 6.1 e 6.2).
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 85
Quadro 6.1. Fórmulas de cálculo do número de
plantas em cada sistema de plantio
Sistema de Plantio Fórmula
Quadrado ou retângulo n = A / Dl x Dp
Hexágono n = A / L x h??????????
Quincôncio n = A / Dl x Dp
Triângulo eqüilátero n = A / L x h
Triângulo isósceles n = A / b x h n = número de plantas A = área do terreno (m2)
D1=distância entre linha(m) Dp=distância entre plantas (m)
L = lado do triângulo (m) b = base do triângulo (m)
h = altura do triângulo (m) (h2=L2-L2 )
2
Para triângulo eqüilátero h = L3
2
No caso do triângulo eqüilátero, quando se tem
apenas a informação da distância entre as ruas, calcula-
se os lados pela fórmulas L = h / (3/2) e quando se
tem apenas o espaçamento entre plantas, calcula-se a
altura (espaçamento entre ruas) pela fórmula: L . 3.
2
Quadro 6.2. Número de plantas por hectare, em
alguns espaçamentos. Espaçamento
em metros
Quadrangular Retangular Triangular
Isósceles
Triângulo
Equilátero
2 X 2 2.500 ........ 2.500 2.890
4 X 5 ........ 500 500 ........
6 X 6 277 ........ 254 320 7 X 8 ........ 178 178 ........
9 X 9 123 ........ 112 142
10 X 10 100 ........ 91 115
6.4 - Marcação das Covas
Antes da demarcação das covas deve-se definir
qual o espaçamento a ser utilizado. Quando o terreno é
plano adota-se o alinhamento em retas paralelas aos
carreadores (Figura 6.6). Quando o terreno apresenta
com declive uniforme pode-se utilizar linhas retas
paralelas às linhas de nível (cortando as águas) (Figura
6.7). Nos dois casos anteriores a demarcação das covas
é utilizado com o auxílio de linhas intermediárias,
distanciadas 40 metros umas das outras.
Em terrenos com declive acentuado
recomenda-se a utilização de uma nivelada básica
fazendo o primeiro sulco com trator e sulcador de
cana. Os outros poderão ser feitos a partir deste com
o uso de uma vara, ou bambu, com o espaçamento
determinado nas entrelinhas, com dois bambus, de
maneira que o primeiro homem caminhe sobre o
sulco já aberto e o segundo paralelamente. O trator
seguirá as pegadas do segundo homem abrindo os
sulcos (Figura 6.8).
Figura 6.6 - Alinhamento em retas paralelas ao carreador.
(Adaptado de De Negri, Stuchi e Blasco, 2005).
Figura 6.7. Alinhamento em retas paralelas a linha de
nível. (Adaptado de De Negri, Stuchi e Blasco,
2005).
Figura 6.8. Demarcação de sulcos paralelos à
nivelada básica. (Adaptado de De Negri, Stuchi e
Blasco, 2005).
Sulco
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 86
6.5 - Preparo do solo
O preparo do solo (aração, calagem e
gradagem) na agricultura convencional é feito com
uso de tratores e outras máquinas movidas a
combustíveis fósseis não renováveis, e sua queima
produz fontes de dióxido de carbono, outros gases e
material particulado lançados na atmosfera. Esses
poluentes são responsáveis pela baixa qualidade do ar
e contribuem para o efeito estufa, que aumenta o
aquecimento global.
Além disso, o uso de tratores é um fator de
degradação por meio de compactação e erosão do
solo, desmatamento e aumento da incidência de
pragas e doenças (Reinjntzes et al., 1994; Primavesi,
2002; Souza & Resende, 2003).
O preparo inadequado do solo, principalmente
com uso de máquinas pesadas pode promover
compactação do solo, que diminui a infiltração de
água, a concentração de ar, a absorção de nutrientes,
o desenvolvimento radicular e a produção, neste caso,
a aração é um dos erros mais graves, pois o
revolvimento do solo promove a incorporação da
camada superficial, o que pode aumentar a
mineralização da matéria orgânica, resultando em
maior adensamento do solo e formação de compostos
húmicos de menor peso molecular e de menor
estabilidade (Primavesi, 2002).
Assim, o plantio direto ou cultivo mínimo são
sistemas de plantio usados em larga escala e super
adaptados à fruticultura, que não necessita de preparo
total da área devido o espaçamento amplo das
plantas.
Com isso, o plantio direto tem a função de
minimizar os efeitos negativos sobre a vida do solo,
reduzindo sua perda d'água por evaporação e suas
oscilações térmicas. Além de contribuir na
manutenção da umidade e da temperatura do solo ele
pode ainda lhe fornecer matéria orgânica, favorecer
suas atividades biológicas e aumentar a
biodiversidade, reduzir a erosão causada pelas
elevadas taxas de precipitação que desestrutura o solo
e cumpri função reguladora e protetora (Pauletti,
1999).
6.6 - Abertura e preparo das covas
O preparo do solo para o plantio (coveamento)
é um dos fatores que onera o custo de implantação, a
literatura atual sobre preparo do solo para fruteiras
não trás novidades, recomendando geralmente
coveamento de 50 cm x 50 cm x 50 cm, inclusive em
sistema orgânico (Simão, 1998; Ramos, 1998;
Penteado, 2004). Porém, sabe-se que em cultivo
orgânico, o revolvimento do solo, enterrando a
camada orgânica não trás benefícios para o solo e
conseqüentemente para a planta, pois esta matéria
orgânica poderá oxidar-se e transformar-se em ácidos
fúlvicos que mobilizam Al+3
e Fe+3
e imobilizam
cátions essenciais, além disso, pode ocorrer a
pulverização do solo e futura compactação,
dificultando o crescimento radicular e o
desenvolvimento da planta (Primavesi, 2002;
Khatounian, 2001), além do velho problema de “colo
afogado”.
Simão (1971) afirma que quanto maior a cova,
melhor, sendo as limitações apenas de ordem
econômica. E relaciona o tamanho da cova com o
tipo de solo e a espécie a ser plantada, variando entre
40 x 40 x 40 cm a 60 x 60 x 60 cm.
Em um trabalho com laranjeira Koller et al.,
(1975) e Dornelles (1975), verificaram que covas
pequenas podem promover um bom desenvolvimento
das planta e produção de frutos (Tabelas 6.1 e 6.2).
Tabela 6.1 – Produção de laranja Valência plantada
em 4 sistemas de coveamento, avaliadas no 4º ano
após o plantio. RS, 1974.
Tratamentos Peso de frutos por planta (kg) São Jerônimo Arroio
30x30x30 Lavrado/Gradeado 30,3 b 13,6 b 100x100x60 Idem 12,3 c 7,8 b 30x30x30 Idem+subsolagem 25,5 bc 15,6 ab 30x30x30 Camalhões 54,1 a 29,3 a
Fonte: (Koller et al., 1975)
Tabela 6.2 – Diâmetro médio dos troncos de
laranjeira Franck em mm, a dez centímetros acima do
ponto de enxertia. RS, 1974.
Tratamentos Vinte meses
Diâmetro (mm)
Jacá + adubo* cobertura 26,6
30x30x30 Idem 27,8
60x60x60 Idem 28,8
30x30x30 adub. na cova 29,3
Fonte: Dornelles (1975) *Yoorin 1kg
Resultados semelhantes foram encontrados
para maracujazeiro, por Araújo Neto et al. (2009) e
Queiroz et al. (1997).
Segundo Araújo Neto et al., (2009), o número
de frutos por planta e a produtividade, na segunda e
na somatória das duas safras, foram maiores com
plantio direto e com covas cúbicas de 0,30m. Após
dois anos de cultivo, a densidade do solo foi maior na
camada de 0-5cm de profundidade num raio de 20cm
da planta para o plantio em covas de 0,50m com
adubação na cova e menor para o plantio direto, não
havendo diferença entre os demais tratamentos. E os
custos econômicos e operacionais médios foram
maiores para os sistemas com plantio em covas de
0,50 m, por apresentarem elevado custo total de
produção e menor produtividade. A receita líquida foi
maior nos sistemas de preparo com covas de 0,30 m,
com adubação na cova (R$10.234,19/ha) e adubação
em cobertura (R$11.501,44/ha) – e no plantio direto
(R$8.925,08/ha) (Araújo Neto et al., 2008).
Alguns estudos avaliando o plantio direto com
alface e berinjela revelam que a produção no plantio
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 87
direto não difere do sistema convencional de preparo
de solo (Castro et al., 2005; Oliveira et al., 2006).
Queiros (1997), avaliando diferentes tamanhos
e formas de covas (0,125 m3), (0,205 m3) e (0,285
m3), não verificaram efeito na produtividade e
qualidade dos frutos do maracujazeiro-amarelo na
Paraíba.
Tabela 6.3 – Produtividade, número de frutos e peso médios de frutos de maracujazeiro-amarelo plantados em
diferentes tamanhos de cova sobre cultivo orgânico. (Araújo Neto et al., 2009).*
Tratamentos N° de frutos por planta PRODUTIVIDADE (kg/ha)
1° Safras 2° Safra Total 1° Safras 2° Safra Total
Plantio direto + Adub. em cobertura 21,8 a 61,2ab 83,0ab 3.829,3a 7.444,6ab 11.273,9ab
Covas de 30x30x30 + Adub. na cova 15,5 a 79.3 a 94,8 a 2.736,8a 9.664,8 a 12.401,5 a
Covas de 30x30x30 + Adub. em cobert 25,3 a 73,3 a 98,6 a 4.177,5a 8.951,9 a 13.129,2 a
Covas de 50x50x50 + Adub. na cova 10,0 a 36,8 c 46,8 c 1.795,3a 4.491,2 c 6.286,6 c
Covas de 50x50x50 +Adub. em cobert 10,8 a 43,8ab 54,6bc 1.911,0a 5.331,4bc 7.242,3bc
Média 16,7 58,9 75,6 2.890,0 7.176,8 10.066,7
C.V. (%) 26,49 10,49 17,93 28,1 10,42 10,56
* Médias seguidas de letras distintas na diferem entre si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.
* PMF – Peso médio de fruto da segunda safra.
O plantio direto poda na oser eficiente em
condições de solo compactado e com baixo teor de
matéria orgânica. Ao decidir pela abertura de covas,
estas devem varia de 40 a 60 cm nas três dimensões
cúbicas, dependendo da agressividade do sistema
radicular da espécie cultivada. A abertura das covas
pode ser feita manualmente ou mecanicamente com
sulcador acoplado ao trator ou outro equipamento
similar. Na abertura da cova, obedecer a separação do
solo da superfície e do fundo da cova, porém, não
inverter as camadas no momento do fechamento da
cova (Figura 6.9A).
Figura 6.9 – Abertura e adubação de covas.
A adubação deve ser feita obedecendo aos
resultados da análise de solo e as necessidades de
cada cultura. Para assegurar um bom
desenvolvimento da planta recomenda-se a utilização
de matéria orgânica (esterco de curral, de galinha,
composto de lixo, torta de mamona ou similares) a
adubação química com macros e micronutrientes
(Figura 6.9B).
Deve-se, no enchimento da cova, manter a
ordem de retirada do solo e misturar a terra inferior
da cova com a adubação orgânica e calcário. Depois
do fechamento da cova deve ser colocada novamente
a estaca para demarcação do centro de cova e efetuar
o plantio no mesmo dia ou dias depois.
A literatura tradicional recomenda a inversão
das camadas de solo no momento do enchimento da
cova, porém, por princípios ecológicos, isto causaria
a morte do solo orgânico ao ser enterrado, com um
agravante, pois a matéria orgânica de maior peso
molecular seria oxidada em baixo peso molecular,
mobilizando cátions e contribuindo para a toxidez de
Al e Fé (Primavesi, 2002).
6.7 - Plantio
- Escolha da Muda
O sucesso do pomar dependerá de muitos
fatores, entretanto a muda se reveste de capital
importância. A boa muda é como se fosse o alicerce
do pomar, por isso sua escolha deve ser criteriosa.
Geralmente são adquiridas de raiz nua ou com torrão,
dependendo da época e da espécie, dar preferência
para aquelas enxertadas e com torrão.
Para conservação das mudas com torrão deve-
se colocá-las durante 1 a 2 minutos em um recipiente
com água, de maneira que sua profundidade cubra
todo o torrão. Logo a seguir colocá-la em local
sombreado. Nesse caso, se o plantio não for feito
Fosfato natural 50%
Esterco de curral
(20 litros)
Fosfato solúvel
50%
Micronutrientes
50g de FTE
Calcário
(500g)
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 88
imediatamente, estas mudas deverão ser irrigadas
diariamente.
- Época
A época mais recomendada para o plantio é no
início do período chuvoso, que nas regiões mais sul
do Brasil compreende os meses de outubro a
dezembro. Entretanto, se houver disponibilidade de
irrigação pode ser realizado em outras épocas, porém
com maiores cuidados, especialmente quando se
tratar de mudas em raíz-nua.
- Colocação da Muda na Cova
Para o plantio propriamente dito é necessário a
utilização da tábua de plantio (Figura 6.10). Maiores
cuidados devem ser dispensados para mudas de raiz-
nua, para essas dar preferência para dias nublados,
com chuva e com uma boa rega após o plantio. Para o
plantio de mudas com recipientes ou embalagens,
deve-se atentar para a retirada destes, antes do
plantio. Em casos de embalagens de sacos, deve-se
cortar o fundo do torão+saco, aproximadamente 1
(um) centímetro, para cortar raízes enoveladas.
Na retirada da embalagem tomar o máximo
cuidado possível para não destorroá-la, expondo e
destruindo raízes. Nunca levantar ou transportar a
muda pegando-se na haste principal, usar sempre as
duas mãos apoiadas no torrão, preservando-o. A
altura do plantio deve obedecer ao nível do solo,
recomendando que a planta seja colocada a 5 cm
acima do nível do solo. Após a colocação da muda,
com todos os cuidados já citados, deve-se ter o
cuidado de apertar bem, evitando deixar espaços
vazios. Logo a seguir, de preferência fazer o
tutoramento da muda com uma estaca de 60 a 80 cm
visando protegê-la contra ventos fortes e
principalmente orientar o seu crescimento vertical.
Logo após a colocação da muda deve-se
construir em volta desta uma “bacia” com
aproximadamente 50 a 80 cm de diâmetro para
melhor acumular água da das irrigações ou das
chuvas. No entanto, em solos mal drenados e em
períodos de chuvas intensas, ao invés de “bacia”,
deve-se construir um “morro” ao redor da muda, para
escorrimento da água das chuvas.
Uma prática recomendada é a colocação de
cobertura morta (capim seco, bagaço de cana ou
similares), protegendo assim a muda com maior
aproveitamento de água e já impedindo o crescimento
de plantas indesejáveis. Após essas operações
deverão ser realizados uma série de tratos culturais
que serão discutidos em outros capítulos e para cada
cultura específica.
Ao redor da muda, pode-se plantar
leguminosas de crescimento determinado, como
feijão-de-porco, crotaçária, feijão vgna ou feijão-de-
corda e amendoim forrageiro, com finalidade de
promover a diversificação no ecossistema próximo a
muda, cobertura permanente do solo e fixação
biológica de nitrogênio.
Em pequeno plantio, como em chácaras e
quintais, é importante fazer irrigação logo após o
plantio e nos dias subsequentes até o seu completo
pegamento, mas em grandes áreas, geralmente não há
sistemas de irrigação ou água disponível para tal,
devendo realmene realizar o plantio durante o
período chuvoso.
Figura 6.10. Plantio da muda na cova com tábua de
plantio: as incisões b e c são ajustadas nas estacas de
referência; a muda que estiver sendo plantada será
ajustada em a.
6.8 REFERÊNCIAS
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NEGREIROS, J. R. da S.; MENDES, R.;
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Produtividade e vigor do maracujazeiro-amarelo
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n.3, p.678-683, 2009.
b a c
Planejamento e implantação de pomar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 89
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Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 90
7. PODA DAS PLANTAS FRUTIFERAS
Poda é a arte e técnica de “educar” as
plantas por meio de cortes de ramos, folhas e até
raízes, de modo a direcionar a arquitetura e fisiologia
de plantas frutíferas para fins de obter qualidade e
produtividade de frutos, forma e sanidade da planta.
Especificametne em fruticultura a poda é
utilizada com objetivo de regularizar e aumentar a
produção, melhorar a qualidade dos frutos e ajustar a
arquitetura das plantas as técnicas de cultivo.
A poda não resolve os problemas da
fruticultura, no entanto, é uma alternativa
complementar a outras tecnicas de manejo.
Segundo Chalfun Junior e Chalfun (2006), a
importância de se podar, varia de espécie para
espécie, assim poderá ser decisiva para uma,
enquanto que para outra, ela é praticamente
dispensável. Com relação à importância, as espécies
podem ser agrupadas em:
Decisiva: Videira, pessegueiro, figueira;
Relativa: Pereira, macieira, caquizeiro, goiabeira,
aceroleira;
Pouca importância: Citros, abacateiro, mangueira.
A poda pode causar danos graves as plantas
e para que ela seja benéfica é importante ser
executada levando-se em consideração a fisiologia e
biologia da planta e seja aplicada com moderação na
idade e época serta.
7.1 Princípios fisiológicos que regem a poda
O conhecimento de algumas regras sobre a
fisiologia vegetal faz se necessário para auxiliar o
podador.
As funções vegetativas e reprodutivas são
geralmente antagônicas, assim, uma planta com
excesso de frutos frente ao total de folhas conduz à
uma produção qualitativamente inferior, bem como
depauperamento da árvore e comprometimento da
produção da próxima safra.
Por outro lado, o crescimento vegetativo
forte tende a produzir poucos frutos, de forma que o
equilíbrio entre essas duas fases promove produções
constantes e mantém o crescimento vegetativo.
Esse equilíbrio está ligado principalmente às
reservas de carboidratos e sua utilização pela planta.
Assim, a poda tem a função de equilibrar o acúmulo e
a utilização de carboidratos pela planta.
Um exemplo seria o pessegueiro. Essa
relação é de 1 por 40, ou seja, para cada fruto, 40
folhas.
A circulação da seiva na planta está ligada
ao transporte ascendente de nutrientes e descentendes
de car boidratos e compostos do metabolismo
secundário.
A seiva tem sua ascendência ligada à
transpiração (diferença de potencial e difusão) ou
descendente pela capilaridade e diferença de
depotencial). Portanto, as relações hídricas vegetal,
estabelecem leis nas quais se baseiam as podas das
plantas:
A eliminação de ramos ou parte de ramos pela
poda altera-se não apenas a forma mas também a
fisiologia da planta alterando o volume e a pressão das
seivas bruta e elaborada contendo nutrientes e
substâncias químicas responsáveis por estímulos e
bloqueios de atividades fisiológicas, como o
florescimento ou surtos vegetativos.
Os princípios que regem a poda podem ser
assim apresentados:
1º. A rápida circulação da seiva favorece o
desenvolvimento vegetativo, enquanto a circulação
lenta estimula a frutificação
Em outras palavras, quanto mais rápida for a
circulação da seiva no interior do ramo, maior será o
número de gemas que originarão crescimentos
vegetativos vigorosos e, ao contrário, quanto mais
difícil e lenta for essa circulação, mais numerosas
serão as gemas que se transformarão em botões
floríferos.
Isso, de certa forma, pode ser explicado pelo
fato de haver uma intensa competição por nutrientes
entre os ramos produtivos e vegetativos, uma vez que
durante a acumulação de sais minerais, açúcares e
aminoácidos nos órgãos reprodutivos, é possível se
constatar um decréscimo correspondente e
aproximadamente igual nas quantidades desses
nutrientes presentes nas folhas.
A produção de gemas floríferas depende da
acumulação de fotossintatos nos tecidos que as
originarão. Essa acumulação depende da velocidade
com que a seiva circula no interior do ramo que, por
sua vez, depende da relação entre a produção e o
consumo desses produtos.
Que condições morfológicas ou fisiológica a
velocidade de circulação da seiva em uma planta é
alterada?
a) maior quando ela se encontra em fase de
crescimento vegetativo intenso, com grande
divisão e crescimento celulares;
b) A circulação da seiva será tanto mais intensa
quanto mais retilíneo for o ramo;
Como decorrência, dentro de certos limites,
quanto maiores forem os obstáculos que se opuserem
à livre circulação da seiva em uma planta ou ramo,
tanto maior será sua predisposição para florescer e
frutificar.
Nisso baseiam-se as conhecidas técnicas de
forçamento da produção, como anelamento,
estrangulamento e ferimento do caule, este muito
usado em mangueiras pelos caboclos brasileiros.
Por outro lado, as podas sucessivas feitas em
uma mesma unidade produtiva criam obstáculos à
circulação da seiva, favorecendo a produção em
plantas vigorosas ou jovens. Em plantas velhas ou
fracas a poda deve, em contrapartida, aproximar a
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 91
unidade produtiva da estrutura básica da planta,
eliminando a tortuosidade da sucessão de ramos.
c) Os ramos em posição vertical favorecem uma
maior velocidade de circulação da seiva em seu
interior;
Ramos verticais dificilmente florescem,
sendo por isso mesmo chamados de “ladrões”. Por
essa razão, e por absorverem grande quantidade de
seiva, em detrimento das demais ramificações
existentes no ramo sobre o qual se desenvolvem,
esses ramos devem ser eliminados ainda no início de
seu desenvolvimento, por meio de um corte raso na
sua base, ou através de um corte inclinado de 15 a 20
cm de altura, quando se pretende aproveitar uma
brotação lateral para preencher um vazio existente na
copa.
d) Após o amadurecimento dos ramos novos a
velocidade de circulação da seiva no interior da
planta diminui;
Nessa ocasião, acumulam-se, nesses órgãos,
grandes reservas de fotossintatos, que criarão as
condições para que as gemas vegetativas sejam
transformadas em frutíferas.
Para as espécies que apresentam ramos
mistos (vegetativo e reprodutivo), como goiabeira, a
frutificação ocorre simultanemante com o
crescimento vegetativo e o acúmulo de carboidrato.
Após a colheita das frutas os fotossintatos
são armazenados para a próxima safra ou para novo
crescimento.
2º. A seiva dirige-se com maior intensidade para
as partes altas e iluminadas da copa
Nas posições altas e externas da planta a
transpiração e a fotossíntese são mais intensas, gerando
maior pressão negativa de água, o que resulta no fluxo
ascendente da seiva bruta. Pela mesma razão, os ramos
enfolhados atraem muito mais seiva bruta do que os que
possuem poucas folhas. Ainda como conseqüência
desse princípio, os ramos secundários próximos à
extremidade do ramo primário recebem mais seiva que
os situados em sua base.
Assim, ramos no interior da copa dificilmente
possuem capacidade para florescer e sua eliminação
durante a poda promover maior circulação de ar e menor
incidência à doênças.
3º - Quanto mais amplo for o ponto de inserção de
um ramo, mais seiva por ele, circulará
A taxa de translocação é diretamente
proporcional à secção dos vasos condutores. Esse
aspecto, pela sua importância, deve ser considerado
quando se faz a seleção dos ramos que permanecerão
na planta por ocasião das podas.
4º - O desbaste de um ramo secundário não só
aumenta o vigor do ramo principal, como também
inibe ainda mais a brotação das gemas axilares
nele existentes
Desbaste é a eliminação total de um ramo,
por meio de um corte raso feito na sua base. Essa
poda remove os ramos laterais, mas se for deixada
intacta a extremidade do ramo principal, aumentará
seu vigor. Sua prática avoluma excessivamente as
dimensões da copa, conferindo-lhe uma forma mais
aberta. Induz, também, a frutificação nas
extremidades dos ramos longos para espécies que
possuem o florescimento na extreminade dos ramos,
como amangueira.
5º - O encurtamento do ramo favorece o
aparecimento de brotação lateral
Encurtamento do remo elimina a dominância
apical, por supor-se que há redução da produção de
auxinas e da relação C/N, com isso, as gemas axilares
passam á se desenvolver. Essa brotação é mais
vigorosa do que aquela originária da gema apical,
caso o ramo não tivesse sido podado. Entretanto,
como não chega a compensar a porção retirada com a
poda, a sua pratica confere à planta uma forma mais
baixa e compacta.
Para espécies como a goiabeira, que
produzem em ramos mistos, o encurtamento é de
grande importância por estimular as brotações laterais
que contém gemas floríferas.
Durante o período de repouso, as plantas
armazenam fotossintatos predominantemente nos
tecidos jovens, existentes na extremidade do ramo,
enquanto a disponibilidade de nitrogênio é maior nos
tecidos mais velhos, que se encontram na sua base.
Quanto mais severo for o encurtamento feito
em um ramo, mais estreito será a relação C/N nos
tecidos próximo à gema que ficará na posição
terminal, razão pela qual esse crescimento é mais
vigoroso e menos frutífero que o de plantas não
podadas. Assim, se o encurtamento for feito de
maneira insuficiente, a planta produzirá uma grande
quantidade de frutos pequenos e de baixa qualidade;
se muito severo, o ramo vegetará intensamente e não
produzirá.
O crescimento adicional apresentado por
uma planta podada não é suficiente para compensar a
porção retirada, razão pela qual a poda é, na
realidade, um processo ananicante.
Esse nanismo pela planta não compensar a
porção retirada com a operação, que seria acrescida
do novo crescimento que ele teria caso a planta não
tivesse sido podada.
A poda feita logo após um fluxo de
crescimento é mais ananicante, não só porque a
planta acabou de utilizar suas reservas para realizá-lo,
mas também porque a poda pode estimular um novo
crescimento, exaurindo-a ainda mais. Como a planta
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 92
fica no final com menor número de folhas, a
reposição das reservas é mais difícil e lenta.
A poda de plantas sempre-verdes não tem o
efeito estimulante da poda de inverno, nem o efeito
depressivo da poda de verão executada em plantas
decíduas.
Tanto o desbaste como o encurtamento são
métodos igualmente importantes na formação e
manejo de uma árvore frutífera; o encurtamento é
mais valioso na fase de formação, por facilitar a
obtenção de uma copa bem-conformada, enquanto o
desbaste favorece a produção de ramos frutíferos e a
sua manutenção em boas condições. Por outro lado, à
medida que a planta vai ficando mais velha, ela deve
receber mais desbaste e menos encurtamento. Entre
outras formas de supressão de ramos ou de suas
partes, as mais importantes são:
Desponte: é o encurtamento praticado em
verde, sobre a extremidade do ramo novo. Sua prática
diminui o vigor da planta e reduz seu porte.
Desbrota: é a intervenção que se faz em verde, para
eliminar ramos supérfluos e concorrentes.
Poda em coroa: é o encurtamento total do ramo, que
fica reduzido à “coroa”, que é a porção mais grossa
existente em sua base e onde existe um cordão de
gemas.
Poda em esporão: é o encurtamento deixando-se
apenas a base do ramo, geralmente com duas ou três
gemas, ou com quatro a seis centímetros de
comprimento.
Poda em vara: é o encurtamento em que se deixa o
ramo com um número maior de gemas, em geral com
10 a 20 cm de comprimento.
6º. Quanto mais severa for a poda, maior será o
vigor da brotação resultante.
Esse efeito da poda pode ser explicado pela
maior disponibilidade relativa de nitrogênio
acumulado pela planta na porção mais velha de seus
ramos, bem como pela maior quantidade disponível
de reservas acumuladas em ramos, troncos e raízes,
para os pontos de crescimento que permanecem na
planta apos a operação. Pela mesma razão, a poda
severa, freqüentemente, favorece também a
frutificação em plantas senis.
Isso é verdadeiro para as plantas de clima
temperado, que têm um período de repouso bem
definido antes de iniciarem novo ciclo produtivo,
quando há acúmulo de fotossintatos nos ramos,
troncos e raízes, ou para plantas sempre verdes
regularmente submetidas à poda severa.
À medida que a planta se habitua ao novo
manejo, ela passa a responder bem este tipo de poda,
possivelmente por se adaptar nutricional e
hormonalmente ao novo sistema ao qual está sendo
submetida.
De qualquer forma, no caso das plantas
sempre-verdes, o estímulo ao novo crescimento
causado pela poda severa é sempre menos intenso
que no caso das espécies de folhas caducas. No
entanto, esse estímulo sempre existe, e uma poda
desequilibrada, que reduz mais severamente certas
partes da copa que outras, leva à produção de ramos
“ladrões” na porção mais afetada pela operação.
7º - A poda da parte aérea tende a reduzir, na
mesma proporção, o volume do sistema radicular
Há uma relação ótima entre o tamanho da
copa e do sistema radicular de uma planta que ela
procura manter. A redução da copa através da poda
influi no tamanho do sistema radicular, resultando em
morte de parte deste até que o equilíbrio do conjunto
seja restabelecido. O equilíbrio entre a parte aérea e o
sistema radicular rompido pela poda é restabelecido
mais rapidamente nas plantas sempre-verdes.
Entretanto, o crescimento total é menor que o de uma
planta não podada.
8º. Ramos em ângulo agudo são fracos e tendem a
se quebrar quando sob pressão
O vigor estrutural de um ramo pode ser
prognosticado com bastante exatidão com base na sua
aparência. Essa fraqueza estrutural dos ramos em ângulo
agudo deve-se à falta de um câmbio contínuo e à
compressão da casca para fora, no ponto de bifurcação.
7.2 Poda e condução de frutíferas
7.2.1 Hábitos de frutificação de algumas espécies
É indispensável saber que parte da planta
deve ser podada, pois, há ramos cuja supressão é
indispensável, mas outros, sua eliminação redundaria
em grave prejuízo para a produção, porque neles
encerram a própria safra de frutos dentro de suas
gemas.
A fim de compreender e entender as
necessidades de poda das plantas sem comprometer a
produção, é necessário um conhecimento prático dos
seus hábitos de frutificação. Conforme a natureza dos
ramos que possuem, as plantas frutíferas podem ser
divididas em três grupos: ramos especializados,
ramos mistos e ramos do ano.
a) Plantas com ramos especializados
São apresentados por algumas espécies,
principalmente de folha caducas, que só produzem
nestes ramos. Os demais ramos dessas plantas
produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieiras
e pereiras.
São ramos geralmente curtos e muitos deles
denominados esporões, com as seguintes
denominações:
Dardos: são estruturas pequenas e pontiagudas, com
entrenós muito curtos. Apresentam uma roseta de
folhas na extremidade, sendo pouco maior que uma
gema.
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 93
Bolsa: parte curta, inchada, com enorme quantidade
de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de
união da fruta colhida com o ramo. Pode dar origem a
novas gemas florais, dardos, lamburdas, brindilas ou
vários deles de cada vez. Geralmente, são originadas
a partir de um esporão depois de vários anos.
Brindilas: são ramos finos, com diâmetro de 3 a
5mm e de 10 a 20 cm de comprimento. Em sua ponta,
podem apresentar um dardo, uma gema vegetativa ou
floral. Surgem em plantas mal podadas ou naquelas
velhas e não tratadas.
Lamburda: ramo curto com nodosidades na base,
sem gemas laterais, podendo terminar em gemas
vegetativas ou floríferas (coroadas).
Botão floral: forma arredondada e destacada, em
geral, apresenta um volume maior que as gemas
vegetativas.
b) Plantas com ramos mistos
Além de frutificarem sobre os esporões,
frutificam também sobre os ramos do ano anterior.
Essas fruteiras possuem, consequentemente,
crescimento vegetativo e produção de flores, já que
os seus ramos possuem gemas vegetativas e
floríferas. Exemplos: pessegueiro, ameixeira,
goiabeira (Fig. 7. 1B).
c) Plantas com produção em ramos do ano
A frutificação surge sobre os ramos da
brotação nova. O ramo frutífero, ao invés de ser
formado no inverno, aparece na primavera e floresce
após certo grau de maturação. Ex.: Plantas cítricas,
caquizeiro, figueira, mangueira, abacateiro.
7.2.2 Orgãos das plantas
Gemas
São órgãos produtores de ramos e folhas
(vegetativas) ou flores (floríferas), que variam no
aspecto, na forma, no tamanho e na distribuição, de
espécie para espécie.
As gemas de folhas ou lenhosas distinguem-se
das floríferas ou de frutos pela sua constituição interna e
externa. As de frutos são quase sempre mais volumosas,
de forma oval-alongada, e as de lenho são mais
alongadas e afuniladas. As primeiras apresentam-se
mais macias ao tato, e as últimas, mais ásperas.
As gemas podem ser naturais ou adventícias.
As naturais são aquelas que surgem nos ramos
normalmente segundo a tendência da planta, e as
adventícias, as que emergem sob ação mecânica.
A duração das gemas está intimamente
relacionada à biologia da planta e aos tratos culturais.
Há espécies em que as gemas não ultrapassam um
ciclo vegetativo, e outras em que duram vários anos.
Ramos Lenhosos
Caracterizam-se pelo vigor, pelo aspecto da
casca, normalmente lisa, e pelos internódios
relativamente longos.
Os ramos lenhosos, segundo sua origem e
posição, podem dividir-se em adventícios e ladrões.
Os ramos adventícios são aqueles que têm
origem em causa mecânica: pancada, incisões etc.
Os ladrões têm origem em gemas aparentes.
Eles se classificam, segundo a sua localização, em
naturais e bravos. Os naturais são aqueles que nascem
das gemas do enxerto e os bravos, de gemas do porta-
enxerto.
Os ramos recebem denominação particular,
de acordo com a sua posição na árvore. Assim, as
primeiras ramificações, que partem diretamente do
tronco ou da haste, chamam-se pernadas. Destas
surgem ramos que são denominados braços. As
ramificações dos braços dizem-se genericamente
ramos. Recebe a denominação de ramo-guia ou
ortotróficos aquele que tem por função prolongar a
copa em altura. Os ramos que crecem na horizontal
são denomiados de plagiotróficos.
Figura 7.1 – (A) Ramo vegetativo e (B) misto.
7.3 Tipos de poda
7.3.1. Quanto à Fase da Vida das Arvores
Quanto a fase de vida das árvors, as podas
podem ser: Formação; Frutificação e
Rejuvenecimento.
a) Poda de formação: corresponde a poda nas
árvores novas durante a fase de crescimento vegetativo e
formação da planta. O seu objetivo consiste em
construir, no mais curto período possível, uma
arquitetura de copa que forneça um suporte adequado à
máxima produtividade e sanidade das plantas.
Essa arquitetura geralmente consiste em uma
forma de tarça-invertida, de forma que favoreça os
tratos culturais como o controle fitossanitário,
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 94
ensacamento e colheita dos frutos, além de
possibilitar o plantio de maior número de árvores por
unidade de área. Divide-se em poda de educação,
transplantação e formação propriamente dita.
Educação
Tem por finalidade orientar as plantas no
viveiro, desde o seu nascimento até o momento em
que de lá serão retiradas.
Transplantação
É praticada para manter o equilíbrio entre a
parte aérea e a parte subterrânea da planta. Por maior
que seja o cuidado no desplante de uma muda, há
sempre perda de raízes, e as plantas são tanto mais
sensíveis quanto mais velhas forem.
Formação propriamente dita
A poda de formação na forma de tarça-
invertida é dada durante os quatro primeiros anos da
planta. No primeiro ano, a árvore normalmente
apresenta uma haste única, e a poda consiste em
suprimir a parte superior à altura desejada e permitir
a emissão de três a quatro pernadas.
A poda, no segundo ano, limita-se a eliminar o
excesso de ramos e deixar apenas três a quatro,
distantes entre si de 15 a 20 cm.
A distância das pernadas entre si exerce
influência na resistência da copa. Quando muito
próximas umas das outras, há tendência de
desaparecerem com a idade, pelo engrossamento,
formando verdadeiras bifurcações. Estas, quando
opostas, fendem-se facilmente.
Deve-se levar em consideração também o
ângulo de inserção das pernadas. Quando muito
agudo, a copa tende a fechar, o que não é
conveniente.
Escolhidas as pernadas que irão formar o
arcabouço da planta, elas são podadas a 0,20 ou 0,30
m de comprimento ou deixadas de três a cinco gemas.
As últimas gemas devem estar situadas lateralmente
em relação ao eixo da planta. No terceiro ano,
procede-se de maneira semelhante ao segundo,
obtendo-se os ramos. Sobre cada pernada deixam-se
ramos dispostos lateralmente (Fig. 7.2).
Muitas espécies já entram em produção durante
o segundo ou terceiro ano (cupauçuzeiro, araçazeiro-
boi). Outras, porém, exigem mais um ano de formação.
Finalmente, no quarto ano, as plantas já mostram sinais
de entrar em frutificação e, em vista disso, a poda é feita
eliminando-se apenas um terço a um quarto do
comprimento dos ramos. A poda curta ou drástica
atrasará o inicio do florescimento, forçando uma maior
vegetação.
b) Poda de frutificação: engloba o conjunto
de intervenções aplicado nas frutíferas, não só no
período em que a arquitetura se aproxima da sua
forma definitiva, como também durante a fase
produtiva das plantas. Seu objetivo principal é manter
o equilíbrio entre as funções vegetativa e produtiva,
buscando dentro dos limites possíveis, realçá-las ao
máximo;
Figura 7.2 – Poda de formação vista de cima: A)
pernadas; B) braços; C) ramos.
A poda de frutificação interfere, diretamente,
com os órgãos ou ramos de frutos especializados. E uma
vez que tais órgãos e ramos possuem características
funcionais diferenciadas, a sua poda deve-se levar em
conta tais diferenças. Um ramo misto, por exemplo,
depois de frutificar uma vez, não volta a produzir, razão
porque os pessegueiros, que produzem basicamente
sobre estes ramos, necessitam de uma poda que
promova a sua renovação anual, como meio ou processo
de manter uma frutificação adequada e constante. Já nas
pereiras e nas macieiras, cuja produção predomina
principalmente nos esporões, órgãos que duram por
vários anos, a renovação anual destes órgãos não só não
é necessária, como se tomaria desastrosa para estas
frutíferas.
Intensidade da poda
A intensidade depende da idade, do número de
pernadas, do vigor, do hábito de vegetação.
A poda, com relação à intensidade, divide-se
em curta, longa e média.
A poda curta ou drástica consiste na quase
total supressão do ramo. Pode-se praticar ainda a
poda ultracurta, a qual deixa sobre o ramo de uma a
duas gemas. A longa, também chamada leve, deixa o
ramo com o máximo de comprimento (0,40 a 0,60
m). A poda média é um tipo intermediário entre os
dois anteriores.
c) Poda de rejuvenescimento: são podas
realizadas em árvores em decadência, mas em fase que
evidencie ainda capacidade de recuperação. Destina-se
esta poda a revigorar a arquitetura e renovar a vegetação
e órgãos de frutificação das plantas.
Há pomares onde, pela deficiente formação, por
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 95
carência ou inadequação de podas de frutificação, por
adubações deficientes, por defeitos cumulativos
desfavoráveis de natureza cultural, climática ou de outra
ordem, as árvores começam a gerar desequilíbrios que,
progressivamente, vão-se conduzindo para uma fase de
esgotamento precoce. Nestes casos, uma poda de
rejuvenescimento, pode ainda recuperar as árvores em
níveis econômicos de produção.
Essa poda corresponde a uma renovação mais
ou menos intensa e profunda do esqueleto da planta e,
dos próprios órgãos de frutificação. Efetua-se essa
poda encurtando bastante as pernadas, braços e outros
componentes do esqueleto. Os suportes e órgãos de
frutificação remanescentes, notadamente os esporões,
serão revitalizados, se inseridos em boa localização e
em condições de aproveitamento. De outro modo
serão suprimidos, tal como todos os ramos secos,
debilitados e inúteis.
A intensidade da poda em cada árvore deve
permitir que a sua estrutura fique equilibrada, de
maneira a obter uma reação vegetativa quanto possível
uniforme. As brotações e ramificações provenientes da
nova vegetação devem ser acompanhados depois com
podas em verde promovendo a reconstituição da copa,
no mais curto período possível.
7.3.2. Quanto à Época em que são
Executadas
a) Poda de inverno ou seca: também
designada por poda de inverno, sendo praticada nos
fins do inverno, próximo da época de brotação, no
período, portanto, em que as frutíferas caducifólias
estão despidas de folhas. Porém, em virtude dos
efeitos negativos e prejudiciais dos encurtamentos
efetuados nesta época, as podas em seco tendem,
atualmente, a se restringir ao mínimo, durante a
formação e condução das árvores;
b) Poda verde ou de verão: engloba todas as
operações de poda que são praticadas no período em
que as plantas se mantém em atividade vegetativa,
quando os ramos se encontram, portanto, verdes e
com folhas. As podas em verde apresentam
substancial relevância nos modernos sistemas de
condução.
c) Podas anuais ou de produção
As podas anuais são aplicadas geralmente em
plantas decíduas e referem-se às realizadas durante a
fase produtiva da planta (essas são naturalmente
realizadas após a colheita). Nesta prática estão
incluídas as atividades de limpeza, levantamento de
copa, abertura central, equilíbrio, correção da
arquitetura, além da poda lateral e de topo.
d) Poda de correção da arquitetura: objetiva
suprimir os ramos que concorrem com as
ramificações selecionadas para a formação da
arquitetura, como no caso das pernadas e dos braços,
por exemplo, de forma a evitar a sua competição e a
favorecer, portanto, um maior e mais rápido
crescimento vegetativo dessas ramificações;
e) Poda de equilíbrio: tem como finalidade
restabelecer o equilíbrio relativo entre os diversos
eixos do esqueleto das plantas, notadamente das
pernadas e da flecha. Esta poda baseia-se na
aplicação de inclinações sobre esses eixos.
f) Poda de abertura central: é a desbrota dos
ramos que, não interessando à formação do esqueleto
das plantas, se dirigem para a parte interna das copas,
promovendo o seu adensamento ou estabelecendo
competição com outros ramos essenciais à estrutura.
g) Poda lateral: esta poda tem a finalidade de
controlar o crescimento lateral das plantas, evitando a
sobreposição entre plantas na linha e mantendo a
distância de trabalho entre as ruas.
h) Poda de topo: esta operação visa promover
o rebaixamento da copa, de modo a evitar que esta
atinja uma altura indesejável e inapropriada para a
execução de diversos trabalhos culturais, desde a
colheita dos frutos, até aos tratamentos fitossanitários
e á própria prática das podas. Emprega-se para esta
finalidade, encurtamentos laterais, já que estes não
criam os reflexos negativos, derivados da reação
vegetativa terminal, que ocorreriam na hipótese de
usar simples encurtamentos. Freqüentemente, a poda
de recuo também é utilização quando as árvores
começam a enfraquecer e os ramos terminais das
pernadas e braços mostram uma debilitação
vegetativa e necessitam, portanto, de uma renovação.
i) Poda de levantamento da saia: Consiste na
eliminação dos ramos que estiverem até 0,70m de
altura. Essa operação ajuda no controle das ervas
daninhas e a melhor distribuição da água de irrigação
por aspersão; também evita que os frutos dos ramos
baixos entrem em contato com o solo
j) Poda de limpeza: a poda de limpeza
objetiva a retira de ramos doentes, praguejados ou
quebrados pelo processo de colheita ou sobrepeso das
frutas.
Estas podas estão aqui divididas de forma
didática, mas elas podem ser realizadas isoladamente
para atender cada um de seus objetivos ou realizadas
numa única operação que atenda várias finalidades.
7.3.3 Cortes
Encurtamento
Consiste na eliminação de parte de um ramo
através de um corte praticado junto a uma gema. O
encurtamento é o tipo básico de intervenção realizado
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 96
tanto na poda de frutificação como condução,
apresentando efeitos imprevisíveis e danosos.
Realizado na fase de crescimento os
encurtamentos das árvores sob condições normais,
promove quase sempre uma intensa brotação a partir
das gemas situadas na proximidade dos cortes.
Quando aplicados em toda a árvore e de forma
sistemática, para promover a ramificação das
pernadas, braços ou de outras estruturas, com a
finalidade de formar o esqueleto definitivo das
plantas, sabe-se que a intensa e vigorosa renovação
vegetativa, que é caracterizada por essas
intervenções, atrasa a entrada das árvores na
frutificação. Esta prática realizada no final do período
do repouso vegetativo (poda de inverno) agrava ainda
mais esses efeitos.
Supressão
Esta operação é a eliminação total do ramo.
As supressões são bastante utilizadas durante a poda
de formação, principalmente em plantas que
apresentam considerável vigor vegetativo. Em
árvores com atividade vegetativa pouco acentuada, as
supressões devem ser utilizadas com cuidado e só
durante a fase em que as plantas mostram, de fato,
uma atividade vegetativa mais intensa, para não
favorecer sua debilitação precoce. E ainda aplicada
na poda de frutificação, visando a eliminação dos
ramos excedentes e sem interesse para a produção ou
vegetação das árvores.
Desponta
Constitui num simples encurtamento, praticado
com a planta em vegetação, eliminando cerca de 5 a 20
cm, ou mais de sua extremidade. Entretanto, estas
intervenções devem ser praticadas preferencialmente
sobre árvores vigorosas para não enfraquecer mais os
ramos e, às vezes, as próprias plantas. As despontas são
normalmente utilizadas na fase de condução das plantas,
evitando-se assim qualquer concorrência em relação aos
ramos que foram selecionados para compor o esqueleto
dessas plantas.
Desbrota
Considerada como uma supressão, aplicada
aos ramos do ano, tão logo começam a crescer e a
concorrer com o crescimento e evolução daqueles
que deverão formar o esqueleto. Trata-se de uma
poda em verde, objetivando eliminar ramos
supérfluos e concorrentes, chamadas também de
podas de concorrência ou de limpeza.
Arqueamentos
Aqui englobam todas as operações que
alteram a posição normal no topo ou em parte, a
direção original dos ramos. O efeito desta prática é
idêntico ao das incisões ou descorticações, diferindo,
entretanto, no processo de promover o bloqueio da
seiva. Enquanto nos últimos casos, esse bloqueio é
obtido pela interrupção dos tecidos vasculares, à
custa de cortes efetuados na casca e até na parte do
lenho, no presente é conseguido pela própria
compressão dos tecidos vasculares.
Inclinações
São realizadas estas operações, deslocando a
posição dos ramos de sua direção vertical, ou quase
vertical, para uma posição oblíqua. A inclinação,
porém, abrange todo o comprimento dos ramos, uma
vez que ela é praticada justamente na própria base
desses ramos.
Quanto maior for a inclinação dada a um ramo
em relação à vertical mais enfraquecido este ficará.
Assim, quando um ramo, destinado à formação de
uma pernada se apresentar com pouco vigor em
relação a outro, deve ser deixado com uma inclinação
menor. Ou seja, quando acontecer um desequilíbrio
vegetativo entre dois ramos, podemos realizar
inclinações adequadas para restabelecer seu
equilíbrio inclinando bastante o ramo mais vigoroso e
chegando até a deixar o mais fraco, se disso for o
caso, na própria vertical
As inclinações dos ramos constituem
intervenções muito comuns nos modernos sistemas
de condução. Porém, a inclinação dos ramos
destinados a formar pernadas, normalmente não é
feita de uma só vez, mas por sucessivas intervenções.
A primeira inclinação que os ramos sofrem, para
abrir o esqueleto das plantas, dá-se o nome de
inclinação de abertura. As que se seguem são
destinadas a ajustar os ramos a posições mais
favoráveis ao seu desenvolvimento e ao melhor
equilíbrio da copa, sendo designadas por inclinações
de ajuste. Finalmente, as últimas inclinações que se
praticam, deixando as pernadas na sua posição
definitiva são, chamadas de inclinações definitivas.
Horizontalizações
As horizontalizações são inclinações que
atingem 90º em relação à vertical, deixando portanto
os ramos numa direção horizontal. Há casos, porém,
em que os ramos por terem de ser desvigorizados, são
levados a uma posição invertida, isto é, a extremidade
dos ramos é deixada num plano mais baixo que a
horizontal. As horizontalizaçães são mais comumente
utilizadas em ramos subsidiários de elaboração ou
frutificação e, com caráter temporário.
Desbaste ou raleio de frutos
O desbaste ou raleio de frutos consiste na
remoção de uma parte da produção, antes da
maturação morfológica dos frutos.
O desbaste tem como objetivo, reduzir o
número de frutos por planta, melhorando a qualidade
dos frutos remanescentes (tamanho, cor, sabor e
sanidade); evitando a quebra dos ramos; reduzindo as
despesas com a colheita dos frutos imprestáveis; além
de evitar a alternância de safra, comum em diversas
Poda das plantas frutíferas
Sebastião Elviro de Araújo Neto 97
espécies de citros, especialmente tangerinas (Coelho
e Medina, 1992; Marinho et al., 1996; Simão, 1998).
O desbaste pode ser feito manualmente,
retirando-se os frutos, com a supressão de ramos ou
através de aplicação de hormônios vegetais.
Algumas espécies apresentam estreita
correlação entre número de folhas e qualidade do
fruto. Assim, em citros, é boa a relação de um fruto
para cada vinte folhas.
Como o desbaste constitui uma operação
onerosa, tem-se experimentado o uso de hormônios ou
herbicidas para eliminar o excesso de flores e frutos.
O Ethel quando aplicado em concentrações de
200 a 350 mg.L-1
, pulverizado na forma de neblina
sobre a copa das plantas com frutos de 0,5 a 2,0 cm
de diâmetro, promove o raleio de 40 a 70% dos frutos
(Silva e Donadio, 1992; Sharma e Awasthi, 1990).
Dosagens baixas (100 mg.L-1
) podem não promover
raleio significativo de frutos ao nível de não quebrar
a alternância de produção e concentração alta de
ethrel (300 mg.L-1
) promove excessivo raleio (Souza
et al., 1993). Em tangerineira ‘Ponkan’, em
concentração de 300 mg.L-1
, o Ethrel aplicado aos 40
dias após o florescimento promove até 95% de raleio
de frutos, incrementando o tamanho e peso dos frutos
remanescentes (Pacheco e Castro, 1998). E quando
aplicado acima de 500 mg.L-1
, o etefon pode causar
abscisão de folhas (Domingues et al., 2001).
O ácido naftaleno acético a 0,2% numa única
aplicação, ou 2,4 D a 0,001%, tem sido empregado. O
2,4 D, embora efetivo, causa certas distorções nas
folhas.
7.4 Referências
CHALFUN JUNIOR, A.; CALFUN, N. N. J. Poda: a
hora da tesoura. <www.ufla.br> . Acesso em 17 de
12 de 2006.
COELHO, Y. da S.; MEDINA, V. M. Desbaste de
frutos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE
CITRUS, 2, 1992, Anais... Campinas. Fundação
Cargil, 1992. P.187-194.
DOMINGUES, M. C. S.; ONO, E. O.;
RODRIGUES, J. D. Reguladores vegetais e o
desbaste químico de frutos de tangor Murcot.
Scientia Agrícola, v.58, n.3, p.487-490. jul/set 2001.
MARINHO, C. S.; BARROSO, D. G.; SOUZA, M.
de. Efeito do desbaste de frutos e do KNO3 + óleo
mineral sobre a produção da ‘Murcot’ (Citrus
sinensis L. x Citrus reticulata Blanco) na entressafra.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 14, 1996. Curitiba, Anais...,
Curitiba: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1996.
p.134.
PACHECO, A. C.; CASTRO, P. C. R. Efeito de
reguladores vegetais no desbaste químico da
tangerineira ‘Ponkan’ (Citrus reticulata Blanco). In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 15, 1998, Poços de Caldas.
Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de
Fruticultura, 1998. p.258.
SHARMA, R. K.; AWASTHI, R. P. Effect of growth
regulators on crop regulation of Kinnow (Citrus
nobilis x Citrus deliciosa). India Journal of
Horticulture, v.47, n.2, p.162-166, 1990.
SILVA, J. A. Z A. da; DONADIO, L. C.
Reguladores vegetais na citricultura. Jaboticabal:
Funep, 1998. 38p. (Boletim citrícola, nº. 3).
SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba:
FEALQ, 1998. 760p.
SOUZA, P. V. D. de; KOLLER, O. C.; SCHWARZ,
S. F.; BARRADAS, C. I. N. Influencia de
concentrações de etefon e pressão de pulverização
foliar sobre a produção de frutos e o teor de
substâncias de reservas em tangerineiras. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v.28, n.5, p.613-619, maio
1993.
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 98
8. FLORESCIMENTO E FRUTIFICAÇÃO
O florescimento e a frutificação dependem de
condições internas e externas, fatores que alteram a
frutificação das espécies frutíferas de um ano para o
outro. A frutificação difere de região para região,
com o manejo de cultivo, condições edafoclimáticos
e da própria biologia da espécie.
8.1 Fatores internos que afetam a frutificação
São vários os fatores internos que afetam a
frutificação nas fruteiras, podendo serem
classificados em evolução da espécie, genéticos e
fisiológicos.
8.1.1 Evolução
Na natureza, os vegetais possuem fertilização
livre, mesmo em espécies que desenvolve a
autogamia e principalmente nas alogamas, ocorre o
cruzamento de gametas. Este é o fator de garantia,
que mantém o vigor da espécie em seu habtat natural.
Devido à polinização cruzada (alogamia)
aparecem formações distintas, oferecendo muitas
vezes dificuldades à autopolinização, tomando-a, em
certos casos, impraticável. As plantas auto-estéreis
apresentam sérias dificuldades na exploração
econômica, sendo necessário um estudo biológico,
pois elas exigem uma disposição ou distribuição toda
particular no pomar para produzirem.
A tendência evolucionária afeta a distribuição
e o número de flores nos ramos de uma mesma árvore
e altera completamente a forma e a fertilização da
flor.
As características evolucionárias mais
importantes são: flores incompletas, heterostilia,
arranjamento estrutural, dicogamia, impotência da
flor, impotência do pólen.
a) Flores incompletas ou imperfeitas: plantas
monóicas e dióicas
A maioria das frutíferas possui flores
perfeitas, isto é, bissexuais (plantas monoclinas). Há,
entretanto, outras que apresentam apenas um sexo:
são as chamadas unissexuadas. Neste caso, podem
existir flores masculinas e femininas separadas na
mesma planta (monóicas) ou em plantas diferentes
(dióicas).
No caso de flores unissexuadas, há,
obrigatoriamente, a polinização cruzada, que pode ser
feita pelo vento (anemófila), pelos pássaros
(ornitófila) e pelos insetos (entomófila).
Há ainda que se considerar certas espécies que
produzem tão pouco pólen, como algumas variedades
de ameixeira, que podem ser classificadas como
unissexuadas. Estas, para se tornarem produtivas,
devem ser interplantadas com outras variedades
produtoras de pólen.
A seguir alguns casos que ocorrem com o
mamoeiro.
O mamoeiro: o mamoeiro apresenta, segundo
alguns autores oito ou mais classes de plantas,
segundo a distribuição da flor. E dependendo ainda
da combinação ou separação dos estames e pistilo.
As principais classificações são as seguintes:
1) plantas com flores só pistiladas;
2) plantas com flores só estaminadas;
3) plantas com flores estaminadas e
hermafroditas (polígamas);
4) plantas com flores estaminadas e
hermafroditas com pólen estéril (pseudo-
hermafroditas);
5) plantas com flores estaminadas e
hermafroditas nas quais nem o pistilo nem os estames
são férteis;
6) plantas com flores estaminadas, pistiladas e
hermafroditas;
7) plantas com flores pistiladas e
hermafroditas;
8) plantas com flores pistiladas e estaminadas.
Os tipos 2 e 5 não frutificam. Os tipos 1 e 4
são auto-estéreis. Os tipos 1, 2 e 3 são os mais
comuns.
b) Heterostilia
É o fenômeno pelo qual certas espécies
apresentam duas a três classes de indivíduos, cujos
pistilos e estames têm comprimento variável. Essa
peculiaridade de forma e de estrutura é de tal
natureza que impede a autopolinização e faz com que
a polinização cruzada seja mais efetiva. Se esta não
se dá, a planta pode não frutificar, mesmo que seus
órgãos sejam desenvolvidos. Há dados registrados de
impossibilidade de polinização devido à heterostilia,
pois se um inseto visitar uma flor longistila pode
tocar a antera mas não ter altura suficiente para tocar
o estigma da flor brevistila e vice versa.
Poderia ainda ocorrer a polinização direta da
flor brevistila, pela queda do pólen, por possuir filete
mais longo, porém isso dificilmente acontece, por se
dar, neste caso, o fenômeno da dicogamia, como em
gravioleira com brevistilia além da protoginia.
Quando se dá a autopolinização ou queda do pólen de
outra flor de estilete de igual altura, terá lugar a
fecundação. É, porém, comum a ocorrência de
esterilidade em diferentes graus, induzindo o fator de
incompatibilidade.
c) Arranjamento estrutural
As flores de uma variedade de aparência
normal podem apresentar pequenas particularidades
estruturais que impedem em parte a polinização.
Em maracujazeiro o tamanho da flor e a
distância das sépalas e corona (plataforma) para o
estigma, inviabiliza a polinização por abelhas
pequenas, como a Apis melifera. Em cupuaçuzeiro, a
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 99
cúculas e coroa de estaminódios, promovem uma
barreira morfológica que impedem a autopolinização.
Em manga, devido à posição em que se encontram o
filete e o estilete, quando ocorre a deiscência, prati-
camente torna-se impossível a ocorrência de
autopolinização. A fertilização se dá pela queda do
grão de pólen de outras flores vizinhas, e quase nunca
pelo pólen da mesma flor.
d) Dicogamia
A dicogamia vem a ser o fenômeno que
consiste na antecipação da maturação do estigma
(protoginia) ou da antera (protândria).
A dicogamia é fenômeno de ocorrência
normal nas plantas monóicas e dióicas e se verifica
também com freqüência entre vegetais que
apresentam flores hermafroditas, devido à posição
relativa da antera e do estigma e à biologia da flor.
Em abacateiro, anonáceas, mangueira e
figueira, é comum a dicogamia. Esta varia
consideravelmente com as condições ambientes e, em
certas variedades, pode ser explicada como causa de
falha na frutificação.
O espaço de tempo entre a maturação dos dois
órgãos reprodutores pode levar muitas espécies à
esterilidade e outras à produção de frutos
partenocárpicos.
Em mangueira, que apresenta flores
bissexuadas, ocorre uma dicogamia protogínica que
em parte afeta o rendimento. Os estigmas encontram-
se receptíveis, desde as oito horas, enquanto a
deiscência da antera só se verifica após as doze horas.
O abacateiro apresenta fenômeno muito mais
pronunciado. Esse fenômeno é o responsável pela
baixa produtividade de muitas variedades quando
cultivadas isoladas ou mesmo em mistura com outras
variedades pertencentes ao mesmo grupo.
O abacateiro classifica-se, de acordo com a
maturação dos órgãos reprodutores, nos grupos A e
B. As flores do grupo A, ao se abrirem pela manhã,
apresentam o estigma receptível, porém os estames só
se apresentam maduros e, portanto, em condições de
soltar os grãos de pólen a partir das treze horas.
Nesse período, os estigmas não se mantém mais
receptíveis e, portanto, não há a polinização. No
grupo B, o fenômeno se dá de modo inverso: a flor
apresenta a antera com pólen maduro pela manhã e
estigmas receptíveis só a partir das treze horas.
Portanto, para que haja polinização, há a
necessidade de plantar no mínimo duas variedades
pertencentes cada uma a um grupo, ensejando-se
assim a polinização cruzada e, portanto, a
frutificação.
Em anonáceas, o pólen é emitido na maioria
das espécies das quinze às dezesseis horas, mas os
estigmas encontram-se receptíveis de doze a trinta
horas antes da deiscência das anteras. Esse atraso na
soltura dos grãos de pólen provoca a queda de grande
número de frores durante o desenvolvimento, dada a
baixa fertilização.
Em figueira, a flor feminina desenvolve e
amadurece seis a sete semanas antes das flores
masculinas, ocorrendo uma pronunciada dicogamia
protogínica, e a polinização só é realizada pela vespa
Blastophaga psenes.
Vários fatores ambientais interferem,
aumentando ou reduzindo o tempo de duração do
fenômeno da dicogamia, entre eles: a umidade
relativa do ar, a temperatura e a luminosidade.
e) Impotência da flor
A fixação e a maturação dos frutos dependem,
na maioria das espécies, da queda do pólen no
estigma, e qualquer interferência no desenvolvimento
da flor ou no funcionamento dos gametas resultaria,
provavelmente, na infrutificação ou esterilidade.
É comum um desenvolvimento parcial da flor
ou dos botões floríferos, ou o aborto do ovário ou da
antera.
Em laranjeira, há degeneração do saco
embrionário em várias etapas do desenvolvimento.
Na variedade baianinha e lima ácida taiti, entretanto,
os frutos podem desenvolver-se independentemente
desse defeito, porque são partenocárpicos.
O aborto do saco embrionário, em certas
condições, é responsável mais pela falta de sementes
do que pela infrutificação.
Em muitos casos, portanto, o aborto de parte
dos óvulos não significa falha na frutificação, porém
influi no desenvolvimento e no número de sementes.
Na mangueira, é comum a presença de flores
abortivas. Há variedades que apresentam 6 mil ou
mais flores por panícula e, no entanto, a percentagem
de frutificação não chega a 0,002%.
Em bananeira comestíveis, as flores femininas
possuem anteras atrofiadas, o filamento é mais curto
e o pólen, degenerado, sendo desnecessário a
polinização, pelo crescimento do fruto ser feito por
partenocarpia. As variedades selvagens apresentam
sementes em frutos comestíveis porém não
comercial.
f) Impotência do pólen
Muitas flores morfologicamente perfeitas
quando dependem de seu próprio pólen. São
classificadas como auto-estéreis.
O grau de auto-esterilidade varia de região
para região, de ano para ano, porém as autoférteis
apresentam-se sempre produtivas, em qualquer
situação.
Pode-se determinar a viabilidade do grão de
pólen pela germinação em meio artificial.
8.1.2 Genéticos
A influência genética na frutificação está
associada à constituição fundamental do citoplasma.
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 100
A esterilidade, em muitas plantas, característica
hereditária, e a auto-esterilidade é uma condição
determinada pela herança, porém só atinge a
perfeição dentro de condições ambientes favoráveis.
A auto-esterilidade devida a fatores genéticos está
associada ao hibridismo, à incompatibilidade, à
interfertilidade.
a) Hibridismo
A falta de frutificação ou esterilidade tem sido
associada ao hibridismo. Geralmente, quanto mais
longos ou amplos forem os cruzamentos, maiores
serão as possibilidades de ocorrer a esterilidade ou
ausência de sementes. Os cruzamentos,
principalmente os efetivados entre espécies, levam à
auto-esterilidade ou ausência de sementes, dando
origem a frutos partenocárpicos.
Híbrido interespecífico de pêssego e ameixa
produz abundância de flores, mas estas não
apresentam pistilos ou pétalas. Os estames são
numerosos, porém malformados. Em citros, muitos
dos híbridos citrange (laranja-doce e trifoliata)
produzem poucos grãos de pólen férteis e nenhum
gameta feminino fértil. A falta de sementes em
muitas variedades comerciais de banana e abacaxi é
atribuída à natureza híbrida de seus ancestrais e ao
número de cromossomos.
A esterilidade bas variedades comerciais de
banana está associada, de um lado, aos cruzamentos
entre espécies ancestrais. A bananeira comestível
mais primitiva era portanto um strain diplóide de
Musa accuminata e o desenvolvimento subseqüente
foi baseado em hibridação com Musa balbisiana e na
ocorrência de poliploidia.
A fertilidade da semente está relacionada à
origem. Assim, a Pisant Awak (ABB) chega a
produzir treze sementes por fruto, enquanto as
variedades do grupo Cavendish (AAA) parecem ser
totalmente estéreis.
A esterilidade tem suas causas nos seguintes
fatores, entre outros: meiose, hibridismo, estrutura
híbrida, espécies híbridas.
Em macieira, as variedades triplóides
produzem pólen abortivo em grande número, e em
pereira a germinação do pólen da variedade triplóide
é muito mais baixa quando comparada com as
diplóides.
b) Incompatibilidade
Uma das causas da auto-esterilidade é a
incompatibilidade entre o pólen e os óvulos de uma
mesma planta, em clones ou plantas irmãos. Ambos,
pólen e óvulos de uma mesma variedade, são férteis,
porém falham na união. Outras vezes, o pólen causa
queima da flor, provocando sua queda prematura,
enquanto os estigmas não-polinizados mantêm-se
frescos e túrgidos. Entretanto, quando os estigmas
recebem pólen de variedade compatível, os frutos se
formam e produzem sementes.
A auto-esterilidade ou auto-incompatibilidade
ocorre em muitas espécies frutíferas e tem sido
registrada em certas variedades de pereira, macieira,
ameixeira e oliveira. Nas espécies cupuaçuzeiro e
maracujazeiro isto ocorre em todas as variedades. Em
todos esses casos, as variedades deixam de frutificar
quando são autopolinizadas, mas frutificam e
produzem sementes quando a polinização é cruzada.
A auto-incompatibilidade é muito freqüente na
natureza. Nas espécies cultivadas ela se torna menos
freqüente, em função da pressão de seleção contrária,
causada pela domesticação. A auto-incompatibilidade
pode ser heteromórfica ou homomórfica, conforme
seja ou não baseada em diferenças morfológicas entre
as estruturas florais. A incompatibilidade
homomórfica, a mais importante entre as plantas
cultivadas, pode ser gametofítica ou esporofítica.
A auto-incompatibilidade é denominada
gametofítica quando é determinada pelo genótipo do
grão de pólen, que é haplóide. Neste caso, a presença
de determinado alelo G, de uma série de alelos
múltiplos, tanto no pólen como no estilete da flor
polinizada determina a incompatibilidade,
geralmente, por meio da inibição do crescimento do
tubo polínico. A auto-incompatibilidade esporofítica
é similar, mas determinada pelo genótipo da planta
que produziu o grão de pólen, que é diplóide. Pode
haver diferentes relações de dominância entre os
alelos. A reação de incompatibilidade ocorre,
geralmente, na superfície estigmática, resultando da
inibição da germinação do grão de pólen.
No sistema esporofítico, ao contrário do
gametofítico, podem ser encontradas diferenças em
cruzamentos recíprocos e homozigotos como
constituintes normais do sistema. As diferenças entre
os dois sistemas podem ser interpretadas em função
do tempo de ação gênica. No sistema gametofítico, os
fatores inibitórios, ou seus precursores, seriam
produzidos pelos alelos S, após a anáfase da primeira
divisão da meiose. No sistema esporofítico, esta
produção se daria antes da anafase 1. Assim, no caso
gametofítico, dois pares de esporos bioquimicamente
diferentes seriam produzidos (codominância),
enquanto que no sistema esporofítico todos os
esporos são fenotipicamente idênticos (dominância
completa).
C) Fisiológicos
Além dos fatores da evolução e das
influências genéticas em limitar a fixação dos frutos,
há outros, que podem ser agrupados como
fisiológicos.
A baixa frutificação de uma árvore ou a
presença de reduzido número de sementes podem
estar relacionadas à deficiência nutritiva da planta.
Essa improdutividade pode ser causada por uma
desnutrição devida à alta produtividade em anos
anteriores ou a um desequilíbrio na relação
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 101
nitrogênio/carboidrato. As causas podem estar
relacionadas a um dos seguintes fatores:
• desenvolvimento do tubo polínico;
• polinização antecipada ou tardia;
• condições internas de nutrição;
• viabilidade do pólen;
• deficiência do pistilo.
Desenvolvimento do tubo polínico
O desenvolvimento do tubo polínico obedece
a uma seqüência normal, característica de cada
espécie ou variedade. Muitos tubos polínicos
apresentam desenvolvimento lento, às vezes anormal,
em virtude da presença de substâncias quimiotrópicas
ou hormonais que podem interferir na frutificação.
Quando a interferência não é total, o fruto
pode se desenvolver, porém os frutos apresentam-se
com poucas ou nenhuma sementes e muitas vezes
defeituosas.
A auto-esterilidade ocorre em maior
intensidade entre plantas que exibem o fenômeno da
heterostilia.
Em árvores que apresentam o fenômeno da
heterostilia, o pólen de uma flor brevistila, quando cai
sobre o estigma de uma flor longistila, leva dezoito
horas para atingir o desenvolvimento completo do
tubo polínico, ao passo que, quando ocorre a
polinização de uma flor brevistila pelo pólen de outra
flor brevistila, ou no caso de ocorrer entre flores
longistilas, a duração do fenômeno é mais longa, pois
serão necessárias 76 horas para o completo
desenvolvimento do tubo polínico.
Esse fato concorre para reduzir a frutificação,
o número de sementes viáveis e, em certos casos,
chega a ser responsável pela improdutividade.
Polinização antecipada ou tardia
A fertilização, e conseqüente frutificação,
depende em grande parte da polinização. Em algumas
espécies, como caqui, pêra e ameixeira, quando as
flores são polinizadas antes da antese, ocorre menor
fixação de frutos e uma redução no tamanho das
sementes.
Estudos sobre outras espécies demonstraram
que, quando ocorria uma demora maior do que a
normal na polinização, isto é, quando ela era
atrasada, obtinha-se maior porcentagem de sementes
poliembriônicas, o que normalmente não ocorria
quando a polinização era antecipada, pois, neste caso,
as sementes se apresentavam quase invariavelmente
monoembriônicas.
Em mangueira, a maior porcentagem de
germinação de grãos de pólen se dá antes da
deiscência da antera e, à medida que a polinização se
atrasa, menor se torna a possibilidade de formação e
produção de frutos (SIMAO, 1961).
Condições internas de nutrição
As condições de desenvolvimento e vigor da
planta exercem influência na formação das flores e na
produção final.
As árvores que apresentam deficiências em
nutrição tornam-se menos efetivas para a produção. O
estado interno de nutrição de uma planta afeta a
formação da flor e esta, por sua vez, pode apresentar
anteras e ovários rudimentares ou imperfeitos.
8.1.3 Viabilidade do pólen
O pólen, para se desenvolver e formar o tubo
polínico, necessita encontrar-se bem provido. Estudos
feitos em macieiras, entre árvores que apresentavam
vigor bem distinto, mostraram que as plantas mais
vigorosas apresentavam um índice mais elevado de
grãos de pólen germináveis do que aquelas da mesma
variedade, porém mais fracas.
No que diz respeito à duração do período de
formação do tubo polínico, as plantas vigorosas
completavam o seu desenvolvimento em menos de
vinte horas, enquanto as menos vigorosas
necessitavam de quase trinta horas. Em conseqüência
da baixa germinação e do atraso na fertilização,
muitas flores não se fecundam, e muitas daquelas
fertilizadas não chegam a completar o ciclo. Tal
fenômeno ocasiona baixa produtividade.
Em mangueira, os grãos de pólen de grande
número de variedades apresentam baixa viabilidade e
muitos são incapazes de formar tubos polínicos, não
chegando a se completar. Há, pois, intensa queda de
frutos, ocasionando baixa produtividade nessa
espécie.
b) Deficiência do pistilo
A planta, para frutificar abundantemente,
necessita encontrar ao seu alcance condições
favoráveis de nutrição, umidade e temperatura. É
muito comum verificar-se em árvores vigorosas,
altamente produtivas, falhas quase completas na
frutificação, em determinados anos.
A improdutividade de tais árvores muitas
vezes se encontra relacionada à exaustão causada por
frutificações abundantes em anos anteriores e,
embora a planta receba adubações anuais, o desgaste
com a produção vegetativa, florífera e frutífera
impede que a árvore se recupere e se equilibre para a
produção em anos posteriores.
As plantas em estado de recuperação muitas
vezes exibem menor número de flores do que
habitualmente e, quando florescem abundantemente,
grande parte de suas flores apresenta deficiência dos
órgãos estaminados ou dos pistilados.
Em mangueira, bem como em abacateiro, a
deficiência pistilar verifica-se comumente de modo
especial nos anos seguintes aos de grande produção.
As panículas de mangueira exibem maior
número de pistilos perfeitos e frutificação mais
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 102
intensa no terço médio e na parte apical do que na
parte basal (SIMAO, 1960).
Inúmeros fatores interferem na fertilidade da
flor. Assim, queda prematura de folhas, quer por
ataque de doenças quer por outras causas, bem como
poda mal executada ou excessivamente rigorosa,
podem determinar uma redução de carboidratos na
planta, em virtude da menor atividade fotossintética.
8.2 Fatores externos que afetam a frutificação
Os fatores externos atuam constantemente
sobre os vegetais, favorecendo ou prejudicando o seu
desenvolvimento, florescimento e frutificação. Os
fatores ambientais, quando desfavoráveis, interferem
na compatibilidade, na época do florescimento, na
formação das flores, no comportamento dos estames
e, ainda, na transferência do pólen. Agem, portanto,
sobre a planta toda, favorecendo ou dificultando sua
produtividade.
Os principais agentes externos a serem
considerados são:
• nutrientes do solo;
• enxertia;
• poda;
• localidade;
• época;
• idade e vigor da planta;
• fatores climáticos: temperatura, luz, chuvas,
umidade relativa, ventos;
• doenças e pragas.
Nutrientes do solo
A presença de elementos minerais no solo
exerce importante influência no florescimento e na
fixação dos frutos. Muitas vezes, porém, torna-se
difícil separar a influência exercida pelos elementos
contidos na planta (carboidratos) daquela exercida
pelos elementos existentes no solo.
Uma planta bem nutrida muitas vezes pode
deixar de frutificar por influência das condições
climáticas desfavoráveis. Chuvas copiosas durante o
florescimento podem acarretar a queda das flores, de
um lado; de outro, períodos secos impedem a
absorção de elementos nutritivos colocados à
disposição das árvores.
Certas espécies, como a mangueira, o
abacateiro e a videira, podem falhar quando chove
durante o período de florescimento. A aplicação de
fertilizantes nitrogenados antes do florescimento
favorece a fixação dos frutos de mangueira,
abacateiro, ameixeira, pereira, videira e macieira.
Enxertia Plantas enxertadas apresentam-se sob
condições um tanto distintas das de pé-franco. O
cavalo pode influir sobre o enxerto, alterando seu
comportamento. Do mesmo modo, o enxerto também
pode atuar sobre o cavalo, modificando o seu
desenvolvimento
Em videira, a variedade Moscatel de
Hamburgo, em certas localidades, quando enxertada
sobre Rupestris-du-Lot, deixa de frutificar, devido à
queda das flores (coulure).
Poda
Sendo a frutificação uma conseqüência da
acumulação de substâncias nutritivas (hidratos de
carbono, com predominância de amido), uma
eliminação excessiva de ramos pode causar baixa
produtividade.
A poda deve ser praticada com moderação,
evitando exaurir as reservas vegetais.
Em videira, verificou-se que podas leves
levam a planta a maior produtividade do que podas
drásticas.
A poda, reduzindo grande parte dos ramos,
automaticamente afeta o numero final de frutos de
uma planta. Não se podando, porém, os frutos seriam
em número tão elevado que não chegariam a se
desenvolver bem e, conseqüentemente, não
apresentariam valor comercial.
A poda deve ser praticada com moderação e
em épocas adequadas. Deve ser executada durante o
período de repouso vegetativo (inverno), após a
queda das folhas e antes do início da nova vegetação.
A poda antecipada, quando as plantas ainda
apresentam folhas funcionais, reduz o vigor das
árvores, pois impede que acumulem reservas para a
vegetação e frutificação posterior. Do mesmo modo,
quando se executa a operação após o abrolhamento
das primeiras gemas ou o surgimento de folhas, a
poda apresenta efeito negativo, pois nessa fase a
plaina encontra-se em atividade vegetativa e, nessas
condições, a poda eliminaria grande quantidade de
reservas acumuladas, além de predispor as partes
secionadas a infecções.
Localidade
A localidade influi de maneira notável sobre o
comportamento e a frutificação. Uma mesma
variedade sofre variações no seu índice de
produtividade de acordo com a região em que é
cultivada.
