10
INTRODUCcedilAtildeO
11
INTRODUCcedilAtildeO
O trabalho ora apresentado intitulado ldquoUma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica ndash Filosoacutefica da
Arquitectura Mindelense O Caso da Igreja de Nossa Senhora da Luzrdquo insere-se no
acircmbito do trabalho de fim de curso que constitui uma exigecircncia do Instituto Superior de
Educaccedilatildeo (ISE) para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia
Justificaccedilatildeo da problemaacutetica
Sendo a elaboraccedilatildeo de um trabalho cientiacutefico de fim de curso um requisito parcial para a
obtenccedilatildeo do grau de licenciatura em ensino de filosofia deve-se considerar esse propoacutesito
meramente acadeacutemico Pois eacute sempre um desafio para qualquer estudante universitaacuterio no
uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo ter de escolher um tema de pesquisa para a elaboraccedilatildeo de um
trabalho monograacutefico que lhe confere em parte o grau de licenciatura Mas para responder
esse desafio eacute necessaacuterio ter interesses pessoais e motivaccedilotildees intriacutensecas os quais satildeo
determinantes tambeacutem muito importantes
Ainda com este trabalho pretendemos atingir um objectivo mais especiacutefico cuja
incentivaccedilatildeo para a escolha do tema ldquo Uma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica-Filosoacutefica da Arquitectura
Mindelense O Caso da Igreja Nossa Senhora da Luzrdquo
Desta forma diriacuteamos que eacute muito gratificante investigar um tema de modo a contribuir
para o conhecimento do lugar que nos viu nascer Assim sendo procuramos dar um
contributo vaacutelido e objectivo cuja preocupaccedilatildeo essencial eacute avaliar a arquitectura como forma
(expressatildeo) de arte Resolvemos entatildeo optar exclusivamente por uma avaliaccedilatildeo esteacutetica-
filosoacutefica da arquitectura mindelense em que a ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo surge-nos
como uma boa opccedilatildeo tanto pela ligaccedilatildeo que esta tem com a histoacuteria da cidade do Mindelo
como tambeacutem pelo seu papel relevante na imagem esteacutetica da cidade enquanto monumento
arquitectoacutenico uma vez que a sua beleza encontra-se nos traccedilos arquitectoacutenicos dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios os quais merecem um olhar atento ecleacutetico e mais criacutetico
Pretendemos ainda que os satildeovicentinos venham a dispor de um documento filosoacutefico
(esteacutetico) que os levaratildeo a assumir uma atitude contemplativa perante as suas obras
arquitectoacutenicas dando-lhes assim o seu verdadeiro valor esteacutetico eou artiacutestico
12
Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte
ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da
Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo
possiacutevel para tentar encontrar uma resposta
Objectivos
Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para
que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos
Objectivo Geral
Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte
Objectivos Especiacuteficos
Clarificar o termo esteacutetica
Problematizar o conceito arte
Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura
Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico
Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da
Luz
Abordagem Metodoloacutegica
Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo
escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste
caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que
recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que
realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e
mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa
recolha um pouco difiacutecil
Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade
desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos
informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja
Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em
questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos
13
observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma
anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos
Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e
compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes
Organizaccedilatildeo do Trabalho
O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma
Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da
escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias
adoptadas e organizamos o trabalho
No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o
conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e
contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte
No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo
arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a
importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o
funcionalismo arquitectural eacute utilidade
No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da
cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente
na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico
da arquitectura da Igreja
Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em
questatildeo
14
CAPIacuteTULO I
A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
11
INTRODUCcedilAtildeO
O trabalho ora apresentado intitulado ldquoUma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica ndash Filosoacutefica da
Arquitectura Mindelense O Caso da Igreja de Nossa Senhora da Luzrdquo insere-se no
acircmbito do trabalho de fim de curso que constitui uma exigecircncia do Instituto Superior de
Educaccedilatildeo (ISE) para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia
Justificaccedilatildeo da problemaacutetica
Sendo a elaboraccedilatildeo de um trabalho cientiacutefico de fim de curso um requisito parcial para a
obtenccedilatildeo do grau de licenciatura em ensino de filosofia deve-se considerar esse propoacutesito
meramente acadeacutemico Pois eacute sempre um desafio para qualquer estudante universitaacuterio no
uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo ter de escolher um tema de pesquisa para a elaboraccedilatildeo de um
trabalho monograacutefico que lhe confere em parte o grau de licenciatura Mas para responder
esse desafio eacute necessaacuterio ter interesses pessoais e motivaccedilotildees intriacutensecas os quais satildeo
determinantes tambeacutem muito importantes
Ainda com este trabalho pretendemos atingir um objectivo mais especiacutefico cuja
incentivaccedilatildeo para a escolha do tema ldquo Uma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica-Filosoacutefica da Arquitectura
Mindelense O Caso da Igreja Nossa Senhora da Luzrdquo
Desta forma diriacuteamos que eacute muito gratificante investigar um tema de modo a contribuir
para o conhecimento do lugar que nos viu nascer Assim sendo procuramos dar um
contributo vaacutelido e objectivo cuja preocupaccedilatildeo essencial eacute avaliar a arquitectura como forma
(expressatildeo) de arte Resolvemos entatildeo optar exclusivamente por uma avaliaccedilatildeo esteacutetica-
filosoacutefica da arquitectura mindelense em que a ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo surge-nos
como uma boa opccedilatildeo tanto pela ligaccedilatildeo que esta tem com a histoacuteria da cidade do Mindelo
como tambeacutem pelo seu papel relevante na imagem esteacutetica da cidade enquanto monumento
arquitectoacutenico uma vez que a sua beleza encontra-se nos traccedilos arquitectoacutenicos dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios os quais merecem um olhar atento ecleacutetico e mais criacutetico
Pretendemos ainda que os satildeovicentinos venham a dispor de um documento filosoacutefico
(esteacutetico) que os levaratildeo a assumir uma atitude contemplativa perante as suas obras
arquitectoacutenicas dando-lhes assim o seu verdadeiro valor esteacutetico eou artiacutestico
12
Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte
ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da
Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo
possiacutevel para tentar encontrar uma resposta
Objectivos
Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para
que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos
Objectivo Geral
Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte
Objectivos Especiacuteficos
Clarificar o termo esteacutetica
Problematizar o conceito arte
Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura
Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico
Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da
Luz
Abordagem Metodoloacutegica
Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo
escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste
caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que
recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que
realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e
mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa
recolha um pouco difiacutecil
Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade
desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos
informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja
Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em
questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos
13
observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma
anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos
Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e
compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes
Organizaccedilatildeo do Trabalho
O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma
Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da
escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias
adoptadas e organizamos o trabalho
No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o
conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e
contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte
No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo
arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a
importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o
funcionalismo arquitectural eacute utilidade
No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da
cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente
na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico
da arquitectura da Igreja
Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em
questatildeo
14
CAPIacuteTULO I
A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
12
Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte
ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da
Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo
possiacutevel para tentar encontrar uma resposta
Objectivos
Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para
que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos
Objectivo Geral
Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte
Objectivos Especiacuteficos
Clarificar o termo esteacutetica
Problematizar o conceito arte
Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura
Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico
Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da
Luz
Abordagem Metodoloacutegica
Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo
escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste
caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que
recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que
realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e
mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa
recolha um pouco difiacutecil
Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade
desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos
informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja
Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em
questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos
13
observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma
anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos
Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e
compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes
Organizaccedilatildeo do Trabalho
O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma
Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da
escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias
adoptadas e organizamos o trabalho
No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o
conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e
contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte
No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo
arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a
importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o
funcionalismo arquitectural eacute utilidade
No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da
cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente
na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico
da arquitectura da Igreja
Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em
questatildeo
14
CAPIacuteTULO I
A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
13
observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma
anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos
Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e
compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes
Organizaccedilatildeo do Trabalho
O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma
Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da
escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias
adoptadas e organizamos o trabalho
No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o
conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e
contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte
No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo
arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a
importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o
funcionalismo arquitectural eacute utilidade
No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da
cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente
na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico
da arquitectura da Igreja
Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em
questatildeo
14
CAPIacuteTULO I
A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
14
CAPIacuteTULO I
A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
15
1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo
11 Origem e significado do termo esteacutetica
A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado
sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos
dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis
O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois
se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia
esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues
para falar da beleza fiacutesica do ser humano
Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar
expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica
renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza
existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte
Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava
da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A
esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve
ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se
ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio
Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander
Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual
apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos
procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza
investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da
beleza e da arte
Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as
emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e
pensa
Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)
Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos
normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta
dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
16
uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma
organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma
compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma
actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1
A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por
elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo
e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para
falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte
Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a
impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute
belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a
Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto
Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma
ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de
reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no
domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande
preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo
obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando
em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos
sentidos
No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a
todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma
de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual
Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste
periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da
arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza
Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa
anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a
natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas
1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127
2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
17
12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica
Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as
outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade
isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da
produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a
esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria
sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)
Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia
qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas
Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3
Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma
necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou
interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por
si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para
atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia
eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado
ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo
que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante
o mundo
A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os
objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora
activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos
objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo
ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica
fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera
coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4
Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez
que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do
homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode
3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia
1992 Paacuteg 99
4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
18
ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um
dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5
A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens
fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de
interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de
beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)
Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou
a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA
Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida
obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a
nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos
existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os
quais examinaremos a seguir
O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do
que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes
sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou
natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo
ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque
apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo
agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as
vecircrdquo
Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas
natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas
pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos
que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os
subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa
connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de
acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras
palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos
de tais objectos despertam em nos proacuteprios
5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave
123
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
19
O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo
alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais
indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico
ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute
loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo
pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees
pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e
desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se
sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6
Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute
loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo
se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos
por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a
faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou
descompraximento sem interesserdquo8
O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um
juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas
que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana
13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica
As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz
com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas
Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra
de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica
Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a
funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem
e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a
relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa
manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo
esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A
6 Kant Op Cit Paacuteg 89
7 Idem OpCit Paacuteg 90
8 Idem Op Cit Paacuteg 98
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
20
funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste
contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer
que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por
carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando
uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as
ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as
manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de
uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico
isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza
Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e
competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando
dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e
multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao
manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a
unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas
ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10
Poder-se-ia pensar que pela
funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo
esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o
homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar
aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se
torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de
auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior
2 Arte ndash O que eacute
21 As diversas formas de arte
As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas
quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio
individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da
9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145
10 Idem Op Cit Paacuteg145
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
21
vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem
fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso
objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema
teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando
simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao
facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios
satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras
palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees
mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11
Ainda a pintura que
apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma
ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela
estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia
procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de
todos os fenoacutemenosrdquo12
E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo
volume massa e movimentos
Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a
danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a
sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o
tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam
atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se
compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance
as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que
deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de
apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de
vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente
com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13
Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo
atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de
cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre
outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo
o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou
definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito
11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210
12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74
13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
22
mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E
todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14
O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo
existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute
autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute
arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da
definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida
22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias
O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O
mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um
lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra
a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas
teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa
progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos
terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que
apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como
a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias
anteriores
221 A arte como imitaccedilatildeo
Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite
pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os
defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo
Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com
desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo
vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas
traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me
afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto
14 Idem Op Cit Pag112
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
23
o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15
Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de
censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos
naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi
considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA
Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente
uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se
assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16
A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute
uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e
eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-
sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas
que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal
absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No
entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as
imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo
algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e
emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar
estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas
uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17
Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que
ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio
supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma
satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a
uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18
222 A arte como expressatildeo
Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um
espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar
correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta
15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449
16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24
17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455
18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
24
aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta
em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma
de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir
os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees
Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso
Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente
ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados
com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte
reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se
identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia
eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente
poeta actor e espectadorrdquo19
Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana
podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo
contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico
Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver
de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus
da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do
ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem
contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade
criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20
Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos
para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia
perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras
de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e
projecccedilotildees artiacutesticasrdquo
A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant
distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se
distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo
mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees
(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute
somente do seu criadorrdquo21
19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66
20 Idem Op Cit Paacuteg 60
21 Kant Op Cit Paacuteg 206
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
25
Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores
do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna
as imagens da vida cheias de encantordquo22
Segundo este autor para ser artista haacute que ter
autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis
pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que
nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas
intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de
espiacuterito do artistardquo23
A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e
Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade
Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do
acto criativo
223 A arte como forma significante
Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo
e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada
e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve
comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no
sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as
obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo
peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo
com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees
esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a
defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute
bem diferente
Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da
expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que
aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele
caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra
artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos
22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105
23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
26
estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado
subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e
incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio
entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo
sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24
Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao
conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo
reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano
Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que
ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de
definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25
Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir
ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que
uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um
conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo
reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo
podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz
ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido
Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute
sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois
podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja
alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26
Na perspectiva de Eco haacute que existir
dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e
intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte
24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25
httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206
26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
27
3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica
Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo
especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte
Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio
significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos
sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia
da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte
enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos
construiacutedos pelo homem (as obras de arte)
ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas
fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as
contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza
dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um
contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27
A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido
esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo
esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre
naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre
um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e
questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute
feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos
na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira
dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos
Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num
quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da
funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de
observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo
Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador
liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo
quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode
excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a
27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
28
expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para
aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar
novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento
Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica
requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de
olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada
linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa
eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando
autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28
E ainda devemos ter igualmente a faculdade de
compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros
28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
29
CAPIacuteTULO II
A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
30
1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico
O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve
em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no
estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde
nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura
Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA
esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto
de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de
conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29
Deste modo a ela natildeo apontaria
somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as
modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a
sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica
Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo
comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com
qualidade esteacutetica
No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura
tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e
que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido
como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o
espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices
significativas de viver comumrdquo30
Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo
XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de
ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado
provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A
autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse
criar um estilo verdadeiramente moderno
A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX
Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia
para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples
29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119
30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
31
reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades
expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha
proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia
O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos
bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no
ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica
O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a
actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a
procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a
integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna
A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos
fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que
ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e
a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem
tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si
mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31
Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu
muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta
oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o
criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito
maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros
Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico
que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da
civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees
introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo
apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32
Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico
tendo em conta as necessidades humanas
31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
32
2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica
21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura
Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao
mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer
actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com
elardquo33
A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees
artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com
que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um
vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas
dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a
arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e
caminha
A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo
natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por
conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento
criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34
A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E
eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio
particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo
Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela
pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um
dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o
espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares
onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um
diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional
A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que
este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da
33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
33
arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute
logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada
mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou
protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem
uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro
desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado
estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35
Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela
que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente
Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e
como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais
estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o
mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por
impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos
parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo
nos sugeriu o movimentordquo36
Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso
sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos
rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo
de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do
espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute
apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute
tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo
natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos
como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo
Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim
a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do
conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37
Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo
arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos
mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de
habitar ou seja de viver
35 Idem Op Cit Paacuteg 186
36 Ibidem
37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
34
22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura
Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave
sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais
importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere
escreve
ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso
mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de
civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da
vida socialrdquo38
Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()
corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e
das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio
de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que
pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por
um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode
servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A
obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de
maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da
realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39
A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se
constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de
siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute
interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente
subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma
deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos
enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute
inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura
neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista
Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos
outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo
um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()
38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
35
liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o
significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40
Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o
historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte
pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto
institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra
qualquer estrutura linguiacutesticardquo41
A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto
eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo
capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem
sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica
conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo
para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem
simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os
problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das
formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da
pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da
comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova
compreensatildeo da sua praacuteticardquo42
23 Correntes da Semiologia Arquitectural
Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra
dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra
satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43
Segundo Baind o problema da arquitectura e
do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de
sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado
Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise
simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As
sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar
40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256
41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
36
no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as
telecomunicaccedilotildeesrdquo44
Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e
work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura
cede lugar ao conceito de alojamento
Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia
estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma
tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse
morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45
Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs
eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo
Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura
traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A
arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que
persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46
24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade
Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de
caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da
civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao
objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica
Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que
estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e
econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de
um estilordquo47
44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45
Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
37
O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura
mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira
experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo
A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela
aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos
constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo
cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico
independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter
Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria
eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de
ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo
elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras
as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas
tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48
Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu
aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um
edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido
pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura
Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da
arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo
modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo
resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute
utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem
nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49
A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-
se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade
A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da
circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito
Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em
siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o
funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um
48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
38
objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a
sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50
50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
39
CAPIacuteTULO III
ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA
SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
40
1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja
A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado
lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do
design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades
bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte
activa da cidade
A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o
produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees
particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar
bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos
A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente
numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela
cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e
contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta
organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora
visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de
seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior
Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa
categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51
A cidade situa-se no litoral da Baia
do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem
de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)
Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos
arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo
O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e
a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus
admiraacuteveis edifiacutecios
Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja
matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a
51
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
Paacuteg 21
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
41
atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza
arquitectoacutenica
Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo
Fonte A autora Maio de 2006
A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura
manuelina em Cabo Verde
Figura 2 ndash Torre de Beleacutem
Fonte A autora Maio de 2006
Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que
merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
42
Fig 3 ndash Mercado Municipal
Fonte A autora Maio de 2006
Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52
no centro da cidade
junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da
cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa
Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da
Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi
a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para
Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e
para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53
A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a
inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54
Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)
na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55
52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-
Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984
paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
43
Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo
passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo
(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante
salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas
adaptaccedilotildees
2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX
eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias
europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo
O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na
arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e
estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das
transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final
da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes
de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas
pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
44
intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas
raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco
O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para
situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um
passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer
perspectivar
A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz
respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras
fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens
arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A
arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56
No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a
priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca
da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto
podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica
Das quinze entrevistas57
efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da
Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a
problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos
O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido
porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo
arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58
Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo
Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio
existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr
Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59
56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57
Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
45
Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico
presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista
concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60
Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura
de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja
no dia 240406 em Satildeo Vicente)61
Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder
no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da
Luz
Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que
iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa
pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a
seguir apresentadas
31 Composiccedilatildeo Exterior
A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja
destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica
De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas
aacuteguas
Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro
ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com
contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe
diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares
60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
46
Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo
pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas
torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha
apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos
Fig 5 ndash Fachada Principal
Fonte A autora Maio 2006
Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de
arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma
calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
Fig 6-Fachada lateral direita
Fonte A autora Maio de 2006
Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim
sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta
perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para
despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
47
Fig 7- Fachada lateral esquerda
Fonte A autora Maio 2006
Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de
forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a
sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma
quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante
do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma
quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com
uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial
Fig 8 - Fachada posterior
Fonte A autora Maio de2006
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
48
Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja
Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave
Pracinha da Igreja
Tipologia Funcional Religiosa cristatilde
Patrono Nossa Senhora da Luz
Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes
Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e
aacuterabe
Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com
um portal uma janela um frontatildeo e duas
torres
Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas
e uma porta de arco de volta perfeita com
platibanda
Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes
eacutepocas
Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples
Fonte A autora
32 Composiccedilatildeo Interna
De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos
como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute
composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor
No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave
Igreja
Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde
se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de
arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
49
um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em
laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da
janela da fachada principal
A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no
sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com
pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado
e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da
mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave
imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar
dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio
Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos
encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua
esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um
niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor
(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino
Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o
padroeiro
Fig 9 ndash Interior da Igreja
Fonte A autora Maio de 2006
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
50
33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da
Igreja
Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja
passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes
331 A Pia Baptismal
A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente
sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em
forma de conchas
Fig10 ndash Pia Baptismal
Fonte A autora Maio de 2006
332 O Forro
Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor
azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um
pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute
ladiada por dois lustres
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
51
Fig11 ndash O Forro
Fonte A autora Maio de 2006
333 Os Vitrais
Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute
cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja
dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado
luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura
Fig12 ndash Os Vitrais
Fonte A autora Maio de 2006
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
52
334 Os Altares Laterais
a) Altar lateral esquerdo
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da
paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do
homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No
centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do
arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas
salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco
em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que
constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico
Fig13 ndash Altar lateral esquerdo
Fonte A autora Maio de 2006
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
53
Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia
Fonte A autora Maio de 2006
b) Altar lateral direito
Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um
rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de
Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e
pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela
presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do
Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta
dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute
enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na
terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte
superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo
proacuteprio neoclaacutessico
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
54
Fig15 ndash Altar lateral direito
Fonte A autora Maio de 2006
335 Altar ndash mor
No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a
eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do
altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o
menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta
inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas
adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um
arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua
esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
55
Fig17 ndash Altar ndash mor
Fonte A autora Maio de 2006
4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz
Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a
revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por
esta razatildeo um siacutembolo
No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua
iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande
cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais
fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio
ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside
essencialmente na forma como o foi construiacutedo
Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica
Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do
passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
56
simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute
caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica
Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua
esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de
falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso
enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela
Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe
no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem
uma beleza em si mesma
Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua
proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja
manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo
Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas
das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo
mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares
ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por
isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a
esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de
culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62
(Entrevista
concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)
Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca
embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso
ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que
concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem
uma cidade
62 Cfr Anexo II
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
57
CONCLUSAtildeO
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
58
Conclusatildeo
A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de
um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova
etapa de investigaccedilatildeo
Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta
envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo
contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer
Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da
Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer
o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees
Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e
sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da
esteacutetica
Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo
eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a
regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos
A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi
atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas
No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um
distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou
seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o
estilo eacute tipicamente neoclaacutessico
Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que
existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no
seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor
preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais
evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja
mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
59
Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia
ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da
Igreja
Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu
aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside
fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas
que transmitem uma heranccedila clara do passado
Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela
constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for
necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente
Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o
interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo
Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o
mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-
vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos
edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
60
GLOSSAacuteRIO
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
61
Glossaacuterio
Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este
glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees
exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da
leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo
de certos termos teacutecnicos
Adro ndash entrada de um edifiacutecio
Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia
Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio
Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica
Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados
entre si
Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o
baptismo
Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes
Capitel ndash topo de uma coluna
Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as
cargas axiais
Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro
Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos
de uma composiccedilatildeo
Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por
objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um
objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica
assume
Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e
direcccedilatildeo relativa
Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com
vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
62
Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica
Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas
ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e
discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de
contemplaccedilatildeo
Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica
Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que
pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo
Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um
telhado
Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos
esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os
juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos
Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto
Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela
Nave ndash parte central de uma Igreja
Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu
especialmente na arquitectura e nas artes decorativa
Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos
Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades
esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das
pessoas que os apreciam
Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no
espectador uma certa sensibilidade
Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta
Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo
Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no
baptismo
Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede
provinda de uma base e um capitel
Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha
Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou
cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
63
Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica
Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de
uma Igreja
Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser
defendida como o estudo sistemaacutetico do signo
Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos
sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo
Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um
significado
Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos
lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria
Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas
propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no
espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
64
BIBLIOGRAFIA
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
65
LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA
AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do
Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento
Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984
AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000
AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd
BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978
BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986
CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins
Fontes 1999
CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial
Estampa 1997
CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial
Estampa 1997
DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora
Livraria Bertrand
-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora
Livraria Bertrand
FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd
LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997
HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992
HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd
HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf
Ediccedilatildeo) 1998
JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial
Verbo 1979
KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie
Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
66
LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade
Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd
MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa
Sd
MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa
Editorial Estampa1988
NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores
1996
PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd
READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora
Ulisseia Sd
RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990
SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do
Brasil Sd
SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd
TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes
Lisboa Ediccedilotildees 70 1997
ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
67
ANEXOS
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
68
ANEXO I
Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente
na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
69
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na
arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
70
ANEXO II
Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em
Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
71
Instituto Superior de Educaccedilatildeo
DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA
Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo
ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de
Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em
ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)
Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa
Senhora da Luzrdquo
1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua
arquitectura
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
72
8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico
Porquecirc
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigado pela sua
colaboraccedilatildeo
A autora
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
73
ANEXO III
Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente
74
PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ
Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente