introduÇÃo - portaldoconhecimento.gov.cv p… · 13 observação directa da arquitectura da...

65
10 INTRODUÇÃO

Upload: vuongkien

Post on 19-Jun-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

10

INTRODUCcedilAtildeO

11

INTRODUCcedilAtildeO

O trabalho ora apresentado intitulado ldquoUma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica ndash Filosoacutefica da

Arquitectura Mindelense O Caso da Igreja de Nossa Senhora da Luzrdquo insere-se no

acircmbito do trabalho de fim de curso que constitui uma exigecircncia do Instituto Superior de

Educaccedilatildeo (ISE) para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia

Justificaccedilatildeo da problemaacutetica

Sendo a elaboraccedilatildeo de um trabalho cientiacutefico de fim de curso um requisito parcial para a

obtenccedilatildeo do grau de licenciatura em ensino de filosofia deve-se considerar esse propoacutesito

meramente acadeacutemico Pois eacute sempre um desafio para qualquer estudante universitaacuterio no

uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo ter de escolher um tema de pesquisa para a elaboraccedilatildeo de um

trabalho monograacutefico que lhe confere em parte o grau de licenciatura Mas para responder

esse desafio eacute necessaacuterio ter interesses pessoais e motivaccedilotildees intriacutensecas os quais satildeo

determinantes tambeacutem muito importantes

Ainda com este trabalho pretendemos atingir um objectivo mais especiacutefico cuja

incentivaccedilatildeo para a escolha do tema ldquo Uma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica-Filosoacutefica da Arquitectura

Mindelense O Caso da Igreja Nossa Senhora da Luzrdquo

Desta forma diriacuteamos que eacute muito gratificante investigar um tema de modo a contribuir

para o conhecimento do lugar que nos viu nascer Assim sendo procuramos dar um

contributo vaacutelido e objectivo cuja preocupaccedilatildeo essencial eacute avaliar a arquitectura como forma

(expressatildeo) de arte Resolvemos entatildeo optar exclusivamente por uma avaliaccedilatildeo esteacutetica-

filosoacutefica da arquitectura mindelense em que a ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo surge-nos

como uma boa opccedilatildeo tanto pela ligaccedilatildeo que esta tem com a histoacuteria da cidade do Mindelo

como tambeacutem pelo seu papel relevante na imagem esteacutetica da cidade enquanto monumento

arquitectoacutenico uma vez que a sua beleza encontra-se nos traccedilos arquitectoacutenicos dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios os quais merecem um olhar atento ecleacutetico e mais criacutetico

Pretendemos ainda que os satildeovicentinos venham a dispor de um documento filosoacutefico

(esteacutetico) que os levaratildeo a assumir uma atitude contemplativa perante as suas obras

arquitectoacutenicas dando-lhes assim o seu verdadeiro valor esteacutetico eou artiacutestico

12

Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte

ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da

Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo

possiacutevel para tentar encontrar uma resposta

Objectivos

Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para

que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos

Objectivo Geral

Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte

Objectivos Especiacuteficos

Clarificar o termo esteacutetica

Problematizar o conceito arte

Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura

Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico

Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da

Luz

Abordagem Metodoloacutegica

Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo

escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste

caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que

recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que

realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e

mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa

recolha um pouco difiacutecil

Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade

desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos

informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja

Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em

questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos

13

observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma

anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos

Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e

compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes

Organizaccedilatildeo do Trabalho

O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma

Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da

escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias

adoptadas e organizamos o trabalho

No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o

conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e

contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte

No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo

arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a

importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o

funcionalismo arquitectural eacute utilidade

No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da

cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente

na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico

da arquitectura da Igreja

Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em

questatildeo

14

CAPIacuteTULO I

A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 2: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

11

INTRODUCcedilAtildeO

O trabalho ora apresentado intitulado ldquoUma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica ndash Filosoacutefica da

Arquitectura Mindelense O Caso da Igreja de Nossa Senhora da Luzrdquo insere-se no

acircmbito do trabalho de fim de curso que constitui uma exigecircncia do Instituto Superior de

Educaccedilatildeo (ISE) para a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em Ensino de Filosofia

Justificaccedilatildeo da problemaacutetica

Sendo a elaboraccedilatildeo de um trabalho cientiacutefico de fim de curso um requisito parcial para a

obtenccedilatildeo do grau de licenciatura em ensino de filosofia deve-se considerar esse propoacutesito

meramente acadeacutemico Pois eacute sempre um desafio para qualquer estudante universitaacuterio no

uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo ter de escolher um tema de pesquisa para a elaboraccedilatildeo de um

trabalho monograacutefico que lhe confere em parte o grau de licenciatura Mas para responder

esse desafio eacute necessaacuterio ter interesses pessoais e motivaccedilotildees intriacutensecas os quais satildeo

determinantes tambeacutem muito importantes

Ainda com este trabalho pretendemos atingir um objectivo mais especiacutefico cuja

incentivaccedilatildeo para a escolha do tema ldquo Uma Avaliaccedilatildeo Esteacutetica-Filosoacutefica da Arquitectura

Mindelense O Caso da Igreja Nossa Senhora da Luzrdquo

Desta forma diriacuteamos que eacute muito gratificante investigar um tema de modo a contribuir

para o conhecimento do lugar que nos viu nascer Assim sendo procuramos dar um

contributo vaacutelido e objectivo cuja preocupaccedilatildeo essencial eacute avaliar a arquitectura como forma

(expressatildeo) de arte Resolvemos entatildeo optar exclusivamente por uma avaliaccedilatildeo esteacutetica-

filosoacutefica da arquitectura mindelense em que a ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo surge-nos

como uma boa opccedilatildeo tanto pela ligaccedilatildeo que esta tem com a histoacuteria da cidade do Mindelo

como tambeacutem pelo seu papel relevante na imagem esteacutetica da cidade enquanto monumento

arquitectoacutenico uma vez que a sua beleza encontra-se nos traccedilos arquitectoacutenicos dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios os quais merecem um olhar atento ecleacutetico e mais criacutetico

Pretendemos ainda que os satildeovicentinos venham a dispor de um documento filosoacutefico

(esteacutetico) que os levaratildeo a assumir uma atitude contemplativa perante as suas obras

arquitectoacutenicas dando-lhes assim o seu verdadeiro valor esteacutetico eou artiacutestico

12

Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte

ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da

Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo

possiacutevel para tentar encontrar uma resposta

Objectivos

Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para

que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos

Objectivo Geral

Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte

Objectivos Especiacuteficos

Clarificar o termo esteacutetica

Problematizar o conceito arte

Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura

Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico

Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da

Luz

Abordagem Metodoloacutegica

Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo

escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste

caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que

recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que

realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e

mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa

recolha um pouco difiacutecil

Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade

desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos

informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja

Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em

questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos

13

observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma

anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos

Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e

compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes

Organizaccedilatildeo do Trabalho

O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma

Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da

escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias

adoptadas e organizamos o trabalho

No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o

conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e

contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte

No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo

arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a

importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o

funcionalismo arquitectural eacute utilidade

No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da

cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente

na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico

da arquitectura da Igreja

Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em

questatildeo

14

CAPIacuteTULO I

A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 3: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

12

Assim sendo a pergunta de partida que nos surgiu foi a seguinte

ldquoSeraacute que existe uma esteacutetica na arquitectura actual da Igreja Nossa Senhora da

Luzrdquo Pois ao longo dos trecircs capiacutetulos do trabalho fazemos toda a ldquoginaacutestica mentalrdquo

possiacutevel para tentar encontrar uma resposta

Objectivos

Para a elaboraccedilatildeo de qualquer trabalho cientiacutefico eacute necessaacuterio traccedilar os objectivos para

que possamos ter um produto acabado e neste caso traccedilamos os seguintes objectivos

Objectivo Geral

Avaliar esteticamente a arquitectura como forma de arte

Objectivos Especiacuteficos

Clarificar o termo esteacutetica

Problematizar o conceito arte

Debater os problemas da esteacutetica na arquitectura

Reconhecer que a arquitectura eacute uma arte visando o prazer teacutecnico e esteacutetico

Demonstrar que existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Nossa Senhora da

Luz

Abordagem Metodoloacutegica

Ao elaborar qualquer trabalho de investigaccedilatildeo parte-se do pressuposto que existe algo

escrito acerca do objecto de investigaccedilatildeo Como se costuma dizer ldquo nada cai do Ceacuteurdquo Neste

caso prende-se com a necessidade de fazermos recolha de dados Assim sendo os dados que

recolhemos satildeo essencialmente de natureza bibliograacutefica e documental Entretanto haacute que

realccedilar que as informaccedilotildees concernentes ao tema satildeo muito escassas nas nossas bibliotecas e

mesmo que existem algumas carecem de um tratamento filosoacutefico Este facto tornou a nossa

recolha um pouco difiacutecil

Considerando que os dados escritos natildeo bastam para conferir o trabalho a cientificidade

desejada entatildeo para tal aparece-nos a necessidade de recorrer a outros dados Recolhemos

informaccedilotildees em Satildeo Vicente atraveacutes de entrevistas na arquitectura da Igreja

Foram aplicadas 15 (quinze) entrevistas junto de estudiosos e especialistas da aacuterea em

questatildeo e 1 (uma) entrevista ao Paacuteroco da Igreja de Nossa Senhora da Luz Ainda fizemos

13

observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma

anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos

Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e

compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes

Organizaccedilatildeo do Trabalho

O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma

Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da

escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias

adoptadas e organizamos o trabalho

No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o

conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e

contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte

No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo

arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a

importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o

funcionalismo arquitectural eacute utilidade

No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da

cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente

na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico

da arquitectura da Igreja

Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em

questatildeo

14

CAPIacuteTULO I

A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 4: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

13

observaccedilatildeo directa da arquitectura da Igreja seguida de fotografias sem deixar de fazer uma

anaacutelise qualitativa dos dados recolhidos

Apoacutes a recolha de informaccedilotildees eacute necessaacuterio fazermos a devida anaacutelise interpretaccedilatildeo e

compilaccedilatildeo das mesmas Tudo isso obedece diversas etapas preacute-estabelecidas por noacutes

Organizaccedilatildeo do Trabalho

O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma

Na parte introdutoacuteria problematizamos o tema em estudo apresentando os motivos da

escolha do mesmo definimos os objectivos preconizados traccedilamos as metodologias

adoptadas e organizamos o trabalho

No Capiacutetulo I analisamos a problemaacutetica da esteacutetica e da arte onde clarificamos o

conceito esteacutetica abordamos as diversas formas de arte e demarcarmos as afinidades e

contradiccedilotildees entre esteacutetica e arte

No Capiacutetulo II abordamos a arquitectura e a sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

onde comeccedilamos por definir a arquitectura no acircmbito esteacutetico analisamos o espaccedilo

arquitectural como linguagem simboacutelico Este subtema divide- se por sua vez em trecircs itens a

importacircncia do espaccedilo na arquitectura a estrutura como semiologia da arquitectura e o

funcionalismo arquitectural eacute utilidade

No Capiacutetulo III analisamos a estrutura e a composiccedilatildeo da arquitectura da ldquoIgreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo ndash Cidade do Mindelo onde abordamos a composiccedilatildeo esteacutetica da

cidade do Mindelo e o lugar simboacutelico da Igreja debatemos a problemaacutetica do estilo presente

na Igreja analisamos a sua composiccedilatildeo formalesteacutetica e abordamos o significado simboacutelico

da arquitectura da Igreja

Por uacuteltimo extraiacutemos algumas conclusotildees sobre o nosso objecto de estudo em

questatildeo

14

CAPIacuteTULO I

A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 5: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

14

CAPIacuteTULO I

A PROBLEMAacuteTICA DA ESTEacuteTICA E DA ARTE

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 6: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

15

1 Clarificaccedilatildeo do Conceito ldquoEsteacuteticardquo

11 Origem e significado do termo esteacutetica

A palavra laquoesteacuteticaraquo eacute originaacuteria do termo grego ldquoasithesisrdquo que significa por um lado

sensibilidade isto eacute a faculdade que o homem tem de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos

dos sentidos por outro lado tudo aquilo que eacute percebido sobre forma de impressotildees sensiacuteveis

O uso diversificado do termo esteacutetica faz com que este assuma diferentes sentidos Pois

se fizeacutessemos um levantamento do seu uso comum encontrariacuteamos por exemplo ldquocirurgia

esteacuteticardquo ldquoesteacutetica corporalrdquo ldquo esteacutetica facialrdquo entre outras expressotildees que satildeo empregues

para falar da beleza fiacutesica do ser humano

Saindo agora do uso comum e entrando no campo das artes podemos encontrar

expressotildees ldquoesteacutetica impressionistardquo ldquoesteacutetica cubistardquo ldquoesteacutetica surrealistardquo ldquoesteacutetica

renascentistardquo ldquoesteacutetica modernardquo hellip todos em iacutentima relaccedilatildeo com uma concepccedilatildeo de beleza

existente numa determinada eacutepoca dos diversos estilos de arte

Tradicionalmente falando podemos dizer que a esteacutetica eacute o ramo da filosofia que tratava

da beleza ou do belo especialmente na arte do gosto e criteacuterios de valores para julgar a arte A

esteacutetica era portanto o mesmo que filosofia da arte Isto para mostrar que desde sempre esteve

ligada a reflexatildeo filosoacutefica literaacuteria ou histoacuterica sobre a arte Soacute recentemente constituiu-se

ciecircncia independente com meacutetodo proacuteprio

Na filosofia o termo foi pela primeira vez utilizado no seacutec XVIII por Alexander

Baumgarten (1714-1762) na sua obra ldquoAestheticardquo publicada em 1750 atraveacutes da qual

apresenta uma reflexatildeo sobre os princiacutepios e os criteacuterios gerais dos fenoacutemenos esteacuteticos

procurando clarificar a natureza da experiecircncia esteacutetica do gosto e do sentido de beleza

investigando os conceitos equacionando os problemas que se podem colocar no acircmbito da

beleza e da arte

Essa esteacutetica autoacutenoma nasceu da tentativa de explicar o papel que as sensaccedilotildees e as

emoccedilotildees desempenham no pensamento humano isto eacute a noccedilatildeo de um corpo que sente e

pensa

Thomas Munro debruccedilando sobre o significado do conceito esteacutetica diz o seguinte ldquo(hellip)

Ainda que natildeo abandonando o seu interesse pela beleza valores artiacutesticos e outros conceitos

normativos a esteacutetica recente tendeu a colocar uma ecircnfase crescente na abordagem concreta

dos fenoacutemenos da arte e da experiecircncia esteacutetica Difere da histoacuteria da arte da arqueologia de

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 7: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

16

uma organizaccedilatildeo teoacuterica das mateacuterias em termos de tipos e tendecircncias que se repetem de uma

organizaccedilatildeo cronoloacutegica ou geneacutetica (hellip) Difere da critica da arte no procurar uma

compreensatildeo teoacuterica geral das artes do que a que usual nesse campo e no tentar uma

actividade mais conscientemente objectivo impessoalhelliprdquo1

A esteacutetica deve fundamentar-se em observaccedilotildees sobre arte nas sensaccedilotildees e ideias por

elas suscitadas e nas interpretaccedilotildees que fomenta dependendo assim da anaacutelise da percepccedilatildeo

e da forma como conhecemos atraveacutes dos sentidos do estudo da linguagem utilizada para

falar da arte e ainda do modo como reagimos a uma obra de arte

Como jaacute tiacutenhamos feito referecircncia Baumgarten eacute o primeiro esteta ou seja o primeiro a

impor um dogma sobre a noccedilatildeo de beleza e a separar aquilo que eacute da ciecircncia daquilo que eacute

belo projecto a que daacute o nome de Esteacutetica Numa definiccedilatildeo intelectualista ele precisa que a

Esteacutetica seja a ldquo ldquociecircncia do conhecimento sensiacutevelrdquoou ldquognosiologia inferiorrdquordquo2 Com isto

Baumgarten quer-nos dizer que existe um domiacutenio inferior da esteacutetica ou seja sendo ela uma

ciecircncia do conhecimento sensiacutevel a esteacutetica eacute de acircmbito subjectivo isto eacute um campo de

reflexatildeo onde natildeo existe leis claras e distintas diferente das leis correspondentes agrave loacutegica no

domiacutenio superior que busca a verdade com leis claras e distintas (evidentes) Isso eacute a grande

preocupaccedilatildeo do referido autor porque a grande parte do nosso dia-a-dia passa no mundo

obscuro daiacute um paradoxo que o olhar filosoacutefico eacute um olhar dirigido para a clareza deixando

em esquecimento tudo o que decorre no obscuro (no sensiacutevel) tudo o que diz respeito aos

sentidos

No ponto de vista de Baumgarten a experiecircncia de sentir eacute uma experiecircncia comum a

todos os indiviacuteduos eacute uma necessidade primaacuteria eacute universal Mas natildeo existe uma uacutenica forma

de sentir O sentir eacute pessoal ningueacutem pode sentir pelo outro a natildeo ser de forma conceptual

Portanto a esteacutetica natildeo se confina agrave filosofia posteriormente ao seacutec XVIII Antes deste

periacuteodo o uso do termo eacute anacroacutenico faltava uma denominaccedilatildeo que abrangesse a filosofia da

arte e as nossas reacccedilotildees a arte e a natureza

Eacute importante frisar que a palavra esteacutetica que temos vindo a utilizar desde o iniacutecio dessa

anaacutelise relaciona-se com os sentimentos subjacentes a nossa relaccedilatildeo com a arte e com a

natureza nas suas manifestaccedilotildees artiacutesticas

1 Cf Runes Dagobert (1ordf Ediccedilatildeo) Dicionaacuterio De Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990 Paacuteg127

2 Boumgarten Aput Bayer Raymond Histoacuteria Da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1993 Paacuteg 180

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 8: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

17

12 Delimitaccedilatildeo do Objecto de Estudo da Esteacutetica

Sendo a esteacutetica uma ciecircncia autoacutenoma tem que ter um objecto de estudo como todas as

outras ciecircncias Diriacuteamos entatildeo que a sua funccedilatildeo eacute estudar exclusivamente a sensibilidade

isto eacute os processos de produccedilatildeo e expressatildeo de arte como tambeacutem alguns aspectos da

produccedilatildeo da natureza e do homem exteriores ao campo da arte Ainda podemos dizer que a

esteacutetica eacute a maneira de exprimir a beleza sob certas formas sensiacuteveis Sendo assim natildeo faria

sentido falar da esteacutetica e deixar de lado as suas noccedilotildees de base (elementos constitutivos)

Comeccedilando pela experiecircncia esteacutetica podemos dizer que esta natildeo eacute uma experiecircncia

qualquer Caso contrario natildeo saberiacuteamos distinguir experiecircncias esteacuteticas das natildeo esteacuteticas

Segundo Kant ldquoo desinteresse eacute a caracteriacutestica distintiva das nossas experiecircncias esteacuteticasrdquo3

Kant quer dizer que natildeo procuramos satisfazer atraveacutes da experiecircncia esteacutetica nenhuma

necessidade praacutetica Trata-se de experiecircncias que natildeo dependem de nenhum princiacutepio ou

interesse exterior a si Portanto valem por si mesma Satildeo experiecircncias que nos interessam por

si proacuteprias e natildeo porque tenham alguma utilidade praacutetica ou porque sirvam de um meio para

atingir qualquer fim Portanto soacute haacute experiecircncia esteacutetica quando o objecto dessa experiecircncia

eacute tomado como um objecto esteacutetico objecto esse que causa em noacutes um sentimento de agrado

ou desagrado pois o homem natildeo eacute somente pensamento razatildeo mas tambeacutem existe um corpo

que sente (emoccedilatildeo) O sujeito da experiecircncia esteacutetica tem que ter uma atitude esteacutetica perante

o mundo

A atitude esteacutetica eacute a preacute-disposiccedilatildeo para ver o mundo com outros olhos olhos de ver os

objectos de modo criacutetico despriviligiando sempre o banal a favor de uma atitude criadora

activa de um sujeito ou espectador que rompe com as convenccedilotildees e haacutebitos ligados aos

objectos Neste sentido a atitude esteacutetica eacute sempre criaccedilatildeo do novo

ldquoE se disseacutessemos que a obra de arte eacute uma coisa que suscita em noacutes a atitude esteacutetica

fazendo nossa a acepccedilatildeo de Heidegger diriacuteamos que essa coisa natildeo deve ser vista como mera

coisa Eacute portanto uma coisa que revela outra coisa Ela eacute alegoriardquo4

Parecendo aos nossos olhos subscrever essa tese Mukarǒvskyacute considera por sua vez

que a obra de arte enquanto coisa ldquo(hellip) se converte em signo esteacutetico descobre aos olhos do

homem a relaccedilatildeo que existe entre ele e a realidade Qualquer realidade todo o universo pode

3 Kant Immanuel Criacutetica da Faculdade do Juiacutezo Estudos Gerais Seacuterie Universitaacuteria ndash claacutessicos de Filosofia

1992 Paacuteg 99

4 Heidegger Martin A Origem Da Obra De Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992 Paacuteg13

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 9: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

18

ser percebido e experimentado segundo o modo como o homem percebe e experimenta um

dado facto real perante o qual adoptou uma atitude esteacuteticardquo 5

A atitude esteacutetica no espiacuterito verdadeiramente criador evita cristalizaccedilotildees de imagens

fixas estaacute sempre perante um processo de destruiccedilatildeo do real em que o homem eacute capaz de

interpretar o significado antropoloacutegico da criaccedilatildeo artiacutestica determinando assim os criteacuterios de

beleza Ao determinar estes criteacuterios o homem estaacute a fazer juiacutezos de valor (juiacutezos esteacuteticos)

Os juiacutezos esteacuteticos surgem quando procuramos fundamentar o que dizemos aos outros ou

a noacutes proacuteprios sobre as obras de arte ou do belo Por exemplo quando afirmamos que ldquoA

Mona Lisa de Da Vinci eacute belardquo estamos a mostrar aos outros que atribuiacutemos valor a referida

obra Mas nem sempre encontramos nestes juiacutezos criteacuterios que nos permite fundamentar a

nossa justificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Quando se trata de questionar os juiacutezos de valores esteacuteticos

existem duas doutrinas filosoacuteficas opostas o objectivismo e o subjectivismo esteacuteticos os

quais examinaremos a seguir

O objectivismo esteacutetico tambeacutem conhecido por realismo esteacutetico defende que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude das suas propriedades intriacutensecas e independentemente do

que sentimos quando o observamos Assim quando dizemos que um objecto eacute belo o que noacutes

sentimos natildeo tem para o objectivista qualquer importacircncia Quer o objecto nos agrade ou

natildeo essas propriedades jaacute existem nele Podemos eacute ser sensiacuteveis ou natildeo a eles Deste modo

ainda que as coisas belas nos agradem natildeo eacute por isso que satildeo belas Isso acontece porque

apenas haacute certas caracteriacutesticas nesses objectos que provocam em noacutes uma sensaccedilatildeo

agradaacutevel Como diz o ditado popular ldquoa beleza estaacute nas coisas e natildeo nos olhos de quem as

vecircrdquo

Uma das criacuteticas que se costuma fazer aos objectivistas eacute se os sentimentos das pessoas

natildeo entram em cena e natildeo tecircm qualquer papel a desempenhar nos juiacutezos esteacuteticos Muitas

pessoas pensam isso inaceitaacutevel como eacute o caso dos subjectivistas que defendem que dizemos

que um objecto eacute belo em virtude do que sentimos quando o observamos Assim para os

subjectivistas quando falamos de objectos belos estamos apenas a referir o que se passa

connosco quando entramos em contacto com esses objectos Os objectos satildeo belos ou feios de

acordo com os sentimentos de prazer ou desprazer que fazem surgir em noacutes Por outras

palavras o que estaacute em causa natildeo satildeo as propriedades dos objectos mas antes os sentimentos

de tais objectos despertam em nos proacuteprios

5 Mukarǒvskyacute Jean Escritos sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa Editorial Estampa 1988 Paacutegs 122 agrave

123

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 10: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

19

O subjectivismo esteacutetico teve defensores de peso entre os quais se destaca o filoacutesofo

alematildeo Kant na sua obra ldquoCriacutetica da faculdade do Juiacutezordquo Kant eacute um dos autores mais

indicado para nos fazer entender o que seja o juiacutezo esteacutetico

ldquoO juiacutezo de gosto natildeo eacute pois nenhum juiacutezo de conhecimento por conseguinte natildeo eacute

loacutegico e sim esteacutetico pelo qual se entende aquilo que os fundamentos de determinaccedilatildeo natildeo

pode ser se natildeo subjectivos Toda a referecircncia das representaccedilotildees mesmo a das sensaccedilotildees

pode porem ser objectiva somente natildeo pode secirc-lo a referecircncia ao sentimento de prazer e

desprazer pelo qual natildeo eacute designado absolutamente nada no objecto mais no qual o sujeito se

sente a si proacuteprio do modo como ele eacute afectado pela sensaccedilatildeordquo6

Tal juiacutezo como diz o referido autor natildeo eacute um juiacutezo de conhecimento portanto natildeo eacute

loacutegico eacute sim esteacutetico Pois o seu fundamento natildeo eacute objectivo mas sim o subjectivo ldquoMesmo

se as representaccedilotildees fossem racionais no juiacutezo seriam sempre considerados juiacutezos esteacuteticos

por serem referidos meramente ao sujeitordquo7 E ainda acrescenta ldquoo juiacutezo de gosto eacute a

faculdade de julgamento de um objecto representando-o mediante um compraximento ou

descompraximento sem interesserdquo8

O objecto de compraximento do juiacutezo eacute o belo Esse juiacutezo postula a unanimidade por um

juiacutezo loacutegico-universal que espera o mesmo juiacutezo dos outros Satildeo essas condiccedilotildees subjectivas

que expressam a ideia de beleza na perspectiva kantiana

13 ndash Funccedilatildeo Esteacutetica

As funccedilotildees da arte satildeo muitas e variadas a sua capacidade de combinaccedilatildeo muacutetua faz

com que ela seja difiacutecil de apresentar uma enumeraccedilatildeo e classificaccedilatildeo completa de todas elas

Mas uma de entre todas eacute especiacutefica para a arte e sem ela a obra de arte deixaria de ser obra

de arte que eacute a funccedilatildeo esteacutetica

Debruccedilando sobre essa funccedilatildeo Mukarǒvskyacute por um lado diz que ldquo () eacute evidente que a

funccedilatildeo esteacutetica natildeo se limita somente agrave esfera da arte antes penetra todo o trabalho do homem

e todas as suas manifestaccedilotildees vitais Eacute um dos factores mais importantes entre os que criam a

relaccedilatildeo do homem com a realidade isto porque tem () capacidade de impedir que se possa

manifestar supremacia unilateral de uma soacute funccedilatildeo sobre todas as outras () A funccedilatildeo

esteacutetica natildeo tem nenhum objectivo concreto natildeo tende a realizar nenhuma tarefa concreta A

6 Kant Op Cit Paacuteg 89

7 Idem OpCit Paacuteg 90

8 Idem Op Cit Paacuteg 98

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 11: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

20

funccedilatildeo esteacutetica mais que inclui as coisas ou as actividades num contexto praacutetico excluir deste

contexto () O facto de a funccedilatildeo esteacutetica natildeo tender para um objectivo praacutetico natildeo quer dizer

que ela impeccedila o contacto da arte com os interesses vitais do homem Precisamente por

carecer de um conteuacutedo uniacutevoco a funccedilatildeo esteacutetica consegue ser transparente natildeo adoptando

uma atitude hostil para com as outras funccedilotildees antes ajudando-osrdquo9 Reforccedilando ainda as

ideias desse autor podemos acrescentar o seguinte a funccedilatildeo esteacutetica diz respeito a todas as

manifestaccedilotildees humanas embora seja essencialmente um criteacuterio para a definiccedilatildeo artiacutestica de

uma obra Obra de arte eacute aquela que exclui do seu contexto qualquer interesse pragmaacutetico

isto eacute ela tem uma funccedilatildeo esteacutetica cujo objectivo eacute a beleza