A manga Itamaracá-Primavera, proveniente da
ilha de Itamaracá, só produz frutos num dos lados da
ilha, falhando em frutificar no outro lado.
A influência da localidade pode estar
associada a fatores edáficos e climáticos, às vezes de
difícil separação.
Época
Muitas vezes, é difícil determinar se a baixa
produtividade de uma árvore se deve a fatores de
nutrição ou estacionais.
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 103
Uma mesma localidade sofre, durante o ano,
mudanças bruscas nas suas condições climáticas, que
alteram o comportamento e, portanto, influem sobre o
rendimento final.
Muitas plantas apresentam fertilidade maior
no período final do que no inicio do seu
florescimento. Em manga e uva, isso se verifica, ao
passo que, em moranguinho, as últimas flores
apresentam tendência à esterilidade. Na figueira São
Pedro Branco, os primeiros frutos, isto é, aqueles que
se desenvolvem em ramos com mais de um ano, são
partenocárpicos e os últimos, que são os que se
desenvolvem nos ramos da estação, necessitam de
caprificação.
Certas espécies, principalmente dióicas,
sofrem alteração no sexo de suas flores. Em mamão,
é comum a alteração de sexo de masculino para
hermafrodita em determinadas estações. Certas
variedades de caqui exibem tendência a mudar o sexo
de suas flores, como aquelas do grupo dos
estaminados esporádicos.
Idade e vigor da planta
A produtividade de uma planta encontra-se
intimamente relacionada à sua idade e ao seu vigor.
O caquizeiro originário de semente depois de
vários anos, só produz flores femininas, pois
inicialmente exibe quase somente flores masculinas.
A macieira e a pereira, quando jovens, quase
não frutificam, e a frutificação aumenta à medida que
envelhecem, até certo limite.
Em ameixeira, é comum a ocorrência de flores
com pistilo defeituoso quando nova, ao passo que, em
plantas adultas da mesma variedade, esse defeito
tende a desaparecer.
Em videira, certas variedades, como a
Moscatel de Alexandria e outras, são suscetíveis ao
coulure (queda das flores) nos dois primeiros anos.
Posteriormente, o fenômeno desaparece. Videira
jovem tem sido encontrada produzindo menos pólen
que as velhas da mesma variedade.
O coco-da-baia normalmente não segura os
frutos das primeiras floradas e, em figueira variedade
São Pedro Branco, a frutificação nos ramos velhos se
dá por partenocarpia, ao passo que os frutos que
surgem nos ramos do ano necessitam de polinização
para se fixarem.
Fatores climáticos
Os fatores climáticos influenciam os vegetais,
favorecendo ou dificultando sua frutificação.
Os principais elementos do clima são:
temperatura, luz, chuva, umidade relativa e vento.
Temperatura
A temperatura exerce notável influência no
comportamento, desenvolvimento, florescimento e
frutificação das espécies vegetais. Constitui elemento
principal na delimitação de áreas favoráveis à
implantação de uma fruticultura econômica. Devem
ser evitadas as zonas de temperaturas inferiores às
exigidas, bem como aquelas em que as temperaturas
se elevam em demasia.
O metabolismo da planta pode ser observado
como uma complicada máquina de reações químicas
sujeita a influências as mais diversas, e a temperatura
constitui-se na mais importante.
Algumas plantas exigem altas temperaturas e
outras baixas temperaturas para se desenvolver.
Temperatura muito baixa força a planta a entrar em
repouso. O mesmo fenômeno ocorre quando a
temperatura se eleva acima do ótimo exigido.
Portanto, quando se deseja instalar pomares
comerciais, deve-se atentar para esse problema.
Assim, em citros, a variedade Natal ou Pêra
normalmente apresenta acidez elevada quando
cultivada em regiões com temperatura média inferior
à necessária. A mangueira não frutifica bem e torna-
se pouco produtiva em climas temperados.
A temperatura exerce influência direta e
indireta sobre a polinização. Em macieira, a
temperatura ótima para a polinização situa-se ao
redor de 15 ºC. Quando a temperatura cai a 10 ºC, a
germinação dos grãos de pólen torna-se mais lenta,
reduzindo grandemente a fixação de frutos. Além
desse fator, a polinização em macieira é feita quase
que exclusivamente pelas abelhas, que chegam a
transportar de 70 mil a 100 mil grãos de pólen.
Quando a temperatura abaixa, elas são afugentadas
dos pomares e, portanto, deixam de realizar a
polinização.
A mangueira, planta de origem tropical,
encontra condições ótimas para a germinação dos
grãos de pólen em temperaturas ao redor de 20 ºC.
Quando a temperatura cai, os tubos polínicos não se
desenvolvem e, conseqüentemente, não há formação
de frutos.
O mamoeiro polígamo, denominado macho,
que normalmente não frutifica, entra em produção em
épocas de temperaturas mais baixas ou em altitudes
mais elevadas. Isso ocorre porque, ao lado de flores
estaminadas, encontram-se rudimentos de flores
pistiladas que, sob a influência de baixas
temperaturas, desenvolvem-se e fixam frutos,
denominados de mamão-macho ou mamão-de-corda.
É de comum ocorrência a queda de flores e
frutos de muitas espécies durante o período de alta
temperatura e baixa umidade. Esse fenômeno tem
origem na transpiração excessiva e no desequilíbrio
de água nos tecidos da planta. A planta, não
conseguindo equilibrar a perda rápida de água por
novos suprimentos, determina então a queda de
frutos, que são por ela rejeitados.
Luz
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 104
A luz exerce função importante na economia
das plantas, como fonte de energia na síntese de
carboidratos e de outros compostos orgânicos e dos
constituintes inorgânicos de que são formadas.
As espécies frutíferas, principalmente as de
folhas caducas, necessitam anualmente acumular
reservas em seus tecidos para propiciar posterior
desenvolvimento e frutificação.
As reservas de carboidratos são feitas à custa
da fotossíntese, fenômeno que se dá em presença da
luz. A intensidade luminosa exigida por uma espécie
difere da de outras. Assim, espécies exigentes em luz
devem ser plantadas em regiões com maior
luminosidade e o espaçamento também deve ser
maior do que para aquelas menos exigentes.
Há plantas que não toleram sombra no período
de florescimento.
A mangueira, não florescem à sombra, além
disso, só florecem ao redor de sua copa e
praticamente nenhum fruto se forma no seu interior.
Chuva
Os vegetais necessitam de umidade no solo e
na atmosfera para o seu desenvolvimento.
As chuvas são a principal fonte de
fornecimento de água aos vegetais e, para que sejam
benéficas, devem ser bem distribuídas e em
quantidade suficiente. Infelizmente, porém, nem
sempre a quantidade de precipitação, bem como a
distribuição, se apresentam de modo favorável.
Chuvas excessivas atrasam o florescimento, causam a
lixiviação dos elementos minerais do solo e da planta,
além de favorecem o desenvolvimento de doenças.
As precipitações durante o período de
florescimento criam dificuldades à polinização, de
um lado, afugentando os insetos e, de outro,
provocando a lavagem dos grãos de pólen. Diluem
também as secreções estigmáticas, impedindo a
germinação dos grãos de pólen e, conseqüentemente,
levando a planta à improdutividade. A precipitação
reduz a frutificação de várias espécies frutíferas, entre
elas o abacateiro a mangueira, a videira, a macieira, a
ameixeira, o maracujazeiro entre outras.
Em anos chuvosos, a mangueira praticamente
deixa de frutificar pois as chuvas causam danos às
flores, impedem a polinização e propiciam condições
favoráveis ao desenvolvimento de doenças causadas
por fungos, principalmente antracnose.
Em espécies com grãos de pólen higroscópico,
como no maracujázeiro, se houver muita água
disponível, ocorre absorção até o pólen estourar e
consequentemente não germinar.
Umidade Relativa
A umidade relativa do ar ou déficit de
saturação tem grande ação sobre os vegetais.
Em condições de baixa umidade atmosférica,
as plantas e os frutos são menos sujeitos a doenças
causadas por fungos. O contrário ocorre em regiões
de elevada umidade.
Porém, em áreas sujeitas a baixa umidade
atmosférica, temperatura alta, ventos intensos e solos
com baixo teor de umidade, as plantas não
conseguem manter o equilíbrio hídrico, acarretando
com isso a queda das folhas, flores e frutos.
Muitas espécies frutíferas, como o abacateiro,
a mangueira, a macieira, a oliveira, o caquizeiro, os
citros e outras, perdem grande quantidade de frutos,
devido ao déficit de umidade na planta e à
incapacidade dessas espécies de equilibrar as perdas
por transpiração.
Em citros, têm-se registrado porcentagens
elevadas de queda de frutos, ocorrência essa mais
pronunciada na variedade baianinha.
Para eliminar em parte os fatores adversos
causados pela falta de umidade, recomenda-se o
emprego de cobertura morta, quebra-ventos e, se
possível, irrigação, para manter o solo com teor de
umidade suficiente e contornar em parte os efeitos
adversos da escassez de umidade no ambiente.
Vento
O vento favorece a circulação, renovando
constantemente o ar circunvizinho ao vegetal, e
constitui precioso auxiliar na polinização das plantas.
Ventos intensos mostram-se desfavoráveis e,
quando constantes, praticamente delimitam a área de
cultivo. Ventos frios, como ocorre normalmente em
nosso meio no período de florescimento, agravam o
desenvolvimento das flores e impedem, muitas vezes,
a polinização, de um lado, pela baixa temperatura do
ambiente, e, de outro, pela ausência de insetos,
principalmente abelhas, que se escondem em
situações como essas.
Grande parte das plantas de folhas caducas
tem sua polinização realizada por insetos, e as de
folhas persistentes, em muitos casos, são anemófilas.
Nas primeiras, os ventos intensos dificultam a
atividade dos insetos polinizadores e, nas últimas, por
excesso de velocidade, muitos grãos de pólen que se
acham sobre o estigma desprendem-se.
Um modo de reduzir os efeitos desfavoráveis
desse agente atmosférico é a formação de renques
com arvores de porte elevado. Os quebra-ventos,
quando bem orientados, prestam reais serviços, pois o
reduzem o ímpeto dos ventos e contribuem para que a
planta produza frutos e os mantenha até a colheita.
Em mangueiras, pelos dados: levantados, observou-se
que, anualmente, de 15 a 20% dos frutos se
desprendem pela ação dos ventos intensos, que
ocorrem normalmente de agosto a setembro.
Doenças e pragas
Além de causar redução de área fotossintética
na planta, quando ocorre no florescimento e na
Florescimento e frutificação
Sebastião Elviro de Araújo Neto 105
frutificação, as doenças e pragas, podem causar
quedas de flores e frutos, como a podridão floral dos
citros (Colletotrichum acutatum).
Os insetos estão intimamente relacionados
com a frutificação, principalmente quando são
agentes polinizados, mas o problema é quando são
agentes anti-polinizadores, como as abelhas pragas
do maracujazeiro (Apis melífera, Irapuá e silvestres),
que roubam polém e danificam a flor para coletar o
necta, tornando as não atrativas e com pouco pólen
para a visita dos mamangavas (abelhas
polinizadoras).
8.3 Efeito hormonal na frutificação
Os ramos vegetativos em desenvolvimento são
fontes de auxinas e giberelinas que estão envolvidas
no processo de regular a emissão de brotos
vegetativos e reprodutivos. Altas concentrações
internas inibe a emissão de brotos reprodutivos.
O crescimento alternado de raízes, depois de
emissão de brotos vegetativos é explicado pela
presença de altas concentrações de auxinas (nas
raízes). As raízes novas que se desenvolvem são
fontes de citocinina, que são transportadas
passivamente para brotos vegetativos. As auxinas
inibem a iniciação de brotos, reforçando a
dominância apical. Esse efeito da auxina (inibidoras)
aliado a citocinina (promotoras), podem, de forma
interativa, estarem envolvidas no processo de quebra
de dormência dos ramos, a iniciação dos brotos pode
estar regulada por um balanço crítico entre estas e um
terceiro fitormônio (giberelina A3).
A temperatura fria em muitas espécies de
fruteiras pode anular o efeito inibidor das auxinas e
induzir o florescimento.
O estresse hídrico (6 a 12 semanas) causa
desidratação do meristema apical que torna-se mais
sensível a indução floral, por causa da maior área
foliar madura, pode conpensar a falta de temperaturas
baixas nas regiões tropicais de baixa latitude, outro
fator responsável pela indução floral, como em
manga e caju.
O etileno é um homonio com várias funções,
dentre essas a promoção do florescimento em plantas
lenhosas e a aceleração da maturação em órgãos das
plantas.
O produto químico mais utilizado para liberar
etileno é o etefon (ácido 2-cloroetil-fosfoiônico).
Aplicado por meio de pulverizações na dosagem
entre 100 a 300 ppm, possui mais eficiência quando
combinado com estresse hídrico ou paralizador de
crescimento, como paclobutrazol ou 2,4D, por
exemplo.
O paclobutrazol (PBZ) tem sido usado para
estimular a floração, promovendo a paralisação do
crescimento vegetativo por interromper a síntese de
giberelina. Após a aplicação do PBZ geralmente
aplica se alguma substância promotora de quebra de
dormência dos ramos como etileno e nitrato de
potássio.
8.4 Referências
ALBUQUERQUE, J. A. S. de; MEDINA, V. D.;
MOUCO, M. A. do C. Indução floral. In: GENÚ, P.
J. de C.; PINTO, A. C. De Q. A cultura da
mangueira. Brasília: Embrapa Informações
Técnicas, 2002. p.260-276.
GOMES, R. P. Fruticultura brasileira. 9 ed. São
Paulo: Nobel, 1983.
RAMOS, J. D. Fruticultura: Tecnologia de
produção, gerenciamento e comercialização. 1 ed.
Lavras: UFLA, 1998. CD´rom.
SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba:
FEALQ, 1998. 760p.: il.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Trad.
Eliane Romanato Santarém ... [et al.] – 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 106
9. COLHEITA E PÓS-COLHEITA DE FRUTOS
O estudo da fisiologia do fruto é importante
para nortear o seu manuseio pós-colheita, reduzindo
o desperdiço e mantendo a qualidades das frutas.
Em um estudo sobre as perdas de hortaliças,
Vilela et al. (2003) relatam que até 40% das frutas e
hortaliças produzidas no Brasil são desperdiçadas em
várias fases do sistema de produção, entre a colheita
e a mesa do consumidor:
35% na pós-colheita;
30% na propriedade;
30% no transporte;
7 a 50% na rede atacadista;
13 a 40% na rede varegista;
20% nos domicílios.
9. 1 Definição de Fruto e Fruta
A palavra fruta é derivada do latim fructa, do
verbo fruor-eri, que significa desfrutar, deleitar-se,
apreciar. Portanto, a fruta é na linguagem comum, um
fruto comestível, de sabor adocicado, utilizado
habitualmente como sobremesa (Awad, 1993).
Do ponto de vista botânico, o fruto é
constituído de ovário e cujo desenvolvimento é
dependente dos eventos que ocorrem no mesmo, ou
pode ser ainda constituído de diversos ovários e ter
ou não estruturas acessórias (indúvias), como o
pedúnculo do caju ou o receptáculo da maça (Vidal e
Vidal, 2000).
Há o entendimento também de que frutos
desenvolvidos sem a fecundação do óvulo, por
partenocarpia e os pseudofrutos, constituídos
estruturas acessórias da flor, como o pedúnculo do
caju e o receptáculo da maçã não são considerados
frutos e sim frutas (Chitarra e Chitarra, 2005).
Portanto, nem todo fruto é uma fruta, pois os
frutos são o produto do desenvolvimento de flores ou
inflorescências das angiospermas. Alguns são
classificados como hortaliças, mas, sob aspecto
botânico, são frutos, como tomate, berinjela, pepino,
por exemplo, que não são considerados frutas, pois
não são consumidas como sobremesa (refrescante).
9.2 Fisiologia do desenvolvimento dos frutos
O conhecimento da fisiologia dos frutos é
necessário para melhor entender as transformações
físicas, químicas, fisiológicas e bioquímicas que
ocorrem na pós-colheita e que tem relação direta com
a vida útil e qualidades dos frutos.
Desenvolvimento fisiológico do fruto
O ciclo vital dos frutos inicia-se com a
fertilização, que é seguida por etapas distintas:
formação, crescimento, maturação e senescência.
Torna-se, porém, difícil fazer uma diferenciação
precisa entre as mesmas.
Formação e crescimento
É a primeira fase na vida do fruto,
caracterizada por um rápido crescimento do ovário,
que usualmente se segue à polinização e fertilização,
que são acompanhadas por mudanças tais como,
murchamento de pétalas e estames. Considera-se que
o crescimento do fruto começa no primórdio floral, o
pericarpo se desenvolve a partir da parede do ovário e
pode diferenciar-se em três regiões distintas: o
exocarpo, o mesocarpo e o endocarpo. Entretanto, o
desenvolvimento do fruto não se restringe ao ovário e
algumas vezes envolve as partes não carpelares da
flor. O crescimento inicial ocorre principalmente por
divisão celular. Os frutos provêm da expansão das
paredes do ovário. Na realidade, a maioria dos frutos
provém do crescimento de ovários isolados. Outros,
como os morangos, são formados por diversos
ovários, pertencentes a uma única flor e espalhados
sobre a superfície de um único receptáculo; as
estruturas semelhantes à sementes, que aparecem na
periferia do morango, são, na realidade frutos, sendo
o receptáculo, a principal porção comestível. Alguns
frutos consistem em ovários alongados justapostos,
incluindo as partes florais secundárias, fundidas para
formar um único fruto, ou infrutescência como o
abacaxi. (Figura 9.1.).
Figura 9.1 – Diagrama de três diferentes tipos de
frutos.
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 107
Uma vez estimulado, o ovário cresce, podendo
apresentar curva de crescimento sigmóidal simples
(Figura 9.2 ) ou dupla curva em S. Neste caso, há um
crescimento rápido após a fecundação e outro durante
um curto período, antes da maturação, com uma zona
intermediária de detenção do crescimento. (Figura
9.3.).
Figura 9.2 Frutos de sapotizeiro em diferentes
estádios de desenvolvimento (Araújo Neto et al.,
2001).
Figura 9.3 – Crescimento do fruto em curva
sigmóidal dupla (volume x tempo), expressa em
termos de base e cumulativa.
a)Método clássico
b)Designação de uma fase preliminar
c)Divisão da fase “lag” em duas etapas
d)Alocação das fases de acordo com o piso e através
da taxa de crescimento.
Dentre os frutos que apresentam padrão de
crescimento sigmóidal simples, encontram-se: maçã,
pêra, tâmara, abacaxi, banana, abacate, morango,
laranja, tomate, sapoti e melão. Dentre os que
possuem dupla sigmóidal estão pêssego, nectarina,
ameixa, cereja, figo, framboesa, uva e azeitona.
O intervalo entre a antese e o amadurecimento
varia nos frutos das diferentes espécies entre três
semanas (morango) a 60 semanas (laranja Valência);
porém, na maioria, é de cerca de 15 semanas. Durante
esse período o fruto aumenta milhares de vezes em
peso e volume, como, por exemplo, o abacate que
apresenta um dos maiores aumentos (300.000 vezes).
Maturação
A maturação ocorre na vida do fruto, quando o
seu desenvolvimento completo é atingido,
independentemente da planta mãe.
A maturação compreende, a fase de
crescimento do fruto e amadurecimento, que começa
no final do crescimento (maturação fisiológica), após
este estádio, não há mais aumento no tamanho do
fruto. Os frutos são normalmente colhidos nesse
estádio, após o qual, vivem utilizando-se dos
substratos acumulados.
A maturação é um evento interessante no ciclo
vital dos frutos, por transformá-los em produtos
atrativos e aptos para o consumo humano. É uma
etapa intermediária entre o final do desenvolvimento
e o início da senescência, sendo um processo normal
e irreversível; porém, pode ser retardado com o uso
de meios adequados. Essa fase é discutida sob dois
aspectos: a) Pode ser entendida como a manifestação
da senescência, na qual a organização intracelular
começa a ser destruída; b) representa o estádio final
da diferenciação, e por isso é um processo dirigido
que requer a síntese de enzimas específicas.
A maturação dos frutos pode ser definida
como a seqüência de mudanças na cor, “flavor” e
textura, conduzindo a um estado que os torna
comestíveis, e, com isto, apropriados para o consumo
“in natura” e/ou industrialização. Este, entretanto,
não é um estado fisiológico fixo, pois, pode variar de
um para outro fruto e em alguns casos as mudanças
podem ocorrer até em direções opostas. Por exemplo,
em maçãs, há uma perda de ácido málico no fruto
maduro, porém, em bananas, ocorre o inverso, ou
seja, um acúmulo desse ácido (Chitarra e Chitarra,
1990). A graviola é outro fruto que aumenta a acidez
durante o amadurecimento, contrariando a lógica
geral do amadurecimento dos frutos (Araújo Neto et
al., 2002).
As principais mudanças que ocorrem durante a
maturação, são:
Desenvolvimento das sementes
Mudanças na cor
Mudanças na taxa respiratória
Produção de etileno
Mudanças na permeabilidade dos tecidos
Mudanças na textura
Mudanças químicas nos carbóidratos, ácidos
orgânicos, proteínas, fenólicos, pigmentos,
pectinas, etc.
Produção de substâncias voláteis
Formação de ceras na casca.
1 2 3 4 5 d I IIA IIB III c
0 I II III b
I II III a
Tempo
Volume
Crescimento cumulativo
Taxa de crescimento
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 108
Figura 9.3 – Etapas do ciclo vital dos frutos.
1.Início da formação da polpa
2.Térmico do crescimento em tamanho
3.Início do período de utilização, mas, ainda imaturo
4.Período ótimo de consumo
5.Predominância de reações degradativas
6.Não utilizável para consumo (Ryall e Lipton, 1979)
Amadurecimento
A etapa correspondente ao amadurecimento, é
aquela na qual o fruto completamente maduro torna-
se mais palatável, pois, sabores e odores específicos
se desenvolvem em conjunto com o aumento dos
açúcares e diminuição da acidez, proporcionando
maior doçura ao fruto. O amaciamento do fruto
ocorre e é usualmente acompanhado por mudança na
coloração. A clorofila decresce nos cloroplastos,
enquanto que os pigmentos carotenóides e
antocianinas se desenvolvem. Portanto, o
amadurecimento corresponde basicamente às
mudanças nos fatores sensoriais do sabor, odor, cor e
textura que tornam o fruto aceitável para o consumo.
Algumas dessas mudanças podem ser detectadas por
análise ou observação das transformações físicas
visíveis, ou pelas transformações endógenas, como
mudanças nos pigmentos, ácidos, taninos,
carboidratos, pectinas, etc.
As diferentes mudanças que ocorrem durante
o processo de amadurecimento parecem estar
sincronizadas e encontram-se provavelmente sob
controle genético. Essa afirmativa tem suporte no fato
de que o intervalo entre a antese e o amadurecimento,
em condições climáticas similares, é relativamente
constante para um determinado fruto. Um resumo das
mudanças sugeridas por Biale e Young (1962), que
ocorrem durante o processo de amadurecimento, é
apresentado no Quadro 9.1.
No amadurecimento ocorrem atividades
anabólicas e catabólicas. Há perda de energia à
medida que os substratos são convertidos em
moléculas simples, calor e ligação fosfato (rica em
energia). A ligação energética é usada para várias
atividades fisiológicas e para manutenção da
integridade celular.
Quadro 9.1. Transformações que ocorrem durante o
amadurecimento de frutos (de Biale e Young, 1962).
Síntese Degradação Manutenção da estrutura mitocondrial Destruição dos cloroplastos
Formação de carotenóides e antocianinas Quebra de clorofila
Interconversão de açúcares Hidrólise do amido
Aumento na atividade do ciclo de Krebs Destruição de ácidos
Aumento na formação de ATP Oxidação de substratos
Síntese de voláteis aromáticos Inativação de fenólicos
Aumento na incorporação de aminoácidos Solubilidade de pectina
Aumento de membranas seletivas Ativação de enzimas
hidrolíticas
Prevenção de membranas seletivas Início de rompimento de
membranas
Formação da vida do etileno Amaciamento da parede
celular induzida pelo C2H4
Uma grande demanda de energia ocorre no
sistema para a continuação do processo, incluindo
síntese protéica, síntese de etileno e compostos
aromáticos, entre outros. A energia é suprida por
alguns processos degradativos, particularmente a
hidrólise de amido. A glicose produzida, por esse
processo, é conseqüentemente utilizada durante o
processo de amadurecimento. A interelação e
mecanismos pelos quais essas mudanças são
coordenadas, ainda não são bem conhecidos. Uma
das dificuldades nessa determinação ocorre na
distinção entre os fatores causativos e seus efeitos. O
amadurecimento pode ser considerado como um
número de processos “chaves” que ocorrem
simultaneamente, cada um tendo seu próprio
mecanismo de controle, o que, por sua vez, é
livremente coordenado com os mecanismos dos
outros processos.
As unidades básicas de interesse no
amadurecimento, são as células e suas organelas que
contêm a maquinária que dirige as reações de vida e
morte. Os sistemas enzimáticos contidos dentro das
organelas refletem a seqüência da desorganização
dessas organelas. Uma vez iniciado, o
amadurecimento conduz ao envelhecimento e à morte
dos tecidos.
Senescência
A senescência é definida como os processos
que se seguem à maturidade fisiológica ou
horticultural e que conduzem à morte dos tecidos.
Não há, entretanto, uma distinção bem delineada
entre amadurecimento e senescência, embora cada
um dos processos que contribui para a síndrome da
senescência, conduza diretamente à morte dos
tecidos. O processo da senescência aumenta a
probabilidade de morte, como, por exemplo, por
desidratação ou invasão de microorganismos; porém,
não há evidências de que ela inclua a morte
programada do tecido. Na Figura 9.4. encontram-se
as mudanças que ocorrem no abacaxi, desde o
florescimento até a sua senescência com separação
das diversas etapas fisiológicas na vida desse fruto.
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 109
Figura 9.4 – Transformações das características
físicas, físico-químicas e químicas do abacaxi durante
o período do florescimento até a senescência.
(Gortner et al., 1967).
Respiração
Após a colheita do fruto, a respiração torna-se
o seu principal processo fisiológico, uma vez que ele,
não depende mais da absorção de água e minerais
efetuados pelas raízes, da condução de nutrientes pelo
sistema vascular, nem da atividade fotossintética das
folhas da planta mãe. Portanto, após a colheita, os
frutos têm vida independente e utilizam para tal, suas
próprias reservas de substratos, acumulados durante o
seu crescimento e maturação, com conseqüente
depressão progressiva nas reservas de matéria seca
acumulada. Deve-se salientar que as atividades não
são apenas catabólicas. Alguns órgãos vegetais
utilizam a energia liberada pela respiração, para
continuar a síntese de pigmentos, enzimas e outros
materiais de estrutura molecular elaborada, tão logo
eles são destacados da planta. Essas sínteses são parte
essencial do processo de amadurecimento de muitos
frutos.
A atividade respiratória é influenciada pelo
menos em parte, pela composição do fruto
completamente formado e pelas alterações químicas
que ocorrem durante a fase da maturação. As
substâncias que possivelmente tomam parte ativa
nestas alterações são as proteínas, glicídeos, lipídeos,
ácidos orgânicos, vitaminas, minerais e alguns
componentes específicos da parede celular como
hemi-celulose e pectinas. A respiração resulta em
modificações profundas desses constituintes, sendo
que podem ser altamente indesejáveis sob o ponto de
vista da qualidade. Em condições não controladas,
estas mudanças podem levar rapidamente à
senescência, e os tecidos tornam-se muito
susceptíveis ao ataque de microorganismos e à perda
de umidade. Assim, o controle da respiração passa a
ser condição essencial para obtenção de condições
adequadas de armazenamento dos produtos
perecíveis.
O tipo e a intensidade de atividade fisiológica
pós-colheita as quais dependem das funções naturais
de cada parte da planta, determinam, em grande
extensão, a longevidade do material, durante o
armazenamento na etapa pós-colheita.
As mudanças químicas que ocorrem no fruto,
pós-colheita, são direta ou indiretamente relacionadas
com atividades oxidativas e fermentativas,
designadas como oxidações biológicas.
A respiração é o processo relacionado com a
oxidação predominantemente de substâncias
orgânicas das mitocôndrias e com sistemas
enzimáticos das células. Ocorre em três fases, a
saber:
• Quebra ou hidrólise de polissacarídeos em açúcares
simples.
• Oxidação dos açúcares a ácido pirúvico (ciclo
glicolítico).
• Transformação aeróbica do ácido pirúvico e outros
ácidos orgânicos em CO2, água e energia (ciclo de
Krebs).
As proteínas e os lipídeos também podem
servir como substratos no processo de hidrólise,
porque existe uma interelação nos seus processos
metabólicos. Os glicídeos podem ser convertidos em
lipídeos e aminoácidos. Os lipídeos podem ser
transformados em aminoácidos, porém, dificilmente
se transformam em glicídeos.
Muitos compostos importantes podem ser
sintetizados a partir dos intermediários do ciclo
glicolítico e do cicio de Krebs. Por exemplo, tem-se a
síntese de ácido ascórbico a partir da glicose 6-
fosfato; ácido clorogênico a partir do
fosfoenolpiruvato; fenólicos ou compostos
aromáticos voláteis a partir da Acetil CoA e clorofila
a partir da Sucinil-CoA.
Alguns trabalhos têm sido realizados, isolados
a mitocôndria e verificando sua relação com a
atividade respiratória. Tem-se observado um aumento
da atividade das mitocôndrias isoladas a partir de
vários frutos, em diferentes estádios de maturação.
Esse aumento pode ser interpretado como um
aumento no número de mitocôndrias, ou um aumento
na atividade do sistema mitocondrial pré-existente.
Entretanto, não existem evidências claras para
-1 0 0 -8 0 -6 0 -4 0 -2 0 0 2 0
D ia s a p a rti r d o a m a d u re c im e n to
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cim
en
to
Se
ne
sc
ên
cia
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 110
distinguir entre essas duas possibilidades. Atualmente
alguns pesquisadores sugerem que, quando o fruto
completa a fase climatérica, portanto, quando a
respiração já se elevou, a oxidação torna-se
progressivamente desacoplada da atividade
fosforilativa.
A respiração num sentido mais restrito
corresponde às reações químicas que requerem
oxigênio, enquanto que a fermentação, também
referida como glicólise, é característica de oxidações
biológicas em ambiente livre de oxigênio, (Figura
9.5); porém, a fermentação também pode ocorrer em
atmosfera contendo oxigênio. Há uma distinção entre
a glicólise “aeróbica” e a “anaeróbica”, com base nas
condições de exposição do material fermentável. Os
dois processos podem ser ilustrados com as seguintes
reações:
Figura 9.5 – Esquema geral das principais
transformações metabólicas que ocorrem na vida dos
frutos.
Padrões de atividade respiratória
Se a atividade respiratória for acompanhada
após a formação do fruto e através de seus estádios de
divisão celular, crescimento e maturação, pode-se
observar um decréscimo consistente na taxa de
respiração, se expressa em unidade de peso fresco,
peso seco, ou unidade de proteínas. Porém, no final
da maturação há um aumento marcante na evolução
de CO2, observado em maçã por Kidd e West (1925),
que designaram o evento de subida “climatérica”. Os
frutos que apresentam esse padrão de atividade
respiratória são então designados como frutos
“climatéricos”. Outros frutos não apresentam esse
padrão respiratório e são, portanto, chamados de “não
climatéricos”. Entretanto, muitos desses frutos
apresentam um aumento na produção de etileno, com
aumento na taxa respiratória em alguma fase do seu
desenvolvimento na planta.
Os frutos são, portanto, classificados em
“climatéricos” e “não climatéricos”, com base nas
características respiratórias antes do amadurecimento,
conforme apresentado na Figura 9.6. Desta forma,
pode-se dizer que o climatério faz a transição entre o
crescimento e a senescência e é iniciado pela
produção autocatalítica de etileno.
Quadro 9.2 - Exemplo de frutos climatéricos e não
climatéricos.
Frutos climatéricos Frutos não-climatéricos
Abacate Uva
Banana Limão
Manga Laranja
Mamão Abacaxi
Maracujá Morango
Pêra Figo
Ameixa
Sapoti
0
20
40
60
80
100
Ab
so
rção
Rela
tiv
a d
e O
2
Colheita
A
B
C
Fruto climatério
(abacate)
1 3 5 7 9 11 (Dias)
Tempo
Fruto não climatério (limão)
1 2 3 4 5 (Meses)
Figura 9.6 – Padrão de atividade respiratória em
frutos climatéricos e não climatéricos (Biale, 1960).
Observa-se através da Figura 9.6, um declínio
na taxa de captação de O2 (ou evolução de CO2)
imediatamente após a colheita, seguido por um
acréscimo brusco. O menor valor da captação de O2 é
designado como “mínimo pré-climatérico”. O pico de
respiração designado como “máximo climatérico” é
seguido por um período de declíneo na atividade,
designado como estádio “pós-climatérico”. O valor
real nos pontos mínimos e máximos, bem como o
espaço de tempo decorrido entre ambos, é
característico de cada espécie ou mesmo de cada
cultivar em condições externas definidas. O tempo
decorrido entre a colheita e o ponto mínimo é função
do estádio de maturação da fruta, na colheita.
Ciclo de
Krebs (dos ácidos orgânicos)
ÁCIDO PIRÚVICO
AÇÚCARES
AMIDO
+ Oxigênio
(Respiração aeróbica) - Oxigênio
(Respiração anaeróbica)
Fermentação
Deterioração e (rápida perda do
sabor e do aroma) CO2
HCO2
Calor
Energia
Energia química
Novas células para
crescimento dos
tecidos
+ minerais do solo
+ açúcares, etc.
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 111
Em alguns frutos, como maçã e tomate, o
aumento na taxa respiratória ocorre, tanto no fruto
preso à planta, como após a colheita. O abacate,
apresenta pico respiratório climatérico apenas após
ser desligado da planta. Em alguns frutos como
abacate, banana e manga, o aumento na taxa
respiratória é rápido e o estádio de amadurecimento
comestível, está intimamente relacionado com o pico
climatérico. Além das modificações na textura da
polpa, conhecidas como “amadurecimento
comestível”, ocorrem transformações na cor, tais
como verde a amarelo em bananas, verde a vermelho
em manga, verde a marrom escuro em algumas
variedades de abacate. Essas mudanças ocorrem
nesses frutos durante o pico climatérico ou
imediatamente após. Em outros, como maçã e tomate,
o amadurecimento só se completa algum tempo após
o pico climatérico.
Dentre os frutos não climatéricos podem ser citados:
cereja, pepino, figo, uva, cítricos, morango, abacaxi e
goiaba.
Os frutos não climatéricos devem estar no
estádio ótimo de amadurecimento comestível, à
época da colheita. Para que apresentem melhor
qualidade, devem ser deixados na planta até
atingirem a composição desejável. No caso do limão
a colheita é baseada no tamanho do fruto, porque
objetiva-se volume e acidez no suco. Em laranjas, os
fatores determinantes são o conteúdo de açúcares e
ácidos, bem como o volume de suco. Neste grupo de
frutos, a senescência celular aparentemente se segue à
maturação celular, sem a intervenção de nenhum
estádio de transição. Nesses frutos, há uma ligeira
queda na taxa respiratória, após serem destacados da
planta. Existe, entretanto, uma possibilidade de que,
numa idade fisiológica mais apropriada ou sob
condições de armazenamento mais apropriadas, estes
frutos possam apresentar um padrão respiratório
característico de frutos climatéricos, como o melão e
o abacaxi.
Embora não apresentem comportamento
respiratório, como os frutos do tipo climatérico, já foi
observado em laranja e pomelo um padrão de
respiração tipo climatérico, quando uma série
cronológica suficiente de amostras foi colhida e
analisada. Outras alterações no amadurecimento
seguiram o climatério; porém, este ocorreu bem antes
da colheita comercial. Para resolver as opiniões
conflitantes sobre a ubiqüidade do climatério, há
necessidade de medições mais precisas, abrangendo
períodos cronológicos mais longos, bem como
maiores períodos para realização dessas medições.
As evidências demonstram que não existem
diferenças fundamentais entre os dois grupos de
frutos quanto ao mecanismo de amadurecimento. Os
frutos não climatériccos, apresentam amadurecimento
mais lento, necessitando de um longo espaço de
tempo para completar o processo, sem mudança
súbita na demanda de energia. Nos frutos
climatéricos os eventos ocorrem rapidamente e com
grande demanda de energia, responsável pela súbita
ascensão na taxa respiratória. Ambos os grupos de
frutos contêm quantidades apreciáveis de etileno,
embora, a quantidade seja consideravelmente variável
com a espécie. Além da variação no nível endógeno
de etileno, as respostas à aplicação de etileno
exógeno são bastante variáveis entre os dois grupos
de frutos.
Uma classificação mais conveniente para
frutos, quanto ao seu padrão de atividade respiratória,
foi elaborada por Iwata et al (1969), relacionando o
amadurecimento e a flutuação na produção de CO2
pelos frutos e hortaliças. Foram propostos 3 tipos de
padrão de atividade respiratória.
• Tipo decréscimo gradual: a taxa de respiração
decresce gradualmente através do processo de
amadurecimento, como por exemplo nos frutos
cítricos.
• Tipo ascensão temporária: a taxa de respiração
aumenta temporariamente e o completo
amadurecimento ocorre após o pico respiratório,
como em banana, tomate, manga e abacate.
• Tipo pico tardio: a taxa máxima de respiração é
apresentada desde o estádio completamente maduro
até o supermaduro, como no caqui japonês, morango
e pêssego.
De um modo geral, a taxa de respiração é
indicativa da rapidez com que as mudanças de
composição ocorrem no material. Se o fruto for
colhido no estágio de ótima qualidade comestível, ou
próximo à mesma, poderá apresentar uma elevada
taxa de deterioração antes da comercialização. A vida
de armazenamento de diferentes tipos de frutos, em
geral, varia inversamente com a taxa de respiração.
Produtos com taxas de respiração relativamente
baixas são os que podem ser armazenados por
períodos mais longos sem perdas da aceitabilidade.
9.3 Tipos de colheita
Colheita manual
A colheita manual ainda é o procedimento
mais utilizado, mesmo em países desenvolvidos. A
colheita mecânica é utilizada para produtos
destinados ao processamento ou àqueles que não são
facilmente danificados.
A colheita manual apresenta como principais
vantagens:
• Seleção acurada da maturidade.
• Danos mínimos ao produto.
• Pequeno investimento de capital.
Produz menos danos aos produtos que a
mecanizada; as vantagens porém, podem ser
reduzidas pelos tratamentos subseqüentes. Para
realização da colheita manual, vários instrumentos
são utilizados, sempre com o objetivo de proteger o
produto. Os mais comuns, são:
• Baldes e sacos: São utilizados para facilitar a
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 112
colheita de uma só vez em algumas árvores. No caso
do uso de saco, deverá ser dada atenção à sua forma
para reduzir os danos, particularmente durante a
descarga, bem como para o conforto de quem o
utiliza. O mais comum é aquele que possui uma
abertura na parte inferior, o qual após cheio, possa ser
aberto e permitir um fluxo normal sem danificar o
produto.
• Varas/prendedores: Uma grande variedade de varas
com prendedores ou facas combinadas com sacos na
ponta é utilizada. Tal sistema pode ser feito a custos
relativamente baixos. Em frutos cítricos, a colheita
varia de região para região, podendo ser feita através
de prendedores na ponta da vara, ou então através do
próprio homem (torcendo e puxando). Os
prendedores devem ser usados com critérios para
evitar problemas de doenças.
• Facas e tesouras: Dependendo do produto, há ou
não a necessidade de se cortá-lo da planta. Muitos
produtos podem ser efetivamente cortados ou
torcidos da planta sem danos à mesma ou ao produto.
Contudo, alguns devem ser cortados com faca, como
por, exemplo, abacaxi e banana. O uso de faca pode
reduzir a necessidade de uma limpeza secundária nas
centrais de embalagem. O corte pode evitar danos, os
quais ocorrem pela remoção de partes do vegetal,
quando se usa o método de puxar com a mão. Deve-
se também observar que o uso de facas ou tesouras
pode trazer desvantagens, como a transmissão de
doenças de planta para planta, por contaminação
através do utensílio. Deve-se assim observar as
condições higiênicas do material utilizado na
colheita.
• Roupas especiais: Somente no caso de alguns
produtos, como por exemplo abacaxi, onde se
utilizam luvas para reduzir os danos ao produto e
como proteção ao homem. Contudo, deve-se observar
os aspectos higiênicos do uso.
Colheita mecânica
A colheita mecânica não é na atualidade a
mais utilizada para a maioria dos produtos perecíveis
destinados à comercialização “in natura”, porque as
máquinas raramente são capazes de realizar uma
colheita seletiva, bem como tendem a danificar os
produtos, além do que é um processo dispendioso.
Em geral, é utilizado para produtos menos sensíveis à
injúria mecânica, produtos que podem ser colhidos de
uma só vez, pós o que são processados rapidamente,
para minimizar o efeito das injúrias mecânicas. Deve-
se ainda considerar que os produtos precisam ser
resistentes à colheita mecânica, ou seja, as árvores
necessitam ser podadas para minimizar o dano
causado ela queda dos frutos, através da copa. Há
necessidade de condições uniformes no apoio para
um melhor rendimento. O impacto de quedas em
superfícies duras ou sobre o próprio produto
acumulado, bem como as vibrações transmitidas das
máquinas para a matéria prima, causam danos que
irão se refletir posteriormente na sua qualidade pós-
colheita. Esse tipo de colheita, porém, apresenta
algumas vantagens como:
• Rapidez potencial, com maior rendimento;
• Melhores condições de trabalho para os colhedores;
• Redução de mão-de-obra.
As culturas que podem ser colhidas
mecanicamente têm, em geral, equipamentos
especialmente desenvolvidos para elas.
O sucesso de uma boa colheita está
diretamente relacionado com uma coordenação
eficiente da mesma, no que diz respeito à
disponibilidade de trabalhadores, transporte,
operações nas centrais de embalagens e demanda de
mercado. A maturidade do produto e condições de
tempo também afetam a colheita. A supervisão dos
trabalhos é real importância para assegurar métodos
adequados de colheita e correta manipulação.
Nos locais onde o produto é colhido
manualmente, o trabalhador deve carregar seu
próprio material. Contudo, a equipe deverá trabalhar
sistematicamente na área da colheita. O tamanho da
equipe dependerá do tipo de produto e das
dificuldades experimentadas na colheita. Como os
colhedores são pagos pela quantidade colhida, uma
boa supervisão torna-se necessária para assegurar a
qualidade do produto colhido. Os colhedores devem
ser treinados para colher o produto com a qualidade
desejada, devendo ser encorajados e treinados para
atingi-la.
O nível de mecanização aplicado na colheita
de produtos frutícolas requer um evado grau de
supervisão e desenvolvimento da habilidade do
trabalhador. Os equipamentos devem ser manuseados
por pessoal bem treinado, para evitar danos ao
produto ao próprio equipamento, em geral muito
dispendioso. Deve haver um serviço de manutenção
regular e de emergência, para um funcionamento
adequado.
Cuidados no manuseio
Os frutos que se destinam à comercialização
“in natura” devem ser colhidos manualmente em
baldes ou sacos, os quais são colocados em caixas
maiores para posterior transporte. Os baldes (de
plástico ou metálicos) são usados para frutos macios,
enquanto que os sacos são usados para frutos com
baixo potencial de compressão ou dano. Frutos muito
delicados, como cerejas, uvas, pêssegos e nectarinas
ainda podem ser transferidos dos baldes para um
sistema transportador do campo, ou podem ser
colhidos no balde e embalados em ‘containers’ para
posterior transporte.
Os frutos muito macios e delicados, como
morangos, devem ser colhidos, selecionados e
embalados diretamente dentro do “container” de
transporte. As injúrias físicas dos frutos podem
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 113
resultar do procedimento incorreto na colheita, como
queda excessiva dos frutos nos baldes ou sacos,
superenchimento desses “containers”, pancadas
(especialmente sacos com laterais macias) contra
galhos e escadas, falta de cuidado na transferência
dos frutos para as caixas e o superenchimento das
caixas no campo. As quedas dos frutos, mesmo que
sejam de pequenas alturas causam impacto e
amassamento.
9.4 Estádio de maturação
O estádio de maturação no qual o fruto é
colhido, será decisivo para a sua vida de prateleira,
bem como em relação ao seu potencial de
armazenamento. É importante caracterizar o
momento exato da colheita de acordo com o destino
do produto. Muitas vezes a colheita é realizada
precocemente, ou seja, antes do produto ter
completado seu desenvolvimento, ficando o processo
de amadurecimento totalmente prejudicado, ou,
quando ocorre, é de forma irregular. Da mesma
forma, o processo de colheita efetuado com o produto
supermaduro, trará conseqüências irreversíveis de
perdas. Entre esses extremos, existem pontos em que
o estádio de desenvolvimento permite colheitas que
prolonguem a sua vida sem ocorrência de desordens,
pois, nesse caso, a susceptibilidade é muito menor.
A maturidade do produto na colheita depende das
necessidades do mercado, tempo de transporte ou
necessidades de armazenamento, e pode diferir em
épocas do ano.
O requerimento básico é a previsão de uma
medida que possa ser feita antes, mas que seja
altamente correlacionada com a data de maturação
adequada para a colheita. O sistema de previsão mais
simples se relaciona com o desenvolvimento, de
forma regular, através da última parte da etapa de
crescimento. Quando se determina a relação entre as
mudanças na quantidade, qualidade e vida de
armazenamento, um valor índice pode ser adotado
para a maturidade mínima aceitável. Uma vez
estabelecido o índice, as medidas realizadas no início
da estação podem ser usadas para predizer a data na
qual o produto atingirá um mínimo de maturidade
aceitável. Por exemplo, na Califórnia, durante muitos
anos, utilizou-se um teor mínimo de óleo no abacate
como padrão de maturidade. Porém, esse índice
mostrou-se insatisfatório, uma vez que algumas
cultivares, mesmo apresentando teor de óleo acima
do mínimo requerido, tinham qualidade organoléptica
insatisfatória. Através de um painel de avaliação
sensorial para determinar a qualidade do fruto,
constatou-se que o padrão de crescimento do abacate
pode ser usado não apenas para determinar a data na
qual a maturidade mínima aceitável é atingida, como
também permite estabelecer a data. Existe uma boa
correlação entre o conteúdo de óleo e o peso seco do
fruto. Dessa forma, o índice de maturidade mínima
foi trocado do conteúdo de óleo para o do peso seco.
Índices de maturidade
Os índices de maturidade podem ser utilizados
não só para o estabelecimento da época de colheita,
como também em alguma etapa da cadeia de
comercialização (por exemplo, no local de inspeção,
na recepção da matéria-prima numa indústria, etc.). O
mais difícil e complexo, porém, é encontrar a forma
de previsão do tempo no qual o produto atingirá sua
maturidade. A maturidade para a colheita pode ser
indicada por meios físicos ou visuais, análises
químicas, computação dos dias pós-florada e fatores
fisiológicos.
A época ou ponto de colheita para cada
espécie de frutos e hortaliças tem influência direta
nas características de boa qualidade dos mesmos.
Tanto em hortaliças como em frutos, a colheita de
algumas espécies depende de fatores tais como: o
local ao qual se destina, o meio de transporte, o
intervalo entre a colheita e o consumo e as
características intrínsecas do produto.
De modo geral, o agricultor com sua vivência
pode estabelecer sobre a melhor época de colheita.
Porém, para uma confirmação objetiva do grau de
maturação, são realizadas análises químicas e físicas.
Os métodos mais utilizados encontram-se no Quadro
9.3. Dentre eles, salientam-se os seguintes:
Quadro 9.3 – Índices de maturidade estabelecidos
para alguns frutos.
ÍNDICE EXEMPLOS
Fatores físicos:
Dias entre a florada e a colheita Banana, sapoti, maçã
Desenvolvimento de camadas
de abscisão
Alguns melões, maçã
Morfologia e estrutura da
superfície
Açaí, películosidade
Tamanho Quase todos os frutos
Gravidade específica Melancia
Forma Angularidade/ banana
Faces cheias/mangas
Firmeza Maças, pêras, melão
Coloração externa Maioria dos frutos
Coloração interna Cor da polpa/frutos
Densidade de espículas 6/12cm2 Graviola
Fatores da composição:
Conteúdo de amido Maçãs, pêras
Conteúdo de açúcares Maioria dos frutos
Acidez, relação açúcar/ácido Mamões, cítricos
Conteúdo de sucos Cítricos
Taninos (adstringência) Caquis, tâmaras
Método de Observação Prática
A observação, no caso ditado pela longa
experiência do agricultor, poderá indicar um ponto
próximo ao ideal da colheita. Como exemplo, tem-se
os seguintes casos:
• Morango: a cor do fruto é o indicador do ponto de
colheita. Frutos com menos da metade da superfície
vermelha são impróprios para consumo ou para
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 114
processamento, porque conservam elevado teor de
acidez e adstringência depois de colhidos, bem como,
possuem aroma pobre. Morangos com mais da
metade e até 3/4 da superfície vermelha permanecem
em boas condições para o consumo ou processamento
por alguns dias, dependendo da variedade, da
temperatura e da umidade atmosférica.
• Sapoti: Os frutos do sapotizeiro, não apresentam
mudança de cor da casca durante a maturação
fisiológica e a firmeza permanece eevada para
percepção no tato, apesar de haver uma diminuição
de 102,16 Newton (N) aos 195 dias após a antese
para 73,5 N aos 209 dias após a antese. Essa difereça
é percebida no tato de colhedores treinados (Araújo
Neto et al., 2001).
Métodos físicos
Incluem medições de soma de calorias,
medidas da textura e medidas de peso, diâmetro e
volume.
Métodos químicos e físico-químicos
Curvas de maturação
Para o estabelecimento correto do ponto ideal
de colheita são realizadas as chamadas curvas de
maturação, ou seja: acompanha-se a fase de
maturação do fruto por meio de análises físicas e
químicas, traçando-se as curvas para cada
constituinte de acordo com a evolução apresentada.
Observa-se então o ponto máximo ou mínimo da
concentração de alguns componentes químicos, ou
realizam-se relações entre os componentes e, dessa
forma, indica-se qual a época ideal para a colheita do
fruto em determinada região.
Consiste em se determinar a soma da relação
temperatura e tempo nos quais o produto atinge seu
estádio ótimo de maturação. A medição é feita
diariamente desde a semeadura até a colheita.
O inconveniente do método é a necessidade do
conhecimento da temperatura de paralisação de
crescimento do produto.
Determinação da textura. Uso de aparelhos
que permitem a obtenção de dados sobre a resistência
e consistência do tecido, através da compressão do
produto. São usados: maturômetros, penetrômetros e
texturômetros.
Dentre os métodos mais utilizados encontram-
se o teste do amido pelo iodo, determinações de
substâncias insolúveis em álcool (amido, celulose,
pectinas, proteínas), determinações de sólidos
solúveis e determinações de acidez, etc.
Teste do amido
Através do uso de solução de iodo pode-se
constatar a presença ou não de amido em produtos
vegetais que desenvolvem coloração azul na presença
de iodo.
Determinação de substâncias insolúveis em
álcool (SIA)
Consiste na determinação do percentual de
alguns componentes químicos, tais como: amido,
fibras, hemicelulose, pectinas e proteínas. Juntamente
com os dados físicos, dá uma idéia da resistência ou
endurecimento do tecido celular.
Determinação de sólidos solúveis (SS) e
acidez titulável (ATT)
Os SS dão uma idéia do teor de açúcares do
produto. Faz-se a leitura com auxílio do refratômetro
de campo.
A acidez é dosada pela titulação com auxílio
de solução de NaOH 0,1N. A relação SST/ATT dá
indicação do sabor do produto.
9.5 Pré-resfriamento
Para manter a qualidade e evitar o calor, o
produto deve ser colhido e removido do campo o
mais rápido possível. Uma vez colhido, deverá ser
protegido contra as condições adversas de tempo,
como por exemplo, através do uso da própria sombra
das árvores ou do uso de folhas.
Os produtos devem ser resfriados o mais
rapidamente possível após a colheita para remoção
rápida do calor do campo.
Um local adequadamente sombreado deve ser
preparado para a recepção após a colheita. Há a
necessidade de lavar os produtos nesse estágio, para
remoção do solo aderido aos mesmos. A preparação
do produto também inclui a remoção de folhas
externas estragadas ou quebradas, como no caso de
folhas. Todos os métodos de pré-resfriamento
envolvem uma rápida transferência de calor do
produto para meio de resfriamento, tal como ar, água
ou gelo.
A taxa de resfriamento de qualquer produto
depende de quatro fatores:
• Acessibilidade do produto ao meio resfriante;
• A diferença de temperatura entre o produto e o meio
de resfriamento;
• A rapidez de resfriamento;
• A natureza do meio de resfriamento.
O resfriamento com água, quando
convenientemente aplicado, é o método mais efetivo
para remoção do calor de campo. Freqüentemente,
porém, a água utilizada não suficientemente fria ou
não flui com a rapidez suficiente. Ocorre também que
o fruto às vezes não permanece o tempo suficiente no
pré-resfriamento. A simples colocação em tanque
com água fria não é suficiente para produzir o efeito
desejado de resfriamento rápido. Deve-se utilizar
água corrente para a lavagem, pois caso contrário, ela
se torna facilmente poluída e em curto período de
tempo desenvolve altas concentrações de esporos
fúngicos, os quais podem posteriormente contaminar
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 115
produtos injuriados ou me mo sãos.
9.6 Higiene do campo e aspectos fitossanitários
Durante as operações de colheita deve-se
manter um padrão de higiene no campo. Os produtos
não desejáveis para o mercado devem ser removidos.
A colheita deve ser realizada na época certa, e com
seleção imediata do produto para possibilitar as
operações subseqüentes. Pode-se ainda deixar o
produto descartável na planta durante a primeira
operação, e em seguida fazer a operação de limpeza.
Durante as operações de colheita, deve-se manter um
bom padrão de higiene no campo. Os produtos não
desejáveis para o mercado devem ser removidos. A
colheita deve ser realizada na época certa e com
seleção imediata do produto, para possibilitar as
operações subseqüentes. Pode-se ainda deixar o
produto descartável na planta durante a primeira
operação e, em seguida, fazer a operação de limpeza.
Em nenhuma circunstância o produto rejeitado
deverá permanecer no solo por longos períodos, pois
assim ele se tornará uma fonte de infecção aos
produtos sadios. Preferivelmente, o material que
poderá ocasionar alguma infecção deverá ser
destruído. A limpeza adequada dos instrumentos e
equipamentos utilizados na colheita e manuseio
também de importância fundamental no controle
sanitário. Numerosos produtos químicos podem ser
utilizados para o tratamento fitossanitário.
9.7 Qualidade Pós-Colheita
A qualidade pós-colheita dos frutos relaciona-
se com o conjunto de atributos ou propriedades que
os tornam apreciados como alimento. Esses atributos,
por sua vez, dependem do mercado de destino:
armazenamento, consumo in natura ou
processamento. De modo abrangente, a qualidade
pode ser definida como o conjunto de inúmeras
características que diferenciam componentes
individuais de um mesmo produto e que tem
significância na determinação do grau de aceitação
pelo comprador. Dessa forma, devem ser
considerados os atributos físicos, sensoriais e a
composição química, bem como devem ser realizadas
associações ou relações entre as medidas objetivas e
subjetivas, para um melhor entendimento das
transformações que ocorrem, e que afetam ou não a
qualidade do produto.
Atributos de Qualidade
Os atributos de qualidade dos produtos dizem
respeito à sua aparência, sabor e odor, textura, valor
nutritivo e segurança (Quadro 9.4). Esses atributos
têm importância variada, de acordo com os interesses
de cada segmento da cadeia de comercialização, ou
seja, desde o produtor até o consumidor. O grau de
importância dos atributos individuais, ou do conjunto
de alguns deles, depende dos interesses particulares
de cada segmento. Os produtores dão prioridade à
aparência, isto é, presença de poucos defeitos, alto
rendimento na produção, facilidade de colheita,
transporte e resistência a doenças. Do mesmo modo,
os geneticistas também dão maior interesse pela
resistência a doenças, presença ou ausência de
injúrias ou desordens fisiológicas. Por sua vez, os
comerciantes e distribuidores tem a aparência como o
atributo mais importante, dando ênfase à firmeza e à
boa capacidade de armazenamento. Os consumidores
visam a aparência e as características sensoriais.
Quando destinados à industrialização, o interesse
primário direciona-se para o rendimento da matéria-
prima, cor, “flavor” e textura.
Quadro 9.4– Componentes de qualidade para frutos.
Principais
Fatores
Componentes
Aparência
1. Tamanho: dimensões, peso e volume
2. Forma: diâmetro longevidade x transversal
3. Cor: intensidade, uniformidade
4. Brilho: lustre, aparência externa
5. Defeitos: externos e internos
Morfológicos, físicos x mecânicos
Fisiológicos, patológicos, entomológicos
Textura
1. Firmeza, dureza, maciez
2. Fragilidade
3. Suculência
4. Granulosidade
5. Resistência, fibrosidade
“Flavor”
1. Doçura
2. Acidez
3. Adstringência
4. Amargor
5. Aroma (voláteis)
6. Sabores e odores estranhos
Valor Nutritivo
1. Carboidratos
2. Proteínas
3. Lipídios
4. Vitaminas
5. Minerais
Segurança
1. Substâncias tóxicas naturais
2. Contaminantes (resíduos, metais)
3. Micotoxina
4. Contaminação microbiológica
Fonte: Chitarra & Chitarra (2005)
A qualidade do produto não pode ser avaliada
de modo preciso apenas pelas características
externas. Produto com excelente aparência nem
sempre apresenta características intrínsecas
desejáveis. Dessa forma, os produtos precisam ser
avaliados no campo, durante o crescimento, na
maturidade para a colheita e após a colheita, para
melhor conhecimento do seu valor real e de sua
capacidade de manutenção ou deterioração da
qualidade, com base em padrões pré estabelecidos.
Essas informações são importantes não apenas para
satisfazer as exigências do consumidor, mas,
também, para possibilitar a seleção genética de novas
cultivares, seleção de práticas otimizadas de
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 116
produção e de práticas adequadas de manuseio pós-
colheita. O esforço conjunto desses setores irá
resultar em melhor qualidade, em todos os segmentos
da cadeia de comercialização.
Aparência
A aparência é o fator de qualidade mais
importante, que determina o valor de comercialização
do produto, sendo avaliada por diferentes atributos,
tais como tamanho, forma e cor.
Tamanho e Forma
O tamanho pode ser avaliado pela
circunferência, diâmetro, comprimento, largura, peso
ou volume. Os frutos são, em geral, avaliados pelos
diâmetros, porém, o tamanho é usualmente limitante
como índice de maturidade.
A forma é um dos critérios utilizados para
distinguir diferentes cultivares de uma mesma
espécie. É uma das características que pode conduzir
à rejeição do produto pelo consumidor. Frutos com
formato anormal são pouco aceitos e tem baixo
preço. Os programas de melhoramento genético para
obtenção de produtos mais resistentes ou com melhor
qualidade comestível encontram barreiras na
comercialização dos que apresentam forma não usual,
mesmo que sejam de melhor qualidade. A forma é
utilizada em casos específicos, como nas bananas,
por exemplo, que são colhidas quando apresentam
redução na angulosidade do fruto, em geral, quando
este atinge de 32 a 36 mm de diâmetronas banans do
grupo “Cavendish”. Do mesmo modo, o
preenchimento das faces adjacentes ao pedúnculo
pode ser usado como guia de maturidade para
mangas, pêssegos, nectarinas, etc.
O tamanho e a forma são importantes nas
operações de processamento, porque facilitam os
cortes, o descascamento ou a mistura para obtenção
de produtos uniformes. Podem também ser utilizados
como base para outras características de qualidade.
Em alguns casos, são preferidos os produtos de
tamanho médio, pelas características de “flavor”,
adaptação aos equipamentos ou qualidade, como
conteúdo de suco. Os produtos com características de
tamanho e peso padronizadas são mais fáceis de ser
manuseados em grandes quantidades, pois
apresentam perdas menores, produção mais rápida e
melhor qualidade.
Coloração A coloração é o atributo de qualidade mais
atrativo para o consumidor. Os produtos de cor forte
e brilhante são os preferidos, embora a cor, na
maioria dos casos, não contribua para um aumento
efetivo do valor nutritivo ou da qualidade comestível
do produto. Em muitos produtos, com o avanço da
maturação, há perda completa do verde, com
aparecimento de pigmentos amarelos, vermelhos ou
púrpuros. Embora essas transformações de coloração
sejam utilizadas como guia de maturidade, não são
inteiramente confiáveis, porque sofrem influência de
inúmeros fatores, além da maturação. A exposição à
luz solar, por exemplo, pode induzir o
desenvolvimento de cor mais rapidamente em alguns
frutos que em outros, na mesma árvore, embora eles
possam ter a mesma época de formação.
A cor também é um importante atributo de
qualidade nos produtos destinados ao processamento.
Na indústria, a intensidade de cor dos sucos é
importante, especialmente para o suco de laranja.
Algumas variedades, embora apresentem
características de sabor e aroma ideais, podem
apresentar suco fracamente colorido. Do mesmo
modo, também podem ocorrer modificações na
pigmentação do suco com a estação de colheita. Na
indústria, esse problema é resolvido pelo uso de
misturas de sucos de alta e baixa pigmentação, de
modo a se obter um produto com intensidade ou
tonalidade padronizada.
A coloração dos frutos pode ser avaliada por
métodos subjetivos ou objetivos. Para a avaliação
subjetiva são estabelecidos padrões de cor, baseados
em intensidades e nuances perceptíveis ao olho
humano. Cartas com padrões de cores são utilizadas
para a classificação visual de muitos produtos quanto
ao seu grau de maturação, como, por exemplo, para
tomate, abacaxi, banana, maçã.
Os métodos objetivos mais modernos utilizam
instrumentos que medem a quantidade e a qualidade
da luz refletida pela superfície do produto. Também
são utilizados equipamentos com células fotoelétricas
para seleção de cores. A coloração interna pode ser
avaliada por técnicas não destrutivas. Um método
moderno é o que utiliza o retardo de emissão da luz
pelo produto. É baseado no fato de a amostra
iluminada com luz incandescente rapidamente emitir
luz, quando a fonte de iluminação é removida. A
quantidade da luz emitida se correlaciona com a
quantidade de clorofila, e esta se correlaciona com a
maturidade.
“Flavor” (sabor e aroma)
O “flavor” corresponde à percepção da
combinação entre doçura, acidez e adstringência em
conjunto com a percepção do aroma, devido à
presença de compostos voláteis.
A maturação, em geral, conduz a um aumento
na doçura, devido a elevação no teor de açúcares
simples, decréscimo na acidez e na adstringência,
pela redução no teor de ácidos e fenólicos e aumento
nas características do aroma, pela emanação de
compostos voláteis. As diferenças de sabor e aroma
entre as espécies, e mesmo entre cultivares, estão
relacionadas não só com algumas substâncias
específicas predominantes, como também com a sua
proporção no produto.
O sabor dos frutos corresponde ao balanço
entre os constituintes doces e ácidos, freqüentemente
com pequenas porções de amargor ou adstringência,
devido aos taninos. Os principais compostos
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 117
químicos responsáveis pelo sabor dos frutos são
açúcares, ácidos orgânicos e compostos fenólicos.
Dentre os voláteis presentes em frutos responsáveis
pelo aroma encontram-se: ésteres, álcoois, ácidos,
aldeídos, cetonas, hidrocarbonetos, lactona, etc.
O “flavor” é um atributo de qualidade de
avaliação difícil, em decorrência do grande número
de compostos químicos que o compõem. As
informações mais precisas são obtidas pelo uso
conjunto dos métodos subjetivos (análise sensorial) e
objetivos.
A avaliação de compostos químicos
responsáveis pelo sabor é normalmente realizada por
métodos objetivos comuns (físicos, físico-químicos
ou bioquímicos). Contudo, no caso dos componentes
do aroma, o método objetivo mais utilizado é a
cromatografia a gás para separação dos componentes,
que podem ser identificados por espectrometria
(infravermelho, massas e/ou ressonância magnética
nuclear).
Textura
A textura é um dos mais importantes atributos
de qualidade. Está relacionada com o “flavor”,
porque a liberação de compostos presentes no
produto que são perceptíveis pelo paladar, são
também relacionados com a estrutura do tecido.
As sensações que caracterizam a textura dos
frutos são múltiplas, na sua maioria induzidas por
características mecânicas, embora também possam
ser induzidas por características geométricas ou
químicas. As principais sensações são de dureza,
maciez, fibrosidade, suculência, granulosidade,
qualidade farinácea, resistência e elasticidade.
As substâncias pécticas são os principais
componentes químicos dos tecidos, e são
responsáveis pelas mudanças de textura dos frutos.
A decomposição das moléculas poliméricas,
como protopectinas, celuloses, hemiceluloses e
amido, amacia as paredes celulares, pois diminui a
força coesiva que mantém as células unidas. A figura
9.8 apresenta a degradação de componentes da parede
celular da goiaba (celulose, hemicelulose e pectina
total) e o aumento no teor de pectina solúvel com a
sua maturação.
Os frutos destinados ao processamento, ao
contrário dos utilizados para o consumo ín natura,
devem ser firmes o suficiente para suportar os
tratamentos térmicos. Os pêssegos de caroço preso
(clingstone) são preferidos para a industrialização
(fabricação de compotas), porque, além da coloração
amarela da polpa, também apresentam pequeno
percentual de solubilização das pectinas. As
cultivares de caroço solto (freestone) têm elevado
percentual de solubilização, o que caracteriza a
maciez desses frutos preferidos para o consumo in
natura.
A textura pode ser avaliada por métodos
subjetivos, através da compressão do produto com o
polegar ou por um painel de análise sensorial. Os
métodos objetivos correspondem a uma expressão
numérico das características da firmeza, efetuada
com o auxílio de instrumentos, entre os quais
penetrômetros, pressurômetros e testadores da
compressão, cisalhamento e tensão. A escolha do
método depende inicialmente do produto, e, em
particular, da propriedade de textura mais importante.
Os métodos não destrutivos utilizam técnicas de
vibração com auxílio de instrumentos especiais. Faz-
se a aplicação de vibrações forçadas no produto
medindo-se a ressonância mecânica dentro dele, e
esta ressonância se correlaciona com a elasticidade
do tecido ou com outras propriedades da textura.
Figura 9.8 – Degradação de componentes das
paredes celulares em goiaba, durante a maturação.
Esteves et al. (1984).
Valor nutritivo
O valor nutritivo é o atributo de qualidade
menos considerado na cadeia de comercialização de
frutos. Os programas de melhoramento genético para
melhoria do valor nutritivo são de pouca valia para os
produtores ou consumidores, porque não afetam nem
a aparência e nem a qualidade comestível, ou seja,
sabor, aroma e/ou textura.
Os componentes mais abundantes em frutos
são água e carboidratos. Do ponto de vista
nutricional, são considerados não só as vitaminas e os
minerais, mas também os açúcares solúveis e
0
1
2
3
4
5
6
7
7 4 7 9 8 6 9 3 1 0 0 1 0 9 1 1 6 1 2 1
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Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 118
polissacarídeos (amido em alguns frutos) como fontes
energéticas. Outros polissacarídeos (celuloses,
hemicelulose e lignina) têm importância, por
constituírem as fibras dietárias. Os frutos não são
boas fontes nem de lipídeos, nem de proteínas.
Os dados sobre a composição química de
frutos são bastante variáveis, em decorrência dos
numerosos fatores de influência, tais como:
diferenças entre cultivares, grau de maturidade do
produto, estação de colheita, local e clima.
Perdas substanciais de nutrientes, especialmente de
vitamina C, podem ocorrer com o armazenamento,
contribuindo também para a variação na composição
do fruto.
Segurança
A segurança é o atributo de qualidade mais
desejável nos alimentos, os quais devem ser livres de
toda e qualquer substância química tóxica natural ou
contaminante.
O controle de qualidade, tanto dos produtos
destinados ao consumo direto como daqueles para o
processamento, tem como objetivo a obtenção de
produtos com qualidade padronizada e constante,
visando, principalmente, as vantagens econômicas
básicas, ou seja, minimização de custos e
maximização de rendimento pela prevenção de
defeitos, desde que sejam observados critérios não só
da qualidade, como também da segurança de uso
desses produtos. Para tal, o controle deve abranger
todo o ciclo de produção, incluindo produto, material
de embalagem, condições de armazenamento e/ou
processamento e comercialização.
Os padrões de segurança são estabelecidos com base
na preservação da saúde pública, por leis
internacionais, federais ou estaduais, visando a
prevenção do desenvolvimento de microorganismos
patogênicos ou prejudiciais e a proteção contra a
presença de substâncias tóxicas naturais ou
contaminantes.
Os contaminantes tóxicos naturais podem ser
decorrentes do ataque de microorganismos, levando à
formação de micotoxinas. O controle microbiológico
tem por objetivo assegurar não só a ausência de
microorganismos patogênicos, como também o nível
de contaminação com outros microorganismos ou
seus metabólicos que possam afetar a qualidade e a
segurança do produto.
Os contaminantes tóxicos sintéticos dizem
respeito aos contaminantes do meio ambiente ou
poluentes, e aos resíduos de defensivos agrícolas. O
uso indiscriminado e inadequado dos defensivos
agrícolas tem acarretado problemas sérios de
contaminação de alimentos pelos seus resíduos,
notadamente de compostos organoclorados, que
apresentam elevada toxícidade e efeito cumulativo no
organismo. Existem vários métodos analíticos
disponíveis para a quantificação dessas substâncias,
mesmo em concentrações diminutas, através do uso
de cromatografias em camada delgada, a gás ou
liquida de alta pressão.
Existe um grande arsenal de informações com
relação às transformações morfológicas, fisiológicas
e bioquímicas de frutos, durante o desenvolvimento,
maturação e senescência. Porém, apenas uma
pequena parcela dessas informações tem sido
utilizada para o estabelecimento de padrões de
maturidade. Em alguns casos, é necessário o
estabelecimento de índices para cultivares
especificas, áreas de produção e, até mesmo, estações
do ano.
Avaliação não destrutiva da qualidade
Os métodos objetivos utilizados para a
avaliação da qualidade são destrutivos e lentos.
Novas técnicas não destrutivas estão sendo
desenvolvidas para serem utilizadas na classificação
dos produtos, ou para acompanhamento das
transformações que ocorrem durante o
armazenamento. São técnicas simples e rápidas, que
podem ser adaptadas à inspeção automática das
amostras. São baseadas nas propriedades físicas do
produto, mas podem, também, avaliar alguns
componentes químicos no produto intacto com os
açúcares específicos, por meio de refletância ou
transmitância. Dentre esses métodos, alguns já são
utilizados, enquanto que outros encontram-se em fase
de pesquisa, sendo os mais comuns: impulso acústico
ou freqüência de ressonância do produto (som) ultra-
som, raio X, retardo na emissão de luz, refletância e
transmitância de radiações, luz visível e
infravermelha.
9.7 Sistema de armazenamento
O armazenamento é uma das fases mais
importantes para manter a qualidade dos frutos,
principalmente para comercialização de frutos para
mesa.
Métodos de armazenamento
O sistema de armazenamento adotado depende
da disponibilidade de recursos econômicos ou
tecnológicos e do intervalo entre a colheita e a
comercialização. As operações de armazenamento
podem ser feitas de modo natural ou artificial, porém,
com objetivos comuns, ou seja, redução da atividade
biológica, do crescimento de microorganismos e da
perda d’água, que são os principais fatores inerentes a
uma boa qualidade do produto (Botrel, 1994).
Método natural
O método natural consiste em preservar o
fruto por um período maior na planta ou fora dela.
Quando o fruto é deixado na planta, espera-se o ponto
em que ele se torne totalmente maduro, dessa forma
retarda-se a colheita. Mas, este método pode causar o
fenômeno alternância de florada, além de reduzir o
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 119
volume de suco e a qualidade de suco. Portanto, para
que se utilize este método, há necessidade de um bom
conhecimento sobre o comportamento da fruteira ou
mesmo da cultivar, bem como dos inconvenientes
que esta operação poderá acarretar, sobretudo quando
se pretende alongar o período de conservação.
Armazenar de forma natural os frutos após a colheita,
é mais apropriado para frutos climatéricos. Porém, a
vida de armazenamento de diferentes tipos de frutos
varia inversamente com a taxa de respiração.
No armazenamento natural, um fator
importante a se considerar é a seleção de frutos
sadios, livres de injúrias mecânicas e danos causados
por ataque de microorganismos ou pragas; além deste
fator, a estrutura do local onde se pretende armazenar
deve ser bem ventilada, possuir proteção contra sol e
chuva e apresentar temperatura ambiente o mais
baixa possível. Além dos requisitos citados, o local
de armazenamento deve permitir a circulação de
pessoas, a fim de inspecionar periodicamente os
produtos e detectar qualquer alteração que possa
comprometer a sua qualidade.
Método artificial
O armazenamento artificial é realizado através
de operações que utilizam processos tecnológicos
mais avançados, tais como a refrigeração e o controle
atmosférico.
Refrigeração
A refrigeração, como prática de
armazenamento, tem sido bastante difundida e
aplicada, e permite prolongar o período de
comercialização dos frutos. Nos frutos não
climatéricos, esta prática simplesmente acarreta uma
diminuição na taxa de deterioração, enquanto que nos
climatóricos, retarda-se também o processo de
armazenamento. O abaixamento da temperatura serve
também como complemento para outros métodos de
conservação de frutos, tais como o controle ou a
modificação da atmosfera, a irradiação e o uso de
produtos químicos, que, se utilizados isoladamente,
muitas vezes não surtem efeitos satisfatórios.
A temperatura ótima de refrigeração é um dos
fatores mais importantes na redução de perdas no
segmento da pós-colheita. Após o pré-resfriamento,
os frutos são colocados nas câmaras de
armazenamento, onde serão submetidos às condições
adequadas inerentes a cada tipo de fruto. Para cada
cultivar em um estádio particular de maturação,
existe uma temperatura mínima de segurança (TMS),
abaixo da qual ocorrerão distúrbios fisiológicos nos
frutos que, por sua vez, resultados, predispondo os
frutos a infecções microbianas. Geralmente, as frutas
originárias dos trópicos e sub-trópicos são mais
susceptíveis, ou seja, apresentam sintomas
característicos de chilling a temperaturas maiores.
Para a maioria dos frutos tropicais, a TMS está
situada entre 5 e 14,4ºC. No quadro 9.6 encontra-se
alguma recomendações de temperatura e umidade
relativa para alguns frutos.
O controle da umidade relativa (UR) durante o
armazenamento é de grande importância, uma vez
que tanto a baixa quanto a alta UR têm sido
relacionadas com as perdas pós-colheita. Por esta
razão, há necessidade de um controle, associado à
temperatura de armazenamento (Quadro 9.5).
Quadro 9.6 – Condições de temperatura e umidade
relativa (UR) recomendadas para o armazenamento
de alguns frutos. Fruto Temperatura
(ºC) UR (%) Tempo de
Conservação
Abacate 5 a 10 85 - 90 2 – 8 semanas
Abacaxi 7 a 12 85 - 90 2 – 4 semanas
Banana 12 a 13 85 - 90 3 – 4 semanas
Caju 5 85 - 90 10 dias
Coco 2,5 80 - 90 1 – 2 meses
Goiaba 7 a 10 85 - 90 10 dias
Laranja 0 a 9 85 - 90 6 – 12 semanas
Limão 9 a 10 85 - 90 8 - 12 semanas
Maçã -1 a 3 90 1 – 12 meses
Mamão 7 85 - 90 1 – 3 semanas
Manga 12,8 a 13 85 -90 2 – 3 semanas
Maracujá 7 a 10 85- 90 3 – 5 semanas
Melancia 10 a 15 90 2 – 3 semanas
Uva -1 a -0,5 90 - 95
Fonte: Bleinroth et al. (1992); Hardenburg et al.
