PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
Bárbara Monteiro Costa Carvalho
MÍDIA SOCIAL: um estudo das relações dos padrões de beleza com os transtornos
alimentares
Belo Horizonte
2016
Bárbara Monteiro Costa Carvalho
MÍDIA SOCIAL: um estudo das relações dos padrões de beleza com os transtornos
alimentares
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Comunicação Social.
Linha de pesquisa: Linguagem e Mediação
sociotécnica
Orientador: Prof. Dr. Julio Pinto
Belo Horizonte
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Carvalho, Bárbara Monteiro Costa
C331m Mídia social: um estudo das relações de padrões de beleza com os
transtornos alimentares / Bárbara Monteiro Costa Carvalho. Belo Horizonte,
2016.
84 f. : il.
Orientador: Júlio Pinto
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
1. Facebook (Rede social on-line). 2. Interação social. 3. Distúrbios
alimentares. 4. Bulimia. 5. Anorexia. 6. Beleza física (Estética). I. Pinto, Júlio. II.
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação
em Comunicação Social. III. Título.
CDU: 659.3
Bárbara Monteiro Costa Carvalho
MÍDIA SOCIAL: um estudo das relações dos padrões de beleza com os transtornos alimentares.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Comunicação.
_____________________________________________________
Prof. Dr. Julio Pinto (Orientador) – PUC Minas
_____________________________________________________
Prof. Dra. Maria Ângela Matos – PUC Minas
_____________________________________________________
Prof. Dr. Bruno Vasconcelos – PUC MINAS
_____________________________________________________
Prof. Dra. Terezinha Cruz (Suplente)– PUC MINAS
Belo Horizonte, 30 de agosto de 2016.
AGRADECIMENTOS
Ao corpo docente do PPG-COM da PUC, pelo voto de confiança em minha formação. À
Isana e a Camila, pela presteza de sempre. Ao Professor Doutor Júlio, pelo tempo dedicado à
orientação deste trabalho, por sua paciência, carinho, ânimo de sempre durante nossa
convivência e estimulo a superação das dificuldades encontradas. Aos professores Doutores
Bruno Vasconcelos, da PUCMINAS e Professora Doutora Maria Ângela Matos, da
PUCMINAS, pela participação na banca com observações construtivas e pontuais na etapa de
qualificação. À professora Ana Luiza: pelos possíveis caminhos, atalhos e dicas. À professora
Samantha Braga, pelo convite em apresentar um seminário na PUC. Aos professores Doutores
Mozahir Salomão Bruck e Terezinha Maria C. Cruz Pires, pelas assertivas “metodológicas”
nos momentos mais obscuros dessa jornada. Ao Professor Enaldo e também ao Bruno
Vasconcelos pelas dicas, indicações de livros e desafios no estagio docente. Aos meus pais,
pelo apoio, amor em todos os momentos, pela torcida. Ao Cristiano, Rodrigo e Frederico pela
sua torcida, e por serem irmãos incríveis. Ao meu noivo Guilherme, pelo amor,
companheirismo, e me ouvir incansavelmente, pelo interesse em discutir sobre o meu trabalho
e por ser um exemplo inspirador de dedicação e por compartilhar comigo as ansiedades desses
processos todos. Aos meus sogros pela torcida e pelas orações. A minha amiga Mariana pela
sua amizade constante; faça sol ou chuva. À Pollyana pelos e-mails trocados e me ajudar
nessa trajetória. À Ellen e Lilian pela ajuda na dissertação. Aos colegas de mestrado que pude
compartilhar as mesmas ansiedades, tensões e euforias.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, meus irmãos e ao meu noivo Guilherme. Sem vocês a
realização desse sonho não seria possível. Muito obrigada!
RESUMO
Esta pesquisa realizou uma reflexão teórico-metodológica em torno do estudo dos padrões de
beleza e suas relações com os transtornos alimentares dentro do Facebook. Tal estudo
contemplou grupos de apoio com portadores de transtornos alimentares mais especificamente
anorexia e bulimia. Nestes grupos, os integrantes realizam postagens com mensagens
testemunhais sobre eles e seus transtornos.
Neste caso interessou-nos particularmente compreender de que maneira se dá a interação dos
posts dos portadores de transtornos alimentares. A rede social, visibilidade e vigilância,
beleza, consumo, sociedade e os transtornos alimentares são tratados ao longo da pesquisa. A
partir da observação empírica das mensagens dos grupos, recortaram-se mensagens
testemunhais nos grupos chamados de vencendo os transtornos alimentares e anorexia e
bulimia no Facebook. Para tanto foram estabelecidas categorias como possíveis operadores
analíticos de forma a obter uma metodologia mais adequada ao objeto, realizada por meio de
analise de conteúdo através das mensagens postadas no grupo. Ao associar os conceitos de
interação e beleza, fizemos uma aproximação entre tecnologia e estética de modo a compor
um quadro teórico- conceitual que pode ser útil para pensar os processos comunicativos.
Palavras-chaves: Interação. Transtorno Alimentar. Bulimia. Anorexia. Beleza.
ABSTRACT
This research proposes a theoretical and methodological reflection on the study of beauty
standards as they relate to eating disorders on Facebook. The study has focused support
groups of people with eating disorders, especially anorexia and bulimia. In these groups, the
members post messages and testimonials about themselves and their disorder. Our interest
centered around understanding the types of interaction among these people with eating
disorders. The social media, visibility, surveillance, beauty, consumption, society, and eating
disorders are discussed along the text. Having empirically observed the interactions of the
groups called "Overcoming my Eating Disorder" and "Anorexia and Bulimia", messages were
selected according to categories chosen as possible operators so as to reach a better analytical
methodology, namely content analysis. Upon associating the concepts of interaction and
beauty, it was possible to approximate technology and aesthetic standards so as to propose a
conceptual framework that helps understand communicative processes.
Key words: Interaction, Eating Disorders, Bulimia, Anorexia, Beauty.
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM 1: Foto de mulher anoréxica ........................................................................... 19
IMAGEM 2: Foto de Gêmeas anoréxicas ........................................................................ 20
IMAGEM 3:Caso de homem com anorexia e bulimia...................................................21
IMAGEM 4:Exemplo de mulher bulímica ....................................................................... 23
IMAGEM 5:Propaganda de coletes .................................................................................. 31
IMAGEM 6:Exemplo de roupa masculina da época ...................................................... 32
IMAGEM 7:Exemplo de cuidados com o corpo................................................................33 IMAGEM 8:Propaganda plus forma ................................................................................ 34
IMAGEM 9:Valoriza a forma fisica ................................................................................ 35
IMAGEM 10:Agite-se ....................................................................................................... 36
IMAGEM 11:Fernanda Souza na revista corpo a corpo ................................................ 39
IMAGEM 12:Marina Ruy Barbosa com corpo torneado com kickboxing ................... 40
IMAGEM 13:Carol Dias exibe seu corpo e ganha elogio ............................................... 41
IMAGEM 14:Deborah Secco exibe seu corpo ................................................................. 42
IMAGEM 15:David Beckman considerado homem mais sexy.......................................43
IMAGEM 16:Grazi Massafera diz querer engordar mais 1 kg para novela.................45
IMAGEM 17:Felipe Franco exibe seu corpo torneado.....................................................46
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
2 TRANSTORNOS ALIMENTARES .............................................................................. 17
2.1 Conceituação dos transtornos alimentares....................................................................17
2.1.2 Causas dos transtornos alimentares .................................................................................... 17
2.2. Anorexia ......................................................................................................................... 18
2.3 Bulimia ............................................................................................................................ 22
3. Redes Sociais e a interação ............................................................................................... 24
3.1 Descrição do Facebook e seu funcionamento ................................................................. 28
3.2 Grupos no Facebook ...................................................................................................... 29
4. A BELEZA NORMATIZADA NO BRASIL ............................................................... 31
4.2 Beleza na mídia ............................................................................................................... 38
Fonte: ARAUJO, Ana Paula de (2016). ............................................................................... 40
4.3 Correção cirúrgica ........................................................................................................... 47
4.4 A beleza e a doença ........................................................................................................ 48
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇAO .................................................................................. 50
5.1 O percurso do projeto ..................................................................................................... 50
5.2 Coleta e tratamento de dados .......................................................................................... 52
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 61
10
1 INTRODUÇÃO
A sociedade é originada por consumo, cultura e estilos de vida. De acordo com
Bauman:
O que chamamos de “sociedade” é um grande aparelho que faz apenas isso,
“sociedade” é outro nome para concordar e compartilhar, mas também o poder que
faz com que aquilo que foi concordado e compartilhado seja dignificado. Desta
forma, “viver em sociedade” concordando e compartilhando é a única receita para
vivermos felizes( se não felizes para sempre) (BAUMAN, 2008, p.8).
Entende que toda sociedade é oriunda de significados e são mais duradouros que os
indivíduos que ali vivem. E é a partir desses significados que compartilhamos crenças, valores
e demais itens com diversas gerações de pessoas. A partir daí construímos o nosso
conhecimento do que é considerado certo e errado em relação às atitudes de um indivíduo em
uma sociedade. De acordo com Baudrillard:
Se articula na seqüência mitológica de um conto: um homem,dotado de necessidades
que o impelem para objetos, fontes da sua satisfação. Mas como o homem nunca se
sente satisfeito ( aliás, é censurado por isso), a história recomeça sempre
indefinidamente, com a evidencia defunta das velhas fábulas
(BAUDRILLARD,2007,p.78).
Portanto, essas necessidades constituem valores que integram objetos e a satisfação,
sendo essa ultima manifestada pelo desejo de aderir determinados produtos e serviços. Desta
forma, a sociedade se mantém através desse desejo, ou seja, possui uma energia canalizada e
dirigida. Assim, a sociedade capitalista caracterizada pelo meio de produção e distribuição
com fins lucrativos. Com isso, ela absorve energias que dão sentido e faz sentido a vida de
modo que preencha a duração da vida bem como as classes sociais. Para Lipovetsky (2007),
esse conceito de sociedade capitalizada nasceu 1920, mas popularizou-se nos anos 1950 a
1960 e permanece até hoje através de seus discursos. E é através desses discursos cria-se o
consumo e seus estilos de vida. Os estilos partem das escolhas que fazemos ao consumir um
produto e o serviço. De acordo com Bourdieu (1988), citado por Castro (2007):
O gosto é classificador e classificatório, classificando o classificador. Os sinais das
disposições estéticas e esquemas classificatórios revelam a origem e a trajetória de
vida da pessoa e se manifestam na forma de corpo, altura, peso, postura
andar,conduta,tom de voz, estilo de falar, desembaraço ou desconforto em relação ao
próprio corpo (CASTRO, 2007,p.85).
11
Tais esquemas classificatórios constroem o perfil de uma pessoa e seu consumo. Dessa forma,
os indivíduos se preocupam cada vez mais com seu próprio corpo e com sua beleza.
Essa preocupação com a beleza e o ato de se cobrarem demais com relação ao seu
próprio corpo é manifestado “...em roupas, maquiagens, adereços, esculpindo-se em
exercícios físicos e dietas”(CASTRO,2007,p.102). Assim, algumas pessoas passam a adquirir
transtornos alimentares.
Os transtornos alimentares têm recebido muita atenção nos últimos anos,
especialmente devido ao fato de que suas manifestações tornam-se cada vez mais públicas,
talvez em virtude da potencialização de divulgação propiciada pela internet. O órgão da
Associação Americana de Psiquiatria, DSM, assim o define:
O transtorno alimentar é caracterizado por severas perturbações no comportamento
alimentar. Tais perturbações incluem anorexia e bulimia. A anorexia é caracterizada
por uma recusa a manter o peso corporal em uma faixa normal mínima, tendo um
temor intenso de ganhar peso e uma perturbação significativa na percepção da forma
ou tamanho do corpo. Já a bulimia é caracterizada por episódios repetitivos tais
como vômitos auto-induzidos, uso de laxantes dentre outros medicamentos
(ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2013, p. 338).
Nosso objeto de pesquisa são os grupos de distúrbios alimentares dentro do Facebook.