Por outro lado considera que ldquoAs funccedilotildees praacuteticas encontrando-se em proximidade e

competiccedilatildeo reciacuteproca esforccedilam-se por prevalecer umas sobre as outras mostrando

dependecircncia para a especializaccedilatildeo funcional para a unifuncionalidade mais variada e

multifacetada possiacutevel conseguindo assim que a obra de arte tenha um alcance social Ao

manifestar-se na arte como funccedilatildeo especiacutefica a funccedilatildeo esteacutetica ajuda o homem a superar a

unilateralidade da especializaccedilatildeo que empobrece natildeo soacute a sua relaccedilatildeo com a realidade mas

ainda a possibilidade de adoptar uma atitude perante elardquo10

Poder-se-ia pensar que pela

funccedilatildeo a arte natildeo teria qualquer alcance social ou mesmo individual Pelo contraacuterio a funccedilatildeo

esteacutetica permite a superaccedilatildeo da especializaccedilatildeo social e individual A funccedilatildeo esteacutetica reabilita o

homem para a criaccedilatildeo e para a inovaccedilatildeo e ainda lhe permite manifestar ou mesmo denunciar

aquilo que do seu ponto de vista ou da sua experiecircncia especial impede que a sociedade se

torne num local onde o homem realiza como pessoa Portanto a funccedilatildeo esteacutetica eacute um modo de

auto-realizacatildeo do sujeito perante o mundo exterior

2 Arte ndash O que eacute

21 As diversas formas de arte

As produccedilotildees artiacutesticas satildeo componentes da cultura extremamente amplas e variadas nas

quais encontramos expressotildees de ideias e emoccedilotildees dimensotildees do desejo e do imaginaacuterio

individual e colectivo representaccedilotildees da realidade natural e social concepccedilotildees do mundo e da

9 Mukarovsky Jean Op Cit Paacuteg144 agrave 145

10 Idem Op Cit Paacuteg145

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 12: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

21

vida Assim podemos destacar as artes plaacutesticas que satildeo as que se exprimem

fundamentalmente atraveacutes dos valores ditos plaacutesticos Estatildeo neste caso a arquitectura o nosso

objecto de estudo em que um edifiacutecio ou uma cidade organizam-se com base num sistema

teacutecnico-construtivo e tecircm como referecircncia fundamental o espaccedilo vivido incorporando

simultaneamente as dimensotildees funcional e simboacutelica ldquoEmbora natildeo haja como escapar ao

facto de ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios

satildeo elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras

palavras as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees

mas tambeacutem com a aparecircncia do edifiacutecio a sua dimensatildeo esteacuteticardquo11

Ainda a pintura que

apresenta-se num suporte bidimensional atraveacutes de uma estrutura material de cores e forma

ldquoA funccedilatildeo da pintura eacute a de representar para os sentidos as obras naturais e por isso ela

estende-se as suas superfiacutecies as cores as figuras daqueles objectos naturais de que a ciecircncia

procura conhecer as forccedilas intriacutensecas () A pintura eacute o espelho de captar a realidade de

todos os fenoacutemenosrdquo12

E a escultura que se organiza com base em conceitos de espaccedilo

volume massa e movimentos

Aquelas que manifestam atraveacutes do espaccedilo tempo e movimento como a fotografia a

danccedila o cinema o teatro pressupotildeem uma duraccedilatildeo e um tempo real Cada uma delas tem a

sua dimensatildeo teacutecnica e esteacutetica mas em comum tecircm essa intenccedilatildeo de traduzir o espaccedilo e o

tempo atraveacutes das muacuteltiplas interpretaccedilotildees do movimento Temos as artes que se manifestam

atraveacutes da palavra escrita ou falada como por exemplo a literatura que se exprime e que se

compreende as diferentes formas de poesia (eacutepica liacuterica dramaacutetica) a narrativa (o romance

as autobiografias) ldquoO poeta eacutepico ou dramaacutetico natildeo deve ignorar que ele eacute o destino e que

deve ser implacaacutevel como este Ele eacute ao mesmo tempo o espelho da humanidade e tem de

apresentar na cena caracteres maus e por vezes infames loucos tolos espiacuteritos acanhados de

vez em quanto um personagem razoaacutevel ou prudente ou bom ou honesto e muito raramente

com a mais singular das excepccedilotildees um caraacutecter generosordquo13

Ainda podemos encontrar as artes sonoras como a muacutesica que encontra expressatildeo

atraveacutes dos sons nas diversas formas da muacutesica claacutessica (oratoacuteria oacutepera liacuterica muacutesica de

cacircmara) da muacutesica dita ligeira (canccedilatildeo muacutesica rock entre outras) do canto popular entre

outros A muacutesica natildeo exprime nunca o fenoacutemeno mas unicamente a essecircncia iacutentima de todo

o fenoacutemeno numa palavra a proacutepria verdade Portanto natildeo exprime uma alegria especial ou

definida certas tristezas certa dor certo medo certo prazer certa sinceridade de espiacuterito

11 Graham Gordon Filosofia das Artes Lisboa Ediccedilotildees 70 1997 Paacuteg 210

12 Leonardo Da Vinci Apud Gerard Legrand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg74

13 Shopenhauer Artur Dores Do Mundo (2 Ediccedilatildeo) Editora SA Satildeo Paulo Sd Paacuteg110

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 13: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

22

mais exprime-lhes a essecircncia abstracta e geral fora de qualquer motivo ou circunstacircncias E

todavia nessa quinta essecircncia abstracta sabemos compreende-la perfeitamenterdquo14

O termo arte mostra-se todavia extremamente problemaacutetica na medida em que natildeo

existem criteacuterios absolutos que permitem estabelecer uma distinccedilatildeo niacutetida entre o que eacute

autenticamente arte e aquilo que natildeo o eacute A final se tudo o que jaacute foi dito anteriormente eacute

arte o que natildeo eacute arte Esta pergunta remeta-nos para um problema filosoacutefico O problema da

definiccedilatildeo da arte que abordaremos de seguida

22 O problema da definiccedilatildeo da arte ndash Algumas teorias

O problema de saber como definir um conceito tem sido uma das tarefas da filosofia O

mesmo acontece na filosofia da arte onde o problema da definiccedilatildeo da ldquoarterdquo tem tido um

lugar privilegiado O nosso objectivo eacute caracterizar as vaacuterias teorias que tiveram uma palavra

a dizer sobre a natureza da arte e a possibilidade da sua definiccedilatildeo Iremos comeccedilar pelas

teorias mais fracas isto eacute aquelas que apresentam uma menor capacidade explicativa

progredindo em direcccedilatildeo agraves melhores teorias acerca da natureza da arte Assim iremos

terminar esse sub-capiacutetulo com a teoria da indefinibilidade da arte de Morris Weitz que

apesar de natildeo procurar responder agrave questatildeo de saber como definir arte vai-se constituir como

a uacutenica teoria satisfatoacuteria capaz de superar todas as dificuldades encontradas nas teorias

anteriores

221 A arte como imitaccedilatildeo

Esta teoria eacute uma das mais antigas teorias da arte a qual foi durante muito tempo aceite

pelos artistas como inquestionaacutevel Ela tinha como lema a imitaccedilatildeo da natureza Pois para os

defensores dessa teoria uma obra eacute arte soacute quando representa algo atraveacutes da imitaccedilatildeo

Contudo nem todos os filoacutesofos foram a favor dessa teoria Platatildeo por exemplo via com

desprezo as obras de arte ao consideraacute-las imagens imperfeitas dos seus originais Ou se natildeo

vejamos de perto o que ele diz ldquoAqui entre noacutes (porquanto natildeo direi como tal aos poetas

traacutegicos e todos os outros que praticam a mimese) todas as obras dessa espeacutecie se me

afiguram ser a destruiccedilatildeo da inteligecircncia dos ouvintes de quentes natildeo tiverem como antiacutedoto

14 Idem Op Cit Pag112

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 14: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

23

o conhecimento da sua verdadeira naturezardquo15

Para Platatildeo qualquer imitaccedilatildeo era digna de

censura pois afastava-nos da verdade Ainda quando no seu entender os proacuteprios objectos

naturais eram por sua vez coacutepias de outros seres mais perfeitos E nesta oacuteptica a pintura foi

considerada por ele como a mais desvirtuada das artes A esse respeito na sua obra ldquoA

Repuacuteblicardquo ele escreve o seguinte ldquoDe longe vecircem superfiacutecies que representam vagamente

uma colina uma ponte aacutervores frutos de perto soacute restam massas informes que natildeo se

assemelham a nada A pintura eacute sempre uma mestra de ilusotildeesrdquo 16

A essecircncia da arte em Platatildeo eacute o proacuteprio pensamento da transcendecircncia O belo natildeo eacute

uma daacutediva ao niacutevel da vida Pois procurou o modelo da arte no belo universal perfeito e

eterno A arte eacute um conhecimento feito atraveacutes da participaccedilatildeo das ideias no mundo supra-

sensiacutevel A origem de toda a beleza exista numa primeira beleza que torna bela todas as coisas

que designamos belas Portanto a essecircncia da arte estaacute no paradigma do belo universal

absoluto e eterno que ilumina o mundo esteacutetico como o sol ilumina o mundo sensiacutevel No

entender de Platatildeo o belo eacute uma descoberta e natildeo uma imitaccedilatildeo Na medida em que as

imitaccedilotildees nos fazem ver as coisas de forma emocional o seu resultado natildeo pode ser senatildeo

algo de instaacutevel e pouco racional Assim sendo ao apelar a comportamentos imitativos e

emocionais a arte afasta-nos do bom senso e da verdade ldquoPor conseguinte a arte de imitar

estaacute bem longe da verdade e se executa tudo ao que parece eacute pelo facto de atingir apenas

uma pequena porccedilatildeo de cada coisa que natildeo passa de uma apariccedilatildeordquo17

Desprestigiando a pintura em relaccedilatildeo agraves outras formas de artes Platatildeo considera que

ldquoTeatro Escultura Arquitectura satildeo pelo contraacuterio artes que participam mais do princiacutepio

supremo a beleza defina-se em todas as situaccedilotildees pela medida e harmonia isto eacute por uma

satisfaccedilatildeo que natildeo se pode qualificar senatildeo da esteacutetica Esta forma de prazer puro eacute devida a

uma subtileza de emoccedilatildeo ligada agrave procura intelectual desinteressadardquo18

222 A arte como expressatildeo

Em termos gerais vimos que a teoria da arte como imitaccedilatildeo encarava a arte como um

espelho que se colocava diante da natureza A arte estava centrada nos objectos e devia captar

correctamente as suas caracteriacutesticas Eacute essa a ideia que Platatildeo repudiava isso tendo em conta

15 Platatildeo A Repuacuteblica(9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd Paacuteg 449

16 Cf Denis Hisman A Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 24

17 Platatildeo Op Cit Paacuteg455

18 Cf Huisman Denis Op Cit Ibidem

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 15: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

24

aquilo que acabamos de ver no item anterior Esta forma de ver as coisas comeccedilou a ser posta

em causa no final do seacuteculo XVIII e muitos artistas comeccedilaram a produzir a arte como forma

de expressatildeo das suas experiecircncias individuais Procuravam atraveacutes das suas obras exprimir

os seus sentimentos e subjectividades A arte tornou-se um veiacuteculo para exprimir emoccedilotildees

Assim o interesse da arte passa a residir no interior e natildeo no exterior do sujeito Sobre isso

Nietzsche escreve ldquoo nosso conhecimento exterior da arte eacute no fundo absolutamente

ilusoacuterio porque ao possuirmos tal conhecimento natildeo nos sentimos unidos e identificados

com esse princiacutepio essencial que criador uacutenico e espectador uacutenico Desta comeacutedia da arte

reserva para si o prazer eterno Soacute no acto da produccedilatildeo artiacutestica e na medida em que se

identifica com o artista primordial do mundo e que o geacutenio poderaacute saber algo da essecircncia

eterna da arte o geacutenio seraacute entatildeo objecto e sujeito ao mesmo tempo seraacute simultaneamente

poeta actor e espectadorrdquo19

Pois comentando brevemente essa perspectiva nietzschiana

podemos escrever que a eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo

contempla-se tornando ao mesmo tempo actor poeta e espectador traacutegico

Contudo ainda o referido autor acrescenta ldquoo artista subjectivo natildeo passa a nosso ver

de um mau artista pois exigimos que em todas as manifestaccedilotildees artiacutesticas e em todos os graus

da arte se realiza antes de mais a victoacuteria sobre a subjectividade a libertaccedilatildeo da tirania do

ldquoeurdquo a aboliccedilatildeo do desejo individual e da vontade individual porque sem subjectividade sem

contemplaccedilatildeo pura e desinteressada nem sequer poderemos acreditar que haja actividade

criadora verdadeiramente artiacutestica desde as maacuteximas agraves iacutenfimas expressotildeesrdquo20

Para Nietzsche noacutes somos a significaccedilatildeo da obra de arte A arte eacute para noacutes como somos

para a arte isto eacute a arte eacute vida E nisto consiste a liberdade A arte dionisiacuteaca e a trageacutedia

perpeacutetua na vista de Nietzsche satildeo a impulsatildeo criadora para a vida que evoca-nos como obras

de arte e sermos livres proacuteprios e autecircnticos na criaccedilatildeo Resumindo ldquosomos imagens e

projecccedilotildees artiacutesticasrdquo

A obra de arte eacute um objecto produzido por um autor que na perspectiva de Kant

distingue da natureza Escreve Kant ldquoa arte distingue-se da natureza como o fazer (facere) se

distingue do agir ou actuar (agere) De direito dever-se-ia chamar arte somente a produccedilatildeo

mediante liberdade isto eacute mediante o arbiacutetrio que potildee a razatildeo no fundamento das suas acccedilotildees

(hellip) A produccedilatildeo da natureza daacute-se por ldquoinstintordquo como a abelha faz o favo enquanto a obra eacute

somente do seu criadorrdquo21

19 Neitzsche Frederico A Origem Da Tragedia Lisboa Guimaratildees Editores 1996 Paacuteg 66

20 Idem Op Cit Paacuteg 60

21 Kant Op Cit Paacuteg 206

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 16: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

25

Nesta mesma linha de pensamento Shopenhaouer atraveacutes da sua obra intitulada ldquoDores

do Mundordquo diz que ldquoa arte eacute uma redenccedilatildeo ndash ela eacute livre da vontade e portanto da dor Torna

as imagens da vida cheias de encantordquo22

Segundo este autor para ser artista haacute que ter

autenticidade e sinceridade na sua criaccedilatildeo Daiacute escreve ldquosatildeo testemunhos os admiraacuteveis

pintores Holandeses que souberam ver de um modo tatildeo objectivo coisas tatildeo pequenas e que

nos deixaram uma prova tatildeo duradoura de desinteresse e de placidez de espiacuterito nas cenas

intimas O espectador natildeo pode observa-los sem se comover sem representar o estado de

espiacuterito do artistardquo23

A obra de arte eacute na oacuteptica de Kant siacutembolo de liberdade e que em Nietzsche e