(1986); Kader et al. (1985); Menezes, (1994).
A sensibilidade dos distúrbios causados pelo
frio está estreitamente ligada à composição química
da fruta. Condições climáticas, estádios de
maturação, tamanho do fruto e diferenças varietais
exercem influência acentuada na composição química
da fruta, com conseqüente influência no grau de
desordens causadas por baixas temperaturas (Quadro
9.7).
Quadro 9.7 – Sintomas da injúria causada pelo frio
em alguns frios. Produto Sintomas
Abacate Escurecimento da polpa e tecido vascular;
amolecimento; pequenas depressões na casca; desenvolvimento de sabor e odor desagradável.
Abacaxi
Escurecimento interno iniciando-se próximo ao
cilindro central; secamento das folhas da casca.
Banana Escurecimento da polpa e casca.
Goiaba Escurecimento da polpa; aumento da incidência de
microorganismos.
Limão Depressões mo flavedo; membranas manchadas;
pústulas vermelhas.
Laranja Depressões na casca; coloração escura.
Mamão Depressões na casca; amadurecimento anormal;
áreas aquosas na polpa; aumento da incidência de microorgnismos.
Manga Escurecimento acinzentado da casca; maturação
desuniforme.
Maracujá Escurecimento da casca; aumento da incidência de microorganismos.
Fonte: Bleinroth et al. (1992) e Wills et al. (1982) citados por
Botrel (1994).
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 120
Circulação de ar
A circulação de ar é um fator importante a se
considerar no armazenamento. Apresenta-se com as
funções de homogeneizar a distribuição do frio do
evaporador para o seu interior. Quando há
insuficiência ou falta de circulação de ar, a umidade
acumula-se no teto da câmara, por ser mais leve que
o ar, e conduz à formação de áreas de calor. Para
manter a temperatura desejável num armazenamento
de produtos frutícolas, é necessário manter um fluxo
de ar de 15 a 23 m3/min.
Atmosfera controlada e modificada
Embora a refrigeração se apresente como uma
prática eficiente para a redução das perdas pós-
colheita, a suplementação com a atmosfera
modificada (AM) ou atmosfera controlada (AC)
poderá trazer melhores benefícios, quando usada
adequadamente.
A prática da AC e AM objetiva prolongar o
tempo de armazenamento dos frutos através do
controle dos gases durante o armazenamento. Ela
pode também ser aplicada durante o transporte de
frutos destinados ao consumo in natura ou mesmo
visando ao processamento. AC e AM consistem na
remoção ou adição de gases, a qual resulta numa
composição diferente daquela do ar (78,08% de N2;
20,95% de O2 e 0,03% de CO2). Usualmente estas
atmosferas envolvem redução de O2 e elevação de
CO2.
A diferença entre os dois métodos de AC e
AM consiste apenas no grau de controle da
concentração de gases, com aferição na AC. A AC
implica câmaras herméticas a gases e adição ou
remoção filmes poliolefínicos funcionam, no Brasil,
como uma película protetora para as frutas. Feitos à
base de polietileno, tais filmes oferecem a vantagem
de retornar à posição inicial, após passar por qualquer
tipo de deformação.
Em certos casos, há necessidade de perfuração
da embalagem ou uma selagem parcial para se
obterem condições desejáveis de gases no seu
interior, evitando-se, com isso, o aparecimento nos
frutos de sabores estranhos, injúrias fisiológicas e
infecções causadas por microorganismos. Sacos de
polietileno selados têm sido utilizados para prolongar
o período climatérico e, portanto, o período de
conservação de pêssegos. A redução do
escurecimento da polpa em pêssegos pela utilização
da atmosfera modificada também foi confirmada por
alguns trabalhos de pesquisa. A utilização da
embalagem para limões Taiti’ em filme de PVC
selado em associação à refrigeração a 8 ºC
proporcionou a conservação do produto por até 12
semanas. O caju, em condições ambientais, conserva-
se por apenas 24 horas, enquanto que em atmosfera
modificada (embalagem em PVC) sob refrigeração a
50ºC e UR de 85-90%, conseguiu-se retardar o
processo de senescência do fruto e, assim, prolongar
o armazenamento por 10 dias.
Vários mecanismos estão envolvidos no
controle de perdas utilizando-se AC. Os seguintes
exemplos do controle de podridões com AC ilustram
o valor desta técnica. A antracnose e chilling de
abacates são reduzidos em 2% de O2 e 10% de CO2.
Podridões no pedúnculo de pêra são reduzidas
quando os frutos são armazenados em atmosfera de
1% de O2 mais 99% de N2. Geralmente o crescimento
de Botrytis, Monilia e Penicillium é reduzido quando
a concentração de O2 é menor que 2%. As perdas
ocasionadas por Rhizopus em morangos decrescem
linearmente quando a concentração de O2 diminui de
21 para 0%. O armazenamento em 100% de N2 por
seis a dez dias controlou perdas em bananas,
pêssegos e morangos, porém ocorreram perdas de
flavor. O pêssego chega a suportar baixos teores de
O2, ou seja, até 1%, porém, CO2 não deve elevar-se
acima de 6%, porque isso pode causar escurecimento
da polpa, próximo ao caroço.
Resultados de pesquisas como outros frutos
tropicais, como a manga, que apresenta uma certa
precariedade, quando se utiliza o sistema normal de
refrigeração, têm sido promissores com a utilização
da AC. Devido ao seu metabolismo, a manga oferece
a possibilidade de aumentar o teor de CO2 na câmara
pela absorção de O2, havendo então necessidade de se
controlarem as proporções desses gases. Teor de 1%
de O2 na câmara causa a descoloração da casca e a
perda de aroma e sabor da manga. O aumento de CO2
na atmosfera de armazenamento causa uma
descarboxilação fermentativa, conduzindo ao
acúmulo de alcoóis e aldeídos. Trabalhos realizados
demonstraram que a manga, quando armazenada em
temperatura de l2,8 ºC com 5% de O2 e 5% de CO2,
mantém sua qualidade durante 20 dias e, quando
retirada da câmara e colocada à temperatura de 21ºC,
apresenta uma boa textura e coloração. Recomenda-
se, ainda, para uma maior proteção da fruta, que ela
seja embalada em sacos de polietileno ou que se
utilizem ceras como cobertura superficial, a fim de
reduzir a perda de umidade e retardar o enrugamento,
bem como, no segundo caso, propiciar uma aparência
lustrosa, o que é valorizado pelo consumidor.
Entretanto a utilização da AC deve ser avaliada, não
só do ponto de vista econômico, mas também técnico,
visto que não apresenta apenas vantagens, mas
também alguns inconvenientes. Os efeitos
indesejáveis podem ser provenientes da deficiência
de O2 e excesso de CO2, do aumento na
susceptibilidade a doenças e, muitas vezes, do
desenvolvimento de flavor desagradável. Podridões
em limões e grapefruit foram aumentados quando os
frutos foram armazenados a 3% de O2 e 1,5% de
CO2. Relatos citam que os fungos originários do solo,
tais como Fusarium, são menos inibidos que os
fungos de superfície ou foliares, tais como Penicillim
e Cladosporium, quando se aumenta a concentração
de CO2. Acima de 5% de CO2 , houve aumento de
podridão por Nectria em maçãs armazenadas. Baixos
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 121
níveis de O2 e alto CO2 controlam podridões de
Botrytis de morango e 0,25% de O2 e 30% de CO2
produzem perda de flavor.
Partindo-se do exposto, verifica-se que o
potencial de benefícios ou prejuízos da modificação
da atmosfera é dependente do produto, variedade,
idade fisiológica, composição atmosférica,
temperatura e duração do armazenamento. Importa
dizer que algumas das recomendações citadas
poderão ser alteradas com o advento de novas
pesquisas.
9.8 Padronização e classificação
Uma vez colhido, o produto deve ser colocado
em embalagens apropriadas, devendo-se evitar
mistura de produtos doentes com produtos sadios.
Produtos com graus diferentes de maturação e
tamanho também devem ser separados. Devido ao
uso de cultivares que não amadurecem
uniformemente, a colheita seletiva é comumente
praticada, porém, dificilmente é feita uma
classificação do produto, seja por tamanho, seja pela
qualidade. Uma seleção por maturidade, tamanho,
forma, bem como a remoção dos produtos injuriados,
devem ser feitos com rigor. Os produtos para
consumo in natura no mercado interno vinham sendo
classificados com base nos usos e costumes do
comércio, devido à inexistência ou desconhecimento
de padrões, atualmente, alguns frutos já tem seu
padrão de qualidades estabelecidos pelo governo
federal.
Padronização
As unidades de frutos pertencentes a uma
mesma cultivar apresentam características em comum
(peso, forma, tamanho, cor, textura, etc.), mas podem
ocorrer variações decorrentes de fatores ambientais
ou culturais. O estabelecimento do padrão de
qualidade é feito com base nas características mais
comuns, que proporcionam melhor aparência e
melhor qualidade. Os produtos pertencentes à mesma
espécie e/ou cultivar são comparados ao padrão, para
avaliação da semelhança ou diferença que
apresentam. Portanto, o padrão é uma referência de
qualidade, estabelecido com base em observações das
características normais do produto. Obviamente, a
padronização deve abranger, além do produto, a sua
embalagem, terminologia, apresentação,
identificação, entre outros aspectos.
Os padrões de qualidade são estabelecidos
para que o comprador e o vendedor tenham
especificações legais da qualidade do produto
comercializado. As especificações dizem respeito ao
grau de maturação, cor, forma, tamanho, peso,
condições de higiene, ausência de doenças ou danos.
Os padrões e normas de qualidade são elaborados por
peritos, através de (Órgãos governamentais, e
impostos, através do serviço de inspeção.
Os padrões internacionais são aqueles
estabelecidos de comum acordo entre países, por
meio da Organização para a Cooperação Econômica
e Desenvolvimento (OECD). Os produtos destinados
à exportação devem ter qualidade excelente, devido
ao longo período de sobrevivência necessário antes
do consumo. No Brasil, as normas e padrões para
exportação de produtos de origem vegetal foram
elaborados pelo Departamento Nacional de Serviço
da Comercialização, Divisão de Inspeção,
Padronização e Classificação do Ministério da
Agricultura.
Os padrões nacionais são estabelecidos para
frutos frescos, destinados ao comércio interno. Esses
padrões são de grande valor para a redução de
fraudes ou enganos e para incentivar a obtenção de
produtos com qualidade elevada e uniforme. Para
tanto, há necessidade de treinamento de equipes para
inspeção, bem como de elaboração de programas
efetivos de extensão. Dessa forma, os produtores e
comerciantes podem ter informações adequadas sobre
os padrões estabelecidos e sua importância para uma
melhor comercialização.
Classificação
Um dos principais fatores de influência numa
boa comercialização é a classificação dos produtos, a
qual, por sua vez, depende de um bom controle de
qualidade.
Classificar é separar o produto em diferentes
categorias, de acordo com suas peculiaridades,
comparando-o aos padrões preestabelecidos. O
julgamento obtido dessa comparação permite o
enquadramento do produto em três categorias:
Grupos - corresponde à separação do produto de
acordo com as características das cultivares ou
varietais;
Classe - separação pelas características físicas, como
peso, forma, tamanho e cor;
Tipos ou categoria - separação por atributos
referentes à qualidade.
A uniformidade de tamanho e forma é uma
característica desejável, porque minimiza as injúrias
durante o manuseio. A retenção de uma boa textura
da porção comestível dos frutos, durante o manuseio
e armazenamento, é também um fator importante na
manutenção da qualidade. Classificação e
padronização são importantes fatores de referência no
mercado mundial. Na Figura 9.8, encontra-se
exemplificada a classificação estabelecida para
bananas.
Os defeitos existentes nos frutos podem ser
decorrentes de hereditariedade ou condições
ambientais desfavoráveis. Os insetos e
microorganismos, bem como as injúrias fisiológicas,
são as principais causas dos efeitos encontrados em
produtos pôs-colheita. Do mesmo modo, defeitos por
manuseio inadequado têm como conseqüência
amassamentos ou outros tipos de injúrias, o que
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 122
conduz a diferentes sintomas, como descoloração,
sabores estranhos e deteriorações. A presença de
defeito reduz a classificação dos produtos, mesmo
que eles apresentem outros atributos de qualidade
elevada.
Figura 9.8 - Classificação de bananas pelas
características varietais, físicas e de qualidade.
A presença de defeitos externos reduz
sensivelmente o potencial de comercialização,
embora, em alguns casos, não haja redução nem do
valor nutritivo nem da qualidade comestível. Os
defeitos internos também devem ser considerados na
avaliação da qualidade.
A condição do fruto também deve ser avaliada
e diz respeito ao grau de frescor, grau de
amadurecimento ou estado de senescência. A perda
excessiva de umidade deve ser considerada, porque
conduz ao enrugamento ou murchamento,
depreciando a aparência. Os critérios de julgamento
da aparência diferem entre países, ou, mesmo, entre
regiões num mesmo país. Contudo, é sempre um dos
critérios de qualidade mais importantes.
Na avaliação da qualidade, o objetivo não é
verificar se apenas uma unidade é imperfeita, mas
determinar se um defeito é suficientemente grande,
para impedir o nível de aceitabilidade do produto. As
avaliações ainda são realizadas por meios visuais,
embora, em alguns casos, instrumentos possam ser
utilizados. Técnicas não destrutivas utilizando a
transmitância a luz podem ser usadas para
determinação de defeitos internos. Desordens
fisiológicas, como o pingo de mel (“Water core”) em
maçãs, ou escaldadura, em cereja, podem ser
detectadas com precisão.
Vantagens da padronização e classificação
Os padrões para classificação do produto são
desenvolvidos visando a identificação dos graus de
qualidade dos vários produtos, e auxiliam no
estabelecimento do seu valor e maturidade de uso.
São de grande importância na comercialização,
devido aos seguintes fatores:
Melhoria na apresentação do produto, pela
uniformidade de características físicas e limitada
percentagem de defeitos. A melhor aparência assim
obtida é um elemento de estímulo para a ampliação
do mercado;
Simplicidade e facilidade nas transações
comerciais, pela descrição dos tipos ou pelo simples
exame das amostras;
Aumento na eficiência das etapas de
comercialização. Produtos com embalagens e
especificações padronizadas têm manuseio
facilitado para transporte, empilhamento,
armazenamento, conferência, etc.; facilidade para
avaliação do diferencial de preços em função da
qualidade;
Maior opção ao comprador, que poderá escolher os
grupos, tipos e classes de produtos de acordo com
suas conveniências;
Possibilidade de uso de terminologia padronizada,
com interpretação semelhante pelo produtor,
intermediário e consumidor;
Redução de perdas, pela agilidade no manuseio e
comercialização, o que favorece a manutenção da
qualidade;
Garantia de qualidade do produto, que deve
corresponder tão exatamente quanto possível as
características sob as quais é oferecido.
9.9 REFERÊNCIAS
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CARVALHO, E. F.; ALVES, R. E.; MENEZES, J.
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CLASSIFICAÇÃO
GRUPOS CLASSES CATEGORIAS
Características
varietais
Aspectos físicos Qualidade
I – Cavendish
II - Prata Cavendish
Comprimento
12 a 16 cm
Diâmetro
27 a 39 mm
Prata
Comprimento
12 a 16 cm
Diâmetro
29 a 38 mm
SUB-CLASSES
Dedo, Buquê e Penca
Extra
Categoria I
Categoria II
Categoria III
CATEGORIAS
Exportação
A
B
C
Colheita e pós-colheita de frutos
Sebastião Elviro de Araújo Neto 123
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Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 124
10 CULTURA DO AÇAIZEIRO
A palavra açaí é do tupi – yá-çai e significa
fruto que chora, ressuma ou deita água,
provavelmente relacionado ao fato de que durante o
processo de extração da polpa, esta flui lentamente,
em forma de grandes gotas, tanto quando extraída
manualmente como quando extraída em
despolpadoras (Oliveria et al., 2000).
São várias as espécies de açaizeiro que ocorrem
principalmente na Amazônia Real. Na Amazônia
brasileira, são encontrados seis espécies e variedades:
E. oleracea, E. precatória, E. precatória var.
longevaginata, E. catinga var. catinga, E. catinga
var. roraimae e E. longevibracteata (Oliveria et al.,
2000).
Na Mata Atlântica, a juçara (Euterpe edulis)
ou palmiteiro constitui-se de uma importante espécie
de euterpe para aquele ecossistema, pela importância
da extração do palmito, fato que quase levou sua
extinção. Porém, o suco também constitui-se em
potencial de bebida.
Dentre essas espécies, a E. oleracea, é a mais
importante, pelo caráter de perfilhamento, grande
densidade natural, produção de frutos e
principalmente pela qualidade da bebida. Embora em
regiões com precipitação pluviométrica inferior
aquela encontrada em sua região de origem
(Amazônia Oriental), as plantas apresentam baixo
vigor e baixa produtividade, como ocorre na na
região Leste do Estado do Acre, causando inclusive a
morte natural das plantas em anos de forte défict
hídrico durante os meses mais secos (julho a
setembro).
10.1. Produção brasileira de açaí
A produção brasileira teve um pequeno
acréscimo no início da década de 1990, alcançando o
valor máximo de 124.559 toneladas em 1992,
seguido de decréscimo para valores inferiores a dos
cinco primeiros anos da década de 2000. O estado do
Pará é o principal produtor, respondendo sozinho por
92,4% da produção nacional, seguido pelo Maranhão,
Amapá, Amazônas e Acre (Quadro 10.1). Apesar do
grande território do Amazonas, sua produção é
pequena, dentre os fatores que afetam a produção
estar o isolamento terrestre com o restante do Brasil e
a baixa densidade da espécie Euterpe oleracea, mais
abundante na região oriental da Amazônia.
Quadro 10.1 Produção brasileira de açaí e principais estados produtores – 1990-1997.
Estado 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 2005
(tonelada)
PA 106.083 108.934 117.488 78.425 91.851 102.574 103.698 92.021 92.088
MA 3.986 3.804 3.804 3.473 3.311 2.922 5.057 5.189 9.380
AP 3.851 3.240 2.812 2.848 2.860 2.565 1.838 1.938 1.284
AM - - - 10 58 64 619 769 1.140
AC 318 351 360 362 372 381 156 159 907
RO 66 80 92 168 405 416 64 - 65
TO - - - - - - 2 1 3
PB - - - - - - 1 - -
MG - - - - - - 4 125 -
GO - - - - - - - 12 -
Brasil 114.304 116.559 124.555 85.286 98.857 108.922 111.438 106.214 104.874
IBGE, (1999). IBGE, (2007).
A produção de açaí somou, em 2005,
104.874 t, 87,8% das quais foram coletadas no Pará
(92.088 t). Os dez maiores municípios produtores são
paraenses e concentraram 66,5% do total nacional. O
principal produtor foi o município paraense de
Limoeiro do Ajuru (17.520 t) (IBGE, 2007- Acesso
10/01/2007).
10.2 Produtividade
A produtividade do açaizeiro por planta ou por
hectare é muito polêmica se comparam os autores
entre eles, mas ela é, em todos os casos, elevada.
Segundo Calzavara (1972), cada estipe produz
anualmente de 5 a 8 cachos, em função da fertilidade
e da umidade do solo, mas também da intensidade
luminosa (a produção sendo menor na sombra). Os
primeiros cachos são os mais pesados, com seu peso
diminuindo regularmente ao decorrer da safra. A
produtividade média é de 6 cacho por estipe,
representando no total um peso médio em frutos de
15 kg. Além disso, sendo o número médio de estipes
de 3.125 por ha, a produção total é estimada em
46.875 kg de frutos/ha.
Segundo o IEA (1993), cada estipe produz em
média 6 cachos de um peso médio de 4 kg de frutos.
Uma plantação de açaizeiros nativos (média de 200
touceiras/ha, 3 estipes adultos por touceira) permite a
colheita anual de 14.400 kg de frutos/ha. Uma
plantação intensiva (625 touceiras/ha, 4 estipes
adultos) pode atingir uma produção anual de 60.000
kg de frutos/ha.
Oliveira (1995) obteve uma média de
produção de apenas 10,63 kg/touceira (num intervalo
de 0,1 kg a 50,9 kg) considerando 20 tipos de
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 125
açaizeiro diferentes provenientes de 3 municípios
distintos. O autor constatou que o desvio padrão entre
touceiras de uma mesma família é muito elevado.
Uma densidade comumente encontrada no
açaizal dos agricultores do município de Abaetetuba
é de cerca de 1.200 estipes adultos/ha, o que está
longe dos 3.125 estipes considerados por Calzavara e
dos 2.500 do IEA.
Os produtores geralmente não controlam os
dados de produtividade de seus açaizeiro, vendem
uma parte e consomem outra. Mas, confirmam a
divergencia entre os autores mencionados e que os
cachos são maiores em pleno período de produção do
que no fim desse período. Outros relacionam a
produtividade esteja correlacionada ao grau de
umidade do solo.
10.3 Origem, Dispersão e Botânica
Botanicamente, classifica-se como
pertencente à divisão Magnoliophyta (=
Angiospermae), classe Liliopsida Principes), família
Arecaeae (= Palmae) estando inserido no gênero
Euterpe.
10.3.1 Distribuição geográfica das palmeiras
A maior ocorrência de gênero e espécies de
palmeiras verifica-se nas regiões tropicais da Ásia,
Indonésia, Ilhas do Pacífico e Américas. O continente
africano é pobre em palmeiras, e é notável o fato de
Madagascar, ao lado do continente africano, contar
com um grande número de espécies (Lorenzi, 1996).
No Brasil, a chamada Zona dos corais abrange
extensas regiões, do Nordeste em direção ao centro,
caracteriza-se pelos babaçuais, carnaubais e
buritisais, e em direção ao Oeste os carnaubasais. As
demais regiões do país são uma verdadeira colcha de
retalho, salpicadas em resumo, na Amazônia pelos
buritis, tucumãs, inajás, marajás, jarinas e açaís: no
centro pelos jerivás, macaúbas, guarirobas, bacuris,
do centro para o sul pelos lucuris, buritis, certos
trechos da Serra do Mar pelos indaiás do litoral,
pindobas, partis, guaricangas, icás, brejaúvas e à
beira-mar pelos guritis, tucuns e em cerrados do
centro, os indaiás do campo (Lorenzi, 1996).
No interior de São Paulo, duas formações
isoladas e densas de uma espécie de Attalea a que
chamam de babaçu (Lorenzi, 1996).
É assim plenamente justificada a denominação
pindorama aplicada pelos indígenas para designar o
território ocupado no país pelas palmeiras (Lorenzi,
1996).
10.3.2 Distribuição do gênero Euterpe
O gênero Euterpe apresenta cerca de 49
espécies na América central e do Sul, muito embora,
uma mesma espécie receba mais de uma
denominação científica. Possuem distribuição
significativa em grandes concentrações na Colômbia
(19 espécies) e na Venezuela (9 espécies). No Brasil,
são encontrados dez espécies do gênero Euterpe, sete
delas na Amazônia.
O epíteto genético é uma homenagem a
Euterpe, deusa da mitologia grega, e significa
“elegância da floresta”, em alusão à beleza da planta.
Já o nome específico “oleracea” significa que parece
e exala odor semelhante ao do vinho, devido a cor e
ao aroma da polpa, principalmente quando em início
de fermentação.
Euterpe catinga Wallace(açaí-catinga; açaí-chumbo)
Ocorre na Amazônia, nas denominações
Catingas do Rio Negro, caracterizadas como
formações florestais abertas em solos ácidos e mal
drenados, nada semelhante à caatinga do Nordeste
brasileiro. Tem como um dos produtos explorado a
bebida açaí.
Euterpe edulis Mart. (palmiteiro-doce; ripeira; içara;
juçara; palmiteiro-juçara, ensarova)
Ocorre do sul da Bahia e Minas Gerais até o
Rio Grande do Sul; na Mata Atlântica e em Goiás,
Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraíba, nas matas
ciliares. Ocorre ainda na Argentina e Paraguai. Seu
principal produto é o palmito, com potencial de se
utilizar a bebida.
Euterpe espiritosantensis Fernandes (palmito-
vermelho; palmito-amarelo; juçara-palmiteira)
Endêmica ao Espírito Santo, no município de
Santa Teresa, entre 700 e 1000 m de altitude, sobre as
rochas.
Euterpe oleracea Mart (açaí-do-pará; açaí)
Ocorre nos estados do Pará, Amazonas,
Maranhão e Amapá, principalmente no estuário do
rio Amazonas. Prefere terreno alagado e várzeas
úmidas, chegando a formar populações homogêneas
de alta regeneração natural. Ocorre ainda, na
Colômbia, Venezuela, Equador e Guianas. Principal
produto é a bebida açaí.
Euterpe precatoria Mart (açaí-da-mata, açaí, juçara)
Ocorre principalmente na Amazônia ocidental
(Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima), com
presença também no Pará. Ocorre nas matas tropicais
úmidas de baixa altitude, geralmente junto aos rios,
vegetando em regiões com altitude de até 350 metros.
Seu principal produto é a bebida açaí.
Esta espécie frutifica em época alternada com
a espécie de açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae),
que produz principalmente no 2º semestre (verão
amazônico), enquanto que a produção do açaí-
solteiro se dá principalmente no 1º semestre, mais ao
início do ano (final do inverno amazônico). Então, no
estabelecimento da cultura do açaí, é de todo
interessante ter as duas espécies, e melhor ainda,
obter também o açaí híbrido (E. oleraceae x E.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 126
precatoria), obtendo uma palmeira que preservando
as boas características presentes no açaí-solteiro,
apresente perfilhamento (Ribeiro, 2007) e seja mais
adaptado as condições ecofisiológicas de ambas
espécies.
10.3.3 Descrição da planta
O Euterpe oleracea é uma palmeira elegante,
que produz touceira com até 25 estipes, cujos
perfilhos apresentam diferentes estádios de
desenvolvimento. Sua inflorescência é infrafoliar,
sendo envolvida por duas brácteas conhecidas por
espatas que, ao abrirem, expõem o cacho constituído
por um ráquis e um número variável de ráquilas,
onde estão inseridas milhares de flores masculinas e
femininas (Oliveira et al., 2002).
Os estipes em cada touceira apresentam-se em
diferentes estádios de desenvolvimento, com altura e
diâmetro variando entre 3m e 20m e 7cm e 18cm,
respectivamente, sustentando, em sua porção
terminal, um conjunto de 8 a 14 folhas, sendo
cilíndricos, externamente lisos, de cor cinza, com
manchas de líquens. Em toda a extensão dos estipes
são encontradas cicatrizes, distanciadas entre si, em
cerca de 11cm, deixadas pelas folhas que senescem e
caem. Eventualmente, são encontrados indivíduos
desprovidos da capacidade de emitir perfilhos e,
nesse caso, apresentam caule solitário (Henderson &
Galeano, 1996; Oliveira et al, 1998).
As folhas apresentam comprimento de até 278
cm (Nogueira, 1997), são compostas, pinadas de
arranjo espiralado, com 40 a 80 pares de folíolos,
opostos ou subopostos e inseridos em intervalos
regulares. Os folíolos são pendentes nos indivíduos
adultos e ligeiramente horizontais nos indivíduos
jovens, com base obtusa e extremidade apical
pontiaguda, apresentando comprimento entre 20cm e
50cm e largura entre 2cm e 3cm. Em cada folíolo
encontra-se uma nervura central, proeminente na face
adaxial, e mais dois conjuntos com duas ou três
nervuras, proeminentes na face abaxial,
uniformemente distribuídos em relação ao plano
divisório da nervura central. O comprimento médio
da bainha foliar gira em torno de 1,0m, podendo, no
entanto, variar de 0,6m a 1,5m (Prance e Silva, 1975;
Henderson e Galeano, 1996).
A inflorescência é infrafoliar, desenvolvendo-
se em maior intensidade após a queda da folha e,
quando aberta, apresenta-se disposta quase
horizontalmente. Possui pedúnculo, com
comprimento entre 5 cm e 15 cm e diâmetro entre
2,7cm e 4,0 cm (Henderson & Galeano, 1996). É
envolvida totalmente por duas brácteas: uma espatela
ligulada e uma espata de formato navicular e de
consistência cartáceo-coriácea. Após a abertura da
espata, a espatela cai, concomitantemente com esta
ou um pouco antes, expondo a inflorescência
propriamente dita, do tipo cacho, contendo número
variável de ráquilas, onde as flores estaminadas e
pistiladas encontram-se inseridas em alvéolos. A
disposição das flores é ordenada em tríades, de tal
forma que cada flor feminina fica ladeada por duas
flores masculinas (Cavalcante, 1991; Henderson &
Galeano, 1996), com exceção do terço terminal de
cada ráquila, que apresenta, na maioria dos casos,
somente flores masculinas, o que proporciona a
presença de 80,5% de flores masculinas e apenas
19,5% de flores femininas na inflorescência
(Calzavara, 1972).
O fruto do açaizeiro é uma drupa globosa ou
levemente depressa, apresentando resíduos florais,
com diâmetro variando entre 1cm e 2cm e pesando,
em média, 1,5g. O epicarpo, na maturação, é roxo ou
verde, dependendo do tipo. O mesocarpo, com cerca
de l mm de espessura, é polposo, envolvendo um
endocarpo volumoso e duro que acompanha,
aproximadamente, a forma do fruto e contém em seu
interior uma semente, com embrião diminuto e
endosperma abundante e ruminado (Cavalcante,
1991, Henderson & Galeano, 1996).
O sistema radicular é do tipo fasciculado
relativamente denso, com raízes emergindo do estipe
da planta adulta em altura de 30cm a 40cm acima da
superfície do solo e apresentando nessa situação
coloração avermelhada e aproximadamente 1cm de
diâmetro (Henderson & Galeano, 1996). As raízes
são providas de lenticelas e aerênquimas (Anderson,
1986; Menezes Neto, 1994) e prolongam-se,
superficialmente, por até cerca de 3,0 m a 3,5 m da
base do estipe, em indivíduos com três anos de idade,
podendo, em plantas com mais de dez anos, atingir
5m a 6m de extensão.
Biologia floral
A flor
As flores do açaizeiro são pistiladas, globoso-
ovóides, com pétalas de 2,5 a 3,0 mm de
comprimento e 2,0 mm de diâmetro, sésseis, trímeras,
com as 3 pétalas recobrindo o ovário e quase
completamente o pistilo, estigma trífido, ovário
tricarpelar, trilocular, coloração clara, estigma de
coloração rósea-brilhoso, passando a marrom escuro
quando receptivo (Figura 10.1) Jardim (1991).
Figura 10.1. Inflorescências e flor do açaizeiro.
Espata
Bracteas
72 a 176 ráquilas Cacho
Triade
Feminina
Masculina
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 127
Fenologia
A queda de folha do açaizeiro corresponde ao
aparecimento de uma bráctea, inicialmente com posição
ereta em relação ao estipe, que se aproxima do
amadurecimento, posiciona-se perpendicularmente,
mudando de coloração esverdeada para amarelo-escuro.
O tempo considerado desde o aparecimento até a
maturação da espata e liberação do cacho é em média de
30 a 45 dias, deste período em diante começa o processo
de floração.
Observações feitas por Jardim (1991) para o
Euterpe oleracea nas condições do Pará, a floração
ocorre em todos os meses do ano (1988-1989), com o
pico de máxima floração de fevereiro a maio,
correspondendo ao período da estação chuvosa. O
ponto mínimo de floração se da no período de julho a
setembro, correspondendo ao período da estação
seca.
Antese
O tempo de abertura das brácteas após sua
maturação é de 4 a 5 dias, pois estas já se mostrando
amareladas com exsudação de água. O horário de
queda das brácteas geralmente ocorre entre 6h e 8h
da manhã.
Após a abertura da bráctea, a antese masculina
ocorre lentamente da base para o ápice das ráquilas.
Em seguida, abrem-se gradativamente. Estas
apresentam seis estames de coloração clara, com três
pétalas de coloração violácea. Permanecem em média
10 a 12 dias no cacho, com presença de alta
quantidade de grãos de pólen, que são liberados
durante todo período de vida das flores. A partir do
13º dia, os estames recurvam-se para baixo com
aspecto seco e coloração marrom escuro e as flores
começam a cair lentamente. Nestas flores não é
detectado nem a liberação de odor e nem de mudança
de coloração.
A antese feminina ocorre no sentido da base
para o ápice das ráquilas, logo após a queda de todas
as flores masculinas, ou seja, a partir do 13º dia.
Estas se abrem lentamente, em seqüência uniforme
durante o período diurno. A abertura das flores em
relação as pétalas é quase imperceptível, pois estas
apresentam-se soldadas no ovário da flor, deixando-
se notar apenas a porção superior mais superior e
afiliada das pétalas.
Observa-se que logo após a lenta abertura das
pétalas, o estigma trífido apresenta coloração rósea e
fica recoberto por uma substância incolor com
característica pegajosa. Neste estágio os estigmas já
estão receptivos, permanecendo durante quatro dias,
algumas vezes cinco. Após o 5º dia de sua abertura,
estes vão tornando-se mais escuros, sem a presença
de qualquer exsudação. O ovário começa a ficar com
formato abaulado e com maior rigidez; esta é a
caracterização de que as flores já foram polinizadas e
inicia a formação dos frutos.
Em síntese, Euterpe oleracea é uma espécie
monóica, dicógama-protandrica. Apresenta anteses
florais masculinas e femininas em períodos
diferentes, caracterizando assincronismo floral de
abertura em duas anteses: antese de flores masculinas
(duração de treze dias) a antese de flores femininas
(abertura após a queda das flores masculinas).
O açaizeiro mantém um alto investimento na
produção de grãos de pólen, isto leva a hipótese de
que a planta investe em grãos de pólen para saciar
visitantes ocasionais e/ou predadores e ao mesmo
tempo favorecer os prováveis polinizadores.
Insetos visitantes
Os insetos que visitam o açaizeiro em
ambiente amazônico são os das ordens: Coleóptera,
Díptera, Homóptera e Hymenóptera, representadas
por 19 espécies, das quais apenas 4 espécies de
coleópteros visitam flores masculinas e femininas,
em diferentes épocas do ano (chuvosa e seca). Os
demais insetos visitantes comportam-se como
ocasionais e predadores, alimentando-se de grãos de
pólen e partes florais durante todos os meses do ano.
Sistema Reprodutivo
A utilização da razão variância fenotípica
dentro de progênies e variância genética entre
progênies (2
dp/2
p), indicam que o sistema
reprodutivo do açaizeiro é preferencialmente de
fecundação cruzada (Ohashi, 1990).
A proporção de frutos formados por
xenogamia (83,0%) é significativamente maior que as
formadas nos testes de gueitonogamia1 (6,8%) e de
autogamia (7,16%). Isto caracteriza a Euterpe
oleracea como uma espécie predominantemente
xenogâmica ou alogâmica, podendo, no entanto,
apresentar grau de compatibilidade na formação de
frutos entre cachos de um mesmo estipe e mesmo
entre cachos de estipes de uma mesma touceira.
Além da reprodução sexuada, o açaizeiro
multiplica-se, também por via assexuada, através da
emissão de perfilhos na base das plantas (Nogueira,
1997).
10.4 Período de produção
A palmeira frutifica a partir do terceiro ano e a
produção máxima ocorre nos 5 a 6 anos de idade.
Considerado individualmente, um açaizeiro produz
durante 4 a 6 meses, porém, em termos quantitativos,
80% de sua produção concnetra-se em 3 meses.
Segundo Calzavara (1972), existem dois períodos de
produção. A safra de inverno (correspondendo à
estação das chuvas) se estende de janeiro a junho e a
safra de verão de julho a dezembro. Segundo Jardim
& Anderson (1987), o açaizeiro floresce durante
todos os meses do ano com um pico de floração entre
os meses de fevereiro e julho, conduzindo a um
período de colheita intensiva entre agosto e
dezembro.
1 Gueitonogamia – autopolinização forçada.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 128
Figura 10.2 – Florescimento do açaizeiro em Acará-
PA (Jardim, 1991).
Para a Euterpe oleracea nas condições do
Pará, a frutificação ocorre principalmente na estação
seca, de junho até meados de dezembro, com picos
bem definidos nos meses de setembro e outubro. No
período da estação chuvosa também ocorre um pico
de frutificação, porém não com alta intensidade,
estendendo-se de fevereiro a abril, com o máximo no
mês de março. Esta frutificação corresponde a
chamada safra de inverno do açaizeiro, que está
relacionada com a floração de verão.
A sazonalidade fenológica de inflorescência e
infrutescência por estipe e por touceira durante os
anos de 1988 e 1989, foi registrada (Figuras 10.3 e
10.4).
Os processos de florescimento nas palmeiras
parecem representar um papel muito importante para
o fluxo gênico, por estabelecerem padrões na
sazonalidade de floração e frutificação e relações
com polinizadores e dispersores de sementes.
0
1
2
3
4
5
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
1988 1989
Mé
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Infrutescência
Figura 10.3 – Número médio de inflorescência e
infrutescência por estipe em 1,5 ha na Ilha do
Combu, Acará-PA (Jardim, 1991).
0
1
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J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
1988 1989
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fru
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touceira
Inflorescência
Infrutescência
Figura 10.4 – Número médio de inflorescência e
infrutescência por touceira em 1,5 ha na Ilha do
Combu, Acará-PA (Jardim, 1991).
Em Euterpe oleracea, os primeiros meses do
ano (Janeiro-Maio) revelam picos definidos de
floração, enquanto no 2º semestre (Jul-Set) picos de
frutificação.
10.5 Ecofisiologia
Em grande parte das áreas de ocorrência dessa
palmeira, particularmente nos terrenos de várzea
baixa, a floresta é do tipo oligárquica, tendo como
espécie dominante o açaizeiro (Prance, 1994). O
caráter oligárquico dessa floresta é determinado pelo
regime de inundações (Lima, 1956), pois reduzido
número de espécies arbóreas dispõem de mecanismos
adaptativos para sobreviverem em solos com baixa
tensão de oxigênio (Anderson, 1986). No caso do
açaizeiro, esses mecanismos estão representados por
adaptações morfológicas e anatômicas, tais como:
raízes que emergem do estipe acima da superfície do
solo, presença de lenticelas (Anderson, 1986) e de
aerênquimas nas raízes (Menezes Neto, 1994). Além
disso, a espécie dispõe de estratégias fisiológicas que
permitem manter as sementes viáveis e as plântulas
vivas, mesmo em condição de anoxia total, por até 20
dias e 16 dias, respectivamente, de tal forma que,
quando o suprimento de oxigênio se toma adequado,
as sementes germinam, e as plântulas retomam seu
crescimento (Menezes Neto, 1994).
Em função de estratégias adaptativas, a
abertura dos estômatos do açaizeiro depende mais da
radiação solar do que do déficit de pressão de vapor,
e inundações temporárias não afetam a absorção de
água, quando as raízes estão submetidas a condições
de hipoxia (Carvalho et al., 1998a).
O fato das sementes não germinarem e as
plântulas paralisarem ou reduzirem o crescimento em
ambiente anóxico, explica a menor freqüência da
espécie em áreas permanentemente alagadas, pois
nessa situação, o estabelecimento de novas plantas
está limitado à possibilidade das sementes, por
ocasião da dispersão natural, atingirem sítios com
cota ligeiramente superior ao da lâmina de água, onde
encontram condições de oxigenação suficiente para o
0
20
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60
80
100
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Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 129
desencadeamento do processo de germinação e
crescimento das plântulas. Esses sítios são
representados por restos de árvores que tombam
naturalmente e possibilitam a acumulação de
sedimentos e detritos vegetais (Calzavara, 1972).
Nos locais de ocorrência natural e de cultivo, na
Amazônia brasileira, a espécie pode ser encontrada em
áreas submetidas aos tipos climáticos Afi, Ami, e Awi
(classificação de Köppen). Esses tipos climáticos
caracterizam-se por serem quentes e úmidos, com
pequenas amplitudes térmicas, geralmente com
temperaturas médias e médias das mínimas e das
máximas anuais em torno de 26 ºC, 22 ºC e 31,5 ºC,
respectivamente, e com umidade relativa do ar variando
entre 71% e 91% (Calzavara 1972; Nascimento &
Homma, 1984; Bastos et al., 1986).
O total de chuvas e, principalmente, sua
distribuição nos meses do ano, constituem-se nos
fatores diferenciais entre os três tipos climáticos. O
tipo Afi, onde se concentram grandes populações
nativas de açaizeiros e considerável área plantada
com a espécie, caracteriza-se por total anual de
chuvas superior a 2.000mm e por sua distribuição
mais uniforme, e nos meses de menor precipitação o
total mensal é sempre superior a 60mm. No tipo Ami,
embora apresentando total anual de chuvas
semelhante ao do Afi, a distribuição é menos
uniforme, com períodos de dois a três meses de
estiagem. Já no tipo Awi, o total de chuvas é inferior
a 2.000 mm, com período de estiagem que abrange
cinco a seis meses do ano (Nascimento & I-Iomma,
1984).
No Acre, uma estiagem forte no ano de 2005,
causou a morte de várias touceiras, jovens e adultas,
tanto em plantio quanto em condições de floresta
nativa.
A taxa de fotossíntese reduz à metade dos
valores de fotossíntese máxima após 35 dias sem
irrigação e atinge zero aos 61dias sob um potencial
de água em torno de -2,5 MPa. A deficiência de água
no solo diminuiu o potencial osmótico, resultando em
um ajustamento osmótico de 0,29MPa na
turgescência zero e 0,36MPa na turgescência
máxima. Isto indica que essa espécie possui
mecanismos de adaptação a um estresse hídrico
moderado (Calbo e Morales, 2000).
Em Tomé-Açú, no Pará, vários agricultores
fazem irrigação do açaizeiro, para manter boa
produção durante o período de estiagem (Bastos et
al., 2006). Por isso, o solo deve ter textura tal que
minimize os efeitos da estiagem, retendo água por
mais tempo.
O litoral paulista, onde o açaizeiro vem sendo
cultivado experimentalmente, visando à produção de
palmito, está sujeito a temperaturas médias anuais
baixas, em torno de 21 ºC, consideradas por Aguiar
(1988) como provavelmente próximas do limite
mínimo de exigências térmicas para a cultura.
O autor deste texto, em visita a uma fábrica de
suco de frutas (Bela Ischia), no sudeste de Minas
Gerais, cidade de Astrolfo Dutra, o açaizeiro plantado
próximo a fábrica não se desenvolveu. Nesta região a
temperatura média anual é menor que 20°C.
No habitat natural e em áreas de cultivo, é
encontrado tanto em solos eutróficos como em solos
distróficos. No primeiro caso, ocupa
predominantemente Gleissolos em áreas de várzea.
Esses solos são fortemente ácidos, argilo-siltosos pouco
profundos e com boa fertilidade natural, em decorrência
da deposição de detritos contidos em suspensão nas
águas das marés. No segundo caso, é encontrado em
Latossosolo amarelo textura média, que se caracteriza
por ser profundo, friável, poroso e pela elevada acidez e
baixa fertilidade natural (Galzavara, 1972).
10.6 Melhoramento Genético
Seleção genética e híbridos
Estudos de biologia floral e de sistema de
reprodução foram realizados (Boví, 1984 e 1993;
Bovi ei al, 1986a). Marcadores moleculares são
utilizados na caracterização de novas variedades com
o objetivo de poder usá-los posteriormente na
caracterização do conjunto do germoplasma. A
presença de variações em descritores correlacionados
aos dados de produtividade em frutos ou palmitos
permite a seleção de plantas superiores no quadro de
programas de melhoramento genético (Bovi ei al,
1986b; Ballve et al, 1986; Ballve et al, 1989;
Oliveira, 1995; Sawazaki, 1995; Sawazaki et al,
1995).
Existem correlações entre as medidas
efetuadas nas plântulas jovens e adultas, o que
permite a seleção precoce das melhores variedades
desde o segundo ano de crescimento. Mas a planta é
vigorosa nos seus primeiros estágios de crescimento,
apresentando, por exemplo, ramificações durante o
conjunto dos estágios de desenvolvimento seguintes
(Bovi et al., 1990).
A obtenção de populações melhoradas ou
mesmo de populações híbridas via polinização
controlada é relativamente freqüente dentro do
gênero Euterpe. A própria biologia floral e o sistema
de reprodução favorecem os cruzamentos entre
plantas, mesmo entre populações distintas. Inclusive,
os híbridos apresentam uma precocidade, uma taxa
de sobrevivência e uma velocidade de crescimento
mais elevada, o que permite um corte do palmito
mais precoce (Bovi, 1984: Bovi et al., 1986a, 1987a e
b; Bovi & Castro, 1993).
A micropropagação de plantas híbridas
selecionadas por embriogênese somática é desde já
possível (Gonçalves, 1993; Gonçalves et al., 1991 e
in Press), porém ainda não é praticada em grande
escala.
A obtenção e o reconhecimento de híbridos entre
as espécies de Euterpe oleracea Mart. e Euterpe edulis
Mart., tem se mostrado precoce, rústico, tolerante a
maiores níveis de insolação do que E. edulis, e sendo
mais resistente a doenças do que E. oleracea. Apresenta
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 130
ainda vantagens de perfilhar, embora o perfilhamento
seja menor do que E. oleracea, o que é vantajoso, já que
este último perfilha em excesso, obrigando a um sistema
contínuo de manejo de perfilhos (Bovi, 1984).
Comparados com seus genitores, num teste de qualidade
física, química e organolépticas, mostram que sua
composição, na maior parte dos itens, é intermediária à
dos pais, e que seu rendimento é bastante superior ao E.
oleracea.
Nas várzeas baixa e alta localizadas no
estuário amazônico, a palmeira açaí (Euterpe
oleracea Mart.) é uma espécie promissora no
extrativismo dos frutos e palmito para a economia
local. Porém, ocorrem nestas áreas plantas de
açaizeiro conhecidas por etnovariedades por
apresentarem outras denominações populares e
diferenças na estrutura morfológica (Jardim, 2000).
Com o aumento do mercado de açaí, muitos
produtores têm procurado órgãos de pesquisa para
obter informações sobre seu cultivo e,
principalmente, sobre sementes de qualidade
comprovada. Em vista da necessidade de fornecer
material básico para plantio, a seleção de plantas
matrizes, através de características fenotípicas, tem
sido uma das alternativas possíveis (Oliveira e
Fernandes, 2001).
Variabilidade genética
O açaizeiro apresenta alta correlação genética
entre das plantas das progênies entre diversas
características de crescimento sendo fato importante
na seleção (Tabela 10.1).
Dada a grande potencialidade silvicultural e o
grande valor econômico/social do açaizeiro, seriam
importante a condução de estudos com a espécie
abrangendo maior empenho sobre variabilidade
genética e seleção de populações e indivíduos de
maior produtividade tanto para palmito como para
fruto, interação genótipo/ambiente; exigência
ecológica para crescer e se reproduzir, sistema
reprodutivo, sistema de exploração contínuo dos
povoamentos, consorciação com outras espécies, do
palmito, entre tantos outros (Ohachi, 1990).
Em estudo realizado por Souza (2002),
revelam que o açaizeiro apresenta alta riqueza alélica
e altos índices de heterozigosidade caracterizando
uma alta variabilidade genética na população. De
forma geral (Tabela 10.2), as estimativas médias
obtidas para diversidade gênica (He) são superiores
as de heterozigosidade observada (Ho) que também
foi alta, principalmente para plantas adultas,
revelando excesso de indivíduos homozigotos na
população.
Tabela 10.1. Média e coeficiente de variação fenotípica para cada população estimada para as características de
altura total (HT), diâmetro do colo (DC), número de perfilhos (NP), altura de raiz (HR), altura do estipe (HE),
comprimento da bainha (CB), altura da copa (HC) aos 50 meses de idade no campo. (Ohaschi, 1990). Característica/Pa
râmetro Populações
S.S. da Boa Vista
Breves Bujaru Colares Melgaço Muaná P. de Pedras
Portal Primavera Média Geral
HT média (m) 1,76 2,54 2,23 2,76 2,32 2,32 2,27 2,14 2,23 2,29
C.V.POP (%) 42,39 32,80 31,55 32,17 31,88 31,74 45,02 35,74 29,58 34,76
DC media (cm) 11,63 13,50 14,01 15,15 14,86 14,27 14,95 12,74 13,91 13,89
C.V.POP (%) 30,39 22,39 21,87 22,08 24,96 25,83 23,19 29,82 24,12 24,96
HE média (m) 0,28 0,68 0,50 0,62 0,60 0,45 0,40 0,49 0,35 0,49 C.V.POP (%) 99,31 61,22 81,19 72,43 68,65 82,10 70,97 80,69 74,76 76,81
HR média (cm) 10,70 12,41 14,00 14,64 12,82 14,17 12,14 12,15 19,27 13,59 C.V.POP (%) 41,64 31,91 32,84 28,89 33,97 36,22 36,86 40,41 26,30 34,34
CB média (m) 0,65 0,75 0,70 0,78 0,76 0,73 0,72 0,70 0,66 0,72
C.V.POP (%) 25,78 17,66 18,33 16,89 15,36 16,65 15,46 20,73 13,78 17,85
HC média (m) 0,72 0,99 0,91 1,23 0,90 1,01 1,06 0,83 1,02 0,96
C.V.POP (%) 51,32 36,94 38,29 34,85 35,48 34,97 33,85 42,45 37,94 38,45
NP média (m) 5,46 4,72 4,27 3,13 5,56 5,69 6,40 4,80 5,00 5,0
C.V.POP (%) 67,76 67,11 58,36 53,08 51,21 62,25 51,23 52,64 53,28 57,44
Tabela 10.2 Índices de diversidade gênica para
adultos e plântulas de uma população natural de
Euterpe oleracea, na ECFPn município de Melgaço-
PA, obtidos a partir da análise de cinco locos
microssatélites, sendo A: número médio de alelos;
He: diversidade genética; Ho: heterozigosidade
observada e f: índice de fixação de Whigth.
População A He Ho f
Adultos 13,6 0,839 0,709 0,156
Plântulas 13,4 0,844 0,822 0,027
10.7 Cultivares
Hoje apenas uma cultivar de açaizeiro foi
lançada, a Cv. “Pará”, apesar do esforço de alguns
programas de melhoramento, que objetivam tal meta.
Assim, podem ser citados os programas em
melhoramento do açaizeiro, da Embrapa Amazônia
Oriental, em Belém,PA e do Instituto Agronômico de
Campinas, porém, outras instituições possuem
acessos de açaizeiros em seus campos experimentais,
como INPA (Manaus), FUA (Manaus), UEMA (São
Luiz), UFBA (Salvador), UFMT (Cuiabá), UFRA
(Belém).
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 131
É interessante lembrar, que os tipos de açaí
preto, cujos frutos maduros têm polpa arroxeada, e o
açaí “branco”, com frutos de coloração verde, mesmo
quando maduros, não podem ser considerados
cultivares, e sim grupos diferentes de açaizeiros.
Porém, ambos produzem palmitos de boa qualidade e
frutos com boa aceitação no mercado.
Atualmente, o que se tem disponível são tipos
ou variedades que ocorrem naturalmente, sendo
denominadas de: açaí-açu, açaí-espada, açaí-sangue-
de-boi, açaí-chumbinho, açaí-tinga, açaí-branco e
açaí-roxo ou comum. Essas variedades, na maioria
das vezes, se diferenciam pela coloração dos frutos,
quando maduros, pelo número de perfilhos na
touceira, pelo tamanho e peso dos cachos e de frutos,
pela ramificação do cacho ou pela coloração e
consistência da bebida, mas ainda necessitam ser
caracterizadas e avaliadas morfológica e
agronomicamente. As principais características
diferenciais desses tipos são mencionadas abaixo:
Açaí-açu – É um tipo com frutos de cor roxo,
ocorrente em populações nativas, cujos cachos são
bem mais pesados, com maior número de frutos por
ráquilas e diâmetro dos estipes maior que dos tipos
comuns de açaí-roxo;
Açaí-espada – Tipo que ocorre principalmente
na ilha do Combu, no município de Acará, difere dos
tipos comuns, principalmente no formato do cacho,
por apresentar ráquilas primárias, secundárias e
terciárias.
Açaí-sangue-de-boi – Presente em populações
nativas de açaizeiro no baixo Amazonas, mais
precisamente no município de Santarém. Caracteriza-
se pela coloração avermelhada dos frutos, semelhante
ao sangue-de-boi, quando maduros, e por apresentar
polpa com consistência bem menos pastosa que os
tipos de ocorrência mais generalizada. A polpa dos
frutos desse tipo tem pouca aceitação, tanto por sua
consistência fina como pelo sabor, que é bastante
diferente dos tipos com frutos de cor roxa.
Açaí-chumbinho - tipo ocorrente em algumas
populações da parte Norte da Ilha do Marajó e do
Estado do Amapá, cuja principal característica é
apresentar frutos pequenos (menos de 1g), podendo
ser roxo ou branco.
Açaí-tinga - o mesmo tipo do branco ou verde.
Tinga é uma denominação indígena (tupi-guarani)
que significa desprovido de cor.
Açaí-branco - tipo pouco comum nas
populações amazônicas, apresenta coloração verde
opaca dos frutos, em decorrência da camada
esbranquiçada que os envolve, quando maduros,
podendo perfilhar ou não (Figura 10.5).
Figura 10.5 – Cachos de açaizeiro branco, espada e
roxo (Oliveira et al., 2002).
Atualmente, a Embrapa Amazônia Oriental
selecionou de seu banco de germoplasma, a primeira
cultivar de açaizeiro melhorado, o cultivar PARÁ.
Foi selecionada para condições de terra firme,
apresenta precocidade de produção, bom nível de
produtividade de frutos e rendimento de polpa.
A cultivar Pará foi melhorada pela Embrapa
Amazônia Oriental, através de dois ciclos de seleção
massal. A cultivar apresenta precocidade de
produção, frutificando três anos após o plantio; bom
rendimento de polpa (15% a 25%) e frutos de
coloração violácea, produzindo o refresco mais aceito
no mercado de polpa. As plantas apresentam os
seguintes valores médios: Altura da planta (4,2 m),
circunferência do diâmetro da planta (58 cm),
número de cachos/planta (4,4), altura do primeiro
cacho (112 cm) e 25 kg/planta/ano, equivalente a 10
t/ha (em terra firme) (Oliveira e Neto, 2004).
10.8 Propagação
O processo mais comum de propagação do
açaizeiro é através de sementes, embora a propagação
assexuada possa ser também utilizada através da
retirada de brotações (perfilhos) que surgem de forma
espotânea, na região logo abaixo do coleto da planta
(Calzavara, 1972). A quantidade dessas brotações
depende do genótipo e do ambiente, inicialmente
surgem na base do estipe principal e, posteriormente,
nas dos estipes secundários. Embora de forma rara,
algumas plantas independentemente do ambiente, não
exibem a capacidade de emitir brotações. No caso do
Euterpe precatoria, a propagação via brotações está
descartada, por este não emiti-las.
O processo de propagação assexuada, através
de retirada de brotações, por demandar bastante mão-
de-obra, é de uso limitado, sendo presentemente
usado apenas quando de deseja uma quantidade
reduzida de mudas de determinado genótipo.
Em plantas com cinco anos de idade, mantendo-
se quatro estipes por touceira, o número máximo de
brotações passíveis de serem aproveitadas na formação
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 132
de mudas não atinge dez unidades, decrescendo bastante
esse número nos anos subseqüentes, pois, à medida que
se retiram essas brotações, a planta vai perdendo a
capacidade de emiti-as (Calzavara, 1972). Assim sendo,
a taxa de multiplicação é muito baixa, quando
comparada com a propagação sexuada, em que , de uma
única planta, é possível obter quantidade superior a
6.000 sementes (Oliveira et al., 1998), com germinação
igual ou superior a 90% quando procedentes de frutos
recém-colhidos.
A propagação “in vitro” tem tido sucesso
apenas com a utilização de embriões zigóticos, não se
dispondo de protocolo que possibilitem a obtenção de
plântulas através da cultura de tecidos somáticos.
A estrutura usada como semente corresponde
ao endocarpo, que contém em seu interior uma
semente, com eixo embrionário diminuto e abundante
tecido endospermático. O endocarpo é
aproximadamente esférico, com comprimento e
diâmetro médio de 1,23 cm e 1,45 cm,
respectivamente, e representa 73,46% do peso do
fruto.
O peso de cem endocarpos, com grau de
umidade de 39,4%, é de 108g, portanto, um
quilograma de endocarpo de açaí contém cerca de
1.080 sementes, que apresentam porcentagem de
germinação superior a 90%, quando oriundas de
frutos maduros e semeadas imediatamente após a
remoção da polpa.
O processo germinativo é relativamente
rápido, porém desuniforme, iniciando-se a
emergência das plântulas 22 dias após a semeadura e
estabilizando-se aos 48 dias, quando as sementes são
semeadas logo após a remoção da polpa. A redução
do grau de umidade, mesmo para níveis ainda altos,
implica em comprometimento na percentagem e no
retardamento da germinação. Quando o grau de
umidade é reduzido para valores em torno de 14,0%,
as sementes perdem completamente a capacidade de
germinação (Oliveira et al., 2000).
A emergência de plântulas de açaizeiro com a
rafe perpendicular à superfície do substrato e poro
germinativo para cima é a mais adequada, pois
proporciona igual porcentagem e menor tempo médio
de emergência. Profundidades iguais ou superiores a
3 cm são inadequadas para semeadura de Euterpe
oleracea Mart. (Silva et al., 2007)
As sementes não podem ser conservadas pelos
processos convencionais de armazenamento, que tem
como pré-requisitos básicos a secagem e o
armazenamento em temperaturas baixa, pois além da
sensibilidade ao dessecamento, as sementes não
suportam temperaturas inferiores a 15ºC.
Portanto, para curtos períodos de
armazenamento, em condições de ambiente natural na
Amazônia, ou quando se deseja transportar as sementes
para locais distantes, dois sistemas podem ser usados.
No primeiro, as sementes são estratificadas ou
misturadas em substrato úmido, que tanto pode ser
serragem, como vermiculita, e acondicionadas em
caixas de madeira, isopor ou em sacos de plástico.
Areia ou solo não são recomendados como substrato,
por apresentarem maior densidade. Nesse sistema, as
sementes são dispostas em camadas alternadas com o
substrato úmido ou simplesmente misturadas com
este e acondicionadas.
No segundo sistema, as sementes são
embaladas em sacos de plástico com capacidade para
4 kg de sementes, havendo necessidade de tratamento
com fungicida (Benomyl a 0,1%, durante 10 minutos)
e de enxugamento superficial das sementes, de tal
forma que o grau de umidade seja reduzido para
35,0%. Em ambos os caso o período de
armazenamento não deve ultrapassar 20 dias, pois
muitas semente poderão completar a germinação
dentro da embalagem, o que dificulta a retirada das
mesmas e condiciona o aparecimento de plântulas
anormais.
A semeadura pode ser efetuada tanto em
sementeiras, como diretamente em sacos de plástico
com dimensões de 15 cm de largura e 25cm de altura.
O período compreendido da semeadura até a
muda estar em condições de ser plantada no local
definitivo situa-se entre seis e oito meses.
10.9 Nutrição mineral
Os estudos sobre nutrição e adubação do
açaizeiro são ainda extremamente incipientes, não se
dispondo de resultados consistentes que permitam
avaliar com precisão o estado nutricional das plantas
e, principalmente, estabelecer recomendações de
adubação.
Os resultados obtidos por Haag et al. (1992),
evidenciaram que os macronutrientes interferem na
produção de matéria seca, em plantas jovens de
açaizeiro, na seguinte ordem: K>Mg>P>N>Ca>S.
Em função disso, a determinação dos teores desses
nutrientes, nas folhas e raízes de plantas com e sem
sintomas de deficiência, forneceram indicação
preliminar para avaliação do estado nutricional do
açaizeiro, em termos de macronutrientes (Quadro
10.2).
Quadro 10.2. Concentração (%) de macronutrientes
em folhas e raízes de plantas jovens de açaizeiro
cultivados em solução completa e com omissão de
macronutrientes. Sem omissão Com emissão Nutriente Folha
nova
Folha
velha
Raiz Folha
nova
Folha
velha
Raiz
N 1,95 1,66 1,73 1,22 0,95 0,79
P 0,14 0,13 0,11 0,06 0,08 0,07 K 1,06 1,96 1,97 1,17 1,07 1,20
Ca 0,69 0,68 0,61 0,44 0,54 0,30
Mg 0,26 0,35 0,31 0,20 0,19 0,27 S 0,30 0,29 0,31 0,21 0,30 0,26
Fonte: Adaptado de Haag et al., 1992.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 133
Segundo Viégas et al. (2004), os
macronutrientes mais limitantes para o crescimento
de açaizeiros, em Latossolo Amarelo textura média,
são o P, N, K e Mg e, entre os micronutrientes, o Mn.
Com relação a adubação, os seguintes
procedimentos têm sido indicados para solos de baixa
fertilidade natural da Amazônia brasileira:
a) Aplicar, no primeiro e segundo ano, 10 a 15
litros de esterco de curral ou dois a três litros de
esterco de galinha por touceira e 100 g da mistura,
em partes iguais, de sulfato de amônio, superfosfato
triplo e cloreto de potássio. O adubo mineral deve ser
aplicado em duas parcelas de 50 g, a primeira no
início e a segunda no final do período chuvoso. A
partir do terceiro ano, utilizar a mesma quantidade de
adubo orgânico e utilizar a mistura de 150g de sulfato
de amônio, 220g de superfosfato triplo e 250g de
cloreto de potássio, dividido, também, em duas
parcelas iguais, aplicadas no início e final do período
chuvoso.
b) Nos dois primeiros anos após o plantio,
aplicar 100g de sulfato de amônio, 100g de sulfato
triplo e 100g de cloreto de potássio por planta,
parcelados duas vezes. A partir do terceiro ano,
duplicar a quantidade de adubo, divididos, também,
em intervalos de dois anos, cinco litros de esterco de
curral.
c) No primeiro ano, efetuar duas aplicações de
300g de NPK, formulação 10-28-20, no quinto e
nono meses após o plantio. A partir do segundo ano,
efetuar três aplicações de 300g do mesmo adubo, no
início, meio e fim do período chuvoso.
10.10 Manejo agronômico
Espaçamento
A maioria das indicações de espaçamento para
a cultura do açaizeiro, visando à produção de frutos,
são baseadas em observações práticas. Geralmente
tem sido indicado o espaçamento de 5 m x 5 m com o
manejo de três ou quatro estipes, que corresponde a
densidades de 1.200 plantas/ha e 1.600 plantas/ha,
respectivamente. A implantação da cultura em
espaçamento mais fechado, como 4 m x 4 m, implica
em baixa produtividade, em decorrência de
competição por água e por nutrientes que se
estabelece entre as plantas.
Os espaçamentos mais abertos, como 5m x
5m, têm a vantagem de facilitar sobremaneira a
colheita até dez anos após o plantio, pois nessa
situação, a plantas não estão submetidas à
competição por luz, o que reduz bastante o
crescimento em altura e favorece o crescimento em
diâmetro, reduzindo os riscos de tombamento de
plantas pela ação de ventos fortes. Nesse
espaçamento, os primeiros cachos surgem em altura
inferior a 1,5m. Além disso, os tratos culturais,
especialmente as capinas, podem ser efetuadas
mecanicamente.
Manejo de perfilhos
O número excessivo de perfilhos numa
touceira reduz o crescimento da planta-mãe, pois
parte considerável dos fotoassimilados são
mobilizados para a formação do sistema radicular dos
perfilhos. Assim sendo, é necessário efetuar o
desbaste dos mesmos de tal forma que cada touceira
apresente, no máximo, cinco plantas.
Outro aspecto que deve ser considerado no
manejo das touceiras está relacionado à altura dos
estipes. Quando um estipe atinge altura que dificulte
sobremaneira a colheita dos frutos, é conveniente
eliminá-lo e deixar um novo perfilho crescer para
substituir o que foi derrubado.
No primeiro ano após o plantio, o crescimento
da planta é bastante lento, situação esta que aliada ao
espaçamento aberto favorece o crescimento de
plantas daninhas. Nos três primeiros anos após a
implantação do pomar, são necessárias três ou quatro
roçagens a cada ano. Complementando as roçagens, é
necessário o coroamento em volta das touceiras.
Manejo de inflorescências
No Estado do Acre, apesar do açaizeiro
produzir o ano todo, o maior volume de
comercialização de frutos ocorre no segundo
semestre do ano, coincidindo com o período menos
chuvoso e o preço dos frutos alcançam menores
valores. Assim, a possibilidade de manejar as
inflorescências de modo a direcionar a produção de
frutos para o período chuvoso (no primeiro semestre)
pode ser uma técnica interessante por garantir ao
produtor fruto na entressafra e, portanto, melhor
preço na venda. Contudo, ainda não há informações
consistentes que comprovem a viabilidade dessa
técnica em açaizeiro.
Dessa forma, se o interesse for para realizar
plantios de açaizeiro com produção de frutos na
entressafra, o agricultor deve adquirir sementes de
locais onde as plantas tenham produção na
entressafra, ou seja, de locais que tenham tradição de
produzir frutos fora da época, como os estados do
Amapá, Maranhão e de alguns municípios do Pará.
A irrigação no período de estiagem pode
conduzir a planta a emitir inflorescência durante este
período e assim, produzir frutos no período de
entresafra.
Mas quando a irrigação não estiver disponível,
o plantio do açaizeiro em locais de baixio e terra
firme na mesma propriedade pode variar e ampliar o
período de produção.
O cultivo de diversos materiais genéticos,
inclusive espécies e cultivares diferentes também
proporciona frutificação alternada entre eles, como
entre as espécies E. oleracea e E. precatório, que
produzem no segundo e primeiro semestre do ano
respectivamente.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 134
10.11 Pragas
Vários insetos atacam o açaizeiro, mas,
presentemente, poucos são os que exigem medidas
efetivas de controle. A maior parte dos insetos que
causam danos ao açaizeiro também são pragas de
outras palmeiras ou mesmo de outras espécies
frutíferas ou madeireiras de famílias diferentes.
Ressalte-se que, atualmente, não existe nenhum
produto registrado no Ministério da Agricultura e do
Abastecimento do Brasil para o controle de pragas do
açaizeiro.
As pragas mais importantes para o açaizeiro
são:
Rhynchophorus palmarum (Coleóptera:
Curculionidae) – Constitui-se na principal praga do
açaizeiro, atacando principalmente a região da coroa
foliar. É praga de outras palmeiras cultivadas na
Amazônia, dentre as quais o coqueiro (Cocos
nucifera) e o dendezeiro (Elaeis guineensis), onde
também causa sérios danos, além de ser considerado
como vetor do nematódeo Bursaphelencus
cocophilus, causador da doença conhecida como
anel-vermelho. O adulto é um besouro de hábito
diurno, cor negra, com cerca de 5cm de comprimento
por 25 mm de largura.
O controle dessa praga pode ser o mesmo
adotado para o dendezeiro e coqueiro.
a) Controle preventivo na colheita: pincelar o
local onde foi cortado o cacho com uma solução de
piche mais nematicida;
b) Controle comportamental – uso de iscas
atrativas e feromônios. Toletes de cana-de-açúcar
podem ser usados como iscas em armadilhas tipo
alçapão. A adição mais eficiente de controle;
Cerataphis latanie (Homóptera:Aphididae) – O
pulgão-preto é um minúsculo sugador que ataca em
desenvolvimento, bainhas foliares, inflorescências e
frutos. Em plantas com três a cinco anos de idade,
quando o ataque é severo, pode causar a morte da
planta. Nas inflorescências, ocasionando queda
precoce da flores ou mesmo de frutos em início de
formação. O controle do pulgão-preto pode ser feito
com pulverizações de óleo mineral na concentração
de 1%, misturado com inseticida fosforado na
concentração de 0,1%.
Xylosandrus compactus (Coleóptera:Scolytidae) –
Conhecido como broca das mudas, é um inseto
originário da Ásia, polífago e bastante conhecido
como praga do cafeeiro e de numerosos arbustos. A
fêmea mede entre 1,5 mm e 1,8 mm de comprimento
e apresenta coloração negra brilhante. O macho é de
coloração marrom e um pouco menor do que a
fêmea.
Não existem medidas de controle efetivamente
testadas para o combate dessa praga em mudas de
açaizeiro. No entanto, a aplicação de inseticidas de
contato, com alto poder residual, pode se constituir
em alternativa de controle. Nesse caso, deve-se
considerar o hábito crepuscular dos adultos e
pulverizar as mudas ao entardecer, a fim de combater
os insetos durante o vôo. A destruição de mudas
infestadas pelo fogo constitui-se em outra alternativa
para o controle dessa praga.
Duas outras coleobrocas não identificadas têm
sido registradas atacando o açaizeiro. Uma delas, de
ocorrência mais freqüente no período de maior
intensidade de chuvas, realiza perfurações na parte
basal do estipe até 1,30 de altura, dependendo da
severidade do ataque, pode ocasionar a morte da
planta (Souza e Oliveira, 1999). A outra faz galerias
nas inflorescências, danificando completamente as
ráquilas e as flores (Oliveira et al., 2000).
Cochonilha escama-farinha: insetos sugadores,
brancos e minúsculos, que atacam a parte inferior das
folhas, principalmente de mudas e plantas jovens,
sugando a seiva e retardando seu crescimento.
Gafanhotos: o mais comum tem sido o tucurão
(Tropicaris collaris, Acrididae), cujas ninfas de
últimos estádios e adultos são vorazes e devoram as
folhas novas de mudas e plantas jovens, deixando
apenas a ráquis foliar e as nervuras dos folíolos.
10.12 Doenças
A antracnose (Colletotrichum gloeosporioides)
é a única doença registrada até o momento, para o
açaizeiro. Essa doença, no entanto, tem causado
problemas somente na fase de viveiro, podendo
causar perdas de até 70% de mudas.
O controle da antracnose pode ser feito com
pulverizações de oxidocloreto de cobre a 0,15%,
intercaladas com benomyl a 0,1%, em intervalos de
dez a quinze dias.
10.13 Colheita e Pós-colheita
A qualidade final da bebida “açaí”, geralmente
de baixa qualidade sanitária, pela alta contaminação
microbiana, é causada por diversos fatores, dentre os
principais, destacam-se o manuseio na colheita e pós-
colheita.
Maturação do frutos
A maturação dos frutos na colheita é um dos
fatores fundamentais que afetam a composição das
frutas, assim como seu comportamento ao decorrer
do armazenamento.
Existem numerosos critérios para avaliar se
um fruto é suficientemente maduro para ser colhido
ou não (tamanho, gravidade específica, razão
açúcar/acidez, firmeza, forma externa, etc.). Nos
frutos ricos em antocianinas, é sempre a cor externa,
e até mesmo interna, que determinará mais
facilmente o grau de maturidade.
Assim como o conjunto das frutas ricas em
antocianinas (framboesas, morangos, amoras, uvas,
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 135
cerejas), as frutas de açaizeiro não são climatéricas:
se os cachos de frutos são colhidos antes da
maturidade, a pigmentação não aparece, as frutas
ressecam e se soltam bem rapidamente das ráquilas.
Para o açaí preto, a cor externa é um bom
indicador do grau de maturidade das frutas, baseado
no teor de antocianinas (Figura 10.6). E assim, de
acordo com Rogez (2000), pode-se distinguir cinco
estados de maturidade para cada cacho:
1. “Verdes” – define o estado de maturidade de um
conjunto de frutos do qual pelo menos a metade ainda
é de cor verde;
2. “Vitrin” – correspondem aos cachos que passaram
da cor verde à cor preta e que contêm uma proporção
maior de frutos pretos e uma proporção menor de
frutos ainda um pouco verde; neste estado de
maturidade, os frutos podem, excepcionalmente, ser
comercializados, mas os rendimentos em polpa são
fracos, pois os frutos não estão suficientemente
maduros.
3. “Preto ou Parau” – se refere a um conjunto de
frutos de cor preta cuja superfície é brilhante; os
rendimentos e a qualidade do suco são bons, mas não
é considerada como a fase ideal de coleta.
4. “Tuíra” – qualifica frutos uniformemente pretos e
cobertos por uma fina película de ceras, comparável
àquelas encontrada nas uvas pretas, dando aos frutos
uma aparência esbranquiçada; os rendimentos são
bons e a qualidade do suco é tida como ótima.
5. “bem maduros” – define um conjunto de frutos
cobertos da mesma película de ceras, mas já um
pouco seca e murcha; tipicamente, este estado se
observa quando o cacho foi colhido muito tarde.
Figura 10.6 – Cinética de acúmulo das antocianinas
em frutos de açaí. (Adaptado de Rogez, 2000).
A colheita do açaí é efetuado aproximadamente
180 dias após a antese (Oliveira et al., 1998).
Método de colheita
A colheita é uma tarefa geralmente reservado
ao homens ou adolescentes porque é árdua e
arriscada. A única característica comum entre pessoas
é seu peso, normalmente inferior a 60 kg, para evitar
flexões importantes demais do estipe durante a
escalada e diminuir o risco de queda.
Para subir até o cume do estipe, os
apanhadores utilizam a “peconha”, um cinto
transados com folhas de açaizeiro ou fibras sintéticas.
Ele é enrolado ao redor dos dois pés e serve de
suporte durante a escalada, com os dois braços
cercando o estipe e mantendo o equilíbrio. Após
escalar, o cacho é cortado um pouco na sua base com
auxílio de terçado ou de uma faca, depois arrancado
do estipe. Os cachos podem ser arriados à mão ou
amarrados a uma corda na cintura do apanhador, e
depois depositados sobre uma lona, para evitar
contato direto com o solo. Cacho por cacho o
apanhador passa então seus dedos entre as ráquilas,
pressionando-os para forçar os frutos a cair num
peneiro, esta etapa é chamada debulhamento. Um
apanhador experiente coleta 180 kg de frutos/manhã.
10.14 Pós-colheita
Fatores pós-colheita que afetam a qualidade dos
frutos
A bebida açaí possui alta contaminação
microbiana e as principais causas são:
1. Recipientes – os recipientes utilizados para
transportar os frutos do campo para as
despolpadeiras, geralmente paneiros ou sacos de
fibras sintéticas, são usados por períodos longos e
nunca higienizados, contribuindo como fonte de
inoculo.
2. Os recipientes ficam sempre em contato
com o piso do barco.
3. Os recipientes com a fruta são colocados
sempre em contato com o solo dos barrancos dos
rios, nos trapiches, no chão do mercado etc.
4. As feridas constituem o principal fator de
deterioração dos frutos (Figura 10.7). As feridas não
permitem apenas um acesso direto do oxigênio para
as substâncias oxidáveis e dos microorganismos para
os substratos do fruto, como também aceleram as
perdas em água, estimulam a respiração e favorecem
um apodrecimento acelerado. No caso dos frutos do
açaizeiro, o debulhamento ocorre logo após a colheita
e não logo antes do seu processo, como no caso da
uva. É então provável que a ferida formada no ápice
de cada fruto possa ter consequências à sua
0
300
600
900
1200
1500
1800
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Período de maturação (dias)
An
tocia
nin
as (
mg
/kg
de f
ruto
s)
Verde
Preto
Tuírabem
maduro
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 136
deterioração.