Um deles, chamado Vencendo o transtorno alimentar1, possui cerca de 1070 integrantes e o
outro, denominado Anorexia e Bulimia2, conta com aproximadamente 4050 componentes.
Nesses grupos iremos estudar as relações dos padrões de beleza com os transtornos
alimentares, o que implicará na análise das características dos discursos dos portadores de
transtornos alimentares na rede social, bem como o tipo de interação realizado neles. Observa-
se que é comum a postagem de mensagens de apoio a seus membros. Assumimos caráter
observador dos conteúdos, pois eles nos dão pistas sobre os comportamentos dos integrantes
dos grupos mencionados.
Percebe-se que as mensagens postadas numa rede social virtual são compostas por
modos de interação num espaço digital, o que não se observava anos atrás quando do
surgimento desse ambiente de comunicação mediada pelos meios massivos (TV, Rádio,
Jornal impresso, etc). Criado em 2004 por ex-estudantes de Harvard, o Facebook mostrou-se
inicialmente como uma rede social virtual. Denominava-se thefacebook e restringia-se
1Vencendo o Transtorno Alimentar (https://www.Facebook.com/groups/vencendoTA/)
2Bulimia e Anorexia (https://www.Facebook.com/bulimiaeaneroxia/?ref=br_rs )
12
exclusivamente aos estudantes daquela instituição. Seu objetivo era o de encontrar pessoas e
compartilhar opiniões e fotografias, mas com o passar dos anos foi se alterando e tornando
possível a criação de grupos nessa plataforma.
Verifica-se que devido à natureza de nosso trabalho, transcorre o que Primo (2007)
chamou de interatividade, que possibilita articulações que partem do sujeito e se apóiam na
abordagem sistêmico-relacional, permitindo hiperconexão dos sistemas envolvidos,
visibilidade e circulação de mensagens na experiência do Facebook. Considera-se que isto diz
muito sobre as lógicas contemporâneas de interação do sujeito na rede. A interação é definida
como uma relação de reciprocidade entre atores sociais; no ambiente virtual ela é
caracterizada pela intensa participação dos sujeitos que co-produzem os conteúdos em
circulação. Já a interatividade diz respeito ao contato entre sujeitos e máquinas, tornando-se
atributo e atrativo de diversos produtos técnicos na sociedade contemporânea. Ao longo de
nosso trajeto investigamos grupos de transtornos alimentares, recortando as mensagens
daqueles específicos de anorexia e bulimia.
O encadeamento dos capítulos foi realizado de modo a obter coerência no
desenvolvimento das idéias. Inicialmente (no segundo capítulo) trabalhamos com a descrição
de transtorno alimentar, suas características, manifestações de grupos de internet e apoio na
rede social e no Facebook. Em seguida abordamos o conceito de beleza no Brasil, a beleza na
mídia e, então, a beleza e a doença. No quarto capítulo, a análise das mensagens dos grupos
no Facebook.
Um dos conceitos-chave que sustentam essa pesquisa é o termo felicidade, citado por
Lipovetsky (2007), que está relacionado, segundo ele, com a busca permanente de realização
pessoal, ou seja, as imagens de alegria e prazer reproduzidas pela publicidade e pelo cinema
que alimentam a ilusão de que é possível ser feliz o tempo inteiro. Tal ilusão provoca intensa
busca pela felicidade, atribuindo ao consumo o elemento fundamental para se obter a
satisfação.
Nessa linha de raciocínio, a felicidade está associada ao ato de consumir e às relações
sociais. Quando pensamos nas relações sociais caracterizadas pelo consumo e pela felicidade
associadas ao ambiente da web, abrimos espaço para outro conceito-chave desta pesquisa – a
beleza. O conceito de “Beleza” segundo SANT’ANNA (2014, p.9) “[...] é um trunfo de quem
a possui, um objetivo dos que não se consideram belos, um instrumento de poder, uma moeda
de troca em diferentes sociedades”.
13
Já aqueles que não se enquadram nesse trunfo de beleza recorrem a diversos
procedimentos, desde cirurgias até a retirada ou colocação de pelos e cabelos.
Nossa discussão está no plano da rede social, por meio da qual as pessoas
compartilham e publicam suas impressões sobre si mesmas ou até mesmo sobre a sociedade
em que vivem. Parte do que se considera “padrões de beleza subjacentes” é atribuída à
circulação de mensagens associadas aos transtornos alimentares. Enfim, todas essas
mensagens surgem na esfera da visibilidade, conforme o que Bruno (2013) conceituou como
“vigilância participativa”, definida como regime de observação, visibilidade e ação política
não por centros, mas por indivíduos, ações e decisões locais e distribuídas. Tal visibilidade e
vigilância são atribuídas em uma sociedade observada no ambiente da internet, onde expomos
nossos pensamentos e impressões, por exemplo, manifestações sobre o nosso dia, bem como
fotos da semana. Entende-se que a sociedade observada se constitui num cruzamento entre a
participação e a vigilância distribuída e caracterizada pela quantidade de informações na rede,
englobando duas esferas: o público e o privado.
Para Paula Sibília (2006), as verdades já não se escondem dentro de cada um, pois
estão à flor da pele, são visíveis ou pelo menos se esforçam por atingir o cobiçado campo da
visibilidade. Do desenvolvimento deste trabalho que acorda o transtorno alimentar, suas
variações e especificidades, os grupos e a beleza no Brasil e a beleza na mídia, redefinimos
seu percurso metodológico. A partir da coleta de dados, observamos a demanda por uma
técnica capaz de destacar ou aprender os elementos qualitativos pertinentes ao Facebook.
Dessa forma, consideramos a técnica de análise de conteúdo como mais adequada para se
estudar a circulação das mensagens nos grupos. Por meio deste trabalho associamos a
complexidade de dois campos sendo a tecnologia e a saúde, para pensar o que essa
experiência nos diz sobre a tecnologia e a anorexia e bulimia. Estamos diante de dois
distúrbios chamados de anorexia e bulimia que estão ligados à alimentação e que hoje afeta
milhares de jovens, levando-as a um quadro grave de peso, desnutrição e até a morte.
Contudo, esses termos estão associados à influência dos padrões de beleza e as alterações nas
relações sociais com os outros.
O mundo em que estamos inseridos caracteriza-se pela sociedade, o consumo e os
estilos de vida. Para Bauman pontua que:
14
Aceita, compartilhada, dignificada – dignificada pelo ato de compartilhar e pelo
acordo franco e tácito de respeitar o que é compartilhado. O que chamamos
“sociedade” é um grande aparelho que faz apenas isso; “sociedade” é outro nome
para concordar e compartilhar, mas também o poder que faz com que aquilo que foi
concordado e compartilhado seja dignificado. Desta forma, “viver em sociedade”-
concordando, compartilhando –é a única receita para vivermos felizes (se não felizes
para sempre). (BAUMAN, 2008, p.8).
Entende-se que toda sociedade é oriunda de significados e são mais duradouros do que
os indivíduos que ali vivem. E é a partir desses significados que compartilhamos crenças,
valores e demais itens com diversas gerações de pessoas. A partir daí construímos o nosso
conhecimento do que é considerado certo e errado em relação às atitudes de indivíduo em
uma sociedade. Pode-se dizer que toda sociedade “se articula na seqüência mitológica de um
conto: um homem, dotado de necessidades que o impelem para objetos, fontes da sua
satisfação. Mas como o homem nunca se sente satisfeito (aliás, é censurado por isso), a
história recomeça sempre indefinidamente, com a evidência defunta das velhas fábulas”
(Baudrillard, 2007, p.78). Portanto, essas necessidades constituem por valores que integram
objetos e a satisfação. Essa satisfação é manifestada pelo desejo de aderir determinados
produtos e ou serviços.
Desta forma, a sociedade se mantém através desse esse desejo, ou seja, possui uma
energia canalizada e dirigida. Assim, a sociedade capitalizada absorve as energias que
promovem o desejo de modo que forneça objetos de satisfação que de alguma forma dão
sentido e fazem sentido à vida de modo que preencha a duração da vida bem como as classes
sociais. Já Lipovetsky (2007), esse conceito de sociedade capitalizada nasceu em 1920, mas
popularizou-se nos anos 1950 a 1960 e permanece até hoje através dos seus discursos. Esse
conceito citado anteriormente observa-se como fator importante na econômica como também
na vida cotidiana da sociedade contemporânea.
Alguns estudiosos observaram que no inicio de 1990 a sociedade foi se modificando
de modo que houve desinteresse pelas marcas, atenção a preços, diminuição de compras por
impulso e perda de vontade de consumir. Considerava-se então o fim da sociedade do
consumo e inicia-se a era do consumo de massa. Este consumo de massa é manifestado em
três etapas numa sociedade. A primeira etapa é chamada de consumo de massa que engloba a
era do capitalismo de consumo. Já a segunda etapa são as mudanças de atitudes e valores na
sociedade. E por ultimo o sistema cultural considerado materialista. A partir daí, a sociedade e
15
a cultura resultaram em uma mudança mais materialista no qual se modifica a relação com o
consumo e os estilos de vida. Essa relação com o consumo estimula os indivíduos a
comprarem itens como marcas internacionais navegam pelas redes dentre outros. Diante dessa
relação de consumo estabeleceu-se a era fordista. Essa era fordista era caracterizada
personalização dos produtos e preços, diferenciação e segmentação. Então, nasceu uma
sociedade voltada para o hiperconsumo. O hiperconsumo está associado ao modo de vida,
bens e febre por objetos etc. Pode-se dizer que o autor declara,
Quanto mais se consome, mais se quer consumir: a época da abundância é
inseparável de um alargamento indefinido da esfera das satisfações desejadas e de
uma incapacidade de eliminar os apetites de consumo, sendo toda a saturação de
uma necessidade acompanhada imediatamente por novas procuras. (LIPOVETSKY, 2007, p.22).
A sociedade é caracterizada por prazer e felicidade. O ato de consumir nesta sociedade
se resume a uma organização ou um sistema que estimula as necessidades e como
conseqüência acaba gerando frustração através da felicidade momentânea. Percebe-se que esta
frustração está associada aos desejos de consumir tudo naquele instante. Castro (2007), é
através do consumo que os indivíduos vão construir seus estilos de vida na
contemporaneidade. Já Bauman (2008), “ao fazê-lo, a “sociedade” ( ou quaisquer agências
humanas dotadas de instrumentos de coerção e meios de persuasão ocultos por trás desse
conceito ou imagem) espera ser ouvida, entendida e obedecida” ( Bauman, 2008, p.71).
Cria-se então a cultura consumista onde os indivíduos pensam em seus
comportamentos, sua vida e colocam na sua frente à tendência de estilo. Esses estilos partem
das escolhas que fazemos ao consumir um produto e ou serviço. Por fim, “a ética da beleza,
que também e da moda pode definir-se como a redução de todos os valores concretos e dos
valores de uso do corpo (energético, gestual e sexual), ao único valor de permuta funcional
que, na sua abstração, resume por si só a idéia de corpo glorioso e realizado.” (CASTRO,
2007, p.84)
Segundo Bourdieu (1988) citado por Castro (2007) o gosto e classificador e
classificatório, classificando o classificador. Os sinais das disposições estéticas e esquemas
classificatórios revelam a origem e a trajetória de vida da pessoa e se manifestam na forma de
corpo, altura peso, postura, andar, conduta, tom de voz, estilo de falar, desembaraço ou
desconforto em relação ao próprio corpo(CASTRO, 2007 p.85).
16
Atribui-se o consumo na construção de um individuo formando seu estilo de vida.
Desta forma, o fato de cuidar-se do próprio corpo e visto como uma preocupação com a
beleza e demais itens. Tal ato advém por se cobrarem mais com relação ao seu próprio corpo
ao comparar com os homens. Isso e manifestado “...em roupas, maquiagens, adereços,
esculpindo-os em exercícios físicos e dieta. Pela atividade física e o controle do corpo as
mulheres constroem sua imagem, definindo cada um sua maneira, a própria leitura de sua
identidade feminina.” ( CASTRO, 2007 p. 102)
Compreende-se, portanto, que cada indivíduo atribui seu próprio gosto ao seu corpo e é dessa
forma que ele se projeta ao mundo.