Shopenhauer tal liberdade significa deixar-se reproduzir na autenticidade e sinceridade

Liberdade significa sem horizonte que impede a manifestaccedilatildeo ou a criaccedilatildeo permanente do

acto criativo

223 A arte como forma significante

Verificando que a diversidade de obra de arte eacute bem maior do que as teorias de imitaccedilatildeo

e de expressatildeo que jaacute foram examinadas anteriormente faria supor uma teoria mais elaborada

e mais recente conhecida como teoria de forma significante Segundo esta teoria natildeo se deve

comeccedilar por procurar aquilo que se define uma obra de arte na proacutepria obra mas sim no

sujeito que a aprecia Isso natildeo significa que natildeo haja uma caracteriacutestica comum a todas as

obras de arte mas que podemos identificaacute-las apenas por intermeacutedio de um tipo de emoccedilatildeo

peculiar a que se chama emoccedilatildeo esteacutetica que elas e soacute elas provocam em noacutes De acordo

com a teoria de forma significante uma obra eacute arte se e soacute se provoca nas pessoas emoccedilotildees

esteacuteticas Isso natildeo quer dizer que as obras de arte exprimem emoccedilotildees se natildeo estar-se-ia a

defender o mesmo que a teoria da expressatildeo mas que provocam emoccedilotildees nas pessoas o que eacute

bem diferente

Se a teoria da imitaccedilatildeo estava centrada nos objectos representados e a teoria da

expressatildeo no artista criador a teoria de forma significante parte do sujeito sensiacutevel que

aprecia obras de arte Eacute importante frisar que parte do sujeito mas natildeo estaacute centrado nele

caso contraacuterio natildeo seria coerente considerar esta teoria como forma significante ldquoA obra

artiacutestica natildeo pode ser identificada com o estado de espiacuterito do seu autor nem com nenhum dos

22 Shopenhaour Op Cit Paacuteg 105

23 Idem Op Cit Paacutegs 106 agrave 107

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 17: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

26

estados de espiacuterito que evoca nas pessoas que a percebem eacute patente que cada estado

subjectivo da consciecircncia tem algo individual e de momentacircneo que faz indescritiacutevel e

incomunicaacutevel no seu todo enquanto que a obra artiacutestica se destina a servir de intermediaacuterio

entre o autor e a colectividade Fica poreacutem essa ldquocoisardquo que eacute obra de arte num mundo

sensorial e que eacute acessiacutevel a percepccedilatildeo de toda a gente sem distinccedilatildeordquo24

Pelo que se viu houve uma evoluccedilatildeo das teorias na tentativa de dar uma definiccedilatildeo ao

conceito ldquoarterdquo Mas parece que nenhuma delas aqui discutidas parece satisfatoacuteria tendo

reparadas nas insuficiecircncias aqui abordadas alguns filoacutesofos da arte como o americano

Morris Weitz simplesmente abandonou a ideia de que a arte pode ser definida dizendo que

ldquoessa eacute a razatildeo porque as teorias anteriores falharam ao tentar fazecirc-lo E qualquer tentativa de

definir arte estaacute condenada ao fracassordquo25

Na visatildeo de Weitz em vez de tentarmos definir

ldquoarterdquo o melhor eacute tentar perceber em que circunstacircncias utilizamos o conceito de arte Que

uso e em que condiccedilotildees aplicamos o conceito arte O conceito de arte eacute para Weitz um

conceito aberto Dizemos que um conceito eacute aberto se as suas condiccedilotildees de aplicaccedilatildeo satildeo

reajustaacuteveis e corrigiacuteveis ou seja sempre que apareccedila uma situaccedilatildeo ou um caso novo

podemos alargar o uso do conceito para o incluir Fechar o conceito de arte eacute segundo Weitz

ridiacuteculo uma vez que isso seria excluir a proacutepria noccedilatildeo de criatividade da arte Neste sentido

Umberto Eco escreve ldquoA obra de arte embora na sua significaccedilatildeo inicial deve ter um soacute

sentido como indicador do significado particular do seu autor natildeo deixa de ser aberta pois

podemo-nos interpretaacute-la de mil maneiras sem que a sua irreproduziacutevel significaccedilatildeo seja

alterada Permanece entatildeo intacta original singularrdquo26

Na perspectiva de Eco haacute que existir

dois aspectos fulcrais numa obra de arte o autor que cria segundo a sua significaccedilatildeo e

intenccedilatildeo e o espectador que interpreta a mil maneiras a obra de arte

24 Mukarǒvskyacute Op Cit Paacuteg 12 25

httpwwwcfhufscbr~wfilartehtm consultado agrave 120206

26 Cf Calabrese Omar A Linguagem da Arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986Paacuteg28

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 18: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

27

3Afinidades e Contradiccedilotildees entre Arte e Esteacutetica

Antigamente a esteacutetica era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo

especialmente na arte do gosto e dos criteacuterios de valores para julgar a obra de arte

Recentemente assumiu-se como uma ciecircncia autoacutenoma com o seu meacutetodo proacuteprio

significando ciecircncia do conhecimento sensiacutevel ndash tudo aquilo que pode ser percebido pelos

sentidos Sendo assim a esteacutetica natildeo pode ser confundida nem com a arte nem com filosofia

da arte tatildeo pouco com a histoacuteria da arte O campo de estudo da arte satildeo as obras de arte

enquanto que a esteacutetica vai mais longe ocupa-se dos objectos naturais e dos objectos

construiacutedos pelo homem (as obras de arte)

ldquoNatildeo se deve confundir esteacutetica com histoacuteria de arte ou com filosofia de arte estas

fornecem os dados essenciais a esteacutetica A esteacutetica por seu turno procura compreender as

contingecircncias impliacutecitas nos factos respeitantes agrave arte e a filosofia da arte e quanto a natureza

dos juiacutezos circunscritos agrave arte A esteacutetica alarga a sua anaacutelise a natureza e talvez a um

contexto mais vasto da percepccedilatildeo e da consciecircncia sensorialrdquo 27

A obra de arte eacute um produto da criaccedilatildeo artiacutestica concebida para ser entendido

esteticamente A obra de arte eacute concebida pelo homem para comunicar e a percepccedilatildeo e o juiacutezo

esteacutetico satildeo as formas de conhecimento e apreciaccedilatildeo Um juiacutezo esteacutetico eacute sempre

naturalmente um juiacutezo de valor por isso gostar ou natildeo gostar de uma obra de arte eacute sempre

um juiacutezo em termos individuais logo um juiacutezo esteacutetico Eacute necessaacuterio fazer a leitura e

questionar acerca das informaccedilotildees que uma obra de arte nos possa oferecer Essa leitura eacute

feita por esteacutetica atraveacutes de uma recriaccedilatildeo esteacutetica de um objecto O objecto apresenta-se-nos

na sua materialidade e eacute preciso reconstituiacute-lo mentalmente dando-lhe a sua verdadeira

dimensatildeo esteacutetica Assim sendo uma obra de arte deve ser entendida em dois aspectos

Primeiro no plano da criaccedilatildeo que diz respeito ao criador em que o artista inscrever-se num

quadro complexo da relaccedilatildeo com a sociedade o mundo e a histoacuteria o segundo no plano da

funccedilatildeo esteacutetica que implica o espectador a relacionar-se com o processo complexo de

observar ler a obra de arte e encontrar a sua significaccedilatildeo

Ao realizar uma obra de arte o artista faz uma apresentaccedilatildeo do mundo e o espectador

liga-se a obra de arte por via esteacutetica natildeo utilitaacuteria ou pragmaacutetica exclusivamente mesmo

quando se trata de um objecto artiacutestico que tambeacutem tem a sua dimensatildeo funcional e natildeo pode

excluir-se a capacidade de a obra de arte acumular de forma intriacutenseca estes aspectos como a

27 Tawnsend Dubney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 Lisboa Sd Paacuteg 13

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 19: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

28

expressatildeo esteacutetica Estatildeo nesse caso a arquitectura que eacute a forma de arte em estudo que para

aleacutem da descoberta das qualidades e da mensagem intencional o espectador pode projectar

novas significaccedilotildees e sentidos que enriquece o proacuteprio acto de fruiccedilatildeo e de conhecimento

Portante a esteacutetica investiga a linguagem do analista da arte Falar de arte e esteacutetica

requer uma preacute-disposiccedilatildeo para compreender estes dois campos Temos de ser capazes de

olhar e ver por noacutes mesmos e conseguir exprimir o que observamos atraveacutes de uma dada

linguagem Como jaacute foi comentado anteriormente no acircmbito da perspectiva de Nietzsche ldquoa

eterna essecircncia da arte eacute a do geacutenio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se tornando

autor poeta e espectador ao mesmo tempordquo28

E ainda devemos ter igualmente a faculdade de

compreender e defender tanta a nossa proacutepria linguagem esteacutetica como a dos outros

28 Cf Supra Item 221 Primeiro paraacutegrafo Paacuteg 15

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 20: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

29

CAPIacuteTULO II

A ARQUITECTURA E A SUA JUSTIFICACcedilAtildeO NO CAMPO DA ESTEacuteTICA

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 21: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

30

1 Noccedilatildeo da Arquitectura no Acircmbito Esteacutetico

O nosso quotidiano eacute em grande parte determinado pela arquitectura que nos envolve

em casa no trabalho nas compras Mesmo durante os tempos livres passados na piscina no

estaacutedio de futebol ou no museu a arquitectura cria a necessidade envolvente edificada onde

nos movimentamos A sociedade seria inimaginaacutevel sem arquitectura

Fazendo nossas as ideias do jaacute citado autor Denis Huisman podemos dizer que ldquoA

esteacutetica no sentido restrito reside no conhecimento buscado pelo prazer que decorre no facto

de conhecer aplicando assim a todas as coisas conheciacuteveis a todos os sujeitos capazes de

conhecer com desinteresse e de gozar desse conhecimentordquo29

Deste modo a ela natildeo apontaria

somente para a arte mas igualmente para a natureza e de uma maneira geral para todas as

modalidades de beleza Sendo a arquitectura uma dessas modalidades de beleza surge daiacute a

sua justificaccedilatildeo no campo da esteacutetica

Entretanto para uma melhor compreensatildeo da abordagem a fazer nesse capiacutetulo

comeccedilando por definir a arquitectura temos a dizer que ela eacute a arte de projectar edifiacutecios com

qualidade esteacutetica

No campo esteacutetico ldquo(hellip) Enquanto pensamento teoacuterico a reflexatildeo sobre arquitectura

tem por tarefa compreender aquilo que na construccedilatildeo se daacute com excesso da sua realidade e

que justamente acaba por ser o valor esteacutetico do edifiacutecio Este excesso pode ser concebido

como pertencendo agrave ordem de significaccedilatildeo e do discurso Eacute atraveacutes da arquitectura que o

espaccedilo natural se transforma em espaccedilo comum onde e quando passam a existir iacutendices

significativas de viver comumrdquo30

Durante mais de um seacuteculo desde os meados do seacuteculo XVIII aos finais do seacuteculo

XIX a arquitectura foi dominado por uma sucessatildeo de ldquoestilo de revivecircncia ou de

ressurgimentordquo Mas o saber arquitectural do passado ainda que livremente interpretado

provocou com o decorrer dos tempos ser inadequado agraves necessidades do presente A

autoridade das formas histoacutericas tinham de ser quebradas para que a era industrial pudesse

criar um estilo verdadeiramente moderno

A busca deste estilo verdadeiramente moderno apenas se iniciou a seacuterio no seacuteculo XX

Carrega todo o poder do desenvolvimento da revoluccedilatildeo industrial e tira partido da tecnologia

para encontrar novos componentes do espaccedilo Este estilo exigia muito mais que uma simples

29 Huisman Denis Op Cit Paacuteg119

30 Auroux SW Yvonne Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd Paacuteg14

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 22: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

31

reforma da gramaacutetica e do vocabulaacuterio arquitectural Para tirar partido das qualidades

expressivas das novas teacutecnicas e materiais de construccedilatildeo que a engenharia lhe tinha

proporcionado a arquitectura necessitava de uma nova metodologia

O movimento moderno tinha como exigecircncia uma nova distribuiccedilatildeo da procura dos

bens arquitectoacutenicos isto eacute do aumento da produccedilatildeo construtiva da rapidez das alteraccedilotildees no

ambiente urbano e rural e de uma nova atitude criacutetica

O espiacuterito cientiacutefico interrompeu a continuidade da tradiccedilatildeo claacutessica e decompocircs a

actividade arquitectoacutenica nas suas componentes abstractas e ainda possibilitou tambeacutem a

procura mediata de uma nova orientaccedilatildeo e de um novo meacutetodo capaz de restabelecer a

integridade da experiecircncia arquitectoacutenica e o ambiente da cidade moderna

A principal influecircncia na arquitectura moderna foi a do suiacuteccedilo Le Corbusier um dos

fundadores do Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM) A concepccedilatildeo que

ele tem da arquitectura natildeo eacute uma mera ldquoconstruccedilatildeordquo eacute uma arte pura que explora o espaccedilo e

a forma atraveacutes do meio e da construccedilatildeo Segundo Le Corbusier ldquo os arquitectos natildeo devem

tomar a funccedilatildeo de um edifiacutecio como algo preacute-concebido e dado mas como algo que eacute em si

mesmo moldado pelo edifiacuteciordquo31

Esta ideia de valorizaccedilatildeo do trabalho do arquitecto atraiu

muito outros arquitectos que viram aiacute a possibilidade de construir um mundo novo Nesta

oacuteptica o arquitecto torna-se natildeo soacute o observador e servidor de funccedilotildees ordenadas mas o

criador de funccedilotildees novas papel que daacute a arquitectura e os arquitectos uma importacircncia muito

maior do que a de simples construtores desenhadores ou engenheiros

Para William Morris ldquoa arquitectura compreende a observaccedilatildeo de todo o meio fiacutesico

que rodeia a vida humana natildeo podemos furtar-nos a ela enquanto fizermos parte da

civilizaccedilatildeo dado que a arquitectura eacute um conjunto das modificaccedilotildees e das alteraccedilotildees

introduzidas na superfiacutecie terrestre tendo em vista as necessidades humanas com excepccedilatildeo

apenas do puro deserto (hellip)rdquo 32

Eacute importante realccedilar a importacircncia da arquitectura na organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico

tendo em conta as necessidades humanas

31 Graham Gordon OpCit Paacuteg 218 32 Morris William Aput Benevolo Leonardo Introduccedilatildeo Agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg16