Figura 10.7. Ferida presente no apêndice de um fruto
de açaí por microscopia eletrônica de varredura.
(Rogez, 2000).
Armazenamento e vida útil
A vida útil pós-colheita do açaí não pode
ultrapassar 48 horas, quando os frutos são colhidos
no período chuvoso, já quando os frutos são colhidos
no período seco, que a umidade relativa do ar é baixa,
os frutos podem ser conservados por até 5 dias.
Evolução dos parâmetros de produtividade
Em termo de rendimento, representada pela
produtividade total em matéria seca, o tempo pós-
colheita tem um impacto negativo sobre a massa
total. Ocorre uma importância queda da massa
recolhida por kg de frutos em função do nível de
frescura dos frutos no momento do preparo (Figura
10.8). Na prática, as fibras que se formam um
panacho ao redor do caroço se abrem muito mais
facilmente quando o açaí é mais velho. Isso leva a
uma adsorção importante de líquido e, portanto, a
uma perda em massa de açaí recolhida (de 442 a 313
g por kg de frutos despolpados). Por outra parte, o
teor em matéria seca dos açaís aumenta muito
lentamente (de 9,9 a 11,2% em 70 horas), resultando
numa queda da produtividade em matéria seca total,
principalmente a partir de 30 horas pós-colheita (de
44,31 g/kg de frutos em 30 horas a 35,05 g/kg de
frutos em 70 horas).
300
350
400
450
500
550
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo pós-colheita (horas)
Massa d
e a
çaí
(g/k
g d
e f
ruto
)
Figura 10.8 – Massa de frutos de açaí em função do
tempo pós-colheita. (Adaptado de Rogez, 2000).
Evolução das atividades enzimáticas
Quanto a evolução das atividades enzimáticas,
verificada através da evolução global da atividade da
peroxidade (POD) e da polifenoloxidase (PPO) no
açaí, em função do tempo pós-colheita dos frutos.
Nota-se que o comportamento das duas enzimas é
diferente (Figura 10.9).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo pós-colheita (horas)
UA
/min
POD
PPO
Figura 10.9 – Evolução da atividade da peroxidase
(POD) e da polifenoloxidase (PPO) no açaí em
função do tempo pós-colheita dos frutos.
A POD tem sua atividade aumentada
significativamente no decorrer do tempo de maneira
linear e quadrática, particularmente, depois de 24
horas de colheita. Esse aumento de atividade pode ser
explicado por duas hipóteses (Rogez, 2000):
1. certas cepas de microrganismos produtores de
peroxidades poderiam estar em fase de multiplicação;
2. em reação aos diferentes choques e/ou ferimentos
sofridos pelos frutos durante a colheita e o transporte,
as próprias células da parte carnosa poderiam
sintetizar mais POD.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 137
Evolução das antocianinas
O tempo de armazenamento necessário, após a
colheita, para que o teor em antocianinas seja
reduzido de sua metade é, em média, de 55 horas.
Porém, essa duração varia muito de um lote de frutos
para o outro. Dos vários fatores que influenciam a
degradação das antocianinas, dois se destacam por
acelerá-la nos frutos de açaí: a temperatura ambiente
elevada (30 ºC) e a presença importante de oxigênio
na superfície.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo pós-colheita (horas)
An
tocia
nin
as
(mg
/kg
de f
ru
tos)
Figura 10.10 – Perda de antocianina no açaí em
função do tempo pós-colheita. (Adaptado de Rogez,
2000).
A temperatura ideal para o transporte e
armazenamento situa-se entre 10 e 15ºC.
Melhoramento da conservação
O açaí apresenta uma contaminação
microbiana particularmente elevada e uma
conservação muito curta, sua valorização e
comercialização são relativamente limitadas pelo
tempo.
Sulfitagem dos frutos de açaí
A sulfitagem é utilizada como alternativa ao
branqueamento, geralmente para produtos cujos
tecidos são mais delicados. A sulfitagem se pratica
mergulhando os frutos numa solução contendo 2.000
até 4.000 ppm de SO2 (metabissulfito de Na ou de K)
durante 2 a 5 minutos. O SO2 gasoso pode também
ser utilizado, por exemplo, para o tratamento das
uvas antes da sua desidratação.
Em açaí, a utilização de SO2 sob a forma gasosa
é preferível, pelas seguintes razões: (1) devido aos frutos
serem bem redondos, a forma gasosa permite um acesso
na superfície dos frutos sem que estes devam ser
retirados dos paneiros, (2) o sulfito gasoso é altamente
miscível nas ceras recobrindo os frutos (ao contrário do
sulfito aquosos), (3) o tratamento pelo sulfito gasoso
pode ser aplicado desde a etapa do transporte dos frutos
(a combustão do enxofre poderia ser feita nos porões
dos barcos), (4) as durações de transporte poderiam,
portanto, ser superiores, o que tornaria possível o acesso
a novos mercados.
A quantidade máxima em SO2 gasoso a ser
aplicada, pode ser de 15 mg/kg de frutos, com um
tempo de atuação compreendido entre 10 e 60
minutos (Rogez, 2000). Sob estas condições de
tratamento, as bactérias caem de uma ordem
logarítimica e os bolores e leveduras de duas ordens.
Tanto a peroxidase quanto a polifenoloxidase,
dosadas no açaí final, são totalmente inibidas por tal
tratamento. Todavia, deve-se mencionar que o sulfito
modifica a cor das antocianinas e provoca, assim,
efeitos negativos sobre as propriedades
organolépticas do suco (o açaí apresenta uma
coloração esbranquiçada / violeta).
Lavagem
A lavagem constitui uma etapa necessária e
obrigatória para o conjunto dos frutos, principalmente
para eliminar as impurezas e sujeiras. Em certos casos,
quando a contaminação microbiana é supostamente
elevada, a adição de cloro ativo (tipicamente 100 – 150
ppm) é aconselhada. Mas, a lavagem não pode,
portanto, ser vista como uma solução ao problema de
contaminação dos frutos do açaizeiro.
Congelamento
O congelamento do açaí diminuem
significativamente a carga microbiana, tanto as bactérias
quanto os bolores e leveduras, uma diminuição de uma e
meia a duas ordens logarítmicas, esta queda se
concentra nos 10 primeiros dias. Além disso, a
peroxidase e a polifenoxidase perdem
significativamente de 10 a 40% de sua atividade durante
o mesmo espaço de tempo, dependendo da origem do
açaí. Além disso, as atividades residuais elevadas
permitem supor uma degradação do produto no decorrer
da estocagem. E as antocianinas sofrem perdas de até
60%. Portanto, o congelamento não garante, de forma
alguma, o respeito das normas em vigor, nem a boa
conservação do produto.
Branqueamento
O branqueamento consiste em escaldar vegetais
em água quente ou fervente (88-99C) ou vapor durante
um lapso de tempo e antes de outros tratamentos.
Normalmente, este tratamento é usado antes do
acondicionamento e congelamento de frutos e
hortaliças. O objetivo principal é a diminuição dos
contaminantes encontrados na superfície do produto e a
inativação enzimática nas primeiras camadas de células.
Para o açaí, Rogez (2000) recomenda
temperatura de 80 ºC durante 10 minutos, temperaturas
ou tempos acima que estes, provocam uma separação
das matérias graxas durante a elaboração do açaí: há
presença de um óleo de cor amarela na superfície, pois a
emulsão não se forma mais corretamente.
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 138
Pasteurização
A pasteurização é um tratamento térmico
relativamente suave, em temperaturas iguais ou
inferiores a 100 ºC, utilizado para prolongar a vida
útil dos alimentos. Este processo, que conserva os
alimentos por inativação enzimática e destruição dos
microrganismos termossensíveis, é responsável por
alterações muitas vezes mínimas, em níveis do valor
nutritivo e das características organolépticas do
alimento em questão.
A pasteurização do açaí pelo processo HTST
(High Temperature Short Time) oferece excelentes
perspectivas: um tratamento a 87,5 ºC durante 1 minuto
permite a inativação da peroxidase e da
polifenoloxidase, a destruição completa dos bolores e
leveduras e uma redução drástica da carga mesófila
total. A adição de ácido cítrico facilita a destruição das
bactérias, a inativação enzimática e protege
parcialmente as antocianinas. Sem adição de ácido
cítrico, o tratamento térmico deve ser mais longo; a
conservação do açaí durante 10 dias a + 4 ºC é boa, mas
a polifenoloxidase pode se reconstituir parcialmente
durante a armazenagem se a temperatura de
pasteurização for inferior a 85 ºC (Rogez, 2000).
A pasteurização a 90°C por cinco minutos e
fervura por um minuto demonstraram eficiência na
erradicação dos microrganismos, manutenção das
características sensoriais e conservação do suco de açaí
por 120 dias a -18 °C (Sousa et al., 2006).
Atualmente a grande vantagem da pasteurização
é que há eliminação do Tripanossomo cruzi, protozoário
causador da doença de chagas.
Tecnologia de obstáculos
A conservação da polpa de açaí pelo
congelamento agrega um elevado custo ao produto.
Um processo alternativo de conservação seria a
aplicação da tecnologia de obstáculos, que é uma
opção simples e viável, além de possibilitar o
processamento in situ, a economia de energia e de
gastos com instalações de câmaras frigoríficas. Desta
maneira, a refrigeração pode ser substituída por
barreiras, tais como atividade de água, pH ou
potencial redox, que não consomem energia e, ainda
garantem a estabilidade e segurança do alimento.
A utilização de combinação dos seguintes
fatores: tratamento térmico (70°C por 3 minutos),
diminuição do pH (adição de ácido cítrico) a valores
variando entre 3,2 e 3,6 dependendo da formulação, adição
de sorbato de potássio (0,2% p/p) e redução da aw (0,89 –
0,97) pela adição de sacarose (0, 25, 35, 45 e 55% p/p),
garante um produto microbiologicamente estável por 5
meses à temperatura de 25°C (Carneiro , 2000).
Alexandre et al. (2004), aplicou os seguintes
conjuntos de fatores: 40% de sacarose (formulação 2); 40%
de sacarose e 0,15% de sorbato de potássio (formulação 4);
ou 25% de sacarose e 0,075% de sorbato de potássio
(formulação 5) e obteve produtos aceitos sensorialmente
após os 5 meses de armazenamento e observou que, na
ausência de sorbato de potássio, alta concentração de
sacarose foi necessária para a conservação do açaí
(formulação 2), sendo que, a concentração de sacarose
pode ser diminuída na presença de sorbato de potássio
(formulação 5) na conservação do açaí.
10.15 Mercado e Comercialização
Consumo do açaí no Sul do Brasil
A demanda por açaí em nível racional cresceu
muito nestes últimos anos. A divulgação do açaí nos
Estados do Sul do Brasil foi feita pelo intermédio de uma
propaganda gratuita: novelas e emissoras de televisão,
canções, revistas e periódicos do Sul, principalmente. Ao
contrário da Região Norte, o perfil do consumidor é de
classe média á alta porque o preço é alto. A imprensa
afirma que os jovens da chamada “geração saúde” foram
atraídos pelas suas propriedades calóricas e medicinais
(Veja, 1996; Gazeta Mercantil, 1998).
Segundo Mourão (1998), o Rio de Janeiro
importava, em 1992, apenas 5 t de açaí no total do
ano. Em 1996, a quantidade já passava a 180 t/mês,
neste mesmo ano, os Estados de Goiás, São Paulo,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul importavam, no
total, 300 t/mês. Em 1997, a importação mensal total
ultrapassava as 600 t (durante o verão). O Ministério
da Agricultura (Seção do Estado do Pará) comunica
que o volume legalmente exportado do Pará durante
o ano de 1998 foi aproximadamente de 2.000 t.
Porém, com base nos volumes de produção de alguns
empresários entrevistados, a quantidade realmente
exportada deve ser bem maior, na ordem de 8.000 t.
A totalidade deste açaí é comercializada sob forma
congelada e a maior parte dos empresários exportam
um açaí muito diluído, para compensar os custos
elevados de congelamento, armazenagem em
câmaras frias e transporte frigorífico.
Mesmo que as quantidades exportadas para o
Sul do Brasil continuem pequenas, comparando-se
com os volumes diariamente consumidos apenas
cidade de Belém, elas representam uma fonte
significativa de entrada de dinheiro para o Estado por
meio dos empresários e da taxação ao contrário do
açaí consumido em Belém, que é quase totalmente
comercializado de maneira informal. (Com efeito, o
decreto n0
288 do Estado do Pará (Governo do
Estado, 1995) isenta a polpa de cupuaçu e o açaí de
qualquer taxa ou imposto dentro do Estado.
O aumento do consumo no Sul do país vai,
obviamente, de par com o aumento da venda dos
fabricantes da região Norte. Por exemplo, a CAMTA
- Cooperativa Mista do município de Tomé-Açu, a
primeira indústria de polpas congeladas do Pará, viu
seu lucro bruto de 1996 (US$ 100.000) quadruplicar
em 1997 (para um volume de 140 t/ano) (Mello,
1998). Ela possui atualmente a capacidade de
absorver 50 T de frutos diariamente para a elaboração
de 30 t de açaí. A maior parte dos frutos provém por
via terrestre do município de Cametá. Ela destina
principalmente seu açaí para o mercado de São Paulo
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 139
(distribuidores) e parece se preocupar seriamente
com a qualidade de seu produto (Roges, 2000).
Fabricação do açaí
A bebida açaí é obtida a partir da polpa da
fruta e de água. Divide-se em três tipos,
caracterizados pelo seu nível de diluição. Trata-se do
açaí fino (o mais diluído e, portanto, o mais barato no
mercado), o açaí médio e o açaí grosso. Esses tipos
são caracterizados oficialmente por normas de
qualidade, segundo o seu teor em matéria seca, isto é,
segundo a quantidade de matéria sobrando depois da
evaporação total da água.
A fabricação do açaí comporta duas etapas
principais: o amolecimento e o despolpamento. A
forma de realizar essas etapas influencia muito na
qualidade e no rendimento do açaí.
O amolecimento dos frutos consiste em deixá-
los na água morna. Os tempos e temperaturas ideais
de amolecimento são função da proveniência dos
frutos (isto é, o fabricante tem que conhecer a região
de proveniência dos frutos de açaí), da sua
maturidade e do período do ano. O tempo de
amolecimento oscila em média entre 10 e 60 minutos.
Não é bom ter tempos longos de amolecimento pois
uma parte dos pigmentos dos frutos passam para a
água e já pode ocorrer um aumento da contaminação
dos frutos.
O despolpamento ou batida dos frutos de açaí
é feito em máquinas elétricas “tradicionais”, a tambor
vertical (Figura 10.11).
O açaí é obtido por atrito dos frutos (daí o
nome “batida”). A adição progressiva da água
provoca a formação de uma emulsão que passa
através de uma peneira com furos de 0,6 mm, na
parte inferior do tambor.
A água é adicionada em várias frações, e a
maneira de adicionar essas frações influencia também
a qualidade e o rendimento do açaí obtido.
Figura 10.11 – Despolpadeira de açaí.
Fluxograma 10.1. Fluxograma para a obtenção da
polpa congelada de açaí.
O tempo de batida varia entre 3 e 10 minutos.
Um tempo elevado (maior do que 5 minutos) provoca
um aumento do rendimento, porém uma diminuição
da qualidade do açaí: componentes do caroço passam
para o açaí, e a maior incorporação de ar no açaí
acelera a sua degradação. Freqüentemente, um tempo
de batida de 4,5 a 5,5 min provoca uma separação
eficiente entre a polpa e o caroço, sem prejudicar a
qualidade do açaí. Porém o tempo ideal de batida e a
maneira de adicionar a água têm que ser adaptados
para cada máquina.
A polpa é comercializada em embalagem de sacos
de plásticos, podendo ser consumida imediatamente após
o processamento ou após congelamento.
Extração e beneficiamento do palmito
Em plantios comerciais de açaizeiros, a extração
do palmito pode ter início cinco ou seis anos após o
plantio, devendo-se cortar as plantas que apresentem
diâmetro do tronco igual ou superior a 7 cm.
Em açaizais com essa idade, obtêm-se perto de
duas mil plantas aptas para corte por hectare/ano. Essas
plantas apresentam um palmito com peso médio da
parte aproveitável de 300g, comprimento de 50cm e
diâmetro de 2,5cm, constituindo-se em produto de
qualidade superior. Cada palmito com tais
características proporciona rendimento de 500g de
produto industrializado.
O processo de beneficiamento do palmito é
simples e quase todo manual, requerendo poucos
equipamentos complexos. No caso de industrias de
maior porte, são necessários caldeiras e recravadoras de
latas. A maioria das fases do processo, entretanto, é feita
manualmente e depende de grande quantidade de mão-
Recepção dos frutos
Lavagem
Imersão em água
Tratamento dos frutos
Despolpamento
Sementes Polpa
Pasteurização
Embalagem
Congelamento
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 140
de-obra. No fluxograma 2, são apresentadas todas as
fases do processamento industrial do palmito.
Fluxograma 2 – Etapas do processamento industrial
do palmito.
10.16 Coeficiente técnico
Devido à presença da enzima peroxidase após
o descascamento, o palmito do açaizeiro deve
permanecer imerso em solução contendo sal e ácido
cítrico, a fim de evitar a oxidação.
Quadro 10.3 – Coeficiente de produção para
implantação e manutenção de 1 ha de açaizeiro.
Discriminação Unidade 1º Ano 2º Ano
Fruto Palmito Fruto Palmito
Preparo da área
Roçagem d/h* 6 6 - -
Plantio
Marcação d/h 1 2 - -
Abertura de covas d/h 6 25 - - Adubação / plantio d/h 1 3 - -
Plantio d/h 1 3 - -
Tratos culturais d/h Roçagem d/h 8 8 8 8
Coroamento d/h 4 8 4 8
Desbaste d/h - - 1 2 Cobertura morta d/h 3 3 3 3
Adubação d/h 1 2 2 4
Insumos Piquetes un. 400 2.500 - -
Adubos kg 120 360 120 360
Calcário kg 100 250 - - Esterco m3 2 5 2 5
Mudas un. 420 2.600 - -
Fonte: Embrapa (1995). * d/h = dia homem.
10.17 Referências
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Recepção da matéria prima
Estocagem
Primeira descasca
Transporte
Segunda descasca
Corte
Tanque de salmoura
Enchimento com
salmoura
Seleção e enlatamento
Pré-aquecimento
Completamento com salmoura
Recravação
Cozimento
Resfriamento
Embalagem
Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 141
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Cultivo do açaizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 142
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Jaboticabal - SP, v. 26, n. 2, p. 382-384,
Agosto 2004.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 143
11 CULTURA DO CUPUAÇUZEIRO
11.1 Aspectos Sócio-Econômicos
O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum
Willdenow ex Sprengel) Schumann), é nativo da
Amazônia, e atualmente faz parte como um dos
principais coadjuvantes em estratégias para o
desenvolvimento agroflorestal da região amazônica.
O fruto fornece dois importantes componentes
comerciais, a polpa, que é utilizada na fabricação de
sucos, sorvetes, cremes, doce, néctar, geléias e outras
iguarias, e as sementes, que são utilizadas para
extração do chocolate branco, denominado de
“cupulate”, muito semelhante ao chocolate do cacao
(Theobroma cacao). Não se tem disponível dados
precisos do agronegócio do cupuaçuzeiro no Brasil,
principalmente por ser um mercado muito formal,
mas sabe-se que a demanda aumenta a cada ano,
principalmente pela introdução e ótima aceitação da
polpa nas demais regiões brasileira e uma pequena
parcela no mercado externo. Além disso, a
comercialização da semente vem para aumentar a
renda do produtor e fortificar o agronegócio do
cupuaçu.
A fruticultura na Amazônia têm se destacado
como uma das mais importantes atividades agrícolas
da região, com destaque para a banana e para as
frutas nativos, como o açaí e o cupuaçu,
principalmente. O grande potencial da cultura do
cupuaçuzeiro estar na característica peculiar da polpa
do seu fruto, com flavor característico, que o difere
dos demais frutos tropicais, inclusive do cacao, seu
parente próximo.
A área de cultivo do cupuaçuzeiro vem sendo
ampliada quer seja em plantios solteiros ou em
consórcio, como componente indispensável dos
Sistemas Agroflorestais –SAF’s, técnica de cultivo
ou manejo agrícola recomendada para a região.
A produção de cupuaçu é concentrada na
região Norte, sendo o principal estado produtor o
Pará, seguido do Amazonas, Rondônia e Acre
(Siqueira et al., 1998).
A evolução da área plantada na Amazônia foi
aquecida nos meados da década de 90, crescimento
representado aqui pela evolução da área plantada no
estado do Amazonas, que em 1991 possuía apenas
331 ha de plantio comercial, alcançou 1.000 ha em
1995 e atingiu uma área plantada de 5.438 ha em
1997 (Souza et al., 1998b).
Dependendo do sistema de comercialização
empregado, a polpa de cupuaçu vendida ao
consumidor (sorveterias, lanchonetes, hotéis ou
consumidor doméstico) pode variar de R$ 1,75 a 3,50
o kilograma na safra (janeiro a maio) e na entre-safra
o preço pode chegar a R$ 7,00 (Souza et al., 1998b).
Porém, a área de cultivo é composta por
pequenos plantios comerciais, com baixos índices
tecnológicos, implantados de maneira desordenada,
com material de baixo valor genético, na sua grande
maioria sem uso de práticas culturais como a poda de
limpeza e fitossanitária, adubação, controle de
invasoras, controle de pragas e doenças, o
espaçamento é inadequado e a falta de conservação
pós-colheita são pontos que comprometem a
produtividade e a longevidade das planta (Silva,
1996; Souza et al., 1998b).
O aumento da área plantada aponta para uma
urgente necessidade de estudos e ações que visem a
identificação e abertura de novos mercados no Brasil
e no exterior, de forma a evitar uma frustração dos
novos produtores, ocasionanda por um desequilíbrio
entre a oferta e demanda do produto, o que
fatalmente, alteraria a atual estrutura de preço/custo
da atividade (Souza et al., 1998b).
A falta de uma variedade melhorada é um dos
principais fatores que limitam a expansão da cultura
do cupuaçu na Amazônia. O uso de sementes de
materiais genéticos não selecionados e de diversas
origens resulta em plantios com grande
desuniformidade (Souza et al., 1998a). Essa
desuniformidade, principalmente nos caracteres dos
frutos, como tamanho desuniforme, diferentes
rendimentos em polpa e qualidade da polpa é um dos
grandes problemas identificado junto a agroindústria
e segmentos de comercialização (Souza et al.,
1998b).
Outro grande problema da cultura do
cupuaçuzeiro na região são os danos causados por
doenças e praga, especificamente pela vassoura-de-
bruxa (Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer) e pela
broca-do-fruto (Conotrachelus sp (Coleoptera:
Curculionidae) (Lima e Souza, 1998; Souza et al.,
1999).
A cultura é altamente suscetível a esta doença,
constituindo-se a alta incidência em ponto de
estrangulamento para implantação de cultivos
racionais. Sua incidência reduz drasticamente a
produção de frutos, podendo ser total com o passar
dos anos (Gasparotto et al., 1999). Para a vassoura-
de-bruxa, já vem sendo desenvolvido estudos com
objetivo de identificar genótipos de cupuaçuzeiro
resistente ao fungo, com resultados promissores
(Souza et al., 1998a).
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 144
11.2. Origem, Dispersão, Botânica e Ecologia
Classificação Botânica
Nome comum: Cupuaçu, Cupuaçu-verdadeiro, cupu
(Brasil); Copoasu (Colômbia)
Ordem: Malvales
Família: Sterculiaceae
Gênero: Theobroma
Espécie: Theobroma grandiflorum (Willd. Ex
Spreng.) Schum.
Origem e distribuição
E encontrada, espontaneamente, nas matas de
terra firme e várzea alta, na parte sul e leste do Pará,
abrangendo as áreas do médio Tapajós, Rios Xingu e
Guamá, alcançando o nordeste do Maranhão,
principalmente nos Rios Turiaçu e Pindaré. Está
distribuída por toda a Bacia Amazônica, parte do
Maranhão e, ocasionalmente, em outros países, como
a Colômbia, a Venezuela, o Equador e a Costa Rica.
Descrição botânica
Árvore com altura média de 6m a 10m,
podendo ocorrer até 20 m, e diâmetro de copa em
torno de 4m a 7m. Tronco geralmente reto com
ramificações tricotômicas, casca marrom-escura,
fissurada.
O cupuaçuzeiro apresenta ramos ortotrópicos,
que crescem verticalmente, e ramos plagiotrópicos,
que crescem lateralmente. O crescimento em altura
do tronco não é contínuo. A muda cresce
verticalmente de 60 cm a 1,0 m, quando o
crescimento é interrompido, surgindo três ramos
plagiotrópicos, constituindo-se em um conjunto
denominado tricotomia. O ramo ortotrópico cresce e
novas tricotomias são formadas, ocorrendo o
crescimento da planta em altura.
As folhas são inteiras, simples, coriáceas, com
15 cm a 50 cm de comprimento por 5 cm a 15 cm de
largura, ápice acuminado, base arredondada, margem
inteira ou sinuosa em direção ao ápice, geralmente
coberta de pêlos, que se soltam facilmente com o
manuseio. A coloração é verde, pouco brilhosa na
face superior e verde-glauco ou róseo-pálida na face
inferior; quando jovem, a coloração é rósea.
As flores são as maiores do gênero, ocorrem
nos ramos, pedúnculos de 1 cm a 3 cm, de coloração
vermelho-escura, cálice com 5 sépalas espessas,
triangulares, livres ou parcialmente unidas, corola, 5
pétalas, cada uma com sua base em forma de cógula e
a parte superior laminar, subtrapezoidal ou
suborbicular, cor roxo-escura, ligada à cógula por
uma porção estreitada em forma de calha; 5
estaminóidios, triangular-lingüiformes, vermelho-
escuros, 5 estames, localizados no interior da cógula
com três anteras biloculares; ovário pentagonal,
obovado, com 5 lóculos multiovulados.
O fruto é uma baga com extremidades obtusas
ou arredondadas, com diâmetro de 9 cm a 15 cm,
comprimento de 10 cm a 40 cm, peso variando de
300g a 4.000g, com média de 1.500g. A maturação é
facilmente reconhecível em razão do cheiro
agradável que exala, quando o fruto abscide. O
epicarpo é de cor castanho-escura, duro, porém
facilmente quebrável e recoberto de pêlos ferrugíneos
e o mesocarpo é branco-amarelado e esponjoso. A
polpa é abundante, ácida, com odor ativo, coloração
amarela, creme ou branca e sabor muito agradável.
As sementes, em número de 15 a 50, apresentam-se
superpostas em torno da placenta e longitudinalmente
dispostas em relação ao comprimento do fruto, são
ovóides ou ovóide-elipsóides, de 2,0 cm a 3,0 cm de
comprimento, 2,0 cm a 2,5 cm de largura, 1,0 cm a
1,8 cm de espessura, com peso de 4 g a 7 g. Cerca de
24% a 50% do peso do fruto é da polpa, 10% a 29%
de casca e 2% a 4% de placenta. Nos frutos sem
sementes o percentual de polpa é de 60% a 68%.
11.3 Ecofisiologia
O cupuaçuzeiro se desenvolve em
temperaturas relativamente elevadas, com média
anual de 21,6 0C a 27,5
0C, umidade relativa média
anual de 77% a 88% e precipitações médias anuais na
faixa de 1.900mm a 3.100mm (Diniz, 1984).
Períodos secos prolongados são prejudiciais às
plantas, causando queda de flores e frutos novos. E
comum o aparecimento de frutos com rachaduras
quando ocorrem chuvas após um período de estiagem
prolongado. Tais condições provocam rápido
crescimento dos frutos, resultando em rachaduras
nestes. O florescimento é influenciado e pela idade da
planta, material genético, competição por
fotoassimilados, sombreamento, temperatura e
distribuição da precipitação. Normalmente, a planta
começa a florescer com dois a três anos após o
plantio, sendo que plantas sombreadas florescem
mais tarde. A floração ocorre na época mais seca do
ano, que em Manaus corresponde a julho a setembro.
A safra ocorre no período chuvoso (outubro a junho)
com pico em março. O tempo transcorrido desde a
polinização até à colheita, varia de 4,5 meses a 6
meses. A distribuição das chuvas durante o ano é
mais importante que o total anual, constituindo-se
importante fator de controle dos lançamentos foliares,
do florescimento e distribuição da safra.
O cupuaçuzeiro é uma planta sensível a ventos
fortes, principalmente na época da safra, quando os
ramos ficam mais pesados por causa dos frutos,
podendo ocorrer danos físicos, como quebra de
ramos e rachaduras do caule sendo mais sujeitas as
plantas com formação de copa contendo uma única
tricotomia. Isto pode também estar associado a
problemas nutricionais envolvendo o cálcio.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 145
11.4 Melhoramento Genético
Variabilidade genética em Theobroma
grandiflorum
O cupuaçuzeiro apresenta variabilidade
genética em diversos caracteres, como: resistência ou
susceptibilidade à doenças, caracteres de produção,
características do fruto, do sistema reprodutivo,
dentre outras.
Produção e características dos frutos
Análise conjunta do segundo ao sétimos ano
de cultivo, de progênies meio irmãos de cupuaçuzeiro
realizadas por Souza et al. (1998a), apresenta
diferença, com maior média de frutos/planta (24,5)
para a progênie MA-P-8401 (Figura 11.1). Médias
bastante representativas, pois avaliação individual de
apenas um ano podem apresentar erros grotescos,
uma vez que o cupuaçuzeiro apresenta alternância de
produção (Souza, 1994).
0
5
10
15
20
25
MA-P
-840
1
MA-P
-840
2
MA-P
-840
3
MA-P
-840
4
MA-P
-840
5
MA-P
-840
6
MA-P
-840
7
Progênies
Fru
to/p
lanta
a
c
d
b
c
d
e
Figura 11.1 – Número de frutos por planta de
genótipos de cupuaçuzeiro.
O peso médio de frutos varia de
aproximadamente 887 g (MA-P-8405) a 1137 g
(MA-P-8406). A estimativa de rendimento de frutos
em quilograma por hectare, das progênies MA-P-
8401 e MA-P-8404, foi 4923 e 4242 kg de fruto/ha,
respectivamente.
A progênie MA-P-8401, pelo conjunto das
características avaliadas, foi a mais produtiva,
considerando a média das safras de 1989 a 1995, com
maior média para o número de frutos por planta e
rendimento em polpa. No entanto, há necessidade de
se fazer acompanhamento por mais safras e em
outros locais, principalmente para avaliar a
estabilidade da produção em relação a outras
condições edafoclimáticas (Souza et al., 1998a).
Destas progênies, a MA-P-8403 apresenta
maior resistência à vassoura-de-bruxa, enquanto a
MA-P-8404, é a mais susceptível (Souza, 1994).
Sousa e Sousa (1997) avaliando genótipos
quanto a quantidade de polpa, os que superaram a
produtividade de 2 ton. de polpa/ha foram BG-C-
8506, BG-C-8504 e IR-C-8504. No intervalo de 1 a 2
ton de polpa/ha, estão os clones MA-C8503, BG-C-
8502, BG-C-8508, IRC-8503, BG-C-8501, BG-C-
8503, BG-C-8505, BG-C-8505, BG-C-8507, Bc3-C-
8509, IR-C-8505, PF-C-8502, OD-C-8503 a MA-C-
8504. Com produção inferior de 1 ton. de polpa/ha,
foram identificados os clones MA-C-8502, OD-C-
8501, ODC-8502. A menor produção foi do clone
PF-C-8501 com 387,6 Kg de polpa/ha. Os dados de
produção de polpa são conservados na coleção de
recursos genéticos de cupuaçu (Sousa e Sousa, 1997).
Analizando a Tabela 11.1, com a Figura 11.1,
é possível verificar, que o cupuaçu tem alternância de
produção, pois nas safras de 1991 e 1992, quatro
genótipos apresentam a mesma produção de frutos
por planta (MA-P-8401, MA-P-8402, MA-P-8403 e
MA-P-8404), enquanto que a média de produção
entre 1988/89 a 1994/95, o genótipo MA-P-8401
apresenta superioridade na produção.
Tabela 11.1 – Características de produção de plantas meios-irmãos de cupuaçuzeiro, avaliados em Manaus-AM,
durante 1991 e 1992. (Adaptado de Souza, 1994).
Progênie Nº
Fruto/
Planta
Peso
Fruto (g)
Frutos
por planta
(kg)
Polpa/
fruto (g)
Peso
amêndua
(g)
Peso
casca/
fruto (g)
Placenta
por fruto
(g)
Polpa/
planta
(kg)
Amêndua/
planta (kg)
MA-P-8401 27,9ab* 993,7ab 27,4ab 346,9b 165,5a 456,8 24,5 b 9,42 ab 4,62a
MA-P-8402 30,0a 1058,9ab 32,2a 407,0ab 142,6ab 479,0 30,4ab 12,22 a 5,24ab
MA-P-8403 22,1abc 981,7ab 21,5ab 346,4b 141,18ab 467,8 26,3 b 7,60 ab 3,11abc
MA-P-8404 27,8ab 1006,5ab 28,0a 348,5b 158,2ab 462,2 37,6 a 9,44 ab 4,54a
MA-P-8405 11,9c 945,4b 11,5b 362,9b 151,5ab 406,6 24,3 b 4,44 b 1,88c
MA-P-8406 16,1abc 1218,0a 18,4ab 481,2a 167,4a 541,5 27,9ab 6,94 ab 2,63abc
MA-P-8407 15,0bc 1060,3ab 16,7ab 354,9b 131,5b 546,5 27,4 b 5,51 b 2,0bc
* Medias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Quanto a qualidade da polpa desses mesmos
genótipos (Tabela 11.2), verifica-se que apesar da
progênie MA-P-8401 conter um dos maiores teores
de SST, possui também, uma das maiores acidez,
contribuindo para uma baixa relação SST/ATT.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 146
Tabela 11.2 – Características química e físico-
químicas de plantas meios-irmãos de cupuaçuzeiro,
avaliados em Manaus-AM, durante 1991 e 1992.
(Adaptado de Souza, 1994).
Progênie SST
(%)
pH ATT
(%)
Ratio
SST/ATT
MA-P-8401 14,36 a* 2,98 b 2,8 a 5,28 bc
MA-P-8402 13,33 ab 3,23 a 1,96 b 7,14 a
MA-P-8403 12,67 b 3,24 a 2,05 b 6,40 ab
MA-P-8404 13,57 ab 2,98 b 2,65 a 5,40 bc
MA-P-8405 13,65 ab 3,01 b 2,35 ab 6,09 abc
MA-P-8406 12,99 b 3,01 b 2,65 a 5,03 bc
MA-P-8407 12,58 b 2,91 b 2,68 a 4,87 c
* Medias seguidas de mesma letra não diferem
significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
Características de matrizes de cupuaçuzeiros
coletados no Acre estão dispostas na Tabela 11.3. A
matriz 12, coletada em Mâncio Lima, possui frutos
de maior comprimento e peso. A matriz 11, com
frutos também grandes, possui maior número de
semente, podendo ser escolhidas para plantios
destinados principalmente para exploração da
semente. A matriz 07, tem maior rendimento de
polpa 46,22%, porém, deve-se levar em consideração
que esta produz frutos pequenos, pesando apenas
1190 g, enquanto os frutos das matrizes 11 e 12
pesam 1695 e 1965 g. Portanto, neste caso deve-se
conhecer a produção de fruto por planta para estimar
a produção de polpa e de semente por área
(produtividade) na tomada de decisão pelo material
de formação do pomar.
Tabela 11.3 – Altura da planta (AP), circunferência do caule (CCA) e diâmetro da copa (DCO) e médias,
amplitude e coeficiente de variação dos caracteres: comprimento do fruto (CF), espessura da casca (EC), peso do
fruto (PF), número de sementes por fruto (NS), percentagem de casca (%C) e percentagem de polpa (%P) de 12
matrizes de cupuaçuzeiro selecionadas no Acre. Rio Branco, 1992. Matriz Município AP
(m)
CCA
(cm)
DCO
(m)
CF
(cm)
EC
(cm)
PF
(g)
NS %C %P
01 Rio Branco 2,9 32,0 4,0 23,00 0,98 1427 34 43,43 39,75 02 Mâncio Lima 8,0 40,0 3,0 25,00 0,60 1030 29 39,80 42,00
03 Mâncio Lima 10,0 65,0 6,0 24,75 1,00 1167 39 49,68 34,47
04 Rio Branco 5,0 41,0 2,7 27,75 0,96 1810 38 39,78 33,15 05 Rio Branco 2,8 34,0 2,8 22,00 0,40 1370 35 39,42 43,80
06 Rio Branco 4,0 37,0 4,4 22,50 0,60 1001 30 40,46 38,96
07 Rio Branco 2,0 37,0 6,4 23,00 0,55 1190 42 36,34 46,22 08 Rio Branco 2,5 38,0 6,4 23,75 0,95 1550 34 43,55 42,58
09 Rio Branco 2,0 30,0 5,0 22,25 0,95 1287 29 48,15 35,73
10 Rio Branco 2,0 33,0 6,4 24,00 0,80 1160 39 43,96 40,09 11 Cruzeiro do Sul 6,0 66,0 7,0 27,00 1,00 1695 44 50,44 37,76
12 Mâncio Lima 9,0 94,0 6,0 32,00 0,90 1965 37 50,13 36,64
Máximo - - - - 32,00 1,00 1965 44 50,44 46,22
Mínimo - - - - 22,00 0,40 1001 29 36,34 33,15
Média - - - - 24,75 0,81 1388 36 43,76 39,26
C.V.(%) - - - - 5,28 7,16 11,53 11 4,50 4,99
Fonte: Costa e Ledo (1997).
Em outra avaliação de genótipos meio-irmão
de cupuaçuzeiro no Acre, dos 31 genótipos avaliados,
os 2, 12, 30 e 31 produzem frutos acima de 1600 g,
sendo que deste, o genótipo 12 tem maior rendimento
de popa (56%), devendo-se também conhecer o
número de fruto por planta, para se tomar decisão
adequada no momento da formação do pomar.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 147
Tabela 11.4 – Caracterização fenológica de plantas de cupuaçuzeiro selecionados e de seus frutos, para produção de
genótipos meios-irmãos promissores, nas condições do Estado do Acre. Rio Branco-AC, 1999.
Planta Diâmetro (m) Altura Peso (g) Porcentagem (%) sementes/
Tronco Copa (m) Frutos Polpa* Sementes Casca Fibra Polpa Semente Casca Fibra fruto
1 0,14 6,55 6,30 828,75 330,1 141,6 337,4 19,66 39,83 17,08 40,72 2,37 30
2 0,13 5,80 5,20 1633,73 758,6 199,9 649,2 25,96 46,43 12,24 39,74 1,59 28
3 0,14 6,30 6,00 794,73 337,1 140,8 298,3 18,59 42,42 17,71 37,53 2,34 31
4 0,12 5,60 4,70 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
5 0,14 5,60 4,90 824,25 393,2 126,6 288,7 15,78 47,70 15,36 35,02 1,91 26
6 0,14 5,05 6,50 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
7 0,16 5,65 6,40 1254,22 547,9 193,1 495,2 18,08 43,68 15,39 39,48 1,44 31
8 0,15 5,65 5,50 1006,83 403,7 171,8 397,0 34,37 40,09 17,06 39,43 3,41 28
9 0,13 5,95 6,40 1147,04 453,4 218,9 449,5 25,27 39,52 19,09 39,19 2,20 43
10 0,12 5,45 5,50 931,30 391,5 185,8 333,9 20,10 42,04 19,95 35,85 2,16 26
11 0,11 4,30 5,60 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
12 0,10 4,85 4,50 1964,70 1071,9 240,9 619,9 31,86 54,56 12,27 31,55 1,62 32
13 0,13 5,70 6,60 1366,05 618,6 249,0 472,3 26,08 45,29 18,23 34,58 1,91 40
14 0,10 5,05 5,00 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
15 0,11 5,20 4,45 1292,51 585,4 220,9 461,5 24,61 45,29 17,10 35,71 1,90 39
16 0,11 4,70 5,50 1566,83 726,3 236,4 558,0 46,17 46,35 15,09 35,61 2,95 34
17 0,14 6,05 5,70 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
18 0,15 8,10 7,80 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
19 0,15 6,40 5,05 1541,30 722,6 247,8 531,5 39,39 46,88 16,08 34,48 2,56 42
20 0,13 5,80 6,10 1072,60 487,3 193,0 376,1 16,15 45,43 18,00 35,07 1,51 39
21 0,12 7,93 4,70 899,00 290,0 151,3 433,9 23,70 32,26 16,83 48,27 2,64 30
22 0,16 8,15 7,40 1198,70 456,5 193,9 508,9 39,32 38,08 16,18 42,46 3,28 39
23 0,14 7,85 6,40 780,40 282,9 162,2 322,5 12,86 36,25 20,78 41,32 1,65 40
24 0,16 6,35 8,00 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
25 0,19 6,35 8,50 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
26 0,14 5,75 5,70 -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
27 0,16 5,80 6,00 1629,93 685,5 217,6 706,7 20,08 43,36 13,35 43,36 1,23 40
28 0,08 3,05 3,60 1145,50 424,4 282,4 416,0 22,68 37,05 24,65 36,32 1,98 45
29 0,07 2,95 2,90 1028,85 481,9 99,6 432,8 14,50 46,85 9,68 42,07 1,41 26
30 0,46 10,75 11,60 1696,40 764,1 224,0 686,4 21,95 45,04 13,20 40,46 1,29 37
31 0,57 11,52 14,60 2664,90 987,7 391,5 1251,3 34,39 37,06 14,69 46,95 1,29 48
Média 0,15 6,14 p 6,23
Fonte: Gondim et al. (1999).
Resistência a vassoura-de-bruxa
O cupuaçuzeiro apresenta variabilidade
fenotípica expressiva para suscetibilidade a
‘Vassoura-de-bruxa”. Nos acessos da Pré-Amazônia
2 (amazônia maranhense) possivelmente existam
indivíduos com resistência ao fungo Crinipellis
perniciosa e deverão ser objeto de estudos mais
detalhados (Iriarte Martel e Clement, 1997).
Alves et al. (1998), verificaram, após
inoculação do fungo causador da vassoura-de-bruxa,
durante dois anos de avaliação (1994 e 1995), que o
caráter número médio de vassouras por planta,
computando-se simultaneamente os dois anos de
avaliações, revelou existir diferença estatística
significativa entre clones para esse caráter. Os clones
620, 514, 218, 518, 516 e 554 apresentaram níveis de
ataque relativamente baixos, que variaram de 1,1 a
0,1 vassouras em média por planta, quando
comparados com os clones 12, 184 e 347, com
valores superiores a 50 vassouras por planta. Dos 36
clones avaliados, apenas oito ficaram livres da
doença na avaliação final, são eles: 174, 186, 215,
220, 286, 618, 622 e 624 (Tabela 11.5).
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 148
Tabela 11.5. Localização, estado fitossanitário das matrizes que deram origem aos clones de cupuaçuzeiro avaliados
quanto a resistência à vassoura-de-bruxa durante o período de 1994 a 1995 (Alves et al., 1998).
Clone Estado Município Localização Estado
fitossanitário
Stand Numero de vassouras por
planta (Média/planta/ano)2
12 AM Tabatinga Rio Solimões A1 5 59,7 a
184 AM Codajás Rio Solimões S 5 55,1 ab
247 AM Itacoatiara Rio Amazônas A 4 51,4 abc
136 AM Tefé Rio Tefé S 4 39,8 abcd
1074 AM Itacoatiara Rio Amazonas S 3 39,3 abcd
183 AM Codajás Rio Solimões S 5 38,5 abcde
227 AM Cacaupireira Rio Solimões A 4 35,2 abcdef
151 AM Tefé Rio Tefé S 4 31,1 abcdef
219 AM Anamã Rio Solimões S 4 28,9 abcdefg
228 AM Manaus Rio Negro A 3 28,5 abcdefghi
216 AM Manacapuru Rio Solimões S 4 26,8 abcdefghi
248 AM Itacoatiara Rio Amazonas S 5 25,5 abcdefghi
185 AM Codajás Rio Solimões P 4 17,9 abcdefghi
182 AM Codajás Rio Solimões S 2 11,2 bcdefghi
623 PA Alenquer Rio Amazônas A 3 8,8 cdefghi
181 AM Anori Rio Solimões A 3 8,2 cdefghi
512 AP Oiapoque Rio Urucauá A 4 6,6 defghi
513 AP Oiapoque Rio Urucauá A 4 6,5 defghi
229 AM Manaus Rio Negro A 4 4,8 defghi
435 PA Muaná Rio Muaná A 3 4,2 efghi
434 PA Muaná Rio Muaná A 4 3,4 fghi
217 AM Manacapuru Rio Solimões S 2 2,8 fghi
620 PA Santarém Rio Tapajós A 5 1,1 ghi
514 AP Oiapoque Rio Curipi A 3 1,0 ghi
218 AM Caapiranga Rio Solimões A 2 0,5 ghi
518 AP Oiapoque Rio Curipi A 2 0,2 hi
516 AP Oiapoque Rio Curipi A 4 0,1 i
554 PA Gurupá Rio Amazonas A 5 0,1 i
174 AM Coari Rio Solimões S 5 0,0
186 AM Codajás Rio Solimões A 5 0,0
215 AM Manacapuru Rio Solimões S 5 0,0
220 AM Manacapuru Rio Solimões S 5 0,0
286 AM Belém Rio Amazonas A 5 0,0
618 PA Santarém Rio Tapajós A 5 0,0
622 PA Prainha Rio Amazonas A 5 0,0
624 PA Santarém Rio Tapajós S 5 0,0
Disponibilidade de germoplasma
Conforme a classificação de Cuatrecasas
(1964) o gênero Theobroma apresenta 22 espécies
todas originadas na América Tropical. A espécie T.
cacao é a mais cultivada e T. grandiflorum a que
apresenta fruto de maior tamanho. O autor dividiu o
gênero em seis seções: Andropetalum,
Glossopetalum, Oreanthes, Ritidocarpos,
Telmatocarpus e Theobroma. Todas são encontradas
na Amazônia, exceto a seção Andropetalum, a qual é
formada pela espécie T. mammosum encontrada na
Costa Rica.
A espécie T. grandiflorum apresenta 2n = 20
cromossomos (Carletto, 1946), sendo que Clement e
colaboradores, identificaram uma variedade triplóide,
por contagem de 30 cromossomos em célula somática
(Hans Muller, 1995 citado por Silva, 1996).
O cupuaçuzeiro é encontrado espontaneamente
nas matas de terra firme e várzea alta, na parte Sul e
Leste do Pará abrangendo as áreas do Médio Tapajós,
rios Xingu e Guamá, alcançando o Nordeste do
Maranhão, principalmente nos rios Turiaçu e Pindaré
(Silva, 1996).
Também foi encontrado, provavelmente em
estado nativo, no alto Itacaíunas (município de
Marabá-PA) nas áreas de mata baixa, como planta
emergente, ultrapassando os 20 metros de altura, e
também na mata virgem, rala e baixa, entre os
municípios paraenses de Altamira e Itaituba
(Cavalcante, 1976).
Ë encontrado ao longo dos tributários dos
grandes rios, acompanhando os passos da penetração
dos colonizadores, razão pela qual é observado em
regiões distantes de sua área de dispersão natural, tais
como Bahia, Rondônia, Acre, Iquitos (Peru), San
Carlos (Venezuela) e Cali (Colômbia). Encontram-se
residências nas capitais ou interior que possuem
exemplares visando a utilização familiar (Silva,
1996).
Devido a devastação da floresta nativa em seu
centro de diversidade (sub-região no Sul do Pará),
perdendo de uma só vez, 2300 km2 de floresta com a
inundação da represa de Tucuruí na bacia do rio
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 149
Tocantins, onde a espécie ainda é abundante em seu
estado selvagem (Giacometti, 1994).
Na Amazônia brasileira, há vários bancos de
germoplasma de cupuaçu. O Banco de Germoplasma
(BAG) de Cupuaçú do INPA (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia), localizado em Manaus, foi
iniciado em 1984 com material coletado antes do
enchimento do lago da Usina Hidrelétrica de Tucuruí,
PA. Foi ampliado por coleta feita ao longo da BR-
316, nos estados de Maranhão e Pará (Pré-Am1 e
Pré-Am2), em 1995. Ao todo são 79 acessos (911
plantas), sendo 22 acessos de Tucuruí e 57 acessos da
Pré-Amazônia maranhense plantados em sub-bosque
de capoeira com espaçamento de 7 x 7m (Iriarte
Martel e Clement, 1997).
O CEPLAC, possui um banco de gene de
cacau em Belém, desde 1976, com seus 1749 acessos
de T. cacao, coletados na Amazônia, compreendendo
sete espécies de Theobroma, incluindo três genótipos
de T. grandiflorum (Giacometti, 1994).
Além desses bancos, existem aqueles dos
centros da EMBRAPA em Manaus (CPAA) 247
acessos, dos quais 247 são clones e 119 famílias; A
EMBRAPA de Belém (CPATU) possui 95 acessos.
No Acre (CPAF/AC) são 43 acesos, em Rondônia
(CPAF/RO) são 36 acessos e no Amapá, a
EMBRAPA (CPAF/AM) possui 50 acessos (Souza e
Silva, 1998;Souza e Silva, 2000).
A coleção da EMBRAPA/CPAA têm procedência
das regiões do Alto Solimões e Baixo e Médio
Amazonas no Estado do Amazonas e, da região de
Bragantina, no Estado do Pará.
O Centro de Pesquisas Agroflorestais do Acre
(CPAF/AC-EMBRAPA), localizado em Rio Branco-
Acre, no ano de 1992, selecionou 12 genótipos meio-
irmãos de cupuaçuzeiro em plantios comerciais e em
áreas de ocorrência espontânea, no estado do Acre.
Em 1996, iniciou-se um trabalho de seleção em uma
área de sistemas agroflorest ais do Projeto RECA
(Reflorestamento Econômico Adensado
Consorciado), localizado em Rondônia, do qual foi
selecionado 31 genótipos (Costa e Ledo, 1997;
Gondim et al., 1999).
Sistema reprodutivo e variabilidade genética
Um estudo bastante significativo sobre sistema
reprodutivo foi desenvolvido por Silva (1996),
utilizando clones (Tabatinga, Tefé, Muaná 1, Coari,
Anamã e Muaná 2) provenientes do Banco Ativo de
Germoplasma do CPATU, nas condições de Belém-
PA.
Polinização aberta
Na flor do cupuaçuzeiro observa-se o
fenômeno de hercogamia, ou seja, ocorrem barreiras
morfológicas formadas pelas cúculas e coroa de
estaminódios, que impedem a autopolinização. A
espécie apresenta, também, sistema de auto-
incompatibilidade, o método mais eficiente de
impedir a autofertilização, indicando que se trata de
uma espécie alógama e excencialmente de
polinização cruzada.
Agamospermia
Os resultados na Tabela 11.6 indicam que o
cupuaçuzeiro requer polinização para que ocorra a
formação de frutos. Mostram, também, que as 100
flores protegidas ao longo do período da floração do
ano de 1995 não iniciaram frutos, indicando que a
espécie não muda o seu comportamento reprodutivo
para tornar-se agamospérmica no decorrer do
florescimento.
Tabela 11.6 – Determinação direta do sistema reprodutivo em função do sistema de polinização em cupuaçuzeiro
em Belém-PA, nos anos de 1994 e 1995.
Sistema de
polinização
Número de flores Número de frutos
iniciados
Percentual
Flor/fruto iniciado
Número de
frutos
maduros
Percentual de
frutos maduros
1994 PAB 73286 912 1,04 157 16,67 AGA 75 0 0 - -
APE 75 0 0 - - APF 75 0 0 - -
PCR 300 214 71,33 17 7,94
1995 PAB 5093 223 4,38 79 35,43 AGA 100 0 0 - -
APE 100 0 0 - - APF 90 0 0 - -
PCR 355 281 79,16 - -
PAB: Polinização aberta; AGA: Agamospermia; APE: Autopolinização espontânea;
APF: Autopolinização forçada (gueitonogamia); PCR: Polinização cruzada.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 150
Autopolinização espontânea
Na Tabela 11.6 observa-se que não há
formação de fruto quando a flor é isolada. O sistema
de hercogamia que a espécie apresenta é muito
funcional e impede a aproximação dos grãos de pólen
da mesma flor, sendo que esta característica não
muda ao longo da floração.
Autopolinização forçada (gueitonogamia)
O sistema de auto-incompatibilidade existente
na espécie mostra-se muito eficiente, pois não há
formação de frutos, com a autopolinição forçada
(Tabela 11.6). Os clones mostraram-se totalmente
auto-incompatíveis.
Os resultados obtidos a partir do experimento
de determinação direta do sistema reprodutivo do
cupuaçuzeiro durante a floração mostra que a mesma
é uma espécie que não é capaz de formar fruto e
semente sem que ocorra a polinização. Portanto o
cupuaçuzeiro não é uma espécie agamospérmica.
Segundo o índice de auto-incompatibilidade
proposto por Zapata & Arroyo (1978) citados por
Silva (1996), a espécie apresenta alto grau de auto-
incompatibilidade e também interincompatibilidade
entre certos genótipos e alta capacidade de
cruzamento, o que permite ser classificada como uma
espécie alógama como forma do sistema reprodutivo.
Para se obter sucesso em polinizações
controladas a maior receptividade do estilete-estigma,
ocorre quatro horas após o início da antese, para
maior possibilidade de sucesso, recomenda - se fazer
a polinização artificial com o botão floral neste
estádio (Antônio et al., 1997). E o estádio da antese
que apresenta maior quantidade de pólen viáveis é o
E (cerca de duas horas depois do inicio da antese,
quando a flor encontra-se completamente aberta). O
pólen permanece com maior viabilidade até 3 horas
após ser retirado da planta (LSD 5 %), até 72 após
pode germinar, mas sua viabilidade é baixa (em torno
de 5 %) Antônio (1997).
Fenologia da floração e frutificação
Na Amazônia, a floração do cupuaçuzeiro
ocorre entre o mês de março a dezembro, variando
com o ambiente e entre ano (Machado e Retto Junior,
1991; Falcão, 1993; Silva, 1996). Além disso, ocorre
dissincronia entre plantas, provavelmente devido a
variabilidade genéticas entre clones (Silva, 1996). Em
estudo realizado nas condições de Manaus, também
observou variação do período de colheita com o ano
agrícola e genótipo. A safra teve duração de setembro
a junho (1987/1987), agosto a julho (89/90),
novembro a junho (1990/91). Mas, de modo geral, a
maturação dos frutos concentrou-se entre janeiro e
maio (Souza, 1994)
0
10
20
30
40
50
60
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Meses
Pro
dução (
%)
Ano 1
Ano 2
Ano 3
Figura 11.2 - Distribuição da produção do
cupuaçuzeiro durante o ano agríocola (Adaptado de
Souza et al., 1999).
De maneira geral, a floração ocorre no período
mais seco do ano e a frutificação durante a época das
chuvas (Venturieri, 1996). Nas condições de Belém,
o período médio de florescimento é de 175 dias
(1994) e 160 dias (1995), podendo ocorrer durante
apenas 120 dias no clone Muaná2 ou até 234 dias no
clone Coari (Silva, 1996). Em Manaus, verifica-se
um período menor de florescimento, entre 59 e 108
dias (Falcão, 1993).
Frutificação
De maneira geral ao observado para a floração,
existe grande heterogeneidade da duração do período
de frutificação do cupuaçuzeiro. A duração mínima é
de 192 dias e máxima de 243. A safra tem uma
duração mais uniforme (dentre 28 a 36 dias) com o
período total da safra estendendo-se desde dezembro
a abril, ou seja 147 dias devido à dissincronia da
duração da floração e frutificação (Falcão, 1993).
O cupuaçuzeiro é uma planta que apresenta
grande investimento em flor e somente uma pequena
parte é transformada em fruto. O percentual de flores
que são fertilizadas e iniciam o desenvolvimento de
fruto varia de 0,89% a 3,38%, também variando com
o ano e com o clone (Falcão, 1993; Silva, 1996).
Além disso, a proporção de flor:fruto maduro é
menor ainda, de 0,19% a 1,08% indicando que entre
538,12 a 92,22 flores emitidas, uma atingiu o estádio
de fruto maduro (Silva, 1996).
A taxa de vingamento dos frutos iniciados que
completaram o desenvolvimento até a maturação é de
25,17%, sendo considerado as doenças, pragas,
nutrição e questões climáticas os principais
causadores do grande percentual de frutos derrubados
ainda imaturos.
A quantidade de pólen não é fator limitante,
pois os frutos originados de polinização artificial são
derrubados da mesma forma que os de polinização
aberta. Por outro lado, todos os frutos maduros
apresentaram número de sementes equivalentes em
todos os lóculos e, só raramente, apresentaram uma a
duas sementes a mais por loja, demonstrando que, no
cupuaçuzeiro, nem toda polinização satisfatória leva
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 151
à formação de um fruto maduro, porém todo fruto
maduro foi originado a partir de uma polinização
satisfatória. Provavelmente, os frutos originados a
partir de polinização inadequada, onde um número
mínimo de óvulos por lóculo não é fertilizado, são
seletivamente abortados.
11.5 Cultivares
Como o cupuaçuzeiro é uma espécie em
processo de domesticação, não se tem um grande
número de cultivares recomendada para plantio,
apesar dos esforços de pesquisadores dos centros de
pesquisas e universidades da Amazônia em coletar e
avaliar parte do germoplasma desta espécie.
Os únicos clones caracterizados e avaliados e
que estão disponíveis no mercado são: Coaria,
Codajás, Manacapuru e Belém. Esses clones,
lançados em 2002 pela Embrapa Amazônia Oriental,
são resistentes à vassoura-de-bruxa, doença causada
pelo fungo Crinipellis perniciosa. Além dessa
característica, os quatro clones são geneticamente
compatíveis entre si, possibilitando que sejam
plantados juntos em um mesmo pomar.
Os clones Coari, Codajás, Manacapuru e
Belém apresentam frutos com peso médio de 1.491 g,
1.297 g, 1.420 g e 742 g, respectivamente. A
produtividade média desses clones se situa entre 13,1
e 16,8 frutos por planta por ano, podendo, em
sistemas de cultivo tecnificados, atingir a média de
20 frutos por planta por ano. Os clones Manacapuru e
Codajás apresentam frutos com rendimento
porcentual de polpa ligeiramente superior a 35%. O
rendimento porcentual de polpa dos clones Coari e
Belém é um pouco menor, girando em torno de 33%.
Um outro clone, que há bastante tempo vem
sendo cultivado em pequena escala, apresenta frutos
desprovidos de sementes, sendo popularmente
denominado de Cupuaçu sem Sementes. Frutos desse
clone apresentam peso entre 2,2 kg e 3,0 kg e
rendimento porcentual de polpa de 67%. O cupuaçu
sem sementes, não obstante o elevado rendimento
porcentual de polpa, tem despertado pouco interesse,
pois é altamente susceptível à doença vassoura-de-
bruxa e apresenta polpa bem menos ácida e com
baixo teor de sólidos solúveis totais. Além disso, a
produtividade de frutos é menor do que a maioria dos
tipos de cupuaçu com sementes, raramente
ultrapassando 5 frutos por planta por ano.
11.6 Propagação
As sementes do cupuaçuzeiro não apresentam
período de dormência, com processo germinativo se
iniciando rapidamente após a remoção da polpa
mucilaginosa. São recalcitrantes, não tolerando
secagem e temperaturas baixas. Deverão ser oriundas
de frutos recém-colhidos, grandes, sadios e de plantas
matrizes produtivas e sadias. A retirada da polpa que
envolve as sementes é feita manualmente, com
tesoura, ou mecanicamente com despolpadeira. Após
o despolpamento, fazer a semeadura diretamente nos
sacos com dimensões próximas de 30cm x 21cm x
0,015cm, previamente cheios com substrato
adequado. O semeio é feito colocando-se as sementes
“deitadas”. Antes do semeio deve ser feita uma rega
nos sacos para que as sementes encontrem ambiente
propício ao início do processo de germinação. A
emergência das plântulas ocorrerá entre o 13º e o 15º
dia após a semeadura, estendendo-se até ao 25º dia.
Sementes provenientes de frutos maduros e sadios
propiciam uma germinação de 95% a 100%.
As plantas de cupuaçu oriundas de sementes
iniciam a floração aos dois anos após o plantio. Dessa
forma a propagação vegetativa no cupuaçu não é
usada visando precocidade nem redução de porte da
planta. A muda enxertada de cupuaçuzeiro é uma
alternativa para multiplicação de plantas com boas
características, como de produtividade, frutos com
alto rendimento em polpa, resistência a doenças e
pragas ou plantas com frutos sem sementes.
A propagação vegetativa pode ser realizada
por enxertia, sendo a borbulhia o processo mais
utilizado.
As borbulhas devem ser coletadas de árvores
saudáveis, e mudas vigorosas e sadias devem ser
usadas como porta-enxertos, que é o próprio
cupuaçuzeiro.
A borbulha é inserida no porta-enxerto,
promovendo a união perfeita entre esta e a casca do
cavalo. Os porta-enxertos devem ter
aproximadamente 1cm de diâmetro, no ponto de
inserção da gema. Fazer o amarrilho usando fita de
plástico transparente, retirando-a 20 dias após a
enxertia. A decapitação do porta-enxerto é feita sete
dias após a remoção da fita, a 10cm acima do ponto
de enxertia, para favorecer a brotação da gema.
Efetuar o tutoramento do enxerto para melhor
condução do fuste.
No cupuaçu ocorre incompatibilidade dentro e
entre material genético, implicando em baixo ou
nenhum vingamento de frutos. Por isto, na formação
do pomar tanto por material enxertado como por
sementes, utilizar diferentes plantas matrizes.
11.7 Nutrição mineral
Na Amazônia predominam solos de baixa
fertilidade natural e, em alguns casos, alta toxidez de
alumínio, portanto, a fertilidade dos solos constitui
um dos principais fatores relacionados com a
produtividade das culturas. O cupuaçuzeiro é uma
espécie em domesticação, cuja resposta às variações
ambientais e exigências nutricionais pouco se
conhece.
Entre os métodos recomendados para
determinar as necessidades nutricionais de uma
cultura, destacam-se a análise química do solo e a
análise foliar.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 152
Análise do solo
Antes da implantação de um pomar de
cupuaçu, é importante realizar a análise de solo. As
amostras devem ser retiradas de áreas homogêneas
dentro da propriedade. Amostras de áreas argilosas
devem ser separadas das áreas arenosas, bem como as
de locais planos, das encostas e das baixadas. Dentro
de cada área homogênea, de até l0ha, coletar
separadamente na profundidade de 20cm e de 20cm a
40cm, 20 amostras simples, andando em ziguezague,
para formar uma amostra composta. Enviar para
análise no laboratório 300g da amostra composta,
devidamente etiquetada com as informações: nome
do município, proprietário, propriedade, uso anterior
e uso futuro da área e data da coleta.
Em locais onde já existe o plantio de
cupuaçu, deve ser feita uma amostragem da área
adubada, na projeção da copa e outra nas entrelinhas,
formando duas amostras compostas, para cada
profundidade.
Análise foliar
O uso da análise foliar como instrumento de
diagnose do estado nutricional das plantas e da
fertilidade do solo fornece subsídios para as
recomendações de adubação, principalmente de
culturas perenes. No caso do cupuaçuzeiro, o avanço
nas pesquisas quanto às reais exigências nutricionais
da cultura, levando-se em consideração fatores como
material genético, manejo e condições
edafoclimáticas, certamente possibilitará o uso dessa
técnica como instrumento de diagnose e aumento na
eficiência das adubações.
Coletar as amostras de folhas na mesma época
do ano, preferencialmente durante a estação seca,
após pelo menos dois-três meses da adubação. A
coleta deve ser realizada nas primeiras horas da
manhã, aguardando pelo menos um dia após uma
chuva de mais de 20mm. Não misturar, na mesma
amostra, folhas de idade e material genético
diferentes, folhas de ramos produtivos e folhas de
ramos não produtivos, e não usar folhas danificadas
por insetos, ou necrosadas. A amostragem foliar no
cupuaçuzeiro deve ser feita nos quatro quadrantes, na
região mediana da copa, escolhendo um ramo
amadurecido, coletando a terceira folha madura a
partir da ponta. Coletar uma folha de cada ponto
cardeal, resultando em quatro folhas por planta. As
subamostras reunidas formarão a amostra composta
representativa de cada unidade homogênea.
As folhas devem ser lavadas em água
destilada, agitando-as por alguns segundos, ou limpas
com algodão umedecido. As amostras acondicionadas
em sacos de papel devem ser postas para secar num
prazo máximo de dois dias, com temperatura em
torno de 700C. Cada amostra deve apresentar uma
etiqueta contendo informações sobre o local e a data
da coleta, quadra, número de plantas amostradas,
origem do material vegetal, idade da planta, tipo de
ramo, posição da folha etc. Esta etiqueta deve
acompanhar a amostra em todas as etapas de
manipulação, isto é, desde a coleta no campo até o
envio para o laboratório.
Cuidados na adubação e manejo
Em locais planos, os fertilizantes devem ser
aplicados e incorporados para evitar perdas de
nitrogênio por volatilizacão, principalmente quando a
fonte do nutriente for uréia. Em terrenos declivosos,
fazer um sulco com 20cm de largura e 5cm de
profundidade, aplicar o adubo e, em seguida, fechá-
lo. Esse procedimento evita perda de fertilizante por
arrastamento superficial.
Os fertilizantes químicos oferecem duas
grandes vantagens, a concentração e a
disponibilidade. Porém, é recomendado utilizar
fontes orgânicas, como esterco de gado ou de aves,
pois, além de fornecer nutrientes para as plantas,
melhora as condicões físicas e biológicas do solo.
Recomendações de adubação
A recomendação de adubação deverá levar em
conta o resultado da análise do solo. A adubação da
cova deve ser realizada um mês antes do plantio.
Tabela 11.7– Adubação de cova para o cupuaçuzeiro.
Adubação de cova
20 l de esterco curtido.
90g de P2O5 (50% natural e 50% solúvel).
500g de calcário dolomítico.
50g de FTE BR-12
No campo, as adubações de manutenção
deverão ser realizadas no início, meio efinal do
período chuvoso (Tabela 11.8)
Tabela 11.8 - Adubação de manutenção para o
cupuaçuzeiro cultivado em Latossolo amarelo.
Idade (anos) Elemento (g/planta)
N P2O5 K2O MgO Zn B
0 90 - 60 - - -
1 130 60 130 15 - -
2 185 75 185 30 2 1
3 185 126 360 30 2 1
4 (em diante) 185 135 420 30 2 1
Fonte: Souza et al. (1999).
11.8 Manejo agronômico
Plantio
Os plantios são estabelecidos a pleno sol ou
consorciados com culturas temporárias e/ou
permanentes. As plantas das espécies temporárias,
como banana, mandioca, mamão e outras,
permanecerão durante os primeiros anos, enquanto
que as permanentes, como, por exemplo coco,
castanha, ingá e açaí, ficam associadas ao cultivo.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 153
Escolha da área
O cupuaçuzeiro desenvolve-se bem em solos
férteis, profundos, bem drenados e com boa
capacidade de retenção de água. Não tolera solos
sujeitos a encharcamentos, nem aqueles que
apresentem camadas adensadas ou impermeáveis, que
impeçam a penetração das raízes ou que criem
condicões de má aeração. Portanto, áreas já
intensamente mecanizadas ou de pastagens
compactadas deverão ser evitadas. Preferencialmente,
a topografia deve ser plana a suavemente ondulada,
com textura argilosa e argilo-arenosa. Solos muito
arenosos devem ser evitados, pois geralmente
apresentam baixa fertilidade e baixo poder de
retenção de água e nutrientes. Recomenda-se a
escolha de áreas já desmatadas ou de capoeira,
evitando aquelas de mata primária e as de
preservação permanente.
Preparo da área
O preparo da área para plantio do cupuaçu
pode ser realizado utilizando-se o sistema manual ou
mecânico.
Sistema manual - indicado para pequenas
áreas. Dependendo das condições da vegetação,
incluirá broca (eliminação de árvores com diâmetro
inferior a 5cm e cipós), derrubada e rebaixamento. A
queima pode ser evitada, preparando a área com
antecedência para que haja decomposição das folhas
e ramos finos, e aproveitamento do material lenhoso
para produção de lenha, carvão ou em serrarias
artesanais.
Sistema mecânico - indicado para médias e
grandes áreas. Para minimizar a compactação do
solo, a operação deve ser realizada no período seco.
O desmatamento mecânico deverá ser,
preferencialmente, realizado com a utilizacão de
lâminas dentadas, com o objetivo de evitar o
arrastamento da camada superficial do solo. O
preparo consiste de derrubada e enleiramento com
trator, em curva de nível quando necessário.
Espaçamento
Recomenda-se para o cupuaçuzeiro o
espaçamento em sistema de hexágono (triângulo
eqüilátero), obedecendo a distância dos lados 7m.
Esse tipo de arranjo das plantas no terreno facilita a
movimentação; vistorias das plantas; os tratos
culturais, a poda da vassoura-de-bruxa, colheita e
transporte dos frutos; plantio de culturas intercalares
temporárias e melhor aproveitamento da área, com
acréscimo de 15% no número total de plantas, em
relação à forma quadrangular.
Figura 11.3 – Distribuição das plantas de cupuaçu
nos sistemas de plantio em hexágono e quadrado.
Sistemas de plantio
Plantio a pleno sol
No plantio a pleno sol é recomendável a
utilização de leguminosas para a cobertura do solo.
Estas, além de fixarem nitrogênio, elevam os teores
de matéria orgânica, propiciam maior proteção contra
erosão, diminuem a temperatura do solo e reduzem a
incidência de plantas invasoras na cultura. Souza et ai
(1996) recomendam a leguminosa perene herbácea
Pueraria phaseoloides, que proporciona cobertura
adequada ao solo, devendo ser estabelecida,
preferencialmente, antes do plantio do cupuaçu. As
sementes dessa leguminosa apresentam dormência,
portanto para se obter uma germinação mais rápida e
uniforme, quebra-se a dormência colocando-as em
água a 75ºC deixando até que a água atinja a
temperatura ambiente.
Apesar de produzir a pleno sol, por ser uma
espécies esciófila (planta de sombra), a radiação
excessiva é prejudicial a planta, que tem seu
crescimento reduzido, suas folhas ficam mais fibosas
e pequenas e aumenta a insidência de frutos rachados,
principalmente quando a alta luminosidade estiver
associada a deficiência hídrica, sendo recomendado
seu cultivo sombreado.
Plantio em sistemas agroflorestais
Várias espécies estão sendo consorciadas com
o cupuaçuzeiro, como por exemplo mamão, ingá,
mandioca e coco. A mandioca predomina entre as
culturas consorciadas por sua importância
socioeconômica na região.
Recomenda-se o plantio das culturas
intercalares nas entrelinhas do cupuaçuzeiro,
respeitando a distância mínima de 1,5m entre a
cultura e a muda de cupuaçu. O uso de cultivos
perenes consorciados com cupuaçu é viável, devendo
ser observadas as características de cada espécie
quanto a mercado, exigência de tratos culturais, mão-
de-obra, incidência de pragas e doenças e competição
por luz, nutriente e água. É importante também
observar se a cultura intercalar tem a safra na mesma
época do cupuaçuzeiro, se o produto é perecível e
exige beneficiamento semelhante ao do cupuaçu,
pois, nesta situação, serão exigidos investimentos
adicionais em equipamentos e mão-de-obra.
Hexágono Quadrangular
a
b h
h = 6,06m
a e b = 7m
235 plantas/ha
a = 7m
b = 7m
204 plantas/ha
a
b
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 154
Plantio em trilhas na capoeira
Esta opção tem a vantagem de reduzir os
custos de implantação da cultura, além de manter a
vegetação original. Porém, as plantas de cupuaçu
retardam o início da frutificacão e produzem poucos
frutos, principalmente se o sombreamento for
excessivo, portanto não atrativa.
Plantio em mata ou capoeira raleada
Nesta modalidade, o raleio inicial é feito
deixando-se as espécies de valor econômico e social,
tais como fruteiras nativas, espécies madeiráveis e
medicinais. Normalmente, é realizado de forma
manual, com antecedência, para que haja
decomposição das folhas e ramos finos, podendo
ainda ser aproveitado o material lenhoso para
produção de lenha ou carvão. Neste sistema, o
preparo da área causa danos mínimos ao solo e, em
muitos casos, favorece a conservação in situ das
espécies associadas.
Poda
O cupuaçuzeiro pode ter interferência de poda
de formação, poda de manutenção, poda de limpeza e
poda fitossanitária.
Poda de formação: O cupuaçuzeiro por
apresentar estrutura mofológica de crescimento por
tricotomias, a formação de sua copa exige poda
específica, diferente da maioria das árvores frutíferas.
A muda de cupuaçuzeiro propagado por
semente apresenta trifurcações (tricotomias),
formando sua copa sem necessidade de intervenção.
Em mudas enxertadas, deve-se decapitar o fuste do
enxerto a 60cm de altura, para forçar o lançamento de
ramos laterais. As brotações que surgem ao longo do
caule e abaixo da primeira tricotomia, bem como
aquelas presentes no porta-enxerto devem ser
eliminadas. Brotos que darão galhos cruzados e mal
colocados, devem ser também eliminados.
Como no cupuaçuzeiro as trifurcacões estão
inseridas sobre a mesma altura no tronco, este ponto
racha com facilidade (Figura 11.4), quer pela ação
dos ventos quer pelo peso dos frutos. Aconselha-se,
então, não eliminar o ramo ortotrópico recém-brotado
na primeira tricotomia, deixando formar de duas a
cinco tricotomias. Em plantios extensivos, dado o
custo da poda, fazer o rebaixamento da copa nas
plantas de crescimento muito alto, facilitando, assim,
os tratos culturais e evitando que os frutos caiam de
uma altura muito grande. O número de tricotomias
dependerá da distância entre as tricotomias.
Figura 11.4 – Rachadura do tronco do cupuaçuzeiro
(Souza et al., 1999).
Poda de manutenção: No campo, eliminar os
ramos ladrões que ocorrem no tronco e na parte
interna da copa. Quando as plantas apresentam as
copas entrelaçadas, realizar a poda, reduzindo-as
lateralmente. É importante eliminar as pontas de
ramos plagiotrópicos quando este estiverem muito
próximos do solo, devido seu comprimento.
Poda de limpeza: após a safra do cupuaçu,
eliminar os ramos e frutos doentes, secos mal
formados e ervas de passarinho.
Poda fitossanitária: de todas as podas
realizadas no cupuaçuzeiro, esta é indispensável para
o controle da doença vassoura-de-bruxa.
11.9 Pragas do cupuaçuzeiro
Broca-do-fruto - Conotrachelus sp.
(Coleóptera:Curculionidae)
A broca-do-fruto é a mais importante praga
do cupuaçuzeiro, causadora de sérios prejuízos nos
plantios onde o ataque é intenso. É um besouro de
coloração castanho-escuro, que mede
aproximadamente l0mm de comprimento. A fêmea
faz oviposição no interior da casca do fruto. As
larvas, ao eclodirem, se movimentam até as sementes,
das quais se alimentam. Quando atingem o
crescimento máximo (último instar), se locomovem
em direção à casca do fruto, abrindo um orifício por
onde saem, e caem no solo, penetram nele numa
profundidade de 5cm a 10cm e empupam.
Posteriormente, o adulto emerge, acasala e efetua
nova oviposicão no fruto, repetindo, então o ciclo
(Figura 11.5).