17
2 TRANSTORNOS ALIMENTARES
2.1 Conceituação dos transtornos alimentares
Os transtornos alimentares caracterizam-se por severas perturbações no
comportamento alimentar e provocam alterações na saúde – desde desordens psicológicas até
de convívio social. Tais transtornos apresentam mais incidência em mulheres do que em
homens, manifestando-se como anorexia e bulimia.
2.1.2 Causas dos transtornos alimentares
Os transtornos alimentares podem ser aflorados na infância ou na adolescência.
Segundo José Carlos Appolinário e Angélica M Claudino (2000), geralmente esses distúrbios
alimentares subdividem-se em dois grupos, sendo um deles chamado de transtorno da
primeira infância e manifesta-se na relação da criança com a comida. Muitas vezes o
transtorno alimentar não está associado à preocupação com o peso ou com o corpo, mas
interfere no desenvolvimento infantil. Já o transtorno alimentar denominado pica, é a ingestão
persistente de substâncias não nutritivas e inadequadas ao crescimento/formação infantil. Esse
tem como causa retardos mentais e atraso no desenvolvimento, dentre outros. Por último, o
transtorno de ruminação, também conhecido como transtorno de regurgitação ou
remastigação, leva à desnutrição e à desidratação. Segundo Cordás A. Taki (2004), esses
distúrbios alimentares acarretam sérios danos psicológicos e sociais, levando inclusive ao
agravamento dos índices de mortalidade.
Pode-se dizer que o comportamento alimentar é resultante de situações como fases de
transição, mudanças de cidade, transição da fase de criança para adolescência, problemas
relacionados à aceitação em grupos e até de se adequar a padrões para cursar uma faculdade.
Com isso, muitos jovens não satisfeitos com seus corpos acabam se envolvendo em dietas
severas que podem desencadear, transtornos alimentares, seja ela anorexia, bulimia ou
quaisquer outros.
18
2.2. Anorexia
Considerada um transtorno alimentar, a anorexia afeta jovens e adultos do sexo
feminino e geralmente leva à exclusão social. Suas principais características estão associadas
à perda de peso e à desenfreada busca de dietas radicais (ABREU; CANGELLI FILHO,
2004), o que pode causar uma imagem distorcida, bem como a prática do culto à magreza. Os
indivíduos com anorexia não se enxergam magros, mas, ao contrário,gordos e, assim,mantêm
a dieta. Segundo lembram Fleitlich, Bacy W e outros (2000), a alimentação adequada tem
grande importância ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. “O alimento,
historicamente, está ligado à subsistência e manutenção da espécie, e com o avanço do
conhecimento científico, apareceu à importância nutricional”. (JORGE; VITALLE, 2008,
p.2).
É trivial dizer que o alimento é a mais pura fonte de energia para os nossos
organismos, mas torna-se oportuno ressaltar que com a chegada dos produtos alimentícios
industriais, como congelados e fast-food, surgiram novos padrões alimentares. Essas
alterações trouxeram sérias conseqüências para a saúde nutricional humana. A mudança pode
se dever os equívocos no estilo de vida e também na alimentação.
Estudiosos de diferentes correntes de pensamento enfatizam a importância da
alimentação correta para a saúde corporal e mental. A mudança desse tipo de padrão alimentar
tem como conseqüência a alteração no comportamento, sendo ele causado pela exclusão de
refeições ao longo do dia, dentre outros fatores. Como se vê na Imagem 1, “os indivíduos
definem padrões, a perda de peso e a recusa de manter o peso dentro ou acima do mínimo
normal adequado à sua idade e altura” (PSIQUIATRIA GERAL,2015, p.1).
19
IMAGEM 1: Foto de mulher anoréxica
Fonte: Revista Veja, 2015.
As pessoas acometidas dessas desordens apresentam diversos sintomas, como, por
exemplo, medo mórbido de engordar e autonegação do baixo peso, dentre outros. Essa
perturbação chega ao ponto, como o caso adiante, em que as gêmeas (IMAGEM 2) fizeram
um pacto para nunca mais engordarem e, em função disso, passaram todas suas vidas
internadas em clínicas para recuperação..
20
IMAGEM 2: Foto de Gêmeas anoréxicas
Fonte: MIRANDA (2015)
Segundo Jorge e Vitalle (2008), esses transtornos têm aumentado sua ocorrência na
última década tanto em meninas pré-adolescentes e jovens do sexo masculino quanto em
mulheres com idades mais avançadas, como se pode ver na imagem a seguir.
21
IMAGEM 3: Caso de homem com anorexia e bulimia
Fonte: BORGES (2014).
É importante chamar atenção para outros sintomas apresentados por uma pessoa
anoréxica. São eles: ausência do período menstrual nas mulheres, recusa de comer, fadiga e
ansiedade. Esse quadro durante longo prazo gera conseqüências, como osteoporose,
problemas de saúde mental e até a morte. Outro problema resultante dessas disfunções são
doenças cardíacas: redução do ritmo cardíaco, baixa pressão arterial e insuficiência cardíaca.
22
2.3 Bulimia
Também considerada transtorno alimentar, a bulimia manifesta-se de maneira
diferente. Campos, José e Haack, Adriane (2012) verificam que a pessoa com bulimia está
focada na rápida perda de peso, razão pela qual seu comportamento envolve indução ao
vômito, uso de laxantes e quase sempre dietas erradas, o que pode resultar em dores no
estômago e sangramento bucal. Esse comportamento é originado pela baixa autoestima, bem
como pela alteração na imagem corporal. Isso faz com que a pessoa busque emagrecer
rapidamente.
Cilene Martins e outros (2010) explicam que a imagem do corpo é definida como
sendo a percepção que o indivíduo tem de si mesmo e que envolve atitudes,
autoconhecimento e seus sentimentos quanto ao formato e tamanho do próprio corpo. O
transtorno alimentar surge principalmente na transição da fase de criança para adolescência
quando o corpo se altera como um todo devido às gorduras corporais. “O medo de engordar e
o desejo persistente de emagrecer desencadeiam a preocupação excessiva com os alimentos e
conseqüentemente resultam em alteração do comportamento alimentar” (ALVES et al. 2008,
p.1).
Importante lembrar que um dos primeiros sintomas relativos a esse distúrbio são as
mudanças nas dietas que eliminam fontes importantes de alimentos e nutrientes para o nosso
organismo e se ver de forma diferente do que realmente é (IMAGEM. 4).
23
IMAGEM 4: Exemplo de mulher bulimica
Fonte: BV Clínica (2015)
Maria Conti e outros (2012), explicam que entre 2% e 5% das meninas adolescentes
sofrem com anorexia e que entre 0,1% e 1% deste grupo sofre com bulimia. No Brasil estima-
se que quatro a cada 100 pessoas possuem casos de anorexia ou bulimia.
Um dos casos de famosos desse transtorno é o da atriz Cássia Kiss, que sofreu com
bulimia por 13 anos, como pode ver a seguir. Emmanuelle Najjar (2014) esclarece em seu site
que a artista possuía o transtorno alimentar não pela busca de ser magra, mas, sim, “por falta
de afeto e solidão”.
24 Segundo a autora Fernanda Magro,
Os homens possuem um padrão diferente do das mulheres: abusam menos de
laxante por ter uma maior facilidade de perder peso, costumam desenvolver os
transtornos alimentares mais tarde, entre 18 e 26 anos, e é mais comum o histórico
de obesidade. (MAGRO, 2011, p.1).
É possível ver o quanto esse culto à magreza afeta tanto homens quanto mulheres,
como mostra as Imagens 1, 2 e 3 mostrada anteriormente.
3. Redes Sociais e a interação
As redes sociais já estão integradas às nossas vidas e fazem parte do nosso dia a dia,
seja pelos sites de relacionamentos que permitem trocas de idéias, fotos, interação com
amigos e colegas, ou outros meios para buscar informações. Tais redes são definidas como:
“um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos, os nós da rede) e
suas conexões (interações ou laços sociais)”. (RECUERO, 2009, p. 22).
É necessário distinguir as redes sociais off-line e on-line. O conceito de rede social
off-line afirma que elas são compostas pela presença de atores sociais, ou seja, por pessoas da
própria comunidade que atuam de forma a moldar a estrutura social, por meio da interação e
constituição dos laços. Já a rede social on-line, é formada de modo diferente das redes off-line
por causa da mediação tecnológica e por fatores ligados ao ambiente. Acerca dessa questão,
Recuero (2012, p.2) declara que: “As conexões dos atores são marcadas pelas ferramentas que
proporcionam a emergência dessas representações e que são estabelecidas através das
ferramentas e mantidas por ela”.
Essas conexões são formadas por uma estrutura social de elementos como interação,
relações, laços que compreendem a comunicação entre os atores e a relação de troca de suas
mensagens, bem como suas partilhas sociais. Recuero (2009) caracteriza essas interações
como síncrona e assíncrona, sendo que a síncrona diz respeito à interação em tempo real. Já a
assíncrona é interação mediada.
Na perspectiva de Primo (2000), a interação se estrutura em interação mútua e
interação reativa, sendo a primeira caracterizada por um sistema aberto, ou seja, um conjunto
de objetos e entidades que se inter-relacionam entre si formando um todo. Já a interação
reativa, é um sistema fechado e que não efetua troca entre eles.Nessa linha de raciocínio,
25
Recuero (2014) define interação como conversação e tem como foco o modo como se
estabelece os laços sociais entre os atores. Essa comunicação entre os sujeitos faz uso de
elementos da fala que criam semelhanças com a conversação on-line.
Assim, a conversação mediada pelo computador passou a ser comparada com a oral.
Entende-se que esse diálogo é caracterizado por mensagens emitidas por meio de um
computador, ou seja, enviadas pela internet. Existem, porém, inúmeras ferramentas que
proporcionam a troca de imagens, sons e textos, dentre outros. Então, percebe-se que tais
ferramentas foram propícias para o surgimento de sites e da rede social e, conseqüentemente,
de seus públicos.
Nesse sentido Recuero (2007) cita Boy e Ellison, para quem:
Os sites são compreendidos como aqueles que permitem que os atores sociais criem
perfis individualizados que funcionam como representação de si mesmos, que suas
redes sejam publicadas pelas ferramentas e que esses autores possam utilizar esses
sites como plataformas de conversação e interação uns com os outros. São
ferramentas como Facebook (http://www.Facebook.com), Orkut (http://
www.orkut.com), e o Twitter (http://www.twitter.com). (BOY; ELLISON apud
Recuero, 2007, p. 115).
Compreende-se, portanto que as redes sociais são representadas por atores, ou seja, ao
invés de ter acesso a um indivíduo, tem-se acesso a uma representação dele. Essas
representações são ligadas por meio de conexões. Desse modo, as conexões são marcadas
pelos laços associativos, entendidos por Recuero como sendo conexão estabelecida por meio
da rede social. Portanto, as conexões são estabelecidas pela vinculação de laços fortes e
fracos. Os laços fracos respondem pela circulação de informações nas redes sociais, enquanto
os fortes são conexões que manifestam sentimentos.
Essa pesquisadora enfatiza que quanto maior a quantidade de laços fracos de alguém,
maior também serão as chances de receber informações diversificadas que podem representar
oportunidades. A autora acrescenta que: “A circulação dessas informações em uma rede social
é realizada pelo envolvimento dos atores que investem tempo e esforço na seleção e
divulgação de determinados elementos e que necessita também de atenção para que sejam
replicados”. (RECUERO, 2014, p.4).
Percebe-se que a circulação de informações é realizada de forma muito rápida por
meio da conexão entre os nós. Assim, todos os nós estabelecidos são caracterizados pela
junção de informações entre sujeitos e grupos. De modo que toda informação replicada faz
26
com que mais gente saiba dela e cada notícia coletada ou repassada por alguém faz com que
as conexões se manifestem. Dessa forma, a informação recebida por uma rede é articulada de
tal forma que todos a receberão quando forem conectados.