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 23: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

32

2 O Espaccedilo Arquitectural como Linguagem Simboacutelica

21 A Importacircncia do Espaccedilo na Arquitectura

Numa perspectiva esteacutetica podemos dizer que ldquoPelas qualidades impessoais e ao

mesmo tempo funcionais a arquitectura estaacute a parte das outras artes parecendo requerer

actividades muito peculiar natildeo soacute pela criaccedilatildeo mas tambeacutem pelo prazer que se tem com

elardquo33

A arquitectura parece estar completamente agrave parte das outras formas de expressotildees

artiacutesticas devido a certos traccedilos que lhe satildeo peculiares Estaacute neste caso o espaccedilo Isto faz com

que a arquitectura se distancie das outras actividades artiacutesticas Ela opera atraveacutes de um

vocabulaacuterio tridimensional que inclui o homem enquanto que a pintura actua sobre duas

dimensotildees e a escultura sobre trecircs dimensotildees mas o homem fica de fora Por sua vez a

arquitectura eacute como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e

caminha

A arquitectura eacute dedicada ao espaccedilo E nesta oacuteptica afirma Bruno Zevi que ldquoO espaccedilo

natildeo somente eacute protagonista da arquitectura mas esgota a experiecircncia arquitectoacutenica eacute por

conseguinte a interpretaccedilatildeo espacial de um edifiacutecio eacute suficientemente como instrumento

criacutetico para julgar uma boa arquitecturardquo34

A arquitectura nos daacute o espaccedilo com trecircs dimensotildees capazes de conter a noacutes mesmos E

eacute este o verdadeiro centro desta arte Assim sendo a arquitectura tem o seu territoacuterio

particular e transmite um prazer que eacute tipicamente seu Ela possui o monopoacutelio do espaccedilo

Apenas a arquitectura entre todas as artes eacute capaz de dar ao espaccedilo o seu pleno valor Ela

pode nos rodear de um vazio de trecircs dimensotildees e o prazer que dela se consegue extrair eacute um

dom que soacute a arquitectura pode nos dar Portanto a arquitectura tem a ver directamente com o

espaccedilo utiliza-o como um material e coloca o homem no centro dele Os edifiacutecios satildeo lugares

onde os seres humanos vivem trabalham e adoram Neste sentido o espaccedilo eacute a essecircncia um

diaacutelogo da alma com o ldquoeurdquo que nos rodeia numa experimentaccedilatildeo tridimensional

A propoacutesito da acccedilatildeo que o espaccedilo exerce sobre noacutes o autor supracitado escreve que

este ldquo(hellip) pode dominar o nosso espiacuterito uma grande parte do prazer que recebemos da

33 Scruton Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd Paacuteg 14 34 Zevi Bruno Saber Ver a Arquitectura Lisboa DinalivrosMartins Fontes 1989 Paacuteg 25

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 24: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

33

arquitectura surge na realidade do espaccedilo Mesmo de um ponto de vista utilitaacuterio o espaccedilo eacute

logicamente o nosso fim Delimita-lo eacute o objectivo do construir Quando construiacutemos nada

mais fazemos a natildeo ser destacar uma conveniente quantidade de espaccedilo encerrando-o ou

protegendo-o A arquitectura surge dessa necessidade Esteticamente poreacutem o espaccedilo tem

uma importacircncia ainda maior o arquitecto modela-o como o escultor faz com o barro

desenha-o como obra de arte tenta enfim por intermeacutedio do espaccedilo suscitar um determinado

estado de espiacuterito nos que ldquoentrardquo nelerdquo35

Sendo assim uma bela arquitectura seraacute aquela

que tem um espaccedilo interior que nos eleva atrai espiritualmente

Ainda o referido autor reforccedila que ldquoO movimento eacute o valor que o espaccedilo tem para noacutes e

como tal entre na nossa consciecircncia fiacutesica Adoptamos instintivamente aos espaccedilos nos quais

estamos projectamos neles enchemo-nos idealmente com nossos movimentos Tomemos o

mais simples dos exemplos Quando entramos pelo fundo de uma nave comeccedilamos quase por

impulso a caminhar em frente porque assim exige o caraacutecter desse espaccedilo Ainda que estamos

parado a vista eacute levada a percorrer a perspectiva e nos a seguimos com imaginaccedilatildeo O espaccedilo

nos sugeriu o movimentordquo36

Na arquitectura a beleza de todo o edifiacutecio o valor espacial que se dirige ao nosso

sentido de movimento teraacute uma parte de primordial importacircncia Portanto o espaccedilo que nos

rodeia e nos inclui que faz o julgamento sobre o edifiacutecio que constituiu o ldquosimrdquo ou o ldquonatildeordquo

de toda a sentenccedila esteacutetica da arquitectura Se pensarmos um pouco a respeito o facto do

espaccedilo ser o protagonista da arquitectura eacute no fundo natural porque a arquitectura natildeo eacute

apenas arte nem soacute imagem da vida histoacuterica ou da vida vivida por noacutes e pelos outros mas eacute

tambeacutem e sobretudo o ambiente a cena onde vivemos a nossa vida Neste sentido o espaccedilo

natildeo eacute compreendido por uma funcionalidade antes pelo contraacuterio abrange outros conceitos

como o ldquocaraacutecterrdquo ou ldquorelaccedilatildeo de identificaccedilatildeo

Segundo Heidegger ldquoConstruir habitar pensar e editar pensar habitar pertencem sim

a experiecircncia do gosto e agrave relaccedilatildeo do lugar e do homem Eacute o habitar que depende do

conhecimento do espaccedilo existencial e tem um lugar distinto com o seu viver quotidianordquo37

Portanto para laacute da funcionalidade e a par desta existe uma poeacutetica de espaccedilo

arquitectoacutenico O espaccedilo eacute a essecircncia da arquitectura que se concretiza atraveacutes de aspectos

mateacuterias como a construccedilatildeo a linguagem compositiva a decoraccedilatildeo e ateacute mesmo o acto de

habitar ou seja de viver

35 Idem Op Cit Paacuteg 186

36 Ibidem

37 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 41

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 25: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

34

22 A Estrutura como Semiologia da Arquitectura

Cada vez se compreende melhor que o conteuacutedo da consciecircncia individual eacute dado ateacute agrave

sua maior profundidade pelos conteuacutedos da consciecircncia colectiva Por isso satildeo cada vez mais

importante o problema do signo e da significaccedilatildeo Nesta linha de pensamento Saussuere

escreve

ldquoSemiologia eacute um sistema de signos que exprime ideias e comparaacutevel por isso

mesmo agrave escrita ao alfabeto dos surdos ndash mudos aos ritos simboacutelicos agraves foacutermulas de

civilidade agraves ordens militares (hellip) eacute uma ciecircncia que estudo a vida dos signos no meio da

vida socialrdquo38

Querendo ver a arte numa perspectiva semioloacutegica Hegel considera que ela ldquo()

corresponde a uma necessidade primitiva que consiste na exteriorizaccedilatildeo das representaccedilotildees e

das ideias nascidas no espiacuterito da mesma forma que a linguagem natildeo eacute mais do que um meio

de que os homens se servem para comunicarem e tornarem inteligiacutevel uns aos outros o que

pensam imaginem e exprimem Mas na linguagem o meio de comunicaccedilatildeo eacute constituiacutedo por

um sinal quer dizer por qualquer coisa de exterior e arbitraacuterio A arte pelo contraacuterio natildeo pode

servir-se de simples sinais mas dar agraves significaccedilotildees uma presenccedila sensiacutevel correspondente A

obra de arte deve portanto ter por um lado um conteuacutedo interno e por outro representaacute-lo de

maneira a mostrar que este conteuacutedo natildeo eacute somente uma parte mais ou menos inteligente da

realidade exterior mas um produto resultante da representaccedilatildeo humanardquo39

A respeito dessas consideraccedilotildees feitas por Hegel podemos inferir que toda a arte se

constitui como uma linguagem A obra de arte eacute um conjunto intencional e ornado de

siacutembolos traccedilos imagens figuras formas iluminaccedilotildees e sinais emitidos pelo artista e que eacute

interpretado pelo espectador em termos de significaccedilatildeo Esta linguagem eacute altamente

subjectiva Pois eacute atraveacutes da arte que o artista comunica aos outros o que vem na alma

deixando as marcas da sua subjectividade dos seus sentimentos ideias desejos afectos

enfim a sua maneira de ser ver e pensar como tambeacutem marcas da sociedade onde estaacute

inserido seja essa linguagem transmitida atraveacutes da pintura escultura poesia arquitectura

neste caso no nosso objecto de estudo ou qualquer forma de expressatildeo artista

Diferentemente da liacutengua na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a revelar aos

outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por esta razatildeo

um siacutembolo isto eacute um objecto que possui um significante e um significado Pois na ldquo ()

38 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 274 39 Hegel Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores 1993 Paacuteg 356

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 26: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

35

liacutengua o som eacute o significante e a ideia o significado enquanto em arquitectura a forma eacute o

significante e o conteuacutedo eacute o significadordquo40

Quanto a pesquisa semioloacutegia da arquitectura esta teve dois iniciadores o primeiro o

historiador e criacutetico da arte Dorfles que entende ldquoa arquitectura como qualquer outra arte

pode ou melhor deve ser considerada como um conjunto orgacircnico ou ateacute certo ponto

institucionalizado de signos e como tal pode identificar-se pelo menos em parte com outra

qualquer estrutura linguiacutesticardquo41

A arquitectura para Dorfles eacute uma estrutura linguiacutestica isto

eacute um conjunto orgacircnico institucionalizado de signos Todas as criaccedilotildees arquitectoacutenicas satildeo

capazes de traduzir uma comunicabilidade clara Para ele a oposiccedilatildeo liacutenguapalavra natildeo tem

sentido no domiacutenio da organizaccedilatildeo espacial Opotildee-se a dicotomia da linguiacutestica

conotaccedilatildeodenotaccedilatildeo para iconologia - simboacutelicaiconologia-tipologia Ele fez esta distinccedilatildeo

para edificar uma teoria da perenidade da mensagem arquitectural como coacutedigo de mensagem

simboacutelica visto que este transcende a temporalidade Pois a iconologia esclarece os

problemas da visatildeo referindo-se aos siacutembolos visuais e ao esclarecimento dos significados das

formas e dos seus efeitos culturais condicionados por razotildees externas O segundo iniciador da

pesquisa semioloacutegica da arquitectura Norberg Shulz que fez ldquouma anaacutelise de que a teoria da

comunicaccedilatildeo podia facultar aos arquitectos de forma a que estes tivessem uma nova

compreensatildeo da sua praacuteticardquo42

23 Correntes da Semiologia Arquitectural

Teoria de Sentido ndash defendido por Baind que parte da distinccedilatildeo entre liacutenguapalavra

dizendo que ldquoliacutengua eacute um conjunto de regras na organizaccedilatildeo do espaccedilo construiacutedo e palavra

satildeo as combinaccedilotildees escolhidas e realizadasrdquo43

Segundo Baind o problema da arquitectura e

do ordenamento do espaccedilo consiste na utilizaccedilatildeo de palavras suficientemente carregada de

sentido isto eacute uma anaacutelise estrutural da relaccedilatildeo significantesignificado

Teoria da Descontinuidade ndash defendido por Kenneth Frampton que diz que ldquoa anaacutelise

simioloacutegica da arquitectura soacute cabe a uma sociedade sem histoacuteria ou preacute-industrial As

sociedades industriais fizeram ruptura pois os sistemas construiacutedos deixaram de se informar

40 Zevi Bruno Op Cit Paacuteg 256

41 Dufrenne Mikel A Esteacutetica e As Ciecircncias da Arte (Volume II) Amadora Liveraria Bertrand Sd Pg210 42 Idem Op Cit Paacuteg 211 43 Idem Op Cit Paacuteg 212

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 27: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

36

no sentido global passando assim a outros sistemas de informaccedilatildeo ou ainda as

telecomunicaccedilotildeesrdquo44

Segundo Frampton a velha sintaxe arquitectural (labor - construccedilatildeo e

work ndash arquitectura) desaparece com a revoluccedilatildeo industrial no sentido em que arquitectura

cede lugar ao conceito de alojamento

Teoria Formalista ndash defendida por Jencks na tentativa de fazer uma semiologia

estrutural da arquitectura defende que as unidades miacutenimas da liacutengua arquitectural tecircm uma

tripla articulaccedilatildeo ldquoTeria sido muito a propoacutesito que o explorador da arquitectura descobrisse

morfemas functemas e tecnemas unidades fundamentais da significaccedilatildeo arquitecturalrdquo45

Resta-nos dizer entatildeo que esta tripla articulaccedilatildeo a forma a funccedilatildeo e a teacutecnica satildeo trecircs

eixos semacircnticos do domiacutenio construiacutedo

Ainda o filoacutesofo italiano Umberto Eco escreve ldquoToda a verdadeira obra de arquitectura

traacutes qualquer coisa de novo Em arquitectura os estiacutemulos satildeo simultaneamente ideologias A

arquitectura conota uma ideologia do habitar pelo que se oferece no proacuteprio momento em que

persuade a uma leitura interpretativa capaz de levar a um acreacutescimo de informaccedilatildeordquo46

24 O Funcionalismo Arquitectural eacute Utilidade

Uma das grandes correntes espaciais da arquitectura moderna eacute o funcionalismo de

caraacutecter internacional surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

A arquitectura funcional respondeu na Ameacuterica e na Europa agraves exigecircncias mecacircnicas da

civilizaccedilatildeo industrial por isso proclamou os tabus do utilitarismo isto eacute da adesatildeo ao

objectivo praacutetico do edifiacutecio e da teacutecnica

Segundo Pierre Francastel funcionalismo ldquo (hellip) satildeo todas as arquitecturas que

estabeleccedilam uma relaccedilatildeo fixa entre certas formas de acccedilatildeo e os princiacutepios intelectuais e

econoacutemicos de uma eacutepoca Falar de funcionalismo natildeo eacute mais do que verificar a existecircncia de

um estilordquo47

44 Dufrenne Mikel A Esteacutetica E As Ciecircncias Da Arte (Volume II) Amadora Livraria Bertrand Sd Paacuteg 213 45

Idem Op Cit Paacuteg 214 46 Apud Zevi Op Cit Paacuteg 254 47 Francastel Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg119