Figura 11.5 - Broca-do-fruto: a) adulto; b) larva
saindo pelo orifício na casca e c) parte inteira da
casca com orifício e larvas.
O cupuaçuzeiro é plantado na Amazônia, em
monocultivo ou consorciado como em sistemas
agroflorestais. Nos dois sistemas de produção ele é
atacado por insetos-praga, dentre os quais a broca dos
frutos se destaca devido aos danos causados,
a b c
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 155
provocando perdas na produção com diferentes graus
de intensidade (Thomazini, 2000). Não se tem
definido métodos de controle eficientes para esta
praga, podendo usar os mesmos métodos de controle
desta praga, utilizados no cacaueiro, que compreende
poda de formação/fitossanitária, eliminação de
plantas silvestre próximo ao plantio, destruição de
frutos atacados, aumento da intensidade de colheita e
monitoramento do inseto. Evitar a aplicação de
inseticidas, pois até o momento, não há resultados de
pesquisa que confirmem a sua eficiência. Além disso,
a aplicação indiscriminada desses produtos químicos
prejudica os polinizadores e os inimigos naturais
(predadores e parasitóides).
Araújo et al. (1998), encontrou variabilidade
genética quanto a resistência às pragas que atacam os
botões florais em geral. Isto indica que pode haver
resistência à broca-do-fruto.
Lagarta rendilhadeira de folhas - Macrosoma
tipulata (Lepidoptera: Hedylidae)
O adulto é uma borboleta cujo estádio de
lagarta (Figura 11.6) tem como hábito alimentar o
consumo de folhas jovens.
Figura 11.6 – Larva e adulto da Lagarta rendilhada
da folha (Souza et al., 1999)
Controle
O controle manual é feito através da coleta das
lagartas, quando as plantas são pequenas e pouco
atacadas. Quando o ataque é intenso no período de
lançamento foliar do cupuaçuzeiro, aplicar inseticida
de contato e ingestão. Preferencialmente usar
inseticidas biológicos.
Broca do broto (Coleoptera: Curculionidae)
Importante praga de viveiro, tendo sido
observado índice de mudas atacadas variando, em
média, entre 1 5% e 20%, podendo chegar a 60%. É
um pequeno besouro cuja larva ataca os brotos das
mudas (Figura 11.7). Com a morte do broto apical, a
muda emite novas brotações laterais, as quais são
também atacadas, causando desenvolvimento
anormal das mudas.
Figura 11.7 – Broca do broto: a) broto normal de
muda de cupuaçu; b) broto danificado pela broca; c)
larva; d) adulto.
Controle
Como prevenção, não deixar mudas velhas
dentro do viveiro, pois geralmente são hospedeiras
desses insetos. Fazer periodicamente vistoria e
eliminar gemas atacadas (secas) manualmente, as
quais contêm em seu interior as larvas ou adulto
dessa praga. Este procedimento auxilia na redução do
nível de infestação. Em ataques intensos, o controle é
feito com inseticida sistêmico.
Formigas (Hymenoptera: Formicidae)
As formigas-saúvas e quemquéns são
cortadeiras e causam grandes danos, desfolhando o
cupuaçuzeiro.
Controle
Os formigueiros devem ser combatidos na
área do plantio e também nas áreas vizinhas. O
controle químico é o mais recomendado, podendo ser
utilizados formicidas em pó, líquidos
termonebulizáveis e iscas granuladas.
11.10 Doenças do cupuaçuzeiro
Vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa)
É a enfermidade que causa os maiores
prejuízos econômicos para a cultura. Sua ocorrência é
generalizada na Amazônia, local de origem da planta.
Sintomas
O fungo afeta os tecidos meristemáticos em
crescimento nas mudas e em plantas adultas. Sob
condições alternadas de dias chuvosos seguidos de
dias ensolarados, ocorre a produção de basidiocarpos
(formato de cogumelo de cor róseo-pálido) (Figura
11.8). Esta é a etapa crítica da doença, pois é quando
ocorre a disseminação do fungo de uma planta para
outra através do vento. No viveiro, nas mudas
a
b
c d
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 156
afetadas (Figura 11.8) ocorre o engrossamento do
caule, acompanhado de brotação de gemas laterais,
que posteriormente secam e a muda morre. No
campo, quando a doença ataca as plantas, os
lançamentos infectados são de diâmetro maior que os
sadios, com entrenós curtos e intensa brotação das
gemas laterais, sendo denominado de vassoura-verde.
Posteriormente, ocorre o secamento da brotação
afetada, passando à denominacão de vassoura-seca.
Flores e frutos também são atacados pela doença. Os
frutos jovens secam e morrem sem desenvolver-se.
Nos frutos desenvolvidos aparecem manchas escuras
na casca que correspondem internamente à região de
apodrecimento da polpa.
Figura 11.8 – Sintomas de vassoura-de-bruxa (Souza
et al., 1999).
Na região amazônica essa cultura é
disseminada de forma endêmica em toda a América
do Sul Tropical (Alves et al., 1998; Lima e Souza,
1998).
Etiologia
O microrganismo que causa a doença é o
fungo Crinipellis perniciosa. Além do cupuaçuzeiro
(Theobroma grandiflorum) e do cacaueiro (T.
Caçao), que são muito afetados pela doença, o cacau-
do-pará ou cacaurana (T. bicolor), cacau-cabeça-de-
urubu (T. obovatum), cacau-jacaré (T. microcarpum),
cupuí (T. sumbicanum), cacauí (T. speciosum), T.
Glaucum, Herrania albiflora, H. Purpúrea e
Herrania spp. São também hospedeiros da doença.
Controle
O controle da vassoura-de-bruxa no
cupuaçuzeiro tem sido feito com base em estudos
realizados na cultura do cacaueiro. A poda
profilática, apesar de ser um método oneroso, é a
medida de controle cultural mais preconizada na
região.
Estudos com controle de vassoura-de-bruxa
utilizando poda fitossanitária foram propostas por
Gasparotto et al. (1998):
- Efetuar a poda fitossanitária, removendo-se
concomitantemente, vassouras secas e verdes e frutos
mumificados a intervalos de dois meses durante o ano
todo;
- Corte da vassoura deve ser feito após a inserção ou
ponto de início do superbrotamento;
- Quando remover a vassoura não deixar restos de
ramos, folhas, pedunculos e pecíolos doentes e frutos
mumificados aderidos às plantas ou caídos ao solo;
- Todas as vassouras coletadas, restos de folhas,
caules, pedúnculos, que se desprenderem das
vassouras e frutos mumificados devem ser retirados
da área de plantio e queimados.
A longo prazo, a utilização de clones
resistentes, fundamentada na hipótese de ser C.
perniciosa um fungo homotálico, portanto, com baixa
probabilidade de variação genética, é uma alternativa
a ser considerada no controle da vassoura-de-bruxa.
Clones de cacaueiro tidos como resistentes - SCA 6 e
12 - tiveram essa resistência quebrada, apontando
uma variabilidade genética na população do patógeno
na região amazônica. No entanto, os isolados de C.
perniciosa que atacam o cacaueiro, não são os
mesmos que atacam o cupuaçuzeiro, apesar de
pertencerem ao mesmo biotipo, sendo necessários
estudos mais aprofundados sobre prováveis raças
desse patógeno em T. grandifrorum (Alves et al.,
1998).
Morte Progressiva - Lasiodíplodia theobromae (Pa)
Griff & Maubl. Importância econômica
A enfermidade pode afetar as plantas de
cupuaçuzeiro em qualquer idade, desde a fase de
mudas até a fase adulta. Ocorre em plantios mal
conduzidos, principalmente, devido a deficiências
nutricionais e/ou em plantas que sofreram ferimentos
no caule por de ferramentas utilizadas nas capinas.
Os maiores prejuízos são verificados quando há
morte da planta, principalmente, na fase de produção
de frutos (Figura 9).
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 157
Figura 9 – Planta morta por Lasiodiplodia
theobromae.
Sintomas
Os sintomas iniciais da doença que podem
ocorrer no caule dos ramos, galhos e troncos, são
difíceis de serem observados porque o patôgeno afeta
os tecidos internos da planta, ficando a parte externa
da região afetada aparentemente sadia. Com o
aumento da doença, observa-se um ligeiro
escurecimento da casca e, posteriormente, o
amarelecimento e secamento das folhas e morte do
ramo afetado. Em estádio avançado, o local do início
da doença pode tornar-se deformado, havendo
rachadura na casca e exposição dos tecidos internos
(Figura 10).
Figura 10 – Tecido escurecido no caule por
Lasiodiplodia theobromae.
Em plantas adultas, ocorre o secamento de
alguns galhos, progredindo até à morte da planta.
Este secamento é observado em estádio avançado da
doença, quando há morte da região afetada do caule.
A diferença básica dos sintomas
característicos da vassoura-de-bruxa e da morte
progressiva nos ramos é que enquanto a vassoura-de-
bruxa afeta apenas a brotação nova, causando, após o
superbrotamento e engrossamento do caule, o
secamento apenas do broto afetado; a morte
progressiva nos ramos, caracteriza-se pelo
amarelecimento e secamento das folhas do ramo
doente sem promover o superbrotamento, mas que, se
o ramo seco não for removido e tratado, afetará o
galho e, posteriormente, toda a planta, levando-a à
morte.
Etiologia
O microrganismo que causa a doença, o
fungo Lasiodiplodia theobromae, afeta outras
culturas como a seringueira, o cacaueiro, a
mangueira, o guaranazeiro, o coqueiro. É considerado
um patógeno fraco por atacar somente plantas
debilitadas, a partir de ferimentos na casca.
Controle
Para prevenir a ocorrência da doença,
recomenda-se evitar fazer ferimentos nas plantas ao
realizar a limpeza da área e fazer as adubações
conforme recomendações técnicas. Em plantas
doentes, é necessário eliminar-se os ramos afetados,
cortando-os 15cm a 20cm abaixo da parte doente.
Para galhos grossos ou troncos com lesões pequenas,
recomenda-se remover todo o tecido doente. Para
lesões grandes, retirar uma parte do tecido morto e
raspar, superficialmente, 10cm de tecido sadio em
torno da lesão. Após o corte e/ou raspagem, pincelar
o local do ferimento com a mistura feita com 20g de
benomil ou 30g de tiofanato metílico, 20m1 de óleo
vegetal (óleo de soja), e 600ml de água. Repetir o
pincelamento 20 a 30 dias após o tratamento, se
necessário.
Podridao Vermelha - Ganoderma philipii (Bres. &
P. Henn) Bras.
É uma enfermidade que ocorre com bastante
frequência, porque os plantios de cupuaçuzeiro, na
região, são realizados em áreas contendo troncos de
árvores ainda em decomposição. Os fungos
apodrecedores desses troncos afetam as raízes do
cupuaçuzeiro, causando prejuízos bem elevados, por
ocorrer a morte da planta, diminuíndo,
consequentemente, a produção na área.
Sintomas
Os primeiros sintomas são observados na copa
da planta, através do amarelecimento das folhas.
Após alguns dias, ocorre a morte repentina da planta,
cujas folhas secas permanecem presas nos ramos por
algumas semanas (Figura 11).
A doença ocorre nas raízes, podendo,
geralmente, ser constatada apenas quando a planta
está quase morta. As raízes mortas, bem como a
região do caule mais próxima, adquirem a cor
avermelhada.
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 158
Figura 11 – Podridão vermelha (Ganoderma
philippi).
Etiologia
A doença é causada pelo fungo Ganoderma
philipii, que vive no solo e afeta o sistema radicular.
Nos troncos de árvores em decomposição,
desenvolvem-se cogumelos que, geralmente,
possuem cor alaranjada. Esses cogumelos são
chamados de “orelha-de-pau”. As raízes do
cupuaçuzeiro, ao tocarem as raízes dos troncos em
decomposição, são infectadas, ou seja, contaminadas
pelo fungo. A doença passa para as plantas vizinhas
através do contato entre raízes doentes e sadias.
Controle
Controle da doença deve ser preventivo, ou
seja, adotar medidas que evitem o aparecimento da
doença. Para isso, deve-se evitar fazer covas no local
onde haja restos de troncos de árvores, bem como não
amontoar troncos de árvores próximos da linha de
plantio das mudas. Quando for encontrada planta
morta com a doença, a mesma deverá ser arrancada,
retirada da área e, depois de seca, queimada. As
raízes das plantas vizinhas que, aparentemente,
estejam sadias, devem ser isoladas das plantas mais
próximas, através de trincheira aberta no solo,
evitando-se o aumento da doença no plantio. Colocar
1kg de calcário na cova de onde foi retirada a planta
morta e misturar bem com o solo. Não plantar, na
cova, espécies arbórea, pelo menos por um período
de dois anos.
Mancha de Phomopsis (Phomopsis sp)
Nas folhas novas são observadas pequenas
lesões circulares de coloração marrom. Com o
amadurecimento das folhas, as lesões tornam-se
esbranquiçadas, pardas ou avermelhadas,
ocasionando, na maioria das vezes, a queda do tecido
central.
O microrganismo que causa a doença é o
fungo Phomopsis sp. Em plantio de cupuaçuzeiro em
mata raleada, observou-se a doença causando os
mesmos sintomas em outras plantas nativas da mata.
Controle
São recomendadas pulverizações com
benomyl (1 g/litro de água), durante a emissão foliar,
semanalmente no período chuvoso e quinzenalmente
no seco. Tem-se obtido um controle eficiente com o
uso de óxido cuproso na dosagem de 3g do produto
comercial por litro de água.
11.11 Colheita e beneficiamento
Colheita
O fruto de cupuaçu, quando maduro,
desprende-se da planta, sendo colhido manualmente
no chão e acondicionados em sacos ou caixas
resistentes. Os sacos facilitam o transporte dentro das
linhas, mas oferecem pouca proteção contra
impactos, podendo ocorrer quebra dos frutos. A
colheita deve ser feita diariamente no início da
manhã. Quanto mais tempo o fruto permanecer caído
no campo maior é a perda do peso e a deterioração
causada por ataque de fungos. Os frutos colhidos
devem ser reunidos em pontos estratégicos nas
laterais do plantio, para facilitar o transporte até ao
local de recepção. O tempo decorrido entre a colheita,
transporte e o processamento deve ser o mínimo
possível. No caso de necessidade de armazenamento
antes do processamento ou da comercialização do
fruto natural, os mesmos devem ser mantidos em
local sombreado, arejado, para facilitar a remoção do
calor (não amontoar os frutos), e, de preferência,
refrigerado. Quando deixado em ambiente natural,
com temperatura média de 25,6 ºC e umidade relativa
86%, o fruto pode perder até 23,4% do seu peso até o
décimo dia após a colheita.
Seleção de frutos
Selecionar somente frutos maduros, sadios,
eliminando aqueles com sinais de ataque de pragas ou
doenças, como a broca e a vassoura-de-bruxa, ou
outra enfermidade, bem como os deteriorados
(‘passados”).
Lavagem dos frutos
A lavagem tem como objetivo reduzir a carga
microbiana presente na casca dos frutos, retirar os
pêlos, terra e outras sujeiras aderidas ao fruto. A água
utilizada deve ser de boa qualidade. A lavagem é
geralmente feita por imersão em água, completada
por aspersão de água. A água deve ser clorada com
cerca de 8 ppm a 12 ppm de cloro livre. Para
preparação desta água, adiciona-se de 80m1 a 120ml
de hipoclorito de sódio para 1.000 litros de água.
Alguns equipamentos usados para lavagem de outras
frutas podem ser adaptados, como esteiras com jatos
de água clorada, com presença de escovas com cerdas
de nylon.
Quebra dos frutos
A quebra do fruto e extração da polpa com
sementes é uma importante fase do processamento. A
polpa, que no interior do fruto sadio se apresenta sem
contaminação, ficará exposta ao ambiente, e o grau
de contaminação depende, a partir dessa fase, dos
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 159
cuidados na lavagem, quebra, retirada da polpa e na
higiene do pessoal, do ambiente e das máquinas de
trabalho. O utensílio utilizado para a quebra do fruto,
bem como a superfície do local de quebra devem ser
de aço-inoxidável. As pessoas envolvidas nessa tarefa
devem trajar vestimentas adequadas e limpas, usar
luvas e toucas no cabelo e estar em perfeito estado de
saúde.
Despolpamento
O despolpamento pode ser manual, quando a
polpa é separada das sementes e placenta (fibras),
com o auxilio de tesouras, ou mecânico, quando se
utiliza despolpadeira. O despolpamento manual
destina-se mais para consumo próprio, mas deve ter
todos os cuidados com a higiene. Não é
recomendável comercialmente, pois do ponto de vista
sanitário, a qualidade da matéria-prima fica
comprometida devido a maior facilidade de
contaminação do material, além disso, o rendimento é
baixo. Para o despolpamento mecânico, retirar a
placenta antes de colocar a massa de polpa na
despolpadeira. A placenta é indesejável sob o ponto
de vista de qualidade de polpa. Por ser fibrosa, ao ser
misturada à polpa, afeta a aparência da mesma,
depreciando o seu valor. No beneficiamento
mecânico, a presença da placenta dificulta o
despolpamento, por obstruir a passagem da polpa
através da peneira.
Existem, no mercado, despolpadeiras, de
vários modelos e com diferentes capacidades de
despolpamento, adaptadas para o cupuaçu. Devem ser
de aço-inoxidável e são constituídas basicamente de
um cilindro, peneira móvel e um eixo giratório com
paletas, que movimentam a polpa com as sementes
no cilindro. A polpa é extraída através dos efeitos
combinados de força centrífuga e de atrito entre as
sementes e a parede do cilindro e liberada na parte
inferior do equipamento. As sementes são
descartadas na extremidade do cilindro perfurado.
Pasteurização
O tratamento térmico tem por objetivo reduzir
a carga microbiológica e inativar as enzimas
presentes, que podem causar alterações físicas e
bioquímicas na polpa. A polpa de cupuaçu
encontrada nos mercados normalmente não são
pasteurizadas, são comercializadas congeladas.
Envase
A polpa é colocada em uma dosadora,
regulada para encher a embalagem em quantidades
previamente definidas. No rótulo da embalagem
deverá constar, além dos dados exigidos pelas leis, a
denominação “polpa de cupuaçu’, a data de
fabricação e por prazo de validade. Existem, no
mercado, várias opções de dosadores e embalagens, e
a escolha dependerá do mercado consumidor que se
pretende atingir e do fluxo de produção.
Congelamento
Para manter as características da polpa de
cupuaçu, o congelamento deve ser realizado no
menor espaço de tempo possível. Utilizar
equipamentos como túneis ou câmaras de
congelamento rápido. O tempo de congelamento em
freezeres é muito longo, podendo comprometer a
qualidade, principalmente quando se tem grande
quantidade de polpa para congelar.
Armazenamento
A safra do cupuaçu não é contínua durante o
ano, e a região Norte fica distante do mercado
consumidor que está fora das fronteiras regionais.
Portanto, o armazenamento pode ser utilizado para
regular o fluxo de saída do produto em função da
disponibilidade de transporte mais econômico para o
mercado mais distante ou mesmo para garantir o
fornecimento do produto nas épocas de entressafras.
A polpa deve ser mantida congelada até o momento
do seu consumo. A temperatura recomendada para o
armazenamento em câmaras frigoríficas varia de -8ºC
a -25ºC. O uso de freezeres domésticos com faixa de
temperatura entre -8ºC e -10ºC é viável, porém a vida
de prateleira será menor.
11.12 Mercado e Comercialização
A comercialização de frutos in natura é feita
diretamente do produtor para o consumidor,
intermediários e feirantes. A comercialização da
polpa ocorre diretamente com a agroindústria ou com
o consumidor.
No mercado externo, a distribuição ainda é
restrita, os produtos estão sendo testados pelos
consumidores. Acresce-se ainda que a capacidade de
inserção dos produtos de cupuaçu em outros
mercados é decorrente da sua aceitação pelos
consumidores finais, da capacidade de divulgação, da
distribuição dos produtos e dos preços praticados em
relação aos produtos similares.
11.13 Coeficiente técnico
No quadro 10.4, são presentados alguns
coeficientes técnicos para a implantação de 1 ha de
cupuaçuzeiro.
Quadro 10.4 – Coeficiente técnico para implantação
e manutenção de 1 ha de cupuaçuzeiro no
espaçamento de 6m x 6m. Discriminação Unidade 1ºano 2ºano 3ºano 4º ano em
diante
Preparo
da área
Roçagem d/h 14 8 8 8 Marcação das covas d/h 2 - - -
Abertura das covas d/h 6 - - -
Adubação de covas d/h 3 - - -
Cultivo do cupuaçuzeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 160
Plantio d/h 2 - - -
Tratos culturais
Roçagem d/h 8 8 8 8
Cobertura morta d/h 3 3 5 6 Poda d/h - 1 1 3
Adubação d/h - 1 2 3
Controle fitossanitário
d/h - 3 5 15
Insumos
Mudas un. 450 - - - Esterco/composto tonelada 5 10 10 20
NPK (12-12-12) kg 500 700 1000 2250
Inseticidas litro - 1 2 2 Fungicidas Kg - 1 2 2
Calcário tonelada 2 - - 2
Colheita Catação manual d/h - - - 25
11.14 Referências
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Cultivo do Maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 162
12. CULTURA DO MARACUJAZEIRO
12.1 Aspectos socioeconômicos
O Estado do Acre apresenta uma das mais
baixas produtividades e produções agrícolas do país,
tendo que importar produtos alimentícios produzidos
em outras regiões. Essa baixa produção é causada por
muitos fatores, principalmente pela falta de uma
política agrícola consistente e de tecnologias
adaptadas para a região e, no caso do maracujazeiro,
pela falta de cultivares superiores adaptadas para as
condições acreanas.
Condições edafoclimáticas ótimas possibilitam
ao estado um alto potencial para o cultivo de fruteiras
tropicais, principalmente o maracujazeiro (Passiflora
edulis f. flavicarpa Deg.) que tem bom potencial de
mercado, uma vez que o estado não é auto suficiente
desta frutífera. Prova disso é a inexistência de
fábricas de suco de maracujá e a importação da fruta
pelas redes de supermercado.
Um outro ponto positivo para a exploração do
maracujazeiro é o maior período de produção, pois
nas condições locais a planta não apresenta
paralisação do crescimento, pela ausência de inverno
(estação fria) na região.
12.2 - Produção Brasileira
O maracujazeiro é cultivado principalmente
em países tropicais, responsáveis por
aproximadamente 90% da produção mundial. O
Brasil é, atualmente, o maior produtor seguido do
Peru, Venezuela, África do Sul, Sri Lanka e
Austrália.
Dependente da comercialização apenas do
mercado ao natural, o maracujá passava por ciclos de
retração e expansão da área cultivada e falta de
demanda constante do produto (Rizzi et al., 1998).
Mas, motivado pelo elevado crescimento da demanda
da fruta fresca, e principalmente pelo aquecimento da
atividade agroindustrial de produção de suco, o
cultivo do maracujazeiro evoluiu rapidamente no país
(Quadro 12.1). Até o início da década de 70, o Brasil
não constava entre os principais produtores (Pires e
São José, 1994; Rizzi et al., 1998), apesar de ser o
centro de origem.
Quadro 12.1 – Evolução da produção brasileira de
maracujá.
Região Ano (ton)
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Norte 506 1.657 15.416 3.911 113.568 130.931 21.700 Nordeste 6.630 12.936 44.552 35.294 121.151 162.504 152.569
Sudeste 2.221 7.902 11.736 11.081 81.593 96.553 122.012
Centro-Oeste
44 677 712 361 751 9.056 25.739
Sul 19 32 814 454 173 6.491 8.757
Brasil 6.420 23.204 73.230 51.101 317.236 405.535 330.777
Fonte: Censo Agropecuário (1970-1985); Agrianual (2000 e 2003)
A década de 90 manteve o ciclo de retração e
expansão, fechando em 1999, praticamente com a
mesma produção de 1990, mas com área 41% maior,
indicando forte queda na produtividade (Agrianual,
1997,1998,1999, 2000, 2001, 2002 e 2003).
Como a participação correspondente a 50% da
produção para cada segmento (Pizzol et al., 1998), os
preços estão condicionados, ora às cotações
internacionais do suco concentrado, ora aos dos
sistemas atacadistas nacionais, sendo mesmo o
mercado externo, o maior responsável pelos preços e
principalmente pelo aumento e diminuição da
produção e área plantada.
Motivado pela ótima cotação do suco
concentrado (50 ºBrix) no mercado europeu de US$ 8
mil a tonelada, no final da década de 80, a produção
brasileira cresceu 29% de 1990 a 1996, e pelo motivo
inverso, com a cotação de US$ 2 mil no início da
década de 90, a produção brasileira reduziu 19% de
1996 a 2000 (Agrianual, 1999 e 2003; Guedes e
Vilela, 1999).
Neste período, houve acréscimo na área
colhida em todos as regiões produtoras, exceto o
Norte do país, que reduziu praticamente a metade da
área colhida. Nesse contexto, há destaque para dois
Estados produtores, o Pará, que produzia 36% de
toda produção brasileira em 1990, reduziu sua
produção de 113.469 ton para 22.858 ton em 1999,
portanto o grande responsável pela redução brasileira.
Outro Estado com destaque é o Espírito Santo, que
produzia apenas 1.114 ton em 1991, e com aumentos
constantes alcançou 22.150 ton na safra de 2000.
As principais regiões produtoras de maracujá
no país são Nordeste e Sudeste, com 46% e 37% da
produção brasileira, respectivamente. Os principais
estados produtores são: Bahia, São Paulo, Sergipe e
Minas Gerais (Quadro 12.2).
Quadro 12.2 Produção, área e produtividade das regiões
brasileiras e principais estados produtores.
Região
Estado
Produção
(ton)
Área
colhida
(ha)
Produtividade
(kg/ha)
Norte 21.700 3.606 6.018
Nordeste 152.569 17.289 8.825
Bahia 77.388 7.817 9.900
Sergipe 33.583 3.910 8.589
Sudeste 122.012 9.223 13.229
São Paulo 57.854 3.667 15.777
Minas Gerais 25.196 2.834 8.891
Sul 8.739 1.117 7.824
Centro Oeste 25.757 2.193 11.745
Goiás 23.608 1.793 13.167
Brasil 330.777 33.428 9.895
Fonte: Agrianual (2003)
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 163
A respeito do mercado interno, o maracujá
apresenta sazonalidade característica no atacado das
principais CEASA’s. A concentração da oferta ocorre
no período janeiro/junho, e o período de escassez
localiza-se entre julho e dezembro, atingindo um
nível mínimo de oferta entre setembro e outubro
(Figura 12.1).
Figura 12.1. Evolução dos preços do maracujá azedo
na CEAGESP(1992-2001), dados de Agrianual,
(2002).
12.3 Origem, Dispersão e Botânica
Origem
O maracujazeiro pertence à família
Passifloraceae Juss. Ex. DC., da ordem Violales.
Essa família compreende 17 gêneros e cerca de 600
espécies distribuídas nas regiões tropicais e
subtropicais do mundo. Dentre os táxons cultivados,
destacam-se Passiflora alata, Passiflora caerulea,
Passiflora edulis f. edulis, Passiflora edulis f.
flavicarpa, Passiflora incarnata, Passiflora
laurifólia, Passiflora ligulares, Passiflora mollissima
e Passiflora quadrangulares (Carvalho-Okano e
Vieira, 2001).
O gênero Passiflora é originado da América
do Sul e tem no Centro-Norte do Brasil o maior
centro de distribuição geográfica. A origem do
Passiflora edulis f. flavicarpa Degener
(maracujazeiro amarelo) é incerta podendo ter sido
derivada de cruzamento de Passiflora edulis f. edulis
(maracujazeiro roxo) com algumas espécies na
Austrália ou por mutação do Passiflora edulis f.
edulis (Carvalho-Okano e Vieira, 2001).
O gênero Passiflora é formado de 24
subgêneros e 465 espécies, sendo o de maior
importância econômica dentre os 18 gêneros da
ordem Passiflorales. As espécies, das quais 150 a
200 originárias do Brasil, podem ser utilizadas como
alimentícias, medicinais e ornamentais, sendo muitas
com finalidade múltipla (Cunha e Krampe, 1999).
Citogenética
A maioria das espécies de Passiflora
apresentam 2n=12 ou 18, mas 2n=24, 14, 20, 84, 27 e
36 também são conhecidos (Bruckner, 1997). As
espécies de maior importância hortícola, como P.
edulis Sims, P. alata, P. edulis Sims flavicarpa Deg.
(Mayeda, 1997) e outras, tem 2n=18 cromossomos.
Provavelmente haja dois números básicos x=6 e x=9
no gênero Passiflora. Estudos citológicos
aprofundados poderiam auxiliar na determinação das
filogenéticas entre as espécies (Bruckner, 1997).
Existe alta compatibilidade interespecífica em
cruzamentos dentro do grupo com 2n=18, e híbridos
interespecíficos naturais e artificiais têm sido obtidos.
Os cruzamentos elucidam que as barreiras entre
várias espécies não são fortes, e que, com
persistência, muitos cruzamentos poderão ser obtidos,
mesmo entre espécies relativamente distantes.
Entretanto, os híbridos nem sempre são férteis e
viáveis (Bruckner, 1997).
Descrição da planta
O maracujazeiro-amarelo é uma planta
trepadeira sublenhosa e de grande vigor vegetativo,
de caule cilíndrico ou ligeriamente anguloso quando
jovem, essencialmente glaba (exceto o ovário);
estípulas linear-subuladas, inteiras ou diminuto
glandular serruladas. Pecíolos até 4 cm de
comprimento, biglandular no ápice, as glândulas
sésseis ou curto-estipitadas. Folhas trilobadas,
subcoriáceas, serreadas, lustrosas na face superior.
Flores axilares e solitárias, hermafroditas, brancas
com franja roxa, até 7 cm de diâmetro, filamento da
corona em 4 ou 5 séries. Androginóforo colunar bem
desenvolvido. Androceu formado por 5 estames, com
filetes livres e inseridos abaixo do ovário; antenas
dorsifixas. Ovário sobre ginóforo, globoso,
unilocular, multiovulado. Baga globosa, mais ou
menos glaba, com 5 a 7,5 cm em seu maior diâmetro,
vermelho-violácea quando madura ou amarelo-áurea
(na forma flavicarpa), de pericarpo pouco espesso,
contendo numerosas sementes ovais, reticuladas,
pretas e polpa um tanto ácidas e aromática.
Período de produção
O maracujazeiro-amarelo é uma espécie que
floresce o ano todo, desde que seja suficiente e bem
distribuído ao longo do ano os fatores temperatura,
água e luminosidade, mesmo assim, observa-se na
fenologia do maracujazeiro que pode haver picos de
floração e portando épocas de safra e entressafra em
regiões que não apresentam restrições climáticas.
Em regiões em que ocorre forte período de
déficit hídrico, baixas temperaturas e baixa
luminosidade (< 11 horas/dia), o maracujazeiro
paralisa o crescimento e o florescimento,
caracterizando assim, um período de entressafra, que
na região sudeste e sul do Brasil ocorre de agosto a
dezembro.
50
70
90
110
130
150
170
190
210
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Índ
ice
de
Sazo
nali
da
de
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 164
Nas regiões Norte e Nordeste, a maior
restrição climática é o período de estiagem.
12.4 Ecofisiologia
O maracujazeiro resiste moderadamente ao
déficit hídrico, mas os períodos prolongados de
estiagem retardam, significativamente, o seu
desenvolvimento e florescimento, podendo causar
severo desfolhamento.
Por outro lado, precipitações pesadas e
freqüentes durante o período de florescimento não
são favoráveis à produção, uma vez que nos dias
chuvosos a atividade dos insetos polinizadores é
quase nula e os grãos de pólen estouram com a
umidade.
A necessidade de água do maracujazeiro
variam de 800 a 1.750 mm anuais.
As regiões situadas em latitudes que
correspondam a um comprimento do dia de 10 a 12
horas apresentam as melhores condições para o
florescimento do maracujazeiro.
A temperatura favorável ao crescimento e
produção do maracujazeiro situa-se entre 21 e 32ºC,
mas a temperatura entre 26 e 27ºC é considerada
ótima para a cultura.
12.5 genéticA do maracujazeiro
Germoplasma
A preservação de germoplasma de
Passiflora, no Brasil, é feita em bancos de
germoplasma e em coleções, na Universidade
Estadual de São Paulo - UNESP, em Jaboticabal-SP
(21 espécies); na EBDA, em Conceição do Almeida-
BA; no Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, em
Londrina-PR; na Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia - UESB, em Vitória da Conquista-BA; na
SUDAP, em Boquim-SE; no Instituto Agropecuário
de Campinas - IAC, em Jundiaí-SP; na Embrapa
Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas-BA; na
Empresa Goiana de pesquisa Agropecuária –
EMGOPA, em Goiás, na Empresa Capixaba de
Pesquisa e Assistência Técnica – EMCAPA, no
Espírito Santo; no Embrapa Recursos Genéticos, em
Brasília; na Embrapa Trópico Úmido, no Pará e em
outros locais. São 15 os países que mantém coleções
de germoplasma de Passiflora, as quais são
consideradas pequenas para representar a grande
variabilidade natural existente (Lins et al., 1984;
Ferreira e Oliveira, 1991; Meletti et al., 1992;
Donadio, 2000; Galvêas e Alves, 1994; Nascimento
et al., 2003).
O gênero passiflora possui ampla variabilidade
genética interespecífica, favorecido na espécie
cultivada P. edulis Sims e na sua variabilidade
botânica auto-incompatibilidade existente e elevada
compatibilidade interespecífica existente no grupo
2n=18 (Ferreira, 1994).
A variabilidade genética é observada em:
florescimento, produtividade, resistência a pragas e
doenças, tolerância ao frio e, principalmente, em
características do fruto. O conhecimento dessas
alternativas genéticas é importante para embasar um
programa de melhoramento em Passiflora (Meletti et
al., 1992; Meletti et al., 2002a).
Além dessa ampla gama de variabilidade
genética interespecífica, que ocorre no gênero
Passiflora, há de se destacar que na espécie P. edulis
Sims e na sua variedade botânica P. edulis f.
flavicarpa Deg., ocorre também uma enorme
variabilidade, tendo em vista que esta espécie é
alógama, pois seus indivíduos são auto-
incompatíveis, não obstante a compatibilidade
interespecífica no grupo 2n=18 ser elevada (Ferreira,
1994).
Em relação as características físico-química
dos frutos das espécies de Passiflora spp. (Quadro
12.3) há grande variação, devidas às diferenças
amplamente relatadas, intra e inter-específica
(Meletti et al., 1992).
Quadro 12.3 – Características físicas e químicas dos frutos de diferentes variedades de maracujazeiros Amarelo e
Roxo (Passiflora ssp). Louveis/SP.
Acessos Peso fruto (g) Diâmetro (cm) Compr.(cm) Forma Cor polpa Polpa (%) SST (%)
P. edulis f. flavicarpa
‘Austrália’ 52,5 4,9 8,3 Ovolada Laranja 52,4 15,1
‘Pariqueta-Açu’/SP 101,8 5,8 10,4 Ovolada Am.ouro 56,3 13,2
‘Marmelo’ 57,2 5,2 5,4 Redonda Amarela 47,3 12,8
‘Casca Fina’ 153,4 7,8 10,3 Ovolada Amarela 60,8 13,6
‘Marília’ 138,6 - - Ovolada Laranja - 15,2
‘Monte Alegre’ 140,8 - - Ovolada Laranja - 15,4
‘Bogotá’ 130,6 - - Ovolada Laranja - 15,0
P. edulis Sims
‘Luizinha’/SP 61,0 5,1 7,2 Ovolada Laranja 50,3 17,6
‘280-UNESP’ 23,6 3,9 4,3 Redonda Laranja 43,6 -
‘Vermelhão’ 107,2 - - Redonda Amarelo - 14,8
‘Bogotá’ 102,5 - - Ovolada Laranja - 14,2
‘Roxo’ 55,1 - - Ovolada Amarelo - 19,5
Fonte: Meletti et al. (1992); Meletti et al. (1994).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 165
O maracujazeiro-amarelo ‘Casca Fina’
apresenta as melhores qualidades físico-químicas,
sendo considerado um bom progenitor para o
programa de melhoramento da espécie. Já o
maracujazeiro-roxo ‘Luizinha’ possui um alto teor de
sólidos solúveis (Meletti et al., 1992).
Em uma população de 525 plantas, melhoradas
através de dois ciclos de seleção massal para redução
da espessura de casca, realizado pela Embrapa do
Pará (CPATU), foram selecionadas 20 plantas e seus
frutos caracterizados (n=10), pelas médias, desvio
padrão e coeficiente de variação (Quadro 12.4).
Quadro 12.4 – Média, desvio padrão e coeficiente de variação das características físicas e físico-químicas de frutos
de 20 progênies, pertencentes a uma população melhorada de maracujazeiro-amarelo. Belém-PA, 2001.
Peso do
fruto (g)
Compri-
mento do
fruto (cm)
Espessura
da casca
(cm)
Rendi-
mento de
suco (%)
Nº. de
sementes SST ATT pH SST/ATT
Média 161,6 7,3 0,49 47,3 281 16,2 3,4 3,0 4,91
Dês. Padrão 35,2 0,59 0,098 6,76 68,28 1,03 0,65 0,09 -
C.V. (%) 21,8 8,2 20,0 14,3 24,3 6,4 19,0 3,1 -
Fonte: Nascimento et al. (2003)
Auto-incompatibilidade
O maracujazeiro-amarelo é uma planta que
possui auto-incompatibilidade, dependendo de
polinização cruzada para frutificar, devendo ser
polinizada por polens de outras plantas da mesma
espécie preferencialmente.
Quadro 12.5 - Níveis de compatibilidade nos cruzamentos nos sistemas de auto-incompatibilidade gametofítico e
esporofítico.
Sistema de Auto-
incompatibilidade
Cruzamento Gametas Genótipo da progênie
Fêmea x Macho Funcional Não funcional
Gametofítico
- ambas as plantas com o
mesmo genótipo G1G2 x G1G2 nenhum Todos Nenhum
- plantas diferindo em um alelo G1G2 x G1G3 G3 G1 G1G3, G2G3
G1G3 x G1G2 G2 G1 G1G2, G2G3
- plantas diferindo nos alelos G1G2 x G3G4 G3G4 nenhum G1G3, G2G3, G1G4, G2G4
G3G4 x G1G2 G1G2 nenhum G1G3, G2G3, G1G4, G2G4
Esporofítica
- ambas as plantas com o
mesmo genótipo S1S2 x S1S2 nenhum todos nenhum
- plantas diferindo em um alelo S1S2 x S2S3 nenhum S2S3 nenhum
S2S3 x S1S2 S1,S2 nenhum S1S3, S2S3, S2S2, S2S3
- plantas diferindo nos alelos S3S4 x S1S2 S1,S2 nenhum S1S3, S2S3, S1S4, S2S4
No caso do sistema esporofítico, considerou-se dominância decrescente no pólen S1, S2, S3 e S4 e ausência de
dominância no pistilo.
Em maracujazeiro, a auto-incompatibilidade é
do tipo homomórfica esporofítica (Ho e Shii, 1986;
Bruckner et al., 1995; Rego, 1997). Rego (1997),
encontrou evidências de que a auto-incompatibilidade
do maracujazeiro é controlada por dois genes.
Falleiro (2000), estudando progênies obtidas de
cruzamentos entre plantas de mesmo fenótipo, mas
cujo cruzamento era viável dependendo de qual
planta fornecia o pólen, sugeriu que há gene de efeito
gametofítico, associado ao sistema esporofítico. A
compatibilidade ocorre, nesse caso, quando uma
planta, homozigota para G, recebe pólen de planta
heterozigota, ambas de mesmo genótipo com relação
ao gene S, sendo cruzamento recíproco incompatível
(Figura 12.2).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 166
Figura 12.2 – Esquema da auto-incompatibilidade do maracujazeiro.
12.6 Melhoramento Genético do Maracujazeiro
O maracujazeiro pode ser melhorado por
diversas técnicas de melhoramento vegetal, como:
hibridações, testes de progênie e seleção recorrente,
seleção massal e também pelos métodos atuais de
biotecnologia.
Para ganhos em produtividade e qualidade de
fruto foram feitos seleção massal, seleção com teste
de progênies, hibridações intra-específicos com
retrocruzamento e está iniciando a seleção recorrente.
Para o controle de doenças, testes de enxertia
usando como porta-enxerto as espécies: P. edulis, P.
caerulea, P. giberti e P. setacea provaram a
eficiência técnica, porém é questionado sua
viabilidade econômica.
Com relação a hibridações, embora híbridos de
maracujazeiro possam ser obtidos de linhagens auto-
incompatíveis, eles necessitam ter suficientemente
diversidade de alelos S para que ocorra boa
frutificação. Híbridos simples, originados de duas
linhagens homozigotas para alelos S, não terão
interesse comercial, por serem auto-incompatíveis e,
conseqüentemente, improdutivos. Híbridos duplos
seriam facilmente produzidos de híbridos simples
auto-incompatíveis, mas teriam também insuficiente
diversidade de alelos S (Bruckner, 1994). Neste caso,
a baixa produtividade proveniente da baixa
frutificação provocada pela incompatibilidade
moderada, se agrava em campo com polinização
deficiente.
A hibridação somática, pela fusão de
protoplastos, evita a utilização de processos sexuais
na obtenção de híbridos alotetraplóides. Esse
processo combina o genoma nuclear de ambas as
espécies parentais, embora em combinações muito
distantes possa ocorrer a eliminação de
cromossomos. Atualmente, o potencial de utilização
desses híbridos de maracujazeiros está em avaliação,
em experimentos de campo.
Variedades sintéticas e compostos também
podem ser considerados como boas opções de
melhoramento, porque a maior produtividade pode
ser multiplicada pelo produtor.
Introdução de Germoplasma Para o desenvolvimento de uma boa cultivar
de maracujazeiro, é necessário, conhecer, explorar e
manusear convenientemente a variabilidade genética
disponível, dentro de um programa de melhoramento
bem conduzido (Meletti et al., 1994). Assim, para
programas de melhoramento iniciais, a introdução de
novas variedades ou acessos pode constituir em
variedades melhoradas, quando cultivadas na nova
região, ou servir como banco de genes representantes
de características especiais para serem usadas no
desenvolvimento de variedades (Borém, 2001a).
A alta variabilidade genética encontrada dentro
de populações de Maracujazeiro-Amarelo,
principalmente para produtividade (Quadro 12.6),
possibilita o melhoramento do maracujazeiro, com
ganhos significativos de produtividade (Stenzel e
Sera, 1994).
Planta B Planta A
S3S?G2G3 S3S?G2G2
Compatibilidade Incompatibilidade
Planta A Planta B
S3S?G2G2 S3S?G2G3
Pólen
S3G2
S?G2
S?G2
S3G2 S3G3
S?G3
Pólen
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 167
Quadro 12.6 – Médias de produtividade, peso do fruto e vigor vegetativo das melhores populações de
Maracujazeiro-Amarelo. Londrina-Paraná, 1993-1994.
Origem das plantas Produtividade Fruto Vigor Vegetativo
(kg/planta) C.V.(%) Peso (g) C.V.(%) (0 – 10) C.V.(%)
Botucatu 41,0 24 125 12 8,5 9
Pacaembu 41,0 21 153 12 7,5 11
Junqueirópolis 41,0 11 139 12 6,8 16
Faxinal 41,0 19 106 15 7,4 12
Cachoeira 41,0 20 148 9 7,0 11
Jaboticabal 40,0 17 101 11 8,3 16
Marília 38,4 9 135 10 7,4 7
Avaré 36,3 12 131 12 7,8 16
Luziânia 36,0 12 126 11 6,4 19
Maguari 34,6 19 104 18 9,7 5
Osvaldo Cruz 33,4 12 155 8 8,0 12
Fonte: Stenzel e Sera (1994).
Seleção em Maracujazeiro
A alta herdabilidade observada em populações
de maracujazeiro-amarelo para a característica
número de fruto, indica que um método simples de
seleção, como a seleção massal, pode ser eficiente no
melhoramento dessa espécie (Cunha, 1996; Viana,
2001). No entanto, para algumas características
qualitativas, como coloração interna e teor de sólidos
solúveis totais (SST), o ambiente exerce grande
influência sobre o genótipo (Bruckner et al., 2002).
A seleção recorrente possibilita aumentar
gradativamente a freqüência de alelos desejáveis,
principalmente para características quantitativas, por
meio de repetidos ciclos de seleção, sem reduzir a
variabilidade genética da população (Borém, 2001b).
Em maracujazeiro, isto pode ser observado
devido ao elevado índice de eficiência obtido em
polinizações manuais controladas (superior a 90%),
em material selecionado, o que indica que a base
genética dos indivíduos não é reduzida a ponto de
limitar o cruzamento dos indivíduos entre si, por
efeito da auto-incompatibilidade presente na espécie
(Melleti et al., 2000). A seleção recorrente praticada
para produtividade também é eficiente em eliminar as
plantas com flores inférteis (tipo SC) ou parcialmente
férteis (tipo PC) Melleti et al., 2000.
A seleção recorrente entre famílias de meios-
irmãos, baseada em algum tipo de progênie, permite
que o melhorista faça as avaliações em repetições
conduzidas em diferentes ambientes. Dessa forma, as
médias das famílias expressam menor variância
fenotípica do que as estimativas para plantas
individuais. A redução da variância fenotípica
contribui para maior ganho genético esperado
(Borém, 2001b).
O fruto do maracujazeiro possui mais de 300
sementes, por isso, apenas um fruto é suficiente para
gerar uma progênie de meios-irmãos, com várias
repetições. Mas pelo grande espaçamento de cultivo
desta cultura (3 m x 5 m), existe limitações no
número de plantas avaliadas por progênies. Com isso,
Cunha (1996) sugere a modificação do método de
seleção entre e dentro de famílias de meios-irmãos –
SEDFMI, proposto por Paterniani (1968).
O método de Cunha (1996) consiste em obter
as progênies de meios-irmãos da população inicial,
sob pressão de seleção simples duplicado com quatro
repetições. A polinização deve ser controlada em
uma das quatro repetições, polinizando cinco flores
de cada planta das progênies selecionadas, com um
composto de pólen também das plantas selecionadas.
A pressão de seleção no primeiro ciclo deve ser de
33,0%, enquanto no segundo e terceiro terá
intensidade de 20,0% e 15,0%, respectivamente. A
seleção entre progênies deve ser conduzida com base
nos dados das três repetições colhidas anteriormente,
sendo que dentro de cada progênie deve ser feita uma
seleção massal, escolhendo-se quatro plantas
competitivas por progênie.
12.7 Cultivares
Existe grande variabilidade de formas,
tamanho, teor de açúcar, acidez, rendimento de suco,
tolerância à pragas e doenças, cor de polpa e outras
características de interesse nas três principais
espécies cultivadas no Brasil, sendo que para o
maracujá doce e para o maracujá roxo ainda não
existem, comercialmente, variedades. Para o
maracujá amarelo já existem algumas seleções e
híbridos, com sementes disponíveis comercialmente
(Sales, 2000), segue os principais:
Híbridos IAC: Série de híbridos desenvolvidos pelo
IAC, sendo as principais características a
uniformidade dos frutos, bom rendimento de suco e
teor de açúcares, polpa alaranjada, boa produtividade
e vigor.
São híbridos intravarietais, da geração F2,
resultantes do cruzamento controlado entre
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 168
progenitores selecionados nos campos comerciais e
retrocruzamentos para um genitor específico,
portador de frutos grandes, alongados, de casca fina e
com cavidade interna completamente preenchida
Meletti et al., (2000).
Foram recombinadas, portanto, características
de maracujazeiros de diferentes origens geográficas,
a saber:
IAC 1 - selecionado de (Açailândia x Açailândia) X
F1RC1 Açailândia
IAC 2 - selecionado de (Açailândia x Sul Brasil) X
F1RC1 Sul Brasil
IAC 3 - selecionado de (Açailândia x Monte Alegre)
X F1RC1 Monte Alegre
IAC 4 - selecionado de (Açailândia x Marília) X
F1RC1 Marília
IAC 5 - selecionado de (Guaimbê x Açailândia) X
F1RC1 Guaimbê
IAC 6 - selecionado de (Guaimbê x Sul Brasil) X
F1RC1 Sul Brasil
IAC 7 - selecionado de (Sul Brasil x Monte Alegre
Sul) X F1RC1 Monte Alegre
IAC 8 - selecionado de (Pindorama x Jundiaí) X
F1RC1 Jundiaí
Os híbridos IAC-3; IAC-5 E IAC-7, atenderam
às atuais exigências do mercado, sendo reunidas no
‘COMPOSTO IAC-27’, lançado como cultivar, em
1998 (Meletti et al., 2000).
Em 1998 foi lançado também como cultivares de
maracujazeiro com garantia de origem, os compostos
IAC-273 (polpa alaranjada-clara), IAC-275 e IAC-
277 (polpa alaranjada-escura), com grande avanço
em produtividade e qualidade. A produtividade a
nível de produção comercial para o IAC-273 é de 72
kg/planta/ano ou 48 t/ha/ano e para o IAC-277 é de
60 kg/planta/ano ou 40 t/ha/ano, enquanto a
produtividade média de outros materiais, na região
analisada, é de 41 kg/planta/ano ou 27 t/ha/ano
(Meletti et al., 2000b).
Quadro 12.7 - Produtividade estimada e características química e físicas de frutos de maracujá-amarelo pelos
híbridos IAC e produtividade estimada. E.E. Monte Alegre do Sul, SP, jan. a jul. de 1997. Adaptados de Meletti et
al., (2000).
Híbridos
Produtivi
dade Estimada
(t/ha)
Sólidos Solúveis
(¨%)
Rendimento de
Polpa
(%)
Diâmetro
Transversal (cm)
Diâmetro
Longitudinal (%)
IAC-1 55,06 b 15,5 ab 49,1 c 7,2 b 8,7 c
IAC-2 42,21 c 15,4 b 52,5 b 7,1 bc 8,4 d
IAC-3 65,21 a 15,3 b 50,5 c 7,3 b 8,8 bc
IAC-4 41,07 c 15,4 b 59,4 a 6,6 c 8,4 d
IAC-5 57,10 ab 15,4 b 55,8 ab 7,1 bc 8,5 d
IAC-6 50,89 b 15,4 b 47,4 c 7,6 ab 8,9 b
IAC-7 56,84 ab 14,9 c 48,3 c 7,6 ab 9,0 ab
IAC-8 26,57 d 16,0 a 54,1 ab 7,8 a 9,2 a
Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem pelo Teste de Tukey, a 5%.
Os híbridos IAC mostram alta capacidade de
combinação entre as plantas, com um índice mínimo
de abortamento de flores e um número maior de
frutos por planta que o material comercial, com
problemas de incompatibilidade, redução no
vigamento de frutos nos dias de céu encoberto e
menor número de frutos em determinadas épocas.
Quadro 12.8 - Valores médios de caracterização de frutos de maracujá-amarelo, cultivar IAC-273, IAC-277 e mercado
paulista, produzidos em Amparo (A), Tietê (T) e Vera Cruz (VC), SP. Médias das safras de janeiro a julho 1998 e 1999.
Local Cultivar Peso
fruto
(g)
Diâmetro
Long. Transv.
Rendimento de
polpa
(%)
Número
semente
por fruto
SST
(%)
Espessura de
casca
Classe
IAC-273 221 9,1 7,6 37,62 457 16,2 0,72 2A e 3A
Amparo IAC-277 205 8,7 7,1 41,27 372 15,2 0,58 2A e 3A
Mercado-SP 165 6,9 6,5 32,79 255 13,6 0,70 1A à 4A
IAC-273 204 8,9 7,2 35,22 462 15,8 0,77 2A e 3A
Tietê IAC-277 199 8,5 7,0 40,79 398 15,0 0,61 2A e 3A
Mercado-SP 172 7,2 6,9 33,70 301 14,0 0,71 1A à 4A
IAC-273 221 8,7 7,0 35,22 402 15,0 0,75 2A e 3A
Vera IAC-277 205 8,3 7,1 41,12 312 14,6 0,58 2A e 3A
Cruz Mercado-SP 165 7,5 6,9 34,19 215 13,2 0,78 1A à 4A
Fonte: Meletti et al. (2002b).
Seleção Sul Brasil: Também selecionado nas
condições de São Paulo, visando principalmente o
mercado de fruta fresca, apresenta a maioria dos
frutos grandes, ovalados, com peso médio de 300g,
boa produtividade e vigor. No entanto, apresenta
baixo rendimento de suco e teor de açúcares.
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 169
Seleção Maguary ou Araguari: Desenvolvido nas
condições do Triângulo Mineiro, apresenta como
principais características o alto rendimento de suco e
teor de açúcares, além da boa produtividade e
rusticidade. Como foi desenvolvido para atender o
mercado industrial, apresenta frutos desuniformes em
tamanho e cor de casca.
Seleções EMBRAPA: A EMBRAPA vem
desenvolvendo algumas variedades e híbridos, os
quais deverão ter sementes comercialmente
disponíveis em breve e, entre eles, tem chamado a
atenção o Roxo Australiano e o Vermelho.
Outros institutos de pesquisa e empresas
produtoras de sementes também deverão
disponibilizar, em breve, suas variedades, ainda em
desenvolvimento.
Quadro 12.9 - Produtividade de seis cultivares de maracujazeiro-azedo (t/ha) em Vargem Bonita, Distrito Federal.
Cultivares
Produtividade (t/ha)
1996 1997 1998 Total
CSB Marília x NJ3 vermelho 39,06 49,53 11,53 100,12
Seleção DF 37,20 50,33 10,60 98,13
CSB Marília 40,58 47,49 8,70 96,97
Roxo Australiano 35,77 42,65 5,89 84,31
Maguari 30,72 41,35 12,20 84,27
NJ3 Vermelho 27,14 39,05 4,97 71,16
Fonte: Manica et al. (2002).
12.8 Propagação
A propagação em escala comercial é feita, no
Brasil e muitos países, através de sementes (sexuada),
mas pode também ser através estaquia ou enxertia
(assexuada).
Propagação sexuada
Produção de semente selecionada
Há uma grande dificuldade de obtenção de
sementes comerciais de maracujazeiro no Brasil,
constituindo-se em um dos principais entraves ao seu
cultivo, seja em pomares grandes, seja em pequenos.
Os demais problemas, tais como doenças e insetos-
praga, tendem a ocorrer com menor intensidade à
medida que se semeia uma semente de origem
conhecida, proveniente de material superior.
A produção de sementes selecionadas contorna
um pouco esse problema. As sementes selecionadas
proporcionam maior produção e produtividade, com
frutos de melhor qualidade e possível resistência à
pragas e doenças.
Cunha (1999) sugere que a seleção no pomar
será mais eficiente se forem seguidos os seguintes
passos de:
- Escolha pontos na plantação que possam constituir
as parcelas de seleção das plantas que fornecerão as
sementes para o próximo plantio, como
exemplificado na Figura 12.3 para um plantio de 15
ha.
- Delimite cada parcela, de forma a conter o número
de plantas colocado no quadro 12.10, de acordo com
o plantio planejado, no espaçamento de 3,0 m x
5,0m; - Selecione aproximadamente 25% das plantas dentro
de cada parcela (Quadro 12.10), quando da primeira
safra, comparando basicamente os caracteres
apresentados no quadro 12.11; caso não seja possível
adotar todos os procedimentos indicados, procure a
orientação de um técnico, a fim de conduzir a seleção
de acordo com aqueles passíveis de adotar na
propriedade;
- Compare as plantas das demais parcelas, não
selecionando aquelas vizinhas a covas vazias;
- Acompanhe as plantas individualmente;
Após esse prazo, o saco é retirado e a flor marcada
com uma etiqueta; com o desenvolvimento do fruto,
marque-o com uma fita adesiva, a fim de não ser
misturado com os não selecionados quando da
colheita.
Figura 12.3 – Delineamento das parcelas, com
destaque para uma delas, que fornecerão as sementes
em um plantio de 15 hectares.
- Polinize, de forma controlada e
manualmente, as plantas escolhidas; para tanto,
percorra as parcelas todas as manhãs a partir do
surgimento dos primeiros botões florais e, ao
identificar as flores em início de abertura, proteja-as,
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 170
em número de 10 por planta, com um saco de papel
permeável ou de tecido. Os sacos devem ser
colocados antes das 9:00 h e, no período da tarde do
mesmo dia, transfira o pólen das flores de uma planta
para o estigma das flores de outra planta, usando
dedeira de lã ou cotonete, e recoloque o saco para
evitar contaminações. O pegamento deverá ocorrer
dentro de cinco dias e poderá ser visto pelo
intumescimento do ovário.
Utilize 200 sementes de cada fruto nas plantas
selecionadas para formar o composto de sementes
que será usado no plantio seguinte; as sementes assim
obtidas são provenientes de plantas meios-irmãs, mas
com controle das doadoras e das receptoras de pólen,
fato que permite o uso mais eficiente da variância
genética aditiva.
Calcule a colheita para semear quatro
sementes por saco de polietileno ou três sementes, se
for usar o tubete, para formar a muda. Caso deseje
usar um número diferente de sementes, faz-se novo
cálculo no quadro 12.10, a qual é de fácil manuseio.
Quadro 12.10 – Orientação no uso de seleção massal estratificada em maracujazeiro. Área
Plantada
Nº de
mudas
Sementes necessárias
Nº Peso (kg)*
Nº de
plantas para
fornecer as
sementes
Nº de
parcelas
Nº total de
plantas nas
parcelas
Nº de
plantas por
parcela
Nº de
plantas a
selecionar
por parcela
100 70.000 280.000 6.222 140 10 560 56 14
90 63.000 252.000 5.600 126 10 504 51 13
80 56.000 224.000 4.977 112 10 448 45 12
70 49.000 196.000 4.355 98 8 392 49 12
60 42.000 168.000 3.733 84 8 336 42 11
50 35.000 140.000 3.111 70 8 280 35 9
40 28.000 112.000 2.488 56 6 224 38 10
30 21.000 84.000 1.866 42 6 168 28 7
20 14.000 56.000 1.244 28 6 112 19 5
15 10.500 42.000 0.933 21 4 84 21 6
10 7.000 28.000 0.622 14 4 56 14 4
5 3.500 14.000 0.312 8 4 28 7 2
4 2.800 11.200 0.249 6 2 24 12 3
3 2.100 8.400 0.186 6 2 20 10 3
2 1.400 5.600 0.124 4 2 12 6 2
1 700 2.800 0.062 2 1 8 8 2
* 45 semente = 1 grama Fonte: Cunha (1999).
Quadro 12.11 – Caracteres de uso na seleção massal estratificada em maracujazeiro. Caracteres Como proceder
Vigor vegetativo Notas de 1 a10, com a nota máxima sendo atribuída às plantas mais vigorosas, com bom
aspecto visual e bom desenvolvimento vegetativo.
Produtividade Peso dos frutos. Escolha os frutos com mais de 120 g, preferencialmente.
Número de frutos Contagem dos frutos colhidos
Tamanho dos frutos Distância entre o ápice e a região do pedúnculo, tomando em uma amostra de 10 frutos
colocados em uma forma padrão, medido com uma escala.
Diâmetro mediano do fruto Tomado na mesma amostra citado no item anterior
Coloração externa e interna do
fruto maduro
Avaliação conduzida em tabela padrão existente nos laboratórios
Número de sementes por fruto Tomado em uma amostra de 10 frutos. Escolha os frutos com maior número de sementes.
Um fruto contém, em média, 250 sementes.
Cor do suco Avaliação conduzida em tabela padrão existente nos laboratórios
Teor de sólidos solúveis totais Avaliado por refratômetro,indicando-se acima de 15% de açúcares solúveis como o teor
que deve ser a base da seleção
ATT Titulação de um volume conhecido de suco com uma solução padrão de hidróxido de sódio.
Requerimento em suco Relação entre o volume de suco e peso da amostra de frutos
Avaliação visual de doenças Observar principalmente a incidência de fusariose
Ocorrência de definhamento
precoce
Verificar a presença ou não dessa anomalia ou outras que venham a ocorrer
Fonte: Cunha, (1999)
Esta orientação prevê a seleção na primeira
safra e a polinização controlada na segunda e terceira
safras, as quais serão as fontes para o composto de
sementes selecionadas que será semeado no plantio
seguinte. A prática desses procedimentos, conquanto
exija um trabalho mais sistematizado e controlado,
redundará em uma população de plantas com
concentração de genes superiores, a qual certamente
conduzirá a plantios com menor incidência de
doenças e insetos-praga, produção elevada e frutos de
melhor qualidade, que compensarão plenamente o
esforço. A condução dessa seleção massal
estratificada, adaptada a plantios de maracujá e
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 171
sugerida para aplicação pelo agricultor, possibilitará
o melhoramento da população de plantas visando o
aumento de produtividade, é fácil em sua prática,
embora exija mais trabalho, e permitirá que o
agricultor forme o seu material de plantio após dois
ou três ciclos de seleção, livrando-o das dificuldades
quando da aquisição de sementes selecionadas. Os
ciclos de seleção aqui referidos serão os plantios
feitos normalmente na gleba do produtor, repetindo-
se os mesmos procedimentos em cada um deles.
Produção de muda
Os principais recipientes utilizados para
produção demudas de maracujazeiro são: sacola
plástica de 10 x 25 cm a 18 x 30 cm, o tubete de
polietileno e a bandeja de isopor.
Na garantia de se obter mudas de qualidade,
alguns cuidados são indispensáveis e, entre diversos
cuidados, a qualidade do substrato é um fator muito
importante (Peixoto, 1986). Os melhores substratos
devem apresentar, entre importantes características,
disponibilidade de aquisição e transporte, ausência de
patógenos, riqueza em nutrientes essenciais, pH
adequado, textura e estrutura (Silva et al., 2001b).
Várias são as misturas utilizadas na
composição de substratos para plantas, devendo-se
levar em consideração as propriedades químicas e
físico-hídricas, pois estas influenciam na relação
água/ar do substrato e na disponibilidade e absorção
de nutrientes (Fernandes & Corá, 2000).
Particularmente para o maracujazeiro, o uso de
substratos comerciais isolados ou misturados ou a
confecção de substratos variando a fonte orgânica e
inerte já foram testados, sendo que os melhores
resultados foram registrados para composições que
envolvam partes de fonte orgânica, como estercos,
ficando o uso de areia e casca de arroz carbonizada,
limitado pela baixa eficiência no processo (Peixoto e
Pádua, 1989; Silva et al., 2001; Borges et al., 1995;
Lima et al., 1995).
Quanto ao recipiente para o maracujazeiro, são
recomendados, saquinhos, tubetes de polietileno e
bandejas de polipropileno (isopor). Os tubetes de
polietileno tem dimensões 12 x 2,7 cm ou 14,5 x 3,5
cm, contendo um volume aproximado de 50 ml. A
andeja de isopor medindo 40 x 60 x 12 cm com 72
células em formato piramidal, contendo um volume
de 75 ml. E sacos plásticos que varia de 7 x 16 cm x
0,02 até 18 x 30 cm x 0,02; sendo 14 x 28 cm a mais
comum (Silva, 1998).
O substrato para ambos os recipientes pode ser
elaborado à base de vermiculita expandida e matéria
orgânica, contendo macro e micronutrientes, ou
adquirido pronto em casas comerciais do ramo. Esse
tipo de substrato é facilmente adquirido em casas
comerciais de produtos agrícolas sob diversas
denominações.
Um substrato muito utilizado na produção de
mudas frutíferas pelo viveiro da CATI em São bento
do Sapucaí, compões-se de 1/3 de terra, 1/3 de
composto orgânico e 1/3 de casca de arroz
carbonizado, podendo adicionar no máximo 10% de
carvão vegetal. Para melhorar a fertilidade, adiciona-
se 1 kg de calcário por m3 e 1,5kg/m
3 de termofosfato
‘Master’ (yoorin). Antes de utilizar-lo, o substrato é
solarizado para eliminar patógenos, insetos e plantas
espontâneas.
Em tubetes e bandejas, principalmente, a
quantidade de substrato em cada recipiente é
pequena, ocorrendo um rápido esgotamento de
nutrientes no substrato em poucas semanas,
necessitando de uma reposição dos mesmos. Essa
reposição é feita através de regas semanais, contendo:
200 g de nitrocálcio e 35 g de cloreto de potássio
dissolvidos em 10 litros d'água. Após a rega com a
solução é necessário realizar uma segunda, contendo
apenas água para promover a lavagem das folhas,
evitando danos às folhas mais jovens.
Deve-se semear 3 sementes por saquinho a
uma profundidade de 0,5 a 1,0 cm. A seguir cobre-se
a semente com o próprio substrato. Os recipientes
devem ser cobertos com uma cobertura morta (capim
seco, palha de arroz ou outro disponível) para
favorecer a umidade do substrato a germinação. Após
o início da emergência das plântulas retirar a
cobertura morta, a germinação ocorre de 1 a 2
semanas e a germinação máxima até 1 mês. Quando a
plantinha alcançar entre 3 a 5 cm de altura, realiza-se
o desbaste, deixando somente uma, a mais vigorosa,
por recipiente.
Em geral quando as mudas apresentarem uma
altura de 20 a 25 cm, o que ocorre após 45 - 60 dias
da semeadura, estão prontas para o plantio definitivo
no campo em covas previamente preparadas e
adubadas.
Enxertia assexuada
Estaquia
As estacas de maracujazeiro devem ser
retiradas de partes maduras da planta (parte mediana
dos ramos), contendo dois ou três entrenós. Durante a
confecção das estacas, recomenda-se deixar um par
de folhas ou um par de meia folhas no nó superior,
que pode ajudar no enraizamento. O tratamento que
substâncias de reguladoras de crescimento não tem
promovido aumentos significativos no enraizamento.
Os 2/3 inferiores das estacas devem ser enterrados no
substrato é quando as plantas estão em crescimento
ativo e sem produção de frutos.
As estacas de maracujazeiro enraízam, na sua
maioria, entre o vigésimo e o trigésimo dia após o
enterro no leito, quando podem ser transferidas para
recipientes que contenham substrato.
Enxertia
A enxertia é mais utilizada em regiões que
apresentam problemas de doenças de solo, como a
Fusariose ou em situação que se deseje multiplicação
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 172
clonal, fator importante quando se trabalha com
híbrido os quais tem condições de dar origem aos
mesmos tipos de plantas desejadas quando a
propagação é feita por semente.
As mudas são enxertadas quando o porta-
enxerto atinge uma altura de 25 cm; a enxertia mais
recomendada é o processo de garfagem no topo em
fenda cheia. Os garfos utilizados na enxertia são
cortados com 20 cm de comprimento, cortadas todas
as folhas e enrolados (protegidos com substrato
umedecido) permanecendo sempre à sombra.
No momento da enxertia, os garfos (enxertos),
são cortados com 8 cm de comprimento e pratica-se
na sua extremidade inferior dois cortes convergentes
de 2 a 3 cm de comprimento. Elimina-se a parte
terminal do porta-enxerto um corte longitudinal de 3
cm. O enxerto (garfo) é inserido neste corte do porta-
enxerto e coloca-se numa posição de coincidência da
casca do enxerto com o porta-enxerto amarrando as
duas partes com fita de amarrio; em seguida o
enxerto pode ser coberto com um saquinho de
plástico transparente e protegendo finalmente o
enxerto contra o vento e sol, com cobertura de palha,
capim seco ou outro material.
Após o pegamento do enxerto, retira-se a fita
do amarrio; decorrido mais 20 a 30 dias retira-se a
cobertura; 50 a 70 dias após a enxertia, dependendo
do crescimento do enxerto, desamarram-se os
enxertos.
12.9 Solos e Nutrição Mineral
Solos
Os solos mais indicados para o maracujazeiro
são os argilo-arenosos, profundos e bem derenados;
os oslos arenosos são ótimos para o cultivo do
maracujazeiro, exceto quando são de baixa fertilidade
natural e localizam-se em regiões com restrições
hídricas; os solos argilosos raso e com drenagem
imperfeita devem ser evitados; é necessário que a
camada superficial do solo e até a profundidade de
aproximadamente 45cm esteja bem drenado (Manica,
1981)
Os solos com drenagem deficiente ou que
apresentam acentuada elevação do lençol freático no
período das águas, afeta o desenvolvimento das
plantas, pois limita o progresso do sistema radicular,
além de provocar problemas fitossanitários, devido
ao aumento de microorganismos patogênicos no solo
(Freitas, 2001).
O sistema radicular do maracujazeiro é pouco
distribuído, concentrando-se num raio de 50 cm da
haste e na profundidade de 30 – 40 cm. A absorção
de nutrientes pelas plantas intensifica-se a partir de
250 dias de idade, que corresponde ao estádio pré-
frutificação (Ruggiero et. al., 1996).
Nutrição
A demanda por nutrientes acompanha a curva
de acúmulo de matéria seca na planta, que atingi seu
ponto máximo ao redor de 240 dias após o plantio
(Quaggio e Piza Jr., 1998).
O aumento significativo da demanda de
nutrientes, principalmente N, K e Ca, coincidem com
o rápido crescimento da planta, após 120 dias,
momento que a planta já atingiu os 2 metros de altura
e estar emitindo ramos, através de fluxos vegetativos.
O N tem um pico de demanda mais bem definido ao
redor de 210 dias, sendo que nesta época, o teor de N
fica bem abaixo das faixas consideradas adequadas,
enquanto os demais nutrientes são extraídos
continuamente até o término do período de
frutificação. Assim, os nutrientes extraídos em maior
quantidade pelo maracujazeiro são:
N>K>Ca>>S>P>Mg (Quaggio e Piza Jr., 1998), e
entre os micronutrientes o Fe>>Mn>Zn>B>Cu,
representados na tabela 12.1 (Nakagawa, 1991;
Carvalho et al., 2001). Essa seqüência pode ser
alterada, podendo o B tornar-se o segundo elemento
absorvido em maior quantidade, após o Fe (Lopes,
2000).
Tabela 12.1 – Teores adequados de macronutrientes
(dag/kg) e micronutrientes (g/g) para o maracujazeiro
cultivado em solo.
Nutrientes Autores
1 2 3 4
Norg. 3,47- 4,98 3,6 – 4,6 4,0 3,5 – 5,8
K 2,35 – 3,55 2,4 – 3,2 2,6 2,4 – 3,8
Ca 1,06 – 1,51 1,7 – 2,8 3,1 0,6 – 1,4
S 3,19 - 4,33 0,44 - 0,3 – 0,5
P 2,31 - 3,43 0,2 – 0,3 0,2 0,2 – 0,4
Mg 2,13 - 3,62 0,21 0,2 0,2 – 0,4
Cl 16,9 - 28,9 - - 1,3 – 3,2
B 22,8 - 55,7 39 – 47 34 – 49
Cu 4,5 - 95,4 15 – 16 4 – 9
Fe 77,0 - 135,0 116 – 233 168 77 – 246
Mn 50,1 - 91,4 433 – 604 356 44 – 95
Zn 26,1 -
37,6
26 - 49 109 21 - 32
(1) Carvalho et al. (2001);
(2) Haag et al. (1973);
(3)
Colauto et al. (1986); (4)
Carvalho (1998).
O acúmulo de N e K nos frutos é muito
intenso, estabilizando-se somente por ocasião do
amadurecimento. Os macronutrientes P, S, Ca e Mg
mostram pequena translocação para os frutos. O Zn e
o Fe são os micronutrientes translocados em maiores
quantidades para o fruto (Kliemann et al., 1986).
A exportação de nutrientes com a colheita dos
frutos, fornece informações básicas para programas
de adubação do maracujazeiro (Quadro 12.13).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 173
Quadro 12.13 – Exportação de nutrientes por tonelada
de fruto de maracujazeiro amarelo (Kliemann et al.,
1986).
Nutriente (g.ton-1
)
HAAG et al.
(1973)
DE PAULA et al.
(1974)
N 1900 1920
P 630 390
K 3620 4080
Ca 276 380
Mg 165 250
S 168 130
B 1,5 2,6
Cu 2,6 1,4
Fe 3,6 21,3
Mn 7,4 5,5
Zn 4,2 7,7
Mo 0,02 0,02
Os nutrientes exportados em maior quantidade
são K e N, numa relação de quase 2:1 entre eles. Este
conhecimento é importante para assegurar boa
qualidade do maracujazeiro, pois o excesso de N em
relação ao K reduz o tamanho do fruto, diminuindo a
resistência da casca e provoca o reverdecimento do
fruto (Quaggio e Piza Jr., 1998).
Adubação
Recomenda-se aplicar, por cova, ou metro
linear de suco, de 20 a 40 litros de esterco de curral
curtido ou composto ou 8 litros de esterco de galinha,
200 g de calcário dolomítico, 200 g de P2O5, 4 g de
Zn e 1 g de B. Misturar o adubo orgânico, o calcário
e os adubos minerais com terra da superfície, com
antecedência mínima de 30 dias do transplantio
(Quaggio e Piza Jr., 1998).
Quadro 12.14 – Recomendação de adubação (kg/ha)
para produção do maracujazeiro, conforme a
expectativa de produtividade e resultados de análise
de solo. (Quaggio e Piza Jr., 1998). Produtiv.
esperada
(t/ha)
N
(kgha-1)
P resina,
(mg dm-3) 0-12 13-30 >30
K+trocável mmolcdm-3
0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 >3,0
<15 60 40 20 10 180 130 80 40
15-20 80 60 40 10 240 180 120 60
20-25 100 80 40 20 300 230 160 80
25-30 120 100 50 40 360 280 200 100
30-35 140 120 80 60 420 330 240 120
>35 160 140 100 80 480 380 280 140
Para a adubação de produção, assim que a
planta iniciar o florescimento, deverá receber as
doses anuais de N, P2O5 e K2O de acordo com a
análise inicial do solo e a produtividade esperada.
Essa meta de produtividade não depende apenas de
doses de fertilizantes, mas sim de todo o manejo da
cultura. Portanto, ela não pode ser confundida com a
produtividade desejada pelo produtor.
As doses de nutrientes deverão ser aplicadas
antes dos principais fluxos de floração. Para tanto,
parcelar em 4 a 5 aplicações, geralmente nos meses
de setembro, novembro, janeiro e março. Aplicar os
adubos numa faixa de 2 m de comprimento por 1 m
de largura, nos dois lados da planta, 20 a 30 cm
distante do tronco.
12.10 Manejo agronômico
Espaçamento
Nos últimos anos tem-se buscado maior
aproveitamento de áreas exploradas com fruteiras,
notadamente com diminuição do espaçamento,
visando colocar maior número de plantas em menor
área, maximizando a produtividade.
No Brasil, diversos trabalhos com maracujazeiro
revelaram resultados significativos de aumento de
produtividade para o adensamento onde em densidade
de 5.000 plantas/ha, correspondendo ao espaçamento de
2,0 m x 1,0 m, Pace & Araújo (1981), obtiveram
produtividade de 33,1 t ha-1 na primeira safra. Andrade
et al. (1994) constataram que o espaçamento 3,0 m x 1,5
m produziu, na primeira safra 14,5 t ha-1
, que
representou 219% a mais que o maior espaçamento (3,0
m x 6,0 m). São José (1998) recomenda plantio com
espaçamento de 3,5 m x 1,75 m conduzindo um
potencial produtivo de 20 t ha-1. Contudo, alguns
trabalhos não revelaram efeito significativo, para
diferentes densidades como os de Cereda &
Vasconcelos (1991), com produtividade média de 26,4 t
ha-1 e densidades variando de 833 a 3.333 plantas/ha e
Manica et al. (1989), com produtividade média de 12,8 t
ha-1 em densidade variando de 695 a 2.000 plantas/ha.
Além disso, a maior produtividade obtida com o
adensamento pode não proporcionar maior retorno
econômico (Kits et al., 1996).