Com isso, as pessoas presentes nessa rede avaliam se essa determinada informação
recebida na sua rede deve ser repassada para outros ou não. A escolha de repassar ou não é
feita de acordo com seu comportamento, em outras palavras, com seu interesse.
Nota-se que o fluxo de informações na rede tem grande impacto. Assim, segundo
McLuhan citado por Recuero (2012), interessam mais os efeitos desses meios do que seu
conteúdo. São eles caracterizados pelos meios, bem como a forma de impactar os sentidos e
de influenciar os sujeitos. Surge então o conceito de vigilância e visibilidade, definido por
Fernanda Bruno (2013, p.18) como, “uma atividade de vigilância pode ser definida como a
observação sistemática e focalizada de indivíduos, populações ou informações relativas a eles,
tendo em vista produzir conhecimento e intervir sobre os mesmos, de modo a conduzir suas
condutas”. Esse termo é complementado com a descrição de particularidades contemporâneas
da vigilância distribuída, proveniente da construção de uma rede, ou melhor dizendo, é de
monitoramento digital. Segundo Bruno (2013), essa vigilância se comporta de três modos: i)
segurança e controle; ii) visibilidade midiática e; iii) eficácia informacional, sendo que esses
elementos juntos são registros de legitimação superpostos com significação social e subjetiva
plural que une diversas características. Resumidamente Bruno (2013) destaca que a vigilância
ficou mais evidente pelo surgimento das tecnologias no cotidiano das pessoas, especialmente
após a tragédia no dia 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Assim a autora afirma:
“As tecnologias e redes de comunicação são um campo especialmente fértil desses
dispositivos, sobretudo se considerarmos uma breve história de práticas na Internet, como
redes sociais e blogs pessoais, e alguns formatos televisivos recentes, como reality shows”.
(BRUNO, 2013, p. 53).
Percebe-se então que tanto as tecnologias quanto a internet estão relacionadas à
visibilidade, o que acaba por enriquecer a análise ao trazer o termo “rastro”. Recorre-se
novamente a Bruno, segundo a qual: “Rastro, que remete, portanto, a dois importantes vetores
do regime de visibilidade moderno, com implicações fundamentais para a subjetividade: a
disciplina e o espetáculo”. (BRUNO, 2013, p. 53).
Compreende-se que o conceito de rastro está vinculado a diversas formas, tais como
ver e ser visto, dentre outras. Essa condição – “ver e ser visto” – é observada nos dias de hoje
27
como tática, ou seja, desde a proliferação de webcams, blogs de internet, reality showsetc; a
exposição do “Eu” alcançou maior visível. Toda essa modernidade transformou nossas vidas
de tal forma que atingiu nossa subjetividade, que, segundo esclarece Bruno (2013), é
caracterizada por interior e exterior. A primeira é distinguida por poder que individualiza pelo
olhar, tornando visível, analisável e calculável o indivíduo comum. Já a exterior é
diferenciada pela exposição de si. A autora reforça que:
Na internet, ampliaram-se ainda mais as tecnologias do ver e ser visto, tornando os
indivíduos ao mesmo tempo mais sujeitos à vigilância e relativamente mais
autônomos na produção de sua própria visibilidade, dado que neste caso a exposição
de si não está sujeita à autorização e à intervenção de terceiros. (BRUNO, 2013,
p.58).
Essa tecnologia é chamada de web 2.0 e possibilita aos indivíduos criar e produzir
seus próprios textos, o que nos permite dizer que tal facilidade está associada às redes sociais,
como o Facebook, Orkut e Twitter e se baseia em conexões formadas por interações. Recuero
(2014, p.116) acrescenta que: “as conexões tornam-se canais permanentes de informação
entre autores, pois cada um que acrescenta outro a sua rede passa a ter acesso a tudo aquilo
que o “amigo” publica na rede”.
Assim, as interações são provenientes de ferramentas presentes nos sites – tais como
curtir, compartilhar, comentar – que são realizadas a partir da comunicação entre duas ou
mais pessoas. O diálogo ali permanece até que o autor a exclua. Caso isso não ocorra, essa
mensagem pode ser repassada a diversas outras pessoas, grupos no Facebook. Essa rede social
traz consigo valores que são chamados por Recuero de “capital social”. Entende-se que a rede
social é constituída por diversos valores que influenciam de maneira distinta cada indivíduo,
razão pela qual recebe o nome de capital social, que, por sua vez, é caracterizado por prestígio
dentro dos grupos. Essa estudiosa entende que pertencer a um grupo é ao mesmo tempo fazer
parte de uma rede e isso por si só já é um valor. Contudo, as mensagens que estão ali
presentes são delimitadas de acordo com o interesse do grupo.
No que diz respeito à produção de mensagens, há poucas décadas isso não tinha tanta
força quanto agora, pois elas eram feitas por poucos de forma restrita via comunicação de
massa (Radio, TV, etc) e alternativa (Fanzine, entre outros meios de circulação). Hoje é
possível ver que a circulação dos conteúdos – no que se refere à política ou às campanhas de
marketing, por exemplo, têm efeito muito maior, pois abrange maior número de pessoas nas
redes e com mais rapidez.
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Segundo Recuero (2014), a circulação das informações é considerada importante por
meio das conexões de cada um. Assim, essas informações fazem sentido numa rede social
quando difundem nas redes através de ações dos indivíduos que os repassam adiante e outras
vezes não. Essa divulgação é realizada a partir da propagação de informações que repassa
para cada nó. O repasse feito para cada nó é estabelecido no trânsito entre os sujeitos e os
coletivos. Esse processo é chamado de “aldeia global”, pois todos os indivíduos estão
conectados. Para melhor compreender a expressão aldeia global, pode se dizer que aldeia é a
forma como o ser humano se comunica com outras pessoas estando ou não presente naquele
momento.
Como se pode ver, a circulação de informações é distribuída por uma rede por meio de
seus nós ou conexões. Segundo Kleinberg e Easley (2010) citados por Recuero (2012), esse
movimento de informações passadas de rede em rede impacta diversos indivíduos e gera um
comportamento de massa na propagação das mensagens, como num efeito cascata. A autora
explica: “A cascata é um efeito de circulação de informações em um determinado grupo,
gerado pela imitação. Entretanto, essa imitação é resultado de um comportamento racional
constituído por atores a partir das informações disponíveis”. (RECUERO, 2012, p.6).
Essa cascata é gerada pela ação das pessoas que avaliam determinada informação mais
relevante do que a outra e a difunde em sua rede. E isso faz com que essa informação seja
vista como tendo mais importância do que outra.
3.1 Descrição do Facebook e seu funcionamento
Hoje o Facebook faz parte da realidade cotidiana. O Facebook é uma rede social
virtual criada em 2004 por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris
Hughes, ex-estudantes de Harvard. (FACEBOOK OFICIAL, 2011).
O objetivo inicial era que este fosse um espaço em que as pessoas pudessem se
encontrar umas com as outras e dividir opiniões e fotografias. Naquela época, essa rede
tornou-se conhecida como theFacebook e era restrita apenas aos alunos de Harvard. Passado
dois meses, a rede social foi ampliada para outras universidades, como o Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, Universidade de Boston, Boston College e demais escolas.
Santana (2016) relata que a expansão dessa ferramenta logo chegou a outras universidades e
29
então várias pessoas que possuíam e-mails providos por universidades em todo o mundo
foram convidadas a fazer parte dessa rede social.
Em 2005 a rede contava com cinco milhões de membros e em agosto do mesmo ano se
tornou conhecida simplesmente como Facebook. Presse (2016) revela que a media de
usuários ativos chega 1,65 bilhão em 2016, que estão conectados ao Facebook. Percebe-se,
portanto, que essa rede social e a internet estão cada vez mais próximas dos seus usuários.
O Facebook conta que em 2015 com cerca de 1,59 bilhões de usuários ativos em todo
o mundo, sendo que 65% acessam a rede social todos os dias. (G1, 2015). Recuero (2014)
destaca que o Facebook é uma ferramenta apropriadamente simbólica para construir o espaço
social no cotidiano dos atores e para sua conversação. Essa nova ferramenta possibilita a troca
entre os sujeitos, bem como a possibilidade de cada um criar seu próprio texto. A conversação
é definida como um evento organizado que necessita da cooperação dos envolvidos,
negociação de regras, tanto no discurso quanto no objetivo. Assim, tais sites – como, o
Facebook, Myspace e Twitter – impactaram profundamente as redes sociais não apenas por
traduzirem para o digital, mas porque reconstroem nesse espaço digital modos de interação e
conversação uns com os outros, além de também criarem novas formas de estar conectado a
partir das conexões associativas. Essa autora reforça ainda que “As conexões são
representadas por laços sociais, reconstruídas e mantidas através desses sites, relacionadas aos
laços fracos”. (RECUERO, 2014, p.2).
Além disso, quando um “amigo” é adicionado numa ferramenta dessa conexão em
redes virtuais ele se torna permanente com menor risco de desgaste no relacionamento como
ocorre geralmente nas construções de laços sociais no ambiente presencial.
3.2 Grupos no Facebook
As nossas vidas são compostas por grupos sociais, sejam no âmbito do trabalho, da
família, amigos etc. Para Zanella e Ros citadas por Sandra Abella e Silva Ros (2008, p.1), “o
grupo social é na verdade um espaço de encontro/confronto de singularidades que ali se
expressam/constituem/transformam, configurando-se ao mesmo tempo como um coletivo e
locus[de] diferenças”.
Pode-se dizer que os indivíduos possuem suas diferenças seja eles como sua própria
singularidade-individualidade ou criando elos comuns com os outros integrantes de um
30
mesmo grupo. Esses elos caracterizam-se por uma aproximação entre os indivíduos, a partir
da qual se constrói uma relação. São as características estereotipadas das pessoas que
sustentam nossas percepções sobre ela e subsidiam a construção das relações formando
identificações e identidades. Segundo Gabriela Andrade e Jeni Vaitsman (2002), os grupos de
apoio apresentam questões voltadas ao objetivo principal do mesmo que apontam soluções
dos problemas com ajuda da população.
O Facebook é uma mídia social e permite que as pessoas fiquem “antenadas” às
informações sobre o que acontece ao seu redor. Portanto, os grupos do Facebook permitem a
união de usuários para se discutir determinados temas.
Em 2010 permitiu-se criar grupos com pessoas selecionadas para a troca privada de
informações. É possível citar nomes de grupos como “Gep- grupos de estudo políticos”,
“Catira&papo” dentre outros. Esses grupos têm como objetivo discutir desde a política do
Brasil até mesmo vender algo que não use mais, respectivamente. Seu funcionamento é
realizado através de postagens dentro da rede social Facebook no qual necessita-se ser
convidado e o administrador do grupo aceita ou não sua entrada. Já os grupos de transtornos
alimentares, como o “vencendo o transtorno alimentar” e “anorexia e bulimia” atuam de
forma diferente, pois o objetivo deles é ajudar uns aos outros no combate a esta doença.
Atualmente existem vários grupos e eles nos chamaram a atenção, pois por intermédio deles
as pessoas “se colocam”, revelam informações pessoais e eles funcionam como coletivos de
apoio/interação e troca de experiências. Os discursos das pessoas demonstram em geral
insatisfação com o corpo, pois elas almejam um determinado tipo de padrão de beleza e
muitas vezes isso leva ao uso de antidepressivos. Esse modelo se caracteriza por apreciar a
beleza magra – as capas de diversas revistas trazem um padrão estabelecido com diversos
tipos de discursos, como por exemplo, dieta para eliminar menos 10 kg no verão. Assim, os
grupos são atribuídos na rede social por valores. Para melhor compreensão, os indivíduos
participam de determinado grupo que possui/ manifesta/ divulga valores próximos e mais
apropriado aos seus.