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 28: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

37

O funcionalismo natildeo significa negar a propriedade dos valores esteacuteticos na arquitectura

mas sim estipular uma teoria compreensiva da natureza deles tendo em conta a verdadeira

experiecircncia da arquitectura a forma eacute inseparaacutevel da funccedilatildeo

A experiecircncia esteacutetica eacute nada mais que uma experiecircncia de funccedilatildeo (funccedilatildeo como ela

aparece) a forma deve exprimir tornar clara ou seja seguir a funccedilatildeo Os arquitectos

constroem um edifiacutecio sob certos constrangimentos funcionais Pois um edifiacutecio que natildeo

cumpre o objectivo preconizado pelo qual foi pensado eacute um falhanccedilo arquitectoacutenico

independentemente de qualquer meacuterito decorativo que possa ter

Entretanto eacute necessaacuterio dizer que ldquoO que contraria a perspectiva estreitamente utilitaacuteria

eacute que a forma dos edifiacutecios parece ser relevante Embora natildeo haja como escapar ao facto de

ser importante o modo como um edifiacutecio serve a sua funccedilatildeo os melhores edifiacutecios satildeo

elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparecircncia Por outras palavras

as pessoas natildeo se preocupam soacute com o modo como se satisfazem as suas funccedilotildees mas

tambeacutem com a aparecircncia do edifiacuteciordquo48

Quando admiramos um edifiacutecio natildeo podemos estar simplesmente a admirar o seu

aspecto porque se assim fosse bastaria somente um modelo Natildeo basta portanto que um

edifiacutecio seja elegante ou agradaacutevel agrave vista A apreciaccedilatildeo dos meios de construccedilatildeo escolhido

pelo arquitecto e a funccedilatildeo que o edifiacutecio destina eacute um componente essencial na arquitectura

Nesta linha de pensamento o arquitecto Frank Loyd Hright escreve ldquoA beleza da

arquitectura compunha-se de valores formais de equiliacutebrio de ordem e harmonia proporccedilatildeo

modelo riacutetmo e unidade (hellip) Na arquitectura as forccedilas que lhe datildeo formas externas satildeo

resultante das acccedilotildees humanas Essas acccedilotildees tecircm por sentido alcanccedilar uma adequaccedilatildeo natildeo soacute

utilitaacuteria mas sobretudo correspondente agrave necessidade do bem-estar psicoloacutegico do homem

nos seus componentes esteacuteticas e eacuteticasrdquo49

A arquitectura deve abranger tanto a forma como a funccedilatildeo mas a sua esteacutetica encontra-

se na forma dos edifiacutecios caso contraacuterio seria meramente utilidade

A finalidade da arquitectura funcional eacute exaltar a forma arquitectoacutenica o tema da

circulaccedilatildeo desenvolvida pela proacutepria configuraccedilatildeo da produccedilatildeo industrial E neste acircmbito

Hans Sadlmaier diz que ldquoA maacutequina com a sua poderosa mecacircnica converteu-se agora em

siacutembolo e modelo num profundo sentido eacute o espiacuterito da construccedilatildeo teacutecnica nele se baseia o

funcionalismo onde os edifiacutecios os utensiacutelios devem relacionar-se tatildeo directamente a um

48 Graham Gordon Op Cit Paacuteg 210 49 Consiglieri Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Lisboa Editorial Estampa 1970 Paacuteg 36

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 29: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

38

objectivo completamente determinado como uma parte da maacutequina agrave sua especial funccedilatildeo e a

sua forma evitando todos os aditamentos que natildeo sejam absolutamente necessaacuteriosrdquo50

50Sedlmaier Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd Paacuteg 101

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 30: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

39

CAPIacuteTULO III

ESTRUTURA E COMPOSICcedilAtildeO DA ARQUITECTURA DA ldquoIGREJA DE NOSSA

SENHORA DA LUZrdquo CIDADE DO MINDELO ndash SAtildeO VICENTE

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 31: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

40

1 Composiccedilatildeo visual da Cidade do Mindelo e Lugar Simboacutelico da Igreja

A imagem de uma cidade eacute para aleacutem de outras coisas algo para ser apreciado

lembrado e contemplado Recentemente dar forma visual agrave uma cidade eacute o problema do

design que preocupa os elementos moacuteveis especialmente agraves pessoas e as suas actividades

bem como as partes fiacutesicas e imoacuteveis O homem natildeo eacute apenas observador mas uma parte

activa da cidade

A cidade natildeo eacute apenas um objecto perceptiacutevel por milhares de diversas pessoas mas eacute o

produto de muitos arquitectos que constantemente modificam a estrutura por razotildees

particulares Assim a arte de dar forma agrave cidade visando um prazer esteacutetico natildeo pode estar

bastante distante da arquitectura Pode aproveitar dela grandes e valiosos contributos

A qualidade do ambiente visiacutevel de uma cidade deve-se concentrar especialmente

numa qualidade visiacutevel ou seja a aparente clareza Assim uma cidade legiacutevel seria aquela

cujas vias seriam facilmente identificadas demonstrando a organizaccedilatildeo da proacutepria cidade e

contribuindo na organizaccedilatildeo da mente do proacuteprio cidadatildeo e do seu bem-estar Esta

organizaccedilatildeo eacute fundamental para a beleza de uma cidade tal como para a proacutepria vida motora

visto que uma boa imagem de uma cidade daacute a quem a possui um sentido importante de

seguranccedila emocional estabelecendo uma relaccedilatildeo harmoniosa entre si e mundo exterior

Relativamente agrave cidade do Mindelo ilha de Satildeo Vicente na qual foi levada a essa

categoria pelo ldquoDecreto Reacutegio de 14 de Abril de 1879rdquo51

A cidade situa-se no litoral da Baia

do Porto Grande Eacute constituiacutedo por um uacutenico conselho (Concelho se Satildeo Vicente) e tambeacutem

de uma uacutenica freguesia (Nossa senhora da Luz)

Mindelo eacute uma cidade organizada e colorida Edifiacutecios com diferentes estilos

arquitectoacutenicos misturam-se formando um organismo vivo

O desenvolvimento de Mindelo fez-se a parte de duas grandes influencias a colonial e

a britacircnica denunciadas ao virar de cada esquina mas concretamente na arquitectura dos seus

admiraacuteveis edifiacutecios

Com maior destaque salientam-se alguns edifiacutecios do seacuteculo passado como a Igreja

matriz neste caso o nosso objecto de estudo o Palaacutecio do Povo (Figura 1) que chama a

51

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

Paacuteg 21

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 32: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

41

atenccedilatildeo de todo aquele que desembarca na cidade de Mindelo por causa da sua beleza

arquitectoacutenica

Fig 1 ndash Palaacutecio do Povo

Fonte A autora Maio de 2006

A famosa reacuteplica da Torre de Beleacutem de Lisboa (Figura 2) que eacute um vestiacutegio da arquitectura

manuelina em Cabo Verde

Figura 2 ndash Torre de Beleacutem

Fonte A autora Maio de 2006

Entre outros edifiacutecios receacutem recuperados como o Mercado Municipal (Figura 3) que

merecem um olhar atento do ponto de vista esteacutetico ndash filosoacutefico

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 33: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

42

Fig 3 ndash Mercado Municipal

Fonte A autora Maio de 2006

Em relaccedilatildeo a Igreja de Nossa Senhora da Luz ela estaacute localizada52

no centro da cidade

junto agrave Pracinha da Igreja Podemos com bastante rigor constactar que o nuacutecleo original da

cidade do Mindelo nasceu agrave volta do local da Igreja Por outras palavras a Igreja de Nossa

Senhora da Luz situa-se no ldquo coraccedilatildeordquo do Mindelo no centro histoacuterico que estaacute em volta da

Pracinha da Igreja rua Santo Antoacutenio rua Satildeo Joatildeo Ruas essas que estatildeo junto ao porto Foi

a partir da Igreja que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

ldquoO terreno ocupado por edifiacutecios habitacionais se expandiu a partir do local da Igreja para

Sul na direcccedilatildeo da praccedila independecircncia (praccedila estrela) para Oeste em direcccedilatildeo ao porto e

para Norte onde o limite da ldquorua de Lisboardquo foi ultrapassadordquo53

A construccedilatildeo da Igreja iniciou-se em ldquoSetembro de 1859 e terminou em 1863 mas a

inauguraccedilatildeo jaacute tivera lugar em 1862rdquo54

Podemos constactar isto no aacutetrio da Igreja (Figura 4)

na pedra onde estaacute gravada a data da sua inauguraccedilatildeo55

52 Cfr Anexo III 53 AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo Repuacuteblica de Cabo-

Verde Ediccedilatildeo do Fundo do Desenvolvimento Nacional- Coordenado pela soioacutelaga sueca Brita Papini 1984

paacuteg 24 54 AA Op Cit Paacuteg 38 55 Cfr Figura nordm4

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 34: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

43

Fig4 ndash Data da Inauguraccedilatildeo da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

Como podemos constatar essa Igreja levou trecircs anos para ser construiacuteda A construccedilatildeo

passou por vaacuterias etapas Primeiro comeccedilou com uma capela pequenina coberta de colmo

(palha) depois uma pequena Igreja ateacute a sua inauguraccedilatildeo no ano de 1862 Mas eacute importante

salientar que a Igreja que temos hoje natildeo eacute idecircntica a Igreja de 1862 Ela sofreu algumas

adaptaccedilotildees

2 A Problemaacutetica do Estilo na Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

Sendo a arquitectura da Igreja uma construccedilatildeo da segunda metade do seacuteculo XIX

eacutepoca em que vigorou o Neoclassicismo na Europa na Ameacuterica e nas diversas coloacutenias

europeias poderiacuteamos enquadraacute- la agrave primeira vista nesse estilo

O Neoclassicismo eacute uma corrente artiacutestica que se desenvolveu especialmente na

arquitectura e nas artes decorativas Surgiu na Itaacutelia floresceu na Franccedila e na Inglaterra e

estendeu para o resto dos paiacuteses europeus chegando ateacute na Ameacuterica gerada no contexto das

transformaccedilotildees (revoluccedilatildeo Industrial) surgidas ao longo do seacuteculo XVIII Acompanha o final

da idade moderna e o iniacutecio da eacutepoca contemporacircnea Muito das suas caracteriacutesticas e fontes

de inspiraccedilatildeo enraiacutezam no iluminismo oitocentista mas as novas propostas artiacutesticas

pretendem ciclo da arte claacutessica que o renascimento introduzira no seacuteculo XV e a sua

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 35: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

44

intenccedilatildeo eacute dar uma dimensatildeo permanente e universal a heranccedila que encontrou agora as suas

raiacutezes ancestrais renunciando todo o estilo barroco

O Neoclassicismo pretende dar um sentido coerente agrave relaccedilatildeo passadopresente Para

situar o presente os eruditos do seacuteculo XVIII procuram o fio condutor da histoacuteria e de um

passado onde a tradiccedilatildeo claacutessica foi estruturante Indirectamente eacute o presente que se quer

perspectivar

A arquitectura Neoclaacutessica caracteriza por uma grande ldquosimplicidade no que diz

respeito agrave composiccedilatildeo das fachadas e organizaccedilatildeo do espaccedilo A simetria eacute uma das regras

fundamentais e o formulaacuterio eacute construiacutedo pela recorrecircncia agrave linguagem claacutessica ordens

arquitectoacutenicas frontotildees triangulares simplicidade nas fachadas decoraccedilatildeo simples A

arquitectura neoclaacutessica destaca pela grande simplicidade e pureza das formasrdquo56

No que diz respeito a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz poderiacuteamos a

priori enquadra-la dentro do estilo neoclaacutessico por ser o estilo de arte que corresponde a eacutepoca

da sua construccedilatildeo Mas o estilo constituiu um problema porque natildeo sabemos ateacute que ponto

podemos considerar a arquitectura da Igreja uma arquitectura neoclaacutessica

Das quinze entrevistas57

efectuadas aos estudiosos e especialistas na arquitectura da

Igreja e ainda a uma outra aplicada ao Paacuteroco da mesma as opiniotildees divergem quanto a

problemaacutetica do estilo Vejamos alguns casos

O arquitecto Anildo Silva diz que ldquoa Igreja natildeo tem um estilo de arte definido

porque foram vaacuterias adaptaccedilotildees feitas agrave mesmardquo (entrevista concedida pelo

arquitecto Anildo Silva no dia 05102005 em Satildeo Vicente)58

Dr Moacyr Rodrigues docente no Instituto Superior Isidoro da Graccedila em Satildeo

Vicente afirma que ldquoo estilo presente na arquitectura da Igreja eacute o Goacutetico tardio

existente na arquitectura das Igrejas em Portugalrdquo (entrevista concedida pelo Dr

Moacyr Rodrigues no dia 051005 em Satildeo Vicente)59

56 JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Editorial Verbo 1979 Paacuteg259 57

Cfr O guiatildeo de entrevista no anexo I e II 58 Cfr Anexo I 59 Cfr Anexo I

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 36: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

45

Arquitecto Antoacutenio Jorge Delgado diz que ldquoa igreja eacute o estilo neoclaacutessico

presente nas igrejas do sul de Portugal principalmente em Alentejo (entrevista

concedida pelo arquitecto Antoacutenio Delgado dia 261006 em Satildeo Vicente)60

Bernardo Joatildeo Soares teoacutelogo e paacuteroco da igreja afirma que ldquohaacute uma mistura

de estilos na arquitectura da igrejardquo (entrevista concedida ao Paacuteroco da Igreja

no dia 240406 em Satildeo Vicente)61

Agora perguntamos Seraacute que a arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

enquadra a um dos estilos agrave cima referidos Interrogaccedilatildeo esta que procuraremos responder

no item a seguir ao analisarmos a composiccedilatildeo formal esteacutetica da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

3 Composiccedilatildeo Formal Esteacutetica da Arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da

Luz

Este ponto constitui a essecircncia do nosso trabalho pois eacute atraveacutes da sua anaacutelise que

iremos revelar algumas apreciaccedilotildees e contestaccedilotildees que vatildeo nos permitir responder a nossa

pergunta de partida Para isso passemos a uma anaacutelise descritiva com base nas figuras a

seguir apresentadas

31 Composiccedilatildeo Exterior

A Igreja de Nossa Senhora situa-se no centro urbano frente agrave Pracinha da Igreja

destacado numa plataforma dominante relativamente agrave via puacuteblica

De planta em forma rectangular simples cobertura diferenciada em telhados de duas

aacuteguas

Fachada principal de forma quadrangular simples com um portal alto ao centro

ornamentado com ombreiras e lintel em maacutermore encimado de uma janela alta com

contornos muito semelhantes com os do frontatildeo Este com caracteriacutestica tipicamente aacuterabe

diferente dos frontotildees do estilo neoclaacutessico que satildeo triangulares

60 Cfr Anexo I 61 Cfr Anexo II

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 37: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