Em um experimento com adensamento e
desbaste de plantas a partir da primeira safra, Araújo
Neto (2004) verificou que a densidade de plantio
variando próximo a 1.110 plantas por hectare (3,0 m
x 3,0 m), demonstra ser mais produtiva e mais
lucrativa que nos espaçamentos atualmente
recomendados (3,0 m x 5,0 m) e em plantios
adensados (3.330 plantas/ha). Plantio adensado
(2.220 plantas/ha) com desbaste na segunda safra
(1.110 plantas/ha) apresenta boa produtividade,
porém tem aumento no custo de produção (Tabelas
12.2 e 12.3).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 174
Tabela 12.2 - Produtividade do maracujazeiro-amarelo em diferentes densidades de plantio. (Araújo Neto, 2004).
Tratamentos
Espaçamento (m)
Densidade
(plantas/ha)
Produtividade (1)
(t ha-1
)
1º safra 2º-3ºsafra 1º safra 2º safra 3º safra Total
T1= 3,0 x 1,0 3330 3330 11,722 ax 9,707 a 5,059 a 26,488ab
T2= 3,0 x 2,0 1660 1660 11,236 ab 10,474 a 4,478 a 26,188ab
T3= 3,0 x 3,0 1110 1110 11,743 ax 11,931 a 5,664 a 29,338ab
T4= 3,0 x 4,0 830 830 9,282 bx 9,951 a 6,383 a 25,617bx
T5= 3,0 x 1,0 c/ desbaste 3330 1660 (12,104)(2)
11,178 a 5,696 a 28,979ab
T6= 3,0 x 1,5 c/ desbaste 2220 1110 11,944 ax 12,367 a 6,032 a 30,343ax
T7= 3,0 x 2,0 c/ desbaste 1660 830 (10,854) 10,703 a 4,891 a 26,448ab
Coeficiente de variação (%) 9,24 11,85 28,58 7,03 (1)
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
(2) Médias entre parênteses não foram analisadas estatisticamente na avaliação da primeira safra.
Preparo do solo e plantio
A literatura atual sobre preparo do solo para
fruteiras não trás novidades, recomendando aração e
gradagem profundo, dependendo da situação física do
solo e coveamento variando de 30 x 30 x 30 cm a 50
cm x 50 cm x 50 cm, (Manica, 1981; Medina et al.,
1980; Ramos, 1986). Porém, o revolvimento do solo,
enterrando a camada orgânica não trás benefícios
para o mesmo e conseqüentemente para a planta, pois
esta matéria orgânica poderá oxidar-se e transformar-
se em ácidos fúlvicos que mobilizam Al+++
e Fe+++
e
imobilizam cátions essenciais, além disso, pode
ocorrer a pulverização do solo e futura compactação,
dificultando o crescimento radicular, o
desenvolvimento da planta e pior a degradação desse
recurso natural (Primavesi, 1982; Khatounian, 2001).
No plantio, as mudas são colocadas na cova e
completa-se a cova com terra da superfície; na
possibilidade de irrigação, faz-se uma bacia ao redor
da muda, que deve ser coberta com uma camada de
capim seco e regada com 10 a 20 litros d’água. Fixa-
se um tutor para conduzir o ramo principal, em
direção vertical até o fio mais elevado da espaldeira.
Tabela 12.3 - Receita líquida (RL) da produção de
maracujá, em diferentes densidades de plantio,
provenientes das três safras acumuladas. Lavras,MG,
UFLA, 2004. (Araújo Neto, 2004)
Tratamentos
Espaçamento (m)
RL
(Indústria)(1)
RL (Misto)
(R$/ha) (R$/ha)
T1= 3,0 x 1,0 -4.247,47 -274,27
T2= 3,0 x 2,0 -3.443,42 484,78
T3= 3,0 x 3,0 -1.763,14 2.637,56
T4= 3,0 x 4,0 -3.086,34 756,21
T5= 3,0 x 1,0, com
desbaste de plantas -3.262,27 1.084,58
T6= 3,0 x 1,5, com
desbaste de plantas -2.127,34 2.424,11
T7= 3,0 x 2,0, com
desbaste de plantas -3.297,11 670,09 (1)Considerou-se a receita líquida para dois sistemas de
comercialização: indústria, no qual oscila o preço da fruta
em torno de R$0,40/kg, durante o período de estudo e o
sistema misto (R$0,55/kg), no qual, além da opção de
entregar para a indústria, o produtor pode também
comercializar o fruto ao mercado de frutas frescas, com
preço oscilando em torno de R$0,70/kg.
Sistema de condução
O maracujazeiro por ser uma planta
semilenhosa e com característica de planta trepadeira,
necessita de tutoramento. O tutoramento no
maracujazeiro é denominado espaldeiramento. São
vários os tipos de espaldeiras para o maracujazeiro:
latada ou caramanchão, espaldeira vertical e
espaldeira em T e suas variações.
A escolha do sistema de sustentação deve
levar em consideração fatores como: custo de
implantação, facilidade nos tratos fitossanitário,
presença de agentes polinizadores, finalidade da
produção e disponibilidade de materiais e de mão-de-
obra.
Latada ou caramanchão
A espaldeira tipo “latada” ou caramanchão
apresenta custo elevado de implantação e
dificuldades de manejo, como podas e controle
sanitário. Mas, diminui o trabalho de eliminação de
plantas espontâneas por diminuir o a intensidade
luminosa ao nível do solo limitando o crescimento
dessas plantas. Além disso, a produtividade neste tipo
de espaldeira é maior, por promover maior
distribuição de área foliar no espaço e melhor
aproveitamento da luz. Este sistema produz frutos
menores e por isso é mais recomendado para
produção de fruto destinado à industria.
Espaldeira vertical
As espaldeiras verticais são as mais utilizadas
pelos fruticultores, devido ao melhor desempenho
geral, quando se considera custo de implantação,
maior facilidade de construção, boas condições para
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 175
realização de tratamentos fitossanitários, polinização
manual, podas e colheita.
Figura 12.4 – Latada ou caramanchão.
A espaldeira vertical pode 2 m de altura, com
1 ou 2 fios de arame, e com no máximo 120 m de
comprimento (Figura 12.5).
Figura 12.5 – Espaldeira vertical com um fio de
arame.
Espaldeira tipo “T”
A espaldeira em T difere da vertical por
possuir travessões na extremidade superior dos
postes, com aproximadamente 1 m de comprimento,
as quais sustentação os fios (2 ou 3).
Esse tipo de espaldeira proporciona melhor
aproveitamento de luz e maior aeração, melhor
tratamento fitossanitário, favorecendo melhor
produtividade.
Espaldeira em cruz
Espalderia em cruz difere da espaldeira em ‘T”
pela posição do travessão colocado à 30 cm da
extremidade superior dos postes, e por possuir três
fios de arame, sendo 1 central apoiado no ápice do
poste e os outros dois nas extremidades do travessão.
Sistema de podas
O maracujazeiro é uma planta trepadeira e
apresenta grande vigor vegetativo. No Brasil, é
cultivado da Amazônia ao Rio Grande do Sul, ou seja
desde a latitude zero até 30º sul. No entanto, nas
regiões situadas mais próximas da linha do Equador,
o crescimento da planta é constante, de forma que
esta não apresenta um período de repouso, enquanto
que, à medida que vai se afastando da região
equatorial, com estação mais definidas, o
maracujazeiro apresenta períodos de produção e de
repouso. Por tanto, a prática de manejo, como poda
depende do comportamento biológico da planta em
cad região de cultivo.
Poda de formação
O maracujazeiro já pode ser podado ainda no
viveiro, caso a muda tenha que passar mais tempo no
viveiro antes de ir ao campo. Após o transplantio,
deve-se eliminar os ramos secundário e permitir que
o ramo principal atinja o arame. A condução do
ramos principal é feita com auxílio de um tutores
com amarrios.
Ao ultrapassar o fio de arame em
aproximadamente 10 cm, é feito a poda apical do
ramos principal, a partir daí, deve-se conduzir os
ramos laterais para ambas as direções da espaldeira.
Ao atingir o espaço das plantas vizinhas, os ramos
secundários devem ser podados para forçar a
brotação e brotação dos ramos terciários, quaternários
e todos os outros que deverão frutificar.
Os ramos terciários (ramos produtivos) quando
atingirem o solo devem ser cortados a 0,20 m da
superfície, para se evitar que os frutos provenientes
destes ramos, em contato com o solo, venham a
apodrecer. A poda desses ramos é compensada pela
emissão de ramos quaternários, também produtivos.
Poda de frutificação
O maracujazeiro é uma planta que frutifica
apenas em ramos de crescimento do ano (ramos
novos), por isso, a manutenção de toda a massa
vegetal que já floresceu e produziu torna-se
desnecessária, pois exercerá um peso elevado para o
sistema de condução, além de se tornar um ambiente
propício para pragas e doenças.
A poda recomendada para uma espécie de
crescimento determinado é diferente para uma
espécie de crescimento contínuo e indeterminado
como o maracujazeiro e por ser uma prática
traumática à planta, é necessário que o produtor
conheça o comportamento da planta em cada região,
observando os períodos de repouso nas regiões de
alta latitude ou períodos de baixa frutificação nas
regiões de baixa latitude.
De modo geral, Cereda e Ferreira (1998),
sugerem algumas medidas para que se obtenha
sucesso na poda, quais sejam:
a) A plantas esteja em início de atividade vegetativa;
b) A melhor época é no início da brotação;
c) A cultura tenha sido bem conduzida na estação
anterior;
d) A temperatura média esteja a 20-25ºC, o que
possibilita a translocação das auxinas que
promoverão as novas brotações;
e) O solo tenha água disponível para promover o
crescimento.
5,00
5,00
5,00
5,00
5,00
Variável1,60
1,60
1,60
4,80
Cordaço
Cordaço
Cordaço
0,50
5,00
5,00
5,00
5,00
5,00
Variável1,60
1,60
1,60
4,80
Cordaço
Cordaço
Cordaço
0,50
6,00m
0,60m
2,00m
6,00m
0,60m
2,00m
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 176
A poda de formação pode ser considerada com
uma poda de frutificação, a partir do momento em eu
esta poda favorece o crescimento de ramos frutíferos.
A poda de frutificação ocorre antes de iniciar a
segunda e terceira safras.
Consiste em realizar uma poda moderada da
planta, eliminando os ramos que atingiram o solo e
entrelaçaram-se nas plantas vizinhas. Cereda (1976)
sugere que se pode os ramos a 75 cm a partir da haste
principal (Figura 12.6).
Figura 12.6 – Poda a 75 cm da haste principal (corte
transversal ao arame). Fonte: Cereda (1976).
A poda de frutificação pode ser confundida
como poda de limpeza, talvez pelo fato de se eliminar
durante a poda de frutificação, ramos de baixo vigor,
praguejados e doentes, realizando também uma
limpeza.
Florescimento, polinização e frutificação
Florescimento
O florescimento ocorre em dias longos, com
duração não inferior a 11 horas. Em regiões de baixa
latitude, a produção pode dar-se durante todo o ano
ininterruptamente, porém, em regiões de alta latitude
e/ou altitude, pode ocorrer fotoperíodo inferior a 11 h
e temperatura baixa, provocando paralisação do
crescimento e florescimento, por um período de até
seis meses por ano.
A antese das flores do maracujazeiro amarelo
é rápida e sincronizada, iniciando-se por volta das 12
horas, com pico de abertura às 13 h, decrescendo
rapidamente até às 18 h, porém, já se observou flores
abertas até às 20 h. As flores abrem-se uma única vez
e fecham-se à noite, se não forem fecundadas,
murcham e caem. Por isso, quando se pretende fazer
cruzamentos do maracujazeiro-amarelo com um dos
progenitores, as suas flores devem ser protegidas com
saco de papel, no período da manhã, até 11 h
(Bruckner e Silva, 2001; Ruggiero et al., 1996).
Tipos de flores e frutificação
A flor do maracujazeiro é completa,
destacando-se uma coluna chamada androgináforo
bem desenvolvida. Nesta encontram-se a parte
masculina, denominada androceu, formada por cinco
estames com anteras grandes e grãos de pólen
amarelos e pesados, e a parte feminina, o gineceu,
composta de um ovário tricarpelar, unilocular e
multiovulado, com o estigma tripartido.
O maracujazeiro amarelo possui três tipos de
flores numa mesma planta, apresentando cada uma,
curvaturas diferentes dos estiletes em relação as
anteras denominadas respetivamente: (T.C.)
totalmente curvos, (P.C.) parcialmente curvos e
(S.C.) sem curvaturas (Figura 12.7 ). Desses três
tipos a flor T.C. é a que ocorre em maior quantidade,
pela sua estrutura floral e, pelos resultados já obtidos
por meio da polinização artificial e natural, é a ideal
para o maracujá amarelo (Ruggiero, 1973).
Flores sem curvatura apresentam menor
percentagem de células em divisão nos ovários,
indicando que a esterilidade deste tipo de flor decorre
da inviabilidade dos óvulos. O pólen, entretanto, é
viável nos diversos tipos de flores,
independentemente da curvatura do estilete.
Figura 12.7 – (T.C.) totalmente curvos, (P.C.)
parcialmente curvos e (S.C.) sem curvaturas.
Polinizadores
Os agentes mais eficientes na polinização são
as mamangavas (Xylocopa spp), por causa do
tamanho, visto que insetos menores coletam o néctar
sem obrigatoriamente polinizar o estigma. Os insetos
menores, como a Apis mellifera, podem ter efeito
prejudicial à polinização, enquanto a ação do vento
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 177
como agente polinizador é nula (Ruggiero, 1973;
Ruggiero et al., 1976).
Quadro 12.15 - Agentes polinizadores em
maracujazeiro amarelo.
Tipo de Flor Mamangava Abelha Vento T.C. 70% 5% 0% P.C. 20% 1% 0% S.C. 0% 0% 0%
Fonte: Ruggiero (1973); Vasconcelos (1991).
Quando chove muito durante o período do
florescimento, o pólen arrebenta-se em contato com a
umidade e não ocorre polinização normal (Manica,
1981).
Polinização artificial
A polinização artificial do maracujazeiro se
faz necessário por vários motivos, alguns já
mencionados. Auto-incompatibilidade, baixa
população de polinizadores, danos causados na folha
por abelha melífera e abelha irapuá.
A polinização artificial possui uma eficiência
de polinização variando de 54% a 88%, enquanto
pode-se observar eficiência de apenas 4% a 8% com
a polinização natural. Aliado ao baixo custo de
execução, torna-se uma prática viável Manica (1981).
Este mesmo autor cita que um trabalhador consegue
polinizar aproximadamente 50 flores por minuto.
Este número altera dependendo do número de flores
abertas, pois quanto maior o número de flores, maior
é a eficiência da operação.
A polinização artificial é realizada geralmente
com dedeiras de veludo, tocando em cada flor aberta,
não se preocupando quanto ao aproveitamento de
muitas flores por planta e sim com a repetição desta
operação por diversas vezes (Medina et al., 1980)
12.11 Pragas
O maracujazeiro é visitado por várias espécies
de insetos e ácaros, alguns causando danos leves, não
requerendo a adoção de medidas de controle, outros
que não causam danos diretos às plantas, mas
comprometem a produção, como as abelhas
domésticas (Aphis melíferas), por exemplo. As
espécies que causam danos graves à cultura,
consideradas pragas, são poucas. A seguir serão
apresentadas as espécies de ocorrência mais
freqüente em plantios de maracujá.
a) Lagartas desfolhadoras
As lagartas são as pragas mais comuns nos
plantios de maracujá, ocorrendo principalmente
durante o período seco do ano, devorando
normalmente a folhagem; as formas adultas são
extremamente vorazes, desfolhando completamente
uma plantação em pouco tempo.
Dione Juno Juno Cramer, 1779
A espécie Dione Juno Juno Cramer, 1779,
pertence à família Heliconidae. A forma adulta deste
inseto é uma borboleta que apresenta asas de
coloração alaranjada, com margens pretas e
envergadura de 60 mm.
Essas borboletas colocam os ovos de cor
amarela avermelhada reunidos em grandes números
(70 a 150) dos quais eclodem as lagartas de coloração
preta com o corpo recoberto de espinhos e ficam
agregadas, atingindo 30 mm de comprimento, quando
bem desenvolvidas (Gallo et al., 1980).
O período de incubação é de 7 dias, a fase
larval dura 26 dias e a de erisálida 12 dias, dando um
ciclo em aproximadamente 45 dias no inverno.
Agraulis vanillae vanillae (L.)
A lagarta Agraulis vanillae vanillae L.,
pertencente a família Heliconidae, é uma borboleta
alaranjada de 60 mm de envergadura com manchas
pretas esparsas na asa anterior e uma faixa preta na
asa posterior ao longo da margem externa com área
mais claras. A ovoposição é realizada de forma
isolada na fase abaxial das folhas ou dos ramos. O
período de incubação é de cerca de 3 dias, fase larval
de 17 dias e a fase de pupa é de 7 dias, totalizando
um ciclo de aproximadamente 27 dias.
Tanto a Dione Juno juno quanto a Agraulis
vanillae vanillae, causam danos em outras
passifloraceaeas como: P. foetida, P. vermicosa, P.
alata, P. caerulea, P. cincinnata.
Outras lagartas da família Mymphalidae são
devoradoras de folhas dediversas espécies de
Passiflora. São as lagartas: Dryadula phaetusa L.;
Dryas juno juno; Eucides aliphera aliphera, Eudes
isabella, Philaethria dido, Philaethria wernickei
wernicke, Heliconius silvana robigus, Heliconis sara,
H. ethilla narcaea, H. erato phyllis.
b) Percevejos
Os percevejos são hemípteros pertencentes à
família Coreidae, destacando-se as espécies Diactor
bilineatus Fabricius, 1803, Holymenia clavigera
Herbest, 1784 e Leptoglossus gonagra Fabricius,
1775 e o percevejo de renda Gargaphia lunulata
(Mayr). Além destes, outras espécies também atacam
o maracujazeiro: Acanthocoris sp., Anisosceles
foliaceus (Fabr.), Holhymenia histrio, Leptoglossus
dilaticolis, Leptoglossus fasciatus, L. stigma e
Sephina erythromelaena.
O percevejo do maracujazeiro (Diactor
bilineatus), são pervevejos de 20 mm de
comprimento de coloração verde escuro com 3 linhas
alaranjadas que vão da cabeça até o escutelo. Asas
grandes com a parte membranosa avermelhada. Patas
posteriores com uma expansão escura tibial
característica em forma de folha, de coloração escura
com pontos alaranjados.
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 178
A postura é feita na face inferior das folhas em
grupos de 6 a 10 ovos. O período de incubação é de
15 dias. As ninfas sugam a seiva da parte aérea da
planta durante 45 dias, a partir daí, atingem o estado
adulto, com duração de 30 dias. Portanto, o ciclo
completo do inseto é de aproximadamente 60 dias.
Percevejo dos frutos
O percevejo dos frutos, Holymenia clavigera,
com 18 mm de comprimento, de coloração variável,
cor vermelho escuro no pronoto com uma faixa
amarela longitudinal e mediana da cabeça ao esutelo,
e 4 manchas no pronoto.
A postura é feita na face inferior da folha ou
nos ramos.
Percevejo do melão-de-são-caetano
O Leptoglossua gonagra, é uma espécie
polífaga, sendo conhecida como percevejo do melão-
de-são-caetano, por ser esta planta seu hospedeiro
natural.
O adulto desse percevejo mede de 15 a 19 mm
de comprimento por 5 a 7 mm de largura. Apresenta
coloração marrom-escura, cabeça negra e,
dorsalmente, duas listas longitudinais amareladas e
uma parda.
A postura é feita em fileiras paralelas em
ramos e folhas. A incubação dura de 5 a 12 dias, a
fase ninfal tem duração de 55 dias. O ciclo completo
desse inseto dura em média 63 dias, podendo variar
de 58 a 114 dias.
Injúrias e prejuízos dos percevejos-praga dos
frutos do maracujá
As ninfas desses percevejos sugam seiva dos
botões florais e frutos novos, enquanto que os adultos
atacam também as folhas, ramos e frutos de qualquer
idade. Além de sugar a seiva, esses percevejos
também introduzem toxinas. Os botões florais e
frutos novos atacados geralmente caem, e os frutos
remanescentes ficam deformados e com tamanho
menor do que os frutos não atacados.
c) Pragas das flores
Abelhas (Hymenoptera: Apidae)
As espécies de abelhas consideradas pragas do
maracujazeiro no Brasil são a abelha cachorro ou
irapuá Trigona spinipes (Fabr.) e a abelha doméstica
Aphis melífera (L.).
A abelha irapuá perfura a câmara nectarífera
das flores antes da antese para retirada de néctar.
A abelha Aphis melífera retira praticamente
todo pólen dos estames logo após a antese.
Em ambos os casos, as flores perdem sua
atratividade aos mamangavas, devido à retirada de
néctar e pólen , fazendo com que as mamangavas não
polinizam as flores.
A abelha irapuá é controlada se encontrado e
destruindo seus ninhos. E no caso da Aphis melífera,
deve-se coletar pólen antes da antes e realizar
polinização artificial.
Mosca do botão floral
A mosca do botão floral Protearomy sp
(Díptera: Lonchacidae) deposita seus avos nos botões
florais, são encontrados em média 4 a 5 larvas/botão
floral. A pupa geralmente ocorre no solo, raramente
se processa no botão floral.
As larvas se alimentam do botão floral
causando queda do mesmo.
Mosca das frutas
As moscas-das-frutas, pragas do
maracujazeiro, são a mosca sul-americana
Anastrepha spp. e a mosca do mediterrâneo Ceratitis
capitata. As espécies de Anastrepha relatadas
atacando o maracujazeiro são: Anastrepha
consobrina, A. ethalea, A. grandis, A. kuhlmanni, A.
lutzi, A. mombripraeoptans, A. pseudoparallela, esta
última a mais importante (Medina et al., 1980;
Manica, 1981; Boretto et al., 1994).
As fêmeas adultas introduzem o ovopositor
através da casca, colocando os ovos na polpa. De 2 a
6 dias eclodem as larvas que se alimentam do fruto.
Os frutos geralmente caem, e os que permanecem na
planta tornam-se murchos. A pupa ocorre no solo. O
ciclo de vida do ovo a adulto dura em média cerca de
30 dias.
Outros insetos causam danos ao maracujazeiro
como: besouro das flores (Cyclocephala
melamocephala), besouro das folhas (Cacosellis
marginata), brocas das hastes (Brevipalpus
phoemicis), ácaro branco (Polyphagotarsonemus
latus) ácaro vermelho (Tetranycus mexicanus; T.
desertorum), pulgões (Aphis gossypii e Myzus
persicae).
Controle das pragas do maracujazeiro
Níveis de controle para as pragas do
maracujazeiro
Picanço et al. (2001) sugerem um sistema de
tomada de decisões de controle para os principais
grupos de pragas do maracujazeiro (Quadro 12.16 )
Quadro 12.16 – Nível proposto para o controle das
pragas do maracujazeiro.
Pragas Nível de controle proposto Desfolhadores 30% de desfolha
Cigarrinha verde 2 insetos / folha
Ácaros 10% das folhas atacadas
Pragas das flores 5% das flores atacadas
Pragas do fruto (exceto
moscas-das-frutas)
3% dos frutos atacados
Moscas-das-frutas 1 mosca-das –frutas a cada 2
armadilhas
Fonte: Picanço et al., (2001).
A amostragem das moscas-das-frutas deve
conter de 8 a 10 armadilhas tipo McPhail ou
adaptações como: recipiente de vinagre, detergente,
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 179
soro ou refrigerante, que devem possuir três
depressões laterais, sendo que cada depressão terá um
ofício de 1/8” de diâmetro, para que haja a entrada
das moscas (quadro 12.17).
Quadro 12.17 – Técnica de amostragem e tamanho
das amostras para monitoramento dos principais
grupos de pragas do maracujazeiro.
Grupos de pragas Técnicas de amostragem Broqueamento docaule - Avaliação direta do ataque
para detecção dos focos.
Desfolhadores - Avaliação direta da
percentagem de desfolha.
Insetos sugadores - Avaliação de 10 ponteiros,
amostrando-se 3 folhas em
cada ponteiro.
Ácaros - Avaliação de 10 ponteiros,
amostrando-se 3 folhas em
cada ponteiro. Em cada folha,
deve-se avaliar 1 cm2 de área
do limbo foliar com lupa.
Pragas das flores - Avaliação direta de 10 flores
Pragas dos frutos (exceto
moscas-das-frutas)
- Avaliação direta de 10 frutos
Moscas-das-frutas - Avaliação direta dos adultos
de moscas-das-frutas nos
frascos.
Fonte: Picanço et al. (2001).
Controle cultural
Várias são as medidas culturais que podem ser
adotadas no controle das pragas do maracujazeiro.
a) Escolha do local para instalação de novo plantio Na escolha do local para novos plantios, deve-
se preferir aqueles próximos de plantas melíferas que
forneçam néctar e pólen para as abelhas, mas que não
sejam hospedeiras de pragas comuns.
Em locais de baixa diversidade genética, o
plantio de espécies melíferas em faixas de cultivo ao
redor dos talhões de cultivo do maracujá e a
manutenção de plantas invasoras junto ou próximas à
cultura aumentam a diversidade hospedeira do
agroecossistema.
Quando a opção for de realizar um cultivo
próximo à cultura abandonada, deve-se erradicar esta
cultura e eliminar as fontes potencias de inóculo.
b) Erradicação de plantas doentes
A erradicação de plantas doentes reduz o
potencial de inoculo no ambiente, principalmente de
plantas doenças viróticas transmitidas por insetos e
ácaros.
c) Polinização artificial
Em situação de grandes populações de abelhas
irapuá e melíferas ou em época de escassez de pólen
no ambiente (que geralmente ocorre no início da
floração) deve-se realizar polinização artificial.
Controle mecânico
a) Catação manual
Durante as vistorias no pomar, recomenda-se a
catação manual seguida de destruição por
esmagamento de ovos, formas jovens e adultos de
percevejos, lepidópteros em viveiros e lavouras
pequenas pode auxiliar no controle destas pragas.
b) Catação de frutos e flores caídos
Esta prática visa interromper o ciclo de vida,
ainda na fase larval ou pupal, de moscas-das-frutas,
mosca do botão floral e lagartas bloqueadoras, que se
encontram no interior destes órgãos. Os frutos devem
ser enterrados a mais de 20 cm de profundidade ou
depositados no interior de vala de dois metros de
comprimento por um metro de largura e um de
profundidade, recoberta com tela de malha fina que
não possibilite a saída dos insetos adultos destas
pragas.
Uso de iscas tóxicas para mosca-das-frutas
As iscas tóxicas podem ser aplicads na forma
de pulverização ou na forma de armadilhas.
A isca pulverizada é aplicada apenas em um
dos lados da espaldeira. Ela é composta da mistura de
um estimulante alimentar que pode ser: suco de
frutos (25%), açúcar cristal (5%), melaço (5%) ou
proteína hidrolizada (1%), inseticida e água até
completar 100 L de isca (Gallo et al., 1988).
A isca na forma de armadilha deve ser
colocada em frascos dispostos na face do nascer do
sol, protegidos das radiações solares e pendurados na
parte mais alta da espaldeira. O número de frascos
dispostos no plantio dependerá do tamanho da área
de acordo com o quadro 12.18 (Teixeira, 1994).
As iscas deve conter os mesmos atraentes
alimentares da isca anterior e conter ainda, para cada
litro de solução 2 ml de inseticida, com
reabastecimento semanal.
Quadro 12.18 – Número de frascos a serem
utilizados para o controle de moscas-das-
frutas/hectare.
Área (ha) Número de frascos
Manor que 1 ha Em todas as plantas
1 40
2 37
3 33
4 30
5 27
6 23
7 20
8 17
9 13
Maior ou igual a 10 10
Controle biológico
Picanço et al. (2001) trás a distinção de
controle biológico natural e controle biológico
aplicado.
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 180
O controle biológico aplicado é aquele que
ocorre naturalmente no agroecossistema. Para isso,
deve-se tomar medidas que maximize este fenômeno,
tais como: instalação de novos plantios próximos a
matas, plantio de espécies melíferas em faixa de
cultivo, ao redor dos talhões de maracujazeiros e a
manutenção de plantas invasoras juntas ou próximas
à cultura e a extinção ou redução do uso de
agrotóxicos, que quando usados devem ser seletivos.
Os agentes de controle biológico, que têm sido
usados no manejo das pragas do maracujazeiro, são a
bactéria Bacillus thuringiensis var. kurstaki e o vírus
Baculovirus dione, que é um vírus de poliedrose
nuclear (NPV).
Controle químico
Quadro 12.19 – Produtos registrados para o controle de pragas na cultura do maracujazeiro, no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.
Pragas Princípio ativo Produto comercial Formulação1 Classificação Dose
Tox.2 Amb
3 g ou mL/
100L água
Lagartas
Agraulis vanillae
vanillae
fenithion Lebaycid 500 CE II II 100
cartap Cartap BR 500 SP III II 120
Dione juno juno chlorfenapyr Pirate SC III II 30-50
cartap Thiobel 500 SP III II 120
Percevejo
Diactor bilineatus fenthion Lebaycid 500 CE II II 100
fenthion Lebaycid EC EW II II 100
Ácaro Acrinathrin Rufast 50 SC 50 IV 10
Brevipalpus phoenicis Azociclotin Peropal 250 PM 250 III 100
Dicofol Kelthane CE CE 185 II 200
Mosca das frutas
Anastrepha consobrina fenthion Lebaycid 500 CE II II 100
Anastrepha grandis
fenthion Lebaycid EC EW II II 100 Anastrepha
pseudoparallela
Ceratitis capitata
Fonte: Agrofit (2002, MAPA). 1Formulações: CE – Concentrado Emulsionável, EW – emulsão óleo em água; SP – Pó solúvel, SC- suspensão
concentrada. 2Classe Toxicológica: I – Extremamente Tóxico, II – Altamente Tóxica, III – Medianamente Tóxico,
IV- Produto Pouco Tóxico. 3Classe Ambiental: I – Produto Altamente Perigoso, II – Produto Muito Perigos, III –
Produto Perigoso, IV – Produto Pouco Perigoso.
Controle das doenças do maracujazeiro
Várias medidas devem ser adotadas para se
obter um controle eficiente dessas doenças.
- Utilizar sementes e mudas isentas de doenças;
- Evitar introduzir em áreas novas e isentas de
doenças, materiais, veículos e ferramentas
utilizadas em plantações doentes; Podar ramos e
coletar frutos doentes;
- Controlar vetores de doenças viróticas quando sua
população atingir níveis críticos;
- Eliminar quando for economicamente viáveis, as
plantas possíveis hospedeiras de viroses, tais como
leguminosas e passifloráceas silvestres.
12.12 Doenças
O maracujazeiro é uma das espécies cultivadas
no Brasil que apresenta susceptibilidade a um
pequeno número de doenças, mas algumas delas
como a antracnose (a principal) e a fusariose (a mais
séria) podem causar grandes perdas na produção ou
até perda total do pomar.
Dentre as doenças do maracujazeiro as mais
importantes são:
Antracnose
A antracnose causada pelo fungo
Colletotrichum gloeosporioides Penz., ataca todos os
órgãos da parte aérea: causando apodrecimento
(folhas, frutos e flores) ou crestamento (folhas e
ramos). Em folhas e ramos causa grandes áreas
necróticas, com posterior secamento; em frutos
aparecem grandes áreas necróticas depressivas, com
conseqüente apodrecimento da parte interna, e
comprometimento da polpa.
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 181
Em condições favoráveis ao fungo, com
umidade do ar e temperaturas elevadas, a antracnose
pode desfolhar completamente a planta e em seguida
secar os ramos remanescentes.
Murcha ou fusariose
Esta doença é causada pelo fungo Fusarium
oxysporum Schlecht. f. passiflorae Purss., fungo de
solo que ataca os vasos lenhosos a partir das raízes.
Esta doença caracteriza-se pela morte repentina da
planta retendo esta, inclusive, todas as folhas. Pode-
se observar 48 horas antes, certo murchamento dos
ponteiros que se mostram pendentes (o normal é ter o
sentido horizontal).
Na planta então em processo de secamento,
pode-se observar rachaduras no colo; raízes em
processo de apodrecimento e o que é mais notável,
que cortes profundos no sentido longitudinal, revelam
a profundidade dos vasos lenhosos, os típicos
sintomas de ataque de fusariose: manchas de cor
castanha ou ferruginosa.
A podridão das raízes causada pelo fungo
Phytophtora cinnamomi Rands, causa
amarelecimento das plantas, seguido de queda
progressiva da folhas e seca. Na maioria dos casos,
observa-se certo intumescimento do colo junto ao
solo.
A diferença entre a fusariose e a podridão das
raízes é observado na forma do ataque: enquanto a
podridão é um processo de constrição por isolamento
e disfunção dos vasos liberianos, a murcha é causada
por impermeabilização dos vasos lenhosos, por
fenômenos ligados à fenil-oxidase, perceptível pela
coloração desses vasos.
Clasdoporiose
O fungo Cladosporium herbarum Link, é o
responsável pela verrugose nos frutos, causa também,
cancro nos ramos novos e perfurações nas folhas e
peças florais.
A forma de cancrose ocorre preferencialmente
em épocas frias. O fungo prefere tecidos tenros,
úmidos e deprimidos que após certo tempo se enchem
de uma pulverulência de coloração cinza-azeitonada e
que se trata da sua frutificação. Com o rompimento
do tecido epitelial, há nas folhas e peças florais a
perfuração desses órgãos; nos ramos e frutos esse
rompimento propicia através do calo cicatricial a
formação de calombos nos frutos de forma
arredondada (verrugose) e nos ramos de forma bi-
ogival (cancro).
A verrugose prejudica os frutos quesão
vendidos para o consumo ao natural devido à péssima
aparência externa principalmente quando ocorrem
injúrias severas; as pequenas lesões apresentadas por
frutos destinados à industria não prejudicam a
qualidade do suco.
Vírus do endurecimento dos frutos do
maracujazeiro (VEFM)
O VEFM pertence ao grupo dos Potyvirus,
apresentando partículas flexuosas com ca 12-15nm x
700-750 nm.
As plantas doentes mostram mosaico foliar de
fraco a mais severo, com bolhosidades e deformação
das folhas. Os prejuízos podem ser sérios, com
quebra significativa de produção e na qualidade dos
frutos, que ficam pequenos, deformados e
endurecidos.
Quadro 12.20 – Produtos registrados para o controle de doenças na cultura do maracujazeiro, no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.
Doenças Princípio ativo Produto comercial Formulação1
Classificação Dose
Tox.2 Amb
3
g ou mL/
100L água
Antracnose
Verrugose
Septoriose
Benomil Benlate PM 500 III 100
Oxicloreto de
cobre
Cobox PM 500 IV 200
Cupravit azul PM 350 IV 250
Reconil PM 350 IV 150
Recop PM 500 IV 200
Chlorotalonil Daconil BR PM 750 II 250
Podridão do colo Metalaxil 200
Fosetyl-Al 250
Fonte: Agrofit (2002, MAPA). 1Formulações: CE – Concentrado Emulsionável, EW – emulsão óleo em água; SP –
Pó solúvel, SC- suspensão concentrada. 2Classe Toxicológica: I – Extremamente Tóxico, II – Altamente Tóxica, III
– Medianamente Tóxico, IV- Produto Pouco Tóxico. 3Classe Ambiental: I – Produto Altamente Perigoso, II –
Produto Muito Perigos, III – Produto Perigoso, IV – Produto Pouco Perigoso.
Cultura do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 182
Outras doenças do maracujazeiro
Outras doenças estão associadas ao maracujazeiro,
causando prejuízos econômicos dependendo da
região e sistema de manejo da cultura, são elas:
podridão floral (Rhizopus spp.); alternária, mela ou
damping-off (Rhizoctonia sp. e Phytium sp.);
septoriose (Septoria passifloricola) nematóides;
bacteriose (Xantomonas passiflorae); mancha graxa
(Pseudomonas passiflorae); mancha-bacteriana
(Xanthomonas campestris cv. passiflorae) vírus do
mosaico do pepino (VMP); vírus do clareamento das
nervuras do maracuazeiro (VCNM) ou
“enfezamento”; vírus do mosaico amarelo do
maracujazeiro (VMAM); vírus do mosaico do
maracujá roxo (VMMR).
12.13 Colheita e Pós-colheita
O maracujá possui um flavor único,
caracterizado pela alta concentração de ácidos
orgânicos e composição dos compostos voláteis.
O suco natural do maracujá é considerado
concentrado, devido sua alta acidez (em torno de 5%
para o maracujá amarelo), característica importante
no processamento e fabricação de produtos contendo
maracujá.
O fruto apresenta perecibilidade parcial, pois
após maduro em condições ambiente, perde alguns
voláteis do flavor em 3 dias, depreciando a qualidade
de seu suco, mesmo não afetando significativamente
a aparência do fruto. Ainda tem quem prefira
consumir o maracujá em senescência pela menor
acidez da polpa.
Portanto, o maracujazeiro exige um bom
manejo na colheita e pós-colheita para manter boa
qualidade do suco, principalmente quando destinado
ao mercado para mesa.
Qualidade do fruto
Os frutos destinados ao consumo natural
devem apresentar algumas características bem
definidas, como: tamanho grande, classificação
comercial adequada aos padrões de mercado,
coloração uniforme, boa aparência (cor, textura da
casca e ausência de defeitos), resistência ao
transporte e boa conservação pós-colheita. Enquanto
para a agroindústria, os frutos precisam apresentar
elevado rendimento de suco, acidez total titulável e
elevados teores de sólidos solúveis totais (Oliveira et
al., 1994).
O maracujá destinado ao mercado como fruta
fresca deve possuir, dentre outras características, boa
aparência (tamanho, coloração da casca e ausência de
defeitos) Rossi (1998). Assim, após a classificação da
fruta, o produto de melhor qualidade (tipo 3A) é
remunerado a preços significativamente superiores
(Quadro 12.21), até 150% a mais que o obtido com a
comercialização das frutas de classes inferiores, em
determinadas épocas do ano (Meletti e Maia, 1999).
Estes frutos (tipo 3A) correspondem de 10-30% da
safra, conforme a cultivar, tratos culturais, idade da
planta e etc (Oliveira e Ruggiero, 1998).
Quadro 12.21 – Preço e diferencial de preços (%)
praticada entre os tipos de maracujá-azedo, no
entreposto terminal de São Paulo, 1995 – 1997.
Tipo
1995 1996 1997 Diferença
Média
(%) Preço
(cx.13kg)
Preço
(cx.13kg)
Preço
(cx.13kg)
A – B 11,50 10,12 11,4 32,8
B – C 7,47 7,00 7,71 38,2
A – C 4,52 4,44 4,75 58,5
Fonte: Meletti e Maia (1999)
São vários os fatores que interferem na
qualidade do maracujá: condições edafoclimáticas
(Salomão et al., 2001; Araújo et al., 2002); época de
produção (Nascimento et al., 1998); variabilidade
genética da espécie (Gamarra Rojas e Medina, 1995;
Falconer et al., 1998); tipo de condução (Silva e
Oliveira, 2001; Luz et al., 2002) estádio de maturação
na colheita (Aular et al., 2000); tempo de
armazenamento (Narain e Bora, 1992); temperatura e
embalagem de armazenamento (Gama et al., 1991;
Arjona et al., 1992), dentre outros (Quadro 12.22).
O ambiente exerce grande influência sobre o
genótipo para características qualitativas, como
coloração da polpa e teor de sólidos solúveis totais,
enquanto que as características quantitativas como
número de frutos por planta, o maracujazeiro possui
alta herdabilidade genética, sendo pouco influenciado
pelo ambiente (Cunha, 1996; Viana, 2001; Bruckner
et al., 2002).
A nutrição mineral é outro fator importante na
qualidade do fruto do maracujazeiro. O aumento na
concentração de nitrogênio promove aumento do
conteúdo de sólidos solúveis totais (SST) e da relação
SST/Acidez (Borges et al., 1998a; Borges et al.,
1998b).
O fornecimento de potássio (K), aumenta a
concentração de suco nos frutos, peso médio do fruto,
vitamina C e SST (Carvalho et al., 1999; Araújo et
al., 2002), enquanto que sua deficiência pode
diminuir o teor de SST (Ruggiero et al., 1996).
Aplicação de yoorin (termofosfato) como fonte
de fósforo, aumenta a ATT e espessura da casca,
segundo observações feitas em trabalhos de Araújo
Neto et al. (2003).
Cultura do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 183
Quadro 12.22 – Características físicas e químicas do maracujazeiro amarelo, em diferentes regiões de cultivo.
(Araújo Neto, 2004).
Características
Regiões
Autores 1 2 3 4 5 6 7
São Paulo Distrito
Federal
Distrito
Federal
Bahia Índia Colômbia Pará
Peso (g) - 163,1 144,7 88,4 44,2 - 161,6
Comprimento (mm) 92,0 82,6 77,9 60,7 - - 73,0
Diâmetro (mm) 76,0 71,7 68,9 58,8 4,2 - -
Suco + Semente (%) - - - 45,1 37,4 44,9 47,3
Suco (%) 44,9 40,0 - 29,8 30,9 - -
PH 2,8 - - 2,9 2,8 - 3,0
SST (%) 14,6 14,9 16,2 16,0 14,5 15,3 16,2
ATT (%) 3,6 4,8 6,3 4,7 6,0 - 3,4
SST/ATT 4,0 3,11 2,6 3,4 2,4 - 4,91
Ác. Ascórbico (mg/100 g) 16,4 30,8 31,9 - 12,6 - -
Açúcares redutores (%) - 7,4 8,6 - 1,6 - -
Açúcares não redutores (%) 2,7 2,3 - - 4,8 - -
Açúcares total (%) 9,8 12,3 - 6,7 - -
1- (Aular et al., 2000), 2 - (Veras, 1997), 3 - (Falconer et al., 1998), 4 - (Sjostrom e Rosa, 1977), 5 – (Pruthi et al.,
1958b, citado por Pruthi, 1963), 6 – (Arjona et al., 1992), 7 - (Nascimento et al., 2003)
A alta variabilidade genética do maracujazeiro
amarelo apresenta o inconveniente da ausência de um
padrão de qualidade homogêneo dentro do mesmo
campo de produção, principalmente quando originado
de material genético não melhorado (Stenzel e Sera,
1994).
O maracujazeiro por ser uma planta trepadeira,
necessita de sistema de condução para seu cultivo
racional. Os sistemas de condução são: latada ou
caramanchão, espaldeira em forma de “T” e
espaldeira vertical com três, dois e um fio de arame,
esta última a mais usada no Brasil. A condução em
Latada, pode produzir de 60 a 120% a mais que o
sistema de espaldeira vertical com um fio,
conseqüentemente o número de frutos por área e por
planta também é maior, em conseqüência, o peso
médio do fruto é menor, podendo ser utilizada
principalmente para frutos destinados a industria
(Silva e Oliveira, 2001). Luz et al. (2002),
verificaram também, que além do menor peso médio
do fruto, o sistema de latada produz frutos com maior
teor de sólidos solúveis totais.
Em um estudo realizado no Sul de Minas
Gerais, verificou que a qualidade dos frutos foi
alterada com a época de colheita. Assim, frutos
colhidos em períodos com temperaturas médias (21,5
ºC) e altas (23,0 ºC) possuíam maior acúmulo de
glicose, sacarose e açúcares totais. Contudo, o teor de
vitamina C foi maior apenas quando os frutos foram
colhidos na época de temperatura elevada. Mas, o
contraste foi observado no teor de carotenóides totais,
pois na época de temperaturas baixas (17,7 ºC), o
acúmulo de carotenóides totais foi maior
(Nascimento et al., 1998).
Caracterização do fruto
O fruto do maracujazeiro é uma baga
indeiscente e carnosa, de forma subglobosa ou
ovóide. A casca é de textura coriácea e tem coloração
amarela intensa ao final do amadurecimento.
O fruto possui entre 34,5% a 61,9% de casca,
4,6% a 13,7% de sementes e 24,0% a 60,5% de suco.
Os principais componentes dos sólidos
solúveis totais, do suco desta fruta, são os açúcares,
sacarose (32,4%), glicose (38,1%) e frutose (29,4%),
enquanto que da acidez, o ácido cítrico é o
predominante ( 83%), seguido pelo ácido málico (
16%) e, em menor proporção o lático, o malônico e o
succínio.
O aroma é formado por 73 compostos voláteis
conhecidos sendo que os principais componentes
(95%) são o hexanoato de hexila (principal), o
butirato de etil, o hexanoato de etila e o butirato de
hexila.
Maturação de colheita
A colheita do maracujá-amarelo, geralmente, é
realizada catando-se periodicamente os frutos caídos
no chão. No entanto, estes frutos estão senescentes e
tendem a murchar rapidamente, com elevada perda de
massa, redução nos teores de ácidos, açúcares e
compostos aromáticos.
O maracujá cresce e amadurece em 72 dias a
partir do florescimento. Aular et al. (2000) avaliaram
a idade do fruto na colheita sobre as características
dos frutos e do suco do maracujá (Tabela 12.4).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 184
Tabela 12.4 – Efeito da idade na colheita sobre as
características físicas do fruto e físico-químicas do
suco de maracujá-amarelo.
Características Idade do fruto (dias)
53 63 73
Suco (%) 38,8 b 44,8 a 44,9 a
pH 2,8 a 2,8 a 2,8 a
SST (ºBrix) 11,7 b 14,1 a 14,6 a
ATT (%) 5,0 a 4,7 a 3,6 b
SST/ATT 2,3 b 3,1 ab 4,0 a
Ácido ascórbico (mg.100-1) 26,7 a 21,8 a 16,4 a
Açúcares solúveis (%) 2,6 b 7,5 a 8,3 a
Açúcares redutores (%) 1,5 b 2,3 a 2,7 a
Fonte: Aular et al. (2000).
* Nas colunas, os valores médios acompanhados da mesma
letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de
5% de probabilidade.
Alguns frutos que não acumulam reservas
significativas de carboidratos (caso do maracujá),
mas que também amadurecem após a colheita, tem
seu conteúdo de açúcares acumulados antes da
colheita, com o fruto ainda ligado à planta. Assim, o
aumento na concentração de açúcares ocorre via
translocação de sacarose das folhas, com posterior
conversão em glicose e frutose (Kays, 1991).
Durante o crescimento do fruto, há um
acréscimo de ácidos orgânicos e sólidos solúveis
totais. O teor de vitamina C cresce até 35 dias após a
antese (DAA) e decresce a partir daí. Durante a
maturação do fruto, o teor de sólidos solúveis
aumenta até o pré-climatério, diminuindo com o
amadurecimento do fruto. A acidez do fruto diminui
durante a maturação do fruto, contribuindo para
aumentar a relação SST/ATT. O ácido ascórbico é
reduzido até aproximadamente 60 DAA,
estabilizando a partir daí (Pocasangre Enamorado et
al., 1995; Gamarra Roja e Medina, 1996).
Realizando a colheita antecipada dos frutos, no
estádio pré-climatérico, o tempo para o manuseio
pós-colheita é maior, pois frutos colhidos aos 50,60
ou 70 dias após a antese amadurecem naturalmente
em 18, 14 ou 7 dias (Pocasangre et al., 1995).
O melhor estádio para colheita é ao 63 dias
após a antese, quando os frutos apresentam de 40% a
50% de sua casca amarelecida e já apresenta teores
ótimos de açúcares, antes de atingir o estádio pré-
climatérico, neste estádio, o fruto já atingiu a
maturidade fisiológica (Pocasangre et al., 1995; Aular
et al., 2000; Marchi et al., 2000).
Manuseio Pós-colheita
O maracujá é um fruto de mediana
perecibilidade após a colheita, pode apresentar
podridões, perda de aroma e sabor, devido ocorre
alterações físicas e físico-químicas diminuindo sua
qualidade nutritiva. Mas a principal causa de perda de
qualidade e de deterioração é a facilidade com que
perde água, ocasionando seu rápido murchamento,
resultando diretamente na perda de peso e aparência
externa.
Lavagem e seleção
Os frutos de vê ser lavados e selecionados no
máximo 12 horas após a colheita.Na seleção devem
ser descartados frutos com qualquer tipo de lesão
mecânica, murchos, sem pedúnculo, imaturos e com
sintomas de ataques de pragas e ou doenças. Os
restos florais devem ser eliminados, e o pedúnculo
aparado para 0,5 cm. A lavagem deve ser feita com
detergente e água clorada (100 ppm de cloro livre)
(Ruggiero et al., 1996).
Tratamento fitossanitário
O tratamento com fungicidas naturais ou
sintéticos, para evitar perdas devido a doenças
causadas por fungo deve ser realizado antes do
armazenamento.
No Brasil, não existe agrotóxico registrado
para aplicação em pós-colheita em maracujá,
devendo consultar a legislação do país exportador, no
caso de exportação da fruta (Lima e Cunha, 2004).
Controle da perda de água
Para evitar a transpiração excessiva dos frutos,
existem dois métodos simples e práticos:
- colher os frutos na planta e não caídos no chão e
- evitar a exposição dos frutos a movimentos de ar
muito intensos após a colheita.
Portanto, deve-se evitar expor os frutos a
correntes de ar nos galpões, a ventilação das câmaras
de refrigeração deve ser suficiente apenas para retirar
o ar quente, colher frutos na planta para evitar retirar
a cera com lavagem, e ainda assim, o murchamento é
inevitável. Emulsões à base de parafina e mistura
desta com emulsão de carnaúba aniônica, ambas de
fácil aplicação, mantiveram maracujás amarelos por
21 dias à temperatura ambiente, sem sintomas
visíveis de murchamento. Estas mesmas ceras,
quando associadas à refrigeração, conservaram os
maracujás por 21 dias a 10º C mais 5 dias à
temperatura ambiente (26 dias no total), com pouco
enrugamento (Motta, 1999).
O uso defilmes plásticos flexíveis também
para proteger contra a perda de água tem sido
constantemente estudado. Embalagens de polietileno
de baixa densidade, com espessura de 20 a 50 micra,
associadas à refrigeração. Parecem ser as mais
recomendadas, permitindo conservar os frutos por até
40 dias (Mota, 1999).
Conservação pós-colheita
Mudanças nos constituintes voláteis do flavor
em maracujá também ocorre durante o
armazenamento. Alteram-se as concentrações dos
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 185
principais compostos voláteis (hexanoato de hexila,
butirato de etil, hexanoato de etila e butirato de
hexila). Narain e Bora (1992) observaram decréscimo
na concentração do butanoato de etila e hexanoato de
etila (responsáveis pelo aroma adocicado dos frutos)
e indesejável acrescécimo de acetato de etila (Figura
12.8). Os mesmos autores, concluíram que o fruto de
maracujá maduro retém o aroma em ésteres
característico da polpa por apenas três dias após a
colheita.
Maior vida útil pós-colheita pode ser
conseguida quando os frutos são armazenados sob
temperatura de refrigeração variando de 5 ºC a 10 ºC,
principalmente quando for associado com a utilização
de ceras ou filmes plásticos (Gama et al., 1991;
Arjona et al., 1992; Vieites e Bezerra, 1996; Mitra,
1997). Entretanto, o maracujá é altamente susceptível
ao distúrbio fisiológico causado pelo frio.
A injúria pelo frio (chilling) ocorre quando se
armazena os frutos em temperatura abaixo de 5ºC.
A temperatura de armazenamento deve
obedecer ao estádio de maturação dos frutos, frutos
em início de amadurecimento (30% de cor amarela na
casca) devem ser armazenados acima de 10ºC,
parcialmente maduros entre 7ºC e 10ºC e maduros
entre 5ºC e 7ºC.
Figura 12.8 – Mudanças no conteúdo de compostos
voláteis durante o armazenamento pós-colheita do
maracujá-amarelo (Narain e Bora, 1992)
12.14 Mercado e Comercialização
A produção, comercialização e consumo de
maracujá estão diretamente relacionados com sua
perecibilidade, atomização de produtores em
atividade, às elasticidades-preço da oferta e da
demanda, às elasticidades-renda, aos aspectos da
sazonalidade e fatores que a determinam, enfim, a um
conjunto grande de fatores, que em maior ou menor
grau influencia toda a cadeia de produção, transporte,
distribuição, armazenamento, processamento
agroindustrial, comercialização e consumo do
produto (Pires et al., 2003).
Historicamente a produção do maracujá oscila
em torno de 50% para o mercado de consumo ao
natural e 50% para a industrialização (Pizzol et al.,
1998). Atualmente, a industria consome cerca de
35% da produção e o mercado de consumo ao natural
os 65% restantes (Rossi, 1998). Os preços estão
condicionados, ora às cotações internacionais do suco
concentrado, ora aos dos sistemas atacadistas
nacionais, sendo mesmo o mercado externo, o maior
responsável pelos preços e principalmente pelo
aumento e diminuição da produção e área plantada
(Ruggiero et al., 1996).
O segmento industria compra somente durante
o período da safra, de cordo com cada região,
aproveitando a baixa dos preços. Este segmento não
exige qualidade estética. O teor de SST, o rendimento
de suco e as perdas de linha (frutos verdes e/ou
deteriorados) são as principais características
avaliadas.
O segmento de fruto para mesa valoriza a
qualidade estética da fruta (tamanho, coloração da
casca e ausência de defeitos).
A comercialização do maracujazeiro em
ambos segmentos envolve diversos agentes e também
diversos mecanismos coordenação entre esses
agentes (Figura 12.9). Os dois principais canais de
comercialização compreendem a venda no atacado,
onde destacam as centrais de abastecimento
(CEASAs), ou a venda direta à firmas processadoras
de suco. No caso da comercialização de frutas para
consumo in natura, o primeiro canal é o mais
utilizado, sendo o segundo o mais importante na
produção de suco (Aguiar e Santos, 2001).
Figura 12.9 – Principais mercados de
comercialização de maracujá no Brasil (Aguiar e
Santos, 2001).
0
5
10
15
20
0 3 6 9 12 15
Armazenamento (dias)
Co
ncen
tração
(m
g k
g-1
) Butanoato de etila
Acetato de etila
0
2
4
6
8
10
12
14
0 3 6 9 12 15
Armazenamento (dias)
Co
ncen
tração
(m
g k
g-1
)
Butanoato de hexila
Hexanoato de etila
Co
nce
ntr
ação
(m
g k
g-1
)
Fruticultor
Atacado
Varejo/Frutaa
Processamento
Varejo/Suco Varejo/Suco
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 186
Analisando a comercialização do
maracujazeiro, verifica-se que há uma competição
entre os dois segmentos e o preço é o principal fator
afetado, assim, o aumento da exportação de suco e o
do consumo de suco no mercado interno tendem a
abalar os preços recebidos pelos produtores, porque
mais frutos serão demandados para processamento.
Por outro lado, os preços do produto in natura
deverão ser afetados.
Portanto, o processo de comercialização
apresenta deficiências, especialmente no
processamento agroindustrial e nas exportações.
Nesse contexto, a agregação de valor ao produto
permitiria maiores ganhos de renda ao produtor e ao
país no comércio internacional (Pires et al., 2003).
Custo de produção e rendimento econômico
As variações na produção e área plantada com
maracujazeiro no Brasil são causadas por grandes
oscilações de preço pago aos fruticultores. A
rentabilidade econômica pode variar de região para
região, em função dos custos de produção: insumos,
mão-de-obra, mecanização, condições
edafoclimáticas, ocorrência de pragas e doenças,
distância do mercado consumidor e outros.
Um estudo feito pela Associação dos
Fruticultores da Região de Vera Cruz (AFRUVEC)
Vera Cruz, São Paulo, revela que o tamanho da área
cultivada também influi sobre o custo. Assim, os
menores custos de produção se verificam nos extratos
de produtores que cultivam áreas entre 0,45 e 0,75 ha
(Agrianual, 2000).
Outro fator que, nos últimos anos, contribuiu
de forma indireta para a elevação dos custos de
produção foi a desvalorização cambial no início do
ano de 1999, culminando com a elevação dos preços
em reais (moeda corrente brasileira no período), dos
fertilizantes e defensivos (em alguns casos superior a
80%). De outra parte, não houve o correspondente
aumento nos preços da fruta, os quais, no período
imediatamente posterior à desvalorização cambial,
ficaram praticamente inalterados em reais (R$).
Apesar de todos os fatores negativos que
afetam a rentabilidade do maracujazeiro, esta ainda se
mantém positiva, especialmente para os produtores
que conseguem produzir frutos de qualidade e em
período de entressafra.
Apesar do preço do suco concentrado no
mercado internacional pressionar os preços internos
do maracujá, o preço no mercado de fruta fresca
depende muito mais da lei da oferta e demanda e da
qualidade do fruto.
Os preços pagos pelas indústrias de suco têm
se mantido próximos ao limite inferior da média
histórica de US$0,18 a US$0,25 o quilograma da
fruta (Guedes & Vilela, 1999); hoje, em moeda
corrente brasileira, R$0,54 a R$0,752. Mas, esse setor
2 Câmbio do dia 26/07/2004: (US$ 1,00:R$ 3,00).
não parece ter força política na comercialização, ao
contrário do setor citrícola brasileiro, que
comercializa a fruta do produtor em dólar, mesma
moeda de comercialização do produto final (suco de
laranja concentrado e congelado ou SLCC),
subprodutos (óleos essenciais) e de certos insumos
(os importados). Assim, os preços do maracujá, frente
à valorização do dólar em relação ao real, continua
sendo cotado em real, podendo ser comercializado até
a US$0,10/kg, aquém do preço histórico (Pires & São
José, 1994).
Na Tabela 12.5 está apresentado um resumo
dos custos de produção da cultura do maracujazeiro
para as três safras (ciclo da cultura), valores
referentes ao ano de 2003. Os gastos acumulados
com serviços (operações mecanizadas e manuais)
somam R$18.672/ha, representando 58,7% do custo
de produção; os gastos com insumos foram
calculados em R$7.740/ha, representando 24,1% do
custo total de produção; a administração da cultura
utiliza recursos da ordem de R$5.382/ha,
representando 17,2% do custo total.
Analisando-se mais detalhadamente os custos
de produção, os insumos fitossanitários são os
principais responsáveis pelo aumento do custo de
produção, necessitando de R$3.733,00/ha,
representando 12,5% do custo total, enquanto os
fertilizantes representam apenas 5,2% do custo total,
com gastos de R$1.690,00 por hectare.
Nesse sentido, analisando-se o custo de
produção, com preços referentes ao ano agrícola de
2003, os custos de três safras da cultura era de
R$31.794,00/ha (Agrianual, 2004). Considerando a
produtividade brasileira de 9.895 kg ha-1
(29.685 kg
ha-1
nas três safras), e um preço de R$0,40/kg ou
US$0,133/kg (preço pago na região de estudo, Sul de
Minas Gerais, pela indústria de suco, em 2002, 2003
e 2004), alguns fruticultores estão tendo prejuízo com
o cultivo do maracujá. Isto porque segundo os custos
de produção estimados pelo Agrianual (2004), e o
preço histórico do maracujá para a indústria
(US$0,18/kg ou US$0,25/kg), a produção de
cobertura total, necessária para cobrir todos os custos
de produção é de 58.878 kg/ha/3anos ou 42.392
kg/ha/3anos, dependendo dos preços acima
mencionados. Porém, esse custo de R$31.794,00/ha é
para uma produtividade média de 23,33 t ha-1
/ano
suficiente para cobrir os custos de produção
(Agrianual, 2004).
Mas, considerando uma produtividade média
de 23,33 t ha-1
/ano, o custo de produção por tonelada
na vida útil é de R$454,00 e o preço médio pago pela
tonelada em 2003 de R$520,003, haverá uma receita
líquida acumulada nas três safras de R$ 11.095,00 ou
receitas anuais por hectare de R$ 491,00, R$ 5.998,00
e R$4.606,00, para a 1ª, 2ª e 3ª safras,
respectivamente (Agrianual, 2004).
3 Preço da comercialização do maracujá na
CEAGESP (Agrianual, 2004).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 187
No entanto, considerando uma produtividade
baixa, como a média nacional de 9,9 t ha-1
, há um
gasto menor com insumos e serviços. Assim, a
Associação dos Fruticultores de Vera Cruz, apresenta
um custo de produção bem abaixo dos custos cotados
pelo Agrianual (2004) (Tabela 12.5).
Tabela 12.5 - Custo de produção (R$) para um
hectare de maracujazeiro, com densidade de 571
plantas/ha e com preços referentes ao ano agrícola de
1999.
Descrição
Valor total
(R$/ha/3anos)
Participação
(%)
Oper. mecanizadas 3.870,00 32,2
Oper. manuais 2.770,50 23,1
Insumos 3.615,90 30,1
- Adubos 995,98 8,3
- Fitossanitários 1.315,50 11,0
Total(AFRUVEC) 10.256,00 100,0
Administração(1)
1.753,84 17,0
Total 12.009,84 -
Fonte: Silva et al. (2003). (1)
Valor não considerado pelos dados de Silva et al.
(2003), por isso, consideraram-se os 17% dos custo
com operações e insumos do Agrianual (2004).
12.15 Coeficiente técnico
´
A planilha a seguir representa o coeficiente
técnico para implantação de 1 hectare de
maracujazeiro no espaçamento 3,0 m x 3,0 m, para o
sistema de cultivo convencional (com uso de
agroquímicos). Os preços dos insumos e serviços são
vigentes no mercado de Rio Branco-Acre.
Tabela 12.6 - Custo de produção (R$/ha) do maracujazeiro, para uma estimativa de produtividade de 23,33 t ha-
1/ano, em espaçamento de 4,0 m x 6,0 m (25 t ha
-1 1ª safra; 30 t ha
-1 2ª safra e 15 t ha
-1 3ª safra), com preços
referentes ao ano de 2003.
Descrição
Form
ação Manutenção Total
Ano 1 Ano 2 Ano 3
R$/há (%) R$/ha (%) R$/ha (%) R$/ha (%)
Operações Mecanizadas 2.641 21,1 2.665 26,4 2.540 27,6 7.846 25,0
Operações Manuais 4.745 37,9 3.212 31,8 2.869 31,2 10.826 33,7
Insumos 3.309 26,5 2.342 23,2 2.089 22,7 7.740 24,1
- Adubos 749 6,0 556 5,5 385 4,2 1.690 5,2
- Fitossanitários 463 3,7 1.688 16,7 1.582 17,2 3.733 12,5
Administração 1.814 14,5 1.874 18,6 1.694 18,4 5.382 17,2
Total 12.509 100,0 10.093 100,0 9.191 100,0 31.794 100,0
Fonte: Agrianual (2004).
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 188
Quadro 12.23 – Plantio de 1 hectare de maracujá.
Especificação unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
A) INSUMOS
Mudas + 5% unidade 1166 0,50 583,00
Supersimples kg 880 0,7 616,00
Calcário tonelada 2 240 480,00
Adubo 20-05-20 kg 413 1,00 413,00
Esterco de Curral m3 22,2 20,00 444,00
FTE BR 12 kg 44 0,7 30,80
Arame Liso nº 12 rolos c/1000m 3,3 210,00 693,00
Estacas unidade 528 2,50 1320,00
Moirões unidade 66 5,00 330,00
SUB - TOTAL A 4909,80
B) SERVIÇOS
Marcação área dia/homem 2 10,00 20,00
Aração hora/trator 4 50,00 200,00
Gradagem hora/trator 2 50,00 100,00
Calagem dia/homem 2 15,00 30,00
Coveamento dia/homem 10 15,00 150,00
Plantio/Replantio dia/homem 5 15,00 75,00
Adubação plantio dia/homem 2 15,00 30,00
Adub. Cobertura dia/homem 3 15,00 45,00
Espaldeiramento dia/homem 14 15,00 210,00
SUB - TOTAL B 860,00
TOTAL GERAL 5769,80
Quadro 12.24 – Manutenção de 1 hectare de maracujá, 1º ano.
Especificação Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
A) INSUMOS Kg
Supersimples kg 500 0,7 350,00
Uréia kg 223 0,85 189,55
Cloreto de Potássio kg 550 0,85 467,50
SUB - TOTAL A 1007,05
B) DEFENSIVOS
Oxicloreto Cobre kg 2 80,00 160,00
Mancozeb kg 1 80,00 80,00
Inseticida litro 1 62,50 62,50
Esp. Adesivo litro 3 12,00 36,00
Cupinicida kg 2 29,50 59,00
SUB - TOTAL B 397,50
C) SERVIÇOS
Pulverizações dia/homem 8 15,00 120,00
Podas e desbrotas dia/homem 5 15,00 75,00
Polinização dia/homem 18 15,00 270,00
Capinas dia/homem 22 15,00 330,00
Colheita dia/homem 45 15,00 675,00
SUB - TOTAL C 675,00
TOTAL GERAL 2079,55
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 189
Quadro 12.25 – Manutenção de 1 hectare de maracujá 2º ano.
Especificação Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
A) INSUMOS Kg
Supersimples kg 450 0,7 315,00
Ureia kg 223 0,85 189,55
SUB - TOTAL A 504,55
B) DEFENSIVOS
Formicida kg 2 12,60 25,20
Fungicida kg 5 19,80 99,00
Espalhante adesivo litro 1 51,50 51,50
Inseticida litro 2 62,50 125,00
SUB - TOTAL B 300,70
C) SERVIÇOS
Pulverizações dia/homem 6 15 90,00
Podas e desbrotas dia/homem 5 15 75,00
Polinização dia/homem 18 15 270,00
Capinas dia/homem 22 15 330,00
Colheita dia/homem 60 15,00 900,00
SUB - TOTAL C 900,00
TOTAL GERAL
1705,25
Quadro 12.26 – Manutenção de 1 hectare de maracujá 3º ano.
Especificação Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
A) INSUMOS Kg
Supersimples kg 450 0,7 315,00
Ureia kg 223 0,85 189,55
SUB - TOTAL A 504,55
B) DEFENSIVOS ( Kg / Litro ) (800 L. calda)
Formicida kg 2 12,60 25,20
Fungicida kg 5 19,80 99,00
Espalhante adesivo litro 1 51,50 51,50
Inseticida litro 2 62,50 125,00
SUB - TOTAL B 300,70
C) SERVIÇOS
Pulverizações dia/homem 6 15 90,00
Podas e desbrotas dia/homem 5 15 75,00
Polinização dia/homem 18 15 270,00
Capinas dia/homem 22 15 330,00
Colheita dia/homem 60 15,00 900,00
SUB - TOTAL C 900,00
TOTAL GERAL
1705,25
Cultivo do maracujazeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 190
12.16 Referências
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13 CULTURA DO ABACAXIZEIRO
13.1 Produção mundial
O abacaxizeiro depois de encontrado por
Cristóvão Colombo na Ilha de Guadalupe, em 1493, e
enviando para a Europa, tornou-se bastante apreciado
e disseminado para diversos países.
No Brasil, o abacaxizeiro saiu dos pólos que
tradicionalmente cultivavam o abacaxi, Triângulo
Mineiro e Paraíba e passou a ser cultivado em
praticamente todos os estados com crescimento da
área cultivada e melhoria da tecnologia utilizada,
inclusive uso de irrigação.
De acordo com dados da F.A.O. (2005), a
produção mundial de abacaxi em 2004 foi cerca de
15 milhões de toneladas, sendo os principais
produtores apresentados no Quadro l3.1. Além desses
países mencionados, destaca-se ainda a Indonésia,
Colômbia, Malásia e Venezuela.
Quadro 13.1 – Principais países produtores de
abacaxi do mundo (Produção de 2004).
Países
Produtores
Produção
(t)
Área
(ha)
Produtividade
(t/ha)
Tailândia 1.900.000 87.000 21,8
Filipinas 1.759.290 48.230 36,5
Brasil 1.435.190 54.683 26,2
China 1.420.000 70.500 20,1
Índia 1.300.000 90.000 14,4
Nigéria 889.000 116.000 7,7
Costa Rica 725.224 17.400 41,7
México 720.900 17.906 40,3
Kenia 600.000 13.500 44,4
Mundo 15.288.018 843.231 18,13
Fonte: FAO (2005).
13.2 Aspecto socioeconômico
A abacaxicultura proporciona compensadores
retornos econômicos quando conduzida
adequadamente, além disso, exerce relevante função
social pela intensa absorção de mão-de-obra rural.
No Acre, os produtores que cultivam esta fruta
têm ótimo retorno econômico, por comercializar o fruto
a preços elevados (R$1,00/fruto a R$3,00/fruto), porém
se observa grande perda principalmente pelo ataque da
broca-do-fruto e da fusariose. E, também, por usarem
baixa densidade de plantio (<20.000 plantas/ha), a
produtividade não ultrapassa 11.415 frutos/ha.
13.3 - Produção Brasileira
O Brasil apresenta, em muitas regiões,
condições edafoclimáticas entre as melhores do mundo
para o cultivo do abacaxizeiro, porém, esta exploração
ocupa atualmente apenas cerca de 54.683 ha.
A área cultiva com abacaxi no Brasil vem
aumentando significativamente, porém não se observa
uma evolução na produtividade, pois desde 1985, não
se tem aumento de produtividade (Quadro 13.2).
Quadro 13.2 – Evolução da abacaxicultura no Brasil.
Ano Produção
(t)
Área (ha) Produtividade
(t/ha)
1970 423.903 32.189 13,2
1980 565.829 25.185 22,5
1985 1.146.600 36.618 31,3
1990 1.103.897 33.167 33,3
1995 1.426.361 44.384 32,1
2004 1.435.190 54.683 26,2
Fonte: FAO (2005).
Três grandes pólos produtores concentrados
em Minas Gerais (região do triângulo mineiro),
Paraíba e Pará, respondem em conjunto por 55,02%
da produção de frutos e por 40,3% da área plantada
no Brasil em 2003 (Quadro 13.3).
Quadro 13.3 Produção, área e produtividade das
regiões brasileiras e principais estados produtores
(Produção de 2003).
Região
Estado
Produção
(Mil
frutos)
Área
plantada
(ha)
Produtividade
(frutos/ha)
Nordeste 564.270 21.359 26.418
Paraíba 270.909 9.051 29.931
Bahia 115.616 4.674 24.736
Sudeste 477.530 16.944 28.183
Minas Gerais 277.252 9.073 30.558
São Paulo 92.130 3.530 26.099
Norte 312.038 15.907 19.616
Pará 244.199 9.707 25.157
Acre 3.105 272 11.415
Centro Oeste 72.327 3.227 22.413
Sul 13.848 715 19.368
Brasil 1.440.013 58.156 24.763
Fonte: IBRAF (2005).
O estado de Minas Gerais deixou de liderar a
produção de abacaxi no Brasil no ano de 2004, por
causa das sucessivas e fortes quedas na área
produzida. Nos últimos três anos, o abacaxi vem
perdendo cerca de 2.000ha de área plantada
reduzindo sua participação no valor bruto da
produção mineira. Em contraposição à redução de
área, os preços médios da fruta aumentaram nesse
período, mas em proporção menor do que a queda de
produção, não impedindo, porém, a queda do seu
VBP. A produção mineira de abacaxi caiu 21% em
2004, de 277 milhões para 219 milhões de frutos. Os
preços médios reais subiram 11,5%, de R$ 0,71 para
R$ 0,80 por fruto.
Apesar do mercado mundial promissor, a
abacaxicultura no Brasil ainda não apresenta um
papel relevante na exploração frutícola, com
exportação ainda reduzida e baixo consumo interno,
apenas 11 kg/pessoa/ano (Ramos, 1998).
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 196
13.4 Produtividade
A produtividade média brasileira é baixa (25 a
35 t/ha), considerando-se que 15 países produtores
chegam a produzir acima de 30,0 t/ha, 7 países
produzem acima de 40 t/ha, Benin produz 53,0 t/ha e
o Panamá 71,4 t/ha (FAO, 2005).
O abacaxizeiro possui fama de ser uma planta
rústica, por se adaptar nas mais diferentes condições
edafoclimáticas, mas para uma exploração rentável é
necessário utilizar tecnologias adequadas como em
qualquer outra exploração frutícola, principalmente
por ser cultivado em altas densidades (20.000 a 60.000
plantas/ha), não cobrir totalmente o solo, ciclo médio
(14 a 21 meses) e ser susceptível a pragas e doenças,
necessitando de práticas como controle de plantas
daninhas, adubações, controle de doenças e pragas, uso
de irrigação, em alguns casos e indução floral.
Deve-se considerar que uma das principais
causas da baixa produtividade da cultura no Brasil é a
doença denominada Fusariose ou Gomose (Fusarium
subglutinans) que pode provocar grandes perdas na
produção, comprometendo inclusive a exploração.
13.5 Exportação brasileira
O Brasil exporta abacaxi in natura e
beneficiado sob diversas formas.
As exportações brasileiras do abacaxi in
natura atingi um volume muito baixo comparando
com o volume produzido, cerca de 99% da produção
é comercializado no mercado interno.
A exportação de suco de abacaxi também é
modesta.
13.6. Origem, Dispersão e Botânica
O abacaxizeiro é uma frutífera tropical, por ser
originado em uma extensa região tropical do globo
compreendida entre 15ºN e 30ºS de latitude e 40ºL e
60ºW de longitude, portanto, incluindo as regiões
central e sul do Brasil. Além disso, adaptar-se muito
bem sob cultivo economicamente viável na área entre
os paralelos 25ºN e 25ºS. Porém, conhecem-se
plantios de abacaxi em regiões situadas a 30º45’N
(Assam, na Índia) e 33º58’S (Port Elizabeth, na
África do Sul).
Origem e distribuição do abacaxizeiro
O abacaxizeiro (Ananas comosus L., Merr.) é
uma planta monocotiledônea, herbácea perene da
família Bromeliaceae, podendo ser epífita ou
terrestre. Esta família compreende 50 gêneros e
2.000 espécies, algumas delas apresentando valor
ornamental, produção de fibras para cordaria e
fabricação de material rústico (sacaria, tecidos etc.).
Os que produzem frutos de valor comercial
pertencem aos gêneros Ananas e Pseudoananas, que
se diferenciam dos demais desta família por
apresentarem um fruto do tipo sincarpo, formado pela
coalescência dos frutos individuais, das brácteas
adjacentes e do eixo da inflorescência, enquanto nos
outros gêneros os frutos permanecem livres.
O gênero Ananas, o sincarpo maduro produz
mudas na base; as brácteas do fruto são foliáceas, a
planta não produz estolhos e cada pétala tem duas
escamas infundibuliformes.
O gênero Pseudonanas apresenta um sincarpo
com um pequeno tufo de brácteas em forma de
escama no topo, sem mudas na base; a planta
apresenta estolhos na base e pétalas com apêndices
carnosos em forma de dobras laterais.
Descrição da planta
O abacaxizeiro é uma frutífera perene, porém,
sendo explorada no Brasil como semi-perene, por
fatores de ordem econômica e técnicas. O seu ciclo
médio pode variar de 14 a 21 meses em condições
climáticas favoráveis e tecnologia adequada, se
alongando até 36 meses em condições desfavoráveis.
O ciclo da planta pode ser dividido em três
etapas:
a) fase vegetativa: estende-se do plantio até a
diferenciação floral;
b) fase produtiva (envolve a floração e frutificação):
vai da diferenciação floral à colheita do fruto;
c) fase propagativa: tem início ainda durante a fase
produtiva, continua após a colheita do fruto, abrange
o desenvolvimento (ceva) e a colheita da muda.
O abacaxizeiro produz uma inflorescência, em
posição terminal, a qual originará o fruto. Após a
produção do primeiro fruto há seqüência do
crescimento por meio de uma ou mais gemas
axilares, que também produzirão frutos (Figura 13.1),
por isso, botanicamente é possível a soca e resoca
(Andrade, 1982).