31
4. A BELEZA NORMATIZADA NO BRASIL
4.1 Beleza no Brasil
A moda se apresenta por meio de tecidos, adornos e acessórios de modo que ao
adquirir um produto, temos como objetivo ser belos, conseqüentemente valorizados pela
sociedade. Portanto, a moda contribui para a criação de um estilo. A criação desse estilo é
apresentada de acordo com Ana Lúcia Castro (2007), como uma conscientização dos padrões
culturais de cada época e reflete na relação com o corpo. Observa-se que tais padrões culturais
eram estabelecidos no Brasil por comerciantes franceses que vendiam produtos importados
por meio de encomendas através de catálogos, como pode ver na imagem 5. As encomendas
no Brasil variavam desde roupas íntimas e espartilhos, a chapéus e gravatas. Diante do
aumento dos pedidos foi ampliado o número de comércios.
IMAGEM 5: Propaganda do produto coletes.
Fonte: SANT’ ANNA (2014, p. 34)
As costureiras criavam vestidos para as mulheres, de acordo com Sant’Anna (2014), o
balançar dessas roupas era tido como uma melodia para os ouvidos dos homens. Tais roupas
mostravam apenas o rosto e o colo feminino, mas representaram um problema para as
32
senhoras com seus penteados complicados e roupas com tecidos grossos no verão escaldante.
Já os homens reclamavam das barbas e dos bigodes, assim como dos calçados, pois eram
muito quentes devido ao calor e umidade dos trópicos. As pessoas feias eram atribuídas
apelidos relacionados com seus corpos, como narigudas diante da falta de elegância.
Ao longo da história, tanto a moda feminina quanto a moda masculina foi se
adequando `a influência européia no Brasil com relação aos tecidos. Tal adaptação tornava as
roupas mais leves e os homens incorporaram acessórios como gravatas, dentre outros, como
pode ver na imagem 6.
IMAGEM 6: Exemplo de roupa masculina da época
Fonte: Sant’Anna (2014, p. 68).
A partir desse cenário foi criada a primeira revista com moda masculina, a Quatro
Rodas, com propagandas de cuecas coloridas, sapatos com plataformas, xampus, sendo esses
itens exclusivos para homens. E através das propagandas nas revistas que se apresentavam
33
itens como dicas, tendências, novidades e acessórios para se conseguir atingir os padrões
ditados para o corpo, entre outras temáticas, como pode ver na imagem a seguir.
Imagem 7: Exemplo de propaganda para manter os cuidados com o corpo
Fonte: SANT’ANNA (2014, p.91)
A pesquisadora explica que: “A difusão das fotografias acentuou a importância da
aparência física, enquanto a paulatina banalização dos espelhos fez da contemplação de si
mesmo uma necessidade diária, apurando o apreço e também o desgosto pela própria
silhueta”. (SANT’ANNA,2014, p. 19).
Desta forma, se deu uma grande importância na aparência física que acentuou a
preocupação com o comportamento das pessoas, tanto masculina quanto feminina no quesito
beleza, como pode ver na imagem a seguir.
34
IMAGEM 8: Propaganda de Plus Forma.
Fonte: Sant’ Anna (2014, p.142).
Essa obsessão pela beleza se manifesta nos indivíduos com o intuito de obter um novo
corpo a partir da prática esportiva. Mas, existia certa discriminação dos homens em relação às
mulheres na prática esportiva, pois era visto como sendo um risco a saúde tanto das jovens
quanto das mais velhas. Acreditava que as mulheres ao praticarem esporte perdiam a
feminilidade, segundo Denise Sant’Anna (2014).
No inicio de 1926, o cenário se modificou e as propagandas mostravam mulheres em
boa forma e em plena atividade, mas não foi fácil aceitar o fato das mulheres fazerem
exercícios físicos. Inicia-se então, uma diferenciação por gênero nas práticas esportivas, sendo
35
que os homens optavam pela corrida, natação e salto e as mulheres preferiam o balé clássico
como se vê na imagem a seguir.
Imagem 9: Exemplo de propaganda da época em que valorizava a força física
masculina.
SANT’ANNA (2014,p.40)
Nesta época, o corpo masculino era valorizado nas propagandas pela força de levantar
pesos e não pela flexibilidade corporal. Desta forma, os homens com tais características eram
vistos por terem uma silhueta compacta. Já as mulheres eram caracterizadas pela fragilidade,
principalmente no período menstrual e no pós-parto. Nesse período, existia uma crença no
qual as mulheres deviam evitar esforços físicos bem como manter cuidados especiais com o
seu corpo.
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Ao longo dos anos, o conceito de beleza no Brasil foi alterando. Portanto,
compreende-se que o esporte começou a ser valorizado através das propagandas nas revistas
tornando-as mais sensuais através do aparecimento de jogadores de futebol como sendo
personagens da publicidade. Podemos citar como exemplo, a publicidade que marcou nesse
período, foi “goleiro de pernas bonitas- Emerson Leão na revista Nova em 1974, que apareceu
seminu, quase deitado exibindo uma plástica física considerada sensual e extremamente
máscula”(SANT’ANNA, 20104 p.152).
Outra propaganda relevante foi “Agite-se” que valorizava a ginástica e o esporte, com
objetivo de elevar o nível do esporte. Assim, como se vê na Imagem 10, tais campanhas
incentivaram a população a praticar esportes, especialmente corrida e caminhada, e tinha por
objetivo recriminar a vida sedentária.
IMAGEM 10: Propaganda Agite-se.
Sant’Anna, Denise (2014, p.160).
37
Houve, assim, a divisão da população entre os ativos e os sedentários, sendo que os
primeiros eram (e ainda são) valorizados como pessoas do bem; já os sedentários eram e são
mal vistos. Naquele período, criou-se legislação esportiva específica com as leis nº 5.692 de
agosto de 1971 e nº 6.251 de outubro de 1975, que entraram em vigor com o objetivo de
tornar obrigatória a prática de exercícios físicos no ensino da educação moral e cívica e da
educação física nas escolas. Sant’Anna (2014) lembra que naquela época a rotina de fazer
exercícios físicos aflorou de tal forma que as pessoas ainda hoje conservam o hábito.
Observam-se, então, pessoas malhando o corpo em diversos locais, como em parques,
avenidas, condomínios fechados, praias e nos clubes até mesmo em academias. E através
dessa rotina de exercício físico que disseminou o estilo esportivo e o culto ao corpo.
Denise Sant’ Anna (2014) diz que tudo se tornou mais relevante através dos produtos
midiáticos e de grande apelo popular, como a novela Malhação, da rede Globo, por
atribuíram grande importância a aparência individual. “Os músculos conquistaram uma
positividade inusitada entre as mulheres, primeiro discretamente, em aulas de dança”
(SANT’ANNA, 2014, p. 159). Com isso, as academias de ginástica passaram a ser mais
valorizadas e procuradas pelas pessoas e a sociedade passou a valorizar o corpo malhado. Isso
se deve ao interesse do consumidor. Ana Lúcia Castro afirma que:
Até a metade dos anos 1990, o grande aumento do faturamento líquido das empresas
do setor [de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal] pode ser atribuído
basicamente, a três fatores: redução da carga tributária dos produtos cosméticos –
que ocasionou maior motivação no investimento, redução do preço real e ampliação
da base de consumo –; o impacto do Plano Real no Brasil, que aumentou o poder de
compra de uma população até então alijada do mercado de cosméticos, e a redução
da carga tributaria incidente sobre vendas de produtos cosméticos, que ampliou
ainda mais a base de consumo e o consumo per capita dos que já eram
consumidores. (CASTRO, 2007, p. 37-38).
Como reflexo do aumento do faturamento das empresas de diversos segmentos, da
beleza física, especialmente, a sociedade experimenta viver na sociedade do consumo, que por
sua vez também é condicionada pelos seguintes aspectos: aumento do nível de vida, aumento
das mercadorias e a sedução por objetos. Nesse sentido, vemos em Castro (2007, p. 40) que
“o Brasil é o quinto mercado mundial de cosméticos, o quarto em xampus e o terceiro em
condicionadores, embora o consumo per capita seja baixo”.
Percebe-se, portanto, grandes transformações no conceito de embelezamento ao longo
da história. Mas pode-se notar que um dos artifícios usados para mostrar a mulher ainda mais
38
bela continua nos dias de hoje – o uso de maquiagem, estratégia que, além de realçar os traços
naturais, torna a mulher mais bela e disfarça suas imperfeições.
Hoje vários famosos independente de suas qualidades, são caracterizados por serem
belos. Apresentam então um grande número de cirurgias plásticas no Brasil com 905 mil
procedimentos estéticos, segundo o site Uol de São Paulo (2015). Com o aumento dos
procedimentos estéticos no Brasil observa-se um aumento pela busca do corpo ideal através
de produtos para emagrecimento ou aumento de massa muscular. Diante deste cenário,
observa-se o comportamento dos indivíduos em obter tal êxito devido `a influência das
campanhas nos meios de comunicação e na internet e o aumento de academias de ginástica,
hoje em torno de 16.952 em todo o país, segundo Infomoney (2011).
Importante mencionar que o hábito de fazer atividade física passou também a ser um
quesito da felicidade e ganhou espaço nos setores da autoajuda. A descoberta da tonificação
do corpo ajudou na busca da beleza, sobretudo tendo como parâmetro mulheres magras e altas
com corpos musculosos. Já as de baixa estatura não tinham a menor importância, socialmente
falando. Portanto, as mulheres altas e magras são um chamariz para as agências de modelos e
representavam grande quantidade de marcas, sendo assim transformadas em ícones de
sensualidade. Esses modelos passam a imagem de mulheres que se adaptavam a qualquer
lugar, seja no Brasil ou fora dele, pois se sentem à vontade em qualquer país.
4.2 Beleza na mídia
A mídia vem mostrando ao longo dos anos significativo crescimento na segmentação
do público, voltando-se também para a indústria da beleza e, de acordo com Castro (2007),
esse aumento na participação do mercado se deu igualmente pela abordagem de temáticas
como cirurgias plásticas, cosméticos, mercado da moda e atividades físicas. Essa indústria
serve de referência para seus leitores, como a revista Boa Forma, que valoriza e descreve o
sucesso em diversos setores, além de dar grande ênfase aos corpos sarados de celebridades,
como o da atriz Fernanda Souza como se vê na imagem abaixo.
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IMAGEM 11: Atriz Fernanda Souza mostra o corpo torneado.
Fonte: Ego- Globo (2015)
Já a revista Corpoacorpo descreve métodos e receitas ideais para atingir seu objetivo
para manter o corpo trabalhado, como o da atriz Marina Ruy Barbosa na imagem a seguir.
40
IMAGEM 12: Marina Ruy Barbosa mostra corpo sarado através do Kickboxing
Fonte: ARAUJO, Ana Paula de (2016).
Rowe e outros (2011) lembram que a perfeição do corpo está ligada à aparência física
e é imposta pelos meios de comunicação, que definem padrões – mas desde que o corpo seja
magro e belo, independente da saúde. Já na perspectiva de Silva (2014), esse padrão de beleza
estabelecido pela sociedade é intangível e faz com que várias pessoas sejam manipuladas ao
ponto de ficarem insatisfeitas com seu próprio corpo ( IMAGEM 13).
41
IMAGEM 13: Carol Dias exibe seu corpo frente e costa em uma rede social e ganha elogio de
gostosa.
Fonte: DEZAN, Anderson; VIEIRA, Bárbara (2015)
Essa insatisfação chega ao ponto de as pessoas controlarem o que ingerem para não
engordar. Mas isso causa diversas conseqüências físicas e emocionais, como, por exemplo, a
rejeição da própria imagem e a baixa autoestima.
Nessa mesma linha de raciocínio, Knopp (2008) acrescenta que os meios de
comunicação divulgam quesitos físicos como sendo um padrão de comportamento, mostrando
de que modo tal modelo/atriz pode se tornar mais belo (a) como pode ver na imagem abaixo.