46

Haacute uma simetria na fachada principal marcada pelo eixo vertical formado pelo frontatildeo

pela janela e pelo ornamento do lintel da porta Este eixo divide de forma equidistante as duas

torres na fachada principal encimados com elementos ornamentais em forma de agulha

apontadas para o ceacuteu chamados pinaacuteculos

Fig 5 ndash Fachada Principal

Fonte A autora Maio 2006

Fachada lateral direita de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de

arco de volta perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma

calha para despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

Fig 6-Fachada lateral direita

Fonte A autora Maio de 2006

Fachada lateral esquerda com a mesma composiccedilatildeo da fachada lateral direita Assim

sendo ela eacute de forma rectangular simples com duas janelas e uma porta de arco de volta

perfeita Platibanda com biqueira que eacute um elemento que se projecta de uma calha para

despenjar de um edifiacutecio as aacuteguas pluviais acumuladas na cobertura

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 38: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

47

Fig 7- Fachada lateral esquerda

Fonte A autora Maio 2006

Fachada posterior onde podemos observar trecircs divisotildees Sendo a primeira divisatildeo de

forma quadrangular simples com uma porta e uma janela de verga recta Eacute onde fica a

sacristia e que na sua parte superior possui uma torre sineira A segunda divisatildeo de forma

quadrangular simples com dois balancins para ventilar o interior da Igreja impena resultante

do prolongamento das duas aacuteguas do telhado da Igreja e a terceira divisatildeo tambeacutem de forma

quadrangular simples um pouco desnivelada em relaccedilatildeo a primeira e segunda divisatildeo com

uma janela de verga recta onde se encontra o salatildeo paroquial

Fig 8 - Fachada posterior

Fonte A autora Maio de2006

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 39: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

48

Quadro 1 Leitura da Composiccedilatildeo Exterior da Igreja

Implantaccedilatildeo Urbano no centro da cidade junto agrave

Pracinha da Igreja

Tipologia Funcional Religiosa cristatilde

Patrono Nossa Senhora da Luz

Materiais e Teacutecnica de Construccedilatildeo Pedra e madeira paredes autoportantes

Linguagem arquitectoacutenica Ecleacutetica mistura do estilo neoclaacutessico e

aacuterabe

Composiccedilatildeo da fachada principal Forma quadrangular simples simeacutetrica com

um portal uma janela um frontatildeo e duas

torres

Composiccedilatildeo da fachada lateral direita Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada lateral esquerda Forma rectangular simples com duas janelas

e uma porta de arco de volta perfeita com

platibanda

Composiccedilatildeo da fachada posterior Com trecircs divisotildees marcando diferentes

eacutepocas

Tipologia espacial Planta em forma rectangular simples

Fonte A autora

32 Composiccedilatildeo Interna

De planta rectangular simples com algumas adaptaccedilotildees feitas ao longo dos anos

como alargamento da Sacristia e a construccedilatildeo do chamado Salatildeo Paroquial A Igreja eacute

composta por um adro um baptisteacuterio um coro uma nave central e um altar-mor

No adro da Igreja uma cortina de cor amarela escura que serve de guarda-vento agrave

Igreja

Agrave esquerda uma porta de arco de volta inteira que daacute acesso ao baptisteacuterio local onde

se encontra a pia baptismal para a celebraccedilatildeo do baptismo agrave direita uma porta tambeacutem de

arco de volta inteira que daacute acesso a escada para o coro O coro eacute habitualmente o lugar onde

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 40: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

49

um grupo de pessoas se concentra para animar a eucaristia com cacircnticos Com pavimento em

laje em betatildeo com uma balaustrada em mogno A iluminaccedilatildeo eacute feita atraveacutes dos vitrais da

janela da fachada principal

A nave de espaccedilo uacutenico com pavimento em maacutermore perpendicular ao altar-mor no

sentido longitudinal mobilado de grandes bancos em madeira Elevaccedilotildees laterais com

pilastras e vitrais que para aleacutem de servirem de auxiacutelio na distribuiccedilatildeo das cargas do telhado

e de iluminar o corpo da Igreja respectivamente tecircm a funccedilatildeo de embelezar o interior da

mesma Nos cantos laterais dois altares No canto lateral esquerdo um altar dedicado agrave

imagem de Nossa Senhora da Luz o patrono da paroacutequia e no lateral direito um altar

dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio

Agrave dois degraus da nave um arco cruzeiro que divide a nave do altar-mor onde vamos

encontrar o presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a eucaristia A sua

esquerda a estaacutetua de Nossa Senhora de Faacutetima e a sua direita a estaacutetua de Satildeo Joseacute A um

niacutevel mais elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do altar-mor

(altar principal) em que no seu centro haacute uma tela de Nossa Senhora da Luz e o menino

Jesus a sua esquerda a estaacutetua de coraccedilatildeo de Jesus a sua direita a estaacutetua de Satildeo Vicente o

padroeiro

Fig 9 ndash Interior da Igreja

Fonte A autora Maio de 2006

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 41: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

50

33 Anaacutelise Descritiva dos Diferentes Elementos Ornamentais Existentes no Interior da

Igreja

Para o melhor visionamento dos diferentes ornamentos existentes no interior da Igreja

passemos a uma anaacutelise descritiva daqueles que consideramos mais relevantes

331 A Pia Baptismal

A pia baptismal estaacute no centro do baptisteacuterio lugar onde se celebra o baptismo Assente

sobre uma pedra em maacutermore de peacute alto e taccedila hemisfeacuterica em maacutermore com molduras em

forma de conchas

Fig10 ndash Pia Baptismal

Fonte A autora Maio de 2006

332 O Forro

Forro em trecircs planos em tracejamentos em madeira no sentido longitudinal de cor

azul celeste No centro uma tela de Nossa Senhora da Luz pintura datada de 1955 por um

pintor cabo-verdiano de nome Seacutergio frosoni descendente de pais italianos A tela estaacute

ladiada por dois lustres

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 42: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

51

Fig11 ndash O Forro

Fonte A autora Maio de 2006

333 Os Vitrais

Os vitrais transmitem um caraacutecter de misteacuterio Haacute um atractivo da luz natural que daacute

cor aos vitrais A beleza da luz natural que ilumina os vitrais reflecte no interior da Igreja

dando-lhe uma outra beleza Os vitais datildeo ao interior da Igreja um ambiente quente dourado

luminoso que harmonizam com os toques da cor da arquitectura

Fig12 ndash Os Vitrais

Fonte A autora Maio de 2006

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 43: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

52

334 Os Altares Laterais

a) Altar lateral esquerdo

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora da Luz (figura 14) patrono da

paroacutequia tem essa significaccedilatildeo porque eacute a matildee de Jesus e este eacute luz que ilumina o espiacuterito do

homem Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e pilastras No

centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do

arco de volta perfeita O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo colunas

salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco

em cesto (semi-eliacuteptico) Na parte superior do nicho um tipo de ornamento simples que

constitui uma caracteriacutestica do estilo proacuteprio neoclaacutessico

Fig13 ndash Altar lateral esquerdo

Fonte A autora Maio de 2006

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 44: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

53

Fig14 ndash Patrono da Paroacutequia

Fonte A autora Maio de 2006

b) Altar lateral direito

Este altar eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do Rosaacuterio que tem nas matildeos um

rosaacuterio Egrave esculpida em madeira Foi uma oferta dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de

Nossa Senhora da Luz Neste altar os ornamentos satildeo concebidos sobre formas de colunas e

pilastras No centro um nicho redondo enquadrado na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela

presenccedila do arco de volta perfeita Este nicho eacute dedicado agrave imagem de Nossa Senhora do

Rosaacuterio que tem nas matildeos um rosaacuterio Eacute esculpida em madeira muito rica Foi uma oferta

dos cristatildeos do Rio de Janeiro agrave paroacutequia de Nossa Senhora da Luz O proacuteprio nicho estaacute

enquadrado por ornamentos do tipo colunas c salomocircnicas com inspiraccedilatildeo neoclaacutessica na

terminaccedilatildeo designadamente os capiteacuteis e o arco de volta em cesto (semi ndash eliacuteptica) Na parte

superior do nicho um tipo de ornamento simples que constitui uma caracteriacutestica do estilo

proacuteprio neoclaacutessico

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 45: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

54

Fig15 ndash Altar lateral direito

Fonte A autora Maio de 2006

335 Altar ndash mor

No altar-mor temos um presbiteacuterio que eacute o local de onde os sacerdotes celebram a

eucaristia A um niacutevel elevado feito por um desnivelamento de quatro degraus o fundo do

altar-mor (altar principal) No centro um nicho redondo com uma tela de Senhora da Luz e o

menino Jesus enquadrada na gramaacutetica decorativa neoclaacutessica pela presenccedila do arco de volta

inteira O proacuteprio nicho estaacute enquadrado por ornamentos do tipo pilastras e colunas lisas

adoccediladas agrave parede de inspiraccedilatildeo neoclaacutessica desde a base ateacute aos capiteacuteis encimado por um

arco em cesto (semi-eliacuteptico) A sua direita uma estaacutetua de Satildeo Vicente o padroeiro e agrave sua

esquerda a estaacutetua do sagrado coraccedilatildeo de Jesus

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 46: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

55

Fig17 ndash Altar ndash mor

Fonte A autora Maio de 2006

4 O Significado Simboacutelico da Arquitectura da Igreja Nossa Senhora da Luz

Como jaacute foi dito no capiacutetulo anterior na arquitectura um edifiacutecio que eacute destinado a

revelar aos outros uma significaccedilatildeo natildeo tem outro fim do que essa revelaccedilatildeo e constituiu por

esta razatildeo um siacutembolo

No caso da arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz para aleacutem da sua

iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu aspecto exterior desde a grande

cruz das suas torres do frontatildeo passando pela sua janela alta ateacute chegar ao portal mais

fundamentalmente a proacutepria existecircncia da Igreja nos revela a finalidade religiosa do edifiacutecio

ou seja a sua arquitectura funcional ao nosso ver o significado simboacutelico reside

essencialmente na forma como o foi construiacutedo

Referindo-se ao edifiacutecio o interior eacute a parte mais representativo da beleza esteacutetica

Sobretudo a sua arquitectura com caracteriacutesticas que demostram uma linguagem clara do

passado capaz de transmitir aos outros uma mensagem proacutepria da sua eacutepoca Existe uma

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 47: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

56

simetria total uma busca de perfeiccedilatildeo de proporccedilatildeo de rigor na ordem matemaacutetica isto eacute

caracteriacutesticas tipicamente da arquitectura claacutessica

Encontramos no interior da igreja arcos tatildeo perfeitos como se fossem feitos com reacutegua

esquadro e compasso isto eacute uma geometrizaccedilatildeo na organizaccedilatildeo das formas sem deixar de

falar nas colunas nas pilastras nos nichos nos vitrais que tecircm por si algo de misterioso

enfim uma decoraccedilatildeo demasiadamente simples mas muito bela

Entatildeo perguntamos esse conjunto harmonioso de elementos ornamentais que existe

no interior da Igreja natildeo tem um significado Natildeo transmite uma mensagem Natildeo tem

uma beleza em si mesma

Outro traccedilo distintivo do significado simboacutelico da arquitectura da Igreja estaacute na sua

proacutepria conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Apesar das vaacuterias remodelaccedilotildees o interior da Igreja

manteacutem sempre o mesmo ldquorostordquo

Eacute importante realccedilar o papel preponderante que o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

teve quanto das restauraccedilotildees feitas na mesma preocupando sempre com as linhas primitivas

das construccedilotildees iniciais Isso fez com que a Igreja mantivesse sempre a mesma configuraccedilatildeo

mantendo a ideia do passado no presente Como afirma o paacuteroco da Igreja Bernardo Soares

ldquotudo o que eacute da Igreja fica na Igreja ela pode ser restaurada mas nunca reconstruiacuteda por

isso os arquitectos devem trabalhar com bom gosto pois a arte ajuda na oraccedilatildeo A religiatildeo e a

esteacutetica estatildeo intimamente ligadas Em primeiro lugar o povo gosta porque eacute um lugar de

culto em segundo lugar sente atraiacutedo pela beleza arquitectoacutenica da Igrejardquo62

(Entrevista

concedida pelo paacuteroco da Igreja Bernardo Soares em 24 de Abril de 2006 em Satildeo Vicente)

Para aleacutem da arquitectura da Igreja transmitir uma linguagem proacutepria da sua eacutepoca

embelezar e personificar a cidade tambeacutem constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico por isso

ela deve ser preservada e quando for necessaacuterio restauraacute-la mas nunca altera-la no que

concerne a sua tipologia o seu aspecto exterior e interior pois esses edifiacutecios caracterizem

uma cidade

62 Cfr Anexo II

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 48: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

57

CONCLUSAtildeO

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 49: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

58

Conclusatildeo

A conclusatildeo de um trabalho de investigaccedilatildeo pode natildeo significar necessariamente o fim de

um processo de investigaccedilatildeo Antes pelo contraacuterio pode significar o comeccedilo de uma nova

etapa de investigaccedilatildeo

Primeiramente comeccedilamos por dizer que foi bastante gratificante investigar um tema desta

envergadura natildeo soacute pela sua afirmaccedilatildeo no campo da esteacutetica mas principalmente pelo

contributo que este possa vir a dar no desenvolvimento da cidade que nos viu nascer

Apoacutes o levantamento bibliograacutefico a observaccedilatildeo directa e cuidada da arquitectura da

Igreja a anaacutelise descritiva de alguns ornamentos considerados relevantes e sem deixar de fazer

o devido tratamento dos dados recolhidos chegamos as seguintes conclusotildees

Sendo a esteacutetica uma reflexatildeo do belo nas diferentes formas de produccedilatildeo artiacutestica e

sendo a arquitectura uma delas entatildeo ela constitui um problema urgente no campo da

esteacutetica

Egrave impossiacutevel imaginar a imagem de uma cidade sem pensar nos seus edifiacutecios pois satildeo

eles que personificam caracterizam e configuram uma cidade e Mindelo natildeo foge a

regra Ela estaacute caracterizada pelos seus diferentes traccedilos arquitectoacutenicos

A arquitectura da Igreja teve um papel preponderante na edificaccedilatildeo da cidade pois foi

atraveacutes dela que foram construiacutedas as primeiras habitaccedilotildees e traccediladas as primeiras ruas

No que concerne a problemaacutetica do estilo presente na arquitectura da Igreja haacute um

distanciamento entre o interior o exterior no exterior estaacute presente um ecletismo ou

seja uma mistura do estilo neoclaacutessico com o estilo aacuterabe enquanto que no interior o

estilo eacute tipicamente neoclaacutessico

Se a esteacutetica eacute reflexatildeo do belo busca de harmonia de perfeiccedilatildeo podemos dizer que

existe uma esteacutetica na arquitectura da Igreja Essa esteacutetica eacute claramente demostrada no

seu interior parte mais significativo dessa esteacutetica pois eacute onde haacute uma melhor

preservaccedilatildeo das caracteriacutesticas da sua eacutepoca e ainda eacute onde os ornamentos satildeo mais

evidentes Estes satildeo um dos aspectos relevantes para que a arquitectura da Igreja

mantenha a sua originalidade Natildeo obstante os acreacutescimos feitos posteriormente agrave

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 50: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

59

Igreja natildeo tecircm nenhum diaacutelogo com a arquitectura inicial no que concerne a tipologia

ao volume e aos ornamentos e isso levou a uma descaracterizaccedilatildeo da arquitectura da

Igreja

Ao nosso ver para aleacutem da iconografia religiosa que se evidencia claramente no seu

aspecto exterior na sua arquitectura funcional o significado simboacutelico reside

fundamentalmente no seu interior sobretudo na sua arquitectura com caracteriacutesticas

que transmitem uma heranccedila clara do passado

Para aleacutem do significado simboacutelico e da esteacutetica presente na arquitectura da Igreja ela

constitui um patrimoacutenio arquitectoacutenico e como tal deve ser preservado e quando for

necessaacuteria restaura-la mantendo sempre a ideia do passado no presente

Relativamente ao estado de conservaccedilatildeo podemos dizer que tantas as fachadas como o

interior da Igreja estatildeo num bom estado de conservaccedilatildeo

Finalizamos este trabalho sublinhando que para noacutes seria motivo de grande satisfaccedilatildeo se o

mesmo pelo menos venha a constituir um documento esteacutetico-filosoacutefico que levaria os satildeo-

vicentinos e natildeo soacute a populaccedilatildeo cabo-verdiana em geral a assumir o verdadeiro valor esteacutetico dos

edifiacutecios neste caso concreto a Igreja de Nosso Senhora da Luz

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 51: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

60

GLOSSAacuteRIO

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 52: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

61

Glossaacuterio

Todos os termos constantes do presente glossaacuterio satildeo utilizados no trabalho Este

glossaacuterio natildeo substitui um dicionaacuterio Natildeo procura fornecer definiccedilotildees ou explicaccedilotildees

exaustivas dos termos listados nem pode substituir a definiccedilatildeo contextualizada decorrente da

leitura do trabalho Pretende-se sim prestar algum auxiacutelio adicional ao leitor na compreensatildeo

de certos termos teacutecnicos

Adro ndash entrada de um edifiacutecio

Altar ndash mesa em uma Igreja sobre a qual eacute celebrada a eucaristia

Aacutetrio ndash paacutetio agrave frente de uma entrada de um edifiacutecio

Arquitectura ndash eacute a arte de projectar edifiacutecios com qualidade esteacutetica

Balaustrada ndash barreira composta por um corrimatildeo apoiado em balauacutestres espaccedilados

entre si

Baptisteacuterio ndash parte de uma Igreja ou construccedilatildeo agrave parte na qual eacute administrado o

baptismo

Belo ndash algo que estimula a sensibilidade e que eleva a sensaccedilotildees sublimes

Capitel ndash topo de uma coluna

Coluna ndash elemento estrutural riacutegido relativamente delgado destinado a suportar as

cargas axiais

Coro ndash parte de uma Igreja reservado aos cantores do coro

Eixo ndash linha recta que serve como referencial de medida ou simetria para os elementos

de uma composiccedilatildeo

Emoccedilatildeo esteacutetica ndash eacute a emoccedilatildeo suscitada no espectador pela obra de arte ou por

objectos naturais Uma vez que a esteacutetica se ocupa da apropriaccedilatildeo subjectiva de um

objecto os sentimentos ou as emoccedilotildees constituem as formas centrais que a esteacutetica

assume

Espaccedilo ndash campo tridimensional que abriga objectos e eventos e tem posiccedilatildeo e

direcccedilatildeo relativa

Esteacutetica ndash ramo da filosofia que trata da natureza da arte da beleza e do gosto com

vista a estabelecer o significado e a validade dos julgamentos criacuteticos de obras de arte

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 53: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

62

Estilo ndash forma particular ou distintiva de expressatildeo artiacutestica

Experiecircncia esteacutetica ndash satildeo experiecircncia que o observador tem ao observar coisas belas

ou obras de arte Alguns filoacutesofos defendem que a esteacutetica consiste na anaacutelise e

discussatildeo desse tipo de experiecircncia Egrave por vez caracterizada como forma de

contemplaccedilatildeo

Fachada ndash face de um edifiacutecio que daacute para uma via puacuteblica

Funcionalismo ndash surgiu na Ameacuterica na deacutecada de 198090 Eacute uma teoria esteacutetica que

pretende justificar a beleza de um objecto relacionado a forma com a funccedilatildeo

Frontatildeo ndash remate de uma parede de empena para ocultar as declividades de um

telhado

Juiacutezo esteacutetico ndash eacute a apreciaccedilatildeo ou valorizaccedilatildeo que fazemos acerca de objectos

esteacuteticos e que traduzem numa afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo Os juiacutezos de gosto como os

juiacutezos a cerca do belo da arte satildeo exemplos de juiacutezos esteacuteticos

Laje ndash Estrutura plana e riacutegida de concreto

Lintel ndash viga que sustenta o peso de uma porta ou janela

Nave ndash parte central de uma Igreja

Neoclassicismo - eacute uma corrente artiacutestica que surgiu na Itaacutelia e desenvolveu

especialmente na arquitectura e nas artes decorativa

Nicho ndash eacute o local onde se coloca as imagens dos santos

Objectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende a existecircncia de propriedades

esteacuteticas nos proacuteprios objectos propriedades que natildeo dependem dos sentimentos das

pessoas que os apreciam

Objecto esteacutetico ndash eacute uma obra de arte ou algum objecto natural que provoca no

espectador uma certa sensibilidade

Ombreira ndash qualquer um dos lados verticais de uma passagem em arco de uma porta

Ornamento ndash acessoacuterio peccedila ou detalhe que confere graccedila ou beleza a algo

Pia baptismal ndash bacia normalmente de pedra que guarda a aacutegua utilizada no

baptismo

Pilastra ndash elemento rectangular de pouca profundidade que se protege de uma parede

provinda de uma base e um capitel

Pinaacuteculo ndash estrutura vertical subordinada que termina em uma piracircmide ou flecha

Platibanda ndash parede protectora baixa na extremidade de um terraccedilo balcatildeo ou

cobertura especialmente aquela parte de uma parede exterior

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 54: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

63

Presbiteacuterio ndash eacute o local onde ficam os sacerdotes durante a celebraccedilatildeo eucariacutestica

Sacristia ndash sala onde satildeo mantidos os recipientes sagrados e os paracircmetros do culto de

uma Igreja

Semiologia ndash ciecircncia proposta pelo linguista Ferdinand de Saussure Pode ser

defendida como o estudo sistemaacutetico do signo

Sensibilidade ndash eacute a faculdade humana de captar os objectos atraveacutes dos oacutergatildeos dos

sentidos e de os serem interpretados pela razatildeo

Signo ndash eacute um objecto portador de uma mensagem composta por um significante e um

significado

Simetria ndash exacta correspondecircncia de tamanhos formas e arranjos das partes nos

lados opostos de uma linha ou plano divisoacuteria

Subjectivismo esteacutetico ndash doutrina esteacutetica que defende que a beleza natildeo esta nas

propriedades dos objectos mas nos sentimentos que tais objectos despertam no

espectador portanto pode variar de pessoa para pessoa

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 55: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

64

BIBLIOGRAFIA

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 56: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

65

LISTAGEM BIBLIOGRAacuteFICA

AA Linhas Gerais da Histoacuteria do Desenvolvimento Urbano da Cidade do

Mindelo Repuacuteblica de Cabo Verde Ediccedilatildeo do Fundo de Desenvolvimento

Nacional ndash coordenada pela socioacuteloga sueca Brita Papini 1984

AA Dicionaacuterio de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Porto Porto Editora 2000

AUROUX SW Yvone Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Ediccedilotildees Asa Sd

BAYER Raimond Histoacuteria da Esteacutetica Lisboa Editorial Estampa 1978

BENEVOLO Leonardo Introduccedilatildeo agrave Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CALABRESE Omar A linguagem da arte Lisboa Editorial Presenccedila 1986

CHING D K Dicionaacuterio Visual de Arquitectura Satildeo Paulo Editora Martins

Fontes 1999

CHOLUMEAU Jean Luck As Teorias da Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

CONSIGLIERE Victor A Morfologia da Arquitectura (Volume I) Sl Editorial

Estampa 1997

CRESPI Franco Manuel Sociologia Da Cultura (1ordf Ediccedilatildeo) SL Editorial

Estampa 1997

DUFRENNE Mikel A Esteacutetica e as Ciecircncias da Arte (Volume I) Amadora

Livraria Bertrand

-------------------------- A Esteacutetica e as Ciecircncias das Arte (Volume II) Amadora

Livraria Bertrand

FRANCASTEL Pierre Arte e Teacutecnica Lisboa Ediccedilatildeo Livros do Brasil Sd

LEGRAND Gerand A Arte do Renascimento Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

GRAHAM Gordan Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica Ediccedilotildees 70 1997

HEIDEGGER Martin A Origem da Obra de Arte Lisboa Ediccedilotildees 70 1992

HEGELGWF Esteacutetica Lisboa Guimaratildees Editores Sd

HUISSMAN Denis A Esteacutetica Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

JANSONHW Histoacuteria da Arte Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian (6ordf

Ediccedilatildeo) 1998

JORDAN R Furneaux Histoacuteria da Arquitectura no Ocidente Sl Editorial

Verbo 1979

KANT Immanuel Critica da Faculdade do Juiacutezo Sl Estudos Gerais Seacuterie

Universitaacuteria ndash Claacutessicos de Filosofia Sd

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 57: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

66

LAMAS Joseacute M Ressano Garcia Morfologia Urbana e Desenho Da Cidade

Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian Sd

MORAIS Marcelo Roteiro da Arte Portuguesa Lisboa Colecccedilatildeo Educativa

Sd

MUKAROumlVSKYacute Jean Escritos Sobre Esteacutetica e Semioacutetica da Arte Lisboa

Editorial Estampa1988

NIETZSCHE Frederico A Origem da Trageacutedia Lisboa Guimaratildees editores

1996

PLATAtildeO A Repuacuteblica (9ordf Ediccedilatildeo) Lisboa Editora Calouste Gulbenkian Sd

READ Herbert O Sentido da Arte Portugal (2ordf Ediccedilatildeo) sl Editora

Ulisseia Sd

RUNES Dagobert Dicionaacuterio de Filosofia Lisboa Editorial Presenccedila 1990

SEDLMAYR Hans A Revoluccedilatildeo da Arte Moderna Lisboa Ediccedilotildees Livros do

Brasil Sd

SCRUTON Roger Esteacutetica da Arquitectura Lisboa Ediccedilotildees 70 Sd

TOWNSEND Dobney Introduccedilatildeo agrave Esteacutetica ndash histoacuteria teorias e correntes

Lisboa Ediccedilotildees 70 1997

ZEVI Bruno Saber Ver a Arquitectura Sl Dinalivros Martins Fontes1989

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 58: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

67

ANEXOS

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 59: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

68

ANEXO I

Guiatildeo de entrevista aplicada junto de estudiosos e especialistas em Satildeo Vicente

na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 60: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

69

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destinada aos estudiosos e especialistas residentes em Satildeo Vicente na

arquitectura da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigada pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 61: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

70

ANEXO II

Guiatildeo de entrevista aplicada ao Paacuteroco da Igreja Bernardo Soares residente em

Satildeo Vicente na arquitectura da Igreja de Nossa Senhora da Luz

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 62: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

71

Instituto Superior de Educaccedilatildeo

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA E FILOSOFIA

Esta entrevista destina-se a uma pesquisa de trabalho de investigaccedilatildeo sobre o tiacutetulo

ldquoUma avaliaccedilatildeo esteacutetica ndash filosoacutefica da arquitectura mindelense o caso da Igreja de

Nossa Senhora da Luzrdquo e tem como objectivo a obtenccedilatildeo do grau de Licenciatura em

ensino de filosofia pelo Instituto Superior de Educaccedilatildeo (ISE)

Guiatildeo de entrevista destina ao Paacuteroco Bernardo Soares na arquitectura da ldquoIgreja de Nossa

Senhora da Luzrdquo

1 A arquitectura da Igreja pode ser considerada uma obra de arte Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2 Em qual dos estilos de arte a arquitectura da igreja se enquadra

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 A arquitectura da Igreja eacute vista como objecto esteacutetico Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4 Onde reside a beleza da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5 A Igreja ainda manteacutem a originalidade da sua arquitectura primitiva

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6 Como foi possivel preservar haacute muito tempo da sua existecircncia os aspectos da sua

arquitectura

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7 Qual o significado simboacutelico da arquitectura da Igreja

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 63: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

72

8 O edifiacutecio da Igreja pode ser considerado um patrimoacutenio arquitectoacutenico

Porquecirc

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Obrigado pela sua

colaboraccedilatildeo

A autora

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 64: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

73

ANEXO III

Planta de localizaccedilatildeo da ldquoIgreja de Nossa Senhora da Luzrdquo

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente

Page 65: INTRODUÇÃO - portaldoconhecimento.gov.cv P… · 13 observação directa da arquitectura da Igreja, seguida de fotografias, sem deixar de fazer uma análise qualitativa dos dados

74

PLANTA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Fonte Cacircmara Municipal de Satildeo Vicente