Figura 13.1 – Diagrama mostrando o tipo de
crescimento perene do abacaxizeiro.
O conhecimento da estrutura do abacaxizeiro
torna-se necessária para que se faça uma manejo
adequado da cultura, uma vez que as técnicas de
cultivo estão diretamente relacionadas com a estrutura
da planta, como a produção de mudas, irrigação,
adubação e manejo da frutificação (Figura 13.2).
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 197
Figura 13.2 – Abacaxizeiro mostrando diversos tipos
de mudas convencionais e estrutura da planta.
Sistema Radicular
Como as monocotiledôneas, o abacaxizeiro
apresenta raízes primárias, provenientes da radícula
do embrião, de vida curta e raízes adventíceas,
originadas na base do talo ou haste.
O sistema radicular da planta adulta é
superficial (0 a 25 cm), concentrando-se,
principalmente, nos primeiros 15 cm. Encerra uma
assimetria entre a parte subterrânea e a aérea da
planta. Essa particularidade diminui a capacidade de
exploração do sistema radicular, fato que fez com que
o abacaxizeiro criasse mecanismos de compensação
no seu sistema aéreo, no que diz respeito ao
suprimento hídrico e de reservas, em função da
relativa e pequena capacidade do sistema radicular
em suprir a planta nas suas necessidades metabólicas.
Caule (Haste ou Talo)
O caule do abacaxizeiro, que se inserem as
demais partes da planta, apresenta forma de clava
com 25-30 cm de comprimento por 2,5 a 3,5 cm de
largura, na base e 5,5 a 6,5 cm abaixo do meristema
terminal. Os internódios são muito curtos, com
comprimento variando entre 1 e 10 cm, sendo que os
mais longos localizam-se na porção central. Por
ocasião da formação da infrutescência algumas
gemas localizadas nas axilas foliares se desenvolvem,
formando brotações laterais.
O pedúnculo é um talo que se desenvolve a
partir do meristema apical, e conecta a inflorescência
e posteriormente o caule. Sobre o pedúnculo, abaixo
da inflorescência, há folhas modificadas, com gemas
axilares, que podem se desenvolver dando origem a
mudas.
Folhas
Uma planta adulta apresenta de 70 a 80 folhas,
são rígidas, cerosas na superfície e protegidas por
uma camada de pêlos (os tricomas), encontrados na
superfície inferior, os quais reduzem a transpiração a
um mínimo. Desempenham papel importante na
economia de água da planta, formando um espaço de
ar acima da epiderme, devido à superposição de suas
partes superiores. Assim, impedem a circulação de ar
próximo às estruturas estomáticas e,
conseqüentemente, evaporação excessiva.
As folhas apresentam uma estrutura que
permite captar água da chuva, por serem ligeiramente
côncavas, a água é conduzida até sua base, o mesmo
acontecendo com o orvalho.
As folhas, que apresentam a forma de canaleta
e oferecem mais resistência à curvatura que as de
outras plantas, pois possuem cordões fibrosos de
células esclerenquimatosas, desenvolvem-se no caule
em forma de espiral, apresentando uma filotaxia 5/13,
isto é, para que duas folhas sejam encontradas numa
mesma direção é necessária a produção de outras 13
folhas em cinco espirais.
As folhas diferem entre si no comprimento e
na forma, podendo se dividir em dois grupos, e
subgrupos recebendo a denominação de folhas A, B,
C, D, E, e F (Esquema 1). Podem ser caracterizadas
da seguinte forma:
O primeiro grupo é composto por folhas da
parte inferior da planta. São folhas completamente
desenvolvidas e as mais velhas da planta, das quais
se caracterizam por um limbo lanceolado e um
estreitamento logo acima da base, a partir de onde
divergem os bordos do limbo. Recebem a
denominação de:
Folhas A: são as que já estão completamente
desenvolvidas no momento de separação das
mudas, situando-se em sua base;
Folhas B: folhas que não completaram o
crescimento no momento da separação das mudas.
Estas apresentam um estreitamento no limbo, que
corresponde ao período em que houve suspensão
do crescimento. Após o plantio da muda, quando o
crescimento é reassumido, há um novo
alargamento na lâmina;
Folhas C: são as primeiras produzidas após o
plantio das mudas, apresentando apenas uma
constrição na base.
O segundo grupo é composto por folhas da
parte superior da planta. Nessas folhas jovens, a
largura da base das mais velhas, excede apenas um
pouco sua maior largura, podendo também ser mais
estreita. Não há, portanto, uma constrição
pronunciada e os bordos do limbo divergem
ligeiramente nas mais velhas, e convergem nas mais
novas. São agrupadas em:
Folhas D: são as folhas adultas mais jovens, isto é,
praticamente terminaram seu crescimento; os
bordos do limbo são paralelos na base, ou um
pouco divergentes. Em meio favorável são as mais
longas da planta. Estas folhas são utilizadas para
diagnose foliar e localizam-se na porção mais larga
do caule; podem ainda auxiliar na definição do
Raízes
Caule
Fruta
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 198
momento adequado para se realizar a indução do
florescimento.
Folhas E: têm forma lanceolada e os bordos
convergem na base; podem ter uma constrição logo
acima da base;
Folhas F: são as mais jovens, apresentam bordos
convergentes na base.
Inflorescência
A inflorescência tipo espiga, origina-se no
meristema apical da haste, cujo eixo é uma
continuidade do pedúnculo; é constituída por 100 a
200 flores completas. Nas variedades cultivadas dá
origem à inflorescência.
A flor é hermafrodita, auto-estéril, com três
sépalas, três pétalas, seis estames dispostos em dois
verticilos de três e ovário tricarpelar, trilocular, com
um estilete e três estigmas. Cada flor está associada a
uma bráctea espessa e carnosa na base e fina na
extremidade. A filotaxia da inflorescência e fruto é
8/21.
As flores da inflorescência do abacaxizeiro
não abrem ou amadurecem ao mesmo tempo, e a
floração procede espiralmente para cima, com uma a
diversas flores abrindo a cada dia, durante três a
quatro semanas. As flores apresentam partenocarpia e
auto-incompatibilidade (crescimento do pistilo
deficiente), a qual pode ser superada pela polinização
cruzada, com a formação de sementes pequenas,
duras e arredondadas.
Fruto
O fruto do abacaxizeiro é uma infrutescência
do tipo sorose, ou seja, um fruto coletivo ou múltiplo
carnoso formada pela coalescência de um grande
número de frutos simples (frutilhos), tipo baga,
inseridos em uma haste central em disposição
espiralada e intimamente soldados uns aos outros. A
parte comestível é constituída principalmente pelos
ovários, bases das sépalas e das brácteas, e pelo
cortex do eixo. Logo abaixo da casca encontram-se
os lóculos da flor que são em número de três por
frutilho (se houver sementes estas estarão nesses
lóculos). Esses são um fator de depreciação do fruto,
quando profundos, pois seus espaços diminuem a
massa da polpa do fruto (vaso da flor do
abacaxizeiro). A coroa, quando o fruto está maduro,
entra em repouso e só continua a desenvolver quando
for plantada.
O fruto apresenta em geral, uma forma cônica,
alargada, com os frutilhos maiores na base e os
menores no topo. Seu peso decorre do tamanho e do
estado nutricional da planta no momento da
diferenciação floral.
O crescimento e a maturação do fruto múltiplo
procedem da base para o ápice, da mesma forma que
na abertura das flores.
Período de produção
O período de produção é muito importante no
planejamento da cultura do abacaxizeiro, pois irá
influenciar diretamente no sucesso do negócio
através dos preços de mercado. A produção em
período de pico de safra aumenta a oferta da fruta e
reduz os preços. No Acre, em pico de safra, vende-se
até a R$0,50 cada fruto, mas com a comercialização
fora dessa época, vende-se um fruto por até R$3,99,
proporcionando uma excelente rentabilidade ao
agricultor.
Portanto, a época do abacaxi está na
dependência da época de plantio, do tipo de muda e
das cultivares. O plantio com mudas tipo rebentão
proporciona colheita com 15 a 18 meses, e as de
filhotes, de 20 a 22 meses após o plantio (ciclo
natural).
O plantio do abacaxizeiro deve ser realizado
durante o período chuvoso, variável para cada região
produtora, assim, não ocorrerá estresse hídrico,
favorecendo a produção e reduzindo o ciclo de
produção. Mas, em época desfavorável, na metade ou
final do período chuvoso, é preferível utilizar mudas
tipo rebentão de 500 ou 700g.
Mas se o plantio for realizado um pouco antes
do período chuvoso, com mudas de 700g, pode-se
produzir com 404 dias após o plantio, enquanto
plantios em meado do período chuvoso, pode
produzir frutos com 487 dias e com 498 dias se o
plantio for realizado dois meses antes do período
chuvoso, de forma que o plantio escalonado
possibilita colheitas durante o ano todo, com
pequenas modificações na qualidade, tamanho e
produtividade do fruto (Choairy et al., 1994).
13.7 Exigências climáticas
Temperatura
É o principal fator climático que determina o
crescimento, desenvolvimento e produção do
abacaxizeiro. Considera-se como viável a faixa entre
22 a 32ºC, sendo o ideal para o desenvolvimento da
planta entre 25 e 30 ºC e para o fruto entre 23 e 25ºC.
Abaixo de 21 ºC o crescimento já pode ser reduzido e
acima de 40 ºC poderá ocorrer queima de folhas e
frutos, principalmente combinadas com alta insolação.
O cultivo do abacaxizeiro em regiões úmidas e
quentes principalmente, o ciclo da cultura é menor, as
folhas desenvolvem-se melhor, são numerosas e
relativamente pouco rígidas, frutos macios, com coroa
grande, bagas ou olhos achatados, casca com menor
coloração, elevado teor de açúcares e menor acidez.
Umidade
A tolerância à períodos secos observado no
abacaxizeiro se deve as suas características
morfológicas tais como sua arquitetura foliar, a forma
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 199
de canaleta de suas folhas, a presença de tricomas e
tecido aquífero no mesófilo foliar.
Entretanto, sob regime de estresse hídrico as
plantas apresentam mudanças estruturais, podem
alongar significativamente o ciclo vegetativo
(principalmente quando a seca ocorre nos primeiros
meses após o plantio), diminui o tamanho do fruto
(principalmente quando o estresse ocorre na época da
diferenciação floral), o fruto pode ter a polpa muito
alveolada ou porosa (isto é, cheia de cavidades, como
acontece em plantações que sofre secas pronunciadas
nos dois meses que procedem a época de colheita
(Giacomelli, 1982).
Portanto, fica claro que em algumas etapas de
seu ciclo a planta exige quantidades significativas de
água. De acordo com Py et al (1984) a necessidade
diária do abacaxizeiro estaria em torno de l,5 a 3,0
mm ou 45 a 90 mm/mês.
Luminosidade
A luminosidade é responsável não apenas
pelo rápido desenvolvimento da planta, mas também,
pela qualidade do fruto. Indica-se como valor mínimo
de luz 1.200 a 1.500 horas/ano; o ótimo é de 2.500 a
3.000 horas/ano.
O abacaxizeiro é uma espécie ótima para
cultivo consorciado, pois permite um bom manejo da
luminosidade por tolerar certo sombreamento, apesar
de atrasar o crescimento e a frutificação, retorna seu
crescimento e frutifica após o desbaste ou eliminação
da espécie consorciada.
O plantio em densidades elevadas, também é
outro fator que limita a luminosidade pela
concorrência das plantas por luz, interferindo
diretamente no peso do fruto.
Alta intensidade de luz principalmente
associada a temperaturas elevadas, podem ocasionar,
por escaldamento dos tecidos e das epidermes,
queimaduras superficiais ou internas do fruto
depreciando-o. A prevenção à queimadura do sol tem
sido alcançada na prática pelo sombreamento dos
frutos através de capim seco, folha de jornal, com
antecedência de 30 a 45 dias da colheita e, também,
cultivo consorciado que proporcione sombreamento
moderado.
Fotoperíodo
Por ser uma espécie tropical e cultivada em
regiões de latitudes nas quais as variações entre o
comprimento dos dias e das noites são pequenas, o
abacaxizeiro é considerado uma planta de dias curtos.
A diferenciação e florescimento ao natural
estão associados à diminuição da luminosidade,
ocorrendo quando os dias são mais curtos, isto é, oito
horas ou menos e no período de verão em dias com
alta nebulosidade.
13.8 Melhoramento Genético
O abacaxizeiro é uma espécie pouco estudada
por programas de melhoramento vegetal aliado a
predominância da cultivar Smooth Cyenne nos
plantios (cerca de 70% da produção mundial), faz
necessário a implementação de programas de
melhoramento do abacaxizeiro, visando resistência à
pragas e doenças, aumento de produtividade e
melhoria da qualidade do fruto.
Sistema reprodutivo
O sistema reprodutivo do abacaxizeiro pode ser
definido pela coexistência de um sistema de reprodução
sexual alógamo funcional com um sistema de
propagação vegetativa dominante e muito eficiente.
A fertilidade é considerada baixa nas
cultivares comerciais com poucas sementes por flor
(2 a 5), enquanto as espécies selvagens tem
fertilidade mais alta. Portanto, a fertilidade não é,
considerada um flor limitante para a produção de
híbridos, principalmente pela capacidade de
multiplicação assexual desses híbridos em caso de
produção comercial.
As espécies de A. comosus e A. nanus são
geralmente consideradas autoincompatíveis,
enquanto as outras espécies do gênero são
autocompatíveis. É provável que a
autoincompatibilidde do abacxizeiro seja do tipo
gametofítica, porém, esta causa não está
completamente elucidada.
Citogenética
O gênero Ananas possui o número básico de
cromossomas igual a 25 (2n=50). A. comosus e
espécies vizinhas possuem 50 cromossomos, são
diplóides, embora existam alguns poliplóides como o
Cabezona (Triplóide) com 75 cromossomos. Apesar de
existir a possibilidade de cruzamento do A. comosus
com outras espécies e obterem-se híbridos férteis, as
cultivares triplóides ou tetraplóides resultantes dos
cruzamentos, não têm apresentado, com algumas
exceções, características comercialmente satisfatórias.
Estratégias de melhoramento
Para escolher um método de melhoramento, é
necessário primeiramente definir os objetivos,
estabelecer os critérios de seleção e conhecer a
variabilidade genética disponível.
No quadro 13.4, estão descritas as
características procuradas pelos melhoristas para a
obtenção de novas cultivares de abacaxi.
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 200
Quadro 13.4 – Característica de biótipos de
abacaxizeiro procuradas em programas de
melhoramento. Planta Fruto
Crescimento rápido Peso médio elevado
Porte semi-ereto Coroa meia a pequena Folhas curtas e largas Forma cilíndrica
Folhas inermes ou com espinhos
localizados apenas nas extremidades
Casca amarelo-alaranjada
Olhos grandes e chatos Menos de três filhotes situados a mais
de 3 cm da base do fruto
Maturação homogênea da
base para o ápice
Rebentão precoce e bem desenvolvido localizado na base da
planta
Cavidade floral pouco profunda
Eixo de diâmetro pequeno
Pedúnculo de curto a médio para sustentar o fruto até a maturação
Polpa amarela, firme e não-fibrosa
Resistência ou tolerância às principais
pragas e doenças da região
Teor de açúcar elevado
Acidez moderada Adaptação às condições locais de:
temperatura, umidade relativa,
insolação e pluviosidade
Teor elevado de ácidos
ascórbico
Sabor agradável
Fonte: PY et al. (1984).
É difícil encontrar uma cultivar de abacaxi que
reúna todas essas características. Assim, recomenda-
se a escolha de cultivares para usos específicos,
considerando-se o destino da produção e adaptação
aos locais de plantio. A diversificação de cultivares é
importante para a sustentabilidade da cultura (Cabral
e d’Eeckenbrugge, 2002).
Utilização direta dos recursos genéticos
O uso de cultivares para produção destinada ao
mercado local pode-se utilizar seleções de material
genético local adaptados as condições e aos mercados
regionais, como os cultivares acreanas lançados pela
Embrapa-Acre (Rio Branco-1; Cabeça de onça;
Quinari-2 e Quinari-3).
Seleção clonal
Com objetivo de explorar a variabilidade
intravarietal, a seleção clonal consiste na eliminação
de plantas que não apresentam características
desejáveis, melhorando assim, as características de
um clone e contribuindo para manutenção dos
padrões de um cultivar.
Seleção massal
Consiste em examinar o plantio antes da
colheita para selecionar plantas que possuem
características desejáveis.
Cultura de tecidos
A cultura de tecidos vegetais possibilita a
indução de variantes, os quais apresenta diferenças
fenotípicas em relação à planta-mãe micropropagada.
Caso um variante apresente alguma característica
desejável, deve ser selecionado para a produção de
uma nova variedade. Além disso, a cultura de tecidos
pode ser utilizada no melhoramento de genótipos
resistentes a doenças (Cabral, 1999).
Poliplóides
Indivíduos triplóides podem ser obtidos pela
união de óvulos diplóides (sem redução dos
cromossomos na meiose) com pólen normal haplóide.
Também podem ser obtidos tetraplóides mediante o
tratamento de coroas jovens com colchicina (Cabral e
d’Eeckenbrugge, 2002).
Transformação genética
As técnicas de transformação genética o
trangenia, permitem introduzir um gene ou grupos de
genes em um clone, sem modificar suas principais
características. Essas técnicas têm sido pouco usadas
em abacaxi, porém abrem novas perspectivas para o
melhoramento desta planta.
Hibridação direta (Híbridos F1)
A alta heterosigose no abacaxizeiro aliado ao
grande número de caracteres utilizados na seleção,
torna-se necessária a produção de populações
híbridas muito grandes para aumentar a chance de
sucesso na seleção. A variabilidade entre os híbridos
é alta, o que induz grande segregação e recombinação
e explica a baixa freqüência de manifestações de
heterose nas famílias produzidas (Cabral e
d’Eeckenbrugge, 2002).
13.9 Cultivares
Além dos cultivares de Ananas comosus
conhecidas na abacaxicultura, existem populações
silvestres de abacaxi pertencentes a outras espécies
afins que poderiam ser recomendadas como
cultivares ou utilizadas como germoplasma em
programas de melhoramento.
A escolha do cultivar a ser plantada depende
de vários fatores, principalmente de mercado. Assim,
existem variedades para mesa e para a industria. O
abacaxi para o mercado interno deve apresentar boa
característica organolépticas, para a exportação, os
deve se enquadrar nos padrões de mercado
internacional, possuírem coroa pequena e frutos com
peso médio intermediários.
Quando se trata de abacaxi para consumo ao
natural deve-se conhecer as exigências do
consumidor que mudam de uma região para outra.
Por isso, deve se avaliar as características como
tamanho ou peso, forma, coloração externa, cor da
polpa, teor de açúcares e ácidos.
Para a industrialização na forma de rodelas os
frutos devem ter forma o mais cilíndrica possível
para se obter o máximo de rendimento, mas se os
frutos forem destinados a fabricação de sucos, geléias
e outros produtos, é importante ter o máximo
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 201
rendimento de suco e teores altos de açúcar e ácidos
orgânicos.
Os abacaxizeiros que produzem frutos de valor
comercial pertencem à espécie Ananas comosus (L.)
Merril, existindo mais de 150 que se reúnem em 5
grupos distintos: Cayenne, Spanish, Queen,
Pernambuco e Perolera-maipure (Cabral, 1995).
Apesar do grande número de variedades
cultivadas no mundo, no Brasil há alta concentração
de duas a três variedades dos grupos Pernambuco e
Cayenne, cujas características e principais variedades
estão relacionadas na Quadro 13.5.
Quadro 13.5 – Principais características dos grupos
de abacaxizeiro Cayenne e Pernambuco. Características Grupo ‘Cayenne’ Grupo ‘Pernambuco’
Altura da planta(cm) 90 70
Filhotes 3,8 ou sem 10,4
Rebentões Alguns Raros Comprimento das
folhas
15,7 cm 16,1 cm
Espinhos Nas extremidades Em toda a superfície Pedúnculo Curto Mais longo
Peso médio (g) 1880 g 1433 g Forma do fruto Cilíndrica Cônica
Olhos Grandes e chatos Pequenos/proeminentes
Coloração da polpa Amarelo-pálido Branca Sólidos solúveis (%) 14,0 11,8
Acidez (%) 0,75 0,60
Relação SST/ATT 18,7 19,7
Adaptado de Py et al. (1984)
Grupo Cayenne
É considerado o principal grupo de
abacaxizeiros cultivados no mundo (70% da
produção mundial). Suas variedades apresentam
características consideradas adequadas ao mercado
internacional bem como à industrialização,
especialmente sob a forma de rodelas. A principal
variedade é a Smooth cayenne denominada no Brasil
de Caiena, Liso, Havaiana ou Ananás.
Grupo Pernambuco
Neste grupo se destaca a variedade "Pérola",
também denominada de "Pernambuco" ou "Branco
de Pernambuco" que tem a preferência do
consumidor brasileiro para ser consumida ao natural.
Apareceu nos plantios desta variedade, uma
mutação que os agricultores estão denominando de
variedade JUPI, que tem alcançado boa aceitação no
mercado; a planta se assemelha ao Pérola, e o fruto
apresenta forma cilíndrica, considerada uma
característica superior quando comparada à cônica.
Outras variedades
Existem outros abacaxizeiros que podem ser
relacionados, apesar de não serem largamente
cultivados no país, tais como: Boituva, Rondon,
Ananas Amarelo, Ananas Vermelho. Também se
destacam as variedades Huitota, Ananás São Bento,
Roxo de Tefé e Alto Turi que, pela
tolerância/resistência a doenças estão sendo utilizadas
em cruzamentos. Destacam-se ainda as variedades
"Perolera" e "Primavera" lançadas pelo
CNPMF/EMBRAPA são consideradas resistentes à
Fusariose.
A Perolera apresenta folhas verde-escuras,
sem espinhos e com uma faixa prateada, emite muitos
filhotes. O fruto é cilíndrico com casca e polpa
amarela, Brix de 13o
, acidez total igual a l0.8 meg %,
alto teor de ácido ascórbico, e peso médio de l,8 kg.
A Primavera possui folhas de coloração
verde-clara, sem espinhos, com faixa prateada
marcante, muitas mudas. Fruto cilíndrico, casca
amarela e polpa branca, Brix de 13,5º e acidez total
de 7,9 meg %, peso médio de 1,3 kg.
A Embrapa-Acre, após seleção massal nos
campos de abacaxizeiros no vale do Alto Acre,
lançou quatro novas variedades (Quadro13.6).
Quadro 13.6 – Características das variedades selecionadas no Vale do Alto Acre. (Embrapa,Acre, 1995)
Características RBR-1
(Rio Branco)
RBR-2
(Cabeça-de-onça)
SNG-2 (Quinari) SNG-3
Porte da planta Semi-ereto Tend. Horizontal Ereto Tend. Horiz.l
Espinescência Não Não Sim Pouco
Número de filhortes 8 9 12 10
Número de rebentões 1 0 0 2
Peso do fruto s/ coroa (g) 1.537 2.800 1.700 1.965
Peso do fruto c/ coroa (g) 1.697 2.900 1.812 2.116
Comprimento do fruto(cm) 15,2 20,2 18,6 19,2
Diâmetro do fruto (cm) 13,0 16,0 12,4 13,4
Forma do fruto Cilíndrica Cilíndrica Cilíndrica Cilíndrica
Cor da polpa Amarela Amarela Ama.pálida Ama.pálida
Brix 13,6 12 13,4 13,3
Acidez (%) 0,46 0,47 0,65 0,71
ATT/SST 29,6 25,5 20,6 18,7
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 202
Recentemente foi lançada pelo IAC, a cultivar
Gomo-de-Mel. Introduzido da China em 1991,
juntamente com outros tipos de material genético,
provavelmente resultante de cruzamento natural,
diferencia-se das demais por permitir o consumo sem
necessariamente descasca-lo, pois os frutilhos ou
“olhos” podem ser retirados manualmente e
consumido sua polpa (Figura 13.3), além disso,
possui alto teor de açúcar, baixa acidez e tamanho
pequeno, característica apropriadas ao consumo de
mesa (IAC, xxxx).
Figura 13.3 – Fotografia de um fruto da variedade
gomo-de-mel, com detalhe da retira dos frutilhos.
Atualmente foi lançado a cultivar VITÓRIA, lançada
pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural – Incaper, em parceria com
a Embrapa Mandioca e Fruticultura, esta cultivar é
resistente a fusriose (Fusarium subglutinas f. sp,
ananás). A nova cultivar com folhas sem espinhos é
destinada ao consumo in natura e à agroindústria. Sus
frutos tem polpa branca, boa suculência, eixo central
de tamanho reduzido e elevado teor de açúcar (média
de 15,8%), peso médio de 1,5kg (IBRAF, 2007).
13.10 Propagação
O abacaxizeiro é propagado comercialmente
via assexuada, principalmente por mudas oriundas de
brotações da própria planta.
A reprodução sexuada, via sementes, só ocorre
quando há polinização cruzada, entre variedades e/ou
espécies diferentes, com aplicação exclusiva na
pesquisa, para a obtenção de novas variedades.
Tipos de mudas
As mudas de abacaxizeiro recebem
denominações específicas de acordo com a parte da
planta da qual se originam: coroa (brotação do ápice
do fruto), filhote (brotação do pedúnculo no caule) e
rebentão (brotação do caule).
A muda de abacaxizeiro, assim como toda
semente agronômica, é responsável pelo potencial
genético da cultivar, sanidade da cultura e
consequentemente pelo sucesso da produção.
Além desses tipos de mudas, há também,
mudas provenientes de seccionamento do caule e
cultura de tecidos. Ambas possuem custos mais
elevados, principalmente às ed cultura de tecido.
O ciclo da cultura, do plantio à colheita, é mais
longo para a muda tipo coroa e mais curto para o
rebentão em função da maior quantidade de reservas
nutritivas presente neste último, que lhe confere
maior velocidade de crescimento. O filhote, de ciclo
de duração intermediária, é o tipo de muda mais
utilizado, devido à sua maior disponibilidade, no caso
de cv. Pérola. Cada planta sadia e vigorosa dessa
cultivar, a mais plantada no Brasil, gera em média
cinco ou mais filhotes, ao passo que a formação de
rebentões é pouco numerosa e tardia, obtendo-se a
média de apenas um rebentão por planta aos seis
meses após a colheita do fruto (Reinhardt et al.,
1996). Mas, como a cv. Smooth Cayenne é a mais
cultivada no mundo e praticamente não produz
filhotes, o rebentão é o principalmente material
propagativo.
Manejo da muda
Ceva
Durante a colheita dos frutos, as mudas do tipo
filhote não possuem tamanho adequado para o plantio
(mínimo de 30 cm), devendo permanecer aderidas à
planta-mãe, para continuar o seu crescimento. Em
geral, esse período dura de um a seis e dois a doze
meses para brotações do tipo filhote e rebentão,
respectivamente. Rebentões desenvolvem-se na fase
inicial mais lentamente que os filhotes, pois,
geralmente, só surgem após a colheita do fruto (cv.
Pérola) (Reinhardt e Cunha, 1999).
Após a colheita do filhote, o corte da planta à
cultura da base do pedúnculo, permite aumentar e
uniformizar a emissão de rebentões, bem como
acelerar seu crescimento.
Cura
A cura consiste na exposição da mudas ao sol,
com a base virada para cima, durante três a dez dias.
A cura visa cicatrizar e eliminar o excesso de
umidade da mudas, diminuindo a ocorrência de
podridões e reduzindo a ocorrência de podridões. O
procedimento é feito colocando-se as mudas sobre as
próprias plantas-mãe ou espalhando-as sobre o solo
em local próximo ao do plantio.
Seleção das mudas
A seleção das mudas inicia na colheita das
mudas, destacando aquelas com defeito mecânico e
sintomas de ataque de pragas e doenças,
principalmente sinais de resina e podridão,
descartando todo o cacho em caso de fusariose.
A próxima seleção ocorre após a cura das
mudas, separando-se filhotes de rebentões, e faixas
de tamanho de 30 a 40 cm e de 40 a 50 cm, que serão
plantados em talhões separados. Além disso, elimina-
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 203
se novamente mudas com defeitos mecânicos e com
problemas fitossanitários.
Tratamento das mudas
Em caso de alta infestação de cochonilha e
ácaros nas mudas e historicamente na área de
produção das mudas, é recomendado o tratamento
destas por imersão de inseticida e fungicida.
Produção de mudas a partir de seções do caule
O método consiste na produção de mudas pelo
desenvolvimento de gema axilares de seções do talo,
da planta mãe ou de mudas tipo coroa e rebentão, que
passam do estado dormente para outro
fisiologicamente ativo pela eliminação da ação
hormonal dominante do meristema apical.
Esse método de propagação do abacaxizeiro
visa a multiplicação acelerada de clones ou cultivares
superiores e a produção de mudas sadias, isentas
principalmente de fusariose.
Reinhardt e Cunha, (1999), descrevem os
procedimentos para obtenção das seções do caule:
A melhor época para a obtenção do talo é logo
após a colheita do fruto. Em seguida, os talos são
divididos em pedaços ou discos. Inicialmente os talos
são cortados transversalmente, eliminando-se o
restante da parte basal, coberta ainda com algumas
raízes, e do pedúnculo, em seguida, divide-se o talo
(parte última) em pedaços com cerca de 10cm de
comprimento. Depois, essas seções transversais são
cortadas longitudinalmente em duas ou quatro partes.
quando o caule é cortado em disco, estes devem ter
uma espessura de 2 a 3 cm.
O plantio dos pedaços de caule em canteiros
(viveiros) deve ser feito de modo que as seções sejam
levemente enterradas e evitando a exposição das
gemas ao sol da tarde. Os espaçamentos mais
empregados nos plantios verticais e inclinados são
0,10m x 0,10m e 0,10 x 0,15m, obtendo-se
densidades de 100 e 66 seções/m2 de canteiro,
respectivamente. Quanto ao plantio horizontal, o
espaçamento pode ser de 0,10m x 0,05m.
A colheita ocorre ao atingirem o tamanho
adequado para o plantio (25 a 40cm), as mudas serão
arrancadas do solo, juntamente com o resto da seção
de caule que, em seguida, deve ser eliminado.
Para o sucesso desta técnica, é indispensável a
presença, de pelo menos, uma gema vegetativa
intumescida em cada seção do caule, seções que
possuam boa reserva nutritiva e o bom manejo das
seções (irrigação, adubação, controle de plantas
daninhas, controle de pragas e doenças e outras).
Outros métodos de multiplicação acelerada do
abacaxizeiro são a multiplicação por destruição do
meristema apical (olho) para estimular a emissão
precoce e mais numerosa de mudas do tipo rebentão,
e o do tratamento químico, que visa transformar
flores em mudas pela aplicação de fitorreguladores
do grupo das morfactinas, logo após o tratamento de
indução floral das plantas.
12.11 Manejo agronômico
O cultivo convencional do abacaxizeiro exige
várias práticas culturais indispensáveis para uma boa
produtividade.
Época de plantio
O cultivo do abacaxizeiro ocorre na maioria
das regiões produtoras o ano todo, porém,
concentrado no período de maior precipitação
pluviométrica.
A época de plantio constitui-se numa das
principais estratégias na exploração econômica da
abacaxicultura, com plantio escalonado, aliado a
práticas culturais adequadas, principalmente indução
floral, pode-se produzir comercialmente durante todo
o ano, ou em épocas pré-determinadas, dependendo
das condições climáticas e do mercado.
A escolha da data de plantio é orientada pela
época em que se deseja produzir fruto, pelo
comportamento esperado da planta em decorrência de
condições ambientais favoráveis ao seu
desenvolvimento, pelo nível tecnológico do cultivo,
inclusive condições propícias para um bom preparo do
solo, pelo regime pluvial e por outros fatores
climáticos que influenciam a diferenciação floral. Isso
exige estudos locais, envolvendo o ciclo natural da
planta, tipos e pesos de mudas e épocas de tratamento
de indução artificial da floração (Cunha, 1999).
Em geral, a plantio é realizado no início da
estação chuvosa.
No Brasil, a data de plantio varia entre as
diferentes regiões, dependendo do regime hídrico da
região.
No Acre, o abacaxizeiro é plantado de
setembro a dezembro, com mudas tipo filhote, que
frutifica entre 14 e 21 meses.
Preparo do solo
Diferentemente da maioria das frutíferas o
abacaxizeiro é cultivado em alta densidade de plantio,
por isso, é muito exigente no preparo do solo.
A recomendação é de eliminar toda massa
vegetal, incorporando-a com aração profunda
(mínimo 30 cm) seguida de gradagem. Porém, se a
cultura anterior for o próprio abacaxizeiro, a
incorporação torna-se mais difícil devido a massa
vegetal de aproximadamente 100t/ha.
Por ter um sistema radicular superficial,
adapta-se bem ao cultivo mínimo ou plantio direto
utilizando palhada cultivada, resteva natural ou a
própria cultura picada e secada ao sol.
Em grandes áreas é preferível a abertura de
sulcos para efetuar o plantio, e em áreas pequenas, o
plantio pode ser feito em covas ou fendas.
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 204
Os sulcos e covas devem ter profundidade
suficiente para evitar o tombamento das mudas. No
plantio em fenda, enquanto um operário abre a fenda
com um enxadão, outro introduz a muda na abertura
no momento exato em que o primeiro retira a
ferramenta.
Sistema de plantio e densidade
Com objetivo de maximizar os rendimentos na
fruticultura, o adensamento de plantio constitui-se
numa estratégia adotado atualmente pela maioria do
fruticultores, nas mais variadas culturas frutíferas.
Mas, no caso do abacaxizeiro, o aumento de
rendimento com o adensamento de plantio provoca
uma redução do peso e da qualidade do fruto,
causado principalmente pela concorrência, entre
plantas por água, luminosidade e nutrientes minerais.
A densidade de plantio por unidade de área é
um dos fatores de produção mais importantes da
cultura do abacaxi, estando diretamente relacionada
ao rendimento e custo de produção da cultura. Por
isso mesmo, tem sido um assunto bastante estudado,
apesar de ainda ser grande a variação das densidades
de plantio adotado nas diversas regiões produtoras
dessa fruta no mundo, sendo influenciada por fatores
como variedade usada, tipo de solo, sistema de
cultivo, práticas culturais e destino da produção
(Cunha, 1999).
A limitação do adensamento de plantio é a
exigência do mercado por frutos com peso acima de
1,5 kg, pois o adensamento diminui o tamanho do
fruto. No entanto, a tendência dos consumidores de
frutas é mudar os hábitos alimentares, tendo
exigências não apenas com relação ao tamanho/peso,
mas, sobretudo à aparência e qualidade organolética
dos produtos. Observa-se atualmente que o rítimo de
vida das famílias de alimentarem fora de domicílio e
o número menor de membros na família (3,5 no
Brasil), a tendência é de consumir frutas menores.
Com isso, esta tendência estende –se para os campos
de plantio, forçando os agricultores a adensar o
abacaxizeiro.
A maioria dos plantios de abacaxizeiro são
feito em sistemas de filas simples e duplas, com baixa
densidade (25.000 a 40.000 plantas/ha), um dos
fatores que muito contribui para o rendimento médio
nacional relativamente baixo (cerca de 24.000
frutos/ha ou aproximadamente 26 t/ha).
Figura 13.4 – Esquema dos principais sistemas de
plantio do abacaxizeiro.
O plantio em fileira simples pode facilitar os
tratos culturais, principalmente quando se trata de
cultivares com folhas espinhosas, enquanto o de filas
duplas permite um maior número de plantas por
unidade de área. O plantio em fileiras triplas dificulta
alguns tratos culturais, tais como adubação, controle
fitossanitário, indução floral, colheita, capina entre as
fileiras simples, colheita etc.
As densidades mais comuns variam de 20 mil
a 75 mil plantas/ha, dependendo da cultivar, tipo de
muda e do espaçamento adotado.
No Brasil a principal cultivar é a pérola, com
muda tipo filhote, plantadas nas distâncias de 1,20m a
0,70m x 0,40m.
No Acre, planta-se cultivares locais, muitas
sem espinho nas folhas, em fileiras simples
principalmente. Em consórcio, planta-se fileiras
triplas, chamada pelos produtores como “pé-de-
galinha”, com grande distanciamento entre as fileiras
triplas permitindo o cultivo de outras culturas.
Em um estudo nas condições ambientais dos
Tabuleiros Costeiros do Norte da Bahia, a cultura do
abacaxi cv. Smooth Cayenne apresenta potencial para
o uso de altas densidades de plantio mesmo em
condições de sequeiro, podendo-se atingir
produtividade média acima de 80 t/ha, e peso do fruto
superior a 1,0 kg para densidades de até 70.000
plantas/ha (Santana et al., 2001).
Plantio
Após sulcar ou abrir as covas e selecionadas as
mudas, estas são distribuídas ao longo das linhas de
plantio, sendo então colocadas verticalmente dentro
do sulco ou cova, chegando-se terra a elas com
cuidado para não cair no centro da roseta foliar.
As mudas devem ser plantadas em talhões ou
quadras, separadas de acordo com seu tipo e peso ou
tamanho, para facilitar os tratos culturais e a colheita.
Em terreno planto, os sulcos ou covas devem ser
abertos no sentido do maior comprimento da área,
visando aumentar o rendimento das máquinas. As
dimensões dos talhões devem estar de acordo com as
técnicas a serem empregadas. Assim, nos plantio
mecanizados, a largura das quadras deve ter o dobro
do comprimento das barras de pulverização, enquanto
as ruas entre elas devem permitir o livre acesso de
caminhões, para facilitar o transporte dos frutos
durante a colheita. Já nos terrenos em declive, o
plantio deve ser feito em curva de nível ou com
outros métodos de conservação do solo (Cunha,
1999).
No Acre, alguns agricultores realizam o
plantio com ‘espeque’, antigo método de plantio
usado na região. Este método evita o revolvimento do
solo, reduz mão-de-obra no plantio, permite o plantio
em solo saturado e fixa melhor a muda.
O ‘espeque’ é uma ‘vara’ de plantio um pouco
mais grosso que o cabo de uma enxada, com ponta
esférica. Com o ‘espeque’ o agricultor abre uma
Fileiras simples Fileiras duplas Fileiras triplas
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 205
pequena cova de aproximadamente 15 cm de
profundidade, coloca a muda e depois compacta a
cova com a muda para fixar-la, evitando tombamento
da planta quando estive com o fruto, bem como das
planta soca e ressoca.
Consórcio
A cultura do abacaxizeiro é explorada na
maioria dos casos, por pequenos e médios
agricultores. É uma cultura que exige tratos culturais
mais intensivos, encarecendo a produção. Por isso, os
produtores tem adotado o cultivo consorciado para
diminuir os riscos de produção e aumentar a
rentabilidade de tema. Além disso, muitas culturas
servem como subsistência a família, como mandioca,
feijão, milho etc.
No Brasil, o consórcio do abacaxizeiro é feito
com culturas de subsistência, outras frutíferas
(abacate, citros, manga, coco, mamão, guaraná).
A escolha das culturas consortes deve ser
baseada de acordo com o manejo da cultura; sistema
de cultivo, ciclo da cultura, época de plantio, aspecto
fitossanitário entre outros.
Soca e restos culturais
A exploração de mais de uma safra/cultura não
é comum no país porém, a 'soca' ou segunda safra
poderá ser viável economicamente. Também não se
utiliza os restos culturais deixados após a colheita dos
frutos, que chegam a 30 toneladas de matéria seca por
hectare e podem ser usados em confinamento de
bovinos, fabricação de álcool etílico e obtenção de
bromelina.
Os agricultores ecológicos do PA Humaitá no
Acre, utilizam várias safra do abacaxi (re-soca), em
sistemas agroecológicos, em consórcio com
mandioca, milho, feijão, mamão e outros arranjos. A
grande vantagem é o aproveitamento da mão-de-obra
do plantio para as três colheitas, além disso, a
ciclagem de nutrientes nestes cultivos garante as duas
safras seguinte, mesmo em solos com baixa
fertilidade, pois esses agricultores não utilizam
adubação química ou orgânica, apenas a adubação
verde com leguminosas (feijão-de-porco e puerária)
ou a cobertura viva com resteva natural.
A utilização de várias socas é possível graças a
característica botânica do abacaxizeiro, quetende a
ser perene. Mas para isso, é preciso realizar um
manejo adequado para este fim. O plantio é feito com
espeque, de forma a deixar a muda bem aderida ao
solo, fato que favorece a posição ereta após várias
safras, outro ponto importante é a retirada das mudas
após a colheita e limpesa de algumas plantas doentes,
fracas e limpesa da cobertura vegetal.
Restos Culturais
Os restos culturais do abacaxizeiro são pouco
aproveitados no Brasil, porém, pesquisas tem
demonstrado a possibilidade de se utilizá-los tanto
para industrialização como para a alimentação de
animais.
Segundo Carvalho (1985) o caule do
abacaxizeiro além de fonte de amido para produção
de álcool etílico (até 4 t/ha de amido) poderá também
ser utilizado sob outras formas na indústria de
alimentos, como por exemplo na obtenção de
BROMELINA. Este produto é recomendado como
amaciante de carnes, agente depilante no preparo de
couros, nas cervejarias, indústria farmacêutica e na
medicina humana veterinária.
Após a colheita do fruto e das mudas
remanescentes pode-se obter de 15 a 30 toneladas de
matéria por hectare, possível de ser usada como
alimento para bovinos, contendo de 6 a 9% de
proteínas e cerca de 65% de digestibilidade "in vitro"
. Segundo Py et al. (1984) a composição dos resíduos
do abacaxizeiro, em valores médios seria de 18,9;
7,5; 23,8; 60,1; 3,1 e 6,0% respectivamente para
matéria seca, proteína bruta, fibra bruta, extrato não
nitrogenado, extrato etéreo e cinzas. Sob a forma
fresca, os bovinos poderão realizar o pastejo na
soqueira ou então, triturado e fornecido no cocho.
12.12 Solos e nutrição
Exigências Edáficas
O sistema radicular do abacaxizeiro é frágil
se concentrando, em sua maior proporção (> 70%),
na camada de 0 a 25 cm do solo, não tolerando
excesso de umidade. Desta forma, se adapta melhor
em solos mais arenosos, com boa capacidade de
drenagem. Seria recomendável, que em regiões
chuvosas o solo apresentasse no máximo 20% de
argila e, em regiões mais secas, até 40% de argila.
Todos os estudos realizados em campo têm
demonstrado que o abacaxizeiro tem uma maior
eficiência do aproveitamento dos nutrientes
colocados à disposição no solo, numa faixa de pH de
4,5 a 5,5. A partir dessa faixa o rendimento diminui
muito, mais com a acidez do que com a alcalinização.
Em pH inferior a 4,5 a planta está sujeita à toxidez
por alumínio. No caso de pH superior, há uma
redução no crescimento do sistema radicular,
provocado pelo bloqueio de absorção.
Considerando-se o tipo de solo normalmente
utilizado, intensas práticas de preparo (aração,
gradagens) e o crescimento lento do abacaxizeiro nos
primeiros meses pós-plantio, os problemas com
erosão podem ser graves, sugerindo-se a adoção de
práticas conservacionistas como o plantio em faixa,
consórcio de culturas, implantação em nível e
terraceamento. Em se tratando de cultura instalada
em altas densidades (20.000 a 60.000 plantas/ha),
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 206
exige perfeito alinhamento de ruas e talhões e assim,
não se consideram áreas muito declivosas e
irregulares adequadas para a exploração em grande
escala, sendo o ideal até 5% de declividade.
12.13 Pragas
A incidência de pragas na abacaxicultura é um
dos fatores diretamente responsáveis pela baixa
produtividade da cultura. Dependendo das condições
ambientais da região e do manejo da cultura, os
prejuízos podem ser graves.
As principais pragas do abacaxizeiro são:
Broca-do-fruto (Thecla basalides Geyer, 1837 –
Lepidóptera:Lycaenidae); cochonilha-do-abacaxi
(Dysmicoccus brevipis Cockrell, 1983 –
Hemíptera:Pseudococcidae); Broca-do-talo (Castinia
icarus Cramer, 1775 – Lepdoptera: Castiniidae);
Broca-do-colo (Paradiophorus crenatus Billberg,
1820 – Coleóptera:Curculionidae); Percevejo-do-
abacaxi (Lybindus dichnous Stal, 1859 –
Hemíptera:Coreidae); Caruncho-do-abacaxi
(Parisoschoenus ananasi Moure, 1976 –
Coleóptera:Curculionidae); Ácaro-alaranjado
(Dolichotetranychus floridanus Banks, 1900 –
Acari:termipalpidae).
No Acre, o percevejo Thaltocoris laetus
(Hemíptera: Coreidae: Acanthocerini) causa danos a
cultura devido sua alta infestação.
Broca-do-fruto
A broca-do-fruto (Thecla basalids) é a
principal praga da abacaxicultura brasileira, causando
danos elevados em diversas regiões, podendo infestar
praticamente 100% dos frutos quando nenhuma
medida de controle é adotada.
A broca-do-fruto possui um reduzido número
de hospedeiros, sendo encontrada em espécies nativas
de bromeliáceas e em Heliconia sp.
O adulto medindo de 28 a 35mm, deposita
seus ovos na base das brácteas, nos botões florais e,
às vezes no pedúnculo logo abaixo da inflorescência.
A eclosão ocorre entre 3 e 5 dias, as lagartas se
alimentam inicialmente da bráctea, podendo atacar as
flores e os frutilhos. As lagartas perfuram pequenos
orifícios na parte inferior do fruto, o que causa o seu
broqueamento. Após o período larval (13-16 dias)
elas pupão nas folhas basais ou no solo.
O estádio pupal dura de 7 a 11 dias,
completando o ciclo em 23-32 dias.
Ao se alimentar do fruto, as lagartas destroem
o tecido parenquimatoso, causando a exsudação de
uma resina incolor e pouco viscosa, que se solidifica
em contato com o ar, formando massas ou bolhas
irregulares que chegam a atingir 4cm, tornando-se
marrom-escuras e que permanecem aderidas à
superfície da inflorescência, resultando no sintoma
conhecido por “resinose”. As galerias e o orifício de
saída no fruto favorecem a entrada de patógeno como
o Fusarium moniliforme e insetos secundários.
Controle
A rotação de cultura, a destruição de frutos
atacados e a indução floral em período de maior
pluviosidade, são medidas de controle cultural que
reduz a população e infestação desta broca. Existem
vários inimigos naturais desta praga, mas seu controle
biológico mais comumente divulgado é o artificial,
através do uso de Bacillus thuringiensis Berliner,
com aplicações em intervalos de 7 a 20 dias, desde o
início da diferenciação floral até o fechamento das
últimas flores.
Cochonilha-do-abacaxi
A cochonilha-do-abacaxi (Diaspis brevipes)
também conhecida como pulgão-branco, piolho-
branco, piolho-das-folhas, por ser encontrada ainda
em cana-de-açúcar e em algumas plantas
ornamentais, constitui-se em uma das principais
pragas do abacaxizeiro, causando perdas de até 70%.
O ciclo biológico dessa cochonilha varia de 40
a 60 dias, sendo os períodos quentes e úmidos os que
oferecem condições mais favoráveis ao seu
desenvolvimento. A cochonilha-do-abacaxi vive em
colônias, sugando seiva nas raízes e nas axilas das
folhas, com o aumento populacional eles passam a
atacar também os frutos, as cavidades florais e a parte
superior das folhas e mudas.
Controle
A destruição dos restos culturais, emprego de
mudas isentas da pragas e irrigação por asperção são
medidas de controle cultural desta praga.
A cochonilha D. Bravipes é parasitada por
diversos agentes biológicos.
O controle químico pode ser feito nas mudas
ainda na planta-mãe, durante a “ceva” e antes do
plantio. Após o plantio, o controle das cochonilhas
pode ser efetuando com inseticidas aplicados em
pulverização ou com produtos agranulados.
Broca-do-colo-do-abacaxizeiro
A broca-do-colo (Paradiophorus crenatus) é
uma praga esporádica, sem grande importânica
econômica. O adulto deposita os ovos, de cor branca,
na região do colo, em orifícios. As larvas iniciam a
abertura de galerias até o seccionamento da planta, na
porção situada abaixo da superfície do solo, no final
do pecíolo larval.
Controle
Não existe controle eficiente para a broca-do-
colo, porém, a destruição de culturas e a aplicação
dos mesmos produtos químicos utilizados para a
broca-do-fruto, são medidas de controle
recomendados para esta praga.
Broca-do-talo-do-abacaxizeiro
As fêmeas realizam a postura, geralmente, no
terço inferior das folhas. As lagartas recém eclodidas
perfuram inicialmente as folhas e vão penetrando até
atingir o caule, onde abre enormes galerias,
provocando definhamento gradativo da planta.
Controle
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 207
O controle desta praga é feito destruindo as
plantas atacadas.
O controle biológico com Apanteles spp.
(Hymenoptera: Braconidae), Beauveria bassiana e
Metarhyzium aniopliae, constituem potencial de
controle ainda não utilizadas comercialmente.
O controle químico desta praga pode ser
antienconômico, podendo aplicar os mesmos
produtos para o controle de D. brevipes.
Percevejo-do-abacaxizeiro
Os percevejos jovens e adultos agrupam-se na
parte inferior do pedúnculo da inflorescência e aí
permanecem, escondidos, sugando a seiva podendo
atacar o fruto. O fato de cada planta abrigar muitos
insetos faz com que a infrutescência não se
desenvolva ou cresça pouco e, também, provoca a
seca ou apodrecimento do pedúnculo (Lara et al.,
1998).
Em época de alta pluviosidade, ocorre uma
queda acentuada no nível populacional desse inseto.
Controle
A eliminação dos restos culturais e os mesmos
produtos utilizados para a broca-do-fruto, são
recomendados para o controle desta praga.
Caruncho-do-abacaxizeiro
O caruncho-do-abacaxizeiro (Parisoschoenus
ananasi) é um coleóptero pequeno, medindo 4 mm de
comprimento, de cor preta, com uma linha branca na
base dos élitros.
Os carunchos fazem pequenos orifícios na
base das folhas, na região não clorofilada, e dois
meses após observam-se nesse local manchas
arredondadas de cor parda com a porção central,
medindo de 3 a 8 mm de diâmetro. Ao atacarem os
frutos, destroem as infrutescências e provocam uma
exsudação de resina. Os danos são causados apenas
pelos adultos (Gallo et al., 1988; Lara et al., 1998).
Ácaro alaranjado
A importância do ácaro-alaranjado (Colichote-
tranychus floridanus) depende das condições
ambientais e do manejo da cultura, podendo ser uma
praga secundária ou primária.
Esses ácaros instalam-se nas axilas basais das
folhas basais, provocando lesões de coloração escura,
acarretando danos à circulação da seiva e facilitando
a entrada de microrganismos, inclusive o Fusarium
moniliforme, causador da gomose.
O uso de mudas sadias constitui-se na
principal medida de controle.
12.14 Doenças
O abacaxizeiro não possui muitas doenças que
limitam sua produtividade. A fusariose (Fusarium
subglutinas f. sp. Ananás) e a podridão-negra
(Thielaviopis paradoxa Hoelin) são as principais
doenças do abacaxizeiro.
Outras doenças de menor importância
econômica podem ocorrer na cultura do abacaxizeiro
como a mancha-negra-do-fruto, associada com o
ataque de fungos Fusarium moniliforme e Penicillium
funiculosum. Outras doenças do fruto podem ocorrer
como Botryodiplodia theobromae, Aspergillus spp.;
Penicillium funiculosum Thom., Rhizopus stolonifer,
Chalara paradoxa, Erwinia chrysanthemi,
Acetobacter e Enterobacter.
Fusariose
A fusariose é a doença mais impoortante do
abcaxizeiro no Brasil e uma séria ameaça à
abacaxicultura mundial.
Os prejuízos devido a fusariose são
decorrentes da infecção das mudas, da morte das
plantas no campo e da podridão dos frutos, que
perdem seu valor comercial. Além disso, a
capacidade do patógeno de infectar até 40% das
mudas, dos quais cerca de 20% morrem antes da
colheita, evidenciando sua importância (Matos,
2003).
No material.. (Matos, 2003) pág. 17
Nos frutos ... (Matos, 2003) pág. 18
O principal meio de dispersão da fusariose é
através do meterial propagativo. Em menos grau a
disseminação também está associada com a presença
de insetos como Thecla basalides, Trigoma spirepes,
Bitoma sp, Apis melífera, Libindus dichrous, Bombus
sp. e Polites sp, chuvas e ventos também são vetores
de disseminação. O solo contaminado é um veículo
de baixo potencial na disseminação da fusariose.
Controle
O controle integrado é a forma mais viável no
controle da fusariose.
11.15 Colheita e Pós-colheita
Fisiologia Pós-colheita
A classificação do abacaxi como fruto não
climatérico ainda não está bem definida, apesar de
apresentar comportamento e reações metabólicas
típicas de frutos climatéricos. De modo geral, em
condições ambiente, a cultivar Pérola apresenta
índice de respiração entre 10 e 75 mg CO2/kg/h e a
Smooth Cayenne entre 60 a ll0 mg CO2/kg/h. Não se
observa um pico na produção de etileno, apesar deste,
estimular a taxa respiratória apenas quando há
clorofilas remanecentes na casca (Paull, 1997).
Durante o desenvolvimento e na fase de
amadurecimento dos frutos há mudanças acentuadas
nas características físico-químicas. Com a maturação
do fruto, há aumento nosteores de sólidos solúveis,
açúcares redutores, carotenóides, aumento seguido de
redução da acidez da polpa e redução da
concentração de clorofila da casca.
Maturação e Ponto de colheita
Cultura do abacaxizeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 208
O ponto de colheita depende de fatores como a
finalidade da produção e distância de mercado; assim,
frutos destinados à indústria, devem ser colhidos
maduros, ocasião em que a sua qualidade atinge o
ponto máximo. Frutos para o consumo ao natural,
devem ser colhidos no estádio "de vez", para que
possam chegar em boas condições ao consumidor
(Ramos, 1998).
A maturação de colheita é avaliada pela
expansão dos frutilhos e pelo amarelecimento da
casca. A mudança de sua coloração se inicia da base
para a coroa; pode-se atribuir notas de 0 a 3, no caso
da variedade "Smooth Cayenne" e visualmente
caracterizá-las como:
- Nota 0: a base do fruto inicia a mudança de cor
verde-escura para verde-clara.
- Nota l: a base do fruto apresenta coloração marelada
até a 2a fila de "olhos".
- Nota 2: fruto com coloração amarelada/alaranjada
até a sua metade.
- Nota 3: fruto com coloração amarelada/alaranjada
ultrapassando mais de sua metade.
Método de colheita
A colheita é realizada manualmente e os frutos
transportados também manualmente em caixas ou
lançados para os veículos de transporte, mas em áreas
maiores se utilizam esteiras rolantes acopladas a
trator ou caminhão, nas quais se depositam os frutos
colhidos. A operação manual é feita com auxílio de
facão, cortando-se o pedúnculo em torno de 5 cm
abaixo do fruto.
11.4 Pós-colheita
Armazenamento
Os frutos tropicais e subtropicais, ao serem
submetidos a temperaturas abaixo de l0o
C,
apresentam distúrbios fisiológicos, no geral
denominado de "Chilling" (Chitarra e Chitarra,
2005). O escurecimento interno no abacaxi, é
conhecido como "endogenous brown spot" e
"brunissement interne". Esta ocorrência limita, em
termos, o armazenamento do abacaxi a temperaturas
baixas e por longo período. Frutos destinados a
exportação por via marítima, são colocados em
condições controladas, com temperatura não inferior
a l0 oC e umidade relativa 85-90%, sendo o período
de armazenamento variável entre l0 a 28 dias.
Preparo, Classificação, Embalagem
Os frutos, após serem transportados para o
galpão de recepção são inicialmente selecionados por
estádio de maturação e peso, eliminando-se aqueles
com defeitos, danos mecânicos, queimaduras,
atacados por doenças e pragas.
O abacaxi é uma fruta que praticamente não
exige tratamentos especiais após a colheita.
Inicialmente, deve-se realizar a apara do pedúnculo à
2 cm e, se for o caso, o seu tratamento preventivo
contra a podridão negra do fruto mencionado no item
"Doenças do Abacaxizeiro".
Na classificação, os abacaxis podem ser
divididos em tipos, considerando-se o seu peso
mínimo e maior diâmetro transversal. No caso
específico de frutos para a indústria, podem ser
avaliados além de seu peso, o teor em suco (mínimo
40%) e a relação acidez/sólidos solúveis.
No Brasil, o abacaxi para consumo ao
natural é transportado, em grande parte, a granel e
com proteção de palha ou capim entre camadas
dispostas nos caminhões. Em alguns casos, utilizam-
se caixas de madeira leve ou "engradados" e no caso
de exportação são utilizadas caixas de papelão
contendo até 12 frutos/caixa.
12.16 Mercado e Comercialização
12.17 Referências
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IBRAF. Frutas e derivados. Ano 2. Edição 05, São
Paulo, março de 2007.
Cultivo do mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 210
14 CULTURA DO MAMOEIRO
14.1 Aspectos Socioeconômicos
O Carica papaya L. é o mamoeiro mais
cultivado comercialmente e também, uma das
frutíferas tropicais mais difundidas no mundo,
produzindo uma fruta de grande aceitação tanto no
mercado brasileiro como internacional. Sua cultura,
além de grande relevância econômica, desempenha
importante função social, gerando grande número de
empregos, de forma estável, uma vez que produz
durante todo o ano e necessita de renovações
periódicas, normalmente a cada três ou quatro anos.
O mamoeiro é muito cultivado, quer para
abastecer os mercados locais e de exportação de
frutas fresca, que como fonte importante de papaína,
enzima proteolítica de ação semelhante à de pepsina
e tripsina, empregada para os mais variados usos nas
indústrias têxteis, farmacêuticas, de alimentos e de
cosméticos.
Além disso, também se extrai das folhas,
frutos e sementes do mamoeiro, um alcalóide
denominado carpaína, utilizado como ativador
cardíaco. O mamão também é uma boa fonte de
cálcio e uma excelente fonte de pró-vitamina A e de
ácido ascórbico (vitamina C), sendo que este último
aumenta com a maturação do fruto.
As regiões produtoras de mamão no mundo
estão localizadas em uma faixa do globo terrestre
compreendida entre os trópicos de Câncer e
Capricórnio, a 21º de latitude Norte e 21º de latitude
Sul. Os países maiores produtores de mamão,
considerando a produção de frutos, são Brasil com
cerca de 27% do total mundial, seguido por Nigéria
(14%), Índia (12%), México (11%), Indonésia (9%),
Repúbli Dominicana do Congo (4%), Peru (3%),
China (2,8%), Tailândia (2,2%), Colômbia (2,1%).
Tabela 14.1 – Principais países produtores de mamão
do mundo.
MAMÃO – PRODUÇÃO EM 1.000 t.
Países Produtores ANOS
1994 1998 2001
Brasil 1.004 1.378 1.450
Nigéria 629 751 748
Índia 470 1.582 644
México 489 576 613
Indonésia 371 490 470
Congo 222 227 213
Peru 119 165 174
China 122 131 152
Tailândia 120 118 119
Colômbia 63 64 114
Outros 549 645 748
TOTAL 4.160 6.127 5.444
Fonte: Nakamae (2003).
O Brasil é a nação que apresenta a maior
produção de mamão, 1.450.000 t. Embora seja grande
produtor, não tem exportado quantidades
significativas, quase sempre permanecendo em
volumes iguais a 1% do total produzido no país
apesar de, mais recentemente, ter ocorrido a
possibilidade de se aumentar esse percentual, em
decorrência da melhoria de técnicas de colheita e
pós-colheita e redução das exigências dos
exportadores quanto à mosca das frutas.
A demanda de mamão no mercado
internacional se situa em torno de 154.000 t. Esta
demanda cresce a uma taxa de 5,3% a.a. (Tabela
14.2). A Índia é o país que apresenta maior
crescimento em exportação. Os volumes de suas
exportações apresenta maior crescimento em
exportação. Os volumes de suas exportações
cresceram substancialmente na década de noventa,
passando de 1.000 t (1997) para 12.000 t (2000). Ou
seja, um crescimento da ordem de 1.200%.
Tabela 14.2 – Mamão: Exportações e importações
mundiais. MAMÃO - EXPORTAÇÕES MUNDIAIS
PAÍSES
EXPORTADORE
S
ANOS
1997 2000
US$
(mil)
t (1.000) US$
(mil)
t (1.000)
México 12 48 24 60
Malásia 12 33 19 21
Brasil 7 8 18 21
Estados Unidos 17 7 14 6
Holanda 4 1 7 3
Belize 2 3 6 6
Índia - 1 4 12
Jamaica 6 4 3 2
Filipinas - - 3 2
Hong Kong - - 2 2
Outros 9 9 10 17
TOTAL 70 115 110 154
PAÍSES
IMPOTADORE
S
MAMÃO – IMPORTAÇÕES
Estados Unidos 28 48 53 70
Japão 19 5 16 6
Hong Kong 11 12 15 19
Canadá 6 4 8 5
Holanda 3 2 7 4
Alemanha 4 2 7 3
Reino Unido 7 3 6 3
Portugal 2 1 4 3
Cingapura 3 22 4 25
França 2 1 2 1
Outros 10 8 14 20
TOTAL 98 109 139 160
Fonte: Nakamae (2003).
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 211
Ao analisar a tabela 14.2, onde são
apresentados os volumes das exportações e
importações de mamão pelos países, constata-se
haver um acréscimo de 20% no valor da fruta, para
aqueles países que a importam. Para um volume de
frutos de 154 mil tonelada, equivalente a US$ 110
milhões na exportação, verifica-se um aumento de
20% nas alfândegas de importação. O preço varia de
US$ 0,71 para US$ 0,87. Esta diferença de 20%,
entre o valor das importações sobre o valor das
exportações, anteriormente era maior e variavam em
torno de 40%. Depreende-se, desses dados, que a
Holanda atua no mercado internacional tanto
importando como exportando mamão. É um país com
forte tradição comercial principalmente no continente
Europeu. Os Estados Unidos também apresentam esta
característica de mercado expedidor.
Tabela14.3 – Produção brasileira de mamão. MAMÃO – PRODUÇÃO BRASILEIRA EM 1.000 t
REGIÃO 1993 1997 2000
Norte 63 74 68
RO 10 2 1
AC 1 3 9
AM 1 19 18
RR - - 1
PA 48 50 38
AP - - 1
TO 2 - -
Nordeste 492 792 910
MA - 2 1
PI - - 1
CE 13 19 33
RN 5 3 9
PB 5 13 31
PE 2 7 3
AL - - -
SE 4 8 7
BA 463 740 823
Sudeste 352 421 447
MG 4 11 17
ES 341 401 425
RJ - - -
SP 5 9 4
Sul 5 4 5
PR 2 1 2
SC - - -
RS 3 3 2
C. Oeste 7 10 10
MS - - -
MT 1 4 4
GO 5 6 5
DF - - -
BRASIL 920 1.301 1.440
Fonte: Nakamae (2003).
O mamão é cultivado em todos os Estados da
Federação. Na região Nordeste se concentra a maior
área de plantio, cerca de 30 mil ha. A região Sudeste
é a segunda maior região produtora, com 7 mil ha.
Seguem pela ordem, as regiões Norte, com 3 mil ha;
Sul, com 484 ha; e Centro Oeste, com 300 ha. O
rendimento médio da cultura de 37.589 frutos/ha. Na
região Sudeste, entretanto, a cultura apresenta um
rendimento muito elevado 75.442 frutos/ha. Destaca-
se nesta região o rendimento das lavouras do Estado
do Espírito Santo, onde os plantios de mamão
apresentam alta produtividade, em torno de 84.931
frutos/ha. Esta produtividade é superior à do Estado
da Bahia, maior Estado produtor, cuja média é de
37.994 frutos/ha. Ao se converter estes rendimentos
para t/ha, verifica-se que a produtividade média das
lavouras de mamão do Espírito Santo se aproxima de
72 t/ha, enquanto a do Estado da Bahia, gira em torno
de 32 t/ha.
Como pontos importante no cultivo do
mamoeiro destacam-se a grande densidade de plantas
por hectare, seu rápido desenvolvimento e sua fácil
propagação; pode, ainda, produzir durante todo o ano
e apresentar alta produtividade.
14.2 Origem, Dispersão, Botânica e Ecologia
O mamoeiro cultivado comercialmente
(Carica papaya L.) pertence à classe Dicotyledoneae,
ordem Violales, sub ordem Caricacineae, família
Caricaceae, a qual está dividida em cinco gêneros,
com trinta e quatro espécies: Carica (21 espécies),
Jacaratia (7 espécies), Cylicomorpha (2 espécies),
Horovitzia (uma espécie) e Jarilla (3 espécies). É
originário da América do Sul, com grande
diversidade genética na região dos Andes e Bacia
Amazônica, de onde se disseminou por toda a
América Tropical, Caribe e México. Existem plantios
relevantes na Índia, Arquipélago Malaio, Sri Lanka,
Havaí e Austrália.
É uma frutífera de crescimento rápido e grande
precocidade, pois, entre três a quatro meses pós-
plantio da muda já inicia o florescimento e a partir do
oitavo mês já pode proporcionar as primeiras
colheitas; considera-se como vida útil do pomar
economicamente viável, um período entre três a
quatro anos.
É considerado uma planta herbácea gigante
que pode atingir entre 3 a 8 metros de altura,
apresentando uma raiz pivotante tipo napiforme, que
pode atingir mais de 3 metros de profundidade e
raízes secundárias que se concentram em maior
quantidade na camada de 30 cm do solo. O caule é
cilíndrico, dividido em entre-nós, com porções ocas e
diâmetro de até 30 cm.
As folhas possuem pecíolos longos com até
70cm de comprimento, dispostas de forma alternada
no caule, podendo ter 7, 9, 11 e até 13 lóbulos. À
medida que a planta vai se desenvolvendo as folhas
da base entram em senescência, se desprendem da
planta e caem no solo.
O florescimento e a frutificação do mamoeiro
apresentam particularidades que abrangem aspectos
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 212
desde a implantação da cultura até a fase final da
comercialização.
Dentro do gênero Carica a maioria das
espécies são dióicas, ou seja, sexo separado em
diferentes plantas, com cinco tipos básicos de flores
sendo uma feminina, uma masculina e três
hermafroditas. Dentro desses tipos poderia existir até
30 ou 40 variações. Assim, podemos ter mamoeiros
com flores exclusivamente femininas (ginóicos), com
flores exclusivamente masculinas (andróicos) e com
mistura de flores hermafroditas e masculinas em suas
inflorescências (andromonóicos). O pomar de
mamoeiros pode apresentar então população dióica
(plantas femininas e masculinas), ginóica-
andromonóica (plantas femininas e hermafroditas) e
andromonóica-trióica (com as três formas sexuais).
Mas, em pomares de alto nível tecnológico, observa-
se apenas população andromonóica, por produzir
frutos de maior valor econômico.
A planta normalmente inicia a emissão de
flores a partir do 3º - 4º mês pós-plantio da muda,
com os botões florais gastando cerca de 40-45 dias
até a abertura, sendo que o estigma da flor pode ficar
receptivo entre 2 dias antes e 3 dias após a abertura.
A polinização pode ser feita por insetos e ventos
(mais importante), ressaltando-se que a estrutura das
flores do mamoeiro dificulta um pouco.
É considerado uma planta de polinização
cruzada podendo, eventualmente, ocorrer a
autopolinização. Existe uma correlação positiva entre
o grau de polinização e tamanho do fruto, ou seja,
maior taxa de polinização (maior número de grãos de
pólen) proporciona frutos de maior tamanho. Existe a
possibilidade de ocorrer "Partenocarpia" em
mamoeiro isto é, a produção de frutos sem a
intervenção do pólen, resultando em frutos menores e
sem sementes, em decorrência de condições
climáticas inadequadas e falta de pólen viável. Outro
"distúrbio" seria o ovocarpismo que se caracteriza
pela presença, no interior do fruto, de pequenos
"mamilos" ou mesmo "mini-frutos" com sementes,
provavelmente devido ao efeito super estimulante de
um alto grau de polinização.
Dependendo das condições do local de cultivo
pode também ocorrer a produção de alto índice de
frutos Carpelóides (cara de gato), devido à
transformação dos estames em carpelos, distúrbio que
se principia no início do desenvolvimento da flor.
Condições edafoclimáticas adversas como
temperaturas baixas, excesso de água no solo,
elevadas altitudes e período seco acentuado podem
favorecer a ocorrência.
De uma maneira geral, as falhas de frutificação
do mamoeiro podem se dever à ausência de
polinizadores, grãos de pólen inviáveis, defeitos
morfológicos nas flores, temperaturas tanto elevadas
quanto as baixas, deficiência em água e nutrientes,
doenças e pragas.
Biologia Floral e Sexagem
O conhecimento da biologia floral do
mamoeiro e a sexagem das plantas se constituem em
aspectos importantes para se obter altos rendimentos
com a cultura uma vez que abrangem detalhes de
importância fitotécnica tais como a produção de
mudas, implantação do pomar e o desbaste de
plantas, além daqueles de ordem econômica.
Como relatado anteriormente, o mamoeiro
poderá apresentar cinco tipos básicos de flores em
torno das quais pode-se encontrar um grande número
de variações. Nas Figuras 14.4, 14.5 e 14.6, são
apresentadas os três tipos primários ou seja
masculina, feminina e hermafrodita, que têm
influência marcante na conformação do fruto,
ocorrendo sempre a comparação entre o "mamão
fêmea" de forma obovóide ou arredondada e o
"mamão hermafrodita" de forma alongada e
piriforme.
Figura 14.5 – Inflorescências masculinas: flores
estaminadas típicas.
Figura 14.6 – Flores femininas em diferentes estádios
de desenvolvimento.
Figura 14.7 – Flores hermafloditas em diferentes
estádios de desenvolvimento.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 213
O mamão fêmea é considerado um fruto com
polpa reduzida devido a grande cavidade do ovário e
com qualidade inferior. O mamão hermafrodita tem a
preferência do consumidor e é objetivo do produtor
implantar um pomar com o máximo de plantas com
flores hermafroditas. Deve-se destacar que o "mamão
fêmea" eleva o custo do transporte, pois no caso do
mamão denominado "Papaya" um caminhão
transportaria 10.000 kg do fruto hermafrodita e
apenas 7.000 kg do fêmea. Esta preferência "sexual"
do consumidor também contribui para o desperdício
de pelo menos 10% da área de plantio dessa frutífera
no país em decorrência do desbaste ou eliminação de
plantas femininas.
Herança do sexo
A maioria das espécies do gênero Carica é
dióica, com exceção de C. papaya l., C. monóica
Desf. e C pubescens, que são polígama, monóica e
monóica-dióica, respectivamente.
O mamoeiro cultivado (Carica papaya L.)
possui formas sexuais: ginóicas- com plantas
exclusivamente femininas; andróica – com plantas
masculinas; e andromonóica – com plantas cujas
inflorescências apresentam flores masculinas e
hermafroditas. De acordo com essas formas sexuais,
as populações de mamoeiro são classificadas como
dióicas: constituídas por indivíduos ginóicos e
andróicos; ginóico-andromonóicas: constituídas por
indivíduos ginóicos e andromonóicos; e
andromonóico-trióicas: constituídas por indivíduos
ginóicos, andróicos e andromonóicos.
O estudo da herança do sexo (Storey, 1938,
1941, 1953; Horovitz et ai., 1953; Horovitz, 1954;
Hofmeyr 1938, 1941) mostrou que esse caráter possui
controle monogênico, com três alelomorfos, sendo as
plantas femininas geneticamente homozigotas no
caso do alelo m e as plantas masculinas e
hermafroditas heterozigotas: (mm – plantas
femininas; M1m – plantas masculinas; e M2m -
plantas hermafroditas).
Storey (1953) também menciona que o loco
simplesmente herdado, na realidade, representa um
complexo de muitos genes fortemente ligados,
afetando caracteres sexuais secundários, como
número de flores, comprimento do pedúnculo,
supressão do crossing-over e letalidade. O fator
zigótico ‘L’ é responsável pela letalidade dos tipos
homozigotos dominantes M1M1, M2M2 e M1M2.
Alternativamente, a teoria do balanço gênico
de Hofmeyr (1967) para a determinação do sexo
preconiza que as regiões masculinas e hermafroditas
são inertes, contribuindo para a letalidade zigótica na
condição homozigota. Baseando-se principalmente na
ocorrência freqüente de reversão do sexo em plantas
masculinas e hermafroditas, Hofmeyr (1967) salienta
que maior concentração de genes afetando a
feminilidade está presente nos cromossomos sexuais,
enquanto aqueles afetando a masculinidade estão
distribuídos nos cromossomos autossômicos. A
interação entre esses fatores determina o sexo da
planta.
Mais recentemente, Soundur et al. (1996),
com base nos conhecimentos atuais de regulação do
desenvolvimento floral e de seu controle por
proteínas reguladoras, sugerem que o alelo SEX1-M
codifica um fator regulador que induz partes florais
masculinas e inibe o desenvolvimento de carpelos. O
alelo dominante SEX1-H é intermediário, tendo a
habilidade para induzir estruturas masculinas;
todavia, só reduz o tamanho dos carpelos, de forma
que os carpelos funcionais permaneçam nas plantas
SEX1-H/sex1-f. O alelo sex1-f é incapaz de induzir
estruturas masculinas e pode ser um alelo nulo. A
letalidade dos zigotos em que falta pelo menos uma
cópia de sex1-f pode ser o resultado de uma função
adicional exigida para o locus SEX1, que está
presente no alelo sex1-f, mas faltando em SEX1-
M/SEX1-M e SEX1-H/SEX1-H. Alternativamente,
uma aberração cromossômica, talvez uma deleção,
que inativa determinada função gênica, pode estar
fortemente ligada aos alelos SEX1-M e SEX1-H.
Visando a obtenção de frutos provenientes de
flores hermafroditas, por apresentarem maior valor
comercial, deve-se priorizar o cruzamento ou a
autopolinização de plantas hermafroditas, cuja
descendência será de 33% de plantas femininas e
67% de plantas hermafroditas. Em programas de
melhoramento genético são utilizados,
adicionalmente, os cruzamentos entre plantas
hermafroditas e femininas, resultado em 50% de cada
um dos tipos parentais (Quadro 1).
Quadro 1 – Percentagem de plantas masculinas,
femininas ou hermafroditas obtidas nos cruzamentos
indicados, segundo Storey (1953).
Cruzamentos Genótipos Percentagem de plantas esperadas
Masculina Feminina Hermafrodita
Herm. x Herm. M2m x M2m 0 33 67
Fem. x Herm. mm x M2m 0 50 50
Herm. x Masc. M2m x M1m 33 33 33
Fem. x Masc. mm x M1m 50 50 0
É considerada, portanto, de fundamental
importância a aquisição de sementes de qualidade,
produzidas de forma idônea e que possam garantir as
características varietais e a expressão do sexo das
mudas a serem produzidas.
Tipos florais primários e cruzamentos
Os principais tipos sexuais de flores de
mamoeiro são descritos adiante.
Flor estaminada masculina típica: Mamoeiro
Masculino
Típica flor masculina (Figura 1), corola em
forma de um tubo fino, 5 pétalas livres, 10 estames
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 214
em duas séries de cinco: a flor é unissexual não
apresentando pistilo funcional. Plantas masculinas
apresentam inflorescências em pedúnculos longos e
muitas flores cimosas.