42
IMAGEM 14: Deborah Secco fala do seu jejum intermitente
Fonte: Yahoo Vida e Estilo (2016)
Castro (2007) apresenta o mesmo ponto de vista e ressalta que cada vez mais o desempenho, o
look e a estetização da vida ganham espaço no rol das preocupações das pessoas. O
capitalismo artista, denominado por Lipovetsky (2015), é a formação que liga o econômico à
sensibilidade e ao imaginário; ele se baseia na interconexão do cálculo e do intuitivo, do
racional e do emocional, do financeiro e do artístico. Desta forma, “o capitalismo artista tem
de característico o fato de criar valor econômico por meio do valor estético e experiencial: ele
se afirma como um sistema conceptor, produtor e distribuidor de prazeres, sensações de
encantamento” (LIPOVETSKY, 2015 p.13).
Percebe-se que diversos sites no meio digital apresentam padrões estéticos a serem seguidos
como observa-se na imagem a seguir.
43
IMAGEM 15: David Beckham é eleito o homem mais sexy em 2014
Fonte: UOL (2015)
Como se vê, mais do que informações os meios de comunicação criam, divulgam e
reforçam um padrão de beleza que não está focalizado necessariamente na saúde, seja ela
física ou mesmo emocional. Acredita-se que por traz da mensagem de tornar bela uma pessoa
há o interesse na indução à aquisição de produtos e serviços.
Oportuno buscar em Gilles Lipovetsky (2007) maior compreensão acerca do papel da
mídia na constituição desse cenário. O estudioso entende que “a competição entre as marcas e
a estandardização industrial impulsionam uma corrida interminável para o inédito, o efeito, o
diferente, para captar a atenção e a memória dos consumidores”. (LIPOVETSKY, 2007 p.
215). Dessa forma a publicidade cria a surpresa e o inesperado, gerando a sedução. Já a moda
age de forma a diferenciar os seres a partir das aparências e a publicidade personaliza a marca.
O autor pontua:
As revistas de comportamento, principalmente as femininas, desde seus primórdios
trazem dicas de beleza, como cuidado com a pele, sessões de moda e ginástica, num
discurso que busca convencer mesclando argumentos estéticos e técnicos tornar-se
44
bela e atraente e ou manter uma vida saudável e sentir-se bem. (LIPOVETSKY,
2007, p. 47).
Observa-se então que os meios de comunicação vêm divulgando informações sobre o
corpo a partir de opiniões de especialistas sobre diversos assuntos. Com isso Castro (2007, p.
21) afirma: “Disciplinar as práticas relativas ao corpo, como fazer ginástica e dieta, são
formas de regular os desejos por rotinas voltadas à subordinação de instintos e paixões
internas”.
Contudo, os portais e as revistas impressas relatam aspectos de estética e saúde que
destacam como sendo essas as condições essenciais para se freqüentar academias de ginástica.
Essa prática das atividades físicas é permanentemente atribuída à saúde e beleza. Segundo
Castro (2007, p. 67), “o entremeamento das noções de saúde e estética pode ser localizado já
na antiguidade clássica”.
Nesse sentido, Bohm citado por Silva (2014) chama atenção para o fato de que:
O padrão estético de beleza atual, perseguido pelas mulheres, é representado
imageticamente pelas modelos esquálidas das passarelas e páginas de revistas
segmentadas, por vezes longe de representar saúde, mas que sugerem satisfação e
realização pessoal e, principalmente, aludem à eterna juventude. (BOHM apud
SILVA, 2014, p. 19).
A perseguição humana, especialmente das mulheres (mas a adesão masculina é
crescente), em busca de conquistar o corpo ideal e perfeito vem sendo revelada ao longo da
história. Com o reforço da mídia, sobretudo a partir do advento da tecnologia virtual,
constata-se a escravização das pessoas a um padrão estético imposto pela mídia. Na visão dos
autores citados a seguir “As propagandas mostram mulheres e homens cada vez mais magros,
as marcas de roupas estão com os manequins cada vez menores e o acesso em clínicas de
estéticas está cada vez mais ao alcance das pessoas”. (ROWE, JANAINA, FERREIRA,
VALERIA, HOCH VERENA apud AZEVEDO, 2011, p.1).
Esse padrão de beleza divulgado pela mídia incentiva a levar as pessoas a escolherem
não apenas o tipo físico, mas também a diversos tratamentos estéticos, muitas vezes invasivos
e radicais. Para Knopp (2008), o discurso midiático reforça em tempo integral que beleza,
saúde e sucesso, dentre outros, são inseparáveis, pois a indústria prega que tais adjetivos são a
condição para se alcançar a felicidade e o bem-estar.
Constata-se que o culto ao corpo é manifestado em vários sentidos, alimentado por
diversos caminhos e acaba por gerar oportunidades econômicas do mercado da beleza e da
45
boa forma. Em outras palavras, o corpo é um instrumento tanto de poder quanto de expressão,
por meio do qual criamos nossa identidade e a nossa esfera social (IMAGEM 11). Percebe-se
na imagem abaixo, que foi explorada uma foto da atriz com um vestido com decote onde
mostra protuberância de seu corpo.
IMAGEM 16: Grazi Massafera ganha 4kg após emagrecer para novela Verdades Secretas
Fonte:TAVARES, Victor (2015)
A forma que a mídia tem de atrair seu público é pelas estratégias que ao mesmo tempo
constroem um produto ou marca e vendem através dos seus discursos. Desta forma, os atores
e ou atrizes tornam-se mais famosos após participarem de VTS (filmes) publicitários e
conseqüentemente, aumentando maior a procura pelo produto ou marca. Tudo isso é realizado
de acordo com sua aparência física. Evidentemente esse poder atribuído à estética física é um
modo de persuadir o consumidor, fazendo com que ele adquira determinados produtos. E tudo
isso é apresentado e reforçado pelos veículos de comunicação – revistas, programas de TV,
cinema e tantos outros – que enfatizam a perfeição física como o caminho para a felicidade, a
fama, ou seja, para uma vida idealizada. Os padrões de beleza atribuem o mesmo como sendo
magro e forte.
46
IMAGEM 18: Felipe Franco exibe músculos e os fãs o chamam de monstro.
Fonte: MSN (2015)
Diante dessas considerações nos deparamos com a responsabilidade da mídia, ou falta
dela, ao pregar o culto à beleza a qualquer custo como sendo o caminho para a felicidade
plena. Ao analisar a questão mais detalhadamente é possível perceber que a forma como a
mídia aborda essa temática tem efeito nocivo à saúde das pessoas. São em grande número e de
diferentes formas vivenciados os resultados dessa moda, mas geralmente eles afetam
negativamente a autoestima e auto percepção pela simples comparação do próprio corpo com
o que a mídia valoriza. Mesmo que existam produtos midiáticos que pregam a saúde e o bem
estar no ambiente midiático, estes elementos também são associados aos ideais de magreza e
beleza normatizada, ou seja, padrões já estabelecidos na sociedade.
No panorama social atual não é somente o público feminino o alvo da moda, pois a
vaidade masculina há muito rompeu o preconceito e já garantiu seu espaço nos salões de
beleza e nas clínicas de estética. Nesse sentido, Castro esclarece que:
A estes fatores, mais recentemente, agregam-se o interesse crescente dos homens por
produtos de beleza, o aumento da expectativa de vida associado à necessidade de
parecer jovem, e o aumento de produtividade com o uso intensivo de tecnologia
47
fazendo com que os preços do setor subam menos que a inflação. (CASTRO, 2007,
p. 38).
Voltaremos a abordar a preocupação dos homens com a estética corporal. Como
destaca Glauco Knopp (2008), o culto ao corpo é dividido por grupos com diferentes estilos
de vida e classe. Ele considera “a atratividade física um esquema classificatório de indivíduos
e grupos, que se manifesta na forma do corpo, na boa aparência, altura, peso, jeito de andar,
gestos e postura corporal”. (KNOPP, 2008, p.1). Surge assim, o conceito que explica o que é
“corpolatria” que é caracterizado pela mídia e pela indústria da “corpolatria”. A corpolatria é
caracterizada pelo elo entre a sociedade e a indústria do corpo no qual criam e reforçam
tendências, padrões e valores sociais relativos ao corpo e à aparência física de forma a
estimular o consumo de produtos e serviços com objetivo de tornar-se belo através da mídia.
Este cenário abriga grupos com posicionamentos distintos e que são influenciados de
maneira diferente pela mídia. Na visão de Cury citada por Silva (2005), a tirania da beleza e a
mudança comportamental das mulheres devem fazer com que elas desvendem a beleza de
cada uma e não busquem ser igual a qualquer outra. A autora recomenda: “aprenda
diariamente a ter um caso de amor com a pessoa bela que você é, desenvolva um romance
com a sua própria história. Não se compare a ninguém, pois cada um de nós é um personagem
único no teatro da vida”. (CURY apud SILVA, 2005, p.1).
Mas ao contrário desse posicionamento várias mídias, tais como blogs e sites de
relacionamentos, acabam estimulando as pessoas – sejam elas jovens ou idosas – a serem
iguais àquelas vistas em anúncios e acabam por incentivá-las e auxiliá-las a também ficarem
magras. Dessa forma, muitas pessoas passam a sofrer de transtornos alimentares, como
anorexia e bulimia, dentre outros.
4.3 Correção cirúrgica
A sociedade do hiperconsumo, estudada por Gilles Lipovetsky, é assim conhecida pela
crescente atividade consumista. O pesquisador afirma que “a constatação é banal: à medida
que nossas sociedades enriquecem, surgem incessantemente novas vontades de consumir”.
(LIPOVETSKY, 2007, p.38). A partir desse entendimento, percebe-se com mais clareza que a
busca pela beleza feminina popularizou a cirurgia plástica como remédio para a elevação da
autoestima por meio do rejuvenescimento. O crescimento do número de cirurgias plásticas
48
teve também o apoio da globalização de publicidade de um padrão de beleza previamente
estabelecido: mulher magra, com boa pele e cabelos bonitos.
A exemplo de outros países, também no Brasil, que é considerado um país de jovens,
constatou-se crescimento considerável da procura das cirurgias plásticas. Segundo o site G1
(2015), o Brasil é o recordista mundial com cerca de 1,5 milhão de operações por ano, sendo
que 85% das cirurgias são em mulheres. A esses dados, Castro (2007) acrescenta que o
mercado do setor de serviços, como cirurgias plásticas e malhação movimenta cerca de R$2
bilhões no país. Pesquisas relatam que muitas vezes a opção pelo bisturi é a alternativa para se
manter ao lado o cônjuge e até mesmo o emprego. De acordo com Sant’Anna (2014), os
brasileiros querem divulgar a mensagem de que sua imagem é natural, mas na verdade
também ela é originada a partir da ajuda cirúrgica. A prática hoje está se popularizando na
busca por aumentar a autoestima, para combater os sentimentos de vulnerabilidade subjetiva e
fracasso físico que geram exclusão econômica, afetiva e social.
4.4 A beleza e a doença
Há estudos3 que mostram que o culto ao corpo perfeito tem elevado o número de
portadores de transtornos alimentares que se manifestam, sobretudo mediante a anorexia e a
bulimia. Esse elevado número é vista por pressões culturais em uma sociedade.
Diante de tal observação, entende-se que a obsessão por um corpo saudável e bonito
não é novidade, pois, como se viu historicamente o ser humano foi deixando registros do seu
desejo de ser belo. Mas o crescimento do número de casos de pessoas com transtornos
alimentares sejam homens ou mulheres, preocupam os médicos.
O cuidado com o corpo tornou-se quase obrigação para as pessoas, como sendo
necessidade básica. Mas tal preocupação é composta por um discurso nos meios de
comunicação. E é através desse discurso presentes nos meios de comunicação as pessoas
escolhem seu estilo de vida. Esses estilos de vida escolhido muitas vezes não condiz com
situação financeira dentre outros fatores. Um desses fatores está relacionado como a prática
de atividade física, o que se consome, os hábitos culturais etc.
A moda se adaptou ao longo dos anos e diferenciou os diversos grupos numa
sociedade. Entende-se que a moda faz parte da vida humana desde o nascimento até o
3Nádia Borges (2006) et all (2011).
49
desenvolvimento de toda uma sociedade. Esse desenvolvimento foi obtido a partir das
transformações, sejam elas nas organizações, no âmbito social, cultural.