Os mamoeiros-machos produzem somente
flores estaminadas, durante todo o ano, porém as
inflorescências, em determinadas condições
climáticas, podem produzir algumas flores femininas
férteis, e algumas flores hermafloditas, geralmente
elongata, ocorrendo, conseqüentemente,
desenvolvimento de frutos denominados “mamões-
machos” ou “mamões-de-corda”.
Flor pistilada ou feminina típica: Mamoeiro
Feminino
Típica flor de planta feminina (Figura 2) que
origina os frutos de forma arredondada; possui pistilo
funcional mas não tem estames, as pétalas são livres,
separadas umas das outras. As plantas femininas têm
inflorescência curta, junto à base do pecíolo das
folhas.
As flores do mamoeiro feminino, para serem
fecundados, necessitam de pólen de flores masculinas
ou hermafroditas, produzindo frutos arredondados ou
ligeiramente ovalados, com cavidade interna grande
em relação à espessura da polpa, e conseqüentemente
de baixo valor comercial.
Flor Hermafrodita: Mamoeiro Hermafrodita
Flor hermafrodita elongada
Este tipo de flor hermafrodita (Figura 14.7), da
qual se originam frutos de valor comercial,
apresentam pedúnculos curtos, localiza-se nas axilas
das folhas, em racimos florais como as flores
femininas. São flores perfeitas, com pétalas unidas
até a ½ ou ¾ do comprimento quando abertas,
formando um tubo rígido. Possui 10 estames, todos
funcionais, em duas séries sendo o pistilo alongado
com 5 carpelos fundidos. Origina um fruto longo e
cilíndrico de bom valor de mercado. Plantas
hermafroditas têm inflorescências relativamente
curtas onde predominam apenas flores hermafroditas.
Figura 14.7 – Flor hermafrodita elongada.
Os frutos são de forma sempre alongada, mas
variações na forma periforme a cilíndrica são
encontradas. Geralmente, a cavidade interna é menor
do que a metade do diâmetro do fruto.
Flor Hermafrodita Carpelóide
É também agrupada como flor hermafrodita
intermediária, por não possuir uma organização
definida, sendo um grupo que inclui muitas formas
anormais. Tanto as flores (Figura 14.8) como os
frutos são variadamente deformados ou distorcidos.
Nessa categoria a série interna de estames (varia de 2
a 10) se transforma em carpelos em diferentes graus
de intensidade. Os estames "carpelóides" podem estar
livres ou presos na corola e as pétalas tendem a se
tornar livres umas das outras. Ao se unirem com o
ovário alongado ocasionam a formação de frutos
deformados, chamados vulgarmente de frutos “cara
de gato” (Figura 14.9).
Figura 14.8 – Flores de mamoeiro: 1 – flor
hermafrodita carpelóide, 2 – flor hermafrodita
elongada.
Figura 14.9 – Fruto carpelóide ou cara-de-gato..
Flor Hermafrodita Pentândrica
Assemelha-se muito às flores femininas, em
tamanho e aspecto externo, diferindo por possuir
cinco estames curtos, os quais se alternam às pétalas.
Apresentam uma corola estreita, com pétalas livres
quase até a base. Possui estames de filamentos longos
que se inserem em sulcos profundos na parede do
ovário, os quais persistem no fruto maduro, que é
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 215
arredondado ou globular e profundamente 5-lobado.
A cavidade interna é grande em relação à espessura
da polpa, com sulcos longitudinais bem pronunciados
na casca dos frutos (Figura 14.10).
Figura 14.10 – Fruto petândrico.
Flor Hermafrodita estéril
Estas flores desenvolvem o ovário em
determinadas condições climáticas. Diferem das
flores masculinas por possuírem pedúnculos curtos,
inseridos nas axila foliares. Esta anomalia das flores
hermafrodita elongada, denominada esterilidade
feminina (Figura 14.11), ocorre durante os meses
quentes do ano, sendo intensificada por déficit
hídrico nas regiões produtoras, comprometendo a
produção de frutos.
Figura 14.11 – Flor hermafrodita estéril.
Basicamente as plantas dióicas não são
cultivadas comercialmente, sendo encontradas
somente em pomares domésticos, em regiões sem
tradição com a cultura, sendo conhecidas como
“mamão-de-quintal”, e “mamão-de-passarinhos”. Os
mamoeiros ginóicos-andromonóicos são originário de
cruzamentos entre plantas hermafroditas, as quais são
capazes de se autofecundar por apresentarem órgãos
masculinos e feminino na mesma flor, não
necessitando de pólen de outras flores ou plantas para
produzir frutos e sementes. Estas são as mais
desejáveis comercialmente. Os cultivares do grupo
Solo e do grupo Formosa apresentam esta
característica.
Implantação do pomar e sexagem
A identificação do tipo de flor que a planta vai
emitir só é possível em campo, quando do início de
seu florescimento, 4 a 5 meses após o plantio da
muda. Como há no mercado preferência pelos frutos
oriundos de flores hermafroditas, há a necessidade de
se plantar 2 ou 3 mudas para que, no início do
florescimento se realize o desbaste deixando-se
normalmente apenas uma muda. Desse modo, eleva-
se o custo de implantação e condução do pomar pois
gasta-se mais em sementes, insumos em geral e mão-
de-obra.
Para eliminar praticamente todas as plantas
femininas, ao final do desbaste, no florescimento,
alguns bons produtores estão adotando o sistema de
plantio em linha corrida, colocando as mudas a uma
distância de aproximadamente 75 cm umas das
outras. Com Isso, o espaçamento entre plantas após o
desbaste final, no florescimento, não ficará
perfeitamente uniforme, mas possibilitará a redução
para praticamente zero do número de plantas
femininas ao final (Ruggiero et al., 2003).
Pesquisadores da UNESP - Campus de
Jaboticabal têm desenvolvido trabalhos que visam
identificar, ainda na fase de muda o tipo de flor a ser
emitido. Trabalhos vêm sendo realizados utilizando-
se o cultivo in vitro, marcadores RAPD, SCAR,
Microsatélites, AFLP e análise de proteínas em géis
bidimensionais, com objetivo de verificar padrões
diferenciadas para plantas macho, fêmea e
hermafrodita. Outro método objetiva a identificação
de uma proteína específica das plantas hermafroditas
e, com ela purificada, realizar imunização em coelhos
para se obter anticorpos. A partir do anticorpo será
possível desenvolver um kit de imunodiagnóstico
para fazer a sexagem com o extrato da folha do
mamoeiro.
14.3 Ecofisiologia
O mamoeiro se adapta melhor nos trópicos
entre as faixas de 23º norte e 23º Sul do Equador,
exigindo para o seu desenvolvimento e produção
temperaturas mais elevadas e constantes durante todo
o ano, bem como suprimento adequado de umidade
uma vez que cerca de 85% da planta e do fruto são
constituídos por água. Existem cultivos comerciais
em áreas subtropicais, com características climáticas
fora dos padrões tropicais, porém, nessas condições,
constatam-se ciclos maiores, produção e qualidade
dos frutos inferiores e sazonalidade de produção, ou
seja, concentração de safra apenas em parte do ano.
Temperatura e Umidade
Considera-se como faixa inicialmente viável
entre 21 a 33ºC, e ideal entre 22 a 28ºC. É muito
sensível a baixas temperaturas sendo que,
temperaturas médias mínimas abaixo de 20ºC podem
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 216
induzir o desenvolvimento de flores que irão originar
frutos deformados e abaixo de 15ºC, quase não ocorre
florescimento; temperaturas muito baixas e geadas
podem provocar queimaduras nas folhas, reduzindo a
atividade fotossintética e, em decorrência, a
produção.
Em regiões subtropicais, no período
compreendido pelo outono, inverno e início de
primavera pode ocorrer paralisação do
desenvolvimento vegetativo e da frutificação, atraso
da maturação e produção de frutos com sabor inferior
em virtude do baixo teor de açúcar.
A exigência em termos de umidade está entre
100 a 140 mm/mês, recomendando-se que o período
mais seco não ultrapasse 4 meses pois, em caso
contrário, se exigiria obrigatoriamente irrigações
complementares. Umidade relativa elevada, entre 60-
85% é favorável ao desenvolvimento e produção
porém, eleva a incidência de doenças.
Luminosidade
Recomenda-se que o mamoeiro tenha alta
disponibilidade de luz apesar de o comprimento do
dia não exercer influência marcante sobre o seu
florescimento e frutificação. As fileiras de plantio
devem ser implantadas obedecendo-se a coordenada
leste-oeste. Ocasionalmente, mamoeiros com
reduzido número de folhas podem ter os frutos
queimados pela alta incidência de luz.
Ventos
As características morfológicas do mamoeiro
tais como folhas largas, caule herbáceo e grande
carga de frutos na extremidade da planta, fazem com
que essa frutífera tenha sérios prejuízos devido a
ocorrência de ventos intensos, que podem provocar o
rasgamento de folhas, queda de flores e mesmo a
queda da planta. Deve-se procurar instalar o pomar
em áreas menos expostas aos ventos e, se necessário,
instalar quebra-ventos que devem ficar distanciados
entre si, em distância correspondente a 20 ou 30
vezes a sua altura.
Altitude
O ideal é que os pomares sejam instalados em
altitudes até 150-200 m. O efeito da altitude
especialmente no fator temperatura pode contribuir
para o aumento de frutos deformados.
Solos
Dentre as características estruturais do
mamoeiro destaca-se uma raiz pivotante afilada que
chega a cerca de 60 cm de comprimento sobre a qual
se inserem raízes secundárias e terciárias de
alimentação dentro de um raio de 3m do caule e, em
sua maior parte, situadas nos primeiros 20-30 cm do
perfil do solo. Assim, o mamoeiro preferencialmente
deve ser cultivado em solos areno-argilosos,
profundos e com boa permeabilidade. Deve-se evitar
os solos compactados, com encharcamento e mesmo
sujeitos a inundações periódicas, uma vez que o
acúmulo de água junto ao sistema radicular, por mais
de 48 horas, poderá provocar a podridão das raízes e
do colo da planta, amarelecimento, murcha e queda
das folhas e mesmo a morte da planta. A implantação
de pomares em áreas com pequeno declive favorece o
escoamento de excesso de umidade; deve-se evitar
aquelas com mais de 20% de declividade.
14.4 Melhoramento Genético
Características desejáveis no processo de seleção
do mamoeiro
Para o desenvolvimento de um programa de
melhoramento e para se atingir os objetivos finais, é
necessário uma definição prévia sobre os critérios de
seleção para as características demandadas pelos
clientes e usuários. Isso porque há diferenciação,
tanto na preferência do produto pelo empreendedor
rural e consumidor quanto na adaptabilidade e
estabilidade fenotípica das variedades, condições
climáticas e outros fatores relacionados à região onde
se executa o programa.
Nesse sentido, alguns caracteres das plantas e
dos frutos, que devem ser utilizados nos programas
de melhoramento em diferentes regiões, são:
- Características da Planta
Vigor; ausência de ramificações lateral;
frutificação precoce e em altura de planta mais baixa;
ausência ou ocorrência mínima de carpeloidia,
pentândria e esterilidade feminina, em que os tipos
hermafroditas são cultivados, resistência a doenças e
pragas, e alta capacidade de produção.
- Características dos Frutos
Tamanho uniforme, livre de manchas, com
casca amarelo-clara quando maduro; polpa grossa
com cavidade interna pequena; alto teor de açúcar,
ausência de odor desagradável almíscar e
longevidade pós-colheita.
14.5 Cultivares
No Brasil existe um grande número de "tipos"
regionais de mamoeiro, quase sempre de tamanho
grande, fora do padrão de mercado para consumo ao
natural; muitos apresentam polpa de coloração
amarela e bom sabor, podendo atender mercados
locais ou regionais, com menor exigência. Entretanto,
os plantios extensivos são feitos com cultivares
hermafroditas, criados no Havaí, destacando-se os
Grupos SOLO e FORMOSA, entre outros. Dentre as
principais cultivares temos:
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 217
Grupo Solo
‘Sunrise Solo’
Cultivar oriunda do Hawaí (E.U.A), de grande
aceitação no mercado, sendo popularmente conhecida
por "papaya", "mamão Havaí", "mamão da
Amazônia" . Resultante do cruzamento "Pink Solo X
Kariya Solo", produz frutos entre 400-600 gramas
(Figura 14.12), forma arredondada (femininos) ou
piriformes (hermafroditas); polpa vermelho-
alaranjada, macia, bom aroma e sabor. Inicia o
florescimento entre 3 a 4 meses pós-plantio, com
altura de inserção das primeiras flores variando de 70
a 80 cm. Planta precoce, iniciando a produção entre 9
a 10 meses com produtividade podendo atingir 60
t/ha/ano no primeiro ano de 40 t/ha/ano no segundo
ano de colheita.
Figura 12.12 – Frutos de mamoeiro ‘Sunrise
Solo’.
‘Improved sunrise solo line 72/12’
Linhagem melhorada do Grupo Solo, precoce
e produtiva. Frutos em torno 400 gramas, formato
variando de piriforme a ovalado, com ou sem
"pescoço" e baixo índice de frutos deformados. Casca
lisa e firme, polpa vermelho-alaranjada. Grande valor
no mercado, sendo uma das mais cultivadas no
Brasil. A floração inicia-se aos três ou quatro meses
após o plantio, com altura de inserção das primeiras
flores de 60 a 70 cm; é precoce (iniciando a produção
a partir do oitavo mês após o plantio) e produtivo.
‘Baixinho de Santa Amália’
Cultivar regional, resultante, muito
provavelmente, de mutação dentro da variedade
‘Sunrise Solo’. Foi selecionado em 1978, na fazenda
Santa Amália, Linhares,ES. Floração inicial de três a
quatro meses após o plantio. Possui altura de inserção
das primeiras flores em torno de 50 a 70 cm, com
início da produção ao oitavo mês após o plantio.
Possui porte baixo, característica que despertou o
interesse dos produtores. Não é recomendado para
mercado externo, por produzir frutos oblongos, com
polpa de baixa consistência. Pela Figura 14.10,
observa-se a diferenciação de altura de plantas do
‘Baixinho de Santa Amália’ com o ‘Sunrise solo’,
ambos com a mesma idade.
Figura 14.15 – ‘Baixinho de Santa Amália’ ao lado
de ‘Sunrise Solo, ambos com um ano de crescimento.
‘ Sunrise Golden’
Seleção massal de plantas da variedade
‘Sunrise solo’. Frutos piriformes, cor da polpa rosa-
salmão, cavidade interna estrelada, casca lisa,
tamanho uniforme, com peso médio de 450 g e
excelente aspecto visual. No estádio verde apresenta
cor da casca verde mais claro que a variedade que lhe
deu origem (Figura 14.16). Tem boa aceitação no
mercado internacional, porém com teor de sólidos
solúveis dos frutos e produtividade inferiores aos do
‘Sunrise Solo’. Apresenta também alta variabilidade
genética, portanto não é considerado ainda material
genético fixado (puro).
Figura 14.16 – Frutos de mamoeiro ‘Golden’ no
ponto de comercialização.
‘Taiwan’
Importada de Taiwan, é uma linhagem do
‘Sunrise solo’, que ao ser plantada pela primeira vez
nas condições climáticas do norte do Espírito Santo e
sul da Bahia, apresentou um porte mais baixo que o
‘Sunrise Solo’, alta produtividade e boa qualidade de
frutos colhidos no verão.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 218
Grupo Formosa
Atualmente, o único híbrido do grupo Formosa
que tem sido utilizado comercialmente é o ‘Tainung
nº 1’, por possuir características superiores as dos
introduzidos no Brasil.
‘Tainung 1’
Híbrido resultante de cruzamento do "Sunrise
Solo" com mamão de polpa vermelha da Costa Rica.
Frutos de forma alongada (hermafroditas) ou
arredondada (femininos), peso entre 900 a 1.100
gramas, polpa firme, vermelho-alaranjada, bom sabor
(Figura 14.17). Pode atingir produtividade entre 75 a
100 ton/ha /ano.
Figura 14.17 – Frutos da cultivar ‘Tainung 1’.
‘Tainung 2’
Resultante do mamão "Sunrise Solo" em
cruzamento com uma seleção da Tailândia. Frutos
alongados ou oblongo-obovados oriundos de plantas
hermafroditas e femininas, respectivamente. Peso em
torno de 1.100 gramas, polpa vermelho-alaranjada
(Figura 14.18).
Figura 14.18 – Frutos da cultivar ‘Tainung 2’.
‘Caliman 01’
Híbrido F1, com plantas atingindo média de
2,00 m e diâmetro de caule de 100 mm aos 270 dias.
Frutos com casca de cor verde, peso médio de fruto
variando de 1.400 a 1.600g; polpa alaranjada, casca
fina, com polpa de aroma intermediário, pouco tecido
placentário, e ótima qualidade de mesa (Figura
14.19).
Figura 14.19 – Fruto da cultivar Calimam01.
Quando o cultivo se destina à extração de
papaína as cultivares a serem escolhidas devem se
destinar a esta finalidade, destacando-se como uma
das melhores a cultivar ‘Red Panamá’.
14.6 Propagação
A propagação do mamoeiro pode ser realizada
por via sexuada, por meio de sementes, ou assexuada,
por estaquia e enxertia.
A propagação vegetativa por enxertia tem sido
utilizada em trabalhos de pesquisa, nos quais são
necessários estudos específicos, analisando-se de
maneira individualizada o sistema radicular ou a
parte aérea da planta. A produção de mudas por
enxertia não é prática comum em lavouras comerciais
de mamão. É realizada utilizando-se como enxerto
brotações laterais, sem folhas, em torno de 15 cm de
comprimento. O porta-enxerto é, geralmente, um
mamoeiro com diâmetro de cerca de 5 cm. Procede-
se ao corte da base do enxerto em forma de cunha,
em seguida essas brotações são introduzidas numa
fenda, aberta em cortes horizontais e parcial no caule
do porta-enxerto, a poucos centímetros do solo.
A propagação vegetativa por
estaquia,tecnologicamente bastante divulgada em
outras fruteiras, a qual visa manter as características
desejáveis da planta-mãe, bem como obter
precocidade de produção, apresenta resultados
positivos da para o mamoeiro, porém, deve ser
analisada de maneira comparativa com a propagação
tradicional por sementes, quando à sua viabilidade
técnica e econômica, parta utilização em escala
comercial.
A propagação por sementes continua sendo o
meio tradicional para a formação dos plantios
comerciais no Brasil, devendo seguir os padrões de
exigência para obtenção de sementes de qualidade. A
utilização de plantas matrizes hermafroditas, com
flores autopolinizadas, é uma condição ideal para a
produção de sementes do grupo Solo (cultivares
homozigotos), proporcionando a produção de frutos
comerciais com características típicas da variedade.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 219
Produção de sementes
Para produção de sementes de qualidade em
mamoeiro do grupo Solo, há necessidade de
formação de campos de produção de semente,
procedendo-se à seleção de plantas matrizes com
características desejáveis, tanto para as plantas
quanto para os frutos, utilizando-se o processo de
polinização controlada. Desde que atenda os padrões
de exigências estipulados pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a produção de
sementes pode ser realizada pelo produtor rural.
As plantas escolhidas para produção de
sementes devem ser hermafroditas e estarem isoladas
por uma distância mínima de 2.000m de outro tipo de
mamoeiro, caso haja mais de uma cultivar a curta
distância, deve-se isolar as flores com sacos de papel
para o controle da polinização (Figura 14.20)
Figura 14.20 – Autopolinização da flor hermafrodita
do mamoeiro do grupo Solo, protegida com saco de
papel.
A produção de sementes híbridas de genótipos
do grupo Formosa ocorre de maneira diferenciada,
sendo realizada somente pelas empresas que detêm os
progenitores. As sementes devem ser adquiridas,
portanto, dessas empresas, não sendo possível a
produção pelos produtores rurais.
As plantas a serem selecionadas para a colheita
dos frutos destinados à retirada de sementes devem
apresentar, além de frutos bem formados, típicos da
variedade utilizada, boas condições fitossanitárias,
adaptação à região produtora, precocidade, baixa
altura de inserção de flores e alta produtividade. O
ponto de colheita dos frutos deve ser um estádio mais
elevado de maturação, garantindo maior vigor das
sementes. O corte dos frutos deve ocorrer de maneira
cuidadosa, para não danificar as sementes. Para a
retirada das sementes, utilizar uma ferramenta não-
cortante, como uma colher, lavando-as, em seguida,
sobre uma peneira em água corrente, para soltar a
mucilagem. Colocar para secar à sombra, espalhadas
em camada fina sobre papel ou tecido absorvente.
Após dois a três dias, as sementes poderão ser
utilizadas imediatamente para a produção de mudas,
ou acondicionadas em sacos plásticos à temperatura
de 6 a 8 ºC, podendo ser armazenadas na parte
inferior das geladeiras domésticas.
Produção de mudas
A produção de mudas de mamoeiro é
realizada, atualmente, por meio da semeadura em
sacos de polietileno preto, tubetes ou bandejas de
isopor.
Os sacos de polietileno preto mais utilizados
possuem altura máxima de 18 cm, largura mínima de
9 cm e espessura mínima de 0,06 cm (Figura 14.21).
O substrato deve apresentar ótima qualidade física-
hídricas e químicas, para compensar o pouco volume.
Geralmente, são semeadas, para o híbrido do
grupo Formosa, uma semente por sacola e para as
variedades do grupo Solo, duas ou mais sementes por
sacola, que após a germinação serão desbastadas,
permanecendo uma muda por sacola, sendo
eliminadas as menos vigorosas. No caso das sementes
híbridas, o auto custo (R$6.000,00/kg a
R$10.000/kg), obriga a se fazer economia de
sementes na sementeira.
Figura 14.21 – Produção de mudas em sacolas,
tubetes e bandejas.
Em tubetes, para a produção de mudas de
mamoeiro, utilizam-se materiais não-compactantes,
sem adição de solo, podendo ser formados pela
mistura de materiais orgânicos, como casca de
árvores (cascas processadas), turfa processada,
vermiculita expandida etc. Pelo reduzido volume de
substrato, a complementação mineral torna-se
necessária ou o plantio deve ser feito com mudas
pequenas. O controle de irrigação, por nebulização,
tem de ser muito eficiente para não comprometer a
qualidade da mudas. A produção de mudas através
deste sistema deve ocorrer em ambiente protegido e
telado.
Após a semeadura, as sementes são cobertas
por uma fina camada de vermiculita, sendo tubetes
acondicinados em telados com cobertura plástica
onde permanece por duas a três semanas. Após esse
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 220
período, as mudas são transportadas para fora dos
telados, para aclimatação. O período e aclimatação
dependerá das condições climáticas por ocasião da
produção das mudas, sendo em seguida levadas para
o transplantio em campo. Em média, o período da
semeadura ao transplantio em campo é de
aproximadamente 32 dias. A mudas em condições de
serem levadas para o campo apresentam uma altura
de 12 a 20 cm. Para o plantio manual, utilizam-se
mudas de 12 a 15 cm para o plantio mecanizado, 15 a
20 cm de altura.
A produção de mudas em bandejas de isopor
segue o mesmo procedimento da produção em
tubetes, porém, com maior dificuldade de manejo.
14.7 Nutrição mineral
O mamoeiro é uma planta de crescimento
rápido, com florescimento e frutificação constantes, e
que extrai quantidades relativamente altas de
nutrientes.
Para determinar os níveis de adubação de uma
cultura para uma região é necessário a execução de
trabalhos experimentais nas condições
edafoclimáticas da região. Poucos são os
experimentos de adubação desenvolvidos com a
cultura do mamoeiro, de forma que os atuais
esquemas de adubação têm, em sua maioria, uma
base empírica.
Dentro das recomendações de adubação para o
mamoeiro em vários estados brasileiros, observam-se
grandes variações nas doses de adubação para o
mamoeiro em vários estados brasileiros, observam-se
grandes variações nas doses de adubação
recomendadas (Tabela 14.4).
Tabela 14.4 – Variação das doses de adubação,
compiladas das recomendações para os estados da
Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo.
Nutrientes Doses de adubo
(g/planta)
1º Ano 2º Ano
N 72 – 128 64 – 136
P2O5 40 – 151 32 – 119
K2O 36 – 192 36 – 208
14.8 Manejo agronômico
Espaçamento
O clima da região, a densidade do terreno, a
fertilidade do solo, a cultivar utilizada, o sistema de
cultivo, a compatibilidade com requisitos de controle
de pragas e o grau de mecanização podem influenciar
na escolha do espaçamento. São muito variados os
critérios e as recomendações, mas todos coincidem
em um objetivo comum, que é a obtenção de altos
rendimentos por área (produtividade), bem como
qualidade de frutos.
As experiências em diferentes países sobrem
espaçamentos vão desde 2,00 m até 4,00 m entre
fileiras e desde 0,60 até 4,00 m entre plantas, em suas
inúmeras combinações.
No Brasil, o plantio é realizado em sistema de
fileira simples e fileiras duplas. No sistema de fileiras
simples, os espaçamentos variam de 1,40 m a 2,10 m
entre as plantas dentro das fileiras e de 2,00 m a 4,00
m entre as fileiras, para os cultivares do grupo Solo, e
3,50 a 4,00 m entre fileira e 1,80 a 2,00 m entre
plantas para mamoeiros do grupo Formosa.
No sistema de fileiras duplas, a recomendação
é a disposição triangular das plantas com 2,00 a 3,00
m de distância entre as linhas simples, e 3,60 a 4,00
m entre as fileiras duplas, para o cultivo do mamoeiro
do grupo Formosa. Para o mamoeiro do grupo Solo, o
espaçamento duplo varia de 1,40 a 2,10 m entre
plantas, dentro das fileiras, 1,40 a 1,80 dentro das
fileiras duplas e 3,40 a 3,80 m entre fileiras duplas.
Essa variação do espaçamento entre plantas
dentro da fileira ocorre dentro de uma mesma área de
plantio, uma vez que têm sido distribuídas as mudas
em sistema de “renque”, utilizando-se uma muda por
cova, em espaçamento de 0,70 m. Após a sexagem, o
espaçamento variará de 1,40 a 2,10 m, dentro da
mesma área. Esse procedimento tem sido utilizado
devido a maior facilidade das operações de plantio e
manejo inicial da cultura. No entanto, há necessidade
de uma avaliação comparativa com espaçamentos
uniformes em toda a área de plantio, em termos de
eficiência fotossintética, desenvolvimento de plantas
e dos frutos, produtividade da lavouras, qualidade de
frutos, bem como uma avaliação econômica desta
prática.
Plantio
Na literatura sobre a cultura do mamoeiro, tem
sido descrito o plantio de mudas em covas, porém esta
prática só se torna exeqüível em pomares domésticos e
pequenos plantios. Em áreas mais extensas, o plantio em
covas tende a onerar os custos de implantação da
cultura. Tanto para o mamoeiro do grupo Solo, quanto
do grupo Formosa, a utilização do plantio em sulco é
mais eficiente, acarretando menores custos operacionais,
sendo, portanto, uma prática utilizada em todas regiões
produtoras do Brasil. Para a confecção dos sulcos, deve
ser utilizado um sulcador com boa capacidade de
penetração no solo, proporcionando uma profundidade
dos sulcos em torno de 40 cm (Figura 14.22).
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 221
Figura 14.22 – Preparo do solo com abertura de
sulcos para o plantio do mamoeiro.
Após a abertura dos sulcos, procede-se à
marcação dos locais onde serão adicionados os
adubos orgânicos e químicos, os quais funcionarão
como covas no sulco, onde posteriormente serão
plantadas as mudas. Deve-se tomar os devidos
cuidados para que o plantio não fique profundo. As
mudas deverão ficar com a região do colo no nível de
solo, evitando-se o aprofundamento delas.
Quando forem utilizadas mais de uma muda
por cova, elas deverão ser plantadas à distâncias
média de 20 cm umas das outras, facilitando o futuro
desbaste. A prática de plantio sobre camalhões é
recomendada em solos argilosos, pouco profundos e
mal drenados, devendo ser construídos com 20 a 30
cm de altura, procedendo-se em seguida às adubações
e ao plantio como descritos anteriormente. Essa
prática tem como objetivo evitar encharamento,
apodrecimento de raízes e incidência de doenças
como podridões causadas por Phytophthora.
Quando as mudas são produzidas em tubetes, é
possível a realização de plantio manual (Figura
14.22) quanto mecanizado (Figura 14.23).
Figura 14.23 – Plantio mecanizado de mudas
produzidas em tubetes.
Desbaste de plantas
O desbaste de plantas, ou sexagem do
mamoeiro, deve ser realizado por ocasião do início
do florescimento, em torno de três a quatro meses
após o plantio, quando se torna possível a
identificação do sexo do mamoeiro, por meio da
observação de suas flores, uma vez que o tipo de flor
determinará o formato do fruto. Quanto mais rápida a
identificação do sexo dos mamoeiros, mais cedo se
inicia o processo de desbaste das plantas, reduzindo-
se a competição entre plantas por água, luz e
nutrientes, principalmente quando se realiza o plantio
de mais de uma muda por cova, evitando-se o
estiolamento das plantas.
Desbrota
O mamoeiro, por ser uma planta tipicamente
tropical, de crescimento rápido, possui forte
dominância apical, porém pode emitir brotações
laterais inseridas nas axilas foliares ao longo da haste
principal. A permanência dessas brotações laterais
pode comprometer o desenvolvimento apical,
levando a redução do crescimento das plantas. Por
serem brotações jovens, podem tornar-se focos de
proliferação de doenças e pragas, especialmente
ácaro-branco.
Essas brotações devem ser eliminadas durante
todo o ciclo da cultura, iniciando-se em torno de 45 a
60 dias após o transplantio, repetindo esta prática
sempre que necessário.
Desbaste ou raleio de frutos
O controle do número de frutos por planta, por
meio do desbaste, deixando uma carga de frutos mais
densa ou menos densa, possibilitará a obtenção de
frutos mais padronizados durante todo o ano.
A eliminação de frutos defeituosos
(provenientes de flores pentândricas, carpelóides,
elongada) e os que estão na mesma axila foliar,
apresentando pequeno tamanho, deve ser efetuada,
uma vez que a forma, o tamanho e o peso dos frutos
são fatores limitantes do grupo Solo necessitando de
desbaste.
Deve-se iniciar o desbaste de frutos aos quatro
a cinco meses após o transplantio, repetindo-se a
operação à medida que forem surgindo as novas
frutificações. O desbaste deve ser realizado com os
frutos em início de desenvolvimento. Para o
mamoeiro, é comum a presença de mais de um fruto
por axila foliar, até a três, dependendo da exigência
do tamanho de fruto pelo mercado consumidor.
14.9 Principais Doenças causadas por vírus
A implantação e condução de pomares de
mamoeiro encontra como principal entrave as
viroses.
Mosaico do mamoeiro
O mosaico, também conhecido como mancha-
anelar, é uma das mais importantes doenças do
mamoeiro. As perdas são muito altas quando não se
faz o roguing das plantas doentes, tão logo apareçam
os primeiros sintomas.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 222
O mosaico do momoeiro é causado pelo vírus
PRSV-p (Papaya ringspot virus) da família
Potyviridae, Gênero Potyvirus.
Os sintomas iniciam-se por um
amarelecimento das folhas mais novas, que,
posteriormente, apresentam aspecto de mosaico, ou
seja, áreas verdes misturadas com áreas amareladas
de tonalidades, formas e tamanhos variados, com
contorno bem definido resultando em diminuição da
taxa de crescimento das plantas e conseqüentemente
redução da produtividade. Os frutos podem
apresentar manchas na forma de pequenos anéis
concêntricos, bem nítidos, com o centro verde. Em
estádios mais avançados, os anéis podem ficar
necrosados e esbranquiçados. Na região do caule e
nos pecíolos das folhas, podem aparecer manchas
irregulares de aparência oleosa, sendo estes sintomas
bastante característicos da doença.
O PRSV-p é transmitido mecanicamente, por
enxertia, e naturalmente por afídeos de forma não-
persistente, ou seja, o vírus é adquirido e transmitido
pelos vetores em um curto espaço de tempo.
Controle
O objetivo do controle desta doença é de
diminuir a disseminação, evitar ou retardar sua
introdução em áreas onde ainda não foi constatada.
- realizar inspeções semanais nos pomares e eliminar
as plantas doentes (roguing), logo que os primeiros
sintomas de meleira seja detectados;
- instalar viveiros e pomares novos o mais distante
possível de outros pomares principalmente com
histórico da doença;
- não tirar sementes de plantas infectadas;
- desinfestar todo o material a ser utilizado no
processo de desbrota, desbaste de frutos e colheita;
- manejar a vegetação sob as plantas, mantendo as
linhas no limpo e roçando nas entrelinhas,
procurando, na faixa, diminuir a variabilidade de
espécies de plantas daninhas; e
- eliminar as lavouras (doentes ou sadias) no final do
ciclo econômico de produção para eliminação da
fonte de inoculo.
As pesquisas com biologia molecular têm-se
intensificado. Os primeiros trabalhos para
desenvolver um mamoeiro trangênico resistente à
doença foram realizados no início da década de 90,
através de um projeto cooperativo entre instituições.
A Embrapa tem um programa de produção de
mamoeiro trangênicos.
Mas, a liberação de pesquisas com trangênicos
está passando por discussões quanto aos possíveis
riscos associados ao uso de trangênicos e organismos
geneticamente modificados (OGMs) tem se
intensificado nos últimos anos, levantando a
preocupação com a biossegurança, principalmente de
ordem alimentar e ambiental.
Meleira do mamoeiro
A meleira do mamoeiro é a doença mais
importante desta fruteira. A doença caracteriza-se
pela intensa exsudação de látex nos frutos, que ao
oxidar escurece, tornando-os totalmente inviáveis
para a comercialização, além de comprometer o sabor
deles.
A exsudação do látex pelos frutos, ocorre de
forma espontânea ou provocada por ferimentos. Em
casos severos, a intensa exsudação confere um
aspecto “melado” originando o nome da doença. O
látex dos frutos da planta com meleira apresenta um
aspecto aquoso translúcido, que escorre com maior
facilidade do que o de frutos sadios, devido a sua
menor viscosidade e dificuldade de coagulação. A
exsudação do látex também ocorre nas extremidades
das folhas mais novas e, com a oxidação, provoca
pequenas lesões necróticas de coloração marrom-
clara nas pontas, sendo um dos primeiros sintomas a
serem detectadas nas plantas.
Amarelo-Letal do Mamoeiro
O amarelo-letal do mamoeiro é causado pelo
Papaya lethal yellowing vírus (PLYV), um vírus de
partículas isométricas, com diâmetro na faixa de 29-
32 nm.
Os sintomas em mamoeiro Solo iniciam-se
com o amarelecimento de folhas jovens do terço
superior da copa, que podem cair posteriormente. No
pecíolo foliar, observam-se depressões longitudinais,
e nas nervuras das folhas da face inferior, lesões
necróticas. Nos frutos, ocorre intensa exsudação de
látex e murchamento ocorrendo manchas cloróticas
arredondadas. Com a evolução da doença, o ponteiro
apresenta-se retorcido e com folhas cloróticas.
Finalmente, essas folhas amarelecem, murcham e
secam, levando a planta à morte.
O vírus é transmitido mecanicamente de
mamoeiro para mamoeiro. Esse vírus pode ser
transportado via semente, sugerindo então não se
utilizar sementes de plantas com este vírus.
Controle
São recomendadas para o controle desta
doença, medidas de âmbito geral, empregados no
sentido de evitar a disseminação do em áreas afetadas
vírus, evitar ou retardar sua introdução em áreas onde
a doença ainda não foi constatada.
- Evitar o trânsito de mudas e sementes entre Estados,
principalmente aqueles oriundos dos Estados onde a
doença ocorre (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará)
- Erradicar sistematicamente as plantas afetadas
mediante inspeção periódicas nos pomares.
Erradicar plantios velhos de mamoeiro, para não se
constituírem fonte de inoculo do patógeno.
- manejar o solo e a irrigação dos pomares levando
em consideração a sobrevivência do PLYV no solo.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 223
14.10. Doenças causadas por fungos
Antracnose
A antracnose é uma das principais doenças do
fruto do mamoeiro, depreciando a qualidade
comercial e inviabilizando também o consumo.
O patógeno da antracnose é o fundo
Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) que tem a
fase teliomórfica em Glomerella cingulata (Ston).
Sintomatologia
O fungo pode, inicialmente se estabelcer em
flores, penetrando pelo estigma e pelas cicatrizes
deixadas pelas pétalas e, principalmente, por
ferimentos na superfície dos tecidos. Nos frutos, a
infecção por C. gloeosporioides pode ocorrer em
qualquer estádio de desenvolvimento e permanecer
quiescente até que os frutos se tornem maduros,
podendo a penetração ser de forma direta, através de
um peg de infecção ou por ferimentos.
Nos furtos jovens, quando atacados, cessam o
seu desenvolvimento, mumificam e caem. Mas, os
sintomas geralmente aparecem em frutos maduros ou
em processo de amadurecimento, formando pequenas
gotas de látex, que exsudam na superfície deles.
As lesões nos frutos são arredondadas e
profundas, podendo atingir até 5 cm de diâmetro.
Com a evolução das lesões, observa-se um
crescimento róseo disposto em camadas concêntricas,
de aspecto gelatinoso, o qual posteriormente se torna
escuro. O tecido interno da área infectada é firme
(calose), com descoloração branco-acinzentada, que
se torna marrom. As lesões podem coalecer,
formando uma grande área lesionada na superfície do
fruto. Elas são profundas e desprendem-se facilmente
dos tecidos sadios, deixando um buraco no fruto. Na
ausência de controle e, ou, em condições climáticas
altamente favoráveis, podem-se observar lesões
mesmo em frutos nos primeiros estádios de
maturação, inclusive no campo.
Medidas de controle
O manejo da antracnose no campo deve
começar pela escolha da área, levando-se em
consideração o histórico (plantio velho). Evitar o
excesso de umidade e as condições que favorecem o
desenvolvimento da doença, bem como observar as
práticas culturais , a redução do inócuo, o controle
químico e a resistência genética. As medidas
adotadas durante as fases de produção e
processamento pós-colheita dos frutos (manuseio
cuidadoso, assepsia das embalagens e do ambiente,
controle da temperatura de armazenamento, uso da
termoterapia e quimioterapia), influem na incidência
e severidade das doenças, e quando bem manejadas,
reduzem significativamente as perdas.
Varíola ou Pinta-Preta
A varíola ou pinta-preta causada pelo fungo
Asperiporium caricae (Speg.) Maubl., é a doença
mais comum do mamoeiro e ocorre tanto em pomares
comerciais quanto em domésticos, até mesmo em
plantas isoladas.A doença pode afetar o
desenvolvimento da planta quando o fungo ataca as
folhas, mas o maior prejuízo é observado pelo ataque
nos frutos, onde provoca lesões de diferentes
tamanhos, depreciando-os comercialmente.
Sintomatologia
A doença ocorre nas folhas e nos frutos. Nas
folhas, ma página superior, os sintomas
característicos constituem-se manchas necróticas
arredondadas, pardo-claras, circundadas por um halo
amarelado. Na página inferior das folhas, nas áreas
correspondentes às manchas, observa-se o
crescimento pulverulento do fungo, de coloração
cinza e preta. Em alguns casos, observa-se sobre estas
um micélio esbranquiçados, que é produzido por um
fungo hiperparasita do patógeno. Quando ocorre
coalescência das lesões, é comum provocar a
senescência e desfolha das plantas. As folhas jovens
geralmente não apresentam sintomas. Nos frutos,
observam-se inicialmente áreas circulares de aspecto
aquoso, as quais, com a evolução da doença, tornam-
se marrons, salientes, com pontuações
esbranquiçadas, podendo atingir 5 mm de diâmetro.
Essas lesões geralmente são epidérmicas e não
atingem a polpa do fruto, causando apenas
endurecimento da casca na parte afetada.
Medidas de controle
Práticas culturais – para reduzir a fonte de inoculo,
devem-se eliminar as folhas mais velhas com alta
severidade da doença. Essa prática pode ser
simultânea à operação de desbrota, que se inicia, aos
30 dias após o transplantio das mudas.
Controle químico -
Mancha-foliar-de-ascochyta ou queima-das-
folhas e podridão peduncular-do-fruto
A doença é caisada pelo fungo Phoma caricae-
papayae (Tarr.), que pode infectar tanto as folhas
como os frutos. O agente etiológico foi por muito
tempo relatado como pertencente ao gênero
Ascochyta, mas estudos taxonômicos do patógeno
levaram a transferência para o gênero Phoma.em
virtude da predominância de conídios unicelulares e
células conidiógenas fialídicas, enquanto que em
Ascochyta os conídios são septados como ontogenia
anelídica.
O fungo infecta preferencialmente as folhas
mais novas. As lesões são geralmente de coloração
marrom-escura, arredondadas, cujos picnídios ficam
dispostos em camadas concêntricas. Com a evolução,
as lesões ficam com aparência de queima e tornam-se
quebradiças, principalmente nas folhas mais velhas.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 224
Em estádios mais avançados, quando as condições
são altamente favoráveis, a doença pode chegar a
provocar severa queima das folhas no ápice do caule,
ficando as plantas improdutivas e, em alguns casos,
provocando a morte do ápice, que não deve ser
confundido com as lesões causadas por insetos.
Nos frutos, as lesões geralmente ocorrem no
estádio de maturação, próximas ao pedúnculo
tornando o tecido negro, rugoso e seco,
freqüentemente coberto por uma massa esponjosa de
cor acinzentada, que tende a acumular à medida que
as lesões envelhecem, com a formação de picnídios
separados e embebidos no tecido doente. As lesões
evoluem rpidamente da base do pedúnculo para o
pericarpo e mesocarpo dos frutos, principalmente
após o início da maturação, chegando a afetar as
sementes.
Controle
As medidas de controle químico, e
principalmente de manejo, recomendadas para o
controle da antracnose e da varíola têm apresentado
eficiência para o controle desta doença. Pelas
características epidemiológicas da doença, o uso da
irrigação por aspersão favorece a esporulação do
fungo e sua disseminação no pomar. A remoção das
folhas, dos pecíolos e frutos infectados é uma prática
recomendada para o manejo da doença. Igualmente,
recomenda-se a prevenção de ferimentos nos frutos
durante a colheita. O fungicida prochloraz, em
estudos experimentais, mostrou-se eficiente no
controle da doença em pós-colheita.
Podridão-do-pé ou Gomose e
Podridão-dos-frutos
A podridão-do-pé, também conhecida como
gomose ou podridão-de-Phytophthora, é causada pelo
fungo Phytophthora palmivora (Butler), é relatada
em todas as regiões cultivadas com o mamoeiro,
ocorrendo principalmente em período chuvoso e em
solos pesados, excessivamente úmidos e mal
drenados. Os danos podem ser observados nas raízes,
no colo, nos frutos e na região apical do mamoeiro.
Além de causar a morte das plantas, quando provoca
podridão severa no colo, a podridão-de-Phytophthora
pode também causar grandes perdas quando incide
nos frutos, em períodos de chuvas intensas.
Sintomas
A doença é mais freqüente no colo das plantas,
observando-se inicialmente manchas aquosas, que
posteriormente coalescem, apodrecem e anelam o
caule, podendo haver exsudação gomose na área
lesionada.
14.11 Doenças causadas por bactérias
Mancha-Foliar-Bacteriana
A mancha-bacteriana foi relatada
inicialmetne do Estado do Rio de Janeiro em 1955. O
agente causal é a bactéria Pseudomonas carica-
papayae. Mas outra espécies é considerada associada
a esta doença, a bactéria P. syringae pv. tabaci.
Inicialmente as lesões causadas pelo
patógeno são diminutas, circulares e angulares e de
cor verde-escura e aspecto encharcado na face
inferior das folhas. À medida que as lesões se
desenvolvem, adquirem tonalidade amarelo-parda ou
castanha, forma angular e medem de 3 a 6 mm de
diâmetro. As lesões coalescem e formam áreas com
tecido necrosado, podendo provocar a morte das
plantas, principalmente no viviero. Na página inferior
da folha, no local correspondente à lesão e em
condições de alta umidade, verifica-se uma
exsudação leitosa constituída pelo exsudado
bacteriano.
A doença tem uma ocorrência irregular e é
considerada de pouca importância econômica, mas
quando ocorre em plantas jovens, principalmente em
viveiros, pode causar a morte destas.
Controle
O controle deve ser preventivo, por meio de
pulverizações com produtos a base de cobre e
erradicação das plantas doentes. Não se recomenda a
utilização de sementes de pomares onde a doença
ocorre.
Podridão da polpa dos frutos
Duas bactérias (Erwinia herbicola e
Enterobacter cloacae) podem provocar podridão da
polpa dos frutos. Os frutos infectados quando
colhidos não apresentam sintomas externos que os
diferenciem facilmente dos sadios, no entanto,
quando cortados, observa-se amolecimento da polpa
com coloração vermelha intensa, ocorrendo a
decomposição dos tecidos, verificando-se em alguns
casos a cor vermelha acentuada no tecido vascular
junto à cavidade das sementes. A podridão amarela
causada por E. cloacae provoca o amarelecimento da
polpa, que fica translúcida e com uma cor amarela
brilhante a verde-limão. Esta doença ainda não foi
relatada no Brasil.
Pela sua ocorrência esporádica, estas
bactérias tem pouca importância econômica, no
entanto frutos infectados podem contaminar os
tanques de tratamento térmico, bem como as
instalações do paking-house, recomendando-se
portanto, a eliminação dos frutos doentes e a
sanitização das instalações.
14.12 Doenças causadas por nematóides
Na cultura do mamoeiro, o nematóide-das-
galhas (Meloidogyne spp.) e o nematóide reniforme
(Rotylenchulus reniformis Linford) são os mais
importantes, principalmetne quando os pomares de
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 225
mamão são implantados em sequencia a culturas
hospedeiras dessas espécies, podendo afetar o
desenvolvimento das plantas e causar a formação de
galhas no sistema radicular, reduzindo a capacidade
de absorção de nutrientes e água.
Devido à biologia e ao modo de dispersão do
nematóides, o controle preventivo é o mais indicado,
associando-se às práticas de campo. Muitas vezes as
mudas infectadas no viveiro só vão manifestar os
sintomas tardiamente no campo, em função das
condições climáticas, principalmente temperatura,
umidade e características físicas e químicas do solo.
O uso de matéria orgânica, plantas não-hospedeiras,
plantas antagônicas ou supressivas, são alternativas
para reduzir a população de nematóides no solo.
14.13 Principais Pragas
É grande o número de insetos e ácaros
associados ao mamoeiro, mas, apenas algumas
espécies são consideradas de importância para a
cultura. Destacam como pragas-chave, os ácaros
branco e rajado e a cigarrinha-verde. Porém, algumas
espécies que são consideradas de importância
secundária, como o mandarová, as cochonilhas e a
broca-do-caule, têm se apresentado em algumas
regiões, esporadicamente ou com certa freqüência,
causando danos consideráveis à cultura.
Além desses, insetos, encontram-se
associados ao mamoeiro, algumas espécies de
pulgões e de mosca-branca que são consideradas um
forte fator de risco à cultura, por atuarem como
vetores de vírus. As espécies de mosca-das-frutas,
embora não se constituam praga do mamão, em
condições normais de cultivo, são de grande
importância quando a produção se destina à
exportação, por serem consideradas, por vários
países, como espécies quarentenárias.
Pragas primárias
Ácaro-Branco
O ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus
Branks, 104) – Acari:Tarsonemidae, é considerado a
praga mais importante do mamoeiro, é conhecido
também como ácaro tropical, ácaro-da-rasgadura,
ácaro-da-queda-do-chapeu-do-mamoeiro. Esta
espécie é polífaga, causa danos a grande número de
hospedeiros e apresenta ampla distribuição
geográfica.
Os ovos, colocados isoladamente na face
inferior das folhas novas, apresentam-se achatados,
elípticos, com saliências superficiais e têm coloração
branca. Cada fêmea oviposita cerca de 25 a 30 vos e
o ciclo completa-se rapidamente, entre três e cinco
dias.
O ácaro branco ocorre em folhas jovens,
localizadas no ápice (ponteiro) da planta ou nas
brotações laterais, geralmente em regiões
meristemáticas, alimentando-se da epiderme das
folhas, que se tornam cloróticas, coriáceas e
encarquilhadas. Com a evolução dos danos, ocorre a
paralisação da atividade vegetativa, tornando-se esses
danos muito semelhante aos provocados pelo vírus do
mosaico do mamoeiro. As folhas recém-emergidas
apresentam-se com limbo malformado e reduzindo,
com pecíolo curto, motivo pelo qual essa praga é
conhecida como ácaro-da-queda-do-chapeu-do-
mamoeiro.
A desfolha do ápice, além de reduzir o porte
da planta e o número de flores, ocasionando uma
drástica redução da produção, além de depreciar o
valor comercial dos fruto, devido à exposição destes
à ação direta dos raios solares. O ataque severo desta
praga pode causar a morte da planta. Embora possa
infestar as plantas durante todo o ano, seu ataque
acontece com maior intensidade nos períodos mais
úmidos e quentes.
O controle do ácaro-branco deve ser
efetuado no início da infestação, pois normalmente,
quando os sintomas dos danos tornam-se evidentes,
ele já não se encontra no local do ataque. Para o seu
controle, o produto a ser aplicado deverá visar os
ponteiros e as brotações laterais das plantas. Uma boa
prática cultural, visando à redução da população do
ácaro-branco, é a eliminação das brotações laterais do
tronco das plantas, região em que, normalmente, ele
se multiplica e que serve como foco de reinfestação
dessa praga.
Ácaro-Rajado
O ácaro-rajado, Tetranychus (T.) urticae
Koch, 1836 (Acari:Tetranychidae), vive nas folhas
mais velhas do mamoeiro, geralmente na parte
inferior do limbo, entre as nervuras mais próximas do
pecíolo, onde tece teias e deposita seus ovos. As
fêmeas ovipositam, em média, de 50 a 60 ovos, num
período aproximado de dez dias. Os ovos, esféricos e
de tonalidade amarelada, apresentam período de
incubação médio de quatro dias. O ciclo , de ovo
adulto, completa-se em cerca de 13 dias.
Os adultos ao se alimentarem dilaceram as
células do mesófilo, provocando, inicialmente, um
amarelecimento do limbo foliar, seguido de necrose
e, posteriormente, de perfurações. As folhas, quando
intensamente atacadas, secam e caem
prematuramente, reduzindo a área foliar, afetando
negativamente o desenvolvimento e a produtividade
da planta, além de exporem os frutos à ação dos raios
solares, prejudicando sua qualidade.
A ocorrência desses ácaros verfica-se
durante os meses mais secos e quentes do ano, uma
vez que temperaturas elevadas e baixas precipitações
favorecem seu aumento populacional.
Outros ácaros Tetraniquídeos, T. (T.)
mexicanus e T. (T.) desertorum, tecem teias e causam
ao mamoeiro danos semelhantes aos do ácaro-rajado.
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 226
Como medida de controle, recomenda-se
eliminar as folhas mais velhas atacadas e sempre
direcionar a aplicação de acaricidas para a superfície
inferior das folhas.
Cigarrinha-Verde
A cigarrinha-verde, Solanasca bordia
(Langlitz, 1964) – Hemíptera: Cicadelidae, possui
coloração verde-acinzentada, formato triangular, e
mede de 3 a 4 mm de comprimento. A sua postura
endofítica é realizada, preferencialmente, ao longo
das nervuras das folhas, com uma média de 60 ovos
por fêmea. As formas jovens são menores, ágeis,
possuem coloração verde e têm o habito de se
locomover lateralmente. O ciclo completo desta
praga é em torno de 21 dias.Tanto as formas jovens
como as adultas sugam a seiva das folhas mais velhas
do mamoeiro, normalmente na página inferior do
limbo, as quais apresentam, então, manchas
amareladas, assemelhando-se ao sintoma de
deficiência de magnésio. As folhas intensamente
atacadas tornam-se encarquilhadas, com as margens
amarelecidas, ocorrendo posterior secamento e queda
prematura, o que afeta o desenvolvimento da planta.
Como medida de controle deve-se evitar o
consorcio de mamoeiro com feijoeiro, pois o feijoeiro
é hospedeiro da cigarrinha-verde.
Pragas secundárias
Moscas-das-frutas
As moscas-das-frutas Ceratitis capitata
(Wiedemann, 1824) e Anastrepha fraterculus
(Wiedemann, 1824) Díptera: Tephritidae, atacam
grande quantidade de espécies frutíferas.
As moscas do mediterrâneo, Ceratitis
capitata, e a sul-americana, Anastrepha fraterculus,
são as duas espécies de mosca-das-frutas, até então,
constatada no Brasil infestando mamão e que mais
prejuízos causam à fruticultura brasileira.
As fêmeas colocam seus ovos, introduzindo
o ovopositor no fruto e estes são de coloração branca,
alongados, com cerca de 1 mm de comprimento. As
larvas são branco-amareladas, com aspecto
vermiforme, com a parte anterior afilada e a posterior
arredondada, chegando a atingir, quando
completamente desenvolvida, 8 mm de comprimento.
A transformação em pupa se dá no solo.
As larvas das moscas são as responsáveis
pelos danos, as quais se alimentam da polpa do
mamão, tornando flácida e região atacada do fruto. A
infestação só ocorre em estádio mais avançado de
maturação, quando o fruto, na planta, apresenta a
casca com mais da metade amarelecida, e os danos só
se evidenciam quando os frutos se enontram no ponto
de consumo. Em lavouras comerciais, como frutos
são colhidos antes de atingir este ponto de maturação,
apresentam baixo risco de serem infestados. Essa
resistência do mamão à mosca-das-frutas está
relacionada com a presença da substância química
natural benzil isotiocianato (BITC), ação ovicida, que
ocorre no fruto e que decrece à medida que ele
amadurece.
A exportação brasileira de mamão foi
suspensa, a partir de 1985, pelos Estados Unidos e
Japão, por falta de alternativas ao tratamento
quarentenário aprovado para desinfecção da fruta
com dibrometo de metila, cuja substância foi proibida
nesses países. A partir de 1998, o Brasil voutou a
exportar para o mercado americano, com aprovação
do Systems Approach, que foi aplicado de forma
pioneira no País, na região produtora de mamão no
norte do Espírito Santo. Esse sistema garante risco
zero de o fruto de mamão ser infestado pelas espécies
de mosca-das-frutas C. Capitata e A. fraterculus, sem
a necessidade de tratamento quarentenário pós-
colheita.
Como medidas de controle cultural,
recomenda-se fazer a colheita dos frutos no início da
maturação, evitar a presença de frutos maduros nas
plantas e de frutos refugados no interior do pomar,
manter a lavoura livre de plantas com virose e, ainda
não permitir lavouras abandonadas em sua
proximidade.
Coleobroca
A broca do caule Pseudopiazurus papayanus
Marshall, 1922 e Pseudopiazurus obesus (Boheman,
1838) – Coleóptera: Curculionidae, mede
aproximadamente 10 mm de comprimento, de
coloração marrom-acinzentada, possui hábito
noturno. As larvas que eclodem de pequenos orifício
no caule, são brancas, recurvadas e desprovidas de
pernas (ápodas), que chegam a atingir 15 mm de
comprimento, quando completamente desenvolvidas.
As larvas alimenta-se da camada cortical do caule,
logo abaixo da casca, onde fazem galerias. A fase
larval dura aproximadamente 90 dias. Os adultos, ao
emergirem, abrigam-se nas fendas do caule, na região
próxima ao pedúnculo dos frutos, sob folhas e no
solo.
O seu dano afeta significativamente as
plantas. As galerias, abertas por esse inseto, em sua
maior parte, no terço inferior do caule, enfraquecem o
caule, tornando a planta mais suscetível a
tombamentos, chegando, em condições de alta
infestação, a causar morte dela.
A broca do caule do mamoeiro pode ser
combatida com inseticidas de contato ou sistêmicos,
porém, a destruição manual das brocas e a reforma de
pomares muito infestados ou velhos é indispensável.
Cochonilhas
As cochonilhas que causam danos em
mamoeiro em nível mundial são 43 espécies, destas
oito foram registradas no Brasil, sendo que as
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 227
principais espécies de cochonilhas que atacam o
mamoeiro no Brasil são: Coccus hesperidum
Linnaeus, 1975 – Hemíptera: Coccidae; Aonidiella
aurantil (Maskell, 1879), A. comperei McKenzie,
1937 e Selenaspidus articulatus (Morgan, 1889) –
Hemíptera: Diaspididae.
Ao se alimentarem das diferentes partes da
planta, as cochonilhas causam o amarelecimento das
folhas, desfolhamento, redução do vigor da planta,
depreciação do fruto atacado e diminuição da
produtividade. A secreção, oriunda de sua
alimentação no tronco, nas folhas e nos frutos do
mamoeiro, serve de substrato para o desenvolvimento
de fungos saprófitas, denominados comumente como
“fumagina”, que diminuem a fotossíntese da planta e
reduzem o valor comercial dos frutos.
Além dos danos diretos e indiretos ao
mamoeiro, algumas espécies de cochonilhas, por
serem de importância quarentenária para algumas
espécies de cochonilhas, por serem de importância
quarentenária para alguns países, como Estados
Unidos, têm sido, atualmente, o principal fator
fitossanitário de rechaço de lotes de mamão
exportados pelo Brasil para o mercado americano.
Mandarová
O mandarová Erinnys ello (Linné, 1758) –
Lepidoptera: Sphingidae, é uma importante praga das
culturas da mandioca e seringueira, que pode,
ocasionalmente, atacar o mamoeiro.
Os danos no mamoeiro são causados pelas
lagartas, eu se alimentam, inicialmente, das folhas e
brotações mais novas e, depois, do limbo das folhas
mais velhas. Em infestações intesas, podem causar o
desfolhamento total do mamoeiro, atrasando seu
desenvolvimento e expondo os frutos à insolação
direta.
Para o seu controle, recomenda-se o
inseticida biológico, à base de Bacillus thuringiensis,
que deve ser aplicado quando as lagartas encontram-
se nos primeiros instares, pois nessa fase o produto é
mais eficiente. A catação manual e destruição das
lagartas só é recomendada em focos isolados, e o
controle químico só deve ser utilizada quando a
infestação for intensa e generalizada no pomar.
Lagartas-Rosca
Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1779) –
Lepidóptera: Noctuidae
Espécies pouco comum à cultura do
mamoeiro, pode atacar, em certas ocasiões, as mudas
no viviero e as recém-plantasdas, seccionando-se
rente ao solo. Os danos é ausado por uma lagarta de
hábito noturno, que durante o dia fica enrolada e
protegida sob o solo.
Formigas-cortadeiras
As espécies de formigas-cortadeiras
encontradas ocasionando danos ao mamoeiro, são a
saúva-limão, Atta sexdens rubropilosa Forel, 1908 e
a formiga-quenquém Acromyrmex sp. –
Hymenoptera: Formicidae. O ataque destas formigas
ao mamoeiro ocarre basicamewnte, no vivieor,
durante a formação de mudas, e na fase inicial da
cultura, principalmente quando esta é instalada em
áreas novas.
Em áreas onde ocorrem formigas saúvas e
quenquém, o controle deve seguir rigorosamente um
esquema de combate inicial antes da instalação do
viveiro e da cultura no campo. A utilização de
formigas granulados, em pota-iscas, tem apresentado
bom resultado de controle, com a vantagem de ser de
baixo custo.
Para maior eficiência no controle,a isca deve
ser aplicada ao entardecer ou à noite, ao lado do
carreiro, próximo aos olheiros ativos. Devem ser
evitados o contato manual com a isca e aplicação em
dias e locais úmidos.
Para o controle sem agroquímicos,
preferencialmente em formigueiros jovens, derramar
água quente no olheiro e destruir os olheiros com
cavador e compactando em seguida, são técnicas para
perturbar o formigueiro.
Pulgões
Aphis spp., Toxoptera citricidus (Kirkaldy,
1907) e Myzus persicae (Sulzer, 1776) – Hemiptera:
Aphididae.
Os afídeos, embora não sejam considerados
pragas do mamoeiro, por não estabelecerem colônias
nas plantas, são de grande importância para a cultura,
uma vez que atuam como vetores de doenças
viróticas, como a amarelo-letal e mosaico.
Quadro 14.2 – Produtos registrados para o controle de pragas na cultura do mamoeiro, no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – MAPA.
Pragas Princípio ativo Produto comercial Formulação1 Classificação Dose
Tox.2 Amb
3 g ou mL/
100L água
Ácaro-branco
abamectin Vermtimec 18 CE CE III II 80 – 120
chlorphenapyr Pirate SC III II 30 – 50
enxofre
Kumulus DF WG IV IV 400
Kumulus DF- AG WG IV IV 400
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 228
Sulficamp PM IV - 300
Thiovit Sandoz PM IV IV 200
fenpyroximate Ortus SC II I 75 – 100
spirodiclofen Envidor SC III - 300
tetradifon Tedion 80 CE III - 200
Ácaro-rajado
abamectin Vermitec 18 CE CE III II 40 – 60
enxofre Sulficamp PM IV - 300
fenpyroximate Ortus SC II I 75 – 100
Ácaro-vermelho enxofre Thiovit Sandoz PM IV -V 200
Cigarrinha-verde thiacloprid Calypso 480 sc SC III - 10
thiamethoxam Actara 250 WG GD III II 600 – 800
Pulgão thiamethoxam Actara 250 WG GD III II 400 – 600
Tripes-do-fumo thiacloprid Calypso 480 SC SC III - 10
Fonte: Agrofit (2002, MAPA). 1Formulações: CE – Concentrado Emulsionável, PM – Pó Molhável, PS – Pó Seco, CS – Concentração Solúvel, SC
– Suspensão Concentrada, GR – Granulado, GD – Granulos Dispensíveis em Água. 2Classe Toxicológica: I –
Extremamente Tóxico, II – Altamente Tóxica, III – Medianamente Tóxico, IV- Produto Pouco Tóxico. 3Classe
Ambiental: I – Produto Altamente Perigoso, II – Produto Muito Perigos, III – Produto Perigoso, IV – Produto
Pouco Perigoso.
14.14 Colheita e Pós-colheita
O mamão é um fruto que se caracteriza por
uma vida pós-colheita relativamente curta,
completando o seu amadurecimento em poucos ias ou
semanas; sendo também extremamente sujeitos a
perdas pós-colheita por injúrias mecânicas, patógenos
ou por fatores abióticos. Esses fatores podem se
manifestar nos frutos, isoladamente ou em conjunto,
proporcionando perdas quantitativas, qualitativas ou
nutricionais nas diferentes fases da cadeia pós-
colheita, ou seja, durante as etapas de tratamento,
armazenamento, comercialização ou consumo.
No entanto, estas perdas podem ser minimizadas com
a adoção de práticas, na colheita e em pós-colheita,
como o uso da termoterapia e do pré-resfriamento,
com a aplicação de defensivos e de cera na superfície
dos frutos, completando com acondicionamento
adequado em embalagens apropriadas e
armazenamento sob refrigeração. Essas práticas se
tornam mais importantes quanto mais distante e mais
exigente quanto à qualidade do produto é o mercado
consumidor.
Formação da polpa e padrão de crescimento
O período de crescimento e
desenvolvimento do mamão é variável, sendo
dependente de fatores do meio, como temperatura
média e umidade do ar. Desse modo, em vários
estudos acompanhando o desenvolvimento do mamão
é citado o fato de os frutos levarem entre quatro e
sete meses para completar os estádios de
desenvolvimento.
O desenvolvimento do frutos de mão
engloba diferentes fases, as quais se iniciam após a
fertilização, que acontece 13 a 15 dias após a
polinização, verificando-se após essa fase processos
de divisão e expansão celular, com considerável
crescimento do zigoto, passando pelas fases de pré-
amadurecimento, amadurecimento e senescência.
Quanto ao padrão de crescimento, estudos
com o mamão ‘Improved Sunrise Solo Line 72/12’
mostraram que o fruto é classificado como de
crescimento sigmoidal simples, para as mudanças de
comprimento, diâmetro externo e interno, espessura
de polpa e peso da matéria fresca (Figura 14.24). Ou
seja, o crescimento caracteriza-se por uma fase inicial
estacionária, seguida de período de crescimento
exponencial, finalizando com nova fase estacionária.
Figura 14.24 – Curva de crescimento do fruto de
mamão. (Calegario, 1997).
Ponto de colheita
Para a definição do ponto de colheita,
devem-se levar em consideração, a distância e a
exigência do mercado consumidor, bem como o meio
de transporte (aéreo, terrestre ou marítimo). Os frutos
0 30 60 90 120 150 180
Dias após antese
600
500
400
300
200
100
0
Vo
lum
e (c
m3)
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 229
no estágio inicial de maturação ( de 6 a 10% da
superfície da casca amarela) podem ser destinados à
exportação por via marítima. Optando-se pelo
embarque aéreo, os frutos podem ser enviados num
estádio mais maduro, pois mesmo assim atingirão o
mercado em condições ideais de comercialização.
Para o mercado interno, colher o mamão mais verde
ou maduro, depende do período que o fruto
permanecerá na estrada. Porém, ressalta-se que frutos
colhidos maduro apresentam melhor padrão de
qualidade pós-colheita, considerando-se que têm
melhor sabor, por possuírem teor de açúcar mais
elevado do que frutos colhidos num estádio de
maturação menos avançado.
Apesar de pode utilizar o teor de sólidos
solúveis totais como índice de colheita, comercialmente
os frutos são colhidos quando apresentarem 6% da
superfície externa da casca com coloração amarelada,
pois possuem, neste ponto, teor de sólidos solúveis de
aproximadamente 11,5%, considerado como o mínimo
aceitável para a comercialização pelas leis havaianas.
No entanto, o estádio ideal para a colheita do mamão em
termos de teor Maximo de sólidos solúveis, em alguns
casos pode ocorrer quando o fruto apresenta pelo menos
33% da superfície da casca amarelada. Assim, dentro da
faixa de 6 a 33% da superfície da casca amarelada, a
definição do ponto ideal de colheita deverá considerar a
distância entre a região produtora e o mercado
consumidor; a infra-estrutura de transporte e de
armazenamento, e o tempo para a comercialização e
para o consumo.
Colheita e manejo dos frutos
A colheita do mamão tem sido realizada
manualmente. No processo, o fruto é retirado
individualmente da planta, com uma leve torção, e
colocado em caixas plásticas forradas com “plástico-
bolha”, visando evitar atrito com o fundo e as laterais do
recipiente durante o manuseio e o transporte para a casa
de embalagem. Pode-se também proceder à colheita
com o auxílio de baldes plásticos, também forrados,
para que os frutos sejam transportados até as caixas
plásticas colocadas em tratores ou em local adequado.
Quando as plantas atingem porte elevado, o
que ocorre geralmente após 24 meses do transplantio,
usam-se tratores com plataformas reguláveis, para
auxiliar na colheita, facilitando o trabalho dos
coletores.
É apropriado o uso de caixas plásticas para as
coletas dos frutos, com as dimensões externas de 55,5
x 35,5 x 30,5 cm (comprimento x largura x altura).
Tratamento pós-colheita
Há vários fatores isolados ou associados que
contribuem para a perda do padrão de qualidade do
mamão. O mercado interno também exige um padrão
de qualidade dos frutos, com maior rigor dependendo
da região e da forma de comercialização
(supermercados ou feiras-livres por exemplo),
estabelecido por normas nacionais. Mas para o
mercado externos, as exigências são maiores e a
legislação seguida deve ser também a do país
importador, principalmente com relação à qualidade
fitossanitária.
Para o mamão. Principalmente quando o objetivo
é o mercado externo, os exportadores adotam uma
seqüência de práticas, iniciadas com adequado
planejamento de construção da infra-estrutura de uma
casa de embalagem (galpão de embalagem, barracão de
embalagem ou packing-house) passando pelas práticas
de pós-colheita, que englobam principalmente a
lavagem e seleção dos frutos, a termoterapia seguida do
pré-resfriamento, o emprego da imersão dos frutos em
calda fungicida e em cera, a classificação e o
armazenamento em câmara fria. Embora várias dessas
práticas possam ser necessárias e perfeitamente
aplicadas em frutos destinados ao mercado interno, a
relação custo-benefício, associada à demanda de
mercado, faz com que várias delas sejam restritas ao
produto destinado ao mercado externo.
Lavagem dos frutos
A lavagem dos frutos visa a retirada de
impurezas mais grosseiras oriundas do campo, como
poeira, restos superficiais de caldas de adubos e
agroquímicos, de látex etc. Essa retirada dos detritos
superficiais auxilia a tornar eficiente as etapas
posteriores dos tratamentos, pois a água dos banhos
fica mais limpa e isenta de constituintes orgânicos.
Tratamento térmico
Após a colheita e uma primeira seleção, os frutos
são acondicionados em caixas com capacidade para 21
kg de mamão, as quais são colocadas em gaiolas de
ferro, que são colocadas em tanques com água quente
(48 1 ºC por 20 minutos), seguida de aplicação de
fungicida diluído na água de resfriamento dos frutos ou
diluído juntamente com a cera.
Vários problemas são identificados com a
termoterapia no mamão, alterando os componentes
do amadurecimento, como a cor do fruto e o
amaciamento da polpa, a susceptibilidade a
patógenos, afeta a produção de etileno, a atividade de
enzimas e atrasa o amadurecimento dos frutos.
Frutos de mamão com mais de 25% da
superfície da casca amarelada são mais sensíveis ao
tratamento com calor, apresentando menor atividade
da poligalacturonase e polpa mais endurecida que
aqueles cujo estádio de amadurecimento esteja menos
avançado (iniciando o amarelecimento).
A temperatura utilizada para o tratamento
hidrotérmico contribui para eliminação da mosca-
das-frutas e alguns patógenos. No entanto, patógenos
como Colletotrichum gloeosporioides Penz,
necessitam de temperaturas superior a 49ºC por pelo
menos 5 minutos, para que ocorra morte do micélio, e
Cultivo do Mamoeiro
Sebastião Elviro de Araújo Neto 230
a temperatura a 4 mm da superfície da casca do
mamão tratado à 49ºC por 20 minutos é de 45,2ºC,
sendo bem inferior à temperatura de 49ºC, requerida
para morte de C. gloeosporioides in vitro.
Após o tratamento térmico, é importante que
os frutos sejam resfriados em tanques de água fria
para que os frutos tenham uma rápida remoção do
calor, antes de serem transportados, armazenados ou
processados. O pré-resfriamento do mamão mantém
o padrão de qualidade do mamão, desacelerando uma
série de processos metabólicos associados a
temperatura elevadas, como mudança na cor do fruto,
produção de etileno, degradação rápida da sacarose e
outros, contribuindo para prolongar a sua vida útil.
O sistema de pré-resfriamento normalmente
em uso consiste na imersão do mamão em água, com
a temperatura na faixa de 15 a 20ºC, por 20 minutos.
Tratamento químico
Normalmente, após o pré-resfriamento, os
frutos são submetidos ao tratamento químico com
fungicida. É um tratamento complementar ao manejo
de campo empregado para o controle das doenças e
ao tratamento térmico na fase de pós-colheita. Para
tanto, é indispensável a verificação de todos os
protocolos associados a sua utilização.
Existem produtos alternativos que podem
substituir os produtos químicos (agrotóxicos) no
tratamento de doenças pós-colheita.
Aplicação de cera
Após as etapas anteriores, os frutos são
encaminhados para uma esteria com sistema de
secagem por ventilação forçadas e em seguida a
aplicação de cera.
Seleção, classificação e acondicionamento de
frutos para os diferentes mercados
Após os diferentes tratamentos, é efetuada a
remoção de restos de pedúnculo e a classificação
definitiva dos frutos por peso e estádio de
maturidade, quando então será definido o destino
deles: para o mercado interno ou para exportação.
A classificação pode ser feita manualmente ou
com o emprego de classificadores por peso,
normalmente mais eficientes.
Quanto ao tamanho os frutos são classificados de
6 a 12, para o mercado externo, e de 7 a 20 para o
mercado interno. Esses números representam a
quantidade de frutos nas embalagens, com capacidade
para 3,5 kg e 6,0 kg, respectivamente. Atualmente, são
também utilizadas no mercado interno embalagens com
capacidade para 1,8 kg de frutos, contendo quatro, cinco
ou seis frutos, dependendo do tamanho.
Para o mercado externo, uma vez selecionados
e classificados, os frutos são etiquetados, envolvidos
em papel de seda apropriado e acondicionados em
caixas de papelão. A posição adotada para os frutos
na caixa (3,5 kg) é a vertical ou levemente inclinada,
com a posição do pedúnculo voltada para baixo.
Armazenamento refrigerado
O mamão sob condições de temperatura
ambiente (30ºC) tem uma vida de prateleira máxima de
7 dias. Por ser um fruto classificado como tropical e
apresenta susceptibilidade à baixa temperatura, podendo
apresentar injúrias pelo frio (chilling). Por isso, a
temperatura mínima para armazenamento de frutos de
mamão varia de 9 a 12 ºC., podendo durar 16 dias.
As injúrias pelo frio se caracterizam por
sintomas semelhantes às escaldaduras na casca. Áreas
endurecidas na polpa ao redor dos feixes vasculares,
presença de tecido aguado na polpa, atraso e
desuniformidade no amadurecimento, destruição de
estrutura celular acompanhada da liberação de
substâncias que devem tornar os frutos mais
susceptíveis a microrganismos que normalmente não
contribuem para as perdas pós-colheita do mamão.
É importante saber que após o armazenamento
em temperatura baixa, o fruto precisa ser colocado
em ambiente com temperatura entre 20 e 25ºC para
seu completo amadurecimento.
14.15 Coeficiente técnico
Quadro 14.3 – Coeficiente técnico para implantação e
manutenção de 1 ha de mamoeiro no espaçamento 3x2m. Discriminação Unidade 1ºano 2ºano 3ºano
Preparo da área Roçagem h/tr 7 - -
Aração h/tr 4 - -
Aplicação de calcário h/tr 1 - - Gradagem h/tr 2 - -
Marcação da área d/h 2 - -
Plantio e adubação
Em covas
Marcação das covas d/h 5 - -
Coveamento manual d/h 20 - - Transporte das mudas h/tr 2 - -
Distribuição das mudas d/h 2 - -
Adubação das covas d/h 5 - - Plantio (3 mudas/cova) d/h 15 - -
Fechamento das covas d/h 2 - -
Em sucos Sulcamento profundo h/tr 4 - -
Transporte das mudas h/tr 2 - -
Distribuição das mudas d/h 2 - - Adubação do sulco d/h 5 - -
Fechamento do sulco d/h 2 - -
Plantio (3 mudas/cova) d/h 13 - -
Tratos culturais
Roçagem d/h 40 40 40
Desbrotas d/h 9 - - Desbaste de plantas d/h 5 - -
Desbaste de frutos d/h 15 24 -
Erradicação d/h 18 18 - Limpeza da área d/h 12 12 12
Adubação em cobertura d/h 18 18 18
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Aplicação de veneno d/h 2 12 6 Pulverizações h/tr 2 12 6
Pulverizações d/h 4 4 2
Insumos Mudas un. 5.000 - -
Calcário dolomítico tonelada 2 - -
Esterco de galinha kg 4.000 - - Superfosfato triplo kg 320 - -
Uréia kg 480 576 -
Superfosfato simples tonelada 768 576 - Cloreto de potássio kg 448 576 -
Adubo foliar litro 6 10 -
Fungicida kg/L 16 24 6 Inseticida kg/L 12 16 4
Espalhante adesivo litro 3 4 1
Colheita Colheita manual d/h 24 120 100
Transporte h/tr 19 80 40
REFERÊNCIAS
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Brasileira. Editora Argos Comunicação. São Paulo,
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SPI, Fortaleza: Embrapa-CNPAT, 1998.
RAMOS, J. D. Fruticultura: Tecnologia de
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