A diferenciação entre um estilo de vida para outro se dá por meio de itens como a
beleza do corpo, roupas, discurso, gosto com relação à comida e bebida, lazer, casa, carro,
entre inúmeros outros. Com isso, a moda sempre foi vista como uma junção de dois elos: o
efêmero e a fantasia. Essa junção foi intensificada pela divulgação de produtos, serviços e a
promessa de plena felicidade e o sucesso a partir da beleza.
50
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇAO
Ao longo dos capítulos anteriores nossa discussão esteve intimamente vinculada à
tentativa de compreensão das relações dos padrões de beleza com os transtornos alimentares,
mais especificamente anorexia e bulimia. Nesta mídia social onde compartilhamos e
publicamos informações sobre nossas vidas e do mundo, buscamos reunir referências
conceituais e empíricas para subsidiar um entendimento acerca das relações dos portadores de
transtornos alimentares com os padrões de beleza em grupos dentro da rede Facebook. Os
grupos chamados de Vencendo o Transtorno Alimentar e Anorexia e Bulimia se diferem
primeiramente pelo numero de integrantes nos grupos, segundo o primeiro grupo mencionado
possuem profissionais como nutricionistas, médicos, psicólogos que auxiliam na recuperação
etc e o segundo busca ajuda com os próprios integrantes e não contam com auxilio de
profissionais. Também observa-se que ambos buscam a perfeição do corpo e essa perfeição é
manifestada através da interação realizada pelas postagens dos sujeitos.
No ensejo de atribuir um sentido claro a este estudo, procuramos embasar esta análise
desenvolvendo uma metodologia que, a priori, organize de modo compreensível os aspectos
que julgamos relevantes em nosso objeto empírico. Após as etapas de recorte, observação,
levantamento e tratamento dos dados, nosso olhar partiu para a tentativa de analise de
conteúdo dos elementos encontrados. A seguir trataremos desta abordagem: a começar pela
explanação de nosso percurso metodológico.
5.1 O percurso do projeto
Ao iniciar este projeto, o primeiro grande desafio encontrado foi entender como o
assunto de transtornos alimentares que veio a gerar interações nas mídias sociais. A pesquisa
exploratória identificou grupos de apoio aos portadores de transtornos alimentares dentro de
uma mídia social como o Facebook. Para compreender esses portadores de transtornos
alimentares foi necessário ter acesso a esses grupos. Afinal, o que eles dizem dentro do
grupo? ; Quais são as características dos seus discursos? Como eles interagem uns com os
outros? ; O segundo passo do projeto foi, então, buscar uma ferramenta metodológica capaz
de responder tais questionamentos citados anteriormente. Para isso, utilizou-se de análise de
conteúdo, dos depoimentos e postagens dos sujeitos na pesquisa.
51
O universo da pesquisa abrange grupos de portadores de transtornos alimentares no
Facebook. A amostra foi refinando-se ao longo do processo, até fechar-se em dois grupos:
Vencendo o Transtorno Alimentar e Anorexia e Bulimia. Tal seleção implicou na observação
dos integrantes dos grupos e o que eles postavam nesses grupos. Esses grupos possui um
grande numero de integrantes. A partir dessa observação foi possível identificar critérios de
análise, visando identificar de que forma eles interagem nos grupos escolhidos. O passo
seguinte foi definir a técnica mais apropriada para analisar os depoimentos dos integrantes
desses grupos e suas postagens: analise de conteúdo. Esses critérios foram estabelecidos de
acordo com o que tratamos nos capítulos anteriores, como: culto ao corpo, laços sociais e
redes sociais no Facebook. A coleta de dados partiu da bibliografia para subsidiar a leitura e
compreensão dos transtornos alimentares e como eles eram tratados pelas interações das redes
sociais nos grupos escolhidos. O passo seguinte foi definir a técnica mais apropriada para
analisarmos os depoimentos dos integrantes desses grupos e suas postagens: a análise de
conteúdo. Para Meireles, Magali e Cedón Beatriz (2010), esta técnica caracteriza-se como um
conjunto de conteúdos em documentos, visando obter, informações relevantes nesses
documentos que permitam a interpretação da interação a partir das mensagens publicadas
dentro do grupo no Facebook. Assim, para o presente trabalho, realizou-se uma pesquisa
baseada na técnica de análise de conteúdo. Nesse caso, cabe destacar que o reconhecimento,
o rastreio e o movimento dos grupos analisados na rede foram cruciais para o recorte do
objeto empírico. Os grupos de transtornos alimentares foram criados em 2012 a 2013. Vista a
natureza dinâmica do Facebook percebem-se que a seleção de dados e observação deveria
manter uma proximidade com os grupos pesquisados.
Dessa maneira, o primeiro período de observação e coleta sistemática ocorreu durante
ano de 2015, mediante acompanhamento diário das interações nesses grupos no Facebook.
Portanto, foram esclarecidas tais informações e diante das pistas fornecidas via atuação dos
grupos, os critérios para a seleção nos grupos da análise foram:
1. Narrativas testemunhais;
2. Assiduidade nas postagens no Facebook;
3. Tentativas/Obtenção de interação com demais usuários do Facebook, a partir
dos post.
Tais critérios foram estabelecidos para levantar e selecionar informações dos grupos
selecionados.
52
Obs: Consideram-se testemunhais as narrativas em 1ª pessoa que abordam a relação
dos indivíduos em seu transtorno alimentar, independente de o tom questionador ou de
lamento, queixa ou pedido de ajuda. Postagens de reposta a outras sugestões de ações a
posturas, conselhos, etc, não serão consideradas testemunhais. .
5.2 Coleta e tratamento de dados
A plataforma para recolhimento de dados e visualização das mensagens considerou
grupos de apoio de transtornos alimentares no Facebook A coleta de dados foi realizado
durante a pesquisa exploratória, desenvolvida primeiramente no período de janeiro de 2015 a
janeiro de 2016. Neste período recolheremos cerca de 30 mensagens testemunhais nos grupos,
sendo que coletamos maior numero de curtidas ou comentários nos mesmos. Procurou-se
analisar os meses iniciais, meses situados no meio deste período e mais próximos do final do
tempo de observação.
Tais postagens foram categorizadas da seguinte forma:
1.Beleza corporal
2.Laços sociais
3.Circulação de sentidos
As postagens observadas nos grupos foram divididas em três categorias para
identificar e padronizar as principais temáticas compartilhadas nos dois grupos, a partir de
elementos observados nas composições das mensagens. Para efeito de análise, categorizamos
as postagens considerando sua principal designação em nosso entendimento: 1) “Beleza
corporal” – refere-se ao culto ao corpo e seus discursos na sociedade; 2) “laços sociais” – diz
respeito `a interações e conexões dentro de uma rede social; 3) “Circulação de sentidos” –
designa a representação de indivíduos através de conexões e o modo como circula as
informações encontradas no Facebook.As características observadas orientaram a
interpretação desse projeto. São eles: a) Total de mensagens trocadas; b) Total de curtidas
atribuídos nas mensagens; c) Total de Comentários atribuídos na mensagens.
Seguem, pois, informações sobre cada um dos grupos. Para assegurar o anonimato dos
portadores de entrevistados, os nomes foram substituídos por letras.
53
5.2.1 Análise e interpretação
1)Beleza corporal
A beleza corporal é atribuída à imagem que cada indivíduo tem do seu corpo e o modo
como a sociedade a valoriza através dos seus discursos. A seguir iremos apresentar diversas
mensagens cujas autoras nomearemos através de letras.
“A” diz:“cansada de ser assim.Olho pro espelho e não vejo mais aquela garotinha que era
amada e se sentia uma princesa...Só queria me olhar no espelho e me aceitar como sou. Minha
felicidade se baseia no meu peso...Isso é errado eu sei que é, mas não consigo parar...eu
quero, eu tento... Meu Deus o que eu faço?”.
Outro exemplo “B” diz que “Flores. Por Favor. Por ser magra, acho meus seios e
bumbum pequenos, coxas e pernas finas. Como vocês fazem? Vcs malham? Obrigada!”.
“C” diz que “se houvesse tantas pessoas pra te ajudar a emagrecer quanto tem pessoas
tentando te engordar! Seria bem mais agradável viver nesse mundo”.
“D” diz que “ninguém nos entende, pq não gostamos do que vemos no espelho, ninguém
entende nossa aflição de não aceitar o corpo, e o sentimento de inferioridade”.
“E” diz que “O que fazer ao se olhar no espelho dói Qdo o sei desejo e quebrar todos os
espelhos e balanças do mundo e maior que tudo, quando se quer voltar e entender quando o
peso se tornou uma obsessão, ou como pude ir de um extremo para outro, da anorexia a
compulsão. Vc sabe que está se meltratando”[sic] mas não consegue parar,o que fazer
remédios simpatias,igrejas não adianta. O q fazer ?”.
Ao longo deste projeto citamos alguns autores que falam sobre beleza. Observa-se nos
exemplos citados acima, representados por letras, que todos apresentam um grau de
insatisfação com seu próprio corpo. Essa insatisfação é manifestada pelo modo como eles
vêm sua imagem, principalmente na transição da fase de criança para adolescência. Tal
insatisfação reflete nas suas atitudes, nas aparências dentre outros itens. Podemos dizer que
muitas de nossas angústias e ou insatisfações são projetadas pelo fato de não podermos
consumir determinados produtos e ou serviços, tendo como objetivo ser belo ou ser aceito em
54
determinados grupos. Esse fator de não podermos consumir algo esta relacionado com quesito
financeiro. Acredita-se que quanto maior o nosso poder aquisitivo maior será nosso consumo.
Para torna-se belo, a sociedade em que estamos inseridos contribui bastante para a criação
dos padrões sociais através dos valores gerados pela cultura e pelos discursos em suas
propagandas. Os valores e as culturas são atribuídos de forma diferente para cada sociedade.
Tais valores como a mulher não poder trabalhar ou não poder praticar determinadas atividades
físicas foram mudando e desses valores culturais a mulher começou a mostrar seus atributos e
brigar por eles. Isso ocorreu até o século XIX.
A noção de beleza acabou tornando-se um item importante na construção de uma
sociedade. Como se pode observar a beleza se enraizou desde a formação de uma sociedade.
Os padrões de beleza foram atribuídos por gêneros sendo que os homens deviam ser
fortes e altos. Já as mulheres deviam ter cinturas finas, magras, vaidosas e altas. Pois só dessa
forma obteriam sucesso na vida profissional e pessoal. Esses atributos são passados para todas
as gerações e são como se fosse uma regra a ser seguida, como por exemplo, as mulheres
deviam ter cabelos lisos caso contrário eram mal quista ou mal falada.
Por fim, compreende-se então que a beleza é padronizada seja pela mídia, pelo
mercado da moda e é dessa forma que a sociedade se constroem. .
2) Laços sociais
Os laços sociais são atribuídos ao tipo de interação social tanto no virtual como no
presencial. Segundo Recuero (2005), esses laços sociais fazem distinção de dois tipos:
laço social forte e laço social fraco. Sendo que os laços sociais fortes são caracterizados
por uma relação direta e intima entre indivíduos numa rede. Já os laços sociais fracos são
caracterizados por uma relação indireta e com menor intimidade.
F diz “ Eu fico pensando como quem tem transtorno alimentar sofre pois as garotas
são taxadas de mimadas de frescas mas as pessoas nem imaginam o quanto isso dói
Já nos garotos nem se fala somos taxados de homossexuais e fácil de criticar quando
não se T.A”.
55
G diz “ TW não quero incentivar ngm[sic], mas não sei oq[sic] acontece. Toda vez que
eu fico como fome começo a mastigar tudo oq[sic] vejo pela frente e cuspo logo em
seguida (e nojento eu sei) mas virou tão viciante que ate líquidos eu to cuspindo” .
H diz “Ontem foi um dia terrível e dilacerante, tive uma crise e não conseguia mais
pensar em nada, me fez pensar que anos de luta e superação foram jogados para o alto
o odioo [sic] ao meu corpo a falta de sintonia com a minha alma me deixou
desorientado a ponto de querer me auto mutilar me abrir por dentro com o bisturir
[sic], me rasgar por dentro com uma faca, aquela vontade de me livrar daquela
carcassa [sic] gritava mais alto conseguir me acalmar e me adormeci em um sono
profundo de longa duração hoje me sinto melhor e mais centralizado!!!!!”.
Todas essas mensagens mostram que ambos os indivíduos nesses grupos
compartilham da mesma situação. Os indivíduos interagem de tal forma que acabam
formando laços. Esses laços demonstram na rede uma aproximação entre os atores/indivíduos
como se já conhecessem pessoalmente e fossem amigos desde infância.
Percebe-se também que muitos desses indivíduos expõem tais mensagens pois, os familiares
ou amigos mais próximos apenas criticam/brigam não conseguem ou não sabem como ajudar.
Deve-se então ficar muito atentos aos comportamentos das pessoas.
I diz “Pessoal do grupo, eu gostaria de saber se tem outros filmes que fala de
transtornos alimentares, além da Anorexia a ilusão da beleza, e os Maus hábitos, e o Cisne
Negro? Esses filmes me ajudaram muito a superar meu transtornos de 10 anos, se tiver por
favor me indiquem obrigada”.
J diz “ Gente ando comprando pacote de bala de goma, como umas 5 jogo o no lixo o
pacote inteiro...”.
I diz “ Vamos postar la no grupo Garotas de vidro, livros filmes e documentários sobre
anorexia e bulimia”.
K diz “Reflexão você já viu um sofrimento de um usuário para “se livrar” das drogas?
Você consegue imaginar a angustia e o sofrimento quanto a abstinência ataca! Quando seu
corpo e sua mente gritam por socorro? E esse sofrimento e tão químico e insuportável que ele
corre a procurar um meio a se aliviar buscando a droga em algum lugar...Triste né? Agora
imagine se o “vicio” da pessoa é uma alimentação totalmente desequilibrada, que não tão
diferente do vicio da droga, ela mexe também com seu organismo e sua mente o fazendo
parecer em meio a angustia!...Agora o ponto chave da questão e será que quando a abstinência
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ataca sua mente ela precisara procurar por algum alimento em algum lugar? Não!Porque a
todo momento e em todo lugar tem alguém a oferecendo e insistindo pra que coma! E em todo
lugar que ela for sempre haverá comida por toda parte! Ele se sente perseguida!Desafiada!
Assombrada!...pra ela e assim, mas pra todas as outras pessoas isso tudo e normal. Ou seja
mais terrível do que sofrer por algo ilícito e sofrer por algo licito e “normal” que te cerca de
todos os lados e te faz viver numa tortura diária! Reflitam nisso se vocês conhecem alguém
com esse drama de vida! O respeite! Tente entende-lo e imaginar se em seu lugar apenas por
alguns dias! Será que você suportaria?!”.
Percebem-se nas mensagens que os atores/indivíduos apenas fazem uma reflexão
citando filmes, livros. Desta forma percebe-se que não tem nenhum vinculo/ aproximação
com os indivíduos. Parece que tem um limite/barreira entre os indivíduos mostrando até
aonde te mostro sobre a minha vida ou não. Chamando assim de laço fraco. Segundo Recuero
os laços fracos apenas apresentam menor intimidade ou aproximação com os outros
integrantes do grupo.
3)Circulação de sentidos
O Facebook é considerado como um site de uma rede social. Esta rede social é
permitida que seus usuários construam perfis públicos, integrem em uma rede de
contatos que tornem visíveis suas conexões. Nesta rede é possível conversar com
outras pessoas através de mensagens. Ao escrever e publicar uma mensagem na rede
tal mensagem é visualizada por todos os seus contatos.
L diz “As roupas não servem mais, não sinto mais o calor, o conforto de um abraço
...Sinto frio...Vazio. Estou sozinha nesta caminhada, não tem ninguém que me
compreenda, estou desaparecendo...Eu não sou mais a mesma...Os sorrisos são falsos.
Mas eu sempre digo “estou bem ” “não sinto fome” ”.
L diz “Eu não controlo mais. Não tem mais jeito pra mim. Eu devo gostar de me
destruir e na minha cidade não tem tratamento pra isso”.
M diz “Boa tarde, me chamo Larissa e tenho 22 anos, sempre fui gordinha, sofria
bulling na escola, mas sempre me dei normal com isso, não me afetava em nada até
que com 17 anos comecei a gostar de uma pessoa e por mais que ela dissesse que
gostava de mim e tal eu achava que era pouco para ele foi quando eu comecei com a
bulimia, comia tudo que tinha vontade e simplesmente depois ficava me culpando a
57
forçando o vômito, com o tempo não saia mais com minhas amigas, só queria ficar em
casa deitada pois não tinha forca e eu sempre escondia isso de todos, até que um dia
minha mãe me viu forçando o vômito, me levou na psicóloga mas eu não queria ajuda,
queria me sentir bem e era daquela forca que eu ficava melhor comigo mesmo, no
entanto eu só engordava e aquilo me deixava ainda pior, ate água quando eu bebia eu
forçava o vomito e colocava tudo para fora., fiquei assim por uns 4 anos e resolvi me
amar,hoje não estou curada, acho que nunca ficarei, se exagero ainda vomito mas esta
menos, não fico tão focada apenas em vomitar e hoje as pessoas ao meu redor sabem e
tentam de toda forma me ajudar, Comparado ao passado estou bem melhor e vamos
levando”.
Percebe-se que a circulação das mensagens se realiza através das conexões entre os
indivíduos. Pois num espaço virtual como o Facebook as informações se propagam com
maior rapidez se comparada à era do telefone fixo, no qual tal informação é transmitida mais
lentamente. Enfim, é dessa forma que a circulação das mensagens se realiza.
58
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de uma reflexão teórico-metodológica das mensagens produzidas nos grupos
dos transtornos alimentares, especificamente anorexia e bulimia, procuramos aprofundar mais
sobre o assunto. Para isso, buscamos entender a relação dos membros de tais grupos com os
padrões de beleza, e a forma como interagem em uma rede social.Alguns autores foram
importantes para a observação empírica que auxiliou o caminho a ser percorrido na trajetória
metodológica.
O ponto alto de nossa pesquisa encontra-se no contato com os grupos Vencendo o
Transtorno Alimentar e Anorexia e Bulimia no Facebook. Foi-se necessário solicitar
permissão ao administrador do grupo para participar do mesmo. A partir da aceitação desses
grupos foi possível estudar a relação dos padrões de beleza com tais transtornos alimentares.
Para este estudo foi necessário obter uma maior atenção com relação às mensagens
testemunhais postadas pelos integrantes em relação a sua imagem e também ao seu transtorno
alimentar.
A princípio, a idéia desse estudo nos inspirava inquietação quanto a lidar com a saúde
nessa experiência. Ao longo da pesquisa, percebemos que se tratava da beleza corporal e os
transtornos alimentares de um sujeito numa rede social. Evidentemente que falamos de
pessoas expostas aos padrões e insatisfações, o que, no fundo, reflete também uma parcela de
nosso comportamento em sociedade. Portanto, deparamo-nos com um rico material
testemunhal, assiduamente atualizado e que não pudemos trazer aqui por completo, por razões
metodológicas. Assim, procuramos destacar a relação de beleza com os transtornos
alimentares.
Por essas razões, a técnica principal de análise foi denominada análise de conteúdo.
Vimos que os grupos Vencendo o Transtorno Alimentar bem como Anorexia e Bulimia
possuem interesse em auxiliarem portadores de transtornos alimentares em suas curas. Nesses
grupos do Facebook observamos apenas narrativas testemunhais, assiduidade e interação com
os demais integrantes.
Lembramos que esta interação se inicia no primeiro momento em que nos
relacionamos com as pessoas e com o mundo. É dessa forma que os grupos estabelecem
59
conexões com seus integrantes. Eles possuem objetivos em comum com a cura da doença ao
se abrirem através de mensagens testemunhais bem como imagem do seu corpo. Ao
compreendermos que o Facebook é uma rede social composta por um espaço virtual em que
pessoas possam se expressar e interagir com tudo o que está a nossa volta. Isso nos levou a
estudar sobre as interações nas redes sociais, tais como de que forma se da à interação, seus
discursos etc. Isso aparece na construção da análise, a partir das narrativas testemunhais.
A partir daí o aporte teórico e uma metodologia relacionada à beleza e aos transtornos
alimentares nos forneceu campos conceituais como: a beleza corporal, os laços sociais e a
circulação dos sentidos. A beleza corporal é atribuída à imagem corporal que cada indivíduo
tem do seu próprio corpo e o modo como a sociedade transmite seus discursos.
Por sua vez, os laços sociais dos sujeitos implicam na forma que interagem uns com os
outros se tornando fracos ou fortes. Significa passar por uma interação social num espaço
virtual em que há disposição para o diálogo entre idéias, compartilhamentos etc. Por último, a
circulação de sentidos é a forma como cada indivíduo interage com o outro.
O recorte de análise evidenciou que, se houver interesse, uma proposta experimental
futura de aprimorar ainda mais nossos estudos quanto à beleza corporal e os transtornos
alimentares do indivíduo na rede social. Citamos, ao longo da pesquisa, que um dos marcos o
culto ao corpo foi sua compreensão da beleza corporal e os transtornos alimentares no
Facebook. Hoje esta rede faz parte da nossa vida cotidiana, pois é nela que interagimos com o
mundo e com os demais indivíduos.
Em vista disso, queremos chamar a atenção para refletir a maneira que interagimos uns
com os outros, pois hoje a circulação de sentidos altera o modo de pensar, curtir, compartilhar
com os outros, pois o indivíduo não só recebe informações, mas também produz.
A partir da circulação dos sentidos percebemos que é preciso identificar os
mecanismos presentes, capazes de explorar nossa demanda por afeto e socialização.
Dessa forma, um dos resultados mais importantes obtidos por meio desta pesquisa se
encontra na percepção de que, existe uma necessidade de obter uma imagem de si mesmo
perfeita e ao mesmo tempo uma necessidade de obter afeto, socialização através das
narrativas testemunhais. Por vezes, tais necessidades estão de tal modo implicadas com nossa
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forma de interagir com os indivíduos e as nossas expectativas com relação ao modo de
enxergar o mundo e a nossa beleza que se torna confuso lidar criticamente com as estratégias
de consumo dentre outros. No entanto, podemos refletir a respeito do nosso comportamento
em uma sociedade, e como me represento dentro de um espaço virtual como Facebook.
Nesta pesquisa procuramos uma chave de entendimento desses processos, por um
caminho associado ao campo da saúde e da tecnologia, o que, exigiu um estudo aprofundado a
respeito, quanto definimos o objeto empírico grupo de transtornos alimentares no Facebook.
Isso definiu nossa plataforma de trabalho que nos desafiam quanto ao entendimento dos
transtornos alimentares, suas manifestações e seus discursos no Facebook. Durante o
andamento da pesquisa, observamos atentamente todas as etapas importantes que
descrevemos na trajetória desse projeto, inclusive um enorme interesse em torno dela.
Finalizamos este trabalho sem a pretensão de esgotar o assunto, pois os rumos deste
tema ainda estão em curso. Polêmicas como os termos de imagem corporal já reverberam
intensamente na sociedade e também entre os usuários do Facebook. Esta e outras razões
podem contribuir para que, ao longo do tempo, essa imposição sobre esse padrão de beleza
estabelecido desvincule dos discursos da mídia como também de toda uma sociedade.
Todavia, não podemos deixar de observar que os transtornos alimentares tornaram-se
importante para refletirmos sobre a imagem que produzimos numa rede social e como
interagimos.Certamente que mudanças são previstas quanto à tecnologia, a sociedade, à
estética e à rede social para circulação de imagens.
Este estudo de agora fará parte do repertório daqueles que se aproximaram dessa
prática, o que pode influenciar outras incursões no campo da imagem, da saúde e da interação.
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